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Ministério do Planejamento, Orçamento c Gestão Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA volume 57 número 4 outubro/dezembro 1995 ISSN !Xl34-723X R brm Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-ISY, out /dez I Y95

Revista Brasileira de Geografia

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Esta revista é a versão 57 - número 4 de 1995. Muito rara na internet. Contém ótimos artigos sobre Geografia na academia científica.

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  • Ministrio do Planejamento, Oramento c Gesto Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE

    REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA volume 57 nmero 4 outubro/dezembro 1995

    ISSN !Xl34-723X

    R brm Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-ISY, out /dez I Y95

  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE Av franklin Rooscvclt. 166- Centro- 20021-120- Rio de Janeiro- RJ -Brasil

    IBGE 2()() I

    Revista Brasileira de Geografia, ISS'\ ()()34-723:\

    PuhlicJ.~:to tr irnL:stml lJUC 'L Jc,tina a Ui\ ulg.J.r a11igu' ,. Ltllnuniut~L'\ indito~ dL: natUIC/a tccrila ou cmptrila ligados Geografia c campos afim do sahcr Licntfico

    pri\ ilcgiando a dimenso cspalial da realidade hrasileira,

    LOill a lontrihuic.;o de tLnicos do IBGE c de outra~ instituil,,es nacionais e estrangeiras

    ( )s ung.inais para puhlicac.;u de\ em \e r endereados para

    R.:\ i sta B msi lei 1 a de Gcografia/Diretcnia de Gcol inl i a' ;\\ Bra,iJ 15671-Prdio1B Trreo-Lulas 21.::!-1-1-

    ()51 -Riu de Janeiro. RJ- Bmsil 1d (02ll-1-1\2-77RR-Rillnal2-1-X

    A Revista no se rcsponsahiliza pelos lOncettos

    emitido' em artigos assinado'

    f< ..dito r-Respons vcl

    \laria Luts~t ( iumcs Castcl\o BranL"

    Co-Editor

    Vcta\1anad A\llaCmakantt Buerra

    t 'onselho Editorial

    Bcrtha Beckcr- Gegrafa

    Spcridio Faissol- Gegrafo ( inmemoriam)

    Antonio Cristofolctti -Gegrafo

    Dcni?ar Blitzkcm - Matcmticu

    Aldo Paviani -Gegrafo

    Jorge Soares Marques- Gegrafo

    Marcello Martinelli -Gegrafo

    E,quipc Eilitorial (i L rene i.t de Editor dL ao lll l'Rl li! J, par t.rmcnt,' dv l'rodul'loll lllll

    Estruturao Editorial l anncn lkloi-.,a Pc-.,...,oa ( o\l,i

    Copidesquc c Reviso \nna :\bna dm '>anto' C ri,tin.t Ramo' C ar h" de l 'li' .tlho Ktia Domingo~ VIeira \1aria da Penha L cha da RoL h a \laria d, Lourde' \monm

    Diagramao C a ri

  • SUMRIO

    Artigos Sedimentologia da Laguna de Piratininga - Niteri!RJ

    Pindorama: modelo europeu agrcola de assentamento, litoral nordestino hmsileiro

    A territorialidade e a sustentabilidade ou a ecologia do espao poltico

    A modernizao da agricultura no entorno do

    5

    17

    23

    Distrito Federal e a questo ambiental 35

    Atualizao cartogrfica atravs de tcnica fotogramtrica 4 7

    Plano Cartogrfico Nacional: uma viso crtica da construo poltica 59

    A diviso regional brasileira - uma reviso bibliogrfica 65

    Estudo de uma seqncia de solos em Botupor- Vale do Paramirim- BA 93

    Repensando a questo do hbitat no Brasil 105

    Caracterizao dos nveis de silcretes associados aos patamares estruturais escalonados do setor Sudoeste do Estado de Minas Gerais 119

    A Fronteira americana revista 129

    Resenha A influncia sem angstia 141

    Instrues bsicas para preparo dos originais 1s7

  • Sedimentologia da Laguna de Piratininga - Niteri/RJ

    Mw ia da Col!( ci elo Caetano Melo Rc\cnde''' Maria AuRu\fa Martim da Silm **

    Introduo O li tom! do Estado do Rio de Janeiro

    apresenta uma srie de corpos lagunares distribuindo-se entre a Ilha Gmndc c a R ai xada Campista. podendo ser u msidcmdo um "labomtrio piloto" de lX. as '- aractcr s ti c as scd imcntol g i'- as com o objetivo de evidenciar a fal iologia do tundo da laguna de Piratininga, o que lontribuir para o planejamento c eventual recupera-o da laguna dos efeitos associa-dos intensa e desorganizada ocupa',o humana

    Discusso dos dados

    Fcies sedimentares do fundo lagunar

    A distribui\o dos principais tipos de fcies sedimentares da laguna de Piratininga bem ntida, com as fcics lamosas c arenosa~ ~c concentrando preferenciais

    em reas

    As autoras agradecem ao CNPq Conselho Nacional de Pesquisas-,FAPERJ - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro-e PROPP/ UFF- PrReitoria de Pesquisa e Ps-Graduao-pelo apoio financeiro Aos professores, estudantes laborataristas e funcionrios do Departamento de Geologia da UFF-Universidade Federal Fluminense R bras Geogr , Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 5-16, out /dez , 1995

  • 6 R bras Geogr, Rio de Janeiro,\ 57, n 4, p 1-163, out /det 1LJ95

    Figura 1 - Complexo Lagunar Piratininga-/taipu Obsen'a-.se as principais feies geomorfolgicas e seus subambientes Fotografla5 areas de 1981 (Aewfoto-Cru:::.eiro 5/A)

  • R bras Geogr, Rio de Janeiro. \ 57 n 4 p 1-163 out /der 1995

    - CAOUNITA :>90'% f :;:}!lliTA-ESMECTITA 30%

    CAOUNtl A

  • nordeste, mais precisamente prximo foz dos rios que desembocam na laguna Na Tabela 1 esto os valores percentuais da caolinita c pode-se observar que estes valores decrescem de leste para oeste medida que se afastam da rea de influncia dos rios (Figura 3) Os solos das bacias destes tributrios evidenciam sua origem gnissica e apresentam como minerais predominantes o feldspato caolinizado c quartzo (Dcxhcimcr, I Y81 ) provvel que maiores taxas de eroso. devido ao desmatamento na regio norde-;te adjacente la-guna, possam cxpl i c ar essa distribui \o de caolinita

    Os intcrestratificados um-;titudm por ilita-esmectita apresentam suas maiores LOnLentra\C~ na parte LCntral da laguna (Figura 3) Sem \a! ores percentuais (Tabela I) so, em mdia. em tomo de 179c, mnimo de I r7c a nordeste da laguna, e mximo de 30c1r representando o Lentro da laguna

    A ilita o terceiro grupo de argilomincrais identificado, c apre-senta-se em menores quantidade~. ocorrendo LOin mais freqncia na puro oeste da laguna (Figura 3)

    Sua~ porLcntagcns (Tabela I) apresentam-se em mdia em torno de 129(, mmimo de 2o/c e mximo de 2Wk

    I~ bem evidente a existncia de uma distribuio ditcrem.iada de-;-sc-; mincrai~ com relao granu lnmctria dos sedimentos O grupo da Laolinita predominante em todas as amostras, no entanto ele apresenta uma grande concentrao na poro nordeste da laguna, onde o sedimento abundante o silte (Figura 2) medida que nos aproximamos do centro da laguna, onde o sedimen-to se toma mais argiloso, observamos o aumento da concentrao de inte-restratificados ilita-esmectita Nesta rea constatamos tambm a ocorrn-cia de valores altos de matria orgnica (Resende, 1995) Na poro oeste da laguna de Piratininga, onde predomi-

    t N

    Silte

    Argla

    Areia

    o

    R bras Geogr, Rio de Janeiro, \ 57. n 4. p 1-163, out /de; 1995

    ------. --- - -- ----

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    --1Km

    figura 3- A figura representa a distribuio dos argilominerais na laguna de Piratininga

  • R bras Geogr.RiocJanciro,\ 57 n 4 p 1-163,out/de7 1995

    Tabela 1 -Valores em percentagem dos principais argilominerais

    contidos nos sedimentos finos da laguna de Pir.1tininga

    13 66 23 63 28 9

    15 63 i ___ _?.B ___ __j __ 9_J --T--~~ -~g- ---ti _21 __ ~_1_0_, 17 69 -- 2' I 10

    -~---~ -l-___ 19 _____ se. __ ---1-

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    Minerais Pesados

    C]>2,0% EJ >1 ,O o/o< 26/o ~U c o/11 u clilf!Ji>ui\ cio f'< I<

  • R h r as Gcogr Rio de Janeiro, \ ">7, n 4, p 1-1 3, out /de! 1995

    matcna orgamca (o/c relativa) no fundo da laguna de Piratininga c de carbono orgnico total em li amostras superficiais (Tabela 5 )

    O teor de matria orgnica (Fi-gura 5) menor na poro oeste (regio do Tbau) da laguna, onde varia entre O. Xc/c c 49r (Tabela 4)

    Estes valores aumentam gradativa-mente na poro central da laguna, onde observa-se uma variao de matria orgnica entre 2 c~c c 1 Wlr (Figura 5) A LOnlcntra

  • 12

    % Matria Orglnlca

    R bras Geogr, Rio de Janeiro \ 57, n 4, p 1-163 out /do 1995

    t N

    ,_,_-&

    I i 1;11/ll ' C 11111 1'11/1

  • R bras Gcogr Rio de J anciro ' 57, n 4 p 1-163. out /de ;r 1995 13

    de comprimento retirado da regio central da laguna

    Nos primeiros 50 em do testemu-nho, o sedimento apresenta-se predominantemente argiloso, de cor L inza claro com fragmentos vcgctai~ c presena de gastrpodcs Abaixo dos SOem observa-se alternncia de lama arenosa c lama argilosa, pre-dominando lama arenosa em direo base do testemunho (Figura 6)

    As anlises de Pb21 O efetuadas nos sedimentos lamosos indicam que a raLo de scdimcnta~,;o na laguna de Piratininga. nm ltimo" I 00 anos tem sido de O, 13 em/ano l:.,.,a ra?o ,fL' scdimcnta~o compati\clcom

    (\~ dado~ cnumtrado-; em outra~ lagunas no mundo A maior parte do-; ambientes costeiros lagunare~ do mundo vem sotrcndo processo~ de assoreamento resultantes da interferncia do homem Em trabalhos clssicos. Shcpard. Moorc ( 1960) consideram normal, para lagunas, razes de assoreamento em tomo de O, 7 em/ano Rusnak. ( 1960) L'!Kontrou \a! ores percentuai'i de a~'inrcamento em tomo de O 12 em/ano para a laguna Madre, Texas Para a laguna de Piratininga, Huang ct ai ( 1993) encontraram um \ alor equivalente a 0,4 em/ano, superior ao encontrado neste trabalho (0, 13 em/ ano) No entanto observa-se que as amostras coletada~ pelos autores aLima lnutlitam--;e em ponto-; diferentes da laguna, onde. de acordo u \fll o trabalho de Resende. Si h a 1 I YY--1- ), predomina uma f c ics arenosa Segundo Nittroucr ( 1979) a geocronologia do Pb21 O pode no apresentar uma boa resoluc.o se a atividade inicial do Pb21 O flutuar devido a mudanas no tamanho do sedimento ao longo de um testemunho contendo uma estratigrafia complexa de camada de areia e lama intercaladas Neste trabalho, amostras foram colctadas em reas de predomnio de sedimentos finos, com valores equivalentes a 40 - SOo/c de silte e

    o

    O A ~~em -LAMA ARGILOSA COM RESTOS DE

    73cm . = ~=--=~-_:_,_ --- - -- ---

    ------

    I VEGETAIS E GASTROPODES

    LAMA ARENOSA

    li~;wu ()-li \fl'lllUilho 1 T2 i< oletado nu f'"' I o 'l'/1/Jilf da laguna de l'il

  • 14

    eram mais ativos na laguna menvmh, abertura da barra, etc ) c tambm so o resultado da a~ o clica

    A ocupao humana da regio, cada vez mais intensa, c principalmente da~ bacias de drenagem, onde o desmatamento vem sendo praticado, altera os processos sedimentares natumis lagunarcs Assim, a cunha de sedimentos finos que predomina na regio a nordeste c Lentral e que recobre as areias mais antigas tende a se espessar. aLelerando o assoreamen-to do corpo lagunar

    No\ sedimentos tinos. lh argiln-minerais cnumtrados em todas as amostra-; super! i L i ais pertencem ao grupo da caolinita dos intcrestratificados ( ilita-esmcctita) c, em menor proporo, ao grupo da ilita H uma forte relao entre os argilomincrais c o tamanho do gro do sedimento O grupo da caolinita Loncentra seus maiores percentuais a nordeste da laguna, prximo s desembocaduras dos rios Jacar c ArrozaL rea de maior ocorrncia de silte Os intcrcstratificados (ilita-esmectita) concentram-se na por-o Lentral da laguna, estando assim relacionados granulometria

    R bras Geogr Rio de Janeiro \ 57, n 4, p 1-163 out/deL 1995

    mais fina (argila) A ilita concentra seus maiores percentuais na poro oeste da laguna, associada presena de hiotita, encontrada nas fraes mais grossas (areias)

    Os opau>s, predominantes sobre os demais minerais pesados, ocorrem de forma homognea ao longo da laguna A granada ocorre na maior parte das amostras identificadas c apresenta-se ligei-ramente mais grossa do que o\ opacos (frao 0,062mm), ocorren-do em maior quantidade na frao O, l25mm, com concentraes na regio sudeste da laguna c na regio prxima ilha do Modesto Obsen a-se que a hintita ocorre com maiores valores percentuais na poro nordeste, entre as dcsemboLaduras dos rios JaLar e Arrozal

    A alta conccntra'-o de matria orgnica dos sedimentos da poro nordeste c central da laguna e a mais densa ocupa\-o humana nessa mesma rea so evidncias da origem dessa matria orgnica como produto do lanamento de etlucntcs domsticos no tratados Essa distribuio de matria orgnica est relacionada ao padro geral de

    circulao da laguna de Piratininga, onde as correntes fluviais lanam esse material, que, por suspenso. alcana as partes centrais da laguna (regio de predominncia de sedimentos finos)

    Anlises de Pb 21 O indicam que a razo de sedimentao nesta la-guna nos ltimos I 00 anos tem sido de O, 13 em/ano O acelerado processo de degradao ambiental da laguna de Piratininga c regies vizinhas, principalmente o forte desmatamento dos morros c drenagem de grande quantidade de Larga slida trazida pelos rios para dentro da lagoa, vem causando o aumento dos processos artificiais de assoreamento Assim, mantidas as u>ndi'-es atuais de ocupau desordenada, num perodo de tempo relativamente curto (pouca-; dcada-;), teremos uma laguna drasticamente reduzida em tamanho e profundidade Lagunas, so, naturalmente, ambien-tes de vida relativamente curta no espao de tempo geolgico (algum, milhares de anos), no entanto. com a interferncia humana. os pnKcssos sedimentares so ainda mais acelerados, causando um rpido dc-;aparecimento de tai~ ambientes

  • R bras Geogr Rio de Janeiro 1 57 n 4, p 1-163 out /deL 1995 15

    Bibliografia CARNEIRO, M E R Cillo anual do aporte fluvial c o estoque de matria hiognica no sistema lagunar de Piratininga Niteri.

    Jl)I.J2, 157p Dissertao (Mestrado em Gcoqumica)- Programa de Gcoqumica, Uni vcrsidadc Federal Flumiscnsc. ]1.)1.)2

    DALCOLMO. M T ct ai Pu1jeto 1 arta geolr~i1 a do E \lado do Rio de Janeiro hloul haa de Guanahara rclatrio tina! Niteri Departamento de Rccur sos Minerais do Estado do Rio de Janeiro. 19~2 ' I

    DLXHEIMER, V Di 1T1 ihui~ o gnH{llilniuule meta i 1 Zn, Cu, Ph na hw ia do rio /(I( a r muniL pio de N itcni, RJ Rio de Janeiro. 19~ I I O I p Tese (Mestrado)- Programa de Geoqumiut da Uni\ ersidade Federal Fluminense 19~ I

    HU ANG. W ct ai Yariation o f h c a\ y metais in scdimcnts from Piratininga lagoon (Braz i!) multivariatc analysis and lcad 21 O In INTERNA TIO!\ AL SYMPOSIUM PERSPECTIYES FOR ENVIRONMENT AL GEOCHEMISTRY IN TROPICAL COCNTRIES, 191.)1, Niteri Prm eedin~1 1\iteni UFF. Gcochemistry Departmcnt. Jl)l)J p JY5-39~

    K;\IOPPERS. B A et ai DiagnstiLo amhiental do sistema lagunar de Piratininga- Itaip !':itcni R J Boletim dufwulu, ,/,' 8u11t! flOra Cml\O'I'il tio du i\'atutc;a 1 25 n 10 I l)~l)

    '\ ITTROL'ER. C A ct ai Thc use ot Ph 21 O gcoLronolog: as a .,cdimcntologiLal tool applil ation to thc Washington umtincntal shclf MarindJ('olo~\ 1 1l.p 297-11() IY7Y

    KELATRIO de a\ alia.,odas umdil,Cs tisilO-qumiL

  • 16 R bras Geogr, Rio de Janeiro,\ 57, n 4. p 1-163, out /dez 1995

    indica que a razo de sedimentao na laguna de Piratininganos ltimos I 00 anos tem sido de O. 13 em/ano A laguna de Piratininga encontra-se sob franco processo de degradao ambiental resultante da forte interveno humana, o que acelera os processos naturais de a

  • Pindorama: modelo europeu agrcola de assentamento, litoral nordestino brasileiro

    Keith D Mti//er, Ph D *

    Introduo Pobreza no Nordeste brasileiro

    um fato constante, desde do in-Lio da coloniza~o europia, no Sculo XVI Grande parte dos 45 milhes de nordestinos decidem (especialmente nos anos de seca) migrar para o sul em busLa de me-lhores oportunidades de sobrevivn-cia Tradicionalmente, os vales fr-teis da regio litoral do Nordeste tm sido dominado por extensiva cultura de cana-de-acar Por muitos anos os tabuleiros foram ig-norados como vivel para agricul-tura Os tabuleiros so localizados de 50 a 200 metros acima do nvel do mar c com 20 a 40 km de largu-ra. c estende-se por 7 50 km ao lon-go do litoral Atlntico Uma tenta-tiva para utilizar os tabuleiros apresentada no assentamento, de Pindorama, no Estado de Alagoas, 60 km sul de Macei O objetivo desse estudo analisar o de sem oi-

    vimcnto desse projeto que pode ;;crvir de modelo para o futuro de-scmolvimcnto do Nordeste, como tambm em diferentes regies do Brasil c outros pases em de sem ol-vimcnto

    Os anos formativos Desde os anos de 1500. a costa

    nordestina foi ocupada com a cultu-ra da cana-de-acar em sua maio-ria confinada nos vales frteis dos rios pertencentes aos grandes pro-prietrios Por causa da pouca fer-tilidade dos solos nos tabuleiros, no passado, a cana no ocupou os ta-buleiros, sendo estes usados de for-ma escassa para pecuria. agricul-tura de subsistncia c fornecimento de madeira 1 Numa tentativa de dcsensolvero potencial dos tabulei-ros e fixar parte da populao e evi-tar migrao, a Companhia Progres-so Rural estabeleceu o projeto

    Associate Professor, Department of Geography, Kent State University, Ohio, USA

    Pindorama, em 1954, com a com-pra de 34 133 hectares de terra de tabuleiros Em 1958. a companhia parou sua atuao por problemas fi-nanceiros Por essa poca o projeto j tinha 200 casas construdas. !50 km de estrada~ abertas um centro urbano. c a seleo dos primeiros 190 colonos Em 1959. o controle dos assentamentos c a comercializa\o dos produtos agrcolas foram assu-midos pela Cooperativa de Coloni-zao Agropecuria c Industrial Pin-dorama Ltda com a expanso da cooperativa do consumidor fundada em 1956 Em 1961. com 420 lotes ocupados, a cooperativa solicitou um emprstimo tederal de US'll9HOOO para a constrw,o Jc uma fbrica de sucos A fbrica processou ma-racuj (fW\ \i flora edulin o que Jcu ao projeto nova nfase de mercado somado ao valor ( value added) da cultura do maracuj, com o valor da cultura c processamento no local do projeto:

    ' CORRIA, Roberto Lobato A Colnia de Pindorama uma modificao na paisagem agrria dos tabuleiros alagoanos Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 25, n 4, p 479-484, out/dez 1963, HEREDIA, Beatriz Alasia de Formas de dominao e espao social a modernizao da agroindustria canav1eira em Alagoas So Paulo: Marco Zero, 1988

    2 MuLLER, Keith D O impacto de mecanizaao no sul do Brasil: caso do oeste do Paran Cadernos de Geocincias Rio de Janeiro IBGE, [198]150p , SCHACHT Siegfried Agricultura! colonization of the Zona da Mata of North-East Brazil the example of Pindorama Applied Geography and Development, Tubingen, v 17, p 71-90, 1981 Traduo do alemo Agrarkolonisation in der Zona da Mata Nordostbrasiliens: am Beispiel der Kolonie Pindorama

    R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 17-22, out /dez, 1995

  • IX

    No inLio da dLada de()() ak-mcs c U c-;ta\am finanLcira c admin i '-.trati \ amcnlL' cn\ oi v ido" no projeto Relativamente grande.,\\)-ma de utpital estrangeiro lotam imcstid\\-. em Pindorama Mc.,mu durante o-; ano., prcLrio'> de IY~ a 197-L inkrnaL ional ajuda tuliLa c ti-nanLcira foi rcLcbida pelo projeto do\ l:stado'> llnidos (indudo.., O\ Voluntrio.., da Paz), Alemanha ll'rna tnicn de di\ \o~c \t:-.tL'Il1a '\" ll., a~IO\ i ]a., tm uma po-pub\clo que\ aria de 50 a 15() tamtita\ pata um total de qua\L' J()() lote-.; urbano., ( inqLicnta a h() tamli, o que permite ummclhL 1r dc\cmpcnho 1111 L uidad( 1 lh-; LUituras L' dos cl!limai.,

    '\(l Tipo li ll" ilado ],JtL'\ lon,!!

  • R hras Geogr, Rio de Janeiro ' 57 n 4, p 1-1 3 out /dez 1995 19

    c compreendem 65 'Ir da rea do pro-jeto Os lotes do Tipo li oferecem re-lativamente igual distribuio de solos, microclimas c vrios graus de declive para cada estabelecimento Nos lotes do Tipo II os colonos encontram-se numa situao de isolamento compa-rados com os colonos do Tipo L que residem nas agrovilas Desde que cada tamlia resida no prprio lote, os colonos do Tipo 11 esto em posio de melhor cuidar das cultura-; c ani-mais Porm. a distncia entre \ i.nho~ diminuda no" assentamento;, lineares o que cria um certo padro linear Os galpes estendem ao longo da" estradas no tim do;, lote-., do;,\ izi-

    nho~. normalmente nas di\ i"as. ma-., tambm s vc7cs nos v ale~ Esse-., lotes longos topograficamente ajusta-dos so similares aos estabelecimen-tos rurais europeus como O'i de Waldhofelldmj, as vilas de lotes lon-gos de tlorcsta. hem como cs~cs encontrados, em vrias localidades no sul do Bra'>il' De um total de mais de 1 }(X) stios em Pindorama. Tipo 11 tem mai'i ou menos YOO stios c Tipo! mai-., 1>U menos ~00, ou 70 c 30 (,~. rc-.pcc-ti\amcntc

    Tamanho do assentamento

    Como mencionado ante-.. m lotc'i do Tipo 11 torJm estabelecidos num do;, ltimos estgios do projeto. c normalmente so menores de uma metade a um tero do tan1anho dos lotes do TifX> I dcsemoh idos na parte inicial do projeto, ou aproximadmncntc de I O a 20 hectares 1enu.\ 20 a 30, respedi-vamcnte A Tabela I mostm o tamanho dos estabelecimentos de todo o projeto Existem poucos estaheleciment(~' pequenos c o maior de somente I 05 hectares Por exemplo, 43 estabeleci-mentos, ou 3,2 o/c, tm menos que lO hectares, enquanto 90,6 % so de I O at 30 hectares c somente 6,2 o/c so de

    30 ou mais hectares De acordo com a-; estatstica-; da cooperativa, Pindomma tem I }g6 lotes rumis com 32,309 hec-tares, com uma mdia de 23.3 hectares por lote O centro urbano de Pindomma fonnado por 472 lotes urbanos

    Coruripc, o municpio em que aproxi-madamente metade do projeto ltx.alizado, dominado por grande" propriedades que fazem fronteira com Pindonuna Tabcla2 Porcxcmplo, 72.

  • 20

    tinua at hoje Alm di-;so, mais ou menos 25 (Ir da produ~o do aha-caxi do projeto tarnhm e;;t sendo processado. o reCU" lote-. CLrtamcnll' L''>'il' L; mJi'i do yuc normal para u lopcrati\ as no Brasil Posse tran"tcrida por hcran\a c o direito de \ ender o ttulo dL pos-.,c para qualqmr pessoa tora da farmlia permitido LO!ll Lonscnti-mcnto da L oupcrat i\ a Porm as pes-soas Lom o titulo de posse tm yuc morar no projeto c trabalhar na terra Isso prC\ inc ahscntesmo (no mora na propriedade) c garante controle pela Loopcrativa que I oi um dos seus objetivos originais Poucos dos colonos originais so proprietrios diretos porque efetuaram todos os pagamentos do lote antes da coo-perativa comear administrar o pro-jeto em I 959

    R hra> Geugr Riu ue Janeiro ' 57. n 4 p 1 16 'l out /de; 1995

    Tabela 2 Classes de estabelecimentos- Municpio de Coruripe, Alagoas

    Tamanho il-lcLtarc'> 1

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  • R bras Geogr Rio de Janeiro \ 57 n 4, p I 163 out /dez 1995

    de 6 000 hectares em 1970 at 55 000 hectares em 1985, Tabela 4 No mesmo perodo, o Estado de Alagoas aumentou 200 o/r de 166 194 a 4% 709 hectares de rea plantada O aumento em Coruripc de mais de 30 000 hectares entre 1970 c 1980 toi principalmente nas partes do munic-pio no-Pindorama A abertura da destilaria em Pindorama, em 1981, explica pelo menos em parte o au-mento dos 22 000 hectares entre 1980c 1985

    Dados do projeto de I 9YO mo-.tra LJUC m -;Lim plantaram um total de 1 2 ()()(} hcL tarc~ de cana i\ Tabela 'i mmtra LJUC, em 19Y2 mai-; de 400 ()()() tonelada-. de uma produtiram mai-, de 31 milhc-; de litros de lcool

    Embora muitos colonos mudaram para cana-dc-a\'car na custa de outras culturas na dcada de 80, a Loopcrativa realizou o risco de de-pender demais de uma cultura que est sujeita s tlutua\cs dramti-cas dos preos c da possibilidade de perLa de colheitas Por isso, um dos objetivos da cooperativa de man-ter divcr

  • 22 R bras Geogr, Rio de Janeiro. v 57, n 4, p 1 ~ 1 3 out /dez 1995

    Bibliografia CENSO AGROPECURIO 1970-1985 Alagoas RiodeJaneiro IBGE, 1974-1991

    CORREIA, Roberto Lo bato A Colnia de Pindorama uma modificao na paisagem agrria dos tabuleiros alagoano Re1i 1ta BralileiwdeGeof?rafia,RiodcJaneiro,\ 25.n 4 p 479-4R4.out/dez 1963

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    MLLER. Keith D O imp{l( to de mn ani::a~ o no 111/ do Bra1il caso do oeste do Paran Caderno\ de Gt>ot ifl( 11 Rio de Janeiro IBGE, [ 19R- [ J50p

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    ">INOP'iE PRELIMINAR DO G.\J">O \CiROPECL'/\RJO !LJX5 Regio :\ordcste Kiodc Janeiro IH C i L \ 4 n 2. p 1-25tl. llJX7

    Resumo Atra\ s desse estudo analisamos o sucesso de Pindorama localizado a()() yuilrnctros ao sul de MaLcit em Alagoas. onde

    aproximadamente I 500 famlias foram assentadas em 14 133 h c c tarcs deste I Y54 Uma forte cooperati\ a o elemento principal do sucesso do projeto Pindorama Diversificao da agricultura est sendo mantida atra\ s da produo de coco. leite. maracuj. abacaxi c cana-de-acar. para lcool- produo processada no centro urbano o que aumenta o\ alo r dos produtos c tambm a oferta de empregos O sucesso do projeto precisa ser julgado umsidcrando que de I Y50 at 1970. ajuda internacional foi tundamental estmulo na forma de ajuda financeira c tcnica Enquanto que a agricultura comercial est sendo praticada c a qualidade de\ ida est crescendo pelos pequenos agricultores de Pindorama numa regio onde grande planta',-Cs de cana-dc-

  • A territorialidade e a sustentabilidade ou a ecologia do espao poltico

    Introduo O territrio um ambiente polti-

    LO produzido a partir de materiais disponveis em um dado recinto da superfkie terrestre Ou, de modo ratzeliano, uma delimita\o espacial por parte de um determinado grupo humano organizado, como estratgia de afirma'ro perante outros grupos Ou ainda, no esprito de ambas for-mulaes, a estruturao de uma malha contida de objetos espaciais, naturais e/ou construdos, que atuam L o mo instrumentos exossomticos de um dado lorpo tnico-

    ~oLiocultural O que ir garantir a umsi'itncia dessa tcrritorializao a capacidade por parte dos agentes em transformar em recursos tanto o contedo natural de tal espao como ele prprio

    Dessa forma, assume- se a prn-duo territorial como a elaborao de recurso( s ), ou seja, como um complexo de prtica-; sociais capazes

    de extrair propriedades vlidas dos materiais disponveis, de acordo com o modo de produ\o vigente entre os agentes do processo territorial ( Raftestin, 1993) Portanto, umsidera-se a territorialidade como um complexo de prtiuts estabelecidas na relao entre um grupo organizado, modemamcnte uma sociedade, c o seu espa'ro A questo que se coloca concernente natureza das prticas, isto , tanto as que dizem respeito ao manejo ambiental como as intrnsecas es-trutura social

    Ou seja, de um lado, dado o umhcl imento atual de que se dis-pe de um estoque no rcnO\ \ el de natureza, a explorao de seus materiais implila numa postura ecolgica, isto , na preservao de seus ciclos regenerativos (Nosso futuro comum, 1991) Em vista desse tato, o processo territorial deve produzir recursos garantindo a sustentabilidade de sua base

    C ar/o\ Santo\ *

    ecolgica O que significa assumir o espao terrestre como um sistema fechado, ou seja, a disponibilidade de seus materiais possui um limite. ele-; tm uma finitude, c, em termos do mbito do planeta. o prprio cspa~o tambm finito

    Por outro lado, o processo terri-torial, evidentemente, no lOnsiste apenas na relao sociedade c espao, abrange tambm a relao entre os membros dessa sociedade, desse modo, a produo territorial depende tambm de uma outra ecologia, qual seja, da forma como as rcla'rcs sol i ais se dcsenvol vem A natureza dc-.-;as rcla

  • 2-1-

    . objeti\ibilidadc igualit

  • R bras Geogr. Rio de Janeiro \ 57 n 4. p 1-163 out /dez 1995

    apresentam em contextos discretos, como o caso do nosso planeta embora complexo ao extremo, finito. porquanto nico (uma certa cspacialidade com uma dada temporal idade) Mas. evidentemen-te. nosso planeta uma tcssitura que ao comportar o carter instvel da real idade abre-se em potencialidades, como a do ser humano Este se afigura um siste-ma orgnico de estrutura to com-plexa ao ponto de se auto saber c de se auto projetar nas coisas ao seu 1cdor atravs da im cno de um Lomplcxo simblico que o (rc)cria ulntinuamcntc para -;i mc~mo iloucaulL 1992) Nc~sa mcdia~o 1 rc )L riada situa-se a complexidade da rl'lao com a realidade Pois. a ohjcti\ idade buscada depara-se Lom a subjetividade da constru,o simblica, ou. como analisa Morin. trata-se da condio de que "O crebro est aberto para o mundo exterior c o homem tem uma abertura intinita sobre o infinito do mundo Ao mesmo tempo, como j rccri. o crebro um rgo encerrado numa caixa negra a mensagem que lhe chega dos -;cntidos no nunca direta. sempre codificada, traduzida, c o crebro interpreta estas mensagens tradu?idas para reconstituir, 11w maneira. a imagem do original No h nenhum ( t itrio intdn 1ec o que permita difer('fu iw uma a/li( ina- tio de uma pcn cp Zio (Grito no.~-.;o) o que prm a hem que nada no\ diz, de uma torma infalvel c certa. que o que cremos ver \ crdadeira-mente visto, verdadeiramente real" (1984, p 25) Ou seja, a incerteza uma condio inerente ao processo dt: conhecimento

    Assim, pode-se entender que o paradigma da complexidade abran-ge tanto a realidade externa ao sujeito, quanto a ele prprio Isto , trata-se de uma situao de unitm c omple.t, uma unidade de diversidade ou uma diversidade da unidade O que significa considerar

    que h uma diversidade a ser preservada, porquanto reconhecida no s como em processo de progressiva diferenciao, como a forma de apreenso dessa diversidade implica numa complexa interao de mctodologias Ou seja, para se fazer cincia dC\ e-sc apoiar em di versos caminhos c rcfcrcnc i ais, valendo uma multiplicidade de meios. tanto acadmicos, quanto os oriundos das mai'i diversas prticas culturais ( Morin. 19g4_ Fcycrabcnd. 1977 J Porm. sem perder o Larter p r n g c s s 1 \'o da r a L i o na I ida d c c ientl ica. enquanto diretri/ de mtodo-. c de mctodologias poi;.. como adverte Hahcrmas. preci-so C\ itar-sc o "vale tudo". caso contrrio vai se admitir que "a f nas bruxas deve, ento, poder ri va-lizar seriamente com a mecnica de Newton" (1987. p32g) O horizonte dessa abordagem pode ;.cr descrito como o esfon,o de estabelecer-se um certo padro nomottico, objetivamente crtiLo, em meio aleatoriedade de fen-menos absolutamente idiogrficos (h. nb\ iamentc, um problema. ou uma crise, de carter metodolgi-co mas no epistemolgico). ou, construir um discurso cientfico transdisciplinar que supere o "ca-rter exclusivamente operacional do mtodo experimental". funda-mentando-se na complexidade do "rUI do .. ( Atlan. 19g6) Mal, geo~raf amcntc falando, o que a ( ompfedwle J

    De pronto, tem-se o problema da singularidade ou da idiografia dos fenmenos e. simultaneamente. da aleatoriedade do comportamento dos mesmos Uma pista para o tratamento da singularidade/ aleatoriedade em termos geogrfi-cos est na noo de caos confinado, c ham hom, flutua,cs complexas de vanavcs conjuntas, mas desconexas entre si em um contexto delimitado (Ourand-Dastes, 1991,

    25

    Dollfus, 1991 ) Onde, pode-se inferir, cada varivel constitui um circuito per si, isto , no evolui para um n-vel, para uma grada(,O de intcgra-,o Para Durand-Dastes. depen-dendo do critrio gentico, isto , das condies iniciais, possvel a distin-',o de vrios tipos de ordem de acor-do com a dimenso e a natureza dos contextos Pode representar um sistema equilibrado (no cristal) ou um sistema em desequilbrio (na fumaa) Porm. "Jc L h aos se difrcncic la tois de l'ordrc et du dsordrc la diffrcncc de c e dcmicr. il prscntc de'i configuration'-> identitiahlc'i. ct un taihlc nomhrc de dcgr" de lihcrt Mais il \C di ftrcnc i c de r ordrc par rahscnce d'autocorrlations spatialcs ct/ou temporclles. par dcs fluctuation'i brutalcs ct, dans les modeles, par le rlc dcs atractcurs trange\ Ceux-c i sont I c rsultat de I' action de proccssus antagonistes. dont ccrttaim tcndent fairc convergcr \cs trajectoircs, tandis que d'autres tcndent les fairc diverger Dans tous les processus, la scnsihilit aux conditions initialcs est forte Dans k'> modeles de pr\ ision. i! y a une augmentation cxponcntielle des crrcurs" (0urand-Dastes, 1991, p 2) Portanto, diacronias c disjunc;. tmporo-cspaciais, no sinrgica\. caracterizam um contexto de cao:-. confinado c. importantt:. constitui-se uma situao que toma praticamente invivel a prcvisihilidadc (como no I ammo cteito borboleta J

    Alm di;,so, a naturc'"a de tasc do caos apontada por Dollfus quando explica que "'Un chaos, c' est un amas d'lments -;ans relations dynamiques, seuls peuvcnt intcn inir des contacts de voisinage ainsi dans un chaos de blocs (bloco de rocha bastante diaclasado [Brunct. 1991]) Un chaos, c'est un 'non systemc' 11 pcut prexister tout systeme, c'est lc 'chaos primordial' qui prcede 1' ordre des Fondateurs et que J'on trouve dcrit dans la plupart des cosmogonies Mais c' est aussi

  • 26

    une 'Latastrophc au scns qu'cn Jonnc R Thom. L 'est Jire r intersy stcmc, I c passage entre deux -;ystemc Jiftrcnts -;c succdant dans un mme licu Lc Lhaos. L est r tat passif. inorganis qui prLCde la misc cn placc J un onlre ou qui 'iC place entre dcux ordrcs Si. dan" lcs cosmogonics. I ordrc son du Lham originei. lc chao-; qui signe la mort d'un 'iystcmc n'est ccpcndant pas tuujour'i la matriLc d' un noU\ cau

    ~) stcmc' ( ll)l) I. p 1 l Sendo assim. enquantu um modelo de in'itahilidadc qual ~cria a aplicahilidadL do Lao~ par a o problema da ten itor ia! idade atra\'i dL uma ~u'itcntahilidadL' CLO-~ULia/' 1

    1\ produ\ rcLursos ma~ 'isando prcscn ar sua identidade ao cstimu lar sua di tcrenL ia~.;o (em 'i C -;cndo o outro do outro) ;\tratgia de

    Lompromt~

  • R bras Geogr. Rio de Janeiro. ' 57. n 4. p 1-163. out /dc7 1995

    tcs descoberta do cerro de Potos, que a conscincia de ento considerava mais prximo da costa brasileira Entretanto na segunda metade do sculo XVI, observa-se a proliferao de expedies que de-mandam o interior em busca de mi-nrios. num movimento irradiador que parte de diferentes ncleos costeiros Alm das riquezas mine-rais, o apresamento do gentil tambm comc~a a emergir como mvel dessas incurses, pelo fato de que se expandiu a demanda de braos com a umsolidao das planta~cs ( 19Y2. p 51

    Temos. ento, no-; molde-; da rctcrida dctinio de Rattestin, a implantao de uma ao sintagm-tica lusitana no cspa~o -;ui-americano, na construo de uma territorialidade, cujo processo. no contexto da poca, envolvendo povoamento c cxplora~o cfcti v a, definida por Moraes de fixao, se -;oliditica, neste sentido, pela economia aucarcira Assim o 4uadro pintado por Moraes

    Enfim. os ncleos originrios da formao do territrio colonial brasileiro encontram-se assentados na poca da unificao das coroas ibricas Uma obra geopoltica de conquista havia sido realizada Dos centros de a;;scntamcnto partiam movimentos de explorao c de povoamento Os primeiros abriam o conhecimento de nova;; reas c definiam percursos. alargando o horizonte do colonizador lusitano c recortando extensas zonas de trnsito c visitao espordica Os segundos avanavam nos espaos contguos, gerando zonas contnuas Jc OLupa~o c jogando pata adiantt: as fronteiras do territrio ocupado As expedies exploradoras moviam-se tendo por objeto o apresamento dos indgenas ou a perspect v a da descoberta de rique-zas naturais O povoamento avanava apoiado na labuta agrco-la, na qual se releva amplamente a

    lavoura de cana-de-acar Esta encontra-se em plena expanso no perodo analisado, constituindo-se os engenhos no maior montante de capital fixado ao solo da colnia ( 1992, p 6-7)

    De modo geral, a diretriz do processo de territorialidade dada por uma lgica programtica de cunho econmico, ou, em outros termos, por um modo de produo No contexto do incio da produo da territorialidade brasileira (Sc XVI) vigia o modo mcrcantili-,ta Da as territorialidades em curso na poca obedecerem a lgica mercan-tiL como. ainda, dct inc Moraes

    Sintctitando. a \alorizao colo-nial do espao necessita de agente-, "passivos" (submetidos) que se amoldam am interesses do sujeito colonizador, que os aloca seguindo uma lgica subordinada a um mercado c a um centro difusor externo Lgica mercantil atrada por recursos raros c por possibilidades de produes complementares de alto valor nas trocas internacionais O povoamento. a instala~o de equipamentos, a fixao de valor. tudo responde a essa lgica, at o momento em que o volume de capital internalizado comea a gerar inte-resses locais. que podem se antagonizar ou no com os da metrpole. ao sabor das conjunturas A partir desse momento. a condio subordinada passa a conviver com estmulos autoccntrados, ahrindo a possibilidade da colonizao interna agregar mais interesses que o inter-cmbio metropolitano (s/d. p 4)

    Mas a era mercantilista cedeu lugar ao capitalismo industrial O modo de produo capitalista pro-duziu uma economia mundializada No contexto desta, o espao latino-americano vem desempenhando papis a cada etapa de evoluo da chamada economia-mundo, como mostram Becker, Egler ( !993, p 29)

    A Amrica Latina a mais anti-

    27

    ga periferia da economia-mundo Ela parte constituinte do processo de formao c desenvolvimento do sistema capitalista mundial, orientada desde o incio da colonizao para a produo de mercadorias de alto valor para a Europa Partilhada entre Portugal c Espanha, sua formao econmica toi marcada pelo mercantilismo c sua sociedade moldada imagem da Ibria Seu desenvolvimento ulterior esteve in-timamente associado dinmica dm LCntros de acumula~o da econo-mia-mundo - primeiro a Gr-Bretanha c posteriormente os Esta-dm Unidos- participando da di viso internacional do trabalho como eumomias exportadoras de matrias-primas ( 1993. p 2Y J

    Desse modo, a territorialidade latino-americana, c particularmente a brasileira. se inserem num siste-ma econmico mundial organizado em terrmos de centro-periferia O que implica em definir a situa~o das territorial idade-; su 1-amcric a nas LOmo de economia-, dependentes Tal condi~o perifrica indutiu uma r e flexo crtica, provocando importante posicionamento - uma anlise, pela tica latino-americana, do capitalismo perifrico Como relatam Beckcr, Eglcr ( 1993, p 30) O Eswdio Ec mwmic o de Ame rica Latina de !94Y marcou o nascimen-to da economia poltica cepa! i na. bem representada no Brasil por Celso lurtado. de I incando com Llarcza a problemtica da especificidade do capitalismo perifrico O E:,tudio, coordenado por Raul Prchisch, parte da constatao de que o crescimen-to da Amrica Latina dependia di-retamente do setor exportador, que fornecia as divisas necessrias para a importao de manufaturados Esta estrutura centro-periferia tenderia a se perpetuar, medida que sua dinmica era controlada por decises tomadas no centro e se acentuaria com a deteriorao dos

  • 2X

    termos de troca Nesse contexto, somente a industrializao nacional conseguiria romper o crculo vicioso do subdesenvolvimento

    Definido o projeto nacionalista de desenvolvimento. cabia implement-lo Esse processo passa a ser encaminhado pelo estado A via estatal de modernizao foge do modelo clssico burgus, ou seja, um projeto nacional nos moldes da Revoluo Francesa uma

    instaura~o de nova ordem a partir da sociedade contra a ideologia das elite\ dominante\ instalada~ nu estado Ora. a \ia estatal 0 implementada a partir de elites dominante'>. um~cn adoras. pelo modelo prussiano, que instrumenta-l i.tam o estado. LtmdiL ionando-o a seus interesses Justamente. esse o caso brasileiro (particularmente Lom Vargas a partir de 30 ). ou latino-americano uma elite que desde a Colnia tem o estado como patrimnio c a sociedade como massa Portanto, a produo da ter-ritorialidade vista como um bem privado c no como uma institui\-o social, pbliLa. uma ampliac.-o do cspa\-o de cidadania Be.cr, EgicJ \cm esse encaminhamento autoritrio da seguinte forma

    A manutcnc.-o do prcLrio cqui-IJbrio entre as forc.-as do mcrLado mundial c os interesses dos grupos dominantes nacionais conferiu atribuies crescentes ao estado que assumiu um papel decisivo no momento da industrializac.-o Ao longo deste processo. cresceu e Lonsolidou-se uma poderosa burocracia estatal, exercendo a dominao poltica sobre a sociedade civil pouco organizada c desprovida de canais de representao Nesta burocracia, as foras Armadas tm papel marcante, embora com nveis diferentes de profissionalizao A modernizao conservadora a via latino-americana para a modernida-de, onde o estado negocia com grupos privados a manuteno de

    R bras Geogr R i o de Janeiro. 1 57 n 4. p I- 163 out /dez 1995

    privilgios c a sua incluso ou excluso na apropriao da coisa pblica. em troca de apoio ao proje-to de modernizao de cima para baixo ( 1993, p 33)

    Dessa forma, a apropriao pri-vada da coisa pblica transforma o projeto de colonizao interna. aps o golpe de 64, numa produo de territorialidades destitudas de sentido comunitrio, pois trata-se de cspaLialidades privadas c no de territrios juridicamente afinados LOm as prerrogativas \OL i ais vigentes para todos Assim. o territrio, na tiLa autoritria, um cspa

  • R hras Geogr. Rio de Janeiro, v 57, n 4. p 1-163. out /det 1995

    (Grifo nosso) Estaramos enganados em pensar que se trata de um problema qualquer de semntica Trata-se de algo bem diferente c, sobretudo. bem mais do que isso uma concepo histrica da relao com a matria que cria a natureza scio poltica c sociocconmica dos recursos os recursos no so naturais. nunca foram. c nunca sero! " ( 1993 p 225)

    A chave. ento. dada a relao que define o que pode ser recurso

    ~J essa rclac,o tanto ulrn a matria quanto com o outro c ( rc )constrUtda no tempo. histtirica Portanto. trata-'-C de uma prtica \oual

    Enquanto prtiLa \OL ia!. a relao uHn a matria dc-;Lortina possibili-dades infinda" de manejo, como mostra o referido autor

    A referncia matria sempre LaractcriLada por um ponto de vista que permite integrar tal ou tal -;ubstncia numa prtica O ponto de vista. limitado pordcfini~,o, implica que nenhuma a~,o particular c-;gota as propriedade" da matria, pois elas no so cxausti\ a' para o homem Assim, uma mudan\a de prtica constitui uma no\ a reI ao com a matria. donde resulta a probabili-dade de evidcnL i ar nm as proprie-dades Estando entendido que uma prtica, sempre Lnmplexa. mesmo a mais rudimentar uma seqncia que apela a um ou vanos conhcL imcnt1h dn" quai'i algun" -;urgem na a~,o mas outros resultam de uma aL umula\-o ante-rior atualizada pela memria Portanto, uma prtica no estvel, evolui, ao mesmo tempo, no espao c no tempo ( id, p 22-+)

    Ento, o que sustentabilidade, enquanto prtica social?

    Do ponto de vista socioeconmico, a sustentabilidade, enquanto um para-digma, est ligada questo do desenvolvimento o paradigma que orienta o uso de tecnologia de mnimo

    impacto no manejo ambiental, visando a obter o crescimento econmico, de um lado, c promover, de outro, a eqi-dade social A construo desse conceito vem sendo feita pela mobilizao, desde o final da segunda guerra, de especialistas nas mais diversas reas do conhecimento, pre-ocupados com os impactos sociais no circuito natural dos ecossistemas na-turais do planeta Nesses termos, vem emergindo o conceito de desenvolvi-mento sustentvel como "uma nova abordagem, pela qual todas as naes \ iscm a um tipo de dcscnvoh imcnto que integre a produo com a conser-vao c amplia\o dos recursos. c que a:-. vincule ao objetivo de dar a todos uma ha"c adequada de subsistncia c um acesso eqitativo aos recursos" Pois, como est explicado na obra Nosso futuro comum ( 1991. p 43)

    O conceito de desenvolvimento :-.ustcnt\el fornece uma estrutura para a integrao de polticas ambientais e estratgias de desenvol-vimento- sendo o termo "desenvol-vimento" aqui empregado em seu sentido mais amplo Muitas vezes o termo empregado com referncia aos processos de mudan\-a econmica c social no Terceiro Mundo Mas todos os pases, ricos c pobres, precisam da intcgra'""o do meio ambiente c do desenvolvimento A husLa do dc"cnvolvimcnto sustentvel exige mudanas nas polticas internas c internacionais de todas as nac,cs

    Em sua implicao sociopoltica. o paradigma da sustentabilidade apela para objetivos de polticas ambientais c dcsenvolvimentistas, embutidas no conceito de desenvolvimento sustentvel, que envolvem estratgias como retomada do crescimento, mas com alterao da qualidade do desenvolvimento (do carter excludente para o includente ), para que se possa atender s necessida-des essenciais de emprego,

    29

    alimentao, energia, gua c sane-amento Outra faceta, a necessi-dade de se manter um nvel populacional HHtentl'el Tambm, o esforo para conservar c melhorar a base de recursos -monitoramento das reservas de materiais - , implicando numa reorientao da tecnologia c admi-nistrao dos riscos E, enfim, incluir o meio ambiente c a econo-mia no processo de tomada de decises ( id )

    Percebe-se. implcita na lgica da sustcntabilidadc. a busLa de uma raL ionalidadc ampla c irrestrita na umdu\-o do processo Pois. Lomo lembra Bcck.cr

    Sabe-se hem que a cincia atraves-sa uma crise. associada prpria crise do sistema capitalista mundial, mergulhando ambos no reino da incerteza Os grandes paradigmas univcrsalizantes so desafiados por novas tendncias A essncia do questionamento centralidadc de processos lineares c de cqui!Jbrio no reside na rejei~ o da cincia enquanto ( ompreen 1o rima da realidade material. e lim do mtodo c ientfo enquanto tentati\'a de redu::ir a comple\idade (Grifo nosso) Trata-se de reintcrprct-lo como tentativa de compreender a wmplcxidade. significando a sua apro-ximao com as humanidades c as L incias sociais Em outras palavm

  • 30

    mente com relao questo da Amaznia Nesse sentido, Bcckcr es-pecifica que

    Os ltimos anos do Sculo XX corrcspondcm transio entre a crise da economia-mundo c a implementao de um novo regime de acumula~o que, gestado a partir de 1970, tende a dominar no Sculo XXI A essncia do novo regime a internacionalizao crescente da economia capitalista associada nova forma de produo introduzida pela revolu~o tecnolgica da microclctrnica c da comunicao, c haseada no conhecimento cientfico cnaintorma~o(op cit,p IJ4)

    htlc a tal situa\-o, essa autora entende que, com a criao de nmas redes de circulao c de comunica-'ro, na nova face do poder, "o Jesem'olvimento \tt:>tenttel c mnti-tui a fa( e territorial da nova forma de produ::ir, a l'eno ( ontempor-nea da teoria e do1 modelo\ de de-\e!ll'ohnento regional" ([si c] op cit, p 135) Assim, Beckcr traa as linhas do modelo

    O novo modelo se fundamenta em trs princpios bsicos O princpio de uma nova racionalidade no uso dos recursos, o princpio da diversidade, i e , uso das potencialidades autctenes em recursos naturais c humanos, significando uma \ aloriLa~o sclcti v a das ditcrcn'ras, o princpio da descentralizao, implicando no apenas a distribuio territorial da deciso, mas sohretudo a torma inovadora de planejamento c governo, a gesto do territrio, en-tendida como um processo em que os esforos do desenvolvimento so baseados na parceria construtiva entre todos os atores do desenvolvi-mento atravs da discusso direta, onde normas c aes so estabeleci-da e responsabilidades c competncia-; so definida-; Privilegia-se, assim, o poder local como bao;e do desenvolvi-mento (p 135)

    De modo conclusivo, a produo da territorialidade, no contexto colocado, indica duas variveis

    R bras Gcogr, Rio de Janeiro, \ 57, n 4, p 1-163, out /dez 1995

    bsicas a considerar-se a logstica c a gesto Para Becker "Logstica entendida como preparao contnua dos meios para a guerra - ou para a competio expressa num fluxograma de um sistema de vetores de produo, transporte c execuo A partir de ento, o que conta a seleo de veculos c vetores para garantir o movimento perene - envolvendo o controle do tempo presente c futuro - selc\-o de lugares a ela subordinando" ( s/d, p 2) Trata-se da sndromc da l'ifel \'e, da emergncia de uma cultura da velocidade, na dinmica de processamento de todos o_, setores sociais (Virilio 19X4) A gcstn a dirctri7 bsica da sustcntahilidadc c que transforma o conceito em instrumento poltiLo de rcgula\-o, dando-lhe a dimenso de uma nova prtica social Assim, possvel aplicar territorialidade a regulal,o poltica da I'tene tecnolgica de sua produo c chegar-se a uma gesto do territrio Porquanto

    A gesto integra, assim, elemen-tos da administrao de empresas c elementos da governahilidadc, constituindo-se como expresso da nova rclaii-o pblico-privada c da logstica Trata-se de um conceito que expe a nova racionalidade com mais clareza do que o desenvolvi-mento sustcntvc L que a esconde sob o discurso de harmonia espacial c eqidade temporal Os riscos c oportunidades acima colocados per-manecem - a gesto ~c constitui como fundamento da possihilidadc de competir, o que significa formas mais democrticas ou, pelo contrrio, mais cxLludcntcs de representao c participao terri torial ( Becker, s/d p 3)

    A ecologia do espao poltico: um instantneo brasileiro

    A fixao de valor como mvel da produo territorial nas condies de semiperiferia, como no caso brasileiro, incorpora a lgica da competitividade, prpria do sistema,

    a qual explora as vantagens compa_rativas oferecidas por dctcrmmados territrios Hoje, no mbito da globalizao, ou seja, dentro de uma matriz econmica definida como "aquella que funciona en tiempo real como una unidad cn un ~spacio mundial, tanto para e! cap1tal como para la gcstion, e! trabajo, la tecnologia, la informacin o los mercados" (Castclls, Hall, 1994, p 21-2), a compctitividadc requer a sintonia com a territorialidade das redes intorn1ac ionais, criando novo padro de \ antagcm loLac ional Na dinmica da produ~o territorial brasileira o proLcsso de ecsto ~c depara Lom uma rccstr ~tura\o territorial em tun\;o das transf orma\cs L icntt i co-tecnolgicas c cwlgicas ( Bcckcr ctali, 1993) Pois . o~ ___ vetores de transformao

    ciCntiico-tccnolgica c ecolgica esto presentes no Brasil com parti-cularidades inerentes s sua-; condies histricas c geogrficas cspccfiLas Rompe-se o "trip' que sustentara a moderniza

  • R bras Geogr. Rio de J anciro. \ 57. n 4. p 1-163 out /dez 1995

    propsitos. articulaes c tamanho" ( op cit . p 3) Ou como analisa Souza (o Bctinho)

    No chamado terceiro mundo, as ONGs - vivendo as conseqncias do capitalismo. que se apresentava em sua forma civilizada no primeiro mundo. como o liberalismo c o social liberalismo, e em sua forma primria no terceiro mundo, como as ditaduras militares e os autoritarismos de todo tipo - foram mais contragovcrnamcntais que no gO\crnamcntai~ Tiveram que viver na margem. contra o rumo da or-dem" ( IY92. p 50)

    Porm. "uml o fim do c ido militar c a abertura para governos civis c regimes liberais, a-; ONGs umtinuaram a crescer c ampliar seu campo de ao No eram somente filhas da resistncia ditadura, queriam agora ajudar a construir a democracia No eram somente o que faltava s outras organizaes da -;oc iedadc c i\ i!, como a flexibilidade. a autonomia, a criatividade, a eficincia Descobri-ram que elas tambm se constitu-am em novos atores para a construo de uma nova sociedade" ( op cit , p 51) Nesse sentido, a inspirao ecolgica nos recentes ordenamentos territoriais no Brasil indica que

    A a~socia

  • produo e comrcio no pode tornar-se questo relegada ao mbito exclusivo do chamado livre-mercado, a considerar-se as profundas desigualdades entre as naes envolvidas nu processo de globalizaCJa pleiteia-~e um mcrLadu que aceite a Lidadania Lomo melo cxclusi\ o de acessibilidade

    A bao.;e do argumento acima a de que o t rahalho a fonte do poder (Raftestin, 1993) Como a territoriali-dade trabalho, o poder que circula no territrio vem de quem o exerce O problema que politican1entc o controle da gesto do territrio no tem come referencial a cidadania H uma tre-menda articulao para dar ao merca-do a chancela da govemabilidadc Des sa forma, fica fcil entender o sucessc do ambientalismo A economia ambi

  • R bras Geogr, Rio de 1 aneiro, v 57. n 4, p 1-163 out Ide;~ 1995

    ental rima com a produtividade indus-triaL e portanto, incrcmenta a acumu-lao Ma'> a mesma cientificidade que deslancha a produo "ecolgica" no direcionada para sustentar a cidada-nia Perante o mercado. a prcdao so-e ia! por excluso no se toma impa~sc como a prcda\-o ambiental

    Assim, a globalizao da economia uma excluso globalizada (Santos, 1994) A territorialidade das redes tende a ser um caos confinado. ( ha01 hom. onde a desconexo entre com-ponentes (rca~ marginalizadas ou \ i~ta

  • 34 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out /de; 1995

    FRIEDMANN, John Empowerment the politics o f alternative development Massachusetts Blackwell, 19lJ2

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    Resumo Este texto discute a produo territorial em funo da ecologia do seu suporte fsico ou seja. da disponibilidade dos materiais

    Lontidos no cspa~.;o onde o processo de tcrritorializa~o vai se dar Por outro lado. analisa tambm a CLologia das rcla~,-cs so

  • A modernizao da agricultura no entorno do Distrito Federal e a questo ambiental

    Introduo A Microrregio Geogrfica do

    Entorno de Braslia. compe-se de lf> munidpios adjacentes ao Distri-tll lederal que so Abadinia. Agua l ria Jc (iuis. Alcxnia. Cabet-eira-.. Cidade Ocidental. Cocalzinho. Cmumh de Gois. Cristalina. For-mosa Luzinia. Mimoso de Gois, Padre Bernardo, Pircncpolis, Planal-tina, Santo Antnio do Descoberto c Vila Boa Est localizada na por-

    ~o central do l:stado de Goi-.. com-preendendo uma rea de 3~ 142 km. ou -.eja ll f/( da rea deste estado

    !nt1rnamentc \ inculado a um um-JIHllo de elementos fsicos muito d-vcr-.i1iLado-.. no qual se estruturam as rela~.;es homem/natureza. a his-tria da ocupao do territrio, responsvel pelos atuais padres de utilizao do espao na rea rio Fn-tomc) do Distrito Federal

    Com o processo de povoamento iniciado no Sculo XVIII. essa rea passou por diversas transformaes.

    Angiu1 Alte\ Mognogo" Roherto de Centro Nohrcga Borruc ho

    ~u::i de Mutf(l\ 7 ere::a Coni'

    sendo que as mais intensas ot-orre-ram aps a instalao da sede do go-verno federal em terras goianas A implantao de Braslia representou um forte impacto ambiental nes-;a rea. decorrendo deste fato. grandes alteraes na organi?ao do espa-\O. destacando-se, principalmente. as rclati v as fragmentao do territ-rio. ao crcsc imento das cidades. bem como as transtorma\cs nas formas de utilizao do cspa~o agrcola

    f,ntrctanto. no apcna-. a partir do Distrito Federal que o Entornu se rcdd inc Doi-. outros processm atu-am na rea os\ inL ulados dinmi ca interna dos munidpios c aqueles que se vinculam modernizao da agricultura. entendida como o pro-cesso de introduo de tcnica-; modernas com largo emprego de insumos industriais visando a ampiiar a produtividade c o rendimento da terra Essa modernizao se processou rapidamente a partir da dcada de 70 pela participao efetiva de

    migrantcs sulista" do Pas, inaugu-rando. nessas reas do cerrado uma nova etapa das ati\ idade\ agncolas inseridas num ClH1texto nacional mais amplo

    Assim. oh jcti v o deste trabalho identificar as tr ansl orma~.;e-. do e-.-pa~.;o rural no Entorno do Distrito

    r~edcral, analisando os principais problemas c repercusses no meio ambiente

    Efeitos da urbanizao de Braslia sobre as reas rurais do entorno

    Logo aps a implanta~o do Dis-trito Federal, inicia-se o perodo ca-racterizado por afluxos migratrios em direo Capital Federal. favo-recendo a um processo acelerado de crescimento populacional, que alcan-ou 284o/c, no perodo de 1960-1970

    Nas dcadas seguintes, contido na forma de ocupao fsica de seu ter-

    Trabalho elaborado a partir da concluso do Zoneamento Ecolgico-Econmico do Entorno do Distrito Federal. conforme convnio entre a Seplan-GO e o IBGE Gegrafos do Departamento de Geografia da Diretoria de Geocincias do IBGE

    R bras Geogr, Rio de Jane1ro. v 57, n 4, p 37-48, out/dez, 1995

  • R ora Geogr Rio de Janeiro\ 57 n 4 p I 1()1 out/Je; Jl)()5

    J\REA DO E:JJTORNO DO QlSTRtTO FEDERAL_ PADRES DE UT1 LIZAO 00 ESPAO 1991

    AREAS EM PROCESSO DE EXPANSO URBANA

    .J :.

  • !{ brsoas
  • 38 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995

    REA DO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL SEDES MUNICIPAIS, DISTRITAIS E AGLOMERADOS RURAIS 1991

    SEDE DO MUNICIPIO _, 0 SEDE DE OISTAITO

    AGL.OMERADOS RURAIS

    Mapa2

    8 BRASILIA

    r,eidad Ocldent~ ~-- { ' /'-"1

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  • R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 39

    Tabela2 Participao das principais classes de atividade econmica, segundo o Estado de Gois,

    a microrregio do Entorno e os municpios - 1985

    TOTAL MICRORREGIO E MUN!CiPIOS

    No DE AREA ESTAB. (HA)

    ENTORNO DE BRASiLIA 13 595 3 044 258

    GOlAS 131 365 29 864 108

    ABADIAN!A 824 97 021

    ALEXAN!A 990 83 809

    CABECEIRAS 465 99 301

    CORUMBA DE GOlAS I 739 253 223

    CRISTALINA 708 4\7 248

    FORMOSA 1 318 512 640

    LUZIAN!A 2 190 376 303

    PADRE BERNARDO I 293 360 134

    PIRENOPOLIS 2 368 411 094

    PLANALTINA DE GOlAS 997 354 676

    SANTO ANTONIO DO DESCOBERTO 703 78 804

    Fonte: IBGE- Censo Agropecurio- 1985

    Embora a vida de relaes eco-nmicas e sociais do Entorno es-teja, com se sabe, intimamente vin-culada ao processo de expanso do Distrito Federal, pode-se afirmar que existem articulaes regionais fortes dos municpios com Goinia e Anaplis, consideradas respec-tivamente, como metrpole regio-nal e capital regional Anaplis, di-vide com Braslia a influncia na vida de relaes dos municpios lo-calizados na poro ocidental do Entorno Estes utilizam-se daquela capital regional para escoamento da produo de leite e cereais. J os municpios, a leste do Distrito Federal tem forte vinculao com a Capital Federal, sendo que, em alguns casos, ocorrem liga-es com as cidades de Minas Gerais (Catalo e Una) ou ou-tros centros urbanos de Gois, como So Joo d 'Aliana e Niquelndia.

    Modernizao agrcola e transformaes na agropecuria

    Predominam no Entorno, as ati-vidades econmicas vinculadas ao

    AGRICULTURA PECUARJA AGROPECURIA

    No DE %NO AREA %NO No DE %NO ESTAR TOTAL (HA) TOTAL ESTAB. TOTAL

    5 038 37,06 756 950 24,86 7 517 55,29

    45 590 34,71 5 645 771 18,91 78 106 59,46

    246 29,85 20 956 21,60 515 62,50

    460 46,47 20 726 24,73 474 47,88

    263 56,56 34 239 34,48 174 37,42

    742 42,67 70 220 27,73 843 48,48

    222 31,36 141402 33,89 412 58,19

    449 34,07 111 628 21,77 804 61,00

    497 22,69 52 405 13,93 1494 68,22

    561 43,39 90 582 25,15 652 50,43

    I 044 44,09 115 773 28,16 I 119 47,26

    291 29,19 75 344 21,24 649 65,10

    263 37,41 23 670 30,04 381 54,20

    setor primano, especialmente agropecuria, principal fonte de ren-da dos municpios que integram essa rea. O Censo Agropecurio 1985 aponta a pecuria como a principal atividade, em nmero e rea de es-tabelecimentos rurais, na maioria dos municpios, exceo de Ca-beceiras e Alexnia.

    Por outro lado, a lavoura outra atividade importante nessa rea, com o predomnio dos cultivos temporri-os, realizados em todos os municpi-os. Mas a partir da dcada de 70 que as reas de cerrado do Planalto Goiano vm incorporando, ao seu espao produtivo, atividades vincu-ladas ao processo de modernizao da agricultura, com a introduo do cultivo de gros, especialmente a soja, que vem se constituindo no prin-cipal produto comercial e gerador de recursos da regio. Segundo as in-formaes levantadas no Censo, o Entorno foi responsvel por 9% da produo estadual desse gro, sen-do que, em nvel municipal, destaca-ram-se Cristalina, Cabeceiras, Pla-naltina e Luzinia, que somaram 88% do total produzido no Entorno.

    Alm da soja, so cultivados co-mercialmente o arroz, o milho, o fei-

    AREA %NO No DE %NO AREA %NO (HA) TOTAL ESTAB. TOTAL (HA) TOTAL

    2 086 639 68,54 548 4,03 116 069 3,81

    22 805 482 76,36 4 818 3,67 889 479 2,98

    68 050 70,14 31 3,76 5 268 5,43

    55 248 65,92 22 2,22 4 544 5,42

    54 708 55,09 17 3,66 6 397 6,44

    166 194 65,63 109 6,27 14 609 5,77

    220 631 52,88 17 2,40 21 859 5,24

    382 871 74,69 26 1,97 3 180 0,62

    303 920 80,77 58 2,65 7 379 1,96

    250 512 69,56 35 2,71 13 114 3,64

    261 581 63,63 177 7,48 31 546 7,67

    272 172 76,74 20 2,01 4 973 1,40

    50 746 64,40 36 5,12 3 196 4,06

    -jo e, recentemente, o tomate. Es-sas lavouras, em alguns casos, usam sistemas modernos de irrigao, ora atravs de tcnicas de inundao, ora pela utilizao de piv central. Com a utilizao dessas tcnicas, o cultivo do tomate vem apresen-tando elevado grau de produtividade, em pequenas reas, e permitindo a colheita nos perodos da entressa-fra. Esta produo direcionada, principalmente, para atender agroindstria.

    A atividade agrcola, com uso de insumos industriais realizada em grandes estabelecimentos e vem modificando fortemente a paisagem da regio, ao ser realizada aps o desmatamento de grandes extenses de terras, inclusive em topos de chapadas e nas bordas de rios e la-goas. Interfere, por outro lado, na economia regional, j que a forma de utilizao das terras no incre-menta o mercado de trabalho local devido ao largo uso da mecanizao Alm de absorver pouca mo-de-obra, o empregador recorre a outras reas, como o Sul do Pas, para arregimentar trabalhadores necessrios s atividades agropecurias, j que a tecnologia empregada exige conhecimentos que o trabalhador da regio desconhece.

  • 40 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995

    Tabela 3 Introduo do cultivo da soja nos Municpios do Entorno do Distrito Federal

    MUNICIPIOS ANOS 1970 1975 1980 1985

    ABADIANA X

    ALEXANIA X X

    CABECEIRAS X X

    CORUMBA DE GOlAS X

    CRISTALINA X X

    FORMOSA X

    LUZIANIA X X X

    PADRE BERNARDO X X

    PIRENOPOLIS X X X

    PLANALTINA X X X

    SANTO ANTONIO DO X

    DESCOBERTO

    Fonte. IBGE Censos Agropecurios- Gois. Rio de Janeiro IBGE, n. 27, 1991

    Essa atividade contribui, portanto, para o desemprego da mo-de-obra rural, especialmente, a menos qualificada.

    A partir do trabalho de campo efetuado nos municpios do Entor-no, observou-se que o espao rural dessa regio, caracteriza-se por dois conjuntos distintos e desarticulados entre si. O primeiro conjunto situa-se na poro ocidental do Entorno, sendo composto pelos Municpios de Abadinia, Alexnia, Cocalzinho,

    Corumb de Gois, Mimoso de Gois, Padre Bernardo, Pirenpolis, e Santo Antnio do Descoberto. A, predominam as atividades de lavou-ras de subsistncia, basicamente conduzidas por pequenos proprie-trios e posseiros. Cultivam arroz, feijo e mandioca para sua manu-teno, sendo que o excedente comercializado nas feiras realiza-das nos fins-de-semana, nas sede municipais.

    Tabela 4

    Cabe destacar, que em sua maio-ria, os pequenos produtores rurais desse conjunto tm contado, recen-temente, com a assistncia da EMATER que presta orientao tanto em relao s tcnicas de uso e manejo do solo, quanto na organi-zao dos produtores em associa-es, visando a reivindicar direitos trabalhistas e os relacionados pro-duo. Com relao questo tra-balhista, verifica-se que alguns des-ses municpios j contam tambm com a assistncia jurdica de sindi-catos de produtores rurais.

    Outra caracterstica do Entorno diz respeito busca deste espao geo-grfico como local capaz de pro-porcionar modelos alternativos de produo. Esta situao vincula-se aos grupos ligados ecologia, que in-troduziram, no Entorno, novos esti-los de vida, onde as relaes homem-natureza se do segundo padres di-ferentes ( alternativos) daqueles preexistentes ou dos que vm sendo introduzidos com o avano das formas capitalistas de produo.

    O segundo conjunto de municpi-os do Entorno, caracteriza-se por estar vinculado ao processo de mo-dernizao agrcola, em ritmo ace-lerado. Esto inseridos nesse con-junto os Municpios de gua Fria de Gois, Cabeceiras, Formosa, Planaltina e Vila Boa, localizados na poro oriental do Entorno, tendo

    Participao dos principais produtos da lavoura temporria, na rea do Entorno, segundo a microrregio -1985

    QUANTIDADE PARTICIPAC TOTAL %DOS PRODUTOS PRODUZIDA PRINCIPAIS NO ENTORNO (t PRODUTOS

    NO TOTAL REA PRODUZIDO

    SOJA MILHO ARROZ FEIJO MANDIOCA TOMATE QTD % QTD % QTD % QTD % QTD % QTD %

    (t) (t) (t) (t) (t) (t) MICRORREGIES DO ENTORNO DE 660 948 39,36 108 248 26,94 74 850 18,63 53 547 13,33 13 707 3,41 7 185 1,79 2 599 0,65 BRASLIA

    Fonte: IBGE-CensoAgropecurio-1985. Gois. Rio de Janeiro. IBGE, n 27,1991

  • R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out /dez 1995

    suas reas de modernizao prximas ou ao longo das Rodovias Federais BR-018, BR-020 e a estadual G0-346. Os municpios de Cidade Oci-dental, Cristalina e Luzinia, na poro ao sul do Entorno, tambm possuem reas de modernizao agrcola prximas ou ao longo das Rodovias Federais, no caso, a BR-010, a BR-040 e a BR-251. Esses eixos virios, facilitam o escoamento e a comercializao da produo de gros dessas reas para os princi-pais centros de mercado das Regies Sudeste e Sul do Pas

    Nesse conjunto, em processo de modernizao, destaca-se o Municpio de gua Fria de Gois, cuja rea rural vem, desde o final da dcada de 70, passando por transformaes, especialmente, a partir do afluxo de pessoas para compra de terras nessa regio. Em sua poro leste, no contato com So Joo d' Aliana e Formosa, esses processos se intensificam, incluindo tanto a entrada de novos cultivos (soja, arroz, feijo e milho), quanto de novas tcnicas de produo agropecuria. A, localizam-se a Cooperativa Platinense de Cafeicul-tores Ltda. COPLAC comercializando soja, arroz e milho e a Citricultora do Centro-Oeste -CITROESTE -, responsvel pelo plantio de um novo produto comercial -a laranja.

    Ao norte de gua Fria de Gois individualiza-se outra rea produti-va modernizada, que se estrutura em tomo da Lagoa do Jacuba. Pre-dominam, nesta rea, grandes fazen-das, onde se desenvolve a produo mecanizada de soja, arroz e feijo, sob o comando de pessoas de fora do municpio- gachos, em sua mai-oria. A modernizao introduzida nessa rea compreende o uso de piv central, drenos, bem como o uso intensivo de mquinas e agrotxicos, responsveis por uma das maiores produes de soja, no Entorno.

    Cabeceiras, constitui-se em ou-tro municpio importante do Entor-no no que diz respeito moderniza-o do espao agrrio, caracterizan-do-se por processos que englobam mudanas nos usos do solo e introduo de novas tcnicas. Predominam, no municpio, as reas dedicadas s lavouras, principalmente de soja, arroz, milho, feijo e mais recentemente, tomate e ervilha. Esse produtos passaram a ser cultivados a partir do incio da dcada de 80, pelos sulistas que, mediante a compra de terras de pequenos produtores, alteraram as formas de uso do solo. Nesse sentido, alm da introduo de novos cultivos, foram implantadas tcnicas de produo baseadas na mecanizao e na irrigao, com a utilizao de piv central. Tais tcnicas vm permitindo um significativo aumento de produo, ocasionando, portanto, uma mudana na orientao da produo, antes voltada para a subsistncia e, atualmente, ampliada para a escala comercial.

    Essas lavouras comerciais ocu-pam grandes estabelecimentos ru-rais, nas reas mais planas do muni-cpio, especialmente nos chapades localizados entre a rodovia G0-346 e o rio Bezerra, nos limites com a Reserva do Exrcito, em Formosa. Absorvem um grande contingente de mo-de-obra local, em regime de trabalho assalariado temporrio (vo-lante), empregando inclusive meno-res, tanto na poca da colheita, como no perodo da seca. Utilizam o tra-balho em forma de tarefa, com car-ga de oito horas dirias.

    Os trabalhadores volantes de Cabeceiras, que correspondem a um efetivo de, aproximadamente, 90% do total da mo-de-obra emprega-da, prestam servios tambm fora do municpio, especialmente em um grande estabelecimento rural - a Fazenda So Miguel, do Grupo Votorantim - em, Una(MG), na fronteira do municpio.

    41

    Compondo o espao rural de Ca-beceiras e convivendo com as ati-vidades modernizadas, subsiste, no municpio, um grande nmero de pequenos produtores que se dedi-ca s atividades de subsistncia. Esses produtores encontram-se es-pacialmente dispersos, ocupando reas de relevo movimentado e de difcil acesso. Eventualmente pres-tam servios nas grandes fazendas desse municpio.

    Assim como outros municpios do Entorno do Distrito Federal, a agri-cultura de Cristalina vem se moder-nizando, contando, para tanto, com o apoio dos setores urbanos da sede municipal que, alm de atender s necessidades do setor rural local, atua regionalmente no sentido de ar-ticular a economia municipal com outras reas de Gois e de outros estados brasileiros

    Para viabilizar as articulaes re-gionais, a cidade de Cristalina conta com sua posio geogrfica em re-lao aos eixos rodovirios, benefi-ciando-se de sua localizao no en-troncamento da BR-040 e BR-050, que fazem a ligao entre os princi-pais centros econmicos do Pas e a Capital Federal.

    Dessa forma, Cristalina foco de atrao de migrantes de outras re-gies, principalmente do Sul do Pas, que vieram para o municpio incen-tivados pela disponibilidade de ter-ras de cerrado para a agricultura. marcante na paisagem rural desse municpio a presena de grandes fazendas voltadas para o cultivo de soja, arroz, milho e feijo produtos em que se nota o emprego de tec-nologia mais moderna, introduzida por esses migrantes, a partir da dcada de 80.

    A modernizao agrcola, contu-do, no atingiu todo o municpio, po-dendo-se destacar sua poro nor-deste - rea cortada pela BR-252(Braslia-Una) - como aquela onde o processo ocorreu com maior

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    intensidade. Isso s foi possvel em virtude da proximidade de Braslia, do acesso rede de distribuio de energia eltrica do Distrito Federal e da entrada de migrantes capitali-zados empregando tecnologia mo-derna. Assim, predominam, a, gran-des empreendimentos agropecurios e se observa em alguns, como Agriter e Lagoazul, uma atividade de beneficiamento da produo. So produtos principais da rea: a soja, o arroz, o milho e o feijo, destacan-do-se o cultivo do tomate, com sig-nificativa participao no mercado nacional, e a produo de semente de batata. A mecanizao e os insumos industrializados so ampla-mente utilizados, sendo a encontra-do um grande nmero de pivs cen-trais, com elevada capacidade de irrigao por rea

    Esse fato, permite a existncia de mais de uma colheita anual, ampli-ando-se, dessa forma, o mercado de trabalho, o qual emprega um grande nmero de mo-de-obra volante, como diarista nos perodos de safras, especialmente nas colheitas do to-mate e do feijo

    Outra rea importante para a eco-nomia agrcola do municpio aque-la situada ao sul da sede de Cristali-na. Nessa rea podem ser encon-trados tanto formas de produo tra-dicionais, como lavouras de subsis-tncia, quanto formas modernas, empregadas em novos cultivos, es-pecialmente da soja

    Convivem, nesse espao, peque-nos e grandes produtores, sendo que os ltimos a instalados no se en-contram no mesmo nvel tecnolgico verificado na poro nordeste do municpio, no dispondo de energia eltrica rural capaz de possibilitar o emprego de manejos mais avana-dos como, por exemplo, a irrigao atravs de piv central.

    Ainda em Cristalina, na proximida-de da fronteira do Municpio mineiro de Una, observou-se uma mudana no

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    padro de ocupao do solo. os esta-belecimentos passam a ocupar maio-res reas, o cultivo da soja mostra-se mais freqente e a tecnologia mais avanada.

    Em relao ao conjunto das ativi-dades econmicas, verificou-se que a produo de sementes, basicamen-te de soja e batata, representa um importante segmento da pauta agr-cola do municpio, que, contando com 23 usinas de beneficiamento, considerado um dos maiores produ-tores de gros selecionados do Pas. Essa atividade vem, contudo, sofren-do reduo, tanto em sua rea plan-tada, quanto na quantidade produzi-da, o que, segundo informaes lo-cais, est associado, entre outros fa-tores, ao aumento nos custos da co-mercializao, com a taxao de ICM, que passou a ser cobrado re-centemente

    Alm das usinas de sementes que do suporte produo agrcola, importante destacar a presena de grandes armazns, silos e escritri-os de representao de equipamen-tos agrcolas como a Piv Equipa-mentos Agrcolas e Irrigao Ltda., que demonstra o vigor da economia rural do municpio.

    O carter comercial da agricultu-ra , portanto, responsvel pela in-sero de Cristalina em uma ampla rede de relaes que abrange desde as cidades mais prximas, como Braslia, Luzinia, Paracatu, Pires do Rio, Ipameri, Campo Alegre, Catalo e Una, at os centros mais impor-tantes, no sul e sudeste do Pas.

    Com relao ao Municpio de Luzinia, observa-se que sua locali-zao -limtrofe ao Distrito Federal - constituiu-se em um dos fatores mais importantes na sua estrutura-o espacial. Essa estruturao apresenta, como traos fundamen-tais, o grande crescimento urbano e a mobilidade da populao, j que a sede municipal, muito prxima a Braslia facilita esse fluxo rnigrat-

    rio atravs daRodoviaBR-040/010. So intensas tambm, as transfor-maes na rea rural, onde as for-mas de utilizao dos solos e de or-ganizao da produo agrcola se reestruturam.

    A modernizao agrcola no Municpio de Luzinia vem ocorren-do, primordialmente, nos chapades com solos de cerrado, onde as for-mas de relevo plano e suave ondu-lado facilitaram introduo da me-canizao. Essas reas contam com vias de acesso rodovirio, que, em-bora no asfaltadas, mantm-se em bom estado de conservao duran-te grande parte do ano A maioria delas servida por energia eltrica, o que favorece a utilizao de implementas agrcolas. Nos estabe-lecimentos que passaram por esse processo de modernizao, comum a utilizao do sistema de irrigao de lavouras, do tipo piv central, onde so predominantemente culti-vados soja, feijo e tomate, sendo que este ltimo responde por cerca de 10% da produo nacional. No-vas culturas vm sendo introduzidas, destacando-se a do sorgo. fre-qente, o regime de explorao des-sas unidades por arrendamento e meiao, sendo reduzida a mo-de-obra ocupada nas mesmas.

    Dessa forma, a modernizao em Luzinia vem permitindo que o mu-nicpio se destaque no Entorno, como um dos que apresenta ativi-dades agroindustriais de pequeno e mdio porte, sobressaindo-se no se-tor relacionado ao beneficiamento da soja. A industrializao desse pro-duto, que compreende o fabrico de leo e farelo (CEVAL), encontra-se integrada ao processo de moder-nizao da agricultura que ocorre no Estado de Gois, j que absorve a produo do Entorno (Luzinia e Cristalina) e das reas prximas, como Rio Verde e Silvnia. Do pon-to de vista da comercializao, a CEVAL atinge os grandes centrm

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    de consumo do Pas, especialmente com leo comestvel, vinculando-se ao setor de exportao, via porto de Vitria, atravs da venda do farelo de soja.

    No que se refere ao Municpio de Planaltina, verifica-se que seu espa-o rural caracteriza-se por um rit-mo de crescimento mais lento, quan-do comparado ao que se verifica na rea urbana. Contudo, observa-se um movimento de transformao nas suas caractersticas, com a in-troduo de novos cultivos e de no-vas formas de produo e comerci-alizao, o que vem conferindo uma ocupao mais efetiva do espao rural, especialmente onde as condi-es de acessibilidade so melhores. Dessa forma, no espao rural de Planaltina podem ser identificados dois conjuntos de reas desarticula-das entre si. O primeiro correspon-de ao Distrito de Crrego Rico, en-globando a poro oeste do municpio, onde predominam ativida-des de lavoura de subsistncia. O outro conjunto corresponde ao Distrito de So Gabriel, que se caracteriza por uso diversificado do espao rural e por melhores condies de acessibilidade, j que se localiza ao longo da Rodovia G0-012, ligando Braslia a So Joo d' Aliana Grosso modo, pode-se distinguir uma subrea localizada na poro sudoeste do municpio, onde ocorrem estabelecimentos voltados para prticas agrcolas modernas e diversificadas Nessa unidade, des-tacam-se as reas adjacentes la-goa Formosa, onde ocorrem ativida-des voltadas para a produo agr-cola, alm daquelas relacionadas ao lazer. As lavouras modernas a pra-ticadas, principalmente a soja, so-bressaem-se por estarem vinculadas a um sistema de comercializao mais eficiente e pela presena de novos cultivos, como ctricos e caf.

    O nordeste do Municpio de Pla-naltina corresponde a urna outra sub-rea comandada pela sede do distrito de So Gabriel. Essa poro, destaca-

    se, tambm, por apresentar uma agricultura modernizada, praticada em grandes reas, tendo a soja como seu principal produto.

    Por fim, no conjunto de municpi-os do Entorno, cabe destacar a situ-ao de Formosa pelo importante papel que exerce como centro regi-onal. A funo comercial de Formo-sa antiga, datando do incio do Sculo XVIII e est relacionada s condies favorveis propiciadas por sua posio geogrfica.

    A caracterstica de centro din-mico de comercializao de abran-gncia regional uma das funes mais representativas dessa cidade, o que evidenciado pela presena do conjunto de instalaes de gran-de porte para armazenagem e silagem nas margens da BR-020.

    Destacam-se poucas reas agr-colas de significativa expresso no Municpio de Formosa, sendo que seguindo o eixo da BR-020, em di-reo ao norte, no Distrito de Santa Rosa, encontram-se reas de lavou-ras comerciais de soja. Ainda na di-reo norte, saindo da BR-020 e to-mando-se a estrada da Usina So Jorge, as reas so ocupadas pelo plantio de arroz irrigado. na por-o sudeste do municpio, em dire-o a Cabeceiras, que se encontram as reas com estabelecimentos onde j ocorre o incio de um processo de modernizao.

    Problemas ambientais A agricultura moderna no Entor-

    no vem se estruturando de forma pouco integrada s caractersticas da regio, ficando o seu desenvol-vimento limitado e desarticulado em relao ao conjunto das atividades econmicas e das necessidades da populao, sendo ainda responsvel por gerar graves problemas ambi-entais nos municpios onde se de-senvolve.

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    A compreenso da situao em que se encontra esta atividade de alta relevncia por ser a agricultura um setor tradicional e expressivo, tanto em termos de gerao de ren-da, quanto em termos espaciais. Desta forma, procurou-se caracte-rizar as atividades agropecurias no Entorno, bem como levantar seus problemas. Para se identificar os problemas, adotou-se uma metodo-logia de planejamento que permitiu a identificao de um nmero gran-de de problemas, a hierarquizao dos mesmos a partir de critrios preestabelecidos, a percepo das conexes entre eles, alm, de favo-recer anlises sob diferentes pontos de vista e abordagens espaciais

    Entre esses ,problemas detecta-dos, destacaram-se: a falta de ma-nejo e tecnologia adequados na uti-lizao da terra; a falta de adequa-o no uso da terra; a falta de ener-gia motriz em quantidade satisfatria; a falta de vias de circulao com qualidade satisfatria; e a falta de organizao dos produtores nas questes vinculadas ao processo produtivo, como aqueles que ocor-reram em praticamente todos os municpios do Entorno.

    A falta de manejo e tecnologia adequados na utilizao da terra, foi avaliada dentro de urna viso global, que inclui a utilizao dos insumos, manejo do solo e a tecnologia utilizada. Esse problema pode ser constatado no Entorno, de urna forma generalizada, porm, a sua gravidade maior nos municpios onde a modernizao da agricultura vem se dando em ritmo acelerado, como o caso de Planaltina, gua Fria de Gois, Luzinia, Cristalina e Cabeceiras. Esse processo caracteriza-se por uma utilizao das terras em extensas reas contnuas de savanas (cerrado), que so totalmente desmatadas para dar lugar cultura de gros, especialmente a soja. A falta de um sistema adequa-do na utilizao das terras fica eviden-

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    ciada pela presena de solos expos-tos eroso, de inmeras voorocas, pela diminuio da fauna e da flora, pela ocorrncia de poeira e da polui-o do ar e das guas.

    Relacionado a este conjunto de problemas, encontra-se o uso indiscri-minado de agrotxicos, responsvel por impactos no meio ambiente, tais como: contaminao do solo e das guas superficiais e subsuperficiais; alteraes na cadeia alimentar e con-seqente diminuio da fauna e flora; aumento do risco de incidncia de pragas e do envenenamento de ani-mais e da populao da rea, e o lan-amento na superfcie da terra de vasilhames, deixados a cu aberto, aps sua aplicao. Alm destes pro-blemas, o manejo incorreto do solo, atravs de grandes reas monoculto-ras, pode levar a perdas do solo, pela ao do vento e por eroso, assorea-mento dos cursos dos rios e, ainda, a compactao do solo em sub-superfcie

    Destaca-se, no conjunto dos pro-blemas, do ponto de vista da ativi-dade agrcola, a situao da lagoa Jacuba, no Municpio de gua Fria de Gois. A utilizao das margens e da superfcie dessa lagoa, na for-ma como vem se dando, apoiada em tecnologia importada, com alto em-prego de mecanizao, vem ocasio-nando impactos ambientais com ris-cos de extino deste patrimnio na-tural. Este problema, afeta sobre-maneira a vida da populao, uma vez que provoca diminuio da fauna, o que restringe as ativida-des da pesca, que se constituem em fonte de alimentao e lazer. A si-tuao ainda agravada pela falta de adequao no uso das terras, uma vez que a deciso quanto s alternativas de uso no esto adap-tadas s condies ambientais exis-tentes na rea.

    Outro problema considerado como grave na rea do Entorno a falta de energia motriz em quanti-dade satisfatria. Observou-se que

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    a maior parte das reas rurais mu-nicipais no so servidas por rede de energia eltrica, no sendo utili-zadas outras fontes de energia al-ternativas Os produtores rurais com maior poder aquisitivo utilizam o leo diesel para o funcionamento de al-guns equipamentos modernos de ir-rigao, bem como para alguns im-plementas agrcolas.

    A falta de energia motriz em quantidade satisfatria agravada pela falta de recursos financeiros por parte dos produtores rurais em busca de alternativas, ficando os mesmos dependentes da atuao do poder pblico para a soluo deste problema

    A modernizao agrcola vem ocasionando, tambm, em algumas reas do Entorno, notadamente no nordeste de Cristalina, a falta de energia em quantidade satisfatria devido concentrao de inmeros pivs centrais em reas circunvizi-nhas. Essa situao de elevada gravidade, pois, alm de afetar o abastecimento de gua, afeta as re-as urbanas com quedas freqentes de energia eltrica, o que vem cri-ando dificuldades para a expanso da economia da regio e para o aten-dimento das necessidades requeri-das pela populao

    No conjunto dos municpios do Entorno, verificou-se que a sua mai-oria apresenta ainda como proble-mas falta de organizao dos pro-dutores nas questes vinculadas ao processo produtivo e a falta de vias de circulao em qualidade satisfa-tria. Essas duas questes agravam a situao de isolamento em que se encontra grande parte dos pequenos produtores rurais e contribuem para a falta de comunicao e de infor-mao, sobre assuntos referentes atividade agrcola, que esses produ-tores vivenciam.

    Essa situao referente ao pro-blema da falta de vias de circulao com qualidade satisfatria vem

    emergindo principalmente, em fun-o da ampliao da capacidade produtiva, ocorrida recentemente, atravs da modernizao agrcola, que utiliza meios de transporte no adaptados rede viria preexistente. O trfego de caminhes de grande porte, transportando insumos pesa-dos e elevada produo de gros, acarreta uma sobrecarga no leito das estradas vicinais e de seus pon-tilhes, ocasionando interrupes do trfego, principalmente, nos perodos chuvosos.

    Uma viso regionalizada desses problemas permitiu a discusso da qualidade ambiental luz das carac-tersticas socioeconmicas identifi-cadas no Entorno. Nesse sentido, definiram-se graus de comprometi-mento ambiental, considerando-se como reas crticas, aquelas onde a qualidade momentnea da relao meio-fsico/tipo de uso j apresenta impactos instalados, com gravidade, enquanto as reas em alerta foram definidas pela possibilidade de ocor-rncia de impactos ou pela existn-cia dos mesmos de modo incipiente.

    Na anlise da qualidade ambien-tal no Entorno, verificou-se uma gama diversificada de problemas, sendo, tambm, distintos os nveis de comprometimento ambiental

    Nas reas voltadas para as ati-vidades rurais, nota-se que crtica a situao das reas monocultoras modernizadas, onde os problemas mais freqentes esto associados, principalmente, falta de manejo e tecnologia adequados na utilizao da terra Nesse grupo encontram-se: as reas adjacentes s cabeceiras do rio Maranho e da lagoa Formosa, em Planaltina; as margens e superfcies das lagoas J acuba, em gua Fria de Gois e dos Moeires, em Cabeceiras e a rea de expanso urbana e de utilizao agrcola intensiva, no nor-deste de Cristalina.

    As demais reas de lavouras co-

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    merciais do Entorno, apresentam-se com problemas ambientais, porm, com menor grau de gravidade, o que indica para as mesmas uma situao de alerta, apresentando possibilidades de controle. Neste grupo esto as reas de expanso de lavouras co-merciais com alta concentrao de pivs na regio do rio Pamplona e do rio So Bartolomeu, respectivamen-te, nos municpios de Cristalina e Luzinia. As demais reas em alerta constituem-se em manchas isoladas dispersas pelos municpios que com-pem o Entorno.

    Concluso Para finalizar deve-se destacar a

    importncia de compreender o pro-cesso de modernizao num contex-to mais amplo, enfocado a partir de uma perspectiva global.

    Conforme foi explicitado, a for-ma como as relaes homem e na-tureza se estabelecem nas ativida-des agrcolas modernas afetam todo o conjunto da regio do Entorno. Assim, a distribuio da populao urbana e rural e as migraes do campo para a cidade guardam es-treita relao com o que vem ocor-rendo, no Entorno, em termos de

    expanso da modernizao da agri-cultura.

    Da mesma forma, os problemas desencadeados no mago do pro-cesso de avano tcnico da agricul-tura tem rebatimento nas reas ur-banas, afetando a vida da popula-o e as atividades econmicas (co-mrcio, servio e indstria) nelas existentes. As freqentes quedas de energia provocadas pelo uso conco-mitante de inmeros pivs centrais, a existncia de parcela expressiva de trabalhadores que oscila entre o mercado de trabalho urbano e rural, as vias de circulao que sofrem in-terrupes nos perodos chuvosos, a reduo das atividades de lazer, so alguns dos exemplos da inter-dependncia dos problemas rurais e urbanos na rea estudada.

    Por outro lado, os resultados obti-dos atravs de pesquisa d