Revista - Centro Universitário São Camilo - 2011;5(1):93-97 · PDF file95 Educação para a liberdade – uma perspectiva kantiana Revista - Centro Universitário São Camilo - 2011;5(1):93-97

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    Revista - Centro Universitrio So Camilo - 2011;5(1):93-97

    Educao para a liberdade uma perspectiva kantianaEducation for freedom a kantian perspective

    Educacin para la libertad una perspectiva kantiana

    Sergio A. Ribeiro*Loureno Zancanaro**

    REsumo: O presente texto busca analisar o que vem a ser a educao no pensamento de Kant. A proposta pauta em apresentar uma pedagogia calca-da na autodeterminao crtica do indivduo, instigando o pensar, para que em todas as circunstncias da vida o sujeito possa eleger o que correto, justo e bom. Compreende que o homem em Kant a nica criatura que precisa ser educada e que no pode se tornar um verdadeiro homem seno pela educao, pois ele aquilo que a educao faz dele. Assim, concentrando nesta afirmao de Kant, procuramos compreender as prelees sobre a educao dentro do horizonte da obra Sobre a Pedagogia. Nesse sentido, a questo subjacente investigao resume-se no aporte Educao para a liberdade uma perspectiva kantiana. Nesse panorama, surge a filosofia como pedra de toque para a educao bsica do indivduo, pois a tarefa da filosofia aquilo que a faz necessria na vida das pessoas, e sua funo ensinar e orientar o homem a deixar de ser bruto e selvagem para se tornar autnomo e civilizado.

    PalavRas-chavE: Educao - Kant. Liberdade. Moral.

    abstRact: This text tries to analyze education in Kants thought. The proposal is to present a pedagogy based on individuals critical self-determina-tion of the individual, inciting him to think so that, in all circumstances of life, the person can choose what is correct, just and good. According to the mentioned proposal, the man in Kant is the only creature needing to be educated, not achieving success in becoming a true man except by means of education, because man is what education does of him. Thus, concentrating us in that statement of Kants, we tried to understand the explanations on education in the horizon of the work Pedagogy A Kantian Perspective. In this domain, the underlying question of the investigation is transformed in the contribution Education for the freedom a kantian perspective. In that panorama the philosophy emerges as a touchstone for individual basic education, because the task of philosophy is what makes it necessary for the life of people; its function is to teach and to guide man to stop being gross and wild and become an independent and civilized being.

    KEywoRds: Education - Kant. Freedom. Moral.

    REsumEn: Este texto pretende analizar la educacin en el pensamiento de Kant. La propuesta es presentar una pedagoga basada en la autodetermi-nacin crtica del individuo, instigndolo a pensar, de manera que, en todas las circunstancias de la vida, la persona pueda elegir lo que es correcto, justo y bueno. Segn la mencionada propuesta, el hombre en Kant es la nica criatura que precisa ser educada, no logrando xito en se tornar un verdadero hombre sino por la educacin, porque el hombre es aquello que la educacin hace de l. As, concentrndonos en esa afirmacin de Kant, intentamos entender las explicaciones sobre la educacin en el mbito del horizonte de la obra Pedagoga. En ese sentido, la cuestin subyacente a la investigacin se resume en el aporte Educacin para la libertad una perspectiva kantiana. En ese panorama emerge la filosofa como piedra de toque para la educacin bsica del individuo, pues la tarea de la filosofa es aquello que la hace necesaria a la vida de las personas; su funcin es ensear y orientar el hombre a dejar de ser bruto y salvaje para convertirse en un ser autnomo y civilizado.

    PalabRas-llavE: Educacin - Kant. Libertad. Moral.

    ARTIGO de RevIsO/ RevIew ARTIcle/ dIscussIn cRTIcA

    IntRoduo

    Este artigo trata da educao para a liberdade na perspectiva de Kant, na qual esto inseridas as suas con-sideraes sobre educao. Segundo Kant, a razo que distingue os seres humanos dos animais, pois sobre a ra-

    * Graduado em Teologia e licenciando em Filosofia (4 ano). Bolsista em Iniciao Cientfica pela UEL Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]** Professor de Filosofia do Programa de Mestrado em Educao e do Curso de Especializao em Biotica da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]

    zo consiste a faculdade de julgar. Mas no porque o homem racional por natureza que ele faz o devido uso de sua razo, pois a razo, alm de estar implcita, so-fre a influncia das inclinaes. Sabe-se que o homem afetado por tantas inclinaes, mesmo assim capaz de conceber a ideia de uma razo pura prtica, mas no

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    Educao para a liberdade uma perspectiva kantiana

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    to facilmente dotado da fora necessria para torn-la eficaz e concreta no seu comportamento. Dessa forma, a educao por meio da disciplina e instruo possibilita o sujeito orientar suas aes em uma pedagogia que aponta para a liberdade.

    Kant E a Educao

    A antropolgica prtica de Kant, sobretudo, se refere ao mbito da educao. Kant afirma que o homem a nica criatura que precisa ser educada, e, que o homem no pode se tornar um verdadeiro homem seno pela educao, ele aquilo que a educao faz dele (p. 18). Segundo Irrlitza, a pedagogia formou um dos campos centrais da conscincia do iluminismo. A discusso so-bre a educao no passara, portanto, indiferente a Kant. A obra Sobre a Pedagogia um conjunto de prelees escrita sobre a inspirao de Rousseau2,b, publicada em 1803, um ano antes da morte de Kant.

    Nessa poca, Kant tem bem amadurecida a concep-o de que a organizao social da Alemanha est bastante longe dos ideais do Iluminismo, devido ao despotismo poltico e falta no sistema educacional do seu pas de princpios universais advindos de uma moralidade aprio-rstica que, aplicados no processo educativo, levariam os homens liberdade e felicidade. Portanto, com base neste pensamento, Kant lana uma pergunta, at hoje questionada: Como se poder tornar os homens felizes, seno os tornamos morais e sbios? Para que os homens se tornem morais e sbios e, portanto, felizes, preciso que sejam educados.

    A educao para Kant a condio que contribui no processo do homem para alcanar autonomia. A defini-o de sujeito autnomo implica a liberdade. Com au-tonomia o sujeito vence paulatina e progressivamente a propenso para o mal e se converte para o bem, uma vez que, segundo Kant, na obra Religio dentro dos limites da simples razo, enfatiza que homem mau por na-tureza (p. 282)3. A descoberta da autonomia da vonta-

    de como o princpio supremo da moralidade marca um acento decisivo no pensamento kantiano. A concepo da moralidade como autonomia algo muito significativo na histria do pensamento ocidental, pois Kant inventou a concepo da moralidade como autonomia (p. 26)4.

    Para que a vontade seja autnoma, no deve provir de uma fonte externa e estranha ao prprio sujeito, mas da prpria razo. Por essa causa Kant no aceita a tese de que a tica deveria iniciar com a definio do bem e deste derivar os conceitos da lei moral e da obrigao. O objeto da vontade deve ser determinado pela vontade em si antes que a vontade pelo objeto; O bem no deve mais ser pressuposto ou construir em fundamento da lei moral, mas deve ser deduzido da lei moral (p. 533)5,c.

    O fundamento da ao moral situa-se na autonomia da vontade, que no outra coisa seno afirmar que o agente moral capaz de ser autrquicod, predicado esse que fica claro tanto da Fundamentao da Metafsi-ca dos Costumes6 e em Resposta pergunta: que o Esclarecimento?7. Isso contextualiza e situa o propsito de Kant da razo no seu mbito prtico. Isso impor-tante, porque ainda no se est numa poca esclarecida; vive-se um perodo de esclarecimento. necessrio ao homem assumir sua condio de ser racional e livre, para tanto O esclarecimento a sada do homem da sua me-noridade de que ele prprio culpado (p. 11)7.

    A menoridade a incapacidade de servir do enten-dimento sem orientao de outrem; [] significa saber ouvir a voz do prprio entendimento e de servir do teu prprio entendimento (p. 12)7.

    Servir do prprio entendimento uma reivindicao essencial compreenso da transformao do modo de pensar e fundamentar a filosofia moral em Kant. Trata-se, por conseguinte, de afirmar a tese de que Kant quer en-corajar todo ser humano a fazer uso de sua prpria razo tanto em seu uso terico como em seu uso prtico. E isso sumanamente importante, porque se o homem se deixar guiar e determinar pela parte animal, ele compromete a sua humanidade, que , em ltima anlise, o perigo de no se

    a. Friedrich Theodor Rink (1770-1811), aluno de Kant. Organizador das publicaes e prelees sobre a educao de Kant em 1803 do escrito Sobre a Pedagogia (p. 3).b. A Teoria da cultura de Kant, profundamente devedora ao Emilio, ou da educao (1762) de Rousseau. Ver tambm Nodari PC. Educao liberdade em Kant. Mxico: ISEE; 2007.c. Mas para Kant deve-se esclarecer o conceito da boa vontade (der gute Wille) e desse conceito derivar. Precisa provar que o valor absoluto da boa vontade no bom pelo que pro-move, realiza ou pela aptido em alcanar qualquer finalidade proposta, mas to somente pelo querer, isto , em si mesma, j que a boa vontade tem nela mesma seu pleno valor. A boa vontade boa sem limites. boa em si e por si. boa pelo princpio do querer. Seu valor no est no propsito da ao, mas sim na mxima que determina o princpio do que-rer. O que torna uma vontade boa no so seus efeitos no mundo, mas a representao mesma da lei como motivo suficiente de determinao da vontade. Uma boa vontade boa, porque segue o dever pelo dever, porque seu valor no est nos resultados, mas no princpio da ao, ou seja, porque age unicamente por respeito lei. Kant fundamenta o caminho da justificao da lei moral a partir da razo prtica pura. O valor moral de uma ao no consiste, por conseguinte, em seus resultados. Consiste em sua fundamentao na lei mo-ral.Esta possve