Revista Da Acors v. 4 n. 1 e 2

Embed Size (px)

Citation preview

v. 4, n 1 Semestre I, 2011

A Revista Ordem PblicaDIRETOR EDITOR

Fred Harry Schauffert, Cel PMSCPresidente da ACORSCONSELHO EDITORAL

Ten Cel PMSC MSc - UMINHO BRAGA, PORTUGALREVISORA

Aldo Antonio dos Santos Jnior

Prof. Dr. Antnio Jos FernandesReitor Universidade Lusfona Portugal UTAD/DESG Portugal Argentina

Ingrid Audrey SchauffertEsp. Direito PblicoCO ORDENAO OPERACIONAL

Prof. Dr. Carlos Machado dos Santos Prof. Dr. Ricardo Rabinovich-Berkman Prof. Dr. George Felipe de Lima DantasPresidente do Instituto Brasileiro de Inteligncia Criminal (INTECRIM)

Ten. Cel. Paulo Roberto Bornhofen, MSC Cad. PMSC Riskala Matrak Filho Cad. PMSC Victor Bomfim Monteiro Cad. Henrique Hoffman Monteiro de CastroA VA L I A D O R E S C O N V I D A D O S

Prof. Dr. Jos Luis Gonalves da SilveiraPMSC

Prof. Dr. Fabio PugliesiUDESC

Prof. Dr. Marcos Erico Hoffmann

A ROP conta com um corpo de referees formado por Mestres e Doutores oriundos de diversos organismos nacionais e internacionais. Os referees esto divididos em dois grupos: Grupo 1 - Avaliadores externos Grupo 2 - Avaliadores internos

Os textos devem ser encaminhados de acordo com os seguintes critrios e caractersticas tcnicas:1. Formatao: Papel A4 (29,7 x 21 cm); margens: superior=3cm, inferior=2cm, esquerda=3cm e direita=2cm; editor de texto: Word for Windows, utilizando caracteres Times New Roman tamanho 12 e espaamento 1,5. O artigo no dever exceder 25 laudas, incluindo quadros, tabelas, grficos, ilustraes, notas e referncias bibliogrficas. Os quadros, tabelas, grficos e ilustraes no podem ser coloridos. NEGRITO dever ser utilizado para dar nfase a termos, frases ou smbolos. ITLICO dever ser utilizado apenas para palavras em lngua estrangeira. ASPAS DUPLAS devero ser utilizadas para citaes diretas e frases de entrevistados. As ASPAS SIMPLES devero ser usadas dentro das aspas duplas para isolar material que na fonte original estava includo entre aspas. Colocar ttulo no incio do trabalho, sem identificao do(s) autor(es). 2. Apresentar em pgina separada: ttulo do trabalho em portugus e ingls, nome(s) completo(s) do(s) autor(es), OPM de vinculao, e-mail. Se mais de um autor, ordenar de acordo com a contribuio de cada um ao trabalho. 3. Enviar resumos do texto em portugus e ingls, em que constem objetivo, mtodo, resultado e concluses, bem como de trs a cinco palavras-chave, em ambas as lnguas, para difuso internacional. O resumo deve ter at 250 palavras. 4. Informar, dentre as seguintes reas: Segurana Pblica, Defesa Civil ou Bombeiro Militar, Polcia Administrativa, Polcia Judiciria e outras diretamente afins. 5. Citaes devero ser apresentadas no corpo do texto, incluindo o sobrenome do autor da fonte, a data de publicao e o nmero de pginas (se for o caso), conforme normas da ABNT. Referncias bibliogrficas completas do(s) autor(es) citado(s) devero ser apresentadas em ordem alfabtica, no final do texto, de acordo com as normas da ABNT ou, ainda, de acordo com as normas da APA, mormente para artigos de procedncia internacional. 6. Notas no devem ser colocadas no rodap. Use-as o mnimo possvel, numerando-as sequencialmente no corpo do texto, e apresente-as no final do artigo, antes das referncias bibliogrficas. 7. O artigo dever ser enviado ao seguinte endereo eletrnico: a2067@ibest. com.br ou [email protected].

Forma de Apresentao de Artigos

Y

Revista Ordem Pblica / Associao de Oficiais Militares de Santa Catarina ACORS. - v. 4, n. 1 (2011) - . Florianpolis: ACORS, 2011 Semestral Resumo em portugus e ingls ISSN 1984-1809 1. Defesa social. 2. Ordem pblica. 3. Sistema penal. I. Associao de Oficiais Militares de Santa Catarina. CDD 363.1 Ficha catalogrfica elaborada por Ana Claudia P de Oliveira - CRB -14/769

A P R E S E N TA O

A

Revista Ordem Pblica

ROP tem por caracterstica a pluralidade de ideias e concepes, respeitando a diversidade e os vrios argumentos socioculturais, tcnicos e cientficos acerca dos mais variados temas e assuntos que tm origem nos mundos cientfico, do trabalho e acadmico. A ROP constitui-se num espao onde professores, profissionais e alunos expressam, de maneira crtica e reflexiva, as suas pesquisas e opinies sobre assuntos contemporneos ou que ainda demandam novas ou outras reflexes acerca da Ordem Pblica para a reduo do crime e do medo da criminalidade. A ROP o reflexo da dinmica da ACORS, de seus processos na procura permanente pelo conhecimento, da conquista de novos horizontes nos mundos cultural, cientfico e acadmico, e, por conseguinte, do potencial humano que ela agrega.

YRevista de la Orden PblicaLa Revista de la Orden Pblica s un peridico cientfico semestral de difusin nacional que tiene por la caracterstica la pluralidad de ideas e concepciones, respectando la diversidad y el vrios argumentos scio- culturales, tcnicos y cientficos a cerca de los ms variados temas y asuntos de orgen en el mundo cientfico, y del trabajo y acadmico. La ROP constituye se en uno espacio donde los maestros, profecionales y alumnos de los ms distintos campos del conocimiento humano y que expressam de manera crtica, reflexiva y complexa, sus pesquisas sobre los asuntos contemporneos o que, aunque, demandam nuevas reflecciones a cerca de la defensa social juntas a la reducin del crimen y del miedo de lo mismo. El peridico s el espejo de la dinmica de La ACORS, de sus procesos en la busca del nuevos horizontes en el mundo cultural, cientfico y academico, y por supuesto, Del potencial humano que ella agrega.

YPublic Order MagazinePublic Order Magazine is a semester scientific newspaper of national diffusion that is characterized by plurality of ideas and conceptions, concerning the social-cultural, technical and scientific diversity and several arguments about the most varied subjects wich of origin is the scientific work and academic world. The ROP constitutes a space where teachers, professionals and students of the most different fields from human knowledge expresses critical, reflective and complex way, its investigations about subjects of contemporaries or that demand new reflections about the social defense to reduce crime and the fear of the crime. The newspaper is a reflex of the dynamics of ACORS, of their processes in the search for new horizons in the world of Culture, Science and Academic, and by all means, of the human potential that it adds.

ji

P R E F C I O

F

oi honrado e com muita felicidade que acolhi ao convite formulado pelo Presidente da ACORS, Cel Fred Harry Schauffert, e pelo Editor da Revista Ordem Pblica, Ten Cel Aldo Antnio dos Santos Jnior, para alinhar algumas palavras a guisa de prefcio desta edio da Revista. A Revista Ordem Pblica um espao onde os policiais e bombeiros militares de todos os nveis hierrquicos, no obstante ela ser patrocinada pela Associao dos Oficiais Militares do Estado, podem apresentar, de forma estruturada e dentro dos padres da metodologia cientfica, suas reflexes sobre temas de impacto no saber acumulado que do suporte terico para as aes de Preservao da Ordem Pblica. Somando-se a um pequeno nmero de revistas cientficas similares publicadas no Brasil, a Revista Ordem Pblica permite que a pesquisa do militar catarinense seja adequadamente divulgada e, assim, contribua com a evoluo deste saber, cuja importncia e complexidade indiscutvel, pelo impacto que causa na vida humana em sociedade. Aqui podem ser debatidos assuntos relativos persecuo criminal, defesa interna, defesa civil, movimentos sociais e construo da ordem pblica nos espaos comunitrios, sob a perspectiva do operador da atividade, desde que tenha se apropriado devidamente do conhecimento terico-cientfico para analisar a sua prtica. Esses assuntos tm sido debatidos e estudados por vrios profissionais pesquisadores das cincias sociais, mas precria e escassamente analisados sob a perspectiva do seu operador primrio, aquele que efetivamente lida com o fato em concreto, agindo no calor do acontecimento ou logo aps a sua ocorrncia. l que o incidente social ou natural real, e sobre a realidade dos fatos que os estudos que apoiam e geram o saber devem se concentrar para melhorar a performance do agente de preservao da ordem pblica. Importa, sim, saber por que dado incidente aconteceu e quais as consequncias que dele decorrero, mas urgente que estudos enfoquem o momento dos fatos e ali analisem a atuao do profissional, para aprimorar-lhe o desempenho, cujo resultado depende de saberes e atitudes que so especficos para quem esteja na ocasio dos fatos. A isso se prope a nossa Revista Ordem Pblica: gerar e disseminar saberes que permitam entender o trabalho de Preservao da Ordem Pblica como uma atividade apoiada por estudos cientficos especficos e vinculados. Parabns ao conselho editor e aos autores. Nazareno Marcineiro, Cel PMSC Comandante Geral da PMSC

9 35 55 77 91 117 127 147

O CONTRATO PSICOLGICO ENTRE AGENTES TEMPORRIOS E UMA ORGANIZAO POLICIAL MILITAR Aldo Antonio dos Santos Junior, Daniel Bernardo da Silva Filho, Dayane Fernandes dos Anjos e Riskala Matrak Filho DOUTRINA POLICIAL MILITAR E AS PARCERIAS PBLICO-PRIVADAS NA GESTO POR RESULTADOS Altair Lisot A COMPETNCIA DA POLCIA MILITAR AMBIENTAL DE SANTA CATARINA PARA REALIZAR EXAME PERICIAL AMBIENTAL NO PROCESSO PENAL Frederick Rambusch e Sandra Bender A PENA DE PRISO NO BANCO DOS RUS Roberto Vidal Fonseca, Juliana Schutz Cipriano e Sandra Bender O MUNICPIO COMO PARTCIPE DO SISTEMA DE SEGURANA PBLICA Thiago Augusto Vieira

Sumrio

O SISTEMA DE SEGURANA PBLICA E O MEDO DO CRIME Henrique Hoffmann Monteiro de Castro, Riskala Matrak Filho e Victor Bomfim Monteiro A CONDUO VEICULAR E O DISTRBIO DO SONO Aldo Antnio dos Santos Jr. e Carla Komnitski FATORES ESTIMULADORES DA SENSAO DE INSEGURANA E A VALORIZAO MIDITICA Enio Luciano Targino Ferreira, Israel Nascimento Damzio e Jobson Machado de Aguiar

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

S8s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

YO CONTRATO PSICOLGICO ENTRE AGENTES TEMPORRIOS E UMA ORGANIZAO POLICIAL MILITARAldo Antonio dos Santos Junior1 Daniel Bernardo da Silva Filho2 Dayane Fernandes dos Anjos Riskala Matrak Filho3 RESUMO Este trabalho tem como escopo levantar as contingncias do contrato psicolgico dos agentes temporrios de servio administrativo, que desenvolvem a atividade de telefonistas em Centrais Regionais de Emergncias na Polcia Militar do Estado de Santa Catarina. Tem como questo de pesquisa o seguinte: a prxis empregada na gesto de recursos humanos com esta categoria est contemplando o contrato psicolgico formulado com os agentes temporrios? A pesquisa est caracterizada como do tipo pesquisa-ao, empregando uma perspectiva de anlise de dados quali-quantitativa. O universo amostral envolveu 180 (cento e oitenta) pessoas que compem o quadro de agentes temporrios, que desempenham as funes de atendentes nas Centrais Regionais de Emergncias distribudas em todo o Estado de Santa Catarina. A pesquisa apresentou que diversas dimenses do contrato psicolgico foram vilipendiadas, o que gerou aumento no nmero de turnover. Por outro lado, ficou consagrada a relevncia desse tipo de profissional para a organizao, uma vez que diversos profissionais policiais militares saram dessas funes para desempenharem a atividade de policiamento ostensivo, precipuamente. Palavras-chave: Contrato psicolgico. Polcia Militar. Agentes temporrios. Central de Emergncia.1 Mestre em Relaes Sociais Internacionais UMINHO SubDiretor de Ensino da Polcia Militar de Santa Catarina. [email protected]. 2 Especialista em Gesto Estratgica da Segurana Pblica - UNISUL, Chefe do CIEMER PMSC. 3 Cadete do 4 Ano do Curso de Formao de Oficiais - Academia da PMSC. Especializando em Gesto de Segurana Pblica Barddal/SC. Bacharel em Direito pela faculdade Doctum campus Guarapari/ES (FIC). [email protected].

S9s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

INTRODUO A Polcia Militar do Estado de Santa Catarina completou 175 (cento e setenta e cinco) anos de existncia. Trata-se de uma Instituio Pblica, estruturada com base na hierarquia e disciplina, que, conforme previso legal disposta no artigo 144, 5, da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, est incumbida da preservao da ordem pblica. A sua atuao considerada de fundamental importncia na defesa do cidado, com atividade direcionada ao pronto atendimento, hbil, atento e eficaz, constituindo fator de desestmulo prtica de ilcitos penais. Diante desse complexo de atribuies derivadas de sua misso legal, a Polcia Militar do Estado de Santa Catarina, aliada s suas primeiras experincias com a tecnologia da informao, na dcada de 90, e seguindo os modelos nacionais das Polcias Militares dos Estados de So Paulo e de Minas Gerais, criou os primeiros Centros de Operaes Policiais Militares (COPOM) nas cidades de Florianpolis e de Joinville. Em pouco tempo, esses Centros foram disseminados pelas Unidades Operacionais da Polcia Militar em todo o Estado, ampliando, com base na tecnologia, as condies para recebimento, registro, despacho e atendimento de ocorrncias policiais, consolidando, desse modo, uma poltica permanente de investimento em tecnologia e informao para suporte s atividades operacionais. Novos investimentos foram realizados em tecnologia de informao, sendo incorporadas novas ferramentas, equipamentos mais atualizados, fornecendo um servio cada vez mais capacitado e gil no atendimento ao cidado. Os Centros de Operaes Policiais Militares da PMSC passaram a ter seu funcionamento regulamentado pela Diretriz n 006/2002/Comando Geral da Corporao. Tal diretriz estabelece normas, atribuies e procedimentos atinentes s atividades das centrais de atendimentos emergenciais: O servio Emergncia 190 destina-se exclusivamente ao recebimento e atendimento de chamadas de emergncia. O atendimento telefnico emergencial, entre as atividades desenvolvidas pela Polcia Militar, constitui-se em referencial para a Instituio, haja vista tratar-se da ferramenta de trabalho pela qual o cidado procura, na sua quase totalidade, auxlio nas situaes em que necessita de pronto atendimento, em momentos de dificuldades e tenso. O crescimento populacional vertiginoso nos grandes centros urbanos ocasionou o aumento do nmero de pessoas que recorrem aos servios da Polcia Militar por meio do telefone 190. Como consequncia, devido capacidade limitada de atendimento telefnico dos Centros de Operaes da Polcia Militar, cresceu o nmero de ligaes perdidas. S 10 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Em 26 de agosto de 2009, foi publicado o edital n 05, do Centro de Seleo, Ingresso e Estudos de Pessoal da Polcia Militar do Estado de Santa Catarina, a fim de contratar 250 (duzentos e cinquenta) agentes temporrios de servio administrativo. Os agentes temporrios contratados, conforme previso legal, desenvolveram servios como atendentes (telefonistas) nas 08 (oito) Centrais Regionais de Emergncias da PMSC. Em 14 de janeiro de 2010, foi inaugurada a Central Regional de Emergncias de Florianpolis/SC, com uma nova dinmica no conceito do atendimento de ligaes telefnicas emergenciais. Um modelo atualizado, composto por profissionais de diversas entidades, trabalhando diariamente de forma integrada: Polcia Militar - 190, Corpo de Bombeiro Militar - 193, e SAMU - 192 (Servio de Atendimento Mvel de Urgncia - Secretaria de Estado da Sade). O gerenciamento de ocorrncias emergenciais, conforme o modelo centralizado e integralizado, obteve resultados expressivos e imediatos, com sensvel diminuio da perda de ligaes telefnicas, bem como reduo do tempo de resposta das ocorrncias atendidas. As instalaes fsicas de todas as Unidades Operacionais da Polcia Militar do Estado de Santa Catarina, nas quais os servios de emergncias foram modernizados com a integrao e a centralizao de outras entidades, passaram a ser identificadas pela sigla CRE (Central Regional de Emergncias). No ano de 2009, foram inauguradas (08) oito Centrais Regionais de Emergncias: Florianpolis, Lages, Chapec, Cricima, Balnerio Cambori, Blumenau, Jaragu do Sul e Joinville, com previso de inaugurao de mais 08 (oito) Centrais Regionais de Emergncias at o final de 2011. Porm, aps 05 (cinco) meses de exerccio profissional dos AGT, percebeu-se o incio de um gradativo processo de turnover (rotatividade de pessoal), razo pela qual se destaca a seguinte questo de pesquisa: a prxis empregada na gesto de recursos humanos com esta categoria est contemplando o contrato psicolgico formulado com os agentes temporrios?

1. O CONTRATO PSICOLGICO Neste captulo do trabalho, abordam-se as definies, tipos e violao atinentes ao contrato psicolgico. Sero tambm discriminados quais os fatores responsveis pelo processo crescente de rotatividade de pessoal (turnover) nas Centrais Regionais de Emergncias da PMSC. S 11 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

1.1 DEFINIO DE CONTRATO PSICOLGICO A estabilidade e o sucesso organizacional podem ser alcanados por meio do desenvolvimento de um ambiente onde os indivduos se identifiquem com a misso, os valores e os objetivos organizacionais. A explicao seria que tal identificao possibilitaria a criao de atitudes positivas, por parte dos indivduos, em relao aos seus empregos, aos seus superiores e sua equipe. Neste contexto, muitos autores acreditam que o contrato psicolgico o mediador entre o ambiente organizacional e os sentimentos dos indivduos em relao organizao (MARKS, 2001). O contrato psicolgico tem sua origem a partir do surgimento de uma srie de expectativas no formais, subjetivas, as quais esto ligadas aos objetivos e s necessidades da organizao e do indivduo. Trata-se de um processo que se fundamenta no relacionamento empregado-organizao empregadora. O tema vem sendo estudado e utilizado nos ltimos anos como uma forma de compreenso da relao entre as empresas e os indivduos que compem a organizao. Parafraseando Rousseau (1994), o contrato psicolgico se forma nas crenas das pessoas acerca das condies do acordo de troca, pactuado entre estas e sua organizao. O contrato psicolgico, de acordo com Rousseau (1994, p. 465), pode ser conceituado como:Percepes individuais considerando termos e condies oriundas de um acordo de trocas mtuas entre o indivduo e uma outra parte. O contrato psicolgico surge quando uma parte acredita que uma promessa de retorno futuro foi feita (e.g.: uma remunerao por perfomance), uma contribuio foi dada e, portanto, uma obrigao foi criada visando a proporcionar benefcios futuros.

De acordo com Rosseau (1994), as bases do contrato psicolgico se constituem antes mesmo que a relao de trabalho tenha incio, quando o candidato a um emprego constri, de forma implcita, imagens sobre a futura organizao, utilizando-se de referncias disponveis, tais como a propaganda sobre ela ou a opinio de empregados. Essa relao subjetiva toma forma a partir do processo de recrutamento, quando a empresa divulga formalmente, mediante edital ou outro meio de comunicao, o que espera de cada candidato e o que cada um dever receber em troca pelos servios prestados. H quem defina contratos como um conjunto de promessas que comprometem algum a uma futura ao, formalizando uma entrega mtua entre partes. Consequentemente esto atrelados a duas ou mais percepes e entendimentos. Ao contrrio de um contrato por escrito, que se traduz em documento, o psicolgico se traduz em um processo, que possui foco na construo de um relacionamento e seus mecanismos sociais. S 12 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Complementando, Rousseau (1994) afirma que, no estudo do contrato psicolgico, de suma importncia se distinguir expectativas de percepes das obrigaes mtuas. As expectativas podem advir de experincias passadas, normas, amigos e se resumem a um conjunto de crenas gerais sobre o que os profissionais esperam do seu trabalho e da empresa. Por sua vez, as percepes de obrigaes mtuas advm unicamente da relao existente entre profissional e organizao. Por sua vez, na viso de Frana (2006, p. 11), o contrato psicolgico um fenmeno psicossocial que ocorre sempre que se constroem vnculos, em que entra em jogo a satisfao de necessidades de duas ou mais partes. O contrato psicolgico vem sendo estudado e utilizado em grande escala, ao longo das ltimas dcadas, transformando-se em ferramenta adequada na melhoria da produo, com resultados positivos derivados das relaes de trabalho em uma organizao. Trata-se de uma relao no formal, escrita, que, conduzida de forma correta, resulta no sucesso da organizao. O contrato psicolgico existe nos olhos daqueles que esto envolvidos, ou seja, cada um possui uma percepo da relao de troca. Mais especificamente, trata-se de um contrato no formal que ocorre a partir das expectativas das pessoas envolvidas em uma relao, onde ambas tm direitos e obrigaes. De acordo com Guest e Conway (2002, p. 22), o contrato psicolgico pode ser definido como:O contrato psicolgico de um indivduo em uma esfera organizacional pode ser definido ento, como as percepes de ambas as partes sobre o contrato de trabalho organizacional e individual das promessas e obrigaes recprocas oriundas desta relao.

Para Atkinson (2002), o contrato psicolgico se define como sendo o conjunto de prticas e expectativas por parte de um indivduo, como membro de uma organizao, bem como dos benefcios que podem ser adquiridos na relao empregadoempregador. Um contrato psicolgico positivo pressupe comprometimento, uma inteno de permanecer com a organizao e um comportamento que ultrapasse o conceito formal de trabalho. 1.1.1 Tipos de Contratos Psicolgicos Segundo Rousseau (1994), basicamente existem dois tipos de contratos, o relacional e o transacional. Os contratos relacionais so caracterizados pelo foco no desenvolvimento de carreira a longo prazo e no treinamento intensivo. So mais amplos em termos de escopo e possuem um grau de subjetividade elevado, mas so compreendidos por ambas as partes. Este tipo de contrato est implicitamente baseado na noo de confiana, de lealdade e de segurana no emprego que o empregado nutre em relao empresa. S 13 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Por outro lado, os contratos transacionais geralmente esto baseados em fatores monetrios e quantitativos, caracterizando-se pelo baixo envolvimento entre empregador e empregado. Neste contrato, o empregado no est preocupado em manter um vnculo prolongado com a organizao empregadora, mas sim em conferir um carter de transao, ou custo-benefcio, sua relao com ela. No passado, grande parte das relaes entre a organizao e os empregados estava fundamentada em transaes relacionais, ou seja, baseadas na lealdade, na confiana, na segurana e em outros fatores emocionais. Durante a existncia de um contrato, ambas as dimenses sero influenciadas e influenciaro o relacionamento do indivduo com a organizao. O mesmo autor destaca que os contratos transacionais tm prazo limitado e de curta durao e podem ser especficos e no especficos. Nos contratos com requisitos especficos de desempenho, existe um baixo grau de ambiguidade, ou seja, as regras so claras para ambos os lados, gerando baixo comprometimento, liberdade e baixa identificao do indivduo com a organizao e vice-versa. Como consequncia direta, este tipo de contrato no est associado ao desenvolvimento e ao aprendizado, uma vez que o envolvimento seria baixo, o que faz com que a empresa no se comprometa com o empregado. Nos contratos transacionais com requisitos de desempenho no especficos, o grau de ambiguidade e de incerteza leva a um relacionamento instvel e com alta rotatividade (turnover). Rousseau (1994) resume que os contratos transacionais, como o prprio nome j descreve, so caracterizados por uma condio transitria, tanto para a organizao quanto para o empregado. O rompimento deste tipo de contrato se faz iminente para as partes relacionadas, podendo acontecer a qualquer momento. Os contratos relacionais esto ligados s relaes de longa durao e sem prazo para terminar. Como consequncia ocorre um alto grau de comprometimento, de investimentos emocionais e econmicos de ambas as partes na relao. De acordo com MacNeil (1985), os acordos transacionais so aqueles que apresentam termos de troca bem definidos, normalmente termos monetrios, especficos e com tempo de durao definido, assim como contratos entre os donos de equipamentos caros e complexos (ex: aquecedores e resfriadores de ambientes) e as companhias que vendem estes equipamentos. Os contratos relacionais, por sua vez, so subjetivos, menos definidos do que os transacionais. Seus termos so mais abstratos, tendem a no apresentar fcil monetarizao e costumam dizer respeito relao entre o indivduo e a organizao. Por exemplo, receber o salrio prometido est relacionado ao contrato transacional; j ser tratado com respeito por um superior est relacionado ao contrato relacional. S 14 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

1.2 VIOLAES DO CONTRATO PSICOLGICO A violao do contrato psicolgico de trabalho ocorre quando um colaborador se submete a uma discrepncia entre a realizao das obrigaes pela organizao e as promessas feitas sobre essas obrigaes. Por outro lado, a violao de um contrato pode causar prejuzos organizao e ao empregado, como sentimentos de raiva, traio e ressentimentos, diminuindo a motivao, a satisfao e aumentando a rotatividade dos empregados (ROUSSEAU, 1994). Santos Junior (2007, p. 184) sugere que as polticas organizacionais que se voltam procura permanente pela consolidao de um contrato psicolgico sadio so aquelas que possuem cerne na concepo do ser humano como principal ativo organizacional. Para Rousseau (1994), da mesma forma que a construo dos contratos relacionais e transacionais segue padres diferenciados, o rompimento deles possui caractersticas distintas. Com relao aos contratos relacionais, na medida em que no se percebe a segurana, ou mesmo a prpria relao de confiana quebrada, a outra parte tende a sentir-se desobrigada a atuar de uma forma sincera. Isto pode acarretar desde uma imigrao para uma relao puramente transacional ou mesmo a quebra da relao contratual entre as partes (pedido de demisso ou desligamento do empregado). Quando a violao ocorre em contratos transacionais, imediatamente h uma perda de comprometimento com relao entrega dos resultados esperados, motivados, principalmente, por uma percepo de injustia. Alm disso, Rousseau (1994) ressalta que a renegociao das obrigaes mtuas aumenta o risco de rompimento do contrato psicolgico. Na verdade, cada mudana uma oportunidade para que alguns termos do novo acordo no sejam perfeitamente compreendidos ou mesmo interpretados de forma diferenciada. O autor afirma que a violao do contrato no deve ser confundida com uma expectativa frustrada, dado que esta simplesmente se resume perda de algo que foi esperado. A violao de um contrato psicolgico mais profunda, pois envolve os valores de uma pessoa, a questo do respeito e, sobretudo, da confiana. A percepo da violao do contrato psicolgico pode ser considervel na condio em que uma das partes envolvidas no processo prejudica de forma efetiva a outra. A violao do contrato se configura quando uma parte no cumpre uma promessa, uma expectativa, mesmo tendo condies de cumpri-la. Quando outros benefcios so concedidos, ou observa-se a materializao de boas intenes, uma possvel ruptura na relao pode ser evitada. Nem sempre a ruptura no processo contratual conduz ao desligamento e rotatividade (turnover), sendo que o histrico do relacionamento atua como fator decisivo. Cada indivduo tem uma maneira de reagir diante S 15 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

da violao de acordo com uma srie de fatores envolvidos, como os motivos e os prejuzos dos envolvidos na relao. A forma como o indivduo tratado aps a violao do contrato psicolgico pode contribuir para o equilbrio ou conduzir para o rompimento definitivo. Alguns empregados reagem decidindo pela demisso, enquanto outros permanecem em silncio ou procuram a renegociao. Na percepo de Guest e Conway (2002), um bom gerenciamento dos contratos psicolgicos uma estratgia importante para as empresas que buscam desenvolver uma organizao baseada na construo por meio das pessoas ao invs de, simplesmente, us-las como plataforma para a expanso. Outro aspecto destacado pelos autores que o contedo do contrato psicolgico ser mais explcito quanto mais efetivo for o processo de comunicao com os empregados. Esta comunicao dever ser contnua, ou seja, iniciar durante o processo de recrutamento e sofrer atualizaes constantes, na medida em que a relao entre o empregado e o gerente evoluir. A comunicao contnua tambm um fator preponderante e de fundamental importncia na reduo dos nveis de violao dos contratos psicolgicos, uma vez que tanto os empregados quanto a gerncia passam a visualizar a relao de trocas de forma mais positiva. 1.3 MATERIAL E MTODO 1.3.1 Caracterizao da Pesquisa Encontra-se delineada com caractersticas de uma pesquisa-ao, pois poder gerar novos conhecimentos, alm de uma aplicao prtica imediata. Adotou-se a tcnica de pesquisa-ao. Thiollent (2000) define a pesquisa-ao como uma pesquisa usualmente empregada nas cincias sociais. E, ainda, a define como sendo um modelo de pesquisa social com fundamento emprico, concebida e operacionalizada em estreita associao com uma ao ou com a soluo de um problema de mbito coletivo, no qual os pesquisadores e a populao, representativos da situao ou do problema, esto relacionados de modo cooperativo ou participativo. A pesquisa-ao, alm de engajar o pesquisador na situao estudada, transformando-o em um observador participante, estabelece a relevante questo da ao planejada no campo a ser investigado. necessrio ressaltar que a ao gerada no prprio processo de pesquisa. Denota-se que a pesquisa-ao se encerra como uma pesquisa do tipo terica emprica, onde se descarta a ideia de uma pesquisa meramente terica, ou seja, bibliogrfica. S 16 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

A pesquisa-ao possui trs mbitos: o conhecimento da realidade, visando sua compreenso e transformao dos problemas vividos pelos grupos excludos; a participao coletiva de todos os envolvidos e a ao de cunho educacional e poltico. Lindgren et al. (2004) caracterizam a pesquisa-ao como sendo um mtodo intervencionista que possibilita ao pesquisador testar hipteses sobre o fenmeno de interesse, aplicando e acessando as transformaes no cotidiano. 1.3.2 Populao e amostra A populao envolvida na presente pesquisa totaliza 180 (cento e oitenta) pessoas que desenvolvem suas atividades em todo o Estado de Santa Catarina, em 08 (oito) Municpios, desta forma: Balnerio Cambori, Blumenau, Cricima, Chapec, Florianpolis, Itaja, Jaragu do Sul e Lages. Integrou a pesquisa o montante da populao, sendo assim caracterizada como uma amostra do tipo censitria, ou seja, todos os membros da populao fizeram parte da pesquisa (MALHOTRA, 2001). Afirma Cervo & Bervian (2002) que a populao um conjunto de indivduos, de animais ou de objetos que representem a totalidade de indivduos, denominada tambm de universo. 1.4 COLETA E ANLISE DOS DADOS Os dados foram coletados a partir de um formulrio montado por este grupo de pesquisa dividido em duas partes: o primeiro bloco para montar o perfil do grupo, contendo seis questes; j o segundo se destinou ao levantamento da percepo do contrato psicolgico, possuindo duas sees, uma contendo 16 (dezesseis) questes de respostas fechadas, com o emprego da escala de Likert, e outras 03 (trs) questes abertas. Os dados foram colhidos a partir de fontes primrias, ou de primeira mo, por intermdio de um questionrio, constando de 22 (vinte e duas) questes, empregandose para tanto a escala somatria ou de Likert para se levantar as atitudes. Sublinham Mattar (2000) e tambm Richardson (1999) que os dados primrios constituem aquelas variveis que ainda no foram coletadas, sintetizadas e registradas anteriormente. Propugna Mattar (2000) que a escala de Likert se constitui numa escala somatria para mensurar atitudes, compreendendo uma srie de afirmaes relacionadas com o objeto que est sendo estudado, sendo que a cada cdula de resposta atribudo um nmero, normalmente de 01 (um) a 05 (cinco), que reflete a direo da atitude do respondente em relao a cada assertiva. Simultaneamente, a ferramenta para a coleta de dados foi submetida a um teste piloto, envolvendo 10 (dez) respondentes escolhidos junto populao envolvida nesta investigao. S 17 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Asseveram Barbier (2003) bem como Mattar (2000) que a realizao do teste piloto significativa em virtude de possibilitar verificar, antecipadamente, se os itens do instrumento so compreensveis, se a sequncia das questes se encontram bem definidas, se existem itens sensveis, alm de permitir cronometrar o tempo de aplicao. Desta forma, a pesquisa possui um parmetro de anlise de dados quantitativo e qualitativo, respectivamente. 1.5 HIPTESES H1: O contrato psicolgico dos agentes temporrios que desenvolvem a atividade de telefonista nas Centrais Regionais de Emergncias promove o comprometimento. H2: Os agentes temporrios esto satisfeitos com o contrato de trabalho formulado. H3: As polticas organizacionais, vigentes na Corporao, favorecem a manuteno do contrato psicolgico. H4: A modalidade de contrato temporrio dos agentes favorece um contrato psicolgico equnime.

2. ANLISE DOS DADOS 2.1 QUANTO AO PERFIL DA AMOSTRA A seguir ser caracterizado o perfil da amostra, com base nos seguintes traos: Distribuio no espao geogrfico, com base nos Municpios que sediam as Centrais Regionais de Emergncias; Gnero; Faixa etria; Estado civil e se possui filhos.Figura 1: Distribuio dos AGT no Estado de Santa Catarina. Fonte: Dados da pesquisa.

S 18 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Verifica-se na Fig. 1 que existe uma distribuio relativamente proporcional de dos agentes temporrios nas Centrais de Emergncias.Figura 2: Gnero. Fonte: Dados da pesquisa.

Na Fig.2, do mesmo modo, percebe-se que existe uma simetria distributiva entre as pessoas de gneros diferentes.Figura 3: Faixa etria. Fonte: Dados da pesquisa.

A Fig. 3 apresenta o predomnio de duas faixas etrias, sendo que 47% esto na faixa dos 21 a 23 e 53%, na faixa dos 18 aos 20 anos.Figura 4: Estado civil. Fonte: Dados da pesquisa. :

Encontra-se estampado na Fig. 4 que somente 6% so casados e 94%, solteiros. S 19 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Figura 5: Detentor de prole. : Fonte: Dados da pesquisa. :

Percebe-se na Fig. 5 que grande parte dos profissionais no possuem filhos, 95%, e somente 5% possuem.Figura 6: Escolaridade. Fonte: Dados da pesquisa.

Denota-se na Fig. 6 que 67% possuem o curso superior incompleto, 26%, o curso mdio, e 7%, o superior completo, caracterizando que a maioria das pessoas est a procura de melhores opes de emprego.

S 20 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

2.2 DADOS ACERCA DO ESTADO DO CONTRATO PSICOLGICO 2.2.1 Componentes transacionais Figura 7: Satisfao quanto ao salrio. Fonte: Dados da pesquisa.

Encontra-se estabelecido na Fig. 7 que paira uma orientao para a esquerda da escala grfica, ou seja, de concordncia, ratificando, desta forma, que salrio no constitui um fator motivacional. Figura 8: Percepo de justia com relao ao salrio e os esforos expendidos. Fonte: Dados da pesquisa.

S 21 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Ilustra a Fig. 8 uma orientao esquerda da escala grfica, ou seja, uma considervel situao de discordncia e sentimento de inequidade. Convm destacar a sintonia entre a Fig. 7 e a Fig. 8, apesar de que existem, nesta ltima, outras variveis atinentes a percepo de justia organizacional.Figura 9: Percepo de adequao do salrio ao estilo de vida. Fonte: Elaborada pelos autores.

Infere-se na Fig. 9 que existe uma forte orientao para a esquerda da escala de Likert uma vez que as pessoas possuem a impresso de que o salrio no lhes confere um padro de vida, exatamente de encontro com os resultados obtidos na Fig. 8.Figura 10: Confiana nas polticas de recursos humanos da Polcia Militar. Fonte: Dados da pesquisa.

S 22 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

L-se na Fig. 10 que existe uma atmosfera de incerteza quanto ao nvel de confiana nas polticas de recursos humanos da Polcia Militar; os resultados apresentam uma forte tendncia direita da escala.Figura 11: Sentimento de envolvimento com a Polcia Militar. Fonte: Dados da pesquisa.

Constata-se na Fig. 11 um forte parmetro de concordncia quanto ao sentimento de envolvimento com a Polcia Militar.Figura 12: Medo quanto ao modo como meus pares so tratados. Fonte: Dados da pesquisa.

A Fig. 12 apresenta um resultado ambguo presumindo a falta de sentimento de integrao no trabalho e relacionamento entre os sujeitos mais caracterizado pela instrumentalidade, como de rotineiro o cotidiano militar, primordialmente. S 23 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Figura 13: Satisfao quanto aos benefcios sociais. Fonte: Dados da pesquisa.

Est fortemente matizado na Fig. 13 que as pessoas esto descontentes com os benefcios sociais proporcionados pela Polcia Militar, preponderando uma orientao esquerda da escala.Figura 14: Confiana na capacidade de deciso do superior imediato. Fonte: Dados da pesquisa.

A Fig. 14 apresenta um relevante nvel de concordncia com referncia a capacidade de deciso da chefia imediata. Do que se pode aduzir que existe uma atmosfera de confiana entre superior e subordinado.

S 24 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

2.2.2 Componentes relacionaisFigura 15: Aceitao no grupo de trabalho. Fonte: Dados da pesquisa.

O resultado constante da Fig. 15 apresenta uma elevada tendncia exponencial para a direita da escala de Likert, ou seja, de concordncia, onde sobrepuja uma atmosfera de pertencer no mbito do grupo de trabalho.Figura 16: As pessoas cooperam comigo no desempenho das atividades. Fonte: Dados da pesquisa.

Situao anloga matizada na Figura anterior, a Fig. 16 apresenta um nvel significativo de orientao para a direita da escala de Likert, ou seja, de concordncia, caracterizando uma estrita relao entre aceitao e cooperao entre os sujeitos. S 25 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Figura 17: Significado do trabalho. Fonte: Dados da pesquisa.

Os resultados constantes na Fig. 17 caracterizam uma orientao de plena concordncia, onde as pessoas consideram que seu trabalho possui um contedo significativo.Figura 18: Emprego da inteligncia para desempenhar meu trabalho. Fonte: Dados da pesquisa.

A Fig.18 transparece que os sujeitos percebem que seu trabalho possui um contedo de profundidade elevada, ratificando que constitui uma atividade desafiante e no montona.

S 26 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Figura 19: Existe delegao de tarefas e atividades no meu servio. Fonte: Dados da pesquisa.

Simetricamente, a Fig. 19 cristaliza a autonomia que proporcionada no desempenho das tarefas, caracterizando, destarte, um nvel exponencial de concordncia.Figura 20: Existe avaliao de desempenho do meu servio. Fonte: Dados da pesquisa.

Nesta varivel denota-se que existem formas de avaliaes de desempenho humano nas OPMs, porm essas se do de modo personalstico e de forma despadronizada sujeita a inmeras disfunes em razo do despreparo e da falta de aptido administrativa das diversas pessoas, Oficiais e Praas, que ocupam os diversos cargos nas estruturas da PMSC. S 27 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Figura 21: Reconhecimento da relevncia do trabalho. Fonte: Dados da pesquisa.

A Fig. 21 destaca a falta de reconhecimento pela relevncia do trabalho desempenhado, ou seja, que inexiste o feedback pessoal aps o desempenho das atividades.Figura 22: Meu trabalho interessante. Fonte: Dados da pesquisa.

A Fig. 22 estabelece o nvel de identificao dos sujeitos com as atividades desenvolvidas, onde se admite um nvel de concordncia de que o trabalho bastante interessante.

S 28 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

2.3 ANLISE DOS DISCURSOS Por intermdio da anlise de contedo, estes acadmicos levantaram os fragmentos dos discursos e os sistematizaram de acordo com as dimenses na forma que segue. Sublinha Santos Junior; Souza e Cabral (2008, p. 20, grifo nosso) [...] mtodo anlise de contedo. Ao analisar o material, buscou-se integrar as estruturas semnticas ou lingsticas s estruturas sociolgicas ou psicolgicas a que correspondiam os significados caracterizados pelo contexto organizacional, procurando-se identificar a incidncia dos temas, palavras, expresses ou smbolos que foram considerados influentes nas dimenses [...] constituindo-se uma srie de fragmentos discursivos.Figura 23: Resultado da anlise dos fragmentos discursivos.

DIMENSES Jornada de trabalho e possibilidade de desenvolvimento pessoal Interesse em permanecer na PMSC

FRAGMENTOS Sim, pela facilidade de trocas de horrios de servio. Grande interesse no momento. Primeiramente por no termos nenhum vnculo com a PMSC, acredito que se tivssemos benefcios, o interesse pela permanncia nesse emprego seria maior. Quanto ao contrato, no sentimos nenhuma segurana em trabalhar na PMSC, pois no temos garantia se iremos permanecer vinculados, no temos direitos a benefcios bsicos como frias remuneradas, 13 salrio, valealimentao, seguro-desemprego etc.

Impresso sobre o contrato psicolgico

Com fulcro na Figura 23 se pode inferir que existem alguns estmulos ao desenvolvimento pessoal, uma vez que so possibilitadas as trocas de servio entre o pessoal temporrio. Com referncia inteno de permanecer na PMSC, assinalou-se a necessidade de se estabelecer uma srie de benefcios sociais, atinentes aos cargos efetivos. Finalmente, quanto impresso acerca do contrato psicolgico, a orientao apresentou a falta de segurana no emprego. S 29 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

CONCLUSO As ltimas dcadas foram marcadas pela forte migrao de populaes para as grandes metrpoles, de forma desorganizada e sem qualquer acompanhamento ou poltica pblica adequada. Alm da ausncia do Estado na ocupao desses grandes centros urbanos, observou-se tambm a falta de estrutura que pudesse acolher de forma correta essas pessoas, possibilitando melhores condies de vida. A falta de planejamento resultou na ocupao demogrfica desordenada em reas perifricas ou morros geralmente prximos ao centro das cidades, onde as estruturas habitacionais praticamente inexistentes agravaram consideravelmente as condies de sobrevivncia dessas populaes migratrias, ficando caracterizadas pela pssima qualidade de vida e falta de atendimento de necessidades bsicas. A falta de emprego e de mo de obra qualificada tambm agravou as condies de vida dessas populaes. O crescimento populacional acelerado nos grandes centros urbanos ocasionou um aumento significativo dos ndices de crimes e de contravenes, sendo que a Polcia Militar de Santa Catarina permaneceu praticamente com o mesmo efetivo orgnico. Sendo assim, a otimizao dos recursos humanos tornou-se prioridade, a fim de atender a demanda da sociedade em busca dos servios da Corporao Militar. Este trabalho procurou estudar um recurso humano recm-incorporado pela Polcia Militar do Estado de Santa Catarina, a fim de aprimorar a qualidade na prestao de servios em uma rea de fundamental importncia. Os Agentes Temporrios de Servio Administrativo so um exemplo de otimizao e de alternativa para superao dos graves problemas enfrentados atualmente pela Corporao Militar quanto falta de efetivo PM. Na presente pesquisa, por meio do levantamento do contrato psicolgico dos agentes temporrios de servio administrativo, identificaram-se os fatores que contriburam para o processo de turnover. Com referncia s hipteses em estudo, se pode afirmar o seguinte: H1: o contrato psicolgico dos agentes temporrios que desenvolvem a atividade de telefonista nas Centrais Regionais de Emergncias no promove o comprometimento, em razo da expectativa de transitoriedade e da falta de benefcios sociais a serem dispensados s pessoas. Simetricamente, com relao hiptese H2: os agentes temporrios no esto satisfeitos com o contrato de trabalho formulado, pelo mesmo motivo aduzido anteriormente. Analogamente para H3: as polticas organizacionais, vigentes na Corporao, no favorecem a manuteno do contrato psicolgico. S 30 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Finalmente para H4: a modalidade de contrato temporrio dos agentes no favorece um contrato psicolgico equnime. Ao final deste estudo pode-se sugerir e recomendar algumas alternativas para a gesto de recursos humanos, a fim de se obter a reduo dos problemas identificados. Por ltimo, pode-se observar que os componentes relacionais do contrato psicolgico encontram-se num grau de satisfao bastante relevante em oposio aos componentes transacionais. REFERNCIASATKINSON, C. Career management and the changing psychological contract. Career Development International, p. 14-23, 2002. BARBIER, Rene. Pesquisa-Ao na Instituio Educativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. So Paulo: Saraiva, 2003. _______. Lei Federal n 10.029, de outubro de 2000. Estabelece normas gerais para prestao voluntria de servios administrativos. _______. Decreto-Lei n 88.777, de 30 de setembro de 1983. Aprova o Regulamento para as Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. ERBER, R. e FISKE, S. T. Outcome Dependency and Attention to Inconsistent Information. Journal of Personality and Social Psycology, 1984. v. 47 p. 709-726. FRANA, A. C. L. Comportamento Organizacional: Conceitos e Prticas. So Paulo: Saraiva, 2006. GUEST, D. e CONWAY, N. Communicating the psychological contract: An employer perspective. Human Resource Management Journal, v. 12 p. 22-38, 2002. GUZZO, R. A. e NOOAN, K. A. Human Resource Practices as Communications and the Psychological Contract. Human Resource Management, Fall 1994. v. 33, Num. 3, p. 447-462. HANDY, C. B. Como Compreender as Organizaes. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. LESTER, S. W. e KICKUL, J. Psychological Contracts in the 21st Century: What Employees Value Most and How Well Organizations are Responding to These Expectations. Human Resource Planning, 2001. v. l. 24, Num. 1, p. 463-489. LINDGREN, R.; HENFRIDSSON, O.; SCHULTZE, U. Design Principles for Competence Management Systems: a Synthesis of an Action Research Study. MIS Quarterly, v. 28, n. 3, September 2004. MacNEIL, I. R. Relational Contract: What we do and do not know. Wisconsin Law Review, p. 483-525, 1985. MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de Marketing: Uma orientao aplicada. Traduo de Nivaldo Montigelli Jr. e Alfredo Alves de Farias. Porto Alegre: Bookman, 2001.

S 31 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

MARKS, A. Developing a Multiple Foci Conceptualization of the Psychological Contracts. Employee Relations, p. 454-467, 2001. MENEGON, L. F. Contratos Psicolgicos como Influenciadores dos ndices de Rotatividade Voluntria em Empresas de Consultoria. Dissertao de Mestrado em Administrao. So Paulo: FEA/USP, 2004. MORIM, E. Os sete saberes necessrios educao do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeane Sawaya. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2000. MORRISON, D. E. Psychological Contracts and Change. Human Resource Management, Fall 1994. v. l. 33, Num. 3, p. 353-372. ROESCH, S. M. A. Projetos de Estgio e de Pesquisa em Administrao. So Paulo: Atlas, 1999. ROUSSEAU, D. M. Promises in Action: Psychological Contracts in Organizations. Newbury Park, CA: Sage, 1994. (in press). ROUSSEAU, D. M. e PARKS, J. M. The Contrast of Individuals and the Organizations. In. L.L. Cummings & B. M. Staw (Eds.), Research in organizational behavior. 1993, v. l. 15, p. 1-43. Greenwich, CT: JAI Press. ROUSSEAU, D. M. e WADI-BENZONI, K. A. Linking Strategy and Human Resource Practices: How Employee and Customer Contracts Are Created. Human Resource Management, Fall 1994. v. 33, n. 3, p. 463-489. SAMPAIO, Irene N. Organizao Biocntrica - emergncia de um novo paradigma na administrao. Fortaleza, 2005. 116 p. Monografia (Especializao em Educao Biocntrica - A Pedagogia do Encontro) Universidade Estadual do Cear. SANTA CATARINA. Constituio do Estado de Santa Catarina. Florianpolis: Assembleia Legislativa, 1997. _______. Lei Complementar n 302, de 28 de outubro de 2005. Institui o servio auxiliar temporrio na Polcia Militar do Estado de Santa Catarina. _______. Decreto Estadual n 1.155, de 14 de maro de 2008. Regulamenta a Lei Complementar n 302, de 28 de outubro de 2005. _______. Decreto Estadual n 2.538, de 26 de agosto de 2009. Altera o Decreto n 1.155, de 14 de maro de 2008. Estabelece o valor do auxlio mensal de natureza indenizatria para o ano de 2009. _______. Decreto Estadual n 1.989, de 29 de dezembro de 2000. Dispe sobre a concesso de auxlio-alimentao aos servidores pblicos civis e militares ativos da administrao direta, autrquica e funcional. _______. Lei Complementar n 386, de 26 de junho de 2007. Institui o servio auxiliar temporrio na Polcia Militar e no Corpo de Bombeiro Militar. _______. Portaria n 1.161, de 17 de dezembro de 2009. Institui o regulamento disciplinar dos agentes temporrios da Polcia Militar do Estado de Santa Catarina.

S 32 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

_______. Edital de Recrutamento e Seleo n 05, de 26 de agosto de 2009. Torna pblicas as inscries para admisso de agentes temporrios de servio administrativo na Polcia Militar do Estado de Santa Catarina. _______. Diretriz de Procedimento Especfico n 006, de 15 de abril de 2002. Estabelece normas, atribuies e procedimentos nas centrais de emergncias da Polcia Militar do Estado de Santa Catarina. SANTOS, A. A. JNIOR; BELUSO, C. M. O contrato psicolgico em indstrias txteis. Revista Cientfica da Universidade Lusfona do Porto. , n. 2, 2 semestre, 2007. Portugal, p. 179-198. SANTOS, A. A. JNIOR; SOUZA, R, J., CABRAL A. B. Clima organizacional em organizaes policiais militares. Rev. Mad, n 19, Septiembre de 2008. p. 17-41. Disponvel em: HTTP:// www.pm.sc.gov.br/downloads/clima_organizacional.pdf. Acesso em: 23 set. 2010. SCHEIN, E. Psicologia Organizacional. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1982. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ao. So Paulo: Cortez, 2000. WAGNER, J. A. e HOLLENBECK, J. R. Comportamento Organizacional: Criando Vantagem Competitiva. So Paulo: Saraiva, 1999. YIN, R.K. Estudo de Caso: Planejamento e Mtodos. So Paulo: Bookman, 2001.

ABSTRACT This paper aims to raise the contingencies of the psychological contract of temporary staff in developing the administrative department of telephone activity in Emergency Regional Central of the Military Police of Santa Catarina. It has the following research question: the practice employed in managing human resources in this category is contemplating the psychological contract made with temporary staff? The research is characterized as type action research, employing a prospective analysis of qualitative and quantitative data. The sample universe involved 180 people, who make up the framework of temporary staff that performs the duties of attendants in the Emergency Regional Central distributed throughout the state of Santa Catarina. The research showed that several dimensions of psychological contract were vilified, which led to high turnover number. On the other hand, was devoted to this type of professional relevance to the organization since many professionals, police officers, left these functions to patroll activity, primarily. Keywords: Psychological Contract. Military Police. Temporary Staff. Emergency Regional Central.

S 33 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

S 34 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

YDOUTRINA POLICIAL MILITAR E AS PARCERIAS PBLICO-PRIVADAS NA GESTO POR RESULTADOS

Altair Lisot4

RESUMO Este trabalho busca abordar, de modo geral, a Gesto da Segurana Pblica no Brasil, realando os desafios enfrentados face o atual paradigma com o qual se deparam as Polcias Militares brasileiras. Eleva-se a temtica segundo um novo Modelo de Gesto da Segurana Pblica (gesto mista e participativa), no qual se introduz o instituto das Parcerias Pblico-Privadas - PPPs como o mais novel e promissor mecanismo de integrao entre o Setor Pblico (Polcia Militar) e o Setor Privado (sociedade civil e seus diversos atores sociais). Destaca-se, em particular, a importncia da Doutrina Policial Militar como mecanismo disciplinador e norteador implementao do instituto das PPPs no mbito da Polcia Militar do Estado de Santa Catarina, a fim de vincular, orientar e potencializar a atuao policial militar, rumo a uma nova engenharia de segurana pblica, a qual congregue esforos e parcerias inovadoras. Palavras-chave: Gesto Pblica. Segurana Pblica. Parcerias Pblico-Privadas. Gesto Participativa. Doutrina Policial Militar.

4 Cadete do Curso de Formao de Oficiais da Polcia Militar de Santa Catarina e Bacharel em Direito Pela UnC Universidade do Contestado. Email: [email protected] e [email protected].

S 35 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

INTRODUO Abordar sucintamente a questo das Parcerias Pblico-Privadas - PPPs no atual cenrio da Gesto Pblica brasileira no uma tarefa fcil, especialmente quando o termo parceria figura como uma espcie de panaceia para crises gerencias na Administrao Pblica. Ignorar o atual paradigma no qual est envolta a gesto brasileira implica em desconsiderar a grave crise por que esto passando determinados setores sociais sob a responsabilidade do Estado, onde destacamos a Segurana Pblica. Diante da manifesta incapacidade do Estado em gerir e suprir adequadamente as demandas relacionadas segurana pblica, questiona-se: possvel trabalhar o instituto das Parcerias Pblico-Privadas segundo um modelo de gesto mista e participativa no mbito das Polcias Militares brasileiras? O instituto das PPPs principiar maior integrao entre Polcia Militar, rgos Pblicos e Sociedade Civil para obteno de resultados satisfatrios diante da crescente demanda de servios de segurana pblica? Como a Doutrina Policial Militar pode contribuir para fomentar e concretizar parcerias duradouras em prol de uma Polcia Militar mais prxima do cidado e de uma segurana pblica mais efetiva sociedade? Para responder adequadamente estes questionamentos, buscou-se contextualizar a problemtica da segurana pblica hoje no Brasil e o modelo de gesto ento vigente que permeia a atuao das Polcias Militares brasileiras. Destacar-se- a importncia das PPPs como instrumento administrativo/poltico hbil a principiar um modelo de gesto de segurana pblica pautada na participao dos diversos atores sociais, com especial nfase no cidado. Destaca-se ainda a importncia de se desenvolver uma Doutrina Policial Militar slida e hbil a consolidar as mudanas e os avanos conquistados diariamente pelas instituies policiais militares. A doutrina interna de uma organizao representa seu mais importante capital e condensa, a um s tempo, todo aprendizado adquirido, produzido e aperfeioado ao longo de sua existncia. Para isso, a metodologia de pesquisa buscou amparo em inmeras bibliografias acerca do instituto das PPPs, gesto pblica e gesto da segurana pblica no Brasil. Foram ainda realizadas anlises das legislaes pertinentes ao tema, como artigos cientficos, monografias e revistas eletrnicas. Os estudos e as anlises realizadas fornecem o substrato necessrio s questes propostas pelo tema base. Os esforos maiores da pesquisa direcionam-se ao escasso contedo relacionado ao instituto das PPPs e sua aplicabilidade na rea da segurana pblica. Contudo, o instituto em tela mostra-se como uma tendncia natural da moderna gesto pblica, face s recentes e promissoras vantagens estratgicas e competitivas j angariadas por inmeras organizaes privadas nos diferentes setores e segmentos sociais. S 36 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

1. GESTO PBLICA NA ATUALIDADE A sociedade e as organizaes em geral cada vez mais vm sofrendo inevitveis transformaes e ingerncias provenientes de inmeros segmentos sociais (efeitos da globalizao). A Administrao Pblica, por sua vez, reage de forma lenta e insatisfatria s mudanas sociais, econmicas e tecnolgicas que orbitam seu tradicional modelo de gesto. No obstante, esse novo cenrio globalizado ampliou substancialmente a percepo do cidado quanto ao exerccio do direito a cidadania, exigindo assim um modelo de Estado-corporativo (governana corporativa) capaz de atuar em conjunto com a sociedade civil (participao cidad) e com o setor privado (novos modelos de gesto e modernizao tecnolgica), a fim de viabilizar projetos e programas sociais, at ento inatingveis. Castilho (2010) corrobora quando expressa em sua obra que o atual cenrio globalizado exige dos gestores pblicos decises alinhadas com as estratgias da organizao, tendo por perspectiva a excelncia no desempenho das atividades, a fim de proporcionar um servio de melhor qualidade ao pblico externo, suprindo alguns passos do modelo tradicional de gesto. Isto exige dos Gestores Pblicos modernos a assuno de nova mentalidade e diferenciada postura no cenrio administrativo atual, compreendendo que gerir recursos pblicos muito mais amplo que administr-los. Acima de tudo, significa assumir novos papis e novas responsabilidades, ocupar diferentes posies funcionais e se relacionar com outras formas e modelos de gesto e com diferentes estruturas organizacionais provenientes do setor privado (MAXIMIANO, 2010). O panorama orienta os gestores pblicos, assegura Lima (2007), a buscar e proliferar novos instrumentos, conhecimentos e tecnologias j desenvolvidas pela iniciativa privada. A corrida incessante da economia, a necessidade de manter-se competitivo, a insero de inditas figuras contratuais e de parcerias entre o pblico e o privado, tudo recomenda uma viso estratgica diferenciada daqueles que esto incumbidos de tomar decises no setor pblico. Essa roupagem h de trazer consigo novas prerrogativas, atribuies e deveres, e principalmente um novo estilo de liderana dos gestores e administradores. Percebe-se que tal retrica no poderia ser diferente, uma vez que o atual gestor pblico est inserido numa nova dinmica social, onde muito se espera e muito se cobra. neste cenrio de rpidas e constantes mudanas e transformaes que a Administrao Pblica e seus agentes devem acompanhar o desenvolvimento e a evoluo conquistada diariamente pelos demais setores sociais. S 37 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

2. OS DESAFIOS DA GESTO PBLICA NO BRASIL A Administrao Pblica contempornea no pode mais ignorar as inevitveis e constantes mudanas que sucederam no setor privado e paulatinamente transportam-se para o servio pblico nas ltimas dcadas. Ademais, antes de estas transformaes serem consideradas ameaas, devem constituir, sobretudo, importante fonte de oportunidades. Ao abordar questes pertinentes s crescentes transformaes a que se submetem os servios pblicos, Trosa (2001) alerta que a Administrao Pblica precisa necessariamente enfrentar a mundializao e a globalizao, pois cada vez mais se depara com a mudana dos usurios que so mais exigentes e que querem dispor de um tratamento personalizado, e no mais um padronizado. A crescente diversificao nas formas de fazer e produzir o servio pblico passa a constituir uma constelao de deveres e responsabilidades bem maior do que o Estado tradicional estava habituado a oferecer. De igual modo, as relaes de hierarquia e disciplina que ainda permeiam algumas instituies pblicas comeam a ser questionadas pelos funcionrios que no mais aceitam passivamente simples imposies ou ordem de seus superiores. Estas mudanas transformam-se em grandes desafios que exigem uma espcie de mini revoluo na gesto da administrao pblica atual. Esta, por sua vez, deve estimular a competio entre fornecedores de servios, ao passo que deve ainda aprimorar e desenvolver novos sistemas oramentrios. O administrador/gestor pblico contemporneo visionrio e comprometido em reestruturar os setores e sistemas ineficientes e caros, ao mesmo tempo em que apresenta um discurso voltado gerncia de empreendimentos, s organizaes que aprendem e ao desenvolvimento de uma cultura de cidades autoconfiantes (OSBORNE, 1994). A importncia de um pensamento global e sistmico voltado s aes locais mostra-se muito relevante. As organizaes cada vez mais funcionam em eficientes e complexas redes de inter-relacionamento, com trocas instantneas de informaes de qualquer outra unidade no mundo. As organizaes em geral esto cada vez mais multiculturais, flexveis e especializadas, enquanto as funes pblicas so, na maioria das vezes, muito nacionais em suas informaes e sua sociologia (TROSA, 2001). Ao contextualizarem-se tais palavras, percebemos que a Administrao Pblica em geral necessita urgentemente estabelecer intercmbios regionais, nacionais e internacionais. A antiga preocupao do Administrador Pblico com o processo de tomada de deciso meramente formal e restrito, agora deve tambm se voltar realizao de parcerias e consecuo de objetivos e metas claras, com resultados concretos. Ningum duvida que novas parceiras e instrumentos vm surgindo no cenrio nacional. Vivenciamos a proliferao das organizaes no governamentais, bem S 38 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

como o crescimento do chamado Terceiro Setor, manejando princpios e regras antes restritas aos entes estatais, e o discurso pela busca de resultados, planejamento estratgico, economicidade, eficincia e eficcia, que vm contaminando todas as instituies pblicas, as quais aprofundam o intercmbio com as iniciativas privadas e com as entidades pblicas no estatais (OSRIO 2005). imprescindvel que a Administrao Pblica e seus gestores ascendam a um novo cenrio globalizado, quebrando os paradigmas inerentes ao modelo de administrao centralizada. Isto implica, necessariamente, em desenvolver habilidade para manejar recursos e instrumentos de negociao e de persuaso em detrimento das imposies unilaterais de vontade, outrora restringida a determinados entes Estatais. 3. PARCERIAS PBLICO-PRIVADAS E O CENRIO INTERNACIONAL O estudo da Gesto Pblica abordado at o momento nos possibilita uma melhor anlise sobre a relevncia do instituto das PPPs como forma integrada e compartilhada de gerir pessoas, processos e riscos entre Estado e Setor Privado. As PPPs surgiram inicialmente no cenrio internacional - Europa -, mais precisamente na Inglaterra, onde os Estados outorgaram contratos de servios de longo prazo a concessionrios privados que investiram pela primeira vez no setor pblico. Segundo Gasparini (2009, p. 413), ao comentar sobre a origem desse instituto, preleciona a seguinte ideia:As parcerias pblico privadas nasceram na Inglaterra h quase trs dcadas. Nesse pas foram analisados, segundo os jornais de fins de 2003 e incio de 2004, mais de 600 projetos, dos quais 450 em operaes envolvendo 55 bilhes de libras. Portugal, Holanda, Canad, Chile e Mxico, entre outros, so os pases que vivenciam, com bons resultados, essa experincia que comea a existir entre ns, sem que tenhamos vivido algo igual. A experincia com a concesso de servios e de obras pblicas assemelhada das PPPs, mas no igual. Em Portugal, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, empresas brasileiras, tm parcerias com o governo portugus. No entanto nossas observaes esto circunscritas ao nosso pas e referida lei federal.

Pela exposio do autor, percebe-se que o instituto das PPPs encontra-se em sua fase embrionria no Brasil. Disto resulta certo nvel de incerteza e insegurana quanto aos seus objetivos, que tendem a se dissolver, na medida em que novas parcerias se consolidem com a iniciativa privada, o que viabilizar inmeros projetos e programas voltados ao desenvolvimento e ao bem-estar da sociedade. S 39 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

O termo parceria vem do latim partiarius (parceiro, participante), e segundo o dicionrio on line Priberam (2009), parceria a relao de colaborao entre duas ou mais pessoas com vista realizao de um objetivo comum. Segundo Plcido e Silva apud Souto (2006), o vocbulo empregado na terminologia jurdica para designar uma forma sui generis de sociedade, em que seus participantes se apresentam com deveres diferentes, tendo, embora, participao dos lucros auferidos. importante colacionar o conceito previsto no Projeto de Lei 2.546/2003, que deu origem s PPPs, o qual previa a seguinte redao:A parceria pblico privada constitui modalidade de contratao em que os entes pblicos e as organizaes privadas, mediante o compartilhamento de riscos e com o financiamento obtido pelo setor privado, assumem a realizao de servios e empreendimentos pblicos.

O art. 2 do mencionado Projeto previa uma conceituao bem mais detalhada, como segue:Considera-se contrato de parceria pblico privada o acordo firmado entre a administrao pblica e entes privados, que estabelea vnculos jurdicos para implantao e gesto, no todo ou em parte, de servios, empreendimentos e atividades de interesse pblico, em que o financiamento e a responsabilidade pelo investimento e pela explorao incumbem ao parceiro privado.

Cabe salientar, contudo, que em virtude de inmeras alteraes no trmite do Projeto, a conceituao prevista na atual Lei 11.079/2004, a qual institui normas gerais para licitao e contratao das PPPs no mbito da Administrao Pblica, restou simplesmente denominada de contrato administrativo de concesso. Assim, em que pese ter sido suprimido, entre outros termos, o vocbulo gesto, este norteia todo o instituto das PPPs, e sua aplicao apresenta-se imprescindvel ao sucesso destas. De forma antagnica do que acontece no Brasil, o termo Parcerias Pblico-Privadas PPPs no mbito internacional muito abrangente. Abarca, assim, inmeros projetos em que a iniciativa privada no somente financia, mas de igual forma gerencia, de acordo com os limites e competncias estabelecidos para tanto. Ao abordar e citar as ONGs no mbito internacional como principal exemplo, Souto (2010) destaca que estas organizaes atuam em diversas frentes e/ou setores da sociedade e, ao receberem financiamento pblico, realizam a administrao e a gesto das verbas e apresentam, ao final ou quando solicitado, relatrios e demonstrativos dos resultados que lhe so esperados. Importa salientar que as PPPs no cenrio internacional apresentam substanciais avanos e servem de exemplos para o Brasil. A autora menciona inmeros setores S 40 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

nos quais as parcerias esto se desenvolvendo, a exemplo dos transportes, educao, sade, segurana pblica e o sistema judicirio. relevante destacar que, em relao aos setores de segurana pblica e aos mecanismos propagadores de justia social, as aes e investimentos foram dirigidos s reas como prises, construo de postos policiais e centros de treinamentos. Ademais, bem verdade que as PPPs no mbito internacional tambm apresentam crticas, afinal, encontram-se ainda em pleno processo de desenvolvimento e adequaes segundo as constantes mudanas influenciadas pela globalizao. Contudo, inegvel sua relevncia e contribuio para a construo de um novo Modelo de Gesto Pblica, um modelo eficiente e de excelncia dos servios prestados a todo cidado.

4. PARCERIAS PBLICO-PRIVADAS NO BRASIL Conforme Neto (2009), o atual modelo de PPPs foi lanado pela primeira vez no Brasil no Estado de Minas Gerais, em 17 de janeiro de 2008. O Sistema Penitencirio foi o setor escolhido para sua implantao, envolveu a construo de sete Unidades Prisionais e recebeu apoio de parceiros privados, tanto na construo, quanto no gerenciamento. Entretanto, destaca Souto (2006) que o modelo de empreendimento pretendido pelo Brasil est mais voltado s parcerias para financiamento de setores ligados infraestrutura primrio-bsica, notadamente face sua visvel deficincia atual e por influenciar mais diretamente no desenvolvimento econmico do Pas, posto que substanciais so os investimentos necessrios tambm nesta rea. Em que pese a atual tendncia voltar-se para reas de cunho econmico, salutar destacar a importncia do uso das PPPs nas reas e setores sociais que exercem influncia direta e substancial na qualidade de vida e no bem-estar da populao, a exemplo da sade, educao e, em especial, da segurana pblica. Assim, a retrica aqui desenvolvida deve voltar-se a esse desiderato. No campo legal, as PPPs encontram suas bases legitimadoras na Constituio Federal, segundo destaca Pietro (2007), em seus artigos 22, inciso XXVII, e no 37, caput (Princpios da Administrao Pblica) e inciso XXI, que trata a respeito das obras, servios, licitaes e demais procedimentos obrigatrios para a Administrao Federal. importante destacar que os demais entes federados ficam vinculados Lei 11.079/2004, a qual regulamenta as PPPs somente com relao s normas gerais. Assim, enquanto cada ente da Federao no editar suas respectivas leis, estes usufruem S 41 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

de relativa margem de discricionariedade, o que lhes possibilita a criao e adequao de acordo com suas respectivas necessidades locais, at que lei superveniente no venha dispor o contrrio. De acordo com Mello (2008), o objetivo das PPPs , diante da carncia de investimentos pblicos em reas essenciais da sociedade, suprir a vasta gama de servios de cunho essencialmente social, e no meramente econmico, como est se atribuindo seu uso. Contudo, imperativo que a Administrao Pblica promova e facilite a entrada de atores privados num inovador e promissor processo de gesto coparticipativa de riscos e resultados. Como bem afirma Nascentes (2009), o Brasil precisa enfrentar srios obstculos legais, polticos e institucionais para formar relaes pblico-privadas efetivas, duradouras, o que exige cooperao e dilogo contnuo entre diferentes organismos pblicos e privados.

5. GESTO DA SEGURANA PBLICA NO BRASIL A complexidade do atual quadro de insegurana pblica no Brasil exige de todos os atores sociais uma abordagem ecltica e compreenso sistmica. Neste linear, segundo Marcineiro (2009, p. 55), entender as coisas sistemicamente significa, literalmente, coloc-las dentro de um contexto, estabelecer a natureza de suas relaes. A segurana pblica no Brasil deve ser ponderada em vrios aspectos, sobre diferentes perspectivas e/ou fatores que, no raro, transcendem as questes de ordem poltica, sociais, econmicas ou institucionais. A problemtica principal da atual segurana pblica no Brasil habita as restritas, ineficientes e afastadas relaes entre os diversos rgos e instituies pblicas e a iniciativa privada. A necessidade de gerir a segurana pblica e programar um modelo de gesto moderno e condizente com demandas sociais j realidade em muitos pases e est acontecendo no Brasil por meio do Governo Federal, por intermdio do Ministrio da Justia, que desenvolve e busca reunir esforos em prol do Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania (PRONASCI). Sobre o programa, Santos (2006) preleciona que complexa e desafiadora a questo da segurana pblica no Brasil. Isso significa que h necessidade de envolver diferentes rgos governamentais em todos os nveis, entidades privadas e sociedade civil. Uma poltica de integrao deve nortear e aperfeioar a atuao dos rgos responsveis pela segurana pblica em nosso Pas, prezando a mtua colaborao. S 42 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

Percebe-se que o PRONASCI representa uma importante iniciativa que busca substituir o atual paradigma enfrentado na rea da segurana pblica. Contudo, apesar de haver mobilizao e a articulao com representantes da sociedade civil e as diferentes foras dos rgos responsveis pela segurana pblica no Brasil, o certo que ainda no se estabeleceu efetivamente um modelo de gesto pelo qual todos passam a atuar de forma integrada, congregando esforos e aes. A gesto institucional da segurana pblica, afirma Goz (2009), tem permanecido, ao longo da histria, sob a gide das instituies armadas, com caractersticas policiais e militares. Herdada ou no de outras pocas e modelos de gesto, esta situao persiste at os dias atuais e suas peculiaridades tm dificultado no somente a construo, mas, sobretudo, a manuteno de aes integradas dentro de um processo de democracia ainda em formao. O atual modelo de gesto da segurana pblica vigente no Brasil carrega fortes bases de um modelo de gesto tradicional (rgido e hierarquizado), mostrando-se um verdadeiro paradigma que, se bem trabalhado, pode principiar significativas aberturas para um novo arqutipo de gesto mista, participativa e articulada com rgos pblicos e privados. Este novel modelo gerencial do qual carece a segurana pblica no Brasil deve encontrar inspirao nas notveis transformaes ocorridas no setor privado nas ltimas dcadas, especialmente face as organizaes que preconizaram exemplos e demonstraram ser flexveis e dinmicas, mostrando-se, nas palavras de Senge (2009), verdadeiras organizaes que aprendem a aprender. Segundo Osborne (1994), o ambiente organizacional contemporneo exige instituies extremamente flexveis e adaptveis, que ao prestarem seus servios asseguram a alta produtividade dos investimentos realizados. As instituies pblicas devem responder as necessidades dos clientes/cidados com servios personalizados, atuando com persuaso, oferecendo incentivos, e confiando aos cidados significativa parcela de poder e sentido de controle, ao invs de simplesmente servi-los. crvel percebermos que inmeras organizaes privadas j alteraram substancialmente seus arqutipos organizacionais baseados em modelos de gestes altamente burocratizadas e piramidais, para arqutipos que passaram a contemplar modelos de gesto mista e participativa, com maiores liberdades, responsabilidades e autonomia de deciso por parte de seus colaboradores (equipe de funcionrios). neste toar que a Administrao Pblica deve buscar arraigar um modelo gerencial consentneo com a atual dinmica dos atuais mecanismos formais de integrao, a exemplo das PPPs, e/ou informais, dentro da filosofia de Polcia Comunitria. Os avanos sero substanciais e a segurana pblica consolidar-se- mais efetiva, posto que ter condies de prestar um servio de excelncia. S 43 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

6. SEGURANA PBLICA E AS PPPs A IMPORTNCIA DE UMA GESTO HBRIDA E PARTICIPATIVA O objetivo central do tema at aqui desenvolvido demonstrar que, a exemplo de outros pases, o Brasil tambm deve ampliar o uso das PPPs nas atividades pblicas suprindo assim a ausncia ou ineficincia estatal em inmeros setores, notadamente na rea da segurana pblica. oportuno frisar que a PMSC tem sido destaque no cenrio nacional pelas iniciativas inovadoras e pelo eficiente controle dos ndices de criminalidade, tornando-se, sem sombra de dvidas, um dos Estados mais seguros para se viver. Convm destacar a relevncia da implantao de parcerias na rea de segurana pblica, conforme expe Pacheco (2009, p. 108):[...] as estratgias de policiamento ou de prestao de servios que funcionaram no passado no esto sendo eficazes atualmente. A meta pretendida, um aumento na sensao de segurana e bem-estar, no foi alcanada. O nosso cliente (a sociedade, mais precisamente os cidados) est mais exigente, pois estamos em processo de contnua transformao.

No olvidamos que aes desenvolvidas por meio de uma perspectiva sistmica influenciaro prticas efetivas em prol de uma Segurana Pblica com Sustentabilidade5, cujos maiores beneficiados so a prpria sociedade. Segundo Oliveira (2009, p. 53), o atual contexto de desenvolvimento do Estado Democrtico e de Direito adequado a propiciar cooperao da sociedade civil, haja vista que [...] a concepo democrtica estimula a participao popular na gesto da segurana pblica; valoriza arranjos participativos e incrementa a transparncia das instituies policiais. A inter-relao de instituies policiais com o setor privado mostra-se extremamente importante e promissora para incluso de novas tecnologias, novos modelos5 Segurana Pblica com Sustentabilidade sugere uma nova abordagem sobre os problemas e causas geradores da violncia e da criminalidade no Brasil sob a tica da sustentabilidade. Pressupe assuno de um diferenciado conjunto de valores e crenas capazes de despertar a conscincia social e cidad para aes, atitudes e comportamentos proativos e autossustentveis, seguindo um modelo de gestoparticipativados problemas sociais. Compreendeum processo sistmico orientado por constantes e contnuas aes de bases sustentveis, da qual fazem parte setores pblicos e privados, sociedade civil e cidado com vistas a manter, preservar e suprir, de forma integrada, as demandas relativas a segurana pblica,sem, contudo, comprometer ou violar direitos humanos e garantias fundamentais.

S 44 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

de gesto e de gerenciamento de pessoas e processos. Nas palavras de Beato (2002, apud PACHECO, 2009, p. 111):Modificaes no mbito do gerenciamento das atividades policiais, na introduo de inovaes tecnolgicas, nos mecanismos decisrios e de planejamentos, nas estratgias em se encarar o problema da criminalidade e violncia nos grandes centros urbanos, alm de uma modificao na relao das organizaes policiais com outras agncias do governo, podem vir a causar mudanas profundas tanto do ponto de vista do relacionamento da organizao policial com o pblico em sua sociedade democrtica, bem como na eficincia no controle da criminalidade urbana violenta.

Toda esta retrica vem confirmar a inovao trazida pela Carta Poltica de 1988, a qual impe ao cidado, como bem afirma Souza (2008, p. 28), sua importante contribuio na [...] responsabilidade pela Segurana Pblica, determinando que a sociedade tambm possua parcela de compromisso com o assunto. Com efeito, todos os cidados so parcialmente responsveis pela segurana da coletividade. Dessa responsabilidade nasce a necessidade de se desenvolver uma gesto racional no mbito interno dos rgos pblicos, com o propsito de otimizar os mecanismos administrativos e operacionais por meio da atuao conjunta com organizaes, empresas ou demais entidades da sociedade civil. Neste sentido, Souza (2009, p. 29) conclui:[...] por isso a atuao da sociedade pode voltar-se para atividades de participao na elaborao dos programas de segurana pblica, uma vez que, como integrante de uma comunidade, e o destinatrio daquele programa. [...] Alm de viabilizar o exerccio da efetiva cidadania, a participao popular poderia tornar o sistema de segurana pblica mais eficiente, uma vez que facilitaria a investigao das causas dos problemas que envolvem a insegurana da comunidade. [...]

Essa atuao participativa na prestao de servios de segurana pblica potencializa o instituto das PPPs, que carrega uma importante funo de coeso e de reestruturao social, resultado do inter-relacionamento e da maior proximidade das aes envolvidas diretamente com os destinatrios desse servio o cidado.

S 45 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

7. DOUTRINA POLICIAL MILITAR ADMINISTRATIVA RELACIONADA S PARCERIAS PBLICO-PRIVADAS Segundo Marlon (2010), Doutrina o conjunto de Valores, Princpios, Conceitos, Normas, Mtodos e Processos, cuja finalidade orientar para a concepo e sua aplicao nas Instituies, disciplinando e sistematizando todas as suas atividades. Em que pese a inexistncia de conceito consolidado, a Doutrina Policial Militar nada mais do que um conjunto de princpios, valores e normas vigentes no mbito das instituies policiais militares responsvel por disciplinar, orientar, sistematizar e condensar prticas e saberes desenvolvidos por policiais militares na consecuo da misso constitucional de Polcia Ostensiva e Preservao da Ordem Pblica. Toda instituio necessita de mecanismos condensadores do conhecimento adquirido e aperfeioado ao longo de sua existncia. No que tange a Doutrina Policial Militar, no olvidamos de sua importncia, notadamente pela amplitude da misso constitucional de que esto incumbidas as instituies policiais militares no Brasil. No obstante os resqucios de uma cultura policial militar de bases repressivas, as Polcias Militares brasileiras caminham ao encontro de uma Doutrina de preveno, a qual propiciar aberturas institucionais significativas com diferentes atores e parceiros at ento inatingveis. A PMSC possui uma forte e aprecivel base cultural que, somada ao conhecimento adquirido e produzido no decorrer destes inesquecveis 176 anos de histria, forma um rico e inigualvel cabedal doutrinrio. E a histria vem sendo relembrada e registrada por inmeros Policiais Militares que, obstinados pela causa policial militar, se debruaram no estudo e na pesquisa de inmeros fatos e eventos que permaneceram no tempo e na memria de bravos guerreiros. Essa rica cultura, este rico conhecimento ainda permeia nossa instituio e tem se mostrado cada vez mais forte, mais substancial. A riqueza emprica proporcionada pela rotina do servio policial ampliada por inmeros e talentosos profissionais de considervel aporte intelectual, a exemplo de Bastos (2006), em sua obra Histrias e histria, que mantm viva nossa tradio, crenas e valores policiais militares de quase dois sculos de segurana pblica sociedade catarinense. De um modo geral, sabe-se que a Polcia Militar de Santa Catarina portadora de um considervel arcabouo histrico-doutrinrio que necessita especial ateno, a fim de que seja restaurado e formatado de modo sistemtico, tornando-o acessvel a toda a instituio. No que tange a existncia de doutrina relacionada s PPPs, podemos mencionar algumas normas (diretrizes) internas corporis que remontam uma mitigada, mas promissora base doutrinria sobre o tema. S 46 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

A Diretriz Administrativa n 006/91 do Comando Geral trata sobre convnios, acordos, comodatos, protocolo de intenes e outros documentos do gnero, e economias administrativas das OPMs. Essa Diretriz estabelece normas gerais a serem tomadas quando da realizao de convnios entre o Governo do Estado e demais rgos pblicos e privados, bem como descentraliza a auditoria e controle de receitas das OPMs. A Diretriz 020/99 do Comando Geral estabelece competncias e atribuies, normas e procedimentos para o gerenciamento dos Sistemas de Informao da PMSC. Percebe-se que mencionada Diretriz deixou de contemplar e normatizar a realizao de parcerias com empresas do seguimento, o que poderia suprir e potencializar sobremaneira as questes relacionadas tecnologia de informao na PMSC. A Diretriz 023/2006 do Comando Geral normatiza a gesto do planejamento da PMSC, a qual, embora relativamente recente, de igual modo no contemplou em seu texto a incluso do instituto das PPPs, ou institutos anlogos, em seu atual processo de gesto. Percebe-se que tanto essa quanto as demais diretrizes carecem, portanto, de ajustes e adequaes, a fim de possibilitar um enfoque multi e interdisciplinar, de acordo com a mais moderna gesto. A produo doutrinria em sentido lato, guiada por uma cultura de preveno, entre outros objetivos, visa a potencializar os mecanismos institucionais em prol de uma polcia descentralizada, rumo a uma nova engenharia da gesto da segurana pblica, a qual congregue esforos e parcerias ousadas e promissoras. O desenvolvimento de uma Doutrina Policial Militar comprometida e embasada em novos mecanismos de gesto, planejamento e estratgia da atividade de Polcia Ostensiva e de Preservao da Ordem Pblica, proporcionar s Polcias Militares brasileiras, e em especial Polcia Militar de Santa Catarina, a concretizao de importantes e promissoras parcerias, sejam Pblico-Privadas, sejam convencionais6, em prol de uma Polcia Militar prxima do cidado e de uma segurana pblica mais sustentvel. 8. PARCERIAS PBLICO-PRIVADAS NO MBITO DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SANTA CATARINA O Estado de Santa Catarina inaugura de modo tmido e incipiente sua experincia com o instituto das PPPs. A criao de Programas e Normas Reguladoras7, por meio do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense PRODEC, a partir de6 O termo convencional aqui usado para exemplificar as outras formas de parcerias no vinculadas em lei, mas que se mostram extremamente eficientes quando desenvolvidas na atividade policial militar. 7 A Lei n 12.930/2004 estabeleceu o marco regulatrio dos programas de PPP/SC e seu Decreto regulamentador n 1.932/2004; Lei n 13.335/2005, que autoriza o Poder Executivo a constituir empresa para os projetos de PPPs e de concesses; Lei n 13.345/2005, que dispe sobre o Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense - PRODEC - e do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Catarinense FADESC.

S 47 s

R E V I S TA O R D E M P B L I C A E D E F E S A S O C I A L - V. 4 , N 1 , S E M E S T R E I , 2 0 1 1

2004, constituiu o primeiro e importante passo a viabilizar projetos e empreendimentos com parceiros privados no Estado. Vislumbram-se grandes oportunidades Polcia Militar de Santa Catarina no que tange criao de projetos ou programas que contemplem as PPPs na consecuo de sua misso constitucional. H de se ressaltar a relevncia desse novo modelo de parceria, posto congregar em sua essncia importantes caractersticas empreendedoras, propiciando a insero de investimentos, tecnologia e inovadores instrumentos de gesto. De oportuno, Cruz (2005) traz o exemplo pioneiro da Polcia Militar de Minas Gerais que, por meio de financiamento obtido no escopo do Plano Nacional de Segurana Pblica e, especialmente, pelas parcerias internacionais e nacionais, montou um significativo aparato para o mapeamento da criminalidade e da violncia baseado no sistema de geoprocessamento. Esta iniciativa proporcionou um substancial avano realizao de anlises estatsticas de ocorrncias na PMMG. Principiou ainda uma gesto multidisciplinar entre diferentes parceiros pblicos e privados que dispensaram especial ateno iniciativa, obtendo-se resultados surpreendentes. A Polcia Militar de Santa Catarina vem desenvolvendo inmeras iniciativas empreendedoras e integradas com diferentes rgos pblicos, organizaes privadas e demais segmentos da sociedade. No mbito da Polcia Militar de Santa Catarina, podemos citar o Programa Educacional de Resistncia s Drogas e Violncia PROERD, que um primeiro exemplo de parceria firmada com a comunidade. Embora no seja uma parceria formal (segundo prev a legislao vigente), o PROERD um Programa que reala a importncia das parcerias junto sociedade. Inmeros Policiais Militares altamente preparados tm formado educadores, preparando pais e comunidade na preveno e reduo do uso de drogas e na reduo da violncia contra a criana e o adolescente. semelhana das parcerias levadas a efeito pela PMMG, a PMSC vem desenvolvendo e consolidando inmeras parcerias e convnios8 com rgos pblicos e privados ao longo dos ltimos anos. Citamos alguns exemplos de parcerias e convnios que esto sendo desenvolvidos e aperfeioados na PMSC: a) Convnio com a Cmara dos Dirigentes Lojistas dos municpios - CDL; b) Convnio com a Secretaria do Estado da Educao de Santa Catarina, que intensifica os trabalhos propostos pelo Programa Educacional d