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REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA - ES Ano XII | Nº 157 | Setembro de 2018

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REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA - ES

Ano XII | Nº 157 | Setembro de 2018

JUBILEU É UMA PAUSA EM MOVIMENTO

EDITORIAL

Esta edição é especial sobre jubileu porque a Arquidiocese de Vitória

celebra 60 anos de criação. As matérias aqui propostas falam muito sobre

descanso e alegria. Mas, jubileu é também um tempo de movimento, ainda

que dentro de momentos celebrativos e até de revisão. Olhar o passado e

projetar-se para o futuro a partir do "agora". O jubileu provoca-nos a um

movimento prático e reflexivo. O que fizemos? Quais os resultados? Quais os

desafios da evangelização hoje? O que faremos?

Preocupações pastorais para o futuro e gratidão pela história, por tantas

vidas dedicadas e doadas, por tantos feitos e por tantas possibilidades.

Neste mês encerramos as comemorações pelos 60 anos! Que elas revigo-

rem as pastorais, os grupos e movimentos eclesiais, os agentes de pastoral,

os padres, o arcebispo e a todos os fiéis desta Igreja Particular.

Boa leitura!

Maria da Luz Fernandes

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arquivitoria

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela – Repórter: Andressa Mian / 0987-ES – Conselho Editorial:

Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Lara Roberts – Colaboradores: Pe. Andherson Franklin,

Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi- Revisão de texto: Yolanda Therezinha

Bruzamolin – Publicidade e Propaganda: [email protected] – (27) 3198-0850 Fale com a Revista

Vitória: [email protected] – Projeto Gráfico e Editoração: Blend Criativo - Designer: Gustavo Belo -

Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27)3232-1266.

ASPAS

ESPIRITUALIDADE

FAZER BEM

ARQUIVO E MEMÓRIA

DIÁLOGOS

26 CATEQUESE

27 MUNDO LITÚRGICO

REPORTAGEM

IDEIAS

45 ACONTECEFique por dentro do que acontece

41 LIÇÕES DE FRANCISCOJubileu: Revolução na Cultura da Misericórdia

37 ECONOMIA POLÍTICAEconomia Biocentrada

34 BULAUm documento histórico

31 ENTREVISTAcom Padre Renato Criste

42 SUGESTÕESVisitar e Conhecer a Nossa História

24

23

20

18

17

14

05

ATUALIDADE11Jubileu é um momento sublime de comunicação

38 DEPOIMENTOSDepoimentos de Dom Paulo e Dom Dario

28 CAMINHOS DA BÍBLIA

MOMENTOS ESPECIAIS NA CAMINHADA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA

REPORTAGEM

vitória | 05

ssim como a terra precisa de descanso para Avoltar a dar frutos, a Arquidiocese de Vitória

fez algumas pausas ao longo de sua história

com o propósito de que novas ações e ideias surgis-

sem possibilitando a colheita de novos frutos. Nestes

60 anos, esses momentos aconteceram tendo como

ponto de partida o Concílio Vaticano II realizado pou-

co tempo depois da criação da Arquidiocese. Estas

pausas tiveram um significado importante para o

rumo tomado pela Igreja Particular de Vitória.

Tendo participado do Concílio Vaticano II, que acon-

teceu entre 1962 e 1965 e lançou as bases para as

reformas da Igreja Católica, em especial na liturgia e

na ação política e social, Dom João Batista da Mota e

Albuquerque, o primeiro Arcebispo Metropolitano de

Vitória, percebeu o desafio que tinha pela frente;

colocar em prática as determinações do Concílio.

Para esta missão ele contou com seu bispo auxiliar,

Dom Luís Gonzaga Fernandes. Ao retornarem para

Vitória ao término do Concílio, Dom João enviou Dom

Luís para Colatina, e lá, como conta a professora do

Centro de Educação da Universidade do Espírito Santo

(UFES) Marlene Cararo, o bispo auxiliar, inquieto sobre

como faria a transmissão das ideias do Concílio, fez

uma segunda “pausa para reflexão” que teve como

fruto a organização dos Concilinhos, encontros e cur-

sinhos para divulgar a nova forma de ser Igreja.

Nesses encontros, explica Marlene – que atuou co-

mo leiga na Igreja de Vitória -, Dom Luís queria popula-

rizar os quatro pilares do Concílio: Igreja povo de Deus,

liturgia a alma da Igreja; o papel do católico no mundo,

sendo “Sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-16), e o

acesso dos leigos à bíblia. Para cada tema o Concílio

publicou um documento que era estudado nos

Concilinhos.

“Os Concilinhos começaram em Colatina e imedia-

ções, e aconteciam regionalmente com a assessoria

de padres e religiosas, qualificados para traduzir os

documentos resultantes do Concílio. O material de

apoio foi preparado pelo próprio Dom Luís com apoio

de Dom João, e de maneira popular e pedagógica,

traduzia as ideias força do Concílio Vaticano II para

que todos pudessem assimilar”, comenta.

Em Vitória também ocorriam os Concilinhos, com

duração de uma semana e com o conteúdo básico do

Concílio sendo transmitido às lideranças eclesiais da

Arquidiocese.

06 | vitória

REPORTAGEM

Entretanto, as novas ideias encontraram resistência,

em especial nos grupos mais tradicionais, tanto no

interior como na capital.

A funcionária pública aposentada, Teresa Côgo, que

morava em Governador Lindenberg na época, conta

que quando Dom Luís circulava nos distritos e fazen-

das para fazer, com muito jeito, a divulgação das ideias

do Concílio, elas eram aceitas, já que era o bispo quem

estava falando, mas a aplicação prática dessas ideias,

provocaram desentendimentos.

“Lembro que a retirada dos santos dos altares princi-

pais das capelas foi motivo de muita briga. Muitos

fazendeiros que haviam doado as imagens se revolta-

ram e levaram as imagens para casa. Havia muito

bate-boca entre os que queriam aderir às mudanças e

aqueles que não queriam”, lembrou.

Podemos dizer que como frutos da disseminação das

ideias do Concílio, tivemos os leigos assumindo seu

protagonismo na Igreja, participando cada vez mais de

formações e cursos preparatórios para catequese,

coordenação de grupos de jovens, liderança de círcu-

los bíblicos. A falta de presbíteros para celebrar as

missas também colaborou para que os leigos assumis-

sem as coordenações e condução das celebrações da

Palavra, trazendo a interpretação do Evangelho para

situações do dia a dia e provocando os participantes a

serem agentes transformadores nas questões sócio-

políticas e econômicas. Este foi o modelo que deu

origem às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),

um movimento que partiu do interior para a Grande

Vitória.

Em Colatina, Dom Luís atuou na linha de frente da

formação dessas Comunidades entre os anos de 1968 e

1970 e a partir de 70, nos municípios da Grande Vitória,

que recebiam grande contingente de pessoas vindas

do interior por causa da erradicação dos cafezais e por

conta da instalação de projetos industriais em Vitória e

imediações.

A partir deste momento, as Comunidades foram

ganhando força e assumiram as decisões, das Confe-

rências de Medellín, na Colômbia, em 1968 e Puebla,

no México, em 1979, que representaram o momento

em que a Igreja da América Latina trabalhou com a

ideia de integração fé e vida e fez opção preferencial

pelos pobres.

Em 1968, com a aprovação de Dom João, criou-se em

Vitória o IPAV (Instituto Pastoral da Arquidiocese de

Vitória), que tinha o objetivo de formar animadores de

CEBs e agentes de pastoral, dando assim formação aos

leigos, e em 1° de maio de 1973, foi criado o Conselho

de Pastoral da Arquidiocese de Vitória (Copav), desti-

nado a reunir os bispos, padres, religiosas e leigos para

juntos pensarem formas de evangelizar as regiões da

Arquidiocese.

Neste período as CEBs incentivaram e apoiaram os

católicos a participarem dos movimentos populares e

associações de bairros que lutavam por melhorias

sociais, justiça e igualdade de direitos. Dentro deste

contexto, Dom Luís teve a ideia de realizar encontros

Intereclesiais de CEBs para celebrar a caminhada e

refletir sobre a realidade. O primeiro aconteceu em

1975 com o tema “Uma Igreja que nasce do povo” e o

segundo, em 1976, com o tema “Igreja, povo que

caminha" ambos em Vitória.

A linha pastoral adotada em Vitória, organizada em

pequenas comunidades e crescente participação dos

leigos foi descrita no documento “Pistas Pastorais”

em 1974, elaborado pelo Copav, Conselho de Pastoral

da Arquidiocese de Vitória. Pouco tempo depois, o

documento foi traduzido para uma linguagem mais

popular por Frei Beto com o título. “A Igreja que a gente

quer”. Este documento ficou conhecido em todo o país

e também no exterior, colaborando para que a organi-

zação da Igreja em Vitória se tornasse um exemplo a

ser seguido.

REPORTAGEM

vitória | 07vitória | 07

Para o ex-deputado estadual

Cláudio Vereza, que iniciou sua

atuação como leigo no surgimento

das CEBs, até 1981 a organização

das CEBs foi crescendo, mas sem-

pre sob alguma tensão das sedes

paroquiais, principalmente em

Vitória, onde foram ficando os

padres que reagiram mais à forma-

ção das Comunidades. Os mem-

bros das CEBs eram vistos por

alguns como pessoas que se afasta-

ram dos trabalhos da Igreja após

terem alcançado certo espaço na

sociedade civil.

“As tensões aumentaram entre os

setores mais conservadores e os

mais progressistas da Igreja de

Vitória, aliados ao crescimento da

Maria Elvira Bazet, que trabalhou

como secretária da Coordenação

de Pastoral da Arquidiocese de

Vitória nesse período, conta que

com a chegada de Dom Silvestre, os

movimentos apostólicos como a

Renovação Carismática Católica,

Cursilhos de Cristandade, Encontro

de Casais com Cristo, entre outros,

se expandiram e geraram um des-

conforto para os participantes das

CEBs que se indagavam sobre os

rumos da Igreja em Vitória.

“Dom Silvestre via os movimen-

tos como legítimos e percebeu que

existiam forças vivas que não esta-

vam se sentindo acolhidas dentro

da estrutura da Arquidiocese. Ele

dizia que tanto as CEBs quanto os

Renovação Carismática Católica e

Encontro de Casais com Cristo e

também a um novo momento que

estava surgindo na Igreja com Papa

João Paulo II”. Nesse contexto

“Dom Luís foi transferido para

Campina Grande, na Paraíba. A

notícia da transferência surpre-

endeu a todos e foi motivo de muita

tristeza”, relembrou Vereza.

Com a saída de Dom Luís, chegou

ao estado como Arcebispo Coadju-

tor da Arquidiocese de Vitória,

Dom Silvestre Luiz Scandian. Dom

Silvestre assumiu o governo da

Arquidiocese em 1984, após a

morte de Dom João. Neste mesmo

ano, foi nomeado Bispo Auxiliar,

Dom Geraldo Lyrio Rocha.

REPORTAGEM

08 | vitória

movimentos eram legítimos”,

lembra.

Era o momento de uma nova “pa-

rada” para reflexão, para avaliar

toda a caminhada pastoral da

Arquidiocese e refletir os rumos da

Igreja em Vitória a partir daquele

momento.

Para isso, em uma decisão toma-

da junto ao Copav, Dom Silvestre

decidiu que seria realizada uma

Grande Avaliação (Grava), que du-

rou de 1984 a 1987, na qual, através

de questionários todos os setores e

forças vivas da Arquidiocese foram

ouvidos.

Após três anos de trabalhos foi

realizada a Grava, em Santa Isabel,

com a participação de padres, diá-

conos, religiosos e leigos, na qual,

através de votação, foram definidas

as diretrizes da caminhada pastoral

da Arquidiocese com a elaboração

urbana. Também foi detectado que

no interior da Igreja de Vitória,

continuavam acentuadas as oposi-

ções diferentes entre CEBs e movi-

mentos.

“Quando cheguei aqui em 2003

percebi em Dom Silvestre o desejo

de realizar um Sínodo Arquidi-

ocesano, pois o tempo da Grava já

havia passado. Era um momento

novo, eu fiquei na escuta e assim

que assumi a missão, percebi que

de fato nós precisávamos dar um

passo novo, convocar toda a Arqui-

diocese para uma reflexão sobre si

mesma, sobre o presente e sobre o

futuro”, conta Dom Luiz Mancilha

Vilela, Arcebispo atual.

O Sínodo Arquidiocesano, que

teve como tema “Caminhar juntos

na acolhida fraterna e na espe-

rança”, durou três anos - de 2006 a

2009-. A primeira etapa foi a realiza-

ção de uma pesquisa em duas

modalidades (quantitativa e quali-

tativa). Foram ouvidas pessoas

católicas e de outras denomina-

ções cristãs que expressaram suas

visões sobre a Igreja Católica, avali-

aram as ações evangelizadoras, a

linguagem, o rito e manifestaram

opiniões e desejos considerados

por elas necessários para que a Igre-

ja atendesse aos anseios espirituais

dos fiéis.

Desta escuta surgiram os temas

de reflexão que nortearam os traba-

lhos sinodais: Celebração do Minis-

do Documento Final da Grava:

“Opções e Diretrizes Pastorais da

Igreja de Vitória”.

As diretrizes reafirmaram a opção

preferencial pelos pobres e Comu-

nidades Eclesiais de Base, e a parti-

cipação dos leigos nos diversos

ní-veis de organização na vida da

Igreja. “O documento não deixou

de fora os movimentos, pois eles

foram chamados a viver a experiên-

cia de opção preferencial pelos

pobres nas CEBs”, contou Maria

Elvira.

Em 2006 aconteceu outro grande

momento da Igreja em Vitória, a rea-

lização do Sínodo Arquidiocesano,

que se propôs avaliar o modo como

a Igreja Particular de Vitória evan-

gelizava perante as novidades do

mundo moderno como a globaliza-

ção, o surgimento da Internet,

surgimento de uma nova cultura

REPORTAGEM

vitória | 09

tério Pascal; Igreja missionária,

acolhedora e aberta ao diálogo;

Missionariedade da e na Igreja;

Família; Cultura de paz; Formação

integral para a fé e o agir cristão.

Para cada tema foi realizada uma

Sessão Sinodal, com a participação

dos delegados sinodais, membros

do clero e convidados, para apro-

fundamento dos desafios à luz da fé

e da doutrina da Igreja e ao final o

Arcebispo publicou orientações

para a ação pastoral.

Em cada Sessão Sinodal os parti-

cipantes viveram momentos de

espiritualidade e oração que culmi-

naram na grande celebração de

encerramento na Praça do Papa

com a participação de mais de 70

mil fiéis. O documento conclusivo

reafirmou a opção pelos pobres

incluindo-a no objetivo geral que

acentuou a comunhão: Ser sinal de

esperança para o povo, anunciando

e testemunhando a Boa Nova de

Jesus Cristo, à luz da evangélica

opção pelos pobres, caminhando

juntos, na acolhida fraterna.

“Esse Sínodo produziu um docu-

mento orientador que teve como

consequência mais de 80 projetos

pastorais colocados em prática

durante a coordenação do Pe.

Anderson Gomes. Depois do Sínodo

começamos a trabalhar mais parte

organizacional, atualizando todos

os nossos serviços internos e me-

lhorando nosso diálogo com o

povo”, avaliou Dom Luiz.

No ano que a Arquidiocese de

Vitória completa 60 anos de criação

uma nova “pausa” aconteceu, des-

ta vez mais celebrativa: Abertura

oficial no dia 22 de fevereiro com

caminhada saindo da Praça Pio XII,

o Papa que criou a Arquidiocese –

Via-Sacra pelas igrejas históricas no

Centro de Vitória em 17 de março –

Missa pelos bispos e padres faleci-

dos no dia 26 de abril – Procissão

luminosa da catedral à Basílica

Santo Antônio em 10 de junho –

Peregrinação da imagem de Nossa

Senhora da Vitória pelas paróquias

de fevereiro a agosto – Romaria a

Aparecida em 27 e 28 de julho –

Congresso Eucarístico de 1 a 8 de

setembro – Exposição histórica

imersiva de 30 de agosto a 8 de

setembro.

“Celebrar os 60 anos é dar graças

a Deus por tudo, por Dom João

Batista e Dom Luís Fernandes,

homens santos e justos que tanto

fizeram pelo povo e por nossa Igre-

ja, e por Dom Silvestre, que passou

tempos muito difíceis vivendo tam-

bém muitos conflitos. É importante

celebrar cada etapa, pois cada uma

teve algo maravilhoso para colocar-

mos diante de Deus e agradecer.

Cada etapa teve também sombras e

por elas devemos pedir perdão, por

isso fizemos também nestes feste-

jos uma caminhada penitencial pe-

las igrejas do centro de Vitória.

Agora nós caminhamos de frente

para o futuro. Olhamos no retrovi-

sor da história as belezas do pas-

sado, mas estamos caminhando

para o futuro, procurando lingua-

gens novas para anunciar Jesus

no nosso tempo”, diz Dom Luiz

Mancilha Vilela.

Andressa Mian Jornalista

omo todo evento comemorativo, o Jubileu Cde 60 anos da Arquidiocese de Vitória, cele-

brado em 2018, se reveste de um momento

fundamental da comunicação na Igreja, tanto com os

fiéis, que chamamos de público interno, quanto com a

sociedade em geral, isto é, nosso público externo. Esse

momento ímpar aponta dois caminhos da comunica-

ção que precisamos seguir: como envolver os cató-

licos nesse processo comunicativo; como tocar o cora-

ção dos não católicos com a mensagem cristã.

O enorme leque de comemorações, que envolvem

momentos de oração, celebração, formação e festivi-

dade, é fundamental e precisa ser muito bem difun-

dido. Mas gostaria mesmo de chamar a atenção para

Fazer algo e não

divulgar é como

se isso não existisse.

Vivemos em uma

sociedade

midiatizada.

‘‘

ATUALIDADE

JUBILEU É UM MOMENTO SUBLIME DE COMUNICAÇÃO

1

vitória | 11

ATUALIDADE

12 | vitória

debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o

candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em

casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para

que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso

Pai que está nos céus".

Este é nosso problema: deixamos escondidas nos-

sas obras. Divulgá-las, além de ser uma obrigação cris-

tã, é condição de existir na sociedade atual. Fazer algo

e não divulgar é como se isso não existisse. Vivemos

em uma sociedade midiatizada, isto é, uma sociedade

que se pauta, se comporta, age a partir do que vê,

ouve, lê. Ou seja, a partir do que está na mídia. De

forma que aquilo que a mídia não deu é como se não

tivesse acontecido.

uma outra dimensão do Jubileu, que nem sempre te-

mos presente: a difusão dos nossos feitos. Ou melhor, a

difusão dos resultados da nossa fé. Afinal, o apóstolo

Tiago (2-26) foi enfático: “a fé sem obras é morta”.

A Igreja Católica gera centenas de milhares de obras

Brasil afora há séculos. Ouso dizer que gera milhares de

obras apenas na Arquidiocese de Vitória. Mas nós so-

mos tomados, equivocadamente, pela advertência do

apóstolo Mateus (6:3): “que tua mão esquerda não sai-

ba o que fez a direita”. Aí passamos a achar que não

devemos divulgar nossas obras.

Essa orientação trata da nossa necessária humildade

e não da comunicação, que está também em Mateus

(5:15-16): “nem se acende uma luz para colocá-la

ATUALIDADE

vitória | 13

Portanto, nosso desafio é reeducar nosso olhar, para

ver as grandes maravilhas que acontecem em nossas

comunidades, quase sempre de forma simples, em pe-

quenos gestos de compromisso com o outro. É aquela

senhora ou senhor, jovem ou mesmo criança, que movi-

dos pela fé fazem o bem a outras pessoas: “Sempre que

fizestes a um destes meus irmãos... a mim o fizestes”

(Mt 25:35).

Nossas pastorais, movimentos, serviços de Igreja

estão repletos dessas obras. Quantos resultados con-

cretos temos como fruto da ação das pastorais da

Saúde, da Criança, da Terra, da Sobriedade - só para fi-

car em algumas. São tantas chagas sociais aliviadas

por obra da fé que pedem para ser divulgadas, mas nós

não achamos isso importante. Reduzimos nossa comu-

nicação a divulgar festa, noite de louvor, horários de

missa... Claro que tudo isso é importante. Mas pouco

adiantará se não mostrarmos os resultados de nossas

ações. Essa é a nossa comunicação mais importante,

porque ao mostrar uma fé comprometida com a cria-

ção divina geramos empatia e compromisso, difundi-

mos solidariedade e cidadania. Esta é a única comu-

nicação que alcançará toda a sociedade, além dos já

católicos.

Que este momento do jubileu nos sirva para lançar-

mos um novo olhar sobre nossa Igreja, mas um olhar

sobre os fiéis e suas ações, suas atividades enquanto

agentes sociais movidos pela fé. E ao encontrarmos

tantas lindas histórias, nos empenharmos em contá-

las aos outros, a toda a sociedade.

Se não as encontrarmos em nossas comunidades,

das duas uma: ou não estamos conseguindo ver,

porque nosso olhar está mais na instituição do que na

verdadeira Igreja; ou nossa fé está morta, por incapa-

cidade de gerar frutos. Aliás, poderíamos aproveitar o

jubileu para fazer uma boa avaliação de nossa fé, a

partir das obras que geramos e divulgamos.

Poderíamos aproveitar o

jubileu para fazer uma

boa avaliação de nossa fé,

a partir das obras que

geramos e divulgamos.

‘‘

Elson FaxinaJornalista e professor da UFPR

14 | vitória

omos o universo admirável e infinito concen-Strado. Somos o mundo de Deus vasto e

maravilhoso sintetizado. Somos as abertas

distâncias e grandiosidades contraídas. Somos

água, terra, luz e ar resumidos num corpo. Somos uma

pequeníssima parte do tecido do cosmo que ao se

dobrar sobre si mesmo nos criou como uma sua inte-

rioridade.

Descobrimo-nos e experimentamo-nos como vida.

Para além do fogo e da imensidão, das luzes e escuri-

dões, dos vazios e das explosões o universo se rejubila

em e através da vida e de cada um de nós. De nossa

parte, vindo à luz e dela tomando posse, nos vemos

encantados com o mundo e com tudo que nos rodeia,

A VIDA SE REJUBILA

IDEIAS

atravessa e constitui. Tomados de admiração perce-

bemos que tudo se conecta e se liga numa dança em

que a vida está sempre se expandindo, se diferenci-

ando, se rejubilando por estar em constante acon-

tecimento. E dando-nos conta desse aconteci-

mento a cada instante, a cada respiro, fazemos a

experiência de que viver é bom, viver é muito bom. A

“experiência” de Deus diante da própria criação

passa a ser a nossa experiência diante da vida. Deus

contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era

bom. Nós, diante da vida, tendo-a e vivendo-a,

contemplando-a e sentindo-a, chegamos à mesma

conclusão: a vida é boa, a vida é bonita.

IDEIAS

Somos convocados pelos tempos atuais, tendo em

vista os muitos prejuízos e ameaças assustadoras que

a vida sofre, a proclamá-la como força, beleza, pleni-

tude. Sim, a vida é. A vida é plena em si mesma e pode

ser experimentada como fonte de bem-estar e felici-

dade nela mesma. Não é preciso isso nem aquilo para

fazer a experiência da vida como bem-estar, satis-

fação e alegria. Em si ela é isso. Ela é a causa e a razão

da satisfação de viver. As crianças – a título de exemplo

– bem expressam isso. As crianças se envolvem com

a vida e com suas possibilidades e vivem a alegria

do seu desfrute simplesmente, nada mais que isso.

Ali, nada falta. Claro, e infelizmente, que ao longo do

tempo e condicionados por isso e por aquilo vamos

buscando fora da vida os contentamentos e satisfa-

ções para viver. Vamos nos amparando nas coisas, nas

identidades, nos papéis, nas pretensas importâncias,

nos poderes, ilusões e efemeridades na esperança de

termos mais vida. Amparamo-nos em todas essas

coisas, mas tudo não passará de muletas... e segui-

remos perdendo a vida.

A necessária compreensão da vida como bem-estar

e satisfação nela mesma deveria nos levar a superar

aquelas ideias que a concebem como carência, sofri-

mento, miséria, incompletude, falta. Ao encarar a vida

afirmativamente pela sua beleza e força estaremos

facilitando a manifestação em nós de sentimentos e

pensamentos que confirmem, a cada dia e em cada

situação que ela é um feliz e jubiloso acontecimento.

Essa afirmação da vida, decerto, não se dará com

bases em ilusões e não negará, portanto, sua tempo-

ralidade, suas contingências, suas delicadezas. Sua

afirmação também não negará que a grande maioria

dos seres humanos não tem experimentado a vida

assim, como força, beleza e alegria. Para tantos e nos

mais diversos lugares desse planeta a vida tem sido

dor, angústia, sofrimento, privação. E, a despeito de

tantos que se colocam como arautos propositores de

sua força e beleza, ela segue prejudicada, maltratada,

explorada de inimagináveis formas.

Sua afirmação se dá com base na certeza de que ela

é o que de mais extraordinário acontece no universo e

que sua valorização segue exatamente pelo resgate de

sua força e presença. Não são poucos os condi-

cionamentos que nos fazem negá-la, desprezá-la

e desvalorizá-la. Logo, bom é estar consciente: a

afirmação da vida se constitui num desafio. Dentre

outras coisas a afirmação da vida exige que permane-

çamos no presente. Somos viciados em carregar

conosco (como fardos) o acontecido em detrimento

do acontecimento. Ou nos limitamos com cultivos

exagerados de esperanças em detrimento do aconte-

cimento. A tentativa de carregar o fardo do acontecido

nos torna ressentidos e tristes. A sobrecarga de espe-

ranças nos faz ingratos e míopes em relação ao dia de

hoje. A vida é acontecimento. A vida é jubilo. A cada

instante somos convocados ao júbilo pelo seu acolhi-

mento no presente, no acontecimento, na abertura

para os seus muitos “milagres” e possibilidades.

Padre, psicólogo e Mestre em

Psicologia Institucional

Dauri Batisti

vitória | 15

‘‘A vida é plena em si

mesma e pode ser

experimentada como

fonte de bem-estar e

felicidade nela mesma.

vitória | 17

Padre Hugo Scheer, svd

ASPAS

Dom Silvestre L. Scandian

citada. Os galhos são diferentes,

mas por todos eles passa a mesma

seiva. No respeito à diversidade de

carismas e dons, a Igreja de Vitória é

chamada a acolher o outro, valorizar

os dons, saber perdoar e dialogar

com todos.

A união com Cristo e a união na

Igreja impulsiona a Arquidiocese

a um amor missionário, que se

direciona àqueles que compar-

tilham o mesmo Batismo, que

acreditam em Deus e que querem

colaborar na construção de uma

sociedade justa e fraterna, partindo

da opção preferencial pelos pobres,

porque cremos em Deus que ama

todos e tem predileção pelos pobres

e oprimidos.

Esta frase faz parte do sermão

proferido por Dom Silvestre L.

Scandian, SVD, por ocasião da sole-

ne celebração eucarística, realizada

no dia 07 de setembro de 1987 no

estádio da Desportiva, que concluiu

o processo da Grande Avaliação

(Grava).

Eu estava dirigindo o carro com

Dom Silvestre , Arcebispo Metropo-

litano, e Dom Geraldo Lyrio Rocha,

bispo auxiliar, descendo de Santa

Izabel, lugar da assembleia que

tinha acabado de elaborar as

opções e diretrizes pastorais da

Igreja de Vitória, promulgadas

pelo Senhor Arcebispo. Era um dia

frio, estava chuviscando. Quando

mais perto estávamos chegando do

estádio, crescia a preocupação de

Dom Silvestre, pois não havia muita

gente na rua. Maior foi a grata e feliz

surpresa, quando nós chegamos,

o estádio estava superlotado e

muita gente fora que não podia

mais entrar. A celebração foi muito

participativa, alegre e festiva e

contou com a presença da imagem

original de Nossa Senhora da

Penha.

A frase citada se relaciona com o

sermão de despedida de Jesus, pro-

nunciado no contexto da última

ceia (Jo 13-17). Jesus pede ao Pai o

dom da unidade para seus discípu-

los (Jo 17,20) e o dom do amor

fraterno que produz frutos concre-

tos (Jo 15,8). E para explicitar e

ilustrar a relação entre Deus Pai, ele

mesmo e nós, Jesus medita sobre

videira e os ramos (Jo 15). Partindo

deste texto, Dom Silvestre fala

sobre a vida unida a Jesus, frutifi-

cando para o Pai, no amor fraterno.

A Grava tinha constatado contra-

dições, tensões, dificuldades e

problemas na ação pastoral de

conjunto, bem como deficiências

na caminhada pastoral da Igreja de

Vitória que agora queria enfrentá-

los, pondo em prática as opções,

as diretrizes e as prioridades

pastorais.

Dom Silvestre, no seu sermão,

chamava a atenção para a união

vital, fundamental e originante com

Cristo, mediante o Batismo e a Fé.

Esta comunhão gera a comunhão

na Igreja, entre os irmãos e irmãs,

e inclui a conversão, pessoal e

comunitária, para que os discípulos

possam produzir frutos (Jo 15,5).

No contexto da comunhão frater-

na, Dom Silvestre formula a frase

“SE SOMOS GALHOS DO MESMO TRONCO, SOMOS MEMBROS DO MESMO CORPO; PASSA POR NÓS A MESMA SEIVA, ANIMA-NOS O MESMO ESPÍRITO, QUE NOS ENSINA A DIZER A DEUS: MEU PAI”

Diretor do Instituto Interdiocesanode Filosofia e Teologia da ProvínciaEclesiástica de Vitória do Espírito Santo

ESPIRITUALIDADE

A MÍSTICA DEUM JUBILEU

ubileu tem a ver etimologicamente e espiritu-Jalmente com ALEGRIA. E a alegria sempre bro-

ta no coração quando nos sentimos amados e

amamos desinteressadamente e gratuitamente. Daí a

teimosia de celebramos pequenos ou grandes jubile-

us. Há o jubileu de um ano de uma criança com direito

a bolo, palmas, cantos e balõezinhos. E as crianças fes-

tejadas nem consciência têm do que acontece. Não

importa. Deixam-se invadir pela alegria que expres-

sam em sorrisos encantadores. E seguem os jubileus:

5, 10, 25 (jubileu de prata) e 50 (jubileu de ouro). Quan-

to mais o tempo passa mais necessitamos de celebrar

o que passou. Não importam as marcas de tristeza,

desenganos, frustrações... o que importa mesmo é o re-

conhecimento de que – “a pesar de” – somos amados e

protegidos. Deus nos quer bem e nos acompanha.

Júbilo. Zerar tudo. Dar razões para um novo começo.

Assim o ano jubilar querido por Deus e retratado na

Bíblia no capítulo 25 do Levítico: “Conte sete semanas

de anos, isto é, sete vezes sete anos; tais semanas de

anos darão um período de quarenta e nove anos. No

dia dez do sétimo mês você fará soar a trombeta. No

dia da expiação vocês façam soar a trombeta no país

inteiro. Declarem santo o quinquagésimo ano e pro-

clamem a libertação para todos os moradores do país.

Será para vocês um ano de júbilo: cada um de vocês re-

cuperará a sua propriedade e voltará para sua família.

O quinquagésimo ano será para vocês um ano de

júbilo: vocês não semearão nem ceifarão as espigas

que tiverem nascido espontaneamente, nem colherão

uvas das videiras não podadas.

O jubileu será uma coisa sagrada e vocês comerão o

que o campo produzir. Ninguém de vocês explore os

irmãos , mas temam o Deus de vocês porque Eu sou o

Senhor o Deus de vocês”( Lv 25,8-12.17).

Nesta passagem bíblica condensa-se a mística de

um jubileu: o sonho de Deus é a libertação de todas as

amarras que nos sujeitam à escravidão do maligno.

Deus nos quer irmãos, cada um (a) com o selo de dife-

rentes dons, mas sem qualquer desigualdade que faça

com que uns explorem outros, que uns se sintam me-

lhores do que outros, que alguns se apropriem dos

Nesta passagem bíblica

condensa-se a mística de

um jubileu: o sonho de

Deus é a libertação de

todas as amarras que

nos sujeitam à escravidão

do maligno.

‘‘

18 | vitória

vitória | 19

celebrar o presente e o futuro nos

convida a profetizar o que realmen-

te queremos realizar para que se al-

cance o sonho de Deus: sermos to-

dos irmãos, respeitando a natureza

e construindo solidamente um futu-

ro diferente à semelhança daquele

que foi traçado pelo próprio Filho

de Deus Jesus Cristo Nosso Senhor.

Tudo isso encontramos no cânti-

co de Maria quando de sua visita a

sua prima Izabel. Cantou ela a ale-

gria de ser amada por Deus e mes-

mo sendo pequena escolhida para

ser a mãe do Salvador. Cantou a me-

mória de seus antepassados que

lhe legaram a fé tesouro principal

de seu coração. Cantou as realiza-

ções justas de Deus em favor dos

pequenos e contra a maldade dos

poderosos. Cantou finalmente o

sonho de ver uma sociedade onde o

amor e a misericórdia se estendes-

sem para todas as gerações.

Encontramos aí um pouco daqui-

lo que é a mística de qualquer jubi-

leu. Não é apenas festividade, mas

sobretudo o compromisso de afas-

tar tudo o que indique escravidão e

injustiça e construindo as bases sóli-

das de um mundo justo e fraterno.

bens que deveriam ser partilhados

com todos e que, mesmo a terra cul-

tivada, tenha a possibilidade de des-

cansar e ter também ela a alegria de

produzir no ritmo que Deus lhe deu

e não naquele que nós lhe impomos

para sujeitá-la aos nossos peque-

nos e tacanhos interesses.

A mística de um jubileu tem tam-

bém relação com três palavras que

resumem a história de uma pessoa,

de uma família, de uma instituição

seja ela religiosa ou civil. MEMÓRIA,

CELEBRAÇÃO E PROFECIA.

MEMÓRIA – faz parte essencial de

um jubileu recordar que, quem não

valoriza as raízes, quem não estica o

seu olhar para o que recebeu dos

antepassados, jamais conseguirá

lançar-se para frente. É o mal hoje

de muitos que não querem valori-

zar a sabedoria dos mais velhos, as

experiências positivas e negativas

do passado e somente se fixam no

hoje e no amanhã. É o efeito “bodo-

que”: quanto mais se puxa para trás

mais a pedra vai para frente. O jubi-

leu então é essa oportunidade de

voltar ao passado para que nossa

vida corra bem para o futuro.

ESPIRITUALIDADE

Bispo emérito da Diocese de Colatina e

reitor do Santuário da Saúde, Ibiraçú

Dom Décio Zandonade

CELEBRAÇÃO – um jubileu nos

convida sempre a ter alegria de cele-

brar as conquistas do passado, pe-

dir perdão pelos erros cometidos e

anunciar os grandes sonhos que se

deseja realizar no futuro próximo,

médio e longo.

PROFECIA – todo o jubileu depois

de fazer a memória do passado, e

FAZER BEM

20 | vitória

Entre as formas de dar atenção e cuidar dos mais vulneráveis, a Revista Vitória destaca este mês o bem que fazem algumas das pastorais na Arquidiocese.

Tem um trabalho fantástico e foi responsável pela

queda da mortalidade infantil em todo o Brasil. Mas,

não é só isso! Quantas mães foram orientadas desde

a gravidez, até nos cuidados posteriores com a

criança. É lindo de se ver os depoimentos. E agora,

nos tempos modernos, de fast food e outras práticas,

a pastoral encara outro desafio: a obesidade infantil.

Prontos para o trabalho de novo! Balanças novas,

receitas e muita, muita informação amorosa. Um

caso inesquecível para a Pastoral aconteceu durante

uma ação na qual encontramos uma mãe cadeirante,

grávida do segundo filho, sem muitos recursos. A

acolhia dela em relação aos agentes da foi tão

especial que mais parecia que era ela quem ajudava

a todos. O acompanhamento de sua gestação, bem

como do filho já nascido, foi graças aos ensinamen-

tos e experiência acolhedora dos agentes.

Acompanhamento de gestantes

e crianças até 6 anos Pastoral da Criança

Essa palavrinha saúde, já vem com tanta coisa

atrelada, inclusive um desejo grande de que ela seja

bem feita! Extensa também é a potência do bem que

pode ser feito. Que o diga quem está nos hospitais e

encontra quem agilize seu atendimento, aconselhe ou

simplesmente esteja presente conversando e rezando

por ela; que o diga quem quer ver melhorias no

atendimento público e não pode participar das

instâncias de Conselhos; que o diga quem se esquece

das boas práticas com alimentos, produtos que a

natureza oferece, bem como práticas alternativas de

bem viver.

Este ano o grupo da Pastoral encarregado da visita

aos hospitais ganhou um grande impulso, fazendo-se

presente em grande parte dos hospitais . Uma presen-

ça discreta, mas muito fiel, levando conforto espiritual

aos enfermos e seus familiares.

Presença onde o doente precisaPastoral da Saúde

vitória | 21

FAZER BEM

Muito interessante de se ver que, quem pensava em

ser bem cuidado por causa da idade, descobre que

pode cuidar bem não só de si, mas também dos outros,

dos que se deixam vencer pelo peso dos anos. Idosos

abandonados, ou que se abandonam e perdem as

rédeas de sua vida, ganham mais vida se são simples-

mente bem acolhidos. Quanto bem se pode fazer sem

fragilizar a quem ainda pode contribuir com tantas

coisas! Durante uma visita, agentes da Pastoral da

Pessoa Idosa sensibilizaram uma comunidade sobre a

urgência de uma cirurgia cardíaca a ser realizada em

um senhor, que sozinho cuidava da esposa, também

adoentada. Todos estão empenhados para cuidar e

dar atenção ao casal durante o processo. Vai dar tudo

certo!

Quanto desafio! Mexe interiormente com a gente que

pensa que só o castigo dá jeito. Não dá para esquecer a

visita da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida

num presídio de Segurança Máxima, feita por vários padres

e agentes. Foi uma visita de silêncio eloquente, de um bem

tão grande que nunca poderá ser medido. Que bem pode

ser feito para quem precisa se redimir e, às vezes, nem

pode colaborar ou caminhar sozinho. “Estive preso...”

Idosos acolhidosPastoral da Pessoa Idosa

A fé na visita aos encarceradosPastoral Carcerária

Parece um sonho. Enquanto se observa pelo

mundo um festival de hostilidade, a gente sabe que é

possível fazer o bem na acolhida. Deixar tudo pra

trás, terra estrangeira, dificuldade de comunicação.

Fazer o bem nesses casos é tanto, mas também tão

pouco! Às vezes uma informação, uma indicação,

uma abertura de portas, outras, cuidados mais

sérios. Temos quem faça bem essas coisas entre nós.

No ano passado, a Pastoral Migratória da

Arquidiocese e a Cáritas Arquidiocesana de Vitória se

uniram a assistentes sociais de Vila Velha para ajudar

o marinheiro mercante Vladimir Dimitrov Andonor,

57 anos, a retornar para a Bulgária, sua terra natal,

após ele ter morado por seis meses em uma abrigo

em Vila Velha. Emocionado ele agradeceu o esforço

de cada um e afirmou ter se sentido acolhido,

protegido e ajudado por todos.

Apoio aos migrante Pastoral Migratória

ARQUIVO E MEMÓRIA

vitória | 23

ARQUIVO E MEMÓRIA

ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA: 60 ANOS PRESENTE NA LUTA DO POVO

Juntamente com outras organizações da sociedade

civil, convoca o povo: Basta de violência.

Caminhada pela Vida, 1999.

Arquidiocese convoca os movimentos

organizados a gritar pela vida.

Grito dos Excluídos, 1996.

Arquidiocese presente na luta do povo pela

Reforma Agrária.

Romaria Libertadora da Terra,

1987.

Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc

DIÁLOGOS

Igreja de Vitória do Espírito Santo, Igreja de Cristo!Celebras o teu Jubileu sob dois olhares...Situada no início de um novo milênio...Celebras o presente... Novo século... Novos tempos...Voltas ao passado pelo retrovisor da fé... Contemplas... Quão belos são os teus pés... Cento e treze anos... Anos vividos na fé obediente... No amor total... Anos vividos no Testemunho, No Anúncio, Na Esperança...!

Igreja de Vitória do Espírito Santo, Igreja bem-aventurada... Igreja de Cristo! Formosos são os teus pés..., Caminhas com passos Inquietos..., Passos dinâmicos..., Passos na insegurança dos tempos..., Passos de Igreja Peregrina..., Passos nas Sendas de Jesus! Marcas indeléveis do Amor Doado... Marcas indeléveis da Fé Amorosa... Marcas do lavar dos pés das multidões... Marcas indeléveis das Multidões... Multidões sedentas de Justiça, Multidões sedentas de paz,

Multidões sedentas de cura misericordiosa...

Corações e mãos estendidos...

Igreja Eucarística...!

TUA HISTÓRIA ME ENCANTA!

24 | vitória

vitória | 25

Arcebispo Metropolitano de Vitória

Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.

Igreja de Vitória do Espírito Santo! Igreja bem-aventurada... Igreja cingida pela toalha da esperança... Por uma Nova sociedade...! Desde a aurora de teu nascimento... És Sinal do Reino, Vives sob o Reinado de Deus...!

Formosos são os teus pés: Ontem, Hoje e no Amanhã da História... És inquieta no anúncio... És ardorosa na alegria do Evangelho...! Pelos olhos da fé em Cristo Luz do Mundo, Quais faróis brilhantes, Proclamas, testemunhas, anuncias...! És Peregrina da Esperança..., Revestida da couraça da Fé..., Cingida com a toalha no lavar dos pés..., És Voz que ecoa no deserto da violência..., Qual Cisne Branco a gorjear, com coragem, No Lago do Mundo Poluído... Clamando em águas mais profundas... Clamando sem perder a esperança...!Igreja de Vitória do Espírito Santo, Igreja de Cristo, Como és bela em tua luta..., Como és formosa em teu anúncio..., Como és forte em teu testemunho...! És povo Santo de Deus... És Corpo Místico de Cristo... És Mistério... Sinal na História... Sinal nas Sendas de Jesus... Sinal da Trindade Santa! Celebra o teu Jubileu...,

Olha para o teu belo horizonte..., Contempla a tua Mãe, Senhora da Vitória..., Ó Igreja Peregrina..., Nos passos do Mestre Vitorioso... Pelo Retrovisor da Fé... Com a Toalha da Esperança... Sob o Farol do Espírito de Amor... Combate o bom combate...! O Horizonte é Belo...! Foste...És...Serás...,

Pelos Séculos dos Séculos...,

Farol, Sinal da Vitória de Cristo:

O Reino e Reinado de Deus Pai!

Sim, Tua História me encanta! ■

CATEQUESE

POR UMA CATEQUESEJUBILAR

omamos como base de Tnossas reflexões diversas

fontes de catequese. Nos

primeiros artigos fomos buscar

informação sobre como se dava a

catequese nos primeiros tempos

do cristianismo e encontramos a

Didaqué, que é o primeiro catecis-

mo cristão. O caminho reflexivo que

estamos construindo está na linha

da continuidade do anúncio de

Jesus para aprofundar e amadu-

recer o cristão na fé. Portanto, não

são aulas de catequese para crian-

ças como normalmente se encontra

nas paróquias e comunidades.

Neste texto queremos estabele-

cer uma referência ao evento do

Jubileu da Arquidiocese de Vitória e

para isso vamos tomar a fonte prin-

cipal da catequese que é a própria

Palavra de Deus. O que a Bíblia nos

instrui a respeito da celebração do

Jubileu? Que sentidos podem ser

encontrados no texto sagrado?

Nos livros de Levítico (capítulos

25 e 27) e Números (cap. 36), encon-

tramos as principais referências a

respeito da vivência do Jubileu para

alimentar a fé do povo judeu. E bro-

ta imediatamente a ideia de que o

Jubileu deve ser vivido e experien-

ciado como um evento libertador. A

base deste evento estava na terra e

objetivava impedir o acúmulo por

parte de algumas pessoas, forman-

do latifúndios; visava também

impedir o aumento da escravidão

por dívida das pessoas que não

tinham como pagar, e impedir a

manutenção da propriedade em

vista da herança.

No ano jubilar, a terra também

descansava e não se devia cultivar

nada. Naquele tempo já se perce-

bia que era possível, através do uso

indiscriminado de plantio, princi-

palmente de cunho monocultor,

exaurir o potencial produtivo da

terra. O jubileu era assim o mo-

mento de recuperação da própria

natureza.

Trazendo esta mensagem para os

dias atuais que vivemos no Brasil, é

preciso reconhecer que nosso povo

foi expulso da terra formando as

grandes periferias urbanas no cha-

mado êxodo rural. Com tanta terra

improdutiva e sem cultivo ainda se

vive com tantas pessoas que não

têm onde trabalhar, onde morar.

Poucos acumulam tantas terras e

tantas habitações e muitos vivem à

míngua. Assim, o desafio para a vi-

vência jubilar é como restabelecer a

ordem original da terra como dom

de Deus e dar vida aos empobre-

cidos! O papa Francisco nos diz que

“se o jubileu não chega aos bolsos,

não é um verdadeiro jubileu”. (Au-

diência geral, 4ª feira de cinzas

2016).

Ao mesmo tempo e por que o grito

da terra também é o grito do pobre,

o desafio para nós é de restabelecer

a vida da terra. A cada dia ela se tor-

na mais deserta e seca. A falta de

água não é um desígnio de Deus. E

por fim, não dá para se falar do ano

jubilar de nossa Arquidiocese sem

restabelecer a vida do Rio Doce.

Somente assim, uma catequese

inspirada pela experiência bíblica

do jubileu poderá educar as pes-

soas e a sociedade para a vivência

como iguais, na partilha e na soli-

dariedade, e recuperando a vida da

terra.

Doutor em Ciência da Religião

Edebrande Cavalieri

26 | vitória

MUNDO LITÚRGICO

JUBILEU: sinal de vida e transfiguração!

Na perspectiva do Livro do

Levítico (Lv 25,8ss), cele-

brar o jubileu é rever e

experimentar a originalidade da

existência conforme o plano do

Criador: vida de plenitude e liberda-

de para todos – princípio, sentido e

essência. É o reconhecimento de

que as desigualdades não provêm

de Deus; é a denuncia do egoísmo

como princípio do poder domina-

dor e escravagista; é o compro-

misso da solidariedade pela vida de

todos!

Jubileu era considerado um ano

de resgate, na vivência de algumas

práticas: descanso dos trabalha-

dores, repouso da terra, liberdade

aos escravos, atos de regularização

e negociação de propriedades, nuli-

dade das dívidas. Enfim, a tônica

era superar o monopólio nas mãos

de uns poucos e suas consequentes

opressões, pois a terra de Israel era

a herança para todos os que consti-

tuíam o povo de Deus: eis um tema

forte de denúncia profética (cf. Is

5,8-10).

Na Igreja, o sentido de jubileu tem

sido aplicado a momentos signifi-

cativos e variados da vida cristã,

marcando ciclos e novas etapas:

pelos anos de matrimônio, vida

religiosa, diaconato, presbite-

rato e episcopado; pelos anos de

consagração de um templo ou da

existência de uma paróquia ou

(arqui)diocese; pelos anos jubilares

proclamados pelos sumos pontí-

fices para todos os católicos ou

aqueles concedidos para as igrejas

particulares em determinada cir-

cunstância. Parece que falta, em

consciência e prática, algo a ser

considerado motivo também de

jubileu, tão importante e decisivo

para um cristão: o seu batismo!

Num jubileu, dentre todas as pos-

síveis vivências pastorais e diversas

atividades, tem aspecto central

a liturgia, celebrada de muitas

formas: a eucaristia, que sempre

abre e conclui um ano jubilar de for-

ma solene; as celebrações peniten-

ciais, como momentos fortes de

revisão de vida, confronto com a

OFMCap

Fr. José Moacyr Cadenassi

Palavra de Deus e gestos de reconci-

liação, incluindo a dimensão sacra-

mental da penitência; celebração do

ofício divino/liturgia das horas;

momentos de culto eucarístico fora

da missa (diante das reservas euca-

rísticas); celebrações específicas

com categorias de fiéis: crianças,

catequizandos em geral, famí-

lias, juventude, idosos, enfermos,

profissionais de diversas áreas etc.;

preces e devocionais conforme a

religiosidade popular e com referên-

cias bíblicas; romarias e procissões;

promoção de momentos orantes

com a Palavra através dos meios de

comunicação.

Enfim, são diversas as possibilida-

des de celebrar liturgicamente um

jubileu, com o objetivo de ressignifi-

car e ampliar a dádiva da vida cristã,

em sensibilização e atitudes de mais

identificação com o Evangelho e a

vida eclesial, na perspectiva de além

fronteiras. Celebrar um jubileu é dei-

xar-se transfigurar pelo mistério pas-

cal de Cristo – centro de toda a fé tes-

temunho dos batizados!

vitória | 27

CAMINHOS DA BÍBLIA

28 | vitória

salmo 67 recitado nas celebrações litúrgicas Onos oferece um hino de louvor a Deus por

toda a sua benção derramada sobre Israel e

sobre toda a terra. São três estrofes bastante significa-

tivas, nas quais o povo do Senhor entoa o seu louvor de

gratidão e reconhecimento, principalmente num tem-

po de recordação da história e da vida. Na primeira

estrofe, o salmista pede ao Senhor que a sua graça lhe

seja dada, a fim de que em todo o Israel resplandeça a

face de Deus. Na segunda estrofe, o salmista reconhece

que a benção oferecida deve se tornar fonte de benção

para todos os povos e nações. Por fim, na terceira

estrofe, o salmista canta os louvores ao Senhor por

reconhecer os frutos produzidos e como a graça aco-

lhida foi frutuosa. Nesse caso, o salmo 67 é provi-

dencial para a celebração do jubileu da Arquidiocese

de Vitória, pois se torna um grande hino de louvor ao

Deus Altíssimo que parte de todas as Comunidades

Eclesiais de Base desse Igreja particular.

Na primeira estrofe do salmo, o salmista apresenta

ao Senhor um pedido ao dizer: "Que Deus nos dê a sua

graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós!".

De fato, o sinal da benção percorre todo o salmo, já que

ela se encontra no início e no final do mesmo, quando

se pede a benção sobre todo o povo. Ao pedir a graça e

a benção divinas, o salmista implora ao Senhor o dom

da fertilidade, a fim de que toda a terra reconheça

sobre Israel a face bondosa de Deus, capaz de aben-

çoar e salvar.

"QUE DEUS NOS DÊ A SUA GRAÇA E SUA BÊNÇÃO, E SUA FACE RESPLANDEÇA SOBRE NÓS!"

(Sl 67,1).

CAMINHOS DA BÍBLIA

vitória | 29

Na segunda estrofe, o salmista

convida ao louvor com a seguinte

afirmação: "Exulte de alegria a terra

inteira, pois julgais o universo com

justiça; os povos governais com reti-

dão, e guiais, em toda a terra, as na-

ções". O homem de Deus reconhece

que o sinal da benção conferida ao

povo deve ser comunicada a toda a

terra, de fato, Israel é por vocação

chamado a ser sinal da benção e gra-

ça divinas junto a todos os povos e

nações. Neste caso, a benção rece-

bida que é sinal da graça e do favor

do Senhor, se torna um convite

explícito dirigido a todas as nações,

a fim de que reconheçam a bonda-

de e o amor de Deus. Desse modo,

todas as nações seriam atraídas ao

Senhor e por ele acolhidas, a fim de

que, por sua Palavra fossem evan-

gelizadas, formadas, assistidas e

guiadas.

Por fim, na terceira estrofe do

salmo encontra-se as seguintes

palavras proferidas pelo salmista:

"A terra produziu sua colheita: o

Senhor e nosso Deus nos abençoa".

É inegável a relação direta de Israel

com a terra, seja pelo reconheci-

mento da terra como dom de Deus,

fruto da liberdade conquistada,

bem como, nos sinais visíveis de sua

fertilidade, frutos da benção ofere-

cida pelo Senhor. Neste caso, dian-

te da fertilidade da terra, fruto da

benção divina, que deve ser conti-

nuamente renovada, nasce um

hino de louvor, uma atitude orante

e cheia de júbilo entre todas as

nações. Todos os povos reconhe-

cem a benção do Senhor derrama-

da abundantemente sobre Israel,

sinal de sua bondade e graça sem

limites. A fecundidade de Israel

torna-se motivo de louvor para

os povos, sinal de que o Senhor

caminha ao lado dos que escolheu,

abençoando o fruto de suas mãos e

confirmando o chamado a eles con-

fiado.

Desse modo, tocados pelas

palavras do salmo e convidados

ao mesmo louvor nelas contido,

cheios de alegria, todos rendam

graças a Deus pelo Jubileu da

Professor de Sagrada Escritura no

IFTAV e Doutor em Sagrada Escritura

Pe. Andherson Franklin

Arquidiocese de Vitória. Um tempo

fecundo, propício para uma refle-

xão profunda, que possibilita a reco-

nhecer os acertos, as conquistas, os

erros e os desafios do tempo que se

abre à frente. É inegável a presença

da graça e da benção de Deus no

caminho e na história dessa Igreja

Particular, Mãe e Mestra das demais

dioceses do Estado do Espírito

Santo. Muitos foram os passos per-

corridos, por tantos homens e

mulheres que entregaram a sua

vida, em todos os sentidos, para

que a Igreja pudesse resplandecer a

bênção do Senhor. Muito foi cons-

truído, muito foi conquistado,

passos firmes e decididos na aco-

lhida e no comprometimento em

fazer a vontade Daquele que a

todos convida à Fé. Por isso, nasce

nos corações o agradecimento

sincero ao Senhor, pois, é Ele quem

sempre faz florescer o trabalho das

mãos de seus filhos e filhas. A fim de

que a graça a todos confiada se tor-

ne sempre uma benção para todo o

povo de Deus. Por isso nesse ano

todos dizem: "Que as nações vos

glorifiquem, o Senhor, que todas as

nações vos glorifiquem".

Todos rendam

graças a Deus

pelo jubileu

da Arquidiocese

de Vitória.

‘‘

vitória | 31

ENTREVISTA

Nestes 60 anos de história da Arquidiocese de Vitória, as

diversas pastorais assumem um papel fundamental ao

aproximarem a Igreja aos problemas de cada época, o

que na palavra do coordenador de Pastoral da

Arquidiocese de Vitória, Padre Renato Criste, é sinal de

zelo e cuidado seguindo o exemplo de Cristo.Padre Renato Criste

Qual o significado das pastorais?

Padre Renato - Em primeiro lugar o termo pastoral

vem de pastor, que por sua vez, nos remete a zelo e cui-

dado. A pastoral é fazer as vezes de Cristo-Pastor no

mundo. Porém, ninguém se faz pastor por si mesmo, o

pastor se define para uma missão e não apenas para

uma função, porque se fosse apenas uma função, um

mercenário seria suficiente e não um pastor. Sendo,

assim as diferentes pastorais buscam realizar uma mis-

são, não são simples funções. A tarefa da pastoral é

responder uma missão que não é nossa.

São Paulo afirma que Cristo passou pelo mundo fazen-

do o bem. Então, a pastoral é a atualização do ministé-

rio de Cristo no mundo que passou fazendo o bem. As

pastorais vêm de encontro aos problemas atuais. Hoje

encontramos pastorais que uma década atrás não

existiam, como a Pastoral do Empreendedor ou a da

Pessoa Idosa. A partir das novas demandas a Igreja

busca se organizar e ser uma presença atenciosa e

profética a estes problemas. As pastorais são um olhar

atencioso a estas realidades, isto porque, a práxis

pastoral como a vida do pastor deve estar baseada no

amor e na eclesiologia.

A pastoral está sempre atrás dos problemas atuais?

É esta a sua tarefa, resolver os problemas do mundo?

Padre Renato - O trabalho pastoral não é resolver os

problemas do mundo, mas levar o Evangelho ao

mundo. O cuidado pastoral da família, por exemplo,

deve mostrar o amor de Deus e não é uma questão de

pessoas especializadas. A tarefa da pastoral familiar é

fazer com que as pessoas descubram a vocação ao

amor. A pastoral familiar é a própria família, não é

resolver os problemas, mas mostrar a vocação

familiar.

O Concílio Vaticano II, mostrou que a Igreja não é só

um lugar, mas uma missão.

O risco de a Igreja querer buscar resolver todos os

problemas da sociedade é colocar os próprios temas

atuais e desafiantes à frente do Evangelho. Devemos

buscar entender e responder os desafios atuais à luz

do Evangelho, que necessariamente requer uma

práxis pastoral.

A Igreja, ao invés de resolver problemas, deve iluminá-

los, Jesus diz que “vós sois a luz do mundo”, “vós” já é

uma missão. A luz deve ser humilde, a luz não pode

ser vista mas deve iluminar tudo, a luz tem dois

UMA HISTÓRIA DECAMINHADA PASTORAL

Foto

: Hec

tor S

ique

ira

elementos: a luz da cidade (ponto de luz na noite para

saber aonde ir) e a luz da casa (deve iluminar todas as

pessoas que entram) , é por isso que a Igreja deve ser

Lumen gentium: a Igreja ilumina o mundo e a luz da

casa.

Já no seminário os futuros padres têm o contato com

as comunidades e as suas pastorais. Qual a importân-

cia destes momentos?

Padre Renato - Na nossa formação, no Seminário

Nossa Senhora da Penha, desde o primeiro ano de filo-

sofia, os seminaristas têm a oportunidade de fazer um

estágio pastoral em uma determinada paróquia,

então, desde o início convivemos com as lideranças

nas comunidades e isto encanta o jovem pela oportu-

nidade de associar a teoria com a prática, de nos

tornarmos mais sensíveis a necessidade do outro. A

pastoral durante a formação é essencial para que no

futuro como ministros ordenados possamos nos dedi-

car mais inteiramente a este serviço. A final de contas,

nos tornamos padres para sermos pastores, isto é,

cuidar das ovelhas. Papa Francisco, recomenda que o

pastor deve ter o cheiro de suas ovelhas. Um semina-

rista que não se encanta com o serviço pastoral, pode

indicar que está no lugar errado, e se persistir poderá

ser muito desastrosa sua atuação numa paróquia.

Quais são os principais desafios de hoje para as pas-

torais?

Padre Renato - A própria pluralidade de pastorais. É

um desafio articular estes serviços que não estão isola-

damente. Entender as pastorais com olhares específi-

cos para as realidades distintas, mas todas como

membro de um só corpo. Este é o primeiro desafio,

uma pastoral integral. A Igreja não é uma pastoral frag-

mentada, mas é comunhão.

Um segundo desafio é a capacitação de novas lideran-

ças, porque não basta termos só voluntários, precisa-

mos também de “discípulos-líderes” capazes de assu-

mir com responsabilidade e eficiência o trabalho pas-

toral, como sendo uma missão, e não uma simples

tarefa, como falamos acima. Costumo dizer que quem

trabalha com pastoral não se resume a ser voluntário

ou um ajudante do padre, mas alguém que vai exercer

com responsabilidade e compromisso, a missão do

batizado, e ele faz isto por força do próprio batismo

que recebeu.

Um outro desafio, é compreender a realidade. A pasto-

ral deve ser realista. A realidade é entender qual é a ver-

dadeira realidade. A pastoral não é um conjunto de

dados, mas o plano de Deus que só pode ser visto atra-

vés da fé. A distância entre a fé e a vida é um drama do

cristianismo de hoje. A visão da fé é única na pastoral

para poder viver como Jesus Bom Pastor.

A ação pastoral deve ser realizada por quem tem fé,

sem sujeito cristão não se faz ação pastoral, se faz as

coisas. É errado pensar mais sobre coisas para fazer do

que sobre as pessoas que terão que fazê-las! O sujeito

deve ter um relacionamento com Deus, ele deve dar

seu testemunho mais com a vida do que com palavras.

O sujeito cristão não pode ser tomado como garantido

e, portanto, um elemento do cuidado pastoral é for-

mar o sujeito cristão.

O leigo tem um papel importante neste processo?

Padre Renato - Totalmente. A atividade da Igreja é pas-

toral e o leigo deve intervir ativamente no cuidado pas-

toral. Na época de Pio XII o leigo era considerado o lon-

gus manus do sacerdote, o leigo era visto como repre-

sentante / delegado do pároco, sua missão vinha dire-

tamente do pároco e não a possuía em si, portanto

sem a ordem do pároco o leigo não fazia trabalho pas-

toral (na família, no trabalho ...).

32 | vitória

ENTREVISTA

ENTREVISTA

vitória | 33

Vander Silva

Professor e jornalista

O leigo é fundamental para o serviço pastoral, ele deve

exercer no mundo o seu ministério. Mesmo se fos-

semos em muitos padres, isto não substituiria o lugar e

a importância que o leigo tem na vida da Igreja. A dinâ-

mica é de comunhão e de participação, na qual cada

um vai exercer seu ministério e ocupar o lugar que lhe

compete sem complexo de superioridade ou de

inferioridade, mas a partir do seu lugar.

O que esperar do futuro das pastorais a partir deste

Jubileu de 60 anos da Arquidiocese de Vitória?

Padre Renato -O que a Igreja de Vitória precisa para o

futuro, com as comemorações do jubileu não é de

novos dogmas, mas de uma conversão pastoral e foi

pensando assim, por exemplo, que o Papa João XXII

indicou um concílio pastoral, centrado na pergunta:

“Igreja que diz de si mesma?”.

Por isso este tempo jubilar, em que nos reunimos para

pedir perdão, agradecer e celebrar. Há quem pensa

que a pastoral esta parada ou ausente, é um engano

pensar assim. O fazer pelo fazer pode gerar estresses,

desgastes nas relações e finalmente pouca pastoral. O

agente de pastoral, é um homem de fé, que está inseri-

do no mistério de Cristo e da Igreja. Alimentar esta fé é

essencial para prosseguir adiante com nossa missão e

obter muitos bons frutos gradativamente e no tempo

certo.

As comemorações do jubileu constituem para nós um

momento de rever nossa caminha e uma pausa restau-

radora que encontra na Eucaristia sua convergência e

vida para a missão em vista de um futuro. A Eucaristia

faz a Igreja e não o contrário.

O ponto alto das comemorações do ano jubilar é o 1º

Congresso Eucarístico Arquidiocesano. No encontro

com o “Senhor-Eucaristia” queremos professar nossa

fé na Eucaristia e agradecer por nossa caminhada pas-

toral. Devemos lembrar as palavras de Jesus “sem

mim, nada podeis fazer”.

A Igreja não é uma associação, mas uma convocação:

responde a um chamado prévio. Portanto, somos uma

assembleia convocada.

As pessoas se unem não porque são boas, mas porque

há um dom que as precede e este dom é o dom de

Deus, e essa realidade transcendente é aquela que nos

permite a comunhão.

A ação pastoral não pode ser pensada somente como

uma ação eficaz, mas deve ser testemunha do misté-

rio, é este testemunho que faz a Igreja, não reduz a

ação eficaz, mas centra-se no mistério, não mais ação

eficaz, mas ação misteriosa. A ação da Igreja deve ser

testemunha do mistério. Devemos testemunhar que

há um amor maior que salvou o mundo.

Como continuar esta história da Igreja de Vitória com

a presença das pastorais?

Padre Renato - Se cada um fizer um exercício de escu-

ta e de discernimento vai ouvir os apelos de Deus e vai

procurar responder servindo em sua comunidade

e mais especificamente dentro de uma pastoral,

sempre numa dinâmica de comunhão.

É difícil compreender a história da Arquidiocese de

Vitória sem enxergar as pastorais. São 60 anos de

caminhada pastoral, os leigos através das pastorais

atuam com responsabilidade e dedicação seguindo

cada carisma pessoal.

Precisamos sempre animar as lideranças, fortalecer o

trabalho delas e reconhecer este lugar que elas

ocupam. Não enxergar as pastorais na caminhada da

Igreja de Vitória é quase como perder a nossa identida-

de. Que este carisma perdure por toda a história da

Arquidiocese de Vitória.

Bula de constituição dasDioceses de Cachoeiro deItapemirim e São Mateuse elevação da Diocese doEspírito Santo a Arquidiocesede Vitória.

34 | vitória

vitória | 35

ECONOMIA POLÍTICA

assagem do tempo é sem-Ppre momento para refletir

sobre conquistas / equívo-

cos no passado, e desafios e oportu-

nidades para o futuro. Um momen-

to ímpar de passagem do tempo – a

mudança de milênio – foi vivido

pela Igreja de Roma ao buscar em

Levítico - principal estatuto de con-

vívio entre seres vivente da tradição

judaico-cristã – inspiração para a

reflexão sobre a passagem do

segundo para o terceiro milênio da

era cristã.

A reflexão proposta em escala

mundial foi a que indicava a neces-

sidade do perdão da dívida dos paí-

ses pobres. Inspirava-se na ideia de

que a concentração de poder eco-

nômico leva ao empobrecimento

da maioria da população, e o ano

sabático deve ser o momento para

realinhamento entre os que muito

têm e os despossuídos.

No Brasil, a reflexão sobre a pas-

sagem do milênio ganhou força na

medida em que a Constituição de

1988 já previa a auditoria da dívida

e tinha no seu bojo o reconheci-

mento do direito à saúde, educa-

ção, seguridade social e meio ambi-

ente como fundamental à dignida-

de das pessoas. Reconhecimento

a partir de forte mobilização de

segmentos da sociedade na cons-

trução de uma Carta Magna que bus-

casse conciliar crescimento econô-

mico com sustentabilidade social e

ambiental.

No Espírito Santo, o processo

centrou-se na conscientização dos

cristãos sobre os custos sociais de

uma dívida financeira contraída

através de processos pouco legíti-

mos, inclusive nos anos da ditadura

militar. Conscientização que come-

çou com levantamentos junto às

diversas comunidades sobre o

quanto de dívida social existia.

Dívida social escancarada no bai-

xo acesso da maioria da população

a bens essenciais como alimentos e

vestuário e a serviços básicos como

educação, saúde, saneamento,

transportes, dentre outros. Dívida

social também a ser contabilizada

pelo crescente processo de deterio-

ração do meio ambiente, o que já

colocava em risco direitos de gera-

ções futuras.

Resultados objetivados dessa

mobilização e conscientização

podem ser questionados em função

da baixa adesão ao processo por

parte dos meios de comunicação de

mercado e da baixa sensibilidade

do governo da época, preocupado

majoritariamente em ‘honrar a dívi-

da’ contraída junto ao mercado

financeiro. Apesar disso, o exercício

ECONOMIA BIOCENTRADA

Professor de Economia

[email protected]

Arlindo Villaschi

vitória | 37

feito de construção da consciência

cristã baseada na necessidade

de responder a necessidades da

maioria da população e da Mãe

Terra deve servir de inspiração no

mo-mento presente.

Inspiração para que a Igreja aja no

sentido de identificar na crescente

marginalização social e econômica

de parcelas substanciais da popula-

ção uma óbvia agressão aos precei-

tos cristãos. Inspiração para que a

Igreja, junto à sua comunidade reu-

nida em paróquias, ressalte a

importância de cuidarmos do meio

ambiente como forma de valoriza-

ção da criação divina.

Criação divina presente em todos

os seres viventes e que é crescente-

mente subordinada à lógica de mer-

cado que a poucos beneficia e que

cada vez mais pune os perdedores

no jogo do individualismo exacer-

bado.

Explicitar o individualismo exa-

cerbado e seus efeitos nocivos pode

ser a mais nobre tarefa da Igreja

comprometida com uma economia

centrada na vida, biocentrada.

DEPOIMENTOS

Dom Paulo Bosi Dal´BóBispo da Diocese de São Mateus

38 | vitória

o espírito dos 60 anos de caminhada de fé, eu NDom Paulo Bosi Dal´Bó, num espírito de

comunhão e unidade, em nome de todos os

que fizeram e fazem parte da história desta abençoada

Diocese de São Mateus, desmembrada da antiga Dio-

cese do Espírito Santo, agradecemos ao Senhor da mes-

se, as inúmeras bênçãos e graças derramadas ao longo

desses anos. Agradecemos também a atual Arquidi-

ocese de Vitória-ES, na pessoa de Dom Luis Mancilha

Vilela, Arcebispo Metropolitano, por todas as sementes

do Reino lançadas abundantemente em nossa amada

terra diocesana.

Muitas são as virtudes que recebemos “como heran-

ça” e outras são próprias da Diocese de São Mateus a

ressaltar: as dicas pastorais e de organização, que num

primeiro momento foram tão necessárias para fazer

caminhar a nova Diocese.

Destacamos também a “opção preferencial pelos

pobres”, assumida por nossa Diocese e plasmada nas

palavras do saudoso Dom João Batista da Mota e

Albuquerque, quando disse alto e em bom tom: “só o

povo, salva o povo”. Ainda, a opção pelas “Comunida-

des Eclesiais de Base” (CEBs), fortemente incentivada

pelo Bispo Auxiliar Dom Luis Gonzaga Fernandes e que

nossa Diocese assumiu como “seu verdadeiro rosto

de Igreja”, com comunidades mais participativas,

superando o esquema “de diretorias” para aderir ao

atual esquema de Conselhos.

A criação de um Centro de Formação para leigos tam-

bém veio da inspiração da Arquidiocese. Ainda é lou-

vável destacar que o Cursilho de Cristiandade chegou

também na Diocese por recomendação de Dom João

Batista, chegando ele próprio a participar conosco

naquela época, sendo que não houve continuidade. O

Cursilho foi retomado em 2010 e continua organizado

até os dias atuais. A criação da Cáritas diocesana, que

muito caminhou. No início parecia estar mais voltada

para o assistencialismo. Hoje ela continua, porém

fortemente enraizada num trabalho de promoção e

libertação, chegando com esta mentalidade pratica-

mente em quase todas as paróquias de nossa Diocese.

Também foi inspiração da antiga Diocese do Espirito

Santo, a criação de um folheto litúrgico para as cele-

brações do “culto” em todas as comunidades e que

até hoje continua sendo usado pelas 721 comunida-

des que compõe a nossa Igreja Particular de São Mate-

us. Outro marco forte no período dos 60 anos de cami-

nhada de fé em nossa Diocese, foi a criação do Semi-

nário Diocesano; a interação com a Arquidiocese na

festa de Nossa Senhora da Penha; a criação do Mostei-

ro das Beneditinas e a iniciativa das Leigas Consa-

gradas. Houve ainda nossa interação e participação

nos encontros nacionais de Comunidade Eclesiais de

Base (CEBs), com um esfriamento posterior devido ao

caráter que esses encontros foram adquirindo.

Com toda esta riqueza, fica bem claro que nossa

Diocese de São Mateus é filha da Arquidiocese de

Vitória e a ela devemos nossa existência. Hoje só te-

mos a agradecer a Deus e a esta Igreja Mãe. Deus seja

louvado por esta solene dádiva! Parabéns!

Que a Virgem Mãe das Alegrias e São Mateus interce-

dam a Deus por todos nós, para que juntos enquanto

Igreja do Estado do Espírito Santo, caminhemos cada

vez mais unidos.

DEPOIMENTOS

vitória | 39

Diocese de Cachoeiro de Itapemi-Arim foi desmembrada da Diocese

do Espírito Santo, hoje Arquidioce-

se de Vitória, em 1958. Isso ocorreu devida à

necessidade de presença eclesial num terri-

tório tão vasto quanto o da recém-criada Dio-

cese. Em sua criação, a nova Diocese foi for-

mada por dezoito Paróquias, dentre elas a

mais antiga de todas, a de Nossa Senhora do

Amparo, em Itapemirim, marco da coloniza-

ção e evangelização de toda a região do sul

do Espírito Santo.

Os desafios dos primeiros passos foram

sentidos, visto que se tratava de uma região

em desenvolvimento, com poucos sacerdo-

tes e uma zona rural de difícil acesso. É

necessário ressaltar o heroísmo e pioneiris-

mo de toda a Diocese nascente, algo que foi

sustentado pela experiência anterior, quan-

do ainda a Diocese estava unida à Diocese do

Espírito Santo. De fato, a preocupação do

novo bispo, do clero e de todo o povo era a de

dar continuidade ao caminho até então per-

corrido, seja no cuidado em sustentar a fé,

seja na atenção dada às muitas neces-

sidades que se apresentavam.

Durante os primeiros passos e, ainda hoje,

é possível sentir a unidade e a colaboração

mútua existente entre a Diocese de Cachoei-

ro de Itapemirim e a então Diocese do Espíri-

to Santo, hoje Arquidiocese de Vitória. A Dio-

cese de Cachoeiro nunca perdeu as suas raí-

zes, reconhecendo o fato de que foi gerada e

sustentada, em seus primeiros passos, pela

então Diocese do Espírito Santo. Algo que

com o tempo foi se tornando motivo para a

manutenção dos vínculos e para a criação

de espaços novos e significativos de Comu-

nhão e Participação da vida eclesial de

ambas as Dioceses. Algo que se dá na parti-

lha das alegrias e conquistas, bem como, na

presença solidária e atenta diante dos mais

diversos desafios da Ação Evangelizadora e

Missionária, como uma só Igreja em Saída, a

exemplo do que nos pede o Papa Francisco.

Dom Dario Campos,ofmBispo da Diocese de Cachoeiro de

Itapemirim

Dom Paulo Bosi Dal’Bó

Foi nomeado bispo para a Diocese de São Mateus no dia

21 de outubro de 2015.

Ordenação episcopal: 12 de dezembro de 2015

Dom Dario Campos, ofm

Foi nomeado bispo coadjutor de Araçuaí no dia 05 de

julho de 2000.

Ordenação episcopal: 26 de setembro de 2000.

Tornou-se bispo diocesano de Araçuaí em 08 de agosto de

2001.

Foi nomeado bispo para a Diocese de Cachoeiro de

Itapemirim no dia 27 de abril de 2011.

LIÇÕES DE FRANCISCO

vitória | 41

LIÇÕES DE FRANCISCO

JUBILEU: revolução na cultura da misericórdiaeste número especial da Revista Vitória em Nque se celebra o Jubileu de 60 anos de sua

criação, caberia perguntar sobre que men-

sagem jubilar Francisco nos presentearia neste

momento festivo. Percorremos primeiro a Sagrada

Escritura para relembrar a origem deste evento onde

encontramos a ideia central do que constitui a cele-

bração do Jubileu. Trata-se de um tempo para descan-

so da terra por um ano para que ela possa renovar-se

em suas forças e produza ainda mais frutos nos próxi-

mos anos. Descanso também dos trabalhadores e

liberdade para os que foram escravizados.

O Papa Francisco já instituiu alguns eventos jubila-

res e participou de vários outros. O que nos chama

mais para a vivência de um ano de júbilo é sem sombra

de dúvida o “Jubileu da Misericórdia”, que aconteceu

entre o mês de dezembro de 2015 a novembro de 2016.

Em seu anúncio, ele assim nos convoca: “Em meio à

violência, é preciso ter misericórdia. No mundo violen-

to de hoje, os cristãos são chamados a esta experiên-

cia com Deus, que desce até nossa miséria”.

Ao instituir este jubileu ele nos convida para uma

revolução cultural que exige uma cultura da misericór-

dia. Diz-nos que “as obras de misericórdia tocam toda

a vida de uma pessoa” e assim será possível uma ver-

dadeira revolução. Na simplicidade de cada gesto

torna-se possível alcançar o corpo e o espírito. A terra

sobre a qual pisamos necessita deste tempo de jubileu

para que se renove e nela possam crescer as árvores da

bondade e da ternura para alimentar principalmente

os mais humildes e indefesos, os que vivem sozinhos e

abandonados.

Sessenta anos de caminhada do povo de Deus da

Arquidiocese de Vitória. Muitos sinais concretos de

misericórdia são visíveis e testemunhados pelas

pessoas. Nesta terra temos muitas delas que deram a

própria vida para que crescessem as árvores com os

frutos da misericórdia. Muitos eventos eclesiais foram

celebrados ao longo destes anos. O caminho foi longo,

contudo o povo de Deus desta terra soube caminhar

junto na fé e na esperança.

O jubileu descrito nas Sagradas Escrituras nos indica

um tempo para descanso, tanto da terra para que ela

possa se recuperar em sua potencialidade produtiva

como para as pessoas que trabalham esta mesma

terra.

Contudo, o Papa nos convoca para olharmos para o

chão e reparar como ainda sofrem os desempregados,

os sem-abrigo, as crianças exploradas, as novas formas

de pobreza espiritual e material. Não temos condições

para descansar enquanto esta realidade estiver pre-

sente em nosso meio.

Então, é preciso cultivar a misericórdia para que a

terra seja revigorada com novas plantas, novas teste-

munhas, novos profetas, mais cristãos.

Assim, o jubileu, conforme nos ensina Francisco, será

um tempo propício para a prática mais elevada da vida

cristã: a misericórdia.

Doutor em Ciência da Religião

Edebrande Calalieri

42 | vitória

VISITAR E CONHECER A NOSSA HISTÓRIA

ara o turista e o próprio morador do Estado Pdo Espírito Santo visitar monumentos arqui-

tetônicos, construídos pelos padres regula-

res e ordens religiosas, é de alguma maneira revisitar a

nossa própria memória a partir de igrejas, conventos,

capelas, cruzeiros, festejos e outras tantas manifesta-

ções culturais.

Difícil seria escolher algumas dentre tantas preciosi-

dades que representam nossa fé edificada. Então,

sugiro um giro começando pelo Centro Histórico de

Vitória, que abriga grande concentração de igrejas.

Citemos algumas:

No marco zero da Cidade Alta está a Catedral de

Vitória que com suas torres góticas se destaca na pai-

sagem. Mas, a beleza também está na riqueza de deta-

lhes dos vitrais da Catedral, que a embelezam. De

todos esses vitrais a porta de entrada retratando a luta

de São Miguel Arcanjo e, ainda, o vão do coro na facha-

da em homenagem à Santa Cecília (padroeira dos

músicos) se mostra objeto único de contemplação.

Mas, não se demore nesse espaço porque ainda na

Cidade Alta, em Vitória, é possível visitar a pequena

Capela de Santa Luiza (mais antiga construção da

ilha), a igreja de São Gonçalo (dos casamentos dura-

douros), o Convento São Francisco (sede administra-

tiva da Arquidiocese), o tradicional Colégio do Carmo,

a igreja do Rosário dos Homens Pretos e ainda o

Palácio Anchieta, mesmo que esse tenha perdido,

suas características de colégio Jesuíta.

SUGESTÕES

Foto

: M

arc

os

de A

larc

ão

Catedral Metropolitana de Vitória

SUGESTÕES

vitória | 43

Diovani FavoretoHistoriadora

No morro de São Francisco a pequena capela dedica-

da a nossa Senhora das Neves intercala o velho e o

novo ente o piso lustroso e as paredes descascadas,

que demonstram a passagem dos anos e que abrigou

inclusive o Museu de Arte Sacra do Espírito Santo.

Saindo da Ilha de Vitória, do alto da penha a Padro-

eira do Espírito Santo, Nossa Senhora das Alegrias,

intercessora do povo capixaba, nesses últimos quatro

séculos.

Mais distante, do fundo da pequena baia de Nova

Almeida, os Três Reis Magos velam o Menino Deus

enquanto preservam outros tantos anos de memória

da Igreja Católica no Espírito Santo.

E, do que não pode ser rotulado como

“pedra e cal”, ou seja, que extrapola as edi-

ficações religiosas podemos observar

(mas apenas alguns poucos dias do ano) a

procissão de Nossa Senhora da Boa Morte

e Assunção, os festejos de São Benedito do

Rosário dos Homens Pretos, a Festa do

Divino Espírito Santo, a grandiosa Festa da

Penha e ainda acompanhar os Passos de

Anchieta.

Muito mais do que manifestações de

devoção e fé esses símbolos da Igreja

Católica no Espírito Santo demonstram a

inesgotável fonte de conhecimento e

cultura ali depositada como pequenas

amostras do patrimônio material e imate-

rial dos capixabas.

Fo

to: H

elio

Filh

o

Foto

: Pre

feitu

ra d

e V

itória

Capela do Rosário - Vitória

Igreja dos Reis Magos - Serra

vitória | 45

Até o dia 08 de setembro estará aberta ao público a exposição “A história da Igreja no

Espírito Santo”, preparada pela Arquidiocese de Vitória por ocasião da comemoração dos

60 anos de sua criação. A mostra está instalada na praça da Catedral Metropolitana de

Vitória e fica aberta das 14 horas às 21 horas. Quem visitar a exposição vai conhecer como

foi a chegada dos jesuítas franciscanos ao Espírito Santo e os principais marcos na história

desta Igreja Particular até os dias atuais.

A HISTÓRIA DA IGREJA NO ESPÍRITO SANTO

ACONTECE

No dia 15 de setembro, de 8 às 17 horas, acontece

um encontro de formação em preparação ao mês

missionário, celebrado em outubro. O objetivo do

encontro é promover reflexões para aqueles que pro-

movem atividades nas comunidades e paróquias da

Arquidiocese de Vitória.

Interessados podem se inscrever através do

e-mail: [email protected]

Os agentes da Pastoral do Batismo têm um

encontro marcado no dia no 15 de setembro

Santuário de Vila Velha, quando será realizado o

Encontro Arquidiocesano para os agentes desta

pastoral. O evento terá a assessoria do Pe. Antônio

Francisco Lelo e será realizado de 8 às 17 horas.

As inscrições podem ser feitas através do e-mail:

[email protected]

PASTORAL DO BATISMOMÊS MISSIONÁRIO