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Revista Deforma #001

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Uma revista sobre design e arte produzida em Curitiba / Brasil.

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Foram dois anos de Deforma Mostra Design. A exposição serviu de vitrine para novos e não tão novos talentos, conseguiu aproximar o público do design e da arte, criou espaço, promoveu encontros, desenvolveu cultura.

A Associação Cultural Banana Milanesa nasceu pela Deforma Mostra Design. Ela foi criada justamente para dar vida à exposição, mas não pode se afastar de seu objetivo original: ser uma veia cultural e promover iniciativas pela arte e pelo design. Com “iniciativas” no plural, ficou claro: precisávamos de um novo produto, um novo jeito de tentar cumprir com a nossa vontade – convicta - de dar mais um lugar para a arte e o design na cidade de Curitiba. É por isso que você tem em mãos a edição piloto da Revista Deforma.

A edição de conteúdo da revista é afetiva, assim como sempre foi a curadoria da Mostra. A Deforma se afasta do julgamento e da pretensão de definir qualquer coisa. A Deforma é veículo de cultura, e como um veículo, quer apenas levar, conduzir, contar, deliciar.

A Revista Deforma foi feita, orgulhosamente e com muito amor e vontade, na nossa Curitiba.

Esperamos que inspire. Equipe Banana Milanesa.

PUBLISHER e DIREÇÃO CRIATIVA Henrique Catenacci

CONSELHO EDITORIAL Raffaella Bonanni Anna Carolina Catenacci Chesi Paulo Peruzzo

PROJETO EDITORIAL E JORNALISTA RESPONSÁVEL Ana Flávia Bassetti

PROJETO GRÁFICO E DESIGNER RESPONSÁVEL Diego Carneiro

CAPA Henrique Catenacci

RESPONSÁVEL COMERCIAL Daniel Sponholz

RESPONSÁVEL ADMINISTRATIVO Bruna Pratis

IMPRESSÃO Midiograf

A Revista Deforma é uma publicação independente da Associação Cultural Banana Milanesa.

FONTES UTILIZADAS NA EDIÇÃO Accura Sans - fornecida por Eduilson Coan e dooType; AUdimat

PAPÉIS UTILIZADOS Capa - Couchê fosco 300g Miolo - Couchê fosco 150g e Pólen 90g

TIRAGEM 1.500 revistas

BANANA MILANESA Rua Conselheiro Dantas, 484 Rebouças - Curitiba – PR - Brasil CEP 80.220.190 Tel. 3039 3344 www.bananamilanesa.com/deforma facebook.com/bananamilanesa

E d i t o r i a l

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M a t é r i a E s p e c i a l

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Colaboradores

Rápidas A Moda Imita a Vida e Desfiacoco.

Deforma Mostra Design, por ela mesma.

Entrevista Marcel Bely, por Deforma.

Lifestyle Tipos de quatro, por Criatipos.

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ÍN

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CE

Arte A potência da falsificação de obras de arte, por Marlon Anjos.

Gestão de Design Quem emprega quem?, por DUCO.

Moda & Branding Moschino by Moschin, por Gabriele Moschin.

Arte & Design Artedesignartedesignartedesign, por Lívia Fontana.

Mosaico A cultura crescente do consumismo no Irã, por Thomas Cristofolleti.

Portfólio Fetiche, por ela mesma.

Portfólio Ventizeronove, por ele mesmo.

Entrevista Luis Melo, por Deforma.

Comportamento O Ministério da Saúde adverte, por Paulo Peruzzo.

StreetArt #StreetArtRio, um catálogo vivo e diário das ruas do Rio de Janeiro, por Deforma.

Design Social (uma crítica), por Alexandre Linhares.

Referências da Referência Dado Queiroz, por ele mesmo.

Mercado A poesia do design e o mercado, por FURF.

Sound Design Paisagens Sonoras, por Vadeco Schettini.

Design Digital Arte digital, por Ale Mazzarolo.

HQ As aventuras do homem comum, por João Carvalho.

Perfil Isa Todt, por Deforma.

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Matérias Traduzidas115

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C o l a b o r a d o r E s

t h o m a s C r i s t o f o l e t t i Thomas Cristofoletti é um fotojornalista freelance italiano que vive atualmente em Phnom Penh, no Camboja. É cofundador do Ruom (www.ruom.net), grupo de jornalistas que se especializou em reportagens sociais pelo sudeste da Ásia.

Nos últimos quatro anos, Cristofoletti trabalhou em vários projetos humanitários de vídeo e fotografia no Sudeste Asiático e na Europa, colaborando com ONGs e grandes veículos de comunicação. Suas fotografias têm sido apresentadas em revistas internacionais e jornais como o The New York Times, Al Jazeera, The Guardian, Le Monde, Vice, The Financial Times, The Global Post, The South East Asia Globe e Afisha Mir Travel Magazine.

V E N T I Z E R O N O V E , estúdio de design gráfico milanês fundado por Sonia Mion e Nicola Iannibello, em 2009, trabalha principalmente com identidades coorporativas, editoria, packaging e branding. A força do estúdio está em conseguir caminhar por vários campos do design para desenvolver um trabalho criativo do início ao fim, introduzindo também elementos de ilustração, um hobby dos sócios, que desenvolvem há três anos a revista de ilustração Nurant. A sede do Ventizeronove fica em uma construção onde funcionava, no passado, uma antiga fiação, e que hoje é um pouco estúdio, um pouco ponto de encontro. O espírito principal é exatamente esse: estar sempre cercado de pessoas e profissionais específicos, que contribuem para o trabalho do estúdio.

D U C O é uma consultoria de gestão de design que combina áreas distintas: pesquisa, gestão de design e políticas públicas. Tem como objetivo auxiliar clientes na maneira mais eficiente de utilizar o design para maximizar os benefícios econômicos e sociais que esta atividade pode oferecer. Equipamos e orientamos nossos clientes do setor público e privado com base em pesquisas, dados objetivos e experiência profissional para auxilia-los em tomada de decisão quanto ao uso e aplicação de design.

J o à o c a r v a l h oJoão Carvalho é Ilustrador e Desenvolvedor Web. Tem barba grande, mas não bebe tanto quanto a barba representa. Em 2010 não tinha muito o que fazer, criou o “Semteroquefazer”. Desde então, ter o que fazer nunca foi problema. Para conhecer e acompanhar melhor seu trabalho acesse: http://fb.com/semteroquefazer

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Com a ideia de transpor uma estética gráfica e digital para quadros e objetos que pudessem decorar e ao mesmo tempo dialogassem com a arte, surgiu o Studio A.75. O designer Ale Mazzarolo, trouxe para os quadros, painéis e luminárias em neon todas suas influências cotidianas. Moda, música, cinema e arquitetura fazem parte das suas inspirações.

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F E t i C H E d e s i g nQuando os designers Carolina Armellini e Paulo Biacchi criaram, em 2008, o estúdio

Fetiche Design, almejavam ter autonomia no desenvolvimento de suas peças, criar e produzir com liberdade. O conceito de fetiche é intrínseco aos produtos que o estúdio

desenvolve. A definição do que é fetiche do próprio dicionário é algo que inspira muito a dupla: “fetiche sm. Objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela

natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto”. Os designers buscam referências e significados além do formal e funcional para as peças. Com divulgações em

renomadas revistas do setor, suas criações têm se destacado no Brasil e no exterior.

O Criatipos surgiu de uma idéia entre amigos designers apaixonados por tipografia e letterings ilustrados. Buscamos novos desafios e projetos bacanas de diferentes formatos e acabamentos. Valorizamos o trabalho em equipe somando a especialidade de cada um, aprendendo um com o outro, resgatando processos artesanais e, claro, se divertindo!

C r i a -t i P o s

Paulo Peruzzo é um pouco de tudo. Talvez artista seja uma forma coerente e simpática de dizer que, antes dele ser

reconhecido como designer, flertou com a produção de fotografia, cenografia e montagem de showroom. Proprietário

do UZZO Escritório de Arte, coleciona projetos de interiores com identidade

marcante. Paulo também é curador da Deforma Mostra Design.

P a u l o P e r u z z o

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G a b r i E l E M o s C H i NRedator e planejador estratégico, começou com comunicação na área médica na Sudler&Hennessey e depois passou a trabalhar com packaging e comunicação BTL na Artefice Group. Atuou como brand management para Carrefour Itália e começou a trabalhar com moda na Attila&Co. Na M&C Saatchi trabalhou com a Sky Itália, supervisionando a comunicação retail da marca no país. No meio tempo, passa a lecionar na Università Cattolica del Sacro Cuore, no IED (Istituto Europeo de Design) e no Master Polimoda di Firenze, ensinando planning, branding e comunicação de moda. Vive entre Milão e Florença.

Mestrando do programa de Pós-Graduação na área de Arte Visuais

M A R L O N a N J o sda Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus São Paulo, na linha de pesquisa: Processo e Procedimentos Artísticos. Especialização em Antropologia Cultural na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, interrompida ano, 2013. Possui graduação Superior em Pintura - Escola de Música e Belas Artes

V a d E C oMúsico, produtor musical e produtor cultural, Vadeco Schettini tem a versatilidade como uma de suas principais características. Aos 18 anos de carreira já tinha quatro CDs gravados e produção de 25 discos de diferentes artistas. Assinou a trilha sonora e a sonoplastia de três longas, 30 curtas e de mais de 50 espetáculos teatrais e 10 de dança. Fez trilhas e sound design para mais de 10 seriados de televisão. Atualmente, ele compõe músicas sob encomenda e comanda o Astrolábio Estúdio e o Noeltan Movies, na Itália.

ano, 2011. Experiência na área de educação e atuou - 2012 à 2013 - como professor de artes anos finais do SEED, Secretária de Estado da Educação, e como professor SESI EJA ensino jovens e adultos. Possui experiência em exposições culturais. Mantém produção artística consistente em território nacional, tendo obras em diversas instituições e museus brasileiros, desta os seguintes; MACPR, MACSL e MACGO.

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F U R F Premiada internacionalmente, a curitibana Furf Design Studio foi fundada em 2011 por Rodrigo Brenner e Mauricio Noronha. A marca é reconhecida por criar projetos atemporais que seduzem o olhar, recebendo frequentemente convites para expor em renomadas mostras pelo mundo, como na Semana de Design de Milão. Os produtos da dupla já foram publicados em diversas mídias em mais de dez países. A Furf acredita que produtos não são apenas objetos, eles podem carregar histórias, poesia e romantismo.

H E r o Í N a - a l E X a N d r E l i N H a r E sNa Heroína - Alexandre Linhares produzimos roupa. Acreditamos na roupa como suporte e bandeira de uma expressão genuína, tão legítima quando a expressão presente numa tela ou numa letra de música. Nosso processo é todo pautado na consciência da coexistência e descondicionamento mental, propondo em cada lote de peças, um novo tópico para reflexão e questionamento. Acreditamos que tudo que a moda e sua indústria fazem se resume em “condicionar”. Na coleção atual “todas as árvores são lindas” estamos trabalhando, em sua maioria, com resíduos da indústria têxtil, suprindo uma das nossas maiores preocupações – a origem do tecido. “todas as árvores são lindas” reflete ainda o contrário da destruição do todo apenas em busca do lucro, desesperadamente, e colocando o peso de que uma vida vale uma vida, uma árvore é uma árvore e tudo que tem vida, deve ser imune de corte.

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r Á P i d a s“A MODA IMITA A V IDA Como construir uma marca de moda” , de André Carvalhal .O que determina o sucesso da marca? O que faz as pessoas se identificarem com ela? Para André Carvalhal, gestor de Marketing e Conteúdo da Farm, branding e marketing têm a ver com autoconhecimento. O autor compara

a trajetória de uma marca com a vida das pessoas, onde há evolução, crescimento, aprendizado, erros e aperfeiçoamento. “A moda imita a vida” trata de comportamento, construção de percepção, identidade, imagem e posicionamento para marcas de moda. A obra é enriquecida com entrevistas de alguns dos principais profissionais do mercado e grandes criadores como Oskar Metsavaht, Ronaldo Fraga e Isabela Capeto, além de histórias de grifes como Daslu, Osklen, Farm e Adidas. O projeto gráfico foi assinado pelo designer Luiz Wachelke. Publicado pela Estação das Letras e Cores em parceria com a Editora Senac Rio de Janeiro, este é o primeiro livro brasileiro sobre construção de marca de moda, com foco em nomes nacionais.

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r Á P i d a sCABIDEIRO CL IPS É UM DOS NOVOS PRODUTOS DA DESFIACOCOCriado pelo designer Gustavo Engelhardt, o cabideiro Clips é, sem dúvida, uma peça de design que contempla simplicidade, funcionalidade, criatividade e preocupação ecológica. De uma brincadeira semiótica com signos tão comuns no nosso dia-a-dia, o cabideiro Clips recria a pequena peça de juntar papéis, com uma nova forma e função, que é protagonista em qualquer ambiente. É produzido com apenas um tipo de material, e a tinta utilizada não contém solventes nocivos ao meio ambiente. Sendo transportado desmontado em uma embalagem que reduz em até 90% o seu volume, comparado ao produto montado, acaba minimizando os custos logísticos e o consequente consumo de recursos naturais. Sua montagem é muito simples, rápida e intuitiva, não precisando da utilização de ferramentas ou parafusos.

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Ele começou a trabalhar como social media no “segundo melhor emprego do mundo” da trident, sendo escolhido

entre 20 mil candidatos.

Com apenas 26 anos e algumas tatuagens, Marcel está entre os oito profissionais que são referência no mercado, segundo pesquisa nacional realizada pela trampos.com. Hoje ele faz parte da equipe de redes sociais da Prefeitura de Curitiba, ou Prefs, como é carinhosamente chamada pelos seus seguidores.

E pra quem acha a Prefs descolada e divertida, precisa conhecer o Marcel Bely. Apaixonado por capivaras e conectado quase 24 horas por dia, Marcel faz parte da equipe que conseguiu transformar uma página de órgão público em um case de sucesso. A Prefs pegou o cidadão curitibano pela mão e o trouxe para dentro da Prefeitura, com muito bom humor.

Por Ana F láv ia Bassett i

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Deforma: Marcel, você está no projeto das Redes Sociais de Curitiba desde o começo?

Marcel Bely: Sim, desde o início. Quando o Marcos Giovanella teve que formar uma equipe, ele chamou pessoas que ele já conhecia do próprio mercado. Éramos eu, ele e a Taís Russo Pinto. Já no começo, a gente acabou ganhando de presente o Claudinho Castro, o anão da dança do quadrado, que é uma figura. Ele estava na rádio, mas queria trabalhar com redes sociais, e veio pra cá. Inicialmente eu cuidava de todas as redes, a Taís já fazia parte de projetos especiais, então entrou já para se envolver com a Copa do Mundo, o Claudinho fazia o meio de campo entre as secretarias e o Marcos gerenciava.

D.: De que demandas que você fala?

M.B.: Demandas via redes sociais. Por exemplo, alguém manda um inbox dizendo que tem um buraco na sua rua ou algo desse tipo, aí o Claudinho que tinha que entrar em contato com a Secretaria responsável e passava a resposta pra gente.

D.: E você continua responsável pela página no facebook?

M.B.: Sim, o facebook continua comigo. Meu filho.

D.: Há uma interação como nunca vista em perfis de facebook, principalmente falando em perfis de

D.: E hoje, quantas pessoas trabalham no núcleo de redes sociais da Prefeitura de Curitiba?

M.B.: À medida que a base aumentou as demandas também aumentaram, então tivemos que crescer. Hoje temos oito pessoas na equipe. Eu, o Marcos, a Taís, o Claudinho, o Álvaro Borba, a Larissa Pereira, a Camila Braga e a Veronica Motti.

. . . é importante para a população perceber que sempre vai ter a lguém al i para ouvi- la . . .

órgãos públicos. Como vocês conseguiram?

M.B.: Acho que uma das grandes sacadas foi conseguir humanizar a página. Mostrar pra todo mundo que a prefeitura é acessível e esse acesso pode acontecer de um ponto de ônibus, se você tiver um celular, ou em casa do computador, ou pelo telefone pelo 156. Com essa humanização a aproximação foi se tornando cada vez mais forte, tanto é

Marcel Bely e Claudinho Castro

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que a gente chegou num ponto onde a Prefs foi pedida em casamento. Outro ponto crucial é que a equipe sempre foi muito dedicada. Estamos muito apaixonados pelo projeto, então não temos nem preocupação com o horário.

D.: Você acaba conectado muitas horas do seu dia. Como é isso?

M.B.: É. Às vezes à 1h da manhã estou na página, respondendo ou postando alguma coisa. Acho que esse ponto é importante para a população perceber que sempre vai ter alguém ali para ouvi-la, por mais que a gente acabe não conseguindo ajudar imediatamente, algumas vezes.

D.: O fato de ser ao mesmo tempo informativo e divertido é estratégia, ou foi uma coisa que aconteceu naturalmente?

M.B.: Isso já vinha do planejamento. Já começamos buscando uma aproximação maior da população. A gente acredita que a rede social é feita para relacionamento, então não estávamos nos inserindo como a maioria das marcas se insere, como um canal de venda.

D.: Vocês se basearam em outras experiências parecidas?

M.B.: Nunca vimos nenhum case igual ou parecido. Existem bons cases de cidades estrangeiras – Amsterdam, Nova York –, mas nenhum deles tinha algo desse tipo nas redes sociais. Tínhamos um plano de ação e sabíamos onde queríamos chegar, mas foi mais por tentativa e erro.

D.: E erraram?

M.B.: Claro, algumas vezes erramos. Algumas publicações são debatidas até hoje, como a do Starbucks por exemplo.

D.: Foi uma saia justa?

M.B.: Sim. O que acontece é que a população de Curitiba espera há muito tempo que uma Starbucks se instale aqui, já faz muito tempo que a gente quer postar no Instagram a foto com a canequinha da marca. E aí, com o Pátio Batel chegando, criou-se todo um boato que a loja abriria lá. Quando faltava uma semana para a abertura, a gente começou a receber perguntas na página: “vai ter Starbucks no Pátio Batel?”, só que a gente não sabia. Entramos em contato com a própria rede, que informou que não só não ia abrir como não tinha interesse em expandir a rede fora do eixo Rio-São Paulo. Aí, pra responder, fizemos um post em forma de fábula, sem citar a marca. Era a história de uma sereia, mascote deles, que vinha para Curitiba para decidir se ficaria por aqui ou não, mas quando ela chegou logo se desiludiu, no bom sentido. Ela viu que a cidade já tinha tantos lugares bons para se tomar café, e resolveu ir embora.

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Foto enviada por fã e publicada na página da Prefeitura de Curitiba.

Prefs interagindo.

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Embaixo da fábula tinha o link de um review, feito por um blog, sobre os melhores lugares para se tomar um bom café na cidade. Era pra dizer: “galera, não vai ter. Mas se você gosta de café, Curitiba já oferece lugares ótimos.” O resultado foi que acharam que a Prefeitura estava barrando a entrada da Starbucks na cidade. Alguns blocos políticos se aproveitam, dizendo, por exemplo, que a prefeitura celebra

a desistência, que estava desconsiderando os empregos que viriam com a nova loja. Enfim, teve gente que entendeu que a gente queria só valorizar o que já temos aqui, já que a rede não viria e nós não tínhamos poder algum sobre isso, e teve gente que ficou desesperada porque não ia abrir e achou que a culpa era nossa.

D.: O fato de ser uma página institucional divertida rende elogios e críticas. Como vocês medem se ela está funcionando?

M.B.: Como a gente não vende, mas presta serviço, fica mais difícil de medir. Se fosse venda seria fácil converter a quantidade de fãs para consumidores. A métrica que encontramos foi via comentários na página. Então, quando algum seguidor comenta “Prefs, te amo”, “Prefs, casa comigo”, às vezes chega num ponto hard core de “Prefeitura, me engravida”, vemos que conseguimos converter seguidores em fãs.

D.: E esses fãs não são todos Curitibanos, certo?

M.B.: Temos fãs do Brasil inteiro. É meio freak pensar que uma página de órgão público conseguiu isso, até porque esses fãs são tão ativos que defendem a Prefs de críticas e às vezes acabam até respondendo alguma dúvida pela gente.

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pergunta que a gente pensa “Nossa, como que eu vou responder isso?”

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D.: Esse é outro ponto que gostaríamos de saber. Alguns seguidores fazem perguntas pontuais sobre a administração da cidade, obras, e pedem melhorias. Para estarem aptos a responder, vocês naturalmente se integraram à politica da cidade?

M.B.: Quando a gente tá logado como Prefeitura a gente é a Prefeitura. Eu sou um cara apartidário, mas sempre gostei de política, de ler sobre e de buscar informação, mas eu vim da iniciativa privada, e aqui é um mundo completamente distinto. No começo ficamos um tempo em imersão, entendendo o que é cada secretaria, com quem você tem que falar, e estamos sempre com o Portal da Prefeitura aberto, nos informando, vendo o que está acontecendo. A partir daí você vai se munindo de informações

e entendendo as relações todas para poder responder. Temos também um apoio muito grande do próprio Secretário de Comunicação. Quando a gente não sabe mesmo, ou quando o assunto é mais complicado, ele senta com a gente e às vezes até ele mesmo responde. A redação também ajuda muito, e como é só andar cinco passos e a gente já está na sala deles fica mais fácil. Tentamos interagir o máximo possível, porque às vezes vem cada pergunta que a gente pensa “Nossa, como que eu vou responder isso?”.

D.: Vocês têm total liberdade de criação?

M.B.: Sim, total. E é por isso que funciona.

D.: Então a liberdade de ação é um dos componentes da fórmula do sucesso da Prefs. Quais são os outros?

M.B.: É. A liberdade de ação resulta em velocidade de ação, que é outro ponto, e boas ideias. Para nós é mais importante o conteúdo do que com o layout. Por exemplo, a Capivara Paul, aquela que previa os resultados dos jogos da Copa. A gente só precisou de uma trave de plástico, e não nos preocupamos muito com a trave que foi usada, ou a qualidade da foto que foi feita para o post...a gente executa por causa da ideia, porque é a ideia que vira assunto e acaba se espalhando pela rede. Ah, a Capivara errou todos os resultados, mas gerou uma mídia espontânea super relevante. Saiu na Época, no Globo, na Veja, Gazeta, RIC,

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CNN, Fox News. Tudo com essa ação simples.

D.: E esse amor pela capivara? De onde veio?

M.B.: Foi engraçado. Quando a página começou a crescer a equipe ganhou o Álvaro Borba. O Álvaro ficou com o twitter e o Instagram, e a primeira postagem dele foi uma Capivara gigante soltando lazer no Jardim Botânico e a estufa pegando fogo. Quando a equipe viu, todo mundo ficou com medo. A gente já fazia brincadeiras, mas não tínhamos chegado naquele ponto ainda, de “destruir” algo da própria cidade. Então, decidimos apagar o post. Só que um monte de gente printou aquilo, a foto começou a se espalhar e a reação foi oposta do que a gente achava que ia ser: a galera curtiu muito. Como deu resultado, vimos que seria uma boa estratégia adotar a capivara como mascote não oficial da cidade. O interessante é que a capivara só existe na cidade por causa do planejamento urbano que ela teve, com parques projetados para conter as águas das grandes chuvas, então, ela acaba sendo um símbolo pra lembrar o quanto é importante manter a cidade limpa, cuidar das áreas verdes e tal.

D.: E esse paradoxo entre o estereótipo do curitibano fechado e sisudo e a Prefs aberta e solícita? Como os seguidores recebem isso?

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acho que tem muita gente que não está conseguindo l idar nem com o mundo real . . .

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M.B.: Uma das coisas que a gente mais gosta de fazer na página é quebrar esses estereótipos. Curitiba sempre foi vista como uma cidade muito fria, fechada, uma cidade de pessoas que não conversam, mas isso não é totalmente verdade. Esse é um estereótipo que foi vendido, os curitibanos passaram a acreditar nisso e ninguém mais combateu isso de nenhuma forma. Algumas pessoas ainda gostam disso e acham legal, mas a grande maioria não. A gente não é chato, a gente sabe rir. E fazendo a desconstrução disso dentro das mensagens, acabamos mudando a maneira com que o Brasil nos enxerga. A serie “Curitilover” fala um pouco disso.

D.: Esse seu caso de amor com as redes sociais começou antes da Prefs?

M.B.: Eu sempre gostei de redes sociais, como todo jovem da minha geração. Eu tive Fotolog, ICQ, MSN, Orkut... sempre fui migrando e sempre me mantendo ativo. Inicialmente eu não tinha pretensão de trabalhar com isso. Me formei em Publicidade e fiz uma pós em Marketing, e trabalhava em agência, até que a Trident lançou uma espécie de concurso, uma seleção para escolher uma pessoa para ser o gerador de conteúdo on-line deles durante um mês. Eu passei na primeira fase, que tinha 20 mil pessoas, depois fui pro

Marcel, depois de ser escolhido para o “emprego dos sonhos” da Trident.

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Rio para a segunda concorrer com 60 pessoas, e depois de várias provas – entrevista, produção de texto, testes em frente às câmeras - eles me escolheram. Nesse trabalho eu saltei de paraquedas, andei de búfalo, nadei com tartarugas e golfinhos, vi tubarão, fui DJ em balada, e tudo registrando para postar no facebook da marca.

D.: Isso já te deu muita bagagem...

M.B.: Sim. Eu fiquei um mês viajando pelo Brasil gerando conteúdo pra uma marca nacional com milhões de fãs no facebook, então quando eu voltei pra cá já fui chamado para trabalhar com redes sociais e não parei mais.

D.: As redes sociais mudaram tanto e tão rapidamente as nossas formas de relações e até a nossa cultura, eu diria.

Enigmas curitibanos (Brigadeiro Franco).

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Você acha que as pessoas têm conseguido lidar bem com essa coisa real X virtual?

M.B.: Acho que tem muita gente que não está conseguindo nem lidar com o mundo real. Tem uns casos por aí de caras batendo selfie com um defunto ao lado. O cara trabalha em uma funerária e bate uma foto com um corpo. As pessoas estão perdendo um pouco o limite da privacidade.

D.: Tem-se falado, inclusive, da angustia que as redes sociais causam, porque parece que há sempre algo mais interessante para se fazer do que de fato se está fazendo. Ela já ganhou um nome: FOMO - fear of missing out. Como você lê isso na nossa geração e como você lida com isso?

M.B.: A rede social tem o seu lado benéfico, mas o lado negativo também. Nós estamos cada vez mais ansiosos, e

apenas deixe de seguir as pessoas que postam coisas que te incomodam. Não tem mais como educar todo mundo.

acho que a ansiedade vai se tornar uma doença comum, em breve. Perdemos também a capacidade de nos aprofundar. Viramos uma sociedade de manchetes, prestamos mais atenção em imagens que em textos. Isso está atrelado à velocidade e quantidade de informação. É ruim, porque a gente acaba ficando na superficialidade.

Capivara with lasers.

D.: As redes trouxeram também uma superidealização da imagem – e da autoimagem - e da felicidade. O que acha disso?

M.B.: E aí começam a surgir campanhas orgânicas, como esse movimento para colocar foto sem maquiagem. Chega um ponto em que as pessoas não suportam mais essa felicidade fake, efêmera. Eu entendo isso, a gente não quer expor o lado ruim, só que chega num ponto em que as pessoas não suportam mais, e a própria rede responde a isso.

D.: Agora uma proposta bem irreal: se você pudesse criar um código de conduta para os usuários da rede, como ele seria?

M.B.: Inclusive já têm inúmeros. Eu diria: não leia códigos de conduta. Apenas deixe de seguir as pessoas que postam coisas que te incomodam. Não tem mais como educar todo mundo. O ideal é filtrar cada vez mais.

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D.: Há quem diga que as redes sociais estão fadadas ao fracasso, e que o fim do Orkut seria um anúncio disso. Uma pesquisa da Universidade Princeton sugere que o facebook perderá 80% dos usuários até 2017. Você acredita nisso?

M.B.: Perde nada. O facebook entrou em uma onda inteligente de incorporação das redes menores. Ele pode cair, mas não acredito que seja tão cedo.

D.: Então falar de um desapego de redes sociais é inviável?

M.B.: Inviável. A gente não sabe mais viver sem as redes sociais. O ser humano não gosta de ficar sozinho e as redes sociais servem muito pra isso, pra aproximar pessoas, e a partir do momento em que temos

essa necessidade de conexão, dificilmente a gente vai conseguir se desapegar disso. Podemos trocar de rede, mas não ficar sem.

D.: E pra fechar, melhor ser social media da Prefs ou Profissional do verão Trident?

M.B.: Essa pergunta foi muito malvada, cara. Olha, eu preferia ser o social mídia da prefeitura na praia, mas infelizmente não dá. No profissional de verão eu fazia coisas incríveis, mas o legado da Prefs é muito forte. E olhar pra trás e ver que um dia eu fiz parte dessa aproximação social me deixa muito feliz e pra mim é um puta orgulho.

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a NoVa CUritiba

É notório que Curitiba não é mais a mesma. Há alguns anos, sentimos um movimentar-se cultural mais voluntarioso na “cidade sorriso”. Famílias trocando os shoppings pelos parques, o cinema que sai ao ar livre, música que invade as praças e várias iniciativas que surgem para tomar a cidade e fazê-la de palco para entretenimento, discussões sociais e expressões culturais. acompanhando esse movimento, nasceu a primeira deforma Mostra design, em 2012.

Por Ana F láv ia Bassett iFotos Ravi Pimentel , Raf fael la Bonanni e Agência La Imagem.

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Depois de uma temporada de vivência em Milão, onde conheceu Raffaella Bonanni que viria a ser sua esposa e sócia, Henrique Catenacci voltou ao Brasil e inaugurou, em 2011, a Labis Design, em sociedade também com sua irmã Anna Carolina Catenacci Chesi. Depois de um ano de agência ele já participava das reuniões do Centro Brasil Design e da Prodesign e viu que era o momento de colocar um velho projeto em prática.

Paulo Peruzzo, Henrique Catenacci, Raffaella Bonanni e Anna Carolina Catenacci, curadores e idealizadores da Deforma Mostra Design.

Para dar à luz a Deforma, garantindo que ela nascesse como um projeto independente e sem fins lucrativos, foi que a Labis Design criou a Banana Milanesa, sua veia cultural. Para que ela ganhasse corpo, precisavam de alguém que caminhasse com desenvoltura no meio da arte e do design, que tivesse um olhar clínico para seus conteúdos e que abraçasse o projeto. Na primeira conversa com Paulo Peruzzo, ele já comprou a ideia e topou fazer parte. E assim, a primeira Deforma começava a ganhar forma.

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àdeforma pensado,

formulado e baseado nas grandes

semanas de design que acontecem no exterior. A ideia é disponibilizar conteúdo e antecipar tendências por meio de palestras, workshops, painéis, debates, exposições e outras atividades comerciais e de interação com a sociedade.

A Semana D é um evento nacional que tem como objetivo promover e dar visibilidade ao tema design e inovação, de forma a ganhar força junto à comunidade empresarial e a sociedade como um todo. O evento foi

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Foram convidados 35 participantes, entre eles agências de design e arquitetura, designers gráficos, designers de produto, ilustradores, artistas e designers de moda e vídeo. O objetivo era não só abrir um espaço para que eles mostrassem seus trabalhos, mas também ser meio de divulgação e desmistificação do design.

A primeira Deforma teve como curadores Raffaella Bonanni e Paulo Peruzzo. Para Peruzzo, o sucesso da primeira mostra foi inesperado: “Era

apenas o início de uma ideia, que as pessoas compraram imediatamente”.

A Deforma Mostra Design 2012 contou com cerca de 1.000 visitações em cinco dias de exposição, entre elas a do ícone do design italiano Stefano Giovannoni, que é conhecido desde seu primeiro projeto para a Alessi – a série Girotondo.

A primeira Deforma Mostra Design aconteceu junto com a Semana D. O objetivo era de transformar a Semana D em um verdadeiro Festival de Design, e para isso ela precisava de uma mostra paralela. A ideia veio do tradicional “Fuori Salone”, evento paralelo ao Salão do Móvel de Milão, que já mostrou que fora do salão oficial há maior e mais eficiente interação com o público. Para Henrique, a vontade era de “criar um evento um pouco mais relaxado e descontraído que não perdesse de vista a discussão do tema design e sua importância, mostrando como ele se reflete nas nossas vidas nos dias de hoje”.

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a criatividade é como o amor, de qualquer maneira vale à pena! E nesta manifestação de busca por espaço, poder dar acesso ao novo e não à novidade, de sair das tendências e ir até a essência do criador. a deforma quer abrir portas. Portas e janelas. E a partir desta generosidade, trazer descobertas. Propostas.

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Poderíamos analisar a Mostra deforma através de diversas perspectivas, pelo olhar do design, pela pró-atividade de seu idealizador, pelo seu nome, pela abertura de espaço para novos designers, dentre tantas outras vertentes passíveis de serem analisadas. Porém, o que nos salta aos olhos não é a análise separada de cada um destes itens, mas sim a soma de todas estas possibilidades em um só local. Este acumulado de expectativas, e mais importante de vontades, propicia o transbordamento de uma criatividade que estava contida na cidade de Curitiba. É a soma das partes que torna o coletivo da deforma um evento de interesse ao público geral, não é a deformação de algo, mas o amontoado de objetos criados localmente. É através dessa colisão de objetos, desenhos, texturas e formas que a experiência se conforma e o cenário local ganha força. acredito que somente através de ações como esta é possível o enriquecimento da produção local.

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Com nome que faz alusão à fusão entre Brasil e Itália, a Associação Banana Milanesa foi criada com o propósito de

promover os eventos da Labis Design. Ela é a veia cultural da agência. A

A Deforma Mostra Design é uma iniciativa independente da Banana Milanesa e do UZZO Escritório de Arte.

Banana Milanesa promove iniciativas independentes que divulgam a cultura em suas diversas formas. Suas iniciativas fogem do óbvio, para oferecer ao público uma experiência inusitada com a arte, o design, o cinema e a música.

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Em 2013 já havia o conhecimento de como a Mostra funcionava. Os erros e acertos do ano anterior estavam na manga, mas não é por isso que o frio deixara a barriga. Henrique entrou de curador, ao lado de Paulo Peruzzo, substituindo Raffaella que esperava o primeiro filho do casal. O objetivo agora era dar mais ênfase ao formato descontraído e ampliar a participação de designers e artistas. Deu certo.

A curadoria chamou todos os artistas que haviam participado do ano anterior, que eram 35, e mais 35 novos artistas. Segundo Paulo Peruzzo, foi feita uma “curadoria afetiva”. Ele conta que a proposta foi “trabalhar justamente a pulverização da palavra design”, já que ela está em todos os lugares. Segundo ele “não podemos desrespeitar uma atitude que está vindo da rua, mesmo que isso signifique vermos por aí hair designers ou designers de sobrancelha”.

A Deforma Mostra Design 2013 aconteceu de maneira ainda mais próxima dos eventos paralelos de design mundiais, que vão além das exposições e palestras para oferecer ao público experiências diversas e descontração. Na segunda edição, a Deforma teve a participação de bandas e artistas independentes da cena musical, como a DJ Isa Todt e a banda Gringo’s Washboard Band, e de performances artísticas e desfile de moda. A Heroína de Alexandre Linhares fez uma belíssima apresentação sobre a opressão desleal da indústria sobre o trabalho artesanal, que chegou a emocionar os presentes.

O clima era de um happy hour, com barraquinhas de comida e bebida à disposição dos visitantes. Tudo isso fez com que a Deforma Mostra Design 2013 deixasse de ser apenas uma exposição de arte e cultura para ser ponto de encontro, um lugar para ver e experienciar design e ao mesmo tempo descontrair e se divertir.

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“Conseguimos sensibilizar um número maior de pessoas em torno do design e colocamos ‘na vitrine’ talentos até então desconhecidos, ao lado de personalidades do segmento. Sem dúvida, o caráter de festa que fortalecemos nessa edição, ajudou a potencializar o público do evento e a democratizar o design”, avalia Henrique Catenacci.

E a Deforma continua, este ano, em formato desta revista que você lê agora.

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Escultura de Claudio Alvarez

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Cadeiras com design de Toni Grilo para a empresa Riluc.

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Suelen - MKO & LUQ

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Performance de Heroína - Alexandre Linhares

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Desfile de Velvet Underwere por Carolina Gritten com produção de Ana Paula Luz.

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R a f f a e l l a B o n a n n i O DNA italiano da Labis Design e da Banana Milanesa é garantido pelo senso

crítico e apurado da romana Raffaella Bonanni. Com graduação em Design de Produtos na Universidade La Sapienza e especialização no Politécnico de

Milão, Raffaella adquiriu experiência com design de interiores na empresa de helicópteros customizados AugustaWestland. Em 2010, vem ao Brasil

com o objetivo de fazer nascer uma empresa multidisciplinar que fosse reconhecida como referência em design no país. Funda a Labis Design ao lado de Henrique Catenacci e Anna Carolina Catenacci Chesi. Raffaella foi

curadora da primeira Deforma Mostra Design e da instalação em Dresswall da festa de lançamento da Revista Deforma. Na Labis Design, atua como

Diretora de Design e Estratégia.

Designer de produto por formação, designer gráfico pela experiência e administrador por convicção. Mas, Henrique Catenacci nunca gostou dos rótulos e, se o projeto for interessante, ele abraça e atua com o que puder oferecer. Em período de vivência na Itália, fez um Master na Scuola Politecnica di Design e ingressou no grupo Artefice como designer gráfico, onde reforçou o conceito global de

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I design. Em 2010, de volta ao Brasil, fundou, ao lado de Raffaella Bonanni e Anna Carolina Catenacci Chesi, a Labis Design, uma agência parte da italiana Artefice Group com foco na multidisciplinaridade, onde atua atualmente como Diretor de Criação e Comunicação. Ele é um dos idealizadores da Banana Milanesa e foi, junto com Paulo Peruzzo, curador da Deforma Mostra Design 2012.

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A Labis Design trabalha com a tangibilização

de marcas. O objetivo é promover experiências verdadeiras entre marcas e consumidores. A agência faz parte do grupo italiano Artefice Group.

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Sócia-fundadora da Labis Design e da Banana Milanesa, Anna Carolina iniciou sua trajetória profissional administrando negócios de diversos ramos da família. Graduada como Publicitária pela PUCPR, fundou a Scopo Design e Comunicação, em sociedade com seu irmão Henrique Catenacci. Na sequência, Anna fez uma pausa na carreira de empresária, em prol da maternidade, e retomou o lado empreendedor ao assumir a responsabilidade de preparar o cenário para a abertura da Labis Design, em 2010. Atualmente, Anna Carolina atua como Relações Públicas da Labis e coordena os bastidores da Deforma Mostra Design.

P a u l o P e r u z z o Paulo Peruzzo é um pouco de tudo. Talvez artista seja uma forma coerente e simpática de dizer que, antes dele ser reconhecido como designer, flertou com a produção de fotografia, cenografia e montagem de showroom. Proprietário do UZZO Escritório de Arte, coleciona projetos de interiores com identidade marcante, como o restaurante Edvino, a agência Labis Design e os dois vagões de luxo do Great Brazil Express, trem que liga Curitiba a Morretes, apenas para exemplificar. Paulo foi um dos idealizadores da Deforma Mostra Design e atuou como curador em suas duas edições.

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Han van Meegeren

F a l s a a r t E ?Por Marlon Anjos

“Hamlet: Não estás vendo nada ali? rainha: absolutamente nada, mas tudo o que há eu vejo.”

O presente texto remonta fragmentos da história do falsário Hans Van Meegeren (1889-1947) que reproduziu não uma, mas várias obras primas, as quais tiveram a autoria atribuída à Johannes Vermeer (1632-1675).

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Tal feito espantador permanece uma incógnita na história da arte. As obras foram feitas com tamanha pericia que paira até os dias de hoje dúvida sobre a autenticidade atribuída a alguns trabalhos do mestre holandês - Vermeer. Meegeren, sem dúvida, é um personagem ímpar na história da arte. Ele “transformou metal em ouro” ao enganar a todos - o mercado, a crítica e o público da arte -, que acreditaram que suas pinturas eram verdadeiras obras de arte do século XVII. Demonstrou ser um personagem ímpar, que fez frente a um mundo caótico e opressor, dominado pelo Terceiro Reich, em plena turbulência da revolução da arte moderna.

Meegeren acumulou uma fortuna em dinheiro. Vendia seus quadros por um valor dez vezes maior que Picasso (1881 – 1973) e viu seus ‘Vermeers’ pendurados nos museus nacionais de maior prestígio. Bon vivant, acumulou uma fortuna estimada em 50 milhões de dólares, que foi esbanjada com muito estilo. Sem dúvida consumiu uma pequena porção de seu saque em morfina, em casas na França e na Holanda, caviar e prostitutas, whisky e perrier. Transmutou de figura de colaborador nazista para herói holandês. Só por isso, poderíamos dizer que Han Van Meegeren foi uns dos falsários

mais bem sucedidos da história da arte; porém, o que impede que suas obras, seus Vermeers, sejam consideradas genuínas?

Para justificar tal discussão, faz-se justo remontar algumas cenas de tal episódio. Com o término da guerra em 1945, confiscaram a coleção e as pilhagens de obras de artes que o terceiro Reich conquistara. Incluía 1200 quadros, entre os quais, O Astrônomo e Mulher Surpreendida em Adultério, “autênticos Vermeer”. Entre essas obras, incluíam-se seis obras atribuídas a Johannes

Vermeer, as quais não tinham sido pilhadas e sim compradas por Herschel Marechal Goering através de um agente em Amsterdã. A polícia, em uma investigação minuciosa, seguiu pistas, rastros, documentos de vendas e correspondências que o agente teria trocado com o comprador e chegou a Meegeren, elegante proprietário de um clube noturno na Holanda. Ele declarou à polícia que sua fortuna provinha da venda de seis Vermeer, que adquirira de uma família italiana. Diante disso, Meegeren foi acusado de colaborar com

Mulher Surpreendida em Adultério (1943).

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a maior aspiração da arte é revelar a natureza da obra . . .

o inimigo, e a pena para quem colaborasse com os nazistas era a morte. A única defesa possível era admitir que todos aqueles quadros eram, de fato, de sua autoria. Meegeren confessou, então, ter falsificado obras de Hals, Hoock e Vermeer, totalizando 14 obras-primas, entre as quais se incluía Cristo

e os Discípulos em Emaús. O júri, diante a confissão, duvidou, caindo em gargalhada. Han respondeu: [...] eu provo, preciso ter acesso ao meu ateliê, aos meus pigmentos, às minhas telas. E, se é para criar, preciso de morfina para manter a calma. Mas vou lhes pintar uma obra prima”. Na prisão, diante de fotógrafos, fez seu último Vermeer - O Jovem Cristo Ensinando no Templo. Após tal prova de habilidade, Meegeren foi acusado de falsificar a assinatura e a pena foi de dois anos de cárcere. Morreria, no entanto, seis meses após a sentença.

Comumente, obras que têm a autenticidade questionada simplesmente são retiradas das

galerias, impossibilitadas de participar de qualquer amostra, desprovidas do valor que um dia as institui. Somente esse fato propiciaria questionar o conceito de arte ou ainda o que havia na obra que a tornava arte. Não é crível ser apenas a assinatura do artista ou o reconhecimento da crítica.

Essa depuração, por óbvio, esbarra na reprobabilidade da conduta ilícita do falsário. Entretanto, no presente, esse elemento não será foco, pois se entende que a obra, quando terminada, aparta-se do seu criador passando a existir por si mesma no mundo. Não por outra razão esse trabalho demanda uma isenção lógica, pois se não pudermos ignorar a intenção do autor para compreender

Han van Meegeren em seu julgamento.

A Ceia em Emaús (1936-1937).

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a sua obra acabamos por influenciar o entendimento da mesma. Nesse sentido, “se o mundo não se importava com a homossexualidade de Leonardo, a sífilis de Baudelaire, o fato de Gauguin ter abandonado a esposa” , por que deveriam se importar em desvalorizar o ato de um falsário?

Se pudermos eliminar a ilicitude do falsário da equação e voltarmos a atenção para o valor da arte, mais especificamente para a arte como atributo, poderemos perceber que há a incidência de uma preocupação/solução econômica e não artística. Disso decorre a suspeita de que, na história da arte, a crítica

e o mercado - num eterno condicionamento – acabaram por purificar os sistemas da arte estabelecendo conceitos não artísticos a fim de conferir valor às obras. Talvez a arte seja mais, talvez sejam todos os elementos carreados na obra, o deslumbre, a inquietação, o estranhamento, sentimentos que não podem ser afastados pela simples conveniência e suspeição.

A maior aspiração da arte é revelar a natureza da obra, o discurso que permeia o trabalho e o transcende, passando a existir quando o outro a reconhece e surge um consenso, que convenciona seu valor artístico. É no olhar do outro que surge a afirmação que traduz algo em verdadeiro ou falso, em relação à essência da arte e também daquilo que a cerca, caracteriza e a distingue do restante.

As obras possuem um discurso fundante e um objetivo. Este, sem dúvidas, é o reconhecimento. Nas falsificações o maior argumento é o engano, contudo, admite-se que seu principal objetivo seja a “comercialização do engano”. Parte-se da premissa que argumentos legitimados fazem uma obra tornar-se ícone na arte, onde estão inertes, diluídos entre a imagem e a história, esperando serem revelados sem, contudo, perder os valores de arte.

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Leitura da mulher Música (1935-1936).

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confessar, evitando, assim, o envio de grandes números de obras aos laboratórios, os quadros desse falsário imensamente talentoso ainda estariam proporcionando prazer a incontáveis frequentadores de museus em todo mundo. Embora tenha sido um “acidente histórico”, Han foi obrigado a confessar, fazendo com que ele tenha entrado para a história como um falsário, e, como os todos falsários, tenha recebido a “morte cultural” – a censura.

No entanto, falsificou o quê? Apenas assinaturas? Os quadros de Vermeer que Hans confessou ter falsificado não são autênticos? Ora, não carregam assinaturas dos mestres do passado. O que garante, no final das contas, que a assinatura de Hans seja

Nesse sentido a obra que engana alcança a perfeição e se consuma. Logo, ambicionar despi-la desse mistério é um paradoxo, conforme apontado por Humberto Pereira: mas quem engana a perfeição, justamente, não engana, pois o engano não pode ser outra coisa senão uma falta. Se alguém realizar algo para enganar, não disser que sua obra tem por artifício enganar e esse artifício não for descoberto, não se pode dizer, sem o risco de se cair num

absurdo, que houve o engano.

Por mais lógico que possa parecer, o argumento transcrito acima não encontra eco no meio artístico. É fato que a falsificação encontra-se em campo ilícito e o falsificador é visto como mero reprodutor ou copiador, despido de criatividade , em detrimento do potencial artístico quase meta artístico presente em suas obras, que vencem o tempo e prolongam o discurso dos grandes mestres. Talvez, esse não reconhecimento decorre da torpeza do meio artístico, que se vale dos falsificadores para enganar os incautos que vêem na Arte um mero investimento.

Se Han Van Meegeren não tivesse decidido

Han van Meegeren.

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menos qualificada do que a dos mestres que falsificou? “Como não reconhecer o gênio Meegeren e não colocá-lo lado a lado com os grandes mestres da pintura holandesa do século XVII? Esse anacronismo causa perplexidade, mas se é possível dizer quais são os critérios para afirmar quem são os mestres da pintura na época de Rembrandt, a ausência de Meegeren é uma falha gritante”.

A mesma ambivalência da crítica especializada, ao se utilizar de argumentos para afastá-lo dos grandes mestres, seria consequentemente aproximá-lo de artistas conceituais. Argumentos falhos, utilizados somente para afastá-los dos grandes mestres,

seriam, por conseguinte, ambivalentes, pois, os posicionariam ao lado de Duchamp (1887 – 1968) e Andy Warhol (1928 – 1987).

A falsificação é elemento indócil para colecionadores, conservadores, historiadores e o mercado da arte, pois se recusa a utilizar as temáticas atuais de produção artísticas ao representar temas demasiadamente utilizados no passado ou por artistas antecessores, sendo rebelde, também, por se utilizar do

próprio sistema da arte para formalizar seu discurso e transferir a sua crítica ao meio. A falsificação opera com o limiar dos julgamentos morais e éticos e, por consequência, mina as verdades dogmáticas que historiadores, colecionadores e o mercado da arte constroem tanto apreço e, neste sentido, problematiza qualquer definição canônica ou hermética a respeito da genuinidade, autenticidade, denunciando a fragilidade e a torpeza do sistema imaculado chamado de arte.

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Em um recente artigo, tim brown lista cinco novas

carreiras de design para o século 21. Entre elas, destaca a

Pesquisa Híbrida de design, uma prática para quem gosta tanto de pessoas quanto de dados, como ele mesmo descreve. o

uso de métodos tradicionais de pesquisa em design ainda se

mantêm importantes, mas agora passam a ser combinados com

pesquisa de dados quantitativos e auxílio de tecnologia e

ciências exatas na formação de inteligência de projeto.

Q U E M E M P r E G a Q U E M ? Por DUCO

www.cbd.org.br www.ducontact.com

Este tipo de pesquisa em design tende a funcionar como base de decisões para gerentes de design ou gestores em suas organizações, do privado ao público. Nesta prática, os desafios vão bem além da coleta de dados. Para que sejam úteis, dados precisam ter significado. O desafio para designers reside na habilidade de analisar os dados, ratificar, cruzar referências, comprovar e apresentar a informação de maneira a torna-la valiosa na tomada de decisão.

Os gráficos a seguir são parte de um estudo complexo solicitado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e comércio Exterior (MDIC) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), onde este trabalho de pesquisa com coleta e análise de dados é demonstrado. O Diagnóstico do Design Brasileiro foi publicado em 2014 e traça uma panorama do uso de design pela indústria no Brasil, além do perfil do setor de design no país. O projeto foi realizado pelo Centro Brasil Design e contou com uma equipe de mais de 10 pesquisadores envolvidos, entre eles a equipe da DUCO. A compilação de fatos e dados estatísticos neste projeto tem como um dos objetivos informar a tomada de decisões em programas e políticas públicas ligados à incorporação do design nos setores industrial e de serviços no Brasil.

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o uso de diferentes recursos de design em setores da indústria no brasil

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O gráfico acima ilustra o uso dos diversos recursos de design em diferentes setores da indústria brasileira. Cada ícone representa um recurso diferente sendo o tamanho do ícone representativo da frequência de uso (em porcentagem) pelo setor. Por exemplo, todas as empresas do setor Têxtil e Confecção da amostra contam com uma equipe de design interna, comparando, por exemplo, com o setor Médico-odonto-hospitalar que tem apenas 31% de suas empresas com uma equipe de design interna.

Em destaque, o setor de Cerâmica de Revestimento faz uso de diversos recursos de design. Esta diversidade de práticas garante uma riqueza de ideias e inovação em uma empresa, mas também exige grande habilidade em gestão de design. Em um mercado competitivo como o de Revestimentos, é necessário possuir essa habilidade a fim de criar vantagens competitivas.

No portfólio do setor HPPC destaca-se claramente o uso de designers freelancers. O uso de designers freelancers pode ser uma indicação da capacidade limitada das equipes de design das empresas em lidar com diferentes demandas. Pode ainda ser um indicativo de falta de planejamento quando freelancers são chamados para o cumprimento de demandas repentinas.

O único setor que utiliza com mais frequência consultorias de design externas do que um departamento interno é o Médico-odonto-hospitalar. Como característica, este setor investe muito em pesquisa e desenvolvimento, mas apenas trabalha com designers externos no final de processo de desenvolvimento, para envolver suas novas tecnologias, desperdiçando oportunidade de acúmulo de know-how e potencial de inovação em seus produtos.

Fonte: Diagnóstico do Design Brasileiro, 2014. Disponível para download: www.cbd.org.br/downloads

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Por Gabrie le Moschin

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QUaNdo basta UNa o PEr FarE oooH!

Mi trovo su una comoda sedia nel ristorante La Croyance (che in francese vuole significare la credenza, il credo, l’atto del credere) all’interno di quello che si potrebbe etichettare come “il sobrio, elegante e onirico Hotel Maison Moschino” in compagnia di un cicchetot a base Hendrick’s Gin che ho richiesto con l’aggiunta di una doppia spremitura di lime, questo nell’inconcepibile tentativo di renderlo un superfluido, cioè un fluido super, dalla completa assenza di viscosità e dalla completa assenza di entropia – quel genere di liquido che, se introdotto all’interno di un percorso chiuso, scorre all’infinito – quando una visione mi accompagna e mi solleva: è così che vorrei che scorressero sempre i pensieri durante ogni sessione di drink&think, quando si cercano le idee o si pensa al bello, ed è pensando a questo che ormai alzato mi muovo e, venendo a noi, arrivo nel dehor. Mi trovo qui e il perché è presto detto. Perché voglio parlarvi di Moschino ed è così che mi va di iniziare questa fiaba.

C’era una volta Franco Moschino. C’era, perché è morto. A 44 anni, lasciandoci dopo solo un decennio di attività presso il suo marchio. Irriverente è l’attributo dello

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stilista più ripetuto da chi l’ha conosciuto o commentato. Seguono: carismatico, ribelle, anarchico. “Ho sempre ammirato la sua intelligenza viva ed eclettica, la sua tenera ironia come esercizio della mente, l’attenzione ai grandi problemi della società e, in un mondo di arrivisti, il suo essere protagonista senza fare del protagonismo” ha commentato Giorgio Armani. Per Laura Biagiotti, all’epoca della morte, spariva l’unico stilista d’avanguardia della moda italiana. Ma tra gli aggettivi, il mio preferito rimane “comunicatore”. Che dice tanto su una persona come Franco Moschino. Il quale, come l’interpretazione più poetica e fortunata dell’etimo della radice della parola “comunicazione” indica due parole: cum e munus, con e dono, e lo rappresenta restituendocelo nell’atto di venire a noi con un dono, nel momento di donare.

Da pubblicitario non posso non notare alcune azzeccatissime campagne. Quella con la modella che beve il profumo che reclamizza da una cannuccia, come fosse una Coca-Cola o un cocktail, con la headline “For external use only”. O alcune fashion tales. Come la storia della Olivia di Braccio di Ferro, nata nel 1995 mora, poi bionda per Chic Petals, eroina indiscussa che in uno dei primi spot risvegliava il suo amato spinaciofago come una Bella Addormentata dove i ruoli si sono rovesciati.

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Pront i per dove? Pront i a fare cosa? Pront i perché? Perché pront i?

Moschino special edition iphone case.

Dunque, mi piace “comunicatore” perché di là da tanto che si potrebbe dire sulla sua moda e sul suo stile, che lascio giudicare ad altri, ho amato molto la sua caparbia volontà di dire davvero qualcosa, appunto di donarci i suoi verbi di stile. Sono i suoi slogan che mi hanno incuriosito, i giochi di parole e i divertissement dissacratori, i détournement verbali e visivi, l’abilità di mescolare key visual e contesti, la sua abilità pubblicitaria. Da “Non rubare”, “La natura è meglio della couture”, “Non sono una signora”, “Ecology now, ecology wow!” fino a quelli più osati come il celeberrimo “Channel N°5” che gli costò una causa con la maison francese, “Good taste doesn’t exist”, “Waist of money”, “Stop the fashion system”, “A good copy is better than a bad original”, “Warning: fashion shows can be dangerous to your health”, “Fur for fun” e il genialoide, interrogatorio,

allusivo ed epistemologico “Ready to Where?”. Pronti per dove? Pronti a fare cosa? Pronti perché? Perché pronti?

Oggi questa tradizione concentrata sulla comunicazione, votata al titolo memorabile, precisa nel copywriting e che mette in discussione il fashion system è rimasta ancora molto marcata. Anzi, dopo Franco Moschino è diventata ancora più profonda con il successore della sua succeditrice e assistente Rossella Jardini, ovvero

l’americano classe ‘75 Jeremy Scott: brillante, furbo, fortemente indipendente e abbastanza unconventional, che già si faceva notare per essere un po’ ribelle e un po’ pop rispetto alla fashion industry inquadrata con il grandangolo.

Nel dettaglio, due sfilate del ready to wear [o where?] di Moschino con la direzione creativa (non si dice più stilista, oggi si dice direttore creativo, come per le advertising and commutication agencies, che è colui che raccoglie il lascito in termini di brand identity

del marchio di moda e fa le veci del genio dello stilista per gli anni dopo il suo addio) di Jeremy Scott a me sono piaciute particolarmente per il loro sapore ibrido, postmoderno, baumaniamente liquido, a metà strada tra la presa in prestito e la presa per il culo delle metonimie logotipiche. Ed ecco che sfilano per la Spring 2015 delle Barbie plastic fantastic in enormi parrucche bionde platino e rossetto bubblegum pink, giacchette di pelle fucsia e minigonne in esplicito riferimento alla regina delle

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bambole, il giocattolo-icona della Mattel che come dice la sua bio, non dimentichiamolo, è stata Designed to inspire. Ma perché Barbie? “Barbie è perfetta, veste ogni outfit, fa tutti i lavori, è sempre piena di gioia”. Insomma perché Barbie è un assoluto di positività. Un dio benefico che porta felicità. E questa felicità si concretizza in una corsa sui roller della modella Charlotte Free che pattina sulla passerella, nei gadget lasciati agli astanti: una case per iPhone 5 con tanto di specchio (una trovata che fa letteralmente “riflettere” sul peso dei volumi di vendita generati dall’entry level nel

della sfilata con una T-shirt oversize la cui headline recita: “Moschino for ages 5 and over”… ça va sans dire.

Eppure, proseguendo a ritroso, forse, ancora più sorprendente in termini di capitalizzazione degli asset di valore di un brand (preso in prestito) è il caso della contaminazione di Moschino con McDonald’s (un po’ preso per il culo). Qui Jeremy Scott viola l’ortodossia del fashion system sublimando tutte le citazioni colte dei couturier nel falò dissacrante del kitsch e del trash, pasticciando come un novello Bansky sui muri e chanellizzando il logo della catena di ristoranti di hamburger e fast food più grande del mondo smussandone le gambe per ricondurci al cuore simbolo di Moschino. E poi il carrozzone continua, Scott lo fa ancora

e ancora con Budweiser e Frito-Lay. E infatti scatena gli applausi, Kate Perry in primis (a cui si aggiungo le consumatrici di alto profilo Rihanna, Lady Gaga, Nicki Minaj, Miley Cyrus. Che dire? Noi niente. Ci pensa sempre lui, Jeremy Scott a essere, come dichiara: “Delicious and nutritious…”.

Ecco, forse, Franco era meno demagogico nelle sue scelte di stile, perché, a conti fatti, quando avevano fatto capolino anche i modelli à la SpongeBob un po’ il segno si era passato. Però gli applausi fioccano e continuano a fioccare, il carrillon prosegue nel suo giro, il mondo non si ferma, nessuno va per terra e la fiaba di Moschino continua.

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mondo di marca, entry level garantito da questi accessori; tant’è che quasi si potrebbe dire che ormai il mercato degli accessori sta oggi al prêt-à-porter come il prêt-à-porter stava all’haute couture, in un meccanismo di apertura verso il basso che sta all’opposto delle logiche moda e lusso di trading up [cfr. Chanel] che stratificano verso l’alto escludendo chi sta in basso…) ma anche al modellino in plastica della rinomata bambola griffata Moschino. Ah, nota a piè pagina: Jeremy Scott esce alla fine dalle quinte

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o processo de criação é muito enriquecedor quando feito em conjunto: estamos aprendendo e trocando experiências quando trabalhamos com outros criativos. Mas peraí, isso não precisa acontecer exclusivamente dentro de uma agência ou estúdio de design, também pode acontecer entre amigos que se inspiram mutuamente.

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Essa é a premissa do Criatipos: quatro amigos e designers autônomos com interesses em comum e habilidades complementares que, um pouco cansados de trabalharem cada um no seu canto, resolveram criar para si uma vida paralela em grupo. Cristina Pagnoncelli, Cyla Costa, Eduílson Coan e Jackson Alves, cada um com sua especialidade, mas com muitas coisas em comum.

Crist ina Pagnoncel l i

ideia é o que não fal ta , pois quatro cabeças pensam bastante .

A ideia surgiu em agosto de 2013, quando começamos a nos reunir para tomar cerveja, treinar uma caligrafia aqui, um lettering ali e trocar ideias sobre conhecimentos e técnicas. Pensamos num nome que refletisse nosso foco em desenho de letras e, depois de muitas ideias (às vezes bastante ridículas - por exemplo, o título desta matéria), chegamos em Criatipos. Ok, funciona! Logo surgiu a primeira oportunidade de trabalharmos os quatro em um projeto comissionado.

Desde o início, não era nossa ideia criar um coletivo. Não nos consideramos uma empresa ou um estúdio de design. Consideramos o Criatipos nossa

giz, tinta, colagem, caligrafia e o que mais possa despertar nossa curiosidade.

Ideia é o que não falta, pois quatro cabeças pensam bastante, mas também precisamos encaixar os projetos nas agendas e na localização geográfica de cada um. 2014 foi um ano internacional para todos nós, mas conseguimos estar juntos algumas vezes e pintar letras em lugares novos e incríveis. Pode ser que falte tempo,

vida profissional paralela, na qual nos divertimos e nos realizamos em projetos comissionados ou pessoais e sempre de forma leve e prazerosa. Para nós quatro, foi importante resgatar o processo manual na criação e execução dos projetos, que às vezes é deixado de lado nos projetos de design. Assim, começamos a experimentar várias técnicas e formatos em trabalhos em

Cartão de visitas do Criatipos.

Goddam Phenomenal World.

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dinheiro, compatibilidade de agenda e ideias, mas nunca vontade de criar e tentar novos caminhos.

Cada projeto que fazemos juntos tem seu tema e estética próprios. Projetos para clientes e os tão queridos projetos pessoais, ou, no nosso caso, grupais. Algumas vezes, dependendo do tamanho do projeto, não estamos os quatro envolvidos. Já criamos em dupla ou trio, mas geralmente todos participam da concepção e ideias iniciais. Olha, e temos mesmo que gostar muito uns dos outros, pois os projetos Criatipos normalmente levam dias de convivência e trabalho intenso. Essa parte tiramos de letra, nada que um copo de cerveja gelada pós-trabalho não resolva, esses são sempre os melhores momentos. Para nós, é muito importante registrar bem nossos projetos,

pois processo é tudo quando se trata de projetos manuais. Isso acabou virando uma característica nossa e contribuiu muito para o reconhecimento e divulgação do nosso trabalho. O quinto elemento do Criatipos é o fotógrafo Ricardo Perini, que está junto conosco faça chuva ou faça sol e captura cada momento de criação Criatipos em fotografia e vídeo.

Que venham muitas paredes pela frente!

Cristina Pagnoncelli, Jackson Alves, Cyla Costa e Eduílson Coan.

Perhappiness - homenagem do Criatipos ao Paulo Leminsky em NY.

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Muitos artistas visuais já foram designers, diretores de arte, ilustradores. alguns ainda conciliam a produção artística a outro trabalho, um por amor, outro pelo “ganha-pão”.

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Monica Piloni

Isso não é uma regra, apenas um dado curioso sobre os artistas e suas diferentes formas de se expressar. Arte, arquitetura e design servem de fetiche entre si? Ou o acesso à arte está maior agora, com o aquecimento de feiras internacionais e exposições acessíveis ao grande público - vide a expo de fotografias da Frida Kahlo no Museu Oscar Niemeyer, que aconteceu este ano em Curitiba, com constantes filas de expectadores ávidos para ver...arte! A longa estrada de galeristas e curadores já estabelecidos e a abertura de novas galerias

também são indicativos de que as pessoas querem mais arte em suas vidas. E o que, afinal, é arte? Seja na fotografia, na pintura, escultura, instalação, performance ou tantos outros formatos, na arte a criatividade acontece em torno de questionamentos que beiram a filosofia, o pertencer à sociedade, ao universo. É algo que se encontra acima dos parâmetros estipulados por uma sociedade de consumo. A arte é inteiramente livre e existe como expressão dos homens desde o início de seu desenvolvimento, há mais de 10 mil anos! Então, como achar difícil entender sobre arte? É simples, a arte não existe para ser entendida e sim para ser sentida, como expressão livre, sublime, intriga e questiona mais do que traz respostas prontas. Fiz algumas perguntas à apenas alguns dos grandes artistas de Curitiba. Destaquei alguns trechos interessantes. Confira!

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a Minha pesquisa é sobre a imagem, sobre a fotografia. Procuro produzir imagens (fotográficas ou não) que possibilitem que o espectador reflita sobre este tema.

Funciono muito por fases, hoje estou completamente apaixonado pelos trabalhosdo Charles bergquist e as fotografias do davi sayer.

se fosse para levar uma peça de arte a uma ilha deserta, levaria uma instalação do Ernesto Neto. É confortável e daria para captar água, mas não sei se resistiria aos elementos.

Pinturas a óleo, com influência de pintura clássica e artes gráficas dos séculos XiX e XX. Esculturas e objetos. Uso a linguagem figurativa, embora não me prenda à lógica do cotidiano o que acarreta em uma carga surreal que permeia as obras.

arte, em minha opinião, é para estar na praça e no museu à disposição do público; nem livros tenho mais (em casa).

antonio Wolf f - antoniowolf f .com

Jaime si lveira - ja imesi lveira .com

Pierre lapalu - pierrelapalu .com

rafael s i lveira - rafaels i lveira .com

Gustavot - behance .net/gustavotdiaz

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Por Paulo Peruzzo

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Por Ana F láv ia Bassett i

o #streetartrio identifica, mapeia e compartilha obras de artistas de rua por meio de ações colaborativas. a ideia é reunir em um só lugar - streetartrio.com.br - os registros de obras, fotográfico e em vídeo, de amantes da streetart na cidade do rio de Janeiro.

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Aliada à identificação de artistas e à localização das obras, esse projeto promove a divulgação e facilita o acesso à StreetArt, difundindo, integrando e democratizando o repertório cultural e criativo do Rio de Janeiro. Obras, artistas e locais são disponibilizados e atualizados à medida que as ruas se transformam, permitindo que admiradores conheçam a riqueza das formas e cores que dialogam com as questões socioculturais da cidade.

A iniciativa - da agência criativa Touch e do artista carioca Rafo Castro - atraiu a atenção da mídia e ganhou o apoio institucional da Prefeitura do Rio de Janeiro que, através do Instituto Eixo Rio, investe na expansão do projeto, visando engajar artistas e a população em um movimento contínuo e permanente de acesso e difusão da StreetArt.Inicialmente, o projeto é exclusivo para as obras do Rio de Janeiro, mas, no futuro, o movimento acontecerá em outras cidades e estados, reforçando seu caráter colaborativo.

Deforma: Quantas pessoas colaboram, em media, semanalmente com o projeto?

#StreetArtRio: Varia muito do que esta acontecendo na cidade, mas em media são de 100 a 150 imagens postadas com a hashtag #streetartrio.

D.: Um dos objetivos é o de criar rotas para visitação das obras, como um museu a céu aberto. Essas rotas já foram traçadas?

#: Algumas foram traçadas sim. Estamos criando muitas ainda, mas a grande maioria das rotas contemplam somente uma determinada área da cidade e a ideia do #StreetArtRio é valorizar a StreetArt na cidade como um todo, portanto estamos vendo possibilidades de criar algumas novas. Em breve teremos novidades, pois o trabalho não para.

D.: O projeto resultou no Decreto n° 38307, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Como foi isso e o que o fato auxiliará os artistas e a arte de rua, no Rio?

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Rafael Calazans Pierro - Highraff

#: O Decreto apoia o #StreetArtRio como a ferramenta de mapeamento da StreetArt na cidade do Rio de Janeiro. Ter um apoio institucional deste é muito importante, principalmente por ser um projeto totalmente independente. Para os artistas, a nosso ver, o decreto vai sempre auxiliar. Ele serve como o “carimbo” de aprovação de que a cidade necessita da StreetArt e compartilha desse movimento.

D.: O projeto já resultou em apoios da iniciativa privada para a StreetArt no Rio?

#: Recebemos algumas propostas, mas estamos estudando quais delas tem mais sintonia com nossa visão de futuro para o projeto.

D.: Pensam em outras iniciativas, como oficinas ou mesas redondas?

#: Claro! Sempre pensamos em expandir e compartilhar esse conteúdo rico que a StreetArt nos revela no dia-a-dia. Oficinas e mesas de discussão sempre são uma boa forma de trocar e ampliar o alcance deste conteúdo e principalmente do movimento. Propor uma interação maior ao redor do tema é sim um ponto no nosso plano de futuro próximo.

D.: Vocês pretendem expandir para outras cidades brasileiras. Já fizeram contatos com artistas de rua nessas cidades? Eles estão aderindo?

#: Começamos em São Paulo somente com o uso da hashtag #streetartsp e a adesão está sendo maior do que esperávamos, já que não divulgamos muito. Percebemos que cada local tem suas particularidades e comportamentos em relação à StreetArt. A relação do paulista é bem diferente da do carioca.

D.: Já existe algum contato em Curitiba?

#: Temos vários contatos em Curitiba. A exposição “Risco” do Rafo Castro, que é um dos fundadores do #StreetArtRio, foi na galeria Teix, no Batel Soho. A relação dele com Curitiba é de longa data. Ele já participou de alguns projetos e fez alguns trabalhos na cidade. Temos alguns bons amigos artistas/produtores por essas bandas daí.

O projeto é colaborativo. Precisa tanto das pessoas quanto a StreetArt de Curitiba precisa ser reconhecida. Começar a mapear a arte de rua de Curitiba usando a hashtag #streetartcwb é um começo. Vamos?

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… tudo vai depender da umidade e calor da região para o cultivo do algodão. Por ser uma planta que necessita de pouca quantidade de água, deve-se realizar o plantio entre novembro e maio, assegurando-se assim a colheita para a época das secas, geralmente com sementes “tratadas” com fungicidas e inseticidas.

Por Alexandre L inhares

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Você acredita na moda?

Como as folhas no momento do máximo florescimento precisam cobrir toda a superfície de solo entre as fileiras, respeitam-se espaçamentos de 80 x 20 cm, com uma ou duas plantas por cova, sendo de cinco a quinze plantas por metro linear, num total de um milhão de hectares destinados à sua cultura (10.000.000.000m² recebendo veneno em sistema de monocultura. Vale pontuar que neste sistema de plantio, quando se derruba uma grande área de cerrado para plantação, animais como tamanduás, emas e lobos-guará têm dificuldade para se alimentar, não encontrando abrigos e dificilmente conseguindo se reproduzir. Os poucos sobreviventes acabam migrando para as cidades e acarretando tantos outros desastres quase impossíveis de serem analisados em

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curto espaço de tempo). O algodão produzido na Paraíba é comparado em qualidade ao algodão egípcio - e a cultura convencional desta fibra utiliza 25% de todos os agrotóxicos fabricados no mundo, oito vezes mais do que na indústria de alimentos (para você vestir uma camiseta, por exemplo, são utilizadas aproximadamente 160g de pesticidas). O cultivo orgânico é um paralelo a essa produção, tendo consciência tal que o filho de um agricultor pontuou: “não podemos usar

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Tudo que é vida no globo vai se recuperar em algum momento mesmo depois da degradação, porém, de imediato, esses resíduos impedem a passagem de luz solar na água, onde não será mais possível a vida e também o consumo. Quando destruímos o todo à nossa volta, precisamos ter consciência que não estamos agredindo a natureza ou “matando bichinhos indefesos”, mas sim tornando o ambiente inóspito para a vida humana na Terra. Estamos contaminando o nosso próprio alimento, nossa água, nosso solo, nosso ar. Parece que de repente acontece uma pasteurização e tudo isso some dos nossos olhos e nossa mente com a iluminação pensada na loja do shopping, com a belíssima campanha numa página de revista e no final de

tudo, o que importa mesmo é a marca bordada eletronicamente, com seis agulhas e mil pontos por minuto, na altura do peito no lado esquerdo da camiseta.

veneno na lavoura porque o veneno mata as formigas e são elas que afofam o nosso solo” - mas essa é outra história... A produção é em sua maioria é familiar, e mães e filhos estão expostos ao câncer, alergias respiratórias, diabetes, distúrbios de tireoide, depressão, aborto e Mal de Parkinson, devido ao contato direto com veneno. No fabrico convencional de uma peça de roupa, de 15 a 20% do tecido é desperdiçado no corte, mais 5% em filetes de costura e alguns tantos centímetros nos ajustes e barras, sendo a fabricação de roupa um dos processos mais poluentes do planeta. O consumo de água é demasiadamente grande, com significativo nível de toxicidade escoada diretamente em rios e córregos, com presença de amido, proteínas, substâncias gordurosas, surfactantes, produtos auxiliares no tingimento e corantes.

Você vê sentido na maneira com que escolhe a roupa que vai vestir? Você entende o que te motiva no exato momento da compra? Você acha legal trocar de roupa porque ela caiu de moda? Você acredita na moda?

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Por Vadeco Schett in i

iNtro: Minhas considerações neste texto

não têm nenhuma pretensão acadêmica, política ou cultural.

Escrevo estas frases de maneira quase randômica, tentando sintetizar, “displicentemente”, a minha visão em relação à música e aos sons que

preenchem nossa vida.

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Part b O som e a música preenchem o espaço e nos permitem ter sensações sem nenhuma legenda ou direção, simplesmente pelo fato de determinadas frequências atingirem nosso ouvido fazendo nosso tímpano vibrar, passando por uma tal de cóclea e se transformando em impulsos nervosos que são transmitidos e interpretados pelo cérebro. Em milésimos de segundo nosso corpo reage com lembranças, vontades, raiva, medo, esperança, paixão.

Tenho a desconfiança de que o jeito mais rápido de se chegar à determinada emoção é através do som, talvez por uma herança genética “sonora-simbolista”. Estranho? Explico. No início dos tempos auditivos dos primeiros “espectadores”, que andavam sem fones de ouvido no planeta, o som grave de um trovão significava destruição, medo, proteção, e por algum motivo genético essa informação ficou intrínseca no DNA do ser humano e é aplicada (talvez) inconscientemente nos estilos musicais e construções sonoras, afinal, será que não existe algo de “trovão” no doom metal?

Agora um exercício, compartilhe comigo. Imagine um vídeo com uma câmera na mão em plano-sequência andando por uma casa abandonada, SEM SOM! O câmera-man passa por quartos sujos e velhos, com teias de aranha penduradas entre as portas, janelas quebradas e muito pó nos móveis antigos. Imaginou isso sem som? Ok.

Agora imagine a mesma cena com uma trilha sonora grave, com caixinha de música tocando uma melodia infantil desafinada (clichê), barulho de portas e pisos rangendo, respirações ofegantes, corvejar de corvos, gritos distantes... ARGGHHHHHH !!!!!

Sugiro que depois de ler o texto você ouça algo interessante como Brian Eno, Steve Reich ou Ryoki Sakamoto, onde música e desenhos de som se transformam num veículo sensorial e invisível que nos transporta para lugares e paisagens dentro de nós mesmos.

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Part a Posso dizer, com toda segurança, que nunca ouvi ninguém dizer a frase: “Eu não gosto de música”. Conheço pessoas que gostam deste ou daquele tipo de música e algumas pessoas que se dizem apaixonadas pela arte sonora “independente do estilo”, os chamados “ecléticos”, mas todo mundo tem alguma afeição emocional, estética ou social com a musiké téchne, ou arte das musas.

Essa relação entre nossos ouvidos, caixas de sons, fones de ouvidos, rituais religiosos ou pistas de dança transcende conceitos como mercado, mp3, Domingão do Faustão ou o vizinho baterista. É algo atemporal. Desde que o homem começou a andar ereto pelas invioladas paisagens do início dos tempos o som foi o veículo de comunicação entre os seres humanos. De alguns Arghh, Uga Uga e murmúrios guturais, nascem as primeiras sonoridades. A linguagem e a comunicação começam a se desenvolver passando pelas primeiras experiências de assoprar bambus e bater em rudimentares tambores até chegar naquilo que entendemos hoje como música ou sound design.

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Você com certeza terá a sensação de medo, e é aí que está o conceito de Desenho de Som: recriar e proporcionar ao espectador uma emoção específica, que pode ser usada de diversas maneiras, seja a favor da dramaturgia de um filme ou a favor de uma tendência de mercado.

bridGE Toda sonoridade criada, seja música, sound design ou cantos ritualísticos, está diretamente ligada a um produto final. Ela é funcional, criada e desenvolvida para determinado “fim”. Porém, cuidado! Pois é através dos “meios” que ela nasce.

Assim como a arquitetura das catedrais influenciou o estilo de composição do cantochão, canto gregoriano ou o cantus firmus, as pistas de dança e as “loucuras” noturnas influenciaram o desenvolvimento da música eletrônica. Nos dois casos os elementos utilizados para a construção sonora foram escolhidos em função do “fim” e com a interferência das condições do “meio”, sejam elas físicas ou sociais.

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CHorUs (sing it at loud) Yeahhh !! Yeahhh !!! Independente de qualquer teoria que possamos criar a partir dessas palavras! Independente de qualquer ideia que possamos ter a partir dessas paradas! Todos nós queremos poder ouvir algo que nos transporte, que nos conforte, que nos faça forte!

solo Pense num solo de guitarra. De quem é? Que lembranças esse solo te trouxe? Onde você estava? Dirigindo? Pulando? Correndo? Bebendo? Beijando? Feliz?

Part a’ É isso. Não sabemos muito bem por que o ser humano tem essa relação tão afetuosa com a música e com as sonoridades. A música muitas vezes é como um carimbo de um momento. Nos marca mais que uma fotografia, pois as sensações físicas que a lembrança de uma canção nos traz nos faz reviver aquele momento como se fosse um arquivo executável de sentimentos já vividos.

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sica -

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Part b’ Cada elemento sonoro dentro de uma música tem sua função espacial. Imagine as frequências mais graves como o alicerce de uma casa, bumbo, baixo, pads, fazem a base de tudo que virá por cima. As frequências médias são os cômodos da casa, elas nos dão a sensação de forma. Sim, a música tem forma! As frequências mais agudas são os telhados, acabamentos e samambaias penduradas em nossa residência sonora. A música tem forma, ela se desenvolve horizontal e verticalmente. Se ela tem forma ela pode ser representada graficamente, seja através de partituras convencionais, desenhos malucos ou riscos numa folha de papel quadriculado.

Coda No fim de tudo, a música e o som estão ligados às nossas emoções, estados de espírito. Alimentam-nos a cada dia, nos contam histórias, nos impulsionam, nos confortam e deixam a vida da gente um pouco mais colorida. Então, se você tem o dom de poder ouvir, ouça com atenção. Descubra o que te faz bem dentro do espectro de frequências possíveis, busque compreender e perceber. Aproveite as paisagens sonoras e boa viagem.

agradecimentos

Aphex Twin, Brian Eno, Cocteau Twins, Daniel Lanois, Egberto Gismonti, Faith no more, George Harrison, Hans Zimmer, Infectious Grooves, Jorge Falcon, Kraftwerk, Led Zeppelin, Michael Jackson, NIN, Outkast, Pink Floyd, Quincy Jones, R2D2, Sepultura, The Beatles, Underword, Vina Lacerda, Waltel Branco, X-Men, Yousson N Dour, Zappa.

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i s a t o d tPor Ana F láv ia Bassett iFotos Ravi Pimentel

isa todt sempre circulou pelas ruas da arte. Formada em Pintura pela EMbaP – Escola de Música e belas artes do Paraná, ela é maquiadora, deejay, produtora e hoje está à frente - ao lado de Flavia Pietro e tato Cappora - do Paradis Club, uma casa noturna moderna e cosmopolita com atmosfera dos nightclubs das décadas de 60 e 70.

O club oferece festas temáticas para os gostos musicais mais apurados, do northern soul aos batuques de bambas, e recebe gente interessante em um clima de muita energia boa. Há tempos Curitiba não tinha uma casa com tanta personalidade.

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U M a c o r :

U M l i v r o :

U m í c o n e d e m o d a :

a m o r :

U M f i l m e :

s á b a d o a n o i t e :

U M ( a ) a r t i s t a :

U m a b a n d a , c a n t o r o u c a n t o r a :

U M a m ú s i c a :

a r t e p / m i m é :

U M s a b o r :

U M a c o m i d a :

U M p r o g r a m a P a r a F a z E r a d o i s :

E M u m d o m i n g o d E s o l :

M ú s i c a p a r a m i m é :

“ VERMELhO ”

“ ENSA IO SOBRE A CEGUE IRA” .

“ Chane l ” .

“ Yu r i ” .

“A l t a f i d e l i dade ” .

” PARAD I S , C L ARO ” .

“MARLENA ShAW” .

“ PODE DAR UMA L I S TA? ” .

“ CA L I FORN I A SOUL” .

“ TUDO , AR TE É V IDA” .

“ S A LGADO ”

“MASSA”

“COZ INhAR , VER F I LMES E CONVERSAR . ”

“ Eu não t enho t i do mu i t o s dom ingos de so l e , a l ém d i s so , eu mo ro

em Cu r i t i b a ; ) . Mas eu f a r i a um p i quen i que , s e eu t i v e s se t empo . ”

“ Tr aba l ho , d i v e r são , en t r e t en imen to . . . d i f í c i l

d e f i n i r . . . mús i ca é a r t e e a r t e é t udo , en t ão

mús i ca é p r a t i c amen te t udo . ”

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d e u s :

U m a f r a s e :

U m a v o n t a d e :

E s p i r i t u a l i d a d e :

U m m e d o :

J u n t o o u s e p a r a d o ?

U m d i a p r a l e m b r a r :

U m d i a p r a e s q u e c e r :

t r a b a l h o :

F i l h o s :

N ã o v i v o s e m :

P a r a p a s s a r d o s 3 0 b e m :

d a q u i d e z a n o s :

“Bom , gos toso , ó t imo ” .

“ Sou a t e i a ” .

“Keep the f a i t h ” .

“ V i a j a r ma i s ” .

“ Só o sou l s a l v a . ”

“ F i lmes de t e r r o r ” .

“J un to ” .

“ O d i a em que conhec i a

Sha ron J ones . ”

“A desped i da do meu pa i . ”

“ Tr aba l ho é e sco l ha , qua l i dade . A gen t e

t r aba l ha t an to , en t ão t em que se r

d i v e r t i do , t em que t e r amo r ” .

“ T á na po r t a j á . O Yu r i que r t e r

f i l hos , e v amos t en t a r daqu i um

ano . S e r o l a r , r o l ou . ”

”Mús i ca , amo r , d i nhe i r o

e maca r r ão . ”

“ Se f o r no sen t i do f í s i co , nada , po rque

eu não f aço e xe r c í c i o s . Mas pa re i de

f uma r , con t a né? Acho que é v á l i do não

se p r eocupa r com a i dade e v i v e r cada

momen to de f o rma ún i ca . ”

“ Eu p r e t endo co l he r o s f r u t o s de

t an to t r aba l ho . ”

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Isa

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iraN’s booMiNG CoNsUMEr CUltUrE

During his visit to Cuba in 2012, former Iranian president Mahmoud Ahmadinejad said that “[t]hankfully we are already witnessing that the capitalist system is in decay, on various stages it has come to a dead end — politically, economically and culturally.” But the changes that have been taking place in Iran in the last few years seem to contradict this.

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Despite slow mobile internet connections, high prices for imported – most of the time smuggled – technological products and the constant governmental censorship of the media, Iranians are frantically buying smartphones, tablets and flat screen TVs. Shopping has became a near obsessive ritual for young people, and especially women, who have now turned to buying beauty products and high-end western brands to fill in the void of entertainment options and to “rebel” against the array of restrictions they are subjected to.

the most promising economies of the 21st century – and perhaps the next China . . .

dott . Richard Javad heydar ian

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Even if traditional Grand bazaars continue to be the favourite places to shop for regular Iranians they now face competition from huge shopping malls, which were erected in the outskirts of major cities across the country. And these offer western-style hypermarkets, international brands and colourful gaming arcades to list just a few temptations.

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In his recent opinion piece for Al Jazeera, Dott. Richard Javad Heydarian described Iran “as one of the most promising economies of the 21st century – and perhaps the next China”, a lion ready to awake.

Perhaps “the lion“ is getting ready – In the last few months we have witnessed improved relations between Iran and the West, while the upcoming negotiations for the lifting of the sanctions could pave the way for even more changes in the country and consequently also within the region.

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F E t i C H EPor Fet iche Design

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d e s i g n

No processo de concepção e fabricação de objetos, o fetiche.

Criá-los para serem desejados, mas mais do que isso, acrescentá-los de significados que ultrapassem seus valores estéticos ou meramente funcionais. Tal conceito é o que inspira o casal Paulo Biacchi e Carolina Armellini da Fetiche Design, empresa curitibana de mobiliário, decoração e consultoria de tendências. O estúdio possui um vasto currículo de premiações e exposições, nacionais e internacionais, alem de inúmeras publicações em revistas do segmento.

www.fetichedesign.com.br

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a GENtE traNsForMa YaWaNaWÁ a ForÇa da FlorEsta

A vivência do projeto aconteceu na Floresta Amazônica. O designer Marcelo Rosenbaum juntamente com os designers Paulo Biacchi e Carolina Armellini, do estúdio Fetiche Design e André Bastos, representando o estúdio Nada Se Leva, se reuniram com 78 artesãos moradores das Aldeias Nova Esperança e Amparo, e lá produziram, em um processo de co-criação, 9 luminárias feitas a partir de miçangas de vidro, material familiar ao artesanato indígena desde os tempos do contato com o homem branco. A coleção foi comercializada nas onze lojas da La Lampe e o lançamento aconteceu na Semana de Design de Milão.

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EXo CHair

O exoesqueleto de um inseto é a cutícula resistente que cobre seu corpo, fornecendo proteção para os órgãos internos e suporte para os músculos. Foi com base nesse conceito que a Fetiche Design criou a Poltrona EXO para a Schuster. “Procuramos manter no projeto as características do conceito que traçamos, criamos uma poltrona com uma concha visualmente leve, rígida e de certa forma articulada. Além da preocupação com o conforto brincamos com a sensação de proteção da concha”. Estruturada por triângulos de madeira e revestimento em couro, a concha se encaixa nos pés através de conexões em madeira maciça.

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baNCo r540

Podemos atribuir esta criação à “inspiração” ocasional certamente. Lembrando de uma antiga brincadeira de ligar os pontos em uma folha de papel, percebemos o quanto aquilo era interessante. A união de linhas retas formavam curvas perfeitas, sentimos que daquela brincadeira podíamos criar algo realmente novo.

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ColEÇÃo EGo

De tiragem limitada, a Coleção Ego materializa um novo estudo da dupla da Fetiche em torno do belo. Um trabalho conceito realizado para a marca Artimage. Uma desconstrução de um ícone da beleza, do narcisismo, da perfeição, o espelho. Os designers propõe a desfiguração da reflexão e criam um espelho poluído, manchado, incompleto. O resultado é instigante, cada peça é única. Os designers estudaram a formulação química do espelhamento e em seu atelier testaram e produziram litros de compostos químicos para aplicação nos vidros.

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V E N t i z E r o N o V E

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Por VENTIZERONOVE

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V E N t i z E r o N o V EVentizeronove è l’anno in cui costituiscono il loro studio.

Sonia Mion nasce sui laghi di montagna verso la Svizzera e Nicola Iannibello sul golfo del Mar Ionio. Milano è geograficamente un giusto compromesso, e la loro sede è una ex filanda ristrutturata un pò studio e un pò luogo d’incontri, sul tavolo da lavoro si alternano mac e cestini da pic nic, li troverai sempre pronti a tirar fuori una tovaglia a quadri. Il loro lavoro spazia tra corporate identity, editoria, illustrazione, packaging, branding. Ma la creatività non alimenta se stessa, e i viaggi sono un modo per stimolarla. Sonia e Nicola girano il mondo con lo zaino in spalla, sfogliano guide e orari del bus mentre un bento box laotiano diventa nella loro mente il punto di partenza di un packaging e un decoro visto su una matriosca i primi tratti di un logo.

www.ventizeronove.it

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dEPUraVita

Nuovo brand di Juice Detox, primo nel suo genere in Italia. Seguendo il progetto dalla nascita, anche in questo caso, abbiamo sviluppato il marchio e la sua immagine cercando di raccontare tutti gli elementi caratterizzanti del prodotto: freschezza, semplicità, immediatezza, vivacità, diversità e rispetto per se stessi. Siamo così arrivati all‘immagine completa di una serie di succhi diversi, per ogni momento della giornata, abbinati a un packaging leggero e contraddistinto dal colore e dalla semplicità.

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asK GallErY

Aşk Gallery, è un marchio di design di prodotto che interpreta le antiche visioni estetiche e filosofiche della Turchia con uno sguardo contemporaneo. Aşk in lingua turca significa amore, inteso come l’unico mezzo attraverso cui ogni cosa può trasformarsi e innalzarsi a un livello divino. Il lavoro è partito dalla progettazione e studio del logo e di un’immagine che rispecchiasse il mondo di Aşk (Turchia + tradizione + modernità).

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Abbiamo sviluppato materiali di corporate Identity, pieghevoli/brochures, company profile, per passare poi alla realizzazione di packaging appositi adatti per la varietà di prodotti della collezione. In parallelo abbiamo realizzato lo shooting fotografico e lo sviluppo del sito e dell’ e-commerce, per concludere questa prima fase, con il lancio del marchio al Salone del Mobile 2013, con l’allestimento di uno spazio nel circuito del Fuori Salone. Un lavoro decisamente completo di cui siamo felici di aver avuto la possibilità di seguire tutte queste fasi.

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Premiado por seus trabalhos em teatro, Cinema e tV, luis Melo construiu uma carreira sólida desde sua formação na

Fundação teatro Guaíra.

Trabalha, desde 1985, no eixo Rio-São Paulo, mas nunca cortou os seus laços com Curitiba, onde atuou por anos como ator e professor de teatro. Em 2002, já conhecido nacionalmente, fundou em Curitiba – ao lado

de Nena Inoue e Fernando Marés - o ACT (Ateliê de Criação Teatral), voltado à formação e experimentação nas artes cênicas, que funcionou até 2008. Agora, está comprometido com o Campo das Artes, onde empresta sua experiência e capacidade de criação e ensino para artistas em busca de uma arte mais simples e humana, mais comprometida com o processo de criação do que com o resultado final. O Campo das Artes fica em São Luiz do Purunã – PR, onde Luis Melo vive hoje.

Deforma: Mesmo trabalhando muito no eixo Rio - São Paulo você sempre deu um jeito de voltar para Curitiba. Do que sente mais falta?

Luís Melo: Primeiro, da qualidade de vida, da condição que Curitiba oferece para criar. Por exemplo, São Paulo e Rio são vitrines para o trabalho,

mas falando de lugar para criar, para desenvolver algum projeto a médio e longo prazo, Curitiba oferece muito mais condições. É uma cidade tranquila, de fácil locomoção e onde você consegue produzir arte com qualidade, a preços justos. No Rio e em São Paulo você perde muito tempo

Por Ana F láv ia Bassett i Fotos Leekyung Kim

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Cur i t iba tem uma coisa muito forte , a gente não consegue se desl igar muito dela . E la é uma mãe poderosa .

respondendo às solicitações sociais, tempo esse que poderia estar sendo dedicado à criação. E mais, Curitiba é uma cidade onde você ainda consegue visitar as outras artes, e isso para o artista é fundamental. Existe aqui uma abertura, sem a contaminação do grande centro, como São Paulo, onde você é obrigado a dar certo para sobreviver. Aqui você pode arriscar, pesquisar e experimentar mais. Eu sinto muita falta desse lado de Curitiba.

D.: Muita gente tem percebido isso e está retornando à Curitiba?

L.M: Sim, esse é um movimento muito importante. Pessoas que estavam na Europa, América, Rio, São Paulo, estão retornando à Curitiba e esse movimento está ajudando a dar uma outra cara para a cidade. Antes era tudo muito invernal, muito fechado. Hoje, você vê essa coisa da mesa pra fora, de ocupar os espaços públicos.

Esse movimento de tirar as pessoas do shopping e levá-las para a rua. A coisa do pouco recurso, mas com charme, foi dando outra cara para a cidade. Eu acho que isso tem muito a ver com o retorno das pessoas. Curitiba tem uma coisa muito forte, a gente não consegue se desligar muito dela. Ela é uma mãe poderosa. Então, se você pode vir e tentar coordenar essas duas coisas: esse lado tirânico de Curitiba em relação a fincar raízes e ao mesmo tempo

conseguir ter um pouco mais de liberdade, de propor coisas novas para a cidade ou resgatar o que realmente é importante para Curitiba - e não uma falsa imagem de Curitiba que a gente sabe que se vende lá fora – você acaba ficando aqui, ou voltando sempre.

D.: O que você acha que falta em Curitiba?

L.M.: Acho que falta as pessoas não terem pudores em divulgar o que se faz, o que se cria, o que se produz em Curitiba. Acho que

falta esse orgulho. Porque tudo o que se produz aqui é da mais alta qualidade. Falta saber valorizar aquilo que se produz aqui. E não falo só artisticamente, falo de divulgar os nossos profissionais, em todas as áreas.

D.: Curitiba é culturalmente irrelevante no país?

L.M.: Existe um jogo que é engraçado. Às vezes, o Paulo Leminski é mais lido lá fora

Luis Melo e Edwin Luisi no espetáculo Terra de Ninguém.

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Às vezes alguém me fala: “Você não trouxe sua ultima peça pra cá, essa que tá em cartaz no rio, são Paulo?”, e eu respondo: “a peça estreou em Curitiba”.

do que aqui, o Dalton e tal. Às vezes alguém me fala: “Você não trouxe sua ultima peça pra cá, essa que tá em cartaz no Rio, São Paulo?”, e eu respondo: “A peça estreou em Curitiba”. Muitas vezes, enquanto ela está aqui não há interesse, mas quando ela passa a acontecer fora ganha visibilidade. Há também outro lado: há uma imagem lá fora de que a arte paranaense é muito incentivada aqui, o que é mentira. Ela recebe muito bem quem vem de fora, mas o que se produz aqui não é incentivado. Por exemplo, o Festival de Teatro de Curitiba tem uma mídia nacional impressionante, e para isso é gasto muito dinheiro, enquanto as companhias daqui não tem estrutura. A força de Curitiba está no elemento humano, nos artistas e no movimento que eles fazem.

D.: Então o trabalho artístico paranaense e curitibano é relevante, mas não recebe incentivo?

L.M.: Fora o Leminski, o Dalton Trevisan, que conseguem de uma forma ou de outra romper um pouco essa barreira de espaço e serem traduzidos para todos os lugares, existe uma dificuldade. Existe o trabalho bom, mas não existe incentivo para que o artista possa romper. É irrelevante, então, porque as pessoas conhecem muito pouco do que é produzido aqui, porque não tem divulgação.

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eloL.M.: Falta. Falta as pessoas

se colocarem mais. Falta elas acreditarem naquilo que estão fazendo e cobrarem um posicionamento não só do poder público, mas da imprensa. É cobrar um pouco mais desse orgulho de ser paranaense, não digo nem curitibano. O paranaense do interior tem mais orgulho do que o curitibano. E também fazer um exercício prático. Por exemplo: “Por que eu vou dar minha casa pra um arquiteto de fora se aqui eu tenho ótimos arquitetos?”. Estrangeiros vêm e compram as cerâmicas dos nossos artistas com deleite e utilizam aquilo no seu dia-a-dia. Eles compram, valorizam, levam ao exterior. Outro exemplo foi a inauguração da Praça de Bolso do Ciclista, que foi amplamente comentada no facebook. Gente que não é daqui dizendo: “Nossa, isso tem que servir de exemplo pro resto do país porque é uma iniciativa muito legal”, mas quem é daqui às vezes nem está sabendo, porque muitas vezes a imprensa daqui não acha relevante.

D.: Então as iniciativas existem, mas falta reconhecimento e conhecimento. Que outras iniciativas você citaria?

L.M.: O projeto de vocês, a Deforma. O Croquis Urbanos que, além de produzir arte, está registrando o patrimônio da cidade, oque ajuda inclusive a proteger esse patrimônio.

Luis Melo no espetáculo Terra de Ninguém.

Por exemplo, o Cristóvão Tezza. A partir do momento em que ele foi para uma editora muito maior, todo mundo soube dele e agora muita gente conhece sua obra. Eu falo nesse sentido de conseguir romper isso, como o Festival de Teatro de Curitiba fez por Curitiba na época e hoje as artes cênicas já vêm buscar valores aqui.

D.: O curitibano fica feliz quando vê artistas daqui serem reconhecidos nacionalmente como você, como o Leminski, o Dalton... Quem mais?

L.M.: Não são pessoas, são movimentos. Dalton e Leminski são fenômenos, não dá pra colocar junto. A questão é que, além desses dois gênios, existe uma literatura da melhor qualidade aqui, de contistas, de poetas. O mercado editorial, com revistas e jornais como o Nicolau, a revista Medusa que

era produzida aqui também. Todo esse material virou uma referência nacional, falando de artes gráficas. Têm pessoas que colecionam, são coisas raras da melhor qualidade. Mas se você falar sobre isso aqui em Curitiba, pouquíssimas pessoas conhecem.

D.: Falta uma personalidade para Curitiba?

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Unindo as frentes culturais você consegue construir uma cultura de consumo de cultura em geral.

Luis Melo e Caco Ciocler no espetáculo Terra de Ninguém.

O movimento do Bosque da Casa Gomm. São movimentos que mostram que você não precisa fazer uma praça superfaturada, você pode fazer pequenas praças e as pessoas podem começar a frequentar as praças dos seus bairros. Na realidade a gente não precisa dessa energia gasta como, por exemplo, foi gasta com a Copa. Aquela Praça do Atlético era incrível e agora está lá, jogada. E para arrumar vai gastar mais dinheiro.

D.: Você acredita nesse movimento da população pela cidade, como os Croquis e a Praça de Bolso do Ciclista. Os seus projetos - o ACT e agora o Campo das Artes – têm um pouco disso?

L.M.: O Campo das Artes é um projeto de vida, mas eu não tenho nem intuito de administrar aquilo. Eu trabalho muito com as necessidades, e acho necessário um projeto como o Campo das Artes aqui. Eu saí de Curitiba para

fazer um tipo de teatro que eu não encontrava aqui. Até porque, para fazer o que você gosta você precisa de uma visibilidade, então você vai para um meio comercial, que para nós é a televisão, para que você continue fazendo o que gosta de fazer de verdade, a tua paixão. Eu lembro que quando o Rimon (Guimarães) pintou a parede lá do ACT pra mim, ele só pediu tinta e um espaço para ele fazer e mostrar o trabalho

dele. Isso te emociona, mas ao mesmo tempo entristece porque esse artista apaixonado é o mesmo que teve que sair daqui para ser reconhecido. Enquanto nossos artistas saem daqui e vão pintar lá fora para serem reconhecidos, “nós” apagamos o que eles fazem aqui, como o grafite dos Gêmeos que apagaram aqui em Curitiba. (Um grafite da dupla Os gêmeos, na Praça 19 de Dezembro, foi apagado para dar lugar à fachada do comitê de campanha eleitoral da deputada estadual do PSDB Mara Lima).

D.: Então o campo das artes é uma iniciativa para dar esse espaço aqui?

L.M.: Isso. É claro que não podemos competir com o teatro profissional de Rio e São Paulo, que tem mais público e maior incentivo, mas podemos fazer um trabalho ótimo de teatro de experimentação aqui. Quando eu criei o ACT eu vi que era possível fazer esse

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trabalho aqui – que Curitiba era ideal para isso - e que ele poderia render frutos. O ACT promoveu a integração de pessoas e a criação de muitas companhias que existem até hoje. Então, antes muita coisa nascia aqui e morria aqui, agora já acontece um trabalho de continuidade. O Brasil passou a voltar seus olhos para Curitiba, e os profissionais do teatro paranaense são, hoje, muito concorridos no Brasil todo.

D.: Então o ACT cumpriu com o objetivo?

L.M.: Sim. Ele despertou o interesse e agregou pessoas de todas as artes. Não era só teatro, eram artistas plásticos, poetas... E isso é muito importante, porque unindo as frentes culturais você consegue construir uma cultura de consumo de cultura em geral. Além disso, o ACT deu a liberdade necessária para os artistas criarem. A gente viu que esse lado de Curitiba, de não massacrar o artista, era importante. Aqui ele tinha tempo de criar, recriar, errar, voltar e fazer de novo.

D.: E o campo das artes visa essa liberdade de tempo, também?

L.M.: O Campo das artes é um espaço de residências artísticas para que as pessoas possam ter mais tempo para a criação, para que não sejam esmagadas pelas necessidades que o mercado impõe. Então, no Campo das Artes, o artista tem um espaço para criar e sair dali com a tranquilidade para tomar novos espaços. Um espaço como o Campo das Artes também cria esse espírito otimista e orgulhoso do que se faz aqui, essa energia que nos diz “Dá para fazer”, “Vamos fazer”.

Luis Melo no espetáculo Terra de Ninguém.

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r E F E r Ê N C i a d ar E F E r Ê N C i a

Por Dado Queiroz

Como é comum a muitos profissionais, minhas primeiras referências vieram da infância e adolescência. tive a imensa sorte de minha mãe contar com habilidades artísticas que me inspiraram muito e de, frequentemente, ela nos presentear com livros sobre arte.

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Por Dado Queiroz

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The Unexpected Answer (1933) René Magritte

Spider-Man - Todd McFarlane.

Cleveland Clinic Lou Ruvo Center, Las Vegas.

Relativity (1953) M. C. Escher

Além disso, tive uma fase intensa de quadrinhos mainstream, de onde lembro em especial de Todd McFarlane. Depois, na minha breve passagem pelo curso de Arquitetura, vieram Frank Lloyd Wright, Gaudí, Mondrian e Gehry.

Lembro, então, de crescer em meio a inúmeras perspectivas e estudos desenhados à mão por ela, para seu escritório de Design de Interiores.

Dos livros, lembro da fascinação por Magritte, Dalí e, especialmente, Escher, e de me dedicar à eles muito mais do que aos livros escolares.

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As primeiras referências específicas de Design Gráfico vieram apenas depois de entrar na faculdade de Programação Visual: Dave McKean, David Carson e a revista Emigre, que considero a maior responsável pela minha apreciação do desenho de fontes e letterings, além de formas diferentes de entender design, como a crença de que a suposta neutralidade do design moderno é uma ilusão. Dos diversos profissionais que passei a conhecer pela revista, foram os trabalhos (e textos) do próprio editor Rudy Vanderlans e de Ed Fella que me marcaram mais.

Hoje em dia, evito referências diretas enquanto estou em um projeto, pois elas tendem a me influenciar demais, tornando qualquer possibilidade de originalidade muito menos provável. Em vez disso, tento deixar que as minhas experiências, essas referências fundamentais dos meus anos de formação, as inúmeras peças que vejo diariamente e as características específicas de cada projeto se misturem de alguma forma subconsciente, na esperança de que disso surja algo minimamente original e interessante de se trabalhar, em vez de apenas mais uma variação do que já existe. É um objetivo audacioso, mas não custa ao menos tentar.

Da produção contemporânea, tenho acompanhado o trabalho da Wasted Rita, pela filosofia de rua, do Alex Trochut, por extrapolar os limites do lettering, e da lenda James Victore, pelo comprometimento em formar as novas gerações, sem contar a força bruta do seu trabalho.

Dave McKean: capa para “A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica”

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Fotos tiradas por Dado Queiroz durante viagens, experiências que servem de referência para seus trabalhos.

dadoqueiroz.com be.net/dadoqueiroz instagram.com/dadoqueiroz @dadoqueiroz

Viajar também é uma enorme fonte de inspiração para mim, com o perdão do cliché. A maior parte das minhas fotos de viagem é formada por fachadas de prédios e letreiros. Cinema, literatura, design de objetos, fotografia e música, especialmente música, completam o pacote.

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Por FURF

Existe como viver em bela harmonia a poesia do design e o mercado. Não desejamos algo pela sua parte material, mas sim pelo significado, prazer, alegria e outros benefícios intangíveis que desfrutaremos através dele. A-tra-vés. Design é apenas o meio, um canal que permite transformar um momento cotidiano em pura poesia. Uma dança nostálgica entre o usuário e o objeto.

O Design, nas suas mais diferentes áreas, detém o poder de transformar muitos momentos da nossa vida. Não apenas do consumidor final, mas de

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todas as pessoas que se envolveram no desenvolvimento de um projeto. É impressionante o poder de transformação e contágio que um projeto tem, assim como um vírus, um “bom vírus”. Quanto mais gente conhece e se envolve com um bom produto, maior o número de pessoas contagiadas, dispostas a ajudar no desenvolvimento e a compartilhar a sua história.

Cremos que o bom design é acessível, compreensível e admirado pelo máximo de pessoas possíveis, de moradores de favelas a curadores da Semana de Design de Milão. Criamos para consumidores e com a indústria, devemos pensar nas necessidades e principalmente desejos dessas duas partes. Cada vez é mais comum encontrarmos designers que criam coisas para outros designers. Eles são conhecidos no meio do Design e quem não admira suas criações é “ignorante”. Será que o real ignorante não é quem de fato ignora a existência do mercado e da grande importância do Design? Bom design vende e/ou estrategicamente aumenta o valor percebido de uma marca. Simples assim. Criar somente para alimentar o ego do submundo do Design é tão útil quanto um chef criar um prato lindo que não pode ser comido, ou que até pode, mas tem um gosto horrível. Quem cria possui uma poderosa ferramenta para a transformação de muitas

pessoas, que pede para ser usada com paixão e responsabilidade. Quem cria, transfere um pouco das suas crenças, amor, beleza e poesia para suas criações, sendo muitas as que continuarão existindo mesmo depois da nossa existência. Quem cria engana a própria morte, tendo a chance de colaborar na imortal poesia da vida. Sendo assim, citamos uma provocativa pergunta de Robin Williams, no filme Sociedade dos Poetas Mortos: “Qual será o seu verso?”.

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a r t E d i G i t a lPor Ale Mazzarolo

Tenho uma confissão a fazer… escrever um artigo ainda é mais árduo do que o dia-a-dia em um estúdio de criação, pensando e produzindo arte digital. Trabalhar com formas, cores ou dar um novo sentido às imagens ainda flui mais do que me expressar por através das palavras.

O que mais me interessa é a imagem e todas as possibilidades que ela poderá ganhar ao ser transformada e editada. Mais do que produzir essas imagens, vê-las conquistando espaço nas casas e fazendo parte da vida das pessoas é ainda mais gratificante.

O mercado de arte digital se expandiu e criou um movimento do qual eu faço parte, com artistas flertando entre a arte e o design, produzindo híbridos e comprovando que o computador foi o instrumento que transformou a nossa sociedade e cultura como nenhum outro, nas últimas décadas.

A arte digital define a época em que vivemos. Ela agrupa todas as manifestações artísticas realizadas através do computador. Suas raízes encontram-se na matemática e na informática. Pode-se definir a produção digital como arte quando conceitualmente se utilizam as possibilidades de um computador ou da web com um resultado que não seria alcançável através de outros meios.

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loUma das principais formas de expressão de arte digital, a manipulação de imagens, sobretudo de fotografias, consiste em elaborar uma edição aperfeiçoada e visível, que vai além das mudanças de cor ou corte. Semelhante a essa categoria, a ilustração digital, por sua vez, se utiliza de vetores para definir primitivas formas geométricas, transformado-as, também, em arte.

Pois bem, para entender o início desse movimento precisamos nos ater a dois acontecimentos ocorridos na década de 60. Primeiro, um número cada vez maior de artistas

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saiu do conceito de obra única e começou a produzir em pequenas ou grandes tiragens. Foi a partir daí que o grande público passou a ter acesso às diversas formas de arte. Já a arte digital começa a ser percebida como tal, a partir de fevereiro de 1965, quando Georg Nees realiza a primeira exposição sobre gráficos feitos em computador.

No contexto mais abrangente da arte, a arte digital pode compreender as produções denominadas webarte, netarte, ciberarte, bioarte, gamearte, instalações interativas,

mídias locativas e outras atividades relacionadas. Assim arte, design, arquitetura, moda, cinema, música e mídia convergiram para um único canal que faz com que o homem comece a exercitar seu olhar para formas de expressão antes não percebidas.

Como os outros artistas, passei a construir meu repertório de criação através de experiências e experimentos com forma, cor e tecnologia, sempre atento às tendências e buscando referências na cultura em geral. Num mundo totalmente conectado, nada tem mais a ver do que ser um artista digital.

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Por Gabrie le Moschintradução Ana F láv ia Bassett i e Raf fael la Bonanni

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CoM QUaNtos “os” sE Faz UM oooH!

Estou sentado em uma cômoda cadeira no restaurante La Croyance (que em francês significa “a crença”, “a fé”), um lugar que poderia ser descrito como “o sóbrio, elegante e onírico Hotel Maison Moschino”, e tenho como companhia um drink à base Hendrick’s Gin que pedi com o dobro de lima, na tentativa inconcebível de transformá-lo em um “superfluído”, um fluído super, com completa ausência de viscosidade e de entropia – aquele estilo de líquido que, se introduzido em um percurso fechado, flui em direção ao infinito – quando um pensamento, que passa há pouco a me acompanhar, me chama a atenção: é assim que eu gostaria que fluíssem minhas sessões de drink&think, quando se está em busca de ideias e se pensa ao belo. E é pensando nisso que, já em pé, vou até a varanda. Estou aqui, e digo logo por quê. Porque quero falar de Moschino, e me parece justo começar assim esta história.

Era uma vez Franco Moschino. Era, porque está morto há 44 anos. Deixou-nos apenas uma década depois de começar seu trabalho como estilista. Irreverente é a qualidade mais lembrada e repetida por quem o conheceu de perto ou escreveu sobre ele, seguida

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de carismático, rebelde e anárquico. “Sempre admirei sua inteligência viva e eclética, a doce ironia que exercita a mente, a atenção aos grandes problemas da sociedade e, em um mundo onde todos buscam destaque, seu protagonismo natural” comentou Giorgio Armani. Para Laura Biagiotti, quando Moschino partiu, partia o único estilista da vanguarda da moda italiana. Porém, entre os adjetivos, o meu favorito continua sendo “comunicador”, que conta muito sobre uma pessoa como Franco Moschino. “Comunicador”, com uma interpretação mais poética e uma análise etimológica mais bem sucedida, pode ser traduzido em duas palavras, do latim: cum e munus = com e dom, “com dom”, que descreve Moschino enquanto restitui à sua obra o amor, o dom, com o qual ele nos presenteia.

Como publicitário não posso deixar de notar algumas campanhas extremamente

certeiras. Aquela com a modelo que bebe o perfume no canudinho, como se fosse uma Coca-Cola ou um cocktail, e a headline “For external use only” (Somente para uso externo). Ou alguns fashion tales, como a história da Olivia Palito, nascida na marca em 1995 morena, que depois ficou loira para o perfume Chic Petals. Indiscutível heroína que, em um dos primeiros filmes publicitários, acorda o seu amado com o perfume. Uma espécie de Bela Adormecida, só que com os papéis trocados e com a Olívia Palito como protagonista.

Portanto, eu gosto de “comunicador” porque além das tantas coisas que podemos

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Prontos para onde? Prontos para fazer oque? Prontos por quê? Por que prontos?

Case para Iphone Moschino edição especial.

dizer sobre sua moda e seu estilo, eu amo muito sua obstinada determinação a dizer e transmitir alguma coisa de verdade, ele nos presenteia com o seu estilo verbal. Foram os seus slogans que chamaram a minha atenção, os jogos de palavra e a espécie quase profana de divertir, o détournement* verbal e visual, a habilidade de misturar key visual e contextos, a sua habilidade publicitária. De “Non rubare” (Não roubar), “La natura è meglio della couture” (A natureza é melhor do que a alta-costura), “Non sono una signora” (Não sou uma senhora), “Ecology now, ecology wow!” (Ecologia agora, ecologia uau!), até aqueles mais ousados como o célebre “Channel N°5”, que lhe custou uma causa judicial com a maison francesa, “Good taste doesn’t exist” (Bom gosto não existe), “Waist of money” (Cintura – brincando com waste que significa perda - de dinheiro), “Stop the fashion system”(Parem o sistema fashion), “A good copy is better than a bad original” (Uma boa cópia é melhor do que um

original ruim), “Warning: fashion shows can be dangerous to your health”(Aviso: desfiles de moda podem ser perigosos para a sua saúde), “Fur for fun” (Casaco de pele para divertir) e o genial, inquisitivo e epistemológico “Ready to Where?” (Pronto para Onde?, em alusão ao Ready-to-wear = Prêt-à-porter). Prontos para onde? Prontos para fazer oque? Prontos por quê? Por que prontos?

Hoje, essa tradição focada na comunicação, que investe em

uma redação precisa e títulos memoráveis e que coloca em discussão todo o Fashion System é ainda muito reconhecida. Aliás, depois de Franco Moschino e de sua assistente e sucessora Rossela Jardini, ela está ainda mais enraizada com o americano Jeremy Scott: brilhante, esperto, extremamente independente e suficientemente não convencional, que já chamava atenção por ser um pouco rebelde e pop em relação ao Fashion System.

Dois desfiles do ready-to-wear [ou where?] de Moschino com a direção criativa (não se fala mais em “estilista”, mas “diretor criativo”, como

nas agências de comunicação e publicidade, que é aquele que recolhe o legado da identidade da marca e cuida para que a genialidade do estilista não se perca, por anos, depois do seu adeus) de Jeremy Scott me agradaram particularmente pelo sabor híbrido, pós-moderno, “baumaniamente” líquido, por estarem entre o

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*Détournement: é um conceito que fala sobre a possibilidade artística e política de tomar algum objeto criado pelo capitalismo ou pelo sistema político hegemônico e distorcer seu significado e uso original para produzir um efeito crítico.

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“apenas pegar emprestado” e o “pegar emprestado e ainda tirar um sarro”. No desfile de Primavera/Verão 2015, desfilam Barbies plásticas fantásticas em enormes perucas loiras platinadas e batom rosa chiclete, casacos de pele rosa choque e minissaias, em explícita referência à rainha das bonecas, um ícone da Mattel que, como conta sua biografia, foi criada para inspirar - Designed to inspire. Mas por que Barbie? “Barbie é perfeita, veste qualquer outfit, trabalha com todas as profissões, está sempre transbordando alegria”. Ou seja, porque a Barbie é “A” representante da positividade. Um deus benéfico que traz felicidade, e essa felicidade se vê na modelo Charlote Free que desliza em seu roller pela passarela, nos gadgets presenteados aos espectadores: um case para

vestindo uma T-shirt oversize onde se lê: “Moschino for ages 5 and over” (Moschino, para quem tem 5 anos ou mais)… ça va sans dire, evidente.

No entanto, voltando, ainda mais surpreendente em termos de capitalização do valor patrimonial de uma marca (pega emprestada) é o caso da contaminação (sarcástica) da Moschino com o McDonald’s. Aqui, Jeremy Scott viola a ortodoxia do fashion system quando queima todos os aspectos cultos deixados pela alta costura na fogueira do kitsch e do trash, aprontando como um jovem Bansky e “chanelizando” o logo da maior cadeia de fast-food do mundo que, com um movimento aqui e outro ali, acaba por se transformar no coração símbolo da Moschino. E a história continua, Scott fez

o mesmo com Budweiser e Frito-Lay. No fim, desencadeia aplausos e mais aplausos, primeiro de Kate Perry. Depois juntam-se a ela consumidoras de alto nível como Rihanna, Lady Gaga, Nicki Minaj, Miley Cyrus. O que podemos dizer? Nada. Jeremy Scott está sempre à frente sendo, como ele mesmo declara, “Delicious and nutritious…” (Delicioso e nutritivo).

Talvez Franco tenha sido menos demagógico nas suas escolhas de estilo porque, fazendo um balanço, no instante em que apareceu o primeiro modelo à la Bob Esponja, a Moschino já havia passado do limite. Mas os aplausos continuam, a vida segue, o mundo não para e a fábula de Moschino continua.

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iPhone 5 com espelho (uma sacada que nos faz literalmente “refletir” sobre o peso das vendas garantidas por esses acessórios que hoje, pode-se dizer, são para o prêt-à-porter o que um dia o prêt-à-porter foi para a alta costura, em um mecanismo de abertura para baixo, direção oposta à lógica de moda e luxo tradicional [vide Chanel] que mira acima, excluindo quem está abaixo...), e também no modelo boneca de plástico, assinada por Moschino. Ah, não podemos esquecer: Jeremy Scott sai, no fim do desfile,

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Por Thomas Cr istofol let i tradução Rafael Pompeo

Durante visita a Cuba, em 2012, o ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou: “ainda bem que nós já estamos testemunhando a decadência do sistema capitalista. Em muitos aspectos, ele já chegou num beco sem saída – politicamente, economicamente e culturalmente”.Porém, as mudanças que têm acontecido no Irã nos últimos anos parecem ir contra esta afirmação.

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Apesar de conexões lentas de internet móvel, altos preços de produtos importados (muitas vezes contrabandeados) e de produtos tecnológicos e da censura constante da mídia pelo governo, os iranianos estão num frenesi de compras de smartphones, tablets e TVs de tela plana. As compras se tornaram um ritual quase obsessivo para as mulheres jovens, que começaram a comprar produtos de beleza de marcas do mundo ocidental. Tudo isso para preencher o vazio causado pela falta de opções de entretenimento e para se “rebelarem” contra a série de restrições às quais elas estão sujeitas.

Uma das economias mais promissoras do século XXi , ta lvez a próxima China . . .

dott . Richard Javad heydar ian

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Ainda que os grandes bazares continuem sendo os lugares prediletos para os iranianos fazerem suas compras, esses locais já começam a sofrer com a competição dos grandes shoppings construídos nos arredores das maiores cidades do país. Esses shoppings oferecem hipermercados como os do mundo ocidental, marcas internacionais e galerias cheias de cores, com videogames e outras tentações.

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Em declaração recente para a rede de TV Al Jazeera, Richard Javad Heydarian, especialista em política e economia na Ásia e Oriente Médio, descreveu o Irã como “uma das economias mais promissoras do século XXI, talvez a próxima China, um leão pronto para acordar”.

Talvez “o leão” esteja se preparando. Nos últimos meses, presenciamos melhorias nas relações entre o Irã e o Ocidente, enquanto iminentes negociações para a abolição das sanções acontecem para abrir caminho para mais mudanças no país e, consequentemente, na região.

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Ventizeronove é o ano de nascimento do estúdio.

Sonia Mion nasce em local próximo aos lagos montanhosos vizinhos à Suíça, e Nicola Iannibello no Golfo do Mar Jônico. Milão é geograficamente agradável a ambos, e a sede da empresa é uma ex-fábrica de fios reformada, um pouco estúdio, um pouco ponto de encontro. Sobre a mesa i-mac’s e cestos para piquenique. Esses últimos estão sempre à mão, prontos para deixar escapar uma toalha quadriculada. O trabalho caminha entre a criação de identidades coorporativas, editoria, ilustração, packaging e branding. Mas a criatividade não se auto alimenta, e as viagens se transformam em uma forma de estímulo. Sonia e Nicola giram o mundo com uma mochila nas costas, folhando guias turísticos e horários de ônibus, enquanto uma Bento Box (porção de comida japonesa embalada para uma pessoa) se transforma em ponto de partida para um packaging e uma pintura de matriosca os primeiros traços de um logo.

www.ventizeronove.it

Por VENTIZERONOVE tradução Ana F láv ia Bassett i e Raf fael la Bonanni

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Nova marca da Juice Detox, primeira do ramo na Itália. A marca foi desenvolvida num processo onde procuramos contar todos os elementos característicos do produto: frescor, simplicidade, praticidade, vivacidade, diversidade e respeito por si mesmo. Assim, chegamos a uma série completa de diversos sucos, para todos os momentos do dia, apresentados em uma embalagem leve, que se diferencia pelas cores e pela simplicidade.

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Aşk Gallery é uma marca de design de produto que interpreta as antigas visões estéticas e filosóficas da Turquia com um olhar contemporâneo. Aşk em turco significa amor, amor entendido como o único meio através do qual qualquer coisa pode se transformar e se elevar a um nível divino. O trabalho partiu da criação do logo e de uma imagem que traduzisse o mundo Aşk (Turquia + tradição + modernidade).

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Foram desenvolvidos os materiais coorporativos, folhetos/brochuras, perfil da empresa, para depois desenvolver o packaging adequado para a variedade dos produtos da coleção. Em paralelo, fizemos as fotos e o desenvolvimento do site e e-commerce, para o lançamento da marca no Salão do Móvel de Milão de 2013, com a construção de um espaço no circuito Fuori Salone. Um trabalho completo, do qual sentimos orgulho.

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