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Vanguarda A melhor dramaturgia pode estar na TV pública, por André Pellenz #naprática Conselheira Evelin Maciel conta como ficou a integração de redações na Câmara dos Deputados Fonte primária Akemi Nitahara, empregada da EBC, avalia o alcance da Agência Brasil em sites como Carta Capital, Veja e Uol Reportagem REVOLUÇÃO DAS MÍDIAS Como a EBC é vista em tempos de convergência digital Edição nº 4 - Dezembro 2014

Revista do Conselho Curador - 4ª edição

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Publicação semestral do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

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Page 1: Revista do Conselho Curador - 4ª edição

VanguardaA melhor dramaturgia pode estar na TV pública, por André Pellenz

#napráticaConselheira Evelin Maciel conta como ficou a integração de redações na Câmara dos Deputados

Fonte primáriaAkemi Nitahara, empregada da EBC, avalia o alcance da Agência Brasil em sites como Carta Capital, Veja e Uol

Reportagem

REVOLUÇÃO DAS MÍDIAS Como a EBC é vista em tempos de convergência digital

Ediçã

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2 Empresa brasil de comunicação

editorial

Um diagnóstico sobre o setor de Comunicações hoje, no Brasil, deve ser elaborado, forçosamente, à luz do cenário de convergência tecno-lógica.

Com efeito, notáveis desenvolvimentos tecnológicos recentes fize-ram convergir mídias clássicas de informação e entretenimento, como o rádio, a televisão e até mesmo o jornal, com as telecomunicações e a informática como suportes a um sem número de novas aplicações. Áu-dio, texto, imagem e dados transitam em profusão inédita, via cabos e satélites, subvertendo a separação convencional dos serviços e dos pro-dutos de comunicação.

Essas novas possibilidades de fluxos de conteúdos trazem desafios em diversos níveis. Por um lado, implicam alteração do modelo de ne-gócios das empresas de radiodifusão e de telecomunicações, bem como a concepção, por reguladores e legisladores, de um quadro normativo adequado a esse novo ambiente.

De outra parte, internamente às empresas de comunicação, essa nova atualidade está nos obrigando a repensar procedimentos e a redesenhar os processos produtivos, de modo a instaurar uma nova dinâmica de co-laboração e compartilhamento de plataformas e conteúdos.

Por seu impacto e consequência no ambiente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a 4ª edição da Revista do Conselho Curador dedi-ca-se a discutir como a empresa tem se adequado a essas novas realida-des. Em outras palavras, sua matéria de capa examina de que maneira a EBC tem integrado seus conteúdos e plataformas. Vamos falar sobre novas tecnologias, cultura digital, questões trabalhistas que afetam os jornalistas multimídias e trazer exemplos do mercado e de outras emis-soras públicas.

A Revista apresenta ainda uma análise do cineasta André Pellenz sobre a dramaturgia na TV pública; um artigo da Professora Iluska Cou-tinho sobre o jornalismo público pautando a mídia; um estudo sobre a Agência Brasil feita por Akemi Nitahara, funcionária da empresa e a colaboração de dois conselheiros, Evelin Maciel e Mário Jakobskind, abordando temas como a integração de conteúdos na Câmara dos Depu-tados e a importância da regulação da mídia.

Por fim, uma retrospectiva das atividades do Conselho este ano e um artigo da ouvidora-geral da empresa, Joseti Marques, sobre a criação de uma ouvidoria interna na EBC.

Esses os temas que o Conselho Curador traz à reflexão dos leitores, com foco especial na discussão sobre a cultura da convergência na EBC. Do tratamento que a empresa conferir a essa integração de plataformas e conteúdos parece depender o futuro de seu projeto de comunicação pública.

Boa leitura!Ana Luiza Fleck Saibro

Editora-executivaPriscila Crispi

EditorMariana Martins e Guilherme Strozi

Reportagem e artigosAna FleckAnderson RibeiroAndré PellenzAkemi NitaharaEvelin MacielGuilherme StroziIluska CoutinhoJoseti MarquesMariana MartinsMário JakobskindPriscila Crispi

FotografiaAgência Brasil (Antonio Cruz, José Cruz), Ana Elisa Santana, Arquivo Marke-ting, Divulgação Câmara, Eduardo Castro, Guilherme Strozi, Jorge Felz, Mar-cus Vinicius Fraga, Raul de Lima e Istock .

Ilustração e Infografia Antonio Trindade, Júlia Costa, Cadu Veloso e Lia Magalhães.

Projeto gráfico e diagramaçãoLuciana Durans

CONSELHO CURADOR | EBCAna Luiza Fleck Saibro (Presidente)Rita de Cássia Freire Rosa (vice-presidente)Ana Maria da Conceição VelosoCláudio Salvador LemboClelio Campolina DinizDaniel Aarão Reis FilhoEliane GonçalvesEvelin MacielHeloisa Maria Murgel StarlingHenrique PaimIma Célia Guimarães VieiraJoão Jorge Santos RodriguesJosé Antônio Fernandes MartinsMaria da Penha Maia FernandesMário Augusto JakobskindMarta SuplicyMurilo César Oliveira RamosPaulo Ramos DerengoskiRosane Maria BertottiTakashi TomeThomas TraumannWagner Tiso

SECRETARIA EXECUTIVA DO CONSELHO CURADORGuilherme StroziMariana MartinsPriscila CrispiRaquel Fiquene

DIRETORIA-EXECUTIVA | EBCDiretor-PresidenteNelson Breve

Diretora Vice-Presidente de Gestão e RelacionamentoSylvio Andrade

Diretor-GeralEduardo Castro

Procurador-GeralMarco Antônio Fioravante

Diretora de JornalismoNereide Beirão

Diretor de ProduçãoMyriam Porto (Interina)

Diretor de Conteúdo e ProgramaçãoEduardo Castro (responde pela Diretoria de Conteúdo e Programação)

Diretor de Administração, Finanças e PessoasClóvis Curado

Diretor de Negócios e ServiçosAntonio Carlos Gonçalves

Ouvidora-GeralJoseti Marques

Secretária-ExecutivaSílvia Sardinha

Não é questão de escolha

ConselhoRevista do

Curador

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Índice

www.facebook.com/conselhocuradorebc

twitter.com/ConselhoCurador

Critique, participe e opine!

09Notas do Conselho Curador

Dia a dia do Conselho 06

Matéria de capa 10 Programação

em debate 22

24Coluna acadêmica

Palavra da Ouvidoria 28

32Fala, conselheira!

Trabalhadores e Trabalhadoras 04

O Conselho Curadorestá nas redes sociais!

36Curadoria

Fala, conselheiro!30

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Trabalhadores e Trabalhadoras

A Agência Brasil

veículos on-linecomo fonte de informação

para outros

4

Por Akemi Nitahara, jornalista da EBC

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não a trata como agência de notícia. A repu-blicação de textos, sob licença creative com-mons, é muito grande em alguns veículos, como o Correio Braziliense, que chegou a utilizar 82% das matérias da ABr em um dos dias analisados.

Além das pautas diferenciadas, há tam-bém muita procura por pautas chamadas de “serviço”, onde os veículos e o leitor bus-cam informações práticas, como calendário do Enem ou da restituição do Imposto de Renda. Também há muita republicação de temas “oficiais”, como índices econômicos do IBGE e FGV e notas da ANP e Anvisa.

Apesar de a comu-nicação pública ainda ser um tema desco-nhecido da população brasileira em geral, a Agência Brasil cumpre seu papel como veícu-lo público de comuni-cação e segue o que determina as diretrizes impostas pela lei de criação da EBC e pelo Manual de Jornalismo.

Para medir a im-portância e o real alcance da Agência Brasil, é necessário que esse trabalho seja feito com mais perio-dicidade. O ideal é que a empresa decida os sites prioritários para análise e dedique al-guns funcionários para

fazer esse levantamento diariamente. Embo-ra muito trabalhoso, o levantamento não é impossível de ser feito e pode ser facilitado com a criação de método e rotina específi-cos. Dessa forma, será possível ter material consistente e constante sobre o aproveita-mento do trabalho da Agência Brasil e o real alcance da agência pública de notícias, em um campo ainda com pouco estudo a respei-to que é o conteúdo livre na internet.

5Revista do Conselho Curador

A Agência Brasil é uma fonte primordial de no-tícias para muitos veí-culos on-line e também

impressos, além de chegar ao público geral. Enquanto agência pública de notícias, for-nece informações em primeira mão, de apu-ração própria, em quantidade considerável e de qualidade cada vez menos questionável, com foco na cidadania e isenção governa-mental.

Com uma equipe que pode ser conside-rada grande por alguns veículos, mas que tem limitações de pessoal, de alcance ter-ritorial, e, principalmente, técnicas, a Agência Brasil mostra que é o veículo de maior audiência e visibilida-de dentro da Empresa Brasil de Comunicação, mesmo sem a tradição da Rádio Nacional ou a atenção que a TV Brasil tem. A pesquisa mensal de audiência do site mostra que a Agência Brasil tem ultrapassado 1 milhão de visitantes únicos.

Para se ter ideia do real alcance da ABr, dediquei meu Trabalho de Conclusão de Curso do MBA em TV Digital e Outras Mídias da Universidade Federal Flu-minense (UFF) a levantar o aproveitamento das ma-térias. A pesquisa foi feita nos sites Brasil 247, Carta Capital, Correio Braziliense, Uol e Veja entre os dias 1º e 7 de setembro de 2013.

Foi observado que veículos mais alinha-dos com o pensamento de esquerda, como o Brasil 247 e a Carta Capital, buscam mais na Agência Brasil temas econômicos e po-líticos, portanto, ligados ao programa do atual governo de esquerda. Já a Veja, tra-dicional veículo de direita, cita a Agência Brasil como uma fonte oficial do governo,

Para medir a importância e o real alcance da Agência Brasil, é necessário que esse trabalho seja feito com mais periodicidade

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6 Empresa brasil de comunicação

Dia a dia do Conselho

O ano de 2014 teve dois grandes eventos que marcaram a cobertura jornalística no Brasil: a Copa do Mundo de futebol, que pela se-

gunda vez foi realizada em solo brasileiro, e as eleições. O Conselho Curador da EBC, é claro, não passou ao lar-go destes dois fatos. No primeiro semestre, a cobertura esportiva dos canais EBC foi a reportagem de capa da 3ª edição da Revista do Conselho Curador, que analisou e

Pelofortalecimento

comunicaçãoda

pública

Conselho discute seriado “Vida de Estagiário” e novela angolana “Windeck”, produções da TV Brasil

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Texto: Guilherme Strozi

EBC e da

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7Revista do Conselho Curador

investigou qual é o papel do esporte na comuni-cação pública. E no mês de agosto, o colegiado aprovou o Manual de Diretrizes para a cober-tura das eleições 2014, que orientou, inclusive, a conduta jornalística para outras emissoras da Rede Nacional de Comunicação Pública.

Além disso, o Conselho Curador apoiou a realização de um debate entre os (as) can-didatos (as) à presidência da República pelos veículos EBC. Apesar do apoio da Direção da empresa e da FrentCom, o evento acabou não ocorrendo pelo desinteresse dos candidatos, fato que foi lamentado pelos conselheiros.

O jornalismo continuou sendo um tema presente nas reuniões do colegiado ao lon-go do ano com a aprovação de duas importantes ferramentas para orientação da cobertura nos veículos da EBC: o Co-mitê Editorial de Jornalismo e o Plano Editorial da Agência Brasil. E para aproximar as discussões feitas neste Comitê da sociedade brasileira em ge-ral, os conselheiros recomen-daram que fossem publicadas atas das reuniões no site da EBC, o que, até o momento, ainda não ocorreu.

A programação em geral da TV Brasil e das Rádios EBC também foram alvo de debates e deliberações do co-legiado este ano. Em janeiro foi anunciado pela Direção da EBC ao Con-selho a Linha de Produção de Conteúdos para TVs Públicas, que aportará 60 milhões de reais em conteúdo inédito para veiculação em emis-soras públicas, educativas e comunitárias em todo Brasil. O projeto é uma parceria firmada com a Ancine, no âmbito do Fundo Setorial do Audiovisual, para produção de 300 horas de conteúdo audiovisual, que serão selecionados pela EBC para exibição em suas grades.

Outras duas faixas de programação tam-bém tiveram atenção especial dos conselheiros: aquela voltada para o público jovem e a tele-dramaturgia. O programa “Vida de Estagiário” terá a sua segunda temporada na TV Brasil ade-quada a padrões mais sensíveis às demandas do Conselho, que prioriza um conteúdo sem preconceitos e com respeito à diversidade. Já com relação a teledramaturgia, estreiou na TV

Brasil a novela an-golana “Windeck”, que recebeu elogios do pleno por apro-ximar a sociedade brasileira à realida-de da população de Angola. Contudo, também recebeu recomendações do colegiado para que temas polêmicos e esteriótipos veicu-lados nos capítulos sejam tratados em programas de deba-tes nos canais EBC, como forma de ofe-recer um contrapon-to a questões mais delicadas exibidas na telenovela.

Na reunião do Conselho, em no-vembro, a pesqui-sadora e professora da PUC do Rio de Janeiro, Márcia Stein, apresentou o

resultado de pesquisa encomendada pelo co-legiado, intitulada “Panorama e parâmetros de qualidade para a programação educativa na TV Brasil”. Durante nove meses a pesquisadora avaliou diversos programas da emissora e apre-sentou propostas para a integração dos progra-mas em diversas plataformas, para uma melhor apropriação por parte do público dos conteúdos educativos apresentados pela EBC.

Fechando as deliberações sobre a progra-

O jornalismo continuou sendo um tema presente nas reuniões do colegiado ao longo do ano com a aprovação de duas importantes ferramentas para orientação da cobertura nos veículos da EBC: o Comitê Editorial de Jornalismo e o Plano Editorial da Agência Brasil.

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8 Empresa brasil de comunicação

mação, está prevista até o final do ano a tão aguardada Faixa da Diversidade Religiosa da TV Brasil, com a estreia de dois progra-mas: “Entre o Céu e a Terra” e “Retratos de Fé”. O primeiro, abordará as religiões de maneira mais jornalística, e o segundo, de maneira mais ritualística e cultural. A data de estreia está marcada para o dia 10 de de-zembro.

O ano de 2015 vai começar com duas importantes alterações na rotina operacio-nal do próprio Conselho. Foram aprovadas resoluções que alteram o Regimento Interno do órgão e outra que altera o funcionamento de suas Câmaras Temáticas. Entre os termos alterados no Regimento estão a garantia de um período de quarentena para relações institucionais dos conselheiros com a EBC após o término de seus mandatos, a coorde-nação, por parte do colegiado, de consulta pública para escolha de novos membros da sociedade civil e a formação de chapas para

votação de presidente e vice-presidente do órgão. As Câmaras Temáticas do colegiado, que antes giravam em torno de temas e veículos específicos, centra-lizaram suas atividades em três grupos: “Jornalismo e plataformas”; “Progra-mação e plataformas”; e “Planejamento e processos produtivos”.

Por fim, 2014 deverá se encerrar com renovações do colegiado. Em Consulta Pública realizada em abril, os conselheiros definiram lista com 15 nomes para que sejam designados pela Presidência da República, os cinco no-vos integrantes do Conselho Curador. O processo destina-se ao preenchimento das vagas em aberto devido à saída dos conselheiros Daniel Aarão, João Jorge, José Martins, Maria da Penha e Murilo Ramos. Até o fechamento desta edição, os novos nomes ainda não haviam sido designados pela Presidência.

Pesquisadora apresenta resultado de estudo sobre a programação educativa da TV Brasil

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Dia a dia do Conselho

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Debate cobra política estruturada para a dimen-são internacional da EBC

A dimensão internacional da Empresa Brasil de Co-municação (EBC) foi discutida durante o Roteiro de De-bates organizado pelo Conselho Curador, no dia 12/08. A falta de uma política clara para a dimensão internacional da EBC foi o principal ponto de debate trazido pelos fun-cionários da Empresa. Convidados para debater o tema, os jornalistas Carlos Fino, Verónica Goyzueta e Beatriz Bissio trouxeram experiências diversas e ideias sobre o papel que deve cumprir uma empresa pública de comuni-cação no plano internacional de suas atividades. Apesar de existir a TV Brasil Internacional, editorias internacional na Agência e no TV Brasil, e uma coordenação de tradução, é difícil encontrar documentos e definições sobre o que a EBC espera de cada uma destas áreas. Questões como a definição de uma política de comunicação internacional que dure para além das gestões da EBC e a criação de dois canais, um em língua inglesa, para mostrar aos outros po-vos a visão brasileira do mundo, como faz, por exemplo, a Russian Today (RT) e um canal em português, que uni-fique os países de língua portuguesa, foram algumas das propostas que surgiram durante o debate. Os funcionários também reivindicaram, para além da consolidação da po-lítica internacional, melhores condições de trabalho e au-mento das equipes.

Notas do Conselho Curador

9Revista do Conselho Curador

Texto: Mariana Martins

Fórum debate fortalecimento do campo público da comunicação

Cinco anos depois da I Conferência Nacional de Co-municação, o campo que reúne emissoras educativas, universitárias, legislativas e comunitárias, além da EBC, voltou a se encontrar no Fórum Brasil de Comunicação Pública 2014, realizado entre os dias 13 e 14 de novem-bro, na Câmara dos Deputados. O encontro contou com a presença do Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto de Carvalho, e de Fabrício Costa, Secretário-Executivo da Secretaria de Comunicação So-cial da Presidência da República (Secom), representando o Ministro Thomas Traumann, que receberam, em nome do governo federal, a Plataforma Pelo Fortalecimento da Comunicação Pública no Brasil. O Conselho Curador da EBC, através da sua secretaria, acompanha as atividades da Frentecom e participou da Comissão Organizadora do Fórum com o intuito de fortalecer a pauta que trata da importância dos conselhos e das mais diversas formas de participação social na gestão das emissoras públicas. Para além da Plataforma entregue aos representantes do Governo Federal, o Fórum aprovou uma carta, a Carta de Brasília 2014, que renova os compromissos do setor com a Carta de Brasília de 2007, que saiu do I Fórum de TVS Públicas, e com as resoluções da I Conferência Nacional de Comunicação de 2009.

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10 Empresa brasil de comunicação

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11Revista do Conselho Curador

Fora das

caixinhasmatéria de capa

Texto: Priscila Crispi

A necessidade deconvergência nacomunicação pública

O surgimento de um ve-ículo de comunicação é sempre cercado de

muitas incertezas, especialmente para o mercado de produção de conteúdo, que sobrevive da sua comercializa-ção. Isso porque as mudanças que eles trazem não se restringem a novas formas de disponibilização desses conteúdos, mas dizem respeito, espe-cialmente, à definição de novos pro-tocolos sociais em torno da produção e do acesso ao conhecimento. É justo nessa reorganização social, a partir de suas ferramentas de conexão, que a internet guarda sua maior revolu-ção. Enquanto jornais ainda pensam em como usar a web para o depósito de vídeos, áudios e textos, a conver-gência digital já alterou a maneira de se fazer comunicação, colocando o conteúdo e o público nos papéis de protagonistas.

“A convergência não deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a conver-gência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas in-formações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos. A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumido-

res individuais e em suas interações sociais com outros”, define Henry Jenkins, em seu livro Cultura da Convergência, de 2009.

Para o autor, a convergência pode ser definida como o fluxo de con-teúdos através de múltiplos suportes midiáticos, a cooperação entre di-ferentes mercados de mídia e o comportamento migratório dos públicos, que selecionam em qualquer meio as experiências de entretenimento que desejam. Esse processo, segundo ele, não se iniciou com o advento da internet, mas se estabeleceu sem retornos com a sua popularização e o concomitante crescimento de conglomerados de mídia. “A digitalização estabeleceu as condições para a convergência; os conglomerados corpo-rativos criaram seu imperativo”, define.

Pollyana Ferrari, pesquisadora de multimeios, jornalismo digital e webativismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concorda com a definição do teórico. “A multimídia é a disposição de áudios, vídeos, textos em um suporte, numa única plataforma, e tem mais de 25 anos de história. Ela já existia na década de 90 nos CDs das enciclopédias. Agora, quando a gente fala hoje de convergência, pressu-põe uma convergência que passa pela internet: a hipermídia traz a rede”.

Dom

ínio

Púb

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Central de mídia para o lançamento do novo carro da Ford, em 1987, concentra tecnologias multimídias

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12 Empresa brasil de comunicação

matéria de capa

Com um modelo inovador de financiamento – e consequente liberdade editorial – no jornalismo brasileiro, a Agência Pública é um exemplo de ve-ículo que prescinde das ferramentas disponíveis na internet, segundo sua editora-chefe, Natália Viana. “Para mim, pessoalmente, a internet é uma revo-lução. A Pública não seria possível sem a internet porque ela permite tanto novos modelos de orga-nização da produção - ou seja, o trabalho dos jor-nalistas mesmo - no nosso caso permitindo a volta a um processo mais inteiro, com mais tempo, pro-fundidade e menos compartimentado - como novos modelos de distribuição, mais baratos, democráticos e eficazes - uma vez que so-mos uma agência de reporta-gem e a distribuição é parte fundamental do nosso traba-lho”. A jornalista explica que o uso de crowdfunding para aquisição de verbas e das re-des sociais para divulgação das reportagens são essen-ciais na produção jornalística do veículo e não podem ser dissociados do modelo da Agência.

Para Ricardo Negrão, superintendente multimídia da Empresa Brasil de Co-municação (EBC), a maior potencialidade da internet está mesmo na mudança do processo produtivo de co-municação – especialmente, em uma empresa que preza pela participação do público. “Não imagino a web como um repositório, mas como um ponto de encontro de conteúdos nossos e da sociedade. Isso já aconte-ce, mas precisa ser discutido de uma maneira mais madura”, cobra.

Negrão explica que no modelo tradicional de radiodifusão, o produtor trabalha com o que ele acha que o público quer. No meio digital, ele pas-sa a trabalhar com o que sabe que o público está procurando. “Porém, eu não posso entregar só o que o público está procurando, mas também o que entendemos que as pessoas precisam consumir para

a sua formação crítica. E esse nosso entendimento do que as pessoas precisam consumir é construído por meio de uma discussão interna que tem instru-mentos para garantir o interesse público, garantir que estejamos no caminho certo, como o Conselho Curador, a Ouvidoria, etc. Nossa estratégia precisa passar por aí: o que as pessoas querem mais o que elas ainda não conhecem, não sabem se querem, mas precisam ter acesso. Esse fluxo serve pra gente fazer o caminho inverso da produção”.

MultiplataformasNa medida em que a

convergência tem cobrado mudanças no sistema produ-tivo da comunicação – evi-denciando mais os desejos da sociedade – e o público adquire, pouco a pouco, a autonomia para selecionar seus próprios conteúdos, o consumo de mídia se torna cada vez mais migratório e em multiplataformas. “Quem mudou em si foi a socie-dade, o consumidor. Você não assiste novela sem estar comentando no Twitter. A gente já acostumou com essa convergência e, se você con-tinuar propondo produtos es-tanques, para um só suporte, você vai morrer, porque essa não é mais nossa realidade”, diz Pollyana.

Uma pesquisa sobre con-sumo de mídia realizada pelo Instituto Ibope em 2013,

nos países da América Latina, confirma a fala da professora: no Brasil, 55% da população declarou utilizar dois ou mais meios de comunicação ao mesmo tempo. Entre eles, o que apresenta maior acesso simultâneo é a televisão consumida em con-junto com a internet (30%). A estimativa se torna ainda mais expressiva quando se sabe que apenas 56% da população brasileira tem acesso à internet. “Simultaneidade e convergência são palavras-cha-ve no novo contexto midiático, no qual os meios são consumidos nas mais variadas combinações e

Não imagino a web como um repositório, mas como um ponto de encontro de conteúdos nossos e da sociedade. Isso já acontece, mas precisa ser discutido de uma maneira mais madura.

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13Revista do Conselho Curador

André Deak, ex-editor da Agência Brasil e produtor multimídia, acredita que os veículos do país não estão preparados para a convergência

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Hoje, a EBC possui uma agência e uma radioagên-cia de notícias, sete emissoras de rádio, duas emissoras de televisão (uma nacional e uma internacional) e um portal de conteúdo, além de manter perfis em diversas redes sociais. A produção desses veículos migra entre as plataformas, diariamente e em momentos especiais, quando as programações se abrem para temas transver-sais.

O Portal EBC, veículo da Superintendência de Co-municação Multimídia (Sucom), é responsável por dis-ponibilizar, de maneira sistemática, toda produção da casa em um único repositório digital. Pollyana Ferrari lembra, porém, que a transposição de conteúdos para outros meios deve ser considerada, apenas, como pre-sença digital: “convergência é você ter outros conteú-dos, ampliar, adaptar na plataforma. Para ser transmí-dia, você precisa usar os recursos do meio para fazer outra leitura do conteúdo, em outra linguagem”.

Nesse sentido, a Sucom realiza experiências conver-gentes quando da produção de conteúdo inédito pautado pela lógica dos fluxos de buscas sociais, na entrega de conteúdo por meio de novas plataformas, no diálogo com o público através das redes sociais e, eventual-mente, quando desenvolve reportagens multimídias, normalmente realizadas por equipes de vários setores da empresa.

O Portal já tem disponibilizados 16 especiais, que integram vídeos, imagens, textos, infografias e áudios para cobrir temas como o centenário de Lupicínio Ro-drigues e Vinícius de Morais, o golpe de 1964, reforma política, tradições juninas e outros. Os conteúdos pro-duzidos para os especiais, muitas vezes, foram também utilizados nas grades das emissoras de rádio e TVs da EBC, tanto no jornalismo como na programação. “Os especiais multimídia são um modelo em que a gente tem que se especializar. Nossa missão na Sucom é es-palhar essa visão de produção para o resto da empresa. Não cabe a uma única área ter o poder de decisão sobre fazer isso. Cabe, no nascedouro da pauta, se ter a esco-lha de fazer multimídia ou não”, defende Negrão.

IntegraçãoNo jornalismo da EBC, a troca de informações entre

veículos acontece por meio de reuniões diárias realiza-das às 9h e às 11h, das quais participam profissionais das equipes de radiojornalismo, telejornalismo e agên-cias de notícias. “Hoje, a gente já faz reunião de pauta juntos e há troca, intercâmbio sobre o que foi apurado. Temos uma central de pauta, mas ela ainda precisa me-

formas”, explica Juliana Sawaia, gerente responsável pelo estudo.

Na segunda tela, o brasileiro está em busca de con-teúdo extra, independente da sua embalagem, e, de preferência, através da interação social. Na pesquisa, a principal atividade que os consumidores multimí-dias afirmam estarem realizando enquanto consomem outros veículos é: checar seus e-mails, redes sociais ou aplicativos de mensagens instantâneas.

André Deak, ex-editor da Agência Brasil, produtor multimídia e diretor do Liquid Media Laab, acredita que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem a oportunidade de ser vanguarda na transição para uma produção convergente. “As pessoas entendem melhor a cultura digital do que as empresas. Nenhuma instituição jornalística no Brasil tem sido capaz de acompanhar o novo comportamento do cidadão, e arrisco dizer que se-quer foram capazes de entendê-lo. O Huff Post - estran-geiro - veio com uma proposta um pouco mais acertada, mas a Abril parece ter fagocitado alguns processos, tor-nando o Brasil Post um veículo apenas um pouco dife-rente, mas não disruptivo, como poderia ser”, afirma.

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14 Empresa brasil de comunicação

matéria de capa

Em 2013, Edifício Venâncio 2000, em Brasília, reuniu as redações jornalísticas da TV Brasil, Radiojornalismo e Agência BrasilGu

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Outro ponto abordado pela diretora é com relação as especificidades entre a Agência Brasil e o Portal EBC, dois veículos da empresa. Para a diretora “tudo que é jor-nalismo deveria ser unificado em uma mesma área. Pode até ser veículos diferentes, mas em um mesmo núcleo. Es-tamos propondo que a Radioagência se una ao Radiojor-nalismo, por exemplo. A gente entende que quanto mais unir tudo que é jornalismo, melhor”.

Para Ricardo Negrão, a Agência Brasil é uma fonte primária de informações para outros veículos, o que a di-

lhorar. A plataforma não conversa com nosso sistema de armazenamento interno de arquivos, nem com o programa usado para montar as matérias dos telejornais”, conta Ne-reide Beirão, diretora de Jornalismo da casa.

Grandes reportagens jornalísticas recebem com frequ-ência, segundo a diretora, tratamento multimídia dentro da casa. “Na cobertura cotidiana, é muito mais puxado para um repórter produzir para vários veículos. Sempre que possível, mandamos todas as equipes, o que não sig-nifica dizer também que não possa haver colaboração entre essas equipes. Agora, em uma coisa planejada, é possível fazer multimídia”.

Segundo Nereide, a criação de um servidor onde tudo que é feito na casa, inclusive a pro-dução artística, fosse disponibilizado interna-mente iria ajudar muito no aproveitamento de conteúdos e evitaria que as equipes ficassem desinformadas sobre o que outras estão produ-zindo. “Mas a gente não pode pôr toda a con-ta na ferramenta. Para ser uma empresa mais convergente precisamos certamente melhorar a central de pautas, mas também acho que depende de postura e cultura organizacional”, pondera.

fere da vocação do Portal. “Enquanto na Agência eu trabalho o conceito de notícia, no Portal, eu tra-balho o conceito de canal, ou seja, dentro daquela editoria de cultura, eu não tenho só informação sobre cultura, mas um programa que foi pro ar, a colaboração do público, etc.”, afirma.

Apesar das explicações, a dinâmica entre estes veículos é confusa, na opinião de Marcus Viní-cius. Para ele, há duas falhas na criação do Portal EBC: “uma, gerou um competidor de conteúdo

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15Revista do Conselho Curador

Programa Caiu no Enem, produzido para comentar as provas do exame e veiculado simultaneamente, ao vivo, pelo Portal EBC, na Rádio MEC AM e nas redes sociais

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Recentemente, a novela Windeck, produção angolana transmitida pela TV Brasil, tornou-se outro exemplo de tentativa de comunicação multimídia por parte da EBC. “Essa é a primeira vez que estamos fazendo isso com um conteúdo que nós não produzimos. Ele não foi pensado para ser multimídia. A gente pegou ele assim e estamos adaptando”, conta Eduardo Castro, diretor-geral da em-presa.

Segundo ele, a ideia de repercutir a novela em outros veículos da EBC surgiu da necessidade de contextuali-zar e ampliar a própria produção, que apresenta valores de Direitos Humanos questionados pelo Conselho Cura-dor da empresa. “Essa é uma forma de fazer com que o conteúdo trafegue nas diferentes mídias cumprindo a missão da EBC. Nós não vamos fazer isso na busca de mais audiência. Acho que isso pode acontecer – uma vez

que você expõe mais seu conteúdo você tá fazendo propaganda dele. Porém, o objetivo é aprofundar o debate”, diz.

Para isso, foi criada uma equipe inter setorizada para desdobrar e problematizar os assuntos surgidos a partir dos capítulos da novela na programação da emissora e fora dela. “Vamos colocar as redes sociais funcionando na hora da novela. Vamos ter hashtags na tela: a pessoa procura por expressões idiomáticas que aparecem durante o episódio e vai achar aquilo e mais uma série de coisas referentes à novela. Vamos usar interprogramas também. Vamos fazer programas na rádio, hangouts e trabalhar com o jornalismo. Na verdade, a novela é só o gancho, mas é jornalismo relevante, não estamos fazendo o que o Vídeo Show faz”, defende.

para a Agência Brasil. Dois, acrescenta mais uma identi-dade visual à empresa. Qual é a nossa marca? Temos que fortalecer uma marca única”, diz o empregado.

No caso das rádios, que intercambiam programas, mas contam com grades exclusivas, a integração também acontece por meio do planejamento de temas. Coordena-dores e gerentes das rádios planejam suas grades em con-junto, respeitando as particularidades de cada uma. “As pautas podem ser recortadas por toda e qualquer emissora, mas o tratamento será sempre diferenciado de acordo com o eixo temático de cada uma delas. Por exemplo, a pau-ta eleições, na Rádio Nacional, teve uma cobertura mais informativa. Já na MEC AM, o recorte foi mais educati-vo. Todas recortam o mesmo tema, mas com abordagem

e plástica diferenciada”, explica Eliane Fernandes, gerente executiva das Rádios EBC.

Em alguns momentos, as rádios também pisam no terreno da convergência, desenvolvendo projetos em parceria com a web. “Um bom exemplo foi o programa Caiu no Enem, especialmente produzido para comentar as provas do exame e veiculado si-multaneamente, ao vivo, pelo Portal e na MEC AM, com a participação do público via redes sociais. Também temos na grade da MEC AM, Nacional da Amazônia e Nacional de Brasília - portanto um programa em Rede - o programa “Ponto Com Ponto BR” que é produzido pela equipe da web em parce-ria conosco”, explica Eliane.

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Novela angolana Windeck, licenciada pela TV Brasil, apre-senta tentativa de comunicação integrada da casa

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PluralidadeA estratégia adotada pela EBC para dar novos

contornos e significação à novela Windeck é uma das muitas faces da convergência. Isso porque, segundo André Deak, se por um lado a convergência pode ser entendida como um canal para participação social e um gerador de pluralidade, por outro, pode concen-trar discursos e poder nas mãos dos, cada vez mais, conglomerados de comunicação multimídia.

“Se o cidadão mudou e faz tudo em vários su-portes, então os conglomerados também foram com força para várias plataformas”, explica Pollyana Fer-rari. Para ela e para Deak, a unificação de pautas e a convergência de meios podem apresentar uma ame-aça à diversidade e pluralidade da informação se fo-rem entendidas como fusão de empresas e fruição de conteúdos únicos, por vários canais. “Lógico que as empresas têm muito mais força, mas agora o cidadão tem algum espaço. Todo mundo foi pra convergên-cia. O que é esperançoso é que – por mais que a gen-te esteja na mão do Facebook, do Google – também temos organizações comunitárias, abaixo-assinados,

manifestações. A convergência tem essa tensão”, aponta a pesquisadora.

Segundo Nereide Beirão, o jornalismo da EBC faz o exercício de nunca ser a reprodução da mesma matéria em vários meios, para não perder a pluralidade, com o desafio de passar a informação completa para cada pú-blico. “O interessante é que, na verdade, a linguagem de cada veículo muda tudo e, pelo olhar de cada repórter, a informação varia”, conta.

“A produção transmídia convergente parte do pres-suposto de que cada parte da informação deve ser com-preendida, deve mostrar também o todo. Mas deve per-mitir que, caso a pessoa queira se aprofundar no tema, possa encontrar uma enciclopédia de informações a respeito”, define Deak. É justamente o que espera Alex Fontes, ouvinte da Rádio MEC FM do Rio de Janeiro. O estudante enviou uma mensagem para a Ouvidoria da EBC em julho deste ano para pedir a disponibilização dos programas gravados da emissora, que não estavam mais indo para a web. Entrevistado, porém, Alex reve-lou que seu interesse com o contato era inspirar melho-rias no site da Rádio.

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Ponto Com Ponto Br, programa produzido pelas equipes das Rádios e Portal EBC, vai ao ar simultaneamente nas duas plataformas

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“Gostaria de ter acesso não somente ao conteúdo dos arquivos da rádio, mas tudo o mais que for possível disponibilizar no site, ou seja, notícias em geral e sobre o mundo da música, programação cultural, promoções, divul-gação de artistas e músicos brasileiros, entrevistas, resenhas de lançamentos de CD’s, canais de interação com o ouvinte, informação sobre a rádio, uma seção infanto-juvenil, transmissões de programas ao vivo, em locais exter-nos, festivais de música e poesia/literatura etc...”, elenca.

A cobrança não é exclusiva – de todas as demandas recebidas pela Ouvidoria em 2014, quase 4% se tratavam exclusivamente de pedidos de disponibilização de conteúdos de outras plataformas na web. Se a conta for redirecionada para demandas exclusivas da TV Brasil, por exemplo, o número sobe para quase 7%.

Um dos telespectadores insatisfeitos com a falta de convergência da emissora é Virgilio Neto. “Pra que serve o Jornal Repórter Brasil na internet se os vídeos não são postados a tempo?”, questionou. Segundo Virgílio, nor-malmente os vídeos são postados com 24 horas de atraso da exibição, mas já chegaram a demorar muito mais. “Isso deixa muito a desejar, pois seria bom que eles fossem postados no mesmo dia, logo após serem exibidos, como o fazem as emissoras comerciais, mas o que me irritou um tempo atrás é que eles chegaram a serem postados até com 72 horas depois e isso faz perder o sentido de se disponibilizar uma notícia envelhecida”.

Alex afirma que esse diálogo entre plataformas e conteúdos já é feito em outras rádios públicas, como a Rádio Cultura FM de São Paulo, a Rádio BBC 3 - de Londres, e a Rádio France Musique - de Paris, por exemplo.

EquipesUsadas como uma forma não institucionalizada de dialogar diretamen-

te com essas demandas do público, as mídias sociais são um vetor impor-

tante no processo de convergência dos meios de comunicação. Cibele Tenório, editora de redes sociais e responsável pela alimentação dos perfis @ebcnarede, explica que esses veículos são tratados pela EBC principalmente como ponto de diálogo com a sociedade. “Nos-sas redes não são só um espaço unilateral de divulgação do que a gente produz, nós estamos atentos àquilo que as pessoas estão falando conosco”, diz.

A jornalista defende que aquilo que faz parte dos valores da EBC, também deve ser o padrão para o que é veiculado nas redes sociais. “Nós sempre estamos aqui relem-brando que fazemos comunicação pública também no Facebook, no Twitter, no Google Plus”. Pollyana Ferrari concorda: “a TV pública tem um compromisso com o cida-dão, e quando você vai para as mí-dias sociais, você vai manter esse mesmo critério. O critério editorial permanece, onde a audiência não é o foco”.

Cibele integra, com outros pro-fissionais da casa, um grupo de trabalho sobre redes sociais, criado em 2014. “Em primeiro lugar, o GT serviu para que a gente desse adeus a uma gestão fragmentada e passasse a assumir a convergên-cia de fato no trabalho das equipes responsáveis por redes sociais den-tro da EBC. No GT nós podemos compartilhar o que temos feito e essa troca de experiências têm sido fundamentais no aprimoramento do nosso trabalho e para que nos-sos perfis sejam mais relevantes na rede”, conta.

Para Negrão, o GT de mídias sociais é um bom exemplo den-tro da empresa de integração de equipes. “Fizemos uma norma, um

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manual, e temos um grupo que se reúne semanalmente para discutir a política, padronizar ações e trocar expe-riências práticas. Isso mostra que a empresa tem uma estratégia para redes sociais definida”.

Cibele afirma que essa experiência precisa se esten-der para todas redações para que a convergência seja, de fato, uma realidade na EBC. “As redações precisam ser integradas, não necessariamente no mesmo espaço físico, mas acredito que uma empresa de comunicação tem uma obrigação ainda maior de ser eficiente na sua comunicação interna”.

Na visão do diretor-geral, Eduardo Castro, a empre-sa já caminha nessa direção desde 2012, quando foi re-montada a partir de três grandes blocos interligados por veículos e mídias: a Diretoria de Jornalismo, a Diretoria de Produção e a Diretoria de Conteúdo e Programação.

“A Diretoria de Produção cospe conteúdo pra todo lado. Ou seja, a ideia já nasce multimídia. E aí, além de especiais, as linhas de programa são pensadas dessa forma. As parcerias e co-produções também. O que não quer dizer que é o mesmo conteúdo que vai pra web, rádio, TV. Às vezes vai só pra um. Mas essa é a grande mudança: você começa a pensar o conteúdo como conteúdo, não como programa de rádio, programa de web, de TV”, defende.

Porém, para sua colega, Nereide, algumas carac-terísticas específicas do jornalismo fazem com que a empresa mantenha suas equipes produzindo exclu-sivamente para cada veículo: “ter uma equipe que produz pra tudo traz problemas de gestão, de escala. Além disso, no jornalismo, é bom que a pessoa se especialize em uma linguagem, em um assunto, vá fazendo fontes...”.

A diretora acredita, ainda, que não é bom man-ter uma equipe exclusiva para produção multimídia, mas sim, abrir a oportunidade para que todos os profissionais que queiram produzir dessa maneira, tenham a oportunidade. “É a mesma lógica do Ca-minhos da Reportagem não ter repórteres fixos. Se você tiver só uma equipe para multimídia, você li-mita a produção e faz com que ela fique mais demo-rada, pois é preciso fazer um especial de cada vez”, explica.

Na visão de André Deak, a perda de recursos na produção está justamente na manutenção de equipes múltiplas para cobertura de uma mesma pauta é que atrasa o processo produtivo da notícia. “Vimos mui-tas vezes um entrevistado dizer que já tinha falado com a Radiobrás, então não falaria mais – mas, com qual veículo ele falou? Por que este veículo não fez foto, vídeo, texto, som, para distribuir em todas as mídias? Processos repetidos, atrasos, desperdício de recursos, muita coisa pode ser evitada com a conver-gência na EBC”.

O empregado da EBC, Marcus Vinícius Fraga, reforça: multimídia é otimização de talentos e redu-ção de custos operacionais. Ele realizou um curso multimídia na empresa pública de radiodifusão do Canadá, a Canada Broadcasting Company (CBC), durante um período de licença. “Em minha negocia-ção com a EBC estava incluso fazer cursos de câ-mera, iluminação, áudio, vídeo, linguagens, além de passar uma semana na CBC, acompanhando a rotina produtiva de um repórter multimídia deles”.

A produção transmídia convergente parte do pressuposto de que cada parte da informação deve ser compreendida, deve mostrar também o todo. Mas deve permitir que, caso a pessoa queira se aprofundar no tema, possa encontrar uma enciclopédia de informações a respeito.

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Marcus Fraga, jornalista da EBC, acompanhou produção multimídia de repórter da CBC, empresa pública de comunicação do Canadá

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Marcus conta que, quando vol-tou ao trabalho, procurou a EBC para oferecer um curso com os co-nhecimentos adquiridos com a ex-periência, mas teve seu pedido ne-gado. “A resposta da EBC foi: não temos condições de fazer, não con-sigo a liberação dessas pessoas”. O repórter que Marcus acompanhou no Canadá passou três meses fazen-do um curso antes de começar sua prática profissional na CBC.

Para o jornalista, além da ca-pacitação profissional é necessário que se dê aos profissionais tempo para digerirem a nova rotina produ-tiva. “A dinâmica do multimídia é uma dinâmica produtiva que você não tem a pressão do factual – esse não é o cerne da produção multimí-dia, porque ela reduz custos, mas aumenta tempo. É uma produção mais pensada, que funciona muito bem em ambientes controlados”, explica.

Marcus ressalta também a im-portância da estrutura colaborativa entre as equipes na produção de informação multimídia. “A pauta já nascia transversal dentro da co-

ordenação de pauta da CBC, já chegava com a indicação do que outras equipes estavam fazendo. O repórter podia montar sua matéria com sono-ras, informações, disponíveis no sistema da empresa”, lembra. Na CBC, a produção de conteúdo multimídia é feita por uma equipe transversal, que serve a todos os veículos.

No modelo de produção da Agência Pública, o conteúdo é o norte fun-damental das escolhas editoriais, não havendo pressão para produção em um tipo determinado de formato. “Acreditamos e promovemos o jornalis-mo investigativo e de qualidade para a melhoria do debate democrático no Brasil. Dito isso, valorizamos muito as experimentações e variações de formato - como especiais multimídia, vídeos, em HQ - desde que venham a melhorar a comunicação do conteúdo, que é o essencial. Quando um repórter da equipe da Pública sai pra apurar uma reportagem, não se sabe nem com que formato ele vai voltar, nem com qual história. Uma boa reportagem investigativa implica o repórter se perder para encontrar qual é a história de fato”, afirma Natália Viana.

A pauta já nascia transversal dentro da coordenação de pauta da CBC, já chegava com a indicação do que outras equipes estavam fazendo

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Questões trabalhistasMarcus Vinícius imputa a dois fatores a não

implantação de dinâmicas produtivas mais mo-dernas, como as da Pública e CBC, na EBC: os sindicatos, que consideram o multimídia como precarização do trabalho; e a direção da em-presa, que se agarra a uma estrutura rígida de equipes.

Segundo Jonas Valente, presidente do Sindi-cato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Fe-deral, a produção de conteúdos convergentes é importante, pode abrir novos postos de trabalho e inaugurar novas rotinas produtivas, mas deve estar focada especialmente no empacotamento e edição do conteúdo. “O que não pode acontecer é usar a convergência como subterfúgio para a precarização do trabalho e acúmulo de funções, sem a capacitação necessária, com dano ao tra-balhador e à qualidade do conteúdo produzido. No nosso entendimento, a gente deve ter pes-soas produzindo para veículos específicos, mas dentro desses veículos e na Superintendência de Comunicação Multimídia, mais empacotadores e editores pra conseguir utilizar melhor os mate-riais produzidos por todas as redações”.

Eduardo Castro, diretor-geral da EBC, pon-tua que o grau de especialização necessário para produção em comunicação, atualmente, é diferente de quando surgiram as legislações

trabalhistas. “Não que os veículos tenham deixado de ser di-ferentes, mas hoje você já nasce multimídia. Hoje em dia todo mundo que tá saindo da faculdade é nativo digital. O que pesa é a cultura e resistência sindical. É necessário que essa adap-tação não seja benéfica somente pra quem paga salário, para achatar direitos dos trabalhadores. Mas a discussão é facilitar a vida de quem quer trabalhar”.

Ele acredita que a transição completa para produção com-pletamente multimídia é uma troca cultural e não acontece por decreto. “A gente tem que ter o interesse dos profissionais em se preparar e a casa tem que oferecer cursos, não só tecni-camente sobre convergência, mas a comunicação pública na convergência, por isso, a Escola Nacional de Comunicação Pública”.

A escola a qual o diretor se refere é uma parceria que a EBC está fazendo junto à Unesco para a implementação de um centro de pesquisas sobre o assunto no Brasil. Jose-ti Marques, coordenadora do projeto, informou que já con-versou com os gerentes da Sucom afim de entender melhor as demandas deles para formatar um curso EAD na área de comunicação integrada e novas mídias. “Precisamos produzir conteúdo na área de convergência e oferecer soluções práticas formatadas para a comunicação pública”, diz.

“O multimídia não é o cara que sai com câmera, ipad, câ-mera de TV, bloquinho, isso é acúmulo de função. Outra coi-sa é estar habilitado, preparado e ter mais que equipamento, mas ter a cabeça pronta pra capturar o material pensando nas formas diversas de distribuição. É esse profissional que que-remos formar”, afirma Eduardo.

Agência Pública não cobra de seus repórteres produção de notícias em um formato específico

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Modelo de equipamento para videoreportagem em exposição no National Association of Broadcas-ters, evento sobre tecnologia na comunicação realizado em abril de 2014, em Las Vegas, EUA

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Investimentos O orçamento destinado para cada veículo, dentro de uma empresa detentora de vários canais de comunicação,

pode ser um termômetro para verificar a estratégia de convergência de conteúdos? A destinação de uma maior quan-tia de recursos para um único veículo pode significar a proeminência deste sobre os outros?

Para Eduardo Castro, não necessariamente. “No caso da EBC, o orçamento da TV é maior porque é mais cara de fazê-la do que os outros veículos. Porém priorizá-la não é uma questão estratégica”, afirma. “Vai chegar o dia em que fazer internet vai ser mais caro que fazer televisão, porque vai aumentar o preço da internet e diminuir o da TV. Mas, nesse momento, ainda é mais caro TV”.

Andre Deak pondera que é possível realizar boas co-berturas integradas, mesmo sem um grande orçamento, porque a estrutura mais importante de qualquer empre-sa, em primeiro lugar, são as pessoas. “Não importa se faltam cabos, equipamentos, cadeiras. Qualquer estru-tura, com pessoas interessadas em produzir conteúdos multimídia, integrados, é capaz de produzi-los. A Ra-diobrás ganhou seu primeiro prêmio Vladimir Herzog na categoria internet com um produto (o web-docu-mentário Nação Palmares) editado num Ipod, porque nenhum computador tinha hardisk capaz de suportar o

peso dos vídeos digitais”, lembra. Negrão acredita que dinheiro não é essencial

para convergência, mas para melhorar alguns flu-xos de trabalho – desde um computador, até um servidor. “Mas a tecnologia não depende disso. Você pode utilizar uma série de ações e produtos de distribuição grátis. A estratégia depende do tipo de conteúdo que você tem. Vai chegar o tempo em que teremos cada vez mais essa fluidez. Hoje as pessoas se limitam a Facebook e Twitter, mas não vai ser sempre assim”, diz.

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Definições de convergência na EBC

Em seus regramentos internos normativos, como o Manual de Jornalismo e o Plano Editorial da Agência Brasil, a EBC ressalta a intenção de realizar a atuação integrada de seus veículos. Os textos trazem conceitos como convergência, multiprogramação, interatividade, transdisciplinaridade e outros. As normas, po-rém, não entregam definições finais para os conceitos elencados acima. Já no documento Diretrizes de Conteúdo e Programação, orientador para produção e aquisição de novos conteúdos, a EBC define convergência como “a potencialidade que o conteúdo tem de ser trabalhado em suas possibilidades convergentes (trans, cross e multi) desde sua concepção, permitindo que o desenvolvi-mento do produto, e consequentemente sua produção, incorpore todas as possibilidades de distribuição, fruição e formatos, am-pliado suas potencialidades de ser distribuído, exibido ou com-plementado em várias plataformas”.

Confira abaixo o que significam cada um desses conceitos para convergência:

- Multimídia: é a disposição de vários conteúdos (áudios, víde-os, textos e imagens) em um único suporte. Um exemplo são os especiais produzidos pelo Portal EBC, onde uma mesma repor-tagem é composta por entrevistas gravadas em áudio, vídeos de arquivos, fotografias e etc. A soma desses formatos compõem a informação total que os produtores do conteúdo querem passar sobre aquele assunto.

- Crossmídia: é a migração de um conteúdo de uma mídia para outra. Nesse caso, os conteúdos são independentes e completos em cada mídia – o público tem acesso à história ou informação total ao consumir aquele produto, que, apesar de ter uma narra-tiva em comum, guarda características específicas de cada mídia para onde é transportado. Um exemplo clássico são as adapta-ções cinematográficas de livros.

- Transmídia: é a possibilidade do público, se assim desejar, transpor a mídia original para o qual o conteúdo foi produzi-do, aprofundando e interagindo com essa narrativa em outras plataformas. Aqui, várias histórias compõem um único universo, mas cada uma é contada através de diferentes meios e de forma autônoma, se complementando para dar forma a uma só grande narrativa. As comunidades de fãs de séries de TV, franquias de filmes e jogos RPGs são um grande laboratório de como a trans-mídia funciona.

FONTES: Henry Jenkins em Cultura da Convergência, Aleph, 2009; e Se-ven myths about transmedia storytelling debunked, acessado em http://www.fastcompany.com/1745746/seven-myths-about-transmedia-storytelling-debunkedPollyana Ferrari – Pesquisadora e professora da PUC-SPRicardo Negrão – Superintendente Multimídia da EBC

matéria de capa

Entenda ode

A EBC está implantando seu novo modelo institucional desde fevereiro de 2014 – a previsão é que o novo organo-grama esteja 100% em funcionamento até abril de 2015. Segundo a Secretaria Executiva da empresa, a estrutura foi pensada para proporcionar um funcio-namento convergente. Se antes havia apenas uma unidade para fazer integra-ção de conteúdo – e somente para web (a Superintendência de Comunicação Multimídia, Sucom) – agora, toda a casa deve estar integrada no nível das diretorias. O objetivo é que, a partir do redesenho, as diretorias de Jornalismo, Produção Artística e de Programação – todas subordinadas à Diretoria-ge-ral – passem a focar não mais a pro-dução por veículos, mas por conteúdo. De maneira prática, todos os veículos foram realocados sob a supervisão da Diretoria de Conteúdo e Programação, que deve definir a linha editorial das produções, demandando das duas ou-tras diretorias – de produção artística e de produção jornalística – o conteúdo necessário para compor as grades dos veículos EBC. Nessa lógica, os direto-res farão a gestão de todo conteúdo ou programação sob sua responsabilidade, independente da decisão de veiculação em cada plataforma. O relacionamento entre a EBC e os órgãos públicos e a so-ciedade ficará sob a responsabilidade de uma área ainda a ser implantada. Esta unidade responderá também pela con-solidação e expansão da Rede Nacional de Comunicação Pública.

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Entenda o projeto de integraçãode plataformas na EBC

DIRETORIA DEPRODUÇÃO ARTÍSTICA

DIRETORIA DEPROGRAMAÇÃO

Planeja/demanda conteúdo e exibe a produção das outras

diretorias.

Recebe demandas da Diretoria de Programação e

produz conteúdos artísticos

Planeja/recebe demandas da Diretoria de Programação

e produz conteúdos jornalísticos

DIRETORIA DE JORNALISMO

COMITÊ DEPROGRAMAÇÃO

De�ne linhas gerais ediretrizes para a produção

de conteúdo

DIRETORIA-GERALAprova linhas gerais e

diretrizes para a produçãode conteúdo

PRAÇAS + ESPORTES

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ESPORTES

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TVRádiosAgência BrasilRadioagência NacionalPraça do Maranhão (tv e agências)

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TVAgências

SP

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Expansão para webEspeciais para web

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MÚSICA E ARTE

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RÁDIO

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WEB / NOVAS MÍDIAS

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Programação em debate

A importânciadramaturgia

TV públicaAndré Pellenz, Autor e diretor-geral de “Natália” e diretor do longa-metragem “Minha Mãe é uma Peça”

U ma jovem mulata, moradora do su-búrbio e filha de um pastor evangéli-co tem a chance de mudar de vida ao

receber uma proposta para iniciar uma carreira de modelo.

Se hoje essa história poderia até ser tema de al-guma série nas principais emissoras comerciais, em 2009 isso seria difícil. Cinco anos é muita coisa em televisão.

Mas foi graças a um edital público que “Natália”, série de 13 episódios que acompanha a personagem descrita acima, foi produzida e exibida na TV Brasil com um tremendo sucesso e repercussão.

Praticamente toda a crítica especializada (“O Globo”, “Folha de São Paulo”, “Correio Brazilien-se”, etc) teceu fartos elogios à trama, abrindo grande espaço em seu noticiário, inclusive para o “primeiro beijo gay masculino exibido em TV aberta no Bra-sil”, como destacou Patrícia Kogut, colunista de “O Globo”.

O canal Sony exibiu a série, e até mesmo a TV Globo Internacional – sim, a TV Globo – adquiriu os direitos e exibiu em seu canal internacional. Ne-nhum deles se importou com a marca da EBC nos créditos, ou tiveram qualquer preconceito com tema ou origem do programa. Consideraram que era um produto bom, e pronto.

Para mim, criador e diretor-geral da série, isso serve para algumas reflexões:

1) A TV pública deve ser a vanguarda em boa dramaturgia, atraindo autores e diretores para proje-tos que não encontram espaço em outros canais, já que seu descompromisso com anunciantes permite que se arrisque um pouco mais.

2) Mesmo buscando a vanguarda, é preciso pro-duzir dramaturgia que seja palatável. A TV pública

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A TV pública deve ser a vanguarda em boa dramaturgia, atraindo autores e diretores para projetos que não encontram espaço em outros canais

não pode virar um centro de experimentações sem sentido ou um dirigismo que resulte num celeiro de projetos de grande pegada social e nenhuma audiência.

3) Que se produza com verba para se contratar bons profissionais, bons atores, bons fornecedores, em pé de igualdade com os canais privados. “Natália” tem um alto padrão de qualidade porque os recursos eram adequados, e o resultado fala por si.

4) Não adianta produzir e exibir um óti-mo trabalho se o público em geral não fica sa-bendo. O raciocínio é simples: se até mesmo a Rede Globo investe dinheiro em anúncios de seus programas, com toda a audiência resi-dual que possui, quanto de divulgação é pre-ciso para um programa novo na TV Brasil?

5) Televisão é hábito, ainda. É preciso estudar uma grade para a dramaturgia e boas opções de crossmedia.

Em resumo, a TV pública é fundamen-tal para a evolução da dramaturgia televisiva brasileira. Do lado de cá, dos autores e direto-res, a torcida é grande.

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Coluna acadêmica

E m uma sociedade como a brasileira, em que teria havido um salto na vivência cultural , passando-se da cultura oral para a audio-

visual, as informações jornalíst icas veiculadas por emissoras de rádio e televisão assumem uma centra-l idade no processo cotidiano de conhecimento, sobre o mundo e o país. A ausência da efetiva experimen-tação da cultura letrada por significativa parcela da população deveria fazer aumentar a responsabilidade do Jornalismo, de sua oferta em níveis de equilíbrio e qualidade que permitissem aos cidadãos não apenas informar-se, mas também compreender a realidade.

Mas a ausência de mecanismos de regulamentação da mídia, ou de maior acompanhamento dos meios, por meio da participação de diferentes instâncias so-ciais, torna esses pressupostos apenas uma carta de intenções ou discurso entre teórico e retórico. A crí-t ica da mídia, sistematizada em experiências como do Manchetômetro, dos Observatórios de Jornalismo (Rede Renói) ou percebida de forma espontânea em conversas e postagens também nas redes sociais, in-dica que sua prática é outra ausência percebida, so-bretudo nas telas de emissoras de TV aberta no Bra-sil , notadamente naquelas de exploração comercial .

Nesse cenário, ainda caracterizado por uma grande concentração dos meios, em que pesem os diversos tensionamentos e demandas sociais por maior demo-cratização da comunicação, ganha ainda mais impor-tância a avaliação continuada da qualidade do Tele-jornalismo Público. Nas pesquisas realizadas desde 2010 na UFJF sobre a informação na TV Pública de-fende-se que a produção e veiculação de informação por emissoras de exploração não comercial , vincu-

jornalismo

do audiovisual

públicocomo parâmetro regulador

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ladas com o cidadão, especialmente, poderia atuar como uma espécie de monitor independente, de espaço para a prática e reflexão sobre um Jorna-lismo comprometido de fato com a cidadania.

Pressupostos da TV Pública como Pluralismo, Diversidade e Indepen-dência, se tornados realidades nas matérias, entrevistas ou debates vei-culados nos telejornais e demais pro-gramas de informação da TV Brasil , pode-riam dessa forma fun-cionar também como um parâmetro nor-mativo, a mostrar ser possível o cumpri-mento das promessas do Jornalismo como forma de desvela-mento do mundo. A emissora já registra prêmios pela produ-ção de reportagens em alto nível, com qualidade estética e de conteúdo, notada-mente veiculadas no programa Caminhos da Reportagem, sendo necessário, cada vez mais tornar público o alcance de suas pro-duções, em diferentes plataformas.

Esse (re)conheci-mento é que permitiria ao telejorna-lismo público atuar, em certo sentido, como marcador de qualidade, a acen-tuar a exigência por uma conduta éti-ca e responsável dos demais veículos de televisão, também na art iculação do público, agora enquanto audiência televisiva, a demandar maior aprofun-damento e equilíbrio. A produção de informação jornalíst ica audiovisual de qualidade seria nesse sentido uma

Conceitos como Pluralidade, Diversidade e Cidadania oferecem uma espécie de base, e identidade comum a diferentes modelos de televisão pública

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forma de consti tuição de vínculos com o cidadão, e deste em exercer seus direitos à informação e comu-nicação e, assim, explicitar o retorno social da emissora.

Das Diretrizes às PráticasConceitos como Pluralidade, Di-

versidade e Cidadania oferecem uma espécie de base, e identidade comum a diferentes modelos de televisão pú-

blica. Sua compreensão e transformação em prática efetiva é um desafio que envolve diferentes atores da sociedade: emissoras públicas e seus profissio-nais, estudiosos, socie-dade civil . Parcialmente englobado nos dois pri-meiros i tens, o compro-misso com a cidadania é uma das razões de ser das emissoras públicas. De forma mais concreta, nas pautas e conteúdos jornalíst icos veiculados, ele poderia ser traduzido na preocupação em expli-citar os contextos, pro-blemáticas e busca por desdobramentos dos fatos que são objeto de cober-tura, e num certo viés for-mativo ou educativo que também caracterizaria os canais de exploração não

comercial . Além disso, a prática da cidadania como princípio do telejor-nalismo público envolveria a veicula-ção de estímulos à participação, por exemplo, pelo exercício de seu direi-to de expressar sua voz também nos canais midiáticos. Mais inclusivas, as edições dos programas informativos da TV pública ofereceriam ao cidadão mais protagonismo ao inserir suas produções, opiniões, conhecimentos.

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Pluralidade e diversidade são ou-tros conceitos-caminho a permitir que o Jornalismo na TV Brasil possa de fato ser considerado público, no senti-do de um maior pertencimento com a sociedade. Se a Pluralidade em geral é associada à busca por equilíbrio na representação polít ico-partidária, so-bretudo, nas reportagens e outros for-matos jornalíst icos da TV pública ela também se expressaria nas temáticas e abordagens, na participação de diferen-tes setores sociais, com destaque para a sociedade civil organizada, e ainda de diferentes regiões e sotaques no ca-leidoscópio informativo. A questão do respeito e reflexão acerca das diferen-ças também relaciona-se de forma dire-ta com a Diversidade, últ imo aspecto a destacar. Para além de uma perspectiva mais inclusiva de diferentes etnias, gê-neros, representações religiosas e cul-turais, ela envolve uma especial aten-ção no tratamento das fontes, na recusa aos estereótipos como mecanismo de tradução do mundo, e na busca por for-

Coluna acadêmica

matos audiovisuais também inovadores.Resultado de um encontro com emis-

soras públicas de rádio e TV, realizado em abril de 2014, de uma audiência pú-blica do Conselho Curador e de trabalhos desenvolvidos pela Câmara Temática de Jornalismo, as Diretrizes de Cobertura Jornalíst ica Eleições 2014 buscam tra-duzir esses conceitos em recomendações e procedimentos. O documento propõe a construção de uma nova narrativa com destaque para a cidadania, que contrapõe à disputa partidária, uma contradição ape-nas aparente, mas que também tem mar-cado a cobertura jornalíst ica da emisso-ra. Essa nova forma de narrar, nos canais públicos da EBC, teria como diretrizes editoriais: cobertura temática, prestação de serviços; espaço para a prestação de serviços e protagonismo do cidadão. Em busca de um telejornalismo para chamar de nosso, o acompanhamento dessas dire-trizes cabe também à sociedade, em par-t icular aos grupos sociais organizados e à universidade que, em diálogo, ajudariam a construir sua TV pública.

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www.conselhocurador.ebc.com.br/

ConselhoCurador

Todos as resoluções do Conselho estão disponíveis no site

Acessesaiba mais!

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Ouvidoria

investimentoJoseti Marques, ouvidora-geral da EBC

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internaUmna

ética das relaçõesN o segundo semestre deste

ano, a Ouvidoria deu iní-cio às atividades de Ouvi-

doria Interna. Mas o trabalho começou bem antes, ainda no primeiro semestre, quando formamos grupos de estudos e reflexões sobre os problemas que identi-ficávamos superficialmente na empresa, no sentido de exercitar a construção de hipóteses sobre o processo de mediação que estávamos dispostos a assumir. En-tendemos, com os estudiosos do tema, que a matéria-prima da ouvidoria interna é constituída em grande parte de proble-mas de relacionamento, conflitos inter-pessoais e distorções relacionadas aos processos de gestão de pessoas. E o que poderia fazer a ouvidoria interna diante de um desafio tão complexo quanto o próprio gênero humano? Trouxemos es-

Palavra da Ouvidoria

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E o que poderia fazer a ouvidoria interna diante de um desafio tão complexo quanto o próprio gênero humano?

pecialistas para nos abrir a compreensão, em uma conversa para a qual foram convidados todos os empregados – não vieram muitos, para aumentar nossa percepção da dificuldade que talvez viésse-mos a enfrentar.

Mas, em contrapartida, ampliamos os conhe-cimentos necessários à realização da tarefa. Maria Auxiliadora de Medeiros Valle, que implantou a Ouvidoria Interna do Serpro, nos falou das prin-cipais dificuldades e de como formou um acervo de conhecimentos e soluções a partir da experiência; a procuradora do Banco Central, Luciene Moessa de Souza, doutora em Direito do Es-tado e Sociedade, especialista em meios consensu-ais de soluções de conflitos envol-vendo entes pú-blicos e mediação de conflitos cole-tivos, apresentou estudos de casos e suas melhores soluções. Fomos também buscar a experiência em ouvidoria interna em uma das mais premiadas, a Ou-vidoria Interna do Banco do Brasil. Amauri Machado, titular daquela unidade, nos apresentou todo o processo de implantação e de-senvolvimento de uma das melhores práticas no setor e a forma como chegaram a normatizações importantes da atividade.

Uma ouvidoria interna não substitui ou interfere nas instâncias formais de solução de problemas, como o setor de Gestão de Pesso-as, a Comissão de Ética, o Sindicato, a Justi-ça do Trabalho etc. A ouvidoria interna é um recurso ao entendimento e à recomposição das relações, através da mediação e da escuta qualificada, a partir do que se pode chegar ao entendimento e à observação de pontos frágeis na organização que merecem investimento e

atenção. No cumprimento da missão, contamos com a com-petência da servidora Noemi Poconé que, por sua formação em Psicologia, já realizava a atividade de atendimento na Ouvidoria com um olhar dife-renciado. Noemi abraçou o de-safio com entusiasmo e propôs o tema “Ouvidoria Interna – lu-gar de comunicação” para ser debatido em um dos encontros do Grupo de Estudos promo-vidos regularmente pela Ouvi-doria da EBC, envolvendo-se dedicadamente no processo de definições das normas e proce-dimentos que em breve estarão em vigor.

Somando todas as expe-riências, recolhemos a certeza de que a ética é que demarca a fronteira da convivência equilibrada e contribui para a harmonização das relações, o que se traduz, certamente, em resultados positivos para as

organizações. Estamos a caminho, ainda que nos primeiros passos. Sabemos que a jornada é longa e desafiadora, mas confiamos que a ex-periência que produz e consolida conhecimen-tos, também constrói e fortalece resultados.

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Fala, conselheirO!

Sugestão de pautaaprofundar

N a campanha eleitoral de 2014 um tema praticamente passou ao largo, perdendo a sociedade brasi-

leira a oportunidade de conhecer, ao menos mini-mamente, o que venha a ser regulação da mídia. Nas poucas vezes em que um dos candidatos na campanha do primeiro turno referiu-se à questão, prevaleceu a desinformação, ou seja, a mentira de que a regulação da mídia significa censura.

Regulação econômica da mídia não tem nada a ver com censura. Muito pelo contrário. É um tema que deveria ter entrado na pauta das discussões entre os candidatos e que merece toda a atenção da mídia pública, que poderá ser o espa-ço necessário para o debate do assunto. Será, sem dúvida, um ponto importante a ser conquistado, sobretudo pelo fato de as mídias convencionais praticamente se recusarem a promover o debate.

Regulação da mídia em vários paísesRegulação da mídia existe no país que mui-

tos consideram como exemplo de democracia, os Estados Unidos. Também em Portugal, França, Reino Unido, Espanha e muitos outros países onde a imprensa é absolutamente livre de censura.

Nas raras vezes que o tema entrou em pau-ta, a própria Presidenta Dilma Rousseff, em um encontro com blogueiros independentes, admitiu que a mídia “é um setor que como qualquer outro tem que ser regulado como portos, como (o setor) elétrico, como petróleo”.

Mário Augusto Jakobskind, conselheiro

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Basta cumprir a ConstituiçãoPara começar a entender um pouco mais o tema que

vem sendo escondido ou desvirtuado pelos setores que não querem nenhum tipo de mudança, é necessário consultar a própria Constituição Brasileira de 1988.

Muitos artigos na prática acabam se tornando letra morta. O artigo 220, por exemplo, dispõe que não pode haver mo-nopólio ou oligopólio na comunicação social eletrônica. E o que acontece na prática? Uma única emissora controla cerca de 70% do mercado de televisão aberta.

O artigo 221 estimula a produção regional e indepen-dente, mas a maior parte de toda produção de TV no Brasil é feita no eixo Rio-São Paulo pelas próprias emissoras de radiodifu-são, e não por produtoras inde-pendentes.

A maioria do espectro de ra-diodifusão é ocupada por canais privados que priorizam o lucro, embora o artigo 223 da Consti-tuição defina que o sistema de comunicação no país deve respei-tar a complementaridade entre os setores de comunicação pública, privada e estatal.

Caberia ao setor de jornalis-mo de rádios e televisão informar aos seus ouvintes e telespectado-res que a Constituição brasileira também não permite que parla-mentares sejam proprietários de concessionárias de serviço públi-co. E para complementar, publicar os nomes dos que cometem as ilegalidades.

E cabe então uma pergunta: por que até hoje não foi feito um levantamento no Congresso de quem são os deputados e senadores que passam por cima do artigo 54, que impede que eles sejam os responsáveis por estas emissoras?

Aviso importanteComo reforço para o debate, a mídia pública deveria

colocar em prática para seus telespectadores e ouvintes a sugestão do jornalista e professor Laurindo Leal Filho. Sem timidez e com o objetivo de cumprir um serviço de utilidade pública deveria ser lembrado nos veículos da EBC que “esta é uma concessão pública outorgada pelo Estado em nome

E cabe então uma pergunta: por que até hoje não foi feito um levantamento no Congresso de quem são os deputados e senadores que passam por cima do artigo 54, que impede que eles sejam os responsáveis por estas emissoras?

da sociedade” para seus telespectadores e ouvintes. E a so-ciedade brasileira deve ser informada para que pressione os canais privados no sentido de também divulgar o aviso.

Em países como a Argentina, Uruguai, Equador e Ve-nezuela, entre outros, o tema midiático tem sido priorizado, não só com o advento de novas legislações, como pelo fortalecimento de mídias públicas. Eis também uma pauta que deve ser prioritária para ser apresentada aos ouvintes e telespectadores. Como dificilmente a mídia privada incen-tiva debates isentos sobre a matéria, a mídia pública tem também um importante papel a desempenhar e suprir uma lacuna.

Dominação tecnológicaAlém desses temas para o

debate, é importante também que ouvintes e telespectadores sejam lembrados que a tecnologia na área de comunicação é total-mente dominada por empresas estrangeiras. E que na internet, por exemplo, tudo passa por uma central localizada nos Estados Unidos.

Nesse sentido, é preciso di-vulgar o máximo possível que o Brasil e Uruguai assinaram um convênio de que passa pelo aprimoramento da fibra ótica no sentido de enfrentar essa de-pendência, ou seja, para não ser necessário que a comunicação nesse caso dependa totalmente de um país, no caso os Estados Unidos, que tem o controle da tecnologia.

Vale como sugestão à EBC elaborar matérias apro-fundadas sobre a questão midiática nos países da América Latina e o que acontece nos Estados Unidos e nos países europeus.

A receita não requer maiores custos. Não pode, portan-to, ser colocado o orçamento como argumento impeditivo. É apenas, vale sempre repetir, uma questão de vontade po-lítica.

Espera-se que as sugestões sejam seguidas e postas em prática o quanto antes, porque se trata de um tema que a so-ciedade brasileira de uma forma ou de outra está a exigir e não tem encontrado os canais apropriados. A hora é esta!

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Fala, conselheirA!

Integraçãoredações

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Evelin Maciel, conselheira

A Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados passou por grandes mudanças em sua organização. Após uma ampla discus-são interna e seguindo uma tendência de convergência de mídias, foi consolidada uma nova rotina de trabalho

E ntender a produção de conteúdos para vários suportes midiáticos, sem que cada veículo perca suas especificidades, não é tarefa fácil

nem tem fórmula pronta. Uma empresa de comunicação com vários veículos precisa alinhar orientações sobre coberturas, conteúdos, projetos e política de comunica-ção.

Este foi o desafio encarado pela equipe da Secreta-ria de Comunicação da Câmara dos Deputados a partir de 2011, sob a liderança de Sueli Navarro, então dire-tora da SECOM. Foram construídas novas rotinas de trabalho a partir da integração das redações até então divididas em Televisão, Rádio, Agência de Notícias e Jornal. Foram levados em conta modelos adotados pela mídia comercial e formulações de teóricos, mas o mo-delo adotado surgiu de discussões de grupos de traba-lho e da própria prática. E o mais importante, não está pronto.

O desafio da integração não permite que se defina data para que o projeto se dê por encerrado. As narra-tivas e linguagens vão sendo aperfeiçoadas constante-mente a partir desta reconstrução do modo de fazer.

Cada veículo trabalhava com seus próprios proces-sos produtivos — pauta, produção, reportagem e edi-ção. Possuíam estruturas duplicadas ou mesmo tripli-cadas, em alguns casos. A consequência natural era a redundância de rotinas e a perda de informações que deveriam ser disseminadas para todos. Não havia um

diálogo periódico entre os gestores dos veículos, o que gerava abordagens totalmente diferentes de um mesmo assunto e outros desencontros editoriais.

Grupos de trabalho foram criados com o objetivo de conhecer e mapear as rotinas de cada veículo e propor mudanças visando otimizar o trabalho. Como resultado, cada grupo apresentou sugestões de novas rotinas, or-ganograma e atribuições.

Na busca por fundamentos para a decisão de integrar os processos produtivos, algumas metas foram defini-das, como a de produzir mais e melhores conteúdos; dar instantaneidade ao compartilhamento de informações, de decisões e de produtos finais a serem utilizados pe-los veículos; descobrir e estimular novos talentos para novas funções; permitir melhor especialização temática dos repórteres para gerar mais qualidade na cobertura; compartilhar o conhecimento de repórteres e editores por todos os veículos; formar equipes para novos servi-ços estratégicos; acelerar a convergência das mídias e a crescente interatividade com os usuários; dar unicidade à gestão de pessoas, treinamentos, afastamentos.

No contato com o mercado de comunicação priva-do, os profissionais consultados trouxeram um panora-ma mais amplo, em escala global, das experiências de outras organizações e debateram com os profissionais da Câmara as dificuldades e sucessos de reestruturação. Com isto veio a certeza de que desconforto e relutância seriam naturais.

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Onde antes havia quatro veículos de comunicação, foi criado o departa-mento de Mídias Integradas. Nele, as redações foram definidas a partir do tipo de conteúdo que é produzido. Uma redação de jorna-lismo e outra de programas e do-cumentários.

No jornalis-mo, uma nova dinâmica da re-portagem foi im-plementada. Os repórteres passa-ram a responder a uma chefia úni-ca, serviços de pauta e produção foram unificados, coberturas para TV, rádio, agên-cia e jornal são concebidas sob a mesma orien-tação editorial. Editores chefes de cada veículo zelam pela linguagem e especificidade dos mesmos. Editores de texto, tam-bém divididos por veículo, dão suporte aos repórteres no fechamento. Se um repórter fecha matéria para mais de um veículo, tem mais de um editor. A transmissão das sessões do plenário e um jornal integrado diário, na hora do almoço, vão ao ar na TV, na rádio e no portal da Câmara na internet ao mesmo tempo. Teve início uma série de treina-mentos dos repórteres para os diferen-tes formatos de mídia, como oficinas de telejornalismo, de radiojornalismo e de webjornalismo.

A redação de programas e docu-mentários também se adaptou à nova realidade. Ali, as discussões sobre linguagem foram mais profundas. Ra-pidamente descobriu-se que a partir de uma mesma captação de conteúdo era

“Convergência e Integração na Comunicação Pública” – um registro da integração de processos produtivos, organo-gramas e redações vivenciado na Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados, em Brasília, a partir de 2011.

Onde encontrar o livro: solici-tar para [email protected]ço: gratuitoEditora: Edições Câmara

Para saber mais:

O desafio da integração não permite que se defina data para que o projeto se dê por encerrado. As narrativas e linguagens vão sendo aperfeiçoadas constantemente a partir desta reconstrução do modo de fazer.

possível finalizar produtos distintos, em especial para rádio e televisão. Em outros momentos, as produções são totalmente integradas, com o mesmo conteúdo para os dois veículos. Nes-tes casos, o ouvinte/telespectador tem que ter clareza de que isto está acontecendo, que o produto é o mesmo, para entender

eventuais falhas e limitações. Foi criada a área de Participação Po-

pular, onde ações e ferramentas interativas – como enquetes, bate-papos, comentários em notícias, participações em programas ao vivo e perfis em redes sociais se concen-tram. O objetivo é não apenas aprimorar todas as interfaces de interação, mas tam-bém entender o que a sociedade quer dizer e encaminhar essas manifestações de uma forma simples e prática para os deputados, possibilitando o diálogo político com retor-no aos cidadãos.

O momento agora é de fazer ajustes nesta estrutura, melhorar a divulgação de notícias nas redes sociais, aprofundar as discussões sobre linguagem. Mas o passo mais difícil foi dado. A reestruturação da Secretaria de Comunicação foi aprovada pela Mesa Diretora da Câmara da Câmara dos Deputados por meio do Ato 68/13.

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Curadoria

Anderson Ribeiro, jornalista da EBC

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ChamadasAsClamo por sua atençãoNos intervalos da minha programação.Você me ouve, fico felizE volto mais duas vezes.E na ânsia de lhe dar notícias minhas,Regresso definitivamente no final do dia.

Meio e Mensagem.Ou não são necessárias

mais as romãsNão é preciso mais gritar para ser ouvidoHá aqui amplitude de muitas vozes.Alto falante de minoriasExpressão do falar livre de cortes.

Audiência IProgramo-me inteiro para lhe ter por perto por mais tempo.Faço-me muitos e diverso para pra chamar sua atenção.Vou seguindo seu olhar me vendo completo e desnudadoAté parar na parte que mais lhe agrade.

Audiência IISei do que gosta em mimPorque meço seu olhar quando me flerta inteiro.

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CuradorConselhoRevista do