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Revista Eletrônica de Enfermagem, Vol. 05, Num. 01, 2003. Goiânia (GO - Brasil). EDITORIAL SOUZA, Joaquim Tomé de .................................................................................................................................. 03 ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL PAPERS/ARTICULOS ORIGINALES Motivações do paciente renal para a escolha da dialise peritoneal ambulatorial contínua Motivations of renal patient to choose the continuum ambulatorial peritoneal dialisis SILVA, Hiarlene Gonçalves; SILVA, Maria Josefina da ...................................................................................... 10 Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos pelo Programa de Saúde da Família Informal caregivers for old people without self care attended by the Health Family Programe Perfil de las personas que cuidan informalmente ancianos con uma deficiencia de autocuidado atendidos por el Programa de Salud Familiar NAKATANI, Adélia Yaeko Kyosen; SOUTO, Christiane do Carmo Soares; Paulette, Leina Marta; MELO, Terezinha Silverio de; SOUZA, Marcia Maria de ................................................................................................. 15 O conhecimento dos alunos de enfemagem sobre álcool e drogas The knowledge of nursing students on alcohol and drugs El conocimento de los alumnos de enfermeria acerca de alcohol y drogas LUIS, Margarita Antonia Villar; PILLON, Sandra Cristina .................................................................................. 21 O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Growth and development of 12 to 48 month old infants in a day nursery at the outskirts of Ribeirão Preto city - SP Crescimento y desarrollo de niños con rango de edad entre los 12 y 48 meses de edad, en guarderias infantiles de las zonas perifericas de la ciudad de Ribeirão Preto - SP CARABOLANTE, Alessandra Carvalho; FERRIANI, Maria das Graças Carvalho ............................................ 28 Leitos psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral Psychiatric ward in general hospital: professionals view who works in general hospital Los lechos psiquiatricos en hospital general: visión de los professionales que actuan en hospital general MION, Jucéli Zimmermann; SCHNEIDER, Jacó Fernando ................................................................................ 38 Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goiás - Brasil Adhesion to standard precaution among professional of rescue team of fireman in Goiás - Brasil Adherencia a las medidas de precauciones estándares entre los professionales del equipo del rescate del cuerpo de bomberos de Goiás - Brasil FLORÊNCIO, Valéria Borba; RODRIGUES, Carolina de Araujo; PEREIRA, Milca Severino; SOUZA, Adenícia Custódia Silva e ................................................................................................................................... 43 Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia Gestation of high risk and low weight at birth in Goiânia Gestación de alto riesgo y bajo peso al nacer en Goiania MARTINS, Cleusa Alves; REZENDE, Leilinéia Pereira Ramos de; VINHAS, Dayane Cristina Silva ............... 49

Revista Eletrônica de Enfermagem, Vol. 05, Num. 01, 2003 ... · Revista Eletrônica de Enfermagem, Vol. 05, Num. 01, 2003. Goiânia (GO - Brasil). EDITORIAL SOUZA, Joaquim Tomé

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Revista Eletrônica de Enfermagem, Vol. 05, Num. 01, 2003. Goiânia (GO - Brasil).

EDITORIAL

SOUZA, Joaquim Tomé de ..................................................................................................................................03

ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL PAPERS/ARTICULOS ORIGINALESMotivações do paciente renal para a escolha da dialise peritoneal ambulatorial contínua Motivations of renal patient to choose the continuum ambulatorial peritoneal dialisis SILVA, Hiarlene Gonçalves; SILVA, Maria Josefina da ......................................................................................10

Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos pelo Programa de Saúde da Família Informal caregivers for old people without self care attended by the Health Family Programe Perfil de las personas que cuidan informalmente ancianos con uma deficiencia de autocuidado atendidos por el Programa de Salud FamiliarNAKATANI, Adélia Yaeko Kyosen; SOUTO, Christiane do Carmo Soares; Paulette, Leina Marta; MELO, Terezinha Silverio de; SOUZA, Marcia Maria de .................................................................................................15

O conhecimento dos alunos de enfemagem sobre álcool e drogasThe knowledge of nursing students on alcohol and drugs El conocimento de los alumnos de enfermeria acerca de alcohol y drogas LUIS, Margarita Antonia Villar; PILLON, Sandra Cristina ..................................................................................21

O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP.Growth and development of 12 to 48 month old infants in a day nursery at the outskirts of Ribeirão Preto city - SP Crescimento y desarrollo de niños con rango de edad entre los 12 y 48 meses de edad, en guarderias infantiles de las zonas perifericas de la ciudad de Ribeirão Preto - SP CARABOLANTE, Alessandra Carvalho; FERRIANI, Maria das Graças Carvalho ............................................28

Leitos psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geralPsychiatric ward in general hospital: professionals view who works in general hospital Los lechos psiquiatricos en hospital general: visión de los professionales que actuan en hospital generalMION, Jucéli Zimmermann; SCHNEIDER, Jacó Fernando ................................................................................38

Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goiás - BrasilAdhesion to standard precaution among professional of rescue team of fireman in Goiás - Brasil Adherencia a las medidas de precauciones estándares entre los professionales del equipo del rescate del cuerpo de bomberos de Goiás - BrasilFLORÊNCIO, Valéria Borba; RODRIGUES, Carolina de Araujo; PEREIRA, Milca Severino; SOUZA, Adenícia Custódia Silva e ...................................................................................................................................43

Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em GoiâniaGestation of high risk and low weight at birth in Goiânia Gestación de alto riesgo y bajo peso al nacer en GoianiaMARTINS, Cleusa Alves; REZENDE, Leilinéia Pereira Ramos de; VINHAS, Dayane Cristina Silva ...............49

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REVISÃO/REVIEW/REVISIÓN

Reabilitação psicossocial através das oficinas terapeuticas e/ou cooperativas sociais Rehabilitación psicosocial através de talleres terapéuticos y/o cooperativas sociales VALLADARES, Ana Cláudia Afonso; LAPPANN-BOTTI, Nadja Cristiane; MELLO Rosâne; KANTORSKI, Luciane Prado; SCATENA, Maria Cecília Moraes .............................................................................................04

RELATO DE EXPERIÊNCIA/CASE REPORT/RELATO DE VIVENCIA

A enfermagem moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação) A post-graduate seminar on modern Nursing and the international experience Un seminario de post-graduación sobre la enfermeria moderna y experiencia internacionalSANTOS, Luiz Antonio de Castro ......................................................................................................................35

Normas de publicação na Revista Eletrônica de Enfermagem ....................................................................56

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EDITORIAL

Todos aqueles ligados à Ciência, de qualquer área, sabe muito bem que a informação é o instrumento do poder atualmente. Quem detém a informação, tem o conhecimento, que traz, seqüencialmente, a tecnologia. Essa trilogia é, hoje, o que o poderio militar era no século passado. A informação não está estacionária nas bibliotecas do mundo. Está inserida no espaço cibernético. Podemos dizer que ela está "nas pontas dos dedos", bastando saber digitar o caminho certo no teclado real ou virtual de um computador. No mundo inteiro está havendo uma verdadeira corrida em direção as TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação. Movimenta-se mais de 400 bilhões de dólares no mundo nesse segmento da economia mundial. Apenas nas três Américas, o setor das TIC emprega de 28% a 30% dos trabalhadores que vivem nos países do Continente. A projeção é de que esse percentual suba para 32,4% em 2006. No setor educacional as TIC propiciaram extraordinários avanços. O processo de ensinar, por exemplo, que há mais de 400 anos tem se mantido quase inalterado, está atualmente sofrendo um impacto colossal, revolucionando a relação professor-aluno, desde o ensino fundamental ao universitário. O quadro-verde e o giz estão se tornando instrumentos do passado muito rapidamente. Essa revolução está acontecendo em todo o planeta. Bem instalada nos países desenvolvidos e timidamente iniciante nos em desenvolvimento, mas há embrião desse movimento em todo o mundo. Sua velocidade é que sofre contratempos em termos mundiais. No Brasil o setor privado da educação sai na vanguarda, mas os esforços no setor público são esperançosos. Há vários consórcios de escolas públicos, especialmente nas Universidades, para utilizar as TIC no sentido de propiciar o acesso, aos cursos superiores, de um maior número de pessoas. Exemplos disso são: Consórcio CEDERJ (http://www.cederj.edu.br/index2.php) – todas as Universidades públicas do Rio de Janeiro se uniram para oferecer curso de pedagogia a todos os professores do ensino fundamental e médio, que não tinham graduação, a se graduarem através de ensino a distância; Consórcio Universidade Virtual Pública do Brasil (antiga UNIREDE - http://www.unirede.br/informe/index.htm) – mais de setenta Universidades Públicas do Brasil se unem para a oferta de cursos de graduação na modalidade ensino a distância. Dois consórcios aqui são citados, mas, existem muito mais. A modalidade de ensino utilizando as TIC, aqui caracterizada como ensino a distância, nome que está mudando de conceitualização, vem desafiando os professores a se engajarem na transformação do processo de ensinar. Desafio esse que poucos professores têm aceitado. Das áreas do conhecimento, as sociais e humanas são as que mais têm se utilizado das TIC. A maior parte dos cursos na modalidade ensino a distância são dessas áreas. A área da saúde está muito tímida. Ao lado das dificuldades operacionais inerentes aos seus cursos, essa área é ainda muito conservadora. Hercúleo esforço tem demonstrado a UNICAMP, a USP, e UNIFESP, citando apenas algumas, para alavancar esse processo virtual de ensino, mas os resultados são ainda pequenos. Outro grande esforço nesse sentido tem vindo do Consórcio EDUMED (http://www.edumed.org.br/teleduc/pagina_inicial/index.php), criado pelo Instituto EduMed para Educação em Medicina e Saúde. Entretanto, a esperança é grande, como também é muito grande o benefício, em todos os sentidos, que esse sistema pode dar aos que trabalham na saúde, sejam os aplicadores ou os usuários. É preciso, entretanto, que nós, os trabalhadores na área da saúde, tenhamos a coragem de assumir mudanças internas, no sentido pessoal, quanto externas, no sentido tecnológico. Precisamos mudar a nossa visão de ensino e aprendizagem, abrir-nos para novos caminhos na grande avenida cibernética dos bits e bytes. Quanto mais retardarmos em aceitar esses novos desafios, mais distantes estaremos da nova ordem de geração de profissionais para conduzir os negócios do mundo.

Prof. Dr. Joaquim Tomé de Souza Editor da REE

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VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocialatravés das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003.Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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1 Enfermeira, Profª Auxiliar da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás e Mestranda do Programa de Pós-

graduação em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP).Endereço para Correspondência: Ana Cláudia Afonso Valladares, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Rua227 Qd. 68 s/nº Setor Leste Universitário. Goiânia – GO – CEP: 74.605-080. Fax: (62)202-1033. E-mail: [email protected]

ARTIGO DE REVISÃO

REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL ATRAVÉS DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS E/OU COOPERATIVAS SOCIAIS

PSICOSSOCIAL REHABILITATION THROUGH THERAPEUTIC WORKSHOPS AND/OR SOCIAL COOPERATIVESREHABILITACIÓN PSICOSOCIAL A TRAVÉS DE TALLERES TERAPÉUTICOS Y/O COOPERATIVAS SOCIALES

Ana Cláudia Afonso Valladares 1

Nadja Cristiane Lappann-Botti 2

Rosâne Mello 3

Luciane P Kantorski 4

Maria Cecília M Scatena 5

RESUMO: As oficinas terapêuticas e as cooperativas sociais, enquanto dispositivos da atual PolíticaNacional de Saúde Mental, objetivam se diferenciar das práticas antecessoras, práticas decorrentes da idéiade estabelecer o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como ‘tratamento moral’. Neste contexto,entende-se que as oficinas, não se apresentam por si só uma forma inaugural de lidar com a loucura. A experiência do trabalho das oficinas e/ou cooperativas torna-se positiva quando uma de suas funções étambém o de intervir no campo da cidadania. Assim, atuando no âmbito social, contribui como possibilidadede transformação da realidade atual no que diz respeito ao tratamento psiquiátrico.Palavras Chaves: Reforma Psiquiátrica, Reabilitação Psicossocial, Oficinas Terapêuticas, CooperativasSociais.

ABSTRACT: The therapeutic workshops and the social cooperatives, while current Mental Health NationalPolitics devices, objectify if it differentiates of the practice predecessors, idea current practices ofestablishing the work as a therapeutic, well-known resource like ‘moral treatment’. In this context, it understands that the workshops, don't introduce by itself an inaugural form of work with the madness. Theworkshops work experience and/or cooperative becomes positive when one of her functions is also the oneof intervene in the citizenship field. Thus, acting in the social scope, contributes like transformation current reality possibility in the that tells respect to the psychiatric treatment. Keywords: Psychiatric reform, Rehabilitation Psicossocial, Therapeutic Workshops, Social Cooperatives.

RESUMEN: Los talleres terapéuticos y las cooperativas sociales, en cuanto dispositivos de la actual PolíticaNacional de Salud Mental, se diferencian objetivamente de las prácticas antecesoras, prácticas derivadasde la idea de establecer el trabajo como un recurso terapéutico, conocido como “tratamiento moral”. En estecontexto, se entiende que los talleres, no se presentan así mismos como una forma inaugural de trabajarcon la locura. La experiencia del trabajo en los talleres y/o cooperativas se vuelve positiva cuando una desus funciones es también la de intervenir en el campo de la ciudadanía. Así, actuando en el ámbito social, contribuye como posibilidad de transformación de la realidad actual en lo que se dice respecto al tratamientopsiquiátrico.Palabras clave: Reforma Psiquiátrica, Rehabilitación psicosocial, Talleres terapéuticos, Cooperativassociales.

REFLEXÕES INICIAIS

Tradicionalmente a reabilitação era compreendida como a restituição a um estado anteriorou à normalidade do convívio social ou de atividadesprofissionais. Atualmente, PITTA (1996) considerareabilitação psicossocial como o processo que facilitaao usuário com limitações, a sua melhor

reestruturação de autonomia de suas funções nacomunidade. Na proposta atual da ReformaPsiquiátrica no Brasil, têm-se como objetivo adesinstitucionalização e inclusão, integrando aspessoas com sofrimento psíquico nos diferentesespaços da sociedade. Segundo ROTELLI & AMARANTE (1992), a desinstitucionalização não deveser praticada apenas no interior do hospital

Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP).3 Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

da Universidade de São Paulo (EERP/USP)4 Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da EERP/USP

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VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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psiquiátrico, mas repropõe a necessidade de desinstitucionalizar, isto é, reabilitar o contexto. Cujaprincipal função reabilitadora seria a restituição dasubjetividade do indivíduo na sua relação com asinstituições sociais, ou melhor, a possibilidade derecuperação da contratualidade”.

O termo “oficina” vem sendo muito empregadopara designar atividades que estão sendodesenvolvidas nos espaços substitutivos de cuidadosem saúde mental. O que podemos notar é umadiversidade enorme de atividades que utilizam estanomenclatura para se caracterizarem, mas o que seriaexatamente uma “oficina”? Segundo o MINISTÉRIODA SAÚDE, Portaria 189 de 19/11/1991, estas secaracterizariam como “atividades grupais desocialização, expressão e inserção social”.

Para SARACENO (1999) a reabilitaçãopsicossocial precisa contemplar três vértices da vidade qualquer cidadão: casa, trabalho e lazer. A associação das oficinas terapêuticas, do trabalho e areabilitação podem apresentar inúmeras variações naprática ou no contexto onde é operacionalizada, masdificilmente há contradição na idéia de que o trabalho éum instrumento de reabilitação.

DELGADO, LEAL & VENÂNCIO (1997)identificam três caminhos possíveis para a realização de uma oficina:

¶ Espaço de Criação: são aquelas oficinas quepossuem como principal característica a utilização da criação artística como atividade e como umespaço que propicia a experimentação constante.

Podemos dizer que as oficinas terapêuticas (OMinistério da Saúde define e apresenta os objetivosdas oficinas terapêuticas como: (...) atividades grupaisde socialização, expressão e inserção social através da Portaria 189 de 19/11/1991) e as cooperativassociais (Lei No 9.867 10/11/1999 dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais,visando à integração social dos cidadãos e constituídas com a finalidade de inserir as pessoas emdesvantagem no mercado de trabalho econômico pormeio do trabalho. São considerados em desvantagempara efeitos da lei, os deficientes psíquicos e mentais,as pessoas dependentes de acompanhamentopsiquiátrico permanente, egresso dos hospitaispsiquiátricos, entre outros), enquanto dispositivos daatual Política Nacional de Saúde Mental objetivam sediferenciar em relação às suas práticas antecessoras,práticas decorrentes da idéia de estabelecer o trabalhocomo um recurso terapêutico, conhecido como‘tratamento moral’. Neste contexto, entendemos que as oficinas, não se apresentam por si só uma formainaugural de lidar com a loucura.

¶ Espaço de Atividades Manuais: seria uma oficinaque utiliza o espaço para a realização de atividadesmanuais, onde seria necessário um determinadograu de habilidade e onde são construídos produtosúteis à sociedade. O produto destas oficinas éutilizado como objeto de troca material.

¶ Espaço de Promoção de Interação: é a oficina quetem como objetivo a promoção de interação deconvivência entre os clientes, os técnicos, osfamiliares e a sociedade como um todo.

Os autores, supra citados, afirmam que osfatores de unificação das experiências intitulados“oficinas” não são os tipos de atividades desenvolvidasnestes espaços, mas a noção deste espaço enquantofacilitador da comunicação e das relações interpessoais, favorecendo deste modo à interação, aintegração e a reinserção social.

Poderíamos neste momento perguntar em queconsiste a relação da reabilitação psicossocial com asoficinas e a que se refere a atual reforma psiquiátricaou em que sentido se referem estas diferenças emrelação às práticas antecessoras deste último século?

MINZONI (1974) já utilizava o termo terapiapsicossocial e o conceituava como atividadesterapêuticas que envolvem o atendimento do usuário,tanto a nível individual como em grupo, e atividades detrabalho e recreação. E, conforme sua estrutura,recebem diferentes denominações. A referida autoracita como exemplos às atividades de trabalho e recreação e as subdivide em motoras (ginástica,voleibol, trabalho em couro e madeira, entre outros),sociais (festas e datas civis, cinema, teatro e outras) eauto-expressivas (atividades espontâneas e nãoorientadas, como por exemplo cerâmica, pintura edança). Podemos observar que a autora já tentavaorganizar as atividades, categorizando-as de acordocom os objetivos de cada uma. Inferimos que estasatividades sejam equivalentes às que hoje estamoschamando de oficinas, é claro, se fizermos as devidasrelativizações temporais.

Propõe: agir, isto é, inserir socialmenteindivíduos segregados e ociosos, e de recuperá-losenquanto cidadãos, através de ações que passamfundamentalmente pela inserção do pacientepsiquiátrico no trabalho e/ou em atividades artísticas,artesanais, ou em dar-lhes acesso aos meios decomunicação entre outros (RAUTER, 2000).

Mas isto não é totalmente novo como noslembra RESENDE (2000) ao colocar que não é umasimples coincidência, o trabalho no campo, oartesanato e o trabalho artístico serem até hojepropostas como técnicas de tratamento e ressocialização dos doentes mentais. Estas atividadesapresentam em comum a capacidade de acomodarlargas variações individuais e de respeitar o tempo e oritmo psíquico de cada trabalhador.

Podemos afirmar que o conceito de oficinasofreu várias modificações ao longo do tempo. Paraexemplificarmos esta afirmação, podemos citar KYES& HOFLING (1985) no qual encontraremos o termo“terapia” classificado das três seguintes formas:

A partir destas reflexões este estudo tem porobjetivo refletir sobre o significado das oficinasterapêuticas, o trabalho e a reabilitação psicossocial.

¶ Terapia Ocupacional: técnica utilizada basicamentecom um indivíduo que usa a arte e o artesanato

ANTIGOS CONCEITOS E NOVAS PRÁTICAS

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VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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como meios de tratamento. Possuía o objetivo deocupar, para que o paciente não ficasse sem fazernada ou seja, desocupado.

¶ Terapia Recreativa: técnica que estimula aexpressão através de atividades sociais e em grupo. Tinha como objetivo estimular a expressãodos impulsos e entreter o paciente.

¶ Terapia Educacional: possuía como objetivoprincipal educar/reeducar socialmente o paciente,para que este se ajustasse as regras sociais.

Para conseguirmos perceber o significado dotermo “oficina” nestes dois momentos históricos faz-senecessário entender os termos entretenimento eempowerment. SARACENO (1999) define o primeirotermo como uma ação provida de prazer capaz defazer o tempo passar. Com base neste autor podemosinferir que o principal paradigma da psiquiatria seria amanutenção do indivíduo dentro do hospital. Inferimos

que ainda hoje há o risco de reproduzirmos esta lógicade controle e contenção nos chamados espaçossubstitutivos de cuidar em saúde mental. Precisamosrefletir criticamente sobre os objetivos que levam osprofissionais a utilizarem as oficinas como espaçosterapêuticos e não apenas reproduzir conceitos.

VASCONCELOS (2000) traz a tona o termo empowerment como de grande importância para asdiscussões sobre saúde mental e a construção desuas práticas do cotidiano. O referido autor define otermo como valorização do poder contratual dospacientes nas instituições e do seu poder relacionalnos contatos interpessoais na sociedade. Seria muitointeressante que o significado deste termo permeassea prática de cuidados nos espaços terapêuticos dasoficinas, pois acreditamos que este seja o verdadeirosentido do fazer oficinas.

O que era O que esperamos que seja

Objetivos * Ocupação;

* Não ficar sem fazer nada;

* Entretenimento.

* Ampliar habilidades;

* Aumentar autonomia e poder contratual;

* Empowerment.

Característi-cas * Trabalho repetitivo e monótono;

* Sem remuneração (pelo bem doserviço).

* Valorização da singularidade edesenvolvimento do potencial criativo;

* Com/sem remuneração (desejo / contrato).

Resultadosdesejados

* Canalização da agressividade;

* Penitência;

* Expressão de impulsossexuais/sociais.

* Rompimento com isolamento e inserçãono mundo social;

* Catalisação da construção de territóriosexistenciais;

* Efetuação do desejo na vida, no trabalhoe na criação;

* Reinvenção da vida em seus aspectosmais cotidianos.

Modalidades * Terapia ocupacional;

* Terapia recreativa;

* Terapia educacional.

* Espaços de criação;

* Espaços de atividades manuais;

* Espaços de promoção de interação.

Locais derealização

* Salas especiais dentro do hospital psiquiátrico.

* Setting terapêutico isomórfico emrelação à realidade externa (vida social eprodutiva).

Quem atua * Equipe multidisciplinar, seguindo um modelo essencialmentebiológico e organicista.

* Equipe inter/transdisciplinar, comabordagem holística e integrada.

Essas referidas oficinas já apareceram ao longodo processo histórico da psiquiatria, mas tinham um objetivo diferenciado do referencial da reabilitaçãopsicossocial . Atualmente vem se constituindo atravésde princípios específicos, ou seja, a partir dareinserção das pessoas em sofrimento psíquico, masrespeitando a singularidade de cada instituição, deacordo com suas peculiaridades e regionalidades.

OFICINAS TERAPÊUTICAS

As oficinas terapêuticas são atividades deencontro de vidas entre pessoas em sofrimentopsíquico, promovendo o exercício da cidadania aexpressão de liberdade e convivência dos diferentesatravés preferencialmente da inclusão pela arte.

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VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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A utilização das artes dentro das oficinasterapêuticas num processo de antes e depois daperspectiva da reinserção e reabilitação psicossocial

sofreu significativas transformações que serãodescritas no quadro abaixo:

ANTES HOJE

*Técnica Livre. Acreditava-se que o fazer arte jápropicia a “cura por si”, por ser um veículo deacesso ao conhecimento do mundo interior.

*Técnica com uma finalidade e um propósitodefinido. Ações inclusoras e proporcionamheterogeneidade e oportunidades de ações combase na desinstitucionalização.

*Centra as estratégias terapêuticas no indivíduoextraído do contexto familiar e social.

*Centra as estratégias terapêuticas no indivíduoinserido no seu contexto familiar e social.

*Ênfase nos trabalhos individuais e grupais comusuários.

*Ênfase nos trabalhos individuais e coletivos com usuários, familiares e comunidade. Visando a integração e a socialização dos mesmos.

*Processo de ocupação aleatória do doentemental.

*Processo que permite a expressão desentimentos, emoções e vivências singularesaos doentes mentais.

*Prioriza o poder hegemônico dominante (poderdo médico e da verticalidade das relações intra-institucionais). Ênfase na segregação, noestigma, na exclusão, na violência, nopreconceito, na alienação, na cronificação, nasdesigualdades, na diferença, na discriminação econseqüentemente “morte dos indivíduos”.

*Prioriza a autonomia, o processo criativo e oimaginário do paciente e despsiquiatrização(retirada do médico a exclusividade dasdecisões e atitudes terapêuticas, passando a ser compartilhada com outros profissionais)

*Dá ênfase na originalidade, na expressividade,nas possibilidades e na desmistificação.

*Utiliza vários recursos expressivos como apintura, o desenho, a modelagem e oartesanato.

*Utiliza-se de múltiplos recursos expressivos,como dramatização, fotografia entre outros,além dos já citados anteriormente.

Ante as características citadas anteriormentepensamos em alguns princípios básicos que deveriamnortear o referido processo. Entre eles podemosenumerar:

¶ Todos os indivíduos podem e devem projetar seusconflitos internos sob forma plástica, corporal,literária, musical, teatral etc;

¶ Valorização do potencial criativo, expressivo e imaginativo do paciente;

¶ Fortalecimento da auto-estima e da autoconfiança;

¶ Visa a reinserção social os usuários;

¶ Inter e transdisciplinariedade: uma “miscigenação”de saberes e intervenções;

¶ Intersecção entre o mundo do conhecimentopsíquico e o mundo da arte, pela expressão dasubjetividade;

¶ Reconhecimento da diversidade.TRABALHO E LOUCURA

Como nos recorda SARACENO (1999, p. 127)“o trabalho em manicômio é tão antigo como o própriomanicômio”. RESENDE (2000) considera que, Francoda Rocha, foi o primeiro a defender o trabalho nohospício, escrevendo em 1889 o artigo intitulado “A questão do trabalho nos hospícios”. Franco da Rochacitado por MÂNGIA (1997) coloca que o trabalho “é a

chave da abóboda do tratamento moderno da loucura”(ROCHA, 1912, p. 92). Por considerar a ociosidade “o que há de mais subversivo tanto para o espírito dolouco como para o normal” (ROCHA, 1912, p. 6). Assim se estabelece o trabalho como um recursoterapêutico, conhecido como “tratamento moral”.

Toda a racionalidade que orienta a terapêuticada época aponta para a eficácia da laborterapia nacura dos doentes, como coloca Franco da Rochacitado por MANGIA (1997, p. 95):

“Não se deve levar, entretanto, olhar somente o valor da produção, que é grande, mas também olado moral da questão. O insano que trabalha evê o resultado de seu suor, sente-se mais digno;sai da condição ínfima de criatura inútil e eleva-se a seus próprios olhos; adapta-se ao modusvivendi que lhe suaviza grandemente adesgraça.”

Apesar das experiências das colônias agrícolas,laborterapia ou ergoterapia delinearem em sua filosofiaoriginária os objetivos, entendidos à época comoterapêuticos “nas instituições se transformava emtrabalho alienado (não reconhecido e não pago),sobretudo lá onde era indispensável à reprodução daprópria instituição” (Saraceno, 1999, p. 133).

Na proposta atual da Reforma da AssistênciaPsiquiátrica no Brasil, a intenção é a da desinstitucionalização e inclusão. Integrando os portadores de sofrimento psíquico nos diferentesespaços da sociedade inclusive, no trabalho.

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VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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COOPERATIVA E REFORMA PSIQUIÁTRICA

A Psiquiatria Democrática Italiana inovou aocriar cooperativas que admitiam que 30% de seusassociados tivessem históricos psiquiátricos. Taiscooperativas foram criadas através da Lei n 180, a partir de 1978, e tiveram boa aceitação, não apenaspor estarem inseridas no contexto da reformapsiquiátrica, mas também pelo fato da culturacooperativista ser difundida na Itália desde o início do século, período de elevada taxa de desemprego(WANDERLEY et al, 1997).

A cooperativa se constitui como um espaçoonde as pessoas com dificuldades de inserção nomercado, possam fazê-lo, por uma via que acolhe eaborda os paciente, que se tornam cooperados, de maneira apropriada. Dessa forma um lugar socialdiferente para os pacientes vai se constituindo; um lugar na divisão social do trabalho, ao invés deexclusão nos manicômios. Segundo AMARANTE (1997, p. 176):

“as cooperativas sociais são constituídas com o objetivo, não mais ‘terapêutico’, isto é, rompendocom a tradição da terapia ocupacional, mas de construção efetiva de autonomias epossibilidades sociais e subjetivas. Por um lado, o trabalho nas Cooperativas surge comoconstrução real de oferta de trabalho parapessoas em desvantagem social para as quais omercado não facilita oportunidades. Por outro,surge como espaço de construção depossibilidades subjetivas e objetivas, de validação e reprodução social dos sujeitosenvolvidos em seus projetos.”

COOPERATIVA TRABALHO: O QUE HÁ DE NOVO

Poderíamos neste momento perguntar em queconsiste a relação da reabilitação psicossocial com otrabalho a que se refere a atual reforma psiquiátrica ou em que sentido se referem estas diferenças emrelação às práticas antecessoras deste último século?

“Se trata, sobretudo de agir, de inserirsocialmente indivíduos encarcerados,segregados, ociosos – recuperá-los enquantocidadãos [...] por meio de ações que passamfundamentalmente pela inserção do pacientepsiquiátrico no trabalho e/ou em atividadesartísticas, artesanais, ou em dar-lhes aceso aosmeios de comunicação, etc.” (Rauter, 2000, p.268).

Segundo AMARANTE (1997) as Cooperativaspassam a envolver os usuários como sujeitos sociaisativos que, rompendo com as noções de ergoterapia,arteterapia e terapia ocupacional, contam com osujeito em sua possibilidade de produzir, criar e consumir. Além de serem uma possibilidadeestratégica para o campo da saúde mental quandopossibilitam a produção de recursos que podem ser, parcialmente, reconvertidos em recursos assistenciais,como a construção de moradias abrigadas, deespaços de lazer, enfim a construção de novas

possibilidades sociais e subjetivas. SARACENO (1999, p. 126) afirma que:

“O trabalho para os pacientes psiquiátricosgravemente desabilitados, não deve serentendido como o simples desenvolver dedeterminadas tarefas, pode ser na realidade umaforma ulterior de norma e contenção, de restriçãodo campo existencial. O trabalho, entendidocomo “inserção laborativa”, pode, ao invés disso,promover um processo de articulação do campodos interesses, das necessidades, dos desejos[...] Neste momento as cooperativas integradassão ao mesmo tempo serviços (de tratamento) e lugares de produção (no mercado), e esses doisaspectos são mediados pela sua funçãoformativa [...] lugares de promoção da autonomiabem como de proteção: funções que deveriamser próprias de um bom serviço de saúdemental.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Deleuze e Guatarri citado porRAUTER (2000) o trabalho e a arte podem ser grandes “vetores de existencialização”. RAUTER (2000, p. 268) retoma Marx para pensar as condiçõesdo trabalho no capitalismo – no trabalho alienado – ascondições pelas quais o trabalho pode se constituircomo vetor de existencialização estão bastantereduzidas ou inexistentes. Contrapondo coloca que as“oficinas serão terapêuticas ou funcionarão comovetores de existencialização caso consigamestabelecer outras e melhores conexões que as habitualmente existentes entre produção desejante e produção da vida material” .

Assim podemos perguntar qual seria o sentidodas oficinas terapêuticas na proposta da reforma psiquiátrica. RAUTER (2000, p. 271) nos ajuda anortear uma resposta quando coloca que:

“as oficinas, o trabalho e a arte possam funcionarcomo catalisadores da construção de territóriosexistenciais (inserir ou reinserir socialmente os ”usuários”, torná-los cidadãos...), ou de “mundos”nos quais os usuários possam reconquistar ouconquistar seu cotidiano ... de cresse que está sefalando não de adaptação à ordem estabelecida,mas de fazer com que trabalho e arte sereconectem com o primado da criação, ou com odesejo ou com o plano de produção da vida.”

A experiência do trabalho das oficinas torna-sepositiva quando uma de suas funções é também o deintervir no campo da cidadania. Assim, atuando noâmbito social, contribui como possibilidade de transformação da realidade atual no que diz respeitoao tratamento psiquiátrico.

Atualmente, os profissionais de saúde mentalpercebem o significado do espaço da oficina a partir dereferenciais humanistas, dentro do contexto da Reforma Psiquiátrica. Porém, se partirmos para umaanálise profunda do contexto social em que estesprofissionais atuam, em especial enfermeiros, latino-americanos, brasileiros, trabalhadores assalariados,poderão perceber claramente que o grau de sofrimento

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VALLADARES, A. C. A.; LAPPANN-BOTTI, N. C.; MELLO, R.; KANTORSKI, L. P.; SCATENA, M. C. M. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 04 – 09, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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ROCHA, F. Hospício e colônias de Juquery. Vinte anos de assistência aos alienados. São Paulo: Typ. Brasil, 1912.

destes profissionais é grande, haja visto a realidadeque nos cerca. Na sociedade em que vivemos, afirmaRAUTER (2000, p. 269)

ROTELLI, F.; AMARANTE, P. Reformas Psiquiátricasna Itália e no Brasil. Aspectos Históricos eMetodológicos. In: BEZERRA, B.;AMARANTE, P.(Org.): Psiquiatria sem Hospício. Rio de Janeiro:Relume-Dumará, 1992.

“ocorre a prevalência dos aspectos técnico-econômico ou dos aspectos jurídicos sobreaqueles referentes à produção desejante é o queestá condenando nosso mundo à desertificação-desertificação das relações amorosas e do sexo,esvaziamento do campo coletivo, produção de umnúmero cada vez maior de excluídos, não apenasdo mercado de trabalho, mas de um cotidiano, já que muitos modos de ser não se adequam a ummundo que coloca em primeiro plano aspectosligados à produtividade técnico-econômico.”

SARACENO, B.A reabilitação como cidadania.In:Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Rio de Janeiro:TeCorá, 1999. cap. 5, p.111-142.VASCONCELOS, E.M. Reinvenção da cidadania,empowerment no campo da saúde mental e estratégiapolítica no movimento de usuários. In: AMARANTE, P.(Org.). Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade.Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000. cap. 12, p.267-277.

Podemos ver ao longo do seminário que Francoda Rocha já defendia a utilização de oficinas dentrodas chamadas colônias de alienados, logo, nãopodemos considerá-las uma nova possibilidade decuidados em saúde mental. Precisamos considerarsim as novas possibilidades de intervenção nestesespaços terapêuticos, de maneira tal que não as utilizemos a mesma forma que Franco da Rocha, mascomo os outros “Franco”, Franco Basaglia e FrancoRotelli.

WANDERLEY, A.A.R. et al. Cooperativismo e saúdemental: uma experiência possível? Anais doCongresso de Saúde Mental do Rio de Janeiro,1997.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Texto original recebido em: 17/02/2003;KYES, J.J; HOFLING, C.K. Conceitos básicos empsiquiatria. 4. ed. Rio de Janeiro: Interamericana,1985.

Publicação aprovada em: 15/05/2003.

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SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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MOTIVAÇÕES DO PACIENTE RENAL PARA A ESCOLHA A DIÁLISE PERITONEAL AMBULATORIALCONTÍNUA

MOTIVATIONS OF RENAL PATIENT TO CHOOSE THE CONTINUUM AMBULATORIAL PERITONEAL DIALISE MOTIVACIONES DEL PACIENTE RENAL PARA LA ELECCIÓN DE LA DIÁLISIS PERITONEAL AMBULATORIA CONTINUA

Hiarlene Gonçalves Silva 1

Maria Josefina da Silva 2

RESUMO: A doença renal impõe ao seu portador uma nova concepção devida. Hoje, modernas técnicas,possibilitam maior liberdade ao cliente, sendo uma delas, Diálise Peritoneal Ambulatorial contínua. Objetivamosestudar a eleição pelo método e os sentimentos com relação a esta escolha pelos clientes. Concluímos que ométodo, apesar de suas vantagens, ainda não é o de primeira opção, os pacientes, em alguns casos não estãobem treinados com intercorrências, mas a maioria está satisfeita com a escolha. A enfermagem ainda participapouco deste processo mas tem um papel importante no acompanhamento ambulatorial e domiciliar deste cliente,necessitando maior formação específica.

PALAVRAS CHAVES: Diálise Peritoneal; Métodos Terapêuticos; Cuidados de Enfermagem.

ABSTRACT: The renal disease imposes to its porter a new conception due. Nowadays, modern techniques, makepossible more freedom to the client, being one of them, continuum Dialise peritoneal ambulatorial. Our objective isto study the election by the method and the feelings related to this chose by the client. We conclude that ther method, despite its advantages, is not the first option yet, the patient, in some cases are not well trained withintercorrences, but most of them are satisfied with the chose. The nursing still participates just a bit of this processbut it has important role in the ambulatorial and domiciliar attendance of this client, needing more specificformation.

KEY WORDS: Peritoneal Dialisis; Therapeutic Methods; Nursing Care

RESUMEN: La enfermedad renal le impone a su portador una nueva concepción de vida. Hoy, algunas técnicasmodernas, le posibilitan una libertad mayor al cliente, siendo una de ellas, la Diálisis Peritoneal AmbulatoriaContinua. Tuvimos el objetivo de estudiar la elección de este método y los sentimientos de los clientes en relacióna dicha elección. Llegamos a la conclución de que el método, a pesar de tener sus ventajas, todavía no es laprimera opción, los pacientes, en algunos casos no están bien entrenados con contingencias, pero la mayoría estásatisfecha con la elección. Los enfermeros todavía participan poco de este proceso pero tienen un papelimportante en el acompañamiento ambulatorio y domiciliar de este cliente, necesitando una mayor formaciónespecífica.

TERMINOS CLAVES: Diálisis Peritoneal; Métodos terapéuticos; Cuidados de Enfermería.

INTRODUÇÃO

A falência renal pode afetar qualquer pessoa epode ocorrer a qualquer momento da vida. A doençanormalmente progride de forma lenta, mas gradual,resultando em múltiplos sinais e sintomas decorrentesda incapacidade do rim de manter a homeostasiainterna.

A insuficiência Renal Crônica- IRC, é umadoença onde há uma perda progressiva e, geralmente,irreversível da função renal de depuração, sendoqualificada em leve, moderada e grave ou terminal.(BARROS et al, 1999). Nessas circunstâncias o rimnão consegue realizar sua função filtradora, isto é,retirar do sangue todas as escórias metabólicas, comouréia e creatinina que chegam a ele, e que devem ser eliminados na urina, além de influenciar em outrasimportantes funções no organismo, como produção de eritropoetina e da forma ativa de vitamina D.

1 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará.

2 Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de enfermagem da Universidade Federal do Ceará

Embora não exista cura para a falência renal,estão disponíveis várias modalidades de tratamento:Hemodiálise (HD): consiste na filtração do sangue

através de um processo extracorpóreo de depuraçãomediado pela membrana de um deslizador, quefunciona como um rim artificial. A duração de cada sessão desta terapêutica varia de 3 a 4 horas, 3 vezespor semana. Para a realização deste tratamento,torna-se necessário a utilização de um acesso vascular, que pode ser temporário, como os cateteresde vaso profundo de duplo lúmen, ou permanentes:fístula artério-venosa. Diálise Peritoneal Intermitente -DPI: realizada 2 vezes por semana, com duraçãomínima de 24 horas, com tempo de permanência de30 minutos, necessitando de ambiente hospitalar epessoal treinado. Diálise Peritoneal AmbulatorialContínua -DPAC: permite a realização em domicíliopelo paciente e/ou responsável, sendo 4 trocas diárias,com tempo de permanência de 4 a 6 horas. DiálisePeritoneal Contínua Assistida por Cicladora -CCPD ouDiálise Peritoneal Automática - DPA: realizada a noitedurante o sono do paciente, ficando este conectado a uma máquina cicladora automática queperiodicamente substitui a solução de diálise por umanova, por meio da gravidade.

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SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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Os indivíduos portadores dessa doença, paramanterem-se vivos, têm que ser submetidos a umdestes tratamentos. Todas estas técnicas utilizam umfiltro natural, o peritôneo, membrana semipermeável,que reveste o abdome e é ricamente vascularizada, oque a torna uma área ideal para realizar a diálise.

Dentre as modalidades de tratamento para ainsuficiência renal, a DPAC possibilita maiorindependência e liberdade ao cliente, tornando-oinstrumento indispensável para o seu autocuidado e amelhora da qualidade de vida. Este estudo tem comoobjetivos: investigar o contexto em que o pacientetoma conhecimento deste tipo de tratamento dialítico; pesquisar os critérios de escolha do cliente para aterapêutica escolhida; verificar a aceitação dos clientespelo convívio diário com a DPAC.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa consiste em um estudo exploratóriodescritivo com análise de dados através de freqüênciasimples. Seu locus foi uma clínica de hemodiálise, nacidade de Fortaleza – Ce, cujo quadro funcional contacom médicos, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, assistente social, além do pessoal de apoioadministrativo e de manutenção. Atualmente a clínicapossui 25 pacientes que fazem tratamento de CAPD.

A população foi constituída de 25 pacientes,porém foi utilizada uma amostra de 21 pacientes, pois;dois não tiveram condições físicas de serementrevistados, e dois estavam viajando por ocasiãocoleta de dados.

Os instrumentos para coleta de dados foram: prontuário dos pacientes onde buscamos toda ohistórico de saúde do paciente: doença de base,exames laboratoriais e outros e entrevista semi-estruturada. O acesso aos sujeitos da pesquisa foi através de telefone quando explicamos os objetivos dotrabalho e o convite para participar. Posteriormente, osque concordaram, foram convidados a comparecer àclínica para a coleta de dados.

O projeto foi aprovado pelo Conselho de Éticada Universidade Federal do Ceará, sendo dadasinformações necessárias sobre o propósito dotrabalho, sem a ocorrência de dados físicos ou psicológicos e assegurada anonimato e o direito deinterromper sua participação em qualquer momentoque fosse desejado.

Caracterização dos sujeitos da pesquisa

Observamos que 12 (57,1%) estão na faixaetária de 36 a 56 anos, compondo a faixa populacionaldos economicamente ativos. As limitações advindas da necessidade de diálise, impedem o desempenhoprofissional e o convívio social destes clientes,onerando o sistema de saúde e família. Quanto aosexo, não há diferença significativa.

São casados 13 (61,9%) dos sujeitos, e a prática do CAPD, como tratamento substitutivo, requerparticipação e apoio familiar para maior aceitação eadaptação à terapêutica. A maioria (71,4%) reside em

Fortaleza, facilitando o acompanhamento e evoluçãoda doença.

Verificamos também que 10 (47.5%) dosparticipantes são analfabetos ou estudaram até o ensino fundamental incompleto, sendo este umaimportante observação para a assistência deenfermagem apropriada ao perfil da clientela. A escolaridade foi incluída no estudo, por considerarmosum fator importante para a compreensão dotratamento, capacidade de aprender os conceitosbásicos da técnica do CAPD e como proceder natécnica do autocuidado.

DOENÇAS ASSOCIADAS À INSUFICIÊNCIA RENAL

No que respeita a doença de base dos clientesentrevistados, 38,0% apresenta NefroescleroseHipertensiva, mostrando o alto índice de hipertensosque chegam a desenvolver a Insuficiência RenalCrônica (IRC). A Nefroesclerose Diabética isoladacorresponde a 14.2% da clientela. Devido à fragilidade capilar causada por essa doença a perda do acesso permanente para hemodiálise (FAV) é bastantefreqüente. (GROSS et al, pg. 1996)

Hipertensão e Diabetes aparecem associadasem 66.4% da clientela entrevistada quedesenvolveram a Insuficiência Renal. SegundoANDRADE (1998) este complicador pode levar à morteou a um dano renal lento mas progressivo.Nestemomento, é válido ressaltar a importância da atençãoprimária desenvolvida, principalmente no programa desaúde da família (PSF), para alertar os profissionais desaúde que além do controle destas patologias atentarpara sinais e sintomas precoces indicativos de falênciarenal.

Também é alta a percentagem de doença renal crônica relacionada a Glomerulonefrite Crônica (19%).FIALHO et al (1988, p. 166) afirmavam que a“hipertensão Arterial ocorre desde o início ou surgedurante o processo de evolução da doença”. Ainda foiencontrado doença renal crônica relacionada à Síndrome Nefrótica (9,5%)e Nefrocalcinose (4,5%).

Comparando o tempo do diagnóstico da doençacom o tempo de tratamento com o CAPD observamosque 12 (57.1%), há mais de 5 anos, convivem com a falência renal e apenas 10 (47.6%) clientes praticam oCAPD há mais de um ano. Desta forma, concluímosque a maioria dos clientes demora a ingressar noCAPD, e só o praticam quando há necessidade deoutra modalidade de tratamento, e mesmo assim, oCAPD é uma terapêutica desconhecida pela grandemaioria dos pacientes. E importante ressaltar que o tratamento com CAPD não é oneroso para a clínica e a mesma possui regras operacionais deencaminhamentos de pacientes carentes para oCAPD, ajudando-lhes financeiramente quandonecessário.

OPÇÕES DE TRATAMENTO PELOSENTREVISTADOS

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SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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A hemodiálise é o tratamento inicial realizadopor 20 (95.2%) entrevistados. Apenas uma paciente(4.76%) não teve experiência com outro tipo detratamento, entrando diretamente no CAPD. Destemodo, fica mais claro perceber que a Hemodiálise é otratamento de primeira escolha para a busca dotratamento da falência renal, sendo necessário umadivulgação maior sobre o que é o CAPD.

Segundo BRUNNER & SUDDARTH (1999, pg.987): “Os pacientes susceptíveis as rápidas alteraçõeshídricas, eletrolíticas e metabólicas que ocorremdurante a hemodiálise apresentam menos problemascom uma menor velocidade da diálise peritoneal”.

Há uma indicação do CAPD como terapiasubstitutiva para clientes com NefroescleroseDiabética, pois é uma terapia contínua e lenta,facilitando o controle da glicemia, como afirmam Castro e Cols (1986). Desta forma, há diferentesindicações e tipos de pacientes para cada tratamento,mas a maioria dos pacientes tem condições de serbem sucedido em qualquer modalidade terapêutica.Portanto observa-se a necessidade de divulgação dosmétodos dialítico existentes para maior participação docliente no seu tratamento.

A fonte de informação sobre o método CAPDfoi, predominantemente médica 17 (80.9%) e apenas 2 (9.52%) tiveram informações desta prática com aenfermeira. Deste modo, concluímos que a Enfermagem necessita participar mais efetivamentejunto aos clientes, orientando-os e esclarecendo-osconstantemente. Para tanto, faz-se necessário que aenfermeira não assuma unicamente o papelassistencial, e sim que participe da avaliação inicial dopaciente e da decisão sobre a terapia dialítica, emparceria com o médico.

Por opção pessoal, 03 (14.2%), estãorealizando o CAPD por entenderem ser um tratamentomenos agressivo, mais compatível com seu estilo devida, ou por estagnação física e emocional. Quando ocliente toma esta decisão, ocorre uma avaliaçãomédica quanto a conveniência do tratamento com ograu de insuficiência renal.

A decisão pelo método deve ser partilhada pelaa família, pois o conhecimento ao tratamento estárestrito a sua necessidade. É necessário que sejamexpostos ao cliente e família os tipos de tratamentodialítico, suas vantagens e desvantagens, alem desuas conseqüências.

Verificamos que 12 (57.1%) dos participantesexecutam o CAPD por indicação médica não comotratamento de primeira escolha, mas por nãopossuírem acesso vascular para a realizaçãohemodiálise ou devido a cardiopatias (4.76%) eglaucoma que representa também 4,76% da clientela.Quatro (19%) dos clientes estão no CAPD porindicação médica relacionada a outros problemascomo, reação alérgica a produtos da hemodiálise, malestar contínuo.

Desta forma, concluímos que a grande maioriados entrevistados não conhece o CAPD logo queingressam na Hemodiálise,demoram na escolha de outro método tentando se adaptar, porém com o tempo

este tratamento acomete outros sistemas fisiológicos,causando conseqüências cardíacas, pulmonares e outras, e aí então, pensa-se em um tratamento menosagressivo, como o CAPD, o qual poderia ter sido o tratamento de escolha para a falência renal.

PROCESSO ADAPTATIVO À CAPD

Sessenta e seis por cento da clientela (14),foram treinados e realizam a troca de bolsas diárias e,para 7 (33.3%), as trocas de bolsas são realizadas poralgum familiar ou outra pessoa treinada. Desta forma,observamos como se faz presente o apoio familiarjunto ao paciente renal que realiza o CAPD. Todopaciente ao ingressar no CAPD, passa por um períodode treinamento, realizado pela enfermeira do centro dediálise, que constitui-se de aulas teóricas e práticas,adaptadas as condições do paciente e/ou familiar emassimilar os conceitos e as rotinas dos procedimentos.De acordo com o protocolo de rotina da clínica de hemodiálise, o treinamento será sempre realizado com a presença do paciente, mesmo não sendo ele oresponsável pelas trocas, só em situaçõesexcepcionais, é realizado o treinamento somente com o familiar ou responsável.

Acerca da presença de outra pessoa nãotreinada no local da troca, foi relatado por 9 (42.8%)que outras, pessoas alheias ao tratamento, já sefizeram presente durante ou após as trocas. Estesafirmaram que a causa foi apenas curiosidade. Mesmo não sendo uma contra-indicação explícita, trata-se deum fator de risco para esses clientes, poisdesconhecemos as condições em que entraram no local, que momento exato interrompeu a troca, e se tiveram alguns cuidados quanto a assepsia de maisuma pessoa que se fez presente no local das trocas,portanto o maior número de pessoa no local propiciauma maior susceptibilidade ao cliente de se distrair e cometer algum erro ou acidente, aumentando o riscode complicação.

A conseqüência desta falha no controle dastrocas é evidenciada quando 13 (61.9%) clientesafirmam já tirem passado por alguma complicaçãorelacionada ao CAPD. Relacionando estascomplicações mais comuns, a peritonite é a querepresenta o maior temor para 13 (61.9%) dos sujeitosda pesquisa, relatando que tiveram uma, duas ou três vezes complicações por peritonite. A peritonite écausada pela contaminação acidental do cateter,líquido ou tubo durante as trocas das bolsas,dependendo do cuidado meticuloso do cliente com a técnica e medidas assépticas. A importância desteevento é destacada por BEVILACQUA & GUERRA (2001, p. 34): a peritonite geralmente responsiva aotratamento, tem importante significância devido aoscustos associados ao diagnóstico, hospitalização e terapia, perda de produtividade, desnutrição, falênciado método com transferência para hemodiálise, em 1 a3% dos casos, evolução com óbito do paciente”.Asdemais intercorrências encontradas foram: infecção noorifício de saída do cateter; infecção de túnel;complicações como refluxo gastro-esofágico e técnica

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SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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asséptica incorreta. A maioria destas complicaçõesinfecciosas (28,6%), ocorreu logo no início do tratamento após um ano essa incidênciaconsideravelmente (9,5%), evidenciando a importânciado treinamento dos clientes e assim, tornando-os maisaptos de identificar dificuldades e erros. Também oenfermeiros que trabalha com este tipo de tratamentodeve ser qualificado para se fazer presente no processo do tratamento, para avaliação periódica da evolução dos pacientes, e quando necessário, reciclaro treinamento de acordo com a clientela. Assim, a enfermagem teria uma assistência preventiva com maiores retornos e satisfação quanto ao tratamento,isto completaria as visitas domiciliares, ambasprevenindo as complicações e não somente quandofor necessário ou indicado.

Quanto aos sentimentos com relação aotratamento de opção, mais da metade da população 16 (76.1%), “sentem-se bem” em praticar a CAPD, istoporque relatam ter mais liberdade, ânimo e disposiçãopara realizar atividades, como: passear e trabalhar,ficam mais tempo em casa junto a família, a qualfacilita o processo de adaptação e se distanciam da“máquina”, termo utilizado para se referirem a máquinade hemodiálise, tornando-se mais independente damesma e da clínica.

Como notamos a prática da DPAC proporcionamuitos benefícios, dentre outros convívio familiar e social, independência e liberdade de deslocamentopara passeios e viagens longas, possibilidade deretorno das atividades profissionais, escolares e do lar,preservação dos vasos, não necessitando da punçãode 6 agulhas semanais para a diálise, maior liberdadede dieta, frutas e líquidos, maior flexibilidade dehorários para realizar a diálise, o paciente é treinado eorientado para o seu autocuidado, preserva a funçãoresidual por mais tempo, promovendo uma maiorqualidade de vida e possibilita maior estabilidadecardíaca, menor variação do peso e maior controle dapressão arterial e anemia. Esta satisfação écomprovada pela literatura (BRUNNER & SUDDARTH,1999).

Se por um lado temos a satisfação do cliente,por outro temos o cansaço do cuidador. O idososubmetido a este tratamento sofre por se tornar dependente do cuidador, causando sobrecargaemocional e psico-social, além de queixas peloisolamento dos amigos adquiridos nas sessões dehemodiálise. É importante criar um grupo de pacientessubmetidos a DPAC, buscando satisfazer as necessidades de seus membros, oferecendoaceitação, apoio e auxílio mútuo, superando padrõesde comportamentos mal-adaptativos, onde elespróprios busquem se ajudar e ajudar os outros.

O grande problema da DPAC, segundo osentrevistados, é a adaptação deste e da família a estetipo de tratamento domiciliar. A adaptação se deu poruma questão de sobrevivência. Pacientes relataramque ou faziam o CAPD ou ficariam em casaaguardando o dia da morte. Destes 9.5% realizam otratamento, porém com medo de sofrer algumprocesso infeccioso. Neste caso a capacitação e auto-

confiança devem ser fortalecidas para evitar que este sofra alguma complicação pela falta de capacitação.Outro aspecto são as intercorrências sistêmicas,conforme relato de um paciente que referiu passar malcom bolsas de diálise mais concentrada, estando o intestino mais sensível. Neste caso, é necessário umaavaliação precisa da enfermeira quanto a técnicacorreta durante a troca, se a concentração estácorreta, e iniciar um plano assistencial, juntamentecom o médico, que melhore a sintomatologia destecliente , para a aceitação do método utilizado.

A ansiedade vivenciada pelos pacientes quepraticam a DPAC está relacionada a eventuais transtornos técnicos ou acidentais, que venham causaralguma infecção, porém tal ansiedade é reduzida porum treinamento e acompanhamento satisfatório, quefaz com que o paciente se torne firmementeconvencido da sua própria capacidade e autoconfiançaem se autocuidar.

Para o paciente renal crônico que realiza oCAPD a distorção da imagem corporal causa forteimpacto psicológico quanto ao seu aspecto físico,podendo prejudicar o tratamento enquanto não houveraceitação de suas conseqüências, como o aumento doabdômen com sensação de obesidade. A rejeição docateter torna estes pacientes mais susceptíveis a infecção. BRUNNER & SUDDARTH (1999, p. 997) arespeito disso, esclarecem que a cintura aumenta detrês a cinco centímetros (ou mais) com o líquidoinfundido no abdômen, e isso complica para o pacientena hora de escolher uma roupa favorecendo asensação de obesidade. A imagem corporal pode ser tão afetada que o paciente pode passar dias ousemanas sem olhar para o cateter, nem mesmo cuidarde sua limpeza.

Verificamos com a pesquisa que 17 (30.9%)não referem dificuldades na prática e condução dotratamento dialítico e apenas 4 (19%) relatamdificuldades econômicas, cansaço físico pararealização das trocas. Neste caso, outras pessoaspróximas podem ser treinadas para aliviar estecansaço fixando os horários de acordo com o seuestilo de vida.

Quanto ao nível se satisfação do tratamento,observamos também que 17 (80.9%), não teminteresse de mudar de modalidade de tratamento e dizem:

“Só sairia deste tratamento se tivesse um rimde plástico que resolvesse o problema”.

“Gostaria de ficar normal, mas como não épossível quero ficar no CAPD”.

“Este tratamento é a minha tranqüilidade,espero ficar muito tempo e jamais voltar paraa hemodiálise e se isso acontecer que “oChefe’ (Deus) me leve antes.”

Verificamos que 4 (19%) da clientela, tem interesse de mudar de modalidade de tratamento, umdestes clientes continua o tratamento até conseguir um

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SILVA, H. G.; SILVA, M. J. Motivações do paciente renal para a escolha a diálise peritoneal ambulatorial contínua. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 10 – 14, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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transplante e os outros três, que representa 14.2% dapopulação tem interesse pela DPA – Diálise PeritonealAutomática.

A atuação da(o) enfermeira(o) como educadorae facilitadora da adaptação do cliente é indispensável,pois a mesma é responsável pelo treinamento e conscientização do cliente sobre o autocuidado,conduzindo informações a todos os clientes, tornando-os membros ativos no processo saúde-doença, sendoo paciente o responsável pelo sucesso do tratamento.

As diferenças da DPA para DPAC são: a DPA utiliza bolsas plásticas com volumes maiores (6L);dializa por toda à noite; a máquina controlaautomaticamente os ciclos de infusão, permanência e drenagem da solução, bem como memoriza os registros de volumes de sua drenagem; a infusão edrenagem são automáticas e independe da gravidade;redução do número de trocas ao dia, menor risco deinfecção e ciclos de diálise mais precisos, controladosautomaticamente.

O apoio familiar é indiscutivelmente de grandeimportância para o cliente renal crônico em programade CAPD, facilitando o processo adaptativo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASDesta forma, é importante que a enfermeira

avalie periodicamente o nível de adaptação dosclientes que realizam CAPD e os informe sobre outrostipos de tratamentos, vantagens e desvantagens e quais as probabilidades de mudança de tratamento.

ANDRADE, M. M. de. Introdução a Metodologia doTrabalho Científico: elaboração do trabalho nagraduação. São Paulo: Atlas 1998.BARROS, E: MAN R. C; THOMÉ, F. S. GONÇALVES,L. F. S. Nefrologia: Rotinas, Diagnósticos eTratamentos. 2 ed. Porto Alegre. ARTMED. 1999.

Na opinião de CASAGRANDE & CESARINO(1998), a enfermeira necessita ter, além dafundamentação científica e da competência técnica,conhecimentos dos aspectos que levam emconsideração os sentimentos e as necessidades dospacientes.Assim, o papel da enfermeira é destacadocomo de grande colaboração na tentativa de ajudar o paciente renal crônico a adaptar-se ao novo estilo de vida.

BEVILACQUA, J. L; GUERRA, E. M. M. Protocolo paraDPAC. 2ª Ed. São Paulo. 2001, 100pgs.BRUNNER, L. S. & SUDDARTH, D. S. Tratado deEnfermagem Médico - Cirúrgico. 8 ed. Rio de Janeiro;Guanabara Koogan, 1999.CASAGRANDE, L. D. R.; CESARINO, C. B. Pacientecom Insuficiência Renal Crônica em TratamentoHemodialítico. Atividade Educativa do Enfermeiro.Revista Latino Americana de Enfermagem. RibeirãoPreto. V. 6, no 4, p.31-40, out. 1998

Por fim, o papel da equipe multiprofissional,como um todo, é buscar o mais alto bem-estar para opaciente, dentro de suas possibilidades, respeitandosua individualidade e opções, buscando assisti-locomo um todo, holisticamente, dentro do complexobiopsicosocial, tendo em mente que, em DPAC, o principal responsável pelo sucesso do tratamento seráo próprio paciente.

FIALHO, F.; OLIVEIRA, C. A. B; L.S. RIOGA, L. Doenças dos rins- Estudo Clínico. Tratamento. In.NOGUEIRA JÚNIOR, A.; SANTOS, O. R. et. al.(Coloque o título do livro e destaque em itálico). São Paulo : Fundo editorial Byk. , 1988. Capítulo 7, p. 166 - (páginas do capítulo)

CONCLUSÕESTexto original recebido em: 18/02/2003Publicação aprovada em: 25/04/2003A falência renal impõe uma nova rotina ao seu

portador, novos hábitos e novo estilo de vida. Na clientela estudada, notou-se que a grande maioria dos clientes teve como causa básica da InsuficiênciaRenal, problemas como Hipertensão (38%) e Diabetes(14,2%), além da associação destas patologias. Destaforma, a assistência primária possui uma importânciarelevante na detecção e acompanhamento depacientes portadores desta patologia para um alerta àpacientes com sinais e sintomas precoces indicativosde falência renal.

A CAPD um tratamento com início protelado,pois a hemodiálise, nos dados analisados, constitui otratamento de primeira escolha, ficando esta opçãoterapêutica decorrente do desgaste físico,principalmente por ausência de acesso vascular. Oconhecimento sobre o método veio através do médicoe apenas uma minoria obteve informação daenfermeira, demonstrando a necessidade dadivulgação dos tipos de métodos dialíticos, suasvantagens, desvantagens e conseqüências. A(o)enfermeira(o) deve participar da avaliação inicial dopaciente e da decisão sobre a terapia dialítica, junto ao médico.

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NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003.Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade federal de Goiás. Rua 227, Qd 68

s/n (FEN-UFG); Setor Leste Universitário; CEP 74605-080; Goiâinia (GO). adé[email protected] Enfermeira do Programa de Saúde da Família;

PERFIL DOS CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS COM DÉFICIT DE AUTOCUIDADO ATENDIDOS PELO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA INFORMAL CAREGIVERS OF OLD PEOPLE WITHOUT SELF CARE FROM A HEALTH FEMILY PROGRAM PERFIL DE LAS PERSONAS QUE CUIDAN INFORMALMENTE ANCIANOS CON UNA DEFICIENCIA DE AUTOCUIDADOATENDIDOS POR EL PROGRAMA DE SALUD FAMILIAR

Adelia Yaeko Kyosen Nakatani 1

Christiane do Carmo Soares Souto 2

Leina Marta Paulette 2

Terezinha Silvério de Melo 3

Márcia Maria de Souza 4

RESUMO: Identificação das condições sócio-econômico-culturais dos cuidadores informais de idosos com déficitde autocuidado, atendidos no Programa Saúde da Família (PSF) da região norte, Jardim Guanabara III, emGoiânia, Goiás. A população estudada foi constituída de nove cuidadores de idosos, inseridas no PSF, de outubroa novembro de 2001. Os resultados mostram que os cuidadores são pessoas do gênero feminino (esposas, filhas, netas e vizinhas), entre 18 a 67 anos, com renda mensal oscilando entre um a sete salários mínimos e com escolaridade entre o primeiro e o segundo grau. O conhecimento deste perfil favorece aos profissionais da área,para planejar e implantar programas voltados à realidade do idoso e seus cuidadores.

PALAVRAS CHAVES: Assistência; Geriatria; Saúde do Idoso

SUMMARY: This research describes the social, economic and cultural conditions of the informal caregivers of oldpeople without self-care from the Family Health Program. Nine informal caretakers of the North Region Program - Jardim Guanabara III - Goiânia, Goiás, Brazil, were studied during October and November, 2001. The results showthat they are women (wives, daughters, granddaughters and neighbors), who are 18-67 years old and they are to be worth 1 to 7 Brazilian minimal salary (U$ 80,00) per month. The most people have between first and second degree of high school. These are important to know because the professionals (doctors and nurses) can plain goodprograms to old people.

KEY WORDS: Assistance; Geriatric; Old adult Health

RESUMEN: Identificación de las condiciones socioeconómicas y culturales de las personas que cuidaninformalmente ancianos con una deficiencia de auto cuidado, atendidos por el programa de salud familiar (PSF) de la Región Norte, Jardim Guanabara III, en Goiania, Goiás. La población estudiada es constituida de nueve personas encargadas de cuidar ancianos, involucradas en el PSF, de octubre a noviembre del 2001. Losresultados muestran que estas personas son todas del sexo femenino (esposas, hijas, nietas y vecinas), entre 18a 67 años, con sueldo mensual aproximado entre uno y siete sueldos mínimos y con grado escolar entre elprimero y segundo grado respectivamente. El conocimiento de este perfil favorece a los profesionales del área, enel sentido de posterior planeamiento e implantación de programas vueltos a la realidad del anciano y de las personas encargadas al cuidado de éste.

TERMINOS CLAVES: Assistencia; Geriatria; Salud Del Anciano

INTRODUÇÃO

Idoso é todo indivíduo com sessenta anos oumais; o que representa, atualmente, no Brasil, mais dedoze milhões de pessoas (8% da população) (BRASIL,1999a). Estudos realizados sobre a terceira idadedemonstram mudanças significativas na pirâmidepopulacional. Atribui-se a isso a baixa fecundidade ebaixa mortalidade. Em conseqüência, para o ano de 2025, os idosos representarão 15% da populaçãobrasileira total, ou seja, mais de 32 milhões de indivíduos (BRASIL, 1999a)

Juntamente com esta mudança, ocorremalterações na incidência e prevalência das doenças.As principais causas de morbi-mortalidade passam aser as patologias crônico-degenerativas que, segundoo Ministério da Saúde, vão perdurar em média porquinze a vinte anos na vida do idoso (BRASIL, 1999a).Tais doenças requerem várias internaçõesinstitucionais, afastando o mesmo do seu ambientedomiciliar, o que acarreta transtornos na sua vida e de sua família.

Muitos cuidados prestados a estes pacientespodem ser realizados no domicílio, indo ao encontro à

tendência atual das instituições hospitalares deconceder alta precoce ao geronte, para diminuir os

custos e acelerar sua recuperação num ambientefamiliar (SMELTZER et al., 1998). O lar exerce sobre o

3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem; Especialista em gerontologia e Saúde do Idoso; Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem da

Universidade federal de Goiás. [email protected] ; 4 Enfermeira. Mestre em Medicina Tropical; Professora Assistente de Faculdade de Enfermagem – UFG. má[email protected]

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NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003.Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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idoso um papel importante na manutenção da suaprópria identidade, podendo favorecer sua autonomiae independência, proporcionando-lhe melhorias parasua recuperação e qualidade de vida.

No entanto, o sucesso da recuperação do idosono domicílio depende de pessoas preparadas paraprestar-lhes os cuidados. Cabe à equipemultiprofissional avaliar criteriosamente essas pessoasantes de conceder-lhes alta hospitalar, considerando onível de conhecimento em relação aos cuidados geraise à capacidade de aprendizagem dos cuidadosespecíficos à recuperação dos idosos,. É necessário,também, que a equipe de saúde proceda aoacompanhamento domiciliar para avaliar o cuidado prestado e o suporte necessário.

A Unidade Básica de Saúde da Família é caracterizada como porta de entrada do sistema localde saúde, onde o Programa de Saúde da Família(PSF) atua de acordo com as realidades regionais,municipais e locais (BRASIL, 2000). Com a emergência da população idosa em todo país, fazem-se necessárias estratégias de ações voltadas a estaclientela, inserida no PSF.

Aquele que presta cuidados ao idoso, chamadocuidador, pode ou não ter vínculo familiar. Existem, ainda, dois tipos de cuidadores: o formal e o informal(BRASIL, 1999b). O cuidador formal é um profissionalpreparado em uma instituição de ensino para prestarcuidados no domicílio, segundo as necessidadesespecíficas do cliente (REJANE & CARLETTE, 1996).O cuidador informal, no entanto, é um membro da família ou da comunidade, que presta cuidado deforma parcial ou integral aos idosos com déficit deautocuidado. Tal indivíduo deve ser alfabetizado epossuir noções básicas sobre o cuidado do idoso ecompreensão mínima do processo de envelhecimentohumano. São indivíduos que terão a função de auxiliare ou realizar a atenção adequada às pessoas idosasque apresentam limitações para as atividades básicase instrumentais da vida diária, estimulando aindependência e respeitando a autonomia destas(BRASIL, 1999b).

As várias alterações que ocorrem com o envelhecimento, tais como, perdas celulares,enfraquecimento do sistema músculo-esquelético ediminuição da capacidade funcional de muitossistemas bioquímicos, levam o idoso a um prejuízoque só é amenizado se o cuidador conseguir identificareste processo (LUDERS & STORANI, 1996).

SILVA & NERI (1993) mostram que oscuidadores oriundos de redes informais de apoio,como filhos, parentes e amigos, constituem a maisimportante fonte de suporte de idosos e, afirma que80% a 90% dos serviços e cuidados recebidos por estes, são dispensados pelos familiares. Assim, aqualidade e a manutenção dos cuidados com osidosos, e conseqüente prevenção de suainstitucionalização, relaciona-se com o suporte dado aestes cuidadores, através de programa detreinamento, supervisão e assessoria.

Diante da emergência de idosos dependentesem decorrência das doenças crônico-degenerativas e

das dificuldades vivenciadas pelos familiares, a Política Nacional do Idoso preconizou, através da Lei8842/1994, o preparo de recursos humanos, incluindoos cuidadores, por parte da equipe multiprofissional(BRASIL, 1997).

Nesse sentido, foi elaborado pela Secretaria deAssistência Social (MPAS) um “Manual de Cuidadores”, e posteriormente, treinamento de trêsprofissionais da equipe de saúde em todo o territórionacional, os quais deveriam capacitar a equipemultiprofissional local ou regional. No entanto, otreinamento em Goiás, não foi efetivado devido a algumas dificuldades, incluindo o número reduzido depessoas treinadas para exercitar o papel de cuidador.

Diante do exposto, a falta de preparo doscuidadores informais é uma realidade de difícil soluçãoa um curto prazo, tornando importante conhecer o perfil destas pessoas, nas diferentes áreasgeográficas, pois, os problemas vivenciados pelosmesmos são distintos, dependendo das condiçõessócio-econômico-culturais das famílias. Os resultadosdeste trabalho, com a identificação dessas variáveis,podem auxiliar a equipe multiprofissional nacapacitação futura de cuidadores informais,proporcionando assim uma assistência de qualidadeao geronte.

METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos optou-se pelapesquisa descritivo-exploratória. A pesquisa foi desenvolvida na Região Norte (Jardim Guanabara III), município de Goiânia – GO, com o Programa deSaúde da Família (PSF), sendo os sujeitos estudados,os cuidadores informais de idosos com déficit deautocuidado.

Foram identificados onze idosos com déficit deautocuidado que possuíam cuidadores informais. Noentanto, fizeram parte do estudo apenas nove, poisocorreram dois óbitos no período da coleta de dados.

O estudo foi realizado nos meses de Outubro eNovembro de 2001, obedecendo aos aspectos éticos,conforme Resolução 196 que trata de pesquisa emseres humanos (BRASIL, 1996).

Os dados foram obtidos através da aplicação deum questionário (Anexo I) preenchido pelos próprioscuidadores. No caso de duas cuidadoras analfabetas,os preenchimentos dos referidos questionários foram feitos pelas pesquisadoras. Tal instrumento foivalidado por três juízes pesquisadores da área, comfinalidade de verificar a organização da lógica, clareza, objetividade, abrangência e pertinência.

Os dados foram, posteriormente, tabulados eanalisados nos moldes da estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A população estudada, inserida no PSF doJardim Guanabara III (região norte) do município deGoiânia – GO, foi analisada quanto à idade, sexo,estado civil, ocupação, grau de parentesco,escolaridade, renda mensal familiar e dependentes.

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Tabela 1 – Distribuição dos cuidadores informais segundo a faixa etária. PSF Região Norte, 2001.

Faixa etária N %

18 – 20 2 22,2221 – 40 3 33,3341 – 60 3 33,3361 – 70 1 11,12TOTAL 9 100,00

Os dados da Tabela I revelam predomínio decuidadoras informais na faixa etária compreendidaentre 21 a 60 anos (seis cuidadoras, ou seja, 66,66%da população estudada), com média de 38,7 anos. Nafaixa de até 20 anos foram encontradas apenas duas euma na faixa de 61 a 70 anos, uma cuidadora.

Segundo MARQUES (2000), é comum emnossa sociedade, cuidadores idosos, apesar de esteser um trabalho muito desgastante. Na análise dosresultados, chama atenção o fato de que uma dascuidadoras informais tem 67 anos, sendo, portanto,uma idosa cuidando de outro idoso. O papel decuidador informal é cansativo, somando-se osproblemas vivenciais ao processo de envelhecimentonormal como depressão, desgaste fisiológico e problemas crônico-degenerativos. Diante destascaracterísticas é necessário, por parte do PSF local, uma atenção redobrada para atender às necessidadesdesses idosos, que cuidam de outros idosos.

O estudo demonstrou predomínio total dogênero feminino (100%), sendo que seis (66,66%)exercem funções do lar, duas são estudantes e uma éprofessora.

O fato de este estudo apontar para umatotalidade de cuidadores do gênero feminino mostraque a sociedade, através de sua cultura, imputa opapel de cuidar à mulher, seja ela a cônjuge, a filha oua neta do idoso. Essa atividade consiste em algocultural e socialmente definido para o Ser mulher, quenormalmente tem filhos, marido, atividades domésticas

além de, muitas vezes, trabalhar fora do lar. Essasobrecarga de papéis dificulta a prática do cuidadocom o idoso, pois precisam dividir o tempo entre todasas suas atividades, gerando um estresse físico e psicológico, não permitindo que essas mulheres se cuidem e se valorizem enquanto ser humano. SegundoMARQUES (2000), as cuidadoras informais sãoacometidas por problemas de saúde, como: doençasda coluna (75%); varizes (50%); artrite (37,5%),obesidade (25%), obstipação intestinal (25%);osteoporose (25%); rinite alérgica (25%); asma oubronquite (25%) e hipertensão arterial (12,5%). A autora sugere que a alta porcentagem de problemasde coluna pode estar relacionada às atividades diáriasde cuidados com os idosos, que envolvem o uso daforça muscular e postura incorreta.

Diante do exposto, é necessário que a equipede saúde local atente para as cuidadoras, identificandosuas necessidades individuais em nível domiciliar, comfinalidade de promover a saúde, prevenir as doençasocupacionais e os agravos de doenças preexistentes.Devem, ainda, incluir na educação em saúde asnoções de ergonomia com o intuito de minimizar osproblemas de coluna em decorrência de posturasinadequadas, mobiliários impróprios edesconhecimento de técnica correta, para executar o cuidado ao idoso.

Quanto ao estado civil, observa-se, na tabela 2, que seis cuidadoras são solteiras; duas casadas e uma divorciada.

Tabela 2 – Distribuição das Cuidadores Informais segundo o estado civil. PSF Região Norte, 2001.Estado Civil N %Solteira 6 66,66Casada 2 22,22Divorciada 1 11,12Total 9 100,00

Das nove cuidadoras estudadas, oito possuemvínculo familiar com idoso. O grau de parentesco foi oseguinte: quatro filhas, uma esposa e duas netas.Duas pessoas sem vínculo familiar com o idoso, uma era amiga da família e outra vizinha que os atendiamna ausência da cuidadora primária, afastadas por motivos de doença.

As solteiras costumam desempenhar, com maiorfreqüência, o papel de cuidadora informal,principalmente, por não possuírem uma famíliaconstituída, o que as tornam mais disponíveis paracuidar dos pais e avós. As mulheres solteiras parecemser, além de mais disponíveis, mais pressionadas

pelos familiares para essa função.De acordo com estudo de MARQUES (2000) a

ocupação exercida por 50% das cuidadoras informaisé a do lar. Os resultados encontrados nesta pesquisareforçam esses dados, pois seis cuidadoras (66,66%)exercem essa função, duas são estudantes e uma é professora.

As cuidadoras que exercem outras funçõesprestam cuidados a idosos com grau de dependênciaparcial e, nas suas ausências, são substituídas pelosirmãos, sobrinhos ou filhos (MARQUES, 2000). Emrelação a cuidadora, exercer outras atividades fora de casa pode ser benéfico, pois a possibilidade desta

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alternância geralmente proporciona oportunidades dedescanso da tarefa de cuidador, além de favorecer ainteração social, minimizando problemas comoisolamento, angústia ou depressão.

Sob o ponto de vista do idoso, a alternância docuidador pode ser tanto benéfica quanto prejudicial.Benéfica, porque há oportunidade de outros contatossociais, aumento de auto-estima por ter outra pessoacuidando de si e por receber outras formas deatenção. Prejudicial, quando o cuidador secundárionão tiver habilidade satisfatória para essa atividade,podendo provocar de pequeno até um grande agravo àsaúde do idoso.

O cuidado muitas vezes é realizado como umaquestão de obrigatoriedade. Assim é que, LEITE (2000) verificou que, quando se trata de filhoscuidando de pais idosos, há um entendimento deobrigação em retribuir algo que lhes foi dado nopassado, além do sentimento de responsabilidadepelos mais velhos e doentes, que estão em situaçãode dependência parcial/total.

Dentro desta linha de pensamento, a atual

legislação contém uma série de Artigos, Decretos eProgramas que visam amparar/proteger de algumaforma as pessoas idosas. A Constituição Federal de1988, em seu Art. 229, dispõe que: os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e osfilhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os paisna velhice, carência ou enfermidades.Complementando o que estabelece o Artigo citado, a Constituição Federal, artigo 230, determina que afamília, a sociedade e o Estado têm o dever deamparar as pessoas idosas, assegurando suaparticipação na comunidade, defendendo suadignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito àvida (BRASIL, 1988).

Fica claro que a Constituição atribui à família aobrigação de amparar o idoso, com o objetivo deproteção da pessoa na velhice, cabendo aos filhos ampararem os pais frente às suas necessidades.

Verifica-se, na tabela 3, que seis cuidadoras tementre primeiro e segundo grau completo, duas sãoanalfabetas e uma não completou o curso superior.

Tabela 3 - Distribuição das Cuidadoras Informais segundo o grau de escolaridade. PSF Região Norte,2001.

Grau de Escolaridade n %Analfabeto 2 22,222ºgrau incompleto 1 11,111 º grau incompleto 2 22,222ºgrau completo 3 33,34Superior incompleto 1 11,11

Total 9 100,00

A falta de escolaridade interfere, direta ouindiretamente, na prestação de cuidados aos idosos.Há uma queda na qualidade do serviço prestado, poiso cuidador necessita seguir dietas, prescrições emanusear medicamentos (ler receitas médicas,entender a dosagem e via de administração etc). Estadificuldade é evidenciada pelo relato de uma cuidadorainformal analfabeta: conheço as medicações pela cor eformato da embalagem (...) E cor dos comprimidos.

Esse conhecimento é insuficiente, não produzsegurança, podendo ocorrer troca de medicação, quetrará prejuízos ao idoso. Para minimizar essa situação,é necessária uma atenção redobrada dos profissionaisàs cuidadoras, a fim de ensiná-los a prevenir possíveis

enganos, existindo portanto maneiras de orientaràquelas que não sabem ler.

A equipe de saúde deve estarchecando, continuamente, a execução doscuidados para identificar as dificuldadesindividuais apresentadas pelos cuidadores.Para isso, é necessário que a equipeestabeleça vínculos com todos os membros dafamília do idoso, em especial, com os cuidadores.

A tabela 4, mostra a renda familiar mensal dascuidadoras informais baseada em salários mínimos.

Tabela 4 - Distribuição dos cuidadores informais segundo a renda familiar mensal. PSF Região Norte,2001.

Renda familiar em SM* N %1 – 2 2 22,222 – 3 2 22,22 3 – 4 3 33,34 5 – 6 1 11,11 6 – 7 1 11,11

Total9 100,00

* Salário Mínimo vigente no país em dezembro de 2001 = R$ 180,00 (cento e oitenta reais).

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NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003.Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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Na faixa de um a dois salários há duascuidadoras; de dois a três duas cuidadoras; de três a quatro três pessoas; de cinco a seis e de seis a setesalários mínimos uma cuidadora cada.

Considerando-se que o salário mínimo atualvigente no Brasil, é de R$ 180,00, a renda doscuidadores, é insuficiente para manutenção da família,com média de 4, 45 dependentes, além do idoso.

A população também foi analisadaquanto a participação financeira atual doidoso no orçamento familiar: Dos entrevistados, 100%, disseram que aaposentadoria são destinadas ao custeiodoméstico e despesas commedicamentos, consultas médicas esuprimentos alimentares.

Os idosos desta amostra sãoaposentados, mesmo com renda próprianão conseguem suprir suas despesasbásicas, necessitando de umacomplementação, como se verifica no depoimento de uma cuidadora: (...) ajudanas despesas domésticas com aposentadoria. E quando o dinheiro nãodá, meus irmãos complementam.

A participação financeira do idoso no orçamentofamiliar, após sua dependência, não apresentougrandes alterações, pois a maioria já era aposentada(cinco idosas): Antes da dependência, o idoso era o chefe da casa e o salário era semelhante ao atual; a esposa nunca trabalhou fora (...)

Verificou-se, outrossim, dependência financeirados familiares em relação ao salário do idoso.

CONCLUSÃO

Com o aumento expressivo da população idosa,cresce o contingente de pessoas com déficit deautocuidado. Esta situação vai além de um problemade saúde em si mesmo, pois envolve os familiares e, particularmente, os cuidadores informais, acarretandouma situação complexa. As equipes de Saúde daFamília precisam conhecer o perfil dos sujeitosenvolvidos nestas circunstâncias.

Identificamos o seguinte perfil dos cuidadoresinformais de idosos com déficit de autocuidadoatendidos pelo PSF estudado:

- 100% são cuidadoras, sendo que a faixa médiade idade é de 38,7 anos, sendo que uma tem de 61 a 70 anos;

- 44,44% são filhas, neta (22,22%), esposa(11,11%), vizinha (11,11%) e (11,11%) amigas;

- o indicie de escolaridade de 66,66% entreprimeiro e segundo grau completo identificou-se que22,22% não têm escolaridade;

- a renda mensal é de um a três saláriosmínimos é de 44,44% e entre cinco a sete saláriosmínimos, 22,22%, para uma média de quatro a cincodependentes.

As variáveis identificadas podem ser fatores

dificultadores para a implantação de programas queenvolvem os idosos e suas famílias.

A pretensão deste estudo foi contribuir comregistros de algumas importantes variáveis, destapopulação, da região norte, Jardim Guanabara III, da cidade de Goiânia, Goiás, no sentido de facilitar àsequipes do PSF uma atuação mais eficaz e direcionada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(ANEXO I)

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NAKATANI, A. Y. K.; SOUTO, C. C. S.; PAULETTE, L. M.; MELO, T. S.; SOUZA, M. M. Perfil dos cuidadores informais de idosos com déficit de autocuidado atendidos elo Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 15 – 20, 2003.Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

1 – Número de questionário .......................................... Idade do cuidador:....................................................

2 - Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino.

3 - Estado civil: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Outros:............................................................................

4 - Ocupação:........................................................................................

5 - Grau de parentesco: ( ) Esposa ( ) Filho ( ) Amigo ( ) Irmão ( ) Outros

6 - Escolaridade:

( ) Analfabeto ( ) 1º grau incompleto ( ) 1ºgrau completo( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( )superior incompleto( ) superior completo ( ) outros ..............................

7 - Qual a renda familiar mensal? E quantos indivíduossão dependentes ?

8 - Qual é a participação financeira atual do idoso noorçamento da família ?

9 - Qual era a participação financeira do idoso noorçamento familiar antes de sua

dependência?

Texto recebido em 26 Março 2003

Publicação aprovada em 29 Agosto 2003

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LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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O CONHECIMENTO DOS ALUNOS DE ENFERMAGEM SOBRE ÁLCOOL E DROGAS

THE KNOWLEDGE OF NURSING STUDENTS ON ALCOHOL AND DRUGSEL CONOCIMENTO DE LOS ALUMNOS DE ENFERMARIA ACERCA DE ALCOHOL Y DROGAS

Margarita A. Villar Luis 1

Sandra Cristina Pillon 2

RESUMO: O objetivo desse estudo foi apresentar o conhecimento dos alunos de graduação de enfermagemsobre álcool e drogas. Pesquisa realizada em 1998 na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP cujosresultados mostram que a maioria não se lembrava ou aparentemente não presenciou as aulas quando o tema foi abordado; nunca atendeu dependente químico; responderam corretamente os conceitos de dependência química,tolerância e abstinência; afirmaram que o tema deve ser inserido no currículo. Conclui-se que os conhecimentosadquiridos pelos alunos apresentam deficiências nos conteúdos ou na forma de abordagem, pois os dadossugerem que não foram incorporados adequadamente, embora os alunos revelaram interesse pelo tema.

PALAVRAS - CHAVE: Álcool; Drogas; Ensino de Enfermagem.

ABSTRACT: This study aimed to know the knowledge acquired by undergraduate nursing students concerningalcohol and drugs. The research was developed in 1998 at the University of São Paulo at Ribeirão Preto College ofNursing. Results: most students did not remember or attend classes discussing that topic; they had never dealtwith substance users; however, they correctly responded to the concepts of substance addiction, tolerance andabstinence; they expressed their opinion that the topic must be included in the nursing curriculum. Conclusion: theknowledge acquired by students is deficient with regard tocontent or to the way it is addressed once the datasuggested that content was not adequately incorporated, although students were interested in the topic.

KEY WORDS: Alcohol; Drugs; Nursing Teaching.

RESUMEN: El objetivo de ese estudio fue presentar el conocimiento obtenido sobre alcohol y drogas por alumnosde enfermería. La investigación fue realizada en 1998 en la Escuela de Enfermaría de Ribeirão Preto – USP. Resultados: la mayoria no se recordaba o no estuvo presente en las clases cuando se presentó el tema; nunca dióatención al dependiente químico; pero contestaron correptamente conceptos de dependencia química, tolerancia yabstinencia; afirmaron que el tema deve ser incluido en el currículo. Conclusión: el conocimiento adquirido por losalumnos presentó deficiências en los contenidos o en la forma de presentarlos, los resultados sugieren, que nofueron incorporados adecuadamente aunque los alumnos mostraron interés por el tema.

TERMINOS CLAVES: Alcohol; Drogas; Enseñanza de Enfermería.

INTRODUÇÃO

Atualmente, vivencia-se uma situação em que ouso do álcool e drogas tem sido um tema de amplacomplexidade, pois os órgãos governamentais, nãogovernamentais, e outros, não têm conseguido gerarrespostas efetivas para o problema. Essa situaçãopode ser estendida à toda sociedade, na medida emque a família e outras instituições, como igreja e escolas representados por seus membros, têmenfrentado dificuldades para reagir frente à ocorrênciavinculadas ao uso de álcool e de drogas.

Vem sendo difícil o desenvolvimento de açõesalternativas, realistas, que estimulem nas pessoasatitudes de rechaço para com as práticas do uso deálcool e drogas, ao contrário, verifica-se entre osdiversos grupos da população a busca por uma substância, sob a forma de uma pílula, por exemplo,

que magicamente resolva, de imediato, os problemasdo cotidiano.

Desde a década de oitenta, os especialistas têmapontado vários fatores que estariam influenciando ouso de álcool e drogas. Dentre esses, destacam-sefatores socioeconômicos e políticos, como odesemprego, insegurança do indivíduo em relação aofuturo, carência de alternativas de lazer e trabalho paraos jovens; a repressão política, a atividade educativaopressiva, ambas restringindo a postura crítica e a ação criativa, tudo isso surge como fatores geradoresde angústia e depressão, conduzindo à necessidadede evasão psicológica e a busca de satisfaçãopropiciadas por substâncias como álcool e drogaspsicoativas (OEA, 1986).

O uso das drogas é concebido como uma dasformas de marginalização dos jovens pela sociedade.Como justificava à essa colocação, o autor discorre

1 Professora Titular do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – EERP.USP.Centro Colaborador da OMS, para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem.2 Enfermeira Doutoranda do Departamento de Psiquiatria: Ciências/Saúde Mental da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – EERP.USP. Centro Colaborador da OMS, para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Laboratório de Pesquisa emÁlcool e Drogas. Av: Bandeirantes, 3900, Campus Universitário - Ribeirão Preto - SP, Brasil, CEP 14.040-902 e-mail:[email protected]

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LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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sobre os significados atribuídos ao uso de drogas nosEstados Unidos e Europa ao longo do tempo: nos anossessenta; usar drogas representava a busca do prazer,da comunicação, de novos meios de estilos de vida ede trabalho (WEREBE, 1980). Foi quase uma ideologia num espírito contestador - inovador; nas décadassucessivas, cada vez mais, o uso de drogas passou arepresentar uma maneira de enfrentar a monotonia, aangústia e a busca de um “embrutecimento” paraesquecer a realidade; nos anos oitenta, usar drogaspara a maioria dos jovens, não constitui mais a buscade uma esperança, mas “uma fuga da desesperança”.

Foi justamente, a partir da década de oitenta, que os profissionais ligados à saúde mentalcomeçaram a se preocupar com esse problema,tentando analisar as motivação pessoais para o uso deálcool e drogas.

Estudos revelaram que os jovens constituem umgrupo da população bastante vulnerável ao uso deálcool e drogas, pelas características do período dodesenvolvimento vivenciado. Além disso, foi observadoentre esse segmento população um maior número de alterações do comportamento e problemaspsicológicos decorrentes do uso de substâncias(PIMONT & BARRERA, 1982; KANDEL e cols., 1994).

Os resultados das pesquisas realizadas vêmindicando que o problema é de âmbito mundial, pois a prevalência do uso de álcool e drogas tem aumentadoem todos os países (KESSLER e cols., 1994). NoBrasil, esse problema pode ser avaliado pelos estudossobre a freqüência de internações em instituiçõespsiquiátricas e pesquisas realizadas no meioestudantil.

No que se refere a internações o uso do álcoolfoi o principal causador de internações por transtornomental no País entre 1988 e 1999, respondendo por90% dessas, segundo levantamento do CentroBrasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas(CEBRID/UNIFESP). A pesquisa também revelou, no mesmo período, um aumento de 4,7% para 15,5% na proporção das internações provocadas peladependência de outras drogas. No período, as internações por uso de cocaína passaram de 0,8%para 4,6%. Nos dois primeiros anos do trabalho, 88 e89, a maconha era a droga mais consumida depois doálcool (NOTO, 2002).

Os estudos epidemiológicos entre estudantes(CARLINI-COTRIM e col., 1989; CARLINI e col., 1989;GALDURÓZ e col., 1994) revelaram que, na maioriadas vezes, esse uso de substâncias psicoativas é esporádico e experimental, sendo entre estudantesuniversitários da cidade de São Paulo a prevalênciaque o uso de drogas é semelhante a dos estudantesde primeiro e segundo graus. Mudando apenas a ordem das substâncias utilizadas (MAGALHÃES e col,1991). A pesquisa sobre os problemas relacionados aoálcool e drogas, deve contemplar estudosepidemiológicos nos diversos grupos da populaçãogeral, a criação de sistemas de coleta de informaçõessobre populações que procuram estabelecimentos de saúde com problemas relacionados ao uso de drogase a busca de índices de morbidade e mortalidade

diretamente relacionados ao uso de drogas (CARLINI - COTRIM & BARBOSA, 1993).

A coleta sistemática desses dados propiciaráuma visão mais clara do problema e a possibilidade deintervenções mais racionais e eficientes. Acresca – se ainda os estudos sobre a influência exercida poraspectos, políticos, jurídicos e sociais os quais,certamente, impedem conclusões simplistas(ANDRADE e cols., 1997). Além disso, a integraçãodos dados de pesquisas regionais propiciará umquadro fidedigno sobre a magnitude desse problemanas diversas regiões do Brasil.

A história da droga nas sociedadescontemporâneas tem demonstrado que os mecanismos de fiscalização e de repressão da ofertade drogas no mercado são insuficientes para diminuiresse consumo (BASSIT, 1995).

No Brasil, uma análise do material didático paraesse fim, realizada por CARLINI-COTRIM & ROSEMBERG (1991) revelou que o conteúdoveiculado, situava-se, em sua maioria, na perspectivade modelos preventivos de amedrontamento e deprincípio moral. Todavia, educação preventiva baseada em informações alarmistas não se mostroueficazes, obtendo - se resultados mais favoráveisquando os programas de prevenção enfatizam o usoracional e responsável de drogas (BASSIT, 1995).

A título de esclarecimento, a OrganizaçãoMundial da Saúde editou em 1979, relatório no qualcritica algumas crenças e atitudes em relação asações informativas que seguem diretrizes de ensinoautoritárias, apresentação do tema de forma restrita,descontextualizada e centrada no alarmismo. O enfoque meramente informativo está cedendo lugar aoutras estratégias, nas quais a informação é apenasum dos componentes da educação preventiva. Essanova postura está mais voltada a formar pessoas, nosentido de encorajá-las à auto-realização e à auto-estima, propiciando o desenvolvimento do senso deresponsabilidade com a própria vida. Naimplementação de propostas de prevenção há de seconsiderar as necessidades de ordem pessoal e socialda realidade em questão, na qual o uso de drogas éinserido apenas como uma manifestação entre outras.

Conforme apresentado, nos últimos 20 anos aliteratura específica tem direcionada para estudosepidemiológicos realizados em populaçõesespecíficas, como estudante e pacientes que buscamtratamentos, e outros que enfatizam os custos sociais.Há poucas pesquisas abordando a formação deprofissionais de saúde dentre eles os enfermeirosnesta área, a despeito da demanda de pacientes, dagravidade dos problemas, de toda sorte, os quaissolicitam habilidade específica e encaminhamentosmultidisciplinares.

Apesar disso, os enfermeiros e docentes deenfermagem, freqüentemente têm sido requisitadospara darem informações a grupos da população sobreo tema álcool e drogas (LUIS & SOUZA, 1996).Entretanto, há poucas indicações sobre o enfoque quepermeia o conteúdo oferecido e a origem desseconhecimento.

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As questões de saúde relacionadas ao álcool edrogas não são novas, contudo, a enfermagem nãotem contemplado esses temas com a devidaimportância.

Procurando dar início a um processo de buscade respostas e mesmo de avaliação, o presente

trabalho se propôs a investigar junto aos alunos deenfermagem, o conteúdo que adquiriram no curso degraduação sobre os temas álcool e drogas, bem comoidentificar o enfoque utilizado ao ministrar asinformações.

MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa teve como população alvo os alunosdo 4¯ ano de graduação em enfermagem da Escola deEnfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade deSão Paulo, no ano de 1998. Foi utilizado umquestionário anônimo de auto-preenchimento. Oinstrumento usado consiste de um questionárioestruturado, com questões como identificação pessoal:sexo, idade, questões específicas a respeito datemática álcool e drogas, conceitos comodependência, tolerância, síndrome de abstinência, e assistência oferecida pelos alunos em seus campos de estágios a pacientes usuários ou problemasassociados. Este questionário foi baseado no questionário desenvolvido pelo Projeto CICAD - OEA(Comission Interamericana para el Control del Abusode Drogas), no ano de 1998 por especialistas destaárea. Quanto aos critérios de respostas, os alunosforam orientados para que respondessem de acordocom os seus conhecimentos adquiridos durante agraduação de enfermagem.

O referente estudo foi avaliado e aprovado peloComite de Ética e acordo com a resulução 196/96.Para a coleta de dados, os alunos foram convidados aparticiparem do estudo, mediante as orientações e esclarecimentos quanto a leitura e assinatura do termode consentimento. Além de serem tomada as seguintes precauções, local adequado e horáriosviáveis de preenchimento dos questionários, forma de abordagem dos alunos, padronização de informações,dentre outros. livre

A escolha da amostra de alunos do Quarto anode graduação da referida instituição, deu-se em funçãode que essa população já cursou a totalidade dasdisciplinas que abordaram ou poderiam ter incluído oassunto em seus conteúdos. A pesquisa foi realizadano mês de Março de 1998, cujo número total de alunosera de 79 (100%); destes, apenas 58 (73,4%) alunosresponderam ao questionário.

RESULTADOS

A amostra do estudo é constituida em suamaioria (88%) por estudantes do sexo feminino comidade entre os 20 e 25 anos.

Na questão sobre o conteúdo de álcool e drogasministrado, percebeu-se que a quase totalidade dosalunos 88% (N = 51) afirmou que o mesmo estevepresente em seu currículo, abordadospredominantemente pelas disciplinas de Farmacologia(38%) e Enfermagem Psiquiátrica (22%). Segundo 42alunos, esse conteúdo foi ministrado no 2¯ e ou 3¯ anode graduação do curso de enfermagem. Quanto àcarga horária destinada às aulas, a maioria nãorespondeu (62%) ou não soube (24%). Nesse ponto,nota-se uma contradição ao observar-se que 42 alunosafirmaram haver tido esse conhecimento, assinalandoinclusive as disciplinas onde foram ministradas,entretanto, em questão anterior, 50 alunos omitiram,não souberam, ou não se lembram dos conteúdos.Isso leva a pensar que, os alunos não estavampresentes na aula, o assunto ou a estratégia utilizadanão os motivou.

Tabela 1 – Apresentação das respostas em número e porcentagem sobre as estratégiasde ensino-aprendizagem utilizada pelos docentes na abordagem do tema,segundo os alunos de enfermagem (N – 58).

N %Aula expositiva 25 43Não responderam 21 36Aula expositiva e atividade prática (seminários, aplicação de questionário, dinâmicas) 8 14Não sabem 4 7Total 58 100

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Tabela 2 – Apresentação do número de respostas sobre o enfoque dado aoproblema no conteúdo das aulas ministradas sobre álcool e drogas,apontado pelos alunos1.

N %Como problema psiquiátrico 46 79.3Em adultos 41 70.6Como problemas orgânicos 40 68.9Como doença 38 65.5Por influência do grupo 35 60Em adolescentes 29 50Como hábito cultural 28 48.3Por curiosidade 28 48.3No trabalho 20 48Como fraqueza de personalidade 17 34.5Como causa genética 6 10.3Como falta de caráter 4 6.8

Não responderam 7 121Cada aluno respondeu mais de um enfoque

A forma de abordagem do conteúdo relatadapelos alunos como a mais freqüente foi a aulaexpositiva (43%), seguido dos alunos que nãoresponderam (36%), contudo, houve outras estratégiasutilizadas, na medida em que alguns alunos (14%) asreferiram.

Quanto ao enfoque dado ao tema no conteúdodas aulas, predominaram os seguintes em ordemdecrescente: “problema psiquiátrico” (afirmado por79%), “em adultos” (70.6%), “problema orgânico”(68.9%), “doença” (65.5%), “por influência do grupo”(60%), “em adolescentes”.

Esses dados são indicadores de que o conhecimento transmitido enfatizou a questão comouma doença de maior ocorrência entre os adultos,comprometendo o indivíduo como um todo (psíquico e físico), onde o grupo surge como indutor do uso. Alémdisso, o problema também foi relacionado aosadolescentes, aparecendo ainda a curiosidade e o

hábito cultural como outros enfoques abordados.Felizmente, parece que os enfoques mais negativosatribuídos à questão do uso de álcool e drogas nãoforam tão enfatizados, ou talvez, a pessoa respondeucom base na opinião pessoal.

A respeito do que se compreende porconceitos de dependência química, tolerância eabstinência, a maioria das respostas estava correta.Assim, em relação a: 1) dependência química, 57% dos alunos responderam tratar-se de uma“necessidade da substância no organismo oudependência física e/ou psíquica”; 2) tolerância, 36,2%referiram tratar-se de “necessidade de aumento dadosagem da droga/álcool para se obter o mesmoefeito”; 3) abstinência, 74,2% definiram-na como“interrupção do uso ou reações físicas e/ou psíquicasdecorrentes da suspensão do uso de droga/álcool”(Tabela 3, 4 e 5 respectivamente).

Tabela 3– Apresentação das respostas em número e porcentagem sobre o conceito de dependênciade substâncias psicoativas, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58).

N %Necessidade da substância no organismo/ Dependência física e/ou psíquica 33 57Não responderam 13 22Vício e hábito 6 10Sinais e sintomas 3 5Reações de abstinência 1 2Intolerância 1 2Não esclareceram 1 2TOTAL 58 100

Tabela 4 – Apresentação das respostas em número e porcentagem sobre o conceitos de tolerância,segundo os estudantes de enfermagem (N = 58).

N %Necessidade de aumento da dosagem da droga/álcool para se obter o mesmo efeito 21 36Não respondeu 11 19Dosagem de droga/álcool suportável pelo organismo 9 15,5

Outros 9 15,5Não sabem 8 15TOTAL 58 100

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Tabela 5 – Apresentação das respostas em número e porcentagem quanto a compreensão sobre o conceito deSíndrome de abstinência, segundo os estudantes de enfermagem (N = 58).

%Interrupção do uso / Reações físicas e/ou psíquicas decorrentes da suspensão do uso de droga/álcool

43 74

Não responderam 11 19Não esclareceram 2 3,4Não sabem 2 3,4TOTAL 58 100

Avaliando o tipo de dependência de substânciapsicoativa entre os pacientes no campo de estágio,38% encontraram pacientes usuários de drogas e álcool, 34,4% pacientes alcoolistas e 1,7% pacientesdependentes de drogas; 56% referiram não ter encontrado nenhum tipo de dependência ou nãoresponderam à questão.

Quando questionados se sabiam identificar ascaracterísticas de um paciente dependente químico,

48,3% negaram saber e 46,5% responderamafirmativamente, sendo que os demais nãoresponderam.

Referente à questão sobre o conhecimentosobre a assistência de enfermagem sistematizada paradependentes químicos, 62% (N = 36) dos alunosresponderam negativamente; 31% (N = 18) responderam afirmativamente; o restante não respondeu.

Tabela 6 – Apresentação das respostas em número e porcentagem quanto aos tipos de intervenções deenfermagem realizadas aos pacientes com dependência química, segundo os estudantes deenfermagem (N = 58)

N %Não responderam 24 41.4Orientações quanto ao uso da substância psicoativa, dependência, medicação Necessidade de acompanhamento a pacientes e familiares

16 27.6

Nunca ofereceu intervenção 6 10.4

Apoio e incentivo em relação ao alívio de ansiedade, Interrupção do uso de drogas/álcool,reinserção social

4 6.8

Não sabem 4 6.8Tratamento clínico, acompanhamento psicossocial, encaminhamento 2 3.5Assistência clínica (observação, controle, administração de medicação prescrita) 2 3.5TOTAL 58 100

A tabela 6 apresenta o tipo de assistência deenfermagem efetuada aos pacientes com dependênciade substâncias químicas, 41.4% dos alunos nãoresponderam ou nunca ofereceram intervenções;10.4% afirmaram ter realizado “orientações quanto aouso, dependência, medicação e necessidade deacompanhamento a paciente e familiares”.

Quando indagados à habiliadade de identificaros sintomas de intoxicação e abstinência, 88% dosalunos (não esclareceram, não se lembram, nãosabem, ou não responderam; 12% mencionaramconhecer (descrevendo os sinais e sintomas dasíndrome de abstinência alcoólica).

Tabela 7 – Apresentação das respostas em número e porcentagem quantoaos tipos de tratamento para os pacientes com problemas douso de álcool e/ou drogas, segundo os alunos de graduação (N= 58).

N %Não responderam 41 70.6Tratamento psiquiátrico e/ou psicológico 7 12Terapia de apoio 5 9

Tratamento medicamentoso e psicoterapia 3 5Não sabem 2 3TOTAL 58 100

O tipo de tratamento conhecido por 26% dos alunos foi o “tratamento psiquiátrico e/ou psicológico”,“terapia de apoio”, ou “tratamento medicamentoso e

psicoterapia”; embora 74% não responderam oudesconheciam o mesmo.Em relação ao local adequado para encaminhamentodo paciente, dentre os locais identificados, 26% dos

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LUIS, M. A. V.; PILLON, S. C.O conhecimento dos alunos de Enfermagem sobre álcool e drogas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5n. 1 p. 21 – 27, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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alunos apontaram ser a “Clínica Psiquiátrica emHospital Geral e/ou tratamento em Núcleo de ApoioPsicosocial, serviços geralmente caracterizados peloatendimento a doentes mentais.

Sobre o conteúdo álcool e drogas, 91,3% dosalunos (N = 53) referiram que o problema do uso de drogas representa um tema de grande interesse,

94,8% (N = 55) julgam que a temática deve serinserida no currículo e, finalmente, 96,5% (N = 56)consideram importante a inclusão do enfermeiro naequipe de saúde enquanto membro que poderápromover a melhora da qualidade de vida dos usuáriosde substâncias psicoativas.

Tabela 8 – Respostas em número e porcentagem sobre o local de encaminhamento para ospacientes que fizeram uso nocivo de drogas e/ou álcool, segundo os estudantes deenfermagem (N = 58).

Local de Encaminhamento N %Não respondeu 22 38Clínica Psiquiátrica em Hospital Geral e/ou Tratamento em NAPs 15 26Clínica de desintoxicação 9 15Unidade de Emergência 5 9Não sabe 4 7Grupos de apoio da comunidade 2 3Hospital psiquiátrico tradicional 1 2TOTAL 58 100

DISCUSSÃO

A amostra foi composta em sua maioria por mulheres com idade entre os 20 e 25 anos. Referentesaos conteúdos de álcool e drogas ministrado, 88%alunos afirmaram que esta temática está presenteentre os temas curriculares, e que foram abordadosnas disciplinas de Farmacologia e EnfermagemPsiquiátrica (38%), ministrado no Segundo e ouTerceiro ano de graduação. Quanto à carga horáriadestinada às aulas, a maioria não respondeu (62%) ounão soube (24%). Nesse ponto, nota-se umacontradição ao observar-se que 72% dos alunosafirmaram haver tido esse conhecimento, assinalandoinclusive as disciplinas onde foi ministrado, entretanto,em questão anterior, 86% alunos omitiram, nãosouberam, ou não se lembram dos conteúdos. Issonos leva a refletir que, os alunos não estavampresentes na aula, e ainda assunto referente e a estratégia de ensino utilizada não os despertaraminteresses. Outra reflexões a este respeito pode estarrelacionado a falta de clareza sobre a atuação doenfermeiro nesta área, ainda considerada nova emnosso meio, como vimos que estes conteúdo estãomuito inseridos na enfermagem psiquiátrica e não nainterdisciplinariedade, com responsabilidade de todasoutras disciplinas também.

Tanto que para este estudo os estudantesentrevistados estimaram 38% de usuários de álcool edrogas e 34% de usuários de álcool. Quarenta e seis porcento sabem identificar os sintomas, porém apenas31% reconhecem a assistência de enfermagem demaneira sistematizada.

O currículo de graduação da Escola deEnfermagem de Ribeirão Preto – USP possui efetivamente 3 disciplinas que contemplam esseconteúdo – Farmacologia, Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica, havendo o registro deconteúdos referentes a drogas psicotrópicas,

alcoolismo e problemas relacionados. Entretanto,essas informações são esparsas, não ultrapassamdoze horas (a maioria aulas expositivas), perdendo-seno conteúdo programático geral das disciplinas. Talvez por isso, a grande ocorrência de alunos que nãoresponderam as questões ou que manifestaramdesconhecimento sobre os itens, formas deabordagens e intervenção de enfermagem.

Quanto ao usuário de álcool e drogas, o alunotoma ciência do que seja um dependente apenas nosestágios (aulas práticas) realizados em serviçospsiquiátricos, por isso, assimilou a idéia dadependência de substância psicoativa como umproblema psiquiátrico, embora também o tenhapercebido como orgânico e ainda com um fundo moraldo problema presente, certamente pela experiência do cuidado ao alcoolista na urgência psiquiátrica e clínicamédica.

Embora a dependência de álcool e drogaspossa vir acompanhada de quadros psiquiátricos(comorbidade), não se pode caracterizar todo usuário de álcool ou drogas como um doente mental. Vários aspectos devem ser considerados, dentre eles asmotivações do uso e o relacionamento que a pessoaestabelece com a substância. Portanto, na abordagemdo usuário de álcool ou drogas, o conhecimento que oaluno adquiriu para assistir ao doente não é osuficiente para oferecer uma assistência adequada edirecioanda aos probelamas relacionados ao uso edependência de substâncias.

É prudente que, no decorrer do curso, seprocure minimizar a influência de idéias e preconceitosque o aluno pode estar trazendo do seu meio, pois em geral, ele tem experiências negativas na família(álcool) e, às vezes, não tão ruins (drogas),provenientes do convívio com colegas que podemfazê-lo perceber a questão com maior ou menorgravidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo revelou que o conteúdo sobreálcool e drogas deveria ser reavaliado buscando novoscaminhos para ser ministrado de maneira maisconsistente e contínua, uma vez que apenas algunsconceitos foram assimilados pelo aluno. A aula expositiva como estratégia de ensino -aprendizagem,mostrou-se pouco eficaz enquanto meio de transmissão de conhecimento e, portanto, deverá serreavaliada.

Cabe ressaltar o interesse do aluno a respeitodo assunto álcool e drogas e a importância atribuídaao profissional enfermeiro como participante da equipede saúde, responsável pelo cuidado do dependente desubstâncias psicoativas. A valorização disso,certamente constitui o elemento mais importante paramotivar o aluno no estudo desse tema. Compete aosdocentes das Escolas de Enfermagem e seusrespectivos alunos, encontrarem juntos os meioseficazes de transmitir o conhecimento específiconecessário para a atividade prática (assistência,ensino e pesquisa).

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Texto original recebido em 23/02/2003

Publicação aprovada em 25/04/2003

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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1 Aluna de graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. E-mail:

[email protected]. Bolsista Fundo de Cultura e Extensão Universitária.

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O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 12 A 48 MESES EMCRECHE NA PERIFERIA DA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO-SP.

GROWTH AND DEVELOPMENT OF 12 DO 48-MONTH-OLD INFANTS IN A DAY NURSERY AT THE OUTSKIRTS OF RIBEIRÃO PRETO CITY-SP.

CRECIMIENTO Y DESARROLLO DE NIÑOS CON RANGO DE EDAD ENTRE LOS 12 Y LOS 48 MESES DEEDAD, EN GUARDERÍAS INFANTILES DE LAS ZONAS PERIFÉRICAS DE LA CIUDAD DE RIBEIRÃO PRETO-

SP.

Alessandra Carvalho Carabolante 1

Maria das Graças Carvalho Ferriani 2

RESUMO: O objetivo deste estudo é conhecer e descrever o estado nutricional de crianças na faixa etária de 12a 48 meses de idade, matriculadas em uma creche municipal situada na periferia da cidade de Ribeirão Preto-SPno ano de 2000. A pesquisa é de cunho descritivo e exploratório. A amostra constitui-se de 58 criançasmatriculadas nessa instituição em que foi realizada avaliação do crescimento e desenvolvimento pela somatometria e realizado visita às famílias das crianças que apresentaram abaixo do Percentil 10, consideradoinsatisfatório. Os resultados obtidos indicam que: 53,4% das crianças estão abaixo do P10, sendo que destas48,3% encontram-se na faixa etária de 24 meses; 12%estão acima do Percentil 90, sendo que o maiorcontingente está na faixa etária de 36 meses com 71,4%, e 34,4% estão dentro do índice de normalidade. Todasas crianças são oriundas de famílias com renda mensal de 2 a 3 salários-mínimos, escolaridade entre primeiro esegundo grau incompleto e maioria desempregada. Os dados encontrados apontam que há necessidade de ser implantado um programa de educação para a saúde tanto para as famílias como para a equipe da creche.

PALAVRAS CHAVES: crescimento e desenvolvimento infantil, creche, família.

SUMMARY: This study aimed at knowing and describing the nutritional condition of 12 to 48-month-old infants,enrolled in a municipal day nursery at the outskirts of Ribeirão Preto-Sp in 2000. It is a descriptive and exploratoryresearch. The sample was composed of 58 children enrolled in the institution. The growth and development ofthem were assessed by the somatometric system and the families of children presenting a percentile below 10, considered unsatisfactory, were visited. Results obtained showed that 53.4% of the children were below P10,48.3% of those being 24 months old. On the other hand, 12% of the children were above P90, 71.4% of thosebeing 36 months old. The remnant 34.4% of them presented normal percentiles. All of them came from poorfamilies, with monthly wages from 2 to 3 minimum wages, schooling between incomplete primary and secondary levels, most of them jobless. Data points out to the need of implementing a health educational program intended forboth the families and the day nursery team.

KEYWORDS: infant’s growth and development, day nursery, family.

RESUMEN: El objetivo de este estudio es conocer y describir el estado nutricional de niños con rango de edadentre los 12 y los 48 meses , matriculados en una guardería municipal ubicada en la zona periférica de la ciudadde Ribeirão Preto-SP, durante el año 2000. La investigación es del de tipo descriptivo y de reconocimiento. La muestra está formada por 58 niños matriculados en la mencionada institución ,en la cual se realizó la evaluacióndel crecimiento y desarrollo a través de la somatometría y la realización de visitas a las familias de los niños quepresentaron un percentil por debajo del Percentil 10, lo cual es considerado insatisfactorio. Los resultadosobtenidos indicaron que: un 53,4% de los niños están por debajo del P10, siendo que de estos niños, un 48,3% se encuentran en el rango de edad de 24 meses; un 12% están por sobre el Percentil 90, siendo que el mayor grupo está en el rango de edad de los 36 meses con 71,4%, y un 34,4% están dentro del índice de normalidad.Todos los niños provienen de familias pobres, con una renta mensual de 2 a 3 sueldos-mínimos, con unaescolaridad de enseñaza Básica y Media incompleta y la mayoría desempleados. Los datos encontradosapuntan a la necesidad de que se implante un programa de educación para la salud, no sólo para las famílias sinotambien para el equipo de la guardería.

TERMINOS CLAVES: crecimiento y desarrollo infantil, guardería, familia.

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Profa. Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Av: Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário – Cep: 14040-902 – Ribeirào Preto –SP, E-Mail : [email protected]

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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INTRODUÇÃO

A infância é uma das fases da vida ondeocorrem as maiores modificações físicas epsicológicas. Essas mudanças caracterizam ocrescimento e desenvolvimento infantil, e precisam seracompanhadas de perto. O acompanhamento docrescimento e desenvolvimento indica as condições desaúde e vida da criança, visando a promoção e manutenção da saúde, bem como intervindo sobrefatores capazes de comprometê-la. (SIGAUD,1996)

Quanto à terminologia, crescimentocorrespondem a fenômenos distintos, emboracorrelacionados. Crescimento significa aumento docorpo, como um todo ou em algumas de suas partes, epodem ser mensurados em centímetros ou gramas.Significa o aumento do tamanho das células.Desenvolvimento significa capacidade do indivíduo emrealizar funções cada vez mais complexas, ou seja,desenvolve controle neuromuscular, destreza efunções que só podem ser mensurados por meio deprovas ou testes funcionais.

Uma criança pode crescer e não sedesenvolver, e vice-versa. Crescimento edesenvolvimento constituem a resultante final de umasérie de fatores, que podem ser divididos em extrínsecos (ambientais) e intrínsecos (orgânicos). Osintrínsecos são representados pela herança genética e pelo sistema neuroendócrino, e os fatores extrínsecossão os fatores ambientais e nutricionais.(MARCONDES,1992)

“O desenvolvimento é a característica primordialda criança que cresce, se modifica e se afirmacomo indivíduo. Ao atender suas necessidadesessenciais, dia a dia, se garante seu crescimento e desenvolvimento harmonioso e se prepara acriança para o futuro. O desenvolvimento significatambém saúde. Não pode haver crescimento nem desenvolvimento satisfatório se a saúde da criançaestá afetada por problemas crônicos, como adesnutrição.” (MANCIAUX, 1984, p.238)

Nos países em desenvolvimento, com seusproblemas econômicos e sociais, grande parte dapopulação vive em estado de pobreza ou na miséria,com grandes riscos de sobrevivência devido suas condições precárias de vida. Este é um fator ambientalde grande importância a ser estudado, poisdependendo das condições econômicas de um núcleofamiliar, pode-se observar, por exemplo a qualidadenutricional em suas refeições, sabendo-se que é peloalimento que a criança recebe os elementosenergéticos e construtivos(são as proteínas)necessários ao seu crescimento. Estes cuidados estãorelacionados ao atendimento primário à essapopulação, que se refere à um atendimento integral eglobal, isto é, preventivo, curativo e reabilitador, nacompetência de um médico generalista, com o objetivode barateamento de custos e a abreviação doatendimento; e a utilização de recursos secundáriossomente quando o profissional e paciente acharemnecessários.

O enfermeiro, como educador em saúde,compartilha com a criança e a família informações econhecimentos quanto à avaliação de enfermagem da situação da criança; reforça condutas adequadas aodesenvolvimento da criança, dos familiares; e discutepropondo alternativas àquelas que julgar inadequadas.Apresentar informações sobre o Crescimento eDesenvolvimento e necessidades infantis, bem comoinformações que favorecem o crescimento e desenvolvimento da criança. As orientações abrangemcaracterísticas deste, alimentação (quantidade,qualidade e hábitos), higiene, sono, brincadeiras eestimulação, imunizações, formas de comunicação erelacionamento com a criança.

SIGAUD (1996) entendem que o enfermeiro é o profissional de saúde em condições de desenvolveras ações de acompanhamento do crescimento edesenvolvimento, uma vez que tem conhecimentoacerca do processo de crescimento e desenvolvimentoe das necessidades da criança bem como sobre asformas de atendê-las.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, oconceito de nutrição é o processo pelo qual os seresvivos recebem e utilizam as substâncias necessárias à manutenção da vida, ao crescimento, aofuncionamento normal dos órgãos e à produção deenergia. Considera-se eutrófica a criança queapresenta estado nutricional normal. Distrofia significaqualquer alteração do estado nutricional normal e compreendem distúrbios da nutrição por carência(anemia, deficiência calórico-protéica) ou por excesso(obesidade).

Na avaliação clínica do estado nutricionalexistem alguns fatores importantes que precisam serlevados em consideração:ü história de doenças (atual e pregressa);ü história alimentar (atual e passada);ü exame clínico, medidas antropométricas e

descrição de manifestações físicas queexpressem deficiências ou excessosnutricionais específicos.

MARCONDES (1996) define desnutrição comosendo uma doença carencial que pode evoluir para acronicidade, vinculada à idade da lactância, que sob odenominador comum da fome, afetaespecificadamente a nutrição e cujo substratometabólico reside na alteração da função fundamentalda célula: o crescimento. Os principais fatores peladesnutrição infantil são a dieta deficiente, infecção,fatores psicológicos, situação sócio-econômica,padrões culturais, nutrição materna e desmameprecoce. A prevenção nestas situações são: a organização dos serviços de saúde, educação da equipe de saúde, e educação sanitária; e estasatividades podem e devem ser atribuídas à equipe deenfermagem.

ALCANTARA, (1946) corporificou os princípiosgerais que devem reger a alimentação infantil, sendoeles:

ü atender às necessidades energéticas ouquantitativas;

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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ü ser adequada em relação a intervalos ou horário enúmero de refeições diárias;

ü apresentar correlação adequada;ü ser constituída por leite materno nos primeiros

meses de vida;ü corresponder à capacidade digestiva nos vários

períodos de desenvolvimento – Introduzir alimentosnovos de modo progressivo;

ü ser tão variada quanto possível;ü ministrar os alimentos com técnica adequada à sua

aceitação, bem como à boa formação psíquica dacriança.

STEINSCHNEIDER, (1981) propõe que ocrescimento normal de uma criança inclui inicialmenteum período de crescimento rápido, seguido de umafase lenta até a puberdade, onde ocorre um período de aceleração. A altura ao nascer é por volta de 50 cm, e o bebê cresce me média 25 cm no primeiro ano e 15cm no segundo, e o peso ao nascimento é deaproximadamente 3.300g, dobrando de peso aos cincomeses e triplicando ao fim do primeiro ano de vida, e a partir do primeiro ano o ganho ponderal médio é de 2 a 3 Kg até o estirão pré-pubertário, dos nove aos 10anos.

Portanto, é importante a realização do exameclínico da criança de maneira detalhada para que se consiga detectar precocemente qualquer agravo e mesmo preveni-lo para que não ocorra distúrbiosnutricionais. Para tanto, faz-se necessário umainvestigação sobre o hábito alimentar da família, poiscom certeza influenciará no estado nutricional e no desenvolvimento da criança e do adolescente; além daimportância de estudar a criança em todo seucontexto, observando e analisando-a integralmentetodas as características físicas, sociais e psíquicas.

Considerando todos estes aspectos,interessamos ter como objeto de estudo crianças nafaixa etária de 12 a 48 meses de idade matriculadasem uma creche na periferia da cidade de RibeirãoPreto.

OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo descrever a característica estrutural e funcional de uma crecheMunicipal que atende crianças na faixa etária de 12 a 48 meses de idade, na periferia da cidade de RibeirãoPreto-SP, e também conhecer e descrever o estadonutricional e situação social dessas criançasmatriculadas na referida creche no ano de 2000.

PERCURSO METODOLÓGICO

O foco principal deste estudo está no interessede conhecer a realidade das crianças que passam amaior parte do dia em uma creche, e ampliar esseconhecimento em seus ambientes familiares, seus hábitos, e suas dificuldades.

A pesquisa é do tipo exploratória e descritiva(TRIVIÑOS,1992). Com o intuito de aprofundar adescrição de determinada realidade, optamos porelaborar um “Estudo de Caso” a respeito da situação

nutricional e social de 58 crianças matriculadas nacreche de Ribeirão Preto, e realizar um trabalhoexploratório a fim de identificar casos de distúrbiosnutricionais relacionados às condições sociais dasmesmas.

Os instrumentos de coleta de dados utilizadospara avaliação do crescimento e desenvolvimento foi asomatometria (peso/estatura); observação doambiente no espaço da creche e no contexto familiar durante as visitas às residências; entrevista semi-estruturada com os pais.

Para verificação do peso, utilizou-se balançade graduação com capacidade adequada para otamanho da criança. Crianças com até 16 Kg forampesadas em balança cuja graduação mínima é de 100g, na posição deitada ou sentada. Acima destepeso, as crianças foram pesadas em balança deadulto, com graduação de 100 em 100g, na posiçãoem pé ou no colo. Quando houve necessidade depesar no colo, pesou-se o adulto primeiramente, edepois pesou-se ele com a criança no colo, e obteve-se o peso da criança pela diferença dos valoresencontrados. Durante a pesagem, as criançaspequenas estiveram totalmente despidas, e as maiores trajando apenas roupas de baixo.

Para a verificação da estatura da criança comaté 100 cm, utilizamos o antropômetro posicionando acriança em decúbito dorsal e com as pernasestendidas. O ramo fixo do antropômetro foi mantidojunto ao ápice da cabeça da criança e o móvel,ajustado ao seu calcanhar. As crianças maiores forammedidas em pé, com a régua vertical. Foram mantidasdescalças, de costas junto à régua, em posição eretacom os braços ao lado do corpo e cabeça voltada paraa frente, e ajustando ramo móvel da régua ao ápiceda cabeça da criança. (SIGAUD, 1996). Para umamelhor interpretação dos resultados, foram realizadas medições a cada 2 meses durante o ano 2000.

Os dados colhidos, foram colocados no gráfico de crescimento proposto por MARCONDES (1992).Para cada sexo existe um gráfico que contém curvasde peso e altura. Para ambos os indicadores, foramestabelecidos duas curvas como parâmetro: a superiorcorresponde ao percentil 90 e a inferior ao percentil 10, e os valores compreendidos entre elas são considerados satisfatórios.

Em visitas às famílias dessas crianças, foramrealizadas entrevistas semi estruturadas a respeito decondições sócio-econômicas (renda familiar), número de habitantes na residência, escolaridade e hábitosalimentares, tanto da família como da criança.

CAMPO DE ESTUDO

A pesquisa foi realizada na cidade de RibeirãoPreto, na Creche Municipal Branca Serra, situada nobairro Alexandra Balbo, na periferia da cidade.

O município de Ribeirão Preto localiza-se naregião nordeste do Estado de São Paulo, ocupandouma área total de 651 Km2 , constituindo-se de umdos mais importantes centros de desenvolvimentoeconômico e cultural do interior paulista. O município

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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abrange uma ampla rede de serviços de saúde denaturezas diversas (pública, filantrópica e privada),compreendendo a área de atenção primária,secundária e terciária. Devido à complexidade derecursos nestas áreas, o município representa um centro médico de referência para toda a região, e, emalguns casos, a outros estados do país. É sede daDIR XVIII, que abrange 23 municípios. A rede domunicípio é formada por serviços estaduais, pela redemunicipal, por serviços filantrópicos e particularesconveniados. Fazem parte também desta rede asFaculdades de Medicina, Odontologia, CiênciasFarmacêuticas, Enfermagem, Psicologia da USP, ealgumas Faculdades particulares como: Odontologia,Fisioterapia e Ciências Farmacêuticas daUniversidade de Ribeirão Preto (UNAERP) e CiênciasBiomédicas da Faculdade Barão de Mauá.

O modelo de assistência à saúde existentehoje no Município é do tipo clínico assistencial comtendência à especialização, medicalização, e sofisticação tecnológica; isto é valido para os setores: municipal, estadual, conveniado e privado.

O município foi dividido em setores e sub-setores, baseado no decreto nº 333 de 26 dedezembro de 1983 da Prefeitura Municipal deRibeirão Preto. O objetivo desta divisão prendeu-seao fato de que se pudesse com maior precisão,realizar levantamentos de densidade demográfica,definição de zonas residenciais, comerciais e industriais, ou seja, para obter com maior clarezadados indispensáveis ao planejamento de atividadesrelacionadas à saúde, à educação, ao saneamento,abastecimento, transporte e outros.Entende-se porsetor a divisão do distrito em cinco áreas distintas,delimitadas por acidentes geográficos, barreirasfísicas e vias de tráfego pesado, localizadas deacordo com os seguintes quadrantes: Norte(N),Leste(L), Sul(S), Oeste(O) e Central(C).

Pode-se observar então, que Ribeirão Pretodetém aspectos que a caracterizam como uma dascidades mais prósperas do interior paulista, emboranão possamos perde de vista seus traços marcantesde subdesenvolvimento, pobreza e miséria. Hágrande preocupação pelos bairros periféricos onde oíndice de criminalidade e precariedade são altos,provavelmente pelo fato de Ribeirão Preto fazer parteda “Rota Caipira” do narcotráfico.

A creche situa-se em um desses locais, noBairro Alexandre Balbo. O índice de criminalidade é alto, há muita pobreza, dificuldades e medo desses moradores. As preocupações deles estão em torno daviolência, falta de emprego, e discriminação social emoral.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Características da crecheA creche é do governo municipal antes ligada

à Secretaria do Bem-Estar Social, mas atualmente émantida pela Secretaria da Educação, atendendopreferencialmente crianças cujas mães trabalham fora e não tem com quem deixar seus filhos. A finalidade

da creche não é apenas deixar a criança em localseguro enquanto a mãe trabalha; também temprioritariamente o objetivo de proporcionar estímulo desuas capacidades psico, motoras, físicas e sociaispara seu desenvolvimento integral. Para isso, épreciso que a equipe possua conhecimento sobrecrescimento, desenvolvimento para assistência globalda criança a fim de desenvolver atividade pedagógicasde acordo com a faixa etária, e também observarcaracterísticas anormais em relação a algum aspectodo desenvolvimento, seja físico, motor ou psicológicodas crianças, sendo para isso extremamentenecessário treinamentos abrangendo todas essasáreas para que a criança seja vista como um todo,integrada dentro de uma sociedade.

A creche Branca Serra tem capacidade para60 crianças, contando com 10 funcionários, sendo 2 cozinheiras, uma auxiliar de serviços, 6 educadoras euma coordenadora que fornece o suporte pedagógico,não havendo acompanhamento fixo de um profissionalda saúde. A maioria das educadoras está cursandoMagistério, e a Coordenadora está cursandoPedagogia. Apesar dos esforços da Coordenadora,foram constatados poucos estímulos pelas educadorase dificuldade delas em aceitar a visão integral dacriança. A cultura de que crianças pré- escolares nãonecessitam de estímulos é forte, e muitas acreditamser desnecessário, e a creche é apenas um local paraabrigá-las enquanto as mães trabalham. Quanto àsatividades de lazer, são programadas semanalmentepara as turmas, mas o espaço é limitado, e asatividades se restringem às brincadeiras noplayground, e nos dias de chuvas, as criançaspermanecem nas salas de aulas.

Conta com o espaço físico de 3 salas de aula, 1 sala da coordenação, almoxarifado, 2 banheirosinfantis, 1 banheiro para funcionários, 1 refeitório, 1 tanque de areia com playground. Quanto à higiene dacreche, a limpeza é realizada uma vez por semanacom água e sabão, e diariamente com soluçãodesinfetante. As caixas d’água são limpas uma vez porano e o jardim é limpo quando solicitado à frentemunicipal de trabalho “Cidade Limpa”. A areia é trocada a cada 6 meses. Os brinquedos são lavadossemanalmente com sabão e as chupetas sãodescontaminadas com água e sabão. É feita rondapolicial diariamente, e a creche não conta com vigianoturno.

Em relação à alimentação, são oferecidas 5refeições diárias no sistema self-service, onde ascrianças escolhem o que desejam comer, desperdiçamalimentos, não havendo orientação pelas educadorasa respeito da importância nutricional de todos gruposde alimentos que algumas crianças se recusam acomer. O cardápio é elaborado pela Divisão NutricionalMunicipal.

Caracterização das crianças matriculadas nacreche e de suas famílias

São 58 crianças, na faixa etária entre 12 a 48 meses, que passam aproximadamente 9 horas diárias

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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na creche. São oriundas de famílias de baixa renda,em média de 4 a 5 filhos; maioria dos familiares desempregados ou com emprego informal ( asocupações variam entre empregadas domésticas,ajudantes de serviços gerais ou funcionários daPrefeitura Municipal na limpeza da cidade - os “garis”),com renda mensal de 2 a 3 salários mínimos; altoíndice de analfabetismo, e escolaridade entre 1º e 2ºgraus incompletos. As moradias apresentam gravesproblemas de saneamento básico, e algumas estãoainda em aquisição.

Há serviço de esgoto, mas as residências sãocercadas por lixo e mato, que podem provavelmentetransmitir doenças e não há conscientização desserisco.Outra situação observada foi o número decômodos pequeno em relação ao número demoradores. Existem famílias onde as crianças dormemno mesmo quarto ou na mesma cama, ignorandoqualquer sentimento das crianças. O alcoolismotambém é muito presente nessas famílias, e em muitoscasos as crianças podem ser vítimas de seus própriospais. Além do alcoolismo, o uso de drogas propiciam a violência familiar, gerando conflitos que possivelmente

influenciarão no processo de desenvolvimento dessascrianças.

A característica mais marcante é a carênciaafetiva devido esta falta do relacionamento familiarsaudável; algumas sendo até agressivas, reproduzindoatitudes aprendidas em casa com os seus. Todas ascrianças têm pouca iniciativa para atividades comunsdevido pouco estímulo recebido seja na creche, ou emcasa. Algumas se isolam, preferindo não participar dasbrincadeiras, outras têm medo de serem repreendidas,atitude esta que pode ser reflexo da situação que seencontram. Enfim, pode-se observar que a relaçãosocial e educacional está estreitamente ligada naformação de um adulto durante a infância.

Resultados do estado nutricional das crianças

Através da somatometria (relação entre peso eestatura), e segundo parâmetros estabelecidos foi possível obter os seguintes dados a respeito do estadonutricional das crianças:

05

101520

mas

c

fem

mas

c

fem

mas

c

fem

Abaixo Normal Acima

Relação de crianças matriculadas na Creche Branca Serra segundo faixa etária,sexo e estado nutricional no município de Ribeirão Preto no ano de 2000

48 Meses

36 Meses

24 Meses

12 Meses

No total, observa-se que 53,4% das criançasestão abaixo do P10, sendo que destas 48,3%encontram-se na faixa etária de 24 meses; 34,4%estão no índice de normalidade, e 12% estão acima deP90; ou seja, o maior contingente (mais da metade)

está com alguma alteração em seu crescimento,segundo os parâmetros normais.

Segundo a relação entre idade e estadonutricional, obtemos a porcentagem da situaçãonutricional:

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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Porcentagem das crianças relacionadas à idade e estado nutricional

0%

20%

40%

60%

80%

100%

12 Meses 24 Meses 36 Meses 48 Meses

Acima de P90

Normal

Abaixo de P10

Observa-se que do total das crianças na faixaetária de 12 meses, 62,5% estão abaixo de p10enquanto 37,5% estão no índice de normalidade. Dototal das crianças na faixa etária de 24 meses, 66,6%estão abaixo de P10, e 38,8% estão no índice denormalidade. Do total das crianças na faixa etária de36 meses, 42,8% estão abaixo de P10, 28,5% estão

no índice de normalidade, e 23,8% estão acima deP10. Do total das crianças na faixa etária de 48 meses,50% estão abaixo de P10, 30% estão no índice denormalidade, e 20% estão acima de P90.

Em relação às crianças abaixo de P10, segundo a idade, obtemos os seguintes resultados:

Porcentagem do total de crianças abaixo de P10 relacionado àidade

16%

39%29%

16%12 Meses

24 Meses

36 Meses

48 Meses

De acordo com os resultados obtidos, foram realizadas visitas domiciliares às famílias das 31crianças abaixo do Percentil 10. Constatou-se que nãohá interesse a respeito do crescimento e desenvolvimento integral e muito menos do estadonutricional deficiente de seus filhos, alegando outrosproblemas para preocupam a família, como pode serevidenciado abaixo:

“Aqui a gente tem que ver se vai ter comidapra amanhã, se vai ter dinheiro pra remédio, equando meu filho mais velho não carece dedinheiro pra pagar os traficante, senão elemorre...Pode deixar que essa molecada crescesozinha.” (F1)

Percebe-se que a preocupação está em tornoda sobrevivência, outras preocupações sãodispensáveis e/ou supérfulos. Com esses dados

pudemos concluir que as dificuldades marcam as vidasdessas pessoas, que estão sempre preocupados com seus sustentos, com a violência (pois a qualquermomento qualquer um pode ser uma vítma dela),drogas, a própria discriminação social imposta pelasociedade (falta de emprego, discriminação devidobaixa escolaridade, apresentação pessoal, cor da pele,etc) além de muitas outras dificuldades, que muitasvezes esses pais apavorados e preocupados se esquecem de acompanhar todo o processo decrescimento e desenvolvimento de seus filhos, e nãoraramente negam essa importância.

Há um estilo de música próprio da periferia, o “Rap”, que descreve a realidade de vida deles numavisão bem própria deles, e há um trecho que diz:

“...seria diferente se eu fosse mauricinho;criado a Sustagem e Leite Ninho

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CARABOLANTE, A. C.; FERRIANI, M. G. C.; O crescimento e desenvolvimento de crianças na faixa etária de 12 a 48 meses em creche na periferia da cidade de Ribeirão Preto – SP. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 28 – 34, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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colégio particular, depois faculdade, mas não,não é essa a minha realidade

sou caboclinho comum

com sangue no olho, com ódio na veia

soldado do morro

feio esperto com uma cara de mal, asociedade me criou mais um marginal

eu tenho uma 9 e uma HK [modelos demetralhadoras]

com ódio na veia, pronta para atirar ...” (“Soldado do Morro”, MV Bill)

Este trecho traduz a violência e a revolta contra a sociedade que eles acreditam que é aculpada por todas suas dificuldades. Essa é umarealidade muito próxima dessas crianças, que desdemuito cedo convivem com esses problemas sociais, epodem revoltar-se mais tarde, tornando um ciclovicioso, pois toda essa revolta provavelmente vãotransmitir aos filhos, que sofrendo a discriminação e somando às condições reais de sobrevivência,passarão a também se perguntar porque devem serexcluídos dessa forma tão traumática e dolorosa dasociedade, e finalmente acabam se revoltando contraela.

Ao grupo de crianças abaixo de P10, foramdadas explicações aos pais e responsáveis a respeitoda importância do acompanhamento dodesenvolvimento global de seus filhos, desde aalimentação ao cuidado emocional e afetivo. Foramorientados com medidas caseiras para prevenção dedoenças e soluções de problemas de saúde, assimcomo métodos contraceptivos a fim de evitar o crescimento não planejado da família já numerosa. Foiarticulado com a UBS local a possibilidade doatendimento dessas crianças, em comum acordo com a Coordenadora da creche a fim de proporcionar umsuporte permanente à saúde, principalmentedirecionado à prevenção de doenças e agravos.

CONCLUSÃO

Este estudo realizado em uma crechemunicipal na periferia de Ribeirão Preto com o objetivode conhecer o estado nutricional e as interaçõessociais das 58 crianças matriculadas, mostrou que53,4% das crianças estão abaixo do P10, sendo quedestas 48,3% encontram-se na faixa etária de 24 meses.

Em relação ao meio social e às famíliasdessas crianças, foi observado através de visitasdomiciliares grande pobreza e precariedade em suasresidências. Há grandes dificuldades relacionadas aodesemprego, alto índice de criminalidade devidonarcotráfico e exclusão social. Os pais alegam não sepreocuparem com seus filhos, pois “eles crescemsozinhos” (sic). Portanto, a presença da enfermeiranesse contexto é de grande importância, pois o

crescimento infantil e o desenvolvimento psíquico e social refletirão na formação de um cidadão, humano econsciente, amenizando quadros desfavoráveis a partirda educação em saúde, conscientização de seuspapéis na sociedade e a importância de suasresponsabilidades.

BIBLIOGRAFIA

ALCANTARA, P. Causas e Remédios Sociais daMortalidade Infantil São Paulo, Rev.Tribunais, 1975.MANCIAUX, M. Requisitos para um desarrolloarmonioso. Boletín de la Oficina SanitáriaPanamericana (OPS), PAHO Coll, 1984.MARCONDES, E. Pediatria básica, 8º ed. São Paulo,Savier, 1992, v.1 e 2. SIGAUD, C.H. Enfermagem pediátrica. São Paulo: EPU, 1996. STEINSCHNEIDER, R. Cadernos de enfermagem –Pediatria. RJ – Masson, 1981.TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa emCiências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação.São Paulo, Editora Atlas, 1992.

Texto original recebido em 23/03/2003

Publicação aprovada em 27/06/2003

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CASTRO SANTOS, L. A. A Enfermagem Moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação). Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 35 - 37, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

A ENFERMAGEM MODERNA: A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL (Disciplina de Pós Graduação)

A POST-GRADUATE SEMINAR ON MODERN NURSING AND THE INTERNATIONAL EXPERIENCE.UN SEMINARIO DE POST-GRADUACIÓN SOBRE LA ENFERMERÍA MODERNA Y EXPERIENCIA INTERNACIONAL

Luiz Antônio de Castro Santos 1

RESUMO: Relato de uma experiência pedagógica interdisciplinar, realizada no Instituto de Medicina Social daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro em 2002 e 2003. Alunos e docentes de diversas áreas das Ciências daSaúde e das Ciências Humanas puderam trocar vivências, concepções, perspectivas teóricas e pontos de vista, apartir do estudo da riquíssima trajetória institucional da Enfermagem no mundo contemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem moderna; Ensino em Enfermagem; História da Enfermagem

ABSTRACT: A note on a cross-disciplinary teaching experience, which took place in 2002/2003, at the Institute ofSocial Medicine of the State University of Rio de Janeiro (UERJ). Students and faculty from many fields in theHealth Sciences and the Human Sciences were able to exchange individual experiences, conceptions, theoreticalperspectives and personal viewpoints, based on the study of the beautiful institutionalization processes of Nursingin the contemporary world.

KEYWORDS: Modern nursing; Nursing Education; History of Nursing.

RESUMEN: Informe de una experiencia pedagógica interdisciplinaria, realizada en el Instituto de Medicina Social de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro en 2002 y 2003. Alumnos y docentes de diversas áreas de lasCiencias de la Salud y Ciencias Humanas pudieran intercambiar vivencias, concepciones, propuestas teóricas y puntos de vista, desde el estudio de la riquísima trayectoria institucional de la Enfermería en el mundocontemporáneo.

PALABRAS-CLAVES: Enfermería moderna; Educación en Enfermería; Historia de la Enfermeria

CONSIDERAÇÕES GERAIS

No segundo semestre de 2002, tivemos aoportunidade de viver, com resultados auspiciosos,uma experiência de cunho pedagógico interdisciplinar,no Programa de Mestrado e Doutorado em SaúdeColetiva do Instituto de Medicina Social da UERJ, noRio de Janeiro. Trata-se da criação, em caráterexperimental, de uma disciplina de dois semestres (umpor ano), voltada para a discussão histórico-sociológica e comparativa do campo da Enfermagem.

Nossas pesquisas sobre a Reforma Sanitáriabrasileira revelaram a enorme importância daformação da enfermagem no país. Em primeiro lugar,por constituir um exemplo excepcional de profissãoque surge num encontro/desencontro entre valores e sistemas pedagógicos nacionais e internacionais(notadamente norte-americanos, por meio daFundação Rockefeller). Nessa confluência e confrontode orientações reside um convite ao estudo dosparadigmas de ensino no campo médico-hospitalar noinício do século passado e da emergência daenfermagem de saúde pública -- esta, por sua vez,fruto da proposta conjunta de sanitaristas brasileiros eda enfermagem norte-americana e que resultou nacriação da pioneira Escola Anna Nery, no Rio deJaneiro. Em segundo lugar, a importância da históriada enfermagem – particularmente após a emergência

da AIDS, que projetou os cuidados da enfermagempara o centro do cenário médico com uma legitimidadeaté então pouco reconhecida – não se resume apenasaos momentos embrionários e à suainstitucionalização na década de 20, pois a consolidação da profissão no Brasil passa por diversosmomentos decisivos em décadas posteriores, com acriação de escolas de enfermagem em inúmerospontos do país. Desse ponto de vista, o resgate dahistória de outros cursos superiores de enfermagemtorna-se imperativo, se se quiser entender a formaçãodesse campo profissional, na conhecida acepção dePierre Bourdieu.

Essa discussão sugere, desde já, comomontamos o curso. Na primeira parte, trata-se deresgatar a experiência internacional. Esta foi atemática do Curso ministrado em 2002. Em 2003,voltaremos nossa atenção ao panorama nacional – trata-se de quase um século de progresso do campono Brasil, progresso esse atestado igualmente porescolas mais “novas”, como os cursos superiores deenfermagem de Natal e Mossoró, no Rio Grande doNorte, para citarmos dois exemplos bem recentes. Opresente Relato de Experiência, desdobra-se,portanto, em duas fases, a primeira das quais,conforme a Ementa que se segue, atraiu para o nossoCurso alunos e jovens colegas de várias áreas,egressos da própria Enfermagem, da Saúde Coletiva,

1 Professor e pesquisador do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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CASTRO SANTOS, L. A. A Enfermagem Moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação). Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 35 - 37 , 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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da Medicina, da História e das Ciências Sociais, daEducação, da Odontologia. O Professor Dr. OsnirClaudiano da Silva Júnior, que atualmente realiza seuprograma de pós-doutorado no IMS/Uerj, sob nossa

orientação, dividiu conosco os encargos,responsabilidades e o sucesso da iniciativainterdisciplinar.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROInstituto de Medicina SocialRua São Francisco Xavier, 524 / 7º andar / Blocos D e E São Cristóvão - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20550-013TEL: 55-21-2587-73 03 FAX: [email protected]@compuland.com.br

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVAMESTRADO E DOUTORADO - 2002/2

DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS HUMANAS E SAÚDE "A Enfermagem em Perspectiva Histórico-Comparada"

CRÉDITOS – 3 - TURMA: Especial PROFs.: LUIZ A. DE CASTRO SANTOS e OSNIR CLAUDIANO DA SILVA JUNIOR (PROFESSORCONVIDADO, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, UNIRIO)INÍCIO: 9 de agosto de 2002 - DIA DA SEMANA: SEXTA-FEIRA - HORÁRIO: 13h às 16h

EMENTA E COMENTÁRIO: A enfermagem emperspectiva histórico-comparada

A formação da enfermagem no Brasil, além deconstituir tema de importância para profissionaispreocupados em conhecer as raízes de sua própriaidentidade social e auto-estima, envolve questões queestão no centro das reflexões historiográficas,antropológicas e sociológicas atuais. Conhecer aenfermagem brasileira é, ao mesmo tempo, conhecerum capítulo de uma história mais ampla, que é aprópria história da formação do campo em escalamundial, particularmente durante o século XX. O presente curso é um esforço na direção de apreenderalguns aspectos deste grande painel histórico,focalizando em particular os exemplos da França,Grã-Bretanha e Estados Unidos.

A pesquisa histórica e sociológica em enfermagem enfrenta, hoje, um tipo de obstáculo quese poderia chamar epistemológico: a poucafamiliaridade do corpo discente com a pesquisa, emprimeiro lugar, e, particularmente, com a pesquisahistórica. Em segundo lugar, o campo se ressente dafalta de estudos comparativos, feitos por pesquisadores de enfermagem. É notória, na literaturadisponível, particularmente nos estudos pioneirospublicados por editoras como a Cortez, a ausência deum olhar comparativo não somente para a formaçãode outras áreas biomédicas, como a medicina, a psiquiatria e a odontologia, mas, surpreendentemente,para a própria enfermagem em outros países. Háclichés que se reproduzem na literatura acriticamente,como, por exemplo, a suposta existência de modelosrígidos de profissionalização da enfermagem: anglo-americano, francês, etc. sem que possamos tomar taismodelos como hipóteses de trabalho, que só a leiturada bibliografia internacional permite aprofundar. Por

exemplo, hoje se sabe que há clivagens profundasentre a proposta nightingaliana e o modo como o “modelo inglês” difundiu-se nos Estados Unidos, aindano final do século 19. Mais ainda, sabe-se que, mesmona Inglaterra, havia fissuras entre as líderes domovimento inglês no tocante às propostas defendidaspor Florence Nightingale. Um exemplo importante: aAssociação Britânica de Enfermeiras, criada em 1887,resultou de um grito de independência em relação àgrande Dama. Tudo indica que há muito que pesquisare muito a rever. A própria historiografia sobre aformação da enfermagem moderna no Brasil, que trata as primeiras enfermeiras de padrão Anna Nery comocópias-fiéis de um padrão criado pela FundaçãoRockefeller, terá de ser revista à luz do debate recentesobre as diversas tendências existentes à época, naenfermagem norte-americana. Nos Estados Unidos,haveria um padrão cristalizado ou, por outra,tendências ainda em processo de cristalização? NoBrasil, revelou-se uma cópia-fiel ou uma incorporaçãoseletiva – por vezes, negociada – das propostaspedagógicas do Hospital Geral de Filadélfia, do Teachers College da Universidade de Columbia, ou da Escola de Enfermagem da Universidade de Toronto,no Canadá?

O Curso destina-se a todos os interessados,desde que sejam docentes ou alunos de pós-graduação nas áreas de Enfermagem, Saúde Coletiva, Medicina, História, Ciências Sociais e Educação.Apresentamos um convite à reflexão sobre aexperiência de vários países. Procuraremos, juntos,aprofundar o aprendizado da pesquisa sociológica ehistórica sobre o campo, com vistas à compreensãodos processos de formação da Enfermagem brasileira.Não existe exigência quanto ao domínio de outrosidiomas, ainda que seja recomendável certafamiliaridade com a leitura de textos em francês ou

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CASTRO SANTOS, L. A. A Enfermagem Moderna: a experiência internacional (Disciplina de Pós Graduação). Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 35 - 37 , 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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inglês. O curso se abre, igualmente, para docentes,particularmente (mas não exclusivamente) se interessados em realizar conosco um programa de pós-doutorado ou de estágio-sênior. No segundosemestre de 2003 pretendemos focalizarespecificamente a experiência brasileira, tema queserá tratado em outra disciplina a ser por nósoferecida no Instituto de Medicina Social da UERJ.

BIBLIOGRAFIA

Celia Davies, “Professionalizing Strategies as Time-and Culture-Bound: American and British Nursing,Circa 1893”, in Ellen C. Lagemann (ed.), NursingHistory: New Perspectives, New Possibilities, NorthTarrytown: Rockefeller Archive Center & New York:Teachers College Press, 1983. Geneviève Paicheler, “Présentation: Les professionsde soins: territoires et empiètements”, SciencesSociales et Santé, (13) 3, Septembre 1995, pp. 5-11.I. Feroni e A. Kober, “L’autonomie des infirmières: Une comparaison France/Grande Bretagne”, SciencesSociales et Santé, (13) 3, Septembre 1995, pp. 35-68.Katrin Schultheiss, Bodies and souls: Politics and the professionalization of nursing in France. Cambridge,Mass: Harvard University Press, 2001.Philippe Adam e Claudine Herzlich, Sociologie de la Maladie et de la Medicine, Paris, Ed. Nathan, 1994.(VER Cap. 1, “Les maladies dans l’histoire dessociétés”, cap. 2, “L’émergence de la médicinemoderne et son rôle dans la prise em charge de la maladie”, cap. 7, “L’expérience de la maladie dans tousles lieux de la vie sociale”).Renée C. Fox, Linda Aiken e Carla Messikomer, “Theculture of caring: AIDS and the nursing profession”, inD. Nelkin, D. P. Willis & S. Parris (eds.), A disease ofsociety: Cultural and institutional responses to AIDS,Cambridge University Press, 1991.

Texto original recebido em: 06/03/2003;Publicação aprovada em: 27/06/2003.

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MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. RevistaEletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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LEITOS PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAL GERAL: VISÃO DE PROFISSIONAIS QUE ATUAM EM HOSPITALGERAL

PSYCHIATRIC WARD IN GENERAL HOSPITAL: PROFESSIONALS VIEW WHO WORKS IN GENERAL HOSPITAL LOS LECHOS PSIQUIÁTRICOS EN HOSPITAL GENERAL: VISIÓN DE LOS PROFESIONALES QUE ACTUAN EN

HOSPITAL GENERAL

Jucéli Zimmermann Mion 1

Jacó Fernando Schneider 2

RESUMO: A proposta deste estudo foi a de buscar junto aos profissionais de saúde que atuam em hospital geral,a percepção e a aceitação dos mesmos sobre a possível implantação de leitos psiquiátricos na instituição em queatuam. A pesquisa foi realizada em cinco hospitais gerais privados da cidade de Cascavel, Estado do Paraná, queprestam assistência não só a pacientes do município mas da região oeste do estado.

PALAVRAS CHAVES: Psiquiatria, Leitos Psiquiátricos, Hospital Geral, Saúde Mental

ABSTRACT: The proposal of this study was the one of looking for the professionals of health that act in generalhospital, the perception and the acceptance of the same ones on the possible implantation of psychiatric beds in the institution close to in that act. The research was accomplished at five private general hospitals of the city of Cascavel, State of Paraná, that you/they render attendance not only to patient of the municipal district but of every west area of the state of Paraná.

KEY WORDS: Psychiatry, Psychiatric Beds, General Hospital, Mental Health

RESUMEN: La propuesta de este estudio fue de coger junto a los profesionales de la salud que actuan en hospitalgeneral, la percepción y la aceptación de los mismos a cerca de la posible implantación de lechos psiquiátricos en la institución donde actuan. La pesquisa fue realizada en cinco hospitales privados de la ciudad de Cascavel, enEstado de Paraná, que prestan asistencia no sólo a pacientes del municipio, pero de la región oeste del Estado.

TERMINOS CLAVES: Psiquiatria, Lechos Psiquiátricos, Hospital General, Salud Mental

INTRODUÇÃO

Durante nossa trajetória como profissionais deenfermagem são tantas as discussões sobre aReforma Psiquiátrica, a desconstrução do aparato manicomial, criação de unidades psiquiátricas emhospitais gerais, que nos despertaram para anecessidade de saber como essas medidas são vistas e qual a aceitação dos profissionais da rede hospitalarprivada, no que diz respeito a essas mudanças.

Para tanto, os participantes desta pesquisaforam os profissionais que trabalham em hospitalgeral: diretores, médicos, enfermeiros, auxiliares deenfermagem, copeiras e serventes de limpeza, ouseja, as pessoas que terão contato com essespacientes, se a Reforma Psiquiátrica vier a se concretizar, com a criação de Leitos Psiquiátricos emHospitais Gerais.

Assim, o objetivo deste estudo foi o de buscarjunto aos profissionais de saúde que atuam emhospital geral, a percepção e a aceitação dos mesmossobre a possível implantação de leitos psiquiátricos nainstituição em que atuam.

MATERIAL E MÉTODO

A busca do conhecimento pode ser feita dediversas maneiras e essa diversidade se dá ao fato deque o ato de conhecer é próprio do homem. O ser humano ao enfrentar os problemas procura identificarsoluções e neste enfrentamento, produzconhecimentos.

Minayo (1999: 12) fala que:

... o labor científico caminha sempre em duas direções: numa, elabora suas teorias, seusmétodos, seus princípios e estabelece seusresultados; noutra, inventa, ratifica seucaminho, abandona certas vias e encaminha-se para certas direções previlegiadas. E aofazer tal percurso, os investigadores aceitamos critérios da historicidade, da colaboraçãoe, sobretudo, imbuem-se da humildade dequem sabe que qualquer conhecimento éaproximado, é construído.

A pesquisa científica objetiva responder questões, buscar soluções para os problemas. O método científico é o instrumento para auxiliar acompreender o mundo, portanto é o caminho paraaquisição do conhecimento.

Por meio de métodos científicos, os pesquisadores lutam para a solução de problemas,para dar sentido à experiência humana, para

1 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Secretaria Municipal de Saúde de Cafelândia, Paraná.2 Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Docente do Colegiado do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. E-mail:[email protected]

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MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. RevistaEletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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compreender a regularidade dos fenômenos e paraprever circunstâncias futuras. Mas, o que existe detão especial no método científico? Consciente ou inconscientemente, nós todos fazemos indagações,resolvemos problemas e tomamos decisões, a cadadia (POLIT; HUNGLER, 1995: 12).

No entanto, todo pesquisador precisa seguiruma metodologia, garantindo assim, percorrer umcaminho sistemático e ordenado, evitando atravésdela, tirar conclusões baseadas na intuição.

Sobre pesquisa científica, Martins e Bicudo(1989: 65) colocam que: “Toda pesquisa científica,pressupõe sempre uma posição, uma postura quetorna possível investigar os fenômenos, a partir deuma certa perspectiva, na qual habilita o pesquisador a encontrar resposta para sua problemática”.

Na pesquisa científica, existem dois métodos: a pesquisa quantitativa que trabalha com fatos, dadosestatísticos, números, e a pesquisa qualitativa quetrabalha com dados subjetivos, crenças, valores,opiniões, fenômenos, hábitos.

Como nossa problemática estava voltada àpercepção, ou seja, conhecer como os profissiobnaisde saúde de hospitais gerais privados percebem apossibilidade de implantação de leitos psiquiátricosnas instituições em que trabalham, usamos comoreferencial a pesquisa qualitativa, que consideramosser a mais apropriada.

Sobre a pesquisa qualitativa, Minayo (1999: 21)coloca que:

Ela se preocupa, nas ciências sociais, comum nível de realidade que não pode serquantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças,valores e atitudes, o que corresponde a um espaçomais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos àoperacionalização de variáveis.

Na pesquisa qualitativa, o material utilizado é a palavra, que expressa a fala cotidiana, nos discursosintelectuais, burocráticos, políticos e nas relaçõesafetivas ou técnicas. Neste método, procura-seinterpretar o conteúdo das falas, ultrapassando a mensagem e conhecendo significados latentes.

Ainda sobre o método qualitativo, Minayo (1999:24) enfatiza que:

Os autores que seguem tal correntenão se preocupam em quantificar, mas, sim,compreender e explicar a dinâmica dasrelações sociais que, por sua vez, sãodepositárias de crenças, valores, atitudes ehábitos. Trabalham com a vivência, com a experiência, com a continuidade e tambémcom a compreensão das estruturas einstituições como resultado da ação humanaobjetiva. Ou seja, desse ponto de vista, alinguagem, as práticas e as coisas sãoinseparáveis.Assim, nesta investigação, os dados foram

coletados através de uma entrevista aberta, poispensamos ser este o instrumento mais apropriado para a pesquisa qualitativa.

Sobre este recurso, Gil (1987: 113) coloca que:“Pode-se definir como a técnica em que o

investigador se apresenta frente ao investigadoe lhe formúla perguntas, com o objetivo deobtenção dos dados que interessam à investigação.

A entrevista é portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é umaforma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra seapresenta como fonte de informação”.Na operacionalização deste estudo, observou-se

as normas éticas no que se refere à pesquisaenvolvendo seres humanos, conforme preconizado naresolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.Sendo assim, o projeto de pesquisa passou por umComitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e foi aprovado.

Anteriormente à pesquisa, foram procurados osdiretores gerais destas instituições, para entrega deofício, solicitando campo de pesquisa. Todosconcordaram dando autorização no próprio ofício.

Assim, a pesquisa foi realizada em cincohospitais gerais privados da cidade de Cascavel,Estado do Paraná, que prestam assistência não só apacientes do município mas de toda região oeste doestado do Paraná.

A pesquisa foi realizada apenas nas instituiçõesprivadas por serem em maior número na cidade e, por poderem retratar na medida dos objetivos quetraçamos a percepção dos profissionais que atuam noshospitais. Por ter apenas um hospital público no município onde o estudo foi desenvolvido, pensamosque se tornaria difícil estabelecer comparações entreas percepções dos profissionais da área pública e daárea privada, sendo necessária outra investigaçãopara se atingir este objetivo.

Foram entrevistados diretores gerais, médicos,enfermeiros, auxiliares de enfermagem, copeiras eserventes de limpeza. A escolha destas categoriasdeu-se ao fato de que se houver implantação de leitospsiquiátricos em hospitais gerais privados, estes profissionais terão contato com os pacientespsiquiátricos.

As entrevistas foram realizadas por um dos pesquisadores dentro dos hospitais, em horário detrabalho e os profissionais entrevistados foram os queestavam de plantão. Foram realizadas em dias e horários diferentes, conforme disponibilidade dos respondentes.

Todos os entrevistados foram inteiradosindividualmente da pesquisa e, que esta seriarealizada através de entrevista gravada. Foi feita umaúnica pergunta, com a seguinte questão norteadora:“Qual a sua percepção frente à possibilidade deimplantação de leitos psiquiátricos neste hospital?”.

Os dados coletados foram analisados tendocomo referencial a análise de conteúdo proposta porBardin, (1977) apud Gil (1987:163-4), que apresentaos seguintes passos: a) pré-análise; b) exploração domaterial; e c) tratamento dos dados, inferência e interpretação.

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MION, J. Z.; SCHNEIDER, J. F. Leitos Psiquiátricos em hospital geral: visão de profissionais que atuam em hospital geral. RevistaEletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 38 – 42, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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Após a transcrição na íntegra das falas foiefetuada análise dos conteúdos, que resultou em seis(6) unidades temáticas. Esta análise “(...) consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem acomunicação e cuja presença, ou freqüência deaparição podem significar alguma coisa para oobjectivo analítico escolhido” (BARDIN, 1977:105).

A seguir, apresentaremos as unidades temáticaspara análise dos discursos, como segue: A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geralestá condicionada a infra-estrutura do hospital; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geralestá vinculada à qualificação da equipe que irá atuarjunto a pacientes em sofrimento psíquico; Aimplantação de leitos psiquiátricos em hospital geralvai favorecer a recuperação e reintegração mais rápidado indivíduo em sofrimento psíquico à sociedade; Aimplantação de leitos psiquiátricos em hospital geralestá relacionada ao preconceito, ao estigma comrelação ao portador de transtorno mental; A implantação de leitos psiquiátricos em hospital geralestá ligada à questão financeira; A implantação deleitos psiquiátricos em hospital geral requerenvolvimento da família dos pacientes psiquiátricos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos conteúdos dos discursos foiembasada nas temáticas descritas acima, ondepretendeu-se discutir e relacionar os conteúdos comreferenciais de autores que estudaram estas questões.

Na primeira unidade temática, aparece nosdiscursos a preocupação no sentido de organizar o espaço físico do hospital geral, para poder atenderpacientes psiquiátricos.

Esta preocupação fundamenta-se noconhecimento dos profissionais de que estes pacientesprecisam de um atendimento diferenciado, pois comose sentem bem fisicamente, permanecem pouco no leito. O ambiente físico adequado para portadores de patologias psíquicas, deve favorecer a orientação notempo e no espaço (tendo relógios, calendários,espelhos, quadros) ter um refeitório, já que não sealimentam no leito, uma área de lazer para quepossam participar de atividades físicas, sala de estarcom rádio e televisão e que seja em andar térreo,facilitando o acesso para área de lazer e refeitório (BOTEGA, 1995).

Pensamos que a questão do espaço físicodificulta a implantação destes leitos, pois estareorganização para adequar os hospitais estávinculada à disponibilidade de espaço físico e, implicaem investimentos financeiros.

Os conteúdos da segunda unidade, que tem como temática a qualificação profissional, mostramque os profissionais não se sentem preparados paraatender a clientela com transtorno mental. Estaquestão era percebida enquanto enfermeira dehospital geral, onde a equipe multidisciplinar ao deparar-se com paciente portador de patologiapsíquica, não se sentia à vontade para lidar com estaclientela, e estas falas evidenciam que o despreparo

da equipe constitui-se em um problema para a implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral.

Todos os discursos falam que seria viável a implantação destes leitos, desde que houvessetreinamentos e reciclagem para a equipe que atuariajunto ao doente.

Com relação ao pessoal auxiliar, Peduzzi(1992: 68) explica que:

Ao pensarmos na capacitação depessoal auxiliar na área de saúde mental,tomamos como questão nuclear à interaçãoentre subjetividade, pois que esta é aferramenta básica com a qual os auxiliaresrealizarão seu trabalho de assistência àclientela. Para desenvolver tal habilidadeterão que, primeiramente, adquirir um dadoconhecimento através de ensino do saberespecífico da área. Os princípios econceitos gerais que fundamentam o trabalho na instituição e, maisespecificamente, na equipe de saúdemental serão os mesmos para o conjuntodos trabalhadores, diferindo a forma e a extensão em que serão transmitidos, e o modo e objetivos com que serão utilizados.

As referências dos participantes sobre o problema do despreparo dos profissionais para assistiro doente mental, são compreensíveis à medida queaté o momento a formação oferecida pelos cursos daárea da saúde não está voltada para a capacitaçãodestes profissionais, para prestar assistência em outroespaço a não ser o hospital psiquiátrico.

Entendendo que a questão da assistência aoser humano em sofrimento psíquico requer que seconstruam outros espaços de atenção, como no casoo hospital geral, a formação/capacitação dos profissionais há que ser repensada, e os profissionaisque já estão atuando na área deverão ser capacitados.

De modo geral, os profissionais acreditam que o internamento do paciente portador de sofrimentopsíquico em hospital geral favorecerá a recuperação ea reintegração mais rápida do doente a sociedade,uma vez que o paciente não perde o vínculo com arealidade e na alta hospitalar, sai sem o rótulo, sem o estigma de internação em hospital psiquiátrico,conforme nos mostra a terceira unidade temáticaidentificada nos discursos.

Falando sobre as principais vantagens dasUnidades Psiquiátricas em Hospital Geral, Botega e Dalgalarrondo (1997: 50) pontuam que se ocorresse a “(...) diminuição do estigma da doença mental: odoente mental no hospital geral passaria a ser vistocomo um doente semelhante aos outros. Os hospitaispsiquiátricos tradicionais, ao contrário, tenderiam areforçar tal estigma”.

A quarta unidade retrata o preconceito. Apesardos profissionais entrevistados reconhecerem osbenefícios advindos com a internação do pacientepsiquiátrico em hospital geral, as falas evidenciam opreconceito em relação a estes pacientes.

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Na tentativa de não assumir este preconceito,alguns colocam que haveria atritos com os pacientesdiferenciados (particulares e de convênios), que sãomais exigentes que os pacientes do SUS e não aceitariam ter próximo do seu quarto, pacientes compatologias psíquicas.

Uma questão que fica explícita nestesdepoimentos é a vinculação direta entre doençamental e pobreza, revelando ainda as discrepâncias na assistência à saúde, em que não se pode ter,convivendo num mesmo espaço, pessoas de diferentes níveis sociais. A inclusão de serviços depsiquiatria em hospital geral pelo que se podeobservar ocorreria com uma certa resistência. Um dosfatores citados como dificultadores deste processo é o preconceito.

Para muitos ainda, ‘lugar de louco é nohospício’. Há o temor de que os doentes mentaispossam representar um perigo de agressão fisica para os outros doentes do hospital e pessoaltécnico. Tais temores não se sustentam perante asevidências de mais de cinqüenta anos de UIPHGsnos paises desenvolvidos (BOTEGA;DALGALARRONDO, 1997: 49).

Na quinta unidade, emergiu a questão dosrecursos financeiros como importantes para arealização desta proposta. O hospital teria que investirem recursos humanos e na reestruturação da áreafísica. Como a maior demanda é de pacientes usuáriosdo Sistema Único de Saúde, questionam se haveriaretorno para cobrir estes investimentos, que nãoseriam poucos.

Com relação a estes questionamentos quesurgiram nas falas dos entrevistados, transparecendoreceio quanto ao financiamento deste tipo de serviço,nos embasamos novamente em Botega eDalgalarrondo (1997: 50) que refletem sobre estaquestão, mais particularmente sobre problemasrelacionados a formas de pagamentos, colocando que:“(...) em vários países, muitos seguros médicos esistemas previdenciários têm uma política clara depagar menos aos leitos psiquiátricos; a maioria dosseguros médicos privados no Brasil não cobreassistência psiquiátrica”.

Na Sexta e última unidade temática, surge aquestão do envolvimento da família dos pacientespsíquiátricos como um fator fundamental para a implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral.

Nos discursos dos entrevistados emerge a família como algo contraditório. Alguns colocam aimportância do envolvimento familiar no processo detratamento do enfermo mentalmente, alegando que ointernamento em hospital geral pode favorecer o acompanhamento por parte da família no processo detratamento.

No entanto, outros dizem que a família nãoparticipa da hospitalização, abandonando o familiar,deixando sob responsabilidade da instituição os cuidados e decisões sobre o paciente.

Observamos que ocorre uma preocupaçãoentre os entrevistados de que os indivíduos em

sofrimento psíquico sejam abandonados pelosfamiliares, deixados por longo tempo nos hospitaisgerais, caso ocorra a implantação de leitospsiquiátricos nestas instituições, repetindo-se assim, o modelo asilar que tanto contribuiu para a cronificaçãodesses indivíduos, conforme nos mostra a história dapsiquiatria e da saúde mental.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO

A maior dificuldade para a implantação dosleitos psiquiátricos em hospital geral privado estávinculada principalmente à questão financeira. Para a realização de tal propósito, as instituições teriam quereestruturar a área física do hospital, investir nacapacitação dos profissionais já vinculados à empresa,bem como a contratação de novos profissionais queainda não fazem parte da equipe como assistentesocial, psicólogo e terapeuta ocupacional.

É de conhecimento de todos a insatisfação dosprofissionais e dos serviços médico-hospitalar emrelação ao pagamento dos serviços prestados aoSistema Único de Saúde (SUS).

Sendo assim, quem arcará com os custos parao investimento necessário para a implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral? Acredita-se que umamudança desta natureza implica em mudança naspolíticas de saúde e do modelo de assistência.

Além deste aspecto, não temos dúvida que qualquer modificação institucional somente ocorrerá sehouver uma idéia global de mudança, incluindo todosos setores do hospital geral, dentre os quais aenfermagem, a medicina, a limpeza, a nutrição, o administrativo, enfim, todos os setores que se envolverão com o paciente psiquiátrico.

No entanto, além de levarmos em conta osaspectos citados, devemos considerar, como nosaponta Pitta (1993: 128), que existem infinitasdimensões de qualidade de serviços, encontradasnuma tipologia de qualidade que podem ser úteis naimplantação de leitos psiquiátricos em um hospitalgeral:

1º poderíamos iniciar falando sobre aqualidade social, que se mede em função daacessibilidade à prestação, ou seja, aoefetivo tratamento com as suascaracterísticas de escuta, acolhida,negociação terapêutica. Entretanto, deve-seconsiderar não só de um ponto de vista daorganização dos serviços mas tambémconsiderar a dimensão do custo para ousuário (econômico, afetivo e cultural). Deum outro modo, um serviço pode ser definidocom base na sua qualidade social nãosomente avaliando-se o grau de coerênciaentre o que o serviço oferece e o que ousuário demanda; a qualidade social se podemedir também em termos da aceitação doque se oferta nos caminhos da ‘satisfação’do usuário. 2¯ a qualidade econômica,definível em termos de eficiência,

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mensurável na relação entre custo e serviçoofertado. 3¯ a qualidade técnica, mensurávelem termos da correta aplicação doconhecimento e recurso humano e materialdisponível.

Isso se efetivando, os hospitais gerais terãocondições concretas para a implantação comqualidade de leitos psiquiátricos, visto que este estudomostrou que o pessoal técnico demonstra uma boareceptividade com relação a esta possibilidade.

Assim, realizar este trabalho de pesquisa, nosproporcionou além de um aprofundamento sobre apercepção dos profissionais de saúde frente àpossibilidade de implantação de leitos psiquiátricos emhospital geral, uma maior reflexão sobre a condição dodoente mental.

Neste sentido, percebemos que grande parteda problemática do sofrimento psíquico tem relaçãocom o papel do ser humano na sociedade, visto quegeralmente são indivíduos pouco produtivos quegeram transtornos para as pessoas com as quaisconvivem.

Esta realidade é evidenciada mais entre aspessoas de baixo poder aquisitivo que, diante dasdificuldades encontradas no convívio com um familiarem sofrimento mental, encontram no asilamento a solução de seus problemas, existindo convergência deinteresses, pois para as instituições manicomiais esteinternamento também é conveniente.

Diante deste panorama, pensamos que as mudanças não podem acontecer apenas nos serviçosde saúde, mas em toda a estrutura social e, que adificuldade de implantação de formas alternativas detratamento psiquiátrico, está ligada à forma de direcionamento dos recursos públicos para este tipo deassistência, já que a internação em instituição totalainda hoje é fonte segura de lucro para seus donos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70,1977.BOTEGA, N.J.(org.) Serviços de saúde mental no hospital geral. Campinas: Papirus, 1995.________; DALGALARRONDO, P. Saúde mental nohospital geral: espaço para o psíquico. 2. ed. SãoPaulo: Hucitec, 1997. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. SãoPaulo: Atlas, 1987. MINAYO, M.C.S. (Org.) Pesquisa social: teoria,método e criatividade. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.PEDUZZI. M. Capacitação de pessoal auxiliar emsaúde mental: reflexões a partir da experiência de umcentro de saúde escola. Saúde em debate. Santa Maria. n. 36, p. 66-72, out., 1992. PITTA, A. Avaliando as transformações na assistênciapsiquiátrica brasileira. In: RUSSO, J.; SILVA FILHO,J.F. da (orgs.) Duzentos anos de psiquiatria. Rio de Janeiro: Relume Dumará/UFRJ, 1993. p. 125-34.

POLIT, D.F.; HUNGLER, B.P. Fundamentos depesquisa em enfermagem. 3. ed. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1995.

Texto original recebido em 27/02/2003

Publicação aprovada em 27/06/2003

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FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipede resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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1 Enfermeira do Programa Saúde da Família – [email protected] Enfermeira do Hospital Sara de Fortaleza3 Enfermeiras. Doutoras em Enfermagem – Docentes da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Rua

ADESÃO ÁS PRECAUÇÕES PADRÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS DA EQUIPE DE RESGATE PRÉ-HOSPITALAR DO CORPO DE BOMBEIROS DE GOIÁS

ADHESION ACE PRECAUTIONS STANDARD BETWEEN THE PROFESSIONALS OF THE TEAM OF DAILY PAY-HOSPITAL RESCUE OF THE BODY OF GOIÁS FIREMEN

ADHERENCIA A LAS MEDIDAS DE PRECAUCIONES ESTÁNDARES ENTRE LOS PROFESIONALES DEL EQUIPO DEL RESCATE DE PRÉ-HOSPITALAR DEL CUERPO DE BOMBEROS DE GOIÁS

Valéria Borba Florêncio 1

Carolina de Araujo Rodrigues 2

Milca Severino Pereira 3

Adenícia Custódia Silva e Souza 3

RESUMO : Este estudo teve como objetivo identificar a compreensão dos profissionais da equipe de Resgate Pré-Hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goiás acerca dos riscos de exposição a material biológico e a adesão àsmedidas de precauções padrão. Os dados foram coletados através de questionário e observação sistematizada. Aúnica medida de segurança adotada se restringe ao uso de luvas de procedimentos, foi demonstrado poucoconhecimento acerca das medidas de proteção e dos riscos a que estão expostos. A equipe apresentacompetência técnica para os atendimentos de socorro a vítimas, mas necessita de preparo para sua autoproteção.

PALAVRAS-CHAVES: Precauções padrão; Atendimento pré-hospitalar; Biossegurança.

ABSTRACT: This study it had as objective to identify to the understanding of the professionals of the team of Pay-Hospital Rescue of the Body of Firemen of Goiás concerning the exposition risks the biological material and theadhesion to the measures of precautions standard. The data had been collected through questionnaire andsystemize comment. The only measure of adopted security if restricts to the use of gloves of procedures, haddemonstrated to little knowledge concerning the measures of protection and the risks the one that is displayed. Theteam presents ability technique for the attendance for the victims and needs preparation for its self-protection.

KEY-WORDS: Standard precautions; Emergency attendance; Bio - security.

RESUMEN: Este estudio teve como objetivo identificar la comprensión de los profesionales del equipo del rescatede Pré-Hospitalar del Cuerpo de Bomberos de Goiás referente a los riesgos de la exposición el material y la adherencia a las medidas de precauciones estándares. Los datos habían sido recogidos a través de cuestionario ysistematizan el comentario. La única medida de seguridad adoptada de sí restringe al uso de guantes deprocedimientos, fue demostrada a poco conocimiento referente a las medidas la protección y los riesgos el seexhibe que. El equipo presenta a técnica de la capacidad para la atención e ayuda a las víctimas, pero necesita la preparación para su uno mismo-protección.

TERMINOS CLAVES: Precauciones estándares; atención diarios del pagar-hospital; biossegurança.

INTRODUÇÃO

O conceito de sistema de emergência pré-hospitalar no Brasil surgiu a partir de 1986, com a criação do Grupo de Socorros de Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, com aincorporação de médicos socorristas e unidades desuporte avançado de vida (HARGREAVES, 2000).

Em 1999, com a portaria nº 824 GM de 24 dejunho, o Ministério da Saúde considerou comoatendimento pré-hospitalar aquele procedimentoprestado à vítima nos primeiros minutos após ter ocorrido o agravo à sua saúde (BRASIL,1999).

No Estado de Goiás, o Grupamento de ResgatePré-hospitalar (GRPH) do Corpo de Bombeiros Militarfoi estruturado no ano de 1997 e desde então, tem desempenhado importante papel no atendimento avítimas. Só em 2001, o grupo prestou atendimentos a 13624 vítimas. Diante deste dado ressaltamos a importância social e humanitária das açõesdesenvolvidas pelo grupo de resgate. O alto grau deprofissionalismo e a precisão técnica conquistaram aconfiança do cidadão, que se sente seguro ao ser atendido por este serviço.

Ao realizar atendimento pré-hospitalar, osprofissionais estão constantemente expostos a váriosriscos durante a execução de suas atividades

227, Qd 68 s/n (FEN/UFG); Setor Leste Universitário. CEP 74605-080, Goiânia (GO).

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FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipede resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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ocupacionais, principalmente, por manusear de formadireta ou indireta materiais orgânicos excretados e secretados por clientes portadores de patologiasdesconhecidas, podendo, por sua vez, ser fonte detransmissão de microrganismos para os profissionais e outras vítimas.

Para reduzir o risco de transmissão,principalmente, de hepatite B e HIV são necessáriasmedidas preventivas para proteger tanto o profissionalquanto o cliente do contato com sangue,particularmente através de ferimentos percutâneos.Estas medidas incluem a utilização de instrumentos,técnicas e práticas de trabalho mais seguras e, ainda,uso consistente de barreiras de proteção apropriadas(HOEFEL & SCHNEIDER, 1997).

Em 1996, os Centers for Diseases Control andPrevention (CDC) editaram as precauções padrão asquais devem ser adotadas para o atendimento a todosos clientes independente do conhecimento do seuestado infeccioso. Tal norma inclui apropriada lavagemdas mãos e o uso de luvas para o manuseio de todosos fluidos orgânicos, dentre outros (GARNER, 1996).

No atendimento de emergência pré-hospitalar,observamos que os riscos de contaminação dos profissionais aumentam na proporção direta em que hácontatos mais intensos e diretos com as vítimas.

De acordo com a estatística de ocorrência doGRPH, os atendimentos a vítima estão distribuídosnas categorias de acidentes de trânsito, emergênciasclínicas, intoxicação, lesão térmica, suicídio, entre outros.

Todos os atendimentos oferecidos pelo GRPH proporcionam condições de risco de contaminaçãocom fluídos corpóreos. Este fato requer a adesão asmedidas de precauções padrão para proteção doprofissional.

Entretanto, ressaltamos que em nossa experiência, os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar, diante de algumas situações, muitas vezes,utilizavam os Equipamentos de Proteção Individual(EPI) de forma inadequada, ficando expostos a riscosde contaminação. Questionamos se estes profissionaisnão fazem uso das medidas de precauções padrão,por não estarem conscientes do risco à que estãoexpostos ou por não terem incorporado ao hábito ouso destas medidas.

Considerando que a equipe de resgate pré-hospitalar trabalha em condições de alto risco ocupacional, há necessidade de verificar o conhecimento e adoção, dos profissionais, as medidasprotetoras relacionadas à prevenção das doenças.

OBJETIVOS

¶ Verificar a compreensão dos profissionais doGRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás, acerca dos riscos de exposição a materialbiológico

¶ Identificar a adesão às medidas deprecauções padrão pelos profissionais doGRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás

¶ Levantar fatores intervenientes na adesão àsprecauções padrão pelos profissionais doGRPH do Corpo de Bombeiros de Goiás.

DELINEAMENTO DA PESQUISA

Estudo realizado junto às equipes de resgatedo GRPH do Corpo de Bombeiros Militar do Estado deGoiás, localizado no município de Goiânia-GO.

Fizeram parte da pesquisa todos osprofissionais da equipe de resgate pré-hospitalarligados diretamente ao atendimento a vítimas, que estavam trabalhando no período da coleta de dados, e concordaram em participar da pesquisa através daassinatura do termo de livre consentimento.

Foram incluídos todos os socorristas atuantesno atendimento pré-hospitalar, e excluídos os que seencontravam em férias, licença médica, operaçõesexternas ao município, que não estavam ligados aoresgate da vítima ou que recusaram em participar.

Os dados foram coletados, após a observaçãodos aspectos ético-legais referentes á pesquisa emseres humanos, através de um questionário que foirespondido pelos participantes do estudo, logo apósreceberem o plantão e antes de saírem para osatendimentos.

O questionário abordava os seguintes temas: compreensão dos profissionais a respeito deprecauções padrão e risco biológico; imunização dosprofissionais; utilização de medidas de segurança em procedimentos que oferece riscos de respingo,formação de aerossóis, secreção e fluídos corpóreos;facilidades e dificuldades na utilização dos EPI;lavagem das mãos; descarte de materiaisperfurocortantes; acidentes com materiaisperfurocortantes e condutas tomadas e treinamentosespecíficos sobre precauções padrão.

Além dos dados do questionário, queevidenciaram a compreensão dos profissionais acercados riscos ocupacionais, procedeu-se a observaçãodireta, dos riscos biológicos a que estão expostos e daadoção das medidas de precauções padrão durante as atividades no atendimento e resgate.

A observação foi realizada em cada uma dasequipes de resgate, no mínimo em 4 situações deatendimento. Foi utilizado um roteiro para observaçãosistematizada com as seguintes categorias pré-estabelecidas: utilização dos EPI – indicação para ouso, uso adequado e forma de descarte; artigosutilizados nos atendimentos: forma de descarte deartigos contaminados e forma de reprocessamento dosartigos reutilizados e condutas adotadas em situaçõesde risco com material biológico.

Os instrumentos usados para a obtenção dos dados foram validados quanto ao seu conteúdo,mediante avaliação feita por quatro enfermeiros, os quais foram selecionados por atuarem na área de

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FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipede resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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controle de infecção hospitalar ou segurança dotrabalho.

Os resultados foram interpretados e analisados à luz dos princípios norteadores da práticade assistência de qualidade com redução dos riscosocupacionais, utilizando-se, ainda, referências acercade segurança do trabalho e de medidas de precauçõespadrão preconizadas pelos CDC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A instituição pesquisada possui um total de 78profissionais, destes 34 foram excluídos por nãoatenderem aos critérios de inclusão. Participaram doestudo, 44 profissionais sendo 34 socorristas, 5 enfermeiros, 3 médicos e 2 motoristas.

O GRPH possui dois tipos de atendimento:uma Unidade de Resgate Básico (UR) composta por

socorristas, os quais não tem formação na área da saúde, realizando somente atendimentos primárioscomo função de imobilização, contenção dehemorragias e transporte de vítimas; e uma Unidadede Suporte Avançado (EUA) composta por socorristas,enfermeiro e médico, na qual se realiza atendimentosmais complexos tipo reanimação cardíaca,procedimentos invasivos, contenção de hemorragias,entre outros.

A equipe de resgate manifestou seuentendimento acerca de precauções padrãoconceituando-as como a utilização de EPI ou medidasde proteção à saúde ou cuidados de proteção narealização do trabalho.

As medidas de segurança mencionadas pelaequipe de resgate, para realizar procedimentos queoferecem risco de contato com sangue e outros fluídoscorpóreos compõem a Tabela 1.

TABELA 1 – Medidas de seguranças ocupacionais adotadas para a realização de procedimentosconsiderando o tipo de contato. GRPH – Corpo de Bombeiros, Goiânia, 2001.

Contato direto comsecreções

Contato através de respingo

Medidas de segurança adotadas

Nº % Nº %Luvas de procedimentos 42 95,45 38 86,36Luvas estéreis 07 15,90 05 11.36Máscara 42 95,45 43 97,72Óculos protetores 39 88,63 38 86,36Gorro 20 45,60 22 50,00Outros 06 13,48 03 6,81

Ao serem questionados acerca do uso demedidas de segurança houve o predomínio dautilização de luvas de procedimentos, máscaras eóculos protetores durante situações de risco. No entanto, através da observação realizada durante oatendimento a vítima, constatamos que a única medidautilizada, em tais situações, foi o uso de luvas deprocedimento. Verificamos que em algumas vezes,durante o atendimento, a equipe se expôs ao materialbiológico através de respingo de sangue em mucosasde olho, boca e nariz.

Durante a observação detectamos que apesardos profissionais usarem luvas de procedimento, estesnão têm o devido cuidado em evitar a contaminaçãoda superfície, pois manuseiam pranchetas, macas,maçanetas e outros objetos sem retirar as luvas. Destaforma, as luvas utilizadas como equipamento deproteção individual tem se transformado em equipamento de disseminação de contaminantes. Estecomportamento tem sido igualmente constatado emoutras situações de atendimento pela equipe desaúde, inclusive em hospitais.

A adesão ao uso do EPI está intimamenterelacionada á percepção que os profissionais têmacerca dos riscos a que estão expostos e da susceptibilidade a estes riscos. Neste estudo,evidenciamos que os profissionais banalizam os riscosocupacionais com material biológico, não sabendo, na

sua maioria, identificar as conseqüências decorrentesda inobservância do uso de medidas de prevenção.

Observamos, também, que a maioria dosprofissionais, principalmente socorristas, não faz usoadequado de equipamentos de segurança no momento da lavagem dos equipamentoscontaminados e do veículo da unidade de resgate.Esta é realizada em um pátio, sem um sistema deescoamento adequado, ficando a água da lavagemdos materiais represada em uma quadra de esporte.

É importante considerar que a água retida naquadra de esporte contamina o ambiente de trabalhoda corporação. Todo o ambiente no qual seacondiciona ou reprocessa material contaminado, deve possuir superfícies laváveis e ser provido de torneirase ralos com escoamento direto para rede de esgoto.

Durante a execução da limpeza manual énecessário o uso de EPI, ou seja, luvas grossas deborracha antiderrapantes, aventais impermeáveis,botas, gorro, óculos protetores (SOBECC, 2001).

Detectamos que luvas contaminadas comsangue e outras secreções corpóreas são desprezadas em lixo comum, em recipientes abertosexpostos a insetos, estas condutas somadas ao manuseio de pranchetas, caneta, maçaneta, maca com luvas contaminadas estendem o risco decontaminação ambiental e coletiva. Além disso, existea possibilidade dos próprios profissionais se

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FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipede resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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contaminarem ao manusear superfícies por elesmesmos contaminadas.

O lixo deve ser selecionado como resíduosinfectantes quando proporciona risco potencial a saúdepública e ao meio ambiente devido à presença deagentes biológicos, ou lixo comum quando não oferecerisco adicional a saúde pública. O lixo infectante deveser acondicionado em saco plástico branco,identificado com o símbolo de substância infectante,disposto em lixeira com tampas que as fechemhermeticamente, e o seu volume não pode ultrapassar2/3 da capacidade da lixeira (RIBEIRO FILHO, 2000).

Outra importante medida de proteção refere-seà imunização. Os profissionais que assistem apacientes devem estar imunizados com o objetivo de proteção individual, interrupção da disseminação de doenças infecciosas e proteção indireta de pessoasnão vacinadas8. Verificamos a situação vacinal dos profissionais pesquisados, sendo que 17 delesafirmaram estar com o esquema completo da vacinacontra hepatite B e 23 estavam com o esquemaincompleto tendo recebido apenas a primeira dose; 24foram imunizados contra tuberculose; 32 iniciaram o esquema de tétano e difteria, destes 26 fizeram asegunda dose e apenas 21 completaram o esquema;18 receberam a tríplice viral; 7 vacinaram contra febreamarela.

A adesão ao esquema vacinal pela equipe deresgate é baixa, considerando que as vacinas estãodisponíveis na rede básica para os profissionais desaúde e que algumas delas fazem parte decampanhas, portanto, de fácil aceso.

Foi nos relatado que apesar do risco com material biológico, que os profissionais da equipe deresgate estão expostos, não há exigência quanto à comprovação do esquema vacinal no momento daadmissão ao serviço e nem orientação quanto à importância da imunização. Além do quem, algunssocorristas referiram não ter conhecimento danecessidade de se fazer o reforço de algumas vacinas.Estes dados denotam a baixa percepção do risco, odesconhecimento de medidas protetoras e a poucapreocupação em adotar medidas sabidamenteeficazes e seguras.

Apesar da eficácia das precauções padrão,estas têm sido pouco observadas, principalmente,quanto ao uso dos EPI, que até se tornaremintegrantes da rotina dos profissionais, mostram-secomo incômodos e difícies de serem aceitos7 . Diante disso verificamos quais as dificuldades encontradaspelos profissionais, quanto à utilização de EPI durantea realização de procedimentos (Tabela 2).

TABELA 2 – Dificuldades indicadas pelos profissionais do grupo de resgate para a adoção de medidas desegurança. GRPH – Corpo de Bombeiros, Goiânia, 2001.

Dificuldades Nº %Sobrecarga de trabalho 32 72,7Falta de cursos específicos 21 47,7Falta de material (EPI) 16 36,3Falta de incentivo 13 29,5Situações de emergência 13 29,5Falta de água, sabão e papel toalha 14 31,8Falta de tempo 09 20,4Dificuldade de adaptação ao EPI 06 13,6Falta de hábito 04 9,0

A maioria relatou que a principal dificuldade éa sobrecarga de trabalho. A sobrecarga de trabalhoalém de deixar o profissional mais estressado exige maior rapidez na execução das tarefas e muitas vezes induz a um fazer repetitivo sem adequadoplanejamento.

Destacamos que 16 profissionais (36,3%)relataram falta de material para própria proteção, o quenão foi confirmado pelas observações. Na verdade,não há um planejamento da distribuição destesmateriais, pois o profissional responsável em repor osmesmos é membro da equipe e nem sempre verifica o estoque na unidade de resgate.

O atendimento em situações de emergências érelatado pela equipe como um fator que favorece aexposição aos riscos biológicos, devido ao caráteremergencial não permitir que o profissional separamente e, também, pela rapidez com que osprocedimentos muitas vezes são realizados. No entanto, ressaltamos que todos os atendimentos

prestados pelo GRPH são considerados deemergência, sendo por isso necessário que oprofissional se paramente adequadamente antes dechegar ao local da ocorrência, pois desconhece a situação em que se encontra a vítima.

Mesmo diante de situações de emergência é necessário que os profissionais adotem as medidas deprecauções padrão, inclusive a lavagem das mãos.Assim, indagamos se havia local adequado para a lavagem das mãos, 37 (84,1%) responderam de formanegativa e 5 (11,4%) responderam de forma afirmativa.Os locais referidos como adequados foram: pias etorneiras no hospital e central de operações. E os doisrestantes (4,5%) não responderam.

Apesar de cinco (11,4%) relatarem um localapropriado para lavagem das mãos, os locais citadossão inviáveis já que o profissional não tem condiçõesde lavar as mãos antes e após o atendimento à vítima, uma vez que as UR e USA não possuem pias.

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FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipede resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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A despeito disso, ressaltamos que soluçõesalternativas podem ser implementadas, como o uso deálcool gel a 70% para a lavagem das mãos emsituações nas quais, por qualquer motivo, não tenhaacesso fácil e imediato a pia com água e sabão9.Salientamos, no entanto, que os profissionais devemrealizar a lavagem simples das mãos com água e

sabão ao chegarem nos hospitais ou na central deoperações, pois apesar da eficácia do álcool gel, elenão substitui a lavagem das mãos.

Questionamos os profissionais a respeito dasfacilidades encontradas para a adoção de medidas desegurança, as respostas obtidas estão apresentadasna Tabela 3.

TABELA 3 – Facilidades encontradas pelos profissionais da equipe de resgate para a adoção de medidasde segurança. GRPH – Corpo de Bombeiros, Goiânia, 2001.

Facilidades Nº %Segurança na realização das tarefas 39 88,6Disponibilidade de EPI 27 61,3Conhecimento acerca dos riscos de contaminação/acidente de trabalho 25 56,8Incentivo e orientação sobre a necessidade de utilização dos EPI 21 47,7Incentivo dos colegas 08 18,1Disponibilidade de um recipiente adequado para o descarte de perfurocortantes 02 4,5

Alguns profissionais assinalaram comofacilidades a segurança na realização das tarefas, porém este é um fato traiçoeiro, pois o excesso deconfiança na rotina de trabalho leva à banalização dosriscos podendo contribuir para aumentar a exposiçãodos profissionais aos riscos biológicos, uma vez queos acidentes são imprevisíveis e que na rotina detrabalho, nem sempre tudo acontece da mesma forma.

Observamos uma contradição entre asrespostas dadas por dois pesquisados sobre odescarte de perfurocortantes. As UR e USA nãopossuem recipientes de paredes rígidas, adequadospara o descarte. Os perfurocortantes são depositadosem cubas rim sem reencape para, posteriormente,serem desprezados no lixo hospitalar, onde nemsempre são acondicionados em recipiente de paredesrígidas.

Os artigos perfurocortantes devem ser descartados em caixas coletoras imediatamente apóso uso (GARNER,1996). O manuseio de perfurocortantes após o uso tem sido responsável pelamaioria dos acidentes percutâneos (SOUZA,2001),

As injúrias percutâneas ocorrem,principalmente, durante o descarte, desencaixe ou reencapamento de agulhas, ou ainda, quando opaciente se move abruptamente (HAIDUVEN,1995).

Mesmo tendo possibilidade de preveniracidentes através da utilização de medidas deseguridade ocupacional, as exposições ao materialbiológico ainda podem ocorrer. Nestes casos, éindicado imediatamente lavar a área exposta comágua e sabão e procurar o médico do trabalho, quefará o registro de Comunicação de Acidente deTrabalho (CAT). O profissional que atende oacidentado deve avaliar a gravidade da exposição etomar as condutas necessárias de acordo com o caso(CALVACANTE & PEREIRA, 2000).

Dentre os profissionais da equipe de resgate,12 já tiveram algum acidente de trabalho com materialbiológico, e 28 nunca se acidentaram. Dos que seacidentaram, cinco referiram exposição a sangue ououtro fluido corpóreo em pele não íntegra e 4 referiram

esta exposição em mucosa. Ressaltamos queacidentes com perfurocortantes tiveram um relatobaixo, de apenas um caso, porque somente a USArealiza procedimentos com estes materiais.

Imediatamente após o acidente com exposiçãoao material biológico as condutas tomadas, na maioria,foram à lavagem com água e sabão ou utilização deprodutos como solução anti-séptica e a não notificaçãodo acidente. Estes dados evidenciamdesconhecimento em relação a estas medidas.

Quando questionados a respeito detreinamento específico sobre precauções padrão apósa admissão no serviço de resgate, obtivemos 22 respostas negativas e 21 respostas positivas referindomelhorias das suas atividades após o treinamento.

Os temas abordados estavam relacionados a cuidados com a vítima e sua segurança sem enfoqueàs precauções padrão. Provavelmente, devido ao fatode que estes treinamentos, normalmente, eramministrados por profissionais que não pertencem à área de saúde.

O treinamento em serviço, apesar de por sinão ser suficiente para a adesão às precauçõespadrão, quando associadas a outros fatores temcontribuído para aumentar a adesão a estas medidas.

Considerando o que foi exposto, temos que osprincipais fatores intervenientes na adesão às medidasde precaução padrão entre a equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros são: odesconhecimento dos riscos e das medidas protetoras;o fato de não realizarem procedimentos invasivos nasunidades de resgate, que os levam a descartarem apossibilidade de contaminação e não perceberem orisco a que estão expostos; apesar de se tertreinamento sobre precauções padrão, os responsáveis pela sua execução são profissionais quenão estão tecnicamente habilitados acerca destatemática. De acordo com a portaria nº 2616,preferencialmente, o profissional indicado para realizarações de prevenção a acidentes com materialbiológico é o enfermeiro (BRASIL, 1998).

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FLORÊNCIO, V.B.; RODRIGUES, C.A.; PEREIRA, M.S.; SOUZA, A.C.S. – Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipede resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goias. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 5 n. 1 p. 43 – 48, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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CONCLUSÃO

A partir da análise dos dados coletados acercada adesão às medidas de precauções padrão, pelaequipe de resgate do GRPH do Corpo de Bombeirosde Goiás, constatamos:¶ A maioria dos profissionais demonstrou pouco

conhecimento sobre precauções padrão;¶ A adesão ao esquema vacinal dos profissionais é

baixa;¶ A medida de segurança adotada pela maioria dos

profissionais se restringe ao uso de luvas deprocedimentos;¶ Os acidentes com secreções orgânicas em pele

não íntegra foram as formas mais freqüentes de exposição a material biológico;¶ A maioria dos profissionais não sabe como

proceder após exposição a material biológico;¶ Grande parte dos profissionais não tem percebido

os riscos a que estão expostos e o risco decontaminação cruzada;¶ A maioria dos treinamentos foi realizada por

profissionais que não são da área de saúde, o quemuito prejudicou na elucidação do tema;¶ O lixo infectante não é acondicionado e

transportado de maneira adequada,proporcionando risco de contaminação aosprofissionais e ao ambiente;¶ Os perfurocortantes não são descartados em

recipientes adequados, favorecendo possíveisacidentes com os mesmos;¶ A lavagem manual dos artigos contaminados é

realizada em local inapropriado e sem a utilizaçãocorreta dos EPI.Aos profissionais do GRPH do Corpo de

Bombeiros do Estado de Goiás desempenham umtrabalho fundamental para a comunidade. Entretanto,expõe-se a riscos biológicos pela não adoção demedidas preventivas. A não adoção dessas medidasestá relacionada ao pouco conhecimento.

Acreditamos que a implementação de um treinamento que aproveite as experiências préviasdestes profissionais direcionados para as necessidades de seguridade ocupacional garantiriamaior segurança para aqueles que oferecem segurança nas situações emergenciais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Interfaces na Área de Saúde. São Paulo (SP):Atheneu, 2000, p. 1287-1300.GARNER, JS. Guideline for isolation precautions inhospitals. Infect. Control Hosp. Epidemiol. 1996; 17 (1): 54-80.HAIDUVEN, DJ et al. Percutaneous injury analysis:consistent categorization, efective reduction methods,and fure strategies. Infect. Control Hospital.Epidemio..16, (10): 15, 82-589, 1995.HARGREAVES, LHH. Sistema de Emergência Pré-Hospitalar. In: TIMERMAN, S, RAMIRES, JAF,BARBOSA, JLV, HARGREAVES, LHH. Suporte Básicoe Avançado de Vida em Emergências. Brasília (DF):Câmara dos Deputados. Coordenação de Publicações,2000, p.437-457.HOEFEL, HHK, SCHNEIDER, LOO. Profissional de Saúde na Cadeia Epidemiológica. In: RODRIGUES,EAC, MENDONÇA, JS, AMARANTE, JMB, ALVESFILHO, MB, GRINBAUM, RS, RICHTMANN, R.Infecções Hospitalares – prevenção e controle. São Paulo (SP): Sarvier, 1997, p.352-366. RIBEIRO FILHO, N. Gerenciamento de Resíduos deserviços de Saúde. In: FERNANDES, AT,FERNANDES, MOV, RIBEIRO FILHO, N. InfecçãoHospitalar e suas Interfaces na Área de Saúde. SãoPaulo (SP): Atheneu, 2000, p.1156-1200.SOBECC - Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centralde Material e Esterilização. Centro de Material eEsterilização. Práticas recomendadas da SOBECC. 2001. Cap.1, p.12-30.SOUZA, ACS, Risco Biológico e Biossegurança noCotidiano de Enfermeiros e Auxiliares de Enfermagem.[Tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem deRibeirão Preto/USP; 2001.

Texto original recebido em 24/03/2003

Publicação aprovada em 27/06/2003

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MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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1*Orientadora, Doutora e Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás– FEN/UFG.

2Acadêmica do 5° ano de enfermagem da Universidade Federal de Goiás e bolsista do Programa Especial de Treinamento -

GESTAÇÃO DE ALTO RISCO E BAIXO PESO AO NASCER EM GOIÂNIA

GESTATION OF HIGH RISK AND LOW WEIGHT AT BIRTH IN GOIÂNIAGESTACIÓN DE ALTO RIESGO Y BAJO PESO AL NACER EN GOIÂNIA

Cleusa Alves Martins 1

Leilinéia Pereira Ramos de Rezende 2

Dayane Cristina Silva Vinhas 3

RESUMO: Realizou-se estudo a cerca da Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG) e Recém-Nascidos de Baixo Peso (RNBP), com os objetivos de verificar a incidência de RNBP em mães com DHEG eapresentar alguns dados epidemiológicos. Os dados foram coletados através de um roteiro. Pesquisamos 239prontuários de gestantes com DHEG e seus respectivos recém-nascidos, no período de janeiro-1998 a dezembro-2002, em um hospital público de Goiânia. Constatamos que 69,70% das mães tiveram filhos com peso menor que2500 g, levando-nos a concluir que a DHEG influencia na incidência de RNBP, visto que em menos de 50% doscasos, houve o nascimento pré-termos. A maioria das mães era primigestas. Mais de 50% destas fizeram pré-natal, porém, apenas 39,70% realizaram mais de seis consultas. Em 82,85% dos casos, a via de parto foi cesariana.

Palavras chaves: Pré-eclâmpsia; Eclampsia; Recém-nascido de Baixo Peso.

SUMMARY: It happened a study of the Specific Hypertensive of Gestation Disease (SHGD) and Low Weight of New Born (LWNB) with the objectives to verify the incidence of LWNB in mothers with SHGD and to present someepidemic data. The data was collected through a trial. From January-1998 through December-2002 in a public hospital of Goiânia, we researched 239 files of pregnant women with DHEG and their respective new born. Weverified that 69,70% of the mothers had children with smaller weight than 2500g, leading us to conclude that DHEGinfluences in the incidence of RNBP, because in less than 50% of the cases, there was a birth of pre-term. Most ofthe mothers were pregnant for the first time. More than 50% of them made prenatal, however, only 39,70%accomplished more than six consultations. In 82,85% of the cases, the childbirth was via cesarean operation.

Keywords: Pre-eclampsia; Eclampsia; Infant Low birth Weight.

RESUMEN: Se realizó un estudio acerca de la Enfermedad Hipertensiva Específica de la Gestación (DEG) y recién nacidos de bajo peso (RNBP), con los objetivos de verificar la incidencia de RNBP en madres con DEG y presentar algunos datos epidemiológicos. Los datos fueron colectados a través de un guión. Investigamos 239historias clínicas de embarazadas con DEG y sus respectivos recién nacidos, en el período de Enero- 1998 a Diciembre- 2002, en un hospital público de Goiania. Constatamos que 69,70% de las madres tuvieron hijos conpeso menor que 2500g, llevándonos a concluir que la DEG influencia en la incidencia de RNBP, visto que enmenos de 50% de los casos hubo el nacimiento pre-términos. La mayoría de las madres tenían la primeragestación (primigestas). Más de 50% de éstas hicieron prenatal, pero sólo 39,70% realizaron más de seisconsultas. En 82,85% de los casos, la vía del parto fue cesárea.

Términos claves: Preeclampsia; Eclampsia; Recién Nacido de Bajo Peso.

INTRODUÇÃO

Toxemia gravídica, termo utilizado há muitas décadas, inapropriadamente, para definir esta doença,pois se pensava que havia interferência de agentestóxicos na circulação sangüínea causando os distúrbios hipertensivos, consagrando-se assim,universalmente pelo seu uso corrente na literatura. Emnosso estudo, utilizaremos o termo Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG), pormelhor expressar as características desta entidade.

Sabemos que, na gestação mesmo havendoalterações anatômicas, endócrinas, hemodinâmicas e imunológicas importantes, o organismo feminino se

mantém em equilíbrio dinâmico por mecanismoscompensatórios. Contudo, o limite entre a normalidadee a doença é extremamente tênue e o desequilíbriorepresenta risco elevado de morbimortalidadematerno-fetal.

A Doença Hipertensiva Específica da Gestação,de acordo com Ministério da Saúde, BRASIL (2000),CINTRA (2001) E VIGGIANO (1989), trata-se de umapatologia obstétrica que surge após a vigésimasemana de gestação. Segundo REZENDE (1995),surge após a vigésima quarta semana gestacional,sendo mais freqüente no terceiro trimestre e seestende até o puerpério. Caracteriza-se por apresentarhipertensão arterial, edema e/ou proteinúria, podendo

PET. E-Mail: [email protected]*

Acadêmica do 5° ano de enfermagem da Universidade Federal de Goiás.

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MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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culminar com convulsões e coma. Para o Ministério da Saúde, BRASIL (2000), a Pré-Eclampsia pode ocorreranteriormente a vigésima semana de gravidez, namoléstia trofoblástica gestacional, sendo,predominantemente, uma patologia de primigesta.

CINTRA (2001), afirma que lesõeshiperplásticas e obstrutivas das arteríolas teciduaisocorrem uniformemente em pacientes portadoras dehipertensão. E estariam relacionados ao menor afluxosangüíneo, dependente do espasmo arteriolargeneralizado, donde decorre o estado hipoxêmico.Essas alterações anátomo-funcionais levam ao quadrode insuficiência placentária com conseqüenterepercussão nas duas funções trofoblásticas:respiratória e nutritiva.

Quando o processo se instala precocemente, a nutrição fetal fica comprometida afetando,severamente, o produto da gestação que nasce combaixo peso para idade gestacional, ou seja, com pesoinferior a dois desvios padrão da média, concordandocom o Ministério da Saúde, BRASIL M.S (2000), o qual afirma que o peso inferior a 2500 g pode ser emconseqüência do nascimento prematuro e daqualidade do crescimento fetal intra-uterino.

Nessa linha de pensamento, o tema traz a inquietação de aluna e bolsista de iniciação científica,desenvolvendo atividades práticas na área obstétricaem relação às observações empíricas de grandeincidência de recém-natos com baixo peso ao nascer,em mães que apresentavam diagnóstico de DoençaHipertensiva Específica da Gestação (DHEG), e ainda,as conseqüências drásticas que a patologia poderepresentar na gestação, em dados como: idadegestacional ao nascer, paridade, pré-natal e via de parto.

OBJETIVOS

¶ Verificar a incidência de Recém-Nascidos de BaixoPeso em mães com Doença Hipertensiva Específicada Gestação, em Goiânia.¶ Apresentar dados epidemiológicos: idade gestacional

do recém-nascido, peso fetal ao nascer, gestaçõesanteriores, número de consultas pré-natais e tipo departo mais comum nestes casos.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, que se utilizousubsídios quantitativos realizada em um hospitalpúblico, em Goiânia-Goiás. A população foi constituídade 239 prontuários de pacientes portadoras de DHEG e seus respectivos recém nascidos, no período dejaneiro de 1998 a dezembro de 2002, e acatou-senormas da Resolução 196/96, do Conselho Nacionalde Saúde. Os dados foram obtidos por meio de umroteiro, atinando-se para questões referentes ao parto,

ao recém-nascido e gestações que apresentaram essapatologia.

A DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO

O quadro clínico da Doença HipertensivaEspecífica da Gestação conforme afirma REZENDE(1995), pode apresentar evolução distinta: Pré-Eclampsia - quando aparece apenas hipertensão,edema e/ou proteinúria. Mas, se ocorre associação deconvulsão, essa tríade é dita Eclampsia. No quadroclínico, um ou mais dos sintomas estão presentes:¶ Pressão arterial: aumento da pressão arterial

diastólica a 90 mmHg ou mais, ou aumento dapressão arterial diastólica acima de 140 mmHg dovalor conhecido previamente, confirmado apósduas medidas com intervalo de no mínimo 4 horas, com a gestante sentada, em repouso.¶ Proteinúria: presença de 300 mg ou mais de

proteínas em urina de 24 horas ou Labistix1(+)/4(+) ou mais em amostra casual.¶ Edema: quando existente, pode ser localizado ou

generalizado.Além destes sintomas, também podem ocorrer

oligúria: diurese inferior a 400 ml por dia; cefaléia; dorepigástrica; cianose ou edema pulmonar confirmado;dor no hipocôndrio direito (rotura da cápsula deGlinson); trombocitopenia grave: plaquetas abaixo de100.000 /mm3; anemia hemolítica microangiopática:hemólise; icterícia e/ou elevação das enzimashepáticas; e crescimento intra-uterino retardado(CIUR ou RCIU).

Eclampsia é o aparecimento de convulsão emuma paciente com pré-eclampsia. Pode ocorrer nagravidez, parto ou até 10 dias de puerpério. Aeminência de Eclampsia é caracterizada clinicamentepor sinais de encefalopatia hipertensiva, dor no epigástrio e hipocôndrio direito. Devem ser excluídas a epilepsia e outras doenças convulsivantes.

CINTRA (2001), afirma que a hipertensãoinduzida ou agravada pela gravidez desenvolve-secom maior freqüência em mulheres expostas ao vilocorial pela primeira vez; expostas à superabundânciade vilo corial (mola hidatiforme, gestações múltiplas);que tenham doenças vasculares preexistentes; e quesejam geneticamente predispostas aodesenvolvimento da hipertensão durante a gravidez.

Para esta autora, a hipertensão arterial constacomo uma das principais causas de obituário materno,tanto em países desenvolvidos como em países emdesenvolvimento.

Deve-se salientar ainda, que a elevadamorbidade da doença, pode provocar lesõesneurológicas, renais, pulmonares, cardíacas e hepáticas, assim como afetar a morbiletalidadeperinatal, óbito fetal intra-útero, prematuridade e baixopeso ao nascimento. A insuficiência vascular útero-

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MARTINS, C.A.; REZENDE, L.P.R.; VINHAS, D.C.S. – Gestação de alto risco e baixo peso ao nascer em Goiânia. Revista Eletrônica deEnfermagem, v. 5 n. 1 p. 49 – 55, 2003. Disponível em http:/www.fen.ufg.br/Revista.

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placentéria é responsável por aumentar as taxas deretardo no crescimento intra-uterino com baixo peso ao nascer e também óbito fetal. O descolamentoprematuro da placenta, em aproximadamente 50% doscasos é decorrente da DHEG e outras complicaçõesassociadas à prematuridade, contribuindo para amortalidade neonatal.

Na gestação a vascularização uterina, segundoCINTRA (2001), sofre grandes alterações para fornecer suprimento sangüíneo adequado ao útero emcrescimento e ao produto gestacional, as artériasespiraladas se dilatam, atingindo até trinta vezes seudiâmetro pré-gestacional.

Entre a décima e a décima sexta semana degestação ocorre a primeira onda de invasão trofoblástica, com ocupação da camada muscular e doendométrio da porção decidual das artériasespiraladas.

A segunda onda de invasão entre décima sextae a vigésima segunda semana se estende às porçõesmiometriais das artérias espiraladas. Estes vasostornam-se dilatados, incapazes de sofrer contração eapresentam tecido trofoblástico em contato direto como sangue materno.

Para CINTRA (2001), gestantes com distúrbioshipertensivos na gravidez, não apresentam a segundaonda de invasão trofoblástica no parênquima uterino.O tecido trofoblástico fica superficial e não avançaalém da porção decidual das artérias espiraladas. Odiâmetro externo final destes vasos no miométrio émenor que a metade dos vasos similares em gestantesnormais.

Não ocorrendo a invasão trofoblástica dos vasosuterinos, que estão uniformemente contraídos, haveráhipoperfusão do trofoblasto. Acredita-se que ocorra aprodução de um agente, pelo tecido trofoblástico emsofrimento, que seja citotóxico e juntamente comoutros mecanismos, cause dano ao endotélio.

A cliente com distúrbio hipertensivo na gravidez,segundo CINTRA (2001) e REZENDE (1995), nãoapresenta aumento do volume plasmático sendo queeste é pequeno ou inexistente. Há elevação do hematócrito. O débito cardíaco poderá estar normal,aumentado ou diminuído, dependendo da gravidade,duração da doença e terapêutica utilizada. A pressãoarterial é elevada, assim como a resistência vascularperiférica, com diminuição de perfusão em váriosórgãos. Há um estado hemodinâmico de baixo volume,alta pressão e alta resistência.

Mesmo em casos de doenças sistêmicas com comprometimento vascular, como vasculites ouaterosclerose materna, mola hidatiforme, diabetes e lúpus eritematoso sistêmico, o resultado final é a não-ocorrência da segunda onda de invasão trofoblástica,com o mesmo comprometimento de hipoperfusão dostecidos trofoblásticos. A razão do fenômeno da não-invasão trofoblástica, segundo esses autores, é desconhecida, mas acredita-se na existência de

mecanismos bioquímicos, imunológicos e genéticosenvolvidos neste processo, que não foramcomprovadamente definidos.

Uma das graves complicações de distúrbioshipertensivos na gravidez é a síndrome HELLP,caracterizada por hemólise, elevação de enzimashepáticas e plaquetopenia. O fígado gorduroso dagravidez, também é considerado complicação,e se trata de uma patologia grave, de etiologiaindeterminada. Pacientes com estas patologias devemter acompanhamento rigoroso, com internação e cuidados em terapia intensiva, afirma CINTRA (2001).

Geralmente, entre outros, os distúrbioshipertensivos na gravidez são graves, e acarretam umaumento na incidência de parto cesárea,potencializando as complicações. A doença apresentaum elevado índice de morbiletalidade materna e perinatal, que exige uma intervenção rápida e segurapara o concepto.

Pacientes com gravidez em curso, segundoCINTRA (2001), devem ficar em decúbito dorsal, coma cabeceira do leito em semi-Fowler. Em casos graves, repouso em decúbito lateral esquerdo, o maiortempo possível, ou decúbito elevado a 45º, se apaciente estiver consciente e orientada. A gestanteacima de vinte semanas pode ter 20% a 30% deredução do débito cardíaco em posição supina, poreste motivo é necessário observar o posicionamento.

Deve ser feito o controle rigoroso da freqüênciarespiratória em pacientes sem assistência ventilatória,e a oxigenação com ventilação mecânica e sedação,bem como podem ser necessários monitorizaçãocardíaca e controle de níveis pressóricos (inclusivecom métodos invasivos, em casos mais graves).

Outros procedimentos que podem ser necessários: Controle diário de proteinúria, por urinatipo I ou reação colorimétrica urinária com fitasespeciais, sondagem vesical de demora com controlerigoroso de diurese e balanço hídrico, avaliaçãoconstante da função renal, eletrólitos, hematimetria,pesquisa de dimorfismo eritrocitário, plaquetas,coagulograma completo, TGO/TGP, LDH, bilirrubinas,glicemia, gasometria arterial no mínimo uma vez aodia, com correção dos distúrbios, com acidemia,insuficiência renal, alterações de coagulação,hemorragias.

A monitorização fetal deve ser realizada apósa estabilização da paciente. A enfermagem devemanter-se atenta aos sintomas: dor epigástrica ou emhipocôndrio direito, náuseas e/ou vômitos e, naprevenção de crises convulsivas dentre outrosprocedimentos da conduta clínica na eclampsia e estáindicado, sob prescrição médica, o sulfato demagnésio (SO4Mg), e no caso de recorrênciassubentrantes, opta-se pela fenil-hidantoína. Entretanto,na pré-eclampsia, convém lembrar a relaçãorisco/benefício do uso de medicamentos compotenciais efeitos teratogênicos ou outros efeitos

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colaterais, a administração deve ser feita com rigorosocritério, recomenda-se o Ministério da Saúde (BRASIL;2000).

Já, na pré-eclâmpsia leve, a conduta consisteem tratamento ambulatorial, repouso, dietanormossódica e controle do ganho de peso excessivo.A via de parto depende da indicação obstétrica (nãoultrapassando 40 semanas de gestação),

Portanto, um importante meio profilático para sereduzir a incidência de Doença Hipertensiva Específicada Gestação é a assistência adequada ao pré-natal,realizada por enfermeiro, com consultas periódicas eintervalos habituais – no mínimo seis, sendo duasconsultas médicas, (no entanto, em presença de qualquer sinal ou sintoma de alteração de risco, a gestante deve ser encaminhada ao médico).

RECÉM-NASCIDOS DE BAIXO PESO

Segundo dados do Ministério da Saúde(BRASIL; 2000a), a freqüência dos recém- nascidos debaixo peso é estimada entre 10 e 15%, de todas asgestações. No entanto para a problemática do retardode crescimento fetal ou redução do crescimento intra-uterino e das complicações associadas ao nascimento,respectivamente, não existe, ainda, tratamentoespecífico. O estabelecimento da conduta fica na dependência da idade gestacional, das condições devitalidade fetal, da evolução clínica e do fator causal.Propõem-se medidas como repouso materno e a correção dos fatores causais identificados.

São considerados recém nascidos de baixo peso quando o peso do recém-nato for menor que2500g. A qualidade do crescimento fetal depende dainteração do organismo do feto com o de sua mãe, e o suprimento por fatores maternos e placentários(BRASIL, 2000a).

RAMOS (1986), avalia clinicamente ocrescimento fetal, determinando-se a altura do fundodo útero através do exame bimanual do abdomegravídico. Além disso, as medidas de ultra-sonografiado diâmetro biparietal, do comprimento do fêmur e doperímetro abdominal fetais, são também empregadaspara se estimar o crescimento fetal.

A combinação dessas medições prediz comexatidão o peso fetal. Os desvios da curva decrescimento serão relacionados a condições de altorisco. O desenlace do feto ou recém-nascido comretardo do crescimento dependem da redução docrescimento intra-uterino e das complicações

associadas ao nascimento.Para RAMOS (1986), dentre outros, os fatores

influentes no retardo de crescimento fetal são asCausas fetais (rubéola congênita, síndromes denanismo primordial, anormalidades cromossômicas,síndromes de má formação congênita, produção fetalreduzida de insulina e de fator de crescimentosemelhante à insulina I FCI-I); Causas placentárias(tumores placentários, descolamento prematurocrônico da placenta, transfusões intergemelares,insuficiência placentária, dentre outras); e causasmaternas (doenças vasculares periféricas quereduzem o afluxo sanguíneo útero-placentário,hipertensão arterial crônica, vasculopatia diabética,entre outros). A pré-eclampsia e eclampsia constituemrisco para o nascimento de recém-nascidos de baixopeso. Vale dizer, que ainda não há provas de que aredução do fluxo sanguíneo útero-placentário seja acausa de retardo de crescimento no feto humano,embora se saiba, várias causas que reduzem essefluxo estão associadas a recém nascidos pequenospara idade gestacional.

Um importante dado sobre a relação pressãoarterial materna/peso fetal foi desenvolvido por NAYEe cols (1973), demonstraram que pressão diastólicamáxima obtida durante a gravidez, aumenta quandoaumentam o peso pré-gravídico e o ganho líquido depeso na gravidez, ou seja, o peso total ganho pelamãe menos o do feto e o da placenta.

Os dados sugerem que muitas modificações docrescimento fetal atribuídos à nutrição oferecida pelamãe sejam, na realidade, mediados pela pressãoarterial e pela perfusão uterino-placentária.

Na compreensão de que a gravidez não édoença, mas ocasionalmente poderão ocorrerintercorrências que afetam drasticamente a mãe e aoconcepto, o estudo busca avançar na realidadeepidemiológica local considerando a relevância aosfatores mencionados e outros a serem identificadoscomo de risco, para implementação de açõesnormalizadas de controle pré-natal, que configure umpadrão de qualidade, aplicado à população demulheres no período grávido-puerperal.

RESULTADOS

Os resultados foram coletados e em seguidaapresentados em números absolutos conformedemonstrado nas tabelas a seguir:

Tabela 1 - Distribuição segundo a condição de nascimento dos RN Recém-nascidos N. %Vivos 198 82,84Mortos 26 10,87Sem informação 15 6,29Total 239 100

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Conforme a tabela acima, percebemos que agrande maioria (82,84%) dos neonatos nasceu com

vida, sendo que os mortos (incluindo natimortos),dentro da população estudada, foram 10,87%.

Tabela 2 - Distribuição de peso dos recém-nascidos vivosPeso N. %Menor que 2500 g 138 69,70Maior ou igual a 2500 g 60 30,30Total 198 100

A tabela 2 mostra que no hospital pesquisado,138 crianças nasceram com peso menor que 2500g.Isso corresponde a 69,70% do total de recém-nascidos

vivos, corroborando com REZENDE (1995), que afirmaque o baixo peso ao nascer pode decorrer da DHEG.

Tabela 3 - Distribuição segundo as idades gestacionais (IG)IG N. %Antes de 37 semanas 73 30,54De 37 a 41 semanas 148 61,92Acima de 42 semanas 16 6,69Sem Informação 2 0,85Total 239 100

A tabela 3 mostra que dos 239 casos de DHEG,61,92% das crianças nasceram a termo. E, observando a tabela 2, os dados revelam que o baixopeso ao nascer não estava atrelado a idadegestacional, pois 69.70% dos fetos que nasceram compeso baixo para a idade gestacional o parto ocorreuentre 37 e 42 semanas).

Isso leva-nos a afirmar que a idade gestacionalnão influenciou no resultado, uma vez que osresultados constatados na tabela 2 apresentam 31%do total de recém-nascidos.

Contudo, no estudo, verificou-se alta incidência

de recém-nascidos que apresentaram baixo peso paraa idade gestacional, justificando a relação doençahipertensiva específica da gestação como um dosfatores preponderantes do baixo peso fetal ao nascer.Pois, de acordo com REZENDE e MONTENEGRO(1995), e NEME(1995), as alterações morfológicasfuncionais no organismo da gestante portadora deperturbações circulatórias atingem, dentre outros órgãos, a circulação útero-placentária em cerca de 40a 60% dos casos, com incidência de grandes enfartesplacentários.

Tabela 4 - Distribuição segundo a paridade

Paridade N. %Primigestas 135 56,48Secundíparas 44 18,41Multíparas 52 21,76Sem Informação 8 3,35Total 239 100

A tabela 4 mostra que em 56,48% dos casos,as mães eram primigestas, concordando com CINTRA(2001), que afirma que a DHEG é predominantemente

uma patologia de primigestas, pois menos da metadesoma-se as puérperas secundíparas e multíparas.

Tabela 5 - Distribuição segundo a assistência pré-natal

Pré - natal N. %Sim 136 56,90Não 71 29,70Sem Informação 32 13,40Total 239 100

Conforme a tabela acima, mais de 50% dasmães fez pré-natal, embora 13,40% dos prontuários

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não havia informação acerca da assistência pré-natal,observa-se, contudo, um número bastante significativode gestantes que não realizaram pré-natal, ou seja, em

torno de 30% das mulheres grávidas, constituindoassim, um dos fatores determinantes no controle eprevenção da DHEG.

Tabela 6 - Distribuição segundo o número de consultas pré-natal

Número de consultas N. %

Mais que seis 54 39,70

Menos que seis 82 60,30

Total 136 100

Observa-se, na tabela 6 que apenas 39,70%das mães, realizaram pré-natal efetivamente, ou seja,com mais de seis consultas. Entretanto, é importanteestar alerta para os dados da tabela 5 onde apenas(56,90%) das mães fizeram pré-natal, independente donúmero de consultas. Segundo MARTINS (2001),

estes dados freqüentemente além de outras causascontribuem para o agravamento do problema, uma vez que os indicadores de mortalidade registramclaramente a importância de medidas de assistênciaàs gestantes e recém-nascidos.

Tabela 7 - Distribuição segundo a via de parto

Via de parto N. %Operatório 198 82,85Normal 30 12,55Sem Informação 11 4,60Total 239 100

Observa-se na tabela acima, que a via de partopredominante foi a cesariana, concordando comGRASSIOTO (1984). Entretanto vale a pena lembrar que no Estado de Goiás, segundo MARTINS (2001)dentre as causas obstétricas diretas que lideram osaltos índices de morte materna, destacam–se ainfecção e a toxemia, coeficientes que encontram-seassociados à má qualidade da assistência pré-natal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos resultados evidenciou que o número de crianças que nasceu com baixo peso paraidade gestacional foi dominante. O número de pré-termos foi de 30,54%, reforçando que a doençahipertensiva específica da gestação realmenteinfluencia na incidência de recém-nascidos de baixopeso, uma vez que, a idade gestacional nãoinfluenciou no resultado, visto que 61,92% dosconceptos nasceram a termo, ou seja, com idadegestacional adequada (entre 37 e 41 semanas) e em 6,69% dos casos, o parto ocorreu com 42 semanas.

A maior parte dos prontuários, ou seja, 60,30%registra que as mães eram primigestas e nãorealizaram o pré-natal adequadamente pois apenas39,70% das clientes fizeram mais de seis consultas.

Os achados, também mostram que a via departo predominante foi a cesariana, evitando assim orisco de morte para a mãe e o neonato, pois o

agravamento da patologia para eclampsia grave, (porexemplo a ocorrência da Síndrome Hellp), emborapouco comum, tem grandes chances de ocorrer.Assim, o mais importante é intervir com medidasgerais das quais se inclui o parto cirúrgico.

Com base em tudo isso, vemos que as questõesda DHEG devem estar atreladas à humanização daassistência à mulher no período gravídico-puerperal,prática que fortalece as condutas com enfoque naprevenção, sintonizadas em novos pressupostos queencarem a saúde no contexto político-econômico,cultural e histórico, no qual a gravidez não é umprocesso de doença e as intervenções dos profissionais devem adotar condutas que tragam bemestar e garantam a segurança para a mulher e para oseu filho, restringindo abordagens tradicionaisdesnecessárias e muitas vezes potencialmenteiatrogênicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Texto original recebido em: 08/04/2003;Publicação aprovada em: 27/06/2003.

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Exemplos de referências

Artigos em periódicos:

MARTINS, M. M.; BOEMER, M. R. Produção

científica sobre o tema da morte e do morrer: estudo

de um periódico. Revista Gaúcha de Enfermagem. v.

22, n. 2, p. 141-156, jul, 2001.

Obs: até três autores, deve-se colocar todos. Mais de

três, deve-se indicar o primeiro nome e a expressão

et al.

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Livros:

ALBARRACÍN, D. G. E. Saúde e doença na

Enfermagem: entre o senso comum e o bom senso.

Goiânia: Editora AB, 2002.

Capítulos de livros:

TAVARES, C. M. M.; TEIXEIRA, E. R. Trabalhando

com representações sociais na Enfermagem. In

GAUTHIER, J. H. M.; CABRAL, I. E.; SANTOS, I.

TAVARES, C. M. M. Pesquisa em Enfermagem:

novas metodologias aplicadas. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 1998.

Tese/Dissertação/Monografia:

SOUZA, A. C. S. Risco biológico e biossegurança no

cotidiano de enfermeiros e auxiliares de enfermagem.

2001. 183p. Tese (Doutorado) Escola de

Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São

Paulo, Ribeirão Preto.

Jornais

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BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de

Saúde. Resolução 196 de 10 de outubro de 1996.

Diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa

envolvendo seres humanos. Brasília, 1996.

Obras em CD-ROM

PEDUZZI, M. Laços, compromissos e contradições

existentes nas relações de trabalho da

Enfermagem.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE

ENFERMAGEM, 53., Curitiba, 2001. Anais. Curitiba,

2001. CD-ROM

Internet

CASTRO, A. M. Desenvolvimento e subdesenvolvimento [online]. Disponível: http://www.josuedecastro.com.br/port/desenv.html[capturado em 20 fevereiro 2001].

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um autor ainda que institucional.

Periódicos disponíveis por meio eletrônico

SOUZA, H.; RODRIGUES, C. A alma da fome é política. Jornal do Brasil [online], São Paulo, 12 set. 1993. Disponível: http://www.geocities.com/athens/thebes/7046/fome.htm [capturado em 11 jul. 2001].