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Uma revista a serviço do País ENTREVISTA | WASNY DE ROURE GOVERNO SOCIEDADE GestãoPública & Desenvolvimento POLÍTICAS DA UNIÃO Governo vai financiar projetos culturais em escolas públicas SISTEMAS DE INOVAÇÃO Brasil é referência em soluções inovadoras de governo eletrônico AGENDA BRASÍLIA Agnelo Queiroz inaugura o segundo maior estádio do Brasil ISSN 0103-7323 9 7 7 0 1 0 3 7 3 2 0 0 9 6 5 Ano XXI - T II - Nº 65 - Maio de 2013 - R$ 14,80 CONGRESSO NACIONAL COMEMORA OS 190 ANOS DO PARLAMENTO BRASILEIRO FÓRUM BRASILEIRO DE CONTRATAÇÃO & GESTÃO PÚBLICA Especialistas defendem a criação de um Código Nacional de Licitações

Revista gestão pública 65---

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Uma revista a serviço do País

ENTREVISTA | WASNY DE ROURE

g o v e r n o s o c i e d a d e

GestãoPública& Desenvolvimento

POLÍTICAS DA UNIÃOGoverno vai financiar projetos culturais em

escolas públicas

SISTEMAS DE INOVAÇÃOBrasil é referência em

soluções inovadoras de governo eletrônico

AGENDA BRASÍLIAAgnelo Queiroz inaugura

o segundo maior estádio do Brasil

ISS

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Ano

XXI -

T II

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CONGRESSO NACiONAl COmEmORA OS 190 ANOS DO

pARlAmENtO BRASilEiRO

FÓRUM BRASILEIRO DE CONTRATAÇÃO & GESTÃO PÚBLICA

especialistas defendem a criação de um código nacional de Licitações

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www.revistagestaopublica.com.br

FundadoresFrancisco Alves de AmorimJoão Batista Cascudo Rodrigues (In Memoriam)

conselho editorialFrancisco Alves de Amorim - PresidenteAntonio Teixeira Leite - Professor Ricardo Wahrendor Caldas - Professor - UnBJoão Bezerra Magalhães Neto - Administrador Marcus Vinicius de Azevedo Braga - Servidor Federal

diretor-geralMoises Luiz Tavares de Amorim

diretor administrativoGerson Floriz Costa

departamento JurídicoRamiro Laterça de Almeida

diretor nacional de comunicaçãoDantas Filho

relações institucionaisEraldo Pinheiro de Andrade

editoraMaria Félix Fontele - RP 302/0352V/GO [email protected]

redaçã[email protected]

JornalistasMenezes y Morais, Ana Seidl, Cleber Augusto e Cassio Gusson

colaboradores nesta ediçãoAntonio Teixeira Leite, Cláudio Emerenciano, Marcus Vinicius de Azevedo Braga, Michael Kain, Luiz Carlos Borges da Silveira, Fátima Firme, Jonas Rabinovitch, Leice Maria Garcia e Max Bianchi Godoy

diagramaçãoElton Mark

revisãoGustavo Dourado

editor de FotografiaLuiz Antônio

atendimento e redaçã[email protected]

Publicação: Mensalcirculação: NacionalTiragem: Trinta mil exemplaresimpressão: Gráfica Alpha Gráfica

BrasíliaSCLN 104 - Bloco D - Sala 104 - 70.733-540 - Brasília-DFTelefax.: 55.61. 3201 6018 - 9972 6018Site: www.revistagestaopublica.com.br

sucursal são PauloDiretor: Cristovam Grazina Diretor Região Norte: Edson Oliveira Secretário-Executivo: Luiz Alberto Corrêa R. Álvaro Machado, 22 3º andar - Liberdade - SP

representantesBelo Horizonte/MG - Márcio Lima -Tel.: 319986-4986Rio de Janeiro/RJ - Rizio Barbosa - Tel.: 21 2222-2414Natal/RN - Tania Mendes -Tel.: 84 9991 1111Salvador/BA - Eliezer Varjão - Tel.: 71 91650547issn 0103-7323 Registrado no 1º. Ofício de Registro Cível das Pessoas Naturais e Jurídicas - Brasília- DF.

as matérias assinadas são de responsabilidade dos seus autores. são reservados os direitos inclusive os de tradução. É permitida a citação das matérias, desde que identificada a fonte.

O tema gestão pública e sustentabilidade foi amplamente debatido por representantes de todos os estados em um grande evento que reuniu mais de 500 pessoas em Brasília nos dias 23 e 24 de maio. Durante dois dias, o Fórum Brasileiro de Contratação & Gestão Pública debateu, entre outros pontos, a Lei de Licitações, com seus avanços, retrocessos e pers-pectivas e assuntos relacionados ao direito, economia e administração pública. O fórum, que é realizado há mais de dez anos, é um dos eventos mais conceituados, prestigiado por entidades como Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União, Presidência da República, agências reguladoras, tribunais, Banco do Brasil e Caixa Econômica. É um momento de reflexão acerca das responsabilidades compartilhadas entre o poder público, a sociedade civil e o setor produtivo sobre a gestão de recursos públicos. A finalidade é sempre a busca da eficiência e da transparência. Trazemos aos leitores uma boa cobertura jornalística do fórum em nossa matéria de capa.

O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o deputado distrital Wasny de Roure (PT-DF), é nosso entrevistado nesta edição. Eleito para liderar o Poder Legislativo local durante o biênio 2013/2014, Wasny afirma que o foco da sua gestão será o fortalecimento do diálogo com a sociedade e com os órgãos que representam o poder público. O parlamentar diz que pretende estreitar as relações com o Ministério Público, com o Tribunal de Justiça do DF, com o Tribunal de Contas e também com as entidades da sociedade civil, sindicais e representativas de categorias. O parlamentar sustenta que vai criar espaços de inte-ração, de contato com a sociedade, como também fortalecer a agenda que estimule ações de cidadania, valores culturais, ambientais, cívicos. Bom para Brasília!

Ainda na área do Legislativo, destacamos os 190 anos do par-lamento brasileiro, festejados a partir de sessão solene em 6 de maio, encontro que reuniu os presidentes da Câmara e do Senado em defesa da independência dos poderes da República e o fortalecimento do Poder Legislativo. A celebração prossegue até dezembro, com debates, publi-cações, exposições e programas especiais da TV e da Rádio Câmara. Vamos acompanhar.

Além desses assuntos importantes para a melhoria da gestão pública brasileira, trazemos as opiniões de nossos articulistas sobre a atualidade. Vale a pena conferir.

Boa leitura. Maria Félix FonteleEditora-chefe

CARTA AO LEITOR

Colaboração:

g o v e r n o s o c i e d a d e

GestãoPública& Desenvolvimento

IASIAInternational Association of Schools and Institutes of Administration

DPADM/ONU Divisão de Administração Pública e Gestão do Desenvolvimento das Nações Unidas

PARCEIRO INSTITUCIONALFILIADO

Ministério doPlanejamento

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SeçõeS

6 ENTREVISTAWASNY DE ROURE

10 ESPLANADA EM FOCO

35 POLÍTICA E PODER

38 GOVERNANÇA E GESTÃOMARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGATransparência: uma discussão gerencial?

49 ARTIGOLUIZ CARLOS BORGES DA SILVEIRAPalmas: avanços e perspectivas

52 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM DESTAQUE

69 INTERNACIONALMICHAEL KAINEconomias emergentes e a governança global

74 ARTIGOJONAS RABINOVITCHFalta planejamento estratégico nas cidades brasileiras?

78 ARTIGOLEICE MARIA GARCIANatureza, contradições e perspectivas do cargo de assessor Especial de Controle Interno da Administração Federal

81 PRêMIOS E PUBLICAÇõES

84 CURSOS E EVENTOS

87 ARTIGOMAX BIANCHI GODOYOs novos desafios do gestor público

89 OPINIÃOCLÁUDIO EMERENCIANOSonhar: busca e destinação

geStor e carreiraS76 Audiência pública na Câmara debate

valorização das carreiras de Estado

índice

AÇÃO PENAL 470

STF conclui julgamento

do mensalão em agosto

informação e conhecimento para o fortalecimento da cidadania

54

Divu

lgaç

ão ENTREVISTAWasny de Roure: o papel da Câmara Legislativa para o desenvolvimento de Brasília

6

Divu

lgaç

ão

14 CAPA Fórum Brasileiro de Contratação & Gestão Pública debate desenvolvimento sustentável

4 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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Desde1991

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GestãoPública& Desenvolvimento

NESTA EDIÇÃOlegiSlativo

23 DATAOs cento e noventa anos do parlamento brasileiro

29 MP DOS PORTOSAs novas regras para instalações portuárias públicas e privadas

33 ENTREVISTA // JERôNIMO GOERGENDeputado defende mais transparência na gestão da aviação civil

políticaS da união

36 GOVERNO DILMA ROUSSEFFExecutivo lança o Programa Mais Cultura nas Escolas

eStadoS e MunicípioS

40 ITUPEVA/SPPrefeito aplica choque de gestão e consegue bons resultados

agenda BraSília

43 DISTRITO FEDERALO governador Agnelo inaugura o segundo maior estádio de futebol

46 SAÚDEDF ganha centro de atendimento a crianças e jovens dependentes de drogas

SiSteMaS e inovação

50 E-GOVBrasil é referência em soluções inovadoras de governo eletrônico

Judiciário

54 AÇÃO PENAL 470STF sinaliza que julgamento poderá ser concluído em agosto

57 DIREITO CONSTITUCIONALAntônio Teixeira fala sobre a adesão do Brasil ao Tribunal Penal internacional

terceiro Setor

62 ELO CONSULTORIA Formação e competência para a eficiência na administração pública

67 INSTITUTO AKATUMobilização da sociedade para o consumo consciente

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 5

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EntrEvista

WaSnY de roure

o papel da câmara Legislativa para o desenvolvimento de BrasíliaWasny de Roure afirma que o foco de sua gestão será o fortalecimento do diálogo com a sociedade e com os órgãos que representam o poder público

Cleber Augusto

e leito presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal em dezembro de 2012, o

deputado distrital Wasny de Roure (PT-DF) exerce a função de líder do Poder Legislativo local durante o biênio 2013/2014. O parlamentar afirma que o foco da sua gestão será o fortalecimento do diálogo com a sociedade e com os órgãos que repre-sentam o poder público. “Nós temos trabalhado na perspectiva de forta-lecer os laços da Câmara Legislativa enquanto instituição que formula e delibera sobre leis no DF, de estreitar as nossas relações com o Ministério Público, com o Tribunal de Justiça do DF, com o Tribunal de Contas e também com as entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), enti-dades sindicais e representativas de categorias e, para isso, é necessário manter ativa uma estrutura voltada a este diálogo e a esses valores”, afirma o deputado. Segundo ele, a Câmara não é apenas uma instituição que vota leis. “A Câmara é uma instituição que pensa, que discute a cidade, e não apenas os aspectos políticos, mas também os aspectos sociais, cul-turais, cívicos, os aspectos inerentes às políticas públicas. Portanto, é uma Wasny de Roure: a câmara Legislativa é uma instituição que pensa, que discute a cidade

6 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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casa extremamente relevante para a própria população”.

Wasny já exerceu os cargos de diretor do Sindsep e do Dieese locais, entre 1989 e 1993. Foi secre-tário de Fazenda (1995), presidente do PT-DF (2000 e 2001) e deputado federal. Na Câmara dos Deputados foi coordenador das bancadas do PT e do DF nas discussões orçamen-tárias e relator das áreas de educação, cultura, esporte, lazer, ciência e tec-nologia na Comissão Mista de Orçamento da União, entre 2003 e 2006. Nesta entrevista, ele fala sobre as ações de destaque realizadas nesta legislatura (2010-2013), como a aprovação do Plano Diretor de Trans-porte Urbano em Brasília, do Plano Diretor de Ordenamento Territorial, a apreciação da Lei do Concurso e do Regime Jurídico Único dos servi-dores do GDF, e a extinção dos 14º e 15º salários no âmbito da Câmara Legislativa, e sobre as ações que ainda precisam ser realizadas.

Nessa sua gestão, qual será o foco da mesa Diretora da Câmara legislativa do DF?

WASNY DE ROURE – Nós aqui na Câmara temos como tarefa precí-pua dar desdobramento ao processo legislativo, que enseja desde a apre-ciação de pareceres de comissões como também a realização de audi-ências públicas e de debates acerca de temas relevantes para a cidade. E o plenário é o momento mais auspicioso para isso, quando os par-lamentares debatem os temas que entendem ser relevantes para a cidade como também fazem a apre-ciação de projetos de lei. Agora, a Câmara tem muitas outras tarefas que não apenas essas. Isso significa que nós temos que criar esses espa-ços de interação, de contato com a

sociedade, como também fortale-cer a agenda que estimule ações de cidadania, valores culturais, ambien-tais, cívicos. Portanto, são tarefas que temos o dever de apoiar, de defender e também de desenvolver no inte-rior da Casa. A Câmara não é apenas uma instituição que vota leis. É uma instituição que pensa, que discute a cidade, e não apenas os aspectos políticos, mas também os aspectos sociais, culturais, cívicos, os aspec-tos inerentes às políticas públicas. Portanto, é uma casa extremamente relevante para a própria população.

Quais são os principais desa-fios da ClDF e que ações o senhor realizará para superá-los?

WASNY DE ROURE – Temos trabalhado na perspectiva de forta-lecer os laços da Câmara Legislativa enquanto instituição que formula e delibera sobre leis no DF, estreitar as nossas relações com o Ministério Público, com o Tribunal de Justiça do DF, com o órgão de controle, que é o Tribunal de Contas e também com as entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as entidades sindicais e representativas de categorias, con-selhos. Para isso, é necessário manter ativa uma estrutura voltada a este diálogo e a esses valores.

Como o legislativo deve estabelecer a sua relação com o Executivo, que é uma outra forma?

WASNY DE ROURE – Nós temos que estabelecer uma relação de defesa do interesse público, de defesa do interesse da nossa população. Mas nós temos que entender a nossa auto-nomia, a nossa liberdade de deliberar conforme a consciência dos depu-tados e conforme a expectativa da população. É bem verdade que em alguns momentos há um conflito de conquistas de direitos da população e também de enfrentamento ao orde-namento jurídico do país. Então nós precisamos ter um nível de equilíbrio sobre esta matéria para que a gente não caia na perda de credibilidade.

Que avanços o senhor des-tacaria da legislatura passada, após a Câmara atravessar um período de falta de credibilidade perante a população?

WASNY DE ROURE – A legisla-tura passada acabou comprometendo as atividades da Casa porque as ações de improbidade administrativa desenvolvidas no âmbito do com-plexo do GDF envolvia, entre outros órgãos, a própria Câmara, principal-mente no seu momento mais nobre, que é votar. Votar com altivez, votar com autonomia, votar refletindo a qualidade do texto, aperfeiçoando nos aspectos que o parlamentar entende ser necessário. No momento em que você compromete a quali-dade mais nobre da representação, que é o voto, você destrói a institui-ção. A instituição não é o tijolo, não são as paredes. A instituição são as pessoas que representa. Portanto, esta questão, que é a independência da avaliação de projetos e de voto, é algo fundamental no caráter dos homens e mulheres públicos, e isso

“ TEMOS qUE ESTABELECER UMA RELAçãO DE DEFESA DO INTERESSE PúBLICO, DE DEFESA DO INTERESSE DA NOSSA POPULAçãO”

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 7

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EntrEvista

WaSnY de roure

é inegociável. Agora, este processo, é claro, contaminou toda a estrutura do Estado. E o novo governo não tinha como inventar a roda. Ele teve que reeducar o Estado, no sentido de que há uma cobrança sim por parte da sociedade, por parte dos órgãos de controle, no sentido de prestar um bom serviço público e um serviço devidamente amparado no ordena-mento jurídico do país. Portanto, os órgãos de controle trabalham na elucidação de prestações de con-tas, de esclarecimento. Os órgãos de controle, naturalmente, identificam irregularidades, identificam erros jurídicos e erros administrativos nos processos. Quando ele detecta a pró-pria corrupção, a própria ilicitude como prática sistêmica no processo de gestão do Estado, aí nós entramos num quadro de extrema gravidade.

Para isso, o novo governo vem enfrentando com determinação este processo. Construiu a Secretaria de Transparência, que foi uma conquista que Brasília obteve neste governo, como também os demais órgãos de controle, que precisaram ser forta-lecidos no sentido de resgatarem

o papel da transparência pública. Outra ação importante foi a aprova-ção da lei de acesso à publicação de nomes e salários da administração pública (Lei 12527/2011) e todo um conjunto de práticas que exige res-ponsabilidade e transparência.

Existe uma sintonia entre os blocos oposicionistas e o bloco governista?

WASNY DE ROURE – A Câmara Legislativa tem uma relação, como qualquer outra instituição, de ten-sionamento entre quem faz política. Todo deputado disputa com outro colega. Por mais diferente que seja a categoria deles, essa disputa é intrín-seca, ela está dentro da vida política da cidade. Mas precisamos ter a pon-deração necessária, o bom senso, a visão crítica das coisas, mas enten-dendo que toda ação do parlamentar tem um ponto que é basilar, funda-mental: é a questão do respeito. Você pode ser oposição, pode ser situação, você pode entender da coisa e pode não entender da coisa, mas o respeito é um dever de responsabilidade de quem dialoga com a coisa pública. Quando perde o respeito, você não consegue ouvir aquele que precisa ser ouvido para que o bem público, o interesse maior da sociedade, seja o grande vitorioso”.

Quais os projetos prioritários para o GDF e que a Câmara legis-lativa deverão analisar?

WASNY DE ROURE – Nós tive-mos pela primeira vez um Plano Diretor de Transporte Urbano em Brasília. Depois tivemos o Plano Diretor de Ordenamento Territorial, uma atualização daquilo que tinha sido votado há alguns anos, que gerou, inclusive, associações ao escândalo (caso Caixa de Pandora).

Deputado diz que a agenda deve estimular as ações de cidadania

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“ A CâMARA LEGISLATIVA TEM UMA RELAçãO, COMO qUALqUER OUTRA INSTITUIçãO, DE TENSIONAMENTO ENTRE qUEM FAZ POLíTICA”

8 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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Depois disso, nós apreciamos a Lei Geral dos Concursos Públicos (pro-jeto de lei nº 964/2012) e o Regime Jurídico Único dos servidores do GDF, pela primeira vez. Tivemos ainda muitos outros projetos que foram alvos de discussão e de aper-feiçoamento da legislação, como a Lei de Acesso, as leis de transpa-rência, que foram constantemente aperfeiçoadas nesta legislatura, e a lei que determinou a extinção dos 14º e 15º salários no âmbito da Câmara Legislativa. Portanto, agora estão diante de nós algumas tarefas. Primeiro, vamos analisar e apreciar as contas de governos. Temos gover-nos do período anterior que ainda não foram analisados e a Câmara não pode perder essa sua responsa-bilidade que, inclusive, interfere no processo eleitoral do próximo ano. Em segundo lugar temos as próprias

contas do Tribunal de Contas, que apesar de estarem na Câmara há algum tempo, somente agora foram lidas. Além disso, nós temos a Lei da Copa, que ainda está em análise e que será muito importante para os dois grandes eventos que o país sediará, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014. É uma matéria de 16 votos, porque prevê a concessão de isenções fiscais. Portanto, é quórum qualificado. E agora, o governo, que suspendeu a Lei de Uso e Ocupação do Solo e do Plano de Proteção do Conjunto Urbanístico de Brasília, eu espero que faça as correções necessá-rias e que o projeto retorne à Câmara para que esta Casa possa estabelecer o debate, deliberar junto com a socie-dade, encaminhar a proposta para o Poder Executivo para que vários pro-jetos que a cidade aguarda sejam desenvolvidos.

Qual o seu projeto político para o próximo ano?

WASNY DE ROURE – Nós ainda estamos debatendo isso. Temos, naturalmente, a possibilidade de trabalhar uma candidatura à ree-leição. Mas nós também temos que analisar muitos outros colegas que nos acompanham e que também têm a expectativa de ter oportuni-dade, de colocarem os seus nomes para serem apreciados pela popu-lação. Também temos discutido uma possível candidatura fede-ral, para que possamos enriquecer este debate sobre as necessidades da nossa cidade junto à população do DF. Então esta é uma decisão que nós deveremos tomar até o final deste semestre, para poder tran-quilizar um pouco a militância, que aguarda com ansiedade a nossa definição. n

para o presidente da Câmara legislativa, o projeto de uma uma possível candidatura federal não está descartado

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 9

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esPLanada eM FocoESPLANADA EM FOCOana sEiDL

“Não votei contra a modernização, contra o governo. Votei a favor da democracia. Estou absolutamente tranquilo e consciente que o voto de abstenção foi correto.”Senador Cristovam Buarque (pDt/DF) sobre a votação do mp dos portos no dia 18 de maio

Waldem

ir Barreto

“Nada de Medida Provisória, nada de veto, nada de nomeação de ministro.”presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), no dia 24 de maio. Durante duas horas, esteve no Palácio do Planalto quando assumiu interinamente a Presidência da República. Ele recebeu políticos no gabinete presidencial e, segundo a assessoria, não editou nenhuma medida na condição de presidente

“Depois do pibinho de 2012, quando o crescimento foi de 0,9%, a economia continua crescendo pouco. As medidas de estímulo adotadas pelo governo não estão surtindo os efeitos esperados. Os investimentos subiram um pouco, mas ainda estão em patamares baixos, o modelo de crescimento baseado no consumo das famílias já se esgotou, inclusive pelo efeito da inflação alta. É um cenário muito preocupante.”líder do pSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (Sp)

Agência Senado

A demora para chegar à Câmara e, por consequência, também ao Senado, diferentemente de outrora, não está em uma demora exagerada na Câmara. Agora, você tem uma comissão mista que tem deputados e senadores. E muitas vezes ali acaba atrasando.” Deputado Arlindo Chinaglia (pt-Sp), líder do governo na Câmara, em resposta aos governistas que criticam o excesso de MPs e a demora das comissões mistas em analisá-las.

Waldem

ir Barreto

10 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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Antonio Cruz / ABr

n DILMA ENFRENTA PROBLEMAS DE ARTICULAÇÃO NO CONGRESSOA não aprovação, na última semana de maio, das Medidas Provisórias 605, que permitia o uso de

recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para garantir a redução da conta de energia elétrica, e a 601, que aumentava a desoneração da folha de pagamento de vários

setores da economia, demonstrou falta de articulação do governo com o Congresso. A votação da Medida Provisória dos Portos, no dia 16 de maio, foi uma vitória suada do governo. O texto foi aprovado a poucas horas de caducar, apesar dos fortes apelos públicos da presidenta em defesa da medida. Os aliados também tentaram aprovar a mudança que tornaria o pagamento de emendas no Orçamento deste ano incon-tingenciáveis. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), quer tornar o desembolso desses recursos obrigatórios a partir de 2014. Até a abertura

de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a Petrobras é cogitada pelos parlamentares. A irritação deles vem desde 2011, quando um corte

de R$ 50 bilhões no Orçamento lhes tirou quase todos os recursos previstos nas emendas, fundamentais para que façam política em suas bases eleitorais. O

corte se repetiu em 2012. A situação frágil do governo pode preju-dicar a formação dos palanques eleitorais no ano que vem.

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ABr

n MINISTRO FERNANDO PIMENTEL é O PREFERIDO PARA O GOVERNO DE MINASO ex-governador presidenciável Aécio Neves, depois de dez

anos de gestão do PSDB em Minas Gerais, enfrenta a situação mais difícil desde que chegou ao poder no Estado em 2003. Empenhado no projeto nacional de poder, que inclui o comando do partido, assiste os aliados disputarem a vaga de candidato da situação ao governo de Minas. O PT, por sua vez, reúne forças e apresenta bons resultados nas pesquisas de opinião. As mais recentes feitas pelos partidos apontam o petista Fernando Pimentel, ex- prefeito de Belo Horizonte e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com liderança folgada, nunca abaixo dos 30% das intenções de voto. O segundo nome mais lembrado é o do peemedebista Clésio Andrade, que é aliado dos petistas. Para reverter esse cenário, os tucanos apostam na imagem do senador, que está em evidência nacional. O “aecista” mais bem posicionado é o vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP), que não chega aos dois dígitos.

n TCU TEME “ARGENTINIzAÇÃO” DAS CONTAS PÚBLICAS BRASILEIRASA política fiscal do governo sofre perigo

de perda de credibilidade. O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou no dia 29 de maio, com 22 ressalvas e 41 reco-mendações, as contas do governo Dilma Rousseff de 2012. O TCU critica as manobras contábeis para aumentar receitas e o superávit primário — economia para pagar despesas com juros da dívida. O relator do processo no tribunal, ministro José Jorge, disse que o Brasil corre risco de uma “argentinização” dos indicadores eco-nômicos: “Esse número da economia vai perdendo a credibilidade e os agentes eco-nômicos vão passar a deixá-lo de lado. Não sei se isso é feito em termos de maquiagem, porque, geralmente, maquiagem, nas mulheres, é sempre feita para melhorar. No caso, acho que ela piora, no sentido de que as pessoas não são ingênuas, elas veem essas mudanças que são feitas e passam a desacreditar naqueles números.” Apesar do esforço, o desempenho da economia ainda ficou abaixo da esperado.

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 11

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Informações | 61 3327-1142 > DF | 11 5081-7950 > SP

Aspectos Controvertidos e Polêmicos das Licitações e Contratos AdministrativosBrasília > 16 e 17 de maio de 2013apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby fernandes e ministro Benjamin Zymler

Convênios e Contratos de Repasse 60 questões polêmicasBrasília > 16 e 17 de maio de 2013apresentadora > Karine Lílian de sousa Costa machado

Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos | 2ª Edição 2013São Paulo > 23 e 24 de maio de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

Pregão Presencial e Eletrônico, Incluindo a Defesa do Pregoeiro Perante o TCU/TCDF | Teoria e PráticaBrasília > 05 a 07 de junho de 2013apresentador > alexandre Cairo

Comunicação Escrita & Redação Oficial | 2ªEdição 2013Brasília > 10 e 11 de junho de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

O Ordenador de Despesas e A Lei de Responsabilidade Fiscal | 2ª Edição 2013Brasília > 18 e 19 de julho de 2013apresentadores > Professor Jorge Ulisses Jacoby fernandes e Professor Luciano ferraz

Planilha de custos e formação de preços para contratos de terceirização, conforme a IN 02/2008Brasília > 22 e 23 de julho de 2013apresentador > erivan Pereira de franca

Responsabilização & Processo no Âmbito dos Tribunais de Contas e do Controle InternoBrasília > 24 a 26 de julho de 2013apresentador > Ismar Barbosa Cruz e alexandre Valente Xavier

Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos | 3ª Edição 2013Brasília > 25 e 26 de julho de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

Gestão e Fiscalização de Contratos Administrativos | 3ª edição 2013São Paulo > 29 e 30 de julho de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti e Luiz felipe Bezerra almeida simões

CENTRO DE CONvENçõES DA ELO CONSULTORIAEdifício Corporate Financial CenterSCN, Quadra 02, Bloco A, 1º andar • Brasília, DF

Oficina de Elaboração de Edital, Termo de Referência, Projeto Básico e Julgamento das Propostas para Obras Públicas e Serviços de Engenharia | 2ª Edição 2013Brasília > 13 e 14 de junho de 2013apresentador > Cláudio sarian altounian

Contratação de Treinamento e Desenvolvimento | 2ª Edição 2013Brasília > 17 e 18 de junho de 2013apresentador > Jorge Ulisses Jacoby fernandes

Auditoria, Responsabilização & Tomada de Contas Especial | 2ªEdição 2013Brasília > 19 a 21 de junho de 2013apresentadores > Ismar Barbosa Cruz e alexandre Valente Xavier

Oficina de Elaboração de Projeto Básico e Termo de Referência | 2ª Edição 2013Brasília > 24 e 25 de junho de 2013apresentador > experiente e renomado especialista integrante do Corpo Docente da elo Consultoria

Contratação Direta Sem Licitação | 2ª Edição 2013Brasília > 11 e 12 de julho de 2013apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby fernandes e ministro Benjamin Zymler

Direito de Preferência e outros Temas Controvertidos em Licitações Públicas | 2ª Edição 2013 (Colocar capa genérica)Brasília > 01 e 02 de agosto de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti e ministro Benajamin Zymler

Governança de TI na Administração PúblicaBrasília > 05 a 07 de agosto de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti, Daniel Jezini e Wesley Vaz

Auditoria Governamental | 2ª Edição 2013Brasília > 28 a 30 de agosto de 2013apresentador > Ismar Barbosa Cruz

Programação de Cursos 2013

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Informações | 61 3327-1142 > DF | 11 5081-7950 > SP

Aspectos Controvertidos e Polêmicos das Licitações e Contratos AdministrativosBrasília > 16 e 17 de maio de 2013apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby fernandes e ministro Benjamin Zymler

Convênios e Contratos de Repasse 60 questões polêmicasBrasília > 16 e 17 de maio de 2013apresentadora > Karine Lílian de sousa Costa machado

Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos | 2ª Edição 2013São Paulo > 23 e 24 de maio de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

Pregão Presencial e Eletrônico, Incluindo a Defesa do Pregoeiro Perante o TCU/TCDF | Teoria e PráticaBrasília > 05 a 07 de junho de 2013apresentador > alexandre Cairo

Comunicação Escrita & Redação Oficial | 2ªEdição 2013Brasília > 10 e 11 de junho de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

O Ordenador de Despesas e A Lei de Responsabilidade Fiscal | 2ª Edição 2013Brasília > 18 e 19 de julho de 2013apresentadores > Professor Jorge Ulisses Jacoby fernandes e Professor Luciano ferraz

Planilha de custos e formação de preços para contratos de terceirização, conforme a IN 02/2008Brasília > 22 e 23 de julho de 2013apresentador > erivan Pereira de franca

Responsabilização & Processo no Âmbito dos Tribunais de Contas e do Controle InternoBrasília > 24 a 26 de julho de 2013apresentador > Ismar Barbosa Cruz e alexandre Valente Xavier

Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos | 3ª Edição 2013Brasília > 25 e 26 de julho de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

Gestão e Fiscalização de Contratos Administrativos | 3ª edição 2013São Paulo > 29 e 30 de julho de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti e Luiz felipe Bezerra almeida simões

CENTRO DE CONvENçõES DA ELO CONSULTORIAEdifício Corporate Financial CenterSCN, Quadra 02, Bloco A, 1º andar • Brasília, DF

Oficina de Elaboração de Edital, Termo de Referência, Projeto Básico e Julgamento das Propostas para Obras Públicas e Serviços de Engenharia | 2ª Edição 2013Brasília > 13 e 14 de junho de 2013apresentador > Cláudio sarian altounian

Contratação de Treinamento e Desenvolvimento | 2ª Edição 2013Brasília > 17 e 18 de junho de 2013apresentador > Jorge Ulisses Jacoby fernandes

Auditoria, Responsabilização & Tomada de Contas Especial | 2ªEdição 2013Brasília > 19 a 21 de junho de 2013apresentadores > Ismar Barbosa Cruz e alexandre Valente Xavier

Oficina de Elaboração de Projeto Básico e Termo de Referência | 2ª Edição 2013Brasília > 24 e 25 de junho de 2013apresentador > experiente e renomado especialista integrante do Corpo Docente da elo Consultoria

Contratação Direta Sem Licitação | 2ª Edição 2013Brasília > 11 e 12 de julho de 2013apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby fernandes e ministro Benjamin Zymler

Direito de Preferência e outros Temas Controvertidos em Licitações Públicas | 2ª Edição 2013 (Colocar capa genérica)Brasília > 01 e 02 de agosto de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti e ministro Benajamin Zymler

Governança de TI na Administração PúblicaBrasília > 05 a 07 de agosto de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti, Daniel Jezini e Wesley Vaz

Auditoria Governamental | 2ª Edição 2013Brasília > 28 a 30 de agosto de 2013apresentador > Ismar Barbosa Cruz

Programação de Cursos 2013

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GESTãO PúBLICA / DEBATE

Fórum Brasileiro de contratação & gestão Pública debate desenvolvimento sustentávelEspecialistas defendem a criação de um Código Nacional de Licitações

Ana Seidl

o Fórum Brasileiro de Contra-tação & Gestão Pública há dez anos reúne profissionais

de renome nacional para discutir temas do Direito Público, como Gestão Pública e Sustentabilidade,

Contratação Pública e Lei de Res-ponsabilidade Fiscal, Licitações e o Novo Estatuto da Pequena e Micro-empresa. A 11º edição foi realizada em Brasília, nos dias 23 e 24 de maio, no Centro de Convenções Brasil 21. Este ano o evento teve recorde de público. Contou com a participação

de mais de 500 pessoas de 26 estados, entre profissionais do direito, da eco-nomia e da administração pública. Os vinte anos da Lei de Licitações: avanços, retrocessos e perspectivas foi um dos principais temas deba-tidos. Os participantes receberam um livro de bolso, Licitações e Contratos:

Abertura do fórum: reflexão sobre as responsabilidades do poder público diante da gestão

Divulgação

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Lei nº 8.666/93 e outras normas per-tinentes, da coleção Jorge Ulisses Jacoby.

Vários órgãos foram represen-tados no evento: Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União, Presidência da República, Superior Tribunal de Justiça, Con-selho Nacional de Justiça, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco de Brasília, Agências Regula-doras, Aneel, Anatel, Anac, Anvisa, Ministério Público Federal, Tribunal de Contas da União, tribunais de Justiça e de Contas dos estados, entre outros.

Os participantes refletiram acerca de responsabilidades compartilhadas entre o poder público, a sociedade civil e o setor produtivo, diante da gestão de contratos e recursos públicos, o que requer novos parâ-metros de análise e execução. A

proposta do fórum foi a de cons-tituir importante canal de debates, no qual diversos pontos de vista do Direito Público fossem colocados em pauta, tornando-se um encontro indispensável para o conhecimento e atualização dos profissionais da gestão pública.

Este ano, o homenageado foi o ministro Carlos Ayres Brito, ex-presi-dente do Supremo Tribunal Federal.

Na abertura, o presidente e editor da Fórum, promotora do evento, Luís Cláudio Rodrigues Ferreira, lembrou que o ministro é poeta, autor de mais de dez livros, acadêmico, mestre e doutor pela PUC de São Paulo, confe-rencista há mais de 40 anos, membro da Academia Sergipana de Letras e Academia Brasileira de Letras Jurí-dicas. Na conferência de abertura, Ayres Britto abordou o tema: Perfil constitucional da licitação.

deMocracia“Temos todos os motivos para

nos cumprimentar e parabenizar, no dia 5 de outubro fazemos um quarto de século da promulgação da Cons-tituição”, comemorou o ministro. Citando Nélson Rodrigues, o homenageado brincou, “deixemos o complexo de vira- lata de lado, o Brasil é um país de primeiro mundo, juridicamente, porque nenhuma constituição do mundo suplanta a nossa em atualidade de costumes e compromisso com a democracia”, exaltou.

Ayres Britto destacou a impor-tância da constitucionalização de temas do Direito Administrativo, como concurso e licitação. Isso foi bom pelos princípios de justiça, de proporcionalidade e razoabilidade. “Licitação é um tema que exige a aplicação de conjugados princípios constitucionais: legalidade, publi-cidade, impessoalidade, moralidade, eficiência”, observou. Ele acredita que devido ao excesso de normas, leis e decretos da licitação devamos chegar ao ponto da criação de um Código Nacional de Licitações e Contratações. O ministro destacou que a licitação é uma matéria sen-sível que trata da aplicabilidade de recursos públicos, portanto, se a lei não for bem aplicada pode

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luís Cláudio Rodrigues Ferreira, presidente da Editora Fórum, promotora do evento

OS VINTE ANOS DA LEI DE LICITAçõES: AVANçOS, RETROCESSOS E PERSPECTIVAS FOI UM DOS PRINCIPAIS TEMAS DEBATIDOS

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proporcionar desvio de dinheiro, verdadeiros assaltos ao erário, cor-rupção, fraude, enfim, a preservação ou violação do erário.

rdcO governo federal instituiu uma

nova modalidade de licitação, o Regime Diferenciado de Contra-tações (RDC), a fim de ampliar a eficiência nas contratações públicas, competitividade, promover a troca de experiências e incentivar a ino-vação tecnológica.

O RDC foi instituído pela Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011, e regulamentado pelo Decreto nº 7.581, de 11 de outubro de 2011, sendo aplicável exclusivamente às licitações e contratos necessários à realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016; da Copa das Confederações da Federação Internacional de Futebol Associado - Fifa 2013; da Copa do Mundo Fifa 2014; de obras de infraestrutura e de

contratação de serviços para os aero-portos das capitais dos estados da federação distantes até 350 km (tre-zentos e cinquenta quilômetros) das cidades sedes dos mundiais; e ações integrantes do Programa de Acele-ração do Crescimento (PAC).

Por meio da Lei nº 12.722, de 3 de outubro de 2012, o governo federal estendeu o uso do RDC para as licitações e contratos necessários

à realização de obras e serviços de engenharia no âmbito dos sistemas públicos de ensino. O ministro do Tribunal de Contas da União, Ben-jamin Zymler, abordou o Regime Diferenciado de Contratações Públicas: experiências concretas. Ele disse que a Lei 8.666/93 instituída há 20 anos revolucionou as licitações no país. O ministro destacou a grande quan-tidade de leis, normas e decretos que regem as licitações atualmente. Ele disse que é preciso homenagear a Lei nº 8.666, “mas declarar que ela cumpriu brilhantemente o seu papel de forma altiva e agora deve sair do mundo jurídico. É difícil estabe-lecer uma alternativa para esta lei. O Brasil necessita hoje de um Código Brasileiro de Licitações e Contra-tações, reunindo toda a legislação, permitindo ao gestor público sua apli-cabilidade sem as dificuldades atuais”.

Benjamin Zymler lembrou que o RDC nasceu fruto da aproximação do Executivo com o Tribunal de Contas da União, tendo em vista a realização de grandes eventos como a Copa do Mundo e a Copa das Con-federações. Foi editada uma medida provisória e o RDC transformou--se em lei. O ministro disse que no início o regime foi muito criticado. “O RDC tem pontos positivos, alguns aspectos devem ser melho-rados, mas é uma evolução. Ele dá agilidade, economicidade ao pregão, é sem dúvida um pregão disfarçado”, destacou. O ministro disse ainda que o novo regime abandona a ideia de que tudo deve estar na lei e de que o gestor público é incapaz de exercer com competência o poder discricio-nário. O gestor pode trilhar caminhos diversos, é um servidor público qualificado, capaz de fazer opções discricionárias, dentro da mora-lidade, impessoalidade, eficiência e

ministro Ayres Britto: o homenageado do fórum aborda o perfil constitucional da licitação

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GESTãO PúBLICA / DEBATE

“ TEMOS TODOS OS MOTIVOS PARA NOS CUMPRIMENTAR E PARABENIZAR, NO DIA 5 DE OUTUBRO FAZEMOS UM qUARTO DE SéCULO DA PROMULGAçãO DA CONSTITUIçãO”Ministro Ayres Brito

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eficácia. Zymler lembra que a Lei nº 8.666 foi criada há 20 anos, e “agora com a internet há necessidade de atender a outras demandas. Entre-tanto, o RDC é uma evolução da antiga lei, ele não reinventa a roda, busca extrair o que há de positivo e incorporar novos institutos: gestão de tecnologia da informação, sistemas informatizados e que incentivem a eficiência da empresa contratada.”

O ministro explica que atual-mente pode-se usar a Lei nº 8.666 ou o RDC, dependendo do caso. Este pode ser usado como sistema alter-nativo e se na prática se mostrar um bom regime, pode vir a ser o novo regime jurídico de licitações no Brasil. Em relação às irregulari-dades disse que há dois tipos, umas que derivam de culpa e outras da dificuldade de utilização de regimes jurídicos complexos. A Lei nº 8.666 é

difícil de ser aplicada, envolve muitas exigências burocráticas e requisitos formais, explica Zymler. E o RDC é mais flexível, permitindo mais adap-tações ao mundo real, conclui.

O procurador do Estado de Goiás, Antônio Flávio de Oliveira, acredita que o RDC traz boas regras de lici-tação de obras e aquisições públicas.

“Muitas dificuldades na Lei nº 8.666 são superadas, agilizando os procedi-mentos e permitindo mais celeridade e eficiência nas contratações públicas”, constatou. Segundo ele, na antiga lei é difícil compreender o que é norma geral e especial, e isso acarreta difi-culdade das administrações estaduais e municipais em elaborarem suas pró-prias normas. O procurador defende que o eventual Código Nacional de Licitações ordene as regras, mas deixe para os estados e municípios a possibi-lidade de legislar normas específicas.

críTicas ao rdcO doutor e mestre em Direito pela

PUC-SP, Marçal Justen Filho, autor de 12 livros, abordou o tema Licitações e contratos administrativos: novas e antigas questões. Ele disse que muitos licitantes não têm condições de rea-lizar o objeto a contento dentro do

O fórum reuniu mais de 500 pessoas, entre profissionais do direito, da economia e da administração pública, representantes de 26 estados brasileiros e do Distrito Federal

Charles Damasceno

O PROCURADOR DO ESTADO DE GOIÁS, ANTôNIO FLÁVIO DE OLIVEIRA, ACREDITA qUE O RDC TRAZ BOAS REGRAS DE LICITAçãO DE OBRAS E AqUISIçõES PúBLICAS

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prazo e com material satisfatório. O professor destacou que o contrato deve se ajustar às necessidades da administração. Ele lembrou que há os controles internos, e os externos do Tribunal de Contas, do Ministério Público e do Poder Judiciário deter-minando a todo instante a suspensão do processo licitatório. Ele observou que nos Estados Unidos, por exemplo, o Judiciário não suspende um pro-cesso licitatório, pois a administração decide. A interferência acontece apenas em raros casos, como regra, o juiz não interfere sobre a controvérsia. Ele disse que o RDC representa uma evolução positiva, “no entanto, há ausência de providências no âmbito da contratação pública, isto é um pro-blema insuportável que precisa ser enfrentado”. A maior crítica dele ao regime é a ausência de preocupação com a contratação administrativa, “a lei se preocupa exclusivamente com o procedimento licitatório, no entanto, as regras de contratação são tão ou mais importantes do que as de

licitação para assegurar contratações eficientes”.

O doutor e mestre em Direito Administrativo, advogado, Daniel Ferreira, criticou o RDC, “não admito um novo texto que não cumpra o princípio licitatório do jul-gamento objetivo, que fique a critério do mercado a solução que a adminis-tração precisa”. Ele disse que é preciso um gestor responsável, e não que ele transfira para o mercado a decisão do

que é melhor para o interesse público. Sobre a Lei nº 8.666, Ferreira disse que, “ela está na UTI mas não se sabe qual o tempo de sobrevida, e se ela tiver que morrer que seja uma morte digna, como teve uma vida digna”.

regisTro de Preços O mestre em Direito Público,

escritor, consultor e conferencista, Jorge Ulisses Jacoby, proferiu a palestra sobre o Sistema de Registro de Preços: inovações e boas práticas. Ele destacou que o decreto nº 7892/2013 introduziu algumas modernizações no regime de preços e outras mudanças que merecem críticas. Entre as positivas, “é de que para fazer regime de preços não é preciso dotação orçamentária, e isso vai ser um grande alívio aos ges-tores que têm dúvidas.” Outro ponto positivo é que fica claro a aplicação de penalidades, quem deve aplicar e quando a penalidade. Jacoby ressalta que a melhor de todas as mudanças, “foi a ferramenta de registro de preços que está no portal de compras net, permitindo ao governo somar todas as suas demandas antes de licitar, por meio de uma ferramenta que já está no sistema”, explica.

O escritor Jacoby é favorável ao Código Nacional de Licitações. “Atu-almente, para reunir todas as normas sobre licitação num livro seriam mais de mil páginas, são normas desen-contradas feitas por vários órgãos”. Ele disse que um código estabeleceria com rigor obrigações para os servi-dores, além de direitos e deveres dos servidores e dos licitantes. Ele lembra que o RDC foi criado para satisfazer os grandes eventos, por falta de um planejamento adequado, no entanto, ele tem produzido excelentes resul-tados. “O tempo de licitação reduziu para menos da metade, são inovações importantes e esperamos que ele seja

Benjamin Zymler: as experiências concretas do regime diferenciado de contratações (rdc)

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GESTãO PúBLICA / DEBATE

“ PARA FAZER REGIME DE PREçOS NãO é PRECISO DOTAçãO ORçAMENTÁRIA, E ISSO VAI SER UM GRANDE ALíVIO AOS GESTORES qUE TêM DúVIDAS”Jorge Ulisses Jacoby

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contemplado no código, da mesma forma que está sendo no Maranhão”, observa.

Jacoby acrescenta que a nossa Lei de Licitações está sendo exportada para outros países como modelo para combate à corrupção. Entretanto, pondera que a corrupção nunca vai ser eliminada mas deve ser controlada para que haja mais segurança na apli-cação do dinheiro público. Ele conclui que a Lei de Licitações introduziu a transparência, publicação de edital e prazos de aviso, boas práticas para o combate à corrupção, mas há espaço ainda para maior aperfeiçoamento das normas no país. Ele disse que o fórum é indispensável, para aperfei-çoamento do servidor público que deve assinar periódicos e se submeter constantemente a treinamentos, pois

a velocidade das mudanças é muito grande e isso faz com que ele se desa-tualize muito rápido.

conTroLe de gesTão de PessoaLO diretor de Auditoria de Pessoal,

Previdência, Trabalho e Tomada de Contas Especial da Controladoria Geral da União, Claudio Antonio de Almeida Py, participou do painel Controle da gestão de pessoal: a experiência da CGU. Ele disse que conseguiu reduzir os gastos mensais da folha de pagamentos em cerca de R$ 30 milhões, uma economia efetiva, desde o início do trabalho em 2010, de cerca de R$ 300 milhões em cerca de 77 auditorias. Ele destacou que uma servidora passou 14 anos recebendo férias. “O problema é do Sistema Integrado de Administração

de Recursos Humanos (Siape) que foi construído em diversos módulos, e o de cadastro de férias é disso-ciado do de pagamentos, e essa falta de controle pode ocasionar este tipo de irregularidade”, explicou. Neste caso específico, as férias foram infor-madas manualmente fora do sistema, por isso fugiu da normalidade.

Segundo Claudio Py, está sendo feito investimento na área de controle para sistematizar todo o acompanha-mento do pessoal, o que vai facilitar o trabalho. O controle da CGU passou a ser centralizado em 2010. “O maior desafio é disponibilizar uma ferra-menta que permita obtermos nossas informações e disponibilizarmos para os gestores na hora da correção.” Para o coordenador-geral de Auditoria da Área de Pessoal da Controladoria

Jorge Ulisses Jacoby, mestre em Direito público: as boas práticas e as inovações do sistema de registro de preços

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Geral da União, Henrique Cesar Sis-terolli Kamchen, uma dificuldade é qualificar as pessoas para trabalhar nesta área, pois é preciso trabalhar com informática, não apenas no processo em si mas também na infor-mação, pegá-la no sistema e fazer cruzamentos. “Isso dá agilidade ao processo, permitiu passarmos de 5 mil para 12 mil atos de admissão, aposentadoria e pensões. O contato com o gestor ficou mais próximo e passamos a investir na qualificação.” Segundo Henrique, a centralização do controle gerou maior aproximação com o gestor e evitou muitos paga-mentos indevidos. Além de permitir que os atos fossem analisados mais rapidamente nos tribunais. “Isso gera o ressarcimento mais rápido no caso de irregularidade, porque passados cinco anos fica mais difícil resgatar os recursos por causa da decadência.”

TecnoLogia da inForMaçãoO ministro substituto do Tri-

bunal de Contas da União, Augusto Sherman Cavalcanti, abordou a contratação de serviços

de tecnologia da informação. Ele disse que há três anos não se fazia planejamento de tecnologia da informação nos órgãos da admi-nistração pública, “não se definiam os objetivos, políticas e ações estra-tégicas na área de TI, atualmente 78% deles tomam essa providência”. Sherman disse que é necessário melhorar esta contratação para que ela atenda a necessidade da admi-nistração, a vinculando ao objetivo institucional do órgão. Além disso,

ele defende contratos mais bem estruturados. “A tecnologia da informação é um recurso estra-tégico tanto para o setor público quanto para o setor privado, por isso os contratos têm que dar bons resultados para a organização.” Uma portaria do Ministério do Planejamento de 2009 autorizou a contratação de 230 analistas de TI, que estão sendo nomeados. No entanto, segundo Sherman, devido ao tamanho da administração pública este número é insuficiente.

encerraMenToO doutor e mestre em Direito

Administrativo pela PUC-SP, con-sultor jurídico do Tribunal de Contas do Estado do Paraná e advogado, Edgar Guimarães, fez a conferência de encerramento sobre a Respon-sabilidade da Administração pelo desfazimento da licitação e do con-trato. O tema, tese de doutorado dele na PUC de São Paulo, é título do livro que foi lançado no fórum. Ele per-cebeu que a administração pública instaura a licitação, muitas vezes não leva o processo licitatório até o final, desfaz a licitação, não dando direito aos licitantes de indenização. “Eles têm direito. Em alguns casos, se os particulares que disputam o processo licitatório que não chega ao final provarem que tiveram despesas para participar e não concorreram com culpa ou dolo para o desfazimento da licitação, têm direito efetivamente a uma indenização.” Ele disse que o livro é um alerta para a adminis-tração pública e para os particulares que disputam a licitação, ambos têm direitos que devem ser respeitados. n

O 12º Fórum Brasileiro de Contratação e Gestão Pública acontecerá em maio de 2014, no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília

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GESTãO PúBLICA / DEBATE

Augusto Sherman Cavalcanti abordou a contratação de serviços de tecnologia da informação

“ A TECNOLOGIA DA INFORMAçãO é UM RECURSO ESTRATéGICO TANTO PARA O SETOR PúBLICO qUANTO PARA O SETOR PRIVADO”Augusto Sherman Cavalcanti, ministro substituto do Tribunal de contas da União,

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ENtREviStA // LUíS CLÁUDIO RODRIGUES FERREIRA

o tema gestão pública entrou para o calendário político e está na agenda do direito administrativo Cidadãos exigem mais eficiência

Ana Seidl

o primeiro Fórum Brasileiro de Contratação & Gestão Pública foi realizado em

2003, com sede permanente em Bra-sília. Nesta 11ª edição, o tema foi os 20 anos da Lei nº 8.666/93, Licitações e Contratos. De acordo com o presi-dente da Editora Fórum, promotora do evento, Luís Cláudio Rodrigues Ferreira, a cada ano são apresentadas as novidades e discutidos os temas mais polêmicos, atualizando os ope-radores das contratações públicas. A Editora Fórum está em atuação desde 1992. Nesse período já foram publi-cados mais de 600 títulos, reunindo cerca de 1600 autores. Nos livros e periódicos estão presentes estudos das mais variadas áreas do direito, com destaque para o administrativo e público.

Luís Cláudio Rodrigues Ferreira começou a vender livros em 1984. Em 1992 fundou uma editora, que, em 2001, recebeu o selo editorial Fórum. Há 29 anos se dedica ao livro e a disseminação do conhecimento. Atualmente a biblioteca digital da lúis Cláudio Rodrigues Ferreira: a editora Fórum é líder na área de direito público

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ENTREVISTA // LUíS CLÁUDIO RODRIGUES FERREIRA

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editora conta com 50 mil usuários. Nesta entrevista, ele destaca a impor-tância que o tema gestão pública ganhou na atualidade.

Nos 20 anos da lei de licita-ções e Contratos surgiram várias normas e decretos. Hoje, muitos especialistas defendem a criação de um Código Brasileiro de lici-tações. O senhor defende essa proposta?

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA – Defendo sim. Na verdade esta lei está acompanhada de cerca de 20 normas legais: instruções normativas, decre-tos e leis. Isso traz uma dificuldade muito grande para todos, tanto para a administração quanto para o con-tratado na iniciativa privada.

O evento já é consagrado na agenda do direito administra-tivo. Qual o balanço que o senhor faz desta edição de 2013?

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA – Foi um recorde de público. Anualmente é de uma média de 400 pessoas e este ano tivemos 530 participantes. Isto significa amadurecimento do evento. Logicamente que à medida que ele se coloca no calendário vai ganhando maturidade e nome. A tendên-cia é ampliar o número de pessoas. Verificamos também a presença de participantes que nunca tinham vindo, isso demonstra que a admi-nistração procura se capacitar e isso é muito bom.

Este ano, o ministro do Supremo tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, foi homenageado. Qual a contribuição dele na área do direito?

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA – Antes de ser ministro, ele é professor de direito constitucional e administrativo.

É uma referência nos temas abor-dados no fórum. A homenagem também deve-se ao papel que exer-ceu como cidadão e presidente do Supremo Tribunal Federal. É pre-ciso registrar na história os exemplos de pessoas que fizeram o bem. Ele diz que “vale a pena ser honesto”. O ministro Carlos Ayres Britto é um homem de princípios e isso justifica a homenagem.

Os últimos eventos de gestão pública em Brasília mobilizaram muita gente, o que não ocorria no passado, por quê?

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA – A gestão pública entrou para o calendá-rio político independente de partido. Todos os governantes e agentes polí-ticos atentaram para a necessidade de uma gestão pública mais eficaz. O cidadão exige isso hoje. Está na pauta e permanecerá nos próximos anos.

A Editora Fórum é líder na área de direito público. Como foi chegar até aqui?

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA – São onze anos de selo editorial. A empresa existe há 21 anos. Na época, desco-brimos que não tínhamos estudos e

livros suficientes nesta área. Então constatamos que o direito adminis-trativo carecia de material. No ano 2.000, a Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe mais responsabili-dade para o gestor público. Nós crescemos junto com o direito administrativo.

Quais as principais inovações e novidades da biblioteca digital da editora?

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA – Em onze anos de estudos observamos que o acervo ia se esgotando, as tira-gens e os volumes. O leitor procurava algum volume e não tínhamos mais. E até pela própria sustentabilidade temos imprimido cada vez menos. A biblioteca digital se revelou desde o início um acervo completo onde toda memória dos estudos ficou constitu-ída numa base, com a possibilidade de atualização diária. Por exemplo, esta matéria de contratação e ges-tão pública é complexa e mutante. E a biblioteca permite a um número muito maior de pessoas comparti-lhar este conhecimento atualizado. Hoje são 50 mil usuários. São oito mil órgãos conveniados nas esferas municipal, estadual e federal. n

luís Cláudio Ferreira: a gestão pública está na pauta e permanecerá nos próximos anos

22 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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CONGRESSO NACIONAL

os cento e noventa anos do parlamento brasileiroDeputados e senadores destacam a independência dos poderes da República

menezes y morais

o s 190 anos do parlamento brasileiro foram comemo-rados em sessão solene, em 6

de maio, no plenário do Congresso Nacional. Senadores e deputados federais defenderam a indepen-dência dos poderes da República e o fortalecimento do Legislativo. A

celebração prossegue até dezembro, com debates, publicações, expo-sições e programas especiais da TV e da Rádio Câmara. Como parte da efeméride, foram lançados o catálogo da exposição “120 Anos de República” e o Calendário 2013 da Câmara, além de atividades cul-turais. O calendário tem imagens alusivas ao Poder Legislativo no

Brasil. Também está disponível um aplicativo para celulares e tablets com os mais importantes discursos históricos do Congresso. A come-moração inclui distribuição de kit com a compilação dos primeiros Regimentos Internos do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, do Regimento Comum da Assem-bleia Geral de 1827 e do Regimento

Renan Calheiros e Henrique Alves presidem a sessão solene: fortalecimento do Legislativo

Rodolfo Stuckert

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 23

LEgisLativo

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Comum da Assembleia Geral Cons-tituinte e Legislativa de 1823.

Também foram impressas edições especiais do Jornal do Senado, do Jornal da Câmara e da revista Plenarinho.

“O Congresso está mais próximo da sociedade e será o poder mais transparente”, afirmou Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. “Esta é a casa do povo”, assegurou Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara. Calheiros e Alves presidiram a mesa diretora da sessão solene. Ambos exaltaram a importância do par-lamento para a democracia, o relacionamento com a sociedade e a transparência do Congresso Nacional junto à sociedade. A mesa também foi composta pela ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon; deputado Ales-sandro Molon (PT-RJ); ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves; ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon e a secretária-executiva do Ministério da Cultura, Janine Pires, representando a ministra Marta Suplicy. Deputados e senadores relembraram momentos grandiosos e dramáticos da história do parlamento, da falta de liberdade e cassações, às votações históricas em benefício do Brasil. Também não fal-taram críticas ao “excesso de Medidas Provisórias” do Poder Executivo.

casa do PovoHenrique Eduardo Alves

relembrou a história do parla-mento, da instituição que sobrevive ao Estado de exceção, de 3 de maio de 1823 à contemporaneidade. Para o deputado potiguar, o parlamento brasileiro, após passar por vários momentos de crise na história, por vários desafios históricos, de crise,

opressão, denúncias, de bons e maus parlamentares, firmou-se como a “Casa do Povo”.

Henrique Eduardo Alves tem uma biografia política com três exemplos de mandatos cassados na família, pela ditadura de 1964, que também fechou o Congresso Nacional. “Nunca vivemos um período de democracia tão plena quanto agora. O ambiente do parlamento é o melhor espelho disso”, ressaltou o presidente da Câmara, ao ressaltar o papel do Congresso Nacional.

o PaPeL do congressoNa sessão solene pelos 190 anos

do parlamento, os oradores também fizeram a defesa da independência do Poder Legislativo. O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) elogiou a retomada de apreciação dos vetos presidenciais e defendeu o papel do Congresso na função de legislar: “Não podemos, por exemplo, con-tinuar no papel de carimbadores de medidas provisórias, tampouco seguir omissos na apreciação dos vetos do Executivo. A última palavra do processo legislativo é do parla-mento, irrenunciavelmente”.

O senador Anibal Diniz (PT-AC) disse que o parlamento precisa de firmeza para afirmar a própria sobe-rania, sem aceitar interferências externas: “Apenas um Legislativo liberto de qualquer movimento prematuro de interferência e con-trole externo poderá defender sua legítima e democrática função de discutir, aprovar ou rejeitar proposições”.

Renan Calheiros e Henrique Alves recebem a ministra do Superior tribunal de Justiça, Eliana Calmon, para a sessão solene

Marcos O

liveira/Agência Senado

“ O CONGRESSO ESTÁ MAIS PRóXIMO DA SOCIEDADE E SERÁ O PODER MAIS TRANSPARENTE”Senador Renan Calheiros (PMDB-AL)

CONGRESSO NACIONAL

legislativo

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O deputado Alessandro Molon (PT-RJ), autor do requerimento da sessão solene, ressaltou: “São 190 anos de história caminhando para a democratização do parlamento e do Brasil e de lá para cá o que o parla-mento fez foi pouco a pouco ampliar cada vez mais a parcela da popu-lação representada, de forma que hoje temos um poder plural, aberto e democrático”.

No entendimento do parla-mentar petista, um dos desafios do Congresso no século XXI é pensar os próximos anos até a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil, em 2022. “Talvez o nosso grande desafio seja pensar de que maneira, nos próximos dez anos, podemos trabalhar para fortalecer o Poder Legislativo, o mais plural, o mais aberto e o mais democrático dos poderes, para que o Brasil se sinta ainda mais bem representado aqui nesta Casa”.

reForMa PoLíTica Para Molon, “ainda falta muito por

fazer e olhar para trás é fundamental para pensar os desafios que estão colo-cados para frente. Por exemplo, uma reforma política que transforme o parlamento em algo ainda mais repre-sentativo da sociedade brasileira”. O deputado Luiz Couto (PT-PB), em discurso da tribuna na segunda-feira (6) que antecipou a sessão solene,

registrou a passagem do aniversário de 190 anos do parlamento brasileiro. Disse que a criação do Poder Legis-lativo em 1823 é um marco na luta por democracia no País.

“O parlamento, não só no Brasil, mas no mundo, é o escoamento natural das grandes propostas do povo e pelo povo. Nesta casa circulam propostas no campo da educação, da saúde, da habitação, do trabalho, dos direitos humanos. Aqui tenho a honra de dizer que pulsa o coração do nosso Brasil”, destacou Couto.

O senador Aníbal Diniz (PT-AC) também destacou a importância da democracia. Na condição de vice--líder do PT no Senado, falou em nome da bancada, fazendo um breve histórico destes quase dois séculos de existência do parlamento. O senador acreano lembrou os percalços enfren-tados durante todo este tempo, tendo sido fechado por conta de medidas ditatoriais em 15 oportunidades. Diniz também destacou o que chama de “as grandes conquistas obtidas em todo este tempo” pelo Poder Legis-lativo brasileiro: “Temos neste Senado uma instituição que mudou o Brasil ao longo dos anos, com a discussão, com o debate, com a resolução de conten-ciosos e com soluções para processos políticos e sociais marcantes, da Lei Áurea à criação da política externa brasileira”, acrescentou Diniz.

O vice-líder do PT destacou um tema polêmico nos bastidores polí-ticos brasileiros: a independência entre os poderes. “Apenas um Legis-lativo liberto de qualquer movimento prematuro de interferência ou con-trole externo poderá, efetivamente, exercer sua legítima e democrática função de discutir, aprovar ou rejeitar proposições. Esse é o parlamento que temos, e aquele que queremos manter”.

Henrique Alves: parlamento passou por vários desafios históricos e se firmou como a casa do povo

“ O PARLAMENTO, NãO Só NO BRASIL, MAS NO MUNDO, é O ESCOAMENTO NATURAL DAS GRANDES PROPOSTAS DO POVO E PELO POVO”Deputado Alessandro Molon (PT-RJ)

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ParLaMenTares hisTóricosO Jornal do Senado destaca “a

trajetória de parlamentares que marcaram a história da Câmara Alta, como Padre Feijó, Duque de Caxias, Ruy Barbosa, Luiz Carlos Prestes, Juscelino Kubitschek, Teo-tônio Vilela, Tancredo Neves e Afonso Arinos”. O Jornal do Senado também transcreve relatos de Vis-conde de Taunay, que foi senador na época do Império, e do escritor Machado de Assis (1839-1908), foi analista político. Suas impressões da época estão no livro O Velho Senado (1896).

Na Semana de Museus na Câmara, que aconteceu no período de 13 ao 17 de maio, a data foi lem-brada com o tema central “Câmara dos Deputados – 190 Anos de His-tória: Por Que Preservar?”. Durante a Semana de Museus também acon-teceu uma exposição alusiva aos 25 anos da Constituição de 1988, sob a ótica da liberdade de expressão. Até dezembro, estão previstos debates, exposições e programas especiais da TV e da Rádio Câmara.

Ainda no segundo semestre será realizado o “Seminário 190 anos do Parlamento Brasileiro”, com a

participação de especialistas para discutir o papel do Legislativo na história política brasileira dos dois últimos séculos.

hisTóriaA democracia brasileira deu sinal

de vida em 3 de maio de 1823, às 12h30, quando foi instalada a pri-meira Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil. A efeméride marca o início dos tra-balhos legislativos da monarquia brasileira, instalada em 1822.

A missão do parlamento era redigir a primeira Constituição. Num balanço do Jornal do Senado, nos seis meses de funcionamento da Assem-bleia Geral – de maio a novembro de 1823 – foram aprovados e san-cionados seis projetos de lei, dos 39 apresentados; sete requerimentos, 157 indicações, 237 pareceres, o regi-mento interno e uma proclamação aos povos do Brasil. Entretanto, a assembleia duraria pouco. Foi dis-solvida por D. Pedro I. Ele, que em 7/9/1822 deixara de ser príncipe regente para tornar-se imperador do Brasil, ao decretar a independência do Brasil de Portugal, não gostou do anteprojeto da Constituição. Por quê? Os parlamentares previam no texto constitucional que o imperador teria de submeter os seus atos, enquanto chefe de Estado, ao Poder Legislativo. Dom Pedro I não gostou da ideia.

Para mostrar quem mandava no Estado, o imperador ordenou às tropas que invadissem a Assem-bleia Constituinte, num episódio que entrou para a história com o nome de Noite da Agonia. O efeito do gesto autoritário de D. Pedro I durou menos de um ano. O parlamento se trans-formou numa instituição bicameral – Câmara e Senado – em 1824, com a outorga da Constituição do Império.

Senador Anibal Diniz: parlamento precisa de firmeza para afirmar a própria soberania

CONGRESSO NACIONAL

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Entretanto, ainda não era a demo-cracia. A vida política institucional se dividiria entre quatro poderes: Executivo, Judiciário, Legislativo e Moderador, este último garantindo poderes absolutos ao monarca. A exemplo do rei Luiz XV, que dizia “O Estado sou eu”, D. Pedro I poderia dizer o mesmo no Brasil inde-pendente da corte portuguesa. Os senadores, por exemplo, eram esco-lhidos pelo imperador, com mandato vitalício.

No Senado do Império, os sena-dores só eram substituídos quando morriam ou renunciavam. Ao con-trário do Senado da República, com eleições de quatro em quatro anos e mandato de oito anos para os sena-dores. Na Câmara dos Deputados

do Império, ao contrário, o mandato era temporário. Na República, onde os poderes são apenas três – Exe-cutivo, Legislativo e Judiciário – a eleição é de quatro em quatro anos, com mandato também de igual duração.

segUndo iMPÉrio A história de dom Pedro I é

conhecida, virou tema de historia-dores, de filmes e de ensaios. Ele foi substituído pelo filho, dom Pedro II, que inaugura o Segundo Império, no qual o Senado também teve papel de destaque. O Senado tinha tanta evi-dência que dom Pedro II, sucessor de Pedro I, confessou: se não fosse monarca, gostaria de ser senador. A instituição funcionava como

mantenedora da estabilidade do país. Em 1847, dom Pedro II assinou um decreto instituindo a presi-dência do Conselho de Ministros, um parlamentarismo inspirado no modelo inglês. Em vez de escolher os ministros, o imperador selecionava apenas o presidente do conselho.

Este era uma espécie de pri-meiro-ministro, escolhia os demais ministros de seu gabinete. Até a proclamação da República, em 1889, os primeiros-ministros foram quase todos senadores. No Segundo Reinado, o Senado teve partici-pação fundamental na política externa do Brasil. Aprovou as decla-rações de guerra e os orçamentos para as batalhas contra o Paraguai, a Argentina e o Uruguai. Durante a

A Semana de museus teve como tema central os 190 anos de história da Câmara dos Deputados: visitação pública

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crise diplomática entre o Brasil e a Inglaterra, motivada pelo tráfico de escravos, a atuação do Senado foi primordial.

A coroa inglesa pressionava o monarca brasileiro para pôr fim ao tráfico humano. Neste momento, o papel do Senado foi decisivo na negociação intermediada junto à monarquia inglesa. O Senado aprovou as Leis Eusébio de Queiroz, de 1850 – proibindo o tráfico – e Nabuco de Araújo, de 1854, punindo severamente quem apoiasse o comércio negreiro. Hoje elas são con-sideradas leis históricas, resultados do trabalho cultural de abolicionistas como Joaquim Nabuco e o poeta Castro Alves. O escravismo no Brasil durou mais de três séculos. O Brasil foi o único país da América a abolir a escravidão. O Senado também teve papel seminal nesse fato histórico. No dia 13 de maio, a princesa Isabel sancionou a Lei Áurea.

PresidenTe eLeiTo Com a derrubada da monarquia

brasileira, foi proclamada a República, graças ao levante político--militar ocorrido em 15 de novembro de 1889. Era o início da forma repu-blicana federativa presidencialista de governo no Brasil e o fim da monarquia constitucional parla-mentarista do Império do Brasil. O imperador dom Pedro II caía. Foi proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil, na Praça da Acla-mação, atual Praça da República, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império.

Com a proclamação da Repú-blica, o cargo de senador deixou de ser perpétuo. Mas o Senado não perdeu o protagonismo. Com as eleições que se sucederam, foram eleitos presidentes da República

senadores como Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Venceslau Brás, Delfim Moreira e Washington Luís. Entretanto, o Legislativo, por ser uma instituição cem por cento política, viveu períodos históricos bons e ruins. Os piores momentos do Senado foram durante o governo Getúlio Vargas.

Em 1934, com uma nova Cons-tituição, o Senado teve suas competências limitadas, tornando--se um mero colaborador da Câmara dos Deputados. Getúlio reduziu o número de senadores por Estado de três para dois.

Os “anos de chumbo” da ditadura militar (1964–85) foram difíceis para o Poder Legislativo. O ex-presidente

Juscelino Kubitschek, por exemplo, que construiu Brasília, foi um dos senadores que tiveram os direitos políticos cassados pelo regime.

Em 1979, o general-presidente João Figueiredo assumiu o poder prometendo manter o processo de abertura política. O Congresso Nacional aprovou a Lei da Anistia, que beneficiou os agentes do regime e os cidadãos banidos pela ditadura, que foram perseguidos pela ditadura. O pluripartidarismo foi reinstituído, a Arena mudou o nome para PDS e o MDB, para PMDB. O PCB voltou à legalidade e os governadores pas-saram a ser eleitos pelo voto direto da sociedade. Foram criados, entre outros, PSB e o PDT, liderado por Leonel Brizola. n

TRANSPARÊNCIAPara apresentar opiniões,

queixas e sugestões, a sociedade pode utilizar o serviço Alô Sena-do (0800 612211) e a Ouvidoria (www.senado.leg.br/ouvidoria). Renan Calheiros lembra que em 2013, o controle por parte da po-pulação foi ampliado, em razão da criação da Secretaria da Trans-parência e da instalação do Conselho de Transparência, com integrantes da sociedade especializados no tema. “Nenhum poder será mais transparente que o parlamento”, assegura o atual presidente do Senado.

Na Câmara dos Deputados a transparência institucional também é um fato, lembra o presidente da instituição, Henrique Alves. A sociedade tem acesso à informação referente à gestão estratégica, orçamento da Câmara dos Deputa-dos e relatório de gestão fiscal.

O cidadão também tem acesso a informações sobre a execução orçamentá-ria da Câmara dos Deputados, aos relatórios bienais de atividades, estatística do trabalho da Câmara dos Deputados, síntese anual dos trabalhos legislativos com informações do plenário e das comissões e das contas da Câmara dos Deputados organizadas por exercício financeiro, entre outras.

CONGRESSO NACIONAL

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as novas regras para instalações portuárias públicas e privadas Investimentos no setor deverão ser mais de R$ 54 bilhões

menezes y morais

em 9 de maio, ao empossar o vice-governador de São Paulo Afif Domingos (PSD) no cargo

de ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, no Palácio do Planalto, Dilma Rousseff mandou um recado ao Congresso Nacional.

Pediu aos 513 deputados federais e aos 81 senadores da República que aprovassem a Medida Provisória 595/2012 (MP dos Portos), enviada no ano passado, cuja validade extin-guiria zero hora do dia 16 de maio. “Essa é uma medida estratégica para o nosso país. Nós queremos que o acesso aos portos brasileiros seja

direito de todos aqueles que pro-duzem, é essa a ideia da medida provisória”. Enquanto isso, o Partido da Social Democracia (PSD) em São Paulo mobilizava-se para que Afif Domingos renuncie ao cargo de vice-governador, por considerá-lo incompatível com o de secretário de Estado, que tem status de ministro. A

MP DOS PORTOS

Depois de 24 horas de sessão, a Câmara dos Deputados finaliza a votação da mp dos portos

Wilson Dias/Abr

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Advocacia-Geral da União, porém, emitiu parecer, afirmando que não há incompatibilidade.

No mesmo dia, o presidente da Câmara dos Deputados, Hen-rique Eduardo Alves (PMDB-RN), anunciou que a PM seria posta na ordem do dia, para votação. “O que votará, o que vai mudar (na MP), é uma questão dos líderes das ban-cadas e de cada parlamentar. O dever da Câmara é pautar essa matéria que caducará na próxima semana”, disse o deputado Eduardo Alves. Aprovada no final de abril por uma comissão mista formada por deputados e senadores, a MP enfrentou sessões tumultuadas. E revelou “traições políticas” entre parlamentares de partidos que apoiam o governo de coalizão do PT-PMDB.

Numa das votações, o líder do PR, deputado Anthony Garotinho (RJ), disse que a MP se tornara a “MP dos Porcos”, devido ao que chamou “de interferência de interesses privados na análise da proposta”. Houve bate-boca e o presidente da Câmara resolveu encerrar os trabalhos. “Restabe-lecida a serenidade, a Câmara volta ao seu dever” – votar a MP –, disse Alves. Durante a sessão, o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), prometeu obstruir a votação até Garotinho indicar quem teria feito “negociatas” durante a tramitação da MP.

Vários pontos da MP sofreram questionamentos por partidos da base de sustentação política do governo. Foram apresentados 28 des-taques à proposta, com o objetivo de alterar em plenário o texto aprovado pela Comissão Mista. PMDB, PSB, PDT e DEM apresentaram as maiores divergências no texto. Como se sabe, peemedebistas, socialistas e pede-tistas formam a base de sustentação política do governo.

O líder da Minoria, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), afirmou que a oposição é favorável à MP, por uma razão muito simples: garante a modernização dos portos, mas asse-gurou que a medida deve perder a validade sem ser aprovada. “O governo tem 400 deputados na

sua base e a oposição é a menor da América Latina. Se não votar, os únicos culpados serão o próprio governo e sua base”, comentou.

Os partidos contrários à MP dos Portos, aliados aos dissidentes do governo, também queriam alterar as normas trabalhistas e permissão de delegação, para as concessionárias dos portos, dos poderes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) sobre as licitações.

ModernizaçãoSegundo lideranças de partidos,

a modernização dos portos agora é uma realidade. A Liderança do PT no Senado destacou oito pontos que “ressaltam a importância de um novo marco regulatório para o setor por-tuário”. Essa modernização se traduz nos seguintes pontos: Terminais de Uso Privado (TUPs). Na Lei nº 8.630/93 (Lei dos Portos), os ter-minais autorizados – denominados

plenário do Senado aprova a medida provisória que prevê a modernização dos portos

José Cruz/ABr

“ O GOVERNO TEM 400 DEPUTADOS NA SUA BASE E A OPOSIçãO é A MENOR DA AMéRICA LATINA. SE NãO VOTAR, OS úNICOS CULPADOS SERãO O PRóPRIO GOVERNO E SUA BASE”Deputado Nilson Leitão (PSDB-MT)

MP DOS PORTOS

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terminais de uso privativo (TUPs) – encontravam-se vinculados à verti-calização da cadeia produtiva, e eram obrigados a movimentar preponde-rantemente carga própria. A MP dos Portos, ainda conforme a liderança do PT, estimula os sistemas de energia, dragagens e derrocagens, entre outras obras, aumentando a capacidade anual dos portos para 1,1 bilhão de toneladas, em 2030. Em nota divulgada à imprensa, a Liderança do PT no Senado assegura ainda que “as mudanças foram propostas para garantir maior eficiência e competi-tividade internacional, diminuindo custos e burocracia das operações portuárias”.

O PT de Dilma entende que a MP trouxe “a solução para o problema dos contratos vencidos. A prorro-gação de contratos firmados após 1993 foi aprovada permitindo que a prorrogação dos contratos de arren-damento de instalações portuárias firmados com base na Lei dos Portos (8.630/93) seja feita por uma única vez, pelo prazo máximo previsto

contratualmente, condicionada à reali-zação de investimentos”.

Agora – de acordo com o governo – o titular da outorga poderá movi-mentar livremente qualquer tipo de carga, ressalvadas eventuais restrições de ordem pública, como de segurança, saúde, meio ambiente. Essa “inovação no modelo, baseada na ampliação da infraestrutura e da modernização da gestão portuária e na expansão dos investimentos do setor privado, resultará no aumento da movimen-tação de cargas com redução dos custos e eliminação de barreiras à entrada”.

Num segundo ponto, os gover-nistas asseguram que “o planejamento

do Setor Portuário” é uma realidade. “A MP retoma a capacidade do Estado brasileiro de planejamento no setor portuário, redefinindo competências institucionais da Secretaria de Portos e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ”.

De acordo com o PT, dentre as prin-cipais conquistas dos trabalhadores dos portos brasileiros, “destacam-se: a apo-sentadoria especial, a regulamentação da guarda portuária, a multifunciona-lidade, adoção da renda mínima para o trabalhador portuário, o cadastro dos trabalhadores celetistas, e o reconheci-mento de que o profissional portuário é pertencente à categoria profissional diferenciada”.

Quanto a gestão dos portos, os petistas asseguram: a MP aprovada “introduz importantes melhorias na gestão dos portos e da sua infraes-trutura comum, dentre as quais vale destacar (i) a instituição do Programa Nacional de Dragagem II, com um novo modelo de contratação visando o incremento de seus resultados”.

invesTiMenTos “Para incentivar a modernização

do setor, o Programa de Investi-mentos em Logística (PIL) prevê investimentos de R$ 54,2 bi no setor portuário brasileiro para a moder-nização dos empreendimentos, a redução de custos e o aumento da eficiência portuária”. Desse total, acrescentam os governistas, “até 2015, R$ 31 bilhões serão aplicados em novos arrendamentos e Terminais de Uso Privativo (TUPs). Mais R$ 23,2 bilhões serão aplicados até 2017”.

Por fim, ainda de acordo com o PT, “a MP dos Portos aumenta a eficiência. A MP 595 editada pela Presidente Dilma e aprovada pelo Congresso Nacional se justifica, por-tanto, por quebrar as ‘amarras’ da Lei

vista aérea do porto de Santos: várias melhorias e reformas para aumentar a capacidade

Divu

lgaç

ão

NUM SEGUNDO PONTO, OS GOVERNISTAS ASSEGURAM qUE “O PLANEJAMENTO DO SETOR PORTUÁRIO” é UMA REALIDADE

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 31

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dos Portos (1993), abrindo a possi-bilidade de novos investimentos em infraestrutura portuária.

dados do seTorCom uma costa de 8,5 mil qui-

lômetros navegáveis, o Brasil possui um setor portuário composto por 34 portos públicos, entre marítimos e flu-viais. Desse total, 16 são delegados, concedidos ou têm sua operação auto-rizada à administração por parte dos governos estaduais e municipais. Existem ainda 42 terminais de uso pri-vativo, que agora atendem pelo nome de Terminais de Uso Privado.

São três complexos portuários ope-rados sob concessão pela iniciativa privada. Conforme estudo sobre efi-ciência produtiva divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil encontra-se na 130ª posição, entre portos de 142 países e demora, em média, 5,5 dias para desembaraçar suas cargas nos portos, quanto Hong Kong, que tem o porto mais produtivo do planeta, faz isso em menos de 15 horas.

Daí a Presidência da República ter recorrido à semântica de “moderni-zação dos portos”, para tornar a MP mais palatável à certos viés ideológicos na Câmara dos Deputados e no Senado da República.

coMÉrcio exTerior De acordo com dados institu-

cionais, a movimentação de cargas nos portos brasileiros cresceu 2,03% em 2012 em relação ao ano anterior, atingindo 904 milhões de toneladas. Em 2012, foram movimentados 588 milhões de toneladas de cargas (65%) pelos portos privados e 316 milhões de toneladas (35%) nos portos públicos. O comércio exterior brasileiro cresceu nos últimos dez anos: passou de US$ 100 bilhões para aproximados US$ 500 bi. n

A SeguNdA mulheR mAIS PodeRoSA do muNdo

Como diria o cantor e compositor Roberto Carlos, maio de 2013 foi um mês de “grandes emoções” para a presidenta Dilma Rousseff. Os sete dias de tensão polí-tica – de 9 a 16 – consumi-dos pela votação da Medida Provisória 595/2012 (MP dos Portos), no Congresso Nacional, foram compen-sados mais para o final do mês, em 22 de maio, quando Dilma Rousseff foi anuncia-da como a segunda mulher mais poderosa do mundo em 2013, na lista anual da revista norte-americana Forbes. A revista justificou a escolha pelo nome de Dilma dizendo que ela “dá ênfase ao empresariado” e “inspira uma geração de empreendimentos no país”, con-forme nota divulgada pela liderança do PT na Câmara.

A deputada Janete Rosa (PT-SP), coordenadora da bancada feminina na Câ-mara dos Deputados, vibrou com a eleição de Dilma. Segundo ela, o governo da presidenta tem hoje cerca de 80% de aprovação. Na lista da Forbes, Dilma ficou atrás apenas da chanceler alemã Ângela Merkel, eleita a primeira mulher mais influente, na lista das “100 Mulheres Mais Poderosas do Mundo”. No ano passado, Dilma ficou atrás de Ângela Merkel e Hillary Clinton. Em 2013, a presidenta do Brasil ultrapassa Hillary Clinton. Em terceiro lugar, Melinda Gates, dos Estados Unidos, copresidente da Fundação Bill & Melinda Gates. Em 4ª, Michelle Obama, primeira-dama dos Estados Unidos. E 5º, Hillary Clinton, ex-primeira-dama e ex-secretária de Estado.

Mais duas brasileiras figuram na lista das 100 personalidades mais influen-tes do mundo, de acordo com a Forbes: Graça Foster, da Petrobras, também su-biu no ranking e agora é a 18ª mais poderosa. Em 2012, era a 20ª. E a modelo Gisele Bündchen completa a presença da mulher brasileira no Top 100, eleita em 95º lugar. No ano passado, ela era a 83ª mais poderosa. A eleição de Dilma como a segunda mulher mais influente do mundo acalmou de vez sua tensão política, vivida durante os sete dias de tensão, pela ameaça da Câmara dos Deputados rejeitar a MP dos Portos.

MP DOS PORTOS

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LEgisLativo

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deputado defende mais transparência na gestão da aviação civilSubcomissão da Câmara estuda propostas para resolver os gargalos do setor

Ana Seidl

Jerônimo Goergen (PP-RS) é presidente da Comissão de Inte-gração Nacional, Desenvolvimento

Regional e da Amazônia (CINDRA) da Câmara dos Deputados, da qual a subcomissão especial da Aviação Civil é subordinada. Ele também preside a Frente Parlamentar do Biodiesel, é vice--presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias e integrante da Frente Par-lamentar da Agropecuária (FPA). O deputado defende a revisão da atuação das agências reguladoras em vários setores, principalmente da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), “por causa da omissão em incidentes e aci-dentes aéreos”. O deputado também apresentou um substitutivo ao Código Brasileiro da Aeronáutica que conta com cinco mil assinaturas de apoio de pilotos, controladores e comissários de bordo, que regulamenta a jornada de trabalho no setor. Nesta em entrevista, ele defende uma aviação sólida e com-petitiva e lembra que isso só vai ocorrer “quando tudo estiver transparente no âmbito da gestão pública do setor”. A intenção, segundo lembra, “ não é

punir a ou b e sim esclarecer e consertar a situação, pois meu papel como parla-mentar é fiscalizar as ações do governo”.

A administração da aviação civil era feita pelos militares por meio do Departamento de Aviação Civil

(DAC). Atualmente apenas a inves-tigação de acidentes aeronáuticos permanece sob a responsabilidade militar. Como funciona atualmente o modelo da aviação civil?

JERôNIMO GOERGEN – Na verdade tivemos um processo de

Deputado Jerônimo Goergen: debate em torno do código Brasileiro da aviação civil

Valter Campanato/ABr

ENTREVISTA // JERôNIMO GOERGEN

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 33

parLamEntar em ação

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desmilitarização do setor. Hoje no Brasil há dificuldade de se encontrar as responsabilidades. Na vontade de atualizar o país, surgem muitas regras inexequíveis. Quando o governo resol-veu criar as agências reguladoras; na aviação civil a Anac, em 2005, sofreu influências políticas nas indicações dos seus gestores, que muitas vezes não são técnicos. Há uma crise de identidade que dificulta a responsabilização. Desde que foi tirado o controle dos militares, mudou para pior. O Brasil não soube se adequar ao crescimento da demanda da aviação civil. O problema é que não há planejamento, falta gestão. O Brasil não age, reage, e por isso perde a chance de liderar o mundo, pois capacidade pro-dutiva nós temos. Quando acontece um acidente fica uma imagem muito ruim até para as empresas aéreas. Todo mundo perde, o público, as empresas, os pilotos e o Brasil na sua imagem.

Como surgiu a ideia de criação da Subcomissão Especial de Aviação Civil?

JERôNIMO GOERGEN – Eu tenho um irmão que é piloto particular. Nós íamos votar o Código Brasileiro de Aeronáutica e ele me alertou que estava em negociação a elevação da carga horá-ria dos pilotos para 19 horas por dia e a contratação de estrangeiros, enquanto temos no Brasil 700 pilotos desempre-gados. Recebi também a informação de que a cada quatro dias, ocorriam três incidentes aéreos, o que me deixou muito preocupado. Eu sugeri no início deste ano a criação de uma comissão externa, que depende da aprovação do presidente da Câmara e enfrentei muita dificuldade para que ela fosse criada, o que não ocorreu até agora. Como assumi a Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA), preferi não esperar. Propus a criação de uma

subcomissão de aviação civil para reunir todos os temas do setor. Estamos discu-tindo o Código Brasileiro da Aviação Civil e daqui vai sair um trabalho para que o Brasil tenha uma sugestão do que deve ser o certo, depois é o governo, os órgãos fiscalizadores e a própria Anac que vão executar, e nós vamos acompa-nhar isso. Um substitutivo para o Código Brasileiro de Aeronáutica de minha autoria já recebeu 5 mil assinaturas.

A presidente da Associação Brasileira dos parentes de vítimas Aéreas (Abrapavaa), Sandra Assali, denuncia que na Anac muitos ser-vidores não são técnicos. Como o senhor avalia isso?

JERôNIMO GOERGEN – Os servi-dores concursados seguem regras. Por exemplo, no acidente da TAM 3054, em julho de 2007, quando morreram 187 pessoas que estavam na aeronave e 12 no solo, a pista de Congonhas apresen-tava problemas há muito tempo, outros aviões tiveram dificuldades de aterris-sagem no mesmo dia e que não foram resolvidas. A Anac não viu? Os dois aeroportos estratégicos, Congonhas e Santos Dumont não tinham boas con-dições, precisou acontecer os acidentes para as medidas serem tomadas. No Brasil, os acidentes aéreos acontecem, principalmente, por problemas técni-cos ou operacionais já conhecidos. A informação que temos de várias enti-dades é que a Anac arquiva tudo que é denunciado, e pune os que fazem as representações. São mais de 3 mil repre-sentações arquivadas, sendo que na média de cada 600 acidentes, um é grave. Temos uma informação da Associação Brasileira dos Pilotos da Aviação Civil Condutores de Avião (Abrapac) de que um piloto viu em Salvador um rapaz cruzar a pista na hora da decolagem. Ele ia ser sugado pela turbina, filmou, colocou no Youtube e foi demitido pela

empresa. É um órgão de Estado, mas o governo quem nomeia, então entra gente que não está preparada. O pro-blema não são os servidores de carreira, mas os diretores nomeados, que não sabemos quais são seus interesses.

Os últimos acidentes aéreos graves no Brasil poderiam ser evi-tados?

JERôNIMO GOERGEN – Sim. O mercado é muito competitivo, o governo não tem estratégia para susten-tar o setor, tem sempre que intervir nas empresas aéreas para mantê-las em ati-vidade, uma hora aumenta a gasolina, outra aumenta a tributação. É natu-ral que com o aumento da demanda por voos, cresça também os inciden-tes. O Brasil devia se dar conta de que está crescendo e fazer um melhor pla-nejamento nessa área. Devemos exigir que seja feito o mais rápido possível. No final do ano estava prevista a votação do Código Brasileiro de Aeronáutica, mas não saiu, entretanto, é bom discutir bem. É melhor esperar um pouco mais atualizarmos o projeto, para que seja uma lei exequível e resolva os gargalos. O número de controladores aéreos no país é menor do que o necessário e isso gera a fadiga humana, causa da maioria dos acidentes.

Como estão as investigações dos acidentes aéreos?

JERôNIMO GOERGEN – São os chamados reports, muitos são arqui-vados. Por exemplo, um controlador aéreo descobriu uma irregularidade, faz um relato para o CENIPA, que depois envia para a Anac. Existem mais de 3 mil reports arquivados. E se algum con-trolador fizer a denúncia é demitido, perseguido e oprimido pela Anac. Isso foi dito para mim em São Paulo numa reunião da Associação Brasileira dos Pilotos da Aviação Civil e Condutores de Avião (Abrapaa). n

ENTREVISTA // JERôNIMO GOERGEN

legislativo

34 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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n AéCIO NEVES SE APRESENTA AOS ELEITORES

O senador Aécio Neves, agora presi-dente nacional do PSDB, tem como estratégia nesses primeiros meses tornar-se conhecido dos eleitores de todo o país. Vai mostrar suas realizações como governador de Minas Gerais, durante os dois

mandatos, de 2003 a 2010. Venderá a imagem de um político arrojado, moderno e disposto a fazer mudanças, especialmente na área eco-nômica, combatendo, principalmente, a inflação que já corrói os salários dos brasileiros. Falará sobre modernização e vai apresentar propostas para diversas áreas. Tudo isso nos próximos pro-gramas do PSDB na TV. Aécio inicia, assim, sua longa jornada rumo a 2014, quando deverá ser o candidato dos tucanos à Presidência da República.

maria FÉLIX

POLÍTICA E PODERpOlÍtiCA E pODERTu

ca P

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iroRoberto Pereira/PSB

n A NOVA POSTURA DE EDUARDO CAMPOSO governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tem

assumido, cada vez mais, a postura de candidato à Presidência da República. No último dia 27 de maio, durante o I Encontro de Vereadores do PSB de Pernambuco, o socialista deu tom crítico ao seu discurso ao cobrar do governo federal mais investimentos para a educação. Segundo ele, só com mais educação, as famílias de baixa renda poderão se livrar da dependência de programas como o Bolsa Família. Campos deixou claro ainda que o PSB está preparado para embates maiores. “Nós temos unidade partidária, sim, temos capacidade de dialogar. Não de dialogar por projetos de pessoas, mas de um pensamento estratégico de nação”, arre-matou. Os mais de 300 vereadores e lideranças locais aplaudiram muito o governador e alguns chegaram a distribuir adesivos com o slogan “Brasil pra frente, Eduardo Presidente”.

n NOVO MD TENTA APRESENTAR PROPOSTA ALTERNATIVA PARA 2014 O PPS de Roberto Freire, que se fundiu ao nanico

PMN e virou o MD (Mobilização Democrática), utilizará o número 33. As duas forças políticas somam 13 deputados federais, 58 estaduais, 147 prefeitos e 2.527 vereadores. São 683.420 filiados. O MD nasce na oposição. Seus represen-tantes em todo o país trabalham para a construção de um projeto alternativo para o Brasil em 2014. Mas, até agora, o novo partido não existe na internet. Ainda existe a página do velho PPS, onde não se lê nada sobre o MD. Já no site do PMN, que continua no ar, foi divulgado o estatuto do MD e várias notícias sobre o novo partido. As negociações ente o PPS e PMN foram retomadas em 2013, e o MD foi final-mente oficializado no dia 17 de abril. A decisão foi tomada em congressos extraordinários, realizados em Brasília.

Divu

lgaç

ão/P

SDB

Eduardo Campos em encontro de vereadores do pSB: governador é recebido como candidato

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 35

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poLíticas da união

CULTURA

governo vai financiar projetos culturais em escolas da rede públicaOs investimentos em 2013 deverão chegar aos R$ 100 milhões

o s ministérios da Educação e da Cultura lançaram, em 21 de maio, o Programa

Mais Cultura nas Escolas, com o objetivo de promover a democrati-zação e o acesso à cultura e ampliar o repertório cultural de estudantes, professores e comunidades esco-lares do ensino básico. O projeto vai financiar 5 mil projetos de atividades artísticas e pedagógicas nas escolas da rede pública, com investimento total de R$ 100 milhões, a partir do segundo semestre.

Na ocasião, foi lançado também o projeto Universidade das Artes, uma instituição federal de ensino superior que terá cursos de graduação. Estados e municípios terão 100 dias para enviar propostas para sediar a instituição. Um Grupo de Tra-balho (GT) com representantes dos dois ministérios vai elaborar, em um prazo de cem dias, o projeto da Uni-versidade das Artes. A coordenação do GT ficará a cargo do assessor especial do Ministério da Educação (MEC), Márcio Meira. A Secretaria

da Economia Criativa (SEC) e a Diretoria de Educação e Comuni-cação para a Cultura da Secretaria de Políticas Culturais (SPC) do Minis-tério da Cultura integram o grupo. A Universidade das Artes deverá contemplar a produção cultural em sentido amplo, englobando áreas como design, moda, gastronomia, cinema, audiovisual, artes plásticas, visuais e digitais e literatura entre outras.

As escolas serão escolhidas por um grupo de representantes dos

Os ministros Aloizio mercadante e marta Suplicy lançam o programa mais Cultura nas Escolas

Mar

cello

Cas

al/A

Br

36 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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Marcello Casal/ABr

ministérios da Educação, da Cultura e por professores de universidades federais. Os projetos serão selecio-nados de acordo com o histórico de atuação dos grupos culturais e com a qualidade do projeto apresentado. Será levado em consideração o equilíbrio regional e o equilíbrio temático. Os projetos culturais serão orientados por eixos temáticos pro-postos pelo Mais Cultura nas Escolas, voltados, entre outros temas, para a criação e circulação de teatro, audio-visual, música, dança, artes visuais, circo, diálogos com tradições orais, culturas indígenas e cultura afro-bra-sileira, residência e experimentação artística nas escolas, atividades em museus, pontos de cultura, cinema e outros espaços culturais.

A cultura é um setor que gera muito emprego, gera muitas oportu-nidades, fortalece a nossa identidade, cidadania, estimula a criatividade e o Brasil tem um potencial turístico cultural fantástico”, disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, afirmou que o objetivo é potencializar a escola como um espaço de circu-lação e de produção cultural. “Tantas

escolas querem fazer alguma coisa, a diretora quer fazer alguma coisa, tem noção do que fazer, mas não tem esse recurso. Isso vai fazer uma diferença muito grande para as escolas, princi-palmente as que já estão em programas do MEC, já estão em período integral mas padecem da falta de recursos”, sustentou a ministra.

Segundo ela, esse é um primeiro passo para a integração cultural cada vez maior entre os ministérios da

Cultura e da Educação. “Nós vamos potencializar os processos de ensino, de aprendizado, integrando práticas criativas e diversidade cultural à edu-cação básica”, observa. “O projeto vai ajudar a formar uma geração mais criativa, a escola passa a ter um espaço lúdico, de lazer e criatividade”, destacou Mercadante. n

Com informações das Assessorias de Comunicação

do Ministério da Cultura e do Ministério da Educação

marta Suplicy: objetivo é potencializar a escola como um espaço de circulação e de produção cultural

O Programa Mais Cultura nas Es-colas irá desenvolver atividades den-tro ou fora da escola por no mínimo seis meses, envolvendo música, teatro, audiovisual, literatura, circo, dança, contação de histórias e artes visuais. Cada escola con-templada receberá em torno de R$ 20 mil. As inscrições estão abertas e vão até o dia 30 de junho no site do MEC. O resultado deve ser divulgado no começo de agosto. Os

inscrição será feita apenas pelos diretores das escolas, os

grupos de cultura que quiserem participar devem procu-rar as secretarias de Educação municipais e estaduais. O projeto visa atender uma demanda tanto dos professores quanto dos artistas e agentes culturais.

PRogRAmA mAIS CulTuRA

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 37

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MarcuS viniciuS de aZevedo BragaAnalista de finanças e controle da Controladoria-Geral da União. é formado em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bacharel em Ciências Navais com habilitação em Administração pela Escola Naval. é mestre em Educação pela Universidade de Brasília

govErnança e gEstão

“A principal função do auditor inclusive nem é a de fiscalizar depois do fato consumado, mas a de criar controles internos para que a fraude e a cor-rupção não possam sequer ser praticadas” (Stephen Kanitz, 1999)

Transparência: uma discussão gerencial? a ndando pela loja de departamentos, eis que vejo

um aparelho de leitura de saldo de cartões ava-riado, com uma visível plaqueta afixada, dizendo:

“Detectada a avaria desde XX/XX/XX”. Curiosa situação gerencial me fez refletir sobre a transparência, um valor propalado pelos noticiários recentemente, e de como esta pode nos ajudar, no contexto de melhoria da gestão, pública ou não, em uma contribuição gerencial, somada as questões políticas que se acercam da temática.

As discussões e práticas sobre transparência, ainda que tivessem a sua semente plantada no Art. 5° da Constituição Federal de 1988, tor-naram-se mais intensas no Brasil pelo amadurecimento demo-crático ao longo de todo o período de abertura, pós-governo militar, aliado a um crescente avanço tecnológico iniciado nesse mesmo período, o que permitiu que as distâncias se encur-tassem e que fosse possível, com um toque de mãos, acessar informações diversas sobre pessoas e organizações de todo o mundo, pela vulgarização da rede mundial de computa-dores, a Internet.

Nesse contexto, a ideia da transparência se robusteceu, como um direito e, ainda, uma necessidade de a infor-mação estar disponível, de forma proativa, para possibilitar o controle social do Estado pela população, dando um novo significado ao conceito de publicidade, na garantia do acesso às informações de forma global, não somente àquelas que os órgãos governamentais desejam apresentar.

Como marcos legais dessas mudanças, no campo da transparência, tem-se a inclusão de dispositivos na Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF em 2009, pela Lei Capi-beribe, que passou a indicar a transparência como um princípio, e, ainda, a positivar a exigência de publicação na internet dos orçamentos (receitas e despesas) dos

entes estatais, nas três esferas de poder. Pode-se enumerar ainda a recente Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527, de 2011, que traz como axioma que a publicidade é um preceito geral, enquanto o sigilo é a exceção, expan-dindo essa questão para outras áreas além da gestão orçamentária dos órgãos governamentais.

Mas, além de proporcionar um grande avanço na democratização da sociedade, na luta por direitos e na efetividade do controle social,

teria a transparência uma dimensão gerencial, aplicada a governos e a grandes conglomerados empresariais? Poderia a questão da democracia, do acesso à informação, dialogar com a eficácia e a eficiência, no prisma da gover-nança? Governança é uma palavra simples, muito usada, mas pouco percebemos o valor dessa para o sucesso e o equilíbrio das organizações, públicas e privadas.

O senso comum indica que a circulação irrestrita de informações pode comprometer as estratégias competi-tivas de uma organização, causar confusões no ambiente pelos boatos e interpretações errôneas provocadas pela disseminação de informações, às vezes absorvidas parcial-mente, em um conjunto de possibilidades que acarreta o

“ A TRANSPARêNCIA é UM PROCESSO INFORMATIVO, DE COMUNICAçãO, EM qUE UM EMISSOR PRODUZ INFORMAçõES FOCADAS EM UM OU MAIS RECEPTORES, COM UMA FINALIDADE”

38 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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medo da liberdade, que nos impede, por vezes, de ver os benefícios da circulação de grande parte da informação, em especial como ferramenta de auxílio à gestão. Na verdade, nessa sociedade tecnológica, a informação circula cada vez mais, queiramos ou não. Inexistem medidas de um aproveitamento melhor, na linha gerencial, desses fluxos informacionais, em especial os espontâneos.

As políticas públicas, bem como a gestão de unidades empresariais, ainda que pensada no plano abstrato, de gabinetes e escritórios, baseadas em pesquisas e premissas construídas, se materializam no mundo real, no cotidiano, próximo ou longe dos olhos da matriz. Redes se formam, de parceiros descentralizados, como filiais e municípios, que executam parcelas das ações pactuadas nas instâncias centralizadas, em um desenho de delegação, utilizando-se a conhecida teoria do principal-agente, na qual o agente executor das ações possui muito mais informações que o principal, que as delega de forma contratual, na chamada assimetria informacional.

A circulação de informações rompe a assimetria informacional, intra e extra organização, dissolvendo as “caixas-pretas” na gestão, varridas para baixo do tapete, que permitem a proliferação de vícios ocultos, de tendência crescente, que afetam, a médio prazo, a imagem da organi-zação, a sua produtividade e até a sua sobrevivência. Ainda que a onisciência seja impossível, o corpo dirigente precisa mapear pontos críticos de seus processos de trabalho, cen-tralizados ou não, e a transparência permite anexar atores a esse processo de circulação de informações.

Por seu turno, o cidadão ou o cliente destinatário das ações da organização necessita conhecer bem os requi-sitos dos serviços e produtos a serem oferecidos, para que este possa, no cotidiano, comparar o proposto (ou prometido) e o que realmente está chegando a suas mãos, encontrando veículos que permitam informar ao sistema as distorções. Afinal, a imagem da organização junto aos clientes é cons-truída nesse momento, de recebimento do produto, culminando um processo que se iniciou na publicidade.

Assim, vantagens, benefícios, especificações devem estar claras, pois ao beneficiário não se faz possível adivinhar o que lhe reserva. Da mesma forma, a criação de espaços próprios de conversa entre os clientes, inclusive os insatisfeitos, permite que a informação circule

e chegue a quem de direito, que tem interesse na mudança. Mas, é preciso perseguir, estimular e premiar a boa infor-mação, a informação útil, que tenha como requisitos a fidedignidade, a clareza e a possibilidade de contribuir para a melhoria contínua dos processos.

A transparência é um processo informativo, de comuni-cação, em que um emissor produz informações focadas em um ou mais receptores, com uma finalidade. Essas infor-mações podem provocar o receptor, para que o feedback contribua com a excelência da gestão, no famoso exemplo dos automóveis funcionais com um número de telefone e o “como estou dirigindo”, onde cada usuário das pistas contribui para que o motorista não aumente os custos com multas, seguros ou acidentes.

Ao principal, detentor do poder, interessa saber como atuam seus prepostos nas ações em parceria. Mas, essa informação, em contextos de execução descentralizada geograficamente, não é tão simples. Não basta apenas o SAC, o “0800”, o Ombudsman. É preciso que a informação disponibilizada induza à colaboração do público na res-posta mais valiosa para a gestão, refinando os retornos. E cada situação, com sua peculiaridade, permite que o gestor construa ferramentas para utilizar a transparência ao seu favor, articulando com outros mecanismos clássicos como a pesquisa de pós venda, por exemplo.

Por fim, vê-se que a ideia de transparência, nesse con-texto democrático e tecnológico, apresenta também uma

dimensão gerencial, de colaboração com a eficácia e a eficiência das ações,

dos governos e empresas, quando permite que o cliente

produza informações sobre os serviços prestados. Mas, para isso, a informação deve ser disponibilizada de uma maneira especial, focada nesse receptor, que pode se converter em um poderoso aliado da gestão,

se enxergado como tal. n

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 39

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EstaDos e municípios

Prefeito aplica choque de gestão e consegue bons resultados Ricardo Bocalon afirma que sua prioridade é cuidar bem das pessoas

Cassio Gusson

r icardo Bocalon, 30 anos, jovem professor de his-tória, licenciado, assumiu em

janeiro a prefeitura de Itupeva/SP,

com a missão de governar a cidade sob uma nova visão de gestão. Além do comando do município, o diri-gente recebeu a incumbência de chefiar o AUJ (Aglomerado Urbano de Jundiaí), órgão oficial que reúne

sete cidades, por meio de seus pre-feitos, cuja população total chega a 800 mil habitantes. Dentre essas localidades destaca-se a pre-sença de Jundiaí, que, sozinha, tem mais da metade dos moradores do

ITUPEVA/SP

Um dos maiores parques aquáticos do mundo atrai para a cidade milhares de visitantes

Aerovias/Azul

40 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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Aerovias/Azul

aglomerado, sendo também a prin-cipal economicamente.

Em Itupeva, vizinha de Jundiaí, o novo prefeito tem no seu gabinete um mapa de tudo o que terá de fazer nos próximos 45 meses, além das fotos da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo afirma, eles são fontes de inspiração para o gestor, militante aguerrido do PT, mas nunca radical.

Foi justamente por conta desse comportamento aberto que em pouco mais de três meses de gestão, Bocalon já conseguiu se firmar no cenário regional pelo que fez na cidade e fora dela. Além da disputa-díssima direção da AUJ, o prefeito de Itupeva tem se dado muito bem na relação com o governador Geraldo Alckmin que vem atendendo pleitos antigos do município, com poucas conversas e muita decisão.

Numa dessas ações, Alckmin garantiu à cidade a implantação de uma ETEC, antiga reivindicação para atender a falta de cursos profissiona-lizantes para os jovens locais. A nova escola revela outra característica de Bucalon: a ousadia. Para assinar o projeto de arquitetura da nova unidade ele foi buscar o renomado arquiteto Ruy Ohtake. Logo, a escola mesmo ainda não construída já virou uma proposta de ser referência para outras obras do gênero.

No resumo das ações do prefeito nos primeiros 100 dias estão lis-tadas obras de recuperação de vias públicas, assinaturas de convênios diversos, realização do Carnaval e Festa da Cidade e a aplicação de uma nova maneira de governar com as portas abertas para a população.

novas Moradias e reForMasNo período inicial da atual

gestão, a cidade completou 48 anos

de fundação e para marcar a data Ricardo Bucalon fez o anúncio da liberação para construção de 1.000 novas moradias populares autori-zadas pela presidenta Dilma Rousseff, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, com a intermediação do Banco do Brasil, que será o agente financeiro da obra.

Essa havia sido uma proposta feita na campanha que muitos duvidavam

que pudesse acontecer nos próximos quatro anos e muito menos em apenas 100 dias de gestão. Paralelamente ao anúncio das casas, a adminis-tração apresentou para a população a conquista de um novo centro de logística da Natura, gigante do ramo de beleza, que será construído numa área de 500.000 m², gerando cen-tenas de novos bons empregos. O faturamento desse projeto sozinho vai dobrar o PIB do município, pas-sando dos atuais R$ 3 bilhões para R$ 7 bilhões em 2019.

Poucos sabem, mas Itupeva é o principal roteiro turístico do país em quantidade de visitantes, por conta da existência de parques temáticos como o Wet´n Wild e o Hopi –Hari, na divisa com Vinhedo. Apesar disso, os moradores, até hoje, não tinham uma política adequada de lazer, esporte e entretenimento como as opções disponíveis para os turistas.

Ricardo Bocalon: jovem prefeito imprime novo ritmo à administração da cidade de itupeva

O FATURAMENTO DO PROJETO NATURA SOZINHO VAI DOBRAR O PIB DO MUNICíPIO, PASSANDO DOS ATUAIS R$ 3 BILHõES PARA R$ 7 BILHõES EM 2019

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 41

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estados e municípios

Por essa razão, Bocalon autorizou reformar a praça principal do muni-cípio, dotando-a de fonte luminosa e outros equipamentos para uso dos frequentadores. Desenvolveu, apoiou e realizou campeonatos diversos, passeios ciclísticos e vivências no parque beneficiando cerca de 40.000 participantes.

Um cinema sobre rodas está sendo preparado com patrocínio de empresas e moradores ilustres para levar a arte das telas aos bairros.

ações regionais A atuação de Bocalon tem se

concentrado em buscar uma unifor-mização no transporte público entre as cidades com a diminuição nos custos da tarifa e a introdução do bilhete único regional. O prefeito quer

também que equipamentos públicos, antes destinados apenas para Jundiaí, passem a ser da região. Um exemplo dessa reivindicação é o interesse de conseguir fazer funcionar o Hospital Regional para todos os municípios do AUJ. Na segurança pública a preocu-pação também é no sentido amplo da cobertura às necessidades gerais das cidades já que o crime não respeita fronteiras e precisa ser combatido e contido numa espécie de muro digital único em todos os municípios do aglomerado.

Bocalon, bom exemplo de atuação dos novos gestores pelo Brasil afora, sonha alto sem tirar os pés do chão. Na realidade do dia a dia vem promovendo reformas no único hospital da cidade, em parceria com empresas. Criou novas 750 vagas nas

creches e trabalha firme na implan-tação do Pronto Socorro Infantil com estrutura de primeiro mundo e até brinquedoteca para atender de ime-diato as carências que encontrou.

Em breve, deseja que os jovens de sua cidade não sejam mais con-tratados nas empresas que chegam como “auxiliares, mas nos melhores cargos disponíveis”. Para tanto diz, não esquecer um só minuto o que lhe disse Lula ainda durante a campanha, já imaginando sua vitória: “Faça tudo o que prometeu para a população, colocando tudo na pauta do governo, sem deixar nada para depois”.

Pelo jeito, esse conselho vem sendo seguido à risca, numa admi-nistração popular que escolheu como lema a frase: “ Nossa prioridade é cuidar bem das pessoas”. n

ITUPEVA/SP

Aerovias/Azul

Sinais de grandeza: imagem feita dentro de um jato da azul mostra o outlet Premium, resultado de investimentos nacionais e internacionais

42 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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governador agnelo Queiroz inaugura o segundo maior estádio do BrasilMais de seis mil pessoas trabalharam nas obras do novo Mané Garrincha

Ana Seidl

a presidenta Dilma Rousseff e o governador Agnelo Queiroz, inauguraram, em 18 de

maio, o Estádio Nacional Mané Gar-rincha, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. O quinto estádio a

ser entregue dos seis que receberão os jogos da Copa das Confederações, com abertura no dia 15 de junho, foi inaugurado a pouco menos de um mês do início dos jogos, com 97% das obras concluídas. O estádio olímpico para 71.400 pessoas integra o com-plexo esportivo Médici, no centro

da capital, que inclui ginásio e autó-dromo. O segundo maior estádio do Brasil custou R$ 1,2 bi, só perde para o Maracanã no Rio de Janeiro. A Terracap, imobiliária estatal cuja sociedade é 51% do governo do DF e 49% da União, custeou a obra por meio da venda de terrenos.

GOVERNO / EVENTOS

agEnDa BRaSÍLIa

Cerimônia de inauguração do estádio: a presidenta dilma rousseff dá o pontapé inicial

Valter Campanato/ABr

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 43

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AGENDA BRASÍLIAGOVERNO / EVENTOS

Dilma Rousseff deu o pontapé inicial no gramado, acompanhada pelo governador Agnelo Queiroz e três crianças. Depois, posou para fotos com um grupo de operários.

Dilma lembrou que há um ano e meio disseram que os estádios não ficariam prontos. “O que estamos vendo são estádios construídos e sendo entregues. Isso é uma demonstração da capacidade de nós brasileiros”, afirmou a presidenta.

O governador Agnelo Queiroz disse que como brasiliense de coração estava orgulhoso com o fato de Brasília ter posição de destaque na organização do evento. “Somos uma das sedes da Copa com o número máximo de jogos, sete. Neste estádio vai ocorrer a abertura da Copa das Confederações, um orgulho para todos nós”, destacou.

Para Agnelo, a realização da Copa “é um marco de um Brasil que deixou de ser apenas promessa para ser rea-lidade”. O governador agradeceu os operários pelo trabalho e prometeu absorvê-los em obras do entorno da arena e de mobilidade urbana,

que faltam ser concluídas. “Mais de 50 anos depois, milhares de ope-rários, de vários cantos do Brasil, voltaram a se encontrar aqui, no Pla-nalto Central, para tornar possível a realização de um sonho”, destacou o governador. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse que Brasília entregou o mais belo estádio para a Copa das Confederações e Copa de 2014. O governador do Ceará, Cid Gomes, disse que veio a Brasília, em retribuição à presença de Agnelo Queiroz na inauguração do Castelão em Fortaleza.

caMPeonaTo candangoA decisão do campeonato can-

dango entre Brasília e Brasiliense marcou a inauguração do Mané Gar-rincha. Com a vitória do Brasiliense por 3X0, o Jacaré deixou seu nome marcado na história do estádio. A primeira partida do estádio foi dis-putada para um público de 22 mil pessoas, entre eles os trabalhadores que participaram das obras, o que representa um terço da capacidade, para 71 mil espectadores.

Quem conseguiu lugar, com-prando ingresso ou como convidado, aprovou o novo estádio. Quem ficou do lado de fora reclamou da limitação dos ingressos. Os operários e demais convidados para assistir a partida ocuparam a ala inferior do estádio. O jogo também serviu de teste para os funcionários que vão trabalhar na Copa das Confederações e na Copa do Mundo, especialmente os poli-ciais que farão a segurança dentro e no entorno do estádio.

reForMaA reforma da arena começou

em 2010, incluindo a demolição da antiga estrutura. São mais de 218 mil metros quadrados de área

O governador Agnelo Queiroz e Dilma Rousseff posam para fotos com um grupo de operários

Valte

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“ SOMOS UMA DAS SEDES DA COPA COM O NúMERO MÁXIMO DE JOGOS, SETE. NESTE ESTÁDIO VAI OCORRER A ABERTURA DA COPA DAS CONFEDERAçõES, UM ORGULHO PARA TODOS NóS”Agnelo Queiroz, governador do distrito Federal

44 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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construída. O novo Mané Garrincha foi idealizado a partir de um con-ceito arquitetônico visto em vários monumentos da capital federal, que é característica marcante do arquiteto Oscar Niemeyer: a criação de um ambiente de colunas que precede a obra interna. No Estádio Nacional de Brasília Mané Gar-rincha, esse conceito serviu de inspiração para os 288 pilares que ficam dispostos ao redor do edifício, formando a área de convivência e de acesso do público.

eLza soares e roMárioAntes da partida, o Hino Nacional

foi interpretado com muita emoção pela cantora Elza Soares, viúva de Garrincha, numa cadeira de rodas. Romarinho levou o pai Romário ao choro, ao receber um cruzamento e marcar o terceiro gol do Brasiliense. Poucos minutos antes do jogo acabar, os torcedores em comemoração inva-diram o campo. n

hISTóRIAInaugurado em

1974, o estádio pos-suía capacidade total para 45.200 pessoas. O velho estádio foi pri-meiramente implodido para que se erguesse o novo. As bombas foram insuficientes, e ele acabou demolido a marretadas. Após a reforma de 2010-2013, sua capacidade foi aumentada para 71.400 pessoas. O estádio pertence ao Departamento de Esportes, Educação Física e Recreação do Distrito Federal. O nome é uma homenagem ao ídolo brasileiro Mané Garrincha, bi campeão mundial nas Copas de 1958 e 1962. São 8.420 vagas de estacionamento, 22 elevadores, 50 rampas e 12 vestiários.

Inicialmente prevista para 31 de dezembro de 2012 e posteriormente 21 de abril de 2013, a inauguração do novo estádio foi remarcada para o dia 18 de maio de 2013. Cerca de 6.000 pessoas trabalharam na obra. Empregaram-se 177.000 metros cúbicos de concreto. Mais do que nas Petronas Towers, as torres gêmeas de Kuala Lumpur, na Indonésia, um dos prédios mais altos do mundo. A cobertura conta com 9.100 placas para captar energia solar, gerando 2,4 mega-watts de energia, suficientes para abastecer o estádio e mais duas mil casas.

Após a cerimônia de inauguração, público assiste partida entre os times Brasília e Brasiliense

Fabio Pozzebom/ABr

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 45

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AGENDA BRASÍLIAGOVERNO / SAúDE

dF ganha novo centro de atendimento a crianças e jovens dependentes de drogas e álcoolUnidade móvel vai monitorar as áreas de tráfico de crack

Ana Seidl

o governador do DF, Agnelo Queiroz, inaugurou no dia 24 de maio, o Centro de Atenção

Psicossocial Álcool e Drogas Infanto Juvenil de Taguatinga (CAPS-ADi III). Na ocasião, com a presença da ministra da Casa Civil da Presidência

da República, Gleisi Hoffman, o Ministério da Justiça entregou ao GDF a primeira base móvel do Pro-grama Crack, É Possível Vencer. O novo centro conta com a respectiva unidade de acolhimento. O investi-mento local foi de R$ 1,18 milhão.

A base móvel, primeira de três previstas, é um ônibus equipado

com 20 câmeras e computadores para ações de observação e investi-gação de áreas de tráfico no DF. A entrega é o resultado de uma par-ceria entre o governo federal e o GDF. As ações integram a política de enfrentamento ao crack e outras drogas pelo Executivo local, por meio do Comitê de Enfrentamento

Governador Agnelo Queiroz inaugura o Centro de Atenção psicossocial Álcool e Drogas infanto Juvenil

Renato Araújo/SES

46 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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ao Crack e Outras Drogas, criado em 2011.

“Nossa política (de combate às drogas) ficou fortalecida com esses novos espaços, e somente com uma colaboração integrada poderemos resolver esse problema”, destacou o governador Agnelo Queiroz. A ministra ressaltou a importância da união dos estados e governo federal no projeto: “Mais do que um pro-grama, temos um verdadeiro pacto entre governos e população, que tornará essa política pública (de enfrentamento às dependências de tóxicos e bebidas) constante e duradoura.”

O CAPS-ADi III e a unidade de acolhimento vão funcionar na QNF, Área Especial 24, em Taguatinga Norte. O centro atenderá crianças e adolescentes residentes em Águas Claras, Brazlândia, Ceilândia, Gama, Santa Maria, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires. As demais cidades serão aten-didas pelo CAPS ADi III de Brasília.

núMeros Segundo o Comitê de Enfren-

tamento ao Crack e Outras Drogas, coordenado pela Secretaria de Justiça, Direitos e Cidadania do Dis-trito Federal (Sejus), de setembro de 2011 a março de 2013, houve cresci-mento de 48% no número de pessoas acolhidas. O número de atendi-mentos individuais aumentou 30% e as intervenções terapêuticas grupais tiveram um acréscimo de 21% . Além disso, 133.368 atendimentos foram realizados nos sete CAPS-AD (álcool e droga), sendo 44.880 voltados para adolescentes.

Foram abertas 250 vagas em comunidades terapêuticas. Também foram realizadas 1.373 palestras para 229.903 ouvintes, entre pais, alunos

e professores da rede de ensino do Distrito Federal durante o mesmo período. No DF, também foram rea-lizadas 180 apresentações de peças teatrais com tema de prevenção e combate ao crack para 21.343 alunos da rede pública. Nos últimos dois anos, o atendimento a usuários em todo o DF aumentou em 77%.

Unidade de acoLhiMenTo A nova unidade de acolhimento

conta com dez leitos para assis-tência a pessoas usuárias de crack, álcool e outras drogas. O objetivo é garantir o acolhimento voluntário para pessoas em situação de vul-nerabilidade social e familiar e que demandem acompanhamento tera-pêutico e proteção. A intenção é que o paciente permaneça até seis meses em tratamento, período em que deve ser reintegrado à sociedade, parti-cipar de cursos de aperfeiçoamento e voltar a estudar. A unidade de aco-lhimento conta com quatro técnicos de enfermagem por turno, assis-tentes sociais e enfermeiros. Outras unidades serão construídas em Cei-lândia, e nas Asas Norte e Sul.

De acordo com o secretário de Saúde do DF, Rafael Barbosa, o aten-dimento nos Centros de Atenção Psicossocial especializado é espon-tâneo por parte dos usuários. “Um dos focos do tratamento será a reconstrução da instituição família.

Renato Araújo/SES

Solenidade contou com a presença da ministra da Casa Civil da presidência da República, Gleisi Hoffman

“ NOSSA POLíTICA (DE COMBATE àS DROGAS) FICOU FORTALECIDA COM ESSES NOVOS ESPAçOS, E SOMENTE COM UMA COLABORAçãO INTEGRADA PODEREMOS RESOLVER ESSE PROBLEMA”Agnelo Queiroz, governador do distrito Federal

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 47

Page 48: Revista gestão pública  65---

AGENDA BRASÍLIA

O acolhido também receberá noções de auto-higiene, organização e divisão de tarefas. O atendimento funcionará 24 horas por dia, como serviço aberto (independente de encaminhamento). A permanência do paciente que tenha indicação de desintoxicação leve será de até 14 dias”, explica o secretário.

Segundo Barbosa, a política pública de combate às drogas envolve, “articulação entre a União, estados, Distrito Federal e municípios, além da participação da sociedade civil. A iniciativa tem o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários de drogas, enfrentar o tráfico e as organizações criminosas e ampliar atividades de prevenção. As ações estão estru-turadas em três eixos: Cuidado, Autoridade e Prevenção”.

PoPULação eM siTUação de rUaEm abril deste ano, o gover-

nador Agnelo Queiroz assinou termo de adesão à Política Nacional para

População em Situação de Rua. O GDF instalou o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitora-mento da Política para Inclusão de Pessoas em Situação de Rua, formado por 12 integrantes da sociedade civil e 12 representantes do Exe-cutivo local. Com a adesão, o DF é a primeira unidade da federação a se comprometer com esta política. Os objetivos são assegurar o acesso aos serviços da assistência social, segurança alimentar, saúde, edu-cação, habitação, segurança, cultura, esporte e lazer, defensoria pública,

trabalho e geração de renda e outras ações garantidoras de direitos.

O governador Agnelo Queiroz também inaugurou, em 24 de maio em Taguatinga, mais um Centro Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP). O Centro POP de Taguatinga faz parte do plano DF Sem Miséria e da política do governo do Distrito Federal para população em situação de rua, integrante do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

No 2º Centro desse porte no Dis-trito Federal serão oferecidos serviços voltados para pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e sobrevivência: local para guarda de pertences, de higiene pessoal e lavagem de roupas. Localizado na QNF AE 24 de Taguatinga, tem como objetivo ampliar o atendimento assistencial, oferecer atividades educativas voltadas para o fortaleci-mento comunitário e a sociabilidade, além de possibilitar novas perspec-tivas de vida a estas pessoas. n

A nova unidade conta com dez leitos para assistência às pessoas usuárias de crack, álcool e outras drogas

GOVERNO / SAúDE

Renato Araújo/SES

O DF é A PRIMEIRA UNIDADE DA FEDERAçãO A SE COMPROMETER COM A POLíTICA NACIONAL PARA POPULAçãO EM SITUAçãO DE RUA

48 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

Page 49: Revista gestão pública  65---

luiZ carloS BorgeS da SilveiraFoi Ministro da Saúde de l987 a 1989, e deputado federal pelo Estado do Paraná por três legislaturas. Atualmente é Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego de Palmas (TO)

artigo

Palmas: avanços e perspectivasa o completar 24 anos no próximo dia 20 de maio,

Palmas, a capital do Estado Tocantins abre o mais amplo leque de oportunidades a todos quantos

queiram buscar espaços no mercado de trabalho; na área de vendas ou no segmento de prestação de serviços. Indus-triais e empreendedores individuais, pequenos, médios ou grandes comerciantes considerados iniciantes ou con-solidados nos segmentos de atacado e varejo podem vislumbrar boas perspectivas de negócios.

Os indicadores socioeconômicos apontam favoravel-mente para esta região privilegiada, que pela sua geografia, densidade demográfica crescente e abundância de recursos naturais em grande parte ainda inexplorados, não deixam dúvidas de que um novo “Eldorado” está sendo descoberto pelos brasileiros.

Banhada pelas águas do rio Tocantins que margeiam toda a parte oeste da zona urbana através do grande lago da Represa de Lajeado – 8 km de largura transpostos por meio da ponte Presidente Fernando Henrique Cardoso -, Palmas está localizada no Centro Geodésico do Brasil. A estimativa é que, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população da capital tenha atingido no ano passado 235.316 habitantes, um número 3,05% maior que os dados mostrados pelo Censo 2010, que era de 228.332 moradores. Essa taxa de avanço é maior que a média nacional, que é de 0,85%.

A economia da cidade, que já foi baseada principal-mente no setor público, tem mudado nos últimos anos e refletido diretamente no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB 2000 a 2011), de 9,4%, enquanto que a média no Brasil no mesmo período foi de 3,6%. Além destes números, os investidores podem conferir outras vantagens:

A Ferrovia Norte Sul, considerada por especialistas em transportes como a futura espinha dorsal do desen-volvimento sustentável brasileiro, já opera no trecho Palmas-TO – Açailândia no Maranhão, seguindo ainda até Itaqui naquele estado. Outros dois ramais que serão conec-tados a Norte Sul estão em projetos: um ligando ao Mato Grosso, outro à Bahia. Some-se a este vetor desenvolvi-mentista, o projeto de construção do terminal de cargas

no aeroporto local e os estudos em avançado estágio para aproveitamento das potencialidades do transporte pluvial com o auxílio de eclusas.

A BR-153, que corta o Estado de Norte a Sul numa extensão de mais de 800 km experimenta a cada dia um vertiginoso movimento, principalmente de caminhões. Existem planos para sua duplicação, sendo que em vários trechos urbanos este benefício já chegou.

O transporte multimodal tocantinense como fato a ser consolidado num futuro não muito distante pode ser considerado um detalhe a mais no conjunto das ações polí-ticas que estão sendo implementadas pelo prefeito Carlos Henrique Franco Amastha, empresário de sucesso no seg-mento de shopping centers e neófito no ramo político.

Focada no fomento à fixação de indústrias e empreen-dimentos que possam atender a crescente demanda dos consumidores ávidos por produtos, serviços e preços com-petitivos, a Prefeitura Municipal de Palmas está ultimando adequações que são relacionadas às Leis de incentivo, bem como a disponibilização da infraestrutura pública neces-sária à atração dos interessados em se estabelecerem comercialmente na jovem capital tocantinense. n

A cidade de palmas completa 24 anos com bons indicadores econômicos e várias oportunidades

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 49

Page 50: Revista gestão pública  65---

sistEmas e inovação

E-GOV

Brasil é referência em soluções inovadoras de governo eletrônico

o Brasil foi um dos quatro países escolhidos pela Organização das Nações

Unidas (ONU) para apresentar soluções inovadoras de Governo Eletrônico (e-GOV). O governo brasileiro foi representado

Política de Dados Abertos do país é apresentada em conferência internacional

50 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

Page 51: Revista gestão pública  65---

no encontro “Leading the Way in e-Government Development” pela secretária adjunta de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento (MP), Nazaré Bretas, que apresentou, em 30 de maio, a Política Brasileira de Dados Abertos. A conferência reúne diversos países em Helsinki, na Finlândia, para compartilhar e desenvolver ações na área e também debater o futuro do e-GOV em um âmbito global.

De acordo com Bretas, a Política Brasileira de Dados Abertos tem como objetivos fundamentais a promoção da transparência, o enga-jamento na participação social e o desenvolvimento de novos e melhores serviços governamentais. A principal ação dessa política é o Portal Brasileiro de Dados Abertos (dados.gov.br). O sítio brasileiro foi apresentado no evento da ONU porque seu processo aberto e cola-borativo de construção é referência mundial.

“Os serviços de e-GOV serão ampliados e melhorados com aplica-tivos desenvolvidos pela sociedade a partir de dados abertos, como a Escola que Queremos”, exemplifica Bretas. Esta solução educacional foi criada em um evento que reuniu hackers e programadores para tornar os dados educacionais mais acessíveis para a sociedade. É um exemplo de como os dados abertos podem ser utilizados, cruzados e compartilhados livremente por qualquer pessoa.

Além de aplicativos educacionais, estão disponíveis em formato aberto no portal dados sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), das Transferências Voluntárias da União e dos fornecedores do governo federal.

indaA secretária adjunta também

apresentou no evento da ONU como a utilização da Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (INDA)

é uma forma do Brasil atender ao estabelecido em seu plano de ação na Parceria para Governo Aberto (Open Government Partnership – OGP). Fazem parte desta ini-ciativa internacional 56 nações e seu objetivo é difundir e incentivar glo-balmente práticas governamentais relacionadas à transparência dos governos, acesso à informação pública e participação social.

“A utilização da metodologia contribui para avançarmos em nosso plano na OGP, pois aumenta a troca de informações entre os sistemas do governo federal e simplifica o acesso para a sociedade”, disse Bretas.

Além do governo brasileiro, representantes da Índia, Coréia do Sul e do próprio país sede também apresentaram suas inovações no encontro.

Fonte: Ascom/Ministério do Planejamento

Nazaré Bretas: Política de dados abertos promove a transparência e o engajamento na participação social

Césa

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bosa

“ OS SERVIçOS DE E-GOV SERãO AMPLIADOS E MELHORADOS COM APLICATIVOS DESENVOLVIDOS PELA SOCIEDADE A PARTIR DE DADOS ABERTOS, COMO A ESCOLA qUE qUEREMOS”Nazaré Bretas, MP

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 51

Page 52: Revista gestão pública  65---

por antÔnio tEiXEira LEitEadMinisTração PúBLica eM desTaQUe

n APESAR DA CRISE, BRASIL OSTENTA ÍNDICES DE CRESCIMENTO NO AGRONEGóCIO DE FAzER INVEJA AOS ChINESES

Pelo menos um setor da economia tem mostrado, ano após ano, um crescimento de dar inveja aos chineses: o agro-negócio. O IBGE prevê que a colheita desse ano deve chegar a 185 milhões de toneladas, superando em 14% a safra do ano anterior, que atingira um recorde de produção de 162 milhões de toneladas. A projeção para a safra de soja é de 81 milhões de toneladas enquanto que a de milho alcançará 77,8 milhões de toneladas. Para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a projeção para a nossa safra de soja é ainda maior, chegando aos 85 milhões de toneladas.

n IPCA DE ABRIL FICA ACIMA DO ESPERADO, MAS DENTRO DA META

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , o Índice Nacional de Preços ao Consumidor amplo (IPCA) subiu 0,55 % em abril, após alta de 0,47 % em março. Em 12 meses, o indicador ficou em 6,49 %, ante 6,59 % de março, abaixo do teto de meta de 6,5 %. Diante desses números, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que o Banco Central está vigilante e que fará o necessário para reduzir a inflação, e, com isso, aumentar a confiança na eco-nomia brasileira.

n APóS VITóRIA NA OMC, BRASIL AGORA MIRA EM ELEGER REPRESENTANTE NA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS hUMANOS

Passada a eleição para diretor-geral na OMC, o governo Dilma tem um novo desafio. Trata-se do ex-ministro Paulo Vannuchi, que participará da eleição para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). O ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos concorre a uma das três vagas da Comissão Interamericana para o período de 2014 a 2017. A eleição ocorrerá na Guatemala, de 3 a 6 de junho.

n CóDIGO FLORESTAL COMPLETA UM ANO Foram precisos muitos

atritos, polêmicas, dis-cussões, mobilizações de políticos, ambientalistas e ruralistas, e uma tensa batalha no Executivo e Legislativo para se chegar à aprovação do Código Florestal. Mas agora em maio esta lei completará um ano, já meio no esque-cimento e pouco, muito pouco, falada. Até agora, nenhum estado aprovou os Planos de Regulari-zação Ambiental e o governo não regulamentou os incentivos econômicos para quem não desmatou.

52 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

Parque da cidade

ESTACIONAMENTO

rodoviária do plano piloto

RodoferroviáriaRODOVIária interestadual

AEROPORTO

Metrô

SETOR de hotéise turismo norte

SETOR de hotéise turismo norte

SETOR Hoteleiro NorteSETOR de rádio e tv norte

SETOR comercial norte

SETOR Hoteleiro SULSETOR de rádio e tv SUL

SETOR comercial SUL

ASA SUL

ASA NORTE

13

ACESSO RESTRITO

a veículos credenciados

ÁREAS DE ESTACIONAMENTO

As três primeirAs ÁREAS terão linhas diretas de ônibus para o Estádio.

O estacionamento do estádio estará fechado. Serão reservadas vagas seguras para os torcedores em 7 áreas nas proximidades.

Parque da cidade • Plataforma superior da rodoviária do plano piloto • Rodoferroviária • Setor comercial norte • Setor de rádio e TV sul • Setor de rádio e TV norte • Setor comercial sul

GuiaD O T O R C E D O R

tudo que você precisa saber para fazer bonito nos dias de jogo

ENCONTRE SEU ASSENTO

procure o orientador mais próximo para auxiliá-lo a encontrar seu assento. Não é permitido mudar de lugar durante o jogo. para não atrapalhar a visão de quem está atrás de você, Assista ao jogo sentado.

Mais de 2 mil câmeras no estádio. evite brigas e confusões. jamais invada o campo.

Segurança

Serviços:

Boa parte do comércio estará aberta nos dias de jogo.

• Antes de sair de casa, planeje a melhor forma de ir e voltar do estádio.• Para garantir a segurança de todos, serão realizadas 3 barreiras de revista.• Chegue com antecedência ao estádio. os portões estarão abertos 2h antes do início das partidas.

Em dias de jogo, o trânsito de carros estará bloqueado nas proximidades do estádio. Por isso, prefira usar o transporte público. Os ônibus terão itinerários especiais, e o metrô funcionará em horários diferenciados. Consulte os horários com antecedência.

Transporte

Deixe o carro em casa. Utilize o transporte público e aproveite para fazer um passeio A pé com a família e os amigos, É mais saudável, e você ainda ajuda a melhorar o trânsito. Todos os principais pontos estão localizados num raio máximo de 3km, incluindo o Estádio Nacional de Brasília, a rodoviária, os principais pontos turísticos, hotéis, shoppings e bares da cidade.

Copa a pé

Chegando junto

Setor Hoteleiro Norte Setor Hoteleiro Sul

Setor de Hotéis e Turismo Norte

Rodoviária do Plano PilotoRodoferroviária

Circular Parque da Cidade

Aeroporto

Rodoviária do Plano Piloto

ITINERÁRIOS ESPECIAIS DE ÔNIBUS

108.5/108.6

0.104/104.2

Estádio Nacional

0.113/113.1

MAIS INFORMAÇÕES

Acesse o guia completo: www.gdfdiaadia.df.gov.br

i

An-Guia do torcedor_210x280.pdf 1 5/16/13 11:34 AM

Page 53: Revista gestão pública  65---

Parque da cidade

ESTACIONAMENTO

rodoviária do plano piloto

RodoferroviáriaRODOVIária interestadual

AEROPORTO

Metrô

SETOR de hotéise turismo norte

SETOR de hotéise turismo norte

SETOR Hoteleiro NorteSETOR de rádio e tv norte

SETOR comercial norte

SETOR Hoteleiro SULSETOR de rádio e tv SUL

SETOR comercial SUL

ASA SUL

ASA NORTE

13

ACESSO RESTRITO

a veículos credenciados

ÁREAS DE ESTACIONAMENTO

As três primeirAs ÁREAS terão linhas diretas de ônibus para o Estádio.

O estacionamento do estádio estará fechado. Serão reservadas vagas seguras para os torcedores em 7 áreas nas proximidades.

Parque da cidade • Plataforma superior da rodoviária do plano piloto • Rodoferroviária • Setor comercial norte • Setor de rádio e TV sul • Setor de rádio e TV norte • Setor comercial sul

GuiaD O T O R C E D O R

tudo que você precisa saber para fazer bonito nos dias de jogo

ENCONTRE SEU ASSENTO

procure o orientador mais próximo para auxiliá-lo a encontrar seu assento. Não é permitido mudar de lugar durante o jogo. para não atrapalhar a visão de quem está atrás de você, Assista ao jogo sentado.

Mais de 2 mil câmeras no estádio. evite brigas e confusões. jamais invada o campo.

Segurança

Serviços:

Boa parte do comércio estará aberta nos dias de jogo.

• Antes de sair de casa, planeje a melhor forma de ir e voltar do estádio.• Para garantir a segurança de todos, serão realizadas 3 barreiras de revista.• Chegue com antecedência ao estádio. os portões estarão abertos 2h antes do início das partidas.

Em dias de jogo, o trânsito de carros estará bloqueado nas proximidades do estádio. Por isso, prefira usar o transporte público. Os ônibus terão itinerários especiais, e o metrô funcionará em horários diferenciados. Consulte os horários com antecedência.

Transporte

Deixe o carro em casa. Utilize o transporte público e aproveite para fazer um passeio A pé com a família e os amigos, É mais saudável, e você ainda ajuda a melhorar o trânsito. Todos os principais pontos estão localizados num raio máximo de 3 km, incluindo o Estádio Nacional de Brasília, a rodoviária, os principais pontos turísticos, hotéis, shoppings e bares da cidade.

Copa a pé

Chegando junto

Setor Hoteleiro Norte Setor Hoteleiro Sul

Setor de Hotéis e Turismo Norte

Rodoviária do Plano PilotoRodoferroviária

Circular Parque da Cidade

Aeroporto

Rodoviária do Plano Piloto

ITINERÁRIOS ESPECIAIS DE ÔNIBUS

108.5/108.6

0.104/104.2

Estádio Nacional

0.113/113.1

MAIS INFORMAÇÕES

Acesse o guia completo: www.gdfdiaadia.df.gov.br

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An-Guia do torcedor_210x280.pdf 1 5/16/13 11:34 AM

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sTF conclui julgamento do mensalão em agosto Advogados querem alterar penas dos réus

menezes y morais

o ministro Joaquim Barbosa não fixou prazo, em audiência com advogados de defesa dos

25 réus da Ação Popular 470, mais

conhecida como “mensalão”, para o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgar os 26 embargos declaratórios dos condenados, impe-trados na primeira quinzena de maio. Mas esses embargos serão julgados

em julho, antes do recesso do Poder Judiciário. E a AP 470 poderá entrar em pauta de julgamento final em agosto. Barbosa, relator do mensalão, queria concluir o processo em 1º de julho.

AçãO PENAL 470

Nel

son

Jr/ST

F

plenário do Supremo tribunal Federal: palco do julgamento histórico da ação Penal 470

54 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

JuDiciário

Page 55: Revista gestão pública  65---

Após o julgamento final, os réus cumprirão suas penas. O mensalão, como ficou conhecido, foi denun-ciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson, presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), aliado do Partido dos Traba-lhadores (PT). A denúncia derrubou o ministro José Dirceu da Casa Civil. Jefferson revelou um esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio no Congresso durante o primeiro mandato do ex--presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em função das denúncias, ele e o

então deputado José Dirceu (PT-SP) tiveram os mandatos cassados.

Dos 37 réus citados no pro-cesso, 25 foram condenados, dentre eles o publicitário Marcos Valério, o ex-ministro José Dirceu, e o ex--tesoureiro do PT Delúbio Soares, além dos deputados José Genoíno (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).

Em dezembro do ano passado, o STF decidiu que os parlamentares envolvidos no mensalão deveriam perder seus mandatos quando o pro-cesso fosse encerrado. Isto só ocorrerá após o julgamento dos embargos declaratórios. E os réus serão presos. O ministro Barbosa, que é também presidente do STF, recebeu, no final de maio, em audiência, o criminalista Márcio Thomaz Bastos, advogado do banqueiro José Roberto Salgado e ex-ministro da Justiça do governo Lula. Bastos também foi recebido em audiência pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, mas não recebeu informação de quando os recursos serão julgados pelo ple-nário do STF. Nas audiências, Bastos defendeu a possibilidade de os recursos modificarem sentenças que o STF aplicou aos 25 réus.

regiMe aBerTo Além dos advogados dos demais

envolvidos no mensalão, os defensores dos repre-sentantes do Partido dos Trabalhadores agem em

conjunto para transformar as penas de seus clientes de regime fechado em aberto. Os advogados dos réus da AP 470 argumentam nos embargos que existem “erros de data, méritos dis-tintos para crimes semelhantes e até falhas lógicas” no acórdão divulgado dia 22 pelo STF. Por esta razão eles querem alterar a penalidade imposta aos seus clientes.

Originalmente o embargo decla-ratório é destinado a esclarecer omissões ou contradições no jul-gamento. No caso do mensalão, os advogados de defesa dos réus uti-lizaram o expediente jurídico para tentar alterar as condenações.

Por exemplo. Os advogados de defesa do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do deputado federal José Genoíno (PT), ex-presi-dente do partido, querem transformar a pena de prisão em regime fechado para regime semiaberto.

O STF DECIDIU qUE OS PARLAMENTARES ENVOLVIDOS NO MENSALãO DEVERIAM PERDER SEUS MANDATOS qUANDO O PROCESSO FOSSE ENCERRADO

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 55

Page 56: Revista gestão pública  65---

AçãO PENAL 470

Desses três petistas, Dirceu e Delúbio foram condenados a cumprir pena em regime fechado. Genoíno, em semiaberto. Os advo-gados dos petistas consideram as penas equivocadas. Afirmam que o acórdão contém falhas “gritantes”. Citam a análise feita pelos ministros do STF do crime de corrupção ativa. As defesas de Genoíno, Delúbio e Dirceu argumentam que as penas aplicadas para esse tipo de crime foram estipuladas por lei existente à época em que ocorreram os fatos dos que geraram o escândalo do men-salão. Trata-se da lei 10.763/03, que em novembro de 2003 agravou a pena pelo crime de corrupção ativa. Antes, o tempo de prisão variava de um a oito anos. Mas com advento dessa lei, a pena passou para entre dois e doze anos. A denúncia do mensalão retrata fatos anteriores a novembro de 2003, segundo as defesas do núcleo do PT.

direiTos PoLíTicos O STF, entretanto, determinou

as condenações com base na nova lei, dizem os advogados dos repre-sentantes do PT. Eles alegam que Genoíno, Dirceu e Delúbio deveriam ser condenados pela pena mais branda e não pela mais grave. Todos os condenados na Ação Penal 470 tiveram suspensos os direitos polí-ticos, nos termos do artigo 15, inciso III da Constituição Federal, sendo tal decisão proferida pelo Supremo Tri-bunal Federal de forma unânime.

Os deputados federais João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry (PP-MT) tiveram penas que variam de 7 a 9 anos. Cunha foi con-denado a 9 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Costa Neto (PR-SP), a 7 anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de

dinheiro e Pedro Henry (PP-MT), a 7 anos e 2 meses.

Segundo a denúncia do Procu-rador Geral da República, Roberto Gurgel, o esquema consistia em uma “sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para

a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude”.

Utilizando a frase do pacifista norte-americano Martin Luther King, Gurgel afirmou:

“O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos cor-ruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”.

O acórdão do STF da AP 470, que virou leitura mais que obrigatória dos advogados de defesa dos réus, reúne as decisões, os votos e os debates dos ministros durante o julgamento.

Dia 19/4 o STF divulgou um resumo com as principais decisões que ocupou 16 páginas do Diário da Justiça Eletrônico. O teor com-pleto foi divulgado dia 22 de abril. A decretação das prisões dos 25 réus só poderá ser anunciada após o julgamento dos recursos dos seus advogados. n

márcio thomaz Bastos defende recursos que modificam as penas dos réus

Wilson Dias/ABr

“ O qUE MAIS ME PREOCUPA NãO é O GRITO DOS VIOLENTOS, NEM DOS CORRUPTOS, NEM DOS DESONESTOS, NEM DOS SEM éTICA. O qUE MAIS ME PREOCUPA é O SILêNCIO DOS BONS”Martin Luther King

56 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

Judiciário

Page 57: Revista gestão pública  65---

antonio teixeira leite Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. é professor universitário e advogado especializado em Direito Público, em Direito Previdenciário e MBA em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Instituto Brasiliense de Direito Público.

DirEito constitucionaL E aDministrativo

a constitucionalidade da adesão do Brasil ao Tribunal Penal internacional a ntecedentes – Com o fim da Segunda Guerra

Mundial, o mundo ficou conhecendo os hor-rores do genocídio, os crimes de guerra e contra

a humanidade praticados ao longo do conflito. Como resposta, foram montados os tribunais de Nuremberg, em 1945, e de Tóquio, em 1946, para julgar e punir os responsáveis pelas graves violações verificadas durante a guerra. Como solução para evitar novos conflitos e novas violações aos direitos humanos, foi criada a Orga-nização das Nações Unidas. No entanto, contrariando as expectativas, as lições do passado não foram aprendidas e estas atrocidades continuaram a se fazer presentes na sociedade internacional. Os conflitos armados ocorriam com frequência em todos os continentes, e, mais grave, a população civil continuava a ser vítima de atrocidades que terminavam em impunidade. Foi o verificado na península balcânica da Europa, na década de 90, com o fim do comunismo.

Os estados que integravam a então Iugoslávia resol-veram se separar, dando início a uma violenta guerra e ao cometimento de graves genocídios, como a “limpeza étnica” ocorrida em Srebenica, na Bósnia, onde foram sumariamente assassinados mais de 8 mil bósnios muçulmanos pelos sérvios ortodoxos. A sociedade internacional, representada na Organização das Nações Unidas, chegou a conclusão de que era necessário con-cretizar uma ideia antiga: a estruturação de um tribunal penal independente e permanente, não subordinado a países ou organizações, dotado de atuação no âmbito global, com a finalidade específica de levar a julgamento

e punir os responsáveis, independentemente do cargo que estes ocupam, atingindo até mesmo a presidentes, monarcas e altos chefes militares, autoridades que, em regra, ficavam impunes em seus países.

De 15 a 17 de julho de 1998, reunidos na Conferência de Roma, 120 estados integrantes das Nações Unidas aprovaram a criação de um Tribunal Penal Internacional. Houve também 21 abstenções e apenas sete votos con-trários, que vieram dos Estados Unidos (que também firmou acordo com outros países, fixando que estes não entregarão cidadãos americanos ao TPI), China, Iêmen, Iraque, Israel, Líbia e Quatar. Previa o tratado de criação que o início do funcionamento do tribunal ocorreria quando se chegasse a um número total de 60 países que o tivessem ratificado, e, portanto, que se submetessem à jurisdição do TPI. O tribunal somente começou a funcionar em 01 de julho de 2002, quando alcançou a rati-ficação de número 60 e seu estatuto entrou em vigência. Ficou sediado em Haia, Holanda, o que evidencia mais o seu caráter mais europeu, além de não integrar a Organi-zação das Nações Unidas (ONU). Em seu funcionamento, há uma estrutura de 18 juízes para julgamento e a atuação de um procurador, responsável pela acusação e por inves-tigação, auxiliado por procuradores adjuntos.

JUrisdição coMPLeMenTar e coMPeTênciasO TPI segue a regra da jurisdição complementar, ou

seja, este somente irá agir quando o país se omitir em levar a julgamento e punir os responsáveis pelos crimes de genocídio, guerra, agressão e contra a humanidade,

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 57

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seja por incapacidade, seja por falta de disposição. Se, por exemplo, um chefe de estado brasileiro praticar genocídio, este deverá ser levado a julgamento pelos nossos tribunais, e somente se não houver disposição ou se o estado não se mostrar capaz em instaurar os devidos processos, o TPI chamará para si as atividades de julgar e punir. Muitos dou-trinadores afirmam que, aqui, estar-se-á a aplicar o princípio da complementa-riedade. Esta regra tem por finalidade deixar claro que não é objetivo do TPI interferir nos sistemas judiciais dos países, deixando a estes a competência para inicialmente praticar o poder jurisdicional. Na definição de suas competências, o tribunal ficou circuns-crito ao julgamento de apenas quatro categorias criminais: crime de geno-cídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e crime de agressão. Como crimes contra a humanidade, o Estatuto de Roma elenca os delitos de homicídio, extermínio, escravidão, deportação ou trans-ferência forçada de população, aprisionamento, tortura, estupro ou outras formas graves de violência sexual, per-seguição, desaparecimento forçado de pessoas e crime de apartheid, perpetrados em contexto de ampla campanha contra a popu-lação civil. Já o crime de agressão restou sem uma definição precisa no estatuto, mas foi apostada a ressalva de que o TPI somente poderia pro-cessar e julgar com base neste crime, desde que fosse aprovada a respectiva definição e as condições para o exer-cício da jurisdição.

o insTiTUTo da enTregaSubmetida a uma primeira

análise, a adesão do Brasil ao TPI iria ao encontro de nossa Constituição. Primeiro, porque trazemos expres-samente, no texto constitucional, a previsão de cooperação penal internacional, pela adoção do instituto da extradição. Segundo, porque prevê o artigo 7º do ADCT que o Brasil propugnará pela criação de um tribunal internacional de direitos humanos. Mas

os problemas começam quando observamos que os países que ratificarem o tratado do TPI, ficam obrigados a pro-cederem à detenção e entrega da pessoa que será julgada ao tribunal internacional, independentemente de sua nacionalidade. Ou seja, mesmo um brasileiro nato poderá ser entregue para julgamento. Esta previsão gera conflitos com o art. 5º, LI, ao fixar que “nenhum brasileiro será

extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de com-provado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.” Esta previsão ainda seria imutável, pela previsão do art. 60, par 4º, inc. IV, ao fixar que “não serão objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais”.

Uma corrente de juristas, no entanto, afirma que inexiste conflito com a Constituição, pois o estatuto do TPI prevê não a extradição de um cidadão nato, mas sim um instituto diverso, a entrega, com características

jurídicas bem diferentes. O próprio estatuto destaca em seu artigo 102, alíneas a e b, que a entrega é o ato do Estado entregar uma pessoa ao tribunal, enquanto que extra-dição é a entrega da pessoa por um estado a outro estado.

Sede do tribunal penal internacional, em Haia, Holanda

“ DE 15 A 17 DE JULHO DE 1998, REUNIDOS NA CONFERêNCIA DE ROMA, 120 ESTADOS INTEGRANTES DAS NAçõES UNIDAS APROVARAM A CRIAçãO DE UM TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL”

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A CONSTITUCIONALIDADE DA ADESãO DO BRASIL AO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

DirEito constitucionaL E aDministrativo

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Além do que enquanto que o extraditando responde por qualquer tipo de crime, o entregue apenas responderá por crimes gravíssimos cometidos contra humanidade.

Penas PerPÉTUasOutro conflito se evidenciaria pelo fato de a Cons-

tituição federal vedar a aplicação de pena de prisão perpétua, enquanto que o estatuto de Roma prevê, no artigo 77, parágrafo 1º, alínea b, como pena a ser aplicada, dentre outras, a prisão perpétua. Há de se destacar que inexiste no TPI pena de morte, que existiu nos tribunais de Nuremberg e de Tóquio. Ao analisarmos o texto cons-titucional, verificamos que permitimos até mesmo a pena de morte, mas não possibilita penas perpétuas. Mas, uma corrente de juristas defende que o nosso direito penal é apenas interno, não podendo vincular sistemas estran-geiros. Inclusive há precedentes de autorização pelo STF da extradição para estados que adotam a pena de morte, com a condição de comutação desta pena para prisão perpétua. Foi o verificado no denominado caso Russel Weisse (processo de extradição nº 426), quando o tribunal mudou seu entendimento da necessidade de comutação da pena de prisão perpétua para privativa de liberdade não superior a 30 anos. Na Ext 811-1 (DJ de 28-02-2003), requerido pelo governo do Peru, para aplicação de pena de prisão perpétua, assim decidiu o STF : “SUJEIÇÃO DO EXTRADITANDO, NO ESTADO ESTRANGEIRO,

À PRISÃO PERPÉTUA. POSSIBILIDADE, MESMO NESSA HIPÓTESE, DE EFETI-VAÇÃO DA ENTREGA EXTRADICIONAL. POSIÇÃO CONTRÁRIA DO RELATOR. - O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência no sentido de admitir, sem qualquer restrição, exceto quando houver cláusula vedatória inscrita em Tratado de Extradição, a possibilidade de o Governo brasileiro extraditar o súdito estrangeiro reclamado, mesmo nos casos em que este possa sofrer pena de prisão per-pétua no Estado requerente. RESSALVA da posição pessoal do Relator (Min. CELSO DE MELLO), que entende necessário comutar, a pena de prisão perpétua, em privação tem-porária da liberdade, em obséquio ao que determina a Constituição do Brasil.”

Foro PriviLegiado e iMUnidades Um terceiro conflito residiria nas

imunidades constitucionais e no foro privilegiado conferidos a alguns agentes políticos (pre-sidente da república, vice, ministros, deputados e senadores). Enquanto a nossa Constituição traz expres-samente estas, o TPI não reconhece a existência de prerrogativas nesse sentido, fixando o estatuto de Roma, em seu artigo 27, a regra da irrelevância do cargo ocupado pelo acusado pelos crimes a serem julgados. Há de se des-tacar que, em março de 2009, o TPI determinou a prisão do próprio presidente do Sudão, então no poder, ou seja, de um chefe de estado em exercício.

oUTras QUesTões consTiTUcionaisHá outras questões a colidir com nossa ordem cons-

titucional. Primeiro, porque o TPI segue, em seu artigo 29, a regra da imprescritibilidade dos crimes (apesar de não julgar delitos ocorridos antes da vigência do tratado), enquanto que nossa ordem jurídica segue, em geral, a regra da prescritibilidade. Segundo, porque adotamos a regra da tipicidade, onde os delitos devem ser descritos de forma precisa e inequívoca, enquanto que o TPI adota definições vagas para alguns delitos, como é o caso do crime de agressão. Terceiro, porque adotamos, no artigo 4º, os princípios da independência nacional e não inter-venção, enquanto que o TPI na prática intervêm em assuntos internos, ao chamar para si o julgamento de delitos ocorridos em um país. Quarto, porque seguimos

memorial ao massacre de Sebrenica, onde foram assassinados mais de 8 mil bósnios muçulmanos

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 59

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o princípio da imutabilidade da coisa julgada, enquanto que o TPI, no artigo 17 de seu estatuto, abre exceção à constituição da coisa julgada por tribunais nacionais.

BrasiLO Estado brasileiro participou da Conferência de

Roma, que criou o TPI, sendo um dos países que votaram a favor de sua criação. No entanto, o tratado de Roma foi assinado apenas em 7 de fevereiro de 2000. Foi, então, encaminhado pelo presidente Fernando Henrique, por meio da mensagem nº 1.084, de 10 de outubro de 2001, ao Congresso Nacional, acompanhado da exposição de motivos do ministro das relações exteriores e do ministro da justiça, bem como do texto traduzido para o português. Foi submetido primeiro à Câmara dos Deputados, pas-sando, inicialmente, pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, e, em seguida, pela Comissão de Cons-tituição, Justiça e Cidadania. O Conselho Federal da OAB, seguindo parecer do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, da OAB nacional, destacou que “por se consti-tuírem tanto a individualização da pena quanto a proibição de prisão perpétua, em conquistas da cidadania inseridas expressamente no sagrado capítulo dos Direitos e Garantias Individuais, à luz do art. 60, par. 4º, da Constituição demo-crática de 1988, são as duas verdadeiras cláusulas pétreas, intocáveis, a não ser via convocação de uma outra Assem-bleia Constituinte, com a consequente elaboração de uma nova Constituição. Conclui assim que “ora, tais princípios supramencionados são a denominada isagoge impeditiva de adesão do Brasil, nos termos exigidos no Estatuto, àquela histórica e salutar iniciativa”. Havia outro problema grande, pois o artigo 120 do Estatuto do TPI fixava que “não são admitidas ressalvas a este estatuto.”

No entanto, a Consultoria Jurídica do MRE emitiu parecer de autoria do Dr. Cachapuz de Medeiros, indicando uma solução a este problema. Segundo o pare-cerista, “para proceder à entrega do nacional ao TPI, o Brasil poderá, com base no citado no art. 80 do estatuto, entender que a jurisdição internacional não apenas terá de levar em conta a nacionalidade do acusado, como também considerar que a eventual pena a lhe ser imposta não seja a de prisão perpétua, posto que esta punição é repelida pela Constituição brasileira. Nesta linha, poderia ser estudada a possibilidade de o Brasil apresentar uma declaração interpretativa no ato da ratificação. Embora o estatuto de Roma não admita ser ratificado com reservas, nada impede que se formule uma declaração interpretativa.”

O parecer do Deputado Nelson Pellegrino, relator, con-cluiu pela constitucionalidade da adesão ao tratado, sem uma motivação específica a resolver a questão. Seu rela-tório apenas destaca que “os pontos de maior indagação como o instituto da entrega e a questão da pena perpétua já foram exaustivamente debatidos e hoje já configuram con-senso entre os juristas brasileiros. Nenhum tema tratado no Estatuto configura discrepância com o nosso ordenamento jurídico. O parecer do consultor jurídico do ministério das relações exteriores e a exposição de motivos da pre-sente mensagem são documentos que muito auxiliam na elucidação das principais dúvidas.” No Senado, de modo similar, o tratado foi considerado constitucional sem que fossem enfrentados os temas controversos sobre a consti-tucionalidade. Com a aprovação legislativa, foi publicado o Decreto Legislativo nº 112, de 06 de junho de 2002. Vol-tando ao Executivo, o tratado foi ratificado e promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002.

a eMenda consTiTUcionaL nº 45-2004Apesar da entrada em vigor do tratado no Brasil,

muitas questões de constitucionalidade ficaram pendentes. Para uma corrente, a solução para constitucionalizar o TPI estava no artigo 7º do ADCT, pois se a própria Constituição fixava que deveríamos integrar um tribunal internacional, restava implícito que estava sendo autorizado a relativi-zação de alguns dispositivos constitucionais para viabilizar este ingresso. Acrescido a esta previsão, foi evocado outro

A brasileira Sylvia Steiner: juíza do TPi

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A CONSTITUCIONALIDADE DA ADESãO DO BRASIL AO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

DirEito constitucionaL E aDministrativo

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dispositivo trazido no texto original: o § 2º do art. 5º, dispondo que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados interna-cionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Mas existia outra corrente que não achava de todo satis-fatório, apenas uma previsão genérica no ADCT. Havia o risco de interposição junto ao Supremo Tribunal Federal, de questionamentos, via ações de controle concentrado de constitucionalidade. A solução que muitos indicavam residia em procedermos a reformas no texto da Consti-tuição. Na EM nº 203 MRE-MJ, de 26 de julho de 2001, ambos os ministérios destacaram a necessidade de uma alteração constitucional, de modo a amparar a constitucio-nalidade dos termos do tratado. Neste sentido, a referida exposição de motivos destaca que “no que se refere à com-patibilidade entre o Estatuto de Roma e a Constituição, a perspectiva da segurança jurídica pode tornar recomen-dável que a eventual ratificação pelo Brasil seja precedida de aprovação de dispositivo constitucional que lhe dê endosso explícito. Neste sentido, será relevante a decisão que vier a ser adotada pelo Congresso Nacional sobre a iniciativa, já em curso, de proposta de emenda constitucional pela qual seria autorizado o reconhecimento pelo Brasil, da jurisdição do tribunal penal internacional, nas condições previstas no estatuto de Roma. (PEC nº 203-2000)” A propalada mudança constitucional de fato veio com a promulgação

da Emenda Constitucional 45, que pro-movia a reforma do judiciário. Uma das alterações realizadas foi a adição do parágrafo 4º ao artigo 5º da Consti-tuição, passando a existir a regra de que “o Brasil se submete à jurisdição do Tri-bunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.” Por um lado, resolver-se-iam os problemas de consti-tucionalidade, pois agora, havia a devida previsão expressa em nossa carta magna, a afastar novos questionamentos. No entanto, há de se destacar que, como regra geral, se faz uma inserção na Cons-tituição para poder amparar que venha a legislação infralegal e a regulamen-tação. Portanto, a emenda constitucional deveria ter sido realizada antes da rati-ficação. No entanto, procedemos ao contrário, pois primeiro incorporamos o tratado ao nosso ordenamento interno, no ano de 2002, por um Decreto presi-

dencial, e somente dois anos depois, em 2004, alteramos a Constituição.

concLUsãoA criação do Tribunal Penal Internacional implicou

um avanço importante para a defesa dos direitos humanos. A adesão do Brasil ao tratado do TPI foi, inicialmente, ao encontro do artigo 4º de nossa Consti-tuição, em especial dos princípios prevalência dos direitos humanos, do repúdio ao terrorismo e ao racismo e da cooperação entre os povos para o progresso da huma-nidade. No entanto, também foi de encontro a muitas disposições constitucionais, e nossa postura em relação a este problema não se mostrou a mais adequada. Faltou um debate jurídico mais denso e extenso sobre o tema, a envolver inclusive o Supremo Tribunal Federal. Faltou uma discussão legislativa mais aprofundada. Faltou levar uma maior conscientização a sociedade e, assim, envolvê--la na questão. Enfim, continuamos a adotar a postura de tratarmos questões internacionais como um assunto isolado e estanque do povo e do interesse público. Per-demos a oportunidade de darmos o devido tratamento e cuidado a um tema dessa importância, afinal se trata da criação não de um tribunal comum, mas sim de um dotado da relevante finalidade de proteger e garantir os direitos humanos frente a violações gravíssimas. n

presos em Guantánamo: os estados Unidos não aderiram ao Tribunal Penal internacional

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 61

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tErcEiro SetoR

ELO CONSULTORIA

Formação e competência são rumos para a eficiência na administração pública Especialistas atuam no aperfeiçoamento de servidores de órgãos governamentais

Fatima Firme

É recorrente ouvirmos que uma parte de servidores públicos estão acomodados, anco-

rados na estabilidade do cargo, sem o compromisso à adequada execução

das suas atribuições. Fato que está aos poucos sendo alterado, frente às reais transformações e necessi-dades da sociedade. Também um fato observado é que muitos servi-dores ocupam cargos-chave sem a competência necessária e outros com

formação e competência estão em posições pouco estratégicas, situação que priva a sociedade do serviço público eficiente.

Especialista em treinamento e formação profissional para a área pública e privada, a Elo Consultoria

62 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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tem em seu quadro de palestrantes as maiores referências e autoridades em assuntos do interesse de empresas públicas e privadas. Já qualificou mais de 30 mil servidores públicos nacionais e atua efetivamente no aperfeiçoamento técnico dos quadros de servidores dos diversos órgãos governamentais.

O curso de formação Regime Jurídico da Admissão e Contratação de Pessoal na Administração Pública: Concurso Público e Terceirização, ministrado em Brasília, analisou os diversos regimes jurídicos de admissão e de contratação de pessoal no serviço público, tratou de questões concretas envolvendo a criação e

provimento de cargos públicos, e também a contratação de serviços terceirizados. Para capacitar o gestor público a decidir e implementar com segurança, tanto as atividades que devem ser executadas diretamente por servidores públicos, como as ati-vidades que podem ser executadas indiretamente por meio da contra-tação de serviços terceirizados, os professores foram categóricos em defender uma carreira pública valo-rizada para atender a nova pauta de relações entre o Estado e a sociedade.

Especialistas renomados, entre eles, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, professora de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da Univer-sidade de São Paulo, uma das maiores juristas do Direito Administrativo, ministrou aula sobre os regimes jurí-dicos de cargos, empregos e funções públicas e enfatizou o dever de observar a finalidade pública, bem como os princípios da moralidade administrativa e da legalidade, a obrigatoriedade de dar publicidade aos atos administrativos e, como decorrência dos mesmos, a sujeição à realização de concursos para seleção de pessoal e de concorrência pública para a elaboração de acordos com particulares. n

Fabrício motta é professor adjunto de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás e procurador do ministério público junto ao tribunal de Contas do Estado de Goiás. Ele ministrou e debateu com os participantes sobre o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas ao servidor, os regimes jurídicos de cargos, empregos e funções públicas regidos pela lei 8.112/90.

A ELO JÁ qUALIFICOU MAIS DE 30 MIL SERVIDORES PúBLICOS NACIONAIS E ATUA EFETIVAMENTE NO APERFEIçOAMENTO TéCNICO DOS qUADROS DE SERVIDORES DOS DIVERSOS óRGãOS GOVERNAMENTAIS

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 63

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terceiro setor

Professor defende mais aperfeiçoamento das condições de trabalhoPara ele, o desempenho dos servidores deve ser avaliado de maneira substancial

d outor em Direito Admi-nistrativo, o advogado e professor da Faculdade de

Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, é comprometido com a eficiência na administração pública. Segundo ele, “é imprescin-dível perceber que o caminho para a melhoria da eficiência no serviço público é o aperfeiçoamento das con-dições e perspectivas de trabalho.” E destaca que a capacitação das pessoas faz parte desse processo.

Nesta entrevista o professor observa a necessidade de distinguir a terceirização de mão de obra e a ter-ceirização de atividades e defende novos rumos para a melhoria da efi-ciência no serviço público.

Existe uma política de pro-fissionalização dos servidores públicos e quais seriam os princi-pais itens desta política?

LUCIANO FERRAz – Acho que existe, embora ela ainda seja inci-piente. É imprescindível perceber que o caminho para a melhoria da eficiência no serviço público é o aperfeiçoamento das condições e perspectivas de trabalho. A capa-citação das pessoas que fazem as vezes da administração é parte desse

ENTREVISTA // LUCIANO FERRAZ

luciano Ferraz: a capacitação das pessoas faz parte do processo de aperfeiçoamento

64 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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processo, seja pelo ingresso mediante concurso público nos cargos efeti-vos e empregos públicos, seja pelo contínuo aprimoramento das capa-cidades humanas profissionais e relacionados.

Como é feita a gestão da força de trabalho no serviço público?

LUCIANO FERRAz – Temos alguns problemas nesta relação. Primeiro porque é necessário definir quais as atividades o Estado efetiva-mente deve desempenhar e quais ele deve buscar colaboração da inicia-tiva privada. A partir daí torna-se fundamental o desenvolvimento de políticas remuneratórias adequadas ao serviço, considerando-se funda-mentalmente o conceito de carreira, o grau de responsabilidade e o grau de comprometimento dos servido-res. O que se observa hoje é que a diferença de remuneração entre os níveis de carreira é irrisória, o que produz certa acomodação nos servi-dores. Isso não é desejável. Também é fundamental buscar equilíbrio na existência de cargos efetivos e comis-sionados/funções de confiança na estrutura da administração pública. Os cargos efetivos têm que ser a maio-ria, tem que se constituir no grande extrato, mas é preciso entender que cargos comissionais e funções comis-sionadas são fundamentais para o exercício da direção, da coordenação e da supervisão no serviço público.

Cumpre a partir daí dar opor-tunidades para que os próprios servidores efetivos possam vir a compartilhar o exercício destes cargos comissionados, mas sem eli-minar a possibilidade de busca de pessoas fora do serviço público para o exercício temporário de atri-buições dessa ordem. A oxigenação das organizações é salutar. É preciso

deixar uma válvula para buscar novas cabeças que venham a ocupar cargos de direção, chefia e assessoramento, contribuindo para a melhoria dos extratos estáveis que compõem a administração.

Está obsoleto o concurso público na atual conjuntura da sociedade brasileira?

LUCIANO FERRAz – A adminis-tração pública brasileira ainda não conseguiu descobrir fórmula melhor de seleção do que o concurso público. Mas há meios e meios de se reali-zar o concurso público, de acordo com as necessidades administrativas em jogo. Imagine-se, por exemplo, a realização de concurso público para o cargo de músico. Interessa menos saber se o sujeito consegue marcar corretamente a resposta do gabarito na prova de múltipla escolha do que saber se ele consegue desempenhar com desenvoltura o ofício de tocar instrumentos em harmonia com o conjunto. Para tanto, temos de ter um concurso público capaz de avaliar a capacidade e a habilidade de inter-pretação musical do candidato, ao invés de sua capacidade de responder

corretamente itens da prova de múl-tipla escolha. Neste tipo de concurso, assim como naqueles dotados de pro-vas orais ou provas de habilidades específicas, é óbvio que há um maior grau de subjetividade na avaliação do candidato. Não há como tirar com-pletamente a subjetividade neste tipo de avaliação.

No fundo, temos que reinventar fórmulas para fazer a seleção. O que é imprescindível é sindicar o can-didato de acordo com as habilidades inerentes ao exercício funcional. Vis-lumbro ainda outro problema – este constantemente presente na sociedade brasileira. É a desconfiança nos pro-cessos de seleção. Há sempre aqueles que enxergam tramoias em tudo. Isto é um problema. Se a sociedade bra-sileira não acreditar e creditar nas pessoas que a compõem, qualquer comportamento será visto como ilícito e desacreditado. Há um conto de José Saramago, o conto da ilha desconhecida, em que o ilustrado lite-rário assevera: “É preciso sair da ilha para ver a ilha, porque não nos vemos se não nos saímos de nós.”

Estudos mostram que o con-curso tem perdido sua principal finalidade que é selecionar pro-fissionais adequados para o cargo na administração pública. Qual a proposta para mudar?

LUCIANO FERRAz – Como afirmei, entendo imprescindí-vel melhorar o processo de seleção. Aliado a isso, duas mudanças devem ocorrer. A primeira é parar de achar que quando o servidor passa no con-curso público e toma posse no cargo ele já está automaticamente aposen-tado. Não precisa trabalhar tampouco se capacitar. A vida é uma constante de desenvolvimento relacional, inter-pessoal e de conhecimento.

“ TAMBéM é FUNDAMENTAL BUSCAR EqUILíBRIO NA EXISTêNCIA DE CARGOS EFETIVOS E COMISSIONADOS/FUNçõES DE CONFIANçA NA ESTRUTURA DA ADMINISTRAçãO PúBLICA”

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 65

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terceiro setor

A segunda é o compromisso, o aprovado que entra no serviço público tem que perceber que ele tem um compromisso. Ele está ali profis-sionalmente, tem um compromisso com a sociedade. É por isso que o indivíduo que trabalha para a admi-nistração púbica é nominado servidor. Seu papel é servir e não se servir.

Nos países avançados o mer-cado de cursos preparatórios para concurso quase não existe. No Brasil, este é um mercado milionário. Qual a proposta para sanar esta situação?

LUCIANO FERRAz – O mercado é difícil de ser guiado, ele consegue ler oportunidades. Com duzentos milhões de habitantes, o Brasil tem um serviço público pujante. As des-pesas de pessoal são limitadas por leis, mas com percentuais ainda pujantes, cinquenta por cento, ses-senta por cento das receias correntes líquidas das esferas federativas. O mercado lê oportunidades e prepa-rar interessados para os concursos é uma atividade econômica lícita – e que deve ser respeitada. O que está equivocado, repito, é o modus operandi dos concursos. Enquanto estivermos preparando os indivíduos para marcar alternativas em provas de múltipla escolha, os cursos vão prepará-los para isso e não há nada de errado nisso. À medida que o

Estado evoluir e estipular concursos que comecem a medir outros requi-sitos, que podem ser de criatividade, requisitos de adequação ao ambiente de trabalho, entre outros, não haverá como ensinar aos indivíduos ditas capacidades.

A avaliação de desempenho atinge a sua finalidade?

LUCIANO FERRAz – Primeiramente, quero ressaltar que o estágio probatório deve ser visto como um medidor de capacidades e de desempenho no serviço público. Mas, na prática, o estágio é visto como mecanismo meramente formal de aferição de capacidades e desempe-nho. Aí como não funciona o estágio probatório, institui-se avaliação de desempenho, que também não fun-ciona, porque calcada nas mesmas premissas e executada à semelhança do estágio probatório. Precisamos instituir avaliações que meçam o desempenho substancial do servidor. E isto tem de ver não só com aspec-tos profissionais, mas com aspectos relacionais. É preciso avaliar o com-portamento das pessoas no serviço público. Uma avaliação feita pelos colegas de trabalho, por exemplo. É preciso avaliar a urbanidade, a capa-cidade de interagir com o público. Em síntese, deve-se avaliar desempenho profissional de desempenho relacio-nal. Isto tudo envolve um mudança

cultural. Hoje, impera uma lógica de igualdade formal e proibição de distinções pessoais. Avaliar ditas questões não implica a criação de pri-vilégios, mas implica atribuir valores a aspectos de ordem subjetiva, não mensuráveis pelos padrões formais existentes. Em outros termos, falta à administração pública desenvolver mecanismos semelhantes aos da ini-ciativa privada para valorar aspectos diversos dos profissionais no âmbito das relações funcionais.

A terceirização de serviços no Brasil segue os objetivos para a qual foi instituída?

LUCIANO FERRAz – Não segue. É mal interpretada em diversos setores. Na justiça do trabalho, por exemplo, o fenômeno é visto exclu-sivamente como forma de burlar a legislação trabalhista. É preciso perceber uma distinção entre a terceirização de mão de obra (con-tratação de pessoal por interposta pessoa) e a terceirização de ativida-des. Esta última é um instrumento lícito de descongestionamento das estruturas organizacionais, tanto no setor privado quanto no setor público. Deve-se trabalhar a tercei-rização de atividade como válvula de crescimento das organizações, por-que elas melhor se adaptam àquilo que sabem fazer melhor, àquilo que é sua atividade precípua. n

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Aspectos Controvertidos e Polêmicos das Licitações e Contratos AdministrativosBrasília > 16 e 17 de maio de 2013apresentadores > Jorge Ulisses Jacoby fernandes e ministro Benjamin Zymler

Convênios e Contratos de Repasse 60 questões polêmicasBrasília > 16 e 17 de maio de 2013apresentadora > Karine Lílian de sousa Costa machado

Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos | 2ª Edição 2013São Paulo > 23 e 24 de maio de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

Pregão Presencial e Eletrônico, Incluindo a Defesa do Pregoeiro Perante o TCU/TCDF | Teoria e PráticaBrasília > 05 a 07 de junho de 2013apresentador > alexandre Cairo

Comunicação Escrita & Redação Oficial | 2ªEdição 2013Brasília > 10 e 11 de junho de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

O Ordenador de Despesas e A Lei de Responsabilidade Fiscal | 2ª Edição 2013Brasília > 18 e 19 de julho de 2013apresentadores > Professor Jorge Ulisses Jacoby fernandes e Professor Luciano ferraz

Planilha de custos e formação de preços para contratos de terceirização, conforme a IN 02/2008Brasília > 22 e 23 de julho de 2013apresentador > erivan Pereira de franca

Responsabilização & Processo no Âmbito dos Tribunais de Contas e do Controle InternoBrasília > 24 a 26 de julho de 2013apresentador > Ismar Barbosa Cruz e alexandre Valente Xavier

Elaboração de Relatórios e Pareceres para Órgãos Públicos | 3ª Edição 2013Brasília > 25 e 26 de julho de 2013apresentador > José Paulo moreira de oliveira

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Direito de Preferência e outros Temas Controvertidos em Licitações Públicas | 2ª Edição 2013 (Colocar capa genérica)Brasília > 01 e 02 de agosto de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti e ministro Benajamin Zymler

Governança de TI na Administração PúblicaBrasília > 05 a 07 de agosto de 2013apresentadores > ministro augusto sherman Cavalcanti, Daniel Jezini e Wesley Vaz

Auditoria Governamental | 2ª Edição 2013Brasília > 28 a 30 de agosto de 2013apresentador > Ismar Barbosa Cruz

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ENTREVISTA // LUCIANO FERRAZ

66 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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RESPONSABILIDADE SOCIAL

instituto akatu mobiliza sociedade para o consumo consciente Pesquisa revela que brasileiro tem mais interesse pelo tema da sustentabilidade

o Instituto Akatu lançou, recen-temente, a Pesquisa Akatu 2012: Rumo à Sociedade do

Bem-Estar. Trata-se da oitava edição da série de publicações sobre Res-ponsabilidade Social Empresarial – Percepção pelo consumidor bra-sileiro, realizada desde 2000. O levantamento retrata um consumidor brasileiro que, mesmo em um clima econômico de mais consumo, mantém

inalterados seus comportamentos cotidianos de consumo consciente, tem mais interesse e maior conheci-mento sobre sustentabilidade e sobre Responsabilidade Social Empresarial e está mais crítico e exigente sobre as práticas das empresas nestas áreas. A pesquisa, que contou com patrocínio do Grupo Pão de Açúcar, Natura, Nestlé e Unilever, entrevistou 800 pessoas com mais de 16 anos, de todas

as classes sociais e de 12 capitais e/ou regiões metropolitanas de todo o País.

A pesquisa indica que o con-sumidor brasileiro está mais bem informado sobre sustentabilidade e valoriza as práticas de responsabi-lidade social das empresas. Todavia, são bem críticos em relação à credi-bilidade delas: só 8 % acreditam no que as empresas divulgam. Apesar de o levantamento indicar uma estabi-lidade do número de consumidores classificados como “Conscientes”, em torno de 5% da população, houve crescimento na adesão a práticas

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terceiro setor

de consumo consciente, ainda que, nesse momento, apenas de maneira eventual e não contínua.

“O estudo mostra que grande parte da sociedade brasileira já compartilha, mesmo que de forma difusa e pouco consciente, a noção de que, uma vez satisfeitas as necessidades básicas, a busca da felicidade implica em tomar o caminho da sustentabilidade e não o do consumismo”, afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. Segundo ele, isso já é “um sinal de alerta para empresas e lide-ranças em geral, que deveriam avaliar mais profundamente suas estratégias de explorar mais ainda um modelo esgotado, insustentável e conflitante com as aspirações dos consumidores e com suas concepções de felicidade”. Mattar destaca que “sustentabilidade e responsabilidade social são e con-tinuarão a ser pilares fundamentais para apoiar a transição civilizatória em que estamos todos envolvidos e, por isso mesmo, estes pilares devem ser incorporados às práticas reais das empresas.”

Mais inForMaçõesDe acordo com a pesquisa, o con-

tingente de brasileiros que “ouviram falar” do termo sustentabilidade aumentou de 44% para 60% em dois anos, bem como o interesse de buscar informações sobre o tema (de 14% para 24%). Quando comparado a diversos outros, os dois únicos temas que tiveram expressivo crescimento no nível de interesse do consumidor foram justamente o da Responsa-bilidade Social Empresarial e o da Sustentabilidade: em 2010, ambos estavam em um patamar inferior a todos os demais e, em 2012, 24% apontaram seu interesse no tema Sustentabilidade e 25% em Res-ponsabilidade Social Empresarial,

praticamente ao mesmo nível de temas tradicionais, como Empresas/Negócios (26%) e Política (30%).

Hélio Mattar ressalta que “cer-tamente há papéis fundamentais a serem desempenhados por todos os atores sociais. Mas, também é certo que as empresas têm papel funda-mental no processo, fomentando e dando concretude ao trajeto rumo a uma sociedade mais sustentável, de forma a incluir os bilhões de seres humanos ainda privados das con-dições básicas para a promoção de seu bem-estar e segurança material, respeitados os limites do planeta”.

O presidente do Instituto Ethos e conselheiro do Instituto Akatu, Jorge

Abrahão, lembra um dos motivos do ceticismo do consumidor tem a ver com o aumento do conhecimento, por parte das pessoas em geral, sobre a responsabilidade social empre-sarial e a sustentabilidade. Ressalta ainda que o ceticismo dos consumi-dores diz muito sobre a credibilidade das empresas na própria sociedade. “E credibilidade é um processo que se constrói junto, com os acio-nistas, com as partes interessadas na empresa, com a sociedade. A credibi-lidade precisa de compartilhamento de valores e princípios que trazem consigo os fundamentos éticos sobre os quais a empresa vai construindo sua reputação”, analisa. n

Hélio mattar: a busca da felicidade implica em tomar o caminho da sustentabilidade

Instituto Akatu/Divulgação

hISTóRIA O Instituto Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos

que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente. Seu embrião surgiu em 2000, dentro do Instituto Ethos de Empre-sas e Responsabilidade Social, quando os seus dirigentes perceberam que as empresas só aprofundariam, no longo prazo, suas práticas de Responsabilidade Social (RSE) na medida em que os consumidores passassem a valorizar essas iniciativas em suas decisões de compra. Foi quando se concluiu que o consumi-dor é um importante agente indutor da responsabilidade social.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

68 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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intErnacionaL

Michael KainEconomista e cientista político, graduado pela Universidade do País de Gales. é pós-graduado pelas universidades de Manchester e de Cambridge

economias emergentes e a governança globala quinta reunião de cúpula do

grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)

ocorrida em Durban, África do Sul, nos dias 25 e 26 de março último, representou otimismo e esperança de dias melhores para a economia e sociedade globais. Dessas reu-niões emergiu um novo pensamento global e a adoção de medidas de política contrárias à ortodoxia do neoliberalismo. Essa linha de pensa-mento acredita que o Estado deva ser mais atuante na economia e advoga reformas estruturais e institucionais na governança global, garantindo maior representação aos países emergentes em todos os níveis, com participação de técnicos e diplomatas desses países em funções-chaves de organismos ligados às Nações Unidas, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI).

A criação de um banco de desen-volvimento que sirva aos interesses do grupo de países Brics está em andamento e foi aprovada na última reunião de cúpula por todos os chefes de Estado; deverá ser concluída até a próxima, a acontecer no Brasil. A eleição recente do diplomata bra-sileiro Roberto Azevedo como diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) contou com o apoio total dos membros do Brics, de

governos africanos (a visita da pre-sidente Dilma Rousseff ao encontro anual da União Africana em Guiné Equatorial foi decisiva) e latino--americanos. O resultado mostrou o importante papel que os países emer-gentes começam a desempenhar no cenário internacional. A tarefa do novo diretor não será das mais fáceis; ele admitiu em entrevista que

desde a crise de 2008 alguns países, incluindo o Brasil, se tornaram mais protecionistas. A assertiva é válida para o Mercosul, principalmente, a Argentina.

A nova abordagem econômica dos países do Brics beneficiará tanto os países emergentes quanto os desenvolvidos. A quinta cúpula em Durban discutiu os alicerces para a

World Trade O

rganization

Roberto Azevedo, diretor-geral da OmC: escolha que contou com o apoio dos membros do Brics

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InternacIonal

ECONOMIAS EMERGENTES E A GOVERNANçA GLOBAL

construção de uma arquitetura finan-ceira alternativa para a economia e a sociedade globais; a criação do banco de desenvolvimento do Brics se insere nesta estratégia. A propósito, o presidente sul-africano Jacob Zuma propôs na recente reunião do fórum mundial sobre a África, realizado de 8 a 10 de maio na Cidade do Cabo, África do Sul, que o seu país reúne todas as condições para sediar a matriz do banco de desenvolvimento do Brics, que beneficiará a África e os demais países. Salientou a estratégica localização do continente africano situado no cruzamento da Europa, Ásia e Oriente Médio. Mesmo sem definir qual das capitais sul-africanas se estabeleceria a matriz do banco, vale lembrar que Johanesburgo é o maior centro financeiro da África. O grupo Brics tem a oportunidade de desenvolver uma visão econômica e social progressista para o mundo, diversa da do neoliberalismo e do consenso de Washington que favo-recem a imposição de medidas de austeridade fiscal pelo FMI às eco-nomias nacionais, redução do papel do estado, cortes de gastos e privati-zação de empresas estatais, mesmo as mais rentáveis.

O presidente da República Árabe do Egito e líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, visitou o Brasil e reuniu-se com a pre-sidente Dilma Rousseff em 8 de maio. Alem da assinatura de vários acordos de cooperação técnica assinados pelos chefes de estado, nas áreas de desenvolvimento agrário, agricultura com a colaboração da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), cultura, meio ambiente e desenvolvimento social. As medidas de política de cunho social e redistributivo do governo brasileiro interessam ao esforço do

presidente egípcio na transformação daquele país. Presidente Morsi vem sugerindo a inclusão do Egito no grupo Brics, mas os dirigentes dos países membros não consideram que o momento seja favorável à expansão. Ademais, o Egito apresenta insta-bilidade política e econômica e não seria o melhor candidato a parceiro, pelo menos, na presente conjuntura.

esTados Unidos e chinaOs indicadores econômicos dos

Estados Unidos, ainda a maior eco-nomia do planeta, no mês de maio, têm sido auspiciosos. O índice Dow Jones da Bolsa de Valores de Nova York alcançou o melhor resultado nos últimos cinco anos, com ganhos surpreendentes e altos preços nos papéis mais negociados. O mercado de trabalho começa a se conso-lidar e a criação de novas vagas pelo setor privado é encorajadora. A eco-nomia dá sinais de avanço, ainda que gradual, o mercado habitacional começa a se recuperar e o endivi-damento dos consumidores mostra recuo, gerando otimismo e volta ás compras. Grandes conglome-rados comerciais e industriais detêm dólares em abundância e que poderão ser investidos na infraestrutura do país, novas fábricas, pesquisa e desen-volvimento. É aparente que o sucesso da economia americana não feneceu;

“ A NOVA ABORDAGEM ECONôMICA DOS PAíSES DO BRICS BENEFICIARÁ TANTO OS PAíSES EMERGENTES qUANTO OS DESENVOLVIDOS”

Dilma Rousseff e o presidente da República Árabe do Egito, mohamed morsi: cooperação técnica

Roberto Stuckert Filho/PR

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permanece dinâmica e conta com empresários criativos, inovadores e adeptos de novas tecnologias.

De acordo com estatísticas ofi-ciais, a China suplantou os Estados Unidos com o maior mercado consumidor mundial. Com o ama-durecimento da economia chinesa, o setor de serviços aumentará a parti-cipação da geração do PIB (produto interno bruto). O futuro crescimento econômico da China não se dará a altíssimas taxas, dada a decisão governamental de incentivar o consumo interno, aumentar a oferta de utilidades e serviços públicos e reduzir as disparidades regionais e desigualdade na distribuição da renda e da riqueza.

Começam a surgir temores de que a China, a maior economia do Brics e a segunda do mundo, possa expe-rimentar uma crise financeira no futuro próximo. O banco Nomura,

um dos maiores bancos de investi-mento da Ásia, advertiu seus clientes. Acredita-se que a dívida bancária na China represente 150% do valor do PIB. O boom imobiliário que ante-cedeu a crise americana e europeia em 2008 encontra paralelo com a atual situação da China, que detém alto estoque imobiliário, queda na taxa de crescimento econômico e alto grau de endividamento das famílias. O governo da China tem conhecimento da magnitude do pro-blema e necessita agir com maior rapidez apertando a política mone-tária (ou seja, reduzindo o acesso ao crédito), o que por sua vez poderá gerar ainda menor crescimento do produto. Qualquer decisão desse tipo afetará negativamente a exportação do Brasil, Argentina, Austrália e o continente africano cujas receitas de exportação passaram a depender do desempenho da economia chinesa.

a LUTa PeLo cresciMenTo da áFrica do sUL

A África do Sul celebrou em maio o dia da Libertação e os 19 anos do final do regime racista do apar-theid. O partido CNA (Congresso Nacional Africano) no poder desde abril de 1994 vem investindo pesada-mente em educação, saúde, habitação popular, abastecimento d’água, sane-amento e eletricidade beneficiando as populações de origem negra e menos afortunadas. Em recente viagem à África do Sul verifiquei os avanços experimentados pela popu-lação e pela infraestrutura do país, sobressaindo o entrosamento entre os diversos grupos raciais. A África do Sul é um país democrático, no perfeito estado de direito e de liberdade de imprensa. Persistem problemas de pobreza absoluta e alta taxa de desemprego, particularmente entre os mais jovens e criminalidade.

Dow Jones e S&p: índices da bolsa americana alcançam os melhores resultados dos últimos anos

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InternacIonal

ECONOMIAS EMERGENTES E A GOVERNANçA GLOBAL

Entretanto, com o Plano Nacional de Desenvolvimento, em execução, o governo espera erradicar a pobreza, diminuir os níveis de desigualdade na renda e riqueza, com a criação de emprego e crescimento da economia. A transição governamental na África do Sul tem sido pacífica, desde o fim do apartheid.

a União eUroPeia e a grã-BreTanha

O bom senso parece ter final-mente aportado na União Europeia. A administração começa a admitir que o esforço de crescimento possa frutificar e que uma abordagem menos rígida no trato da economia seja acertada. O primeiro ministro do grão-ducado de Luxemburgo, o menor país membro da União Europeia, vem advogando essa causa, que se estende por outros países europeus. É fato que nos últimos anos, os 17 países da zona do euro e outros países europeus têm viven-ciado profunda recessão econômica e uma mudança de rumo seria mais do que benéfica.

A Itália finalmente concordou em formar um novo governo reunindo o centro da direita e da esquerda enca-beçado pelo líder do PD (Partido Democrata), de centro-esquerda, deputado Enrico Letta, que se tornou primeiro ministro. A coalizão de par-tidos se mantém contra as medidas de austeridade adotadas pelo antecessor Mario Monti e planeja recuperar a economia italiana, fortemente atingida pela recessão que fulminou grande parte da União Europeia. A proposta é estimular o crescimento da economia e a redução do desem-prego. O novo primeiro ministro italiano é tido como modesto e moderado e conta com o suporte dos partidos de direita e esquerda, o que

em política é um fato raro; a escolha parece ter sido acertada. Em 2012, a economia italiana encolheu em 2,4% e 40% dos jovens até 25 anos estão fora do mercado de trabalho. A taxa média de desemprego em 2012 atingiu 10% e, 11,3% em fevereiro de 2013.

O governo de coalizão da Grã--Bretanha apresentou em março 2013 alterações ao orçamento para o ano fiscal Abril 2013/Março 2014, consideradas decepcionantes pela maioria da nação, particularmente por não expressar qualquer mudança de rumo que possa garantir aumento de produto e emprego. O corte de 1% proposto nos impostos sobre pessoas jurídicas (até atingir 20% em 2015) foi duramente criticado pela opo-sição, dado que, antes do acesso ao poder em 2010 da coalizão conser-vadores/liberais democratas, essa taxa era de 28%. A perda de receita se refletirá na redução de bene-fícios sociais às famílias e indivíduos de baixa renda. Boris Johnson, atual prefeito de Londres, também membro do partido Conservador vem-se mostrando mais popular nas pesquisas de opinião. O ministro dos Negócios, Vincent Cable, membro do partido Liberal Democrata, é outra figura que vem crescendo na opinião pública pela posição prag-mática de apoio a uma estratégia de política fiscal expansionista.

Nas últimas eleições locais rea-lizadas em maio, para a renovação de 2.300 cadeiras de vereadores, o partido anti-União Europeia, euro-cético e direitista UKIP (Partido Independente do Reino Unido) obteve 25% dos votos, tornando-se o terceiro partido em importância municipal, com ganho de 140 cadeiras. De acordo com estima-tivas da BBC O partido Trabalhista liderado por Ed Miliband ganhou 29% dos votos, o Conservador de David Cameron ficou em segundo lugar com 27%; o maior perdedor foi o partido Liberal Democrata, que atua em nível federal, em coa-lizão com os conservadores e obteve apenas 14% dos votos válidos. O

“ O BOM SENSO PARECE TER FINALMENTE APORTADO NA UNIãO EUROPEIA. A ADMINISTRAçãO COMEçA A ADMITIR qUE O ESFORçO DE CRESCIMENTO POSSA FRUTIFICAR”

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resultado das eleições mostrou a força do ceticismo de grande parte do eleitorado quanto ao projeto da União Europeia. O UKIP é favorável à saída do Reino Unido do bloco comercial e político. A resposta das urnas influenciou o lançamento dos programas governamentais e a legislação anunciada pela Rainha Elizabeth II em nome do governo, em 8 de maio, considerado irreal e conservador em matéria de políticas de estímulo que possam mudar o cenário recessivo do país. As prin-cipais medidas propostas visam a deportar pessoas sem documentação legal e criminosos estrangeiros, além de dificultar a concessão de bene-fícios sociais a membros da União Europeia e outros estrangeiros. A proposta é controversa e vem sendo duramente criticada pela oposição. O governo perdeu oportunidade única de reverter o modelo de corte radical de gastos e redução do endi-vidamento, mudando o rumo da

economia e estimulando a geração de renda e de emprego.

Os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) se reuniram nos dias 11 e 12 de maio em Aylesbury, área metro-politana de Londres, para discutir as necessárias reformas bancária e financeira, em nível global. Em 2013, o Reino Unido preside o G7. O grupo dos Sete representa os países desenvolvidos, mas vem perdendo

poder para o G20 que engloba além dos países desenvolvidos, os países emergentes, dos quais Brasil vem se destacando, a União Europeia e ins-tituições como o FMI e o Banco Mundial. Saliente-se que, a despeito do alcance econômico e político do grupo Brics, o G7 representou 66% da riqueza líquida global, estimada em 223 trilhões de dólares, em 2012. O Ministro das Finanças britânico, George Osborne, sugeriu aos bancos centrais a adoção ou a manutenção de políticas monetárias com vistas ao crescimento econômico. É sabido que a maioria dos países desen-volvidos vem favorecendo o corte de gastos públicos e o aumento de impostos, enquanto deveria adotar políticas fiscais expansionista, faci-lidade creditícia e corte de impostos para estimular consumo e inves-timento, gerando mais emprego e renda. O G7 poderia aprender muito com a política adotada pelo grupo Brics de apoio ao crescimento. n

Os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais do G7: reunião para discutir as necessárias reformas bancária e financeira, em nível global

ultimoranotizie.it

“ O G7 PODERIA APRENDER MUITO COM A POLíTICA ADOTADA PELO GRUPO BRICS DE APOIO AO CRESCIMENTO”

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 73

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Falta planejamento estratégico nas cidades brasileiras? o sonho de todo bom gestor público é ter um

orçamento equilibrado e realizar investimentos estratégicos que tenham ótimo retorno fiscal,

promovam crescimento econômico e melhorem a qua-lidade de vida de seus cidadãos. Isso é mais fácil escrever do que fazer. Desenvolver shopping centers na periferia das cidades, por exemplo, tem sido visto há muitos anos como solução mágica para esse tipo de desafio. Em con-traste, investimentos na recuperação das áreas centrais das cidades tem sido deixados em segundo plano.

Em um recente estudo (31 de maio 2013) publicado no site citiwire.net o ex-pre-feito de Ventura (Califórnia), William Fulton, argumenta que a expansão urbana das grandes cidades americanas através de grandes investimentos nas peri-ferias acaba resultando em ganhos menores a longo prazo quando comparados a investi-mentos comerciais e em prédios residenciais nas áreas centrais das cidades. Para justificar, Fulton compara investi-mentos em projetos de desenvolvimento “suburbanos” na periferia com projetos de investimentos em áreas urbanas centrais em 17 casos de cidades e estados americanos, como Nashville, Charlotte, Fresno, Estados de Maryland, Califórnia e Rhode Island, entre outros.

Em 2010, as prefeituras nos EUA recolheram e inves-tiram US$ 1.6 trilhões, mais de 10% do PIB americano.

Desses, cerca de US$ 525 bilhões, um terço, foram investidos em atividades fortemente influenciadas por estratégias de desenvolvimento local. Isso significa que decisões futuras sobre aonde construir e investir podem ter fortes consequências para aproximadamente um terço dos orçamentos municipais.

O resultado: investimentos em áreas centrais custam em média 38% menos em infraestrutura; custam 10% menos para entrega de serviços públicos; geram 10% a

mais em retorno com taxas e impostos. Não há segredo nisso: o custo da terra em áreas peri-féricas é menor exatamente por exigir um maior custo de inves-timento em infraestrutura. Além disso, a densidade das áreas cen-trais proporciona um retorno maior em taxas e impostos e facilita a distribuição de serviços. Na ponta do lápis, o imediatismo e a falta de pensamento estra-tégico acabam saindo caro.

Fulton chama os investi-mentos em áreas centrais de

“Smart Growth Development” (crescimento inteligente), mas acho que ele se mostra tendencioso. Nem todas as cidades podem se beneficiar igualmente de investimentos em áreas centrais e nem todo investimento em áreas peri-féricas é necessariamente errado ou menos rentável. Mas suas colocações são sensatas e chamam atenção para a importância de se pesar cada investimento de forma geo-estratégica a médio prazo.

“ O MESMO PROCESSO DE SUBURBANIZAçãO ACONTECE NO BRASIL POR MEIO DA CONSTRUçãO DE SHOPPING CENTERS E DE CONDOMíNIOS FECHADOS DE CLASSE MéDIA E ALTA, CADA VEZ MAIS LONGE DO CENTRO DA CIDADE”

artigo

JonaS raBinovitchConselheiro senior da ONU em Gestão Pública, Nova York

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No Brasil em 2010, segundo a Firjan, 83% dos muni-cípios brasileiros não conseguiram gerar nem 20% de suas receitas: há forte dependência das transferências dos estados e da União. As cidades americanas não são iguais às cidades brasileiras, claro. No entanto, o mesmo pro-cesso de “suburbanização” acontece no Brasil por meio da construção de shopping centers e de condomínios fechados de classe média e alta, cada vez mais longe do centro da cidade. A Barra da Tijuca no Rio de Janeiro é um exemplo típico. Entretanto, por conhecidos problemas de segurança e violência urbana, o nosso desenvolvimento periférico é geralmente segregado e com valor social agregado baixo.

Importante: não estou falando aqui da conhecida malandragem imobiliária de se vender condomínios na planta em distantes áreas periféricas para depois pres-sionar o poder público para colocar infraestrutura. Outra diferença significativa é que a grande maioria dos pre-feitos e gestores públicos brasileiros não pensa de forma estratégica, deixando essas conjecturas para o setor privado. Quando muito, tentam atrair grandes empresas, montadoras de automóveis ou estádios de futebol. Não

há nada errado nisso, mas existe um grande potencial de pensamento estratégico ainda não explorado na nossa realidade.

Segundo a Firjan, no Brasil em 2010, 83% dos muni-cípios brasileiros não conseguiram gerar nem 20% de suas receitas: há forte dependência das transferências dos estados e da União. Precisamos reconhecer que só o pen-samento estratégico local não vai resolver o problema, mas ignorar esse potencial também não ajuda.

O Brasil segue uma importante tendência mundial: em termos proporcionais, as cidades médias crescem mais do que as chamadas megacidades. A principal estra-tégia utilizada para atrair atividades econômicas para essas cidades parecem ser os incentivos fiscais como isenção do IPTU, por exemplo. Ou seja, em muitos casos a galinha dos ovos de ouro morre na véspera.

Planejar de forma estratégica também significa equi-librar custos de terra, infraestrutura, serviços e projeções de arrecadação e investimento dentro da realidade física de cada cidade. Sem dúvida, isso é mais fácil de escrever do que fazer, mas o momento parece ideal para que se comece a pensar nisso. n

Barra da tijuca, no Rio de Janeiro: shopping centers e condomínios fechados de classe alta

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 75

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gEstor e carrEiras

TRABALHO

audiência pública na câmara debate valorização das carreiras de estadoPresidente do Fonacate defende profissionalização e qualificação permanentes dos servidores

a udiência pública realizada na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço

Público (CTASP) da Câmara dos Deputados, em 14 de maio, debateu o tema Valorização das carreiras típicas de Estado. Os convidados abordaram assuntos relacionados à meritocracia, lei orgânica das carreiras e a criação de uma política de pessoal e salarial.

Participaram do encontro os repre-sentantes de entidades filiadas ao Fonacate, parlamentares e membros de outras instituições representativas dos servidores públicos.

O presidente do Fonacate, Roberto Kuspki lembrou que ainda é preciso apresentar um projeto de lei que defina qual é o rol das car-reiras típicas de Estado. Kupski disse

também que as carreiras “precisam de uma política de pessoal, profissio-nalização e permanente qualificação dos servidores”, e cobrou a aprovação de leis orgânicas das carreiras como a do fisco (LOF), a da AGU (Advo-cacia-Geral da União). “O Estado ia ganhar muito se criasse a lei orgânica das nossas carreiras”, enfatizou o pre-sidente do Fonacate.

O presidente do Fonacate, Roberto Kuspki, lembrou da necessidade de haver um projeto de lei que defina qual é o rol das carreiras típicas de Estado

Divulgação/Fonacate

76 Gestão Pública & Desenvolvimento - Maio de 2013

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Ao falar sobre a importância de uma política salarial para o serviço público, Roberto Kupski destacou a campanha de 2012 realizada pelas carreiras de Estado, que na ocasião apenas lutavam para o governo repor as perdas inflacionárias acumuladas desde 2008 – conforme prevê o artigo. 37, inciso X, da Constituição, que determina ao Estado brasileiro que realize, anualmente, a revisão geral da remuneração de todos os servidores públicos.

O secretário-geral do Fonacate e presidente da Unacon Sindical, Rudinei Marques, frisou que é preciso acabar com a precarização das carreiras de Estado, valorizar a importância do concurso público e diminuir os cargos em comissão de livre nomeação. “Precisamos de servidores para desempenhar as ati-vidades exclusivas de Estado. E, para isso, o governo federal precisa de uma política de pessoal”, reiterou Rudinei. O secretário citou ainda a falta de recursos humanos em alguns órgãos, como no Ministério do Trabalho e

na Controladoria Geral da União (CGU). “O Ministério do Plane-jamento liberou recentemente um concurso para auditor-fiscal do Tra-balho com 100 vagas, e existem mais de 600 cargos livres para serem pre-enchidos. Outro exemplo é a CGU, temos cinco mil cargos aprovados por lei para a Controladoria Geral da União, hoje, menos da metade estão ocupados. Como ter serviço público de qualidade, com excelente aten-dimento ao cidadão, se não temos servidores suficientes?”, questionou.

Rudinei Marques sustentou ainda que o governo precisa enfrentar a questão da meritocracia. “Os cargos de livre nomeação devem ser preen-chidos por servidores de carreira. É isso que este Fórum das Carreiras de Estado defende. Vamos valorizar os nossos servidores”, arrematou o secre-tário do Fonacate.

Mais concUrsos e Lei orgânicaO presidente da comissão,

deputado Roberto Santiago (PSD/SP), registrou que não entende

porque não se faz concursos para as demandas que realmente existem nos órgãos. “Se tem dez vagas na Anvisa, faz concurso para dez vagas. Se são 100 vagas, faz concurso para 100. Por isso que sempre que termina a realização de um certame, temos vários candidatos brigando na Justiça e tentando garantir a sua vaga”, ponderou o parlamentar.

Os representantes do Fonacate, em sua maioria, defenderam uma lei orgânica para as carreiras e a regulamentação da Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece o princípio da negociação coletiva entre trabalhadores públicos e os governos das três esferas: municipal, estadual e federal. “A lei orgânica do fisco está parada na Câmara há mais de cinco anos. É inadmissível que todas as carreiras de Estado ainda não tenham uma lei orgânica”, declarou Álvaro Sólon de França, presidente da Anfip e vice-presi-dente do Fonacate.

“Como melhorar a prestação do serviço público? Qual o tamanho do Estado? E que Estado queremos?”, questionou o representante do Sin-difisco Nacional, Sérgio Aurélio Velozo, observando que as carreiras devem estar sempre unidas pela defesa de salários justos e condições de trabalho dignas.

Para finalizar, o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT/PE), autor do requerimento para a realização da audiência, disse que o governo precisa enxergar a importância estratégica das carreiras de Estado. “Precisamos ter carreiras a favor do Estado. A quem interessa um Minis-tério Público fraco? Uma polícia federal defasada ou um auditor--fiscal que não tem segurança para realizar suas fiscalizações?” n

parlamentares e servidores abordaram assuntos relacionados à meritocracia, lei orgânica das carreiras e a criação de uma política de pessoal e salarial

Divu

lgaç

ão/F

onac

ate

Maio de 2013 - Gestão Pública & Desenvolvimento 77

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natureza, contradições e perspectivas do cargo de assessor especial de controle interno da administração Federal

r ecém empossado assessor Especial de Controle Interno (AECI) foi convidado a comparecer a evento que reuniria praticamente todos servidores

do Ministério. Na abertura, o secretário executivo apre-sentou toda a equipe dirigente e, ao fazer referência ao AECI, disse bem humorado: “agora vou apresentar aquele que, quando a gente conhece, não sabe se diz muito prazer ou meus pesares”. “Gargalhadas de lado..”, como diz a música de Caetano Veloso, ficam na esteira do mundo simbólico muitos possíveis significados rela-cionados à identidade do cargo, a contradições de suas com-petências e a indefinições institucionais represadas na administração federal.

Do ponto de vista exclusivamente nor-mativo, o art. 13 do Decreto nº 3.591/2000 estabece que a Controla-doria-Geral da União (CGU) contará com o apoio dos AECI nos ministérios para (1) assessorar o ministro e orientar os gestores nos assuntos pertinentes à área de com-petência do controle interno; (2) realizar a interface entre a gestão e os órgãos de controle no cumprimento de obrigações institucionais; e (3) para coletar informações para inclusão nos programas de fis-calização/auditoria da CGU, conforme necessidades dos órgãos. Estabelece, ainda, a obrigação de darem ciência ao ministro e à CGU, em 15 dias, sobre ocorrência de irre-gularidades, de que tomem conhecimento oficial e que impliquem lesão ou risco de lesão ao patrimônio público, sob pena de responsabilidade solidária.

Mesmo que essa explicitação normativa suscite várias questões relevantes, duas são particularmente impor-tantes para a reflexão que ora se propõe. A primeira diz respeito à identidade do cargo, que deve ser buscada na expressão “área de competência do controle interno”. A segunda refere-se a possíveis contradições entre as com-petências do cargo, pois, ao mesmo tempo, está previsto o assessoramento e a orientação aos dirigentes do minis-tério e o apoio à CGU, órgão responsável por auditar e fiscalizar os administradores federais.

Para discutir essas questões, o ponto de partida aqui escolhido são elementos sócio-históricos relacio-

nados a essa definição institucional. O termo “controle interno” apareceu pela primeira vez

no ordenamento jurídico brasileiro, quando a Lei n°. 4.320/1964 previu que o próprio Poder Executivo deveria exercer controle sobre a sua execução orçamentária e a despesa pública dela decorrente, objetivando o cumprimento de metas estabelecidas pelas polí-ticas governamentais e o alcance

de um fim estatal, com vistas à satisfação de demandas

públicas, sem prejuízo da ação do controle externo de res-

ponsabilidade do Poder Legislativo. Verifica-se a indicação para constituição de controle não vinculado ao controle político sobre burocracia, mas um controle da própria administração sobre si mesma.

No entanto, a história registra forte reação do Tri-bunal de Contas à ideia de instituição de controle interno pelo Poder Executivo. Criticou severamente a possibi-lidade de o ente fiscalizado passar a se autofiscalizar e

leice Maria garciaAssessora Especial de Controle Interno do Ministério de Desenvolvimento Social/ gabinete da ministra

artigo

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utilizou sua posição de poder na estrutura de Estado para defender suas crenças e seus interesses. Nesse sentido, é possível constituir uma ligação entre o conceito de con-trole interno recepcionado pela CF/1967 e a posição defendida pelo Tribunal. Os artigos 71 e 72, do Capítulo VI, do Poder Legislativo, definem que o controle interno integra a fiscalização financeira e orçamentária da União e que o Poder Executivo manterá sistema de controle interno visando criar condições para a eficácia do controle externo.

Dessa forma, constitucional-mente, a noção de “controle interno” surgiu integrada à noção de con-trole externo, o que lhe conferiu uma lógica de fiscalização da gestão, rompendo definitivamente a pos-sibilidade simbólica de o “controle interno” ser pensado como controle da gestão sobre si mesma.

Interessante lembrar que o Decreto-Lei nº 200/1967, por outro lado, ao dispor sobre a organi-zação da administração federal, não utiliza a expressão “controle interno”. O termo “controle” foi acolhido como princípio fundamental das atividades da administração federal, a ser operacionalizado por mecanismos que deveriam permear todos os níveis

administrativos e que deveriam funcionar como fer-ramenta dos gestores federais para coordenação das atividades e para assessoramento ao processo deci-sório. A materialização dessa ferramenta foi prevista na forma da criação do Sistema de Administração Finan-ceira, Contabilidade e Auditoria. A este último eixo, o decreto-lei delegou o apoio ao tribunal, prevendo reali-zação anual de auditoria das contas dos órgãos federais,

com certificação sobre a regularidade das mesmas, para fins de encaminha-mento ao TCU.

Assim, a Constituição Federal de 1967 fundou as bases para a instituição de um conceito de “controle interno” com dupla natureza, a ser instituído pelo Poder Executivo, e a se destinar ao apoio ao controle externo. O Decreto--Lei nº 200/1967 localizou essa dupla natureza na função da auditoria, dado que, além de auditar/certificar as contas com a finalidade de cumprir a Cons-tituição, deveria também contribuir com os gestores para fins de aperfeiço-amento da gestão. Incorporando essa lógica dividida, os auditores, desde os

anos 70, reivindicaram separação/autonomia da gestão e subordinação a algum nível de estrutura de coordenação da burocracia federal.

“ OS GESTORES FEDERAIS JAMAIS APRESENTARAM qUALqUER PROJETO PARA INTEGRAR A AUDITORIA à GESTãO, COMO FIZERAM COM A ADMINISTRAçãO FINANCEIRA E A CONTABILIDADE”

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NATUREZA, CONTRADIçõES E PERSPECTIVAS DO CARGO DE ASSESSOR ESPECIAL DE CONTROLE INTERNO DA ADMINISTRAçãO FEDERAL

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Os gestores federais, por sua vez, jamais apresen-taram qualquer projeto para integrar a auditoria à gestão, como fizeram com a administração financeira e a conta-bilidade. A evolução histórica demonstra que esse arranjo institucional fundou as bases para a cisão gestão-controle na administração federal que se completou apenas nos anos 90.

Em 1994, após o impeachement do presidente Collor e do escândalo dos anões no Congresso Nacional, houve a decisão política e burocrática de reforçar a área de “controle interno”, criando a Secretaria Federal de Con-trole (SFC) para assumir a função de auditoria e de fiscalização no âmbito federal. Em 1999, por meio da MP n. 1.893-70, a cisão adquire formato estrutural: (1) ocorre a extinção das Secretarias de Controle Interno dos Ministérios (CISET), com exceção das CISET da Presidência da República, dos ministérios e do Minis-tério das Relações Exteriores; (b) realiza-se a separação do sistema auxiliar em dois sistemas de suporte à gestão - Administração Financeira e o de Contabilidade – e um de fiscalização e auditoria de gestão - Sistema de Con-trole Interno; e (3) cria-se o cargo de AECI, com preenchimento, basica-mente pelos ex-dirigentes das CISET extintas.

Releva ressaltar a repetição his-tórica. Em 1967, a CF/1967 instituiu a noção de “controle interno” com dupla natureza, ao prever que o Poder Executivo constituiria um sistema de controle interno em apoio ao con-trole externo. Em 1999, por Medida Provisória e, em 2000, pelo Decreto n. 3.591, ficou definido que os minis-térios criariam o cargo de AECI para assessorar a gestão em apoio à SFC.

Nesse ponto cabe uma indagação relevante. Se o “controle interno” nos arranjos anteriores, inclusive no modelo de CISET, tinha uma representação funcional e simbólica de fiscalização da gestão em apoio ao Tribunal, especialmente localizada na área de audi-toria, e esta representação foi absorvida pela SFC, em 1999, em que espaço institucional os AECI se localizam e como são recebidos e percebidos pela gestão? “Muito prazer ou meus pesares”?

Na prática, os AECI exercem suas atividades em ambiente institucional ambíguo, em que as atividades são amplamente definidas no dia a dia da administração, à

luz de demandas e posturas próprias de cada dirigente e das convicções do ocupante em exercício no cargo. Carentes de institucionalização, esses profissionais são, às vezes, tratados como instância de controle, para se pro-nunciar sobre a possibilidade de algum ato de gestão ser ou não praticado, o que traz o risco de identificação com os órgãos de controle (TCU e SFC/CGU), dificultando o estabelecimento de relações de confiança que costumam caracterizar a tarefa de assessoramento. Na prática, “nem muito prazer, nem meus pesares”.

Pode-se afirmar que o exercício desse cargo por profis-sionais com experiência na fiscalização e execução auxilia a equilibrar a interface entre gestores federais e órgãos de controle, altamente empoderados nos últimos anos. Por conhecerem a lógica tanto do controle quanto da gestão, podem facilitar o diálogo entre essas esferas, auxiliando na resolução de problemas e na diminuição de riscos. Porém, como não detêm competência legal e capacidade operativa estruturada para estabelecerem procedimentos racionais e sistemáticos de revisão de processos ou de mecanismos de controle nas unidades da gestão, pouco

colaboram com a segurança dos atos administrativos praticados ou com o aperfeiçoamento dos controles da gestão.

Ressalta-se, porém, que, por força de acordos de cooperação com a CGU, alguns ministérios já detêm mandato e equipe estruturada atuando junto ao AECI para assessorar a gestão em assuntos de controle, enquanto solução institucional temporária. Trata-se do desenvolvimento de um controle interno, sob a responsabilidade dos gestores federais, que dispõe de uma assessoria para orientação e avaliação. Volta-se ao exercício de atividades

contínuas e permanentes, em apoio ao atingimento dos objetivos e das metas estabelecidas, com nível adequado de alinhamento às normas e de alcance das finalidades públicas dos órgãos e de accountability a que se obriga a esfera pública. Em nada compete com o “controle interno” sobre a gestão federal da competência da CGU, que junta-mente com o controle externo, tem o dever constitucional de resguardar a legitimidade do Estado brasileiro. Revela--se um laboratório que pode contribuir para a evolução do tema, no sentido de possível preenchimento de lacuna histórica na administração federal. n

“ A CONSTITUIçãO FEDERAL DE 1967 FUNDOU AS BASES PARA A INSTITUIçãO DE UM CONCEITO DE ‘CONTROLE INTERNO’ COM DUPLA NATUREZA”

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Artigo

NATUREZA, CONTRADIçõES E PERSPECTIVAS DO CARGO DE ASSESSOR ESPECIAL DE CONTROLE INTERNO DA ADMINISTRAçãO FEDERAL

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prêmios e pubLicaçõEs

referência nacional em premiação no serviço públicoo Governo do Espírito Santo,

por meio da Secretaria de Estado de Gestão e Recursos

Humanos (Seger), abriu o Ciclo 2013 do Prêmio Inoves em 20 de maio e as inscrições poderão ser feitas até o dia 21 de julho, pelo site www.inoves.es.gov.br. A 9ª edição do projeto tem como tema a frase “Inovar é preciso. Sempre”, que destaca a importância da inovação como alternativa aos desafios econômicos que o estado vem enfrentando.

Podem concorrer ao prêmio pro-jetos desenvolvidos por servidores dos poderes Executivo (estadual e municipal), Legislativo, Judiciário e Ministério Público. As equipes ven-cedoras serão contempladas com o Troféu Inoves e um kit multimídia no valor de R$ 15 mil, com desktop, notebook e tablet.

O evento de abertura do Inoves serviu também para o lançamento da revista referente ao Ciclo 2012 do prêmio. A publicação traz detalhes de todos os 22 trabalhos vencedores, entrevistas com servidores pre-miados, gestores e especialistas, bem como análises da importância da ino-vação na gestão pública.

“A revista do Inoves circula em todo o país, divulgando as prá-ticas inovadoras bem- sucedidas do Espírito Santo, criando a possibilidade de benchmarking com outras organi-zações, que inclusive já visitaram o nosso estado para conhecer alguns dos trabalhos premiados”, revela o coordenador do Inoves, Manoel Carlos Rocha Lima.

hisTóricoO governo do Espírito Santo, por

meio da Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger), realiza, desde 2005, o Prêmio Inovação na Gestão Pública (Inoves).

O objetivo principal é estimular a modernização da administração pública no estado, reconhecendo ini-ciativas que visem à produção de serviços públicos de qualidade, redu-zindo gastos e gerando satisfação para a sociedade, de modo efetivo, criativo e com possibilidades de multiplicação. Nessa perspectiva, contribui para a valorização do servidor público, bus-cando o seu comprometimento com a ética, o profissionalismo e a melhoria contínua da qualidade dos serviços prestados à população. Os projetos

inscritos são avaliados durante três meses por uma banca examinadora voluntária, formada por especialistas em gestão pública da iniciativa pública e privada, todos reconhecidos no meio acadêmico.

Em toda sua história, o Inoves acumula 1.283 projetos inscritos, 137 premiados e 12 mil horas de avaliação. A equipe coordenadora do prêmio possui apenas três servidores, mas estes já auxiliaram na criação de outros nove prêmios de incentivo à inovação, entre eles, os criados pelos Ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Ino-vação. Atualmente, o prêmio capixaba é referência nacional em metodologia de premiação no serviço público. n

Fonte: Assessoria de Comunicação/Seger

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a água e os desafios da sociedadee stão abertas as inscrições para o Prêmio Jovem

Cientista 2013, que terá como tema “Água: desafios da sociedade”. Podem concorrer estudantes do ensino

médio e superior, mestres e doutores. A primeira fase segue até o dia 30 de agosto. A premiação é oferecida pelo Minis-tério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI), a Fundação Roberto Marinho (FRM), além das empresas GE e Gerdau.

Cinco linhas de pesquisa terão as propostas contempladas na categoria ensino médio: gestão de bacias hidrográficas; tratamento e reuso da água; água e saúde pública; uso da água para geração de energia; e tecnologias para dessalinização da água. Nas categorias ensino superior, mestres e doutores as linhas são: gestão inovadora dos recursos hídricos aplicada ao uso do solo e à gestão ambiental; tecnologias inovadoras para despoluição de bacias hidrográficas e sua integração com as dos sistemas estuários e zonas costeiras; ecotec-nologias no tratamento de águas residuárias, industriais e urbanas, esgotos domésticos, águas pluviais e despoluição; uso racional e eficiente da água: gerenciamento, aproveita-mento e reuso; utilização de tecnologias de sensoriamento remoto na avaliação dos recursos hídricos; uso da água e da energia e aplicação de tecnologias inovadoras que promovam sua sustentabilidade; contaminantes emergentes (disrup-tores endócrinos, fármacos, resíduos orgânicos): detecção e remoção em sistemas de abastecimento de água; uso de mem-branas no tratamento da água; causas e consequências das florações de cianobactérias em mananciais de abastecimento de água; gerenciamento da água no meio urbano: novas tec-nologias para minimizar alagamentos; eventos hidrológicos extremos e sistemas de alerta; e impactos das mudanças cli-máticas nos recursos hídricos.

oFicinasA novidade deste ano será a realização da Oficina de

Projetos Científicos para estudantes do ensino médio em dez localidades do país: Belém, Campo Grande, Curitiba, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Brasília. Com duração média de quatro horas, as oficinas terão como objetivo a orientação dos interessados

em participar do prêmio. Cada escola participante poderá indicar entre cinco e dez estudantes e um professor. As ofi-cinas se estenderão nos meses de maio e junho.

PreMiaçõesNas categorias mestres e doutores, os vencedores serão

agraciados com R$ 30 mil (1º lugar); R$ 20 mil (2º lugar) e R$ 15 mil (3º lugar). Os estudantes do ensino superior receberão R$ 15 mil (1º lugar), R$ 12 mil (2º lugar) e R$ 10 mil (3º lugar); e os estudantes do ensino médio classifi-cados em 1º, 2º e 3º lugares ganharão laptops. Na categoria mérito institucional serão concedidos R$ 35 mil para cada uma das duas instituições contempladas com a premiação. Já o pesquisador indicado para a categoria Mérito Científico receberá R$ 20 mil. O CNPq concede ainda bolsas de estudo desde a iniciação científica até o pós-doutorado para os pre-miados e a GE oferece aos vencedores e orientadores, visitas técnicas às suas fábricas e laboratórios de pesquisa.

Para mais informações acesse: http://www.jovemcien-tista.cnpq.br/ n

Fonte: Ascom do CNPq

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Prêmios e Publicações

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GESTÃO AMBIENTAL NAS ORGANIzAÇõES – FUNDAMENTOS E TENDêNCIAS

● AuToReS: CHARBEL JOSé CHIAPPETTA JABBOUR E ANA BEATRIZ LOPES DE SOUSA JABBOUR

● edIToRA: ATLASEste livro é diri-

gido aos estudantes e profissionais interessados no conhecimento fundamental sobre gestão ambiental com um enfoque organizacional. Os conceitos básicos sobre o tema são apresentados de maneira objetiva, clara, didática e apoiados nas principais obras internacionais e nacionais já escritas sobre gestão ambiental.

A abordagem da gestão ambiental com um enfoque organizacional vem suprir a necessidade de formação de alunos e profissionais que consigam planejar, organizar, dirigir e controlar a redução de impactos ambientais e melhor aproveitamento das oportunidades organizacionais advindas de uma gestão ambiental pró-ativa e estratégica.

Além dos fundamentos sobre gestão ambiental e sua relação com as várias áreas das organizações, são apresentadas tendências e temas emergentes que podem servir como fonte de inspiração para que estudantes e profissionais desenvolvam pesquisas e monografias na área de sustentabilidade.

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL ● AuToR: SÁVIO NASCIMENTO ● edIToRA: CAMPUS

Esta obra visa a comentar a Lei de Responsabilidade Fiscal com a vertente exigida em provas de concursos públicos e facilitar o entendimento de seus dispositivos por meio de uma linguagem clara e objetiva ao traduzir termos técnicos em assuntos mais simples. A obra conta com parágrafos-síntese (resume a ideia), quadros com dicas (bizus) dos assuntos comentados e questões exigidas pelas bancas Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da UnB), FCC (Fundação Carlos Chagas), ESAF (Escola Superior de Administração Fazendária) e FGV (Fundação Getulio Vargas). Traz também um resolução modelo de prova discursiva e questões atualizadas referentes a provas aplicadas em 2012.

GESTÃO DA INOVAÇÃO NA PRÁTICA: Como aplicar conceitos e ferramentas para alavancar a inovação

● AuToReS: FELIPE OST SCHERER E MAXIMILIANO SELISTRE CARLOMAGNO

● edIToRA: ATLAS

Com esta obra, o leitor apre-ende conceitos fundamentais para a criação e implementação de um programa de gestão da inovação nas empresas. O texto inicia com uma abordagem que explica a impor-tância de a inovação ocorrer de forma continuada nas empresas, não sendo apenas um evento esporádico. Com essa perspectiva são apresentados os conceitos básicos, como diferen-ciar invenção de inovação e também separar melhorias de inovações, questões importantes para a gestão da inovação. A partir daí são apresentados os con-ceitos e ferramentas que podem acelerar a implantação nas empresas. São apresentados também ferramentas para fazer a gestão do portfólio de iniciativas e da medição dos resul-tados por meio de indicadores de inovação. Onze cases de empresas inovadoras são analisados à luz das ferramentas apresentadas no livro, destacando como elas conduzem suas iniciativas de gestão da inovação.

Obra recomendada para profissionais de marketing, planejamento estratégico, recursos humanos, P&D, ges-tores de projetos e empreendedores.

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ENTREVISTA // PAULO MODESTO

coordenador científico do Fórum Brasileiro sobre as agências reguladoras destaca os principais temas debatidos

Ana Seidl

F oi realizado nos dias 22 e 23 de abril, no Hotel Grand Bittar, em Brasília, o IX Fórum Brasileiro

sobre as Agências Reguladoras: Regu-lação Econômica e Controle Público. O fórum reuniu renomados agentes políticos, juristas e alguns dos mais destacados especialistas do país para uma avaliação pluralista e abrangente da atuação das agências reguladoras no Brasil. Eles discutiram propostas de alteração do seu marco legal. Entre eles, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal; Luiz Alberto dos Santos, subchefe de Análise e Acompanhamento de Polí-ticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República, coorde-nador do Comitê Gestor do Programa de Fortalecimento da Capacidade Ins-titucional para Gestão em Regulação - PRO-REG; e Alexandre Aragão, pro-curador do Estado do Rio de Janeiro e doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). A coordenação científica do evento ficou a cargo de Paulo Modesto, pro-fessor de Direito Administrativo da  Faculdade de Direito da Univer-sidade Federal da Bahia e presidente do  Instituto Brasileiro de Direito Público. Nesta entrevista, ele destaca os pontos principais do fórum.

Qual a importância deste evento para o debate sobre o avanço das agências regula-doras?

PAULO MODESTO – O obje-tivo foi debater os temas que estão dominando a cena das agências, do Congresso Nacional e do Executivo, no tocante da organização das enti-dades, sua autonomia e relação com o poder público, como também nas atividades regulatórias da ener-gia elétrica, mineração, petróleo e serviços postais. Trouxemos espe-cialistas e agentes públicos, os temas selecionados interessam tanto ao

poder público quanto às empresas. Discutimos um mosaico das agên-cias: autonomia, responsabilidades, campos de atuação, tentando formar uma cultura regulatória.

Sobre a renovação das con-cessões da energia elétrica há uma grande polêmica. Como foi essa parte do debate?

PAULO MODESTO – A polêmica persistiu. Trouxemos especialistas

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cursos e eventoscursos e EvEntos

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que fizeram uma análise crítica das propostas apresentadas. Elena Landau, professora da escola de direito da FGV-RJ, advogada espe-cializada em regulação; e Maria João Rolim, mestre em direito eco-nômico, professora do curso de regulação da energia elétrica, foram alguns dos destaques. Também par-ticipou o procurador-geral da Aneel, Ricardo Brandão Silva, que fez uma sustentação oposta. Ou seja, não fize-mos nenhum debate unilateral nem direcionado. O objetivo foi trazer o confronto de ideias. Os especialistas falaram sobre os impactos econô-micos das normas propostas e as consequências que elas consideram nocivas à economia brasileira. Já Ricardo Brandão disse que é preciso ter uma compreensão estratégica de longo prazo às normas apresentadas. Cada qual pôde formar o seu juízo, este é o objetivo, não orientar para uma visão política ideológica.

Quais foram as contribuições dos participantes em relação ao marco legal das agências regula-doras?

PAULO MODESTO – Precisamos criar uma cultura de regulação e ter cuidado com a judicialização, a invasão do Judiciário na ques-tão regulatória, que tem alcançado as agências e qualificar o regulador. O ministro Gilmar Mendes, do STF, avaliou que é preciso um controle soft (suave) sobre as decisões técnicas da agência, afinal ela tem expertise téc-nica. Para isso, ele deixou claro que as nomeações precisam ser técnicas. À medida que se prestigia o preparo técnico das agências, temos que acre-ditar que os técnicos têm voz. Isso foi debatido. A legislação induz que a nomeação deve ser técnica com aprovação política. O que se discute

atualmente é o despreparo de alguns indicados, que muitas vezes não têm conhecimento técnico suficiente. Por exemplo, há um grupo que defende que um juiz de primeiro grau não deve invalidar decisões dos colegia-dos das agências, até pelo despreparo técnico de alguns deles. A decisão caberia ao colegiado, até porque este pode passar um ou dois anos discu-tindo uma matéria, enquanto um juiz numa sexta feita dá uma liminar e suspende a matéria. É impossível a um juiz de plantão dar uma decisão técnica complexa. Mas, isso depende de mudança legislativa.

A independência das agências do governo federal foi discutida?

PAULO MODESTO – O governo apresentou um projeto de mudança do marco legal que tramita há nove anos. A primeira edição deste fórum surgiu no dia em que o governo apresentou o projeto ao Congresso Nacional e até hoje não temos defini-ção disso. Há um controle financeiro das agências, que cobram taxas de fiscalização, que deveriam ser rever-tidas para a manutenção das agências e desenvolvimentos dos serviços. No entanto, muitas vezes estes recursos são represados, objetos de contingen-ciamento para pagamento de dívida pública ou formação de capital. Isso cria problemas sérios e diminui a independência das agências.

Qual o papel das agências na atração e estabilização dos investimentos no país?

PAULO MODESTO – Papel fundamental. As agências foram pensadas como forma de neutra-lizar a instabilidade política do governo. Um corpo técnico qualifi-cado que transcendesse a governos episódicos, com uma memória administrativa e que produzisse normas que dessem confiança aos investidores nacionais e internacio-nais sobre os diversos segmentos da atividade econômica. Isso ainda não está maduro no Brasil e a ideia é que este evento contribua para uma cul-tura regulatória.

As agências são aliadas dos consumidores na obtenção de seus direitos?

PAULO MODESTO – Em muitos casos sim. Existem ouvidorias que são instâncias de controle, recebem quei-xas dos usuários de serviços, fazem papel de arbitragem. No entanto, as agências precisam de recursos, e muitos destes serviços foram fecha-dos por falta deles.

Há muitas críticas sobre o tra-balho das agências reguladoras. No caso da Anac, alguns pilotos não conseguem tirar um brevê por falta de técnico para isso?

PAULO MODESTO – As agências vivem de taxas que são represadas, há um contingenciamento brutal de seus orçamentos, que pode chegar a 80% e 90%,como é possível manter os serviços? A lei previu que as agências tivessem grande parte de seus recur-sos por meio de taxas de fiscalização. O problema é que estas não estão indo integralmente para as agências. Por isso elas não podem realizar bem seus serviços. É fácil criticá-las. n

“ PRECISAMOS CRIAR UMA CULTURA DE REGULAçãO E TER CUIDADO COM A JUDICIALIZAçãO”

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Ministério do Planejamento capacita técnicos municipais sobre transferências da União

c erca de 3.600 técnicos muni-cipais serão capacitados sobre a realização de transferências

voluntárias da União e também sobre o uso do Portal de Convênios do Governo Federal (Siconv) até o fim de junho. As capacitações serão realizadas em todas as capitais brasileiras pelo Ministério do Pla-nejamento. O cronograma das formações e o formulário para a inscrição estão disponíveis no portal do Siconv.

O Siconv foi criado em 2008 com o objetivo de agilizar e tornar mais transparente as transferências voluntárias da União com estados, municípios, Distrito Federal e enti-dades privadas sem fins lucrativos. Somente no último ano, foram realizadas 10.826 operações no sistema gerenciado pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Infor-mação (SLTI), o que movimentou cerca de R$ 9,5 bilhões. Desse total de convênios, cerca de 74% foram realizados com municípios. Por meio dessas ações, o governo federal auxilia outros entes da fede-ração a construírem hospitais, quadras esportivas e cisternas, por exemplo.

De acordo com o diretor do Departamento de Suporte à Gestão do Sistema de Transferências Voluntárias da União, Amazico José Rosa, o foco desta capacitação

são as prefeituras que tiveram troca de gestão em janeiro. “Existe hoje uma grande demanda dos novos prefeitos para treinamento de suas equipes e esta ação visa atender esta necessidade”, completa.

Após o treinamento, os técnicos municipais terão conhecimento sobre quais programas estão dis-ponibilizados pela administração federal; saberão credenciar e cadastrar proponentes no Siconv; ajustar o Plano de Trabalho e o Termo Aditivo; e prestar contas sobre a transferência. n

Fonte: Ministério do Planejamento/Ascom

SAIBA MAISPara informações adicionais sobre os cursos e sobre o cronograma das capacitações, os interessados devem entrar em contato por meio do seguinte endereço eletrônico: [email protected]

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cursos e eventos

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os novos desafios do gestor público a gestão pública encontra-se trilhando um caminho

sem volta, onde é cada vez maior a busca pela eficiência e por resultados, o que tem levado os

gestores públicos a se capacitarem para melhor enfrentar os desafios cotidianos. O chamado princípio da eficiência da administração pública, embora constasse da legislação infraconstitucional, apenas foi inserido no texto constitu-cional mediante a ementa n. 19/98.

Segundo Custódio Filho (1999), o conceito consti-tucional de eficiência pode ser traduzido em sua forma plena a partir dos aspetos afetos à agilidade, utilidade e economicidade, sendo que esta última diz respeito à busca de formas menos onerosas possíveis de tra-balho, proporcionando respeito e proteção ao erário público.

A busca pela eficiência, cada vez mais, tem pautado as atuações da administração pública, indo desde os processos de contratação de agentes públicos até a coti-diana prestação de serviços. Esta aludida eficiência está pautada pela atuação gerencial calcada em princípios de racionalidade e moralidade, a partir de aspectos científicos, práticas e dos bons modelos administra-tivos atuais. Segundo Figueiredo (2000), toda forma de adminis-tração deveria agir de maneira

eficaz, sendo tal aspecto esperado de qualquer pessoa na posição de administrador, em qualquer nível gerencial.

O que se observa na prática é que, muitas vezes, os gestores assumem cargos administrativos sem a real consciência de todos os aspectos que estes envolvem, sobretudo quanto a sua tarefa de auxiliar a viabilizar pro-gramas e políticas governamentais, por meio de seus atos. Os órgãos públicos estão à busca de profissionais adequados a exercer a gestão pública, o que se observa nos editais de concursos, que têm buscado profissionais com conhecimentos cada vez mais específicos, de forma a preencher as eventuais vagas com pessoas capacitadas e

cada vez mais prontas para o exercício da gestão pública.

Porém, com tantas especificidades do setor público, os profissionais, ao se

formarem nos cursos atualmente oferecidos, em geral, têm sentido carência de aprofundamento em alguns temas. Além disso, por vezes, comentam que os profes-sores desses cursos deveriam ter maior vivência profissional na esfera pública, proporcionando

a utilização adequada de estudos de casos, exercícios e

exemplos que fossem mais voltados para realidade do setor público.

vivênciasTais aspectos têm levado

alguns cursos em todo mundo a

Max Bianchi godoYCoordenador do curso em Master of Public Administration e dos cursos de Extensão Universitária do Ibmec Brasília. Tem mestrado em Administração (Gestão Empresarial), MBA Executivo em Negócios Financeiros e especialização em Gestão Estratégica. Atua na Diretoria de Estratégia e Organização do Banco do Brasil

artigo

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esforçarem-se em suprir tais lacunas em seus currículos, levando universidades em todo o mundo, tais como a de Georgetown (nos Estados Unidos) e algumas outras naquele e em outros países, a criarem cursos de pós--graduação que estejam mais focados na esfera pública, como é o caso dos MPA Master of Public Administration. A proposta dos MPA está em levar a vivência do gestor público para as salas de aula, buscando preparar os atuais e futuros gestores para enfrentar adequadamente os reais desafios da gestão pública, preparando-os a partir de metodologias de ensino que con-tenham boa dose prática e, para tanto, apresentem exemplos reais e profes-sores com atuação no setor público.

Além disso, estes cursos buscam abordar algumas disciplinas mais específicas, tais como: a Gestão de Pro-gramas e Projetos no Setor Público, Finanças e Orçamento Público, For-mulação e Avaliação de Políticas Públicas e Gestão de Contas Públicas, Estratégia e Planejamento no Setor Público, entre outras.

Esclarece-se que os Programas e Projetos no Setor Público apresentam muitas diferenças em relação aos projetos privados, tais como a Lei 8.666 (Licitações), a viabilização de políticas governamentais e outras carac-terísticas bastante específicas.

A avaliação de Políticas Públicas é fundamental para que os atos administrativos sejam consonantes e pro-piciem seu alcance. Outro aspecto diz respeito à correta

formulação de políticas, que considerem aspectos sociais, políticos e de infraestrutura, permitindo que estas sejam concretizáveis e viabilizadas por programas, projetos e atos administrativos.

O Orçamento Público apresenta aspectos bem dis-tintos da realidade privada, pois leva em conta aspectos na busca da melhoria contínua da eficiência dos órgãos públicos e precisam estar adequadas ao alcance dos resul-tados definidos nos planejamentos públicos de longo prazo.

O processo de planejamento no setor público exige alinhamento aos demais planos e políticas governa-mentais, bem como orquestrar a contribuição de diferentes órgãos públicos na consecução dos grandes objetivos definidos no longo prazo. Para tanto, se faz necessário reco-nhecer as especificidades de cada entidade a fim de formular os planos e, sobretudo, conseguir que estes sejam implementados de forma eficiente.

Há a percepção de que o Brasil carece de cursos de pós-graduação, tais como o MPA Master of Public Administration, que busquem abordar

adequadamente a nova realidade pública. Uma iniciativa pioneira nesse sentido é o MPA que o Ibmec Brasília estará lançando em setembro de 2013, o qual foi cons-truído nos moldes dos melhores cursos internacionais e contará com professores mestres e doutores que possuem real vivência na esfera pública. n

“ A AVALIAçãO DE POLíTICAS PúBLICAS é FUNDAMENTAL PARA qUE OS ATOS ADMINISTRATIVOS SEJAM CONSONANTES E PROPICIEM SEU ALCANCE”

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OS NOVOS DESAFIOS DO GESTOR PúBLICO

Artigo

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opinião

cláudio eMerencianoProfessor da UFRN

sonhar: busca e destinaçãoh á percepções, circunstâncias,

sensações, acontecimentos e personagens que marcam

o ser humano por toda a vida. Enraízam-se na alma, no recôndito de cada um, sedimentando refe-rências ou juízo de valor para o futuro. Geram associações no transcurso do tempo. Suscitam a impressão de que se repetem, como se o tempo retrocedesse, ou sim-plesmente fosse estático e imutável. Sem passado nem futuro. Tudo seria presente. A memória sentimental e afetiva do homem transcende ao tempo. Projeta-o no infinito. Alça-o a voos e a dimensões espirituais, divinos, permitindo-lhe descortinar a beleza e a essência da vida. Os poetas e os pintores, sin-gularmente, possuem esse atributo especial, dom, virtude, aptidão, para captar o esplendor da vida e a complexidade da alma humana. As estrelas da manhã. Adornam e brilham no firmamento, enquanto as primeiras claridades salpicam o dia e a vida. Os sinos a tocar e a repicar.

Os pássaros a cantar e a ine-briar madrugadores. As flores e as folhas que o vento matinal dis-persa. A despedida, naquele último instante, em que as faces da noite se diluem numa réstia longínqua do horizonte. O adeus de amantes eternos, cujos laços transpõem seu tempo e ascendem ao infinito. O cantar do galo, que não é o último, mas sucede aqueles tantos que vigiam, compassadamente, o fluir da noite e a aproximação da aurora. Cantar que testemunhou a negação de Pedro e o seu arrependimento. E que frequenta

toda a vertente dos tempos, todas as culturas e todos os povos. Conhece as grandezas e as fragilidades humanas. Sente-as pelo olhar, o espelho da alma. A madrugada, sombria e tenebrosa, na qual os galos cantavam e pon-

tuavam os conspiradores, que se reuniam para tramar a morte de Júlio César. Tragédia monumental em que Shakespeare imergiu na complexidade e variedade dos sentimentos, malefícios e contra-dições dos homens.

Os primeiros instantes do dia, adornados pela suavidade dos sopros da natureza, assu-mindo prerrogativa e forma de uma metáfora. Que pode projetar sonhos, sentimentos e alegrias;

ou apenas tênue ilusão, desfazendo perspectivas de feli-cidade. Foi assim, nesse mesmo contexto, que Gandhi contemplou o Oceano Índico. Nele imergiu seu pensa-mento, perscrutou seu espírito, buscou a Deus e iniciou a

“ O HOMEM DE Fé NãO SE VANGLORIA. CONHECE A VERDADEIRA DIMENSãO DAS COISAS HUMANAS: EFêMERAS E FINITAS. DETECTA O SENTIDO DE TUDO”

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fase mais épica da “não violência”. Infundiu em milhões e milhões a convicção de que o sofrimento, como oferta do homem a Deus e aos semelhantes, é a mais contundente forma de celebrar a identidade de uns com os outros. Rumo à libertação. Seu testemunho e seu exemplo se espa-lharam pelo mundo. Tornaram-no, como disse George Marshall, “a consciência da humanidade no século XX”. Como S. Francisco, cuja fé lhe deu o conhecimento e a prática do amor, destruindo em si o medo, a vacilação e a insegurança. O destemor que nasce da fé não é fanatismo nem loucura. Essa coragem é mansa, pacífica, sublime, resoluta, tranquila. Expressa a identidade do homem com Deus. Revela também a face da humildade. O homem de fé não se vangloria. Conhece a verdadeira dimensão das coisas humanas: efêmeras e finitas. Detecta o sentido de tudo.

Há quem considere a vida uma aventura sem nexo. Movida pela fatalidade. Cada um pensa como quer. Mas os laços humanos dão sentido e força às formas de aprimoramento individual e coletivo. Quanto mais se eli-minam os grilhões e a degradação do homem, mais largo é o caminho de realização dos sonhos, que se amontoam e se renovam desde o nascer dos tempos. Viver é mudar lentamente. Crescer em todas as dimensões. O caráter e o

sentido das mudanças repousam na partilha do que é bom para todos. Pelo menos no essencial, como dizia o gênio inimitável de André Malraux. Assegurando sua ascensão moral, cultural e espiritual. Jamais retrocedendo.

Provérbio português proclama que “quando um povo sonha, o mundo pula e avança”. Certamente o sentido e a substância dessa sentença alcançam os saltos, as trans-formações e avanços realizados coletivamente. Foi isso o que Axel Munthe também descortinou no seu “mundo”. Aplicando a qualquer povo, cultura e lugar. Em todos os tipos de ajuntamento humano. Diante da beleza ines-gotável, fascinante e arrebatadora da baía de Nápoles, no confronto entre o azul das águas do Mediterrâneo e a branquidade das nuvens que as cobrem, ou, no verão, quando codornas e cegonhas migram de Alexandria, no Egito, para pousar no litoral da Itália, o recluso de “Ana Capri” e Curzio Malaparte, outro exilado nesse paraíso, reconheciam que os sonhos movem a vontade de ascender, criar, mudar e transformar. Antônio Maria, Rubem Braga, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Stanislaw Ponte Preta projetaram a grandeza do brasileiro através do seu coti-diano. O sonhar como caminho e destinação. n

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SONHAR: BUSCA E DESTINAçãO

opinião

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Como gestor você tem um papel importante no combate à dengue. Sua participação nas ações de

mobilização, controle e assistência é fundamental. Para melhor coordenar o processo de enfrentamento

da dengue, veja algumas ações para serem planejadas e desenvolvidas no seu espaço de atuação:

•Reorganizaraassistênciaàsaúdenosdiversosníveisdeatenção;

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•Planejaraçõesdecomunicaçãoemobilização,comomutirõesdelimpezanacomunidade;

•Realizarplanejamentoestratégicoparaprogramareacompanharasações;

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Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2013

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1.1. Marca - Descrição

A marca da Fundação Banco do Brasil

é o conjunto formado pelo termo

Fundação composto com o alfabeto

Banco do Brasil, e o símbolo BB. A

marca é o principal elemento do

Sistema de Identidade Visual da

Fundação Banco do Brasil.

Por razões de proteção dos direitos

autorais e estratégia de comunicação,

a sua configuração não pode ser

alterada.

A marca da Fundação Banco do Brasil

está apresentada ao lado, em sua

variação 3D. A versão central 3D é a de

uso preferencial. Sua aplicação é

obrigatória em todos os materiais

impressos ou produzidos em

quadricromia, respeitando os limites de

redução. Para materiais impressos em

duas cores ou com restrições técnicas

de reprodução existem as demais

variações da marca.

1. Elementos Básicos

De modo a evitar reproduções

imprecisas, a marca não deve

ser composta graficamente,

nem reproduzida por scanner

ou por cópias xerográficas.

Para reprodução da

marca, utilizar

somente versões autorizadas.

Recomenda-se a utilização

das artes finais eletrônicas.

A variação duas cores

destina-se a impressos

bicolores, nas cores-padrão

do Banco do Brasil, que não

aceitam quadricromia.

Destina-se também a casos

de redução extrema ou a

materiais onde haja restrições

de reprodução.

Central 3D (recomendada)

Horizontal 3D (uso restrito)

Central em duas cores

Horizontal em duas cores (uso restrito)

Realização PatrocínioParceria Institucional