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Revista Interativa nº 13

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Sus - À espera de um remédio político

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INTERATIVAPublicação do Departamento de Imprensa do Sinttel-Rio

DIRETOR: Marcello MirandaEDIÇÃO: Socorro AndradeTEXTOS: Socorro Andrade e Luana Laux COLABORADORAS: Rosa Leal e Taiana StorqueREVISÃO: Socorro Andrade e Luana LauxCAPA, PROGRAMAÇÃO VISUAL E ILUSTRAÇÕES: Alexandre BersotEDITORAÇÃO ELETRÔNICA: L&B Comunicação LtdaESTAGIÁRIA: Camila Palmares3.000 EXEMPLARES - Distribuição gratuita - Permitida a reprodução desde que citada a fonte. Dezembro/2013

Saúde, um direito de todos

Sindicato dos Trabalhadores emEmpresas de Telecomunicações

do Estado do Rio de Janeiro

Rua Morais e Silva, 94 - MaracanãRio de Janeiro - RJ - 20271-030

(21) 2204-9300 - www.sinttelrio.org.br

Filiado à CUT e à Fenattel

Esta edição da Interativa aborda a questão da saúde, ou melhor, da necessidade de garantia de atendimento

público de saúde a todas as pessoas.

Embora reconhecendo que a questão é grave e se constitui num dos maiores desafios para o governo brasileiro, ressaltamos que é inaceitável ver pessoas ainda hoje morrerem na porta de hospitais de todo país sem atendimento.

Muito foi feito para mudar essa triste realidade, especialmente nos últimos 10 anos e não podemos negar que houve avanços. Um dos mais importantes foi a redução da mortalidade infantil no país em 77%.

Hoje para cada mil crianças nascidas morrem 14. Essa estatística era de 62 mortes por cada mil nascidos, de acordo com dados do relatório anual da Unicef, divulgado em setembro de 2013. Isso é, sem dúvida, um grande motivo de comemoração.

Houve ainda ampliação da distribuição de medicamentos, atenção à saúde da mulher com a garantia de pré-natal e

assistência aos portadores de moléstias graves (câncer, diabetes, cardiopatias, doentes renais crônicos etc).

As ações positivas observadas no SUS refletem o novo olhar do governo sobre a agenda de prioridades do país, isto aliado ao senso crítico de uma sociedade que teve sua fome saciada e hoje quer mais direitos, mais inclusão e mais respeito.

Essa sociedade está nas ruas cobrando mais saúde, educação, moradia e segurança. O brasileiro conquistou a cidadania e a autoestima. A INTERATIVA e o Sinttel-Rio estão ao lado da sociedade para refletir e exigir urgência na agenda de prioridades.

Nesta edição também debatemos a ameaça da regulamentação da terceirização via o PL 4330, um tema que interessa a toda sociedade e aos trabalhadores de telecomunicações em particular.

Por fim abordamos a democratização efetiva das comunicações e os novos modelos que ameaçam a hegemonia das mídias tradicionais - o midialivrismo.

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Reportagem: Luana Laux

Fotos: Camila Palmares

R esultado da Reforma Sanitária do país que nasceu na luta contra a ditadura através do de-

bate “Saúde e Democracia” defendido pelas universidades, pelo movimento sindical e pelo movimento civil organizado, seu principal objetivo era a transformação da vida da po-pulação. Mas, a falta de po-líticas públicas e investimento rebaixaram o projeto político a um “SUS possível”.

O grande desafio para todos

aqueles que defendem e lutam pela Reforma Sanitária e pela plena implementação do SUS sempre foi colocar a saúde no centro da agenda política do país, num cenário onde as condições de vida e de saúde pudessem ser discutidas nas escolas, na mídia e demais es-paços públicos de representa-ção política.

Este foi o grande desafio dos anos 90 e da última dé-cada, quando a saúde só apa-recia na mídia na época das eleições, nas matérias sobre corrupção e nas imagens cho-cantes das longas filas e caos

no atendimento dos hospitais públicos. Recentemente foi a retomada da capacidade de luta da classe trabalhadora e da capacidade de indignação de parte da classe média que sem dúvida fez com que uma enorme parcela da população fosse às ruas do país em junho deste ano. Dentro do mar de reivindicações e vozes plurais manifestas, a saúde foi talvez, o grito mais uníssono.

Mesmo no cenário de difi-culdades, descasos e má admi-nistração de recursos, o SUS, desde o seu surgimento até os dias de hoje é o principal sis-

SUS: à espera de um remédio políticoMuito antes de ser um projeto de Sistema Único de Saúde, o SUS era acima de tudo um projeto políticoca

pa

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tema de saúde da população no país. São muitos exemplos como o de Viviane dos Santos, 28, moradora de Colatina, (Espírito Santo), que estava sem dinheiro para arcar com as despesas do nascimento do seu filho e fez um parto pelo SUS, em outubro de 2012. Vi-viane até hoje faz questão de recomendar para as futuras mães em sua página pesso-al do facebook. “Posso dizer que meu tratamento [no SUS] foi quatro estrelas, (risos). Só não foi melhor porque dividi o quarto com outras mães e mi-nha filha não chorava, mas os outros bebês sim - eram cho-rões”, brinca Viviane.

SURGIMENTO DO SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) e suas diretrizes foram

geradas na 8ª Conferência Na-cional de Saúde, que aconteceu em 1986, durante o processo de redemocratização do país e nas vésperas da realização da Constituinte de 1988. As reso-luções de 1986 embasaram as formulações do SUS na Cons-tituição, que foi regulamenta-da pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.

Antes da criação do SUS, existia um sistema de saúde bastante restrito que atendia, no setor público, apenas os pacientes que tinham direito aos Institutos de Assistência centralizados no antigo Insti-tuto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), criado em 1974 pelo regime militar. O Siste-ma Único de Saúde, como o nome diz, unificou o acesso da população a tudo isso e a

partir de alguns princípios, como o da universalidade tor-nou o sistema aberto a toda e qualquer pessoa.

O SUS previa um conceito de hierarquização, baseada na ideia de um sistema que abrangesse desde a saúde bá-sica, passando pela atenção primária e secundária, até a hospitalar de alta complexida-de. Mas, a implementação do neoliberalismo e sua economia e política de governo direcio-nada de acordo com o interes-se dos mercados só poderia esvaziar o caráter universal das políticas públicas.

PRIVATIZAÇÃO DO SUS

O setor privado, que inicial-mente foi contra a criação do SUS, hoje sabe que a saída dele é ganhar dinheiro com o SUS.

HOJE TODO CIDADÃO deve ter cadastro no SUS e obter seu cartão de saúde

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A forma que este mercado e a iniciativa privada encontraram para crescer foi através do fi-nanciamento público.

Para o professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nelson Souza e Silva, uma série de legisla-ções aprovadas ou em votação demonstram o caráter priva-tizante das políticas públicas executadas no país. Como a Lei Orgânica das Universida-des Federais, que, segundo ele, coloca em xeque a auto-nomia universitária. Assim como, a Lei das Empresas Pú-blicas de Direito Privado que permite a gestão pública da saúde pela iniciativa privada.

Considerada uma das ideali-zadoras do SUS, a pesquisado-ra da Fundação Getúlio Vargas, Sônia Fleury, usa a metáfora de uma grande veia aberta para explicar o efeito da privatiza-ção no nosso sistema de saúde. “São inúmeras veias abertas

no SUS. Alguma vez a política pública avaliou as vantagens desses recursos que estão sen-do canalizados para a área pri-vada? Acho que há demasiados canais e fluxos de subsídios, de apoio ao setor privado, deso-nerações e um descaso muito grande com os sistemas univer-sais de política pública”, defen-de a especialista.

A privatização (e precariza-ção) do SUS acontece de forma indireta através da facilitação do acesso aos fundos públicos pelas Organizações Sociais (OSs) e Organizações da Socie-dade Civil de Interesse Público (OSCIPs) que passam a admi-nistrá-los indiretamente. Além de retirar direitos dos trabalha-dores através da Empresa Bra-sileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) que terceiriza seus funcionários, ao invés de incen-tivar a contratação de sua mão de obra por meio de concur-so público. Outra grande veia aberta da saúde são as enor-

mes isenções fiscais oferecidas para os planos e operadoras de saúde privadas (e até financia-mento do BNDES).

CAMPANHA SAÚDE + 10

Militantes do Movimento Saúde+10 lançaram a “Cam-panha Nacional em Defesa do SUS Público de Qualidade e para Todos”, em Brasília, no dia 30/10, em frente ao Congresso Nacional. Lidera-da pelo Conselho Nacional de Saúde, instância máxima de deliberação do SUS e ór-gão vinculado ao Ministério da Saúde, a campanha tem como objetivo comemorar os 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS) e pensar os seus próximos 25 anos.

Atualmente a principal luta do movimento tem sido em de-fesa da aprovação na Câmara, do Projeto de Lei de Iniciativa Popular que está em tramita-ção como Projeto de Lei Com-

A CRIAÇÃO DAS clínicas da família é um dos avanços do SUS

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plementar (PLP) 321/13. O PL exige a aplicação de 10% da Receita Corrente Bruta (RCB) da União em ações e serviços públicos de saúde. O que equivaleria a um aumento de R$ 46 bilhões para o setor já em 2014. Em cinco anos a proposta popular prevê um acréscimo de R$ 257,1 bilhões na saúde pública (veja o gráfi-co acima). O projeto é resul-tado de uma intensa mobili-zação civil que colheu cerca de 2,2 milhões de assinaturas para que este se tornasse re-alidade.

De acordo com Ronald Fer-reira dos Santos, presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e co-ordenador Nacional do Movi-

mento Saúde+10, o volume de recursos que o país aplica na saúde está nas últimas posi-ções mundiais. França destina 8,2% do PIB, Espanha 6,1%, Argentina 4,9% e o Brasil 4,7 % do PIB. O Canadá aplica R$ 3.182,00 per capita, enquan-to que o Brasil R$ 476,00, (quase sete vezes menos). O movimento exige que a pro-posta seja apresentada em caráter de urgência para que possa entrar ainda no orça-mento de 2014.

SENADO

O Senado aprecia outro projeto sobre ampliação do financiamento do setor, que institui o Orçamento Imposi-

tivo com uma previsão de que 50% das emendas de deputa-dos e senadores deveriam ser destinadas à saúde.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 22A/2000 foi aprovada em segundo tur-no em novembro de 2013 com 51 votos favoráveis, 8 contrá-rios e nenhuma abstenção.

O aumento dos recursos do Orçamento da União des-tinados à saúde prevê 15 % da Receita Corrente Líquida (RCL) e devem acontecer de maneira escalonada: apli-cação mínima obrigatória de 13,2% em 2014; 13,7% em 2015; 14,1% em 2016; 14,5% em 2017; e 15% em 2018. Esse percentual inclui tanto os recursos das emen-

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10% da Receita Corrente Bruta equivale a 18,7% da Líquida

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O Programa Mais Médicos já é considerada a medida mais progressista do Minis-tério da Saúde nos últimos anos, apesar da grande pressão das entidades mé-dicas que criticam a inicia-tiva. Especialistas avaliam que esta política ainda está longe de romper com o mo-delo neodesenvolvimentista. No entanto, mais importan-te do que suas contradições é o fato de que ele resgatou o debate do Direito à Saúde do esquecimento do imagi-nário social e o recolocou no centro da agenda da políti-ca nacional.

A polêmica vinda dos médicos cubanos, a am-pliação dos investimentos na atenção básica, na resi-dência médica, a tentativa

de regulação do mercado de medicina e a cobrança popular de que é papel do Estado dar saúde de qua-lidade para todos come-çam agora a ser debatidos pela sociedade. Tudo isso criou um novo cenário bem mais aberto para o diálogo e o debate com o governo sobre a universalização e qualidade do SUS.

Pesquisas recentes mos-tram mais de 70% de apro-vação do programa pela população. No agreste bra-sileiro, muitos são os relatos de pacientes que agradecem os recém-chegados médicos cubanos que prestam aten-dimento. Em matéria da Folha de S. Paulo, divulga-da no dia 10/11, a médica cubana, Teresa Rosales, de

47 anos dá o seu testemu-nho: “eles [pacientes] ficam de joelhos no chão, agrade-cendo a Deus. Dão beijos”. Rosales atendeu 231 pesso-as só em outubro deste ano, primeiro mês de trabalho dos profissionais que vieram para o Brasil pelo Progra-ma Mais Médicos.

Todos os meios de comu-nicação se viram obrigados a cobrir e debater a pauta da saúde e veicularem ma-térias críticas sobre o SUS como promessa inacaba-da. O Governo agora abre espaço para o debate do financiamento, e aos pou-cos “as veias abertas” do SUS podem encontrar um possível caminho para a cura: o remédio da política pública.

Programa Mais Médicos

das parlamentares quanto os dos royalties do petróleo.

REMÉDIO PARA TODOS

Atualmente o SUS é respon-sável pela distribuição de uma série de remédios de alto cus-to e de difícil acesso pela po-pulação. Destaca-se o Progra-ma Remédio em Casa, criado em 2002, de âmbito municipal e responsável pela entrega do-miciliar de medicamentos em quantidades suficientes para o período de 90 dias, garan-tindo, assim, a continuidade do tratamento de portadores de doenças, patologias crôni-cas em acompanhamento nas Unidades de Saúde.

O Ministério da Saúde tam-bém desenvolveu o Programa de Medicamentos Excepcio-nais que consiste na oferta gratuita de remédios de alto custo para tratamento de in-suficiência renal crônica, he-patite viral B e C, osteoporose, problemas de crescimento, mal de Alzheimer, mal de Parkin-son, mal de Gaucher e imu-nossupressores para pacientes transplantados, entre outros.

O SUS CONTRA O CÂNCER DE MAMA

Em 2013, o Ministério da Saúde anunciou que irá incor-porar o trastuzumabe, um dos mais eficientes medicamen-

tos de combate ao câncer de mama, ao SUS. A previsão é que o medicamento passe a ser distribuído a partir de ja-neiro de 2014 e o investimento para o mesmo seja da ordem de R$130 milhões ao ano.

A droga, de altíssimo custo, é vendida em media por 7mil re-ais cada frasco e até então esta-va restrita a mulheres que con-seguiam o direito de recebê-la do governo por meio de ações judiciais. O câncer de mama é o segundo mais comum no mun-do e o mais frequente entre as mulheres. Estima-se que en-tre 20% e 25% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama têm indicação para re-ceber essa medicação..

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Luana Laux

O midialivrismo é um con-ceito que leva em conta a percepção dos indi-víduos como cidadãos

capazes de distribuir, produzir, compartilhar e replicar infor-mações através das ferramen-tas dispostas ao seu alcance. Uma forma de lutar contra os grandes monopólios e barões da mídia que hoje dominam o mercado e ocupam o imaginá-rio da população brasileira.

Na história do Brasil, não faltam exemplos deste comba-te. Do monopólio da imprensa nos tempos coloniais às con-cessões dadas a políticos du-rante a ditadura, pouca coisa mudou. Ainda assim, por pior que fosse a censura, movi-mentos sociais de resistência sempre conseguiram criar rotas de fuga, propagar seus ideais e difundir suas lutas. Dentro do contexto atual das manifestações do país surgiu o coletivo midialivrista Mídia Ninja, que se auto-descreve como Narrativas Integradas de Jornalismo e Ação (Ninja).

Vale lembrar que o setor de comunicação é um dos mais atrasados dentre todos os seg-mentos do Brasil e até hoje aguarda uma resposta do go-verno ao tão necessário Marco

Midialivrismo: muito além do eixo

Regulatório das Comunicações.Para entender estas novas

formas de organização e re-presentação, a REVISTA IN-TERATIVA conversou com o representante do Mídia Ninja, Filipe Peçanha, e o criador da rede independente de produ-ção cultural do Circuito Fora do Eixo, Pablo Capilé.

Formado em comunicação, Capilé fez do Fora do Eixo, o coletivo dos coletivos que

constitui hoje uma rede nacio-nal de pessoas envolvidas com a produção cultural indepen-dente do país: músicos, fotó-grafos, jornalista, técnicos de som e imagem, cenógrafos e outros profissionais. Toda uma rede de cooperação que possui carta de princípios, regimento interno e organograma. Além de uma recém-inaugurada sede em São Paulo. Confira a íntegra da entrevista.

INTERATIVA - Quantas or-ganizações compõem a rede Fora do Eixo e quantos cola-boradores trabalham em tem-po integral na rede?

CAPILÉ - Em 2012, a rede Fora do Eixo registrou 122 Coletivos, 5 casas e 400 co-letivos parceiros. Em 2013, são 18 casas, 91 Coletivos e 650 Coletivos Parceiros. Atu-amos em mais de 300 cidades. A nossa estimativa é que atu-almente temos 600 pessoas trabalhando integralmente e

O fenômeno do midialivrismo e as novas formas de organizações coletivas, como a rede Fora do Eixo (FDE), ganharam grande repercussão com a atuação de um de seus coletivos, o Mídia Ninja, na cobertura ao vivo da recente revolta popular brasi-leira transmitida pela internet.

PABLO CAPILÉ, do Fora do Eixo. Na outra página: FELIPE PEÇANHA, do Mídia Ninja

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mais de 2 mil como colabora-dores fixos, que participam de ações durante todo ano.

INTERATIVA - Você acredita que a grande mídia exerce pa-pel fundamental na distorção da percepção da sociedade so-bre a realidade do que ocorre nas manifestações?

FILIPE PEÇANHA - Existe uma coerção, uma cumplici-dade dos grandes veículos na hora de compor as matérias, em denunciar os manifestan-tes e colocá-los nas suas nar-rativas como vândalos, como agressores, como pessoas que não trabalham, desqualifican-do o discurso daqueles que es-tão reivindicando. Vemos um bloco inteiro do Jornal Na-cional falando dos manequins destruídos na Toulon e não se tem capacidade de embasar o porquê aquelas pessoas estão nas ruas. A pauta dos mani-festantes não ganha visibilida-de de maneira legítima. Isso mostra uma certa cumplicida-de entre agressão policial e o discurso da grande imprensa.

INTERATIVA - Como você en-xerga o impacto do trabalho dos Ninjas em relação à gran-de mídia?

FILIPE PEÇANHA - A gran-de Mídia está deslocada. Não sabe o que fazer. A distorção das narrativas que faz em cima daquilo que os manifes-tantes estão, de fato, propon-do gerou revolta nas pessoas. A imprensa vem olhando essa

recusa como uma restrição à liberdade de expressão, como um ato inconstitucional. Mas, se for pensar na liberdade de expressão tem que pensar na legitimidade da narrativa.

INTERATIVA - O Fora do Eixo costumava proclamar a política do “Pós-Rancor”. O que significa “Pós-Rancor”?

CAPILÉ - O conceito do Pós Rancor não defende que não devemos sentir rancor ou que não tenhamos memória his-tórica de todas as injustiças acumuladas pela humanida-de. Pelo contrário, reconhe-ce seu contexto e condição e propõe ações propositivas. Ou seja, luta em favor de causas e não contra. Essa mudan-ça de olhar foi decisiva para o entendimento da lógica da abundância e da potência, da superação do medo e do pro-tagonismo na rede.

INTERATIVA - Que tipo de

mudança de modelo socioeco-nômico o Fora do Eixo e a Mí-dia Ninja defendem?

CAPILÉ - A rede Fora do Eixo e o Ninja não pregam a revolu-ção armada como metodologia de transformação social. Para entender a rede, é preciso to-mar emprestado um pouco o conceito do que é Economia Solidária: “Trata-se de uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza (eco-nomia) centrada na valorização do ser humano e não do capi-tal. Tem base associativista e cooperativista, e é voltada para a produção, consumo e comer-cialização de bens e serviços de modo autogerido. A finalidade é a reprodução ampliada da vida. Preconiza o entendimen-to do trabalho como um meio de libertação humana dentro de um processo de democrati-zação econômica, criando uma alternativa à dimensão alienan-te e assalariada das relações do trabalho capitalista”..

Luana Laux

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Socorro Andrade

A polêmica sobre a ter-ceirização hoje no Bra-sil tem nome e sobreno-me. Trata-se do Projeto

de Lei 4330/2004, de autoria do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).

O autor do famigerado pro-jeto é o empresário e dono do Grupo Mabel, um dos maiores fabricantes de biscoitos da América Latina, portanto, le-

O risco da terceirização generalizadaEm linhas gerais, a terceirização é o processo pelo qual os empresários subcontratam a mão de obra a um custo muito baixo e ainda de quebra se livram de várias responsa-bilidades trabalhistas e sociais. Portanto, a terceirização interessa apenas ao capital, não à classe trabalhadora.

gítimo representante da clas-se patronal.

Além do deputado, o PL 4330 conta com um forte lo-bby do patronato. Mas a classe trabalhadora e suas entidades representativas, a CUT e de-mais centrais sindicais do país, bem como instituições organi-zadas da sociedade civil e até o Tribunal Superior do Trabalho (TST) cerram fileiras na luta para impedir a aprovação do projeto da forma em que está.

A terceirização no Brasil tem sido sinônimo de preca-rização do trabalho (jornadas extorsivas, salários baixos ou nenhum benefício social, como assistência médica e odon-tológica, vale refeição, cesta básica, ajuda para educação, reembolso creche, etc). Se isso é ruim, muito pior será com a aprovação do PL 4330.

O setor de telecomunicações é um exemplo do mal que a terceirização faz aos traba-

Socorro Andrade

TODO O SERVIÇO de manutenção, reparo e instalação de linhas, atividades-fim, foi terceirizado pela Oi

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lhadores. Após a privatização em julho de 1998, setores in-teiros foram terceirizados. A Oi, por exemplo, terceirizou de imediato a atividade-fim da empresa - as áreas de aten-dimento e operacional. Demi-tidos, parte dos empregados foi recontratada como mão--de-obra terceirizada com sa-lários muito inferiores aos que recebiam na estatal.

A terceirização nas teleco-municações foi das mais cruéis. De acordo com o Sinttel-Rio, os trabalhadores tiveram de cara seus salários rebaixados drasticamente e todos os be-nefícios foram extintos ou re-duzidos. Passados 15 anos, o Sindicato, com muita luta, ga-rantiu algum avanço, mas em geral a situação desses traba-lhadores ainda é difícil.

O que aconteceu no setor de telecomunicações é um refle-xo do que se verifica nas de-mais áreas. De acordo com o Dieese, os terceirizados têm maior jornada de trabalho e alta rotatividade nas empre-sas. Enquanto a média de tempo de emprego dos traba-lhadores diretos é de 5,5 anos, a dos terceirizados é de 2,5. De cada 10 acidentes de tra-balho, oito são com terceiriza-dos. Ainda segundo o Dieese, a metade dos terceirizados re-cebe entre um e dois salários mínimos, enquanto 70% dos que são diretamente contra-tados estão incluídos em uma maior faixa de remuneração.

Temendo pela não apro-vação do PL 4330, a classe patronal já tratou de buscar uma nova saída. O golpe já está preparado. Eles concen-tram seus lobbies em outro projeto, o PL 87/2010. Simi-lar ao PL 4330, o PL 87 tam-bém prevê a terceirização em todos os setores da ativida-de econômica, inclusive, nas atividades-fim e acaba com a responsabilidade solidária assegurada em lei, aquela em que empresa tomadora de serviços é co-responsável nas irregularidades trabalhistas cometidas pela terceirizada.

O PL 87/2010 está em fase

Prevendo derrota patronato já aposta no PL 87/2010

inicial de tramitação. Se apro-vado na Comissão de Consti-tuição e Justiça da Câmara (CCJ) segue para Comissão de Assuntos Sociais (CCAS). Mas o empresariado está or-ganizado para emplacar a terceirização generalizada da economia de qualquer manei-ra, para isso eles contam com o poder econômico.

Já os trabalhadores, atra-vés de suas entidades repre-sentativas, CUT, Sindicatos, federações, etc, contam com o seu poder de mobilização para impedir que isso acon-teça e que o país retroceda à escravidão.

Ministros do TST condenam o PL 4330

Em ofício enviado ao pre-sidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara

(CCJC), deputado Décio Lima (PT-SC), 19 dos 26 ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenam o PL 4330. O documento é também subscrito pelos 24 presidentes e correge-dores dos TRT’s que integram o Conselho Consultivo do Colégio de Presidentes e Corregedores de Tribunais Regionais do Tra-balho. Veja a seguir os princi-pais trechos do documento:

I. O PL autoriza a genera-lização plena e irrefreável da terceirização na economia e na sociedade brasileiras, no âmbi-to privado e no âmbito público,

podendo atingir quaisquer seg-mentos econômicos ou profis-sionais, quaisquer atividades ou funções, desde que a empresa terceirizada seja especializada.

II. O PL negligencia e aban-dona os limites à terceirização já sedimentados no Direito bra-sileiro, que consagra a terceiri-zação em quatro hipóteses:

1- Contratação de trabalha-dores por empresa de traba-lho temporário (Lei nº 6.019, de 03.06.1974);

2- Contratação de serviços de vigilância (Lei n 7.102, de 20.06.1983);

3- Contratação de serviços de conservação e limpeza;

4- Contratação de serviços especializados ligados a ativi-

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dades-meio do tomador, desde que inexista a personalidade e a subordinação direta;

III. A diretriz acolhida pelo PL nº 4.330, ao permitir a ge-neralização da terceirização para toda a economia e a so-ciedade, certamente provoca-rá gravíssima lesão social de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários no País (...) Neste sentido, o Projeto de Lei esvazia o conceito cons-titucional e legal de catego-ria, permitindo transformar a grande maioria de trabalhado-res simplesmente em presta-dores de serviços´ e não mais “bancários”, “metalúrgicos”, “comerciários”, etc.

Como se sabe que os direitos e garantias dos trabalhadores terceirizados são manifesta-

mente inferiores (...) o resul-tado será o profundo e rápido rebaixamento do valor social do trabalho na vida econômi-ca e social brasileira, envol-vendo potencialmente milhões de pessoas.

IV. O rebaixamento dramá-tico da remuneração contra-tual de milhões de concida-dãos, além de comprometer o bem estar individual e social de seres humanos e famílias brasileiras, afetará forte-mente, de maneira negativa, o mercado interno de traba-

lho e de consumo (...)V. Essa redução geral e gra-

ve da renda do trabalhador brasileiro – injustificável, a todos os títulos – irá provocar também, obviamente, severo problema fiscal para o Estado, ao diminuir, de modo substan-tivo, a arrecadação previdenci-ária e tributária no Brasil.

A repercussão fiscal ne-gativa será acentuada pelo fato de o PL provocar o es-vaziamento, via terceirização potencializada, das grandes empresas brasileiras, que irão transferir seus antigos empregados para milhares de pequenas e médias empre-sas – todas especializadas, naturalmente -, que serão as agentes do novo processo de terceirização generalizado.

(...)A perda fiscal do Estado brasileiro será, consequente-mente, por mais uma razão, também impressionante. Dessa maneira, a política trabalhista extremada proposta pelo PL 4.330-A/2004, aprofundando, generalizando e descontrolan-do a terceirização no país, não apenas reduzirá acentuada-mente a renda de dezenas de milhões de trabalhadores bra-sileiros, como também redu-zirá, de maneira inapelável, a

arrecadação previdenciária e fiscal da União no País.

VI. A generalização e o apro-fundamento da terceirização trabalhista, estimulados pelo Projeto de Lei, provocarão também sobrecarga adicional e significativa ao Sistema Único de Saúde (SUS), já fortemente sobrecarregado. É que os tra-balhadores terceirizados são ví-timas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais/pro-fissionais em proporção muito superior aos empregados efe-tivos das empresas tomadoras de serviços. Com a explosão da terceirização – caso aprovado o PL nº 4.330-A/2004 -, au-tomaticamente irão se multi-plicar as demandas perante o SUS e o INSS”..

O Projeto de Lei esvazia o conceito constitucional e legal de categoria

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A terceirização reduzirá acentuadamente a renda de dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros

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O ATENDIMENTO FOI todo terceirizado e tem as piores condições de trabalho

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Rosa Leal*

Em 1993 o Sinttel-Rio criou um instituto com o objetivo de promover estudos e apresentar

propostas para o setor de te-lecomunicações. Um instituto capaz de, a partir da visão dos trabalhadores, se tornar refe-rência nacional sobre o setor de telecomunicações.

Durante toda a primeira década após a fundação, sob

Telecomunicações.Você foge desse tema?Pra muitos, é um palavrão. Pra outros, é “papo cabeça”. Tem gente que tem preguiiiiça de ler sobre o assunto. Mas as telecomunicações fazem parte do dia a dia de todo mundo. Até de quem não tem celular, internet, TV por assinatura. Imagine, então, de quem tra-balha na área! Por isso, o assunto abaixo lhe interessa.

o impacto da privatização da Telebras, o Instituto Telecom atuou no campo da qualifica-ção profissional, buscando ga-rantir o mercado de trabalho diante de um cenário de de-missão em massa e terceiriza-ção crescente.

A partir de 2007, com a proposta de implantar dez te-lecentros de inclusão digital em comunidades populares, o Instituto Telecom passou a concentrar sua atuação na análise das políticas públi-cas de telecomunicações e na formulação de propostas que permitissem o acesso da maio-ria da população à internet banda larga.

Hoje, o Instituto Telecom mantém um Portal na inter-net e um boletim on-line que reúne as principais notícias sobre o setor de telecomuni-cações no país e no mundo. Às terças-feiras, o Instituto faz uma análise das políti-cas públicas de telecomuni-cações e comunicação, com o Nossa Opinião. Esta aná-lise já se tornou instrumen-to fundamental de reflexão sobre as telecomunicações brasileiras, sendo reprodu-zida em boletins de diversas entidades.

No início de 2011 o Institu-to conquistou uma expressiva

vitória. Com o apoio de deze-nas de entidades nacionais, dentre as quais a Fenattel e os sindicatos filiados, indicou e conseguiu que a presidente Dilma nomeasse Marcello Mi-randa para uma das vagas de representante da sociedade civil no Conselho Consultivo da Anatel.

O Instituto tem participa-ção ativa em diversos fóruns e foi um dos autores da pro-posta de internet banda larga em regime público, aprovada por unanimidade pela 1ª Con-ferência Nacional de Comuni-cação (Confecom), realizada em dezembro de 2009, em Brasília.

A partir de 2014, todos os dez telecentros de inclusão digital estarão em funciona-mento, atendendo cerca de cinco mil pessoas das comu-nidades da Formiga, Jaca-rezinho e Maré; dos bairros de Oswaldo Cruz, Paciência, Campo Grande e Ilha do Go-vernador; e dos municípios de Mesquita, Petrópolis e Nova Friburgo, oferecendo acesso à internet e cursos de qualifica-ção em informática.

Para saber mais acesse www.institutotelecom.com.br.

*Jornalista e presidentedo Instituto Telecom

Revista eletrônica do Instituto

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Taiana Storque

C ientistas afirmam que a reação ao estresse é uma atitude biológica essen-cial para a adaptação à

situações novas de um indiví-duo, como uma defesa natural. Em pequena dose, pode até ser positivo, pois o organismo pro-duz adrenalina, um estimulante natural.

QUAL É O SEU NÍVEL DE ESTRESSE?

Os alunos da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNI-FESP) apresentaram um teste para identificar o nível de es-

tresse. O exame é dividido em três fases: Alerta, Resistência e Exaustão.

Os sintomas estão elencados de acordo com a respectiva fase. Os estudantes alertam que as formas pelas quais o estresse se manifesta podem mudar de pessoa para pessoa e que este teste é apenas uma referência. Confira as figuras, faça o teste e avalie o seu nível de estresse.

A primeira fase ocorre quan-do o indivíduo entra em contato com o agente estressor e o seu corpo perde o equilíbrio. Na se-gunda fase, o corpo tenta vol-tar ao equilíbrio. O organismo pode se adaptar ao problema, ou eliminá-lo. A exaustão é a

terceira fase do estresse. É pe-rigosa, pois há muitos compro-metimentos físicos em forma de doença.

TRATAMENTOHá diversas formas para

tratar o estresse, mas a prin-cipal é a mudança de hábito. Procure a ajuda de um profis-sional para orientá-lo. Dentre os métodos mais convencio-nais estão: remédios, alimen-tação balanceada e atividade física, relaxamento e medita-ção através de práticas como Raja Yoga e Hatha Yoga, fi-toterapia, reike, massagem, acupuntura entre outras.

Fonte: http://bit.ly/twDYI

Estresse: um risco à saúde

É importante se questionar: “Se eu parar e cuidar de mim o mundo vai acabar?

Trânsito, fila de banco, trabalho em excesso e falta de dinheiro são as maiores reclamações dos brasileiros e motivo de estresse. Tudo isso provoca cansaço, tensão, nervosismo, ansieda-de e exaustão. O estresse é o acúmulo de atividades de natureza física, psicológica ou social.

FASE DE ALERTA

Se você tem menos que sete desses sintomas é possível que o seu corpo não esteja sen-do afetado pelo estressor. Se você tem sete, ou mais destes sintomas é provável que já te-nha atingido a fase de alerta.

FASE DA RESISTÊNCIA

Se você tem menos que quatro desses sintomas sua fase de estres-se é de alerta. Se você tem quatro, ou mais destes sintomas prova-velmente já ultrapassou a fase de alerta. Continue com o teste.

FASE DE EXAUSTÃO

Se você teve menos que nove desses sintomas nos últimos três meses, sua fase de estresse é resistência. Se você teve nove destes sintomas nos últimos três meses sua fase de estres-se é exaustão e é aconselhável procurar ajuda médica.

Angústia

Mudança extrema de apetite

Taquicardia

Tontura frequente

Dificuldades sexuais

Pesadelos

Cansaço excessivo

Hipersensibilidade emotiva

Irritabilidade

Insônia

Tiques nervosos

Hipertensal arterial confirmada

Diarréias frequentes

Úlcera

Impossibilidade de trabalhar

Problemas dermatológicos

prolongados

Apatia

Perda do senso de humor

Formigamento nas extremidades

Tontura

Hipertensão arterial

Irritabilidade excessiva

Obsessão com o agente

estressor

Cansaço constante

Sensação de desgaste físico

constante

Problemas com a memória

Mudança de apetite

Sensibilidade emotiva

excessiva

Desejo sexual diminuído

Gastrite prolongada

Mal-estar generalizado

Aparecimento de problemas

dermatológicos

Formigamento nas extremidades

Tensão e dor muscular

Aumento de transpiração

Boca seca

Aperto na mandíbula

Ranger os dentes

Roer unhas/pontas de caneta

Dor no estômago

Mãos e/ou pés frios

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