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ISSN 1984-3577 - Vol.2, N.2, MAR/JUN 2009 Inter Rev REVISTA INTERTOX DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE http://www.intertox.com..br

Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

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A RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela InterTox, São Paulo, SP, Brasil.

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ISSN 1984-3577 - Vol.2, N.2, MAR/JUN 2009

InterRevREVISTA INTERTOX DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE

http://www.intertox.com..br

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REVISTA INTERTOX DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE ISSN 1984-3577 Revista Eletrônica Quadrimestral meses: (2) fevereiro; (6) junho; (10) outubro A RevInter é uma publicação da Intertox Ltda, Rua Monte Alegre, 428 – CJ 73, São Paulo, SP – 05014-000. Disponível em http://www.intertox.com.br. As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda. Seções: Artigos técnicos; Revisões; Comunicações; Ensaios; Informes; Opinião Idiomas de publicação: Português; Inglês; Espanhol EDITOR CIENTÍFICO (2009-2011) Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML/SP por 22 anos. COMITÊ CIENTÍFICO (2009-2011) Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML/SP por 22 anos. Marcus E M da Matta Doutorando em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental USP. Turismólogo e graduando em Engenharia Ambiental. Moysés Chasin Farmacêutico-bioquímico pela UNESP/SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999. Ricardo Baroud Famacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia.

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CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO (2009-2011) Alice A da Matta Chasin Doutora em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia. Eduardo Athayde Coordenador no Brasil do WWI – World Watch Institute. Eustáquio Linhares Borges Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA. Fausto Antonio de Azevedo Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA, ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia. João S. Furtado Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA). Sylvio de Queiroz Mattoso Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do CEPED-BA.

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Índice: Editorial 1 Artigo original Analises toxicológicas e a questão ética Silvia O. S. Cazenave e Alice A. da Matta Chasin

5

Avaliação de toxicidade em sedimentos do rio Juqueri (SP) com Vibrio fischeri e Hyalella azteca Helen Hwang, Gabriel Fonseca Alegre, Sueli Ivone Borrely, Maurea Nicoletti Flynn

18

A importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos

29

Artigo de revisão O Investimento Privado e a Restauração da Mata Atlântica no Brasil Kyle Meister, Victor Salviati

43

Informe A implementação do GHS na União Européia em atendimento ao REACH Giovanna Ribeiro-Santos, Fabriciano Pinheiro

58

A importância da capacitação em GHS Patrícia Estevam dos Santos , Cyro Hauaji Zacarias e Giovanna Ribeiro-Santos

61

Opinião Aplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso

64

Normas para publicação 70

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A Toxicologia e o fim da GM

Poderá haver alguma correlação?

Comecemos pela gigante General Motors. O cineasta e escritor Michael Moore, em artigo de

lucidez lancinante – Adeus, General Motors, defende que o povo americano, agora detentor

de 60% da mega-empresa, deve desejar que o estilo estratégico da mesma mude e ela deixe de

fabricar carros voltados ao alto consumo de combustível fóssil, a gasolina, farta e barata em

tempos passados, e passe a se concentrar, como num esforço de guerra, o mesmo que a

companhia empreendeu nos anos 1940, em soluções inteligentes de transporte de pessoas,

como trens balas e outras fórmulas de locomoção digna para massas. Escreve Moore:

“É com triste ironia que a empresa que inventou a "obsolescência programada" – a decisão

de construir carros que se destroem em poucos anos, assim o consumidor tem que comprar

outro – tenha se tornado ela mesma obsoleta.

Ela se recusou a construir os carros que o público queria, com baixo consumo de

combustível, confortáveis e seguros. Ah, e que não caíssem aos pedaços depois de dois anos.

A GM lutou aguerridamente contra todas as formas de regulação ambiental e de segurança.

Seus executivos arrogantemente ignoraram os "inferiores" carros japoneses e alemães,

carros que poderiam se tornar um padrão para os compradores de automóveis. A GM ainda

lutou contra o trabalho sindicalizado, demitindo milhares de empregados apenas para

"melhorar" sua produtividade a curto prazo.”

Quem diria? Quem poderia pensar, nas décadas dos anos 1920 a 1950, que um dia a toda

poderosa GM daria no que deu? Nos tempos do grande Charles Erwin Wilson, conhecido

como o “Engine Charlie” ou “Motor Charlie”, o super presidente da organização, que

personificou o papel, ao lado de outros da época, de empresário estadista, chegando a ser

convocado por ninguém menos do que Eisenhower a exercer o cargo quase imperial de

Secretário da Defesa, em 1953, seria louco incurável o que aventasse tal hipótese para o

futuro próximo do conglomerado. Na ocasião aludida Engine Charlie chegou a declarar, na

sessão de homologação do Senado: “Não consigo imaginar tais situações” (referia-se a uma

pergunta que lhe fora feita a respeito de possíveis conflitos entre os interesses dos Estados

Unidos e os da GM) “pois, durante anos, sempre achei que o que era bom para os Estados

Unidos também era bom para a General Motors e vice-versa. Não existia diferença. Nossa

empresa é grande demais. Ela progride com o bem-estar do país.” Essa percepção para as

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enormes empresas americanas foi bem frisada no livro de sucesso, também de 1953, de David

Lilienthal, um dos envolvidos na concepção do New Deal, chamado Big Business: A New

Era, que, de certa maneira, coroou um processo iniciado em 1909, por Herbert Croly,

jornalista e filósofo, que escreveu em The Promise of American Life que as grandes empresas

norte-americanas em vez de serem desmembradas, deveriam ser reguladas tendo em vista o

interesse público. O professor de Políticas Públicas na Goldman School of Public Policy

(Universidade da Califórnia, Berkeley) Robert Reich passa em análise todo esse intricado

processo em seu imperdível livro “Supercapitalismo – como o capitalismo tem transformado

os negócios, a democracia e o cotidiano”.*

De fato, a GM e suas ‘irmãs’ estiveram por décadas acostumadas a uma combinação de

fatores que lhes foi muito favorável: abundância de combustível a preço ridiculamente barato

até a primeira crise do petróleo, prosperidade incessante da classe média americana, nenhum

compromisso com a causa ambiental por parte da sociedade, estímulo potente ao consumo,

domínio massacrante de suas tecnologias até então, desconhecimento científico a respeito dos

impactos ambientais decorrentes da queima gigantesca de combustíveis fósseis, etc. A partir

dos anos 1980, um a um esses fatores se modificaram marcantemente. A GM deixou de

atender seus clientes, que queriam ser transportados... E deixou de atender os potenciais

clientes dos anos mais recentes, que em contraste com aquele cliente cativo e típico dos anos

1920 a 1960, querem também seus carros, porém econômicos no consumo, pequenos para as

grandes cidades congestionadas, não poluentes, ou seja, ecologicamente corretos tanto quanto

possível. Parece que as montadoras japonesas e coreanas estavam mais atentas a essa

mudança mundial do padrão de consumo.

E aí está o ponto: em que pese ainda se questionar se é válido ou ético, no todo, o padrão de

consumo que hoje mantemos, é inegável também que está havendo uma alteração nos hábitos

do consumo e do consumidor, ainda que incipiente se perto do que é necessário. Trata-se, sem

dúvida, do surgimento de um consumidor mais consciente que, seja por motivos ideológicos

seja por prosaica motivação econômica, preferem produtos mais adequados a seus bolsos,

crenças e tempos.

Voltando a Moore, advoga o autor:

“Vinte anos atrás eu fiz o filme "Roger & Eu", onde tentava alertar as pessoas sobre o futuro

da GM. Se as estruturas de poder e os comentaristas políticos tivessem ouvido, talvez boa

parte do que está acontecendo agora pudesse ter sido evitada.”

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Baseado nesse histórico, solicito que a seguinte idéia seja considerada:

Assim como o Presidente Roosevelt fez depois do ataque a Pearl Harbor, o Presidente Obama

deve dizer à nação que estamos em guerra e que devemos imediatamente converter nossas

fábricas de carros em indústrias de transporte coletivo e veículos que usem energia

alternativa. Em 1942, depois de alguns meses a GM interrompeu sua produção de automóveis

e adaptou suas linhas de montagem para construir aviões, tanques e metralhadoras. Esta

conversão não levou muito tempo. Todos apoiaram, e os nazistas foram derrotados. Estamos

agora em um tipo diferente de guerra – uma guerra que nós travamos contra o ecossistema,

conduzida pelos nossos líderes corporativos.

Esta guerra tem duas frentes. Uma está em Detroit. Os produtos das fábricas da GM, Ford e

Chrysler constituem hoje verdadeiras armas de destruição em massa, responsáveis pelas

mudanças climáticas e pelo derretimento da calota polar. As coisas que chamamos de "carros"

podem ser divertidas de dirigir mas se assemelham a adagas espetadas no coração da Mãe

Natureza. Continuar a construir essas "coisas" irá levar à ruína a nossa espécie e boa parte do

planeta.”

Portanto, a seu ver, os carros tais como a GM ainda insistia em produzi-los, são ‘verdadeiras

armas de destruição em massa’. Como se dá essa destruição, qual seu mecanismo? O

mecanismo é químico, são reações entre as substâncias químicas emitidas pelo cano de escape

e os constituintes naturais da atmosfera, desnaturando-os. Pode-se dizer que os gases emitidos

na queima da gasolina são poluentes que geram um efeito nocivo no corpo atmosférico,

resultando disso a intoxicação dos ares respiráveis que expõe a ecotoxicidade de tais agentes.

A doença tóxica da atmosfera, antes berço da vida, traduzida por seu estado febril, incita toda

sorte de mudanças climáticas, a partir do que são atingidos os seres vivos do planeta, inclusive

os humanos. Ademais, recorde-se que além desse sinuoso caminho indireto de danos e

malefícios, os gases tóxicos do escapamento, muitos deles também gases do efeito estufa, são

diretamente tóxicos para todos os que dependem da respiração pulmonar para viver com

qualidade. Monóxido de carbono, ao lado do primo dióxido que aquece o planeta, é um

asfixiante químico de notável competência, tendo uma afinidade estonteante pela

hemoglobina, privando nossos músculos do tão desejado oxigênio, exercendo um efeito

cardiotóxico de fazer inveja.

A GM se foi porque não entendeu o novo mercado, os códigos dos novos consumidores;

porque seus dirigente prepotentes, mesmo que disfarçassem, ainda habitavam a máxima

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taylorista de Henry Ford, do escolham o que quiserem desde que seja o que ofereço. E esse

novo consumidor, embora no paradigma do consumir, é mais esclarecido e sabe o que é

impacto ambiental, sabe o que é um agente tóxico insidioso, capaz de matar cronicamente,

sabe o que é trabalho infantil e trabalho escravo, e não quer pactuar desses descaminhos. A

partida da GM não deve ser vista com tristeza saudosista ou medo, mas sim saudada, no

mesmo estilo do que faz Moore, porque sinaliza a chegada de mais um novo tempo – e que o

governo americano de fato entenda assim, que não ponha tantos milhões de bons dólares para

perpetuar o que já acabou, antes porém para iniciar o novo, uma produção voltada para a

inteligência ecológica, uma forma de ecosofia industrial. Foi o mercado formado por novos

consumidores, mais conscientes e exigentes, inclusive quanto à sua equação gasto-benefício,

consumidores desejosos sim de terem suas vantagens, mas sabedores de que é possível auferir

o benefício sem contaminar o ambiente, sem intoxicar a natureza, que, de certa forma, fizeram

a GM ruir. Portanto, é inegável que por trás desse estrondo há um pouco da doce música

toxicológica, que está sempre a nos alertar de qual o caminho certo e justo a trilhar.

A Revinter, o órgão oficial do Portal da Intertox, atenta como sempre a tal realidade, insiste

em prosseguir dando sua contribuição, insiste em marcar alguma presença, e por meio dos

artigos que publica, ou na teoria geral da segurança química, como FISPQs, REACH, RETP,

ou nas questões dos impactos ambientais decorrentes da contaminação química, ou na gênese

do conhecimento toxicológico, ou na gestão do risco toxicológico, etc., está, de fato, a alertar

empresários a fim de que não se deixem descuidar da cultura e dos fatos toxicológicos para

que, de repente não mais do que de repente, suas empresas não venham a padecer da síndrome

GM.

E, como bem mostram as surpreendentes estatísticas que a Revinter vem obtendo, o primeiro

volume atingiu até a presente data mais de 11.700 downloads de artigos e o segundo volume

6.500 downloads, tudo faz crer que a Toxicologia Social veio para valer!

Fausto Azevedo

Conselho Editorial Científico RevInter

*Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2008.

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ANALISES TOXICOLÓGICAS E A QUESTÃO ÉTICA

Silvia O. S. Cazenave, Alice A. da Matta Chasin

RESUMO

Os discursos a respeito da problemática de drogas são carregados de repressão, de

intolerância e de idéias pré-concebidas a respeito das substâncias ilícitas, mesmo quando esse

discurso se camufla de projetos de prevenção ou ainda, destacando as questões médicas e de

saúde. O uso de substâncias psicoativas (SPA) deve ser trabalhado sob o olhar da ética e não

sob o olhar da moral, o que parece não corresponder à verdade, visto que os projetos,

trabalhos de pesquisa e ações políticas são muitas vezes apenas fundamentados em

conhecimentos técnicos e arraigados em conceitos e valores morais.

Atualmente parece existir uma tendência equivocada de considerar que os exames de triagem,

para detectar usuários de drogas em escolas ou locais de trabalho, como método de prevenção

ao uso ilícito de diversas substâncias. Tal prática é do ponto de vista ético abominável e

desvirtua qualquer possibilidade de prevenção possível.

A análise de drogas de abuso fora do contexto médico-legal e principalmente daquelas ilícitas,

em urina ou qualquer outro material biológico para verificação de uso de SPA pode trazer

transtornos de toda espécie, que poderão se refletir na formação desses cidadãos submetidos

ao exame.

Palavras chaves: Drogas, análise toxicológica, ética

DEPENDENCIA E PREVENÇÃO

A mudança do estado de consciência constitui comportamento inerente ao ser humano

intensificado pelo uso voluntário de substâncias psicoativas (SPA). Sua discussão, porquanto

atemporal, se atém aos princípios de cada época mormente no que tange ao tipo diagnóstico

que se estabelece. Embora desde 1981 a OMS tenha emitido um Memorandum de experts

sobre dependência (Edwards, 1981), até hoje os conceitos propostos não foram incorporados

pela maioria dos profissionais que atuam nesta. Este documento coloca a dependência

(farmacodependência ou dependência química) como uma síndrome (portanto com conotação

de doença) onde o comportamento de busca é prioritário sobre todos os outros. Dado que

várias das substâncias usadas para este fim são ilícitas de acordo com a legislação que versa

sobre a questão das substâncias psicotrópicas, cuja comercialização e fiscalização são objeto

da Legislação sobre drogas vigente no país (constantes das listas da Portaria 344/98)

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(BRASIL,1998), remete-se freqüentemente à questão sobre o direito do uso e, infelizmente,

os discursos a respeito da problemática de drogas são carregados de repressão, de intolerância

e de idéias pré-concebidas a respeito das substâncias ilícitas, mesmo quando esse discurso se

camufla de projetos de prevenção ou ainda, destacando as questões médicas, de saúde.

Ao se questionar o “direito de uso”, várias questões emergem :

1- A discussão sob o ponto de vista ético e não moral. Como muitas pessoas não

fazem a valiosa distinção entre estes dois conceitos ética e moral, apenas considera-se as

diferenças entre as condutas que aprovamos ou desaprovamos na sociedade, entre o certo e o

errado. Essa abordagem não tem pretensões filosóficas, mas encerra preocupação e o

compromisso com a situação em que a dúvida sobre o comportamento mantém algumas

questões a serem esclarecidas.

Se a diferença entre ética e moral é determinada pelas escolhas individuais, pelo

caráter no primeiro caso e pelos costumes ou pelos modos da maioria, no segundo, há nisso

uma grande carga de inconsciente. Pode-se estar dando vazão a preconceitos, ou interesses

econômicos, ou ainda a questões pessoais. Considerando-se essa carga de inconsciente em

nossas ações não podemos saber se há validade em nosso julgamento. Poderíamos então

pensar que esse julgamento é apenas uma extrapolação de nossos preconceitos (RIOS, 1996).

As provocações contidas nessas questões alertam a olhar de uma maneira nova para

uma realidade que já supostamente conhecíamos antes. Muitas vezes uma única pergunta,

basta para que o problema seja encarado sob outra perspectiva. Devemos ser capazes de

duvidar dos preconceitos que nos foram incutidos para que não estejamos declarando normas

universais as quais não podemos garantir que sejam para o bem comum (RIOS,1996).

Assim como tantos outros temas de fundamental relevância, o uso de SPA deve ser

trabalhado sob o olhar da ética e não sob o olhar da moral, o que parece não corresponder à

verdade, visto que os projetos, trabalhos de pesquisa e ações políticas são muitas vezes apenas

fundamentados em conhecimentos técnicos e arraigados em conceitos e valores morais.

2- Os mecanismos sociais para o controle do uso de substâncias que possam trazer

prejuízo às regras sociais de convivência.

Em contrapartida, hoje parece haver um excessivo resgate sobre o uso da ÉTICA,

palavra “politicamente correta” que tem servido aos mais distintos interesses e não usada em

sua real essência e significado sendo banalizada em pró de interesses diversos. Atualmente

exige-se cada vez mais uma atitude ética e tanto o setor público como o privado criam seus

próprios códigos e proíbem diversas condutas consideradas impróprias. Porém o cumprimento

destes códigos ocorre devido ao temor em relação às conseqüências e não a estrutura de

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valores que dirige a vida, portanto a ação se for temerosa, não é embutida de ética. Neste

sentido nos cabe analisar a submissão às análises de drogas realizadas no ambiente de

trabalho.

Discutir o uso excessivo ou problemático de SPA é estar diante de problemas não

apenas éticos, mas filosóficos, epistemológicos, metodológicos, políticos, psicológicos e de

uma questão fundamental ligada à investigação científica em prol da sociedade, pelo bem

comum. Reconhece-se que, na atual crise em que está imersa a sociedade brasileira, na qual

são flagrantes as desigualdades sociais, o acesso à cidadania não se dá de forma equânime. O

compromisso deve ser algo que dê idéia de associação, de coletividade, rompendo com a idéia

dominante do pensamento burguês que é a de individualismo. Deve-se “ver” portanto o

significado desse compromisso com clareza, abrangência e profundidade, com equilíbrio

fundamentado na ética. Quando se coloca em pauta o compromisso com a sociedade nos

referimos não somente às competências técnicas, mas também políticas ( RIOS, 1995)

Muitas vezes as ações sugeridas como projetos preventivos, nas quais está implícito a

abstinência completa de consumo de SPA são muitas vezes tecnicamente recomendáveis, de

alta tecnologia, elevada eficácia, porém poderão servir aos mais diversos interesses políticos e

em diferentes castas sociais, mas não servirão necessariamente para minimizar o uso

problemático de SPA ou sequer para prevenir a experimentação ou uso.

As diferenças sociais refletem-se também como respostas distintas ao uso abusivo de

substâncias químicas, no que diz respeito ao vínculo entre o grupo social e as atitudes de

condescendência ou não da própria comunidade, porém é inegável que ocorre em qualquer

classe social, cultural e econômica (ANDRADE, 1997).

A prevenção contra o uso de drogas tem sido assunto de destaque e são inúmeros os

projetos de instituições governamentais ou privadas com essa finalidade. Campanhas

educativas, de informação, têm sido veiculadas em todo o país, mas seu conteúdo é, na

maioria das vezes, questionável no que diz respeito à qualidade de informação, assim como

em seu discurso na maioria das vezes preconceituoso e embutido de repressão, tendo a

interdição de consumo como o projeto de prevenção em si, confundindo muito mais do que

esclarecendo.

A prevenção é classificada de acordo com seus objetivos em primária, secundária e

terciária, cada uma delas contendo aspectos próprios e exigindo, para sua aplicação, um

diagnóstico prévio dos hábitos de consumo de drogas da população alvo. Prevenir significa

exercer uma ação anterior ao acontecimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde

(OMS), a prevenção primária passa por uma opção voluntária. Trata-se de prevenir a própria

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experiência de forma radical. A prevenção primária do uso de drogas tem como objetivo a

abstinência.

Sugere-se que um programa de prevenção deva ter duas vertentes, uma dirigida à

pessoa que usa SPA, evitando o uso experimental, abuso e dependência e outra dirigida aos

pais e professores. De acordo com CARLINI et al. (1990), deve-se evitar alardes exagerados

em relação à experimentação de drogas, encarando-se este tipo de uso como fato

relativamente comum da adolescência e não como o primeiro passo para um caminho sem

volta.

Existem basicamente três propostas distintas de linhas de atuação: o aumento do

controle social, o oferecimento de alternativas e a educação, sendo a última linha

desenvolvida a partir de seis modelos: do princípio moral, do amedrontamento, da informação

científica, da educação afetiva, do estilo de vida saudável e o da pressão positiva de grupo.

Cada uma destas propostas apresenta pressupostos teóricos e filosóficos distintos e eficácia

diferenciada, e poucos com comprovação documentada de efetividade (CARLINI COTRIN,

1989)

Nas ações educativas fala-se, predominantemente, da ação dos produtos psicoativos no

sistema nervoso central, subliminar ou explicitamente reduzindo a experiência a uma questão

biológica, química, que aconteceria em um organismo igual para todos.

Este enfoque dado sobre a substância psicoativa, principalmente reforçando a

substância ilícita, restringe qualquer programa que possa orientar adequadamente a relação

entre o indivíduo e o uso, pois somente destaca a relação indivíduo/droga. Certamente este

estreitamento conceitual, conduziu durante décadas e ainda conduz as políticas públicas sobre

drogas, através do “combate/guerra”, da abstinência das substâncias ilícitas e portanto é

fadado ao insucesso.

Outros projetos, auto denominados de preventivos, têm desenvolvido o controle do

uso de drogas através da análise obrigatória de urina, como já adotado por algumas empresas.

Esse método de triagem é previamente conhecido pelos funcionários na sua admissão, os

quais deverão concordar com as condições estabelecidas pela empresa. Situação já exposta

anteriormente no que diz respeito à submissão dos trabalhadores.

Após os resultados da triagem, realizada rotineiramente para todos os funcionários,

propõe-se o encaminhamento para tratamento daqueles indivíduos em que foi constatado o

resultado positivo. A mesma metodologia, supostamente, poderia ser desenvolvida com

estudantes e já foi proposta como projeto de lei em diversos estados, no entanto esse

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procedimento não poderia sequer ser cogitado considerando-se as conseqüências negativas a

que os estudantes estariam sujeitos.

Primeiramente devemos destacar que para que se possam lograr resultados positivos

com a realização de projetos de prevenção aos danos produzidos no consumo de SPA, há

necessidade de conhecermos o universo populacional que se pretende atingir. A

epidemiologia estuda os padrões de ocorrência de doenças na população e é a ciência básica

da prevenção no que se refere ao uso de SPA. Os estudos epidemiológicos permitem

relacionar prevalência, incidência e distribuição do uso, quer sejam vinculados a

micropopulações, assim como a macropopulações, com estudos municipais, estaduais,

regionais, nacionais ou internacionais (Kozel, 1990).

No que diz respeito às drogas ilicitas e frente aos fatores que interferem na

dependência, a adaptação do modelo epidemiológico deve ser realizada com cautela.

Diferentes grupos populacionais, diversos tipos e disponibilidade de drogas, freqüência de uso

variáveis e aspectos culturais das populações analisadas são limitações que devem ser

reconhecidas (Kozel, 1990).

Há muito que se discutir sobre os modelos propostos, mas faltam ainda dados a

respeito no Brasil. A maioria dos dados está concentrada na área de ciências médicas

(epidemiologia, psiquiatria, medicina, toxicologia...) ou na área de direito (criminal, penal).

Os dados referentes à área de educação são essenciais (CAZENAVE, 1998).

Atualmente parece existir uma tendência equivocada de considerar que os exames de

triagem, para detectar usuários de drogas em escolas ou locais de trabalho, como método de

prevenção ao uso ilícito de diversas substâncias. Tal prática é do ponto de vista ético

abominável e desvirtua qualquer possibilidade de prevenção possível.

É importante frisar que sob aspecto ético, legal e social, tais projetos não devem ser

implantados e as propostas já existentes de implantação devem ser amplamente discutidas. No

entanto, é importante avaliar tecnicamente os métodos utilizados na determinação de drogas

em material biológico, para que possamos compreender ainda que outras conseqüências

poderão emergir dos resultados destas análises.

AS ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

As substâncias químicas quando introduzidas no organismo são geralmente

biotransformadas em diversos compostos, mais hidrossolúveis e que são eliminados pela

urina, saliva, suor e podem inclusive ser detectados no cabelo.

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As análises toxicológicas são usadas na identificação e quantificação de agentes

tóxicos para diversas finalidades. A mais conhecida e utilizada por séculos e daí ser a mais

aceita é a finalidade médico-legal em material biológico ou em diversos outros materiais

como água, alimentos, medicamentos, drogas, etc envolvidas em ocorrências policiais/legais.

Uma outra aplicação das análises toxicológicas se refere ao controle de farmacodependência

ou “dependência química” no ambiente ocupacional, ressaltando-se principalmente a

vigilância de condutores de transporte coletivos. O diagnóstico laboratorial da intoxicação,

seja ela aguda ou crônica, representa uma importante ferramenta para o médico no que se

refere ao tratamento bem como no acompanhamento do paciente intoxicado ou ainda no

estabelecimento do risco (CAZENAVE, 1998).

As análises Toxicológicas apresentam, portanto, importância crucial na materialização

do crime e no auxílio-diagnóstico das intoxicações nas diferentes áreas da Toxicologia.

Evidencia-se assim a importância de reconhecer os aspectos analíticos que envolvem estas

análises que, por se revestirem de características próprias, apresentam como pressuposto o

caráter inequívoco da informação.

Um resultado analítico para ser inequívoco precisa ser gerado em nível de excelência

e, para tanto os preceitos da Segurança (Garantia) da Qualidade Analítica devem ser

observados. Envolvem os procedimentos e processos administrativos e técnicos que

controlam a qualidade dos resultados provenientes dos ensaios realizados no Laboratório e

que tornam possível decidir sobre a confiabilidade dos resultados (CHASIN, 2001). A

detecção de uma SPA deve ser feita através de métodos de triagem e confirmada por técnica

diferente daquela utilizada na triagem. Há vários preceitos a serem observados nos métodos

confirmatórios e ainda que o uso de espectrômetro de massas seja considerado de eleição, por

suas características de elucidar a estrutura da molécula, outros podem ser utilizados. De

maneira geral preconiza-se que o método de confirmação deve ser mais específico e

apresentar limite de detecção menor que o teste de triagem, para o alvo analítico(SAMHSA,

1994; SOFT/AAFS, 2002). Não observar estes pressupostos pode configurar um crime de

direitos humanos pois não se observaria a máxima do direito do "in dubio pro réu" (em

dúvida, a favor do réu).

Os métodos analíticos mais utilizados com essa finalidade, de identificar os produtos

eliminados são:

1) Cromatografia em camada delgada de alto desempenho (CCDAD)

2) Técnicas de imunoensaio (RIA)

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3) Imunofluorescência polarizada (IFP)

4) Cromatografia gasosa (CG)

5) Cromatografia gasosa ou líquida de alto desempenho acopladas à

espectrometria de massas (CG/MS ou HPLC/MS, respectivamente)

Assim podem ser usados métodos que utilizam a técnica de cromatografia em camada

delgada em várias de suas modificações; cromatografia em fase gasosa com vários tipos de

detectores como por exemplo, o de captura de elétrons (ECD), o de ionização em chamas

(FID) e o de Nitrogênio e Fósforo (NPD) e cromatografia líquida de alta performance

(HPLC).

As técnicas de CG/MS e HPLC/MS são as de eleição como de confirmação,

independentemente da matriz biológica enfocada, dada sua especificidade e, via de regra são

as de referência, considerada como sendo 100% específica. A combinação entre a técnica de

imunoensaio para triagem e CG/MS para confirmação é a mais freqüentemente encontrada na

literatura como sendo as de triagem e confirmação, respectivamente (CODY & FOLTZ,

1995) . Se não houver a possibilidade de se utilizar métodos que utilizem CG/MS, outros

podem ser empregados, desde que devidamente validados quanto aos seus parâmetros de

segurança analítica (CHASIN, 2001).

Os métodos de triagem são apenas qualitativos ou semi- quantitativos. Sobre esses

cabe fazermos algumas considerações:

As drogas ou seus produtos de biotransformação são analisados separadamente

em função de suas características químicas, ou seja, uma amostra de urina deve

ser processada para cocaína, para THC, para anfetamínicos, barbitúricos,

opiáceos, etanol.

O tempo entre a última utilização da droga e a análise é determinante para

obtenção de um resultado positivo ou negativo..

Não há possibilidade de separação entre as freqüências de uso e o resultado da

análise, mesmo sendo uma avaliação quantitativa. Não podendo ser

determinado o grau de intensidade do uso ou se estabelecer um diagnóstico de

dependência

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Page 16: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

A análise deve ser realizada por profissional especializado e tecnicamente

treinado para manipulação dos equipamentos

Devido ao tempo gasto para realização de algumas análises e ao seu alto custo,

o método mais utilizado para triagem de uso de drogas tem sido o de

imunoensaio, principalmente com a técnica de imunofluorescência polarizada

(IFP).

O fundamento do método IFP é a reação antígeno/anticorpo, sobre a qual são

analisados dois importantes parâmetros: a constante de equilíbrio e a capacidade combinante

da reação antígeno/anticorpo. Em função desta técnica devemos considerar:

1) Os interferentes das amostras biológicas limitam a sensibilidade prática desta

técnica. Isso se deve à fluorescência de compostos endógenos, ou de outras

substâncias existentes na amostra.

2) Moléculas maiores como as moléculas de proteínas podem causar

espalhamento de luz, alterando os resultados. Assim seria necessária a

execução de análise de um “branco” da amostra de urina, sem a adição de

reagente, para avaliação e desconto desta fluorescência intrínseca.

3) Reações cruzadas são passíveis de acontecer, relacionadas às características do

anticorpo, porém gerando interpretação equivocada dos resultados.

4) Os resultados das análises são emitidos não em valor de concentração e, sim,

como positivos ou negativos. Isso significa que pode ser adotado um valor de

“cutoff”, por exemplo, para as análises de maconha esse valor é de 50 ng/ml.

Abaixo do valor o resultado é considerado negativo e acima o resultado é

positivo.

5) O valor de cutoff pode ser modificado de acordo com a finalidade da análise,

ou seja, seguindo o exemplo acima, alguns autores adotam, para verificação de

uso de maconha, um cutoff de 20ng/ml, sendo este critério fundamental para

emissão do resultado.

6) Alguns métodos que utilizam à técnica de IFP sofrem interferência de técnicas

de execução como por exemplo a pipetagem, a qual é crítica devido à

sensibilidade do método, produzindo uma variação de resultados dentro da

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Page 17: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

faixa de imprecisão do mesmo. O uso de pipetas automáticas de baixa

qualidade produziu variações de até 40% nos valores de milipolarização para

uma mesma amostra.

Considerando todas as características analisadas e por ser uma técnica de triagem, é

pouco recomendável em um programa com finalidade de detecção de substâncias na urina

com o propósito de “prevenção”. Existe possibilidade de reações falso positivas como já

constatado em trabalhos científicos, por isso, todos os resultados positivos devem ser

obrigatoriamente confirmados por CG/MS o HPLC/MS o que aumenta ainda mais o custo das

análises podemos considerar conhecimento Além da observância destes preceitos: análises de triagem (presuntivas) e de

confirmação há vários sistemas de qualidade laboratorial que devem ser aplicados aos

Laboratórios de Toxicologia que pretendam realizar estas análises com competência e nos

níveis de excelência exigidos e aceitos pela comunidade científica. Como exemplo citamos

como as Boas Práticas de Laboratório - BPL e a ISO GUIA-25, entre outros. Há ainda aqueles

que são utilizados especificamente em laboratórios de Toxicologia Forense como por exemplo

o utilizado no NIDA (SAMHSA, 2003) ou o preconizado pela United Nations International

Drug Control Programm (UNDCP, 1995) ou pela Sociedade de Toxicologia Forense - SOFT

(Society of Forence Toxicologists) e a Academia Americana de Ciências Forenses - AAFS

(American Academy of Forensic Sciences) – (SOFT/AAFS) .

Especificamente para laboratórios que realizam análises toxicológicas com finalidade

forense em materiais biológicos de indivíduos vivos ou matrizes post mortem, o SOFT/AAFS

- publicaram a primeira diretriz (Guidelines) em 1991, e atualizações em 1998, 2000 e 2002.

Estas diretrizes, à semelhança de outras que tratam do mesmo tema (CHEN et al., 1990),

expressam que na busca do reconhecimento formal da competência dos laboratórios e na

realização de ensaios utilizados em toxicologia forense é importante sejam observados todos

os preceitos da qualidade, inclusive a realização de “Ensaios de Proficiência” por

comparações interlaboratoriais e a implementação de diretrizes, em conformidade com as

modernas práticas e exigências preconizadas por normas internacionalmente consensadas.

Estas diretrizes contemplam aspectos de toxicocinética (movimento da substância no

organismo, produtos de biotransformação encontrados, parâmetros farmacocinéticos a serem

considerados nas interpretações do achado, etc) e de farmacodinâmica (mecanismos de ação).

Apenas com esta prática realizada pode-se inferir sobre características do uso e mais,

inferências sobre a eventual utilização.

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Dentre outras verificações estes sistemas contemplam análises para verificar se o

material está preservado e se as análises apresentam especificidade, precisão e exatidão

suficientes para embasar a emissão dos resultados.

Estas análises, além de realizadas em material biológico, são realizadas também no

ambiente médico-legal para caracterização das substância apreendidas pelo aparato policial.

Nos laboratórios que analisam as substâncias psicoativas ou seja aquelas realizadas nos

produtos relacionados com Lei de drogas (Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006)

(BRASIL,2006) estes podem ser na forma de vegetais, pós, ampolas, seringas com líquidos,

etc. Os mais freqüentemente encontrados são: maconha, crack/cocaína, Ecstasy, dentre as

substâncias proscritas e, artane, ciclopentolato, dietilpropiona, etc dentre aqueles cuja

comercialização é sujeita à fiscalização. Neste caso, realiza-se não só a caracterização do

princípio ativo como também a caracterização de adulterantes que compõem as chamadas

“drogas de rua”. Dentre os adulterantes mais comumente encontrados na droga de rua, no

caso do crack/cocaína encontram-se os anestésicos locais (benzocaína, procaína, tetracaína,

bupivacaína, etidocaína, lidocaína, mepivacaína, dibucaína, prilocaina), estimulantes (cafeína,

teofilina, ergotamina, estricnina, efedrina, fenilpropanolamina, metilfenidato e anfetamina) e

piracetam; quanto aos diluentes, citam-se a glicose, lactose, sacarose, manitol, amido, talco,

carbonatos, sulfatos e ácido bórico. Resultados obtidos em análises de amostras apreendidas

na região metropolitana de São Paulo em 1997 indicaram em 70% destas teores de 20 a 55%

de cocaína no pó, não havendo ocorrência de amostra com porcentagem acima de 70. O crack

apresenta bicarbonato de sódio como o adulterante mais comum e os teores de COC nesta

forma variam de 35 a 99%, dependendo do processo de obtenção (CHASIN & SILVA, 2003).

Dentre os principais adulterantes (substâncias adicionadas para mimetizar os efeitos

estimulantes do MDMA) presentes nos comprimidos estão a MDEA, MDA, PMA (para-

metoxianfetamina), efedrina, cafeína, dextrometorfano, cetamina, dentre outras substâncias

(COSTA, 2004). Há também indicação da presença de adulterante em programas por vezes

considerados de “redução de danos” como é o caso de verificação da presença de paraquat e

glifosato na maconha comercializada. Trata-se de produtos com alta toxicidade e sua

inalação/ingestão configura-se grave problema de saúde pública (LANARO, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise de drogas de abuso fora do contexto médico-legal e principalmente aquelas

ilícitas em urina ou qualquer outro material biológico para verificação de uso de SPA pode

trazer transtornos de toda espécie, que poderão se refletir na formação desses cidadãos

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submetidos ao exame. A forma de tratamento dada a eles é de desconfiança e pode gerar mais

insegurança para aqueles que sejam consumidores, o que não possibilitaria uma atitude

positiva nos mesmos.

Para que haja de fato uma política sobre drogas, é necessário, em primeiro lugar,

garantir uma educação para a vida e para a cidadania, onde todas as questões que afetem

diretamente a vida dos alunos, neste caso, seja trazida para o trabalho pedagógico de cada sala

de aula.

Como dizia Paulo Freire, é a educação que viabiliza a intervenção sobre a realidade

condicionadora e é nesse sentido que se enfatiza a discussão como o caminho adequado para

modificar o quadro atual sobre o problema de consumo de SPA.

Um projeto de educação que tem por objetivos a autonomia e o diálogo, baseado na

necessária orientação e na ajuda dispensadas aos sujeitos, no processo de passagem para a

vida adulta.

Desta forma, está se buscando uma abordagem geral e equilibrada, uma vez que se

trata de um tema de caráter amplo, biopsicossocial. Este olhar crítico lançado sobre a

moralidade faz recompor o quadro do dever, modificar as leis, regras e normas codificadas

pela moral e assumir seu papel social com responsabilidade.

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AVALIAÇÃO DE TOXICIDADE EM SEDIMENTOS DO RIO JUQUERI (SP) COM

VIBRIO FISCHERI E HYALELLA AZTECA

Helen Hwang1; Gabriel Fonseca Alegre2; Sueli Ivone Borrely2; Maurea Nicoletti Flynn1

RESUMO: Dados os riscos ambientais, é fundamental estudar as interferências que

atividades industriais causam aos corpos d’água receptores de efluentes. Com esse propósito,

o presente trabalho buscou avaliar a toxicidade do sedimento do rio Juqueri à jusante e à

montante do ponto em que recebe o efluente tratado da Indústria e Comércio de Cosméticos

Natura Ltda, situada no Km 30,5 da Rodovia Anhangüera, no município de Cajamar (SP).

Ensaios ecotoxicológicos vêm sendo feitos utilizando-se para sedimento a bactéria

fotoluminescente Vibrio fischeri (Photobacterium phophereum) e o anfípodo de água doce

Hyalella azteca, amplamente testados e padronizados nacional e internacionalmente. Os

ensaios com Hyalella azteca indicaram significativa mortalidade de indivíduos nas amostras

testadas. Ocorreu indício de toxicidade em ensaios com V. fischeri. Desse modo, é prudente

assumir que com as respostas obtidas nos testes com V. fischeri e H. azteca, o indício de

toxicidade apontado pela fotobactéria alerta para uma possível toxicidade nos trechos do Rio

Juqueri à montante e à jusante da Indústria e Comércio de Cosméticos Natura Ltda.

Palavras chaves: toxicidade aguda, sedimentos, Rio Juqueri, Hyalella azteca, Vibrio fischeri.

ABSTRACT: It is of fundamental importance the study of the interferences that industrial

activities cause to water bodies receptor of its discharge effluents. The aim of the present

study was to evaluate the toxicity of the sediment of the Juqueri River up and downstream of

the point where it receives the treated effluent of the Industry and the Natura Ltda – Cosmetic

and Commerce, situated at km 30,5 of the Anhangüera Highway, in Cajamar (SP). To test

sediment toxicity it is commonly used the fotoluminescent Vibrio fischeri (Photobacterium

phophereum) and Hyalella azteca, a fresh water amphipode, both widely tested nationally and

internationally as standard technique. The tests with Hyalella azteca had indicated significant

mortality of individuals in the river samples. There was an Indication of toxicity in two tests                                                             1 Universidade Presbiteriana Mackenzie. email:[email protected] 2 Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

 

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Avaliação de toxicidade em sedimentos do rio Juqueri (SP) com Vibrio fischeri e Hyalella azteca` Helen Hwang, Gabriel Fonseca Alegre, Sueli Ivone Borrely, Maurea Nicoletti Flynn

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with V. fischeri. In this manner, there is a clear alert of toxicity concerning the water quality

of the Juqueri River at the proximity of the Natura Ltda installation.

Keywords: acute toxicity, sediments, Rio Juqueri, Hyalella azteca, Vibrio fischeri.

INTRODUÇÃO

Efluentes industriais representam uma das principais fontes de compostos químicos

diversificados lançados no meio ambiente pelo homem (NIETO, 1998; JUNGCLAUS et al.,

1978), e que frequentemente são indevidamente despejados em corpos hídricos. Essa

interferência humana tem agravado o estado de degradação dos ecossistemas naturais por

conta da enorme demanda de produtos manufaturados e do nível de elaboração destes

compostos artificiais que muitas vezes não são assimilados adequadamente pela natureza.

Estes problemas são reflexos de uma demografia em expansão e do maior desenvolvimento

tecnológico.

Muitas dessas substâncias emitidas são tóxicas por natureza e/ou pelas concentrações

inadequadas em que são introduzidas ao meio, provocando efeitos crônicos e até letais para a

biota. Os efeitos deletérios podem compreender alteração de comportamento, enfermidades

que impedem a reprodução, anomalias nos descendentes, alta mortalidade em algumas

espécies e aumento populacional em outras. Uma investigação minuciosa do ecossistema

pode prever quando uma comunidade inteira será perturbada ainda que apenas uma parcela

dos seus organismos seja sensível à toxicidade dos elementos lançados, já que os demais

serão afetados de forma indireta, seja por mudanças na teia alimentar ou em certas relações

mutualísticas. Esse fenômeno é denominado propagação de distúrbio (DOMINGUES e

BERTOLETTI, 2006).

O monitoramento ambiental foi durante anos baseado em análises químicas, que

quantificam concentrações de poluentes. Todavia, apesar de importantes, é preciso reconhecer

a limitação de tais metodologias, pois podem ser insuficientes para a real compreensão das

interações dessas substâncias com o sistema biológico (ESPÍNDOLA et al., 2003). Segundo

ARAÚJO et al. (2006), tal preocupação se baseia no fato de que, desde a gênese até a

deposição no leito do rio, reservatório ou lago, “os contaminantes podem se associar a certas

partículas tornando-se prontamente disponíveis para o ecossistema, sofrer transformações

originando formas mais ou menos tóxicas, ou migrar, via rede trófica, do sedimento para os

organismos bentônicos ou para a coluna d’água. Portanto níveis elevados de contaminantes

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persistentes no sedimento podem ou não acarretar efeitos para a biota aquática, dependendo

de uma série de fatores que alteram a biodisponibilidade e a toxicidade dos mesmos”

(ZAGATTO e BERTOLETTI, 2006).

Uma alternativa que é importante e complementar são os ensaios ecotoxicológicos, os

quais consideram interações bióticas e abióticas e medem as frações biodisponíveis dos

contaminantes para o ambiente através da simulação, em campo ou em laboratório, de alguns

eventos biológicos que ocorreriam nos ecossistemas examinados. Nesse caso as amostras

cujos ensaios se realizem em laboratório terão uma resposta para os organismos aquáticos

selecionados para os ensaios com fenômenos possivelmente similares àqueles

correspondentes em meio natural. Isto é, haverá mudanças fisiológicas e/ou comportamentais,

reações a serem pesquisadas pelo profissional. Sob essa perspectiva, o resultado do teste de

toxicidade auxilia tanto no diagnóstico como no estabelecimento de limites permissíveis de

substâncias químicas que podem estar presentes no ecossistema, ou seja, concentrações em

que a biota não é afetada (ARAGÃO e ARAÚJO, 2006).

Diversos estudos são realizados hoje para avaliar toxicidade em atividades industriais

e para o monitoramento das águas. Porém em grandes corpos d água nem sempre é possível

identificar efeitos agudos e mesmo crônico embora muitas vezes esse ambiente já esteja muito

comprometido, com elevada depreciação do oxigênio dissolvido, que é fator limitante para a

vida aquática, entre outros problemas associados aos contaminantes em si (BORRELY et al.,

2002; CETESB, 2007).

Com isso, a investigação da contaminação do sedimento em estudos ecotoxicológicos

é de suma importância já que este se caracteriza pela capacidade de acumular poluente,

tornando-se um verdadeiro testemunho dos impactos sofridos ao longo do tempo pelo corpo

receptor (ARAÚJO et al., 2006; ESTEVES, 1988). Dados os riscos ambientais, é fundamental

estudar as interferências que atividades industriais causam ao entorno, incluindo corpos

d’água receptores de seus efluentes. Com esse propósito, o presente trabalho buscou avaliar a

toxicidade do sedimento do rio Juqueri à jusante e à montante da Indústria e Comércio de

Cosméticos Natura Ltda, situada no km 30,5 da Rodovia Anhangüera, no município de

Cajamar (SP).

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Avaliação de toxicidade em sedimentos do rio Juqueri (SP) com Vibrio fischeri e Hyalella azteca` Helen Hwang, Gabriel Fonseca Alegre, Sueli Ivone Borrely, Maurea Nicoletti Flynn

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METODOLOGIA

O rio Juqueri é o manancial mais representativo da sub-bacia Juqueri-Cantareira, que

engloba os municípios paulistas de Cajamar, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato,

Mairiporã e São Paulo. Este extenso corpo hídrico é responsável pelo abastecimento das

principais indústrias da região, incluindo a Indústria e Comércio de Cosméticos Natura Ltda,

localizada no município de Cajamar (SP) e, pela formação do reservatório Paiva Castro e

parcialmente pelo reservatório Pirapora. O rio também vem sendo utilizado como receptáculo

de esgoto doméstico do entorno urbano, o que tem prejudicado a qualidade de suas águas

(http://www.ambiente.cajamar.sp.gov.br)

Figura 1 – Localização do município de Cajamar (SP).

Imagem extraída de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem.

O trabalho de campo consistiu na realização de duas campanhas para coleta de

sedimentos em dois pontos na calha do rio Juqueri, sendo eles “B”

(S23º56.6"/W046°50’03.8’’) à montante do lançamento do efluente da Indústria e Comércio

de Cosméticos Natura Ltda e “A” (23º29º07.9"/W046°50’07.1’’), à jusante do lançamento do

efluente. O rio é altamente turvo, de cor marrom e ao seu redor se estabelece uma mata ciliar

aparentemente bem estruturada. Os pontos, de pouca profundidade e com boa incidência de

luz solar, foram propositadamente escolhidos por serem de fácil acesso apesar do solo muito

lodoso.

Foram realizadas duas campanhas de amostragem, sendo a primeira em fevereiro de

2008 e a segunda em abril do mesmo ano. As coletas foram realizadas utilizando-se uma pá,

com a qual foi retirada cuidadosamente uma camada de sedimento com aproximadamente de

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Avaliação de toxicidade em sedimentos do rio Juqueri (SP) com Vibrio fischeri e Hyalella azteca` Helen Hwang, Gabriel Fonseca Alegre, Sueli Ivone Borrely, Maurea Nicoletti Flynn

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10 cm de profundidade. Esse sedimento foi armazenado em quatro sacos plásticos de

capacidade de 500 mL, devidamente lacrados e identificados, para cada ponto de amostragem

e campanha e mantidos sob refrigeração em caixas de isopor com gelo até a chegada ao

laboratório, a fim de evitar a degradação do material.

As amostras foram encaminhadas ao Centro de Tecnologia de Radiações (CTR) do

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), onde foram armazenadas em freezer,

com temperatura inferior a -10ºC até a execução dos ensaios.

Os organismos-teste selecionados para este trabalho foram a fotobactéria marinha

Vibrio fischeri (Photobacterium phosphereum) utilizada para avaliar a toxicidade da água

intersticial e o anfípoda de água doce Hyalella azteca utilizado para avaliar a toxicidade de

amostras de sedimento integral. Na figura 2 foram apresentadas fotografias dos dois

organismo-teste utilizados na avaliação de efeitos biológicos.

Figura 2 – Fotografia dos organismos-teste: a) Hyalella azteca e b) Vibrio fischeri

A bactéria marinha V. fischeri foi adquirida da empresa Unwelt©, na forma congelada

e o organismo H. azteca foi cultivado no Laboratório de Ensaios Biológicos Ambientais

(LEBA) do CTR/IPEN. Os cultivos foram mantidos em água natural com dureza corrigida,

originalmente entre 9 a 11 mg/L de CaCo3 e ajustada para 44 2 (mg/L CaCo3). A água para

cultivos de organismos-teste desse laboratório é procedente do Reservatório Paiva Castro,

Mairiporã, SP.

Todos os ensaios de toxicidade foram realizados no LEBA-IPEN e acolheram as

normas ABNT NBR 15470 (2007) para o H. azteca e, ABNT NBR 15411-2 (2006) para a

bactéria V. fischeri. Realizaram-se dois conjuntos de ensaios com Vibrio fischeri, referentes às

amostras das duas campanhas e dois ensaios com Hyalella azteca, ambos correspondentes às

amostras da primeira campanha.

a b

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Para a realização do ensaio com sedimento integral (Hyalella azteca), 75 mL de

sedimento bruto foram introduzidos em béqueres de 400 mL e adição 300 mL de água de

diluição (a mesma utilizada no cultivo), cuidadosamente, para evitar a ressuspensão do

sedimento. Esse sistema foi mantido em repouso por 24h. Posteriormente, 10 organismos

jovens, com idade entre 7 e 14 dias, foram adicionados a cada uma das 3 replicatas,

totalizando 30 organismos para o primeiro ensaio. No segundo ensaio, foram montadas 4

replicatas, totalizando e 40 organismos. Controles negativos fazem parte de todos os ensaios e

neste caso os organismos são expostos somente à água de cultivo e permanecem no conjunto

do ensaio de modo que os organismos do controle não devem sofrer efeitos nocivos e esse

resultado é útil para validar o ensaio com as amostras ambientais, bem como aqueles ensaios

realizados com substância referência.

Para o controle adicionou-se 300 mL de água de cultivo e um pedaço de malha de

nylon de 1,5cm2 para os organismos se fixarem a este, dado o comportamento epibentônico da

espécie

Os valores iniciais do pH da solução (sedimento + água de diluição) foram

monitorados antes e após os ensaios de toxicidade, bem como o oxigênio dissolvido na água.

Estes ensaios duraram 10 dias, sendo realizada a troca de 2/3 da água sobrejacente, a

cada 2 dias e adicionado 1500 µL de RL (ração de peixe e leveduras). Ao final do ensaio, o

efeito avaliado foi a mortalidade dos organismos.

Para extração da água intersticial, as amostras de sedimento bruto foram

homogeneizadas centrifugadas a 4000rpm, por 15 min a 6ºC. Com auxílio de pipetas Pasteur,

cada amostra foi retirada, os sobrenadantes foram colocados em dois recipientes inertes e

armazenados sob refrigeração até a execução dos ensaios.

O ensaio com a bactéria V. fischeri consistiu em expor as bactérias bioluminescentes

às amostras por 15 minutos, sendo registrada a quantidade de luminescência inicial e aquela

obtida após a exposição. O equipamento utilizado foi Toxicity Analyser M500 (Microbics®).

As concentrações utilizadas nos ensaios com água intersticial foram 81,9%, 40,95%,

20,47% e 10,23%, além do controle. A sensibilidade do organismo ao fenol (100 ppm) foi

utilizada para a validação dos ensaios e para compor a carta de referência.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados dos ensaios em sedimento integral utilizando Hyalella azteca foram

tratados utilizando-se o Teste “t” por bioequivalência e constante de bioequivalência (B=0,89)

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Page 28: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

 

calculada por BERTOLETTI et al, (2007). Os testes estatísticos foram realizados com o

programa TOXSTAT, Versão 3.5 (1995). Após a análise estatística, as amostras foram

classificadas como “tóxicas” ou “não tóxicas” em relação ao controle.

Os resultados obtidos com amostras de água intersticial para V. fischeri foram

expressos por CE(I) 50, representando a concentração que reduziu 50% da luminescência

produzida pela bactéria, durante uma exposição de 15 minutos, a 15ºC. A partir de dados

brutos foi gerada uma curva de regressão linear com valores de gama (relação entre luz

perdida e luz remanescente) e concentrações da diluição serial, utilizando-se o programa

estatístico específico da Microbics®.

RESULTADOS

As características físicas e químicas da água do rio no momento das coletas foram

apresentadas na tabela 1, enquanto que os resultados pertinentes à toxicidade aguda foram

apresentados na figura 2 e na tabela 2.

Tabela 1 – Características físicas e químicas da água do rio.

1ª Campanha 2ª Campanha Ponto A Ponto B Ponto A Ponto B

pH 7,04 6,93 6,62 6,75 OD 1,82 1,49 NR NR

Temp. °C 22,6 22 22,8 22,8 NR: Não Realizado

Na figura 3 encontra-se a porcentagem de sobrevivência dos organismos H. azteca

expostas às amostras de sedimento integral do Rio Juqueri, para os dois ensaios realizados.

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Figura 3 – Sobrevivência de Hyalella azteca durante a exposição ao sedimento de rio

A seguir, a tabela 2 apresenta os resultados obtidos após o tratamento estatístico dos

resultados obtidos.

Tabela 2 – Resultados obtidos após tratamento estatístico

  Hyalella azteca     Vibrio fischeri CE(I)50% 

  1ª Campanha  1ª Campanha   1ª Campanha 2ª Campanha 

  Ponto A  NT  NT 

 

63, 95% (57,95 ‐ 70,57) 

> 81,9% 

  Ponto B  NT  NT 

  > 81,9%  > 81,9% 

NT – Não tòxico

DISCUSSÃO

Os ambientes lóticos são coletores naturais da paisagem e refletem o uso e ocupação

de suas margens. O sedimento pode ser considerado como o resultado da integração de todos

os processos que ocorrem em um ecossistema aquático (ESTEVES, 1988). Tudo o que esteve

em algum momento no corpo hídrico migra para o sedimento e ai fica acumulado, atuando

este como um testemunho do que ocorreu na coluna de água. Sua contaminação gera

conseqüências negativas não apenas à biota aquática, mas também à saúde humana, daí a

grande importância de sua análise. Os principais processos de degradação ocorrem devido à

atividade antrópica, onde ocorre o assoreamento e homogeneização dos leitos e a eutrofização

artificial, através do enriquecimento do sedimento por aumento de fósforo e nitrogênio

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Avaliação de toxicidade em sedimentos do rio Juqueri (SP) com Vibrio fischeri e Hyalella azteca` Helen Hwang, Gabriel Fonseca Alegre, Sueli Ivone Borrely, Maurea Nicoletti Flynn

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Page 30: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

 

(GOULART e CALLISTO, 2003). Segundo Brigante e Espíndola (2003), diversos

contaminantes podem ocasionar a morte de organismos devido ao seu acúmulo ao longo da

cadeia trófica, prejudicando inclusive os seres vivos do topo da cadeia, como o homem.

A realização de estudos ecotoxicológicos é fundamental para monitorar, avaliar e

compreender a extensão dos impactos ocasionados pela contaminação da água, além de

possibilitar a criação de legislações e gerar informações para os setores responsáveis pela

saúde pública e pelo ambiente, auxiliando estes na criação de políticas ambientais (BARROS

e DAVINO, 2003; BRIGANTE e ESPÍNDOLA, 2003). Quando se estuda a toxicidade de um

meio através da Ecotoxicologia, é recomendado que se utilize mais de um organismo-teste

adequado para as amostras coletadas, pois a resposta de um único tipo de organismo pode

diferir de outro, sobretudo quando a natureza da substância-teste é desconhecida (ARAGÃO

& ARAÚJO, 2006). Testes ecotoxicológicos vêm sendo desenvolvidos a fim de disponibilizar

metodologias mais adequadas aos mais diversos meios, como é o caso de Hyalella azteca e

Vibrio fischeri para sedimentos, se aprofundando no entendimento dos efeitos diretos ou

indiretos de substâncias químicas para organismos-teste.

Os resultados da variável oxigênio dissolvido (OD) da água do rio no momento das

coletas mostraram valores muito baixos, entretanto esse parâmetro não afetou os organismos

expostos, uma vez que no ensaio com sedimento integral, a água utilizada é a mesma dos

cultivos. Evidentemente essa baixa concentração de OD no rio não permitiria a sobrevivência

desses organismos naquele sedimento.

A sobrevivência dos organismos expostos às amostras dos pontos à jusante e à

montante do efluente da empresa esteve sempre muito próxima da porcentagem do controle, o

que aponta uma possível ausência de toxicidade no sedimento integral para este organismo.

Isso pôde ser comprovado após a aplicação do teste “t” utilizando a Bioequivalência, onde a

sobrevivência em ambos os pontos não se apresentaram significativamente diferentes àquela

encontrada no controle, pois este tratamento estatístico leva em consideração uma constante

de proporcionalidade específica para cada organismo-teste.

Nos ensaios com água intersticial utilizando a bactéria Vibrio fischeri apenas a

amostra proveniente do ponto à jusante do lançamento de efluente da Natura da primeira

coleta apresentou-se como moderadamente tóxica, enquanto que os outros pontos

apresentaram segundo a mesma classificação, apenas indícios de toxicidade.

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CONCLUSÃO

Embora as amostras de sedimento e água intersticial avaliadas neste estudo não

tenham apresentado níveis de toxicidade críticos para nenhum dos organismos utilizados,

foram detectados indícios de toxicidade que possivelmente seriam confirmados se ensaios que

busquem efeitos crônicos fossem realizados.

Aparentemente a bactéria V. fischeri foi mais sensível que a H. azteca para esse

conjunto de amostras de sedimentos.

A concentração de oxigênio dissolvido (OD) nas águas do rio mantém-se baixa, no

trecho estudado, o que demonstra que o rio sofre impactos com excesso de matéria orgânica,

sugerindo um acompanhamento mais rigoroso para matéria orgânica, OD e ensaios de

toxicidade crônica. Dentre as ações mais efetivas para garantir a melhora dessas águas são o

tratamento de esgotos e de efluentes industriais antes de atingirem o Rio Juqueri, garantindo

melhores condições tanto para a biota quanto para a população que direta ou indiretamente se

abastecem dessas águas.

Agradecimentos: Ao programa de bolsas PIBIC da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, que forneceu bolsa ao primeiro autor, à Rebeca Cantinha pela fotografia de H.

azteca e à Empresa de Cosméticos Natura pela participação nos projetos de pesquisa.

REFERÊNCIAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15411-2. Ecotoxicologia aquática – Determinação do efeito inibitório de amostras de água sobre a emissão de luz de Vibrio fischeri (Ensaio de bactéria luminescente). Parte 2: Método utilizando bactérias desidratadas. 2006.

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BRIGANTE, J. & ESPÍNDOLA, E.L.G. In: Limnologia fluvial. O estudo no rio Mogi-Guaçu: a abordagem metodológica. São Paulo, 2003. v.1, p.15-22.

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Avaliação de toxicidade em sedimentos do rio Juqueri (SP) com Vibrio fischeri e Hyalella azteca` Helen Hwang, Gabriel Fonseca Alegre, Sueli Ivone Borrely, Maurea Nicoletti Flynn

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 33: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

A IMPORTÂNCIA DA FISPQ NO PROCESSO DE GERENCIAMENTO DE RISCO

QUÍMICO – UMA VISÃO CRÍTICA E CONCEITUAL

Cyro Hauaji Zacarias1 e Patrícia Estevam dos Santos2

1. INTRODUÇÃO

O crescimento urbano e a conseqüente modernização das cidades e dos processos

industriais têm intensificando a produção, o armazenamento, a circulação e o consumo de

produtos químicos dentro de um contexto mundial, surgindo a segurança química como uma

necessidade básica na prevenção dos efeitos adversos a saúde humana e ao meio ambiente.

Segundo estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), das 160 milhões de

doenças relacionadas ao trabalho, 35 milhões estão relacionadas à exposição a substâncias

químicas com a ocorrência de 439.000 mortes (Kato et al, 2007).

Os produtos químicos em geral fazem parte do cotidiano de diversos segmentos

empresariais de modo que a acessibilidade, clareza e qualidade das informações sobre seus

perigos vêm sendo exigidas. No caso de indústrias químicas ou de qualquer empresa que lide

direta ou indiretamente com produtos químicos, o primeiro passo é a implantação de um

sistema de informação de qualidade, e uma das principais ferramentas necessárias para que

este sistema seja implantado efetivamente é a FISPQ – Ficha de Informações sobre Segurança

de Produtos químicos.

No Brasil a obrigatoriedade da utilização de fichas de segurança é sustentada pelo

Decreto nº 2.657, 03/07/1998, Art. 8 – Fichas de segurança: “Os empregadores que utilizem

produtos químicos perigosos deverão receber fichas com dados de segurança que contenham

informações essenciais detalhadas sobre a sua identificação, seu fornecedor, a sua

classificação, a sua periculosidade, as medidas de precaução e os procedimentos de

emergência”. E existe a Lei nº 8.078, 11/09/1990, Art. 39 – É vedado ao fornecedor de

produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: VIII – “colocar, no mercado de

consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos

oficias competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de

                                                            

1 Biomédico, Mestrando em Toxicologia e Análises Toxicológicas FCF‐USP. E‐mail: [email protected]   

2 Bióloga. Mestre em Biologia Molecular e Genética pela UFRN. Doutoranda em Toxicologia e Análises Toxicológicas FCF‐USP. E‐mail: [email protected] 

RevInterA importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos 29

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 34: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro)”.

A FISPQ, baseada na ISO 11014 e elaborada no Comitê Brasileiro de Química

(ABNT/CB-10), pela Comissão de Estudo de informações sobre Segurança, Saúde e Meio

Ambiente, é o documento que serve como base do sistema de gestão seguro. Através dela o

fornecedor pode, e deve transmitir informações sobre os diferentes perigos de uma

determinada substância ou preparado através do preenchimento de 16 seções, cuja

terminologia, numeração e seqüência devem atender a NBR 14725:2005 (ABNT –

Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Para o preenchimento com qualidade de uma FISPQ as informações devem ser

extraídas e analisadas em bases de dados de alta confiabilidade e as mesmas, devem ser

analisadas criticamente utilizando-se do conhecimento toxicológico. Devido à grande

quantidade de informações contidas nas bases de dados sobre determinada substância ou

preparado, o trabalho de interpretação dos dados exige grande conhecimento técnico e

científico aliado ao conhecimento das legislações vigentes. Tais legislações estão em

constante revisão, o que exige dos profissionais uma atualização periódica para garantir a

qualidade dos documentos.

O presente artigo tem por objetivo descrever de modo crítico e analítico as 16 seções

que compõem a FISPQ de acordo com a NBR 14725, apresentando, em cada uma delas, o

conteúdo mais adequado para o seu preenchimento, assim como a sua importância para a

saúde humana e para o meio ambiente.

2. FISPQ – Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos

SEÇÃO 1 – Identificação do produto e da empresa - O primeiro passo na elaboração de

uma ficha de segurança é a informação dos dados referentes à identificação do produto e da

empresa. Equívocos no preenchimento desta seção podem resultar no comprometimento da

ficha como um todo, visto que todas as informações posteriores referir-se-ão a um produto

distinto. A identificação do produto deve estar em acordo com a rotulagem do mesmo e a

presença de um código é importante, pois minimiza a ocorrência de erros causados por

semelhança entre produtos, nomes parecidos e formulações, muitas vezes, idênticas. Dados do

fornecedor como nome da empresa, endereço, telefone e e-mail não podem ser omitidos uma

vez que qualquer dúvida relacionada às informações deve ser esclarecida pelo fornecedor.

RevInterA importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos 30

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 35: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

SEÇÃO 2 – Identificação de perigos - A classificação final do produto químico deverá ser

contemplada na seção 2, que corresponde à identificação dos perigos do produto. Nesta seção

são apresentados de forma resumida e objetiva os perigos à saúde humana, perigos físico-

químicos e ambientais. Sendo assim, esta seção serve como base para o preenchimento de

itens subseqüentes de forma mais detalhada. Há diferentes sistemas de classificação de perigo

como o Sistema Europeu de classificação feito com base nas diretivas 67/548/CEE

(substâncias) e 1999/45/CE (preparados) e o mais recente GHS – Globally Harmonized

System of Classification and Labelling of Chemicals que surge com o propósito de

harmonizar internacionalmente a classificação de produtos químicos.

Os perigos deverão ser representados pelas frases de risco no item “Perigos mais

importantes”. Para preenchimento dos demais itens dessa seção, a busca de informações via

bancos de dados de confiança, análises de laudos entre outras, deve ser feita de forma

criteriosa e responsável. As informações de “efeitos a saúde humana” devem apontar as

alterações anormais, indesejáveis ou nocivas que podem ocorrer após exposição e/ou contato

de um produto. Ex: Depressão do sistema nervoso central (CNS) e distúrbios gastrointestinais.

Os “principais sinais e sintomas” devem referir-se às alterações da percepção normal

(sensações) após exposição e/ou contato. Ex: dor de cabeça, letargia, sonolência e perda de

consciência. Náuseas, vômitos, diarréia e etc.

“Efeitos ambientais” correspondem aos efeitos nocivos das substâncias químicas sobre

os ecossistemas, sendo avaliados através de testes de ecotoxicidade em espécies indicadoras

(Ex: Daphnia magna). Os perigos físico-químicos, correspondentes a aqueles provenientes de

reações físicas ou químicas que um produto possa sofrer em determinadas condições, também

deve ser inserido nesta seção, ex: combustão, explosão ou liberação de gases tóxicos após

aquecimento. Estes perigos devem ser avaliados através de ensaios físico-químicos

adequados. No final desta seção, em caso de produtos que apresentem algum tipo de perigo,

deve ser informada uma visão geral de emergências sendo apresentado de forma direta o

aspecto do produto e seu(s) perigo(s) mais importante(s). Ex: Líquido inflamável e tóxico.

De acordo com a ISO 11014:2009, se um produto é classificado pelo sistema GHS a

seção 2 deve conter as classes e categorias de perigo assim como os elementos de rotulagem

como símbolos ou pictogramas, palavras de sinalização, frases de perigo e de precaução.

Talvez o preenchimento da seção 2 seja a etapa mais complexa e importante do

processo de elaboração de uma FISPQ, pois a classificação final do produto serve de alicerce

para elaboração de toda a ficha. E para que se alcance tal classificação a pesquisa em bancos

RevInterA importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos 31

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 36: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

de dados, interpretação de informações disponíveis e avaliação crítica dos testes realizados

são fundamentais.

SEÇÃO 3 – Composição e informações sobre os ingredientes - O preenchimento da seção

3 deve ser realizado de acordo com o tipo de produto químico devendo ser informado se está

se tratando de uma substância simples ou de um preparado. Um produto final composto de

diversos ingredientes, o que o caracterizaria como um preparado pode ser considerado uma

substância simples para elaboração da FISPQ desde que o mesmo possua um registro (número

CAS) e estudos quanto aos seus perigos tenham sido realizados.

Em se tratando de uma substância simples, deve ser dado o nome químico comum, um

sinônimo (se houver), o número de registro no Chemical Abstract Service (CAS) e

ingredientes que contribuam para o perigo, acompanhados dos seus respectivos números

CAS. O Nº CAS é um número de registro único no banco de dados da Chemical Abstract

Service e funciona como uma identidade que minimiza a probabilidade de correlações

errôneas. Sua utilização possibilita uma maior praticidade e confiabilidade no processo de

identificação de substâncias ou produtos.

No caso de um preparado, deve ser informada a natureza química do produto e os

ingredientes ou impurezas que contribuam para o perigo com suas respectivas concentrações.

A concentração na qual o ingrediente se apresenta no produto determinará se o mesmo será

perigoso ou não, baseado nos valores de corte definidos pelo sistema de classificação

utilizado, o qual deve ser referenciado.

SEÇÃO 4 – Medidas de primeiros-socorros - A seção 4 deve conter as principais

recomendações para casos de intoxicação distinguindo-se a via de exposição: contato por

inalação, contato com a pele, contato com os olhos e contato por ingestão. É fundamental que

sejam informadas as medidas básicas a serem tomadas em casos de intoxicação como, por

exemplo, remover a vítima para local arejado após inalação ou lavar com água e sabão após

contato com a pele. No entanto, informações mais específicas como, administração de carvão

ativado ou administração de antídotos devem ser incluídas no item “Proteção do prestador de

socorro e/ou notas para o médico”, desde que sejam oriundas de fontes seguras. Além disso, o

mesmo item deve conter informações para proteção do prestador de socorro.

O profissional responsável pela elaboração da ficha precisa ter a consciência de que as

informações presentes nesta seção são de extrema importância em casos de emergência

podendo salvar a vida de uma vítima de intoxicação.

RevInterA importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos 32

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 37: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

SEÇÃO 5 – Medidas de combate a incêndio – Esta seção deve trazer informações

referentes aos meios de extinção apropriados e não apropriados, aos perigos específicos no

combate, aos métodos especiais de combate e aos equipamentos de proteção de bombeiros e

brigadistas. É recomendado um maior detalhamento das informações para produtos

inflamáveis.

Assim como na seção anterior, devem ser incluídas na seção 5, as informações gerais,

porém é preciso que se tenha certo cuidado com as particularidades de cada produto, por

exemplo: um líquido altamente inflamável pode produzir vapores que, por sua vez, podem se

deslocar até alcançar uma fonte de ignição e provocar retrocesso de chama.

SEÇÃO 6 – Medidas de controle para derramamento ou vazamento - Em casos de

acidente onde haja derramamento ou vazamento de produtos perigosos a seção 6 da FISPQ é

fundamental devendo esta conter informações de como lidar em situações de tal natureza.

Para isso, as informações podem ser segmentadas em precauções pessoais, precauções

ambientais e métodos de contenção e limpeza.

As precauções pessoais devem incluir medidas para prevenção da exposição dos

indivíduos envolvidos no serviço de emergência ou daqueles que estejam, por algum motivo,

susceptíveis ao contato com o produto. Precauções ambientais visam, basicamente, evitar que

o produto derramado ou vazado alcance o meio ambiente, e isso é feito através de métodos de

contenção. Os métodos de contenção, como o nome diz, visam impedir que o produto vazado

ou derramado atinja áreas maiores, ou atinja determinados ambientes que possibilitem riscos

secundários como redes de esgoto. Seria um exemplo de contenção a construção de desvios e

diques para interceptar o fluxo de um produto líquido em uma depressão do terreno, ou ainda

a construção de barreiras físicas para impedir sua movimentação no solo (CETESB, 2009).

Os métodos para limpeza, que incluem recuperação, neutralização e disposição, visam

à remoção do produto derramado ou vazado do ambiente. Normalmente variam de acordo

com o estado físico do produto, podendo haver algumas medidas mais específicas como é o

caso da neutralização de ácidos com bases, por exemplo. Erros comuns observados em fichas

de segurança decorrem do desconhecimento dos significados de recuperação, neutralização e

disposição.

Quando se fala em recuperação deve-se ter a idéia de métodos de coleta e remoção de

produtos químicos que vazaram ou derramaram. Como exemplo de formas de recuperação

pode-se citar a sucção através de bombas de transferência ou caminhões vácuo e adição de

absorventes como areia ou terra aplicados para absorção do produto vazado. A neutralização

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consiste na adição de um produto químico, de modo a normalizar o pH no ambiente atingido

pelo vazamento, sendo este procedimento particularmente importante em casos de acidentes

envolvendo produtos corrosivos ácidos ou bases (CETESB, 2009). E a disposição é referente

ao destino final que se dá ao produto recuperado, devendo esta seguir a legislação e

regulamentações ambientais vigentes.

SEÇÃO 7 – Manuseio e armazenamento - Esta seção visa descrever as precauções para

manuseio seguro do produto assim como formas adequadas de armazenamento. Quanto ao

manuseio é sempre importante evidenciar a necessidade de uso de EPIs embora essa questão

seja detalhada na seção 8 da FISPQ, indicar medidas que impeçam o risco de incêndio em

caso de produtos inflamáveis e qualquer outra forma de manuseio que diminua os riscos de

exposição ou de reações perigosas.

Com relação às medidas adequadas de armazenamento, deve-se mencionar as

condições adequadas básicas como manter recipientes bem fechados, afastados do alcance das

crianças e afastado de alimentos e condições a evitar como temperaturas elevadas para

produtos inflamáveis. A existência de incompatibilidades, ou seja, reações perigosas que

ocorram após contato com outras substâncias ou materiais, deve ser contemplada nesta seção,

assim como embalagens recomendadas e inadequadas para este tipo de produto.

SEÇÃO 8 – Controle de exposição e proteção individual - A seção 8 é estritamente voltada

para questões do âmbito ocupacional estando diretamente relacionada com a proteção à saúde

do trabalhador. Esta seção deve contemplar parâmetros de controle para substância como os

limites de exposição ocupacional e indicadores biológicos de exposição. Dentre as principais

agências que estabelecem limites de exposição ocupacional estão a ACGIH (American

Conference of Industrial Hygienists), NIOSH (National Institute of Occupational Safety and

Health) e OSHA (Occupational Safety and Health Administration).

É importante ter o conhecimento das nomenclaturas utilizadas por essas agências. A

ACGIH utiliza a sigla TLV – Threshold limit value, a NIOSH utiliza a sigla REL –

Recommended exposure limit, enquanto que a OSHA utiliza a sigla PEL – Permissible

exposure limit, todas elas são referentes a concentrações limites ás quais os trabalhadores

podem ser expostos sem que o risco seja considerável. Estes limites são determinados com

base em períodos de exposição podendo ser, desta forma, subdivididos em TWA – Time

weighted average, STEL – Short term exposure level e Ceiling.

O TLV-TWA é a concentração média ponderada no tempo, para uma jornada normal de

8 horas diárias e 48 horas semanais à qual se supõe que o trabalhador possa estar exposto

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repetidamente durante toda sua vida laboral sem sofrer efeitos adversos decorrentes da

exposição. O TLV- STEL é a concentração a qual os trabalhadores supostamente podem estar

expostos por um período curto (15 min) sem sofrer efeitos adversos. Enquanto que o TLV – C

é a concentração que não deve ser excedida durante nenhum momento (ACGIH, 2006).

Os indicadores biológicos de exposição são as substâncias ou seus produtos de

biotransformação presentes em materiais biológicos, como sangue e urina que são os

materiais mais utilizados na avaliação de exposição ocupacional. Da mesma forma que

existem limites de exposição para substâncias presentes no meio externo, TLVs, RELs e PELs,

existem limites biológicos de exposição, que são os limites máximos permitidos para

concentração das substâncias ou metabólitos em amostras biológicas. A ACGIH apresenta

uma lista de BEIs – Índices biológicos de exposição que representam as concentrações de

indicadores biológicos abaixo das quais o trabalhador não deveria apresentar efeitos adverso

decorrentes da exposição (ACGIH, 2006).

A seção 8 também deve contemplar os equipamentos de proteção individual

adequados para o tipo de produto ao qual a FISPQ é referente, e se possível, indicar o tipo de

material apropriado para cada equipamento.

SEÇÃO 9 – Propriedades físico-químicas - A ISO 11014:2009 traz uma lista de 14

parâmetros físico-químicos que devem estar presentes na ficha de segurança e mais 4

parâmetros que podem ser fornecidos caso seja aplicável, no entanto sabe-se que dificilmente

todas estas informações estão disponíveis principalmente quando se trata de um produto

acabado. Alguns parâmetros como estado físico, cor e odor estão quase sempre presentes nas

FISPQs pois não exigem testes específicos para sua determinação ao contrário do que ocorre

com outros parâmetros que precisam ser determinados através de ensaios.

A ausência de informação nesta seção muitas vezes compromete muito a qualidade do

documento. Um exemplo muito claro desta situação é a ausência de ponto de fulgor em um

produto que contem ingredientes que confirmadamente são inflamáveis. É impossível

determinar a inflamabilidade do produto apenas pela concentração de ingredientes

inflamáveis, logo, a determinação do ponto de fulgor é indispensável em casos como este.

O pH do produto pode ser considerado uma propriedade fundamental em termos de

perigo, uma vez que valores extremos tornam esse produto corrosivo, inclusive sistemas de

classificação como o Sistema Europeu e o GHS permitem que o produto seja classificado

como corrosivo em casos de pH extremo.

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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A importância dos dados desta seção está no fato de que uma propriedade físico-

química pode justificar a toxicidade de um produto, o perigo ao meio ambiente assim como

perigos físico-químicos. É possível citar alguns exemplos que evidenciam a importância das

informações físico-químicas em uma FISPQ: substâncias com elevado coeficiente de

octanol/água tendem a se acumular em tecido adiposo de organismos diversos e persistirem

por muito tempo no ambiente; quanto maior a pressão de vapor de um líquido mais volátil ele

será e isso resulta em maiores riscos de inalação. As propriedades físico-químicas influenciam

diretamente em perigos relacionados com reatividade e instabilidade, como é o caso do pH,

que determina a incompatibilidade entre produtos ácidos e básicos; e produtos com baixo

ponto de fulgor que são incompatíveis com oxidantes.

De fato todas as propriedades físico-químicas têm seu grau de importância, porém

devido à dificuldade e, muitas vezes, da falta de viabilidade financeira para realização dos

testes estes dados são faltantes em fichas de segurança.

SEÇÃO 10 – Estabilidade e reatividade - Nesta seção deve-se descrever a capacidade do

produto químico de produzir ou sofrer reações perigosas, sendo mais instável o produto

quanto maior a probabilidade de ele reagir de forma perigosa. Estas reações podem resultar,

por exemplo, em explosão, liberação de gases tóxicos ou corrosivos, inflamação dentre outros

perigos.

Reações perigosas normalmente não ocorrem em condições adequadas de manuseio e

armazenamento, ou seja, é preciso que haja condições que favoreçam a ocorrência destas

reações. Como exemplo, pode-se citar exposição de produtos inflamáveis a temperaturas

elevadas ou de produtos explosivos a choque e vibração.

A incompatibilidade química ocorre quando o contato entre produtos ou substâncias

químicas diferentes resulta em reação perigosa como é o caso de ácidos fortes que, em contato

com bases fortes resulta em reações exotérmicas violentas; o contato entre cianetos e ácidos

gera liberação de gás cianídrico altamente tóxico e volátil.

SEÇÃO 11 – Informações toxicológicas - No preenchimento da seção 11 (Figura 11)

“Informações toxicológicas”, são fundamentais o conhecimento técnico e científico em

Toxicologia e o senso crítico no momento da coleta de informações. Talvez por esses motivos

esta seção seja a mais passiva de erros e, na maioria das vezes, a mais negligenciada em uma

FISPQ. Nela estão incluídos os perigos à saúde humana que devem ser descritos, com base na

ISO 11014:2009, nos itens: toxicidade aguda, corrosão/irritação da pele, lesões oculares

graves/irritação ocular, sensibilização respiratória ou da pele, mutagenicidade em células

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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germinativas, carcinogenicidade, toxicidade à reprodução, toxicidade sistêmica para órgão

alvo específico – exposição única e toxicidade sistêmica para órgão alvo específico –

exposição repetida e perigoso por aspiração.

Antes de qualquer coisa, é preciso ter em mente que a seção 11 deve estar em perfeita

coerência com as informações contidas nos itens “Efeitos a saúde humana” e “Principais

sinais e sintomas” da seção 3. Com base nas informações da seção 3, o profissional

responsável pela elaboração da ficha deve ter a capacidade de discernir o que será incluído em

cada item da seção 11. A partir daí, as informações (oriundas da seção 3) podem ser

detalhadas de forma mais minuciosa, de acordo com o que se tem disponível nos bancos de

dados utilizados.

A toxicidade aguda é a capacidade de uma substância química produzir efeitos nocivos

após uma única exposição ou exposições múltiplas em um curto período de tempo, e tais

efeitos surgem de imediato ou no decorrer de alguns dias. Enquanto que na toxicidade crônica

os efeitos surgem após exposições repetidas em um período de tempo prolongado (OGA;

CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). A toxicidade aguda de uma substância deve ser

estimada através de parâmetros tais como DL50 (dose letal 50) e CL50 (concentração letal 50)

que são as doses ou concentrações, respectivamente, capazes de causar a morte de 50% de

uma população exposta. Estes parâmetros são fundamentais para justificar uma classificação

de um determinado produto químico como tóxico por ingestão, inalação ou contato dérmico.

É inadequado classificar um produto sem apresentar dados de CL ou DL que dêem subsídio

para tal classificação.

O efeito local é aquele que ocorre no local do primeiro contato entre o organismo e o

agente tóxico, ao contrário do efeito sistêmico, que requer absorção e distribuição do agente

desde seu ponto de entrada até um local distante, onde os efeitos deletérios são produzidos

(AZEVEDO e CHASIN, 2004). Os itens “corrosão/irritação da pele” e “lesões oculares

graves/irritação ocular” representam os efeitos locais enquanto que os itens “toxicidade

sistêmica para órgão alvo específico – exposição única” e “toxicidade sistêmica para órgão

alvo específico – exposição repetida” são adequados para descrição dos efeitos sistêmicos

agudos e crônicos. O efeito sensibilizante requer uma pré-exposição à substância química para

ocorrer, ou seja, em um primeiro contato o individuo se torna hipersensível àquela substância,

e daí em diante reações adversas podem ocorrer após contato com quantidades mínimas

daquela mesma substância. Esta reação é também conhecida como reação alérgica e é

mediada imunologicamente. (KLAASSEN, 2007).

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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Mutagenicidade corresponde à capacidade de uma substância química produzir

alteração do material genético de forma que haja possibilidade de transmissão dessa alteração

às células descendentes. Um erro muito comum observado em fichas de segurança decorre da

falta de conhecimento da distinção entre mutagenicidade e genotoxicidade. A diferença está

exatamente na transmissibilidade da alteração genética de célula para célula ou de geração

para geração (KLAASSEN, 2007). Por exemplo, algumas alterações tais como troca de

cromátides irmãs e quebra de cadeia de DNA são consideradas genotóxicas, não mutagênicas,

pois elas não são transmissíveis para gerações descendentes (KLAASSEN, 2007). Os ensaios

com células germinativas de mamíferos oferecem a melhor base para avaliação de riscos de

danos genéticos passíveis de transmissão entre gerações.

A carcinogenicidade é a capacidade de uma substância induzir câncer ou aumentar sua

incidência. Câncer pode ser definido como uma doença essencialmente genética, que consiste

de uma proliferação e crescimento celular aberrante causado por mutações genéticas ou

alterações no padrão de expressão gênica decorrentes de outros fatores que não a mutação

(origem epigenética) (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).

Quando se fala em carcinogenicidade, a principal referência é a IARC – International

Agency of Research on Cancer, a qual, a exemplo de outras agências como EPA e ACGIH,

leva em consideração as evidências em estudos in vitro, com animais experimentais e estudos

epidemiológicos. A classificação da IARC é feita com base no peso das evidências

encontradas nos bancos de dados, podendo uma substância ou mistura se enquadrar no

Grupo1 – Carcinogênico para humanos, Grupo 2 A – Provável carcinogênico para humanos,

Grupo 2B – Possível carcinogênico para humanos, Grupo 3 – Não classificável como

carcinogênico para humanos e Grupo 4 – Não carcinogênico para humanos.

Evidências adequadas em estudos epidemiológicos corroboradas por resultados

positivos em testes com animais experimentais normalmente são suficientes para que a IARC

classifique uma substância no Grupo 1. Havendo evidência adequada apenas em estudos

epidemiológicos ou apenas em estudos experimentais a substância é classificada como sendo

Grupo 2 A ou 2 B respectivamente. Substâncias para as quais as evidências sejam

inadequadas para classificação, normalmente são alocadas no Grupo 3 que significa não

classificável como carcinogênica. E caso haja evidência suficiente de que a substância não

seja carcinogênica ela é classificada como Grupo 4, não carcinogênica para humanos.

SEÇÃO 12 – Informações ecológicas - Informações relativas a possíveis efeitos ambientais,

assim como ao comportamento do produto no meio ambiente devem ser contempladas na

RevInterA importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos 38

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seção 12 da FISPQ, “Informações ecológicas”. Esta seção contem itens como “Mobilidade”,

“Persistência/degradabilidade”, “Bioacumulação”, “Impacto ambiental” e Ecotoxicidade.

O item “mobilidade” é referente ao destino das substâncias químicas no ar, água e solo

e está intimamente relacionado com as propriedades físico-químicas de cada substância. Uma

substância química pode, por exemplo, sair da água por volatilização assim como um

contaminante transportado pelo ar pode movimentar-se para a fase aquosa por dissolução. Os

contaminantes da água podem adsorver-se sobre as partículas do solo. Ou um contaminante

do solo pode ser transportado para o ar circundante pelos processos de volatilização,

dependendo da pressão de vapor da substância química e de sua afinidade pelo solo

(AZEVEDO e CHASIN, 2004).

A persistência de uma substância depende da sua estabilidade, que por sua vez, é

função das propriedades físico-químicas e da cinética de degradação da mesma, e é por este

motivo que as propriedades “persistência” e “degradabilidade” constituem um mesmo item na

seção 12 da FISPQ. Sendo assim, quanto maior a degradabilidade de um produto, menor

tende a ser sua persistência. A degradação pode ser biótica (mediada por microrganismos) e

abiótica (hidrólise, oxidação, redução e degradação fotoquímica).

Bioacumulação é o termo que descreve a capacidade de uma substância química

apresentar concentrações bióticas mais elevadas do que concentrações ambientais, ou seja, os

xenobióticos tendem a ser captados pelos organismos vivos, onde se acumulam. A

lipossolubilidade, representada pelo log de Kow (coeficiente de partição octanol-água), é

freqüentemente utilizada para predizer a acumulação de compostos orgânicos na biota.

Quanto maior o valor de log de Kow maior tende a ser a capacidade de uma substância

bioacumular ou bioconcentrar. A determinação quantitativa da bioacumulação pode ser feita

através da fórmula: BCF=COrganism/CWater, onde BCF é o fator de bioconcentração (UNIÃO

EUROPÉIA, 2001).

A capacidade de uma substância química produzir efeito nocivo sobre organismos

vivos abrangendo os diferentes níveis de organização, ou seja, incluindo espécies aquáticas,

terrestres e aves é denominada ecotoxicidade. A avaliação da ecotoxicidade é feita através de

ensaios padronizados nos quais organismos-testes são submetidos a diferentes concentrações

da substância química estudada, por um período de tempo pré-estabelecido (UNIÃO

EUROPÉIA, 2001). Alguns organismos, como a espécie Daphnia magna, por exemplo, são

estudados com maior freqüência e essa escolha é baseada em parâmetros como a

representatividade ecológica, sensibilidade, facilidade de cultivo e conhecimento científico da

espécie.

RevInterA importância da FISPQ no processo de gerenciamento de risco químico – uma visão crítica e conceitual Cyro Hauaji Zacarias e Patrícia Estevam dos Santos 39

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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Em testes de ecotoxicidade aguda, o endpoint mais comum é a morte, embora

observações de comportamentos anormais e efeitos não-letais (imobilização em Daphnia)

sejam ocasionalmente aplicadas. O objetivo dos testes é a obtenção de valores de CL50

(concentração letal média), CE50 (concentração efetiva média) ou CI50 (concentração

inibitória média) os quais são derivados de curvas de concentração-resposta. A CL50

representa a concentração da substância capaz de causar a morte de 50% dos organismos

expostos e a CE50 é a concentração que afeta (efeito adverso não-letal) 50% dos organismos

expostos durante um período de tempo específico; a CI50 é a concentração que provoca uma

determinada inibição (como reprodução) em 50% dos organismos expostos. Os parâmetros

comumente utilizados para essa classificação são CL50 em peixes, CE50 em Daphnia e CI50

em algas sendo esta classificação feita através da comparação com valores de corte

determinados pelos sistemas de classificação utilizados (UNIÃO EUROPÉIA, 2001).

SEÇÃO 13 – Considerações sobre tratamento e disposição – A informação apropriada

para esta seção deveria contemplar os métodos recomendados para disposição do produto e

embalagem após uso. Ocorre que existem legislações federais e estaduais e órgãos

responsáveis como a CONAMA no Brasil, por exemplo, que determinam os métodos

adequados para disposição de resíduos perigosos. Logo, recomenda-se para o preenchimento

desta seção apenas um direcionamento, possibilitando ao usuário da ficha recorrer

diretamente às legislações.

SEÇÃO 14 – Informações sobre transporte – O transporte de produtos perigosos é

regulamentado por um sistema particular de classificação estabelecido pela resolução n° 420

de 12/02/2004 da Agencia Nacional de Transportes Terrestres – ANTT. Este sistema, que

contempla nove classes de perigo, tem como base o Orange Book, um regulamento modelo

estabelecido pelo Comitê de Peritos em Transporte de Produtos Perigosos das Nações Unidas.

O que se observa normalmente é uma grande preocupação por parte dos fornecedores

com o preenchimento desta seção pelo fato de que ela é a base para elaboração das fichas de

emergência e rotulagem exigidas para transporte de produtos perigosos. Essas fichas são

fiscalizadas de forma muito mais rigorosa de modo que autuações durante o transporte de

produtos perigosos são freqüentes e acabam gerando gastos desnecessários para as empresas.

Para maiores informações a respeito da classificação para transporte recomenda-se o acesso a

resolução n° 420.

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SEÇÃO 15 – Regulamentações – A seção 15 da FISPQ é destinada às legislações aplicadas

ao produto químico, principalmente legislação do país/região onde a FISPQ está sendo

utilizada. Como exemplo, podemos citar substâncias que são listadas pela FDA (Food and

Drug Administration) que não podem ser utilizadas em produtos diversos como cosméticos,

medicamentos, produtos alimentícios entre outros com o intuito de promover a proteção à

saúde pública. Produtos formados por mistura de substâncias dificilmente são

regulamentados, sendo esta seção levada em consideração, na maioria das vezes, quando o

produto em questão é uma substância pura e conhecidamente perigosa.

SEÇÃO 16 – Outras informações – De acordo com a ISO 11014 esta seção deve conter

qualquer outra informação que seja importante do ponto de vista de segurança, e que não

tenha sido contemplada nas seções anteriores. Com base no que comumente é observado em

fichas de segurança, alguns itens podem ser acrescentados nesta seção de modo a facilitar o

entendimento de todas as seções. A apresentação dos significados de siglas ou abreviações é

de extrema importância uma vez que, nem todos têm conhecimento técnico para entendimento

dos significados. Referências bibliográficas são fundamentais por, entre outros motivos,

aumentar a credibilidade daquilo que está sendo informado na ficha, e permitir o acesso a tais

informações em casos de dúvidas que ocorrem com freqüência.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se vê atualmente em fichas de segurança é a falta de qualidade e certo descaso

com relação à importância das informações que deveriam estar ali presentes. A FISPQ

deve ser vista como uma ferramenta essencial no gerenciamento de risco químico nas

indústrias ou qualquer empresa que lide com produtos químicos. Esta visão é um estímulo

para uma elaboração mais responsável e mais criteriosa dos documentos, e conseqüente

diminuição dos riscos oferecidos pela utilização de produtos químicos perigosos.

Além da boa qualidade dos documentos que é representada pela riqueza de

informações oriundas dos mais bem reconhecidos bancos de dados, há outro fator que precisa

ser levado em consideração; as informações contidas em uma FISPQ são de caráter técnico,

de modo que a interpretação das mesmas deve ser feita por um profissional expertise. Este

profissional, sendo ele responsável pela segurança química, segurança do trabalho ou saúde

do trabalhador na empresa, deve se responsabilizar pela transmissão mais adequada das

informações para os trabalhadores. Quanto maior a compreensibilidade para o público alvo

maior será a possibilidade se alcançar o objetivo final, que é a diminuição dos riscos

químicos.

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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REFERÊNCIAS

ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais, TLV e BEIs. Baseados na Documentação dos Limites de Exposição Ocupacional (TLVs) para Substâncias Químicas e Agentes Físicos & Índices Biológicos de Exposição (BEIs) da ACGIH. São Paulo, 2006

AZEVEDO, F.A.; CHASIN, A.A.M. As Bases Toxicologicas da Ecotoxicologia. 1 ed. São Carlos: RiMa, 2003 – São Paulo: Intertox, 2003.

CETESB (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo) disponível em http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/acidentes/rodoviarios/etapas_medidas.asp. Acesso em maio de 2009.

KATO, M.; GARCIA, E.G.; WUNSCH FILHO, V. Exposição a agentes químicos e a Saúde do Trabalhador. Revista brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (116): 06-10, 2007.

KLAASSEN, C.D. (ed). Casarett & Doull’s. Toxicology: The Basic Science of Poisons. 7 ed. New York: McGraw-Hill, 2008. p. 329-379.

[BRASIL] - DECRETO N° 2.657, DE 3 DE JULHO DE 1998. Promulga a Convenção n° 170 da OIT, relativa à Segurança na Utilização de Produtos Químicos no Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília.

[BRASIL] – Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, Art. 39. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.

INTERNATIONAL STANDARD - ISO 11014:2009. 1ed. Safety data sheet for chemical products – Content and order of sections.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas - Ficha de informação de segurança de produtos químicos – FISPQ. NBR 14725:2005.

OGA, S.; CAMARGO, M.M.A.; BATISTUZZO, J.A.O. Fundamentos de toxicologia. 3.ed. São Paulo: Atheneu Editora São Paulo, 1994.

ANTT – Agencia Nacional de Transportes Terrestres – Resolução N° 420, de 12 de fevereiro de 2004. Disponível em: http://www.antt.gov.br/resolucoes/resolucoes2004.asp. Acesso em maio de 2009.

[UNIÃO EUROPÉIA] - DIRETIVA 2001/59/CE DA COMISSÃO de 6 de agosto de 2001. – que adapta ao progresso técnico pela vigésima oitava vez a Diretiva 67/548/CEE do Conselho, relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas respeitantes a classificação, embalagem e rotulagem das substâncias perigosas.

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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O INVESTIMENTO PRIVADO E A

RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA NO BRASIL

Kyle Meister1, Victor Salviati2

Não, não haverá para os ecossistemas aniquilados Dia seguinte. O ranúnculo da esperança não brota No dia seguinte. O vazio de noite, o vazio de tudo Será o dia seguinte. -Carlos Drummond de Andrade em “Mata Atlântica”

Resumo:

O desmatamento da Mata Atlântica vem sendo ocasionado, desde 1500, por diversos fatores (e.g., sociais, econômicos e políticos). Para tanto, neste presente artigo foi feita uma revisão bibliográfica e uma análise da mesma para apresentar algumas saídas sustentáveis para o reflorestamento e a restauração ecológica do segundo maior bioma em biodiversidade do planeta. Avaliam-se alternativas de plantio e reflorestamento com espécies nativas da Mata Atlântica levando em consideração ganhos não só ambientais mas também sociais e econômicos para os moradores da floresta. Dentre alternativas apresentadas (e.g., sistemas agroflorestais, reflorestamento de nativas com manejo sustentável e pagamento por serviços ambientais), concluiu-se que uma política pública ou a iniciativa privada considerando somente fatores econômicos não irão resolver o problema socioambiental atlântico, pois favorecem o plantio de monoculturas de espécies exóticas e assim não tratam a questão da biodiversidade. Contudo, faz-se necessária uma ação integrada entre as três esferas: ambiental, social e econômica, pois somente assim estas potenciais atividades poderão resultar viáveis e sustentáveis a longo prazo.

Abstract:

Deforestation of the Atlantic Coastal Forest has occurred since the 16th Century in Brazil due to several factors (e.g., social, economical, and political). For this article, the authors performed a bibliographic review and a subsequent analysis of the available information to examine some possible alternatives for the reforestation and restoration of the second most diverse biome on the planet. Planting and reforestation initiatives using some of the Atlantic Coastal Forest’s native species considering environmental, social, and economic benefits were evaluated. Among some alternatives (e.g., agroforestry systems, reforestation with native species with sustainable management, and payment for ecosystem services), it is reasonable to conclude that neither private nor public initiatives considering economic factors alone will be

1 Bacharel em Espanhol e em Manejo e Ecologia de Recursos Naturais pela Universidade de Michigan, com mestrado em Engenharia Florestal na Forestry and Environmental Studies, Universidade de Yale. Atualmente é Engenheiro Florestal de Certificação na Scientific Certification Systems, com sedes nos EUA e no Brasil ([email protected]). 2 Biólogo formado pela Universidade Estadual Paulista, Gestor Ambiental pelo SENAC e mestrando no Programa de Planejamento Energético (Faculdade de Engenharia Mecânica) pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é Consultor Freelancer para projetos de carbono na Alpha MF, Carbon Market Consulting, Eco-Act e Social Carbon ([email protected]).

RevInterO Investimento Privado e a Restauração da Mata Atlântica no Brasil Kyle Meister, Victor Salviati 43

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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able to solve environmental problems in the Atlantic region. However, an integrated approach among the social, economic and environmental spheres is more likely to result in a viable, long-term solution.

Os seres humanos ocuparam a Mata Atlântica no Brasil por milhares de anos:

sociedades de caçadores-coletadores praticantes de agricultura itinerante (Kern, 1990),

embora em escala pequena e certamente com baixo impacto ambiental. Há quinhentos anos,

contudo, chegaram outros seres humanos com ideias muito diferentes de exploração e uso dos

recursos do planeta. Os europeus, principalmente os espanhóis e portugueses, achavam a costa

Atlântica da Amércia do Sul uma terra de riqueza infinitivamente explorável (Dean, 1996).

Nas costas da Bahia e do Rio de Janeiro, deu-se inicio à exploração do “Pau Brasil”

(Caesalpinia echinata Lam.), seguida de um período de exploração de produtos agrícolas dos

mais diversos (e.g., banana, cana-de-açúcar, café, entre outros) para a exportação, o que

permitiu a criação e expansão das cidades (Dean, 1996).

Todavia, a maioria do desmatamento da Mata Atlântica ocorreu em meados do século

XX, com o alto crescimento da população e a política dos sucessivos governos republicanos e

militares de colonizar o interior do país de maneira não-sustentável (Dean, 1996; Paula, 1997;

Brito et al., 1997; Rocha, 2003). Por exemplo, no estado do Rio de Janeiro, nos anos de 1500,

havia mais de 4.000.000 de hectares de floresta natural, representando 97% de sua cobertura.

No ano de 1912 havia 3.585.700 de hectares, ou 81,0% da superfície do estado. A perda de

quase 20% da cobertura original da Mata Atlântica carioca durante 400 anos não é nada em

comparação com a perda acelerada iniciada após 1912. Em 1960, só 25% do estado tinha

cobertura florestal natural e no ano 2000 só 16,7% (INPE SOS Mata Atlântica, 2001). O

ritmo da exploração na Bahia, por exemplo, também tem sido muito semelhante nos últimos

60 anos. Em 1945, só a zona costeira era desmatada, enquanto o interior do estado detinha

mata intacta. Entre 1945 e 1997, um pouco mais de 95% dos mais de 2 milhões de hectares

florestados foram desmatados (Santos e Santos 2007).

Hoje em dia, onde estavam 134 milhões de hectares de mata costeira, contendo pouco

menos de 7% da cobertura original, há 70% da população brasileira (INPE SOS Mata

Atlântica, 2001). Duas das maiores cidades do Brasil em termos de população e economia,

São Paulo e Rio de Janeiro, pertencem a esse bioma, e a solução para sustentar esta região é

extrair e produzir alimentos de maneira desordenada – explicando boa parte da perda da Mata

Atlântica.

Apesar de reconhecer que é muito fácil julgar o passado segundo o conhecimento e

experiência que temos atualmente, a destruição da segunda maior floresta tropical e

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subtropical do mundo (Joly, Leitão-Filho, Silva, 1991; Costa, 1997; Tabarelli et al., 2002) – a

primeira também está no Brasil (World Wide Fund for Life, 2006) – é um produto de mais de

quinhentos anos de gestão sumária.

Figura 1. Mapa e gráfico adaptados segundo os dados do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica

(INPE SOS Mata Atlântica, 2001)

Sabemos que se mantida esta intervenção desordenada na Mata Atlântica, teremos que

descobrir maneiras de restaurar esses serviços ambientais destruídos, pois esses ecossistemas

provêm armazenagem e filtração d’água, tratamento de ar e água contaminada, sequestro de

carbono, recuperação e criação de solos, nichos para animais, e polinização de vários produtos

comestíveis e úteis entre muitos outros. Consequentemente, tem-se discutido muito sobre a

restauração da Mata Atlântica embora se saiba que é um tema polêmico, tendo em vista a

incapacidade de recriá-la como a original. No entanto, seria melhor não fazer nada?

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Ecologia da Mata Atlântica

Distribuição geográfica, solos e clima

A composição da Mata Atlântica é normalmente classificada como ombrófila (i.e.,

caracterizada por serem úmidas e perenes) e estacional (i.e., nos períodos de seca perde de 20

a 50% das folhas). Dentro da primeira classificação, tem-se ombrófila densa (ocupa quase

toda a extensão litorânea brasileira), mista (ocupa parte dos estados do Rio Grande do Sul,

Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e aberta (com área bem

restrita) – de acordo com a densidade de espécies vegetais, disposição e outros fatores bióticos

e abióticos (Joly et al., 1991). Já a floresta estacional é dividida em semi-decidual (ocorre em

grande parte nas regiões Centro-Oeste e sul da região Norte) e a decidual (Nordeste e no Sul,

principalmente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) (INPE SOS

Mata Atlântica, 2001).

Figura 2. Distribuição das composições fitossociológicas da Mata Atlântica (cobertura orginal) (INPE SOS Mata

Atlântica, 2001)

Com relação aos aspectos pedológicos, e apesar de que a vegetação da Mata Atlântica

vem sendo estudada muito mais do que os solos, sabe-se que não há florestas sem a

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consideração do mesmo. As plantas são propriedade da terra e a qualidade do solo determina

onde as mesmas podem crescer.

A maioria dos solos da Mata Atlântica provém de rochas ígneas e metamórficas, sendo

a primeira de origem vulcânica e a segunda de processos de pressão. Há também as rochas

sedimentárias, que ocorrem mais ao interior, principalmente nos estados da Bahia, Minas

Gerais e Mato Grosso do Sul (Critical Ecosystem Partnership Fund, 2001).

Por quase toda a extensão da Mata Atlântica, os solos dominantes são de latossolos

seguidos por cambissolos líticos. Os cambissolos são mais profundos que os latossolos,

contando com uma camada B sob uma A de pelo menos 25 cm. Entretanto, os cambissolos da

Mata Atlântica são líticos, ou seja, há uma camada de rochas sob as camadas de solo (Santos,

Santos, 2007). Os solos chamados de tipo Bruno são arenosos, profundos, derivados de

aluvião e com alta drenagem. Experimentam períodos breves de inundação (Natural Resource

Conservation Service, 2004). A diferença principal entre os três tipos de solo se relaciona

com a capacidade de conter água. O latossolo é profundo e consequentemente pode conservar

muita água, mas não contém muitos nutrientes disponíveis. Em contraste, apesar de poder ser

profundo, o cambissolo contém um estrato rochoso, o que afeta a ubicação dos lençóis

freáticos, a drenagem e o desenvolvimento do solo. Apesar de serem profundos, os solos

Bruno são arenosos e ocorrem em lugares de pouca precipitação.

Figura 3. Mapa dos solos encontrados no Brasil (PortalBrasil, n/d)

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O último fator principal a considerar é o clima das regiões da Mata Atlântica. Em

geral, quantidade e duração da precipitação se reduzem do sul até o nordeste do Brasil. Nas

áreas mais secas, perto da costa, há mais precipitação, o que frequentemente cria um grande

contraste entre o interior e a costa. Um outro padrão é que há menos variação na temperatura

no nordeste que no sul (i.e., maritimidade) (Ricklefs, 2003).

Biologia

Num estudo no Estado de São Paulo entre 1987 e 1990 (Leitão-Filho, Pagano, 1993)

encontraram-se 42 famílias de árvores em áreas de amostra de 6.000 m2. Em comparação, no

norte dos EUA e no território do Canadá há menos de 35 famílias de árvores (Farrar, 1995),

demostrando o alto nível da biodiversidade na Mata Atlântica. De fato, a Mata Atlântica

contém 20.000 espécies de plantas, das quais perto de 40% são endêmicas (Paula, 1997;

Rocha, 2003). De espécies de vertebrados, a Mata Atlântica conta com 340 de anfíbios, 197

de répteis, 1020 de aves (das quais 149 são endêmicas) e 252 de mamíferos (Rocha, 2003).

Muitas dessas espécies estão ameaçadas e algumas à beira da extinção (IUCN, 2008).

A interdependência entre a flora, a fauna e seu meio abiótico não pode ser exagerada. O

meio abiótico provê o âmbito físico para a biota e ela, por sua vez, afeta o âmbito físico por

influenciar a química dos solos (p.ex.), entre outros.

Sem a fauna, as plantas não poderiam ser polinizadas nem suas sementes dispersadas,

enquanto a fauna depende das plantas devido à cadeia trófica (Ricklefs, 2003). Então, nessa

balança, cada ação tem um efeito, tais como o corte de árvores, a caça de animais e a

aplicação de pesticidas.

Estratégias de restauração da Mata Atlântica

Há vários graus de integridade das áreas restantes da Mata Atlântica. Por exemplo, em

São Paulo, entre a mata do litoral e a mata mais ao interior do estado há agora muitas áreas

urbanas e rurais, fazendo os remanescentes florestais parecerem como se fossem distintos

(i.e., partes de outros biomas), embora no passado fossem parte de uma floresta contínua e

única.

Hoje, São Paulo é 98,6% desmatado (INPE SOS Mata Atlântica, 2001). Os

fragmentos da mata ainda existentes estão degradados pela caça e exploração das espécies de

árvores comerciais. Além disso, a maioria dos fragmentos tem tamanho entre 400 e 2.000

hectares, com um só fragmento do estado alcançando mais de 2.000 hectares (Lima, 2001). O

objetivo da restauração da Mata Atlântica é baseado na ideia dos serviços ecológicos, cujo

raciocínio talvez ainda seja polêmico fora de círculos dos ambientalistas e acadêmicos que

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adotaram ideologias capitalistas para explicar o valor da natureza, abrindo uma interpretação

antropocêntrica da natureza e seu serviço à sobrevivência e o bem-estar do ser humano

(Adams et al., 2007). Esses serviços incluem a proteção de mananciais de água potável,

controle de erosão e contenção de encostas (Lima, 2001; Adams et al., 2007), entre outros. A

proposta é conectar fragmentos grandes e escolher fragmentos pequenos mais próximos uns

dos outros para permitir que a regeneração natural e que os projetos de restauração da Mata

Atlântica façam o restante do trabalho (Lima, 2001).

Por consequência, a restauração florestal levanta questões sobre a permanência de tais

projetos, ou seja, como se pode evitar o desmatamento de áreas restauradas no futuro? Se não

se considerar o fator humano, qualquer projeto de restauração ou transformação ecológica

fora de áreas estritamente protegidas provavelmente não terá sucesso a longo prazo. Por isso,

uma parte de um projeto de restauração focará alguns métodos de manutenção das florestas

reestabelecidas.

Já que muitas áreas da Mata Atlântica foram transformadas em fazendas e há

baixíssima fiscalização das leis de proteção em muitas partes, uma ferramenta aplicável é o

incentivo financeiro aos fazendeiros. Por exemplo, podem-se criar bosques agroflorestais

utilizando espécies de plantas nativas úteis para a fauna e também para os seres humanos,

conectando os fragmentos pequenos restantes (Lima, 2001). A seleção das plantas precisa

considerar as necessidades da fauna que utilizará os corredores com as dos fazendeiros. Se

esses corredores agroflorestais forem inutéis para os fazendeiros, eles preferirão cultivar do

que preservar (Fernandes, n/d). Por exemplo, há algumas espécies de animais, inclusive

muitos polinizadores e dispersores, tanto insetos como aves e morcegos, que são

exclusivamente arbóreos e que atualmente não transitam entre os remanescentes por falta de

condições ecológicas adequadas (e.g., Bianconi et al., 2004). Com projetos de corredores

agroflorestais, não só se consegue a proteção de solos agrícolas, manutenção de fontes d’água

e a conexão entre fragmentos de florestais naturais, mas também a dispersão de sementes e a

polinização das plantas – facilitando a regeneração natural da Mata Atlântica nas zonas entre

os remanescentes (Lima, 2001). Com o planejamento apropriado e o envolvimento dos

fazendeiros e das comunidades locais, é possível fazer corredores que protejam os cultivos,

solos, água e ar, enquanto armazenam insetos polinizadores e predadores, mitigam as

mudanças climáticas e oferecem produtos úteis para o desenvolvimento sustentável das

comunidades (Fernandes, n/d).

A Mata Atlântica é o lar de muitas espécies de plantas nativas úteis (e.g., maracujá,

pitanga, erva-mate, pinhão, diferentes espécies de bromélias, etc.) (Simões, Lino, 2002).

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Em cada região, existem algumas alternativas à prevalência do desenvolvimento de

gado, soja, monoculturas de árvores e outras indústrias (Siqueira, Mesquita, 2007).

No sul do país, a erva-mate é um produto que depende da ecologia da floresta para

produzir folhas de melhor qualidade, freqüentemente encontrada em maior concentração perto

de espécies de Araucaria, Cedrella, Balfourdendron, Cabralea e Podocarpus, entre outras

(Simões, Lino, 2002). Graças aos compostos químicos secundários presentes em suas folhas,

a erva-mate é usada para fazer uma bebida tradicional, produtos medicinais e de higiene geral

e pessoal (Simões, Lino, 2002). Resulta que a qualidade da erva-mate depende da quantidade

desses compostos secundários foliares que a planta emprega como auto-defesa contra vários

tipos de pragas. Portanto, a qualidade desta cultura está intrinsecamente ligada à sua interação

com outros organismos e seu respectivo ambiente físico.

Na Bahia há uma palmeira endêmica que possui vários usos. Trata-se da piaçava, ou

Attalea funifera, que é fornecedora de uma fibra de altíssima qualidade, frutos secos,

sementes oleaginosas, entre outros produtos não-florestais (Simões, Lino, 2002). As sementes

desidratadas, por exemplo, podem ser exploradadas na feitura da farinha de satim, ingrediente

indispensável ao cuscuz (Simões, Lino, 2002). A piaçava é bem adaptada a regiões pobres,

com solos ácidos e baixa fertilidade e ocorre em bosques secundários, na submata e nas áreas

abertas (Simões, Lino, 2002), destacando-se a possibilidade de seu plantio em muitas áreas

como uma opção à vegetação. Os principais problemas que envolvem a restauração são a falta

de uso racional dos recursos naturais para manter uma estrutura florestal, a manutenção da

diversidade genética e o crescimento demográfico desordenado devido ao movimento

turístico e imobiliário na zona litoral (Simões, Lino, 2002). Segundo ainda a Simões e Lino

(2002), o uso sustentável da piaçava é possível, pois não se faz necessário desbastar a árvore

para coletar fibras e sementes. Entretanto, os produtores, impulsionados pelas forças de

mercado, usufruem de plantas juvenis – prejudicando o crescimento das mesmas (Simões,

Lino, 2002), ainda mais com as oscilações do preço do petróleo, matéria-prima para o náilon,

principal concorrente da fibra de piaçava.

Um último exemplo é o das plantas medicinais – as quais, como a erva-mate,

dependem de compostos secundários. Uma vez que o consumo de fitoterápicos é cada vez

maior no Brasil, com um ritmo de crescimento anual de 20%, constituindo 10% do mercado

mundial (Simões, Lino, 2002), faz-se necessária uma política pública ou privada que

potencialize essas porcentagens de maneira sustentável, como projetos agroflorestais com

plantas medicinais.

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Um exame da indústria florestal na Mata Atlântica

O Brasil é o principal consumidor da madeira tropical no mundo inteiro, absorvendo

perto de 86% de sua própria produção madeireira (World Bank, 2000). Entre 1990 e 1995,

mais de 5.000 km2 da Mata Atlântica foram desmatados e pelo menos 80% do corte dessas

árvores foi ilegal (World Bank, 2000). Como por volta de 70% da população brasileira vivem

na Mata Atlântica (INPE SOS Mata Atlântica, 2001), ou onde um dia ela esteve, é nesta

região que se concentra a grande demanda por madeira. Contudo, é certo que a situação é

muito mais complexa, especialmente quando consideramos os conflitos de acesso e posse da

terra, os incentivos para desenvolvimento social e econômico em cidades, a grande expansão

agrícola entre outros fatores (World Bank, 2000; Santos, Santos, 2007)

Há por volta de 55.000 km2 de monoculturas de Pinus e de Eucalyptus para satisfazer a

demanda da indústria papeleira e de carvão – sendo que este último é principalmente utilizado

na fabricação de ferro e aço (World Bank, 2000). Por um lado, as monoculturas restringem a

pressão dos bosques naturais, mas por outro ainda assim um desequilíbrio existe entre o nível

de investimento neles e o investimento no manejo das florestas naturais (World Bank, 2000).

Entre 1968 e 1988, a produção de Eucalyptus cresceu de 29 m3/ha/ano para 67 m3/ha/ano,

destacando a importância do setor e sua alta capacidade de produção (World Bank, 2000).

Ainda se acredita que algumas monoculturas podem ser mais baratas (i.e., investimento

necessário para implementação e manutenção) que projetos sustentáveis de reflorestamento e

agrofloresta. Mas a questão cerne aqui é o desequilíbrio presente na taxa interna de retorno

(World Bank, 2000; Cubbage et al., 2007) e nos serviços ambientais que tais projetos podem

agregar – oferecendo em médio e longo prazo rendimentos tão altos quanto os oferecidos pela

monocultura (Adams et al., 2007).

Um estudo de caso interessante que ilustra o parágrafo anterior é o desenvolvido por

Dubè et al. (2000), em Minas Gerais, comparando índices financeiros de culturas de

Eucalyptus praticadas em sistema agroflorestal (SAF) e em sistema de monocultura.

Os índices financeiros comparados que merecem destaque são o valor da terra esperado

(VET, que permite a comparação de diversos tipos de investimentos em relação ao fluxo de

caixa versus período de retorno), benefício (custo) periódico equivalente (BCPE, incremento

de renda que determinada cultura agrega ao valor da terra e/ou à produção), valor presente

líquido (VPL, determinação do valor presente de pagamentos futuros com relação a uma taxa

de juros básica), taxa intera de retorno (TIR, conceito que determina em quanto tempo

ocorrerá o break-even do VPL calculado), entre outros.

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Assim, a Tabela 1 apresenta um resumo dos dados que demonstram que o SAF é mais

interessante financeiramente que a monocultura usualmente praticada, tendo em vista os

índices VET e B(C)PE – com incrementos de mais de 50%.

Tabela 1. Comparação de parâmetros financeiros entre plantio de Eucalytpus em monocultura e SAF

VET (R$/ha) B(C)PE (R$/ha/ano) VPL (R$/ha) TIR (% a.a.)

Monocultura 446,66 44,67 386,30 12,56 SAF 700,13 70,01 454,74 13,49 Fonte: (Dubè et al., 2000).

Ainda segundo Dubè et al. (2000), o SAF proporciona receitas múltiplas provenientes

da comercialização de produtos secundários (e.g., agrícolas e pecuários).

Um segundo estudo de caso ilustrativo apresenta a comparação entre o plantio de

espécies nativas (erva-mate e araucária) e outras espécies exóticas (pinheiro e eucalipto) na

região sul do Brasil (Cubbage et al., 2007).

Na Tabela 2 são apresentados os custos primários das produções de nativas em

comparação com as exóticas.

Tabela 2. Custos e preços da produção de algumas variedades nativas e exóticas no Brasil

Espécie Custo de

Implementação (US$/ha)

Preço do Produto (US$/m3)

Colheita (anos)

Preço da colheita

(US$//ha) Pinus taeda 636 20 18 10.800

Eucalyptus grandis 600 47 15 13.960 E. dunnii 800 12 7 3.612

Ilex paragurariensis 600 0,008 3 240 Araucaria angustifolia 636 37 25 8.000

Fonte: adaptado de Cubbage et al., 2007.

No primeiro momento, no segundo desbaste comercial de Eucalyptus grandis (exótica)

e Araucária angustifolia (nativa), o investidor recupera os custos de estabelecimento e ainda

gera lucro. Mas ao corte final de E. grandis, há um ganho adicional de US$ 12.000 em

comparação com o total de US$ 6.200 depois do terceiro desbaste (21 anos) e o corte final (25

anos) de A. angustifolia (Cubbage, et al. 2007). Neste cenário, claramente, o investidor irá

optar trabalhar com E. grandis.

Na

Tabela 3, comparam-se os diversos índices financeiros para tomada de decisões (e.g.,

VPL, VET e TIR). Foram nesses parâmetros e outros que se baseou a classificação das

melhores espécies para o plantio neste estudo. Empregou-se um sistema de pontos para fazer

RevInterO Investimento Privado e a Restauração da Mata Atlântica no Brasil Kyle Meister, Victor Salviati 52

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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um ranking, com a seguinte sequência: E. grandis, E. dunnii, P. taeda, I. paragurarensis e A.

angustifolia. É possível, portanto, concluir que, em termos financeiros, plantar-se espécies

exóticas em lugar das nativas pode ser mais atrativo.

Tabela 3. Comparação dos parâmetros financeiros entre as quatro espécies

Espécie VPL (US$/ha) VET (US$/ha) Valor

Equivalente Anual (US$/ha)

TIR (%)

Pinus taeda 1.870 2.495 200 16,0 Eucalyptus grandis 3.716 5.427 434 22,7

E. dunnii 1.196 2.872 230 22,9 I. paragurariensis 1.061 1.976 158 19,0 A. angustifólia 823 963 77 12,4 Fonte: adaptado de Cubbage et al., 2007.

Entretanto, neste estudo não foi incluído o ganho econômico ao se adicionar valor ao

produto final ou a oferta de outros produtos e serviços do manejo da floresta natural (i.e.,

serviços ambientais). Contudo, isso não surpreende quando se observa a implementação de

mais monoculturas de árvores exóticas em terrenos degradados do que de projetos de

reflorestamento e/ou plantio de nativas.

Comparados os dois estudos apresentados, pergunta-se como se pode implementar uma

política de conscientização e/ou esclarecimentos aos produtores (pequenos e grandes) com

relação ao ganho indireto e a médio e longo prazo no estabelecimento de culturas mais

sustentáveis (e.g., SAFs ou projetos de reflorestamento de nativas)? Como aplicar

conhecimentos embasados na literatura especializada (e.g., Adams et al., 2007) na “vida

real”?

Uma maneira é a criação e o cumprimento de leis que promovam a implementação de

reservas nas fazendas e a compensação aos possuidores de florestas, seja com capacitação e

materiais ou benefícios fiscais, para a sua respectiva preservação.

Atualmente, o Brasil detém legislações e códigos que garantem tanto a proteção de

áreas naturais quanto a divisão de terras agriculturáveis em áreas de proteção ambiental e

reservas legais – um dos dois principais mecanismos legais para a restauração e preservação

do meio ambiente. Entretanto, diversos estudos apontam (e.g., Dean, 1996; World Bank,

2000) a ineficiência desses mecanismos brasileiros, pois há um déficit no sistema de

fiscalização e uma burocracia desnecessária – levando o produtor a atitudes ilegais e

ambientalmente destrutivas.

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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Um exemplo positivamente emblemático em se tratanto de ferramentas jurídicas para a

preservação da Natureza é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

Ecológico. Pioneiramente implementado no estado do Paraná, em 1991, o ICMS Ecológico é

o direito do munícipio de receber parte do ICMS arrecadado pelo estado em troca da

preservação e fiscalização das atividades ambientais (Loureiro, n/d). Assim, atualmente,

alguns municípios consideram a floresta como um ativo e a protegem com projetos de

educação ambiental e prevenção ao fogo.

No Paraná, os incentivos para cuidar da floresta também incluem a promoção das

práticas do manejo sustentável da floresta para a produção da madeira como a implementação

do sistema agroflorestal nas fazendas, que é baseado na regeneração natural da bracatinga

(Mimosa scabrella), a qual se planta com cultivos anuais e se utiliza como lenha em casa ou

em processos industriais (World Bank, 2000). Além disso, Mimosa é um gênero da família

das fabáceas – reconhecidas pela fixação de nitrogêno da atmosfera no solo. Um outro

exemplo de uma espécie nativa implementada no manejo florestal natural, é a caixeta

(Tabebuia cassinoides), uma árvore do pântano que brota depois do corte e conta com um

sistema de manejo bem definido, o que a provê de valor econômico sem desestabilizar os

ciclo naturais do meio (World Bank, 2000).

Conclusão

A questão da restauração da Mata Atlântica não irá se resolver se expulsarmos as

pessoas do ecossistema, embora seja necessário mudar algumas práticas e aprender a valorizar

melhor serviços ecológicos oferecidos pelo ambiente. Não se pode depender da exploração da

região atlântica para baixar ou eliminar a pressão da Amazônia. Portanto, a localização das

reservas biológicas e extrativistas devem ser estratégicas em relação à localização das

populações humanas.

Contudo, já há conhecimentos técnico-científicos sobre muitos aspetos do ambiente

natural e a intregração de sistemas agroflorestais (i) na construção de corredores ecológicos,

(ii) na extração dos recursos naturais de maneira sustentável, (iii) na manutenção e

restauração dos serviços ambientais e sua valoração, considerando análises financeiras mais

completas e coerentes com a realidade.

Alguns diriam que a valoração econômica dos ecossistemas é a última fase da

“traição” do movimento ambiental ao capitalismo predador, mas a continuação dos mesmos

métodos de conservação ineficientes, traz o risco de não nos adaptarmos às mudanças que

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

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estão ocorrendo. Em suma, todos devem valorar e valorizar a natureza como parte integrante

de nosso sistema sócio-econômico.

Referências bibliográficas

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Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 62: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

A implementação do GHS na União Européia em atendimento ao REACH

Giovanna Ribeiro-Santos1, Fabriciano Pinheiro2

O sistema globalmente harmonizado de classificação e rotulagem de produtos

químicos (GHS – Globally Harmonized System of Classification and Labelling of

Chemicals) foi desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito

de estabelecer critérios harmonizados para a classificação e rotulagem dos perigos de

produtos químicos (substâncias e misturas), informando esses perigos aos seus usuários

por meio de pictogramas, frases em rótulos e fichas de dados de segurança (SDS –

Safety Data Sheet). O marco inicial de desenvolvimento desse sistema ocorreu em 1992

na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

(UNCED – RIO 92), na qual foi proposto que: “Um sistema globalmente harmonizado

de classificação e rotulagem, incluindo fichas de dados de segurança de produtos

químicos e símbolos facilmente compreensíveis deveria estar disponível, se possível,

até o ano 2000”. Assim, em 2003, a primeira edição oficial do GHS, livro púrpura

(purple book), foi publicada

(http://www.unece.org/trans/danger/publi/ghs/ghs_rev01/01files_e.html).

Atualmente, a maioria dos países/blocos econômicos utilizam sistemas de

classificação próprios, os quais apresentam inúmeras diferenças nos critérios

estabelecidos, podendo atingir discrepâncias extremas como o fato de um produto

químico ser classificado como tóxico agudo em determinados sistemas, enquanto em

outros o mesmo produto químico é considerado não perigoso agudamente para a saúde

humana. Nesse contexto, a implementação e adoção do sistema GHS visa promover o

aumento da proteção da saúde humana e meio ambiente; a redução da necessidade de

testes e avaliações; a facilitação do comércio internacional e o auxílio na construção e

aperfeiçoamento de políticas nacionais de segurança química. Além disso, espera-se que

a uniformização da classificação de perigos dos produtos químicos promova a redução

dos custos no comércio internacional.

1 Biomédica. Doutora em Imunologia Básica e Aplicada – FMRP-USP. Mestre em Patologia – FMB-UNESP. E-mail: [email protected] 2 Biomédico, IB-UNESP/Botucatu. Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas, FCF/USP. Professor de Toxicologia e Biossegurança da Faculdade Oswaldo Cruz/São Paulo. [email protected]

RevInterA implementação do GHS na União Européia em atendimento ao REACH Giovanna Ribeiro-Santos, Fabriciano Pinheiro 58

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 63: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

A implementação do sitema GHS não implicará em hipótese alguma na redução da

proteção para o trabalhor e para o meio ambiente, ao contrário, espera-se justamente o

aumento dessa proteção. No entanto, para que isso se concretize, a compreensibilidade

(comprehensibility) de todos os elementos do sistema torna-se uma questão essencial.

As diretrizes contidas no livro púpura são voluntárias e, desse modo, cada país deve

definir a maneira como deseja implantar esse sistema de classificação. Logo, cabe às

autoridades competentes a importante função de decidir como implementar os vários

elementos do GHS, levando em consideração suas necessidades e público alvo.

Na União Européia (UE), o Regulamento 1272/2008 de 16 de dezembro de 2008

altera e revoga as Diretivas de classificação, embalagem e rotulagem 67/548/EEC

(substâncias puras) e 1999/45/EC (misturas) e altera o Regulamento 1907/2006,

REACH (Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemical –

Registro, Avaliação, Autorização (Restrição) de Substâncias Químicas), impondo os

prazos para a classificação de produtos químicos segundo o GHS até dezembro de 2010

para substâncias e até junho de 2015 para misturas. Inicialmente a UE considerava

difícil incluir o GHS no escopo do REACH, entretanto, com a aprovação do

Regulamento 1272/2008, o GHS passa a ser o sistema oficial de classificação e

rotulagem na UE após o período estabelecido para a transição.

O REACH implica que todos que exportem substâncias químicas à UE (salvo as

excluídas de seu escopo), em quantidades iguais ou superiores a 1t/ano, devam registrar

sua substância para que o comércio com o bloco econômico seja mantido. Dentre as

inúmeras exigências para obtenção do registro, é requerida a elaboração do dossiê de

registro contendo informações sobre as propriedades físico-químicas, toxicológicas e

ecotoxicológicas da substância, conforme anexos VI-XI do Regulamento 1907/2006

(www.echa.eu). Nesse contexto, uma das etapas mais importantes do registro consiste

na Classificação e Rotulagem da substância a ser registrada, tal classificação deverá ser

feita em consenso dentro do fórum de compartilhamento de dados (SIEF – Substance

Information Exchange Forum), seguindo os critérios estabelecidos pelo GHS. Além

disso, as SDS, outra exigência do REACH, devem ser elaboradas também de acordo

com o GHS.

As SDSs, além de serem uma das principais formas de comunicação de perigos,

consistem num dos meios que a UE utilizará para fiscalizar a aplicação do REACH. As

RevInterA implementação do GHS na União Européia em atendimento ao REACH Giovanna Ribeiro-Santos, Fabriciano Pinheiro 59

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 64: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

autoridades européias já iniciaram a execução do Regulamento de registros de forma

incisiva, com bloqueio de carregamentos em desacordo com o REACH em portos e

fronteiras em diversos pontos da UE (pEx. Chemical shipment halted in Belgium over

REACH compliance). Deste modo, para atendimento ao REACH, tanto na elaboração

do dossiê de registro quanto das SDSs, será necessário o conhecimento em GHS, como

também imprescindível, o expertise nas ciências toxicológicas.

RevInterA implementação do GHS na União Européia em atendimento ao REACH Giovanna Ribeiro-Santos, Fabriciano Pinheiro 60

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 65: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO EM GHS

Patrícia Estevam dos Santos1, Cyro Hauaji Zacarias2 e Giovanna Ribeiro-Santos3

O GHS – Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals é

resultado de mais de dez anos de trabalho no qual representantes de diversos países,

organizações internacionais e outras entidades estiveram envolvidos. Esse trabalho contou

com uma vasta gama de conhecimentos que vão desde a toxicologia à proteção contra

incêndios, com a idéia principal de desenvolver um sistema único e globalizado para atribuir

classificação de perigo e rotulagem a substâncias químicas (GHS, 2007).

A realidade atual é a existência de vários sistemas de classificação com diferentes

categorias de perigo e diferentes critérios de enquadramento das substâncias; e, como

resultado, observa-se frequentemente a ocorrência de incongruências chegando aos extremos

de produtos serem classificados como tóxicos em determinados países e considerados não

perigosos em outros.

As companhias envolvidas no comércio internacional são bastante afetadas pelas

diferenças regulatórias e de classificação entre países, necessitando de equipes de

especialistas que possam identificar as divergências de leis e regulamentações, e preparar

rótulos e fichas de dados de segurança que sigam os padrões exigidos por cada país.

O GHS pode oferecer maior proteção à saúde humana e ao meio ambiente por meio da

comunicação de perigo compreensível internacionalmente, servindo de modelo para países

que não possuem um sistema próprio e facilitando o comércio internacional de produtos

químicos. Diante do cenário atual de uso, comercialização e circulação cada vez mais intensa

de produtos químicos é evidente a importância da adoção do GHS como um sistema eficiente

para padronizar a classificação de produtos químicos, e consequentemente, a comunicação do

perigo oferecido por esses produtos.

Alguns países estão em processo de implementação e encontram-se em período de

transição, visto que era uma meta mundial que o GHS estivesse em operação em 2008.

Atualmente, apenas o Japão e a Nova Zelândia anunciaram a implementação do sistema e a

Europa adotou um período de transição entre 2009 e 2015 para implementação do GHS

juntamente com o REACH (Registro, Avaliação, Autorização/Restrição de Substâncias

1 Bióloga. Mestre em Biologia Molecular e Genética pela UFRN. Doutoranda em Toxicologia e Análises Toxicológicas FCF-USP. E-mail: [email protected] 2 Biomédico, Mestrando em Toxicologia e Análises Toxicológicas FCF-USP. E-mail: [email protected] 3 Biomédica. Doutora em Imunologia Básica e Aplicada – FMRP-USP. Mestre em Patologia – FMB-UNESP. E-mail: [email protected]

RevInterA importância da capacitação em GHS Patrícia Estevam dos Santos , Cyro Hauaji Zacarias e Giovanna Ribeiro-Santos 61

Page 66: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

químicas). No Brasil está sendo elaborada pela ABNT uma norma técnica atendendo aos

critérios do GHS.

Para alcançar o objetivo principal do sistema que é a harmonização da classificação de

produtos químicos, é de suma importância que um maior número de países adote os critérios

do GHS em suas legislações. O GHS engloba todos os produtos químicos e inclui princípios

diretivos para auxiliar os países e organizações na aplicação do sistema conforme suas

próprias exigências. Estes princípios implicam que a proteção à saúde humana e ao meio

ambiente não deve ser reduzida e preconiza que a comunicação do perigo seja de fácil

compreensão.

O GHS não é uma regulamentação e permite que os países tenham flexibilidade de

escolha na implementação dos critérios de classificação, adotando ou não determinadas

categorias de perigo. O Regulamento 1272/2008 da União Européia, por exemplo, não adota a

categoria 5 (nível mínimo) da toxicidade aguda. Logo, os países podem escolher como irão

implementar o sistema, porém uma vez implementado e introduzido nas legislações nacionais,

este passa a ser compulsório tornando modificações posteriores um processo moroso e

complicado.

Para que o sistema seja utilizado adequadamente e tenha seus objetivos alcançados

será exigida pelo mercado mundial a produção de documentos de qualidade técnica de acordo

com o GHS, como por exemplo, as fichas de dados de segurança química (SDS). Comparado

com outros sistemas de classificação, como o Sistema Europeu, por exemplo, o GHS é mais

complexo no sentido de permitir que a classificação seja realizada com base em critérios

qualitativos, ou seja, informações oriundas de estudos epidemiológicos e relatos de casos se

tornam extremamente relevantes para a classificação final do produto. Neste caso, é

necessária uma análise criteriosa do peso das evidências disponíveis nos bancos de dados

assim como o julgamento realizado por profissionais qualificados para interpretação das

informações.

A inexistência de um banco de dados de classificação de substâncias pelo GHS, é mais

um fator que dificulta a elaboração de SDSs e rotulagem de produtos químicos através do

sistema, pois obriga a realização do estudo detalhado de cada substância para posterior

classificação, e isso obviamente exige maior preparo e capacitação do profissional

responsável por esse serviço.

Os obstáculos para a implementação efetiva do sistema freqüentemente incluem: falta de

conhecimento que permita avaliação crítica de dados; falta de informação sobre o GHS;

regulamentação/legislação nacional fragmentada ou conflitante; falta de recursos e falta de

RevInterA importância da capacitação em GHS Patrícia Estevam dos Santos , Cyro Hauaji Zacarias e Giovanna Ribeiro-Santos 62

Page 67: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

treinamento. Neste contexto, a capacitação de profissionais no GHS é um importante caminho

para colocar o Brasil em uma posição atualizada e competitiva no comércio internacional e na

comunicação de perigo de produtos químicos. A realização de cursos e treinamentos para

capacitação de profissionais dos setores público e privado é uma estratégia que pode garantir

a transmissão de conhecimento tanto para análise crítica de dados como para utilização

correta do sistema, além de possibilitar a conscientização da importância do GHS e de sua

correta utilização.

RevInterA importância da capacitação em GHS Patrícia Estevam dos Santos , Cyro Hauaji Zacarias e Giovanna Ribeiro-Santos 63

Page 68: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

APLICAÇÕES DA ENERGIA SOLAR PARA DESSALINIZAÇÃO

Sylvio de Queirós Mattoso1

Introdução

O Nordeste do Brasil apresenta um expressivo conjunto de excelentes desafios

para todos os ramos da engenharia devido à abundância de recursos naturais de que é

dotado, cuja movimentação conduzirá a uma economia invejável e forte. Um dos pontos

críticos para vencer alguns dos desafios está no abastecimento e disponibilidade de

água. Tanto no caso da água, como dos demais recursos naturais, a pesquisa tecnológica

desempenhará importante papel no fortalecimento da economia regional e, por isso, o

governo que fortalecer a pesquisa científica e tecnológica estará fadado a ser sempre

lembrado.

Existem muitas soluções técnicas extremamente econômicas e geradoras de

postos de trabalho capazes de promover o desenvolvimento do Nordeste do Brasil e a

educação está na base de tudo, não apenas no sentido de instruir (informar), como

também no sentido de ensinar o que fazer com a informação recebida. Por isso,

educação assume uma posição mais forte que a instrução. Educação constitui um

complemento necessário da instrução e estimula a criatividade. O comportamento, que

complementa o ato da educação, mostra, entre outras coisas, como a pessoa reage às

necessidades de pesquisa, de desenvolvimento e influi na consciência social.

O potencial econômico do Nordeste está muito bem exposto na obra de Manoel

Bomfim Ribeiro: A potencialidade do semi-árido brasileiro, 1ª edição, 2007. Fubrás.

Considerando esse importante manancial de informação, na educação no Nordeste se

deveria enfatizar a utilização das plantas nativas, várias delas úteis como alimento (as

frutas em geral e outras úteis e próprias para cultivo e industrialização: caroá,

macambira, embiruçu entre as aptas para a obtenção de fibras; o angico, cuja casca é (ou

era) usada como matéria prima em curtume e outras). O fato de achar “que tudo é

mato”, na expressão ouvida de alguns moradores da região, significa que nunca 1 Engenheiro de minas e metalurgista Foi também diretor presidente do CEPED (BA), consultor da Caraíba Metais (BA) em prospecção geoquímica, da Fosforita Olinda (PE) no estudo das águas subterrâneas que afetavam a mineração (PE), da Construtora Odebrecht (pesquisa de titânio em Floresta, PE), professor de prospecção geoquímica no IGUFBA, Diretor da Escola de Geologia UFBA e professor de geologia do petróleo no CENAP/PETROBRAS, tendo também atuado em pesquisa de argilas e outros minerais refratários para a cerâmica São Caetano (SP) em vários estados do Brasil.

RevInterAplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso 64

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 69: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

disseram aos nordestinos que arroz, feijão etc., usados em alimentação no Brasil,

também eram mato em sua origem. Foram as propriedades alimentícias que levaram os

antigos a cultivá-los de modo organizado.

Em adição, no próprio Nordeste, o caroá, citado acima, tem um potencial

extraordinário para recuperar solos esgotados M. Bomfim Pereira, op.cit. 2007), além de

ser o fornecedor de uma fibra capaz de concorrer com facilidade com o linho. A fibra de

caroá foi usada na produção de roupas que substituíram perfeitamente o linho no

período da guerra de 1939-1945, que era todo importado antes disso. As fibras sintéticas

que surgiram nos anos 1950 tiraram o caroá do mercado, entre outras razões porque o

caroá não era cultivado, sendo colhido onde existisse naturalmente.

Quanto à água, ao fim da seca de 1951, foi então publicada numa revista do

IBGE a opinião de cientista francês sobre as secas periódicas do Nordeste, que ele

estudou a pedido do governo brasileiro da época. A recomendação era para que se

retivesse no solo a água da chuva que caia, significando fazer algo para que a maior

parte da chuva se infiltrasse no solo. O EBDA, creio que na década de 1980, mostrou

uma maneira de fazer isso.

Os açudes são parte da solução e sua presença, com apreciável volume de água

represada, exige obras complementares de redistribuição inteligente da água acumulada

tendo em vista a economia regional. Existe água suficiente nos açudes do Nordeste para

tornar onerosa e sem sentido a transposição do rio São Francisco, cuja construção se

insiste, neste momento, em continuar. Em adição, a açudagem de superfície precisa ser

complementada por açudagem subterrânea, executada ao longo de riachos que correm

somente na estação chuvosa, a fim de aumentar a disponibilidade de água e reduzir a

evaporação (ver Frank Dixey: A practical handbook of water supply, 2ª edição, 1950.

Thomas Murby, Londres).

A barragem subterrânea tem a função de colocar uma descontinuidade

impermeável transversal ao leito do riacho, abrangendo toda a largura do sedimento

aluvionar de modo a impedir o escoamento acelerado da água subterrânea, acumulada

no aluvião, e facilitar também a alimentação do aqüífero subjacente ao leito do riacho,

evitando a evaporação da água (que se acumulou no aluvião e desceu pelas fissuras das

rochas adjacente ao aluvião saturando-os). Desse modo será possível aproveitar a água a

partir de cacimbas abertas no aluvião e de poços tubulares nas partes a jusante e laterais

vizinhas do riacho. Convém acrescentar que embora a precipitação anual de 600mm

RevInterAplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso 65

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 70: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

seja adequada, a evaporação no Nordeste suplanta a evaporação de atinge entre 3.000 e

3.600mm por ano, o que recomenda a construção das barragens subterrâneas na região.

Mas, o que fazer com o calor do sol, tão disponível o ano inteiro? Como

podemos usá-lo na remoção do sal dissolvido na água?

Uma proposta

Nas regiões semi-áridas do Nordeste, desde o Piauí até Minas Gerais, os poços

tubulares em alguns locais atingem aquíferos subterrâneos com água salobra, muitas

vezes até mesmo imprópria para o gado, o que dirá para consumo humano e irrigação. A

água salobra, no semi-árido brasileiro, é encontrada em alguns locais de rochas

cristalinas e em uma das formações sedimentares do Piauí. Em adição, a evaporação

excessiva, cinco vezes maior que a precipitação pluviométrica, tem contribuído para

concentrar os sais dissolvidos na água de alguns açudes o que perturba a qualidade da

água acumulada nele.

Seria possível dessalinizar essas águas a um custo aceitável? A resposta a esta

questão constitui o objeto desta apresentação. Entretanto, a proposta precisa ser debatida

e experimentada, sobretudo para definir custo, materiais, a dimensão econômica da

unidade de dessalinização e alguns detalhes construtivos. Trata-se de um tema que exige

soluções de engenharia.

Como nasceu a idéia? Durante os trabalhos de prospecção geoquímica na região

de Poço de Fora, no vale do rio Curaçá (1961-1972), observei que a água subterrânea de

poços tubulares era diretamente extraída por bomba acoplada a um cata-vento. Uma

associação de idéias completou o raciocínio. Muitas pessoas já tiveram em mão, em

evento social, um minialambique destinado a divertir pessoas vendo a água ferver num

bulbo envolvido pela mão de quem segura o ”brinquedo”. Então, imaginei a

possibilidade de unir as duas coisas: o cata-vento e o vácuo. Como fonte de calor para

colocar a água em ebulição, pensei na energia solar direta. Assim responde-se à questão

inicial: “o que fazer com o calor do sol, tão disponível o ano inteiro”?

Sabemos que a temperatura de ebulição da água é função da pressão atmosférica

à qual está sujeita. Quanto maior a pressão, maior a temperatura de ebulição (caso

corriqueiro da panela de pressão, bem conhecida de muitos). Ao contrário, baixando a

pressão, a temperatura de ebulição também cai. Por isso a água ferve a perto de 90ºC em

La Paz, Bolívia, a 4.500 metros de altitude. Uma tabela no fim deste texto mostra a

RevInterAplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso 66

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 71: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

temperatura de ebulição da água em função da pressão atmosférica, expressa em termos

de milímetros de mercúrio (mm Hg).

Nesta proposta sugere-se recolher a água (salobra) do poço em recipiente bem

vedado, com o interior sob vácuo (total ou parcial). Talvez o mesmo cata-vento que tem

potência suficiente para extrair a água de 70 a 150 metros de profundidade tenha força

suficiente para extrair o ar de recipiente (reservatório) bem vedado onde a água extraída

tiver sido acumulada.

As paredes do reservatório serão metálicas expostas diretamente à luz do sol,

que vai aquecer as paredes do recipiente. O calor solar é capaz de elevar a temperatura

no interior do recipiente (reservatório) a mais de 60ºC como com frequência

constatamos ao entrar num carro fechado e estacionado sob o sol quente (considerar que

o carro não foi construído especificamente para armazenar calor). Esse mesmo princípio

é utilizado para produzir água quente tendo em vista a economia de energia elétrica para

aquecer a água do chuveiro. Sob o vácuo parcial (coluna de mercúrio igual a 118,03

mm), a água entra em ebulição à temperatura de 55ºC.

Essa propriedade conduz ao procedimento que também pode ser aplicado na

dessalinização de água do mar.

Uma construção, com desenho ou projeto adequado do recipiente (reservatório),

permitirá que esse vapor, produzido a 55ºC por efeito do sol, seja condensado pela

mesma água extraída do poço tubular, fazendo-a circular por fora da “serpentina do

alambique” acoplado como uma parte integrante do reservatório (que passa a constituir

o dessalinizador) onde a água é fervida e evaporada para dessalinizar.

O reservatório (dessalinizador) terá uma forma tal que permitirá a remoção do

sal que for acumulado no fundo. Espelhos parabólicos, externos ao dispositivo de

dessalinização, poderão ajudar a obter temperatura mais elevada onde ou quando o calor

produzido pelo sol não for suficiente para aquecer o dessalinizador até 50ºC-60ºC, ou

quando for possível obter somente vácuo menos intenso no interior do dessalinizador.

A água, dessalinizada, poderá ser bombeada para um outro reservatório

destinado ao abastecimento urbano ou rural.

O uso do dessalinizador fixa a pessoa no local, estimula a educação para

entender o funcionamento do dispositivo e estimula a adoção de uma postura pró-ativa

da população do lugar tendo em vista a manutenção do equipamento, seja ele de uso

doméstico (uma única residência) ou público (um conjunto de residências rurais ou

pequena vilas e povoados).

RevInterAplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso 67

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 72: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

Um programa paralelo abrangendo a construção de barragens subterrâneas e o

aproveitamento da água subterrânea, inclusive as salobras, gerará mais postos de

trabalho permanentes uma vantagem extraordinária que torna obsoleta e condenável a

transposição do rio São Francisco, ora em construção. E, frisemos, o programa de

barragens subterrâneas e construção de dessalinizadores terá o mérito adicional de fixar

a população à terra e promover o desenvolvimento socioeconômico regional.

MAIS UMA IDÉIA com o uso do calor do sol: A REFRIGERAÇÃO DE PRÉDIOS

Aproveitando essa idéia, e lembrando da geladeira a querosene, cujo uso era

muito generalizado no interior do Brasil onde não havia energia elétrica, podemos fazer

um desvio deste raciocínio da destilação (dessalinização) e usar o calor do sol para a

refrigeração de um edifício. Nessas geladeiras antigas, o gás de refrigeração era

acionado pelo calor de uma chama de querosene posicionada na base da geladeira. A

proposta é substituir a chama do querosene pelo calor do sol dirigido para o gás freon,

ou seu substituto mais compatível com o meio ambiente, que produz frio ao evaporar

rapidamente.

No topo do edifício faz-se a luz do sol incidir sobre um espelho parabólico

móvel que acompanha o movimento do sol (servomotor elétrico movido à energia solar

ou sensor de radiação). A luz do sol, concentrada pelo espelho parabólico móvel, aquece

um dispositivo que contém o gás de refrigeração, tal como se fazia com a geladeira a

querosene. O ar do ambiente passa pelas serpentinas de refrigeração, baixando assim a

temperatura do ar que irá circular no interior das salas e corredores do edifício. A

economia de energia elétrica, no caso, será significativa. E melhora o meio ambiente.

Temos então dois temas de pesquisa tecnológica que poderão ser desenvolvidos

na EPUFBA e no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia - CEPED, e outros

centros de pesquisa do Nordeste e do páis, pois os governantes estão cientes da

importância da pesquisa tecnológica no desenvolvimento socioeconômico de uma

região, estado ou país e compreendem que o fortalecimento da pesquisa engrandecerá

seus nomes no futuro por terem instaurado a base de um processo de desenvolvimento

permanente. Precisamos, pois, com urgência, de forte incentivo à ciência e tecnologia a

fim de termos o Brasil que queremos.

Espero que a matéria assim exposta possa animar um bom debate.

RevInterAplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso 68

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 73: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

Temperatura de ebulição da água (ºC) em função da pressão atmosférica

(FONTE: Myrian Athayde, CEPED in Google. Comentou: Algumas curiosidades sobre a temperatura de ebulição da água em função da pressão foram encontradas no Google, usando as palavras: água, ebulição, vácuo. Descobri que no pico do Everest (380mmHg) a água ferve a 82 graus Celsius e no apêndice de um livro de química geral achei uma tabela PRESSÃO DE VAPOR DA AGUA da qual transcrevo alguns dados de T e P em graus Celsius e mmHg)

RevInterAplicações da Energia Solar para Dessalinização Sylvio de Queirós Mattoso 69

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 74: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

POLÍTICA EDITORIAL

Título e Subtítulo

A RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um

periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela

InterTox, São Paulo, SP, Brasil.

Área de Conhecimento Abrangida

Na Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq está classificado em Ciências

Biológicas - 2.10.07.00-4 - Toxicologia.

Projeto Editorial

MISSÃO

Divulgar a produção científica da Toxicologia, Meio Ambiente e Sociedade,

estimulando as contribuições criativas e inéditas do trabalho acadêmico, de pesquisa e

do meio empresarial, tanto de autores nacionais como internacionais, contribuindo com

a discussão e o desenvolvimento do conhecimento nestas áreas.

OBJETIVOS

• Contribuir para o aumento da produção de conhecimento das comunidades acadêmica

e profissional de Toxicologia;

• Servir como canal adequado para veicular avanços conceituais, tecnológicos e de

experiências empresarial e profissional;

• Estimular a difusão de conhecimentos que promovem atitudes voltadas ao aumento de

competitividade das organizações.

RevInter Normas para publicação 70

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 75: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

FOCO

A RevInter tem como foco a publicação de contribuições científicas no campo da

Ciência Toxicológica, elegendo como tema preferencial os processos de inovação das

organizações. Além dos números regulares, a RevInter deverá editar edições especiais

monotemáticas, que abordarão temas relevantes que possuam interface com a

toxicologia e a sustentabilidade socioambiental.

A RevInter aceita a submissão de contribuições de profissionais e pesquisadores de

todas as áreas envolvidas com as Ciências Toxicológicas, assim sendo, as seguintes

especialidades , entre outras, estão dentro do foco da revista: Biossegurança,

Contabilidade Social e Ambiental, Direito Ambiental, Economia Ambiental,

Farmacoepidemiologia, Planejamento Ambiental e Comportamento Humano, Química

Ambiental, Resíduos sólidos, domésticos e industriais, Segurança Alimentar, Sociologia

da Saúde, Toxicidade de resíduos de praguicidas em alimentos, Toxicologia Ambiental,

Toxicologia da Reprodução e do Desenvolvimento, Toxicologia de Alimentos,

Toxicologia Forense, Toxicologia Ocupacional, Toxicologia pré-clínica e clínica e

Toxicologia Social.

PROCESSO DE AVALIAÇÃO POR PARES E CRITÉRIOS DE ARBITRAGEM

1) Os originais submetidos para publicação na RevInter serão aceitos para análise

pressupondo-se que:

a) deverão ser, exclusivamente, inéditos;

b) todas as pessoas listadas como autores aprovaram o seu encaminhamento;

c) qualquer pessoa citada como fonte de comunicação pessoal aprovou a citação;

d) as opiniões emitidas pelos autores são de sua exclusiva responsabilidade.

2) O Comitê Editorial fará uma análise preliminar quanto a pertinência e/ou

adequação da submissão ao escopo da RevInter.

a) As contribuições recebidas serão submetidas à apreciação de dois membros do

Conselho Editorial, dentro de suas especialidades. Em caso de empate, um terceiro

membro será convidado. São assessorados, quando necessário, por Avaliadores ad

hoc.

RevInter Normas para publicação 71

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 76: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

b) Em caso positivo, será analisada, em seguida, a aplicação destas normas editoriais

tanto na redação quanto na formatação do trabalho.

c) Em caso negativo, o autor será notificado por e-mail, para que ele mesmo proceda

as devidas correções.

3) O resultado do parecer do Conselho Editorial será comunicado aos autores, sob

anonimato, obedecendo o procedimento é conhecido por sistema duplo-cego

(double blind review).

4) A Comissão Editorial reserva-se o direito de devolver os originais, quando se

fizer necessária alguma correção ou modificação de ordem temática e/ou formal.

5) A Comissão Editorial procederá as alterações de ordem puramente formal,

ortográfica e gramatical, visando a manutenção do padrão culto da língua,

respeitando, porém, o estilo dos autores. Quando se fizerem necessárias

modificações substanciais, os autores serão notificados por e-mail e encarregados de

fazê-las e entregar a nova versão no prazo estipulado.

POLÍTICA DE ACESSO ABERTO

A RevInter adota a filosofia de "acesso aberto", permitindo o acesso gratuito e

irrestrito ao seu conteúdo, proporcionando maior democratização mundial do

conhecimento.

SEÇÕES

• Artigos técnicos

• Comunicações

• Ensaios

• Informes

• Opinião

• Revisões

RevInter Normas para publicação 72

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 77: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

IDIOMAS

• Português

• Inglês

• Espanhol

PERFIL DE AUTORES E LEITORES

A RevInter está voltada a um público amplo de pesquisadores, professores,

estudantes, empresários, consultores e outros profissionais qualificados que atuam

em organizações públicas, privadas e do terceiro setor, nacionais e internacionais.

PERIODICIDADE

Quadrimestral

CIRCULAÇÃO

Meses: (2) fevereiro; (6) junho e (10) outubro.

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

RevInter adota as seguintes normas, que deverão ser observadas pelos autores, na

redação e formatação de seus originais:

&ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS

NBR 6021: Informação e documentação: publicação periódica científica impressa:

apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica

impressa: apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, ago.

RevInter Normas para publicação 73

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 78: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

2002.

NBR 6024: numeração progressiva das seções de um documento escrito. Rio de Janeiro,

maio 2003.

NBR 6027: sumário: procedimento. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6028: informação e documentação: resumos: apresentação. Rio de Janeiro, nov.

2003.

NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio

de Janeiro, ago. 2002.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -& IBGE

Normas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro, 1993.

&INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇAO E

QUALIDADE INDUSTRIAL – INMETRO

SI: Sistema Internacional de Unidades. 8. ed. Brasília, 2003.

Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia. 2. ed.

Brasília, 2000.

CRITÉRIOS DE EDIÇÃO

Instruções aos Autores

São aceitos artigos originais e inéditos, destinados exclusivamente à RevInter, que

contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica das áreas

enfocadas.

A análise dos artigos será iniciada no ato de seu recebimento, atendidas às normas

RevInter Normas para publicação 74

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 79: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

editoriais. A publicação dependerá do devido de acordo do Conselho Editorial, atendida

as eventuais sugestões.

A apreciação do conteúdo será realizada pelo Conselho Editorial, sendo mantido sigilo

quanto à identidade dos consultores e dos autores.

Serão aceitos trabalhos escritos em língua portuguesa, inglesa e espanhola.

Os trabalhos deverão ser enviados exclusivamente por correio eletrônico para o seguinte

endereço: [email protected]

Os originais recebidos não serão devolvidos aos autores.

Não se permitirá acréscimo ou alteração após o envio para composição editorial e

fechamento do número.

As opiniões e conceitos emitidos pelos autores são de sua exclusiva responsabilidade,

não refletindo, necessariamente, o pensamento do Conselho Editorial ou da Revista.

As pesquisas com seres humanos deverão explicitar o atendimento à Resolução CNS

196/96 para estudos dessa natureza e indicar o parecer de aprovação do Comitê de Ética

devidamente reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do

Conselho Nacional de Saúde (CNS) (ver modelo em “Manual Operacional para Comitês

de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde”).

Será necessário também:

• Indicar a categoria para publicação.

• Indicar endereço postal completo, correio eletrônico e telefone para contato com o(s)

autor(es).

• Toda e qualquer contribuição a ser submetida, para que seja avaliada para publicação

na RevInter, obrigatoriamente deverá ser acompanhada dos seguintes formulários:

RevInter Normas para publicação 75

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 80: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

a) Termo de Cessão de Direitos Autorais e Autorização para Publicação [Formulário

Externo RvIn-ADM-02-2009] assinada por todos os autores de que o trabalho não foi

publicado e nem está sendo submetido para publicação em qualquer outro periódico.

Para os estudos realizados em seres humanos, esta declaração deverá conter também os

dados referentes à aprovação do Comitê de Ética da Instituição onde foi realizada a

pesquisa;

b) Formulário preenchido e assinado pelos autores referente ao possível “Conflito de

interesses”, que possa influir nos resultados [Formulário Externo RvIn-ADM-03-2009].

Instruções para Envio do Artigo

A RevInter adota as normas preconizadas pelo Comitê Internacional de Editores de

Revistas Médicas (Requisitos de Vancouver), publicadas no ICMJE - Uniform

Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals

(http://www.icmje.org/index.html).

Categoria dos Artigos

A RevInter publica artigos técnicos originais, trabalhos de revisão, ensaios, atualização,

estudos de caso e/ou relatos de experiência, comunicações e resenhas de livros, resumos

de teses e dissertações.

A apresentação dos artigos por categoria deverá obedecer:

Artigos Originais - são trabalhos resultantes de pesquisa original, de natureza

quantitativa ou qualitativa. Sua estrutura deve apresentar necessariamente os itens:

Introdução, Métodos, Resultados e Discussão e Conclusão. Apresentação com até 20

laudas.

Artigos de Revisão - são contribuições que têm por objeto a análise crítica sistematizada

da literatura. Deve incluir com clareza a delimitação do problema, dos procedimentos

adotados e conclusões. Apresentação com até 20 laudas.

Ensaios e Monografias - são contribuições em que há um forte conteúdo analítico

opinativo por parte do autor acerca de um determinado tema. Apresentação com até 100

laudas.

RevInter Normas para publicação 76

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 81: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

Artigos de Atualização ou Divulgação - são trabalhos que tem por objetivo a descrição

e/ou interpretação sobre determinado assunto, considerado relevante ou pertinente na

atualidade. Apresentação em até 10 laudas.

Comunicações Breves/Relatos de Caso/Experiência - se caracterizam pela apresentação

de notas prévias de pesquisa, relatos de caso ou experiência, de conteúdo inédito ou

relevante, devendo estar amparada em referencial teórico que dê subsídios a sua análise.

Apresentação em até 10 laudas.

Resenhas – são análises descritivas e analíticas de obras recentemente publicadas e de

relevância para os temas abordados da RevInter. Apresentação em até cinco laudas.

Resumos de Livros, Teses e Dissertações - são resumos expandidos apresentados com

até 400 palavras, em português, inglês e espanhol, inclusive o título. Para teses e

dissertações deve conter o nome do orientador, data e local

(cidade/programa/instituição) da defesa.

Forma de Apresentação dos Originais

Os trabalhos deverão ser apresentados em formato compatível ao MS Word for

Windows, digitados para papel tamanho A4, com letra tipo Times New Roman,

tamanho 12, com espaçamento 1,5 cm entre linhas em todo o texto, margens 2,5 cm

(superior, inferior, esquerda e direita), parágrafos alinhados em 1,0 cm.

Título - deve ser apresentado com alinhamento justificado, em negrito, com a primeira

letra em maiúscula, nos idiomas português e inglês ou espanhol. A seqüência de

apresentação dos mesmos deve ser iniciada pelo idioma em que o artigo estiver escrito.

Autores - nome(s) completo(s) do(s) autor(es) alinhados à esquerda. Enumerar em nota

no final do documento as seguintes informações: formação universitária, titulação,

atuação profissional, local de trabalho ou estudo (cidade e estado, província, etc),

endereço para correspondência e e-mail do autor principal.

Resumo e descritores - devem ser apresentados na primeira página do trabalho em

RevInter Normas para publicação 77

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.

Page 82: Revista Intertox - Revinter - Volume 2 Número 2 Junho de 2009 - São Paulo

português e inglês ou espanhol, digitados em espaço simples, com até 300 palavras. Ao

final do resumo devem ser apontados de 3 a 5 descritores ou palavras chave que

servirão para indexação dos trabalhos. A seqüência dos resumos deve ser a mesma dos

títulos dos artigos.

Estrutura do texto - a estrutura do texto deverá obedecer às orientações de cada

categoria de trabalho já descrita anteriormente, acrescida das referências bibliográficas,

de modo a garantir uma uniformidade e padronização dos textos apresentados pela

revista. Os anexos (quando houver) devem ser apresentados ao final do texto.

Ilustrações - tabelas, figuras e fotografias devem estar inseridas no corpo do texto

contendo informações mínimas pertinentes àquela ilustração (Por ex. Tabela 1; Figura

2; etc.), inseridas logo após serem mencionadas pela primeira vez no texto, com letra

tipo Times New Roman, tamanho 10. As Ilustrações e seus títulos devem estar

alinhados á margem esquerda e sem recuo. O tamanho máximo permitido é de um papel

A4 (21 x 29,7 cm).

Notas de rodapé - devem ser apresentadas quando forem absolutamente indispensáveis,

indicadas por números e constar na mesma página a que se refere.

Citações - para citações “ipsis literis” de referências bibliográficas deve-se usar aspas na

seqüência do texto. As citações de falas/depoimentos dos sujeitos da pesquisa deverão

ser apresentadas em itálico, em letra tamanho 10, na seqüência do texto.

Referências bibliográficas - as referências devem ser organizadas em ordem alfabética

ao final do texto, no formato ABNT (seguindo a norma ABNT NBR 6023 - Informação

e documentação - Referências – Elaboração). Suas citações no corpo do texto devem ser

feitas pelo sobrenome do(s) autor(es), seguidas de vírgula e ano. No caso de mais de

dois autores, usar o sobrenome do primeiro seguido da expressão et al. e de vírgula e

ano.

Exemplificando, (NUNES; LACERDA, 2008), (KUNO et al., 2008). Essa orientação

também se aplica para tabelas e figuras.

RevInter Normas para publicação 78

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.2, nº2, jun, 2009.