52

Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela InterTox, São Paulo, SP, Brasil.

Citation preview

Page 1: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo
Page 2: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Expediente

Revista Eletrônica Quadrimestralmeses: (2) fevereiro; (6) junho; (10) outubroA RevInter é uma publicação da Intertox Ltda, Rua Monte Alegre, 428 – CJ 73, São Paulo, SP – 05014-000. Disponível em http://www.intertox.com.br.As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.

SeçõesArtigos técnicos; Revisões; Comunicações; Ensaios; Informes; Opinião

Idiomas de PublicaçãoPortuguês, Inglês, Espanhol

Editor Científico (2009-2011)Irene Videira LimaDoutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML/SP por 22 anos.

Comitê Científico (2009-2011)Irene Videira LimaDoutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML/SP por 22 anos.

Marcus E M da MattaDoutorando em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental USP. Turismólogo e graduando em Engenharia Ambiental.

Moysés ChasinFarmacêutico-bioquímico pela UNESP/SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999.

Ricardo BaroudFamacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia.

Conselho Editorial Científico (2009-2011)Alice A da Matta ChasinDoutora em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia.

Eduardo AthaydeCoordenador no Brasil do WWI – World Watch Institute. Eustáquio Linhares BorgesMestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.

Fausto Antonio de AzevedoMestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA, ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia.

Isarita MartinsDoutora e Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em Química Analítica (UNICAMP), Farmacêutica-Bioquímica Universidade Federal de Alfenas MG

João S. FurtadoDoutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA).

José Armando-JrDoutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP), Mestre (UNICAMO), Biólogo (USF) .

Sylvio de Queiroz MattosoDoutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do CEPED-BA.

ISSN 1984-3577

Expediente 1

Page 3: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Editorial

No Levítico 18:24 pode-se ler: “Com nenhuma destas coisas vos contaminareis, porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu lanço de

diante de vós.” Embora a escritura bíblica esteja, estrito senso, se referindo a um contexto distinto, sobretudo o do comportamento sexual humano e das relações parentais, podemos inferir (e talvez essa outra interpretação esteja mesmo subjacente ao texto original) que o mesmo se aplicaria às relações do ser humano com o meio ambiente terrestre. Afinal, se todos nós nascemos da Terra, ela tem conosco e nós temos com ela uma relação muito íntima de parentesco e conspurcá-la com nossos desejos, práticas e presunção seria equivalente a desnudar a mãe ou a filha ou a irmã, o que constitui transgressão severa, que sempre acarreta conseqüências por demais danosas, isto é, qualquer suposto prazer ou benefício é prontamente descompensado por um prejuízo (desprazeroso) de intensa e permanente magnitude. E já que invocamos a Bíblia, recordemo-nos ainda uma vez do que registra o Gênesis 2:15 “O Senhor Deus colocou o homem no jardim de Éden, para nele trabalhar e para o guardar.” O Éden confunde-se com o planeta e ‘guardar’ encontra um perfeito entendimento em cuidar de, zelar. É inegável que o ser humano tem trabalhado muito ao longo de toda sua história e pode mesmo se orgulhar disso. Mas quanto a cuidar do planeta, o planeta que na visão bíblica é uma criação do Criador e, ainda que, na concepção bíblica também, foi criado para dele o homem retirar a satisfação de suas necessidades, quanto a zelar por ele, insistíamos, parece que temos falhado escandalosamente. Dois fatos graves desses últimos dias atestam essa nossa assertiva: a flagrante perda de biodiversidade e a brutal contaminação por lama tóxica. Um de escala global e o outro local, porém

ambos de imensa magnitude e igualmente ligados ao modo operacional da civilização atual.

No dia 13 de outubro, o jornal O Estado de São Paulo divulgou matéria com a seguinte manchete: “Planeta perdeu 30% de recursos naturais”. Nela aprendemos que “Em menos de 40 anos, o mundo perdeu 30% de sua biodiversidade. Nos países tropicais, contudo, a queda foi muito maior: atingiu 60% da fauna e flora original. Os dados são do Relatório Planeta Vivo 2010, publicado a cada dois anos pela organização não governamental WWF. O relatório, cujas conclusões são consideradas alarmantes pelos ambientalistas, é produzido em parceria com a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês) e Global Footprint Network (GFN). ‘Os países pobres, frequentemente tropicais, estão perdendo biodiversidade a uma velocidade muito alta’, afirmou Jim Leape, diretor-geral da WWF Global. ‘Enquanto isso, o mundo desenvolvido vive em um falso paraíso, movido a consumo excessivo e altas emissões de carbono.’A biodiversidade é medida pelo Índice Planeta Vivo (IPV), que estuda a saúde de quase 8 mil populações de mais de 2,5 mil espécies desde 1970.”

Também em outubro, no início do mês, dia 4, fomos todos negativamente surpreendidos pela notícia de um grave vazamento em um reservatório de resíduos químicos, em Ajka (oeste da Hungria). Mais de 1,1 milhões de metros cúbicos da “lama vermelha” (resíduo proveniente do processo de produção de alumínio) alcançaram localidades vizinhas, ocasionando vários óbitos e deixando mais de 100 feridos com queimaduras químicas, além de causar sérios danos à biota da região. Segundo Joe Hennon, um dos representantes da Comunidade

Fausto Antonio de AzevedoFarmacêutico-Bioquímico, USP; Especialista em Saúde Pública, USP; Mestre em Análises Toxicológicas USP; ex-Coordenador de Toxicologia da CETESB-SP; ex-Professor Titular de Toxicologia da PUC-Campinas; ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais CRA-BA; ex-Gerente de Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde-BA; ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, ex-Superintendente de Planejamento Estratégico do Estado da Bahia. Professor e co-Coordenador do curso de pós-graduação em Ciências Toxicológicas das Faculdades Oswaldo Cruz, São Paulo.

Editorial 2

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 4: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Européia, a composição completa da lama ainda não foi totalmente definida ou divulgada, mas suspeita-se que, além da soda cáustica, estejam presentes metais pesados como chumbo, arsênio, mercúrio e outros.

A natureza em comum desses dois eventos é que eles têm em sua gênese a mesma substância motriz, a saber: uma ação humana tecnicista e prepotente, voltada para a exacerbação da acumulação de seus ganhos materiais, com perda da percepção do sentimento oceânico de integração e comunhão total a que se referia Romain Rolland em sua correspondência com Sigmund Freud, ou se essa perda não for por si capaz de explicar nossa ecopatologia, o que temos então é, como insinuou Félix Guattari, um amplo desequilíbrio entre nossas três ecologias: a mental, a social e a ambiental.

A Revinter, que se subtitula Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, mantém seu foco nesse campo de tensão: o que temos feito, como humanidade, que reforça o risco ambiental, o risco ecotoxicológico e o risco toxicológico, e o que deveríamos estar minimamente fazendo para diagnosticar recorrentemente esses riscos e gerenciá-los.

Nesse número, dentre outros, o artigo de Carlos Eduardo M. Santos lida com os riscos do botulismo, que pode ser até intencional, e nos alerta que o assunto permeia o conhecimento num múltiplo panorama de circunstâncias: ataques biológicos; uso clínico da toxina botulínica; cosmiatria; etc., além da velha intoxicação alimentar. O autor discute que “com

os adventos da biotecnologia farmacêutica, como novo campo da farmacologia contemporânea, novos estudos buscam opções terapêuticas mais efetivas no tratamento do botulismo” e apresenta recentes e relevantes pesquisas para isso, com destaque de modernas abordagens farmacológicas.

Já o artigo de Fábio Kummrow e colaboradores nos sinaliza para o risco de mutagenicidade que se pode verificar em diferentes tipos de efluentes recebidos pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE). Os autores advertem que o lodo gerado, mesmo após digestão pode conter quantidades variadas de compostos mutagênicos, que muitas vezes possuem estrutura química e toxicologia desconhecidas. Reforçam que para conhecimento da periculosidade do material é essencial a sua avaliação por meio de testes de mutagenicidade. Os dados obtidos pelos pesquisadores evidenciam que “a mutagenicidade das amostras de lodo variou de acordo com as ETE e com as diferentes campanhas, fato que pode estar relacionado com as diferenças nas características dos efluentes tratados nas ETE e/ou ao tipo de tratamento aplicado.”

Parece, deveras, que viver é nada mais nada menos que um exercício de superação de riscos. Logo, a conduta inteligente diante da vida que temos é, de um lado não gerar (mais) riscos desnecessários e, de outro, fortalecer incessantemente a grande ciência do gerenciamento de riscos e disseminar seus conhecimentos, práticas e atitudes de espírito. Afinal de contas, ninguém quer se sentir mal com sua própria civilização...

Boa leitura!

Editorial 3

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 5: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

A Toxicologia e o FuturoLeitura apresentada na solenidade do

Trigésimo Aniversário do Centro de Informação Antiveneno CIAVE da Bahia

Salvador, 30 de agosto de 2010

Senhoras, Senhores,

Há uma diferença entre as expressões A Toxicologia e o futuro e O futuro da Toxicologia. Seus significados remetem a reflexões distintas e a segunda expressão é

muito dependente daquilo que nos disser a primeira. O futuro da Toxicologia, como área soberana e imprescindível do conhecimento humano, é enormemente afetado por aquilo que venha a ser o futuro propriamente dito, ou seja, o futuro da humanidade. Por isso, vamos nos prender mais a imaginar o futuro da Toxicologia, posto que prever o futuro humano remete a um exercício de predição que extrapola nossa competência e o propósito desta palestra e desse evento. Contudo, como todo ser humano é um pouco bruxo, alguns ensaios teremos que fazer.

A Ciência

Toxicologia é o estudo dos tóxicos. E o que é tóxico? O termo em português tem origem lá no distante grego, pelo verbete (em grafia aportuguesada) toxikon, ou em caracteres gregos – τοξικός. Toxikon seria o produto intencionalmente obtido e adequado para se lambuzar pontas de flechas e lanças, com finalidade bélica ou de caça. Era, portanto, produto que matava o atingido.

A partir disso, evolui para caracterizar a substância química isolada ou a mistura de substâncias ou o produto que tem propriedade de causar doença ou morte em seres vivos. Vale dizer, propriedade de causar intoxicação por conta de seu potencial tóxico, que é o mesmo que toxicidade. Interessante observar

que a palavra fármaco, em sua origem também grega – pharmakon, ainda hoje significa, nesta língua, remédio e veneno, e na Grécia antiga significava, inclusive, pintar com cores artificiais, com corantes que imitavam a natureza.

Toxicologia é a área do conhecimento devotada a compreender os tóxicos, sua existência, ocorrência, comportamentos, movimentos, mecanismos de ação, etc. Os propósitos para esse esforço humano são muitos, e têm se diversificado com o passar do tempo: desde reconhecer o alimento seguro, até praticar a ‘arte’ do envenenamento; desde caracterizar o tóxico de um envenenamento até predizer o grau possível de uma exposição (contato) sem superveniência de risco explícito e efeitos. A toxicologia atual, entendida então como a ciência que estuda os efeitos adversos das substâncias químicas sobre os organismos vivos e avalia a probabilidade da sua ocorrência, claramente estabelece a análise e a predição de risco como seus componentes integrantes.

É exatamente nesse aspecto último, vale dizer, conhecer para determinados agentes tóxicos e sob determinadas situações qual a possibilidade de ocorrência da doença intoxicação (de subclínica a grave ou letal), que mais e mais a Toxicologia tem hoje encontrado desenvolvimento franco e aplicação prática. Por isso é que a atual Toxicologia ganha intimidade com a matemática e as técnicas computacionais.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), existem mais de 23 milhões de substâncias químicas conhecidas, das quais perto de 200 mil são usadas mundialmente. Essas substâncias são principalmente encontradas como misturas em produtos comerciais. Há cerca de um a dois milhões

Fausto Antonio de AzevedoFarmacêutico-Bioquímico, USP; Especialista em Saúde Pública, USP; Mestre em Análises Toxicológicas USP; ex-Coordenador de Toxicologia da CETESB-SP; ex-Professor Titular de Toxicologia da PUC-Campinas; ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais CRA-BA; ex-Gerente de Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde-BA; ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, ex-Superintendente de Planejamento Estratégico do Estado da Bahia. Professor e co-Coordenador do curso de pós-graduação em Ciências Toxicológicas das Faculdades Oswaldo Cruz, São Paulo.

Artigo Original 4

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 6: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

de produtos comerciais. Já outra fonte mostra-nos números que se não exatamente concordantes, pelo menos são da mesma surpreendente magnitude: a Sociedade Americana de Química, que aponta 62 milhões de substâncias inorgânicas e orgânicas, 44 milhões comercialmente disponíveis e apenas 281 mil regulamentadas de alguma forma1. O maior desafio dos cientistas e governos tem sido o de obter informações críveis para a regulamentação desses compostos.

O faturamento estimado da indústria química mundial, para 1998, foi de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares. Em 2009, o faturamento líquido da indústria química brasileira, considerando-se todos os segmentos que a compõem, alcançou R$ 206,7 bilhões2. Em 2009, o Brasil, exportou US$ 10,4 bilhões, 12,2% menos do que em 2008. As importações, que somaram US$ 26,1 bilhões, tiveram queda bem maior, de 25,5%. Em volume, as exportações de produtos químicos, que chegaram a 11,9 milhões de toneladas, tiveram incremento de 15% em relação a 2008. As importações, ao contrário, declinaram 21,5%, alcançando 21,9 milhões de toneladas3.

Linha do tempo – O passado

Os povos mais antigos

Para tentar criar um cenário futuro da Toxicologia faz-se necessário construir uma breve linha do tempo do conhecimento toxicológico. A história da Toxicologia é muito longa, bem conhecida e documentada, fascinante e confunde-se com a da humanidade4. Muitos dos bons compêndios quando a abordam, limitam-se a apontar, usualmente de passagem num capítulo introdutório, um ou dois fatos da antiguidade toxicológica, como: o muito citado Papiro de Ebers, de aproximadamente 1500 a. C., com seus 800 produtos ativos; o folclórico rei Mitridates VI, que teria vivido no século I a. C.; os textos de Dioscórides e sua classificação de venenos, do início da era cristã; e saltam para o medieval e pós-medieval,

nos quais pontuam as inteligências do bem, como a de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, o Paracelso, e as inteligências malignas, como a elegante e cativante Lucrecia Borgia, a misteriosa Toffana e a poderosa Catarina de Médici. Contraposição a esse fato, o da abordagem ligeira da história da Toxicologia nos livros da matéria, é digno de menção o portentoso e raro trabalho Historia de La Toxicologia, de Jacinto Corbela, com 283 páginas sobre o assunto5.

Diversos autores elucidam o surgimento da Toxicologia com a tese de que ela nasceu nos primórdios da humanidade, antecipando-se à própria história escrita sobre o uso de venenos de animais e plantas com o propósito de auxiliar na caça e pesca, e como envenenamento nas atividades de guerra. Pode-se postular que a civilização humana construiu, já no início de sua existência, três conhecimentos básicos e essenciais para a garantia da vida: o da alimentação, posto que sem esta não se sobrevive; o do sexo, uma vez que sem o mesmo não se garante a descendência; e o do que é venenoso (ou tóxico), já que a ingestão de alimentos tóxicos ceifava vidas. Foi munido desses três conhecimentos essenciais que nossos primeiros representantes no planeta deram início ao processo que chegou até a nós.

O estudo dos “venenos” esteve em muitas culturas antigas: para os egípcios o estudo dos glicosídeos cardíacos; para os chineses, os alcalóides do ópio; para os incas, os alcalóides da coca e da estricnina; para os gregos, a cicuta.

Da antiguidade chinesa existem relatos do imperador Shen Nung, que viveu por volta de 5000 a.C. e foi o responsável por compor um tratado sobre ervas, atualizado pelas futuras gerações, o que justifica o apreciável conhecimento do povo chinês no tocante a ervas medicinais.

Em torno de 1500 a.C. surge o Papiro de Ebers, considerado um dos mais antigos documentos com informações toxicológicas preservado até os

1 Ver CAS-American Chemical Society: http://www.cas.org/cgi-bin/cas/regreport.pl2 Abiquim – A Indústria Química Brasileira em 2009: http://www.abiquim.org.br/conteudo.asp?princ=ain&pag=estat acesso em 28/08/2010.3 Abiquim – A Indústria Química: http://www.abiquim.org.br/conteudo.asp?princ=ain&pag=balcom acesso em 28/08/2010.4 Fukushima, A.R., Azevedo, F.A. História da Toxicologia. Parte I – breve panorama brasileiro. Revinter - Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, V.1 N.1 Out 2008. p. 2-32. (http://intertox.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=133&Itemid=134&lang=br)5 CORBELA, Jacinto. Historia de la Toxicologia. Barcelona, Unidad de Docencia e Investigacion de Medicina Legal e Laboral y Toxicología y Historia de La Medicina, Departamento de Salud Publica, Universidad de Barcelona. Publicacion n. 80 de las Publicaciones del Seminario Pere Mata. 1998, 283 p. (ISBN: 84-477-0657-5)

Artigo Original 5

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 7: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

presentes dias. Em 1862, em Luxor, o papiro foi adquirido por Edwin Smith, aventureiro americano que residia no Cairo, e que permaneceu com o documento até 1869, quando o pôs à venda. Em 1872 o papiro foi comprado pelo romancista e egiptólogo Georg Moritz Ebers, daí a denominação Papiro de Ebers. O papiro é um vasto relato da história médica do antigo Egito. Nele, encontram-se dados como conhecimento do organismo humano, estrutura vascular e cardíaca e prescrições de substâncias curativas para várias enfermidades causadas por agentes tóxicos de origem animal, vegetal e mineral. Possui 110 páginas com relatos de 700 a 800 princípios ativos então conhecidos. Ainda adstrito ao Egito, não se pode deixar de mencionar a lendária figura de Cleópatra e seus conhecimentos para peçonhas.

Depois de 100 anos, em 1400 a.C., na Suméria, textos ligados a uma figura mitológica denominada Gula, foram associados com encantos, feitiços e envenenamentos, demonstrando que a toxicologia, novamente, como em outras localidades, era ligada a magia e poder.

Os mundos grego e romano

Na velha Grécia, Homero, em suas obras mundialmente conhecidas A Odisséia e A Ilíada, descreve a utilização de veneno em flechas. O insuperável Sócrates é condenado a morrer bebendo a amarga cicuta (alcalóide vegetal com grande poder tóxico) e seu algoz, demonstrando já um bom conhecimento do mecanismo de ação tóxica, diz ao famoso filósofo grego para que, após sorver o líquido, permaneça andando até não mais sentir as pernas, pois com isso acelerará o efeito da droga. Também Alexandre, o grande, um dos maiores conquistadores da antiguidade e rei da Macedônia (discípulo de Aristóteles, o discípulo de Platão, o discípulo de Sócrates), morreu envenenado. Registre-se, por fim, a História das Plantas, de Teofrasto, e a obra de Nicandro de Colófon.

Já no mundo romano, os envenenamentos passam a ser freqüentes e ganham grande repercussão

social. São vários os autores que se dedicam ao assunto dos tóxicos em suas obras, como: Dioscórides, Celso, Plínio – o velho, Galeno, Claudio Eliano, Andrômaco (com a Triaca6) e Lucrécio, poeta e filósofo latino, que viveu de 94 a50 a.C., e disse: “O que é alimento para um homem pode ser veneno severo para os outros.” Mas a Roma da glória não era só o esplendor dos filmes hollywoodianos e sua prosperidade gerava já problemas que nos são muito familiares também. Assim, o grande filósofo romano Sêneca, no ano 60 a.C., afirmava: “eu sentia uma alteração da minha disposição logo que saía do pesado ar de Roma e do mau cheiro dos vapores pestilentos e da fuligem emitidos pelas chaminés em atividade”.

A idéia, que até hoje trazemos, de fármaco e tóxico delineia-se, sobretudo, nesse período histórico. Um dos acontecimentos interessantes a atestar tal fato foi a descoberta, já no século XIX, em Enoanda (atual Turquia), dos restos de uma muralha em que constavam inscritos trechos de ensinamento que Diógenes de Enoanda, discípulo de Epicuro, gravou e que seriam um resumo da sabedoria humana, uma prescrição médica para a alma, um tetrapharmakon (ou a cura em quatro etapas) que dizia: (i) Não há nada a temer quanto aos deuses; (ii) Não há necessidade de temer a morte; (iii) A Felicidade é possível; (iv) Podemos escapar à dor. O tetrafármaco pretende nos conduzir à vida mais feliz possível e era, originalmente, um composto de quatro substâncias: cera, sebo, pez e resina.

Outra citação recorrente desse período, espécie de líder das paradas de audiência, é Mitrídates VI, filho de Mitrídates V do Ponto. Seu reinado pessoal começa em 112 a. C., quando tinha vinte anos. Rodeado de conselheiros gregos e contando com um poderoso exército, retomou de imediato a política expansionista do pai. Sua vida se envolve em relatos legendarios: no ano de seu nascimento e no de sua ascenção ao trono apareceu no céu um cometa durante setenta dias; à morte de seu pai, sendo ainda menino, teve de fugir temendo por sua sobrevivência. Durante sete anos teve uma vida selvagem, e só regressou para assassinar a mãe Gespaepyris e o irmão Mitrídates Chrestos (o Ungido), mas não a sua

6 A triaca ou teriaca (do árabe tiryāq, do grego θηριον e do latín theriaca) era um preparado polifármaco composto por vários ingredientes diferentes (em ocasiões mais de 70) de origem vegetal, mineral ou animal. Usou-se desde o século III a. C., originalmente como antídoto contra venenos, incluindo os casos de mordeduras de animais, e posteriormente se utilizou também como medicamento contra numerosas doenças, sendo considerada uma panacéia universal. Ficou popular na Idade Média, e, durante muitos séculos, foi empregada com variações em sua formulação, sendo inscrita nas principais farmacopéias da época até que perdeu relevância já nos séculos XVIII e XIX. No século I Andrómaco, médico do imperador romano Nerón, melhorou a fórmula do mithridatium, ampliando o número de seus ingredientes e incluindo a carne de víbora. A composição da triaca de Andrômaco ou triaca magna ficou recolhida em um poema composto pelo próprio Andrómaco.

Artigo Original 6

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 8: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

irmã Laodice, com quem se casou. Plinio o Velho, no Naturalis História, faz referência a sua habilidade para os idiomas. No entanto, a lenda mais conhecida é a de sua resistência aos venenos: numa tentativa por proteger-se de possíveis envenenamentos, costumava experimentar os efeitos dos tóxicos com delinquentes presos e consigo mesmo, procurando um antídoto que o mantivesse a salvo de possíveis tentativas de assassinato. Conta-se que isso teria encontrado em sua invenção, o mitridato, mistura de substâncias vegetais e animais. Segundo narra Apiano, em História romana, “quando foi derrotado por Pompeu, Mitrídates VI tentou se suicidar ingerindo veneno para evitar sua captura pelo romanos, mas ao estar inmunizado deveu recorrer a um de seus oficiais para que lhe provocasse a morte a espada”. Aulio Cornelio Celso, enciclopedista romano do século I a. C., registrou em sua obra De Medicina a composição do Mitridato ou Mithridatium: “Contém balsamita 1,66 gramas, cálamo 20 gramas, hypericum, borracha arábica, sagapenum, sumo de acácia, íris ilirio, cardamomo, 8 gramas da cada um; anís 12 gramas, nardo gálico (Valeriana), raiz de genciana e folhas secas de rosa, 16 gramas da cada um, gotas de amapola e salsa, 17 gramas da cada um, cássia, saxifraga, discórdia, pimenta longa, 20,66 gramas da cada, storax (resina de liquidambar) 21 gramas; castóreo, olíbano, suco de Cytinus hypocistis, mirra e opopanax, 24 gramas da cada; folhas de Malabathrum, 24 gramas; flor de junco redondo, resina de trementina, gálbano, sementes de zanahoria de Creta, 24,66 gramas da cada; nardo e bálsamo da Meca, 25 gramas da cada; carteira de pastor, 25 gramas; raiz de ruibarbo, 28 gramas; açafrão, jengibre, canela, 29 gramas de cada. Tudo isto se macera e se verte em mel. Contra o envenenamento, uma porção do tamanho de uma almendra dissolve-se em vinho. Em outras afecções, uma quantidade do tamanho de uma judia é suficiente.”

Idade Média

A medicina árabe prosperou intensamente durante a Idade Média, bem como a alquimia, que acelerou depois o desenvolvimento da química, guardando conexão com o avanço de práticas laboratoriais. Foram muitos os estudiosos árabes, de diferentes regiões, no norte da África e na península Ibérica, que estiveram pesquisando as propriedades tóxicas de plantas e outros produtos. Por justiça, faça-se referência ao Tratado dos venenos, de Maimônides.

No ocidente Cristão surgem muitos escritos de naturalistas e escritos médicos tendo por foco os venenos. Destacam-se as obras de Arnau de Vilanova e de Pietro d’Abano. Há notícias das primeiras atividades periciais e começa a ganhar consistência o desenvolvimento do tratamento das intoxicações.

O nome campeão de citações, quando se quer trazer alguma erudição à história da Toxicologia, é, sem dúvida, o do suiço Paracelsus. Este era, de fato, o pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, que viveu de 1493 a 1541. Paracelsus significa superior a Celsus, o grande médico romano. Quando Paracelsus postulou que a diferença entre o que cura e o que envenena é a dose, fixou referenciais teóricos para a toxicologia como disciplina científica. Com isso, constituiu um novo domínio conceitual, rompendo com o senso comum e pondo de lado as “poções mágicas” populares de sua época.

No Renascimento muita novidade acontece. Um nome inolvidável é o dos Borgia, em Roma. Dioscórides é redescoberto e ganha comentários. Catarina de Médici e a corte dos Valois também asseguraram sua presença histórica.

No final desse período comparecem as contribuições do além atlântico, como os tóxicos de origem americana: o tabaco, a coca, o grupo dos alucinógenos.

Século XVII

Em consonância com o que acontece no panorama filosófico e científico europeu, despontam os primeiros sinais de uma abordagem científica para o assunto. Ganham celebridade os grandes episódios de envenenamento. Vale referir a história da marquesa de Brinvillier, a de Cathérine Voisin, dentre outras.

Século XVIII

Dessa época em diante a relação de contribuições começa a se tornar bem vasta. Já no início ganham menção o texto de Richard Mead e a obra de Bernardo Ramazzini, com o início da Toxicologia Ocupacional. Posteriormente, surgem autores na Alemanha, Itália, França, Inglaterra. Karl Wilhelm Scheele escreve sua obra. Aparecem os estudos sobre o

Artigo Original 7

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 9: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

saturnismo. Fontana estuda venenos de serpentes (ele é considerado um dos “fundadores” da Toxicologia Moderna). Magendie introduz a estricnina, o iodeto, o brometo e o ópio. Plenck conduz a determinação de agentes tóxicos em tecidos para comprovar a causa de envenenamentos (é o início da Toxicologia Forense). Accum aplica a Química Analítica para detecção de contaminantes em alimentos e medicamentos. Orfila publica o Tratado de Toxicologia e estuda as lesões produzidas por tóxicos em tecidos de autópsia, associando-as à analise química.

Século XIX

A Toxicologia se configura como ciência moderna por conta de todas as transformações contundentes que se davam no viver e no pensar da Europa daquela época, sobretudo com os caminhos que o desenvolvimento da química ia abrindo, por exemplo, com o isolamento dos alcalóides. Assim, a Toxicologia não se limitou a constatar os efeitos tóxicos. Procurou também descobrir e compreender os mecanismos de ação das substâncias tóxicas. Passou de descritiva e analítica para experimental.

Adquirem corpo a orientação médico legal e a orientação da toxicologia clínico ocupacional. Na Alemanha fortalece-se o aspecto da toxicologia analítica. A Inglaterra contribuirá por meio das obras de Alfred Taylor, Robert Christison, Charles Trackrah (A Toxicologia Industrial), James Marsh. Claude Bernard estuda o mecanismo de ação do curare e introduz o conceito de toxicidade em órgãos-alvo. Erlich estuda mecanismos de ação de vários agentes tóxicos (toxicodinâmica) e de fármacos (farmacodinâmica) e acena com a teoria de receptores.

Muitos são os grandes processos por envenenamento que se registram: o caso de Marie Capele ou Madame Lafarge (1840), o processo do conde Visard de Bocarmé (1850), o processo do doutor Couty de La Pommerais (1863), o caso do General Gibbone (1870).

É nesse século também que se firma a Toxicologia Industrial e que ocorre o crescimento das adições: por ópio, por canabis, por álcool e por coca. Da mesma forma, como mostraremos adiante,

as pesquisas para guerra química registram forte impulso.

Linha do tempo – O Presente: Século XX – a Toxicologia atual

Com o crescimento exponencial da indústria química, de síntese química (como acontece com fármacos, alimentos – conservantes, corantes, flavorizantes... –, e produtos agrícolas – inseticidas, herbicidas...), mais e mais se estabelece a Toxicologia Industrial, ou Ocupacional. Surge também uma Toxicologia de guerra bem como ganha impulso a toxicologia voltada a compreender a contaminação química ambiental. Outro ponto característico desse século é o do risco toxicológico dos medicamentos. Aliás, a bem da verdade, poderíamos dizer que na história da Toxicologia o século XX assiste à chegada e consolidação de todo arcabouço da análise de risco toxicológico e suas notáveis aplicações em defesa da vida e da ética.

Acontecem grandes episódios tóxicos, seja por uso de medicamentos não devidamente avaliados, seja em decorrência de acidentes com vazamentos e derrames de produtos químicos. A drogadição7 torna-se um problema de dimensões ciclópicas e escala planetária, incluindo-se agora os psicofármacos, as drogas de síntese, o ressurgimento da coca.

Após 1960, a Toxicologia envereda definitivamente pelo estudo de segurança e risco do uso de substâncias (por exemplo, surgem os protocolos para os testes de carcinogenicidade, mutagenicidade, teratogenicidade), surge a obrigatoriedade de estudos de toxicidade de medicamentos antes do devido registro para uso, e surge, também, a base para o controle regulatório de outras substâncias, como aditivos de alimentos, domissanitários, praguicidas, etc.

Nos domínios da Ecotoxicologia vale que dois marcos iniciais sejam registrados: em 1960 a Water Quality Act (EUA), que traz padrões de qualidade das águas e de proteção dos ecossistemas aquáticos; e, em 1969, o memorável professor René Truhaut com estudo dos efeitos nocivos das substâncias químicas sobre os ecossistemas.

7 Drogadição é toda e qualquer modalidade de adição química por parte de um ser humano ou a alguma droga (substância química) ou à superveniente interação entre drogas (substâncias químicas), que seja causada ou precipitada por complexo de fatores genéticos, bio-farmacológicos e sociais, incluídos os econômico-políticos.

Artigo Original 8

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 10: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Por tudo isso, o século XX é também o da institucionalização definitiva da Toxicologia e da consolidação de seu aparato operacional:

quanto a marcos legais – legislações •específicas ou aquelas que utilizam o fato e o conhecimento toxicológico e introduzem o uso legal de padrões e limites; quanto ao dispositivo científico – o •próprio conteúdo seguramente científico da Toxicologia, sua língua e seus códigos, sua hermenêutica e sua semiótica, as muitas revistas científicas especializadas nos diferentes aspectos da Toxicologia, os Congressos nacionais e mundiais nos mais diferentes temas da Toxicologia;quanto ao desenvolvimento do conhecimento •toxicológico – o ensino formal da disciplina em cursos de graduação e pós-graduação, a pesquisa toxicológica consolidando o método toxicológico, toda a vasta literatura especializada, a formação de toxicólogos;quanto ao exercício da profissão – o trabalho •do toxicólogo, de franca característica multidisciplinar e, portanto, pluriprofissional.

Uma visão do futuro

Mesmo pelo pouco que se abordou até aqui já se pode perceber que a Toxicologia é uma ciência “visceral” para a humanidade. Quero dizer com isso que ela está inscrita no DNA do ser humano. Se a vida é uma grande engenharia química, bioquímica mais precisamente, e se toda substância química pode manifestar seu potencial tóxico, então, enquanto houver no planeta vida como a conhecemos haverá o fato toxicológico e a necessidade do conhecimento em toxicologia.

Claro está que o grau de necessidade desse conhecimento e de sua aplicação varia em função dos aspectos quali-quantitativos do arsenal de produtos e substâncias químicas que nós empregamos em nossas atividades profissionais, domésticas, recreativas, sociais, etc.

Assim, o estilo de vida das sociedades e suas tendências determinam a importância da Toxicologia e suas áreas de aplicação.

O mundo da pós-modernidade, com seu consumismo exacerbado, a larga produção

de resíduos, a intensa contaminação química e degradação dos ambientes, o pesado consumo de drogas e de medicamentos, a crescente artificialização dos alimentos, e prováveis conseqüências, como as alterações climáticas, tem sido, mais do que qualquer outra época, um forte criador de necessidades no conhecimento e no “mercado toxicológico”.

Este mundo e seu protagonista, o bichinho homem, tão bem mostrados e dissecados em diferentes ângulos por autores de vulto como, dentre outros, Zygmunt Bauman, Robert Reich, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jean-François Lyotard, Jean Baudrillard, parece encaminhar-se para uma hecatombe tóxica. Por isso, num ritmo vertiginoso, associada a muitas outras ciências, vai a Toxicologia, sempre com dotações orçamentárias tímidas, tentando, heroicamente, orientar e aliviar o homem dos riscos toxicológicos a que se submete, voluntariamente ou não. Cumpre, portanto, mencionarmos as seguintes tendências como sendo as constituintes de um cenário futuro para o esforço e as conquistas toxicológicas.

A valoração mercadológica de bens guiada por um Toxic Index

Enreda-se a Toxicologia com a Economia, como não poderia deixar de ser. O estabelecimento de um Toxic Index para processos fabris ou plantas ou sítios industriais gera um indiscutível valor econômico associado, uma forma de agregação ou desagregação de valor. Assim, é de se supor que procedimentos produtivos que tenham associado a si um índice geral de risco tóxico elevado terão depreciação de seu valor econômico, de suas ações e elevação de seus seguros. Pelejar por um Toxic Index sempre menor deve ser a meta tecnológica e estratégica das empresas que verdadeiramente apresentam responsabilidade socioambiental e têm compromisso real com seus acionistas. O Toxic Index revela o passivo tóxico da empresa e deve ser componente fundamental das filosofias de responsabilidade empresarial, como, por exemplo, o Responsible Care.

Limites e padrões em Toxicologia

Por um longo caminho, que pertenceu também ao desenvolvimento geral das demais ciências da química e da saúde, chegamos à atual Toxicologia, a qual na compreensão abalizada de Ted Loomis

Artigo Original 9

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 11: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

“(…) is approached as the study of the effects of chemicals on biologic systems, with emphasis on the mechanisms of harmfull effects of chemicals and the conditions under which harmfull effects occur.”8

E esse estudo dos efeitos perigosos de agentes tóxicos sobre sistemas biológicos, bem caracterizadas as condições específicas de exposição e o tipo de ser vivo exposto, tem adquirido, no passar dos anos, uma variada gama de aplicações e de interesses, o que se confunde e mutuamente influencia as próprias áreas de evolução da Toxicologia. Ora, tais relações constituem o coração da moderna Toxicologia, e derivam, de um lado, dos cuidadosos protocolos experimentais e/ou epidemiológicos e, de outra parte, da parafernália de considerações matemáticas e estatísticas possíveis e aplicáveis. A velha Toxicologia, que começou nas mais primevas eras, da pacienciosa observação diária, caso a caso, pelo hominídeo ancestral daquilo que ele podia ou não comer, tornou-se, milênios depois, talvez a mais matematizada das ciências após a própria família das matemáticas e a mais interconectada, com suas obrigatórias conexões com muitos e tantos outros campos do saber.

Nossa Toxicologia fez, assim, por merecer o dístico de “Ciência dos Limites”, o limite entendido como o grau máximo de exposição a que um ser vivo pode se submeter sem que disso decorra, salvo melhor juízo, prejuízo para sua saúde. O melhor juízo fica por conta do permanente e revisor avanço dos conhecimentos científicos toxicológicos que tanto e tanto têm derrubado limites até então assumidos como seguros.

E a grande questão lançada por esse perito domínio estabelecido pelo estudo das relações dose-efeito e dose-resposta para um determinado agente tóxico, frente a uma espécie (a humana, por exemplo) e numa escala pré-determinada de doses, é que podem ser estabelecidos critérios de aceitabilidade ou tolerância à exposição. Mas isso não é bom?, indagaria precipitadamente o estudante interessado, mas afoito. Depende: pode ou não ser. Explica-se. Se conhecemos todo o vasto espectro da evolução da

severidade de um efeito nocivo principal de um dado agente químico à medida que as doses de exposição a ele vão aumentando para aquele indivíduo ou espécie, isto é bom na proporção em que esclarece a fenomenologia da exposição-intoxicação, em todas as suas fases, ajuda a decifrar o mecanismo de ação do agente, postula as possibilidades de reversão da intoxicação e sinaliza o ponto de não-retorno.

No entanto, e aí começa a questionar a filosofia em termos éticos e morais, a mesma tomografia computadorizada das relações dose-efeito e dose-resposta, vale dizer, o conhecimento da melhor toxicologia disponível para um dado agente químico (uma importante substância de uso industrial, por exemplo, porém de não desprezível toxicidade), pode ensejar o interesse de uso de tal conhecimento para que, sob um discurso sedutor e capcioso de segurança, se vá ao limite da exposição humana unicamente para que sejam garantidos certos processos industriais e os ganhos econômicos conseqüentes a ele atrelados.

Por isso, tem-nos acompanhado e afligido a indagação de se a Toxicologia é, de fato, modernamente falando, a Ciência dos Limites ou se, pelo seu mau uso, uso voltado apenas aos interesses utilitaristas do conhecimento científico, ela se transforma numa aliciadora da razão crítica e seduz pessoas para que se exponham. Estamos falando da ciência dos limites ou do limite da ciência, sob o ponto de vista ético e moral?9

Análise (Avaliação) de risco toxicológico

Mais do que nunca se trata de uma área interdisciplinar das ciências. Como já definido, é o “Processo de se estimar a associação entre a exposição a um agente químico ou físico e a incidência do desfecho adverso.”10

Enfim, a Análise de Risco (AR), em que pese seu ferramental próprio e complexo, matemático e computacional além de toxicológico, domínio de uns poucos especialistas, nada mais é do que uma maneira de se organizar a informação científica atual e disponível para subsidiar decisões. Que decisões?

8 Loomis, Ted A., Hayes, A. Wallace. (ed.) Loomis's essentials of toxicology. 4th ed. Academic Press, London, 1996, 282 p. A citação está no Capítulo 1: Introdução, Escopo e Princípios, p. 3. Esse livro de Loomis e Hayes talvez seja um dos mais competentes e agradáveis de toda a literatura toxicológica.9 Azevedo, F.A. Toxicologia – a Ciência dos Limites e o Limite da Ciência. Revinter - Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, V.2, N.3, Jul/Out 2009. p. 64-72.(http://www.intertox.com.br/documentos/v2n3/rev-v02-n03-07.pdf)10 A Small Dose of Risk Assessment – An Introduction To Risk Assessment – Risk Management and Precautionary Principle: http://www.asmalldoseof.org/toxicology/risk_assessment.php acesso em 28/08/2010.

Artigo Original 10

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 12: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Decisões de uso ou não de processos, de lançamento ou não de produtos, de fixação ou não de limites e padrões legais, de autorização ou não de licenças. E aqui invocamos novamente a questão ética fundamental antes mencionada da fronteira tênue entre o que é ser a Ciência dos Limites e onde se coloca o limite da ciência.

São partes ou etapas da estrutura da AR: (i) a precisa (meticulosa) definição do problema e seu contexto; (ii) a análise dos riscos associados ao problema; (iii) a análise das opções conhecidas (disponíveis) para se minimizar (mitigar) o risco; (iv) a escolha da opção (se existir); (v) a ação corretora (seu planejamento e execução); (vi) a avaliação dos resultados da ação.

A AR leva necessariamente às atitudes de Gerenciamento de Risco, que envolvem decisões (individuais) que contrabalançam o risco, reduzindo-o, e os recursos para sua implementação. O objetivo sempre é identificar e lidar primeiro com os piores riscos, desde que controláveis.

Assim, peça chave em todo o processo é a identificação do perigo. É importante o julgamento da força das evidências, o exame da qualidade dos dados, as diretrizes sobre o peso de diferentes tipos de dados (por exemplo, homem > animal, in vivo > in vitro). Devem ser considerados os dados positivos e negativos. No caso dos agentes químicos potencialmente tóxicos joga papel fundamental a avaliação dose-resposta da relação agente-organismo vivo, incorporando-se todo o arsenal matemático do planejamento e tratamento de dados.

São características fundamentais da exposição: (i) o quanto de um toxicante atinge o indivíduo; (ii) o quanto chega ao órgão alvo; (iii) como o toxicante atinge o indivíduo; (iv) quanto tempo dura a exposição; (v) quão frequente é a exposição; (vi) quantas pessoas estão expostas.

A caracterização perfeita do risco se dará pela caracterização perfeita da exposição, pelo conhecimento intrínseco da relação dose-resposta em seus aspectos quali e quantitativos, pois o que se obterá ao final é qual a quantidade de risco associada a cada quantidade de exposição (a exposição com suas características específicas é que determinará a dose absorvida).

A quantificação do risco toxicológico nos

dará a “dose segura”, que é a quantidade da substância que pode ser ingerida/inalada/absorvida pela pele (incluindo subpopulações suscetíveis), diariamente, sem observação de efeito adverso. A quantificação do risco mede a probabilidade da substância estar segura na forma de uso permitido e avaliado ä luz dos estudos atuais.

A AR e o gerenciamento do risco, conjuntamente, são imprescindíveis para se fazer a proteção da saúde pública e a do meio ambiente.

É preciso lembrar que na AR partimos de pressupostos e defaults. Pressupostos são usados para assegurar que o risco não é subestimado. Default é palavra da língua inglesa, originalmente do jargão jurídico, que significa “na falta de”, “na ausência de”, inadimplente”. São princípios dos defaults: (i) proteger a saúde pública; (ii) assegurar a validade científica dos dados: (iii) minimizar erros sérios na estimativa do risco; (iv) maximizar os incentivos para a pesquisa; (v) garantir confiabilidade, de forma ordenada e previsível. Os defaults não são arbitrários. Geralmente se baseiam em dados e consenso científico, em estudos publicados, observação empírica, extrapolação a partir de observações relacionadas e teoria científica. Não são locais ou químico específicos. Geralmente passam por peer review (revisão por pares) e são identificados na caracterização do risco. Os defaults são reexaminados quando mais dados tornam-se disponíveis e quando as metodologias são otimizadas.

Eis uma das mais sensíveis e importantes facetas da AR nos dias atuais: a questão ambiental. Podemos nos referir a uma Análise de Risco Ecológico, ou melhor até, Ecotoxicológico, para o caso do lançamento e da poluição ambiental (ar, águas, solos) por produtos químicos. Quando olhamos para a natureza, para o meio ambiente e sua ecologia, e olhamos com o olhar do toxicólogo treinado, não podemos deixar de imediatamente traçar o paralelo entre a fisiologia animal e aquela ambiental, a toxicologia, por exemplo, humana e a do meio ambiente. Nesse diapasão podemos claramente enxergar e entender para os agentes químicos lançados abertamente as expressões ecotoxicidade, uma ecotoxicocinética e uma ecotoxicodinâmica. O ambiente agredido pelo lançamento desmedido de um poluente químico poderá estar ecointoxicado. Tudo isso aponta em direção a uma Ecotoxicologia, termo cunhado

Artigo Original 11

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 13: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

pelo grande e memorável professor francês René Truhaut. Compreender os comportamentos cinético e dinâmico dos agentes químicos nos ecossistemas, seus impactos danosos e as doenças que ocasionam, a severidade dessas doenças frente às concentrações dos poluentes, o dano propagado e magnificado nas cadeias alimentares, o desfazimento de teias ecológicas e suas conseqüências, é um pouco daquilo que forma o objeto da Ecotoxicologia, seguramente um dos aspectos mais notáveis de nossa Toxicologia no presente e no futuro (a não ser que o Homo sapiens pare de poluir...).

Na análise das situações de contaminação química ambiental e seus reflexos ecotóxicos deve-se proceder a uma detalhada e honesta formulação do problema, que envolve, além de outros pontos (i) a definição dos estressores; (ii) a avaliação dos endpoints; (iii) o modelo conceitual; (iv) o plano de análise (que caracteriza a exposição e seus efeitos ecológicos, caracteriza o risco, sumariza a informação e descreve e informa o risco).

A preocupação com a contaminação química planetária não é recente, embora não tenha logrado êxito efetivo de minimização. Talvez porque seja uma preocupação ainda de uns poucos ou até de muitos, mas muitos que não têm poder – nem político nem econômico. No plano da diplomacia e do politicamente correto, contudo, os princípios da Convenção de Aarhus11 somados ao Protocolo de Kiev12, do qual o Brasil é signatário, resultaram na criação de programas nacionais e transnacionais de registro da emissão e transferência de poluentes. Em boa hora isso está se dando no Brasil, pelas mãos do Ministério do Meio Ambiente, que vai a um passo de implantar nacionalmente o RETP – Registro de Emissão e Transferência de Poluentes, que tornará obrigatório por parte das empresas que usam ou produzem produtos químicos a mensuração e declaração anual de suas possíveis emissões. O registro será público, no computador central do IBAMA, e será divulgado abertamente à sociedade por meio do Portal do RETP. A intenção é de se construir séries históricas anuais de emissão total no país, por regiões, estados, municípios, dos poluentes relacionados na lista oficial. Com isso, intenta a autoridade internacional que, com o tempo,

se tenha o balanço da emissão anual de poluentes, por continente e país.

Outro ponto digno de nota, já como medida prática de gerenciamento de risco e da informação, é o que se refere aos sistemas REACH e GHS. O REACH (do inglês Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemical Substances), adotado pela Comunidade Européia, altera o ônus da prova: agora, a indústria, e não mais o governo, passa a ser responsável pela segurança das substâncias químicas colocadas no mercado. Assim, as substâncias sem informação não têm mercado na Europa. Essa nova realidade acaba gerando um grande e presente campo de trabalho para os toxicólogos. GHS é o acrônimo para The Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals (Sistema Harmonizado Globalmente para a Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos). Trata-se de abordagem lógica e abrangente para: (i) a definição dos perigos dos produtos químicos; (ii) a criação de processos de classificação que usem os dados disponíveis sobre os produtos químicos que são comparados a critérios de perigo já definidos, e (iii) a comunicação da informação de perigo em rótulos e FISPQ (Fichas de Informação de Segurança para Produtos Químicos).

Merece que sublinhemos, ainda que de passagem, a questão da persistência dos riscos na mente popular e na literatura. Aliás, essa bem pode ser uma fonte, como ponto de partida, para a obtenção de conhecimento relativo a certas situações reais ou históricas de exposição a ameaças. Como demonstraram grandes psicanalistas, tudo cabe na dimensão da mente humana, e o conhecimento que nela se acumula é não só ancestral, imaginário, coletivo, como também orientador. A boa literatura, de uma ou outra forma, sempre mergulha na alma humana e dela extrai fatos e verdades, pondo-os à luz. Nada melhor, portanto, do que estarmos atentos a ambas: a mente popular e a boa literatura. Frisar ainda que, na mente, os fatos estabelecidos tendem a implantar impérios e são de difícil remoção, mesmo quando improcedentes e incorretos: quererá alguma das senhoras toxicólogas ou dos senhores toxicólogos sair aí na calçada e convencer o primeiro transeunte de que leite e manga não formam uma mistura

11 A Convenção da UNECE sobre Acesso à Informação, Participação do Público no Processo de Tomada de Decisão e Acesso à Justiça em Matéria de Ambiente (Convenção de Aarhus) foi adotada em 25 de junho de 1998, na cidade dinamarquesa de Aarhus, durante a 4ª Conferência Ministerial "Ambiente para a Europa". Entrou em vigor em 30 de outubro de 2001, concluído o processo de ratificação por 16 países membros da UNECE e pela União Europeia, conforme previsto no Artº 20º.12 Assinado em 21 de maio de 2003, numa reunião das Partes à Convenção de Espoo (sobre AIA), realizada em Kiev, obriga as empresas a divulgarem relatórios anuais sobre o destino dos seus resíduos.

Artigo Original 12

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 14: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

explosiva?...

Para encerrar essa abordagem sobre AR, suas relevância e dimensão contemporâneas, há que se lembrar um pouco da Toxicologia Experimental, entendida como a realização de testes e ensaios toxicológicos de forma planejada, controlada e reproduzível, com animais, vegetais e tecidos bilógicos, e os estudos de relação atividade-estrutura (Structure Activity Relationships, SAR) e EcoSAR. São esses, também, dois segmentos de crescimento em disparada por conta da invasão de produtos químicos com que temos vivido e dos novos que se quer introduzir para uso.

Toxicologia Genética e Toxicologia Genômica

Trata-se de uma exploração avançada da Toxicologia nas áreas da (toxicologia) genética e (tóxico)genômica, com ênfase especial em processos de mutagênese e de carcinogênese ambiental, avaliação do risco e aplicações práticas, tanto na área de medicamentos quanto de alimentos, sem esquecer dos contaminantes ambientais. Uma de suas bases são os ensaios de curta-duração e seu poder preditivo para detecção de atividade cancerígena. Outra, são os ensaios de mutagênese em ratos transgênicos, com pesquisa dos mecanismos de ação e de novos modelos transgênicos com inativação de genes de reparação de DNA ou de outros genes críticos do câncer. Estuda-se, também, a determinação de polimorfismos genéticos, haplotipos e modelos associados à previsão de susceptibilidade individual para doença oncológica.

A Toxicologia Genética tem foco nos genotóxicos ambientais, sua absorção, distribuição, metabolismo, excreção e efeitos no genoma, e avaliação do risco envolvido. Entre suas aplicações destacamos: diagnóstico de doenças genéticas, vigilância da terapêutica, desenvolvimento de novos fármacos, autorização de introdução no mercado de novos medicamentos de uso humano e veterinário e de aditivos alimentares.

Nos Estados Unidos, o Instituto Nacional de Ciências de Saúde Ambiental (National Institute of Environmental Health Sciences, NIEHS), criou o Centro Nacional para Toxicogenômicos (National Center for Toxicogenomics, NCT). O Centro tem a finalidade de coordenar esforços de pesquisa internacional no desenvolvimento do campo dos toxicogenômicos, que pretende elucidar como o genoma inteiro está envolvido na resposta biológica

dos organismos expostos a toxicantes/estressores ambientais, combinando a informação dos estudos em escala genômica do perfil dos mRNAs (por análise de micro arrays), do perfil protéico da célula ou do tecido como um todo (proteômico), da suscetibilidade genética e dos modelos computacionais para entender o papel das interações gene–meio ambiente nas doenças. O NCT orienta uma estratégia unificada, tem uma base de dados pública e implementa a infra-estrutura de informática necessária para promover o desenvolvimento da área toxicogenômica. O NIEHS volta especial atenção à área toxicogenômica para a aplicação na prevenção de doenças relacionadas com o ambiente. Já o objetivo principal do NCT é usar as metodologias e a informação da ciência genômica para melhorar significativamente o entendimento da resposta biológica básica dos toxicantes/estressores ambientais.13

Outro ponto notável é o referente à nanobiotecnologia, com a utilização de sistemas à nanoescala para caracterização molecular – nanodiagnóstico, e a utilização de sistemas de base nanotecnológica para a análise de ácidos nucléicos – DNA (análise de mutações e SNPs; detecção de organismos patogênicos) e RNA (estudos de expressão gênica).

A Toxicologia como uma verdadeira Ciência Social

A Toxicologia, como Ciência, com uma epistemologia definida e consolidada, caracteriza-se por apresentar um conteúdo extremamente dinâmico, que evolui e se retroalimenta incessantemente. Esse conteúdo dinâmico, por suas velocidade e vastidão, e pela natureza dos assuntos toxicológicos, sempre tão viva e intensamente relacionada com interesses concretos das sociedades, tem forte e permanente tendência centrífuga. Noutras palavras, a Toxicologia é uma ciência de sólida base conceitual, com método definido e finalidade explícita, que se gera em seus próprios recônditos poiéticos, mas que ao se fazer se dirige para fora, centrifugamente, de maneira instantânea e automática, tal é o grau de pertinência prática de seus achados e da aplicabilidade imediata de seu conhecimento.

Outro aspecto cabal da importância e utilidade do conhecimento toxicológico concerne a suas visão

13 National Toxicology Program. NIEHS National Center for Toxicogenomics. NTP Update, p.10, March. 2001.

Artigo Original 13

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 15: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

e utilidade extremamente preventivas. Deveras, quanto mais se acumula o conhecimento toxicológico em todas as áreas da Toxicologia, quanto mais se desvendam os encadeamentos causais, mais e mais se adquire bases para posturas e atitudes preventivas em relação à exposição a agentes tóxicos e seus efeitos. Mestre nesse particular é então a antes discutida análise (ou avaliação) de risco toxicológico.

Ao lado dos dois anteriores, um terceiro marco da Toxicologia é, sem dúvida, sua multidisciplinaridade. Se já em seu passado remoto ela era assim, associando química, alquimia, farmácia e medicina, mais ainda o é nos tempos atuais. E por ser o conhecimento toxicológico pleno um múltiplo de disciplinas, o exercício prático desse conhecimento só poderia ser multiprofissional também. Nesse sentido, a Toxicologia é democrática, talvez a mais democrática de todas as ciências, e profissionalmente inclusiva. Concorrem para seu êxito, dentre outros, o farmacêutico, o farmacêutico-bioquímico, o médico, o biomédico, o veterinário, o químico, o engenheiro químico, o nutricionista, o biólogo, o ecólogo, o agrônomo, o engenheiro ambiental, o psicólogo, o antropólogo, o cientista social, o estatístico, o matemático.

Por esses três pontos assinalados é que percebemos a Toxicologia como uma ciência de fortíssimo apelo social, a ponto de se poder vê-la como uma ciência sempre da moda e de glamouroso apelo.

Guerras químicas

Todavia, só para estabelecer o contradito ao que acabei de afirmar, enfoquemos agora a terrível questão da Guerra Química. Recordemo-nos que estamos abordando o cenário de futuros para a Toxicologia e para o uso do conhecimento toxicológico. Óbvio está que aplicar conhecimento toxicológico para desenvolvimento de armas químicas é condenável, é abominável, é execrável. Mas que o fazem o fazem, e cada vez mais.

A Guerra Química talvez seja tão antiga quanto a própria história das guerras na humanidade, afinal, mesmo a palavra toxikón, como já explicamos no início, tem a ver com isso. Para que se tenha uma rápida idéia, em 600 a. C. atenienses envenenam, com raiz de heléboro, um rio cujas águas eram usadas para

potabilidade por seu oponente; em 200 a. C. Cartago derrota um inimigo ao deixar para trás tonéis de vinho contaminados com mandrágora, raiz que produz sono narcótico. É do ano de 1675 a data da assinatura, em Estrasburgo, de acordo Franco-Germânico proibindo o uso de balas envenenadas. Depois, em 1874, a Convenção de Bruxelas é adaptada numa tentativa de se fazer estancar o uso de armas envenenadas e, em 1899, a Conferência Internacional de paz, em Haia, estabelece acordo mundial declarando ilegal o uso de projéteis com gases venenosos.

No século XIX surge a Guerra Química moderna: bombas incendiárias de arsênico que liberavam nuvens de fumaça tóxica nas linhas inimigas e os soldados atingidos tinham morte horrível, algumas horas após a inalação, com espasmos musculares, vômitos intensos e colapso cardiovascular.

Na Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, o exército germânico bombardeia forças britânicas, na Neuve-Chapelle, com clorossulfonato de dianisidina; ataca forças russas com brometo de xilila; e, em 22 de abril de 1915, duas horas antes do pôr do sol, alemães com roupas protetoras lançam 200 toneladas de latas de gás cloro contra as trincheiras francesas. Resultado: mais de 5 mil soldados mortos por asfixia.

A partir daí o circo dos horrores se intensifica e diversifica, e não cabe aqui a morbidez de detalhá-lo.

Mas vale ressalvar que, em 29 de abril de 1997, foi ratificada a Convenção para a Proibição de Armas Químicas. Segundo a Convenção, existem cinco classes de agentes de Guerra Química: (i) agentes neurotóxicos, (ii) agentes vesicantes e levisita; (iii) agentes sanguíneos; (iv) agentes sufocantes; (v) toxinas.

Apesar disso, há atualmente, em escala mundial, um intenso esforço de dezenas de países para produção de armas químicas. Segundo a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA – Central Intelligence Agency), mais de vinte países estão desenvolvendo ou já possuem armas químicas, dentre eles: China, Coréia do Norte, Cuba, Egito, Estados Unidos, Índia, Irã, Iraque, Paquistão, Síria.

Entre 6 e 23 de maio de 1997, durante a Primeira Conferência dos Estados-Partes da Convenção para a Proibição de Armas Químicas (Cpaq), realizada em

Artigo Original 14

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 16: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Haia, Holanda, com 167 países signatários, inclusive o Brasil, foi criada a Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq). Seu objetivo é proibir o desenvolvimento, produção, estocagem e emprego das armas químicas, bem como o uso de gases tóxicos e métodos biológicos em guerra. A exceção é a utilização de gás lacrimogênio para conter revoltas e tumultos, medida considerada pacificadora.

Mas – e sempre há um mas – em outubro de 2002, com relutância, o Pentágono confessa a realização de testes a céu aberto sobre embarcações no Pacífico e sobre o Alaska, o Havaí, a Flórida e Maryland, de 1962 a 1973. A finalidade, desenvolver defesas contra armas como sarin e VX.

Neste tópico falei, até esse ponto, de guerra química no sentido bélico propriamente dito, isto é, o de confronto entre países ou povos. No entanto, há uma outra destruidora e letal guerra química (e por isso coloquei no plural o título do item), cujo teatro de operações está em todos os países, em praticamente todas as cidades do planeta. Trata-se da drogadição, do uso ilícito de substâncias ou produtos químicos, tão intensamente explorado pelo mundo do crime. O crime organizado, que empresaria o narcotráfico, está conseguindo desconstruir a humanidade e seu projeto humano. Pessoas, famílias e comunidades, como sabemos, ficam reduzidas a menos de nada, posto que não só perdem saúde e bens materiais, porém, mais grave, perdem a própria condição humana, tão demorada e arduamente construída pela natureza. Essa realidade, verdadeira e globalizada, é um fato social e condiciona, também, uma vasta frente de trabalho em Toxicologia, principalmente no que concerne ao estudo e tipificação das conseqüências do uso para a saúde, as alterações no organismo, as formas físicas de tratamento para os distúrbios orgânicos, e as pesquisas laboratoriais para identificação e quantificação dos produtos utilizados.

O risco das catástrofes – a Toxicologia e as mudanças climáticas

Senhoras e senhores, acreditem-me, já há oportunidade para uma cosmotoxicologia. Trata-se do estudo da influência de fatores tanto cosmológicos como meteorológicos (tormentas, borrascas),

fenológicos (manchas solares, eclipses), geológicos (terremotos), etc., sobre a toxicidade das substâncias químicas, por diferentes mecanismos. O assunto é objeto de foco específico, por exemplo, no Capítulo 8. Fatores que modificam a toxicidade, do magnífico livro de Manuel Repetto Jiménez e Guillermo Repetto Kuhn14, no qual, ao lado da Cronotoxicologia, ocupa várias páginas.

O que se deu, por exemplo, na semana passada (agosto de 2010), em boa parte do Sudeste e Sul do Brasil, e na cidade de São Paulo em particular? Predominância de temperaturas elevadas, na marca dos 30 graus, e umidade do ar muito baixa, inferior a 20 por cento. Consequência? Um registrado e grande aumento na morbi-mortalidade por causas respiratórias, sobretudo entre os segmentos mais suscetíveis da população, como crianças, idosos e os já portadores de deficiências respiratórias e cárdio-respiratórias. O mecanismo tem duas vias: numa, tais condições climáticas favorecem o acúmulo de poluentes da atmosfera com elevação de suas concentrações; noutra, a baixa umidade do ar inalado prejudica a fisiologia respiratória, expondo muito mais a todos nós aos agressores ambientais. Fica, então, fundada a relação, desde muito cedo intuitivamente percebida, entre fatores e condições climatológicas e toxicidade de poluentes químicos. Aliás, não é por outro motivo que tão zelosa e cuidadosamente controlamos em nossos laboratórios experimentais a temperatura, a umidade, os fotoperíodos, etc. Ademais, desde um ponto de vista um pouco mais filosófico e transcendental, reconhecer essas inexoráveis relações entre fatores cosmológicos, geológicos, e outros, e as boas fisiologia e toxicologia, nos traz o benefício de explicitar nosso status humano, biológico e limitado, obedecentes que devemos ser das regras da natureza e suas máximas. Uma das mazelas que vivemos hoje, adquirida com o cientificismo da modernidade, é a desbiologização de nossa essência e a crença de que construiremos e viveremos num mundo artificial, muito conveniente ao consumismo supercapitalista. Tolice estapafúrdia.

O incremento da precisão analítica – a Toxicologia Analítica

A Toxicologia Analítica labuta com a detecção

14 Manuel Repetto Jiménez, Guillermo Repetto Kuhn. Toxicología Fundamental. 4ª. ed. Barcelona: Diaz de Santos, 2009. p. 354-363. (ISBN: 978-84-7978-898-8)

Artigo Original 15

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 17: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

do agente tóxico ou com a determinação de algum parâmetro relacionado à exposição. Ela processa a análise de fluidos e matrizes, como: fluidos orgânicos, alimentos, ar, água, solo, sedimentos. Tem por objetivo reconhecer, diagnosticar e/ou prevenir intoxicações.

Um laboratório de Toxicologia Analítica (ou Análises Toxicológicas) pode, por exemplo, estar preferencialmente voltado para a área forense (ocorrências policiais/legais), ou para o monitoramento terapêutico (determinação de fármacos em material biológico, correções de doses, efeitos adversos), ou para o monitoramento biológico e químico (exposições ocupacionais e ambientais), ou para o controle antidopagem (competições esportivas), ou para o diagnostico de intoxicações agudas ou crônicas, ou para a vigilância da farmacodependência (drogas psicoativas).

Hoje, os métodos analíticos são cada vez mais exatos, precisos e sensíveis, e requerem domínio da análise instrumental. Por isso, um laboratório de Toxicologia Analítica, seja com a finalidade que for de aplicação do conhecimento toxicológico, solicita a atuação de profissionais de diversas formações não só nos diferentes escopos da própria Toxicologia como também oriundos de distintas graduações, sobremaneira Farmácia e Química.

Assim, as análises toxicológicas constituem, indubitavelmente, um campo de permanente avanço e largo horizonte para a Toxicologia e sua prática profissional tanto pelos aspectos de demanda da própria informação toxicológica e sua aplicação prática, orientadora ou legal, como, ainda, pelo fato de a inovação tecnológica pela eletrônica, pela óptica, pela informática e pela nanotecnologia, abrirem possibilidades analíticas inimagináveis de realização, comparação, checagem, registro, divulgação e informação instantâneas, etc.

A Toxicologia como tema de Saúde Pública

Por tudo que se mostrou, a Toxicologia ganha ares definitivos de ferramenta de Saúde Pública. Não se percebe como seria possível ensinar ou fazer Saúde Pública sem um profundo envolvimento da Toxicologia e, principalmente, de seu casamento estável e duradouro com a Epidemiologia, formando o que muitos denominam de Tóxico-epidemiologia.

No campo da Toxicologia Ambiental, que se

é toxicologia é também um dos aspectos centrais da Saúde Pública, as exposições de grupos populacionais a poluentes químicos, via compartimentos ambientais, tende sempre a adquirir caráter crônico, isto é, de longa duração, de forma insidiosa, que é o contrário da espalhafatosa exposição aguda com intoxicação já aparente. A principal característica da exposição crônica é ser silenciosa – aliás, nome tão bem escolhido por Rachel Carson em seu emblemático livro Primavera Silenciosa, de 1962.

Mas também no que respeita aos medicamentos, alimentos e mesmo à questão da dependência e drogadição, por serem temas centrais de preocupação em Saúde Pública, ou pelo menos nas políticas se Saúde Pública competentes, a Toxicologia se faz presente, constituindo-se em insumo para formulações de estratégias e decisões.

As Ciências Toxicológicas

Esta ciência original, a Toxicologia, mercê da amplidão do desenvolvimento químico e econômico da humanidade, segmentou-se em muitos campos distintos e, também, diferentes formas de realização, a tal ponto de agora podermos falar em ciências toxicológicas, especialidades diversas conforme suas ópticas e protocolos, mas todas com a genealogia comum daquele estudo dos efeitos tóxicos (isto é, da intoxicação) de uma substância química, consoante os ditames das relações dose-efeito e dose-resposta.

E como fatos e resultados são produzidos por seres humanos, os avanços do conhecimento e sua qualidade dependem do capital humano disponível e preparado, quanto ao Brasil urge que se dê uma palavra relativamente ao ensino da Toxicologia. Parece que ainda prevalece entre nós a disciplina Toxicologia, em algumas versões, obrigatória apenas no currículo mínimo do farmacêutico. Em outras formações profissionais ou ela é optativa, ou está na grade de cursos de pós-graduação, ou simplesmente não existe. É bandeira muito antiga, minha pessoalmente, de todos nós que aqui nos encontramos, da Sociedade Brasileira de Toxicologia, o ensino obrigatório da matéria em quase todas as formações da área de saúde, além, obviamente, de suas noções fundamentais nos cursos de química e de engenharia química. Devemos prosseguir incansavelmente nesse apostolado, cujo intuito final é aumentar os níveis de segurança das populações em seu indispensável embate com os produtos químicos. Mas, além do

Artigo Original 16

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 18: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

espraiamento do ensino obrigatório da Toxicologia a todas essas formações acadêmicas apontadas, é imperioso ainda que se discuta e avalie de que forma a Toxicologia está sendo ensinada, principalmente quanto à gênese do conhecimento toxicológico, aos modelos técnico-políticos de predição, avaliação e gerenciamento do risco, em todas as suas áreas, e à questão indissociável da discussão ética da aplicação do conhecimento toxicológico. Um bom começo para o debate, no caso específico dos cursos de Farmácia, que trazem a Toxicologia e as Análises Toxicológicas em seu bojo profissional, é o cuidadoso e verossímil artigo do professor Eustáquio Borges, de análise do currículo educacional do farmacêutico, recentemente publicado.15

Conclusão

Senhoras e senhores, estamos todos reunidos numa elegante e merecida cerimônia que celebra de forma nobre o trigésimo aniversário do respeitado CIAVE. Nisso também está presente – e a vemos – a linha do tempo. Há trinta anos nascia o Centro, com a mesma energia de hoje ainda presente, pelas mãos, corações e cérebros de alguns toxicólogos, tendo à frente entusiastas como o professor Eustáquio Linhares Borges, o médico Luiz Augusto Galvão, a sempre ímpar e querida doutora Daisy Schwab Rodrigues, o próprio doutor Daniel Santos Rebouças, que, segundo me narrou, foi da turma do primeiro curso, e desde então se apaixonou pela atividade e hoje é o competente Diretor do Centro. Quantos profissionais nele não se formaram ao longo desse tempo, como o doutor Juscelino Neri, e quantos não foram os cursos de preparação zelosamente organizados e conduzidos por Daisy e pela doutora Ana Teles? Eis uma página

real e valorosa da história da Toxicologia no Brasil. Naquele início, quantos centros existiriam? Lembro-me apenas dos de São Paulo e Rio Grande do Sul. Hoje devem ser quase quarenta pelo país, segundo consta na página da Sociedade Brasileira de Toxicologia16, e nessa evolução também representou papel marcante o CIAVE, sempre interagindo com os demais e tornando-se modelo e referência para os mais novos.

De que forma eu poderia arrematar essa atabalhoada fala? Talvez seja mais simples do que pareça, salvaguardada a questão do mérito: onde há o ser humano que somos e conhecemos, há e haverá a química e, portanto, há e haverá a Toxicologia. É simples, mas não simplista. Enquanto crescer e se diversificar a produção industrial, enquanto crescer o consumo e crescerem as atividades e práticas humanas, haverá o risco toxicológico – e toda a ciência que disso deriva, procurando desmascará-lo e controlá-lo. A Toxicologia, como outras áreas da saúde, traz uma contradição interessante em si: seu êxito significa a desaparição da causa, isto é, do risco e da doença tóxica. O mais elevado sentimento de todo toxicólogo ético e sério só pode ser querer ficar desempregado..., não por conta de falta de oportunidades, ou de políticas públicas honestas que as produzam, mas por falta do fato toxicológico. Seguras serão as sociedades em que não houver o risco tóxico. Como estamos muito longe disso, e parece que cada vez mais nos afastamos desse bem-desejado Nirvana, vai nossa Toxicologia ganhando musculatura, ganhando projeção, ganhando até o noticiário diário, em todas as suas áreas. Como me foi pedido, eu destaquei dentre muitas aquelas que me parecem mais efervescentes nesse futuro que começa hoje.

Muito obrigado

15 Borges, Eustáquio Linhares. Ensino Farmacêutico: Uma Reflexão Crítica e Suas Possibilidades no Brasil do Século XXI. Revinter - Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, V.3, N.1 Nov/Fev 2010.(http://www.intertox.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=291&Itemid=169&lang=br)16 Centros de Toxicologia: http://www.sbtox.org.br/pages/item02.php?menu_id=20 acesso em 28/08/2010.

Artigo Original 17

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 19: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Caracterização da Mutagenicidade de extratos aquosos e orgânicos de lodos tratados de cinco estações de tratamento de esgoto (ETE)

localizadas no Estado de São Paulo

Fábio Kummrow - Departamento de Ciências Farmacêuticas da

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Av. Prof. Artur de Sá,

S/N, 50740-021 – Recife - PE, Brasil. E-mail: [email protected]

Renata S. L. Martins - Instituto de Pesquisas Energéticas e

Nucleares - IPEN, Av. Prof. Lineu Prestes, 2242, 05508-000, São

Paulo-SP, Brasil;

Camila M. Lelis – Curso de Especialização em Qualidade e

Produtividade - Fundação Vanzolini, Av. Prof. Luciano Gualberto,

travessa 3, 380, 05508-970, São Paulo-SP, Brasil.

Célia M. Rech - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo -

CETESB, Av. Prof. Frederico Hermann Jr., 345, 05459-900, São Paulo

- SP, Brasil.

Marcus E. M. da Matta - Faculdade de Medicina da Universidade

de São Paulo - USP, Av. Dr. Arnaldo, 455, 01246-903 - São Paulo - SP,

Brasil.

Gisela A. Umbuzeiro - Faculdade de Tecnologia da Universidade

Estadual de Campinas, UNICAMP, Rua Paschoal Marmo, 188, 13484-

332 - Limeira, São Paulo - SP, Brasil.

C ompostos mutagênicos podem estar presentes nos diferentes tipos de efluentes recebidos pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) ou serem formados

durante o processo de tratamento. O lodo gerado, mesmo após digestão pode conter quantidades variadas desses compostos, que tem estrutura química e toxicologia muitas vezes desconhecida. Para conhecimento da periculosidade dessas amostras é essencial a sua avaliação por meio de testes de mutagenicidade. O teste de Salmonella/microssoma, também conhecido como teste de Ames, vem sendo o ensaio mais amplamente utilizado para avaliar amostras ambientais. Suas principais vantagens são: a sensibilidade, simplicidade, rapidez e custo relativamente baixo, quando comparado com ensaios de mutagenicidade com roedores. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar a mutagenicidade de amostras de lodos tratados gerados em cinco ETE localizadas no Estado de São Paulo por meio do teste Salmonella/microssoma em duas campanhas de amostragem. Extratos orgânicos (diclorometano/

metanol) e aquosos das amostras de lodo foram testados usando as linhagens de S. typhimurium TA98 e TA100 que detectam diferentes tipos de compostos mutagênicos. Os testes foram realizados na presença e na ausência de ativação metabólica (mistura S9), simulando parte da metabolização que ocorre no fígado dos mamíferos. Os extratos aquosos das amostras apresentaram resultados negativos para o teste. Para os extratos orgânicos pelo menos uma amostra de cada ETE apresentou atividade mutagênica. Os valores máximos foram obtidos para a TA98, 88 e 250 rev./mg de MOE na presença e na ausência de S9 respectivamente. Os dados obtidos foram comparados com solos urbanos da região metropolitana de São Paulo e com dados de solo de diferentes cidades. Os dados demonstram que a mutagenicidade das amostras de lodo variaram de acordo com as ETE e com as diferentes campanhas, fato que pode estar relacionado com as diferenças nas características dos efluentes tratados nas ETE e/ou ao tipo de tratamento aplicado.

Resumo

Palavras-chave: Lodo de esgoto, mutagenicidade, teste Salmonella/microssoma

Artigo Original 18

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 20: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Mutagenic compounds can be present in the several types of effluent that are treated by Sewage Treatment Plants (STPs) or they can be formed during

the treatment process. The sludge generated in this process can contain, even after treatment, variable amounts of these compounds, with chemical structure and toxicological properties sometimes unknown. In order to learn about the toxicity of these samples it is necessary to evaluate them using mutagenicity assays. The assay Salmonella/microsome, also known as Ames test, has been the most applied assay to evaluate environmental samples. The main advantages are simplicity, sensitivity, relative low cost when compared to assays performed with rodents. The objective of the present work was to characterize the mutagenicity of treated sludge samples produced by 5 different STPs located in São Paulo State using the Salmonella/microsome assay in two sampling

Abstractcampaigns. Organic extracts (dichloromethane/methanol) and aqueous extracts of sludge samples were tested with the strains of S. typhimurium TA98 e TA100 which are able to detect different types of mutagens. The assays were performed in the absence and presence of metabolic activation system (S9), simulating rodent liver activity. The aqueous extracts presented negative responses. For the organic extracts, at least one sample of each STP showed a positive response. The maximum potencies obtained with TA98 were 88 e 250 rev./mg of EOM in the absence and presence of S9 respectively. Potencies were compared to the mutagenicity of urban soils collected in protected areas of the metropolitan São Paulo region and with soils from other cities. The mutagenic activity of the sludge samples varied according the STPs and the sampling period, what could be related to the characteristics of the treated effluents and/or the type of treatment.

Key words: Sewage sludge, mutagenicity, Salmonella/microsome assay

Artigo Original 19

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 21: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Introdução O lodo gerado em ETE é rico em nutrientes essenciais e matéria orgânica podendo ser utilizado como fertilizante ou condicionador de solos, porém o mesmo pode conter também uma grande variedade de compostos tóxicos, além de patógenos (BARBOSA; TAVARES-FILHO, 2006; SINGH; AGRAWAL, 2008). Nesse contexto é necessário o desenvolvimento de estratégias adequadas para a avaliação da sua periculosidade. No Brasil, a Resolução CONAMA N° 375 (BRASIL, 2006), define os critérios para a utilização agrícola de lodos gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário, não sendo aplicada a lodos de origem industrial. Porém é importante lembrar que raramente os sistemas urbanos de coleta e tratamento de esgotos transportam somente esgoto doméstico. Efluentes industriais, águas pluviais e outros tipos de águas residuárias são freqüentemente tratados nas mesmas ETE (SINGH; AGRAWAL, 2008). Além disso, os efluentes domésticos podem conter grande variedade de produtos domissanitários, praguicidas de uso doméstico, solventes, medicamentos, entre outros, que se não tratados adequadamente podem ser transferidos tanto para a fase líquida ou sólida resultante do processo de tratamento (SCHOWANEK et al., 2004; SINGH; AGRAWAL, 2008).

Os compostos químicos constituem um grupo de interesse e devem ser constantemente monitorados, em função dos riscos ao homem, aos animais e as plantas associados a sua presença no lodo. Normalmente esses compostos são divididos, para fins de estudo, em metais e compostos orgânicos (ROCHA; SHIROTA, 1999). A presença dos metais tem recebido grande atenção, particularmente porque esses não são degradados e quando o lodo é utilizado por longos períodos, como fertilizante em solos agrícolas, a sua presença pode comprometer a produtividade da área e a segurança dos alimentos nela produzidos (FJÄLLBORG; GUSTAFSSON, 2006).

Em lodo compostado, de estações de tratamento de esgoto doméstico instaladas no Brasil, os metais Fe, Mn, Cu, Cd, Co, Cr, Ni e Pb são frequentemente encontrados (PÉREZ et al., 2007).

Devido a grande variedade de classes de compostos orgânicos e seus respectivos produtos de transformação biótica e abiótica passíveis de serem encontrados nos lodos, é necessários que uma lista de compostos prioritários seja definida. Cada país, ou região deve definir os seus compostos prioritários em função do uso, presença nos lodos, persistência e grau de toxicidade. Na União Européia e nos Estados Unidos da América estão sendo considerados como prioritários, entre outros, os seguintes compostos ou classes de compostos: bis(dietilhexil)ftalato (DEHP), dibenzo-p-dioxinas policloradas e furanos (PCDD/Fs), nonilfenóis (NP), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), bifenilas policloradas (PCBs), alquilbenzenos sulfonados lineares (LAS), nitrosaminas e praguicidas (ABAD et al., 2005; HARRISON et al., 2006; LATURNUS et al., 2007).

A ecotoxicidade de resíduos tais como o lodo de esgoto, pode ser estimada por meio de análises químicas e bioensaios (WILKE et al., 2008). É muito difícil avaliar a toxicidade do lodo apenas com base na determinação química de poluentes prioritários, e por isso o uso de bioensaios se torna necessário (KAPANEN; ITÄVAARA, 2001). Devido à variedade da composição química dos efluentes tratados nas ETE existe grande possibilidade de que compostos genotóxicos e/ou mutagênicos estejam presentes no lodo (MATHUR et al., 2007). Entre as alternativas para avaliação de genotoxicidade, o teste de Salmonella/microssoma vem sendo o mais amplamente utilizado para analisar amostras ambientais, por exemplo, para solos 37,6 % dos estudos disponíveis na literatura utilizam esse teste

Artigo Original 20

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 22: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

(WHITE; CLAXTON, 2004). Entre os motivos que tornam esse teste tão freqüentemente utilizado estão: a sua sensibilidade, simplicidade, rapidez e custo relativamente baixo, podendo ser utilizado para testar amostras de resíduos sólidos, solos, lodos de esgoto e sedimentos, entre outros tipos de amostras (KAPANEN; ITÄVAARA, 2001; MATHUR et al., 2007). Mathur et al. (2007) sugerem que o teste

Salmonella/microssoma seja aplicado como um teste inicial de triagem para avaliar a possibilidade da aplicação do lodo em solos. Nesse contexto o objetivo desse trabalho foi caracterizar a mutagenicidade de amostras de lodos tratados gerados em cinco estações de tratamento, localizadas no Estado de São Paulo, por meio do teste Salmonella/microssoma em duas campanhas de amostragem.

Metodologia2.1. Amostragem Foram selecionadas 5 ETE que utilizam diferentes processos de tratamento bem como estão inseridas

em bacias hidrográficas distintas, o que contribui para as diferenças entre os lodos gerados por cada uma delas. ETE PCJ-1 – trata esgoto urbano e industrial, principalmente de indústrias têxteis e tinturarias. ETE PCJ-2 – trata aproximadamente efluente 40% urbano e 60% industrial (indústrias de fiação, compensado, alimentos e bebidas). ETE AT-1 – trata esgoto urbano de região metropolitana de São Paulo. ETE AT-2 – trata esgoto urbano de várias cidades e efluentes industriais (indústrias químicas, de medicamentos, metalúrgica e de corantes) em proporções variadas. ETE SG – trata esgoto predominantemente urbano e efluentes industriais pré-tratados. As principais características dos processos de tratamento das ETE estudadas estão descritas na Tabela 1.

Além das amostras de lodo foram coletadas 3 amostras de solo urbano da região metropolitana da São Paulo, em áreas protegidas (SU-1, SU-2 e SU-3). Nas duas campanhas de coleta realizadas as amostras de lodo e solo foram coletadas com o auxílio de uma pá, o material coletado foi acondicionado em sacos plásticos atóxicos, o transporte foi realizado à temperatura ambiente e o armazenamento a 4 ºC.

2.2. Preparo das Amostras Foram preparados extratos aquosos

(solubilizados) e extratos orgânicos tanto das amostras

de lodo como de solo. Todas as amostras foram processadas antes do prazo de 14 dias visando garantir a sua integridade. Os extratos aquosos foram obtidos através do procedimento descrito por Matthews e Hastings (1987) com pequenas alterações. Foram pesadas 100 g de amostra de lodo “in natura” e a ela adicionada 400 mL de água ultra pura. O solubilizado foi disposto em recipiente de polietileno e submetido à agitação em “Tumbler” (45 rpm) durante 22 horas. Após agitação, a solução foi centrifugada por 30 minutos a 3500 rpm e posteriormente, filtrada em microfibra de vidro AP20 (Millipore).

Artigo Original 21

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 23: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Para obtenção dos extratos orgânicos as amostras foram secas a temperatura de 45 ºC. em estufas com sistema de exaustão apropriado. A umidade da amostra (%) foi calculada pela diferença entre o peso inicial e após a amostra ter atingido peso constante na etapa de secagem. Após secagem todas as amostras foram trituradas manualmente com auxílio de grau e pistilo e 50 g transferidas para um béquer contendo 150 mL de solução de diclorometano/metanol (DCM/Met) (2,5:1 v/v). Essa mistura foi ultrasonicada por 10 minutos e o sobrenadante transferido para um erlenmeyer. Este procedimento foi repetido mais duas vezes e então, os extratos combinados foram filtrados em membrana de teflon de 0,5 µm (Millipore). O filtrado foi completamente seco em evaporador rotatório a 45 ºC, resuspendido em 50 mL de DCM/Met (2,5:1 v/v). O protocolo de extração das amostras que continham alto teor de matéria orgânica foi alterado de modo que se evitasse uma possível saturação da solução extratora.

Alíquotas dos extratos necessárias para execução do teste foram separadas e volumes adequados de Dimetilsulfóxido (DMSO) foram adicionados. A retirada dos solventes DCM/Met foi realizada através da secagem em fluxo lento de nitrogênio gás.

2.3. Teste Salmonella/ microssoma

Foram empregados os métodos denominados direto (para os extratos aquosos) e em pré-incubação (para os extratos orgânicos) com as linhagens de Salmonella typhimurium TA98, TA100 com e sem ativação metabólica (mistura S9). Em alguns testes a TA100 foi substituída pela sua derivada YG1042, que apresenta maior sensibilidade para nitro e aminas aromáticas (HAGIWARA et al., 1993). Foram realizados experimentos dose resposta e foram incluídos controles negativos e positivos em cada ensaio. As doses foram testadas em triplicata. O método direto foi realizado de acordo com o protocolo descrito pelo Coriel Institute for Medical Research (1986). Nesse método doses máximas de 2 mL de extrato aquoso são testados por placa .O protocolo de pré-incubação empregado foi realizado de acordo com Umbuzeiro e Vargas (2003). Nesse caso a dose máxima testada foi de 500 mg equivalentes de lodo por placa. Os resultados dos testes foram analisados estatisticamente utilizando-se o programa Salanal e os resultados obtidos foram expressos em revertentes/mg de matéria orgânica extraída (MOE) e também em revertentes/g equivalente de lodo em base seca.

Resultados e Discussão Nesse trabalho foram utilizadas as linhagens de S. typhimurium TA98 e TA100 na ausência e presença do sistema de ativação metabólica S9, as quais detectam compostos químicos que causam mutações do tipo deslocamento no quadro de leitura e substituição de pares de bases no DNA, respectivamente. A combinação dessas duas linhagens vem sendo a mais empregada para a avaliação da mutagenicidade de amostras ambientais (WHITE; CLAXTON, 2004), devido a sua comprovada sensibilidade na detecção da maioria dos mutágenos ambientais (HOPKE et al., 1982). Essas linhagens são muito sensíveis aos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), nitroarenos e aminas aromáticas, agentes alquilantes, aldeídos e alguns metais (WHITE; CLAXTON, 2004), compostos estes já encontrados em amostras de lodo de esgoto.

Para os extratos aquosos testados em doses máximas de 2 mL, as amostras da primeira campanha foram negativas, mas foram observados indícios de mutagenicidade para as amostras coletadas na ETE AT-2. Na segunda campanha foram observados também apenas resultados negativos, porém a amostra coletada na ETE AT-2 apresentou toxicidade aguda para a linhagem TA98 na ausência e na presença de S9, não permitindo a

Artigo Original 22

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 24: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

observação de um possível efeito genotóxico. Já para os extratos orgânicos, pelo menos uma amostra de cada uma das ETE estudadas apresentou resultados positivos, provavelmente devido a concentração que ocorre durante o processamento da amostra (Tabela 2). A amostra da segunda campanha da ETE AT-2 apresentou as maiores potências mutagênicas, 88 e 250 rev./mg de MOE para a linhagem TA98, na ausência e presença de S9 respectivamente. Esta amostra foi justamente a que apresentou indícios de mutagenicidade quando extratos aquosos foram avaliados. Para a TA100 os resultados foram negativos exceto quando sua derivada YG1042 foi utilizada. Nesse caso, as maiores potências observadas foram 40 e 18 rev./mg de MOE, na ausência e presença de S9 respectivamente, para amostra da segunda campanha da ETE SG (Tabela 2). Observa-se então que os lodos das diferentes ETE podem diferentes tipos de compostos mutagênicos e as potências variam de acordo com as campanhas de coleta e com o as ETE estudadas.

Hopke et al. (1982) observaram resultados negativos quando testaram o sobrenadante de amostras de lodo bruto centrifugado frente às linhagens TA98 e TA100. Já os extratos orgânicos das fases sólidas desses lodos, obtidos com acetona e hexano, apresentaram mutagenicidade, mas somente na presença de ativação metabólica (S9) para ambas as linhagens. Os resultados obtidos no estudo de Hopke et al. (1982) foram similares àqueles obtidos neste trabalho em relação às potências observadas. Com base nesses resultados podemos sugerir que os compostos genotóxicos presentes em amostras de lodo são orgânicos e provavelmente de baixa polaridade tendo em vista que se encontravam principalmente aderidos às partículas sólidas desse material.

Em 1984, também Hopke et al. avaliaram o lodo de ETE de cinco cidades localizadas no estado norte americano de Illinois. Nesse estudo a fração aquosa não foi avaliada e os extratos orgânicos foram

testados integralmente e após fracionamento. As amostras de lodo coletadas nas cidades de Chanpaign, Hinsdale e Kankakee apresentaram atividade mutagênica para a linhagem TA100 na ausência de S9 e essa atividade sofreu drástica redução na presença de S9 demonstrando que os mutágenos sofreram detoxificação por ação do S9. Menor atividade mutagênica foi observada para a linhagem TA98 (HOPKE et al., 1984) o que difere dos dados deste nosso estudo.

Babish et al. (1983) testaram amostras de lodo de 34 cidades norte americanas com o ensaio Salmonella/microssoma utilizando as linhagens TA1535, TA100, TA1538, TA1537 e TA98 na ausência e presença de S9. As amostras foram secas e extraídas com diclorometano. Das 34 amostras avaliadas 33 apresentaram resultados positivos para pelo menos uma das linhagens utilizadas e 12 foram positivas para duas ou mais linhagens. Das amostras positivas 76% necessitaram ativação metabólica (S9) para manifestar sua atividade mutagênica, 18% apresentaram atividade na presença e na ausência de S9 e 6 % apresentaram atividade apenas na ausência de S9. A linhagem que apresentou maior sensibilidade aos mutágenos presentes nessas amostras foi a TA100. Babish et al. (1983) não encontraram associação entre a porcentagem de efluentes industriais tratados nas diversas estações onde o lodo foi coletado com a atividade mutagênica observada. No estudo conduzido por Ottaviani et al. (1993) A amostras de lodos digeridos de ETE, provenientes de cidades italianas, não apresentaram atividade mutagênica para as linhagens TA98 e TA100 na ausência e presença de S9. Aparentemente se haviam mutágenos nessas amostras de lodo a etapa de digestão utilizada foi capaz de inativá-los a níveis em que ensaio não foi capaz de detectar.

No presente estudo, a linhagem TA98 se mostrou a mais sensível. Embora a maior potência tenha sido observada na presença de S9, a maioria das

Artigo Original 23

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 25: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

respostas positivas foi verificada na ausência de S9. Ao contrário dos resultados obtidos por Babish et al. (1983), neste estudo, não foram observadas respostas positivas para a linhagem TA100 (Tabela 2). Para os extratos das amostras em que a linhagem TA100 foi substituída pela sua derivada YG1042 foram observados resultados positivos para duas amostras na ausência de S9 (amostras das ETE AT-1 e SG). Esse dado pode indicar a possível presença de nitro-compostos nas amostras avaliadas, tendo em vista a maior sensibilidade desta linhagem a essa classe química. O lodo coletado na ETE AT-2, que trata efluentes domésticos e de setores indústrias variados, incluindo indústrias químicas, de medicamentos e de corantes, apresentou as maiores potências, resultado que parece estar associado ao tipo de efluentes que são tratados nessa ETE.

As potências das amostras obtidas neste estudo foram comparadas com as potências mutagênicas descritas por White e Claxton (2004), para amostras de solo, em um trabalho de revisão onde foram apresentados valores médios, máximos e mínimos para solos rurais, urbanos e industriais

(Figura 1). Para a linhagem TA98 na ausência de S9 todas as ETE, exceto a AT-1, apresentaram potencias mutagênicas na mesma faixa dos solos urbanos e industriais e a ETE SG apresentou potência inferiores dos solos de referência. Na presença de S9 a amostra da ETE AT-2 apresentou potência na mesma faixa de solos industriais e a amostra da ETE PCJ-1 na faixa dos solos rurais. Os solos de referência avaliados nesse estudo, para a linhagem TA98 na ausência e na presença de S9, apresentaram potências similares aos valores encontrados para solos rurais (White; Claxton, 2004).

Para a linhagem TA100/YG1042 na ausência de S9 as ETE SG e AT-1 apresentaram atividade mutagênica na mesma faixa de potência de solos urbanos (White; Claxton, 2004) (Figura 1). Na presença de S9 as ETE AT-1 e SG também apresentaram atividade mutagênica na mesma faixa de potência de solos urbanos (White; Claxton, 2004). Para os solos de referência não foram observadas respostas mutagênicas na presença de S9 e na ausência sua potência foi compatível com aquelas observadas para os solos urbanos (White; Claxton, 2004).

IM - Indícios de Mutagenicidade; ND: atividade mutagênica não detectada; * - Realizado com YG1042 em substituição a TA100; a - tóxico a partir de 50 mg equivalentes; b - tóxico a partir de 200 mg equivalentes; c - tóxico a partir de 400 mg equivalentes.

rs,detectada.

Artigo Original 24

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 26: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Podemos concluir que a atividade mutagênica das amostras de lodo varia de acordo com as ETE e com as campanhas de amostragem. Essas diferenças podem

estar relacionadas tanto às características dos efluentes tratados nas diferentes estações, bem como devido ao tipo de tratamento/digestão utilizado. Para melhor entender essa variação outras campanhas deverão ser realizadas bem como análises químicas deverão ser conduzidas para se elucidar quais compostos poderiam ser os responsáveis pela atividade mutagênica detectada, especialmente nas ETE onde foram observados as maiores potências mutagênicas (AT-2 e PCJ-1). Apesar de mutagênicas, as potencias observadas estão próximas as da maioria dos lodos testados em outras cidades ao redor de mundo e

FIGURA 1Comparação das médias dos resultados obtidos nesse estudo, por meio do teste Salmonella/microssoma, com os resultados apresentados no artigo de revisão de White e Claxton (2004) para

solos rurais, urbanos e industriais. ND: atividade mutagênica não detectada.

Conclusõesque as de solos de diferentes origens. Também seria importante verificar se efeitos mutagênicos ocorrem também em testes com outros organismos que detectam outros tipos de danos ao material genético como, por exemplo, micronúcleos e quebras cromossômicas.

AgradecimentosOs autores agradecem a Carlos Alberto

Coimbrão, Walace Soares, Áurea Cruz, Mara Gaeta, Samira Issa e Paulo Fernandes Rodrigues que auxiliaram em diferentes etapas deste trabalho inclusive na realização de coletas, preparo de amostras e parte das análises. Este trabalho não reflete necessariamente o ponto de vista da Cetesb e não deve ser tratado como documento oficial da agência.

Artigo Original 25

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 27: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

ABAD, E.; MARTÍNEZ, K.; PLANAS, C.; PALACIOS, O.; CAIXACH, J.; RIVERA, J. Priority organic pollutants assessment of sludges for agricultural purposes. Chemosphere, v. 61, p. 1358-1369, 2005.

BABISH, J. G.; JOHNSON, B. E.; LLSK, D. J. Mutagenicity of municipal sewage sludge of American cities. Environmental Science & Technology, v. 17, n. 5, p. 272-277, 1983.

BARBOSA, G. M. C.; TAVARES-FILHO, J. Uso agrícola do lodo de esgoto: influência nas propriedades químicas e físicas do solo, produtividade e recuperação de áreas degradadas. Semina: Ciências Agrárias, v. 27, n. 4, p. 565-579, 2006.

[BRASIL]. Resolução CONAMA n°. 375 de 29 de agosto de 2006. Define critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências. D. O. U., 2006, 29 ago.

CORIEL INSTITUTE FOR MEDICAL RESEARCH. Ames Salmonella mutagenicity assay protocol. Camden, NJ: Department of Microbiology, CIMR, 1986, p.13.

FJÄLLBORG, B.; GUSTAFSSON, N. Short-term bioassay responses to sludge products and leachate. Archives of Environmental Contamination and Toxicology, v. 51, p. 367-376, 2006.

HAGIWARA, Y.; WATANABE, M.; ODA, Y.; SOFUNI, T.; NOHMI, T. Specificity and sensitivity of Salmonella typhimurium YG1041 and YG1042 strains possessing elevated levels of both nitroreductase and

Referênciasacetyltransferase activity. Mutation Research, v. 291, p. 171-180, 1993.

HARRISON, E.Z., OAKES, S. R.; HYSELL, M.; HAY, A. Organic chemicals in sewage sludges. Science of the Total Environment, v. 367, p. 481-497, 2006.

HOPKE, P.K.; PLEWA, M. J.; STAPLETON, P. L.; WEAVER, D. L. Comparison of the mutagenicity of sewage sludge. Environmental Science & Technology, v. 18, n 12, p. 909-916, 1984.

HOPKE, P.K.; PLEWA, M. J.; JOHNSTON, J. B.; WEAVER, D.; WOOD, S. G.; LARSON, R. A.; HLNESLY, T. Multitechnique screening of municipal sewage sludge for mutagenic activity. Environmental Science & Technology, v. 16, n. 3, p. 140-147, 1982.

KAPANEN, A.; ITÄVAARA, M. Ecotoxicity tests for compost applications. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 49, p. 1-16, 2001.

LATURNUS, F.; von ARNOLD, K.; GRØN, C. Organic Contamination from sewage sludge applied to agricultural soils – False alarm regaeding possible problem for food safety? Environmental Science & Pollution Research, v.14, n. 1, p. 53-60, 2007.

MATHUR, N.; BHATNAGAR, P.; MOHAN, K.; BAKRE, P.; NAGAR, P.; BIJARNIA, M. Mutagenic evaluation of industrial sludge from common effluent treatment plant. Chemosphere, v. 67, p. 1229-1235, 2007.

MATTHEWS, J. E.; HASTINGS, L. Evaluation of Toxicity Test Procedure for Screening Treatability Potencial of Waste in Soil. Toxic. Assess.: Int. Quarterly, v. 2, p. 265-281, 1987.

Artigo Original 26

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 28: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

OTTAVIANI, M.; CREBELLI, R.; FUSELLI, S.; LA ROCCA, C.; BALDASSARRI, L. T. Chemical and mutagenic evaluation of sludge from a large wastewater treatment plant. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 26, p. 18-32, 1993.

PÉREZ, D.V.; ALCANTARA, S.; RIBEIRO, C. C.; PEREIRA, R. E.; FONTES, G. C.; WASSERMAN, M. A.; VENEZUELA, T. C.; MENEGUELLI, N. A.; MACEDO, J. R.; BARRADAS, C. A. A. Composted municipal waste effects on chemical properties of a Brazilian soil. Bioresource Technology, v. 98, p. 525-533, 2007.

ROCHA, M. T.; SHIROTA, R. Disposição final de lodo de esgoto. Revista de Estudos Ambientais, v. 1, n. 3, p. 1-25, 1999.

SCHOWANEK, D.; CARR, R.; DAVID, H.; DOUBEN, P.; HALL, J.; KIRCHMANN, H.; PATRIA, L.; SEQUI, P.; SMITH, S.; WEBB, S. A risk-based methodology for deriving quality standards for organic contaminants in sewage sludge for use in agriculture – Conceptual Framework. Regulatory Toxicology and Pharmacology, v. 40, p. 227-251, 2004.

SINGH, R. P.; AGRAWAL, M. Potential benefits and risk of land application of sewage sludge. Waste Management, v. 28, p. 347-358, 2008.

UMBUZEIRO, G.A.; VARGAS, V.M.F. Teste de mutagenicidade com Salmonella typhimurium (Teste de Ames) como indicador de carcinogenicidade em potencial para mamíferos. In RIBEIRO, L. R.; SALVADORI, D. M. F.; MARQUES, E.K. Mutagênese Ambiental. Canoas: Ed. ULBRA, p. 81-112, 2003.

WHITE, P. A.; CLAXTON, L. D. Mutagens in contaminated soil: a review. Mutation Research, v. 567, p. 227-345, 2004.

WILKE, B. M.; RIEPERT, F.; KOCH, C.; KÜHNE, T. Ecotoxicological characterization of hazardous wastes. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 70, p. 283-293, 2008.

Artigo Original 27

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 29: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Resumo

Carlos E. Santos - Graduando em Farmácia, Faculdade de Farmácia

do Centro Universitário da Bahia. Bolsista do ProUni desde 2007.

Estagiário de toxicologia da Intertox.

Email: [email protected]

Nos últimos anos, o tema botulismo passou a permear os mais diversos campos do conhecimento, num múltiplo panorama de circunstâncias (em ataques biológicos; no uso clínico da toxina botulínica; em cosmiatria; e outros) distinto da antiga conhecida intoxicação alimentar. Como fator de preocupação, as opções terapêuticas atualmente disponíveis para a intoxicação botulínica, se limitam a neutralizar a toxina circulante, sendo que numa intoxicação já estabelecida, apresentam efeito terapêutico pouco significativo. Com os adventos da biotecnologia farmacêutica, como novo campo da farmacologia contemporânea, novos estudos buscam opções terapêuticas mais efetivas no tratamento do botulismo. O presente trabalho apresenta recentes e relevantes pesquisas sobre o tratamento do botulismo, com destaque de modernas abordagens farmacológicas; além de atualizar/discutir informações toxicológicas; as de caráter epidemiológico e as de saúde pública.

Palavras-chave: Botulismo, Clostridium botulinum, ataques biológicos, defesa química/biológica e neurotoxina botulínica.

In recent years, the issue of botulism has begun to permeate the most diverse fields of knowledge, in a multiple view of circumstances (in biological attacks, the clinical use of botulinum toxin, in cosmiatry, and others), distinct from the earliest known food poisoning. As matter of concern, the therapeutic options currently available for botulism, are limited to neutralize the circulating toxin, with an already established poisoning, have hardly therapeutic effect. With advances in pharmaceutical biotechnology as a new field of pharmacology contemporary, new studies seek more effective therapeutic options in the treatment of botulism. This paper presents recent and relevant research on the treatment of botulism, especially in modern pharmacological approaches, and to update / discuss toxicological information, of epidemiological character and public health.

Keywords: Botulism, Clostridium botulinum, biological attacks, chemical and biological defense and botulinum neurotoxin.

Abstract

Botulismo:Revisão dos aspectos toxicológicos e perspectivas terapêuticas. (Parte II)

Artigo Original 28

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 30: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Com os adventos das ciências toxicológicas, o tema botulismo passou a permear os mais diversos campos do conhecimento, como o da toxicologia veterinária; da toxicologia de alimentos; da segurança de medicamentos (relacionado ao uso clínico da toxina); da segurança de cosméticos (uso da toxina em cosmiatria); e da segurança/defesa química (no contexto dos atentados terroristas e da guerra química/biológica). Assim, atualmente, a busca de antídoto eficaz para o botulismo, não está relacionada apenas às intoxicações alimentares, mas ao tratamento do botulismo em outras demais relevantes circunstâncias.

Conforme visto em publicação anterior1, a neurotoxina botulínica (NTBo), produzida pela bactéria gram-positiva Clostridium botulinum, é considerada uma das mais potentes toxinas existentes (Arnon, 2001). A NTBo é sintetizada na sua forma inativa, como cadeia única, e é ativada por uma protease, formando uma molécula de cadeia dupla; uma cadeia leve (50 kDa) e uma cadeia pesada (100 kDa), ambas ligadas por ponte dissulfeto. A cadeia leve é uma enzima zinco-dependente, responsável pela atividade tóxica, e a segunda, atóxica, é responsável pela translocação seletiva da cadeia leve ao citosol da célula nervosa (Moe, 2009; Zangh, 2009; Thanongsaksrikul, 2010).

Segundo Simpsom (2004) apud Boldt (2006), a ação tóxica da neurotoxina botulínica envolveria quatro etapas: (1) a ligação da toxina na superfície do terminal neuromotor; (2) internalização do complexo toxina- receptor para o citoplasma; (3) translocação da toxina dependente de pH; (4) clivagem proteolítica de uma das proteínas do complexo SNARE envolvidas na exocitose, com conseqüente inibição da liberação de acetilcolina, causando a paralisia muscular. Arnon

Introduçãoe col. (2001) já haviam descrito que cada subgrupo de toxina (A-G) possui proteínas-alvo específicas do complexo SNARE, como no caso das toxinas A, C e E que clivam especificamente a SNAP-25 (25 kDa synaptosomal associated protein).

Atualmente, existem antitoxinas disponíveis para a intoxicação botulínica, no entanto, sabe-se que a antitoxina neutraliza apenas a toxina circulante, sem reverter a síndrome quando já estabelecida (Arnon, 2001; Moe, 2009; Zhang, 2009; Roxas-Duncan, 2009;). Sugere-se que o antídoto ideal tenha que ser capaz de alcançar a toxina no citosol do neurônio afetado, restaurando o processo de exocitose, e conseqüentemente, a função sináptica no terminal neuromotor (Zhang, 2009; Thanongsaksrikul, 2010).

O Instituto de Pesquisa Médica da Defesa Química do Exército dos Estados Unidos (United States Army Medical Research Institute of Chemical Defense – USAMRICD) e o Instituto de Pesquisa Médica de Doenças Infecciosas do Exército dos Estados Unidos (USARIID) vêm realizando várias pesquisas em cooperação com universidades daquele país, relacionadas à defesa química, temendo atentados com agentes biológicos, como a toxina botulínica.

Com a união de conhecimentos de toxicologia, farmacologia, biotecnologia, imunologia e química farmacêutica, novas pesquisas afrontam o então conhecido “obstáculo cinético”, a fim de alcançar a toxina dentro do neurônio. O presente trabalho objetiva mostrar recentes e relevantes pesquisas sobre o tratamento do botulismo, destacando modernas abordagens farmacológicas; além de atualizar/discutir informações toxicológicas; as de caráter epidemiológico e as de saúde pública.

Artigo Original 29

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 31: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

A Farmacologia Contemporânea

Afarmacologia contemporânea não está mais relacionada, apenas, aos estudos de relação estrutura-atividade. Ela não se restringe unicamente à descoberta de moléculas

menores compatíveis com receptores, através de técnicas computacionais da química medicinal (muito útil, e ainda considerada moderna); mas no contexto da biotecnologia farmacêutica, com a chegada das modalidades terapêuticas baseadas em proteínas: moléculas cada vez maiores (hormônios, fatores de crescimento, fragmentos de anticorpos e outros), mais específicas e funcionais, que junto à Farmacogenética e Farmacogenômica, constituem as fronteiras da nova Farmacologia.

A produção de modalidades terapêuticas baseadas em proteínas, através de engenharia genética, com a tecnologia do DNA recombinante, vem apresentando vantagens em relação a proteínas de origem biológica animal e humana (ex: soros de origem imunológica e proteínas de origem placentária); viabilidade de produção; pouca imunogenicidade; menor risco de exposição a doenças animais ou humanas a partir de seus respectivos produtos biológicos; e aumento da especificidade (Golan, 2009).

A primeira abordagem terapêutica da engenharia genética, que foi a produção de insulina humana recombinante, obtida pela inserção do gene humano da insulina em Escherichia coli, foi aprovada nos Estados Unidos já na década de 1980. Entre os produtos biológicos, um grande número de proteínas recombinantes para fins diagnósticos e terapêuticos já foi aprovado pela FDA (Food and Drug Administration ) nos últimos anos, como fatores de coagulação, fatores de crescimento, anticorpos (e fragmentos), entre outros1 (FDA, 2010).

No contexto do botulismo, como já destacado anteriormente, as atuais alternativas terapêuticas consistem na administração de antitoxinas disponíveis, que se limitam a neutralizar a NTBo circulante, mas

que estando a síndrome já estabelecida, devido ao tempo de pós-exposição ou da fase diagnóstica, o efeito terapêutico geralmente obtido é pouco significativo, já que as antitoxinas não alcançam a toxina no citosol do neurônio afetado. Ocorrem, com freqüência, reações adversas no tratamento, devido à imunogenicidade do antídoto, como no caso de doença do soro e reação anafilática fatal; além da inviabilidade de uso em larga escala, como no caso de um atentado terrorista biológico (Capková, 2007; Zangh, 2009; Thanongsaksrikul, 2010). Tais fatores justificam a busca de novos antídotos com menor imunogenicidade e maior eficácia.

Derivados do ácido hidroxâmico inibidores da NTBo tipo A

Janda e col. (2007), através de técnicas de ensaio biológico automatizado, high-troughput screening, avaliaram uma quimioteca de derivados do ácido hidroxâmico quanto ao potencial de inibição à NTBo A. O ensaio revelou que o 4-clorocinâmico hidroxamato, com IC50 (Concentração inibitória 50) de 15µM, seria a estrutura mais adequada. A partir desta, os autores realizaram mudanças estruturais e obtiveram uma série de componentes para avaliação da relação estrutura-atividade. Os derivados obtidos do 2,4–diclorohidroxâmico hidroxamato, foram submetidos ao ensaio enzimático FRET-based assay, que examina a atividade enzimática através da intensidade de fluorescência, e mostraram-se, segundo os autores naquela data, o mais potentes inibidores não-peptídicos da NTBo, com IC50 < 1 µM.

Análogos do mercaptoacetamida inibidores da NTBo tipo A

Moe e col. (2009), baseados em estudos de Janda e col. (2006), verificaram a hipótese de que inibidores de metaloproteinases, que agem através de efeito quelante, seriam modelos adequados para o

e as Atuais Perspectivas Terapêuticas para o Botulismo

1 FDA – Produtos biológicos aprovados para uso - 2010:http://www.fda.gov/BiologicsBloodVaccines/DevelopmentApprovalProcess/BiologicalApprovalsbyYear/default.htm

Artigo Original 30

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 32: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

planejamento de inibidores da cadeia leve da NTBo tipo A, já que a mesma é uma enzima zinco-dependente. Partindo da estrutura do princípio ativo do Captopril, (S)-1-(3-mercapto-2-metil-1-oxopropil)-L-prolina, um conhecido anti-hipertensivo, inibidor da ECA (Enzima Conversora da Angiotensina I), planejou-se um modelo de inibidor da toxina tipo A. Os estudos de Relação Estrutura-Atividade (REA) demonstraram que a presença do átomo de enxofre, bem como sua posição na molécula, eram fatores críticos para a atividade inibitória da toxina A. Ao retirar o grupo tiol, e, ao mudar sua posição na estrutura, a atividade ou era abolida ou se tornava 40 vezes menor, respectivamente. Devido aos critérios de facilidade de síntese e os resultados obtidos em estudos de REA, chegou-se à conclusão de que os derivados seriam obtidos a partir da 2-mercaptoacetamida.

No ensaio bioquímico, a toxina (enzima) e o inibidor foram incubados por 30 minutos, antes de se adicionar os substratos, o que representa um importante aspecto a ser discutido (ver seção discussão). Para calcular a atividade inibitória, os autores utilizaram os resultados dos ensaios bioquímicos com substratos fluorescentes, calculando a atividade inibitória através de software.

Segundo os autores, o resultado dos estudos sugeriu que derivados da mercaptoacetamida possuem equipotência na atividade inibitória contra a toxina A, em relação aos derivados do ácido hidroxâmico, estudados por Janda e Col. (2007), que seriam os mais potentes até a referida data de publicação. Os melhores derivados da mercaptoacetamida apresentaram IC50 = 2.4 ± 0.6 µM.

Derivados no quinolinol inibidores da NTBo tipo A

Roxans-Duncan e col. (2009), integrantes do grupo de pesquisa do Instituto de Pesquisa Médica de Doenças Infecciosas do Exército dos Estados Unidos (USARIID), utilizaram tecnologias computacionais para a obtenção de pequenas moléculas inibidoras da cadeia leve da neurotoxina botulínica, para realização de posteriores ensaios enzimáticos, in vivo e ex vivo. Após triagem inicial virtual de moléculas, 100 componentes selecionados foram avaliados em ensaio enzimático, dos quais, apenas 7 inibiram a atividade da NTBo A. O candidato inibidor avaliado como menos tóxico pelos autores, após pesquisa em base

de dados, foi o [7-((4-nitroanilino )(fenil) metil-8-quinolinol], modelo molecular a partir do qual foram sintetizados outros análogos. Dos análogos obtidos, cinco derivados do quinolinol inibiram potentemente a cadeia leve da toxina A, e foram submetidos a ensaios in vivo e ex vivo, utilizando-se células de neuroblastoma e tecido de nervo hemidiafragmático de ratos, respectivamente.

Como na abordagem de Janda e col. (2006), os autores misturaram primeiro a toxina e o inibidor numa mesma solução, expondo à mistura, a cultura e o tecido, e verificando o grau de proteção ao efeito tóxico da toxina. Os cinco análogos inibiram de maneira efetiva a toxina nos ensaios, sendo que um dos análogos apresentou proteção ex vivo a 0,5 µM. Segundo os autores, até a data de publicação, este constituia o mais potente inibidor relatado em ensaio ex vivo.

Drug Delivery Vehicle – DDV

Sabendo que a ineficácia terapêutica da antitoxina botulínica deve-se à incapacidade da mesma de alcançar a neurotoxina no citosol do neurônio do terminal intoxicado, Zhang e col. (2009) desenvolveram o chamado veículo de entrega da droga (Drug Delivery Vehicle - DDV), um composto baseado em proteína, nesse caso, na cadeia pesada da toxina A (recombinant heavy chain ou rHC) – responsável pela entrega da toxina em sua forma natural –, obtido com ferramentas da biotecnologia.

O DDV é composto pela cadeia pesada recombinante da neurotoxina A ou rHC, acoplado ao dextran de 10 kDa, pela fração amino, através do ligador heterobifuncional ou “linker” PDPH ou 3-(2-piridiltio)-propionil-hidrazida (ver Fig. 1). O rHC serve como direcionador alvo-celular específico,

Artigo Original 31

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 33: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Comparando os fragmentos que exibiram os melhores resultados de inibição no Western Blot (VH 15, VH 22 e VHH 17) em um segundo teste, o VHH 17 apresentou maior atividade inibitória (faixa de 73- 92%) que o VH 15 e VH 22 (59% e 64%, respectivamente). A grande capacidade de neutralização do VHH17 é atribuída à longa sequência da CDR3 (Região Determinante de Complementaridade 3), bastante compatível com sítio ativo da enzima/toxina, o qual é normalmente inacessível a outros anticorpos de tamanhos convencionais.

Discussão

Os três primeiros estudos sobre desenho de inibidores, apesar de considerarem a problemática da cinética da toxina, apresentaram em suas respectivas metodologias ensaios para verificar efeito protetor, e não o efeito reparador – capaz de restaurar a função do neurônio e apropriado para uma intoxicação já estabelecida. Nos ensaios bioquímicos e celulares, os autores expuseram primeiro a cadeia leve da toxina A aos inibidores, e posteriormente, verificavam o grau de inibição à toxina nas culturas submetidas à mistura inibidor-toxina (exceção da abordagem 1, que realizou apenas ensaio enzimático). Sendo assim, nos três primeiros estudos, foi avaliada apenas a capacidade de inibição da toxina livre pelos derivados, e a caracterização de efeito protetor às culturas expostas à mistura inibidor toxina. Desta categoria de efeito poderíamos reunir outras dezenas de estudos dos últimos três anos, mas avaliaríamos apenas uma cansativa seqüência de resultados de IC50.

Nos dois últimos estudos (DDV e VH/VHH), com as modalidades terapêuticas baseadas em proteínas, no entanto, almejava-se o efeito restaurador. A cultura era primeiro exposta à cadeia leve da toxina, sendo internalizada pelas células, e posteriormente, adicionava-se a molécula terapêutica (ou veículo), avaliando-se a capacidade do inibidor de alcançar a toxina no citosol, sendo portanto, estes ensaios, de avaliação de efeito restaurador.

Figura 2. Grau de inibição à cadeia leve da toxina botulínica A (LC/BoTx A) de cada uma das formas de VH/VHH produzidas, determinado através de Western blot. VH 15, VH 22 (Lane 4 e 8) e VH 17 (Lane 5) inibiram eficientemente a hidrólise de SNAP-25 exposta a 1 nM de LC/BoTx A. Lanes 1 e 2, correspondem às faixas dos controles negativo e positivo, respectivamente. (Adaptado de Thanongsaksrikul, 2010.)

promovendo a internalização do complexo pelos neurônios sensíveis à toxina A; e o dextran como uma plataforma de entrega de agentes terapêuticos específicos para o citosol da célula-alvo.

Para verificar a internalização do complexo e a liberação do dextran no citosol dos neurônios, os autores utilizaram culturas de neurônios de medula espinhal de camundongos, usando um composto OG-488 ligado ao dextran, observando a intensidade de fluorescência através de microscopia confocal. Os resultados sugeriram que o DDV é internalizado pelo mesmo receptor da toxina botulínica, via endocitose, ocorrendo a liberação do dextran para o citosol. Este processo foi dependente do grau de maturação das células, sendo que o nível de liberação da droga modelo foi de até 40% em células com grau de maturação de três semanas.

Heavy chain antibody fragment – VH/VHH Com o conhecimento de que fragmentos de anticorpos possuem relativa estabilidade e alta capacidade de penetração tecidual, devido ao pequeno tamanho (~ 15-20kDa), e, considerando também que, em diferentes estudos, domínios variáveis de cadeia pesada de anticorpos (VH) de origem camelídea mostraram-se potentes inibidores enzimáticos, Thanongsaksrikul e col. (2010), do Instituto de Pesquisa Médica da Defesa Química do Exército dos Estados Unidos (United States Army Medical Research Institute of Chemical Defense – USAMRICD), construíram, por meio de ferramentas da biologia molecular, o fragmento de cadeia pesada de anticorpo (heavy chain antibody fragment – VH/VHH) específico para toxina botulínica tipo A. Foi feita extração do RNA de células B do sangue periférico de camelo não-imune (Camelus dromedarius), e através de transcrição reversa, obtiveram-se seqüências de DNA complementar (DNAc) que codificavam o domínio variável das imunoglobulinas. Os subtipos de fragmentos de imunoglobulina obtidos neutralizaram em diferentes escalas a atividade da neurotoxina em SNAP-25. (fig. 2)

Artigo Original 32

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 34: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Aspectos epidemiológicos

No Brasil, o botulismo já era doença de notificação compulsória (Portaria GM/MS n° 1943, de 18 de outubro de 2001), e, tendo em vista sua gravidade, apenas um caso já é considerado surto e emergência de saúde pública (Ministério da Saúde, 2006). Foi implantado, em 2002, o sistema de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmitidas por Alimentos (VE – DTA), no qual notificações, incluindo casos de botulismo alimentar, são feitas em nível municipal, estadual e federal, e com atribuições específicas às secretarias e outros órgãos participantes. Atualmente, surge nova portaria do Ministério da Saúde (Portaria n° 2472, de 31 de agosto de 2010), cujo conteúdo se refere à relação de doenças, eventos e agravos à saúde pública de notificação compulsória em território nacional. Quanto ao botulismo, o referido documento normaliza a notificação imediata, em no máximo 24 horas a partir da suspeita inicial, às Secretarias de Saúde (municipal e estadual), as quais deverão informar imediatamente à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS, 2010).

Segundo dados do Ministério da Saúde, foram confirmados e notificados de 1999 a 2008, 41 casos de botulismo no Brasil (MS, 2008). O número de casos de botulismo é ainda relativamente alto nos países desenvolvidos, e consoante dados da Comunidade Européia, foram notificados 1376 casos de botulismo (por causas diversas) nos Estados Unidos de 1997 a 2006 (European Commission Health And Consumers Directorate-General, 2009)2. Tais informações podem sugerir possível quadro de subnofificação no Brasil.

Conforme informações do CDC (Center for

Disease Control and Prevention), entre os casos de botulismo registrados de 1997-2007 nos EUA, de 20

a 50 em cada ano eram relacionados ao “Botulism others”, ou botulismo por outras causas (inclui-se botulismo de feridas, quase que exclusivamente em usuários de um tipo específico de heroína e os casos não-especificados). O número de casos notificados de botulismo alimentar representou aproximadamente o mesmo número de casos da categoria anteriormente citada, sendo os surtos mais comuns provenientes do consumo de conservas caseiras, alimentos fermentados e enlatados. Segundo a mesma fonte, o botulismo infantil é o que possui maior incidência e prevalência naquele país (CDC, 2010)3.

A questão da segurança/defesa química

Atualmente, presenciam-se, ao lado do notável desenvolvimento científico da humanidade, as diversas faces de um uso indevido do conhecimento toxicológico, como os atos terroristas e a guerra em que empregam-se agentes químicos (e microbiológicos). Muitos países têm investido em pesquisas para o desenvolvimento de antídoto para o botulismo, em função das potenciais ameaças de ataques com agentes biológicos.

Segundo Arnon e col. (2010), em um documento intitulado “Botulinum Toxin as a Biological weapon – Medical and Public Health Management”, o Iraque teria admitido às Nações Unidas ter produzido 19 mil litros de toxina botulínica concentrada após a guerra do Golfo, em 1991, o que representaria o triplo da quantidade necessária para matar a população mundial inteira pela via inalatória. Segundo o mesmo documento, já na década de 1930, um grupo japonês teria utilizado culturas de C. botulinum contra prisioneiros na ocupação da Manchúria. O documento, além de relatar o histórico de diversos eventos relacionados ao uso da neurotoxina para fins bélicos, fornece informações de prevenção, controle e descontaminação em casos emergenciais.

2 European Commission - Health and Consumers Directorate-General. Botulism, number of cases 1997-2007. (Acessado em 5 de agosto de 2010). Disponível em: http://ec.europa.eu/health/ph_information/dissemination/echi/docs/botulism_en.pdf3 CDC – Center for Disease Control and Prevention. Summary of notifiable diseases. Botulism, number of reported cases 1987-2007. (Acessado em 5 de agosto de 2010). Disponível em: http://www.cdc.gov/ncphi/disss/nndss/annsum/2007/07graphs.htm

Saúde Pública

Artigo Original 33

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 35: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Embora a disponibilidade de antídotos seguros e efetivos para o botulismo pareça estar próxima, as ações preventivas ainda são a alternativa mais apropriada. Torna-se necessário rever no Brasil três aspectos no contexto do botulismo: (i) a problemática da provável subnotificação de casos – Vigilância Epidemiológica integral; (ii) a questão do pouco interesse das lideranças no país na temática da segurança/defesa química – Segurança Química Nacional; e (iii) o pouco interesse em pesquisa no contexto de antídotos e outros aspectos relacionados ao botulismo.

Embora haja divergência entre os dados epidemiológicos da Comunidade Européia e os dados americanos (CDC), o número de casos de botulismo é relativamente alto nos EUA. Considerando-se que os países desenvolvidos possuem maior qualidade sanitária, econômica, social e científica, com conseqüente efetividade nas ações de vigilância sanitária e epidemiológica; questiona-se, numa amplitude de 9 anos, um número tão inferior de casos registrados de botulismo no Brasil.

Além da suspeita de subnotificação de casos, observa-se que é necessário visualizar o botulismo de uma forma mais contemporânea, em todos seus possíveis cenários e circunstâncias, como no uso de drogas de abuso injetáveis; o botulismo infantil; na cosmiatria; no uso terapêutico da toxina; e outros. Considerando que cada uma dessas circunstâncias de exposição à toxina possui diferentes variáveis, e carecem de medidas de intervenção e controle específicas; torna-se evidente a necessidade de dispor os dados de maneira organizada, almejando-

se conhecer os respectivos perfis epidemiológicos, e intervir por meio de políticas específicas para cada caso.

A ampla discussão de outros países em torno da segurança/defesa química evidencia o real cenário do mundo atual em relação a ataques químicos e biológicos. Como caminho mais sensato, o Brasil deve acompanhar e internalizar o tema da segurança/ defesa química, e apesar de já existir setor de defesa química, biológica e nuclear no país, é necessário contextualizar a defesa nacional harmonicamente com as novas (e constantes) informações toxicológicas de qualidade. A informação toxicológica crível é ferramenta imprescindível para qualquer avaliação de risco, e conseqüentemente, para qualquer medida preventiva ou de remediação, especialmente em um eventual acometimento por ataque químico/biológico. O risco toxicológico deve ser visualizado à altura de sua importância para a saúde pública, em todas suas possibilidades.

O desenvolvimento da toxicologia, da química farmacêutica e da biotecnologia no país demanda maiores investimentos e incentivos. Apesar de algumas intoxicações serem de baixa incidência, aquelas severas que não possuem tratamento, conhecidamente, demandam mais trabalho de manejo e representam custos elevados em saúde, necessitando de maiores investigações quanto ao seu impacto nos sistemas de saúde. A pesquisa de antídotos para o botulismo até o presente momento está ausente de nossas instituições de ensino e da indústria no país.

Considerações Finais

Artigo Original 34

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 36: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

ARNON, S. S.; SCHECHTER, R.; INGLESBY, T.V. [et al.]. Botulinum toxin as a health weapon. The Journal of the American Medical Association, v.285, n.8, p. 1059-1070, 2001.

BOLDT, G. E.; EUBANKS, L. M.; JANDA, K. D. Identification of a botulinum neurotoxin A protease inhibitor displaying efficacy in a cellular model. Chemical Communication, p.3063-3065, 2006.

Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação de Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar. Número de casos de Botulismo 1999-2000. (Acessado em 5 de agosto de 2010). Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/CASOS%20CONF%20BOTULISMO.pdf

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n° 2472 de 31 de agosto de 2010: Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo oterritório nacional e estabelecer fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília, DF, 2010.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual integrado de vigilância epidemiológica do botulismo. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2006.

CDC – Center for Disease Control and Prevention. Summary of notifiable diseases. Botulism, number of reported cases 1987-2007. (Acessado em 5 de agosto de 2010). Disponível em:h t t p : / / w w w . c d c . g o v / n c p h i / d i s s s / n n d s s /annsum/2007/07graphs.htm

CAPKOVÁ, K.; YONEDA, Y.;DICKERSON, T. J.; JANDA, K. D. Synthesis and structure-activity relashionships of second-generation hydroxamate botulimim neurotoxin A protease inhibitors. Bioorganic & Medicinal Chemistry, vol.17, n.23, p. 6463-6466, 2007.

European Commission - Health and Consumers Directorate-General. Botulism, number of cases 1997-2007. (Acessado em 5 de agosto de 2010). Disponível em: http://ec.europa.eu/health/ph_information/dissemination/echi/docs/botulism_en.pdf

FDA- Food and Drug Administration. Celebrating a Milestone: FDA’s Approval of First Genetically-Engineered Product. (Acessado em 01 de setembro de 2010) Disponível em:http://www.fda.gov/AboutFDA/WhatWeDo/History/ProductRegulation/SelectionsFromFDLIUpdateSeriesonFDAHistory/ucm081964.htm

FDA- Food and Drug Administration. Biological Approvals by Year. (Acessado em 01 de setembro de 2010) Disponível em: http://www.fda.gov/BiologicsBloodVaccines/DevelopmentApprovalProcess/BiologicalApprovalsbyYear/default.htm)

GOLAN, D. E. [et. al]. As fronteiras da farmacologia. In: LEADER, B. As bases fisiopatológicas da farmacologia. 2.ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2009. p. 859-875

MOE, T. S.; THOMPSON, A. B.; SMITH, G. M. [et. al.]. Botulinum neurotoxin serotype A inhibitors: small-molecule mercaptoacetamide analogs. Bioorganic & Medicinal Chemistry, vol.17, n.8, p. 3072 - 3079, 2010.

ROXAS-DUNCAN, V.; ENYEDY, I.; MONTGOMERY, V. A.; ECCARD, S. V. Identification and biochemical characterization of small-molecule inhibitors of Clostridium botulinum neurotoxin serotype A. American Society for Microbiology, v. 53, n.8, p. 3478-3486, 2009.

SANTOS, C. E. M. Botulismo: revisão dos aspectos toxicológicos e perspectivas terapêuticas (parte I). Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v.3, n.2, p.21-24, mar/jun, 2010. Disponível em: http://www.intertox.com.br/documentos/v3n2/rev-v03-n02-03.pdf

THANONGSAKSRIKUL, J.; SRIMANOTE, P. [et. al.]. A V

HH that neutralizes the zinc-metalloproteinase

activity of botulinum neurotoxin type A. The Journal of Biological Chemistry, V. 285, p 1-23, 2010.

ZHANG, P.; RAY, R.; SINGH, B. R; DAN, L.; ADLER, M.; RAY, P. An efficient drug delivery vehicle for botulism countermeasure. BMC Pharmacology, v.9, p. 9-12, 2009.

Referências

Artigo Original 35

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 37: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Resumo Abstract

Consumo de Alcoolem uma Comunidade do Cariri Cearense

O objetivo desse trabalho foi verificar a prevalência de alcoolismo em uma comunidade do Cariri Cearense. Foi realizado um estudo exploratório de campo com abordagem quantitativa com uma amostra de 50 moradores do sítio Taquari na cidade do Juazeiro do Norte-Ceará. Os principais resultados revelaram que a população estudada era solteira, do sexo masculino, negros com média de idade de 29,7 anos. Verificou-se que a bebida mais consumida entre os usuários foi os destilados, sendo os homens os maiores consumidores. Diante do exposto, constatou-se que a prevalência de alcoolismo na comunidade é elevada, necessitando de políticas públicas e campanhas educativas com intuito de diminuir o consumo de álcool na comunidade estudada.

Palavras chaves: Alcoolismo. Drogas. Saúde Coletiva. Toxicologia.

Ronner Costa Guedes - Enfermeiro Especialista em Saúde da Família. Faculdade de Medicina do Juazeiro do Norte –FMJ.

Ana Paula Fragoso de Freitas - Enfermeira Especialista em Saúde da Família. Mestranda em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará. [email protected]

Tatiana Cristina Vasconcelos - Doutoranda em Educação pela UFRJ. Docente da Universidade Estadual da Paraíba, Campus, Patos

Gilberto Santos Cerqueira - Mestre em Farmacologia. Doutorando em Farmacologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. [email protected]

Nayrton Flavio Moura Rocha - Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Rogélia Herculano Pinto - Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professor do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco. Vitória do Santo antão.

The aim of this study was to assess the prevalence of alcoholism in a community Cariri Cearense. A study was conducted exploratory field with a quantitative approach with a sample of 50 residents of the site Taquari in the city of Juazeiro do Norte, Ceará. The main results showed that the population was single, male, black with a mean age of 29.7 years. It was found that the most consumed beverage among users was the distillates, men being the largest consumers. Given the above, it was found that the prevalence of alcoholism in the community is high, requiring public policies and educational campaigns aiming to reduce alcohol consumption among the population studied.

Key words: Alcoholism, Drugs, Health Public. Toxicology.

Artigo Original 36

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 38: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

IntroduçãoO álcool etílico ou etanol é a droga lícita mais

utilizada pelo homem, esta é conhecida desde a antiguidade quando se deu o surgimento do vinho no meio social. Os efeitos agudos do álcool no cérebro são comuns aos conhecimentos de todos, seja pela experiência pessoal, seja pela observação da intoxicação em outros indivíduos (RUBIN; FARBER, 2002).

A prevalência mundial do consumo de substâncias psicoativas está aumentando inclusive no Brasil. O abuso e a dependência de drogas ilícitas e licitas ameaçam os valores políticos, econômicos e sociais (SILVA et al., 2006).

O consumo de álcool, tabaco e outras drogas regulamentadas está aumentando e contribuindo de maneira evidente para a carga de doenças em todo o mundo (Lopes et al., 2005). No caso do álcool, embora o nível de consumo nos últimos vinte anos tenha diminuído nos países desenvolvidos, está aumentando nos países em desenvolvimento. Tal indicador é importante para a região da América Latina na medida em que, entre os principais fatores de risco, em termos da carga de enfermidades evitáveis, o tabaco e o álcool continuam no topo da lista nas previsões para os próximos quinze anos (NPSD, 2004).

O consumo de álcool é um dos principais problemas de saúde pública e afeta consideravelmente os setores mais vulneráveis da sociedade, tais como jovens e estudantes, que estão numa fase da vida, quando o risco de se iniciar o consumo de álcool e o tabaco é a mais alta (MATUTI; PILLON, 2008). O alcoolismo é então um problema social e de saúde pública, sendo no Brasil a terceira causa de aposentadorias por invalidez e ocupa o segundo lugar entre os demais transtornos mentais (SILVA, 2002).

O uso do álcool impõe às sociedades agravos que acometem todos os indivíduos (MEIRA; ARCOVERDE, 2010). As conseqüências provenientes do seu uso persuadiram em respostas políticas para o seu enfrentamento, corroborando a importância do assunto num contexto de saúde pública mundial (BRASIL, 2005).

Durante o ano de 2006 observamos o aumento de internações por intoxicação alcoólica e Delirium tremens na cidade do Juazeiro do Norte, Ceará, sendo alguns casos no sitio Taquari nesta cidade. Baseado nessas premissas o objetivo desse trabalho foi verificar a prevalência de consumo de bebidas alcoólicas entre os moradores do sítio Taquari situado na cidade de Juazeiro do Norte-Ceará.

Artigo Original 37

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 39: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Foi realizado um estudo exploratório, transversal, com abordagem quantitativa com indivíduos do sitio Taquari na cidade do Juazeiro do Norte, Ceará. Essa cidade está localizada na região do Cariri Cearense. Para se calcular o tamanho da amostra, utilizou-se a população total de 538 moradores da comunidade e erro amostral tolerável de 5% para possibilitar intervalo de confiança de 95%. Dessa maneira, foi obtida, inicialmente, como amostra ideal para o desenvolvimento deste estudo, um grupo de 50 moradores (OLIVIERA et al., 2005).

O estudo foi realizado nos domicílios das famílias do sitio Itaquari. Os voluntários foram selecionados obedecendo aos seguintes critérios de inclusão: ser morador da região há mais de um ano e não está utilizando álcool durante o dia entrevista.

A coleta de dados foi realizada de no mês de dezembro de 2007 e janeiro do ano de 2008 pelos pesquisadores, utilizado um questionário baseado nos estudos de Freitas, (2006). Antes da aplicação, os indivíduos foram instruídos sobre a natureza voluntária do estudo e lhes foi garantido o sigilo, pelo anonimato. Para tanto foi apresentado a cada participante um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996). Os menores de 18 anos tiveram o TCLE assinado pelos pais.

A análise dos dados foi do tipo descritivo, a fim de identificar a prevalência de alcoolismo. O teste do qui-quadrado (c2) foi aplicado para verificar a associação entre as variáveis estudadas, ao nível de significância de 5%. Foi utilizado para organização do banco de dados o programa de computador “Excel” versão 2003 e como instrumento de análise estatística o aplicativo Graph Pad Prisma versão 5.0. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Santa Maria. Esse estudo não possui nenhum conflito de interesses seguindo os preceitos do conselho nacional de saúde, que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos.

MetodologiaM

etod

olog

iaArtigo Original 38

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 40: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Verificou-se que a maioria dos participantes era do sexo masculino (76%), com faixa etária predominante entre 18 e 24 anos (28%), com idade média de 29,7 anos, em

sua grande maioria solteira (58%), religião católica (94%). Nesse estudo evidenciou-se que 58% dos entrevistados eram da raça negra, esse fato é explicado, pois na região em estudo há uma grande quantidade de pessoas negras.

No que concerne ao estado civil Filizola e colaboradores (2008) estudando o alcoolismo na ilha de Fernando de Noronha, PE observaram que 39,6% dos entrevistados eram alcoolistas. Já Cardim (1986) verificou que no interior de Pernambuco o consumo de bebidas tinha maior prevalência entre casados. Porém, os resultados da tabela 1, mostram uma inversão nos estudos de Cardim para a realidade atual da localidade em estudo, predominando solteiros com 58%, sendo seguido de números menores de casados e concubinatos, aparecendo com 21% para ambos. Sobre o impacto do alcoolismo na família, estudo ressalta que ele afeta toda a família e suas relações, acarretando sérias repercussões sobre os filhos (FILIZOLA et al., 2006).

No que concerne às religiões verifica-se que a católica aparece com maior freqüência, expressando-se com 94%, seguido da evangélica com 6%. De acordo com Silva et. al. (2006), e com base nos resultados encontrados na presente pesquisa, pode-se supor que a religião está agindo de forma protetora ao uso de drogas na população evangélica apresentada. O fato de pertencer então a uma religião onde há uma condenação mais explícita e clara do uso de drogas, como o protestantismo, está associado a um menor uso de substâncias como o álcool o que pode explicar o motivo de os evangélicos absterem-se do uso de bebidas alcoólicas. Borini et al., (1994) verificaram menor uso de álcool (incluindo bebedores discretos, moderados e excessivos) entre os protestantes quando comparadas a outras religiões como os espíritas e católicos.

De acordo com Chaieb e Castellarin, (2007) em seus estudos houve uma predominância não significativa de não-brancos, o que antagoniza os resultados agora encontrados na localidade em estudo e presentes na tabela 1 para a questão cor da pele, onde há predominância de 52% que se consideram de cor negra, 36% que dizem ser de cor branca e apenas 12% afirmam ser de cor parda.

Observou-se que 90% dos participantes na pesquisa consumiram álcool, demonstrando que existe uma diferença estatisticamente significante no consumo de álcool em relação ao gênero, observando o maior consumo entre as pessoas do gênero masculino (Tabela 2). A prevalência do alcoolismo, contudo, mostrou-se bastante elevada (40,3%) na presente amostra de habitantes do sitio Taquari, quando comparada aos demais relatos de dependência alcoólica no Brasil cuja média está em torno de 11,7% (CARLINI, 2006).

Resultados e Discussão

Dados n % Estado Civil Casado 08 21 Solteiro 22 58 Concubinato 08 21 Religião Católico 47 94 Evangélico 03 06 Cor da pele Branco 18 36 Negro 26 52 Pardo 06 12

Artigo Original 39

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 41: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Montoya-Espinosa e colaboradores, (2008) estudando prevalência e fatores associados ao consumo de álcool na Colômbia verificaram uma maior prevalência entre indivíduos do sexo masculino (64.7%), corroborando com os nossos estudos. Outros estudos realizados no Rio grande no Brasil demonstram que o grupo formado por homens fumantes e de baixo nível socioeconômico é mais vulnerável ao abuso e à dependência de álcool (PRIMO; STEIN, 2004). Nossos estudos corroboram com os estudos de Amato e colaboradores, (2008) que verificaram que uma maior prevalência de consumo de álcool entre indivíduos do sexo masculino 30,9%.

em que prevalece o consumo de bebidas alcoólicas é significativamente maior na compreendida entre 17 e 19 anos, sendo que a maior freqüência de experimentação fica entre 10 e 14 anos. Porém, o importante no estudo a ressaltar é que, visualizando a tabela 3, a prevalência aumenta para a faixa compreendida entre 13 a 18 anos, seguida pela faixa entre 19 a 24 anos. O que pode ser explicado, mas ainda não justificado pelas leis que visam diminuir o consumo, aumentando o preço das bebidas, elevando a idade de consumo, delegando quem pode vender, coibindo propagandas, entre outras (SEBASTIÃO, 2005).

O uso do álcool na vida desses sujeitos parece iniciar-se na infância estimulado pelo próprio meio familiar, principalmente pela influência do pai. A importância da roda de amigos aparece, também, como um dos fatores preponderantes para o início do consumo de bebidas alcoólicas, associado, talvez, à necessidade do sujeito impor sua masculinidade frente ao grupo na qual convive. Esses resultados confirmam os dados encontrados com certa freqüência na literatura que assinalam que a família e os amigos são um dos principais motivadores, na vida do indivíduo, para o início do consumo de bebidas alcoólicas (MINAYO, 2004).

Consumo de álcool

Sim Não

n º % nº % X2 p -valor

Masculino 37 74 01 2 9.552 0,002

Feminino 08 16 04 8

TABELA 2 - Consumo de álcool segundo o gênero

Valores significativos p<0,01 pelo do Teste quiquadrado

Idade n %

10- 12 02 5

13 28 62

19 09 20

25 01 02

Não Lembra 05 11

TABELA 3 Idade do primeiro consumo de álcool

As primeiras experiências com o álcool ocorrem no ambiente familiar do sujeito por influência, principalmente, do pai ou um parente próximo e, em geral, acontece por volta dos 10 aos 15 anos de idade. A roda de amigos aparece, também, como um dos possíveis motivos que levariam o sujeito a beber, talvez, como uma maneira de inserir-se no mundo adulto ou, quem sabe, provar sua masculinidade frente ao grupo (NASCIMENTO; JUSTO, 2000).

Alves et al. (2005), concluíram que a faixa etária

Local n %

Bares 25 68

Casa de amigos 08 22

Não lembra 04 11

TOTAL 37 100

TABELA 4 Local da Primeira Embriaguez

Artigo Original 40

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 42: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

No que concerne o primeiro local onde o individuo se embriagou pela primeira vez observou que 68% dos participantes embriagaram-se pela primeira vez em bares 68%, seguido de casa de amigos 22%, enquanto que 11% não se lembraram do primeiro local de embriaguez. Parafraseando Alves et. al. (2005), a maior freqüência de lugares onde há o primeiro contato com bebidas alcoólicas é em bares, tendo as demais localidades uma menor incidência. A Organização Mundial de Saúde (OMS) avalia que 50% dos agravos ligados ao álcool aplicam-se ao uso crônico. Os outros 50% podem ser imputados à embriaguez aguda. Nesta categoria se enquadram aqueles que não são considerados alcoolistas ou consumidores prejudiciais, mas que causaram alguns danos por beber excessivamente (BRASIL, 2004; MOLINA; SOUZA,2010).

Acreditamos que os motivos para o uso do álcool na população do sítio Taquari são atribuídos a estas necessidades de esquecer problemas, o consumo de bebidas alcoólicas atuaria como um mecanismo de defesa e fuga frente às frustrações da realidade com a qual não conseguem lidar satisfatoriamente. Diante do exposto, torna-se necessária elaboração de políticas publicas visando a diminuição do consumo de álcool na região, aliado a isso políticas de combate ao desemprego seriam ferramentas para diminuição desses índices já que a ocupação do tempo associada à melhoria do poder aquisitivo poderia ser uma importante estratégia no combate ao alcoolismo.

Bebida n %

Destilados 45 100

TOTAL 45 100

TABELA 5 - Relação da Bebida mais consumida.

Constatamos que há uma alta prevalência de consumo de bebida alcoólica no sitio Taquari, um dos motivos que leva o esse alto índice é o desemprego já que muitos dos moradores dessa região possuem baixa qualificação profissional exigida atualmente pelo mercado. Impossibilitados de concorrer num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, gradativamente, são impulsionados para a marginalização social ficando desprovidos de qualquer referência social-psicológica incentivando a um maior consumo de álcool o que acaba por impulsioná-lo para a deserção e a solidão, refugiando-se na bebida.

Na tabela 5 podemos verificar que o tipo de bebida mais consumida pelo participante no ultimo mês foram as bebidas destiladas 100% como pinga e caipirinha. Isso se deve ao fato de essas bebidas serem encontradas com facilidade em qualquer local e por preço relativamente baixo, nem mesmo o alto teor alcoólico inibiu o consumo da mesma. Um fato curioso é que 100% dos entrevistados consumiram apenas bebida destilada e até mesmo a tradicional cerveja não foi citada por nenhum dos participantes da pesquisa. Balan e colaboradores (2006) constaram que a bebida mais consumida foi o vinho 47,6%. Diversos estudos demonstram que o consumo de bebida alcoólica é muito variado porém a cerveja é uma das bebidas mais consumida (BRASIL, 2003;FREITAS, 2006).

Considerações Finais

Artigo Original 41

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 43: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

ReferênciasALVES M. V. de Q. M.; COSTA M. C. O.;

SOBRINHO C. L. N.; SANTOS C. A. S. T.; GOMES W. de A.; ASSIS D. R.Uso de bebidas alcoólicas entre adolescentes: Perfil de experimentação, uso regular e fatores de risco. Revista Baiana de Saúde Pública. v.29 n.1, p.91-104, 2005.

AMATO, TC et al. Uso de bebida alcoólica, religião e outras características sociodemográficas em pacientes da atenção primária à saúde - Juiz de Fora, MG, Brasil - 2006. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) , v. 4, n. 2, 2008 . Disponível em:<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762008000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 09 Abr 2010.

BALAN, TG; CAMPOS, CJG. Padrão de consumo de bebidas alcoólicas entre graduandas de enfermagem de uma Universidade Estadual Paulista. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) , Ribeirão Preto, v. 2, n. 2, 2006 .

BORINI P, OLIVEIRA CM, MARTINS MG, GUIMARÃES RC. Padrão de uso de bebidas alcoólicas de estudantes de medicina (Marília, São Paulo): parte 1. J Bras Psiquiatr.43(2):93-103,1994.

[BRASIL]-Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Normas para pesquisa envolvendo seres humanos: (Res. CNS 196/96 e outros). Brasília, DF, 1996.

[Brasil]- Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Álcool e redução de danos: uma abordagem inovadora para países em transição / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 1. ed. em português, ampl. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. [acesso em 16 de out. 2008]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/sas/mental/area.cfm?id_area=852.

[BRASIL] - Ministério da Saúde. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não-transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; 2003.

[BRASIL] - Ministério da Saúde (BR). A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas. Brasília: Ministério da Saúde; 2003.

ARDIM, MS et al . Epidemiologia descritiva do alcoolismo em grupos populacionais do Brasil. Cad. Saúde Pública., Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, 1986.

CARLINI, EA. Epidemiologia do uso de álcool no Brasil. Arq Med ABC. 2006;Suppl 2:4-7.

CHAIEB, J. A.; CASTELLARIN, C.. Association between smoking and alcoholism: initiation into the major human dependencies. Rev. Saúde Pública., São Paulo, v. 32, n. 3, 1998

CERQUEIRA, GS; ARRUDA, VR, FREITAS, APF, OLIVEIRA, TL, VASCONCELOS, TC, MARIZ, SR. Dados da exposição ocupacional aos agrotóxicos em um grupo assistido por uma unidade básica de saúde na cidade de cajazeiras, PB. Revista Intertox de Toxicologia, risco ambiental e sociedade. v 3, n 1:p.16-28, 2010.

FILIZOLA CLA, PERON CJ, NASCIMENTO MMA, PAVARINI SCI, FILHO JFP. Compreendendo o alcoolismo na família. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2006;10(4) 660-70.

FILZOLA, CLA et al . Alcoolismo e família: a vivência de mulheres participantes do grupo de autoajuda Al-Anon. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 58, n. 3, 2009 .

FREITAS, ASL. Perfil do uso de álcool em acadêmicos de enfermagem da cidade de Cajazeiras. Monografia conclusão de curso de graduação em Enfermagem. Faculdade Santa Maria PB. Cajazeiras, PB 2006.

Artigo Original 42

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 44: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

LOPES, GT; LUIS, MAV. A formação do enfermeiro e o fenômeno das drogas no estado do Rio de Janeiro - Brasil: atitudes e crenças. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. spe, p872-879, 2005.

MATUTE, RC; PILLON. Alcohol consumption by nursing students in Honduras. Rev. Latino-Am. Enfermagem v.16 n.supl. p.584-589.2008.

MEIRA, S; ARCOVERDE, MAM. Representações sociais dos enfermeiros de unidades básicas de um distrito sanitário de Foz do Iguaçu, PR, sobre o alcoolismo. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. Ribeirão Preto, v. 6, n. 1, 2010.

MOLINA LML, SOUZA SR. Consumo de álcool na gestação: ações de enfermagem no pré-natal – um estudo bibliográfico. Rev. de Pesq.: cuidado é fundamental Online. jan/mar. 2(1):655-665.2010.

MONTOYA-ESPINOSA, A.; CORRALES, SC; SEGURA, CAM. Prevalencia y factores asociados al consumo de sustancias psicoactivas en estudiantes de secundaria municipio de guatapé antioquia. Investig. andina, Pereira, v. 10, n. 16. 2010. pp. 44-56

OLIVEIRA ELY, FRANCINA, T., GRÁCIO MCC. Análise a respeito do tamanho de amostras aleatórias simples: uma aplicação na área de Ciência da Informação. Rev. Ciência Informação.v 6 (3), 2005.

MINAYO, MCS; DESLANDES, SF. A complexidade das relações entre drogas, álcool e violência. Cad. Saúde Pública. v. 14, n. 1, 1998.

NASCIMENTO, EC; JUSTO, JS. Vidas errantes e alcoolismo: uma questão social. Psicol. Reflex. Crit. , Porto Alegre, v. 13, n. 3, 2000.

Neuroscience of psychoactive substance use and Dependence. Geneva: World Health Organization; 2004.

PRIMO, N. L. N. P.; STEIN, A. T. Prevalência do abuso e da dependência de álcool em Rio Grande (RS): um estudo transversal de base populacional. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul., Porto Alegre, v. 26, n. 3, 2004.

RUBIN, E.; FARBER, J. L.; Patologia. 3ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2002.

SEBASTIÃO Moreira Jr. Textos para Discussão: Regulação da Publicidade das Bebidas Alcoólicas. Brasília, Brasil, n 20, fevereiro, 2005.

SILVA, LVE, RUEDA et al. Fatores associados ao consumo de álcool e drogas entre estudantes universitários. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n. 2, abr. p280-288 2006.

SILVA L. V. E. R.; MALBERGIER A.; STEMPLIUK V. de A.; ANDRADE A. G. de.Consumo de álcool e drogas por universitários. Rev. Saúde de Pública, São Paulo 40(2):280-8, 2006.

Artigo Original 43

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 45: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Carlos Eduardo Matos

Acidente com ResíduoTóxico na Hungria

No dia 4 de outubro aconteceu um grave vazamento em um reservatório de resíduos químicos, em Ajka, no oeste da Hungria. Mais de 1,1 milhões de metros cúbicos da “lama vermelha” - um resíduo proveniente do processo de produção

de alumínio -, alcançaram localidades vizinhas, ocasionando o óbito de 7 pessoas, deixando mais de 100 feridos com queimaduras químicas, além de causar sérios danos à biota da região. As áreas próximas ao acidente foram evacuadas no sábado, 9, devido ao risco da estrutura sofrer novo rompimento, com conseqüente liberação de mais resíduos. Segundo Joe Hennon, um dos representantes da Comunidade Européia, a composição completa da lama ainda não foi totalmente definida ou divulgada, mas suspeita-se que, além da soda cáustica, estejam presentes metais pesados como chumbo, arsênio, mercúrio e outros.

Segundo a European Aluminum Association, o resíduo, extremamente alcalino (pH =13), é gerado a partir da conversão da bauxita em óxido de alumínio (alumina). O hidróxido de alumínio é separado de outras substâncias da bauxita em solução de soda cáustica (hidróxido de sódio), após precipitação na solução; e após outras etapas, obtém-se o produto, o óxido de alumínio (Al2O3). O óxido de alumínio é submetido a processo eletrolítico para a obtenção do alumínio puro. O resíduo da primeira etapa é basicamente a solução de hidróxido de sódio, e os demais componentes insolúveis da bauxita.

Embora se considere também o perigo físico-químico, existe ainda o risco de outros danos, decorrente da exposição aos demais componentes, a médio ou longo prazo, dependendo da concentração dos mesmos no sítio de exposição. Apesar do grande enfoque da imprensa ao risco de queimaduras químicas, o risco toxicológico à saúde humana e ao ambiente é ainda mais vasto que o divulgado, proporcionalmente relacionado à toxicidade e concentração dos componentes do resíduo em potenciais situações de exposição, sobretudo nos aspectos da toxicidade a longo prazo.

Para saber mais a respeito da toxicidade desses metais referidos, sugerimos consultar a obra Metais – Gerenciamento da toxicidade, de Fausto Azevedo e Alice Chasin e as publicações disponíveis no Portal da Intertox.

New York Times. Acessado em 9 de outubro de 2010. Disponível em: http://www.n y t i m e s . c o m / 2 0 1 0 / 1 0 / 1 0 /world/europe/10hungary.html?_r=2&scp=1&sq=sludge&st=cse

Environmental on MSNBC. Acessado em 10 de outubro de 2010. Disponível em: http://www.msnbc.msn.com/id/39592671/ns/us_news-environment/

European Aluminum Association - Alumina production. Acessado em 10 de outubro de 2010. Disponível em: http://www.eaa.net/en/about-aluminium/production-process/

PBS - EU Spokesman: Hungary Has Requested Sludge Clean-up Help http://www.pbs.org/newshour/bb/weather/july-dec10/hungary2_10-07.html

Referências

Informe 44

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 46: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Pioneirismo (esperado) do Brasil

Victor SalviatiBiólogo, especialista em projetos de carbono florestal [email protected] / http://br.linkedin.com/in/vsalviati

No ano da Biodiversidade, o país mais biodiverso do mundo parece não exercer o pioneirismo que lhe é esperado.

Apesar de ser notória a importância da biodiversidade, esta não é factível. Diferentemente de um carro, um computador ou uma casa, poucos (ou nenhum) saberiam dizer com certeza quanto vale um hectare da Mata Atlântica, ou ainda quanto custa a água produzida pela floresta Amazônica?

E podemos ir além: quais são os serviços oferecidos pelo meio ambiente? Alguns responderão a água, o carbono estocado, os alimentos. Mas e o conforto térmico, a beleza cênica, os valores espirituais e religiosos?

Como, baseado na ciência cartesiana e na economia clássica, conseguiremos mensurar, valorar e comercializar bens intangíveis desta magnitude?

No mundo real, esta valorização vem sendo feita seguindo duas abordagens distintas: valoração via a necessidade da manutenção de um serviço ou produto (e.g., proteção de árvores em que a casca é matéria-prima para a produção de fragrâncias); ou ainda via um mercado baseado em projetos de mitigação climática: o tal do Mercado de Carbono – sendo que este último, mesmo com técnicas refinadas de mensuração e monitoramento, é questionável por muitos.

E como o Brasil se coloca nessas discussões sendo o país mais rico em biodiversidade do mundo?

Infelizmente, não muito bem...

Apesar das discussões terem se iniciado na Rio-92, o Brasil não agregou muito a mais à discussão. Instabilidade política, falta de assessoria aos líderes, incompetência técnica – podem ser

vários os motivos; mas o fato é que o Brasil não está exercendo o papel de líder que o mundo esperava – e que nós gostaríamos.

Pode-se defender que as taxas de desmatamento vêm caindo – assim como se pode dizer que esse decréscimo é fruto de métodos e critérios – ou ainda que houve o aumento de áreas protegidas, mas a questão cerne é que o Brasil, mais uma vez, deixa a desejar. Segundo o recém-lançado relatório da WWF (“Living Planet 2010”), somente a América do Sul perdeu quase 50% de sua biodiversidade – e o mundo “apenas” 28% (dados de 2007).

Assim, quais medidas o Brasil deveria adotar para liderarmos as discussões e revertermos esse cenário em que o mundo está colapsando bem na frente de nossos olhos...

Primeiramente, o Brasil deve fazer a “sua lição de casa” – isto é, incentivar políticas ambientais, enrijecer a fiscalização, apoiar iniciativas ambientais sérias dentre outras.

Para se ter uma ideia, segundo o relatório da Funbio de 2009, 80% do orçamento destinado à preservação e conservação da Amazônia foram empregados em despesas correntes, salários e encargos. E mais, segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2007, apesar de se ter mais de R$ 400 milhões para executar projetos de conservação ambiental, apenas 16% foram realmente executados –

Como, baseado na ciência cartesiana e na economia clássica, conseguiremos mensurar, valorar e comercializar bens intangíveis

desta magnitude?

“”

Opinião 45

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 47: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

enquanto que o restante ficou parado em tramitações legais.

Em paralelo às atividades domésticas, o Brasil deveria se posicionar mais fortemente no cenário global para defender dois pontos cruciais: (i) a importância de projetos florestais no âmbito de mitigação climática e (ii) a necessidade de fundos internacionais para viabilizar estas, e outras, iniciativas em países em desenvolvimento e pobres.

Com relação ao primeiro ponto, vejo este posicionamento feito com um argumento já estabelecido e muito convincente: quase ¼ das emissões de CO2 e ¾ de CH4 advêm de mudanças do uso do solo. Em outras palavras, caso conseguíssemos congelar o desmatamento no planeta, teríamos uma queda de quase 20% nas emissões globais.

E sobre o segundo aspecto, necessidade de fundos, o maior argumento vem do Relatório Stern em que este apresenta diversas formas de mitigar e

diminuir o impacto do homem no planeta, sendo que projetos florestais têm os melhores desempenhos de custo-benefício; isto é, por unidade de dinheiro gasto, retornam mais benefícios.

É claro que ao resumir os problemas e as soluções em poucas linhas, estes parecem fáceis e de rápida resolução – entretanto, infelizmente, não o são.

Assim, no contexto do Ano da Biodiversidade, ano de eleições nacionais, o mundo todo convergindo para as discussões ecológicas (por mais fraca que sejam), acredito que o Brasil deve se posicionar e exigir dos demais países ações drásticas e agudas – sem esquecer, obviamente, de suas responsabilidades domésticas.

O cavalo selado está passando na nossa frente, e estamos quase perdendo o momento de pular nele – mesmo porque, do jeito que as coisas andam, capaz que o próprio cavalo entre em extinção!

Opinião 46

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 48: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Normas para Publicação

Política EditorialTítulo e SubtítuloA RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela InterTox, São Paulo, SP, Brasil. Área de Conhecimento AbrangidaNa Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq está classificado em Ciências Biológicas - 2.10.07.00-4 - Toxicologia.

MissãoDivulgar a produção científica da Toxicologia, Meio Ambiente e Sociedade, estimulando as contribuições criativas e inéditas do trabalho acadêmico, de pesquisa e do meio empresarial, tanto de autores nacionais como internacionais, contribuindo com a discussão e o desenvolvimento do conhecimento nestas áreas.

Objetivos• Contribuir para o aumento da produção de conhecimento das comunidades acadêmica e profissional de Toxicologia;• Servir como canal adequado para veicular avanços conceituais, tecnológicos e de experiências empresarial e profissional;• Estimular a difusão de conhecimentos que promovem atitudes voltadas ao aumento de competitividade das organizações.

FocoA RevInter tem como foco a publicação de contribuições científicas no campo da Ciência Toxicológica, elegendo como tema preferencial os processos de inovação das organizações. Além dos números regulares, a RevInter deverá editar edições especiais monotemáticas, que abordarão temas relevantes que possuam interface com a toxicologia e a sustentabilidade socioambiental.

A RevInter aceita a submissão de contribuições de profissionais e pesquisadores de todas as áreas envolvidas com as Ciências Toxicológicas, assim sendo, as seguintes especialidades , entre outras, estão dentro do foco da revista: Biossegurança, Contabilidade Social e Ambiental, Direito Ambiental, Economia Ambiental, Farmacoepidemiologia, Planejamento Ambiental e Comportamento Humano, Química Ambiental, Resíduos sólidos, domésticos e industriais, Segurança Alimentar, Sociologia da Saúde, Toxicidade de resíduos de praguicidas em alimentos, Toxicologia Ambiental, Toxicologia da Reprodução e do Desenvolvimento, Toxicologia de Alimentos, Toxicologia Forense, Toxicologia Ocupacional, Toxicologia pré-clínica e clínica e Toxicologia Social.

Processo de Avaliação por pares e Critérios de Arbitragem1) Os originais submetidos para publicação na RevInter serão aceitos para análise pressupondo-se que:

a) deverão ser, exclusivamente, inéditos;b) todas as pessoas listadas como autores

aprovaram o seu encaminhamento;c) qualquer pessoa citada como fonte de

comunicação pessoal aprovou a citação;d) as opiniões emitidas pelos autores são de sua

exclusiva responsabilidade.

2) O Comitê Editorial fará uma análise preliminar quanto a pertinência e/ou adequação da submissão ao escopo da RevInter.

a) As contribuições recebidas serão submetidas à apreciação de dois membros do Conselho Editorial, dentro de suas especialidades. Em caso de empate, um terceiro membro será convidado. São assessorados, quando necessário, por Avaliadores ad hoc.

b) Em caso positivo, será analisada, em seguida,

Normas para Publicação 47

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 49: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

a aplicação destas normas editoriais tanto na redação quanto na formatação do trabalho.

c) Em caso negativo, o autor será notificado por e-mail, para que ele mesmo proceda as devidas correções.

3) O resultado do parecer do Conselho Editorial será comunicado aos autores, sob anonimato, obedecendo o procedimento é conhecido por sistema duplo-cego (double blind review). 4) A Comissão Editorial reserva-se o direito de devolver os originais, quando se fizer necessária alguma correção ou modificação de ordem temática e/ou formal. 5) A Comissão Editorial procederá as alterações de ordem puramente formal, ortográfica e gramatical, visando a manutenção do padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores. Quando se fizerem necessárias modificações substanciais, os autores serão notificados por e-mail e encarregados de fazê-las e entregar a nova versão no prazo estipulado.

Política de Acesso AbertoA RevInter adota a filosofia de “acesso aberto”, permitindo o acesso gratuito e irrestrito ao seu conteúdo, proporcionando maior democratização mundial do conhecimento.

Seções• Artigos técnicos• Comunicações • Ensaios • Informes • Opinião • Revisões

Idiomas• Português • Inglês • Espanhol

Perfil dos Autores e LeitoresA RevInter está voltada a um público amplo de pesquisadores, professores, estudantes, empresários,

consultores e outros profissionais qualificados que atuam em organizações públicas, privadas e do terceiro setor, nacionais e internacionais.

PeriodicidadeQuadrimestral

CirculaçãoMeses: (2) fevereiro; (6) junho e (10) outubro.

Normas para PublicaçãoRevInter adota as seguintes normas, que deverão ser observadas pelos autores, na redação e formatação de seus originais:

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 6021: Informação e documentação: publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, ago. 2002. NBR 6024: numeração progressiva das seções de um documento escrito. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6027: sumário: procedimento. Rio de Janeiro, maio 2003.

NBR 6028: informação e documentação: resumos: apresentação. Rio de Janeiro, nov. 2003. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, ago. 2002.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGENormas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro, 1993.

Normas para Publicação 48

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 50: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO SI: Sistema Internacional de Unidades. 8. ed. Brasília, 2003.Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia. 2. ed. Brasília, 2000.

Critérios de EdiçãoInstruções aos Autores

São aceitos artigos originais e inéditos, 1.destinados exclusivamente à RevInter, que contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica das áreas enfocadas. A análise dos artigos será iniciada no ato de seu recebimento, atendidas às normas editoriais. A publicação dependerá do devido de acordo do Conselho Editorial, atendida as eventuais sugestões.

A apreciação do conteúdo será realizada pelo 2.Conselho Editorial, sendo mantido sigilo quanto à identidade dos consultores e dos autores.

Serão aceitos trabalhos escritos em língua 3.portuguesa, inglesa e espanhola.

Os trabalhos deverão ser enviados 4.exclusivamente por correio eletrônico para o seguinte endereço: [email protected]

Os originais recebidos não serão devolvidos aos 5.autores.

Não se permitirá acréscimo ou alteração após o 6.envio para composição editorial e fechamento do número.

As opiniões e conceitos emitidos pelos autores 7.são de sua exclusiva responsabilidade, não refletindo, necessariamente, o pensamento do Conselho Editorial ou da Revista. As pesquisas com seres humanos deverão explicitar o atendimento à Resolução CNS 196/96 para estudos dessa natureza e indicar o parecer de aprovação do Comitê de Ética

devidamente reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (ver modelo em “Manual Operacional para Comitês de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde”).

Será necessário também:8.

Indicar a categoria para publicação.a)

Indicar endereço postal completo, correio b)eletrônico e telefone para contato com o(s) autor(es).

Toda e qualquer contribuição a ser submetida, 9.para que seja avaliada para publicação na RevInter, obrigatoriamente deverá ser acompanhada dos seguintes formulários:

Termo de Cessão de Direitos Autorais e a) Autorização para Publicação [Formulário Externo RvIn-ADM-02-2009] assinada por todos os autores de que o trabalho não foi publicado e nem está sendo submetido para publicação em qualquer outro periódico. Para os estudos realizados em seres humanos, esta declaração deverá conter também os dados referentes à aprovação do Comitê de Ética da Instituição onde foi realizada a pesquisa;

Formulário preenchido e assinado pelos b) autores referente ao possível “Conflito de interesses”, que possa influir nos resultados [Formulário Externo RvIn-ADM-03-2009].

Instruções para Envio do Artigo A RevInter adota as normas preconizadas pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (Requisitos de Vancouver), publicadas no ICMJE - Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (http://www.icmje.org/index.html). Categoria dos Artigos

A RevInter publica artigos técnicos originais, 1. trabalhos de revisão, ensaios, atualização, estudos de caso e/ou relatos de experiência, comunicações e resenhas de livros, resumos de teses e dissertações.

A apresentação dos artigos por categoria deverá 2.

Normas para Publicação 49

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 51: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

obedecer:

Artigos Originaisa) - são trabalhos resultantes de pesquisa original, de natureza quantitativa ou qualitativa. Sua estrutura deve apresentar necessariamente os itens: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão e Conclusão. Apresentação com até 20 laudas.

Artigos de Revisãob) - são contribuições que têm por objeto a análise crítica sistematizada da literatura. Deve incluir com clareza a delimitação do problema, dos procedimentos adotados e conclusões. Apresentação com até 20 laudas.

Ensaios e Monografiasc) - são contribuições em que há um forte conteúdo analítico opinativo por parte do autor acerca de um determinado tema. Apresentação com até 100 laudas.

Artigos de Atualização ou Divulgaçãod) - são trabalhos que tem por objetivo a descrição e/ou interpretação sobre determinado assunto, considerado relevante ou pertinente na atualidade. Apresentação em até 10 laudas.

Comunicações Breves/Relatos de Caso/e) Experiência - se caracterizam pela apresentação de notas prévias de pesquisa, relatos de caso ou experiência, de conteúdo inédito ou relevante, devendo estar amparada em referencial teórico que dê subsídios a sua análise. Apresentação em até 10 laudas.

Resenhasf) – são análises descritivas e analíticas de obras recentemente publicadas e de relevância para os temas abordados da RevInter. Apresentação em até cinco laudas.

Resumos de Livros, Teses e Dissertaçõesg) - são resumos expandidos apresentados com até 400 palavras, em português, inglês e espanhol, inclusive o título. Para teses e dissertações deve conter o nome do orientador, data e local (cidade/programa/instituição) da defesa.

Forma de Apresentação dos Originais

Os trabalhos deverão ser apresentados em 1. formato compatível ao MS Word for Windows,

digitados para papel tamanho A4, com letra tipo Times New Roman, tamanho 12, com espaçamento 1,5 cm entre linhas em todo o texto, margens 2,5 cm (superior, inferior, esquerda e direita), parágrafos alinhados em 1,0 cm.

Títuloa) - deve ser apresentado com alinhamento justificado, em negrito, com a primeira letra em maiúscula, nos idiomas português e inglês ou espanhol. A seqüência de apresentação dos mesmos deve ser iniciada pelo idioma em que o artigo estiver escrito.

Autoresb) - nome(s) completo(s) do(s) autor(es) alinhados à esquerda. Enumerar em nota no final do documento as seguintes informações: formação universitária, titulação, atuação profissional, local de trabalho ou estudo (cidade e estado, província, etc), endereço para correspondência e e-mail do autor principal.

Resumo e descritoresc) - devem ser apresentados na primeira página do trabalho em português e inglês ou espanhol, digitados em espaço simples, com até 300 palavras. Ao final do resumo devem ser apontados de 3 a 5 descritores ou palavras chave que servirão para indexação dos trabalhos. A seqüência dos resumos deve ser a mesma dos títulos dos artigos.

Estrutura do textod) - a estrutura do texto deverá obedecer às orientações de cada categoria de trabalho já descrita anteriormente, acrescida das referências bibliográficas, de modo a garantir uma uniformidade e padronização dos textos apresentados pela revista. Os anexos (quando houver) devem ser apresentados ao final do texto.

Ilustraçõese) - tabelas, figuras e fotografias devem estar inseridas no corpo do texto contendo informações mínimas pertinentes àquela ilustração (Por ex. Tabela 1; Figura 2; etc.), inseridas logo após serem mencionadas pela primeira vez no texto, com letra tipo Times New Roman, tamanho 10. As Ilustrações e seus títulos devem estar

Normas para Publicação 50

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010

Page 52: Revista Intertox - Revinter - Volume 3 Número 3 Outubro de 2010 - São Paulo

alinhados á margem esquerda e sem recuo. O tamanho máximo permitido é de um papel A4 (21 x 29,7 cm).

Notas de rodapéf) - devem ser apresentadas quando forem absolutamente indispensáveis, indicadas por números e constar na mesma página a que se refere.

Citaçõesg) - para citações “ipsis literis” de referências bibliográficas deve-se usar aspas na seqüência do texto. As citações de falas/depoimentos dos sujeitos da pesquisa deverão ser apresentadas em itálico, em letra tamanho 10, na seqüência do texto.

Referências bibliográficash) - as referências devem ser organizadas em ordem alfabética ao final do texto, no formato ABNT (seguindo a norma ABNT NBR 6023 - Informação e documentação - Referências – Elaboração). Suas citações no corpo do texto devem ser feitas pelo sobrenome do(s) autor(es), seguidas de vírgula e ano. No caso de mais de dois autores, usar o sobrenome do primeiro seguido da expressão et al. e de vírgula e ano. Exemplificando, (NUNES; LACERDA, 2008), (KUNO et al., 2008). Essa orientação também se aplica para tabelas e figuras.

Normas para Publicação 51

Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, vol.3, nº3, out, 2010