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A RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela InterTox, São Paulo, SP, Brasil.
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ISSN 1984-3577
São Paulo, v. 5, n. 2, Jun. 2012
_______________________________________________________________________________________________________
RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 06-214, jun. 2012
2012 Intertox
Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado
meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro.
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.
As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos
respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.
Seções
Artigo Original; Artigo de Atualização; Comunicação Breve; Ensaio; Nota de Atualização e
Revisão
Idiomas de Publicação
Português e Inglês
Contribuições devem ser enviadas para <[email protected]>.
Disponível em: <http:// revinter.intertox.com.br>.
Normalização e Produção Website
Henry Douglas
Capa
Henry Douglas
Projeto Gráfico
Henry Douglas
Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 11 3872-8970
http://www.intertox.com.br / [email protected]
RevInter – Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do
conhecimento. – v. 5, n. 2, (jun. 2012).- São Paulo: Intertox. 2012.
Quadrimestral
ISSN: 1984-3577
1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade
Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.
Biblioteca InterTox II. Título.
1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade
Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.
Biblioteca InterTox II. Título.
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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 06-214, jun. 2012
Expediente
Editor(a) Conselho Editorial Científico (2011-2013)
Maurea Nicoletti Flynn Alice A. da Matta Chasin
Bibliotecária Doutora em Oceanografia (USP) Doutora em Toxicologia (USP)
Com Especialização Ecologia
Comitê Científico (2011-2013)
Irene Videira Lima
Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal
Toxicologista do IML-SP por 22 anos.
Marcus E. M. da Matta
Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina
USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP).
Engenheiro Ambiental e Turismólogo.
Moysés Chasin
Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP
especializado em Laboratório de Análises
Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública.
Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe
especial e Diretor no Serviço Técnico de
Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal
da SSP/São Paulo. Diretor executivo da
InterTox desde 1999.
Ricardo Baroud
Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor
Científico da PLURAIS Revista
Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA
Revista Baiana de Tecnologia.
Eduardo Athayde
Coordenador no Brasil do WWI - World Watch
Institute
Eustáquio Linhares Borges
Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da
Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-
Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.
Fausto Antonio de Azevedo
Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral
do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA,
ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário
do Planejamento, Ciência e Tecnologia do
Estado da Bahia.
Isarita Martins
Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises
Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em
Química Analítica (UNICAMP), Farmacêutica-
Bioquímica Universidade Federal de Alfenas
MG.
João S. Furtado
Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado
(Universidade da Carolina do Norte, Chapel
Hill, NC, EUA).
José Armando-Jr
Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP),
Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF).
Sylvio de Queiroz Mattoso
Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do
CEPED-BA.
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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 06-214, jun. 2012
Sumário
TOXICOLOGIA
Riscos Toxicológicos das Tatuagens 6
ECOLOGIA DO ESTRESSE / ECOTOXICOLOGIA
Inventario rápido de mamíferos de médio e grande porte da Área de Proteção
Ambiental da Ilha Comprida, SP. 19
Mapeamento da Suscetibilidade a Inundações da Bacia do Rio Cotia 38
Análise de Produção e Extração de Biogás no Aterro Sanitário Lara, Visando
Aspectos Ambientais e Possíveis Benefícios Energéticos. 65
Levantamento Secundário do Estado Atual da Avifauna na Região de Sorocaba,
SP. 87
Levantamento Secundário do Estado Atual da Mastofauna na Região de
Sorocaba, SP. 105
Levantamento secundário do estado atual da herpetofauna na região de
Sorocaba, SP. 122
SUSTENTABILIDADE
Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em Aterro Sanitário 135
Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos 159
Metodologia e Diretriz da Global Reporting Initiative (GRI): Contexto, relevância,
oportunidades e riscos. 211
ENSAIO
MORETTI, Tatiane. Riscos Toxicológicos da Tatuagens. RevInter Revista Intertox de
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RISCOS TOXICOLÓGICOS DAS
TATUAGENS
Tatiane Moretti
Biomédica, analista de Risco Toxicológico da Intertox.
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Resumo
A tatuagem é uma técnica que consiste na perfuração da pele com agulhas
apropriadas, acopladas a uma máquina elétrica, por meio das quais pigmentações
exógenas são introduzidas fisicamente na pele, com resultado permanente,
objetivando embelezamento ou correção estética. Ainda sabe-se pouco a respeito do
risco toxicológico do uso de tatuagem e boa parte do que se sabe faz parte de
pesquisas em andamento.
Hoje temos de concreto que alguns pigmentos utilizados para a realização das
tatuagens podem ser tóxicos e possuem capacidade mutagênica. Também temos o
fato que alguns desses compostos reagem à exposição à luz, causando reações
fotoinduzidas pelo seu comportamento fototóxico, o que dificulta e coloca em risco a
remoção das tatuagens.
Para garantir cuidados, minimizar ou erradicar tais riscos, hoje, alguns órgãos
regulatórios como ANVISA, EMEA e FDA criaram algumas exigências para os
produtos e procedimentos utilizados na realização das tatuagens.
Palavras chave: Tatuagem, Risco Toxicológico, Pigmentos, Fototóxico
Abstract
The tattoo is a technique that consists in piercing the skin with needles
appropriate, coupled to an electric machine, by wich exogenous pigmentations are
physically introduced into the skin with permanent result, aiming at beautifying or
cosmetic reasons.
Still little is known about the toxicological risk of the use of tattoos and much of
what we know is part of ongoing research.
Today we have some concrete pigments used to make tattoos can be toxic and have
mutagenic capacity. We also have the fact that some of these compounds react to
exposure to light, causing the photo induced reactions phototoxic behavior, which
makes it difficult and endangers the removal of tattoos.
To ensure care, minimize or eliminate such risks, today, some regulatory bodies
including ANVISA, EMEA and FDA have established some requirements for
products and procedures used in the performance of the tattoos.
Keywords: Tattoos, Toxicological Risks, Tattoos, Pigments, Photo toxicity
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Introdução
As tatuagens estão entre nós desde muitos anos antes de Cristo; são encontradas
em diversas civilizações e trazem consigo os mais variados significados. (1)
O termo tatuagem origina-se do inglês “tattoo”, derivada do taitiano “tatau”, que
significa “ferida, desenho batido”, e foi criado pelo capitão James Cook ao fazer uma
onomatopéia ao som produzido pelo instrumento durante a execução da tatuagem,
quando a mesma ainda era realizada com martelinho de madeira. (1)
Em 1959, o imigrante dinamarquês “Tatto Lucky” chegou ao Brasil e ao
estabelecer-se no país marcou a história da tatuagem entre nós com a introdução
de técnicas modernas e, principalmente, com a inserção da máquina elétrica de
tatuar, quando a tatuagem ainda era realizada à mão com o uso de materiais
cortantes como vidro, faca, bambu. (2,3)
Na antiguidade não se sabia dos cuidados terá serem adotados para a realização
das tatuagens, porém hoje é fato que além dos cuidados de higienização,
esterilização e cicatrização requeridos nas tatuagens, não podemos esquecer os
cuidados com a escolha da coloração das mesmas, já que em sua grande maioria, os
pigmentos são compostos de minerais e,juntamente com outros materiais de sua
composição, podem trazer riscos toxicológicos aos usuários. (4)
Foi no final da década de 1970 e no começo da década de 1980 que as tatuagens
passaram a ser realizadas em estúdios e foi assim que se passou a ter maior
presença da vigilância sanitária. (3)
A tatuagem, como praticada hoje nos estúdios, é uma técnica que consiste na
perfuração da pele com agulhas apropriadas, acopladas a uma máquina elétrica,
por meio das quais pigmentações exógenas são introduzidas fisicamente na camada
dérmica ou subepidérmica da pele, com resultado permanente, objetivando
embelezamento ou correção estética. (4,5)
Este trabalho objetiva fazer uma relação dos possíveis riscos toxicológicos
decorrentes do uso de tatuagens..
Técnicas de Tatuagem
As técnicas para execução de procedimentos envolvendo pigmentação artificial
devem ser padronizadas e estar disponibilizadas e implementadas, contendo as
instruções necessárias, datadas e assinadas pelo responsável legal. (5)
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As máquinas devem, preferencialmente, ter a ponteira de aço inox cirúrgico e/ou
descartável e precisam ser limpas e esterilizadas em estufa. (1)
As cores utilizadas hoje são diversas e as tintas para tatuagem, adquiridas prontas
de fornecedores especializados, podem ser misturadas entre si para se criar novas
cores. As agulhas são soldadas pelo próprio tatuador, na forma de um pente,
contendo no mínimo três delas. (4)
O profissional que realizará deverá elaborar rotinas técnicas padronizadas com
instruções sequenciais do procedimento, datadas e assinadas pelo responsável
legal. (17)
Antes de se iniciar o procedimento, alguns cuidados devem ser tomados no sentido
de minimizar riscos de contaminação. A bancada onde ficarão os materiais é
higienizada com álcool hospitalar e coberta com filme plástico e papel toalha, bem
como o banco ou cadeira utilizado para a realização da tatuagem. (4)
Os recipientes de álcool, os tubos de tinta e os recipientes de água com sabão,
usados para limpar a pele do excesso de tinta, são cobertos com sacos plásticos,
descartados a cada cliente. (4) Sobre o filme plástico são colocados os recipientes
descartáveis de plástico, conhecidos como botoques, contendo a quantidade
necessária de tinta que será utilizada na tatuagem. As agulhas são esterilizadas e
embaladas separadamente, sendo descartadas em lixo para material infectante
após seu uso. Os tatuadores devem utilizar luvas descartáveis, máscaras e aventais
e somente após todas essas etapas a pele começa a ser preparada para a tatuagem.
Inicialmente a pele deve ser limpa, utilizando-se álcool hospitalar, e os pêlos, da
região a ser tatuada, retirados com a ajuda de aparelho descartável de barbear.
Uma fina camada de desodorante em barra é utilizada para que o decalque fixe o
desenho na pele. (4)
Sobre o decalque, o tatuador passa pigmento preto, já com a máquina de tatuar,
contornando as margens do desenho. Por último, a tatuagem recebe outras cores, se
for o caso. (4)
Após cinco ou dez minutos do termino da sessão de tatuagem, a pele é coberta por
um curativo com filme plástico de cozinha, que apesar de não ser considerado o
ideal, não cola na pele. (4)
Logo em seguida o cliente deve ser orientado sobre as precauções que deve tomar
no período de cicatrização, cujo período esperado é de 5 a 10 dias, como: não
manter a região seca, evitar sol, água do mar e piscina, lavar a região somente uma
vez ao dia e utilizar uma pomada cicatrizante durante a troca dos curativos. Nesse
momento, adicionalmente o usuário deve ser orientado a não retirar a “crosta”
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sobre a área tatuada, a fim de que não haja comprometimento do desenho
decorrente da retirada de pigmento junto com a crosta de cicatrização. (4)
O mercado de produtos voltados para o universo da tatuagem tem crescido. Além
da expansão dos próprios estúdios, que cada vez mais se parecem com clinicas
médicas, há fornecedores de máquinas de tatuar e tintas, desenhos, e todos os tipos
de material necessário para a realização da tatuagem. (4)
Além disso, é crescente o número de eventos relacionados, tais como feiras e
eventos.
Hoje os tatuadores não encontram dificuldade alguma em comprar tintas,
maquinas e agulhas, porém não contam com um mercado de produtos médicos
específicos para tatuagem, tendo que utilizar materiais de uso comum como a
vaselina sólida, o desodorante em barra e o filme plástico de cozinha. (4)
Marcos Regulatórios
É crescente a atenção e preocupação de parte de órgãos regulatórios quanto à
presença de elementos tóxicos em tintas, utilizadas para diversas finalidades, entre
elas a realização de tatuagens. (6)
O Food and Drug Administration (FDA-USA) considera tintas utilizadas para a
realização de tatuagens intradérmicas como cosméticos e os pigmentos das tintas
como aditivos de cor que necessitam, antes de ir ao mercado, de rigorosa aprovação
segundo a Federal Food, Drug, and Cosmetic Act (FD&C Act), porém o FDA não
exerce sua autoridade reguladora sobre os mesmos, sendo essa pratica somente
regulamentada por jurisdições locais. (7)
Somente após 2004, período em que foram notificados inúmeros relatos de reações
adversas a certas cores de tintas, o FDA passou a investigar seu uso seguro para
esta finalidade. A gravidade dos eventos notificados ainda está sob discussão, para
que sejam delineadas medidas adequadas de proteção à saúde pública. (7)
Os aditivos de cor devem ser aprovados pelo FDA para uso em medicamentos,
alimentos e cosméticos, porém, de fato, nenhum pigmento é aprovado para o uso
injetável na pele e nenhuma tinta é devidamente regulada pelo FDA. (8)
No Brasil, em 2008 foi publicada uma norma determinando que todos os produtos
utilizados no processo de pigmentação artificial permanente da pele terão de obter
registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A medida está
prevista na RDC 55/08 e entrou em vigor em fevereiro de 2010. As novas normas
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são válidas para as tintas nacionais e importadas, bem como para os aparelhos,
agulhas e acessórios usados nos procedimentos. Com tal vigência é possível
conhecer a forma de apresentação, quantidade e composição destas tintas e
disciplinar a forma de utilização, distribuição e armazenamento dos produtos,
proporcionando um controle maior sobre a matéria prima de agulhas e pigmentos.
(9)
Os produtos destinados a embelezamento ou correção estética são classificados
como produtos para a saúde, por causa do risco que podem trazer ao serem
manuseados por todos os envolvidos no processo. (5)
Os pigmentos e veículos/ solventes são considerados produtos implantáveis ou
invasivos cirurgicamente de longo prazo e classificados na Regra 8 e Classe III. (5)
Os produtos classificados na classe de risco III somente poderão ser registrados na
forma de apresentação estéril e não poderão fazer parte de um conjunto de
produtos. (5)
Para que tais produtos obtenham o registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), eles devem apresentar os seguintes requisitos propostos na
norma:
-Os produtos usados nos procedimentos de pigmentação artificial permanente da
pele devem cumprir o estabelecido na Resolução ANVISA RDC nº. 185/01. (5)
-Os produtos implantáveis ou invasivos devem, através de estudos de
citotoxicidade, genotoxicidade,toxicidade crônica e carcinogenicidade, demonstrar
sua segurança e eficácia, bem como atender aos requisitos presentes na Resolução
ANVISA RDC n°. 56/01. (5)
De acordo com o parágrafo 5.3 da Resolução ANVISA RDC n° 55/2008(5):
“O registro desses produtos poderá ocorrer por agrupamento, obedecendo a
seguinte classificação:
a) Conjunto de produtos para pigmentação artificial permanente da pele: poderão
ser agrupados em conjunto todos os produtos enquadrados nas classes de risco I e
II, desde que não existam variações dos componentes do conjunto quanto à sua
composição, tecnologia de produção e indicação de uso.
b) Família de acessórios para aparelhos: serão agrupados em uma mesma família
todos os acessórios de uso geral para os aparelhos, como as biqueiras e pontas, ou
quaisquer outros que estejam correlacionados com a região de engate da agulha,
desde que não parte integrante dos aparelhos.
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c) Família de aparelhos: deverá ser observada a Resolução ANVISA RDC nº 97, de
9 de novembro de 2000, ou norma que venha substituí-la.
d) Família de agulhas: serão agrupadas em uma mesma família todas as agulhas
para inserção do pigmento na derme e subepiderme.
e) Família de pigmentos puros sem veículo ou solvente: serão agrupados em uma
mesma família todos os pigmentos de quaisquer colorações, sem adição de veículo
ou solvente de qualquer natureza.
f) Família de veículos ou solventes: as formulações deverão ser registradas
individualmente, seguindo a última edição da Farmacopéia Brasileira quanto às
especificações técnicas.
g) Família de tintas com veículo aquoso: serão agrupados em uma mesma família
todos os pigmentos de quaisquer colorações, com adição de veículo/solvente de
natureza aquosa ou hidrossolúvel.
h) Família de tintas com veículo oleoso ou volátil: serão agrupados em uma mesma
família todos os pigmentos de quaisquer colorações, com adição de veículo ou
solvente de natureza hidrofóbica, oleosa ou aqueles de natureza volátil.”
O material utilizado para soldar as agulhas à máquina de tatuar não poderá conter
metais pesados ou qualquer outro produto que possa ser prejudicial ao organismo
humano. Esse material pode ser comercializado junto com as agulhas, desde que
esteja constante no registro destas agulhas. (5)
Não existem leis nacionais sobre os serviços de aplicação de tatuagem, no entanto a
ANVISA com a colaboração de algumas vigilâncias estaduais e federais elaborou
um documento para auxiliar a todos que desejam instituir regras para esses
serviços. (17)
Tais regras dispõem que esses estabelecimentos devem possuir alvará/licença
sanitária, devem possuir cadastro dos clientes, estrutura física adequada, matérias
e equipamentos registrados. (17)
Toxicologia de Tintas e Corantes para Tatuagem
Pouco ainda se sabe como as tintas e corantes para tatuagem interagem com nosso
organismo, como são biotransformados e qual o risco toxicológico que suscitam. (10)
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A estrutura química e a toxicidade de muitos corantes usados nas tatuagens ainda
são pouco conhecidas e sabe-se que muitos desses corantes são de uso industrial,
como as tintas utilizadas para automóveis ou na escrita. (11)
No início, as tintas continham pigmentos que eram compostos de misturas de
carvão, caracterizando a tinta preta, ou de sais inorgânicos de metais pesados como
mercúrio, prata e chumbo, caracterizando as tintas coloridas. (10)
Somente após a descoberta da toxicidade desses produtos é que a indústria
começou a buscar compostos orgânicos que tivessem o mesmo resultado. (10)
Ainda não existem estudos completos sobre a toxicidade desses pigmentos, porém o
FDA não aprova o uso de nenhum deles. (10)
As tintas utilizadas são de variadas origens. No mercado foram identificados 52
colorantes e acredita-se que, desses, 17 % são carcinogênicos. (12)
A tinta atualmente utilizada é formada basicamente por resinas, aditivos,
solventes e pigmentos insolúveis veiculados com dióxido de titânio. Tais pigmentos
são partículas sólidas em forma de pó e podem apresentar em sua constituição
compostos orgânicos ou inorgânicos de diferentes cores, responsáveis por aumentar
a proteção e durabilidade da pintura. Após serem injetados na pele permanecem
em estado sólido na derme por serem insolúveis, não sendo removidos pelo sistema
de defesa. (6,10)
Os pigmentos mais utilizados nas tintas de tatuagens são os inorgânicos como o
carbono, o sulfeto de mercúrio (vermelho), cobalto (azul), sulfeto de cádmio
(amarelo), óxido de cromo (verde), hidrato de ferro (ocre) e óxido ferro, e orgânicos
como o sândalo (vermelho) e o pau-brasil (vermelho). (12,13)
Remoção das Tatuagens
Poucos estudos têm sido feitos em relação aos pigmentos e sua toxicidade, porém
muito se tem pesquisado em relação à remoção cirúrgica ou a laser desses
pigmentos. (10)
Os métodos tradicionais de remoção de tatuagem são exérese cirúrgica,
dermoabrasão, salabrasão, criocirurgia e a laserterapia. (11)
Com exceção dos lasers todos esses métodos causam a necrose da epiderme e
derme, eliminando assim o pigmento que se localiza nessa região. (11)
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MORETTI, Tatiane. Riscos Toxicológicos da Tatuagens. RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 6-18, jun. 2012.
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A remoção de tatuagens com lasers de CO2, Nd: YAG e Q-switched têm
apresentado os melhores resultados, sendo mais seguros e oferecendo resultados
cosméticos mais aceitáveis, porém existem casos em que o pigmento se espalha
piorando o quadro. (13,14)
As tatuagens profissionais são mais difíceis de serem removidas em relação às
amadoras, por seu pigmento encontrar-se mais concentrado e mais profundo. O tipo
de laser a ser utilizado é escolhido de acordo com a cor do pigmento. (14)
O efeito colateral mais comum com o uso de lasers é a hipo ou hipercromia, bem
como alergia sistêmica aos corantes, granulomas de corpo estranho e cicatrizes
atróficas ou hipertróficas, porém os mais preocupantes são os eventos toxicológicos
que podem ocorrer com a remoção das tatuagens, devido à capacidade mutagênica
de muitos compostos de pigmentos, ao serem expostos á luz natural ou laser.
(14,15)
Avaliação do Risco Toxicológico
Existem relatos de reações adversas aos pigmentos empregados nas tatuagens,
caracterizando quadros clínicos de intoxicação, bem como registro de algumas
reações causadas pela remoção das tatuagens devido à quebra de partículas desses
pigmentos. A quebra destas partículas pode resultar na geração de produtos de
decomposição que são caracterizados como tóxicos ou carcinogênicos. (1)
Estudos e relatos de casos também mostram que indivíduos tatuados podem
apresentar reações de sensibilização ao pigmento vermelho utilizado na tatuagem,
intoxicação mercurial e infecções não piógenas como sífilis, hepatite B e C e AIDS.
(16)
As reações disparadas pelas tintas vermelhas podem ser causadas principalmente
pela presença de pigmentos inorgânicos como o sulfeto de mercúrio e podem ocorrer
logo após ou alguns meses da realização da tatuagem. Os mecanismos ainda não
são bem claros, mas presume-se que algumas das reações que ocorrem com as
tintas vermelhas e amarelas são fotoinduzidas pela presença do pigmento sulfeto
de cádmio, que tem comportamento fototóxico, por serem fotossensíveis em células
fotoelétricas. (18,19)
O prurido foi o sintoma mais comum encontrado e em muitos dos casos esse
sintoma se manifestou após exposição ao sol. (18)
ENSAIO
MORETTI, Tatiane. Riscos Toxicológicos da Tatuagens. RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 6-18, jun. 2012.
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Não se pode desprezar o fato de que são empregados produtos que não apresentam
indicação específica para este fim, ou seja, para uso humano, bem como outros não
regulamentados pela ANVISA. (17)
Considerações Finais
Nessa pesquisa verificou-se a existência de uma necessidade imediata de novos
estudos ou estudos conclusivos a cerca da toxicidade e genotoxicidade das tintas e
pigmentos utilizados na tatuagem, bem como estudos que mostrem quais os riscos
da remoção dos pigmentos.
Pode-se considerar a existência de risco toxicológico ao se fazer uma tatuagem,
devido aos pigmentos e tintas utilizados, os quais podem conter metais pesados
altamente tóxicos, bem como há grande incidência de eventos toxicológicos na
retirada das tatuagens pelo fato de muitas tintas serem fototóxicas e gerarem
matérias tóxicas quando degradadas.
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ENSAIO
MORETTI, Tatiane. Riscos Toxicológicos da Tatuagens. RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 6-18, jun. 2012.
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ENSAIO
MORETTI, Tatiane. Riscos Toxicológicos da Tatuagens. RevInter Revista Intertox de
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Artigo Original
PORTELLA, Tatiana Pineda; FLYNN, Maurea Nicoletti. Inventario rápido de mamíferos de médio e
grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 19-37, jun. 2012.
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Inventario rápido de mamíferos de médio e
grande porte da Área de Proteção Ambiental
da Ilha Comprida, SP.
Tatiana Pineda Portella
Maurea Nicoletti Flynn
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie e mestrado em Ecologia e
Conservação pela Universidade Federal do Paraná. Possui
experiência na área de ecologia e zoologia, com ênfase em
mastozoologia. E-mail: [email protected]
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em
Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo e pós-
doutorado em ecologia aplicada e experimental pelo
programa recém doutor do CNPq, Universidade de São Paulo.
Foi coordenador do Curso de Engenharia Ambiental das
Faculdades Oswaldo Cruz e Coordenadora de Pesquisas na
Escola Superior de Química das Faculdades Oswaldo Cruz.
Professor adjunto do curso de graduação em Ciências
Biológicas e de pós-graduação em Biodiversidade da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é
consultor da Intertox. Tem experiência nas áreas de Ecologia
Bêntica, Ecologia Experimental, Dinâmica Populacional e
Biodiversidade de Ambientes Aquáticos. E-mail:
Artigo Original
PORTELLA, Tatiana Pineda; FLYNN, Maurea Nicoletti. Inventario rápido de mamíferos de médio e
grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 19-37, jun. 2012.
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Resumo
De todos os biomas tropicais, a Mata Atlântica é o segundo mais ameaçado
do planeta. Nela, estão registradas cerca de metade das espécies de
mamíferos do Brasil, sendo muitas endêmicas e ameaçadas de extinção. Os
mamíferos possuem um papel ecológico muito importante na manutenção e
regeneração das florestas tropicais. Eles são peças chave na arquitetura das
comunidades biológicas através de funções no consumo e dispersão de
sementes, polinização, herbivoria, frugivoria, e na atuação como predadores
de topo. O grau de ameaça e a importância ecológica dos mamíferos tornam
evidente a necessidade de incluir informações a seu respeito em inventários
e diagnósticos ambientais. Este estudo visa estimar a riqueza e composição
das espécies de mamíferos de médio e grande porte presentes na Área de
Proteção Ambiental (APA) da Ilha Comprida, localizada no litoral Sul do
Estado de São Paulo. Para o levantamento da mastofauna de médio e
grande porte foram utilizados quatro métodos: censos visuais, transectos de
pegadas, registro de pegadas por parcelas de areia e análises tricológicas das
fezes encontradas. Foram obtidos registros de sete espécies de mamíferos
silvestres abrangendo as seguintes famílias: Canidae (Cerdocyon thous),
Dasypodidae (Dasypus novemcinctus), Cervidae (Mazama sp.), Mustelidae
(Lontra longicaudis), Procyonidae (Procyon cancrivorus), Didelphidae
(Didelphis sp.), e Felidae (Puma concolor). Os resultados desse estudo
contribuem para o conhecimento da fauna local, podendo servir de subsídio
para futuras pesquisas e propostas de manejo e conservação.
Palavras-chaves: Inventário, Mastofauna, Conservação, Mata Atlântica.
Abstract
Among all tropical biomes the Atlantic forest is the second most endangered
on the planet. It presents about half of the Brazilian mammal species, most
of which are endemic and endangered. The mammals hold a very important
ecological role in the maintenance and regeneration of tropical forest. They
are key pieces in the architecture of biological communities’ trough
consumption and seed dispersal, pollination, frugivory, and as top predators.
Their degree of threat and ecological importance reveal us the need to
include information about them in inventories and environmental
diagnostics. Therefore, this study aims to estimate the richness and
Artigo Original
PORTELLA, Tatiana Pineda; FLYNN, Maurea Nicoletti. Inventario rápido de mamíferos de médio e
grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
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composition of medium and large mammals’ species in the Area of the
Environmental Protection (APA) of Ilha Comprida, southern coast of São
Paulo state. To register the occurrence of medium and large mammals, four
methods were used: visual census, track transects track records in sand-
plots and hair analysis from excrements collected in the field. Records of
seven species of wild mammals and one domestic species were obtained
covering the families: Canidae (Cerdocyon thous), Dasypodidae (Dasypus
novemcinctus), Cervidae (Mazama sp.), Mustelidae (Lontra longicaudis),
Procyonidae (Procyon cancrivorus), Didelphidae (Didelphis sp.), and Felidae
(Puma concolor). The results of this study contribute to the knowledge of
the local fauna and are base for future proposals in management and
conservation.
Key words: Inventory, Mammal, Conservation, Atlantic Forest
Introdução
A conservação da Mata Atlântica enfrenta grandes desafios. Seus
domínios abrigam 70% da população humana brasileira e concentram as
maiores cidades e polos industriais do país (MMA, 2002). Sua área
geográfica inicial cobria 12% do território brasileiro, porém hoje restam
apenas 11,4% de sua extensão original que, mesmo encontrando-se em
situação crítica, ainda abriga altos índices de diversidade e endemismo
(RIBEIRO et al. 2009). De acordo com Mittermeier et al. (2005) o Bioma
abriga de espécies endêmicas, 8000 árvores (que corresponde a 40% do
total), 200 aves (16%), 71 mamíferos (27%), 94 répteis (31%) e 286 anfíbios
(60%), isso mencionando apenas os grupos taxonômicos mais bem
conhecidos.
Os mamíferos de médio e grande porte são um dos grupos que mais
sofrem com a perda e a fragmentação de habitat resultantes da interferência
humana. Isso ocorre devido ao grande espaço que este grupo requer para
garantir a manutenção de suas populações. Espaço com cobertura vegetal
contínua é cada vez mais escasso na Mata Atlântica, onde existem poucos
Artigo Original
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grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
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fragmentos florestais maiores que 250 ha (RIBEIRO et al., 2009). Estudos
no Bioma mostram que apenas um quarto das áreas protegidas é capaz de
garantir a sobrevivência de populações viáveis de grandes roedores,
primatas e felinos (CHIARELLO, 2000).
De acordo com Kasper et al. (2007) os pré-requisitos básicos para o
desenvolvimento de ações conservacionistas dependem do conhecimento
básico das espécies e de suas distribuições no espaço, onde se inclui os
inventários mastofaunísticos. Cerqueira (2001) ressalta que a grande
maioria das áreas de preservação não conta sequer com inventários que
determinem parâmetros de biodiversidade, e destaca a importância dos
trabalhos de levantamento de dados. O objetivo deste foi inventariar a
mastofauna de médio e grande porte presente em um dos poucos
remanescentes florestais de Mata Atlântica localizado na Ilha Comprida,
SP.
Material e métodos
A Ilha Comprida ocupa uma superfície de 18.923 ha estendendo-se por cerca
de 70 km entre as cidades de Cananéia, ao sul, e Iguape, ao norte. A região é
formada basicamente por acúmulo de sedimentos marinhos e apresenta três
sistemas de vegetação natural predominantes: manguezais, floresta de
planície e vegetação de dunas (Gandolfo et al., 2001).O clima predominante
é do tipo Subtropical úmido com verão
quente. A umidade relativa média do ar é sempre superior a 80 % e
praticamente inexiste estação seca bem definida (BECEGATO 2007).
Segundo Hulle (2006) o uso de diversos métodos é essencial para um
levantamento de espécies de mamíferos de médio e grande porte mais
Artigo Original
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completo, uma vez que estas possuem hábitos bastante distintos e, portanto
os métodos diferem quanto ao grau de detectabilidade. Deste modo, para
estimar a riqueza do local foram utilizados diferentes métodos de
amostragem.
O Primeiro consistiu em percorrer trilhas pré-definidas em busca de
visualização dos animais. Essa metodologia tem sido utilizada com sucesso
por muitos pesquisadores para estimar a abundância de diversos grupos de
mamíferos (CHIARELLO 1999, 2000, CULLEN et al. 2000).
Os transectos de pegada partem do mesmo princípio, porém seu
objetivo é detectar pegadas deixadas pelos animais ao longo das trilhas.
Essa metodologia tem sido recomendada para detectar animais difíceis de
serem observados, como é o caso de muitos carnívoros (Wilson & Delahey,
2001) e em especial os felinos (Oliveira & Cassaro, 2005). As pegadas
encontradas foram identificadas através do livro guia de Becker & Dalponte
(1991) “Mamíferos Silvestres Brasileiros”.
A terceira metodologia consistiu na distribuição de parcelas (50 x 50
cm) de areia fina e úmida, iscadas com banana, bacon e sal, ao longo das
trilhas. Segundo Pardini, et al. (2006) esta técnica tem se mostrado bastante
eficiente para a realização de um levantamento rápido de mamíferos de
médio a grande porte, principalmente com animais de hábitos noturnos e de
difícil visualização.
O último método consistiu na análise da microestrutura de pêlos-
guarda contidos nas fezes encontradas em campo segundo o método de
Quadros e Monteiro-Filho (2006).
As amostragens foram realizadas durante os meses de abril e julho de
2008.
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A riqueza total observada foi calculada utilizando as espécies
encontradas em todos os métodos de amostragem. Já a riqueza estimada foi
obtida utilizando-se apenas os registros das parcelas de areia, considerando
cada uma como uma unidade amostral. A projeção da riqueza foi calculada
por meio do estimador Jackknife de primeira ordem através do programa
EstimateS, versão 7.5.2. (COLWELL 1997).
Resultados
A riqueza observada de mamíferos de médio e grande porte foi de oito
espécies, das quais sete são silvestres e uma é doméstica (Tabela 1). As
espécies encontradas estão distribuídas em quatro Ordens sendo elas
Didelphimorphia (1), Cingulata (1), Artyodacytila (1) e Carnivora (5). Além
desses animais, foram encontradas também pegadas de um felino de
pequeno porte não identificado. A riqueza estimada através dos dados
obtidos nas parcelas de areia foi de 6 espécies com desvio padrão de ± 1,00.
A curva do coletor demonstra uma tendência de estabilização indicando que
o esforço amostral foi suficiente para detectar as espécies de mamíferos de
médio e grande porte presente na região (Figura 1).
Tabela 1. Listagem, categorias tróficas e número absoluto de registros das espécies
amostradas na Ilha Comprida, SP. (Av.) avistamento, (Pg.) Transeco de pegadas, (Fz)
Fezes, (Pp) Parcelas de areia.
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Ordem/ Família Nome
Científico Nome popular Guilda trófica Registros
Av. Pg. Fz. Pp.
Didelphimorphi
a
Didelphidae Didelphis aurita
(Wied-Neuwied,
1826)
Gambá-de-
orelha-preta
Frugívoro/Onívoro 1 5 - 62
Cingulata
Dasypodidae Dasypus
novencinctus
(Linnaeus, 1758)
Tatu-galinha Insetívoro/Onívoro - 4 - -
Artyodactyla
Cervidae Mazama sp. Veado Frugívoro/Herbívo
ro
- 4 - -
Carnívora
Procyonidae
Procyon
cancrivorus
(Cuvier, 1798)
Mão-pelada
Frugívoro/Onívoro 1 - - -
Canidae
Cerdocyon thous
(Linnaeus, 1766)
Cachorro-do-
mato
Frugivoro/Onívoro - 17 - 3
Canis familiaris Cachorro-
doméstico
- 6 -
14
Felidae Puma concolor
(Linnaeus, 1771)
Onça-parda Carnívoro - 12 2 32
N I* - 2 -
11
Mustelidae Lontra
longicaudis
(Cuvier, 1798)
Lontra Carnívoro - 1 - 1
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grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
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Figura 1. Curva do coletor para a estimativa de riqueza de espécie através do estimador
Jacknife de primeira ordem.
As espécies registradas apresentaram diferentes graus de
detectabilidade para diferentes métodos, portanto apresentaram frequências
relativas distintas quando analisadas por cada metodologia (Figura 2). Pelos
transectos de pegadas o Cerdocyon thous (cachorro-do-mato) foi a espécie
que apresentou maior número de registros com 33,33%, enquanto que pelas
parcelas de areia foi a quinta espécie mais detectada com 2,44 % do total.
Nas parcelas, o animal com maior número de registros foi Didelphis aurita.
(gambá-de-orelha-preta) com 50,4%, ficando em quarto (9,80%) nos registros
dos transectos. A onça-parda foi a segunda mais registrada em ambos os
métodos, com 26,02 % e 23,52 % respectivamente.
1900ral
1900ral
1900ral
1900ral
1900ral
1900ral
1900ral
1900ral
1 51 101 151 201 251 301
Riq
uez
a es
tim
ada
Esforço amostral (nº de parcelas de areia)
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grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
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Figura 2. Frequência relativa das espécies detectadas pelos métodos de parcelas de areia e
transectos visual e de pegadas.
As espécies encontradas estão distribuídas em quatro guildas
tróficas: frugivoros/onívoros, frugivoros/herbívoros, insetívoros/onívoros e
carnívoros. A categoria frugívoro/onívoro foi a que apresentou maior número
de espécies, com 43% do total (Figura 3).
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral
Didelphis aurita
Cerdocyon thous
Puma concolor
Canis familiaris
ND
Mazama sp.
Dasypus novencinctus
Lontra longicaudis
Frequência relativa (%)
Parcelas de areia
Transectos visual
e de pegadas
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Figura 3. Representatividade das guildas tróficas das espécies encontradas na APA de Ilha
Comprida.
Discussão
Dos animais encontrados, apenas a onça-parda está sob algum grau
de ameaça de extinção (MACHADO et al. 2008; BRESSAN et al. 2009). A
presença dessa espécie na região torna clara a importância da Ilha
Comprida nas estratégias de conservação da mata atlântica no país.
Em relação às categorias tróficas, foi observado um grande
predomínio de espécies generalistas. Essas espécies são beneficiadas em
ambientes perturbados, pois são capazes de utilizar diversos tipos de
habitats e itens alimentares permitindo assim, que esses animais
sobrevivam em ambientes onde espécies com hábitos mais restritos não
sobreviveriam (SILVEIRA 2005). O grupo com maior número de espécies
encontradas foi o dos frugivoros/onívoros, englobando o gambá-de-orelha-
preta, o cachorro-do-mato e o mão-pelada. Dentre eles, o gambá foi o que
obteve maior número de registros. Segundo Pires et al. (2002) esta é uma
espécie bastante comum em toda área de distribuição, mostrando grande
43%
14%
29%
14%
Frugivoro - Onivoro
Frugivoro - Herbíoro
Carnivoro
Insentivoro-Onivoro
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eficiência adaptativa aos mais variados habitats, vivendo até mesmo em
grandes centros urbanos.
O cachorro-do-mato também obteve um grande número de detecções,
principalmente na área de restinga, onde a maioria dos registros por
transectos de pegadas foi obtido. É conhecido por ser um animal oportunista
e generalista, tendo invertebrados, frutos e pequenos vertebrados como os
principais componentes de sua dieta (EMMONS e FEER, 1997).
O mão-pelada apresentou apenas um registro sendo o único obtido por
censo visual. Fato curioso, já que segundo Cheida et al. (2006) este é um
animal difícil de ser avistado e fácil de ser constatado por meio de pegadas.
Eles apresentam uma pegada característica e utilizam frequentemente
áreas próximas a corpos d’água, que possuem substrato bastante favorável
para a impressão de rastros. Da ordem carnívora, essa é uma das espécies
menos estudadas (MORATO et al. 2004). Na Ilha Comprida sua dieta é
constituída basicamente por crustáceos, aves e frutos, contudo em outras
localidades sua dieta também pode abranger pequenos mamíferos, peixes e
insetos (NAKANO-OLIVEIRA 2006). Por serem frugívoras, essas três
espécies atuam como potenciais dispersores de sementes (CÁCERES, 2002).
Essas características os tornam, portanto, animais de suma importância
para os processos de regeneração e reestruturação florestal da APA da Ilha
Comprida.
Outras guildas tróficas encontradas, e também representadas
por espécies generalistas, foram os de frugívoros/ herbívoros e
insetívoros/onívoros. As duas foram representadas apenas por uma espécie,
o veado e o tatu-galinha respectivamente. Acredita-se que ambas sejam
pouco abundantes na ilha, pois além do baixo número de registros elas estão
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entre as espécies mais procuradas por caçadores na região (CHEIDA et al.
2008).
Os representantes da categoria Carnívoros foram a onça-parda e a
lontra, que ao contrário das espécies anteriormente citadas, possuem uma
exigência ambiental maior. A onça-parda embora tenha sido o animal com o
segundo maior número de registros, acredita-se que não existam muitos
indivíduos dessa espécie na Ilha Comprida (NAKANO-OLIVEIRA 2006), já
que são animais que necessitam de grandes áreas de habitat, geralmente
maiores que 100 km2 (SWEANOR et al. 2000). Por ser um grande predador
que necessita de uma extensa área de vida, e pela maior perseguição
humana, a presença dessa espécie em áreas muito fragmentadas e
urbanizadas é cada vez mais rara (MAZOLLI et al. 2002). A espécie é
classificada como vulnerável no Estado de São Paulo (BRESSAN et al. 2009)
e na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(MACHADO et al. 2008). Um fator preocupante, já que são consideradas
“espécie-chave”, ou seja, animais que afetam a organização da comunidade
com base apenas na quantidade de indivíduos ou biomassa (JANZEN 1986)
e são importantes no controle de populações de herbívoros (REDFORD
1992). Sua dieta é composta basicamente por mamíferos de pequeno e médio
porte (MARTINS et al. 2008).
Os registros de lontra foram sempre encontrados ao lado de cursos
d’água. A lontra é uma espécie semi-aquática que se locomove bem dentro de
rios, lagos, manguezais, baías e lagunas (MARGARIDO e BRAGA, 2004).
Ela se alimenta basicamente de peixes e crustáceos (KASPER et al. 2004),
costumando capturá-los dentro d’água e indo comê-los em terra (PARDINI,
1998). Em um estudo realizado por Kasper et al. (2004) na região sul do
país, foi constatado o consumo de restos de uma carcaça de boi por estes
animais, sugerindo um hábito oportunista para a espécie pouco descrito
antes. Este comportamento pode justificar a possível atração desse animal
Artigo Original
PORTELLA, Tatiana Pineda; FLYNN, Maurea Nicoletti. Inventario rápido de mamíferos de médio e
grande porte da Área de Proteção Ambiental da Ilha Comprida, SP..RevInter Revista Intertox de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 19-37, jun. 2012.
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pela isca de bacon disposta na parcela de areia ao lado do rio, a qual foi
responsável pelo único registro do animal por este método.
O grande número de registros de cachorro doméstico dentro da região
é um fator preocupante. A presença de animais domésticos e espécies
invasoras tem sido a terceira maior ameaça a animais nativos em risco de
extinção, ficando atrás apenas para a destruição e sobre-exploração de
habitat (GROOM et al. 2006). Em um estudo realizado por Nakano-Oliveira
(2006) foi constatado que esses animais estão se alimentando
constantemente de presas silvestres, sendo, portanto, predadores diretos de
espécies nativas, além de competirem por alimento e espaço com outros
predadores. Além disso, podem ser potenciais transmissores de doenças à
fauna silvestre como a cinomose, parvovirose e raiva (RODDEN et al. 2004).
Desta forma, é de extrema urgência um plano de manejo que controle
animais domésticos que vivem soltos na região.
Agradecimentos
Á Doutoranda Fabiana Rocha-Mendes da Unesp Rio Claro pela
identificação das espécies através da miscroestrutura dos pêlos-guarda e ao
PIBIC-Mackenzie pela bolsa concedida a TPP.
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Artigo Original
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, v. 5, n. 2, p. 38-64, jun. 2012.
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Mapeamento da Suscetibilidade a
Inundações da Bacia do Rio Cotia
Danielle Durães Fontana
Gestora e Engenheira Ambiental, Faculdades Oswaldo Cruz.
Email:[email protected]
Maria Gabriela Silva
Gestora e Engenheira Ambiental, Faculdades Oswaldo Cruz.
Email: [email protected]
Ricardo Saleimen Coorientadores da TCC
Curso de Engenharia Ambiental das Faculdades Oswaldo Cruz
Kleber Cavazza Campos Coorientadores da TCC
Curso de Engenharia Ambiental das Faculdades Oswaldo Cruz
Júlio César Zanzini Orientador da TCC
Curso de Engenharia Ambiental das Faculdades Oswaldo Cruz
Artigo Original
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, v. 5, n. 2, p. 38-64, jun. 2012.
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Resumo
A bacia do Rio Cotia está inserida na Bacia Hidrográfica do Alto do Tietê e
leva esse nome, em razão de seu principal curso d’água pertencer ao
município de Cotia na Região Metropolitana de São Paulo. Esta bacia está
localizada nos Planaltos de Ibiúna e Paulista, apresentando elevações que
variam de 750 à 1025m e é dividida em Alto Cotia e Baixo Cotia. Apresenta
um risco intrínseco de inundações nas áreas mais baixas e de vale. O
objetivo deste estudo é de buscar o entendimento da dinâmica físico-química
desta bacia hidrográfica, bem como a análise crítica dos riscos existentes e
eminentes de inundações nas áreas mais baixas, considerando
principalmente o grau de ocupação e a importância ecológica desta região.
Com base em cartas topográficas e utilizando como ferramenta o
geoprocessamento foi possível identificar que a região da Baixo Cotia
apresenta alto risco de inundações.
Palavras chave: Rio Cotia. Bacia Hidrográfica. Inundações.
Geoprocessamento.
Abstract
The basin of Rio Cotia is inserted in the Hidrográfica Basin of Alto Tietê and
its name is derived from the city of Cotia in the Region Metropolitan of São
Paulo. This basin is located in Plateaus of Ibiúna and Paulista, with rises
that vary from 750 to 1025 m. It is divided in Alto Cotia and Baixo Cotia. It
presents an intrinsic risk of flooding in valleys and lower areas. The
objective of this study is to understand the physic-chemistry dynamics of the
basin, as well as the critical analysis of the existing and eminent risks of
flooding in low areas, mainly considering the degree of occupation and the
ecological importance of this region. Using topographic maps and
geoprocessing techniques flooding risk areas were identified.
Key-words: Cotia River. Hydrographic Basin. Flooding. Geoprocessing
Techniques.
Artigo Original
FONTANA, Danielle Durães; SILVA, Maria Gabriela. Mapeamento da Suscetibilidade a Inundações
da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
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40
Introdução
No início do século XX, foram realizadas as obras das represas que
abasteceriam a cidade de Cotia e posteriormente destinadas também ao
abastecimento das cidades circunvizinhas, em destaque São Paulo. O
município de Cotia localiza-se na porção Oeste da Região Metropolitana de
São Paulo – RMSP. Esta é considerada a primeira intervenção mais intensa
registrada na Bacia Hidrográfica do Rio Cotia. Em 1927 foi instalada a
Cooperativa Agrícola de Cotia, dando o apelido à cidade de Cinturão
Caipira, este avanço populacional foi responsável pela grande intervenção
extrativista na Mata Atlântica, afetando diretamente a qualidade da bacia
hidrográfica de toda a região.
Na década de 1930 houve uma expansão do setor industrial e
especulação imobiliária incentivada pelo poder público local. Com a
inauguração da Rodovia Raposo Tavares, Cotia passou a ter uma via direta
com a Metrópole São Paulo, o que fez com que o município perdesse seus
limites bem definidos, comprometendo o espaço urbano devido aos diversos
loteamentos de classe média a alta que se instalaram no entorno da rodovia.
Decorrente desse crescimento desordenado houve ocupação de áreas
de risco, como encostas e vales acentuados. A ocupação pela população de
baixa renda se distribuiu pela cidade, ocupando o vale do Rio Cotia e sua
montante, em direção a Reserva Florestal do Morro Grande. Já as ocupações
da população de classe média a alta instalaram-se ao longo da rodovia
Raposo Tavares e a jusante do Rio Cotia. O setor industrial instalou-se nas
áreas da bacia do Rio Cotia devido a facilidade de acesso as rodovias.
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
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Devido ao alto grau de industrialização e urbanização desta região,
bem como pontos de erosão, desmatamento e diminuição do nível d’água
superficial, a qualidade das águas superficiais é diretamente afetada pelo
lançamento in natura de esgotos industriais e domésticos, além dos
sedimentos carreados da montante para a jusante pelo próprio curso do rio.
Entre as formas de impacto nesta bacia, cita-se também o êxodo urbano que
resulta em usos e ocupações inadequados, alterando de forma quantitativa e
qualitativa os corpos d’água, trazendo como consequência danos econômicos,
sociais e ambientais.
O entendimento da dinâmica físico-química da Bacia do Rio Cotia se
faz necessário devido à sua importância no abastecimento tanto para o
município onde está a nascente, quanto para as cidades adjacentes, entre
elas o município de São Paulo. O objetivo deste trabalho é analisar a atual
situação da Bacia Hidrográfica do Rio Cotia quanto à suscetibilidade à
inundação e disponibilidade hídrica, bem como apontar a situação de
preservação dos seus mananciais com auxílio do método de
geoprocessamento, informações topográficas e bibliográficas. Serão
identificados os pontos de maior risco para a população local e para o meio
físico e biológico. O mapeamento dessas áreas auxiliará na elaboração de
estudos de planejamento ambiental e na execução de projetos de prevenção a
ocupações irregulares, inundações futuras e correção do cenário atual nesta
bacia.
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Descrição Física da Área
Segundo Silva e Oliveira (2009) a bacia do Rio Cotia está inserida em
dois contextos geomorfológicos: Planaltos de Ibiúna e Paulistano. O alto
curso do Rio Cotia está localizado no planalto de Ibiúna, embasado no
intervalo altimétrico de 930 a 980 metros. Após a Cachoeira da Graça, o Rio
Cotia deixa seu compartimento de origem e penetra o Planalto Paulistano.
As figuras 1, 2 e 3 apresentam o Rio Cotia em toda a sua extensão,
da nascente até o deságue no rio Tietê, mostrando respectivamente, um
modelo tridimensional da bacia com o bloco soerguido, em vermelho e
laranja, correspondendo ao planalto de Ibiúna, enquanto a área mais
rebaixada, predominantemente em amarelo e verde, representando o
planalto Paulistano; o perfil longitudinal; e o perfil topográfico geológico da
Serra de Paranapiacaba até o rio Tietê.
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Figura 1: Modelo tridimensional da bacia do Rio Cotia. Fonte:
SILVA e OLIVEIRA, 2009.
Figura 2 Perfil longitudinal do Rio Cotia da nascente até a foz no rio Tietê. Fonte: SILVA e
OLIVEIRA, 2009
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Figura 3: Perfil topográfico geológico da Serra de
Paranapiacaba até o rio Tietê. Fonte: SILVA e OLIVEIRA, 2009.
A região do município de Cotia encontra-se em um clima
denominado Cwa (Conforme classificação Koeppen), sigla que caracteriza
um clima tropical de altitude, com a predominância de chuvas no verão e
secas durante o inverno. A temperatura média durante o verão é de 22º, e a
temperatura média durante o inverno é de 16º. A figura 4 apresenta o
climograma anual de temperatura e pluviometria (CEPAGRI, S/D).
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Figura 4: Temperatura e pluviometria do município de Cotia/SP. Fonte:
CEPAGRI, S/D.
Segundo Beu (2008), a bacia hidrográfica do Rio Cotia, é formada
pelos Rios Capivari e dos Peixes, dando origem ao Rio Cotia no Alto Cotia,
córrego Manoel Góes Serrano, Córrego Potium, Ribeirão das Pedras e
Ribeirão do Aterrado, no Baixo Cotia.
O Alto Cotia é uma região com menor interferência antrópica por se
localizar na reserva florestal do Morro Grande, área protegida pela SABESP
(Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo), local onde
há dois represamentos, a represa Pedro Beicht e a represa da Graça,
pertencentes ao sistema produtor de água do Alto Cotia. Já o Baixo Cotia
encontra-se em uma situação oposta. A falta de manejo e proteção dos
mananciais, a ocupação irregular e a ausência de infraestrutura geram
contaminação hídrica, assoreamento dos corpos d’águas e o
comprometimento no tratamento das águas para abastecimento público.
Temperatura e Pluviometria - Cotia / SP
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
°C
0
50
100
150
200
250
mm
Temp. Mínima Temp. Máxima Temp. Média Chuva (mm)
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Possui apenas um represamento localizado próximo à confluência com o Rio
Tietê nomeado Reservatório Isolina, pertencente ao sistema produtor de
água do Baixo Cotia (ZUFFO, 2002).
A região do Rio Cotia, da nascente ao exutório, encontra-se sobre as
litopedologias: Granitóides foliados peraluminosos, tipo S, pré a
sincolisionais, do Terreno Embu (NP3eγ1S); Granitóides foliados
calcialcalinos, tipo I, pré a sincolisionais, do Orógeno Paranapiacaba
(NP3pγ1I); Complexo Embu, unidade de xistos, localmente migmatíticos
(NPexm); Grupo Votuverava, unidade terrígena – Supergrupo Açungui
(MP1vot), conforme apresentado na figura 5 descrito no mapa Geológico do
Estado de São Paulo, 1:750.000 (CPRM, S/D).
Figura 5: Mapa da geologia regional do Rio Cotia. Fonte: CPRM, S/D.
A qualidade da água pertencente à bacia do Rio Cotia é monitorada
pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em cinco
MP1vot
NPexm
NP3eγ1S
NP3pγ1I
Cotia/SP
MP1vot
Represa Pedro
Beicht
Represa da Graça
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pontos. De acordo com os pontos monitorados pode-se dizer que o ponto mais
crítico de matéria orgânica devido lançamento de esgoto doméstico é o baixo
cotia onde também se concentra a maior ocupação populacional.
Com auxílio do software MAPINFO® versão 10.5, as cartas
topográficas dos bairros do município de Cotia em escala de 1:10000, cedidas
gentilmente pela CESAD – Seção de Produção de Bases Digitais para
Arquitetura e Urbanismo – USP em Junho de 2010, foram georreferenciadas
e geoprocessadas, através da vetorização manual das linhas topográficas,
uma vez que o material foi cedido em formato raster (imagem – jpeg) e a
partir desse vetor (curvas de nível) foi possível obter o modelamento do
terreno e a formatação de um mapa temático (hipsométrico) que mostra a
representatividade da geomorfologia da Bacia Hidrográfica do Rio Cotia,
indicando os pontos altos (divisores de águas) e, principalmente, os pontos
mais baixos do terreno, fornecendo então, informações sobre a possibilidade
de inundações em períodos de maior intensidade pluviométrica
A bacia do Rio Cotia é formada por doze cartas: Água Espalhada:
Articulação 1341 (1994); Bairro dos Brotas: Articulação 1346 (1992);
Caraguatá: Articulação 2333 (1987); Caucaia do Alto: Articulação 1344
(1994); Cotia: Articulação 2316 (1994); Grilos: Articulação 1222 (1986);
Raposo Tavares: Articulação 1326 (1996); Rio Sorocamirim: Articulação
1343 (1994); Vargem grande: Articulação 1342 (1994); Vila Santa Rita:
Articulação 2315 (1996); Vila Santo Antônio: Articulação 2325 (1995); Tijuco
Preto: Articulação 2331 (1994); onde todas foram analisadas de acordo com
seu grau de declividade através do software supracitado.
Artigo Original
FONTANA, Danielle Durães; SILVA, Maria Gabriela. Mapeamento da Suscetibilidade a Inundações
da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, v. 5, n. 2, p. 38-64, jun. 2012.
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Com base nos estudos realizados, foi possível identificar as áreas com
maior risco de inundação devido aos pontos mais baixos associados as
declividades mais altas conforme pode-se verificar nos mapeamentos a
seguir.
a) Articulação 2316 – Cotia:
Região central de Cotia, tendo a Rodovia Raposo Tavares a maior e principal
via de acesso a todo o município (Figuras 6, 7 e 8).
Figura 6: Mapa 3D – Cotia. Fonte: EMPLASA (1994).
Artigo Original
FONTANA, Danielle Durães; SILVA, Maria Gabriela. Mapeamento da Suscetibilidade a Inundações
da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, v. 5, n. 2, p. 38-64, jun. 2012.
49
Figura 7: Mapa Hipsométrico – Cotia. Fonte: EMPLASA (1994).
Figura 8: Imagem de Satélite – Cotia. Fonte: GOOGLE EARTH, 2011.
Região localizada nas proximidades do centro do município de Cotia,
com um adensamento populacional alto e a presença da Rodovia Raposo
Tavares em toda sua extensão como pode ser observado na figura 38. O
corpo d’água presente nesta região é o Rio Cotia, com a importância quanto
ao seu volume e vazão. As cotas dessa região variam de 750 m a 950 m.
b) Articulação 2315 – Vila Santa Rita:
Região de divisa entre Cotia, Itapevi e Vargem Grande, contendo os
bairros Granja Carolina, Mirante da Mata e o bairro das Graças (Figuras 9,
10 e 11).
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, v. 5, n. 2, p. 38-64, jun. 2012.
50
Figura 9: Mapa 3D – Vila Santa Rita. Fonte: EMPLASA (1996).
Figura 10: Mapa Hipsométrico – Vila Santa Rita. Fonte: EMPLASA (1996).
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
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51
Figura 11: Imagem de Satélite – Vila Santa Rita. Fonte: GOOGLE
EARTH, 2011.
Esta folha apresenta uma área baixa onde pode ocorrer inundação
próxima à Estrada Velha da Olaria e Estrada do Sítio Grande, suas feições
topográficas variam de 775 m a 1000 m. A classificação de adensamento
populacional é considerada alta e isso é um agravante em épocas de
precipitações contínuas que saturam o solo.
c) Articulação 2325 – Vila Santo Antonio:
Região de divisa entre Cotia e Embu, contendo os bairros Jardim do
Engenho, Jardim Horizontal e Jardim Fontana (Figuras 12, 13 e 14).
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52
Figura 12: Mapa 3D – Vila Santo Antonio. Fonte: EMPLASA (1995).
Figura 13: Mapa Hipsométrico – Vila Santo Antonio. Fonte: EMPLASA (1995).
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53
Figura 14: Imagem de Satélite – Vila Santo Antônio. Fonte:
GOOGLE EARTH, 2011.
Contempla o Ribeirão Moinho Velho, Córrego Munck, Córrego Retiro
das Pedras e suas cotas topográficas vão de 775 m a 875 m. Apresenta um
grau de adensamento populacional alto. As áreas demarcadas na figura 44
são áreas de alto risco devido à presença de muitos corpos hídricos e a
ocupação das áreas de várzea e a impermeabilização do solo.
d) Articulação 2331 – Tijuco Preto:
Região integrante do Distrito de Caucaia do Alto, contendo o limite
da RFMG (Figuras 15, 16 e 17).
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54
Figura 15: Mapa 3D – Tijuco Preto. Fonte: EMPLASA (1994).
Figura 16: Mapa Hipsométrico – Tijuco Preto. Fonte: EMPLASA (1994).
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
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55
Figura 17: Imagem de Satélite – Tijuco Preto. Fonte: GOOGLE EARTH, 2011.
Esta região apresenta feições topográficas de 775 m a 950 m e o Rio
Cotia é responsável pela drenagem. Nesta área também contempla a
Estação de Tratamento de Água, a Barragem da Graça, que é alimentado
pelo Ribeirão da Graça. A área de risco delimitada na figura 45 é a mais
baixa da região, com alto grau de adensamento e a ocupação já margeia o
Rio Cotia o que torna a área de grande risco de inundação.
Discussão
Na região já existem conflitos de ocupação como, por exemplo, área
industrial muito próxima às áreas residenciais, além do conflito natural do
desenvolvimento econômico versus preservação ambiental da fauna e flora
que coloca em risco muitas reservas e corpos hídricos. Em algumas áreas de
estudo deste projeto, é possível identificar que a ocupação coloca em risco a
drenagem e o escoamento natural dos corpos hídricos. Segundo Canholi
(2005), o problema real se dá em épocas de chuvas consecutivas, quando há
saturamento dos solos e das galerias. O que juntamente com a ocupação
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56
irregular em áreas de várzea, pode produzir inundações crônicas, pois
quando o volume do rio atinge níveis mais altos, devido às chuvas, ele alaga
as várzeas naturalmente e se essa área estiver ocupada, as residências, por
consequência, serão atingidas.
Outro fator importante é o assoreamento dos rios e córregos tanto
por resíduos sólidos quanto por sedimentos. Segundo Frankenberg (2003),
devem ser realizadas limpezas periódicas e manutenção preventiva
constantes nas bocas de lobos e galerias, principalmente antes das épocas
chuvosas para evitar entupimento devido descarte de resíduos nas vias e
calçadas. Esses resíduos podem também atingir os rios e córregos.
Para reduzir os casos de enchentes e danos à população segundo
Canholi (2005), deve ser realizado um planejamento consistente de
drenagem urbana, prevendo a combinação adequada de recursos humanos e
materiais e o balanceamento entre as medidas estruturais e não estruturais.
Nos casos em que as medidas estruturais - obra de canalização, o desvio de
corpos hídricos, recomposição vegetal, controle de erosão - são inviáveis
tecnicamente ou economicamente, as medidas não estruturais, como por
exemplo, educação ambiental e sistemas de alerta, podem reduzir os danos
esperados em curto prazo, com investimentos reduzidos.
Com base no estudo exposto, é nítida a necessidade da
regulamentação, fiscalização e principalmente planejamento quanto à
especulação imobiliária desenfreada que ocorre em todo o município de Cotia
e nos demais municípios pertencentes à Bacia Hidrográfica em estudo.
Porém a principal preocupação perante a preservação da dinâmica desta
bacia hidrográfica é quanto à ocupação irregular existente na região, uma
vez que esta intervenção causa danos diretos à bacia como: desmatamento
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da mata ciliar, assoreamento dos corpos d’água, contaminação das águas
superficiais e subterrâneas, etc.
A ação emergente em toda essa região é, para áreas
impermeabilizadas, a efetivação das redes de drenagem pluvial com a
atuação de galerias que comportem o pico máximo de chuvas constantes, e
para áreas ainda não impermeabilizadas, a atuação na preservação das
matas ciliares e do ecossistema como um todo no entorno dos corpos d’água.
Reforça-se que as ações em andamento no município, alargamento
de pontos e canais de escoamento, terão o efeito de acelerar a velocidade do
rio e transferir o problema para a jusante. Ações de retardamento devem ser
tomadas para restaurar as condições naturais originais dos rios e córregos:
manter ou restaurar as várzeas dos córregos; preservar os meandros; dotar
as canalizações de revestimento rugoso para redução da velocidade do
escoamento; restaurar a vegetação ciliar tendo como finalidade deter o
escoamento; e reduzir o pico das enchentes por meio do amortecimento das
ondas de cheia (CANHOLI, 2005), Essas ações podem ser associadas a
atividades de lazer e recreação mediante monitoramento da qualidade
d’água.
Conclusão
A bacia do Rio Cotia é uma região de extrema importância devido ao
seu impacto na bacia do Alto Tietê, pois é um contribuinte de descarga no
Rio Tietê além de ser uma área de extrema ocupação populacional. Esta
bacia é dividida em dois setores de estudo: Alto e Baixo Cotia. Ao se analisar
os mapas hipsométricos elaborados, é possível identificar que as principais
áreas com risco de enchente estão localizadas no Baixo Cotia, pois é a área
que tem maior interferência antrópica. A maior parte do Alto Cotia está
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localizado na Reserva Florestal do Morro Grande, onde se concentra a maior
parte das nascentes dos afluentes do Rio Cotia.
As folhas cartográficas: Cotia, Vila Santa Rita, Vila Santo Antônio e
Tijuco Preto são as que apresentam as menores altitudes levantadas nesse
estudo e segundo Canholi (2005) essa seria uma área de inundação
ribeirinha, onde ocorrem inundações naturais resultado da flutuação dos
rios durante os períodos secos e chuvosos. Os problemas ocorrem devido à
ocupação dessas áreas de risco pela população e que nesta combinação com
impermeabilização do solo e canalização dos corpos hídricos, se torna uma
área de risco alto e iminente em épocas de chuvas torrenciais e consecutivas.
Com o crescimento econômico, Cotia teve um aumento populacional
de 53% desde 1991, tendo como último censo, população de 201.150
habitantes (IBGE, 2010), resultando na implantação de inúmeros
condomínios além de ocupações irregulares.
O índice de chuvas é mais intenso nos meses de janeiro e fevereiro
(respectivamente 172 e 211 mm de chuva acumulado). Esses são os meses de
maior risco para a população local, pois o aumento da área
impermeabilizada, assoreamento dos rios e ocupação irregular faz com que a
drenagem pluvial permeie mais lentamente pelo solo e, esse volume de água,
passa a atingir residências e outras áreas de interesse ecológico e social.
Além da quantidade, a qualidade desses corpos d’água deve ser
ressaltada, apesar de não causar interferência no processo de inundações
pode causar contaminação na população circunvizinha por doenças de
veiculação hídrica. De acordo com os dados obtidos, o rio se encontra
extremamente degradado em toda a sua extensão do Baixo Cotia, o que é um
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dado alarmante já que alguns municípios se utilizam desse corpo hídrico
para abastecimento público, como é o caso da Represa Isolina.
O Alto Cotia apresenta índices de qualidade melhores, pois a sua
localização é mais protegida – Reserva Florestal do Morro Grande. Os corpos
hídricos localizados no Alto Cotia são responsáveis pelo abastecimento do
próprio município de Cotia, além do município de São Paulo. Alguns projetos
já em andamento em parceria com o Estado de São Paulo preveem o
tratamento de 85% do esgoto sanitário para 2013. Melhorando a situação
atual de 43% de esgoto tratado na região para os 39% de esgoto coletado.
Um projeto desafiador, pois isso impactará diretamente na qualidade dos
corpos d’água, uma vez que o descarte inadequado de esgoto doméstico é o
maior responsável pela poluição hídrica local.
As regiões de Cotia, Vila Santa Rita, Vila Santo Antônio e Tijuco
Preto, além de apresentarem as menores altitudes também são as regiões de
maior adensamento populacional, aumentando consideravelmente a
possibilidade de enchentes e inundações. O melhor meio de se evitar
grandes transtornos por inundação é regulamentar o uso do solo, limitando
a ocupação de áreas inundáveis a usos que não impeçam o armazenamento
natural da água pelo solo e que sofram poucos danos em caso de inundação.
Esse zoneamento pode ser utilizado para promover usos produtivos e pouco
sujeitos a danos, permitindo a manutenção de áreas de uso social, como
áreas livres no centro das cidades, reflorestamento, e certos tipos de uso
recreacional. O estudo detalhado das áreas de risco se faz necessário, uma
vez que é intrínseca a aplicação de ações que evitem ou minimizem o
desequilíbrio da Bacia Hidrográfica do Rio Cotia e de todos que dependem e
interagem com esta.
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da Bacia do Rio Cotia.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, v. 5, n. 2, p. 38-64, jun. 2012.
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Artigo Original
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Análise de Produção e Extração de Biogás no
Aterro Sanitário Lara, Visando Aspectos Ambientais e Possíveis Benefícios Energéticos. RevInter
Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 65-86, jun. 2012.
65
Análise de Produção e Extração de Biogás no
Aterro Sanitário Lara, Visando Aspectos
Ambientais e Possíveis Benefícios
Energéticos.
Rodrigo Malanconi Engenheiro Ambiental pelas Faculdades Oswaldo Cruz, São Paulo.
Email: [email protected]
Rodrigo Chimenti Cabral Engenheiro Civil e Gerente da Lara Energia
Artigo Original
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Análise de Produção e Extração de Biogás no
Aterro Sanitário Lara, Visando Aspectos Ambientais e Possíveis Benefícios Energéticos. RevInter
Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 65-86, jun. 2012.
66
Resumo
Com o crescimento do numero de projetos de captação de biogás em aterros
sanitários visando redução de gases de efeito estufa emitidos para a
atmosfera, esse trabalho foi elaborado para a melhoria qualitativa e
quantitativa do sistema de captação a partir de um estudo sobre a pluma de
gás e pressão de extração exercida nos poços de gás. Um aterro sanitário
com sistema de captação de biogás, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
pode gerar créditos de carbono. Os créditos de carbono constituem uma
espécie de moeda para a comercialização da mitigação de Gás de Efeito
estufa em países que ratificam o protocolo de Kyoto. Com o estudo de
plumas de gases e controle de pressões durante a captura de biogás é
possível estabelecer pressões ideais direcionadas nas áreas de maiores
concentrações de gás metano. Consegue-se assim uma maior eficiência de
extração do biogás sem ocasionar a injeção de ar atmosférico no maciço do
aterro, o que ocasionaria o aumento da presença de bactérias aeróbias no
maciço de resíduos sólidos acabando com as colônias de bactérias
metanogênicas responsáveis pela degradação que gera gás metano.
Palavras-chave: Metano. Pluma de gás. Aterro Sanitário.
Abstract
With the increase in number of gas capture projects on landfills aiming to
reduce greenhouse gases emissions, this work was elaborated to qualitative
and quantitative improvement of the collection system based on the study of
the gas plume and pressure exerted on gas wells extraction. A landfill with
a gas capture system, the Clean Development Mechanism, can generate
carbon credits, a currency for greenhouse gas emission mitigation marketing
in countries that ratify the Kyoto Protocol. By studying the gas plume and
the pressure control during the biogas capture it is possible to establish an
ideal pressure directed to the areas of highest methane gas concentration,
thus making a better biogas extraction without entailing the atmospheric
air injection into the landfill, which would cause the increased presence of
aerobic bacteria in the massive solid waste, wiping out bacteria colonies
responsible for degradation in methanogenic anaerobic conditions which
generates methane gas.
Key words: Methane. Landfills. Plume of gas.
Artigo Original
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Análise de Produção e Extração de Biogás no
Aterro Sanitário Lara, Visando Aspectos Ambientais e Possíveis Benefícios Energéticos. RevInter
Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 65-86, jun. 2012.
67
Introdução: Descrição do Aterro Sanitário Lara
O aterro Sanitário Lara localizado no bairro de Sertãozinho (Mauá –
SP) possui um total de 300 poços de extração de biogás distribuídos em uma
área aproximada de 30 hectares. O aterro recebe em média 2.800 toneladas
de lixo residencial por dia, somando um total aproximado de 10.500.000
toneladas de resíduos sólidos aterrados, o aterro está em operação pela
empresa Lara desde 1991, e o sistema de extração e queima de biogás esta
em operação desde 2006 (Figura 1).
Os efluentes líquidos, o chorume, e gasosos, o biogás gerados durante
a decomposição da matéria orgânica presente nos resíduos depositados são
drenados por gravidade através de sistemas de drenagens horizontais e
verticais interligados desde a base até a última camada de descarregamento
de resíduo sólido no aterro Lara (Figura 2).
Figura 1: Ilustração do Aterro Sanitário Lara. Figura 2. Drenagens de base.
Fonte: Lara Energia
Em todas as drenagens verticais do aterro sanitário foram instalados
cabeçotes conectados a tubulações que capturam o biogás no maciço de
resíduo e encaminham até a usina de aspiração (Figura 3). Para facilitar a
localização dos poços, no aterro estes são divididos em dez estações de
regulagem (manifolds) e a cada mês é realizado um levantamento
planialtimétrico com a localização, numeração e a tubulação de extração de
cada poço.
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Figura 3: Linhas de captação Figura 4: Planta do aterro com a localização dos poços e da
disposição de resíduos. Fonte: Lara Energia
Cada estação de regulagem ramifica-se em doze linhas de tubulação
secundárias de 110 mm que são distribuídas pelo aterro para a captação do
biogás, em cada linha são conectados em média três poços de acordo com sua
vazão de biogás, em regiões que há pouca vazão podem-se conectar mais
poços na mesma linha para que a pressão seja dividida de forma que não
oxigene os poços. Já as regiões que apresentam maiores vazões são
conectadas, menos poços por linha para que haja maior eficiência de
extração de biogás através de um balanceamento de perdas de carga
Mbar/metro de linha secundária (Figura 5). A usina de captação conta em
seu projeto com quatro conjuntos de motores e sopradores com capacidade
nominal de 4000 Nm3/h por conjunto, dois flares com capacidade de 8000
Nm3/h por unidade (Figura 6).
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Figura 5: Coletor I com as doze ramificações (linhas) Figura 6: Conjuntos motores e
sopradores
Fonte: Usina de captação de biogás Lara
Os motores acoplados aos sopradores exercem a pressão de sucção que é
distribuída em todo aterro para a extração de biogás e pressão positiva para envio
do gás extraído do aterro para queimador enclausurado (Flare). Essa pressão de
sucção é controlada por sistema CLP (Controle Lógico Programável) presente na
Usina. A usina de aspiração e queima de biogás conta com sistema supervisório que
monitora todos os dados da usina, e apresentam dados atuais de pressões, vazão de
biogás em Nm3/h, temperatura de queima entre outros dados da planta e um
sistema registrador que registra minuto a minuto os mesmos dados apresentados
pelo sistema supervisório (Figura 7).
Figura 7: Supervisório da Lara Energia. Fonte: Lara Energia.
A partir dos dados registrados são executados relatórios de monitoramento
das reduções de emissões de gases de efeito estufa para avaliações
realizadas por Entidades Operacionais Designadas (DOE) com a finalidade
de obtenções de certificados de emissões reduzidas (CER´s). As emissões
reduzidas (ERy) no aterro sanitário Lara são conquistadas através da
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conversão de gás metano em gás carbônico reduzindo 21 vezes o potencial de
aquecimento global através da queima de biogás em temperaturas acima de
500ºC em flare conforme a metodologia adotada pela UNFCCC - United
Nations Framework Convention on Climate Change (Iclei, Manual para
Aproveitamentode Biogás - Volume 1 - Aterros Sanitários) (Figura 8).
CH4 + 2Ol2 CO2 + 2H2O + ENERGIA TÉRMICA
Figura 7: Queimador de Biogás Enclausurado (Flare). Fonte: Lara Energia
Atualmente são destruídos aproximadamente cerca de 4000 Nm3/h (Normal
metro cúbico por hora) de metano, equivalente a 8,000 Nm3/h de Biogás à
50% de metano, resultando cerca de 1200 a 1500 de Toneladas de Carbono
Equivalente (CO2eq) (O Estado de São Paulo, Vida, 27 de outubro de 2010).
Metodologia de Análise de Extração de Biogás por Plumas
É efetuado um levantamento de qualidade e pressão do Biogás em
cada ponto de extração (poço) no aterro sanitário Lara, este levantamento
atualmente é efetuado duas vezes ao mês, cada levantamento dura em
média 13 dias, após a coleta dos dados é tirada a média dos valores de cada
ponto de extração. Além da média é analisada a pressão de sucção que esta
sendo aplicada no ponto de extração, no aterro Lara a pressão de extração
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em cada ponto não deve ser maior que 1 milibar de pressão, para que não
cause a oxigenação do maciço do aterro.
Após as médias calculadas, os valores são atribuídos respectivamente
em seus pontos georeferenciado na planta do aterro e assim é possível
realizar a pluma de biogás do aterro sanitário Lara.
Levantamento de dados em campo
O levantamento de dados de campo é realizado duas vezes por mês,
em cada poço de extração de biogás através de dois instrumentos de leituras;
um analisador de gás portátil e um mano vacuômetro digital. O analisador
portátil colhe uma amostra do biogás que esta sendo gerado no poço em que
se está fazendo a leitura e fornece os dados de CH4%v/v, CO2%v/v e O2%v/v,
cada leitura dura em média 60 segundos (1 minuto). O mano vacuômetro
analisa pressões negativas e positivas com que o biogás está sendo extraído
do poço durando aproximadamente 15 segundos. Os dados são anotados em
uma planilha de monitoramento e ao final de cada mês é tirada a média das
leituras de todos os poços.
Com a tabela de médias finalizada, os valores são atribuídos em seus
pontos referenciado geometricamente correspondentes aos poços de extração
na planta do aterro em forma de cores estipuladas para cada faixa de
qualidade do biogás avaliado (Tabela 1).
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Tabela 1: Faixa volumétrica de concentração de gás metano (CH4). Fonte: Lara Energia
Faixa volumétrica de concentração de gás metano (CH4) Legenda
> que 60%
Entre 55 e 59,9%
Entre 50 e 54,9%
Entre 45 e 49,9%
Entre 40 e 44,9%
< que 39,9%
A pintura de cada poço não deve ultrapassar 3 centímetros de diâmetro em
levantamento planialtimétrico, pois de acordo com o Gerente Técnico da
Lara Energia, Rodrigo Chimenti Cabral, o diâmetro de influencia calculado
estimado apresenta 30 metros e o levantamento é impresso em uma escala
de 1:1000.
Com todos os poços marcados com suas respectivas cores é efetuada a
pintura ligando ponto a ponto e fazendo a interpolação de acordo com as
cores (qualidades) de cada poço e de cada área do aterro.
O que pode ser observado durante a interpolação dos pontos é que as
concentrações de um ponto vizinho ao outro são na grande maioria
homogênea revelando que o percentual de gás metano produzido pelo aterro
sanitário se “interliga” através das drenagens horizontais. Esta observação
também é revelada em poços que são conectados por diferentes estações de
regulagens (manyfolds) quando a regulagem de extração de biogás é bem
controlada.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Plumas de concentrações mensais do gás metano contida no
biogás extraído
Dados do mês de junho 2009 até setembro de 2010 foram
considerados. Um total de 16 plumas mensais, com as imagens em
sequencia, revela a movimentação da pluma de gás junto ao sentido de
disposição dos resíduos no aterro (Figuras 8 a 24). As regiões brancas em
forma de mancha da planta representam as regiões onde não esta sendo
realizada a extração de biogás no respectivo mês de avaliação, seja ela por
conta de descarga de resíduos sólidos, por cobertura dos resíduos
compactados ou mesmo por construção de linhas secundárias para captura
de gases.
Figura 9. Junho 2009 Figura 10. Julho de 2009
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Figura 11. Agosto de 2009 Figura 12. Setembro de 2009.
Figura 13. Outubro 2009 Figura 14. Novembro de 2009
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Figura 15. Dezembro de 2009 Figura 16. Janeiro de 2010
Figura 17. Fevereiro de 2010 Figura 18. Março de 2010
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Figura 19. Abril de 2010 Figura 20. Maio de 2010
Figura 21. Junho 2010. Figura 22. Julho de 2010
Figura 23. Agosto 2010 Figura 24. Setembro 2010
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Pela sequencia de plumas, alem de se verificar problemas no sistema
de captação pode-se relacionar a pluviosidade com a qualidade do biogás
gerado e monitorar o período desde a descarga de resíduo até a produção de
gás metano ao longo dos meses.
Verificação de falhas no sistema de extração
Abaixo se pode ver uma planta com a pluma finalizada e uma
inconformidade circulada para que possamos compreender um dos possíveis
problemas que a pluma nos indica no sistema (Figura 25).
Figura 25. Pluma de Gás Metano do aterro Lara. Fonte: Lara Energia
Com a pluma de gás é mais fácil encontrar falhas. Como exemplo a imagem
acima há um ponto evidenciando qualidade aproximada de 30%v/v de gás
metano contido no biogás em uma região totalmente circunscrita de
qualidade de 60%v/v de gás metano contido no biogás. Uma provável
hipótese para ocorrência da falha seria uma grande atuação de pressão
negativa de extração de gases do poço maior que o poço poderia atuar para
manter qualidade próxima a região circunscrita de 60%v/v.
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Para resolver este possível problema foi diminuída a pressão negativa
de extração, caso a pressão de extração negativa fosse mantida, poderia
ocasionar a oxigenação da área em volta do poço comprometendo a
qualidade de gás metano presente no biogás da região circunscrita.
A mesma falha pode aparecer de forma inversa, quando uma região
de baixa qualidade de gás metano apresenta um ponto com qualidade alta.
Quando isso acontece ou o poço esta sendo submetido a uma baixa pressão
negativa de extração ou pode estar com algum problema na tubulação, sifão
de líquido ou mesmo entupimento por particulado sólido, fazendo com que a
pressão negativa não chegue corretamente ao poço.
A maioria desses problemas quando isolados e localizados em plantas
são fáceis e rápidos para resolver, geralmente uma manutenção na linha de
extração e ou uma regulagem na pressão é suficiente.
Relação entre a pluviosidade e a geração de gás metano
Uma das características fundamentais para geração de biogás a partir
de resíduo orgânico é a umidade. Para relacionar a umidade com a geração
de gás metano no aterro sanitário Lara foi necessário realizar
levantamentos de dados de pluviometria mensal para comparar com as
plumas de concentrações mensais do gás metano extraído. Os dados de
precipitação acumulada mensal foram coletados a partir de gráficos anuais
da estação metrológica do Mirante de Santana em São Paulo (Figuras 26 e
27).
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Figura 26. Chuva acumulada Mensal (2009). Figura 27. Chuva acumulada
mensal (2010).
Fonte: http://www.inmet.gov.br/sim/abre_graficos.
Para uma melhor comparação com as plumas mensais foram avaliados 2
meses: dezembro de 2009 o qual apresentou precipitação acumulada de
aproximadamente 370 mm e o mês de Agosto de 2010 que não apresentou
precipitação acumulada conforme ilustrado abaixo (Figura 28).
Figura 28. Comparação entre Pluma dezembro de 2009 com agosto de 2010. Fonte: Lara
Energia.
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O que pode ser observado é que provavelmente existe uma relação
direta com a produção de biogás a qual é mais expressiva diante a maior
pluviosidade no aterro sanitário Lara.
Avaliação do tempo de geração de gás metano após deposição de resíduos
sólidos
Em uma das regiões do aterro sanitário Lara depositou-se resíduos
sólidos urbanos no ano de 2003 e em 2008 apresentava baixo percentual de
gás metano e baixíssima produção de biogás inviabilizando a extração de
biogás. Conforme os avanços de deposição de resíduos depositaram-se
resíduos nos meses de Maio e Junho de 2009 acima dos resíduos depositados
em 2003. Depois de depositados os resíduos, realizadas as drenagens
verticais e horizontais dos efluentes líquidos e gasosos junto à cobertura da
região, foram inseridos os sistemas de extração de biogás com devidos
cabeçotes aos drenos (poços) conectados às tubulações para condução de
biogás a estação de regulagem (manyfold) nomeada como MF-F.
A região mencionada acima mereceu um estudo da evolução
percentual volumétrica de gás metano gerado ao longo dos meses por conta
de não haver grande mistura do gás metano gerado pelos resíduos sólidos
depositados em 2003 com o gás metano que seria gerado pelos resíduos
depositados após Maio e Junho de 2009.
Abaixo segue uma tabela com os percentuais médios mensais de gás
metano medidos nos poços implantados da região após a descarga de
resíduos para realização das plumas (Tabela 2)
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Tabela 2. Média dos percentuais de gás metano nos poços. Fonte: Lara Energia
Mês jul/09 ago/09 set/09 out/09
Poços %Ch4 v/v %Ch4 v/v %Ch4 v/v %Ch4 v/v
4.1 46,00 57,90 56,00 63,45
4.2 39,40 39,45 44,95 47,45
4.3 28,20 41,35 62,75 59,25
4.4 38,90 52,40 61,15 58,55
5.1 30,80 35,50 41,00 45,00
5.2 33,75 35,35 49,40 56,55
5.3 45,55 53,70 51,40 54,90
5.4 14,75 38,15 57,45 42,00
6.1 36,15 48,25 54,55 62,65
6.2 33,95 38,15 43,40 46,20
6.3 50,45 47,40 53,00 55,05
6.4 46,25 47,05 50,45 55,35
7.1 59,00 58,55 61,35 61,20
7.2 30,25 38,15 65,30 44,45
7.3 32,80 36,60 49,30 45,30
8.1 25,70 43,40 58,90 54,65
8.2 28,45 43,20 55,35 56,60
8.3 31,85 39,10 47,95 63,85
8.4 38,45 46,40 53,35 58,90
Média 36,35 44,21 53,53 54,28
Com os dados da planilha acima foram geradas as plumas mensais (figura
29 e 30).
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Figura 29. Pluma de região nos meses de junho a outubro de 2009. Fonte: Lara Energia
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A figura acima revela que os resíduos foram aterrados e cobertos em junho
de 2009 e extração de biogás na região estudada se iniciou em setembro de
2009 e o percentual de gás metano se manteve até o mês de outubro de 2009.
Figura 30. Média do percentual volumétrico de gás metano contido no biogás produzido no
aterro sanitário Lara. Fonte: Lara Energia.
Observa-se que aproximadamente 3 meses após o aterramento e cobertura dos
resíduos sólidos da região estudada, o percentual de gás metano contido no biogás
produzido pela decomposição dos resíduos orgânicos foi suficiente para iniciar as atividades
de extração.
Conclusões
O biogás produzido em aterros sanitários apresenta em sua
composição dióxido de carbono e gás metano, um gás inflamável que
apresenta poder calorífico de aproximadamente 11 Kw/m3 e é o 2º gás de
Efeito Estufa em ordem de importância, sendo que o produzido por resíduos
sólidos representa 3º maior fonte mundial de emissões de metano.
Com tamanho poder energético o biogás, que apresenta
aproximadamente 6,0 Kw/m3 é utilizado para geração de energia elétrica
como verificado no aterro sanitário Bandeirantes, o primeiro aterro sanitário
brasileiro que utiliza biogás para acionar 24 conjuntos moto-geradores de
925 KW/conjunto, correspondendo a uma potência líquida de 20.000 KW
beneficiando aproximadamente 400 mil habitantes.
MÉDIA DO PERCENTUAL VOLUMÉTRICO DE GÁS METANO CONTIDO NO BIOGÁS
PRODUZIDO NO ATERRO SANITÁRIO LARA
0
10
20
30
40
50
60
jun/09 jul/09 jul/09 ago/09 set/09 set/09 out/09
Mêses
% C
H4
v/v
% CH4 Média
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Apenas a queima do metano, gás que apresenta potencial de
aquecimento global 21 vezes maior que o dióxido de carbono, acarreta
ganhos ambientais na transformação do gás metano em água e gás
carbônico, reduzindo o potencial de aquecimento global, gerando certificados
de emissões reduzidas ou créditos de carbono em países em desenvolvimento
como o Brasil.
O aterro sanitário Lara localizado em Mauá é um exemplo de sucesso
em redução de emissão de gás metano pela queima e vem conquistando em
torno de 1200 a 1500 certificados de emissões reduzidas por dia com o
auxílio de plumas de geração de gás metano contido no biogás que é
capturado.
Através da analise de plumas de gás metano é possível identificar
possíveis manutenções no sistema, checar a interferência da estiagem na
produção de biogás e prever qual melhor momento para extrair biogás após
a deposição de resíduos sólidos.
O presente trabalho descreve detalhadamente o monitoramento
através de plumas de metano produzido mensalmente no aterro sanitário
Lara a fim de compartilhar a técnica de monitoramento com outros projetos
visando melhorias no âmbito qualitativo e quantitativo durante as extrações
de biogás de aterros sanitários.
Referências
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Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos urbanos -
Procedimento. 1984.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.004/2004 -
Resíduos Sólidos - Classificação. 2004.
Artigo Original
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Análise de Produção e Extração de Biogás no
Aterro Sanitário Lara, Visando Aspectos Ambientais e Possíveis Benefícios Energéticos. RevInter
Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 65-86, jun. 2012.
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REVISTA ÈPOCA
SCHIEL, 2008
TSCHOBANOGLOUS, G.; THEISEN, H. & VINIL, S. Integrated solid waste
management.
Engineering principles and management issues. Irwin MacGraw - Hill.
1993. 978p.
UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change
Artigo Original
FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
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Levantamento Secundário do Estado Atual da
Avifauna na Região de Sorocaba, SP.
Guilherme Lessa Ferreira
Possui Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é assessor
técnico do Instituto Inteligência para Sustentabilidade-I2S,
atuando principalmente nos temas: Biocritérios na Avaliação da
Integridade Ambiental, Fauna Silvestre.
E-mail: [email protected]
Maurea Nicoletti Flynn
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Oceanografia
Biológica pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em
ecologia aplicada e experimental pelo programa recém doutor do
CNPq, Universidade de São Paulo. Foi coordenador do Curso de
Engenharia Ambiental das Faculdades Oswaldo Cruz e
Coordenadora de Pesquisas na Escola Superior de Química das
Faculdades Oswaldo Cruz. Professor adjunto do curso de
graduação em Ciências Biológicas e de pós-graduação em
Biodiversidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem
experiência nas áreas de Ecologia Bêntica, Ecologia Experimental,
Dinâmica Populacional e Biodiversidade.
E-mail: [email protected]
Artigo Original
FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
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Resumo
As aves constituem um dos grupos de vertebrados com maior riqueza
específica do mundo. No Brasil, habitam cerca de 1.690 espécies de aves e o
estado de São Paulo abriga grande parte desta diversidade. A realização de
levantamento das espécies sempre se faz necessário, para que se tenha um
conhecimento atualizado do estado de conservação da região em questão. O
objetivo do presente trabalho foi o levantamento secundário da avifauna de
Sorocaba e municípios vizinhos. Para a avaliação do estado de conservação da
avifauna atual, fez-se uma comparação com o levantamento feito por Natterer, no
século XIX, no Morro de Araçoiaba (Flona de Ipanema). A listagem atual resultou
em 236 espécies, 114 destas foram registradas também por Natterer. Da listagem
do naturalista, 221 espécies não foram registradas nos trabalhos selecionados
para a produção da listagem atual, dentre estas, 34 estão listadas como
ameaçada de extinção para o estado de São Paulo, sendo 14 classificadas como
Criticamente em Perigo (CR), 4 Em Perigo (EN), 6 Vulneráveis (VU), 8 Quase
Ameaçadas (NT) e 2 com Dados Insuficientes (DD) para serem enquadradas em
alguma categoria de ameaça. Conclui-se que as espécies não mais registradas
para a região provavelmente estão extintas localmente e que trabalhos desta
magnitude sempre contribuem para o conhecimento do estado de conservação da
avifauna de uma determinada área.
Palavras-chave: Avifauna, Sorocaba, São Paulo
Abstract
The birds are one of the groups with higher richness among vertebrates in
the world. In Brazil, there are about 1690 species of birds and the state of
Sao Paulo is home to most of this diversity. The check-list of species is always
necessary, in order to have an updated knowledge of the conservation status of
Artigo Original
FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
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the region in question. The aim of this study was the check-list of the avifauna
of Sorocaba and neighboring counties. For the evaluation of conservation
status of current avifauna we compared the actual checklist with Natterer’s
check list made in the nineteenth century, in the Morro
de Araçoiaba (Flona Ipanema). The current listing resulted in 236 species, 114 of
these were also recorded by Natterer. In the listing of the naturalist, 221 species
were not recorded in the papers selected for the production of this check-list,
among these, 34 are listed as endangered for the state of São Paulo, with
14 classified as Critically Endangered (CR), 4 In Endangered (EN), 6
Vulnerable (VU), 8 Near Threatened (NT) and 2 with Data Deficient (DD) to
be framed in a category of threat. We conclude that the species not more recorded
for the region are probably locally extinct and studies of this magnitude always
contribute to the knowledge of the conservation status of birds in a certain area.
Key-words: Avifauna, Sorocaba, São Paulo.
Introdução
As aves, um dos grupos animais mais amplamente estudados no mundo,
correspondem a cerca de 20% de toda a diversidade de vertebrados atuais. Muitos
autores divergem, indicando, aproximadamente, entre 9.000 e 11.000 espécies
descritas em todo o mundo (SICK, 1997; BRESSAN, et al. 2009). Isto pode sugerir
que no Brasil, a diversidade da avifauna tem sido subestimada, já que, a cada
ano mais espécies são descritas, sobretudo pelo uso de novas metodologias de
amostragem e de classificação taxonômica (SILVEIRA & OLMOS, 2007).
A estimativa atual é que o Brasil abrigue mais de 1.690 espécies de aves,
sendo assim classificado como um dos países com a maior diversidade de aves do
planeta. Além disso, mais de 10% destas espécies são endêmicas ao Brasil
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
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(MARINI & GARCIA, 2005), destas a maioria é encontrada na Mata Atlântica,
um dos hotspots da biodiversidade, com excepcional concentração de espécies
endêmicas e grande perda de habitat.
O estado de São Paulo, originalmente coberto por vegetação característica
da Mata Atlântica, abriga atualmente cerca de 750 espécies de aves,
representando aproximadamente 45% da diversidade da avifauna brasileira
(SILVA, 1998). Entretanto, este número já foi maior no passado. Alguns
naturalista que realizaram expedições ao Brasil no século XIX, como Johann von
Natterer e Johann Baptiste von Spix identificaram uma quantidade de espécies
muito superior a da atualidade.
Silva (2010) realizou um trabalho comparativo de levantamento
ornitofaunístico no Morro de Araçoiaba, na Flona de Ipanema, com o
levantamento feito por Natterer, na mesma região, entre os anos de 1819 e 1822.
Silva listou 189 espécies de aves, enquanto que Natterer listou 335, sendo que
apenas 142 foram observadas pelos dois pesquisadores (SILVA, 2010). Esta
importante comparação mostra uma quantidade expressiva de espécies (mais da
metade da lista de Natterer) que provavelmente não habita mais a região.
Levantamentos desta amplitude são de extrema importância quando se pretende
a conservação das espécies.
Este trabalho teve por objetivo realizar um levantamento secundário da
avifauna de Sorocaba e municípios circunvizinhos, elaborando uma lista das
espécies desta região, servindo assim como base bibliográfica para outros estudos
e alicerce na caracterização de seu estado de conservação.
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
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Metodologia
As pesquisas bibliográficas aqui realizadas para a produção da lista de aves
levou em consideração estudos que cobriam a cidade de Sorocaba e os municípios
da região: Araçoiaba da Serra, Capela do Alto, Iperó, Porto Feliz e Salto de
Pirapora, região com alto grau de fragmentação de habitat, devido à intensa
industrialização e constante crescimento das cidades.
Esta lista teve como base os levantamentos realizados por Regalado e Silva
(1998), Machado et al.(2008), Silva e Nakano (2008), Camargo e Barrela (2010),
Moreno (2010), Oliveira (2010) e Silva (2010), além de dados da base
SINBIOTA/FAPESP e o relatório técnico realizado pelo Centro Tecnológico da
Marinha em São Paulo (CTMSP) em 1991. A nomenclatura das espécies listadas
está de acordo com o padrão da Lista das aves do Brasil, 10ª edição, de 2011, do
Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO).
Com o levantamento bibliográfico feito e a listagem das espécies organizada,
verificou-se a lista de espécies ameaçadas de extinção para o estado de São Paulo
(BRESSAN, et al. 2009), afim de identificar o estado de conservação das espécies
da avifauna da região.
Com base no artigo de Silva (2010) fez-se também a comparação entre as
espécies listadas neste levantamento secundário e as espécies listadas no
levantamento primário de Natterer.
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Resultados
O levantamento secundário da avifauna, contemplando os municípios já
citados, listou 236 espécies distribuídas em 58 famílias (Tabela 1).
Doze espécies encontram-se na lista de espécies ameaçadas de extinção
para o estado de São Paulo (BRESSAN, et al. 2009). Dentre estas, 2 são
enquadradas como Criticamente em Perigo (Urubitinga coronata e Coryphaspiza
melanotis), 1 com status Em Perigo (Sarcoramphus papa), 3 enquadradas como
vulnerável (Rhynchotus rufescens, Procnias nudicollis, Cyanoloxia brissonii) e 6
estando como Quase Ameaçadas (Sicalis citrina, Synallaxis albescens, Penelope
obscura, Penelope superciliaris, Accipiter poliogaster, Mycteria americana).
A seguir, a Tabela 1 apresenta a lista das espécies de aves, organizada por
ordem, família e espécie, mostrando também seus nomes vulgares e os
respectivos trabalhos numerados e cidades em que foram registradas.
Tabela 1. Ordens, famílias e espécies representativas da Avifauna. Legenda:
Fontes:
(1)RIMA/CTMPSP (1991)
(2)Regalado e Silva (1998)
(3)Machado et al.(2008)
(4)Silva e Nakano (2008)
(5)Camargo e Barrela(2010)
(6)Moreno (2010)
(7)Oliveira (2010)
(8)Silva (2010)
(9) SIMBIOTA/FAPESP (Acesso 03/2012)
Locais:
Araçoiaba da Serra- AS
Capela do Alto - CA
Iperó - Ip
Porto Feliz – PF
Salto de Pirapora - SaP
Sorocaba - So
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Nome do Táxon Nome vulgar Fonte Local
Tinamiformes Huxley, 1872
Tinamidae Gray, 1840
Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) Perdiz 1; 7 SaP; So
Nothura maculosa (Temminck, 1815) Codorna-amarela 1 AS; CA; Ip
Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) Inhambu-chintã 1 AS; CA; Ip
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Inhambu-chororó 1 AS; CA; Ip
Podicipediformes Fürbringer, 1888
Podicipedidae Bonaparte, 1831
Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) Mergulhão-pequeno 1; 8 AS; CA; Ip
Podilymbus podiceps Mergulhão-caçador 6 PF
Suliformes Sharpe, 1891
Phalacrocoracidae Reichenbach, 1849
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Biguá 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Anhinguidae Reichenbach, 1849
Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766) Biguatinga 1; 6; 8 AS; CA; Ip
Pelecaniformes Sharpe, 1891
Ardeidae Leach, 1820
Ardea cocoi (Linnaeus, 1766) Garça-moura 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Ardea alba (Linnaeus, 1758) Garça-branca-grande 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Egretta thula (Molina, 1782) Garça-branca-pequena 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) Garça-vaqueira 1; 4; 6; 7 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Butorides striata (Linnaeus, 1758) Socozinho 1; 5; 8 AS; CA; Ip
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) Maria-faceira 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) Savacu 1; 4; 5; 6; 7 AS; CA; Ip; PF; So
Botaurus pinnatus (Wagler, 1829) Socó-boi-baio 1; 8 AS; CA; Ip
Threskiornithidae Poche, 1904
Platalea ajaja (Linnaeus, 1758) Colhereiro 1; 5 So
Phimosus infuscatus (Lichtenstein, 1823) Tapicuru-de-cara-pelada 1; 8 AS; CA; Ip
Ciconiiformes Bonaparte, 1854
Ciconiidae Sundevall, 1836
Mycteria americana (Linnaeus, 1758) Cabeça-seca 1; 9 AS; CA; Ip
Cathartiformes Seebohm, 1890
Cathartidae Lafresnaye, 1839
Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) Urubu-rei 2; 8 AS; CA; Ip
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Urubu-de-cabeça-preta 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Cathartes aura (Linnaeus, 1758) Urubu-de-cabeça-vermelha 1; 8 AS; CA; Ip
Anseriformes Linnaeus, 1758
Anatidae Leach, 1820
Cairina moschata (Linnaeus, 1758) Pato-do-mato 6 PF
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Marreca-pé-vermelho 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Irerê 1; 5; 7 SaP; So
Accipitriformes Bonaparte, 1831
Accipitridae Vigors, 1824
Accipiter poliogaster (Temminck, 1824) Tauató-pintado 9 Ip
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
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Elanus leucurus (Vieillot, 1818) Gavião-peneira 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) Sovi 1; 8 AS; CA; Ip
Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) Gavião-caramujeiro 1; 8 AS; CA; Ip
Geranoaetus albicaudatus (Vieillot, 1816) Gavião-de-cauda-branca 4; 8 AS; CA; Ip; So
Buteo brachyurus (Vieillot, 1816) Gavião-de-cauda-curta 1; 8 AS; CA; Ip
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Gavião-carijó 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) Gavião-caboclo 5; 8 AS; CA; Ip
Urubitinga coronata (Vieillot, 1817) Águia-cinzenta 8 AS; CA; Ip
Falconiformes Bonaparte, 1831
Falconidae Leach, 1820
Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) Acauã 8 AS; CA; Ip
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Carrapateiro 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Caracara plancus (Miller, 1777) Caracara 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Falco femoralis (Temminck, 1822) Falcão-de-coleira 7; 8 AS; CA; Ip; So
Falco sparverius (Linnaeus, 1758) Quiriquiri 1; 4; 8 AS; CA; Ip; So
Falco deiroleucus (Temminck, 1825) Falcão-de-peito-laranja 4 So
Galliformes Linnaeus, 1758
Cracidae Rafinesque, 1815
Penelope superciliaris (Temminck, 1815) Jacupemba 1; 8 AS; CA; Ip
Penelope obscura (Temminck, 1815) Jacuaçu 4; 6 PF; So
Gruiformes Bonaparte, 1854
Aramidae Bonaparte, 1852
Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) Carão 8 AS; CA; Ip
Rallidae Rafinesque, 1815
Pardirallus nigricans (Vieillot, 1819) Saracura-sanã 1; 5; 8 AS; CA; Ip
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) Saracura-três-potes 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Aramides saracura (Spix, 1825) Saracura-do-mato 5 So
Porzana albicollis (Vieillot, 1819) Sanã-carijó 1; 8 AS; CA; Ip
Gallinula galeata (Lichtenstein,1818) Frango-d'água-comum 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) Frango-d'água-azul 1 AS; CA; Ip
Cariamiformes Furbringer, 1888
Cariamidae Bonaparte, 1850
Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Seriema 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Charadriiformes Huxley, 1867
Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854
Jacana Jacana (Linnaeus, 1766) Jaçanã 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Charadriidae Leach, 1820
Vanellus chilensis (Molina, 1782) Quero-quero 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Recurvirostridae Bonaparte, 1831
Himantopus melanurus (Vieillot, 1817) Pernilongo-de-costas-brancas 1; 6 AS; CA; Ip; PF
Scolopacidae Rafinesque, 1815
Tringa solitaria (Wilson, 1813) Maçarico-solitário 1 AS; CA; Ip
Tringa flavipes (Gmelin, 1789) Maçarico-de-perna-amarela 1 AS; CA; Ip
Gallinago undulata (Boddaert, 1783) Narcejão 1 AS; CA; Ip
Columbiformes Latham, 1790
Columbidae Leach, 1820
Columba livia (Gmelin, 1789) Pombo-doméstico 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Pomba-asa-branca 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) Pomba-galega 1; 7; 8 AS; CA; Ip; So
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Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Avoante 1; 4; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha-caldo-de-feijão 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Columbina squammata (Lesson, 1831) Fogo-apagou 4; 8 AS; CA; Ip; So
Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855) Juriti-pupu 1; 4; 7 AS; CA; Ip; SaP; So
Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) Juriti-gemedeira 1; 6; 7 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Psittaciformes Wagler, 1830
Psittacidae Rafinesque, 1815
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Tuim-de-asa-azul 1; 4; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Pionus maximiliani (Kuhl, 1820) Maitaca-verde 1; 8 AS; CA; Ip
Aratinga leucophthalma (Statius Muller,
1776)
Periquitão-maracanã 4; 5; 6; 7 PF; SaP; So
Cuculiformes Wagler, 1830
Cuculidae Leach, 1820
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) Alma-de-gato 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Crotophaga ani (Linnaeus, 1758) Anu-preto 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Guira guira (Gmelin, 1788) Anu-branco 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Tapera naevia (Linnaeus, 1766) Saci 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Strigiformes Wagler, 1830
Strigidae Leach, 1820
Megascops choliba (Vieillot, 1817) Corujinha-do-mato 1; 4; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Athene cunicularia (Molina, 1782) Coruja-buraqueira 1; 4; 5; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Megascops watsonii (Cassin, 1849) Coruja-orelhuda 4 So
Asio flammeus (Pontoppidan, 1763) Mocho-dos-banhados 7 SaP; So
Tytonidae Mathews, 1912
Tyto alba (Scopoli, 1769) Coruja-da-igreja 7 SaP; So
Caprimulgiformes Ridgway, 1881
Nyctibidae Chenu & Des Murs, 1851
Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) Mãe-da-lua 8 AS; CA; Ip
Caprimulgidae Vigors, 1825
Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789) Curiango 1; 4; 8 AS; CA; Ip; So
Antrostomus rufus (Boddaert, 1783) João-corta-pau 1; 8 AS; CA; Ip
Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789) Curiango-tesoura 1; 8 AS; CA; Ip
Apodiformes Peters, 1940
Apodidae Olphe-Galliard, 1887
Streptoprocne zonaris (Shaw, 1796) Andorinhão-de-coleira-branca 1; 8 AS; CA; Ip
Chaetura meridionalis (Hellmayr, 1907) Andorinhão-do-temporal 1; 8 AS; CA; Ip
Trochilidae Vigors, 1825
Phaethornis eurynome (Lesson, 1832) Rabo-branco-de-garganta-rajada 1; 8 AS; CA; Ip
Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre, 1839) Rabo-branco-de-sobre-amarelo 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) Beija-flor-rabo-tesoura 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Florisuga fusca (Vieillot, 1817) Beija-flor-preto 5; 8 AS; CA; Ip
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) Beija-flor-de-veste-preta 8 AS; CA; Ip
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) Besourinho-de-bico-vermelho 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788) Beija-flor-de-fronte-violeta 8 AS; CA; Ip
Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818) Beija-flor-de-papo-branco 1; 8 AS; CA; Ip
Amazilia lactea (Lesson, 1832) Beija-flor-de-peito-azul 1; 4; 6; 7 ; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Coraciiformes Forbes, 1844
Alcedinidae Rafinesque, 1815
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) Martim-pescador-grande 1; 5; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Artigo Original
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Chloroceryle amazona (Latham, 1790) Martim-pescador-verde 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) Martim-pescador-pequeno 1; 5; 8 AS; CA; Ip
Galbuliformes Fürbringer, 1888
Bucconidae Horsfield, 1821
Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) João-bobo 8 AS; CA; Ip
Malacoptila striata (Spix, 1824) Barbudo-rajado 1; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Piciformes Meyer & Wolf, 1810
Ramphastidae Vigors, 1825
Ramphastos toco (Statius Muller, 1776) Tucanuçu 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Picidae Leach, 1820
Picumnus temminckii (Lafresnaye, 1845) Pica-pau-anão-de-coleira-amarela 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Picumnus cirratus (Temminck, 1825) Pica-pau-anão-barrado 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Colaptes campestris (Vieillot, 1818) Pica-pau-do-campo 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) Pica-pau-verde-barrado 1; 4; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Celeus flavescens (Gmelin, 1788) Pica-pau-de-cabeça-amarela 8; 7 AS; CA; Ip; SaP; So
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) Pica-pau-de-banda-branca 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Melanerpes candidus (Otto, 1796) Pica-pau-branco 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Veniliornis spilogaster (Wagler, 1827) Pica-pauzinho-verde-carijó 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Passeriformes Linnaeus, 1758
Corvidae Leach, 1820
Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823) Gralha-do-campo 4; 6; 7 PF; SaP; So
Rhinocriptidae Wetmore, 1930 (1837)
Eleoscytalopus indigoticus (Wied, 1831) Macuquinho 8 AS; CA; Ip
Thamnophilidae Swainson, 1824
Taraba major (Vieillot, 1816) Choró-boi 6 PF
Mackenziaena severa (Lichtenstein, 1823) Borralhara-preta 1; 8 AS; CA; Ip
Thamnophilus caerulescens (Vieillot, 1816) Choca-da-mata 1; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Dysithamnus mentalis (Temminck, 1823) Choquinha-lisa 8 AS; CA; Ip
Pyriglena leucoptera (Vieillot, 1818) Papa-taoca-do-sul 1; 8 AS; CA; Ip
Drymophila malura (Temminck, 1825) Choquinha-carijó 8 AS; CA; Ip
Thamnophilus ruficapillus (Vieillot, 1816) Choca-de-chapéu-vermelho 1; 7 SaP; So
Thamnophilus punctatus (Shaw, 1809) Choca-bate-cabo 7 SaP; So
Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) Choca-barrada 6 PF
Conopophagidae Sclater & Salvin, 1873
Conopophaga lineata (Wied, 1831) Chupa-dente 1; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Furnariidae Gray, 1840
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) João-de-barro 1; 4; 5; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Synallaxis spixi (Sclater, 1856) João-tenenem 1; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Synallaxis ruficapilla (Vieillot, 1819) Pichororé 1; 8 AS; CA; Ip
Synallaxis frontalis (Pelzeln, 1859) Petrim 1; 4; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Synallaxis albescens (Temminck, 1823) Uipí 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) Curutié 1; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Cranioleuca pallida (Wied, 1831) Arredio-pálido 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Syndactyla rufosuperciliata (Lafresnaye,
1832)
Trepador-quiete 8 AS; CA; Ip
Automolus leucophthalmus (Wied, 1821) Barranqueiro-de-olho-branco 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Heliobletus contaminatus (Berlepsch, 1885) Bico-virado-do-sul 8 AS; CA; Ip
Lochmias nematura (Lichtenstein, 1823) João-porca 1; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Dendrocolaptidae Gray, 1840
Artigo Original
FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
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Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) Arapaçu-verde 1; 8 AS; CA; Ip
Dendrocolaptes platyrostris (Spix, 1825) Arapaçu-grande 1; 8 AS; CA; Ip
Xiphorhynchus fuscus (Vieillot, 1818) Arapaçu-rajado 8 AS; CA; Ip
Campylorhamphus falcularius (Vieillot, 1822) Arapaçu-de-bico-torto 8 AS; CA; Ip
Tyrannidae Vigors, 1825
Pseudocolopteryx sclateri (Oustalet, 1892) Tricolino 9 Ip
Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) Risadinha 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Myiopagis viridicata (Vieillot, 1817) Guaracava-de-olheiras 8 AS; CA; Ip
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) Guaracava-de-barriga-amarela 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Myiophobus fasciatus (Statius Muller, 1776) Felipe-de-peito-riscado 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868) Enferrujado 1; 7; 8 AS; CA; Ip; So
Pyrocephalus rubinus (Boddaert, 1783) Princípe 1; 4; 8 AS; CA; Ip; So
Xolmis cinereus (Vieillot, 1816) Maria-branca 8 AS; CA; Ip
Xolmis velatus (Lichtenstein, 1823) Noivinha-branca 4 So
Knipolegus lophotes (Boie, 1828) Maria-preta-de-topete 8 AS; CA; Ip
Fluvicola pica (Boddaert, 1783) Lavadeira-de-cara-branca 8 AS; CA; Ip
Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) Lavadeira-mascarada 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) Freirinha 1; 8 AS; CA; Ip
Colonia colonus (Vieillot, 1818) Maria-viuvinha 1; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Gubernetes yetapa (Vieillot, 1818) Tesoura-do-brejo 1; 8 AS; CA; Ip
Hirundinea ferruginea (Gmelin, 1788) Gibão-de-couro 8 AS; CA; Ip
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) Suiriri-cavaleiro 1; 5; 8 AS; CA; Ip
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) Maria-cavaleira 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Myiarchus swainsoni (Cabanis & Heine,
1859)
Irrê 8 AS; CA; Ip
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776) Maria-cavaleira-de-rabo-
enferrujado
7 SaP; So
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Bem-te-vi 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) Bem-te-vi-de-bico-chato 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766) Bem-te-vizinho-de-asa-ferruginea 1; 8 AS; CA; Ip
Myiodynastes maculatus (Statius Muller,
1776)
Bem-te-vi-rajado 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Myiozetetes similis (Spix, 1825) Bentevizinho-de-penacho-
vermelho
6 PF
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) Peitica 8 AS; CA; Ip
Tyrannus savana (Vieillot, 1808) Tesourinha 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819) Suiriri 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Serpophaga subcristata (Vieillot, 1817) Alegrinho 6 PF
Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907 (Incertae sedis)
Mionectes rufiventris (Cabanis, 1846) Abre-asa-de-cabeça-cinza 8 AS; CA; Ip
Leptopogon amaurocephalus (Tschudi, 1846) Cabeçudo 8 AS; CA; Ip
Todirostrum poliocephalum (Wied, 1831) Teque-teque 1; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) Ferreirinho-relógio 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Poecilotriccus plumbeiceps (Lafresnaye, 1846) Tororó 8 AS; CA; Ip
Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) Bico-chato-de-orelha-preta 1; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Tyrannoidea Vigors, 1825 (Incertae sedis)
Platyrinchus mystaceus (Vieillot, 1818) Patinho 1; 8 AS; CA; Ip
Tityridae Gray, 1840
Pachyramphus rufus (Boddaert, 1783) Caneleiro-cinzento 1; 8 AS; CA; Ip
Pachyramphus validus (Lichtenstein, 1823) Caneleiro-de-chapéu-preto 8 AS; CA; Ip
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
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Tityra cayana (Linnaeus, 1766) Anambé-branco-de-rabo-preto 8 AS; CA; Ip
Tityra inquisitor (Lichtenstein, 1823) Anambé-de-bochecha-parda 1; 8 AS; CA; Ip
Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) Caneleiro-preto 1 AS; CA; Ip
Pipridae Rafinesque, 1815
Chiroxiphia caudata (Shaw & Nodder, 1793) Tangará-dançarino 1; 8 AS; CA; Ip
Contigidae Bonaparte, 1849
Procnias nudicollis (Vieillot, 1817) Araponga 1; 8 AS; CA; Ip
Hirundinidae Rafinesque, 1815
Tachycineta leucorrhoa (Vieillot, 1817) Andorinha-de-sobre-branco 1; 8 AS; CA; Ip
Progne tapera (Vieillot, 1817) Andorinha-do-campo 1; 5; 8 AS; CA; Ip
Progne chalybea (Gmelin, 1789) Andorinha-doméstica-grande 1; 8 AS; CA; Ip
Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817) Andorinha-pequena-de-casa 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) Andorinha-serradora 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Hirundo rustica (Linnaeus, 1758) Andorinha-de-bando 4 So
Troglodytidae Swainson, 1831
Donacobius atricapilla (Linnaeus, 1766) Japacanim 1; 8 AS; CA; Ip
Troglodytes musculus (Naumann, 1823) Corruíra 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Turdidae Rafinesque, 1815
Turdus rufiventris (Vieillot, 1818) Sabiá-laranjeira 1; 8 AS; CA; Ip
Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) Sabiá-barranqueiro 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850) Sabiá-poca 1; 4; 5; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Turdus albicollis (Vieillot, 1818) Sabiá-coleira 1; 8 AS; CA; Ip
Turdus flavipes (Vieillot, 1818) Sabiá-una 4 So
Mimidae Bonaparte, 1853
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Arrebita-rabo 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Motacillidae Horsfield, 1821
Anthus lutescens (Pucheran, 1855) Caminheiro-zumbidor 1; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Coerebidae d'Orbigny & Lafresnaye, 1838
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Cambacica 1; 4; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Vireonidae Swainson, 1837
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) Pitiguari 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) Juruvuara-oliva 1; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Emberizidae Vigors, 1825
Coryphaspiza melanotis (Temminck, 1822) Tico-tico-de-mascará-negra 3 AS; CA; Ip
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) Tico-tico-do-campo 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Tiziu 1; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) Bigodinho 1; 8 AS; CA; Ip
Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) Coleirinho 1; 5; 8 AS; CA; Ip
Sicalis citrina (Pelzeln, 1870) Canário-rasteiro 7 SaP; So
Emberizoides herbicola (Vieillot, 1817) Canário-do-campo 7 SaP; So
Zonotrichia capensis Tico-tico 1; 4; 5; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Canário-da-terra-verdadeiro 5 So
Parulidae
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) Mariquita 1; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) Pia-cobra 1; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) Canário-do-mato 1; 8 AS; CA; Ip
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) Pula-pula-coroado 1; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Basileuterus leucoblepharus (Vieillot, 1817) Pula-pula-assobiador 1; 4; 8 AS; CA; Ip; So
Basileuterus hypoleucus (Bonaparte, 1830) Pula-pula-de-barriga-branca 7 SaP; So
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
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Cardinalidae Ridgway, 1901
Habia rubica (Vieillot, 1817) Tiê-do-mato-grosso 4; 8 AS; CA; Ip; So
Piranga flava (Vieillot, 1822) Sanhaço-de-fogo 8 AS; CA; Ip
Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823) Azulão 1; 4; 8 AS; CA; Ip; So
Thraupidae Cabanis, 1847
Nemosia pileata (Boddaert, 1783) Saíra-de-chapéu-preto 6 PF
Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) Pipira-vermelha 6 PF
Tersina viridis (Illiger, 1811) Saí-andorinha 7 SaP; So
Pyrrhocoma ruficeps (Strickland, 1844) Cabecinha-castanha 1; 8 AS; CA; Ip
Thlypopsis sordida (d'Orbigny & Lafresnaye,
1837)
Saí-canário 8; 6 AS; CA; Ip; PF
Tachyphonus coronatus (Vieillot, 1822) Tiê-preto 1; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Lanio melanops (Vieillot, 1818) Tiê-de-topete 8 AS; CA; Ip
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) Sanhaçu-cinzento 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Tangara palmarum (Wied, 1823) Sanhaço-do-coqueiro 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) Sanhaço-cara-suja 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) Saí-azul 1; 4; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Conirostrum speciosum (Temminck, 1824) Figuinha-de-rabo-castanha 1; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
Neothraupis fasciata (Lichtenstein, 1823) Cigarra-do-campo 4 So
Lanio cucullatus (Statius Muller, 1776) Tico-tico-rei 1; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Saltator similis (d'Orbigny & Lafresnaye,
1837)
Trinca-ferro 1; 8 AS; CA; Ip
Icteridae Vigors, 1825
Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) Garibaldi 1; 5; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Sturnella militaris (Linnaeus, 1758) Polícia-inglesa-do-norte 1; 8 AS; CA; Ip
Pseudoleistes guirahuro (Vieillot, 1819) Chopim-do-brejo 1; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Chopim, Vira-bosta 1; 4; 5; 8 AS; CA; Ip; So
Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) Inhapim 6 PF
Fringillidae Leach, 1820
Sporagra magellanica (Vieillot, 1805) Pintassilgo 1; 4; 7; 8 AS; CA; Ip; SaP; So
Euphonia cyanocephala (Vieillot, 1818) Gaturamo-rei 4; 8 So
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) Gaturamo-fifi 1; 4; 5; 6; 7; 8 AS; CA; Ip; PF; SaP; So
Passeridae Rafinesque, 1815
Passer domesticus (Linnaeus, 1758) Pardal 1; 4; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF; So
Estrildidae Bonaparte, 1850
Estrilda astrild (Linnaeus, 1758) Bico-de-lacre 1; 5; 6; 8 AS; CA; Ip; PF
O número de espécies coincidentes listadas tanto no levantamento de
Natterer como na lista atual, é de 114 aves. Portanto, 123 espécies encontradas
atualmente não foram registradas pelo naturalista e 221 espécies registradas por
ele, não estão mais presentes na área atualmente, segundo as pesquisas incluídas
como base para este estudo. Dentre estas, 34 estão listadas como ameaçada de
extinção para o estado de São Paulo, sendo 14 classificadas como Criticamente
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
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Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
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em Perigo (CR), 4 Em Perigo (EN), 6 Vulneráveis (VU), 8 Quase Ameaçadas (NT)
e 2 com Dados Insuficientes (DD) para serem enquadradas em alguma categoria
de ameaça (Tabela 2).
Tabela 2 – Lista das espécies registradas por Johann von Natterer não mais registradas atualmente e com
algum grau de ameaça no estado de São Paulo.
Nome do Táxon Nome Vulgar Estado de Conservação
Tinamiformes Huxley, 1872
Tinamidae Gray, 1840
Tinamus solitarius (Vieillot, 1819) Macuco Vulnerável
Ciconiiformes Bonaparte, 1854
Ardeidae Leach, 1820
Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) Garça-real Vulnerável
Anseriformes Linnaeus, 1758
Anhimidae Stejneger, 1885
Anhima cornuta (Linnaeus, 1766) Anhuma Criticamente em Perigo Anatidae Leach, 1820
Nomonyx dominica (Linnaeus, 1766) Marreca-de-bico-roxo Quase Ameaçada
Falconiformes Bonaparte, 1831
Accipitridae Vigors, 1824
Leptodon cayanensis (Latham, 1790) Gavião-de-cabeça-cinza Quase Ameaçada Spizaetus melanoleucus (Vieillot, 1816) Gavião-pato Vulnerável Spizaetus tyrannus (Wied, 1820) Gavião-pega-macaco Criticamente em Perigo Spizaetus ornatus (Daudin, 1800) Gavião-de-penacho Criticamente em Perigo
Falconidae Leach, 1820
Ibycter americanus (Boddaert, 1783) Gralhão Criticamente em Perigo
Charadriiformes Huxley, 1867
Charadriidae Leach, 1820
Pluvialis dominica (Statius Muller, 1776) Batuiruçu Quase Ameaçada
Scolopacidae Rafinesque, 1815
Tryngites subruficollis (Vieillot, 1819) Maçarico-acanelado Dados Insuficientes Numenius borealis (Forster, 1772) Maçarico-esquimó Criticamente em Perigo
Sternidae Vigors, 1825
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
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Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) Trinta-réis-anão Vulnerável
Columbiformes Latham, 1790
Columbidae Leach, 1820
Claravis geoffroyi (Temminck, 1811) Pararu-espelho Criticamente em Perigo Geotrygon violacea (Temminck, 1809) Juriti-vermelha Em Perigo
Psittaciformes Wagler, 1830
Psittacidae Rafinesque, 1815
Amazona vinacea (Kuhl, 1820) Papagaio-de-peito-roxo Em Perigo
Cuculiformes Wagler, 1830
Cuculidae Leach, 1820
Dromococcyx phasianellus (Spix, 1824) Peixe-frito-verdadeiro Criticamente em Perigo
Caprimulgiformes Ridgway, 1881
Caprimulgidae Vigors, 1825
Antrostomus sericocaudatus (Cassin, 1849) Bacurau-rabo-de-seda Criticamente em Perigo Hydropsalis forcipata (Nitzsch, 1840) Bacurau-tesoura-gigante Quase Ameaçada Hydropsalis anomala (Gould, 1838) Curiango-do-banhado Criticamente em Perigo
Apodiformes Peters, 1940
Apodidae Olphe-Galliard, 1887
Cypseloides senex (Temminck, 1826) Taperuçu-velho Quase Ameçada Cypseloides fumigatus (Streubel, 1848) Taperuçu-preto Dados Insuficientes
Trochilidae Vigors, 1825
Lophornis magnificus (Vieillot, 1817) Topetinho-vermelho Vulnerável Heliothryx auritus (Gmelin, 1788) Beija-flor-de-bochecha-azul Quase Ameçada
Galbuliformes Fürbringer, 1888
Galbulidae Vigors, 1825
Jacamaralcyon tridactyla (Vieillot, 1817) Cuitelão Criticamente em Perigo Bucconidae Horsfield, 1821
Nonnula rubecula (Spix, 1824) Macuru Vulnerável
Piciformes Meyer & Wolf, 1810
Ramphastidae Vigors, 1825
Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) Araçari-de-bico-branco Criticamente em Perigo Picidae Leach, 1820
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FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
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Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
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Dryocopus galeatus (Temminck, 1822) Pica-pau-de-cara-canela Em Perigo Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Pica-pau-rei Quase Ameaçada
Passeriformes Linné, 1758
Thamnophilidae Swainson, 1824
Biatas nigropectus (Lafresnaye, 1850) Papo-branco Em Perigo Drymophila genei (Filippi, 1847) Choquinha-da-serra Quase Ameaçada
Scleruridae Swainson, 1827
Geositta poeciloptera (Wied, 1830) Andarilho Criticamente em Perigo Tyrannidae Vigors, 1825
Culicivora caudacuta (Vieillot, 1818) Papa-moscas-do-campo Criticamente em Perigo Alectrurus tricolor (Vieillot, 1816) Galito Criticamente em Perigo
Discussão
Através da listagem das espécies que habitam uma determinada região, é
possível estabelecer uma relação entre a presença ou ausência destas espécies,
em diferentes épocas, com o seu estado de conservação. Das 335 espécies
registradas por Natterer, apenas 114 foram registradas para a região
atualmente. Isto resulta em 221 espécies que só foram registradas pelo
naturalista (desconsiderando algumas poucas espécies que tenham sido
registradas apenas nos trabalhos atuais e algumas divergências na nomenclatura
utilizada por Natterer).
É possível estabelecer uma relação entre a ausência do registro destas
espécies na atualidade com o seu status de ameaça. Pode-se inferir que 34
espécies registradas no passado estão localmente extintas já foram extintas na
região estudada. Estas são classificadas como com algum grau de ameaça, na
lista de espécies ameaçadas de extinção para o estado de São Paulo (BRESSAN,
et al. 2009).
Assim, é possível caracterizar o estado atual da avifauna da região de
Sorocaba e vizinhanças, como bastante empobrecida.
Artigo Original
FERREIRA, Guilherme Lessa; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO
ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 87-104, jun. 2012.
103
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Artigo Original
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ATUAL DA AVIFAUNANA REGIÃO DE SOROCABA, SP.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
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Artigo Original
BURSTIN, Bruno Assanu; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO ATUAL
DA MASTOFAUNA NA REGIÃO DE SOROCABA, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
105
Levantamento Secundário do Estado
Atual da Mastofauna na Região de
Sorocaba, SP.
Bruno Assanuma Burstin
Possui graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é assessor técnico
do Instituto Inteligência para Sustentabilidade – I2S, atuando
principalmente nos seguintes temas: Monitoramento biológico de
ambientes terrestres e aquáticos com ênfase em mastofauna e
qualidade da água.
E-mail: [email protected]
Maurea Nicoletti Flynn
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Oceanografia Biológica
pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em ecologia aplicada
e experimental pelo programa recém doutor do CNPq, Universidade
de São Paulo. Foi coordenador do Curso de Engenharia Ambiental das
Faculdades Oswaldo Cruz e Coordenadora de Pesquisas na Escola
Superior de Química das Faculdades Oswaldo Cruz. Professor adjunto
do curso de graduação em Ciências Biológicas e de pós-graduação em
Biodiversidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem
experiência nas áreas de Ecologia Bêntica, Ecologia Experimental,
Dinâmica Populacional e Biodiversidade.
E-mail: [email protected]
Artigo Original
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Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
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Resumo
Os mamíferos, em geral, apresentam grande diversidade morfológica e
comportamental, sendo um representante ecológico de grande importância, tendo
estreitas relações e interações com outras espécies e com o ambiente que habitam.
Estudos da área da ecologia tem sido a principal ferramenta para a conservação dos
ecossistemas naturais remanescentes. Para preservar uma área é importante
conhecer as espécies que nela habitam. Neste sentido, o levantamento de dados
sobre a ocorrência e abundância de espécies além do grau da vulnerabilidade tem
sido essenciais ao se traçar estratégias em relação à escolha de áreas e à indicação
de ações prioritárias para a conservação dos mamíferos. Embora o número de
estudos e consequentemente o conhecimento sobre a mastofauna tenha aumentado,
as informações relativas às suas distribuições ainda é considerado deficitária. Neste
sentido, alguns autores vêm incentivando a realização de inventários faunísticos
que consigam estabelecer os registros de ocorrência para uma determinada região
especifica, para que se construa um patrimônio de informações pertinente à
preservação conjunta da mastofauna do estado. Portanto, este trabalho objetivou-se
em atualizar a listagem de espécies de mamíferos que ocorrem principalmente na
região da Grande Sorocaba, com referência as que ocorrem na Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos do Médio-Tietê/Sorocaba (UGRHI 10), através
de dados secundários levantados em referenciais bibliográficos. Os esforços deste
trabalho levantaram uma lista com 71 táxons de mamíferos para a região. Dessas, a
Panthera onça está classificada como criticamente em perigo (CR), o mico-leão-
preto, Leontopithecus chrysopygus, em perigo (EN) e outras seis espécies como
vulneráveis (VU).
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Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
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Palavras-chave: mastofauna, levantamento secundário, região de Sorocaba, Bacia
Médio-Tiête/ Sorocaba
Abstract
Mammals present great morphological and behavior diversity as well as an
ecological representation of great importance, having strict relations and
interactions with other species and its habitat. Ecological studies have been the
primary tool for the conservation of remaining natural ecosystems. It is important
to build knowledge on the habitant species in order to preserve a specific location.
To this effect, surveying of data on the occurrence and abundance frequency, in
addition to the vulnerability status, are essential when it comes to outlining
strategies when choosing and indicating proprietary actions for the conservation of
mammals. Despite the recent increase on the number of studies and knowledge on
the mastofauna, information relative to its distribution is still considered deficient.
Therefore, some authors are encouraging the realization of wildlife inventories that
are able to establish the occurrence records for a particular specific region, as well
as a patrimony on information relevant to the preservation of the state mastofauna.
Hence, the objective of this was to update the list of mammals species that occur
mainly in the Greater Sorocaba region, with reference to occurrences in the Water
Resources Management Unit of the Médio-Tiête/Sorocaba (UGRHI 10), using
secondary data raised in bibliographical references research. The efforts applied in
this study have raised a list of 71 taxa of mammals for this region. Included in this
list, Panthera onça is classified as critically endangered (CR), the black-lion-
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tamarin, Leontopithecus chrysonpygus, endangered (EN) and six other species as
vulnerable (VU).
Key-words: mastofauna, secondary survey, Médio-Tiête/ Sorocaba, Sorocaba region.
Introdução
Atualmente, existem poucas listas regionais sobre riqueza de mamíferos
associadas a limites políticos (VIVO et al., 2010). Uma amostragem sistemática de
todas as regiões do estado, abrangendo os diferentes grupos de mamíferos,
contribuiria para um maior e mais equilibrado sobre o atual estado da fauna do
Estado de São Paulo (COSTA et al., 2005).
Para preservar uma área é importante conhecer as espécies que nela ocorrem,
de modo que é importante que mais inventários sejam incentivados e realizados
(COSTA et al. 2005). Portanto, tornam-se validos os esforços em identificar os
registros de ocorrências, com o objetivo de evidenciar a distribuição desses
mamíferos, para uma determinada área específica, embora comumente ainda exista
alguma dificuldade com o estabelecimento do registro em relação à localidade de
ocorrência.
Porém, é importante frisar a dificuldade de se organizar essa lista, localidade-
específica, devido a essa escassez de acompanhamentos periódicos comprometendo a
validade de alguns dados encontrados na atual literatura.
De um modo geral, as maiores ameaças para a conservação dos mamíferos
são o desmatamento e a caça. As consequências diretas do desmatamento são a
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perda de habitat que causa o desaparecimento local e consequente diminuição das
populações de espécies, e a fragmentação com isolamento das áreas remanescentes.
Esta por sua vez, cria uma barreira ecológica, impedindo os animais de se
locomoverem entre áreas e consequentemente separando-os de seus recursos
necessários para sobrevivência (KIERULFF et al., 2008).
O Estado de São Paulo, apesar do histórico de intensa degradação, mesmo
que dividido em fragmentos vegetacionais significativos remanescentes de sua flora
original, conta ainda com 13,94% do total de seu território de seus ecossistemas
naturais. Dá-se maior importância aos ecótonos que incluam vegetação
remanescente de Mata Atlântica (floresta ombrófila densa, florestra ombrófila mista
e florestas estacionais) e de Cerrado (cerrado stricto sensu, cerradão, campos e
veredas), pois estão incluídos na lista dos hotspots (áreas excepcionalmente ricas em
diversidade de espécies e endemismos, porém seriamente ameaçadas) mundiais de
diversidade (KIERULFF et al., 2008).
Para a conservação de grandes mamíferos terrestres são necessárias grandes
extensões de habitats preservados que abriguem populações viáveis, ou seja,
capazes de sobreviverem por um longo prazo (KIERULFF et al., 2008). Para áreas
onde existe grande fragmentação de hábitat, como ocorre hoje no estado de São
Paulo, é extremamente dificultoso relacionar, por exemplo, táxons de morcegos que
apresentam grande abundância e diversidade no estado, porém tem poucos registros
especificamente para esta região. Em relação aos pequenos mamíferos, a escassez de
conhecimento cientifico básico, principalmente de taxonomia, sistemática,
distribuição e historia natural é a maior barreira enfrentada por pesquisadores, que
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durante coletas de campo deparam-se com a dificuldade em localizar populações de
táxons específicos e na identificação de espécimes (COSTA et al., 2005).
A fauna de mamíferos do Estado de São Paulo é formada por diversas frações
de outras mastofaunas distintas do Brasil. Por isso, não apresenta uma distribuição
uniforme e ainda evidencia a existência do fenômeno de encontro e superposição
parcial dessas faunas distintas (VIVO et al., 1996).
O presente trabalho teve como objetivo atualizar a listagem de espécies da
mastofauna que ocorrem principalmente na região da Grande Sorocaba, com
referência as que ocorrem na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do
Médio-Tietê/Sorocaba (UGRHI 10), através de dados secundários levantados em
referenciais bibliográficos.
Metodologia
Os esforços em busca do levantamento de dados foram feitos estritamente
sobre a região da Grande Sorocaba, que está inserida na sub-bacia do Médio-
Tietê/Sorocaba. Foram englobados os municípios de Boituva, Capela do Alto, Iperó,
Porto Feliz, Araçoiaba da Serra, Sorocaba, Salto de Pirapora, Votorantim, Alumínio,
Mairinque e Itu. Além disso, levou-se em consideração ocorrências na UGRHI 10.
Este levantamento de dados secundários está baseado em RIMA/CTMSP,
1991; Oliveira 2002; Gregorin, et al., 2004; Garavello et al., 2006; Gregorin et al.,
2008; Messias et al., 2009; Tocchet, 2009; e na base de dados do Programa
Sinbiota/FAPESP, acessado em 2012. Todas as espécies relatadas neste trabalho
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foram comparadas com o trabalho elaborado por Vivo et al. 2010, Checklist de
Mamíferos do Estado de São Paulo, Brasil do programa Biota Neotropica da Biota
Fapesp. Este Checklist aponta que todos os registros apresentados por ele são
decorrentes de espécimes-testemunho presentes em acervos, em especial na coleção
de mamíferos do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP).
Aspectos sobre a biologia das espécies foram retirados de bibliografias específicas e
quando não especificadas no texto, foram resgatadas de Achaval et al. (2007) e de
Oliveira e Cassaro (2006), no que se refere aos felinos.
As espécies relatadas foram analisadas quanto ao grau de vulnerabilidade e
risco de extinção com o auxílio do Livro de Fauna Ameaçada de Extinção no Estado
de São Paulo, volume Vertebrados, 2009. Também foi utilizado o Atlas da Fauna
Brasileira Ameaçada de Extinção em Unidade de Conservação Federais elaborado
pelo ICMBio, 2011.
A lista referente ao levantamento de dados secundários considerou, além das
espécies nativas, as espécies consideradas introduzidas provenientes de outras
partes do Brasil, termo denominado como alótone.
Resultados
A lista elaborada com dados secundários apresenta 71 táxons de mamíferos
(Quadro 1). Este número ainda é uma estimativa da real diversidade presente na
região, devido à falta de amostragens e estudos específicos para a área, além das
divergências sobe algumas revisões sistemáticas para determinados grupos.
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Quadro 1. Ordens, famílias e espécies representativas de mastofauna. Fontes: 1.RIMA/ CTMSP
(1991) ; 2.Oliveira et al. (2002) ; 3.Gregorin (2004) ; 4.Garavello (2006) ; 5.Gregorin (2008) ; 6.
Bressan (2009) ; 7.Messias (2009) ; 8.Tocchet (2009) ; 9.Vivo et al. (2010) ; 10.AFBAE UCF (ICMBio)
(2011) ; 11.Sinbiota Fapesp (acesso 2012).
Local: AS= Araçoiaba da Serra ; CA= Capela do Alto ; Ip= Iperó ; It= Itu ; Ta= Tatuí ; SaP= Salto de
Pirapora ; So=Sorocaba ; Vo= Votorantim.Risco: CR= Criticamente em Perigo; EN= Em perigo ;
VU=Vulnerável ; NT= Quase ameaçado ; LC=De menor risco ; DD=Dados Deficientes
ORDEM, Familia, Espécie Nome Vulgar Fonte Local Risco
ARTIODACTYLA
Cervidae
Mazama gouazoubira Veado catingueiro 2, 4, 11 AS, CA, Ip, Ta LC
Tayassuidae
Tayassu tajacu Catitu 1 AS, CA, Ip
CARNIVORA
Canidae
Cerdocyon thous Cachorro-do-mato 2 AS, CA, Ip LC
Cerdocyon thous azarae Cachorro-do-mato 4 AS, CA, Ip
Chrysocyon brachyurus Lobo-guará 11 Ip VU
Dusicyon vetulus Raposinha-do-campo 11 Ta
Felidae
Felis catus Gato 11 So
Felis sp. Gato-do-mato 1, 2, 4 AS, CA, Ip
Leopardus pardalis Jaguatirica 6, 11 AS, CA, Ip VU
Leopardus tigrinus Gato-macambira, Pintadinho 6, 10 AS, CA, Ip VU (A4e)
Panthera onça Onça 1 AS, CA, Ip CR (A4bc)
Puma concolor Puma , Onça-parda, Suçuarana 2 AS, CA, Ip VU (A3b)
Puma yagouaroundi Jaguarundi; Gato-mourisco 2 AS, CA, Ip LC
Mustelidae
Eira barbara Irara; Papa-mel 2 AS, CA, Ip LC
Galictis cuja Furão 2 AS, CA, Ip DD
Lontra longicaudis Lontra
1, 2, 4,
11 AS, CA, Ip NT
Procyonidae
Nasua Nasua Quati 1, 2, 4 AS, CA, Ip LC
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Procyon cancrivorous Quaxinim 1, 4, 11 AS, CA, Ip
CHIROPTERA
Phyllostomidae
Anoura caudifer Morcego (beija-flor) 1, 11 AS, CA, Ip , So LC
Anoura sp.
11 So
Carollia perspicillata Morcego (fruteiro-comum) 1, 11 AS, CA, Ip , So LC
Desmodus rotundus Morcego-vampiro 1 AS, CA, Ip LC
Glossophaga soricina Morcego (beija-flor) 11 So LC
Micronycteris megalotis Morcego 11 So
LC/endemica
SP
Mimon bennetti Morcego 5 AS, CA, Ip, SaP
LC/endemica
SP
Sturnira lilium Morcego 1 AS, CA, Ip LC
Molossodae
Molossops neglectus Morcego 3 It DD
Molossops temminckii Morcego 11 It DD
Vespertilionidae
Myotis nigricans Morcego 1 AS, CA, Ip LC
DIDELPHIMORPHIA
Didelphis
Didelphis albiventris Gambá-de-orelha-branca , Saruê 2, 8, 11
AS, CA, Ip, SaP,
Vo LC
Didelphis aurita Gambá-de-orelha-preta 2, 8 AS, CA, Ip LC
Didelphis azarae Gambá, Mucura 4 AS, CA, Ip
Gracilinanus microtarsus Cuíca 8 AS, CA, Ip LC
Monodelphis americana
Cuíca-de-três-listras, Guaxica ,
Catita 8 AS, CA, Ip NT
Monodelphis kunsi Catita 8 AS, CA, Ip LC
Monodelphis scalops Catita, Guaxica 8 AS, CA, Ip NT
Thylamys velutinus Catita 6 AS, CA, Ip
VU (B1;
B2abiii)
EDENTATA
Dasypodidae
Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole 2, 7 AS, CA, Ip
Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 1, 2, 4 AS, CA, Ip LC
Dasypus septemcinctus Tatu-mulita; Tatuí 2,4 AS, CA, Ip LC
Euphractus sexcintus Tatu-verdadeiro, tatu-peba 1 AS, CA, Ip
Mymercophagidae
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Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
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Tamandua tetradactyla Tamanduá-mírim 1,2 AS, CA, Ip LC
LAGOMORPHA
Leporidae
Sylvilagus brasiliensis Tapeti 2, 4 AS, CA, Ip LC
PRIMATA
Callithricidae
Callithrix jacchus Sagui-de-tufo-branco 1 AS, CA, Ip alótone
Callithrix penicillata Sagui-de-tufo-preto 7 AS, CA, Ip LC
Leontopithecus
chrysopygus Mico-leão-preto 9 AS, CA, Ip
EN/endemica
SP
Cebidae
Alouatta sp. Guariba, Bugio 1 AS, CA, Ip
Cebus apella Macaco-prego 1, 2 AS, CA, Ip
RODENTIA
Agoutidae
Agouti paca Paca 1, 2, 4 AS, CA, Ip
Caviidae
Cavia aperea Préa 1, 4 AS, CA, Ip LC
Cricetidae
Akodon montensis Rato-do-mato 8 AS, CA, Ip LC
Bibimys labiosus Rato-do-mato 8 AS, CA, Ip LC
Calomys callosus Rato 11 SaP
Calomys laucha Rato 11 SaP
Calomys tener Rato-do-campo, rato-da-água 8 AS, CA, Ip LC
Necromys lasiurus Rato-do-mato, pixuna 8, 11 AS, CA, Ip, Sap LC
Nectomys squamipes Rato-dágua 11 SaP LC
Oligoryzomys flavescens Rato-silvestre 8 AS, CA, Ip LC
Oligoryzomys nigripes Ratinho-do-arroz 8 AS, CA, Ip LC
Oryzomys nitidus Rato-do-mato 11 SaP
Oxymycterus rufus Rato-silvestre 11 SaP
Thaptomys nigrita rato-do-mato 11 SaP VU
Echimyidae
Euryzygomatomys spinosus Rato 11 SaP
Erethizontidae
Coendou phehensilis Ouriço-cacheiro 4 AS, CA, Ip
Sphiggurus villosus Ouriço-cacheiro 2 AS, CA, Ip LC
Hydrochaeridae
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Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
115
Hydrochaeris hydrochaeris Capivara
1, 2, 4,
11 AS, CA, Ip, It
Muridae
Mus musculus Camundongo 11 SaP alótone
Rattus norvegicus Ratazana 11 SaP alótone
Rattus rattus Rato-preto 11 SaP alótone
Myocastoridae
Myocastor coypus Ratão-do-banhado 2 AS, CA, Ip alótone
Sciuridae
Sciurus ingrami Serelepe / esquilo / caxinguelê 1, 7 AS, CA, Ip
Foram encontrados registros de 8 espécies de marsupiais. Dá-se um enfoque
maior sobre Thylamys velutinus (Wagner, 1842), espécie de catita recentemente
classificada com o status de vulnerável (VU) devido à fragmentação de seu habitat,
diminuindo a extensão de ocorrência e a sua área de ocupação, apresentando
distribuição restrita. Outras duas espécies deste grupo aparecem classificadas como
táxons quase ameaçados (NT), Monodelphis scalops (Thomas, 1888) e Monodelphis
americana (Müller, 1776). Enquanto isso, Didelphis albiventris, D. aurita e
Gracilinanus microtarsus apresentam ampla distribuição (BRESSAN, et al. 2009;
VIVO et al., 2010).
Para mamíferos terrestres de médio e grande porte foram encontrados
registros de 28 espécies, distribuídos em: 2 da família Artiodactyla, 16 Carnivora, 5
Edentata, 1 Largomorpha e 5 Primatas. Entre eles, é importante frisar o
endemismo do mico-leão-preto, Leontopithecus chrysopygus (Mikan, 1823), e que
está classificado como espécie em perigo de extinção (EN). A Panthera onça
(Linnaeus, 1758) está classificada como criticamente em perigo (CR) tendo sido
constatado uma redução na população e distribuição geográfica consequências da
fragmentação de habitat que leva a um declínio populacional. Outras espécies
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116
apresentam um grau elevado de vulnerabilidade; lobo-guará Chrysocyon brachyurus
(Illiger, 1815), Jaguatirica Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758), gato-macambira
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) e suçuarana ou onça-pintada Panthera concolor
(Linnaeus, 1771). A lontra Lontra longicaudis (Olfers, 1818) está avaliada como
quase ameaçada (NT), ou seja, está em vias de entrar para em uma das categorias
acima num futuro breve. Já o sagui Callithrix jacchus (Linnaeus, 17580) é descrito
como espécie alótona, originalmente nativo do nordeste do Brasil, introduzida nesta
região, soltos em florestas ocupadas por Callithrix penicillata (Geoffroy, 1812),
ameaçando a conservação da espécie nativa desta região (OLIVEIRA, 2002;
BRESSAN, et al. 2009; MESSIAS et al., 2009; VIVO et al., 2010).
O levantamento registrou um total de 11 táxons de quirópteros. Destacam-se
duas espécies endêmicas do Estado de São Paulo, Mycronycteris megalotis (Gray,
1842) e Mimon bennetti (Gray, 1838) (GREGORIN et al. 2004; GREGORIN et al.,
2008).
Quanto aos roedores, mamíferos de pequeno porte, 23 táxons foram
levantados. Apenas um táxon, é classificado como vulnerável (VU), Thaptomys
nigrita (Lichtenstein, 1830). Porém, quatro das espécies registradas são
classificadas como exóticas, da família Muridae; Mus musculus (Linnaeus, 1766),
Rattus norvegicus (Berkenhout, 1769) e Rattus rattus (Linnaeus, 1758), e da família
Myocastoridae o Myocastor coypus (Molina, 1872) ( BRESSAN, et al. 2009; VIVO et
al., 2010).
Segundo Vivo et. al 2010, a mastofauna pode ser dividida em três conjuntos
relativos ao hábitat. O primeiro e mais importante conjunto, classificado como
generalistas, apresenta espécies com ocorrência nas principais paisagens do estado,
Artigo Original
BURSTIN, Bruno Assanu; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO ATUAL
DA MASTOFAUNA NA REGIÃO DE SOROCABA, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
117
sendo formado basicamente por quase todos os carnívoros terrestres, quase todos os
morcegos e muitos roedores. Estão inclusos nessa lista, entre as espécies levantadas
neste trabalho, os felídeos Panthera onça (onça-pintada), Puma concolor
(suçuarana), Leopardus pardalis (jaguatirica), Procyon cancrivorous (mão-pelada), e
os tatus dos gêneros Dasypus e Cabassous. O segundo conjunto agrupa espécies
presentes em formações de vegetação abertas, tais como o tatu-peba Euphractus
sexcinctus, o canídeo Chrysocyon brachyurus (lobo-guará) e roedores do gênero
Calomys. O terceiro conjunto inclui espécies essencialmente florestais, tais como
todos os primatas, os marsupiais e roedores equimídeos. Ainda é possível subdividir
este ultimo conjunto entre habitantes de florestas perenifólias e semi-caducifólias,
os que habitam somente florestas ombrófilas densas e um terceiro componente
florestal associado às florestas caducifólias do interior. Entretanto, das espécies que
habitam exclusivamente os componentes florestais, não há consentimento sobre os
táxons, provavelmente devido a pequena quantidade de remanescentes florestais da
região.
Neste levantamento obtivemos uma diversidade relativamente alta para um
ambiente altamente degradado, com exceção à área da FLONA Ipanema. O
levantamento apresentou 71 diferentes táxons para esta área sendo que, para todo
estado de São Paulo atualmente há 231 espécies registradas (VIVO et al. 2010), ou
seja, quase 1/3 (30.73%) dos mamíferos do estado podem ser encontrados naquela
região. Foram listadas 11 espécies ameaçadas de extinção, aproximadamente 15%
do total levantado.
Discussão
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DA MASTOFAUNA NA REGIÃO DE SOROCABA, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 105-121, jun. 2012.
118
O presente trabalho que contou com um levantamento bibliográfico dos
registros da fauna na região da Grande Sorocaba apontou que a mastofauna
presente nesta região possui relação com elementos subtropicais e centrais do
Brasil, dada sua ampla capacidade de locomoção. Porém, o planalto Paulista possui
uma situação vigente bastante peculiar graças aos mosaicos vegetacionais que
incluem manchas de cerrado próximas às florestas semi-decícuas, o que torna a
delimitação dos componentes faunísticos mais difíceis, dado o fato de que a fauna de
mamíferos possui estreita relação com os diferentes tipos de vegetação (VIVO, 1996
; VIVO 1998).
Descrevendo sucintamente os hábitos de alguns mamíferos, entre os animais
que habitam nas florestas semidecíduas estacionárias, o lobo-guará é um animal
muito ágil, de hábito solitário e ativo nos períodos noturno e crepuscular. É uma
espécie onívora alimentando-se de insetos, anuros, lagartos, ofídeos e seus ovos,
roedores e se aproveitando ainda de raízes de frutos. A lontra é um animal semi-
aquático, que habita as margens de rios, banhados e lagoas, fazendo tocas em
barrancos, apresentando tanto atividade diurna quanto noturna, alimentando-se de
peixes, anfíbios, moluscos, aves aquáticas e roedores. O procionídeo mão-pelada,
arborícola de hábito onívoro, forma seus abrigos em ramos de arvores, com atividade
noturna e crepuscular, alimentando-se de pequenos roedores, aves, ofídeos, anfíbios,
peixes, insetos, moluscos, frutas e grãos. O tamanduá, Tamandua tetradactyla, é
descrito como um animal solitário, de atividade diurna, crepusculares e noturnas,
que se refugia contra os predadores em árvores e se alimenta de insetos coloniais e
suas larvas (ACHAVAL et al., 2007).
Artigo Original
BURSTIN, Bruno Assanu; FLYNN, Maurea Nicoletti. LEVANTAMENTO SECUNDÁRIO DO ESTADO ATUAL
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Entre os predadores, a jaguatirica se alimenta de pequenos roedores a cutias,
tatus e macacos. A suçuarana é caracterizada por ser solitária e com hábitos tanto
noturnos quanto diurnos e se alimenta de uma gama grande de vertebrados da
floresta, desde roedores a animais de pecuária como bezerros e gados domésticos. O
gato-macambira, um felino de menor porte, possui hábitos noturnos e caçam
roedores de pequeno porte, lagartos e aves (OLIVEIRA e CASSARO, 2006).
Por fim, os mamíferos de grande porte habitam grandes áreas, sendo assim,
qualquer fragmentação do hábitat está reduzindo, exercendo grande pressão sobre a
população remanescente, tornando-as inviáveis a médio e longo prazo. Outro grande
problema é a caça que vem sendo combatido desde que a convenção Internacional
sobre Comércio de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestre (CITES) foi
adotada, em 1975 (RODRIGUES et al., 2002). Porém, até hoje está batalha não foi
vencida.
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Artigo Original
ALEGRETTI, Lucas; FLYNN, Maurea Nicoletti. Levantamento secundário do estado atual da
herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
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122
Levantamento secundário do estado
atual da herpetofauna na região de
Sorocaba, SP.
Lucas Alegretti
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é assessor técnico do
Instituto Inteligência para Sustentabilidade-I2S, atuando
principalmente nos temas: Pequenas Centrais Hidrelétricas,
Ictiofauna, Herpetofauna, Monitoramento Biológico em
ambientes aquáticos e terrestres.
E-mail: [email protected]
Maurea Nicoletti Flynn
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em
Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo e
pós-doutorado em ecologia aplicada e experimental pelo
programa recém doutor do CNPq, Universidade de São
Paulo. Foi coordenador do Curso de Engenharia Ambiental
das Faculdades Oswaldo Cruz e Coordenadora de Pesquisas
na Escola Superior de Química das Faculdades Oswaldo
Cruz. Professor adjunto do curso de graduação em Ciências
Biológicas e de pós-graduação em Biodiversidade da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência nas
áreas de Ecologia Bêntica, Ecologia Experimental, Dinâmica
Populacional e Biodiversidade.
E-mail: [email protected]
Artigo Original
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herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 122-134, jun. 2012.
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Resumo
O objetivo do trabalho foi atualizar, através de levantamento secundário, a
listagem de espécies da herpetofauna que ocorrem na região da Grande
Sorocaba, com referência as ocorrências na Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos do Médio-Tiete/Sorocaba (UGRHI 10). Pelo levantamento
dos dados realizado foram encontradas 22 espécies de anfíbios e 53 espécies
de répteis, sendo 7 destas identificadas somente a nível de gênero. Nenhuma
das espécies se encontra em qualquer tipo de vulnerabilidade ou em perigo
de extinção segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção e Portaria IBAMA Nº 1.522, de 19 de Dezembro 1989.
Palavras-Chave: herpetofauna, levantamento secundário, região de
Sorocaba, Bacia do Medio-Tiete/Sorocaba.
Abstract
The objective of this paper is to update, through secondary survey, the
listing of herpetofauna species of herpetofauna for Sorocaba and vicinity,
and referring to occurrences in the UGRHI 10 (Médio Tiete/Sorocaba Basin).
By the data survey, it was listed for the region 22 species of amphibians and
53 species of reptiles, 7 only identified till genus. None of the species is in
any type of vulnerability or extinction danger according to the Red Book of
the Threatened Brazilian Fauna and decrete IBAMA Nº 1,522, of 19 of
December 1989.
Key-Words: Herpetofauna, Secondary Survey, Sorocaba Region, Medio-
Tiete/Sorocaba Region.
Introdução
A fauna brasileira de anfíbios conta com 849 espécies descritas, sendo
que destas 821 são Anura, 27 Gymnophiona e 1 Caudata (BÉRNILS, 2009).
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No Estado de São Paulo, são conhecidas 250 espécies de Anuros (ROSSA-
FERES et al., 2008), o que corresponde a aproximadamente 30% das
espécies de anfíbios brasileiras. Os anfíbios são predadores vorazes quando
adultos (principalmente de artrópodes), mas têm diversas formas de
alimentação quando em estágio larval (herbívoros, carnívoros e raspadores)
(BOYER e GRUE, 1994). No caso dos artrópodes, os anfíbios são
importantes mantenedores das populações, inclusive daqueles que são
considerados pragas ao homem.
No grupo de vertebrados terrestres, os anfíbios podem ser utilizados
para o biomonitoramento. São abundantes, de fácil coleta, apresentam
grande número de espécies e tem respostas diversas a substâncias e
alterações ambientais (BOYER e GRUE, 1994; HANOWSKI et al. 2006).
Alguns grupos como as famílias Hilydae e Bufonidae podem ser
considerados como bioindicadores, pois incluem espécies resistentes que
sobrevivem em ambientes modificados e espécies extremamente sensíveis,
em que o oposto ocorre (BOYER e GRUE, 1994; HANOWSKI et al., 2006;
IUCN, 2005). Adicionalmente, podem ser indicadores de acúmulo de
substâncias por ingerir presas contaminadas (BOYER e GRUE, 1994).
No caso dos répteis, segundo o levantamento feito por Rossa-Feres
(2008), o Estado de São Paulo conta com 200 espécies: dois crocodilianos,
sete quelônios, 11 anfisbenídeos, 46 lagartos e 141 serpentes. Isso equivale,
aproximadamente, a 30% da riqueza de espécies de répteis do país, que
soma 708 espécies (BÉRNILS, 2009). As populações de répteis, de uma
maneira geral, são afetadas pela perda e degradação do habitat (GIBBONS
et al., 2000; IUCN, 2005), redução do número de presas, poluição ambiental,
doenças, espécies invasoras, mudanças climáticas e comércio ilegal de
animais silvestres (GIBBONS et al., 2000; O’ SHEA e HALLIDAY, 2002).
Um exemplo disso são as serpentes, pois a grande maioria delas não é
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generalista quanto ao hábito alimentar (O’ SHEA e HALLIDAY, 2002), uma
vez que se alimentam de apenas um ou dois grupos de animais. Portanto, a
redução da quantidade de presas (por razões diversas), por exemplo, pode
determinar um impacto sobre a população de serpentes.
Poucas espécies de répteis são herbívoras, algumas são onívoras e a
maioria é carnívora (O’ SHEA e HALLIDAY, 2002). Serpentes e
crocodilianos são exclusivamente carnívoros, enquanto que em lagartos e
quelônios a dieta pode ser mais variada. Os carnívoros, portanto,
contribuem mais para a manutenção das populações de presas,
principalmente de roedores (MARQUES et al., 2001). Os répteis podem ser
utilizados como bioindicadores de contaminação ambiental, principalmente
as serpentes, pois algumas espécies têm vida longa, exibem diferentes níveis
tróficos e, em muitos casos, estão no topo de cadeias alimentares (BURGER
et al., 2007).
O objetivo do trabalho foi o de atualizar a listagem de espécies da
herpetofauna que ocorrem principalmente na região da Grande Sorocaba,
com referência as que ocorrem na Unidade de Gerenciamento de Recursos
Hídricos do Médio-Tiete/Sorocaba (UGRHI 10).
Material e Métodos
A área de estudo que teve a herpetofauna pesquisada foi a região da
Grande Sorocaba, inserida na sub-bacia do Médio-Sorocaba, e abrangendo os
municípios de: Boituva, Capela do Alto, Iperó, Porto Feliz, Araçoiaba da
Serra, Sorocaba, Salto de Pirapora, Votorantim, Alumínio, Marinque e Itu.
Além disso, levou-se em consideração ocorrências na UGHRI 10.
O levantamento bibliográfico cobriu publicações realizadas desde
1991 (RIMA, CTMSP, 1991), baseando-se a listagem nos autores: RIMA,
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herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
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CTMSP, 1991; Franco et. al. 1997; Sawaya e Sazima 2003; Canedo et. al.
2004; Ferrarezzi et. al. 2005; Garavello, 2005; Santos Jr, 2005, Toledo et. al.
2005; Marques e Muriel 2007; Pinto et. al. 2008; Santos Jr et. al. 2008;
Centeno et. al. 2010 e Forlani et. al. 2011, além disso foi consultado os dados
do SINBIOTA/FAPESP e visitada a Coleção do Instituto Butantan (consulta
realizada no ano 2009).
Para a determinação do grau de vulnerabilidade das espécies
levantadas, utilizaram-se listas em âmbito federal: a Portaria IBAMA nº
1.522, 1989 e Anexos I e II da Instrução Normativa nº 5, de 21 de maio de
2004 do Ministério do Meio Ambiente, o Livro Vermelho de Fauna Brasileira
Ameaçada de Extinção do Ministério do Meio Ambiente (2008) e Lista
vermelha de anfíbios (IUCN, 2005).
Resultados
Pelo levantamento dos dados para a região de Sorocaba e arredores
foram encontradas 22 espécies de anfíbios e 53 espécies de répteis, sendo 7
destas identificadas somente a nível de gênero. Nenhuma das espécies se
encontra em qualquer tipo de vulnerabilidade ou em perigo de extinção
segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e
Portaria IBAMA Nº 1.522, de 19 de Dezembro 1989 (MACHADO et. al.,
2008)
Na região de Sorocaba, para o grupo dos anfíbios, registraram-se as
famílias: Bufonidae (4 espécies), Hylidae (14 espécies) e Leptodactylidae (16
espécies). Para os répteis Squamata: Amphisbaenidae (4 espécies),
Anomalepididae (1 espécie), Boidae (2 espécies), Colubridae (54 espécies),
Elapidae (3 espécies), Gekkonidae (1 espécie), Polychrotidae (7 espécie),
Scincidae (1 espécie), Teiidae (3 espécies), Viperidae (4 espécies) e para os
répteis Testudines: Chelidae (3 espécies).
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herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 122-134, jun. 2012.
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Para as espécies da herpetofauna registradas na UGHRI 10 e
principalmente na região da Grande Sorocaba, não há informações quanto
às espécies em risco de extinção. São registradas como populações estáveis
(IUCN, 2005).
Tabela 1 – Checklist da espécies de répteis e anfíbios pesquisadas para a região estuda,
com indicação da fonte onde foi encontrada e dos locais. Fontes: (1)RIMA/CTMPSP (1991),
(2)Franco et al (1997), (3)Sawaya e Sazima, (2003), (4)Canedo et al (2004), (5)Caramaschi e
Napoli (2004), (6)Ferrarezzi et al (2005), (7)Garavello (2005), (8)Santos Jr. (2005), (9)Toledo
et. al. (2005), (10)Marques e Muriel (2007), (11)Pinto et. al. (2008), (12)Santos Jr et. al.
(2008), (13)Centeno et al (2010), (14)Forlani et al (2011), (15) SIMBIOTA/FAPESP, (16)
Coleção do Instituto Butantan. Locais: Alumínio – Al, Iperó – Ip, Itu – It, Mairinque – Ma,
Porto Feliz – PF, Sorocaba – So, Votorantim – Vo, Todos os Municípios da Grande Sorocaba
– TM, UGHRI 10 – U10
ORDEM, Família e Espécie Nome vulgar Fonte Local
ANURA
Bufonidae
Bufo crucifer Sapo Bufo 7 e 15 TM
Bufo ictericus Sapinho, Sapo – cururu 1, 7, 15 Ip
Bufo paracnemis Sapo 1 TM
Bufo marinus Sapo Bufo 7 Ip
Hylidae
Hyla albopunctata Perereca-cabrinha 1 TM
Hyla faber Sapo-ferreiro 7 Ip
Hyla lundii Perereca 5 So
Hyla minuta Perereca 1 TM
Hyla prasina Perereca 1 TM
Hyla cf. punchella Perereca 1 TM
Osteocephalus langsdorffi Perereca 1 TM
Scinax duartei Perereca 1 TM
Scinax fuscovaria Perereca-de-banheiro 1 TM
Scinax hiemalis Perereca 15 U10
Scinax perereca Perereca-de-banheiro 15 U10
Scinax similis Perereca-da-mata 15 U10
Scinax trachythorax Perereca 15 U10
Scinax x-signatus Perereca 1 TM
Leptodactylidae
Adenomera marmorata Rãnzinha 15 U10
Chiasmocleis albopunctata Rãzinha-pintada 4 e 14 Ip
Eleutherodactylus binotatus Rã-do-mato 1 e 16 TM
Eleutherodactylus guentheri Rãzinha 1 e 16 TM
Artigo Original
ALEGRETTI, Lucas; FLYNN, Maurea Nicoletti. Levantamento secundário do estado atual da
herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 122-134, jun. 2012.
128
Eleutherodactylus juipoca Rãzinha-do-capim 15 U10
Eleutherodactylus parvus Rãzinha 15 U10
Leptodactylus chaquensis Rã-de-linha-branca 15 U10
Leptodactylus fuscus Rã-assobiadora 1 TM
Leptodactylus mystaceus Rã-marrom 9 So
Leptodactylus notoaktites Rã-gota 15 U10
Leptodactylus ocellatus Rã-pimenta, Rã-
manteiga 1 e 7 TM
Paratelmatobius cardosoi Rãzinha-de-briga-
colorida 15 U10
Proceratophrys boiei Sapo-de-chifres 1 e 15 TM
Physalaemus cuvieri Rã-cachorro 1 e 15 TM
Physalaemus maculiventris
15 U10
Physalaemus olfersii Rãzinha-rangedoura 15 U10
SQUAMATA
Amphisbaenidae
Amphisbaenia Alba Cobra-de-duas-cabeças 1 TM
Amphisbaenia darwinii Cobra-de-duas-cabeças 1 TM
Amphisbaenia mertensi Cobra-de-duas-cabeças 1 TM
Leposternon micracephalum Cobra-de-duas-cabeças 1 TM
Anomalepididae
Liotyphlops beui Cobra-cega 1, 13, 16 Ma, PF,
So
Boidae
Boa constrictor Jibóia 1,7, 16 Ip
Epicrates cenchria Salamanta 16 U10
Colubridae
Apostolepis assimilis Coral-falsa 1, 6, 16 It
Apostolepis dimidiata Cabeça-preta 16 U10
Atractus reticulatus Fura-fura 16 U10
Boiruna maculata Muçurana-preta 16 U10
Chironius bicarinatus Cobra-cipó, Espada 16 U10
Chironius exoletus Cobra-cipó 16 U10
Chironius flavolineatus Cobra-cipó 11 e 16 So
Chironius foveatus Cobra-cipó 16 U10
Chironius sp Cobra-cipó 1 TM
Chironius quadricarinatus Cobra-cipó 16 U10
Clelia occipitolutea Cobra-preta 1 TM
Clelia Clélia Mussurana 16 U10
Clelia quimi Cobra 2 Al, It, So
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ALEGRETTI, Lucas; FLYNN, Maurea Nicoletti. Levantamento secundário do estado atual da
herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 122-134, jun. 2012.
129
Dipsas indica Jararaquinha,
Dormideira 1 e 16 TM
Echinantera melanostigma Corredeira-do-mato 16 U10
Echinanthera miolepis Cobra 8 Ta, It, Vo
Echinantera undulata Corredeira-do-mato 16 U10
Elapomorphus sp
16 U10
Erythrolamprus aesculapii Coral-falsa 1 TM
Gomesophis brasiliensis Cobra-bola 16 U10
Helicops carinicaudus Cobra-d’agua 16 U10
Helicops modestus Cobra-d’água-preta 1 e 16 TM
Imantodes cenchoa Dormideira 16 U10
Lemadophis sp Cobra-d’água 7 Ta
Leptodeira annulata Olho-de-gato 16 U10
Liophis aesculapi
16 U10
Liophis almadensis Cobra-d’água 1 e 16 TM
Liophis jaegeri Jararaquinha-verde 16 U10
Liophis miliaris Jararaquinha 1 e 16 TM
Liophis poecilogyrus Cobra-de-capim 1 e 16 TM
Liophis typhlus Cobra-d’água 1 e 16 TM
Mastigodryas bifossatus Jararacuçú-do-brejo 10 e 16 So
Oxyrhopus clathratus Coral-falsa 1 e 16 TM
Oxyrhopus guibei Coral-falsa 1 e 16 TM
Philodryas olfersii Cobra-cipó-verde 1 e 16 TM
Philodryas patagoniensis Parelheira 1 e 16 TM
Pseudoboa nigra Cobra-preta 16 U10
Rhachidelus brazili Cobra-preta 16 U10
Rhadinaea sp
1 TM
Sibynomorphus mikanii Dormideira 1 e 16 TM
Sibynomorphus turgidus Dormideira 16 U10
Simophis rhinostoma Falsa-coral 16 U10
Siphlophis longicaudatus
16 U10
Spilotes pullatus Caninana 1 e 16 TM
Taeniophallus occipitalis Corre-campo 12 Ta, It, Vo
Tantilla melanocephala Coral-falsa 3 e 16 It, Ma
Thamnodynastes pallidus Cobra-do-mato 16 U10
Thamnodynastes strigatus Jararaquinha 16 U10
Thamnodynastes strigilis Jararaquinha 1 TM
Tomodon dorsatus Cobra-espada 11 e 16 TM
Tropidodryas serra Cobra-cipó-marrom 16 U10
Xenodon neuwiedi Quiriripitá,
Jararaquinha 1 e 16 TM
Artigo Original
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herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 122-134, jun. 2012.
130
Xenodon merremi Jararaca,
Jararaquinha 16 U10
Waglerophis marremi Boipeva 1 TM
Elapidae
Micrurus corallinus Cobra-coral 1 TM
Micrurus frontalis Cobra-coral 1 e 16 TM
Micrurus lemniscatus Cobra-coral 1 TM
Gekkonidae
Gekko cf gecko Lagartixa (Exotica) 7 Ip
Hemidactylus mabouia Lagartixa-de-parede 15 U10
Polychridae
Ecpleopus gaudichaudi Lagartinho-da-serra-
do-mar 15 U10
Enyalius perditus Papa-vento 15 U10
Polychrus acutirostris Lagarto-preguiça 1 TM
Tropidurus torquatos Lagartixa-preta 1 TM
Anolis SP Papa-vento 1 TM
Urusthrophus sp Lagartixa 1 TM
Urostrophus vautieri Lagarto-da-pedra 15 U10
Scincidae
Mabuya sp Calango-liso 7 Ip
Teiidae
Ameiva ameiva Calango 1 e 7 Ip
Kentropyx sp Lagarto 1 TM
Tupinambis teguixim Teiu 1 e 7 Ip
Viperidae
Bothrops jararaca Jararaca 1 e 16 TM
Bothrops alternatus Urutu 1 TM
Bothrops neuwiedi Jararaca-pintada 1 e 16 TM
Crotalus durissus Cascavel 1, 7, 16 TM
TESTUDINES
Chelidae
Hydromedusa maximiliani Cágado 1 TM
Hydromedusa tectifera Cágado 1 TM
Phrynops geoffroanus Cágado 1 TM
Discussão
Artigo Original
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herpetofauna na região de Sorocaba, SP. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco
Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 122-134, jun. 2012.
131
A maioria dos anfíbios e répteis encontrados na região de Sorocaba é
de ampla distribuição geográfica na Mata Atlântica e nesse levantamento foi
encontrada apenas uma espécie exótica, Gekko cf gecko, uma lagartixa
nativa do sul da Ásia, provavelmente um bicho de estimação que acabou
sendo solto ou fugindo. Dentre os anfíbios encontrados algumas espécies que
ocorrem na área (e.g., Hyla albopuncta, Leptodactylus cf. ocellatus e
Physalaemus cuvieri) são ecologicamente generalistas e podem invadir
ambientes alterados e em determinados casos, as populações destas podem
atingir altos valores de dominância.
Não se pode, hoje em dia, falar em anfíbios, sem mencionar a crise em
que se encontram. Sabe-se que eles estão em declínio populacional em
diversas partes do mundo (BOYER e GRUE, 1994; SILVANO e SEGALLA,
2005; IUCN, 2005). Algumas espécies correm risco de extinção caso os
impactos sobre elas não cessem (IUCN, 2005). A iminência da extinção dos
anfíbios está intimamente atrelada ao grau de exigência da grande maioria
das espécies quanto à estabilidade do ambiente em que vivem (HANOWSKI
et al., 2006). Na maioria das espécies, a vida é extremamente dependente da
água e, para todas elas, a umidade é fundamental. A ausência de umidade
não só causa dessecação no delicado tegumento, causando a morte dos
indivíduos por desidratação, como também prejudica os processos
respiratórios. Além disso, a reprodução e os estágios larvais dos anfíbios são
dependentes de água (BOYER e GRUE, 1994). Portanto, alterações na
quantidade e/ou qualidade da água podem influenciar diretamente tanto na
fisiologia, quanto na reprodução dos anfíbios.
A IUCN listou as maiores causas de extinção de anfíbios no mundo,
concluindo que a perda do habitat e a poluição ambiental ocupam as
primeiras posições (IUCN, 2005). Silvano e Segalla (2005) apontam ainda a
infecção causada por fungos, poluição das águas, a contaminação por
Artigo Original
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132
pesticidas, as mudanças climáticas, as espécies invasoras, a radiação
ultravioleta e o comércio ilegal de animais silvestres.
Para o biomonitoramento dos anfíbios, sugerem-se normalmente os
grupos Hylidae e Bufonidae, já que são abundantes e predadores. Para os
répteis, indica-se principalmente aqueles que possuem hábitos semi-
aquáticos (serpentes da família Dipsadidae), comedores de peixes e os
terrestres comedores de anfíbios (serpentes Dipsadidae). As indicações para
o monitoramento são as serpentes semi-aquáticas: Liophis milliaris,
Sordellina punctata, e as serpentes do gênero Helicops (predam peixes e
anfíbios, tanto adultos, quanto larvas). Além das comedoras de anfíbios:
Imantodes c. cenchoa, Leptodeira annulata, Mastigodryas bifossatus,
Simophis rhinostoma e os grupos: Xenodon, Thamnodynastes, Echinanthera,
Liophis, Bothrops, Chironius e Philodryas.
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Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
135
Impactos e Benefícios da Produtividade de
Biogás em Aterro Sanitário
Rodrigo Malanconi Engenheiro Ambiental pelas Faculdades Oswaldo Cruz, São Paulo.
Email: [email protected]
Rodrigo Chimenti Cabral Engenheiro Civil e Gerente da Lara Energia
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
136
Resumo
No presente ensaio serão apresentados conceitos básicos de geração de biogás a
partir da decomposição da matéria orgânica proveniente de resíduos sólidos
urbanos em aterros sanitários. O biogás produzido em aterros sanitários
apresenta em sua composição dióxido de carbono e gás metano, um gás
inflamável de alto poder calorífico e 2º gás de Efeito Estufa em ordem de
importância. Com tamanho poder energético o biogás é utilizado para geração de
energia elétrica como verificado no aterro sanitário Bandeirantes, o primeiro
aterro sanitário brasileiro que utiliza biogás para acionar moto-geradores. A
queima do metano acarreta ganhos ambientais na transformação do gás metano
em água e gás carbônico, reduzindo o potencial de aquecimento global, gerando
certificados de emissões reduzidas ou créditos de carbono em países em
desenvolvimento como o Brasil.
Palavras-chave: Aterro Sanitário. Produção de Biogás.
Abstratc
In the present assay basic concepts of biogas production generation from the
decomposition of the organic matter from urban solid residues in sanitary
landfills will be presented. Biogás produced in sanitary landfills presents in its
composition carbon dioxide and methane, an inflammable gas with high calorific
power and 2º in importance promoting Greenhouse Effect. Biogás is used for
generation of electric energy as verified in the Bandeirantes Landfill, the first
Brazilian landfill that uses biogas to set in motion motor-generators. The
methane burning brings environmental profits, since the transformation of the
gas methane in water and carbonic gas reduces the potential of global heating
and generates carbon reduction emissions certifications (carbon credits) in
developing countries such as Brazil.
Key words: Landfills. Biogas Production.
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
137
Introdução
No presente ensaio serão discutidos conceitos básicos de geração de biogás
à partir da decomposição da matéria orgânica de resíduos sólidos urbanos. Após
dispostos nos aterros sanitários, o resíduo sólido urbanos, que contém
significativa parcela de matéria orgânica biodegradável, passa por um processo
de digestão anaeróbia por meio de micro-organismos que transformam a matéria
orgânica em um gás conhecido no Brasil como Biogás. (IBAM, Instituto Brasileiro
de Administração municipal, 2009). O Biogás gerado nos aterros sanitários é
composto por dióxido de carbono (35%) e hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, amônia,
oxido sulfídrico, aminas voláteis e monóxido de carbono, perfazendo (5%) e gás
metano (60%); gás este apresenta grande responsabilidade pelo fenômeno
conhecido como efeito estufa (NUNES MAIA, 1997).
O resíduo sólido urbano é composto por material, substância objeto ou
bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja
destinação final se procede nos estados sólidos ou semissólidos. Bem como gases
contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede publica de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isto
soluções técnicas e economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível (Biogás Congress 2011, ABRELPE).
São várias as maneiras de se classificar os resíduos sólidos. As mais
comuns são quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e
quanto à natureza ou origem (Manual Gerenciamento Integrado de Resíduos
Sólidos, 2001).
Quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente, de acordo com a
NBR 10.004/2004 da ABNT, os resíduos sólidos podem ser classificados em:
1. Classe 1 ou perigoso: São aqueles que, em função de suas características
intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou
patogenicidade, apresentam riscos à saúde pública através do aumento da
mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao meio
ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. (NBR
10.004/2004 da ABNT).
2. Classe 2A, não inerte: São os resíduos que podem apresentar
características de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade,
com possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao meio ambiente, não se
enquadrando nas classificações de resíduos Classe I – Perigosos – ou
Classe 2B – Inertes. (NBR 10.004/2004 da ABNT).
3. Classe 2B, inerte: São aqueles que, por suas características intrínsecas,
não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, e que, quando amostrados
de forma representativa, segundo a norma NBR 10.007, e submetidos a um
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
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contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, a
temperatura ambiente, conforme teste de solubilização segundo a norma
NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de portabilidade da água, conforme
listagem nº 8 (Anexo H da NBR 10.004/2004), excetuando-se os padrões de
aspecto, cor, turbidez e sabor. (NBR 10.004/2004 da ABNT).
Quanto à origem, os diferentes tipos de lixo podem ser agrupados em
cinco classes, a saber: Lixo doméstico ou residencial, comercial, público,
domiciliar especial e de fontes especiais. Os resíduos sólidos de origem urbana
(RSU) compreendem aqueles produzidos pelas inúmeras atividades desenvolvidas
em áreas com aglomerações humanas do município, abrangendo resíduos de
várias origens, como residencial, comercial, de estabelecimentos de saúde,
industriais, da limpeza pública (varrição, capina, poda e outros), da construção
civil e, finalmente, os agrícolas (PROSAB - Gerenciamento de Resíduos Sólidos
Urbanos, 2003). Na figura 1a segue gráfico de geração de RSU total no Brasil e
na figura 1b segue o incremento de 7% no volume de resíduos de 2009 para 2010,
sendo que no mesmo período a população cresceu 1%.
Figura 1a: Geração de RSU tonelada/ano. Figura 1b: Geração de RSU kg/hab/ano.
Fonte: Biogás Congress 2011, ABRELPE )
As características do lixo podem variar em função de aspectos sociais,
econômicos, culturais, geográficos e climáticos, ou seja, os mesmos fatores que
também diferenciam as comunidades entre si e as próprias cidades. A tabela
abaixo expressa a variação das composições do lixo em alguns países, deduzindo-
se que a participação da matéria orgânica tende a se reduzir nos países mais
desenvolvidos ou industrializados, provavelmente em razão da grande incidência
de alimentos semipreparados disponíveis no mercado consumidor (Manual
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, 2001).
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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139
Tabela1: Composição graviométrica do lixo de alguns paises (%).Fonte: Manual Gerenciamento
Integrado de Resíduos Sólidos, 2001.
Composição gravimétrica do lixo de alguns países (%)
Mat. orgânica 65,00 61,20 50,30 35,60
Vidro 3,00 10,40 14,50 8,20
Metal 4,00 3,80 6,70 8,70
Plástico 3,00 5,80 6,00 6,50
Papel 25,00 18,80 22,50 41,00
Aproximadamente 20% dos resíduos sólidos urbanos de São Paulo,
constituído por plástico, vidro, jornal e papelão, poderiam ser reciclados, mas
somente 1% é reciclado e o restante apresenta uma correta destinação final, como
aterros sanitários. (Revista da Folha, 28 de fevereiro, 2010). A figura 2 ilustra as
características dos Resíduos Sólidos Urbanos da cidade de São Paulo.
Características dos R.S.U. da cidade de São Paulo
(lixo orgânico) = 60%
(plástico, vidro, jornal, papelão) = 20%
(tecido, material higiênico usado) = 20%
Figura 2: Características dos RSU da cidade de São Paulo. Fonte: Revista da Folha, 28 de
fevereiro de 2010.
Com o crescimento das cidades, o desafio da limpeza urbana não consiste
apenas em remover o lixo de logradouros e edificações, mas, principalmente, em
dar um destino final adequado aos resíduos coletados. Essa questão merece
atenção porque, ao realizar a coleta de lixo de forma ineficiente, a prefeitura é
pressionada pela população para melhorar a qualidade do serviço, pois se trata de
uma operação totalmente visível aos olhos da população. Contudo, ao se dar uma
destinação final inadequada aos resíduos, poucas pessoas serão diretamente
incomodadas, fato este que não gerará pressão por parte da população (Manual
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, 2001).
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
140
Ainda cerca de 7% do RSU gerado não é coletado, pois em 2010 foi
estimado que fossem geradas 60.868.080 toneladas de RSU e que fossem
coletadas 54.157.896 toneladas (Biogás Congress 2011, ABRELPE). É comum
observar nos municípios de menor porte a presença de "lixões", ou seja, locais
onde o lixo coletado é lançado diretamente sobre o solo sem qualquer controle e
sem quaisquer cuidados ambientais, poluindo tanto o solo, quanto o ar e as águas
subterrâneas e superficiais das vizinhanças. Os lixões, além dos problemas
sanitários com a proliferação de vetores de doenças, também se constituem em
sério problema social, porque acaba atraindo os "catadores", indivíduos que fazem
da catação do lixo um meio de sobrevivência, muitas vezes permanecendo na área
do aterro, em abrigos e casebres, criando famílias e até mesmo formando
comunidades (Manual Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, 2001).
Diante desse quadro, a única forma de se dar destino final adequado aos
resíduos sólidos é através de aterros, sejam eles sanitários, controlados, com lixo
triturado ou com lixo compactado. Todos os demais processos ditos como de
destinação final (usinas de reciclagem, de compostagem e de incineração) são, na
realidade, processos de tratamento ou beneficiamento do lixo, e não prescindem
de um aterro para a disposição de seus rejeitos. O processo recomendado para a
disposição adequada para o lixo domiciliar é o aterro, existindo dois tipos: os
aterros sanitários e os aterros controlados (Manual Gerenciamento Integrado de
Resíduos Sólidos, 2001). Abaixo segue um panorama da destinação final de RSU
coletados no Brasil (figura 3).
Figura 3: Destinação final dos RSU. Fonte: (Biogás Congress 2011, ABRELPE)
A diferença básica entre um aterro sanitário e um aterro controlado é que
este último prescinde da coleta e tratamento do chorume, assim como da
drenagem e queima do biogás. Um enfoque mais detido será dado ao aterro
sanitário, já que esta solução é a tecnicamente mais indicada para a disposição
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
141
final dos resíduos sólidos (Manual Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos,
2001).
DISPOSIÇÃO FINAL DE RESIDUOS SÓLIDOS EM ATERRO SANITARIO
É o processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo,
particularmente, lixo domiciliar que fundamentado em critérios de engenharia e
normas operacionais específicas, permite a confinação segura em termos de
controle de poluição ambiental, proteção à saúde pública; ou, forma de disposição
final de resíduos sólidos urbanos no solo, através de confinamento em camadas
cobertas com material inerte, geralmente, solo, de acordo com normas
operacionais específicas, e de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança, minimizando os impactos ambientais (D’ ALMEIDA & VILHENA,
2000).
Antes de se projetar o aterro, são feitos estudos geológico e topográfico
para selecionar a área a ser destinada para sua instalação de modo que não
comprometa o meio ambiente. É feita, inicialmente, impermeabilização do solo
através de combinação de argila e lona plástica para evitar infiltração dos
líquidos percolados. Os líquidos percolados são captados (drenados) através de
tubulações e escoados para lagoa de tratamento. Para evitar o excesso de águas
de chuva, são colocados tubos ao redor do aterro, que permitem desvio dessas
águas, do aterro (AMBIENTEBRASIL, 2008).
A quantidade de lixo depositado é controlada na entrada do aterro através
de balança. Os gases liberados durante a decomposição são captados e podem ser
queimados com sistema de purificação de ar ou ainda utilizados como fonte de
energia (aterros energéticos) (AMBIENTEBRASIL, 2008). Segundo a Norma
Técnica NBR 8419 (ABNT, 1984), o aterro sanitário não deve ser construído em
áreas sujeitas à inundação. Entre a superfície inferior do aterro e o mais alto
nível do lençol freático deve haver uma camada de espessura mínima de 1,5 m de
solo insaturado. O nível do solo deve ser medido durante a época de maior
precipitação pluviométrica da região. O solo deve ser de baixa permeabilidade
(argiloso) (ABNT, 1984). O aterro deve ser localizado a uma distância mínima de
200 metros de qualquer curso d água. Deve ser de fácil acesso. A arborização deve
ser adequada nas redondezas para evitar erosões, espalhamento da poeira e
retenção dos odores (AMBIENTEBRASIL, 2008). Abaixo segue uma ilustração
com os setores típicos de um Aterro Sanitário (figura 4).
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
142
Figura 4: Esquema de aterro sanitário fase a fase. Fonte: CABRAL, R. C. 2009.
PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE RESIDUOS ORGÂNICOS
A digestão anaeróbia é um processo fermentativo em que matéria
orgânica complexa é degradada a compostos mais simples. A degradação ocorre
através da ação de diversos grupos de micro-organismos que interagem
simultaneamente, até a formação dos produtos finais, gás metano e gás
carbônico. Na ausência de oxigênio ou de agentes oxidantes fortes como o sulfato,
nitrato e enxofre, a degradação anaeróbia da matéria orgânica até a formação de
metano, envolve três etapas: hidrólise, acetogênese e metanogênese.
Na primeira etapa, a matéria orgânica complexa como policarbohidratos,
proteínas e lipídeos é hidrolisada e fermentada por bactérias hidrolíticas
fermentativas a compostos orgânicos simples como aminoácidos, açúcares, ácidos
graxos e alcoóis. Na segunda etapa, os produtos metabólicos do primeiro grupo
são então convertidos a acetado e hidrogênio pelas bactérias acetogênicas
sintróficas associadas às bactérias utilizadoras de hidrogênio. Na terceira etapa,
bactérias metanogênicas convertem acetato, formiato, hidrogênio, etc., a metano e
dióxido de carbono.
Ensaio
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143
O passo limitante, do processo é a metanogênese, pois as bactérias
responsáveis, por essa etapa são as mais lentas e mais sensíveis às variações do
meio. O bom desempenho do processo depende da manutenção do equilíbrio entre
as populações microbianas envolvidas.
BIOGÁS PRODUZIDO EM ATERROS SANITÁRIOS
Após dispostos nos aterros sanitários, os resíduos sólidos urbanos, que
contém significativa parcela de matéria orgânica biodegradável, passam por um
processo de digestão anaeróbia, segundo o Instituto Brasileiro de Administração
Municipal - IBAM. O processo de digestão anaeróbia dos resíduos ocorre pela
ação de micro-organismos que transformam a matéria orgânica em um gás
conhecido no Brasil como Biogás (IBAM, Instituto Brasileiro de Administração
Municipal, 2009).
O Biogás gerado nos aterros sanitários é composto basicamente pelos
seguintes gases: metano (CH4); Dióxido de Carbono (CO2); Nitrogênio (N2),
Hidrogênio (H2); Oxigênio (O2) e gás sulfídrico (H2S). (IBAM, Instituto Brasileiro
de Administração Municipal, 2009). Pela característica dos resíduos sólidos no
Brasil, o biogás gerado na maioria dos aterros sanitários apresenta elevada
concentração de metano, acima de 55%, e de dióxido de carbono acima de
30%.(IBAM, Instituto Brasileiro de Administração Municipal, 2009).
Tchobanoglous et al (1997), descrevem a geração de gás em aterros de
resíduos em cinco fases, ou quatro se for desconsiderada a segunda, por ser uma
fase de transição. Estas fases são ilustradas abaixo (Figura 5) e serão descritas a
seguir (BORBA, 2006).
Ensaio
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Figura 5. Fases de geração de biogás em aterros de resíduos sólidos. Fonte: BORBA, 2006.
Fase I: Ajuste inicial. Fase em que os resíduos são depositados no aterro e
sua fração biodegradável sofre a decomposição biológica em condições aeróbias. A
fonte principal de micro-organismos aeróbios e anaeróbios, responsável pela
decomposição dos resíduos, é o solo empregado na cobertura diária e final. Outras
fontes de micro-organismos podem ser o lodo de estações de tratamento,
depositado em alguns aterros, e a recirculação do chorume. Esta fase, em que a
decomposição é aeróbia, se estende por um período de poucos dias após a
execução da camada de cobertura, diminuindo a presença de oxigênio.
Fase II: Transição. Fase em que decrescem os níveis de oxigênio e começa
a fase anaeróbia. Enquanto o aterro é convertido em anaeróbio, o nitrato e o
sulfato, que podem servir como receptores de elétrons em reações de conversão
biológica, frequentemente são reduzidos a gás nitrogênio e sulfuro de hidrogênio.
O início das condições anaeróbias pode ser verificado através do potencial de
oxidação e redução que possui o resíduo. Com a queda do potencial de óxido-
redução os micro-organismos responsáveis pela conversão da matéria orgânica
em metano e dióxido de carbono iniciam a conversão do material orgânico
complexo em ácidos orgânicos e outros produtos intermediários. Nesta fase o pH
do chorume começa a cair devido à presença de ácidos orgânicos e pelo efeito das
elevadas concentrações de CO2 dentro do aterro.
Fase III: Ácida. Fase que antecede a formação de metano, em que as
reações iniciadas na fase de transição são aceleradas com a produção de
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
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quantidades significativas de ácidos orgânicos e pequenas quantidades de gás
hidrogênio. A acidogênese envolve a conversão microbiológica dos compostos
resultantes da primeira etapa em compostos intermediários com baixa massa
molecular, como o ácido acético (CH3COOH) e pequenas concentrações de outros
ácidos mais complexos. O dióxido de carbono é o principal gás gerado durante a
fase III. Também serão produzidas quantidades menores de hidrogênio. Os micro-
organismos envolvidos nesta conversão, descritos como não metanogênicos, são
constituídos por bactérias anaeróbias e facultativas. As demandas bioquímica
(DBO) e química de oxigênio (DQO) e a condutividade do chorume aumentam
significativamente durante esta fase devido à dissolução de ácidos orgânicos no
chorume. O pH do chorume, se este é formado, é muito baixo (4 – 5), devido à
presença de ácidos orgânicos e pelas elevadas concentrações de CO2 dentro do
aterro. Também devido ao baixo pH, constituintes inorgânicos como os metais
pesados serão solubilizados.
Fase IV: Metanogênica: Nesta fase de fermentação do metano
predominam microrganismos estritamente anaeróbios, denominados
metanogênicos, que convertem ácido acético e gás hidrogênio em CH4 e CO2. A
formação do metano e dos ácidos prossegue simultaneamente, embora a taxa de
formação dos ácidos seja reduzida consideravelmente. O pH do chorume nesta
fase ascenderá a valores na faixa de 6,8 a 8,0. A seguir o pH continuará subindo e
serão reduzidas as concentrações de DBO5, DQO e o valor da condutividade do
chorume. Com valores mais elevados de pH, menos constituintes inorgânicos
permanecerão dissolvidos, tendo como consequência a redução da concentração de
metais pesados no chorume.
Fase V: Maturação. Esta fase ocorre após grande quantidade do material
ter sido biodegradado e convertido em CH4 e CO2 durante a fase metanogênica.
Como a umidade continua migrando pela massa de lixo, porções de material
biodegradável até então não disponíveis acabam reagindo. A taxa de geração do
gás diminui consideravelmente, pois a maioria dos nutrientes disponíveis foi
consumida nas fases anteriores e os substratos que restam no aterro são de
degradação lenta. Dependendo das medidas no fechamento do aterro, pequenas
quantidades de nitrogênio e oxigênio podem ser encontradas no gás do aterro.
A duração de cada fase de geração de gás variará conforme a distribuição
dos componentes orgânicos no aterro, a disponibilidade de nutrientes, a umidade
dos resíduos, a passagem de umidade pelo aterro e o grau de compactação inicial.
Em condições normais, a velocidade de decomposição, medida através da
produção de gás, chega a um máximo nos dois primeiros anos e logo decresce
lentamente por 25 anos ou mais. Porém, as fases de um aterro não podem ser
claramente definidas, já que novos resíduos são dispostos diariamente. Desta
forma, enquanto alguns locais com resíduos novos estão passando pela fase
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aeróbia, outros locais com resíduos mais antigos estão passando por fases de
geração de metano (BORBA 2006).
IMPACTOS GERADOS PELO BIOGÁS DE ATERROS SANITÁRIOS
O biogás é um gás inflamável produzido por micro-organismos, quando
matérias orgânicas são fermentadas dentro de determinados limites de
temperatura, teor de umidade e acidez, em um ambiente impermeável ao ar
(BRITO FILHO, 2005). Os gases produzidos nos aterros sanitários, quando não
capturados e conduzidos para combustão em queimadores (Flares) para geração
de energia elétrica ou mesmo para aquecimento de caldeiras causam impactos
sociais relativos ao odor, e ambientais, relativos ao efeito estufa (CABRAL, 2009).
O odor é um subproduto resultante da decomposição incompleta da
matéria orgânica. Quando as células morrem, elas atraem as bactérias, as quais
"quebram" as células do tecido morto, de modo que este possa, então, ser reciclado
por um processo natural conhecido como decomposição, produzindo gases, como
H2S, com odor desagradável ou irritante aos seres humanos (GLOTEC, 2008). O
metano, principal componente do biogás, não tem cheiro, cor ou sabor, mas os
outros gases presentes conferem-lhe um ligeiro odor de alho ou de ovo podre. Esta
característica olfativa é uma problemática pelo incomodo à sociedade vizinha de
um aterro sanitário (CABRAL 2009).
O Efeito Estufa consiste, basicamente, na ação do dióxido de carbono e
outros gases sobre os raios infravermelhos refletidos pela superfície da terra,
reenviando-os para ela, mantendo assim uma temperatura estável no planeta. Ao
irradiarem a Terra, partes dos raios luminosos oriundos do Sol são absorvidos e
transformados em calor, outros são refletidos para o espaço, mas só parte destes
chega a deixar a Terra, em consequência da ação refletora que os chamados
"Gases de Efeito Estufa", GEE, (dióxido de carbono, metano, clorofluorcarbonetos
– CFCs - e óxidos de azoto) têm sobre tal radiação reenviando-a para a superfície
terrestre na forma de raios infravermelhos (SCHIEL, 2008) (Figura 6).
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Figura 6: Mecanismo do Efeito Estufa. Fonte: Schiel, 2008.
O aquecimento global é o aumento da temperatura terrestre (não só numa
zona específica, mas em todo o planeta) e tem preocupado a comunidade científica
cada vez mais. Acredita-se que seja devido ao uso de combustíveis fósseis e outros
processos em nível industrial, que levam à acumulação na atmosfera de gases
propícios ao Efeito Estufa, tais como o Dióxido de Carbono, o Metano, o Óxido de
Azoto e os CFCs. (Revista Época). O Gráfico da figura 7 nos mostra o aumento
dos gases de efeito estufa emitido pelo homem nos últimos 2000 anos.
Figura 7: Aumento dos gases de efeito estufa. Fonte: Revista Época.
Desde 1850 temos assistido a um aumento gradual da temperatura
global, algo que pode também ser causado pela flutuação natural desta grandeza.
Tais flutuações têm ocorrido naturalmente durante várias dezenas de milhões de
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anos ou, por vezes, mais bruscamente, em décadas. Estes fenômenos naturais
bastante complexos e imprevisíveis podem ser a explicação para as alterações
climáticas que a Terra tem sofrido, mas também é possível e mais provável que
estas mudanças estejam sendo provocadas pelo aumento de emissões de gases de
Efeito Estufa, devido basicamente à atividade humana. De acordo com a
NASA a temperatura média da terra sofreu um aumento e 2º graus Celsius em
alguns lugares nos últimos 120 anos (Figura 8).
Figura 8: Variação de temperatura global. Fonte: Revista Época.
Abaixo segue uma tabela com os gases de efeito estufa com o seu potencial
de aquecimento global em 20, 100 e 500 anos (Tabela 2).
Tabela 2: gases de efeito estufa com o seu potencial de aquecimento global em 20, 100 e 500 anos.
Fonte: CABRAL, R. C. 2009.
Espécie Fórmula Química Tempo de Vida
(anos)
Potencial de aquecimento global
(horizontal de tempo)
20 anos 100 anos 500 anos
Dióxido de Carbono CO2 Variável 1 1
Metano CH4 12+/-3 56 21 6.5
Óxido Nitroso N2O 120 280 310 170
Ozônio O3 0.1-0.3 n.d. n.d. n.d.
HFC-23 CHF3 264 9 11700 9800
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HFC-32 CH2F2 5.6 2 650 200
HFC-41 CH3F 3.7 490 150 45
HFC-23-10mee C5H2F10 17.1 3000 1300 400
HFC-125 C2HF5 32.6 4600 2800 920
HFC-134 C2H2F4 10.6 2900 1000 310
HFC-134a CH2FCF3 14.6 3400 1300 420
HFC-152a C2H4F2 1.5 460 140 42
HFC-143 C2H3F3 3.8 1000 300 94
HFC-143a C2H3F3 48.3 5000 3800 1400
HFC-227ea C3HF7 36.5 4300 2900 950
HFC-236fa C3H2F6 209 5100 6300 4700
HFC-145ca C3H3F5 6.6 1800 560 170
Hexafluorido de Enxofre SF6 3200 16300 23900 34900
Perfluorometano CF4 50000 4400 6500 10000
Perfluoroetano C2F6 10000 6200 9200 14000
Perfluoropropano C3F8 2600 4800 7000 10100
Perfluorociclobutano c-C4F8 3200 6000 0.87 12700
Perfluoropentano C5F12 4100 5100 7500 11000
Perfluorohexano C6F14 3200 5000 7400 10700
Durante a decomposição anaeróbia da matéria orgânica nos aterros
sanitários é liberado o gás metano que é um potente gás de efeito estufa, com
potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao CO2 num período de 100
anos. Seu ciclo de vida na atmosfera é de aproximadamente 12 anos, sendo o 2º
gás de Efeito Estufa em ordem de importância, pois responde por
aproximadamente 18% de toda a pressão sobre o clima como é indicado em
gráfico abaixo (CABRAL 2009) (Figura 9).
Figura 9. Disseminação de gás – Efeito Estufa. Fonte: CABRAL, R. C.2009.
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Emissões de CH4 resultam de diversas atividades, incluindo aterros
sanitários, tratamento de esgoto, sistemas de produção e processamento de
petróleo e gás natural, atividades agrícolas, mineração de carvão, queima de
combustíveis fósseis, conversão de florestas para outros usos e alguns processos
industriais.
Os Aterros Sanitários são a 3º maior fonte mundial de emissões
antrópicas de Gases do Efeito Estufa respondendo por cerca de 13% desta como é
indicado no gráfico abaixo (USEPA, 2008) (Figura 10).
Figura 10. Emissões de Metano. Fonte: CABRAL, R. C. 2009.
Abaixo, segue um panorama mundial de emissões de gás metano de
aterros sanitários e um panorama brasileiro de emissões de gases de efeito estufa
(Figura 11).
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Figura 11: Panorama mundial de emissões de gás metano de Aterros Sanitários. Fonte:
CABRAL, R. C. 2009.
O maior gerador de Metano de aterros sanitários é os Estados Unidos
representando 26% de toda emissão, estando a China em 2º lugar representando
11% de toda Emissão e o Brasil representando 2 % de toda Emissão (USEPA,
2008). No Brasil, o setor Agropecuário é o maior responsável pelas emissões de
CH4 (77% em 1994), sendo a principal emissão decorrente da fermentação
entérica (eructação) do rebanho de ruminantes, quase toda referente ao gado
bovino, o segundo maior rebanho do mundo. As emissões anuais de metano
associadas à fermentação entérica foram estimadas em 9,4 Tg, 92% do total das
emissões de metano do setor agropecuário. Os 8% restantes resultam do manejo
de dejetos animais, da cultura de arroz irrigado e da queima de resíduos agrícolas
(Figura 12). As emissões do setor aumentaram 7% no período de 1990 a 1994,
devido, predominantemente, ao aumento do rebanho de gado de corte
(Comunicação Inicial do Brasil, 2004).
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Figura 12: Emissões de metano por setor brasileiro em 1994. Fonte: Comunicação Inicial do
Brasil, 2004.
O setor de mudanças no Uso da Terra e Floresta, as emissões ocorrem
pela queima da biomassa nas áreas de desflorestamento representando 14% do
total das emissões de metano apresentando a segunda maior fonte de emissão de
metano em 1994. As emissões do setor de Tratamento de Resíduos representaram
6% do total das emissões de metano em 1994, sendo a disposição de resíduos
sólidos responsável por 84% desse valor. No período de 1990 a 1994, as emissões
de metano do setor de Tratamento de Resíduos aumentaram 9% apresentando a
terceira maior fonte de emissão de metano (Comunicação Inicial do Brasil, 2004).
PROTOCOLO DE KYOTO
Esse Protocolo tem como objetivo firmar acordos e discussões
internacionais para conjuntamente estabelecer metas de redução na emissão de
gases-estufa na atmosfera, principalmente por parte dos países industrializados,
além de criar formas de desenvolvimento de maneira menos impactante àqueles
países em pleno desenvolvimento. Diante da efetivação do Protocolo de Kyoto,
metas de redução de gases foram implantadas, algo em torno de 5,2% entre os
anos de 2008 e 2012. O Protocolo de Kyoto foi implantado de forma efetiva em
1997, na cidade japonesa de Kyoto, nome que deu origem ao protocolo.
Na reunião, oitenta e quatro países se dispuseram a aderir ao protocolo e
o assinaram, dessa forma, comprometeram-se a implantar medidas com intuito
de diminuir a emissão de gases. As metas de redução de gases não são
homogêneas a todos os países, colocando níveis diferenciados de redução para os
Ensaio
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38 países que mais emitem gases, o protocolo prevê ainda a diminuição da
emissão de gases dos países que compõe a União Europeia em 8%, já os Estados
Unidos em 7% e Japão em 6%. Países em franco desenvolvimento como Brasil,
México, Argentina, Índia e, principalmente, China, não receberam metas de
redução, pelo menos momentaneamente.
O Protocolo de Kyoto não apenas discute e implanta medidas de redução
de gases, mas também incentiva e estabelece medidas com intuito de substituir
produtos oriundos do petróleo por outros que provocam menos impacto. Diante
das metas estabelecidas, o maior emissor de gases do mundo, Estados Unidos,
desligou-se em 2001 do protocolo, alegando que a redução iria comprometer o
desenvolvimento econômico do país.
O ano que marcou o início efetivo do Protocolo de Kyoto foi 2005,
vigorando a partir do mês de fevereiro. Com a entrada em vigor do Protocolo de
Kyoto, cresceu a possibilidade do carbono se tornar moeda de troca. O mercado de
créditos de carbono pode aumentar muito, pois países que assinaram o Protocolo
podem comprar e vender créditos de carbono, baixo panorama mundial de
transações de credito de carbono.
Abaixo segue um gráfico onde ilustra os países que compram créditos de
carbono com suas devidas participações nas compras (Figura 13).
Figura 13: Panorama mundial de transações de credito de carbono. Fonte: Planck-e.
Abaixo segue uma planilha com os países que vendem créditos de carbono
e suas devidas participações em volume de créditos de carbono (Tabela 3).
Ensaio
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Tabela 3: Venda de crédito de carbono.
Fonte: International Emissions Trading Association. VOLUME DE CRÉDITOS GERADOS (1)
India 41,0%
China 13,9%
México 13,9%
Brasil 5,1%
Outros 26,0%
Brasil foi o primeiro país a aprovar um projeto no Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL). Apesar disso, vem perdendo posições no ranking
internacional do mercado de créditos de carbono. Uma das razões pelas quais o
Brasil perdeu a liderança na comercialização é a burocracia do governo para
chancelar os projetos cadastrados que, após essa etapa precisam ser aprovados
pelo MDL. Segundo levantamento da Associação Internacional de Comércio de
Emissões (IETA), o país tem o prazo mais lento entre os emergentes analisados.
Enquanto um empreendimento no México leva em média 45 dias para obter a
aprovação, no Brasil o prazo vai de dois a seis meses. Países como China e Índia
já superam o país em número de projetos aprovados.
É importante mencionar, que os preços dos certificados, diferem-se de
acordo com o mercado que participam, constatando-se que mercados Kyoto-
compliance apresentam preços dos certificados mais elevados. Para verificar as
diferenças em relação aos preços segue duas tabelas abaixo com os valores
observados e estimados. Observa-se que há uma tendência de crescimento desses
preços que têm variado entre de U$ 2 à U$ 7 desde 2003 até meados de 2005, e
em 2006 já atingiu patamares de US$ 24 (Tabelas 4 e 5).
Tabela 4: Preço médio dos créditos de carbono Kyoto-compliance (US$/tCO2e)
Fonte: Banco Mundial (2005); Kossoy (2004); World Bank (2005a).
Tabela 5: Preço médio dos créditos de carbono Chicago Climate Exchange – CCX (US$/tCO2e).
Fonte: CCX (2008).
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O primeiro leilão de créditos de carbono no Brasil ocorreu em 26/09/2007,
na BM&F; O lote de 808.000 toneladas de CO2 equivalente, ofertado pela
prefeitura de São Paulo, foi arrematado pelo grupo belga-holandês Fortis. O
Valor pago por RCE gerados pela queima de biogás no aterro sanitário
bandeirantes foi de € 16,20/TCO2 totalizando €13 milhões.
BENEFÍCIOS ENERGÉTICOS COM O USO DO BIOGÁS
Face ao elevado poder calorífico do Biogás em muitos aterros sanitários
no mundo, além da sua simples queima estão sendo implantadas unidades de
geração de energia elétrica. O biogás pode ser utilizado também em sistemas de
calefação ou como combustível veicular, sendo que nesta última alternativa
haverá a necessidade de instalação de uma unidade de beneficiamento para
aumentar o teor de metano no biogás (IBAM Instituto Brasileiro de
Administração Municipal 2009).
De acordo com Cabral (2009), o poder calorífico do gás metano é de 11
Kw/m3CH4 e o biogás por conter aproximadamente 55%v/v em sua composição
resulta em um poder calorífico de aproximadamente 6 Kw/m3 de biogás.
Para cada tonelada de resíduo disposto em um aterro sanitário, são
gerados em média 200 Nm3 de biogás. A geração de biogás em um aterro
sanitário é iniciada alguns meses após o início do aterramento dos resíduos e
continua até cerca de 15 anos após o encerramento da operação da unidade
(IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal 2009).
Um exemplo de beneficio energético pelo biogás de aterro sanitário no
Brasil é o do Bandeirantes, recebeu cerca de 7.000 toneladas diárias do lixo de
São Paulo, 50% do total produzido. Sua utilização foi iniciada há 33 anos e
quando concluída, em 2006, armazena um total de 30 milhões de toneladas de
lixo. O gás do aterro Bandeirantes encontra-se e é produzido nas camadas do
aterro e sua coleta se dá através dos mesmos drenos verticais utilizados para sua
queima e pode ser utilizado para produção de energia elétrica, dentre outras
utilizações. As atividades consistem no encaminhamento aos moto-geradores de
até 12.000 m3/h de biogás, com um conteúdo mínimo de 50% de metano, durante
24h/dia em 365 dias/ano. Essa quantidade é suficiente para a instalação de uma
potência elétrica de 20 MW, que resultará na produção de até 170.000 MWh de
energia elétrica, suficiente para abastecer uma cidade de 400.000 habitantes,
Ensaio
MALANCONI, Rodrigo; CABRAL, Rodrigo Chimenti. Impactos e Benefícios da Produtividade de Biogás em
Aterro Sanitário.RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 135-158, jun. 2012.
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durante 10 anos. É a maior utilização de biogás para a produção de energia
elétrica no mundo (LOGOS ARCADIS).
CONCLUSÕES
O biogás produzido em aterros sanitários apresenta em sua composição
dióxido de carbono e gás metano, um gás inflamável que apresenta poder
calorífico de aproximadamente 11 Kw/m3 e é o 2º gás de Efeito Estufa em ordem
de importância, sendo que o produzido por resíduos sólidos representa 3º maior
fonte mundial de emissões de metano.
Com tamanho poder energético o biogás, que apresenta aproximadamente
6,0 Kw/m3 é utilizado para geração de energia elétrica como verificado no aterro
sanitário Bandeirantes, o primeiro aterro sanitário brasileiro que utiliza biogás
para acionar 24 conjuntos moto-geradores de 925 KW/conjunto, correspondendo a
uma potência líquida de 20.000 KW beneficiando aproximadamente 400 mil
habitantes.
Apenas a queima do metano, gás que apresenta potencial de aquecimento
global 21 vezes maior que o dióxido de carbono, acarreta ganhos ambientais na
transformação do gás metano em água e gás carbônico, reduzindo o potencial de
aquecimento global, gerando certificados de emissões reduzidas ou créditos de
carbono em países em desenvolvimento como o Brasil.
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Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos
Carolina Adélia Liberato Torres Engenheira Ambiental pelas Faculdades Oswaldo Cruz
Email:[email protected]
Gabriela Nenna Ferraresi Possui mestrado em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo
(2001). Atualmente é gerente do Setor de Resíduos Sólidos Industriais da Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB e professora das Faculdades Oswaldo Cruz e
Faculdade de Tecnologia Oswaldo Cruz.
Ensaio
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RESUMO
A destinação de resíduos eletroeletrônicos, conhecidos como lixo tecnológico, é um
atual desafio mundial. O desenvolvimento de novos produtos e tecnologias,
associado à fase de consumo desenfreado que a sociedade enfrenta atualmente,
tem gerado grandes problemas ambientais. Cada vez mais, os produtos
eletroeletrônicos estão com o seu tempo de vida útil reduzido e, quando quebram,
o consumidor prefere comprar um produto novo e mais moderno, ao invés de
consertar o antigo, uma vez que o custo-benefício acaba sendo melhor. O Governo
brasileiro, por sua vez, aprovou em 2010 a Politica Nacional de Resíduos Sólidos.
Ela determina, entre outras coisas, que os resíduos de produtos que ofereçam alto
risco de problemas ambientais e à saúde humana, por exemplo, os resíduos
eletroeletrônicos, que possuem em sua composição metais pesados, são de
responsabilidade de todos (responsabilidade compartilhada), e estimula a
logística reversa destes resíduos, garantindo assim a diminuição do risco de
contaminação ambiental por eles. O sistema de logística reversa é complexo e
possui diversos caminhos, dependendo do tipo de resíduo gerado. Eles podem ser
resíduos de pós venda, onde se enquadram aqueles produtos com problema de
garantia e/ou validade ou pelo retorno de produtos por alto estoque do cliente. Os
resíduos considerados de pós-consumo são aqueles produtos já usados, mas que
podem entrar no processo de reuso, até atingirem o fim da vida útil, ou então
aqueles produtos usados que podem ser reciclados e/ou descaracterizados com a
reutilização de peças ou componentes. Por fim, aqueles componentes, peças, ou
aparelhos que não se enquadram neste sistema, são encaminhados para
disposição final. Com isso, a logística reversa, é a melhor alternativa para um
melhor gerenciamento dos resíduos eletroeletrônicos, uma vez que com a
reciclagem é possível utilizar peças, componentes e/ou metais valiosos que seriam
descartados, em novos produtos.
Palavras-chave: Logística Reversa. Resíduos Eletroeletrônicos. Reciclagem.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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ABSTRACT
The disposal of electronics waste, known as e-waste, is now a global challenge.
The development of new products and technologies associated to consumerism
phase that our society faces today, creates major environmental problems. Those
products have their lifetime more and more limited, and when they break,
consumers prefer to buy a new and more modern product, rather than fix the old
one, since the cost benefit, ends up being better. The Brazilian government,
approved in 2010, the National Solid Waste Policy. It determines, among other
things, that the waste products that offer high risk of environmental and human
health problems, for example, electronic waste, which have heavy metals in their
composition, are everyone's responsibility (shared responsibility), and stimulates
the reverse logistics of this waste, ensuring a reduced risk of environmental
contamination. The reverse logistics system is complex and has many paths,
depending on the type of waste generated. They may be post-sales waste, which
are those products that had manufacturing problems within the guaranteed
period and/or that expired at customer inventory. The post consumer waste are
those products that are used, but they can be reused until they reach the end of
life, or those used products that can be recycled and / or disassembled with the
reuse of parts or components . Finally, all the components, parts, or devices that
are out of those criteria, are sent for final disposal. Thus, reverse logistics, is the
best alternative for a better management of electronics waste, once recycling is a
way to use parts, components and / or valuable metals from discarded into new
products
Key words: Reverse Logistic. E-waste. Recycling
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo da historia da humanidade, a idéia de crescimento se confunde
com um crescente domínio e transformação da natureza. Nesse paradigma, os
recursos naturais são vistos como ilimitados (RIBEIRO&MORELLI, 2009).
Os problemas oriundos pelo modelo de desenvolvimento, somado ao
consumismo desenfreado, resulta na consequente geração insustentável de
resíduos sólidos que atinge toda a humanidade, não somente na última década
mas desde o advento da Revolução Industrial em meados de século XVIII.
No entanto, notadamente a partir da última década e início do século XXI é
que o debate em torno desta problemática vem se acirrando tanto no mundo
acadêmico quanto entre os profissionais na área ambiental em busca de novas
tecnologias e modelos de gestão eficazes de modo a solucionar a questão.
A produção de lixo vem aumentando assustadoramente em todo o planeta,
e ele passou a ser descartado e acumulado no meio ambiente causando não
somente problemas de poluição como também caracterizando um desperdício de
matéria originalmente utilizada.
Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, cerca de 1% do lixo
urbano é constituído por resíduos sólidos contendo elementos tóxicos. Diversos
Esses resíduos são oriundos de pilhas, baterias, computadores, celulares,
televisores, geladeiras e diversos outros produtos contendo componentes
eletrônicos, o chamado lixo tecnológico.
Seguindo esse raciocínio e, se o Brasil gera cerca de 250.000 toneladas de
lixo diariamente, 1% desde total são resíduos com elementos tóxicos, ou seja cerca
de 2.500 toneladas de resíduos por dia interage perigosamente com o meio
ambiente. E devido as sérias deficiências na gestão do lixo da grande maioria dos
municípios brasileiros, 59% desde total é disposto inadequadamente, ou seja, sem
qualquer tipo de tratamento (MMA,2011). Um brasileiro gera, em média, 2,6kg
de lixo tecnológico por ano (ONU,2011).
No mundo, são descartados cerca de 50 milhões de toneladas de lixo
tecnológico e menos de 10% desse volume é reciclado. Esse material aumenta três
vezes mais rápido que o lixo comum e a previsão é triplicar nos próximos cinco
anos (REVISTA HORIZONTE GEOGRAFICO,2011).
Ensaio
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Isso representa um grande desafio, não somente para os governantes, mas
como também para toda a humanidade, devendo fazer parte das discussões a
respeito do planejamento ambiental das nações de todo o planeta.
Considerando que, atualmente há uma grande quantidade de produtos
disponíveis no mercado em um espaço de tempo cada vez menor, pode-se dizer
que é também alta a quantidade de produtos descartados, se tornando resíduos
no meio ambiente.
Sob esta ótica, e dentre outras situações, foi criada a Politica Nacional de
Resíduos Sólidos – PNRS, através da Lei 12.305 de 2 de Agosto de 2010. E
regulamentada pelo Decreto Federal 7.404 de 23 de Dezembro de 2010.
A aprovação desta lei constituiu um novo marco regulatório completo para
o setor de resíduos sólidos, que vem ao encontro de grandes desafios a serem
enfrentados pelo Governo e pela sociedade como um todo. O lixo tecnológico
também é abrangido pela nova legislação, exatamente devido ao seu potencial de
poluição e dano a saúde publica, visto que os produtos eletroeletrônicos contêm
substancias toxicas como, por exemplo, o mercúrio, cádmio, arsênio, chumbo, etc.
Dois dos objetivos abordados pela PNRS é a responsabilidade
compartilhada e a logística reversa – LR de alguns produtos, dentre eles os
considerados como “lixo eletrônico”.
Por esta razão, foi escolhido o tema “Logística Reversa em produtos
Eletroeletrônicos”, uma vez que enquanto produtos, eles não ofereçam nenhum
risco à saúde humana e/ou ao meio ambiente, quando descartados e/ou obsoletos,
eles deixam sua condição de produto e se tornam resíduos altamente perigosos,
conforme será abordado neste trabalho. Assim será discutido aspectos relativos a
viabilidade da logística reversa dos resíduos eletroeletrônicos e artigos
internacionais para a pesquisa.
A idéia central do sistema de logística reversa é fazer com que o resíduo
eletrônico seja descartado e reinserido no processo de manufatura de novos
produtos, ou então, que partes de seus componentes sejam utilizados como
matérias-primas na fabricação de subprodutos.
Outro aspecto importante é que o fluxo do sistema da LR previsto na PNRS
apresenta diversos canais de distribuição e como são classificados os resíduos.
Uma vez que o produto eletrônico é descartado, é avaliado suas características e
condições, classificados como equipamento de reuso, equipamento para
reciclagem ou em ultimo caso, para destinação final.
Ensaio
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A LR, em sua essência, busca promover um conjunto de ações,
procedimentos e meios, destinados a facilitar a coleta e a destruição dos resíduos
eletroeletrônicos aos seus geradores, estes responsáveis pelas etapas de
acondicionamento, coleta, tratamento e disposição final adequada.
Isso significa dizer que o Poder Público e a coletividade são responsáveis
pela efetividade destas ações, visando a busca por um meio ambiente sadio e a
qualidade de vida da geração atual e das futuras.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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2. RESÍDUOS SÓLIDOS
2.1 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS.
Em consequência do acelerado desenvolvimento que hoje a sociedade
mundial se encontra, um dos maiores problemas identificados é a geração
desenfreada de resíduos. E ligado a eles, existe o problema de encontrar uma
tratativa ambientalmente adequada devido ao alto volume gerado nas cidades,
principalmente nos grandes centros a falta de espaço para novos aterros com a
constante extração de matéria prima para a produção de novos produtos, entre
outros. Com o passar dos anos, a sociedade vem se preocupando cada vez mais em
relação às questões ambientais e ao “lixo” gerado, tanto resíduo urbano como
industrial.
Os resíduos sólidos, conforme a norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas ABNT 10.004:2004 podem ser definidos como:
“Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da
comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de
sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações
de controle de poluição, bem como, determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou
exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor
tecnologia disponível”.
De acordo com esta norma, estes resíduos são classificados em:
“Classe I - Perigosos: são os resíduos que apresentam riscos à saúde
pública e ao meio ambiente. Exigem tratamento e disposição especiais em função
de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade
e patogenicidade;”
“Classe II A – Não Perigosos e não inertes: são os resíduos que não são
inertes, mas não apresentam periculosidade, podem ter propriedades tais como
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Basicamente, são
as características do lixo doméstico, nomeados como Resíduos Sólidos
Domiciliares (RSD);”
“Classe II B - Não Perigosos e Inertes: São os resíduos que não se
decompõem ou não se degradam quando dispostos no solo. Estão nesta
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TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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classificação, por exemplo, os entulhos de demolição, pedras e areias retirados de
escavações;”
Outra classificação dos resíduos é pela origem: domiciliar, comercial, de
varrição e feiras livres, serviços de saúde e hospitalares; portos, aeroportos e
terminais ferro e rodoviários, industriais, agrícolas e entulhos.
Os resíduos domiciliares são originados da vida diária das residências
sendo dispostos para a coleta pelos munícipios das cidades. Constituído por
materiais como papel, papelão, vidro, latas, plásticos, trapos, terra, restos de
alimentos, madeira, papel higiênico, fraldas descartáveis e uma grande
diversidade de outros itens, inclusive alguns resíduos tóxicos, que são
descartados indevidamente pela população, como seringas, pilhas e baterias e
materiais contaminados com óleos e graxas.
O crescimento da produção de resíduos está vinculado ao aumento da
população e do consumo desenfreado, assim, torna-se primordial a criação de
estratégias de gerenciamento desses materiais, buscando alternativas de
minimização, tratamento e destinação final ambientalmente adequada. A Política
Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS é uma ferramenta que visa traçar
diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento dos resíduos sólidos,
justamente para auxiliar a tomada de decisões e melhoria nas cadeias
produtivas.
2.2 SEGREGAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
A segregação dos resíduos sólidos tem como finalidade evitar misturas de
resíduos que são incompatíveis, garantindo assim a possibilidade de reutilização,
reciclagem e a segurança no manuseio dos mesmos. Caso a segregação seja feita
de forma inadequada, a mistura de resíduos incompatíveis pode gerar: calor, fogo,
explosões, gases tóxicos ou inflamáveis, entre outras coisas (ABNT 10.004:2004).
Por isso, a fase de segregação dos resíduos é de extrema importância e
deverá ocorrer na fonte geradora, identificando desde sua origem, quais são os
componentes dos resíduos, a descrição das matérias-primas, dos insumos e dos
processos nos quais os resíduos são gerados.
2.3 ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAGEM DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS
Ensaio
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Esta fase do processo da gestão de resíduos sólidos deve obedecer a norma
ABNT NBR 12.235:1992, onde os resíduos devem ser armazenados de forma a
minimizar os riscos de contaminação ambiental e não deverão ser armazenados
juntos - classe I com classe IIA e/ou IIB.
De acordo com a norma citada anteriormente, os resíduos deverão estar
acondicionados em recipientes apropriados, sejam eles tanques, tambores
metálicos, containers ou bombonas plásticas, caçambas abertas ou fechadas
(cobertas), granel, sacos plásticos identificados por cores, por exemplo, entre
outros.
Toda área de armazenagem de resíduos perigosos, deverá apresentar um
Plano de Emergência, em caso de acidentes e/ou vazamentos. Neste plano deverá
estar indicado a pessoa que será o coordenador de emergência e um substituto
com telefones e endereços junto com uma lista dos equipamentos de proteção
individual (EPIs) ou equipamentos de proteção coletiva (EPCs) a serem usados no
combate ao problema. (ABNT NBR 12.235/92).
2.3.1 Acondicionamento e Armazenagem de Resíduos Classe I
No caso dos resíduos classificados como Classe I – Resíduos Perigosos, as
formas de acondicionamento e armazenagem deverão seguir a ABNT NBR
12.235:1992, de modo a proteger a saúde pública e o meio ambiente.
O acondicionamento dos resíduos perigosos, como forma temporária de espera
para reciclagem, recuperação, tratamento e/ou disposição final, poderá ser em
forma de containers, tambores, tanques e/ou granel.
2.3.2 Acondicionamento e Armazenagem de Resíduos Classe IIA e IIB
No caso dos resíduos classificados como Classe IIA – Não Inertes e IIB -
Inertes, a área de armazenagem deverá seguir a ABNT NBR 11.174:1990.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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3. POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS – PNRS
3.1 DEFINIÇÃO
A Política Nacional de Resíduos Sólidos instituída pela Lei 12.305, de 2 de
agosto de 2010 e regulamentada pelo Decreto Federal 7.404 de 23 de Dezembro
de 2010, institui algumas diretrizes a serem tomadas sobre o assunto.
Constantes da PNRS presentes no art. 3º:
a) Acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder
público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em
vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do
produto;
b) Ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o
desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o
processo produtivo, o consumo e a disposição final;
c) Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos
que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o
aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes;
d) Disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada
de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a
evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e minimizar os impactos
ambientais adversos;
e) Geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito
público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas
incluindo o consumo;
f) Gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas,
direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento
e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de
gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos
sólidos, exigidos na forma desta Lei;
g) Gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas
para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as
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dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e
sob a premissa do desenvolvimento sustentável;
h) Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e
social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados
a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada;
i) Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos:
conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para
minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir
os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do
ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei;
A partir destas definições a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS
apresenta entre seus princípios o da prevenção e precaução, o do poluidor-
pagador e do protetor-recebedor, o da ecoeficiência dos processos e produtos e da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
Tem como objetivos a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental,
a não geração, a redução, a reutilização, a reciclagem e o tratamento dos resíduos
sólidos, conforme Figura 1. Além disto, tem-se a disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos, o estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e
consumo, a adoção e desenvolvimento de tecnologias limpas, a capacitação técnica
continuada na área de resíduos sólidos.
Figura 1 - Prioridade para tomada de decisão na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos.
Fonte adaptada: Ponce, 2011
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TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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O incentivo às indústrias de reciclagem e a integração dos catadores de
materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade
compartilha pelo ciclo do produto e o uso destes como matérias-primas e insumos
em processos e/ou re-processos (BRASIL, 2010).
A coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas
relacionadas à da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos
são instrumentos desta Política.
Adicionalmente podemos citar os planos de gerenciamento de resíduos
sólidos, o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária, os
cadastros técnicos que relacionam atividades potencialmente poluidoras, bem
como instrumentos de defesa e avaliação de impactos.
Quanto às responsabilidades definidas na PNRS, o Distrito Federal e os
Municípios tem a incumbência da gestão integrada dos resíduos sólidos gerados
nos respectivos territórios, sem prejuízo das competências de controle e
fiscalização dos órgãos federais e estaduais do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA, da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - SNVS e do
Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária - Suasa, bem como da
responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de resíduos, consoante com o
estabelecido na PNRS.
Aos Estados cabe a promoção da integração da organização, do
planejamento e da execução das funções públicas de interesse comum relacionado
à gestão dos resíduos sólidos nas regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões.
À União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a organização e
manutenção, de forma conjunta, do Sistema Nacional de Informações sobre a
Gestão dos Resíduos Sólidos - SINIR, articulado com o Sistema Nacional de
Informação sobre o Meio Ambiente - SINIMA, cabendo aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios fornecer ao órgão federal responsável pela coordenação
do SINIR, todas as informações necessárias sobre os resíduos sob sua esfera de
competência.
Na Política Nacional de Resíduos Sólidos são apresentadas as diretrizes
para elaboração dos planos de resíduos sólidos, a saber: do Plano Nacional de
Resíduos Sólidos, do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, do Plano Municipal de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e do Plano de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos (PONCE, 2011).
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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3.2 PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS
3.2.1 Plano Nacional de Resíduos Sólidos
Este plano deverá ser elaborado pela União, sob a coordenação do
Ministério do Meio Ambiente, tendo como conteúdo mínimo:
a) Diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos;
b) Proposição de cenários, incluindo novas tendências internacionais e
macroeconômicas;
c) Metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, buscando reduzir
a quantidade de resíduos e rejeitos;
d) Metas para aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de
disposição final de resíduos sólidos;
e) Metas de eliminar e recuperar áreas de lixões, associadas à inclusão social
e emancipação econômica dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.
3.2.2 Plano Estadual de Resíduos Sólidos
Este plano deverá ser elaborado pelos Estados, tendo como conteúdo
mínimo, além dos contidos no plano nacional, a previsão de zonas favoráveis para
a localização de unidades de tratamento de resíduos sólidos e/ou de disposição
final de rejeitos e de áreas degradadas em razão da disposição inadequada de
resíduos sólidos ou rejeitos que poderiam ter recuperação ambiental.
Além do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, os Estados podem elaborar
planos microrregionais de resíduos sólidos, assim como planos específicos,
direcionados à áreas metropolitanas ou aglomerações urbanas.
3.2.3 Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Este plano deverá ser elaborado pelos Municípios, considerando também o
Distrito Federal. E tem o seguinte conteúdo, entre outros:
a) Diagnóstico da atual situação dos resíduos sólidos no território, contendo
dados como origem, volume, caracterização, formas de destinação e disposição
final adotada;
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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b) Identificação das áreas favoráveis para disposição final adequada,
considerando o plano diretor e o zoneamento ambiental;
c) Identificação dos geradores sujeitos à um plano de gerenciamento de
resíduos sólidos específico e/ou a sistemática da logística reversa;
d) Indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos
de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos;
e) Regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos
sólidos;
f) Identificação de passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos,
incluindo áreas contaminadas e respectivas medidas saneadoras.
3.2.4 Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos - PGRS
Este é um plano direcionado ao setor empresarial, que faz parte do
processo de licenciamento ambiental, e que atende as determinações do Plano
Municipal de Resíduos Sólidos, do respectivo Município. E deve ser elaborado
pelos seguintes geradores de resíduos sólidos:
a) Dos serviços púbicos de saneamento básico;
b) Industriais;
c) De serviços de saúde;
d) De mineração;
e) De estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que gerem
resíduos perigosos e/ou resíduos que não sejam classificados como perigosos,
porem não são considerados resíduos domiciliares;
f) De empresas de construção civil;
g) De responsáveis por terminais e outras instalações e serviços de
transportes de portos, aeroportos, rodoviários, ferroviários, e passagens de
fronteiras;
h) De responsáveis por atividades agrossilvopastoris.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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Para àquelas empresas que são de pequeno porte ou micro empresas, existe
a possibilidade de soluções coletivas, as empresas que geram apenas resíduos
sólidos domiciliares são dispensadas da elaboração do PGRS.
As empresas localizadas em um mesmo condomínio, Município, região
metropolitana ou aglomeração urbana, que exerçam atividades características de
um mesmo setor produtivo, e possuam mecanismos de governança coletiva ou de
cooperação em atividades de interesse comum, poderão apresentar um PGRS de
forma coletiva e integrada. Porém o plano deverá conter indicações
individualizadas das atividades e seus resíduos gerados, assim como as ações e
responsabilidades de cada um dos geradores.
O PGRS deve ter o seguinte conteúdo mínimo:
a) Descrição do empreendimento ou atividade;
b) Diagnóstico dos resíduos sólidos gerados, contendo o volume e a
caracterização dos resíduos, incluindo os possíveis passivos a eles relacionados;
c) Explicitação dos responsáveis por cada etapa do gerenciamento dos
resíduos;
d) Definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas de
gerenciamento dos resíduos sob a responsabilidade do gerador;
e) Ações preventivas e corretivas a serem executadas em situações de
gerenciamento incorreto ou acidentes;
f) Metas e procedimentos relacionados à minimização da geração dos resíduos
sólidos, à reutilização e reciclagem;
g) Se couber, ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de
vida dos produtos;
h) Periodicidade de revisão, de acordo com o prazo da licença de operação.
3.3 RESPONSABILIDADES ESTABELECIDAS NA PNRS
Das responsabilidades dos Geradores e do Poder Público, a PNRS
apresenta em seus Art. 25, Art. 26, Art.27 e Art.29 que o poder público,
juntamente com o setor empresarial e a coletividade, são responsáveis pela
efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Politica Nacional
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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de Resíduos Sólidos e das diretrizes e demais determinações estabelecidas em seu
regulamento.
O titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos é responsável pela organização e prestação direta ou indireta desses
serviços, observados no respectivo plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos, na Lei nº 11.445, de 2007 que estabelece diretrizes nacionais
para saneamento básico.
De acordo com o Art. 20 da Lei 12.305/10, geradores de resíduos sólidos de
serviço público, industriais, de serviços de saúde, de mineração, os
estabelecimentos comerciais que gerem resíduos perigosos e/ou resíduos que não
possam ser equiparados com resíduos domiciliares, empresas de construção civil,
responsáveis por terminais ou resíduos de serviços de transporte bem como os
responsáveis por atividades agrossilvopastoris são responsáveis pela
implementação e operacionalização integral do plano de gerenciamento de
resíduos sólidos aprovado pelo órgão competente. E cabe ao poder público atuar,
subsidiariamente, com vistas a minimizar ou cessar o dano, logo que tome
conhecimento de evento lesivo ao meio ambiente ou à saúde pública, relacionado
ao gerenciamento de resíduos sólidos.
3.3.1 Responsabilidade Compartilhada
A responsabilidade compartilhada é descrita, na seção II nos artigos
numerados do 30 até 33.
Pelo artigo 30, fica instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo
de vida dos produtos, de forma individual e encadeada, os fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, os consumidores, os titulares dos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos às
atribuições e procedimentos previstos nesta seção.
No artigo 31, para fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus
objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes são
responsáveis por desenvolver produtos aptos à reciclagem e/ou reutilização, ou
outra forma de destinação adequada e são também responsáveis pelo
recolhimento dos produtos e resíduos remanescentes após o uso, assim como a
destinação final ambientalmente correta.
O artigo 32 especifica que as embalagens devem ser fabricadas com
materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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E o artigo 33, define quem são aqueles que são obrigados a estruturar e
implementar sistemas de logística reversa de forma independente do serviço
público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. E são:
I - Agrotóxicos, com seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja
embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso,
II - Pilhas e baterias;
III - Pneus;
IV - Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - Eletroeletrônicos e seus componentes.
3.4 COMITÊ INTERMINISTERIAL DA PNRS
O Comitê Interministerial da PNRS foi criado a partir do Decreto nº 7.404
de 23 de Dezembro de 2010. Ele tem a finalidade de apoiar a estruturação e
implementação da PNRS, por meio de articulações dos órgãos e entidades
governamentais, de modo a possibilitar o cumprimento das determinações e
alcançar as metas previstas na Lei nº 12.305/10.
De acordo com o art. 3º, do Decreto 7.404 de 2010, este ministério é
coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, e é formado por um representante,
titular e suplente, de outros 9 (nove) ministérios (Cidades; Desenvolvimento
Social e Combate à Fome; Saúde; Minas e Energia; Fazenda; Planejamento,
Orçamento e Gestão; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ciência e Tecnologia), além da Casa Civil
e da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
Compete a este Comitê:
- Instituir procedimentos, elaborar e avaliar a implementação do Plano
Nacional de Resíduos Sólidos,
- Definir informações complementares ao Plano de Gerenciamento dos
Resíduos Perigosos
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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- Formular estratégias de promover as tecnologias limpas para a gestão e
gerenciamento de resíduos sólidos.
- Incentivar pesquisa e desenvolvimento nas atividades de reciclagem,
reaproveitamento e tratamento dos resíduos sólidos.
3.5 COMITÊ ORIENTADOR DA LOGÍSTICA REVERSA
Este Comitê Orientador foi criado também a partir do Decreto nº 7.404 de
23 de Dezembro de 2010. E é composto por representantes do Ministério do Meio
Ambiente; da Saúde; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; da
Fazenda; de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
E de acordo com o Decreto 7.404/10, tem a finalidade de:
- Estabelecer a orientação estratégica da implementação de sistemas de
logística reversa;
- Definir prioridades e fixar o cronograma para lançamento de editais com
propostas dos acordos setoriais, para a implantação de sistemas de logística
reversa;
- Aprovar estudos de viabilidade técnica e econômica;
- Definir diretrizes metodológicas para avaliação dos impactos social e
econômicos dos sistemas de logística reversa;
- Revisão dos acordos setoriais, e dos termos de compromisso;
- Propor medidas visando incluir nos sistemas de logística reversa os
produtos e embalagens adquiridas diretamente de empresas não estabelecidas no
País;
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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4. LOGÍSTICA REVERSA – LR
4.1 DEFINIÇÃO
Existem diversas definições e citações sobre logística reversa – LR
atualmente, o que demostra que este é um assunto em evolução, diante de tantas
possibilidades de negócios que vem surgindo ano após ano.
Conforme Art. 33 da PNRS entende-se por logística reversa, como um
instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um
conjunto de ações, procedimentos e metas destinadas a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento, em
seu ciclo ou outro ciclos produtivos ou outra destinação final ambientalmente
adequada.
Assim a LR tem como objetivo tornar possível o retorno dos bens de pós-
consumo e de pós venda ao ciclo produtivo ou ao ciclo de negócios, por meio de
canais de distribuição reversos, agregando assim valores de diversas naturezas:
econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros (VIA
SAPIA, 2011).
Ainda de acordo com a PNRS, por meio de acordos setoriais e termos de
compromissos, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística
reversa mediante o retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma
independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos
sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
a) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens;
b) pilhas e baterias;
c) pneus;
d) óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
e) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
f) produtos eletrônicos e seus componentes;
Tem sido utilizada como uma importante ferramenta de aumento de
competitividade e consolidação da imagem corporativa, para aquelas empresas
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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que têm uma visão de Responsabilidade Empresarial em relação ao Meio
Ambiente e à Sociedade (VIA SAPIA, 2011).
Esta responsabilidade ambiental, além que criar uma boa imagem para a
empresa, permitirá o surgimento de uma nova economia de negócios, que vai
gerar novos empregos, serviços e desenvolver novas tecnologias.
4.2 LOGÍSTICA REVERSA DE BENS DE PÓS VENDA
Os bens de pós venda, são aqueles que com pouco ou nenhum uso, que após
o descarte, retornam aos diferentes elos da cadeia de distribuição direta.
Tem como objetivo agregar valor aos fabricantes, daqueles produtos
descartados por garantia/qualidade, por quantidade de estoque, razões
comerciais, entre outros (VIA SAPIA, 2011).
Aqueles produtos que se classificam com problemas de
“garantia/qualidade”, apresentam defeitos de fabricação ou funcionamento, ou
avarias no produto ou embalagens, que poderão ser submetidos à consertos ou
reformas que os permitam retornar ao mercado primário, ou então à mercados
denominados secundários, agregando assim, novamente um valor comercial.
Têm aqueles produtos classificados como “estoques”, representam os
produtos retornados devido à erros de pedidos, excesso de estoque no canal de
distribuição, consignação ou liquidação de mercadorias ponta de estoques e
outros, que retornarão ao ciclo de negócios por meio de redistribuição em outros
canais de venda.
Há também aqueles produtos, que segundo o, através da remanufatura, ou
manutenção e/ou consertos ao longo da vida útil, podem retornar ao mercado
primário ou secundário ou até serem enviados à reciclagem ou disposição final se
não houver possibilidade de reaproveitamento.
4.2.1 Canal de Distribuição Reverso de Bens de Pós-Venda (CDR-PV)
Estes canais são constituídos pelas diferentes formas e possibilidades de
retorno dos produtos com pouco ou nenhum uso que é devolvido pelo consumidor,
com problemas de fim da validade, qualidade do produto, estoques excessivos, por
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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consignação, ou avarias nas embalagens, que fluem no sentido inverso da compra,
partindo do consumidor para o varejista, e do varejista ao fabricante.
Um exemplo deste tipo de canal de distribuição, é a venda industrial de
materiais, na forma de sucata, equipamentos usados diretamente ou através de
leilões. São vendidos bens como: ativos das empresas, matérias-primas, insumos,
móveis utensílios, entre outros.
É considerado um importante canal, pois ele alimenta subcanais de
produtos de segunda mão, alimentando alguns “desmanches” e mercado de
reposição de peças, entre outros.
4.3 LOGÍSTICA REVERSA DE BENS DE PÓS-CONSUMO
Os bens de pós-consumo, são aqueles produtos em fim de vida útil ou usados,
com possibilidade de reutilização, e resíduos industriais em geral, com o retorno
ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo por meios de canais de distribuição
reversos específicos, como reúso, reciclagem e destinação final, como se pode ver
na figura 2 a seguir.
Figura 2 - Fluxo de Distribuição Reversa.
Fonte: Via Sápia – Logística Reversa.
Tem como objetivo agregar valor ao produto inservível, classificados de acordo
com as condições de uso, a vida útil do produto e resíduos industriais.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Aqueles produtos classificados de acordo com a condição do uso poderão ser
reutilizados, tendo assim sua vida útil estendida, agregando valor e adentrando o
canal reverso de “Reúso” no mercado secundário, até atingir o fim da vida útil
(Figura 2).
Aqueles classificados de acordo com o fim da vida útil, os bens entrarão nos
canais reversos de desmanche e/ou reciclagem, onde seus componentes poderão
ser aproveitados ou remanufaturados, retornando ao mercado secundário ou até a
própria indústria que reutilizará como material reciclado, agregando valor
econômico, ecológico e logístico (Figura 2).
No caso dos resíduos industriais, alguns materiais constituintes podem ser
reaproveitados, ou retornarem ao ciclo produtivo como matéria-prima secundária.
E outros resíduos, que não houver condições para essas outras ações, encontrarão
a disposição final, sendo aterros sanitários e incineração, agregando valor
econômico, pela transformação do resíduo em energia elétrica, por exemplo
(Figura 2).
Dentro do canal de distribuição reverso de pós-consumo, os produtos são
divididos em três categorias: os bens descartáveis, os bens semiduráveis e os bens
duráveis:
I – Bens Descartáveis
São considerados bens descartáveis aqueles produtos que apresentem duração
de vida útil média de algumas semanas, não superior a seis meses. Os produtos
considerados bens descartáveis são, por exemplo, embalagens, brinquedos,
material de escritório, suprimento de computadores, pilhas, fraldas, jornais, entre
outros.
II – Bens Semiduráveis
São considerados bens semiduráveis aqueles produtos que apresentam
duração de vida útil média de alguns meses, não superior a dois anos. É uma
categoria intermediária, e por isso, ora apresenta características dos
descartáveis, ora dos duráveis. Os produtos considerados bens semiduráveis são,
por exemplo, baterias de veículos, óleos lubrificantes, baterias de celulares,
computadores e periféricos, revistas especializadas, entre outros.
III- Bens Duráveis
São considerados bens duráveis aqueles produtos que apresentam duração de
vida útil média variando de alguns anos a algumas décadas. São produtos que
atendem as necessidades da sociedade. Por exemplo, os automóveis, os
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TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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eletrodomésticos, os eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos industriais,
aviões, navios, construção civil, entre outros.
4.3.1 Descartabilidade dos Produtos
Devido ao acelerado desenvolvimento tecnológico vivido hoje pela
humanidade, pode-se perceber um grande aumento na introdução de novos
materiais, novas tecnologias, que acabam melhorando a eficiência dos produtos,
e/ou reduzem o tempo de vida útil, principalmente nos bens de consumo duráveis
e semiduráveis. Com isso, aumenta a tendência à descartabilidade destes
produtos.
Como exemplo dessas inovações, podem-se citar os materiais plásticos que
são mais baratos do que os metais para a confecção de vários componentes, e às
vezes até melhoram o desempenho do produto, também com facilidades na
produção e conformação. No ramo eletrônico, o desenvolvimento de tecnologias de
miniatura, de chips, e inovações em aparelhos e programas nesta área também
aumenta a tendência à descartabilidade de produtos “quase novos” por outros
mais “atuais”. E como o preço destes novos produtos, está cada vez mais acessível
a todos na sociedade, o consumidor acaba preferindo comprar um produto novo a
um produto no mercado secundário.
De acordo com a Figura 3, podem-se visualizar os motivos principais que
geram o aumento da descartabilidade dos produtos.
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Figura 3 - Principais motivos da descartabilidade.
Fonte: Via Sápia – Logística Reversa
Como consequência deste aumento no número de produtos descartados e da
redução do tempo de vida deles, gera-se um aumento na quantidade de itens a
serem manipulados pelos canais de distribuição diretos, exigindo assim uma
rapidez no giro dos produtos, para não estocar produtos obsoletos para o mercado,
e os produtos duráveis que antes eram descartados em alguns anos, ou ate
décadas, estão se transformando em produtos semiduráveis, assim como os
produtos classificados como semiduráveis, com o tempo de descarte em torno de
alguns meses, estão se transformando em produtos duráveis, sendo descartados
em alguns dias.
Com isso, o volume de produtos de pós-consumo estão aumentando
fortemente, e resultando no esgotamento dos pontos de destinação final
tradicionais, bem como comprometendo os estoques não renováveis de recursos
naturais necessários para a sua produção.
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A disposição final dos bens de pós-consumo, é em um modelo controlado, que
não danifique o meio ambiente e que não atinja, direta ou indiretamente a
sociedade. Como disposição final inadequada, temos os terrenos baldios, rios,
riachos, lixões, entre outros. Observa-se então que a disponibilização dos bens e
materiais residuais, caso não seja controlada, gerará impactos ambientais.
Como resíduos perigosos ao meio ambiente e à sociedade, pode-se citar as
pilhas, que possuem metais pesados, como chumbo, cádmio e mercúrio, e que se
descartadas de forma incorreta, podem contaminar o solo, e até as águas
subterrâneas, oferecendo riscos à saúde humana.
Porém, existem aqueles produtos de pós-consumo, constituídos por materiais
que são considerados inofensivos à saúde humana, que se descartados em
grandes quantidades, e sem a devida tratativa (saturação dos meios de disposição
final), poderão gerar poluição de maneira indireta, tão nociva quantos as pilhas
descartadas incorretamente.
4.3.2 Canal de Distribuição Reversos de Bens de Pós-Consumo (CDR-
PC)
Estes canais são fluxos reversos constituídos por uma parcela de produtos e
de materiais originados no descarte de produtos após a sua utilidade original e
retornam ao ciclo produtivo de alguma maneira.
Esse canal se subdivide em dois subsistemas, chamados de canais reversos
de reúso e canais reversos de reciclagem/desmanche. Podendo também haver
produtos que não se enquadrem em nenhum destes canais, sendo direcionados
então à disposição final segura e controlada, que não provoque poluição, ou
impacto ao meio ambiente.
4.3.2.1. Canal Reverso de Reúso
Os bens industriais considerados duráveis ou semiduráveis, após o
primeiro uso, tornam-se produtos de pós-consumo. Caso apresentem condições,
podem ser reutilizados pelo mercado secundário, sendo comercializados diversas
vezes até atingirem o fim da vida útil. Exemplo deste canal reverso são os
veículos em geral, que possuem mercados paralelos, de segunda mão em todas as
regiões do planeta. Com isso, pode-se dizer que este canal reverso em especifico,
tem como finalidade extender a vida útil do produto, ou componente, com a
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mesma finalidade que originalmente foi produzido. Ou seja, podemos considerar,
neste caso, o produto de pós-consumo como produto bem usado.
4.3.2.2. Canal Reverso de Reciclagem/Desmanche
Este é um sistema de revalorização do produto. No canal da reciclagem, os
materiais descartados, podem transformar-se em matérias-primas secundárias
ou recicladas que poderão ser reincorporadas ao ciclo produtivo. Exemplo deste
caso, são os metais.
Já no canal de desmanche, o produto durável de pós-consumo, sofre um
processo de desmontagem, onde os componentes em condições de uso e/ou
remanufatura são separados das partes que não possuem condições de
revalorização. São enviados, diretamente ou após remanufatura para o mercado
secundário de peças usadas, e aqueles materiais considerados inservíveis são
destinados a aterros sanitários ou são incinerados.
4.3.2.3. Disposição Final
Disposição final é considerada a última etapa do processo, o último local do
destino para onde são enviados os resíduos que não possuem valor agregado, ou
que possam vir a ter alguma revalorização.
4.4 RECUPERAÇÃO DE VALOR
A recuperação e agregação de valores aos produtos retornados podem vir de
diferentes formas, dependendo das características e dos processos aos quais estes
produtos foram submetidos.
O valor do produto recuperado varia de acordo com o processo pelo qual é
submetido, sendo que à medida que o produto avança sobre os níveis de
Recuperação Direta da figura 4, maior será sua revalorização.
Quando a etapa final do processo é a Revenda, o Reúso ou a Redistribuição
garante-se assim, a função original do produto e uma maior revalorização.
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Quando a alternativa para aquele produto estiver nos níveis de
Reprocessamento, a revalorização é parcial e estará associada à recuperação de
materiais, energia e/ou ao descarte apropriado dos resíduos.
Figura 4 - Recuperação Direta.
Fonte: Via Sápia – Logística Reversa
4.5 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS LOGÍSTICOS REVERSOS
Esta classificação é baseada na Figura 4, considerando o valor final
recuperado, diminuição de impactos ambientais e os níveis de processos de cada
produto.
Na Figura 5, podemos identificar os três diferentes níveis de logística dos
bens.
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Figura 5 - Sistemas de Logística Reversa.
Fonte: Via Sápia – Logística Reversa
4.5.1 Sistema Logístico de Descarte (S.L.D.)
Tem como objetivo principal a adequação às normas e legislações vigentes,
o correto descarte dos resíduos, principalmente os considerados perigosos.
Este sistema tem como etapas do seu processo, a coleta, o transporte, a
inspeção dos bens retornados, e a correta destinação final, como por exemplo, a
incineração. Como exemplo destes resíduos, podem-se citar as pilhas e baterias,
as lâmpadas fluorescentes e agrotóxicos, entre outros.
4.5.2 Sistema Logístico de Reciclagem (S.L.R.)
O segundo nível tem como objetivo principal, a recuperação da matéria-
prima, reaproveitamento dos insumos, minimização dos impactos ambientais, e
uma futura diminuição nos custos da implantação da logística reversa, por meio
de revenda ou reuso de materiais reciclados.
Este sistema vem desde a segregação e identificação dos resíduos
recicláveis, até o processo de reaproveitamento ou revenda desses materiais.
Como exemplo, podem-se citar as empresas de papel e celulose, de alumínio, e
construção civil, entre outras.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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4.5.3 Sistema Logístico de Recuperação (S.L.Rec.)
O nível mais elevado da pirâmide tem como objetivos principais a
revalorização e reaproveitamentos dos bens, minimização dos impactos
ambientais, uma vez que a fábrica poderá substituir um insumo virgem por um
recuperado.
Este sistema possui as mais variadas etapas, desde a restauração,
remanufatura, reforma e/ou reparo até a revenda, reuso ou redistribuição. Estes
produtos são considerados “seminovos”, uma vez que retornam por motivos de
pequenas falhas, ou necessitando de pequenos reparos. Como exemplo de
produtos deste sistema, podem-se citar os computadores, celulares, peças
automobilísticas entre outros.
4.6 LOGÍSTICA REVERSA E SEUS PROBLEMAS
Está claro que, com o crescente volume de novos produtos no mercado
motivados pela incessante busca de novas tecnologias e melhoras de
funcionalidade, a quantidade de produtos pré e pós-consumo está cada vez mais
se tornando crescente em todo o mundo. E com este aumento, cresce também a
dificuldade de coletar todos esses produtos e/ou equipamentos. Como exemplo, os
aparelhos eletroeletrônicos, que cada vez mais estão tendo sua vida útil
diminuída, pelo aumento de novas versões no mercado. Por isso, o governo
brasileiro está cada vez mais engajado na criação de legislações e normas que
possibilitem este controle de novos produtos e descarte correto dos antigos.
(BRASIL, 2010)
Considerando que o Brasil, possui um território de aproximadamente
8.514.877 km² (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2004), e a
facilidade da sociedade em adquirir produtos via internet, fica mais difícil para as
empresas conseguirem equacionar o retorno de seus produtos consumidos ou não,
para a tratativa adequada, seja ela remanufatura ou disposição final, gerando
assim riscos à sociedade e ao meio ambiente.
Com esta variedade enorme de produtos indo para o mercado diariamente,
por exemplo, computadores, celulares, embalagens descartáveis entre muitos
outros, têm aumentado a preocupação e a conscientização das empresas e da
população para alguma ação sustentável que ajude a não degradar o meio
ambiente. Estas ações sustentáveis podem ser estratégias de fidelização dos
clientes à marca, anúncios de sustentabilidade entre outras.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Um dos maiores problemas enfrentados hoje por empresas que fazem a
logística reversa em seus produtos, ou que para implantar este sistema de LR, é a
grande extensão territorial, forçando os fabricantes a criar postos ou parcerias
com empresas, tornando-as pontos de coletas, uma vez que segundo o artigo 5º do
Decreto 7.404/2010, “Os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes,
consumidores são responsáveis pelo ciclo de vida do produto”. Outro problema
encontrado é o custo do transporte destes produtos, que muitas vezes para
compensar o valor do frete, devem esperar uma quantidade específica de
produtos, ou um peso pré-determinado para transportá-los. E nem sempre o
ponto de coleta, ou o parceiro, pode ou tem espaço para armazená-los (VIA
SAPIA, 2011).
Outro ponto a se melhorar no sistema de logística reversa, e este é o
principal, é o consumidor. Ás vezes eles podem não ter o conhecimento de que o
fabricante daquele produto possui o sistema de logística reversa. Que aquele
produto que aparentemente não tem mais uso, pode sim ser reutilizado para
outras finalidades, ou até passar por uma remanufatura e retornar ao mercado
secundário. Ou o consumidor tem o conhecimento deste sistema, porem não
possui ponto de coleta próximo a ele, ou se existir, a sociedade como um todo não
possui ainda esta conscientização ambiental, que leva o consumidor a pensar “O
que vou ganhar em troca com isso?” e assim, não devolver aquele produto
“acabado” nos pontos de coleta, e simplesmente descartá-los na lixeira comum de
casa, onde será coletado pela limpeza pública urbana e acabará indo para aterros
sanitários.
Por isso, é tão necessária a conscientização e participação de todos para
que os resíduos que para muitos não há mais uso, seja descartado corretamente, e
assim, diminuindo os impactos ambientais.
4.7 LOGÍSTICA REVERSA E SUAS VANTAGENS
Apesar das dificuldades enfrentadas para a implementação da logística
reversa no setor empresarial, este processo traz vantagens para todos: fabricante,
distribuidor, lojista e consumidor.
Começando pela ponta do processo, os fabricantes ganham com o sistema
de logística reversa no fator econômico, uma vez que a LR está diretamente
ligada à recuperação de ativos, principalmente no sistema logístico de
recuperação, explicado anteriormente, que tem como objetivo a recuperação de
produtos novos ou seminovos.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Além do fator econômico, outros fatores motivadores para a implementação
do sistema de LR é atender a legislação, melhoria da imagem corporativa, e
competitividade no mercado.
O distribuidor, com o sistema de LR no mercado, ele deverá se adequar as
novas exigências de mercado, mas com o tempo poderá atender a nova demanda
de um serviço de transporte de resíduos que está em crescimento.
O lojista poderá colaborar e bastante com o sistema de LR, se tornando, por
exemplo, um ponto de coleta para produtos obsoletos, sejam eles eletroeletrônicos,
pilhas, baterias, entre outros estipulados pela Legislação Brasileira aumentando
assim sua clientela.
Já o consumidor, a vantagem que ele pode obter deste processo todo, é que
contribuindo com o sistema, ou seja, descartando os produtos em pontos de coleta,
ele estará ajudando com a reciclagem e/ou destinação ambientalmente correta
dos produtos, e com isso, a fábrica poderá repassar a redução seus custos de
produção para os produtos, e no final, o consumidor pode vir a pagar menos pelos
produtos, além de usufruir de um meio ambiente mais equilibrado e sadio a
qualidade de vida e de suas futuras gerações.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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190
5. RESÍDUO ELETRÔNICO
5.1 DEFINIÇÃO
Segundo a ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica e o MDIC – Ministério de Desenvolvimento, Industria e Comércio são
considerados equipamentos eletroeletrônicos ou EEE, os equipamentos de uso
doméstico, industrial, comercial e de serviços, cujo adequado funcionamento
depende de correntes elétricas ou campos eletromagnéticos bem como os
equipamentos para geração, transferência e medição dessas correntes e campos,
concebidos para utilização com uma tensão nominal não superior a 1000 V para
corrente alterna e 1500 V para corrente contínua e pertencentes à nove
categorias.
Pela legislação brasileira, há a Lei Estadual nº 8.876, de 16 de maio de
2008, do Estado do Mato Grosso, que em seu art. 2º:
“Entende-se como lixo tecnológico os equipamentos de informática
obsoletos, danificados e outros que contenham resíduos ou sobras de
dispositivos eletroeletrônicos que são descartadas, fora de uso ou
obsoletos, que possam ser reaproveitados ou ainda que contenha
integrada em sua estrutura, elementos químicos nocivos ao meio
ambiente e ao ser humano, mas passíveis de serem
reciclados”.
Ainda de acordo com o art. 2º, em seu paragrafo único:
“São considerados lixo tecnológicos, os computadores, equipamentos
de informática, pilhas, baterias (celulares, filmadores, industriais,
etc), televisores e monitores, micro-ondas, máquinas fotográficas,
lâmpadas fluorescentes e eletroeletrônicos”.
Outras definições também estão presentes em legislações de municípios
brasileiros, como de Guarulhos/SP através da lei nº 6.663 de 12 de Abril de 2010,
em seu art. 2º:
“Considera-se lixo tecnológico:
I - os componentes periféricos de computadores, portáteis ou não,
inclusive monitores e televisores que contenham tubos de raio
catódicos;
II – os componentes de equipamentos ou aparelhos eletroeletrônicos
e de uso geral, que contenham metal pesado ou qualquer outra
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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191
substância tóxica em sua composição;
III –os equipamentos ou aparelhos eletroeletrônicos que contenham
pilhas, baterias ou acumuladores de energia inseridos em sua
estrutura de forma insubstituível;
IV – as pilhas, baterias e acumuladores de energia que contenham
em sua composição um ou mais dos elementos chumbo, mercúrio,
cádmio, lítio, níquel e seus compostos, necessária os funcionamento
de qualquer tipo de aparelho, de veiculo ou sistemas, fixos ou
moveis, recarregáveis ou não;
V – as lâmpadas fluorescentes, ou seja, lâmpadas onde a maior parte
da luz é emitida por uma camada de material fluorescente aplicada
na superfície interna de um bulbo de vidro, exercitada por radiação
ultravioleta produzida pela passagem de corrente elétrica de vapor
de mercúrio ou argônio;
VI – as lâmpadas de vapor de mercúrio, lâmpadas na qual a luz é
emitida pela passagem de corrente elétrica através do vapor de
mercúrio a alta pressão, contido num bulbo de vidro;
VII – as lâmpadas de vapor de sódio, na qual a luz é emitida pela
passagem de corrente elétrica através de vapor de mercúrio à alta
pressão, contido num bulbo de vidro;
VIII – as lâmpadas de luz mista, na qual a luz é emitida pela
passagem de corrente elétrica simultaneamente através de filamento
metálico e de vapor de mercúrio, puro ou associado ao sódio, contido
num bulbo de vidro;
IX – as lâmpadas de vapor metálico, que contenham em seu interior
vapor de mercúrio e/ou outro componente que seja tóxico;
X – as lâmpadas halógenas dicróicas, incandescentes com adição de
elemento química halógeno – iodo ou bromo;
XI – toda e qualquer lâmpada que use em sua fabricação e contenha
em sua composição ou sistema, vapor de mercúrio.”
Este tipo de resíduo, também conhecido como e-lixo, é um dos maiores
problemas que a sociedade moderna se depara atualmente. O consumo de
produtos eletroeletrônicos, de todo os tipos, está cada vez maior e com isso
aumenta-se exponencialmente o número de resíduos descartados em lixões,
aterros, até mesmo no meio da rua, ou seja, descartados incorretamente, gerando
riscos à saúde e impactando o Meio Ambiente. (VIA SÁPIA, 2011).
Outro motivo do aumento da quantidade de produtos eletroeletrônicos
descartados, é que muitos dos equipamentos do mercado atual, não duram o
tempo que deveriam durar, e muitas vezes é mais fácil e acessível comprar outro
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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produto novo, do que mandar o antigo para conserto (ELECTRONICS TAKE
BACK, 2010). É a chamada obsolência programada.
O setor eletroeletrônico é responsável por 2 a 4% do impacto ambiental do
planeta. Entretanto, é o provedor de serviços, produtos e as soluções dos demais
96 a 98% dos segmentos mundiais (CEMPRE,2011).
5.2 CATEGORIA DOS ELETROELETRÔNICOS NO BRASIL
De acordo com a ABINEE, os produtos eletroeletrônicos são subdivididos
em categorias. As maiores são:
5.2.1. Linha Branca
São considerados equipamentos eletroeletrônicos da linha branca os
grandes eletrodomésticos como, por exemplo, refrigeradores, máquinas de lavar
roupas e/ou louças, fogões, micro-ondas, aparelhos de aquecimento elétrico,
condicionadores de ar, entre outros.
5.2.2. Linha Azul
São considerados equipamentos eletroeletrônicos da linha azul, os
pequenos eletrodomésticos como, por exemplo, aspiradores de pó, ferro de passar
roupa, torradeiras, secadores de cabelo, máquinas de barbear, batedeiras,
liquidificadores, entre outros.
5.2.3. Linha Verde
São considerados equipamentos eletroeletrônicos da linha verde, os
equipamentos de informática e telecomunicações como, por exemplo,
computadores desktop, notebooks, impressoras (junto com seus acessórios e
periféricos – cartuchos, cabos, teclados, mouse, entre outros), calculadoras,
telefones sem fio, telefones celulares (junto com seus acessórios – cabos, fones,
etc), entre outros.
5.2.4. Linha Marrom
Ensaio
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Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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São considerados equipamentos eletroeletrônicos da linha marrom, os
equipamentos de consumo como, por exemplo, televisores (de tubo, LCD, Plasma),
DVD/VHS, aparelhos de rádio, aparelho de áudio, ou qualquer equipamento para
gravar e/ou reproduzir som e/ou imagem
5.3 COMPOSIÇAO DO RESÍDUO ELETRÔNICO
Como já foi dito anteriormente, estes resíduos não são somente aqueles
computadores ou celulares descartados. Por isso, em 2006, o Global Resource
Information Database, o GRID, um centro de pesquisa ligado ao UNEP - United
Nations Environment Programme realizou um levantamento conforme a Figura 6
adaptada, que mostra como estavam distribuídos os resíduos eletroeletrônicos na
Europa. O estudo foi divido em três fases:
- Resíduo Eletrônico, como televisores, impressoras, entre outros;
- Resíduo Elétrico, como geladeiras, máquinas de lavar e secar roupa, entre
outros;
- Adicionais, como brinquedos, ferramentas elétricas e eletrônicas,
furadeiras, entre outros.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Figura 6 - Composição dos Resíduos Eletroeletrônicos.
Fonte: GRID, 2006
Ensaio
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Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Considerando a quantidade de produtos que entram no mercado com
aqueles que são descartados pelos consumidores corretamente, todos os outros
aparelhos substituídos que não são entregues em pontos de coleta e reciclados,
são jogados em aterros, ou na melhor das hipóteses, a população brasileira possui
uma tendência a doar os eletroeletrônicos, ou então esquecê-los na assistência
técnica no aguardo de um orçamento fictício.
5.4 RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO BRASIL E NO MUNDO
Segundo o relatório realizado em 2009 da UNEP - United Nations
Environment Programme com apoio da ONG StEP - Solving the E-Waste
Problem, informa o tempo de vida útil em média de alguns aparelhos como por
exemplo, um computador tem em média de 5-8 anos, um celular em torno de 4
anos e uma televisão uma média de 8 anos (Figura 7).
Figura 7 - Tempo estimado da vida útil de alguns eletroeletrônicos.
Fonte: Relatório UNEP, 2009
Ainda segundo o relatório do UNEP/StEP de 2009 (Figura 8), a quantidade
de resíduos eletroeletrônicos estimados que foram gerados em toneladas no ano
de 2005, atualmente esta quantidade deve estar além do dobro. O valor foi
estimado, porque o Governo Brasileiro não centralizava as informações sobre a
gestão destes resíduos na época, e por isso foi aplicada a média do tempo de vida
útil da cada produto, sobre a quantidade de produtos vendidos e/ou estocados no
mercado.
Ensaio
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Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Figura 8 - Quantidade estimada em ton/ano de resíduos no Brasil em 2005.
Fonte: UNEP, 2009, adaptado
O relatório da UNEP/StEP traz ainda a quantidade estimada de
computadores descartados no mercado brasileiro, comparando com outros países,
de acordo com a Figura 9. Com valores estimados novamente, pois não foi
encontrado nenhum dado oficial das datas de venda destes produtos, então
considerando o tempo de vida útil de um computador, 5 anos, o Brasil, obteve o
valor mais alto dentre os países avaliados, sendo maior que 0,5 kg/cap.ano de
geração de resíduos eletroeletrônicos.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Figura 9 - Quantidade de PC descartados.
Fonte: Relatório UNEP, 2009
O Brasil, de acordo com a conclusão deste relatório de 2009, estava
classificado juntamente com o México e a África do Sul no Grupo C, considerado
países em crescente desenvolvimento. Este grupo, também tem um significativo
potencial, segundo o relatório divulgado, para se adaptar a mudanças de pré-
fabricação de produtos eletroeletrônicos, e para extender seus potenciais na etapa
de processo final, criando tecnologias que se apliquem as necessidades locais, com
investimentos e trocas de conhecimento e tecnologias de outros países que já
possuem este processo implementado, de acordo com o estudo realizado.
Cada ano, o mundo descarta cerca de 20 à 50 milhões de toneladas de
produtos eletroeletrônicos, o que significa cerca de 5% do volume total de resíduos
sólidos gerados em cada município. De acordo com o relatório divulgado pela EPA
- Environmental Protect Agency, a parcela do lixo eletroeletrônico dentro do total
de lixo gerado nos municípios pelo mundo, está só crescendo. Enquanto os outros
tipos de resíduos, como plástico, papel e outros recicláveis começam a ser
segregados para tal fim, e os resíduos orgânicos são reduzidos a partir da
diminuição do desperdiço de alimento, a quantidade dos resíduos
eletroeletrônicos está crescendo quase que 5% anualmente.
Deve ser ressaltado ainda que todos os resíduos eletroeletrônicos possuam
metais preciosos, podendo ser reutilizados em novos produtos eletroeletrônicos.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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Um estudo realizado de 2000 a 2007, pela EPA sobre os resíduos sólidos
municipais nos Estados Unidos, Figura 10, constatou que apenas 13% dos
resíduos eletroeletrônicos, são reciclados no total.
Figura 100 -% de resíduos reciclado nos EUA.
Fonte Electronics Take Back, 2010.
5.5 RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS E SEUS MALES
Os aparelhos eletroeletrônicos podem inicialmente não apresentar riscos
aos seus usuários, mas quando deixam de ser produtos e se tornam resíduos,
podem gerar alto riscos ao meio ambiente e a saúde humana.
5.5.1 Problemas no Meio Ambiente
Os aparelhos eletroeletrônicos geram problemas ambientais de todas as
formas e aspectos. Por exemplo:
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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- Durante o processo de fabricação destes produtos, há emissões de
substâncias poluentes, que quando não tratadas corretamente, podem poluir o ar;
- Ainda na etapa de produção, são necessárias grandes quantidades de
água no processo, por exemplo, para fabricação de um computador e um monitor,
são necessários 1,5 toneladas de água, de acordo com o estudo feito pela UNEP
em 2005. E novamente, senão tratada corretamente, esta água acaba indo parar
nos rios, contaminando lençóis freáticos e solo;
- Durante o processo de mineração dos metais e minerais necessários para
a sua fabricação, algumas toxinas são liberadas;
- E no descarte desses equipamentos, se o destino não for adequado, ou
seja, que tenha o tratamento correto, vão terminar em aterros e/ou jogado em
qualquer lugar, podendo contaminar solos e com o tempo, lixiviado aos lençóis
freáticos;
- Outro problema do descarte incorreto dos produtos eletroeletrônicos, é
que muitas vezes, estes equipamentos são incinerados sem a devida atenção e
tratamento dos gases, ou até mesmo queimados propositalmente a céu aberto,
gerando assim emissões atmosféricas com substâncias perigosas, como as
dioxinas e os furanos, devido à alguns aparelhos ainda terem em sua composição
os BFR’s, da sigla em inglês para Brominated Flame Retardants, os retardantes
de chamas bromado e o plástico PVC.
“A contaminação por estes elementos pode ser pelo contato direto, no
caso de pessoas que manipulam diretamente as placas eletrônicas e
outros componentes perigosos dos eletrônicos em lixões a céu aberto,
comuns ainda em países na África e Ásia. Mas também pode
acontecer de forma acidental. Quando um eletrônico é jogado em lixo
comum e vai para um aterro sanitário, há grandes possibilidades de
que os componentes tóxicos contaminarem o solo e cheguem até o
lençol freático, afetando a água” (NAKAMURA, 2009).
5.5.2 Problemas à Saúde Humana
Os riscos que os resíduos eletroeletrônicos geram à saúde humana, são
inúmeros. Na figura 11, estão relacionadas algumas substâncias perigosas
presentes em produtos eletroeletrônicos e seus efeitos colaterais no ser humano.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
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200
Figura 1111 - Metais pesados e Efeitos.
Fonte: Ambiental Standard, 2010.
E ainda os BRF’s, substâncias retardantes de chama bromados, podem
afetar seriamente as funções hormonais, bloqueando a função da tiróide,
atrapalhando o desenvolvimento normal do indivíduo, de acordo com um estudo
realizado em 2004, pela organização ambiental Clean Production Action.
Já os plásticos PVC, quando queimados sem controle, soltam substâncias
nocivas, que em contato com água nos pulmões, se transformam em ácido
clorídrico. Podendo corroer o tecido dos pulmões, e causar severas complicações
respiratórias (E-WASTE GUIDE, 2009)
5.6 A RECICLAGEM DOS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS
À medida que os recursos naturais se tornam cada vez mais escassos,
aumentam as preocupações com o meio ambiente. E o desafio maior é de
conseguir fornecer produtos, serviços e soluções tecnológicas que ajudem os
usuários finais e corporativos a reduzirem seus impactos ambientais causados ao
longo daquele ciclo de vida daquele produto ou serviço.
Uma das soluções indicadas para este problema é a reciclagem ou até o
“upgrade” de aparelhos obsoletos, que é uma expressão usada em inglês para
atualizar tecnologicamente um equipamento, substituindo parcialmente, apenas
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
201
algumas peças e/ou componentes eletroeletrônicos, melhorando o seu
desempenho, sem, contudo descartá-lo totalmente.
5.6.1 O Ranking das Empresas Ecológicas
A ONG Greenpeace elabora desde 2006 um Guia de Eletrônicos Verdes, que
avalia as 18 maiores empresas fabricantes de eletroeletrônicos “mais verdes” no
mercado atual.
Como é demostrado na Figura 12 a primeira versão do Guia apresentava
apenas duas empresas com nota 7 (GREENPEACE, 2010).
Figura 12 - Guia de Eletrônicos Verdes de 2006.
Fonte: Greenpeace, 2010.
Este “Guia Verde” é montado através de uma avaliação junto com as
empresas, onde é verificado:
- a produção de produtos sem a presença de substâncias consideradas
perigosas;
- o recolhimento e a reciclagem de seus produtos com responsabilidade,
uma vez que se tornem obsoletos;
- redução de impactos ambientais em seus processos de produção e seus
produtos;
- opções de aparelhos mais ecológicos no mercado.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
202
Esse ranking tem como intuito, fazer com que as empresas produzam
eletrônicos cada vez mais limpos e duráveis, e para que estes produtos consigam
ser cada vez mais fáceis de serem substituídos, reciclados e/ou descartados, sem
riscos ambientais e à saúde humana (GREENPEACE, 2010).
Hoje, o ranking está diferente, conforme a Figura 13. Há empresas,
próximas a nota 8, como é o caso da Nokia com pontuação 7,5 que entre outras
razões, desde 2005, todos seus novos modelos lançados ao mercado, não possuem
o plástico PVC em sua composição. Neste ranking há ainda a Sony Ericsson com
6,9, por ser umas das únicas empresas a atingir a máxima pontualidade no
quesito “ausência de substâncias perigosas”, de acordo com o relatório elaborado
para explicar os resultados da 16ª edição do Guia.
A maioria das empresas avaliadas possuem notas entre 5 e 6, o que
demonstra uma melhora na produção e nos requisitos avaliados em cada uma.
Mas também é possível ver que algumas regrediram como, por exemplo, a
Toshiba que teve sua nota reduzida comparada com o ranking anterior, que
segundo o relatório do Greenpeace da 16ª edição do Guia, um dos motivos foi o
não cumprimento do prazo estipulado por eles mesmos, de trazer ao mercado
novos produtos livres de plásticos de PVC e substâncias retardantes de chamas.
Também dá para se avaliar na comparação, que algumas empresas, com o
passar dos anos, deixaram de ser avaliadas por este ranking, e outras entraram
no lugar, como é o exemplo da Microsoft e Nintendo (GREENPEACE, 2010).
Figura 13 - Guia de Eletrônicos Verdes de 2010.
Fonte: Greenpeace, 2010.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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203
6. LOGÍSTICA REVERSA EM ELETROELETRÔNICOS
6.1 INTRODUÇÃO
O processo de reciclagem para eletroeletrônicos é diferente dos processos
convencionais que encontramos para os outros resíduos. Devido às suas
características únicas, a “manufatura reversa" ou LR, exige a reengenharia na
separação, trituração e limpeza para prover a reinserção da matéria-prima com
qualidade na fabricação de novos produtos e/ou subprodutos (CEMPRE, 2011).
De acordo com o relatório da UNEP de 2009, a logística reversa da
reciclagem de produtos eletroeletrônicos consiste em três etapas subseqüentes:
(Figura 14).
- a coleta;
- a separação/descaracterização e pré-processo;
- e o processo final.
De acordo com o relatório, são necessários nestas três etapas, maquinário e
profissionais qualificados para fazê-lo. A eficiência de todo o processo depende
independentemente de cada etapa, que seja cumprida sem erros e que no todo,
este processo seja bem gerenciado.
Figura 1412 - Etapas da Reciclagem Eletrônica.
Fonte: Relatório UNEP, 2009.
6.1.1 Coleta dos equipamentos eletroeletrônicos
A coleta destes equipamentos obsoletos e/ou quebrados é a etapa crucial
para todo o processo de logística reversa. Ele vai determinar a quantidade de
material disponível para ser recuperado.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
204
Há vários programas de coleta de equipamentos eletrônicos pelo mundo,
mas a eficiência deles depende de lugar para lugar. Por exemplo, no Brasil, a
empresa HP - Hewllett-Packard possui o programa de “Take Back and Recycling”
através de solicitações via web, no site da HP no Brasil, que coleta computadores,
notebook, impressoras, periféricos, etc. diretamente de clientes e/ou em pontos de
coletas disponíveis estrategicamente para um melhor campo de abrangência. Há
outros fabricantes de eletrônicos que também possuem programas semelhantes.
Para que este processo de coleta melhore e aumente cada vez mais os
números que equipamentos coletados, é necessária a participação de todos. Que
cada um faça sua parte no final da vida útil do produto. Uma vez que o produto
esteja obsoleto, quebrado ou então sem uso, o consumidor tenha a consciência de
descartá-los em pontos de coleta, para que seja ambientalmente tratado e
destinado corretamente posterior.
6.1.2 Separação/ Descaracterização e pré-processo
Esta segunda etapa do processo, se subdivide em três partes: a
descaracterização e/ou desmonte do equipamento; o retalhamento dos resíduos; e
por ultimo o pré-processo, onde serão segregados e acondicionados de acordo com
suas composições e encaminhados para o processo adequado.
A primeira etapa é a fase de desmonte dos equipamentos, onde são
separados os componentes considerados críticos dos resíduos eletroeletrônicos,
como por exemplo, os painéis de vidro de televisores e monitores, os gases CFC –
Clorofluorcarbono, contidos em geladeiras, lâmpadas e baterias, etc (E-WASTE
GUIDE, 2009).
A grande maioria dos eletroeletrônicos descartados aqui no Brasil passa
por este processo de descaracterização/desmonte manualmente, onde é mais fácil
e garantido que os metais valiosos, ou pedaços inteiros do aparelho são
removidos, como é visto na Figura 15 (UNEP, 2009)
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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Figura 15 - Balcão de separação.
Fonte: Relatório UNEP, 2009.
Essas substâncias perigosas que foram retiradas devem ser estocadas ou
tratadas corretamente, evitando assim a contaminação do meio ambiente e
diminuindo os riscos gerados à saúde. Os metais valiosos, por exemplo, o cobre, é
estocado, e eventualmente reaproveitado no mesmo processo, ou então é
transformado em alguma outra coisa.
Os monitores e televisores que são de CRT - Cathode Ray Tube ou em
português tubo de raio catódico, contém de 2 a 4 quilos de chumbo, é nesta etapa
que são retirados os metais pesados, além nos painéis de vidro (ELECTRONICS
TAKE BACK, 2009). Já nos monitores de LCD - Liquid Cristal Display contém
menores quantidades de chumbo, porém maior quantidade de mercúrio, que
também é necessário retirar com cuidado, antes de enviá-los para a próxima
etapa.
E então os resíduos eletroeletrônicos já desmontados e descaracterizados,
são encaminhados para a segunda etapa desta fase, que é a fase de Shredding, o
retalhamento dos equipamentos.
Normalmente, resta só a carcaça dos resíduos, onde estes são segregados
de acordo com sua composição (PVC, ABS, PEBD, Alumínio, Ferro, Aço, entre
outros) e suas cores.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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Esta etapa acontece em grande escala para se obter uma grande
quantidade de materiais recicláveis. E este processo ocorre mecanicamente, com
máquinas de esmagamento, trituradores entre outras (E-WASTE GUIDE, 2009).
Para estes resíduos serem reaproveitados ao máximo, eles não poderão ser
misturados, por exemplo, alumínio com ferro, aço com plástico, ou plástico ABS
com plástico PVC.
Por isso, o grande desafio desta etapa é encontrar as corretas ações que
consigam separar corretamente os pedaços misturados, antes de serem moídos.
Algumas empresas como, por exemplo, a HP - Hewllett-Packard possui um
programa chamado “Design for Environment” que entre outras coisas, que
durante a produção do produto original, eles gravam a sigla do tipo de material
que é utilizado na peça, para facilitar o processo na separação manual.
A terceira etapa desta fase é o acondicionamento dos resíduos moídos para
o processo de reciclagem, chamado de pré-processo. Com isso, fica mais fácil e
viável a venda deste resíduo para reinserção deles como matéria prima em novos
produtos e/ou processos (E-WASTE GUIDE, 2009).
6.1.3 Processo Final
A recuperação dos metais, a partir das frações dos resíduos da etapa
anterior, é a ultima etapa do processo de reciclagem.
Os pedaços ferrosos são encaminhados para fábricas de aço para recuperar
o ferro, os pedaços de alumínio são encaminhados para fábricas que derretem
alumínio.
Resíduos ferrosos e não ferrosos quando derretidos, precisam de um
tratamento das emissões atmosféricas, uma vez que os compostos orgânicos,
contidos na tinta de alguns resíduos, e em partes de plásticos e resinas, se não
tratados, podem gerar substâncias nocivas ao Homem e ao Meio Ambiente.
O mesmo acontece para as placas de circuito dos eletroeletrônicos. Este
último processo, o Brasil ainda não possui condições para fazê-lo. Sendo assim, as
placas segregadas são exportadas para o Japão, Bélgica, Alemanha, Canadá para
o devido tratamento (UNEP, 2009).
6.1.4 Reuso ou disposição final
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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Aqueles resíduos que não podem ser reciclados nem reutilizados, deverão
ter como destino final os aterros sanitários controlados para resíduos classe I, ou
até mesmo co-processamento, como visto anteriormente, uma vez que possa haver
algum resíduo classificado como perigosos, gerando riscos ao meio ambiente e/ou
á saúde.
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
208
7. CONCLUSÕES
Uma vez que o aparelho ou produto eletrônico é descartado e/ou tenha sua
vida útil encerrada, ele se torna um resíduo, podendo ser classificado como classe
I, e por isso, deverá seguir as normas recomendadas de armazenamento e
transporte e destinação final de resíduos classe I de acordo com a ABNR NBR
12.235:1992 para evitar problemas de vazamento e/ou acidentes ambientais, que
possam vir a causar grandes impactos ambientais.
Um resíduo eletrônico, em sua composição possui substâncias que podem
ser nocivas ao Homem e ao meio ambiente. Por exemplo, nas placas de circuito,
há a presença de metais pesados, e ás vezes a carcaça de um computador e/ou
impressora seja feita de PVC, ou com substâncias chamadas de BFR –
retardantes de chamas bromados, que quando queimada emite as chamadas
dioxinas e furanos, que são necessários tratamentos prévios antes de emiti-los à
atmosfera.
Por isso, foi criada em 2010 a PNRS, que busca a implementação do
sistema de logística reversa no Brasil, de modo que os fabricantes, importadores,
distribuidores, comerciantes e os consumidores, tenham a responsabilidade
compartilha daquele produto que se tornará resíduo um dia.
Graças ao complexo e diverso fluxo do sistema da LR, não serão todos os
resíduos descartados e/ou obsoletos “jogados fora”. Dependendo das condições que
aquele produto for descartado, ele poderá voltar ao mercado como produto de
segunda linha, onde alguma peça foi trocada ou uma manutenção realizada. Já
para aqueles produtos com problema de qualidade e/ou garantia, estes poderão
ter alguns de seus componentes reaproveitados na cadeia produtiva, e outros
poderão ser reciclados.
Para aqueles produtos, que foram utilizados até o final de sua vida útil, a
reciclagem deverá ser a primeira opção antes do descarte para aterros sanitários.
Para o sistema da LR estar completo no Brasil, é necessário a aquisição de
maquinários competentes para a tratativa por exemplo das placas de circuito dos
eletrônicos. Hoje estas placas são enviadas para países como Japão, Alemanha,
Bélgica, Canadá, entre outros. Países estes, que possuem este sistema já
implementado, e desenvolveram maquinários para o processamento destas
placas, uma vez que nela, contém metais pesados e metais precioso, como por
exemplo, cádmio e cobre.
Problemas com produtos eletroeletrônicos e a correta destinação de
resíduos, é um problema recente que o Brasil vem enfrentando, versus outros
Ensaio
TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 2,
p. 159-210, jun. 2012.
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países internacionais que já atuam nesta área há algum tempo. Por isso, o
Governo, juntamente com fabricantes, comerciantes, consumidores, e todos que
fazem parte da cadeia logística de consumo de produtos, são corresponsáveis pela
melhoria da gestão destes e de outros resíduos que possam gerar riscos à saúde,
ou que possam degradar e/ou impactar temporariamente ou permanentemente o
Meio Ambiente em um todo.
REFERÊNCIAS
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(http://www.greenpeace.org/usa/en/campaigns/toxics/hi-tech-highly-
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TORRES, Carolina Adélia Liberato; FERRARESI, Gabriela Nenna. Logística Reversa de Produtos
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IBGE - www.ibge.gov.br/
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas – www.ipt.br/;
MATO GROSSO. Lei Estadual nº 8.876 de 16 de Maio de 2008;
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VIA SÁPIA TREINAMENTOS. Logística Reversa. São Paulo, 2011;
Ensaio
MELO, Bruno Santa Rosa de. Metodologia e Diretriz da Global Reporting Initiative (GRI): Contexto,
relevância, oportunidades e riscos.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental
e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 211-214, jun. 2012.
211
Metodologia e Diretriz da Global Reporting
Initiative (GRI): Contexto, relevância,
oportunidades e riscos.
Bruno Santa Rosa de Melo
Formado em Administração pela ESPM São Paulo (2004), Pós graduado
em Comunicação Corporativa pela ESA - Paris (2008) e cursando Pós
graduação em Gestão Socioambiental para a Sustentabilidade na FIA-USP
(2012). Atua como especialista em Sustentabilidade na Intertox em
Planejamento Estratégico para a Sustentabilidade; Relatórios de
Sustentabilidade GRI; Capacitação para a Sustentabilidade; Engajamento
de Stakeholders; Cadeia de Valor; Leis de Incentivo à Cultura e Esporte.
Ensaio
MELO, Bruno Santa Rosa de. Metodologia e Diretriz da Global Reporting Initiative (GRI): Contexto,
relevância, oportunidades e riscos.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental
e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 211-214, jun. 2012.
212
Hoje, as diretrizes de relatórios de sustentabilidade mais
reconhecidas e utilizadas internacionalmente são as da Global Reporting
Initiative (GRI)1. Sua missão é de “fazer com que a prática de relatórios de
sustentabilidade se torne padrão, fornecendo orientação e suporte para as
organizações”, através de uma estrutura robusta de princípios e indicadores
(perfil e governança, econômicos, sociais, ambientais, direitos humanos,
produtos e práticas trabalhistas), que permitam mensurar e comunicar
anualmente os avanços nos desempenhos ambientais, sociais e econômicos
de uma organização.
De acordo com o estudo “GRI Sustainability Reporting Statistics,
2010”2 a Europa ainda é o continente com maior número de relatórios (45%),
seguido pela Ásia (20%) e América do Norte e América Latina (ambos com
14% cada). O crescimento de publicações no mundo, em 2010, em
comparação com 2009, foi de 22%. O Brasil, que tem 7% dos relatórios
publicados no mundo, foi o país que mais cresceu, atingindo um incremento
de 68% em comparação com aquele mesmo ano.
1 A Global Reporting Initiative é uma Organização Não Governamental fundada em 1997 em Boston, pela CERES
(Coalition for Environmentally Responsible Economies) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(UNEP). Hoje, a GRI está sediada em Amsterdã e com representantes (pontos focais) no Brasil, Estados Unidas,
Austrália, China e Índia, com o objetivo de contribuir com a disseminação
2 https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/GRI-Reporting-Stats-2010.pdf
Ensaio
MELO, Bruno Santa Rosa de. Metodologia e Diretriz da Global Reporting Initiative (GRI): Contexto,
relevância, oportunidades e riscos.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental
e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 211-214, jun. 2012.
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A publicação Rumo à Credibilidade 20103 aponta, no Brasil, a Natura
como o relatório com melhor desempenho (65%), seguida pela Sabesp (51%)
e Celulose Irani (50%). E, se olharmos o desempenho das dez primeiras
colocadas, todas tiveram um incremento de pelo menos 7% em relação ao
ano anterior (2009), evidenciando, conforme destacado no estudo “GRI
Sustainability Reporting Statistics, 2010”, um ritmo crescente e mais
acelerado nos resultados do que no resto do mundo.
Na contramão a este crescimento, encontramos, ainda, em grande
parte dos relatórios nacionais, pouca transparência na prestação de contas
dos temas de real relevância e materialidade para as organizações. Com um
olhar mais crítico, percebemos que o processo de definição destes temas não
passa por um processo estruturado junto aos seus stakeholders
estratégicos, conforme prevê a metodologia da GRI. Pensando no curto
prazo, muitas empresas relatam assuntos, ações, programas e iniciativas
que julgam relevantes e estratégicos, pois encaram esta importante
ferramenta como uma mera peça de comunicação.
O processo de elaboração de um relatório de sustentabilidade, além de
comunicar o desempenho ambiental, social e econômico aos stakeholders da
organização, favorece um trabalho contínuo de autoconhecimento e gestão,
3 Segundo relatório da série brasileira (primeiro foi em 2008) da Global Reporters, da SustainAbility, focado nas
tendências das prestações de contas de determinados países. Este estudo, examina as quatro principais dimensões
de um Relatório de Sustentabilidade: Governança e Estratégia; Gestão; Apresentação do Desempenho;
Acessibilidade e Verificação.
Ensaio
MELO, Bruno Santa Rosa de. Metodologia e Diretriz da Global Reporting Initiative (GRI): Contexto,
relevância, oportunidades e riscos.. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental
e Sociedade, v. 5, n. 2, p. 211-214, jun. 2012.
214
através dos indicadores propostos pela GRI e do estabelecimento de planos
de ação (curto, médio e longo prazos), mensuração dos resultados e
comprometimento com metas de desempenho, sempre alinhadas com as
melhores práticas, nacionais e internacionais, de Sustentabilidade e
Responsabilidade Social Empresarial.
Se trabalhados com esta perspectiva, os resultados alcançados serão
muito mais amplos do que reputação e imagem. Os relatórios de
sustentabilidade podem contribuir para a minimização dos riscos e para a
melhoria de desempenho ao longo do tempo, além de ser uma ferramenta
essencial para a inserção transversal da cultura da sustentabilidade na
estratégia dos negócios e para o real conhecimento e engajamento junto aos
seus principais stakeholders.
Dentre outros propósitos, muitos já citados neste texto, as Diretrizes
da GRI foram criadas para servir como base de comparação entre as
organizações. Desta forma, fica evidente que relatar com foco em reputação
e imagem é uma estratégia que não é sustentável ao longo do tempo. Os
stakeholders, de um modo geral, estão cada vez mais atentos e exigentes, e a
pressão sobre estas organizações tende a aumentar.