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Revista Locus Científico

A Revista Locus Científico é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos

Inovadores (ANPROTEC). Seu escopo de ação engloba a divulgação de artigos técnicos inéditos, avaliados por um

renomado Conselho Editorial.

EXPEDIENTE

ESTRUTURA DA PUBLICAÇÃOA revista é composta de textos e artigos de divulga-ção da cultura do empreendedorismo inovador eartigos inéditos referendados por revisores "ad-hoc".

MISSÃOPublicar informações relevantes, artigos técnicosoriginais e trabalhos de revisão na área doEmpreendedorismo Inovador.

EDITORJosealdo Tonholo (ANPROTEC/UFAL)

COORDENAÇÃO EXECUTIVAMárcio Caetano (MTB 4964/14/95/DF)

DIAGRAMAÇÃOConsenso Editora Gráfica (48) 3028 2924

TIRAGEM5.000 exemplares

IMPRESSÃOGráfica Brasil - Uberlândia

CONSELHO EDITORIALAfrânio Craveiro (PADETEC)

Carlos Eduardo Negrão Bizzotto (FURB)Cláudio Furtado Soares (UFV)Conceição Vedovello (FAPESP)Desirée M. Zouain (IPEN)Esteban Cassin (Univ. de San Martín, Argentina)Fernando Dolabela (Fundação Dom Cabral)

Guilherme Ary Plonski - (ANPROTEC/USP)Jorge Audy (PUC/RS)José Carlos Assis Dornelas (EMPREENDE)Josemar Xavier de Medeiros (UnB)Luís Afonso Bermúdez (UnB)Maria Alice Lahorgue (UFRGS)

Norman de Paula Arruda Filho (FGV/PR)Paulo Alvim (SEBRAE)Renato de Aquino Faria Nunes (UNIFEI)Roberto Sbragia (USP)

ANPROTEC

DIRETORIA:Guilherme Ary Plonski – Presidente - USPChristiano Becker – Vice-Presidente - UFMGGisa Bassalo – UFPAFrancilene Procópio Garcia – UFCGJosealdo Tonholo – UFALPaulo Roberto de Castro Gonzalez – CIENTECSilvestre Labiak Junior – UFTPRSheila Oliveira Pires – Superintendente executiva

CONSELHO CONSULTIVOFernando Kreutz (Diretor da FK Biotecnologia)José Eduardo Fiates (ex-presidente da ANPROTEC, Diretor da Fundação Certi)Luís Afonso Bermúdez (ex-presidente da ANPROTEC, Diretor do CDT/UNB)Marco Antônio Raupp (Presidente da SBPC)Maurício Pereira Guedes (ex-presidente da ANPROTEC, COPPE/UFRJ)Newton Lima Neto (Prefeito de São Carlos e ex-reitor da UFSCar)Rafael Lucchesi (Diretor de Operações da CNI)

EQUIPE TÉCNICA ANPROTECCoordenação Unidade Administrativa e Financeira - Francisca Silva AguiarCoordenação Unidade Comunicação e Marketing- Márcio Caetano SetúbalCoordenação Unidade Atendimento ao Associado - Kátia Sitta FortiniCoordenação Unidade Projetos - Rutiléia Azevedo de Jesus

Locus Científico - Uma revista ANPROTEC

Editor: [email protected]

ISSN - 1981-6790 - versão impressa

ISSN - 1981-6804 - versão digital

Associação Nacional de

Entidades Promotoras

de Empreendimentos Inovadores

CNPJ: 03.636.750/0001-42

Endereço: SCN Quadra 01 - Bloco C

Salas 208 a 211

Edifício Brasília Trade Center

Brasília - Distrito Federal

Cep 70.711-902 / PABX: (0xx61) 3202-1555

E-mail: [email protected]

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LOCUS CIENTÍFICO

SUMÁRIO

EDITORIAL

EDITORIALJosealdo Tonholo ........................................................................................................................................................... 35

ARTIGOS ORIGINAIS

Cultura do Empreendedorismo Inovador (CEI)

Sistema para Inovação Tecnológica no Brasil - A parceria entre as Empresas e as Instituições Científicas e Tecnológicas - ICT´s - a Lei de

Inovação e a Lei de Incentivos Fiscais.

Brazilian System for Technological Innovation - The partnership between the Companies and the Scientific and Technological Institutions - the

Innovation Act and the Fiscal Incentives Act

Juliana Corrêa Crepalde Medeiros, Hugo Marcio Corrêa Medeiros .......................................................................................... 36-43

Uso Intensivo de Tecnologias (PIT)

Criação de pequenas empresas de base tecnológica via transferência de tecnologias: reflexões sobre o potencial de sucesso do processo de

transferência

Technology-based small companies start up via technology transfer: thoughts about the potential success in the transferring process

Sergio Perussi Filho, Clovis Isberto Biscegli ............................................................................................................................... 44-54

Modelo de Aceleração do Desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica: da Geração da Idéia à Consolidação do Negócio

A Model to Accelerate the Development of Technology Based Enterprises: from the Idea until the Business Consolidation

José Eduardo Azevedo Fiates, Antônio Rogério de Souza, Tony Chieriguini, Carlos Henrique Prim e Alexandre Takeshi Ueno .... 55-63

Caros Colegas,Esse trimestre foi marcado pela intensidade das emoções no nosso movimento.Como parvo ser humano, completamente inábil na capacidade de entendimento de nosso ciclo terreno, não sei se tenho direito e não vou

lamentar de forma leviana a dor da partida de nosso querido Christiano Becker – até porque ele não admitiria. Tenho sim a obrigação deregistrar a determinação e garra desta personalidade em tudo o que fazia, particularmente em prol da Anprotec e da Rede Mineira deInovação.

E como de ciclos vivemos, desta vez, com muita alegria, comemoramos a prestatividade e solidariedade da paraibana Francilene Procó-pio, que atendeu ao convite da Anprotec e agora passa a integrar o quadro da diretoria para o período do mandato em curso (2007-2009).Francilene nos brinda com sua experiência e energia, com o mesmo desprendimento que emprega na condução dos avanços do ParqueTecnológico da Paraíba. Nossos votos de boas vindas já estão postos!

Falando de movimento de empreendedorismo inovador, não podemos deixar de registrar os avanços quanto à condução do tema nasesferas de financiamento e política. De um lado vemos largos avanços no entendimento da Câmara Federal, particularmente pelos esforços daComissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática e do Ministério de Ciência e Tecnologia. Da parte da FINEP vimos o início daoperacionalização do PRIME e da parte do SEBRAE a apresentação do resultado do edital de extensão de atendimento, com contemplação de33% a mais de projetos que o inicialmente previsto, além do lançamento de uma nova chamada.

Ainda em junho, tivemos a oportunidade de participar do Congresso Regional de Educação Superior para Latino-América e Caribe,organizado pela IESALC/UNESCO, na belíssima cidade de Cartagena das Índias, em solo colombiano. Sob a competentíssima organização daProfa. Ana Lúcia Gazzola, ex-reitora da UFMG, o evento trouxe as tendências regionais de condução da educação universitária, com três tópicosque nos chamaram a atenção e merecem destaques. De um lado, nada inédito para o nosso movimento, pela primeira vez se fez a “Mostra deCiência, Tecnologia e Inovação”, que contou com mais de 60 trabalhos, com cerca de um terço de brasileiros. Com perdão dos “hermanos”,nota-se claramente a qualidade e quantidade de ações que os brasileiros têm realizado nessa área, intensamente vinculadas com as atividadesda ANPROTEC e FORTEC. A “Mostra do Livro Universitário” contou com publicações de 16 países, novamente com evidente supremaciabrasileira, lá representada pela Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU), que levou uma amostra bastante significativa de nossaprodução técnica e cultural. Um prato cheio para os ratos de livraria... Por fim, chamou a atenção pelo destaque da reunião às questões deintercâmbio e mobilidade estudantil – e aqui o recado ficou claro: temos muito a melhorar no Brasil, seja nas relações de mobilidade interna-cionais, mas também e principalmente nas nacionais. A imagem que foi lá sedimentada é de uma educação muito além da continuada egeograficamente desvinculada – e sim uma educação superior perene, onde o eterno estudante passa por várias instituições, independente dabandeira, atingindo seus objetivos de completude de conhecimento.

Voltando-nos para nossa revista, esse número foca as atenções em dois temas: Cultura do Empreendedorismo Inovador (CEI)e UsoIntensivo de Tecnologias (PIT). A equipe da UFMG apresenta uma análise sobre a importância da Lei da Inovação e os incentivos fiscais delasurgidos no desenvolvimento da atividade empreendedora pautado pela parceria universidade-empresas. Da equipe paulista da Embrapa vemum texto sobre potencial de sucesso de transferência de tecnologia de ICTs para empresas tecnológicas nascentes. Já a equipe catarinense daFundação Certi apresenta o seu modelo (já corroborado como de sucesso) de aceleração de negócios de base tecnológica, que serve debenchmark para várias incubadoras e parques espalhados pelo país afora. São artigos de absoluta qualidade, até porque foram referendadospor pelo menos dois assessores ad-hocs – como todos os artigos da Locus Científico, e trazem significativa contribuição para nosso movimento.

Josealdo TonholoEditor

[email protected]

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LOCUS CIENTÍFICO

ARTIGO CIENTÍFICOCULTURA DO EMPREENDEDORISMO INOVADOR (CEI)

Sistema para Inovação Tecnológica no Brasil - A parceriaentre as Empresas e as Instituições Científicas e Tecnológicas- ICT´s - a Lei de Inovação e a Lei de Incentivos Fiscais.

Brazilian System for Technological Innovation - The partnership between theCompanies and the Scientific and Technological Institutions - the InnovationAct and the Fiscal Incentives Act

Juliana Corrêa Crepalde Medeiros*, 1 e Hugo Marcio Corrêa Medeiros2

1Coordenadoria de Transferência e Inovação TecnológicaUniversidade Federal de Minas GeraisAv. Antônio Carlos, 6627 -Reitoria - Sala 700531270-901 - Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

2Gouveia Rios Advogados SCRua Gonçalves Dias, n.º 707, Funcionários30.140-091 - Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

e-mail: [email protected]* | [email protected]* autor de contato / corresponding author

Artigo submetido em 02 de janeiro de 2008, revisado em 03 de março de 2008, aceito em 12 de abril de 2008.

RESUMO

O presente artigo trata do novo arcabouço legal para osistema de inovação brasileiro contido na Lei de Inovação(Lei 10.973/04, de 2 de dezembro de 2004) e na e Lei deIncentivos Fiscais (Lei 11.196, de 21 de novembro de 2005),apresentando de forma prática e aplicada quais os novosmecanismos de interação do setor produtivo privado comas Instituições Científicas e Tecnológicas – ICT´s, bem comoos benefícios fiscais disponibilizados às empresas para a in-corporação da inovação em seu processo de produção.

PALAVRAS-CHAVE:

• Inovação• Parcerias• Incentivos fiscais

ABSTRACT

This paper discusses the new legal structure of the Bra-zilian innovation system, mentioned in the Innovation Act(Act 10.973/04, December 2nd 2004) and Fiscal IncentiveAct (Act 11.196, November 21st 2005), as well how thesenew legal aspects are relevant for the private productivesector and for Technological and Scientific Institutions con-sidering the fiscal benefits promoted for the aggregation ofinnovation on their production process.

KEYWORDS:

• Innovation• Partnerships• Fiscal benefits

1 - INTRODUÇÃOO conhecimento é a maior expressão de riqueza da so-

ciedade contemporânea, os bens imateriais, fruto do inte-lecto, têm-se consolidado com um dos bens de maior rele-vância econômica da empresa.

Atualmente, dentre os desafios que se apresentam àorganização empresarial, pode-se destacar o da gestão qua-

Medeiros, J.C.C. e Medeiros H.M.C., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008), pp 36 - 4336

ISSN -1981-6790 - versão impressa ISSN -1981-6804 - versão digital

lificada da propriedade intelectual e a necessária interaçãocom as Instituições Científicas e Tecnológicas - ICT´s, taiscomo as universidades e centros de pesquisas, visando oacesso à ciência produzida nas diversas áreas do conheci-mento.

No cenário da alta competitividade industrial, é mistera busca reiterada por soluções tecnológicas. O setor pro-

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to cientifico, tecnológico e sócio - econômico o país.Neste contexto, afirma Branca Terra:

“Universidade e empresas, esferas institucionaisdistintas e relativamente separadas, estão assumin-do tarefas que eram anteriormente específicas deuma e de outra (...) empresa, governo e sociedadequerem respostas mais rápidas para os novos de-safios e esperam dos órgãos que trabalham com aprodução de conhecimento, especialmente univer-sidades, institutos de pesquisa e escolas profissio-nalizantes, as soluções em formas de bens e servi-ços”. [TERRA, 2001]

Ainda sobre esta interação, afirma o professor EvandoMirra de Paula e Silva em entrevista a revista Diversa:

“Em todos os países, o processo de inovação temfoco na empresa, mas é conduzido numa espécie demultirão que envolve toda a sociedade e tem pre-sença marcante do Estado. Por isso, é fortementedependente do sistema de ensino e pesquisa (...) aLei de Inovação brasileira, como em outros países,procura construir um ambiente mais acolhedor parao trabalho cooperativo, dimensão essencial na ino-vação. Colaborar para competir”. [PAULA e SILVA,2006]

O processo de inovação tecnológica nacional vem sen-do fortemente debatido por diversos segmentos, como aca-demia, ICT´s e governo. A conjunção de esforços entre es-tes setores para a promoção da inovação tecnológica é ven-tilada como fator preponderante a determinar o lugar queo país ocupará no cenário competitivo internacional, con-forme discorreu a prof. Ana Lúcia Gazzola no seu relatóriode gestão 2002-2006, enquanto reitora da UniversidadeFederal de Minas Gerais.

“Não haverá futuro para qualquer país que hesiteem investir maciçamente no campo do conheci-mento. É nesta área que estará sendo decidido olugar que as nações ocuparão no concerto inter-nacional. A indigência do patrimônio intelectual ede recursos de conhecimento conduzirá, inevita-velmente, à perda da soberania”. [GAZZOLA, 2006]

Além da formação de profissionais e produção de ci-ência, as ICT´s passaram a assumir o papel de fornecer aosetor produtivo privado os frutos científicos e tecnológi-cos desenvolvidos nas diversas áreas do conhecimento.

O processo de inovação tecnológica viabiliza a intera-ção entre setores diferenciados, desta feita, as ICT´s e aempresa, que numa primeira análise refletem universoscompletamente distintos, passam a se interagir na buscapelo mesmo fim, o de desenvolvimento científico e tecno-

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dutivo privado é o responsável por implementar a inova-ção mediante inserção de novos produtos, processos e ser-viços no mercado. As empresas inovadoras têm participa-ção expressiva na geração de riquezas e, conseqüentemen-te, no crescimento econômico dos países industrializados.

O Estado Brasileiro, sensibilizado com a importânciada gestão da propriedade industrial como ferramenta dedesenvolvimento científico e tecnológico do país, sancio-nou em 02 de dezembro de 2004 a Lei de Inovação (Lei nº10.973), que tem como propósito trazer medidas de estí-mulo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica noambiente produtivo privado, bem como, em 21 de novem-bro de 2005, sancionou a Lei de Incentivos Fiscais (Lei nº11.196), também conhecida como “Lei do Bem”, que pro-picia benefícios fiscais para as empresas que investirem noprocesso de inovação.

Como será demonstrado no presente artigo, a Lei deInovação apresenta diversos mecanismos que viabilizam oacesso pelas empresas a diversas tecnologias, concentra-das nas ICT´s, e que possuem alto valor agregado. Em ou-tro vértice, a Lei de Incentivos Fiscais fomenta o processode inovação na iniciativa privada, apresentando instrumen-tos que possibilitam à empresa recuperar os investimentosrealizados mediante redução da carga tributária.

Nesta nova corrida pela inovação, as empresas pode-rão ainda contar com os núcleos de inovação tecnológica,que passaram a desempenhar o importante papel de reali-zar a gestão do conhecimento científico e tecnológico pro-duzido nas ICT´s, ficando incumbidas de criar mecanismospara a interação com o setor produtivo privado. Para tan-to, o núcleo deverá se organizar de forma a criar procedi-mentos e estratégias internas objetivando sua adaptaçãoàs demandas da iniciativa privada que exigem respostaságeis, dinâmicas e flexíveis.

Com estas iniciativas forma-se o modelo denominadoHélice Tríplice, no qual o Estado, as ICT´s e a empresa con-vergem esforços para a criação de uma cultura que esti-mula o empreendedorismo e inovação, incrementando acompetitividade empresarial, o desenvolvimento de novaspesquisas, autonomia tecnológica e, conseqüentemente,desenvolvimento sócio-econômico do país.

O objetivo do presente artigo é o de discorrer de for-ma aplicada sobre o novo arcabouço legal para o sistemada inovação, com a abordagem prática sobre os mecanis-mos de interação das empresas com as ICT´s previstos naLei de Inovação, bem como sobre os incentivos que pode-rão ser utilizados pelas empresas para a inserção e incre-mentação do processo inovativo em suas atividades, apre-sentados pela conhecida “Lei do Bem”.

2 - DESENVOLVIMENTO2.1 - A interação universidade-empresaA necessidade de interação de esforços entre o setor

empresarial e as ICT´s tem sido reiteradamente apontadocomo a mola mestra para a promoção do desenvolvimen-

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lógico e incremento da competitividade nacional.A transferência da tecnologia produzida nas ICT´s para

o setor produtivo privado é mecanismo fundamental paraque a empresa e sociedade tenham acesso ao conhecimen-to produzido nacionalmente, uma vez que no Brasil as pes-quisas científicas e tecnológicas concentram-se nas ICT´s,e não na iniciativa privada. Desta forma, faz-se primordiala interação entre os centros de ensino e pesquisa e o setorempresarial para a potencialização do processo inovativonacional.

A Lei de Inovação e a Lei do Bem podem ser entendi-das como reflexo da ação do governo para modelar condi-ções favoráveis para a promoção de ambiente de desen-volvimento, pois cria bases para um sistema nacional deinovação. Neste modelo, observa-se a interação primordi-al entre Governo, ICT´s e empresas .

Desta forma discorreu Mariano de Matos Macedo, emseu artigo “Padrões de Desenvolvimento e Produtividadeda Indústria no Brasil: Novos Desafios”:

“Além do governo, universidades, institutos de pes-quisas, escolas, provedores de infra-estrutura,agências de definição e certificação de padrões eum miríade de outras instituições contribuem dealguma forma para a qualidade do microambien-te empresarial.” [MACEDO, 2001]

As universidades e os centros de pesquisas são, emâmbito nacional, os grandes produtores de conhecimento,pois neles se concentram recursos humanos qualificados,estrutura laboratorial moderna e, via de regra, capitanei-am os maiores investimentos estatais para o desenvolvi-mento de pesquisas. O diálogo entre estes setores e o se-tor empresarial é fundamental para que a sociedade passea ter acesso ao conhecimento de alta qualidade produzidonacionalmente.

2.2 - O papel dos núcleos de iinovaçãotecnológica - NIT´sNão obstante muitos dos mecanismos de interação tra-

zidos pela Lei nº 10.973/04 já serem praticados por diversasICT´s nacionais, no que tange a formação de parceria comas empresas, esta lei passa a ser um importante marco quereafirma que as iniciativas promovidas pelas ICT´s neste sen-tido não são apenas bem-vindas, como passaram a ser deci-sivas no processo de inovação, que se apresenta como irre-versível e estratégico para o desenvolvimento do país.

É certo que o diálogo entre os centros produtores deconhecimento e os centros produtores de riquezas não éalgo elementar, e necessita ser aprimorado com vistas aconcretizar os propósitos da lei. Este é fundamentalmenteo objetivo dos núcleos de inovação tecnológicas – NIT´s,que passaram a assumir o papel de interlocutores e facili-tadores deste diálogo.

O NIT passa a ser, com o advento da lei, estrutura obri-

gatória dentro da ICT, devendo desempenhar o papel degestor da propriedade intelectual gerada nas ICT´s, no quese refere tanto a proteção do ativo intangível, por meio depatentes, Know- How, marcas, softwares, etc., como tam-bém no processo de interação com a empresa, neste casopor meio da assessoria para a constituição de parcerias es-tratégias, formação de cooperação tecnológica, licencia-mento de tecnologias, orientação às empresas para a ob-tenção dos auxílios disponibilizados pelo Estado para oprocesso de inovação, dentre outros.

Desta forma, os NIT´s desempenham o papel de ver-dadeiros parceiros da iniciativa privada, no propósito deser um facilitador da interação da empresa com as ICT´s.

Os NIT´s possuem estrutura multidisciplinar e treina-da para entender as necessidades da iniciativa privada. Taisnúcleos são estruturados para realizar o “casamento” dademanda tecnológica das empresas, com a oferta de com-petências da ICT.

Os núcleos de inovação atuam em diversas frentes, aexemplo da disponibilização de assessoria jurídica qualifi-cada para converter as demandas das empresas e ICT´s eminstrumentos jurídicos aceitos pelo ordenamento jurídico;atividade de proteção adequada da propriedade intelectu-al, com equipe treinada para redação de patentes, prote-ção de marcas, software, Know-How; setor financeiro paracontrole de pagamento de royalties das tecnologias comer-cializadas; setor de prospecção, avaliação e comercializa-ção de tecnologias, que busca equacionar os interesses daempresa e da ICT, dentre outros.

É imprescindível que as empresas conheçam e se apro-ximem dos NIT´s, com a concepção de que este será o faci-litador no processo de interação com as ICT´s. Com taismedidas tem-se por objetivo desmistificar a idéia de queas ICT´s não estão preparadas para atender aos anseios dainiciativa privada, uma vez que os núcleos de inovação fo-ram concebidos e estruturados para fazer a interface efici-ente e dinâmica entre o setor produtor de conhecimento eo setor produtivo privado.

As empresas poderão, no processo de aproximação comas ICT´s, contar com este verdadeiro aliado, que terá habi-lidade necessária para entender suas demandas e prospec-tar dentro da ICT o conhecimento tecnológico desejado.

2.3 - As possíveis parcerias da empresa com asICT´SAs empresas necessitam da inovação tecnológica con-

tinuada, de maneira a se tornar competitiva, seja pela re-dução de custos em seus processos de produção, comotambém pelo lançamento permanente de novos produtos,processos e serviços no mercado.

Este processo é fundamental para a sobrevivência daempresa, pois demonstra sua vanguarda e dinâmica na ca-pacidade de apresentar soluções tecnológicas às novas de-mandas do mercado, que se apresenta cada vez mais exi-gente.

ARTIGO CIENTÍFICOCULTURA DO EMPREENDEDORISMO INOVADOR (CEI)

Medeiros, J.C.C. e Medeiros H.M.C., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008), pp 36 - 43

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Os consumidores estão atentos àquelas empresas con-sideradas inovadoras, capazes de inserir novos produtos eprocessos de forma continuada, contribuindo para a me-lhora da qualidade de vida da população. Desta forma, oprocesso de inovação não é apenas observado como tam-bém valorizado pelos consumidores, passando a ser fatorestratégico para a empresa.

Na procura pela permanente inovação, a iniciativa pri-vada precisa contar com a competência instalada nas ICT´sbrasileiras, pois no contexto nacional a maioria das em-presas ainda não possui centros de pesquisa e de desen-volvimento em sua estrutura organizacional, até porque ainserção desta competência na própria organização poderepresentar custos elevados em seus orçamentos.

Uma vez que a competência para realização das ativi-dades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) estão concen-tradas nas ICT´s, as empresas poderão usufruir da estrutu-ra física de laboratórios e equipamentos das ICT´s e, prin-cipalmente, poderão contar com corpo técnico qualifica-do nas diversas áreas do conhecimento, por meio da for-mação de parcerias estratégicas apresentadas pela Lei deInovação.

Adiante serão demonstradas de forma objetiva as vá-rias formas de parcerias trazidas pela Lei de Inovação noprocesso de interação das empresas com as ICT´s, sendoimportante lembrar que para esta aproximação, as empre-sas poderão contar com o apoio dos NIT´s, conforme dis-corrido anteriormente.

2.4 - Contratos de Licenciamento de tecnologiasOs direitos de propriedade intelectual das ICT´s pode-

rão ser licenciados a terceiros interessados mediante assi-natura de instrumento jurídico específico, no qual ficarãoestabelecidas as condições para exploração comercial, aexemplo de pagamento de taxas de licenciamento e royal-

ties.Os contratos poderão prever o licenciamento de tec-

nologia protegida, nos termos da Lei de Propriedade In-dustrial - Lei 9679/96, bem como de tecnologia não paten-teada (Software, Know-How).

A licença permite ao licenciado, por prazo determinadoe mediante pagamento a ICT, desenvolver, produzir e co-mercializar a tecnologia, e não cede, direta ou indiretamen-te, a propriedade industrial sobre a tecnologia que perma-nece, para todos os fins de direito, de titularidade da ICT.

2.5 - Convênios para desenvolvimento depesquisasAs instituições interessadas poderão firmar parceria

com a ICT com o objetivo de apresentar suas demandaspara o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnoló-gicas nas diversas áreas do conhecimento. A partir da de-manda apresentada, os pesquisadores da ICT irão executarum projeto de pesquisa mediante a assinatura de instru-mento jurídico específico, no qual a instituição interessa-

da ficará obrigada a aportar recursos financeiros ou deoutra natureza para a execução do projeto.

As partícipes deverão elaborar plano de trabalho, par-te integrante do acordo a ser firmado, respeitado o dis-posto no § 1º do art. 116 da Lei 8.666/93, conforme trans-crito abaixo:

“Art. 116. Aplicam-se as disposições desta lei,no que couber, aos convênios, acordos, ajustes eoutros instrumentos congêneres celebrados por ór-gãos e entidades da Administração.

1o A celebração de convênio, acordo ou ajustepelos órgãos ou entidades da administração pú-blica depende de prévia aprovação de competen-te plano de trabalho proposto pela organizaçãointeressada, o qual deverá conter, no mínimo, asseguintes informações:

I - identificação do objeto a ser executado;II - metas a serem atingidas;III - etapas ou fases de execução;IV - plano de aplicação dos recursos financeiros;V - cronograma de desembolso;VI - previsão de início e fim da execução do obje-to, bem assim da conclusão das etapas ou fasesprogramadas;”

O pesquisador da ICT deverá fornecer à instituição par-ceira relatórios periódicos sobre o trâmite da pesquisa.

O acordo a ser firmado pelas partícipes tratará dasquestões de direito de propriedade intelectual porventuraobtido na execução do projeto de pesquisa. Registra-se quea existência de um convênio de pesquisa permite o poste-rior licenciamento exclusivo pela ICT à instituição parceirapara exploração da tecnologia obtida, dispensada a publi-cação de edital, nos termos do parágrafo segundo do art.9º da Lei 10.973/04. Vale ressaltar que a ICT não fica obri-gada a conceder o licenciamento exclusivo à instituição,devendo tal prerrogativa ser negociada pelas partícipes. Asempresas poderão também utilizar o convênio para obten-ção de incentivos fiscais, nos termos abordados adiante.

2.6 - Contrato de prestação de serviçosEste tipo de contrato regulamenta os serviços presta-

dos a terceiros interessados, por meio da utilização de co-nhecimentos pré-existentes da ICT. São exemplos de servi-ços que poderão ser contratados: avaliação ou registro dedados existentes, análises químicas e físicas, instalação desoftware, dentre outros.

As condições para prestação de serviços deverão estardelimitadas no contrato que deverá ser firmado pelas par-tes.

Via de regra, esses serviços não são passíveis de gerarpropriedade intelectual, entretanto, caso haja, a ICT será

Medeiros, J.C.C. e Medeiros H.M.C., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008), pp 36 - 43

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co-proprietária dos direitos de propriedade intelectual de-rivada do serviço contratado.

2.7 - Cessão de uso de materialEsta modalidade de contrato regulamenta as transfe-

rências de materiais biológicos, substâncias químicas ououtras amostras para uso de terceiros em pesquisas ou tes-tes, sem fim comercial.

Esses contratos determinam as limitações para usomaterial e definem questões de propriedade intelectualgeradas pelos respectivos estudos, podendo a ICT atuarcomo fornecedora ou receptora de tais produtos.

2.8 - Contrato de sigiloO contrato de sigilo regulamenta a troca de informa-

ção confidencial entre a ICT e terceiros, visando resguar-dar a confidencialidade das informações cientificas e tec-nológicas, não sendo possível transferir direitos de propri-edade intelectual por meio desses instrumentos.

Os contratos de sigilo são empregados em diversas si-tuações como, por exemplo, nas negociações com empre-sas que precedem o licenciamento de tecnologia, por pro-fessores e pesquisadores quando for necessário o sigilo emrelação a informações a que tiverem acesso na qualidadede membros da banca examinadora de tese de doutoradoou dissertação de mestrado, ou por estudantes e pesqui-sadores com acesso às informações técnicas confidenciasrelativas às pesquisas desenvolvidas em laboratórios da ICT.

O contrato de sigilo é assinado pelas pessoas que dire-ta ou indiretamente terão acesso à informação sigilosa etambém por duas testemunhas.

2.9 - Contratos para a utilização de laboratóriosNeste tipo de contrato a empresa interessada poderá,

mediante remuneração e nos termos de contrato ou con-vênio firmado com a ICT, utilizar laboratórios, equipamen-tos, instrumentos, materiais e demais instalações em ativi-dades voltadas à inovação tecnológica.

Tal instrumento apresenta-se extremamente atrativopara as empresas que queiram investir em inovação, umavez que permite o acesso a estrutura física de alta qualida-de instalada na ICT.

Vale ressaltar que a ICT deverá regulamentar interna-mente o trâmite para o estabelecimento deste tipo de par-ceria, conforme prevê o art. 4º, parágrafo único da Lei deInovação.

2.10 - Do estímulo à inovação nas empresas – aLei de Incentivos FiscaisA Lei nº 11.196/2005, também chamada de “Lei do

Bem”, representou um marco importante no campo da ino-vação tecnológica, pois criou benefícios fiscais para aque-las empresas que investissem parte de seu capital na pes-quisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

Este instrumento legislativo, como bem destaca o mes-tre RONALDO MARCIO DE CAMPOS CELOTO, possui um tex-

to relativamente claro e que tenta solucionar as dúvidasexistentes em prol da própria sociedade, o que denota ocompromisso do Estado em incrementar a inovação tec-nológica brasileira nos próximos anos:

“Confesso que, durante a leitura da Lei no. 11.196/05, encontrei uma certa felicidade no sentido dedestilar uma textualidade jurídica sem implicaçõesque levam à interpretações casuístas, mas nota-damente a influência da chamada “livre invenção”no direito, onde, ao se determinar o sentido duvi-doso, preenche-se as lacunas deste com decisõese apontamentos em prol da coletividade, e, estesapontamentos serão tão importantes para o futu-ro da sociedade quanto para o poder público.”(CELOTO, 2005)

Os artigos 17 a 26 que regularam os incentivos fiscaisentraram em vigor no dia 1º de janeiro de 2006, mas so-mente se tornaram plenamente aplicáveis com o adventodo Decreto nº 5.798/06 que trouxe a regulamentação ne-cessária para a fruição plena dos benefícios.

Inclusive, o Decreto trouxe algumas importantes defi-nições, tais como a de inovação que é “a concepção de

novo produto ou processo de fabricação, bem como a agre-

gação de novas funcionalidades ou características ao pro-

duto o processo que implique melhorias incrementais e

efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando

maior competitividade no mercado”.Apesar do advento do Decreto, em respeito ao princí-

pio da legalidade, abordaremos a seguir dispositivos con-tidos na Lei nº 11.196/05 que cuidou, dentre várias outrasmatérias, dos incentivos destinados às pessoas jurídicas queinvistam ou desenvolvam pesquisa tecnológica, sendo im-portante destacar os seguintes:

a) dedução dos gastos com pesquisa da base de cál-culo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJe da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido –CSLL;

b) redução de 50% do IPI;c) depreciação e amortização acelerados;d) créditos do Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF

sobre pagamentos de royalties;e) alíquota zero do IRRF sobre as remessas de dinhei-

ro para o exterior destinadas ao registro de paten-tes e cultivares;

f) exclusão do lucro líquido de até 60% dos gastosincorridos com pesquisa.

Logo de início (inciso I, do art. 17 da Lei 11.196/05)verifica-se a possibilidade de se deduzir da receita bruta osvalores empregados em pesquisa e desenvolvimento tec-nológicos, desde que tais gastos sejam classificáveis comodespesas operacionais. Esta dedução é aplicável na apura-ção da base de cálculo tanto do IRPJ como da CSLL.

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Tal incentivo, porém, somente poderá ser usufruído porpessoa jurídica que realize a inovação tecnológica comouma de suas atividades normais, pois somente assim taisgastos poderão ser enquadrados como despesa operacio-nal, que é aquela “necessária à atividade da empresa e à

manutenção da respectiva fonte produtora” (RIR/99). Tam-bém serão beneficiadas por este benefício as empresas que,assumindo o risco empresarial, a gestão e o controle deutilização dos recursos, invistam na inovação realizada poruniversidades, instituições de pesquisa ou inventores in-dependentes (§2º do artigo 17)

Já o inciso II, do art. 17 da Lei 11.196/05 prevê umaredução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializa-dos (IPI) na compra de equipamentos e máquinas, nacio-nais ou importados, destinados à inovação tecnológica, sen-do que até mesmo as empresas que não tenham por ativi-dade usual a pesquisa e o desenvolvimento serão favoreci-das por esta norma.

Também está previsto (incisos III e IV, do art. 17 da Lei11.196/05) que os equipamentos ou máquinas utilizadosem pesquisa e desenvolvimento tecnológicos sofrerão de-preciação acelerada, ao passo que os dispêndios para aqui-sição de bens intangíveis vinculados à atividade de inova-ção se submeterão à amortização acelerada.

Depreciação é a redução do valor dos bens pelo des-gaste ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ouobsolescência, enquanto que a amortização é a dedução,como custo ou despesa operacional no período de apura-ção em que forem efetuados, dos dispêndios relativos àaquisição de bens intangíveis. O resultado prático de taiseventos será a redução da base de cálculo do Imposto deRenda, o que representará uma menor carga tributária paraa pessoa jurídica que investir na inovação tecnológica.

Mas é bom ressaltar que o §3º do artigo 20 determinaque tais benefícios não poderão ser utilizados na apuraçãoda base de cálculo da Contribuição Social sobre o LucroLíquido - CSLL, a qual somente se beneficiária dos outrosincentivos constantes da lei.

O inciso V do art. 17 prevê um crédito do imposto derenda retido na fonte calculado sobre os pagamentos fei-tos a beneficiários estrangeiros a título de royalties ou deassistência técnica, no percentual de 20% até 31 de de-zembro de 2008, e de 10% de 1º de janeiro de 2009 a 31de dezembro de 2013.

Para obter o crédito, o qual será restituído em moedacorrente, a empresa terá que assumir o compromisso deinvestir em pesquisa no País um montante de, no mínimo,uma vez e meia o valor do benefício para aquelas pessoasjurídicas localizadas na área da SUDENE e SUDAM, e duasvezes o valor do benefício nos demais casos.

Mas naquelas hipóteses em que a remessa para o ex-terior for realizada para pagamento de despesas de regis-tro e manutenção de marcas, patentes e cultivares, o inci-so V, do art. 17 da Lei 11.196/05 reduziu a zero a alíquotado imposto retido na fonte.

O art. 18, por sua vez, autoriza as empresas a deduzi-rem, a título de despesa operacional, os valores transferi-dos para micro e pequenas empresas que estejam realizan-do pesquisa e desenvolvimento tecnológicos de interesseda pessoa jurídica que efetuou a transferência.

Estes recursos não constituirão receita das micro e pe-quenas empresas, mesmo que elas venham a ter participa-ção no resultado econômico do produto obtido com aspesquisas, mas em contrapartida as despesas incorridas nasatividades de inovação não serão dedutíveis nem do lucrolíquido nem da base de cálculo da CSLL.

Assim, tanto as micro como as pequenas empresas querecolhem tributos pelo lucro real ou presumido, como aque-las que se submetem ao SIMPLES serão beneficiadas, poisos valores que lhes forem transferidos, e que sejam efeti-vamente utilizados em atividades de pesquisa e desenvol-vimento tecnológico, não serão considerados receita.

A pessoa jurídica que efetuou a transferência, comodito, também aufere vantagens, pois os valores entreguesàs micro e pequenas empresas serão deduzidos da base decálculo do IRPJ e da CSLL, acarretando redução dos tribu-tos devidos.

Em seguida, o artigo 19 prevê um benefício que, con-comitantemente com o mencionado artigo 17, possibilitaa exclusão do lucro líquido e da base de cálculo da CSLL deum valor correspondente a 60% da soma dos dispêndiosque a pessoa jurídica teve com pesquisa e desenvolvimen-to tecnológicos durante o período de apuração.

Caso a empresa aumente o número de pesquisadorescontratados em até 5%, a exclusão poderá chegar a 70%, ese o número for de mais de 5%, a exclusão será de até 80%.

No que atine àquelas pessoas jurídicas que tenha porobjetivo social apenas o desenvolvimento tecnológico, ossócios que se dediquem aos trabalhos de pesquisa durantepelo menos 20 horas semanais, serão considerados pes-quisadores para fins de aferição da exclusão do artigo 19.

Para melhor compreensão da matéria, apresentamos,a seguir, um exemplo hipotético envolvendo a dedução pre-vista no artigo 17 e a exclusão contida no artigo 19, emque uma empresa auferiu renda de R$600.000,00, mas su-portou gastos em inovação tecnológica no total deR$100.000,00:

1) Receita R$ 600.000,002) Dedução do artigo 17 R$ 100.000,003) Lucro Líquido R$ 500.000,004) Exclusão do artigo 19 R$ 60.000,005) Base de cálculo do IR e da CSLL R$ 440.000,00

Neste exemplo fica evidente que o investimento empesquisa deixou de ser um ônus para se tornar um benefí-cio para as empresas empreendedoras, pois grande partedo capital investido retorna como redução dos tributos de-vidos, o que reduz a arrecadação do Estado mas viabiliza odesenvolvimento sustentado de novas tecnologias essên-

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cias para o crescimento industrial.Além disso, o §3º do artigo 19 em comento determina

que caso o projeto de pesquisa e desenvolvimento resulteem uma patente concedida ou em uma cultivar registrada,a empresa poderá ainda deduzir seus dispêndios em mais20%, o que incentiva não apenas a inovação mas tambéma proteção do conhecimento obtido.

Importante destacar que o artigo 20 autoriza expres-samente que todas as máquinas, aparelhos e gastos comproteção se submetem à amortização e depreciação acele-rados anteriormente abordados, o que afasta qualquerdúvida sobre a matéria.

Mas um dos maiores avanços nesta área da inovaçãoencontra-se previsto no artigo 21, onde está contida auto-rização para que a União subvencione os salários dos no-vos pesquisadores mestres ou doutores que venham a serempregados em atividades de inovação em empresas loca-lizadas no Brasil.

A subvenção ocorrerá por intermédio das agências defomento de ciência e tecnologia, e será de até 60% nasáreas das extintas SUDENE e SUDAM e de 40% nas demaisregiões. Inclusive, o Ministério da Ciência e Tecnologia, atra-vés da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, disponi-bilizou, por meio da Carta-Convite nº 03/2006, 60 milhõesde reais para subsidiar a remuneração de mestre e douto-res contratados com o objetivo de realizarem pesquisas.

Outrossim, apesar das boas notícias a Lei nº 11.196/05 também trouxe requisitos que, caso não sejam cumpri-dos, impedem o gozo dos benefícios ora analisados.

Inicialmente é necessário que as pessoas jurídicas com-provem sua regularidade fiscal, o que significa que nãopodem ter pendências perante os entes públicos.

Sob este aspecto, é importante frisar que aquelas em-presas com débitos poderão adotar medidas no intuito desanarem os problemas, tais como parcelamento da dívidaou ajuizamento de ações judiciais para combater exigênci-as indevidas, o que viabilizaria a fruição dos benefícios.

Além disso, é imprescindível que a pessoa jurídica pres-te anualmente informações eletrônicas ao Ministério da Ci-ência e Tecnologia, bem como adote os procedimentos con-tábeis específicos previstos na Lei nº 11.196/05 e no De-creto nº 5.798/06.

O artigo 24 estipula que o descumprimento de qual-quer exigência ou a utilização de incentivos de forma inde-vida implicam na perda ao direito dos benefícios ainda nãogozados para o infrator e autoriza que sejam exigidos ostributos não pagos com base nos incentivos já utilizados,acrescidos de juros e multas. Nesta hipótese deve-se ficaratento aos eventuais abusos cometidos pelos entes fiscali-zadores, que além de não poderem ultrapassar os limitesda lei também não deverão imputar ao contribuinte umapena que não guarde correlação com a infração cometida,tal como nos ensina a administrativista MARIA SYLVIA ZA-

NELLA DI PIETRO, com suporte em juristas de escola:“Segundo Gordillo (1977: 183-184), “a decisão dis-cricionária do funcionário será ilegítima, apesar denão transgredir nenhuma norma concreta e expres-sa, se é ‘irrazoável’, o que pode ocorrer, principal-mente, quando:a) não dê os fundamentos de fato ou de direito

que a sustentam ou;b) não leve em conta os fatos constantes do expe-

diente ou públicos e notórios; ouc) não guarde uma proporção adequada entre os

meios que emprega e o fim que a lei deseja al-cançar, ou seja, que se trate de uma medidadesproporcionada, excessiva em relação ao quese deseja alcançar.” [DI PIETRO, 2000]

Em apertada síntese estes são alguns dos pontos rele-vantes contidos na Lei nº 11.196/05, sendo imprescindívelque estes benefícios sejam difundidos de forma a viabilizaro incremento dos investimentos privados neste setor es-tratégico do país.

Cabe ressaltar, por fim, que as considerações ora apre-sentadas não se aplicam às empresas de desenvolvimentoou produção de bens e serviços de informática e automaçãoque investirem em atividades de pesquisa e desenvolvimen-to em tecnologia da informação, pois estas sujeitam-se ex-clusivamente aos incentivos constante da Lei nº 8.248/91.

3 -CONCLUSÃOConforme demonstrado no presente artigo, o Estado

brasileiro incorporou em seu sistema normativo medidasconcretas para estimular o desenvolvimento científico e tec-nológico nacional.

Por meio destas ações, o Estado promove a cultura doempreendedorismo e inovação, imprescindível para garantira inserção do Brasil no cenário competitivo internacional,onde a gestão qualificada do conhecimento se apresentacomo fator preponderante.

A Lei 10.973/04 viabiliza o acesso das empresas à ciên-cia de alta qualidade produzida nas organizações de ensinoe pesquisa e, por outro vértice, A Lei de Incentivos Fiscais(Lei 11.196/05) estimula não apenas a formação de umaunião de esforços e interesses, como também o processo deinovação na própria empresa, por meio do apoio à criaçãode estrutura física (laboratórios, novos equipamentos, etc)e subvenção para a contratação de colaboradores qualifica-dos para o incremento das atividades de inovação.

Frente a este novo panorama legal, ainda resta supe-rar o desafio da efetiva disseminação da cultura do empre-endedorismo e inovação nacional, de forma a demonstrarao setor produtivo privado e às próprias ICT´s que o inves-timento em pesquisa e inovação é imprescindível para odesenvolvimento e independência tecnológica do país.

ARTIGO CIENTÍFICOCULTURA DO EMPREENDEDORISMO INOVADOR (CEI)

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1 INTRODUÇÃO

O entendimento dos processos de transferência de tec-nologia (TT) e de seus resultados tem atraído a atenção cres-

cente de pesquisadores envolvidos com o estudo de políti-cas industriais e, principalmente, de políticas de inovação

mais contemporâneas e substitutas daquelas [SALLY, 2000].

ARTIGO CIENTÍFICOUSO INTENSIVO DE TECNOLOGIAS (PIT)

Criação de pequenas empresas de base tecnológica viatransferência de tecnologias: reflexões sobre opotencial de sucesso do processo de transferência

Technology-based small companies start up via technology transfer:thoughts about the potential success in the transferring process

1Embrapa Instrumentação Agropecuária - (Embrapa/BID)Rua XV de Novembro, 145213560-970 – São Carlos – SP – Brasil

2Unicep – Centro Universitário Central PaulistaRua Miguel Petroni, 511113560-000 – São Carlos – SP – Brasil

email: [email protected]* | [email protected]* autor de contato / corresponding author

Artigo submetido em 02 de janeiro de 2008, revisado em 14 de março de 2008 , aceito em 28 de abril de 2008.

RESUMO

O artigo apresenta reflexões sobre o processo de trans-ferência de tecnologias via criação de novas empresas. Ametodologia adotada para o trabalho contemplou inicial-mente uma revisão da literatura sobre transferência de tec-nologia e também um diagnóstico sobre os resultados detransferências de tecnologias realizadas por uma unidadede pesquisa da Embrapa. O resultado das reflexões permitiuconcluir que, para tecnologias ainda não totalmente pron-tas para o mercado, parece existir maior possibilidade desucesso da transferência quando feita a novas empresas doque para empresas já estabelecidas.

ABSTRACT

This article presents considerations on the process oftechnology transfer through the creation of new technolo-gy-based companies. The methodology considered an initi-al bibliographic review on technology transfer and it wasalso considered previous technology transfer results fromone research unit of Embrapa. The results showed, in thecase of technologies not totally ready to market, that trans-fer process seems to have better success possibilities whenit is directed to start up companies instead of existing com-panies.

LOCUS CIENTÍFICOISSN -1981-6790 - versão impressa ISSN -1981-6804 - versão digital

Perussi Filho, S. e Biscegli, C.I., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008) pp. 44 - 53

PALAVRAS-CHAVE:

• Transferência de tecnologia• inovação• empreendedorismo

KEYWORDS:

• Technology transfer• Innovation• Entrepreneurship

Sergio Perussi Filho1,2,* e Clovis Isberto Biscegli1

Esse movimento origina-se da necessidade de se incor-

porar conhecimento ao processo de transferência de tecno-logia, o que é fundamental para o resultado econômico do

esforço desenvolvido na área de ciência e tecnologia, per-mitindo, assim, a criação efetiva de valor econômico através

da difusão de inovações.

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45Perussi Filho, S. e Biscegli, C.I., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008) pp. 44 - 53

GULBRANDSEN e ETZKOWITZ [1999] destacam, porexemplo, a crescente convergência entre a Europa e os Esta-

dos Unidos da América nas políticas de inovação. Enquantoa primeira tem acrescentado à sua tradicional política – cen-

trada em ações de relacionamento governo-indústria – açõesde relacionamento academia-indústria, os Estados Unidos

da América têm acrescentado à sua tradicional política in-dustrial (indireta) –, centrada nas relações academia-indús-

tria – as relações governo-indústria.No Brasil, observa-se também um forte movimento para

centrar as ações de desenvolvimento econômico em políti-cas de inovação. A recente aprovação da Lei de Inovação foi

mais um passo no sentido de colocar a inovação na agendanacional [PERUSSI FILHO, 2005].

Criar um ciclo virtuoso envolvendo ciência, tecnologiae inovação é o objetivo claro dessa lei, uma vez que a inova-

ção traz no seu bojo a racionalidade econômica, fechando,assim, o ciclo iniciado com a ciência. De fato, a construção e

o fortalecimento desse ciclo têm sido alvo de investimentosgovernamentais desde a década de 1950 [PERUSSI FILHO,

2005]. A Figura 1 apresenta alguns aspectos das vantagensdo ciclo virtuoso da inovação.

Figura 1. Ciclo virtuoso da inovação.

As ações que visam à criação de inovações vêm sendo

tomadas desde antes mesmo da promulgação da Lei de Ino-vação, em dezembro de 2004. [MACULAN e ZOUAIN, 1999]

descrevem ações tomadas pelo CNPq (Conselho Nacional dePesquisa) na década de 1980, por ocasião da criação do Mi-

nistério de Ciência e Tecnologia, para se criar maior aproxi-mação entre as universidades e as empresas. Foi também nessa

época que surgiram no Brasil os primeiros pólos tecnológi-cos, mais um esforço em aproximar as instituições de pesqui-

sa das empresas e estimular a inovação e a transferência detecnologia das universidades e institutos de pesquisas para

as empresas [TORKOMIAN, 1992]. Mais recentemente, paraacelerar ainda mais a transferência de tecnologias geradas na

universidade para as empresas, a Unicamp criou a Agênciade Inovação (Inova), que possuia, em seu projeto, a proposta

de atuar de forma mais vigorosa que o escritório de transfe-rência de tecnologia, que cumpria, até então, esse papel [RI-

BEIRO, 2004]. Após a vigência da Lei de Inovação, mais açõessurgem para estimular a transferência de tecnologia e a cria-

ção de inovações tecnológicas. A Embrapa InstrumentaçãoAgropecuária, uma das unidades da Embrapa – Empresa Bra-

sileira de Pesquisa Agropecuária –, criou, em abril de 2005,um instituto para promover a inovação e, mais especifica-

mente, para facilitar a transferência das tecnologias criadasem seu centro de pesquisa para empresas de base tecnológi-

ca já existentes ou a serem criadas [PERUSSI FILHO, 2005].Segundo [SIEGEL et al., 2001], nos Estados Unidos da

América, o aumento recente das transferências de tecnologi-as entre universidades e empresas, através dos escritórios de

transferência de tecnologia, tem levado a um concomitanteaumento das pesquisas em parceria envolvendo universida-

des e empresas, o que mostra a importância do entendimen-to desses processos para sua gestão eficaz.

Para [SALLY, 2000], enquanto os pesquisadores têm re-centemente voltado suas atenções para o entendimento da

transferência de tecnologias entre universidades e empresas,existem poucos exemplos precisos que examinam essa mes-

ma transferência dos laboratórios públicos. Entretanto, [TOR-NATZKY, 2001] traz a retrospectiva de seis anos de atividades

de benchmarking (melhores práticas) realizadas através deestudos longitudinais pelo Southern Technology Council (en-

tidade que congrega cinqüenta universidades do sul dos Es-tados Unidos da América), sobre os processos de transferên-

cia de tecnologia universidade-indústria, o que mostra queos norte-americanos estão de algum modo trabalhando para

melhorar o gerenciamento dessas transferências.Ainda segundo [SALLY, 2000], mostraram-se válidos os

resultados do incentivo governamental para a transferênciade tecnologia dos laboratórios federais para o setor privado,

que tem sua origem no Bayh-Dole Act de 1980 [SCHIMIER-MANN, 2003] e que tomou efeito em 1985-1986, resultando

também em algumas tensões provocadas nos pesquisadorespela nova função de criar tecnologias transferíveis em con-

traposição à tradicional pesquisa acadêmica de geração deconhecimento de per se. Segundo esse autor, os pesquisado-

res tomaram um forte interesse em receber parte dos royalti-

es, produzindo mais protótipos e amostras de produtos para

a indústria e, na esteira desses interesses, apareceram neces-sidades de se criar procedimentos para monitorar os envolvi-

dos na criação de tecnologias inovadoras e também dar aten-ção às possíveis disputas de autoria, além de dar suporte às

atividades de marketing para a difusão das inovações.Nesse aspecto, observa-se que este é o processo atual-

mente em curso no Brasil: a estruturação dos mecanismos

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que operacionalizarão a Lei de Inovação, uma vez que muitosde seus procedimentos ainda precisam ser implementados

para torná-la efetivamente aplicável.Tendo em vista o papel importante da TT na difusão da

inovação e a conseqüente importância dos resultados gera-dos por suas instituições públicas dedicadas à geração de

ciência e tecnologia para a economia do país, este trabalhoprocurou fazer reflexões sobre o potencial de sucesso das

TT, considerando também que, atualmente, essas institui-ções são pressionadas a incorporar definitivamente o vetor

inovação aos seus processos. De forma especial, o trabalhofoca os casos de TT quando as empresas receptoras da tec-

nologia são empresas criadas especificamente para esse fim,ou seja, pequenas empresas que assumem a missão de fa-

zer da tecnologia transferida um produto ou processo desucesso no mercado.

Assim, o presente estudo procurará responder aos se-guintes problemas de pesquisa: A TT para pequenas empre-

sas é mais susceptível ao sucesso do que para as grandesempresas? Quais as condições em que a TT, para novas pe-

quenas empresas criadas com o objetivo de viabilizá-la, se-ria mais indicada do que para as grandes?

Para responder essas perguntas, foi realizado um levan-tamento da bibliografia sobre possíveis fatores críticos de

sucesso em processos de TT; também foram consideradosos resultados obtidos em pesquisa realizada por [PERUSSI

FILHO et al., 2005] sobre os processos de TT em uma insti-tuição de pesquisa.

A contextualização teórica, a metodologia, os resulta-dos e a conclusão são apresentados a seguir.

2 Transferência de tecnologia: definições e

contextualizaçõesTecnologia é o resultado tangível da ciência e da enge-

nharia e, por extensão, tecnologia é o sistema através doqual a sociedade aplica ciência e engenharia para prover seus

membros com bens e serviços necessários ou desejados [LUN-DQUIST, 2003].

Para [SOEDER et al., 1990], TT é o processo gerenciadode comunicar uma idéia (conveying) para sua adoção por

outra parte. Como processo e como comunicação de umaidéia, a TT necessita também de um processo de feedback e,

por conseqüência, o envolvimento de pessoas.Para [LUNDQUIST, 2003], TT é o movimento de uma sé-

rie específica de capacidades de uma entidade (pessoa, time,empresa, organização) para outra. Segundo esse autor, a

tecnologia nas civilizações avançadas move-se constante-mente de muitas maneiras e tecnologia que permanece sem

uso não tem valor – sem uso não pode acessar necessidadese não agrega valor. Assim, somente o movimento de capaci-

tações melhora a civilização. A TT é, então, essencial para o

crescimento e a maturidade da maioria dos tipos de organi-zações sociais, incluindo empresas, governos, organizações

militares, academias e organizações de artes [LUNDQUIST,2003].

Ainda segundo [LUNDQUIST, 2003], a tecnologia é trans-ferida, seja pelo governo seja pela academia, para auxiliar a

corporação a atingir seus objetivos e a sua própria missão;ambos os interesses são satisfeitos, da fonte e do usuário

da tecnologia. Entretanto, ambos os lados devem encontrarrazões importantes para sua transferência.

Uma classificação útil sobre os tipos de TT é apresenta-da por [LUNDQUIST, 2003]: transição (movimentos na ca-

deia de valor dentro da organização, ou seja, a evolução deuma tecnologia em produto); transferência interna (movi-

mento para uso direto, dentro da empresa); transferênciaexterna (movimento da tecnologia para fora da organiza-

ção); transferência de divisão para divisão (dentro das cor-porações); fusões e aquisições (compra de tecnologia e ca-

pacidades técnicas) e disseminação (movimento da tecno-logia diretamente para as comunidades através de relatóri-

os internos às empresas e às universidades, artigos técnicose apresentações diretamente para o público).

Sobre as razões existentes para a TT, [LUNDQUIST, 2003],ao referenciar trabalho de pesquisa por ele realizado em

19961, afirma que todas são ligadas a aspectos estratégicosdas partes envolvidas para resolver necessidades e atingir

seus objetivos (criar riqueza). Em estudo realizado pelo mes-mo autor em 19993, foi comprovado, em amostra de labo-

ratórios federais e industriais, que a transferência de tecno-logia (o repasse que permite a difusão da tecnologia) é tão

importante para o sucesso de negócios empresariais quan-to são a ciência e a engenharia (a própria criação da tecno-

logia) [LUNDQUIST, 2003]. Segundo [RUBENSTEIN, 2003],podem existir quatro objetivos para uma política de TT. O

primeiro é trazer o benefício da pesquisa e do desenvolvi-mento (P&D) públicos para potenciais usuários (preocupa-

ção do governo com o fato de que as tecnologias desenvol-vidas sejam úteis, porém, não exploradas comercialmente).

O segundo objetivo é utilizar recursos privados, quandopossível, dada a mudança de atenção do setor público para

ações onde ele possui vantagens comparativas. No caso dosetor agrícola, mais descentralizado e voltado para pesqui-

sa aplicada, o movimento retomou as origens através dacooperação público-privada, voltando a aplicar em pesqui-

sa básica, após forte crítica da National Academy of Scien-

ce, em 1972, e da Rockfeller Foundation, em 1982. Assim,

muitas instituições de pesquisa agrícola passaram a desen-volver pesquisas aplicadas ao setor privado, retomando o

1 LUNDQUIST, G. A strategy for solving problems and creating wealth. Techno-

logy Transfer Society Proceedings. 1996

ARTIGO CIENTÍFICOUSO INTENSIVO DE TECNOLOGIAS (PIT)

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cenciamento mudarão, de algum modo, as prioridades dosetor público de pesquisas para aquelas do setor privado

[RUBENSTEIN, 2003]. Entretanto, analisando os processosde patenteamento e de licenciamento do Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos (224 licenciamentos ativosem 2001), o autor conclui: a) que o programa americano

(do Departamento de Agricultura) de patenteamento e li-cenciamento não é orientado pelo objetivo de lucro; b) o

programa de licenciamento não parece ter alterado a agen-da das instituições públicas de pesquisa da área de agricul-

tura; c) os licenciamentos variam em grau em função dapromoção de quatro importantes benefícios sociais (segu-

rança alimentar, nutrição humana, saúde humana, prote-ção ambiental e de recursos naturais); d) as prioridades dos

programas de licenciamento são próximas daquelas do se-tor privado, exceto para saúde humana, nutrição e seguran-

ça alimentar.Em trabalho em que discute os elementos motivadores

do interesse na TT pelas empresas privadas e pelos labora-tórios públicos, [KREMIC, 2003] conclui que o governo e as

corporações a entendem de forma diferente. Orientaçõeslegislativas são os primeiros motivos para perseguir a TT para

os agentes governamentais enquanto as corporações sãodirigidas pela necessidade de obtenção de lucro. Além dis-

so, existem também motivos inconsistentes para a TT mes-mo entre os vários níveis corporativos. Assim, o autor en-

tende que deve ser dada atenção especial para as pessoasnos relacionamentos de TT, quando muitas pesquisas focam

aspectos nos níveis corporativos e laboratoriais. Concluientão que os processos de TT devem levar em conta as mo-

tivações das pessoas envolvidas. Para o autor, a corporaçãoempregará métodos de TT que a tornem capaz de selecio-

nar a tecnologia a ser transferida, enquanto cuidadosamen-te controla o acesso a ela. O governo, de outro modo, vai

querer disseminar de forma intensa e ampla o que foi de-senvolvido. Assim, após o estágio inicial, quando os parcei-

ros interessados são localizados, uma comunicação maisíntima deve ser estabelecida, considerando os motivos indi-

viduais, estabelecendo-se o segundo estágio da TT. Para esseautor, o método mais efetivo deve ser determinado pelo

contexto: os motivos das organizações; os motivos da fontede tecnologia e a quantidade de controle desejado [KRE-

MIC, 2003].Estudando a criação de empresas através de tecnologi-

as desenvolvidas em cinqüenta e sete universidades do Rei-no Unido, [FRANKLIN et al., 2001] desenvolveram um estu-

do para examinar as percepções sobre as vantagens e des-vantagens de se realizar a TT através da criação de empresas

por pesquisadores das próprias universidades (faculty mem-

bers) ou por empreendedores externos (external members)

às universidades. A conclusão dos autores é de que não existe

foco em pesquisa básica e aplicada com características pú-blicas.

Uma terceira razão para a TT é poder permitir que asinstituições públicas influenciem o desenvolvimento de no-

vas tecnologias. Segundo o autor, citando [FUGLIE et al.,1996]2, o setor privado é o fornecedor primário de novas

tecnologias para o setor agropecuário e, como outros seto-res, a produção agrícola oferece benefícios para a socieda-

de, mas ela pode também impor outras externalidades. As-sim, a TT oferece às instituições públicas a oportunidade de

promoverem desenvolvimento de tecnologias e incremen-tar os benefícios da agricultura para a sociedade. Finalmen-

te, o quarto objetivo é obter recursos vendendo suas inven-ções.

Para [KREMIC, 2003], a importância da transferência detecnologia para a indústria (empresas) é baseada no objeti-

vo da corporação, que é ser lucrativa. A ação empresarial édirigida para ganhar o máximo em cada dólar investido, in-

cluindo a TT. Por outro lado, para o governo, o motivo paratransferir tecnologia é beneficiar os cidadãos e a nação. Para

esse autor, os métodos para a TT incluem: joint ventures,investimentos estrangeiros diretos (FDI), licenciamento e

parcerias na cadeia de fornecimento.[RUBENSTEIN, 2003] apresenta algumas preocupações

comuns com a TT e o licenciamento de patentes, argumen-tando inicialmente que alguns economistas colocam obje-

ções teóricas sobre as patentes governamentais. Citandorevisão de literatura efetuada por [JAFFE e LERNER, 1999]3,

o autor afirma que a propriedade intelectual privada é maiseficiente que a propriedade pública principalmente em ra-

zão da grande flexibilidade do setor privado e pelo fato deos incentivos serem mais interessantes para os gerentes pri-

vados. Nessa linha de raciocínio, apresenta quatro princi-pais preocupações com a TT: a) as instituições públicas de-

senvolverão P&D que seriam conduzidos de qualquer modopelo setor privado; b) as atividades de patenteamento não

serão suficientemente focadas em atividades de P&D quepromovam bens públicos; c) o aumento de receitas através

de licenciamento se tornará o primeiro objetivo do patente-amento, em vez de viabilizar a TT; d) os processos de licenci-

amento poderão favorecer certos tipos de instituições oufirmas particulares. Por fim, o autor conclui que o ponto

fundamental é que todas essas preocupações convergempara o fato de que os processos de patenteamento e de li-

Perussi Filho, S. e Biscegli, C.I., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008) pp. 44 - 53

2 Fuglie, K.N., N. Ballenger, K. Day, C. Klotz, M. Ollinger, J. Reilly, U. Vasavada, J.

Yee. Agricultural research and development: Public and private investments

under alternative markets and institutons. Agricultural Economics Report 735, Washington, DC: Economic Research Service, U.S. Department of Agricultu-

re. 1996

3 JAFFE, A.B.; J. LERNER. Privatizing R&D: Patent policy and the commercializa-

tion of National Laboratory Technologies. Working Paper 7064. Cambridge,

MA: National Bureau of Economic Research. 1995.

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uma fórmula única e que as universidades adotam aborda-gens flexíveis para realizar a TT através da criação de empre-

sas, utilizando-se de empreendedores internos ou externos,quando apropriados.

Em pesquisa realizada em três importantes universida-des americanas, [BERCOVITZ et al., 2001] encontraram dife-

renças nas estruturas organizacionais dos escritórios de TT,fruto, em sua maioria, das evoluções históricas dessas uni-

versidades. O estudo também sugere que essas estruturasalternativas podem ser estruturas mais importantes do que

as outras para a obtenção de sucesso com relação aos pro-cessos de TT, mas não são conclusivos sobre qual é a estru-

tura melhor, sugerindo que mais pesquisas devem ser feitaspara se tirar conclusões definitivas [BERCOVITZ et al., 2001].

Para [SANTORO e GOPALAKRISHNAN, 2001] existem qua-tro fatores vinculados à dinâmica do relacionamento entre

os centros de pesquisa universitários e as firmas industriaisque facilitam o processo de TT: a) confiança; b) proximidade

geográfica; c) efetividade da comunicação ; d) flexibilidadeda política universitária para direitos de propriedade inte-

lectual, de patentes e licenças.Em pesquisa realizada com 189 empresas industriais vin-

culadas a 28 proeminentes centros de pesquisa afiliados auniversidades norte-americanas, [SANTORO e GOPALAKRISH-

NAN, 2001] concluem que a confiança, a proximidade geo-gráfica e a flexibilidade das políticas dos centros para os

direitos de propriedade intelectual, de patentes e de licen-ças desempenham um papel importante no sucesso das ati-

vidades de TT. Todas as hipóteses do estudo foram confir-madas: a) quanto mais confiança existir entre os centros de

pesquisa e as empresas, maior será a extensão das ativida-des de TT; b) quanto maior a proximidade geográfica entre

os centros de pesquisa e as empresas, maior será o grau deextensão das atividades de TT; c) quanto mais efetiva a co-

municação entre os centros de pesquisa e os parceiros in-dustriais, maior o grau de extensão das atividades de TT ; d)

quanto mais flexíveis forem as políticas universitárias paraos direitos de propriedade intelectual, de patentes e de li-

cenças, maior será o grau de extensão das atividades de TT.Com relação à confiança, os autores afirmam que, quando

ocorrem mudanças nas lideranças envolvidas no processode parcerias para a TT ou mesmo quando surgem situações

de desconfiança entre as partes, o processo poderá ser afe-tado. (acho que “mudar a disposição para colaborar” é me-

lhor, pois é mais específico). A flexibilidade das políticas paraos direitos de propriedade intelectual, de patentes e de li-

cenças auxilia na criação da confiança entre as partes. A pro-ximidade, para os autores, é um fator crucial no sucesso das

atividades de TT, além dos tradicionais aspectos de vanta-gem competitiva trazida pela redução de custos e pela dis-

ponibilidade de recursos, entre outros. Além disso, afirmam

que a proximidade afeta não somente a intensidade dastransferências relacionadas com a pesquisa aplicada, mas

afeta também positivamente as ações de pesquisa básica,ao contrário do que afirma [MANSFIELD, 1995]4. Com rela-

ção à efetividade da comunicação, os autores não encon-traram uma forte correlação com o maior grau de atividade

de TT, mostrando-se menos importante que as demais. Paraos autores, a proximidade poderá estar servindo como me-

dida substituta para a efetividade da comunicação e, assim,mais pesquisa precisa ser feita para elucidar essa questão.

Ampliando a análise para as variáveis de controle da pes-quisa, os autores supõem que o tamanho das empresas tem

papel relevante no sucesso das atividades de TT, mas a es-trutura não. Confirmando dados da literatura, supõem que

as grandes empresas tendem a possuir atividades mais in-tensas de TT pela disponibilidade de recursos mais abun-

dantes. Entretanto, para eles, as pequenas empresas tam-bém podem ser efetivas na TT quando os fatores mais im-

portantes estiverem presentes, como por exemplo, a proxi-midade geográfica. O tamanho também tem significado

quando relacionado ao tipo de centro de pesquisa conside-rado: as grandes empresas relacionam-se mais com centros

de pesquisa de engenharia. [SANTORO e GOPALAKRISHNA-MN, 2001].

[PERUSSI FILHO et al., 2005], ao estudarem as TT reali-zadas por uma instituição de pesquisa publica nacional vol-

tada para a instrumentação agropecuária, concluiram queas condições propostas por [SANTORO e GOPALAKRISHNAN,

2001] estiveram presentes nos casos em que as transferên-cias foram bem sucedidas e algumas delas ausentes nos ca-

sos de insucesso. Os autores concluem também, à luz dodiagnóstico realizado, que outros fatores poderão ser con-

dicionantes do sucesso das transferências, tais como: fato-res relacionados à natureza e aos mercados explorados pela

empresa envolvida no processo de transferência; fatores re-lacionados ao envolvimento do inventor da tecnologia no

processo e nas atividades da empresa criada; fatores relaci-onados à importância da tecnologia transferida para o su-

cesso econômico da empresa.

3 METODOLOGIAA revisão dos artigos acima apresentada evidencia al-

guns fatores críticos para o sucesso dos processos de TT.Esse é o caso dos artigos de [FRANKLIN et al., 2001], [SAN-

TORO e GOPALAKRISHNAN, 2001] e [PERUSSI FILHO et al,2005]. Para os primeiros, não existe uma fórmula única e

assim as universidades adotam abordagens flexíveis para

4 Mansfield, E. Academic research underlying industrial innovations: Sources,

characteristics, and financing. Review of Economics and Stastistics 77 (1), 55-

65. 1995

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realizar a TT através da criação de empresas, utilizando-sede empreendedores internos ou externos, quando apropri-

ados. Para os segundos, existem quatro fatores vinculadosà dinâmica do relacionamento entre os centros de pesqui-

sas universitários e as firmas industriais, que facilitam o pro-cesso de TT: a) confiança; b) proximidade geográfica; c) efe-

tividade da comunicação; d) flexibilidade da política univer-sitária para direitos de propriedade intelectual, de patentes

e de licenças além de outros aspectos evidenciados na revi-são da literatura

Para os últimos, existem fatores primários e secundári-os que afetam a efetividade da TT de laboratório de pesqui-

sa (P) para laboratórios de desenvolvimento (D). Para [PE-RUSSI FILHO et al, 2005], outros fatores além dos considera-

dos por [SANTORO e GOPALAKRISHNAN, 2001] parecem ori-entar os processos bem sucedidos de TT.

Considerando-se esses pontos, serão apresentadas, naseqüência, reflexões sobre o potencial de sucesso de TT de

equipamentos avançados para a agropecuária, desenvolvi-dos por uma empresa de pesquisa pública, para pequenas

empresas de base tecnológica, as quais foram criadas como objetivo específico de receber as tecnologias e fazer delas

sucesso de mercado. Além disso, pretende-se, à luz dessarevisão e dos resultados obtidos por [PERUSSI FILHO et al.,

2005], propor algumas condições para que a TT ocorra commaior probabilidade de sucesso.

4 A criação de novas empresas através da

transferência de tecnologia

A revisão bibliográfica acima apresentada evidencia quealguns fatores podem indicar possível sucesso ou insucesso

na TT. [PERUSSI FILHO et al., 2005], de forma específica, ana-lisaram resultados que confirmam a importância dos fato-

res definidos por [SANTORO e GOPALAKRISHNAN, 2001],quais sejam: a) confiança; b) proximidade geográfica; c) efe-

tividade da comunicação; d) flexibilidade da política uni-versitária para direitos de propriedade intelectual, de pa-

tentes e licenças.Entretanto, antes de focar a TT para a criação efetiva de

inovação, dentro da racionalidade econômica que a funda-menta, é necessário refletir acerca do processo gerador de

tecnologia, ou seja, as atividades de P&D&E (Pesquisa, De-senvolvimento e Engenharia) ou da estruturação mais atual

desse sistema, as atividades de P&D&I (Pesquisa, Desenvol-vimento e Inovação).

O que se espera dessas atividades é que o fluxo de esfor-ços se direcione no sentido da pesquisa (P) para a inovação (I).

Entretanto, ao se considerar os fatores influenciadoresdo processo de transferência de conceitos originados na pes-

quisa (P) para a área de desenvolvimento (D), alguns se so-

bressaem e podem ajudar na reflexão sobre os processos deTT. Este é o caso quando o conceito - e mesmo parte do

desenvolvimento da tecnologia - está dominado pelo labo-ratório de P&D de uma instituição de pesquisa pública, mas

ainda resta a finalização do desenvolvimento e/ou o merca-do de aplicação da tecnologia não está totalmente claro,

mas mesmo assim existe a necessidade da TT para empurraro processo para sua fase final e tornar o uso da tecnologia

tempestivo, evitando a sua obsolescência no próprio labo-ratório de P&D.

Considerando-se a situação de dificuldades para se mon-tar uma estrutura organizacional que possa dar conta de

todos os processos exigidos nas atividades de P&D&I (Pes-quisa, Desenvolvimento e Inovação), a maioria dos labora-

tórios brasileiros de P&D não contam com recursos e estru-tura organizacional suficientes para a realização da etapa

final do ciclo virtuoso da inovação, que é a fase de transfe-rência dos resultados de desenvolvimento (D) para a criação

efetiva de inovação (I) no mercado.Assim, apesar de os laboratórios terem atuação impor-

tante e destacada nos desenvolvimentos de conceitos e tec-nologias para o avanço tecnológico brasileiro, esses esfor-

ços de P&D muitas vezes não são suficientes para resulta-rem em inovações no mercado. Para que isso aconteça, é

preciso forte determinação na finalização dos projetos tec-nológicos, o que demanda fabricação de protótipos e testes

de funcionamento para, em seguida, serem testados e co-mercializados no mercado. Além disso, e mais importante

ainda, é fundamental uma avaliação, desde o início das ati-vidades de pesquisa, das possibilidades de comercialização

do resultado tecnológico.Assim, sob a ótica das atividades P&D&I e dadas às res-

trições de recursos e de estrutura organizacional, a ênfasedos laboratórios estaria sendo direcionada para as ativida-

des de P&D, apesar do esforço louvável que procuram reali-zar em direção ao I, de Inovação. Sugestão: “em direção à

inovação”, pra evitar a repetição da frase.Além disso, como os sistemas de avaliação das ativida-

des dos pesquisadores ainda têm efeito significativo no Bra-sil, o mérito recai sobre a produtividade científica, medida

através da publicação de artigos científicos em periódicosindexados. Assim, a dedicação dos pesquisadores – em con-

sonância com o ponto de vista dos sistemas de avaliação –acaba centrada nas atividades de pesquisa (P), minando ainda

mais o direcionamento das atividades para o fechamentodo ciclo virtuoso da inovação [PERUSSI FILHO, 2005]. Assim,

mesmo as atividades de P&D acabam por sofrer um forteviés em direção às atividades de pesquisa, invertendo o flu-

xo que deveria ser no sentido da inovação (I).Ademais, deve-se considerar que, à vista da cultura ins-

titucional ainda vigente de que o que tem valor é o trabalho

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científico refletido em artigos publicados e, no caso das uni-versidades, que o objetivo principal é a busca do conheci-

mento e a formação de recursos humanos, as atividades definalização de desenvolvimentos (D) e a própria inovação (I)

acabam por ocupar lugar secundário nas atividades diáriasdos pesquisadores. É como se o pesquisador pudesse refle-

tir ao final do dia: “Dormirei tranqüilo esta noite: busqueinovos conhecimentos e formei pessoas. Cumpri minha obri-

gação. Estou feliz!”.Para ilustrar essa situação, a Figura 2 destaca a inversão

do fluxo que deveria ser natural nas atividades de P&D&I.

nadas dos laboratórios de P&D públicos no Brasil, pareceexistir maior possibilidade de sucesso da transferência quan-

do feita para novas empresas de base tecnológica, criadascom o fim específico de receber a tecnologia, ou mesmo

empresas criadas há relativamente pouco tempo, ao invésde fazê-lo às empresas estabelecidas há muitos anos.

Além disso, à luz das considerações de [PERUSSI FILHOet al., 2005], parece ser útil considerar o envolvimento, se

possível, de pessoas do grupo de pesquisa que originou atecnologia na empresa a ser criada e a receber a tecnologia

em transferência. A Lei de Inovação brasileira contempla me-canismo que permite a licença sem remuneração, com ga-

rantia de retorno futuro, se necessário, para que os pesqui-sadores e técnicos possam de forma mais específica empre-

ender esforços para levar a tecnologia para o mercado.Em artigo em que diagnosticou os resultados das TTs

realizadas por uma instituição de pesquisa publica [PERUSSIFILHO et al., 2005] evidenciou que fatores além dos defini-

dos por [SANTORO e GOPALAKRISHNAN, 2001] apresentam-se como fundamentais para o sucesso das TTs:

“Entretanto, alguns outros fatores que podem in-fluenciar o processo de transferência parecem ter

sido trazidos à tona na presente pesquisa. Além dosfatores de relacionamentos apontados por Santo-

ro & Gopalakrishnan (2001), esta pesquisa poderáestar mostrando que fatores relacionados com a

natureza das atividades anteriormente desenvolvi-das pela empresa (e o conseqüente domínio da tec-

nologia e dos mercados a serem explorados) se con-figuram como importantes para o sucesso para os

processos de transferências de tecnologias.Para o pesquisador, quando se olha para o sucesso

relativo das empresas que foram criadas através detecnologias transferidas um outro ponto pode ser

considerado para o sucesso e tem a sua fundamen-tação no espírito do processo empreendedor: a cri-

ação do sonho e a sua colocação em prática. Nocaso da empresa D, o empreendedor foi o próprio

criador da tecnologia. Por outro lado, a empresa Cfoi criada com tecnologia transferida para dois em-

preendedores que dependiam do sucesso da comer-cialização da tecnologia para viabilizarem o seu su-

cesso profissional. Esses casos evidenciam o envol-vimento direto dos empreendedores com a tecno-

logia transferida. No caso das empresas E e F o em-preendedor que recebeu e tecnologia não esteve

de forma direta envolvido com a sua viabilizaçãono mercado, delegando a outros profissionais essa

função.Assim sendo, apesar da necessidade de que pes-

quisas mais específicas sejam realizadas para a ob-

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Figura 2. Inversão do fluxo natural das atividades de P&D&I.

Considerando-se que essa é a situação ainda existenteem boa parte dos laboratórios de P&D e, por certo, na mai-

oria das universidades brasileiras – ainda carentes de recur-sos e estrutura administrativa para lidar com o fluxo proces-

sual principalmente da fase de desenvolvimento (D) para afase de inovação (I) – existe a necessidade da intervenção de

algum agente que possa dar cabo desse esforço para levar atecnologia ao mercado, retomando o fluxo da pesquisa (P)

em direção à inovação (I).Transferir os conceitos e as tecnologias ainda não total-

mente testadas e com mercado incerto para empresas degrande porte poderia ser a solução? Provavelmente não, uma

vez que as grandes empresas já possuem as suas linhas deprodutos e mesmo atividades de P&D e, certamente estari-

am mais interessadas em soluções tecnológicas já próximas,em termos de fluxo, a inovação (I). Afinal, mais do que tec-

nologia, o capital busca mercado. Nos casos em discussão,ambos estariam ausentes ou não totalmente claros. Entre-

tanto, essa possibilidade pode existir quando a empresa degrande porte visualizar no conceito tecnológico um futuro

mercadológico muito claro. Mas não é dessas situações queeste artigo trata e sim de conceitos tecnológicos de frontei-

ra, com dificuldades para chegar ao nível final de desenvol-vimento e com mercado incerto e/ou não totalmente claro.

Para tecnologias em situações como as acima conside-radas e tendo em vista as condições estruturais já mencio-

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tenção de um resultado mais conclusivo, pode-seconsiderar que, por hipótese, quatro fatores se

mostram fundamentais para o sucesso de proces-sos de transferência de tecnologia: fatores de rela-

cionamentos entre os parceiros do processo; fato-res relacionados com a natureza e mercados explo-

rados pela empresa envolvida no processo de trans-ferência; fatores relacionados com a participação

direta ou não do criador da invenção no processo e

nas atividades da empresa criada com a tecnologiae; fatores relacionados com a importância da tec-

nologia transferida para o sucesso dos empreende-dores envolvidos”. [PERUSSI FILHO et al., 2005].

Na Tabela 1 são feitas comparações sobre a perspectiva

de sucesso dos processos de TT entre empresas de pequenoporte criadas para receber a TT ou recém-criadas, com em-

presas de grande porte.

(*) Considerando-se as tecnologias e o mercado nas condições previamente definidas neste trabalho.

Ao se analisar o conjunto das comparações, o que pa-

rece ficar evidente é que, ao se realizar a TT para uma em-presa criada com esse propósito específico e se, além dis-

so, o empreendedor à frente da empresa for originário degrupo de pesquisa que criou a tecnologia, a empresa reali-

zará o papel que os laboratórios de P&D públicos estãotendo dificuldades para desempenhar. Nesse sentido, es-

sas empresas, através de seus empreendedores-pesquisa-dores, estarão invertendo o fluxo processual das ativida-

des de P&D&I que naturalmente são desenvolvidas no sen-tido do P (Pesquisa) nesses laboratórios, conforme argu-

mentações já feitas e refletidas na Figura 1, movendo ovetor processual em direção ao I (inovação).

Como já evidenciado neste trabalho, essas reflexõessobre o reforço pelos empreendedores-pesquisadores do

fluxo processual rumo à inovação (I) é fruto de observa-

ções feitas em um estudo múltiplo-casos de TT envolvendocinco tecnologias geradas por um laboratório público de

pesquisa [PERUSSI FILHO et al., 2005].Outro ponto relevante é que, por serem tecnologias

inovadoras, muitas vezes de fronteira do conhecimento,às vezes radicais e patenteadas, e ao mesmo tempo extre-

mamente importantes para os grupos de pesquisa, a ma-nutenção das atividades de desenvolvimento dessas tec-

nologias próximas ao grupo de pesquisa, através do envol-vimento do empreendedor originário do grupo na empre-

sa, é útil para os dois agentes, empresa e laboratório, cri-ando sinergias positivas para os processos que interessam

a ambos. Isso se dá, por exemplo, quando o empreendi-mento é criado por um pós-graduando que participa do

Pequena empresa criada com a TT ou recém-criada

Produto ou processo é o único da empresa.

Toda atenção é dedicada a fazer produto/processo ser bemsucedido.

Empreendedor, quando oriundo do grupo de pesquisa, é ocriador (“pai”) do produto/processo, buscando fazê-lo bemsucedido no mercado.

O foco geral da pequena empresa é produto/processo novo. Orisco está associado à fase inicial do ciclo de vida da empresa.

O relacionamento empresa-laboratório de P&D tende a ser maisestreito (principalmente quando a empresa está localizada nasproximidades do laboratório de P& D que transferiu a tecnologia)e quando o empreendedor é originário do grupo de pesquisa

que criou a tecnologia

Grande empresa

Produto/processo é um a mais no portfolio da empresa.

Atenção ao produto/processo recebe somente parte da atenção.

Executivos envolvidos possuem outros produtos/processos (namaioria criados internamente) que disputam as atenções com oproduto/processo recebido em TT (não se sentem estimulados a“fazer acontecer” no mercado aquilo em que não estiveramdiretamente envolvidos desde a concepção).

O foco da grande empresa é majoritariamente no processoadministrativo/operacional, à vista do fluxo dos produtos/processos atuais comercializados no mercado.

O relacionamento empresa-laboratório de P&D tende a ser maislento, fruto das considerações já feitas nos itens anteriores.

Tabela 1. Vantagens das pequenas empresas em relação às grandes empresas em processos de TT quando as tecnologiaspossuem restrições(*).

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grupo de pesquisa.Com essa nova empresa, o laboratório de P&D cria en-

tão as condições que o fazem potencializar as suas ativida-

des visando à inovação (I).A Figura 3 apresenta a ação da empresa recém-criada

no fortalecimento dos esforços em direção à inovação (I)

Figura 3. Retomada do fluxo P&D&I em direção à inovação com a criação de uma nova empresa de base tecnológica.

5 CONCLUSÃOO artigo apresentou reflexões sobre o processo de TT

via criação de novas empresas.Foram feitas reflexões sobre as possibilidades de êxito

de programas de TT via criação de novas empresas, quandose apresentam como objeto da transferência tecnologias ain-

da não totalmente maduras e/ou com mercado potencialnão totalmente claro.

O resultado das reflexões permitiu concluir que, quan-do a tecnologia está dominada mas não totalmente desen-

volvida, e/ou quando o mercado não está totalmente claro,mas existe a necessidade de sua transferência para empur-

rar o processo para a sua fase final e tornar o seu uso tem-pestivo, evitando sua obsolescência no próprio laboratório

de P&D, existe maior possibilidade de sucesso da TT quandofeita a novas empresas criadas com esse fim em vez de fazê-

lo a empresas já estabelecidas.A possibilidade de sucesso da TT é ampliada de forma

significativa quando a empresa é criada com a participaçãode algum pesquisador envolvido com o grupo de pesquisa

que originou a tecnologia. A participação desse pesquisa-dor acaba servindo de elo entre o grupo de pesquisa e a

empresa, facilitando o processo de finalização da tecnolo-

gia, o que é positivo para a empresa e para o laboratório deP&D.

Uma consideração que pode se mostrar relevante nessaperspectiva de maior sucesso desse modelo de TT é que o

pesquisador que ajudou a criar a tecnologia “cuidará” commuito mais carinho para que o processo seja bem sucedido,

pois, afinal, ele foi um dos envolvidos na perspectiva de usoprático da tecnologia. Essa consideração não é meramente

romântica, uma vez que por certo as questões econômicasda viabilidade do negócio foram consideradas como pre-

missa básica e fundamental, e formalizadas em um planode negócio. Entretanto, a determinação do empreendedor

para obter o sucesso de seu projeto parece ser muito maispossível do que a determinação de um executivo de uma

grande empresa em fazer de uma tecnologia (nas condiçõesdiscutidas) criada por outrem ser o seu principal foco de

atenção e balizador de seu sucesso profissional. Além disso,o empreendedor, com o seu conhecimento aplicado ao pro-

jeto - que poderá ser o único por um tempo relativamentelongo -, tem condições de se transformar em um milionário

ao trabalhar de forma determinada para o seu sucesso. Casoisso não ocorra, seu estado econômico pouco mudará. As-

sim, as chances para a criação de riqueza através do conhe-

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Perussi Filho, S. e Biscegli, C.I., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008) pp. 44 - 53

cimento exclusivo é fundamental na sua motivação. Para agrande empresa, o capital poderá ter mais interesse em pro-

dutos, processos e mercados já definidos, do que em pro-dutos, processos e mercados a serem descobertos.

Finalmente, ao considerar os fatores para o sucesso dasTT que as reflexões deste trabalho evidenciam, pode-se afir-

mar que o ambiente onde esses fatores estão mais presentes,

são os ambientes dos parques tecnológicos e mesmo outrosarranjos de aglomeração de empresas, nos quais a presença

de incubadoras empresariais, em sinergia com laboratóriosde universidades e institutos de pesquisa, cria um habitat

muito mais propício para a transformação do conhecimentocientífico-tecnológico em inovações, reforçando, portanto, as

possibilidades de sucesso dos processos de TT.

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1. INTRODUÇÃOO processo empreendedor envolve diferentes estágios

de desenvolvimento e múltiplas dimensões [LOW; MACMI-LLAN, 1988]. Entretanto, de forma geral, os estudos doempreendedorismo englobam apenas um dos estágios elevam em conta somente uma ou outra dimensão do pro-

Fiates, J.E.A., et al., Locus Científico, Vol. 02, no. 02 (2008) pp. 54 - 62

Modelo de Aceleração do Desenvolvimento de Empresas de BaseTecnológica: da Geração da Idéia à Consolidação do Negócio

A Model to Accelerate the Development of Technology BasedEnterprises: from Idea to Business Consolidation

Fundação CERTIUniversidade Federal de Santa CatarinaCEP 88040-970 – Florianópolis – SC - Brasil

e-mails: [email protected]* | [email protected] | [email protected] | [email protected] | [email protected]* autor de contato / corresponding author

Artigo submetido em 18 de abril de 2008, aceito em 18 de junho de 2008.

RESUMO

Este artigo tem como objetivo propor um modelo dedesenvolvimento de empresas de base tecnológica. O mo-delo foi elaborado a partir de uma revisão de literatura e doestudo de casos de sucesso de Empresas de Base Tecnológi-ca (EBTs) incubadas no CELTA – Centro Empresarial para La-boração de Tecnologias Avançadas. O modelo diferencia-sede outros por integrar os diferentes estágios do processo epor considerar suas diferentes dimensões, tanto internasquanto externas à organização. O modelo também se dis-tingue por incluir sete níveis de maturidade para cada umadas dimensões do processo. Uma das implicações práticasdo modelo é o seu uso no diagnóstico e no aceleramentodo desenvolvimento de novos empreendimentos. Nesse sen-tido, a Fundação CERTI desenvolveu o SINAPSE - Sistema deIncubação Acelerada de Projetos, Soluções e Empreendimen-tos, um programa de cooperação com novas empresas debase tecnológica que utiliza o modelo para o diagnóstico eo aceleramento do desenvolvimento de novas empresas.

ABSTRACT

This paper aims at proposing a developmental modelfor Knowledge Based Enterprises. The model was createdfrom both a literature review and case studies of success-ful Knowledge Base Enterprises incubated within CELTA –Business Center for Handling of Advanced Technologies.The model differs from others in that it integrates the di-fferent stages of the process and it considers the variousdimensions of the process, both internal and external tothe enterprise. The model also differs in that it containsseven maturity levels for each one of the dimensions con-sidered in the model. One of the practical implications ofthe model is that it can be used for diagnosing and accele-rating the development of new enterprises. CERTI Founda-tion has developed a cooperation program called SINAPSEwhich makes use of the model for diagnosing and accele-rating the development of the new enterprises.

LOCUS CIENTÍFICOISSN -1981-6790 - versão impressa ISSN -1981-6804 - versão digital

PALAVRAS-CHAVE:

• Processo de aceleração do desenvolvimento• Empreendedorismo• Empresas de base tecnológica

KEYWORDS:

• Development acceleration process• Entrepreneurship• Knowledge based enterprises

ARTIGO CIENTÍFICOUSO INTENSIVO DE TECNOLOGIAS (PIT)

cesso [CHANDLER; LYON, 2001]. Suas teorias e modelos são,por conseguinte, fragmentadas [GRÉGOIRE et al., 2006].Faltam modelos que descrevam, de forma integrada, o de-senvolvimento de novas organizações ao longo dos váriosestágios do processo – desde a captação da idéia até a con-solidação do negócio –, e que leve em conta as diferentes

José Eduardo Azevedo Fiates*, Antônio Rogério de Souza, Tony Chieriguini, Carlos Henrique Prim e Alexandre Takeshi Ueno

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ras quanto não-inovadoras.2.1 Identificação da OportunidadeEste estágio é pré-organizacional e sua principal ativi-

dade consiste na identificação de uma nova oportunidadede negócio, que pode apresentar diferentes graus de ino-vação [BHAVE, 1994]. Uma vez identificada, a nova opor-tunidade é explicitada e toma a forma de um plano de ne-gócio. Este, por sua vez, é utilizado como referência para atomada de decisão quanto ao prosseguimento ou não doprocesso, demarcando o término do estágio.

As pesquisas referentes a este estágio do processo con-centram-se na investigação das características cognitivasdos empreendedores [BERGLUND, 2005]. Uma das conclu-sões dos pesquisadores é que a identificação de uma novaoportunidade é uma atividade cognitiva cuja realizaçãodepende tanto da disponibilidade de informações do mer-cado quanto das capacidades cognitivas do empreende-dor [SHANE; VENKATARAMAN, 2000]. Certos empreende-dores estão cognitivamente “preparados” para percebercertas oportunidades, enquanto que outros empreendedo-res estão “preparados” para perceber outras. Por isso, diz-se que a identificação de novas oportunidades dependedo nexo entre o empreendedor e a oportunidade [SHANE;ECKHARDT, 2003].

2.2 Criação da OrganizaçãoEste estágio dá início à fase organizacional do proces-

so. Ele engloba várias atividades, que podem ser agrupa-das em três categorias: a estruturação da organização, oestabelecimento da tecnologia e a comercialização inicialdo produto. A estruturação da organização envolve as ati-vidades relacionadas à institucionalização e à criação físicada organização. O estabelecimento da tecnologia diz res-peito à mobilização dos recursos tecnológicos necessáriosà instauração do processo produtivo. Nos casos em que oconceito de negócio é inovador, ele também envolve as ativi-dades de desenvolvimento de produto. A inicialização dacomercialização inclui as atividades relacionadas ao marke-ting, à venda e à distribuição do produto [BHAVE, 1994].

Os estudos referentes a este estágio procuram identi-ficar quais são as atividades que ocorrem ao longo do es-tágio e se elas apresentam algum tipo de padrão (regulari-dade). Entretanto, as pesquisas têm concluído que a cria-ção de novas organizações é irregular: o tempo necessáriopara sua realização pode variar de alguns meses até váriosanos e qualquer seqüência de atividades pode ocorrer aolongo do período [REYNOLDS; MILLER, 1992].

2.3 Desenvolvimento da OrganizaçãoO estágio de desenvolvimento da organização está vin-

culado ao crescimento e à aprendizagem organizacionalque ocorrem ao longo dos primeiros anos de vida da or-ganização. Ele inicia-se com as vendas do produto, mo-mento em que a organização começa a receber dois tiposde feedback do mercado: o operacional e o estratégico

dimensões do processo, tanto internos quanto externos àorganização, e os vários níveis de maturidade do negóciopara cada uma das dimensões do processo.

Este trabalho tem como objetivo propor um modelode desenvolvimento que atenda empresas de base tecno-lógica (EBTs) considerando os diferentes estágios, dimen-sões e níveis de maturidade do processo. Os estágios, asdimensões e os níveis de maturidade incluídos no modeloforam identificados a partir de uma revisão bibliográfica,apresentada na segunda seção deste artigo, e da experiên-cia dos autores com o processo de incubação de EBTs noCELTA. O modelo engloba três estágios, cinco dimensões esete níveis de maturidade. Esses elementos do modelo sãodescritos na terceira seção do artigo. Algumas das implica-ções práticas do modelo são discutidas na quarta seção.Essas discussões resultam em um programa de apoio aodesenvolvimento acelerado de novos empreendimentos, oSINAPSE, o qual é apresentado na quinta seção. Por fim, aúltima seção do artigo apresenta as conclusões do traba-lho.

2. O PROCESSO EMPREENDEDORExistem, na literatura, diferentes conceituações do que

é o empreendedorismo. Dentre as mais aceitas, destacam-se duas. A primeira é a de Gartner [1985, 1988], para quemo empreendedorismo é o processo de criação de novas or-ganizações, sejam elas inovadoras ou não-inovadoras. Asegunda tem origem em Shane e Venkataraman [2000],que conceituam o empreendedorismo como o processo deidentificação de novas oportunidades inovadoras, que po-dem ou não ser exploradas através da criação de novasorganizações. Para estes autores, a exploração pode ocor-rer de outros modos, tais como pelo desenvolvimento denovos produtos, processos ou serviços.

O presente trabalho assume que o empreendedorismoconsiste no processo de identificação e exploração de no-vas oportunidades através da criação e o desenvolvimentode novas organizações. Essa definição é ampla e englobanovas organizações inovadoras e não-inovadoras, econô-micas e não-econômicas, e independentes e corporativas.

Uma das características do processo empreendedor éque ele é formado por diferentes estágios. Um importanteestudo nesse sentido é o de Bhave [1994]. Esse autor apre-senta um modelo do processo empreendedor em três está-gios, o qual foi desenvolvido a partir de uma pesquisa em-pírica, de caráter qualitativo, com diferentes tipos de em-preendimentos. Os estágios propostos por Bhave [1994]são abrangentes, de forma que a maior parte dos estudosdo empreendedorismo enquadra-se em um ou outro deseus estágios. Por essa razão, os estágios descritos porBhave [1994] são utilizados como referência na revisão aseguir. Eles são aqui denominados: 1) identificação da opor-tunidade; 2) criação da organização; e 3) desenvolvimentoda organização. A revisão que se segue considera as novasorganizações econômicas e independentes, tanto inovado-

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[BHAVE, 1994]. O feedback operacional diz respeito a pos-síveis melhorias no produto e/ou na tecnologia de produ-ção e proporciona um melhor alinhamento entre o produ-to e o conceito de negócio. O feedback estratégico refere-se a possíveis modificações no conceito do negócio e pro-picia um melhor alinhamento entre o conceito de negócioe as necessidades do cliente.

Os pesquisadores do empreendedorismo fazem uso dequatro diferentes abordagens para explicar o desenvolvi-mento de novas organizações. São elas: 1) Teoria do de-senvolvimento organizacional em estágios; 2) Teoria daeconomia industrial, 3) Teoria da ecologia populacional e4) Teorias alternativas [ARTMANN et al., 2001].

1) Teoria do Desenvolvimento Organizacional emEstágiosEsta teoria pressupõe que as novas organizações de-

senvolvem-se através de estágios seqüenciais e que cadaestágio envolve um conjunto de problemas que deman-dam habilidades gerenciais, prioridades e configurações es-truturais específicas [QUINN; CAMERON, 1983]. Diferentesmodelos de desenvolvimento em estágios têm sido pro-postos [GREINER, 1972; KROEGER, 1974; CHURCHILL;LEWIS, 1983; GALBRAITH, 1982; SCOTT; BRUCE, 1987;HANKS et al., 1993]. Eles diferem entre si pelo número econteúdo dos estágios e pela presença ou não de períodosde transição entre eles. Os modelos também se distinguemquanto às dimensões que caracterizam os estágios, bemcomo ao tipo de organização ao qual se aplicam.

2) Teoria da Economia IndustrialA teoria da economia industrial assume que a estrutu-

ra da indústria influencia a conduta da organização, que,por sua vez, influencia seu desempenho. Teóricos têm de-senvolvido diferentes modelos para simular o comporta-mento das organizações em uma indústria. Esses modelospressupõem que a organização é um agente racional emaximizador e que sua entrada em uma indústria dependeda lucratividade, das barreiras, da taxa de crescimento eda concentração da indústria [STOREY, 1994].

3) Teoria da Ecologia PopulacionalTeóricos da ecologia populacional explicam o compor-

tamento das organizações a partir do contexto social emque estão inseridas. Eles sugerem que o ambiente de umanova organização é o fator que determina sua sobrevivên-cia [HANNAN; FREEMAN, 1977], e que o desenvolvimentode novas organizações depende da expansão e contraçãode populações de organizações [BRITTAIN; FREEMAN,1980].

4) Teorias alternativasDentre as teorias alternativas, destacam-se duas. A pri-

meira explica o crescimento de novas organizações combase nos recursos internos da organização. Os estudos que

se enquadram nessa perspectiva são fundamentados nateoria do crescimento da firma de Edith Penrose (2006).Garnsey [1998], por exemplo, baseia-se em tal teoria paradescrever o crescimento de novas organizações a partir daaquisição, mobilização e aplicação eficiente dos recursosinternos da organização.

A segunda é a “teoria das características” proposta porStorey [1994]. Para esse pesquisador, o crescimento denovas organizações é explicado pela combinação de carac-terísticas do empreendedor, características da organizaçãoe características da estratégia da organização [DEAKINS;FREEL, 2006]. Dentre as características da estratégia, des-tacam-se àquelas relativas à aquisição do capital necessá-rio para alavancar o crescimento organizacional.

2.4 Exame dos Estudos sobre o ProcessoEmpreendedorO exame dos estudos do empreendedorismo demons-

tra que os mesmos apresentam algumas limitações. Ob-serva-se, em primeiro lugar, que eles focam somente emum dos três estágios do processo. Assim, os estudos relati-vos à “identificação da oportunidade” desconsideram asatividades que ocorrem nos estágios seguintes do proces-so. Semelhantemente, as pesquisas sobre a “criação da or-ganização” desconsideram o que ocorre na “identificaçãoda oportunidade” e no “desenvolvimento da organização”,enquanto que os estudos a respeito do “desenvolvimentoda organização” não levam em consideração a “identifica-ção da oportunidade” e a “criação da organização”. A ex-ceção é o próprio estudo de Bhave [1994], que engloba ostrês estágios. Porém, ele enfatiza uma das dimensões doprocesso, a organização, e dá pouca ênfase às demais di-mensões, principalmente àquelas relativas ao ambiente ex-terno à organização.

A partir disso, faz-se uma segunda observação quantoaos estudos do empreendedorismo, que é seu foco restritoa uma ou poucas dimensões do processo [DAVIDSSON; WI-KLUND, 2001; CHANDLER; LYON, 2001]. A maior parte dosestudos sobre a “identificação de oportunidade”, por exem-plo, foca somente nas características cognitivas do empre-endedor, embora alguns deles considerem a relação entreo empreendedor e o mercado [SHANE; ECKHARDT, 2003].Por sua vez, os estudos relativos ao estágio de “criação daorganização” analisam a dimensão organizacional [GART-NER, 1988] e dão pouca ênfase às demais dimensões doprocesso [SHAVER; SCOTT, 1991].

Por outro lado, os modelos referentes ao estágio de“desenvolvimento da organização” incluem, na maioria doscasos, mais de uma dimensão, mas elas focam ou no am-biente interno, ou no ambiente externo da organização. A“teoria do desenvolvimento organizacional em estágios”,por exemplo, considera as dimensões internas à organiza-ção, tais como o empreendedor, o produto e a organiza-ção, e desconsidera as dimensões correspondentes ao am-biente externo. A “teoria dos recursos internos” e a “teoria

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das características” são semelhantes nesse sentido e consi-deram somente as dimensões internas à organização. Demodo contrário, a “teoria da economia industrial” e a “te-oria da ecologia populacional” focam exclusivamente nasdimensões externas à organização, desconsiderando suasdimensões internas.

Uma terceira e última observação quanto aos estudosdo empreendedorismo é que eles falham em apresentarindicadores que demonstrem a evolução do negócio. Pou-co se discute na literatura sobre quais são os indicadoresde que o negócio está evoluindo com relação a cada umadas dimensões do processo. Tais indicadores, uma vez iden-tificados, equivaleriam a níveis de maturidade e serviriamcomo um guia para o desenvolvimento do negócio.

Com estas três observações, conclui-se que a literatu-ra carece de um modelo do processo empreendedor queenglobe, ao mesmo tempo:

· Os diferentes estágios do processo, desde a capta-ção da idéia até a consolidação do negócio.

· As diferentes dimensões do processo, tanto inter-nos quanto externos à organização.

· Diferentes níveis de maturidade para cada uma dasdimensões do processo.

3 PROPOSTA DE UM MODELO DE DESENVOLVIMEN-TO DE EBTS

Esta seção tem como objetivo propor um modelo dedesenvolvimento do processo empreendedor que leve emconta as observações realizadas na seção 2.4. O modelofoi desenvolvido a partir de três questões, cada qual origi-nária de uma das três observações realizadas naquela se-ção. São elas:

1. Quais os principais estágios do processo?2. Quais as principais dimensões do processo?3. Quais os principais níveis de maturidade do proces-

so?

Essas questões foram respondidas a partir de duas fon-tes de dados. A primeira fonte diz respeito à literatura doempreendedorismo. Os estudos do empreendedorismo,embora apresentem as limitações observadas na seção an-terior, apresentam informações relevantes a respeito dosdiferentes estágios e dimensões do processo empreende-dor. A segunda fonte de dados refere-se a casos de suces-so de Empresas de Base Tecnológica incubadas e gradua-das no CELTA – Centro Empresarial para Laboração de Tec-nologias Avançadas. O CELTA é uma incubadora da Funda-ção CERTI que, desde 1986, estimula e apóia a criação, odesenvolvimento e a consolidação de Empreendimentos deBase Tecnológica. Os dados dessas empresas foram obti-dos através de entrevistas com seus principais executivos.Assim, o modelo proposto aplica-se exclusivamente àsEmpresas de Base Tecnológica que passam pelo processode incubação.

3.1 Os EstágiosO modelo inclui três estágios, assim denominados: 1)

pré-incubação, 2) incubação e 3) consolidação. Na pré-in-cubação, que equivale ao estágio de identificação de opor-tunidade, o empreendedor procura por idéias que possamresultar em um novo negócio. Uma de suas atividades prin-cipais é a elaboração de um plano de negócio, que mostra-rá a viabilidade ou não do negócio. Além disso, o empre-endedor deverá realizar outras atividades nesse estágio,como o desenvolvimento de protótipos, a busca por po-tenciais clientes e financiadores e o planejamento da futu-ra empresa.

O segundo estágio do processo – a incubação – é ca-racterizado pela criação e o desenvolvimento inicial do novoempreendimento. É nesse estágio que o empreendedor ini-cia a comercialização do produto, obtém seus primeirosfinanciamentos, cria rotinas organizacionais e desenvolve-se como um líder. Esse estágio ocorre sob o apoio de umaincubadora, cujo papel é apoiar o desenvolvimento de no-vos empreendimentos.

O terceiro e último estágio do processo é o estágio deconsolidação. Nele, o negócio deixa de ser uma promessae a empresa torna-se referência em seu nicho de mercado.A gestão organizacional torna-se profissional, o produtodiversifica-se e o empreendedor desenvolve sua capacida-de de pensar e agir não apenas no âmbito do mercado emque atua, mas de toda a sociedade. É nesse estágio que aempresa possui a estrutura necessária para ser transferidada incubadora para um parque tecnológico.

3.2 As DimensõesO modelo engloba cinco dimensões: 1) o empreende-

dor, 2) a organização (gestão), 3) o produto, 4) o capital, e5) o mercado.

3.2.2 O EmpreendedorO empreendedor é a essência do empreendedorismo.

É ele quem identifica novas oportunidades e cria novas or-ganizações para explorá-las [BYGRAVE, 1993]. Vários estu-dos indicam que o empreendedor é uma dimensão funda-mental para o sucesso de um novo negócio. Isso tem sidoigualmente verificado na prática, conforme os casos inves-tigados no CELTA.

3.2.2 A Organização (Gestão)Para alguns teóricos, a organização é o principal resul-

tado do processo empreendedor [GARTNER; CARTER, 2003].É através dela que os esforços de um conjunto de pessoassão coordenados em direção a um ou mais objetivos co-muns [WREN, 2005]. Além disso, a organização possui umafunção social, uma vez que ela gera empregos e promoveo desenvolvimento regional.

3.3.3 O ProdutoO produto é outra dimensão fundamental do proces-

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so. É em torno dele que a organização é criada e se desen-volve. Quando o empreendedor inicia a comercialização doproduto, ele faz uma ligação com o mercado através daqual recebe dois tipos de feedback – o operacional e o es-tratégico –, os quais, por sua vez, guiarão o desenvolvi-mento organizacional [BHAVE, 1994].

3.3.4 O CapitalO capital é outra dimensão fundamental para o pro-

cesso, uma vez que é necessário para a manutenção e ocrescimento organizacional. Muitos estudos têm sido rea-lizados a respeito da relação entre o capital e o desenvolvi-mento organizacional [IRELAND; WEBB, 2007]. Esses estu-dos englobam desde a capacidade de o empreendedor ge-rir o fluxo de caixa até a de obter financiamento junto aagências de fomento. Essas mesmas capacidades foramidentificadas entre os empreendedores entrevistados nes-te estudo.

3.3.5 O MercadoOs produtos desenvolvidos por um empreendimento

destinam-se a um mercado e, portanto, dele dependerá oseu desenvolvimento. Muitos estudos empíricos do empre-endedorismo negligenciam as forças do mercado sobre oempreendimento. Contudo, economistas da “economia in-dustrial” e sociólogos da “ecologia populacional” têm des-tacado a influência do mercado sobre o desenvolvimentoorganizacional. Atualmente, uma atenção maior tem sidodado pelos teóricos a essa dimensão do processo.

3.3 Os Níveis de MaturidadeA última das três questões diz respeito aos níveis de

maturidade do processo. Pouca informação a esse respeitofoi encontrada na literatura e é aqui que está uma das mai-ores contribuições do presente modelo. Os estudos de casodas empresas incubadas no CELTA foram fundamentais nes-se sentido. Através deles foi possível definir o número deníveis e, principalmente, seus indicadores para cada umadas dimensões do modelo.

O estudo identificou sete níveis de maturidade ao lon-go dos três estágios do processo. Os três primeiros níveis(1-3) estão inseridos no estágio de pré-incubação, os doisseguintes (4-5) no estágio de incubação e os dois últimos(6-7) no de consolidação. A seguir está uma descrição decada um dos sete níveis de maturidade. Os indicadores dosdiferentes níveis de maturidade para cada uma das dimen-sões são apresentados em seguida, na Tabela 1.

Primeiro nível: o empreendedor deve ter iniciativa, cri-ar uma nova idéia, possuir noção de custos, saber quemsão seus potenciais clientes e ser capaz de vender sua idéia.

Segundo nível: o empreendedor deve ser capaz de vi-sualizar o futuro, elaborar um ante-projeto, buscar fontesde investimento inicial, conhecer pessoalmente um ou maisde seus potenciais clientes e elaborar um projeto do seufuturo empreendimento.

Terceiro nível: o empreendedor deve ser inovador, trans-formar seu ante-projeto em um protótipo, buscar recursosde subvenção para o desenvolvimento do produto, con-quistar seu primeiro cliente e elaborar um plano de negó-cio.

Quarto nível: o empreendedor torna-se um gestor, criauma empresa, desenvolve uma plataforma do produto, bus-ca capital do tipo semente (seed) e conquista um clientelíder em seu segmento de atuação.

Quinto nível: o empreendedor torna-se um líder em-presarial, o produto é diversificado e a empresa adquirefinanciamentos públicos, amplia sua rede de clientes e sis-tematiza seus processos e rotinas.

Sexto nível: o empreendedor torna-se um multiplica-dor/disseminador de sua tecnologia, o produto começa umnovo ciclo de desenvolvimento através de inovações incre-mentais e a empresa é capaz de adquirir financiamentoscomerciais, além de atuar a nível global e profissionalizarsua gestão.

Sétimo nível: o empreendedor torna-se um líder soci-al, levando sua empresa a possuir um portfolio de produ-tos, a ser totalmente investida, a liderar seu nicho de mer-cado e a possuir uma governança corporativa.

Tabela 1 – Indicadores dos níveis de maturidade

Empreendedor Produto Capital Mercado Gestão

Nível 1 Iniciativa Idéia Noção de custo Potencial cliente Venda da idéia

Nível 2 Visionário Ante-Projeto Captação (3Fs) Batizado Projeto do empreendimento

Nível 3 Inovador Protótipo Subvenção Primeiro pedido Plano de Negócio

Nível 4 Gestor Plataforma Seed Cliente líder Empresa Organizada

Nível 5 LíderOrganizacional Derivativo Financiamento público 50/100 Sistematização dos processos

Nível 6 Multiplicador Nova Curva S Financiamento comercial Globalização Profissionalização da gestão

Nível 7 Líder Social Portfolio Investido Líder de nicho Governança corporativa

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3.4 A Estrutura do ModeloOs elementos que compõem o modelo – os três

estágios, as cinco dimensões e os sete níveis de matu-

4 - IMPLICAÇÕES PRÁTICASO modelo proposto na seção anterior tem algumas

implicações práticas. A primeira delas é a constataçãode que um empreendimento pode possuir níveis de ma-turidade diferentes para cada uma das dimensões domodelo. Por exemplo, o empreendimento poderá estarno nível quatro de maturidade em relação ao mercado,caso tenha conquistado um cliente líder, mas poderáestar em um nível inferior de maturidade em relação àsdemais dimensões. Observa-se, entretanto, que, mes-mo que tenha alcançado um nível alto de maturidadeem relação a uma ou mais dimensões, a organizaçãopoderá cessar seu desenvolvimento por falta de matu-ridade nas demais.

Figura 1 – Estrutura do modelo

Emerge, assim, a segunda implicação prática do mo-delo: ele pode ser utilizado como um diagnóstico dodesenvolvimento do empreendimento. Através da iden-tificação do nível de maturidade de cada uma das di-mensões, é possível verificar quais delas estão compro-metendo o desenvolvimento do negócio. Essas dimen-sões poderão ser desenvolvidas de modo a permitir quea organização alcance novos níveis de maturidade.

A terceira implicação prática, que tem relação coma segunda, diz respeito ao desenvolvimento de progra-mas de capacitação específicos para cada uma das cin-co dimensões. Programas desse tipo podem ser desen-volvidos com o objetivo de apoiar e acelerar o desen-volvimento de novos empreendimentos.

ridade – foram integrados, resultando em uma estru-tura que resume o modelo, conforme ilustrado na Fi-gura 1.

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5 O SINAPSEPartindo das três implicações práticas do modelo verifica-

das na seção anterior, a Fundação CERTI desenvolveu o SINAP-SE – Sistema de Incubação Acelerada de Projetos, Soluções eEmpreendimentos, um programa de cooperação com novosempreendimentos de base tecnológica. No SINAPSE, a Funda-ção CERTI fornece às novas empresas o diagnóstico e os pro-gramas de capacitação para o desenvolvimento acelerado dascinco dimensões incluídas no modelo. Cada dimensão é apoi-ada por dois programas, que são apresentados a seguir.

O Empreendedor1. Programa de desenvolvimento do empreendedor:

estimula o desenvolvimento pessoal do empreende-dor.

2. Mentoring: orienta a carreira do empreendedor.A Organização1. Selo de Gestão: atua no apoio ao desenvolvimento

organizacional.2. Conselho: orienta a estratégia organizacional.

O Produto1. Sistema de desenvolvimento de produto: orienta e

sistematiza o processo de transformação de idéia emprodutos.

2. Programa de certificação: estimula a qualificação doproduto.

O Capital1. Broker de capital: atua na busca de fontes de recur-

sos e na organização e preparação de projetos decaptação.

2. Auditoria inteligente: orienta o empreendedor a atu-ar de forma dinâmica e transparente no mercado decapitais.

O Mercado1. Sistema de inteligência: fornece informações de alto

valor para a tomada de decisão.2. Broker de mercado: acompanha e realiza prospec-

ções junto ao mercado.A figura 2 ilustra o modelo proposto aplicado ao

SINAPSE.

Figura 2 – Estrutura do modelo e os programas de apoio (SINAPSE)

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6 CONCLUSÕESEste trabalho teve como objetivo apresentar um mode-

lo de desenvolvimento de novas empresas de base tecnoló-gica. A partir de uma revisão de literatura, observou-se queexiste uma lacuna nos estudos existentes sobre o desenvol-vimento de novos empreendimentos. Três deficiências foramidentificadas. A primeira é que os estudos focam apenas umdos estágios do processo e negligenciam os demais. A se-gunda é que os estudos, de forma geral, focam apenas emuma das dimensões do processo. A terceira é a verificaçãode que os estudos não abordam os níveis de maturidade dasnovas empresas.

A partir dessas observações, e com base na própria revi-são de literatura e nos casos de sucesso do CELTA, chegou-

se a um modelo integrado, envolvendo três estágios, cincodimensões e sete níveis de maturidade. O modelo propostotem algumas implicações práticas. Uma delas é que ele podeser utilizado para diagnosticar e orientar o desenvolvimen-to organizacional. Uma outra é que ele pode ser utilizadocomo referência para um programa de cooperação entre umainstituição promotora e novas empresas de base tecnológi-ca. Essa é a proposta da Fundação CERTI ao elaborar o SI-NAPSE.

Com esse programa, espera-se criar empreendimentosde alto potencial de crescimento e valor de mercado, estimu-lando novas idéias e a capacidade de negócio juntos aosempreendimentos. Tal relação poderá refletir no desenvolvi-mento regional e social, ampliando os benefícios do modelo.

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INSTRUÇÕES PARA AUTORES

A Revista Locus Científico é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promoto-ras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC). Seu escopo de ação engloba a divulgação deartigos técnicos inéditos, avaliados por um renomado Conselho Editorial.

ESTRUTURA DA PUBLICAÇÃOA revista é composta de textos e artigos de divulgação da cultura do empreendedorismo

inovador e artigos inéditos referendados por revisores “ad-hoc”.MISSÃOPublicar informações relevantes, artigos técnicos originais e trabalhos de revisão na área do

Empreendedorismo Inovador.EDITORJosealdo Tonholo (ANPROTEC/UFAL)CONSELHO EDITORIAL• Afrânio Craveiro (PADETEC)• Carlos Eduardo Negrão Bizzotto (FURB)• Cláudio Furtado Soares (UFV)• Conceição Vedovello (FAPESP)• Desirée M. Zouain (IPEN)• Esteban Cassin (Univ. de San Martín, Argentina)• Fernando Dolabela (Fundação Dom Cabral)• Guilherme Ary Plonski - (ANPROTEC/USP)• Jorge Audy (PUC/RS)• José Carlos Assis Dornelas (EMPREENDE)• Josemar Xavier de Medeiros (UnB)• Luís Afonso Bermúdez (UnB)• Maria Alice Lahorgue (UFRGS)• Norman de Paula Arruda Filho (FGV/PR)• Paulo Alvim (SEBRAE)• Renato de Aquino Faria Nunes (UNIFEI)• Roberto Sbragia (USP)COORDENAÇÃO EXECUTIVAMárcio Caetano (MTB 4964/14/95/DF)OBJETIVO E POLÍTICA EDITORIALSerão considerados para publicação na Locus Científico artigos técnicos ou revisões, preferen-

cialmente escritos em Português, abordando temas relacionados ao Empreendedorismo Inovador,dentro de um dos temas a seguir:

a) Cultura do Empreendedorismo e Inovação (CEI);b) Promoção de Empreendimentos Orientados para o Uso Intensivo de Tecnologias (PIT);c) Promoção de Empreendimentos Orientados para o Desenvolvimento Local e Setorial (DLS);d) Habitats de Inovação Sustentáveis (HIS).Artigos Originais: referem-se aos trabalhos inéditos de opinião ou pesquisa (não podem ter

sido publicados em revistas nem anais de congressos ou similares, exceto quando houver convitedo Editor). Devem seguir a forma usual de apresentação, contendo introdução, desenvolvimento,considerações, conclusões, referências bibliográficas, etc.

Artigos de Revisão: são destinados à apresentação do progresso, contendo uma visão crítica,com o objetivo principal de beneficiar clientela formada por especialistas da área. O Editor da Locus

poderá, eventualmente, convidar pesquisadores qualificados para submeter artigo de revisão.Artigos sobre Educação: refere-se a trabalhos de pesquisas relacionadas ao ensino de Empre-

endedorismo e/ou de experiências inovadoras no ensino nos níveis infantil, fundamental, médio,graduação e pós-graduação.

PREPARAÇÃO DE MANUSCRITOSTodos os trabalhos deverão ser enviados pela forma digital, aos cuidados do Editor da Locus

Científico, através do e-mail [email protected]. Recomendamos que os autores observem aten-tamente os últimos artigos publicados, para verificar aderência ao conteúdo e formato solicitado.

O texto deve ser digitado em ARIAL 12 página A4, com espaço duplo, utilizando somenteMicrosoft Word®. Deverão ter no máximo 25 páginas (no formato acima), incluindo figuras, tabe-las, esquemas, etc. Todas as páginas devem ser numeradas, bem como as de figuras, tabelas, gráfi-cos, esquemas, etc.

A primeira página deverá conter o título do trabalho, nome, instituição, emails e endereçosdos autores. Havendo autores com diferentes endereços estes deverão se seguir imediatamente aonome de cada autor. Os autores devem ser agrupados por endereço. Indicar com asterisco(*) o autorpara correspondência, responsável pelo artigo, anotando seu e-mail no rodapé desta página (um sóe-mail).

A segunda página deverá conter o título e o resumo do trabalho em inglês e português (Abs-tract), com no máximo 200 palavras cada, além da indicação de três palavras-chave em português etambém em inglês (Keywords).

As figuras (gráficos, esquemas, etc.) deverão ter qualidade gráfica adequada (usar somentefundo branco). Caso os arquivos de texto e imagens sejam grandes a ponto de inviabilizar o enviopela Internet, deve ser enviado um CD, com conteúdo completo do trabalho (ressaltamos que otempo de trânsito postal pode implicar em maior demora no processo editorial).

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Para figuras, gráficos, esquemas, tabelas, etc, idênticos aos já publicados anteriormente na lite-ratura, os autores devem providenciar a permissão para publicação junto à empresa/sociedade cientí-fica que detenha o copyright e enviar à editoria da Locus junto com a versão final do manuscrito.

As referências serão moninadas entre colchetes ( [SOBRENOME, ANO] ou [SOBRENOME eOUTRO-SOBRENOME, ANO] ou [SOBRENOME et al., ANO] ) e a lista de referências será colocada nofinal do texto, em ordem alfabética por sobrenome de autor. As legendas das figuras devem sercolocadas em folha à parte, separadas das figuras. A seguir, devem ser colocadas as figuras, osgráficos, os esquemas, as tabelas e os quadros. No texto, apenas indicar a inserção de cada um(a).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASA lista de referências completas, por ordem alfabética de sobrenome do autor, com apenas a

inicial do nome, deve vir ao final do texto. Sua apresentação deve pautar-se, sempre que possível,nos modelos apresentados a seguir:

SOBRENOME, N.; OUTROSOBRENOME, N2; TERCEIROSOBRENOME, N3; Título: subtítulo. Cida-de: Editora, ano. (Coleção tal)

SOBRENOME, N. Título do capítulo. In: SOBRENOME, N. Título do livro. Cidade: Editora, ano. p.SOBRENOME, N. Título da obra. Editora, ano. Título do capítulo. p.SOBRENOME, N. Título do artigo. Nome do Periódico, Cidade, v. , n. , p. , mês abreviado ano.SOBRENOME, N.. Título: subtítulo. Cidade, ano. Disponível em: <http://

www.endereco_eletronico_completo.com.br>. Acessado em: Dia Mês Ano.Recomendamos fortemente que os proponentes:1- verifiquem exaustivamente a conexão entre a referência citada e o texto em que é inserida

[todas as referências citadas devem estar explicitas no texto, entre colchetes];2- avaliem a qualidade da referência e sua efetiva vinculação com o conteúdo a ser referenci-

ado;3- baseiem-se nos últimos textos publicados pela revista para dirimir dúvidas quanto às refe-

rências bibliográficas.SUBMISSÃO DOS ARTIGOSOs manuscritos devem ser enviados para a Editoria do Locus Científico, através do email

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