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O UNIVERSO DA MÚSICA De agente ressocializador a campo profissional, as funções da música vão além da cultura e do entretenimento Revista Experimental do Curso de Jornalismo - UNIFRA Ano 7 - Nº 14 - 2º semestre de 2011

Revista Plural - Ano 7, n.º 14, 2011/II

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Revista experimental produzido pelo 4º semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano

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O UNIVERSO DA MÚSICA

De agente ressocializador a campo profissional, as funções da música vão além da cultura e do entretenimento

Revista Experimental doCurso de Jornalismo - UNIFRA

Ano 7 - Nº 14 - 2º semestre de 2011

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índiceNos palcos de Santa Maria

O papel da música na construção de sonhos

Falta palco, mas não falta artista

O desafio de fazer da música profissão

A relação entre músico e instrumento

Arte, som e bom tom

EXPEDIENTE

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Revista experimental produzida pelos alunos do 4º semestre - 2011/02 do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)

Reitora: Irani RupoloPró-Reitora de Graduação: Vanilde BisogninCoordenadora do curso: Sione Gomes

Professores orientadores: Maicon Kroth (disciplina de Redação Jornalística), Iuri Lammel (disciplina de Planejamento Gráfico);Laura Elise Fabricio (Lab. de Fotografia e Memória)

Impressão: Gráfica Editora PallottiTiragem: 500 exemplares

Equipe de reportagem e diagramação:Camila Severo, Camille Wegner, Cristian Cunha, Daiane Tonato Spiazzi, Danielle Carvalho, Eduardo Clavé, Franciele Kettermann, Jéssica Menezes, João Davi Martins, Mariane Dall’Asta, Mateus Konzen, Mateus Pereira, Mauren Gnoccato, Maurício Lavarda, Maurício Saldanha, Micheli Barros, Michelle Teixeira, Paola Schwelm, Pedro Porto, Rúbia Keller.

Projeto gráfico: Ariadni Loose, Lucas Schuch e Rodrigo Fontana

Arte da capa: Lucas Schuch

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Nos palcos de SANTA MARIA

Santa Maria é referência por ser berço de importantes histó-rias que contribuíram para a for-mação do Estado e por apresentar vastas potencialidades culturais que a colocam como uma das mais importantes cidades do Rio Grande do Sul.

Possibilidades estas que estão presentes nos museus e casas de memória, nos teatros, nas salas de cinema, nos centros desportivos, nos centros tradicionalistas, nos restaurantes e boates, nos centros comerciais, nos parques, praças e ambientes naturais que embele-zam a cidade. Santa Maria conta ainda com o desenvolvimento cultural, econômico e social pro-movido pelas ações das universi-dades e centros universitários.

Em complemento a esses espa-ços estão os equipamentos cultu-rais sob a responsabilidade da Se-cretaria de Cultura de Santa Maria. Entre eles podemos citar: o Arqui-vo Público Municipal, a Biblioteca Pública Municipal, o Museu de Arte de Santa Maria, o Largo da Gare, a Casa de Cultura, a Concha Acústica do Parque Itaimbé e o Centro Desportivo Municipal.

Tendo em vista a valorização e reapropriação dos espaços cultu-rais e dos patrimônios da cidade, a Prefeitura de Santa Maria de-senvolve projetos de preserva-ção e reformulação desses locais. E é através de eventos culturais que atraem a população que se pretende criar entre os santa--marienses o sentimento de per-tencimento e identidade com a cultura local. Para este fim, a

Secretaria de Cultura prioriza a produção de festivais tradicio-nais como a Tertúlia Nativista e a valorização dos artistas locais.

Com ampla variedade de pro-gramações e espaços culturais,

a população de Santa Maria, em torno de 300 mil pessoas, tem a possibilidade de optar pela ex-pressão cultural que mais lhe agrada, tanto em ambientes pri-vados e públicos.

Público assistindo Quico Lemos, Beto Pires e Junior Bernarduce

Texto de Daiane Tonato Spiazzi e Maurício SaldanhaDiagramação de Camila Severo e Danielle Carvalho

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Música que se propaga em todas as direções

Palco de histórias, emoções e muita música, a Concha Acústica do Parque Itaimbé é uma opção para todos aqueles que apreciam escutar suas bandas favoritas em meio ao aconchegante espaço natural que o parque proporcio-na. Por seu perfil arquitetônico, que se assemelha aos teatros ro-manos, permite que o som dos instrumentos musicais se propa-gue em todas as direções, o que propicia uma qualidade acústica ideal para grandes apresentações e festivais.

A Concha Acústica de Santa Maria tornou-se referência cultu-ral para a cidade e para os artis-tas locais. Durante muitos anos foi um importante palco que lançou, divulgou e revelou inú-meros talentos da música, como Quico Lemos, Beto Pires, Junior Bernaduce. Entretanto, este es-paço caiu no esquecimento. Em conseqüência, sofreu vandalis-mos, agravado pelo descaso da população que deixou de se iden-tificar com o local e do poder público que não promoveu mais eventos no local.

Patrimônio Histórico serve de palco para festivais Mantendo o compromisso

de aliar a história local com acontecimentos culturais que propiciem eventos de qualida-de, a Prefeitura de Santa Maria promove festivais musicais no Largo da Gare da Estação Férrea do município. Neste ambiente, que alia a nostalgia dos tem-pos gloriosos da cidade com o tradicionalismo dos eventos ali realizados, gera no público uma comoção, que extrapola idade, credo ou posição social.

A Tertúlia Musical Nativista, tradicional festival de música gaú-cha de Santa Maria, teve ao longo dos anos de 1980 até 1999, 17 edi-ções. O evento acontecia anual-mente na Estância do Minuano e no antigo Cine Independência. Do ano de 2002 até 2008, o festival foi substituído pelo Minuano da Canção, que em 2010 mudou-se para São Pedro do Sul, deixando os nativistas desamparados.

Tendo em vista a importân-cia e a credibilidade dos festi-

vais nativistas, o poder público negociou o uso da marca com a Estância do Minuano, detentora do nome do festival. Obtendo a liberação, foi lançada uma nova edição da Tertúlia Nativista, o que alterou, no entanto, algu-mas de suas características tra-dicionais, como a extinção do acampamento em estilo Woods-tock. Isso ocorreu em função da falta de espaço físico, já que as novas edições passaram a ser re-alizadas na Gare da Estação.

Em vista disso, e tendo por prioridade devolver aos santa--marienses seus espaços de la-zer, a Concha Acústica de Santa Maria, juntamente com todo o complexo que a abriga, foi objeto de reformas promovidas pela ad-ministração atual. Assim, no dia 11 de setembro de 2011, o espaço foi reinaugurado, contando com público diversificado, que com-pareceu para prestigiar os shows

de música tradicionalista.Na ocasião, o Prefeito Cezar

Schirmer se comprometeu com o público. Prometeu dar continui-dade aos eventos promovidos no local. Deste modo, a população de Santa Maria pode curtir, des-de outubro, shows musicais, que pretendem devolver ao Parque Itaimbé todo seu potencial cultu-ral, conforme afirma a Secretária de Cultura, Iara Druzian.

Junior Bernaduce canta na Concha acustica do Parque Itaimbé

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O Festival, considerado pela Secretaria de Cul-tura como o maior e mais importante evento promovido na cidade, possui um formato seme-lhante às edições anteriores. Os shows interca-lam as apresentações da mostra competitiva com apresentações de grandes nomes do nativismo. O evento ocorre sempre no mês de novembro de forma gratuita à população.

O espaço da Gare da Estação Férrea, que abriga a Secretaria de Cultura e o Museu Ferroviário de San-ta Maria, também é palco para festivais de Bandas Marciais. Ainda recebe eventos como o Macondo Circus e mostras artísticas, além de feiras e apre-sentações teatrais.

No palco, a cultura santa-mariense

As reformas iniciadas em 1992 no Teatro Treze de Maio colocaram Santa Maria no circuito nacio-nal e internacional de espetáculos culturais. Manti-do com recursos públicos, pelo empenho da Asso-ciação dos Amigos do Theatro Treze de Maio e por editais voltados para a cultura em nível estadual e nacional, o palco do Teatro recebe atrações vol-

O palco da culturaO Theatro Treze de Maio desenvolve projetos com o objetivo de promover a cultura locar e dar oportunidades a artistas da cidade e região.

TREZE: O PALCO DA CULTURAO Projeto Cultural Treze: O Palco da Cultura tem como intuito incentivar os valores locais através do apoio à produção artística, estimu-lando a produção local, fomentando a forma-ção de público consumidor dos produtos cultu-rais locais, estabelecendo parcerias público – privadas visando o incentivo à cultura.

SCALA TREZEO Projeto Cultural Scala Treze é uma iniciati-va de caráter eminentemente musical e po-pular, com entrada franca, que busca apro-veitar o foyer do Theatro Treze de Maio para apresentações artísticas, contemplando di-

ferentes tipos de públicos e gostos musicais. A iniciativa revela talentos locais, através da apresentação de diferentes ritmos e estilos musicais, que de forma simples e descontraí-da manifesta ideias, formas e emoções.

ARQUIVO THEATRO 13 DE MAIO

tadas a todos os públicos. Desde musicais infantis até apresentações marcantes da Orquestra Sinfôni-ca de Santa Maria, passando por artistas de renome no mercado da música nacional e internacional.

O sucesso de suas atrações já concedeu ao Teatro reconhecimento e inúmeros prêmios tais como: Destaque Teatral 1998, conferido pela Prefeitura Municipal de Santa Maria; Prêmio Líderes e Vence-dores 1998 conferido pela Federasul e Assembléia Legislativa do RS e Destaque Cultural 1999 pela Pre-feitura Municipal de Santa Maria.

O Theatro Treze de Maio possui estrutura para receber espetáculos de dança, música, teatro e ou-tras atividades como palestras e cerimônias de colação de grau. Possui um ambiente climatizado apropriado para receber até 350 pessoas, incluindo estrutura adequada para portadores de necessida-des especiais. O público e os artistas podem usu-fruir também do café e dos camarins.

O teatro dispõe ainda de um espaço virtual, onde é possível acompanhar a programação e conhecer um pouco da história desse espaço cultural con-siderado patrimônio da cidade e palco da cultura santa-mariense.

Confira a programação pelo site: www.theatro-13maio.com.br.

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Cultura na hora da diversão

Santa Maria, que dispõe de inúmeros centros culturais públicos, conta ainda com variadas op-ções de estabelecimentos privados, onde o público pode desfrutar de uma boa música, um ambiente descontraído e a presença de pessoas bonitas. Esses espaços são voltados a quem prefere curtir a noite em baladas, bares ou ainda um happy hour acom-panhado de uma boa refeição, ou simplesmente de uma boa conversa entre amigos.

Em Santa Maria as opções são variadas. A cida-de conta com bares para todos os tipos de público, shoppings centers que oferecem música ao vivo e boates que atendem tribos variadas. Uma das atrações mais importantes para se escolher o pro-grama noturno em algum destes estabelecimen-tos é a música.

A cidade conta com artistas que tocam desde o velho blues importado do Mississipi, o bem brasi-leiro samba e os movimentos mais novos como o sertanejo universitário, que se espalha pelas movi-mentadas noites da cidade.

Não deixe o samba morrer

A cidade tem bares tradicionais, pontos de en-contro nos finais de tarde e até altas madrugadas que recebem públicos de todos as idades e gostos. Alguns exemplos resistem ao tempo e as tendên-cias, como o Café Cristal, que já beira os 80 anos de funcionamento e tem tradição no samba de raiz, dando oportunidade aos artistas locais a se mostra-rem ao público cativo que frequenta o café.

O Cristal, que recebe da velha guarda até jovens universitários, foi o primeiro estabeleci-mento de Santa Maria a dar oportuni-dade aos artistas locais de samba. Inicialmente, nos sábados à tarde, regados à clássicos de Cartola, Noel Rosa, Pixinguinha e o gaú-cho Lupcínio Rodrigues, como relata o frequentador do café, João Caçapuk Flores.

No bar, o sambista teve seus primeiros contatos com o samba que se tornava forte e era visto com outros olhos na cidade, neste período, graças

a iniciativas como a do Cristal. “Eu não escutava samba quando jovem, pois gostar de samba era ser mal elemento, preferia ouvir Paul Anka, mas o samba desceu para o centro com a ajuda do Café Cristal e então escutar este tipo de música passou a ser melhor visto pela sociedade da época”, relata João, de 69 anos, enquanto bebe vagarosamente sua bebida, sentado em uma mesa do bar em que frequenta, desde jovem, e viu o samba se tornar popular na cidade.

As madrugadas agitadas da cidade cultura

Nas madrugadas há uma diversidade de festas. Sertanejo, rock, samba, pagode entre outros esti-los musicais agitam os santa-marienses e jovens de outras regiões. Um dos locais mais antigos na cidade é o Absinto Hall. Com mais de 10 anos de atividade, a casa oferece um ambiente despojado e amplo com cardápio musical bem variado que vai do rock ao sertanejo.

Artistas locais e de outras cidades e estados pas-sam pelo palco da casa todos os finais de semana, desde artistas consagrados até bandas mais jovens que buscam o sucesso e tem no espaço oportuni-dade de mostrar o seu trabalho para um eclético público. Anexo ao Monet Plaza Shopping, o Absin-to abre todos os finais de semana, conta com esta-cionamento coberto.

Também existem locais mais alternativos como o Macondo Lugar, uma casa de shows que iniciou suas atividades em março de 2005 em um peque-no espaço na rua Floriano Peixoto. Rapidamente tornou-se um espaço de amplamente comentado e frequentado na cidade, com apresentações tea-trais e musicais. O local promove festivais de mú-

sica que incentivam a cultura local e da região, dando oportunidade a novas

bandas. O espaço é frequentado, em sua maioria, por estudantes

universitários que apreciam a cultura um pouco menos pop.

Localizado hoje na Rua Se-rafim Valandro, o Macondo abre de quinta-feira a sábado e vésperas de feriado. Uma das marcas da casa é que em algumas festas estudantes

não pagam ingresso antes da meia noite.

“Em Santa Maria

as opções são variadas. A cidade conta com bares

para todos os tipos de público, shoppings centers que oferecem

música ao vivo e boates que atendem tribos

variadas”

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Morador do bairro Cristo Rei participa da oficina de percussão social

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O PAPEL DA MÚSICAna construção de sonhos

Texto e diagramação por Paola Schwelm e Camille Wegner

A música é entendida, entre outros diversos fa-tores, como uma forma de entretenimento, lazer ou cultura. Mas ela pode ir muito além, modifi-cando a vida de crianças e jovens, através da sua perspectiva social. Nesse contexto, bairros caren-te utilizam o lado lúdico da música para oferecer uma nova oportunidade de futuro aos seus peque-nos habitantes.

Acompanhe, nas pró-ximas páginas, a histó-ria de superação do bair-ro Nova Santa Marta, de Santa Maria, que utiliza de várias oficinas musi-cais para a construção da identidade da nova geração de moradores. E, também, a inserção da música como resso-cialização de crianças e jovens em situação de risco ou vulnerabilidade social do bairro Cristo Rei, de São Sepé.

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O bairro Nova Santa Marta é o exemplo de que a união social pode mudar uma realidade. Quem vê a estrutura da comunidade hoje, não imagina as lutas e as conquistas de seus moradores. O não cumprimento da promessa da construção de um conjunto residencial, no prazo de cinco anos, fez com que, em 1991, na cidade de Santa Maria, famí-lias do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) ocupassem a fazenda Nova Santa Marta, que pertencia ao Rio Grande do Sul.

A ocupação foi um marco das classes populares na história do Estado. A comunidade, que iniciou com 37 famílias, é hoje a maior área ocupada de forma organizada da América Latina, tendo mais de 25 mil habitantes. Segundo o membro da coor-denação do MNLM, Cristiano Schumacher, a luta para responsabilizar o governo municipal ou esta-dual pelas terras durou quase 18 anos e os inves-timentos em infra-estrutura vieram aos poucos. Escolas e creches surgiram. Mas o problema ape-nas foi resolvido com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), quando a comunidade recebeu um valor de R$ 50 milhões do governo federal.

A união das pessoas em busca de seus direitos de cidadania foi o principal motivo que levou a con-

quista de melhores condições de vida. O morador Éder Pompeo relata que se abrigou na Nova Santa Marta pouco tempo depois da ocupação, e que a es-trutura era precária. “Viemos morar em uma mora-dia 4m x 6m. Sem água e sem luz”, afirma. Pompeo também conta que a participação dos moradores em movimentos populares foi o que fez com que os governos começassem a incentivar a comunida-de para o desenvolvimento.

As inúmeras lutas dos ocupantes resultaram em uma realidade diferente para a atual geração de mo-radores. Desde o início da ocupação, as crianças não tinham como estudar, pois não havia nem uma esco-la na região. Em 1998, os irmãos maristas conseguiam um terreno para construir a Escola Marista Nova San-ta Marta, que atende cerca de 900 estudantes.

Em 2001, após reivindicações ao governo estadu-al, foi inaugurada a Escola Estadual Assentamento Santa Marta. Já em 2003, a comunidade conseguiu a instalação de uma dos maiores educandários mu-nicipais, a Adelmo Simas Genro, que abrigaria cerca de 700 alunos. Com essas melhorias, hoje as crian-ças podem participar de diversos projetos culturais que incentivam a arte e a construção da personali-dade, sediados por essas instituições de ensino.

Nova Santa Marta:para mudar, é só começar

Comunidade conseguiu melhorar sua estrutura através de lutas sociais

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Texto e diagramação por Paola Schwelm

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Grupo de Coral se apresentando na

Feira Internacional de Economia Solidária,

em Santa Maria

A música que modifica a comunidade

Os estudantes entram em contato com a música através de aulas de instrumentos, per-cussão e coral. Segundo a mo-nitora de teatro, Ana Patrícia Moura, o fato deles ainda serem considerados sem teto faz com que as crianças carreguem um pouco dessa dis-criminação, já refletida na vida dos pais. “ Eles não conseguiam emprego porque moravam num lu-gar que não tinha en-dereço”, lembra. A músi-ca modifica a realidade desses estudantes que tem aulas de instrumentos pelo menos três vezes por semana. “Muda a vida deles, até a questão da auto-es-tima melhora. Muda tudo”, afir-ma o professor de instrumento, Michel Wagner.

O grupo de coral “Vozes em Canto” já gravou três CDs. Os estudantes envolvidos na ati-vidade artística têm a oportu-nidade de se apresentarem em diversos eventos. A iniciativa também aproxima os familia-res por meio de reuniões. A pro-fessora do coral, Neida Reis de Andrade, conta que o trabalho realizado tem que ser diário. O objetivo não é apenas trabalhar a música, mas também ques-tões relacionadas a parte hu-mana. “Eu gosto da alegria de todo mundo. E que a gente tem a oportunidade de ir a vários lugares, conhecer”, acrescenta a integrante do coral, Andressa Quevedo da Cunha.

O grupo de percussão toca diferentes ritmos e contagia os ouvintes, apresentando ba-

tidas de funk, forró e até mes-mo um hino, composto por eles para a Nova Santa Marta. O professor de percussão, Ro-drigo Rosa é baiano. Ele conta

que se encantou com a curiosidade e

de te rminação dos meninos e meninas da c o m u n i d a -de. “Depois que a gente mostra pra eles um estilo

de música, um ritmo, eles que-

rem correr atrás e fazer o melhor de-

les”, enfatiza. O menino Luis Paulo, que sempre morou na Nova Santa Marta, parece ter consciência do papel dele como integrante do grupo. “A gente representa a nossa co-munidade”, destaca satisfeito.

O grupo já se prepara para a

gravação do quarto CD, o que anima e estimula os

jovens talentos

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Segundo Schumacher, os projetos culturais têm muita importância na história, no desenvolvimento e no futu-ro dessas crianças que não precisam mais ter vergonha do lugar onde moram. “Elas podem dizer: eu moro em um local que é fruto de uma ocupação, da luta do povo organizado. Que não ficou esperando as coisas acontece-rem”, destaca.

O passado faz parte da construção da história desses jovens e de suas famílias. Os

projetos culturais mudam o presente e abrem novas opor-tunidades para o futuro. Nes-se contexto de novas perspec-tivas, no pequeno município de São Sepé, com 23.798 habi-tantes, também há iniciativas que desenvolvem uma série de projetos e oficinas. Estas auxiliam no crescimento das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A novidade é uma ofi-cina de percussão como apos-ta para o desenvolvimento da sensibilidade dos pequenos.

As opção musicais são diversas. Os participantes têm diferentes

instrumentos à disposição e podem escolher, de uma maneira eclética,

os ritmos a serem tocados.

Como participarPara continuar a participa-ção nos projetos musicais, o estudante deve manter um bom empenho nas aulas, tornando a música uma re-compensa para os estudos. A seleção dos componen-tes do coral, do grupo de instrumentos e de percussão é feito pelos professores. É necessária a autorização dos pais ou responsáveis.

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Onde o barulhovira talento

Carente de projetos que auxiliem no desenvol-vimento social, o bairro Cristo Rei, de São Sepé, ga-nhou um novo aliado no processo de formação da educação de sua população: a música. Por meio de um projeto realizado pelo Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) do município, numa par-ceria com um grupo de percussão de Santa Maria, as atividades visam despertar novos talentos.

A ideia de promover oficinas de percussão ini-ciou em julho de 2011 e tem como prioridade os alunos do 4º ano. A entidade parceira é o movi-mento de Percussão Atoque, que desenvolve, entre outras atividades, as oficinas de Percussão Social. A iniciativa visa atender crianças e jovens menos favorecidos através de aulas gratuitas de música à comunidade carente.

Na Escola Municipal de Educação Fundamental Gabriel Brenner, 23 crianças de sete a 14 anos são

beneficiadas pelas oficinas, que ocorrem em tur-no oposto ao das aulas. Na parte da tarde, todas as quartas-feiras, o grupo se reúne para aprender o novo ofício. “A gente aprende a bater em instru-mentos e é muito bom”, disse Isabela*, uma das alunas. A aposta do projeto é utilizar a música como forma de ressocialização.

A música traz uma série de benefícios para crianças que estão em situação de risco ou vul-nerabilidade social. Através da atividade lúdi-ca, crianças e adolescentes aumentam sua con-centração, atenção e disciplina. “A questão da auto-estima também é despertada pela música, porque a criança pode mostrar o que está apren-dendo e assim é valorizada na sociedade, que muitas vezes a exclui sem saber o talento que ela pode adquirir”, defende o professor da ofici-na, Márcio Tòlio.

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Texto e diagramação por Camille Wegner

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Dentro da perspectiva de vulnerabilidade social do Centro de Referência Especializado em Assistên-cia Social, o bairro Cristo Rei é considerado o mais vulnerável em São Sepé. Dados da Secretaria de Saúde, a partir do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) revelam que a co-munidade local possui 608 pessoas, tem 114 crianças de sete a 14 anos, sendo que 107 (93,86%) delas es-tão na escola. Este público, na maioria, é de classe D e E e tem dificuldades de acesso à ativi-dades educacionais.

Na comunidade, a maioria dos pais são desempregados ou exercem a atividade de cata-dores de lixo ou biscateiros. As mães, na maioria, são faxineiras, o que as obriga a deixar seus filhos sob os cuidados dos irmãos mais ve-lhos, expondo as crianças e adolescentes a situações de vulnerabilidade social. Algumas crianças chegam a ficar nas ruas pedindo alimentos para seu sustento e de seus irmãos menores.

Diante dessa realidade e da importância da mú-sica como instrumento social, o CREAS escolheu se inserir nessa comunidade, através da oficina re-

alizada pelo Atoque na escola Gabriel Brenner, já que o Bairro necessitava de novas alternativas de ressocialização. “Estamos tentando despertar, além de novos talentos, uma nova maneira de orientar

e atender nosso público alvo”, enfatiza a Co-ordenadora do CREAS, Sabrina Schröder.

Também em uma tentativa de melhores condições para o bair-

ro, este ano, a Escola Gabriel Brenner passou a trabalhar em turno integral, oferecendo, na parte da manhã, o processo de educação formal e, na par-te da tarde, atividades lúdi-cas, como as oficinas. Mesmo com essa nova oportunidade,

a Escola ainda encontra dificul-dade de inserir todos os alunos

nos dois turnos escolares. “Precisa-mos da autorização da família para

que a criança participe dos dois turnos, e tem muitas famílias que ainda resistem, e essas,

muitas vezes, necessitam de atendimento”, decla-rou a coordenadora dos projetos da escola, Márcia Aires.

Mesmo sem integrar todos os alunos da escola, a oficina já apresenta resultados satisfatórios. Entre as

O bairro Cristo Rei, considerado um dos mais vulneráveis de São Sepé, foi escolhido para receber a oficina

Nesse curto período

de funcionamento já se pode perceber um grande aumento na concentração, disciplina e interesse das crianças que participam

da oficina

Um novo aliado

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características que mais se sobres-saem através da oficina está o in-teresse e a participação dos alunos. “É incrível como os alunos gostam da oficina. Nesse curto período de funcionamento já se pode perceber um grande aumento na concentra-ção, disciplina e interesse das crian-ças que participam da oficina”, sa-lienta a coordenadora do CREAS.

Em quatro meses de atividade, as crianças do projeto desenvol-veram, além de seus talentos, a expectativa de mostrar para a co-munidade e seus familiares o que aprendem, promovendo, assim, a sua reinserção na sociedade. A continuidade do projeto trará mais benefícios para estes alunos que demonstram entusiasmo com a oportunidade. “Já fizemos uma apresentação e foi muito legal. Es-tamos ansiosos para nos apresen-tar de novo”, disse Carolina* parti-cipante do projeto.

*Os nomes das alunas são fictícios para preservar as identidades das mesmas.

Alunos da Escola se juntam aos 23 participantes da oficina para assistir o ensaio de percussão

CREAS: O Centro de Referência em Assistência Social (CREAS) é um serviço de proteção social, ofe-recido pela Secretaria de Assistência Social de São Sepé. Através dele são oferecidas ações de orien-tação, proteção e acompanhamento psicossocial individualizado e sistemático às crianças, adolescen-tes e famílias em situação de risco ou de violação de seus direitos.

ATOQUE: Formado em 2002, em Santa Maria, é coordenado pelo professor Márcio Tólio. Através do desenvolvimento de um repertório de percussão popular, o Atoque passou a se apresentar em eventos do município. Devido a amplitude do projeto, em 2007, foram criados novos subgrupos que formaram o Movimento de Percussão Atoque, atendendo também a região. Dentro dessas divisões do movimento, está a Oficina de Percussão Social Atoque, um projeto financiado pela Lei de Incentivo a Cultura (LIC), que desenvolve a educação social através da música.

Realizadores

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FALTA PALCO, mas não falta artista

Quem canta seus males espanta. Santa Maria, mais conhecida como cidade “cultura” tem o costu-me de acolher e comportar todos que aqui chegam, alguns para estudar, outros para seguirem carrei-ra militar. Como coração de mãe, sempre tem um lugarzinho para mais um. Mas para os artistas da cidade, não é bem assim.

A cidade coração do Rio Grande é repleta de bons músicos. Entretanto, não tem estrutura necessária para mantê-los. Algumas bandas já foram esque-cidas no espaço musical. Uns desistem de seus sonhos, outros persistem adap-

tando seu trabalho para conseguir visibilidade. Há também os que já conquistaram o seu espaço, man-tendo seu trabalho sempre visível.

As diferenças musicais estão muito fortes no mu-nicípio. Existem algumas casas noturnas que têm dia especifico para gêneros do momento, mas têm lugares mais conservadores, onde o que importa é a mùsica de qualidade.

Aguarde a sua vez!!

Texto de Cristian Cunha, Jéssica Menezes e Micheli BarrosDiagramação de Pedro Porto, João Davi, Jéssica Menezes e Cristian Cunha

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Musicalidade ultrapassando décadasMesmo com todos esses novos estilos musicais

surgindo no mercado, ainda existem músicos e compositores que preferem o tradicional, a anti-ga MPB, rock’and roll, blues, jazz e músicas nati-vistas que embalaram a geração da década de 80 e 90. Esses modificam apenas a forma de traba-lhar, mas não o seu estilo e gosto.

O músico e compositor Beto Pires se man-tém no mercado até hoje. Ele toca desde MPB até o nativismo. Para conseguir se manter como músico, constitui um trabalho diferente, que começou há muito tempo. Seus shows são ir-reverentes. Brincadeiras, parodias e piadas são utilizadas para atrair a atenção do público para o seu espetáculo.

Ele acredita que seu estilo diferente de trabalhar é o que distingue seu trabalho. Para se manter no mercado, fez mudanças. Começou trabalhando em bares de Santa Maria. Hoje, toca apenas em eventos, muitos deles beneficentes. Ele e seu vio-lão são o necessário para ser inovador e ganhar a admiração das pessoas. “Eu utilizei o humor como uma válvula de escape para mim. Eu gosto que o público participe, cante junto. Acho que é um egoísmo de artista. Comecei a utilizar a graça para chamar a atenção das pessoas. O improviso, a própria interatividade para que ficassem foca-dos em mim como artista”, ressalta.

O estilo do artista deu certo porque é uma espécie de stand up musical, utilizando muita alegria, teatro, filosofia, poesia e a música em si. Todos os presentes aplaudem de uma maneira especial. Beto Pires faz shows por todo o Brasil e, com os recursos dos espetáculos, garante boas condições de vida para sua família.

Renato Mirailh

Existem os que trabalham de uma maneira tradicional, mas única. E um exemplo de pro-fissional que valoriza a singularidade é Renato Mirailh. Músico e compositor, tem suas canções em vinte e oito discos gravados.

Entre tantas composições, há uma em espe-cial e que teve reconhecimento nacional, que é “Criatura de Babel”, escrita junto com Raul Ma-xwell. A canção foi premiada em festival que aconteceu em Brasília, em 2004, e chegou ao co-nhecimento de Fagner, reconhecido músico bra-sileiro, de estilo popular, que regravou a música de Mirailh e que a mantém em seu repertório até hoje. Renato Mirailh, compondo no seu estúdio

Beto Pires, em um show beneficente

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Mas o trabalho de Mirailh não para por ai. Existem muitas músicas de sua autoria tocando em festivais nativistas e ainda é a grande atração da famosa “segunda-feira” do Ponto de Ci-nema – tradicional local de hap--py hour de Santa Maria. Há 17 anos, ele vem trabalhando em parceria com os proprietários do espaço. Ele tem os seus “fãs” que não perdem seu espetácu-lo, pois é do conhecimento de quem aprecia seu trabalho de que, nas segundas-feiras, é Re-nato Mirailh a atração.

Seu trabalho é muito requi-sitado para festas e eventos em outras cidades do Rio Grande do Sul. Seu repertório é eclético, re-pleto de boas músicas. Faz com que ele consiga viver bem do que mais gosta de fazer. Ele tem outra atividade que não seja essa, com-por, tocar e cantar apesar de ser administrador por formação de nível superior. “Sou versátil. Eu faço músicas nativistas e, no co-meço da carreira, tentei trabalhar apenas com MPB. Se fosse só com esse repertório, não conseguiria porque as coisas foram mudando na música e viver só de músicas próprias, aqui no interior do Rio Grande do Sul, acho impossível, a não ser do gauchismo e nativis-mo”, declara.

Emerson “Sino” Lopes

Emerson Lopes, músico e compositor, muito conhecido no mundo do rock’n’roll, atual-mente é vocalista da banda NO-CET. Segundo o músico, toca so-mente o que gosta e em lugares que aprecia.

Junto com a rotina de to-car em casas noturnas, decidiu montar sua própria produtora musical: a “Music Box”. Roquei-ro nato, desde a década de 80, traz em sua bagagem um cur-rículo imenso de bandas que trabalhou. Seu trabalho é reco-

nhecido por muitos no meio musical. Hoje faz shows em Porto Alegre e São Paulo. Como existem em Santa Maria locais que não comportam bandas, ele também tem carreira solo. Sino acredita que se manter em San-ta Maria trabalhando somente com bandas é difícil, por causa da falta de estrutura adequada para os equipamentos necessá-rios para o trabalho.

Lopes deixa a sua mensagem para quem está começando no mercado musical. “Quer ser músico: estude muito o estilo musical que quer seguir, per-sistência sempre. Compõe uma música com o violão. Coloca no Youtube. De repente, faz suces-so. O fazer sucesso não pode ser teu objetivo nunca, tem que ser a consequência do teu traba-lho”, enfatiza.

Emerson Sino Lopes, com seus instrumentos de trabalhoC

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Como vários músicos explicam nesta reportagem, para ser músico, além de ser persistente, ter qualida-de ao tocar suas canções, tem que gostar realmente do que está fazendo, pois a sua cidade, talvez não ofereça uma estrutura adequada para o crescimento e o reconhecimento de suas carreiras musicais.

Com a falta de locais específicos em Santa Maria para que grupos de pagode pos-sam se apresentar, há uma grande vontade, por parte deles, em buscar outros mercados, fora da cidade, no cenário musical.

Santa Maria oferece poucos lu-gares, entre boates e barzinhos, para a expressão de alguns ritmos. Os espaços são disputados por vá-rias bandas de todos os estilos mu-sicais. Isto torna difícil o início de carreira no campo musical, como é o caso do grupo de pagode “Conspiração”.

O grupo foi criado há três anos. Hoje é formado por cinco integrantes e o apoio incon-dicional da família. Tudo começou na brincadeira que acabou virando trabalho sério, pois eles zelam pela qualidade musical nos shows. No entanto, os integrantes do grupo estudam a forma de deixar suas atividades de lado, tornando a música sua prio-ridade, devido ao sucesso que vem fazendo. Todos, atualmente, ainda mantêm outra atividade que pro-porciona uma renda que se agrega ao final do mês.

Entretanto, em Santa Maria, muitas das casas noturnas que abriam as portas para o gênero “Pa-gode e Samba” estão fechadas ou aderiram ao gê-nero musical do momento. Isto dificulta muitas das vezes a introdução do gênero da banda, pela falta de espaço no cenário musical na cidade, fa-

zendo com que as bandas busquem, fora da-qui, uma maneira de mostrar seu tra-

balho, em casas noturnas específicas do gênero. “A gente está começan-

do a ser reconhecido fora da ci-dade de Santa Maria, pelo fato de, nas outras cidades, o gênero pagode estar bem reconhecido e tem mais visibilidade no merca-do”, explicam.

Para ser músico, os integran-tes do Grupo Conspiração acredi-

tam que é algo que nasce com cada um, que tem que gostar de verdade,

pois para ser músico em Santa Maria é complicado. Tem que ser persistente e correr

atrás de seu objetivo para que as coisas aconte-çam e portas se abram.

Neste sentido, para que essas portas se abram, o grupo vem prezando pela qualidade, tanto pelo fato de apresentar músicas próprias e outras mú-sicas de aceitação por parte do público, tentando realçar o estilo e a performance na interpretação das canções.

Acima de tudo, gostar!

Componentes do Grupo Conspiração. Da esquerda para a direita: Thiago Abreu, Fabiano Félix, Anderson Martins, Bruno Marques e Emerson Martins

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Muitas das casas noturnas que

abriam as portas para o gênero “Pagode e Samba”, estão fechadas ou aderiram

ao gênero musical do momento

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 18

Onda do momento é dançar agarradinhoHá alguns anos, as músicas sertanejas eram de

grande sucesso. Era só o que se ouvia em rádios, fitas e discos de vinil. Já foram consideradas bre-gas pela maioria. Mas os bons tempos voltaram e o estilo sertanejo ganhou inovações, fazendo a ca-beça dos jovens universitários. Surge, então, o ser-tanejo universitário. Os cantores de sertanejo nor-malmente trazem consigo uma trajetória de vida emocionante, como, por exemplo, a dupla Zezé de Camargo e Luciano, que tiveram uma história de vida comovente, contada em um filme “Os Filhos

de Francisco”, que retrata a vida dos cantores desde sua infância até a fama.

Em Santa Maria não foi diferente. Universitários formam duplas e começam a explorar e mostrar seu talento com o estilo musical do sertanejo universitá-rio. Duplas como Sandro e Cícero e Pedrinho e Léo; são as mais conhecidas em bares e boates na cidade e já têm reconhecimento do público.

A Revista Plural entrevistou alguns músicos que despontam no cenário musical do sertanejo uni-versitário em Santa Maria.

Revista Plural: como surgiu a dupla?Bom, nos conhecemos na noite de Santa Maria.

Cada um com seu projeto em estilos diferentes. Aproveitando a onda que começava a chegar no es-tado e o convite de Sandor Mello para compormos uma dupla, demos início a “Sandro&Cícero”. Quando começamos, não achávamos que isso tomaria uma pro-porção tão grande e que o pú-blico nos aceitaria tão bem. Cada lugar que passávamos (mesmo sendo a primeira vez) , recebíamos o carinho do pessoal e esse carinho foi que nos motivou a tocar a du-pla a frente e buscar melho-rar sempre. Antes fazíamos faculdade, (Sandro – Música, Cícero – Publicidade e Pro-paganda) mas tivemos que trancar por causa da agenda apertada e a correria. Graças a Deus , esse nosso esforço vem dando resultados a cada dia que passa.

Mesmo assim estamos longe do que queremos realmente e por isso trabalhamos tanto. Nossos dias hoje são de muito trabalho e correria. Acaba-mos de lançar nosso CD novo, via internet, e pre-cisamos trabalhar muito pra que ele chegue até todas as rádios e cidades do Sul do Brasil. Em cada cidade que chegamos, somos muito bem recebido pelo público, sempre muitas fotos e presentes. Não existe coisa melhor que esse carinho das pessoas

que gostam do nosso trabalho. Faz isso tudo valer a pena. Estamos de corpo e alma nesse trabalho. Gostamos muito do que fazemos, curtimos cada momento e talvez seja por isso que esteja dando resultado. Queremos levar a todos a nossa música e a nossa alegria e esse é o nosso trabalho.

Porque o nome sertanejo universitário?O público universitário que deu o start pra

esse gênero. Um sertanejo mais alegre, dançante, próprio para uma balada de verdade.

Diferente do de raiz, o ser-tanejo universitário chegou e domina a maioria dos lares e das festas em todo Brasil, pois não tem aquele caráter por vezes triste, amargurado que tinha o Sertanejo de tem-pos atrás.

Quais os componentes das bandas?Bruno Vestena - bateriaJeferson Solner - acordeonDaniel Souza - Guitarra e vio-lão soloThaigor Farias - contrabaixoCris Bahia - percussão

Você acha que futuramente poderá decair o estilo sertanejo ou veio para ficar?

Tudo é um ciclo. As coisas mudam, os gostos e as pessoas também.

Se o Sertanejo Universitário não continuar se re-novando e criando coisas novas para o seu público, irá perder a preferência. Como foi com o pagode.

Isso se aplica em qualquer produto, o público gosta de novidade.

A dupla Sandro e Cícero

Entrevista com a dupla Sandro&Cícero

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A trajetória da Dupla Pedrinho e Léo

Pedrinho e Léo se conhecem de longa data. Con-terrâneos da cidade de Alegrete, sempre foram grandes amigos e trabalhavam em projetos dis-tintos. Pedrinho Filho, professor e músico multi--instrumentista profissional a 17 anos, que atuou no inicio da carreira em uma dupla sertaneja in-fantil, abrindo shows nacionais no estado nos anos 90, acumulou experiência e musicalidade tocando em eventos, bailes e casa noturnas por mais de 10 anos pelo Rio Grande do Sul, onde se tornou um dos mais respeitados músicos do gênero.

Leonardo Paim (Léo), também começou com du-pla sertaneja, tocou em eventos e casas noturnas da região, e hoje é considerado um dos maiores in-terpretes nativista da nova geração, já gravou dois CDs do gênero, e é um dos mais premiados inter-pretes em festivais no estado.

Pedrinho e Léo sempre tiveram a música como prioridades em suas vidas. Hoje, totalmente dedi-cados ao projeto da dupla, abriram mão muitas coisas e prazeres que uma vida normal oferece, devido a agenda lotada e viagens longas para cumprir compromissos com shows e divulgação do trabalho.

A rotina hoje se resume a isto, e também a dedi-cação de seus projetos individuais, tentando sem-pre que possível praticar esportes e cuidar da saú-de para manter um desempenho dinâmico e alegre em seus shows.

Revista Plural: como surgiu a dupla?Reencontramo-nos em Santa Maria -RS, e em

março de 2009, resolvemos montar nosso próprio projeto: “Pedrinho e Léo” na Terçaneja.

Porque o nome sertanejo universitário?Acreditamos que este novo formato e arranjos

diferenciados “agitaram” as festas da galera da fa-culdade e, a partir da alegria que essa música re-presenta, por falar de amor e todos seus acertos e frustrações, acabou gerando todo esse movimento. Somado a isso, o timing das composições e produ-ções fonográficas ajudaram muito. Acreditamos, também, que a Internet teve (ainda tem) um papel fundamental nisso, através do Youtube, Palco Mp3, Redes Sociais, e a influência dos Amigos ao envia-rem arquivos via MSN’s, etc.

Quais os componentes das bandas?Quem nos acompanha desde o início do projeto

são Alexandre Scherer (Contra-Baixo), Leandro Bit-tencourt (Violão/Guitarra) e Renato Soares (Acor-deom). Com a ida do Matheus Alves para Minas Ge-rais, o Arnildo Pereira passou a ser nosso baterista. Em eventos maiores, como Planeta Atlântida, Jonas Vianna (percussão) nos acompanha. Ainda, na Pro-dução temos Sandor Mello e Thiagão Larangeira, que cuidam da nossa carreira.

Você acha que futuramente poderá decair o estilo sertanejo ou veio para ficar?

Este estilo tem vida própria fora do RS. Muito an-terior ao “rótulo” universitário. Tanto que temos várias músicas “novas” no repertório, que foram lançadas há alguns meses, e mesmo assim, o pon-to máximo do show são as “antigas” (Evidências, Boate Azul, Fio de Cabelo, Telefone Mudo, 60 Dias Apaixonado, Por Um Minuto, entre outras) tanto que são chamadas de “Sertanejo de Raiz”. Em re-lação ao “movimento universitário”, acreditamos que o que for bem feito, como nos demais estilos, ficará e, na medida que for sendo tratado com pro-fissionalismo e responsabilidade, continuarão com a fidelidade do seu público. O fato de ser um estilo popular e, sendo assim, com fácil identificação nas composições, ajudará o movimento.

Pedrinho e Léo, em uma noite muito agitada na cidade de Santa Maria

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 20

Francisco Coser, violinista natural

de Santa Maria

O desafio de fazer da música

PLURAL

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 21

essa reportagem você encontrará his-

tórias de pessoas que consolidaram a carreira

musical, gente que inves-te na música como profis-

são ou como uma segunda opção. Músicos que não compartilham da mesma trajetória, das mesmas oportunidades, dos mesmos palcos e reconhecimentos, mas que, ape-sar das diferenças, possuem algo em comum: enaltecer a música, nas suas diferentes dimensões.

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Texto de Maurício Lavarda e Rúbia KellerDiagramação de Mateus Pereira, Michelle Teixeira e Rúbia Keller

O desafio de fazer da música

PROFISSÃO

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 22

Francisco Coser descobriu as pri-meiras notas musicais aos sete anos, quando começou a estudar violino no Método Suzuki, oferecido pelo Curso de Extensão de Música da UFSM.

Aos 15, decidiu o que queria para o seu futuro: ser músico profissional. Dois anos depois, já pensava em estu-dar no exterior.

Aos 18, fez audições para entrar no conservatório de música da Chicago College of Performing Arts, da Roosevelt University e Mary Pappert School of Music, da Duquesne University. Passou com bolsa nas duas instituições ameri-canas, mas escolheu a primeira opção.

O jovem vê a música como uma opor-tunidade de viver daquilo que gosta,

mas sabe que é preciso muito estudo e dedicação para poder ganhar dinheiro com ela. “Para muitos é uma utopia po-der ganhar dinheiro suficiente fazendo o que gosta, porém, isso é uma reali-dade para a maior parte dos músicos bem-sucedidos. E para ser um músico bem-sucedido, tu precisa conseguir se comunicar com qualquer pessoa atra-vés da música, além de, logicamente, ter todos os aspectos técnicos do ins-trumento em alto nível de preparo”, salienta.

Coser estuda quatro horas de violi-no por dia, durante o período de aulas. Intensifica os estudos do instrumento durante o período de férias: seis a oito horas diárias.

Francisco Coser nunca pensou em mudar de curso ou escolher outra profissão

Futuro internacional

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 23

Ser dedicado é uma das principais características de quem busca viver da música. Porém, dedicação nem sempre é sinônimo de sucesso. Para Francis Vidal, 28 anos, estudante do bachare-lado em música da UFSM, habilitação em violão, para ganhar dinheiro com música, não basta ter estudo e talento, mas sim, investir em marketing: “pra mim é tudo questão de marketing, tem muita banda ruim, com estilo, que tem sucesso, assim como tem muita banda boa que não aparece”. Conforme Vidal, viver de música no Brasil continua sen-do um desafio, pela falta de incentivo e desvalorização da música pela socieda-de. Por isso, muitos saem do país.

Coser é um exemplo dessa realidade. “Eu sai do Brasil para estudar música um tanto por opção própria ao ver o cenário musical no país, principalmen-

te o da música erudita e também por inspiração e orientação do professor Marcello Guerchfeld. O cenário musical para a música erudita no Brasil é ainda bastante precário, está em crescimen-to, porém, precário”, comenta o futuro violinista. Esse fato não se restringe apenas ao nosso país. Conforme o ja-ponês que vive em Toyama, Seiichiro Tsukamoto, 21 anos, estudante de En-genharia Eletrônica, ser músico no Ja-pão também é uma tarefa difícil. Além dos baixos salários, bandas americanas dominam o cenário musical, principal-mente o público jovem.

A japonesa Chika Soya, 19 anos, estu-dante do Ensino Médio, é um exemplo disso: “Eu prefiro música pop america-na à japonesa. Ouço praticamente to-dos os dias em meu iPod, quando estou no trem”, explica a moradora de Tokyo.

Dedicação

“ Francisco Coser

Não acredito que eu tenha passado mais de um dia da minha vida sem escutar música.

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 24

Instrumentista e diretor musical, Felipe Alvares é um contrabaixista gaúcho natural de Júlio de Castilhos, que reside atualmente em Santa Maria. Formado em Licenciatura em Música na Universi-dade Federal de Santa Maria (UFSM) e Mestrando em Educação pela mesma instituição, Felipe, que já dividiu os palcos com grandes nomes do cená-rio musical gaúcho como Luiz Carlos Borges, Rena-to Borghetti, César Oliveira e Rogério Melo, entre outros, discorre sobre a profissão de músico e fala sobre as dificuldades e prazeres encontrados nes-sa área, onde também atua como professor minis-trando oficinas e aulas particulares de violão, con-trabaixo, teoria musical e música popular há mais de dez anos. Confira a entrevista abaixo:

Revista Plural: fale sobre tua formação e atu-ação musical.

Felipe Álvares: Creio que falar em formação e atuação estabelecendo fronteiras entre elas é uma tarefa difícil. Explico: trabalho como contrabaixis-ta há mais de 10 anos na música popular, e antes mesmo de entrar na faculdade já atuava. Apren-dia durante as experiências que tinha em minhas atuações e acho que foi sempre assim, trabalho e estudos juntos. Os trabalhos me levaram a estudar conteúdos específicos, desenvolver habilidades no instrumento, em um repertório de música popu-lar, além de outras coisas.

Já toquei em bailes, bares, formaturas, com ban-das de rock, pagode, nativista, MPB, entre outras. O músico precisa atuar em várias frentes, e é difícil atuar como instrumentista em uma só banda, por exemplo.

Acho que a formação vai além da faculdade. Es-tamos nos formando todos os dias. Até porque, dentro da universidade não existem disciplinas que tratem de música popular, produção de espe-táculos, gestão de carreira e afins. Isso faz com que tenhamos que correr atrás. O aprender fora da uni-versidade é algo que não deve deixar de participar da formação do músico.

Além de instrumentista, atuo como diretor mu-sical elaborando e executando espetáculos e pro-jetos musicais. Já fiz o Tropicália, Quarteto Gau-deriando, Jazz do Monte, e recentemente Encanta Maria Bethânia, com Débora Rosa. Também tenho

Entrevista com Felipe Alvares

uma produtora, onde trabalho com publicidade, trilhas para audiovisual, entre outros, e uma escola de música onde ministro aulas. Ser músico é exer-cer uma porção de funções, tocar é só uma delas.

Quando optou pela música como profissão?F.A.: Depois de tocar bares e bailes, fui trabalhar

em um estúdio de gravação como técnico. Nesse estúdio conheci um pessoal que atuava em festi-vais nativistas. Isso foi por volta de 2002. A par-tir disso passei a tocar em festivais e acompanhar cantores desse gênero. Devo estar envolvido com a música nativista há aproximadamente dez anos.

Nesse tempo tive o prazer de dividir o palco com nomes como: Luiz Carlos Borges, Luiz Maren-co, João de Almeida Neto, Neto Fagundes, Shana Muller, Sergio Reis e mais uns quantos, e nesse ca-minho me interessei por um estilo que até hoje é uma paixão: a música instrumental. Esse interes-se me abriu portas para tocar com músicos como Marcello Caminha e Maurício Marques, nomes que acompanho até hoje.

Também fiz alguns trabalhos para a gravadora ACIT, que é uma das maiores do sul do Brasil. En-

O castilhense, Felipe Alvares de 32 anos atuatanto nos bastidores quanto no palco.

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 25

tre os trabalhos realizados estão os DVDs Canto e Encanto Nativo I e II, Wilson Paim e o Festchê.

Como é a receptividade musi-cal dentro e fora do Rio Gran-de do Sul? A música nativista dá retorno? E os outros gêne-ros?

F.A.: Quanto à música nativista, é um mercado muito bom. Nesse tempo de trabalho com música foi a área que mais tive oportunidades. De modo geral, o mercado é melhor, tanto em termos finan-ceiros como de carreira. É muito mais fácil ter uma carreira autoral no nativismo do que na MPB e no Rock, por exemplo. Mas isso aqui no Estado. Fora, a realidade é outra, bem diferente.

Sobre o bairrismo, não creio que é uma preocu-pação de quem faz esse tipo de música, pois há um mercado aqui no estado que se sustenta, então não há grandes interesses em sair daqui.

Acredito que o Borghetinho faça essas saídas, talvez algum outro, mas isso não é “pauta do dia” nas conversas dos nativistas. O fato é que o mer-cado para a música em geral está crescendo e des-centralizando.

Foi o tempo em que era preciso sair de Santa Maria, por exemplo, para viver de música. A cida-de já oferece um ótimo mercado de trabalho.

A reação da tua família foi de aceitação ou houve alguns bloqueios quanto o fato de tu escolher a música como pro-fissão?

F.A.: Minha família: Seu Oscar, meu pai; minha mãe, dona Sonia. São, certamente, os melhores pais que uma pessoa pode ter. O apoio deles sempre foi incondicional.

Sou músico, fiz as coisas que fiz e devo tudo a eles. Se não fos-se o apoio que tive em casa não estaria aqui di-zendo isso a ti.

Hoje, apesar de existir muito caminho pela frente ainda, quando olha pra trás vê que o caminho foi difícil ou as coisas foram mais fá-ceis que de costume?

F.A.: Dificuldades sempre têm, mas acho que tive sorte de ser de uma geração em que a música é mais respeitada, melhor articulada, com remune-rações melhores. Creio que quem se dedica e leva

a sério tem um ótimo campo de trabalho com essa profissão. Mas não pense que é fácil. Muita viagem, muito estudo pra conseguir algo.

Dedicação, seriedade, honestidade e responsabi-lidade são ingredientes que fazem com que acer-temos o caminho. Dizem que músico tem que ter talento, né? Eu acho que tem que ter esses ingre-dientes. Talento, sozinho, não adianta nada.

A tua convivência com a música no dia-a-dia é praticamente em tempo integral?

F.A.: Quando não estou envolvido com a música, estou com minha família ou dormindo. Mas dur-mo pouco... (risos). Veja, música para mim não é só instrumento. É produção, arranjo, gestão e mui-to mais. Também incluo estudos do mestrado, no qual falo sobre música; artigos que escrevo para uma revista de Panambi, projetos que frequente-

mente me pedem para escrever; estúdio, gravan-do jingles, produzindo discos, dando aulas, e por aí vai. Acho que o músico do século XXI tem que ter esse misto de instrumentista, empreendedor e curioso, não se fechar em apenas uma tarefa.

Tu tens algum músico na família?F.A.: Minha mãe tocou gaita quando pequena e

meu avô, por parte pai, era um boêmio que toca-va violão. Nunca vi isso, só ouvi falar, mas lembro bem dos discos dos Beatles e do Led Zeppelin em

“Ser músico é exercer uma porção de funções, tocar é só uma delas

“Se não fosse o apoio que tive em casa, não estaria aqui dizendo isso

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 26

casa. Desde pequeno escutei essas coisas por causa do meu pai, e até hoje gosto muito.

Como é trabalhar com vários estilos musicas, muda muito de gênero para gênero?

F.A.: Hoje para mim é uma coisa cotidiana, mas é difícil, sim. Às vezes tenho muita dificuldade em en-contrar músicos para fazer certos estilos musicais. Está faltando músicos interessados em tocar jazz, bossa nova, instrumental... outros estilos de música.

Acho que o mercado e a mídia são muito respon-sáveis pela fabricação da identidade dos músicos.

A mídia que mostra o rock, o pop, contribui para criar uma porção de músicos que saibam tocar esses estilos. O mercado musical contribui para formar músicos que sabem tudo de sertanejo, en-tende? Não tem estímulos para formar músicos de MPB, de instrumental... ou tem bem menos. Faltam políticas públicas que estejam atentas a isso.

Mas veja, não é renegar o rock ou o sertanejo, ou a mídia ou o mercado. De maneira nenhuma. Acho que isso tudo esta aí, e devemos estar atentos a isso. Mas ao mesmo tempo, ações em prol do di-verso devem existir.

“Felipe Alvares

Dedicação, seriedade e resposabilidade são ingredientes que fazem com que acertemos o caminho

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 27

Um guitarreiro que instrui um violão que fala. A parceria que silencia gargantas para emanar diálo-gos entre cordas e dedos. É com essa verdade que Marcello Caminha enaltece o que há de melhor na música do Sul. Sempre acompanhado de seu violão e em parceria constante com músicos consagrados, o músico leva aos quatro ventos trabalhos resul-tantes de muito estudo, responsabilidade e quali-dade que conquistam cada vez mais pessoas dentro e fora do país. E fazendo um costado por aqui, este senhor de ponteios inconfundíveis sintetiza aspec-tos sobre sua carreira e família.

Marcello Caminha diz ter começado sua carreira musical aos 14 anos. Aos 18, ingressou no curso de Medicina Veterinária trabalhando paralelamente em duas atividades até o ano de 2005, quando en-tão pôde se dedicar somente à música. Suas ins-pirações partem da vida rural e de seus aspectos, assim como das diferentes culturas que presencia pelos lugares por onde passa. “Uma delas (das inspi-rações) vem da natureza, do campo, das pessoas do meio rural. A outra vem quando viajo por lugares diferentes, da cultura local desses lugares”.O violo-nista garante que as diferentes tradições o estimu-lam a produzir, e que o pluriculturalismo faz parte de seu repertorio. “Compor algo nesse sentido só soma minha música. Daí surgiu o CD Influência”.

Caminha diz que a música folclórica uruguaia e argentina influenciam seu repertório e o ajudam no quesito arranjos, assim como o samba de raiz e a música clássica. Porém, não só de técnicas se formam composições. “O jazz me ensina a pensar na música e o heavy me-tal me inspira quando es-tou no palco”, acrescenta.

Conciliar vida pessoal e profissional não é ta-refa fácil para quem tem a estrada como moradia. Porém, o músico afirma que a convivência é in-tensa por dividirem tare-fas. “Viajamos e trabalhamos juntos. Minha esposa faz a produção e o Marcello (filho) toca comigo”. Caminha também tem uma filha caçula, e descon-fia do seu rumo pelo mesmo caminho. “A Malena tem cinco anos. Ainda não toca, mas acho que será a cantora da família. Vamos esperar pra ver”.

Sobre o filho músico, Marcello Caminha expres-sa o orgulho de vê-lo seguindo os mesmos passos e afirma que isso também é fator de muita res-ponsabilidade. Marcello Caminha Filho o acom-

panha na vida e nos palcos. “Não posso de forma alguma forçar ele a fazer o que faz. Se futuramente optar por outro gênero musical, terá meu apoio para seguir em frente”.

Por fim, Marcello Ca-minha simplifica sua escolha pela música gaúcha, mas ressalta a

importância de explorar outros ritmos musicais: “Preciso ter um foco para que as pessoas se iden-tifiquem com o meu trabalho, além de gostar da música nativista do RS. Ser gaúcho é uma honra, mas tenho muito orgulho de ser brasileiro. Nosso país tem a cultura rural mais rica do mundo”.

Marcello Caminha traz em suas composições traços de outras culturas

Um Rio Grande verde-amarelo

“Nosso país tem a cultura rural mais rica do mundo

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 28

“O violão é a ponte para minha afinação no cantar”

Essas são palavras de Tiago Borges, o Tampa, vocalista da banda santa--mariense Bandaneja, que ilustra a im-portância do instrumento e o que ele representa na vida de todo músico. Na reportagem da Revista Plural, vai-se conhecer um história de vida dedica-da a um instrumento musical, a gaita. Também vai conhecer onde os músicos podem encontrar locais que consertem seus instrumentos e informações sobre compras de instrumentos novos e usa-dos, com um levantamento da média de preços nas lojas da cidade.

A relação entre MÚSICO E INSTRUMENTO

Tiago “Tampa” Borges (esquerda), vocalista da banda santa-mariense Bandaneja, com seu irmão e companheiro de banda, Diego Fantinel

Texto de Eduardo Clavé e Mateus KonzenDiagramação de Eduardo Clavé

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 29

Uma vida na companhia das gaitas

É nos fundos da sua antiga ofi-cina mecânica, em um pequeno ateliê, que Antenor Farias Du-tra, o “Seu Dutra”, 83 anos, pas-sa maior parte do seu tempo na companhia das gaitas. Instru-mentos de trabalho e paixão, o qual dedicou e ainda dedica sua vida. Ainda jovem, aos 14 anos, adquiriu seu primeiro acorde-om, que lhe acompanha até hoje. O seu principal incentivador e professor foi o músico Nardo Schimidt, que passou todo seu conhecimento sobre a arte de consertar e tocar o instrumento.

Além da sua paixão pelas gai-tas, Seu Dutra foi proprietário de uma oficina mecânica. Mas em 1975 decidiu se aposentar e deixar sob os cuidados dos seus filhos. Foi então que se dedicou inteiramente ao conserto de gai-tas. Há 36 anos, Seu Dutra con-serta gaitas ponto e gaitas piano.

Rodeado das suas gaitas, Seu Dutra passa o dia na companhia também do seu antigo rádio, um telefone e uma lembrança que ganhou de uma emissora radio-fônica da cidade. Um Troféu Gai-teiro Feliz, que homenageia a sua dedicação pelo ins-trumento. E mesmo com problemas de visão e diabetes por causa da idade avançada, Seu Du-tra não se vê longe de seus instrumen-tos musicais prefe-ridos. Segundo ele, a distância deles, que faz parte da sua rotina, faz com que ele adoeça.

No seu ateliê improvisado, ele também compra e vende al-guns instrumentos usados. Mú-

sicos de toda região o procuram para consertar seus acordeons. E como em Santa Maria, além dele, só existe outra pessoa que faz esse trabalho, sempre tem uma

gaita para arrumar.“A gente sempre con-serta uma e outra e

quando eu não to arrumando o pes-soal berra”.

Os serviços mais procurados pelos clientes no conserto

dos acordeons são: afinações e trocas de

fole, correias e presilhas. Os custos dos trabalhos va-

riam de acordo com a marca e o modelo do instrumento de modo a atender a satisfação do cliente.

Para o Seu Dutra, os acorde-

ons mais utilizados pelos gaitei-ros na atualidade são de origem italiana. Umas das referências do instrumento é a marca Scan-dalli, e em nível nacional, a To-deschini. Existem também acor-deons de origem chinesa como os da marca Michael, que são encontradas por um valor bem acessível, ideal para os inician-tes. Quem precisar consertar sua gaita pode procurar o Seu Dutra, na sua casa, que fica na Avenida Nossa Senhora Media-neira, 1244. Ou quem quiser entrar em contato pode ligar para o telefone 3221 7236. Além de encontrar um especialista em consertar acordeons, quem o procurar irá se deparar com uma história de vida dedicada à paixão pela gaita.

“Seu Dutra” acompanhado das gaitas em

seu ateliê

“Não posso parar, se a gente não fizer nada, a

gente morre”

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 30

CasesPara proteger os instrumentos existem os cases e as capas. Esses são usados para proteger e con-servar os instrumentos que acom-panham seus donos por onde an-dam. Existem inúmeros modelos de cases e capas. Os mais procurados são para os instrumentos de corda. Capas para guitarras custam em tor-no R$100,00, já para guitarras são encontrados por R$150,00, em Santa Maria. Os cases mais procurados são os para baterias. Para proteger suas bateria os músicos precisam desem-bolsar em torno de R$1 mil a R$1,5 mil para poder adquirir um case.

Comércio musical

Mas se você procurar no dicionário o que significa musica você irá encontrar lá que música é “arte e técnica de com-binar sons de maneira agradável ao ou-vido, por meio da voz ou de instrumen-tos”, então isso nos faz concluir que a música não vive só de gaitas. E através desses textos iremos dar dicas de como funciona o comércio de venda de ins-trumentos musicais em Santa Maria. Na cidade existem diversas opções de vendas e oficinas de consertos de ou-tros instrumentos. Tanto o músico mais exigente quanto o iniciante pode encontrar o instrumento desejado.

Há lojas especializadas em produtos novos, de marcas nacionais e importa-das, mas também têm aquelas que ven-dem produtos usados com os preços mais baixos. Uma opção é a Eletrônica Guerra, que vende produtos novos e algumas relíquias usadas. Guitarras e Violões são os que aparecem com mais freqüência para serem vendidos entre os usados. Os preços variam em torno de R$ 150,00 as guitarras e R$ 100,00, os violões. (confira na foto abaixo). Além dis-so, a loja possui tam-bém uma oficina que conserta todos os tipos de instrumentos.

Já quem procura ins-trumentos novos, en-contra diversas opções espalhadas pela cida-de. Os preços dos ins-trumentos variam de acordo com a qualidade e com a origem da fabri-cação. Como a tecnologia avança a passos largos, as no-vidades no mundo dos instrumentos não fica para trás. É possível adquirir instrumentos cada vez mais sofistica-dos e de qualidade.

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A venda de instrumentos é mais intensa durante o final do ano, se-gundo Hilton Palma, proprietário de uma loja especializada neste tipo de comércio da Avenida Rio Bran-co, em Santa Maria, o instrumento mais vendido na sua loja é o violão. As marcas Tagima, Strinberg e Shel-ter são as mais procuradas. Já vio-lões da marca Andaluz são bem pro-curados também pelo baixo preço, um violão dessa marca novo custa na média R$129,00.

Os contrabaixos e as guitarras tam-bém têm uma procura alta por par-te dos músicos. A marca americana Strinberg que produz violões, gui-tarras e contrabaixos na China é um das marcas vendidas na cidade com o preço mais baixo. As guitarras da Strinberg custam na média R$250,00, já os contrabaixos ficam em torno de R$460,00. Instrumentos de per-cussão, como bateria, o músico terá que desembolsar mais dinheiro. As baterias mais baratas encontradas na cidade custam entre R$1 mil e R$.1.200,00. Mas quem estiver procu-rando outro tipo de instrumento de percussão como o pandeiro meia-lua poderá encontrar um por até R$25,00.

Quem estiver procurando instru-mentos de sopro também encontra-rá diversas opções na cidade. Flau-tas Doces, por exemplo, da marca japonesa Yamaha custam em media R$25,00, apenas. Mas também há aqueles instrumentos que pesaram mais no bolso do musico, como é o caso de quem estiver interessado em um Saxofone da mesma mar-ca Yamaha que custa em torno de R$6,5 mil. A marca Yamaha também é uma das marcas mais procuradas para quem toca teclado, o modelo mais barato dessa marca encontrado na cidade custa R$ 495,00.

Trocas

O cliente que não estiver satisfeito com o instrumento comprado ou verificar algum problema, pode trocar o produto. Os instrumentos de marcas nacionais têm garan-tia de seis meses a um ano. Já os importados podem ser trocados em até 90 dias após a compra. Para a troca é obrigatória a apresentação da nota fiscal.

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DIVULGAÇÃO - ROLAND

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PLURAL

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A cultura musical em Santa Maria é múltipla e contribui, numa velocidade incomparável, para que a disseminação de estilos musicais seja, também, variada.

som eArte,

Essa realidade pródiga é estampada no surgi-mento e consequente permanência de ambientes que agregam entre suas dinâmicas culturais, a mú-sica. O Macondo Lugar e o Boteco do Rosário são exemplos consistentes de como essa inserção é re-ferência em Santa Maria. “Quando abrimos o Ma-condo Lugar não tínhamos a intenção de trabalhar com uma casa de shows. A ideia era que o espaço abrigasse linguagens artísticas das mais variadas. A casa se tornou, de forma gradual, um palco para a música independente num processo muito inte-ressante, quando a mobilização de artistas, público e gestores apontou para esse caminho”, explica Atí-lio Alencar, sócio do Macondo.

No rastro desse trâmite, o mesmo aconteceu com o Boteco do Rosário. Leornado Retamoso Pal-ma, 43 anos, um dos sócios do Bar, que abriu as portas no dia 25 de janeiro deste ano, revela como a música ganhou espaço nesse empreendimento. “A música praticamente conquistou dimensão no Boteco como expressão forte e irrecusável. Desde que a demanda dos músicos por campo de traba-lho atravessou o ambiente que havíamos criado, compreendemos o Boteco do Rosário como espaço que acolhe um pouco, não tudo, da diversidade da produção musical local (Rock, Blues, Jazz, Samba, Samba-rock, Soul, Eletro-rock, MPB, Música de Câ-mara, Choro, Reggae)”.

Texto e diagramação de Franciele Kettermann, Mariane Dall’Asta e Mauren Gnoccato

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BOM TOM

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 33

BOM TOM

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 34

A desmedida popularidade e abrangência no mundo inteiro do Rock’n’roll garantiu-lhe um impacto social ímpar. Muito mais que um cândido gênero musical, sua essência rebelde, inquisitora e ativista, com intercâmbio de ele-mentos da música branca e negra, influencia desde o princípio até a contemporaneidade, estilos de vida, moda, atitudes e linguagem.

Seus primeiros passos foram trilhados no final da década de 40, início dos anos 50 nos Esta-dos Unidos, pela fusão de dois gêneros, que apesar de popula-res, ocupavam segmentos margi-nais no mercado americano. Es-tes gêneros musicais, vivos ainda hoje, são o Rhythm’n’blues (C&B) e o Country & Western (C&W). O primeiro tem raiz no Blues, estilo de canção dos negros do sul dos EUA. O segundo vem do folclore dos britânicos que colonizaram a região. É a essa herança que o Rock deve seu ritmo base: o com-passo quatro por quatro tempera-do com um contratempo (acento em batidas normalmente fracas). Na harmonia e na métrica cada estrofe compõe um bloco de 12 compassos, com o uso apenas dos três acordes básicos, os de primeiro, quarto e quinto grau.

A denominação deste novo gê-nero, que revolucionou a manei-ra de fazer e ouvir música veio de um disc-jockeynorte-americado, Alan Freed, que se inspirou em um velho blues: Mydaddyhe ro-cks me with a steadyroll (Meu homem me embala com um ba-lanço legal).

Ao quebrar a barreira racial e conquistar uma legião de fãs pelo mundo, o Rock’n’roll ain-da derivou muitos estilos musi-cais independentes: Progressivo, Punk, Heavy Metal e Alternativo são apenas alguns deles. Estes vá-rios subgêneros - muitas vezes sem o contratempo caracte-rístico originário - são de-rivados, por vezes, simples-mente como Rock.

Um desses rótulos que sur-giu ainda antes da virada da década de 70 foi o Rock Pro-gressivo, influenciado pela música clássica e pelas ino-vações tecnológicas. O gru-po de maior destaque nesta categoria é o inglês Pink Floyd,

O universo do Rock

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 35

O Rock emSanta Mariacomo tudo começou

formado em 1965. Já o Punk é um movimento de resgate da simplicidade e da energia mais básicas do Rock’n’roll e surgiu nos Estados Unidos em meados dos anos 70, do século passado. Os america-nos Ramones, formados em 1974, são considerados o pri-meiro grupo punk da histó-ria. Na vertente Heavy Metal bandas inglesas como Led Ze-ppelin, Black Sabbath e Deep Purple se firmaram como im-portantes representantes, no início dos anos setenta.

Toda essa explosão em rit-mo acelerado teve seu mar-co inicial no Brasil em outu-bro de 1955, quando, na voz de Nora Ney, foi lançada a música “Ronda das Horas”, uma versão de Rock Aroun-dtheClock, um dos primei-ros sucessos do gênero gra-vado originalmente por Bill Halley. A partir de então, surgia uma nova juventude, símbolo da contestação dos padrões da época.

Formada a forte cena mu-sical com ênfase na potência sonora e no ritmo radical, atribui-se uma data para cur-tir Rock’n’roll e comemorar sua existência. A partir de um evento contra a fome na Etiópia que reuniu ícones do gênero em 1985, 13 de julho consagra-se o dia Mundial do Rock. O festival Live Aid foi realizado de maneira simul-tânea no estádio Wembley, em Londres, na Inglaterra e no estádio JFK, na Filadélfia, nos Estados Unidos. Participa-ram grandes nomes do Rock, como Duran Duran, Santana, Bob Dylan, The Who e Queen. O resultado foram 16 horas de música e cem milhões de dó-lares arrecadados e enviados para a África.

Na cidade, a inserção do gêne-ro e a valorização de bandas lo-cais não obteve um princípio fá-cil. Somou muitos obstáculos. O principal deles foi o fato de que na época, anos 80/90, a grande mídia desprezava o som produzi-do no interior do Estado.

Em desafio a essa barreira, às bandas independentes Fuga, No-cet, Doce Veneno e Feeling, todas de Santa Maria, gravaram um CD com composições próprias, o antológico e memorável “Elo um” lançado em 1993. A produ-ção foi um marco na história do rock na cidade, pois dessa ousa-dia surgiu a primeira coletânea de bandas gaúchas produzida fora do circuito de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Esse período teve como seu gran-de hino a canção Saudade, compo-sição de Rafael Ritzel e cantada por Pylla Kroth (ambos da banda Fuga). Efervescia em Santa Maria o movi-mento Rock. As bandas construí-ram uma relação que se leva tempo para se estabelecer com o público. O elo se disseminou. As pessoas se deslocavam de suas cidades natais para prestigiarem os shows, que tinham como trunfo composições autorais. Um estímulo para as no-vas gerações que, de fato, dão sequ-ência a essa conquista. Muitas das bandas locais se destacam não só pelos covers, mas também pelas suas músicas próprias. Consolida--se assim o Rock. Uma explosão em ritmo acelerado que conquistou Santa Maria.

Coletânea Elo Um lançada em 1993 pelas bandas Fuga, Nocet, Doce

Veneno e Feeling

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 36

Rock de gerações

“Desde que nasci eu tenho Vinil. Eu ouvia os discos de Pro-gressivo, Hard Rock, Heavy Metal e Tropicália que o pai tem. Mi-nha relação com a música vem desde pequeno. Eu tenho uma característica que é a Sineste-sia Auditivo/Visual”, revela Luis David F. Padilha, 20 anos, acadê-mico do curso de Publicidade & Propaganda da Unifra. Somam--se gerações na paixão pelo Rock. O estudante reune mais de 200 vinis desde a coleção de seu pai, Luiz Padilha, até os discos acres-centados por ele.

O estudante, de fato, aprecia e conhece muito bem esse univer-so. Em entrevista, suas palavras argumentam cada preferência dentro dos mais diversos cená-rios do gênero. Em primeiro mo-mento, seu entusiasmo foi em direção ao seu maior ícone. “Dis-parado o Pink Floyd é a melhor banda do planeta pra mim. Pela forma que conheci ela, pelo tipo de som que ela faz, e por alguns motivos bem pessoais”, afirma. Porém, um amante do Rock não se limita. “Costumo ouvir muitas bandas que não são do mainstre-am. Eu acho que tem várias ban-das excelentes que não obtiveram sucesso em vendas no cenário fo-nográfico mundial de 60 até hoje. Posso citar de bandas brasileiras “desconhecidas” a banda Karma, e o Recordando O Vale Das Ma-çãs. Do Cenário do Rock Psico-délico eu sou apaixonado pelo som do Strawberry Alarm Clock, e do Iron Butterfly. Do Hard Rock eu ouço muito a banda Dust, o Captain Beyond. Da cena Heavy

Metal ouço Lucifer’s Friend e Ru-phus. Aí dá pra puxar bem o Rock Progressivo meu gênero musical favorito”. Para ele a lista de ban-das é extensa. “Então vou pescar só por regiões mesmo. Rock Pro-gressivo inglês e o italiano são os que eu mais costumo ouvir”, re-lata o jovem.

O Rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de com-portamento. O Rock é e se define pelo seu público, que, por não ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do Rock a mesma polimorfia (CHACON, 1985, p. 18-19). Essa possibilidade de mudar de formas é sua me-lhor descrição. O Rock’n’roll não é monotemático. “Pra mim o Rock representa uma questão de afini-dade mesmo. Não sei se acredito na definição de “estilo de vida”, porque na verdade beber, fazer festa e rir todo mundo faz. Cada um do seu jeito. Eu particular-mente não uso preto, odeio a cor preta para vestimenta. E isto não me faz menos metaleiro do que muita galera de cabelo comprido que tem solta por Santa Maria. O

viver Rock ‘n’ roll pra mim é apre-ciar um bom e velho Som de 60, 70, 80, 90. Sem tanta relevância nas cores, em cabelos compridos ou curtos”, reflete Luis David. En-tão, o gênero caracteriza estereó-tipos, dita comportamentos, mas não se restringe somente há isso, para defini-lo, Rock é arte, som e bom tom adequado a quem sou-ber ouvi-lo.

“A música sempre fez parte da minha vida, das belas artes sem dúvidas é que eu mais tenho contato.

MARIANE DALL’ASTA

SinestesiaAuditivo/Visual

É uma percepção sensorial que o cérebro é capaz de reproduzir, anexan-do cores ao som. É a capacidade de identificar tom de cores nos diferen-tes tipos de harmo-nias sonoras.

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 37

A maior bandeira dos anos 50, do século passado, uma geração que encontrou na música a forma má-xima de se expressar. Quando se fala em comporta-mento no mundo do Rock’n’roll, logo vem à mente as excentricidades, a forma clichê do estereótipo de rebeldia, e o envolvimento com drogas por parte dos seus astros, e das pessoas que os cercam. Não é segredo para ninguém essa associação vide a trilo-gia “sexo, drogas e Rock’n’roll”, que figuram desde simples letras musicais à nomes e contextos intei-ros de bandas. Bob Dylan, o então poeta norte-ame-ricano já fazia a sua apologia as drogas, mesmo que de forma metafórica, em Mr. Tamborine Man.

Sendo assim, o lema carrega de fato capítu-los dessa contestadora classe artística. Mas, antes das drogas e das atitudes “de pulso” algo, por ve-zes imerso desse contexto, se sobressai: a liberda-de de expressão. É evidente que muitos tabus fo-ram criados e uma imagem negativa foi injetada ao gênero, que apesar de radial não é mentirosa. Porém, pintar uma cena marginal, intolerante, e violenta na face de quem tem por opção musical ou mesmo por estilo de vida o Rock’n’roll é pre-conceituoso, generalizado e ultrapassado, como ex-põe Atílio Alencar, proprietário do Macondo Lugar. “O lema diz respeito a uma época ‘romântica’ do Rock, quando a ânsia juvenil de subversão era su-perficialmente contemplada por esta trilogia. Hoje, Rock, ou melhor, cultura pop, pode ser associada a tudo: política, arte, revolução, mercado, etc. E claro, sexo e drogas também. A questão pra mim é como equilibrar expressão, sustentabilidade e satisfa-ção!”, argumenta.

O que cai por terra e que cada termo presente nessa expressão foi requalificado pelas práticas e usos desde o seu surgimento. Assim, segundo Le-onardo Palma, sócio do Boteco do Rosário, preci-samos de um olhar cuidadoso e atento para que se assuma uma perspectiva interessante dessa tri-logia. “De vários modos, há grandes aprendizados que modificam em cada período o que essa associa-ção pode sugerir. Já é quase impossível separar afe-tos em geral, amizade, empatia e sexo, como coisas disjuntas e extremamente distintas, por exemplo. Muitas dessacralizações foram efetuadas e medos, muitos medos superados”, declara.

Sexo, drogas e Rock’n’rollUm lema, um estereótipo e um preconceito

Atílio Alencar (esq.) e Leonardo Retamoso Palma

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 38

Dos campos às universidades

Verão de 2011. Vinícius sai com os amigos para uma noite embalada ao som da dupla san-ta-mariense Sandro e Cícero. Ao mesmo tempo, Vitória arruma-se para curtir a noite sertaneja com as amigas, em comemoração ao seu aniversário de 21 anos. Du-rante a noite, os dois se encon-tram e, através de amigos em co-mum, começam a conversar.

Enquanto trocavam as primei-ras impressões, a dupla sertaneja tocou a música Adrenalina, do Luan Santana. Vinícius aproveita para convidar Vitória para dan-çar. O encontro proporcionou a aproximação do casal. Desde en-tão, ao manter contato, todos os dias, decidiram namorar um mês após a festa em que se conhece-ram. A música ficou e ficará mar-cada na vida e na história do re-lacionamento. “É só a música do Luan tocar que passa uma novela na minha cabeça. Lembro do mo-mento como se fosse hoje”, decla-ra a jovem.

O estilo musical, que serviu de elo para unir o casal, se espalha Brasil afora como a nova sen-sação que arremata milhões de fãs, sem delimitar classe social e faixa etária. E, como toda mú-sica, com o sertanejo universitá-rio não poderia ser diferente. Ele acaba por marcar uma época, um contexto histórico e momentos da vida das pessoas, como a do casal Vinícius e Vitória.

Sandro e Cícero, uma das du-plas responsáveis pelo sucesso do gênero em Santa Maria, se sentem orgulhosos ao saber que a música que tocam motiva no-vas relações dentre os apreciado-

res do novo gênero. “É tão bacana sabermos que de alguma forma contribuímos para a concretiza-ção de relacionamentos, mesmo que de forma indireta”.

O sertanejo universitário abrange um público de acadê-micos, classe média, que veem no estilo uma alternativa de fuga, de diversão e entretenimento. No entanto, é um ritmo contes-tado e julgado por determina-dos grupos. “A crítica deles é quanto às letras das músicas, di-zem que não tem conteúdo”, afirma Cícero Guedes. O que ocorre é que o sertanejo universitário é um estilo prefe-rencial para diversão e não para

reflexão e denúncia social. “Ge-ralmente, as pessoas que nos curtem, gostam também de ou-tros ritmos. Para cada momento há um estilo de música”, defende Sandro de Paula.

O fato é que o sertanejo saiu dos campos e chegou à cidade.

Com características pecu-liares, uma batida dife-

renciada, com letras adaptadas das

gravações serta-nejas antigas e sob influências eletrônicas, o estilo ganhou os palcos e a

preferência das pessoas. Hoje, o

sertanejo universi-tário é presença con-

firmada nos mp3, iPod e celulares da maioria dos jovens e virou “febre” nas baladas.

Dupla santamariense Sandro & Cícero no Absinto Hall

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A permanecia dos gêneros tradicionais, como o Rock’n’roll, não impediu a transformação musical. O sertanejo ganhou vertentes “universitárias”.

O sertanejo universitário abrange um público que vê no

estilo uma alternativa de fuga, de diversão e

entretenimento

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Revista Plural 2011 / IIº semestre 39

Festa e público garantido

Confirmando o sucesso desse novo desmembramento do ser-tanejo, Kaue Friedhein, 22 anos, gerente do Reduto Pub, garante que o Sertanejo Universitário ganhou popularidade do públi-co baladeiro, devido à suas le-tras, com temas jovens e atuais como curtição. “Elas falam de coisas que acontecem na noite, na balada, por isso essa acei-tação tão repentina”. O novo estilo é responsável pela animação no esta-belecimento toda sexta-feira. “Em média, durante o mês, temos um público de 800 pessoas por noite”, afirma Friedhein.

Antes da ex-plosão do sertanejo universitário, os estilos tocados no Reduto Pub eram o Tchê Music, o Forró e a Música Gaúcha. No entanto, ao perce-ber a repercussão entre as pes-soas do novo estilo que surgira, o gerente decidiu colocá-lo nas atrações da casa. “Elegemos o sertanejo universitário como mais um dos estilos para tocar-mos nas festas. É sucesso ga-rantido, a noite lota”, declara.

Já para outra casa da cidade, o estilo não trouxe uma repre-sentatividade significativa das demais festas e que ratifique esse sucesso repentino. “Para

nós, o estouro do Sertanejo Universitário não justificou uma diferença expressiva de público. O número de pessoas que frequentam as nossas ou-tras festas não varia para as noites sertanejas”, revela Mau-ro Hoffmann, proprietário do Absinto Hall.

O público apresenta visões distintas. Para uns é um estilo que garante a diversão e está

mais intrínseco a vida de algumas pessoas do

que muitos ou-tros tradicionais. “Todo mundo tem um lado brega”, assume Aline Gonçalves, 16 anos, estu-

dante do ensino médio. “Cresce-

mos ouvindo essas músicas e, quando nos

damos conta, sabemos cantar todas elas”, declara a jovem, amante do novo segmento do sertanejo.

Em contraponto a opinião da estudante e mais preocupa-do em ouvir o som e as letras, Pedro Henrique Santos, 25 anos, engenheiro civil, afirma: “o bom da música é o poder de reflexão que ela proporciona ao escutá-la. As letras das mú-sicas com conteúdos de cunho político-social, que reivindi-cam alguma causa são as me-lhores”, argumenta.

“Todo mundo tem um lado

brega”História do gêneroJoão Bosco & Vinícius foram os pioneiros a adaptar o ser-tanejo do caipira do interior aos jovens universitários dos grandes centros. O sertanejo universitário popularizou e mesclou diversos ritmos o que gerou uma aceitação muito grande do público. Após, sucederam-se inúme-ras duplas e cantores oriun-do desse novo estilo que conquistou os brasileiros.

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