40
Revista do voluntariado transformador | #1 Uma forma de transformação interna e externa por Isabella Bretz Cidadania - status inerente ao indivíduo por Heliane Guadalupe Cidadania ativa e governança sustentável: o Voluntariado como Expressão e Estratégia da Participação Social por Rodrigo Starling Mediação: a luta daqueles que apostam na palavra por Flávia Resende Maior companhia de software do mundo - SAP - envia voluntários para BH por Olena Demeter O Voluntário e o Coletivo por Voluntário Coletivo Democracia, participação social e desafios do século XXI por Daniela Vieira Secches O voluntariado como promotor da melhoria na mobilidade por Guilherme Tampieri Vanakkam India por Moe Joe Rede Cidadã: Trabalho Voluntário e Responsabilidade Social por Rede Cidadã VemSerVoluntário, VemSerSolidário! por Flávia Encarnação Terceiro Setor: a humanização do capitalismo por Lucia Maria Bludeni Entrevista com James Junior por Isabella Bretz

Revista Quáo | #1 2014

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Voluntariado transformador é aquele que transita do campo individual para o coletivo, dos grupos isolados para as redes, da crítica negativa para a cooperação e do assistencialismo para o desenvolvimento sustentável. É com este objetivo, imbuídos de consciência critica e desejo de ação, que apresentamos ao público a edição de estreia da Revista QUÁO | Revista do Voluntariado Transformador. Virtual e bilíngue, a QUÁO tem uma proposta de ser leve, clean e de agradável leitura, incluindo o intercâmbio entre diversas culturas, organizações e pessoas que veem o voluntariado como um caminho eficaz para o alcance da sustentabilidade real e planetária.

Citation preview

Page 1: Revista Quáo | #1 2014

Revista do voluntariado transformador | #1

Uma forma de transformação interna e externapor Isabella Bretz

Cidadania - status inerente ao indivíduopor Heliane Guadalupe

Cidadania ativa e governança sustentável: o Voluntariado como Expressão e Estratégia

da Participação Socialpor Rodrigo Starling

Mediação: a luta daqueles que apostam na palavrapor Flávia Resende

Maior companhia de software do mundo - SAP - envia voluntários para BH

por Olena Demeter

O Voluntário e o Coletivopor Voluntário Coletivo

Democracia, participação social e desafios do século XXIpor Daniela Vieira Secches

O voluntariado como promotor da melhoria na mobilidadepor Guilherme Tampieri

Vanakkam Indiapor Moe Joe

Rede Cidadã: Trabalho Voluntário e Responsabilidade Socialpor Rede Cidadã

VemSerVoluntário, VemSerSolidário!por Flávia Encarnação

Terceiro Setor: a humanização do capitalismopor Lucia Maria Bludeni

Entrevista com James Juniorpor Isabella Bretz

Page 2: Revista Quáo | #1 2014
Page 3: Revista Quáo | #1 2014

CENTRO MINEIRO DE VOLUNTARIADO TRANSFORMADOR – MINAS VOLUNTÁRIOS

Diretoria Executiva (Executive Board)

Presidente (President)Rodrigo Marinho Starling

Vice-Presidente (Vice President)Heliane de Guadalupe Alves

Diretor Administrativo- Financeiro (Administrative and Financial Director)Jackson Farias Teixeira

Diretora de Projetos Especiais (Special Projects Director)Danielle Braga Ribeiro

Coordenações (Coordinations)

Desenvolvimento Humano e Organizacional (Human and Organizational Development)Nádja I.Calábria de Araújo

Inteligência Estratégica e Desenvolvimento Institucional (Strategic Intelligence and Institutional Development)Elisângela Maria de Jesus

Relações Comunitárias e Educação Socioambiental (Community Relations and Social-Environmental Education)Rozane Frazoli Sartori

Relações Internacionais (International Relations)Isabella Campos Bretz Cavalcanti

Conselho Consultivo (Advisory Council)

Leandro de Alencar RangelDov Roseman

www.minasvoluntarios.org.br | Facebook: Minas Voluntários

REVISTA QUÁO - REVISTA DO VOLUNTARIADO TRANSFORMADOR | #1, 2014

Coordenação Editorial (Editorial Coordination)Isabella Campos Bretz Cavalcanti Leandro de Alencar Rangel

Projeto Gráfico e diagramação (Graphic Design and Layout)Leandro de Alencar Rangel

Tradução e Revisão (Translation and Revision)Isabella Campos Bretz Cavalcanti

FICHA TÉCNICA Fact Sheet

Page 4: Revista Quáo | #1 2014

Uma forma de transformação interna e externapor Isabella Bretz

Democracia, participação social e desafios do século XXIpor Daniela Vieira Secches

Cidadania - status inerente ao indivíduopor Heliane Guadalupe

Cidadania ativa e governança sustentável: o Voluntariado como Expressão e Estratégia da Participação Social

por Rodrigo Starling

O voluntariado como promotor da melhoria na mobilidadepor Guilherme Tampieri

Mediação: a luta daqueles que apostam na palavrapor Flávia Resende

Terceiro Setor: a humanização do capitalismopor Lucia Maria Bludeni

Maior companhia de software do mundo - SAP - envia voluntários para BHpor Olena Demeter

Vanakkam Indiapor Moe Joe

VemSerVoluntário, VemSerSolidário!por Flávia Encarnação

O Voluntário e o Coletivopor Voluntário Coletivo

Entrevista com James Juniorpor Isabella Bretz

Rede Cidadã: Trabalho Voluntário e Responsabilidade Socialpor Rede Cidadã

SUMÁRIO

6

9

11

13

15

18

22

23

26

30

33

35

38

BeAVolunteer, BeSolidary

Interview

A way to internal and external transformation

Democracy, Social Participation, and the 21st Century Challenges

Citizenship - inherent status in the individual

Active citizenship and sustainable governance: Volunteering as an expression and Social Participation Strategy

Volunteering as a promoter of the improvement in mobility

Mediation: the fight of those who bet on word

Third Sector: the humanization of capitalism

The world's largest business software company SAP sends volunteers to Belo Horizonte

Vanakkam India

The volunteer and the collective

Rede Cidadã: Volunteer Work and Social Responsability

Page 5: Revista Quáo | #1 2014

Voluntariado transformador é aquele que transita do campo individual para o coletivo, dos grupos isolados para as redes, da crítica negativa para a cooperação e do assistencialismo para o desenvolvimento sustentável.

É com este objetivo, imbuídos de consciência critica e desejo de ação, que apresentamos ao público a edição de estreia da Revista QUÁO | Revista do Voluntariado Transformador. Virtual e bilíngue, a QUÁO tem uma proposta de ser leve, clean e de agradável leitura, incluindo o intercâmbio entre diversas culturas, organizações e pessoas que veem o voluntariado como um caminho eficaz para o alcance da sustentabilidade real e planetária.

No último relatório sobre o “Estado do Voluntariado no Mundo”, organizado pelo Programa de Voluntários das Nações Unidas – UNV, ficam claros os desafios e expectativas quanto a prática do voluntariado no presente século: “(...) as ações voluntárias nem sempre são contabilizadas nas estratégias de desenvolvimento e, algumas vezes, ficam às margens do debate do crescimento qualitativo”, contudo, alimenta nossa esperança: “(...) vital é a participação e a cidadania ativa, das quais os voluntários são a máxima expressão”.

Lançada no II Fórum Internacional e III Fórum Nacional do Voluntariado Transformador, que teve como temas "Cidadania Ativa e Combate à Corrupção", a QUÁO surge com o importante papel de fortalecer não só a troca de ideias e experiências, mas, principalmente, de fomentar o exercício de práticas transformadoras em nossa sociedade.

Que gestores públicos e privados, lideranças comunitárias e toda a sociedade civil, possam ter na QUÁO um instrumento de multiplicação da solidariedade! Boa leitura!

Minas Voluntários

EDITORIAL

Transformer volunteering is the one that transits from individual field to the collective, from individual groups to networks, from negative criticism to the cooperation and from assistencialism to sustainable development.

It is with this goal, imbued with critical conscience and desire for action, that we present to the public the debut edition of Quào Magazine of Volunteering and Sustainability. Bilingual and virtual, QUÀO has the proposal to be lightweight, clean and pleasant reading, including exchanges between diverse cultures, organizations and people who see volunteering as an effective way to achieve real and planetary sustainability.

In the latest report about the "State of volunteering in the world", organized by the United Nations Volunteers-UNV, the challenges and expectations regarding the practice of volunteering in this century are clear: "(...) voluntary actions are not always entered into development strategies and, sometimes, stay on the shores of qualitative growth debate", however, it feeds our hope: "(...)the participation and active citizenship are vital, in which the volunteers are the ultimate expression."

Launched at the II International Forum and III National Forum of Transformer Volunteering, which had as main subject Active Citizenship issues and Combating Corruption, QUÀO Magazine comes with the important role to strengthen not only the exchange of ideas and experiences, but mainly to promote the exercise of transformative practices in our society.

May the public and private managers, community leaders and civil society as a whole have on QUÀO an instrument of multiplication of solidarity. Good read!

Minas Voluntários

5

Page 6: Revista Quáo | #1 2014

Uma forma de transformação interna e externapor Isabella Bretz

6

O olhar de uma mãe vestido em brilho ao ver pela primeira vez o corpinho ainda frágil, que veio do seu. Os sabores guardados na mente. Um cheiro. Músicas cantaroladas, murmuradas, enquanto atividades são realizadas. Brincadeiras da infância, gestos, sinais. Dificuldades, suor, trabalho duro. Fé, esperança. Coração batendo, amor. Por trás do olhar, um mundo de experiências. A realidade não é uma só. Depende dos olhos que a veem e a interpretam. O mesmo fato pode ser descrito de formas infinitamente diferentes, de acordo com as pupilas que o observaram. Cada pessoa foi construída por experiências, vivências e conhecimentos particulares, que combinados formam os valores e critérios que cada um usa ao viver em sociedade. Não podemos julgar. Nossos pensamentos e comportamento são como são por causa da nossa história. Que é única, absolutamente única. Mas isso não quer dizer que sejam melhores que outros ou que sejam imutáveis. Não precisamos esperar a próxima segunda-feira ou o ano novo, podemos nos reconstruir a cada segundo. Assim também acontece com o que chamamos de realidade. Muitas vezes tomamos como certo ou fixo algo que na verdade podemos mudar. A sensação de transformação - para melhor - é muito prazerosa. A evolução é um caminho difícil, mas muito bonito e recompensador. Uma das formas mais eficazes de transformação de mim mesma e da realidade que eu já experimentei é o trabalho voluntário.

Não sei dizer qual foi o meu primeiro trabalho voluntário. Se considerarmos voluntariado como o que fazemos sem obrigação e remuneração, veremos que nossa vida está recheada dele. Mas sei que com o passar dos anos ele tem ganhado mais espaço no meu tempo e tem trazido mais uso às minhas habilidades, também desenvolvendo novas. Doar seu tempo e talentos pode trazer consequencias inimagináveis. Afetando a vida de uma só pessoa pode-se influenciar gerações. O efeito é imensurável. Muitas ações só requerem a boa-vontade. As mazelas da sociedade abrangem muitas áreas e com certeza algo se encaixa no que você está apto a fazer. Entretanto, observa-se que a falta de seriedade, comprometimento e profissionalismo podem ser um empecilho para o bom resultado. Ao nos voluntariarmos estamos afirmando que desejamos realizar aquela atividade e que assim faremos da melhor forma possível. Não podemos fazer "de qualquer jeito", temos que fazer com toda a dedicação. Afinal, foi uma escolha.

Acredito que, de forma geral, há dois tipos de voluntariado: o assistencial ista e o transformador. O assistencialista é

a q u e l e q u e a g e d e f o r m a p o n t u a l , e s p e c í fi c a , e m necessidades primeiras. A ç õ e s d e s s e t i p o s ã o doações de a l imentos, medicamentos e agasalhos, p o r e x e m p l o . E s s a

abordagem é grandemente c r i t i c a d a p o r n ã o t r a z e r

mudanças. Entretanto, essas ações são muito urgentes e

The look of a mother dressed in brightness when seeing for the first time the still fragile body, which came from her. The flavors kept in mind. A smell. Songs sung, mumbled over, while activities are carried out. Childhood pranks, gestures, signs. Difficulties, sweat, hard work. Faith, hope. Beating heart, love. Behind the eyes, a world of experiences. Reality is not one. It depends on the eyes that see and interpret. The same fact can be described in ways infinitely different, according to the pupils that observed it. Each person was built by experiments, experiences and personal knowledge, which combined form the values and criteria that each one uses to live in society. We can't judge. Our thoughts and behavior are as they are because of our story. Which is unique, absolutely unique. But that doesn't mean that they are better than others or that they're immutable. We don't need to wait for the next monday or the new year, we can rebuild ourselves every second. This also happens with what we call reality. Frequently we take for granted or fixed something that actually can change. The feeling of transformation - for better- is very pleasant. Evolution is a difficult path, but very beautiful and rewarding. One of the most effective ways of transformation of myself and of the reality that I've experienced is the volunteer work.

I can't tell which was my first volunteer work. If we consider that volunteering is everything we do without obligation and payment, we will see that our life is full of it. But I know that over the years it has gained more space in my time and has brought more use to my skills, developing new ones as well. To donate your time and talents can bring unimaginable consequences. Affecting the life of one person you can influence generations. The effect is immeasurable. Many actions only require goodwill. The ills of society cover many areas and certainly something fits in what you are able to do. However, it is observed that the lack of seriousness, commitment and professionalism can be a hindrance to the good result. As we volunteer, we are stating that we want to perform that activity and that we will do it in the best possible way. We can't do it in an ordinary way, we have to do with all the dedication. After all, it was a choice.

I believe that, in general, there are two sorts of volunteering: the assistencialist and the transformer one. The assistencialist is one who acts in a punctual way, specific, in the first needs. Actions of this type are donations of food, medicines and warm clothing, for example. This approach is greatly criticised for failing to bring change. However, these actions are very urgent and necessary. We will often find situations that require immediate action to prevent a greater harm. But that attitude must be followed by a deeper action that will bring real improvements, which we call 'transformer'. Transformer volunteering seeks changes in structure, changing reality and supporting the helped to reach their independence. Within this context, one may perform voluntary actions that contemplate the two spheres, or both at once.

A way to internal and external transformation

Page 7: Revista Quáo | #1 2014

7

Muitas vezes vamos nos deparar com situações que demandam uma atitude imediata para evitar um dano maior. Mas essa atitude deve ser seguida de uma ação mais profunda que traga melhorias reais, a que chamamos de transformadora. O voluntariado transformador busca mudanças na estrutura, alterando a realidade e fazendo com que o ajudado alcance sua independência. Dentro desse contexto, pode-se realizar ações voluntárias que contemplem as duas esferas, ou ambas de uma só vez.

Em 2013 fiz uma campanha do agasalho em um dos shows (pois também sou cantora) e recolhemos muitos itens. Pensamos bastante sobre o destino das doações. Era junho e estávamos em dias frios. Acabei decidindo entregar diretamente a moradores de rua, que ao meu ver eram os que mais necessitavam dessa pequena proteção naquele momento. Saí

de carro com minha mãe e irmã e as roupas e cobertores no porta-malas. Com o olhar em busca deles, percebi como estavam em todo lugar, como era grande a quantidade de pessoas nessa condição. Eram eles quase invisíveis ou nós cegos, no dia-dia? Por certo a segunda opção. Foi uma experiência agridoce. Paramos, conversamos e entregamos as coisas. M u i t o s fi c a v a m v i s i v e l m e n t e surpresos com a nossa atenção. Como se não merecessem, como se fosse muito. O coração apertou demais. Um desânimo forte tomou conta de mim. Um sentimento de impotência, de saber que era tanto o que fazer que até esmagava. Em uma

das entregas minha irmã chorou. Eu também. Pensei em tudo naqueles minutos. Cheguei em casa feliz por ter conseguido ajudar algumas poucas pessoas que, de fato, precisavam daquilo. Mas o maior sentimento que eu tive foi uma vontade colossal de transformar.

Outra experiência, divisora de águas na minha vida, foi um trabalho v o l u n t á r i o q u e r e a l i z e i e m Moçambique em 2011. Essa, por incrível que pareça, foi marcada pela alegria. Sim, havia miséria. Sim, as crianças andavam descalças e com roupinhas muito velhas. Sim, as

condições eram bem diferentes de tudo o que eu conhecia. Mas havia sorrisos, havia dança, havia palmas. O exemplo dessas pessoas iluminou minha forma de ver a vida. Eles me ensinaram a ser mais grata pelo que eu tenho, a me doar mais. As atividades eram variadas. Por muitas vezes fomos a orfanatos simplesmente para brincar com as crianças e dar um pouco de amor. Podemos fazer isso sempre: dar atenção, conversar, compartilhar um momento com alguém. Pensamos em uma criança em

In 2013 I made a campaign to gather warm clothes in one of the shows (since I'm also a singer) and collected many items. We thought a lot about donations' destination. It was June and there were cold days. I ended up deciding to deliver directly to the homeless, which in my view were those who most needed that little protection at that time. I went out with my mom and sister and clothes and blankets in the trunk. With the look in search of them, I realized how they were everywhere, how big was the amount of people in that condition. Were they almost invisible, or were we blind, everyday? For sure, the second option. It was a bittersweet experience. We stopped, talked and delivered the stuff. Many were visibly surprised with our attention. Like they didn't deserve it. My heart was tight. A strong discouragement took care of me. A feeling of helplessness, of knowing it was so much to do that overwhelmed me. In one of the deliveries my sister cried. Me too. I thought of everything during those minutes. I came home happy to have been able to help a few people that, in fact, needed that. But the biggest feeling I had was a colossal desire to transform.

Another experience, water splitter in my life, was a volunteer work that I was part of in Mozambique, in 2011. This one was marked by joy. Yes, there was misery. Yes, the kids were barefoot and with very old clothes. Yes, the conditions were quite unlike anything I knew. But there were smiles, there was dancing, there were clapping hands. The example of these people lit up my way of looking at life. They taught me to be more grateful for what I have, to donate more of myself. The activities were varied. Many times we went to orphanages simply to play with the kids and give a little love. We can do this all the time: pay attention, talk, share a moment with someone. We think of a child in a foster home or an elderly person in a nursing home, but in reality it can be anyone, even a friend who needs attention. We have to develop increasingly our sensitivity to identify where we can be useful. In Mozambique, our group of volunteers also visited villages and taught to embroider, sew bags and

Page 8: Revista Quáo | #1 2014

other things that they could sell and make some money. We also taught them to build wooden benches for the community. We shared knowledge that allowed them to reproduce those items by themselves. It was for a short time, but enough for me to throw down some concepts and build new ones.

I have visited nursing homes, orphanages, have donated toys, helped reform schools, sang on several occasions on a voluntary basis. Participated in projects in College (as Brazilian foreign policy debates in middle schools, public and private), organized events... There were actions in different areas, despite the fact that I wasn't able to participate in many others. What I mean is that there are ALWAYS things to do. Surely you can offer something. There are times when we have more availability, others not so much. But if we organise ourselves we can contribute in some way. Anyone can volunteer. Everyone can lessen the suffering of someone and cause transformations in society. The time to do this is now. The return is certain: it brings good energy, you can meet interesting people, make friends, feel useful, practice and develop skills, increase your political and social consciousness, you become a more sensitive and grateful person, to name a few examples in a world of benefits, beyond, of course, helping others. I see no other reason to live other than to grow, to progress as a person and to make the world a little better than we found it, leaving a legacy of good works and love. We are so flawed and we have a long way ahead of us. But if you want to literally change your life and society, one of the recipes is simple: find your cause and be a volunteer.

um orfanato ou um idoso num asilo, mas na realidade pode ser qualquer pessoa, até mesmo um amigo que precisa de atenção. Temos que desenvolver cada vez mais nossa sensibilidade para identificarmos onde podemos ser úteis.

Em Moçambique nosso grupo de voluntários também visitava vilas e ensinava a bordar, costurar bolsas e outras coisas que poderiam vender e ganhar algum dinheiro. Também ensinávamos a construir bancos de madeira para a comunidade. Compartilhávamos conhecimentos que permitiam a reprodução daqueles itens por eles próprios. Foi por pouco tempo, mas o suficiente para eu derrubar conceitos e construir novos.

Já visitei asilos, orfanatos, já doei brinquedos, ajudei a reformar escolas, cantei em várias ocasiões de forma voluntária. Participei de projetos na faculdade (como debates sobre política externa brasileira em escolas do ensino médio, públicas e privadas), organizei eventos... Foram muitas ações em áreas diferentes e já perdi a conta. O que eu quero dizer é que SEMPRE há o que fazer. Com certeza você pode oferecer algo. Há épocas em que temos mais disponibilidade, outras nem tanto. Mas se nos organizarmos conseguimos contribuir de alguma forma. Todos podem ser voluntários. Todos podem amenizar o sofrimento de alguém e provocar transformações na sociedade. O tempo pra fazer isso é agora. Pode parecer egoísta dizer isso, mas quem mais ganha é você: traz boas energias, conhece pessoas interessantes, faz amigos, sente-se útil, pratica e desenvolve habilidades, aumenta sua consciência política e social, torna-se uma pessoa mais sensível e grata, para citar alguns exemplos num mundo de benefícios. Não vejo outras razões para viver que não sejam crescer, progredir como pessoa e tornar o mundo um pouquinho melhor do que o encontramos, deixando um legado de boas obras e amor. Somos tão falhos e temos um caminho longo pela frente. Mas se quer literalmente mudar a sua vida e a sociedade, uma das receitas é simples: encontre a sua causa e seja um voluntário.

Isabella Bretz é graduada em Relações Internacionais (UNI-BH) e pós-graduada em Direito Internacional (CEDIN/Faculdades Milton Campos). É Coordenadora de Relações Internacionais do Minas Voluntários e uma das responsáveis pela revista Quào. É cantora e compositora, tendo lançado de forma independente o disco Saudade. É também correspondente da Rádio Voz dos Açores, de Portugal.

8

Page 9: Revista Quáo | #1 2014

9

Democracy, Social Participation, and the 21st Century Challenges

"In short, contrary to appearances, the 20th century has shown that one can rule against all the people for some time, against some people all the time, but not against all the people all the time." Eric Hobsbawn

One of the most keen observers of the twentieth century, Hobsbawn had the advantage of a few: to analyze a moment lived at length by himself, in his ninety-four years of existence. Having as backdrop his own experience, the author notes, then, at the end of his most emblematic work, a big question for the new millennium: what is the solution to the crisis affecting the State and its institutions? On one hand, one senses how unlikely it is for new uprisings in the Soviet molds for the installation of a Communist system of centralized planning and collectivised property. On the other hand, Hayek’s and Friedman’s liberalism is not an unquestionable solution, since even the most smithian economies somehow demonstrate a degree of state interventionism in order to safeguard the common good.

Despite the tendency to hybrids government programs, merging both ideologies, a flag is raised by almost all States today – the defence of a democratic regime. However, the very idea of democracy and plurality of senses that this sign assigned throughout history, makes it hard to think pragmatically about the impact of this apology for the crisis of the State. Norberto Bobbio qualifies it formally as government scheme in which there is the possibility of real participation of everyone in power, while Robert Dahl acknowledges the impossibility of a perfect democracy, preferring to embrace the term polyarchy.

The Federative Republic of Brazil, in the first article of its Magna Carta, defines itself as a Democratic Rule-of-Law State, which, in practice, works based in young institutions created in the late 1980's. Although the American Constitution, 1787, do not denote democracy as the basis of the State, the clean, fair and frequent elections is an old political tool, used almost in an uninterrupted way. In turn, in the Democratic People's Republic of North Korea and in the former German Democratic Republic, popular participation is not, or was not, necessarily a government mechanism of public matters.

Currently an often empty label, democracy is linked to a second challenge, also remembered for Hobsbawn. In times of crisis of the State, it is possible to realize the emergence of new centres of power, such as global authorities and private local ones, which can both rival or complement the state machine. If the broad exercise of power without popular legitimacy is unsustainable in the long run, whatever the meaning of the term democracy is, we must ask what is the place of social mobilization in the face of new decision-making centers.

Democracia, participação social e desafios do século XXIpor Daniela Vieira Secches

“Em suma, ao contrário das aparências, o século XX mostrou que se pode governar contra todas as pessoas por algum tempo, contra algumas pessoas por todo o tempo, mas não contra todas as pessoas todo o tempo.” Eric Hobsbawn

Um dos mais argutos observadores do século XX, Hobsbawn teve a vantagem de poucos: analisar um momento por ele próprio vivido longamente, em seus noventa e quatro anos de existência. Tendo como pano de fundo sua própria vivência, o autor observa, então, ao final de sua obra mais emblemática, uma grande questão do novo milênio: qual é a solução para a crise que afeta o Estado e suas instituições? Por um lado, percebe-se como pouco provável novos levantes nos moldes soviéticos para a instalação de um sistema comunista de planejamento centralizado e de propriedade coletivizada. Por outro, o liberalismo de Hayek e Friedman tão pouco é caminho inequívoco, pois até mesmo nas mais smithianas das economias percebe-se um certo grau de intervencionismo estatal para promoção do bem comum.

A despeito da tendência a programas de governo híbridos, mesclando ambas ideologias, uma bandeira é levantada por praticamente todos os Estados hoje – a defesa de um regime democrático. No entanto, a própria ideia de democracia e a pluralidade de sentidos que a esse signo atribuiu

ao longo da história, faz com que seja difícil pensar pragmaticamente sobre o impacto dessa apologia para a crise do Estado. Norberto Bobbio qualifica-a formalmente como regime de governo no qual há a possibilidade de participação real de todos no poder, enquanto Robert Dahl reconhece a impossibilidade de uma democracia perfeita, preferindo abraçar o termo poliarquia.

A República Federativa do Brasil, no primeiro artigo de sua Carta Magna, d e fi n e - s e e n q u a n t o u m E s t a d o Democrático de Direito, que, na prática, funciona com base em jovens instituições

criadas no final da década de 1980. Apesar de a Constituição estadunidense, de 1787, não indicar a democracia enquanto base do Estado, a realização de eleições limpas, justas e frequentes é um antigo instrumento político desse país, usado praticamente de forma ininterrupta. Já na República Democrática Popular da Coreia do Norte e na extinta República Democrática Alemã, a participação popular não é, ou foi, necessariamente um mecanismo de governo da coisa pública.

Atualmente um rótulo muitas vezes vazio, a democracia está atrelada a um segundo desafio, igualmente lembrado por Hobsbawn. Em tempos de crise do Estado, é possível perceber o surgimento de novos centros de poder, como autoridades globais e entes privados locais, os quais podem tanto rivalizar quanto complementar a máquina estatal. Se o exercício amplo do poder sem a legitimidade popular é insustentável no longo prazo, seja qual for a acepção do termo democracia, cabe-nos perguntar qual é o lugar das mobilizações sociais diante dos novos centros decisórios.

Page 10: Revista Quáo | #1 2014

By understanding the role of the State as recipient of social demands and public policy planner and creator in return to these requests, it is possible to notice that other decision-making centres, at different levels, they become increasingly responsible for this function. United Nations programmes and conditions of the International Monetary Fund and the World Bank to international loan lines possess a significant interference power, when they do not completely modify, this relationship between national institutions and citizens' demands. At the regional level, this impact can even be felt more intensely. Arrangements such as the European Union assume for themselves a significant roster of traditionally State responsibilities, that become decided in large extent supra-nationally, with direct consequences for the daily lives of the citizens of the Member States.

These new forms of State administration impact the traditional concept of the nation State, and, above all, its relationship with the people that legitimize its power to recognize it as a more suitable form of governance. A simple solution, however, must arise in the mind of those who read these words: that social participation channels must be included in these new decision-making centers! If this is indeed a good answer, its implementation will not be so easy.

In order to make the society participate efficiently in what is decided in the context of global organizations such as the United Nations, or even regional environments, as integration arrangements, we return to the problem exposed in the beginning of this article. As difficult as to conceptualize democracy, is, maybe, to define society. Open unrestricted channels can solve the dilemma of democracy, but at the same time, it creates an organizational problem ofdifficult administration. On the other hand, the existence of criteria excludes important actors of the social space and undermines their representativeness.

A solution to the crisis of the State passes, inevitably, by the recognition of new (or renewed) decision-makers centers in addition to State institutions, such as international organizations,

regional or even local forums. However, in order for the democratic flag to be a consistent apology, this review of the role of the State must necessarily include social participation channels in such centres. The theoretical and pragmatic difficulties are numerous, passing by the decision-making procedures of such organizations, the effects of decisions taken, by the representativeness of the organs involved, by geographical distances between the civil society movements and the headquarters of the new centres, and, finally, by social heterogeneity, even more complex when raised beyond

the State borders. Anyway, an important step for social action to be transforming indeed, is to recognize that the promotion of the common good, today, passes through a social participation that can be no more appreciated only in national terms.

Ao compreender o papel do Estado enquanto recebedor de demandas sociais e criador e planejador de políticas públicas em retorno a esses pedidos, é possível notar que outros centros decisórios, em níveis diferentes, tornam-se crescentemente responsáveis por essa função. Programas das Nações Unidas e condicionantes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para linhas de empréstimo internacional possuem um significativo poder de interferência, quando não modificam completamente, essa relação entre as instituições nacionais e as demandas cidadãs. No âmbito regional, esse impacto pode inclusive ser sentido mais intensamente. Arranjos como a União Europeia assumem para s i um significativo rol de responsabi l idades tradicionalmente estatais que passam a ser decididas em grande medida supranacionalmente, com consequências diretas para o cotidiano do cidadão dos Estados-membros.

Essas novas formas de administração estatal impactam o conceito tradicional de Estado-nação, e, acima de tudo, sua relação com o povo que legitima seu poder ao reconhecê-lo como mais apropriada forma de governança. Uma simples solução, contudo, deve surgir na mente dos que leem essas palavras: que se inclua canais de participação social nesses novos centros decisórios, ora! Se de fato essa é uma boa resposta, a sua execução não será tão fácil.

Para poder fazer com que a sociedade participe eficientemente daquilo que é decidido no âmbito de organizações globais como a Organização das Nações Unidas, ou até mesmo em ambientes regionais, como os arranjos de integração, retornamos ao problema exposto no início desse artigo. Tão difícil quanto conceituar democracia, talvez seja definir sociedade. Abrir canais irrestritos pode solucionar o dilema democrático, mas, ao mesmo tempo, cria um problema organizacional de difícil administração. Por outro lado, a existência de critérios exclui importantes atores do espaço social e mina sua representatividade.

Uma solução para a crise do Estado passa, inevitavelmente, pelo reconhecimento de novos (ou renovados) centros decisores para além das instituições estatais, como as organizações internacionais, regionais, ou até mesmo fóruns locais. No entanto, para que a bandeira democrática seja uma apologia coerente, essa revisão do papel do Estado necessariamente deve incluir canais de participação social em tais centros. As dificuldades teóricas e pragmáticas são diversas, passando pelos procedimentos decisórios dessas organizações, pelos efeitos das decisões tomadas, pela representatividade dos órgãos envolvidos, pelas distâncias geográficas entre os movimentos da sociedade civil e as sedes dos novos centros, e, por fim, pela própria heterogeneidade social, mais ainda complexa quando alçada para além das fronteiras estatais. De qualquer maneira, um passo importante para que a ação social seja de fato transformadora é reconhecer que a promoção do bem comum, hoje, passa por uma participação social que não mais deve ser apreciada apenas em termos nacionais.

Daniela Vieira Secches, é Mestre em Ciência Política pela Universidade de Masaryk / República Tcheca, graduada em RI (PUCMinas) e em Direito (UFMG), e coordenadora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário UniBH.

10

Page 11: Revista Quáo | #1 2014

11

Citizenship - inherent status in the individual

Cidadania - status inerente ao indivíduopor Heliane Guadalupe

It is classic T.H.Marshall's description (1967), around the concept of citizenship: "civil", "politics" and "social" constitute the three analytical categories that he had studied, for the English case. Although it does not represent all explanatory type cases of progress of citizenship in other national realities, the model used by this author is an important theoretical feature and continues to be reference to the comparative studies of the development of citizenship in other countries.

Civil rights development in English society relates to individual freedom, which translates in the freedom to come and go, freedom of the press, thought and faith, right to property, to conclude valid contracts and the right to justice. Within the framework of institutions, the development of civil rights was related to the courts of Justice, which sought to assure individual rights procedurally and basing on the notion of equality.

Political rights, in turn, have been developed to the extent that the civil rights claimed themselves as freedom status. However, Marshall states that unlike what happened with the civil rights, political rights were not new creations, but the transfer of certain rights already enjoyed by a portion of the population to new plots that came to embody the political community. In them, is included the right to participate in the exercise of political power, as a member of a body vested in political authority or as the elector of the members of such a body, with Parliament and local government councils as corresponding institutions.

Social rights were consolidated in the 20th century. But it was in the 18th century and the advent of the new social order, based on competitive economy, that social rights have promoted the consolidation of citizenship. The expansion of education formed in the 19th century the foundations by which social rights would develop in the next century.

Marshall argues that only in the 20th century the principles of social rights came to be associated with the citizenship status, as civil and political rights.

From Marshall's perspective, the whole society has the right to have a lucid vision of the world, without distinction of any kind. The immediate understanding of this right to lucidity requires that civil rights, to Marshall, are those concerning certain basic individual freedoms, among them the life and safety.

Marshall considers citizenship as "national by definition" and that its elements present, in the English case, a geographical fusion, from the 12th century, and a functional specialization, since the 18th century. In this context, "when freedom was made universal, citizenship went from local

É clássica a descrição feita por T.H.Marshall (1967), em torno do conceito de cidadania: “civil”, “política” e “social” constituem as três categorias analíticas por ele estudadas, para o caso inglês. Apesar de não representar tipo explicativo de todos os casos de progresso da cidadania em outras realidades nacionais, o modelo utilizado por esse autor é um recurso teórico importante e continua sendo referência para os estudos comparativos do desenvolvimento da cidadania em outros países.

O desenvolvimento dos direitos civis na sociedade inglesa se relaciona com a liberdade individual, que se traduz na liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, direito à propriedade, de concluir contratos válidos e direito à justiça. No âmbito das instituições, o desenvolvimento dos direitos civis esteve relacionado com os tribunais de justiça, que buscavam assegurar os direitos individuais processualmente e fundamentando na noção de igualdade.

Os direitos políticos, por sua vez, foram desenvolvidos na medida em que os direitos civis se afirmavam como status de liberdade. Porém, Marshall afirma que diferentemente do ocorrido com os direitos civis, os direitos políticos não foram criação nova, mas a transferência de alguns direitos já gozados por uma parcela da população às novas parcelas que vieram a incorporar a comunidade política. Neles se incluem o direito de participar no exercício do poder político, como membro de um organismo investido da autoridade política ou como eleitor dos membros de tal organismo, tendo como instituições correspondentes o parlamento e os conselhos do governo local.

Os direitos sociais se consolidaram no século XX. Mas foi a partir do século XVIII e do advento da nova ordem social, pautada na economia competitiva, que os direitos sociais promoveram a consolidação da cidadania. A expansão da educação formou no século XIX as bases pelas quais os direitos sociais viriam a se desenvolver no século seguinte.

Argumenta Marshall que apenas no século XX os princípios dos direitos sociais passaram a ser associados ao status de cidadania tal como o direito civil e o direito político.

Sob a ótica de Marshall, todo integrante da sociedade tem direito a uma visão de mundo lúcida, sem distinção de qualquer espécie. A

imediata compreensão desse direito à lucidez exige lembrar que direitos civis, para Marshall, são aqueles concernentes a determinadas liberdades individuais elementares, dentre elas a vida e a segurança.

Marshall considera a cidadania como “nacional por definição”, bem como que seus elementos apresentaram, no caso inglês, uma fusão geográfica, a partir do século XII, e uma especialização funcional, desde o

Page 12: Revista Quáo | #1 2014

Heliane Guadalupe é advogada, Presidente do Centro de Estudos da Gestão da Defesa Social e Vice-presidente do Centro Mineiro de Voluntariado Transformador. Além, bacharel em Direito (FUMEC) e Letras (PUCMinas).

institution to national institution".When it comes, however, to discuss about the

civil right to lucidity, there is, indeed, the implication that such right is ensured in an institutional device, or rather,constitutional, where the greater written law (and its implications) ensure the conditions that such a right is claimed, in case of not being respected.

From this perspective, even the whole abstract and universalist nature of the word "lucidity" needs, to be ensured, of specific contexts that guarantee it's protection, which would be, in the case, provided by the judiciary. In this light, there would be an identification with the English case, because in it, the fusion process began in the 12th century, when real justice acquired the power to define and defend the civil rights of individuals.

Thus, the theme of citizenship must be understood from, initially, what it is not, stating that it is not to be confused with democracy, it doesn't have a life of its own, nor has by synonymy some kind of empowerment. Citizenship is a method of social inclusion. If you consider such a defining approach to understand citizenship as the right to lucidity, citizenship would not be an inclusion method, but rather a preservation of a inherent status in every individual and all those who possess such status are equal in rights and obligations. Even in the early stages, citizenship has developed itself by enriching the set of rights that were not in conflict with the inequalities of capitalist society.

This way, the differential status, associated with class and function, was replaced by uniform status of citizenship that brought the foundation of "equality" on which the structure of inequality was built.

Citizenship, then, presupposes a direct feeling of participation, stimulated both by the struggle to acquire rights and the enjoyment of acquired rights. In this context, the citizenship acts as an instrument of social stratification.

Therefore, citizenship has been an important component so that social movements can expand social rights, combining freedom, participation and equality for all.

In short, the classic Marshall division leads us to identify civil rights as those which guarantee life in society; political rights as the participation in Government of a society and social rights as participation in collective wealth. It is relevant to understand that social rights put the individual in conditions to have the power to do what he is free to do.

In Brazil, the Constitution of 1988 placed the citizenship among the fundamental principles of the Republic. However, the immense social disparity has created an environment favourable to the development of classes of citizens who put

themselves above the law, beneficiaries of privileges and not rights; citizens who normally undergo the rigors and benefits of the laws and those who find themselves on the margins of citizenship and have their rights constantly violated.

século XVIII. Nesse contexto, “quando a liberdade se fez universal, a cidadania passou de instituição local à instituição nacional”.

Quando se trata, entretanto, de debater sobre o direito civil à lucidez, há, é verdade, a implicação de que tal direito esteja assegurado em um dispositivo institucional, ou melhor, constitucional, em que a lei maior escrita (e seus desdobramentos) assegure as condições de que tal direito seja pleiteado, em caso de não ser respeitado. Sob essa perspectiva, mesmo toda a natureza abstrata e universalista da palavra “lucidez” precisa, para ser assegurada, de contextos específicos assecuratórios de sua proteção, que seria, no caso, provida pelo Judiciário. Nesse prisma, haveria uma identificação com o caso inglês, porque nele o processo de fusão começou no século XII, quando a justiça real adquiriu o poder de definir e defender os direitos civis dos indivíduos.

Assim, o tema cidadania deve ser entendido a partir, inicialmente, do que ele não é, afirmando que não se confunde com democracia, não tem v i d a p r ó p r i a , t a m p o u c o t e m p o r s i n o n í m i a a l g u m t i p o d e empoderamento. Cidadania é um método de inclusão social. Caso se considere tal enfoque definidor para entender a cidadania como direito à lucidez, cidadania não seria um método de inclusão, mas sim de preservação de um status inerente a cada indivíduo e todos aqueles que possuem esse status são iguais em direitos e obrigações. Mesmo nos momentos iniciais, a cidadania se desenvolveu pelo enriquecimento do conjunto de direitos que não estavam em conflito com as desigualdades da sociedade capitalista.

Desta forma, o status diferencial, associado com classe e função, foi substituído pelo status uniforme da cidadania que trouxe o fundamento da “igualdade” sobre a qual a estrutura da desigualdade foi construída.

A cidadania, então, pressupõe um sentimento direto de participação, estimulado tanto pela luta para adquirir direitos quanto pelo gozo dos direitos adquiridos. Nesse contexto, a cidadania atua como um instrumento de estratificação social.

Por isso, a cidadania tem sido um importante componente para que os movimentos sociais possam expandir os direitos sociais, combinando liberdade, participação e igualdade para todos.

Em resumo, a clássica divisão de Marshall nos leva a identificar os direitos civis como aqueles que garantem a vida em sociedade; os direitos políticos como a participação no governo de uma sociedade e os direitos sociais como a participação na riqueza coletiva. Relevante entender que os direitos sociais colocam o indivíduo em condições de ter o poder para fazer aquilo que é livre para fazer.

No Brasil, a Constituição de 1988 situou a cidadania dentre os princípios fundamentais da República. Contudo, a imensa disparidade social criou um ambiente propício ao desenvolvimento de classes de cidadãos que se colocam acima da lei, beneficiários de privilégios e não de direitos; de cidadãos que normalmente se sujeitam aos rigores e benefícios das leis e daqueles que se encontram à margem da cidadania e tem seus direitos constantemente violados.

12

Page 13: Revista Quáo | #1 2014

13

Active citizenship and sustainable governance: Volunteering as an expression and Social Participation Strategy

Cidadania ativa e governança sustentável: o Voluntariado como Expressão e

Estratégia da Participação Social

por Rodrigo Starling

I – Active Citizenship: rights and duties – the evolution of the concept

To think citizenship from a given reality, namely, the life you have, the city where you live, the peculiarities of the State you're in, or the limits of your nation can, at first, suggest that this is an innate concept, imperative by nature. For this, it is necessary to go back in time, to the period of the revolutions, that left important legacies. Let's analyse them briefly.

The English Revolution (1688) inaugurated the era of industrial capitalism, period of great economic growth, leading the people to the appreciation of the work and the breakup of aristocratic whims and pleasures related to leisure.

From the American Revolution (1776), we got a new conception of politics, promoting various transformations on the concepts of citizenship and freedom. We highlight the belief in the victory of individual freedom against the tyranny of the State.

Finally the French Revolution (1789), with the famous motto: "liberty, equality, fraternity", explicit in its Declaration of the Rights of Man and of the Citizen. From it, where: "men are born and remain free and equal in rights" also was born the "new citizen" whose freedom, understood as the "right to do everything that does not harm others" should be ensured. Plus, the Declaration was not restricted to ensure rights, also established limits, laws, which should represent the consensus of the general will.

These revolutions were the great responsible for putting the citizen as subject of rights and agent in the fight against social inequalities. However, we believe that citizenship needs to advance not only including minorities within civil rights, but giving one step further, new formatting of the concept (and practice), more positive front to a world still: not much free, not much equal and not much fraternal.

II – Sustainable Governance – in search of balance

In this century the question of the environment, or rather the concern with it, went on to be featured as a complement to the concept of governance, translated into conferences, discussions, formulation of laws and agreements, which we know, suffer a lot of resistance. The main argument is that economic development is the "flagship" that will pull all the others: social, environmental and cultural.

According to the report Governance and Development, published by the World Bank in 1992, we can say about governance: "the

I – Cidadania Ativa: Direitos e Deveres – A Evolução do Conceito Pensar a cidadania a partir de uma dada realidade, ou seja, a vida que se

tem, a cidade onde se mora, as peculiaridades de seu Estado ou os limites de sua nação pode, a principio, sugerir que se trata de um conceito inato, imperativo já posto pela natureza. Por isto, faz-se necessário voltar no tempo, ao período das revoluções, que deixaram importantes legados. Analisemo-los brevemente.

A Revolução Inglesa (1688) inaugurou a era do capitalismo industrial, período de grande crescimento econômico, conduzindo o povo à valorização do trabalho e ao rompimento de caprichos da aristocracia ligados aos prazeres e ao ócio.

Da Revolução Americana (1776), legamos uma nova concepção de política, promovendo diversas transformações nos conceitos de cidadania e liberdade. Destacamos a crença na vitória da liberdade individual contra a tirania do Estado.

Finalmente a Revolução Francesa (1789), com o famoso lema: “Liberdade, igualdade, fraternidade”, explicito em sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A partir dela, onde: “os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos” nascia também o “novo cidadão” cuja liberdade, entendida como o “direito de fazer tudo que não prejudique os outros”, deveria ser assegurada. E mais, a Declaração não se restringia a assegurar direitos, estabelecia também limites, as Leis, que deveriam representar os consensos da vontade geral.

Estas revoluções foram as grandes responsáveis por colocar o cidadão como sujeito de direitos e agente na luta contra as desigualdades sociais. Contudo, acreditamos que a cidadania precisa avançar não só incluindo minorias no seio dos direitos civis, mas dando um passo além, nova formatação do conceito (e prática), mais positiva frente a um mundo ainda: pouco livre, pouco igual e pouco fraterno.

II – Governança Sustentável – Em busca do Equilíbrio Conforme o relatório Governance and Development, publicado pelo

Banco Mundial em 1992, por governança podemos aferir: “o exercício da autoridade, controle, administração e poder de governo (...) A maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e

econômicos de um país visando o seu desenvolvimento e (...) A capacidade dos governos de planejar, formular, implementar políticas e cumprir funções”.Neste século, a questão do meio ambiente, ou

melhor, a preocupação com ele, passou a ter destaque como complemento ao conceito de governança,

traduzida em conferências, discussões, formulação de leis e acordos, que sabemos, sofrem a resistência de muitos. O principal argumento é a tese de que o desenvolvimento econômico é o “carro chefe” que puxará todos os outros: social, ambiental e cultural.

Como sabemos, esse sobrepujamento do fator econômico sobre os outros causa grandes prejuízos socioambientais. Um desafio

Page 14: Revista Quáo | #1 2014

Rodrigo Starling é Pós-Graduado em Gestão de Políticas Sociais pela PUCMinas, presidente do Centro Mineiro de Voluntariado Transformador - MINAS VOLUNTÁRIOS, e da Starling Consultores Associados - SCA. Além, é filósofo e poeta, tendo publicado diversos livros.

exercise of authority, control, administration and power of government (...) The manner in which power is exercised in the administration of social and economic resources of a country seeking its development and (...) The capacity of Governments to plan, formulate, implement policies and fulfil functions ".

As we know, this power of economic factor over others causes major social-environmental damage. A challenge to the exercise of good governance where volunteering occupies central role.

III – Volunteering and sustainability -strategy and innovation

The idea precedes the action. Imbued with this thought we defend that volunteering and sustainability are complementary concepts. Far from a deterministic equation, it is a statement constructed within a logic of

responsibilities, this logic where governments, businesses, civil society organisations and citizens are "cells" with conscience, the only ones able to leave to this and future generations the real and planetary sustainability.

According to the United Nations – UN, "a volunteer is young or adult who, by personal interest and civic spirit, dedicates part of his time, without any remuneration, to activities aimed at the social welfare or other fields". Soon, with governments, companies,

civil society organisations and citizens engaged in the defence of their respective interests, we believe in volunteering as being the most appropriate activity to instigate them to look beyond their own goals.

The term sustainable ", from Latin sustain (sustain, defend, support and care) translates with clarity what you normally expect from a volunteer: that he sustains, defends, supports and cares to undertake the functions for which he set out to achieve a particular goal.

In 2011, a document that supports such claims was released . This is one of the latest reports from the United Nations for the Environment – UNEP, titled "Decoupling: natural resource use and environmental impacts from economic growth". It predicts that in 2050 humankind will be consuming a number estimated at 140 billion tons of minerals, fossil fuels and biomass per year (three times the current consumption), which will compromise any prospect of a prosperous future, unless we are more sympathetic.

We conclude with this challenge, inviting citizens to act as volunteers, assisting governments and managers, associations and communities, to achieve a goal: to arrive in 2050 with enough food, drinking water, sanitation, housing, education and health in such scale that they enable the achievement of an effective sustainability, in the present and future. Let's walk!

para o exercício da boa governança onde o voluntariado ocupa papel central.

III – Voluntariado e Sustentabilidade – Estratégia e Inovação A ideia precede a ação. Imbuídos deste pensamento advogamos que

voluntariado e sustentabilidade são conceitos complementares. Longe de uma equação determinística, trata-se de uma afirmação construída dentro de uma lógica das responsabilidades, lógica esta onde governos, empresas, sociedade civil organizada e cidadãos apresentam-se como “células” dotadas de consciência, as únicas capazes de legar a esta e as gerações futuras a sustentabilidade real e planetária.

Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, “voluntário é o jovem ou o adulto que, por interesse pessoal e espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a at ividades voltadas ao bem estar social ou a outros campos”. Logo, estando os governos, empresas, sociedade civil organizada e cidadãos empenhados na defesa de seus respectivos interesses, acreditamos no voluntariado como sendo a atividade mais adequada para instigá-los a “olhar” além de seus próprios objetivos.

Já o termo "sustentável”, do latim sustentare (sustentar, defender, apoiar e c u i d a r ) t r a d u z c o m c l a r e z a o q u e normalmente se espera de um voluntário: que ele sustente, defenda, apoie e cuide de empreender bem as funções para as quais se dispôs no alcance de determinado objetivo.

Em 2011, foi lançado um documento que ampara tais afirmações. Trata-se de um dos últimos relatórios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, intitulado “Decoupling: natural resource use and environmental impacts from economic growth”. Ele prevê que em 2050 a humanidade estará consumindo um número estimado em 140 bilhões de toneladas de minérios, combustíveis fósseis e biomassa por ano (três vezes o consumo atual), o que comprometerá toda e qualquer perspectiva de um futuro próspero, a não ser que sejamos mais solidários.

Concluímos com este desafio, convidando para que os cidadãos atuem como voluntários, auxiliando governos e gestores, associações e comunidades, a alcançarem um objetivo: chegar em 2050 com comida suficiente, água potável, saneamento, moradia, educação e saúde em tal escala que possibilitem o alcance de uma efetiva sustentabilidade, no presente e no futuro. Caminhemos!

14

Intervenção cultural no Fórum do Voluntariado Transformador

Page 15: Revista Quáo | #1 2014

15

O voluntariado como promotorda melhoria na mobilidadepor Guilherme Tampieri

In the 21st century, urban mobility has been one of the most discussed topics in the context of cities, especially in medium and large ones, because of the innumerable negative externalities arising from the lack of urban planning and incentive to the individual car. From there, one can list: visual, noise and environmental pollution, congestion, excess of lost time in traffic, costs to public health coming from pollution, accidents and stress, degradation of the urban environment and others.

Two datas that make us reflect a lot about the future we want for Belo Horizonte:

1) the city has the second highest rate of motorization in Brazil, with 63 automobiles for every 100 inhabitants, only behind Curitiba.

2) Belo Horizonte has the second largest vehicular density in the country, with 5381 cars for each km2, second only to São Paulo, with its 7000 cars per km².

Given this scenario, we have problems in three tiers of Government that it takes to believe that the situation of urban mobility in our cities will get worse, although there is a National Policy of Urban Mobility (Law 12.5872012). This federal legislation provides, in addition to the urban mobility policy integration with the company's long-term strategic plan, the prioritization of pedestrians over the other traffic agents, non-motorized modes on the other actors and the collective modes on the motorized private.

At Union level, we see a tendency towards the continuity of tax incentives for the purchase of cars, filling garages, parking lots and streets of cars and more cars.

At the State level, the slowness in the integrated planning of the metropolitan area and in the elaboration of proposals corroborates for the worsening of traffic and transportation of Belo Horizonte and its outputs to the neighbouring cities.

When looking at the municipality of Belo Horizonte, it is remarkable the precariousness of public transportation. In addition, the annual construction of several miles of streets, avenues, viaducts and elevated results in simple math: hundreds of thousands of new cars bought, in congested spaces that, before, were used by people in the form of parks, squares, streets with low speed and houses of hundreds of families.

The result of this is that, in 10 years, the public transportation, which was responsible for the largest number of trips, today has a percentage similar to the use of the private car (car and motorcycle) when talking about of trips made in

No século XXI, a mobilidade urbana tem sido um dos temas mais discutidos no contexto de cidades, especialmente nas médias e grandes, por conta das inúmeras externalidades negativas advindas da falta de planejamento urbano e do incentivo ao automóvel individual. De pronto, p o d e - s e e l e n c a r : p o l u i ç ã o v i s u a l , s o n o r a e a m b i e n t a l , congestionamentos, excesso de tempo perdido no trânsito, custos à saúde pública advindos da poluição, dos acidentes e do próprio estresse, degradação do meio ambiente urbano e outras.

Dois dados que nos fazem refletir bastante sobre qual o futuro queremos para Belo Horizonte:

1) A cidade tem segunda maior taxa de motorização do Brasil, com índice de 63 automóveis para cada 100 habitantes, perdendo apenas para Curitiba.

2) Belo Horizonte tem e segunda maior densidade veicular do país, com 5381 automóveis para cada km², perdendo apenas para São Paulo, com seus mais de 7000 automóveis por km².

Diante deste cenário, observa-se problemas nos três níveis de governo, o que leva a crer que haverá agravamento da situação da mobilidade urbana em nossas cidades, embora exista a Política Nacional da Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012).. Essa normativa federal prevê, além da integração da política de mobilidade urbana com o Plano Diretor, a priorização dos pedestres sobre os demais agentes do trânsito, dos

modos não motorizados sobre os outros atores e dos modos coletivos sobre os privados motorizados.

No nível da União, vê-se uma tendência à continuidade dos incentivos fiscais à compra de automóveis, lotando garagens, estacionamentos e ruas de carros e mais carros. No âmbito estadual, a lentidão no planejamento integrado da região metropolitana e na elaboração de propostas corrobora para o agravamento da piora no trânsito e no transporte de Belo Horizonte e suas saídas para as cidades limítrofes.

Quando se olha para o município de Belo Horizonte, é notável a precarização do transporte coletivo. Além disso, a construção anual de inúmeros quilômetros de ruas, avenidas, viadutos e elevados resulta numa matemática simles: centenas de milhares de novos carros comprados congestionados em espaços que, antes, eram destinados às pessoas na forma de parques, praças, ruas com baixa velocidade e moradias de centenas de famílias.

O resultado disso é que, em 10 anos, o transporte coletivo, que antes era responsável pelo maior número de viagens, hoje tem percentual semelhante ao uso do automóvel particular (moto e carro) quando se fala

Volunteering as a promoter of the improvement in mobility

Page 16: Revista Quáo | #1 2014

the metropolitan region of Belo Horizonte.Given the lack of capacity of public authorities,

at any level of Government, to work together with the population to think and execute solutions, social movements arise, and according to Maria da Glória Gohn (2010) they "(...) gave rise to other forms of popular organizations, established practices, made diagnoses and have created schedules, for themselves, for the society and the public authorities ". With ways to recapture the urban life for the mass of the population, citizens have been organized in various forms to act where the State does not have the capacity to reach and intervene.

Belo Horizonte doesn't run from this statement, when it comes to social movements intervened in the formation of public policy. From culture to sports, from mobility to health, society has organized itself in the state capital to pursue the agenda of public authorities in various thematic areas that require policies.

Public policies are determined not only by final decisions as votes in the legislature, initiatives of mayors or Secretaries and possible vetoes to good projects, but also by the fact that some questions and proposals are launched while others will never be taken seriously in our cities. This happens because of three factors: problems, policies, proposed or not, and participants involved in political processes.

The focus here will be the participation of agents in policy-building processes, I mean, in the succession of political actions. Imagine that you, citizen, have the opportunity to do something new and that it would have a positive impact in the process of fostering and promoting something that pleases you. Think this is possible, and, many times, it requires the identification of a timely occasion.

Making a cutout, here it will be presented a case where there was a conjunction of the three factors mentioned above (problems, proposed policies or not and participants involved in the political processes): the relationship between professional drivers and cyclists in the city of Belo Horizonte.

There is a problem in this relationship: professional drivers commonly don't respect cyclists. There wasn't a policy proposed to solve the problem or mitigate its consequences. Participants involved in the process had no actions aimed at solving the problem.

Given the scenario above, the BH em Ciclo (BH in Cycle) - Association of Urban Cyclists in Belo Horizonte, formed exclusively by volunteers engaged in promoting the bicycle as a mode of transport, offered to BHTrans a course that would be given by the Association to the instructors of professional drivers, with a focus on bicycle as a mode of transport and the cyclist as a transit agent. The proposal was accepted and then BH em Ciclo gave the course to about 25 instructors, who stated, in general, that they found the initiative positive and that they would teach the drivers what they learned in the course.

Discussions between Government and citizens interested in promoting the bicycle as a mode of transport started in December 2012, and culminated in the creation of GT Pedal BH, a working group formed by the public administration and civil society. Through the creation of this intersectoral dialogue channel, open and public, people interested in cycling in Belo Horizonte have become participants involved in the political processes of the city for the resolution of problems that pervade this subject.

em % de viagens feitas na região metropolitana de Belo Horizonte.Diante da falta de capacidade do poder público, seja no nível de governo

que for, de trabalhar conjuntamente com a população para pensar e executar soluções, surgem movimentos sociais que, segundo Maria da Glória Gohn (2010) “(...) deram origem a outras formas de organizações populares, estabeleceram práticas, fizeram diagnósticos e criaram agendas, para si próprios, para a sociedade e para o poder público”. Com vias a recapturar a vida urbana para a massa da população, cidadãos têm se organizado em diversas formas para agir onde o estado não tem capacidade de alcançar e intervir.

Belo Horizonte não foge a esta afirmação, quando se trata de movimentos sociais intervindo na formação de política pública. Da cultura ao esporte, da mobilidade à saúde, a sociedade tem se organizado na capital mineira para pautar a agenda do poder público em várias áreas temáticas que necessitam de políticas.

As políticas públicas são determinadas não apenas por decisões finais como votos no Legislativo, iniciativas de prefeitos ou secretários e possíveis vetos a bons projetos, mas, também, pelo fato de que algumas questões e propostas são lançadas enquanto outras nunca serão levadas a sério em nossas cidades. Isso se dá por três fatores: problemas existentes, políticas propostas ou não e por participantes envolvidos nos processos políticos.

O foco aqui será a participação de agentes em processos de construção de política, ou seja, na sucessão de ações políticas. Imagine que você, cidadão, tem a oportunidade de fazer algo novo e que teria impacto positivo num processo de fomento e promoção de algo que lhe agrada. Pense que isso é possível e, em vários momentos, necessita da identificação de uma ocasião oportuna.

Fazendo um recorte, aqui será mostrado um caso onde houve a conjunção dos três fatores acima citados (problemas existentes, políticas propostas ou não e por participantes envolvidos nos processos políticos): a relação entre motoristas profissionais e ciclistas na cidade de Belo Horizonte.

Existe um problema nessa relação: motoristas profissionais comumente não respeitam ciclistas. Não havia uma política proposta para solucionar o problema ou mitigar suas consequências. Os participantes envolvidos no processo não tinham ações voltadas à resolução do problema.

Diante do cenário acima, a BH em Ciclo - Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte -, formada exclusivamente por voluntários engajados na promoção da bicicleta como modo de transporte, ofereceu à BHTrans um curso que seria dado pela Associação aos instrutores dos motoristas profissionais, com foco na bicicleta como modo de transporte e no ciclista como agente do trânsito. A proposta foi aceita e, em seguida, a BH em Ciclo deu o curso para cerca de 25 instrutores, que afirmaram, em geral, que acharam a iniciativa positiva e que repassariam aos motoristas o que aprenderam no curso.

As discussões entre poder público e cidadãos interessados na promoção da bicicleta como modo de transporte se iniciaram em dezembro de 2012 e culminaram na criação do GT Pedala BH, um grupo de trabalho formado pela gestão pública e sociedade civil. Através da criação deste canal de diálogo intersetorial, aberto e público, pessoas interessadas na bicicleta em Belo Horizonte se tornaram participantes envolvidos nos processos políticos da cidade para a resolução de problemas que permeiam essa temática.

16

Page 17: Revista Quáo | #1 2014

17

Recently, President Dilma created by decree, the National Policy for Social Participation- PNPS (in portuguese) and the National System of Social Participation-SNPS. One of its goals is the strengthening of civil society, organized in institutions, movements and other forms, or by individual citizens acting in its institutional and political context, as arena suitable for the promotion of solutions to public policies capable of introducing efficiency and innovation in the management of projects and public policies.

With the actions like the course for drivers and the legal support, with the decree, the sources of information for decision-making become fewer and fewer exclusive for the State and originate from a range of institutions, from various aspects, and citizens. The search continues for the public administration to make politics with the society and no more to the society.

Recentemente, a presidenta Dilma instituiu, por decreto, a Política Nacional de Participação Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social - SNPS. Um dos objetivos dele é o fortalecimento da sociedade civil, organizada em instituições, movimentos e outras formas, ou pela atuação individual de cidadãos, em seu âmbito institucional e político, como arena adequada para a promoção de soluções para as políticas públicas capaz de introduzir eficiência e inovação na gestão de projetos e políticas públicas.

Com ações como a do curso de motoristas e o amparo legal, com o decreto, as fontes de informações para tomada de decisão passam a s e r c a d a v e z m e n o s d e exclusividade estatal e têm origem a partir de uma gama imensa de instituições, de vários âmbitos, e dos cidadãos. A busca continua para que a gestão pública faça política com a sociedade e não mais para ela.

Guilherme Tampieri é graduado em Relações Internacionais, gestor ambiental, membro do Movimento Nossa BH, Bike Anjo BH e BH em Ciclo. Enquanto ator social, acredita que o cidadão é capaz de participar da vida política e incidir na tomada de decisão dos gestores públicos, dentro e fora das esferas institucionais. Guilherme é também colaborador do site Bike é Legal.

Page 18: Revista Quáo | #1 2014

Fotos: Alexandre Pimenta Legenda: Mediação aplicada ao contexto escolar no Centro Pedagógico da UFMG, Minas Gerais, Brasil

Mediação: a luta daqueles queapostam na palavrapor Flávia Resende

Mediation - that can be understood as a technique of facilitation of dialogue by a third party, unbiased, that helps the parties in conflict to find solutions themselves, creatively and peacefully, for the issue experienced - is a procedure that has been being adopted in Brazil for a few decades. More specifically, the mediation has had the country's visibility as a suitable method of conflict resolution from the resolution 125 of the National Justice Council (CNJ in portuguese), a public institution which aims to improve the work of the Brazilian judicial system, which adopted the public policy of treating conflicts through consensual methods in the

courts, since the year of 2010, and Bill 7.1692014 in processing, which regulates mediation between individuals.

However, unlike the majority of Brazilians, who only now are having contact with this form of conflict resolution, I knew mediation about ten years ago. My interest in the procedure happened in response to my practice in advocacy. I graduated in law from Catholic Pontifical University (PUC-MG in portuguese) in 1999, and the contact with the reality of the area made me seek alternatives to a practice of justice which happened inside of an excessive bureaucratic formality, whose decisions, in most cases, were extremely focused on the interest of the stronger. In spite of the 1988 Federal Constitution, drawn up after the end of the dictatorship, has as its foundation the democratic practice and the guarantee of the fundamental rights of each and every citizen, I realized that the access to rights in my country, as in other developing countries, needed to be made through much struggle, awareness and mobilization for a true citizenship.

In this search for a more effective law, I met the program Citizenship Poles, designed by Professor Navin

Gustin at the Federal University of Minas Gerais (UFMG), in eagerness to facilitate access to

rights to popular demands, among other projects, installed the mediation procedure, in partnership with the public authorities in various communities affected by violence in the state of Minas Gerais. Mediation, which I knew because of the initiative of this teacher, became an important tool in the exercise of my profession, serving as a really democratic instrument for effecting rights. As its procedure is to give the word to parties involved in disputes, in order for them to empower themselves to find solutions to their conflicts, aware of their own issues and building, through dialogue, their autonomy, mediation became, for me, a synonym for citizenship.

As a mediator, therefore, through the doors of

Mediation: the fight of those who bet on word

A mediação - que pode ser entendida como uma técnica de facilitação de diálogo por um terceiro, imparcial, que ajuda as partes em conflitos a encontrarem soluções, elas mesmas, de forma criativa e pacífica, para a questão vivenciada - é um procedimento que vem sendo adotado no Brasil há poucas décadas. Mais especificamente, a mediação tem tido visibilidade no país, como método adequado de resolução de conflitos a partir da resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição pública que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, que adotou a política pública de tratamento de conflitos através dos métodos consensuais nos tribunais, desde o ano de 2010, e do Projeto de lei 7.169/2014, ainda em tramitação, que regula a m e d i a ç ã o e n t r e particulares.

N o e n t a n t o , a o contrário da maioria dos brasileiros, que só agora tomam contato com esta forma de resolução de conflitos, eu conheci a mediação há cerca de dez anos. Meu interesse p e l o p r o c e d i m e n t o a c o n t e c e u c o m o r e s p o s t a a m i n h a prática na advocacia. Formei-me em Direito p e l a P o n t i f í c i a Universidade Católica (PUC/MG) em 1999, e o contato com a realidade da área me fez buscar a l t e r n a t i v a s a u m a prática de justiça que se fazia dentro de uma formalidade excessiva, b u r o c r á t i c a , c u j a s decisões, na maioria dos casos, estavam extremamente voltadas para o interesse dos mais fortes. A despeito da Constituição Federal de 1988, elaborada após o fim da ditadura, ter como seu basilar a prática democrática e a garantia dos direitos fundamentais de todo e qualquer cidadão, percebi que o acesso aos direitos no meu país, como nos demais países em desenvolvimento, precisava ser feita através de muita luta, conscientização e mobilização para uma verdadeira cidadania.

Nesta busca por um direito mais efetivo, conheci o Programa Pólos de Cidadania, idealizado pela professora Miracy Gustin na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que, no afã de facilitar o acesso a direitos a demandas populares, entre outros projetos, instalou o procedimento de

18

Page 19: Revista Quáo | #1 2014

19

this project, I had the opportunity to join in the frames of the state of Minas Gerais and work in the community Pedreira Prado Lopes, in Belo Horizonte, the capital of this state, and to meet the reality of one of the villages most affected by the violence of the city. To listen to its residents, the violation of rights they pass, and meet at the same time, the policy of the Government, their openings for the practice of democracy, which are many, but also their most varied limitations, made me understand the importance of giving proper treatment to conflicts in a society that intends to be democratic. Since then, when mobilizing people and bringing them closer to the public authorities to facilitate their access to rights, seeing the numerous possibilities of dialogue, and also the limitations of this procedure, which also appeared to generate other forms of action through this same dialogue, the mediation became for me a cause, a militancy, a volunteering and a great passion in my life.

After five years of work in the State, through the invitation of a colleague, I joined the Commission for Mediation and Arbitration of the Order of Lawers of Minas Gerais (OAB-MG in portuguese), whose goal is the dissemination of extrajudicial dispute resolution methods for the legal community. The challenges are many. Used to a litigating culture, supported by a formalistic law, lawyers in Brazil still can hardly see in the peaceful resolution of conflicts a form of satisfaction for their clients. Culturally, in Brazil, and I think that the same occurs in the global imaginary, the good lawyer is the one who fights more, and not who makes the best deals. And yet, in a country of tradition of Civil Law, i.e. where the principal sources of law adopted here are the law, text, to use the word and fight for a practice of law anchored in the habits and principles, as proposed by the mediation procedure, it becomes a little more challenging.

However, as a mediator, used to roam through the different visions of the parties that are involved in controversies, I've learned that to transform views requires work and patience. To make the jurists, but also citizens involved in conflicts, migrate from a dualistic vision of right and wrong, in a culture that since the childhood we learned to be valued by our strength, for gain, to treat the difference as a threat, not as a possibility of growth, is tough. Scroll through the courts, forums, law schools, mobilizing professionals involved with human rights in the most varied areas, people in private offices, to the various possibilities that the dialogue solves; it all has been the practice of my day to day and a big task.

But not only mine: in this trajectory of dissemination of the benefits of mediation, meeting with party people with a more peaceful and plural vision of the world has been a sweet reality. A year ago, for example, among other important mediators, I met the psychologist Rita Andréa Guimarães, another militant in the cause. Because of her invitation I joined, participating voluntarily, in a mediation project facing the school context, whose purpose is to train students, teachers and school staff to deal with conflicts in a more peaceful way. The project, which was being developed by her in partnership with the Pedagogic Center of the Federal University of Minas Gerais (UFMG in portuguese), through the initiative of its Director at that moment, Tania Margarida Costa, is completing a year. In this one, we work with 20 kids and their respective teachers.

The gains to take the mediation to the school

mediação, numa parceria com o poder público, em diversas comunidades afetadas pela violência no estado de Minas Gerais. A mediação, que conheci a partir da iniciativa desta professora, tornou-se uma importante ferramenta no exercício da minha profissão, servindo como um instrumento realmente democrático para a efetivação de direitos. Ao ter como procedimento dar a palavra às partes envolvidas em controvérsias, a fim de que elas mesmas empoderem-se para encontrar soluções para seus conflitos, conscientizando-se das suas próprias questões e construindo, através do diálogo, a sua autonomia, a mediação tornou-se, para mim, sinônimo de cidadania.

Como mediadora, portanto, pelas portas deste projeto, tive a oportunidade de ingressar nos quadros do Estado de Minas Gerais e trabalhar na comunidade Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte, capital deste Estado, e conhecer a realidade de uma das vilas mais afetadas pela violência da cidade. Ouvir seus moradores, a violação de direitos por que passavam, e conhecer, paralelamente, a política do poder público, suas aberturas para a prática da democracia, que são muitas, mas também as suas mais variadas limitações, me fez compreender muito a importância de dar tratamento adequado aos conflitos numa sociedade que se pretende democrática. Desde então, ao mobilizar pessoas e aproximá-las do poder público para facilitar o seu acesso a direitos, vendo as inúmeras possibilidades do diálogo, e também as limitações deste procedimento, que também apareciam gerando outras formas de ação através deste mesmo diálogo, a mediação tornou-se para mim uma causa, uma militância, um voluntariado, e uma grande paixão em minha vida.

Após cinco anos de trabalho no Estado, a convite de um colega, ingressei na Comissão de Mediação e Arbitragem da Ordem dos Advogados de Minas Gerais (OAB/MG), cujo objetivo é a divulgação dos métodos extrajudiciais de resolução de conflitos para a comunidade jurídica. Os desafios são muitos. Acostumados a uma cultura litigante, apoiada por um direito formalista, os advogados no Brasil ainda dificilmente conseguem ver na resolução pacífica de conflitos uma forma de satisfação para os seus clientes. Culturalmente, no Brasil, e posso pensar que o mesmo ocorre no imaginário mundial, o bom advogado é aquele que briga mais, e não o que faz os melhores acordos. E ainda, dentro de um país de tradição de Civil Law, ou seja, onde as principais fontes do direito adotadas aqui são a lei, o texto, apostar na palavra e lutar por uma prática de direito ancorada nos costumes e princípios, como propõe o procedimento de mediação, torna-se um pouco mais desafiador.

No entanto, como mediadora, acostumada a transitar pelas diversas visões das partes que estão envolvidas em controvérsias, aprendi que transformar pontos de vista necessita trabalho e paciência. Fazer com que os operadores do direito, mas também os cidadãos envolvidos em conflitos, migrem de uma visão dualista do certo e errado, numa cultura que desde pequenos aprendemos a ser valorizados pela nossa força, pelo ganho, a tratar a diferença como algo que nos ameaça, e não como possibilidade de crescimento, é tarefa árdua. Percorrer tribunais, fóruns, faculdades de direito, mobilizar profissionais envolvidos com direitos humanos nas mais variadas áreas, pessoas no escritório particular, para as diversas possibilidades que encerra o diálogo, tem sido a prática do meu dia a dia e uma grande tarefa.

Mas não somente minha: nesta trajetória de divulgação dos benefícios da mediação, o encontro com pessoas partidárias de uma visão mais

Page 20: Revista Quáo | #1 2014

context have been being many. Issues such as racism, aggression, the practice of bullying, the difficulty of boys and girls to follow the guidelines of the school have been worked with children through dialogue. In one case, it was with great joy that we mediators, after working the students' resistance in accepting the balanced food prepared by the school, and therefore without goodies, we reached a deal with the kids. We sealed an agreement between students and the sector responsible for food in school to serve, every once in a while, some desserts on the menu. In return, the children, aware of the need for healthy food at school, pledged to eat without needing so much insistence of employees, which was a constant, and wasting less food. All these negotiations lasted four months. Working the concept of dialogue, diversity of students' views on food at school, the importance of good nutrition, children had the opportunity to hear other students and those responsible for school meals to understand the necessity of the limitation of certain types of food on the menu, choosing, themselves, by eating more nutritious.

Examples of successful negotiations in school are numerous. Bullying practices, an issue that affects students in various schools in the country and in the world, have been worked. In the cases that aggression happens within this group, we work to listen to both sides making the concept of victim and aggressor be relativized, so that each party involved in the conflict is able to see and understand the reason on the other. Apologies have been constant and enough for the school, realizing that the conflict was actually worked and understood by students, to open hand of punishments on these boys. A reward for those who learn, a stimulus to other children to feel free to follow the same path.

Like when it comes to change, everything is done gradually. We still struggle with the teachers for some of them, used to the old discipline, to understand that it is possible to have order outside the logic of command and control. That dialogue, capable of making the students understand and not only obey the law, can have a great educational importance. Boldly, the school aims with this project, still pilot – which counts with the participation of a team of cinema, specialized in human rights, Pimenta Filmes, registering step by step the evolution of the class- to build citizens for the future.

So, the walk doesn't stop. To be a mediator, specially in Brazil, requires a lot of idealism and goodwill. In the Committee of the Order of Lawers, lovers of the cause take turns to bring this culture of dialogue to the legal community as a whole. In universities, study groups work, also voluntarily, so that we can show the students that there are many shades between what culture and the legal world call right and wrong. Anyway, we fight for the deployment of a new logic, whichway to resolve conflicts is docked in diversity, in recognizing the reasons on the other, in respect, in the construction of the autonomy and in the way to deal with conflicts in a more pacific way, as a society. All work is little, but for us, mediators, the transformation of a little person's vision, as in the case of kids, or the great citizen, is already a huge thing.

pacífica e plural de mundo tem sido uma doce realidade. Há um ano, por exemplo, dentre outros importantes mediadores, conheci a psicóloga Rita Andréa Guimarães, outra militante na causa. A convite dela ingressei, participando voluntariamente, num projeto de mediação voltada para o contexto escolar, cujo objetivo é formar alunos, professores e funcionários da escola a tratarem os conflitos de forma mais pacífica. O projeto, que estava sendo desenvolvido por ela em parceria com o Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por iniciativa da sua então diretora Tânia Margarida Costa, está completando um ano. Neste, trabalhamos com 20 meninos e seus respectivos professores.

Os ganhos de levar a mediação para o contexto escolar têm sido muitos. Questões tais como o racismo, a agressividade, a prática do bullying, a dificuldade de meninos e meninas de seguirem as diretrizes da escola têm sido trabalhadas com as crianças através do diálogo. Em um dos casos, foi com muita alegria que nós, mediadoras, após trabalharmos a resistência dos alunos em aceitarem a comida preparada de forma balanceada pela escola, e, portanto, sem guloseimas, chegamos a uma negociação com as crianças. Selamos um acordo entre alunos e o setor responsável pela alimentação na escola em servir, de vez em quando, algumas sobremesas no cardápio. Em troca, as crianças, cientes da necessidade da alimentação saudável na escola, se comprometeram a comer sem precisarem de tanta insistência de funcionários, o que era uma constante, e a desperdiçarem menos os alimentos. Toda esta negociação durou quatro meses. Trabalhando o conceito de diálogo, diversidade de visões dos alunos diante da alimentação na escola e a importância da boa nutrição, as crianças tiveram a oportunidade de ouvir outros alunos e os responsáveis pela alimentação escolar para compreenderem a necessidade da limitação de determinados tipos de comida no cardápio, optando, elas mesmas, por uma alimentação mais nutritiva.

Os exemplos de negociações que tiveram sucessos na escola são inúmeros. Práticas de bullying, uma questão que afeta alunos em diversas escolas no país e no mundo, têm sido trabalhadas. Nos casos nos quais acontecem agressões dentro do grupo, trabalhamos a escuta de ambos os lados fazendo com que o conceito de vítima e agressor seja relativizado, para que cada parte envolvida no conflito consiga ver e compreender a razão do outro. Pedidos de desculpas têm sido constantes e o suficiente para que a escola, percebendo que o conflito realmente foi trabalhado e compreendido pelos alunos, abra mão de punições em relação a estes meninos. Uma recompensa para quem aprende, um estímulo para que outras crianças sintam vontade de seguir o mesmo caminho.

Como em se tratando de mudança, tudo se faz aos poucos. Ainda lutamos com os professores para que alguns deles, acostumados à velha disciplina, compreendam que é possível haver ordem fora da lógica do comando e controle. Que o diálogo, capaz de fazer com que alunos possam compreender e não somente obedecer a lei, pode ter uma grande importância pedagógica. Ousadamente, a escola aposta com este projeto, ainda piloto – que conta ainda com a participação de uma equipe de cinema, especializada em direitos humanos, a Pimenta Filmes, registrando passo a passo a evolução da turminha - construir cidadãos para o futuro.

A caminhada, portanto, não para. Ser mediador, ainda, no Brasil, exige muito idealismo e boa vontade. Na Comissão da Ordem dos Advogados os

20

Page 21: Revista Quáo | #1 2014

apaixonados pela causa se revezam para levar esta cultura do diálogo para a comunidade jurídica como um todo. Nas universidades, grupos de estudos funcionam, também de forma voluntária, para que possamos mostrar a estudantes que há muitas matizes entre o que a cultura e o mundo jurídico chamam de certo e errado. Enfim, lutamos para a implantação de uma nova lógica, cuja forma de resolver conflitos está ancorada na diversidade, no reconhecimento das razões do outro, no respeito, na construção da autonomia e no modo de lidar com os conflitos de modo mais pacífico, enquanto sociedade. Todo trabalho é pouco, mas para nós, mediadores, a transformação da visão de um pequeno, como é o

caso dos meninos, ou do grande cidadão, já é muito.

Flávia Vieira de Resende é advogada e Mediadora de Conflitos. Atuou em comunidades vítimas de violência através da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (SEDS). É membro da Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB/MG. É graduada em Direito (1999) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Comunicação Social, com ênfase me Jornalismo (1999) e Filosofia (2008) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Filosofia antiga, onde pesquisou a ideia de Justiça como diálogo em Platão. Ministra cursos e palestras na área de Mediação. Realiza projeto de pesquisa-ação em Mediação Escolar no Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG).

21

Page 22: Revista Quáo | #1 2014

Terceiro Setor: a humanizaçãodo capitalismopor Lucia Maria Bludeni

Somos protagonistas do novo milênio, em que o setor de mercado e o setor público desempenharão um papel cada vez mais reduzido na vida cotidiana dos seres humanos em todo o mundo. Este papel poderá ser preenchido por uma participação maior do Terceiro Setor e seus mecanismos de oportunidade e de inclusão social.

A globalização e o esvaziamento do papel que o Estado desempenha levarão cada vez mais as pessoas a se organizarem em comunidades ligadas por seus próprios interesses para garantia de seu futuro. Portanto, organizações baseadas em comunidades focadas em suas necessidades serão as principais defensoras e agentes da reforma social e política. Elas vão atuando de forma organizada como interlocutores e articuladores, seja com o Estado ou com o mercado, para aprofundar os vínculos comunitários e as infraestruturas locais.

Esta influência que o Terceiro Setor exerce na tomada de decisões pelo poder público é o exercício pleno da democracia participativa. Com a construção de comunidades locais fortes e autossustentadas, as sociedades serão capazes de resistir às forças da globalização que, a despeito de seus numerosos aspectos positivos, podem abalar sobremaneira o sustento e a sobrevivência de grande parte das famílias.

Forjar novos vínculos de confiança e um senso de comprometimento mútuo para o bem-estar social é tarefa de todos, mas, especialmente, o Terceiro Setor parece se transformar no protagonista da mudança de hábitos, conceitos e valores sociais. Destacamos, por fim, o caráter cívico que vem impregnado na expressão “Terceiro Setor”, impulsionando a sociedade civil a ocupar espaços públicos. Entre as ferramentas para esta participação estão as audiências públicas, as passeatas e manifestações individuais (e-mails, cartas, telefonemas para parlamentares, entre outras). Há outros mecanismos de participação: conselhos escolares, comissões, conferências, comitês de gestão, representação em órgãos públicos, colegiados, acompanhamento de sessões na Câmara, ação civil pública e outras. Quem de nós já teve a iniciativa de usar por direito estes mecanismos? Cabe aqui uma reflexão sobre nossa passividade.

A ocupação dos espaços públicos pela sociedade organizada fortalece a relação público/privado com vistas ao inesgotável processo de inclusão e efetividade na implementação de direitos e deveres. O empoderamento desses direitos se traduz na formulação e adoção de políticas públicas de longo prazo, fiscalizadas e aperfeiçoadas pelos seus próprios beneficiários, ou seja, a coletividade, o senso comum público. Quando a sociedade pressiona para a formulação de políticas públicas, o governo não tem legitimidade para mudá-las.

Em síntese, o Terceiro Setor revela-se um importante representante do viés humanista do Capitalismo. Acreditamos que a sociedade civil organizada deve zelar pela transparência de suas ações e defender o bem comum para fortalecer o país.

We are protagonists of the new millennium, in which the market sector and the public sector will play an increasingly smaller role in everyday life of human beings throughout the world. This role may be filled by a greater participation of the third sector and its mechanisms of opportunity and social inclusion.

Globalization and the emptying of the role that the State plays will lead more and more people to organize themselves in communities linked by their own interests to guarantee their future. Therefore, organizations based in communities focused on their needs will be the main advocates and agents of social and political reform. They are acting in an organized manner as interlocutors and articulators, either with the State or with the market, to deepen the community links and local infrastructure.

This influence that the third sector plays in decision-making by public authorities is the full exercise of participatory democracy. By building strong, self-supported local communities, companies will be able to resist the forces of globalization that, in spite of its numerous positive aspects, can shake particularly the livelihood and survival of a large number of families.

To forge new bonds of trust and a sense of mutual commitment to the social welfare is a task of everyone, but especially the third sector seems to become the protagonist of the change of habits, concepts and social values. Finally, we highlight the civic character that comes impregnated in the expression "third sector", boosting civil society to occupy public spaces. Among the tools for such participation are public hearings, the marches and individual manifestations (e-mails, letters, phone

calls to lawmakers, among others).There are other mechanisms for

participation: conferences, commissions, school boards, management committees, representation in public bodies, committees, monitoring of Government sessions, public civil action and others. Who of us already took the initiative to use by right these mechanisms? We have to reflect about our passivity.

The occupation of public spaces by organized society strengthens the relationship public/private with

views to the inexhaustible process of inclusion and effectiveness in the implementation of rights and duties. These rights' empowerment translates in the formulation and adoption of long-term public policy, audited and optimized by its beneficiaries, namely, the collective, common public sense. When society presses for the formulation of public policies, the Government has no legitimacy to change them.

In summary, the third sector is an important representative of the humanist bias of capitalism. We believe that organized civil society must ensure the transparency of their actions and defend the common good to strengthen the country.

Third Sector: the humanization of capitalism

Lúcia Maria Bludeni é Advogada, Presidente da Comissão de Direito do Terceiro Setor OABSP, Coordenadora da ESASP do curso de Terceiro Setor e Conselheira pela OABSP no Conselho Municipal de Assistência Social de São Paulo.

22

Page 23: Revista Quáo | #1 2014

Maior companhia de software do mundo - SAP - envia voluntários para BHpor Olena Demeter

The world's largest business software company SAP sends volunteers to Belo Horizonte

A series of silver retro chair made from old tiers adorned the cozy terrace in front of a villa. The entrance door with colorful mosaics invited the visitors to step in. Inside big paper birds in pastel colors hanging from the ceiling over the staircase created a kind of dynamic, especially when the wind blew through the windows and the creatures started to budge each in own direction. It felt very comfortable in the rooms. After precise observing one could recognize that the cute decorations were hand made from used bottle tops, egg packaging and other recycled materials. A big part of the villa was in use by the restaurant Reciclo; being one of the main profit pillars it ensured the livelihood of many former catadores. We were touched that all these things surrounding us were made by people trying to find their way back to the normal life and at the same time we felt honored to get a chance to set in motion a new wave of changes hopefully helping these people.

In July 2012 nine SAP high potential employees started their journey to the emerging market of “Big Four” to contribute with their know-how and experience to three non-governmental organizations. Being thrown for four weeks in a completely new environment, being placed in teams with members from different continents, having set strong goals which had to be achieved within this short time frame envisioned fostering the SAP talents to develop new qualities and skills. The pilot project was initiated by SAP Corporate Social Responsibility department in cooperation with partner organization CDC Development solution (now: Pyxera). I was assigned to the ASMARE client. Bringing my multi-cultural background, as I was originally born in Ukraine and have studied and worked in Germany for 14 years, I had a pleasure even to enrich it when I' got to know that my team mates Evan Welsh comes from the US and Jan Seger is a Canadian, that sounded exciting.

Although the term catador may sound new to you and is not widely spread on the other side of the Brazilian boarders, it was manifested by ASMARE, which united catadores officially already since 1990. The term describes a person taking care about collecting, transporting and sorting recyclebar materials, for example old plastic, glass bottles, paper, cardboard packaging. Founded by Donna Geralda, ASMARE's main goal was to support the catadores in accomplishing their work, to support them with living possibilities, basic educational offering and other services. Meanwhile it owns two waste and recycling facilities, an art studio, a wood workshop and the

Uma série de cadeiras de prata retrô feitas de pneus velhos adornavam o acolhedor terraço em frente a uma casa. A porta de entrada com mosaicos coloridos convidava os visitantes para entrarem. No interior, grandes pássaros de papel em tons pasteis pendurados no teto por cima da escadaria criavam uma espécie de dinâmica, especialmente quando o vento soprava através das janelas e as criaturas começavam a se mover, cada um na própria direção. Os cômodos eram confortáveis. Depois de uma observação precisa podia-se reconhecer que as belas decorações eram feitas à mão a partir de garrafas de plástico, embalagens de ovo e outros materiais reciclados.

Uma grande parte da casa estava em uso pelo restaurante Reciclo, que sendo um dos pilares principais de lucro, garante o sustento de muitos

antigos catadores. Fomos tocados pelo fato de que todas as coisas que nos rodeavam foram feitas por pessoas que tentam encontrar seu caminho de volta à vida normal e ao mesmo tempo nos sentimos honrados por ter a chance de pôr em marcha uma nova onda de mudanças, esperando ajudar essas pessoas.

Em julho de 2012 nove funcionários de alto potencial da SAP começaram sua viagem para o mercado emergente dos "Big Four" para contribuir com seus conhecimentos e experiência para três organizações não-governamentais. Sendo colocados por quatro semanas em um ambiente completamente novo, e m e q u i p e s c o m m e m b r o s d e diferentes continentes, tendo metas fortes que tiveram que ser alcançadas dentro deste curto espaço de tempo, vislumbraram promover os talentos

SAP para desenvolver novas habilidades e qualidades. O projeto piloto foi iniciado pelo departamento de Responsabilidade Social Corporativa da SAP em cooperação com a organização parceira de solução de desenvolvimento CDC (agora: Pyxera). Fui designada para o cliente ASMARE. Trazendo meu background multicultural, já que nasci na Ucrânia e estudei e trabalhei na Alemanha por 14 anos, eu tive o prazer de enriquecê-lo ao saber que meu colega de time Evan Welsh vinha dos EUA e Jan Seger era um canadense, o que parecia animador.

Embora o termo catador possa parecer novo para você e não esteja amplamente difundido além das fronteiras brasileiras, ele foi destacado pela ASMARE, que une catadores oficialmente desde 1990. O termo descreve uma pessoa que cuida da coleta, transporte e triagem de materiais recicláveis, por exemplo, plástico, garrafas de vidro, papel e embalagens de papelão. Fundada por Dona Geralda, o objetivo principal

23

Page 24: Revista Quáo | #1 2014

restaurant Reciclo. The associates create artwork out of recycled materials for selling, provide waste collection service for sustainable company events, it also conducts trainings for design of handicraft from recycled materials for children and adults. In its ecosystem it partners with state offices and universities on joint research and cooperation programs.

A great booster for the productive start of SAP teams onsite was a series of virtual pre-work sessions on corporate responsibility, economic growth in emerging markets, culture & communication in Brazil, medical care, which were organized and conducted by SAP CSR and CDC Development Solutions. It was even possible to get initial contact via web conference to our clients in

Brazil.The first working day in Belo

Horizonte started with a Kick-Off workshop at ASMARE, where all three teams met with their clients in person. The NGOs presented the mission and the goals they strive for, they introduced the challenges they encounter and where they fondly hope to get support from SAP teams. In between we die team building exercises to get to know our team mates closer, as we all flew in from different SAP offices. The goals for the assignments were very diverse: ASMARE needed a new communication plan to spread the information about their portfolio, Mãos de Minas wished optimization of their supply chain for the handicraft artisans, Rede Cidadã asked for an HR strategy of their apprenticeship and employment center. Another specialty of the projects was that two of three teams received a translator as most representatives of the clients spoke Brazilian Portuguese and the common language for SAP employees was English. In

ASMARE team we had luck to work with wonderful translator Isabella Bretz, who provided us with first class translation. She is herself very active in volunteering activities inland and abroad and is an amazing singer.

The challenge at ASMARE was that its organization and portfolio evolved and grew over the time, but was not well known in its new format to the society. Our first working day with the client started in a newly renovated and fancy room in the basement with a nice view to the papaya inner yard. While cheerful singing voices were coming from the kitchen and smell of the tasty lunch was spreading into our office room, Mauricio (art designer and manager) and Flávia (executive director) brought all the roll out materials they had and were giving us deep dive into the current communication strategy. Afterwards we planned a series of activities to research the perception about the organization. We visited the waste and recycling facility in Belo Horizonte and conducted interviews with the management and catadores there.

All phases at the waste and recycling facility Contorno are well structured: it begins with the

da ASMARE era apoiar os catadores em realizar seu trabalho, também ampliando suas possibilidades de vida, oferecendo educação básica e outros serviços. Entretanto, ela possui duas instalações de resíduos e reciclagem, um estúdio de arte, uma oficina de madeira e o restaurante Reciclo. Os associados criam arte final a partir de materiais reciclados para vender, fornecem o serviço de coleta de resíduos para empresas e eventos sustentáveis, realizando também treinamentos para o projeto de artesanato para crianças e adultos. No seu ecossistema realiza parcerias com Secretarias de Estado e universidades, em programas conjuntos de investigação e cooperação.

Um grande impulsionador para o início produtivo da equipe da SAP no local foi uma série de sessões virtuais pré-trabalho sobre responsabilidade corporativa, crescimento econômico e m m e r c a d o s e m e r g e n t e s , comunicação de cultura no Brasil e c u i d a d o s m é d i c o s , q u e f o r a m organizadas e conduzidas pela SAP e CDC. Foi ainda possível obter contato inicial via web conferência com nossos clientes no Brasil.

O primeiro dia de trabalho em Belo Horizonte começou com um workshop na ASMARE, onde todas as três equipes reuniram-se com seus clientes em pessoa. As ONGs apresentaram a missão e os objetivos que buscam, i n t r o d u z i r a m o s d e s a fi o s q u e encontram e disseram onde esperavam o b t e r o a p o i o d a s e q u i p e s S A P. Enquanto isso nós fizemos exercícios para conhecer nossos companheiros de equipe mais de perto, já que viemos de diferentes escritórios. As metas para as atribuições foram muito diversas: a ASMARE precisava de um novo plano de comunicação para difundir as informações sobre seu trabalho, Mãos de Minas desejava a otimização de sua cadeia de abastecimento para os artesãos, a Rede Cidadã pediu uma estratégia de RH de seu centro de aprendizagem e de emprego. Outra especialidade dos projetos foi que duas das três equipes receberam um tradutor, visto que a maioria dos representantes dos clientes falavam português e a linguagem comum para os funcionários da SAP era inglês. Na equipe da ASMARE, tivemos sorte de trabalhar com a maravilhosa tradutora Isabella Bretz, que nos proveu tradução de primeira classe. Ela é muito ativa em atividades de voluntariado no local e no exterior e também uma cantora incrível.

O desafio da ASMARE foi que sua organização e portfólio evoluiram e cresceram ao longo do tempo, mas não eram bem conhecidos em seu novo formato pela sociedade. Nosso primeiro dia de trabalho com o cliente começou num quarto recém renovado e chique no porão com uma bela vista para o pátio interior. Enquanto vozes cantando alegres estavam vindo da cozinha e o cheiro do saboroso almoço foi espalhando por nossa sala de escritório, Mauricio (designer de arte e gerente) e Flávia (diretora executiva) trouxeram todos os materiais que tinham e nos deram

24

Page 25: Revista Quáo | #1 2014

Olena Deméter é Gerente de Projetos da maior empresa de software empresarial SAP. Durante seu estudo de Ciência da Computação na Alemanha ela fez estágios na Siemens, IBM e T-Systems. Olena tornou-se também uma coach de Design Thinking (DT) após praticar DT em Palo Alto, Califórnia. Ela se envolve em vários projetos sociais, atualmente atuando como mentora de uma start up social de Berlim.

separation of the waste, followed by wrapping and depending on the materials it will be weighed and at the end picked up by the trucks.

Having established the organization in 1990 Dona Geralda is still the one for whom the well-functioning system at Contorno lies at the heart. She fought for the recognition of catadores as professionals. ASMARE received numerous awards for its efforts to integrate people into society and for its active role in sustainability. We were pleased to meet Dona Geralda in person and were impressed by her enthusiasms and strong beliefs in the future of the organization. She provided us many insights into the history of the NGO.

To get a solid data base from external sources we conducted interviews with various target groups on the streets of Belo Horizonte, including taxi drivers, policemen, lawyers, business professionals and students.

ASMARE is having an active partnership with Fundação Dom Cabral, one the world's best business schools. We met with professor Vanderlei from Fundação Dom Cabral to evaluate the communication strategy and introduce our plans.

After two weeks of a deep dive into the life of the NGO we were able to make an extensive analysis of the current communication strategy, identify gaps and opportunities and provide recommendations for the new communication plan. Flávia and Mauricio, were impressed by our presentation and deliverables exclaiming, “We love your logo…!”, “We will print out your materials and show them to ALL catadores!”, “All this is much more than we had expected!”. Our deliverables contained of a redesigned logo taking into account females, a comprehensive company profile, a design for web presence, a report template for sustainable events and a newsletter plan with articles and interviews.

All meetings and conversations were synchronously translated from Brazilian Portuguese into English and vice versa by our wonderful translator Isabella. Accordingly also all of our deliverables were made available in both languages, enabling native but also audience from all over the world to get to know about ASMARE.

The SAP Social Sabbatical was a very special, valuable and enriching experience for me. The biggest wish was that with our know-how and work we did made a contribution to the organization, whose goal was to rescue people from poverty, even sometimes from drugs and criminality, and give them a chance for a better life. When Flávia said that Brazilian people fall in love easily and she wished to have me as a sister, I recognized that I had already fallen in love with Brazilian people, culture and its country.

conhecimento profundo da então atual estratégia de comunicação. Depois disso, planejamos uma série de atividades para investigar a percepção sobre a organização. Visitamos as instalações de resíduos e reciclagem em Belo Horizonte e realizamos entrevistas com a gerência e os catadores.

Todas as fases na instalação de resíduos e reciclagem da Contorno são bem estruturadas: começa com a separação dos resíduos, passando pela embalagem, dependendo dos materiais, há pesagem e, no final, são recolhidos por caminhões.

Tendo estabelecido a organização em 1990, Dona Geralda ainda é aquela para quem o bom funcionamento do sistema na Contorno situa-se no coração. Ela lutou para o reconhecimento dos catadores como profissionais. A ASMARE recebeu inúmeros prêmios por seus esforços em integrar as pessoas na sociedade e por seu papel at ivo na sustentabilidade. Ficamos honrados em conhecer Dona Geralda pessoalmente e impressionados com seu entusiasmo e fortes crenças no futuro da organização. Ela nos forneceu muitos insights sobre a história da Associação.

Para obter uma sólida base de dados de fontes externas, realizamos entrevistas com vários grupos-alvo nas ruas de Belo Horizonte, incluindo taxistas, policiais, advogados, profissionais e estudantes.

A ASMARE desenvolveu uma parceria ativa com a Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócios do mundo. Nos encontramos com o professor Vanderlei da Fundação para avaliar a estratégia de comunicação e apresentar nossos planos.

Após duas semanas de um mergulho profundo na vida da ONG fomos capazes de fazer uma extensa análise da estratégia de comunicação atual, identificar lacunas e oportunidades e fornecer recomendações para o novo plano de comunicação. Flávia e Mauricio ficaram impressionados com a nossa apresentação e produtos, exclamando "Nós amamos a sua logomarca...!", "Nós vamos imprimir seus materiais e mostrá-los a todos os catadores!", "tudo isto é muito mais do que esperávamos!". Nossos produtos foram um logotipo redesenhado levando em consideração as mulheres, um perfil compreensivo da empresa, um projeto de presença na web, um modelo de relatório para eventos sustentáveis e uma newsletter com artigos e entrevistas.

Todas as reuniões e conversas foram simultaneamente traduzidas do português para o inglês e vice-versa pela nossa incrível tradutora Isabella. Nesse sentido, também todas as nossas entregas ficaram disponíveis em ambas as línguas, permitindo aos nativos mas também ao público de todo o mundo saberem sobre a ASMARE.

O Sabático Social SAP foi uma experiência muito especial, valiosa e enriquecedora para mim. O maior desejo era que com nosso know-how e trabalho fizéssemos uma contribuição para a organização, cujo objetivo era salvar as pessoas da pobreza, por vezes mesmo de drogas e a criminalidade e dar-lhes uma oportunidade para uma vida melhor. Quando Flávia disse que o povo brasileiro se apaixona facilmente e que queria ter-me como uma irmã, eu percebi que eu já tinha me apaixonado por seu país, sua cultura e o povo.

25

Page 26: Revista Quáo | #1 2014

Vanakkam Indiapor Moe Joe

My intention to go to India in May 2013 was based on various expectations. First and foremost I wanted to expand my horizon in aspects of intercultural experiences and through self exploration in a new environment. It was important to me to support the NGO with the acquired knowledge from my studies and to do a positive contribution to the disadvantaged people living in poverty. At the same time I wanted to take the chance to gain further practical experiences in social work to advance my professional career as

well as becoming sure of my personal ambitions and aims for the future.

At last I chose to do my voluntary service with the NGO in India because the project explanation made a good impression to me and seemed to fit on my expectations. India was always a country I wanted to discover and my dream came true.

The project background:One of the characteristic of

being in an unprivileged position of socially and economically backward is the vulnerability to be easily pushed to the periphery. So is the condition of most of the people at Chennai, residing for years in the slums yet moved to suburbs of the city under the banner of a government environmental project “Elegant Chennai”. The resettlements are at Okkiyam Thuraipakkam and Chemmancherry, places that are 25 Kilometers away from the city thus making the livelihood of 25.000 families uncertainty. Issues concerning the negative implications of resettlement are numerous and the prime among them are monetary and time factors that play havoc on the livelihood of the displaced and the education of their

children. Poor infrastructural facilities at the resettlement with the above mentioned negative factors serve the community with low standards of quality of life.

The NGO has been partnering initiatives with the displaced communities providing assistance in gaining access to their basic needs and livelihood options and also empowered to gain right over their land. Thus this vulnerable group is assisted through community based organizations, Lobbying and advocacy and education. Children's clubs were formed and guided to enable children to understand their rights in the society, schools and family thus providing them the opportunity to realize their right to participation. Community

Vanakkam India

Minha intenção de ir para a Índia em maio de 2013 baseou-se em diversas expectativas. Primeiro e acima de tudo, eu queria expandir meu horizonte em experiências interculturais e através de autoexploração em um novo ambiente. Foi importante para mim apoiar a ONG com o conhecimento adquirido em meus estudos e fazer uma contribuição positiva para as pessoas desfavorecidas que vivem na pobreza. Ao mesmo tempo, eu queria ter a chance de ganhar ainda mais experiências práticas em serviço social para avançar a minha carreira profissional, bem como ter certeza de minhas ambições pessoais e objetivos para o futuro.

Finalmente eu escolhi fazer meu serviço voluntário com a O N G n a Í n d i a , p o r q u e a proposta do projeto trouxe uma boa impressão para mim e parecia caber em minhas expectativas. A Índia sempre foi um país que eu queria descobrir... E meu sonho se tornou realidade.

Histórico do projetoUma das características de

estar em uma posição sem privilégios, socialmente e economicamente "em atraso" é a vulnerabilidade de ser facilmente empurrado para a periferia. Essa é a condição da m a i o r i a d a s p e s s o a s e m Chennai, que residem há anos nas favelas, que mudaram-se para os subúrbios da cidade sob a bandeira de um projeto a m b i e n t a l d o g o v e r n o " C h e n n a i e l e g a n t e " . O s r e a s s e n t a m e n t o s s ã o e m Okkiyam Thuraipakkam e Chemmancherry, lugares que são 25 quilômetros longe da cidade, tornando o sustento de 25,000 famílias uma incerteza. Questões relacionadas com as implicações negativas de reassentamento são numerosas e as primeiras entre elas são monetárias e fatores temporais que trazem devastação no modo de vida dos deslocados e na educação dos seus filhos. Infraestruturas pobres e os fatores negativos acima mencionados servem a comunidade com um baixo padrão de qualidade de vida.

A ONG tem sido parceira em iniciativas com as comunidades deslocadas, fornecendo assistência na obtenção de acesso às suas necessidades básicas e opções de meios de subsistência e também

26

Page 27: Revista Quáo | #1 2014

poderes para ganhar direito sobre suas terras. Assim, este grupo vulnerável é assistido por meio de organizações baseadas na comunidade, lobby, advocacia e educação.

Clubes infantis foram formados e guiados de forma a permitir que as crianças compreendam os seus direitos na sociedade, nas escolas e família, proporcionando-lhes a oportunidade de realizar o seu direito de participação. Bibliotecas comunitárias também são apoiadas para incutir o interesse pela leitura e a criatividade em crianças. Realizei a maioria das minhas atividades em Kannagi Nagar, já que eu estava colocado no

projeto "Reabilitação de Deslocados".

Nestes onze meses tive dois programas principais contínuos na comunidade d a f a v e l a : a u l a s d e informática e inglês na nidhi e s c o l a p r i m á r i a e o malabarismo e atividade de esporte no Boys Club. Além disso, continuei o Clube das Crianças que foi criado por outros voluntários, realizei vários workshops sobre t e m a s d e c r i a t i v i d a d e , percepção, comunicação, h i g i e n e , p r e v e n ç ã o d e doenças e recuperação. Eu me envolvi no projeto de crianças de rua e assumi outras tarefas, como a captação de recursos e trabalho de documentação. Além disso, eu realizei, em cooperação com a equipe de funcionários e os outros voluntários, uma celebração de Natal para cerca de 200 crianças.

Desafios:Como um voluntário entra

n o d e s c o n h e c i d o , u m m u n d o d i f e r e n t e , c o m d i f e r e n t e s l e i s , e l e é

instruído a jogar o jogo. Ninguém pode ser preparado para cada situação e naturalmente haverá limites naturais e sociais. Este foi também para mim o caso, mas foram melhores os meus processos de aprendizagem. Os desafios que enfrentei durante meu serviço voluntário resultaram majoritariamente das condições gerais de trabalho no projeto. Mas em algum momento eu encontrei minhas maneiras de lidar com isso, provavelmente com uma saudável dose de otimismo, a cabeça fria e muita improvisação.

Tive que viajar cerca de duas horas para chegar na comunidade, o que foi primeiramente muito cansativo nas condições de clima quente e úmido e em segundo lugar, perdendo tempo de trabalho. Durante a monção era

libraries are also supported in order to instill the interest for reading and creativity in children.

I did most of my activities in Kannagi Nagar as I was placed in the project „Rehabilation of Displaced”. During eleven months I had two continuous main programms in the slum community: computer and english classes in the nidhi primary school and the juggling and sport activity program at the Boys Club. Apart from that I continued the Childrens Club which was orginated from other volunteers, conducted several workshops on subjects of creativity, perception, communication, hygiene, illness prevention and recovery. I involved myself in the street children project and assumed other tasks like documentation work and fundraising. Besides I organized in cooperation with the staff team and the other volunteers a christmas celebration for around 200 children.

Challenges:As one volunteer enters the

unknown, a different world with different laws, he is instructed to play the game. Nobody can be prepared in every situation and naturally one will come up against natural and social limits. This was also for me the case, but all the better were my learning processes. The challenges I faced during my volunteer service mostly result from the general work conditions in project. But at some point I found my ways of dealing with it, probably with a healthy dose of optimism, a cool head and a lot of improvisation.

I had to travel about two hours to reach the slum community which was first, very exhausting in the muggy weather conditions, and secondly, lost working time. During the monsoon it was hard to get to the community, because the public transport system was blocked off or paralyzed. The area in Kannagi Nagar was floated with water and there was no electricity at all. Thus schools were closed and the children were unable to participate in the programms. There were moments of frustration and powerlessness, especially when I observed the educational methods in the schools.

Discipline in schools and corporal punishment are not uncommon in India but in my view, punishment may deter a child from repeating act of indiscipline to some extent, but it cannot improve his understanding of the subject or make him intelligent 'more' than 'his standard' earlier to the corporal punishment. In retrospect, I feel sad that I was not able to conduct a workshop for the teacher to demonstrate some alternative strategies of controlling the children and creating instructive school lessons. But I don't give up my hope that there will be a change in the future for the children.

ConclusionIn retrospect, the decision to come to India was

absolutely the right one for me. Looking back to

27

Page 28: Revista Quáo | #1 2014

those months of experiences in India I feel truly blessed. I went through a deep self- exploration process in a new environment as it means to test something new and develop previously unknown possibilities of expression and perspectives. I can certainly say that it was the most rewarding, inspiring and instructive time of my life so far. I can see the value of all the good and bad experiences clearly now as I can only acknowledge by rating them backwards.

Over the year I adapted to the culture and through my acquired skills and knowledge I gained self-confidence, the capacity for critical judgement and a higher consciousness. If there was any dispute or disagreement, I remained diplomatic and, in particular, did not indulge in personal attacks in any situation. Instead, I stayed calm and tried to observe the situation and to understand it in multiple perspectives. Doing so was the best way for me to learn a lot about the indian culture and about myself. In my time in India I recognized that expectations and understanding are two important aspects for the integration into a new culture and for a satisfactory result in the project. Grand personal expectations do not seamlessly match actual conditions. In this regard it was important to be very conscious about my expectations and about expectations of others.

Communication was a way to make it transparent and for moving to greater understanding. Only this way I could deal with situations and find creative ways to make a positive contribution in my project. I did often ask myself, who actually teaches who? I came to the conclusion, that it has been always a moment of sharing and learning, on both sides. I have learned lots of background informations of the children to understand their mostly disadvantaged situations and to make the comparison with Germany. I got more sensible to social issues and started to question problems in Germany. But it doesn't make sense to compare these problems and to come to a solution, because they result from different sources. Nonetheless, I will be able to transport all my impressions, experiences and learnings to Germany and to get rid of all prejudices. I would not want to miss a thing – neither good nor bad, because all those experiences made me who I am now. It was as if I'd found myself in a performance of some extravagant, complex drama and I didn't have a script. The only thing I could do was smiling,

difícil conseguir alcançar a comunidade, porque o sistema de transporte público foi bloqueado ou paralisado. Houve enchente na área em Kannagi Nagar e não havia nenhuma eletricidade. Assim, as escolas foram fechadas e as crianças foram capazes de participar dos programas. Houve momentos de frustração e impotência, especialmente quando eu observei os métodos educacionais nas escolas.

A disciplina nas escolas e os castigos corporais não são incomuns na Índia mas, na minha opinião, a punição pode impedir uma criança de repetir o ato de indisciplina, em certa medida, mas não pode melhorar a sua compreensão do assunto ou fazê-la mais inteligente do que o seu padrão antes do castigo corporal. Em retrospecto, sinto-me triste por não ter sido capaz de realizar um workshop para o professor, para demonstrar algumas estratégias alternativas de controlar as crianças e criar aulas instrutivas. Mas não desisto da minha esperança de que haverá uma mudança no futuro para as crianças.

Conclusão:Em retrospecto, a decisão de vir para a Índia foi absolutamente a certa

para mim. Olhando para os meses de experiências na Índia, sinto-me verdadeiramente abençoado. Eu passei por um processo profundo de autoexploração em um novo ambiente, que significa testar algo novo e desenvolver previamente possibilidades desconhecidas de expressão e perspectivas. Eu certamente posso dizer que foi o mais gratificante, inspirador e instrutivo momento da minha vida até agora. Posso ver claramente o valor de todas as experiências boas e más agora, apenas olhando para trás.

Ao longo do ano, eu me adaptei a cultura e através das habilidades adquiridas e conhecimento adquiri autoconfiança, a capacidade de julgamento crítico e uma maior consciência. Se houve qualquer disputa ou desacordo, eu permaneci diplomático e, em particular, não entrei em ataques pessoais em qualquer situação. Em vez disso, fiquei calmo e tentei observar a situação para compreendê-la em múltiplas perspectivas. Fazê-lo foi a melhor maneira para eu aprender muito sobre a cultura indiana e sobre mim. No meu tempo na Índia, reconheci que as expectativas e entendimento são dois aspectos importantes para a integração em uma nova cultura e para um resultado satisfatório no projeto. Grandes expectativas pessoais não correspondem perfeitamente às condições reais. A este respeito foi importante estar muito consciente sobre as minhas expectativas e as expectativas dos outros.

A comunicação era uma maneira de tornar as coisas t r a n s p a r e n t e s e d e u m movimento para melhor c o m p r e e n s ã o . S ó a s s i m poderia lidar com situações e encontrar formas criativas de contribuir positivamente no m e u p r o j e t o . E u m e perguntei muitas vezes, «quem realmente ensina quem?». Cheguei à conclusão que tem sido sempre um momento de partilha e de aprendizagem, de ambos os

28

Page 29: Revista Quáo | #1 2014

lados.Tenho aprendido muitas informações sobre as crianças para

compreender suas situações, principalmente desfavorecidas, e para fazer a comparação com a Alemanha. Eu me tornei mais sensível às questões sociais e comecei a questionar problemas na Alemanha. Mas não faz sentido comparar estes problemas e chegar a uma solução, porque eles resultam de diferentes fontes. No entanto, serei capaz de transportar todas as minhas impressões, experiências e aprendizados para a Alemanha e me livrar de todos os preconceitos. Eu não queria perder nada - nem as coisas boas nem ruins, porque todas essas experiências me fizeram ser quem eu sou agora. Era como se eu me encontrasse em uma performance de algum drama extravagante, complexo e não tivesse o roteiro. A única coisa que eu podia fazer era sorrir e sorrindo foi fácil, não

importa quão estranhas e desorientadoras as ruas pareciam ser. Eu desisti de conceitos alemães de pensamentos e os substituiu por indianos, e os levarei para toda a vida. Rendi-me à Índia, como eu provavelmente fiz todos os dias, e ainda faço, todos os dias da minha vida, não importa onde eu esteja no mundo.

Embora o amor possa não ter sido inventado na Índia, ele certamente foi aperfeiçoado lá. Essas experiências foram, de alguma forma, como uma masala feita em casa. Foram autênticas e únicas, algumas vezes apimentadas, outras vezes menos. No fim não me importa o que foi escrito em letras ou fotos, mas o que foi escrito no meu coração.

and smiling was easy, no matter how strange and disorienting the streets seemed to be. I gave up german concepts of thoughts and replaced them by indians and I will carry them for a lifetime. I surrendered to India, as I probably did every day, and as I still do, every day of my life, no matter where I am in the world.

Although love might not have been invented in India, it was certainly perfected there. Those experiences, they have somehow been the home made masala in my Indian dish – they made it authentic and unique and sometimes it was spicier, and sometimes less. In the end it doesn't matter to me what was written in letters or photos, but what was written in my heart.

Moe Joe é um assistente social pacífico, amigável e de cabeça aberta. Ele gosta de viajar e conhecer novas pessoas, buscar inspirações, novas perspectivas e é perdidamente apaixonado pela Índia e boa comida. Ele gosta de malabarismo, fotografia, filosofar, viajar, música, livros e alimentos, família, atmosferas pacíficas e amor.

29

Page 30: Revista Quáo | #1 2014

Volunteering is our passion. Co-funded by Pedro Portugal and Flávia Encarnação, VemSerVoluntário is a specialized organization that operates particularly in the area of Management of Volunteering in Social, Cultural and Sporting Events. VemSerVoluntário appeared to encourage all citizens, and especially young people, to engage their talents in support of good causes, aiming the awareness of society.

Having started its activity in 2013, VemSerVoluntário also has an extraordinary team of experienced and always motivated coordinators, that have made possible our fast growth and reaching of the biggest national projects in just 9 months of existence.

And of course, who does volunteer work knows that there are always funny situations behind each story, such as Pedro Portugal enjoys remembering:

“I've been volunteering for more than 15 years, lately exercising functions in the various coordination projects in which I've participated.

Volunteering is my passion, and my dream has resulted naturally in the creation of my own

voluntary organisation. Over the past few years I've been checking that there were notable failures in this area and thought constantly about how I could improve the conditions of those who I've coordinated and with whom I've worked side by side. I met Flávia in a Summer Festival, while doing volunteer work, and we decided to dive, in a true act of faith, with what we wanted for the volunteers as our compass needle pointing north. In less than 15 days we organized our first volunteer project, MEO UrbanTrail, and it was fantastic, but also an authentic madness! We agreed that we would wait for the beginning of the year so we could work out all the details, but we finished the year with 7 projects! People said we were crazy, that we didn't even know each other that well. But our passion for volunteering spoke louder and here we are, almost a year later. I like to think that all the affection by our volunteers was reciprocated twice; This is the only way we can explain

the extraordinary people with whom we are pleased to work daily.”

The attitude of great rigour, efficiency, adaptability, creativity, flexibility and commitment with the goals outlined by our volunteers have represented undeniable gains in the development of the activities.

We want to show that every event is held with much effort and dedication in exchange for courage, enthusiasm and responsibility. Above all, we want them to feel useful, to feel involved and enriched by all these new experiences and especially to have an active role in society's awareness to some of the themes that have more impact at the present time.

Currently, volunteering is counted as a valuable

O voluntariado é a nossa paixão. Co-fundadada por Pedro Portugal e Flávia Encarnação, a VemSerVoluntário é uma organização especializada que atua nomeadamente na área de Gestão de Voluntariado em Eventos Sociais, Culturais e Desportivos. A VemSerVoluntário surgiu no sentido de incentivar todos os cidadãos, e principalmente os jovens, a dedicarem os seus talentos em prol de boas causas, tendo como objetivo a consciencialização da sociedade.

Tendo iniciado a sua atividade em 2013, a VemSerVoluntário conta também com uma equipa extraordinária de coordenadores experientes e sempre motivados, que tornaram possível o nosso rápido crescimento e alcance dos maiores projetos nacionais em apenas 9 meses de existência.

E como não podia deixar de ser, quem faz voluntariado sabe que existem sempre situações caricatas por trás de cada história, tal como o Pedro Portugal se diverte a relembrar:

«Já fazia voluntariado há mais de 15 anos, exercendo ultimamente funções de coordenação nos diversos projetos em que participava. O voluntariado é a minha paixão, e o meu sonho traduziu-se naturalmente na criação da minha própria organização de voluntariado. Ao longo dos últimos anos fui verificando como existiam falhas notórias nesta área e pensava constantemente em como podia melhorar as condições das pessoas que coordenava e com quem trabalhava lado a lado. Conheci a Flávia num Festival de Verão, enquanto fazíamos voluntariado, e decidimos mergulhar de cabeça, num verdadeiro ato de fé, com aquilo que queríamos para os voluntários como agulha da nossa bússola a apontar o Norte. Em menos de quinze dias organizámos o n o s s o p r i m e i r o p r o j e t o d e voluntariado, o MEO UrbanTrail, e foi fantástico, mas também uma autêntica loucura! Concordamos que iríamos esperar pelo início do ano para acertarmos todos os pormenores, mas acabamos o ano com 7 projetos! As pessoas diziam que éramos malucos, que nem sequer nos conhecíamos assim tão bem. Mas a nossa paixão pelo voluntariado falou mais alto e aqui estamos, quase um ano depois. Gosto de pensar que todo o carinho pelos nossos voluntários foi retribuído a dobrar; só assim podemos explicar as pessoas extraordinárias com quem temos o prazer de trabalhar diariamente.»

A postura de grande rigor, eficácia, adaptabilidade, criatividade,

VemSerVoluntário, VemSerSolidário!por Flávia Encarnação BeAVolunteer, BeSolidary

30

Page 31: Revista Quáo | #1 2014

flexibilidade e de compromisso com os objetivos traçados por parte dos nossos voluntár ios têm representado ganhos inegáveis no desenvolvimento das atividades.

Queremos mostrar que cada evento é realizado com muito esforço e dedicação em troca de coragem, interesse e responsabilidade. Acima de tudo, queremos que se sintam úteis, que se sintam envolvidos e enriquecidos por todas estas novas experiências e sobretudo que tenham um papel ativo na consciencialização da sociedade para alguns dos temas que mais impacto têm na atualidade.

Atualmente, o voluntariado conta indiscutivelmente como uma adição valiosíssima a qualquer Curriculum Vitae, e é grandemente valorizado pelas empresas. Ao longo deste quase um ano de existência, conseguimos empregar 29 pessoas no seguimento da participação como voluntários nos projetos dos nossos parceiros.

Cada projeto é diferente, requerendo naturalmente pessoas diferentes. Os desafios constantes e a disponibilidade para a mudança são fundamentais no trabalho por nós desenvolvido. É por isso que nos orgulhamos dos nossos ideais, que funcionam como princípios fundadores e são os pilares da nossa organização.

Não podemos de forma alguma desvalorizar o trabalho do voluntário. Hoje em dia, com a tão conhecida “crise” portuguesa, muitas empresas olham para o voluntário como mão-de-obra barata. Não podemos de forma alguma confundir voluntariado com exploração. O voluntariado é regulado por lei, e cabe a todos nós lutar contra esse tipo de aproximações. Voluntariado não é trabalhar de graça. Voluntariado não é tirar o emprego a alguém, ou aceitar um projeto porque estamos desempregados. Existe espaço para todos. E isso é bem visível quando olhamos para grandes projetos internacionais, em que o voluntariado é já imprescindível e sinônimo de estabilidade e integridade.

Devemos valorizar a pessoa acima de tudo, pelo que devemos investir no desenvolvimento das suas capacidades e competências. Uma formação competente é diferenciadora e culmina invariavelmente numa valorização de qualquer indivíduo. É também importante mais do que saber, querer! Querer ouvir, querer saber, querer sentir, querer cuidar. Infelizmente, muitas das pessoas que colaboram conosco encontram-se numa situação de desemprego. Mas é incrível, e uma sensação mágica, ver como o voluntariado tem o dom de fazer essas pessoas sentirem-se úteis, recebendo por vezes a dose de confiança que faltava para dar o próximo passo que vai mudar as suas vidas.

O voluntariado fomenta também a confiança e o trabalho em equipa. É importante saber reconhecer que não trabalhamos isolados do mundo. Para além de uma gestão cuidadosa, a confiança nos voluntários, colaboradores e parceiros é essencial para que todo o sistema funcione de forma harmoniosa, garantindo uma boa comunicação entre todas as partes envolvidas. Acreditamos que o sucesso não é só nosso mas também daqueles que colaboram e que trabalham em parceria connosco. No final do dia, é saber que fizemos a diferença em alguma coisa e, se tivermos sorte, em alguém.

Voluntariado não é só dizer, e voluntariado não é só fazer. Voluntariado é também sentir.

Dedicado a todos os voluntários.Empenho, rigor e paixãoCarrego comigo uma vasta experiência de voluntariado enquanto

voluntária e coordenadora de voluntários. É difícil descrever o que

addition to any Curriculum Vitae, and it is greatly valued by companies. Throughout this nearly a year of existence, we could employ 29 people following their participation as volunteers in the projects of our partners.

Each project is different, naturally requiring different people. The constant challenges and the willingness to change are fundamental in the work developed by us. That's why we are proud of our ideals, which serve as founding principles and are the pillars of our organization.

We can't in any way devaluing volunteer work. Nowadays, with the so well-known portuguese "crisis", many companies look for the volunteer as cheap labor. We can't in any way confuse volunteering with exploitation. Volunteering is regulated by law, and it is up to all of us to fight against this type of approximations. Volunteering is not working for free. Volunteering is not taking somebody else's job, or accepting a project because we are unemployed. There is room for everyone. And that is clearly visible when we look for large international projects, where volunteering is essential and already synonymous of stability and integrity.

We should value the person above all else, we must invest in the development of their skills and competencies. A competent training invariably culminates in a differentiating value to any individual. And more important than knowing, is wanting! Wanting to hear, wanting to know, to feel, to take care of. Unfortunately, many of the people who work with us are in a situation of unemployment. But it's amazing, and a magical feeling, to see how volunteering has the knack of making these people feel useful, receiving sometimes the dose of confidence to take the next step that will change their lives.

Volunteering promotes also the confidence and teamwork. It's important to recognize that we don't work out of the world. In addition to a careful management, trust in volunteers, employees and partners is essential for any system to work smoothly, ensuring a good communication between all parties involved. We believe that success is not just ours but also of those who collaborate and work in partnership with us. At the end of the day, we know that we made a difference in something and, if we're lucky, in someone.

Volunteering is not just telling, and volunteering is not just doing. Volunteering is also feeling.

Dedicated to all volunteers.Diligence, rigor and passionI carry with me a vast experience of volunteering

as a volunteer and volunteers' coordinator. It's hard to describe what I really feel. While doing volunteer work, I know it's an unique experience, very rewarding and I feel better every day: on the basis of the realization of this noble civic act.

Many people, when they hear about the various volunteer projects that exist in our country, have the feeling that I have myself: they want to participate and help. Why not to meet this challenge? Volunteering is for me ...

Giving a bit of ourselves to the others with nothing expected in return, feeling only happpy to help. It's getting out of the shell of the self to give attention to the other, it is a commitment to our community, a sharing of experiences based on our natural aptitudes, the possibility of being useful and at the same time being sure that we will deepen our knowledge. Volunteering is like hugging someone, grabing a cause - in a single moment, feeling a pure satisfaction, pleasure of giving. Volunteering entails willpower, happiness

31

Page 32: Revista Quáo | #1 2014

to help- availability. Sometimes it's not easy, you have to accept whatever comes and face it in a sincere and simple way: extending a hand. Don't write prejudice and erase the difference. The volunteer has eyes for equality and looks for smiles. It is a bilateral experience that raises our inner wealth and is good for the soul. It doesn't "weigh" because it's about offering half a dozen hours of our time (or only two!), not doing it for obligation but only because we want to: because we like and because we believe in what we propose.

It doesn't matter if we're volunteers in health care, education, culture, for the children, the less young people or animals ... The important thing is to do it with quality, dedication and affection. Volunteering is what moves us, which awakens in us feelings of sharing, commitment and joy to contribute a little to the promotion of culture, sport. It is believing that a small effort of everyone

today, translates itself to value in tomorrow’s society.

realmente sinto. Ao fazer voluntariado, sei que é uma experiência única, muito gratificante e que me sinto melhor a cada dia que passa: tendo como base a realização deste ato cívico tão nobre.

Muitas pessoas quando ouvem falar nos vários projetos de voluntariado existentes no nosso país, têm a sensação que eu própria tenho: querem participar e ajudar. Porque não ir ao encontro deste desafio? Ser voluntário é para mim…

Dar um pouco de nós aos outros sem nada esperar em troca, sentindo-nos apenas felizes por podermos ajudar. É o sairmos da concha do eu para darmos atenção ao outro, é um comprometimento com a nossa comunidade, uma partilha de experiências com base nas nossas aptidões naturais, a possibilidade de sermos úteis e ao mesmo tempo a certeza de que vamos aprofundar os nossos conhecimentos. Ser voluntário é como abraçar alguém, agarrar uma causa - num único momento, sentir uma satisfação pura, prazer de se dar. Ser voluntário implica força de vontade, prazer em ajudar - disponibilidade. Por vezes não é fácil, é preciso aceitar o que vem e encará-lo da maneira mais sincera e simples: estender uma mão. Não escrever preconceito e apagar a diferença. O voluntário tem olhos de igualdade e procura sorrisos. É uma experiência bilateral que aumenta a nossa riqueza interior e por isso faz bem à alma. Não “pesa” porque se trata de oferecer meia dúzia de horas do nosso tempo (ou apenas duas!), sem ser por obrigação mas apenas porque queremos: porque gostamos e porque acreditamos naquilo a que nos propomos.

Não importa se somos voluntários na área da saúde, da educação, da cultura, em prol das crianças, dos menos jovens ou dos animais… O importante é fazê-lo com qualidade, dedicação e carinho. O voluntariado é aquilo que nos move, que desperta em nós sentimentos de partilha, empenho, rigor e paixão ao contribuir um pouco para a promoção da Cultura, do Desporto. É acreditar que um pequeno esforço de todos hoje, se traduz em valor na sociedade de amanhã.

Flávia Encarnação é estudante de Engenharia Biológica no Instituto Superior Técnico. Tem formação em diversas áreas de desenvolvimento pessoal, assim como Certificações em Liderança e Gestão de Equipas, Gestão de Conflitos, Comunicação Interpessoal e Assertividade, Higiene e Segurança no Trabalho, Primeiros Socorros e Técnicas de Socorrismo. Co-fundadora e Diretora Executiva da VemSerVoluntário, é responsável pelas zonas de Lisboa e Sul, com experiência no âmbito do voluntariado internacional e nos grandes Festivais de música portuguesa como Paredes de Coura, MEO Sudoeste, Rock with Benefits, FESTin e eventos Portugal Open, MEO UrbanTrail, Glow Run e Colorland, para além de integrar a Direção da Associação de Voluntariado Social Jovens Para o Desenvolvimento.

32

Page 33: Revista Quáo | #1 2014

The volunteer and the collective

"Have you ever thought about volunteering in a cause with which you identify? We know that you have. And we also know that many people feel lost when trying to go for the action. This is because, in most of the cases, we have skills, knowledge and time, but we don't even know where to start looking for an institution in need of what we could offer. Similarly, third sector institutions would also like to find professionals willing and available to make them better. This is where Voluntário Coletivo (Collective Volunteer) arrives, which was born with the purpose to mediate these relationships! Our goal is to be a bridge between your best skills and the institutions that need you the most. "

So, with these words, in August 5, 2013 we gave birth to Voluntário Coletivo on a Facebook page. The idea arose spontaneously, when one of the creators, when developing a volunteer work, realized the difficulty of organizations in relation to the capture and management of resources, whether human, material or financial.

Working with home Teresa de Jesus, in Belo Horizonte, Minas Gerais, where it all began, and later with other institutions of the third sector, we realized that, in addition to the needs presented by the organizations, there are also professionals with talent and willingness to help as volunteers in some social work, but they find difficulties in seeking institutions that need exactly the skills that they can offer.

So, we started to connect with professionals in communication, marketing, technology and many other areas that could contribute with important tools for institutional development. For this, we always seek to start from the following principle: where is your heart? That's because we believe that the volunteer must be in tune with the cause to which he/she proposes to rely. Similarly, the organization must prepare itself to receive the volunteer and to develop a collaborative work and impact.

“Já pensou em ser voluntário em alguma causa com a qual se identifica? A gente sabe que sim. E sabe também que muitas pessoas se sentem perdidas ao tentarem partir para a ação. Isso acontece porque, na maioria das vezes, temos habilidades, conhecimentos e tempo, mas não sabemos nem por onde começar a procurar uma instituição com necessidade naquilo que a gente poderia oferecer. Da mesma maneira, instituições do Terceiro Setor também gostariam de encontrar profissionais dispostos e disponíveis a torná-las melhores. É aí que entra o Voluntário Coletivo, que nasceu com o propósito de

intermediar essas relações! Nosso objetivo é ser ponte entre suas melhores habilidades e as instituições que mais precisam de você.”

Foi assim, com essas palavras, que em 5 de agosto de 2013 demos vida ao Voluntário Coletivo em uma página no Facebook. A ideia surgiu espontaneamente, quando uma das idealizadoras, ao desenvolver um trabalho voluntário, percebeu a dificuldade das organizações em relação à captação e gestão de recursos, sejam eles humanos, materiais ou financeiros.

Convivendo com o Lar Teresa de Jesus, em Belo Horizonte-MG, onde tudo começou, e posteriormente, com outras instituições do Terceiro Setor, percebemos que, além das necessidades apresentadas pelas organizações, existem também p r o fi s s i o n a i s c o m t a l e n t o s e vontade de ajudar como voluntários em algum trabalho social, mas que encontram dificuldades em buscar i n s t i t u i ç õ e s q u e p r e c i s a m exatamente das habilidades que podem oferecer.

Assim, começamos a nos conectar com profissionais de comunicação, marketing, tecnologia e diversas o u t r a s á r e a s q u e p u d e s s e m c o n t r i b u i r c o m f e r r a m e n t a s

importantes para o desenvolvimento institucional. Para isso, sempre buscamos partir do seguinte princípio: onde seu coração está? Isso porque acreditamos que o voluntário deve estar em sintonia com a causa a que ele se propõe apoiar. Da mesma maneira, é preciso que a organização se prepare para recebê-lo e para que ele desenvolva um trabalho colaborativo e de impacto. Portanto, é uma conexão de corações, habilidades e necessidades.

Ilustração: Ideia Clara

33

O Voluntário e o Coletivopor Voluntário Coletivo

Page 34: Revista Quáo | #1 2014

Therefore, it is a connection of hearts, skills and needs.

Over the 8 months of Voluntário Coletivo, we experience in every time the value of connections. Although our work is still limited to Belo Horizonte and some cities in the metropolitan region, we saw the project having a much greater range than initially imagined for us. We've met other local collectives (da Gentileza- of Kindness, do Amor - of Love, the Desestressa BH- Unstress BH; and many others), initiatives of other states and references from various parts of the world. We naturally found ourselves by the pay it forward. Our dream is to reach all those corners and so we walk one step at a time.

Since we started this whole process of discovery, experimentation and practice, many of our studies have turned to the macro trends linked to crowd-sourcing, funding and learning. After all, it is part of our dreams and plans to build a large network of creation, learning and collaboration. Thus, one of our first actions was conducting a research to try and find out a little more about the profile of volunteering in Brazil. From 225 questions answered over the internet between the months of December and January 2013- 2014, we reached some very interesting results. As an example, the statement that 62% of those who responded to the survey would contribute with a third sector institution as volunteers, and the validation that most of the people who has performed volunteer work considered it a very positive experience.

We know that volunteering has the potential to sensitize people, create collaborative networks and contribute to the sustainability of third sector organizations. From this perspective, we regard it as a strategic tool in the management of a triad, composed also by collecting material and financial resources. That's because we constantly observe that people are more motivated to contribute with an entity when they have the opportunity to get to know it better and connect emotionally with the cause. Volunteering is a wake-up call for collaboration. Through the practice of volunteering, the individual experiences the context of the organization, knows their needs and challenges and feels a commitment to the cause, also moving its network in favor of it.

When we asked in our research on how people would like to contribute with an institution, we realized that, when the option was the donation as an isolated action, the percentage was reduced. But when the collaboration introduced itself as an association between donating and volunteering, the percentage has become much more expressive.

As the impetus for the birth of the project was the willingness to help third sector organizations qualifying the capture and management of

resources, we realized that the best way to do this is uniting all these concepts. At the same time we connect people in ways almost handmade, we are working on a collaborative platform that will allow us to expand the project and receive more resources - human, financial or material- for institutions that require them.

Ao longo dos 8 meses do Voluntário Coletivo, vivenciamos em todo tempo o valor das conexões. Apesar de nossa atuação ainda estar limitada a Belo Horizonte e a algumas cidades da região metropolitana, vimos o projeto ter um alcance muito maior do que imaginado inicialmente por nós. Conhecemos outros coletivos locais (da Gentileza, do Amor, o Desestressa BH e tantos outros), iniciativas de outros estados e referências de várias partes do mundo. Fomos nos encontrando naturalmente pela corrente do bem. Nosso sonho é chegar em todos esses cantinhos e assim caminhamos um passo de cada vez.

D e s d e q u e i n i c i a m o s t o d o e s s e p r o c e s s o d e d e s c o b e r t a , experimentação e prática, muitos de nossos estudos se voltaram para as macrotendências ligadas ao crowd-sourcing, founding and learning. Afinal, faz parte de nossos sonhos e planos construir uma grande rede de criação, aprendizado e colaboração. Assim, uma de nossas primeiras ações foi a realização de uma pesquisa para tentar saber um pouco mais sobre o perfil do voluntariado no Brasil. A partir de 225 questionários respondidos pela internet entre os meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014, chegamos a alguns resultados bem interessantes. Como exemplo, a afirmação de que 62% das pessoas que responderam à pesquisa gostariam de contribuir com uma instituição do Terceiro Setor como voluntários e a validação de que a maior parte das pessoas que já realizou trabalho voluntário considerou a experiência muito positiva.

Sabemos que o voluntariado tem o potencial de sensibilizar pessoas, criar redes colaborativas e contribuir para a sustentabilidade das organizações do Terceiro Setor. A partir desta perspectiva, passamos a considerá-lo como ferramenta estratégica na gestão de uma tríade, composta também pela captação material e de recursos financeiros. Isso porque observamos constantemente as pessoas mais motivadas a contribuírem com uma entidade quando têm a oportunidade de conhecê-la melhor e se conectarem emocionalmente com a causa. O voluntariado é o despertar para a colaboração. Por meio da prática do voluntariado, o indivíduo vivencia o contexto da organização, conhece as suas necessidades e desafios e sente que tem um compromisso com a causa, movimentando também a sua rede em prol dela.

Quando perguntamos em nossa pesquisa sobre como as pessoas gostariam de contribuir com uma instituição, percebemos que, quando a opção era a doação como uma ação isolada, o percentual se mostrou reduzido. Mas quando a colaboração se apresentou como uma associação entre a doação e o voluntariado, o percentual se tornou muito mais expressivo.

Como o impulso para o nascimento do projeto foi a vontade de ajudar as organizações do Terceiro Setor a qualificarem a captação e gestão de recursos, percebemos que a melhor maneira de fazer isso é unindo todos esses conceitos. Ao mesmo tempo que conectamos as pessoas de m a n e i r a q u a s e " a r t e s a n a l " , e s t a m o s trabalhando em uma plataforma colaborativa que nos permitirá expandir o projeto e captar mais recursos - sejam eles humanos, financeiros ou materiais - para instituições que necessitem deles.

Para conhecer mais: www.facebook.com.br/voluntariocoletivowww.voluntariocoletivo.comvoluntariocoletivo@gmail.com

34

Page 35: Revista Quáo | #1 2014

Interview

Quào Magazine interviewed James Junior, who at 27 is a foreign trade analyst at the Ministry of Development, Industry and Foreign Trade of Brazil, fan of feijoada, Brasilia and dogs. James worked voluntarily at one of the largest youth organizations in the world, AIESEC. He shares with us his experiences and impressions about this period which, according to him, transformed his personal and professional life.

Quáo: How did the beginning of contact with the volunteer work happen in your life?

James Júnior: My first contact with the volunteer work happened through AIESEC, which I knew in 2007. I was at the beginning of College and I was presented to the organization by a classmate. Soon I became a member and worked voluntarily in the Belo Horizonte Committee for five years, until 2011.

Q: Many have already heard this name out there but they don't know what it is. So tell us: what is AIESEC?

JJ: AIESEC is an international organization present in more than 100 countries, staffed by university students and new graduates. People who pass through AIESEC have the opportunity to develop leadership skills, whether through experiences in local offices (as members or leaders of teams) or international exchanges (which can be professional/corporative or volunteer work of social bias). The goal is that these young people develop a number of skills (entrepreneurial vision, emotional intelligence, global mentality, social responsibility and proactive learning) and that they pass through a process of self-knowledge that allows them to discover their talents and use them in order to generate positive impact on society. AIESEC experience is very diverse and very rich, and I recommend it to any young person who has the opportunity to live it!

Q: Why did you decide to enter and how was your trajectory inside of it?

JJ: I decided to be part of AIESEC because I was searching for some activity to complement my academic training, but I had no idea about how much it would add and modify myself. My perception of the benefits that I would have increased along with the time I spent in the organization. When I came in, in 2007, I was a member in the areas of Finance and Corporate Relations. In 2008, I led the team that organized

A Revista Quào entrevistou James Junior, que aos 27 anos é analista de comércio exterior no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, fã de feijoada, Brasília e cachorros. James trabalhou voluntariamente e uma das maiores organizações de jovens do mundo, a AIESEC. Ele compartilha conosco suas experiências e impressões acerca desse período que, segundo ele, transformou sua vida pessoal e profissional.

Quáo: Como se deu o início do contato com o trabalho voluntário na sua

vida?James Júnior: O meu primeiro contato com o trabalho voluntário

aconteceu por meio da AIESEC, que conheci no ano de 2007. Eu estava no início da faculdade e fui apresentando à organização por uma colega de curso. Logo virei membro e trabalhei de forma voluntária no comitê de Belo Horizonte por cinco anos, até 2011.

Q: Muitos já ouviram esse nome por aí mas não sabem do que se trata. Então nos conte: o que é a AIESEC?

JJ: A AIESEC é uma organização internacional presente em mais de 100 p a í s e s , f o r m a d a p o r j o v e n s universitários e recém-formados. As pessoas que passam pela AIESEC têm a o p o r t u n i d a d e d e d e s e n v o l v e r habilidades de liderança, seja através de experiências nos escritórios locais (como membros ou líderes de equipes)

o u d e i n t e r c â m b i o s i n t e r n a c i o n a i s ( q u e p o d e m s e r profissionais/corporativos ou de trabalho voluntário de viés social). O objetivo é que esses jovens desenvolvam uma série de competências (visão empreendedora, inteligência emocional, mentalidade global, responsabilidade social e aprendizado proativo) e que que passem por um processo de autoconhecimento que os permita descobrir os seus talentos e utilizá-los de forma a gerar impacto positivo na sociedade. A experiência na AIESEC é muito diversa e muito rica, e eu recomendo a qualquer jovem que tenha a oportunidade de vive-la!

Q: Por que decidiu entrar e como foi sua trajetória lá dentro?JJ: Decidi entrar na AIESEC porque buscava alguma atividade para

complementar a minha formação acadêmica, mas eu nem imaginava o quanto isso iria me acrescentar e me modificar. A minha percepção dos benefícios que eu teria foi aumentando junto com o tempo na organização. Quando entrei, em 2007, fui membro das áreas de Finanças e Relações Corporativas. Em 2008, liderei o time que organizou um dos processos seletivos para o comitê local, e também fui Coordenador Jurídico. Em 2009, fui Diretor Jurídico-Financeiro. Em 2010, fui Diretor de Intercâmbios para Estudantes. Em 2011, fui Presidente do comitê local.

35

Entrevista com James Juniorpor Isabella Bretz

Page 36: Revista Quáo | #1 2014

one of the selection processes for the local Committee, and I was also Legal Coordinator. In 2009, I was Legal and Financial Director. In 2010, I was Director of Exchanges for students. In 2011, I was President of the local Committee.

Q: During the time you worked there, what was your most striking experience?

JJ: Certainly the most striking experience was being President of BH's office. First because in this position there is the opportunity to lead the team on the Board, which in 2011 was very competent and had a lot of willingness to make the office grow. This coexistence made me grow a lot and gave me friends for life. Another reason that made the President experience to be unforgettable was the responsibility for managing the office as a whole, which was quite large and complex. It was a huge challenge to build goals for the Committee and work on motivation of members to reach them, and, at the same time, ensure that the organizational environment was the most positive possible and people felt that there was purpose in what they did, and that they were reaching their personal development through the growth of the organization. I know that the work was not completely successful, and a lot has happened differently than expected, but the experience as a whole was very enriching.

Q: As president, you have coordinated many young people within the organization. What do you stand out as weaknesses and strengths of this audience for volunteer work?

JJ: On the side of the forces, I would first highlight that young people generally are much more likely to believe in a cause, and to dedicate to it, even if there's no financial return involved. In general there is also more free time to devote to volunteer work. Lastly, I believe that young people also have more energy and willingness to make the job happen. On the side of the weaknesses, I believe that the most important of them is that sometimes the young suffer from lack of focus and excess of interests, which may compromise the dedication to work. The financial dependence of the parents (or other responsible) can also weight, which sometimes is a problem for young people to employ more time in volunteer work (because they need to dedicate to other paid work or by opposition from parents/responsible).

Q: AIESEC has different volunteer programs, including opportunities in countries on all continents. Some are more geared for social and others for the professional. How have these programs caused transformation in society?

JJ: I believe that the social-facing exchanges are the ones that cause more visible transformation in society, because they are usually attached to direct and immediate impact projects in countries in which they are carried out. As for professional exchanges, I think they transform mostly people involved (both exchange students and the companies' employees that receive them) and, through them, society. This last thought works for social exchanges too, of course.

Q: In your opinion, what does volunteer work add to the curriculum? What does the professional who is also a volunteer have that others don't have?

JJ: I believe that volunteer work says a lot about people. Obviously you can't generalize, but I believe that those seeking volunteer work want to donate and devote themselves to something that cannot be measured or paid in cash, and that's pretty nice! In other countries this is already fairly valued, and I see this type of experience being

Q: No tempo em que trabalhou lá, qual foi sua experiência mais marcante?

JJ: Certamente a experiência mais marcante foi a de Presidente do escritório de BH. Primeiramente porque nessa posição se tem a oportunidade de liderar o time da diretoria, que em 2011 era muito competente e tinha muita disposição para fazer o escritório crescer. Essa convivência me fez crescer muito e me proporcionou amigos para toda a vida. Outro motivo que fez a experiência de Presidente ser inesquecível foi a responsabilidade pelo gerenciamento do escritório como um todo, que era bastante grande e complexo. Foi um enorme desafio construir metas para o comitê e trabalhar a motivação dos membros para atingi-las, e, ao mesmo tempo, garantir que o clima organizacional era o mais positivo possível e que as pessoas sentiam que havia propósito naquilo que faziam, e que estavam alcançando o desenvolvimento pessoal através do crescimento da organização. Sei que o trabalho não foi completamente bem-sucedido, e que muita coisa aconteceu de forma diferente do previsto, mas a experiência como um todo foi muito enriquecedora e engrandecedora.

Q: Enquanto presidente, você coordenou muitos jovens dentro da organização. O que você destacaria como fraquezas e forças desse público para o trabalho voluntário?

JJ: No lado das forças, eu destacaria primeiro que os jovens geralmente são muito mais propensos a acreditar em uma causa e a se dedicar a ela, mesmo que não haja retorno financeiro envolvido. Em geral também há mais tempo livre para se dedicar ao trabalho voluntário. Por último, creio que os jovens têm também mais energia e disposição para fazer o trabalho acontecer. No lado das fraquezas, creio que a mais importante delas é que, às vezes, o jovem sofre de falta de foco e de excesso de interesses, que pode comprometer a dedicação ao trabalho. Também pode pesar a dependência financeira dos pais (ou de outros responsáveis), que por vezes impede os jovens de empregarem mais tempo no trabalho voluntário (por necessidade de se dedicar a outro trabalho remunerado ou por oposição dos pais/responsáveis).

Q: A AIESEC tem programas de voluntariado diversos, inclusive com oportunidades em países em todos os continentes. Alguns são mais voltados para o social e outros para o profissional. Como esses programas têm causado transformação na sociedade?

JJ: Creio que os intercâmbios voltados para o social são os que causam transformação mais visível na sociedade, porque geralmente estão ligados a projetos de impacto direto e imediato nos países em que são realizados. Quanto aos intercâmbios profissionais, penso que eles transformam principalmente as pessoas envolvidas (tanto os intercambistas quanto os colaboradores das empresas que os recebem) e, através delas, a sociedade. Esse último raciocínio vale para os intercâmbios sociais também, é claro.

Q: Na sua opinião, o que o trabalho voluntário agrega ao currículo? O que o profissional que é também voluntário tem que os outros não têm?

JJ: Acredito que o trabalho voluntário diz muito sobre as pessoas. Obviamente não dá pra generalizar, mas creio que quem busca o trabalho voluntário quer se doar e se dedicar a algo que não pode ser medido ou retribuído em dinheiro, e isso é muito bacana! Em outros países isso já é bastante valorizado, e vejo esse tipo de experiência sendo vista de forma cada vez mais forte no Brasil. O trabalho voluntário denota, em geral, altruísmo, engajamento, responsabilidade social, comprometimento e

36

Page 37: Revista Quáo | #1 2014

várias outras características que agregam muito ao currículo – e à pessoa por trás dele. Tenho certeza que a tendência é que haja cada vez mais recrutadores e entrevistadores com esse tipo de percepção e de sensibilidade.

Q: Vocês têm algum dado sobre a empregabilidade dos jovens que trabalham/trabalharam na AIESEC?

JJ: Não tenho esses dados, apenas observações individuais sobre as pessoas que conviveram comigo no tempo que estive na AIESEC. Grande parte delas está em bons empregos, e, o que é mais importante, realizando trabalhos alinhados aos seus planejamentos de carreira. As que não estão nessa situação pelo menos sabem o que buscar (apesar de ainda não terem encontrado), ou, no mínimo, sabem aquilo que não querem fazer, o que já é uma informação valiosa e um começo considerável!

Q: Como o trabalho na AIESEC afetou sua vida pessoal e profissional?JJ: Eu tenho certeza que saí da AIESEC uma pessoa diferente da que

entrei. Meus valores, meu planejamento, meus sonhos, tudo mudou, para melhor. Apesar do processo de autoconhecimento ser constante, hoje tenho certeza que me conheço muito melhor do que há alguns anos e que isso influencia muito nas decisões que eu tomo, nas pessoas com quem eu convivo e nas oportunidades que eu busco. Isso certamente se reflete no âmbito profissional, não só no caminho que eu tracei até hoje e no que ainda quero seguir, mas principalmente na percepção que as pessoas têm de mim no ambiente de trabalho. Parece besteira dizer isso, mas as competências desenvolvidas na AIESEC se tornam notáveis na conduta profissional de quem passa pela organização e os chefes e colegas percebem essa diferença – hoje posso dizer isso por experiência própria.

Q: Para terminar nossa conversa, gostaria de fazer alguma consideração final?

JJ: Apenas que o trabalho voluntário, a possibilidade de me dedicar a algo de coração e sem esperar em troca nada além do impacto que o meu trabalho teria sobre os outros e sobre mim, foi uma das experiências mais marcantes e transformadoras que já tive, e que eu recomendo algo semelhante a qualquer um que tenha a oportunidade de fazê-lo!

seen as increasingly strong in Brazil. Volunteer work denotes, in general, altruism, engagement, social responsibility, commitment, and several other features that add a lot to the curriculum – and to the person behind it. I'm sure the trend is that there will be more and more recruiters and interviewers with this kind of perception and sensitivity.

Q: Do you have any data about the employability of young people who work/worked in AIESEC?

JJ: I don't have this data, only individual observations about the people who were with me at the time I was in AIESEC. Most of them are in good jobs, and, more importantly, performing work aligned to their career plans. Those who are not in that situation at least know what to look for (though they have not found yet), or, at least, they know what they don't want to do, which is a valuable information and a considerable start!

Q: How did the work in AIESEC affect your personal and professional life?

JJ: I'm sure that I left AIESEC a different person than the one I was when I entered. My values, my planning, my dreams, everything changed, for the better. Despite the process of self-knowledge be constant, today I'm sure I know myself much better than a few years ago, and that this influences the decisions I make, people with whom I live and the opportunities that I seek. That certainly is reflected in the professional sphere, in not only the path that I have built so far and what I still want to follow, but mainly the perception that people have of me in the workplace. It seems silly to say it, but the skills developed in AIESEC become notable in professional conduct of who passes by the organization, and bosses and colleagues realize this difference – today I can say that from personal experience.

Q: To finish our conversation, would you like to do some final consideration?

JJ: Only that the volunteer work, the possibility to devote myself to something from the heart and without expecting anything in return in addition to the impact that my work would have on others and on me, it was one of the most remarkable and transforming experiences I've ever had, and that I recommend something similar to anyone who has the opportunity to do so!

37

Page 38: Revista Quáo | #1 2014

Rede Cidadã (Citizen Network) is a social, non-profit organization, created in October 22nd, 2002. It was born with the objective of maximizing social investment resources available, in order to integrate actions and social initiatives, using the tools of business management, strengthening public policy and the public interest.

The volunteer program is the opportunity to develop skills through volunteer work in the areas of employability and entrepreneurship of Rede Cidadã. On employability the volunteers prepare and empower young people for our team to direct them to selective processes in partner companies. On entrepreneurship, volunteers with experience in many areas spread their knowledge so that small entrepreneurs can, in a sustainable and structured way, leverage their business and generate new jobs. The duration can be negotiated with Rede Cidadã's team, as the availability of volunteers.

Learn about the activities that the volunteer can develop:

- Teach courses of Training of Basic Skills for the Job:

Career Guidance Practice (OPP in portuguese)All young people participating in the

preparatory process of our Value Chain go through OPP. It is a quick training where young ones work the exact understanding of the necessary skills to enter the labor market. It's like a preparation for everyone to know how to set up a resume, what to expect from a job interview and what a company that wants to hire usually expects from its candidates.

-Trainings for entrepreneursIt is the conduction of lectures and workshops

taught by a volunteer Consultant to the entrepreneurs. It looks for people with proactive and dynamic profile, wishing to have experience in these activities, and with willingness and commitment.

-Mentoring in business managementExperience of supporting micro and small

enterprises, through the monitoring of their activities in a long-term period, as well as developing a business plan with the aim of structuring the business and credit achievement for leveraging the enterprise.

Come and be part of this network of volunteers! For further information please contact by phone: 55 (31) 3236-1606 or 55 (31) 3236- 1621

A Rede Cidadã é uma organização social, sem fins lucrativos, constituída em 22 de outubro de 2002. Foi criada com o objetivo de maximizar os recursos de investimento social disponíveis, de modo a integrar ações e iniciativas sociais, utilizando-se das ferramentas de gestão empresarial, fortalecendo as políticas públicas e o interesse público.

O programa de voluntariado da Rede Cidadã é a oportunidade de desenvolvimento de competências por meio do trabalho voluntário nos eixos de empregabilidade e de empreendedorismo da Rede Cidadã. Na empregabilidade os voluntários preparam e capacitam jovens para que nossa equipe os direcione para processos seletivos em empresas parceiras. Já no eixo empreendedorismo, voluntários com experiência em diversas áreas disseminam seus conhecimentos para que pequenos empreendedores possam, de forma sustentável e estruturada, alavancar seus negócios e gerar novos postos de trabalho. A duração poderá ser negociada com a equipe da Rede Cidadã, conforme a disponibilidade do voluntário.

Conheça as atividades que o voluntário pode desenvolver:- Ministrar cursos de Capacitações de Competências Básicas para o

Trabalho: OPP: Orientação Profissional PráticaTodos os jovens que participam do processo preparatório de nossa

Cadeia de Valor passam pela OPP. É uma capacitação rápida em que o jovem trabalha exatamente o entendimento das competências necessárias para ingressar no mercado de trabalho. É como uma preparação para que todos saibam como montar seu currículo, o que esperar de uma entrevista de emprego e o que uma empresa que quer contratar costuma esperar de seus candidatos.

- Capacitações para EmpreendedoresÉ a real ização de palestras e workshops ministrados aos

empreendedores pelo Consultor voluntário. Busca-se pessoas com perfil pró-ativo e dinâmico, que queiram ter experiência nessas atividades e tenham disposição e comprometimento.

- Mentoria em Gestão EmpresarialExperiência de apoiar micro e pequenos empreendimentos, por meio do

acompanhamento de suas atividades em um período de longo prazo, assim como desenvolver um plano de negócios com o objetivo de estruturação do negócio e de conquista de crédito para alavancar o empreendimento.

Venha fazer parte dessa rede de voluntários! Para maiores informações entre em contato pelos telefones: (31)3236-1606 ou 1621

Rede Cidadã: Volunteer Work and Social Responsability

38

Rede Cidadã: Trabalho Voluntário e Responsabilidade Socialpor Rede Cidadã

Page 39: Revista Quáo | #1 2014

28 e 29 de agosto de 2015

Page 40: Revista Quáo | #1 2014