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ANOS DA 30 RETOMADA Alquimia SINDICATO DOS QUÍMICOS E PLÁSTICOS DE SÃO PAULO E REGIÃO NOVEMBRO|2012 EDIÇÃO HISTÓRICA

Revista Sindicato 30 anos

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Revista Sindicato 30 anos

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  • 1edio histrica / Alquimia

    Faa parte dessa histria.Fique scio.

    ANOS DA30RETOMADA

    AlquimiaSINDICATO DOS QUMICOS E PLSTICOS DE SO PAULO E REGIO

    NOVEMBRO|2012

    EDIO HISTRICAAlquimiaAlquimiaSINDICATO DOS QUMICOS E PLSTICOS DE SO PAULO E REGIOSINDICATO DOS QUMICOS E PLSTICOS DE SO PAULO E REGIO

  • 2 Alquimia / edio histrica

    ESTA TURMA NO DEU MOLEZA AOS PATRES

    30 ANOS DE HISTRIA

    www.quimicosp.org.br

    Primeiro, vieram o Chico cido e a Maria dos Remdios...

    ... depois, a Mimi,o Meia-noite,o Chilique e o

    Natureza

    Nos anos 80, estes personagens agitavamas pginas do Sindiluta para

    informar, denunciar e alertar, com humor, a categoria

    O maior Sindicato Qumico da Amrica Latina

    FIQUE SCIO

    19822012FAA A DIFERENA:

    LEIA, ACESSE, ACOMPANHE, PARTICIPE

    30 ANOS DE HISTRIA

    CATEGORIA

    Max

    stoc

    k/Al

    amy

    Capa_Revista Sindicato 30 anos_Final.indd 1 05/11/2012 18:44:23

  • 3edio histrica / Alquimia

    ESTA TURMA NO DEU MOLEZA AOS PATRES

    30 ANOS DE HISTRIA

    www.quimicosp.org.br

    Primeiro, vieram o Chico cido e a Maria dos Remdios...

    ... depois, a Mimi,o Meia-noite,o Chilique e o

    Natureza

    Nos anos 80, estes personagens agitavamas pginas do Sindiluta para

    informar, denunciar e alertar, com humor, a categoria

    O maior Sindicato Qumico da Amrica Latina

    FIQUE SCIO

    19822012FAA A DIFERENA:

    LEIA, ACESSE, ACOMPANHE, PARTICIPE

    30 ANOS DE HISTRIA

    CATEGORIA

    Max

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    Capa_Revista Sindicato 30 anos_Final.indd 1 05/11/2012 18:44:23

    Diretoria Colegiada

    trinta anos, em 21 de outubro de 1982, tomava posse no sindicato a primeira diretoria eleita democraticamente pela categoria desde o incio do golpe militar. Com o slogan

    A cobra vai fumar, a oposio cutista agitou as fbricas depois de quatro anos de trabalho clandestino. O desejo de mudana foi revelado j no primeiro turno das eleies sindicais, no ms de agosto. A vitria dachapa 2 deu um basta estrutura sindical imposta pela ditadura para colocar a entidade no caminho do sindicalismo combativo, ao lado dos bancrios de So Paulo, metalrgicos do ABC e oposio metalrgica da capital.

    Trs anos depois, em 1985, apesar da represso patronal, a oposio dos plsticos tambm d a reviravolta para retomar o sindicato. Eram tempos de mudana. Campanhas, greves e mobilizaes substituram o imobilismo e o assistencialismo praticados at ento pelos sindicatos. A categoria combate o arrocho salarial, o desemprego, a inflao descontrolada e enfrenta a crise econmica imposta pelo governo.

    Ao resgatar a retomada e alguns acontecimentos dessas trs dcadas, a diretoria apresenta um pouco da histria recente do pas e os momentos que marcaram nossas lutas. uma trajetria de resistncia pontuada pela criao da CUT, Diretas j, greve de 1985, Fora Collor, reunificao de plsticos e qumicos em 1994, enfim, uma atuao que contribuiu de forma decisiva para a consolidao da democracia no pas e para a eleio de um governo popular.

    A pretenso no mostrar uma histria pronta e acabada. A linha do tempo demonstra o caminho percorrido, mas tambm revela que h muito a ser conquistado. Como afirma um de nossos entrevistados essa foi uma gerao vitoriosa. Que novas geraes firmem esse compromisso, em defesa da categoria e por um sindicato cada vez mais forte. Por uma sociedade mais justa e pelo respeito s diferenas que constroem novas ideias e movem a engrenagem da histria.

    Editorial

    A cobra vai fumar*

    * A oposio resgatou o slogan das lutas operrias dos anos 50 na categoria. Nesse perodo, os qumicos se apropriaram do brado de guerra nacionalista para fazer a cobra fumar nas fbricas contra os patres e em defesa dos salrios

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  • 4 Alquimia / edio histrica

    Capa: Paulo MonteiroFotomontagem a partir de fotos de Augusto Coelho, Bio Zenha, Cedoc STQPSP, Daniel de Souza, Dino Santos, Douglas Mansur, Edson Passoni, Eduardo Oliveira, Ennio Brauns, Jailton Garcia, Mario Castello, Osmar Bustos, Roberto Parizotti, Vera Jursys e Wagner Celestino

    Sindicato dos Trabalhadores nas Indstrias Qumicas, Farmacuticas, Plsticas e Similares de So Paulo, Taboo da Serra, Embu, Embu-Guau e Caieiras

    Revista Alquimia Edio Histrica

    Adir Gomes Teixeira, Alessandra Cruz, Alex Ricardo Fonseca, Antenor

    Eiji Nakamura (Kazu), Aparecida Pedro (Cida), Benedito Souza (Ben),

    Carlos Brito (Carioca), Carlos Gomes Batista (Carlinhos), Clia Passos,

    Deusdete J. das Virgens (Ded), Edielson Santos, Edilson de Paula

    Oliveira, Edson Passoni, Edson Azevedo, Elaine Alves Blefari, Elizabete

    Maria da Silva (Bete), Erasmo Carlos Isabel (Tuco), Francisco Chagas,

    Geralcino Teixeira, Geraldo Guimares, Hlio Rodrigues de Andrade,

    Hlvio Alaeste Benicio, Jaqueline Souza da Silva, Joo Carlos de Rosis,

    Jos Alves Neto, Jos Francisco de Andrade (Chiquinho), Jos Isaac

    Gomes, Lenidas Sampaio Ribeiro, Lourival Batista Pereira, Lucineide

    Varjo Soares (Lu), Luiz Carlos Gomes (Xiita), Luiz P. de Oliveira (Luizo),

    Lutembergue Nunes Ferreguete, Maria Aparecida Arajo do Carmo,

    Martisalem Covas Pontes (Matu), Milton Pereira de Hungria, Nilson

    Mendes da Silva, Osvaldo da Silva Bezerra (Pipoka), Renato Carvalho

    Zulato, Ronaldo Rodrigues de Lima, Rosana Sousa de Deus, Rosemeire

    Gomes de Brito (Rose), Sebastio Carlos P. dos Santos (Branco).

    Diretoria Colegiada Gesto 2012/2015

    Sede CentralRua Tamandar, 348 Liberdade SP Tel. 3209.3811

    SubsedesSanto Amaro Rua Ada Negri, 127 Tel. 5641.2228Lapa Rua Domingos Rodrigues, 420 Tel. 3836.6228So Miguel Rua Arlindo Colao, 32 Tel. 2297.7374Taboo da Serra Estr. Kizaemon Takeuti, 1751 Tel. 4137.9237Caieiras Rua So Benedito, 105 Tel. 4605.4297

    | novembro de 2012 Acesse no site: www.quimicosp.org.br

    Secretaria de Tecnologia da Comunicao: Deusdete Jos das VirgensCoordenao do Departamento de Imprensa: Soraia Nigro (MTb 20.149)Coordenao do projeto, edio, redao, pesquisa histrica e pesquisa de imagens: Elizete Moura Santos (MTb 24.143)Projeto grfico, edio de arte e diagramao: Paulo Monteiro de AraujoTratamento de imagens: Eduardo Amaral Reviso: Alexandre CamarAgradecimentos: Irani Menezes, Juliana Leuenroth e Cedoc BancriosImpresso: LWC Editora e GrficaTiragem: 25 mil exemplares

  • 5edio histrica / Alquimia

    NdiCE

    As origens

    VitriA dos plsticos

    integrAo

    MobilizAes

    30 Anos dA retoMAdA

    VitriA dos quMicos

    reunificAo resistnciA e lutA

    Radiografia da categoria Novos tempos, novas perspectivas

    Aposentados: tradio de mobilizao Defesa do meio ambiente

    Sindicato forte

    Mulheres conquistam seu espao Sade no tem preo

    A luta faz a leiA juventude na ao sindical

    A luta tnico-racialRespeito diversidade LGBT

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    A diretoria colegiada refora o compromisso assumido h 30 anos pela primeira gesto cutista. A defesa dos direitos da categoria, a luta por salrios decentes e condies dignas de trabalho

    continuam sendo o patamar de atuao em cada fbrica.

    Trabalhadores de empresas estratgicas, os 43 membros

    da atual gesto integram uma trajetria de mobilizao

    que contribuiu na consolidao da democracia no Brasil.

    Uma histria iniciada no final da dcada de 1970 e que

    resultou no fortalecimento de um sindicato de luta, o

    maior do ramo qumico da Amrica Latina.

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    Gesto 2012-2015

  • 7edio histrica / Alquimia

    A trajetria dos ltimos 30 anos credencia o sindicato e a nova diretoria para os desafios que esto colocados na pauta

    de luta dos trabalhadores. A prioridade intensificar a luta pela reduo da jornada, organizao no local de trabalho, fim das demisses involuntrias e a democratizao real no cho de fbrica porque isso ainda no acontece no Brasil. Sem dvida, as ltimas trs dcadas

    prepararam a categoria para os embates atuais. A diretoria sempre teve conscincia da necessidade de trabalhar firme para conquistar as reivindicaes de destaque dos trabalhadores do ramo qumico.

    Uma discusso atual na CUT a reforma sindical. Debatemos uma nova estrutura que fortalea ainda mais a parceria com outros sindicatos e o intercmbio com as experincias de organizao. Atuar com este enfoque lutar contra as perseguies e a premeditada poltica antissindical levada adiante pelos empresrios que intimidam e criam um muro entre o sindicato e os trabalhadores para que no reconheam a entidade como seu legtimo representante. uma cultura patronal retrgrada. Da a importncia da atuao junto CUT e a recente filiao IndustriALL, nossa confederao global internacional, que coloca na prtica a perspectiva do exerccio da solidariedade internacional.

    Alm de reforar sua importncia na luta por melhores condies de trabalho e salrios decentes,

    nesse 30 anos a nossa entidade se transformou num sindicato cidado, tambm preocupado com as questes mais gerais como moradia, transporte, sade e educao. um sindicato que avana, no s na questo do trabalho, mas tambm nos temas ligados cidadania, estendendo seu alcance de base alm dos locais de trabalho. O combate ao trabalho infantil, o estmulo aos educadores sociais vinculados Jornada Cidad e o apoio aos movimentos populares e socias tm nos colocado em sintonia com vrios segmentos.

    O processo de retomada dos sindicatos dos qumicos e dos plsticos contribuiu para

    a construo da CUT. Reforamos nossas estruturas de organizao. A princpio criamos o Departamento

    Qumico e desse patamar demos um salto para a fundao da

    Confederao Nacional do Ramo e a Federao Estadual, a Fetquim. Nossa trajetria ajudou a consolidar essas

    ferramentas decisivas para a mobilizao e o

    crescimento poltico. Passamos pelo governo Lula, com uma prtica

    mais democrtica e popular, e garantimos avanos. Aprendemos com a histria que o sindicato mantm sua

    importncia em qualquer conjuntura poltica. Imagine o que passamos na poca do Collor, por exemplo,

    com a avalanche de falncias de empresas. Naquele perodo, o setor de brinquedos foi dizimado e diversos

    companheiros perderam seus empregos. Em plena crise, o sindicato inovou e criou formas de autogesto para

    garantir a sobrevivncia dos trabalhadores.Hoje, apesar da situao de aparente tranquilidade,

    a classe patronal continua intransigente. Ainda convivemos com os baixos salrios na categoria, com

    longas jornadas e doenas profissionais causadas pelo estresse e ritmo frentico. Assim, temos todas as razes

    para utilizar o acmulo dessa luta sindical para fortalecer nossas bandeiras, como a reduo da jornada para a

    garantia de qualidade de vida com emprego para todos.

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    osVAldo dA silVA bezerrA (pipoka)Coordenador geral

    cArlos eduArdo de brito (carioca)Coordenador da Secretaria de Organizao

    Joo cArlos de rosisCoordenador da Secretaria de Administrao

    Nos ltimos anos, com o governo Lula e Dilma, tambm dinamizamos nossa Campanha Salarial com conquistas de aumento real, reposio da inflao e garantia de nossas clusulas sociais. No demos trgua e combatemos de frente as tentativas de demisses e a prtica antissindical lanada por algumas empresas

    do ramo qumico. Um sindicato com a envergadura do nosso tem a tarefa constante de manter acesa a fora da resistncia que tornou-se a marca das seguidas diretorias cutistas ao longo desses 30 anos.

    Doug

    las

    Man

    sur

  • 8 Alquimia / edio histrica

    aS oriGENS

    A semente da resistncia sindical

    anos1940

    anos1950

    22 JAneiro 1933 | Criado o Sindicato dos Trabalhadores do Gs de So Paulo para representar os funcionrios da inglesa Companhia So Paulo de Gs. Instalado na rua Maria Domitila, 16, no Brs, surge o embrio do atual Sindicato dos Trabalhadores nas Indstrias Qumicas e Plsticas de So Paulo

    Junho 1935 | O Sindicato dos Trabalhadores do Gs dura pouco. A empresa persegue quem fica scio, o nmero de sindicalizados cai e a entidade fecha as portas

    1938 | Surge o Sindicato dos Operrios e Empregados na Fabricao de Produtos Qumicos Industriais

    26 Abril 1940 | Inaugurada oficialmente a Companhia Nitro Qumica, no bairro de So Miguel Paulista, em funcionamento desde 1935. Com 4.200 funcionrios, j considerada uma das maiores fbricas da capital paulista

    JAneiro 1941 | O Sindicato dos Trabalhadores nas Indstrias Qumicas e Farmacuticas de So Paulo obtm reconhecimento oficial, de acordo com a estrutura sindical imposta pelo governo de Getlio Vargas. Logo depois, uma subsede instalada em So Miguel para atender os funcionrios da Nitro

    Junho 1940 | Na centrfuga, o

    encarregado do setor de nitrao manipula o algodo com um garfo

    de ao inoxidvel de cabo longo. Conhecida como empresa modelo,

    a Nitro temperava baixos salrios com

    pssimas condies de trabalho

    Junho 1943 | Funcionrios da desnitrao reunidos na parte externa da seo, que pertencia ao processo rayon chardonize, cuja fbrica foi extinta pela Nitro por volta de 1945

    Os flagrantes do setor de tinturaria (dcada de 1940) e da rea de fiao de rayon da

    Nitro (1950) revelam as condies insalubres enfrentadas pelos funcionrios

    Filhos de operrios alfabetizados pela escola do sindicato Presidente Vargas, em So Miguel Paulista. Turma de 1947

    A chamada Revoluo de 1930 revigorou os ventos do nacionalismo e do populismo. Apoiada num projeto de crescimento, a poltica de Getlio Vargas reorientou a economia para estimular o processo de industrializao em curso no pas. A ordem era garantir o desenvolvimento com total apoio ao setor industrial. Em nome da unidade nacional e para viabilizar esse processo de cooperao, o Estado autoritrio imps a censura, perseguiu opositores, proibiu as eleies e as greves. No havia espao para a classe trabalhadora. A colaborao de classes veio para sacramentar essa prtica a qualquer custo e impedir confrontos. Os sindicatos atuavam como reparties pblicas, prontos para amenizar conflitos e pregar a harmonia entre capital e trabalho

    1954 | Por motivos polticos, os trabalhadores plsticos separam-se dos qumicos para fundar uma associao profissional, que daria origem ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indstrias de Material Plstico de So Paulo. Essa diviso s seria revertida em 1994 com a reunificao das duas categorias profissionais no atual sindicato

    1947 A 1950 | Com uma atuao mais independente em relao ao Ministrio do Trabalho, o nosso sindicato (com sede na rua 25 de Maro, 144) sofre interveno do governo por trs anos sob a acusao de atividades comunistas. Muitas empresas, como a Nitro Qumica, aproveitam para efetuar demisses em massa

    Cedoc STQPSP

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  • 9edio histrica / Alquimia

    aS oriGENS

    anos1950greVe de 1957 | Adelo de Almeida, presidente do sindicato, orienta a votao dos trabalhadores da Nitro durante uma assembleia em frente subsede em So Miguel

    Jos Ferreira da Silva, secretrio geral, discursa em cima de um carro de som durante o movimento grevista...

    ... enquanto piquetes so organizados na regio com a participao de familiares

    1958 | Desfile do 1 de Maio envolve a comunidade de So Miguel

    c. 1959 | Caminho do sindicato percorre as ruas da cidade no 1 de Maio: Unidos venceremos

    1962 | O sindicato amplia seu leque de atuao e participa ativamente das mobilizaes que culminam com a aprovao do 13 salrio, pela Lei n 4.090

    c. 1960 | Em frente sede central, na rua 25 de Maro, a militncia se prepara com faixas para um 1 de Maio em defesa da reforma agrria

    31 MAro 1964 | O golpe militar derruba o presidente Joo Goulart e ataca o movimento sindical combativo. Os sindicatos dos qumicos e dos plsticos sofrem interveno. Os lderes sindicais so cassados, perseguidos e presos. Muitos fogem da represso espera de ventos de liberdade. Os sindicatos retomam suas antigas atividades burocrticas e a militncia se prepara para os tempos de resistncia. Na foto, tanques e militares nas ruas do Rio de Janeiro. O exrcito d o tom do golpe militar desferido sem meias palavras contra a democracia

    9 Abril 1964 | Um tanque de guerra bloqueia a frente do Palcio Guanabara, no Rio de Janeiro

    incio dA dcAdA de 1960 | Adelo de Almeida (direita), presidente do sindicato cassado pela ditadura, tem sua casa revirada pela polcia. preso e torturado trs vezes por sua atuao. Na gesto 1991-1994, com 73 anos, volta a integrar a diretoria do sindicato numa demonstrao de comprometimento mpar com a categoria. Na foto, durante um evento na subsede de So Miguel

    1956 | Oposio ligada ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) eleita para a direo do Sindicato dos Qumicos com uma vitria esmagadora. So ventos de democracia. Essa oposio diretoria submissa ao Ministrio do Trabalho obtm 91,9% dos votos contra 8,1%. Adelo de Almeida, trabalhador da Nitro Qumica, assume a presidncia e passa a ser reeleito sucessivamente at ser cassado pelo golpe militar de 1964.

    um perodo de agitao. Em outubro de 1957, a categoria participa da Greve dos 400 Mil em So Paulo. Na Nitro foi a primeira greve total da empresa, com durao de nove dias e a conquista de 25% de reajuste, posteriormente estendida a toda base

    anos1960

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    Acervo Iconographia

    Arquivo/Agncia Estado

  • 10 Alquimia / edio histrica

    aNoS dE Chumbo

    anos1960

    O combate ditadura militarEm 1964, a disputa de dois projetos polticos aconteceu num cenrio de crise econmica e social. O projeto de defesa da reforma agrria e distribuio de renda com soberania, de um lado, contrastava com uma proposta que defendia a submisso do pas aos interesses de grupos multinacionais, com aprofundamento da dependncia econmica em relao ao capital internacional. Eram os dois lados da mesma moeda. O golpe militar determinou o rumo desse debate e colocou o Brasil sob a tutela dos Estados Unidos. Sob o regime da represso, lideranas sindicais foram perseguidas e mortas, e os sindicatos tomaram o rumo do assistencialismo, com assembleias esvaziadas e duro controle na ao poltica

    1965 A 1967 | Depois do golpe, nos dois sindicatos, eleies consentidas pelo Ministrio do Trabalho respaldam sucessivas diretorias comprometidas com as juntas interventoras. Vrios desses dirigentes tentam manter seus cargos, coniventes com os interesses das empresas e do governo. Numa poltica de colaborao, os sindicatos seguem a regra da submisso total e passam a patrocinar atividades assistenciais

    26 Junho 1968 | Organizada pelo movimento estudantil, a Passeata dos Cem Mil protesta contra a ditadura militar e percorre o centro do Rio de Janeiro

    Julho 1968 | As greves de Osasco desafiam a

    ditadura. Na Cobrasma, 3 mil metalrgicos ocupam a fbrica e estimulam outras mobilizaes na regio. Os soldados da Fora Pblica invadem a fbrica, partem

    para o confronto e pren-dem os trabalhadores. Em

    dezembro, editado o AI-5 (Ato Institucional n 5),

    que recrudesce a represso e autoriza o governo a

    fechar o Congresso

    1969 | No sindicato, as assembleias do lugar aos cursos de corte e costura

    29 seteMbro 1969 | Virglio Gomes da Silva, ativista sindical do setor

    qumico, morto aos 36 anos sob tortura nas dependncias do DOI-CODI (Destacamento de

    Operaes de Informaes - Centro de Operaes de Defesa Interna). Seu

    corpo jamais foi encontrado

    1970 | A subsede de So Miguel mantm uma unidade do Mobral com aulas regulares de alfabetizao. O trabalhador qumico, jornal do sindicato, destaca em sua edio de agosto de 1972, no auge da represso: O povo brasileiro vive em harmonia de norte a sul. Nosso regime est consolidado. O governo valoriza os operrios e lhes d trabalho e educao

    1 MAio 1970 | Em vez das faixas de protesto, o sindicato organiza um dia de luta diferente

    1 MAio 1970 | Atividades esportivas do o ritmo das comemoraes no perodo

    anos1970

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    Acervo pessoal Cedoc STQPSP

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  • 11edio histrica / Alquimia

    aNoS dE Chumbo

    outubro 1975 | A sociedade denuncia: o jornalista Vladimir

    Herzog torturado e morto nas dependncias do DOI-CODI

    1977 | Waldomiro Macedo ( esquerda), presidente do Sindicato dos Qumicos e integrante da primeira junta interventora, cumprimenta Arnaldo Prieto (direita), Ministro do Trabalho, durante a inaugurao da atual sede. O aperto de mos refora os laos entre a diretoria pelega e a ditadura

    anos1970

    1978 | Greve na Scania, em So Bernardo, lana um perodo de massivas manifestaes no ABC. Os metalrgicos enfrentam a represso e continuam mobilizados nos anos seguintes. Na foto, de 1980, um helicptero da PM vigia uma assembleia lotada no estdio da Vila Euclides

    1978 | Praa da S. Protestos contra a carestia espalham-se pelo pas

    1979 | Mesmo sem o apoio do sindicato, os metalrgicos de So Paulo deflagram greves que agitam a cidade. A PM reprime com violncia. Santo Dias da Silva, operrio e militante, morto com um tiro nas costas em frente fbrica Sylvania, na Zona Sul. No funeral (31/10), uma multido carrega faixas e grita: O povo no tem medo, abaixo Figueiredo

    Agosto 1979 | Ampla campanha nacional mobiliza multides e assegura a aprovao da Lei da Anistia. Passeata percorre o Viaduto do Ch

    10 feVereiro 1980 | Lanado o manifesto de criao do Partido dos Trabalhadores, no Colgio Sion, em SP

    Dicionrio sinDicalPelego Termo utilizado no pero-do para designar o dirigente sindical que praticava a poltica oficial do Ministrio do Trabalho e que procu-rava amortecer as contradies entre capital e trabalho, em prejuzo dos legtimos direitos da categoria.

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  • 12 Alquimia / edio histrica

    Vitria doS QumiCoS

    30 Abril 1981 | Atentado no Riocentro, RJ: militares tentam barrar a abertura poltica. Duas bombas explodem num show do Dia do Trabalhador e matam os envolvidos na sabotagem: um sargento e um capito ligados aos rgos de segurana

    Julho 1981 | Greve na Ford de SBC, contra 400 demisses, conquista a primeira Comisso de Fbrica da indstria automobilstica aps o golpe de 1964

    Agosto 1981 | A 1 Conclat (Conferncia Nacional das Classes

    Trabalhadoras), na Praia Grande, rene 5.036 delegados de 1.091 entidades sindicais. Criada

    a Comisso Nacional Pr-CUT

    feVereiro 1982 | O PT (Partido dos Trabalhadores) conquista o registro definitivo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)

    Abril 1982 | Proibido at 15 de dezembro, o filme Pra Frente Brasil (dirigido por Roberto Farias) denuncia a tortura no pas

    Agosto/seteMbro1982 | As eleies sindicais so marcadas por conflitos nas

    primeira e segunda votaes. A antiga diretoria tenta impugnar a candidatura da oposio.

    A fiscalizao, para manter a lisura do pleito e impedir fraudes, acompanhada nas urnas

    pela militncia. A apurao no deixa dvidas e declara a vitria da chapa 2, encabeada por

    Domingos Galante. o desejo de mudana retratado em 75% dos votos. A partir da, a

    entidade d uma guinada radical, assume os interesses da categoria e torna-se referncia no

    apoio s oposies sindicais e parceria nas lutas dos movimentos populares. Um basta estrutura

    sindical autoritria imposta pela ditadura

    coMeMorAo | Ao lado de integrantes da nova diretoria eleita, Matu Pontes e Edilson de Paula (segundo e terceiro da esquerda para a direita) j integram a oposio sindical dos plsticos

    anos1980

    Agncia JB

    Juca Martins/Olhar Imagem

    Acervo: Cedoc CUT

    Reproduo

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    Vera Jursys/Cedoc STQPSP

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  • 13edio histrica / Alquimia

    Vitria doS QumiCoS

    Os anos de 1980 se depararam com uma grave crise internacional. No Brasil, os reflexos foram sentidos pelo aumento do endividamento externo e aplicao de polticas que arrochavam salrios e demitiam em massa os trabalhadores. A opo do governo era privilegiar o mercado externo e barrar a capacidade de consumo da populao. Nesse clima, depois de quatro anos de trabalho clandestino nas fbricas, a oposio sindical driblou a ditadura para devolver o sindicato para a categoria. A entidade passou a atuar como figura estratgica, assumindo papel de destaque na luta pela democracia

    Momento da conveno democrtica que escolhe a chapa cutista. A posse acontece em 21 de outubro de 1982

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  • 14 Alquimia / edio histrica

    ENFrENtamENto

    Rumo construo da CUT

    A nova diretoria assumiu imediatamente a luta pelos direitos dos trabalhadores. Alinhou-se aos movimentos populares, na luta contra a carestia, em defesa dos direitos das mulheres, da reforma agrria e de outros segmentos sociais. Ao lado dos sindicatos dos metalrgicos do ABC, bancrios de SP e oposio metalrgica de SP, passou a integrar o alicerce do sindicalismo combativo que despontou aps as greves do final da dcada de 1970

    feVereiro 1983 | Devolver o sindicato para a categoria: para colocar em prtica este slogan da oposio, a nova diretoria lana massiva Campanha de Sindicalizao nas fbricas. O personagem Chico cido convoca: 20 mil sindicalizados em 83

    Abril 1983 | Os trabalhadores vivem um perodo de recesso. Uma passeata contra o desemprego e a carestia termina em revolta e saques na Zona Sul. Os manifestantes seguem at o bairro do Morumbi na expectativa de uma audincia com o governador Franco Montoro. Recepcionados pela represso, aps uma espera de horas, os desempregados derrubam as grades do Palcio dos Bandeirantes

    anos1980

    7 Abril 1983 | Nesse clima lanado o Sindiluta dirio: para criar um canal direto de comunicao com a categoria. Em sua primeira edio denuncia a poltica econmica do governo como responsvel pelo desespero da populao. informao todos os dias nas portas de fbrica. Como porta-voz dos trabalhadores, a publicao inicia a convocao da greve geral

    21 Julho 1983 | A greve geral contra o arrocho mobiliza milhes de trabalhadores no pas. A categoria participa ativamente. Alguns diretores do sindicato recebem ordem de priso e so perseguidos pela Polcia Federal. A

    sede e a subsede de Santo Amaro so invadidas pela polcia. O governo militar reprime e, s vsperas da paralisao, determina interveno nos sindicatos

    dos petroleiros de Campinas e Paulnia, metalrgicos do ABC, bancrios e metrovirios de SP. Os respectivos dirigentes so cassados

    Julho 1983 | Mesmo monitorado pelos rgos de represso, o nosso sindicato assume papel estratgico na resistncia contra as intervenes e torna-se ponto

    de referncia dos trabalhadores e oposies sindicais de vrias categorias. Na capital, um dos principais centros de aglutinao poltica durante a greve geral.

    Tropas de choque ocupam as ruas para reprimir o movimento

    Agosto 1983 | Margarida Alves assassinada por sua atuao. Como

    presidente do sindicato rural de Alagoa Grande, Paraba, esteve

    frente da entidade durante 12 anos denunciando usineiros e encabeando mais

    de 600 aes trabalhistas

    Dia 21, na praa da S

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    Arquivo pessoal

    Joveci C. de Freitas/Agncia Estado

    Cedoc STQPSP

    Sindiluta, 26/07/1983

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    983

  • 15edio histrica / Alquimia

    ENFrENtamENto

    28 Agosto 1983 | Fundada a CUT (Central nica dos Trabalhadores)

    no 1 Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, em SBC, com

    a participao de mais de 5 mil delegados de 912 entidades do campo e da cidade. O sindicato

    participa desse momento histrico, que estremece a ditadura militar.

    Agora irreversvel, so tempos de mudana que impulsionam a busca

    pela democracia

    Agosto/noVeMbro 1983 | Algumas imagens do perodo capturam o clima de reivindicao da categoria, cansada dos acordos fechados s escondidas entre a diretoria de Waldomiro Macedo e as empresas. As negociaes com a bancada patronal passam a ser acompanhadas pela diretoria, militncia e assessoradas por uma equipe de tcnicos preparada para os grandes embates que envolvem as questes econmicas. Uma prtica existente at hoje. As assembleias lotam

    24 outubro 1983 curiosidAde |Sindiluta n 136: o atual ministro da

    Fazenda, Guido Mantega, poca professor de Economia, concede

    entrevista exclusiva ao Sindiluta para denunciar: Empresas lucram mais

    com a crise

    Greve na Squibb: agosto Greve na Bozzano: setembro Greve na Orquima: novembro

    Greve na Colmena: setembro

    Sind

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    983

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    Vera Jursys/Cedoc STQPSPSindiluta, 24/10/1983

  • 16 Alquimia / edio histrica

    opoSio doS QumiCoS

    Hora da virada

    Em agosto de 1982, o primeiro turno das eleies sindicais j apontava a vitria da chapa 2. A segunda votao, realizada em setembro, ampliou ainda mais a vantagem de votos da oposio cutista para devolver o sindicato para a categoria. A retomada da entidade virou a pgina da histria e colocou os qumicos na rota do sindicalismo combativo que eclodia no pas, ao lado dos metalrgicos do ABC, bancrios e oposio metalrgica de So Paulo

    doMingos gAlAnte

    como nasceu a oposio?No era uma oposio explcita. A estratgia era trabalhar por dentro do sindicato. importante citar que, em 1978, tivemos muitas greves na categoria. No mesmo perodo das mobilizaes do ABC, trabalhadores de fbricas importantes ameaaram paralisaes, como a Orniex e a Ni-tro. Em vez de apoiar essa luta, a diretoria do sindicato negociava s escondidas com a direo das empresas e fechava acordos. Em 1979, o sin-dicato tambm no correspondeu aos anseios e realizou uma campanha salarial muito frgil que levou indignao muita gente presente nas assembleias. Tanto que a campanha de 1980 mudou completamente de qualidade e assumiu outro nvel de participao com a criao de uma comisso de negociao mais numerosa.

    A oposio ganhou fora? nesse momento, entre 1979 e 1980, que se es-trutura uma oposio insatisfeita com o sindica-to. Vamos ter uma composio que reunia muita gente da igreja, da antiga direo sindical, de egressos da luta de resistncia, de trabalhadores das fbricas em greve, de militantes do sindica-lismo combativo, como os metalrgicos do ABC e de So Paulo (oposio). esse o conjunto que forma a oposio: integrantes do mesmo movi-mento de massas que vo constituir a CUT e o PT.

    Como foi a atuao da oposio?Na surdina, ns [da oposio] tnhamos comis-ses permanentes de trabalho. As atividades do sindicato, voltadas ao lazer e ao esporte, ramos ns que fazamos. O pelego estava to confiante que ia negociar conosco, que deixou para o final do prazo o registro da chapa da diretoria. Quan-do chegamos com uma chapa para registrar, ele levou um susto e disse: mas essa a mi-nha chapa, o pessoal que eu j conversei para integrar a minha chapa. Isso no era verdade, era exagero dele. Mas ele tinha tal confiana na vitria, que no esperava um revs. E foi surpre-endido pelos trabalhadores da indstria farma-cutica que votaram em massa contra ele. era o resultado do trabalho nas fbricas?Lgico. O pelego ainda sofre um segundo re-vs que o deixa assustado. Na nossa chapa, um quarto dos integrantes era da Nitro Qu-mica. E ns tnhamos um trabalho clandesti-no de vrios anos na empresa. E esse pessoal

    fez um grande silncio para ele. Ele no teve uma votao desprezvel, longe disso. Mas ns ficamos com 60% e ele com 40%. No segundo turno a diferena foi ainda maior. O grande peso da derrota do pelego aconteceu na Nitro e nos grandes laboratrios de Santo Amaro, na Zona Sul, que era a base da oposio.

    foi difcil a formao da chapa 2?Eram necessrios 24 trabalhadores para a forma-o da chapa, mas ns tnhamos mais de 200 pes-soas presentes em nossa conveno. Realizamos a reunio num domingo tarde, num cinema na Zona Leste. Bem, ns chegamos no sindicato no outro dia bem cedo, na segunda-feira pela ma-nh, para registrar a chapa. Todos faltaram ao trabalho e acompanharam o registro para se pro-teger de uma possvel delao e demisso.

    A represso era grande?Era uma temeridade. Os tempos eram outros. Quem viu o 1 de Maio de 1980 no ABC... foi assustador. Helicpteros de porte militar passa-vam em voos rasantes sobre a multido. Havia um sentimento de ameaa de morte o tempo todo. Eu acho que emprego e sobrevivncia ga-nhavam uma conotao relativa. A gente estava participando de uma luta muito ideologizada, como obrigava o regime militar. A motivao para derrotar o sistema, derrotar os seus agen-tes, isolar a ditadura, era muito intensa. Esse sentimento no era s nosso. Era um sentimen-to da sociedade: expurgar os militares, exigir de-mocracia e eleies. Hoje, participar da oposio dos qumicos pode ser visto como um ato heroi-co, mas era um ato de vida, de sobrevivncia. Provavelmente, hoje a maioria das pessoas faria o mesmo se chegasse a passar por uma ditadura

    de 20 anos. O regime militar ameaava a vida de toda sociedade.

    como foram os primeiros anos no sindicato?Foram difceis. Havia a ameaa permanente de interveno, de cassao do sindicato. A presena policial era imensa. Em qualquer ati-vidade sindical ns tnhamos que organizar a nossa segurana porque havia uma infiltrao permanente. Eles deviam ter um exrcito de in-filtradores. Ns ramos seguidos, fotografados nas ruas. As nossas greves eram reprimidas. o sindicato tornou-se uma referncia.Como tnhamos participado de um movimen-to de resistncia, com a oposio sindical, sabamos das dificuldades a serem enfrenta-das. Ento, tnhamos como premissa auxiliar ao mximo todos os segmentos sociais. As-sim, ampliamos a nossa estrutura para que o sindicato atuasse como apoio e referncia para os movimentos e oposies. Foi o que aconteceu durante o perodo de interveno nos sindicatos dos metalrgicos do ABC e dos bancrios na capital paulista, nas mobiliza-es pela construo da CUT .

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    Era um momento de mobilizaes e enfrenta-mentos em vrios setores sociais. Eu tambm era uma rebelde, envolvida na luta e com o so-nho de um mundo melhor. Assim, fui atrada pelo movimento sindical e participei do grupo de oposio que assumiu de frente o compro-misso de devolver o sindicato para a categoria e defender os direitos dos trabalhadores. Acre-dito que a retomada do Sindicato dos Qumicos, aliada ao trabalho dos movimentos populares e grupos de mulheres, contribuiu na luta pela ci-dadania e na construo da democracia no pas.

    isAbel conceio dA silVA

    ENtrEViStaS

  • 17edio histrica / Alquimia

    Jorge coelho

    como o pessoal da oposio se conheceu?Eram nas intervenes de plenria. No foi por acaso, foi acontecendo por identidade. A gente se conheceu assim, nas assembleias do sindica-to, numa primeira campanha de 1979. Em 1980 ns trabalhamos mais unificados, j tnhamos uma noo do que queramos: participar da co-misso permanente de negociao do sindica-to. A o trabalho foi expandindo. Tivemos con-tato com os companheiros da Nitro Qumica. A gente sentia que na base havia espao para um outro tipo de sindicato. Assim, comeamos um trabalho por dentro da entidade.

    A oposio foi vitoriosa.Conseguimos ganhar a eleio contra todo o aparato do Ministrio do Trabalho. A nossa entidade, no processo de construo da CUT, foi muito importante porque era o segundo maior sindicato operrio da capital. Reunia 80 mil na base. Na Nitro Qumica havia mais de 5 mil trabalhadores. Na poca da fundao da CUT, os sindicatos dos metrovirios, dos ban-crios e dos metalrgicos de So Bernardo es-tavam sob interveno. O nosso sindicato ser-viu como base, tanto poltica como material, no apoio a essas categorias. Tambm demos

    um suporte grande para a criao da CUT. O nosso sindicato, por ter nascido de uma oposi-o autntica, levou para o interior da central esse tipo de oposio sindical desenvolvido nos anos de 1980. Com muita ligao com a oposio metalrgica de SP, com os compa-nheiros do MOSM-SP, onde havia um debate muito ideolgico. Em nossa eleio, os sindica-tos dos bancrios de So Paulo e metalrgicos de So Bernardo foram alguns dos principais apoiadores, junto com o movimento popular que existia na poca atravs da igreja.

    e a criao da cut estadual?1984 era o momento da fundao da CUT

    nos estados. A contribuio poltica do Sin-dicato dos Qumicos estava em reconhecer a importncia das oposies sindicais. A nos-sa experincia teve repercusso no estado e encorajou vrias outras lutas no perodo. Era o momento que a gente vivia: um sindicalis-mo de combate, ideolgico, de classe. Ento criou-se esse movimento e a CUT do Estado de SP tornou-se uma referncia nacional. Eu tive o privilgio de integrar com os compa-nheiros a primeira gesto.

    e qual o balano do perodo?Acho que a CUT, no perodo de 1985, inovou muito porque organizou a campanha salarial unificada. Reunimos vrias categorias na capi-tal e conseguimos realizar uma greve que foi gerida e dirigida pela CUT Estadual, aqui na capital. O saldo poltico do Sindicato dos Qu-micos tambm positivo: contribumos para a construo da CUT, ajudamos na construo do PT que tornou-se uma referncia na categoria. A categoria elegeu dois vereadores: primeiro talo Cardoso e depois Francisco Chagas. Sem dvida, acho que a nossa gerao, dos anos 80, uma gerao vitoriosa do ponto de vista da organizao do sindicato, da CUT e do PT.

    Primeiro presidente da CUT Estadual SP, entre 1985-1988

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    MAriA dA pAz

    como voc comeou na oposio?Eu era da CIPA, na indstria Lafi, da rea far-macutica. A, o pessoal da oposio apare-ceu. Eles disseram: Ns estamos com um trabalho de oposio, estamos nos reunindo na casa da Nilza a cada quinze dias. Voc no quer ir l para conversar com a gente?. A primeira vez que eu fui j foi suficiente. Foi um trabalho clandestino porque a gente se reunia na casa dela. Eu voltei para dentro da empresa, quietinha e imaginando o que po-deria vir a ser essa histria de oposio.

    A disputa foi intensa?Depois da inscrio da chapa foi muita briga. Eu fiquei muito assustada porque eu nunca ti-nha participado de nada assim. A eu pensei: O que eu estou fazendo?. Eu s refletia, eu no falava para eles porque era um pessoal que estava muito junto, numa luta difcil, e eu tinha que ter foras para fortalecer o grupo.

    Eu no podia me mostrar medrosa. Eu nunca comentei nada com ningum. Eu estou falan-do isso hoje. O medo era muito grande, mas a gente estava num perodo de transio, numa eleio de sindicato e eu disse: J que entrei nessa, eu vou at o fim!.

    como foi o contato com a estrutura do sin-dicato?J imaginou voc, sem saber nada dessa es-trutura, querendo assumir o sindicato, fazer uma mudana e se deparar com esse aparato e com a categoria na sua frente? Havia mui-tas trabalhadoras na base e no sabamos como comear um trabalho. Naquela poca o sindicato era machista e, de repente, entram seis mulheres e ns revolucionamos. Implan-tamos um trabalho de mulheres e tambm um grupo para debater a questo racial.

    Vocs iniciaram o trabalho de mulheres?Ns fomos para as portas de fbrica. Fazamos reunies que lotavam. Veja: a mulher trabalha numa empresa e j massacrada pelo patro, pelo encarrega-do, pelo chefe e chega em casa e continua a jornada dela. A gente tinha isso dentro da gente, que precisava mudar alguma coi-sa. E foi um trabalho muito bom. Imagine uma diretoria com seis mulheres. A gente ouvia: O que essas mulheres querem?. A gente brigava porque ns no estvamos ali para brincar. Ns ramos seis mulheres

    que saram do escritrio e da produo de-terminadas a fazer um trabalho e realizar uma mudana. No eram s as mulheres bonitinhas l na frente com os homens comandando. Ns queramos exatamen-te o mesmo espao. E eu fiz parte dessa transformao, de uma histria que reuniu companheiras batalhadoras que largaram suas famlias para dormir no cho de um espao porque no dava tempo de ir para casa. Vrias vezes isso aconteceu comigo e com outras militantes porque amos de madrugada panfletar nas fbricas e con-versar com a categoria. preciso ter mais mulheres nas diretorias dos sindicatos, elas tm propostas especficas que precisam ser ouvidas.

    ENtrEViStaS

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  • 18 Alquimia / edio histrica

    Ao longo de dcadas, os trabalhadores da base do

    sindicato acompanharam as transformaes de um mundo em movimento. A subseo do

    Dieese e a assessoria econmica traaram uma breve descrio e

    anlise das principais mudanas ocorridas no perfil da categoria

    entre os anos de 1990 e 2010

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    O estudo apresenta os retratos da cate-goria nos anos de 1990, 2000 e 2010, elaborados a partir de informaes da RAIS (Relao Anual de Informaes So-ciais). Trata-se de um registro administrativo do MTE (Ministrio do Trabalho e Emprego) que cobre o universo de empregos formais e abrange todos trabalhadores com carteira assinada contratos regidos pela CLT (Con-solidao das Leis do Trabalho).

    No perodo, procurou-se observar as mudanas no perfil do emprego nos quatro principais setores de atividade econmica da base sindical: cosmtico, produto de perfumaria e higie-ne pessoal; farmoqumico e farmacutico; transformados plsticos; qumico (exceto sabes e produtos de lim-peza).

    Inicialmente, buscou-se detectar as alte-raes nos nmeros de estabelecimentos em-presariais e de empregos. Em seguida, pro-curou-se apresentar dados da distribuio de estabelecimentos e empregos por tamanho do estabelecimento. Depois, traar as mu-danas no perfil do emprego na base sindical a partir de atributos pessoais dos trabalha-dores como: sexo, faixa etria e escolaridade. Por fim, considerou-se tambm a evoluo da remunerao mdia do emprego.

    Empresas por setor de atividadeNa tabela 1, observa-se que o conjunto

    dos setores da base sindical contava com 2.547 estabelecimentos no ano de 1990, total que caiu para 2.496 no ano de 2000 e chegou a 2.557 em 2010. O setor com maior nmero de estabelecimentos o de transformados plsticos, cuja participao no total aumen-tou de 61%, tanto em 1990 quanto em 2000, para 68% em 2010. O segundo setor em n-

    mero de estabelecimentos o qumico, po-rm sua participao no total diminuiu de 25% em 1990, para 23% em 2000 e 19% em 2010. J os percentuais de estabelecimentos do setor de cosmtico permaneceram relati-vamente estveis (entre 7% e 8%) e os do se-tor farmacutico diminuram de 8% em 1990 para 7% em 2000 e 5% em 2010.

    Setor de atividade 1990 2000 2010Cosmtico 7% 8% 7%Farmacutico 8% 7% 5%Plstico 61% 61% 68%Qumico 25% 23% 19%Total 2.547 2.496 2.557

    TABELA 1Distribuio de estabelecimentos por setor de atividadeBase do Sindicato dos Qumicos-SP, 1990, 2000 e 2010

    Emprego por setor de atividadeNa tabela 2, com relao aos totais de

    empregos, nota-se que, aps reduzir 33% entre 1990 e 2000 (de 104.684 para 70.028), o nmero de empregos cresceu 25% de 2000 a 2010 (de 70.028 para 87.234). Entretanto, apesar do crescimento constatado nos anos 2000, o total de empregos em 2010 ainda era 17% inferior ao registrado em 1990.

    Entre os setores de atividade, destaca-se o aumento da participao do setor farma-cutico no total de empregos: de 15% (15.990 empregos) em 1990 para 26% (22.263) em 2010. Entretanto, preciso citar que nesses totais esto inclusos os ocupados como tc-nicos de vendas especializadas, cuja repre-sentao de outro sindicato e, em 2010, somavam 6.943 trabalhadores. Ressalva feita, nota-se que o crescimento do nmero de empregos, concomitante reduo do n-mero de estabelecimentos, reflete o intenso

    processo de fuses e aquisies no setor far-macutico. Iniciado nos anos de 1980 e apro-fundado nas dcadas seguintes, esse proces-so vem resultando na concentrao cada vez maior do setor.

    Por outro lado, tambm chama ateno a queda da participao do segmento de trans-formados plsticos no conjunto dos setores: de 51% (53.872 empregos) para 43% (37.832) em 1990 e 2010, respectivamente. Ao contrrio do verificado no setor farmacutico, a diminuio do nmero de empregos no setor de transfor-mados plsticos foi acompanhada da amplia-o do nmero de estabelecimentos, o que indica a presena cada vez maior dos micro e pequenos estabelecimentos nesse segmento.

    Na tabela 2, observa-se tambm que a reduo de postos de trabalho no perodo ocorreu basicamente nas indstrias de trans-formados plsticos e qumica.

    Fonte: MTE. RAIS Elaborao: DIEESE. Subseo Sindicato dos Qumicos e Plsticos SPobs.: Foram considerados apenas os estabelecimentos com algum empregado durante o ano

    Setor de atividade 1990 2000 2010Cosmtico 8% 9% 9%Farmacutico 15% 25% 26%Plstico 51% 46% 43%Qumico 26% 19% 22%Total 104.684 70.028 87.234

    TABELA 2Distribuio de empregos por setor de atividadeBase do Sindicato dos Qumicos-SP, 1990, 2000 e 2010

    Fonte: MTE. RAIS Elaborao: DIEESE. Subseo Sindicato dos Qumicos e Plsticos SP obs.: Foram considerados apenas os vnculos ativos em 31/12

    Empresas X EmpregosQuando se analisa os dados de distribuio

    das empresas e empregos por tamanho do es-tabelecimento (tabela 3), nota-se que a maioria dos estabelecimentos na base do sindicato de micro e pequeno porte, aqueles com menos de 100 empregados. Porm, a maioria dos em-pregos est concentrada nos estabelecimentos mdios e grandes, com 100 ou mais emprega-

  • 19edio histrica / Alquimia

    dos. Comparando os dados de cada ano, obser-va-se que os percentuais dos microestabeleci-mentos e dos empregos nos estabelecimentos desse porte foram os nicos que aumentaram entre 1990 e 2000, de 67% para 75% no pri-meiro caso e de 10% para 17% no caso dos em-pregos. Nota-se tambm que esse crescimento da proporo dos empregos em microestabele-cimentos ocorreu em detrimento da participa-

    Micro (at 19 empregos) 67% 10% 75% 17% 72% 14%Pequena (de 20 a 99 empregos) 24% 25% 20% 30% 21% 26%Mdia (de 100 a 499 empregos) 8% 42% 5% 42% 5% 35%Grande (500 ou mais empregos) 1% 24% 0,4% 11% 1% 24%Total 2.547 104.684 2.496 70.028 2.557 87.234

    o dos empregos nos grandes, que diminuiu de 24% para 11% durante a dcada de 1990. Ao longo dos anos 2000, houve uma reverso desse quadro, com os empregos em grandes estabelecimentos voltando a representar 24% do total em 2010. Fato que demonstra que a retomada da gerao de postos de trabalho, verificada na ltima dcada, concentrou-se nos grandes estabelecimentos.

    TABELA 3Distribuio dos estabelecimentos e empregos por tamanho do estabelecimentoBase do Sindicato dos Qumicos-SP, 1990, 2000 e 2010

    Tamanho do estabelecimento 1990 2000 2010

    Estabs. Empregos Estabs. Empregos. Estabs. Empregos

    Fonte: MTE. RAIS NegativaElaborao: DIEESE. Subseo Sindicato dos Qumicos e Plsticos SPobs.: Foram considerados apenas os estabelecimentos com algum empregado durante o ano e somente os vnculos ativos em 31/12

    Presena de mulheres na categoriaNas tabelas 4 e 5 so apresentados dados

    que possibilitam identificar as mudanas no perfil da categoria, entre 1990 e 2010, com base nos atributos pessoais de seus trabalhadores.

    Com relao ao sexo dos trabalhadores (tabela 5), observa-se que o percentual de mulheres manteve-se inferior ao dos ho-mens, apesar de uma discreta tendncia de crescimento da participao feminina na ca-tegoria, de 33% em 1990 para 34% em 2000 e 36%, em 2010. Cabe destacar que a propor-o de mulheres no homognea e esse movimento de aumento da participao fe-minina tambm ocorre de diferentes formas em cada setor de atividade. Os segmentos de cosmtico e farmacutico destacam-se pela expressiva presena de mulheres. No primei-

    ro, as mulheres j passaram a ser maioria em 2010, e no farmacutico o percentual de mulheres cresceu de 42% em 1990 para 46% em 2010.

    No setor qumico, chama ateno o acen-tuado crescimento da proporo de mulhe-res: de 24% para 33% entre 1990 e 2010. Tendncia que pode estar relacionada mu-dana do perfil das ocupaes nas empresas do setor qumico na base sindical. Haja vista o aumento da proporo de empregos em es-critrios e, consequentemente, a reduo dos empregos fabris, onde a presena das mulhe-res, em geral, ainda menor. J no segmento de transformados plsticos, em sentido opos-to ao observado nos outros setores, houve re-duo da participao feminina de 33% para 29% nesse perodo de 20 anos.

    Ramo de atividade 1990 2000 2010Cosmtico 48% 50% 51%Farmacutico 42% 43% 46%Plstico 33% 28% 29%Qumico 24% 27% 33%Total 33% 34% 36%

    TABELA 5Percentual de trabalhadoras mulheres por setor de atividadeBase do Sindicato dos Qumicos-SP, 1990, 2000 e 2010

    Fonte: MTE. RAIS Elaborao: DIEESE. Subseo Sindicato dos Qumicos e Plsticos SP obs.: Foram considerados apenas os vnculos ativos em 31/12

    Faixa etria da categoriaA tabela 4, ao mostrar a distribuio dos

    trabalhadores na base do sindicato por faixa etria, aponta uma tendncia de envelheci-mento desses trabalhadores. A proporo de empregados com at 29 anos caiu de 48% em 1990, para 39% em 2000 e, em 2010, atingiu os 32%. Na contrapartida, o percentual de empregados com 40 anos ou mais subiu de 22% em 1990 para 26% em 2000 e chegou a 32% em 2010. J os trabalhadores na fai-xa etria de 30 a 39 anos, que so a maior parte da categoria, correspondiam a 30% do total em 1990 e passaram a representar 35% e 36%, em 2000 e 2010, respectivamente.

    Faixa Etria 1990 2000 2010At 24 anos 28% 19% 13%De 25 a 29 anos 20% 20% 19%De 30 a 39 anos 30% 35% 36%40 a 49 anos 15% 19% 22%50 anos ou mais 7% 7% 10%Total 104.684 70.028 87.234

    TABELA 4Distribuio dos trabalhadores por faixa etriaBase do Sindicato dos Qumicos-SP, 1990, 2000 e 2010

    Fonte: MTE. RAIS Elaborao: DIEESE. Subseo Sindicato dos Qumicos e Plsticos SP obs.: Foram considerados apenas os vnculos ativos em 31/12

  • 20 Alquimia / edio histrica

    EscolaridadeQuando se analisa a distribuio dos tra-

    balhadores por nvel de escolaridade (tabela 6), observa-se uma forte tendncia de cresci-mento da escolaridade na base sindical como um todo. Em 1990, mais da metade (54%) dos empregados no tinha o Ensino Fundamental completo, percentual que caiu para 19% em 2000 e, posteriormente, para 9% em 2010. J o percentual de trabalhadores com nvel de instruo formal acima do Ensino Mdio completo (o que inclui os com Ensino Supe-rior completo), subiu de 26% em 1990 para 43% em 2000 e 74%, em 2010.

    Entre os setores de atividade, destacam--se pela elevada escolaridade dos trabalhado-res os segmentos farmacutico e qumico, em que o Ensino Superior completo, em 2010, j era maioria. Sendo que a proporo de traba-lhadores com escolaridade acima do Ensino Mdio completo, tambm em 2010, atingiu 92% no setor farmacutico e 85% no qumico.

    No setor de cosmtico, o ganho de esco-laridade dos trabalhadores concentrou-se no

    nvel mdio, visto que o percentual de em-pregados com o Ensino Mdio completo sal-tou de 19% em 1990 para 65% em 2010. J o setor de transformados plsticos permane-ceu sendo o que mais emprega trabalhadores com menor escolaridade, porm o aumento do nvel de instruo formal dos trabalhado-res desse setor tambm notvel. Enquanto o percentual de trabalhadores com Ensino Fundamental incompleto caiu de 69% para 14% entre 1990 e 2010, o de trabalhadores com Ensino Fundamental completo aumen-tou de 19% a 27%, e a proporo dos com En-sino Mdio completo subiu de 8% para 52%.

    Essa elevao da escolaridade dos traba-lhadores na base sindical pode ser atribuda ao aumento da escolaridade mdia da popula-o em geral, em especial das mulheres. Ade-mais, pode ser reflexo da mudana de critrios de seleo por parte das empresas dos setores, que, cada vez mais, tm buscado empregar pessoas com maior escolaridade. Entretanto, certamente, resultado do esforo dos traba-lhadores para sua maior escolarizao.

    1990 45% 23% 19% 12% 8.071 2000 28% 39% 28% 6% 6.472 2010 8% 17% 65% 10% 8.193 1990 36% 23% 25% 16% 15.990 2000 14% 19% 40% 27% 17.679 2010 3% 5% 42% 50% 22.263 1990 69% 19% 8% 3% 53.872 2000 41% 35% 21% 4% 32.304 2010 14% 27% 52% 6% 37.832 1990 38% 18% 25% 19% 26.751 2000 19% 21% 29% 31% 13.573 2010 6% 9% 34% 51% 18.946 1990 54% 19% 16% 10% 104.684 2000 19% 28% 28% 15% 70.028 2010 9% 17% 47% 27% 87.234

    TABELA 6Distribuio de trabalhadores por setor de atividade, conforme nvel de escolaridadeBase do Sindicato dos Qumicos-SP

    Ano TotalFundamentalIncompletoFundamental

    CompletoMdio

    CompletoSuperiorCompleto

    Ramo de Atividade

    Cosmtico

    Farmacutico

    Plstico

    Qumico

    Total

    Fonte: MTE. RAIS Elaborao: DIEESE. Subseo Sindicato dos Qumicos e Plsticos SP obs.: Foram considerados apenas os vnculos ativos em 31/12

    Salrios mdiosNa tabela 7, so apresentados os rendimen-

    tos mdios dos empregados no ms de dezem-bro de cada ano, em valores reais de dezembro de 2010. Aqui, cabe ressaltar que a remune-rao mdia considera os salrios de todos os empregados, inclusive dos que ocupam cargos diretivos das empresas e cujas remuneraes, no raro, chegam a ser dezenas de vezes supe-riores ao piso salarial da categoria. Portanto, comum que os valores das remuneraes m-dias superem as remuneraes recebidas pela maioria dos trabalhadores.

    Ao se analisar os dados da tabela 7, obser-va-se que as mudanas do perfil do emprego no conjunto dos setores, somadas ao e ao poder de negociao do sindicato, tiveram efei-tos positivos sobre a remunerao mdia dos empregados na base sindical. Visto que essa aumentou de R$ 1.984 em 1990, para R$ 3.036 em 2000 e, em 2010, atingiu R$ 4.209. A nica queda da remunerao mdia foi registra-da no segmento de cosmtico, entre 1990 e 2000, resultado da reduo de pessoal com ocupaes de salrios mais elevados.

    Entre os fatores que contriburam para o aumento da remunerao mdia, destacam-se o crescimento da proporo de trabalhadores com mais experincia e, principalmente, o aumento do percentual de trabalhadores com Ensino Su-perior completo. Quando se analisa os dados por setores de atividades, essa correlao entre o crescimento da proporo de trabalhadores com Ensino Superior completo e o aumento da remunerao mdia fica ainda mais clara. A elevao mais expressiva nas remuneraes mdias ocorreu nos segmentos farmacutico e qumico, mesmos setores onde o percentual de trabalhadores com Ensino Superior mais cres-ceu e, em 2010, j havia ultrapassado os 50%.

    Por outro lado, como nos setores de cos-mtico e de transformados plsticos, o cres-cimento da escolaridade dos trabalhadores, concentrado no nvel de Ensino Mdio, no encontrou correspondncia no aumento da

    1 Esses valores foram corrigidos pela inflao segundo o INPC (ndice Nacional de Preos ao Consumidor) do IBGE

  • 21edio histrica / Alquimia

    remunerao mdia, pode-se sugerir que um dos obstculos para a ascenso da re-munerao mdia a barreira do diploma universitrio. O que reflete o fato desses seg-mentos demandarem um determinado perfil de trabalho em que no se verificam altas exigncias de escolaridade. Outro obstculo para o crescimento da remunerao mdia dos setores de cosmtico e de transformados plsticos a maior rotatividade e, portanto, o menor tempo de permanncia no emprego, quando comparados aos registrados nos seg-mentos qumico e farmacutico.

    Ademais, ao se analisar o crescimento da remunerao mdia do conjunto dos seto-res da base sindical, h de ser considerado o aumento da participao do emprego no segmento farmacutico, segmento em que se encontram as maiores remuneraes do conjunto dos setores. Com relao remune-rao mdia no ramo farmacutico, cabe lem-brar que nos valores apresentados na tabela 7 foram considerados os 6.943 trabalhadores ocupados como tcnicos em vendas especiali-zadas, cuja remunerao mdia foi, em 2010, de R$ 8.047. Caso esses trabalhadores no fossem considerados, a remunerao mdia do setor farmacutico seria de R$ 6.305 em 2010 e, portanto, no superaria a registrada no ramo qumico no mesmo ano, de R$ 6.712.

    Por fim, para compreenso da evoluo da remunerao mdia do conjunto da cate-goria, no podem ser esquecidos os ganhos reais de salrios e pisos conquistados pelo sindicato, sobretudo, ao longo dos anos 2000.

    Setor de Atividade 1990 2000 2010Cosmtico 2.454,99 1.913,42 1.979,24Farmacutico 2.490,23 4.807,46 6.848,76Plstico 1.360,22 1.687,63 1.884,94Qumico 2.796,53 4.476,25 6.712,73Total 1.984,27 3.036,62 4.209,14

    TABELA 7Remunerao mdia real, por setor de atividadeBase do Sindicato dos Qumicos-SP, 1990, 2000 e 2010

    Fonte: MTE. RAIS Elaborao: DIEESE. Subseo dos Qumicos e Plsticos SPNota: 1) Remunerao mdia em dezembro, em valores de dezembro de 2010, segundo INPC/IBGE.obs.: Foram considerados apenas os vnculos ativos em 31/12

    ConclusoPara concluir, convm destacar algumas

    das tendncias identificadas nos dados apre-sentados ao longo deste estudo. Com relao dinmica do emprego na base sindical, observou-se a eliminao de parte substan-cial dos postos de trabalho durante a dcada de 1990, quando a poltica econmica ado-tada pelo governo gerou uma grave crise do emprego em todo pas. A combinao de abertura econmica desregulada com sobre-valorizao da moeda nacional teve efeitos negativos no emprego em todo pas, mas, em especial, nos setores da base sindical. J nos anos 2000, a partir da adoo de uma polti-ca de maior valorizao do mercado interno, ampliao dos investimentos e incentivos pblicos, criaram-se as condies para a sus-tentao do crescimento da economia em patamares mais elevados, o que se refletiu no conjunto dos setores da base sindical e, consequentemente, na retomada da gerao de empregos nesses setores.

    Em resumo, tambm foram identificadas as seguintes tendncias na base sindical: crescimento do emprego em grandes esta-belecimentos nos anos 2000; aumento da proporo de empregos no se-tor farmacutico, em detrimento da registra-da nos setores qumico e, principalmente, de transformados plsticos; crescimento da participao das mulheres; aumento da proporo de trabalhadores com mais experincia; crescimento da escolaridade dos trabalha-dores; e elevao da remunerao mdia do total dos setores, mas, sobretudo, dos segmentos farmacutico e qumico.

    Colaborao de Victor Gnecco Pagani, socilogo, assessor tcnico do Dieese subseo do Sindicato dos Qumicos e Plsticos de So Paulo

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  • 22 Alquimia / edio histrica

    Vitria doS plStiCoS

    Mobilizao redobrada

    anos1980

    Em pouco tempo, a nossa entidade tornou-se uma das referncias de mobilizao da capital paulista. Espao de apoio e debates, o sindicato atuou de forma decisiva para alavancar a vitria de inmeras oposies sindicais que derrubavam diretorias pelegas pelo pas como num castelo de cartas. Parceiros na militncia e na origem histrica, as lideranas da oposio dos plsticos reconquistaram o sindicato nessa conjuntura e passaram a atuar de forma conjunta nas lutas nacionais, como as Diretas J para presidente

    20 A 22 JAneiro 1984 | Fundao do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Cascavel,

    no Paran. De Norte a Sul, crescem as ocupaes e a mobilizao em defesa da reforma agrria. Na foto, uma

    assembleia do MST na Fazenda Sul Bonito, Itaquira, Mato Grosso do Sul, em 18/08/1994

    25 JAneiro 1984 | Depois de 20 anos de ditadura, a populao sai s ruas para exigir o retorno das eleies para presidente da Repblica. A categoria refora a luta pelas Diretas J. Balano final: mais de 300 mil pessoas lotam a praa da S no feriado paulistano

    16 Abril 1984 | Durante meses, vrios comcios so realizados nas principais capitais do Brasil. O maior deles acontece no vale do Anhangaba, com mais de 1 milho de pessoas que ocupam o centro da cidade para exigir numa s voz: Diretas J

    25 MAio 1984 | Noite do barulho. Um ms aps a derrota

    da emenda Dante de Oliveira (que pretendia reinstaurar as eleies

    para presidente), o sindicato refora a

    luta nacional: Solte rojes, buzine, bata

    panelas... pelas Diretas J!

    24 A 26 Agosto 1984 | O I Congresso Nacional da CUT, em SBC, rene 5.222 trabalhadores rurais e urbanos e lana uma Campanha Nacional de Luta com destaque para o boicote ao Colgio Eleitoral e Diretas J. Jair Meneguelli eleito o primeiro presidente da Central

    noVeMbro 1984 | At agosto, mais da metade da categoria garante a antecipao

    salarial para driblar a alta da inflao. A Campanha Salarial lana as principais

    bandeiras: aumento real de 20%, reajuste trimestral, no desconto da antecipao,

    estabilidade no emprego, 40 horas semanais. A primeira Comisso de Fbrica

    da categoria conquistada na Tinturaria Fernandes com apenas um dia de greve

    MAro 1985 | O ento sindicalista Luiz Incio da Silva, o Lula, visita a subsede de So Miguel para debater com os trabalhadores da Nitro, que se mobilizam por reajuste salariais

    Abril 1985 | Eleito pelo Colgio Eleitoral, Tancredo

    Neves (direita) adoece e morre s vsperas de sua posse. Jos Sarney (esquerda)

    assume o governo da chamada Nova Repblica e a campanha pelas

    Diretas J ganha ainda mais fora

    Mobilizao na Nitro pela antecipao salarial, 07/04/1984

    Paulo Jares/Editora Abril

    Srgio Berezovsky/Editora Abril

    Juca Martins/Olhar Imagem

    Rolando de Freitas/Agncia Estado

    Juca Martins/Olhar Imagem

    Sindiluta, 25/05/1984

    Bio Zenha

    Acervo: Cedoc CUT

    Nair Benedicto/N ImagensVera Jursys/Cedoc STQPSP

    Carlos Namba/Editora Abril

  • 23edio histrica / Alquimia

    Vitria doS plStiCoS

    Agosto 1985 | A oposio dos plsticos reconquista o sindicato nesse clima de ebulio social. Em primeira votao, a chapa 2 obtm 3.420 votos contra os 2.779 da chapa 1, cuja diretoria era fruto da interveno e da ditadura militar. Vitria confirmada em segunda votao. Os plsticos resgatam a parceria de lutas com os qumicos e encaminham com fora redobrada as grandes mobilizaes em defesa da categoria. Criado o jornal Plastiluta

    MAro 1985 | Greves por melhores salrios na Darex, Colmena e Avon(de cima para baixo)

    1 Maio 1985 | Praa da S: A oposio sindical dos plsticos marca presena nas mobilizaes levantando a bandeira pela construo da CUT

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    Cedoc STQPSPCedoc STQPSP

  • 24 Alquimia / edio histrica

    GrEVES

    anos1980

    Conquistas histricas na Campanha Salarial

    Juntos, qumicos e plsticos, uniram a fora de 100 mil trabalhadores na Campanha Salarial de 1985. Com a ampliao da base de mobilizao, o impacto da greve geral resultou em conquistas histricas: a unificao das datas-base e a reduo da jornada de trabalho que apontou para as 44 horas semanais. Depois de 20 anos, foi a primeira paralisao quase total das duas categorias para combater o arrocho salarial

    noVeMbro 1985 | Pela primeira vez, em 20 anos, qumicos e plsticos participam de uma greve geral com paralisao na maioria das empresas. a Campanha Salarial Unificada da CUT. Mais de 80% das fbricas so envolvidas pela mobilizao histrica que garante: recuperao das perdas, unificao das datas-base das duas categorias e a reduo da jornada de 48 para 46 horas semanais. a largada para a conquista das 44 horas

    01/11/1985: Assembleia da Campanha Salarial Unificada, na sede central ......termina em

    passeata at a quadra dos

    bancrios

    Plastiluta divulga vitria

    Assembleia para a

    discusso das propostas da

    campanha

    Piquete na Nitro, 04/11/1985

    Vera Jursys/Cedoc STQPSP

    Vera Jursys/Cedoc STQPSP

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    Plastiluta, 07/01/1986

  • 25edio histrica / Alquimia

    GrEVES

    noVeMbro 1985 |A Arquidiocese de SP lana o livro Brasil: nunca mais com um levantamento dos mtodos de represso utilizados pelo regime militar desde 1964. Os nomes de 444 torturadores so denunciados

    feVereiro 1986 | Dilson Funaro, Ministro da Fazenda, anuncia o Plano Cruzado com medidas que congelam preos e salrios. Surge o gatilho salarial. O pacote determina uma reforma monetria com a substituio da moeda corrente: lanado o cruzado. Nas empresas, os patres escondem os estoques, reduzem a produo, provocam mais demisses e pressionam os reajustes

    Junho 1986 | Criado o Departamento dos Qumicos da CUT Estadual de SP

    Julho 1986 | Na Laborterpica Bristol, uma paralisao quase total de sete dias liderada pelas trabalhadoras. Em setembro desse ano,

    acontece o Encontro de Mulheres Qumicas

    seteMbro/outubro 1986 | O sindicato denuncia a Nitro Qumica: 127 trabalhadores envenenados na cmara de gs. 600 trabalhadores envenenados na seo de fiao de rayon. Uma greve contra a insalubridade revela os riscos de intoxicao e joga por terra a candidatura do empresrio Antnio Ermrio de Moraes para o governo do Estado. A fiao interditada pela DRT (Delegacia Regional do Trabalho), os funcionrios so encaminhados para exames e tratamento mdico

    Na DRT. 09/198610/1986

    Panfletagem na Nitro. 10/1986

    noVeMbro 1986 | Os 2.400 trabalhadores da Trol realizam uma semana de greve para impedir o desconto da antecipao de 12,5% j conquistados. No perodo, o ento Ministro da Fazenda, Dilson Funaro, o principal acionista da empresa, e o mau patro denunciado

    12 dezeMbro 1986 | Cruzado II: em novembro, o governo lana novas medidas para ajustar o Plano Cruzado. Os salrios sofrem duro golpe e a CUT convoca greve geral contra o arrocho e por um efetivo congelamento de preos. Qumicos e plsticos cruzam os braos ao lado de 25 milhes de trabalhadores do pas

    Assembleia no Sindicato, em 08/1986

    Plstica Hevea em greve, 05/11/1985

    dezeMbro 1986 | Boicote ao restaurante da Nitro denuncia a discriminao e a diviso do local em quatro classes: uma reservada para a diretoria e

    engenheiros, outra para a chefia, a terceira para os mensalistas e a ltima para o pessoal da produo. A

    reivindicao : refeio igual para todos

    Vera Jursys/Cedoc STQPSP

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    Brasil: nunca mais. So Paulo: Vozes, 1985

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    Acervo: Cedoc CUT

  • 26 Alquimia / edio histrica

    ENtrEViStaS

    opoSio doS plStiCoS

    A conquista do sindicatoA chapa 2 assume a direo da entidade s vsperas da deflagrao da Campanha Salarial Unificada de 1985. Com a fora redobrada, a categoria cruza os braos para garantir vitrias histricas 1985 | Integrantes da oposio: Dirceu, Joo Carlos, Nelson, Martisalem, Joo de Lima, Branco e Braz

    MArtisAleM coVAs pontes(MAtu)

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    como foi a formao da oposio?No perodo da vitria dos qumicos, a oposi-o dos plsticos j se organizava nas fbri-cas. Eu entrei na Goyana em 5 de agosto de 1982, vindo da oposio metalrgica de So Paulo. Vendo o sindicato paralisado eu come-cei a conversar com os companheiros sobre a oposio. Na greve de julho de 1983, ns paramos toda a ferramentaria. Essa paralisa-o despertou a classe patronal e 15 compa-nheiros foram demitidos de uma s vez. Era o grupo suspeito de estar frente do movimen-to. As demisses tiveram um ponto positivo. Os companheiros se espalharam para vrias fbricas de plstico. Ali ficou definido clara-mente que iria ter oposio. Ento, de julho de 1983 at agosto de 1985, passamos a mon-tar a oposio de forma incansvel.

    o sindicato dos qumicos apoiou a oposio.Exato. A partir de 1983, ns procuramos os qumicos de So Paulo e o Domingos Galante deu uma grande contribuio para a oposi-o tomar o sindicato. A orientao foi funda-mental para mudarmos toda a estratgia da campanha e partimos para a oposio clan-destina. Sem se posicionar como oposio, a gente intervinha fazendo propostas. Foi um processo longo e difcil.

    A represso foi grande?Represso ns sofremos mesmo nos ltimos seis meses. Os pelegos j descobriram o que tinha no ar, que existia uma oposio porque devem ter surgido conversas dentro das f-bricas. Mas eles no identificaram quem era e deu tempo para registrar a chapa.

    A chapa 2 saiu vitoriosa.Depois de muito trabalho, conseguimos conquistar o sindicato. Ai surgiu a ideia da Campanha Salarial Unificada. Ns assumi-mos a entidade e, um ms depois, j para-mos quase todas as fbricas da categoria du-rante a greve daquele ano. A efervescncia da disputa eleitoral [do sindicato] criou as condies para a paralisao quase total da categoria. Foi uma campanha histrica com a garantia de inmeras conquistas devido mobilizao do perodo. A greve de 1985 foi to ampla que ns puxvamos arrastes nas avenidas e amos parando tudo. Essa foi talvez a maior greve, a maior mobilizao que ocorreu em todos os tempos na categoria. Essa campanha sa-larial nos deu conscincia de que ns deveramos atuar juntos. a partir da que surgiu a idia da unificao.

    os plsticos foram perseguidos.Desde o princpio. Ns tnhamos em nosso estatuto um conselho consultivo que no tinha esta-bilidade legal, mas que existia h muito tempo no sindicato. Era uma conquista dos tra-balhadores. Em represlia greve de 1985, cassaram a estabilidade, que j no exis-tia, dessa comisso. Quando

    montamos a oposio foram cassados 11 companheiros e nesse momento ocorreram mais demisses e perseguies de dirigentes sindicais.

    qual o saldo desse processo poltico?Existia uma abertura poltica mas no sa-bamos at onde ela ia. Mas no recuamos. O perodo, de 1976 at 1988, era de muita insegurana. A gente continuava fazendo essa luta por conscincia poltica. O que eu aprendi no troco por nada. Esse processo de-sembocou na democracia, na eleio de um governo operrio. Mas ainda h muito para se fazer. Eu acho que o principal mrito de todos esses anos de luta foi a Campanha Sa-larial Unificada, que garantiu avanos e deu conscincia de que era possvel unificar os dois sindicatos.

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  • 27edio histrica / Alquimia

    ENtrEViStaS

    sebAstio cArlos pinto dos sAntos(brAnco)

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    onde se formou o ncleo inicial da oposio?O incio se deu na Goyana. Naquele perodo, eu era oriundo dos metalrgicos. Entre 1979 e 1980, quando comearam as greves no ABC, entrou um rapaz na empresa, o ex-diretor do sindicato, Luiz Carlos Laurindo. Ele j tinha uma militncia poltica e comeamos a discutir a formao de uma oposio porque o sindica-to no funcionava. Era um sindicato na mo de pelego. O primeiro ncleo foi: Luizinho, Jovair (que tambm foi diretor do sindicato), Rober-to Jos de Oliveira, Nelson Goz zo, Mrio Rosa e eu. Esse foi o ncleo que fundou a oposio dos plsticos na Goyana. A gente comeou a participar do sindicato, num primeiro momento, no mostrando a cara. Aquele primeiro ncleo participou de uma greve interna no comeo dos anos 80. A o Luizinho foi mandado embora e, no mes-mo dia, entrou o Martisalem com uma certa experincia porque ele j vinha de uma orga-nizao poltica. Ele deu um salto de qualida-de ao trabalho da oposio. Quando em 1983 aconteceu a greve geral, nos pegaram e man-daram todo o pessoal da oposio embora. Para ns isso foi bom porque espalhou cada

    um para uma fbrica e ampliou a nossa atu-ao. Durante trs anos trabalhamos muito e em 1985 conseguimos montar uma chapa.

    As lideranas despontaram em vrias fbricas?Sim, comeamos a visitar outras empresas, descobrimos pessoas que tambm tinham um esprito de mudana. O MOSM-SP teve muita importncia na montagem da chapa e na organizao de cursos de formao po-ltica. Esse trabalho culminou com a vitria da chapa 2 em 1985. A unificao oficial de qumicos e plsticos aconteceu em 1994, mas em 1985 ns j realizamos a campanha sa-

    larial conjunta e conseguimos mais de 100% de reajuste.

    A unificao em 1994 foi um marco na cate-goria?

    Esse sindicato se torna histrico no s pelas grandes lutas, mas por ter ajudado na construo da CUT. A unificao s veio co-roar o trabalho conjunto que j acontecia na prtica e dar um novo impulso para a entida-de. No havia outra alternativa que no fosse a unificao.

    A greve de 1985 foi uma grande experi-ncia, o que me tornou uma direo. Eu ti-nha acabado de sair da fbrica. Ns tnhamos acabado de tomar o sindicato. Aprendemos muito com os qumicos. Era um momento histrico frtil.

    Foi importante ganhar os sindicatos dos qumicos em 1982 e dos plsticos em 1985. Mas to importante foi, em 1994, a unifica-o das duas categorias, com 100 mil traba-lhadores na base naquela poca. Com tantos percalos que passamos, tantas dificuldades, ns tivemos a capacidade de consolidar ain-da mais essa unio.

    Joo cArlos de rosis

    A oposio atuou na clandestinidade?Eu era metalrgico, como vrios companhei-ros que estavam entrando no setor plstico naquele perodo. A Perticamps foi a primeira empresa do setor plstico que eu trabalhei, a partir de 1982. A primeira reunio da oposi-o que eu participei foi no escritrio da Irma Passoni, em Santo Amaro. Na ocasio, come-cei a conhecer os companheiros de outras empresas que estavam montando o processo

    de oposio. Foi no ano de 1983, era muito difcil. A classe patronal era extremamente repressora, como at hoje. Havia toda uma perseguio poltica no ar.

    A ditadura ainda estava operando de for-ma profunda nos bastidores. Depois de 1979 existia uma crise do petrleo, o desemprego era enorme. Imagine reunir 54 companheiros na clandestinidade para montar uma chapa de oposio, um trabalho rduo. O nosso grupo colocava os pelegos do sindicato contra a pare-de, ento, se eles descobrissem algum fazendo oposio, claro que iria ser denunciado. Eles tinham uma convivncia muito serena e muito tranquila com o setor patronal naquele perodo.

    como foi a campanha de 1985?Logo que ganhamos o sindicato, em 1985, vrias lideranas foram demitidas. As empre-sas de plstico passaram a contratar os RHs que tratavam as questes sindicais na base

    da represso. Na Perticamps, por exemplo, foi montado um canil l dentro, era barra pesa-da. Assim que a gente conquista o sindicato, em 1985, acontece uma das maiores greves que a categoria j participou. Foi junto com os qumicos e o MOSM-SP, que ajudou a pu-xar os metalrgicos para aquela paralisao. A mobilizao foi extremamente importan-te porque conseguimos iniciar a reduo da jornada de trabalho, de 48 para 46 horas, e mudar a nossa data-base.

    A gente recebia em janeiro e passamos a data-base para dezembro. Parece que pouca coisa, mas no . Isso porque a inflao no per-odo era de 80% ao ms. Imagine: quando se re-cebia o 13 salrio sem esse reajuste, as perdas eram enormes. Ento, a categoria consegue mudar a data-base, reduzir a jornada de traba-lho e conquistar mais de 100% de reajuste na-quele ano. Foi uma grande vitria, uma greve organizada numa campanha salarial histrica.

    1988 | Os diretores Francisco Chagas (com o primeiro mandato como vereador pelo PT a partir de 2003), Joo Carlos, Lus Laurindo, Martisalem, Branco, Edilson e Dirceu

    enfrentam novamente os antigos pelegos nas eleies sindicais

  • 28 Alquimia / edio histrica

    dEFESa do Salrio

    anos1980Guerra contra a inflao

    As polticas econmicas da dcada de 1980 lanaram mo de sucessivos pacotes, que promoveram a acelerada queda do poder aquisitivo dos trabalhadores. Na contrapartida, o governo acenou com o apelo do pacto social para barrar os protestos que se alastravam no pas. O objetivo era estimular a livre negociao entre patres e empregados. Mas as categorias denunciaram a farsa do congelamento de preos e o arrocho salarial. Resultado: as conquistas salariais do perodo encorajaram paralisaes que se espalharam como um rastilho de plvora

    feVereiro 1987 | A inflao aciona o chamado gatilho salarial, que prev reajuste automtico. Mesmo assim, os salrios perdem o poder de compra. Na tentativa de barrar as mobilizaes, o governo lana a proposta do pacto social entre patres e empregados. A CUT denuncia a armadilha feVereiro 1987 | Qumicos e

    plsticos integram a Campanha Nacional de Luta da CUT por salrios decentes, congelamento dos gneros de primeira necessidade, no pagamento da dvida externa e reduo da jornada. Na Lepetit, depois de 4 dias de greve, a polcia invade a fbrica para reprimir os trabalhadores. Com a priso de trs diretores do sindicato, a paralisao ganha mais fora

    Junho 1987 | Lanado o Plano Bresser, que prev o congelamento de preos e salrios por 90 dias e a extino do gatilho salarial. Os salrios passam a ser calculados pela URP (Unidade de Referncia de Preos) mas em pouco tempo este ndice fica desacreditado

    Junho/Julho 1987 | Para forar o reajuste de preos, as indstrias boicotam medicamentos e prejudicam a populao. O nosso sindicato lana uma campanha junto com

    a categoria para revelar os estoques escondidos pelas empresas. A Abbot Laboratrio do Brasil denunciada e obrigada a disponibilizar imediatamente remdios vitais aos hospitais

    20 Agosto 1987 | Estoura a greve

    geral contra o Plano Bresser. Cinco

    trabalhadores da categoria so detidos

    pelo Comando de Policiamento

    Metropolitano na Grande SP. Trs

    deles, Domingos Galante, Demilson dos Santos (o Macarro) e uma funcionria, so presos em frente Pilot Pen, encaminhados para a PF (Polcia Federal) e

    enquadrados na fascista Lei de Greve

    noVeMbro 1987 | O governo convoca os fiscais do Sarney para assegurar o congelamento de preos. Demagogia! Enquanto isso, a Campanha Salarial Unificada garante aos plsticos, qumicos e farmacuticos aumento salarial e reduo da jornada para 44 horas semanais, uma conquista j consolidada na greve de 1985. O ano termina com uma inflao acumulada que ultrapassa 360%

    Assembleia, 10/1987

    Bira. Sindiluta, 21/07/1988 Vera Jursys/Cedoc STQPSP Vera Jursys/Cedoc STQPSP

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    Acervo: Cedoc CUT

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  • 29edio histrica / Alquimia

    dEFESa do Salrio

    anos1980

    feVereiro 1988 | A PF invade a sede estadual do PT para apreender cpias do cartaz que divulga os nomes dos parlamentares do chamado Centro: Procurados. Traidores do Povo. Eles se elegeram prometendo defender voc. Mas agora [...] querem eliminar as pequenas conquistas que os trabalhadores conseguiram aprovar na Comisso de Sistematizao da Constituinte

    15 MAro 1988 | Campanha Nacional pela Reposio das Perdas Salariais: a CUT entrega pauta de reivindicaes ao Governo Federal e realiza manifestaes para exigir reajuste mensal integral, 40 horas semanais, estabilidade, liberdade de organizao sindical etc.

    25 A 27 MAro 1988 | Acontece o 1 Congresso dos Trabalhadores Qumicos e Farmacuticos. Quatro meses depois, em julho, duas chapas participam das eleies no

    sindicato. A chapa 1, encabeada por Domingos Galante, eleita pela categoria

    Um momento da apurao, em 16 de julho

    1988 | Os plsticos tambm realizam

    o 1 Congresso da categoria e reforam

    o compromisso com a sade e a organizao

    no local de trabalho

    5 outubro 1988 | Promulgada a nova Constituio, que amplia os direitos individuais, estabelece as eleies diretas para presidente e garante jornada semanal de 44 horas, direito de greve, fim da

    interveno do Estado nos sindicatos, licena--maternidade de 120 dias, licena-paternidade etc. Qumicos e plsticos passam a fiscalizar a aplicao dos direitos na prtica

    9 noVeMbro 1988 | Volta Redonda (RJ): Tropas do Exrcito invadem a CSN (Companhia

    Siderrgica Nacional) em greve e matam trs operrios. Os metalrgicos reivindicam reposio e aumento salarial, implantao do turno de 6 horas etc. A CUT denuncia o desrespeito Constituio.

    Em 2 de maio de 1989, um atentado a bomba explode o Monumento aos Mortos erguido no

    local para marcar o massacre

    22 dezeMbro 1988 | Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores

    Rurais de Xapuri (AC), assassinado a mando de fazendeiros. Mesmo ameaado,

    nunca deixou de defender os povos da floresta e a reforma agrria. Na foto, o

    sindicalista trs meses antes de sua morte

    Sindiluta, 10/02/1988

    Acer

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    CUT

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    Oscar Cabral/Editora Abril

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  • 30 Alquimia / edio histrica

    anos1980

    anos1990

    mobilizaES

    Luta contra os pacotes

    A classe trabalhadora foi prejudicada pelos seguidos planos econmicos. A combinao da alta inflao e dos baixos salrios resultou em arrocho. Qumicos e plsticos inovaram nas formas de mobilizao e reforaram as Campanhas Unificadas em defesa da reposio das perdas. No plano poltico, aconteceram as primeiras eleies presidenciais aps a ditadura militar

    14 e 15 MAro 1989 |Os sindicatos convocam greve contra o Plano Vero. Anunciado em janeiro de 1989, o novo pacote congela preos e salrios por prazo indeterminado, acaba com a URP e lana o cruzado novo (a nova moeda). Mais de 70% dos qumicos

    e plsticos integram a mobilizao nacional e conquistam reajuste salarial nos prximos meses. Segundo a CUT, mais de 35 milhes de trabalhadores participam das mobilizaes pelo pas

    31 MAro 1989 | O Plano Vero causa um rombo nos salrios. A diretora Isabel Conceio assume a presidncia do Sindicato dos Qumicos em plena Campanha pela Recuperao das Perdas Salariais. A primeira mulher a assumir a direo da entidade

    Greve na Squibb, 03/89

    noVeMbro 1989 | So 300 mil

    trabalhadores mobilizados na

    Campanha Salarial Unificada. Para viver melhor: salrio,

    sade e democracianoVeMbro 1989 |Queda do Muro de Berlim

    feVereiro 1990 |Nelson Mandela, com 71 anos, conquista a liberdade depois de 27 anos encarcerado. Sua luta contra o apartheid alcanou projeo internacional

    MAro 1990 | Eleito pelo voto direto, Collor assume a presidncia. Decreta feriado bancrio, anuncia um plano econmico, determina o confisco da poupana, impe mais arrocho e deixa a populao estupefata. Muitos trabalhadores ficam sem receber o vale no dia 15

    MAro 1990 | Plano Collor: diretores do sindicato comparecem na Polcia Federal para denunciar as empresas que demitem e atrasam o pagamento dos trabalhadores. Durante audincia, com o delegado Ricardo Veronezzi, Domingos Galante entrega um dossi com as irregularidades. No mesmo dia, Isabel Conceio concede entrevista coletiva para exigir providncias das autoridades e denunciar os maus pagadores opinio pblica. Os pagamentos so regularizados

    Greve na Stanley Home, 26/06/1990

    Greve na AkzoNobel, 07/08/1990 Primeira greve na BIC em 30 anos. Diretores

    entregam, no Consulado da Frana, um dossi com as irregularidades da multinacional no Brasil, 08/1990

    Acervo: Cedoc CUT Osmar Bustos

    Sindiluta, 26/09/1989

    Chico Ferreira/Folhapress Vera Jursys/Cedoc STQPSP

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    , 20/

    03/1

    989

    Imagebroker/Alamy/Other ImagesSelo da frica do Sul. 1994

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  • 31edio histrica / Alquimia

    anos1990

    mobilizaES

    12 Junho 1990 | A CUT convoca greve geral e manifestaes so

    registradas em vrios estados pela reposio das perdas, fim das

    demisses e defesa dos servios pblicos. Qumicos e plsticos

    intensificam as mobilizaes unificadas com conquista de reajuste

    salarial e vrias empresas so paralisadas

    Protesto na Nuclemon, 15/08/1990 Greve na Audi, 14/06/1990

    Dia de Luta e Mobilizao, Nitro, 15/08/1990 Greve na Zambon, 13/06/1990

    noVeMbro 1990 | A categoria em Campanha Salarial Unificada com o tema: Vamos espantar o mal. Contra

    o Plano Collor. Em defesa do salrio e do emprego. Assembleia lotada ocupa a rua Tamandar e decide greve.

    Os trabalhadores da Ciba e da Abbott realizam paralisaes

    28 seteMbro 1990 | Lanada a TVQ (Televiso dos Trabalhadores

    Qumicos) cujo compromisso levar a informao nas portas de fbrica sob o ponto de vista da categoria. Um caminho de som, com todo aparato televisivo, percorre as empresas da categoria

    Protesto contra o Plano Collor, praa da S, 10/09/1990

    Vera Jursys/Cedoc STQPSP

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    Wagner Celestino

    Logotipo TVQ

  • 32 Alquimia / edio histrica

    Mulheres conquistam seu espaoNos ltimos 30 anos, o tema de gnero ganhou destaque para garantir seu lugar definitivo na agenda e nas aes do sindicato cutista

    A participao das mulheres nos movi-mentos sociais, nos sindicatos e na poltica no um fenmeno recente, mas teve um forte impul-so com o crescimento da atividade feminista a par-tir da dcada de 1970. O processo de democratiza-o da sociedade brasileira e o fim da ditadura militar, que proporcionaram a es-truturao e o desenvolvi-mento de um movimento sindical autnomo no ini-cio dos anos de 1980, tambm possibilitaram a conjuno entre esse novo sindicalismo e o movimento feminista emergente.

    Entretanto, essa combinao no ocorreu de forma natural. Foi a organizao das mu-lheres, dentro do sindicato, que fortaleceu a compreenso de que no era possvel or