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Revista Versátil

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Lo Borges em entrevista exclusiva para Revista Versátil, artigos sobre reclclagem de lixo, educação e cultura.

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Caro leitorA Versátil apresenta a você uma doce conversa com Lô Borges, o músico mineiro que começou a carreira a convite de Milton Nascimento no aclamado Clube da Esquina. Por ser inovadora, a musicalidade do grupo fez sucesso no Brasil e no exterior.

Lô Borges saiu de uma esquina de Belo Horizonte e tocou a sensibilidade de um vasto público, que percebeu a delicadeza e o caráter revolucionário de suas canções. Poderíamos ficar horas proseando com Lô Borges, que acaba de lançar o CD Horizonte Vertical. Mineirice pura!

Caprichamos nesta edição para quem gosta de música: Silvio Macedo e Josefina Capitani falam sobre como surgiram os musicais, cada vez mais aclamados pelo público brasileiro.

Na seção Cidadania, o assunto é a violência contra a mulher. A psicóloga Lourdes Gurian, que atua junto a mulheres vitimizadas, traz informações importantes sobre esta realidade criminosa que deve ser denunciada sempre.

No mais, divirta-se com as nossas indicações de livros, filmes, peças de teatro, exposições e outras opções culturais.

Abraço!

Claudia Liba

PublisherClaudia Liba [email protected] EditorialAlexandre LourençoAntonio GomesClaudia Ramos LessaGabriel L. SchleinigerJuliana JamillesFoto de CapaPedro DavidJornalistasClaudia Liba MTB 66658SPValéria Diniz MTB 66736SP Redação, edição de texto e revisãoValéria Diniz [email protected] gráfico e diagramaçãoMauro Souza

Assistente de arteAndré HiroColaboradoresAlexandre LourençoClaudio SoaresJosefina CapitaniRubens BorgesSilvio Soares MacedoAnalista de rede socialGabriel L. Schleiniger

Departamento comercialMaria Maistrello [email protected]átil Onlinewww.revistaversatil.com.brtwitter @versatilmagazin

DistribuiçãoButantã, Morumbi, Parque dos Príncipes,Vila Madalena, Vila São Francisco.

PARA ANUNCIARENTRE EM CONTATO (11) 8851 7082 / 3798 8135 ou envie uma mensagem para [email protected]

Versátil é uma publicação mensal, direcionada a mailing Vip, e não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação fornecida, bem como pelas opiniões emitidas nesta edição. Todos os preços e informações apresentados em anúncios publicitários são de total responsabilidade de seus respectivos anunciantes e estão sujeitos a alterações sem prévio aviso. É proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens publicados sem prévia autorização.

NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

DE RODRIGO PEDERNEIRAS

BACHIANA Nº 1 | 2012

DE MARIE CHOUINARD

PRÈLUDE À L´APRÈS-MIDI D´UN FAUNE | 1994

DE GEORGE BALANCHINE

THEME AND VARIATIONS | 1947

DIAS 10 E 11 | QUINTA E SEXTA, ÀS 21H DIA 12 | SÁBADO, ÀS 20H

DIA 13 | DOMINGO, ÀS 17H

Theatro Municipal | Praça Ramos de Azevedo, s/n – Centro – São Paulo

CO-PATROCÍNIO

Organização Social de CulturaASSOCIAÇÃO PRO-DANÇA

APOIO EXECUÇÃO REALIZAÇÃO

Ingressos:R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada) para setor 1R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) para setor 2R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) para setor 3

Não recomendado para menores de 14 anos

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E ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, SECRETARIA DA CULTURA E PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO APRESENTAM:

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Versátil: Quais são as formas de violência que você aborda em seu trabalho atualmente?Lourdes Gurian: São várias. A violência de gênero é vista em uma perspectiva construída culturalmente e historicamente. Está remetida ao ambiente doméstico e privado, ao “entre quatro paredes”. Dentre os aspectos gerais da violência de gênero, podem acontecer desde a violência física/sexual até formas subliminares, como assédio moral, sexual, preconceito, discriminação, tortura. A violência psicológica caracteriza-se por

humilhações, ameaças de agressão, tortura, privação de liberdade, impedimento do trabalho, danos a objetos pessoais, a animais de estimação, ameaças. Ocorre ainda a violência patrimonial ou econômica.

V: E quais são as principais consequências da violência contra a mulher?LG: Uma das consequências da violência contra a mulher é o silenciamento e o sofrimento, durante anos, sem buscar ajuda. No que se refere ao silenciamento e à paralisação, entendemos que se justificam na medida em

O abuso sexual, a tortura e tantos outros mecanismos de violência estão mais presentes do que imaginamos em nossa sociedade, independente de classe social, nível de instrução, sexo, idade. Infelizmente, ainda são muitos os casos não denunciados pelas vítimas e testemunhas — por medo, sentimento de culpa ou desconhecimento dos próprios direitos.

Conversamos com a psicóloga Lourdes Gurian, que possui

ampla experiência no atendimento a mulheres que sofreram violência. Ela trabalhou no projeto CRAVI – Centro de Referência e Apoio à Vítima, ligado à Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo e, atualmente, está no Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde, ONG que atua no atendimento e garantia dos direitos da mulher. Durante a entrevista, ela esclareceu alguns termos e contou algumas experiências nas quais interveio.

A violência de gênero é vista em uma perspectiva

construída culturalmente e historicamente.

Está remetida ao ambiente doméstico e privado, ao “entre

quatro paredes”.

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que na situação de violência doméstica as mulheres se deparam com obstáculos de ordem interna (sentimentos) e externa (sociais) para conseguir pedir ajuda. Em relação aos obstáculos internos, destacam-se medo, culpa, vergonha, ideia de que o ocorrido no interior da família é privado, manipulação do agressor, dinâmicas do ciclo da violência, desconhecimento dos próprios direitos, falta de informação. Nos externos, destacam-se pressões familiares e sociais para manter o casamento, insegurança econômica e falta de recursos materiais, atitudes negativas, respostas institucionais inadequadas e contextos sociais violentos.

V: Como os profissionais da área da saúde compreendem o ciclo de violência em que muitas mulheres permanecem?LG: Segundo a médica Lilia Blima Schraiber, que pesquisa o assunto, as relações violentas possuem três fases distintas e cíclicas. A primeira fase caracteriza-se pelo acúmulo de tensão em brigas constantes e clima de insegurança. Na segunda fase, revela-se o episódio agudo de violência. Na terceira, há o arrependimento temporário do autor da agressão. O casal se reconcilia, porém voltam os conflitos e tensões da primeira fase, caracterizando assim a repetição cíclica dos episódios de violência.

V: Pode-se concluir que o medo é o fator preponderante do ciclo de violência?LG: A maioria dos casos que atendo envolve mulheres que sofreram violência por muito tempo, durante anos, e as situações culminaram em ameaças de morte. Nestes casos, é possível perceber que, além do medo, há sentimentos verbalizados de sensação de abandono, tristeza pela ruptura dos laços socioafetivos, falta de perspectiva e apatia. Tais sentimentos se correlacionam com o sentimento de culpa pela violência sofrida e pelo insucesso da ruptura do ciclo de violência em tentativas anteriores.

Versátil: Como intervir nestes casos extremos?LG: Com relação à intervenção mais adequada, nas instituições, além de orientação jurídica, o ideal é que a mulher receba atendimento interdisciplinar, médico, social e psicológico, visando à possibilidade de ressignificação das violências sofridas e experiências de vida, o autorreconhecimento como sujeito de desejos e direitos, enfim, o empoderamento pessoal e social para o adequado desempenho de seu protagonismo daí em diante. A fim de auxiliar na construção de um novo projeto de vida, é necessário que se ofereçam também encaminhamentos aos recursos da comunidade

— encaminhamentos estes que devem ser acompanhados pelo profissional — e ao mercado de trabalho, entre outras atividades que possam reparar os danos oriundos da violência. Cabe ainda ressaltar que a mulher, quando sofre violência, ainda pode ser revitimizada, quando não é ouvida ou atendida adequadamente nas instituições. Esta violência secundária reforça ainda mais a falta de esperança de mudança e favorece o silenciamento da mulher. A violência interrompe ou deturpa os laços socioafetivos, especialmente nos casos em que a mulher sofre ameaça e precisa distanciar-se do

convívio com o agressor, do ambiente familiar, de seu território. Busca-se, também, nas intervenções possíveis com esta mulher, levá-la a pensar em formas de instauração de novos laços, não violentos. Enfim, dos casos que atendi, pude observar que quando a rede de apoio e as políticas de combate à violência de gênero

foram eficazes, a chance de a mulher acessar seus direitos e retomar a vida de outra forma, que não seja violenta ou como vítima, acontece. Porém estes casos são raros. Na maioria das vezes ainda haverá idas e vindas ao ciclo de violência até que este seja rompido. Os trabalhos educativos e reflexivos com homens, no sentido de prevenir e romper o comportamento violento, também se mostram ferramentas preventivas e eficazes contra a violência.

Na situação de

violência doméstica as

mulheres se deparam

com obstáculos

de ordem interna

(sentimentos) e

externa (sociais) para

conseguir pedir ajuda.

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Disque Denúncia

Sigilo Absoluto

0800 156 315 ou 181

Delegacia de Defesa da Mulher

(11) 6742 1701

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Versátil: Quando você se deu conta da sua vocação artística e da veia humorística?

Veridiana Toledo: Aos sete anos de idade, fiz meu primeiro curso de teatro. Um casal de professores e uma professora de artes, Anamélia, alugavam uma sala na escola em que estudei, Nossa Senhora das Graças, o “Gracinha”, no Itaim. José Geraldo Rocha, o Zé e a Bola, sua mulher, completavam o trio de professores de teatro. Minha mãe me apoiou. Eu era uma criança “problemática” e ela achou que seria bom fazer teatro para liberar as energias, extravasar as emoções. Lembro que, no primeiro dia de aula, a Anamélia perguntou o que gostaríamos de ser quando crescêssemos. Eu disse: «Quero ser professora de crianças mongoloides.» Eu convivia com pessoas que tinham síndrome de Down na sala de espera de uma clínica de ludoterapia. No ano seguinte, ouvi a mesma pergunta, e disse «vou ser atriz!” Me destaquei desde o início nos exercícios em classe e nas apresentações de

Cintra, quando engravidou, se viu em várias situações engraçadas e interessantes para um texto dramatúrgico. Viveu, como toda atriz grávida, a triste dificuldade de não poder trabalhar. Quem quer uma atriz grávida? Em 2009, no SBT, fazendo o quarto trabalho depois de quase quatro anos contratada, percebi que a alegria do salário fixo estava acabando, que ao final daquela novela estaríamos todos desempregados. Nós, atores, somos os “desempregados por excelência”. Falo isto no começo do espetáculo. Falar que um ator está desempregado é pleonasmo. Esporadicamente temos trabalhos, mas a realidade é de ausência de dinheiro e trabalho quase o ano todo, a vida toda. Ia ficar sem trabalho e com o relógio biológico que gritava há tempos. Ia fazer 35 anos, tempo limite para engravidar. Decidi, então, que engravidaria quando terminasse a novela, mas, na sequência, de novo a pergunta: Como vou trabalhar grávida? Me lembrei da ideia da Helô e pedi licença para roubá-la. Tive a permissão. Como não tinha vivido histórias próprias, tinha que recorrer às alheias. Pedi por e-mail para amigas e primas e chegaram muitas mensagens, do Brasil todo. Pretendia ter um recurso de trabalho na gravidez e depois divertir. Nunca quis falar de gravidez de forma didática ou científica. Queria casos engraçados e comuns. O riso acontece por identificação e certamente as grávidas se identificariam com as histórias, acabam sendo parecidas. Queria também

mostrar minha versatilidade. Poder fazer diversas personagens em um monólogo seria ideal para a exposição do meu trabalho.

V: Houve a intenção de criar uma oportunidade para as mulheres trocarem experiências, algo “educativo” também?

VT: Minha intenção ao contar histórias de grávidas é ter um assunto com o qual todos temos algum contato, alguma relação. Eu diria até mesmo alguma intimidade. Afinal, não há quem não tenha chegado ao mundo de forma diferente de uma gravidez. Se você não engravidou, alguém muito próximo, com certeza, já engravidou. Alguma história sobre gravidez, sem dúvida, todos sempre terão para contar. A grávida é sempre um evento, pode reparar. Coloque-a em qualquer situação de bate-papo e veja o tititi que vai rolar. Grávidas falam, querem contar o que estão vivendo, os outros fazem perguntas, dão dicas, um sempre quer mostrar que sabe mais que os outros, é muito engraçado! Nunca tive a intenção de falar algo que pudesse ser atribuído como educativo, mas apenas relatar «causos» que, certamente, mostrariam que o universo da gravidez é comum a todos, uma fase linda, sensível, delicada, mas que de poética tem muito pouco. Gases, vômitos, azia, inchaço, constipação, nada disso é romântico, belo ou legal. Vivemos tudo isto por uma boa causa, mas não é nada gostoso

e não devemos nos culpar quando achamos que está chato! Meu sonho era ter um monte de grávidas a cada sessão da peça. Eu imaginava todas no saguão do teatro, trocando informações, mas não foi isto que aconteceu. Nas duas temporadas que fiz, o volume de grávidas que compareceram foi inexpressivo, mesmo tendo patrocínio na primeira temporada, quando as «barrigudas» não pagavam e seus acompanhantes pagavam meia-entrada. Tivemos um volume de casais gays, de homens, muito maior que de casais grávidos.

V: Quando será o lançamento do livro Meu Trabalho é um Parto?

VT: Dia 14 de junho estarei na Fnac da avenida Paulista para uma palestra em comemoração ao Dia das Mães. Vou contar sobre o processo de criação do texto, das cenas. Farei algumas para exemplificar e ilustrar.

fim de ano. Sempre fui muito extrovertida e exibida. Em casa já riam e se divertiam comigo. Levei isto para o palco. Fiz cursos livres em escolas e clubes, como o Paineiras, de onde fui atleta federada em vários esportes. Aos 15 anos, minha mãe chegou com um recorte de jornal, o anúncio do Célia Helena Teatro-Escola, onde me formei aos 18 anos. Meu pai se opôs, disse que eu só ia fazer teatro depois que terminasse a faculdade. Minha mãe disse que a carreira era difícil e que eu tinha que começar já. Depois de formada pelo Célia Helena, fui para Londres. Trabalhei muito como faxineira, garçonete, cozinheira, e estudei com Philippe Gaulier e Desmond Jhones, dois mestres do teatro contemporâneo europeu. Voltando ao Brasil, recomecei a luta árdua, que dura até hoje. V: A ideia de escrever sobre gravidez começou quando? O que você pretendia no início deste trabalho?

VT: A ideia de fazer um espetáculo sobre gravidez não foi minha. Minha diretora, Helô Fo

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Meu trabalho é um partoA atriz Veridiana Toledo tem o dom de comunicar, de empolgar e de mudar o estado de espírito das pessoas. Em entrevista exclusiva, ela revelou toda a sua versatilidade

e a empolgação com o espetáculo Meu trabalho é um parto. De sua autoria, a peça esteve em cartaz no teatro Renaissance durante meses e, em junho, vira livro.

por Claudia Liba

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Quando menos percebemos, ficou comum a estreia de um novo musical nos dois principais centros culturais do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Desde a estreia de “Os Miseráveis” (obra musical extraída do romance homônimo de Victor Hugo, com música de Claude-Michel Schönberg e Alain Boublil e letra de Herbert Kretzmer), em 1992, assistir a um musical tem sido atividade comum para muitos daqueles que podem pagar um ingresso caro e gostam de música, teatro e dança.

A partir deste espetáculo de imenso sucesso — e de alguns outros, como “A Bela e a Fera”, “Chicago” e “Miss Saigon” —, começou-se a estruturar nessas cidades uma base para a formação de cantores-atores-bailarinos que pudessem encarar papéis complexos, enfrentar a dura tarefa de atuar em um espetáculo no qual o cantar e o representar não estivessem separados, e o dançar fosse, para a maioria, obrigação, e para os demais, pelo menos desejável.

Em outros gêneros musicais, como na ópera, o cantor no máximo arrisca uma valsa ou um ou outro passo simples e o bailarino não representa e nem canta. Os textos são cantados na língua em que a peça foi composta e o uso de microfone é impossível. Já nos musicais, as letras são vertidas para a língua do país onde estão em cartaz e os artistas cantam com microfone, situação esta impensável em um espetáculo operístico. No caso do Brasil, até os anos

1990 poucos eram os atores que cantavam em musicais com alguma qualidade.

Com o sucesso recente dos musicais em nosso país, atualmente já temos um expressivo conjunto de atores-cantores-bailarinos que levam à cena, com qualidade, muitos títulos famosos, tanto nacionais como estrangeiros.

A princípio, poucos foram aqueles que se arriscaram a enfrentar atividade tão polivalente, e muitos, apesar do sucesso, fizeram bastante mal o seu papel, muito deixando a desejar em relação a seus congêneres em outros países, especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. Outros, como Daniel Boaventura, Marcos Tumura e Kiara Sasso se destacaram em meio a seus pares pela qualidade de suas performances.

O Musical

Muitos perguntam se a ópera não é um musical ou se um musical não seria uma ópera contemporânea. Os

dois, realmente, apresentam estruturas similares: introdução — abertura orquestral em forma de suíte, onde os temas principais são apresentados — seguida de árias, duetos, trios, quintetos, sextetos, com números de dança entremeados à apresentação. Outra característica comum é o fato de serem totalmente encenados e cantados por quase todo o tempo, sendo a parte falada restrita ao mínimo.

O musical se estruturou no século XX, tendo suas bases no vaudeville, no teatro de revista, no qual era comum a apresentação de peças musicais bufas e encenadas. Na Broadway dos anos 1920 e 1930, as Ziegfields Follies, espetáculos musicais mistos, com inúmeras canções e trechos cômicos já tinham, em seu formato, diversos aspectos dos musicais de hoje.

Na década de 1930, apareceram inúmeros musicais operísticos, ou óperas musicais, como “Porgy and Bess”. A forma de cantar era ainda muito baseada na técnica vocal para ópera, e os cantores colocavam a voz de forma muito parecida com a dos cantores líricos. Isto também acontecia com artistas populares, como Vicente Celestino e Dalva de Oliveira. Ainda nos anos 1930, o cinema sonoro ajudou a popularizar o gênero e, tanto nesta década quanto nas seguintes, o musical se tornou comum.

De 1940 a 1970, tanto no cinema como no teatro, os musicais de sucesso

Nos musicais, as letras são vertidas para a língua do país onde estão em cartaz e os artistas cantam

com microfone, situação esta

impensável em um espetáculo operístico.&

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se sucederam — “South Pacific”, “The King and I” (Ana e o Rei do Sião), “My Fair Lady”, “The Sound of Music” (A Noviça Rebelde). É quando a Broadway, em Nova York, se firma como o ponto mundial dos musicais, apesar de o Covent Garden, em Londres, ser também um centro importante de novos lançamentos.

Nos anos 1980 e 1990, as mudanças foram radicais, e muitos novos espetáculos foram lançados, com grandes encenações, grandes elencos e focando temas sociais, processo iniciado com “Hair”, “Godspell” e “Jesus Christ Superstar” (Jesus Cristo Superstar) ainda nas décadas anteriores. Grandes corporações, como a Walt Disney Company, entraram na produção dos espetáculos, levando ao palco sucessos de filmes de animação, como “The Lion King” (O Rei Leão) e “Beauty and the Beast” (A Bela e a Fera).

O Musical no Brasil

No Brasil, as encenações musicais foram também comuns no teatro de revista, desde as décadas finais do século XIX, no Rio de Janeiro, até os shows maravilhosos de Carlos Machado e Abelardo Figueiredo na segunda metade do século XX, com muitos números musicais.

Somente nos anos 1960 foram feitos, de fato, espetáculos genuinamente nacionais com a forma de musicais, mas ainda lembrando o teatro de revista. Tivemos, por exemplo,

na televisão, os programas da extinta TV Excelsior, “Times Square” e “My Fair Show”, cujas canções entremeadas de números humorísticos foram feitas especialmente para os programas pelo compositor e pianista João Roberto Kelly. Foram inúmeros os espetáculos especiais da também extinta TV Record, como “Roda Viva” e “A Ópera do Malandro”, já no final do século XX.

No início do século XXI, surgiram produtores nacionais, como Claudio Botelho e Charles Möeller. Além de levar à cena espetáculos da Broadway ou londrinos, a dupla levou aos palcos produções inteiramente nacionais, casos de “Sassaricando”, “Ô Abre Alas” e “Lupicínio e Outros Amores”, e inúmeros musicais estrangeiros, como “Avenida Q” (Avenue Q). Muitas produções genuinamente nacionais surgem constantemente, fazendo muito sucesso, como “Tim Maia” e, recentemente, no Brasil, a criação de um musical baseado no filme americano “New York, New York” foi levada à cena em pré-estreia mundial.

A Montagem de um Musical

Um musical dura, em média, duas horas e meia, com um intervalo ou dois, e envolve uma produção extremamente complexa, que se inicia meses e até anos antes, com a escolha da peça musical a ser produzida, captação de recursos por meio de incentivos fiscais para a montagem (que, necessariamente, no Brasil, conta com patrocinadores diversos), seleção do elenco e da equipe técnica, reserva do teatro e ensaios que duram de três a quatro meses. Após estrear, a encenação pode prolongar-se por meses e até anos, caso de “A Bela e a Fera”, sendo que alguns espetáculos fazem turnê nacional.

No Brasil são poucos os teatros que comportam este tipo de encenação e que estão disponíveis para apresentações de musicais. São necessárias casas de espetáculo de porte, que possibilitem o uso de grandes cenários (que devem ser trocados várias vezes), que comportem corpo de baile, coro, solistas e que possuam modernos e sofisticados sistema de som e iluminação.

São Paulo e Rio de Janeiro contam com excelentes teatros, muitos deles especialmente preparados para tal, como o Teatro Abril, mas nem sempre estão disponíveis para a encenação de novos espetáculos.

Em muitas ocasiões, existe falta de espaço adequado

para a montagem de alguns musicais, que acabam sendo apresentados em casas de show tradicionais. Foi o caso de “Os Produtores”, baseado em um show da Broadway e em um filme de Hollywood, que foi levado à cena em um palco de pouca profundidade, que impediu o pleno desenvolvimento do espetáculo.

Os ingressos são caros, e os ingressos para os melhores lugares têm valor semelhante ou igual aos dos espetáculos no exterior. Para muitos o custo é amenizado devido ao direito da meia-entrada, mas este é um tipo de apresentação que faz muito sucesso e atrai muita gente, sendo frequentes as excursões a outros Estados e cidades do interior.

Em um musical, a seleção do elenco passa pela escolha difícil entre um sem-número de candidatos, que disputam as dez ou vinte vagas do espetáculo, submetendo-se a testes de canto e dança. A maioria são jovens que concorrem a vagas no coro e para algum papel secundário.

O coro é sempre formado por um grupo de cantores-atores-dançarinos que acompanham os solistas, na maioria das peças, cantando e dançando coreografias em geral muito elaboradas. Dificilmente um cantor de mais de trinta anos é escolhido para participar do elenco de um musical. Uma das poucas exceções está no musical “My Fair Lady”, que possui em seu corpo de atores-cantores pessoas de todas as idades.

Raramente um iniciante conseguirá papéis principais, pois são reservados para um pequeno número de astros do musical tupiniquim e ídolos da televisão, que nem sempre conseguem cantar ou dançar, já que são, em geral, apenas atores de novela, fazendo sucesso pela simples presença e não pelas reais qualidades artísticas para um musical. Poucos têm a capacidade de Claudia Raia ou Daniel Boaventura, que cantam, dançam e representam a contento e com qualidade.

Cantar em um musical é bastante diferente de cantar com uma banda ou na gravação de um CD, pois exige, especialmente das mulheres, um tipo de colocação de voz que difere da colocação do canto tradicional e da utilizada para cantar acompanhada por um conjunto. O belting, tipo de colocação das vozes femininas em musicais, exige tempo, muito estudo e ensaios, o que nem sempre são condições comuns a todas. Já os cantores têm que ser um misto de tenores e barítonos, isto é, têm que cantar com voz brilhante,

metálica e intensa, o que também requer um trabalho especial de preparação de voz. As escolas preparadoras para musicais tendem cada vez mais a aumentar em número, e as classes estão cheias de alunos interessados em entrar no mercado de trabalho.

São inúmeras as montagens amadoras levadas a efeito todos os anos. Elas preparam mais pessoas para futuros espetáculos, melhoram a oferta e a condição técnica dos atores-cantores-bailarinos e impossibilitam que cantores comuns participem de espetáculos que, de fato, reservam-se para profissionais preparados para suportar física e vocalmente tal tipo de empreitada.

A intensa apresentação de musicais no Brasil surge como fator positivo para a abertura de um campo de trabalho que é bom não só para cantores, mas também para músicos, bailarinos, coreógrafos, diretores, cenógrafos e outros profissionais. O público brasileiro só ganha com a oferta constante de espetáculos musicais de qualidade.

Josefina Capitani é física pela Unicamp e cantora pela FAAM. Desenvolve intensa atividade

musical como professora de canto, solista e cantora do CoralUSP e diretora

musical do grupo Cia Entre Amigos.

Silvio Soares Macedo é arquiteto e cantor, professor titular da

FAUUSP, fundador e coordenador do grupo Cia Entre Amigos desde 1997 e

Somente nos anos 1960 foram feitos, de fato,

espetáculos genuinamente nacionais com a forma de musicais, mas ainda lembrando o teatro de revista. Tivemos, por

exemplo, na televisão, os programas da extinta TV Excelsior, “Times Square”

e “My Fair Show”.

O belting, tipo de colocação das vozes

femininas em musicais, exige tempo, muito

estudo e ensaios.Os cantores têm que ser

um misto de tenores e barítonos, cantar com

voz brilhante, metálica e intensa, o que requer

preparação especial.

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Versátil: Lô, queria que você contasse um pouco sobre a sua recente produção, o CD Horizonte Vertical. Lô Borges: Pois é, na verdade, produzi quatro discos que não foram devidamente divulgados, por algumas circunstâncias. Esse meu disco, Horizonte Vertical, é o quarto inédito em oito anos, ou seja, nos últimos oito anos, produzi quatro CDs com canções inéditas.

V: Por que você diz que esses outros trabalhos não foram divulgados devidamente?LB: A relação de buscas de CD no Brasil, você tem que fazer uma mobilização pra que isso aconteça. No Brasil, não é fácil lançar disco de dois em dois anos e divulgá-lo, porque tem que recorrer a uma mídia muito grande. O país é muito grande, você tem que fazer uma série de mobilizações que eu não quis fazer. Pra mim, interessava mesmo lançar o disco. Eu acho que minha capacidade de

produzir discos, atualmente, é maior que a de lançá-los.

V: Tem o artista e o empresário?LB: Na verdade, sou muito bem assessorado. Nos últimos oito anos, termino um disco e faço outro. Já estou partindo pra gravação de outro. Isso é meio que uma opção minha, apesar de reconhecer que existem certas barreiras, certas dificuldades. Você vê que o mercado é muito grande, são muitos artistas. O país é enorme e nem sempre eu, daqui de BH, consigo levar a música que estou fazendo pra outros lugares. Mas pra mim isso não tem o menor problema. Tem a internet, a comunicação está aí, e esses trabalhos que fiz nos últimos oito anos certamente serão

disponibilizados para as pessoas fazerem downloads, Itunes.

V: O que você pensa sobre o papel das mídias sociais e da possibilidade de divulgar o trabalho através delas quando existe o CD à venda no mercado? LB: A coisa está começando a se impor de forma digna. Já tem isso implantado nos EUA e na Europa, mas aqui é recente, um pouco desorganizado. Acredito que essa forma de vender seu produto cultural pela internet é fato contundente e que será aprimorado. Acho que isso é benéfico para a música. Pirataria a gente vê em todas as instâncias, mas negociar e disponibilizar para o ouvinte pagar um real é uma saída boa, que espero ver em proporções maiores.

V: Lô, como você vê a música mineira no cenário brasileiro?LB: Vejo que várias coisas aconteceram com a música

Conversa, dedinho de prosa, um cadim de conversação. Foi o que aconteceu em trinta minutos ao telefone com Lô Borges. O mineiro de beagá é um dos ícones de um período riquíssimo da música brasileira, época do Clube da Esquina, com os irmãos Marilton e Márcio e Milton Nascimento, no início dos anos 1970.

Milton, que já cantava acompanhado pelo pianista Wagner Tiso, iniciou a carreira tocando na noite com Marilton Borges. Depois, chegaram ao Clube

— que literalmente tocava “numa esquina” — Flávio Venturini, Toninho Horta, Beto Guedes, Tavinho Moura e Fernando Brant.

Em 1972, gravaram o primeiro LP, chamado Clube da Esquina. O disco inovava a música popular

brasileira pela riqueza poética das letras e as melodias apreciadas pelos fãs dos Beatles. O público soube identificar no Clube da Esquina, bem como no grupo posterior, o 14 Bis, um trabalho de qualidade inquestionável.

Tivemos a honra de conversar com o Lô Borges de “O Trem Azul”, imortalizado pela voz de Elis Regina. De “Cais”, “Paisagem da Janela”, “Nada Será Como Antes” e tantas outras que ouvimos sem cansaço. Canções atemporais, produzidas com a alma. A alma mineira.

Nos últimos oito anos, termino um disco e faço outro.

Isso é meio que uma opção minha.

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por Claudia Liba e Valéria Diniz

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mineira desde os anos 1990 pra cá, como as bandas Skank, Jota Quest, e fico muito feliz com o sucesso dessas pessoas, quando o Brasil gosta delas. Como músico mineiro de uma outra geração, fico muito feliz. A música mineira é muito rica, tem muitos artistas solo que fazem trabalhos que honram a tradição mineira de música boa. Eu prefiro nem citar nomes, tem tanta gente, são muitos! Tanto as bandas como os artistas solo vão muito bem, com rock, samba, pop, MPB, heavy metal. Principalmente aqui em BH, onde vivo, tem muita gente com talento. Desde criança sou testemunha que a música é muito rica. As coisas que vejo acontecer em Minas me agradam bastante.

V: De que maneira você entrou para o Clube da Esquina e como vê a importância do Clube na música brasileira? LB: Fui convidado pelo Milton Nascimento, quando eu tinha 18 anos, pra dividir um álbum que saiu no Rio de Janeiro em 1972, que é o Clube da Esquina. Um álbum importante, atemporal, que as pessoas ouvem até hoje. Acho que naquele momento uma coisa especial foi a mistura da música do Milton, ligado ao jazz, com a negritude, com a minha musicalidade, que era outro estilo, mais ligada aos Beatles, à música pop. Talvez essa tenha sido a química que deu certo. A rigor, é um charme do disco a força do Milton com um cara que

estava com 20 anos e que ninguém no Brasil conhecia. Agradeço a ele até hoje por ter acreditado e apostado em mim quando tão jovem.

V: Ter Milton Nascimento cantando suas composições deve ser muito especial. Quando você está compondo, tem em mente quem interpretará a sua música? LB: Na verdade, não. Como sou muito mais compositor que intérprete quando estou compondo, é uma coisa pra eu cantar mesmo. Sou muito bem gravado. Fui gravado por Nana Caymmi, Gal Costa, Elis Regina, Tom Jobim, Simone, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, mas eu nunca entreguei uma música minha a eles. Foram eles que pegaram a minha música e gravaram.

V: Música e letra acontecem ao mesmo tempo quando compõe?LB: Sou mesmo um compositor arranjador, e as letras do meu repertório, talvez cerca de 20% sejam minhas. As outras são de parceiros. O processo de composição é incrível, porque quando vou compondo a música, no princípio nem tem letra, são fonemas, lalalá... Com uma música que enviei a Ronaldo Bastos, os fonemas o remeteram ao idioma inglês! E ele fez em inglês. Eu pego o instrumento, faço a melodia, a harmonia, a voz com fonemas e aí é que escolho o parceiro pra fazer a letra.

V: Algum motivo especial para dar o título Horizonte Vertical ao CD? LB: Fico vendo retrospectivamente. Nos

trabalhos anteriores, quase todos têm o título de uma canção contida ali. É meio aleatório. Quando fiz Sonho Real, eu nem sabia que o título seria este. Tinha um conjunto de títulos naquele disco que fizeram o álbum e fui investigando. Geralmente, o título é a última coisa que faço. Com Horizonte Vertical foi assim. É uma canção minha com o Samuel Rosa, com letra do Nando Reis. Achei o título interessante e comparei com os outros, das outras canções do álbum, e escolhi esse. Mas vejo que Horizonte Vertical é a minha vida hoje, que é a minha determinação de continuar compondo.

V: Existe disciplina no trabalho artístico?

LB: Tem que trabalhar bastante. Costumo comparar com a pescaria. Se você não pegar a isca, o anzol, se não for pra beira do rio, não vai pescar nunca! Quando eu pego o instrumento e vou experimentando os acordes, vendo as melodias que estou

formando, as ideias que vão começando a surgir, é porque eu peguei o instrumento. A música não vai cair no meu colo. A gente tem que buscar. Eu não saio pra compor, mas saio pra pescar.

V: O que você diria sobre a carreira de músico? A música lhe trouxe muitas alegrias?

LB: A carreira é difícil. Pra quem quer se estabelecer e também pra quem já está estabelecido como músico. Tem quem ganhe muito dinheiro com música. Tem

quem fique famoso. O difícil é criar o seu público. Eu dei a sorte de, no começo da carreira, já de cara, ganhei o público com

o Milton. De início, a música é uma coisa complicada. Eu faço música porque é a minha forma de expressão, minha forma de lidar com a vida, com o mundo. É algo tão natural como ter que beber água. Tão fundamental quanto me alimentar. A música está no meu dia a dia. Hoje toquei violão a manhã toda. Depois do Horizonte Vertical, pensei em dar um tempinho da composição pra poder divulgar. Mas hoje não me contive e peguei o violão e comecei a criar uma música totalmente nova. Essa chama que me leva a compor é algo que eu adoro. Sabe a frase do Caetano, “como é bom poder tocar um instrumento”? Eu adoro essa frase. Eu olho pro piano e tenho vontade de acariciá-lo, de compor um acorde, com notas, brincadeiras musicais. A fonte inspiradora sempre são instrumentos musicais e quando a gente vai fazer a letra, aí a gente fala da

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Divulgação / Lô e Milton

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Fui convidado pelo Milton Nascimento, quando eu tinha 18 anos, pra dividir um álbum que saiu no Rio de Janeiro em 1972, que é o Clube da Esquina. Um álbum importante, atemporal.Agradeço a ele até hoje por ter acreditado e apostado em mim quando tão jovem.

Tonho e Cacau: os garotos da capa

(1972)

Tonho e Cacau (2012)

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esposa, da namorada, do amor. A música em si é um grande fator motivador. Só a musica em si. Um grande fator inspirador.

V: Estamos há 40 anos sem Elis Regina. Qual seria a sua homenagem a ela?LB: O que eu digo é que tive a honra de conhecê-la pessoalmente, de ter gravada uma música por ela. Tive a honra de assistir à gravação do “Trem Azul”. Só posso dizer que Elis Regina é a maior cantora que eu vi pessoalmente. Ela cantando “Trem Azul”, não acreditei, de tão bem que ela cantava. Ela é o Pelé das cantoras.

V: O que você tem ouvido atualmente?LB: Muita coisa que a gente ganha na estrada, cantores e compositores independentes, música mais alternativa. Sempre gosto de voltar a João Gilberto, Beatles, às músicas que fizeram parte de minha formação. Mas escuto muito mais coisas novas que antigas. Ficar olhando pras coisas do passado, como o Clube da Esquina, pra mim dá até aflição, sabe? Tenho sede de coisas novas. Isso é o

que move minha vida. Assisti a um show em que Miles Davis estava muito ligado a Jimmy Hendrix, e a sua banda tocou como Jimmy, com duas guitarras no palco. Então, na medida do possível, eu parto sempre ao inédito. É o que me faz buscar, porque, se eu não fizer a minha busca, ninguém vai fazer isso por mim.

V: Falar com mineiro é sempre muito legal!LB: Falar com paulista também! Um abraço a todos. Música é uma coisa muito legal. Vamos que vamos.

Divulgação / Beto Guedes e Lô Borges nos anos 1970

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Divulgação / Lô Borges nos anos 1980

Entrevista dedicada à Juliana Jamilles de Souza,

mineira da cidade de Janaúba, colaboradora da Versátil.

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ALBERTO GIACOMETTIO artista suíço é um dos mais importantes do século XX — e sua obra, um dos fundamentos do Modernismo. Estão na mostra 280 peças, entre pinturas, escultu-ras, desenhos. Será exibido tam-bém o filme “O que é uma cabeça? Ou a passagem do tempo”, que narra sua trajetória. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Praça da Luz, 2, Bom Retiro, (11) 3324 1000. Até 17 de junho.

SHAKESPEARE – RETRATOS DE UMA FESTA LUMINOSAImagens dos fotógrafos Robert Schwenk, Paula Kossatz, Paula Klien, Sérgio Baia e André Mantelli, feitas em importantes teatros do Rio de Janeiro, mostram releituras da “Cena do Balcão”, em que Romeu declara seu amor a Julieta e promete casar-se com ela. Grátis. Espaço Cultural Porto Seguro. Avenida Rio Branco, 1.489, Campos Elíseos, (11) 3366 8262. Até 13 de julho.

O MUNDO AO LADO: CINCO CONTINENTES, UMA BICICLETA E UMA CÂMERA FOTOGRÁFICAA mostra faz alusão ao livro de Arthur Simões, O mundo ao lado, em que narra cenas de sua volta ao mundo de bicicleta por 46 países em 5 continentes. SESC Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, (11) 5080 3000. Até 01 de julho.

ANA PRATA E TAMBÉM O ELEVADOR, O VULCÃO E O JANTARReconhecida pela crítica como um dos talentos contemporâneos, Ana Prata faz uso de imagens pré-existentes, como fotos ou imagens da internet, a partir das quais constrói narrativas abertas à imaginação do espectador. Instituto Tomie Ohtake. Avenida Faria Lima, 201, Pinheiros, (11) 2245 1900. Até 24 de junho.

PANORAMAS: A PAISAGEM BRASILEIRA NO ACERVO DO INSTITUTO MOREIRA SALLESFotografias, gravuras e desenhos produzidos entre os anos de 1820 e 1920 apontam os procedimentos que moldaram a representação da paisagem brasileira no decorrer do século XIX. Entre os artistas, Johann Moritz Rugendas, Charles Landseer, Augusto Stahl, Victor Frond, Marc Ferrez. Museu de Arte Brasileira - FAAP. Rua Alagoas, 903, Higienópolis, (11) 3662 7198. Até 17 de junho.

POÉTICAS DO MANGUEUm dos temas do expressionismo alemão, a prostituição feminina encontrou um habitat quase natural na região do Mangue, próxima do cais do Rio de Janeiro. Na arte moderna brasileira, o tema foi abordado por artistas como Lasar Segall, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Otto Dix. Grátis. Museu Lasar Segall. Rua Berta, 111, Vila Mariana, (11) 5574 7322. Até 17 de junho.

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De cima para baixo: Fim de festa, 2011Caixa, 2010Canteiro, 2012

Cícero Dias – O Sonho da Prostituta

Lasar Segall – Figura Feminina Deitada

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360Inspirado em “La Ronde”, de Arthur Schnitzler, o filme combina histórias, unindo personagens de diferentes cidades e países, exibindo o que ocorre quando pessoas de classes sociais diferentes se envolvem fisicamente. Direção: Fernando Meirelles. Com Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Jude Law, Ben Foster.

A DELICADEZA DO AMOR Nathalie perde a vontade de viver após a morte do marido em um acidente. Depois de anos de luto, é cortejada por Markus, um colega de trabalho cuja ternura e bondade a levam para uma nova vida. Direção: David Foenkinos e Stéphane Foenkinos. Com Audrey Tautou, François Damiens.

O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD Um grupo de aposentados viaja à Índia para morar no que acreditam ser um recém-reformado hotel. Menos luxuoso do que nas propagandas, o local lentamente começa a despertar vários sentimentos nos novos moradores. Direção: John Madden. Com Maggie Smith, Judi Dench, Bill Nighy.

O QUE ESPERAR QUANDO VOCÊ ESTÁ ESPERANDOQuatro casais estão às vésperas de se tornar pais e viver a maior aventura de suas vidas. Juntos, dão novos significados para sentimentos como o medo e o amor. Direção: Kirk Jones. Com Cameron Diaz, Elizabeth Banks, Jennifer Lopez, Dennis Quaid e Rodrigo Santoro.

CABARET STRAVAGANZACom recursos multimídia, a peça recupera as “extravaganzas” vitorianas e dos cabarés alemães dos anos 1920. Há liberdade de formas e estilos, elementos do burlesco, da pantomima e do show de variedades. Direção: Rodolfo García Vazquez. Com: Ivam Cabral, Gustavo Ferreira, Phedra de Córdoba, Cléo de Páris. Espaço dos Satyros II. Praça Roosevelt, 214, Centro, (11) 3258 6345. Até 27 de maio.

CARTAS A UM JOVEM POETATexto: Rainer Maria Rilke. Em um cômodo, metáfora da transição entre consciente e inconsciente, Rilke se depara com seus fantasmas. Centrada na correspondência com um jovem aprendiz, a peça aborda a importância do autoconhecimento. Direção: Ivo Müller. Codireção: Claudio Cabral. Com Ivo Müller. Viga Espaço Cênico. Rua Capote Valente, 1.323, Pinheiros, (11) 3801 1843. Até 30 de maio.

PROCESSO DE GIORDANO BRUNOTexto: Mário Moretti. A trama é um texto histórico sobre os últimos anos de vida do filósofo Giordano Bruno (1548 -1600). Com mais de 20 obras revolucionárias, Giordano foi réu de um processo de heresia pelo Santo Ofício. Diante dos inquisidores, não se retratou e foi queimado vivo em 1600. Direção: Rubens Rusche. Com Celso Frateschi, André Correa, Angelo Brandini, Dagoberto Feliz, Hermes Baroli e Mauro Schames. SESC Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, (11) 5080 3000. Até 10 de junho.

DOM JUAN Texto: Moliére. Dom Juan vive em função do prazer, independente de ética. Seu escudeiro, Esganarelo, se envolve em encrencas para salvá-lo por medo de perder o emprego. A peça mostra o que há de moderno no texto e convida à proximidade do jogo narcisista de Dom Juan. Direção: William Pereira. Com Rodrigo Lombardi, Eduardo Estrela, Clarissa Kiste. Teatro Raul Cortez. Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista, (11) 3254 1700. Até 16 de junho.

UM VIOLINISTA NO Musical baseado na obra de Sholom Aleichem. Tevye é leiteiro de um vilarejo judeu na Rússia Czarista. Em conflito para sobreviver e honrar tradições religiosas, enfrenta problemas com as filhas, que são contra casamentos arranjados, em uma época em que os russos expulsaram milhões de judeus. Texto: Joseph Stein. Letra: Sheldon Harnick. Música: Jerry Bock. Versão brasileira: Claudio Botelho. Direção: Charles Möeller. Com José Mayer, Soraya Ravenle, Rachel Rennhack. Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, (11) 5693 4000. Até 15 de julho.

GANGUETexto: Pedro Guilherme. Para o autor “os jovens são caracterizados pela mídia, na maior parte das vezes, como alienados, conformados e despolitizados.” A peça investiga “como ser atuante numa sociedade excludente e restritiva a novas maneiras de pensar?” Com a Cia. Provisório-Definitivo. Teatro dos Parlapatões. Praça Franklin Roosevelt, 158, Consolação, (11) 3258 4449. Até 29 de junho.

Fotos: João CaldasFo

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A CARNE E O SANGUE Mary del Priore. A historiadora retrata o triângulo amoroso entre D. Pedro I, a imperatriz Leopoldina e Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos, que escandalizou a então insipiente e imatura sociedade brasileira. A pesquisa para o livro incluiu trechos inéditos de correspondências. Rocco.

A PRIMEIRA VEZ QUE VI MEU PAI Márcia Leite. A figura paterna é o tema da história dos adolescentes Lucas, filho de pai alcoolista, e Daniel, que não conhece o pai. Como viver diante da ausência? No fim do livro, há informações sobre alcoolismo, distância física entre filhos e pais e dicas de filmes. Artes e Ofícios.

AMIZADES IMPROVÁVEIS Jennifer S. Holland. Redatora da National Geographic, Jennifer apresenta casos reais de animais de espécies diferentes com vínculos extraordinários, como o de um carneiro que ajuda um elefante a superar a perda da mãe. Com fotos e dados sobre família, gênero e espécie dos animais. Pensamento.

CASOS FILOSÓFICOS Martin Cohen. Trad.: Francisco Innocêncio. Revelações de detalhes curiosos de figuras como Schopenhauer, Marx, Sócrates, Descartes. Em uma das histórias, Schopenhauer teria empurrado uma pobre senhora escada abaixo. As ilustrações de Raul Gonzalez III dão forma às cenas. Civilização Brasileira.

COLEÇÃO ENTENDENDO: JUNG Maggie Hyde. Discípulo de Freud, Carl Gustav Jung acrescentou questões fundamentais acerca de religião e alma na obra do seu mentor. O livro explica seu rompimento com Freud e mostra os novos e radicais insights que teve a respeito do inconsciente. Ilustrações: Michael McGuiness. LeYa.

DE ONDE NASCEM AS HISTÓRIAS Fabio Sombra. Adaptação de uma lenda zulu para a poesia e o universo do cordel. Nowazi e Sanele não sabem onde achar histórias para contar aos filhos. Decidida, Nowasi sai de casa e conhece um gavião que a levará ao reino encantado onde está guardado o segredo das histórias. Bertrand Brasil.

EXPURGO Sofi Oksanen. Através das vidas cruzadas de Aliide e Zara, duas mulheres unidas por várias histórias de mentira e desespero e por um passado trágico em uma região subjugada pelo terror soviético, a autora revê a trajetória de uma região violentada, mas em permanente luta para viver em paz. Record.

HISTÓRIA UNIVERSAL DA INFÂMIA Jorge Luis Borges. Trad.: Davi Arrigucci Junior. Borges utiliza argumentos de outros escritores e realiza um trabalho abissal de reescrita. Amplia e adensa significados, imprimindo-lhes sentidos inesperados em uma criação incomum de pormenores circunstanciais. Companhia das Letras.

MARTINHA VERSUS LUCRÉCIA Roberto Schwarz. Reunião dos melhores ensaios do autor, que, além de Machado de Assis, contempla nomes como Caetano Veloso — com um ensaio inédito sobre a autobiografia Verdade tropical —, Chico Buarque, o poeta Francisco Alvim e o filósofo Theodor Adorno. Companhia das Letras.

MINHAS MULHERES E MEUS HOMENS Mario Prata. O escritor revela-se um divertidíssimo contador de histórias, trazendo ao leitor um retrato da família brasileira, com seus pecados e virtudes, e da geração que nasceu na década de 1960, passou pela ditadura e pelas mudanças do país nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Planeta.

MRS DALLOWAY Virginia Woolf. Trad.: Tomaz Tadeu. Clarissa sai para comprar flores e encontra o amigo Hugh Whitbread e Smith, que, devido a um trauma de guerra, encaminha-se com a esposa para uma consulta psiquiátrica. O livro é resultado do esforço da autora para romper com as convenções do romance tradicional. Autêntica.

MÚSICA PARA CORTAR OS PULSOS Rafael Gomes. O roteiro da peça que estreou em 2010 narra os dramas de Ricardo, Felipe e Isabela, que vivem diferentes situações amorosas. Cada capítulo traz monólogos sobre as diversas fases de um amor, refletindo, com todo o desespero juvenil, como o amor pode ser dilacerante e delicioso. LeYa.

O CORCUNDA DE NOTRE DAME Victor Hugo. Trad.: Marly N. Peres. O romance entre a cigana Esmeralda e Quasímodo, o corcunda dono de um grande coração, mescla fantasia e humor. Victor Hugo narra as ambições humanas e as paixões impossíveis, tendo como cenário uma das mais famosas catedrais góticas da Europa. LeYa.

HIGIENÓPOLIS E ARREDORES: PROCESSO DE MUTAÇÃO DA PAISAGEM URBANA Silvio Soares Macedo. A transformação da paisagem do bairro de Higienópolis de 1884 a 2005. A edição traz uma visão sequenciada e colorida de como foi a avenida Higienópolis nos anos 1920 e 1930, quando abrigava jardins e palacetes importantes. Edusp.

Este livro apresenta, de modo direto e ilustrado, o percurso de transformação da paisagem de uma das áreas mais signifi cativas e emblemáticas do país: o bairro de Higienópolis e seus arredores na cidade de São Paulo, no período de 1884 a 2005. O processo aqui retratado, rico e instigante, divide-se em três momentos, dos quais foram destruídos e construídos retratos paisagísticos de grande qualidade urbanística, sempre servindo de moradia a seus habitantes.Abrigo das elites paulistanas desde sua formação, foi objeto de expressivas obras urbanas e paisagís-ticas, como o loteamento de seu trecho primitivamente denominado Boulevard Burchard, a praça Bue-nos Aires, o antigo terraço Germaine, sua arborização pública e jardins particulares, cuidadosamente desenhados por paisagistas de prestígio.O bairro foi também receptor de arquiteturas de vanguarda em todas as suas fases, como a elegante Vila Maria, de 1884, a casa de dona Veridiana Prado, a Vila Penteado, de 1902, e tantas outras, muitas desenhadas por Ramos de Azevedo e sua equipe. Posteriormente, obras de renomados arquitetos e paisagistas modernistas e contemporâneos sucederam aos velhos palacetes, nos edifícios de apar-tamentos e escritórios de Artacho Jurado, Rino Levi e Artigas, Burle Marx, Roberto Coelho Cardoso e

muitos outros até este século, quando as últimas áreas se verticalizam, os principais prédios antigos são restaurados, um grande shopping é construído e a praça Buenos Aires se torna um parque público.Essa segunda edição surge dezenove anos após a primeira, então toda em preto e branco. A estrutura gráfi ca e os textos são os mesmos da edição de 1987, à exceção dos dois novos capítulos: “Higienó-polis 1980–2005” e “Avenida Higienópolis – Reconstituição Gráfi ca de uma Avenida Principal da Belle Époque”. O primeiro deles foi dedicado à evolução da paisagem entre 1980 até 2005; o segundo traz uma visão sequenciada de como foi a avenida Higienópolis nos anos 1920 e 1930, quando abrigava, juntamente com a avenida Paulista, os mais signifi cativos jardins e palacetes da cidade. Silvio Soares Macedo é arquiteto, formado em 1974 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), escola na qual começou a lecionar na área de paisagismo em 1976 e é professor titular de Paisagismo desde 1996. Concluiu em 1982, na própria FAUUSP, seu mestrado, Mutação de Paisagem Urbana: O Bairro de Higienópolis e Arredores, sob a orientação da profª. drª. Miranda M. Magnoli, dissertação que deu origem a este livro. A partir dessa data, continuou seus estudos sobre paisagem urbana brasileira, enfocando temáticas como a verticalização urbana (no doutorado, concluído em 1988) e a orla brasileira (na tese de livre-docência, em 1993). No ano de 1994 iniciou, no Laboratório.

Silvio Soares Macedo é arquiteto, formado em 1974 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade de São Paulo (FAUUSP), escola na qual começou a lecionar na área de Paisagismo em 1976 e é Professor Titular de Paisagismo desde 1996. Concluiu em 1982, na própria FAUUSP, seu mestrado Mutação de Paisagem Urbana: o bairro de Higienópolis e arredores, sob a orientação da profa. dra. Miranda M. Magnoli, dissertação essa que deu origem a este livro. A partir dessa data, continuou seus estudos sobre paisagem urbana brasileira, enfocando temáticas como a verticalização urbana (no dou-torado, concluído em 1988) e a orla brasileira (na tese de livre - docência, em 1993). No ano de 1994 iniciou, no Laboratório da Paisagem, do qual também é coordenador, o projeto de pesquisa Quadro do Paisagismo no Brasil que, com a colaboração de inúmeros pesquisadores, busca construir o verdadeiro escopo do Paisagismo brasileiro.

Autor dos livros Quadro do Paisagismo no Brasil (1999), Praças Brasileiras (2002) em co-autoria com Fabio Robba e Parque Urbano no Brasil (2002) com Francine Sakata; e dos CD-ROMs Paisagismo Bra-sileiro: guia de parques e praças (1999), com Jonathas M. P. Silva e Luís Fernando Meira, História do Paisagismo no Brasil (2003) com Mauro Font e Gustavo Garrido, Paisagismo Contemporâneo no Brasil (2004) com Gustavo Garrido e Sidney Carvalho, e Paisagismo Contemporâneo (2005), com Denis Cossia e Sidney Carvalho, sendo todos esses trabalhos concebidos com o apoio dos pesquisadores do Laboratório da Paisagem. É também editor da revista científi ca Paisagem e Ambiente Ensaios, editada pela FAUUSP, desde 1994.

Trabalho de crônica e crítica do processo de mutação da paisagem urbana de um bairro bastante signifi cativo para São Paulo: Higienópolis. Entre todas as áreas da cidade, esta foi a que passou por um processo mais completo de transformação – chácaras urbanas, casarões e a paisagem verticalizada.Higienópolis nesta obra pode ser vista e analisada a partir da sucessão de imagens que recriam o seu prefi l ao longo do tempo.

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SONHOS VERTICAIS: ESCALADAS AO CHO OYU E EVEREST Manoel Morgado. Neste livro-diário, Manoel Morgado relata não só as vivências à frente de grupos de brasileiros e estrangeiros rumo ao topo do Everest: ele retoma memórias de outras escaladas, em especial ao Cho Oyu, seu primeiro “8 mil”. Artes e Ofícios.

TAPETE DE SILÊNCIO Menalton Braff. O autor desnuda os subterrâneos do poder, da hipocrisia e da intolerância de Pouso do Sossego, cidade interiorana onde os personagens revelam-se emblemáticos. Passado e presente dialogam como luz e sombra. Mas há um passado colorido: a chegada de uma alegre companhia circense. Global.

THIS IS A CALL – A VIDA E A MÚSICA DE DAVE GROHL Paul Brannigan. Brannigan narra a infância e a adolescência de Grohl, suas influências musicais, as primeiras batucadas nos móveis de sua mãe, as primeiras bandas, a chegada ao Nirvana, a morte de Kurt Cobain e o nascimento da banda Foo Fighters. LeYa.

VIAGENS NA MINHA TERRA Almeida Garrett. Um marco do romantismo português em que o autor exibe seu ideal estético: criar uma literatura que brotasse naturalmente da própria vida. Das viagens feitas pelo autor em 1843, surge o relato sobre as curiosidades, o modo de ser e as paisagens das terras portuguesas. Nova Alexandria.

ZUM#2 A revista semestral de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles aborda temas variados com os fotógrafos participantes de cada número. Neste, destacamos o trabalho de Mauro Restiffe, que, a convite da revista, perambulou pelo bairro paulistano da Luz logo após a expulsão dos usuários de crack. IMS.

O FARAÓ Boleslaw Prus. Trad.: Tomasz Barcinski. Publicado em três volumes na primeira edição, após aparecer em folhetim, o romance narra a ascensão do faraó fictício Ramsés XIII e seu embate com a casta sacerdotal para diminuir seus privilégios. Por fim, perde a disputa para seus inimigos. Civilização Brasileira.

O SINAL: O SANTO SUDÁRIO E O SEGREDO DA RESSURREIÇÃO Thomas de Wesselow. Depois de anos consultando fontes históricas, desvendando várias evidências científicas e analisando os Evangelhos, o historiador narra passo a passo os eventos que culminaram no fatídico Domingo de Páscoa. Editora Paralela.

O TRIÂNGULO SECRETO: AS LÁGRIMAS DO PAPA Didier Convard. Trad.: Maria Alice Doria. Mosèle restaura um dos manuscritos do mar Morto. Marlane, seu colega, após obter uma terrível comprovação, desaparece. Convard leva o leitor ao coração da maçonaria, aos segredos dos templários e ao lado obscuro do Vaticano. Bertrand Brasil.

O ÚLTIMO DUELO Eric Jager. Trad.: Rodrigo Peixoto. Na Idade Média francesa, sob pena de ser condenada à fogueira por injúria e falso testemunho, uma mulher acusa o melhor amigo de seu marido de estuprá-la. O caso é decidido em um duelo judiciário, combate do qual um homem só sairá vencedor ao matar o seu oponente. Record.

PINTURA BRASILEIRA SÉC XXI Org.: Isabel Diegues e Frederico Coelho. O livro mostra trabalhos de artistas consagrados, como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes, e produções de jovens artistas que têm feito a arte brasileira pulsar, como Ana Prata, Rodolpho Parigi, Paulo Nimer PJota e Patricia Leite. Editora Cobogó.

SIMON’S CAT: AS AVENTURAS DE UM GATO TRAVESSO E COMILÃO Simon Tofield. As histórias do gato surgiram pela primeira vez na internet, no filme “Cat Man Do”, visto por mais de 200 milhões de pessoas. A série recebeu os prêmios Best Comedy - British Animation Awards e o You Tube’s Blockbuster, ambos em 2008. L&PM.

POESIA E FILOSOFIA Antonio Cicero. Autor de um dos ensaios filosóficos mais importantes já publicados no Brasil, O mundo desde o fim, e um dos poetas mais respeitados de sua geração, Antonio Cicero oferece ao leitor um texto envolvente a respeito da relação entre a criação poética e o fazer filosófico. Civilização Brasileira.

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Os pesquisadores tinham cha-mado toda a imprensa. Era um momento revolucionário e per-turbador. Depois de décadas de pesquisa e muito desenvolvimento da informática e dos tomógrafos funcionais, finalmente era possível “ler” o pensamento de alguém. Eles já haviam feito inúmeros testes e os resultados impressionavam. Agora iriam mostrar ao mundo a desco-berta que, além de perplexidade, suscitava preocupação. Governos totalitários poderiam fazer mau uso dessas máquinas. Mas a vaidade da descoberta se sobrepunha ao cuida-do com suas consequências.

Para a demonstração, foi chama-do o eletricista do departamento. Alguém não ligado ao projeto, isen-to e sem ideias preconcebidas.

— Senta aqui, seu Antônio — disse a dra. Elisete, pesquisadora chefe do projeto, diante de uma multidão de repórteres.

Sentado sob a mira de um ca-nhão de infraondas, recebeu a orientação do dr. Eliseu, assistente da dra. Elisete:

— Seu Antônio, gostaríamos que o senhor escrevesse neste papel o que está pensando no exato instan-te em que a máquina estiver escane-ando seu cérebro, OK?

Antônio concordou e, durante um longo minuto, gatafunhou no papel algumas coisas. Eliseu pegou o papel e o leu em voz alta:

— “Caramba, estou participan-do de um momento importante da ciência. Estou muito comovido e orgulhoso.”

As pessoas continuaram na expectativa, pois faltava ver se o supercomputador conseguiria repro-duzir minimamente a essência desse pensamento. Um papel amarelo com letras miúdas foi cuspido pela máquina, enquanto um sintetizador de voz bastante realista ecoava pelo laboratório o primeiro resultado público do projeto ONANIS.

— “NOSSA, O TRASEIRO DESSA DOUTORA É BOM DEMAIS!”

Espanto geral, além de algumas risadas abafadas e uma gargalhada sonora de um repórter na última fila. A dra. Elisete avermelhou e seus

olhos ficaram injetados de sangue e ódio. Alguém não resistiu e gritou:

— É um sucesso!O pobre eletricista enrubesceu de

imediato. Os repórteres logo reco-braram o profissionalismo e come-çaram a questionar:

— Podemos dizer que o experi-mento foi um sucesso?

Em um rompante de fúria, a dra. Elisete bradou secamente:

— Tivemos problemas...Enquanto isso expulsava o coita-

do do eletricista da cadeira e coloca-va seu assistente, o dr. Eliseu.

— Vamos repetir o experimento novamente. Às vezes podemos ob-ter resultados esquizoides devido a leves flutuações na termorrecepção do scanner — justificou ela, numa acrobacia retórica esvaziada de sentido.

Eliseu não queria sentar ali, mas a dra. Elisete não lhe deu opção. O importante era desviar a atenção do fiasco — ou pior, do sucesso — da demonstração anterior. Eliseu estava visivelmente constrangido de sua condição de cobaia. Na mira do canhão em funcionamento, recebeu a pergunta da dra. Elisete como se recebesse uma pedrada:

— Em que está pensando agora?Com o semblante franzido, ele

relatou seu fluxo de ideias:— Estou dividido entre o mara-

vilhamento de ter contribuído para uma descoberta extraordinária e a possibilidade de seu mau uso por pessoas inescrupulosas — disse friamente.

A dra. Elisete estava convicta de que desta vez não haveria gafes. A máquina logo cuspiu mais um pa-pel amarelo e o sintetizador de voz entrou em ação de novo.

— “ESSA PUTA NãO FEZ NADA PARA DESENVOLVER A TECNOLO-GIA E NOS OBRIGOU A COLOCá-LA COMO LÍDER DO PROJETO E AU-TORA DE UMA DúZIA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS DOS QUAIS ELA NãO TEM A MENOR NOçãO DO QUE SE TRATA. E TUDO ISSO APENAS POR-QUE É ESPOSA DE UM FIGURãO AMIGO DO PRESIDENTE DA REPúBLICA!”

Um mar de murmúrios perplexos e a completa desorientação dos membros da equipe transformaram a sóbria demonstração numa com-pleta sarrabulhada. Eliseu deu de ombros. A dra. Elisete rapidamente encerrou a demonstração, aparen-tando serenidade:

— Peço desculpas pelo fracasso de nossa demonstração, mas todos os nossos testes anteriores haviam dado certo. Precisamos entender o que aconteceu. A ciência busca a verdade, e não o conforto das expectativas atendidas. Por isso, preciso assumir o fracasso deste experimento e encarar isso como um lembrete de que é necessário manter a humildade, mesmo diante de grandes possibilidades.

Não se sabe ao certo quem foi, mas alguém direcionou o canhão de infraondas para o cocuruto da dra. Elisete enquanto ela se justificava aos repórteres. O sintetizador de voz fez o resto:

— ESSA MERDA FUNCIONA MESMO! ESPERO QUE ESSE BANDO DE HIENAS SEDENTAS DE SANGUE NãO PUBLIQUEM MUITA COISA NOS JORNAIS SOBRE ESTE ESPE-TáCULO VEXATÓRIO. QUANTO A ESSE CORNO DO ELISEU, VOU DESLIGá-LO DO GRUPO AMANHã MESMO, AINDA QUE ISSO CUSTE O FRACASSO DO PROJETO!

Nos dias que se seguiram, Eliseu foi, de fato, desligado. Um membro da equipe revelou, sob condição de anonimato, que sem os conhe-cimentos científicos dele o projeto não teria como prosseguir. A dra. Elisete se justificou à imprensa alegando que precisava reciclar a equipe para manter a criatividade do grupo e oxigenar as ideias. O projeto foi mantido, mas acabou naufragando rapidamente por pro-blemas técnicos.

Lendo Pensamentos

Alexandre Lourenço é veterinário, microbiologista, professor,

bípede, mamífero e, agora, escritor. Não necessariamente nesta ordem.

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da série musical FAU em Concerto.