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Versátil magazine

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Revista de variedades da Zona Oeste de São Paulo, para os melhores leitores.

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Versátil Magazine é uma publicação mensal, distribuída gratuitamente e não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação fornecida, bem como pelas opiniões emitidas nesta edição. Todos os preços e informações apresentados em anúncios publicitários são de total responsabilidade de seus respectivos anunciantes, e estão sujeitos a alterações sem prévio aviso. É proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens publicados sem prévia autorização.

Caros leitores,

Mais uma vez preparamos para vocês uma

edição que traz conteúdo cultural seleciona-

do com muito cuidado. Em nossa capa, uma

das mulheres mais impactantes do cenário

artístico atual, a atriz Tania Bondezan.

Entrevistamos também outra grande mulher

deste mesmo cenário: a jornalista e escritora Célia Forte, autora da

peça protagonizada por Tania. Em cartaz no teatro Eva Hertz, a peça

Ciranda teve uma estreia aplaudidíssima por grandes atores e dire-

tores de teatro, grandes representantes da classe artística brasileira.

Sem dúvida o espetáculo é ótimo. Leva ao palco emoções viven-

ciadas por todos e trata o tema “amor” com um refinamento

digno de ser visto por vocês.

Ainda nesta edição, um assunto muito importante na coluna

Educação: Vestibular! Reunimos quatro grandes nomes para

conversar sobre o tema: três professores e um psicólogo.

Leiam o que os profissionais pensam sobre o assunto e at-

entem para a importância do papel que tem o professor na

vida dos adolescentes neste momento.

Dando continuidade à coluna Páginas Verdes, o texto “Pegada

Ecológica”, de Rubens Borges, da Secretaria do Verde e Meio

Ambiente de São Paulo, mostra o quanto impactamos o planeta.

Vale a pena conhecer mais sobre o tema e refletir. Assim, conse-

guiremos mudar para melhor o mundo em que vivemos.

E ainda tem Arte na fotografia de Angela Di Sessa, que mostra

um trabalho primoroso realizado em suas viagens para Puglia.

Ela capta imagens e cenas maravilhosas e enriquece nossa edição.

Em Literatura, a entrevista com o escritor Sergio Napp, autor

do livro Menino Com Pássaro Ao Ombro, inicia, na Versátil,

uma coluna dedicada às crianças. Aguardem grandes surpresas

na próxima edição.

Claudia [email protected] www.revistaversatil.com.brtwitter @versatilmagazin

editorial

PARA ANUNCIARTELEFONE PARA NÓS (11) 8851 7082 / 3798 8135

ou envie uma mensagem para [email protected]

Publisher Claudia Liba [email protected]

Conselho EditorialAlexandre Lourenço

Antonio GomesClaudia Ramos Lessa

Gabriel LeicandGabriel L. Schleiniger

RedaçãoValéria Diniz [email protected]

Repórter Especial de Meio AmbienteJuliana Ferrari

Edição de Texto e RevisãoValéria Diniz [email protected]

Projeto Gráfico e DiagramaçãoFelipe Ajzenberg [email protected]

Assistente de ArteAndre Hiro [email protected]

Analistas de Redes SociaisCaio Gasparetto Diniz da Silva

Gabriel L. Schleiniger Juliana Ferrari

ColaboradoresAntonio Gomes – Diversatilidade

Gabriel Leicand – GastronomiaMiguel Perosa – Educação

Rubens Borges – Páginas Verdes

Versátil Online www.revistaversatil.com.brtwitter @versatilmagazin

Pré-impressão, impressão e acabamentoW Gráfica

Distribuição Butantã, Parque dos Príncipes, Vila São Francisco,

Jd. Guedala, Jd. Previdência, Vila Sonia, Jd. Bonfiglioli, Jardim Esther.

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6 EducaçãoPara Quem Vai Prestar o VestibularO Que Você Vai Ser Quando Crescer?

12 ViagemUma Paisagem, Uma Fotografi a, O Olhar Da Fotógrafa Angela Di Sessa

16 Páginas verdesPegada Ecológica

18 CapaEntravista com Tania Bondezan &Célia Forte

22 GastronomiaO Medo do Novo

24 LiteraturaMenino com Pássaro ao Ombro

26 Cultura Versátil

30 Diversatilidade

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PARA QUEM VAI PRESTAR O VESTIBULAR

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Escolher uma profissão é escolher a maneira pela qual

você vai se exercer na vida, é escolher a forma através da

qual você melhor expressará suas características. Não é

apenas uma forma de ganhar dinheiro, de conquistar o

sustento para si e para os seus.

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ou psicoterapeuta. E, hoje em dia, a pala-vra que mais tenho ouvido no consultório é desamparo. Ninguém fala, mas é como se

dissessem: “Ninguém por mim”. E fico me lembran-do do que os antigos diziam: “Nascemos sozinhos, morremos sozinhos e ninguém substitui a ninguém na tarefa de viver”. De fato, essa expressão descreve o desamparo a que estamos lançados desde que nas-cemos. Ninguém poderá pensar nossos pensamen-tos, sentir nossos sentimentos e sensações, ninguém jamais lembrará a nossa história como se fosse a sua. Estamos sós na tarefa de viver.Para essa palavra dos nossos dias é difícil encontrar-mos um antônimo. A esse desamparo que é condição da nossa existência pessoal, a palavra amparo não faz um bom contraponto. Porque por mais que esteja-mos amparados na vida, ainda assim ninguém irá nos substituir em nossa individualidade. Talvez a pala-vra que mais se assemelha ao oposto de desamparo seja a palavra pertencimento. Pertencemos a grupos sociais: família, amigos, colegas de trabalho, bairro, cidade, país, cultura. E esse pertencimento nos dá uma identidade social. “Diz-me com quem andas que te direi quem és” expressa bem a noção de que boa parte da nossa identidade deriva do pertenci-mento. E quando crianças, esse pertencimento é fundamental. Se perguntarmos a uma criança de três ou quatro anos quem ela é, a resposta envolverá sua família: “Sou filho de...”. Esse pertencimento familiar dá conta do significado da existência de uma criança, a tal ponto que ela vive esquecida de si, ignorando a existên-cia de sua individualidade. Vive na inocência (palavra que em latim significa: no não conhecimento).

Nesse momento em que você vai prestar vestibu-lar, buscando entrar numa faculdade e aprender uma profissão, também estará saindo de um colégio, de uma escola que nos últimos anos deu a você um cotidiano, a organização das suas horas diárias, um grupo de amigos e o papel social de estudante. Tudo isso, bem ou mal, em maior ou menor grau, você vai perder. Vai perder um pertencimento, vai deixar hábitos, familiaridades, regras assimiladas, caminhos para a escola, mochila, cantina, todo um entorno que dava sentido aos seus dias. Vai partir. Por que deixar os lugares de pertencimento se eles são assim tão significativos? Por que aventurar-se numa tentativa, muitas vezes mal sucedida, de prestar o exame ves-tibular? Por que partir e deixar as pessoas que ama e às quais você já se habituou há tanto tempo? Não seria mais fácil deixar de lado as provas do último bimestre e repetir de ano? Você e toda sua turma?E, se formos mais longe, por que você saiu da bar-riga da sua mãe? Não teria sido melhor estancar o crescimento e ficar no escurinho do ventre materno, sem cobranças, sem necessidades? Permanecer no Paraíso, onde não era preciso fazer coisa alguma para garantir sua sobrevivência?E por falar nisso, por que Adão e Eva tiveram de sair do Jardim do Éden, onde eram imortais e não eram obrigados a nada para garantir sua subsistência? Por que inventaram de comer os frutos da Árvore da Sabedoria do Bem e do Mal se o pertencimento ao espaço eterno, se o estar no Paraíso garantia suas vidas? A sedução da serpente estava na tentação de que se comessem a maçã seriam como Deus. E comeram. E ao comerem mostraram quatro novidades: quiseram;

Pois bem, agora que você vai prestar vestibular, é preciso lembrar as

razões pelas quais você está saindo. Apesar das separações, apesar

da tristeza, das perdas que essa etapa da vida dispõe no seu caminho,

não se esqueça: Você está saindo para ser! Para ser si mesmo!

Para ser si mesmo instrumentado pela profissão que você escolheu,

pelo conhecimento que ela lhe oferece!

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quiseram ser; quiseram ser como Deus; quiseram ser como Deus através da sabedoria. No Paraíso, não havia necessidade de querer, não havia hiato entre desejo e prazer, não havia tempo. Todo que-rer é filho da falta. Não há falta no Paraíso. E eles quiseram. No Paraíso, não havia necessidade de ser, bastava estar, bastava pertencer ao Jardim do Éden. E eles quiseram ser. E pior: quiseram ser como Deus, ou seja, além de criaturas quiseram ser criadores. E mais: quiseram ser criadores através da incorporação do con-hecimento, da sabedoria, representada pela maçã.Tudo o que se passou em seguida foi coerente com esse desejo. Deus expulsa o primeiro casal do Paraíso. Lógico: lá é lugar de estar, de pertencer, não é lugar de ser. E diz: “Comerás o pão feito com o suor do teu rosto”. Lógico: agora, para estar, para garantir sua sobrevivência, é pre-ciso ser. E ser o quê? Ser si mesmo, construído por si mesmo, através do conhecimento.Pois bem, agora que você vai prestar vestibular, é preciso lembrar as razões pelas quais você está saindo. Apesar das separações, apesar da tristeza, das perdas que essa etapa da vida dispõe no seu caminho, não se esqueça: Você está saindo para ser! Para ser si mesmo! Para ser si mesmo instrumentado pela profissão que você escolheu, pelo conhecimento que ela lhe oferece!Escolher uma profissão é escolher a maneira pela qual você vai se exercer na vida, é escolher a forma através da qual você melhor expressará suas características. Não é apenas uma forma de ganhar dinheiro, de conquistar o sustento para si e para os seus.É errôneo imaginar que existe uma profissão à qual você melhor se adapta. O ser humano pode exercer qualquer profissão. Mas existem poucas que habili-tam você a exercer o seu melhor, as suas melhores características pessoais.Escolha bem, prepare-se com seriedade para realizar seu projeto de ser. E boa sorte na vida!

Miguel Perosa é professor da Faculdade de Psicologia da

PUC-SP e psicoterapeuta de adolescentes e adultos.

por Claudia Liba

A palavra causa ainda um pouco de desconforto. No di-cionário, a etimologia vem do Latim vestis, que significa roupa, veste. Vestibulum é um diminutivo que representa, na entrada da casa ou hall, local onde as pessoas acomodam roupas de rua, como sobretudo e capa de chuva, bengalas, guarda-chuva. Também indica, em anatomia, dilatações no início de um canal. Da noção de “entrada”, passou a indicar também a “aprovação” no ensino superior.Infelizmente, os adolescentes que vivenciam descobertas incríveis, como ter autonomia de sair sozinho, dirigir um automóvel (em vez do videogame), de começar a experi-mentar a sexualidade, precisam também decidir qual pro-fissão exercer! Eis um grande passo a ser dado, um grande momento, que vem rodeado por ansiedade e dúvidas.Nós conversamos com os profissionais que estão, também, cuidando do seu filho neste período. Eles fazem muito mais que ensinar a matéria do vestibular. São também aqueles que dão as mãos para esses “caras” desengonçados e ansiosos, levando segurança, olhando para eles confiantes e dizendo, diariamente, “acredito em você”. E que contam pra gente, entusiasmados, quantos alunos foram aprovados nos vestibulares. A figura do professor nesta etapa da vida é muito importante. Conversei com uma equipe afinadíssima, os professores do Colégio COC Vila Yara: Marcelo Vilela Resende, professor de Química, coordenador do Cursinho e assistente de coor-denação do Ensino Médio; Claudio Fernando Izidoro Pinheiro, coordenador do Ensino Médio, e Márcia Celestini Vaz, coordenadora da Área de Linguagens e Códigos, que as-sessora, organiza e orienta, junto aos professores de Língua Portuguesa, o trabalho de produção de textos de todos os segmentos do colégio. Cada um contribui com o que pode e vão muito além de passar conteúdos do vestibular. Na conver-sa, muita empolgação para contar as atividades que realizam na escola e que, muitas vezes, permanecem nos bastidores. Quero contar um pouco do que pude perceber do compro-mentimento deles com os alunos. Presenciei sentimentos de orgulho e satisfação ao contarem sobre o trabalho e os resultados com os alunos. Só quem já foi professor tem a dimensão da felicidade da sensação de missão cumprida. Começamos nossa conversa com o Resende, professor de Química. Ele ministra aula para todos os anos do Ensino Médio, coordena o cursinho COC e ainda é assistente da coordenação do médio. Ele me recebeu em sua sala, a que vários alunos têm acesso livre, seja para ler os jornais que espalham na mesa, seja para pegar várias apostilas de exercícios ou para tirar dúvidas.

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Sem dúvida, o Resende deve ser uma pessoa mais que requisitada na escola. Tivemos de mudar de sala para conseguir um pouquinho do tempo desta celebridade!Durante nossa conversa, ele contou que, para o vestibu-lar, desenvolve um trabalho diferenciado com a disciplina de Química: “No COC, tem muito exercício, uma rotina pesada mesmo! Os alunos ficam de manhã aqui. No pri-meiro ano, permanecem dois dias da semana em período integral. No segundo ano, ficam um pouco mais, até que, no terceiro ano, são 40 horas de aula por semana.” Ele conta ainda que apesar da origem do ensino COC ser muito voltada para o vestibular, a escola investe em uma formação ampla: “Fazemos um trabalho bem diferenciado, porque, apesar de os pais escolherem a escola por apre-sentar um ensino forte, o aluno do primeiro ano do médio chega para nós ainda sem essa preocupação com o ves-tibular.” O professor ainda detalha: “Quinzenalmente tem avaliações moldadas nos exames Enem e nos vestibulares. O aluno não faz a prova na sua sala, nós misturamos, como no dia da prova. Há testes e questões disserta-tivas com temáticas de vestibular. Fazemos também simulados tipo Enem para o terceiro ano.”Já para a coordenadora Márcia, que trabalha de forma inovadora com os alunos a produção de textos e leitura, “há a necessidade de atuação em várias frentes e diversos níveis de leitura para este período de formação da vida deles, que se inicia com o ensino fundamental, para que se construa o comportamento leitor.” Para ela “é importante construir um comportamento leitor para que o aluno se torne apto a ler e, consequentemente escrever, considerando as di-versas situações reais de comunicação e interação, desmiti-ficando a ideia do ler porque a escola obriga e a escrever para a professora.” Por isso, ela enfatiza a importância de mostrar ao aluno que há um interlocutor. Daí a necessidade de estar em sintonia com a nova perspectiva de abordagem para a produção de textos, os gêneros textuais. Márcia ex-plica: “A escola, como instituição responsável pela forma-ção educacional das pessoas, tem um histórico de trabalho com a tipologia (a descrição, a narração, a dissertação, a argumentação). A abordagem pelos gêneros faz com que o aluno conheça e compreenda melhor os textos que existem e circulam socialmente, como artigos de divulgação científica, crônicas, romances, contos.”Sem dúvida, há mais liberdade na proposta dos gêneros da qual a professora Márcia lança mão. Mas ela coloca que “transpor esse universo real de leitura e escrita para a escola é um desafio, por isso a importância do planejamento e da elaboração de estratégias que visam a contextualização dessas práticas.” Quando peço de-talhes sobre tal liberdade de produção dos textos, ela comenta que há um “enquadramento”. Não no sen-tido pejorativo, mas há, na proposta da atividade,

um direcionamento. Cria-se uma situação para que o aluno desenvolva a sua produção: “Para os primeiros anos, foi organizado um curso que atenda à expectativa do ano: a formação do leitor. Daí o investimento em gêneros do nar-rar, como crônicas, contos, autos, com, progressivamente, a introdução de gêneros do expor, uma notícia, a reporta-gem. Os segundos anos trabalham textos que exijam já um certo posicionamento crítico, uma crônica argumentativa, um artigo de opinião. Só que, quando você escreve um artigo de opinião, há de pensar para quem está escrevendo. Aí está a necessidade do ‘enquadramento’, de propor uma situação.” Márcia exemplifica: “O aluno deverá escrever como jornalista iniciante na carreira, que lê um artigo de um jornalista experiente do jornal X, e tem de se posicionar frente ao texto. Ele tem um interlocutor. Naquela posição, então, como é que ele traz argumentos pertinentes? Não pode escrever sem considerar a situação estabelecida, mas seguir o contexto proposto: ser o jornalista iniciante, com um público-leitor específico e que possui como texto-base a matéria feita por um outro jornalista.” Por sua vez, esse texto circula pela escola, é leitura, por exemplo, das turmas dos terceiros anos, focadas em gêneros que exijam a argu-mentação, como a carta do leitor. Desse modo, há sempre um trabalho integrado entre as turmas.Um tema recente é o que envolve a polêmica sobre o uso do celular na escola. Será que os alunos deveriam ou não trazer o celular para a escola? Houve artigos de opinião escritos pelos segundos anos, enquanto os terceiros, com base nesse gênero, produziram a carta do leitor. Os alunos do terceiro ano leram o artigo e responderam por meio de uma carta de leitor, considerando que deveriam repre-sentar um profissional da equipe gestora da escola (o co-ordenador, a diretora, a orientadora educacional), que to-masse um posicionamento. Depois, toda a experiência foi postada no site da escola, para divulgação às comunidades interna e externa. Além disso, a escola instituiu um mural de exposição das produções dos alunos.Conversando com os professores sobre a situação emo-cional do aluno que fica 40 horas dentro da escola, quem deu o tom da segurança da equipe quanto à administração do estresse foi o professor Pinheiro. Tranquilamente, ex-plica: “São 40 horas de atividades disponíveis aos alunos. Há listas de exercícios para vestibular, período para es-clarecer dúvidas com os professores, os simulados nos finais de semana. Os alunos podem também fazer os simulados do cursinho como convidados. Tem também plantões online, inclusive aos sábados. Então, eles têm à disposição muitas coisas. Um dado que considero im-portante são os trabalhos voltados aos projetos de vida.”Quis saber mais, e ele contou que é trabalhado com o aluno o que ele deseja para a sua vida. Muitos querem passar no curso de Medicina da USP. Então, a escola

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proporciona tudo o que é necessário para este vestibular. Mas há aqueles que de-sejam um intercâmbio, uma viagem para outro país. Também há essa discussão e a devida orientação no que se refere a esse projeto de vida específico. São oportuni-dades diversas que visam atender o in-teresse e a necessidade do aluno.O professor Resende acrescenta que “não conhecer gera ansiedade”. Para amenizar a situação, houve também uma visita à Feira de Profissões da USP, para a qual o colégio levou os alunos a fim de apresentar as diver-sas possibilidades profissionais. Segundo o professor, “o retorno foi muito positivo, segundo observamos nas redes sociais. Além disso, há pessoas aqui na escola que orientam os alunos e os direcionam em relação a seus desejos, ouvindo os alunos.

Há um gerenciamento de estresse de for-ma bem cuidadosa. Uma das atividades é o OLICOC, que acontece num sítio com piscinas, quadras, com atividades entre alu-nos e professores. Pinheiro conta: “Este é o dia em que bandas se apresentam, e a gente descobre habilidades. Uma aluna apresentou-se tocando flauta transver-sal, outro aluno, violão, e há várias apre-sentações que surpreendem.”A professora Márcia conta ainda uma ex-periência cultural, de ida ao teatro, que proporciona a possibilidade de integrar assuntos de Literatura, História e Sociolo-gia na mesma atividade. E finaliza: “O tra-balho com a leitura e a produção de textos integrado às diversas disciplinas e eventos culturais desenvolve a percepção para os alunos de que têm à disposição um imenso

‘banco de dados’, oferecido pela própria escola por meio de suas aulas, atividades diversificadas, estudos do meio. Orienta-mos os alunos a saber interagir com tanta informação, promovendo a transformação dela em conhecimento”.

Talvez um professor seja um pouco pai e mãe dessa geração que cresceu sacrificada pela vida corrida, que exige dos pais mais de 40 horas de trabalho semanal. Tudo para garantir uma boa formação aos filhos. Talvez muitos ainda não saibam o quanto um mestre representa.Pense nisto. Valorize o professor!

Claudio Fernando Izidoro Pinheiroé Coordenador Pedagógico do Ensino Médio do Colégio COC Vila Yara, Licenciado em Física pela IFUSP, Pós-graduado em Coordenação Pedagógica pela PUC-COGEAE

e MBA em Gestão Educacional pela Escolade Negócios Trevisan.

Marcelo Vilela Resendeé Professor de Química para o Ensino Médio, Assistente da Coordenação do Ensino Médio e do Cursinho do Colégio COC Vila Yara e Bacharel em Química pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo.

Márcia Celestini Vazé Coordenadora da Área de Linguagens e Códigos CCó gosCóCe CódigCódódCóódigos ódigos CóCóe Cóe CóCódo Colégio COC Vila Yara, Bacharel e Licenciada em i ciLicen LicenLicenLicenncncenenncenccLetras-LP (PUC-SP), Especialista em Literatura (PUC-UC-iteratueratuatuLiLiteratitSP), Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e P) eiciótitiicacaaótiótó iDoutora em Linguagem e Educação (USP).

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UMA PAISAGEM, UMA FOTOGRAFIA, O OLHAR DA FOTÓGRAFA ANGELA DI SESSA

viagem

Não há dominação ou captura de uma foto,

ao contrário, sou fisgada e levada a um lugar onde há potência

expressiva, do qual retorno através de um

trabalho de elaboração estética com a imagem

fotográfica

e arte, conceitualmente, implica na ca-pacidade de uma obra suscitar emoções, sentimentos e mudanças no estado de es-

pírito das pessoas, então, fotografar é uma arte. São lugares, pessoas, objetos que inspiram o fotógrafo e que incitam o desejo de expressar, com o seu olhar, situações únicas, momentos captados pela câmera e que serão vistos por outros olhos. Ou lentes que captarão, dos re-tratos, a sua própria interpretação. Não há que falar mais nada. As imagens da fotógrafa Angela Di Sessa são suficientes. Te-mos enorme felicidade em apresentar um pou-co de seu trabalho a vocês.

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Versátil Magazine: Quando você se percebeu como fotógrafa?Angela Di Sessa: Ganhei minha primeira câmera Kodak Rio 400 quando tinha oito anos de idade, no Natal, e depois de acionar o primeiro clique nunca mais deixei de fazê-lo. A câmera tornou-se uma extensão natural de meu olhar e das minhas mãos, uma forma de grifar no dia a dia pequenos encantamentos e, assim sendo, de tentar pro-vocá-los também. É uma linguagem que se cons-tituiu como traço de minha identidade e senso de contato humano. O processo de formação estruturou a minha experiência com o mundo das artes dentro do Curso Técnico de Comunicação Visual no IADÊ, Instituto de Arte e Decoração. A efervescência deste processo educacional foi decisiva na criação de imagens e na compreensão

de procedimentos didáticos para a área de artes visuais. A intensidade da experiência com o mun-do das artes e a descoberta do desenho de obser-vação determinaram que minha escolha de curso superior na FAAP recaísse sobre o único curso, a meu ver, na época, capaz de satisfazer meu anseio em aprofundar-me no setor. Ainda como estu-dante fui estagiária no CONDEPHAAT, onde exercia a função de fotógrafa de patrimônio e bens culturais. A vivência com arquitetos como Rui Ohtake, Nelson Leirner, Julio Abe, Carlos Lemos, entre outros, garantiu uma experiência sólida e um mergulho na produção da imagem fotográfica. Neste momento aparece, migrando da latência para a visibilidade (assim como no processamento químico fotográfico), a minha identidade profissional de fotógrafa.

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VM: O que pensa sobre o ato de fotografar?AS: O ato de fotografar, em meu trabalho, tem como origem o ato de organizar um processo de observação de mundo que sonda a dimen-são formal e estética de tudo o que se coloca à minha frente. Da mínima distância entre o sentido de alguma coisa e de sua forma é que se sustenta minha prática de observação e regis-tro. Então, as formas, os brilhos, as luzes, as tex-turas, as relações fundo/figura são a sua matéria, ainda que tenha a tarefa de documentar algo.Portanto, o ato de fotografar gera um pro-cesso de consciência formal e ressignifica-ção de referências para autor e fruidor, fato que gera também uma dimensão didática.A referência subjetiva em minha prática é que cria o repertório que vai ser usado na atuação

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viagem

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profissional, seja ela enquanto fotógrafa seja ela enquanto docente. VM: Angela, fotografia é arte?AS: Esta pergunta persegue a fotografia desde seu nascimento e acredito que pode ser respondida através de outras perguntas: escrever é arte? dançar é arte? VM: De que forma os lugares, as pessoas e as cenas cotidianas seduzem ou inspiram você para fotografar?AS: Na busca da imagem em campo, eu coloco meu olhar para ser “fisgado” por algo. De maneira geral, é como a luz molda as formas ou pela mo-bilização subjetiva que algo me provoca que sou capturada. Na hora que percebo uma fresta numa dimensão não-verbal das coisas, as apreendo de outra forma e crio a imagem. Podem ser paisagens íntimas que se moldam em referências externas feito um espelhamento, um detalhe de algo que cairia no esquecimento que meu olhar resgata, o sincronismo de estar no lugar certo na hora certa para acionar o disparador. O encantamento é es-sencial: descobrir, através do visor, uma dimensão desconhecida do cotidiano que provoque prazer estético. Portanto, não há dominação ou captura de uma foto, ao contrário, sou fisgada e levada a um lugar onde há potência expressiva, do qual re-torno através de um trabalho de elaboração esté-tica com a imagem fotográfica. O olhar lapidado pela prática do desenho funciona como árbitro para a escolha de territórios plásticos de trabalho. VM: Como nasceu a ideia de fotografar uma região específica da Itália no Projeto Santu Paulu?AS: O ritmo da cidade de São Paulo já havia me incitado a sondá-lo. A exposição urbana diária fez com que inúmeras vezes o vidro dianteiro do carro se transformasse em visor, assim como tantas outras janelas reais ou imaginárias. Porém, um dia, caminhando no meio da cidade, decido fotografá-la. Com o olho amalgamado ao visor, faço caber em mim o que, de fora, também me pertence. Nesse momento, foram os detalhes, os primeiros planos. Eles pareciam delimitar ape-nas o início de uma fronteira de outro lugar longínquo que cutucava para ser visto.No ensaio fotográfico resultante, imagens em primeiro plano pareciam pequenos documen-tos de uma arqueologia pessoal e me indicavam a cartografia da cidade dos meus avós paternos: Polignano a Mare. Entendo que este vilarejo habitava uma dimensão de minha memória e resolvi conhecê-lo. A intensidade da experiên-cia do contato com o lugar de origem de meus ascendentes foi intensa e permitiu o acesso a uma herança cultural que carregava de forma in-

consciente. Me dei conta de que cutucar o solo de uma cidade de imigrantes, como São Paulo, faz emergir outros lugares e que a construção de pontes culturais efetivas é uma necessidade para a constituição de construção de identidade social. Um percurso de mais de dezessete anos de trabalho – mostras de fotografia e atividades culturais – aconteceu entre Brasil e Itália antes da criação do projeto que nomeei “Santu Paulu”. O acesso à produção fotográfica realizada em Polig-nano a Mare, através de exposições, disparou uma interação pública que provocou o meu desejo em ouvir as histórias que as imagens desencadeavam, assim como acessar as imagens de acervos fa-miliares que me eram mostradas por outros des-cendentes. O projeto “Santu Paulu” nasce, então, como uma forma de sistematização e construção de acervo digital audiovisual que é rearticulado para fruição pública na forma de exposições, concertos, workshops e publi-cações que aproximam o descendente desta região, no sudeste da Itália, chamada Puglia. Hoje o projeto possui uma coleção com mais de noventa horas de história oral registrada, seiscentas imagens de família, quatro mostras produzidas, apresentação de concertos musi-cais e publicação de livro de culinária. VM: Em que momento nasceu a ideia de le-var as pessoas aos mesmos locais da Itália? Qual é o seu objetivo?AS: A mobilização que o projeto “Santu Paulu” criou levou à ação efetiva de partilhar não só as imagens, mas a experiência concreta de apresentar aos descendentes puglieses suas cidades de origem. A Puglia provoca, no entanto, um interesse especial, não só di-rigido a seus descendentes.Destaca-se hoje pela atenção com o meio ambi-ente, pela importância dada por seu governador Nichi Vendola à produção cultural, preservação patrimonial e pela prática de turismo sustentável. Vendola apostou na vocação local.A região é chamada hoje, pelos próprios italianos, de “Nuova Toscana”, e se coloca como um des-tino de viagem que é expressão de um comporta-mento contemporâneo que reconhece sofistica-ção na simplicidade.Um dos berços da dieta mediterrânea, a Puglia possui ao menos quatro cidades certificadas pelo movimento slowfood, e outras quatro cidades tombadas como Patrimônio Mundial pela UNESCO. Diante da Croácia, Albânia e Grécia, a Puglia também se tornou conhecida pela qualidade de acolhimento de sua popula-ção. A luminosidade local e a sua paisagem atem-poral tornam Puglia um setting cine-matográfi-co a céu aberto. Pasolini, Lina Wertmuller, Mel Gibson, entre outros, já dirigiram suas

lentes a este lugar. Esta viagem também provoca o participante a explorar o universo da imagem fotográfica. Campos cultivados há séculos, com mais de oito milhões de pés de oliveiras, inspiram a produção de imagens ímpares.Portanto, para além da construção de pontes identitárias com a cidade de São Paulo, a via-gem pode ser a imersão em uma experiência sensorial, enogastronômica e expressiva mui-to gratificante. Desta forma posso partilhar minhas experiências de forma integral – como descendente, fotógrafa e docente. VM: Você considera que o ensino das técni-cas de fotografia possa despertar a vocação artística de seus alunos?AS: A técnica fotográfica pode ser uma fer-ramenta muito eficaz para dar suporte à expressão pessoal dos estudantes, porém, deve-se pretender ir além de seu domínio ao ensiná-la. A confusão entre domínio técnico e qualidade expressiva deve ser evitada. A aquisição de linguagem é um processo mais complexo e delicado.Porém, é inquestionável que o prazer e en-volvimento que a prática desta linguagem provoca permitem a articulação e maturação da expressão visual dos estudantes. VM: Como você vê o panorama artístico atual, com tantas novas ferramentas possíveis em relação à fotografia?AS: As fronteiras expressivas foram muito expandidas com o uso de novas tecnologias de produção de imagens. A quantidade de meios de captação (como o uso de celula-res), de suportes disponíveis para a imagem fotográfica e dos meios de acesso a esta produção ampliaram muito o campo para experimentação e fruição destas imagens. O hibridismo das câmeras que permitem a foto-cinematografia ou a aproximação com o uni-verso da criação gráfica via novos sistemas de impressão dilataram muito o exercício desta linguagem. O domínio técnico na produção de impressos com tinta de pigmento mineral, por exemplo, expandiu a produção fine arts e a consequente formação de um segmento maior de colecionadores de fotografia. VM: O que pretende despertar nas pessoas com suas fotografias?AS: Fotografar é um ato que me constitui. Portanto, é uma das formas que tenho para me relacionar com o mundo. Se puder de al-guma forma tocar uma dimensão mais sensível daquele que vê meu trabalho e gerar um pouco de consciência estética, fico feliz.

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A viagem para Puglia integra as ações culturais do Projeto Santu Paulu, criado e coordenado por Angela Di Sessa desde 2003. A expedição cultural e gastronômica para a Itália leva os visitantes a paisagens cinematográficas. São grupos pequenos, por isso não perca tempo!

Informações: (11) 2601 8318 / 9102 8437

Além da viagem, o Projeto Santu Paulu realiza outras ações culturais, entre elas a realização de um guia turístico da região, que já está na fase de captação de recursos. Aos interessados, visitem o site do projeto www.santupaulu.com.br.

Todas as imagens desta publicação estão à venda. Angela é fotógrafa exclusiva da Galeria de Foto Fineart Lume Photos blogdalumephotos.com

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egadas são aqueles rastros que deixamos ao longo do caminho. Quem nunca deixou suas pegadas na areia da praia ou na lama da beira de um rio durante um belo passeio no final de tarde? Pois bem, essas pegadas

são as marcas de nossa passagem. Fazendo uma alusão ao nosso estilo de vida, podemos dizer que nossos hábitos também deixam marcas por onde passamos. É isto: tudo o que fazemos deixa um rastro que denuncia que, em algum mo-mento, passamos em um determinado local.O mesmo acontece com o nosso planeta. A passagem do ser humano tem deixado mar-cas, e algumas muito profundas, de que estamos passando por aqui. Até pouco tempo atrás, as pessoas não faziam ideia de que seus hábitos poderiam influenciar tanto a vida das outras pessoas e do planeta de forma geral, pois não se tinha a consciência de que uma pequena atitude isolada podia refletir no planeta como um todo.É isto mesmo. Aquele papelzinho jogado na rua, o gotejamento de uma torneira vazando e o simples fato de escovar os dentes com a torneira aberta podem refletir em mudanças ambientais significativas. A tendência das pessoas é pensar que um único papelzinho não fará diferença em um planeta tão grande. Mas, se multipli-carmos esse papelzinho pelos milhões de pessoas que vivem em sua cidade, teremos milhões de pa-peizinhos e milhões de toneladas de lixo.A pegada ecológica nos mostra até que ponto nossa forma de viver é compatível com a capaci-dade que o planeta tem de nos fornecer recursos naturais e de absorver os nossos resíduos. Pode não parecer, mas pequenas ações podem refletir em consequências que nem podemos imaginar. Tanto positivas quanto negativas. Na verdade, a pegada é um cálculo estimativo, que pode ser avaliado tanto individualmente como em relação a uma cidade, a um estado ou país. Para isto é preciso conhecer qual o tipo de vida praticado em cada local, ou seja, há diferenças na pegada ecológica de áreas rurais, litorâneas ou das grandes cidades, pois esse cálculo tem a ver diretamente com o estilo de vida de cada um. Portanto, para a redução da pegada ecológica, é necessário adotar medidas adequadas ao seu meio. A densidade demográfica, o grau de industrializa-ção ou o uso dos espaços definem o tamanho da pegada de cada cidade ou país. E nós? O que podemos fazer para a redução da pegada ecológica? Bem, primeiro é ne-cessário analisar com detalhes a sua forma de viver. Quanto de recursos naturais você consome? De onde vêm esses recursos? Alguns sites especializados ou de Organizações Não-Governamentais reconhecidas podem ajudar nesse cálculo. Neles você encontrará testes que podem avaliar o tamanho da sua pegada.

A pegada ecológica

nos mostra até

que ponto nossa

forma de viver é

compatível

com a capacidade

que o planeta tem

de nos fornecer

recursos naturais

e de absorver os

nossos resíduos.

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Após ter consciência do quanto você impacta no meio ambiente, algumas medidas poderão ser tomadas para reduzi-lo. É comprovado que essas atitudes, ainda que individuais no início, podem contagiar os outros e provo-car uma mudança de comportamento em uma sociedade. O exemplo é o hábito de jogar lixo pela janela do carro. Há alguns anos, era mais comum ver esse tipo de com-portamento; no entanto, hoje, raramente vemos tal cena e, quando vemos, criticamos severamente.Mas vamos à prática. Qual é o tamanho da sua pegada? A simples ação de ir ao supermercado pode despertar o início desse estudo. Ao fazer compras em um su-

permercado, o alimento que você consome é de origem animal ou vegetal? Você trans-porta os produtos em sacolas plásticas ou re-tornáveis? Você vai de carro ou usa um trans-porte mais sustentável? E por aí vai.Na sua casa, você usa lâmpadas tradicionais ou lâmpadas econômicas? Que tipo de eletrodo-méstico você usa? Você deixa eletrodomésticos ligados quando não está usando? O que você faz com os resíduos produ-zidos na sua casa? Estes são alguns exemplos do que pode se considerar quando efetuamos o cál-culo da nossa pegada. Além disso, você pode avaliar o impacto do tipo de transporte utilizado,

tipo de alimentação, consumo de água, energia. O objetivo da pegada ecológica não é torná-lo vegetari-ano ou fazer com que você viva em uma aldeia longe da civilização, mas, sim, sensibilizar as pessoas de que todos são responsáveis pelo que ocorre no planeta, e que é esse planeta que nossos filhos e netos vão habitar.Alguns leitores podem dizer: isso tudo é muito bonito, mas na prática tem um resultado muito pequeno para o ambi-

ente e repercussões muito significativas para a economia e a sociedade. É verdade. No início pode parecer que mudanças de hábitos indi-viduais pouco vão significar coletivamente, mas ao longo do tempo essas atitudes podem se multiplicar e, assim como se proliferaram para um consumo desenfreado dos recursos naturais, podem perfeitamente tomar o rumo inverso. Além disto, podem, sim, representar profundas mudanças para a sociedade e para a economia – mas, neste momento, vamos abor-dar apenas a questão ambiental. Entendo que as outras questões merecem um artigo à parte.O que fazer para reduzir a sua pegada ecológi-ca? De imediato, podemos dar algumas dicas práticas para melhorar a qualidade do ambiente. Reduzir o tempo do banho, fechar as torneiras enquanto não está utilizando a água, desligar as luzes dos ambientes ao sair, utilizar lâmpadas econômicas e separar o lixo reciclável podem ser as medidas mais fáceis. Outras, um pouco mais complicadas, são: deixar de usar sacolas plásti-cas, deixar de usar seu carro pelo menos um dia na semana ou usar mais o transporte público, re-duzir o consumo de alimentos de origem animal e, ao fazer compras, escolher produtos naturais, orgânicos ou certificados.Agora, tem aquelas medidas que para alguns são quase impossíveis, pelo hábito ou pelo custo. São elas: não usar o carro com frequência, utili-zar energia alternativa (energia solar, eólica etc.), utilizar água de chuva para lavar quintais e calça-das e só andar a pé ou de bicicleta. Ufa! Estas últimas são difíceis mesmo! Mas é claro que algumas destas sugestões você pode seguir e convencer seus pares a fazê-lo. Tente. Mude a sua vida e a dos outros também. E ga-ranta aos seus filhos uma vida um pouco melhor.

O objetivo da pegada

ecológica não é

torná-lo vegetariano ou

fazer com que você viva

em uma aldeia longe da

civilização, mas, sim,

sensibilizar as

pessoas de que todos

são responsáveis pelo

que ocorre no planeta,

e que é esse planeta que

nossos filhos e netos

vão habitar.

Rubens Borges é Administrador, Especialista em Educação Ambiental e Secretário Executivo do Fundo

Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FEMA).

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A experiência

ajuda, sim,

mas ela sozinha não

é segurança de

acerto, de sucesso.

Cada personagem é

novo e traz novos

desafios.

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entrevista

Versátil Magazine: Quando você leu o texto pela primeira vez,Tania, com qual personagem se identificou primeiro e por quê?Tania Bondezan: Essa é uma ótima pergunta, que me faz re-fletir sobre as personalidades das três mulheres retratadas napeça. A princípio me identifiquei mais com a Lena, não tantopor sua irreverência, mas por sua generosidade e alegria.

VM: Qual momento da peça você considera ser o auge em relação à capacidade de amar? TB: A Lena não perde a lucidez e tem sempre uma opinião críticaem relação às atitudes da filha, mas o amor está sempre presente,como pano de fundo entre as duas. Acho que a maior prova deamor que existe entre elas é a aceitação mútua, o perdão.

VM: Tania, a relação de mãe e filha, embora traga invaria-velmente amor e conflito, é uma relação imprescindível? Épossível substituir esse tipo de amor? TB: Não há dúvida de que o amor entre as mães e seus filhos éabsoluto, porque as mães aceitam, protegem, cuidam, mimam,estragam, educam e são nossos portos seguros nas agruras davida. Esse tipo de amor é imprescindível, mas não insubstituível,porque se não, quem não tem sua mãe ao lado não conseguiriacrescer como um ser humano saudável e feliz. E a gente sabe queé possível, sim, se houver cuidados e amor.

VM: Mãe e filha eternamente se encontram, inclusive na rivali-dade. Como você vê esta questão depois de interpretar a Boina?Acha que a mãe costuma ter razão quando diz proteger a filha? TB: Acho que a mãe, do seu jeito torto, está sempre tentandoproteger a filha, sim. Mas tudo nelas é tão diferente, que sempre

há o desencontro. A rivalidade entre elas fica mais no plano das ideias, no modo de encarar a vida. A oportunidade de fazer as duas personagens traz a redenção e é, ao mesmo tempo, um exercício delicioso para o ator, porque você tem que defender o que antes criticava.

VM: Quais foram as suas grandes alegrias com o texto Ciranda?TB: Sem dúvida, o encontro com as pessoas que fizeram esse projeto acontecer. Nada substitui esse grande amor que une as pessoas em torno de um sonho.

VM: O texto coloca muito bem a questão da sabedoria que vem com a maturidade. Você se sente madura profissionalmente? TB: Sem dúvida, o tempo ajuda, diminui a ansiedade, traz no-vas reflexões. A experiência ajuda, sim, mas ela sozinha não é segurança de acerto, de sucesso. Cada personagem é novo e traz novos desafios.

VM: O que você gostaria de despertar no público feminino com sua interpretação em Ciranda?TB: A necessidade do perdão. Perdoar não só quem te magoou, mas principalmente perdoar a si mesmo, porque eu acredito ser essa uma das causas que mais nos adoecem.

VM: Qual é o seu grande sonho como atriz? TB: Continuar trabalhando sempre, com pessoas que eu admiro, como agora. É pedir muito? Como diz D. Quixote, “quando se sonha sozinho é apenas um sonho, quando sonhamos juntos é o começo da realidade”.

A magia do espetáculo Ciranda, escrito por Célia Forte e protagonizado pela atriz Tania Bondezan, começa já na abertura das cortinas. O cenário primoroso de Fábio Namatame, também figurinista da peça, tem tons vermelhos e leva o espectador imediatamente aos anos 1960/70, numa verdadeira tradução para o termo “psicodélico”.

O local é a casa de Lena, personagem vivido por Tania Bondezan, uma mulher que parece ter chegado de Woodstock a pé, mãe de uma mulher refinada, executiva, casada, com uma filha pequena. Boina (nome odiado pela moça), a filha de Lena, é interpretada também pela atriz Daniela Galli. Na peça, mãe e filha vivem em constante conflito. Parecem universais os argumentos utilizados na obra, como conflito entre gerações, rivalidade feminina, valores capitalis-tas entre outros. Mas a condução do espetáculo e a direção (ótima!) de José Possi Neto levam a plateia à identificação com as histórias, vivências e, acima de tudo, a rever suas “verdades”. No mais, a peça é uma emocionante ode ao amor. Saí de lá “disfarçando” e me deparando com pessoas no mesmo estado. Levem uma caixinha de lenço...

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Abraçar quem

se ama, no

sentido amplo

do significado

amar, é algo

extremamente

revigorante.

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entrevista

Versátil Magazine: O teatro apareceu para você como paixão ou consequência de seu trabalho como jornalista?Célia Forte: Antes de ser profissional da área já era espectadora. Teatro sempre fez parte da minha vida, ou ao contrário (rs)... Quando a Selma Morente e eu resolvemos nos dedicar, tanto como assessoras assim como produtoras, apenas para as artes cênicas, foi a plenitude!

VM: Célia, em qual momento você se percebeu como escritora? CF: Ainda não me percebi...

VM: Conte um pouco sobre a arte de escrever. Como você inicia um texto? Há aquele usual en-trave no início ou não? CF: É uma inspiração absoluta, não sei de onde vem e sou grata por isso, pela inspiração. A história, quando surge, já tem começo, um pouco do meio e o final.

VM: Em quem você se inspira quando pensa em literatura? CF: Na verdade, leio literatura muito menos do que gostaria. Leio dramaturgia, os clássicos e contem-porâneos.

VM: E no teatro, quais as suas grandes referências? CF: Ah, Paulo Autran e só citarei ele como símbolo pra mim.

VM: Você se sente realizada profissionalmente? CF: A palavra “realizada” é muito ampla e, conse-quentemente, difícil de mensurar.

VM: Pretende continuar escrevendo textos para teatro? CF: Já estou escrevendo e escrevendo e escrevendo...

VM: Como é receber tantos elogios da crítica? Isto traz motivação ou você sente ainda mais o peso, o compromisso de trazer qualidade a cada trabalho novo? CF: A crítica sempre será a opinião de uma única pessoa. Sempre. Mas quando calha de ser a mesma opinião que a do público, aí é o Éden... Isso dá prazer e medo imediatos.

VM: O que gostaria de despertar no público feminino com a peça Ciranda? CF: Vontade de abraçar quem se ama. Seja femi-nino ou masculino. Abraçar quem se ama, no sen-tido amplo do significado amar, é algo extrema-mente revigorante.

VM: O que lhe faz sonhar? CF: “Vixe...”

CIRANDA. Texto: Célia Regina Forte.

Duas gerações de mãe e filha da mesma família com

visões e conduta completamente diferentes entre

si norteiam a história. Com muita tinta e lente

de aumento, os relacionamentos são retratados com

humor ácido e ironia, levando às últimas consequências

as diferenças entre elas. Direção: José Possi Neto.

Com Tania Bondezan e Daniela Galli. Teatro Eva Herz.

Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2.073, Bela

Vista, (11) 3170 4059.

Até 29 de setembro.

Quando a Selma Morente

e eu resolvemos nos dedicar,

tanto como assessoras

assim como produtoras,

apenas para as artes cênicas,

foi a plenitude!

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gastronomia

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tão normal termos medo do novo? Apon-tar algo inovador e criticar antes mesmo de conhecer? E, quando menos percebemos,

esse novo já se tornou uma tendência enraizada. Isto acontece desde sempre em nossa sociedade, com novas roupas, músicas e até mesmo comidas. A valsa, por exemplo, não foi bem aceita na con-servadora Inglaterra no início do século XIX:

“É com pesar que comentamos que a indecente dança estrangeira chamada Valsa foi introduzida (acreditamos que pela primeira vez) na Corte In-glesa na última sexta-feira... Basta baixar os olhos no encaixe voluptuoso dos braços, e no contato próximo dos corpos em sua dança, para perceber que esta dança está muito longe da reserva modes-ta que se espera de distintas mulheres inglesas. Na época em que este obsceno espetáculo estava con-finado a prostitutas e adúlteras, nós não o julgáva-mos digno de nota; mas agora que há a tentativa de forçá-lo para as classes respeitáveis da sociedade, pelo exemplo maligno de seus superiores, nós nos sentimos no dever de alertar cada pai contra a ex-posição de suas filhas a tão fatal contágio.” The Times of London, 16 de julho de 1816*

O mesmo ocorreu com a gastronomia tecnoemo-cional, ou de vanguarda (que um dia talvez seja chamada de clássica ou antiga), difundida por Ferran Adrià, que no início foi muito contestada. E o pior, talvez, é que, além das críticas iniciais,

passou a ser excessivamente comentada por muitos que apenas

haviam ouvido falar dessa nova cozinha. E se fa-lava por aí “eu não pago 300 euros para comer espuma”. Certamente Adriá contribuiu com mui-to mais do que espumas que, por sinal, ele já não servia no cardápio há dez anos. E continuávamos a ler comentários preconceituosos como “não aguento mais espuma”. Alguém veio comendo muita espuma nos últimos meses? Improvável.

Independentemente das críticas e dos elogios, Ferran se aposentou parcialmente fechando seu principal restaurante, mas deixou um grande le-gado para cozinheiros que trabalharam com ele no El Buli, como René Redzepi, chef do Noma (considerado o melhor do mundo pela revista The Restaurant) e outros, como os brasileiros Helena Rizzo e Alex Atala, que beberam muito em sua fonte e sabem transportar inteligente-mente o princípio de suas técnicas com ingredi-entes locais, criando algo sempre novo.

Há também os imitadores do modelo do restau-rante catalão ao redor do mundo, que copiam sua técnica, mas não criam nada novo. Isso deve durar um tempo, enquanto for novidade, até todas as pessoas terem acesso à gastronomia de vanguarda.

O falecido Santi Santamaria – o maior crítico e opositor da gastronomia tecnoemocional – dizia que tudo isso era apenas moda, que sua cozinha, a tradicional, iria perdurar para sempre. Que me desculpe (e que esteja bem do outro lado), genial é, agora, a apropriação dos ingredientes e das téc-

nicas da gastronomia de

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CHOCOLATE AMARGO. O chef Gordon Ramsay, do programa “Hell’s Kitchen”, abre o jogo e narra com detalhes sua vida. Da infância pobre, na Escócia, ao topo da gastrono-mia londrina. Um ótimo livro para os fãs do chef e uma grande história de superação e sucesso para aqueles que ainda não o conhecem. Editora Best Seller.

AMEI, PERDI, FIZ ESPAGUETE. Giulia Melucci. A autora é uma garota italiana do Brooklyn que adora cozinhar para seus pretendentes. Na busca pelo homem perfeito, encon-tra relacionamentos fracassados. Ela narra a própria história, incluindo deliciosas receitas que afastaram vários homens de um compromisso amoroso. Editora Record.

DICAS DE LEITURA

Gabriel [email protected]

Twitter: @leicand

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vanguarda em pratos corriqueiros. Um caso gozadíssimo é a pizza de alho negro (ingrediente coreano redesco-berto por Adrià), a nova moda paulistana. Ou os drinks moleculares das boates, como caviar de tequila sunrise, azeitona de mojito ou macarrão de caipirinha. Não pa-rece, mas deixam bêbados.

É como a Nouvelle Cuisine – movimento encabeçado por Paul Bocuse, Alain Chapel, Pierre Troigros (sim, o pai do que está agora no Brasil), Roger Vergé e outros – que propôs a utilização de ingredientes mais frescos, cozer menos os alimentos para valorizá-los mais, di-minuir a quantidade de gordura dos pratos, colocar me-nos molhos e servir porções menores. Hoje, não é pos-sível pensar a comida sem esse movimento. Tudo o que comemos, em qualquer restaurante do mundo ocidental, foi baseado nesse movimento revolucionário do final da década de 1960. Inclusive a comida de Santi Santamaria.

Aconteceu a mesma coisa com a Semana de Arte Moderna de 1922. Criticaram os modernistas, que não foram bem compreendidos. Passado um tempo, não podemos mais pensar a cultura sem aquela ruptura tão bem absor-vida. Como foi a valsa para os britânicos do século XIX. Foi assustador no começo. Depois se tornou usual. A mesma coisa acontecerá com a gastronomia tecnoemocional. Será conservadora como dançar o “Danúbio Azul” em casamentos.

*Livre tradução do autor

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literatura

érgio Napp lançou recentemente

o livro Menino Com Pássaro ao

Ombro, que tem ilustrações de

Walther Moreira Santos, pela editora Artes e

Ofícios, de Porto Alegre (RS).

O autor é gaúcho da cidade de Giruá e tem

várias publicações em jornais de Porto

Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Como

compositor, tem um trabalho especial, pre-

miado em diversos festivais.

A obra conta a história de um garoto que car-

rega no ombro um pássaro capaz de observar

os fenômenos do cotidiano com muita sensi-

bilidade. A poesia que acompanha o menino

faz com que suas aventuras sejam únicas e

cheias de beleza. Belas, e também poéticas,

são as ilustrações do livro.

Duas dezenas de títulos e, agora, Menino com Pás-saro ao Ombro: o que ele representa na sua trajetória de ficcionista?Sérgio Napp: Um livro a mais com gostinho de sonhos realizados. Menino nasceu há muitos anos dentro de um projeto amplo (pelo qual nenhuma edi-tora se interessou). Seriam três livros infantis (um para cada irmão), três livros infanto-juvenis com os perso-nagens adolescentes e, por último, um sétimo livro, adulto, com os personagens de volta à fazenda de onde saíram. Os infantis foram escritos: Menino Com Pássaro ao Ombro (Artes e Ofícios) e A Pedra do Conhecimento (Paulinas). O terceiro aguarda por uma boa alma (editora). Selecionei muito as editoras, pois queria os livros com a melhor qualidade possível. E não é que consegui? Outro sonho é a publicação pela Artes e Ofícios, há muito acalentada. Os meninos, hoje, têm o pássaro azul do twitter pousado em seu ombro? Há lugar para o pássaro da poesia e do sentimento nesta realidade de agora?SN: Há. Sempre haverá. Toda a parafernália eletrônica existente não será capaz de vencer o encantamento. E é ele que faz brotar a poesia e o sentimento. Por incrível que possa parecer, as pessoas ainda sonham

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hoje em dia. Ainda têm expectativas, esperan-ças. A eletrônica é uma das formas de canalizar sentimentos. Não é sem razão que as pessoas se ligam, através do twitter e do facebook, a dezenas de outras pessoas na ânsia de se co-municar, de tratar de seus problemas. Cada um deseja alguém que o ouça e, ao mesmo tempo, se propõe a ouvir.

A imaginação da garotada viaja para onde hoje?SN: É difícil responder. Mas, se levar em conta meus contatos com a garotada em salas de aula, a imaginação delas continua ativa. Com grandes diferenças, é claro. Quando crianças, ouvíamos rádio e íamos, vez ou outra, ao cinema. Nestas viagens, nos-sa imaginação brotava levando tudo por diante. Penso que foi aí o meu caminho como escritor. Hoje, a imaginação se faz de forma diferente, mas ainda se faz. Isto é perceptível por onde ando. Não fora assim, de onde os escritores tirariam tantas histórias?

“Ninguém pode com um menino que leva um pássaro ao ombro”, afirma o livro. A leitura, o prazer de escrever, a descoberta das tramas da escrita: como incutir nos jo-vens a busca por uma “vida apetitosa” de que também fala a história?SN: Não há fórmula. É um processo. Vim de uma família que não lia, e eu acabei me tornan-do um leitor ávido. Ao mesmo tempo, conheço famílias em que os pais são leitores/escritores e os filhos não leem. Ninguém é obrigado a ler, como ninguém é obrigado a gostar de alguém. É um tanto quanto aleatório. Importante é despertar a curiosidade e regá-la com carinho, para que a planta não morra. Os legionários do Harry Potter não me deixam mentir. O que mudou, desde que se mobilizou para contar histórias em verso e prosa, no mundo da literatura?SN: Muita coisa. A qualidade, o carinho, o trabalho com o livro. Um livro como este, há alguns anos, seria impensável. Antigamente,

qualquer ilustração seria bem-vinda. Hoje, um livro infantil sem uma ilustração cuidadosa, parece faltar um pedaço. Hoje o livro viaja, e sei que posso encontrar o Menino Brasil afora. A internet, neste sentido, é uma ferramenta de alta qualidade. Na sua infância, conforme enfatiza em seu depoimento no livro, não havia quem lhe contasse histórias, mas a força da fantasia suplantou esta realidade. O que falta, afinal, para que o Brasil tenha mais gente lendo e também escrevendo para ser lido?SN: Escritores há de sobra. Para cada um que publique, três ou quatro tentam uma chance. Ninguém deixará de ler por falta de livros. A distribuição é um dos problemas. Há mais editoras que livrarias neste país. Na leitura há algo de mágico: é preciso que alguém se disponha a contar uma história para que esta história seja repetida e recontada, e, muitas vezes, se torne outra história. Não há uma palavra mágica que faça com que mais gente leia (se houvesse, o mundo seria muito chato). É preciso um trabalho cotidiano, dedicado, cheio de boa von-tade para transformar alguém em leitor. Fundamental: não se deve tornar a leitura obrigatória. Cada pessoa é uma pessoa, e ela tem o direito de escolher o que deve ler. Se não houver disposição, prazer, alegria, encantamento, não haverá leitores. As fantasias que povoam os quartos de meninos e meni-nas nestes tempos de virtualidade são tão fortes quanto as da época da sua meninice?SN: Talvez mais, vai saber. Talvez os sonhos sejam mais inten-sos, os desejos mais fortes do que os que acudiam meninos do interior em épocas pré-eletrônicas. Nosso mundo, pro-porcionalmente, era maior. Não havia muros, grades. Não éramos levados à escola, íamos sozinhos ou em grupos. Nos-sas brincadeiras eram ao ar livre e coletivas. Talvez, tivéssemos mais liberdade, não sei. Não sou passadista (“no meu tempo era melhor”), mas as diferenças são enormes. Gosto de lem-brar esta liberdade e estas brincadeiras em meus textos, não para traçar paralelos, mas para que a garotada de hoje saiba que brincávamos, e muito, com o pouco que tínhamos. Talvez as brincadeiras de hoje sejam mais emocionantes. As nossas eram mais simples, com certeza, mas nem por isto menos agradáveis.

Entrevista concedida à Editora Artes e Ofícios.

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Fundamental: não se deve tornar a leitura obrigatória. Cada pessoa é uma pessoa, e ela tem o direito de escolher

o que deve ler.

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AS COISAS DA VIDA. (1) António Lobo Antunes. O es-critor é um dos mais importantes autores de Língua Portu-guesa e conquistou tal patamar através de romances. Nesta obra, uma faceta menos conhecida: a de cronista. São 60 textos publicados no jornal Público e na revista Visão, de Portugal. Editora Alfaguara.

BYRON APAIXONADO. (2) Edna O’brien. Trad.: Mauro Gama. Segundo a autora, o escritor inglês sempre foi rebelde e adorava propagar notícias escandalosas. Neste livro, Edna aponta que esse comportamento foi, talvez, a razão de seu estilo, e traça um retrato do poeta e de suas paixões. Editora Bertrand Brasil.

CASADOS COM PARIS. Paula McLain. Trad.: Celina Portocarrero. A obra revela uma face desconhecida do es-critor Ernest Hemingway durante a conturbada história de amor com Hadley Richardson. Na Paris da década de 1920, nos chamados Anos Loucos, a narrativa se dá sob o ponto de vista da esposa. Editora Nova Fronteira.

CINEMA: O DIVÃ E A TELA. (3) Enéas de Souza e Robson de Freitas Pereira. Os textos focalizam filmes como Fale com

Ela e Tropa de Elite2. Os psicanalistas debatem as relações entre cinema e psicanálise tendo como pressuposto que as manifesta-ções artísticas captam as metamorfoses da subjetividade. Editora Artes & Ofícios.

DEFESA DO MARXISMO. José Carlos Mariátegui. Trad.: Carlos Coutinho. Marxista para quem teoria e militância são inseparáveis, o autor peruano é um expoente da filosofia con-temporânea. Discute temas históricos, políticos e culturais da América Latina em ensaios que priorizam a comunicação com as massas. Boitempo Editorial.

É RINDO QUE SE APRENDE. (4) Marcelo Tas. O livro tem como base uma entrevista de Marcelo Tas a Gilberto Dimenstein, na qual conta experiências e revela como o prazer de aprender orientou sua vida, mencionando personagens que o influen-ciaram. Com o DVD Marcelo Tas - Um Comunicador Educa-dor. Editora Papirus.

FILOSOFIA POP - PODER E BIOPODER. Marcia Tiburi. A Filosofia Pop, para a autora, é um modo de relacionar a pesquisa cuidadosa, o ensaio corajoso e o pensamento conse-quente sobre conteúdos desprezados pelos sistemas intelec-tuais moralizantes, que julgam, sem critérios, o que merece ou não ser estudado. Editora Bregantini.

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cultura versátil

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GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA AMÉRICA LATINA. (5) Leandro Narloch e Duda Teixeira. Para os autores, a história da América Latina pode ser diferente do que aprende-mos na escola. Eles afirmam, entre outras ideias polêmicas, que Fidel Castro foi capitalista e que os Incas aprovaram a dominação espanhola. Editora LeYa.

JORNALISTAS INTELECTUAIS NO BRASIL.(6) Fábio Pereira. Entrevistando nomes da imprensa brasileira, o autor mostra como conciliam artes, universidade, militância política. Uma das questões é até que ponto a mudança na identidade e nas práticas do jornalista afastaram valores da intelectualidade. Editora Summus.

LUGAR E MÍDIA. (7) Angelo Serpa. Angelo Serpa mostra como os lugares de ocorrência de iniciativas populares encontram rebati-mento na ação e no discurso dos grupos protagonistas das cidades pesquisadas e como as rádios comunitárias e o universo virtual da internet veiculam o cotidiano. Editora Contexto.

MEU TIO LOBISOMEM. (8) Manu Maltez. Músico e desenhista, Manu tem uma feliz estreia literária. O conto traz a memória infantil de conviver com o tio no interior de São Paulo. Traços em preto e branco dialogam com outras linguagens. Na versão impressa, ilustrações do autor; no e-book, trilha sonora e animações. Editora Peirópolis.

MONSIEUR PAIN. (9) Roberto Bolaño. A obra é repleta de temas caros à literatura de gênero, como o ocultismo, a busca detetivesca e a confusão entre sonho e realidade. Na Paris do entreguerras, Pain é contratado por madame Reynaud para ajudar o sul-americano Vallejo. Logo o protagonista se encontra en-volvido em uma conspiração muito maior do que imaginava. Companhia das Letras.

O FEITIÇO DA ILHA DO PAVÃO. João Ubaldo Ribeiro. Uma epopeia ágil e bem-humorada sobre os habitantes de uma ilha imaginária na costa da Bahia, na época do Brasil colonial.

O local representa matizes, pontos de tensão e glórias de um povo numa obra que mergulha na identidade brasileira. Editora Alfaguara.

O INOCENTE. (10) Scott Turow. Trad.: Domingos Demasi. Na sequência de Acima de Qualquer Suspeita, Rusty, um respeitado juiz-presidente, é acusado de assassinar a es-posa. Com insights sobre o lado sombrio da psique humana e do sistema judiciário, Turow prova novamente sua genial capacidade de criar suspenses. Editora Record.

O VERSO DO CARTÃO DE EMBARQUE. (11) Felipe Pena. O autor visitou os pacientes psiquiátricos da Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, para construir a obra. “É um livro sobre a irracionalidade dos rótulos, sobre os estereótipos, sobre a avareza cognitiva com que julgamos e somos julgados”, diz o autor. Editora Record.

OCTAEDRO. Julio Cortázar. O mestre do conto curto e da prosa poética no auge da criatividade. Oito contos se ligam através da unidade da linguagem, mas trazem relatos distintos. Em todos o real é interpretado como inseparável do imaginário, supondo a existência de uma ordem que desconhecemos. Edições BestBolso.

OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA GUERRA FRIA. (12) Fernando Morais. A aventura dos espiões cubanos em território americano mostra os tentáculos de uma rede terrorista com sede na Flórida e ramificações na América Central. Segundo o autor, a rede tem o apoio dos EUA com certa complacência do Executivo e do Judiciário. Companhia das Letras.

UM TRABALHO SUJO. (13) Christopher Moore. Charlie Asher, depois de anos de uma vida tranquila, torna-se um funcionário da Morte, função bem estranha. Após falar da juventude desregrada de Jesus em O Cordeiro, o cultuado autor agora ataca a morte. Uma história hilária, com personagens divertidos. Editora Bertrand Brasil.

Chegou às livrarias mais uma aprontação do Saci, com suas brincadeiras travessas. É o livro de contos Saci, da Editora Mundo Mirim, lançado na Livraria da Vila (Vila Madalena). São sete histórias, cada uma de um saciólogo. E são sete ilustradores diferentes, que fizeram um belíssimo livro. Na vida do Saci, o número sete aparece sempre, em quase tudo. Os sacis nascem em grupos de sete, saindo de um taquaruçu (um bambu de gomos grandões) em noites de tempestade. Sete em cada taquaruçu, mas às vezes vários bambus desses se abrem de uma vez, e em cada um deles há sete sacizinhos dentro, como você pode ver na história Saci na fazenda, contada por Marcia Camargos.Ele se adapta facilmente a muitas situações, e assume certas formas muito estranhas, como conta Robson Moreira com seu Saci miçanga. E às vezes nem é um negrinho. Por exemplo: no bairro da Liberdade, em São Paulo, onde moram muitos japoneses, ele tem até sotaque japonês. Quem conhece japoneses pode comprovar, na língua deles não

existe a letra L, eles pronunciam R, conforme nos conta Dilair Aguiar.Na história contada por Flávio Paiva, ele – defensor do meio ambiente – aparece em brincadeiras infantis, cantando e rimando. Luís Manetti tentou pegar um Saci quando era criança e Paulo Pele viu de perto as aprontações dele na roça.Rudá K. Andrade teve contato com um Saci aprontador no norte de Minas, o Sacy Fubá (com y mesmo). Por falar em fubá, quem não tem curiosidade sobre o que o Saci come? Pois no final tem o cardápio do Saci, segundo o pessoal da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), que por sinal receberá os direitos autorais do livro.

SACI NOVO NO PEDAÇO

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PRONTA PARA AMAR. Uma mulher descobre que está morrendo de câncer quando conhece aquele que pode ser o homem da sua vida. A possibilidade de estar se apaixonando assusta mais do que a própria morte Direção: Nicole Kassell. Com Kate Hudson, Whoopi Goldberg, Gael García Bernal. Estreia: 16 de setembro.

A HISTÓRIA DE NÓS 2. Texto: Lícia Manzo. A comédia conta as aventuras e os desencontros de um casal separado que revê a própria história na noite em que o marido vai buscar seus pertences no apartamento. Direção: Ernesto Piccolo. Com Alexandra Richter e Marcelo Valle. Teatro Gazeta. Avenida Paulista, 900, Bela Vista, (11) 3253 4102.

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TEATRO por Claudia Liba

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ELVIS & MADONA. A história de amor entre Elvis, uma entregadora de pizzas, e Madona, travesti que sonha em produzir um espetáculo de teatro de revista. Na trajetória, humor, drama e uma dose de suspense. Direção: Marcelo Laffitte. Com Simone Spoladore, Maitê Proença, José Wilker. Estreia: 23 de setembro.

CINEMA por Claudia Liba

CataDores. Texto: Cláudia Maria de Vasconcellos. Inspirado em Esperando Godot, de Samuel Beckett. Dois clows em crise existencial investigam mis-térios e dores da alma humana. Direção: Jairo Mattos. Com Paulo Gorgulho e Jairo Mattos. Participação especial: Maestro Marcello Amalfi. Teatro Eva Herz. Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2.073, Bela Vista, (11) 3170 4059. Até 09 de outubro.

CONVERSANDO COM MAMÃE. Texto: Santiago Carlos Oves. A trama conta a história de um homem bem su-cedido, casado, dois filhos, que perde o emprego. Para amenizar o problema, decide vender o apartamento onde mora sua mãe. Direção: Susana Garcia. Com Beatriz Segall e Herson Capri. Teatro Folha. Avenida Higienópolis, 618, Higienópolis, (11) 3104 4885. Até 11 de novembro.

EU QUERIA TER A SUA VIDA. Mitch e Dave eram grandes amigos, mas o passar do tempo tornou-os distantes. Dave é ad-vogado, casado, com filhos; Mitch, solteiro, sem responsabilidades. Após uma noitada de bebedeira, um assume o corpo do outro. Direção: David Dobkin. Com Ryan Reynolds, Jason Bateman. Estreia: 23 de setembro.

MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL. Um homem e uma mulher são vizinhos de apartamento, mas só se relacionam via internet. Melhor Longa-Metragem Estrangeiro, prêmio do Júri Popular e Melhor Diretor no Festival de Cinema de Gramado 2011. Direção: Gustavo Taretto. Com Javier Drolas e Pilar López de Ayala.

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eonor, ainda es-tou passada com a triste notícia

e torço para que não se deixe abater; homens são todos iguais mesmo. Onde já se viu, só por causa daquele sotaque, é verdade, um tanto sedu-tor, seu venezuelano es-perava que aceitasse ser apenas mais uma? Ah, minha querida, pode ter certeza, entendo sua posição, aliás, devo dizer, muitas noites imaginei cada uma delas com aquele homem – que sem vergonha! De fato, concordo: como você poderia esperar que um doutor em física, de físico avantajado, compleição de um deus grego – quase tombado patrimônio histórico e cultural das mulheres –, um tal que você teve o privilégio de conhecer num simples simpósio internacional de gente endinheirada viesse a ter outra “Amélia” em terra natal? Nunca esqueço o dia em que me contou dos talentos cu-linários do imprestável. E não é que além de tudo ele cozinhava bem?! Quando você chegava em casa, o jantar já estava posto, vinho à mesa, e o “Adão” ao seu pé de ouvido dizendo: “usted no deberia trabajar tan duro, mi amor”. Leonor, isso lá é coisa que se divulga entre verdadeiras amigas?! Sua danadinha. Mas, de fato, você nem pode imaginar o sentimento que me toma ao saber do seu desenlace. Todo sábado, dia em que finalmente me coloco em ordem nas artes do amor com meu marido – quando o infeliz não me aparece indisposto por con-ta do futebol regado a churrasco – vem à lembrança a forma sutil com que você me deixava bem informada de que com

vocês era todo dia. O venezuelano não negava fogo! Que dó, você vivia mesmo cansada, talvez por isto não tivesse mais tempo para as amigas! Devo dizer que essa

sua carta me pegou de surpresa, enfim, foi um ano inteiro sem que nos falássemos! Lógico que

compreendo: um ano de hibernação idílica e amorosa

pode ocupar uma vida inteira. Mas, Leonor, querida, não se larga

um homem daqueles na calçada – você nem mesmo deixou-o entrar para alguma explica-

ção, mentirosa ou não, que rendesse uma despedida? Só uma louca para deixar um artigo daqueles no meio-fio. Ho-mens são todos iguais, mas esse seu estrangeiro não podia ser relegado a um assento sanitário, merecia uma boa reciclagem. Sinto realmente por vocês, mas espero que não se importe, afinal, você faz questão de ser a exclusiva, no que concordo plenamente, mas Manuel Hernandes, esse Venezuelano – e que castelhano – ligou para mim naquela noite, e fazia tanto frio, muito mesmo. Resta-me, se me permite, um conselho: querida, para de reclamar de barriga cheia! E... seja mais com-preensiva com o mundo.

Obs.: O jantar estava maravilhoso.

Antonio Gomes é músico, compositor e escritor.

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