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Versátil Magazine Edição 26

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Confira aqui a edição 26 da Versátil Magazine.

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Carolina Carvalho De Rose é Professora de Yoga e Yogaterapia. carolina-carvalho.blogspot.comwww.yogapequenaindia.com

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editorial

Versátil Magazine é uma publicação mensal, distribuída gratuitamente e não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação fornecida, bem como pelas opiniões emitidas nesta edição. Todos os preços e informações apresentados em anúncios publicitários são de total responsabilidade de seus respectivos anunciantes, e estão sujeitos a alterações sem prévio aviso. É proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens publicados sem prévia autorização.

Publisher Claudia Liba

JornalistasThaila Anjos

Rodolfo PoppiDiogo Figueiredo

RedaçãoValéria Diniz [email protected]

Thaila AnjosRodolfo Poppi

Edição de Texto e RevisãoValéria Diniz

FotógrafoDaniel Sodré [email protected]

Pré-impressão, impressão e acabamentoW Gráfica

Foto de capaAlexandre Ermel

DesignBerg [email protected]

ColaboradoresAlexandre Lourenço – Diversatilidade

Carolina Carvalho De Rose – CotidianoClaudia Ramos Lessa – Negócios e Cidadania

Daniel Pereira – LivrosFrancisco Marcos Dias – Cidadania

Gabriel Leicand – GastronomiaOctávio Pella Legramandi – SaúdeRubens Borges – Meio Ambiente

Agradecimento EspecialRenata de Lima Santos

Distribuição Butantã, Jardim Guedala, Jardim Rolinópolis, Jardim Previdência, Vila Sônia, Vila Indiana, Cidade Universitária, Jardim Bonfiglioli,

Parque dos Príncipes, Vila São Francisco, Jardim Esther e Granja Vianna.

PARA ANUNCIARTELEFONE PARA NÓS (11) 8851 7082 / 3798 8135ou envie uma mensagem para [email protected]

Olá!

Preparamos uma edição tão especial, que dá gosto entregar aos nossos leitores, amigos, anunciantes e parceiros.Começando pela capa, eu sempre quis conversar com ela. Todos os personagens de Denise Fraga são tão verdadeiros porque devem nascer da sua própria experiência com a vida. Da luta pelo teatro

que não poupa nem ela mesma para fazer o público se emocionar. De se “maltratar“ou de se “superar”, já não sei avaliar, em busca da perfeição em cena. Mas sem dúvida, os olhos da menina tímida parecem captar tudo. Depois, ela transforma em riso ou outra emoção que toca o espectador e o induz à reflexão. E o papel de quem se comu-nica é difícil, porque requer leveza. Partiu disto minha vontade de falar com ela. Gostei muito de constatar a grandiosidade que nela se mostra em forma de uma virtude tão rara nessa sociedade competitiva: a humildade. Com o intuito de convidar o leitor à reflexão, a edição traz também Rubem Alves, figura respeitadíssima no meio acadêmico, que traduz o que acredito sobre educação. Ele defende a afetividade como um componente imprescindível à arte de ensinar. Outra virtude esquecida no nosso mundo competitivo?!Outra grande personalidade que veio como presente nesta edição, Frei Betto dispensa apresentações. Outra alegria para mim que sou considerada como filha da ditadura. E em meio a tristes episódios de violência, que possamos optar por um pouco mais de paz e tolerância! Pra finalizar, temos uma bela história de amor para contar. A enfermeira Samara relata sua experiência de adotar um filho e poder amamentá-lo. Este exemplo gostaria de divulgar para quem pensa em dar este passo. Ainda para as mulheres, Octávio, jovem estudante de medicina, escreve sobre parto humanizado. Foi a nossa forma de prestar homenagem às mulheres mães.Humildade, afetividade, generosidade, educação e humani-dade. O mundo está carente destes valores tão caros... Que fique registrada a minha gratidão a todos os amigos que fazem deste projeto uma realidade. Grande abraço,

Claudia Liba

sumário

6 EducaçãoAs Palavras de Rubem Alves

10 SaúdeO Dia do Parto Normal

13 Cotidiano Chega de Ser Normal

14 Cidadania Frei Betto

18 EsporteEsgrima

20 CapaEntrevista com Denise Fraga

26 GastronomiaLa Dolce Vida

28 Meio AmbienteEm Busca do Ouro Negro

30 ReverênciaDe Peito Aberto, Maternidade

34 NegóciosCom que Roupa eu Vou?

36 Mix Cultural

42 Diversatilidade

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por Claudia Liba

AS PALAVRAS DE RUBEM ALVES

educação

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le é autor de vários livros, psicanalista, membro da Associação Brasileira de

Psicanálise de São Paulo, Dou-tor em Filosofia pela Princeton Theological Seminary, professor emérito da UNICAMP e acumula em seu currículo tantas honrarias, que não temos a vaga ideia de como resumir. A escolha de Rubem Alves para esta edição veio da admi-ração que temos por suas ideias sobre o ofício de educar. Acima de qualquer coisa, o ato de educar deve estar atrelado a afeto. Sem este componente, que muitos mestres dispensam na sala de aula, fica muito difícil despertar a curiosidade dos alunos. E é da curiosidade que par-tem a evolução, a solução para os problemas, a alegria. As palavras de Rubem Alves para todos nós.

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Versátil Magazine: Como lidar com o tema da morte com as crianças? Por que a gente leva de forma tão pesada o assunto? Rubem Alves: Vou contar uma experiência que não sei se está no livro O Aluno, o Professor, a Escola. Minha filha tinha três anos e eu estava dormindo. Ela entrou no quarto e me abordou. Per-guntei a ela o que estava acontecendo. Ela respondeu: “Papai, quando você morrer, você vai sentir saudade?”. Levei um sus-to tão grande, fiquei mudo. Não imaginava que uma criança daquela idade tivesse consciência da morte. E que soubesse o que era morrer. Ela se apressou a me salvar da minha agonia. Disse: “Não chora porque eu vou abraçar você”. Como é que ela soube da morte? Ela nunca havia passado por nenhuma experiência com morte. Nenhum animal havia morrido, nenhuma pessoa. Então, pensei: será que a gente já traz esta consciência da morte? Será que a coisa da morte está dentro de nós? Escrevi, por conta deste episódio, o conto“A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens”, em que os pais contam pros filhos que chegaria o momento de voar para uma montanha encantada. O fato é que a morte é uma dor que não há con-solo. Sempre que deparo com sepulta-mento, velório, é interessante ouvir o que as pessoas falam, “é preciso ser forte!” ou “deixa nas mãos de Deus”. Coisa mais imprópria é falar isso. Porque, diante da morte, ficamos mudos, nos vemos diante de um “paredão” e a gente não sabe o que existe além do paredão. Existe o nada.

VM: Como você define os temas morte, transcendência, religiosidade, espiritualidade, Deus? RA: Muitas vezes, quando as pessoas falam de transcendência, estão falando de outro mundo. Espiritualidade não é coisa de outro mundo. É uma coisa desse mundo. Foi Walt Whitman que queria escrever um poema espiritual que fosse feito com as coi-sas desse mundo? Pra mim, a espiritualidade tem a ver com as coisas deste mundo que vivemos. Hoje recebi o telefonema de um amigo de 88 anos, cujo filho mais velho está com câncer. Ele disse que as coisas não vão bem. E que não há muita espe-rança. Lembrei um texto da Adélia Prado. Ela diz que aquilo que os pais desejariam era poder substituir os seus filhos nos seus sofrimentos. Isso para mim é espiritualidade, transcendência. É o que tem a ver com ternura, beleza, poesia, o amor. A ideia de que exista outro mundo, de como eu vejo o outro mundo... Eu gostaria de ver, mas não vejo. Penso com os meus olhos. Penso as coisas que estou vendo como a Helena Colodi, poeta paranaense que já morreu: “A beleza é a sombra de Deus no mundo”. São momentos raros. Brinco que há pessoas que vão a lugares famosos, porque foi lá que apareceu Deus, assim como

em Fátima. Quando eu quero ter uma experiência de Deus, vou à feira, ao mercado. Acho que uma melancia, por exemplo, é algo tão fantástico, incrível, maravilhoso, que me pergunto: como? por quê? Eu me deparo com mistérios. Transcendência é o mistério da vida, para o qual não há solução.

VM: Rubem, falando agora sobre ética, seu recente livro com Celso Antunes, O Aluno, o Professor, a Escola: Uma Conversa Sobre Educação, fala que a ética surge “quando sou capaz de pensar no sentimento do mundo.”. Pode falar mais sobre ser ético?RA: As pessoas pensam em ética, moral, como o conjunto de normas, de comportamento. Não é nada disso, porque você pode ter um tratado completo de normas de comportamento

e não ser um ser ético. Minha neta de dez anos estava almoçando na minha casa e começou a chorar. Pergun-tei o que estava acontecendo, ela respondeu: “Vô, quando sinto uma pessoa sofrer, meu coração fica junto do coração dela.” Isso tem a ver com o ser ético. A capacidade humana, que não sei se animais têm, que é sentir um sofrimento que não é meu. Eu não sou o meu amigo que tem um filho com câncer. Não tenho problemas assim agora, mas de pensar nele, no rosto dele, na tristeza dele, no filho dele, eu me comovo. Saio de mim mesmo, do círculo fechado, me coloco dentro do círculo da vida de outra pes-soa. Isso é ser ético. Aí tem a questão:

como se ensina isso? Não é ensinando regra nem dizendo “amar ao próximo como a si mesmo”. Todo mundo sabe disso. Uma maneira é através da literatura. Novamente, a coisa da ex-periência. Tenho uma sobrinha com Síndrome de Down que é fascinada pela TV e a mãe se preocupa com isso. Na época, gostava muito dos Menudos. Um dia cheguei na casa dela e ela estava assistindo aos Menudos. Olhou para mim e disse: “Tio, a mãe fica preocupada comigo, porque eu gosto de ver televisão. Mas ela não entende. Porque quando eu vejo eles na televisão, eu sou eles.” E isso acontece com os livros, você entra naquele mundo. Alguém disse que o objeti-vo da literatura é produzir alienação. Eu pensei, “mas que coi-sa esquisita produzir alienação!”. Alienar significa estar fora da gente mesmo. Quando você passa pra outro mundo você vê o mundo de outra forma. Então, algo muito importante pra mim foi ler biografias. Eu entro na vida do Gandhi, do Martin Luther King, de São Francisco e à medida que entro na vida do outro, eu sou eles. Vou me enriquecendo, ficando com aquilo do outro em mim.

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VM: Temos um caso interessante em que uma conhecida que passou pela educação formal, frequentou universidade, resolveu que suas filhas não frequentarão a escola. O que pensa desta atitude? RA: Na Europa há alguns casos assim e há até uma expressão cunhada para isso. Estive numa entrevista com o André Abujamra e ele me perguntou: “As crianças são maravi-lhosamente inteligentes. Como você explica que depois de adultas elas ficam burras?” A resposta é porque elas passam pela escola. A escola é uma máquina de emburrecer. Escrevi uma história do Pinóquio em que as crianças nascem de madeira e depois, se não mexerem com água, com arte, e se forem à escola então, elas ganham um corpo de carne e osso. Escrevi a história ao contrário: ele nasce de carne e osso, frequenta a escola, fica diplomado e vira de madeira.

VM: Lidar com a diferença ainda é uma dificuldade da escola?RA: Ainda é. Fala-se muito da inclusão do deficiente. Penso ao contrário. Não basta colocar tudo na mesma sala, porque não conseguem seguir. No sistema usado nas nossas escolas, estão condenados a um processo de linha de montagem e podem se tornar objeto de bullying. No esquema de linha de montagem, há um programa onde todas as crianças têm que aprender as mesmas coisas na mesma velocidade. A escola não foi feita para a integração, mas para a uniformidade. Daí o uso do uniforme.

VM: A questão do bullying está em evidência hoje. De certa forma, toda criança passa por isto? RA: Aquelas gordinhas, pequenas são todas objetos de chacota. Seria algo como a “caçoada”, agressão física, ética, tudo em ritmo de caçoada. Minha filha nasceu com fenda labial e apenas agora nos colocou o que passou, as humilhações que sofreu por conta desta situação.

VM: O que é possível dizer sobre o que aconteceu recente-mente no Rio de Janeiro, o jovem que entrou na sala de aula matando várias crianças?RA: Todos querem jogar pedra no assassino, no demônio. Ninguém pergunta da perturbação na alma. Dizem ter sido invadido por demônios. Mas geralmente, quando acontece isso, os violentos também haviam sido objetos de bullying. Foram subjugados e tentam se vingar. Há o caso de um garoto que era muito gordo e todos o chamavam de “elefante cor-de-rosa”. Todos querem ser amados, mas imagine que todo dia, na escola, ele ouvia “ei, elefante cor-de-rosa!”. Os outros o tornam objeto de chacota. Um dia, ele chegou na escola com um revólver, deu tiros em várias pessoas e se matou.

educação

Quero fazer os poemas das coisas materiais,pois imagino que esses hão de seros poemas mais espirituais.E farei os poemas do meu corpoE do que há de mortal.Pois acredito que eles me trarãoOs poemas da alma e da imortalidade.E à raça humana eu digo:– Não seja curiosa a respeito de Deus,pois eu sou curioso sobre todas as coisase não sou curioso a respeito de Deus.Não há palavra capaz de dizerQuanto eu me sinto em pazPerante Deus e a morte.Escuto e vejo Deus em todos os objetos,Embora de Deus mesmo eu não entendaNem um pouquinho...Ora, quem acha que um milagre alguma coisa demais?Por mim, de nada sei que não sejam milagres...Cada momento de luz ou de trevaÉ para mim um milagre,Milagre cada polegada cúbica de espaço,Cada metro quadrado de superfícieDa terra está cheio de milagresE cada pedaço do seu interiorEstá apinhado de milagres.O mar é para mim um milagre sem fim:Os peixes nadando, as pedras,O movimento das ondas,Os navios que vão com homens dentro– existirão milagres mais estranhos?”(Walt Whitmann)

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A PIPA E A FLOR. Rubem Alves e Mauricio

de Sousa. Pode uma pipa que está sempre

voando pelos ares apaixonar-se por uma

flor cujas raízes a prendem ao solo? Numa

fábula lindíssima, Rubem Alves versa sobre

amor, egoísmo e liberdade, permitindo ao

leitor escolher um dos finais possíveis para

a estória. Ilustrações de Mauricio de Sousa.

Verus Editora.

O ALUNO, O PROFESSOR,

A ESCOLA: UMA CONVERSA

SOBRE EDUCAÇÃO. Rubem Alves

e Celso Antunes. A obra é subsídio para

discutir temas fundamentais na prática

escolar: transmissão de valores, educação

da sensibilidade, bullying, formação de

educadores e outros. Falando das próprias

vivências, os autores mostram a possi-

bilidade de usar a criatividade em prol da

aprendizagem. Papirus 7 Mares.

saúde

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O DIA DO PARTO NORMAL

m época de Dia das Mães, nada mais sensato que abordar a saúde materna. Ou, na verdade, de quem ainda vai ser mãe. Afinal, quase dez em cada dez

mulheres desejam viver o processo de perpetuação da espécie: engravidar, crescer barriguinha, esperar nove meses, sentir pequenos chutes, enxoval, carrinho, quarto novo com ber-ço e decoração especial. Porém nem todas elas aguardam excitadas o dia do parto normal, ao qual anedoticamente ofereço a alcunha de “Dia P”. A analogia com um episódio de guerra mundial também resulta de ouvir, com alguma frequência, colegas minhas abominando o momento (“Não quero nunca parto normal”, “Só engravido se fizer cesariana” etc.), o que me bota pensativo.Particularmente, desenvolvi a concepção de que a natureza é a arquitetura perfeita. Quando comecei a estudar o corpo humano, observei intrincadas vias metabólicas, emaranhados belíssimos de células especializadas cumprindo cada qual sua exata missão, conjuntos de órgãos que se complementam e até outros organismos macro e microscópicos que se relacionam entre si e conosco de forma harmônica. Tudo perfeito, uma gigantesca orquestra muito bem regida. Con-cluí que o trunfo da criação era tão-somente o fato de que tudo era perfeito: por si, claro, mas principalmente pelo

todo que representa. Os seres humanos são a admirável metonímia ambulante do mundo.Mas se a natureza é de fato perfeita, como é que o parto normal (tão natural) pode ser condenado? Deve haver algum engano... ou estamos fazendo algo errado. Curioso que sou, resolvi pesquisar. E descobri fatos interessantes. Primeiro de tudo, que minhas colegas são minoria: na verdade, sete em cada dez mulheres preferem o parto normal. Atualmente, o termo que mais se escuta nas salas de espera dos obstetras (e no acompanhamento pré-natal) é “parto humanizado”. Essa tendência decorre de uma série de fa-tores; vejamos quais são.Do ponto de vista médico, é sabido que o parto normal oferece menos riscos para a mãe que a cesariana, simples-mente por esta ser um procedimento cirúrgico, acarretando todas as consequências de qualquer outra operação: aneste-sia, cirurgiões, materiais específicos, sala de cirurgia limpa e organizada, acompanhamento pré e pós-operatório. Isso sem mencionar a possibilidade de infecções na incisão, deiscência da sutura, hérnias, sangramentos, cicatrizes dis-mórficas... Uma lista de complicações bastante maior que a do parto normal, embora este também não seja isento de risco. No entanto, a incidência de complicações é muito menor, bem como sua gravidade, principalmente quando há

Sobre o nascimento de bebês (e de onde surgiu seu atual pleonasmo: o parto humanizado).

assistência de profissionais competentes.Além disso, o ambiente hospitalar (sobretudo da cirurgia) é menos acolhedor do que, por exemplo, a casa da mãe, o que pode comprometer sua experiência no momento. Mesmo quando o parto normal é praticado em um centro especial-izado, o tempo de internação é cerca de duas vezes menor que no caso da cesariana. O recém-nascido de parto normal também costuma sair mais rápido do hospital, inclusive porque os de cesariana precisam de cuidados intensivos (UTI neo-natal) com maior frequência: cerca de quatro vezes mais!Outro aspecto interessante sobre o bem-estar do bebê, adicional-mente ao tempo de internação, remete à biologia de seu corpinho. Dentro do útero existe o líquido amniótico, a famosa água da “bolsa”, que se rompe em muitos filmes de Hollywood. Esse líquido é, na verdade, fruto da filtração do sangue pelos rins do feto, podendo ser comparado à urina de um indivíduo adulto. O feto engole líquido amniótico o tempo todo; este adentra o tubo digestório e os pulmõezinhos, que ficam como uma esponja cheia de água. No momento do parto normal, há uma compressão do tórax do bebê, funcionando como um apertão na esponja e jogando para fora o líquido amniótico que enchia os pulmões; assim, gera-se espaço para a entrada de ar e as trocas gasosas essenciais à sobre-vivência. E (esse lindo milagre da vida) a criança chora. Na cesariana, isso não ocorre naturalmente, ou é dificultado: é necessário que o médico intervenha para facilitar a aeração do sistema respiratório.Buscando alternativas para o parto em hospitais, algumas vertentes de parto domiciliar têm ganhado espaço entre as gestan-tes. Uma delas, em evidência nos canais de TV especializados, é o parto na água, realizado em uma banheira com água morna. A água relaxa, alivia as contrações e diminui a pressão ar-terial, além de permitir ao bebê a saída para um ambiente

semelhante ao intrauterino. O parto de cócoras é feito, como o nome diz, na posição de cócoras; auxiliado pela gravidade, a mãe precisa fazer menos força e sente também menos dor, além de não haver compressão dos grandes va-sos da mulher. No parto normal também é possível utilizar um instrumento semelhante a uma colher, o fórceps, para auxiliar na saída do bebê caso haja dificuldade na dilatação pélvica ou sofrimento fetal. Todas essas manobras, além da própria cesariana, possuem riscos, benefícios, indicações e contra-indicações. Os profissionais de saúde experientes orientarão a mãe quanto ao método mais adequado para o seu caso.Também vale ressaltar que a clássica imagem novelesca da parturiente aos berros com as pernas diametralmente opos-tas, lágrimas que se misturam ao suor em bicas, face de so-frimento intenso... Não é mais predominante. A evolução do conhecimento científico trouxe avanços na analgesia, de modo que a mulher não sinta dor e, por outro lado, não precise de uma anestesia completa que a faça dormir e apre-sente riscos orgânicos. Há métodos de bloqueio anestésico regional, como a anestesia raquidiana e a peridural, ambas aplicadas na região lombar baixa, mas cada uma com carac-terísticas e indicações especiais. Mais importantes que medidas farmacológicas são a con-versa franca da equipe obstétrica com os futuros pais, as orientações psicológicas e os cuidados gerais. É vital que a mulher (e seus familiares) saiba exatamente o que se passa em seu corpo, o que deve ser feito caso algo se altere, quem procurar, como proceder. No mínimo, tranquilizá-la e estar à disposição para ficar ao seu lado quando necessário, inclu-sive e especialmente durante o trabalho de parto.Esses são pontos básicos na abordagem à gestante, e isso tudo (antes, durante e depois) faz parte da experiência do parto humanizado – termo que considero redundante, visto

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saúde

que todo parto deveria ser humanizado! Parto desumanizado é inconcebível, incoerente. É deixar de oferecer os melhores recur-sos físicos e emocionais para o momento que as mães con-sideram mais intenso e feliz de suas vidas. Algumas mulheres descrevem, inclusive, uma sensação de deleite físico e mental única. Por que então privá-las de tamanho regozijo?Bom mesmo é ver uma mãe que acabou de dar à luz uma me-nina saudável, tomá-la nos braços, sorrindo, dando um beijo carinhoso na cabecinha e logo se levantando e caminhando pelos corredores enquanto os primeiros exames neonatais são feitos: pesagem, medição, banho com xampu infantil, troca de roupas. Poucas horas depois, já estão juntas de novo no quarto, e outras poucas horas depois vão para casa imersas em felicidade. É uma imagem muito gratificante para todas as partes. Por que então excluir essas sensações da família? Não faz sentido.Fique claro que a cesariana é, sim, importante: sua contribuição para a sobrevida de fetos com malformações congênitas, bebês mui-to grandes ou em posição invertida (com a cabeça para cima), em casos de infecções pélvicas ativas, pré-eclampsia e eclampsia, acidentes com risco de vida materna e fetal é inegável. Ocorre que se realizam mais procedimentos cirúrgicos do que o terapeutica-mente necessário, seja por medo ou conceitos errados que a mãe de-tém, seja pela falta de critério da equipe obstétrica. Algumas vezes, os médicos operam como forma de proteção individual contra ações legais, como se tivessem “feito tudo o que era possível” e,

se houve intercorrências, foi devido a “fatalidades imprevisíveis e incontroláveis”. É o conforto do médico se sobrepondo ao conforto de mãe e filho, reais protagonistas da cena.Daí procede minha discordância com o termo. Todo parto de-veria ser humanizado, fosse ele normal ou cesariano, simples-mente porque toda mãe e todo bebê merecem um atendimento cuidadoso, com atenção, tratamento individualizado e integral, conforto e recursos humanos, materiais e psicológicos. O erro está no fato de haver partos que não são humanizados. Porém, com orientação adequada, divulgação, discussão do tema e sen-sibilização dos profissionais de saúde, é possível transformar a atual situação. É importante uma mobilização de todos os meios para que o desenvolvimento da saúde seja significativo. Até o dia em que o parto humanizado volte a ser chamado simples-mente de “parto”. Ou mesmo Dia P. Mas só se for P de “prazer”.

Octávio Pella Legramandi é estudante de Medicina da FMB/Unesp,

sonhador, escritor de meia tigela e, quando sobra um tempinho, gente.

cotidiano

CHEGA DE SER

egundo o Professor Hermógenes, um dos pioneiros do Yoga no Brasil, “o homem normal é um doente!” Diante disso, ele convida as pessoas a serem anormais.

A princípio pode soar estranho, mas faz todo sentido. Nor-malidade vem de “NORMA”. A norma de um conjunto é aquilo que ocorre com mais frequência.Quando se diz “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, a cegueira é o normal. E o ANORMAL, ou seja, aquele que VÊ é tão melhor que pode ser rei.O que acontece é que estamos vivendo numa sociedade doente pela normalidade. As pessoas vão perdendo a identi-dade para se adequarem às regras da sociedade, sendo assim aceitas pelo grupo. É aí que surgem as doenças físicas. A maioria das pessoas não consegue ser o que não é por muito tempo, perde completa-mente a identidade. As consequências são drásticas. Não é à toa que o medicamento Rivotril (combate ansiedade, stress, insônia) é um dos mais vendidos no país. Este modo de viver deixa as pessoas cada vez mais neuróticas, inseguras e infelizes. Pois não sabem mais quem são, nem o que querem. São aquelas que mantêm relacionamentos doentios, empregos que odeiam, viven-do uma rotina estressante para mostrar à sociedade que está tudo bem. Elas sobrevivem levadas como folhas ao vento, como uma carta sem remetente e destinatário, como um barco de papel no meio do oceano. Este é o “normótico”, que calça os mesmos tênis, veste as mesmas calças, fanatiza-se pelos mesmos ídolos, curte as mesmas músicas, se envolve em relacionamentos vazios. Sua segurança está em se enturmar, falta-lhe a coragem de ser diferente. Quanto mais “normótico”, mais submisso à moda. Pior ainda quando se fanatiza por movimentos, líderes e seitas. Os “normóticos” são presas fáceis para a manipulação. Deixaram de ser “gente” e tornaram-se robôs, escravos do sistema. E são também vítimas de “Bhoga”, ou seja, pessoas voltadas para o exterior, buscando fora o que jamais vão encontrar: paz, segurança, felicidade, liberdade.A cura está na busca interior encontrada, por exemplo, no Yoga. Sua prática leva as pessoas ao autoconhecimento, que leva à autenticidade, que leva à verdade. Esta verdade é a essência do ser humano, que possibilita conhecer e potencializar qualidades, trabalhar o que ainda precisa melhorar para, então, ter a tão sonhada qualidade de vida.Mas ser diferente e não seguir o padrão também traz problemas no início, porque sofremos a pressão da socie-dade. Mas a partir do momento em que você se desapegar do modismo e criar a sua história, transformando-se no protagonista da sua vida, então você será livre. Pois estará seguro. Deixará de sobreviver para VIVER intensamente!

Dica de leituraSAÚDE PLENA - YOGATERAPIA

prof. Hermógenes.

Carolina Carvalho De Rose é Professora de Yoga e Yogaterapia.

carolina-carvalho.blogspot.com

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Espaço MahalAvenida Pompéia, 1.855 - Perdizes

Fone: (11) 3812 7371www.espacomahal.com.br

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cidadania

DIREITOS HUMANOS, IMAGINÁRIO, FUTURO E UTOPIA

oi com uma carta aberta a Che Guevara que Frei Betto iniciou sua palestra em 19 de abril de 2011, no SESC Pinheiros, sobre o tema “Imaginário,

Futuro e Utopia”. Através dela, pontuou o sonho de Che por um mundo de igualdade e respeito, que, na linguagem dos revolucionários de luta ou de sonho, seria a chamada utopia.

por Claudia Ramos Lessa e Francisco Marcos Dias

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Versátil Magazine: Frei Betto, em sua visão, em que “estágio” o Brasil está em relação à discussão dos direitos humanos?Frei Betto: O debate sobre o tema avançou muito no segundo mandato do presidente Lula, graças ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Mas, infelizmente, o presidente não se impôs aos militares que, até hoje, resistem à abertura dos arquivos sobre a ditadura em poder das Forças Armadas, recusando-se a revelar onde se encontram aqueles que desapareceram em mãos da repressão militar. Pensam que anistia é amnésia. Agora, fala-se na constituição da Comissão da Ver-dade, de modo a apurar as respon-sabilidades pelos crimes cometidos em nome do Estado durante o período da ditadura militar. É um passo, mas insuficiente. É preciso também punir os responsáveis, a exemplo do que faz a Argentina. Isso só contribui para reforçar a democracia. Por outro lado, a OEA e o Departamento de Estado dos EUA têm toda razão ao denunciar que, no Brasil, os direitos humanos não são respeitados nas delegacias e nas prisões. As torturas persistem de modo sistemático, bem como os assas-sinatos de cidadãos por parte de policiais civis e militares, am-parados pela impunidade.

VM: Lembrando a carta aberta a Che Guevara, utilizada na palestra “Imaginário, Futuro e Utopia”, como o senhor imaginaria a atuação dele, hoje, se estivesse vivo? Estaria em Cuba, participando do Congresso, ou atuando no Oriente Médio nas revoltas a que assistimos atualmente?FB: Este é um exercício complexo de imaginação e futurismo. Talvez o Che estivesse em Cuba participando dos desafios ao aprimoramento do socialismo naquele país. O importante é

que a morte de Che não coincide com a morte dos ideais que ele abraçou e encarnou. Hoje, em todo mundo, surgem no-vos movimentos e lideranças libertárias em busca do “outro mundo possível”, apregoado pelo Fórum Social Mundial. As razões que levaram o jovem Ernesto Guevara a se tornar um revolucionário ainda perduram, como a pobreza de dois ter-ços da humanidade, que, devido à crise do capitalismo agra-vada em 2008, agora se aprofunda.

VM: Pensando no futuro, o senhor acredita ainda ser possível o mundo utópico sonhado nos anos 1960?FB: Acredito, sim, num futuro de justiça, liberdade e paz para a hu-manidade. Como disse Marx, ainda estamos na pré-história da civiliza-ção. Creio que o fator ecológico, que não faz distinção de classe, virá apressar esse processo, caso contrário iremos todos à barbárie. A degradação ambiental já afeta de

tal modo o planeta Terra, que ele perdeu 30% da sua capacidade de autorregeneração. Ou o ser humano intervém ou o processo se agrava. E, hoje, graças às redes sociais, as pessoas tomam consciência de que devem buscar um mundo melhor, embora muitos ainda confundam capitalismo com democracia.

VM: Sua atuação no governo foi elogiada por uns e, por outros, nem tanto. Como o senhor avalia o realizado? Quais foram os problemas e quais deveriam ser os caminhos a serem seguidos no atual governo?FB: Não sou juiz de mim mesmo. Porém, meu desempenho no governo e minha avaliação estão contidos em dois livros, A Mosca Azul - Reflexão Sobre o Poder e Calendário do Poder, ambos editados pela Rocco. No primeiro, analiso a esquerda brasileira

“Um altruísta nunca morre” – disse o Frei ao encerrar a leitura emocionada e explicando que a luta por igualdade é um sentimento de amor. É necessário dar a todos a oportunidade de viver com dignidade – e terminar com a exploração que se perpetua e se disfarça com novas roupagens. Ela continua a tirar dos pobres o maior de sua força de trabalho, com baixa remuneração, seduzindo-os para que gastem o suado dinheiro no mercado de consumo.Jovens, e também “maduros”, lotaram o auditório e ouviram atentamente a exposição, tendo, no final, muitas perguntas que ultrapassavam o tema da mesma, como indagações e especulações sobre a participação do Frei na política. Com a clareza de um mestre orador, Frei Betto respondeu as questões até o limite do horário do evento. A Versátil Magazine faz questão de compartilhar as opiniões deste religioso brasileiro que usa a palavra e a literatura para demonstrar o amor ao seu povo.

Não se apaga a memória de um povo,

muito menos das vítimas e de seus familiares

e descendentes.

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cidadania

nos últimos cinquenta anos, a formação do PT, a crise ética que o afetou, os avanços e limites do governo Lula na primeira fase. No segundo, publico meu diário en-quanto assessor especial do presi-dente no Palácio do Planalto e descrevo a ascensão e queda do Fome Zero. Espero do governo Dilma o mesmo que esperava do governo Lula: que preserve e aprofunde as políticas sociais, mantenha uma política externa soberana e independente e, so-bretudo, implemente reformas estruturais, como a política, a tributária, a da saúde e da educação e, em especial, a re-forma agrária.

VM: O senhor declarou que traz nas veias, como um vício, a Utopia. Que sonho tem para o Brasil e o mundo nessa “viagem utópica”?FB: Já se foi o tempo em que eu confundia meu tempo pessoal com o tempo histórico, conforme descrevo nos livros Batismo de Sangue e Diário de Fernando - nos Cárceres da Ditadura Militar Brasileira, também da Rocco. Hoje, sei que não partici-parei da colheita, mas faço questão de morrer semente... Meu sonho é uma humanidade sem opressões e oprimidos, dis-criminações e excluídos. Uma civilização de amor, na qual a mística seja a principal motivação política. Um mundo de homens e mulheres novos, filhos do casamento de Ernesto Che Guevara com madre Teresa de Calcutá.

VM: Como o senhor vê, sob o prisma da utopia, as revoltas no Oriente Médio?FB: Vejo como muito positivas, criando uma situação embaraçosa para os países ricos do Ocidente, que até ontem apoiavam todos esses regimes ditatoriais e autocráticos do mundo árabe, de olho no petróleo. Temo, porém, que o ataque à Líbia crie uma nova frente de guerra. Foi um grave erro dos países da OTAN não terem buscado uma saída política para Kadafi.

VM: O senhor acredita que a discussão que se pretende fazer sobre os anos da ditadura vai acontecer ou é apenas mais um sonho? FB: Não há como fazer cessar essa discussão. Não se apaga a memória de um povo, muito menos das vítimas e de seus famili-ares e descendentes. Esse debate já está no cinema brasileiro - veja a quantidade de filmes sobre os anos de chumbo! Está na literatura, de meu Cartas da Prisão (Agir) às obras de Elio Gaspari. Está nas páginas dos jornais (O Globo acaba de levantar novos dados sobre o atentado terrorista praticado pelas

Forças Armadas no Riocentro). Como no nazismo, vítimas da opressão serão sempre cadáveres insepultos...

VM: De qual revolução o senhor ainda gostaria de participar? Quais são os seus sonhos utópicos atuais?FB: Hoje, descarto a luta armada, ex-ceto em caso de opressão prolongada com supressão de todos os recur-

sos minimamente democráticos. Meu sonho é que se reduza a desigualdade social no Brasil, sobretudo a partir da reforma agrária. E que o mundo caminhe para uma fase pós-capitalista, marcada pela solidariedade, a justiça e o respeito à diversidade étnica e à pluralidade cultural.

VM: Uma provocação: o senhor ainda acredita em Deus e, se sim, como é ele?FB: Deus é mais íntimo a mim do que eu a mim mesmo, como dizia Santo Agostinho. Sobre a minha experiência de fé, acabo de manifestá-la no livro-diálogo com o físico Marcelo Gleiser, Conversa Sobre a Fé e a Ciência (Agir), mediada pelo escritor Waldemar Falcão: Deus é Amor e todo ato amoroso é experiên-cia de Deus, inclusive para quem prescinde da fé. E Jesus é o meu caso de amor, como descrevo no romance Um Homem Chamado Jesus (Rocco).

Como no nazismo, vítimas da opressão

serão sempre cadáveres insepultos

Hoje, sei que não participarei da colheita,

mas faço questão de morrer semente.

Diário de Fernando:

Nos cáceres da ditadura

militar brasileira.

Brasil: O mistério das

cabeças degoladas.

Um homem chamado Jesus

esporte

TOUCHÉ: ESGRIMA QUER SEPOPULARIZAR EM SÃO PAULO

embro que na minha infância eu adorava assistir a programas de televisão como “O Fantástico Jaspion”, “He-Man” e “Thundercats”. Eu e meu irmão costumávamos imitar

nossos ídolos brincando do que chamávamos de “lutinhas de espadas”. As vassouras da minha mãe transformavam-se em armas e protagonizavam inúmeros combates no quintal de casa.Os tempos passaram e hoje, já adulto, vejo que muitos ainda não perderam o costume com as “espadas”. Porém, a brinca-deira se transformou em algo mais sério e organizado, onde concentração, equilíbrio, raciocínio rápido e agilidade foram fundamentais para que a prática se tornasse um esporte ainda tão incomum entre os brasileiros, a esgrima. Claro que a origem da esgrima não advém dos combates ocorridos no quintal lá de casa, e sim, de muito tempo atrás, por volta do século XVI. Documentos egípcios comprovam que a esgrima já era praticada na era medieval e, mais tarde, no século XVII,

surgiram as primeiras escolas na França. Gregos e romanos organizavam, nas arenas de combate, lutas entre os cavaleiros medievais para entreter o povo. A prática tornou-se tão popu-lar que foi incluída no quadro de medalhas dos Jogos Olímpi-cos de Atenas em 1896. No Brasil, por interesse de Dom Pedro II pela modalidade, a esgrima foi incorporada ao Império e, em 1858, começou a ser atividade obrigatória nos cursos de Infan-taria e Cavalaria da Escola Militar de Realengo e do Batalhão de Caçadores de São Paulo.A esgrima consiste no combate entre dois competidores (esgrimis-tas) que utilizam uma das três armas brancas do esporte (espada, sabre ou florete) para atacar e se defender. Ganha aquele que consegue somar mais pontos tocando com a arma o corpo do adversário. Cada arma possui regra específica e zona de pon-tuação. Para evitar ferimentos os esgrimistas utilizam equi-pamentos de segurança como máscara, luvas e colete.

De olho nas Olimpíadas, a Academia Paulista de Esgrima oferece aulas na Granja Viana e República.por Diogo Figueiredo e Thaila Anjos

A prática tornou-se tão popular que foi incluída no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos de Atenas em 1896

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Nas competições são adaptados nos coletes sensores eletrôni-cos que permitem ao árbitro fazer a contagem dos pontos cada vez que o competidor é tocado. Homens e mulheres de todas as idades podem praticar. Existem academias nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e na cidade de Belo Horizonte. Para você que mora em São Paulo uma boa escolha pra começar a dar as primeiras “espadadas” é a “Aca-demia Paulista de Esgrima”, próxima ao metrô República, no centro da cidade, com funcionamento tam-bém no “Clube das Pitangueiras”, na Granja Viana. Fundada em 2004 pelos Mestres de D´Armas Alkhas Lakerbai e Sergei Kovaliov, a Aca-demia já despontou diversos atletas em competições nacionais e internacionais. Assim conta o aluno Pedro Wainer, de 14 anos, promessa do sabre masculino brasileiro: “Treino na APE/SP há três anos. Passei a gostar do esporte assistindo filmes de gladiadores. No começo praticava só por diversão, mas com o passar do tempo fui evoluindo tec-nicamente e passei a competir em quase todos os campeonatos da minha categoria”. Pedro treina cerca de quatro horas duran-te três dias da semana. Toda esta dedicação lhe rendeu recente-mente o título de Campeão Brasileiro de Esgrima, conquistado após derrotar sete adversários. Além de Pedro, a APE/SP treina outras promessas da esgrima nacional, como Arthur Chahda, campeão do Sul-Americano no Rio de Janeiro na categoria sa-bre juvenil, e Karina Lakerbai, terceira colocada por equipes nos Jogos Sul-Americanos de Medelin em 2010, e primeira co-locada no ranking nacional na categoria sabre feminino.O professor bielo-russo Sergei Kovaliov veio para o Brasil a convite do seu então ex-professor de esgrima Alkhas Lakerbai, com o objetivo de juntos difundirem a prática do esporte no país. Sergei foi atleta da seleção bielo-russa entre os anos 1990 e 1997, e explica que o anonimato do esporte no país se deve à falta de patrocinadores interessados em apoiar a modalidade.

“Numa Olimpíada o Brasil pode ganhar até nove medalhas pela esgrima. Comparado com outros esportes, a chance do país obter uma melhor colocação no quadro de medalhas dos jogos é muito maior. E é esse detalhe que vem despertando aos poucos o interesse dos patrocinadores”, explica o bielo-

russo. Esgrimista desde os onze anos de idade, Sergei pode ser considerado um veterano na arte das espadas. Pelo fato da esgrima ser um esporte popu-lar na Europa, Sergei viajou por muitos países onde competiu e desenvolveu suas habilidades, enfrentando diver-sos atletas com diferentes técnicas. “Como em qualquer esporte onde o atleta se compromete em aperfeiçoar suas técnicas, e consequentemente alcançar maiores resultados, um bom

esgrimista se faz através de muito treino, dedicação e um certo dom natural para combater”, afirma. Apesar das dificuldades e das barreiras que impedem a progressão do esporte no Brasil, a esgrima vem conquistando muitos adeptos. Como professor da APE/SP, Sergei acredita muito no sucesso dos seus alunos e dos demais atletas espalhados pelo país: “Nas competições percebe-se um alto grau de desenvolvimento nos combates. Cada vez mais os brasileiros vêm aperfeiçoando as técnicas e habilidades necessárias para ser um bom esgrimista”, finaliza o professor.

Informações: www.academiapaulistadeesgrima.com.brAcademia Paulista de Esgrima – Granja VianaClube das Pitangueiras, Rua Santarém, 223, Granja VianaFone: (11) 4617 3439Academia Paulista de Esgrima – RepúblicaRua Araújo, 154, RepúblicaFone: (11) 8482 3000

Documentos egípcios comprovam que a esgrima

já era praticada na era medieval.

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João

Cal

das

educaçãoentrevista

la é extremamente atenciosa. Na verdade, eu já imaginava que seria assim. Não conseguíamos marcar uma entrevista há um bom tempo, devido à agenda superlotada da atriz. A moça trabalha duro! E feliz. Para conversar com a Versátil Magazine, encontramos vinte minutos, espremendo o tempo entre um ensaio de fotos e uma reunião, bem no dia em que teria

ensaio da peça e participaria de uma atividade no Cine SABESP.Com o filme “Por Trás do Pano” (1999), dirigido pelo marido, Luiz Villaça, recebeu os prêmios de Melhor Atriz nos Festivais de Gramado, Havana e no Grande Prêmio Cinema Brasil. Atualmente, Denise está envolvida no projeto do longa “Prima-vera Num Espelho Partido”, baseado em livro homônimo do uruguaio Mario Benedetti, em que viverá uma guerrilheira. E tem mais cinema com a atriz: está em cartaz em “Hoje”, da diretora Tatá Amaral. Passando para o “tablado”, Denise faz teatro com paixão. O palco é o seu lugar, como ela disse durante nossa conversa. Atualmente, na peça “Sem Pensar”, ela é Vicky, uma mulher em crise num casamento de muitas discussões que afetam a filha adolescente sem que o casal perceba. É um texto dramático e cômico ao mesmo tempo.Quando conversávamos, Denise foi chamada para uma reunião e pediu meu telefone para “completar a conversa”. E foi assim que pudemos falar mais um pouco, mais tarde, e depois por e-mail. Dando um jeitinho aqui e outro lá para não perder a oportunidade de trazê-la aos nossos leitores. Entre riso e conversa séria, eis um pouquinho de Denise Fraga para vocês!

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cada, com notas boas, fiz como falou minha mãe: “Vai, acha cursos pra você fazer!”. Fui atrás de tudo o que era curso livre, gratuito, mais barato, que desse pra gente fazer. Aí, um amigo meu falou “vamos fazer teatro, que é muito legal.” A gente foi e eu descobri um lugar que era uma coisa que eu adorava fazer. Quando comecei a faculdade, em agosto, achei um curso aos sábados, pra conciliar horário, porque eu não ia mais conseguir continuar. Pra conseguir essa vaga, tive que lutar, porque es-tava tudo fechado, não tinha mais vaga. Chorei pra menina me inscrever (rs). No curso, a gente montou uma peça do Millôr Fernandes. Quem dava aula era o Cláudio Corrêa e Castro, que

me incentivou muito a fazer a escola de teatro pra me profissionalizar. Não era uma coisa que eu tinha na cabeça, eu achava que aquilo não era pra mim, que não era uma coisa possível uma pessoa normal ser atriz! (rs) Acabei passando. Lembro que era uma coisa super difícil, 350 inscritos para 15 vagas.

VM: E nasceu esta Denise??? DF: Descobri o mundo que eu que-ria, a coisa que eu mais gostava de fazer na vida. Mas, numa época, eu

desisti, porque sem grana, no início, era muito complicado. E eu precisava começar a trabalhar, porque com aquelas ideias de teatro, “a Denise tem que render alguma coisa!”. Fiz teste pra ser aeromoça, fui vender produtos da Natura, depois voltei com o nosso grupo. Fizemos um grupo com os antigos alunos

Versátil Magazine: Denise, é difícil não perguntar pra uma atriz como você, que faz tantas comédias, sobre “bom-humor”. Você é uma pessoa bem-humorada? Denise Fraga: Eu sou, sim. Acho que eu tenho isto, é até um calo de profissão. Nunca dei bom dia de cara feia e sempre achei muito curioso como tem gente que dá bom dia com a cara séria (rs). Bom dia tem que vir acompanhado de um sorriso, sabe? A profissão ensina muito. Acho que pela coisa que você escolheu fazer na vida, você vai criando uma espécie de olho clínico. Então, acho que sou uma pessoa que tem olhos pra achar graça nas coisas. E isso vai pro meu trabalho e transforma toda a vida cotidiana. É muito bom.

VM: Quando você percebeu que tinha talento para ser atriz? Já era uma “pequena artista” desde criança?DF: Não... E o pessoal que estudou comigo deve achar que eu sou uma surpresa. Eu era bem muda e muito tímida quando menina. Era dessas que sentava na carteira do canto pra poder olhar pra parede, sabe?

VM: Sei (rs)... DF: Quando eu fiz teatro, foi uma coisa sem querer, porque eu passei no vestibular pra designer gráfico. Eu desenhava, que-ria fazer ilustrações e passei em comunicação visual. Como era pra começar a cursar em agosto, fiquei com aqueles seis meses antes livres. E como eu era bem CDF, uma aluna super dedi-

Meu grande lugar é o teatro. É o lugar em

que mais gosto de ficar, porque eu acho algo, como se diz, sagrado.

educaçãoentrevista

Acho que esse combinado entre diversão e reflexão

é o grande barato pra mim.

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uma ideia. O trabalho de criação é muito louco. A gente escreve falando muito, a criação te domina. Quando você está em processo criativo, eu mesma agora na peça estou criando um personagem, montando o desenho. É tão difícil você se desligar! Quando vê, uma coisa te pegou pelo pescoço e você pensa “agora eu podia fazer isso...” Precisa tentar se dominar um pouquinho pra não ficar só trabalhando o dia inteiro. Mas é uma coisa que real-mente te captura.

VM: O tempo todo... DF: Em temporada ou, sei lá, gravando uma novela, aquilo já está mais assimilado. Mas quando você está na criação do personagem, eu fico bem assim em tempo de ensaio. Acho que o teatro ainda

é o lugar em que você erra, onde você se dispõe ao erro ou acerto, ensaia dois, três meses seguidos. Você fica ali pra se doar, pra tentar fazer assim, pra tentar fazer assado, verticalizar a coisa, aprofundar a cena, o per-sonagem... Sou muito selecionadora e tem coisas em que sou muito detalhista. Então, eu falo “mas será que aqui não seria bom...”, tirando mais um fio do novelo, sabe?

VM: Você é muito perfeccionista nessa hora? Como você busca isso?DF: Sou muito perfeccionista, até queria ser menos, porque me maltrato muito. Não descanso a cabeça, fico ob-cecada pela ideia do que a gente está fazendo e, quando vejo, só tô pensando

nisso e vendo pelo em ovo, sabe?

VM: A personagem Vicky, seu trabalho atual na peça “Sem Pen-sar”, parece muito irritada, ama o marido, mas briga com ele sem-pre, o que é comum em casamentos. Como você vê isto?DF: É um casamento incrível. É adorável a personagem. O casal brinca de brigar, já tem um trilho: parece que entram naquele trilho pra brigar. Mas o que eu acho lindo na peça é como essa menina, a personagem, escreveu.

da Martins Pena, onde eu estudei. Com esse grupo fizemos peças nas escolas durante bastante tempo. E comecei a fazer televisão. Durante o dia, o projeto nas escolas e, à noite, gra-vava. Foi assim durante bastante tempo.

VM: Ainda hoje, você vai participar de um bate-papo sobre “O Contador de Histórias”, no cine Sabesp, não é? DF: Vou, sim. Esse é já o terceiro longa do Luiz Villaça. Você sabe, né, nós somos casados. Tudo o que fiz no “Fantástico” (Globo), como o “Retrato Falado”, ele que criou. A gente produz várias coisas juntos. Aliás, a peça que estou ensaiando agora, ele está dirigindo. É a primeira direção dele de teatro.

VM: Seu marido é cineasta e você, atriz. Como é estar na mesma área de atuação? Acha que engrandece a relação? DF: Eu acho que a gente achou um caminho. A gente não concorda com tudo, né? Mas acho que aprendemos a brigar de mãos dadas (rs). A gente briga, mas sabe que aquilo é do trabalho, do que a gente está passando. Gostamos muito de trabalhar juntos. O nosso trabalho é uma coisa que a gente faz com muita paixão, né? Até porque ninguém vira cineasta, ator, diretor de cinema ou faz teatro porque o pai mandou (rs). Você vai porque você quer muito. A gente passa por muitas barreiras pra conseguir fazer disso uma profissão. É difícil não falar do trabalho. A gente acaba mesmo levando trabalho pra casa. Na mesa de domingo, quando a gente vê televisão, estamos falando “sabe aquela cena?” (rs) É uma coisa que a gente constrói junto.

VM: E é uma delícia, não é?DF: É uma delícia. Às vezes, tem que falar “vaca amarela fez cocô na panela e quem falar primeiro de trabalho vai ter que comer o cocô dela”. Porque, às vezes, a gente tá querendo só descansar e, quando vê, tá queimando os miolos com uma cena,

É uma conversa deliciosa, um combinado entre nós de uma noite única, porque cada noite é única, porque o espetáculo daquela noite

só existiu naquela noite.

Sempre achei muito curioso

como tem gente que dá bom dia

com a cara séria. Bom dia tem que vir acompanhado

de um sorriso, sabe?”

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Eu era bem muda

e muito tímida quando menina.

Era dessas que sentava na carteira do canto

pra poder olhar pra

parede, sabe?

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Eu sempre me emociono

quando a gente abre as portas pras

pessoas sentarem.Eu falo:

Eles vieram. De novo.

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Acho que sou uma pessoa que tem

olhos pra achar graça nas coisas. E isso vai pro meu

trabalho e transforma toda a

vida cotidiana

VM: Com dezessete anos...DF: Pois é... Mas, você sabe, eu nem gosto de ficar falando essa coisa da idade, porque acho que a peça é superior à idade dela. Se ela tivesse setenta anos, seria tão boa quanto, porque a peça realmente é de uma qualidade dramatúrgica muito grande. O mais bacana é que ela escreveu de uma forma cômica esse desajuste familiar, essa cegueira, onde a gente se afunda se não se cuidar... Você ri mas ao mesmo tempo se incomoda, você se reconhece naquela armadilha possível, até na sua família. Se você não cuidar das suas relações, vai cair nisso. Chegam a um tamanho absurdo as relações, a ponto de ser risível, e você fala: “nossa, como as pessoas podem chegar nisso?” Eu fico tão feliz quando consigo divertir as pessoas e ao mesmo tempo fazê-las refletir! Acho que esse combinado en-tre diversão e reflexão é o grande barato pra mim. Estou adorando fazer essa peça, eu espe-ro o que vai acontecer, é muito engraçado. Ao mesmo tempo, faz olhar para o nosso cotidi-ano. Eu digo que quando as pessoas chegarem em casa e ligarem a televisão, e brigarem com o marido na cozinha, vão lembrar a peça e dar um freio qualquer de atenção... Esse abismo cotidiano está aí, aberto, pra gente cair nele.

VM: Isso tudo é uma grande conquista vinda do teatro na sua vida. O que é o teatro para você, Denise? DF: Eu acho que o teatro é o grande lugar. Assim, meu grande lugar é o teatro, é o lugar que mais gosto de ficar, porque eu acho algo, como se diz, sagrado. É muito importante que ainda exista um lugar pra onde as pessoas vão e, antes, se arrumem em sua casa, peguem sua condução, seu carro e vão como num ritual encontrar pessoas, em cima de um tablado, para ouvir e que contem uma estória. É meio igreja, meio missa. Eu sempre me emociono quando a gente abre as portas pras pessoas sen-tarem. Eu falo: “Eles vieram. De novo.” E de onde eles vêm? Eu gostaria de saber a estória de cada um, por que resolveu ver a peça, como foi que combinou, eu e minha sobrinha, ela pas-sou pra me pegar... Acho tão bacana esse lugar, que é um ritual, uma cerimônia em que as pessoas ficam sentadas em silêncio, em um pacto de silêncio, e riem quando você faz alguma coisa

para elas rirem... É uma conversa deliciosa, um combinado en-tre nós de uma noite única, porque cada noite é única, porque o espetáculo daquela noite só existiu naquela noite. É muito bonito pra mim o teatro. Acho que é o maior fórum de ideias. Você pode até esquecer um filme que você viu, mas é difícil esquecer uma peça, porque a peça é um ritual muito vivo. Tem um diretor italiano que fala uma coisa de que gosto muito. Diz que o teatro ainda é o lugar, o público ainda continua indo ao teatro na grande esperança de ver um ator morrer em cena. Acho isso genial. Na verdade, não é exatamente isso que a

gente espera que aconteça, mas o fato de aquilo ser vivo e ser agora e real-mente poder acontecer de um ator ter uma síncope e cair duro em cena, isso faz o aqui e agora ser precioso, único, uma coisa de todos nós, de mãos dadas, numa corrente vibrante para aquilo dar certo. O público sentado em silêncio, os atores no terceiro sinal entram em cena, então, esse estado de sagrado que o teatro imprime, a ideia que você coloca ali, quando é bem feita, é absor-vida de uma forma muito intensa. Eu acredito que o teatro é realmente um lugar especial para você passar ideias. E chega numa hora da sua profissão que

você tem a dizer, que você quer dizer uma coisa. Então, você escolhe sobre o que vai dizer, conforme o que você quer dizer: “Eu preciso fazer essa peça, eu preciso fazer esse texto”. No caso de Alma Boa de Setsuan, de Bertold Brecht, foi muito isso. Eu queria muito fazer essa peça. Quando estreei, há seis anos, eu queria montar, queria dizer aquilo. Eu ficava emocionada com o que a peça dizia, com passar aquela ideia, sabe?

Acho que sou uma pessoa que tem olhos pra achar graça nas coisas. E isso vai pro meu

trabalho e transforma toda a vida cotidiana

SEM PENSAR. Texto de Anya Reiss. A peça põe um olhar irônico na falta de percepção de si e do outro no cotidiano familiar. Delilah, quase 13 anos, está prestes a ter o primeiro caso de amor, com um rapaz bem mais velho. Enquanto isto, o casamento dos pais está em crise e nem percebem o que se passa com a filha. A situação piora quando surge a namorada do rapaz. Anya Reiss escreveu a peça aos dezessete anos de idade. Direção: Luiz Villaça. Com Denise Fraga, Kiko Marques, Julia Novaes, Kauê Telloli. Teatro TUCA. Rua Monte Alegre, 1.024, Perdizes, (11) 3670 8453. Até 31 de julho.

gastronomia

omer um doce à tarde sempre foi uma delícia! O que foi mudando nas últimas décadas é “qual?”. Há pouco tempo, pouca gente sabia o que era cupcake e macaron – e o nosso brigadeiro limitava-se a festinhas infantis e padarias. Hoje, são vendidos como iguarias em ruas da moda e shoppings, com

sabores e cores os mais variados.Para quem ainda não sabe o que é, e não é vergonha não saber, macaron não é macarrão. É um docinho com tamanho de bem-casado, também fechado como sanduíche. Sua massa é feita de merengue e, tradicionalmente, farinha de amêndoas, apesar de hoje em dia termos variedades de outras oleaginosas.A história deste doce, como a de tantas outras boas comidas, é reivindicada pela Itália e pela França, mas muitos registros mostram que ele era produzido na península italiana e foi levado para o país da confeitaria e da Torre Eiffel, onde tomou a forma que conhecemos hoje, por Catarina de Médicis.Cupcake, ao contrário do que muitos pensam, não é um bolinho norte-americano das décadas de 1950 ou 1960. E também veio do antigo continente, da Inglaterra (por volta de 1790). A primeira vez que foi chamado de “cupcake” foi no livro Seventy Five Receipts for Pastry, Cakes and Sweetmeats, de Eliza Leslie, datado de 1828. Por que ela os chamou de cupcakes? Bom, o motivo é simples. As medidas dos bolinhos eram todas feitas em xícaras e xícara, em inglês, é “cup”. E bolo é “cake”. Portanto, “cupcake”. Além disto, eles eram assados nas mes-mas xícaras. Então são bolos de xícaras. E desde aquela época já tinham cobertura (diferentemente dos muffins).Mais tupiniquim e mais novo, o brigadeiro foi criado na década de 1940. Cada um conta uma história um pouco diferente, mas todas remetem ao Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à Presidência da República contra o General Eurico Gaspar Dutra. O Brigadeiro distribuiu o doce em comícios, o que o tornou muito popular. E acabou por batizá-lo com seu nome encurtado para o título da aeronáutica.Há pouco tempo, os três doces não eram vendidos como algo caro em São Paulo. Macaron e cupcake nem vendidos eram. E o brigadeiro não era nada chique, era coisa feita em casa pelas nossas mães. Agora, nas “butiques” de brigadeiros, uma caixa com cinco deles é embrulhada e dada como presente de aniversário, ao invés de serem servidos nas festas. Surgiram pessoas muito boas na área, como a Juliana Motter, dona da “Maria Brigadeiro”, que faz coisas diferentes e bacanas, os brigadeiros do “Les Delices de Maya” e muitos outros.Há muitos produtores de cupcakes artesanais e industriais, até a “Wondercakes” não é tão ruim assim. Já os macarons são dificílimos de fazer e temos maravilhosos, do Erick Jacquin, do Flávio Federico entre tantos outros. Mas o contrário também acontece. Aproveitando a onda, vemos lojas franqueadas abrindo indiscriminadamente, vendendo produtos a preços altos, sem o menor padrão. Lojas em shoppings parecendo casinhas de boneca, onde cadeiras combinam com paredes e tecidos, atendentes são bem-apresentados e há máquinas novinhas de Nespresso, vendem brigadeiros mal boleados. Ou cupcakes velhos. Qual o sentido então? Até o McDonald’s começou a vender macarons! Um único McMacaron, tão solitário em um prato enorme, por R$3,00.Será que é só uma moda passageira a chegada destes doces desta maneira? Não sei; acho que não. São muito bons!... Mas é importante, então, que sejam bem-feitos.

LA D

OLC

E V

IDA

Gabriel [email protected]

Twitter: @leicand

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Dicas de leitura O Livro do Brigadeiro, de Juliana Motter (Panda Books).

The Oxford Encyclopedia of Food and Drink in, de Andrew F. Smith. (Oxford Usa Trade).Saiba mais em http://macaronperfeito.blogspot.com

pré-sal é uma camada de petróleo localizada em grandes profundidades, sob as águas oceânicas, abaixo de uma espessa camada de sal. No final de 2007, foi

encontrada uma extensa reserva de petróleo e gás natural nesta camada, em uma faixa que se estende por 800 km entre o Espírito Santo e Santa Catarina.A expectativa de produção de 8 bilhões de barris de petróleo faz com que o mundo volte os olhos para o Brasil, colocando o país em posição de destaque na economia mundial e abrindo as portas para que ele passe a fazer parte da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo).No que se refere à questão econômica, a exploração do petróleo descoberto no pré-sal é mais uma promessa de progresso e de grande influência no mercado internacional. Além do poten-cial na produção de alimentos, da posse de grandes reservas de água doce e da descoberta do turismo como fonte de recursos, o Brasil vê no petróleo mais uma possibilidade de crescimento econômico e fonte de divisas.Apesar da extração de petróleo do pré-sal na costa brasileira ainda engatinhar, quando a exploração estiver a todo vapor, especialistas apostam que haverá um aqueci-mento dos postos de trabalho no país. Entretanto, em algumas cidades litorâneas, como Santos (SP), esse cenário já é realidade. Os investimentos na construção de uma base operacional com ca-pacidade para 6.500 funcionários e a contratação destes funcionários tendem a impulsionar não só o mercado de trabalho mas também toda a economia local.Toda essa riqueza, além de colo-car o país em local de destaque na economia externa, promove o desenvolvimento da economia interna e, consequentemente, o enriquecimento da população.

EM BUSCA DO OURO NEGRO

meio ambiente

A queima dos

8 bilhões de barris

de petróleo que o

pré-sal oferece,

que ocorrerá

ao longo de

muitos anos,

implicará na

aceleração do

aquecimento

global.

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Qualquer economista diria que neste panorama só há benefícios, pois o enriquecimento da população aumenta o consumo e este aquece o mercado, que gera mais riqueza – e assim sucessivamente em um círculo virtuoso da economia.Mas todos sabem que a exploração dos recursos naturais associada ao consumo desenfreado pode trazer sérios prejuízos ao meio ambiente. Se pararmos para pensar, a queima dos 8 bilhões de barris de petróleo que o pré-sal oferece, que ocorrerá ao longo de muitos anos, implicará na aceleração do aquecimento global. E o pouco conhecimento das tecnologias de perfuração de poços profundos pode gerar risco de aci-dentes como o ocorrido no Golfo do México recentemente, onde o petróleo jorrou por meses seguidos, trazendo prejuízos irrecuperáveis para a biodiversidade.Levanto aqui uma discussão que vai um pouco além do que vemos a olho nu. Onde será aplicada toda essa riqueza?A nossa independência em relação à importação de petróleo, as divisas que o chamado “ouro negro” pode trazer e o desenvolvimento da eco-nomia interna do país poderão gerar uma riqueza que até agora o Brasil não dispunha e que, certamente, será aplicada em diversos setores, como educação, saúde, infraestrutura, portos e aeroportos para escoa-mento da produção.A grande discussão é como será tratado o meio ambiente, pois é do conhecimento de todos que a queima de combustíveis fósseis aumenta a emissão de gases de efeito estufa e, consequentemente, a aceleração do aquecimento global.A discussão sobre onde aplicar a riqueza gerada pela descoberta é grande. Como se estivéssemos diante de um trevo, com várias vias a seguir, tendo que escolher apenas uma, no caso, o da inclusão social e cultural – que uns entendem que deve ser feita através da educação; outros, da saúde. E há também quem quer ver os recursos investidos em habitação. Entende-se que o debate é justo e interessante, até mesmo para per-cebermos as dimensões exatas de nossas misérias.Pergunta-se então: Quanto desta riqueza será aplicado na compensa-ção ou neutralização do carbono emitido? Quanto será aplicado na preservação das florestas? E quanto será aplicado no desenvolvimento de novas matrizes energéticas?Estas questões latejam nas cabeças dos ambientalistas, porém até o momento não se viu qualquer movimentação por parte da classe política que indique um incremento nos investimentos ambientais. Cabe a todos pensar em como equacionar a questão do crescimento econômico com a da preservação ambiental, pois, ao mesmo tempo em que ambos são necessários, devem também ser compatíveis, sob pena de nos tornarmos insustentáveis econômica e ambientalmente.

Rubens Borges é Administrador, Especialista em Educação Ambiental e Secretário Executivo do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FEMA).

Até o momento

não se viu

qualquer

movimentação

por parte da

classe política

que indique

um incremento

nos investimentos

ambientais.

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reverência

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uitas pes-soas que fazem parte do nosso

cotidiano têm histórias belíssi-mas para contar. Como tenho um certo “talento” para identificar quem considero como “anjos”, quando encon-tro algum, quero imediatamente dividir a ex-periência e agregá-los, compartilhar suas vivências com outras pessoas, porque acredito que esta seja uma forma interessante de mostrar para quem possui uma visão pessimista do mundo, que podemos agir criando tons cor-de-rosa. Há alguns anos conheci a enfermeira e professora universitária Samara Rodrigues Moreira Eloi. Filha mais nova dentre os cin-co filhos de dona Cleides, “a maior mulher” que já conheceu, como ela mesma diz, Samara nasceu no sertão da Paraíba e foi educada desde o primeiro ano de idade em João Pessoa, capital. Ela é um exemplo de competência profissional nas áreas de saúde e educação, mantendo um bom relacionamento com

alunos e colegas. Talvez por estar sempre sorrindo ou

conversando com seu sotaque paraibano tão gostoso de ouvir.

Imaginei que ela tinha algo diferente para contar. E tinha mesmo.

Samara adotou seu filho, Matheus, e, como um presente neste mês das mães contou para a

Versátil como vivencia a maternidade. A ideia da adoção veio desde que conheci meu ex-marido e

soube que ele era vasectomizado. Descobri que isto não fazia diferença pra mim. E quando me perguntei um pouco mais so-bre isto, cheguei à conclusão de que a maternidade, para mim, não passava necessariamente pela experiência da gestação. Era algo bem mais duradouro, um cuidado muito mais pra vida toda do que pra nove meses. Talvez, neste aspecto, eu pense dife-rente da maioria feminina: gestação pra mim remete ao lado da fantasia (ver a barriga crescer), da vaidade (culturalmente e religiosamente falando), mas não diretamente à maternidade.O processo da adoção foi rápido, porque entramos na vaga de

DE PEITO ABERTO,MATERNIDADEpor Claudia Liba

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pes-que fazem

do nosso istórias belíssi-. Como tenho um para identificar quem

o “anjos”, quando encon-o imediatamente dividir a ex-gá-los, compartilhar suas vivências soas, porque acredito que esta seja

aluunos e colegasestaar sempre s

conveersando com paraibanno tão gostos

Imaginei quue ela tinha alpara contar. E tinha mesmo.

Samara adotou seuu filho, Matheum presente neste mês das mães co

Versátil como vivencia a maternnidade. A ideia da adoção veio desde que conheci meu

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reverência

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um casal desistente, coisas que me parecem já escritas. Mas até levar o Matheus pra casa, passamos pela burocracia de sempre, entrevista com psicólogo, juiz e inúmeros documen-tos: declarações de pessoas que eram testemunhas da nossa relação estável, atestado de sanidade mental... Fomos até questionados se tínhamos alguma preocupação com a cor do nenê, de suas descendências. Achei engraçado e lembro que respondi para o juiz que esperávamos por um bebê, e não um sorteio de carro. Meu marido queria me matar, achava que podíamos ser prejudicados no processo, mas o juiz deu risada da minha resposta. Deu tudo certo e nosso rebento nasceu dois meses depois, LINDO, de parto normal, de uma mãe biológica saudável, cuidadosa, de muita bondade no cora-ção. Temos que lembrar que adotar é um ato de amor, mas doar seu filho, reconhecendo sua falta de preparo ou estru-tura para que tenha a oportunidade de ser amado como você não se julga preparada, seja lá por qual infortúnio, é, no míni-mo, um ato digno. Admiro esta mulher mesmo sem nunca tê-la visto na vida. Brinco, dizendo que devo ser uma boa pessoa, pois Deus me rodeia sempre de pessoas especiais. E digo também que, se tivesse que escolher novamente um pai para o meu Matheus, seria novamente o Mauricio! Ele é desde o início o PAI que qualquer pessoa sonha. Na época minha única família por aqui era ele e a família dele. E foram, desde a chegada do baby, maravilhosos. Tanto que chamo a minha ex-sogra de mãe até hoje, mesmo estando separada há alguns anos. Quando chegamos de viagem (Matheus nasceu em Santa Catarina), tinha uma big feijoada organizada pela vó, tia Maria e pelos tios. A chegada foi tumultuada, mas muito calorosa. Contei com este pai primoroso desde a ajuda com a amamentação, banhos, papinhas (ele fazia melhor que eu!) até as noites acordadas com as crises de bronquite que nosso filhote teve até os quatro aninhos. Pra mim pareciam mais fáceis os cuidados, porque sou en-fermeira, mas ele tinha um talento nato de pai! Até hoje é muito presente e às vezes acho que educa melhor que

A maternidade, para mim, não passava necessariamente pela experiência da gestação.

Era um cuidado muito mais pra vida toda do que pra nove meses.

eu. Sabe dosar melhor entre ser duro e pôr no colo. Acho que eu ponho mais no colo. A ideia da amamentação foi de uma colega enfermeira que já tinha lido sobre experiências de sucesso. Quando sugeriu, achei meio louca a ideia, porque eu não tinha passado pelas mudanças biológicas da gravidez e me perguntava se não era muita pretensão da minha parte. Mas, como esta amiga fa-lou, o máximo que poderia acontecer era não dar certo. E isto, o “não”, eu já tinha! A literatura orientava o uso de algumas medicações que contribuem na formação da prolac-tina, mas em contrapartida, alguns colegas neonatologistas do São Luiz falavam do risco de impregnação para a mãe e o bebê e resolvi induzir a lactação só com a sucção. No quinto dia após o nascimento, coloquei o Matheus para sugar no meu peito. É importante lembrar que desde o nascimento ele vinha tomando leite artificial na mamadeira, na materni-dade onde nasceu. Me achei meio louca de acreditar que daria certo. Mas quando coloquei ele no peito, o bichinho sugava como se acabasse de nascer.É como falei antes: sou muito bem cuidada por Deus, pois tivemos a luz de uma outra colega enfermeira ter sido mãe (biológica) no mesmo dia do nascimento do meu filho. Ela tinha leite sobrando e me ofereceu para que eu induzisse minha lactação oferecendo leite materno para meu filho! Esta moça chama-se Mônica, nunca vou esquecer seu gesto es-pontâneo, típico de uma mãe! Ela congelava seu leite excedente e o Mauricio buscava na casa dela. Depois, a cada três horas, eu e ele colocávamos o Matheus para mamar no meu peito, que ainda não tinha leite. E para estimulá-lo a sugar, como ensinou minha amiga enfermeira, colocávamos uma sonda uretral infantil na lateral, entre a boca dele e o meu peito e na extremidade

conectávamos a seringa com o leite materno doado por minha colega. Era uma “ciência”, mas tudo parecia super natural pra gente. É engraçado lembrar, hoje, que ao ver a tranquilidade do Mauricio do segundo dia para frente, aspirando o leite com a seringa, nem parecia que ele trabalhava com hotelaria a

Fomos questionados se tínhamos preocupação com a cor do nenê,

suas descendências. Respondi para o juiz que esperávamos

por um bebê, e não um sorteio de carro

Samara Rodrigues Moreira Eloi é enfermeira formada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com especialização em Saúde Mental e Psiquiatria, Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), MBA em Consultoria Empresarial pela Thompson do Brasil com Formação na área de Auditoria de Custos e Qualidade com foco na Saúde. Atualmente, é auditora plena na Marítima Saúde e professora universitária.

vida toda, parecia mais que dava plantão em hospital!O resultado do nosso investimento emocional inicial apareceu em quinze dias, o colostro. Mais uma semana e eu tinha leite como qualquer outra mãe biológica. Foi assim por quatro meses, alimentando nosso rebento com leite materno, o que certamente contribuiu para torná-lo este cara de quase dezessete anos de hoje, com 1,80 m de altura, obviamente saudável e que me presenteia todos os dias com sua presença em minha vida.Foi assim. E continuo por aqui para contribuir um pouco mais, se necessário, para ajudar outras pessoas a descobrir como ser feliz!Obrigada pela oportunidade de registrar parte tãoimportante de nossas vidas.

negócios

á tempos os humanos deixaram de usar o vestuário como abrigo ou aparato moral para cobrir as vergonhas, e fizeram das vestes um verdadeiro arsenal de exibição

e sedução. Fashion é uma verdadeira paixão masculina e feminina se estendendo para todas as idades. Inauguramos a juventude criando e recriando marcas para demonstrar irreverência, impactar as plateias e uniformizar as tribos.

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COM QUE ROUPA EU VOU?Trabalhar, passear, seduzir.

Claudia Ramos Lessa é Professora de Ética e

Diretora da Soares & Lessa Consultoria Empresarial.www.planejamentodevidaecarreira.blogspot.com

Por outro lado, os maduros se retocam e buscam estacionar o irreversível tempo dando ao vestuário a cor da moda, colo-cando modernos acessórios e promovendo mudanças suficien-tes para alegrar um vivente humano que já percorreu décadas após a adolescência, mas quer continuar presente nos festejos da vida.A sedução e a conquista são o mote para todo esse investimento. O bizar-ro, o elegante, o discreto e o escracha-do, todos constroem sua identidade através da roupa. Sabemos algo de al-guém, ou pensamos saber, traduzindo os códigos de sua indumentária.Historicamente as mulheres são acusadas de abusarem da luxúria, mas os homens nunca ficaram atrás nesse quesito, basta deixarmos o padronizado costume ocidental de vestir ternos e jeans e observar a riqueza dos trajes orientais, onde o requinte se ex-pressa dos pés à cabeça, além das joias e muitos adornos.O mundo globalizado ainda se mostra confuso diante da di-versidade das culturas que emergiram. Os usos e costumes possuem muitas faces. Podemos lembrar quando o presidente da Bolívia se apresentou oficialmente em trajes típicos de seu povo, provocando uma avalanche de elogios e críticas de pessoas que analisavam como autenticidade e outros como irreverência e protesto. Agora o mundo do trabalho é quem mais faz sofrer e sofre. O mundo dos negócios é rígido com relação ao vestuário e criou um padrão difícil de ser mantido nos dias de hoje. A iden-tidade profissional, muitas vezes, contrasta com a identidade pessoal. Cabelos extravagantes, bonés, barba e bigode podem ser rejeitados, sem contar as tatuagens, brincos e piercings que marcam jovens e maduros avançados. O estilo démodé bus-cado para aparentar seriedade também pode ser motivo de ex-clusão por demonstrar resistência à modernidade. Na maioria das vezes, temos que romper com nossa identidade pessoal para ter destaque no mundo do trabalho.As saias curtas, barriga a descoberto e decotes... Ah, os de-cotes! Considerados os mais ricos adereços da conquista, deixam-se circular livremente nos ambientes mais austeros sem qualquer recato e desconsertando as massas. “O que desejam de mim?”

– pergunta o detetive Ed Mort ao observar a exuberância dos seios da visitante solitária que o procura para um trabalho. Nin-guém orna um decote impunemente, disse Nelson Rodrigues, lembrando a intenção feminina de seduzir.O uso de uniformes mostrou-se como boa medida para disciplinar a

liberdade do vestir no trabalho. Fardas mili-tares, hábitos religiosos, aventais e roupas profissionais, entre outras, são formas de amenizar o clima de ostentação e sedução que, segundo opiniões, podem desviar a atenção no trabalho, provocar acidentes ou comprometer a imagem de seriedade trans-mitida pela empresa.Muitas empresas que adotaram os uni-formes como medida saneadora são

chamadas a responder pelos impactos das despesas com uni-formes no orçamento dos negócios. Outras já tiveram que responder as críticas de empregados que não aceitam com-partilhar a compra de roupas de trabalho. Algumas categorias reivindicam adicional de salário para quem deve carregar a ima-gem da empresa estampada nas roupas ou, como vem ocorren-do com babás e servidoras domésticas, queixam-se de serem usadas como ostentação para destacar o poder econômico dos patrões com roupas que as diferenciam nos ambientes sociais e rebaixam o status social, como as golas rendadas, símbolo do modelo escravocrata de servidão. Já na indústria, os uniformes são parte do processo. Desenha-dos de forma a garantir conforto, higiene e segurança, são bem aceitos pelos profissionais, que percebem a sua importância em protegê-los de acidentes e não danificar a roupa pessoal. A área da saúde é outro espaço onde o uniforme foi incorporado como identidade profissional, os “homens de branco”, além de ser visto como forma de demonstrar a higiene do ambiente. A dúvida de Noel Rosa, compositor popular do século passado, continua presente – “Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou”!

Algumas categorias reivindicam adicional de salário

para quem deve carregar a imagem

da empresa estampada nas roupas.

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LIVROS por Valéria Diniz

A FLOR DO TAITI. Célestine Hitiura Vaite. Trad.: Léa Viveiros de Castro. Relacio-namentos, diferenças de gênero e transformações socioculturais no seio de uma típica família taitiana dão o mote da obra. A autora encanta pela delicadeza da prosa e traça com sensibilidade e pre-cisão um painel das relações hu-manas. Editora Rocco.

ALEX NO PAÍS DOS NÚMEROS. Alex Bellos. Com linguagem acessível e divertida, o autor revê desenvolvi-mentos recentes, como a teoria dos grandes números e a informática, sem negligenciar aspectos cotidianos da matemática. Entretenimento intelectual de primeira categoria para leigos e especialistas. Companhia das Letras

BOIANDO EM MOÇAMBIQUE. Rafael Moralez. Após morar em Moçambique, Rafael criou um blog bem-humo-rado com “causos” de viagem e histórias sobre usos e cos-tumes luso-africanos. O blog, que também traz uma visão social dos acontecimentos, originou o livro. Com fotos e ilustrações feitas pelo autor. Balão Editorial.

CONTOS DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN. Hans Christian Andersen. Trad.: Silva Duarte. Escritos do autor traduzidos do dinamarquês diretamente para o português pelo especialista em literatura dinamarquesa, o lusitano Silva Duarte. Com notas e textos que elucidam o caráter clássico e permanente da obra. Edições Paulinas.

DIVINA COMÉDIA. Dante Alighieri. Trad.: João Trentino Ziller. Uma das obras-primas da literatura mundial em primorosa tradução de Ziller, erudito italiano. Publicada originalmente em 1953, em Minas Gerais, a presente edição oferece algo inédito ao leitor brasileiro: ilustrações de Sandro Botticelli, perdidas du-rante séculos e identificadas na década de 1980. Ateliê Editorial e Editora da Unicamp.

ESTÓRIAS MÍNIMAS. José Rezende Jr. Nos dias velozes de hoje, em que a informação trafega instantânea, eis um escritor capaz de escrever microcontos densos que arrebatam o leitor em apenas três linhas (e muitas en-trelinhas). São histórias rápidas de ler, mas que reverberam como grandes obras literárias. Editora 7 Letras.

EU, AOS PEDAÇOS. Carlos Heitor Cony. As 85 anos, o au-tor reúne suas crônicas dizendo “cometer uma biografia”. Fatos engraçados, confusões provocadas em viagens, homenagens a pessoas marcantes, família, política e a vocação para falar mal de qualquer assunto só pelo gosto de uma boa conversa são temas de sua obra. Leya.

IMPRESSÕES DO BRASIL. Roger Bastide. Org.: Samuel Titan Jr. e Fraya Frehse. Ex-aluna do sociólogo francês na USP (1930/40), Gilda de Mello e Souza compilou seus ar-tigos de revistas e jornais e os organizadores reuniram o que estava disperso. Ilustrações e reprodução de pinturas pertencem a museus internacionais. Imprensa Oficial.

MAR DE PAPOULAS. Amitav Ghosh. Trad.: Cassio de Aran-tes Leite. Uma aventura histórica numa obra grandiosa, digna dos clássicos do séc. XIX, com personagens cativantes. É o primeiro livro de uma trilogia do escritor indiano, que virá à Bienal do Livro Rio 2011 em setembro. Finalista do Man Booker Prize 2008. Alfaguara.

FERNANDO PESSOA: UMA QUASE AUTOBIOGRAFIA. José Paulo Cavalcanti Filho. Ensaio. Exemplar obra de referência das personas do poeta, fruto de mais de 15 anos de pesquisa. Os heterônimos são revelados com grande riqueza de detalhes. O au-tor traduz e explica cada expressão portuguesa utilizada. Record.

O CAVALEIRO DA ILHA DO CORVO. Joaquim Fernandes. Navegadores encontraram uma estátua na Ilha do Corvo, Por-tugal, em meados do séc. XV. O cavaleiro com traços do norte da África e inscrições em língua desconhecida tornou-se um enigma. O autor é professor da Universidade Fernando Pessoa. Editora Bússola.

O FOTÓGRAFO. Cristovão Tezza. Reedição da obra premia-da como melhor romance pela Academia Brasileira de Letras em 2004. Às vésperas das eleições de 2002, enquanto Lula e Serra trocavam farpas, o fotógrafo, nunca nominado, foi contratado por um homem misterioso para captar imagens de uma modelo secretamente. Record.

A MULHER DE VERMELHO E BRANCO. Contardo Calligaris. O ro-mance mescla investigação psicanalítica e policial para refletir questões étnicas, religiosas, ideológicas, sexuais. Há mo-mentos dignos de um thriller, como o cerco a um suspeito num drive-in e a impossibilidade de versões definitivas dos fatos. Companhia das Letras.

mix cultural

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REFLUXOS. Edson Valente. Com prosa direta, sem efei-tos, Valente se debruça sobre a violência, mas não com descrição crua da realidade. Revela a violência cometida contra o corpo e suas reverberações na alma a partir de me-táforas que “maneja com desenvoltura” – como diz Marcelo Coelho no texto da orelha. Ateliê Editorial.

TRIÂNGULO ROSA - UM HOMOS-SEXUAL NO CAMPO DE CONCEN-TRAÇÃO NAZISTA. Rudolf Brazda e Jean-Luc Schwab. Aos 97 anos, Brazda deixa seu testemunho dos horrores dos campos de concentração e das investiga-ções policiais que visaram homossexuais no Estado nazista. Schwab acrescentou uma vasta pesquisa histórica. Mescla Editorial.

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UM DIA NA VIDA DOS BEATLES. Dom Mcculli. O fotógrafo apresenta cerca de 80 imagens tiradas quatro meses antes do lançamento do “White Album”. John, Paul, Ringo e George aparecem fazendo palhaçadas em Lon-dres, rindo, cantando e dançando. Material obrigatório na prateleira dos fãs de carteirinha. Cosac Naify.

VERMELHO AMARGO. Bartolomeu Campos de Queirós. O narrador revisita a infância marcada pela ausência da mãe, uma madrasta indiferente e um pai alcoolista. Os irmãos desen-volvem anomalias para suprir a ausência de afeto. “Uma obra delicada como arame farpado”, nas palavras do diretor teatral Gabriel Villela. Cosac Naify.

CHICO MOURA LANÇA ACALANTO por Daniel Pereira

Poeta bebeu na fonte de Carlos Drummond de Andrade, com quem trocou cor-respondência por muitos anos.

O Soteropolitano, badalado point gastronômico e cultural da Vila Madalena, abriu suas portas no último dia 13 de abril para a noite de autógrafos em que o poeta Francisco Moura Campos lançou Acalanto, o 11º livro de sua carreira. Acalanto (Scortecci Edi-tora, 71 pgs.) é uma seleção de poemas da obra do autor, que têm como mote sua filha, Mariana, mas que também resgatam paisagens interioranas de Botucatu, sua terra natal. A capa do livro foi produzida pela artista plástica Ângela Mendes.No Sotero, literatos, jornalistas, empresários e amigos foram abraçar Chico Moura. Entre eles, Joaquim Maria Botelho, presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), seu an-tecessor, Levi Bucalem Ferrari, as escritoras Eunice Arruda e Raquel Naveira e as cantoras Suzi Mathias e Carmem Queiróz. Entre um e outro autógrafo, Chico Moura, que também é dire-tor da UBE, contava as novidades do congresso que a entidade vai realizar em novembro, em Ribeirão Preto. Uma delas, con-firmada por Joaquim Maria Botelho, é a possível presença da Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, convidada para a abertura do evento.

DRUMMOND NA CABEÇA

“No meio do caminho” do estudante de engenharia Francisco Moura Campos havia um livro. Um livro de poesias. Um livro de... Carlos Drummond de Andrade, que caiu na cabeça do futuro poeta quando ele fazia pes-quisas na biblioteca da Faculdade de Engenharia da USP, de São Carlos. Seguiu carreira, trabalhou a vida inteira na Sabesp e lá se aposentou. Mas a poesia era obsessão. Mergulhou na obra de outros autores, mas com Drummond estabeleceu afinidade a ponto de trocarem correspondências. Um trecho do prefácio de Acalanto já é suficiente para justificar a inspiração do poeta. “Tudo acontece em abril, sumário do existido. Em abril nasceu Mariana, vinha car-ta de Drummond”. A relação com o poeta mineiro foi eternizada por Chico Moura no seu livro Antologia Poética, de 1998, em que reproduz na contracapa uma das cartas com a escrita fina e miúda de Drummond.

“Acordo com dedilhada melodiaUm chorinho(desses com que Mariana madrugava)orvalha este poema:Ração deste dia

-- Razão de existir.”Chico Chico com a filha Mariana Tarde de autográfos

Div

ulga

ção

MENECMA. Texto: Bráulio Mantovani. O roteirista de “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” traz ao palco um texto sobre a re-tomada da relação entre pai e filho. O clima é de suspense e hu-mor. Direção: Laís Bodansky. Com Gustavo Machado, Ronney Facchini, Paula Cohen. Teatro do SESI. Avenida Paulista, 1.313, Cerqueira César, (11) 3176 7439. Até 26/06.

mix cultural

MÚSICA

Menecma

por Claudia Liba e Valéria Diniz

ALL YOU NEED IS NOW. Duran Duran. O grupo formado por Roger e John Taylor, Simon Le Bon e Nick Rhodes foi um dos precursores do New Wave e fez sucesso nos anos 1980 com hits como Hungry Like a Wolf e The Reflex. Agora eles buscam um novo som para a nova geração, mas não esquecem a própria trajetória.

ARCO DO TEMPO. Soraya Ravenle. Vinte e cinco anos de palco e 21 espetáculos musicais depois, a cantora lança o primeiro CD, cantando 11 inéditas e quase inéditas de Paulo César Pinheiro. Já na faixa de abertura, que leva o nome do CD, apodera-se de versos definidores: “Meu canto jamais vai ter paradeiro”.

FEITO PRA ACABAR. Marcelo Jeneci. Multiinstrumentista, Marcelo entrou no mundo da música desde criança, quando o pai consertava instrumentos. Depois de trabalhar com Vanessa Da Mata, Elza Soares, Chico César e outros, traz CD autoral com músicas inéditas e parcerias com Arnaldo Antunes, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit e outros.

MEU QUINTAL. Ná Ozzetti. Aos 30 anos de carreira, a cantora reuniu parceiros como Luiz Tatit, Dante Ozzetti, Arthur Nestrovski e Alice Ruiz para seu CD autoral. As novi-dades ficam por conta da participação de Makely Ka e Zélia Duncan. Com os músicos Mário Manga, Sérgio Reze e Zé Alexandre Carvalho.

TEATRO por Valéria Diniz

“Arco do tempo ”, de Soraya Ravenle

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Capa do álbum “Meu quintal”, da

cantora Ná Ozzeti

O FANTASMA DA MÁSCARA. Adaptação de “O Fantasma da Ópera”, de Gaston Leroux. Belinha ganha uma gaiola e um livro que eram de um misterioso maestro. Em sua festa de aniversário, ela some. Onde estará? E quem será o Fantasma? Direção: Rosi Campos. Com Lissah Martins e Beto Marden. Teatro Raul Cortez. Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, (11) 2626 0261. Até 26/06.

AVALON. Baseada em As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Idealização: Lucélia Santos. Texto: Cintia Alves. A peça evoca uma Bretanha real e lendária, as tragédias do Rei Artur e o fim do misticismo representado pela espada Excalibur. Direção: Karen Acioly. Com Lucélia Santos, Ando Camargo, Ana Elisa. Teatro do SESI. Avenida Paulista, 1.313, Cerqueira César. Até 26/06.

O Fantasma da Máscara

Avalon

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ção

Ever

ton

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Div

ulga

ção

SHOWS por Claudia Liba

EVA JAGUN & BEBA ZANETTINI. A cantora alemã e Beba Zanettini afirmam uma ótima parceria. Serão apresentadas músicas do CD “My Blue Hour”, de Eva, e “Beba Música”, de Beba. No repertório, de Schubert a Lupicínio Rodrigues. Músicos: Manuel Zacek (baixo), Felipe Ávila (violão e guitarra) e Alê Damasceno (bateria). Ao Vivo Music. Rua Inhambu, 229, Moema, (11) 5052 0072. Dia 31/05.

EXPOSIÇÃOTRILOGIA VERMELHA: CHINA. O projeto Trilogia Vermelha exibe fotos de países vistos pelo olhar de fotógrafos viajantes. É a vez de Mauricio Nahas, Paulo Mancini e Ricardo Barcellos exporem as suas, captadas na China, Rússia e em Cuba. Grátis. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Praça da Luz, n.2, Bom Retiro, (11) 3324 1000. Até 03/06.

REENCONTRANDO A FELICIDADE. Adaptação da peça de David Lindsay-Abaire. A crise de um casal após a morte do filho, que origina uma viagem emocional em busca da felicidade. A mãe encontra conso-lo numa relação com um jovem misterioso. Direção: John Cameron Mitchell. Com Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Dianne Wies.

MEIA NOITE EM PARIS. Filme de abertura do Festival de Cannes 2011. A vida de uma família que viaja para Paris a negócios, o deslumbramento com a cidade e a ilusão que as pes-soas têm de que, se levassem uma vida diferente, seriam mais felizes. Direção: Woody Allen. Com Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdam. Estreia: 03/06.

REINO ANIMAL. Joshua “J” vai morar com parentes com os quais nunca teve contato. Há um membro de gangue e um viciado em drogas, ligado a crimes e assassinatos. “J” não se adapta e um detetive quer tê-lo como aliado. Direção: David Michôd. Com James Frecheville, Joel Edgerton, Sullivan Stapleton. Estreia: 08/06.

O NOIVO DA MINHA MELHOR AMIGA. Prestes a completar 30 anos, uma advogada de Manhattan se envolve com o noivo da sua melhor amiga e descobre que sempre amou o rapaz. As coisas pioram a cada momento, pois será a madrinha do casamento. Direção: Luke Greenfield. Com Kate Hudson, Ginnifer Goodwin, John Krasinski.

O PODER E A LEI. Baseado na obra de Michael Connelly. Depois de clientes motoqueiros, prostitutas e traficantes, de quem ganhava dinheiro fácil, um advogado defende um jovem detido por agressão e tentativa de estupro. A verdade se afasta a cada novo passo. Direção: Brad Furman. Com Matthew McConaughey, Marisa Tomei. Estreia: 25/05.

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CINEMA por Claudia Liba

por Valéria Diniz

Eva Jogun

Beba Zanettini

omeçou com coisas pequenas. — Oi, dona Jurema, tudo bem? Tem um pequeno detalhe no meu último ensaio sobre o qual eu queria conversar. Talvez eu tenha me esquecido de mandar o trecho correto. Pura educação formal. O texto enviado por Arnaldo estava cor-reto; ele tinha cópia do e-mail. A diagramadora é que havia cortado a frase final, anulando completa-mente o efeito da história. Ela se desculpou, garantindo que não havia notado. No mês seguinte, ao folhear a revista em uma banca, Arnaldo encontrou mais uma falha. — Cadê o negrito do texto? Sim, toda uma caixa de texto que deveria estar em negrito e itálico estava igual ao restante do texto. Pior: não estava separada, mas continuava na mesma linha. Não dava nem para entender di-reito o sentido da narrativa. — Boa tarde, dona Jurema, tudo bem? Mais uma conversa, mais uma explicação educada e nova justificativa com desculpas. Arnaldo ficou chateado, mas pensou que com o tempo ela acertaria esses detalhes. E mais um ensaio chega às mãos da diagramadora Jurema. E mais uma revista chega às bancas. E mais uma vez, com erros. Erros graves. — Oi, dona Jurema, – já dispensando o “bom dia” – o que aconteceu com o meu texto? — Ué... foi diagramado. — Cadê o título? — Humm...? — O TÍTULO! — Deixa ver... é mesmo... devo ter cometido um pequeno esqueci-mento. Desculpe. Pequeno. Apenas o título, que fazia ironia com o próprio ensaio. Ela matou de quebra um título, uma ironia e, talvez, um ensaio inteiro. Era uma matadora. — Não é só isso, dona Jurema. A figura de fundo que a senhora colo-cou é muito escura. Eu não consigo ler vários trechos do ensaio. — Achei que ia ficar bonita a foto de São Paulo à noite. — Ficou bonito, mas NÃO DÁ PRA LER O TEXTO! — O senhor nunca está satisfeito, né seu Arnaldo? Ela sempre encerrava assim. Invertia a responsabilidade das coisas, como se todo o problema fosse o mau-humor do outro, sua intolerância, seu senso crítico afiado. Toda revista tinha algum problema de diagramação. — E o desenho que eu mandei para ilustrar a página? — Ah, isso eu não sei fazer, não, seu Arnaldo. — A senhora não é diagramadora? Como é que não sabe? — Vai começar com grosserias, não é? Eu sou humana, não sou máquina. Errar é humano. Na próxima prometo que tentarei resolver o problema do desenho. Mês seguinte vinha e nada do desenho. — Não acredito! Ligou imediatamente para ela.

— Cadê o desenho, dona Jurema? — Olha, eu bem que tentei, mas o ar-quivo não abriu. — Por que a senhora não me avisou? — Para o senhor, nada menos que a perfeição é suficiente. Lembre-se de que neste mundo só não erra quem não faz. No número seguinte, novas falhas. — A senhora reparou que as linhas estão todas espremidas e sobrou um espação em branco no final da página? — Tive que diagramar esse texto ontem, em cima da hora. Estava cansadíssima. Al-guma coisa sempre passa. — Para a senhora é mero detalhe que não consigamos ler o texto porque as letras estão empilhadas como se fossem amendoins? — Tanta coisa importante neste mundo e o senhor vem implicar com a irrelevância. Tanta fome na África, desastres, violência... — Além disso, eu mandei esse texto faz mais de um mês! — O senhor só sabe cobrar. Meu Deus, que coisa triste...

— Por que a senhora não diagramou antes? — É um interrogatório? — Que tal a senhora dar uma resposta objetiva, só pra variar? — Ai... quanta falta de sentimento... Normalmente ela apelava ao sentimentalismo. Funcionava com desavisa-dos e funcionou com o Arnaldo no começo, mas ele aprendeu a lição. — Por que a senhora fez de última hora? — O senhor não erra, não é? É um ser sublime e cheio de perfeição! — E onde estão os parágrafos, dona Jurema? — Isso é besteira, seu Arnaldo. Ninguém mais usa isso. — Como assim?? — O senhor já viu o Flog dos jovens? Nenhum usa parágrafo. — É BLOG, DONA JUREMA! Mas na última crônica, foi ela quem ligou para reclamar. — Seu Arnaldo, o que é isso?? — Ué... o título do meu próximo ensaio... — Não se faça de desentendido! O que o senhor quer dizer com “A DIAGRAMADORA”? Aposto como o senhor está me destratando nesse ensaio! — Longe de mim tal indelicadeza! Esse será um ensaio de ficção, não tendo relação com a vida real. Mas se a senhora está incomodada com o título que dei, posso perfeitamente modificá-lo para provar que esse ensaio não é uma vingança pessoal contra anos de descaso em relação à minha seção. — Ah, bom! Melhor assim. E assim se fez.

Alexandre Lourenço é Veterinário, microbiologista, professor, bípede,

mamífero e, agora, escritor. Não necessariamente nesta ordem.

[email protected] www.microbiologia.vet.br

diversatilidade

O SINTAGMA PARADOXAL, O HOMÚNCULO MOTOR, A LUCIFERASE BACTERIANA E A DIAGRAMADORA

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