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O VEGETARIANISMO SIMPLIFICADO ESTILO DE VIDA E MAIS YOGA ENTREVISTA OURO BRANCO VEGETARIANISMO MAIO/2008 #1 R$9,90 9 771981 90701 07 ISSN 1981-9072

Revista VG

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Projeto da Revista Vegetariana VG

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O VEGETARIANISMO SIMPLIFICADO

estilo de vidaE MAISYOGAENTREVISTAOURO BRANCO

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Maio/2008 #1 R$9,90

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ANO 1 jUNhO 20082 vG

ssUMÁRio

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VEGETARIANISMOum estilo de vida

OPINIÃOcom Eric Slywitch

YOGAuma filosofia

OURO BRANCOo sal

e Mais

CARDÁPIO 19

PERGUNTAS E RESPOSTAS 26

BEM ESTAR 28

EMPÓRIO 16

SER VEGETARIANO 17

POEMA VISUAL 18

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CaRtaeditoRial

CAROS LEITORES,

é com muita satisfação que lançamos a primei-ra edição da revista vG, que tem o objetivo de trazer o vegetarianismo de forma simplificada e acessível não só para os já adeptos, mas também para os interessados nesse assunto tão difundido atualmente. A matéria de capa “Um estilo de vida” traz uma ampla visão sobre o vegetarianismo, mostrando os motivos que levam uma pessoa a decidir abolir a carne de suas refeições, além de mostrar as dife-renças entre as vertentes e os benefícios desse estilo de vida. Para complementar, em Encontro,há uma entrevista com o médico nutrólogo Eric Slywitch, que trata sobre o crudivorismo.O alimento do mês em Foco é o sal que, apesar de ser considerado por muitos um alimento preju-dicial a saúde, traz muitos benefícios para aqueles que o consomem de maneira correta. O nosso colunista é o físico, professor, pianista, po-eta, escritor e coordenador do Grupo Porto Alegre da Sociedade Vegetariana Brasileira, Rafael Bán Jacobsen, que estará presente em nossas edições. Como o foco da nossa revista é a qualidade de vida trazida pelo vegetarianismo, incluímos também uma matéria sobre os benefícios da yoga.O toque de arte da nossa revista é o poema visual que dialoga com a filosofia e ideologia de nossa revista, a crescente importância que o vegetaria-nismo vem tendo no cotidiano das pessoas.

Boa Leitura!

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETINGCurso de Graduação em Design

DisciplinasProjeto III - Prof. Marise de ChiricoProdução Gráfica - Prof. Antonio C. CollaroMarketing II - Prof. Vivian StrehlauLIP III - Prof. Regina F. da SilvaMódulo Cor - Prof. Paula Csillag

Projeto Gráfico

Ana Carolina Nakandakari AugustoIriny Pasqualetto AmerssonisMichelle Delta OkumuraSamira Sayuri Kinoshita da Silva

Foto de Capasxc.hu

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VOCê é AqUILO qUE VOCê COME. Quando você nasceu, seu corpo pesava menos que um saco grande de açúcar de 5 quilos e para crescer, seu organismo simplesmente incorporou pedacinhos dos almoços e jantares da sua vida. Tudo aquilo que você fez ao longo da vida só foi possível por causa da energia que você tirou dos alimentos. Até suas idéias e seus pensamentos são formados por aquilo que você come. É verdade que a maioria dos seus neurônios já existia no momento em que você nas-ceu. Mas as ligações entre eles e as substâncias que eles usam para se comunicar são construídos usando como matéria-pri-ma proteínas, gordura e vitaminas provenientes dos alimentos e assim, de todas as escolhas que fazemos na vida, não há ne-nhuma mais definidora do que somos e da forma como que-remos nos relacionar com o mundo do que a decisão sobre o que comer. Quando alguém decide abrir mão de alguns tipos de alimentos e se declarar vegetariano, isso tem uma quanti-dade enorme de implicações. A intenção desta reportagem é discutir essas implicações.Há quatro razões principais para alguém ser vegetariano: es-piritual, moral, ambiental ou médica. Talvez as discussões e os dados que você vai ver aqui o ajudem a escolher seu caminho.Lembre-se: a dieta ideal depende de quem você quer ser.

v e G e ta R i a N i s M o ESTILO DE VIDAPor trás da decisão de ser vegetariano há muito mais que saúde e ética. há quem acredite que é possível salvar a alma e o planeta abolindo o bife do prato.

DEniS RUSSO BURGiERMAn SxC.HU

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hÁ qUATRO RAzõES PRINCIPAIS PARA ALGUéM SER VEGETARIANO: ESPIRITUAL, MORAL, AMBIENTAL OU MéDICA

RAzõES ESPIRITUAISQuando os gregos antigos matavam um animal, faziam isso de forma ritual, sempre com a participação de um sacerdote. Por exemplo, ninguém comia as patas traseiras dos touros - elas eram queimadas na fogueira como uma oferenda, um presente aos deuses em troca do direito de comer o resto do animal.“Talvez a gente tenha inventado os deuses para podermos pôr a culpa neles. Eles nos deram permissão para comer carne. não é nossa culpa, é deles. Somos apenas seus filhos.” Quem disse isso foi a escritora vegetariana Elizabeth Costello, personagem de um livro de ficção - A Vida dos Animais, do nobel de lite-ratura de 2003, o sul-africano J.M.Coetzee.Embora esteja no reino da ficção, a hipótese de Elizabeth não é nada absurda. Claro que não há como comprová-la. As pri-meiras demonstrações de capacidade humana - as pinturas nas paredes das cavernas são justamente imagens de animais que nos serviam de alimento e assim, os antropólogos especulam que os desenhos são homenagens aos animais mortos. Qual-quer que seja a explicação, os desenhos demonstram algum tipo de preocupação com o mistério da vida. Talvez estejam lá nos-sas primeiras manifestações de culpa por tirar a vida alheia para sustentar a nossa.

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Todas as religiões do mundo demonstram alguma preocupação com isso. na maioria delas, a solução era a aprovação dos deu-ses. É assim até hoje no judaísmo e no islamismo. Os fiéis só podem consumir carne aprovada por um sacerdote, que atesta que o animal foi morto de forma correta.Já no cristianismo, não importa o que come ou como se come. O que vem de fora não pode fazer mal, porque o que importa está dentro: a fé. na idade Média, teólogos afirmaram que a natureza foi feita por Deus para usufruto dos humanos. Os animais seriam um presente de Deus aos homens. O vegeta-rianismo, portanto, é como recusar um presente divino. Mesmo considerando a vida sagrada, trata-se apenas da vida humana, pois animais não têm alma.Já na Índia, acha- se que os animais têm alma do mesmo tipo que a nossa. O budismo prega que toda vida é sagrada, e portanto é errado matar, mesmo que seja para a alimentação. Foi assim que nasceu o vegetarianismo religioso, que depois influenciou o hinduísmo.Hoje, milhões de hindus são vegetarianos porque acreditam que as almas dos animais são iguais às almas humanas. O hinduísmo praticado no norte do país até permite que se coma carne, mas se um homem mata uma vaca, é rebaixado até o nível mais inferior, tendo que passar por 87 vidas para poder ser gente de novo.

RAzõES éTICASno nosso tempo, a razão substituiu Deus - é ela que deve nos dizer o que é certo e o que é errado. Essa é a opinião do filósofo Peter Singer que tem dedicado sua vida acadêmica a construir um código moral que nos ajude a guiar nossas vidas num mundo que não é mais regido pelos valores religiosos.Um dos preceitos básicos do pensamento de Singer é o de que, mesmo que não haja um Deus para nos castigar, não dá para cada um cuidar apenas dos seus interesses e satisfazer seus desejos sem se preocupar com outras pessoas. Até que ponto cada um de nós pode viver a própria vida sem se preocupar com os outros? Singer acha que a fronteira é o sofrimento: podemos buscar nossa pró-pria satisfação, desde que não causemos sofrimento a outro.A coisa complica quando ele inclui os animais. Se o interesse é não sofrer, então por que eu tenho mais direitos que um ani-mal? Será que temos mais direitos que eles porque somos mais inteligentes? Singer diz que não. Se inteligência fosse critério, humanos menos inteligentes poderiam ser torturados. nos últimos séculos, concordamos que tratar brancos e negros de forma diferente é racismo e que tratar homens e mulheres sem critérios iguais é machismo. Pois então: ele afirma que o que estamos fazendo com os animais é “especismo”- ou seja, damos direitos maiores para nossa espécie.

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PARA LARGAR A CARNE!

COMA MUITOS VEGETAIS. Se você não gosta de vegetais, mude seu gosto. Os que se baseiam em massas e laticí-nios podem ficar desnutridos.

APRENDA COM qUEM SABE. Indianos são vegetarianos há quase 3 mil anos. Mergulhe na culinária deles se não quiser abrir mão do sabor.

APRENDA A COzINhAR. Não é fácil ser vegetariano se você só come fora ou come o que um não-vegetariano faz.

ESTUDE NUTRIçÃO. Conheça cada alimento e saiba de quanto você precisa para viver. Conhecer os nutrientes é muito saudável - inclusive para os não-vegetarianos.

CRIANçAS também podem ser vegetarianas. Mas só se os pais souberem muito de nutri-ção. Crianças e adolescentes, precisam consumir muitas ca-lorias, mas não muitas fibras, que atrapalham a absorção das calorias.

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A tese de Singer é a de que simplesmente não temos o direito de impor uma vida de sofrimento a um animal apenas para satisfazer nosso paladar. O filósofo ainda diz que o crime que estamos cometendo ao submeter bilhões de animais a uma vida miserável é comparável ao Holocausto nazista. nem todo mundo concorda com ele. Um dos textos mais interessantes publicados recentemente em oposição a Singer saiu na revista New York Times Magazine em novembro de 2002, assinado pelo escritor Michael Pollan. Ele acha que as interações entre os animais são mais complexas que a retórica do tipo “estamos dominando e explorando os bichos”. Pollan conta que a humanidade começou a domesticar animais quando as ovelhas se aproximaram dos nossos vilarejos, há mais de 5 mil anos, numa relação que poderíamos chamar de simbiótica. Elas dependiam de nós - porque as protegíamos das feras que representavam uma tensão constante -, nós comíamos algumas delas.Ou seja, não foi só o homem que aprisionou os animais - os animais também nos escolheram.Tudo isso para chegar à conclusão de que tentar definir o mun-do pela lógica dos “direitos individuais”, como faz Singer, pode ser um pouco limitado. “A moralidade é um artefato huma-no, criado para nos ajudar a negociar relações sociais”, escreveu Pollan. “Assim como reconhecemos que a natureza não é um guia adequado para a conduta social humana, não seria antro-pocêntrico assumir que nosso sistema moral oferece um guia adequado para a natureza?”

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Sua conclusão: sim, temos a obrigação de tentar evitar o sofrimento animal. Mas, se só comermos carne de vacas e galinhas bem tratadas ainda assim seríamos criminosos? Para essa pergunta, nem Singer tem resposta. “não estou suficientemente confiante nos meus argu-mentos a ponto de condenar alguém que coma carne vinda de uma fazenda desse tipo”, responde.Pollan propõe um novo movimento: o “humanocarnivorismo”, que significa poder comer carne, desde que nos preocupemos com os animais. Sim, porque um fato é inegável: hoje, a imensa maioria dos animais criados para nos alimentar vive vidas horríveis. O sistema industrial de produzir carne é sem dúvida cruel e pouca gente teria estômago para comer uma lingüiça após ver como ela é produzida. Ser vegetariano é um jeito de não colaborar com esse sistema.

RAzõES AMBIENTAISSomos mais de 6 bilhões de pessoas na Terra que mantêm vivos mais de 20 bilhões de animais criados para produzir carne que precisam de comida, água e espaço. Cada um larga no solo fezes e urina. Sem falar nos gases soltos na atmosfera - que são um con-tribuinte importante para o efeito estufa e o aquecimento global. Cada um tem sua quota no rápido processo de esgotamento dos recursos naturais pelo qual passamos.Hoje as duas maiores causas de desmatamento no planeta são a necessidade de ter mais pastos para o gado e de ter mais terra para plantar grãos. Acontece que 50% da produção mundial de grãos vira ração para animais. Ou seja, podemos dizer que um bife consome mais recursos da natureza que um prato de salada. Em outras palavras, se damos 1 000 calorias de soja para um boi, 100 calorias viram carne. O resto o bicho gasta mugindo, balançando a orelha, criando pêlo e em outras atividades bovinas. Ora, muito mais eficaz é pegar essa soja e dar logo para o humano.Agora, por outro lado, nosso jeito de produzir vegetais causa po-luição de rios e lençóis freáticos. não é um impacto tão grande quanto o da produção de carne, mas está longe de ser um jeito harmônico de conviver com o planeta.

hOjE, A IMENSA MAIORIA DOS ANIMAIS CRIADOS PARA NOS ALIMENTAR VIVE VIDAS hORRíVEIS

O CRIME qUE ESTAMOS COMETENDO AO SUBMETER BILhõES DE ANIMAIS A UMA VIDA MISERÁVEL é COMPARÁVEL AO hOLOCAUSTO NAzISTA

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VEGETARIANISMO MéDICOA última das quatro razões para virar vegetariano é a mais fre-qüente no Ocidente. Vivemos num mundo onde há excesso de nutrientes - e boa parte dos nossos problemas de saúde é causa-da por esse excesso. Depois do tabaco, a maior causa de doenças cardíacas e câncer - as duas doenças que mais matam no Brasil - é a dieta. E o maior problema com a dieta é a falta de vege-tais variados (que protegem contra várias doenças e prolongam a vida) e o excesso de proteínas e gordura (que aparecem em grande quantidade na carne).O que muita gente não sabe é que simplesmente parar de co-mer carne não é uma solução garantida para equilibrar a dieta. Mas de uma coisa os cientistas não têm dúvida: vegetais fazem muito bem. A soja - e mais ainda os alimentos processados feitos a partir dela - tem isoflavona, que protege contra câncer de mama e osteoporose. Frutas e legumes amarelos e laranjas, como a cenoura e o tomate, têm betacaroteno, ótimo para evi-tar câncer no estômago. Brócolis e couve-de-bruxelas possuem alcalóides que diminuem a incidência de várias doenças. Fibras, presentes em cereais integrais e em vários vegetais, também parecem ter algum efeito protetor. Vitaminas A, C e E, en-contradas em vários vegetais, são antioxidantes, o que pode ser também uma prevenção ao câncer. E por aí vai.Se sua dieta é muito rica nesses alimentos, você certamente será saudável. Mesmo que coma um pouquinho de carne. Se você não come muitos vegetais, então está maltratando sua saúde. Mesmo que não coma carne.

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SEMIVEGETARIANO é o menos radical e menos extre-mista. Geralmente evita carnes vermelhas, mas come peixes e às vezes aves.

OVOLACTOVEGETARIANO é o vegetariano mais comum no Ocidente: evita qualquer tipo de carne, mas come ovos e laticínios.

VEGAN Não ingere nenhum tipo de comi-da animal, incluindo leite, ovos e mel. Evita também qualquer pro-duto que implique a morte ou o confinamento de animais.

FRUGIVORISTA Preocupa-se não apenas em poupar os animais, mas tam-bém os vegetais. Considera uma agressão às plantas arran-car partes de que ela precisa, como as folhas ou as raízes. A dieta se limita ao que o vege-tal “oferece”: frutos, castanhas, sementes e grãos. Assim como o crudivorismo, pode acarretar carências nutricionais.

qUE TIPO DE VEGETARIANO VOCê é?CRUDIVORISTA Numa tentativa de ter uma dieta o mais “natural” possível, come apenas vegetais crus. Evita qual-quer coisa preparada a mais de 45 graus, sob a justificativa de que, a partir dessa temperatu-ra, as enzimas do alimento se degradam. Mas a verdade é que muitos nutrientes de vege-tais ficam indisponíveis para o organismo humano se não são aquecidos o suficiente.

LACTOVEGETARIANO é o tipo de vegetariano mais numeroso no mundo, por ra-zões religiosas. Milhões de hin-dus evitam, além das carnes, os ovos, que também possuiriam a vibração da vida. Mas laticínios estão liberados.

hUMANOCARNíVORO Uma nova classificação criada pelo escritor americano Michael Pollan. São as pessoas que até comem carne, mas tentam evitá-la e se preocupam com as con-dições em que os animais foram criados e mortos.

PARA SABER MAIS• Vegetarianismo, Denis Russo Burgier-man, Superinteressante, 2003 • Vida Ética, Peter Singer, Ediouro, 2000 • Becoming Vegetarian, Vesanto Melina, Brenda Davis e Victoria harrison, Book Publishing Company, EUA, 1995

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SE DEPENDER DE ALGUNS VEGETARIANOS, fogão e microondas estão com os dias contados. isso porque os cardápios crus atingem, aos pou-cos, o topo da cadeia alimentar verde. Tão exótica quando o nome, a dieta raw food (ba-tizada de crudívora em português) ainda é novidade, mas promete ganhar cada vez mais adeptos. A proposta é simples e, ao mesmo tempo, exótica: consumir vegetais, frutos e grãos crus – alimentação viva.Os pratos crudívoros chamam a atenção pela forma como são preparados, armazenados e consumidos. Ao contrário do que muitos pensam, o preaquecimento não é totalmente descartado – é permitido até 42ºC, a mesma temperatura atingida pelo corpo humano em estado de febre. Entretando, os ingredientes

loNGe do FoGÃoCONSUMIR ALIMENTOS CRUS é SINôNIMO DE APROVEITAMENTO MÁxIMO DE NUTRIENTES E MINERAIS. APRENDA UM POUCO MAIS DESSE CURIOSSO ESTILO DE VIDA: O CRUDIVORISMO.

AnDRÉiA MEnEGUETE JOãO CRUz

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devem ficar al dente para não sofrerem alte-ração ou perda das propriedades nutricionais. Por fim, a criatividade é uma legítima aliada na cozinha. nada de tomates destemperados para o almoço ou pepinos sem sal no jantar. no universo row food é possível encontrar criações com texturas, cores, formatos e sa-bores para lá de especiais, como brigadeiro de abacate com tâmaras, taco de folha de repolho com recheio de guacamole e até pi-zza de acelga com cobertura de “queijo” de castanha-de-caju.Para desvendar os benefícios e as curiosida-des dessa gastronomia, a revista vG conversou com o médico nutrólogo e coordenador do Departamento de Medicina e nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Eric Slywitch. Acompanhe a entrevista a seguir e descubra a versatilidade dos pratos vivos.

VG – O qUE é CRUDIVORISMO?Eric Slywitch – De forma simplificada, é um tipo de dieta vegetariana, uma consequ-ência da filosofia alimentar que prega o não sacrifício de qualquer animal. Os adeptos do crudivorismo, por sua vez, defendem o consumo de vegetais, cereais, frutas e ole-aginosas crus, pois contém enzimas im-portantes que ajudam na maior absorção de nitrientes, fibras e energia, além de me-lhorarem o processo digestivo. Portanto, o aquecimento máximo permitido é até 42ºC, para que as propriedades dos alimentos não sejam alteradas.

VG – ONDE NASCEU O MOVIMENTO?ES – A alimentação viva surgiu primeira-mente nos Estados Unidos e na nova ze-lândia. Depois se disseminou pela Europa. Já no Brasil é um assunto bastante novo, com poucos adeptos e estudos publicados.

VG – CADA VEz MAIS AS PESSOAS ESTÃO INOVAN-DO NA ALIMENTAçÃO. qUAIS SÃO OS MOTIVOS PARA ESSE FENôMENO?ES – isso é explicado pela onda jovem de assumir a resolução de diversos problemas sociais e ambientais do mundo, o que inclui adotar estilo de vida saudável e eticamente correto por meio da alimentação. A defesa da vida animal é uma das portas de entrada para o vegetarianismo. A escolha dessa dienta, e especificamente do crudivorismo, significa optar por comida não industrializada e obter benefícios como disposição e longevidade, já que os alimentos crus contêm quantidades superiores de nutrientes, uma vez que não são perdidos durante o cozimento.

VG – ESSA DIETA é CAPAz DE SUPRIR TODAS AS NECESSIDADES DO ORGANISMO?ES – É preciso acompanhamento médico para estabelecer um cardápio completo com todos os nutrientes necessários à boa saúde. Os pratos crus são fontes de ferro, cálcio, zinco e diversas vitaminas, mas a B12, em especial, só é encontrada em carnes, queijos, leites e ovos, e deve ser reposta por suple-mentação oral ou injetável. Essa vitamina é

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ooPiNiÃo

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importante para a formação do sistema ner-voso e fortalecimento do sangue. Já a ques-tão da proteína é um mito. Estudos científi-cos demonstram que ao atingir a necessdade energética diária com alimentos de origem vegetal, principalmente grãos, todos os ami-noácidos essenciais [que formam as proteí-nas] são supridos. Como regra geral, o segre-do dica por conta das cores do prato. Maior diversidade significa que o crudivorista terá diferentes fontes nutricionais.

VG – CRIANçAS, GESTANTES E IDOSOS PODEM ADOTAR ESSE TIPO DE ALIMENTAçÃO?ES – Sim, desde que haja acompanhamen-to médico. Vale aqui a mesma dica quanto a suplementação de vitamina B12. Para esses grupos, o cálcio também deve ser avaliado na dieta, pois tende a apresentar índices redu-zidos do mineral, que pode ser compensado com maior consumo de grãos e oleaginosas. Outro fato importante a ser observador é o que devido ao alto teor de fibras dos pratos pode haver maior saciedade. no entanto, isso nem sempre é conveniente para as crianças, uma vez que há a possibilidade de limitar a quantidade de alimentos ingeridos e, conse-qüentemente, a de calorias e proteínas.

VG – COMO DEVE SER O CARDÁPIO DE UMA PESSOA CRUDIVORISTA? ES – Os adeptos devem diversificar os ali-mentos disponíveis nesse universo. no dia-a-dia é preciso ter a união de cereais, ver-duras, legumes, frutas e oleaginosas (avelã e nozes, por exemplo). Comer várias vezes ao dia é regra, já que a dieta é rica em fibras e gera sensação de saciedade rapidamente e com pouca quantidade de comida. Os sucos verdes e o leite de castanha também são boas opções para enriquecer o cardápio.

VG – ExISTEM BENEFíCIOS COMPROVADOS DA DIETA DO ORGANISMO?ES – Estudos apontam a redução de morte por infarto, baixo nível sangüineo de coles-trol, menos pressão arterial, reduzido risco de diverticulite, diabetes, câncer de próstata e de intestino grosso. É possível relacionar a dieta a prevenção e ao auxilio no trata-mento de determinadas doenças, mas não se pode afirmar que cardápios vegetarianos tem poder de cura.

PARA SABER MAIS

• Raw Food Made Easy, Jennifer

Cornbleet, Book Publishing Company

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MAIS VIDA à SUA ALIMENTAçÃO!AUMENTE o consumo de brotos no dia-a-dia, seja em sucos, sanduíches ou saladas. Os brotos de girassol, alfalfa e brócolis, por exemplo, são vegetais bebês que tem poder de regeneração e vitalização do organismo, pois são seres em crescimento que transferem, toda a carga enzimática e nutricional aos consumidores.

CRIE o hábito de tomar suco de hortaliças verde-escuras, ricas em fontes de nutrientes, minerais e aminoácidos.

SUBSTITUA laticínios tradicionais por laticionis vegetais. Leite de gergelim e iogurtes de sorvetes de coco são algumas opções. Dica: para preparar esses leites especiais, deixe os grãos de molho em água potável até amolecerem. Na seqüência, bata tudo no liquidificador e coe para eliminar os resíduos.

INICIE as refeições principais com saladas para evitar choques digestivos. Evite, porém, o consumo excessivo de alface, uma vez que reduz a velocidade da digestão e do metabolismo.

ExCLUA da dieta os óleos processados (refinados e poliinsaturados, a exemplo dos de soja, milho e canola) e troque-os por óleos prensados a frio (como de coco, azeite de oliva, abacate, linhaça, gergelim, e castanha) ou por alimentos oleaginosos.

POR FIM, deixe de lado o consumo de pratos com açúcar pelo doce natural de frutas.

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CalÇado veGaNo Feito com dois tipos de lona e borracha, o novo tênis do apresentador da MTV João Gordo surgiu para atender a demanda dos roqueiros, punks e skatistas veganos que agora têm mais uma opçao de calçado sem qualquer tipo de produto animal. Por enquanto, o tênis da marca Qix será vendido por R$180 e somente nas lojas King 55 em São Paulo. SITE: www.king55.com.br

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AFINAL, O qUE VOCê COME? Atum não tem problema, não é? Por que nem ovo e nem leite? O bicho não morre para nos fornecer esses alimentos... São tantas as perguntas que um vegetariano ouve diariamente que, às vezes, é difícil manter a sobriedade. Como de quase tudo: há deliciosas versões vegetarianas de tudo que você puder imaginar. Mas lamento informar: atum é animal, e qualquer animal está fora da minha alimentação – são criaturas sensíveis, portadoras de direitos e dignas de respeito, tanto à sua vida quanto à sua liberdade, mesmo que uma espécie em particular, a humana no caso, não se importe como deveria com isso. quanto ao ovo e ao leite, é difícil imaginar essa indústria dissociada da indústria do matadouro; a galinha que hoje põe ovos, em condições de confinamento e privação de liberdade, é a “ave desossada e resfriada” de amanhã, a vaca que hoje fornece leite em escala industrial, sujeita à mesma privação de liberdade e a torturas como a ordenha mecânica, é a picanha do churrasco de domingo. O abate em si acaba sendo um mero detalhe, apenas o ápice de uma vida de exploração e dor.Mas nem sempre os questionamentos são pacíficos: o simples “ser vegetariano” incomoda muitas pessoas. Os argumentos de auto-defesa a essa “terrível ameaça” são sempre imediatos e de um brilhantismo ímpar. Mas as plantas também são seres vivos, você não tem pena delas? Mas isso tudo é bobagem, os animais foram feitos para nos servir! Plantas são seres vivos, parabéns! Nessa hora, todos sabem biologia; na hora de perceber que peixe ou frutos do mar também são bichos, o conhecimento parece se esvair. Então: as plantas, diferentemente dos animais, não possuem sistema nervoso e, portanto, do ponto de vista científico, não sentem dor. Ademais, a dor, alerta de perigo para motivar fuga ou reação, seria inútil para um vegetal, incapaz que é de desempenhar essas duas tarefas. há quem acredite, seguindo filosofias pessoais místicas, que as plantas sentem tanto quanto nós, se comunicam por telepatia e são capazes de outros feitos miraculosos. De todo modo, quem consome apenas vegetais, na pior das hipóteses, está errando no duvidoso; quem consome animais está errando no que é indubitável. Se restar alguma incerteza, recomendo sempre visitas a um matadouro e a um pomar; se o sujeito assegurar que sentiu exatamente o mesmo “clima” nos dois lugares, deve ser cego e surdo ou psicopata. E alguém que afirme com tanta segurança que os animais foram feitos para nos servir só pode estar certo de que conhece todos os desígnios e as razões mais profundas da natureza, isto é, toma para si um status divino – e argumentar com megalomaníacos pode ser muito estressante.

svseR veGetaRiaNo

RAFAEL Bán JACOBSEn

O DIA-A-DIA DE UM VEGETARIANO: situações cômicas e tragicômicas.

iRiny AMERSSOniS1º salÃo veGetaRiaNo O evento reuniu dez empresas que trabalham com produtos direcionados aos consumidores vegetarianos e que seguem padrões de origem e qualidade. Junto a estes expositores, ocorreram apresentações diárias de aulas de culinária vegetariana.

FOTOS POR CAMiLA GOnÇALVEz

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