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179 ORNITOLOGIA NEOTROPICAL 25: 179–193, 2014 © The Neotropical Ornithological Society RISCO DE COLISÃO DE AVES COM AERONAVES NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL Cleiton Oliveira Cardoso, Deimes do Nascimento Gomes, Antonio Gildo Soares dos Santos, Antonio Alves Tavares, & Anderson Guzzi Universidade Federal do Piauí (UFPI), Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências do Mar, Campus Parnaíba, Av. São Sebastião, 2819, Parnaíba, PI, CEP 64202- 020, Brasil. E-mail: [email protected] Abstract. – Bird strike risk analysis at the international airport of Parnaíba, Piauí, Brazil. Several kinds of accidents involving birds and aircrafts occur worldwide, of which many are caused by the avail- ability of attractive items for birds both in the airport and in its surroundings. This work was performed in the Parnaíba International Airport, Brazil, from April 2009 to May 2011. Our aim was to identify the spe- cies of birds at the airport with the highest probability of collision with airplanes and to correlate them with the biotic and abiotic parameters present at the airport in order to verify which conditions influence their presence and abundance. One hundred and fifty-two landing and take-off procedures were observed, with 29 cases of interaction with 218 birds belonging to 15 species. We also recorded 11,065 contacts with birds belonging to 48 species across the track and around 2702 contacts with birds from 22 species landing on the runway. Based on these data, the species that are likely to be at highest risk of collisions with airplanes in the Parnaíba International Airport are: Vanellus chilensis, Coragyps atratus, Caracara plancus, Athene cunicularia, Rosthramus sociabilis, Cathartes burrovianus, Cathartes aura, Sturnella superciliaris, Bubulcus ibis, Egretta thula, Nothura maculosa, Phalacrocorax brasilianus, Columbina pas- serina, Columba livia, Phaetusa simplex, Hirundo rustica, Charadrius collaris, Pitangus sulphuratus, and Tyrannus savana. Resumo. – Vários tipos de acidentes envolvendo aves e aeronaves ocorrem em todo o planeta, dos quais muitos são provocados pela disponibilidade de itens atrativos para as aves tanto dentro do aero- porto quanto em seu entorno. Este trabalho foi realizado no Aeroporto Internacional de Parnaíba, Brasil, no período de abril de 2009 a maio de 2011. Nosso objetivo foi identificar as espécies de aves no aero- porto com maior probabilidade de colisão com aeronaves e correlacionar as mesmas com os parâ- metros bióticos e abióticos presentes no Aeroporto, a fim de verificar que condições influem em sua pre- sença e abundância. Cento e cinquenta e dois procedimentos de pouso e decolagem foram observados, com 29 casos de interação com 218 aves pertencentes a 15 espécies. Também registramos 11,065 con- tatos com aves pertencentes a 48 espécies cruzando a pista, e cerca de 2702 contatos com aves per- tencentes a 22 espécies pousando na pista. Com base nestes dados as espécies que provavelmente constituem maior risco de provocar colisões com aeronaves no Aeroporto Internacional de Parnaíba são: Vanellus chilensis, Coragyps atratus, Caracara plancus, Athene cunicularia, Rosthramus sociabilis, Cathartes burrovianus, Cathartes aura, Sturnella superciliaris, Bubulcus ibis, Egretta thula, Nothura maculosa, Phalacrocorax brasilianus, Columbina passerina, Columba livia, Phaetusa simplex, Hirun- do rustica, Charadrius collaris, Pitangus sulphuratus e Tyrannus savana. Aceito em 21 de julho de 2014. Key words: Bird-aircraft collisions, correspondence analysis, Parnaíba International Airport, Delta of Parnaíba, Piauí, Brazil.

RISCO DE COLISÃO DE AVES COM AERONAVES NO … 25 (2) 179-193.pdf · 181 RISCO AVIÁRIO NO AEROPORTO DE PARNAÍBA informações auxiliarão as autoridades respon-sáveis na elaboração

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ORNITOLOGIA NEOTROPICAL 25: 179–193, 2014© The Neotropical Ornithological Society

RISCO DE COLISÃO DE AVES COM AERONAVES NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL

Cleiton Oliveira Cardoso, Deimes do Nascimento Gomes, Antonio Gildo Soares dos Santos, Antonio Alves Tavares, & Anderson Guzzi

Universidade Federal do Piauí (UFPI), Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências do Mar, Campus Parnaíba, Av. São Sebastião, 2819, Parnaíba, PI, CEP 64202-

020, Brasil. E-mail: [email protected]

Abstract. – Bird strike risk analysis at the international airport of Parnaíba, Piauí, Brazil. – Severalkinds of accidents involving birds and aircrafts occur worldwide, of which many are caused by the avail-ability of attractive items for birds both in the airport and in its surroundings. This work was performed inthe Parnaíba International Airport, Brazil, from April 2009 to May 2011. Our aim was to identify the spe-cies of birds at the airport with the highest probability of collision with airplanes and to correlate them withthe biotic and abiotic parameters present at the airport in order to verify which conditions influence theirpresence and abundance. One hundred and fifty-two landing and take-off procedures were observed,with 29 cases of interaction with 218 birds belonging to 15 species. We also recorded 11,065 contactswith birds belonging to 48 species across the track and around 2702 contacts with birds from 22 specieslanding on the runway. Based on these data, the species that are likely to be at highest risk of collisionswith airplanes in the Parnaíba International Airport are: Vanellus chilensis, Coragyps atratus, Caracaraplancus, Athene cunicularia, Rosthramus sociabilis, Cathartes burrovianus, Cathartes aura, Sturnellasuperciliaris, Bubulcus ibis, Egretta thula, Nothura maculosa, Phalacrocorax brasilianus, Columbina pas-serina, Columba livia, Phaetusa simplex, Hirundo rustica, Charadrius collaris, Pitangus sulphuratus, andTyrannus savana.

Resumo. – Vários tipos de acidentes envolvendo aves e aeronaves ocorrem em todo o planeta, dosquais muitos são provocados pela disponibilidade de itens atrativos para as aves tanto dentro do aero-porto quanto em seu entorno. Este trabalho foi realizado no Aeroporto Internacional de Parnaíba, Brasil,no período de abril de 2009 a maio de 2011. Nosso objetivo foi identificar as espécies de aves no aero-porto com maior probabilidade de colisão com aeronaves e correlacionar as mesmas com os parâ-metros bióticos e abióticos presentes no Aeroporto, a fim de verificar que condições influem em sua pre-sença e abundância. Cento e cinquenta e dois procedimentos de pouso e decolagem foram observados,com 29 casos de interação com 218 aves pertencentes a 15 espécies. Também registramos 11,065 con-tatos com aves pertencentes a 48 espécies cruzando a pista, e cerca de 2702 contatos com aves per-tencentes a 22 espécies pousando na pista. Com base nestes dados as espécies que provavelmenteconstituem maior risco de provocar colisões com aeronaves no Aeroporto Internacional de Parnaíbasão: Vanellus chilensis, Coragyps atratus, Caracara plancus, Athene cunicularia, Rosthramus sociabilis,Cathartes burrovianus, Cathartes aura, Sturnella superciliaris, Bubulcus ibis, Egretta thula, Nothuramaculosa, Phalacrocorax brasilianus, Columbina passerina, Columba livia, Phaetusa simplex, Hirun-do rustica, Charadrius collaris, Pitangus sulphuratus e Tyrannus savana. Aceito em 21 de julho de2014.

Key words: Bird-aircraft collisions, correspondence analysis, Parnaíba International Airport, Delta ofParnaíba, Piauí, Brazil.

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CARDOSO ET AL.

INTRODUÇÃO

O número de colisões entre aeronaves e avesapresenta uma tendência de crescimento acada ano e tem resultado em danos materiaissignificativos, colocando em risco centenas devidas humanas (Infraero 2006). A maior partedas colisões envolvendo aves e aeronavesocorrem em aeroportos porque frequente-mente estes dispõem de abundância de itensalimentares, locais para pouso e nidificação,tanto próximos às pistas de pouso, quanto emáreas de vegetação nativa adjacentes. Aliado aisso, as próprias rotas aeronáuticas estão situ-adas nas rotas de voo utilizadas diariamentepor um grande número de aves (Moeed1976).

A presença de aves no interior e arredoresde aeroportos coloca em risco o trânsito deaeronaves civis e militares, configurando situ-ações conflituosas de uso do espaço aéreo. Defato, desde os primórdios da história da avia-ção, a colisão com aves tem sido uma dasmaiores ameaças às aeronaves (Anghileri et al.2005).

Entre 1985 e 2009 foram reportadas aoCentro de Investigações e Prevenção de Aci-dentes Aeronáuticos (CENIPA) 899 colisõesem dez aeroportos nordestinos. Sabe-se que onúmero de reportes não representa o totalabsoluto de ocorrências. Estima-se que paracada cinco colisões ocorridas, apenas uma éreportada (Novaes & Alvarez 2010). Somenteem 2010 foram reportadas 936 colisões comaves (CENIPA 2010) e em 2011 foram repor-tadas cerca de 1500 colisões com aves eoutros animais (Oliveira & Pontes 2012).

O Comando da Aeronáutica na portarianº 249/gc5, de 6 de maio de 2011 (que dispõesobre o Plano Básico de Gerenciamento doRisco Aviário - PBGRA nos aeródromos bra-sileiros) estabelece a "Área de Gerenciamentodo Risco Aviário” (AGRA), que correspondea uma área circular de 20 km de raio, comcentro no ponto médio da pista do aeroporto.

A AGRA possui um setor interno, tambémchamado de núcleo, com raio de 9 km, e umsetor externo, compreendido entre o núcleo eo seu limite. Nesta área são realizados levanta-mento dos focos de atração de aves, com vis-tas a mitigar sua proliferação nas proximida-des dos aeródromos (CENIPA 2011a).

Não existem aeroportos exatamenteiguais, portanto, os riscos de acidentes comaves podem variar de aeroporto para aero-porto, mesmo quando suas comunidades deaves são similares. Um dos primeiros passosna redução dos riscos é reconhecer os itensque atraem as aves, como a crescente prolife-ração de áreas degradadas e a deficiência desaneamento básico próximo aos aeroportos(CENIPA 2011b). Esses fatores agindo emconjunto são responsáveis pela presença deaves nos aeroportos (Godin 1994), e quandoaliados ao maior número de voos e aeropor-tos circundados por cidades com crescimentodesordenado, contribuem para o aumento dasituação recorrente mais anormal na aviação –a colisão entre aeronaves e aves ou outros ani-mais (Oliveira & Pontes 2012).

Segundo a INFRAERO (2006) os planosde manejo de fauna consistem em eficienteinstrumento de gestão aeroportuária, deter-minando as intervenções necessárias ao con-trole das aves no interior e entorno dosaeroportos. O primeiro passo na preparaçãode um programa de gerenciamento do perigoaviário consiste em se fazer um levantamentodos perigos existentes dentro e no entorno doaeródromo (Mendonça 2009), sendo funda-mental o monitoramento da avifauna deforma padronizada e replicável, de longoprazo e frequente o suficiente para identificaras tendências sazonais na atividade das aves(migração e reprodução) (Patrick & Shaw2012).

Diante disso, o objetivo do presente traba-lho é identificar as espécies de aves commaior risco de colisão com aeronaves noAeroporto Internacional de Parnaíba. Tais

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RISCO AVIÁRIO NO AEROPORTO DE PARNAÍBA

informações auxiliarão as autoridades respon-sáveis na elaboração de medidas mitigatóriasbuscando a redução desse risco.

MÉTODOS

O estudo foi conduzido no Aeroporto Inter-nacional de Parnaíba, localizado no municípiode Parnaíba, Piauí (2°53’35”S, 41°43’54”W;Fig. 1), na Área de Proteção Ambiental Deltado Parnaíba e à cerca de 330 km da capitalTeresina. O clima da região é do tipo Aw pelaclassificação de Koeppen, com estação úmidade janeiro a junho e seca de julho a dezembro.Está situado a cerca de 530 m s.n.m. do rioIgaraçu, uma ramificação do rio Parnaíba e a 8km de sua foz, no litoral do município de LuísCorreia, PI (Cardoso et al. 2013).

Foram realizadas observações de abril de2009 a maio de 2011, no período da manhãdas 06:00 às 08:00 h. O trabalho foi realizadoem 213 dias de campo, totalizando 426 h deobservação. Devido ao tamanho da pista(cerca de 2000 m), em cada dia de observaçãofoi realizado um transecto em somentemetade de sua extensão (1000 m), de formaque as duas metades da pista foram amostra-das em dias de observação alternados. Asobservações foram realizadas por três pesqui-sadores, utilizando binóculos 7x35, 20x50 e8–30x50.

Como critério de ordenamento quanto aorisco de colisão com aeronaves, as aves queinteragem de alguma forma com a pista e osprocedimentos de pouso e decolagem (cru-zam ou pousam sobre a pista e interagem comos voos - voando na frente, ao lado, encimaou embaixo da aeronave) foram ranqueadasseguindo a proposta de Luigi et al. (2010),sendo: I. Aves de rapina (1); II. Biomassasuperior a 250 gramas (1); III. Comporta-mento gregário (1); IV. Espécies com mais detrês registros/ano em colisão (1); V. Espéciescom média de três indivíduos presentes emtrês das quatro estações do ano (1); VI.

Espécies que ocupam áreas abertas (1); VII.Espécies que reproduzem no aeroporto (1);Total: (7). A nomenclatura das espécies seguiuGill & Donsker (2014).

Foi aplicada a Análise de Correspondência(CA) para o número de cruzamentos, intera-ções e pousos na pista, a fim de verificar aexistência de grupos de aves que se relaciona-ram com as variáveis supracitadas. A Análisede Correspondência (CA) é uma técnica mul-tivariada de interdependência que facilitatanto a redução dimensional da classifica-ção de objetos em um conjunto de atribu-tos, quanto o mapeamento espacial de obje-tos relativos a esses atributos (Hair et al.2005).

A influência das variáveis ambientais nacomposição taxonômica foi analisada atravésde uma Análise de Correspondência Canôn-ica, ou CCA (Braak 1986) e a significância doseixos foram testadas através de uma simulaçãode Monte Carlo. Esse teste de permutação éutilizado em conjunto com o CCA, tendo oobjetivo de obter a relação das variáveisambientais com a abundância de espécies(Digby & Kempton 1996) e requer duasmatrizes, uma contendo abundância dasespécies e outra com os valores das variáveisambientais.

Tanto para análise de CA, quanto para ade CCA não foram consideradas as espéciesque tiveram frequência de ocorrência entre1–20%, para isso foi aplicado os critérios ado-tados por Azevedo et al. (2003), que classificaas espécies que estão neste intervalo comoespécies raras.

Para verificar a similaridade entre os habi-tat em relação à quantidade de contatos regis-trados por cada espécie mensalmente foiaplicada a Análise de Correspondência Des-tendenciada (DCA) que é derivada da análisede correspondência, porém mais refinada porreduzir a compressão no primeiro eixo, e adistorção no segundo e terceiros eixos (Hill &Gauch 1980).

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CARDOSO ET AL.

RESULTADOS

Foram observados 152 procedimentos depouso e decolagem sendo que em 29 houveinteração com 218 indivíduos pertencentes a15 espécies de aves. Também foram registra-dos 11.065 contatos com indivíduos perten-centes a 48 espécies cruzando a pista, eaproximadamente 2.702 contatos com indiví-duos pertencentes a 22 espécies de aves pou-sando na pista (Tabela 1).

A partir da Análise de Correspondência(CA) realizada com a variável número de cru-zamentos, pousos e interações, foi possívelidentificar os grupos de aves classificadasquanto ao risco aviário. Os eixos CA1 e CA2foram responsáveis por 93,02% e 6,97% davariação, respectivamente (Tabela 2). CA1 porter maior poder de explicação provavelmentefoi responsável por dividir os grupos de aves.

De acordo com essa análise foram formadostrês grupos distintos de aves: o grupo dasaves que interagem com voos (E. thula, C.aura e Pitangus sulphuratus), cruzam a pista(Columba livia, Sturnella superciliaris e Caracaraplancus) e pousam sobre a pista (Vanellus chilen-sis, Phaetusa simplex e Charadrius colaris).

Ao analisarmos a média da presença deaves em relação aos meses de observação,pode-se observar uma maior quantidade deaves cruzando a pista do aeroporto nos mesesde fevereiro e março de 2011. A maior quanti-dade de registros de pousos de aves na pistaocorreu nos meses de maio de 2011 e 2009,respectivamente. A maioria dos registros deinteração com os voos ocorreu em novembrode 2010, seguido por abril de 2011 (Fig. 2).

Os três tipos de contatos realizados pelasespécies: “cruzar a pista”, “pousar na pista” e“interagir com os voos” foram significativa-

FIG. 1. Localização de Aeroporto Internacional de Parnaíba, Brasil

183

RISCO AVIÁRIO NO AEROPORTO DE PARNAÍBA

TABELA 1. Espécies de aves registradas no Aeroporto Internacional de Parnaíba, que cruzam e pousamna pista do aeroporto, interagem com aeronaves em procedimentos de pouso e decolagem, sendo tambémrelacionadas segundo escores obtidos a partir dos critérios estabelecidos por Luigi et al. (2010).

Taxon Cruzam a pista Pousam na pista Interagem a pista Escores

Total % Total % Total %Família TinamidaeNothura maculosa Família AnatidaeDendrocygna viduata Família Ardeidae Tigrisoma lineatum Butorides striata Bubulcus ibis Ardea alba Egretta thula Família PhalacrocoracidaePhalacrocorax brasilianus Família CathartidaeCathartes aura Cathartes burrovianus Coragyps atratus Família AccipitridaeElanus leucurusRostrhamus sociabilis Heterospizias meridionalis Rupornis magnirostris Família AramidaeAramus guarauna Família CharadriidaeVanellus chilensis Charadrius semipalmatus Charadrius collaris Família JacanidaeJacana jacana Família ScolopacidaeGallinago paraguaiaeTringa solitaria Família LaridaeSternula superciliaris Phaetusa simplex Família ColumbidaeColumbina passerina Columbina talpacoti Columbina picui Columba livia Zenaida auriculata

14

15

23112413154

2729

2583

2633

1887182

5

2861495

8

122

9156

42105

5323

0,128

0,137

0,0180,2831,1330,1191,407

24,93

0,2280,75824,057

0,1640,7950,1640,018

0,046

2,6130,1280,868

0,073

0,0090,201

0,0821,425

0,3840,0910,0464,8610,027

1

1

420

49115201

4

150

22

0,08

0,08

0,311,59

37,541,1515,37

0,31

11,47

1,68

8

7

5490

11

27

1

2

15

3,67

3,21

2,291,8341,28

0,460,46

12,39

0,46

1,96

6,88

4

2

33444

3

555

4554

3

533

3

22

24

33342

184

CARDOSO ET AL.

mente diferentes quanto ao número de con-tatos (H = 60,41, gl = 2, p < 0,001), sendoque o maior número de contatos foi atribuídoàs espécies que apresentaram o compor-tamento de “cruzar a pista”, e Columba liviae Sturnella superciliaris estão entre as espéciesque mais contribuíram para esses contatos.Nessa mesma análise, nas comparações

múltiplas realizadas pelo teste, foi possívelconstatar que a variável “cruzar a pista”,quando comparada com as variáveis “pousarna pista” e “interagir com voos” apresentoudiferenças significativas quanto ao númerode contatos, no entanto, o mesmo não ocor-reu na comparação entre as variáveis “pousarna pista” e “interagir com voos”.

TABELA 1. Continuação.

Taxon Cruzam a pista Pousam na pista Interagem a pista Escores

Total % Total % Total %Família CuculidaeCrotophaga ani Guira guira Família StrigidaeAthene cunicularia Família CaprimulgidaeChordeiles nacunda Família AlcedinidaeMegaceryle torquata Chloroceryle amazona Família FalconidaeCaracara plancus Milvago chimachima Falco sparverius Família TyrannidaePitangus sulphuratus Tyrannus melancholicus Tyrannus savana Família HirundinidaeProgne tapera Hirundo rustica Família MimidaeMimus gilvus Família PasseridaePasser domesticus Família MotacillidaeAnthus lutescens Família IcteridaeChrysomus ruficapillus Molothrus bonariensis Sturnella superciliaris

Total

76

1456

2841413

6160405

3390

4

72

150

23077

1881

10945

0,0640,055

1,3250,055

2,5950,1280,119

0,5570,5483,7

0,0273,563

0,037

0,658

1,37

2,1010,70417,186

100

6

14

2

655

1091

2

36

159

1308

0,46

1,07

0,15

4,970,38

8,330,08

0,15

2,75

12,16

100

6

1

20

30

218

2,75

0,46

9,17

13,76

100

33

6

1

21

533

442

43

3

3

4

114

185

RISCO AVIÁRIO NO AEROPORTO DE PARNAÍBA

A análise de correspondência canônica(CCA) aplicada a abundância em relação àsvariáveis: precipitação pluviométrica, veloci-dade do vento e temperatura, mostrou queCCA1 explicou 86,53% da variação popula-cional da avifauna registrada, e CCA2 expli-cou 13,47% (Tabela 3). De acordo com aanálise de CCA foi possível verificar queespécies como: Phalacrocorax brasilianus, Stur-nella superciliaris, Rosthramus sociabilis, Milvago chi-machima, Caracara plancus e Charadriussemipalmatus são as espécies que estão maiscorrelacionadas com a variável precipitação, eespécies como Columba livia, Cathartes aura,Passer domesticus, Nothura maculosa, Cathartes bur-rovianus, Pitangus sulphuratus, Rupornis magniros-tris e Athene cunicularia estão correlacionadascom a variável temperatura e velocidade dovento (Fig. 3).

Ao utilizarmos os critérios propostos porLuigi et al. (2010) para o estabelecimento dasespécies que oferecem maior risco aviário, apontuação do nível de risco variou entre um ecinco. As espécies com escore cinco foram:Vanellus chilensis, Coragyps atratus, Caracara plan-cus, Athene cunicularia e Rosthramus sociabilis(Tabela 1). Ao aplicarmos o Índice de similari-dade de Jaccard para estes critérios, pode seobservar que apenas um grupo coeso foi for-mado, sendo, portanto, o grupo mais similarentre si, formado pelas variáveis comportamentogregário e presentes em mais de duas amostras,

seguida das espécies que utilizam áreas abertas. Osdemais critérios seguiram de forma isoladasem formação de grupos, sendo que a menorsimilaridade apresentada foi a das aves quesão classificadas como aves de rapina (Fig. 4).

A relação entre ambientes herbáceo earbustivo, quanto ao número de contatosregistrados mensalmente, foi confirmada atra-vés da Análise de correspondência Desten-denciada (DCA) (Fig. 5). O ambienteAquático foi o que apresentou o maior núme-ro de contatos (3618 - 32,8%), com umamédia de 139,2 contatos por amostragem,seguido do ambiente antrópico (2813 -25,5%), com uma média de 108,2 contatospor amostra (Fig. 6).

DISCUSSÃO

Apesar de serem relativamente pequenasquando comparadas às aeronaves, as avespodem causar estragos consideráveis no casode colisão, principalmente devido à alta velo-cidade das aeronaves, sendo provável que asespécies que representem maior risco sejam as(1) de maior porte, que se agrupam em maiornúmero; (2) que atravessam mais frequente-mente a pista de pouso (ou o espaço aéreo) e(3) que pousam na pista (Souza 2003). Nestetrabalho foi possível observar que muitas avescomo Sturnella superciliaris, Tyrannus savana eHirundo rustica cruzam a pista do aeroportoem bandos de dezenas de indivíduos, sendoque Sturnella superciliaris já havia sido relatadaem outros trabalhos como uma espécie abun-dante, principalmente no período de inverno,o que pode decorrer de agrupamentos pós-reprodutivos e/ou influxos migratórios(Accordi & Hartz 2006).

Através da Análise de correspondênciaCanônica (CCA) foi possível observar que avariação populacional de espécies como R.sociabilis e P. brasilianus está relacionada a preci-pitação, provavelmente pelo fato destasdependerem de ambiente aquático. Tal

TABELA 2. Distribuição da contribuição dosvalores da análise de correspondência (CA) para osdois primeiros eixos, segundo os grupos de contatocom a pista (cruzamentos, pousos, interações), comos autovalores e sua porcentagem para cada eixo.

Variáveis CA1 CA2CruzamentosPousosInteraçõesAutovalor% Total

-0,340,950,270,3293,02

-0,01-0,041,010,026,97

186

CARDOSO ET AL.

ambiente sofre alterações no período de estia-gem, sendo que grande parte das lagoas queretém água dentro e nos arredores do Aero-porto diminuem o nível d’água drasticamenteou simplesmente secam durante este período.Embora R. sociabilis não seja considerada umaave aquática, ela depende exclusivamente demoluscos para sua nutrição (Sick, 1997). ParaRodrigues & Michelin (2005), as aves são con-sideradas aquáticas quando utilizam esteambiente para obter seu alimento ou reprodu-ção, e segundo Dolbeer et al. (2011) essegrupo de aves está associado às colisões

mais graves com aeronaves, pois somente nosEstados Unidos, de 1990 a 2009, 415 aves seenvolveram em colisões com aeronaves,sendo a maioria composta por aves aquáti-cas pertencentes às famílias Anatidae e Lari-dae.

A correlação de C. plancus com a variávelprecipitação talvez se deva a resposta a estí-mulos gerados por ação antrópica, principal-mente no período chuvoso, quando a gramase desenvolve, o que culmina com a aparagemdesta vegetação no Aeroporto de Parnaíba,onde foram observados indivíduos de C. plan-cus alimentando-se de ovos de N. maculosa e depequenos animais como artrópodes e mamí-feros (roedores) esmagados pela ação da pas-sagem dos tratores. Petersen et al. (2011)observaram C. plancus utilizando áreas de cul-tivo como local de alimentação, principal-mente na época de aragem e preparo da terra,onde foram avistados seguindo tratores a pro-cura de alimento, o que corrobora o obser-vado no presente estudo. Aliado a isso, C.plancus é uma espécie onívora (Sick 1997),oportunista e de hábitos generalistas (Sigrist2009), e segundo Fleming (1972) & O'Con-nell (1989), o término das chuvas estimula aatividade reprodutiva de pequenos mamíferos

TABELA 3. Distribuição da contribuição dosvalores da análise de correspondência canônica(CCA) para os dois primeiros eixos, segundo asvariáveis abióticas em relação aos meses deamostragem, com os autovalores e sua porcenta-gem de contribuição para cada eixo.

Variáveis CCA1 CCA2Velocidade do ventoTemperaturaPrecipitaçãoAutovalor% TotalMonte-Carlo (p-valor)

-0,850-0,8300,6910,192

86,5300,004

0,0310,245-0,4410,03013,4700,0348

FIG. 2. Média de aves registradas por mês de observação em relação aos pousos na pista, cruzamentos dapista e interações com voos.

187

RISCO AVIÁRIO NO AEROPORTO DE PARNAÍBA

e está relacionada a maior abundância deartrópodes, que são os principais itens nadieta dessas aves (Pinheiro et al. 2002).

A análise de CCA registrou apenas umaespécie de ave limícola (C. semipalmatus) asso-ciada à velocidade do vento e temperatura. A

variável velocidade do vento, chuva, baixastemperaturas e ventos fortes elevam a taxametabólica e o aumento da perda de calor emaves limícolas (Piersma 1994, Wiersma &Piersma 1994) e suas presas (invertebrados)tornam-se menos disponíveis devido a en-

FIG. 3. Diagrama de ordenação da Análise de correspondência canônica (CCA) para a assembleia de avesdo Aeroporto de Parnaíba, PI em relação às variáveis ambientais: temperatura (tm), precipitação pluviomé-trica (ppt) e velocidade do vento (vt). Legenda: Anl = Anthus lutescens; Ara = Aramus guarauna; Ard = Ardeaalba; Ath = Athene cunicularia; Bub = Bubulcus ibis; Bus = Butorides striata; Car = Caracara plancus; Cata =Cathartes aura; Catb = Cathartes burrovianus; Cha = Chloroceryle amazona; Chc = Charadrius collaris; Chs = Cha-radrius semipalmatus; Col = Columba livia; Cop = Columbina passerina; Copi = Columbina picui; Cor = Coragypsatratus; Cot = Columbina talpacoti; Egr = Egretta thula; Ela = Elanus leucurus; Falc = Falco sparverius; Gal =Gallinago paraguaiae; Gui = Guira guira; Het = Heterospizias meridionalis; Hir = Hirundo rustica; Jac = Jacanajacana; Met = Megaceryle torquata; Mig = Mimus gilvus; Mil = Milvago chimachima; Not = Nothura maculosa; Pad= Passer domesticus; Phal = Phalacrocorax brasilianus; Phs = Phaetusa simplex; Pit = Pitangus sulphuratus; Ros =Rostrhamus sociabilis; Rup = Rupornis magnirostris; Sts = Sturnella superciliaris; Tym = Tyrannus melancholicus; Tys= Tyrannus savanna; Van = Vanellus chilensis.

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terrarem-se mais profundamente nos sedi-mentos, sendo também menos ativas (Evans1979, Pienkowski 1983, Zwarts & Wanink1993).

As três espécies de aves necrófagas per-tencentes a família Cathartidae foram associa-das a variável vento. Shepard & Lambertucci(2013) afirmam que a capacidade de muitosanimais em explorar suas fontes alimentaresdepende do deslocamento, e para as avesnecrófagas, que usam o voo para localizar eexplorar recursos efêmeros, o custo e a velo-cidade do movimento variam de acordo comfatores meteorológicos. Estes fatores modifi-cam a natureza das interações interespecíficas,bem como a capacidade de circulação indivi-dual, embora os primeiros sejam menosconhecidos.

A maior quantidade de registros de aves,no que diz respeito a interações com a pistade pouso e com os voos, foi realizada duranteo período chuvoso. Bubulcus ibis e Egretta thula,por exemplo, são abundantes quando aslagoas presentes no aeroporto estão cheias,formando bandos mistos, e diminuem consi-

deravelmente na estação seca. Della Bella &Azevedo-Júnior (2004) estudaram a biologiareprodutiva e alimentar de B. ibis, comen-tando que os deslocamentos desta espécie nonordeste podem estar relacionados à sazonali-dade dos períodos de chuva que podem cons-tituir um fator determinante da presença dealimento. Por outro lado, novembro de 2010,mês em que não é comum a precipitação dechuva na região, foi o período em que ocorreuo maior número de interações com aeronaves.

Owino et al. (2004) relacionaram a sazona-lidade da avifauna ao risco aviário, explicandoa elevação dos incidentes durante a estaçãoúmida de três modos: primeiro, a maioria dasaves procriam durante a estação chuvosa, comaumento da atividade; segundo, as chuvas for-mam lagoas temporárias, onde há uma conse-quente proliferação de vida aquática, atraindodiversas espécies de aves e terceiro, os maio-res riscos são provocados pela inexperiênciade voo de aves jovens. Moeed (1976) tambémidentificou a ocorrência de diferenças sazo-nais na composição da avifauna do AeroportoInternacional da Nova Zelândia, conside-

FIG. 4. Dendrograma de similaridade baseado no Índice de Jaccard para os atributos de risco, segundoLuigi et al. (2010), em relação às espécies registradas no Aeroporto de Parnaíba, PI. Legenda: AA = Espé-cies que ocupam áreas abertas, AR = Aves de rapina, CG = Comportamento gregário, PE = Espéciescom média de três indivíduos presentes em três das quatro estações do ano, RE = Espécies que repro-duzem no aeroporto, S250g = Biomassa superior a 250 gramas.

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rando algumas aves que ocorriam a maiorparte do ano como residentes e as demaiscomo visitantes sazonais.

Novaes & Alvarez (2010), em uma análisede colisões envolvendo aves e aeronaves emaeroportos nordestinos, verificaram que, pro-vavelmente, devido à estabilidade climáticanão ocorreu grande variação no número deincidentes envolvendo aves nos aeroportos doNordeste do Brasil. Esses autores destacarama importância da análise dos relatórios, identi-ficando as espécies de aves envolvidas nascolisões, pois são a partir dessas informaçõesque medidas podem ser elaboradas e imple-mentadas visando a redução do risco aviário.

Segundo os critérios proposto por Luigi etal. (2010) para o estabelecimento das espéciesde aves que oferecem maior risco aviário, asque apresentaram maior pontuação foram:quero-quero (Vanellus chilensis), urubu-de-

cabeça-preta (Coragyps atratus), caracará (Cara-cara plancus), coruja-buraqueira (Athene cunicula-ria) e gavião-caramujeiro (Rosthramus sociabilis).Os dados obtidos para as quatro primeirasespécies corroboraram os dados de colisõesreportados ao Centro de Investigação e Pre-venção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA)em 2010.

Ao compararmos estes dados com os desobrevoos e pousos de aves sobre a pista ecom as interações destas com as aeronaves(Tabela 1), observamos diferenças entre osdados destes registros em relação aos obtidosa partir dos critérios para classificação dorisco aviário. Caracara plancus, por exemplo,obteve o maior escore, juntamente comoutras quatro espécies (Vanellus chilensis, Cora-gyps atratus, Athene cunicularia e Rostrhamus socia-bilis), sendo, no entanto a 8ª espécie emnúmeros de sobrevoos sobre a pista, a 14ª em

FIG. 5. Analise de Correspondência Destendenciada (DCA) do número de contatos com aves para cadaambiente em relação aos meses amostrais. Legenda: He = Herbáceo, AR = Arbustivo, AQ = Aquático, NA= Antrópico.

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interação com aeronaves e a 6ª em pousossobre a pista. V. chilensis foi a 7ª espécie quemais cruzou a pista, a terceira em interaçãocom os voos e a que mais pousa na pista.

Coragyps atratus foi a 2ª que mais cruzou apista e a 1ª em interação com aeronaves emprocedimento de pouso e decolagem. Nãoforam registrados pousos desta espécie sobrea pista, pois ficava restrita à área externa aositio aeroportuário, sendo observada empoleiros ou voando. Segundo Pessoa Neto etal. (2006), estas aves pesam cerca de 1,6 kg esão responsáveis pela maioria das colisõescom aeronaves no Brasil. De acordo com aComissão de Controle de Perigo Aviário doBrasil (CENIPA 2011b) quase 50% das coli-sões no Brasil em que a espécie pode ser iden-tificada foram causados por Coragyps atratus.

Athene cunicularia foi à 11ª em pouso sobrea pista e a 8ª em interação com voos. Estainteração para a espécie está associada princi-palmente ao comportamento agonísticoobservado durante a aproximação das aerona-ves. R. sociabilis foi o 16° em sobrevoos sobrea pista e o 12° em interação com os voos. Aespécie não foi observada pousando na pista eos sobrevoos foram observados somentedurante a ocorrência do caramujo do gêneroPomacea, seu principal recurso alimentar. Aespécie cruzava a pista frequentemente embusca de áreas alagadas onde existiam cara-mujos, voltando em seguida para seu poleiroonde os consumia. Esta espécie provavel-mente constitui potencial risco de colisãodurante o período chuvoso, quando possuiabundância de recurso alimentar.

FIG. 6. Número total de contatos com aves para cada ambiente dentro do Aeroporto. Legenda: AQ =Aquático, AR = Arbóreo, HE = Herbáceo, NA = Antrópico.

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Para Soldatini et al. (2009) mesmo conhe-cendo a biologia de muitas espécies é difícilcriar um modelo de sua dinâmica, conside-rando as diferentes respostas de diferentesespécies para as mesmas condições ambien-tais. Godim (1994) afirma que não existemaeroportos exatamente iguais, mesmo asassembleias de aves sendo particularmentesimilares. Nascimento et al. (2005) comentamque a diversidade de aves no Brasil incluiespécies adaptadas as mais diversas alteraçõesambientais, o que dificulta a adoção de méto-dos de manejo padronizados e eficazes paraafugentar, de forma geral, todas as espécies eem particular as que oferecem maiores riscosde colisão.

Para Pereira (2008) o levantamento dedados relacionados aos índices de colisõesentre aves e aeronaves é de suma importânciapara possibilitar a visualização de análises detendências e projeções futuras, sendo possívelauxiliar as autoridades responsáveis natomada de medidas que venham mitigar orisco aviário. No Aeroporto Internacional deParnaíba foi observada a ocorrência de espéc-ies comumente envolvidas em colisões comaeronaves. O fato de não termos observadoincidentes entre aves e aeronaves (exceto umincidente com Nothura maculosa), provavel-mente é devido ao baixo tráfego aéreo nesteaeroporto. Um aumento no número de voosdemanda um plano de manejo da avifaunaque venha evitar ou mitigar a ocorrência deincidentes.

Ficou evidente a partir da análise de DCA,que as aves relacionadas aos ambientes antró-picos e aquáticos são as mais frequentes ecom maior número de contatos no Aeroportode Parnaíba. Godin (1994), afirma que a pre-sença de lagoas temporárias em aeroportosconstitui um importante fator atrativo paravárias espécies de aves, que utilizam oambiente como local de alimentação, des-canso ou reprodução, e aliado a isso, a cres-cente proliferação de áreas degradadas com a

deficiência de saneamento básico próximo aosaeroportos também propicia a incidência epermanência de muitas aves, favorecendoprincipalmente as generalistas e detritívoras,como Coragyps atratus (CENIPA 2011b, Car-doso et al. 2013).

Com base nestes dados as espécies queprovavelmente constituem maior risco deprovocar colisões com aeronaves no Aero-porto Internacional de Parnaíba são: Vanelluschilensis, Coragyps atratus, Caracara plancus, Athenecunicularia, Rosthramus sociabilis, Cathartes burro-vianus, Cathartes aura, Sturnella superciliaris,Bubulcus ibis, Egretta thula, Nothura maculosa,Phalacrocorax brasilianus, Columbina passerina,Columba livia, Phaetusa simplex, Hirundo rustica,Charadrius collaris, Pitangus sulphuratus e Tyrannussavana.

AGRADECIMENTOS

Ao Sr. José Ivan Vieira Magalhães, Superin-tendente da INFRAERO, pela autorizaçãoconcedida para a realização deste trabalho noAeroporto Internacional de Parnaíba. AoCNPq pelo apoio na realização deste trabalhoe aos revisores pelas excelentes sugestões queajudaram a melhorar esse manuscrito.

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