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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANTA TERESINHA FACULDADE DE CIÊNCIAS DE TIMBAÚBA- FACET MÁRCIA GOMES DOS SANTOS SILVA DESAFIOS PARA O PROFESSOR ALFABETIZADOR NA ATUALIDADE: ALFABETIZAR LETRANDO

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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANTA TERESINHA

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE TIMBAÚBA- FACET

MÁRCIA GOMES DOS SANTOS SILVA

DESAFIOS PARA O PROFESSOR ALFABETIZADOR NA ATUALIDADE: ALFABETIZAR LETRANDO

TIMBAÚBA – PE

2012

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MÁRCIA GOMES DOS SANTOS SILVA

DESAFIOS PARA O PROFESSOR ALFABETIZADOR NA ATUALIDADE: ALFABETIZAR LETRANDO

Trabalho de conclusão do Curso de Psisopedagogia com Ênfase na Docência, apresentado à Faculdade de Ciências de Timbaúba, como requisito parcial para obtenção do título especialista em Psicopedagogia pela Faculdade de Ciências de Timbaúba.

Orientador: Profa. Ms. Adriana Weiga de Souza Queiroz

TIMBAÚBA-PE

2012

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SILVA, Márcia Gomes dos Santos, 1977-

Desafios do Professor Alfabetizador na Atualidade: Alfabetizar Letrando. Márcia Gomes dos Santos Silva. --Timbaúba, 2012. 32f

Monografia do Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia. Faculdade de Timbaúba.

1. Alfabetização e Letramento: processos diferentes, mas complementares. 2. Professores Alfabetizadores e suas práticas. 3. Contribuições Psicopedagógicas para a alfabetização.

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MÁRCIA GOMES DOS SANTOS SILVA

DESAFIOS PARA O PROFESSOR ALFABETIZADOR NA ATUALIDADE: ALFABETIZAR LETRANDO

___________________________________________________________

Professora Ms. Adriana Weiga de Souza Queiroz

Orientador

_________________________________________________________

1º Examinador

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Dedico esta monografia aos professores alfabetizadores do município de Mogeiro no intuito de contribuir para a reflexão da prática alfabetizadora buscando aprimorá-la através da formação continuada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida. Aos meus familiares pelo apoio. Em especial a minha mãe pela dedicação. Enfim a todas as pessoas que contribuíram não só para a realização deste trabalho, mas para meu crescimento enquanto profissional consciente, crítica e reflexiva.

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“Não, não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar.” Thiago de Mello

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RESUMO

O presente estudo tem como finalidade investigar os desafios do professor alfabetizador na atualidade para alfabetizar letrando. Este trabalho buscou apresentar avanços teórico-metodológicos na área da alfabetização e letramento destacando a importância da articulação entre teoria prática neste processo. O estudo das teorias de Magda Soares, Cagliari, Paulo Freire, Emilia Ferreiro entre outros, possibilitou um conhecimento teórico que serviu alicerce para a fundamentação dos conceitos relacionados ao alfabetizar letrando. Pretende-se discutir o fenômeno do letramento, diferenciando-o do processo de alfabetização que muitos ainda insistem em realizar, bem como fazer com que os profissionais da área educacional reflitam sobre sua prática pedagógica, atualizando-se em termos de novas teorias.Verifica-se que não se pode pensar em alfabetização, distanciado das práticas de letramento, pois uma completa a outra.

Palavras-chave: Alfabetização; letramento; leitura; escrita; professor alfabetizador.

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ABSTRACT

The present study aims to investigate the challenges of literacy teacher today to alphabetize letrando. This study aimed to provide theoretical and methodological advances in the area of literacy and literacy highlighting the importance of the relationship between theory practice in this process. The study of theories of Magda Soares, Cagliari, Paulo Freire, Emilia Ferreiro among others, enabled a theoretical knowledge that served as foundation for the reasoning of the concepts related to literacy letrando. It is intended to discuss the phenomenon of literacy, differentiating it from the literacy process that many still insist on hold and make the educational professionals reflect on their teaching practice, updating in terms of new theories. Observed if you can not think of literacy, distanced the literacy practices as a complete one another.

Keywords: literacy; reading; writing; literacy teacher.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................09

1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: PROCESSOS DIFERENTES,MAS COMPLEMENTARES..........................................................................................................10

1.1 CONCEITUANDO ALFABETIZAÇÃO..........................................................................10

1.2 O QUE É LETRAMENTO?...............................................................................................13

1.3 ALFABETIZAR LETRANDO..........................................................................................17

2 PROFESSORES ALFABETIZADORES E SUAS PRÁTICAS ....................................20

2.1 O DESAFIO EM ARTICULAR TEORIA E PRÁTICA...................................................20

2.2 AMBIENTE ALFABETIZADOR.....................................................................................22

3 CONTRIBUIÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS PARA A ALFABETIZAÇÃO.............26

4 METODOLOGIA ..............................................................................................................29

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................29

REFERÊNCIAS.................................................................................................................31

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INTRODUÇÃO

Ao abordar o tema alfabetização e letramento, a nossa intenção é refletir sobre as

dificuldades encontradas pelo professor alfabetizador na atualidade em articular teoria e

prática para alfabetizar letrando. Para isso, foram abordados aspectos teóricos a cerca da

alfabetização e do letramento fundamentada em diversos autores.

O interesse pelo tema decorre de nossa experiência profissional como professora das

turmas iniciais do Ensino Fundamental na rede municipal de ensino, do município de

Mogeiro, onde nos defrontamos com os questionamentos de outros professores sobre como

melhorar a prática pedagógica para alfabetizar na atualidade, como superar os desafios para

articular a teoria e a prática e a necessidade de reflexão e avaliação da prática para uma

renovação.

Pesquisamos em busca de uma melhor compreensão dos processos de alfabetização e

letramento, considerando estes processos distintos e complementares, a necessidade do

intercâmbio entre a teoria e prática pedagógica e a construção de alternativas capazes de

atender os desafios vivenciados por aqueles que atuam na sala de aula, criando possibilidades

de aprendizagem da leitura e da escrita para todos os alunos. Essa busca é orientada pela

necessidade de contribuirmos para a formação continuada dos docentes, considerando que a

prática do professor precisa ser avaliada e renovada constantemente.

Diante dessa temática propõe-se o seguinte problema: Como superar os desafios em

articular teoria e prática para alfabetizar letrando?

Traçamos como objetivos para este estudo analisar as dificuldades dos professores da

rede municipal de ensino em articular a teoria e a prática para alfabetizar letrando, pesquisar

os conceitos de alfabetização e letramento, partindo para a reflexão sobre a prática

alfabetizadora na perspectiva do letramento e descrever as contribuições da psicopedagogia

para a alfabetização.

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1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: PROCESSOS DIFERENTES, MAS

COMPLEMENTARES

Iniciaremos nosso percurso apresentando os conceitos de alfabetização e letramento.

Não se trata propriamente do aparecimento de um novo conceito, mas o reconhecimento de

um novo fenômeno que, por não ter até então um significado social, permaneceu submerso. A

alfabetização e o letramento se somam, são processos diferentes, mas complementares,

tornando-se fundamental a sua compreensão para melhoria da prática alfabetizadora na

atualidade.

1.1 CONCEITUANDO ALFABETIZAÇÃO

Entendemos por alfabetização o processo de aprendizagem inicial da leitura e da

escrita que vai além da capacidade de codificar os sons da fala e transformá-los em sinais

gráficos. Trata-se de um processo ativo, onde a criança constrói e reconstrói suas hipóteses

sobre a natureza e o funcionamento da língua. Cagliari (1998) afirma que

O processo de alfabetização inclui muitos fatores e, quanto mais ciente estiver o professor de como se dá o processo de aquisição de conhecimento, de como uma criança se situa em termos de desenvolvimento emocional, de como vem evoluindo o seu processo de interação social, da natureza da realidade linguística envolvida no momento em que está acontecendo a alfabetização, mais condições terá esse professor de encaminhar de forma agradável e produtiva o processo de aprendizagem, sem os sofrimentos habituais (CAGLIARI,1998,p.9).

O processo de alfabetização tem início quando a criança começa a conviver com as

diferentes manifestações de escrita na sociedade em diversas práticas sociais que envolvem a

língua escrita. Portanto, o processo de alfabetização surge com as experiências adquiridas em

diferentes contextos que vão além do espaço escolar, por exemplo, com a família, os amigos,

através do contato com placas, sinais, rótulos, revistas, entre outros. Segundo Freire

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e o contexto. (FREIRE, 1998 p.11).

De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida como um processo no qual o

indivíduo desenvolve não apenas habilidades mecânicas do ato de ler, mas a capacidade de

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interpretar, compreender, criticar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o

desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral.

A alfabetização de um indivíduo promove sua socialização, já que possibilita o contato

com outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades oferecidas pelas instituições

sociais. Soares define alfabetização como:

A alfabetização é “em seu sentido próprio, específico, processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita.” Além disso afirma que “ a alfabetização é um processo de representação de fonemas e grafemas, e vice –versa, mas é também um processo de compreensão/expressão de significados por meio do código escrito, assim é preciso reconhecer a alfabetização como necessária como processo sistemático de ensino e não só de aprendizagem da escrita alfabética.(SOARES,2003, p.15)

Por muitos anos o conceito de alfabetização permaneceu atrelado à ideia de que para

prender a ler era necessário apenas a capacidade de decodificar os sinais gráficos, no entanto,

o processo de alfabetização é mais complexo e continuo, onde o aluno irá construir seu

conhecimento sobre leitura e escrita de maneira crescente, como sujeito ativo e pensante. Essa

construção de conhecimento não é fácil, nem tão pouco simples, pois essa apropriação do

conceito da leitura e da escrita requer uma intensa e variada interação com diferentes gêneros,

em situações concretas de comunicação que correspondam aos interesses reais dos alunos.

O processo de alfabetização tem passado por diversas propostas e transformações nas

últimas décadas. No Brasil, especialmente a partir da década de 1970, os estudos

psicogenéticos de Piaget interferiram radicalmente na visão que se tinha a respeito de

aprendizagem. O foco dos estudos passou do processo de ensinar para o processo de aprender,

e ao desenvolvimento do indivíduo.

Como resultado, a partir da década de 1980, Emília Ferreiro e Ana Teberosky

desenvolvem estudos e pesquisas sobre o aprendizado da escrita, a psicogênese da língua

escrita, alterando a visão sobre os processos de alfabetização.

A psicolinguista argentina Emília Ferreiro desvendou os mecanismos pelos quais as

crianças aprendem a ler e escrever, o que levou os educadores a rever radicalmente seus

métodos. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de meados dos anos 1980, causou um

grande impacto sobre a concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando as

próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. As

obras de Emilia - Psicogênese da Língua Escrita é a mais importante - não apresentam

nenhum método pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando

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a conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da

escrita. Historicamente, o conceito de alfabetização se identificou ao ensino-aprendizado da tecnologia da escrita, quer dizer, do sistema alfabético de escrita, o que, em linhas gerais, significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais gráficos, transformando-os em sons e, na escrita, a capacidade de decodificar os sons da fala, transformando-os em sinais gráficos. A partir dos anos 1980, o conceito de alfabetização foi ampliado com as contribuições dos estudos sobre a psicogênese da aquisição da língua escrita de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências entre grafemas e fonemas (a decodificação e a codificação), mas se caracterizaria como um processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de representação. (PRÓ-LETRAMENTO, 2008, fascículo 1, p.10)

A alfabetização deixa de ser considerado um mero processo de codificação e

decodificação de sinais gráficos e a função social da escrita assume o papel de eixo

estruturador da alfabetização.

Ser alfabetizado é mais do que traduzir o texto escrito em letras e sílabas. É,

principalmente, compreender o que está escrito e o significado da ideia que o autor pretende

transmitir, compreendendo, aceitando ou questionando o conteúdo do que lê. Neste contexto,

alfabetizar é propiciar condições para que o indivíduo tenha acesso ao mundo da escrita,

tornando-se capaz não só de ler e escrever, mas de fazer uso real e adequado da escrita com

todas as funções que ela tem em nossa sociedade e como instrumento na luta pela conquista

da cidadania. O aluno passa a ser sujeito do seu aprendizado, vivenciando práticas de escrita e

leitura contextualizadas em situações reias de uso. Um indivíduo alfabetizado não é

necessariamente um indivíduo letrado, é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado è

aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da

leitura e da escrita. Alfabetizar letrando é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas

sociais da leitura e da escrita, assim o educando deve ser alfabetizado e letrado.

Durante muito tempo, a palavra alfabetização foi suficiente para designar a

aprendizagem inicial da língua escrita. Corrente na língua cotidiana, essa palavra sempre teve

um significado consensual na área da educação. Enquanto o problema social e educacional

maior era que crianças, na escola, e adultos analfabetos aprendessem a ler e a escrever, ou

seja, se tornassem alfabetizados, a palavra alfabetização e o conceito que lhe era atribuído

foram satisfatórios.

Entretanto, esse conceito de alfabetização sofreu expressivas alterações ao longo das

últimas décadas e consequentemente, os usos e as funções da escrita foram multiplicando-se e

diversificando-se apenas saber ler e escrever revelou-se insuficiente. Por outro lado, traduziu-

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se em uma qualificação da palavra alfabetização tendo surgido à expressão alfabetização

funcional para deixar claro que a alfabetização não designaria apenas a aprendizagem do ler e

do escrever, mas também o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita que tornariam

o indivíduo capaz de funcionar adequadamente na sociedade. A alfabetização se ocupa com a

aquisição da escrita pelo individuo ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos

sócio - históricos da aquisição de um sistema de escrito por uma sociedade. A educação,

sendo uma prática, não pode restringir-se a ser puramente livresca, teórica, sem compromisso

com a realidade local e com o mundo em que vivemos. Educar é também, um ato político. É

preciso resgatar o verdadeiro sentido da educação. De acordo com Freire, “o ato de estudar,

ato curioso do sujeito diante do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres

humanos, como seres sociais, históricos, ser fazedor, transformador, que não apenas sabem,

mas nas sabem que sabem” (FREIRE,1989, p.58)

O conceito de alfabetização para Freire (1991, p.68) tem um significado mais

abrangente, na medida em que vai além do domínio do código escrito, pois, enquanto prática

discursiva possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante

instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos

sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social.

Alfabetização é um processo de construção de hipótese sobre o funcionamento de

sistema de escrita. Para aprender a ler e escrever, o aluno precisa participar de situações que

colocam a necessidade de refletir, transformando informações em conhecimento próprio e

enfrentando desafios. E é utilizando textos, como listas, poemas, bilhetes, receitas, piadas,

etc., que os alunos podem aprender muito sobre a escrita. Desta forma, os professores

descobrem que ler é muito mais do que decodificar, e por isso tratam seus alunos como

leitores antes de estarem.

A alfabetização é um processo no qual o indivíduo assimila o aprendizado do alfabeto

e a sua utilização como código de comunicação. Esse processo não se deve resumir apenas na

aquisição dessas habilidades mecânicas do ato de ler, mas na capacidade de interpretar,

compreender, criticar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o

desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral.

1.2 O QUE É LETRAMENTO?

A palavra letramento surge no discurso dos especialistas em educação na segunda

metade dos anos 80, na busca pela ampliação do conceito de alfabetização. O termo originou-

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se de uma versão feita da palavra da língua inglesa "literacy", com a representação

etimológica de estado, condição ou qualidade de ser literate, e literate é definido como

educado, especialmente, para ler e escrever.

A palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da

escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986. A palavra letramento não é, como se vê

definida pela autora e, depois dessa referência apareceu em 1988, no livro que se pode dizer,

lançou a palavra no mundo da educação, dedica páginas à definição de letramento: é o livro

Adultos não Alfabetizados – o avesso do avesso, de Leda Verdiani Tfouni (São Paulo, Pontes,

1988, Coleção Linguagem/Perspectivas) um estudo sobre o modo de falar e de pensar de

adultos analfabetos.

Magda Soares (1998) define letramento como “o resultado da ação de ensinar e

apreender as práticas sociais de leitura e escrita; é estado ou condição que adquire um grupo

social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas

sócias”.

Progressivamente, o termo passou a designar o processo não apenas de ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação, mas também o domínio dos conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades nas práticas sociais de leitura e escrita. É diante dessas novas exigências que surge uma nova adjetivação para o termo- alfabetização funcional -, criada com a finalidade de incorporar as habilidades de uso da leitura e da escrita em situações sociais e posteriormente, a palavra letramento. (PRÓ-LETRAMENTO, 2008, fascículo 1,p.10)

O sentido ampliado da alfabetização, o letramento, de acordo com Magda, designa

práticas de leitura e escrita. A entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem

de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso,

o aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de leitura e escrita. Ou seja, para

nesse universo do letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar um jornal para ler,

de frequentar livrarias, e com esse convívio efetivo com a leitura, apropriar-se do sistema de

escrita. Magda defende que, para a adaptação adequada ao ato de ler e escrever, “é preciso

compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura”. O letramento compreende tanto

a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto esse aspecto de convívio e hábito de

utilização da leitura e da escrita.

Letramento é pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar habilidades em práticas sociais, é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se

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apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita. (PRÓ-LETRAMENTO, 2008, fascículo 1,p.11)

A noção de letramento é uma noção relativamente recente no cenário educacional e

está relacionada à participação dos sujeitos nas práticas sociais que têm como eixo a

linguagem escrita. E sobre isso Paulo Freire afirma que: “… Aprender a ler, a escrever,

alfabetizar-se é, antes de qualquer coisa, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto,

não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula

linguagem e realidade” (FREIRE, 1999, p.21).

A leitura e a escrita são frutos de práticas sociais reais de uso e por isso é preciso

pensar a alfabetização numa dimensão mais ampla do que o processo específico de

apropriação do sistema alfabético da escrita. Daí a relevância da concepção de letramento.

Para um sujeito ser considerado letrado não é necessário que tenha frequentado a

escola ou que saiba ler e escrever basta que o mesmo exercite a leitura de mundo no seu

cotidiano, sendo um cidadão participante de sua comunidade.

Uma criança que mesmo antes de estar em contato com a escolarização, e que nãosaiba ainda ler e escrever, porém, tem contato com livros, revistas, ouve histórias lidas por pessoas alfabetizadas, presencia a prática de leitura, ou de escrita, e a partirdaí também se interessa por ler, mesmo que seja só encenação, criando seus própriostextos "lidos", ela também pode ser considerada letrada. (SOARES, 2003, p.43)

É necessário entender que o letramento acontece em diferentes contextos sociais e em

diferentes etapas da vida do aluno. É preciso também entender que a relação de eficácia da

construção da alfabetização está em criar no aluno alfabetizado uma visão de leitura do

mundo em práticas sociais, e professores e pais tornam-se os responsáveis em direcionar a

criança nessa leitura de mundo; podemos então compreender que não basta alfabetizar a

criança com relação em somente conhecer a língua, mas tomar posse dela e contextualizá-la

em diferentes meios e práticas sociais.

Segundo a professora e pesquisadora Roxane Rojo (2009), o termo letramento Busca recobrir os usos e práticas sociais de linguagem que envolve a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos (família, igreja, trabalho, mídias, escola etc.), numa perspectiva sociológica, antropológica e sociocultural. (ROJO, 2009, p.98)

Então, podemos entender o letramento como um fenômeno estritamente associado à

linguagem escrita e de caráter social, não restrito à escola. Ao contrário do que se pode

pensar, o letramento não se limita ao uso competente de gêneros textuais privilegiados pela

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escola, mas inclui todos os tipos de textos e veiculados nos mais variados suportes e

contextos, pois, como ficou posto na fala anterior, o letramento é um fenômeno social e

cultural que se refere ao uso da linguagem escrita numa dada realidade.

No Brasil os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam e se confundem. A

discussão surge sempre envolvida no conceito de alfabetização, o que tem levado, a uma

inadequada síntese dos dois procedimentos. Não se podem separar os dois processos, pois a

princípio o estudo do aluno no universo da escrita e dá concomitantemente por meios desses

dois processos: e pelo desenvolvimento das habilidades da leitura e escrita, nas práticas

sociais que envolvem a língua escrita, o letramento.

Para pesquisadores como Magda Soares, a alfabetização e letramento configuram

processos distintos, porém simultâneos e complementares. Dessa maneira, SOARES (2010,

p.15) diz: “a alfabetização - a aprendizagem do sistema alfabético-ortográfico - não poderia

ocorrer dissociada dos usos socioculturais da língua escrita, ou seja, dissociada do

letramento”. Com isso, fica posto que o letramento pode ser entendido como a habilidade de

utilizar – de forma competente e autônoma – a linguagem escrita em diversos contextos

sociais. Quer dizer, é preciso saber para quê, como e quando usar um determinado tipo de

texto, já não basta saber grafar e decodificar, é necessário compreender.

O processo de letramento, em que a criança é inserida no mundo das letras, pode ter

inicio antes da alfabetização e não tem fim. E depende dos pais que, se começarem a ler

histórias já para os bebês, despertam neles a curiosidade. A escola também tem papel

fundamental nesse processo, pois é ela quem pode mostrar para a criança os diferentes

gêneros textuais. A pessoa é mais letrada quanto mais gêneros textuais ela domina, e ser mais

letrada significa ser capaz de ler nãoapenas as palavras, mas sim o seu significado e o que está

em suas entrelinhas.

Letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como

consequência de ter-se apropriado da escrita. É usar a leitura e a escrita para seguir instruções, apoiar à

memória, comunicar-se, divertir e emocionar-se, informar, orientar-se no mundo e nas ruas. É o

resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais e da escrita, ou seja, um conjunto de

práticas sociais, que usam a escrita, enquanto sistema simbólico, enquanto tecnologia, em contextos

específicos da escrita denomina-se letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade

de ler e escrever para atingir diferentes objetivos, permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza

sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória,

garantindo-lhe a sua condição diferenciada na relação com o mundo. Compreender o que se lê.

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Pode-se resumir o letramento como a habilidade de usar a leitura e a escrita, bem

como um fenômeno que precisa acontecer associado à alfabetização. Sendo assim, é tarefa da

professora alfabetizadora levar para a sala de aula textos que circulam no cotidiano ao invés

de utilizar textos sem funcionalidade. Também é preciso que o trabalho com o letramento não

fique restrito as aulas de linguagem, mas perpasse todo o processo de alfabetização, incluindo

as aulas de outras disciplinas, como matemática, uma vez que o letramento é um processo

plural.

1.3 ALFABETIZAR LETRANDO

Alfabetização e letramento são processos diferentes, cada um com suas

especificidades. Porém, ambos são indispensáveis e complementares quando se leva em

consideração a aprendizagem da leitura e da escrita. Levando em consideração as análises de

Magda Becker Soares sobre letramento e alfabetização, essa diz que:

“Se alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever; uma criança letrada (tomando este adjetivo no campo semântico de letramento e de letrar, e não com o sentido que tem tradicionalmente na língua, este dicionarizado) é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e de escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes contextos e circunstâncias” (SOARES, 2004, p.19).

É preciso combinar alfabetização e letramento, assegurando aos alunos tanto a

apropriação da escrita, como o domínio das práticas de leitura. Surge então o desafio para o

professor na atualidade, o “alfabetizar letrando”, ou seja, possibilitar que a criança conviva

com variados portadores de texto ao mesmo tempo em que constrói a base alfabética. As

práticas em sala de aula devem estar orientadas de modo que se promova a alfabetização na

perspectiva do letramento. Esse exercício

[...] implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos – para informar ou informar-se, para interagir com os outros, para imergir no imaginário, no estético, para ampliar conhecimentos, para seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, para apoio à memória... habilidades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos; habilidades de orientar-se pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos, ao escrever: atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e informações e conhecimentos, escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor [...] (SOARES, 2001, p.92)

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Assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que

contempla, de maneira articulada e simultânea, a alfabetização e o letramento.

Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de produção de textos. (SOARES, 2000, p.24)

No entanto, o reconhecimento da importância do trabalho sistematizado de

alfabetização não significa um recuo nos avanços feitos pelo construtivismo, que atribuía ao

aluno o papel de sujeito no processo de construção do conhecimento. Pois se queremos que o

aluno exerça esse papel de sujeito, não podemos deixar de lhe apresentar as ferramentas

necessárias para que ele formule, a partir delas, hipóteses pertinentes sobre o sistema

alfabético da língua.

“Não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar; trata-se de alfabetizar letrando. Também não se trata de pensar os dois processos como sequenciais, isto é, vindo um depois do outro, como se letramento fosse espécie de preparação para a alfabetização, ou então, como se a alfabetização fosse condição indispensável para o início do processo de letramento.” (PRÓ-LETRAMENTO, 2008, fascículo 1, p.12)

Hoje o desafio maior é "Como alfabetizar letrando". Os processos de alfabetização e

letramento são complexos, mas fundamentais para a inclusão social. O ensino de Letramento

rompe barreiras tradicionais que considera a alfabetização como pré-requisito para o domínio

da leitura e escrita. O professor, mediador nessa prática de alfabetização na perspectiva do

letramento, não pode ser visto apenas como sendo um aplicador de pacotes educacionais. Ser

mediador desse processo significa, antes de qualquer coisa, estar entre os conhecimentos e o

aprendiz e estabelecer um canal de comunicação que envolve a troca entre os parceiros e

contato permanente com variados suportes e gêneros textuais.

Sabemos que a fase da alfabetização é o momento adequado para o educando se

apropriar da linguagem escrita, aliás, seria essa a função primordial da alfabetização: a

aprendizagem da leitura e da escrita. Para tanto, os professores precisam reconhecer as

particularidades da língua e desfazer alguns equívocos. Cagliari (1998) diz que o professor

alfabetizador precisa de competência técnica, ou seja, dentre outros conhecimentos, é

necessário “saber como a linguagem oral e escrita são e os usos que tem” (CAGLIARI, 1998,

p.34).

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Ajudar a criança a aprender a ler e escrever é deixá-la vivenciar situações cotidianas

de leitura e escrita, criando na escola, um espaço para que ela possa brincar, livremente, de ler

e escrever. É importante que o professor oportunize o contato das crianças com textos sociais

e funcionais em situações concretas de comunicação escrita. Assim, a carta, o bilhete, o

convite, a mensagem de aniversário, o aviso, o anúncio, quando correspondem aos interesses

dos alunos, tornam-se atos de leitura e de escrita significativos e motivadores. E sobre isso o

PCN Língua Portuguesa (1997,p.30) ressalta: “ Cabe, portanto, à escola viabilizar o acesso do

aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e interpretá-los.”

Surge então, a necessidade das escolas repensarem seu papel social. Não apenas

alfabetizar. Não apenas fazer com que o indivíduo permaneça na escola por mais tempo. Mas

dar qualidade a esse tempo de permanência nas escolas. Ou seja, letrar os seus alunos, pois o

letramento possibilita que o indivíduo modifique as suas condições iniciais, sob os aspectos:

social, cultural e econômico para este crescer tanto cognitiva quanto criticamente.

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2 PROFESSORES ALFABETIZADORES E SUAS PRÁTICAS

O contato com professores alfabetizadores da rede municipal de ensino do município

de Mogeiro e a nossa experiência enquanto alfabetizadora trouxe a tona algumas indagações,

como por exemplo: “Como alfabetizar na perspectiva do letramento? Podem-se propor

atividades de memorização? Devemos explorar primeiro o texto ou a sílaba? Devem-se

ensinar as letras do alfabeto?”. Observamos que as angustias destes profissionais revelam o

medo de que suas práticas estejam equivocadas e defasadas. Também identificamos posturas

que revelam a frequente confusão dos conceitos de alfabetização e letramento. Daí a

necessidade de reflexão sobre a prática alfabetizadora, buscando a compreensão de que

alfabetização e letramento são processos complementares e que devem ocorrer de forma

simultânea e não isolados, ressaltando a importância da formação continuada como espaço

privilegiado para aprimoramento da prática pedagógica.

2.1 O DESAFIO EM ARTICULAR TEORIA E PRÁTICA

Neste desafio em articular teoria e prática para conciliar os processos de alfabetização

e letramento se faz necessário que o educador, principalmente o que já se encontra há anos

exercendo o papel de professor-alfabetizador e que confia plenamente na mera aquisição de

decodificação, aceite romper paradigmas e acreditar que as transformações que ocorrem na

sociedade contemporânea atingem todos os setores, assim como também a escola e os saberes

do educador, pois métodos que aprenderam há décadas podem e devem ser aprimorados,

atualizados ou até mesmo modificados. O conhecimento não pode manter-se estagnado, pois

ele nunca se completa ou se finda.

Então, antes de o professor querer exercer esse papel de "professor-letrador" é

necessário que ele se conscientize e busque ser letrado, domine a produção escrita, as

ferramentas de busca de informação e seja um bom leitor e um bom produtor de textos. Mas

para que se torne capaz de letrar seus alunos, é preciso que conheça o processo de letramento

e que reconheça suas características e peculiaridades. E Soares (2000) pensa que:

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Os cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento, deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto naquela área, e na formação de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons produtores de textos naquela área. ( SOARES, 2000,p.39)

Alfabetizar letrando é um desafio permanente sendo fundamental nesse percurso o

conhecimento do objeto da aprendizagem, a língua escrita, e dos processos pelos quais

crianças e jovens aprendem esse objeto.

“Os alfabetizadores precisam entender as várias facetas do processo de alfabetização e da aprendizagem da língua escrita para definir métodos que são específicos para cada faceta, ou seja, são caminhos de orientação para a aprendizagem de cada uma das facetas. Métodos são decorrência da compreensão do processo de aprendizagem de um determinado conteúdo, no caso da alfabetização, a língua escrita. Com base nessa compreensão é que o alfabetizador pode planejar o ensino, entender os obstáculos que podem surgir no caminho que ele planejou, compreender o porquê desses obstáculos e redefinir o caminho, sempre que for preciso.” ( SOARES, 2012,p.8)

A clareza sobre as características do sistema de escrita da língua portuguesa –

alfabético - direciona o ensino para determinadas formas de aprendizagem e contribui para o

desenvolvimento do processo de alfabetização e letramento. É fundamental compreender

que:“Nosso sistema de escrita é alfabético. Isso significa que seu princípio básico é o de que cada ‘som’ é representado por uma ‘letra’ – ou seja, cada ‘fonema’ por um ‘grafema’. A história da invenção da escrita e a existência de diferentes sistemas de escrita mostram que a correspondência som-letra nem é óbvia e natural, nem é a única possível. Isso significa, por um lado, que é perfeitamente plausível que algumas crianças imaginem que a escrita do português seja ideográfica, ou silábica, por exemplo. E, por outro lado, isso significa que é necessário trabalhar essa questão em sala de aula.” ( PRÓ-LETRAMENTO, 2008, fascículo 1, p.14)

Na prática é necessário desenvolver metodologias de ensino que levem os alunos a

refletirem sobre as propriedades do sistema e progressivamente aprender a automatizar as

convenções. O ideal é aliar um ensino sistemático com a vivência cotidiana de práticas

letradas permitindo ao estudante se apropriar das características e finalidades dos gêneros

escritos que circulam socialmente.

A sala de aula pode transformar-se num espaço em que a criança terá contato com portadores de textos onde esses conhecimentos relacionados à escrita e outras formas gráficas de expressão serão abordados. Assim, explorando livros, jornais, revistas e outros impressos, o aluno pode perceber as diferenças gráficas entre o texto escrito e o desenho, entre a escrita alfabética e os ícones e sinais que não representam pauta sonora. (BIZZOTTO, 2010, p.72)

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O professor precisará de um domínio consistente de conteúdo, o que envolve além do

conhecimento da psicogênese da leitura e da escrita e suas correlações com outras ciências,

um conhecimento da Língua Portuguesa. É exigido dele um conhecimento claro do processo

de construção do conhecimento, para identificar o que a criança já sabe, como pensa, como lê

e escreve o que significam seus diferentes desempenhos e como agir para que continue

evoluindo para os níveis seguintes, intervindo sempre que necessário.

A intervenção pedagógica se dá em diferentes momentos e em muitas direções: desde

a análise coletiva do texto-fonte, consulta posterior ao texto-fonte, escrita individual com ou

sem ajuda do professor ou de outra criança, leitura do escrito, revisão do texto, edição final,

até a releitura, para possível revisão e correção do mesmo texto, passado algum tempo. O

importante é termos consciência dos diferentes momentos de aprendizagem dos nossos

alunos.

Para isso, necessário se faz que, primeiramente, obtenha informações a respeito do

tema, as dimensões e, sobretudo, a sua aplicação. Essa última é desenvolvida através de

pesquisas e investigação, que geram subsídios suportes. É uma tarefa difícil de ser exercida,

pois sabemos que alguns desses profissionais, num determinado momento, se colocam em

uma posição quase inatingível, completos de suas certezas. Pois, se há mutações contínuas na

sociedade contemporânea, e essas refletem em todos os setores, inclusive na escola, é lógico

que a cristalização dos saberes do educador é um equívoco, pois o conhecimento nunca se

completa, ou se finda, e o letramento é um exemplo claro disso.

Se quisermos propiciar a construção de conhecimentos das crianças precisamos

analisar, pensar, escolher novas situações problemas não só para desafiá-las, mas para inferir

cada vez mais sobre seu processo de construção de conhecimento. O professor precisa

conhecer as teoria e estabelecer uma constante relação entre o conhecimento teórico e a

prática pedagógica.

2.2 AMBIENTE ALFABETIZADOR

Na organização do ambiente de alfabetização e letramento, é importante oferecer a

criança o contato com diferentes textos de gêneros variados. A organização do ambiente da

sala de aula pode facilitar a convivência com o texto, favorecendo a aquisição de

conhecimento.

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Criar um ambiente alfabetizador significa organizar a sala de aula de maneira que em

cada classe de alfabetização deve haver um "canto ou área de leitura" onde se encontrem não

só livros bem editados e ilustrados, como qualquer tipo de material que contenha a escrita

(jornais, revistas, dicionários, folhetos, embalagens e rótulos comerciais, receitas embalagens

de medicamentos, etc.). Quanto mais variado esse material, mais adequado para realizar

diversas atividades de exploração, classificação, busca de semelhanças e diferenças e para que

o professor, ao lê-los em voz alta, dê informações sobre "o que se pode esperar de um texto"

em função da categorização do objeto que veicula.

Se o aluno tem muitas experiências com o texto, isto é, se em seu ambiente sociocultural ele é estimulado a ler e a interpretar textos que fazem parte do seu cotidiano, ele construirá mais rapidamente o conceito de leitura e escrita. Esse tempo depende, em grande parte, dos recursos e dos estímulos que o meio familiar e a escola lhe oferecem como espaço de interação e construção em que lhe é permitido explorar e experimentar suas hipóteses. ( BIZZOTTO, 2010, P.48)

O ambiente escolar precisa ser, concretamente, um ambiente alfabetizador, onde a

criança será estimulada a construir seus conceitos de forma independente, se sentido segura

para aprender através de suas experiências de leitura e escrita. O processo de alfabetização

precisa ser ao mesmo tempo prazeroso e instigante. E para isso o professor deverá estar

seguro dos seus objetivos num movimento constante, no sentido de conhecer melhor a

criança, não só por meio de informações teóricas, mas pelos seus dados pessoais, sociais,

históricos e afetivos, como sugere Maria Inês Bizzoto:

Portanto, torna-se necessário estabelecer um constante intercâmbio entre o conhecimento teórico e prática pedagógica como um instrumento de superação de nossas deficiências e como contribuição para a construção teórica. O professor deve se questionar sobre como a criança aprende,para que ele está se propondo a ensinar determinado conteúdo e a quem serve esse conhecimento, tendo sempre como referência o aluno como ser cognitivo, afetivo, social e cultural. (BIZZOTTO, 2010, p.32)

É importante que a escola crie oportunidades e espaços para que os alunos utilizem a

linguagem em diferentes situações de interação, onde o professor possa desenhar sua prática

pedagógica combinando alfabetização e letramento, promovendo a socialização de

conhecimentos e experiências entre os próprios alunos e entre alunos e professor.

À escola cabe ampliar as experiências de leitura e escrita, proporcionando à criança

condições para o letramento, a partir das marcas trazidas para o ambiente escolar, pois, é

papel da escola:

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[...] além de aperfeiçoar as habilidades já adquiridas de produção de diferentes gêneros de textos orais, levar à aquisição e ao desenvolvimento das habilidades de produção de textos escritos, de diferentes gêneros e veiculados por meio de diferentes portadores [...] (SOARES, 1999, p. 69).

É preciso, então, planejar o trabalho pedagógico ou psicopedagógico de reflexão sobre

a escrita. Isto significa dizer, que a alfabetização, tomada como a aprendizagem inicial da

leitura e da escrita, deve ocorrer em contextos de letramento que potencializam o domínio da

linguagem, ou seja, na construção de contextos facilitadores da transformação dos alunos em

sujeitos letrados.

Esses contextos se desencadeiam, para a formação de um ambiente letrado que

favoreçam as práticas de leitura que tais como: de dispor de um acervo de livros, gibis,

jornais, revistas, enciclopédias, organizando momentos de leituras livre, possibilitando, aos

alunos a escolha de suas leituras, entre outras. Em relação à prática da escrita, condições

como: reconhecer a capacidade dos aprendentes para escrever e dar legitimidade e significado

às escritas iniciais; propondo atividades de escrita que façam sentido para os mesmos,

apresentando situações motivadoras, ligadas ao desejo e à necessidade de se comunicarem,

permitindo que os alunos possam expressar-se livremente e que ao mesmo tempo, o

professor identifique os aspectos do desempenho linguístico que será necessário enriquecer e

sistematizar em outras situações pedagógicas ou psicopedagógicas.

É importante que o professor ofereça as oportunidades necessárias ao aluno, sobretudo

que desempenhe o papel de parceiro experiente, que proporciona informações pertinentes, que

faz intervenções pedagógicas adequadas e estimula a curiosidade e o interesse das crianças.

Pois estas quando convivem com adultos que utilizam a leitura e a escrita no seu cotidiano,

elas podem desde cedo, pensar sobre a língua e seus usos, construindo ideias sobre como se lê

e como se escreve.

Segundo Ana Teberosky (2003), os professores como guiadores deste processo

possuem a responsabilidade de criar um ambiente alfabetizador rico em materiais apropriados,

levando em conta o conhecimento prévio dos alunos, garantindo um trabalho contínuo e

gradativo para o processo de aprendizagem.

Vale ressaltar que não basta somente que os alunos tenham contato com livros ou

outros materiais de leitura, pois é preciso que façam uso dessas práticas sociais de leitura e

escrita que de fato podem favorecer a efetiva interação do aluno com o mundo letrado.

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Emília Ferreiro (1993, p.59) Afirma que: “A criança que cresce em um meio ‘letrado’

está exposta à influência de uma série de ações”. Em todo momento do seu cotidiano escolar,

a criança está interagindo com colegas e professores, entre os quais, durante todo o ano letivo,

trocam experiência de leituras e fazem interpretações do que estava escrito. Desse modo, o

professor conseguirá manter o aluno envolvido nas aulas, além de colaborar para a construção

de indivíduos letrados e alfabetizados.

Um elemento importante do trabalho de alfabetização se refere à qualidade e à

diversidade do material que é disponibilizado no contexto escolar, ou seja, na criação e

manutenção, pelo professor, de um ambiente alfabetizador. Metodologicamente, a criação

desse ambiente se concretiza na busca de levar as crianças em fase de alfabetização a usar a

língua escrita, mesmo antes de dominar as “primeiras letras”, organizando a sala de aula com

base nela. Conceitualmente, a defesa da criação do ambiente alfabetizador estaria baseada na

constatação de que saber para que a escrita serve (suas funções de registro, de comunicação à

distância, por exemplo) e saber como é usada em práticas sociais (organizar a sala de aula,

fixar as regras de comportamento na escola, por exemplo) auxiliariam a criança em sua

alfabetização, por dar significado e função ao processo de ensino-aprendizagem da língua

escrita e por criar a necessidade de se alfabetizar, favorecendo, assim, a exploração, pela

criança, do funcionamento da língua escrita.

Entendemos, portanto que o ambiente alfabetizador não se resume em apenas como

um lugar com muitos escritos expostos, mas num lugar onde se pratica a leitura e a escrita, ou

seja, um lugar onde as crianças possam se sentir a vontade para realizarem perguntas a

respeito do real funcionamento do sistema da escrita.

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3 CONTRIBUIÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS PARA ALFABETIZAÇÃO

Segundo Scoz ( 1992, p.4 ) a Psicopedagogia é a “área que estuda e lida com o

processo de aprendizagem e suas dificuldades e que numa ação profissional deve englobar

vários campos do conhecimento, integrando-os e sistematizando-os”. Neste contexto o

psicopedagogo posiciona-se para compreender os processos do desenvolvimento e das

aprendizagens humanas, recorrendo a várias áreas e estratégias pedagógicas, ele é o

profissional preparado para realizar avaliações psicopedagógicas, diagnósticos, intervenções e

prevenções.

O enfoque preventivo é importante na função do psicopedagogo, pois identifica

possíveis distúrbios no processo ensino-aprendizagem, objetivando favorecer

processos de integração e trocas, considerando as características do indivíduo ou

grupo. Neste sentido, o psicopedagogo é um profissional apto para diagnosticar as

dificuldades de aprendizagem, através de intervenções preventivas e curativas, além

de evitar o surgimento de outros. (DANTAS, 2011, p.6)

Sendo a Psicopedagogia responsável pelos métodos estratégicos para crianças com

dificuldades na aprendizagem, pode-se afirmar que a sua função na escola, em especial no

processo de alfabetização e letramento é mediar às capacidades das crianças, levando-as a

partir daí a sentir-se estimulada através da escola juntamente com o professor psicopedagogo

numa construção significativa e de acordo com a sua capacidade de desenvolvimento.

Neste contexto, a formação psicopedagógica constitui-se para os professores como

uma oportunidade para entender o sujeito em suas múltiplas dimensões e refazer suas

concepções e atitudes frente ao processo de ensino-aprendizagem, dando-lhes

instrumentalização necessária para atender as demandas da escola especialmente no que

concerne aos alunos com dificuldades de aprendizagem, foco principal do estudo da

psicopedagogia.

A intervenção psicopedagógica, exercida por um profissional habilitado na área da

Psicopedagogia institucional fará um trabalho de prevenção a fim de perceber possíveis falhas

no sistema educativo que dificulta a aprendizagem dos alunos participando do processo de

reorientação metodológica da escola.

Para Scoz (1992), evidências sugerem que um grande número de alunos possui

características que requerem atenção educacional diferenciada. Neste sentido, um trabalho

psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem seus

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conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de

diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse

trabalho permite que o educador se olhe como aprendente e como ensinante.

Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os

educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo

para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver

alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como

participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um

pequeno grupo de alunos (SCOZ, 1992, p. 34).

O olhar psicopedagógico tem contribuído para um avanço da atuação dos educadores,

pois busca alternativas para os dilemas que surgem no processo de aprendizagem, ajudando

na compreensão de como ocorrem esses processos, vislumbrando sempre novas

possibilidades.

Muitas vezes o processo de alfabetização não acontece de uma maneira tranquila e

natural. Quando isto ocorre e o tempo vai passando, a pressão sobre a criança torna-se um

fator complicador. Os adultos, familiares, professores, e até amigos voltam sua atenção para a

aquisição da leitura e da escrita, fazendo cobranças, comparações, muitas vezes com a melhor

das intenções.

A aprendizagem da leitura e escrita tem sido encarada pelos educadores atuais como

um desafio de tão grande complexidade que merece atenção especial. Antigamente, poucas

preocupações se tinham com este processo. Porém, nas últimas décadas este vem sendo um

ponto chave para discussão.

De forma geral, a Psicopedagogia trouxe contribuições para as discussões sobre a

aprendizagem da leitura e da escrita e tem trazido grandes reflexões, principalmente no caso

dos problemas que normalmente atingem as crianças em fase de alfabetização.

A Psicopedagogia contribui levando o educador a refletir sobre os seus atos como

professor e avaliador da aprendizagem de crianças com dificuldades tanto de aprendizagem

quanto de outras habilidades ligadas direta e indiretamente à escola envolvendo a escrita.

A Psicopedagogia como uma atividade voltada para um atendimento personalizado

àqueles alunos que merecem uma atenção especial exerce forte influência em todo o processo

de ensino-aprendizagem, visto quer através da valorização do aspecto cognitivo como foco de

reflexão. Tanto o educador quanto o aluno passam a viver experiências relevantes não apenas

para o processo de ensino-aprendizagem na escola, mas também para uma convivência maior

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que envolve o indivíduo e o seu meio numa construção significativa de aprendizagens através

das experiências vivenciadas diariamente com o mundo e com as coisas nele existentes.

A contribuição da Psicopedagogia no processo da alfabetização e letramento nos dias

de hoje tem sido destaque nas escolas em geral. Isso porque através de estudos da pedagogia

juntamente com a psicologia o atendimento à criança com necessidade de atendimento

especial se aperfeiçoou, visto que uma das preocupações dos educadores e envolvidos

diretamente ao processo de ensino-aprendizagem está centralizado no desenvolvimento

cognitivo do aluno nas diversas modalidades de ensino.

O desafio da Psicopedagogia no processo de ensino-aprendizagem, em especial no

campo da leitura e da escrita, tem sido o de encarar com naturalidade os problemas

enfrentados na escola com crianças com dificuldades de desenvolvimento cognitivo, porém,

do outro lado, a escola atualmente investe em saídas mais humanas, no caso a preparação

profissional do educador para lidar com problemas psicológicos que antes era considerado um

desafio bem maior e em muitos casos, sem saída para o educador, visto que a deficiência não

só era do aluno em se desenvolver nas atividades propostas pela escola, mas também do

educador em encarar as diferenças individuais como um fator relevante a se pensar no ensino

como oportunidade de integração social dos educandos com necessidades de atendimentos

mais qualitativos, no caso, psicológicos. 

A Psicopedagogia pode atuar junto à Educação, facilitando o entendimento das

dificuldades de aprendizagem, aqui em específico, as de leitura e de escrita, identificando-as,

intervindo no processo de alfabetização, fornecendo mecanismos adequados para solução dos

problemas.

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4 METODOLOGIA

Para realização deste estudo de início realizamos a pesquisa bibliográfica, pautada nos

pressupostos teóricos abordados por autores como Cagliari, Magda Soares, Paulo Freire,

Emília Ferreiro, entre outros, sobre alfabetização e letramento.

Pode-se afirmar, então, que realizar um levantamento bibliográfico é se potencializar intelectualmente com o conhecimento coletivo, para se ir além. É munir-se com condições cognitivas melhores, a fim de: evitar a duplicação de pesquisas, ou quando for de interesse, reaproveitar e replicar pesquisas em diferentes escalas e contextos; observar possíveis falhas nos estudos realizados; conhecer os recursos necessários para a construção de um estudo com características específicas; desenvolver estudos que cubram lacunas na literatura trazendo real contribuição para a área de conhecimento; propor temas, problemas, hipóteses e metodologias inovadores de pesquisa; otimizar recursos disponíveis em prol da sociedade, do campo científico, das instituições e dos governos que subsidiam a ciência. (GALVÂO, 2011, p.2)

O interesse pelo tema, o desafio de alfabetizar letrando, decorre de nossa experiência

como professora alfabetizadora na rede municipal de ensino em Mogeiro-Pb, onde nos

defrontamos com questionamentos de outros professores sobre como melhorar a prática

pedagógica e prevenir o fracasso dos alunos no processo de aquisição da leitura e da escrita na

perspectiva do letramento.

Após o levantamento bibliográfico o estudo consistiu em analisar os dados coletados,

em fontes de dados online, artigos científicos, revistas e livros buscando refletir sobre os

desafios de associar a teoria à prática educacional, de modo a dar sentido a uma e outra. Para

viabilizar as metas sugeridas lembramos que nenhum material, por melhor que seja, esgotará

as possibilidades de discussão sobre o assunto.

Finalmente, na produção do texto conclusivo, apresentamos o conceito de alfabetizar

e letramento e uma reflexão sobre o desafio de articular teoria e prática para alfabetizar

letrando na atualidade, em seguida propomos sugestões para organização do ambiente

alfabetizador que promova também o letramento e as contribuições da psicopedagogia no

processo de alfabetizar que favorecem a prática pedagógica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aqui apresentado nos deixa reflexões sobre as características do processo de

alfabetização e letramento e os desafios enfrentados pelos professores alfabetizadores.

Para entender a alfabetização e letramento na atualidade e o papel do professor em sala

de aula, foi percorrido um caminho pelos teóricos. Contudo, sabemos que há muito para ser

pesquisado em relação ao tema e que alfabetização e letramento não se configuram como um

modismo passageiro.

São muitos os desafios a serem enfrentados no atual contexto educacional para

articular teoria e prática para alfabetizar letrando. O modo como o professor conduz seu

trabalho é fundamental para que a criança construa seu conhecimento. Por isso, defendemos a

importância da formação continuada para reflexão da prática pedagógica e para o diálogo

continuo entre professores pesquisadores e professores formadores, em que os estudos sobre

alfabetização e letramento sejam aprofundados.

Percebemos que muitos avanços já ocorreram, mas do que precisamos,

verdadeiramente,é conscientizar o professor alfabetizador, pois somente quando ele tiver

consciência da importância de seu papel, na formação do educando em seu exercício das

práticas sociais de leitura e escrita na sociedade em que vive, é que vai romper com

paradigmas tradicionais e perceber que não basta alfabetizar. Hoje os nossos alunos

necessitam de um processo de aprendizagem que focalize o alfabetizar letrando.

Não podemos deixar de destacar que o educador exerce uma função primordial nesse

processo, como mediador entre o sujeito que aprende, o aluno, e o objeto do conhecimento, no

caso, a leitura e a escrita. Além de exercer uma função política, tendo a alfabetização e o

letramento como instrumentos de inserção social e exercício da cidadania.

Esperamos que os fundamentos apresentados neste trabalho possam contribuir para

uma reflexão da prática alfabetizadora buscando aprimorá-la na formação continuada,

instigando novas pesquisas e favorecendo tomada de decisões mais eficazes no processo de

alfabetização.

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REFERÊNCIAS

BIZZOTTO, Maria Inês. Alfabetização Linguística; da teoria à prática / Maria Inês Bizzotto, Maria Luisa Aroeira, Amélia Porto. Belo Horizonte: Dimensão,2010.

BRASIL, Ministério da Educação ( MEC). Secretaria de Educação Básica ( SEB). Pró-letramento: alfabetização e linguagem. Brasília: MEC; SEB, 2007.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 1998.

DANTAS, Viviane Andrade de Oliveira. Dificuldades de leitura e escrita: uma intervenção pedagógica. Disponível em: < http://www.educonufs.com.br/vcoloquio/cdcoloquio/pdf>

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