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1 Contando com o ovo no fiofó da galinha De Leandro Vieira

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Contando com o ovo no fiofó da galinha

De Leandro Vieira

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CENA UM- Abrem-se as cortinas, a família Capin está à beira do rio esperando que José consiga pescar algum peixe.

Rita: Mas José, você vai pegar logo esse peixe ou a gente vai morrer de fome?

José: Vocês vão morrer de fome, porque olha... O negócio aqui não vai não.

Rita: E a gente vai ficar aqui o dia inteiro olhando para sua cara de tonto?

José: É só não ficar olhando para minha vara, uai. Olha pras arvores, olha pro rio, olha pras moscas, tem tanta coisa pra olhar aqui.

Rita: Eu não devia era ter casado com você, José.

Brígida: Isso eu sempre te falei minha filha, não casa com esse imbecil, vai embora com aquela mulher que queria te levar pra Túrquia, foge com o teu burro pra casa dos seus tios e vai estudar...

José: E abriram os portões do inferno.

Brígida: O dia que eu morrer, minha filha, você vai dizer “mãe, a senhora estava certa”...

José: Uai, mas você vai estar morta, ela vai falar com você como? Ela vai ficar conversando com assombração agora?

Márcia: Por favor, José, pense nos meus bacurizinhos que carrego aqui comigo.

José: O que você carrega aí é lombriga, verme... Tem criança coisa nenhuma aí.

Márcia: Eu estou grávida sim, sinto vontade de comer toda hora.

José: Isso é gula, nunca ouviu falar não?

Márcia: Aé? E os meus enjoos?

José: Frescura no rabo.

Márcia: Meu benzinho, você acredita em mim, não acredita? Eu estou grávida e sinto que é de quadrigêmeos.

Teófilo: Eu acredito, minha ursa marinha.

Márcia: Então faz alguma coisa! Pula nesse rio, se

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faz amigo dos peixes, trás um pela boca, mata minha fome!

Teófilo: Mas eu não sei nadar, minha ursa.

Márcia: Se afoga, faz alguma coisa, eu vou morrer de fome!

Teófilo: Não... Deixe que eu morra por você, minha amada.

Márcia: Ai, meu benzinho!

Rita: Mas nenhum raio de peixe mordeu essa isca ainda?

José: Às vezes os peixes não estão com tanta fome que nem nós estamos.

Rita: Eu já sei! A gente mata essa galinha e come até as penas delas. – A família aplaude.

José: Vocês não têm coração? Vocês não têm coração nesse coração de bosta de vocês? Querer matar a minha Marilu?

Rita: Não é a sua Marilu, é uma galinha.

José: Não é uma galinha, é a minha Marilu. E todos esses anos de omelete? Não conta para vocês não?

Brígida: Essa galinha velha que não presta mais pra nada.

Márcia: Nem cacareja, ela cacareja, eu que tenho que ficar cacarejando.

José: Marilu, você não escuta o que esses monstros estão falando de você não, eles não sabem o que é amor.

Rita: José, para de ser ridículo. Essa galinha não bota mais ovo há anos, é a chacota da cidade, a gente mata ela e ela mata a nossa fome.

José: Rita, você não me irrita, Rita... Olha com que frieza você fala da minha Marilu, que é como se fosse uma... uma... esposa pra mim.

Rita: Obrigado pela parte que me toca.

José: A Marilu botava mais ovo do que o Neymar cai no chão.

Rita: Botava! Agora o Neymar cai mais...

José: Ah, mas aí você quer o que?

Foco em Mercedes.

Mercedes: Essa é família Capin, donos da galinha

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Marilu, a galinha que ganhava todos os meses o Festival da grande Chocadeira. – A família se posiciona no palanque, ao lado do prefeito e sua esposa. Marilu parecia imbatível... Mas o tempo foi passando e Marilu já não era mais a mesma. Foi então que com a chegada de Sebastiana, tudo piorou e Marilu se tornou uma piada – O casal Jovenice e Claudemir se posicionam do outro lado do prefeito.

Cândida: E a grande vencedora do Festival da grande Chocadeira, pela décima segunda vez seguida é a galinha Sebastiana!

Anselmo: Prefeito Anselmo para prefeito! É 70! É 70! É 70! Se eu não cumprir nenhuma promessa, você tenta de novo.

Cândida: Anselmo, você já é o prefeito da cidade, não precisa ficar fazendo campanha.

Mercedes: Com as derrotas frequentes, José Capin foi acumulando dívidas e vinha se estrepando, por sempre contar com o ovo no cu da galinha. Eu? Bem, eu sou

Mercedes, Solteira, do lar e cristã. Que o senhor esteja conosco.

José: Você se acha, né?

Claudemir: Eu tenho o porquê me achar...

José: Eu estou falando com a galinha... Pois saiba, que a minha Marilu, vai botar tanto ovo, mas tanto ovo no mês que vem, que você vai ter vergonha de ser uma galinha.

Jovenice: Pode cacarejar à vontade, a Sebastiana não entende a língua dos perdedores.

José: Olha aqui, eu vou te falar uma coisa... Rita, você não vai fazer nada pra nos defender?

Rita: Ela acabou com a nossa cara, José, vamos bater as asas pra nossa casa.

Claudemir: Não se sintam mal, se faltar ovos, nós fazemos uma omelete pra vocês. Sebastiana é a super galinha.

José: E o você é o super asno.

Rita: José, para de caçar brigar com os outros, que coisa feia.

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Jovenice: Volta para o galinheiro de vocês e deixe que minha Sebastiana cisque no seu merecido território. Suas galinhas perdedoras! – Jovenice e Claudemir imitam uma galinha da angola, tirando sarro de seus concorrentes.

Rita: Você vai ver quem é a galinha perdedora aqui! – Rita avança em Jovenice.

Mercedes: Isso! Quebra a cara dela... – As pessoas olham para Mercedes. Que a paz do senhor reine entre nós. – O Padre chega com seu patinete.

Padre: Para! O que está acontecendo nesse galinheiro? Digo, nesta cidade.

Jovenice: Padre, ainda bem que o senhor chegou restaurando a paz divina... Essa mulher me atacou feito uma galinha selvagem, só porque a sua galinha já não presta mais pra nada.

Claudemir: Todos os meses é a mesma coisa, Padre! Sebastiana mostra o que é uma galinha de verdade e o “bando das mulas recalcadas” avançam com

toda a sua ignorância e agressividade.

Jovenice: O que podemos fazer se Sebastiana é uma galinha feliz com a vida, bem humorada, sorridente e cheia de energia?

José: Marilu também é uma galinha com tudo isso, não é Marilu? – Marilu não reage. Fala pra eles, Marilu... Vai, voa... – José arremessa Marilu que cai no chão sem nenhuma reação. Padre, o senhor não pode rezar para que Marilu bote ovos novamente?

Padre: Posso rezar, não fazer milagres. – Ri sozinho.

José: Não tem graça, padre.

Padre: Desculpe.

José: Marilu, a senhorita desculpa o padre? A sua sorte, Padre, é que Marilu é uma galinha muito boa de coração.

Padre: José, você tem que aceitar que Marilu, já não é mais uma galinha...

José: A não, padre? Marilu é o que? Uma égua?

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Padre: Essa galinha não bota mais ovo...

José: Não deixa de ser uma galinha.

Padre: Mas poderia ser um suculento frango assado para nossa quermesse! – Todos comemoram.

Prefeito: É prefeito Anselmo! É 70! É 70! É 70!

José: Eu não vou deixar que esses olhos gulosos devore a minha Marilu!

Anselmo: Senhor José Capin... O senhor tem problemas mais sérios para se preocupar no momento do que a existência dessa sua galinha. – Eles se dirigem ao gabinete do prefeito.

José: Senhor prefeito, eu já quero lhe adiantar que não era eu o sujeito que estava nadando pelado na fonte da praça, parecia muito eu? Confesso que parecia! Tinha as mesmas nádegas que a minha? Tinha as mesmas nádegas que a minha...

Anselmo: Nada disso, senhor José Capin, estamos aqui pra falar sobre as suas terras cheias de dívidas.

José: Muito obrigado, senhor prefeito, eu vou ter uma conversa séria com as minhas terras pra que nunca mais isso se repita, com a licença dos senhores... – José vai saindo, levando Rita.

Anselmo: Não tem por onde...

Cândida: Anselmo, não seja patético! Senhor José Capin, volte imediatamente! A única pessoa que responde por suas terras é o senhor mesmo. Quando irá pagar pelas terras que nós vendemos para o senhor?

José: Fiquem tranquilos, senhor prefeito e primeira dama, quando eu tiver dinheiro.

Cândida: E quando é que o senhor terá dinheiro?

José: Isso eu também não sei, minha senhora.

Anselmo: Pois então vão preparando suas trouxas, que os senhores logo mais perderão suas terras e serão despejados no olho da rua, comendo o pão que o diabo amassou! – O prefeito ri.

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Rita: Prefeito, não era para o senhor ser uma pessoa boa, não?

Anselmo: Eu prometo ser uma boa pessoa! Prefeito Anselmo, é 70! É 70! É 70!

Cândida: Anselmo, você já é o prefeito, para de ser lerdo!

Anselmo: Mas já estou conquistando meus eleitores para as próximas eleições. Posso contar com o voto de vocês?

Rita: A gente não tem pra onde ir, senhor prefeito, o senhor não pode nos despejar do único lugar que temos pra morar.

Anselmo: Posso sim, eu sou o prefeito. – O prefeito ri.

Cândida: Com as vinte vezes que a fracassada da sua galinha já perdeu o festival, já era para os senhores terem o dinheiro de ter quitado essas terras.

José: Vamos fazer o seguinte, se a minha Marilu botar um ovo, o senhor perdoa minha dívida e eu não lhe devo mais nada, agora se essa galinha não botar um ovo

em quinze dias eu trabalho de graça para o senhor o ano inteiro.

Rita: Fudeu.

Anselmo: O seus serviços não é algo que almejo nem de longe, mas está feito o acordo.

José: O senhor promete, senhor prefeito?

Anselmo: Eu prometo! Prefeito Anselmo, é 70! É 70! É 70!

José: Pois a Marilu botará esse ovo! – A cidade ri de José.

CENA DOISMercedes: Os seres humanos são de fato seres instáveis, com suas inseguranças, seus medos e suas falhas... E é por isso que eu, uma cristã, enviada do senhor, estou sempre disposta a ajudar os indefesos... Teófilo, marido de Márcia, irmã de José Capin, recebeu uma carta anônima, da qual o avisava sobre as traições de sua esposa. O homem ficou totalmente perplexo, descontrolado, sem saber para onde ir... Foi então que eu sabia que precisava

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fazer alguma coisa, o confortar de alguma maneira, essa era minha missão. Senhor Teófilo.

Teófilo: Peço para que não tenham pena de mim! Sou homem o suficiente para aguentar a dor sozinho...

Mercedes: Tudo bem então. – Vai saindo.

Teófilo: Não! Não me deixe só. – Teófilo corre para abraça Mercedes. É tão difícil o amor correspondido?

Mercedes: Não fique assim, bebê, a mamãe está aqui.

Teófilo: Eu sou apenas uma flor desabrochada a procura de uma abelha que venha pegar do meu mel.

Mercedes: Às vezes essa abelha está mais próxima do que se pode imaginar, é preciso olhar com mais atenção ao seu redor...

Teófilo: Então cadê? Cadê? Onde está essa abelha que realmente quer do meu mel? – Mercedes vai seguindo Teófilo para tentar chamar sua atenção, porém não

consegue. Eu não sei o que fazer.

Mercedes: Me abrace! – Teófilo corre para os braços de Mercedes. Marcia chega e se choca ao ver a cena.

Marcia: Teófilo!

Teófilo: Marcia!

Marcia: Mercedes...

Mercedes: Marcia.

Marcia: Teófilo!

Teófilo: Mercedes...

Marcia: Mercedes!

Mercedes: Teófilo...

Teófilo: Marcia...

Marcia: Chega! Que cena é essa que me deparo, Teófilo? O que faz nos braços de outra mulher? Você quer que eu o ranque as tripas?

Mercedes: Acalme-se, querida, eu só estava consolando este coitado.

Marcia: Primeiro não fale comigo, segundo não me chame de querida, terceiro ele não é coitado... Teófilo, o que foi isso?

Teófilo: Marcia, calma, Marcia... Você está muito nervosa!

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Marcia: Nervosa? Quem disse que eu estou nervosa? – Marcia vai pra cima de Teófilo, que é defendido por Mercedes.

Teófilo: Está vendo, Marcia, é sempre assim, eu venho com amor, você vem com a violência!

Marcia: Você vai se fazer de vítima uma hora dessa? Eu com as costas doendo, morrendo de dor no pé.

Marcia: Eu vou é com o capeta e vou queimar o Teófilo no espeto nas chamas do inferno. – O padre se aproxima com o seu patinete.

Padre: Eu não posso ter um momento de descanso que essa cidade vira de cabeça para baixo.

Marcia: Você fica o dia inteiro descansando, padre.

Padre: Vamos resolver as coisas com calma.

Marcia: Não dá, porque eu estou nervosa.

Mercedes: Padre, eu te explico o que aconteceu! Este homem estava transtornado, procurando uma ponte para se jogar, foi então que Deus me

enviou até aqui para que eu lhe salvasse da morte.

Padre: Teófilo e por qual motivo queria se matar?

Mercedes: Este pobre marido abandonado, recebeu uma carta da qual lhe escreviam que sua esposa pulava a cerca enquanto ele a jurava amor.

Teófilo: Eu não te contei isso... Como você sabe que me enviaram uma carta?

Mercedes: O senhor está falando comigo, estou sentindo algo... Preciso voltar pra casa.

Padre: Precisa verificar os fatos, meu jovem, há muita gente que nos quer fazer mal por puro prazer... Agir por precipitação não é o caminho certo... Vou deixar que acertem suas contas. – o padre pega seu patinete e sai.

Marcia: Eu jamais te trairia, Teófilo... Devia saber disso. – Os dois ficam em silêncio, um vai para um lado e outro para o outro.

Teófilo: O Marcia, eu queria dizer que...

Marcia: Que o que?

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Teófilo: Que eu gosto demais de você.

Marcia: Gosta nada.

Teófilo: Gosto sim, Marcia.

Marcia: Gosta não.

Teófilo: Eu gosto, Marcia, eu juro que eu gosto.

Marcia: Que gosta o quê.

Teófilo: Eu gosto muito, mas muito mesmo.

Marcia: Gosta coisa nenhuma.

Teófilo: Eu gosto, Marcia, eu estou falando que eu gosto, gosto demais.

Marcia: Gosta nenhum pouco.

Teófilo: Marcia, para com isso, você sabe que eu gosto.

Marcia: Estava fazendo o que abraçado com aquela urubu? Você não percebeu que era só da carniça que ela estava atrás?

Teófilo: Olha aqui, Márcia, eu posso ter lá os meus defeitos, mas eu tomo banho viu.

Marcia: Você tomou foi é o meu coração.

Teófilo: Ai, Marcia, fala assim não... Eu fico sem

graça. – Márcia pega Teófilo no colo e o leva.

CENA TRÊS

- José, Rita e Brígida caminham pela cidade atrás de resolver de seus problemas. José carrega sua mala, Rita leva suas flores e Brígida apenas sua bengala.

Rita: Olá, senhora, vamos levar uma flor para alegrar a vida... – A senhora a ignora. Que a sua vida vá pro diabo que te carregue.

Brígida: Eu logo mais ficarei sem pernas de tanto andar... Minha coluna está doendo, logo mais ficarei sem coluna... Minhas vistas estão doendo, logo mais ficarei sem meus olhos... Que sol dos infernos! Logo mais eu me derreto de tanto calor... Doem também os meus ouvidos, logo mais ficarei sem meus tímpanos...

José: Estou esperando a senhora dizer a hora que vai ficar sem a boca, para não ter mais voz.

Brígida: Rita, minha filha, olha como o inútil do seu marido está falando comigo.

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Rita: (sem importância) José, olha o jeito que você fala com a minha mãe.

José: Rita, você já viu o jeito que a sua mãe fala comigo?

Rita: (sem importância) Mãe, olha o jeito que você fala com o José.

Brígida: (aos gritos) Eu estou com fome! – Eles param próximo ao rio e José tira sua vara de pescar.

Rita: Já pescou?

José: Ainda não.

Rita: E agora, pescou?

José: Não, não pesquei.

Rita: Vai demorar?

José: Se o peixe quiser, eu vou.

Rita: Pescou aí ou está difícil?

José: Está difícil, quer vir pescar no meu lugar?

Rita: Não, não sei pescar.

José: Então não me irrita.

Rita: Já pescou?

José: Não, ainda não pesquei.

Rita: Então pesca.

José: Não, não vou pescar.

Rita: Então mata aquela galinha.

José: É a Marilu.

Rita: Continua sendo uma galinha.

José: Mas é a minha galinha!

Rita: Que não bota mais ovo.

José: Rita, dá pra você parar de ofender a Marilu?

Rita: Eu não estou ofendendo, estou falando a verdade.

José: Mas tem verdades que dói.

Rita: Mas ela não entende o que eu estou falando.

José: Mas ela sente.

Rita: Ela é só uma galinha.

José: Mas eu não vou matar ela!

Rita: Então pesca!

José: Eu estou pescando!

Rita: Então cadê o peixe?

José: Ainda não pesquei! – José começa a quebrar a vara de pescar, enquanto mãe e filha olham.

Brígida: Estou com fome! – Ortêncio observa a família e vai se aproximando, ao

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nota-lo, Rita tenta o seduzir.

Ortêncio: Eu estou bem me lembrando de vocês!

Rita: Lascou... José, problema pra você.

José: Olá, boa tarde, posso ajudar?

Ortêncio: Mas pode, claro que pode! Pagando tudo o que me deve! – A família ri.

José: Acho que ele não me conhece.

Ortêncio: Estão me fazendo de piada? – Saca uma arma. Pois eu, cidadão de bem, homem de família e cristão, vou lhe enfiar três balas na sua cabeça pra aprender a não me enganar nunca mais!

José: Está ressentido com alguma coisa? Quer sentar, bater um papo, pra gente conversar...

Ortêncio: O senhor me enganou cinco vezes!

José: Cinco vezes? Nossa, mas o senhor é tonto hein.

Ortêncio: E é por isso que agora eu vou acabar com a sua vida!

José: Por que o senhor é tonto?

Ortêncio: Não! Porque você me enganou!

José: Então fala como foi que eu te magoei, pra eu reparar o meu erro.

Ortêncio: O senhor me vendeu uma vaca que não produz leite!

Rita: Até aí, tudo bem, estamos tudo na mesma, a gente ficou com uma galinha que não bota ovo.

José: Mas Rita, você não perde a oportunidade de falar mal da minha Marilu, não é? Deixa ela em paz, ela nunca falou mal de você!

Rita: Em compensação já bicou o meu pé centenas de vezes, da próxima vez eu vou meter o chute na cara dela...

Ortêncio: Depois vocês resolvem o problema dessa galinha, agora estamos falando do meu problema!

Brígida: O senhor vai matar mesmo o meu genro? Não fica falando se não vai fazer hein, depois a gente fica aqui cheia de esperanças e não acontece nada.

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Ortêncio: Este sujeito já me fez pagar uma fortuna para me levar até a mina de ouro, que não tinha ouro.

José: Mas aí é o problema da mina, não meu.

Ortêncio: E as sementes de pé de feijão? Que cresceria até o céu?

José: Mas você acreditou mesmo nisso? Nem um tonto acredita numas coisas dessas. Ou seja, o senhor é pior que um tonto.

Ortêncio: Eu vou lhe matar!

Brígida: Minha filha vai ficar viúva, quer casar com ela?

Ortêncio: Isso se eu não matar vocês também! Família de vigaristas!

Brígida: Está ameaçando uma idosa inofensiva que mal pode se defender? – Brígida começa a dar bengaladas em Ortêncio. Você me respeita, seu bosta!

Ortêncio: Calma, minha senhora... Tudo bem, não vou matar as damas... E enquanto a Filomena? Te dei três carneiros pra você

arrumar o amor da minha vida e ela me abandonou com um mês de noivado!

José: Mas eu arrumei o amor da sua vida, não o amor da vida dela, se ela quis fugir com outro é que ela não te amava, a vida é assim, meu filho, as coisas não são do jeito que a gente quer não. Vai querer agora implicar com o destino?

Ortêncio: Cale essa boca! Que agora eu lhe mato, seu cretino! – Jovenice se aproxima junto de Claudemir.

Jovenice: Calma, calma, que eu preciso estar presente neste momento... Ver José Capin finalmente ser comido pela terra, miserável.

Claudemir: Um sujeito desse não merece viver e nem menos respirar o mesmo ar que gente descente.

José: E cadê essa gente descente que eu não conheço?

Jovenice: Eu! Claudemir... Ortêncio... Mercedes... O prefeito... A primeira dama... Gente que não é da sua laia.

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José: Olha, mas o time de vocês está bom hein, só gente descente.

Claudemir: Até que o senhor chegou muito rápido, Ortêncio, quando lhe enviamos a carta avisando do paradeiro de José, o senhor ainda estava ao norte.

Ortêncio: Mas eu vim o mais rápido que pude para acertar as contas com esse verme!

Jovenice: Pois acerte! E acerte bem no meio da fuça que é pra não correr o risco da bala errar o caminho... Acaba com a vida desse monte de bosta!

José: Nossa, mas tem mais algum apelido que alguém aqui gostaria de me dar? – Eles começam a xingar José. Ai, meu pai, eu mereço passar por isso uma hora dessa? Mas me diga, no céu aí tem pão?

Claudemir: Vamos, Ortêncio! Atira logo!

Jovenice: Ande, homem lerdo! Faça logo o que tem que fazer...

Rita: Uai, senhor Ortêncio, mas um homem tão cheio de si, virou capacho? Vai

ficar obedecendo de graça os outros, agora?

Jovenice: Pare de falar Rita Cabrita... “Rita cabrita, puxa o rabo dela que ela grita, bééé”. Ande, Ortêncio, atire agora!

Ortêncio: Pois não atiro agora! Atiro daqui a pouco! Eu não estou trabalhando para vocês, matarei esse homem, pois eu quero!

Claudemir: Errado! Matará esse homem pelas nossas ordens!

Jovenice: Cala a boca, Claudemir... Ortêncio, veio de longe matar este sujeito para agora ficar fazendo charme para matar?

Ortêncio: Eu não estou fazendo charme!

Jovenice: Então atire logo, sua lesma!

Brígida: Estamos todos esperando por isso.

Rita: Uh! Eu não deixaria falar assim comigo nem que a minha galinha botasse ovo.

Ortêncio: Pois agora eu mato vocês dois primeiro, depois eu mato o sujeito! Ninguém falar assim

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comigo! – Claudemir grita e corre em círculos.

Jovenice: Ortêncio, meu querido, não seja ingrato, bancamos praticamente toda a sua vinda até aqui... Um homem de bem não pode tirar a vida de outras pessoas de bem, temos que acabar é com essa raça! – Ortêncio se ajoelha.

Ortêncio: Senhor, meu Deus, perdoe-me por ser um assassino, eu juro... – Rita pega a arma das mãos de Ortêncio.

Rita: Acabou a palhaçada, vou contar até vinte e depois começo a atirar!

Jovenice: Pois eu duvido! – Rita atira no braço de Ortêncio. Eles se apavoram e correm.

Rita: Levanta José! Ou essa galinha bota ovo, ou quem bota sou eu.

CENA QUATRO

- No gabinete do prefeito.

Anselmo: Prefeito Anselmo! É 70! É 70! É 70!

Cândida: Não seja, tolo, Anselmo, só estamos nós dois aqui... Você fez muito mal de ceder as terras

para José Capin caso a galinha botar os ovos... E se aquela galinha resolver botar ovo? – Tempo de silêncio. Os dois começam a rir. Uma parte da população entra no gabinete e ri também.

Mercedes: Senhor prefeito, dona primeira dama, estou vendendo alguns cartãozinhos com mensagens de salvação. Vamos comprar um para ajudar nas obras?

Padre: Senhor prefeito, dona primeira dama, vamos comprar uma rifa para nossa quermesse?

Cândida: A prefeitura está sem verba, peço que saiam daqui.

Mercedes: Eu tenho uma reclamação a fazer.

Padre: Pois eu também tenho.

Anselmo: Eu não tenho nada a ver com o desvio do dinheiro da merenda! Eu prometo! Eu prometo! Prefeito Anselmo, é 70!

Mercedes: Anselmo, cale a sua boca.

Padre: Está senhora me acorda todos os domingos de manhã querendo

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conversar e eu já lhe disse que não quero.

Mercedes: Pois sou eu quem não consigo dormir a noite com aquela sua falação ao microfone.

Padre: Pois eu tenho uma sugestão: saia da cidade!

Mercedes: Eu tenho a mesma sugestão para te dar.

Cândida: Afinal de contas a moral da história não é amar o próximo e não sei o que mais? Então por que não se juntam e deixem o prefeito e eu em paz?

Padre: Péssima ideia.

Mercedes: Não faz sentido algum, eu nem gosto de ouvir opiniões.

Cândida: Então o que vocês querem que eu faça?

Padre: Absolutamente nada, primeira dama, não há o que fazer.

Mercedes: Continuaremos brigando sem propósitos.

Padre: É sempre um prazer discordar da senhora.

Mercedes: É sempre um prazer atacar o senhor. – Os dois saem.

Cândida: Essa vida de prefeitura não dá mais, Anselmo, agora temos que visar o governo do estado... Anselmo? Anselmo? – Anselmo dorme em sua cadeira. Velho babão. – José entra no gabinete do prefeito.

José: Com a sua licença, dona primeira dama... Tudo bom, como vai a senhora? – Estende a mão, mas é ignorado. Eu vim pedir encarecidamente um prazo maior... Ontem Marilu quase botou um ovo, mas saiu um cocô de tanta força que a pobrezinha fez. Se ficar pressionando muito, ela não vai, sistemática Marilu que você nem imagina...

Cândida: Não seja ridículo, José, você acha mesmo que essa galinha imbecil vai conseguir botar um ovo? Esse foi sempre o seu problema senhor José Capin, contar com o ovo no fiofó da galinha e é por isso que só foi quebrando a cara todos esses anos.

José: Olha, dona Cândida, a senhora respeite a minha galinha, como nós respeitamos a senhora.

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Cândida: Vai ser tão triste ver o trator passando em cima daquele barraco que vocês chamam de casa!

José: Nossa, mas vai ter até trator?

Cândida: Ah! Eu gosto da desgraça completa... Quanto menos gente feliz, melhor, felicidade me irrita.

José: Por favor, dona Cândida, aquelas terrinhas são a única coisa que eu conquistei nessa vida.

Cândida: Que conquistou? Você nem terminou de pagar.

José: É um pequeno detalhe.

Cândida: Mas o senhor pode pagar de outro jeito. – Cândida sensualiza para José, que não compreende.

José: A senhora está bem, dona Cândida? Está com labirintite?

Cândida: Eu estou com vontades, senhor José Capin! Uma mulher experiente como eu tem muito o que ensinar para um cabritinho. Vai! Pula, cabritinha, pula! – Cândida vai avançando em José. Eu tenho tanto fogo e

Anselmo já não tem mais mangueira para apagar. – Cândida persegue José pelo gabinete. Venha, José, me faça de sua grama e pisa em mim! – José vai para o chão e é cercado por Cândida. O cabritinho não tem mais para onde fugir? – Cândida vai para cima de José e Anselmo acorda.

Anselmo: Ai... Ai... Cândida... O que está acontecendo?

Cândida: Anselmo! Ai, Anselmo, eu tropiquei e cai em cima dessa bosta. – Anselmo ajuda Cândida a se levantar.

Anselmo: E então, a galinha já botou os ovos?

José: Ainda não, senhor... – Anselmo ri da cara de José.

Anselmo: Eu sabia... Essa galinha é uma vergonha! – José vai embora desanimado.

Cândida: Eu odeio quando não consigo o que quero... Inferno... Inferno!

CENA CINCO

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- Leila caminha pela cidade e é observada pelos moradores.

Mercedes: Essa é Leila, a viúva mais desejada da cidade, todas as quartas-feiras Leila vai até a igreja, não se sabe o que tanto ela conversa com Deus, mas à mim, ela não engana. E por algum motivo os homens caem de amores por ela.

Leila: Que calor, estou com tanta sede. – Os homens lhe oferecem um copo de água. Ela joga o resto de água entre os seios.

Padre: Na casa do senhor não existe satanás! Leila senta-se em uma cadeira e Claudemir em outra.

Claudemir: Parece que tem muito o que se redimir com Deus, Leila.

Leila: Não tanto quanto o senhor que é casado e se aproveita da fragilidade das viúvas da cidade...

Claudemir: Xiii... Está maluca? Pensou se alguém te escuta?

Leila: Do que me importa? O meu marido está morto, de baixo da terra, sendo devorado pelos insetos,

não devo satisfações a ninguém, já o senhor...

Claudemir: Muito bem, quanto você quer para ficar calada?

Leila: Eu não quero nada, acha mesmo que eu contaria para alguém que já fiquei com o senhor? E passar essa vergonha?

Claudemir: Pois saiba que muitas me querem!

Leila: Cadê?

Claudemir: Elas são tímidas... Mas a senhora bem que me quis também!

Leila: Eu estava com tédio, não tinha o que fazer... Quem deveria não me querer é o senhor, afinal de contas não é a sua família o modelo exemplar da moral e da ética deste lugar? – Jovenice vem correndo chamando pelo marido.

Jovenice: Claudemir! A nossa Sebastiana botou um ovão que dá gosto! Você precisa ver, dona Leila, o ovo é enorme!

Leila: Nossa que interessante, dona Jovenice, cuidar de galinhas deve ser uma aventura.

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Jovenice: Vamos, Claudemir! Eu quero que você veja a belezura daquele ovo... Vou colocar um laço bem bonito dele e passar na frente da casa da Rita e do José, para eles morrerem de inveja. Venha! – Claudemir sai sendo puxado por Jovenice.

Leila: Senhor, Padre!

Padre: Senhorita, Leila.

Leila: Eu tenho uma confissão a fazer.

Padre: O que uma moça tão delicada quanto a senhora teria para se confessar? Esqueceu de colocar água para o passarinho? Deixou de cumprimentar algum conhecido na rua?

Leila: Matei meu marido, padre.

Padre: Deus tenha misericórdia.

Leila: Eu não podia mais guardar este segredo dentro de mim, é tão bom que eu precisava falar para alguém.

Padre: Senhorita, Leila... O que te levou a cometer esta tragédia?

Leila: Ele falava demais, padre, me cansam homens que falam demais... Coloquei um veneno no seu leite que eu preparava todas as noites e depois desse dia, nunca mais escutei aquela voz anasalada insuportável tentando me seduzir com aquelas frases ridículas vindo com aquele cheiro de porco. Às vezes tenho vontade de matar os homens, Padre. – O padre fica com medo de Leila. José vem vindo para a igreja aos gritos. Está vendo? São tão dramáticos.

José: Senhor padre, por tudo que o senhor tem nessa vida, joga uma água de purificação, de renascimento, não sei, afoga ela no rio divino, mas faz essa galinha botar um ovo, pelo amor de Deus... A Marilu só pode estar amaldiçoada pelo demônio dos ovo, não sei.

Padre: Não existe demônio dos ovos, senhor José.

Leila: Mata essa galinha e faz uma galinhada pra acabar com essa história.

José: A senhora já teve alguma galinha na vida?

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Leila: Não senhor.

José: Agora entendo a frieza do seu coração, pois saiba que Marilu e eu temos pena da senhora, não é Marilu? Vamos padre, fala aquelas palavras em latim pra tentar resolver. – o Padre pega a galinha e começa a latir pra ela. Não teve graça, padre.

Padre: Desculpe. Senhor José, não tem nada que eu possa fazer.

Rita: José, eu já coloquei a água no fogo, vamos colocar a galinha dentro?

José: Pelo amor de Deus, Deus, um ovo, um ovinho só, eu não estou pedindo mais que um desgraçado de um ovo, é tudo que eu preciso! Marilu do céu, você tem noção do que está acontecendo? Cadê aquele cu poderoso que você tinha? Mostra esse cu potente que o você tem, Marilu! Vamos lá, Marilu, qual é a sua? O que está acontecendo? O problema sou eu?

Rita: Ô, José, para de ser idiota, essa galinha deve estar olhando pra sua cara e pensando: “o que esse

idiota quer de mim?” Ela mesma deve estar querendo morrer. – O padre ri.

José: Padre, o senhor não pode ri da desgraça alheia.

Padre: Desculpe.

José: Vocês podem duvidar de tudo! Tudo! Só não duvidem do amor que Marilu sente por mim! Ninguém vai nos separar, Marilu, ninguém nesse mundo... – José sai correndo com Marilu em seus braços.

Rita: Gente, por que eu não escutei a minha mãe? – Jovenice entra acompanhada de Claudemir, carregando o grande ovo que sua galinha botou.

Jovenice: Boa tarde, padre, olha só o ovão que a minha Sebastiana botou. Parece um ovo de um dinossauro de tão grande... Rita, cabrita, você estava aí, sua presença é tão insignificante que eu nem te vi... Olha o ovo da minha galinha! – Rita tira o ovo de Jovenice e o arremessa pela janela. O ovo da Sebastiana!

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- Jovenice e Claudemir correm atrás do ovo, Rita sai furiosa e o Padre fica perdido pela igreja. Mercedes entra com Teófilo na igreja e rezam.

Mercedes: Teófilo era o quinto namorado de Marcia, neste ano... Indecisa, confusa, insatisfeita, ela nunca sabia de fato quem realmente queria... Márcia contava com o amor da sua vida. – Teófilo e Márcia fazem juras de amor. Os pombinhos se despedem e o rapaz sai.

Marcia: Sim, padre... Eu digo sim! O noivo pode me dar um beijo de língua na boca!

Mercedes: A coitada tinha certeza que um casamento seria a prova de sua realização. Idealizava um homem sem erros, romântico, sensível e ao mesmo tempo grosseiro, bom no negócio... Um homem perfeito. Iludida ela, não é gente? Ortêncio entra na igreja e se encanta por Márcia. Sentado em outro banco, ele não consegue tirar os olhos da formosa moça.

Márcia: Ai, que calor que está dentro dessa igreja. – Marcia tira um lenço do meio de seus seios e começa a se abanar.

Ortêncio: Que o senhor seja louvado. Que benção!- Ela deixa então o lenço cair.

Marcia: O meu lenço caiu. O que farei agora? – Ortêncio se levanta rapidamente e pega o lenço para Marica, sentando-se ao lado dela. Muito obrigado, quanta delicadeza da sua parte.

Mercedes: Rapariga!

Ortêncio: Eu não fiz mais do que devia, a senhorita merece todos os tipos de atenção.

Marcia: Ai, assim o senhor me deixa tímida.

Ortêncio: Saiba que no calor dessas terras, a senhorita é um belíssimo picolé.

Márcia: E um picolé de quê?

Ortêncio: De banana.

Márcia: Meu favorito... Você é tão gentil nas palavras que fico até perdida...

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Ortêncio: Pois deixe que eu te encontro.

Márcia: Nenhum homem nunca foi assim, tão galanteador quanto você. É melhor eu ir para o outro lado para você não cair na tentação. – Márcia senta-se no outro banco, mas os dois continuam a trocar olhares. Ortêncio se levanta e vai para o lado dela. Deixa eu rezar, moço, que coisa. – Marcia volta para o outro banco, ainda trocando olhares com Ortêncio, até que Teófilo chega.

Teófilo: Marcia! – Marcia da um pulo de susto. O que esse lambisgóio está olhando pra você?

Marcia: uai, Teófilo, eu sou bonita, isso acontece comigo todo dia.

Teófilo: Pois bem, o senhor pode me responder o que perdeu por aqui?

Ortêncio: Desculpe, mas eu vim de longe na missão de paz. – Ortêncio se levanta e vai saindo.

Teófilo: O senhor vai fugir feito uma galinha ou vai ficar e me enfrentar?

Ortêncio: O senhor me chamou de galinha? Pois quero que engula agora mesmo o que disse! – Ambos tiram suas facas de caça de seus bolsos.

Marcia: Oh, rapazes, não briguem por mim!

Padre: Meu Deus do céu, meu Deus do céu... O que está acontecendo aqui?

Teófilo: Acerto de contas, padre... Hoje um daqui sai morto! – O padre começa a gritar e sobe na cadeira. Venha pra cima, sua galinha! – Os dois iniciam uma luta com suas facas.

Ortêncio: Eu vou fazer frango à passarinho de você! – Os dois continuam lutando, até que Teófilo escorrega e segura nos braços de Ortêncio para não cair.

Teófilo: Nossa, mas que braços fortes o senhor tem.

Ortêncio: Gostou? Muito obrigado, o senhor também tem belos braços.

Marcia: Teófilo! O que está acontecendo?

Padre: Os dois, por favor, tenham mais respeito com

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a casa do senhor! Onde já se viu?

Teófilo: Eu só não te mato em respeito ao padre.

Ortêncio: A sua sorte é que o padre interviu, se não hoje você ia dizer oi pro capeta lá no inferno. – Os dois se ameaçam como garotos de escolas.

Marcia: Dois bananas... Vamos embora, Teófilo, para de ficar caçando rolo na igreja.

Mercedes: Quem vê pensa...

Marcia: Falou alguma coisa, minha filha? Quer resolver isso aqui fora?

Mercedes: Que o senhor tenha misericórdia. – Indo consolar Ortêncio. Pobrezinho, tão desconsolado... Deve estar precisando de um peito amigo. Vamos em casa, te preparo um chá e faço uma oração.

Ortêncio: Não seria muito incomodo?

Mercedes: De maneira alguma... Depois do senhor. – Mercedes leva Ortêncio.

Padre: Eu vou é fechar as portas da igreja antes que entre mais algum encosto... – Brígida entra.

Brígida: Padre!

Padre: Mas não é possível... Olá, querida filha de Deus.

Brígida: Eu preciso me confessar!

Padre: Mas agora?

Brígida: E tem hora para se confessar padre? Me deu vontade de confessar, quero confessar.

Padre: Claro que pode... Vamos então.

Brígida: Eu sequestrei a Marilu. – Tira a galinha de sua bolsa. Essa desgraçada é o motivo de todos os nossos problemas.

Padre: Mas não se esqueça que ela também é a salvação.

Brígida: Que salvação Padre? Essa galinha ressecada não presta mais pra nada. Agora ela terá o fim que merece! – Risada diabólica.

CENA SEIS

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Mercedes: Tudo parecia lindo e maravilhoso em mais uma tarde ensolarada, menos para José Cpain, enquanto todos apenas queriam se refrescar, o sujeito andava atormentado pela cidade a procura de sua galinha, carregando cartazes com a fotografia da coitada, mas de fato ninguém queria saber daquela galinha... A não ser ele. – José vai perguntando para as pessoas na rua se viram Marilu. Enlouquecido, José Capin começou a culpar todos em seu redor.

José: Foi você quem roubou minha galinha!

Leila: Por favor, eu sou uma viúva sofrendo com a morte de meu esposo...

José: E a senhora entende bem de mortes, não é mesmo?

Leila: (Fingindo chorar) Padre, este homem está me ofendendo! – José vai acusando os outros cidadãos.

Rita: José, desse jeito todo mundo vai te odiar.

José: E tem alguém que não me odeia, Rita? Eu nem sei o que eu fiz pra

essa gente... Pelo amor de Deus, Marilu, volta pra mim.

Rita: Às vezes Marilu fugiu, foi passear...

José: Que fugiu! Marilu não dava um passo sem eu por perto. A gente era é tipo cu e calcinha.

Brígida: Pode ser que ela tem ido nadar e se afogou.

José: A Marilu é uma galinha, não é um ganso e Marilu detestava água fria, tinha que ser água aquecida do fogão.

Rita: Marilu pode ter dormido em alguma árvore e esqueceu de acordar...

Brígida: Marilu pode ter batido as asas e voou com algum urubu.

José: Marilu não se junta com gentalha!

Rita: Sei lá, José, essa galinha deve estar trepando em algum galinheiro, ciscando em algum outro terreiro, caçando minhoca... Ninguém ia roubar essa galinha não...

José: “ Eu tinha uma galinha que se chamava Marilu, um dia dormi mais

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cedo e perdi a Marilu... Marilu... Marilu... Eu perdi a Marilu”. – José volta a pescar, na tentativa de pegar algum peixe.

Rita: (gritando) José!

José: (gritando) Que foi?

Rita: (gritando) Já pescou?

José: (gritando) Ainda não.

Rita: (gritando) Obrigada!

José: (gritando) De nada!

Brígida: Eu estou com fome!

José: Toma um doril e some.

Rita: Uma flor para alegrar a vida, senhor. – O sujeito nega. Então morre.

Brígida: O ar fica até mais puro sem as penas cheias de piolho daquela galinha.

Rita: É, mamãe, vai se acostumando com o ar puro, com a temperatura, que vai ser no olho da rua que a gente vai começar a morar... Marilu era uma galinha que só dava trabalho? Era uma galinha que só dava trabalho... Marilu era uma galinha fedorenta? Era uma galinha fedorenta... Marilu

era uma galinha que não botava ovo... Era uma galinha que não botava ovo... Mas era a galinha que podia nos salvar. – Marcia e Teófilo chegam.

Teófilo: Procuramos em tudo que foi lugar, cada um nos lugares que tinha mais conhecimento... Eu nos currais...

Marcia: Eu nos galinheiros...

Teófilo: Mas nada de Marilu...

Marcia: E olha que eu pedi informação de todas as maneiras possíveis.

Teófilo: Como assim “de todas as maneias possíveis”, Marcia?

Marcia: Com gentiliza.

Teófilo: A bichinha evaporou.

José: Dá pra você parar de usar essas expressões que me machuca?

Teófilo: Desculpa.

José: É gente... Nada de vender flor, nada de peixe... Nem da Marilu... Nem expectativas de vida, amor próprio, vontade de viver...

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Rita: Nossa, mas você quer o oscar de melhor drama? Vamos perder as terras para o prefeito uai, fazer o que? A gente cai, levanta e segue a vida.

José: Sem a Marilu, eu só quero morrer.

Mercedes: A família Capin estava ferrada. -Ri. Ai, desculpe, não posso rir... Paz do senhor.

- Enquanto isso, os outros arquitetam suas ideias.

Mercedes: A galinha desapareceu... Ninguém sabe onde ela foi parar. – Gargalham e debocham.

Jovenice: Aquela galinha é uma piada até quando desaparece.

Claudemir: José e Rita que devem estar quase botando um ovo de desespero.

Ortêncio: José é feito uma galinha, que só cisca para trás.

Leila: Eu estou é com “pena” deles!

Cândida: E eu chocada! – Riem.

Anselmo: Prefeito Anselmo, é 70!

Cândida: Aceitam um chá?

Padre: Eu adoro chá!

Jovenice: Chá do que?

Prefeito: Chá de chá.

Padre: Eu adoro chá de chá.

Jovenice: Mas chá tem gosto de quê?

Cândida: De chá!

Padre: Eu adoro chá!

Cândida: Quer chá?

Jovenice: Eu não tomo chá.

Cândida: Alguém aceita chá?

Claudemir: Eu aceito chá.

Ortêncio: Mas do que é o chá?

Cândida: O chá é de graça e quando é de graça pobre não questiona, ele só aceita.

Jovenice: Vamos derrubar aquele barraco velho das terras do José e no lugar construir um galinheiro gigante, para Sebastiana botar para quebrar!

Padre: Eu havia pensado em construir um barracão para as nossas quermesses.

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Mercedes: De forma alguma, ali vou levantar uma caixa d’água e vender ela ungida, pela paz do senhor.

Prefeito: Já está decidido! Eu vou construir um parque aquático.

Claudemir: Até que é uma boa ideia.

Padre: Com o calor que faz por essas bandas...

Prefeito: Mas pra mim! – Inicia-se uma discussão pelas terras de José.

CENA SETE- José carrega uma cruz.

José: Hoje é o dia da minha morte, o dia da minha paz, do meu sossego, da minha felicidade plena e divina... E não adiantem tentar me impedir, eu já tomei minha decisão! – Ele olha ao redor e não vê ninguém, um rolo de capim atravessa o palco. Ele sobe em seu banco e amarra a corda em seu pescoço. Adeus vida cruel. – Rita e Brígida se aproximam.

Rita: José, estão reclamando dos peixes que... Que isso?

José: Se afaste, mulher... Aqui fica o meu corpo e se vai minha alma.

Rita: José, mas você não pode ver uma vergonha, não é?

Brígida: Pula! Pula! Pula!

José: Dá vontade de não pular só pra não ver sua mãe feliz.

Rita: Então desce e vai resolver o problema dos peixes.

José: Mas a vontade de morrer é maior... Adeus, Rita, eu te amo. – Jovenice e Claudemir.

Jovenice: Calma, que eu quero ver isso de perto e comendo pipoca... Claudemir, cadê minha pipoca?

Ortêncio: Ele já pulou?

Jovenice: Ainda não, senta aí... Quer pipoca?

Leila: Eu tenho um revolver, é mais garantido... Aceita?

Padre: José, o senhor pode doar suas varas para a igreja? É para o bingo!

Mercedes: O senhor quer que eu empurre o banquinho? – As pessoas

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olham surpresos para Mercedes. Quer dizer... Quer que eu lhe dê a mão?

Todos: Pula! Pula! Pula!

Rita: José! Você não pode me abandonar assim... Não faz isso. – Marcia chora com Teófilo.

José: Eu já não tenho mais esperança de nada.

Rita: José! Para com essa ideia... Nós vamos dar um jeito nisso tudo...

Todos: pula! Pula! Pula! – Aflita e confusa, Brígida tira a galinha de sua bolsa e a joga.

Brígida: Gente, não é a Marilu?

José: Marilu? – José tira a corda do pescoço e corre para abraçar sua galinha.

Jovenice: Que ódio! O que essa galinha que tinha aparecer?

Marcia: Da onde a Marilu surgiu?

José: Do céu! – A família festeja. Os outros vão embora. José coloca Marilu na sua cama.

Rita: Que bom, que lindo... Marilu voltou, mas e agora José? A gente faz o que? –

José volta para a corda amarrada.

Rita: José!

José: Cuide bem da Marilu, Rita, ela se faz difícil, mas no fundo ela gosta de você, só tem um pouco de ciúmes.

Rita: A Marilu botou um ovo!

José: O que? – José desce do banco e pega o ovo admirado. O ovo da Marilu!

Rita: Mas como pode?

José: Marilu ficou emocionado em me reencontrar! O ovo! – José comemora com Rita.

Marcia: Mas eu continuo com fome! – Marcia pega o ovo quebra na cabeça de Teófilo e come.

Rita: Agora vamos esfregar esse ovo na cara do prefeito e quitar nossa dívida.

José: Cadê o ovo? – José e Rita procuram, Márcia fica intacta de boca cheia.

José: Marcia, cadê o ovo que estava aqui? Marcia, pelo amor de Deus, cadê o ovo da Marilu? Marcia, fala comigo!

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Marcia: Eu estava com fome.

José: Marcia, como que você me come o ovo, Marcia? Você ficou louca Marcia?

Marcia: Eu estava com fome...

José: Fosse comer um cabrito, mas não o ovo, Marcia, como que você me come o ovo, Marcia? Não faz isso sua, doida. Comeu o ovo... A Marcia comeu o ovo...

Rita: José! A Marilu botou mais um ovo.

José: O que?

Rita: E botou outro, e outro... Jesus, está saindo mais um.

Rita: A Marilu voltou! – Jovenice se aproxima com Claudemir, trazendo o prefeito e a primeira dama.

Jovenice: Senhor prefeito Anselmo, sem delongas, o prazo já acabou... José precisa devolver as terras!

José: Mas só se a Sebastiana botar mais ovo que Marilu, que a minha galinha não para de botar ovo! O cuzinho lindo, meu amor.

Rita: Na falta de um ovo, Marilu botou é um monte, senhor prefeito... Devido ao nosso trato e como o senhor é um fiel apostador, conforme o combinado as terras são legitimamente nossas e lá ninguém mais nos tira!

Jovenice: Galinha desgraçada!

Cândida: Bom sendo, assim, como o prefeito Anselmo é um homem de palavra...

Prefeito: Eu sou?

Cândida: As terras são de vocês.

Rita: E a gente vai alancar a economia dessa cidade com as vendas de ovos, dona primeira dama... Ninguém bota mais ovo que a minha Marilu!

Mercedes: Eu sempre acreditei na Marilu, nunca duvidei... Que o senhor seja louvado.

Jovenice: Nos vemos então mês que vem no Festival

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da grande Chocadeira, Rita... “Rita, cabrita, puxa o rabo dela que ela grita... bé”!

- A família tira uma foto com a galinha.

Mercedes: E a Marilu foi de cá pra lá um sucesso! Botava ovo que era uma beleza... José e Rita se tornaram grandes senhores dos negócios dos ovos... Mas no que dependesse dos peixes...

Eles param próximo ao rio e José tira sua vara de pescar.

Rita: Já pescou?

José: Ainda não.

Rita: E agora, pescou?

José: Não, não pesquei.

Rita: Vai demorar?

José: Se o peixe quiser, eu vou.

Rita: Pescou aí ou está difícil?

José: Está difícil, quer vir pescar no meu lugar?

Rita: Não, não sei pescar.

José: Então não me irrita.

Rita: Já pescou?

José: Não, ainda não pesquei.

Rita: Então pesca.

Brígida: Eu estou com fome!

José: Come um ovo.

FIM.

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