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Todos os direitos desta edição reservados ao Selo LAB502Instagram @lab502 A distribuição das cópias eletrônicas do livro, sendo todo ou parte, é permitida. Porém a utilização do texto e ilustrações, de modo diferente do formato apresentado,precisará de autorização prévia da autora. Copyright © 2019 by LAB502
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Capa: Lisley NogueiraIlustrações © by Lisley Nogueira Diagramação © by Lisley Nogueira
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Jakeline Barros
Cóleus
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É clara a imagem que a memória foi buscar nos rincões da minha mente. Constrói todo o cenário diante de mim.Volto à primeira infância. O meu vestido tem desenhos de florzinhas, e eu queria todas elas para mim.
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Vejo os pés de cóleus espalhados pelo quintal cheio de sol.Já é tarde da tarde, mas ainda há luz o bastante para dizer-se dia.Busco a proximidade com essas plantinhas de cores tão exuberantes.Deito-me no solo arenoso e observo os cóleus bem de perto.Sou tão pequena.Vejo o mundo das joaninhas.
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Rodeando o lugar, pelos cantos do muro, há canteiros com hibiscos de diversas cores: vermelho, amarelo, rosa salmon — como dizia minha mãe — e branco. Eles estão plantados nos espaços os quais ela tinha delimitado com paralelepípedos, e dividem o canteiro com o tapete verde de grama.
Tenho a sensação de segurança e conforto ao estirar-me no chão, sujar-me de areia, agarrar-me às folhas, sentir o cheiro delas, olhar as nuvens e encontrar figuras, e observar o passeio das joaninhas pelos meus dedos.
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Nesse instante, dentro desta lembrança, o sonho da noite que tinha passado me vem à cabeça. Um daqueles sonhos ruins cuja impressão nos acompanha durante todo o dia,feito uma manta invisível que, a despeito de sua imaterialidade, parece descer pelo nosso braço, e nos fazer perceber que a usamos. Uma manta feia e tenebrosa, que não aquece, faz tremer.
Era preciso tirá-la a cada momento que surgia. E eu já tinha sido treinada para isso."Seja corajosa! Pesadelos são só sonhos ruins. Não são coisas reais. Eles assustam, mas a gente sempre acorda. Daí percebe que está mais forte."
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Volto ao mundo do quintal. O azul do céu, agora meio apagado, destaca a minha mãozinhaVejo que não há esqueletos gigantes perambulando pelas ruas, nos perseguindo, nem o sol tinha afastado-se da Terra. Que bom!
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A luz está indo embora.Sinto o cheiro de café.. . .
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O adiantado da hora exige que eu dê um basta nas caixinhas de memórias.Mas me dou conta de uma coisa:Aquela manta imaterial, mas quase tangível, de vez em quando, desce pelo meu braço, e vejo que ainda a uso.
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Os monstros ainda me perseguem.Sinto falta dos cóleus, hibiscos e joaninhas.Os pesadelos são reais,eles me assustam,e a cada instante, sozinha,busco força nos sonhos.
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