Upload
jufreitas2
View
209
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Roberto Tibau e o fazer arquitetura
Roberto Selmer Jnior
Roberto Tibau e o fazer arquitetura
Roberto Selmer Jnior
Arquiteto Roberto Jos Goulart Tibau, em 1998.Foto: Roberto Selmer Jnior
Universidade de So Paulo
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Ps-graduao - Mestrado
Roberto Selmer Jnior
Roberto Tibau e o fazer arquitetura
Dissertao apresentada Faculdade de Arquite-
tura e Urbanismo da Universidade de So Paulo
para obteno do ttulo de Mestre em Arquitetura.
rea de Concentrao: Projeto de Arquitetura
Orientao: Prof. Dr. Helena Aparecida Ayoub Silva
So Paulo, 2011
AUTORizO A RePRODUO e DivUlGAO TOTAl OU PARCiAl DeSTe TRAbAlHO, POR qUAlqUeR MeiO COnvenCiOnAl OU eleTRniCO, PARA FinS De eSTUDO e PeSqUiSA, DeSDe qUe CiTADA A FOnTe.
Assinatura:
Selmer Jnior, RobertoS467r Roberto Tibau e o fazer arquitetura / Roberto Selmer
Jnior. --So Paulo, 2011. 405 p. : il.
Dissertao (Mestrado - rea de concentrao: Projeto de Arquitetura) - FAUUSP
Orientadora: Helena Aparecida Ayoub Silva
1. Arquitetura moderna - brasil 2. Projeto de Arquitetura 3. Arquiteto - brasil 4. Tibau, Roberto Jos Goulart; 1924-2003 i. Ttulo
CDU 72.036 (81)
DEDICATRIA
Para meu tio Gilberto
AGRADECIMENTOS
Obrigado!
Prof. Dr. Helena Aparecida Ayoub Silva
Orientadora
Prof. Dr. Angela Maria Rocha
Prof. Dr. Julio Roberto Katinsky
Examinadores da Banca de Qualificao
Funcionrios da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Biblioteca, Secretaria e Manuteno
CAPeS
Pelos oito meses de auxlio financeiro
escola Senai de bauru, 1955.Fonte: arquivo do arquiteto Roberto Tibau
Resumo este estudo documenta a vida e a obra de Roberto Jos Goulart Tibau (1924-2003), arquiteto brasileiro. O objetivo
fundamental - e mais importante - reunir informaes sobre
os projetos e obras mais significativos desenvolvidos duran-
te sua atividade profissional, tornando-os acessveis atravs
dessa pesquisa. O trabalho baseou-se em pesquisa biblio-
grfica, levantamento e registro das obras e projetos realiza-
dos, currculo profissional, e depoimento de Tibau, concedido
ao autor, em 1998. em Roberto Tibau e o fazer arquitetu-
ra so descritos os caminhos percorridos pelo arquiteto; o
contexto histrico de sua formao e atuao profissional; a
relao de sua produo arquitetnica com outras obras da
poca; e eventuais referncias projetuais utilizadas na cria-
o dos seus projetos. este trabalho vem preencher uma la-
cuna bibliogrfica considervel, trazendo luz, a obra deste
significativo arquiteto, que dedicou sua vida ao trabalho na
prancheta, na qual deixou sua marca de humanista.
This study documents the life and work of Roberto Jos
Goulart Tibau (1924-2003), a brazilian architect. it aims to
collect information about the most significant projects deve-
loped during the years of his professional career, which will
become available through this research. The present study
based on bibliographical research, examination and registra-
tion of the projects executed by the architect, his resum, and
his testimonial to the author of this research, in 1998. in Ro-
berto Tibau and the process of making architecture there is a
description of the ways in which his projects were conceived;
the historical context through his professional activity since
graduation, the relation between his own production and the
production of other architects of the same period, and the
projecting references used for his creations. This research
is also an attempt to fill a signicant bibliographical gap of ar-
chitecture history in brazil by bringing to light the work of this
relevant architect, who dedicated his life to working on his
drawing table, leaving to us his humanistic style.
Abstract
LISTA DE SMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS
COneSP Companhia de Construes escolares do estado de So Paulo
CReA Conselho Regional de engenharia, Arquitetura e Agronomia
enbA escola nacional de belas Artes
FAUUel Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade estadual de londrina
FAUUSP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo
FAUM Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie
FAUUMC Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Mogi das Cruzes
FDe Fundao para o Desenvolvimento da educao
FeCe Fundo estadual de Construes escolares
FnA Faculdade nacional de Arquitetura
iAb instituto de Arquitetos do brasil
iAPb instituto de Aposentadoria e Penso dos bancrios
iPeSP instituto de Previdncia do estado de So Paulo
MoMA Museum of Modern Art
SenAi Servio nacional de Aprendizagem industrial
SeSi Servio Social da indstria
USP Universidade de So Paulo
EDIF Departamento de Edificaes da Prefeitura Municipal de So Paulo
interior da Capela de nossa Senhora Aparecidado Morro da Continental, 1959, So Paulo - SP.Fonte: Arquivo de Roberto Tibau
Sumrio
introduo 21
Arquitetura Moderna brasileira - primeiras manifestaes 25
Dados biogrficos 59
O fazer arquitetura 119
Obras e projetos 159
Concluso 371
lista geral de projetos e obras 375
Cronologia 381
Bibliografia 387
Publicaes em revistas e livros 397
Anexo 403
Roberto Jos Goulart Tibau, em 1948.Foto do lbum de formatura.fonte: arquivo de Roberto Tibau
Prezado Tibau
em 1998, fazendo estgio na CeT, conheci uma estu-
dante de arquitetura cujo tema do trabalho final de graduao
era o projeto de uma escola. Seu orientador: Roberto Tibau.
eu nada sabia sobre voc.
Curioso, fui biblioteca da FAUUSP, consultei o ndice
de Arquitetura brasileira e descobri, em diversos peridicos
(Acrpole, AD Arquitetura e Decorao, bem estar, engenha-
ria Municipal e Habitat), suas obras e projetos.
entusiasmei-me com seus projetos. Copiei - para estu-
dar - todos os projetos publicados e montei uma pasta.
Resolvi conhec-lo.
Solicitei um encontro e uma entrevista. voc foi cordial e
atencioso desde o incio. Minha admirao s aumentou.
Posso dizer que nos tornamos bons amigos!
Lembra-se do dia em que fiz aquela entrevista? Coinci-
dentemente, era meu aniversrio. Meu presente de anivers-
rio! Fugi da aula mais cedo e corri para seu escritrio.
l estava voc, trabalhando na prancheta, fazendo o
que mais gostava: desenhar.
Recebeu-me com ateno. Respondeu minhas pergun-
tas e contou sua histria.
naquela ocasio disse que, se um dia viesse a fazer
Mestrado, faria sobre voc, que era merecedor de um traba-
lho desses.
Depois, transferi-me para londrina.
Mas londrina logo ali e, sempre que podia, voltava a
So Paulo e mostrava-lhe meus projetos - um pretexto para
desfrutar da sua experincia.
na verdade, no era preciso um pretexto, voc sempre
foi acessvel e tambm gostava de me mostrar os desenhos
que fazia.
Preciso agradecer pela oportunidade de participar de sua
equipe, numa proposta de projeto para o Concurso nacional
para Modernizao do Ginsio do ibirapuera, em 2003.
Ufa! entregamos o trabalho faltando cinco minutos para
encerrar o prazo (guardo o recibo at hoje).
Depois fomos comemorar a entrega. voc me olhou e
disse: achou que no iramos entregar?
verdade, fiquei com medo. Mas a gente sempre fica
com um certo receio que no d tempo para terminar as coi-
sas que comeamos. A vida tem um pouco disso...
Tibau, aqui est o trabalho que prometi.
e fazendo essa pesquisa, descobri projetos no conhe-
cidos. quem sabe, a partir desta, apaream outras.
espero que aprecie.
Roberto Selmer Jnior
PS. Muito obrigado!
21
Introduo
A histria oficial da arquitetura limita-se, h tempos, em
apresentar um nmero restrito de arquitetos como criadores
da boa arquitetura e relega a muitos outros um papel secun-
drio, por vezes, de menor importncia.
Esse fato distorce a histria e cria uma lacuna bibliogrfi-
ca considervel, que afeta a obra de diversos arquitetos bra-
sileiros.
Este trabalho se justifica porque tratar da obra de um
arquiteto brasileiro ainda no estudado e que possui uma re-
levante produo. preciso, portanto, relatar os caminhos
percorridos pelo arquiteto Roberto Jos Goulart Tibau.
Tibau nasceu em niteri, no dia 9 de agosto de 1924.
em 1948, formou-se arquiteto na Faculdade nacional de Ar-
quitetura da Universidade do brasil, do Rio de Janeiro. Ain-
da estudante, trabalhou com os arquitetos Oscar niemeyer
(1907-), Aldary Henriques de Toledo (1915-1998), lvaro vi-
tal brazil (1909-1997) e Francisco de Paula lemos bolonha
(1923-2006). Diplomado, transferiu-se para a cidade de So
Paulo, onde iniciou sua vida profissional.
Sua vinda a So Paulo em 1949 coincide com o acentu-
ado crescimento da cidade. Sua contribuio, somada de
outros pioneiros, ajudou a provinciana capital paulistana a in-
gressar no mbito do modelo moderno e da metropolizao:
os arquitetos da escola carioca integrantes da Comisso trazem
para So Paulo o clima da discusso existente na belas Artes do
Rio, o esprito de grupo imbudo em disseminar a arquitetura mo-
derna e a vivncia das experincias arquitetnicas daquela cida-
de, que desde a dcada de 30 est produzindo edifcios pblicos
segundo os princpios da modernidade (...) esses profissionais
vo ser responsveis pela primeira manifestao do moderno na
arquitetura nos edifcios pblicos paulistas. (CORRA, Avany
de Francisco; CORRA, Maria elizabeth Peiro; MellO, Mirela
Geiger de. Arquitetura escolar paulista: restauro. imprenta So
22
Paulo: FDe, p. 28, 1998.)
em 1950, passou a integrar a equipe do Convnio esco-
lar, uma parceria entre a Prefeitura de So Paulo e o Governo
do Estado para suprir o dficit existente em construes es-
colares. A Prefeitura construa os prdios e o estado minis-
trava o ensino.
Cabia Comisso escolher os terrenos para a implanta-
o das edificaes. Para cada terreno, um projeto especfi-
co, o que destacou, pela qualidade e quantidade dos projetos
realizados num curto espao de tempo, os arquitetos envol-
vidos.
nos anos que se seguiram ao trabalho no Convnio es-
colar, Roberto Tibau projetou escolas para o SenAi (Servio
nacional de Aprendizagem industrial).
em 1957, iniciou seu trabalho como professor na Facul-
dade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So
Paulo, na disciplina Pequenas Composies i.
Alm de lecionar, Roberto Tibau exerceu, paralelamente,
intensa atividade projetual durante as dcadas de 60 e 70.
essa atuao foi ora individual, ora em equipe.
Apresentou, em 1974, sua tese de Doutorado: Arquite-
tura e Flexibilidade, na FAU-USP, onde lecionou at 1987,
ocasio em que se aposentou.
em 1997, convidado, voltou a lecionar, agora na Univer-
sidade So Judas Tadeu, ensinando seu ofcio preferido: o
projeto. lecionou at 2001.
Faleceu em 17 de agosto de 2003, na cidade que o aco-
lheu, em plena atividade projetual.
Criador do Planetrio Municipal, da escola Municipal de
Astrofsica, de diversas escolas Pblicas, de escolas SenAi,
do instituto brasileiro do Caf, dos Teatros Populares, Ro-
berto Tibau est na lista - entre tantos outros - dos arquitetos
annimos, daqueles que a histria insiste em deixar de lado.
So alguns dos questionamentos desta pesquisa: em
que contexto histrico de relaes e referncias insere-se a
formao e atuao profissional de Roberto Tibau? Qual a
relao entre sua produo arquitetnica e outras obras da
poca? Quais referncias projetuais serviram como modelo
para a criao dos seus projetos?
23
A seguir, o roteiro da dissertao:
introduo
Descrio dos objetivos, objeto de estudo e explicao
da motivao quanto escolha do tema.
Captulo 1 - Arquitetura Moderna brasileira - primeiras mani-
festaes
estabelece um panorama do perodo histrico e estuda
temas arquitetnicos relevantes da poca em conjunto aos
acontecimentos polticos e culturais. Trata da afirmao de
arquitetos do Rio de Janeiro como referncia de Arquitetura
Moderna brasileira e da disseminao desta linguagem.
Captulo 2 - Dados Bibliogrficos
Trata das origens de Roberto Tibau, dos anos de sua
formao, de sua opo pela arquitetura, dos anos de enbA
(escola nacional de belas Artes), dos primeiros contatos
com profissionais mais experientes, principalmente Oscar
niemeyer. Destaca sua chegada a So Paulo, o exerccio
da profisso - Convnio Escolar, FECE (Fundo Estadual de
Construes escolares), COneSP (Companhia de Constru-
es escolares do estado de So Paulo), FDe (Fundao
para o Desenvolvimento da educao), SenAi (Servio na-
cional de Aprendizagem industrial) - alm de sua atividade
docente, at o falecimento.
Os dados so organizados a partir do depoimento con-
cedido ao autor em, 1. de setembro de 1998, e das informa-
es do Curriculum vitae do arquiteto.
24
Captulo 3 - O fazer arquitetura
Descreve caractersticas de sua arquitetura, seu mtodo
de trabalho, referncias projetuais, principais influncias. In-
sere sua obra no contexto histrico e cultutral do Movimento
Moderno e na Arquitetura brasileira.
Captulo 4 - Obras e projetos
Destaca a apresentao do conjunto de projetos elabo-
rados no perodo de 1949 a 2003.
As informaes deste captulo so baseadas no arquivo
pessoal e no Currculo vitae do arquiteto, alm de publica-
es em diversos peridicos e acervo de projetos Roberto
Tibau - biblioteca da FAUUSP.
Captulo 5 - Concluso
Apresentao dos resultados da pesquisa e conclu-
ses.
Bibliografia
livros, Teses, Dissertaes e Peridicos.
25
1Arquitetura Moderna Brasileira
primeiras manifestaes
26
27
Antecedentes
Poltico: Revoluo de 1930
Movimento militar e poltico que deps o presidente Washing-
ton lus, destituindo a Repblica velha e conduzindo ao poder
Getlio vargas. A eleio de Jlio Prestes para a presidncia da
repblica, um poltico paulista que rompera com o acordo de re-
vezamento no poder com os mineiros - a poltica do caf com
leite -, gerou um grande inconformismo nos meios poltico e mili-
tar. Mas foi o assassinato de Joo Pessoa o grande detonador da
revoluo de 1930, mobilizando toda a oposio e gerando um
movimento militar a partir do Rio Grande do Sul, sob a chefia de
Getlio vargas, Gis Monteiro e Oswaldo Aranha. no nordeste,
o comando esteve a cargo de Juarez Tvora. isolado no poder,
Washington lus nada pde fazer para deter a rebelio, que se
estendeu at o Rio de Janeiro, ento a sede do governo. Pro-
curando evitar maiores consequncias, os militares depuseram
o presidente em 24 de outubro e Washington lus partiu para o
exlio. (nova enciclopdia ilustrada FOlHA, p. 835, 1996.)
Cultural: Semana de Arte Moderna
inserido nas festividades em comemorao do centenrio da
independncia do brasil, em 1922, a Semana de Arte Moderna
apresenta-se como a primeira manisfestao coletiva pblica na
histria cultural brasileira a favor de um esprito novo e moderno
em oposio cultura e arte de teor conservador, predomi-
nantes no pas desde o sculo XiX. entre os dias 13 e 18 de
fevereiro de 1922, realiza-se no Theatro Municipal de So Paulo
um festival com uma exposio com cerca de 100 obras e trs
sesses ltero-musicais noturnas. (...) A semana de 22 no foi um
fato isolado em origens. As discusses em torno da necessidade
de renovao das artes surgem em meados da dcada de 1910
em textos de revistas e em exposies, como a de Anita Malfatti
em 1917. (www.itaucultural.org.br- acesso em 27.02.2010)
28
Gregori Warchavchik (1896-1972) publica Acerca da Ar-
quitetura Moderna:
Para que a nossa arquitetura tenha seu cunho original, como o
tm as nossas mquinas, o arquiteto moderno deve no somente
deixar de copiar os velhos estilos, como tambm deixar de pen-
sar no estilo. O carter da nossa arquitetura, como o das outras
artes, no pode ser propriamente um estilo para ns, os contem-
porneos, mas sim para as geraes que nos sucedero. A nos-
sa arquitetura deve ser apenas racional, deve basear-se apenas
na lgica, e esta lgica devemos op-la aos que esto procuran-
do por fora imitar na construo algum estilo. muito provvel
que este ponto de vista encontre uma oposio encarniada por
parte dos adeptos da rotina. Mas tambm os primeiros arquitetos
do estilo Renaissance bem como os trabalhadores desconheci-
dos que criaram o estilo gtico, os quais nada procuravam seno
o elemento lgico, tiveram que sofrer uma crtica impiedosa de
seus contemporneos. isso no impediu que suas obras consti-
tussem monumentos que ilustram agora os lbuns da histria da
arte. (WARCHAvCHiK apud in XAvieR, 2003:37)
Para finalizar, as palavras de ordem de Warchavchik,
conclamando a todos:
Abaixo as decoraes absurdas e viva a construo lgica, eis
a divisa que deve ser adotada pelo arquiteto moderno. (XAvieR,
2003:38)
Carta de Rino levi (1901-1965) ao jornal O estado de
So Paulo:
digno de nota o movimento que se manifesta hoje nas ar-
tes e principalmente na arquitetura. Tudo faz crer que uma era
nova est para surgir, se j no est encaminhada. (XAvieR,
2003:38)
No final da carta, Rino Levi recomenda:
preciso estudar o que se fez e o que se est fazendo no ex-
terior e resolver os nossos casos sobre esttica da cidade com
alma brasileira. Pelo nosso clima, pela nossa natureza e costu-
mes, as nossas cidades devem ter um carter diferente das da
europa.
Creio que a nossa florescente vegetao e todas as nossas ini-
gualveis belezas naturais podem e devem sugerir aos nossos
artistas alguma coisa de original dando s nossas cidades uma
graa de vivacidade e de cores, nica no mundo. (XAvieR,
2003:39)
29
Warchavchik, Rino e Flvio lutaram sozinhos, uma vez que no
tinham contato com a classe estudantil onde se pudessem es-
corar para enfrentar a luta, como aconteceu no Rio com lucio,
Reidy, budeus e tantos outros que puderam transmitir aos seus
alunos suas idias, que frutificaram atravs de Niemeyer, Mar-
celo, Jorge Moreira, Rocha Miranda e muitos outros. (SOUzA,
Abelardo de. Arquitetura no brasil. So Paulo, Diadorim / edusp,
p. 32, 1978)
A ensino de arquitetura em So Paulo, naquele tempo
era um curso dado na escola Politcnica, com um vestibular ni-
co para todas as especialidades, foi iniciado com a fundao da
Politcnica, por volta de 1894. (SOUzA, Abelardo de. Arquitetura
no brasil. So Paulo, Diadorim / edusp, p. 32, 1978)
30
Visitantes Estrangeiros
nos primeiros anos da dcada de 1930, o brasil recebeu
diversas visitas de arquitetos estrangeiros, por dois motivos
principais: a arquitetura brasileira, at ento desconhecida,
comeava a despertar a ateno internacional e com o fim
da guerra, muitos estrangeiros estavam com dificuldades de
encontrar trabalho em seus pases.
Le Corbusier (1887-1965)
le Corbusier, ou Charles-edouard Jeanneret, lanou
vers Une Architecture (1923) e lUrbanisme (1925). As-
sim, percorreu diversos pases divulgando suas ideias, ela-
borando planos urbansticos e projetos arquitetnicos, propa-
gando seus famosos cinco pontos da nova arquitetura:
estudos de urbanizao do Rio de Janeiro (1929)Fonte: le Corbusier - Rio de Janeiro: 1929-1936 / Yamis Tsiomis (editor), Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio de Janeiro, p. 73, 1998.
31
estudos de urbanizao de So Paulo (1929)Fonte: le Corbusier e o brasil / SAnTOS, Ceclia Rodrigues dos [et al.]. So Paulo: Tessela : Projeto editora, 1987, p. 93
os pilotis, a planta livre, a fachada livre, a janela larga e o
terrao ajardinado.
veio ao brasil em trs ocasies.
A primeira, em 1929, quando elaborou um plano urbans-
tico para as cidades do Rio de Janeiro e de So Paulo.
evidentemente, durante a visita, le Corbusier tomou
contato com os modernistas brasileiros.
A respeito do Plano para So Paulo, eis uma de suas
ideias:
Para vencer as sinuosidades do planalto acidentado de So
Paulo, pode-se construir as auto-estradas em nvel, sustentadas
por arranha-cus. (le Corbusier e o brasil / SAnTOS, Ceclia
Rodrigues dos [et al.]. So Paulo : Tessela : Projeto editora, p.
93, 1987.)
A segunda, em 1936, desta vez convidado para ser ar-
quiteto-consultor do projeto para construo da sede do Mi-
nistrio da educao e Sade, no Rio de Janeiro.
Durante a visita ao brasil, em 1936:
32
le Corbusier realizou, simultaneamente, suas trs funes: a
de fazer o anteprojeto da cidade universitria, a de fazer o ante-
projeto, ou risco inicial, do edifcio do Ministrio da educao e
a de promover uma srie de conferncias. ele realizou grandes
conferncias, o que justificava a remunerao que recebia. De-
pois, foi embora. (Depoimento sobre o edifcio do Ministrio da
educao. Gustavo Capanema. Mdulo, Rio de Janeiro, n. 85,
p. 28-32, maio, 1985)
Segundo Paulo F. Santos (1981:109), le Corbusier en-
sinou teoria em seis conferncias (31 de julho, 5, 7, 10, 12 e
14 de agosto de 1936) alm de prtica, durante cerca de um
ms, diariamente, na prancheta.
Os temas das conferncias durante a estadia no brasil:
1. Grandeza de viso na poca dos grandes empreendimentos.
2. A desnaturao do fenmeno urbano.
3. lazer e ocupao da civilizao das mquinas.
4. O prolongamento dos servios pblicos.
5. Programa de uma faculdade de arquitetura.
6. Os congressos internacionais de arquitetura legislam sobre
bases novas. (bardi, Pietro Maria. lembrana de le Corbusier:
Atenas, itlia, brasil / P. M. bardi; prefcio de Alexandre eullio. -
So Paulo: nobel, 1984.)
Retornou ao brasil, ainda, em 1962, aps a inaugurao
de braslia.
lucio Costa e le Corbusier no aeroporto do Galeo, RJ, 1962.Fotografia: Agncia Estado
Fonte: bARDi, Pietro, lembrana de le Corbusier: Atenas, itlia, brasil. - So Paulo: nobel, p. 87, 1984.
33
Plano para a Cidade Universitria do brasil / 1936 / Rio de Janeirolucio Costa, Oscar niemeyer, Affonso eduardo Reidy, ernani vasconcelos, Carlos leo, Jorge Moreira, consultoria de le Corbusier.Fonte: lArchitecture daujourdhui, le Corbusier, boulogne (Seine), p. 79, 1948.
34
estudo de le Corbusier para o Ministrio da educao e Sade (1936) com localizao prxima ao aeroporto.Fonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 12, set. 1947.
35
Frank Lloyd Wright
Frank lloyd Wright (1869-1959) veio ao brasil em 1931
para participar, como jurado, do Concurso internacional para
a construo do Farol de Colombo. Apoiou a greve dos es-
tudantes da enbA favorveis permanncia de lucio Costa
na direo da escola e visitou a casa da Rua Toneleiros (Rio
de Janeiro), inaugurada em fins de 1931, projetada por Lucio
Costa e Gregori Warchavchik.
Com a construo dessa casa, os pronunciamentos de Wright,
o ambiente de tenso na enbA, a projeo de vrios dos partici-
pantes nos episdios, a cooperao da imprensa, a perplexidade
simpatizante dos arquitetos e acima de tudo o prestgio pessoal
de lucio Costa e a fora que emanava de suas convices, es-
tava definitivamente lanada a arquitetura moderna. Irreversivel-
mente. (SAnTOS, Paulo Ferreira. quatro sculos de Arquitetura.
Rio de Janeiro, iAb, p. 106, 1981.)
lucio Costa, Frank lloyd Wright e Gregori Warchavchik, em frente Casa da Rua Toneleiros, no Rio de Janeiro (1931)Fonte: MinDlin, Henrique. Arquitetura Moderna no brasil, Rio de Janeiro: Aeroplano, p. 13, 1999.
36
Richard Neutra
Richard J. neutra (1892-1970) aceitou realizar confe-
rncias em Oslo, na noruega, em la Paz, na bolvia, e em
Osaka, no Japo. Proferiu cursos nas maiores universidades
da Amrica do Sul e norte e encontrou-se com estudantes
em londres, Paris, Roma e Milo. em 1946, visitou os estu-
dantes brasileiros. A simpatia que inspirou, alm de sua com-
preenso, levaram-no a fazer amigos entre os jovens arquite-
tos em todos os pases em que pode trabalhar.
Segundo Henrique Mindlin (1999: 29), Richard neutra
provocou o entusiamo da jovem gerao com conferncias
em que abordava com profundidade os aspectos humanos e
sociais da arquitetura.
Richard neutra e estudantes brasileiros (1946)Fonte: bOeSiGeR, Willy. Richard neutra buildings and Projects, editions Girsberger, zurich, p.192, 1951.
37
Gropius, Sert, Aalto e Rogers
O jornal A GAzeTA - S. Paulo, de quarta-feira, 6 de ja-
neiro de 1954, em matria intitulada Colao de Grau dos
diplomandos de arquitetura da Universidade de So Paulo
noticiou a participao dos arquitetos Walter Gropius (1883-
1969), Alvar Aalto (1898-1976), ernesto nathan Rogers
(1909-1969), Josep llus Sert (1902-1983), ento jurados
da ii bienal de Arquitetura em So Paulo, na mesa diretora
dos trabalhos de colao de grau dos novos arquitetos da
FAUUSP, realizada no Teatro Cultura Artstica.Da esquerda para a direita: Giannicola Matarazzo, Francisco Matarazzo Sobrinho, Walter Gropius, Alvar Aalto, ernesto nathan Rogers, Josep llus Sert, por ocasio da ii bienal de Arquitetura em So Paulo, que conferiu a Gropius o Grande Prmio de Arquitetura.Fonte: le Corbusier e o brasil / Ceclia Rodrigues dos Santos [et al.]. So Paulo: Tessela : Projeto editora, p. 129, 1987.
38
Ludwig Mies van der Rohe
ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) esteve no brasil
em 1957, visitou o terreno onde projetou o edifcio do Con-
sulado dos estados Unidos, na Avenida Paulista (no cons-
trudo).
esteve com lucio Costa e viu a maquete de braslia.
lucio Costa mostrando a maquete de braslia a Mies van der Rohe.Fonte: lucio Costa: registro de uma vivncia. So Paulo: empresa das Artes, p. 310, 1995.
39
Reconhecimento estrangeiro
A arquitetura brasileira recebeu ateno internacional.
em 1943 foi editado Brazil Builds - architecture new and
old 1652-1942, de Phillip lippincott Goodwin, como parte de
uma exposio organizada pelo Museu de Arte Moderna de
nova iorque. O livro traz uma panorama do perodo 1652-
1942. eis a relao dos projetos e arquitetos apresentados:
Ministrio da Educao e Sade Pblica
(lucio Costa, Oscar niemeyer, Affonso Reidy, Carlos leo, Jorge
Moreira, ernani vasconcelos. le Corbusier: consultor);
ABI - Associao Brasileira de Imprensa, Rio de Janeiro
(Marcelo e Milton Roberto);
Edifcio de Apartamentos Av. Augusto Severo, 78
(sem identificao de autor);
Instituto dos Industririos, Rio de Janeiro
(Marcelo e Milton Roberto)
Prdio Alameda baro de limeira, 1003, So Paulo
(Gregori Warchavchik)
Edifcio Esther, Praa da Repblica
(Alvaro vital brazil e Ademar Marinho);
Apartamentos com sala de exposio de automveis
(Henrique e. Mindlin);
Edifcio de Apartamentos, Praia do Flamengo, 322, Rio de Janei-
ro (sem identificao de autor);
Edifcio de Apartamentos, rua bolivar, 97, Realengo, RJ
(Dr. Saldanha, arquiteto);
Casa para operrios (iAPi) no Realengo, RJ (Carlos Frederico
Ferreira, colaborao de Waldir leal e Mario H. G. Torres);
Hotel em Ouro Preto, Minas Gerais (Oscar niemeyer);
Asilo de Invlidos, RJ (Paulo Camargo de Almeida);
Biblioteca Pblica Mrio de Andrade, So Paulo (Jacques Pilon,
Matarazzo e Departamento de Obras Pblicas);
Sanatrio de Tuberculosos Santa Terezinha, Salvador, bA
Obra do Bero, Gvea, RJ (Oscar niemeyer);
Escola primria Raul Vidal, niteri, RJ (Alvaro vital brazil);
Escola Industrial Rio de Janeiro
(Carlos Henrique de Oliveira Porto);
40
Capa: brazil builds (1942)Fonte: MinDlin, Henrique. Arquitetura Mo-. Arquitetura Mo-derna no brasil, Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999, p. 13.
Escola Normal, Salvador, BA (sem identificao de autor);
Instituto Superior de Filosofia, Cincias e Letras Sedes Sapien-
tiae, So Paulo (Rino levi);
Liceu Industrial, So Paulo (Marcelo e Milton Roberto);
Estao de Hidroavies, Rio de Janeiro (Atlio Corra lima)
Hangar 1, Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro
(Marcelo e Milton Roberto);
Estao de barcos, Rio de Janeiro (Atilio Correa lima);
Torre dgua, Olinda, Pernanbuco (luis nunes);
Pavilho de Anatomia Patolgica, Recife, Pe
(Saturnino nunes de brito);
Instituto Vital Brazil, niteri, RJ
(Alvaro vital brazil e Ademar Marinho);
Residncia Cavalcanti, niteri, RJ, Rua Sacop, 42
(Oscar niemeyer);
Residncia do arquiteto, Rua Carvalho Azevedo, Gavea, RJ
(Oscar niemeyer);
Casa Johnson, Fortaleza-Ce (Oscar niemeyer);
Res. Joo Arnstein, rua Canad, 714, So Paulo
(bernard Rudofsky);
Res. Frontini, rua Monte Alegre, 957, So Paulo
(bernard Rudofsky);
Fazenda So luis (Res. Hermenegildo Sotto Maior)
(Aldary Henriques de Toledo);
Casa Modernista construda (Henrique e. Mindlin);
Casa Dr. Arthur Moura, Recife-Pe, Rua visconde Albuquerque,
275 (Jos norberto);
Primeira casa modernista (Gregori Warchavchik);
Cassino Pampulha, belo Horizonte MG (Oscar niemeyer);
Iate Clube Pampulha, belo Horizonte MG (Oscar niemeyer);
Pavilho Brasileiro Feira Mundial de Nova Iorque, (lucio Costa,
Oscar niemeyer com Paul lester Wiener)
41
Capa: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14, boulogne (Seine), set. 1947.Fonte: Acervo biblioteca da FAUUSP
A revista francesa Architecture daujordhui, nmeros 13
e 14, publicada em setembro de 1947, dedicou uma edio
especial ao brasil.
Aqui segue a lista dos projetos e arquitetos apresenta-
dos:
Ministrio da Educao e Sade (lucio Costa, Oscar niemeyer,
Affonso eduardo Reidy, Carlos leo, ernani vasconcelos, Jorge
Moreira. Consultor: le Corbusier);
Pavilho do Brasil na Feira Mundial de New York (lucio Costa e
Oscar niemeyer);
Conjunto da Pampulha: Cassino, Iate Clube, Hotel, Casa do Baile
(Oscar niemeyer);
Jardins modernos (Roberto burle Marx);
Golfe Clube em Pampulha, Caixa dgua em Ribeiro das Lages,
Iate Clube Fluminense, Centro de Lazer na Lagoa, Estdio Na-
cional, Hotel em Nova Friburgo, Obra do Bero, Grande Hotel em
Ouro Preto, Primeira Casa do arquiteto (Oscar niemeyer);
Park-hotel em So Clemente (lucio Costa);
Colnia de Frias do Instituto de Resseguros do Brasil na Gvea,
Escola de Ensino Profissionalizante, Sede da Associao Bra-
sileira de Imprensa, Sede do Instituto de Resseguros do Brasil,
Aeroporto Santos Dumont (Marcelo e Milton Roberto);
Estao de Hidroavies (Atlio Correa lima);
42
Um pouco mais tarde, em 1958, o livro Masters of Mod-
ern Architecture, de John Peter, publicado em nova iorque,
apresenta um conjunto significativo de obras e arquitetos
modernos do mundo, destacando sete obras da arquitetura
brasileira e seus respectivos criadores.
Segue a lista dos projetos e arquitetos apresentados:
Ministrio da Educao e Sade (lucio Costa, Oscar niemeyer,
Affonso eduardo Reidy, Carlos leo, ernani vasconcelos e Jorge
Moreira. le Corbusier: consultor);
Igreja de So Francisco de Assis (Oscar niemeyer);
Casa do arquiteto em Canoas (Oscar niemeyer);
Aeroporto Santos Dumont (Marcelo e Milton Roberto);
Edifcio de apartamentos - Parque Guinle (lucio Costa);
Edifcio de apartamento e Escola - Conjunto Pedregulho
(Affonso eduardo Reidy)
Casa do Arquiteto (Oswaldo Arthur bratke).
Estao de Hidroavies em Belm do Par, Instituto Vital Brazil
(lvaro vital brasil);
Pavilho de guas Sulfurosas (Francisco bolonha);
Administrao Central da Viao Frrea do Rio Grande do Sul
(Affonso eduardo Reidy);
Instituto Sedes Sapientiae, Companhia Jardim de Cafs Finos,
Edifcio Comercial (Rino levi);
Edifcio Lenidas Moreira (eduardo Kneese de Mello);
Edifcio Companhia de Telefones (Marcelo e Milton Roberto);
Estao Sanitria da Ilha das Flores (Renato de A. D. Soeiro,
Renato Mesquita dos Santos, Jorge A. G. Ferreira, Thomaz es-
trella);
Escola Presidente Roosevelt (Aldary Henriques de Toledo);
Country-clube de Petrpolis (Srgio bernardes).
Curiosamente, a igreja de So Francisco de Assis, proje-
to de Oscar niemeyer, na Pampulha no foi publicada nesta
edio em homenagem ao brasil.
43
Trs momentos decisivosda arquitetura brasileira
O edifcio do Ministrio da educao e Sade (1937-
1943), atual Palcio Gustavo Capanema, foi o primeiro mar-
co da arquitetura moderna. Para constru-lo, lucio Costa pe-
diu ao ento Ministro Gustavo Capanema (1909-1985) que
convocasse le Corbusier.
Para ajudar-nos e orientar-nos na construo do edifcio do Mi-
nistrio da educao. queremos fazer uma coisa nova, mas no
queremos nos arriscar a um to grandioso empreendimento, a
uma realizao to monumental, que seria a primeira do mundo,
sem primeiro ouvir o conselho do grande mestre no momento da
nova arquitetura. Alm do mais, ele vem tambm ajudar a fazer a
cidade universitria. (Depoimento sobre o edifcio do Ministrio
da educao. Gustavo Capanema. Mdulo, Rio de Janeiro, n.
85, p. 28-32, maio, 1985)
evoluo do projeto do Ministrio da educao e da Sade, Rio de Janeiro, 1936-37: a) croqui feito por um grupo de arquitetos brasileiros; b) croqui de le Corbusier para localizao perto do aeroporto; c) croqui de le corbusier para a atual localizao; d) croqui final feito pela equipe brasileira.
Fonte: MinDlin, Henrique. Arquitetura Moderna no brasil, Rio de Janeiro: Aeroplano, p. 31, 1999.
44
Ministrio da educao e Sade (1937-1943)Fonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 15, set. 1947.
45
O Ministro Gustavo Capanema deixou registrado, num
depoimento, os fatos que precederam a execuo do pro-
jeto.
no ano de 1936, o Presidente Getlio vargas me autorizou a
construo do edifcio do Ministrio da educao e Sade, para
l colocar todos os servios que faziam parte do conjunto minis-
terial daquela poca.
Foi aberto concurso para a escolha do projeto. O premiado foi
Archimedes Memria, diretor da escola nacional de belas-Artes.
O prmio foi pago, mas o projeto no foi executado. era preciso
que se criasse algo moderno.
Pensei em convidar le Corbusier para elaborar o projeto, mas
no sendo ele cidado brasileiro, e no podendo por isso parti-
cipar diretamente da obra, o convidei para vir fazer um curso de
conferncias sobre arquitetura moderna aqui no brasil. na ver-
dade, o convite para as conferncias foi pretexto para que ele
viesse ao brasil.
O projeto precisava ento ser realizado por arquitetos brasileiros
e formados no brasil. era importante que se criasse um grupo
brasileiro. Assim foi feito.
Do mesmo participaram: Oscar niemeyer, Affonso Reidy, Jorge
Moreira, Carlos leo, lucio Costa e Hernani vasconcelos. e
estes arquitetos foram os criadores da moderna arquitetura no
brasil.
quando o Ministrio foi construdo no havia Faculdade de Ar-
quitetura no brasil.
Apesar de ser ainda muito jovem e com pouca experincia, Reidy
foi designado por mim para participar do projeto, por ser talento-
so; depois ele fez o belo projeto do MAM. Durante minha ges-
to como presidente do mesmo, nosso convvio se intensificou
e tornou-se mais agradvel e amistoso. eu tinha uma grande
admirao por ele.
Afinal, como disse o nosso querido Alosio Magalhes neste edi-
fcio nasceu braslia.
Min. Gustavo Capanema
junho de 1982
(Affonso eduardo Reidy Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro. Solar Grandjean de Montigny - Rio de Janeiro: O Solar: index, 1985 - Catlogo da exposio realizada de 20 de agosto a 21 de setembro de 1985)
46
Planta Trreo / Ministrio da eduao e Sade / 1936-1945 / Rio de Janeiro - RJFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p.16, set. 1947.
47
Corte - Ministrio da educao e SadeFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 17, set. 1947.
48
Ministrio da educao e Sade (1937-1943)Fonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, bou-lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, bou-, n. 13-14 brsil, bou-logne (Seine), p. 11, set. 1947.
Painel de azulejos - Ministrio da educao e SadeFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 8, set. 1947.
O comentrio de Lucio Costa reflete a dimenso da im-
portncia que o edifcio do Ministrio da Educao significou
para a arquitetura brasileira:
e, no entanto, apenas 26 anos antes, havia sido inaugurado o
edifcio da enbA (escola nacional de belas-Artes), atual museu,
padro acadmico impecvel.
A arquitetura jamais passou, noutro igual espao de tempo, por
tamanha transformao. (COSTA, lucio. Arquitetura. 4. edio
- Rio de Janeiro: Jos Olmpio editora, p. 21, 2006.)
49
Pavilho do Brasilna Feira Internacional de Nova Iorque
O Pavilho do brasil na Feira internacional de 1939-
1940, foi fruto de um concurso vencido por lucio Costa, ten-
do como segundo colocado Oscar niemeyer.
lucio Costa, percebendo as qualidades existentes no
projeto apresentado por Oscar, pediu aos organizadores para
que os dois fizessem juntos o projeto definitivo.
Terminada a feira, o Pavilho foi desmontado.
A linguagem arquitetnica do projeto apresentado iniciou
uma tendncia que seria exaustivamente utilizada a partir de
ento: uso da rampa, quebra-sis (brise-soleil), volumes fle-
xveis, elementos curvos, integrao interior-exterior.
lucio Costa e Oscar niemeyer / Pavilho do brasil / 1939-40 / nova iorqueFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 20, set. 1947.
50
Plantas / Pavilho do brasil / 1939-40 / nova iorqueFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 20, set. 1947.
51
Conjunto da Pampulha
O conjunto da Pampulha representa o terceiro momento
fundamental para a arquitetura brasileira.
Juscelino Kubitschek (1902-1976), prefeito de belo Hori-
zonte - MG, no perodo de 1940-1945:
(...) asfaltou, construiu bairros nobres e proletrios, aumentou
as redes de esgoto e gua, abriu avenidas e ergueu o soberbo
conjunto da Pampulha, traado por um arquiteto recm-formado,
Oscar niemeyer (MAYRinK, Geraldo. Os grandes lderes: Jus-
celino. So Paulo: editora nova Cultural. 1988 p. 29)
A respeito da Pampulha, Juscelino disse:
Aquele negcio de rampa, eu nunca tinha visto antes, era uma
beleza. ento disse a ele: vamos construir amanh. (MAYRinK,
Geraldo. Os grandes lderes: Juscelino. So Paulo: editora nova
Cultural. p. 30, 1988.)
legenda do mapa lagoa da Pampulha: a) cassino; b) iate clube; c) restau-rante e casa do baile; d) igreja; e) hotel [no construdo]; f) ancoradouro; 1) sentido Aeroporto (lagoa Santa) ; 2) sentido belo Horizonte.Fonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 23, set. 1947.
52
Oscar niemeyer / Urbanizao de Pampulha / 1940 / belo Horizonte - bHFonte: bOTeY, Josep Maria. Oscar niemeyer. editorial Gustavo Gili, p. 198, 1996.
53
Casa do baile / 1942 / belo Horizonte - MGFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 34-35, set. 1947.
Casa do Baile
A Casa do baile um pequeno restaurante circular com
palco e pista de dana. Sua cobertura prolonga-se tal qual
uma marquise - a lembrar uma serpentina de carnaval - refor-
ando sua horizontalidade.
54
iate Clube / 1942 / belo Horizonte - MGFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 30, set. 1947.
Iate Clube
O iate Clube distingue-se pela caracterstica de sua co-
bertura em forma de v, tambm conhecida como asa de
borboleta. Sua fachada norte protegida por brises verticais
mveis. O clube possui piscina, quadras de tnis, basquete
e vlei. no trreo, rea destinada aos servios, vestirios e
hangar. no primeiro piso, um espao livre, restaurante, salas
de reunio.
Segundo a revista lArchitecture daujourdhui (1947: 30)
o brise-soleil o elemento essencial da nova arquitetura do
brasil. longe de ser montono, suas possibilidades de uso
so ilimitadas, e seus efeitos plsticos, os mais variados.
55
Cassino da Pampulha / 1940-1942 / belo Horizonte - MGFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p.24, set. 1947.
Cassino
O Cassino foi o primeiro edifcio construdo por Oscar
niemeyer em Pampulha.
56
Igreja de So Francisco de Assis
na igreja de So Francisco de Assis, Oscar niemeyer
usou uma linguagem diferente daquela utilizada nos demais
edifcios de Pampulha.
A nave da Igreja definida por duas abbadas maiores
e mais altas, seguidas de sucessivas abbadas menores.
Completam a composio uma marquise e a torre do cam-
panrio.
H um detalhe na nave: a primeira abbada estreita-se
em direo ao altar, e entre as duas abbadas maiores for-
ma-se um espao por onde a luz penetra, brilhando sobre o
altar.
decorada com pinturas e afrescos do pintor Cndido
Portinari (1903-1962).
A igreja permaneceu por vrios anos fechada, pois tanto
o arquiteto como o pintor eram comunistas.Oscar niemeyer / igreja de So Francisco / 1940 / belo Horizonte - bHFonte: bOTeY, Josep Maria. Oscar niemeyer. editorial Gustavo Gili, p. 159, 1996.
57
Oscar niemeyer / igreja de So Francisco / 1940 / belo Horizonte - bHFonte: bOTeY, Josep Maria. Oscar niemeyer. editorial Gustavo Gili, p. 158, 1996.
Oscar niemeyer, foi sem dvida, o grande destaque da-
quela gerao, e segundo lucio Costa:
"A personalidade de Oscar niemeyer Soares, arquiteto de forma-
o e mentalidade genuinamente cariocas - conquanto, j ago-
ra, internacionalmente consagrado -, soube estar presente na
ocasio oportuna e desempenhar integralmente o papel que as
circunstncias propcias lhe reservaram e que avultou, a seguir,
com as obras da distante Pampulha e do Pavilho do brasil na
Feira internacional de 1939, na longnqua nova York. (COSTA,
lucio. Arquitetura. 4. edio - Rio de Janeiro: Jos Olmpio edi-
tora, 2006, p. 21)
Abelardo Riedy de Souza complementou:
A arquitetura moderna brasileira comeou, de fato, com o uso
da linha curva, com a plstica leve e sensual que s o concreto
armado pode dar, com o conjunto da Pampulha, de Oscar nie-
meyer. (SOUzA, Abelardo Riedy de. Arquitetura no brasil. So
Paulo, Diadorim / edusp, p. 28, 1978.)
58
Arquiteto Roberto Jos Goulart Tibau, em 1998.Foto: Roberto Selmer Jnior
59
2Dados biogrficos
60
baa da Guanabara, Rio de Janeiro - Fonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 3, set. 1947.
61
Rio de Janeiro - anos de formao
Roberto Jos Goulart Tibau nasceu em niteri, estado
do Rio de Janeiro, no dia 09 de agosto de 1924.
Filho de Julio Massiere da Costa Tibau e nomia Goulart
Tibau.
estudou em vrias escolas porque, quando criana,
seus pais mudaram-se vrias vezes. Seu pai foi montar uma
plantao de banana em itanham, l estudou no Grupo es-
colar de Conceio de itanham. na cidade de So Paulo,
estudou no externato Assis Pacheco, no bairro de Perdizes,
e no Ginsio Perdizes.
A plantao de bananas no teve sucesso, sua famlia
voltou ao Rio, onde estudou no Ginsio bittencourt Silva.
Depois foram morar no Catete, no Rio, e Tibau estudou no
externato Santo Antonio Maria zacarias. O colegial foi com-
pletado no Colgio Andrews.
Da esquerda para a direita: Jlio Tibau (irmo), nomia Goulart Tibau (me) e Roberto Tibau, em itanham - SP, sem data.Fonte: lbum de famlia - Roberto Tibau
62
A opo pela arquitetura revelou-se aps levar bomba
no vestibular para a Faculdade de qumica industrial.
Foi quando encontrou um colega no bonde, que lhe fa-
lou: Por que voc no vai estudar arquitetura?
Mas o que arquitetura?, perguntou Tibau
Arquitetura desenhar prdios, respondeu o colega.
Desenhar era com o Tibau, que a partir da comeou a
se interessar.
Desceu do bonde, voltou sua casa, comentou com
seus pais, que apreciaram a ideia.
Fez o cursinho e ingressou na escola nacional de belas-
Artes do Rio de Janeiro em 1944.
eu fiz a FAU, entrei entre os vinte primeiros, a faculdade naquele
tempo era uma maravilha de escola. eu digo isso, assim, de boca
cheia (...) a enbA do Rio, tinha um curso de Arquitetura muito
bem montado, era uma verdadeira faculdade de Arquitetura, mui-
to bem organizada, bem aparelhada, tinha prancheta para todos
os alunos, uma beleza, um curso muito bom. como se fosse
uma faculdade de arquitetura dentro da escola de belas Artes,
e l a gente convivia com as meninas da pintura, da escultura.
ento era bem interessante, (risos) aquele tempo foi uma poca
escola de belas-Artes, na Avenida Central, Rio de Janeiro.Projeto de Adolpho Morales de los Rios / 1900-1910Fonte: SAnTOS (1981, p. 79)
altamente estimulante. (Depoimento de Roberto Tibau ao autor,
em 1. de setembro de 1998)
63
As origens da ENBA
A vinda da Famlia Real ao brasil trouxe diversas novida-
des para a vida brasileira, entre elas, a Misso Francesa, que
estimulou o desenvolvimento das artes em nosso pas.
em 1816, a chamada Misso Artstica Francesa chegou
ao Rio de Janeiro trazendo, entre outros, Jean baptiste De-
bret (1768 - 1848) e Grandjean de Montigny (1776 - 1850),
primeiro professor de arquitetura do pas.
O arquiteto Auguste-Henri victor Gradjean de Montigny (1776-
1850) recebeu o ttulo de professor de arquitetura, o primeiro no
brasil. Autor de uma obra clssica sobre a arquitetura toscana
e profissional competente, seus projetos para os edifcios da
Academia de belas Artes, da Praa do Mercado, e da Alfndega
- todos destrudos, com exceo do ltimo - eram modelos de
estilo neoclssico, simples e bem proporcionados. A personali-
dade de Gradjean de Montigny moldou mais de uma gerao de
arquitetos, e sua influncia indireta atravessou vrias dcadas.
(MinDlin, Henrique. Arquitetura Moderna no brasil, Aeroplano:
Rio de Janeiro, p. 24, 1999.)
O arquiteto Abelardo Riedy de Souza (1908-1981), aluno
da enbA em 1928, registrou, num depoimento, o dia-a-dia na
escola, antes de 1930:
Podemos dividir a histria da nossa arquitetura em duas partes
ou pocas bem distintas: antes de 1930 e depois de 1930.
Antes dos anos trinta, a arquitetura brasileira era uma constante
cpia dos vrios estilos que imperavam na poca, vindos todos
de outras terras. Para a arquitetura residencial, que era o que
mais se fazia, copiava-se o espanhol; com seus grandes ava-
randados em arcos, suas janelas protegidas por grades de ferro
retorcido formando desenhos os mais variados, seus ptios inter-
nos pavimentados com lajes de pedra e um poo no meio, geral-
mente sem gua. Copiava-se tambm o mexicano, um espa-
nhol transportado para o brasil via Hollywood, sem passar pelo
Mxico. [...] (SOUzA, Abelardo Riedy de. Arquitetura no brasil.
So Paulo, Diadorim / edusp, p. 15-16, 1978.)
64
(...)
Todos esses estilos, menos o nosso colonial, eram revistas ou
livros de arquitetura que chegavam por aqui. Duas revistas que
eram, na poca, muito difundidas entre os estudantes, na sua
quase total maioria, que no podiam se dar ao luxo de comprar
as revistas estrangeiras, eram a Mi CASiTA, que se no nos en-
ganamos, era de origem argentina, e uma outra, bem brasileira,
feita por um ento aluno da enbA, seu proprietrio, seu editor,
seu redator, autor da maioria dos projetos apresentados e, tam-
bm, seu distribuidor. Alguns desses projetos eram antolgicos:
as fachadas das casas reproduziam as iniciais dos nomes dos
seus proprietrios; A para o seu Antonio, b para o seu be-
nedito, e assim por diante. (Abelardo de Souza. Arquitetura no
brasil. So Paulo, Diadorim / edusp, 1978, p. 17-18)
A enbA depois de 1930:
Graas nomeao de um ministro mineiro chamado Gustavo
Capanema para o novo Ministrio, foi feita uma outra revoluo
muito restrita nossa escola nacional de belas-Artes, onde, pelo
currculo, se deveria ensinar arquitetura. essa outra revoluo
ficou sendo chamada LUCIO COSTA.
Com a sua nomeao para a diretoria da enbA, lucio Costa,
formado pela mesma velha enbA, famoso cultor do nosso colo-
nial, conseguiu transformar um museu numa escola viva, onde
se comeava a ensinar arquitetura. essa transformao comeou
a se operar com a nomeao dos novos professores; novos na
idade e novos na mentalidade. (Abelardo de Souza. Arquitetura
no brasil. So Paulo, Diadorim / edusp, 1978, p. 26)
65
ento, em 1931, o arquiteto lucio Costa assumiu a dire-
o da enbA e chamou, para lecionar, Gregori Warchavchik,
na poca com 34 anos; Alexander buddeus, de origem ale-
m, autor do projeto do instituto do Cacau (juntamente com
Floderer), em Salvador, 1936; emlio baumgart (inovador do
processo de clculo estrutural no brasil)
Completava o quadro de professores Affonso eduardo
Reidy, na poca com apenas 20 anos.
Foram nomeados, tambm, para o corpo docente da enbA,
Felipe dos Santos Reis, catedrtico da cadeira de Resistncia
dos Materiais, da Politcnica; Mello e Souza, escritor famoso co-
nhecido como Malba Tahan, para a cadeira de Clculo integral;
edson Passos, da Politcnica, para a cadeira de Materiais de
Construo, substituindo um velho mestre que dizia que concre-
to armado era mistura de trilhos velhos com cimento e pedra.
A revoluo do ensino de arquitetura foi total. Passamos de uma
longa fase de cpias de modelos e frmulas arquitetnicas, para
a criao. O vignola foi solenemente queimado e suas cinzas
espalhadas pelas praias do Rio. (Abelardo de Souza. Arquitetura
no brasil. So Paulo, Diadorim / edusp, 1978, p. 26)
O vignola era:
o livro sagrado dos arquitetos da poca, sua bblia (...) ditador
supremo das propores, da composio das fachadas, o mestre
supremo das ordens gregas e romanas. quando eles queriam
fazer um projeto, a planta era resolvida dentro daquela simetria
indispensvel e a fachada era uma cpia exata dos cannes fi-
xados. (Abelardo de Souza. Arquitetura no brasil. So Paulo,
Diadorim / edusp, 1978, p. 18)
A partir daquele momento mgico de transformao:
passamos a estudar temas mais prticos como casa mnima,
postos de gasolina, grupos escolares, equipamentos de cozinhas
e banheiros. esses temas eram estudados em todos os seus
mnimos detalhes, observando seu funcionamento com muito
cuidado. e esta j era uma coisa que at ento ns desconhec-
amos: a FUnO das coisas que ramos chamados a projetar.
(Abelardo de Souza. Arquitetura no brasil. So Paulo, Diadorim /
edusp, 1978, p. 27)
66
eis, a seguir, uma notcia publicada no jornal A Manh:
"DeSPeJADOS OS MODeRniSTAS - lutam as duas eternas cor-
rentes da escola nacional de belas Artes: "modernistas" e "aca-
dmicos", como lhes fosse negada permisso para expor os seus
trabalhos, por no terem os mesmos sido feitos totalmente em
aulas, os modernistas carregaram as suas esculturas e as suas
pinturas, e foram organizar outra exposio, numa das lojas da
A.b.i., em meio do caminho, os acadmicos investiram contra
os dissidentes, rasgando-lhes os painis.
(A Manh, Rio de Janeiro, 1942. Arquivo eduardo Corona in
CARRAnzA, Ricardo, 2000: 100)
Ainda, segundo Paulo Ferreira dos Santos (1981: 87-8):
A dcada 1920-1930, do Ps-Guerra, caracterizou-se em todo
Ocidente por movimentos de inquietao e procura de rumos
para renovao das artes. Foi marcada pelo aparecimento de
Vers Une Architecture (1923) e LUrbanisme (1925) de le Cor-
busier, que, pela genialidade das idias e originalidade das solu-
es iniciaram uma nova era para a arquitetura e o urbanismo.
Nessa fase o Rio de Janeiro foi palco de um dos conflitos de
tendncias: de um lado as tradicionais, de outro as modernas. na
linha tradicional, depois da apurao de formas da dcada ante-
rior, entrava-se numa espcie de triagem, em que iriam disputar
a preferncia dois estilos o luis Xvi ou, num sentido mais exato,
os estilos classicizantes, variantes estlisticas de uma orientao
que j vinha desde prncpios do sculo XiX, preconizados para
os edifcios de porte monumental, e o neocolonial que, recm-
adotado em residncias, hotis e escolas, seria usado com su-
cesso em pavilhes de exposio e acabaria por penetrar tam-
bm nos edifcios de porte monumental, afirmando-se como o
estilo mais caracterstico dessa fase. A linha moderna iniciada
com a literatura, a pintura e a escultura s depois ganhou a ar-
quitetura, em que tudo no passou no Rio de Janeiro, durante a
dcada de 20-30, de artigos polmicos nos jornais e de tmidos
ensaios.
67
em 1931, a reforma conduzida pelo Arquiteto lucio Cos-
ta que assumiu a direo da enbA introduziu, no ensino, pre-
ceitos inspirados nos moldes modernistas. Porm, parte do
corpo docente, ainda acadmico, conseguiu meses depois
afast-lo da direo.
Da em diante, uma srie de inovaes, entre as quais a
insero da cadeira de Urbanismo na grade curricular provo-
cou, a partir de 1945, a separao do curso de Arquitetura da
escola nacional de belas Artes.
A Faculdade nacional de Arquitetura da Universidade do
brasil foi criada pelo Decreto n 7.918, de 31 de agosto de
1945, a partir da separao do curso de Arquitetura da esco-
la de belas Artes.
logotipo - Faculdade nacional de Arquitetura / 1945 / Rio de JaneiroFonte: lbum de formatura de Roberto Tibau
68
Os professores de Roberto Tibau
Segundo Roberto Tibau, seus professores eram um tan-
to acadmicos, mas, dentre eles, admirava principalmente o
professor Archimedes Memria (autor do edifcio do Minist-
rio da Fazenda no Rio, da Cmara Municipal e outros prdios
importantes), alm dos professores Felipe dos Santos Reis
(de Resistncia dos Materiais), Paulo Ferreira dos Santos
(de Histria da Arte no brasil e Arquitetura barroca) e quirino
Campofiorito (de Desenho):
eu tive uma admirao muito grande por um professor chama-
do Archimedes Memria. E os filhos dele so todos professores
tambm. esse cara era muito legal, porque sendo um arquiteto
neo-clssico; era uma pessoa muito compreensiva, dava muito
apoio para a gente, no era turro.
(...)
eu gostaria de lembrar tambm do meu professor de desenho,
Quirino Campofiorito. Fiquei muito emocionado, porque era a pri-
meira vez que eu desenhava assim para valer: os cavaletes, todo
Archimedes Memria e Francisque CouchetCmara dos Deputados / 1920-30 / Rio de JaneiroFonte: SAnTOS, Paulo (1981, p. 88)
mundo desenhando, ele viu e gostou muito do meu desenho,
disse que era um desenho nervoso - mas expressivo - graas
a Deus. (Depoimento de Roberto Tibau ao autor, em 1. de se-
tembro de 1998)
69
Porm, foram os arquitetos com quem trabalhou que
mais o marcaram e influenciaram do ponto de vista da arqui-
tetura.
eu gostava muitos dos meus professores mas no porque ti-
vessem influenciado do ponto de vista da arquitetura. Influncia
forte foi do Oscar como arquiteto. Arquitetos da poca, atravs
de comentar e desenhar as obras deles com os colegas e com
os prprios arquitetos. naquele tempo os arquitetos eram mais
abertos, eles no deixavam o estagirio desenhando no canto
como escravo. Conversavam, brincavam, era algo diferente. A
que a gente pegou o jeitinho da coisa. (Depoimento de Roberto
Tibau ao autor, em 1. de setembro de 1998)
naquele tempo, Oscar niemeyer (1907-) tinha escritrio
na Cinelndia e j havia participado da equipe que projetou
o Ministrio da educao e Sade (1936-1943), feito o Pavi-
lho do brasil em nova iorque (1939), o Conjunto da Pampu-
lha (1943), a Obra do bero (1937), alm de ter sido segundo
colocado nos Concursos para o estdio nacional do Rio de
Janeiro (1941) e para o edifcio sede da Abi - Associao
brasileira de imprensa (1937).
em 1946, enquanto cursava o segundo ano do curso
de Arquitetura, Tibau trabalhou como desenhista para vrios
arquitetos, iniciando seu aprendizado no escritrio de Oscar
Niemeyer, onde participou da elaborao grfica de alguns
projetos, como o do banco boavista (1946) e do Concurso
para o Centro Tcnico de Aeronutica (1947), em So Jos
dos Campos.
Sobre esse episdio:
ento ns conseguimos um bico l para desenhar e eu com mais
dois colegas fundamos uma firma, que no tinha sede prpria por
que trabalhvamos na casa do fregus. A gente saa procurando
quem precisava de desenhista. A firma chamava-se BBB, Bis-
cate, biscate, biscate (risos), e a gente saa biscateando, dese-
nhando em tudo quanto era escritrio; essa foi a minha escola.
(Depoimento de Roberto Tibau ao autor, em 1. de setembro de
1998)
70
Oscar niemeyer / edifcio do banco boavista / 1946 / Rio de JaneiroFonte: MinDlin, H. Arquitetura Moderna no brasil. Aeroplano: Rio de Janei-ro, p. 227 e 228, 1999.
Oscar niemeyer / edifcio do banco boavista / 1946 / Rio de JaneiroFonte: MinDlin, H. Arquitetura Moderna no brasil. Aeroplano: Rio de Janei-ro, p. 227 e 228, 1999.
71
Oscar niemeyer / Centro Tcnico de Aeronutica / 1947 / So Jos dos CamposFonte: bOTeY, Josep Maria. Oscar niemeyer. editorial Gustavo Gili, p. 118 e 119, 1996.
72
Oscar niemeyer / Centro Tcnico de Aeronutica / 1947 / So Jos dos CamposFonte: bOTeY, Josep Maria. Oscar niemeyer. editorial Gustavo Gili, p. 118 e 119, 1996.
73
Ainda estudante, Tibau trabalhou, tambm, com os ar-
quitetos Aldary Henriques de Toledo (1915-1998), lvaro vi-
tal brazil (1909-1997) e Francisco de Paula lemos bolonha
(1923-2006).
Tambm desenhei muito para o Aldary Toledo, que tem obras
interessantes, que trabalhou com o Affonso eduardo Reidy. Com
o Reidy propriamente no, mas fiz desenhos para ele, o concurso
do prdio da sede do Jquei Clube na Avenida Rio branco. era
um projeto lindo, uma beleza: uma planta quadrada, cada pavi-
mento, parecia uma pintura. Uma beleza, lindas aquelas plantas
e eu desenhei tudo com muito prazer. eu e mais outros com-
panheiros. (...) Tive muito contato com arquitetos daquela po-
ca, o suficiente para sair da escola me achando capaz de pegar
qualquer trabalho. Com coragem, pelo menos! (Depoimento de
Roberto Tibau ao autor, em 1. de setembro de 1998)
Alm da admirao pelo trabalho de Oscar niemeyer,
Roberto Tibau manifestou a admirao por outros arquitetos:
Aldary Toledo. eu gostava muito da arquitetura dele, no era
aquela arquitetura brilhante como a do Oscar, mais muito bem
estudada, bem resolvida. eu me lembro duma casinha que ele
fez, assim [faz um croquis] o esquema dela, eu adorei tinha uma
cobertura assim, tinha um mezanino, etc. Um cara muito bom. O
Affonso eduardo Reidy, Marcelo Roberto, so esses os arquite-
tos principais. em So Paulo eu gostei muito da obra do eduardo
Kneese de Mello e tambm do Rino levi. (Depoimento de Ro-
berto Tibau ao autor, em 1. de setembro de 1998)
O estreito contato com os principais arquitetos atuantes
naquela poca marcou significativamente Roberto Tibau e
abriu definitivamente as portas da Arquitetura Moderna em
sua vida.
essa foi sua escola.
Sua colao de grau foi realizada em 27 de dezembro de
1948. Seu diploma, expedido em 23 de maio de 1949.
A partir da, transferiu-se para a cidade de So Paulo,
onde iniciou sua vida profissional.
74
Aldary Henriques Toledo / escola Presidente Roosevelt / Rio de JaneiroFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 94-95, set. 1947.
75
Diploma do arquiteto Roberto Jos Goulart TibauFonte: Arquivo escritrio Roberto Jos Goulart Tibau
76
So Paulo - exerccio da profisso
Roberto Tibau iniciou sua vida profissional em 1949, na
Construtora Marcial Fleury de Oliveira, sendo responsvel
pela fiscalizao das obras do Conjunto Residencial do IAPB
(instituto de Aposentadoria e Previdncia dos bancrios).
esse conjunto foi construdo na Rua Santa Cruz n.
1.191, vila Mariana, para funcionrios de bancos, numa po-
ca em que os sindicatos construam moradia para seus as-
sociados.
Os primeiros moradores chegaram em 1952. So 282
apartamentos, distribudos em quarenta e sete blocos, com
seis unidades cada.
Cidade de So PauloFonte: lArchitecture daujourdhui, n. 13-14 brsil, boulogne (Seine), p. 6, set. 1947.
77
Convnio Escolar
Conforme j mencionado anteriormente, o Convnio es-
colar foi uma parceria entre a Prefeitura de So Paulo e o
Governo do Estado para suprir o dficit existente na constru-
o de prdios escolares. A Prefeitura construa os prdios e
o estado ministrava o ensino.
Tudo porque:
Uma lei federal, de 1942, retificada e ratificada em 1946 pela
Constituio, mandava que Unio, estados e Municpios aplicas-
sem, na manuteno e desenvolvimento do ensino, determinada
porcentagem da arrecadao de impostos. (eng. Jos Amadei,
O que o Convnio escolar? in Revista Habitat, n. 4, pg. 3,
1951)
Um exame da situao mostrou que:
(...) a principal causa da deficincia residia na falta de prdios
escolares. Uma simples constatao o demonstrava: 70% dos
prdios para o ensino primrio estadual eram de aluguel, adap-
tados, imprprios, a maioria sem os necessrios requisitos higi-
nico-pedaggicos. (eng. Jos Amadei, O que o Convnio
escolar? in Revista Habitat, n. 4, pg. 3, 1951)
Hlio Duarte havia sido convidado para dirigir o setor de
projeto do Convnio escolar, segundo as diretrizes pedag-
gicas de Ansio Teixeira.
(...) depois eu soube do Convnio, que estava com vaga para
arquiteto. Me apresentei l e mostrei alguns trabalhos que eu ti-
nha feito. Foi o Hlio Duarte que me recebeu. naquela ocasio,
tambm o Mange se candidatou e ns fomos ficando em carter
experimental e acabamos trabalhando l. (Depoimento de Ro-
berto Tibau ao autor, em 1. de setembro de 1998)
78
Carteira de identidade - Prefeitura Municipal de So PauloObservar categoria: Operrio de ObrasFonte: Arquivo de Roberto Tibau
79
A Revista Habitat, n 4 (1951: 3), registrou os nomes que
compuseram a pioneira Comisso do Convnio escolar:
COMiSSO DO COnvniO eSCOlAR
Presidente: eng. Jos Amadei; Presidente da Sub-Comisso de
Planejamento: arquiteto Hlio Duarte; Presidente da Sub-Comis-
so de execuo: eng. Julio Cesar lacreta.
Corpo de arquitetos: arquitetos eduardo Corona, Roberto Tibau,
Oswaldo Gonalves.
Corpo de engenheiro fiscais: engenheiros Jorge Luizello, Helio
Teheran, Marco Aurelio verlangieri, Geraldo Pires, Antonio Car-
los Pitombo, Jos vitor Oliva, luiz eduardo Gouveia e Marcelo
Mendes.
Professores representantes da Secretaria da educao: Theodo-
miro Monteiro do Amaral e Dirceu Ferreira da Silva
Chefe da contabilidade: Celso Hahne.
O editorial da revista Habitat registrou:
As escolas do Convnio so amplas, horizontais, espaosas no
meio de jardins, so um convite amigvel para as nossas crian-
as, com belssimas classes nas quais h realmente conforto e
um agradvel ensino moral e esttico. (Revista Habitat, n. 4,
1951, s/p)
O fato que:
Pela primeira vez um regular nmero de arquitetos trabalhava
para o governo, de uma forma inteiramente livre, subordinado
apenas aos princpios programticos. Foi, por este fato, uma es-
cola; nasceu, frutificou e desapareceu, mas deixou um lastro que
deve ser pesquisado em face das influncias que proporcionou.
Revista Acrpole 314 (1965 : 25)
A direo dos trabalhos ficou a cargo de Hlio Duarte,
mas suas propostas tinham afinidade com as idias do edu-
cador baiano Ansio Teixeira (190-1971), pioneiro na implan-
tao de escolas pblicas no pas. Alis, muitas das ideias
de Ansio Teixeira, foram inspiradas em John Dewey (1852-
1952). Dos trabalhos de Ansio Teixeira, merece destaque o
Centro educacional Popular (atual Centro educacional Car-
neiro Ribeiro), construdo em Salvador, dentro da proposta
da escola-Parque, ao que tudo indica pioneira do ensino in-
tegral no brasil.
80
Tempo depois, saram da equipe Oswaldo, Corona e H-
lio. entraram: Alusio da Rocha leo, Jos Augusto de barros
Arruda, Paulo Rosa, Rubens Freitas Azevedo, Antonio Carlos
de Moraes Pitombo, entre outros.
Tibau foi uma espcie de elo entre a primeira e a se-
gunda equipe do Convnio escolar. O Convnio acabou e
tornou-se Comisso de Construes escolares, que atual-
mente a EDIF - Departamento de Edificaes da Prefeitura
de So Paulo.
Sobre a sada de Hlio Duarte do Convnio:
Sua obra bemfaseja teria continuado no fra a intromisso
indevida da poltica, at ento mantida aparte. O primeiro sinal
foi quando da apropriao de 60 milhes da verba do Convnio
transferida para aplicao nas construes do Parque ibirapuera,
exatamente quando a Comisso deveria inteirar o nmero de sa-
las necesrias ao desenvolvimento do sistema escolar primrio
de So Paulo. O golpe repercutiu fundo; pouco depois, desgosto-
so com o fato, pediria demisso o arquiteto Hlio Duarte.
(Revista Acrpole n. 314, fev. 1965, p. 25)
81
Publicidade de produto utilizando o Ginsio de Santo AmaroFonte: Revista AD Arquitetura e Decorao, n. 11, jun., p. 2, 1955.
82
Eu fui ficando por aqui, criando razes, me casei; dois anos de-
pois de formado j estava casado. eu at queria casar antes mas
minha me conseguiu me segurar. era muito cuidadosa. (Depoi-
mento de Roberto Tibau ao autor, em 1. de setembro de 1998)
Roberto Tibau, quando chegou a So Paulo, foi morar na
casa de suas tias, no bairro de Perdizes. l, conheceu uma
jovem professora chamada Marilda Santos Motta.
Os dois comearam a conversar. Ficaram noivos.
Casaram-se em 08 de setembro de 1951, quando Tibau
trabalhava no Convnio escolar.
Tiveram quatro filhos: Jos Roberto, Myriam, Ricardo e
Claudia.
Os noivos Marilda Santos Motta e Roberto Jos Goulart Tibau, em So Pau-lo, 1950. Ao fundo, o estdio Municipal do Pacaembu.Fonte: lbum de famlia Roberto Tibau
83
Marilda Motta Tibau e Roberto Jos Goulart Tibau, na Cerimnia de Casa-mento, em 08 de setembro de 1951.Fonte: lbum de famlia - Roberto Tibau
84
Sociedade com Eduardo Corona
O contato entre Roberto Tibau e eduardo Corona (1921-
2001) aconteceu ainda no ambiente universitrio na enbA
- escola nacional de belas Artes, no Rio de Janeiro, onde
foram contemporneos.
eduardo Corona formou-se em 1946, dois anos antes de
Roberto Tibau (1948), porm, ambos tiveram a oportunidade
de trabalhar com Oscar niemeyer, no Rio de Janeiro.
em So Paulo, Roberto Tibau encontrou novamente
eduardo Corona, agora trabalhando no Convnio escolar.
Faltava apenas dividir um escritrio de arquitetura.
O primeiro escritrio de Roberto Tibau foi montado em
conjunto com eduardo Corona Rua baro de itapetininga,
n. 140, 8. andar.
As atividades do escritrio iniciaram-se por volta de
1951.
A Revista Arquitetura e engenharia, ano iii, n. 19, out/
dez. 1951, publicou, na seo indicador profissional, ann-
cio do escritrio Corona & Tibau, na Rua baro de itapetinin-
ga, 140, 8. andar, sala 84.
Desse perodo, o que mais projetaram foram habitaes
unifamiliares, destacando-se duas.
A primeira delas, a Residncia eugnio Santos neves,
no Pacaembu, foi laureada com medalha de ouro no Primeiro
Prmio do Governo, seo de Arquitetura, no Primeiro Salo
Paulista de Arte Moderna, em 1952.
O outro projeto, a residncia Rodolfo Mesquita Sampaio,
em Pinheiros, recebeu medalha de prata no mesmo salo.
A parceria acabou-se em 1954 e cada um seguiu seu
caminho.
A revista AD - Arquitetura e Decorao, publicou nas edi-
es: 10 (maro/abril 1955), 14 (novembro/dezembro 1955),
21 (janeiro/fevereiro 1957), 24 (julho/agosto 1957), 25 (se-
85
Indicador profissional arquitetos - Revista Arquitetura e Engenharia, ano III, n. 19, out/dez. 1951, pg. 96-97.
86
Indicador profissional arquitetos
Fonte: Revista AD Arquitetura e Decorao, n. 21, janeiro/fevereiro, 1957.
tembro/outubro 1957) e 26 (dezembro 1957) pgina com in-
dicador profissional arquitetos, apresentando os dois com
seus escritrios em endereos diferentes.
no Convnio escolar, o trabalho mais importante rea-
lizado em parceria foi, sem dvida, o projeto do Planetrio
Municipal de So Paulo, em 1953.
Alis, tal projeto, quando citado, muitas vezes omite o
nome de Roberto Tibau e Antonio Carlos Pitombo, dando o
crdito apenas a eduardo Corona.
Cabe esclarecer, de uma vez por todas, qualquer dvida
e registrar a seguinte informao: Roberto Tibau nunca exi-
giu para si, nunca disputou a autoria do projeto, porm, se
verificarmos o croqui do estudo preliminar de Corona para o
planetrio, publicado no boletim do iAb, n. 8, mar./abr. 1998,
veremos que a soluo proposta por Corona bem diferen-
te da construda. no desenho feito por eduardo Corona, a
aparncia de um edifcio elevado, sob pilotis, com um anel
externo.
87
Croqui do estudo preliminar de eduardo Corona para o PlanetrioFonte: boletim iAb-SP, n. 8, mar./abr., p. 5, 1998.
Roberto Tibau esclarece definitivamente a questo:
Justamente em 1953, voc v, nessa poca pouco depois
que foi feito o Planetrio, que ns fizemos equipe com o Corona
e com o Pitombo. naturalmente o Pitombo era um rapaz assim
mais reservado, muito boa pessoa, ele apenas acompanhou. O
Corona colaborou bastante no desenvolvimento do projeto, mas
eu fico contente de dizer que fui eu que bolei aquele negcio
que parece um chapeuzinho. (Depoimento de Roberto Tibau no
vdeo Arquitetura e Memria de vila Mariana, 2003)
88
Roberto Tibau e o IAB
Os arquitetos eduardo Kneese de Melo, Rino levi, caro
de Castro Melo, Oswaldo Corra Gonalves, Abelardo Riedy
de Souza, Roberto Cerqueira Csar, Miguel Forte, Oswaldo
bratke e Joo batista vilanova Artigas fundaram, em 06 de
novembro de 1943, o Departamento de So Paulo do institu-
to de Arquitetos do brasil.
Os arquitetos, at ento, reuniam-se no sub-solo do edi-
fcio esther.
A sede prpria, situada Rua bento Freitas 306, foi inau-
gurada em 1947.
O projeto do edifcio sede foi motivo de um concurso en-
tre os arquitetos, no qual o resultado final foi um empate entre
trs equipes.
ento, os arquitetos Abelardo Riedy de Souza, Galiano
Ciampaglia, Hlio de queiroz Duarte, Jacob Maurcio Ruchti,
Miguel Forte, Rino levi, Roberto Cerqueira Csar e zenon
Sede do iAb-SP / 1948 / So PauloFonte: MinDlin, Henrique. Arquitetura Moderna no brasil. Aeroplano: Rio de Janeiro, p. 233, 1999.
89
lotufo, membros das equipes vencedoras, uniram-se para
fazer um projeto coletivo.
O jovem Tibau associou-se ao iAb-SP em 13 de julho de
1949, sendo registrado como scio n. 198.
Associado desde que chegou a So Paulo, Roberto Ti-
bau nunca fez parte de nenhuma diretoria do iAb-SP.
em 2000, na gesto Gilberto belleza (2000-2003), a se-
o paulista do iAb pomoveu um ciclo de depoimentos, cha-
mado: Geraes de Arquitetos.
Roberto Tibau foi convidado para participar da abertura,
em 24/10/2000.
O contedo dos depoimentos foi gravado pela direo
do IAB-SP em fitas K-7.
Porm, at a concluso deste trabalho, o contedo dos
depoimentos ainda no estava disponvel para a consulta
dos interessados.
90
Arquiteto do SENAI
nos anos que se seguem ao trabalho no Convnio esco-
lar, Roberto Tibau projetou escolas para o SenAi.
O Senai - Servio nacional de Aprendizagem industrial,
foi criado pelo Decreto lei n. 4048, de 22 de fevereiro de
1942:
(...) administrado pela Confederao nacional da indstria e
mantido por uma contribuio de 1% sbre as folhas de salrios
pagos pelos empregadores. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/
jun.1960, p.17)
Distrubudos ao longo do pas, cada Senai funciona
como uma organizao:
(...) essa organizao, inteiramente autnoma, estabeleceu-se
sob forma eminentemente decentralizada. em cada regio indus-
trial foram organizados um Departamento e um Conselho, consti-
tudo ste de industrias e representantes do Gverno, para admi-
nistrao local. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/jun.1960, p.17)
A intimidade entre o SenAi e a fbrica constituiu ponto funda-
mental da organizao, a qual teve poderes para criar e modificar
os seus cursos tantas vzes quantas a experincia aconselhasse
e as frequentes transformaes fabris resultantes do prprio pro-
gresso industrial reclamassem.
Os alunos, nsse novo sistema de ensino industrial, so apren-
dizes de fbrica; isto , menores empregados pela indstria para
prestao de um servio em troca de salrio e aprendizagem de
um ofcio. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/jun.1960, p.17-18)
(...)
O SenAi foi recebido num ambiente de excelente expectativa e
ganhou, desde logo, prestgio inusitado em organizaes edu-
cacionais. O seu regime de autonomia lhe possibilitou uma ar-
rancada inicial muito rpida, que se traduziu na construo de
grandes escolas e na aquisio de equipamentos de qualidade,
em prazo relativamente curto. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/
jun.1960, p.17-18)
91
num primeiro momento,
As primeiras oficinas foram instaladas em prdios alugados ou
em barraces improvisados. logo a seguir uma sociedade cons-
trutora particular, elaborou um tipo de projeto e construiu escolas
como: a Roberto Simonsen, a Horcio Augusto da Silveira, a es-
cola e o internato de Taubat. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/
jun. p. 30, 1960.)
A escola Senai Roberto Simonsen foi uma das pri-
meiras escolas construdas.
(...) nela aparecem tdas as caractersticas mais tarde condena-
das: preocupao pela grandiosidade, e despreocupao quanto
orientao e composio volumtrica, etc. (Revista bem estar,
n. 5/6, mai/jun. p. 7, 1960)
escola Senai Roberto Simonsen / 1940 / So PauloFonte: Revista bem estar, n. 5/6, mai/jun., p.30, 1960.
92
Planta 3. piso / escola Senai Roberto Simonsen / 1940 / So PauloRua Sampaio Moreira esquina Rua Monsenhor AndradeFonte: Revista bem estar, n. 5/6, mai/jun, p. 7, 1960.
93
A partir de 1951, a preocupao era outra:
(...) a idia de construir um edfcio para nle se instalar uma
escola, cedeu lugar preocupao de se edificar uma escola, a
escola para o aluno, a qual deveria atender a todos os requisitos
da pedagogia moderna e ser capaz de colocar o aprendiz em am-
biente especialmente preparado para satisfazer aos anseios de
sua personalidade de menino-homem. Tudo isso lhe despertaria
to profundo interesse pelos estudos que aquele mesmo apren-
diz sentir-se-ia feliz em fazer qualquer sacrifcio para completar
seu curso.
Obedecendo a essa diretriz, o Servio de Obras deste Depar-
tamento Reginal, equacionando todos os problemas relativos a
filosofia educacional do SENAI e contando com a colaborao
de arquitetos especialmente contratados, iniciou o projeto de
suas novas escolas. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/jun, p. 30,
1960.)
em seguida, foi criado o Servio de Obras do Se-
nai,
(...) com a incumbncia de projetar e construir as escolas, con-
tinuou-se a faz-lo com o mesmo esprito e os mesmos modelos
arquitetnicos, at o ano de 1950. (Revista bem estar, n. 5/6,
mai/jun, p.30, 1960.)
Poderamos, ento, dizer que, at 1950, a arquitetu-
ra das escolas SenAi
(...) se caracterizou pela imponncia de suas linhas e pela uni-
formidade de suas fachadas padronizadas. (Revista bem estar,
n. 5/6, mai/jun, p. 30, 1960.)
Porm, a esperada transio aconteceu:
Aos poucos tomou-se, porm, conscincia de necessidade de
particulares normas estticas, estruturais e funcionais, a serem
observadas nos edifcios destinados ao ensino industrial; nasce-
ram, ento, as primeiras escolas com as caracteristcas prprias
da nova arquitetura. (Revista bem estar, n. 5/6, mai/jun, p. 30,
1960.)
94
Assim, foram surgindo os projetos das novas escolas do
Senai.
Os primeiros projetos foram elaborados pelos arquitetos:
Hlio de queiroz Duarte (1906-1989), ernest Robert Carva-
lho Mange (1922-2005), lucio Grinover (1934-) e Roberto
Jos Goulart Tibau (1924-2003), alm da arquiteta paisagis-
ta, Ayako nishikawa (1933-)
Os projetos das primeiras escolas SenAi foram publica-
dos em diversos peridicos. A revista Habitat, n. 12 de 1953,
j trazia publicados os projetos das novas escolas SenAi,
elaborados pelos arquitetos acima citados.
Destes arquitetos, apenas lucio Grinover no atuou no
Convnio escolar.
Tibau trabalhou por alguns anos como funcionrio do
SenAi e chegou inclusive a dirigir o setor de projetos.
Dessa poca, destacam-se os projetos das escolas Pro-
fissionalizantes de Bauru (1953), Santos (1956) e Jundia
(1957).
A seguir, citamos alguns dos aspectos considerados
quando da necessidade de uma nova escola SenAi:
Sob o ponto de vista urbano, a escolha do local feita com base
em outros critrios que so responsveis, inicialmente, pelo bom
rendimento dos cursos: 1) deve o local ser de fcil acesso, prxi-
mo de diferentes meios de conduo. 2) deve situar-se em zona
industrial. 3) deve localizar-se em terreno suficientemente grande
para permitir reas de recreao e futuras ampliaes decorren-
tes das necessidades das indstrias locais. (Revista bem estar,
n. 5/6, mai/jun.1960, p. 29)
95
Maquete da escola Senai de bauruRoberto Tibau / escola Senai de bauru / 1953 / bauru - SPFonte: Revista Habitat n. 12, p. 17, setembro, 1953.
A escola SenAi de bauru, cujo projeto original datado
de 05/01/1953, hoje chamada escola SenAi Joo Martins
Coube. Seu projeto foi publicado em dois peridicos da po-
ca: Revista Acrpole 258 (1960: 130-133) e Revista Habitat
12 (1953:16).
Inaugurada em 1957, fica na Rua Virglio Malta, com fa-
chada principal voltada para a face leste, alm de uma pe-
quena marquise, destacando o acesso oficina.
importante ressaltar que o jovem Tibau, com apenas
29 anos, previu um painel artstico na fachada. As fotos da
maquete demonstram, no entanto, que o painel no foi rea-
lizado.
As escolas de So Caetano, bom Retiro e Campinas
foram feitas tambm por Tibau, mas como profissional aut-
nomo.
96
Ligao oficinas-salas de aula
Hlio Duarte e ernest Robert de Carvalho Mangeescola SenAi Anchieta / 1954 / So PauloFonte: Revista Acrpole, n. 197, p. 220-222, maro, 1955.
Situao geral e planta pavimento superiorHlio Duarte e ernest Robert de Carvalho Mangeescola SenAi Anchieta / 1954 / So Paulo - SPFonte: Revista Acrpole, n. 197, p. 220-222, maro, 1955.
97
Sobre a escola Senai Anchieta, ressaltamos o as-
pecto inerente ao partido arquitetnico, cuja obra reflete
um ponto bsico da pedagogia Senai:
o partido escolhido de paralelismo das duas massas principais
(aulas e oficinas), ligadas funcional e plsticamente, acusa uma
inteno definida: no separar o mundo terico do mundo prti-
co. (Revista Acpole, n. 197, p. 222, mar. 1955)
Os esforos, os recursos que o Servio nacional de Aprendiza-
gem industrial emprega no seu programa visam justamente sse
desenvolvimebnto e a emancipao do pas, num dos aspectos
bsicos: a formao e o treinamento de mo de obra qualificada."
(Revista bem estar 5/6, pg. 31, maio/junho, 1960)
Hlio Duarte e ernest Robert de Carvalho Mangeescola SenAi Anchieta / 1954 / So PauloFonte: Revista bem estar n. 5/6, p. 13, maio/junho, 1960.
98
A revista AD - Arquitetura e Decorao (10), maro/abril,
1955, publicou o projeto da escola SenAi de Construo Ci-
vil, Rio de Janeiro (RJ), de autoria dos irmos Roberto, cuja
explicao do partido arquitetnico guarda semelhana com
o projeto da escola Anchieta (SP), quanto a integrao inte-
rior-exterior.
Croquis e partido arquitetnicoM.M.M. Roberto / escola Senai Construo Civil / Rio de Janeiro - RJFonte: Revista AD Arquitetura e Decorao, n. 10, mar./abr. 1955.
99
Sobre o trabalho no SENAI, Lucio Grinover afirmou:
O SenAi foi o maior laboratrio de arquitetura que eu pude fe-
quentar. l, faziamos todo tipo de experincia. (Depoimento de
lucio Grinover ao autor em 11/02/2011)
entre as diversas experincias realizadas, destacamos
a belssima escola SenAi de Sorocaba, de autoria do prprio
lucio Grinover, na qual:
(...) pela primeira vez, estudava-se uma construo em casca
de concreto armado, o parabolide hiperblico. iniciava-se um
tipo de construo que, pela delicadeza e preciso requeridas,
antecipava-se pr-fabricao de elementos estruturais numa
obra de grande porte. estudou-se uma frma de madeira comple-
tamente desmontvel, de reaproveitamento total para concreta-
gem do parabolide hiperblico seguinte. (Revista Acrpole, n.
314, fevereiro, 1965, pg. 39)
De acordo com lucio Grinover, o fato da escola possuir
essas caractersticas reflete, tambm, a importncia do en-
genheiro que calculou o projeto.Fachada externa e interior da oficina
lucio Grinover / escola Senai Sorocaba / 1958 / Sorocaba - SPFonte: Revista Acrpole, n. 314, fevereiro, pg. 39, 1965.
100
Planta de situao e Corte esquemticolucio Grinover / escola Senai Sorocaba / 1958 / Sorocaba - SPFonte: Revista Acrpole, n. 314, fevereiro, 1965, pg. 39
101
Professor da FAUUSP,aulas de Plstica e Projeto
O professor Hlio Duarte era responsvel por uma dis-
ciplina das chamadas Composies de Arquitetura na Fa-
culdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So
Paulo.
Convidou Roberto Tibau, em 1957, para ser professor
assistente na disciplina complementar Plstica iv, que vi-
sava aprofundar as questes estticas da arte aplicada com
exerccios de projeto de sepultura, concha acstica, coisas
de simples funo, mas com valor esttico expressivo, traba-
lhos intermedirios entre a arquitetura e a escultura.
eu dei, por exemplo, uma pesquisa da esttica na obra de le
Corbusier e foi um dos trabalhos mais interessantes, eu me lem-
bro do trabalho do Abraho Sanovicz, muito bonito, muito bem
feito. (Depoimento de Roberto Tibau ao autor, em 1. de setem-
bro de 1998)
Hlio Duarte tinha dois assistentes: um de Projeto e ou-
tro de Plstica, mas na verdade, as aulas eram dadas em
conjunto. O outro assistente era Plnio Croce.
A respeito do trabalho de Plnio Croce:
eu muitas vezes acompanhei o trabalho do Plnio Croce junto
com os alunos, admirava muito a versatilidade dele de resolver
detalhes na hora, muito bom, pena que morreu relativamente
moo, perdeu o filho de maneira trgica, e pouco depois ele se
foi. Foi assim a histria. (Depoimento de Roberto Tibau ao autor,
em 1. de setembro de 1998)
102
A disciplina teve fim com a Reforma de 1962 e Tibau
passou a lecionar a disciplina de Projeto.
no decorrer dos anos, Tibau lecionou em diversas dis-
ciplinas.
A partir de 1978 passou, tambm, a lecionar no curso de
Ps-Graduao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Aposentadoria na FAU
em 1987, depois de trabalhar durante trinta anos no ma-
gitrio, Tibau pediu a aposentadoria da FAU.
Poderia ficar at com