Roma

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História de Roma

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Tito Flvio Domiciano (em latim: Titus Flavius Domitianus[1] ; 24 de outubro de 51 18 de setembro de 96), habitualmente conhecido como Domiciano, foi imperador romano de 14 de setembro de 81 at a sua morte a 18 de setembro de 96. Tito Flvio Domiciano era filho de Tito Flvio Sabino Vespasiano com sua mulher Domitila e irmo de Tito Flvio, a quem ele sucedeu.A sua juventude e os comeos da sua carreira transcorreram sombra do seu irmo Tito, que alcanou considervel renome militar durante as campanhas na Germnia e Judeia dos anos 60. Esta situao manteve-se durante o reinado do seu pai Vespasiano, coroado imperador a 21 de dezembro de 69, aps um longo ano de guerras civis conhecido como o ano dos quatro imperadores. Ao tempo em que o seu irmo gozou de poderes semelhantes aos do seu pai, ele foi recompensado com honras nominais que no implicavam responsabilidade alguma. morte do seu pai a 23 de junho de 79, Tito sucedeu-lhe pacificamente, mas o seu curto reinado finalizou abrupta e inesperadamente sua morte por doena, a 13 de setembro de 81. Ao dia seguinte, Domiciano foi proclamado imperador pela guarda pretoriana. O seu reinado, que duraria quinze anos, seria o mais longo desde o de Tibrio.As fontes clssicas descrevem-no como um tirano cruel e paranoico, localizando entre os imperadores mais odiados ao comparar a sua vileza com as de Calgula ou Nero. Porm, a maior parte das afirmaes a respeito dele tm a sua origem em escritores que foram abertamente hostis para com ele: Tcito, Plnio, o Jovem e Suetnio. Estes homens exageraram a crueldade do monarca ao efetuar adversas comparaes com os cinco bons imperadores que o sucederam. Como consequncia, a historiografia moderna recusa a maior parte da informao que contm as obras destes escritores ao consider-los pouco objetivos.[2] descrito como um autocrata despiedado, mas eficiente, cujos programas pacficos, culturais e econmicos foram precursores do prspero sculo II, comparado com o turbulento crepsculo do sculo I. A sua morte marcou o final da dinastia flaviana, bem como a instaurao da dinastia antonina.Nascido a 24 de outubro de 51, foi o terceiro filho de Tito Flvio Sabino Vespasiano e Domitila Maior.[3] Os seus irmos eram Domitila Menor (nascida em 39) e Tito Flvio Vespasiano Augusto (nascido o mesmo ano que a sua irm e conhecido popularmente como Tito).As dcadas de guerra civil que aoitaram o imprio ao longo do sculo I a.C. contriburam enormemente decadncia da velha aristocracia romana, que foi gradualmente substituda no poder por uma nova nobreza provincial durante a primeira parte do sculo I.[4] Uma dessas famlias foi a dos Flvios, ou gens Flavia, que se elevou desde uma obscuridade relativa at a proeminncia em apenas quatro geraes, adquirindo considervel riqueza e influncia sob o reinado dos imperadores da dinastia jlio-claudiana. O bisav de Domiciano, Tito Flvio Petro, serviu como centurio sob as ordens de Cneu Pompeu Magno durante a Segunda Guerra Civil da Repblica de Roma. A sua carreira militar terminou quando Pompeu foi derrotado de maneira esmagadora por Jlio Csar na Batalha de Farslia.[3]Contudo, Petro conseguiu melhorar a sua situao casando-se com Trtula, uma mulher sumamente rica, cuja fortuna garantiu a ascenso do filho de ambos, Tito Flvio Sabino, o av de Domiciano.[5] O mesmo Sabino amassou uma grande riqueza como arrecadador de impostos na provncia de sia e como banqueiro na Helvcia. Ao casar-se com Vespsia Polio, aliou-se com uma das famlias patrcias de maior avoengo aristocrtico. A riqueza e a linhagem dos filhos de Vespsia Polio e Tito Flvio Sabino II garantiram a ascenso dos seus filhos, Vespasiano e Tito Flvio Sabino, classe senatorial.[5]A carreira poltica de Vespasiano compreendeu os cargos de questor, edil, pretor, culminando em um consulado em 51, ano de nascimento de Domiciano. Vespasiano alcanou a glria militar merc sua destacada participao na invaso da Britnia.[6] Embora as fontes antigas aleguem a pobreza da famlia Flvia durante a poca do nascimento de Domiciano,[7] e at mesmo sugestionam que os Flvios caram em desgraa durante os reinados de Calgula (37 - 41) e Nero (54 - 68),[8] historiadores modernos como Jones afirmam que estes relatos constituem somente uma parte da campanha propagandstica realizada durante os reinados dos imperadores pertencentes dinastia flaviana. Tal campanha tinha como fim minar a popularidade destes impopulares imperadores e gabar a do imperador Cludio (41 - 54) e a do seu filho Britnico.[9] Aparentemente, o favor imperial para os "Flvios" foi considervel ao longo do perodo compreendido entre 40 e 60. Enquanto Tito recebia uma extraordinria educao na corte imperial junto a Britnico, Vespasiano acedia a importantes magistraturas civis e militares.Aps estar retirado da vida pblica durante a dcada de 50, Nero nomeou Vespasiano como procnsul de frica em 63 Acompanhou o imperador em uma viagem a Grcia em 66.[10] Aps o incio da primeira guerra judaico-romana, na provncia de Judeia, o imperador designou Vespasiano comandante dos exrcitos ali estacionados[11] . Domiciano tinha quinze anos na ocasio. Ao finalizar a sua formao militar, Tito uniu-se ao seu pai e dirigiu uma das suas trs legies durante a campanha.[12]Adolescncia e carterJ em 66 fazia tempo que haviam morrido tanto a me como a irm de Domiciano, enquanto o seu pai e o seu irmo lideravam os exrcitos da Germnia e da Judeia. Tudo isso motivou que passasse a maior parte da sua adolescncia sem os seus parentes mais prximos. Durante a primeira guerra judaico-romana, Domiciano ficou ao cuidado do seu tio Tito Flvio Sabino, que era prefeito urbano de Roma. provvel que Marco Coceio Nerva, que seria o seu sucessor no trono, o tomasse sob a sua proteo.[11] Recebeu uma educao privilegiada, digna de um jovem procedente da classe senatorial; estudou retrica e literatura. Suetnio, na sua obra Vidas dos Doze Csares escreveu sobre a capacidade que tinha para citar frases de grandes poetas como Homero ou Virglio nas ocasies adequadas,[13] [14] e descreve-o como um adolescente culto e educado, capaz de conversar de um modo muito elegante.[15] As suas primeiras obras publicadas foram poemas, bem como tratados sobre a lei e administrao. Ao contrrio do seu irmo Tito, no foi criado propriamente na corte imperial, nem parece que recebesse uma educao militar formal; embora Suetnio o descreva como um atirador destro.[16] Busto de Domiciano nos Museus Capitolinos , Roma.Suetnio, alm disso, consagrou uma parte importante da sua biografia a falar da personalidade de Domiciano, e proporciona uma detalhada descrio do seu carter e aparncia fsica.Domiciano era de elevada estatura, semblante modesto, cute rosado e olhos grandes, embora suaves; era formoso e aposto, sobretudo na juventude, embora tivesse os dedos dos ps muito curtos. Mais adiante a este defeito uniram-se outros: cabea calva, ventre enorme e pernas extraordinariamente delgadas, e enfraquecidas ainda por longa doena.[17]

Aparentemente, a sua calvcie envergonhava-o tanto que em etapas posteriores tratou de dissimul-la com o emprego de perucas.[18] Sempre segundo Suetnio, obsedou-se tanto que chegou a escrever um livro a respeito do cuidado do cabelo.[17] A respeito da sua personalidade, os escritos de Suetnio alternam bruscamente entre uma descrio imperador-tirano, o de um homem fsica e intelectualmente preguioso ou o de um imperador de carter refinado e de grande inteligncia.[19] Brian Jones conclui na sua obra, The Emperor Domitian, que complicado falar a respeito da verdadeira natureza da personalidade de Domiciano por causa da parcialidade das fontes sobreviventes.[19] Segundo sugestionam as partes comuns das fontes sobreviventes, provvel que carecesse do carisma natural do seu irmo e do seu pai, que era propenso a suspeitar das pessoas, e que tinha um estranho e ocasionalmente auto-depreciativo senso do humor.[20] [21] A natureza do seu carter viu-se agravada pela sua tendncia ao isolamento. medida que passavam os anos, esta tendncia acentuou-se at o ponto de se comunicar de modo crptico ou at mesmo parar de manter contato com ningum. Talvez isto fosse consequncia da sua infncia, transcorrida longe dos seus familiares mais prximos.[11] Alis, quando tinha dez e oito anos, a maior parte dos seus familiares prximos tinham morrido em combate ou de doena. Por outro lado, e como consequncia de passar quase toda a sua juventude sob o reinado de Nero, os seus anos de educao estiveram fortemente influenciados pela agitao poltica da poca, que culminou na guerra civil de 69 que levaria a sua famlia ao poder.Ascenso da dinastia flavianaAno dos quatro imperadores O Imprio Romano durante o ano dos quatro imperadores, as provncias azuis indicam as regies leais a Vespasiano.Ver artigo principal: Ano dos quatro imperadoresA 9 de junho de 68, entre a crescente oposio do senado e o exrcito, Nero suicidou-se, terminando assim com a dinastia jlio-claudiana e desencadeando uma devastadora guerra civil conhecida como o ano dos quatro imperadores. Em tal guerra, os quatro generais mais influentes do Imprio Romano -Galba, Oto, Vitlio e Vespasiano - disputaram sucessivamente o controlo do mesmo. Informado da morte do ltimo Jlio-Cludio, bem como da nomeao como imperador de Srvio Sulpcio Galba, ento governador da Hispnia Tarraconense, o futuro imperador decidiu pausar a sua campanha e enviar o seu filho Tito a apresentar os seus respeitos ao novo imperador.[22]Antes de atingir a provncia da Itlia, Tito foi informado do assassinato de Galba e de que Oto fora nomeado sucessor. Nada mais iniciar o seu reinado, o ex-governador da Lusitnia teve de fazer face rebelio de Vitlio e as suas legies germanas. O rebelde foi coroado imperador pelas suas tropas e iniciou uma marcha sobre Roma. No querendo arriscar-se a ser capturado por nenhum dos dois bandos, Tito suspendeu a viagem e voltou para Judeia junto ao seu pai.[23]Oto e Vitlio eram cientes da ameaa que representava Vespasiano. Com quatro legies sua disposio, liderava uma fora composta por cerca de 80.000 soldados. Alm disso, a sua slida posio em Judeia conferiu-lhe-ia a vantagem de ficar prximo da provncia do Egito, territrio vital que controlava o fornecimento de cereais da capital. Paralelamente, o seu irmo, Tito Flvio Sabino, era prefeito urbano, pelo qual controlava o destacamento militar estacionado na cidade.[24] Apesar de se acrescentar a tenso entre as suas tropas, decidiu no atuar enquanto Galba e Oto detiveram o poder. Contudo, depois da derrota de Oto na batalha de Bedraco,[25] e do seu nobre suicdio, os exrcitos da Judeia e Egito decidiram agir e nomearam imperador a Vespasiano a 1 de julho de 69.[26] Vespasiano aceitou e, aps duras negociaes, Tito obteve o apoio do governador da Sria, Muciano; esta unio representava a formao de uma imponente fora no leste .[27] Ao mesmo tempo que Vespasiano se mudava para Alexandria com o fim de se assegurar o controlo da provncia egpcia, Tito ficou no comando do conflito que os enfrentava com os judeus sediciosos. Por tudo isso, sobre Muciano recaiu a tarefa de tomar Roma.[28] [29] Rplica do sculo XVI de um busto de Vitlio. Museu do Louvre (Paris).Em Roma, Vitlio ps a Domiciano sob priso domiciliar a fim de poder empreg-lo como refm frente do iminente ataque de Muciano capital.[30] A situao do imperador era desesperada, pois os seus soldados desertaram em massa para as filas do seu adversrio. A 24 de outubro de 69, os dois exrcitos enfrentar-se-iam na Bedraco. A batalha finalizou com uma esmagadora vitria sobre os soldados vitelianos.[31] Aps a sua derrota, Vitlio tratou de assinar um tratado no que renunciava ao trono voluntariamente; porm, os pretorianos impediram-no.[32]A manh de 18 de dezembro o imperador encaminhou-se para o Templo da Concrdia de modo a depositar a insgnia imperial; porm, no ltimo momento virou-se e regressou para o Palcio Imperial. Acreditando a Vitlio fora de jogo, os estadistas mais influentes da capital reuniram-se na casa de Flvio Sabino[33] e proclamaram Vespasiano imperador. Mas as tropas de Vitlio atacaram a escolta de Sabino obrigando-a a se refugiar no monte Capitolino.[34] Embora Muciano se acercasse a Roma, os familiares de Vespasiano no foram capazes de resistir ao assdio. Na manh seguinte, as tropas imperiais irromperam na Cidadela do Capitlio. Sabino caiu vtima da escaramua que aconteceu.[35] Domiciano conseguiu escapar disfarando-se de adorador de sis e passou a noite na casa de um dos simpatizantes do seu pai.[36] A 20 de dezembro Vitlio e os seus exrcitos foram derrotados e os seus oficiais executados pelas tropas de Vespasiano. Sem nada que temer, Domiciano apresentou-se s foras invasoras, que o aclamaram como csar e o conduziram casa do seu pai.[37] A 21 de dezembro o senado proclamou oficialmente Vespasiano como imperador, terminando assim com este sangrento ciclo de guerras civis.[38] Finalizara o ano dos quatro imperadores; comeava o reinado de Vespasiano.Consequncias do conflito A conspirao de Caio Jlio Civil,
por Rembrandt (1661).Embora a guerra civil finalizasse oficialmente, um estado de anarquia apoderou-se da capital durante os primeiros dias aps o falecimento de Vitlio, porm Muciano restaurou a ordem em princpios de 70. Pela sua vez, Vespasiano no acudiria a Roma at setembro daquele ano.[36] Na ausncia do seu pai e o seu irmo, Domiciano agiu como representante dos Flvios no senado, cujos integrantes lhe outorgaram o ttulo de csar e o nomearam pretor com poderes proconsulares.[39] Porm, o seu poder e autoridade eram puramente nominais, presgio do papel que desempenharia ao longo dos seguintes doze anos. Todas as fontes afirmam que era Muciano o que possuiu o verdadeiro poder na falta do imperador. O ex-governador da provncia da Sria no permitiu que um jovem de dezoito anos ultrapassasse os limites da sua funo simblica.[39] Tcito descreve o seu primeiro discurso ante os senadores como um informe breve e moderado.[40] Para control-lo, uma estreita vigilncia foi mantida sobre o squito do csar. Alm disso, os militares mais influentes, como rrio Varo, prefeito pretoriano, ou Antnio Primo, comandante dos efetivos do imperador em Bedraco, foram enviados a perigosas misses nas provncias afastadas e substitudos por homens facilmente controlveis como Arrecino Clemente.[39]Assim como fizera com as ambies polticas de Domiciano, Muciano afundou tambm suas aspiraes militares. O ano dos quatro imperadores causara uma grande instabilidade nas provncias, conduzindo a uma srie de rebelies lideradas por regimes locais.Na Glia, comandados por Caio Jlio Civil, os Batvios, efetivos auxiliares das legies do Reno, desertaram e uniram-se aos trveros de Jlio Clssico. Desde a capital enviaram-se sete legies comandadas pelo cunhado do imperador, Quinto Petlio Cerial, que submeteu depressa os sediciosos. Apesar disso, Muciano viu-se forado a marchar com as suas prprias tropas zona afetada como consequncia dos exagerados informes que recebera. O csar tratou ento de atingir uma reputao como militar, para o que se uniu aos oficiais com a esperana de lhe ser concedido o comando de uma legio. Tcito escreve que Muciano no confiava em Domiciano, se bem que preferia que permanecesse perto dele, onde puderia control-lo, em lugar de em Roma.[41] Quando chegaram as notcias da vitria de Cerial, Muciano tentou dissuadir o filho do seu aliado de perseguir a fama militar.[42] Contudo, Domiciano decidiu escrever diretamente a Cerial, ao que sugeriu que lhe traspassasse o comando do exrcito. Advertido por Muciano, este voltou a recusar.[43] A chegada do seu pai cidade afastou-o definitivamente da poltica. Passou os anos seguintes dedicando-se s artes e literatura.[43]MatrimnioVer artigo principal: Domcia Longina Busto de Domcia Longina, no Museu do Louvre. O peculiar penteado era popular durante a dinastia flaviana.Fracassada a sua carreira poltica e militar, o futuro imperador focou-se nos assuntos que afetavam a sua vida domstica. Vespasiano tentou concertar um matrimnio entre o seu filho menor e a filha de Tito, Jlia Flvia.[44] Contudo, este estava to profundamente enamorado de Domcia Longina que conseguiu convencer o seu marido, Lcio lio Lmia, de que se divorciasse dela.[44] Vespasiano, embora a princpio se ops a esta unio, cedeu ao ver o benfica que seria para ambas as famlias. Longina era filha de Cneu Domcio Crbulo, um militar competente e poltico respeitado, que foi assassinado por ordens de Nero aps o insucesso da Conspirao de Piso. Atravs deste matrimnio no somente ficariam restabelecidas as conexes com a oposio senatorial, mas tambm se reforaria a campanha propagandstica que visava a ocultar o sucesso experimentado pela carreira poltica de Vespasiano durante o reinado do odiado imperador. Os oficiais imperiais manipularam a informao a fim de criar falsas ligaes com os falecidos Cludio e Britnico. Reabilitaram-se as propriedades das vtimas dos excessos de Nero.[45]Aparentemente o casal foi feliz,[46] embora se visse obrigado a tolerar constantes acusaes de adultrio e divrcio.[46] Em 73, nasceu o nico filho do casal, que faleceria em 81.[47] Jones acredita que esta foi a razo pela qual em 83 Domiciano exilou a sua esposa sob acusaes de infertilidade.[48] Contudo, faria-a voltar, talvez por amor ou com o objeto de fazer calar os rumores que o relacionavam com a sua sobrinha, Jlia Flvia.[49] desconhecido se teve algum filho ilegtimo, mas nunca voltou-se a casar. Aps suceder no trono ao seu irmo, outorgou sua esposa o ttulo honorfico de Augusta e forou o senado a deificar o seu filho. Esta informao procede da gravura presente no reverso de uma moeda expedida durante o seu reinado.[50]Herdeiro de carter formal. Ascenso ao trono Triunfo de Tito, leo de Lawrence Alma-Tadema, 1885,[nota 1] /[51] [nota 2] [47]Em junho de 71 Tito regressou para a capital, aps derrotar os sediciosos que se rebelaram na Judeia. O conflito saldara-se com a captura ou falecimento de ao redor de um milho de pessoas, das quais a maioria eram judaicas.[52] Foi destrudo Jerusalm e o seu templo, sendo capturadas e escravizadas 100.000 pessoas.[52] A fim de recompensar a sua vitria, o senado concedeu a Tito um triunfo. Durante a celebrao do mesmo, os membros da dinastia flaviana apresentaram-se frente do povo romano precedidos por um desfile no que era exibida a pilhagem de guerra.[53] cabea da procisso iam Tito e Vespasiano, seguidos por Domiciano - em lombo de um semental branco - e o restante da famlia.[54] Aps executar os lderes da resistncia judaica no Frum Romano, foram realizados sacrifcios religiosos no Templo de Jpiter.[53] A fim de comemorar a vitria de Tito foi ordenada a construo do Arco de Tito, sito na entrada sudeste do frum.O regresso do seu irmo deu ao manifesto a insignificncia de Domiciano, tanto militar como politicamente. Na sua condio de primognito e merc sua experincia, Tito foi designado cnsul em sete ocasies, censor em uma, e, alm disso, foi-lhe concedida o poder tribuncio (tribuncia potestas) e o comando do corpo de segurana imperial, a guarda pretoriana; tudo isso durante o reinado do seu pai.[55] Por outro lado, estas concesses confirmavam que Tito era o herdeiro do imprio.[56] A Domiciano foram-lhe concedidos os ttulos honorficos de csar ou prncipe da juventude (princeps iuventis), alm de vrios sacerdcios como o de ugure, pontfice, os irmos arvais, mestre dos irmos arvais (magister frater arvalium) e sacerdote de todos os colgios (sacerdos collegiorum omnium),[57] embora nenhum cargo com imperium. Exerceu um consulado ordinrio em 73 e cinco consulados sufectos em 71, 75, 76, 77 e 79, substituindo quase sempre no posto ao seu pai ou ao seu irmo em meados de janeiro. Durante os reinados de ambos no obteve nenhum cargo pblico de importncia.[57] Por outro lado, e embora os seus cargos fossem mais formais do que materiais, esses postos serviram sem dvida para que Domiciano adquirisse uma valiosa experincia tratando com o senado.[57] Muciano, estreito colaborador do seu pai durante o ano dos quatro imperadores, desapareceu completamente da vida pblica e provvel que falecesse em 75/77.[58] O verdadeiro poder concentrou-se nas mos de Vespasiano, Tito, e os seus aliados polticos; o senado foi mantido como uma falsa fachada de democracia.[59]A eficcia de Tito como "co-imperador" do seu pai garantiu que aps a morte deste (23 de junho de 79)[60] se produzisse uma sucesso pacfica e com poucos cmbios. Tito assegurou ao seu irmo que seria designado para desempenhar cargos de importncia durante o seu reinado, embora no o investisse com o poder tribuncio nem lhe concedesse cargo com imperium.[61] De todas formas, se bem que Tito pudesse ter em mente outorgar ao seu irmo cargos pblicos de importncia, vrios acontecimentos durante o seu reinado requiriram toda a sua ateno. A 24 de agosto de 79 o Vesvio entrou em erupo,[62] enterrando sob metros de cinza e lava as cidades de Pompeia e Herculano. No ano seguinte estourou um incndio na capital que danou uma parte importante dos edifcios pblicos.[63]Por tudo isso, Tito passou grande parte do seu reinado visando a restaurar as propriedades das vtimas. A 13 de setembro de 81, aps dois anos no trono, o irmo de Domiciano faleceu por causa de umas febres que contrara durante uma viagem ao territrio dos sabinos.[64]As fontes clssicas implicam a Domiciano nesta morte, acusando-o diretamente de assassinato,[65] ou afirmando que abandonou o seu irmo quando este se encontrava muito enfermo.[54] [66] A veracidade destas histrias, sobretudo considerando a subjetividade das fontes coetneas, difcil de avaliar.[66] muito provvel que o afeto fraternal fosse mnimo, fato nada surpreendente, pois apenas se conheciam entre eles.[61] Independentemente da natureza desta relao, Domiciano nunca mostrou muita preocupao pelo seu irmo moribundo.Um dia depois do falecimento de Tito, o senado proclamou Domiciano como imperador e concedeu-lhe poderes tribuncios (tribunicia potestas), o cargo de pontfice mximo, e os ttulos de augusto e pai da ptria.ImperadorAdministraoComo imperador, Domiciano ps pronto fim falsa fachada de democracia republicana estabelecida pelo seu pai e estimulada durante o reinado do seu irmo.[67] Fez do senado uma instituio obsoleta ao concentrar nas suas mos os poderes governamentais. margem do seu poder poltico, o seu papel como imperador abrangia os aspectos da vida cotidiana da sociedade romana.[67] Constitua o referente cultural, bem como a autoridade moral.[68] Ao embarcar-se numa srie de ambiciosos projetos econmicos, militares e culturais destinados a restabelecer a glria que experimentou o imprio durante o reinado de Augusto,[69] marcou o caminho para uma nova poca de prosperidade imperial dirigida pelo governo dos "cinco bons imperadores".Apesar dos seus revolucionrios projetos, estava determinado a governar o imprio conscienciosa e escrupulosamente; deste jeito implicou-se pessoalmente em todas os ramos da administrao imperial.[70] Os ditos publicados durante o seu reinado afetavam os aspectos da vida privada dos romanos, enquanto os impostos, as leis e a moral pblica eram aplicados de maneira rigorosa. Segundo Suetnio, a burocracia imperial nunca se desempenhou de maneira to eficiente que durante o seu perodo como imperador; a sua opressiva exigncia e a sua predisposio suspeita provocaram os nveis mais baixos da histria relativos corrupo existente entre os governadores provinciais e os funcionrios pblicos eleitos.[71] Entre os exemplos de zelo pelo controlo governamental nas provncias encontra-se o processo contra o procnsul Baebius Massa, governador da provncia Btica, quem segundo Plnio, o Jovem, foi acusado de concusso durante o reinado de Domiciano.Embora no atacasse o senado de maneira expressa, os integrantes da cmara consideravam indigno a posio que foram relegados pela poltica do imperador. Quanto aos cargos pblicos, no houve quase nenhum tipo de favoritismo por motivos familiares, mas foram distribudos entre os seus homens de confiana. Desse modo rompia com a poltica nepotista praticada por Tito e Vespasiano.[72] hora de assinar os ofcios valorizava acima de tudo a lealdade e a maleabilidade, qualidades que encontrou mais entre os homens pertencentes ao ordo equester que entre os senadores ou os seus familiares, dos quais desconfiava e aos que destitua se no estavam de acordo com a poltica imperial.[73]A sua autocracia acentuou-se com o fato de permanecer longos perodos de tempo fora da capital, comparveis aos de Tibrio em Capri ou Rodes.[74] Apesar de o poder do senado ter diminudo consideravelmente aps a queda da ordem republicana, durante o reinado de Domiciano o poder central no parecia encontrar-se na capital imperial, mas no lugar no que ele se encontrasse.[67] De fato, os membros da corte imperial habitaram em Alba ou Circeu at ser completada a construo do Palcio Flvio, localizado no Monte Palatino. O imperador viajou por todas as provncias ocidentais do imprio, permanecendo trs anos na Germnia e Ilria. Nessas provncias, combateu as tribos que ameaavam os seus territrios.[75]Economia Domiciano revalorizou a moeda ao aumentar em cerca de 12% o contedo de prata de cada denrio. Esta moeda comemora a deificao do seu filho, falecido por volta de 81 d.C..A tendncia micro-gesto do imperador tornou-se evidente na sua poltica financeira. Embora a questo de se Domiciano deixou a economia imperial com dvida ou supervit fosse intensamente debatida, a maioria das evidncias apontam a uma economia relativamente equilibrada durante a maior parte do seu reinado.[76] Na sua ascenso ao trono revalorizou a moeda ao aumentar em cerca de 12% o contedo de prata presente no denrio. Porm, uma crise em 85 forou a desvalorizao da divisa, que alcanou o nvel estabelecido por Nero em 65. Ainda assim, o seu valor conservou-se acima do nvel mantido durante os reinados de Vespasiano e Tito, e a estrita poltica fiscal de Domiciano assegurou que este padro se sustivesse os seguintes onze anos. As moedas cunhadas durante o seu reinado manifestam um considervel grau de qualidade, incluindo uma meticulosa ateno hora de citar os ttulos do imperador e um grande cuidado nos retratos integrados no reverso das moedas, que constituam refinadas obras de arte.[77]Jones estabelece que durante esta poca a renda anual da administrao imperial atingia os 1.200 milhes de sestrcios, mais de um tero deles destinado manuteno do exrcito.[76] Grande parte deste dinheiro subvencionou a reconstruo da capital imperial, cujos danificados edifcios sofreram o incndio de 64, o ano dos quatro imperadores (69), e a erupo do Vesvio (79).[78] Para alm de um plano de reformas, os projetos urbansticos de Domiciano eram destinados a renovar o capital cultural do imprio. Durante o seu reinado foram erigidos ou completados mais de cinquenta novas estruturas, uma quantidade apenas superada pelos construdos sob a administrao de Augusto.[78] Entre estas novas edificaes destacam-se o Odeo de Domiciano, o Estdio de Domiciano e um imponente palcio construdo pelo mestre arquiteto Rabrio. Esta suntuosa construo, localizada no monte Palatino, seria conhecida como o Palcio Flvio.[79] Restaurou o Templo de Jpiter no Capitlio, cujo teto revestiu de ouro. Completou o Templo de Vespasiano e Tito, o Arco de Tito e o Anfiteatro Flvio; a esta estrutura acrescentou um quarto nvel e o acabamento da zona interior nas quais se sentava o pblico.[80]Para contentar a plebe, a administrao imperial investiu por volta de 135 milhes de sestrcios em donativos ou congirios.[81] Foram ressuscitados os banquetes pblicos, degradados a simples distribuies de alimentos durante o reinado de Nero, e assinadas grandes quantidades de dinheiro aos jogos e espetculos. Em 86, foram criados os jogos capitolinos, um evento desportivo celebrado cada quatro anos e que integrava competies atlticas, corridas de bigas e concursos musicais e interpretativos.[82] O imperador subvencionou as viagens que efetuavam os competidores de qualquer parte do imprio, e custeou os prmios. Foram introduzidas inovaes no programa de entretenimentos: as simulaes de confrontos navais, as batalhas noturnas e os combates de gladiadores protagonizados por mulheres e anes.[83] Nas competies de carros acrescentaram-se duas novas faces, a de "os ouros" e a de "os prpuras".Aspectos militares Reconstruo de uma das atalaias da Fronteira da Germnia. O mais significativo da poltica militar de Domiciano foi a expanso e melhora das defesas fronteirias.As campanhas militares acontecidas durante o seu reinado foram de natureza defensiva, pois o imperador recusava a ideia da guerra expansionista.[84] Militarmente a sua contribuio mais importante foi o desenvolvimento da Fronteira da Germnia, uma vasta rede de caminhos, fortificaes e torres de vigilncia construdas ao longo do rio Reno a fim de defender o imprio.[85] travaram-se importantes conflitos; na Glia contra os Catos, e na fronteira do Danbio contra os Suevos, Srmatas e Dcios. A conquista da Britnia continuou sob o comando de Cneu Jlio Agrcola, um competente general que conseguiu conquistar territrios na Calednia (a moderna Esccia).[nota 3] Em 82 foi fundada uma nova legio a fim de combater os Catos, a I Minervia.[86]Administrou o exrcito como fizera com o restante de ramos governamentais, com uma incmoda e constante interveno. Contudo, a sua falta de competncia como estratega militar tornou-se alvo das crticas dos seus conterrneos.[84] Reclamou vrios "triunfos", entre o que se destaca o acontecido para celebrar a vitria sobre os Catos. Porm, estes triunfos constituem simples manobras propagandsticas cimentadas sobre fictcias vitrias em conflitos que no chegaram ao seu trmino. Tcito cataloga-os como "simulacros de triunfos", e efetua uma dura crtica da deciso do imperador de retirar os efetivos estacionados na Britnia.[87] [88] Contudo, tornou-se consideravelmente popular entre os soldados aps permanecer junto a eles trs anos de campanha e aumentar um tero o seu salrio.[85] [89] Enquanto os seus oficiais pudessem desaprovar as suas decises tticas, a lealdade que a sua figura exercia no soldado raso era inquestionvel.[90]Campanha contra os CatosQuando ascendeu ao trono, o imperador tratou de se lavrar a reputao como militar que no pudera conseguir at ento. Em princpios de 82/83, deslocou-se para a Glia visando a renovar o censo; porm, sua chegada ordenou ao exrcito iniciar uma campanha contra os Catos.[91] Fundou-se a Legio I Minervia para combater esta tribo. Os seus homens construram mais de 75 quilmetros de estradas para descobrir os lugares onde se ocultava o inimigo.[86] Embora sobrevivesse pouca informao a respeito do conflito, a rpida volta do imperador capital aponta a que os romanos atingiram uma rpida vitria. Organizou-se um elaborado triunfo na sua honra e ele prprio se outorgou o ttulo de Germnico.[92] Os escritores antigos desprezam esta suposta vitria, que descrevem como uma campanha "fora de lugar",[93] da qual deriva um "simulacro de triunfo".[87] O importante papel que esta tribo desempenhou na revolta de Saturnino sintoma do esprio da campanha.[85]Conquista da BritniaVer artigo principal: Conquista romana da Britnia Esttua de Cneu Jlio Agrcola,
em Bath, Inglaterra.Tcito, atravs da biografia de Agrcola, o seu sogro, confeccionou o informe militar mais detalhado do perodo flaviano. O historiador dedica grande parte da obra campanha que liderou este na Britnia (7784).[85] sua chegada ilha (77/78), Agrcola liderou uma campanha na Calednia (atual Esccia).Em 82 o comandante romano alcanou territrios e combateu tribos at ento desconhecidas para eles.[94] Tcito escreve que a sua administrao fortificou a costa orientada para Irlanda e que o seu sogro afirmava com frequncia que se podia tomar a ilha com uma s legio reforada por um destacamento de auxiliares.[95] Agrcola deu refgio a um monarca irlands exilado pelo seu povo a fim de us-lo como desculpa para tomar a ilha. Embora tal conquista nunca acontecesse, certos historiadores - como Vittorio Di Martino - defendem que as tropas romanas penetraram nesse territrio quer durante uma misso de explorao em pequena escala ou, na falta, uma expedio de castigo.[96] No ano seguinte, Agrcola formou uma frota e avanou para alm do rio Forth, na Esccia. A fim de oferecer um firme cobrimento defensivo ao avano foi construda a enorme fortificao de Inchtuthil.[95] No vero de 84 o comandante romano enfrentou-se s foras calednias lideradas por Calgaco na Batalha do monte Grupio.[94] Embora os romanos infligissem uma esmagadora derrota s foras nativas, duas teras partes das hostes calednias conseguiram escapar e esconder-se nos pntanos escoceses e nas Terras altas. Este exrcito seria o que finalmente impediu que Agrcola tomasse toda a ilha sob o seu controlo.[95]Em 85 Domiciano decidiu chamar Agrcola a Roma. Agrcola servira mais de seis anos como governador da ilha, mais que qualquer legado consular (legatus consularis) ordinrio da poca flaviana.[95] Tcito afirma, na obra que dedicou ao seu sogro, que o motivo pelo qual este voltara a ser chamado capital imperial era que as suas vitrias faziam sombra os modestos triunfos que obtivera o imperador na Germnia.[87] A relao entre Agrcola e Domiciano no clara: por um lado o primeiro foi recompensado com honras triunfais e na sua honra foi erigida uma esttua; por outro nunca pde voltar a exercer cargo pblico algum, apesar da sua experincia e a sua fama. Embora lhe fosse oferecido o governo da provncia da frica, Agrcola recusou; talvez como consequncia da sua m sade ou, tal e qual escreve Tcito, por temor s maquinaes do imperador.[94] Pouco depois que Agrcola regressasse a Roma, o Imprio Romano entrou em guerra no Oriente com o Reino da Dcia. medida que se foram requirindo reforos no leste, Domiciano comeou a retirar as legies que estavam despregadas em solo britnico. Foi desmantelada a fortaleza de Inchtutil e abandonados os fortes e demais fortificaes da Calednia. Alm disso, foi deslocada a fronteira romana 120 quilmetros para sul.[97] possvel que os mansos militares reprochassem a Domiciano a sua deciso de se retirar, mas para ele os territrios calednios apenas supunham uma perda de dinheiro para o errio.[85]Guerras DciasVer artigo principal: Guerras Dcias A provncia romana da Dcia (a rea assinalada em violeta), aps a conquista de Trajano de 106 d.C.. direita da imagem encontra-se o mar Negro.A ameaa mais perigosa que o imprio teve de fazer frente durante o reinado de Domiciano tinha o sua origem ao norte da Ilria, onde Suevos, Srmatas e Dcios realizavam contnuas incurses sobre os assentamentos romanos situados beira do Danbio. Destes povos, os mais poderosos eram os Srmatas e os Dcios. Liderados pelo seu rei, estes ltimos cruzaram o Danbio e internaram-se na provncia de Msia, semeando o caos (84/85) e assassinando brutalmente o governador, pio Sabino.[98] O imperador trasladou-se de imediato para a provncia cabea de um exrcito; embora na prtica delegasse o comando no seu prefeito pretoriano Fusco, quem, em meados de 85, conseguiu fazer retroceder os Dcios at o seu territrio. O imperador regressou para Roma a fim de celebrar o seu segundo triunfo.[99] Contudo, a vitria no seria definitiva pois, em princpios de 86, Fusco embarcou-se numa fatdica expedio em territrio dcio, da qual derivou a completa destruio da Legio V Alaudae em Tapas. O prefeito foi assassinado e a guia da guarda pretoriana, roubada.[100]O imperador regressou para Msia em agosto de 86. Uma vez a, dividiu a provncia em Baixa e Alta Msia e trasladou trs novas legies fronteira do Danbio. Liderados por Ttio Juliano, os romanos voltaram a invadir a Dcia em 87, e conseguiram derrotar Decbalo no mesmo lugar onde Fusco fora derrotado (88).[101] Contudo, a situao complicou-se quando os Dcios conseguiram derrotar os Romanos em Sarmizegetusa, e os Germanos devastaram a fronteira alem. O fim de evitar um conflito em duas frentes, o imperador assinou um tratado de paz com o monarca dcio pelo qual se permitiria o livre acesso de efetivos romanos atravs do territrio dcio em troca de uma retribuio anual de oito milhes de sestrcios para Decbalo.[74] Os escritores contemporneos mostraram-se inflexivelmente crticos com o documento, que consideravam vergonhoso para os romanos e ao que criticavam que no contemplasse clusula alguma que sancionara aos assassinos de Fusco e Sabino.[102] Durante o restante do reinado de Domiciano, o territrio dcio manteve-se relativamente pacfico como reino cliente do imprio; porm, Decbalo investiu o dinheiro romano na construo de defesas e voltou a desafiar Roma em ulteriores ocasies. A vitria decisiva sobre o rebelde monarca dcio no se produziria at 106, durante o reinado de Trajano.[103]Poltica religiosaFicheiro:Domitian aureus Minerva.png ureo da poca de Domiciano. No reverso, a deusa Minerva, que apareceu em muitas moedas emitidas em seu reinado.Domiciano acreditava firmemente na religio romana tradicional e dirigiu uma intensa poltica com o objeto de ressuscitar os antigos costumes e restabelecer a moral romana. A fim de justificar a divina posio da dinastia flaviana, enfatizou as fictcias conexes com a deidade romana mais importante, Jpiter.[68] Foi restaurado o Templo de Jpiter da Capitlio e construda uma pequena capela dedicada a Jupiter Conservator nas imediaes do edifcio onde se escondeu o imperador a 20 de dezembro de 69. No fim do seu reinado, o edifcio seria ampliado e consagrado a Jupiter Custos.[104] Contudo, a deidade favorita do imperador era Minerva.[105] No somente manteve um santurio dedicado a ela no seu dormitrio, mas ordenou sua administrao que a deusa aparecesse regularmente nas suas moedas. Alm disso, na sua honra foi fundada a Legio I Minervia.[106] Domiciano tambm ressucitou a prtica do culto imperial, cada em desuso durante o reinado de Vespasiano. Alm disso, conferiram-se honras ao seu irmo e foi completado o Templo de Vespasiano e Tito, dedicado ao seu pai e irmo.[80] A fim de estimular a memria dos triunfos dos Flvios, foram construdos o Templum Divorum e o Templum Fortuna Redux e finalizado o Arco de Tito.Os projetos de construo constituem a parte mais ostensvel da poltica religiosa efetiva durante o seu reinado, embora o imperador tambm se preocupasse em fazer cumprir a lei religiosa e a moral pblica. Em 85 designou-se a si mesmo censor perptuo, magistratura responsvel pela superviso da moral e da conduta romana.[107] De novo, o imperador desempenhou as responsabilidades derivadas do seu cargo com grande diligncia. Foi restaurada a Lex Iulia de Adulteriis Coercendis, pela qual os adlteros eram exilados. Golpeou e expulsou um cavaleiro que fazia parte de um jurado por se ter divorciado da sua esposa e expulsou do senado a um ex-questor por agir e bailar.[71] Perseguiu desapiadadamente a corrupo existente entre os funcionrios pblicos atravs da eliminao de jurados que aceitaram subornos e a derrogao de leis quando a existncia de um conflito de interesses era suspeita.[71] Castigou com o exlio ou o assassinato os autores de escritos difamatrios, especialmente quando esses escritos iam dirigidos contra ele.[70] Os atores eram controlados opressivamente pois as suas atuaes podiam ser objeto de stiras para desprestigiar ao imperador; em consequncia, foram proibidas as aparies pblicas dos mimos. Em 87 foi descoberto que as virgens vestais quebraram o seu voto de castidade durante a sua poca ao servio do imprio. Devido a que estas eram consideradas filhas da comunidade, esta ofensa constitua em essncia um incesto. Jones afirma que os implicados no delito foram condenados morte e queimadas vivas as vestais.[nota 4] [108]As religies estrangeiras eram toleradas enquanto no interferissem na ordem pblica e que pudessem ser assimiladas tradicional religio romana. Durante o reinado da dinastia flaviana cresceu o culto s diferentes deidades egpcias de um modo que no se voltaria a ver at o comeo do reinado de Cmodo. Entre as deidades veneradas destacam-se Serpis e sis, identificadas com Jpiter e Minerva respectivamente.[106] Uma tradio baseada nos escritos de Eusbio de Cesareia defende que cristos e judeus foram implacavelmente perseguidos em finais do seu reinado.[109] [110] Muitos eruditos defendem a teoria de que o livro do Apocalipse foi escrito durante o reinado de Domiciano como reao intolerncia religiosa do imperador.[111] Contudo, no existem provas determinantes de uma verdadeira opresso religiosa exercida durante o seu reinado.[112] [113] Embora os judeus fossem fortemente gravados com impostos, nenhuma fonte contempornea d ao manifesto a existncia de juzos ou execues baseados em ofensas religiosas desta natureza.OposioRevolta de Saturnino Esttua de Domiciano como imperador. Museus Vaticanos, (Roma).Em 1 de janeiro de 89 Lcio Antnio Saturnino, governador da provncia da Germnia Superior, e as duas legies estacionadas em Moguntiaco, a XIV Gemina e a XXI Rapax, rebelaram-se contra o imprio com a ajuda dos catos.[90] Desconhecem-se as causas da revolta, embora aparentemente fosse organizada com grande antecedncia. Os oficiais senatoriais desprezavam as estratgias militares do seu imperador: a sua deciso de fortificar a fronteira germana em lugar de atacar as belicosas tribos que a habitavam, a sua recente retirada da Britnia, e o seu acordo de paz com Decbalo.[114] Em qualquer caso, a revolta limitava-se estritamente provncia de Saturnino, embora a notcia do levantamento rebelde pronto seria conhecida nos territrios vizinhos. Assistido pelo procurador de Rcia, Norbano, o governador da Germnia Inferior, Lpio Mximo, trasladou-se provncia. Trajano acudiu desde a Hispnia e o prprio Domiciano iniciou a sua marcha cabea dos pretorianos. A sorte fez com que um desgelo evitara que os ctios cruzassem o Reno em ajuda de Saturnino.[93] Em 24 dias, os rebeldes foram esmagados e os seus lderes cruelmente castigados. As legies de Saturnino foram enviadas a Ilria, enquanto as que as derrotaram foram generosamente recompensadasLpio Mximo recebeu o governo da provncia da Sria, um consulado em maio de 95, e um sacerdcio ainda possudo em 102. Talvez Norbano fosse nomeado prefeito do Egito do Egito, mas o mais provvel que atingisse a prefeitura pretoriana em 94, com Tito Petrnio Segundo como colega.[115] O imperador iniciou no ano seguinte um consulado compartilhado com Nerva, o que sugestiona que este ltimo desempenhou um papel de destaque na descoberta da conspirao; talvez de maneira similar ao que fez com a Conspirao de Piso durante o reinado de Nero. Embora pouco se conhea a respeito da sua carreira antes da sua adeso ao trono, Nerva amostrou-se como um poltico diplomtico e malevel, capaz de sobreviver a numerosos cmbios de governo; o sucessor de Domiciano foi um dos assessores de maior confiana dos Flvios.[116] O seu consulado parece ser canalizado a mostrar a estabilidade do seu regime.[117] Aps a supresso da revolta, o imprio voltou ordem.Relaes com o senadoDesde a queda do ordem republicana, a autoridade do senado ficara muito minguada sob o regime governamental estabelecido por Augusto, conhecido habitualmente com o nome de "principado". Esta forma de governar permitia a existncia de um regime autocrtico de fato ao mesmo tempo que mantinha os aspectos formais do sistema republicano. A maior parte dos imperadores estimularam esta falsa fachada democrtica ao mesmo tempo que se asseguravam o seu reconhecimento como monarcas ("princeps") entre os senadores. Contudo, Domiciano e outros imperadores no se valeram da diplomacia para atingir este reconhecimento, mas empregaram a fora. O prprio Domiciano deu amostras da sua autocracia nada mais ascender ao trono; no gostava dos aristocratas e no tinha medo em mostr-lo. O seu governo supe a total anulao do poder do senado, pois as suas decises eram baseadas nos conselhos de um pequeno grupo de assessores e cavaleiros aos quais foi outorgado o controlo de importantes magistraturas estatais.[118] Por outro lado, aps o assassinato de Domiciano, os senadores de Roma apressaram-se a aprovar uma moo de "condenao da memria".[119]Porm, tratou de realizar alguma concesso ao senado. Considerando que durante os reinados do seu pai e o seu irmo se concentrou o poder consular nas mos da famlia flaviana, o imperador admitiu um nmero surpreendentemente considervel de opositores provincianos ao consulado; sempre e quando ele abrisse cada ano como cnsul ordinrio.[59] Apesar disso, no foi determinado se isto constituiu um verdadeira tentativa de se reconciliar com as faces hostis do senado. provvel que, ao oferecer o consulado a opositores potenciais pretendera p-los em perigo aos olhos dos seus partidrios. Quando a gesto dos seus inimigos no era impecvel, eram exilados ou executados e os seus bens confiscados.[118]Tanto Tcito quanto Suetnio mencionam nas suas obras uma escalada de persecues por volta do final do seu reinado. Ambos os historiadores identificam o momento crtico destas persecues em algum ponto entre 89, ano da supresso da revolta de Saturnino, e 93.[120] [121] Condenou-se morte ao menos a vinte opositores polticos e ideolgicos,[122] entre os que se encontram o marido de Domcia Longina, Lcio lio Lmia, e trs membros da famlia imperial, Tito Flvio Sabino, Tito Flvio Clemente e Marco Arrecino Clemente.[nota 5] O fato de alguns destes homens serem assassinados em 83/85 desacreditam a parte da obra de Tcito na que o historiador d testemunho da existncia de um "reino do terror" em finais do seu reinado. Segundo Suetnio, aqueles dos que o imperador suspeitava eram declarados culpveis de corrupo ou de traio.Jones compara as execues que ordenou Domiciano com as efetuadas durante o reinado do imperador Cludio (41 - 55), pondo em relevo o fato de, embora Cludio assassinasse 35 senadores e 300 membros do ordo equester, foi deificado pelo Senado e ainda recordado como um dos melhores imperadores da histria do Imprio Romano.[123] Domiciano, embora incapaz de obter o apoio da aristocracia, tratou de neutralizar a oposio procedente das faces senatoriais hostis atravs de diversas nomeaes consulares. O seu autocrtico estilo de governo acentuou a perda de poder senatorial. Por outro lado, o seu equnime trato tanto ao patriciado como realeza valiou-lhe o desprezo do povo.[123]MorteAssassinato Esttua de Minerva, no Museu do Louvre. Domiciano a considerava sua protetora. Diz-se que num sonho, ela abandonou-o pouco antes do seu assassinato.O imperador foi assassinado a 18 de setembro de 96 como consequncia de uma conspirao palaciana urdida por uma srie de oficiais da corte.[124] Suetnio oferece uma detalhada descrio do homicdio, afirmando que o lder dos conspiradores era o camareiro imperial Partnio. Este oficial inimistara-se com o imperador como consequncia da execuo do seu secretrio Epafroditos.[125] Os autores do crime foram um liberto de Partnio, chamado Mximo, e Estvo, mordomo da sobrinha do imperador, Flvia Domitila. No foi determinada com certeza a participao da guarda pretoriana, liderada por Norbano e Petrnio Segundo. Dentre eles, sabido que este ltimo tinha conhecimento do compl.[126] A Histria Romana de Dio Cssio, escrita quase cem anos depois do delito, cita Domcia Longina entre os conspiradores. Porm, a f e devoo que esta mulher sentiu pelo seu marido at mesmo depois da sua morte faz que a sua participao na conjura fosse pouco provvel.[127]Dio sugestiona que o assassinato foi um ato improvisado.[128] Contudo, os escritos de Suetnio indicam a existncia de uma conspirao bem organizada. A vspera do ataque, Estvo fingiu uma leso para poder levar uma adaga sob as vendas com as que se cobria a fictcia ferida.[129] O dia do assassinato as portas dos quartos dos serventes imperiais foram fechadas. O pessoal do imperador levou a espada que este ocultava sob da sua almofada.[129] Como consequncia de uma predio astrolgica, o imperador acreditava que faleceria o dia assinalado pelo astrlogo, perguntou a um mancebo a hora; o moo, includo no compl, respondeu que era mais de meio-dia.[130] Aliviado, o imperador dirigiu-se ao seu escritrio onde tinha planejado assinar alguns decretos; de repente, Estvo aproximou-se:Eis o que foi conhecido desta conjurao e da maneira como pereceu Domiciano. No sabendo os conjurados onde nem como o atacariam, quer na mesa ou no banho, Estvo, intendente de Domitila, acusado ento de malversao, ofereceu os seus conselhos e o seu brao. Para evitar suspeitas, fingiu ter uma ferida no brao esquerdo, e levou-o durante muitos dias rodeado de l e vendagens. Chegado o momento, ocultou nele um punhal, e mandou pedir uma audincia ao imperador para denunciar uma conspirao. Introduzido na sua cmara, enquanto Domiciano lia com espanto o escrito que acabava de entregar, apunhalou-o no baixo ventre. Ferido o imperador, tratou de se defender, quando Clodiano, legionrio distinguido, Mximo, liberto de Partnio, Satrio, decurio dos cubiculrios, e alguns gladiadores, caram sobre ele e deram-lhe sete punhaladas.[129]

Estvo e o imperador continuariam combatendo no solo at o restante de conspiradores conseguir domin-lo e assestar-lhe vrias punhaladas. Somente um ms antes do seu 45 aniversrio, Domiciano foi morto. Sem cerimnia alguma foi arrastrado o seu corpo e cremado o cadver. Consumido o fogo, misturaram-se as suas cinzas com as da sua sobrinha Jlia, depositadas no Templo Flvio.[129] Suetnio testemunha a existncia de uma srie de augrios que tinham predito a sua morte.[105] Vrios dias antes Minerva aparecer-se-ia em sonho anunciando-lhe que Jpiter a desarmara e que j no seria capaz de proteg-lo.[105]Sucesso e consequncias Busto de Nerva,
no Museu Nacional RomanoSegundo o Fasti Ostienses,[131] o senado proclamou imperador a Nerva no mesmo dia do assassinato de Domiciano.[132] O fato de ser considerado nesse momento sucessor inapropriado ao trono deu motivo a diversos autores a especular sobre a sua participao no homicdio.[133] [134] Dio Cssio afirma que antes de cometer o crime, os conspiradores debateram qual seria o substituto do ltimo membro da dinastia flaviana. Nerva foi um de eles, no somente por causa dos seus dotes administrativos, mas tambm porque o imperador suspeitava de ele, fazendo que no tivesse nada que perder se participava do compl.[135] Se bem que nunca foi confirmada a sua participao no homicdio,[136] Murison - entre outros - sustm que foi proclamado imperador umas horas aps conhecer a notcia e exclusivamente por iniciativa dos senadores.[132] Embora seja fatvel, no parece que participasse na conjura.[137]Aps a nomeao de Nerva como imperador, o senado emitiu um damnatio memoriae (literalmente, "dano memria pstuma") sobre Domiciano:[119] as suas moedas e esttuas foram fundidas, os seus arcos destrudos e o seu nome eliminado de todos os registros pblicos.[138] [139] Domiciano foi o nico imperador sobre o qual foi oficialmente emitida uma damnatio memoriae, embora se pudesse impor de fato sobre outros. A maioria dos seus retratos foram restaurados a fim de representarem o novo imperador. Deste jeito a produo de novos quadros era impulsionada, ao mesmo tempo que o material sobre o qual pesava a condenao senatorial era eliminado.[140] Quase todas as esttuas que chegaram at o nossos dias foram encontradas nas provncias imperiais. O Palcio Flvio passou a ser chamado a "Casa do povo"; Nerva mudou-se para a antiga residncia de Domiciano, situada nos Jardins de Salstio.[141]Embora a sucesso decorresse depressa, o apoio das foras armadas ao recm falecido imperador ficou latente. sua morte, os militares solicitaram a sua deificao,[138] e a jeito de medida compensatria foi demandada a execuo dos assassinos de Domiciano, que Nerva recusou.[142] Receoso, o imperador substituiu Tito Petrnio Segundo por Casprio Eliano como prefeito do pretrio.[143] O comeo do reinado de Nerva esteve pontuado pela total insatisfaco pelo estado das coisas; em outubro de 97 estouraria uma nova crise quando os pretorianos, liderados por Casprio Eliano, assediaram o Palcio Imperial e tomaram o imperador como refm.[144] Este viu-se obrigado a ceder s suas peties, a entregar os responsveis pela morte de Domiciano e at mesmo a emitir um discurso no que elogiava a sua atitude.[145] Tito Petronio Segundo e Partnio foram capturados e assassinados. Embora o imperador saisse ileso do seu sequestro, este implicou um durssimo revs para a sua autoridade.[144] Pouco depois foi anunciada a adoo de Trajano e a sua nomeao como sucessor ao trono.[144] Esta deciso supe para muitos historiadores - como Plnio ou Syme - a sua abdicao.[146] [147]LegadoFontes antigas Inscrio com o nome de Domiciano apagado, mostrando sua damnatio memoriae.A m relao que mantinha o imperador com as classes senatorial e aristocrtica - com a que a maior parte de historiadores clssicos mantinham uma estreita relao - fez que estes oferecessem nas suas obras uma viso muito desfavorvel do ltimo dos Flvios.[119] Por outro lado, historiadores coetneos como Plnio, Tcito e Suetnio completaram as obras sobre o seu reinado depois que este terminasse, e aps a emisso da damnatio memoriae. As obras de alguns poetas corteses como Marcial e Estcio constituem os nicos testemunhos escritos durante o seu reinado. Apesar disso, no surpreendente que, como consequncia da posio dos autores dos poemas, estes escritos sejam uma mera coleo de bajulaes; de fato chegam a comparar o imperador com um deus.[148]A obra que trata de modo mais extenso a vida e reinado de Domiciano foi escrita pelo historiador Suetnio, que nasceu durante o reinado de Vespasiano, e publicou as suas obras durante o de Adriano (r. 117138). A sua Vidas dos Doze Csares constitui a fonte principal do que conhecido sobre a sua vida; este escrito, embora predominantemente negativo, no o gaba nem o condena expressamente, e de fato assegura que o final aterrador do seu reinado veio precedido por um prspero comeo do mesmo.[149] Contudo, a veracidade desta obra v-se afetada no momento em que se contradiz ao apresentar o imperador como um homem moderado ao mesmo tempo que como um decadente libertino.[19] Segundo Suetnio, o interesse do imperador pela arte e a literatura era fingido. O historiador afirma que nunca se interessou em conhecer os autores clssicos. Paralelamente, certos extratos da obra descrevem o interesse que sentia o imperador pela expresso epigramtica, o qual sugestiona que estava familiarizado com os clssicos, pelo qual existe outra contradio. Durante o seu reinado apadrinhou diversos poetas e arquitetos, foram fundadas umas "Olimpadas da Arte" e restaurada a Biblioteca de Roma, gravemente danificada depois dum incndio.[19] [nota 6]Pela sua vez, Suetnio a fonte de vrias das histrias escandalosas surgidas em torno do matrimnio de Domiciano. Segundo ele, Domcia Longina foi exilada em 83 como consequncia da relao extramatrimonial que manteve com o famoso ator Paris. Esta obra afirma que quando o imperador a descobriu, assassinou Paris na rua e divorciou-se. Afirma-se ademais que, aps o exlio de Longina, Domiciano tomou Jlia como amante, quem posteriormente faleceria por causa de um aborto.[46] [150] Levick considera este relato muito pouco plausvel, e pe em relevo a existncia de rumores maliciosos em torno infidelidade de Domcia nas obras dos escritores ps-flvios. De fato, procura-se pr de relevo a hipocrisia de um monarca que, ao mesmo tempo que defendia com afinco a moral romana, cometia excessos em privado e estava frente de uma administrao corrupta.[151] Contudo, os escritos de Suetnio dominaram a historiografia imperial romana durante sculos.Embora considerado o mais fivel dos historiadores da poca, a veracidade dos escritos de Tcito que tratam do imperador pde ser distorcida na medida em que o seu sogro, Cneu Jlio Agrcola, era considerado inimigo pessoal de Domiciano.[152] Na obra que dedica ao seu sogro, Agrcola, Tcito afirma que o imperador lhe mandou voltar da Britnia como consequncia de que as suas vitrias sobre os Calednios pusera em evidncia a sua prpria incompetncia militar. Por outro lado, diversos autores modernos, como Dorey, sustm que Agrcola foi um ntimo amigo do imperador e que, com a sua obra, Tcito tratava unicamente de distanciar a sua famlia da falecida dinastia no momento em que Nerva acedeu ao poder.[152] [153] As Historias de Tcito, bem como a obra dedicada a Agrcola foram escritas e publicadas sob os reinados de Domiciano, Nerva (96 - 98) e Trajano (98 - 117). Infelizmente, a parte das Historias em que se fala a respeito da "dinastia flaviana" perdeu-se quase na ntegra. A opinio do historiador a respeito de Domiciano chegou apenas atravs dos breves comentrios presentes nos seus cinco primeiros livros e em Agrcola, livro no que critica duramente as capacidades militares do imperador. Porm, Tcito admite abertamente a dvida que tem com os Flvios, quem lhe ajudaram a progredir na sua carreira.[154]Outros importantes autores do sculo II - Juvenal e Plnio - dedicam parte dos seus escritos vida deste imperador. Juvenal, companheiro de Tcito, pronunciou frente ao senado e de Trajano o seu famoso Panegrico Trajano (Panygericus Traiani) (100), no qual exalta a nova era de liberdade que comeava, definindo desse modo o ltimo dos Flvios como um tirano. Juvenal satiriza cruelmente a sua administrao nas suas Stiras, nas quais descreve o ambiente do imperador como corrupto, injusto e violento. Como consequncia disso, os historiadores de finais de sculo herdariam destes escritores a negativa viso, patente nas suas obras. No sculo III, essa perspectiva foi estimulada pelos escritos de Eusbio de Cesareia e de outros historiadores eclesisticos, que o consideram um dos primeiros perseguidores dos cristos.Revisionismo moderno Domiciano vestido de militar. (Vaison-la-Romaine).Esta viso do reinado de Domiciano ficou at os comeos do sculo XX, quando os avanos arqueolgicos e numismticos deram aso a que os expertos voltassem a interessar-se pelo seu reinado. Foi nesta poca que se advertiu a necessidade de revisar os escritos de Tcito e de Plnio. Em 1930 Ronald Syme ofereceu uma nova perspectiva sobre a poltica financeira deste imperador, considerada durante sculos um desastre.Durante o transcurso do sculo XX, voltaram-se a avaliar as polticas militares, administrativas e econmicas de Domiciano. Contudo, no se publicaram os escritos que expunham o resultado destes estudos at a dcada de 1990, quase cem anos depois da publicao do Essai sur le rgne de l'empereur Domitien (1894), de Stphane Gsell. A mais importante destas obras The Emperor Domitian, escrita pelo historiador Brian W. Jones, que chega concluso, em sua monografia sobre o imperador, que este era um desapiadado embora eficiente autocrata.[155] Este historiador afirma que durante a maior parte do seu reinado no existiu um sentimento hostil generalizado para o imperador ou para a sua administrao. Somente uns poucos foram os que denunciaram a sua dureza; os mesmos que sua morte seriam os que se atreveriam a exagerar o seu despotismo a fim de obter o favor da dinastia antonina.[155]Diversos analistas histricos concluem que a poltica exterior do imperador era realista: recusava a guerra expansionista e inclinava-se por negociar tratados com os seus inimigos; desse modo rompia com a tradio militar romana, que chamava a conquista de novos territrios mediante ataques violentos. O seu eficiente programa econmico elevou a moeda romana a valores que no voltaria a atingir. Cessaram as persecues das minorias religiosas, e at mesmo dos judeus e dos cristos.[155] Porm, a sua administrao exibia elementos totalitrios: Como imperador acreditava ser o novo Augusto, um dspota iluminado destinado a guiar o Imprio Romano para nova era de prosperidade.[69] [nota 7] A propaganda religiosa, militar e cultural ia empenhada a fomentar o culto sua personalidade. Deificou a trs membros da sua famlia e levantou poderosas estruturas a fim de que o povo recordasse os sucessos da sua dinastia, celebrou elaborados triunfos para criar uma imagem de imperador-guerreiro,[84] auto-nomeou-se censor perptuo e controlou eficazmente a moral pblica e privada.[107] Tambm se implicou pessoalmente em todos os ramos da sua administrao, fazendo cessar a corrupo existente entre os funcionrios pblicos pblicos. O mau do seu censurado que implicava uma total anulao da liberdade de expresso; alm disso, durante o seu reinado manteve uma opressiva atitude para os senadores. A difamao era penada com o exlio ou a morte, embora como consequncia da sua natureza suspeitosa aceitasse informao de delatores que formulassem falsas acusaes de traio sobre os seus inimigos.[156]Embora os seus contemporneos o vilipendiassem depois da sua morte, a sua administrao sentou as bases para o pacfico sculo II. As polticas dos seus sucessores, embora menos restritivas, diferiam pouco das suas. De fato, o "triste colofo do sculo I" de Tcito, Plnio e os seus sucessores apenas uma das mais prsperas pocas do imprio. Theodor Mommsen considera que o seu reinado foi pontuado por um despotismo sombrio e inteligente.[157]