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8/18/2019 Romance Henrique Galvão, O Velo d'Oiro http://slidepdf.com/reader/full/romance-henrique-galvao-o-velo-doiro 1/25 O Vélo d' Oiro, Henrique Galvão Prólogo - ao Velo d´Oiro Fruto de um esfôrço como igual não há; rosário de altos feitos e milagres que começou a ser rezado em Sagres e só Deus sabe quando acabará, a África lendária dos guerreiros inenc!eis e sobas "ortentosos, sofre, ainda, do abandono dos medrosos e das cartadas dos aentureiros# $ncom"reendida % se&a "or maldade ou "orque a oz do "oo ' nisso esquia % há uma aga cegueira colectia, que não a dei(a er na realidade### ) tem"o de cuidarmos d*sse mal+ África, sem lenda nem mist'rio, ' a"enas uma flor do nosso $m"'rio, canteiro do &ardim que ' -ortugal. Se em /azengo, tal qual como no 0inho, e no -lanalto como em 1rás%os%0ontes, nós ouimos cantar as mesmas fontes e sentimos "or tudo igual carinho; se lá no Selles, como no lente&o, o mesmo sol tres"assa o nosso abrigo, fecunda a terra, amadurece o trigo e "romete fartura de sobe&o, "or que teimar na id'ia desumana de distinguirmos sem"re, em "ensamento, o que não ' senão "rolongamento desta 2"equena casa lusitana23 -ois se o Futuro "ode ser louado se trabalharmos essa terra ardente, "or que não com"letarmos, no -resente, a obra gigantesca do -assado3 -ortugal ' só um. 4 essencial, "ara que ele "rogrida, ' que se e("anda. 5esidir em 6isboa ou em 6uanda ' tudo residir em -ortugal. memos essas terras de al'm%mar, rosário de altos feitos e milagres, que começou a ser rezado em sagres e que ainda tem muito que rezar.### 7is, em s!ntese, o es"!rito, a doutrina da obra que ai ser re"resentada# Fantasia3 Decerto# 0as "ensada com a erdade que a 8erdade ensina# 9ossa "rimeira "eça colonial, os seus intuitos são, a"enas, tr*s+ mor : terra, culto a -ortugal e orgulho "elo $m"'rio -ortugu*s. Capítulo I - Tentação de África ! - Tentação de ir para África 1inha eu inte e sete anos e estaa em"regado no anco do /r'dito gr!cola, quando me inquietou, "ela "rimeira ez, a tentação da África# Fôra "or lá que meu aô &untara a fortuna que eu de"ois consumi em est<"idas doidices e, : África tamb'm se tinha aferrado meu "rimo direito 8asco eneides de"ois duma de"ortação "or motios "ol!ticos e muito desarrumo na ida que leara em -ortugal# -ág# = "! - #ocali$ação da %ulola do Tc&i%poro >7(iste cá "ara o Sul uma região misteriosa, : beira das terras do /uanhama, conhecida "elo nome deMulola do Tchimporo, a cu&o interior nenhuma alma branca conseguiu ainda chegar# >Dizem uns que ' terra árida, tôda de areias soltas e ressequidas, e "al"itam outros que, no interior, dee ser "ooada e abundantemente estida de rica egetação#

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O Vélo d' Oiro, Henrique Galvão

Prólogo - ao Velo d´Oiro Fruto de um esfôrço como igual não há; rosário de altos feitos e milagres que começou a ser rezado em Sagres e só Deus sabe quando acabará, a África lendária dos guerreiros in enc! eise sobas "ortentosos, sofre, ainda, do abandono dos medrosos e das cartadas dos a entureiros#$ncom"reendida % se&a "or maldade ou "orque a oz do "o o ' nisso esqui a % há uma agacegueira colecti a, que não a dei(a er na realidade###) tem"o de cuidarmos d*sse mal+ África, sem lenda nem mist'rio, ' a"enas uma flor donosso $m"'rio, canteiro do &ardim que ' -ortugal.Se em /azengo, tal qual como no 0inho, e no -lanalto como em 1rás%os%0ontes, nósou imos cantar as mesmas fontes e sentimos "or tudo igual carinho; se lá no Selles, como no

lente&o, o mesmo sol tres"assa o nosso abrigo, fecunda a terra, amadurece o trigo e "rometefartura de sobe&o, "or que teimar na id'ia desumana de distinguirmos sem"re, em "ensamento,o que não ' senão "rolongamento desta 2"equena casa lusitana23-ois se o Futuro "ode ser lou ado se trabalharmos essa terra ardente, "or que nãocom"letarmos, no -resente, a obra gigantesca do -assado3-ortugal ' só um. 4 essencial, "ara que ele "rogrida, ' que se e("anda.5esidir em 6isboa ou em 6uanda ' tudo residir em -ortugal.

memos essas terras de al'm%mar, rosário de altos feitos e milagres, que começou a ser rezado em sagres e que ainda tem muito que rezar.###

7is, em s!ntese, o es"!rito, a doutrina da obra que ai ser re"resentada#Fantasia3 Decerto# 0as "ensada com a erdade que a 8erdade ensina# 9ossa "rimeira "eça colonial, os seus intuitos são, a"enas, tr*s+ mor : terra, culto a -ortugale orgulho "elo $m"'rio -ortugu*s.

Capítulo I - Tentação de África

! - Tentação de ir para África

1inha eu inte e sete anos e esta a em"regado no anco do /r'dito gr!cola, quando me

inquietou, "ela "rimeira ez, a tentação da África#Fôra "or lá que meu a ô &untara a fortuna que eu de"ois consumi em est<"idas doidices e,

: África tamb'm se tinha aferrado meu "rimo direito 8asco ene ides de"ois dumade"ortação "or moti os "ol!ticos e muito desarrumo na ida que le ara em -ortugal#

-ág# =

"! - #ocali$ação da %ulola do Tc&i%poro

>7(iste cá "ara o Sul uma região misteriosa, : beira das terras do /uanhama, conhecida "elo nome de Mulola do Tchimporo,a cu&o interior nenhuma alma branca conseguiu aindachegar# >Dizem uns que ' terra árida, tôda de areias soltas e ressequidas, e "al"itam outrosque, no interior, de e ser "o oada e abundantemente estida de rica egetação#

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>5esulta o mist'rio da dificuldade de lá se chegar, "ois a água falta e não ' "oss! el le ar automó eis atra 's do areal imenso e muito menos carros de tracção animal, "ois todo o gadomorreria de s*de#

>1inha eu ou ido falar da região, como tôda a gente, mas nada, at' há algum tem"o,des"ertara em%i%o dese&o de a conhecer#

>0as, ai em seis meses, e "or forma que a seu tem"o saberás e que seria muito longa denarrar agora, adquiri acerteza físicade que há estonteantes abund?ncias de oiro no interior damulola#

>4iro nati o, meu querido 5odrigo, oiro quáse "uro, que mais trabalho não dá do quemeter%lhe a "icareta e carregá%lo nos carros. @m "reto ganguela,que conseguiu atra essar aregião e descobrir o caminho "ro ido de água, trou(e%me informaçAes e provasdas quais não' "oss! el du idar#

>9ão &ulgues que são fantasias minhas; sou o mesmo homem que era, de naturaldesconfiado e "essimista; não me con enci sem fortes razAes mas, agora, estou con encido e bem con encido, com dados que não enganam#

>Se confias em mim e estás dis"osto a ir com o teu ca"ital, indis"ensá el "ara organizar con enientemente a iagem : 0ulola, que fica a mais de seiscentos quilómetros daqui,telegrafa e mete%te a cantinho, "ois nunca um homem terá marchado "ara a Fortuna comtantas "robabilidades de a alcançar#

>Buero, no entanto, "re enir%te a tem"o de que a a entura não ' isenta de "erigos nem defadigas e que ' "reciso que enhas dis"osto a tudo# Doutra forma, mais alerá ficares#

>0as indo ou ficando, de erás guardar o maior dos segredos# )s a "rimeira "essoa, de"oisde minha mulher, a quem faço esta re elação# 7 só de faz*%la fico em tremuras, não á a carta "erder%se e es"alhar%se o segr*do#C

-ág# E a

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

Capítulo II - C&e ada a (oç)%ede*+! - e*crição de (oç)%ede* vi*ta do %ar

O ngola ancorou em 0oç?medes "or olta das onze horas do dia H de Dezembro % maudia.

4 "ôrto era uma grande "lan!cie de aço "olido em infinita tranquilidade# "enas, de longeem longe, os cardumes de sarra&ão o embacia am com manchas escuras e inquietas#

terra, com o seu fundo amarelo de areias, as fal'sias de"iladas, sob aquele solestorricante do erão africano, "arecia arder em estremecimentos de febre# 1odo osemic!rculo, am"lo e gracioso, que ai do Saco : Fortaleza, da a a im"ressão dum grande brazeiro, donde se e ola am as tem"eraturas abafantes que rarefaziam o ar#

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cidade, coberta das istas "ela fita erde do &ardim "<blico % uma mancha esguia na "alidez da "aisagem % sestea a : sombra magra daquela "obre frescura egetal# 7 da bandadas fábricas e "escarias, num "lano inclinado de terras sedentas, as casas acacha"adas e os barcos de quilha ao l'u, tinham a mórbida quietação dos imolados#

-ara al'm da cidade, a "aisagem l! ida do Deserto a "erder de ista uma grande labareda detons amarelos que se confundia com um c'u agitado "or cálidas "ulsaçAes#

-ág# = e I

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

! - C&e ada ao porto de (oça%ede*

África.## 7stou em África.

J "roa, os homens da manobra, afogueados e su&os, ertiam negras bagas de suor#

.% olta do "aquete, ancorado numa imobilidade letárgica de grande "aquiderme,acudiam gasolinas ner osos, carregados de gente barulhenta, que se consumia em gestos edizeres "ara os "assageiros debruçados na amurada#

7 foi essa gente que ria, que não trazia nas faces o li or macabro da bilis derramada, queeu ia semelhante a um branco "rolongamento das fisionomias que tinha dei(ado em6isboa, quem me deu ?nimo e f' "ara es"erar que nem tudo na África fôsse assim, como eudeduzia das agressAes do calor e da amargura da "aisagem#

Dum gasolina, que "or fim atracou, saltaram senhoras garridas, muito ata iadas demodas euro"eas, muito "rognósticas e desem"oeiradas, umas "ara receber conhecidos,outras "ara mercar adornos e meias no barbeiro de bordo#

7 logo a "aisagem do spardeckse modificou# -arecia uma feira alegre e mo imentada,com gritinhos femininos e frases rá"idas, corridas ner osas e abraços am"los#

-ág# K

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG/! - e*erto de (oça%ede* co%o u% oceano de areia

4lhei outra ez "ara terra em busca de confôrto % mas i%a ainda l! ida, esbrazeada, es"'ciede cais dum outro oceano+ 4 4ceano imenso das areias, que nem me "al"ita a onde tinhamfim.

-ág# L

GGGGGGGGGGGGGG

0! - e*e%1arque e% (oça%ede*

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e*e%1arquei depoi* do al%2ço, co% dua* %ala* de 1elic&e eum ba<verde de f2l&a,na vel&a ponte-cai* dacidade, entreu%a *en&ora ordaque inha de enguelae'u% tropati*nado ue *edestina aao interior

-ág# MGGGGGGGGGGGGGGG

3! - (oça%ede*4 5ardi%, rua*, piano*

7nfiei "elo &ardim em cata duma sombra onde refrescasse o cor"o e descansasse os olhosmaguados "or iolentas agressAes de luz, e atirei%me "ara um banco, derreado "or fundamelancolia#

-ela álea solitária, a"enas umou outro negro de tronco brunido "or trans"iraçAes iolentas,com sera"ilheiras sórdidas em olta dos quadris, ou "retas com os filhos :s costas e enfusasna cabeça, "assa am em ar de m?ndria, silenciosamente#

s fôlhas erdes esta am cobertas de "oeira, como se "ro iessem de longas &ornadas, e,duma bica que alimenta a um lago redondo, no meio do &ardim, inha um som cantante efresco de água a correr, que na continuação, entor"ecia e adormenta a como as rezasmonótonas de elhas fanáticas#

/erra am%se%me os olhos num tor"or de febre e sentia que o cr?neo se me es asia a comouma casa que a noite ai abafando em tre as# 7m bre e, a"enas ou ia o zumbido cálido dastardes encalmadas e a"áticas e a melo"eia adormecedora das águas#

6embro%me que sonhei com grandes montanhas dNoiro e que eu as acometia freneticamentecom uma "icareta que se embota a e não conseguia "artir a rocha# De"ois, sem transição, i%me num areal enorme, enterrado at' aos &oelhos, cheio de s*de, afogueado "or ang<stiasinarrá eis#

cordei inundado de suores, com a bôca s*ca e os olhos esgazeados, mas senti%me ali iadoao ou ir outra ez o "alrar fresco da água e endo os ramos "endidos nas ár ores#

9um quiosque, em frente da lf?ndega, alguns encalmados estidos de branco, chu"a am

cer e&as interminá eis# água cantarola a sem"re na bica magrinha do &ardim#

Sentia os lábios grossos e grandes formigueiros de indol*ncia "elo cor"o % uma grandefiacidez em todos os ner os motores#

7 a ancei "ara o quiosque, onde bebi a minha "rimeira cer e&a africana % o grande !cio, ogrande eneno dos euro"eus que ão : África#

&á os automó eis corriam "elas ruas e a cidade se mostra a desentor"ecida e mo imentada#

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Js &anelas ensombradas acudiam meninas garridas, com um ar lisboeta da rua dosDouradores, muito bem rebocados; das lo&as sa!am figuras euro"eas que desmentiam a ideaque eu fizera da África#

-ercorri as ruas da cidade, enormes, geom'tricas, "aralelas % tr*s ruas de casas bai(as N queme lembraram muitas ezes as moradias dalgumas cidades do lgar e#

De ez em quando chega am%me aos ou idos a m<sica dum Fado ou as notas el'ctricasdum Charleston americano, tangidos em "ianos desafinados, muitos "ianos há em0oss?medes. /anta am em tôdas as ruas, adi inha am%se na "enumbra que fica a "ara al'mde certas &anelas.

7 "ela tarde, com menos calor e bem atestado de refrescos, &á a cidade me "arecia maissim"ática e acolhedora, com a sua fisionomia euro"ea, as suas casas algar ias, as suasmeninas dengosas e os seus "ianos desafinados#

-ág# M a E

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

6! - 7eca de pei8e na praia de (oça%ede*

-or bai(o de nós as barcas de "esca des"e&a am abund?ncias "rateadas de "ei(e e noses"aços li res, entre as fábricas e os estaleiros, seca am ao sol largos estendais de "ei(eesbarrigado#

-ág# EI

GGGGGGGGGGGGGGGGGGG

Capítulo IV - 9eunião co% o (ando1e

:! - 9eunião co% o (ando1e

Sentámo%nos# 4 0andobe acocorou%se diante de nós e contou a sua história % uma histórialonga, cheia de deri açAes, num "ortugu*s destrambelhado e confuso, que o 8asco ia

esclarecendo e que eu escuta a tomado "or ?nsias e curiosidades#Foi o "rimeiro ca"ftulo do nosso romance do 4iro+

4 0andobe era um "astor ganguela,que i ia "ara as bandas do 0enongue, na "az da sua senzalae na obedi*ncia animal das suas mulheres#

-ág# HI

GGGGGGGGGGGGGGG

;! - 9u%o a *e uir para a (ulola do Tc&i%poro

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/ombinaram então, "ara se furtarem a istas indiscretas, seguir "ela margem direita do/ubango e tomar de"ois, tangencialmente, "ela Mulola do Tchimporo,at' : fronteira daDamaral?ndia#

-ág# HLGGGGGGGGGGGGGGG

! - Gi%uto e o recon&eci%ento do oiro

7 o Oimuto descobriu que os eios amarelos eram de oiro#

Ple conhecia%o bem desde que andara com uns ingleses, na região de /assinga, onde bastasezes o tinha isto# Sim"lesmente, enquanto em /assinga as "edras tinham a"enas

ligeir!ssimas incrustaçAes, ali, o oiro forma a eios maciços, com"actos, abundantes#

-ág#

GGGGGGGGGGGGGGGGG

Capítulo V - <reparativo* para a =ornada > %ulola do Tc&i%poro

"! - 9o*a aco%pan&a o co$in&iero 5anota

1eimou o &anota, o tal cozinheiro, em fazer%se acom"anhar "ela mulher % uma

elegant!ssima matrona, de abundantes tranças e muito ata iada de missangas e manteiga# 9ãohou e outro rem'dio senão ceder# inda &ulgámos que desistiria "orque esta a "ara ser "a"á,mas a 5osa deu%lhe ho&e o seu <ltimo filho, de modo que está amanhã "ronta "ara a iagem#

-ág# =

GGGGGGGGGGGGGGGG

Capítulo VI - O %eu di?rio @de "6 de (arço a " de (aioA

+! - (orte do fil&o de 5anota

HQ de 0arço

0orreu esta tarde o filho do Ranota# 5osa aina não dei(ou de soltar brados de dor, a"enasinterrom"idos "ara "erguntar ao "equeno cadá er quem foi o autor do malef!cios De resto,tamb'm o &anota e os outros negros afiançam que a morte foi "roduzida "or feitiço.

-ág# I= e II

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

! - Bca%pa%ento no Capelon o

de bril

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cam"amos no /a"elongo#

-or bai(o de nós, o /unene, como uma grande cha"a de aço "olido, neste fim de tardedourado e calmo, corre tranq ilamente# 7m olta dos bois ascarraceiras brancas e elegantes

"arecem l!rios de que a "aisagem se enfeita#manhã "assaremos na &angada da circunscrição "ara a outra margem#

4 acam"amento, ho&e, neste cenário largo e doce, entre as casas da circunscrição e umcoto elo metálico do rio, tem maior encanto e mais "itoresco# 4 caniço das margens, alto,com"acto, com imagens delicadas na su"erf!cie es"elhenta do /unene, ' uma cabeleira sua eque contrasta com a grenha hirsuta das matas que temos atra essado#

"esar das casas, uma escassa meia d<zia, que há em olta da circunscrição, esta ' bemuma "aisagem de África# Sinto "rofundamente a im"ressão do isolamento e da dist?ncia# /adaum de nós ' uma ilha % &untos, somos um "equeno arqui"'lago, arredado num canto do0undo# 1enho uma noção fantástica do "onto do globo onde me encontro#

-ág# IK e IL

GGGGGGGGGGGGGGGG

/! - 7o1a de Ca**in a

I de B1ril

O soba de /assinga eio ter connosco ao acam"amento# 1razia duas galinhas de "resente einha%nos "edir que lhe matemos um leão que lhe anda a des astar o gado# inda ontem, :

noite, entrou no sambo donde le ou um garrote, que foi encontrado a mais de doisquilómetros, meio de orado# 7 o soba descre eu um lindo bicho, de &uba loira e arrogante %de%certo o mesmo que ante%onteffi ou imos rugir#

-ág# L

GGGGGGGGGGGG

0! - (orte do leão

-assa a das no e horas# De todos os lados a"areciam "retos curiosos % dir%se%ia que algunssurdiam do chão "or alça"Aes misteriosos# nda am como sombras, sem ru!do, todos deolhos muito abertos#

-ág# M

GGGGGGGGGGGGGGG

3! - io rafia de .*tela4 seu drama de mulher branca, nestas lon&uras de África, ' bem um drama africano#

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Filha dum americano, em"regado su"erior da /om"anhia do -etróleo, e duma "ortuguesa,a 7stela te e nos "rimeiros anos da sua ida, "or &unto, tôdas as alegrias e tôdas ases"eranças que a ida tinha "ara lhe conceder#

0enina mimada "elos "ais, filha <nica dum casal bem instalado na ida, retouçou em "urafelicidade, entre a boa sociedade do -ôrto, at' aos doze anos#

@m dia o "ai te e que ir "ara ngola, como "esquisador de "etróleo, numa comissãochoruda e tentadora# 1rou(e a mulher, a filha e uma criada % a 0arta % que assistira aonascimento da "equena e lhe era imensamente dedicada#

$nstalaram%se todos em 0aquela do Tombo, nun%la casa desmontá el de linhas americanas,que tinha um &ardim em olta e domina a, do alto em que esta a assente, a "aisageme(uberante do /ongo#

-ág# MI e MK

GGGGGGGGGGGGGGG

6! - (arta a**ediada por Blve*

Seis meses de"ois a 0arta era assediada "elo l es, um fumante bem a"essoado e decabedais, que ela distinguiu entre todos os esfomeados de mulher que a "erseguiam# /asarame foram i er "ara /abinda, onde consta a que eram felizes#

-ág# MK

GGGGGGGGGGGGGGGG

:! - .*tela no Capelon o

7ncontrou, toda ia, a 7stela, no /a"elongo,u% i er mais tranquilo e arredado# 4isolamento em que esta a o "o oado e a fama de mulher esqui a e arisca que tinha criado, &untamente com umas cacetadas com que o l es afastara um "retendente mais teimoso, "useram%na em soss*go# dormeceu um "ouco a sua irritabilidade latente e os meses foram "assando em sil*ncio e calma monotonia#

l'm disso, o amor inalterá el da 0arta, cheio de delicadezas e transig*ncias, adoça a%a eoferecia%lhe "ermanentemente o sentimento e a realidade dum afecto que não era sus"eito,duma coisa boa entre tantas ruins que a "erseguiam e que ela odia a "rofundamente#

-ág# Q e QE

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

";! - C&efe de po*to de Cafi%a

de bril

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Uo&e, antes de "artirmos, almoçámos com o chefe de "ôsto# 4 8asco não queria ir "ara nãole antar sus"eitas sôbre a "resença duma mulher branca no combóio de homens que sedestinam a /afima, mas não te e outro rem'dio# Se não fôssemos ao "ôsto, teria o chefe

indo ao acam"amento, onde de%certo descobriria a 7stela#

Fomos# 7 ainda bem que fomos.

sede do "ôsto ' uma casa de adobe com telhado de ca"im# 1em uma aranda em olta eestá erguida a um metro do solo, sôbre colunelos de "edra, "or causa da salalé. /om dois barracAes que tem : ilharga constitui todo o "o oado, "ois a antiga missão religiosadesa"areceu, segundo dizem, "or causa do clima que ' hostil e traiçoeiro#

9esta casa i e um homem de c*rca de trinta anos, emagrecido e gasto, com a "ele curtida "ela mataria e "elo sol, a esclerótica amarela, os matares salientes e os beiços gretados# Ráte e duas biliosas e i e só# -assam%se semanas que não * um branco, recebe correio de tr*sem tr*s meses e mais, ganha uma mis'ria e ' % dizem % um funcionário e(em"lar.

riste homem tem, sob a sua administração e guarda, uma região quási tão grande como a "ro !ncia do lgar e, "o oada "or habitantes "obres, a quem a fome isita de ez em quando,e defendida "or um clima rigoroso e cruel# ) 'le quem administra a Rustiça, que atrai osind!genas, que os ensina a culti ar, que cobra o im"osto, que abre estradas e carreteiros, queconstroi as "ontes e os aterros, que faz a escrita do "ôsto % ' *le, enfim, o re"resentante e os!mbolo da senhoria de -ortugal nestas lon&uras incomensurá eis#

De cima mais de%"ressa recebe censuras e a"ertAes que lou ores e incitamentos % de bai(osurgem%lhe dificuldades de tôda a es"'cie, que tem de dominar, quási sem recursos# 4 0undoignora que *le e(iste e os seus heroismos, as suas alentias, a sua coragem "ersistente não t*mas formas teatrais que conduzem : glória# ) uma ilha# manhã, outra biliosa le á%lo%á tal ez eo seu lugar está reser ado na ala comum dos esquecidos# s "ró"rias coisas notá eis quefizer serão florAes "ara adornar a glória doutros mais ele ados em hierarquia#

-ois, *ste homem es"ectrificado, que te e uma ale%ria quási infantil em dar%nos de almoçar,não nos falou senão dos seus "ro&ectos de trabalho, das obras que tinha em"reendido, noa"erfeiçoamento das suas estradas, na disci"lina dos seus ind!genas % de tôdas essas "equenascoisas que são a glória aut*ntica de -ortugal, que e("licam a nossa Uistória e que "rometem onosso futuro#

7 eu que tenho ou ido tantos discursos "atrióticos "ara e(ibir oradores, que tenho istosubirem foguetes entre a ozearia dos i as, que decorei tôdas as fórmulas do "atriotismo

erbalista, ti e de encontrar, em 0oss?medes, o -om"!lio e, "or estes matos, os heróis de quea Uistória não rezará, "ara com"reender a qualidade da minha raça e encontrar uma razão da5azão "ara o meu orgulho de ser "ortugu*s#

7m olta da nossa mesa de almoço, rilhandoo churrascoind!gena e bebendo o inho danossa terra, eu enerei aquele homem que trazia a morte nos olhos e que não tinha outraambição manifestada senão a de ser <til ao seu -a!s % o -a!s que não o conhecia e que i iadas irtudes de tantos como *le#

inda bem que fomos almoçar com o chefe de "ôsto# 4(alá 'le i a quando regressarmosda Mulolacom o nosso oiro e a nossa generosidade#

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-ág# QI a QL

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

" ! - Dotícia* de u% 1ranco na (ulola do Tc&i%poro0de bril

4 8asco foi ho&e isitar umalibata de cuanhamas e oltou "reocu"ado# 4u iu falar da "assagem dum branco cu&os sinais coincidem com o homem que o 0andobe iu na Mulola. 9ão trazia carros nem ser içais# 8ia&a a a "'Ncom uma "reta e don%nia onde calha a#

-reguntou se *le era ingl*s, mas os "retos res"onderam+

% ) branco.

1rata%se "or conseq *ncia dum "ortugu*s# -ara os ind!genas o branco ' só o "ortugu*s# 4soutros são oingrez, o arem o,etc#

-ág#

GGGGGGGGGGGGGGGGGG

""! - 9a*to de elefante*

4 0andobe estudou as "Vgadas e disse que eram de f*meas# "Vgada dos machos ' maior e mais redonda#

-ág# E

GGGGGGGGGGGGGGGGG

"+! - Cuan&a%a*

4s cuanhamas são negros magn!ficos, muito diferentes das outras raças que tenho isto#ltos, esguios, elegantes, de e("ressão alti a e agradá el, são bem os descendentes duma raça

aguerrida de guerreiros agitados e irrequietos# 0uito mais inteligentes e ci ilizados que osoutros "o os izinhos, domina%os ainda o es"!rito da a entura e da agabundagem queassinala as raças gentias de mais "oder#

-ág# H

GGGGGGGGGGGGGGGGGGG

" ! - 7an$ala do Ganipac&o

1ôdas ascubatassão iguais na forma % a"enas a do Oani"acho ' maior#

entrada "rinci"al dacubata, como ' de uso entre os cuanhamas, fica oltada "ara onascente e ' fechada "or uma "orta em orgão, "or onde entram e saem em boa camaradagem,

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os homens, os bois, os "orcos e as galinhas# l'm desta "orta e(iste uma outra, &unto ao curraldo gado, mascarada or arbustos#

-ág# =

GGGGGGGGGGGGGGGGG

"/! - (ul&ere* e ado do Ganipac&o

Foi de"ois disto que o Oani"acho resol eu não casar outra ez e acabar os seus dias nacom"anhia das quatro consertes que &á tinha# De resto, quatro mulheres e mais de duas milcabeças de gado eram &á uma bonita fortuna#

-ág# I

GGGGGGGGGGGGGGGGGG

"0! - (andu%e

5emontámos aos tem"os áureos da inde"end*ncia dos cuanhamas%inde"end*ncia de facto, "ois só "latónicamente, de direito, as suas terras "ertenciam a outros# 7ram então oscuanhamas um grande "o o militar, aguerrido, indomá el, que iera de chefes heróicos at' aoOghamba0andume, o <ltimo que le antara o /uanhama contra o dom!nio "ortugu*s#

-ág# L e M

GGGGGGGGGGGGGGGGGGG

"3! - Con*tituição da* &o*te* cuan&a%a*

7sta am todos os guerreiros % e guerreiro era todo o homem dos quinze aos sessenta anosagru"ados em tangas, erdadeiros batalhAes de cem homens, que o bater da cua, em sinal derebate, ra"idamente &unta a# @m lenga, chefe de guerra, comanda a quatro, cinco e maistangas. Seiscentos homens ti era o lenga Oani"acho sob as suas ordens, quando tinhaquarenta anos#

-ág# MGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

"6! - Bdoração de Cupido

"" de bril

Buando ho&e me a"ro(ima a daabata do Oani"acho de"arei com um es"ectáculoim"re isto# 9uma clareira da mata, mais de inte mu leques de ambos os se(os, o mais elhodos quais não de ia ter mais de dez anos, com"letamente nus, adora am /u"ido segundo oritual em oga em todo o mundo#

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lançando a tromba "or entre a folhagem, fare&ando, escolhendo, arrancando de"ois nummo imento brusco a "arte mais a"etitosa e macia# 0as não "aram# 1ôda a floresta ' umgrande restauram de lista ariad!ssima# -or ezes ' cerrada, ás"era, densa e emaranhada# Plesabrem a sua estrada, cilindrando%a, sem esfôrço, em "ura e fácil fôrça i a#

9o alto duma ár ore há agens a"etitosas, ainda h<midas de or alhos# 7rguem a tromba "ara a aliar da sua delicadeza e, se lhes a"etecem, não im"orta que elas tenham nascido emaltos ramos, numa ár ore robusta, com mais de meio metro de di?metro na base e meio s'culode e(ist*ncia entre as mais# 7ncostam a cabeça ao tronco e em"urram quási sem esfôrço# ár ore range, lamenta%se "or todos os ramos e cai ferida de morte# 4 elefante tem as agensao alcance da tromba# 7scolhe, come umas tantas e "assa adiante, retomando a sua marcha

agabunda de fantasista, a cabeça nunca agitação incessante, umas ezes magestoso einteligente, tomando entos, outras ezes bonacheirão e desenfastiado#

8amos seguindo o rasto, que nos ai contando, na sua grafia bizarra, a fantasia das feras# &áo sol nos cai "esadamente nas costas %o tronco dos pisteiros "arece en ernizado, mas a suamarcha ' sem"re ágil, ritmada, elegante#

mata ai%se tornando mais densa# -ouco a "ouco, : medida que a ançamos, a cabeleiraerde dos ca"ins, ai dando logar : grenha hirsuta e irritante das matas de es"inheiros#

9o terreno, &á endurecido nesta quadra do ano, a "erseguição torna%se mais dif!cil+ osrastos fogem, somem%se e esca"am, "or ezes, : ista mais a"urada# 4utras ezes há rastos

ários que se cruzam# ) "reciso descobrir, entre o de ante%ontem, o de ontem : tarde e de ho&e,aquele que nos con 'm# marcha toma%se assim mais agarosa e fatigante, "or causa dodis"*ndio de atenção a que obriga#

@m "ouco mais longe cerram%se mais as es"inheiras# Só com infinitos cuidadosconseguimos defender%nos da agressão irritante daqueles es"inhos aduncos que nos rasgam arou"a e a "ele#

4 ento que ia de feição % isto ', so"rando contra nós % torna%se instá el, le iano,consentindo que as feras nos ão "ressentir, a algumas centenas de metros, e se "onham emfuga# cendemos cigarros uns sôbre os outros, ner osamente, "ara erificarmos a direcção do

ento# 1emos mais de inte quilómetros andados e sentimos que o nosso esfôrço se ai inuizar "or causa daquela brisa quási im"erce"t! el# -re emos &á o regresso ao acam"amento,

arrasados, tristes, sob os olhares irónicos do &anota#0ais umas dezenas de metros e a dece"ção confir#rna%se# @mas "assadas mais largas, a

im"ressão da "Vgada sôbre a "onta do "', dizem%nos, com a clareza duma frase, que o animalfugiu desordenadamente# quele ' o rasto da corrida, bem diferente das "Vgadas tranquilasdos seus "asseios de agabundo#

"oucos metros descobrimos, ainda quente, a cama da sesta#

) a dece"ção# queles elefantes não se deterão tão cedo, nem nós os conseguiremosalcançar#

-arámos desalentados# 4s pisteiros deram ainda uma olta que desiludiu as <ltimases"eranças#

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-ág# E a EK

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

+ ! - e*culpa de 5anota por ter perdido o al%oço$ncre"ado "or ter "erdido a carga % cesto do almôço e alguns "ratos de alum!nio % afiançou+

% &amba comeu tudo, siô# /omeu mesmo.

-ág# HI

GGGGGGGGGGGGGGGGGG

+"! - i*tir1uição pela população da carne do elefante %orto

Surdiam de todos os lados, armados de catanas afiadas, silenciosos como sombras, atrás danot!cia de carne abundante, que ra"idamente se tinha es"alhado# 7ram em tal n<mero eaumen%

-ág# HK

GGGGGGGGGGGGGGGGGGG

++! - Corpo de .*tela ver*u* a* Vénu* ne ra*

4lho "ara o seu cor"ito frágil, com os ombros desca!dos, os braços quási lineares, "ara a suaface ca ada e "ara a sua beleza lirial mas macerada, e, entre a "iedade, a comiseração, o dóque me ins"ira, não lobrigo sombra de atracção f!sica ou chama de dese&o# 0ais me t*mim"ressionado certas 8'nus negras, de carnes t<rgidas e linhas triunfantes, embora aescorrerem manteiga rançosa e re"elente, e que são menos esqui as e com"licadas#

-ág# HL

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

+ ! - <ai de Ganipac&o e a trave**ia da (ulola do Tc&i%poro

4 Oani"acho assegura a que o "ai do seu "ai tinha atra essado a, 0ulola, com duastangas deguerreiros e que sem"re tinha encontrado água nascacimbasque abrira# 9em *lenem ningu'm sabia que trilho tinham seguido, mas era "ositi o que marcharam do i' "ara 9amaYunde, de endo "ois ter atra essado a Mulolanuma direcção sensi elmente 9orte%Sul#

-ág# HM

GGGGGGGGGGGGGGG

+/! - Bca%pa%ento entre o CuvelaE e a %i**ão da (upa

EI de bril

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cam"ámos entre o /u elaZ e a 0issão religiosa da 0u"a, debai(o duma linda figueira bra a, de co"a hos"italeira e maternal % um suntuoso "alácio de fôlhas erguido na "lanura deca"im# De longe "arece uma a e enorme, na atitude de acolher os filhos debai(o das azas#

-ág# GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

+0! - (i**ão da (upa

0issão a 0u"a forma um largo quadrilátero de casas com"ridas e brancas, comtelhados : "ortuguesa, e arandas coloniais em olta, que fecha um terreiro alegre eamaneirado, de sua e frescura# @m dos lados do quadrilátero ' formado "ela igre&a "obrezinha, onde os "retos, quando cheguei, reza am a oração da noite# 9as outras casasficam as oficinas, farmácias, escolas, refeitório, habitaçAes, armaz'ns % tôdas as "eçasengenhosas e cuidadas de que "recisam uma escola, uma oficina, uma la oira e uma igre&a, amais de quatrocentos quilómetros de terras de recursos.

-or detrás da igre&a ficam a horta e o "omar % milagres de egetação arrancados a estasterras bra ias % e os sambosdo gado#

-ág# E

GGGGGGGGGGGGGGGG

+3! - <adre (ateu* da (i**ão da (upa

5ecebeu%me e fez%me as honras da casa o "adre 0ateus, uni Vlhinho de barbas "atriarcaise olhar doce, desembaraçado nos gestos e nos mo imentos, muito sim"les e agradá el dentroda sua sotaina branca de missionário# 1em a "ele a"ergan<nhada e rugosa%, os cabelos ralos edesencan%iinhados, o cor"o c iciado "or torturas do clima % mas os seus olhos são claros e

i os como os das crianças#

/om *le i em e trabalham na 0issão mais dois missionários# 4 mais no o tem inte anose chegou há seis meses, o mais elho % o -adre 0ateus &ustamente % tem sessenta anos echegou há quarenta# 7 em quarenta anos foi uma ez : 7uro"a.

sua e("ressão satisfeita e feliz, a sua tranq ilidade im"ressionante, o seu olhar "uro decriança foram inteiramente ganhos em lon&uras como esta a desbastar sel agens e a re elar%lhes o as"ecto su"erior da senhoria dos brancos#

o mesmo tem"o que outros brancos ieram ocu"ar "elas armas e dominar com a guerra,em cata de glórias terrenas, merc*s da -átria e cum"rimento de de eres, eio *le conquistar com o amor e a caridade, em cata do agrado de Deus. 4s "rimeiros oltaram ao som defanfarras, cantando itória, com a sua galhardia militar de encedores a quem a Uistória serágrata % *le e os seus ficaram, humildes e ignorados, "ara uma glória mais alta, que não está namão dos homens conceder#

Sinto um grande res"eito "elos heróis da África e a alio ho&e, em boa consci*ncia, o raroquilate dos seus heroismos % mas enero estes, que não t*m ambiçAes de riqueza nem de

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glória, que consomem os cor"os a fogo lento de muitos anos, que amam sem alarido econstroem sem es"ectáculo, que não es"eram recom"ensas na terra e que fazem o dom totalda sua ida, ao Deus em que creem e : -átria que ser em#

1odos nós admiramos, franca ou intimamente, os homens que realizam as grandes coisasque as nossas "ossibilidades não alcançam# 7 eu que im : África a"enas "ara ganhar dinheiro e que sou inca"az de desistir do meu intento ou renunciar, sob o e(em"lo su"erior dum grande gesto, aos meus a"etites e :s minhas ambiçAes, não "osso dei(ar de reconhecer naminha inferioridade o "onto de refer*ncia que me "ermite a aliar a su"erioridade deles#

) "reciso estar em África, sob o "*so da Dist?ncia e do $solamento, conhecer a dureza dumlongo m*s de iagem atrás dum carro boer e sentir, ines"eradamente, a doçura desta casinha "erdida no sertão, onde tangem sinos de aldeia e as almas "odem des"ir o colete de forças emque mato as "rende, "ara com"reender a grandeza e o heroismo dos missionários#

&á tinha ou ido falar deles# 0as ho&e senti%os#

4 -adre 0ateus fez%me beber a sua magn!ficaberlunga, bebida fermentada feita de farinhade milho, e con ersou largamente comigo, na aranda da 0issão, de"ois de terminada a resada noite e recolhidos os muleques#

8eio "ara a África quando o Sul de ngola era "raticamente umaTerra de &inguém.7ra otem"o dos sobados "oderosos e indomá eis e do absolutismo ind!gena, em que oscomerciantes que se atre iam "ara o interior tinham que "agar direitos de "assagem, quemuitas ezes eram a "ró"ria ida# -ara muitos "o os ind!genas foi *le o "rimeiro branco que

iram#

7m quarenta anos de missão assistiu e colaborou na e olução que le ou a soberania de-ortugal a todos os cantos de ngola e que transformou as antigas raças guerreiras e crueisem "o os nacionais e "ac!ficos de trabalhadores# /aniinhou algumas ezes : frente dascolunas militares, bifurcado numa mula, como guia das tro"as, inter"rete, medianeiro, esal ou muitas idas de "risioneiros de guerra# 0as tamb'm andou só "or entre os "o osrebeldes, a lutar com "ala ras e e(em"los de amor contra a sua barbarie e a sua ignor?ncia, econquistando uma influ*ncia cu&a acção "acificadora dei(ou muitas ezes a "erder de ista o*(ito das armas#

4 -adre 0ateus não acredita que nenhum outro "o o colonizador saiba tratar e fazer%seestimar "elo ind!gena como o "ortugu*s#

-ág# H a I

GGGGGGGGGGGGGGGGG

+6! - Caça de u% =acaré

9um areal do rio &á de"ois de acam"armos, esta am dois "ortentosos &acar's estendidos naareia, em doce ri"anço, saboreando as del!cias do sol "oente# "ontei demoradamente :cabeça do n%laior e a minha bala certeira foi ingar a "obre 5osa# 4 &acar' atingido em cheiodeu um salto "rodigioso % uma e("losão de energias "oderosas a transformarem%se % e cafu de barriga ao l'o, com a cauda a mergulhar na água#

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-ág# =

GGGGGGGGGGGGGGGG

+:! - Fui**onde e u% e*queleto &u%anoSob as ramadas "endentes a r ore i com o seguinte es"ectáculo+ 4'uissonde, uma formiga

escura, de grandes mand!bulas, carn! ora e nauseabunda, num e('rcito de muitos milhAes,que marcha a de longe, em cordão com"acto e grosso, escabicha a as <ltimas fibras de carnenum esqueleto humano# 7ra um assalto em massa, re"elente, encarniçado#

4 meu ca alo assustou%se e recuou es"a orido % e eu, mal "ercebi a cena, abaleiimediatamente a "re enir o 8asco#

4 esqueleto esta a sentado &unto ao tronco da figueira, es"ernegado, a cabeça deitadasôbre o ombro#

entou o 8asco que de ia ser recente a morte do "reto, "ois alguns ramos da ár ore, "artidos de%certo "or *le, ainda esta am frescos#

4 assalto do'uissonde dera%se "ortanto algumas horas antes % umas horas que bastaram "ara que o cadá er fôsse inteiramente de orado "elas terr! eis formigas#

-ág# =I e =K

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

Capítulo VII - Terra de Cuan&a%a*

;! - #enda do Vélo d' Oiro

7u era como aquele "astorinho da lenda que foi sentar%se na "raia e iu luzir sobre o metalilusório das águas, muito longe, um lindo 8'lo ar# dN4iro# /omo *le, tamb'm eu me deitei anadar, "al"itante, confiado, a estalar de entusiasmos e("losi os#

7 ho&e, que não sou "obre nem desgo emado como era, quanto eu não da a "ara ser ainda

o "astorinho arrebatado que se meteu a cortar as águas estonteado "elo fulgor do 8'lo dN4iro.-ág# IL

GGGGGGGGGGGGGGGGG

! - Tele rafia indí ena

s not!cias no mato correm quási tão de"ressa como numa grande cidade# telegrafiaind!gena, não menos com"licada nem confusa "ara os leigos do que a nossa telegrafia deci ilizados, não ' tamb'm menos rá"ida nem menos "erfeita# conteceu "or ezes termosnot!cias de regiAes distantes de centenas de quilómetros nalguns "ostos "or onde "assámos#

chei o caso natural durante muito tem"o, "ois em todos os "ostos ha ia um telefone# 0as o

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que só muito tarde im a saber ' que essas not!cias eram muitas ezes dadas aos /hefes de-ôsto "elos ind!genas e não "elo tel'grafo#

Desta maneira, tr*s horas de"ois, não só o /hefe de -ôsto sabia que andá amos : "rocura

duma mulher branca, como tamb'm o sabiam todos os negros da região#7ra um e('rcito a "rocurar a 7stela#

-ág# K

GGGGGGGGGGGGGGGGG

"! - C&efe de po*to do .vale

De"ois entraram a zumbir%me nos ou idos ibraçAes estranhas e mal tinha fôrças "arale antar as "ál"ebras# Dei(ei de er#

8oltei a n%iim no acam"amento# 7sta am &unto da minha cama o /hefe de -ôsto do 7 alee o 8asco que acaba a de in&ectar%me o soro anti enenoso#

-ág# KE e KH

GGGGGGGGGGGGGGGGGG

+! - 7o1a do .vale de*co1re a .*tela

7stela tinha sido encontrada "elo soba do 7 ale, a c*rca de no e quilómetros acam"amento, &unto dum tufo de ca"im# Foi o 8asco quem a foi buscar na carrinha e a reanimou# 7sta aarrazada de fadiga % erdadeiramente na ante%c?mara da morte % quando deram com ela# -orfelicidade nem as feras nem ocacimbaa acabaram# 5ecolheram%na na tenda de lona e aliesta a quando eu olteiao acam"amento :s costas do /atuba#

-ág# KH e K Wcont#X

G%G%G%G%G%G%G%G%G%G

! - 7ede, rou1o do cavalo e de*co1erta do ladrão) "reciso sentir a s*de % a s*de que ' a im"erios necessidade de "ro er de água os tecidos

desidratados, e não a sim"les ontade de beber que se ganha na calma das cidades e natentação das cara"inhadas % "ara res"eitar aquela água o"aca, adormecida do fundo su&o dascacimbas,que tem a babugem dos animais do mato e ' muitas ezes a água que resta dos seus banhos#

7u que tantas ezes bebia água em 6isboa com receio de me "erder "or ia de febrestifoides, água que era clara e trans"arente, bebi muitas ezes as águas imundas dascacimbascoma es"erança de me sal ar#

4ito dias de"ois do ale "assámos /afima e encontrámos a <ltima libata ind!gena % umalibata rica de sec(lo,que tinha muitos bois e muitas mulheres#

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9esse dia desa"areceu misteriosamente o meu ca alo# Fiquei um "ouco desorientado antea "ers"ecti a da falta de trans"orte#

4 &anota aconselhou imediatamente que se interrogasse o ôlho de idro do 8asco, que

de ia ter isto "ara onde fôra o ca alo# 0as o 8asco, mais "rático e e("eriente nas coisas do/uanhama, logo que soube da falta do >7storilC, garantiu+

% Foram os cuanhamas#

[Pstes ind!genas são ótimos ca aleiros e a"reciam imenso os ca alos que, em geral, trocam "or bois na África do Sul, mas que acham cómodo obter tamb'm sem mais trabalhos nemdes"ezas do que as que o meu lhes tinha custado#

Dirigimo%nos imediatamente : senzala. O8asco agarrou no braço do "rimeiro negro quelhe a"areceu e a"ertou com fôrça#

7 antes que o in ecti asse ou lhe fizesse alguma "regunta, res"ondeu o "reto+

% 9ão fui eu senhor### Foi o /hilulo.

SherlocY Uolmes não teria sido mais rá"ido# Dez minutos de"ois &á ca alga a no meu7storil a caminho do acam"amento#

-ág# KL e KM

GGGGGGGGGGGGGGGGGG

/! - e*co1ereta do .*queleto do Gi%uto

um "onto de refer*ncia# 7fecti amente um dia iemos a encontrar um esqueletodesmantelado, que o 0andobe logo reconheceu como sendo o do Oimuto, "ois tinha ao ladouma catana e, sobre os il!acos, restos estam"ados duma tanga#

-ág# LE e LH

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

0! - (ucancala

7 com o braço a"onta a%nos um ulto distante, quási um "ingo escuro no creme do areal#

7ra ummucancala.

0etemos os ca alos : carga numa correria doida# o ulto, imó el ao "rinc!"io, não tardouem "erceber as nossas intençAes e lançou%se tamb'm em correria desabalada# 9ão foi longa a "erseguição# 4 galo"e dos ca alos ganha a terreno, ertiginosamente, e "oucos minutosde"ois está amos em cima do mucancala es"a orido#

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Deitou%se de costas no chão, com a bôca escancarada "elo esfalfamento, os olhosdes airados de terror e de f<ria, os &oelhos le antados em atitude defensi a, a flecha em risteameaçando % e gania deses"eradamente como um mabeco#

7ra um ti"o re"elente de animal bra io# sua e("ressão anatómica oscila a entre a dohomem e a do s!mio# "ele de côr des anecida, num quási amarelo%torrado, tinha um as"ectosu&o e incardido, como que lambuzada de argilas em lama, o cor"o enf esado de lili"utiano,da a a im"ressão da timidez f!sica, os braços longos, a cabeça re"ugnante e assim'trica, muitora"ada dos lados, com uma crista de cara"inha cerrada que ia da testa ao cocuruto, a faceesquálida, os ma(ilares salientes, os olhos obl!quos e enco ados, a bôca irregular e grossacom um geito de f!stula infectada, forma am um con&unto re"elente, de causar náuseas#

Se realmente ' de admitir que o homem descende do macaco e se as certezas cient!ficas deDar\in são mais alguma coisa do que as habituais fantasias duma /i*ncia, que todos os diasnega o que ontem afirmou "ara dar legar a uma no a afirmação, os mucancalas re"resentam,dentro dessa erdade, o ser de transição ] uma es"'cie de caracter!stico marco miliário dogrande caminho que ai do gorila ao homem a"urado da 7uro"a#

-ág# L a LI

GGGGGGGGGGGGGGGGGGGGG

Capítulo VIII - 9u%o > %ulola do Tc&i%poro

3! - <artida para a %ulola do tc&i%poro

$n estimos finalmente com o areal na madrugada de de &unho, aos "rimeiros al ores do dia#

-ág# LM

GGGGGGGGGGGGGGGG

6! - Carrin&a4 carroça pu8ada por dua* =unta* de 1oi*

6e á amos a"enasa carrin&a, pu8ada porduas &untas de bois,*ei* preto* e %ai*uma &unta de reser a#

-ág# M

GGGGGGGGGGGGGGGG

:! - (ucancala pre*o

J noite, : fôrça de cuidados e de drogas da nossa farmácia, o sel agem "arecia esca"o ereanimado# 0as nem um momento "erdeu as atitudes bra ias e esqui as# /hegou a morder o0andobe quando *ste lhe da a de comer#

-ág# EQ

GGGGGGGGGGGGGGGG

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Capítulo I - Do interior da %ulola do Tc&i%poro

/;! - alanço da* perda*

7sti emos dois longos dias a refazer%nos , e "udemos então, no mesmo logar onde emtem"os o 0andobe e o Oimuto tinham armado a suacubata, fazer o balanço das nossas "erdas+ dois ser içais, e dois bois ; os i os trô"egos e derreados, o carro desmantelado.

-ág# E

GGGGGGGGGGGGGGGGG

/ ! - (utiati

-redomina a o umtiati e as leguminosas de es"inho, mas iam%se tamb'm, "or todos lados,anafadas mulembas, sicomoros, grandes rubiaceas, o nucibe, a otalambae o i ungo W"lantasda borrrachaX, enormes figueiras bra as e, um "ouco mais es"açados, os ibondeiroslambazados, feios, fortes, erdadeiros aquidermes da flora#

-ág# E =

GGGGGGGGGGGGGGG

/"! - I%1ondeiro e o ar%a$ena%ento de ? ua

o terceiro dia mudámos o acam"amento seis ou oito quilómetros mais "ara diante, at' &untodum ibondeiro ôco onde as chu as tinham dei(ado uma água l!m"ida e fresca como a deSintra#

-ág# E K e E L

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/+! - Gonc&o, Catut1a e 5ai**e

6embro%me que uma noite Vle, o Ooncho, o /atuba e o &aisse, comeram uma cabra inteira

em olta da fogueira, enquanto nós doriniamos# 5asgaram%na em tiras, que "assaram "elo sal,assaram%nas no lume e foram%nas tasquinhando insacia elmente at' de manhã#

-ág# E L

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/ ! - Hi*t ria de u% leão e de u% porco no =ardi% $ool ico de #uanda

-assou%se o caso no &ardim Toológico de 6oanda e numa &aula onde o humorismo ou acuriosidade cient!fica de algu'm tinha instalado, con&untamente, um leão e um "orco# 7ramambos recem%nascidos, quando lhe im"uzeram a comunidade, e foram crescendo em boacamaradagem e amizade at' : idade adulta# 1rata a dos bichos um condenado que se lhesafeiçoara e que tinha o má(imo cuidado em não lhes faltar com as refeiçAes na abund?ncia

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necessária e a horas e(actas# Durante as horas de calor dormiam ambos muitos chegados umao outro; e de manhã, "ela fresca, era frequente erem%se brincar, o "orco dando trombadas noleão, o leão sa"ateando o su!no com carinhoso bom humor# $sto durou c*rca de dois anos % otem"o suficientemente "ara fazer do "orco um grande ce ado e do leão uma im"onente fera#

0as nem a gordura a"etitosa dum nem os instintos sanguinários do outro alteraram, durante*sse tem"o, a boa harmonia da sociedade#

@m dia, o condenado que os trata a terminou o tem"o de degredo, e("iou a "ena e foi%seembora# 8eio outro "ara tratar dos animais, mas não lhes tinha, infelizmente, o mesmo amor#

cabaram%se as refeiçAes a horas certas e aquela abund?ncia tranq ilizadora em que tinhami ido#

@ma noite o condenado a"anhou tão grande bebedeira que este e dois dias sem dar decomer aos bichos# 4 leão su"ortou heroicamente a fome um dia inteiro e mais a manhã dooutro dia# De"ois começou a e(as"erar%se e a ser tentado "elas formas roliças docom"anheiro# 8elhos instintos ancestrais des"ertaram e a biologia da fera dominou, como erade es"erar, a sua sentimentalidade de camarada# J tardinha foi%se ao "orco e comeu%o.

t' aqui decorre a"enas a história banal dum leão e dum "orco tal como qualquer homem,desde 6ineu a Roão Fernandes, a teria com"reendido e "re isto# 0as a história tem umacontinuação#

4 leão ficou só# s del!cias da gula e da digestão, como tôdas as del!cias do f!sico, "assaram de"ressa# 9otou então que lhe falta a o com"anheiro, lembrou%se, "ossi elmente,do seu focinho meigo e das suas car!cias ternas % e entrou a entristecer# -assa a os diasdeitado, melancólicamente, a um canto da &aula, e "erdeu aquele mesmo a"etite que o le ara ade orar o com"anheiro# 7magreceu, "ôs%se num estado miserá el, "erdeu a alti ez leonina doolhar e a arrog?ncia decorati a da &uba, adoeceu# @ma manhã foram encontrá%lo morto na &aula % imorto com sa dades do "orco.

-ág# EEM a EH

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Capítulo - 9e re**o > Hu%pata

//! - O ad%ini*trador de Capelon o e a re*olução de u%a indacaFoi o 8asco dar com o administrador a resol er umaindacaentre dois sec(los da região#

-or bai(o duma grande figueira bra a que e(iste em frente da secretaria da circunscriçãotinham%se re nido as duas "artes litigantes, com as res"ecti as testemunhas, e alguns anciãosque faziam de &urisconsultos do direito ind!gena#

4 dministrador, com o int'r"rete ao lado, muito senhoril e sentencioso, interroga a eou ia as "artes#

4 quei(oso começou a e("ôr o seu caso, numa l!ngua de tra"os acom"anhada "or esgares egestos# De ez em quando o dministrador "regunta a ao int'r"rete+

% 4 que diz *le 3

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7 o int'r"rete muito s'rio e com"enetrado do seu "a"el, res"ondia+

% -or enquanto, senhor, ainda não disse nada % só falou.

o cabo duma boa meia hora, o "artici"ante disse enfim alguma coisa# 1rata a%se dumcaso gra e+ 4 quei(oso tinha roubado um boi negro ao r'u# Descoberto "or *ste quando "retendia disfarçar o boi, "intando%o de branco, não conseguiu esconder o latroc!nio, "orquecomeçou a cho er e a negrura do boi a"areceu em "leno e("lendor# 9a noite d*sse dia morreuo boi coma caonha,antes de ter recolhido :libata do leg!tirno "ro"rietário# /oncordou oquei(oso que de ia ao outro uma indemnização e ti eram "or *sse tem"o uma indaca%a "rimeira % "ois o roubado e(igia um boi melhor do que o seu e o gatuno fazia tôda a dilig*ncia "or im"ingir um "ior# 5esol ida a questão "elo dministrador recolheram as "artes "aracum"rir a sentença, que de ia e(ecutar%se ao outro dia# 0as durante a noite que mediou entrea indaca ea e(ecução da sentença, o lará"io, e agora quei(oso, te e uma formidá el dor dedentes# 7 como era a "rimeira de que sofria e não conseguiu re"ouso em tôda a noite, "or iada iol*ncia das dores, concluiu que tinha sido feitiço arran&ado "elo outro "ara se ingar dofurto do boi# 7 logo resol eu indemnizar%se dando a"enas um garrote "equeno# 9ão quis ooutro, que nega a a sua inter enção no feitiçoe que a"enas queria o seu boi, e eiu o "rimeiroquei(ar%se : dministração#

meaça a durar horas aquela questão, com o de"oimento das testemunhas e o conselho dosanciãos, quando o 8asco, "ara abre iar, se "restou a ser ir de int'r"rete#

-ág# E e E E

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/0! - C&e ada > C&i1ia

$a 0arço entrado quando a atingimos a /hibia, a quarenta quilómetros, a"ro(imadamente, daUum"ata % dois dias de iagem com um bocadinho de ontade#

-ág# E

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Capítulo I - C&a ada a #i*1oa/3! - C&e ada a #i*1oa

/heguei a 6isboa em gosto#

Buando "or entre a bruma duma manhã cinzenta os meus olhos começaram a encher%se da?nsia de en(ergar os "rimeiros contornos do /abo da 5oca, salta a%me o coração do "eitoem doida alegria#

-ág# E=H

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/6! - <?tria <ortu ue*a na .uropa e e% África

minha saudade era a"enas % e nunca &ulguei que "udesse ser tão grande % a saudade f!sicae substancial "ela terra# /om"reendi que não era um grilheta libertado, mas a"enas o filho

criado e a"etrechado que se desgarra do lar "aterno e ai : sua ida# minha saudade "or umaterra a "enetrar no meu entusiasmo "or outra, realiza a em mim a unidade es"iritual duma-átria e está na 7uro"a e na África#

-ág# EIM

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/"0" - O Vélo d Oiro, Henrique Galvão - Jndice

^ndice de 5ui 5oberto 5amos

/a"!tulo $ 1entação de África =

/a"itulo $$ /hegada a 0oçamedes =

/a"!to $$$ /hegada ao 6ubango e ida "ara a Uum"ata EK

/a"!tulo $8 5eunião com o 0andobe H=

/a"!tulo 8 -re"arati os "ara a &ornada : mulola do 1chim"oro =H

/a"!tulo 8$ 4 meu diário Wde EL de 0arço a E de 0aioX I

/a"!tulo 8$$ 1erra de /uanhamas IK

/a"!tulo 8$$$ 5umo : mulola do 1chim"oro LM

/a"!tulo $_ 9o interior da mulola do 1chim"oro E

/a"!tulo _ 5egresso : Uum"ata EHK/a"!tulo _$ % /hagada a 6isboa E=H

Henrique GalvãoMilitar ortugu!s, nascido em "#$% e falecido em "$&', de nome com letoHenrique (arlos Malta Galvão, foi administrador nas col)nias e de utado *Assembleia +acional durante o stado +ovo- .or volta de "$%', or/m,afastou0se do regime- 1oi reso em "$%2, acusado de aç3es cons irativas,

evadindo0se em "$%$- (omandou de ois o eraç3es armadas contra oregime, como o sequestro do aquete 45anta Maria4, em "$6", que teve

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forte re ercussão internacional-Henrique Galvão rodu7iu v8rias obras liter8rias, como Em Terra dePretos. Crónicas d'Angola 9"$2$:, Revolução 9"$;":, Contos

Africanos 9"$;<:, Impala. Romance dos Bic os do!ato 9"$<6:, Pele 9"$%#:, entre muitos outros- =ecebeu o "> .r/mio de?iteratura (olonial or " #elo d'"iro , e o .r/mio de ?iteratura (olonial

or Terras do $eitiço e " %ol dos Trópicos -