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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE PEDAGOGIA ROSIMARY PASTOR CARNEIRO DE CASTRO INCLUSÃO DE CRIANÇAS SURDAS NO ENSINO INFANTIL DA REDE PÚBLICA FORTALEZA 2013

ROSIMARY PASTOR CARNEIRO DE CASTROww2.faculdadescearenses.edu.br/biblioteca/TCC/PED... · INCLUSÃO DE CRIANÇAS SURDAS NO ENSINO INFANTIL DA REDE PÚBLICA Monografia com pré-requisito

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE PEDAGOGIA

ROSIMARY PASTOR CARNEIRO DE CASTRO

INCLUSÃO DE CRIANÇAS SURDAS NO ENSINO INFANTIL DA

REDE PÚBLICA

FORTALEZA

2013

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ROSIMARY PASTOR CARNEIRO DE CASTRO

INCLUSÃO DE CRIANÇAS SURDAS NO ENSINO INFANTIL DA

REDE PÚBLICA

Monografia submetida à aprovação da

Coordenação do Curso de Pedagogia do Centro

Superior do Ceará, como requisito parcial para

obtenção do grau de Graduação.

FORTALEZA

2013

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ROSIMARY PASTOR CARNEIRO DE CASTRO

INCLUSÃO DE CRIANÇAS SURDAS NO ENSINO INFANTIL DA

REDE PÚBLICA

Monografia com pré-requisito para obtenção do

título de Licenciatura em Pedagogia, outorgado

pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido

aprovada pela banca examinadora composta pelos

professores.

Data de aprovação 19/12/2013

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Professor Ms. Michael Viana Peixoto

________________________________________________

Professora Nívea Maria Pinheiro Costa

_________________________________________________

Professor Ms. Jefferson Falcão Sales

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por mais uma vitória alcançada em minha vida, por ter me dado a

estrutura para continuar os estudos, e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos

que surgiram em meu caminho.

Ao meu querido esposo Walmir Nascimento de Castro Filho, que me apoiou e me

encorajou em toda a trajetória de meus estudos, com paciência e dedicação, pela

compreensão, apoio e suporte dado ao longo da minha vida para que tudo que tenho

planejado e sonhado possa ser realizado.

A minha mãe Lindaura e ao meu pai João que me ajudaram em oração, e por serem

responsáveis por tudo que sou hoje, ao meu filho Davi que é uma benção na minha vida.

Aos queridos amigos, Mayana, Margalyer, Evaneida, Rebeca, Jéssica, que sempre

deram-me força e coragem para continuar e fizeram parte da minha vida de forma

impressionante, e outros que de forma indireta colaboraram com o incentivo e auxílio

constante na elaboração desse trabalho.

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EPÍGRAFE

“Aprende-se LIBRAS para conhecer melhor as pessoas, o mundo, o pensamento,

refletindo, construindo e constituindo-se de amor e respeito pelas diferenças. Aprender

LIBRAS é respirar a vida por outros ângulos, na voz do silêncio, no turbilhão das

águas, no brilho do olhar. Aprender LIBRAS é aprender a falar de longe ou tão de

perto que apenas o toque resolve todas as aflições do viver, diante de todos os desafios

audíveis. Nem tão poético, nem tão fugaz... apenas um Ser livre de preconceitos e

voluntário da harmonia do bem viver.” Luiz Alberto B. Falcão.

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso procura esclarecer, preparar e conscientizar

professores e leitores sobre o tema Educação de Surdos, trata também sobre a

abordagem da surdez no ambiente familiar e sua problemática no que se refere à

inclusão dos surdos na escola pública e seu enfoque pedagógico no que se refere às

políticas públicas incipientes nessa comunidade em processo de reconhecimento e

legitimação de seus direitos básicos e dignidade. Cita as divergências da perspectiva das

ciências biológicas em confronto com as análises de alguns especialistas em educação

dos surdos. Discorre e acompanha o progresso de sistematização das leis que protegem

a pessoa surda, suas conquistas sociais ao longo da história em alguns países e as várias

controvérsias no que se refere a sua aplicação. Aponta também para as dificuldades

neurolinguísticas da pessoa surda no processo de tentativa de integrá-la ao ensino

público infantil, assim como para os consequentes problemas psíquicos gerados pelas

dificuldades e frustrações do surdo em sua tentativa de engajamento social.Desenvolve

análises e teorias de autores da área com relação aos vários tipos de linguagens

desenvolvidos na comunidade dos surdos: bilinguismo, linguagem de sinais e gestos,

reflete sobre suas possibilidades metodológicas. Aborda imperfeições no que concerne

aos múltiplos obstáculos políticos (descaso), sociais e familiares e destaca

principalmente a ferramenta LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), como suporte para

uso funcional e dinâmico da língua assim como sugere possibilidades de soluções

psicopedagógicas personalizadas para cada caso de surdez.

Palavras-chave: Educação de Surdos – Inclusão – Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS) – Linguagem – Escola – Bilinguismo - Políticas Públicas.

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ABSTRACT

This paper of conclusion course intends to clarify, prepare and apprize teachers and

readers about deaf education topic. It discuss about deaf approaching into familiar

sphere and its discussion concerning to the inclusion of deaf in public school and its

pedagogic scope linked with incipient public policies at this community in process of

acknowledgment and probate of their basic rights and dignity. It discusses about

divergences in perspective of biologic science in confront with a nalyses of somes

pecialists in deaf education. It shows and it follows the progress of systematic of laws

that protect deaf person, social conquests of deaf people in the history yinsome country

esandthe several controversies concerning to its applying. It writes about the various

neurolinguistic difficulties in deaf person in the process of trying to introduce her in the

child public school, too, as long as to the consequent psychological problems taken

from the difficulties and frustrations of the deaf person in her attempt of social

engagement. It develops analyses about many types of languages improved in the

community of deaf communication: bilingualism, sign language and gestures. They

reflect about their methodological possibilities. It approaches imperfections concerning

to plenty of policies obstacles (contempt),social and familiar and cross out meanly, tool

LIBRAS (Brazilian Sign Language), as a support to the functional and dynamic use of

the language as long as suggests pedagogic solutions personalized to each case of deaf.

Key words: Deaf Education – Inclusion – Brazilian Sign Language (LIBRAS) –

Language – School – Bilingualism – Public Policies.

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO 08

2. DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DOS SURDOS 10

2.1. A SURDEZ E SUAS POLÍTICAS PÚBLICAS 15

2.2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DOS SURDOS 17

3.AMBIENTESOCIAL DA PESSOA SURDA 23

3.1.A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EAS TEORIAS DA EDUCAÇÃO 29

3.2.LINGUAGEM E BILINGUISMO 42

4.A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 54

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS 62

6. REFERÊNCIAS 68

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1.INTRODUÇÃO

Atualmente ocorre o processo de inclusão de crianças surdas nas escolas

públicas e, a atual infraestrutura destas instituições demanda adaptações para o

recebimento delas no que se refere à implementação de políticas públicas viáveis em

prol dessa demanda da sociedade.

Santana (2007) aponta que, por meio da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais)

torna-se possível abordar qualquer conceito, concreto ou abstrato, emocional ou

racional, complexo ou simples.A LIBRAS, assim como outras línguas de sinais, é

considerada língua, no sentido pleno, por conseguir preencher os pré-requisitos

científicos para tal diferentemente das línguas de sinais que possuem elementos

linguísticos comuns às línguas orais. São consideradas pelos linguistas como línguas

naturais ou como um sistema linguístico legítimo.

Este sistema de comunicação possui estrutura gramatical própria. Os sinais são

formados por meio da combinação de formas e de movimentos das mãos e de pontos de

referência no corpo ou no espaço.

A formação de professores para atuar na educação infantil deve ocorrer

referencialmente em cursos de nível superior. Simultaneamente, ou posteriormente à

licenciatura, o professor deve participar de cursos de metodologia do ensino de línguas

(ensino da língua portuguesa nas modalidades oral e escrita); de curso para o

aprendizado da língua de sinais em contexto; e de cursos de interpretação da língua de

sinais e língua portuguesa.

Seus objetivos específicos são a análise do processo de inclusão destas crianças;

a compreensão da importância da educação delas no ensino infantil; a reunião de

possibilidades psicopedagógicas a fim de minimizar o estigma ou o desprestígio social

que incide na comunidade surda ainda em voga e a investigação da preparação ou

devida capacitação dos professores para trabalhar com crianças surdas, utilizando a

ferramenta de comunicação LIBRAS, língua de sinais, a qual promove possibilidades de

expressar vários assuntos, pensamentos e ideias.

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A justificativa da escolha do tema, tem como escopo a precariedade de políticas

públicas direcionadas à pessoa surda dentro das escolas públicas municipais. Segala

(2009) afirma que pesquisas mostram que apenas 9% das crianças surdas de 0 a 17 anos

estão matriculadas no Ensino Básico.

No que se refere à problemática do tema deste trabalho, apontamos que as

crianças surdas por serem filhas de pais ouvintes possuem um prejuízo linguístico, por

não compartilharem a língua comum de seus pais. Elas não têm acesso ao português e

os familiares não conhecem LIBRAS. Escassos conhecimentos culturais/ sociais

desenvolvidos chegam aos bancos escolares. Santana, (2007).

Este estudo será conduzido a partir da abordagem bibliográfica, uma vez que

inclinamo-nos em fazer um levantamento, seleção e arquivamento de informações sobre

a situação da pessoa surda. Buscamos fontes de revisão de vários autores como: Perlin

(2007), Sá (2004), Lacerda (2006), Mantoan (1997) e Poker (2002).

Esta monografia está dividida em três partes. Na primeira parte,buscaremos

fundamentar nossa trabalho com a definição de surdez e o que pensam as políticas

públicas de nossa país sobre essa temática.

Na segunda parte, descrevemos o ambiente social em que vive a pessoa surda e a

sua problemática, depois discorremos sobre a educação inclusiva e as teorias da

educação concernentes à pessoa portadora de surdez, logo após, abrangemos uma

perspectiva sobre linguagem e bilinguismo.

Já na terceira parte, focaremos nosso estudo sobre a intervenção

psicopedagógica no que diz respeito à aprendizagem da criança surda na educação

infantil. Aqui buscaremos mostrar algumas práticas que podem ser usadas pelos

profissionais de psicopedagogia. Esta nova área do conhecimento pode intervir de

maneira satisfatória em crianças surdas.

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2. DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DOS SURDOS

Inicialmente procuramos atribuir uma definição para surdez, discorremos sobre

seu ambiente social e sobre Wittgenstein (1979). Este filósofo da linguagem fornece-

nos elementos para pensarmos no caráter produtivo da linguagem. Conceituar surdez

num determinado contexto histórico, social ou educacional não é uma tarefa simples,

pois requer conhecimentos dos diferentes graus de perdas auditivas do sujeito, seus

relacionamentos com os pares, a forma com ele vê e como ouve o mundo que o cerca

são tão importantes, quanto iniciá-lo no processo de alfabetização.

Conceituando cientificamente, Myers (1999) explica didaticamente o processo

de audição, o que podemos resumir a seguir.

Para ouvir, é necessário converter ondas sonoras em atividade neuronal. O

ouvido humano realiza esse fenômeno por meio de uma intrincada sequência de reação

mecânica. Primeiro, o ouvido externo visível canaliza as ondas sonoras através do canal

auditivo para o tímpano, uma membrana esticada que vibra com as ondas.

O ouvido médio transmite as vibrações do tímpano por meio de um pistom

constituído por três ossículos (martelo, bigorna e estribo) para um tubo em forma de

caracol no ouvido interno, chamado cóclea. As vibrações que chegam, fazem a

membrana da cóclea (uma janela oval) vibrar o líquido que enche o tubo. Este

movimento provoca ondulações na membrana basilar, que é revestida de células

capilares, assim chamadas por causa de suas pequenas projeções que parecem cabelos.

Ao final dessa sequência, a ondulação da membrana basilar dobras essas células

capilares, como um vento ondulando um campo de trigo.

Por meio dessa sucessão de eventos mecânicos, as ondas sonoras fazem com que

o ouvido interno envie mensagens neuronais para o córtex auditivo no lobo temporal.

Do ar vibrando a pistom em movimento, ondas de fluído e impulsos elétricos para o

cérebro. Acontecendo todas essas etapas, efetiva-se enfim, o milagre da audição.

Tomamos como base a fundamentação teórica de alguns autores, procurando dar

o suporte para a edificação desse trabalho, focalizando autores como Ana Paula

Santana.

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Para a pesquisadora, a discussão sobre o funcionamento cognitivo na surdez não

pode se restringir apenas aos aspectos biológicos. Segundo Skliar (1998), existe a

possibilidade de estar sempre buscando e propondo, conhecer a apropriação das

potencialidades da pessoa surda.

Segundo Skliar (1998), a surdez constitui uma diferença a ser politicamente

reconhecida; a surdez é uma experiência visual, uma identidade múltipla ou

multifacetada, e, finalmente, ela está localizada dentro do discurso sobre a deficiência.

Voltados para a análise dos discursos acerca da surdez seja no contexto político,

social e escolar inclusivo, sem, entretanto esquivar-se da importância desse sujeito

como agente de transformação, como um todo no meio social. Entretanto, o diagnóstico

de surdez nas famílias, traz consigo, os preconceitos culturais em relação a “ser surdo”:

incapacidade de falar, de aprender, falta de cognição, fracasso escolar e empregatício.

Em discussões educacionais das diferentes metodologias, questiona-se se os

sujeitos surdos deveriam desenvolver a aprendizagem através da língua de sinais ou da

língua oral. Estas decisões sobre a educação de surdos sempre foram determinadas por

sujeitos ouvintes que atribuem a si poder para a tomada dessa decisão.

Antes de surgirem estas discussões sobre a educação, os sujeitos surdos eram

rejeitados pela sociedade e posteriormente eram isolados nos asilos para que pudessem

ser protegidos, pois não se acreditava que pudessem ter uma educação em função da sua

„anormalidade‟, ou seja, aquela conduta marcada pela intolerância obscura na visão

negativa sobre os surdos viam-nos como „anormais‟ ou „doentes‟. Anos depois os

sujeitos surdos foram reconhecidos em sua cidadania com direito de participação na

sociedade, mas sob uma visão assistencialista.

Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não-surdos, é mais ou menos

assim: primeiramente os surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles foram

isolados da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os

ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos

que se fortaleciam, tentou-se dispersá-los, para que não criassem guetos (SÁ, 2004, pág

56).

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Segundo Perlin (2007), pesquisadora surda no campo da educação, devemos ter

como foco que na discussão a respeito da surdez a mente é plural e precisa ser

trabalhada para se obter um rendimento escolar satisfatório.

Atualmente vivenciamos mudanças políticas, econômicas e socioculturais que se

refletem no âmbito educacional. As propostas educacionais para os alunos surdos vêm

se modificando ao longo do tempo, e até hoje são alvos de intensos debates entre

educadores, linguistas, terapeutas, comunidade surda.

A inclusão de alunos surdos nas escolas regulares da rede pública de educação

ainda é um grande desafio. E, neste presente trabalho, será feita uma reflexão crítica

sobre os complexos problemas e situações que ocorrem nas relações entre

professor/aluno surdo e vice- versa, em uma prática pedagógica com concepções de

educação diversas e muitas das vezes excludentes, em turmas de ensino regular.

A inclusão apresenta-se como uma proposta adequada para a comunidade

escolar, que se mostra disposta ao contato com as diferenças, porém não

necessariamente satisfatória para àqueles que, tendo necessidades especiais, necessitam

de uma série de condições que, na maioria dos casos, não têm sido propiciadas pela

escola (LACERDA, 2006, pág.56.).

Para Lacerda (2006), os programas de inclusão de alunos surdos não vêm

apresentando resultados satisfatórios, em decorrência da postura das escolas em não

manter padrões adequados de atendimento a esses alunos e suas famílias.

Conceituar surdez num determinado contexto histórico, social ou educacional não é uma

tarefa simples, pois requer conhecimentos dos diferentes graus de surdez do indivíduo

seus relacionamentos com indivíduos surdos e ouvintes.

A forma com ele vê e como ouve o mundo que o cerca é importante ao iniciá-lo

no mundo das letras. O sujeito surdo perde, neste ambiente por não ter uma “interação”

de troca, e o resultado é o seu afastamento desse ambiente, isolamento, solidão, perda de

convívio social, são estas as principais causas psicológicas, que afetam profundamente,

o sujeito com limitações de comunicação.

Segundo Fernandes (1990), é fundamental o acesso à Língua de Sinais o mais

precocemente possível, pois a dificuldade do surdo em adquirir linguagem oral nos

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primeiros anos, traz consequências para o seu desenvolvimento mental, emocional e sua

integração social.

Segundo Strobel (2006), há quatro mil anos os povos egípcios afirmavam que os

surdos eram sujeitos incapazes de aprender. O ser surdo, na concepção dos antigos

egípcios, não era considerado humano, visto que ele não usava a fala e,

consequentemente, não conseguia se expressar por meio da língua oral.

De acordo com a autora, entre 2000 a 1500 a.C., no Egito, as leis judaicas

vigentes visavam a proteger o surdo. No entanto, tais leis estabeleciam que o surdo

tinha direito somente à vida e não à educação.

Os Romanos antigos herdaram dos Gregos a idolatria pela perfeição física.

Assim, os recém nascidos que apresentavam imperfeições físicas eram sacrificados. No

entanto, este destino não se aplicava muitas vezes aos bebês surdos, porque não se

percebia a surdez ao nascerem.

De acordo com Radutzky, em Roma, eles eram colocados na base de uma

estátua nas praças principais e então devorados pelos cães. Por este motivo muitos

historiadores pensaram que certamente às crianças surdas não se desse tal destinação

dado que, seguramente, mesmo hoje é muito difícil fazer um diagnóstico precoce da

surdez. (Apud STROBEL, 2006, pág. 02).

Os romanos acreditavam que os surdos eram desprovidos de toda e qualquer

possibilidade de desenvolvimento intelectual e moral.

No que se refere ao Código Justiniano, em Roma, no ano de 483 a.C. os surdos

eram percebidos como seres insensíveis e não dotados de raciocínio. Essa convicção

baseava-se no fato de que o surdo, por não se comunicar por meio da língua oral, não

podia ser visto como humano.

Somente a partir do século XVI que se encontram as primeiras experiências de

como educar o surdo. Nesse período começaram a ser mencionados casos de

preceptores que visavam a ensinar o surdo a falar, ler e escrever.

Em 1880, realizou-se o I Congresso Internacional de Surdos, em Milão, e trouxe

uma completa mudança aos rumos da educação de surdos e, exatamente por isso, ele é

considerado um marco histórico. No Congresso definiu-se uma nova corrente na

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educação de surdos: a oralista. Essa data é lembrada com pesar. A cultura e a língua de

sinais, a do método misto e a do método manualista para educação dos surdos foi

consideravelmente desestruturada.

O ano de 1880 foi o clímax da história de surdos, que adicionou a força de um

lado de muitos períodos de duelos polêmicos de opostos educacionais: a língua de sinais

e o oralismo. Nenhum outro evento na história de surdos teve um impacto maior na

educação de povos surdos como este que provocou uma turbulência séria na educação

que arrasou por mais de cem anos nos quais os sujeitos surdos de imitá-los ficaram

subjugados às práticas ouvintistas, tendo que abandonar sua cultura, a sua identidade

surda e se submeteram a uma „etnocêntrica ouvintista‟ - surdos ouvinistas.

Segundo Skliar (1998), ouvintismo trata-se de um conjunto de representações

dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse

ouvinte”. Exemplificando, houve avanços na visão clínica, que faziam das escolas dos

surdos espaços de reabilitação de fala e treinamento auditivo preocupando-se apenas em

„curar‟ os surdos que eram vistos como „deficientes‟ e não em educar.

Ao observarmos atentamente a situação atual da educação de surdos, podemos

perceber que houve ruptura em alguma parte de história de surdos e que esta cisão está

aos poucos sendo preenchida nestas últimas décadas.

Até recentemente os povos surdos sofreram com esta ruptura, pois para a

maioria deles a educação verdadeira começou somente depois quando saíram da escola

na idade de adolescência, ao terem contato com os outros sujeitos surdos adultos nas

associações de surdos.

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2.1A SURDEZ E SUAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Abordar a temática da vida dos surdos nos últimos anos não é uma tarefa fácil,

pois a visibilidade sobre a clareza da heterogeneidade e da diversidade esteve tão

distante da vida dos brasileiros, que se torna muito tímida a tentativa de trabalhar a

inclusão dos surdos na escola e na sociedade. Também, em alguns momentos,

deixarmos de referendar tamanhos valores na literatura e na ciência. Estudiosos que

voltados ao ensino, à educação, à família e à vida em sociedade dos surdos não

poderiam deixar de serem referenciados.

A inclusão de surdos na rede regular de ensino deve possuir como propósito

conduzir a criança surda em condições sociais de vincular-se aos ouvintes, mas também,

de preservar sua identidade e dignidade.

Existe uma mínima parte dos alunos que sofre com a falta de audição parcial ou

total, não há recursos suficientes, tampouco estudos pedagógicos que solucionem as

dificuldades ou competências comunicativas do aluno surdo, consequentemente esse

tem seu aproveitamento insuficiente e, posteriormente prejudica-se nos estudos

secundários e acadêmicos, o que provoca sérios transtornos de auto imagem.

De acordo com Segala (2009) estar incluído significa sentir-se parte do mundo,

compartilhar o mundo do outro, poder adentrar-se nele. Não basta matricular um surdo

em uma sala de ouvintes, tampouco matricular um ouvinte em uma sala de surdos. Isso

não é inclusão.

Ao vislumbrar o processo de inclusão e adaptação de crianças que possuem

surdez na rede regular de ensino, é notável observar que os discentes surdos, de forma

geral, não possuem seu direito à educação respeitada, pois em consequência da

dificuldade de acesso à língua utilizada pela maioria desses alunos, ficam distanciados

do processo ensino aprendizagem e mesmo após anos de escolarização, comumente não

apresentam domínio mínimo dos conteúdos transmitidos que é necessários ao seu

desenvolvimento e a sua adequada inserção social.

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Por diversas razões, entre elas o preconceito e o próprio desconhecimento dos

pais e responsáveis, a criança surda é colocada em contato apenas com um tipo de

língua. Dessa forma, Poker (2002) em seus estudos constatou que o problema da surdez

não se localiza no retardo da linguagem oral em si, mas no que essa privação linguística

provoca, pois impede o sujeito de se expressar, de explicar e de compreender diferentes

situações ocorridas no ambiente ao seu redor, ou seja, a pessoa surda se descaracteriza.

A seguir, buscaremos mostrar a definição de surdez, fundamentos por diversos

autores importantes, e o que pensam as políticas públicas de nosso país.

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2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DOS SURDOS

Em tempos de “inclusão social”, as políticas públicas e as iniciativas particulares

de fomento à acessibilidade e participação social dos surdos continuam incipientes, seja

por preconceito, por falta de projetos específicos, por falta de informações sobre o tema

ou mesmo de disponibilidade para agir.

Segundo Silva:

(...) Várias são as discussões acerca dos rótulos atribuídos aos

indivíduos que possuem um desenvolvimento diferenciado por

apresentarem “faltas” em seu aparato sensorial, físico ou cognitivo.

Esses sujeitos reconhecidos como “deficientes” recebem o crivo social

no momento em que se realiza o diagnóstico, o que vai predeterminar

todas as suas interações com o mundo e surge o enfoque ideológico de

“aquele que é incapaz”, “insano”, “anormal”, vai ocupando espaço na

vida dessas pessoas (SILVA, 2002, págs. 35-36).

A Lei 10.436 de 24 de abril de 2012 reconhece como meio legal de comunicação

e expressão a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e o Decreto 5.626/2005 que

regulamentou a Lei 10.436/02 e determinou o ensino de LIBRAS desde a educação

infantil. Essas conquistas são frutos dos movimentos sociais das comunidades surdas

brasileiras nas últimas décadas.

Esse Decreto definiu formas institucionais para o uso e a difusão da Língua

Brasileira de Sinais e da Língua Portuguesa, visando o acesso das pessoas surdas à

educação. O decreto trata da inclusão da LIBRAS como disciplina curricular nos cursos

de formação de professores e nos cursos de Fonoaudiologia, da formação do professor

de LIBRAS e do instrutor de LIBRAS, da formação do tradutor e intérprete de LIBRAS

/ Língua Portuguesa, da garantia do direito à educação e saúde das pessoas surdas ou

com deficiência auditiva e do papel do poder público e das empresas no apoio ao uso e

difusão da LIBRAS.

Segundo a legislação vigente, LIBRAS constitui um sistema linguístico de

transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas com deficiência

auditiva do Brasil, na qual há uma forma de comunicação e expressão, de natureza

visual-motora, com estrutura gramatical própria.

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Muitos professores questionam a situação do aluno surdo, no entanto,a

problemática permanece sem respostas e o problema persiste.Atualmente há várias

políticas públicas destinadas a esse propósito, especialmente após a promulgação da Lei

9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (LDBEN), na qual a

Educação Especial passa a ser objeto de muitas discussões,especialmente, no que se

refere ao seu artigo 58, pelo qual “essa modalidade de educação escolar deve ser

oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino para os alunos especiais”.

Porém as mesmas não chegam aos municípios de forma efetiva, resultando

assim em um número de alunos fadados a uma educação deficiente e privados de obter

sucesso em sua vida profissional.

De acordo com Mantoan (2006), a política educacional brasileira tem deslocado

progressivamente para os municípios parte da responsabilidade administrativa,

financeira e pedagógica pelo acesso e permanência de alunos como necessidades

educacionais especiais, em decorrência do processo de municipalização do ensino de

nível fundamental.

Essa diretriz promoveu alguns impactos no atendimento desse alunado. Algumas

prefeituras desenvolveram formas de atendimento educacional especializado, outras

ampliaram ou mantiveram seus auxílios e serviços especiais de ensino, algumas estão

apenas matriculando esses alunos em suas redes de ensino e há ainda as que desativaram

alguns serviços prestados, como, por exemplo, a oferta de programas de transporte

adaptado para esses estudantes.

De acordo com estudos de Silva (1987), o século XVI pode ser considerado

como marco inicial da Educação Especial, com a educação dos surdos na Espanha.

Entretanto, sua institucionalização ocorreu no século XVIII, quando foram criados os

Institutos Públicos para surdos-mudos em Paris em 1755 e os Institutos Públicos para

Cegos em 1784.

Aponta Souza e Macêdo (2002) que a Declaração de Salamanca (1994),

documento resultante da Conferência Mundial a qual tratou dedemandas educativas

especiais (1994), ocorrida na cidade de Salamanca na Espanha promoveu uma

plataforma que afirma o princípio e a discussão da prática de garantia de inclusão de

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crianças especiais nestas iniciativas bem como a jornada de seus lugares de direito,

numa sociedade de aprendizagem.

A Declaração de Salamanca imprime que “O princípio fundamental da escola

inclusiva consiste em que todas as pessoas devam aprender juntas, onde quer que seja

possível, não importam quais as dificuldades ou diferenças elas possam ter [...]”. Dessa

forma, recorre-se a educação inclusiva a fim de educar e socializar todas as pessoas que

possuam necessidades educativas especiais.

Incluir é preciso para que a escola venha formar gerações preparadas para lidar

com as diferenças, sem preconceitos e barreiras. Nosso sistema educacional enfrenta

dificuldades múltiplas no esforço para garantir escolarização de qualidade para todos. O

debate da inclusão inflama mais ainda essa problemática, tendo em vista que o problema

escolar brasileiro é dos mais difíceis, diante do número de alunos que temos que

atender, das diferenças regionais e sociolinguísticas, do conservadorismo das escolas,

dentre outros fatores.

Condições linguísticas e culturais da criança surda devem ser essencialmente

consideradas, entretanto, isso não ocorre com frequência nas escolas. A Declaração de

Salamanca (1994) é enfática ao afirmar que as Escolas Inclusivas precisam reconhecer e

responder às necessidades diversificadas de seus alunos, acomodando os diferentes

estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando educação de qualidade para todos

mediante currículos apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso

de recursos e parcerias com suas comunidades.

Um dos debates mais polêmicos no cenário educacional transcorre da Política

Nacional de Educação que faz apologia a educação inclusiva, organizada de forma que

atenda a todos. Tendo em vistas esse princípio, todo e qualquer cidadão possui acesso à

educação assegurado e oferecido pela Constituição Federal (1988) que postula “todos

somos iguais perante a lei”.

Colombo (2004) aponta que os vocábulos assegurar e oferecer possuem

significados diferentes, visto que assegurar é garantir certeza de atendimento e oferecer

ocorre somente se há condições para tanto. Sendo assim, pode-se observar que o que é

constituído como legal muitas vezes não é legítimo.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 foi aprovada pela

Assembléia Geral das Nações Unidas. O documento declara o princípio da não

discriminação e proclama o direito de toda pessoa à Educação. Nesse contexto a

educação no Brasil preocupa-se em assegurar a todos de forma democrática, o direito à

educação. Diante disso, as Constituições Brasileiras de 1967 e 1969,também

consideraram os princípios da declaração citada.

A educação do surdo no Brasil, data do século passado, na década de 50, sob a

Lei nº 839 de 26 de janeiro, assinada por D. Pedro I quando aconteceu a fundação do

Imperial Instituto dos Surdos fundado pelo surdo Ernesto Huet, francês, professor e

diretor do Instituto.

No governo do Presidente Emílio Garrastazu Médici, priorizou-se a melhoria do

atendimento ao deficiente. Foi criado o Centro Nacional de Educação Especial -

CENESP, extinguindo-se a Campanha Nacional da Educação dos Surdos. Desde o

Brasil Império, estabeleceu-se na Constituição de 1824 esse direito.

Cita Sassaki:

A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade se adapta para

poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com

necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para

assumir seus papéis na sociedade(Sassaki,1997, pág. 144).

Como explicar ainda termos tanta resistência no uso da LIBRAS, principalmente

na escola, local onde ela deveria ser mais divulgada. Longman (2007) afirma que o

fracasso da nossa educação pública torna-se mais grave em relação aos surdos, pelo

descaso de gestores e profissionais que insistem em repetir antigas abordagens

ouvinistas de representar e narrar os surdos a partir dos seus modelos de língua oral.

O desconhecimento da realidade dos surdos pelos gestores públicos faz surgir

situações que isolam socialmente o surdo. De acordo com a política do governo federal,

elas não devem mais ficar segregadas nas escolas especiais e precisam estudar desde

cedo em unidades comuns, com um intérprete que traduza todas as aulas para a Língua

Brasileira de Sinais (LIBRAS) e o contra turno preenchido por atividades específicas

para surdos.

É importante saber que as escolas especiais tem a função de complementar, e

não de substituir a escola comum. Essas instituições destinam-se ao ensino do que é

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diferente da base curricular nacional, garantem e capacitam o aluno com deficiência de

aprendizagem desses conteúdos inclusos nas turmas comuns de ensino regular, além do

que oferecem atendimento educacional especializado. Esse atendimento não possui

níveis, seriações ou certificados.

Segundo Souza e Macedo (2002) o cenário brasileiro hodierno depara-se com

um novo paradigma, o da inclusão social dos alunos especiais. Desejava-se uma escola

para todos, sem distinção de sexo, raça, classe social. Surge a Escola Inclusiva que está

aberta para colher as diferenças, modificando, dessa forma, o cenário brasileiro.

Afirma Mantoan (2002) que: “É necessário que as escolas busquem novos

caminhos educacionais, que, de fato, atendam à pluralidade do coletivo escolar”.

Segundo Pechi (2011) entre 2006 e 2009, o Ministério da Educação (MEC)

certificou mais de 5 mil intérpretes pelo Prolibras - o Programa Nacional para

Certificação de Proficiência no uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais.

Embora mais de 7,6 mil cursos superiores de Pedagogia, Fonoaudiologia e

Letras ofereçam a disciplina de LIBRAS, a contar com o número de intérpretes

necessários para atender os alunos, a demanda das escolas ainda é uma meta a ser

realizada.

A principal consequência da surdez que devemos combater, por meio de

políticas públicas sistematizadas para o surdo, refere-se aos prejuízos na comunicação

natural dos sujeitos surdos que atingem vários aspectos de seu desenvolvimento global.

Não tendo acesso ao mundo sonoro, a criança com surdez é extremamente

prejudicada, prejudicando assim os processos de aquisição e desenvolvimento de

linguagem e fala, o que promove a dificuldade de se comunicar e de receber

informações por meio da linguagem oral.

Enquanto o desenvolvimento da linguagem ocorre naturalmente em uma criança

ouvinte, no caso da criança surda, este desenvolvimento depende da intervenção de

profissionais habilitados, levando-a a adquirir uma língua de forma consciente e

deliberada.

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As universidades nos seus cursos de formação de profissionais de saúde e

educação, não concedem a devida relevância ao ensino da LIBRAS para se conhecer a

cultura surda e favorecer a integração dos surdos nas salas de aula.

Não existem grupos de reflexão e orientação do público ouvinte acerca da

importância de se incentivar a compreensão dos aspectos subjetivos e psicológicos da

construção da subjetividade surda.

Para refletirmos acerca da dificuldade e complexidade do mundo limitado dos

surdos, podemos citar Sá:

[...] que a dificuldade maior dos surdos está exatamente na aquisição

de uma linguagem que subsidie seu desenvolvimento cognitivo. Os

estudos que envolvem a condição de pessoa surda são revestidos de

fundamental importância e seriedade, visto que a surdez, analisada

exclusivamente do ponto de vista do desenvolvimento físico, não é

uma deficiência grave, mas a ausência da linguagem, além de criar

dificuldades no relacionamento pessoal, acaba por impedir todo o

desenvolvimento psicossocial do indivíduo. (SÁ, 1999, pág.47).

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3. AMBIENTE SOCIAL DA PESSOA SURDA

Existem casos clássicos de privação social em relatos de crianças que foram

isoladas do contato humano durante a infância. Algumas foram abandonadas pelos pais

em florestas, elas foram denominadas crianças selvagens como o caso de Kasper

Hauser, de Vitor (o menino selvagem de Aveyron), de Genie e de Isabelle.

De acordo com Hamdan (2008), a história de Genie legitima a tese de que o

isolamento social pode fazer as crianças jamais aprenderem a falar “normalmente”. No

entanto, devemos considerar que as dificuldades com a linguagem podem ter derivado

da privação cognitiva e emocional que Genie também sofreu.

Nessa situação acima, uma menina foi privada de relacionamentos com pessoas

até os 13 anos de idade, mesmo assim aprendeu a falar, claro que com dificuldades de

sintaxe e de fonologia.

Sobre o caso de Isabelle, filha ilegítima de uma mulher surda e cérebro-lesada,

com a qual passava a maior parte do tempo: ambas enclausuradas num quarto escuro, na

casa do avô, no estado de Ohio (EUA), temos uma situação de limitação da fala em

pessoa não surda. Mãe e filha escaparam da prisão domiciliar, em 1930, quando

Isabelle tinha 6 anos e meio e não falava, apenas emitia sons guturais.

Ao ser integrado ao convívio social progrediu rapidamente sua fala em dois anos

e meio, a ponto de quase não se distinguir a fala dela para a fala de uma criança da

mesma idade em condições sociais e comunicativas normais. Isabelle comunicava-se

com a mãe por meio de gestos.

Discute-se se a aquisição do sistema simbólico não teria conexão com a

facilidade com que Isabelle adquiriu a linguagem oral. Cogita-se aqui que o cérebro

possui considerável plasticidade e que não há uma época biologicamente determinada

para aquisição da linguagem.

Os pais ouvintes ao perceberem a surdez no filho, no desejo de que seu filho

possa falar, recorrem ao implante coclear, se assim forem instruídos, recorrem ao

aprendizado da língua de sinais, se assim o indicarem e evitam o uso ou linguagem de

gestos, se indicarem que seu uso pode prejudicar a aquisição da fala.

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O implante coclear é a única maneira de restaurar a audição entre as pessoas

com surdez, é uma espécie de ouvido biônico. Esse artefato eletrônico converte sons em

sinais elétricos, que são transmitidos para os nervos da cóclea.

Santana (2007) aponta que os avanços tecnológicos relacionados às próteses

auditivas têm permitido um ganho considerável de audição. A crença na solução

miraculosa da prótese auditiva e do implante coclear faz alguns pais esquecerem até

mesmo que seus filhos permanecem surdos. Entretanto, não é possível garantir sua

funcionalidade no processo de aquisição da linguagem, processo este complexo. Os

surdos que realizam a cirurgia de implante coclear podem, algumas vezes captar a

linguagem oral e sua aquisição de forma proficiente, outras vezes não.

Descobriu-se que os cérebros de crianças e de adultos possuem plasticidade do

cérebro quando submetidos ao implante coclear. No caso dos adultos, outras áreas

cerebrais podem ser acionadas para o processamento auditivo, demonstrando assim, que

a plasticidade cerebral pode ocorrer em várias idades.

O sucesso ou fiasco do implante coclear parece estar mais vinculado à qualidade

e à interpretação do som que chega ao córtex cerebral, à qualidade das interações, do

que à faixa etária de aquisição. O surdo não tem como criar hipóteses sobre as regras de

uma língua audiovisual sem interagir efetivamente com essa língua.

Devemos considerar que cada criança reage de forma diferenciada a cada

prótese, assim como, cada uma possui socialização familiar distinta (em cada família há

diferentes tipos de empatia com o indivíduo surdo).

Não se deve considerar que após o implante coclear ou o uso da prótese a

criança será classificada como ouvinte, já que, não se sabe o que ela passa a ouvir e o

que ela passa a compreender linguisticamente do que apreende da massa sonora.

Sendo assim, neurolinguisticamente citando, não se deve privar a criança de

adquirir a língua de sinais diante do desconhecimento do “sucesso” do implante coclear.

A aquisição da língua de sinais não impede a aquisição da linguagem oral.

A linguagem oral da surdez profunda é viso verbal e não áudio verbal. Adquirir

as regras gramaticais, fonológicas e discursivas apenas visualmente não capacita o surdo

a falar a língua de forma proficiente. A coerção da sociedade e às vezes, da família pela

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fala perfeita não considera os aspectos relacionados à aquisição da linguagem oral na

surdez.

Os profissionais envolvidos no processo de inclusão da pessoa surda devem

compreender tais situações que limitam sua comunicação.

Para serem aceitos sem estigmas numa sociedade majoritariamente ouvinte,

muitos surdos atribuem à fala uma importância preponderante, já que temem

profundamente a rejeição no ambiente escolar, ou até mesmo em casa.

Santana (2007) cita que entender o que se passa com a pessoa surda, suas

diferentes possibilidades auditivas pós prótese ou pós cirurgia de implante, é perceber

que o processo de aquisição da linguagem oral na surdez compreende bem mais que a

relação fala/audição. Trata-se de um trabalho da criança com e sobre a linguagem, trata-

se de perceber o resultado de suas rotinas significativas ou não na linguagem oral, de

sua atuação no mundo dos símbolos, os quais são repletos de gestos fônicos e manuais.

Na comunidade de teóricos estudiosos da surdez, há controvérsias quanto ao uso

da melhor maneira ou solução para a boa comunicação dos surdos.

Essas vertentes têm duas bases: de um lado há o oralismo, esta busca a

“normalidade” e a fala, procurando dispor de avanços tecnológicos científicos para

oferecer ao surdo a possibilidade de ouvir. De outro, existe o bilinguismo, que recorre à

língua de sinais como a língua dos surdos e, há até mesmo, a filosofia de defesa de uma

cultura ou universo da surdez específico, peculiar aos surdos e, instiga o debate para a

área da saúde, (a qual procura “normalizar”) e a área pedagógica (esta preocupa-se em

minimizar os “estigmas”).

As pessoas que convivem com a perda da audição formam um grupo bastante

diversificado. Algumas são profundamente surdas; outras têm uma audição limitada.

Algumas ficaram surdas antes do desenvolvimento da linguagem; outras chegaram a

conhecer o mundo auditivo.

Algumas se comunicam pela linguagem dos sinais e identificam-se com a

cultura da surdez, baseada na linguagem; outras em particular as que ficaram surdas

depois do desenvolvimento da linguagem são “orais” e conversam com o mundo

auditivo pela leitura dos lábios. Outras ainda oscilam entre a cultura surda e auditiva. As

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que são criadas com outras pessoas surdas identificam-se com mais frequência com a

comunidade surda e sentem uma auto estima positiva.

Segundo aponta Batchava (1994), crianças surdas criadas numa família em que

se usa a linguagem dos sinais, quer os pais sejam surdos ou auditivos, também

expressam maior autoestima e sentem-se mais aceitas.

Moura afirma ser mais adequado que a criança surda receba sua socialização em

contato com outras crianças surdas e também ouvintes, objetivando possibilitar à

criança surda modelos de identidade surda, representando-se como surda de maneira

positiva (não como “deficiente”, a quem “falta” alguma coisa, a “coitadinha”, a

“inválida/incapaz”), o que também propiciará maiores condições para se perceber

igual/diferente”, Moura (1996) apud Góes e Laplane (2007).

Os adolescentes podem experimentar a exclusão social e a resultante queda na

autoconfiança. Até mesmo em adultos cuja audição se deteriora já tarde na vida, podem

encontrar dificuldades de interação social, o que acarreta certa timidez.

Segundo Henry Kisor (1990), editor e colunista de jornal de Chicago que perdeu

a audição aos três anos de idade,

É quase universal entre os surdos querer causar o mínimo de confusão

possível entre as pessoas auditivas. Podemos ser retraídos e hesitantes

ao ponto da invisibilidade. Às vezes, essa tendência pode ser

incapacitante. Tenho que lutar com ela o tempo todo. (KISOR, 1990,

pág. 98).

Segundo Santana (2007) o tema da surdez envolve muitos aspectos: de ordem

médica (sobre a etiologia, o diagnóstico e a cirurgia de implante coclear); de ordem

linguística (processos diferentes de aquisição e de desenvolvimento da linguagem oral e

/ou de sinais); de ordem educacional (abordagens específicas para o surdo); de ordem

terapêutica (acompanhamento especificamente no campo da fonoaudiologia); de ordem

social (dificuldades nas interações com ouvintes); de ordem trabalhista (dificuldade em

adquirir emprego e luta pelo aumento da “cota” de vagas para alunos especiais); e de

ordem política (luta pelos direitos dos surdos e pelo reconhecimento da língua de

sinais).

Todos esses aspectos decorrem da dificuldade do surdo para falar a língua

legítima (a língua na sua modalidade oral).

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Santana (2007) destaca que para a linguística, o interesse pelo tema é recente, o

que promove um direcionamento do debate para as várias abordagens específicas

educacionais para os surdos, com a defesa da “cultura surda” e com a análise dos

aspectos formais da linguagem.

Antes, a surdez era objeto de estudo de médicos e educadores e, mais

recentemente de fonoaudiólogos. No que se refere aos estudos na área da

neurolinguística, ainda são incipientes.

No panorama social atual, as variações sociolinguísticas (diferentes dificuldades

auditivas) na área da surdez, bem como a luta política com relação à valorização da

língua de sinais promovem mudanças para o fonoaudiólogo que trabalha na abordagem

oralista.

Esse profissional depara-se na clínica, com outros processos de significação, tais

como a língua de sinais, os gestos e, diante disso, tem de alterar sua proposta ou

metodologia de trabalho. O surdo traz para a clínica sua relação com as línguas, de

forma que, o profissional deve procurar entender o modo como a linguagem, oral e

sinalizada constitui esse objeto.

De acordo com Santana (2007), a discussão sobre o funcionamento cognitivo na

surdez não pode se restringir apenas aos aspectos biológicos. A organização cognitiva

particular está também relacionada à percepção do mundo e à construção da

significação.

Podemos afirmar que, na surdez, encontramos uma condição neurolinguística de

grande complexidade, em decorrência de aquisição da língua, do uso da leitura labial, da

língua de sinais, da fala da “audição” resultante das próteses auditivas e dos implantes

cocleares, dos aspectos culturais e do impacto político social desses fatores no dia a dia

do surdo.

Tais elementos dependem de outras variáveis: usos da língua, interlocutores

proficientes, possibilidades de adquirir uma segunda língua, métodos formais ou

informais na aprendizagem da segunda língua e a relação de cada sujeito com essa (s)

língua (s).

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Não podemos idealizar que existe um “cérebro do surdo” universal, ou melhor,

não podemos generalizar de forma arbitrária ou aleatória sobre seu funcionamento,

tampouco sobre relações anatomofisiológicas a expensas de fatores históricos e

subjetivos. O cérebro humano possui natureza plástica e dinâmica, é perfeitamente hábil

para reorganizações funcionais resultantes do panorama sócio histórico do qual o sujeito

interage e participa.

Ao utilizar a língua de sinais, o surdo desenvolve a sua capacidade e segundo

Fernandes (1990), é indispensável o acesso à Língua de Sinais o mais prematuramente

possível, pois a dificuldade do surdo em adquirir linguagem oral nos primeiros anos,

traz consequências para o seu desenvolvimento mental, emocional e sua a sua

competência linguística, numa língua que lhe será útil como apoio para adquirir a língua

oral, do grupo majoritário, como segunda língua, tornando-se bilíngue.

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3.1 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AS TEORIAS DA EDUCAÇÃO

No que se refere à inclusão e educação de surdos há diferentes sentidos e

significados. Wittgenstein (1979), em seus movimentos pós-virada linguística fornece-

nos elementos para pensarmos no caráter produtivo da linguagem. Produtivo no que ela

traz de potência de inventividade dada pelos usos que fazemos das coisas, das palavras,

etc.

Produtivo porque a linguagem não está fora, pois, afinal, é nela mesma que se

dão significados e sentidos. No caso da inclusão, podemos pensá-la não em um plano

metafísico ou extralinguístico, que guarde um único significado para o termo, mas como

uma invenção com sentidos e significados particulares forjados neste mundo.

Convivemos com a multiplicidade de usos - inclusão como bandeira de lutas de

grupos específicos; inclusão vivida por alguns e não por outros; inclusão como uma

ameaça de algo que há por vir; inclusão com integridade; inclusão sem que condições

mínimas de infra estrutura em instituições sejam garantidas; inclusão de surdos; de

pessoas com deficiência, de doentes; inclusão no trabalho; inclusão digital; inclusão

como fator que da mobilidade aos sujeitos na busca da satisfação de seus desejos, etc.

Cada uso traz em si um jogo particular que articula outros usos e sentidos para

uma mesma palavra. Ao usarmos a palavra “inclusão”, não estamos acionando

significados universais e transcendentais, tampouco estamos acionando elos entre a

experiência e a palavra. Estamos sim mergulhados em jogos de linguagem, que

envolvidos em práticas sociais, determinam significações distintas para as palavras. No

jogo onde muitos sujeitos surdos militantes pelo reconhecimento da diferença surda

estão mergulhados, a inclusão toma o sentido de acolhimento ético.

Conforme Stumpf afirma a partir de sua prática surda,

[...] A inclusão acontece a partir de dois movimentos: o da construção

social de toda a sociedade que entende e acolhe, e o dos surdos, que

vão participar porque se sentem acolhidos [...] Este movimento da

sociedade implica em responsabilidade social como prática constante

no agir das pessoas e das instituições a partir de uma posição ética,

uma posição em que a liberdade individual é posta em segundo plano

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a fim de que a justiça assuma primazia nas relações intersubjetivas

(STUMPF, 2008, pág 27).

A inclusão escolar está vinculada a movimentos sociais mais amplos, que

exigem maior igualdade e mecanismos mais equitativos no acesso a bens e serviços.

Ligada a sociedades democráticas pautadas no mérito individual e na igualdade de

oportunidades, a inclusão propõe a desigualdade de tratamento como forma de restituir

uma igualdade que foi rompida por formas que segregam o ensino especial e o regular.

Perlin (2007), também pesquisadora surda no campo da educação, ao trazer a

diferença cultural surda, possibilita-nos a leitura de algumas das marcas carregadas

pelos surdos. Marcas que sinalizam não as construções surdas, mas a anormalidade.

Conforme a autora, não há como definirmos trilhas que sejam óbvias para chegarmos às

identidades daqueles que se consideram normais.

A trilha surda exige que os surdos se identifiquem enquanto surdos. Tal

identificação é fundamental para uma relação ética com o outro, em que assumimos a

diferença não em uma relação comparativa, mas em uma relação de proximidade.

Não nos importa que nos marquem como refugos, como excluídos,

como anormais. Importa-nos quem somos, o que somos e como

somos. A diferença será sempre diferença. Não tentem colocar todos

os capitais do mundo para declarar-nos diversos porque não é isso que

estamos significando (PERLIN, 2007, pág. 46).

A autora, ao mesmo tempo em que sinaliza a importância da identidade para

marcar uma luta política, sinaliza que a diferença não reside nas marcas e na identidade.

Nessa linha de pensamento surdo, compatível com a de Stumpf (2008), a inclusão está

concebida como luta cotidiana pela necessidade e, às vezes, pelo direito de compartilhar

e estar com o outro. Estar com o outro implica assumir as diferenças e assumir

identidades não para que sejam combatidas ou classificadas, mas para que sejam

reconhecidos os direitos de quem se coloca nas lutas culturais.

A expressão lutas, neste texto, tem a função de marcar que processos de

negociação cotidianos não são naturais, não são harmônicos, não são de hospedagem

gratuita. São disputados dentro de jogos de poder onde posições sociais, econômicas e

de normalidade são permanentemente colocadas sob suspeita por aqueles que estão na

condição de exercer sobre o outro o poder de defini-los, de enquadrá-los. A oposição

surda não é, portanto, aos processos de inclusão, mas a tipos de entendimentos da

inclusão.

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Para Mantoan (2006), a inclusão é um desafio, que ao ser devidamente

enfrentado pela escola comum, provoca a melhoria da qualidade da Educação Básica e

Superior, pois para que osalunos com e sem deficiência possam exercer o direito à

educação em sua plenitude, é indispensável que essa escola aprimore suas práticas, a

fim de atender às diferenças. Esse aprimoramento é necessário, sob pena dos alunos

passarem pela experiência educacional sem tirar dela o proveito desejável, tendo

comprometido um tempo que é valioso e irreversível em suas vidas: o momento do

desenvolvimento.

A inclusão também se legitima, porque a escola, para muitos alunos, é

o único espaço de acesso aos conhecimentos. É o lugar que vai lhes

proporcionar condições de se desenvolverem e de se tornarem

cidadãos, com uma identidade sociocultural que lhes conferirá

oportunidades de ser e de viver dignamente (Mantoan, 2006, pág 45).

Mantoan aponta que a maioria das escolas está longe de se tornar inclusiva. O

que existe em geral são escolas que desenvolvem projetos de integração, os quais não

estão associados a mudanças de base nestas instituições e continuam a atender aos

alunos com deficiência em espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes

especiais, escolas especiais).

As escolas públicas, ao reproduzirem constantemente o modelo tradicional, não

têm demonstrado condições de responder aos desafios da inclusão social e do

acolhimento às diferenças, nem de promover aprendizagens necessárias à vida em

sociedade, particularmente nas sociedades complexas do século XXI.

Diante disso, hodiernamente o conhecimento vem sendo compartilhado e

globalizado com bastante rapidez, fato que não combina com a escola ainda tradicional

em transmissora de informações ou de valores imutáveis ou inquestionáveis.

Para Oliveira (2001), as modernas sociedades democráticas encerram, portanto,

uma contradição entre ter de declarar direitos a todos e a resistência social a sua

efetivação.

Em 2004, segundo dados oficiais do MEC – Ministério de Educação e Cultura /

Inep, as matrículas de alunos especiais nas classes comuns das escolas regulares

representava 34,4%, enquanto 65,6% estavam matriculados em escolas e classes

especiais.

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Quanto ao caráter público ou privado desse atendimento, do total de matrículas,

57% correspondiam a escolas públicas e 43% a escolas privadas.MEC (2010).

Ainda há muito que se enfrentar em termos de desafios no que se refere à

inclusão social ou uma educação como direito de todos.

A evolução de matrículas na educação especial, em serviços especializados,

registrados nos censos escolares de 1998 e de 2002, revela que, em 1998, o atendimento

era prestado a 293.403 alunos, sendo 155.879 matriculados na rede privada e os demais

nas redes públicas (estaduais 91.959; municipais 44. 693; federais 872), de acordo com

a pesquisa de Mantoan (2006).

Esse direito não pode ser cumprido como uma mera proforma em número de

matrículas e manutenção de alunos com necessidades educacionais especiais em salas

de aula comuns.

Caso o investimento do Estado na qualidade de ensino não se tornar uma ação

permanente, a evolução das matrículas desse alunado na sala de aula convencional pode

resultar em recrudescimento da rejeição, segundo Mantoan (2006).

Segundo Mantoan, alunos especiais podem ser mantidos na escola apenas para

atender a uma exigência legal, sem que isso implique reconhecimento de sua igualdade

de direitos.

A educação inclusiva tem sido caracterizada como um “novo paradigma”, que se

constitui pelo apreço à diversidade como condição a ser valorizada, pois é benéfica à

escolarização de todas as pessoas, pelo respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem e

pela proposição de outras práticas pedagógicas, o que exige ruptura com o instituído na

sociedade e, consequentemente, nos sistemas de ensino.

A noção de ruptura é frequentemente empregada em oposição à ideia de

continuidade e tida como expressão do novo, podendo causar deslumbramento a ponto

de não ser questionada e repetir-se como modelo que nada transforma. Por outro

âmbito, a ideia de continuidade, ao ser associada ao que é velho, obsoleto, pode ser

maldita no sentido de que suas virtudes podem não serem reconhecidas em sua

importância e contexto histórico-social.

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Para Alves, é o aluno quem se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de

regular o seu processo de construção intelectual.

Quando me refiro a inclusão social e pedagógica, me refiro também a

inclusão do indivíduo consigo mesmo, a aceitação de suas

dificuldades, a conscientização das suas capacidades atuais e a

construção do conhecimento de suas habilidades (ALVES, 2007, págs.

36 e 37.).

Os defensores da língua de sinais afirmam que somente por meio dela, adquirida

em qualquer faixa etária, o sujeito surdo constituirá uma identidade surda, já que ele não

é ouvinte: Perlin (1998), Moura (2000). Boa parte dos estudos baseia-se na identidade

surda inerente ao uso da língua. Utilizar a língua de sinais, interagindo com outro surdo

usuário da língua de sinais significa ir além da socialização, significa identidade para o

surdo.

O que acontece é que, na socialização entre surdos usuários da língua de sinais,

surgem novas possibilidades de compreensão, de relação dialógica e de aprendizagem,

que não são possíveis apenas por meio da linguagem oral. Isso acontece porque a

aquisição de uma língua, e de todos os mecanismos afeitos a ela faz que se credite à

língua de sinais a possibilidade de ser a única capaz de oferecer uma identidade ao

surdo.

Os surdos resistem à inclusão como o simples colocar no mesmo espaço físico

ou como o simples estar junto. Resistem à partilha do espaço quando este é destinado à

normalidade.Continuamos a ser diferentes em nossas formas. Continuamos a nos

identificar como surdos. Continuamos a dizer que somos normais com nossa língua de

sinais, com o nosso jeito de ser surdos. Nossas posições de resistência, como referem

nossas nostalgias, têm de reivindicar isenção à regra universal das identidades. Temos

de seguir resistindo ou nos encontraremos em campos que nos obrigam a perecer.

Daí então, estão simplesmente surdos aos direitos que nossas representações

legais estão exigindo. A diferença para Perlin passa tanto por questões de identidade

como por questões de subjetividade. Poderíamos conceituar a palavra diferença de

muitas formas, todas elas dadas pelos seus usos em distintos contextos.

Carvalho (2008), apresenta quatro formas de conceituar diferença: diferença

como experiência, ou seja, vivências individuais; diferença como relação social,

constituída no interior das estruturas sócio econômicas e políticas; diferença como

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subjetividade, em que estariam todas as discussões acerca das relações do indivíduo

com a sociedade e diferença como identidade, em referência a conjuntos de

características que nos permitem estabelecer relações de diferenciação.

A discussão desencadeada pelos surdos permite-nos transitar entre esses

conceitos citados acima, pois a forma de chegada de cada um deles nas questões

relativas à surdez é que vai determinar a abordagem da diferença que estamos operando.

Portanto, tais abordagens não são descartáveis, não são excludentes, elas convivem e

constituem os sujeitos.

Em se falando do uso das LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais foi

desenvolvida à partir da língua de sinais francesa. As línguas de sinais não são

universais, cada país possui a sua.

A LIBRAS possui estrutura gramatical própria. Os sinais são formados por meio

da combinação de formas e de movimentos das mãos e de pontos de referência no corpo

ou no espaço. Segundo a legislação vigente, LIBRAS constitui um sistema linguístico

de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas com deficiência

auditiva do Brasil, na qual há uma forma de comunicação e expressão, de natureza

visual-motora, com estrutura gramatical própria.

De acordo Fernandes (1998) esclarecem que a LIBRAS não pode ser estudada

tendo como base a Língua Portuguesa, pois esta tem uma gramática diferenciada,

independente da língua oral. A ordem dos sinais na construção de um enunciado

obedece a regras próprias, que refletem a forma de o surdo processar suas ideias, com

base em sua percepção visual-espacial da realidade.

O que é chamado de palavra na língua oral recebe o nome de sinal em LIBRAS

e deve ser nomeado de gesto ou mímica, pois, não possui estas características. Da

mesma forma que nas línguas orais temos os pontos de articulações dos fonemas, na

língua de sinais temos os pontos de articulações que são expressos por toques no corpo

do usuário da língua ou no espaço neutro.

As línguas de sinais são, no que se refere à linguística, línguas naturais, ou um

sistema linguístico legítimo e não como um problema do surdo, ou como uma patologia

da linguagem. Essa constatação se realizou a partir de estudos realizados em língua de

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sinais americana – ASL. A pesquisa realizada por Willian Stokoe foi publicada em 1965

e representou uma revolução social e linguística.

A língua de sinais, tal qual a linguagem oral, possui seu estatuto gestual. A

gestualidade na fala inicia-se com as vocalizações. A linguagem humana é, assim,

repleta de gestos que variam da especificação mínima da ordem, do simbólico

(vocalizações, balbucios manuais e vocais) ao uso efetivo dessa ordem, ou melhor, uso

de língua minimamente referenciada.

Desde a primeira infância somos gestuais: fônico ou manual. Usando nossas

interações adquirimos conhecimento sobre a construção e elaboração do léxico, sobre a

gramática e sobre os diferentes usos de uma língua. Albano (2001).

Vários trabalhos de pesquisa sobre o assunto foram realizados e publicados

apresentando perspectivas bastante inovadoras sobre a língua de sinais, culminando no

reconhecimento linguístico desta modalidade de comunicação nas investigações

realizadas por Chomsky, na teoria da gramática. O linguista observou que o termo

“articulatório” não se restringia à modalidade das línguas faladas, mas expressava uma

forma geral da linguagem se representada no nível de interface articulatório-perceptual

incluindo, portanto, as línguas sinalizadas.

As crianças surdas certamente necessitam ter acesso à educação na LIBRAS.

Os direitos humanos preveem isso, e é dever do Estado garantir esse acesso ou

melhor, direito. O processo educacional ocorre mediante a interação linguística e todos

os professores devem se capacitar em LIBRAS para possível público de alunos surdos.

Todos os conhecimentos escolares devem ser trabalhados por meio de LIBRAS.

Formar cidadãos conscientes pressupõe dominar a LIBRAS, a fim de que se estabeleça

um relação dialógica na educação brasileira.

O Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que regulamentou a Lei 10.436/02,

definiu formas institucionais para o uso e a difusão da Língua Brasileira de Sinais e da

Língua Portuguesa, visando o acesso das pessoas surdas à educação, como já citado no

capítulo I deste trabalho. O decreto trata ainda da inclusão da LIBRAS como disciplina

curricular nos cursos de formação de professores e nos cursos de Fonoaudiologia, da

formação do professor de LIBRAS e do instrutor de LIBRAS, da formação do tradutor e

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intérprete de LIBRAS / Língua Portuguesa, da garantia do direito à educação e saúde

das pessoas surdas ou com deficiência auditiva e do papel do poder público e das

empresas no apoio ao uso e difusão da Libras.

Se a educação infantil é importante para qualquer criança, para a criança com

surdez é certamente essencial. A carência da estimulação nos primeiros anos de vida

diminui o ritmo natural do processo evolutivo infantil, potencializando o distanciamento

dos padrões do desenvolvimento psicomotor, sócio afetivo, cognitivo e da linguagem.

Para que essa estimulação realmente ocorra, ela deve ser entendida como “um

conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais, incentivadores

que são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida,

experiências significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo

evolutivo” (Série Diretrizes, n.º 3 – SEESP/MEC).

Ao utilizar a língua de sinais, o surdo desenvolve a sua capacidade e segundo

Fernandes (1990), é indispensável o acesso à Língua de Sinais o mais prematuramente

possível pois a dificuldade do surdo em adquirir linguagem oral nos primeiros anos, traz

consequências para o seu desenvolvimento mental, emocional e sua a sua competência

linguística, numa língua que lhe será útil como apoio para adquirir a língua oral, do

grupo majoritário, como segunda língua, tornando-se bilíngue.

Scliar-Cabral (1988) é enfática ao afirmar que a não-exposição a uma língua, no

caso a língua nativa, no período natural da aquisição da linguagem, causa danos

irreparáveis e irreversíveis à organização psicossocial de um indivíduo.

O ato de inclusão escolar do aluno surdo deve ocorrer de forma bastante

criteriosa e articulada. A escola deve promover uma estrutura adequada com

profissionais habilitados para acolher a pessoa surda.Todo ser humano pode

desenvolver grande capacidade imaginativa desde que sejam garantidas condições para

tal: um ambiente acolhedor, que promova a liberdade de pensamento, que incentive a

ousadia nas formas de expressão, que valorize a descoberta do novo.

O compartilhamento de atividades com as crianças ouvintes deve ser encorajado

quando beneficia o aluno. A escola inclusiva deve ser um lugar atraente e interessante, a

ponto de que os alunos ouvintese com surdez possam desenvolver a satisfação em

estarem inseridos nela, e a escola de surdos deve estar atenta no sentido de proporcionar

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atividades sociais que incluam surdos e ouvintes em programações culturais e esportivas

que possam beneficiar a toda a comunidade.

A estimulação auditiva visa desenvolver os resíduos ou pequenas possibilidades

auditivas, ou seja, as habilidades auditivas que quase todas as crianças com surdez

possuem. Para isso, é fundamental o uso da prótese auditiva, lembrando-se de que ela é

somente uma ferramenta. É necessária uma educação permanente e específica para que

essas capacidades auditivas da criança sejam estimuladas, em particular do nascimento

aos três anos de idade, e possam tornar-se parte integrante e funcional do próprio

universo perceptivo.

Estudos recentes de Lecanuet et ali, (1995) têm evidenciado a capacidade de

aprendizagem do feto. O feto aprende a interpretar sons, sabores e vibrações. A

aprendizagem fetal pode ocorrer por habituação e condicionamento. Utilizando-se de

pesquisa com animais, pesquisadores têm identificado também substâncias

neuroquímicas responsáveis pelo mecanismo de aprendizagem fetal.

Ao citar acima a faixa etária de zero a três anos, devemos nos respaldar em

Davis e Oliveira (1994), os quais apontam que, por volta dos dois anos de idade, uma

criança começa a falar e as pessoas a sua volta não percebem que algo fantástico está

acontecendo: a fala.

A partir do primeiro ano de vida, o mundo da criança se amplia, ela já é capaz de

estabelecer novas relações. A criança, nesta fase do seu desenvolvimento, conquista a

autonomia de andar e de manipular os objetos.

Em muitas crianças esta fase é explosiva, pois elas sentem necessidade de ampla

investigação do mundo que as cerca. A inteligência neste período, está associada às

atividades de manipulação de objetos e, por isso, também é chamada de inteligência

prática.

Nesta fase ocorrem com relativa frequência as reações em eco como as ecolalias

(hábito ou mania de fazer rimar palavras, falando.) e as ecocinesias (imitações de atos

ou a atitude de gesticular).

Definindo melhor, as primeiras são as repetições automáticas das palavras

pronunciadas por um interlocutor. As segundas são imitações de atos ou gestos na

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presença de um modelo. A representação mental tem as suas origens nesta fase e nasce

da capacidade que a criança tem de imitar e fazer uso da linguagem.

Com a aquisição da linguagem, por volta dos dois anos, a criança entra num

novo estágio do desenvolvimento com transformações nos aspectos cognitivos e

afetivos. De maneira semelhante à imitação dos gestos, a criança imita os sons que vão

evoluir para a linguagem. Nesta fase, o desenvolvimento da linguagem é importante no

processo de assimilação da cultura do grupo social a que pertence a criança, pois ela

estabelece uma relação de troca com adultos e outras crianças.

O desenvolvimento do pensamento ocorre de maneira análoga à aquisição da

linguagem. A inteligência, que era prática, sofre profundas mudanças e passa a valer-se

da representação. É através da linguagem que ocorre a formação dos conceitos, a

constituição do pensamento individual, pois introduz a criança num sistema de

representação coletiva.

Os bebês nascem apresentando as seguintes capacidades; reflexos, percepção e

motricidade. Os reflexos são reações corporais inatas, automáticas, que não necessitam

de aprendizagem e estão ligadas à estimulação, como os reflexos inerentes à

alimentação, rotação, sucção e deglutição.

No reflexo de rotação, o bebê gira a cabeça na direção do toque na bochecha e

busca algo para sugar. O reflexo de sucção ocorre quando o bebê suga qualquer coisa

que é colocada em sua boca e o reflexo de deglutição é a capacidade inata do bebê de

engolir os alimentos.

No contato com o mundo, os bebês utilizam-se da sensação, da percepção e da

imaginação. Esses processos, tais como os demais processos psicológicos humanos,

desenvolvem-se através da experiência da criança em seu ambiente, dependendo das

atividades que realiza em seu grupo social.

Em geral, os adultos ficam maravilhados com os esforços que as crianças fazem

para nomear os objetos. Um animal, uma pessoa, uma ideia. Os bebês divertem-se com

as trocas e confusões que inevitavelmente ocorrem na fala. Passa, no entanto,

despercebido para os pais, um fato fundamental: o impacto da aquisição da linguagem

sobre a criança.

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Explica Piaget (1999), que a sensação refere-se ao reconhecimento dos estímulos

em um ambiente. O aparato sensorial humano, os seja, os órgãos dos sentidos captam as

variações do ambiente. A sensação possibilita ao indivíduo informar-se de algumas

características e propriedades de coisas e fenômenos de seu meio, como, a presença de

sons, formas, cores, temperatura ambiente, objetos ou pessoas. O ser humano dispõe,

também, de outros sistemas de captação de estímulos que tem a ver com o equilíbrio do

corpo.

A percepção diz respeito ao processo de organização das informações obtidas

pelas sensações em determinadas categorias. Estas referem-se aos atributos dos

estímulos como tonalidade, intensidade, forma, peso, altura, distância, tamanho,

localização espacial, localização temporal, textura e outros.

A tais características e propriedades são atribuídos significados como:

barulhento, agudo, claro, escuro, rugoso, liso, grande, alto, longe, perto, antes, depois.

Tais significados, porém, não são vistos isoladamente, pois cada objeto, pessoa ou

situação com que o indivíduo se defronta são percebidos como um todo dotado de

sentido.

A percepção é parte do sistema dinâmico do comportamento humano e é

inerente a outras atividades intelectuais do indivíduo, ao mesmo tempo que as

influencia. Daí a percepção e o raciocínio serem processos interligados.

A imaginação é a habilidade que os indivíduos possuem de formar

representações, ou melhor, de construir imagens mentais acerca do mundo real ou

mesmo de situações não diretamente vivenciadas. Ela não pode ser considerada como

uma imagem fiel dos objetos ou situações, nem como uma invenção absolutamente livre

da influência do real. A imaginação é, na realidade, um reflexo criativo da realidade,

como vemos nos desenhos, estórias e jogos de faz-de-conta das crianças, nos filmes,

livros, quadros, etc.

Ao imaginar, a criança unifica diferentes representações mentais em novos

contextos, recombinando-as, suprindo lacunas entre elas e reformulando-as, de forma a

conceber possíveis mudanças em objetos ou situações.

Estudando o desenvolvimento perceptivo, Piaget (1999), considera que, durante

todo o período sensório motor, a percepção não se separa da ação. Nesse sentido, a

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percepção é global, sincrética, indiferenciada. O bebê percebe um objeto que já conhece

reproduzindo o gesto que habitualmente emprega quando o utiliza.

Segundo Piaget, gradativamente, por meio do processo de equilíbrio, a criança

pequena passa a diferenciar os aspectos mais imediatos do objeto (ou situação) de

outros significados mais gerais do mesmo. Dessa forma, age diante do objeto de forma

cada vez mais distanciada da sua experiência imediata, corrigindo possíveis

deformações perceptivas através de ajustes variados, proporcionados por sua conjuntura

cognitiva: analisa, sintetiza, relaciona, antecipa informações sobre o objeto, avaliando-

os.

Já Vygotski (1997) chama a atenção para o papel da fala na modificação das

percepções iniciais da criança pequena. Pelas palavras, aprendidas na interação com

outros membros da sua cultura, as crianças isolam certos atributos dos objetos e formam

novas categorias explicativas para os mesmos. Podem então perceber o objeto por

rótulos verbais como “é grande”, “é pequeno”, “está bem perto”, graças a sua

experiência anterior com este e com outros objetos, e em função do grau de domínio que

têm sobre a linguagem.

Por meio da fala, a criança pode, ainda, controlar verbalmente sua atenção e,

consequentemente, reorganiza-se seu campo perceptivo. As atividades perceptivas

diferenciam-se e a especializam-se sob a influência do processo de sofisticação

sensorial a que os meninos e meninas se submetem ao longo das interações mantidas

com adultos ou crianças mais experientes. É nessas interações que elas ganham uma

familiaridade cada vez maior com o ambiente.

Ao falar com crianças que já possuem o aparelho auditivo, o professor não deve

ficar distante (mais de três metros) e, quando for lidar com ela individualmente, pode

falar e brincara uma distância de 30 a 40 cm de sua orelha.

De acordo com o MEC (Ministério de Educação e Cultura) - Secretaria de

Educação Especial, (2006), O modelo de aparelho auditivo mais usado pelas crianças no

período da educação infantil é o retroauricular.O professor deverá receber as

informações sobre o uso e os cuidados com a prótese auditiva da criança. Crianças

muito pequenas dependem do adulto para ligar/desligar, tirar/colocar o aparelho.

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O professor deverá monitorar o aparelho, avisando à família quando ele

apresentar problemas, como: gasto das pilhas e necessidade de limpeza dos moldes. O

professor deverá, sempre que possível, observar se o aparelho do aluno está

funcionando. Uma maneira prática de sabê-lo é colocar a mão “em concha” sobre a

orelha com prótese da criança.Se o aparelho apitar, está funcionando.

Os alunos também devem aprender a usar, utilizar e desenvolver suas

habilidades comunicativas por intermédio da interação com os professores surdos e

outros membros do quadro de pessoal da escola, assim como com os colegas. Artes,

teatro, poesia, mímica e narração de história são grandemente valorizadas como

habilidades expressivas importantes. O sentimento de pertença das crianças com surdez

por sua língua deve ser incentivado pela escola. Para tanto, necessita-se da formação de

profissionais surdos no programa, o apoio de professores ouvintes e a construção de

uma nova cultura educacional inclusiva e competente em vários aspectos.

Para amenizar os efeitos devastadores da surdez é fundamental o papel

desenvolvido pela escola.

Os requisitos básicos para se desenvolver bem um trabalho pedagógico com o

aluno com surdez são: comunicar-se com o aluno surdo por meio do instrumento

simbólico que ele domina (LIBRAS, mímica, fala, figuras, etc); oferecer um modelo de

mundo ao aluno vinculado à sua idade cronológica e intelectual; engajar o aluno no

diálogo e na argumentação com outras pessoas; conduzir o aluno a perceber o

significado das sentenças; oferecer condições para o aluno construir sentenças que

exprimam seus próprios pensamentos e desejos; usar a linguagem para uma variedade

de propósitos conforme seu nível de desenvolvimento cognitivo e social; permitir à

criança expressar seus pensamentos através de diferentes recursos (desenho, escrita,

gestos, dramatização, LIBRAS, etc),

Deve-se também promover uma ambiente de jogo (lúdico),no qual as crianças

tenham a possibilidade de expressar-se com sucesso com o uso da linguagem gestual;

incitar a participação efetiva dos alunos por meio de questionamentos que levam ao

exercício da atividade representativa (por quê, quando, como, para quê, de quem, em

que lugar, desde quando, etc), levar o aluno a manifestar-se e a conhecer a opinião dos

outros provocando nele a descentração.

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3.2 LINGUAGEN E BILINGUISMO

Segundo Santana (1997), há uma espécie de embate ou discussão para obter a

solução mais viável para a comunicação dos surdos.

Essas soluções têm dois pilares: o primeiro é respaldado pela biologia. Essa

ciência observa o surdo como um deficiente e, portanto, busca a dita “normalidade” e a

fala do paciente, dispondo de avanços tecnológicos da medicina (próteses auditivas,

implantes cocleares), para oferecer ao surdo a possibilidade de ouvir e falar.

O outro pilar é edificado pelas ciências humanas, que comumente enxergam o

surdo como diferente e defendem a língua de sinais como sendo a língua do surdo e a

ideia de uma cultura surda, direcionando o debate para um viés ideológico. Essa

discussão acontece mais especificamente entre a área da saúde, que pretende

“normalizar” e a área pedagógica, a qual busca “minimizar os estigmas” vivenciados

pelos surdos.É necessário refletir sobre qual corrente estaria de fato coerente com a

razão.

Discutir sobre o que seja normal ou patológico antecede o debate sobre surdez

como diferença ou deficiência. Conceituar o que é normal ou anormal não diz respeito

apenas a questões biológicas, mas, proeminentemente, a questões sociais.

Segundo Foucault (2001), existe uma língua cognominada de limítrofe, entre o

avaliador e aquele que está sendo avaliado, porém, a própria linha limítrofe é

extremamente subjetiva, tendo em vista que, devem-se levar em conta toda a conjuntura

na qual o avaliado está inserido. Contexto social, cultural, níveis de linguagem, níveis

de compreensão e, principalmente, a maneira pela qual o avaliado consegue comunicar-

se fora dos padrões de “normalidade”.

A partir do momento em que o avaliado não corresponde a um processo de

verbalização e escuta, não significa que, o mesmo não seja capaz de manter um

processo de comunicação que transcenda os padrões estabelecidos pela sociedade.

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Para Canguilhem (1995), o anormal não é o ser humano destituído de norma, e

sim aquele que possui características diferentes e não faz parte da média considerada

normal, que segue as normas estabelecidas socialmente.

Numa abordagem linguística, reportamo-nos a Saussure (1916), teórico da

língua numa análise estruturalista. Para o linguista, do somatório entre o significante e o

significado, segue-se a imagem acústica, ou seja, da junção entre as palavras ou

informações que ouvimos com o significado que essas estruturas fazem em nossa

mente, tem-se a imagem acústica.

Ou melhor, se ouvimos, por exemplo, a palavra cadeira, imediatamente

acionamos nosso sistema mental linguístico e imaginamos uma cadeira feita de madeira,

de certa cor, altura, peso ou design peculiar. Já atualmente para Bakhtin (2000), a língua

é um sistema semiótico criado e produzido no contexto social e dialógico, servindo

como elo entre psiquismo e ideologia.

O falante, dessa forma, somente irá formular sua imagem acústica devida a tal

estrutura lexical ou frasal, se for competente no código linguístico do idioma em uso.

Analisando o texto de Sá abaixo, percebemos que a linguagem é um processo de

transmissão natural e espontâneo, e não imposto, assim, temos um universo de sujeitos

surdos incapazes de compreender seu meio por imposição de conceitos dos padrões da

língua oralista:

O processo de aquisição de uma língua se dá quando o sujeito assimila

aestrutura, o léxico, a pragmática é a semântica da língua de modo

natural eespontâneo pelo simples contato com sujeitos proficientes

nessa língua, ouseja, o sujeito é imerso num determinado ambiente

linguístico e, semesforço, a adquire (SÁ, 1999, pág. 161).

O significante, para aquele que, possui uma dificuldade na verbalização e na

escuta, passa a ser, não mais a imagem acústica, pois o mesmo está deficitário da fala e

da escuta. Neste caso, a imagem do significante passa a ser puramente simbólica e

instrumental através da comunicação das LIBRAS (linguagens de sinais).

O significado para o significante, no caso da pessoa surda, será a conceituação

estabelecida através da linguagem dos sinais. Para isso, é mister que tenhamos uma

atenção voltada para a qualidade, por meio da linguagem dos sinais para o significante e

para o significado.

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O significante, para aquele que é detentor dos processos linguísticos naturais,

representaria a imagem acústica. O significado seria a representação conceitual do

significante. Em relação ao sujeito que, é detentor de uma comunicação e de uma escuta

verbalizada, deve ter uma atenção específica no significante e no significado, pois os

mesmos estabelecerão a compreensão comunicativa através de uma única linguagem: a

dos símbolos das LIBRAS.

Os avaliadores do que seja “normal” julgam-se sempre superiores, e definem

quem foge ou não às regras da “normalidade”. Foucault (2001). Existe uma sutil

diferença do que seja considerado “normal‟ e do que seja “anormal”. O sujeito não pode

apresentar características particulares, pois sua individualidade compromete a “norma‟‟,

ou melhor, a individualidade do sujeito é visualizada como um desvio, passível de

correção, com o fim de não ser descriminado pela sociedade. Assim são os gagos,

afásicos, surdos, disfluentes, etc.

Na linguagem, o pathos que a acompanha (afasia, disartria, distúrbio fonológico,

atraso de linguagem, etc) define o que é ou não é normal. Esse conceito é interligado à

tradição gramatical do falar e do escrever bem, que julga fora da norma todos os que

fogem do padrão, Bagno(2000).

Alguns estados “patológicos” da linguagem não são propriamente apenas do

pathos, mas da normalidade, como o fenômeno de ponta de língua, segundo Morato

(2003), (a falta de palavras), as digressões, a simples perda do fio da meada, as

dificuldades com a linguagem escrita e com suas regras, os lapsos fonéticos e a

impossibilidade de controlar o sentido do que se diz e do que se interpreta. Isso não é

considerado ao se falar de surdez.

Frequentemente, a linguagem dos surdos é comparada à do ouvinte –tomada

como falante “ideal” que fala uma língua “ideal”. Dessa forma, é impactante o

diagnóstico de surdez em uma família ouvinte que espera um filho “ideal” e uma fala,

semelhantemente, “idealizada‟.

Segundo Luria (1986), os processos de desenvolvimento do pensamento e da

linguagem incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente, podendo os

fatores externos afetarem esses processos, positiva ou negativamente. Torna-se, pois,

necessário desenvolver alternativas que possibilitem às crianças “com necessidades

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especiais” meios de comunicação que as habilitem a desenvolver seu potencial

linguístico. Pessoas surdas podem adquirir linguagem, comprovando assim seu

potencial linguístico.

Atualmente a comunidade científica comprova que o ser humano possui dois

sistemas para a produção e reconhecimento da linguagem: o sistema sensorial, que faz

uso da anatomia visual/auditiva e vocal (línguas orais) e o sistema motor, que faz uso da

anatomia visual e da anatomia da mão e do braço (línguas de sinais). Estas são

consideradas as línguas naturais dos surdos, emitidas por meio de gestos e com

estruturas sintáticas própria.

Na aquisição da língua, as pessoas surdas utilizam o segundo sistema. Várias

pesquisas já comprovaram que crianças surdas procuram criar e desenvolver alguma

formade linguagem, mesmo não sendo exposta a nenhuma língua de sinais.

Essas crianças desenvolvem espontaneamente um sistema de gesticulação

manual que tem semelhança com outros sistemas desenvolvidos por outros surdos que

nunca tiveram contato entre si e com as línguas de sinais já conhecidas. Existem estudos

que demonstram as características morfológicas e lexicais desses sistemas.

Em finais da década de 1970, com base em conceitos sociológicos, filosóficos e

políticos surgiu a "Proposta Bilíngue de Educação do Surdo". Essa proposta reconhece e

baseia-se no fato de que o surdo vive numa condição bilíngue e bicultural, isto é,

convive no dia a dia com duas línguas e duas culturas:a língua gestual e cultura da

comunidade surda do seu país;a língua oral e cultura ouvinte de seu país.

O movimento multicultural abrangeu minorias dos mais variados tipos, que

reclamavam o direito de uma cultura própria. Essas minorias englobavam minorias

étnicas e estenderam-se às minorias com necessidades especiais, que se negavam a ser

consideradas como cidadãos de segunda classe. Foi neste ambiente que os surdos

encontraram um caminho para que sua língua fosse "ouvida".

Entende-se, que, por meio da educação bilíngue os surdos terão possibilidade de

uma educação que os respeite em sua particularidade/especificidade linguística e,

portanto, a única que permitirá um agir social de forma autônoma a partir de uma

formação digna e de respeito a sua diversidade.

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Quadros (1997) afirma que as pessoas surdas possuem o direito de serem

ensinadas em língua de sinais, pois se a língua oral é adquirida de forma sistematizada,

pode-se dizer que a língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea

pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua.

Conforme o Instituto dos Surdos Mudos (1857),o Instituto Nacional de Surdos

de Paris, criado em 1760, tinha por base no século XIX, o desenvolvimento da aquisição

da fala e o aproveitamento dos restos auditivos dos surdos. Deste Instituto vem o

fundador da primeira escola para a educação dos surdos no Brasil, o Imperial Instituto

dos Surdos Mudos, criado em 1856 por Ernest Huet. O Regulamento Interno do

Instituto dos Surdos Mudos diz no Artigo 2º que “(...) o mesmo Instituto tem por fim a

educação intelectual, moral e religiosa dos surdos‐mudos de ambos os sexos que se

acharem nas condições de recebe‐la.”

Aponta Soares (1999) que, no século XIX os surdos reivindicaram os seus

direitos e a sua língua já foi reconhecida. Entre esses direitos estava a utilização de sua

língua na educação dos Surdos, que eles fossem reconhecidos não como deficientes,

mas como diferentes e que sua cultura fosse respeitada.

Assim, dentro da comunidade ouvinte, eles construíram uma comunidade

própria, com a sua língua, a sua cultura e tentaram estabelecer-se como grupo

minoritário que pudesse ser aceito numa visão multicultural.

Em alguns países, especialmente nos do sul da Europa, há uma tradição

centenária que defende o valor da comunicação exclusivamente oral na educação de

crianças surdas.

Ainda de acordo com Soares (1999),a consideração da linguagem de sinais como

um conjunto de gestos icônicos e pouco estruturados e o medo de que sua utilização

interfira na aprendizagem oral levou à rejeição da incorporação de sistemas manuais de

comunicação nas escolas para surdos.

Essa posição foi questionada, pois comprovou-se que a utilização de métodos

exclusivamente orais não contribuiu para o aprendizado da leitura labial, expressão oral

ou leitura de textos escritos dos alunos surdos e, estudos sobre a linguagem de sinais

revelaram sua relevância linguística e sua capacidade para expressar os aspectos da

realidade, a linguagem abstrata, assim como o mundo poético.

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Estudos sobre a aquisição precoce da linguagem de sinais por crianças surdas

comprovaram sua influência positiva em inteligência, compreensão linguística,

vocabulário e leitura labial e não se encontraram diferenças em relação a outras crianças

surdas em leitura e inteligibilidade da fala. Essas informações tornaram os modelos

exclusivamente orais obsoletos.

Incorporaram-se novos sistemas visuais à educação das crianças surdas: a

palavra complementada e os sistemas de comunicação bimodal. Recuperou-se a

utilização da linguagem de sinais. Nos dois primeiros predomina a língua oral, por isso

devem ser considerados como enfoques monolíngues. O terceiro incorpora uma nova

língua, por isso o enfoque nesse caso é bilíngue.

Sobre o bimodalismo, Almeida (2000) aponta que a fala e a sinalização são

realizadas ao mesmo tempo. O português sinalizado é um exemplo dessa abordagem.

Apesar de várias análises reprovarem a estimulação simultânea, por acreditarem que a

criança não é capaz de processar duas línguas completamente diferentes, observa-se na

prática a utilização de duas línguas simultaneamente e percebe-se a preocupação com o

desenvolvimento da linguagem oral. Dessa forma, a criança surda percebe que a palavra

equivale ao sinal utilizado e, com isso, é propensa a erros e produz enunciados de difícil

compreensão quando verbaliza suas ideias.

A Suécia foi o primeiro país a iniciar o caminho para a implantação do

bilinguismo. Como proposta educacional, o bilinguismo ganhou força nos inícios dos

anos 1960, nos Estados Unidos da América e foi implementado, em 1979, em Paris,

quando Danielle Bouvet iniciou a sua primeira turma bilíngue, em que a Língua Gestual

Francesa foi ensinada como língua materna dos Surdos e a Língua Francesa como

segunda língua.

Numa abordagem educacional, o bilinguismo baseia-se no reconhecimento do

fato de que as crianças surdas são interlocutoras naturais de uma língua adaptada a sua

capacidade de expressão. Assim sendo, a comunidade surda propõe que a língua gestual

oficial do seu país de origem lhes seja ensinada, desde a infância, como primeira língua.

Reconhece ainda o fato de que a língua oral oficial do seu país não deve ser por

ela ignorada, pelo que lhe deve ser ensinada, como segunda língua. Os bilinguistas

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defendem que a língua gestual deve ser adquirida, preferencialmente, pelo convívio com

outros surdos mais velhos, que dominem a língua gestual.

Uma vez que cerca de noventa por cento dos surdos têm família ouvinte, para

que a aquisição da língua gestual tenha sucesso, seria necessário que a família

aprendesse a língua gestual para que a criança pudesse enfim, usá-la ao comunicar-se,

em casa. A língua oral, que geralmente é a língua da família da criança, seria a segunda

língua desta criança.

No entanto, os defensores dessa abordagem não estão de acordo, quanto ao que

deve ser ensinado ao surdo: a modalidade oral ou escrita dessa segunda língua, ou se

ambas. Divergem ainda quanto ao momento em que deve ser ministrado o ensino, se em

simultâneo com a língua gestual – "modelo simultâneo" – ou se após a aquisição dessa

língua – "modelo sucessivo" e se a segunda língua deverá ser introduzida apenas usando

a língua dominante.

Na opinião dos bilinguistas, os surdos não necessitam desejar serem iguais aos

ouvintes, podendo aceitar e assumir a surdez. O conceito principal que a filosofia

bilíngue traz é de que os surdos formam uma comunidade, com cultura e língua

próprias. Os bilinguistas preocupam-se em entender o indivíduo Surdo, as suas

particularidades, a sua língua (língua gestual), a sua cultura e a sua forma particular de

pensar, em vez de apenas os aspectos biológicos ligados à surdez.

Daigle (2011) esclarece que os tipos de ensino bilíngue/bicultural, retêm o

ensino bilíngue transitorie e o ensino bilíngue guidé. O primeiro é realizado com o

objetivo de lançar os alunos através da língua maioritária e dominante.

O segundo reforça os conhecimentos da língua minoritária, desenvolve a

identidade cultural dos alunos e ajuda a afirmar os seus valores culturais, utilizando a

língua maioritária. Para os surdos, a aproximação deve ser ao modelo guidé, visto que é

essencial reforçar os conhecimentos da língua gestual, o sentimento de identidade surda

que, na maioria dos casos, são oriundos de famílias ouvintes.

Matt Daigle é um cartunista estadunidense surdo, autor de That Deaf

Guy(Aquele garoto surdo) e Deaf Reel (Reel Surdo). Em In Deaf Culture (Na Cultura

Surda), Daigle retrata, com humor, cenas cotidianas, corriqueiras, ou inventadas,

reinterpretadas sob os imperativos da surdez. Vejamos o comentário e a arte de Daigle

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abaixo:“Meus cartoons não são feitos apenas para provocar risos, mas também para

permitir que as pessoas entendam melhor a cultura surda”. Matt Daigle (2011).

Para Santana (2007), o bilinguismo inaugura um novo debate na área da surdez:

ele defende a primazia de uma língua sobre a outra, ou seja, da língua de sinais sobre a

língua portuguesa, antes aprendida concomitantemente na comunicação total, ou

isoladamente – a linguagem oral, no oralismo, ou a língua de sinais, quando se afirmava

que o surdo não aprenderia jamais a falar.

Essa teoria defendida por muitos autores é sustentada por dois argumentos: a

presença de um período crucial para a aquisição da linguagem e a existência de uma

competência inata, pressuposto núcleo duro do paradigma inatista, segundo o qual, para

adquirir um idioma, bastaria simplesmente estar imerso em uma comunidade linguística

e receber dela inputs linguísticos cruciais.

Para a autora estudiosa da surdez, existe falta de consenso na proposta bilíngue,

no que se refere à aquisição da segunda língua. Alguns teóricos brasileiros acreditam

que a língua de sinais deve anteceder a aquisição da língua portuguesa, devido à

diferença estrutural das duas línguas e focando o desenvolvimento linguístico e

cognitivo da pessoa surda.

A Comunicação Total foi desenvolvida em meados de 1960, após o fracasso ou

descontentamento com relação ao oralismo puro para muitos sujeitos surdos, que não

tiveram o sucesso esperado na leitura de lábios e emissão de palavras. Segundo Sá

(1999), foi Dorothy Shifflet, professora secundária, mãe de uma menina surda, que

descontente com os métodos oralistas, começou a utilizar um método que combinava

sinais, fala, leitura labial e treino auditivo, em uma escola na Califórnia, denominando

seu trabalho de Total Approach – Abordagem Total. Assim, a Comunicação Total

consiste no uso simultâneo de palavras e sinais, ou seja, no uso simultâneo de uma

língua oral e de uma língua sinalizada.

A comunicação total não exclui recursos e técnicas para a estimulação auditiva –

abrange a adaptação de aparelho de amplificação sonora individual, a leitura labial, a

oralização, a leitura e a escrita.

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Há completa liberdade para usar qualquer estratégia que permita o resgate da

comunicação. Seja por meio da linguagem oral, seja pela língua de sinais, seja pela

datilologia, seja pela combinação desses modos, deve-se priorizar a comunicação.

A Comunicação Total, dessa forma, inclui um universo de instrumentos

linguísticos, ou seja, Língua de Sinais, língua oral, gestos, fala, leitura labial, alfabeto

manual, leitura escrita, ritmo, dança. Em sua prática incorpora ainda o desenvolvimento

da fala mediante uma atividade com repetição ritmada, dos restos auditivos com o

treinamento do som para estimular através de uso constante, por um longo período de

tempo, aparelhos auditivos individuais e/ou sistemas de alta fidelidade para

amplificação em grupo.

A Comunicação Total ainda permitiu o uso de sinais proibidos pelo oralismo. Os

estudos sobre a comunicação total tinham como objetivo tornar acessível a gramática da

língua falada pela visão, já que essa gramática não poderia ser acessível pela audição.

Assim, os surdos poderiam espontaneamente adquirir a gramática da língua falada pelo

Manually Coded English (MCE) – Manual do Inglês Codificado.

No entanto, as expectativas de que a comunicação total oferecesse os

mecanismos para a aprendizagem da gramática foram frustradas. Os resultados indicam

que a gramática do inglês não pode ser aprendida por meio de um módulo combinado

fala e sinal. Muitos linguistas e educadores são contra o MCE porque ele é uma língua

artificial.

A Comunicação Total parece ser do tipo “vale tudo”, segundo Santana (2007).

Dessa forma não se questiona o papel da linguagem oral, nem o da língua de sinais

nesse contexto. Essa língua artificial é usada para ensinar a gramática da língua falada à

pessoa surda, como se a língua fosse um processo individual, e não social. Contudo,

linguisticamente citando, não se pode ensinar a sintaxe de forma separada das outras

funções linguísticas.

No entanto, essa discussão é ainda controversa no âmbito linguístico e no

educacional. A comunicação total, apesar de ser considerada uma abordagem que não

considera a questão linguística – cognitiva, ainda é muito usada.

Seus programas consistem em aproximar pessoas e permitir contatos, para tanto,

é possível utilizar qualquer recurso linguístico-comunicativo neste tipo de

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comunicação.Em síntese, foca-se a interação entre os surdos e os ouvintes, e não o

aprendizado de uma língua segundo Ciccone (1990).

Goldfeld critica a comunicação total ressaltando que a língua de sinais não é

utilizada plenamente. Logo, não se considera que o fato de ela ser “natural” (ter surgido

espontaneamente na comunidade surda) e de carregar uma cultura própria. A criação de

recursos artificiais para facilitar a comunicação e a educação dos surdos dificulta a

comunicação entre aqueles que dominam códigos diferentes da língua de sinais.

Acredita-se também que a comunicação total trata-se apenas de uma visão oralista

camuflada e que o oralismo e a comunicação total constituem uma visão similar do

problema.

Além do uso da LIBRAS, a comunicação total usa o alfabeto manual

(representação manual das letras do alfabeto), o Cued Speech (sinais manuais quer

representam os sons da língua portuguesa), o português sinalizado (língua artificial que

utiliza o léxico da língua de sinais com a estrutura sintática do português e alguns sinais

inventados para representar estruturas gramaticais que não existem na língua de sinais) e

o pidgin (simplificação da gramática de duas línguas em contato; no caso, o português e

a língua de sinais).

No que se refere ao Cued Speech ou palavra complementada, trata-se de um

sistema elaborado por Cornett (1967). Seu objetivo é permitir que a criança surda

aprenda a linguagem por meio da leitura do movimento dos lábios com a ajuda de sinais

suplementares.

O próprio Cornett aponta que o sistema não é um substituto do treinamento

auditivo, tampouco da aquisição dos sons da língua, nem da linguagem de sinais. A

palavra complementada é compatível com outros métodos de comunicação e de

treinamento. Sua principal função não é criar uma alternativa comunicativa, e sim

facilitar a compreensão da linguagem oral por meio de sinais manuais.

Tal sistema consiste na utilização de um conjunto de sinais manuais perto do

rosto para que possam ser vistos de forma simultânea à percepção do movimento dos

lábios e contribuam para tornar mais claro o fonema articulado.

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A adaptação espanhola da palavra complementada feita por Santiago Torres

(1988) utiliza oito formas da mão para as consoantes e três posições para as vogais: lado

(a,o), queixo (e, u), e boca (i).

A principal vantagem do sistema Cued Speech, é que ele favorece a

discriminação fonética e facilita a leitura labial. Entretanto, não contribui para a

expressão comunicativa para crianças com problemas graves para utilização da língua

falada.

Estudiosos do fenômeno defendem que as duas línguas devem ser apreendidas

concomitantemente. Há ainda aqueles que orientam o ensino apenas da modalidade

escrita da língua portuguesa, e não a oral. Também existem os que afirmam que se deve

ensinar ao surdo ambas as modalidades do português, o ensino da oralidade, com ou

sem o uso das habilidades da leitura e da escrita.

Algumas vezes, professores e fonoaudiólogos acreditam estar utilizando a

abordagem bilíngue na teoria, contudo estão praticando a comunicação total, na prática.

Enfim, essas várias propostas educacionais para a pessoa surda, são o fruto das

diversas definições de surdo bilíngue, essas propostas são produtos do conceito adotado

para bilinguismo e também do fato de que a aquisição da língua é realizada de forma

individual, ou melhor, ela é peculiar a cada indivíduo.

O Bilinguismo propõe que sejam ensinadas duas línguas, a língua de sinais e,

secundariamente, a língua do grupo ouvinte, no nosso caso, a Língua Portuguesa. A

língua de sinais é considerada mais apta à pessoa surda, por possuir com a plenitude do

canal viso-gestual.

Muitos estudos mostram que é a proposta mais adequada ao ensino das crianças

surdas, pois são adquiridas de forma natural e rápida pelos surdos, proporcionando

assim, o acesso a linguagem que ocasiona uma eficaz e completa comunicação, tal qual

a utilizada pelos ouvintes. Por meio da língua de sinais o aluno surdo tem a

possibilidade de adquirir maior desenvolvimento cognitivo, social e emocional.

As diferentes formas de proporcionar uma educação bilíngue a uma criança em

uma escola dependem de decisões político-pedagógicas certamente.

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Se a escola e os professores não são habilitados para transmitir os conteúdos

curriculares, conhecendo diferentes formas detransmitir-lhes, o saber, deixará muito a

desejar, nos dois sentidos para aquele que aprende e aquele que ensina, desembocando

em obstáculos no processo de trocas nos mais variados níveis de aprendizagem.

Estudos e análises realizados sobre o progresso acadêmico das crianças surdas

indicam que seu rendimento é superior nas escolas integradoras do que nas instituições

de educação especial. Entretanto, os resultados relevantes das pesquisas apontam para

maiores dificuldades de desenvolvimento e socialização de surdos nas escolas de

integração, de acordo com Lynas (1986).

A correta utilização de um sistema de comunicação manual na sala de aula é a

condição necessária para facilitar o intercâmbio de informações com o aluno surdo e o

progresso em sua aprendizagem escolar. Ao mesmo tempo é necessário dedicar

especial atenção à comunicação oral, dada a importância de sua aprendizagem e das

dificuldades da criança surda. Sendo assim, devem-se incorporar todas as modificações

que, juntamente com a incorporação da comunicação oral, facilitam o processo de

ensino.

Optando-se por uma educação bilíngue, a escola assume uma política linguística

em que duas línguas passarão a existir concomitantemente no espaço escolar, além

disso, também será definido qual será a primeira língua e qual será a segunda língua,

bem como as funções que cada língua irá representar no ambiente escolar.

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4. A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A Psicopedagogia pode acompanhar o processo inclusivo do aluno surdo em sala

de aula, em todas as idades e níveis escolares, desde a educação infantil até a

universidade, mediante suas atuações institucional e clínica.

No âmbito institucional, a Psicopedagogia elabora estratégias junto aos

professores, gestores e demais funcionários da escola, para preparação e qualificação

dos docentes no sentido de acolher o aluno surdo – e isso envolve o destaque à figura do

professor e do intérprete em LIBRAS, para evitar a evasão escolar do aluno surdo. Em

ambas as áreas de atuação, a Psicopedagogia foca seu interesse na construção da

subjetividade do sujeito surdo, inserido em uma família de ouvintes ou de surdos, qual a

dinâmica familiar envolvida na surdez, e é assim que se constrói a identidade individual

e cultural da criança/adolescente surdo.

No aspecto clínico, buscará observar os processos cognitivos e psicológicos que

permeiam o processo de aprendizagem da criança/adolescente surdo, considerando-se

sua auto imagem e auto estima como ser “diferente”, “deficiente” ou “inválido”.

Em meados do século XVI, as pessoas com deficiência auditiva eram

consideradas intelectualmente inferiores, por isso, eram trancados em asilos e excluídos

da sociedade. Nessa época não havia escolas para surdos, só a partir, do século XVIII

que começaram a surgir os primeiros educadores nessa área, que divergiam, no entanto,

quanto ao método de ensino mais apropriado.

Ocorrem pressões sociais para que o surdo seja equiparado ao ouvinte, manobras

de exclusão e discriminação encobertas por pretensas propostas de inclusão, a hipocrisia

das instituições sociais, que mantém um discurso demagógico e falacioso de “fomento à

inclusão”, mas que sequer conhecem a legislação referente à LIBRAS, não sabem que

esta língua foi oficializada no Brasil, e desconhecem o significado cultural dessa língua

para a comunidade surda.

O diagnóstico psicopedagógico irá analisar qual a relação que o sujeito surdo

tem com o conhecimento, qual é a melhor forma de se transmitir o conhecimento a esse

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sujeito de forma que se sinta integrado na sociedade, quais as expectativas que o sujeito

surdo tem a respeito da aprendizagem.

A formação do psicopedagogo deve voltar-se para exercer as tarefas clínicas

e/ou institucionais de atendimento ao aluno surdo, considerando-se que, diante da

inadequação de certas propostas que se intitulam “inclusivas” mas que não fornecem a

infraestrutura suficiente para a inclusão, o aluno surdo pode apresentar dificuldades de

aprendizagem e de auto estima como qualquer outro aluno – e esse atendimento

psicopedagógico clínico não permite a presença de intérpretes como terceiro na relação

para não violar o sigilo, o que, certamente, exige o conhecimento da LIBRAS pelo

psicopedagogo.

A avaliação Psicopedagógica deve obter informações sobre as características do

ambiente familiar da criança, suas possibilidades de aprendizagem e as condições

educativas, com o objetivo de colaborar para que o processo de ensino seja eficaz.

O objetivo da avaliação, ou anamnese é obter dados, selecionar os mais

significativos, complementá-los por meio da observação e interpretá-los para aplicar as

devidas soluções educativas.

A avaliação do aluno não é dirigida exclusivamente as suas capacidades, nem se

realiza em um momento específico. É antes uma relação interativa e permanente entre o

avaliador, a família, a criança e os professores, para conhecer a origem das necessidades

educativas da criança e estabelecer o modo e o estilo comunicativos, assim como as

experiências de aprendizagem que acrescentem cognição à criança. A avaliação deve ter

como escopo o tripé: a família, a criança e a escola.

O que ocorre no âmbito familiar de um aluno reflete em seu desenvolvimento e

em sua aprendizagem. As relações familiares, o engajamento social e emocional, o

acompanhamento do progresso da criança e o que se espera dela cognitivamente

citando, são fatores que influenciam sobremaneira na evolução psicológica e cognitiva

do indivíduo. No que se refere à criança surda, a forma e o estilo de comunicação que se

utiliza em sua família em casa é relevante.

No caso de os pais serem surdos também, haverá maior conhecimento das

consequências da surdez e uma comunicação habitual com a linguagem de sinais, o que

facilita as relações familiares.

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Quando os pais são ouvintes, necessitam de mais informações sobre a

comunidade surda e seus hábitos e sobre a melhor forma de se comunicar com seu filho.

Em todo caso, deve haver engajamento entre o modo de comunicação empregado na

família e o que se utiliza na escola.

Segundo Weiss:

Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma

pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta

esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio

sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. (Weiss, 2008,

pág. 29).

O diagnóstico é realizado depois da anamnese, ele é o caminho que possibilita

ao psicopedagogo levantar hipóteses, que poderão ou não ser confirmadas ao longo do

processo de investigação ou pesquisa, de como o aprendiz está em relação ao esperado

num processo ensino-aprendizagem.

A anamnese trata-se de um relatório com todas as informações do paciente,

desde sua infância, a qual deve ser colhida pelo psicopedagogo logo no início do

tratamento do indivíduo.

A primeira medida desse profissional é ouvir as queixas da família, dos

educadores envolvidos e da própria criança e preencher o formulário de anamnese.

Em se tratando do surdo, faz-se necessário que o especialista tenha meios de

como com ele comunicar-se, mesmo que com a presença de um intérprete de LIBRAS

para, a partir daí, intervir e mediar possibilitando-lhe a inclusão. A exploração do

cotidiano escolar da criança conduz o psicopedagogo às questões ligadas à escola e à

família. A análise das dificuldades implica também na observação do que é relevante na

aprendizagem.

De acordo com Weiss (2008) com o diagnóstico precoce, respaldado no

conhecimento teórico e prático vinculado na relação aprendiz-família-escola, o

psicopedagogo poderá atuar para que seja feita uma inclusão adequada do aprendiz no

meio escolar assim como no social.

A intervenção preventiva prioriza o ser humano e não o sistema educacional,

portanto é necessário que o profissional seja preparado para exercer o papel de educador

para que tenha condições de lidar com todas as crianças, detectando a dificuldade de

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audição e de fala do aluno prontamente e respeitando sobretudo as diferenças

individuais peculiares do ser humano.

O trabalho dos especialistas nas questões de aprendizagem é a lacuna existente

entre as diferenças e a inclusão, no qual o psicopedagogo passa a ser o mediador e o

facilitador que minimiza a angústia da busca de respostas.

O processo de inclusão é algo complexo. Vejamos o que Mantoan (2006) com

muita propriedade no assunto nos diz:

Ensinar significa atender às diferenças dos alunos, mas sem

diferenciar o ensino para cada um, o que depende, entre outras

condições, de se abandonar um ensino transmissivo e adotar uma

pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a

toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária,

individualizada e hierárquica do saber. (Mantoan, 2006, pág. 49).

O processo de ausência auditiva passa pela análise e comprovação no

atendimento psicopedagógico por meio de determinados critérios que legitimarão a

possibilidade de comunicação lingüística mediada pela semiótica explanável: a

gesticulação simbólica.

O processo de mediação simbólica, à partir de Vygotsky, passa a compreender

não meramente o símbolo pelo símbolo, mas sim, procura retratar a possibilidade de

uma comunicação que, em si, transcende a verbalização.

O sincronismo e o diacronismo para o ser (indivíduo ou sujeito), deve partir do

pressuposto da alteridade simbólica que, em sua estrutura, dever ser abraçada e

absolvida enquanto processo linguístico diferenciado.

A psicopedagogia colabora no processo de ensino – aprendizagem a pessoa

surda restabelecendo a auto-estima; a possibilidade de comunicação; o

compartilhamento da sociedade vigente sob o aspecto da normalidade; o

aperfeiçoamento do processo de comunicação verbal-verbal, verbal-não verbal ou

simplesmente linguagem simbólica diretiva.

A avaliação do processo escolar deve analisar todos os aspectos que incidem no

processo de aprendizagem dos alunos surdos.

Ao detectar qualquer dificuldade de audição na criança, o professor, antes de

aplicar sua metodologia com o aluno surdo, o professor ou psicopedagogo deve

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encaminhar a criança para o atendimento médico para verificar o nível de surdez do

aluno. A criança deve ser submetida à audiometria tonal. Na verdade, os pais é que, ao

detectarem a surdez no filho, devem encaminhá-lo ao exame de audiometria tonal.

A audiometria tonal é um dos testes mais característicos e pode começar a ser

utilizado com crianças maiores de 3 anos, visto que elas têm de ser treinadas para ouvir

o som e dar uma resposta. Emprega-se um audiômetro, um aparelho que emite sons com

diferentes frequências e intensidades. Os resultados obtidos expressam-se mediante um

audiograma, que capta a intensidade da perda auditiva da criança em cada ouvido em

função das diversas frequências.

É válido citar que, mesmo que não alcancem a mesma proficiência obtida pelos

alunos ouvintes, os estudantes com deficiência auditiva precisam participar de todas as

aulas. Se o aluno surdo ainda não for capaz de escrever um texto, faça com que ele

contribua para as atividades escrevendo listas ou frases sobre o tema abordado.

Produções coletivas ou em pequenos grupos também ajudam o aluno a se

expressar melhor pela escrita. O importante é que ele sempre conte com o apoio visual

da escrita.

O professor deve registrar todas as atividades e utilizar recursos diferenciados -

como letras móveis ou cores diferentes para designar elementos distintos de uma frase,

por exemplo. Fazer com que o aluno surdo sente-se nas carteiras da frente é outra

medida essencial, assim como atuar em conjunto com o Atendimento Educacional

Especializado (AEE).

A maioria das crianças surdas nasce em famílias de ouvintes. Por isso, ela só

aprende LIBRAS quando entra na creche ou na pré-escola. Ao final desse período,

espera-se que essas crianças consigam narrar histórias simples na língua de sinais.

Utilizar cartazes com a representação de palavras em LIBRAS e em Língua

Portuguesa é uma ação que ajuda a colocar as crianças com deficiência auditiva em

contato com a Língua Portuguesa escrita desde cedo, já que a apreensão desta língua é

visual para o aluno surdo.

As imagens também devem ser bem exploradas pelos educadores durante os

momentos de leitura. É importante que os pequenos possam observar as ilustrações e

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compreendê-las como elementos complementares à narrativa. O mesmo vale para a

elaboração de listas.

Em todas as áreas, deve-se dar mais ênfase aos procedimentos de aprendizagem,

e não tanto à acumulação de informação. Para os alunos surdos, embora também para os

ouvintes, é particularmente necessário desenvolver a ânsia pelo conhecimento, o

interesse pelo saber, a curiosidade do aluno deve ser instigada, o gosto pela leitura e a

satisfação em resolver problemas de raciocínio lógico.

Para tanto, a metodologia utilizada em sala de aula deve contemplar a

organização de atividades em pequenos grupos, a fim de que o aluno surdo se socialize

o quanto antes, já que, este fato é preponderantemente importante principalmente para o

aluno surdo. O professor deve também favorecer a atividade própria do aluno,

diversificando tarefas e utilizando métodos e recursos visuais de comunicação.

No que se refere à integração do aluno, há controvérsias de que o

psicopedagogo, ao promover a socialização o aluno com os colegas ouvintes da escola

provoca a marginalização da linguagem de sinais, tão necessária à comunicação de

pessoas surdas à construção de sua própria identidade.

Outro problema que há no processo de integração de alunos surdos e não surdos

é que, como já citado neste trabalho, os professores das escolas de ouvintes não têm

formação suficiente para lidar com o surdo.

Os alunos surdos têm sérias dificuldades de comunicação oral e, por isso, a

integração social com seus colegas pode não ocorrer, mesmo estando na mesma turma.

Os alunos surdos não podem acompanhar as informações transmitidas

oralmente, o que leva a potencializar seus problemas de aprendizagem, o que provoca

estresse e baixa estima.

Diante dessas razões, os defensores das opções integradoras destacam outras

vantagens que minimizariam os problemas elencados acima. São eles a seguir: os alunos

surdos têm maiores possibilidades de interação com colegas ouvintes, o que favorece a

aquisição da linguagem oral; as expectativas e os estímulos para a aprendizagem são

maiores nas escolas de integração; a integração prepara a futura e necessária integração

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das pessoas surdas na vida ativa e profissional, além do que, ela deve ser feita nas

condições adequadas.

No que se refere a essas condições, é preciso frisar a existência de um projeto

educacional e curricular da escola que leve em conta a realidade das crianças surdas.

Dessa forma, professores devem ser preparados, a escola deve incorporar vários alunos

surdos em cada sala de aula e deve utilizar a comunicação visual.

Apenas as escolas que asseguram o acesso à informação e a interação

interpessoal das crianças surdas podem ser consideradas adequadas para a educação da

pessoa surda.

A integração das crianças hipoacústicas não deve oferecer grandes dificuldades.

O professor deve estar ciente de suas limitações e deve facilitar sua comunicação, o

acesso à informação e os suportes e apoios necessários.

Quando a criança possui surdez severa, deve-se favorecer mais ainda a

comunicação e a integração, tanto no mundo dos ouvintes, como no dos surdos. Para

tanto, deve-se viabilizar um duplo sistema de comunicação, oral e visual e facilitar a

interação social e a aprendizagem das crianças com seus colegas surdos e ouvintes.

Para que se alcance esse objetivo primordial, devem ser utilizados modelos

organizacionais que contemplem determinados aspectos específicos tais como: turmas

diferentes para surdos e para ouvintes em todas as séries; professores e adultos surdos

devem colaborar nas atividades formativas; deve-se socializar os alunos com crianças

surdas de outras escolas; o ensino deve ser bilíngue, no qual, adultos surdos colaboram

e as crianças surdas participam de atividades com crianças ouvintes de outras escolas.

Nesse processo, as turmas para surdos possuem professores habilitados em

linguagem de sinais. Há atividades de aprendizagem conjunta entre surdos e ouvintes de

níveis similares na maioria das áreas ou apenas em algumas. Tais atividades conjuntas

podem ser organizadas para todos, para a maioria ou apenas para algumas crianças

surdas. A flexibilidade organizacional é imprescindível.

O educador pode, em seu planejamento, organizar atividades com imagens de

objetos e nomes correspondentes escritos em português e em sinais. O uso de DVDs de

histórias contadas em LIBRAS por outras crianças ou de DVDs de brincadeiras com

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regras interpretadas em LIBRAS associadas às imagens são recursos importantes no dia

a dia da pré-escola.

Um dos erros mais comuns é tentar "oralizar" a criança surda - mesmo as que

possuem resquícios de audição. O ideal é que todos dominem LIBRAS para então

aprender uma segunda língua, que é a Língua Portuguesa em sua modalidade escrita. A

tentativa de oralização prejudica o desenvolvimento, pois impede que a criança aprenda

tanto a Língua Portuguesa falada quanto a Libras.

A Psicopedagogia auxilia no trabalho pedagógico. Busca intervir no aprendizado

do aluno surdo e o faz obter resultados positivos, pois a falta de uma linguagem,

independente de como ela seja, acarreta em especial na criança, atraso em seu

desenvolvimento cognitivo, de aprendizagem, dificuldades de interação com outras

crianças no seu meio, em consequência disso, sua capacidade de socialização com

outros pode ser comprometida, se não acompanhada por pais, professores habilitados e

psicopedagogos ou médicos da área.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A deficiência auditiva é, certamente, um assunto de máxima relevância e de

interesse de toda a sociedade, seja em ambiente escolar ou não, já que trata-se de um

tema que envolve o ser humano em sua cognição e adaptação social. As pessoas com

deficiência auditiva têm o direito e devem ser inseridas normalmente na sociedade.

Parece haver concordância geral de que as crianças com surdez, que possuem

pais ouvintes, superam-se mais quando o diagnóstico é feito o mais cedo possível e

quando há tempo de ajudar a família na aceitação do limite auditivo da criança e no

desenvolvimento de sua linguagem. A ajuda aos pais e professores deve incluir

informações (repetidas frequentemente: o quanto for necessário); oportunidade de fazer

perguntas; apoio nas crises emocionais, por ocasião do diagnóstico; aquisição do

aparelho auditivo e instruções com relação a seu uso e manutenção; conselhos sobre a

educação infantil; ajuda na interpretação do significado da surdez para os parentes e

experiência junto a diferentes surdos (adultos e crianças).

Como relata Wederson Honorato Inácio (2001), a educação brasileira busca

inserir os alunos em uma sociedade igualitária. Para que isso ocorra efetivamente é

preciso que os alunos com necessidades especiais sejam colocados dentro do contexto

escolar regular, fazendo com que toda a comunidade escolar participe das inovações a

caminho de uma educação com qualidade para todos.

É extremamente necessário que todos os setores da sociedade se empenhem em

busca da qualidade e da igualdade na educação brasileira. Essa busca precisa ser

iniciada dentro da escola, na mais tenra idade, para que a criança consiga exercer um

bom papel na sociedade quando adulta.É dever de todos proporcionar o bem-estar das

pessoas portadoras de necessidades especiais, seja ela auditiva ou não.

No ambiente escolar cabe aos professores fazer com que os futuros cidadãos

brasileiros aceitem as diferenças e convivam com elas com extrema naturalidade.

Também é um dever do professor sua constante atualização e capacitação para suprir as

necessidades de comunicação e formação pessoal dos alunos com deficiências.

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Enfim, a inclusão social e escolar está cada vez mais presente na sociedade atual,

mas, infelizmente aparece muito ainda na teoria. Cabe a cada um de nós fazer com que

essa teoria aplique-se para o bem.

A aprendizagem dos alunos surdos fica relegada ao domínio de alguns códigos,

ao estabelecimento de relações entre um conjunto de palavras e um conjunto de

desenhos e à memorização de algumas palavras e conceitos previamente colocados. A

memorização mecânica e sem razões na língua portuguesa e a memorização de regras

gramaticais não permitem que os surdos utilizem a língua como um instrumento que

pode servir de estratégia para negociar com ouvintes outros sentidos para o que

aprendem.

Podemos frisar algumas das indecisões, inseguranças e carências vividas pelos

professores dentro das escolas envolvidas em nossa investigação. Uma das necessidades

mais evidentes em nossas planilhas de pesquisa é a de formação de professores.

Associada a isso, vale ressaltar a necessidade da formação dos gestores que atuam nas

escolas, em secretarias e coordenadorias de educação.

Não parece haver domínio por parte de muitos profissionais das especificidades,

nem mesmo de nomenclaturas envolvidas na educação de surdos, muito menos

especificidades linguísticas envolvidas nas questões pedagógicas. Outra necessidade

evidente é o levantamento e o controle das matrículas dos alunos surdos. Não há dados

atualizados sobre esses registros, assim como não há controle maior sobre o que

denominamos de processos de migração escolar de surdos.

Chama-nos a atenção o fato de as coordenadorias de educação do Estado e boa

parte das secretarias de educação dos municípios envolvidos na investigação não

possuírem maiores informações acerca desses alunos. Sem ter o acompanhamento deles,

não conseguem providenciar recursos necessários para que a inclusão ética aconteça.

Mais uma necessidade para que a inclusão possa acontecer sob outras condições

é a presença de intérpretes nas escolas. O que encontramos nos municípios - intérpretes

itinerantes, que trabalham uma vez por semana na escola, dão aula de língua de sinais

para professores e atuam como professor de turma - dificulta e/ou impede que a inclusão

possa estar acontecendo com garantia aos alunos de condições de igualdade de

participação.

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Ter uma língua estruturada que possibilite a constituição de uma identidade

surda é condição importante para que os sujeitos surdos se desenvolvam e orientem sua

participação na escola. Sabemos que são muitas as realidades envolvidas nessas

inclusões, mas sabemos também que a orientação de matrícula e a proposta pedagógica

para que a inclusão aconteça são construídas pelas escolas.

Vemos muitos professores lutando para que seus alunos sejam atendidos. Vemos

escolas que deslocam o professor de série ano a ano para que o mesmo professor

acompanhe o aluno surdo, mas são poucas as escolas que se dizem inclusivas porque

possuem projetos de inclusão envolvendo a instituição e não um único profissional.

Isso nos faz pensar que talvez nossas maiores necessidades para que possamos

falar de inclusão de surdos estão ancoradas na mudança de olhar/cultura sobre o surdo e

na falta de vontade política de fazer mudanças e promover ações que venham a

modificar as relações mantidas nas escolas ditas inclusivas. Lopes (2007), ao

argumentar sobre a inclusão, escreve que este é o nome que se dá para um conjunto de

projetos que deveriam estar articulados entre si e permanentemente sendo questionados

pelas instituições educativas.

Urge que discutamos que tipo de inclusão e que condições pedagógicas e

linguísticas falamos quando argumentamos acerca do que vemos acontecer em nossas

escolas. Citamos uma inclusão excludente fundada na abnegação de professores que se

veem altruisticamente envolvidos com um projeto que não deveria ser só seu. Movidos

muitas vezes por razões religiosas, civis, missionárias, pedagógicas e até mesmo de

auto-ajuda e voluntariado, os professores mobilizam-se pela inclusão, entendendo-a

como imperativo ético e não como compromisso político de um Estado que propõe e faz

campanhas de inclusão de todos na escola.

É de máxima valia que organizem-se instituições capazes de reunir estes

sujeitos, aceitando-os, acolhendo-os e estimulando-os a serem participativos dentro de

suas próprias possibilidades. Devem focar na formação social, para que possam se auto

determinar em seu meio, essas pauta são relevantes e imprescindíveis para a inserção da

pessoa surda no ambiente social de forma saudável. Concomitantemente, a questão de

aprendizagem dentro do contexto educacional, com os professores capacitando-se, deve

ser efetivada.

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Gradualmente ou paulatinamente, a aprendizagem do surdo demanda certo

tempo e uma modalidade que cabe em especial à “escola”, oferecer.

Aparecerão na rotina da escola, um complexo de situações e mudanças de

comportamento da pessoa surda que permitirão que o professor capacitado pelas

devidas secretarias de educação, sistematizem todo o processo de ensino-aprendizagem.

Não se deseja aqui afirmar, que seja somente na escola, o único lugar onde ocorram

efetivamente estas mudanças, mas principalmente dentro do seio familiar, nas

associações e grupos de sociais formados pelos sujeitos surdos.

Promover variedades ou mecanismos de interação com a linguagem por eles

usadas, como um instrumento de inclusão, que proporcione a todos serem

compreendidos pelos seus desejos e anseios, buscar apoios em todos os setores sociais e

especializados, de modo, a estar sempre cônscio acerca dos parâmetros ou ideais mais

plausíveis de uma educação especial e inclusiva torna a sociedade mais solidária,

dinâmica, funcional e saudável e certamente mais produtiva.

Desta forma, no planejamento e execução de um programa educacional para o

aluno com surdez, estes aspectos precisam ser considerados para que sejam oferecidas

as condições necessárias para o aluno desenvolver os meios de comunicação adequados

às suas condições pessoais e familiares, propiciando a interação do sujeito com o

ambiente social e escolar em que vive.

Há um empenho do governo brasileiro na valorização e qualificação dos

professores, a qual irá atuar em qualquer ambiente educacional, na capacitação como

instrutor de língua de Sinais, colaborando para que a comunidade escolar e a sociedade

se modifiquem e se abram para o surdo. (Brasil, 2005).

Entretanto, para isso, o governo tem que ter a preocupação de adaptar as escolas

a fim de fornecer aos alunos surdos os conteúdos pelas línguas de sinais, por intermédio

dos recursos visuais tais como: figuras, língua portuguesa escrita e leitura, para

desenvolver aos alunos a memória visual e adquirir o hábito pela leitura, tendo o apoio

de professor especializado e um intérprete, ambos conhecedores de língua de sinais,

para o maior desempenho e acompanhamento das aulas.

A expressão “inclusão” tem sido, por várias vezes, compreendida de forma

errada, analisada do ponto de vista social em apenas incluir, “juntar” aos outros.

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Discordantemente disso, a inclusão é ante de tudo um processo de se auto

analisar, de procurar no outro o que ele tem a nos oferecer, a forma como vê a vida, as

coisas e as pessoas: socializar-se de forma holística, integral.

Inseridos no ambiente inclusivo, somos todos diferentes em busca de objetivos

comuns, somos fadados ao mesmo fracasso, mas também temos a perspectiva de

realizações conjuntas se todos trabalharmos em busca de um lugar comum a todos.

Resgatar a pessoa surda em nosso meio atualmente é, antes de tudo valorizar o

profissional e a escola enquanto formadores de uma sociedade igualitária e soberana,

crítica e, antes de tudo solidária em seus mecanismos de ajustes.

A Língua de Sinais constitui-se, no caso de alunos com surdez, em um poderoso

instrumento para se garantir a efetiva comunicação professor-aluno. O uso da LIBRAS

na atual conjuntura educacional, é condição básica para se possibilitar ao surdo o acesso

aos conhecimentos, as interações sociais, a manifestação de suas opiniões e, enfim, o

desenvolvimento do seu pensamento.

Quadros (2008) aponta que os resultados escolares negativos dos alunos surdos

nos instigam, assim como o acobertamento do fracasso escolar, por grande parte dos

educadores também é um nó na educação brasileira. Estudar em escolas para ouvintes

faz parte das expectativas de muitos surdos e de suas famílias.

O ensino regular é um espaço ímpar de raras possibilidades para os surdos.

Muitas vezes é constatada os resultados precários são relatados, por não serem os surdos

falantes da língua que circula na sala de aula. Alguns insistem na permanência na

escola, que se mantém às custas de proteção, acobertamento das dificuldades e outras

astúcias.

Embora os professores sejam bem preparados, mesmo que conheçam a cultura

surda e a língua de sinais, ainda assim não é suficiente, pois não existe uma mesma

língua, compartilhada, circulando na sala de aula e na escola. É mister que haja uma

mudança radical no sistema educacional brasileiro para “incluir” de fato o aluno surdo

na sociedade.

Segundo Quadros, o maior desafio é promover uma organização escolar em que

a língua de instrução seja a língua de sinais e que as perspectivas de organização dos

conhecimentos partam de uma construção visual, o que demanda outro desafio: investir

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em cursos de graduação para a formação de professores surdos, educadores bilíngues

(Libras e Português) e de intérpretes de língua de sinais (2008).

Lacerda (2006) apresenta pesquisas com experiências de inclusão de alunos

surdos em salas de aula de ouvintes, que apontam algumas dificuldades de integração

educacional e social: o acesso à comunicação torna-se restrito e/ou insuficiente aos

alunos surdos, por falta de recursos e intervenções necessárias (amplificação sonora,

presença de intérprete de sinais); outro aspecto se refere às dificuldades do professor em

planejar atividades que oportunizem uma cultura de colaboração entre alunos surdos e

ouvintes.

Qual a compreensão de sujeito surdo, de educação de surdos, de identidade e de

cultura a escola possui e de que forma projetos são realizados para que a inclusão

realmente aconteça.Tais projetos devem prever as diferenças entre os sujeitos e as

especificidades de sua cultura regional e aprendizagem e quais os princípios linguísticos

e pedagógicos criados para balizar uma escola inclusiva devem estar em perene

“desconstrução”.

O que falta aos surdos, é o acesso à uma língua que dominem e que lhes permita

pensar com todas as complexidades necessárias, disponíveis como são para qualquer

um. Frequentemente, quando adquirem a LIBRAS, raramente a compartilham com seus

professores, o que torna-se inviável do ponto de vista do processo de socialização.

A educação especial assume, a cada ano, importância maior na perspectiva de

atender às crescentes exigências de uma sociedade em processo de renovação e de busca

incessante da democracia. Porém, essa só será alcançada quando todas as pessoas,

indiscriminadamente, tiverem acesso à informação, ao conhecimento e aos meios

necessários para a formação de sua plena cidadania, sejam elas, pessoas com ou sem

limitação visual ou auditiva, por exemplo.

A partir desse contexto a escola deve inclinar-se não tão somente para as

dificuldades do aluno em situação de deficiência, mas para os traços peculiares que

marcam as diferenças entre os indivíduos no sentido em que: “As diferenças e as

individualidades devem ser reconhecidas como aspectos positivos em todos os

indivíduos”. Stainback(2006).

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