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Sistemas Agroecológicos e Acesso a Mercados Juazeiro, Remanso, Uauá, Capim Grosso e Várzea da Roça, Bahia, 08 a 15 de junho de 2013 ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Sistemas Agroecológicos e Acesso a Mercados

Juazeiro, Remanso, Uauá, Capim Grosso e Várzea da Roça, Bahia, 08 a 15 de junho de 2013

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

SEMEAR

Programa de gestão do conhecimento em zonas semiáridas do Nordeste brasileiro

O Semear é um programa de gestão do conhecimento que visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população rural e para o desenvolvimento sustentável e equitativo do Semiárido nordestino, por meio do fortalecimento de redes de colaboração e de aprendizagem e da disseminação de conhecimentos e práticas alinhadas para a convivência com a região.

Para cumprir seu objetivo, o Semear promove e articula iniciativas de gestão do conhecimento em suas áreas temáticas estratégicas - inovações produtivas e tecnológicas; recursos naturais e adaptação às mudanças cli-máticas; e negócios rurais. As atividades desenvolvidas em seu âmbito incluem a produção e a publicação de sistematizações de experiências e de estudos temáticos, assim como a realização de visitas de intercâmbio, estágios, oficinas, seminários, feiras de saberes e rotas estratégicas de aprendizagem.

Para subsidiar os processos de aprendizagem coletiva e social, bem como a disseminação de conhecimentos e experiências que possam ser adotadas e replicadas pela população rural, especialmente agricultores e agri-cultoras familiares, o Semear utiliza diferentes estratégias e ferramentas de gestão do conhecimento: gestão de portal web do programa; construção de Banco de Saberes e Atores do Semiárido; produção de materiais impressos e audiovisuais especializados; elaboração de catálogo eletrônico de associações e cooperativas; pro-dução de materiais metodológicos, dentre outros.

Implementado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA e pelo Instituto Interameri-cano de Cooperação para a Agricultura – IICA, com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – AECID, o Semear tem como área de abrangência os estados da Bahia, Ceará, Paraí-ba, Piauí, Pernambuco e Sergipe.

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3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O QUE É A ROTA DE APRENDIZAGEM?As Rotas de Aprendizagem1 consistem em viagens e visitas planejadas com propósitos formativos a experiên-cias locais, desenhadas a partir de dois componentes centrais: i) as necessidades de conhecimento de agentes sociais que enfrentam desafios relacionados aos processos de desenvolvimento; ii) a identificação de expe-riências relevantes com resultados bem sucedidos e com saberes práticos potencialmente úteis para dissemi-nação, capazes de aproximar agentes e organizações - com problemáticas similares - de maneira inovadora para gerar novos aprendizados.

A preparação de uma Rota de Aprendizagem e a seleção das experiências incluem processos desenvolvidos de forma simultânea: i) sistematização das experiências, e ii) fortalecimento de talentos locais. Ambos se orien-tam para produzir informações sobre cada um dos casos, e ao mesmo tempo, incorporar os seus responsáveis no processo de intercâmbio e aprendizagem coletiva durante as Rotas, mediante uma revisão crítica da própria trajetória e do fortalecimento das capacidades dos agentes sociais envolvidos em cada um dos casos.

Nesse desenho pedagógico, a sistematização e o fortalecimento das experiências e talentos locais seleciona-dos significam: i) revelar e organizar o saber dos agentes sociais (sistematizar), identificando lições, aprendiza-dos e práticas, e ii) planejar estratégias para reforçar e comunicar o saber dos agentes sociais aos participantes da Rota, conforme os seus objetivos de aprendizagem. Ao sistematizar experiências, são identificados, valida-dos e compartilhados “ativos de conhecimento”, valiosos e significativos para a aprendizagem, para a inovação social e para sua possível replicação em outros ambientes.

A Rota é um processo pedagógico e de aprendizados que se concretiza em diversos espaços e momentos me-todológicos:

Feira de Experiências: cada participante da Rota socializa, de forma sucinta, a situação atual de sua organi-zação/instituição dentro da temática da Rota Sistemas Agroecológicos e Acesso a Mercados, levando em conta os principais desafios e oportunidades para melhorar a situação inicial. Esta apresentação se realiza como uma “Feira de Experiências”, na qual, cada participante um organiza monta painéis ou estandes. É muito importante que os participantes façam uso de material gráfico, fotografias e outros para contextualizar refe-rente a sua experiência.

1 Ferramenta metodológica criada e validada pela organização Procasur, com apoio do FIDA e de outras instituições que, ao longo de sua aplicação em diferentes países da América Latina, Ásia e África, vem sendo aperfeiçoada e ajustada, segundo as particularidades de cada país e regiões rurais.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Esse exercício permite aos participantes e facilitadores da Rota uma visão compartilhada sobre os diferentes agentes envolvidos na Rota e suas necessidades de aprendizagem específicas. Representa a 1ª passagem da aprendizagem individual para um processo coletivo de apropriação e utilização dos novos conhecimentos. Mo-tiva a colaboração e o intercâmbio entre os participantes.

Oficinas de Análises de Casos: têm como finalidade facilitar a compreensão e as análises das experiências vi-sitadas durante a Rota, promovendo a identificação de dos conhecimentos relevantes e sua apropriação pelos participantes. Estas As oficinas possibilitam a identificação de ideias inovadoras e a reflexão acerca das possi-bilidades de adequação e réplica das mesmas em outros contextos.

Em cada uma das oficinas de análise dos casos, é constituído um grupo de participantes com a responsabili-dade de elaborar insumos para a análise coletiva, provocar e sensibilizar os outros participantes ao diálogo e à reflexão em torno das experiências, os secretários de caso. A equipe metodológica da Procasur é responsável pelo acompanhamento do processo de aprendizagem, por meio de uma comunicação adequada, pela ani-mação das atividades, análises e debates em torno das ideias inovadoras articuladas com a temática da Rota.

Oficinas para Elaboração dos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento: nessas oficinas, a equipe me-todológica da Rota apoia a elaboração de propostas de Planos de Gestão de Conhecimento pelos participantes, facilitando o intercâmbio e a socialização de ideias inspiradas na temática da Rota e nos casos anfitriões apre-sentados. É um espaço de articulação e de sintonia entre os participantes, de nivelamento e consensos acerca da concepção de Planos de Gestão de Conhecimento na perspectiva da construção de diálogos, na integração dos novos aprendizados em ações cotidianas de forma inovadora e adaptada culturalmente, e na disseminação e intercâmbio de conhecimentos entre os agentes e instituições da Rota. Os planos construídos durante essas oficinas serão acompanhados e poderão ser apoiados pelo Programa Semear.

A equipe metodológica, apóia os participantes na identificação e definição de suas propostas, promovendo a análise acerca da viabilidade e sustentabilidade e incentivando a articulação e coordenação com os demais agentes da Rota e casos anfitriões, em torno de ações concretas de gestão do conhecimento.

A expectativa é que durante a Feira de Experiências os participantes da Rota “encontrem” seus pares, e come-cem a se organizar para refletir sobre propostas de Planos de Gestão de Conhecimento.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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5ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A Oficina de Análise Geral da Rota Estratégica de Aprendizagem se organiza em três momentos importan-tes:

• Principais lições aprendidas e conclusões da Rota: momento para a construção de um olhar coletivo em tor-no do tema Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimento, conduzido pelo coordenador temático, a partir do conjunto de análises e reflexões desenvolvidas ao longo da viagem.

• Feira de Planos de Gestão Conjunta do Conhecimento: momento para a socialização dos principais eixos de ação das propostas de Gestão de Conhecimento, para uma reflexão coletiva e feedback entre os participan-tes e a equipe metodológica. Esse exercício contribui para a apropriação das ideias de inovação pelos parti-cipantes da Rota e fortalece os compromissos para sua disseminação nos diferentes contextos de origem.

• Avaliação coletiva e individual dos diferentes aspectos da Rota (técnico, metodológico, de convivência, apoio logístico, etc.), compromissos e perspectivas de continuidade do trabalho.

A Rota de Aprendizagem, enquanto processo de construção coletiva do conhecimento, estimula e se alimenta da colaboração ativa e da interação do grupo. Ouvir, aprender e refletir; sensibilizar-se para as vivências da Rota. Os participantes devem dialogar com as lições e práticas das experiências visitadas, bem como construir de forma conjunta estratégias de ação e de aplicação dos aprendizados adquiridos.

A Rota de Aprendizagem se propõe a dar visibilidade e valorizar os saberes locais e práticas acumuladas pe-las populações e suas organizações para enfrentar os desafios do desenvolvimento. Aponta caminhos a para transformar esses conhecimentos em insumos para a ação, aperfeiçoando práticas concretas e propondo ou-tras alternativas viáveis para os contextos de origem dos participantes da Rota.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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6ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

SISTEMAS AGROECOLÓGICOS E ACESSO A MERCADOS

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

1. Ampliar o conhecimento técnico,metodológico e político sobre as estratégias de convivência com o semiárido das famílias agricultoras e suas organizações representativas e de assessoria a partir de uma abordagem agroecológica.

2. Conhecer as diferentes estratégias que evidenciam a maior resiliência das experiências de transição agroecológica aos efeitos da maior estiagem dos últimos 50 anos.

3. Avaliar em que medida as políticas públicas têm contribuído ou têm dificultado o desenvolvimento da agroecologia nos territórios principalmente as políticas de acesso a terra, regularização fundiária, crédito e assistência técnica voltadas para a agricultura familiar e comunidades tradicionais (Fundos de Pasto, Quilombolas, Pescadores).

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7ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 1

MAPAROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CAPOEIRA DO MILHO

COOPERCUCCÍCERO E GRACINHA

Bahia

N

AS EXPERIÊNCIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO DE

CÍCERO E GRACINHACAPOEIRA DO MILHO COOPERCUC

CASO 2 CASOS 3 E 4

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8ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Rota Estratégica de Aprendizagem Sistemas Agroecológicos e Acesso a MercadosLocais: Juazeiro, Remanso, Uauá, Capim Grosso e Várzea da Roça, Bahia, BrasilPeríodo: 08 a 15 de junho de 2013

DIA HORÁRIO ATIVIDADE07/jun Sexta

Manhã e Tarde Chegada em Petrolina/JuazeiroNoite Jantar livrePernoite em Juazeiro

08/junSábado

8h00 – 11h00 Oficina de Introdução1) Boas vindas (10 min)2) Apresentação participantes (1h)3) Apresentação do Programa Semear (30 min)4) Apresentação da Rota (10 min)5) Apresentação da agenda / acordos e da equipe de apoio (10min)Apresentação temática (20 min) Cochicho em Grupo (20min)

10h40 – 11h00 Intervalo para café11h00 – 13h30 Mesa com Agentes da agroecologia no Semiárido (1h30min) Plenária

(1h)13h30 – 15h Almoço com convidados15h00 – 18h30 Introdução aos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento (15min)

Feira de ExperiênciasBreve Introdução (10mim)Preparação (50min)Apresentação (2h)Comentários Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento (15min) Escolha da secretaria de Caso

19h00 Jantar de Boas Vindas (hotel)Pernoite em Juazeiro

09/junDomingo

08h – 12h Deslocamento de Juazeiro a Várzea da Roça (237km – 4h)12h00 – 14h30 Almoço na comunidade14h30 – 18h30 Introdução sobre o contexto territorial – IPB e representante do Terri-

tório da Bacia do Jacuípe (1h)Caso 1: Produção e comercialização – a experiência do grupo de mul-heres de Capoeira do Milho - visita

Jantar livre e pernoite em Capim Grosso10/junSegunda

08h30 – 12h00 Caso 1: Produção e comercialização – a experiência do grupo de mul-heres de Capoeira do Milho

12h00 – 14h00 Almoço com convidados14h00 -19h00 Oficina de análise do Caso 1 e Plenária (2h30)

Oficina de construção dos Planos de Gestão do Conhecimento (2h)Jantar de confraternização em Várzea da Roça e pernoite em Capim Grosso

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9ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

DIA HORÁRIO ATIVIDADE11/junTerça

8h00 – 12h00 Deslocamento de Várzea da Roça para Uauá (229km – 4h)12h00 – 14h00 Almoço14h00 – 18h00 Caso 2: Organização e acesso a mercado – a experiência da Coopercuc

– Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Curaçá e UauáVisita a comunidade de Serra da Besta

Jantar livre e pernoite em Uauá12/junquarta

08h30 – 12h30 Introdução sobre o contexto territorial - COOPERCUCCaso 2: Organização e acesso a mercado – a experiência da Coopercuc – Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Curaçá e Uauá Apre-sentação geral da experiência e Diálogo com Cooperados

12h30 – 14h00 Almoço com convidados14h00 -19h00 Oficina de análise de Caso 2 e Plenária (2h30)

Oficina de construção dos Planos de Gestão do Conhecimento (2h)Jantar de confraternização e pernoite em Uauá

13/junQuinta

7h30 – 12h30 Deslocamento para Remanso (335 km – 5 horas)12h30 – 14h30 Almoço em Remanso14h30 – 18h00 Caso 3a: Sistemas de produção agroecológicos – experiência do agri-

cultor familiar experimentador CíceroJantar de confraternização e pernoite em Remanso

14/junSexta

08h00 - 12h00 Caso 3b: Sistemas de produção agroecológicos – experiência da agri-cultora familiar experimentadora Gracinha

12h00 – 13h00 Almoço em Remanso13h00 - 16h30 Introdução sobre o contexto territorial – SASOP (1h) Oficina de análise

de Caso 3 e Plenária (2h30)16h30 – 19h00 Deslocamento de Remanso a Juazeiro (204km –2h30)20h00 Jantar livre e pernoite em Juazeiro

15/junSábado

08h00 – 09h00 Oficina de construção dos Planos de Gestão do Conhecimento Finali-zação das propostas (1h)

09h00 – 11h00 Oficina de análise Geral da Rota de Aprendizagem Conclusão da Rota e Lições aprendidas Apresentação Especialista temático (20min) Re-flexão em grupos (40min)Devolução do trabalho de grupo, reflexão em Plenária (1h)

11h15 – 12h45 Feira dos Planos Conjuntos de GC Apresentação das Propostas (1h30)

12h45 - 14h00Lanche reforçado

Avaliação/Acordos/Encaminhamentos (1h15)

14h00 – diante Saída do hotel retorno dos participantes

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10ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Carlos Eduardo Souza Leite1

Claudia Job Schmitt 2

Este documento objetiva contextualizar e fornecer fundamentos conceituais à temática da Rota de Aprendiza-gem sobre “Promoção da Agroecologia e a Construção Social dos Mercados na perspectiva da Convivência com o Semiárido“. A Rota ocorrerá nos territórios do Sertão do São Francisco e Bacia do Jacuípe, ambos no estados da Bahia,no período de 07 a 15 de junho de 2013. Esta nota conceitual deverá ser um instrumento de diálogo com as 04 experiências a serem visitadas e que passaram por sistematizações durante o processo preparatório à Rota de Aprendizagem. Estes subsídios contribuirão com os participantes a melhor se prepararem para esta vivência.

O documento foi organizado em três seções. A primeira delas contextualiza historicamente o surgimento da agroecologia como um campo de conhecimento, sistematizando seus princípios orientadores e suas principais críticas aos modos de organização e aos impactos da agricultura moderna. A segunda seção apresenta uma discussão sobre a construção social dos mercados, numa perspectiva agroecológica, analisando a contribuição dos circuitos de proximidade e dos chamados mercados encaixados, a exemplo do mercado institucional, na construção de sistemas produtivos resilientes e diversificados. A parte final do texto apresenta o conceito de Convivência com o Semiárido, como uma referência na construção de formas sustentáveis de manejo desse bioma, descrevendo algumas estratégias produtivas e de mercado que vêm sendo desenvolvidas pelos agricul-tores como forma de potencializar recursos e conviver com fatores limitantes nesse bioma. Seguem-se, a isso, as considerações finais. Conforme orientação da organização promotora da Rota, o Programa Semear (FIDA/IICA/AECID) e as diretrizes metodológicas da organização chilena PROCASUR, disponibilizamos também um conjunto de referências bibliográficas para aprofundamento dos participantes sobre a temática antes e após a Rota de Aprendizagem.

1 Engenheiro Agrônomo,Coordenador Geral do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais-SASOP.2 Doutora em Sociologia e Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, CPDA/UFRRJ

NOTA CONCEITUALPROMOÇÃO DA AGROECOLOGIA E A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS

MERCADOS NO SEMIÁRIDO

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11ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

1. AGROECOLOGIA E MODOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS

A agroecologia, como um campo de investigação e produção de conhecimentos, dotado de princípios e mé-todos sistematizados, organizou-se em um período relativamente recente na história planetária das agricul-turas3. Segundo Gliessman (1997), o termo agroecologia surgiu na década de 1930 do século XX, buscando designar a aplicação dos métodos da ecologia ao estudo dos cultivos agrícolas, tendo sido utilizado, desde en-tão, por diferentes pesquisadores, que buscavam estabelecer conexões entre a ecologia e a agronomia (Wezel e Soldat, 2009). Mas foi, sobretudo a partir dos anos 1970/1980 que esse campo emergente do conhecimento passou a desenvolver um quadro conceitual e um conjunto de ferramentas metodológicas próprias, em estre-ita articulação com os saberes produzidos por agricultores e extrativistas em diferentes contextos socioam-bientais (Gliessman, 1997) (Hetch, 2002). Um dos traços distintivos da agroecologia é, justamente, o tipo de circulação que este campo de estudos busca estabelecer, não apenas entre diferentes disciplinas científicas, mas entre distintas formas de produção do conhecimento. Essa postura sobre o conhecimento e seus modos de produção sugere, também, uma nova visão acerca dos processos de inovação sociotécnica na agricultura, tomando como referência fundamental as iniciativas concretas de geração de conhecimentos e tecnologias desenvolvidas por camponeses, agricultores familiares, extrativistas e povos e comunidades tradicionais em contextos sociais e ecológicos específicos. Os sistemas agrícolas complexos e de uso múltiplo, construídos ao longo das gerações por estas populações, com reduzida dependência em relação a insumos externos, são uma referência importante na implantação e manejo de agroecossistemas sustentáveis, com base em uma perspec-tiva agroecológica.

O surgimento da agroecologia é resultado, também, de uma trajetória histórica de crítica aos impactos econô-micos, sociais e ambientais gerados pela agricultura moderna. A partir do final do século XIX e, sobretudo, desde a segunda metade do século XX, verifica-se, em diferentes partes do mundo, um movimento hetero-gêneo e desigual de transição, de um modo de produção agrícola baseado na energia solar e biológica, para uma agricultura altamente dependente de combustíveis fósseis. Esse processo, que ocorreu inicialmente, nos países do Norte, particularmente nos Estados Unidos e na Europa, foi internacionalizado através de uma série de dispositivos políticos e institucionais que possibilitaram uma reestruturação, em escala planetária, da pro-dução, processamento e consumo de alimentos e fibras.

Um dos resultados da disseminação do modelo agrícola internacionalizado pela Revolução Verde foi uma cres-cente desconexão da agricultura e do sistema agroalimentar em relação à sua base biofísica de sustentação, ou seja, os ecossistemas locais. Como observam Heinberg e Bomford (2009), antes da Revolução Industrial, a agricultura e o manejo florestal figuravam como produtores primários líquidos de energia para a sociedade. Atualmente, a produção, o processamento e a distribuição de alimentos tornaram-se, em todos os países do mundo, especialmente nos países industrializados, consumidores líquidos de energia. Nos Estados Unidos, por exemplo, para cada caloria de energia alimentar produzida, 7,3 calorias são consumidas na produção, transpor-te, armazenamento, empacotamento, distribuição e preparo dos alimentos (Heinberg e Bomford, 2009, p. 2). Uma das consequências inevitáveis deste modelo é a emissão de gases de efeito estufa e a geração de diferen-tes tipos de resíduos tóxicos, que passam a contaminar o ar, o solo e a água. Segundo Jones, Pimbert e Jiggens (2011) a agricultura de base industrial consome 50 vezes mais energia do que a agricultura tradicional. Em de-

3 Fazemos referência, aqui, às diversas agriculturas, por compreender que a trajetória histórica dos sistemas agrários nas diferentes regiões do planeta não pode ser compreendida a partir de uma visão unilinear. O processo de domesticação de plantas e animais iniciou-se entre 10.000 e 5.000 anos atrás antes da nossa era, em distintas partes do mundo. Como observam Mazoyer e Roudart (2010), “milênios e evoluções isoladas, às vezes entrecruzadas, produziram (...) toda uma gama de sistemas agrários fundamentalmente distintos e com desempenho muito desigual”. O processo de modernização da agricultura também contribuiu para a produção de diferenciações e heterogeneidades. Um olhar atento sobre a heterogeneidade dos sistemas produtivos e das práticas desenvolvidas pelos agricultores permite vislumbrar as distintas formas através das quais os agricultores, respondem às pressões a que são submetidos, gerando, ao longo do tempo, diversos estilos de agricultura (Ploeg, 2010). A diversidade da agricul-tura não é resultado, somente, de diferenciações ecológicas entre distintas localidades, mas é resultado, também, de uma construção cultural.

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12ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

terminadas circunstâncias, essa diferença de consumo pode ser até 100 vezes maior. Nos países europeus, 95% dos alimentos produzidos dependem da utilização de petróleo. A produção de fertilizantes químicos sintéticos é responsável, por sua vez, por um terço da energia consumida pela agricultura (Jones, Pimbert e Jiggens, 2011, p. xiii). Entre 1970 e 2000 o consumo de fertilizantes praticamente dobrou, passando de 70 milhões para 138 milhões de toneladas, devendo alcançar 200 milhões até 2030 (Jones, Pimbert e Jiggens, 2011).

A chamada modernização da agricultura criou, além disso, um distanciamento, no tempo e no espaço, entre o local onde são elaboradas as tecnologias agrícolas e os lugares onde elas são utilizadas, gerando, com isso, um processo de simplificação dos sistemas agrícolas e das funções que eles desempenham na produção e repro-dução da vida social (Remmers, 1998) (Petersen, 2013). As trajetórias tecnológicas de inovação na agricultura passaram a privilegiar um único objetivo, ou seja, a elevação da produtividade, focalizando culturas agrícolas ou sistemas de criação específicos, desconsiderando a multifuncionalidade presente nos sistemas agrícolas desenvolvidos por camponeses e povos e comunidades tradicionais, resultante de uma complexa relação entre crenças, conhecimentos e práticas. Propriedades emergentes como a estabilidade, ou seja, a capacidade de um agroecossistema de manter uma produção constante ao longo do tempo, a segurança alimentar, associada ao provimento de alimento, renda e emprego em níveis suficientes e de forma culturalmente adequada e a resiliência, ou seja, a capacidade do sistema de recuperar-se de choques e perturbações, sem se desestruturar, passando a existir em um estágio qualitativamente diferente do anterior, não são consideradas como parâme-tros importantes na avaliação da performance dos sistemas produtivos nessa agricultura moderna.

Outra desconexão resultante do processo de modernização da agricultura diz respeito à fragilização dos víncu-los da agricultura com sua base social, ecológica e cultural. Os modos de produção, processamento e consumo de alimentos e fibras que se tornaram dominantes no período posterior à Segunda Guerra Mundial, fizeram com que a produção agrícola se tornasse uma atividade altamente dependente de fontes de energia e insumos externos, acessados pelos agricultores através dos mercados. A aplicação ao processo de trabalho agrícola de uma racionalidade bastante semelhante à da indústria, alterou profundamente o processo de co-produção dos seres humanos e da natureza viva4 (Ploeg, 2008). A reprodução dos sistemas agrícolas, safra à safra, torna-se com isso dependente dos mercados e de uma complexa rede de agentes externos que operam na comerciali-zação de insumos, na oferta de crédito, na prestação de serviços, arregimentando mão de obra, entre outras atividades. O resultado disso tem sido uma crescente externalização de tarefas, anteriormente desenvolvidas pelos agricultores, extrativistas e suas redes de sociabilidade nas comunidades rurais, e que passam a depen-der, para sua realização, de vínculos com mercados cada vez mais distantes. Rompe-se com isso a estreita ligação existente na agricultura camponesa entre a produção agrícola e a reprodução da família e do grupo so-cial, o processo de trabalho e a valorização da base de recursos controlada pelo produtor (Ploeg, 2008). A com-plexidade alcançada pelo sistema agroalimentar contemporâneo, baseado em fluxos financeiros, de materiais e de energia que se estendem em escala planetária, permite também que as contradições econômicas, sociais e ambientais seja deslocadas de um lugar para outro, atingindo o campo e a cidade, o produtor e o consumidor, gerando riscos alimentares, contaminação, processos de empobrecimento e desterritorialização. Ademais, a agricultura contribui atualmente, de forma significativa, para o aquecimento global, através das emissões de metano decorrentes da criação de gado, em função do carbono liberado pela aração dos solos, por meio do óxido nítrico que é emanado pelos fertilizantes, pelo uso dos combustíveis fósseis utilizados no transporte de insumos e da produção. Em nível global, os impactos gerados pela agricultura e pelas mudanças no uso da te-rra decorrentes da atividade agrícola são responsáveis por certa de um terço das emissões de gases de efeito

4 A visão do homem e da natureza, ou ainda, da cultura e da natureza como esferas distintas, tem sido objeto de constantes questionamentos. Para o antropólogo Tim Ingold os seres humanos, seja como organismos biológicos, seja como “construções culturais”, não podem ser dissociados do ambiente em que estão inseridos. O ambiente não é algo externo ao ser humano mas existe na medida em que este ser se movimenta, se relaciona e habita o mundo (Ingold, 2000).

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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13ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

estufa (Jones, Pimbert e Jiggens, 2011).

A construção de alternativas ao atual modelo agrícola não se reduz a um processo técnico de incorporação de novas tecnologias. A transição para formas sustentáveis de agricultura e manejo dos ecossistemas naturais implica em um movimento complexo e não linear de incorporação de princípios ecológicos ao manejo desses sistemas, mobilizando múltiplas dimensões da vida social, colocando em confronto visões de mundo, forjando identidades e ativando processos de conflito e negociação entre distintos atores. Esse processo, que se desdo-bra em diferentes níveis, escalas e estágios de implementação, vem sendo construído, por vias diferenciadas e de forma não linear nos mais distintos lugares, desdobrando-se em milhares de experiência de base local, crescentemente articuladas em rede.

Em uma perspectiva agroecológica, a transição rumo a formas sustentáveis de produção e consumo de ali-mentos e fibras tem como princípios básicos: (a) a conservação e regeneração dos recursos naturais (solo, água, germoplasma, fauna e flora benéficas); (b) a estruturação e manejo de agroecossistemas diversificados, capazes de potencializar e integrar em sua estrutura e funcionamento processos ecológicos e biológicos es-senciais à sua reprodução, como a fixação de nitrogênio, a reciclagem de nutrientes e da matéria orgânica, a produção e ciclagem de energia, processos de regulação biótica necessários à proteção dos cultivos e à saúde animal (Altieri, 2009); (c) o uso minimizado de insumos externos, buscando estabelecer um metabolismo cir-cular, potencializando o uso dos recursos e seu reaproveitamento; (d) a valorização dos conhecimentos e ha-bilidades dos agricultores e extrativistas e sua capacidade de manejar sistemas complexos capazes de integrar diferentes objetivos; (e) a constituição de arranjos institucionais e de mercado capazes de dar suporte a formas sustentáveis de organização da produção e do consumo.

Mas como observa Altieri, “restaurar a saúde ecológica não é o único objetivo da agroecologia (...) sustentabi-lidade não é possível sem a preservação da diversidade cultural que nutre as agriculturas locais” (Altieri, 2009, p. 26). O fortalecimento de agricultura de base camponesa e familiar e das formas comunitárias de manejo dos agroecossistemas e dos ecossistemas naturais praticada historicamente, figura como um componente estra-tégico na construção de modos de vida sustentáveis no campo e na cidade. E para que esses outros modos de fazer agricultura possam se fortalecer, torna-se necessário afirmar os direitos dos agricultores, extrativistas e povos e comunidades tradicionais na gestão da terra, da água e da biodiversidade, em um contexto histórico marcado pela privatização e controle corporativo desses recursos. A construção e efetivação de marcos regula-tórios e instrumentos de política pública capazes de assegurar formas equitativas de acesso, uso e controle dos territórios e dos recursos ali existentes, representa um passo fundamental na estruturação de formas susten-táveis de produção e consumo.

2. A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS MERCADOS: UMA PERSPECTIVA AGROECOLÓGICA

O papel dos mercados na transição para formas sustentáveis de produção, processamento e consumo de ali-mentos e matérias primas e de apropriação da terra e dos espaços rurais, tem sido objeto de inúmeras con-trovérsias em diferentes arenas e espaços públicos de discussão. A relação dos camponeses, agricultores fa-miliares e populações tradicionais com os mercados não nasceu historicamente com a Revolução Industrial e o desenvolvimento de relações capitalistas no campo. Prestações mútuas de bens e serviços e mercados de proximidade - marcados pela complementaridade entre os atores, a intercomunicação, a sociabilidade e a pre-ocupação com a subsistência – estão presentes em inúmeras sociedades camponesas (Sabourin, 2011).

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Autores como Polanyi (1957) apontam, no entanto, para diferenças importantes entre distintos sistemas de troca, estabelecendo uma diferenciação entre: (a) sistemas de reciprocidade, em que as trocas se estabelecem entre grupos sociais simétricos, estando orientadas em função de princípios e obrigações morais relacionados ao parentesco, à honra e ao reconhecimento de direitos; (b) formas de redistribuição que possibilitam a agre-gação e redistribuição de determinados bens por um centro de poder dentro de um grupo e, (c) a troca, que supõe um mercado concorrencial, criador de preço. (Sabourin, 2011) (Isaac, 2005).

O que se generaliza, a partir do século XIX, é a troca mercantil, marcada por um tipo de cálculo baseado em um sistema de trocas monetizado, com preços que se definem na relação entre a oferta e a demanda. Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, que surge historicamente nos países do Hemisfério Norte, mais especificamente na Europa, disseminando-se para as diferentes partes do mundo, as trocas deixam de estar imersas em valores morais, obrigações e relações sociais, passando a operar nos marcos de um mercado autorregulado, no qual o dinheiro funciona como um solvente universal. Não são somente as mercadorias que passam a circular nesse sistema mercantilizado, mas também o trabalho, a terra e demais recurso naturais, que passam a ser mobilizados por um sistema de trocas que visa à obtenção de ganhos monetários. O sistema econômico passa a se constituir como uma esfera autônoma, controlada e dirigida apenas por mercados e a produção e distribuição de bens passa a ser regida por esse mecanismo auto-regulável (Polanyi, 2000)

Reconhecendo a existência de diferentes tipos de mercado e sistemas de troca, e, ao mesmo tempo, o tipo de cálculo que regula a troca capitalista, surgem algumas perguntas: (a) qual o papel dos mercados na transição para formas de agricultura e de produção e consumo de alimentos e matérias primas baseadas em princípios de sustentabilidade? É possível incorporar, ao sistema de trocas mercantis, princípios de sustentabilidade? (b) que tipos de mercados podem estimular transformações no atual modelo agrícola e de exploração dos recursos naturais numa perspectiva agroecológica? (c) considerando que na nossa sociedade a troca mercantil capita-lista continua sendo dominante, que estratégias podem ser desenvolvidas por agricultores e consumidores, na estruturação de circuitos de troca baseados em princípios de sustentabilidade e justiça social?

É evidente que nenhuma dessas perguntas tem uma única resposta, mas podem ser tomadas como um bom ponto de partida para reflexão. A internacionalização dos mercados de produtos agrícolas que se inicia no final do século XIX, com a estruturação do mercado internacional do trigo, constituiu-se em uma força poderosa no desenraizamento da produção de alimentos e matérias primas de seu entorno socioambiental. Produtos de origem agrícola e extrativa, materiais genéticos, insumos de diferentes tipos, passaram a ser intercambiados em escala planetária, com implicações importantes no que se refere à exploração do trabalho e à privatização da terra e dos recursos naturais. As políticas de subsídio à produção agrícola implementadas a partir da II Guerra Mundial possibilitaram a estruturação de um regime alimentar, dominado pelos Estados Unidos, e que passou a conectar, com apoio dos Estados Nacionais, a produção e o consumo a um sistema agroalimentar e de maté-rias primas crescentemente internacionalizado. As transformações ocorridas a partir dos anos 1980 caminha-ram na direção da estruturação de um regime fortemente dominado pelas grandes empresar transnacionais. Em finais dos anos 1990 a Cargill já controlava 40% das exportações de milho, um terço das exportações de soja e pelo menos 20% das exportações de trigo (Morgan et al, 2009). Em contraste com o que existia há décadas atrás, quando muitas empresas de sementes do setor privado e empresas públicas se dedicavam ao melhora-mento de espécies vegetais, um grupo de dez grandes empresas hoje controla dois terços da produção mundial de sementes comerciais (ETC Group, 2008). O peso das grandes cadeias varejistas é outro fator importante

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nesse novo ciclo, em seu esforço por chegar a novos mercados e satisfazer as preferências dos consumidores. A título de exemplo vale mencionar que o Walmart abriu sua primeira loja fora dos Estados Unidos em 1991. Segundo os dados disponibilizados pela própria companhia sabe-se que opera atualmente com 10.800 lojas em 27 países e sites comerciais de vendas de produtos em 10 países. O Carrefour, que iniciou sua atividade interna-cional em 1989, conta hoje com 9.994 lojas em 33 países, atendendo a um número de consumidores estimado em 100 milhões de pessoas.

É claro que essas tendências de concentração e integração das grandes empresas do setor agroalimentar, im-pulsionadas tanto por processos de desregulamentação dos mercados como pela criação de novos instrumen-tos legais, não se materializam do mesmo modo em todos os lugares, embora não deixem de se constituir como um modo de organização cujas conexões se estendem em âmbito global, e que influencia, de diferentes maneiras, os diversos mercados aos quais os agricultores familiares estão vinculados. A elevação crescente da produtividade, as economias de escala, a homogeneização das dietas não podem ser vistas, no entanto, como a única racionalidade em funcionamento no atual sistema agroalimentar. Importante observar que as trans-formações em curso abarcam diferentes modos de organização, muitas vezes contraditórios, possibilitando também a emergência de possibilidades alternativas.

Vários estudos tem chamado atenção para o fato de que uma parte muito significativa dos alimentos consu-midos no mundo (85%) é produzida em âmbito nacional e/ou na mesma região ecológica (ETC Group, 2009) (Ploeg, 2008). Apenas 6% da produção mundial de arroz, por exemplo, é comercializada para além das fron-teiras dos países produtores. No caso do trigo, que é o cereal com o maior percentual em termos do volume exportado, somente 17% da produção mundial é vendida em mercados estrangeiros, sendo que 83% da pro-dução comercializada é intercambiada nos próprios países (Ploeg, 2008), De acordo com estimativas feitas pelo Grupo ETC, 50% dos alimentos produzidos no mundo são cultivados por agricultores camponeses, 12,5% por caçadores e coletores e 7,5% por agricultores urbanos (ETC Group, 2009). Os alimentos produzidos e distri-buídos através dos circuitos de comercialização agroindustrial correspondem, segundo esse cálculo, a 30% dos alimentos do mundo.

Não se trata aqui de minimizar o poder das transnacionais na conformação do atual sistema agroalimentar, mas de perceber esse espaço como um campo de relações antagônicas, que apresenta diferentes tendências. Esse olhar problematizador, nos ajuda a identificar movimentos inovadores de re-localização da produção e do consumo de alimentos e de reconexão da produção agrícola com sua base ecológica, social e cultural. A cons-trução de novos mercados capazes de incorporar princípios de solidariedade e reciprocidade, bem como a revi-talização dos mercados de proximidade - que operam em estreita articulação com redes locais de intercâmbio e sociabilidade – são caminhos que vem sendo percorridos por redes e organizações sociais.

Numa perspectiva agroecológica, a estruturação de circuitos de proximidade entre produtores e consumido-res, busca estimular o manejo de sistemas produtivos biodiversos, com baixa utilização de insumos externos e alta capacidade de reciclagem de resíduos. Para que isso possa ocorrer, torna-se necessário criar um tipo de articulação entre oferta e demanda capaz de reforçar a opção pela diversidade, agregando valor ao produto e potencializando suas possibilidades de utilização através de diferentes estratégias entre elas: (i) o processa-mento e estocagem de produtos e subprodutos, ampliando suas possibilidades de comercialização ao longo do tempo e junto a diferentes públicos; (ii) a produção de insumos e energia na própria unidade produtiva ou em nível local, tornando o processo produtivo menos dependente dos circuitos mercantis; (iii) a busca de uma maior circularidade entre a produção para o autoconsumo, as trocas e intercâmbios entre parentes e vizinhos e

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a comercialização através do mercado, evitando perdas e valorizando os resultados do processo produtivo; (iv) a construção de dispositivos coletivos (grupos informais, associações, cooperativas, redes de comercialização) capazes de possibilitar novas formas de intermediação entre produtores e consumidores; (v) a valorização do alimento, do artesanato, das matérias primas e dos serviços produzidos pelos camponeses, extrativistas e povos e comunidades tradicionais, através de diferentes esquemas de distinção. Essa distinção pode ser esta-belecida em função do preço, da qualidade (produto ecológico, orgânico, da agricultura familiar, do território), do tipo de relação que um determinado circuito estabelece entre o produtor e o consumidor.

O tema da qualidade é um tema polêmico e que se relaciona diretamente com a segunda pergunta que foi formulada no início dessa seção, ou seja: “que tipos de mercados podem estimular transformações no atual modelo agrícola e de exploração dos recursos naturais numa perspectiva agroecológica?” Como observa Ploeg (2011), essa distinção precisa ser construída na relação com os consumidores através da articulação de diferen-tes níveis. O Nível 1 refere-se à definição social das qualidades, remetendo a um conjunto de processos que en-volvem expectativas, fluxos de informação e a construção social do gosto pelo produto, em um processo cons-tante de aprendizado. O segundo nível envolve as trocas materiais propriamente ditas, ou seja, a circulação dos produtos e do dinheiro, e que precisam ocorrer, efetivamente, de forma constante ao longo do tempo, para que a distinção possa se estabelecer. O terceiro nível remete às trocas simbólicas e às relações culturais e de identidade que se estabelecem nesse processo. A valorização pelos consumidores de determinados produtos, identificados com um bioma (no bioma semiárido o umbu seria um exemplo típico), um território específico (os vinhos da Serra Gaúcha) ou um grupo social (o produto da agricultura familiar ou o guaraná do povo indígena Sateré-Mauwé), envolve um processo cultural de conhecimento e reconhecimento das qualidades associadas a esta distinção. A estruturação de sistemas de certificação é apenas um dos casos possíveis quando se trata de discutir a construção de distinções e esquemas de valorização e reconhecimento de determinadas qualidades. Coloca-se em discussão, nesse caso, os modos de gestão dessas relações, e a governabilidade que produtores e consumidores têm desse processo.

No caso brasileiro, no que se refere especificamente ao “produto orgânico”, os marcos regulatórios que institu-cionalizaram o Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica estruturam-se com base em um reconhecimento de três mecanismos distintos de controle da qualidade: (a) as empresas certificadoras, ou a certificação por ter-ceiros, envolve o reconhecimento da qualidade por um organismo técnico credenciado para tal pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); (b) a certificação participativa, onde o controle da qualidade é exercido também por uma entidade jurídica credenciada junto ao MAPA, com participação direta de produ-tores, consumidores, transportadores, armazenadores e técnicos; (c) a comercialização de produtos sem certi-ficação diretamente ao consumidor, exigindo-se, no entanto, que esses estejam ligados a uma Organização de Controle Social (OCS) – associação, cooperativa ou similar.

Existe hoje uma ampla literatura que discute os riscos da “convencionalização” dos sistemas de qualidade, que passam, em determinados casos, a ser regulados por dispositivos externos às redes de produtores e consumi-dores – a exemplo do Estado e das empresas privadas de certificação – podendo gerar a exclusão de determi-nados tipos de produtores, a concentração dos mercados de qualidade nas mãos de um número reduzido de agentes e a homogeneização dos estilos de agricultura.

Autores como Radomsky chamam atenção para a influência de atores “intensivos em capital” (sobretudo pro-cessadores e distribuidores) no contexto da agricultura orgânica – apontando para o risco de que essa estraté-gia de nicho seja recapturada, de diferentes maneiras, não apenas por lógicas produtivas e de mercado, mas,

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também, por formas de produção e circulação do conhecimento muito semelhantes às da agricultura empre-sarial (Jaffee e Howard, 2009; Stassart e Jamar, 2008).

Esta discussão encontra-se em aberto, inclusive no que se refere às possibilidades e tendências de coexistência entre uma agricultura orgânica de mercado e uma agricultura orgânica mais afinada com os princípios ori-ginários do movimento de agricultura orgânica ou com os princípios da agroecologia. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que diferentes sistemas de qualidade, entre eles o orgânico, podem se constituir, em determinadas situações, como um caminho para a valorização social, e econômica de processos sustentáveis e culturalmente enraizados de produção, potencializando o desenho de sistemas resilientes de produção e con-sumo e a transição para uma agricultura sustentável.

A Tabela 1 abaixo, organizada por Wilkinson (2008), busca estabelecer uma tipologia dos diferentes mer-cados em que os agricultores familiares estão inseridos

MERCADO PERFIL DESAFIOSCommodities Velhos e novos mercados locais e à dis-

tânciaPadronização, legislação, qualidade mínima e escala

Especialidades Discriminado por grau de associação com localidade/tradição

Concorrência de novos entrantes

Orgânicos Saúde e/ou modo específico de produção Certificação, escala, pesquisaArtesanais Discriminação de origem ou não Qualidade, normas técnicas, autenticidade,

ação coletivaSolidários Identificação ou não com a agricultura fa-

miliar. Mercados de alta e baixa rendaEscala, variedade, qualidade

Institucionais Licitações, oferta para varejo Qualidade, variedade, escala, exigências ad-ministrativas

O esquema se refere a mercados que possuem, muita vezes, certo grau de formalização e regulação. Mas existem também mercados que operam de um modo pouco formalizado, conectando de forma direta produ-tores e consumidores. A abrangência geográfica dos circuitos (locais, regionais, cadeias longas), seus modos de regulação (considerando tanto marcos regulatórios institucionalizados como sistemas menos formalizados de convenções), critérios de entrada, exigências de qualidade, a natureza da demanda e sua periodicidade são alguns elementos que podem contribuir na análise dos diferentes mercados existentes e de sua potencialidade no fortalecimento de uma agricultura de base ecológica.

Mas, como procuramos demonstrar ao longo do texto, a questão dos mercados não se restringe apenas à possibilidade de acessar mercados já existentes. Agricultores, extrativistas, intermediários e consumidores constituem-se também como agentes ativos na construção de novos mercados, que se organizam, muitas vezes como mercados encaixados, ou seja, como segmentos de mercados mais amplos que assumem carac-terísticas específicas em função das relações estabelecidas entre produtores, distribuidores e consumidores. A

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construção desses diferentes mercados, “como extensões e desdobramentos de redes sociais em produtos e processos” (Wilkinson, 2008, p. 17), não é resultado, unicamente, da mobilização de “atores privados”. Implica também na atuação do Estado na formação, manutenção e regulação desses circuitos de troca, envolvendo também, em muitos casos, “atores não-econômicos” (ONGs, movimentos sociais, associações de consumido-res, entre outros), através de redes e formas organizacionais híbridas: econômicas e não econômicas, públicas e privadas, diretamente envolvidas em operações de mercado ou atuando como agentes intermediários, na coordenação ou regulação desses distintos circuitos de produção e consumo.

As transações que se operam nesses mercados encaixados não são regidas por uma racionalidade abstrata, mas tomadas em sua imbricação com redes e lugares específicos (Polman et al., 2010). O fluxo destes produtos no tempo e espaço e a infraestrutura material envolvida nesta circulação também se diferencia dos mercados convencionais, permitindo articular produção, processamento, distribuição e consumo em circuitos que são relativamente independentes das redes globais (Ploeg, 2011).

Os mercados locais ou os mercados encaixados são, sem dúvida uma estratégia importante na promoção da agroecologia, mas eles não encerram todo o universo de possibilidades no que se refere à construção de redes alternativas. possibilitam a criação de novos espaços econômicos e sociais, fortalecendo práticas portadoras de novos valores (sustentabilidade, solidariedade, justiça social), ampliando a capacidade dos atores de con-trolar o seu ambiente e possibilitando, ao mesmo tempo, novas formas de distribuição do poder econômico. Autores como Goodmand, Dupuis e Goodman (2012) chamam atenção, no entanto, para os riscos de uma de-fesa despolitizada e naturalizada do “local” e de sua associação a princípios de sustentabilidade e justiça social. Em contraposição a uma defesa acrítica do local como um espaço virtuoso em sua essência, Goodman et al (2012) introduzem a ideia de um “localismo reflexivo”, capaz de analisar, com base em uma abordagem crítica e investigativa, as imbricações locais das redes alternativas, desvendando a natureza das conexões estabeleci-das nos diferentes arranjos, os princípios de justiça e sustentabilidade que embasam sua construção e o modo como princípios, práticas e mecanismos de distribuição dos valores materiais e simbólicos gerados pelas redes são vivenciados pelos diferentes atores. Destaca-se a importância da construção de uma agenda política al-ternativa voltada à transformação do atual sistema agroalimentar, de processos democráticos e participativos de articulação envolvendo o âmbito local e suas conexões com outras escalas de decisão e intervenção. Nessa mesma direção, a noção de mercados encaixados, busca compreender a vinculação desses espaços com os atores, as instituições e os demais circuitos de comercialização.

3. CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: ESTRATÉGIAS PRODUTIVAS E DE MERCADO DESENVOLVIDAS PELOS AGRICULTORES DA REGIÃO

Os processos de desenvolvimento local e a disseminação de conhecimento sobre inovações na área de manejo sustentável dos agroecossistemas referencia-se em estratégias metodológicas a partir de duas premissas ( Silveira e Petersen,2002 ) :

1. Há um processo espontâneo de inovação técnica a partir do esforço da experimentação e de transmissão horizontal de conhecimentos por parte das famílias de agricultores e que é possível dinamizá-lo pela revita-lização do ambiente cultural que lhe da sustentação.

2. A ciência da agroecologia fornece os princípios conceituais e metodológicos apropriados para o desenvol-vimento de inovações técnicas compatíveis com o desafio de intensificar os sistemas agrícolas em bases sustentáveis.

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Diante destas premissas um conjunto de estratégias referentes ao manejo dos agroecossistemas no semiárido brasileiro vem sendo desenvolvidas voltadas para a convivência com as irregularidades do meio natural.Estas estratégias são protagonizadas por um conjunto de organizações da sociedade civil ( entidades de assessoria ,organizações de agricultores e redes locais ) e em algumas regiões é instrumento de diálogo e cooperação com instituições de ensino e pesquisa.

A constituição e o manejo de estoques

Para garantir a segurança hídrica nos diferentes agroecossistemas no semiárido e a satisfação das famílias agricultoras de água para consumo humano, uso doméstico, oferta para os animais e para agricultura há a ne-cessidade de armazenar a água por meio de diferentes estruturas que fazem a intermediação entre as ofertas e as demandas hídricas de uma determinada região.Destacam-se como estruturas de captação e acumulação de água as seguintes tecnologias: cisternas, tanques de pedra, açudes, poços, cacimbas e barreiras.As estru-turas captação e acumulação de água podem ser de uso familiar e comunitário.Uma diversidade enorme de experiências vem sendo disseminadas por redes locais e regionais e o exemplo mais emblemático tem sido os programas P1MC e P1+2 desenvolvidos por mais de 1000 organizações que integram a Articulação Semiárido Brasileiro. Neste sentido, uma das prioridades para a promoção de altos níveis de sustentabilidade nos agro-ecossistemas são as estruturas de abastecimento de água.

As famílias rurais do semiárido mobilizam seus estoques de sementes constituídos nos anos anteriores para o plantio no inicio do ciclo chuvoso logo após um longo período de estiagem. Entretanto, uma seca prolonga-da como a atual pode inviabilizar a reprodução do material genético e o próprio consumo das sementes para satisfazer as necessidades alimentares. Vale ressaltar que os mecanismos comunitários, ou seja, os bancos co-munitários de sementes tem também um papel estratégico no aumento da autonomia das famílias e comuni-dades rurais. Há uma riqueza de experiências em gestão comunitária de estoques de sementes. Assim como a dinamização de redes estaduais de sementes que tem garantido a aquisição de material genético dos próprios agricultores nas compras públicas pelo Estado. São exemplos a Paraíba e Alagoas.

Em significativas regiões do semiárido brasileiro há um considerável esgotamento da disponibilidade forragei-ra para os rebanhos dos agricultores familiares. Em algumas regiões a pressão é maior devido ao processo de fragmentação e mimifundização das propriedades. Este processo inclusive reforça a necessidade de tratar do tema sobre o acesso a terra pelas famílias agricultoras como um componente estratégico do manejo dos agro-ecosistemas no semiárido brasileiro. Para a regularização de a oferta alimentar dos rebanhos faz-se necessário a constituição de reservas estratégicas de espécies forrageiras nas propriedades. Um conjunto de métodos de armazenamento de forragens vem sendo desenvolvidos como as práticas de ensilagem de diferentes espécies forrageiras e práticas de fenação.

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A manutenção de alta biodiversidade funcional

A diversidade de espécie associadas ou em rotações de culturas garante uma produção diversificada de alimen-tos, aumentando o nível de segurança alimentar das famílias. Entretanto, o credito rural exerce forte influência na redução desta estratégia levando a especialização produtiva dos sistemas. Também as políticas públicas e a ação de empresas privadas do setor de sementes tem induzido a substituição das variedades locais por geneticamente modificadas desenvolvidas para atender ao uso intensivo de agroquimicos. O fomento oficial tem exercido papel negativo à conservação do patrimônio genético responsável por melhores condições de adaptação da agricultura aos ecossistemas do semiárido. Um dos principais objetivos da conversão produtiva dos agroecossistemas familiares em padrões mais sustentáveis é a valorização da conservação da variabilidade genética das espécies cultivadas.

É importante solicitar que as intensificações de uso dos espaços de pastagem podem comprometer sua própria reprodução. Assim como o uso dos remanescentes das espécies forrageiras da caatinga em anos de seca pro-longada. Recomenda-se o manejo ecológico das pastagens nativas e de reservas estratégicas forrageiras na caatinga

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• RADOMSKY, G. F. W. Certificação participativa e regimes de propriedade intelectual. Tese (Tese de Dou-torado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Instituto de Filo-sofia e Ciências Humanas, Porto Alegre, 2010.

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22ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• REMMERS, G. G. A. Con cojones y maestria: un estudio socio-ecológico acerca del desarollo rural endó-geno y procesos de localización en la Sierra de Contraviesa – España. Wageningen: Landbouwuniversi-teit, Wageningen, 1998.

• RIBEIRO, E. M. et al. Mercados locais, indústria doméstica rural e comercialização na agricultura familiar do Alto Jequitinhonha. XV Seminário sobre Economia Mineira – 30 anos. Diamantina, 29 a 31 de agosto de 2012.

• SABOURIN, E. Sociedades e organizações camponesas: uma leitura através da reciprocidade. Porto Ale-gre: Editora da UFRGS, 2011.

• SILVEIRA, L.; PETERSEN, P. F.; SABOURIN, E. Agricultura familiar e agroecologia no semi-árido: avanços a partir do agreste da Paraíba. Rio de Janeiro: ASPTA, 2002.

• WILKINSON, J. Mercados, redes e valores. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

SUGESTÕES PARA LEITURA

• ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

• GLIESSMAN, S. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.

• HILMI, A. Transição na cultura agrícola: uma lógica distinta. The More and Better Network, 2012.

• MAZOYER, M. e ROUDART, L. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. São Paulo: Editora UNESP / Brasília: NEAD, 2010.

• MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE et al. Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília-DF: Ministério do Meio Ambiente, 2004.

• NIEDERLE, P. A.; ALMEIDA, L de; VEZZANI, F. M. Agroecologia: práticas, mercados e políticas para uma nova agricultura. Curitiba: Kairós, 2013.

• PETERSEN, P. (org.) Agricultura familiar camponesa na construção do futuro. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2009.

• PLOEG, J. D. van der. Camponeses e impérios alimentares: lugas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

• RIBEIRO, E. M. et al. Mercados locais, indústria doméstica rural e comercialização na agricultura familiar do Alto Jequitinhonha. XV Seminário sobre Economia Mineira – 30 anos. Diamantina, 29 a 31 de agosto de 2012.

• SABOURIN, E. Sociedades e organizações camponesas: uma leitura através da reciprocidade. Porto Ale-gre: Editora da UFRGS, 2011.

• SILVEIRA, L.; PETERSEN, P. F.; SABOURIN, E. Agricultura familiar e agroecologia no semi-árido: avanços a partir do agreste da Paraíba. Rio de Janeiro: ASPTA, 2002.

• WILKINSON, J. Mercados, redes e valores. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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23ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: A EXPERIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DE LAGOA DA PRETA E CAPOEIRA DO

MILHO -VÁRZEA DA ROÇA-BA

O CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA

A Associação Comunitária de Lagoa da Preta e Capoeira do Milho foi fundada em 1992 a partir da comunidade religiosa de Lagoa da Preta que, junto com as comunidades de Lagoa Danta e Capoeira do Milho, realizava trabalhos comunitários em mutirão para a construção de casas, cisternas, etc. A Associação foi criada com a finalidade de atuar para o desenvolvimento comunitário através de ações de organização social e apoio à implementação de políticas de bem estar e geração de trabalho e renda, tendo como sede a comunidade de Capoeira do Milho.

QUAIS AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO

A Associação Comunitária de Lagoa da Preta e Capoeira do Milho trabalha sempre buscando fortalecer os laços comunitários e o espírito solidário entre os associados e com outras pessoas e organizações sociais afins. Esta forma de atuar já está incorporada na cultura da organização.

Além da diretoria que se ocupa com a administração geral, a Associação está estruturada em três subgrupos: Casa de Farinha e Casa da Ração, Roça Comunitária e Grupo Produtivo de Mulheres. Além disso, possuí ainda um coordenador do Fundo Rotativo Solidário. Essa configuração tem como objetivo democratizar a gestão da associação e fortalecer a autoconfiança e o espírito solidário entre os associados.

Os associados atuam ainda na conservação e recuperação de solo através da adubação orgânica e da cobertu-ra morta. A organização produtiva de uma família apresenta bastante diversificação tanto no que se refere à criação animal quanto ao cultivo de alimentos. Esta estratégia produtiva tem possibilitado a geração de mais autonomia para as famílias. É comum a presença de quintais biodiversos com plantas frutíferas, além de horta com as variedades mais utilizadas pelas famílias locais.

QUAIS OS PRINCIPAIS FACILITADORES DA EXPERIÊNCIA

A relação de confiança entre os associados foi apontada como o principal facilitador para o desenvolvimento do trabalho da Associação. Essa confiança tem o mesmo sentido de respeito mútuo que remete a laços e valo-res comunitários tradicionais, ainda muito presentes nesta região.

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Dirce Gomes de Almeida

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24ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Outro ponto fortemente destacado refere-se às boas relações internas: a integração dentro da Associação e a boa relação dentro dos subgrupos. Evidenciando mais uma vez que os laços existentes dentro da entidade ultrapassam o marco legal.

O terceiro eixo facilitador que aparece são as relações de parceria com outras organizações e o reconhecimen-to social do trabalho coletivo. Estes dois pontos apresentam uma complementariedade, pois ao mesmo tempo em que as parcerias são facilitadores do processo de desenvolvimento através das capacitações/formações externas e apoio na realização de ações, a Associação passou a ser reconhecida socialmente por estar sempre aberta a novas parcerias e disposta a apoiar projetos e outras organizações da região.

Organograma com as relações de parceria atuais

Associação Comunitária de Lagoa da Preta e Capoeira do Milho

IPB - Instituto de Permacultura da

Bahia

CAR Jacobina

EBDA Escritório Mairi

COOPES

SENAR

EFA / CONVIVERJabuticaba

SICOOB SERTÃO

Diocese de Rui Barbosa

Organizações com atuação apenas em Várzea da RoçaOrganizações com atuação regionalOrganizações com atuação na BahiaOrganização com atuação Nacional

Curso de Agropecuária

UNAVAR

Prefeitura Municipal de

Várzea da Roça

Igreja Católica

Igrejas Evangélicas

QUAIS AS CONQUISTAS DA EXPERIÊNCIA?

• Para as mulheres: auto-valorização e autonomia financeira; valorização social do trabalho da mulher;• Trabalho coletivo na roça comunitária;• Grande espaço construído pela Associação;• Reconhecimento pela sociedade da importância do trabalho desempenhado pela associação;• Comercialização de produtos para o PNAE e a CONAB;

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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25ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

QUAIS DESAFIOS TÊM A ENFRENTAR?

Os desafios da Associação Comunitária de Lagoa da Preta e Capoeira do Milho para o futuro são diversos e exigem um planejamento estratégico para definir ações de curto, médio e longo prazos na busca das melhores estratégias para superá-los. Eles podem ser agrupados nos seguintes eixos:

• Construção do futuro da organização: renovação do quadro social, especialmente através do ingresso de jovens na associação; preparação dos sócios para assumir cargo na diretoria da Associação.

“Se nós não colocamos isso como um desafio pra o futuro nós podemos ficar por mais 10 anos aqui de luta e quando tiver com 30 anos de história faltou esse povo, que o jovem não foi conquistado, não foi colocado nessa experiência aí pra dar continuidade, então por isso que eu acho que esse vai ser o grande desafio pro nosso trabalho.” (Sr. José Souza Santana/Zó)

• Revalorização produtiva: análise e planejamento com os associados sobre as possibilidades de diversifi-cação na produção e nos produtos trabalhados pela associação e/ou pelos associados; ampliar as estra-tégias de convivência com o semiárido; produzir e/ou adquirir localmente a maior parte da matéria prima utilizada pelo grupo de mulheres.

• Estruturação logística: aquisição de um veículo de carga para facilitar a produção e a comercialização dos produtos.

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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26ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

QUAIS AS PRINCIPAIS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA?

Aprender a relacionar-se Para aqueles que estão na Associação desde o começo da experiência é fácil ouvir afirmações como “isso aqui foi uma escola para mim”, referindo-se à grande oportunidade de aprendizado que a participação ati-va dentro de uma organização dinâmica e próspera como a Associação Comunitária de Lagoa da Preta e Capoeira do Milho oferece. Para eles o mais importan-te foi aprender a relacionar-se com os pares/associa-dos e construir consensos e também poder participar nos espaços externos de articulação de parcerias e atuação política junto aos diversos fóruns de forma a contribuir para a definição e ampliação de conquistas para o território;

Realização de trabalhos comunitários solidários

A experiência da Associação mostra de forma contun-dente como a realização de trabalhos comunitários

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

solidários, comum na maior parte das sociedades tradicionais ao redor do mundo, é essencial para garantir a formação e o desenvolvimento de organizações mais centradas no apoio mútuo e nos valores comunitários. Assim estruturadas estas organizações estarão bem mais fortalecidas e com melhores condições de superar os desafios coletivos para a construção das soluções mais adequadas para os problemas locais. Utilização de estratégias de recuperação de solo e produção agroecológica

A Associação tem vivenciado, momentos de dificuldades em função da estiagem prolongada. Como podemos constatar pelos depoimentos a seguir, a utilização prática de estratégias de recuperação e adubação do solo, diversificação da produção, estocagem de água e alimentos e integração dos sistemas produtivos tem assegu-rado maior resiliência às unidades produtivas familiares.

“O monzê é o melhor adubo pra crescer rápido... a folha do monzê. Se a gente cortar um pé de monzê grande e de-pois com poucos dias você arrastar ele ali e mudar o garrancho pra outro canto eu num achei folha melhor pra essas coisas do que a folha do monzê, além de ser muita, também ela é boa, desmancha rápido.” (Sr. Manoel Orlando/Landinho)

“A Associação influencia... igual mesmo a mandioca mesmo a gente planta em dois sentidos: da ração animal e da casa de farinha. A silagem mesmo... eu tinha um pouco mas, com a associação a gente aprendeu a investir mais, aumentar... a palma também...” (Sr. Jackson)

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27ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

“Antes da Associação a gente fazia as coisa, mas só levava fé só em mandioca, depois da associação... re-união... o povo conversando, eu mesmo animei e fui fazendo mais um pouquinho... Agora na seca a pro-dução pra mim foi boa porque nessa seca nunca faltou o coentro, a cebola... os pé de laranja tudo deu laranja chega deu as pencas, aquele pé de laranja lá deu umas laranja muito graúda. Tenho o maior prazer, todo dia de manhã cedo quando eu levanto já venho pra aqui e de tarde a mesma coisa, pra mim é um divertimento muito bom.” (Sr. Israel/Raé)

A gente tinha o costume de fazer roças grandes, mas se a gente pegar, colocar isso em prática: adubar bem, fazer cobertura morta com uma roça pequenininha, o trabalho vai ser menos e a gente vai ter mais várias coisas... eu tenho certeza que tem muitas coisas que se a gente for por em prática a gente vai amelhoran-do.” (Sr. Manoel Orlando/Landinho)

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Gestão compartilhada para novos aprendizados

Um dos grandes desafios da Associação ao longo dos seus 20 anos de existência tem sido motivar os associados a assumirem cargos na diretoria, alguns sócios afirmavam: “dá medo substituir pessoas que sabem trabalhar”. Em 2011 a nova diretoria discutiu e implantou a gestão compartilhada como forma de construir novos aprendi-zados e também disseminar para mais sócios o conhecimento já acumulado dentro da Associação. Esta estra-tégia tem servido para dar maior leveza à gestão, desonerando a diretoria e formando novos associados para assumirem cargos de direção no futuro.

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28ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

ORGANIZAÇÃO E ACESSO A MERCADOS: A EXPERIÊNCIA DA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA FAMILIAR DE CANUDOS,

UAUÁ E CURAÇÁ - COOPERCUC.

“A cooperativa para mim é uma lição de vida... todo esse tempo me mostrou um monte de coisas boas que você tem, mas também coisas ruins que você tem que eliminar, sabe... aprender a viver com os outros... o mais impor-tante para mim foi o conhecimento que adquiri. Eu acredito na ideia, no projeto da COOPERCUC” (Adilson Ribeiro dos Santos – agricultor familiar, cooperado e presidente da COOPERCUC)

COOPERATIVA AGROPECUÁRIA FAMILIAR DE CANUDOS, UAUÁ E CURAÇÁ - COOPERCUC

Implantada nos municípios de Canudos, Uauá e Curaçá, na região nordeste da Bahia - Território Sertão do São Francisco - a COOPERCUC tem se pautado pelo fortalecimento da agricultura familiar, pela produção susten-tável, economicamente viável e socialmente justa e solidária, contribuindo para a melhoria das condições sub-jetivas e materiais de vida das famílias agricultoras e viabilizando o aproveitamento das potencialidades produ-tivas das frutas nativas do bioma caatinga, notadamente o umbu e o maracujá do mato.

A cooperativa é diretamente gerenciada por seus cooperados, agricultores familiares, com destaque para a participação de jovens e mulheres - 70% de mulheres associadas estão envolvidas no processo cooperativista: produção, beneficiamento, comercialização, gestão e administração. Constituída em 2004 por 44 cooperados, na atualidade já são 244 sócios, 450 famílias beneficiadas direta e indiretamente, 18 unidades de processamen-to da produção nas comunidades rurais, 170 empregos autônomos e 15 no sistema CLT.

A COOPERCUC se pauta pelos princípios da economia solidária e do comércio justo, tendo se tornado referên-cia nacional e internacional. Seus produtos estão disponíveis no mercado interno brasileiro assim como em três dos maiores mercados consumidores de produtos orgânicos do mundo: Itália, França e Áustria.

A experiência se destaca pela comercialização e o acesso a mercados locais e ao mercado nacional, comercia-lizando seus produtos em grandes redes varejistas e no mercado institucional, o PAA em suas diversas moda-lidades e o PNAE, e o mercado internacional justo e solidário. Desde 2008 a COOPERCUC possui certificação orgânica da produção, estimulando o consumo consciente, além de contribuir com a visibilidade da região semiárida e do bioma caatinga.

No ano de 2012, mesmo com as enormes dificuldades provocadas por quase 3 anos de seca, a COOPERCUC produziu 140 ton. de produtos alcançando um faturamento de R$ 1.400.000,00. Há grupos que produzem até 30 ton. por safra, outros ficam na média de entre 2 e 5 ton. A renda média por grupo/safra é de R$ 2.000,o0 a 3.000,00 liquida.

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Cláudio Gustavo Lasa

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29ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A COOPERCUC é reconhecida também pelas suas ações na temática da Convivência com o Semiárido, nas inovações técnicas e tecnológicas introduzidas nos sistemas produtivos, no manejo de recursos na-turais (recomposição e preservação do umbuzeiro) e nos estudos das mudanças climáticas; na educação contextualizada, na formação, assistência técnica e extensão rural.

O RURAL NO NORDESTE E NA BAHIA

A pluralidade cultural, a diversidade biológica da caa-tinga e até mesmo os diferentes tipos de climas exis-

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

tentes fazem do semiárido brasileiro uma região com grande potencial produtivo. As atividades econômicas predominantes são as culturas de subsistência com pequenos roçados, o criatório de animais de forma exten-siva, o artesanato e o extrativismo, com produções voltadas para o consumo familiar e para a comercialização nas feiras regionais e locais.

O semiárido corresponde a 65% do território do Nordeste e tem uma superfície aproximada de 969.589,4 km², que se estende pelos estados da Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e norte de Minas Gerais, albergando uma população aproximada de 25 milhões de habitantes, cuja maior parte está na área rural.

É no Nordeste do Brasil onde se concentra o maior contingente de pobres do país. A ausência de serviços pú-blicos de qualidade faz que a população enfrente condições de vida semelhante a de países menos desenvolvi-dos. Segundo a classificação do PNUD, a Bahia está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8).

O rural cumpre um papel estratégico no universo social, econômico, político e cultural, tanto no NE quanto na Bahia. Longe de constituir-se um “problema”, pela imediata associação que costumeiramente se faz entre a dimensão rural e as situações de atraso e/ou de conservadorismo político, este segmento social e produtivo revela importantes oportunidades sociais e econômicas de desenvolvimento.

Apesar da sua forte participação no número de estabelecimentos, a agricultura familiar baiana ocupa apenas 38% da área total e responde pela geração de 40% do Valor Bruto da Produção e por boa parte da ocupação de pessoal na atividade rural, o que deveria ser considerado quando se trata de pensar políticas com forte caráter inclusivo, especialmente quando se leva em conta a forte diferenciação social no meio agrário.

2.1. Municípios de Curaçá, Uauá e Canudos

Entre as muitas potencialidades do semiárido, está o cultivo de frutas nativas – como o umbu - feito por muitas famílias do sertão, principalmente para produzir produtos artesanais como doces e geleias. Os municípios de Canudos, Uauá e Curaçá, que compõem a área de atuação da COOPERCUC, estão situados no sertão baiano, entre Juazeiro e Paulo Afonso e inseridos no chamado polígono da seca. A região possui um clima semiárido quente, com uma pluviosidade média de 450 mm anuais, muito irregular no espaço e no tempo.

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30ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Umbuzeiro – “A Árvore Sagrada do Sertão”

Batizado assim pelo escritor Euclides da Cunha (1866 - 1909) no livro “Os Sertões”, no qual relata as várias expedições do exército republicano do Brasil contra o arraial de Canudos e a trágica resistên-cia de Antônio Conselheiro e seus seguidores. A palavra umbu tem origem no tupi-guarani y-mb-u: “árvore-que-dá-de-beber”, pois acumula água nas suas “batatas” subterrâneas. O umbuzeiro é uma espécie ameaçada de extinção: na caatinga praticamente não existem novas plantas e as espécies encontradas têm mais de 100 anos de idade.

A população rural sobrevive basicamente de atividades agropecuárias: plantios de mandioca, milho, feijão, abóbora e melancia, produção de forragens para alimentação dos animais, caprinos e ovinos criados no sis-tema extensivo tradicional, geralmente em áreas comunitárias, conhecidas como Fundos de Pasto, as quais possuem uma forma própria de organização social, caracterizada pelo uso comum da terra e onde os animais são criados soltos podendo circular livremente. Geralmente os Fundos de Pasto são formados por famílias com relação de parentesco próximo que criam regras para orientar o uso dos recursos naturais nas atividades pro-dutivas.

Nos três municípios se observam precárias condições de infraestrutura econômica e social, prejudicando a qua-lidade de vida das famílias sertanejas, requerendo de forma contínua a ampliação e diversificação de políticas públicas de atendimento básico para a agricultura familiar, assim como outras de educação, saúde, saneamen-to, moradia, emprego.

OS COMEÇOS A PARTIR DA FÉ E DA VIDA

A origem da COOPERCUC se remonta aos anos de 1980, quando equipes paroquiais e Pastorais Rurais desen-volveram um forte trabalho de organização comunitária e formação de lideranças. A Romaria de Canudos era um dos espaços onde a vivência da fé do povo se articulava com a realidade das comunidades e momentos de reflexão política.

A partir dessas experiências e mutirões, o conceito de Convivência com o Semiárido começa a ser construído e implementado por comunidades que se destacavam pela sua organização, espírito de luta e de solidarieda-de e, sobretudo, vontade de mudar, para melhor, sua situação de vida.

Aproximadamente em 1997 se inicia o trabalho de beneficiamento de frutas da caatinga, sobretudo o umbu, com um grupo pioneiro de 20 lavradoras. O beneficiamento e transformação dos frutos do um-buzeiro em doces, sucos e compotas revelou-se uma excelente alternativa de renda para as famílias.

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A LINHA DO TEMPO DA COOPERCUC

2007 – 2010;

- Acesso ao PAA / Formação de estoque - capital de giro;-Parceria com a ICCO (Holanda) - projeto para fortale-cimento da produção e da comercialização;-Exportação para a Áustria, com apoio da EZA, de geleia de maracujá da caatinga, doce de banana com maracujá da caatinga e doce de umbu;

“A exportação de produtos e o comércio exterior, apren-dendo sozinhos todas as normas e procedimentos le-gais, de taxas de câmbio, de formulários... foi um gran-de desafio para todos nós!” (Jussara Dantas de Souza).

– cooperada e gerente comercial da COOPERCUC).- Certificação Orgânica da Ecocerte e Comércio Justo (fair trade); - 1° Festival do UMBU (2009);

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

“Praça da sociobiodiversidade, feira de ciências, troca de experiências e de informações, os agricultores fazendo suas palestras... faltou o apoio da Prefeitura... assim como os professores até hoje não tem entendido a riqueza de saberes que circula nesse Festival, que é um maravilhoso momento pedagógico” (Professora Maria de Fátima).

EM 12 DE ABRIL DE 2003 É CRIADA A COOPERCUC COM UM QUADRO SOCIAL DE 44 COOPERADOS. A COOPE-RATIVA FOI LEGALIZADA EM 2004 E NESSE MESMO ANO SE INAUGURA A FÁBRICA DE BENEFICIAMENTO DE FRUTAS NA CIDADE DE UAUÁ, COM RECURSOS DISPONIBILIZADOS PELA CRS (CARITAS ESTADOS UNIDOS) E HORIZONT3000 E COM CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DE 180 TONELADAS/ANO.

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32ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• Criação e lançamento da marca - Graveteiro - e da identidade visual dos produtos;• Venda para o PNAE de produtos derivados de frutas, leite, farinha e feijão;• Fortalecimento da gestão e da comercialização;• 3ª Eleição da COOPERCUC (2010);• Conquista do Selo Nacional e do Selo da Bahia da Agricultura Familiar;• Isenção de ICMS / PAA;• 1ª Reforma do Estatuto Social da COOPERCUC;

2011 / 2013

• Conquista do premio de Melhores Praticas em Gestão Local (Caixa Econômica Federal)• Parceria com o MDA: projeto de ATER para fortalecimento da produção;• Contrato com a Rede Pão de Açúcar - Programa Caras do Brasil - venda de geleia de Umbu; • Convênio com MDS, BNDS e Governo estado da Bahia (Programa Semeando Renda) doação de 2 camin-

hões, 6 fornos para casas de farinha, 1 empacotadora de grãos;• Compra de terreno para complementar a área onde será construída a nova fabrica central (com recuso

próprio);• Consolidação do convênio com o Governo do Estado da Bahia para a construção da nova fabrica central no

município de Uauá;• Compara de uma deposito para armazenar a produção;• Compara de 2 carros com recursos próprios;• Aquisição grão a preço subsidiado / CONAB, 03 compras totalizando 1.606 sacas de milho;

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33ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

• Distribuição de 714 Sacas de Milho e de 186 Sacas de Feijão entre os cooperados;• Articulação política da COOPERCUC na implementação dos programas PAA, PNAE, Luz Para Todos (SIN-

FRA), Água Para Todos (Arcas), Regularização Fundiária (CDA) e Semeando Renda (SEDES).

Desde sua legalização, em 2004, a COOPERCUC passou de beneficiar 30 ton. de frutos nativos da caatinga para 140 no ano de 2012, alcançando um volume de R$ 1.400.000,00 comercializados no ano de 2012 e este ano de 2013, a proposta elaborada para o PAA Doação Simultânea alcança R$ 800.000,00.

“A COOPERCUC tem uma influencia econômica muito importante no município. Não só isso, é chegar nas comunidades e observar as casas dos cooperados, a sua construção, as comodidades, os aparelhos de TV, gela-deiras, moveis, celulares, isso e um grande diferencial” (Maria de Fátima Costa Ribeiro).

A COOPERCUC: OLHANDO PARA O FUTURO

O que facilitouO trabalho de organização comunitária, religioso e de conscientização política da Pastoral Rural; a vontade do povo; a organização dos agricultores; a metodologia e a pedagogia do trabalho de base; os saberes e o conhe-cimento das mulheres; o apoio do IRPAA; a proposta da Convivência com o Semiárido; o potencial produtivo da fruticultura nativa da caatinga (umbu e maracujá); a conjuntura política a partir de 2003; as políticas públicas de estímulo à agricultura familiar;

As DificuldadesA burocracia para formalização da COOPERCUC; a legislação inadequada para os empreendimentos da agri-cultura familiar (sanitária, tributária); falta de capital de giro; descrença inicial no cooperativismo por parte dos cooperados; falta de vontade política dos gestores municipais em apoiar o trabalho da COOPERCUC; a infraes-trutura de processamento (fabrica);

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Os ÊxitosFortalecimento da COOPERCUC: aumento do quadro social e do volume de produtos comercializados, diversi-ficação, qualidade, padronização e regularidade da oferta de produtos, criação da marca Graveteiro, aumento do patrimônio, reconhecimento político – institucional; melhoria da qualidade de vida dos cooperados; desen-volvimento econômico social; consciência ambiental; certificação orgânica da produção (umbu e maracujá da caatinga); prêmios e reconhecimento internacional; replicação da experiência da COOPERCUC; exportações de produtos exóticos para a cultura europeia; empoderamento e o conhecimento dos agricultores...

“gente com menos da 4ª serie que hoje passa três dias sentada planejando investimentos e vendas de milhões de reais... Conquista é adquirir conhecimentos, muito mais do que bens materiais e os agricultores hoje temos esses conhecimentos” (Benedita Varjão, cooperada e Tesoureira da COOPERCUC).

“O sucesso da COOPERCUC, dessa proposta, dessa organização se percebe agora: mais de três anos de seca e ainda pode se comprar carne de bode, queijo, doces... o que melhor exemplo da qualidade e sustentabilidade desse trabalho?- segurança alimentar para as famílias e ainda renda vinda da própria agricultura” (Professora Maria de Fátima).

As Chaves do SucessoO aprender fazendo dos agricultores familiares; o capital humano (agricultores, equipe técnica, diretoria); de-dicação, compromisso e transparência; organização e união; assessorias técnicas e instrumentos de planeja-mento estratégico; o saber e conhecimento das mulheres.

As Boas PráticasAs unidades de processamento; a coordenação dos grupos de produção e beneficiamento; a divisão das res-ponsabilidades entre a Diretoria Executiva e a equipe técnica no campo politico-institucional e no operacional; os instrumentos de planejamento adotado; a participação dos jovens; o protagonismo das Mulheres nas uni-dades de beneficiamento.

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As InovaçõesO aprender fazendo dos agricultores familiares; a mar-ca Graveteiro; as certificações orgânicas e do comer-cio justo e solidário; o modelo de gestão (circulação de informações, transparência); cooperativa direcionada pelos agricultores familiares; elaboração e criação de novos produtos (geleia de banana, maracujá da caa-tinga, calda, desidratados).

As Lições AprendidasDivisão das atribuições da Diretoria e da equipe opera-cional; o planejamento estratégico como instrumento de gestão; onstrução e ampliação de relações institu-cionais das parcerias; a pratica do empreendedorismo participativo, democrático e solidário; construção de um modelo de cooperativismo a partir própria pratica e conhecimento dos atores garantindo a sustentabili-dade política e institucional.

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“O cooperado tem que se sentir dono, tem que se sentir cooperativa e se sentir representado, não precisa o diretor ou o presidente estar presente no dia a dia das comunidades. Os cooperados tem que entender que a COOPERCUC são eles e não o prédio ou a fábrica” (Adilson Ribeiro dos Santos – agricultor familiar, cooperado e presidente da COOPERCUC).

Os DesafiosFormação permanente e continuada da equipe técnica; assessoria técnica para a Convivência com o Semiárido; reestruturação da equipe operacional; capital de giro; inserir produtos nas redes de supermercados; Intensificar a comercialização no mercado internacional; adequação às legislações; organização e articulação política para propor mudanças na legislação para a agricultura familiar; fortalecimento e empoderamento dos cooperados; produção e plantio de mudas de plantas nativas da caatinga para o aumento da capacidade de produtiva; “A COOPERCUC é uma síntese da vivência das famílias sertanejas, do Fundo de Pasto como lugar socioambiental e organizativo e da prática da Convivência com o Semiárido”

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PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E PROTAGONISMO DAS MULHERES: AS EXPERIÊNCIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO DE CÍCERO E GRACINHA

ONDE E EM QUE CONTEXTO SE DESENVOLVE A EXPERIÊNCIA?

As experiências são referentes ao universo de duas famílias, cada qual residindo em localidades diferentes da zona rural de Remanso, município localizado no semiárido baiano, mais especificamente no território do Ser-tão de São Francisco.

QUAL É O OBJETIVO DA EXPERIÊNCIA?

As atividades, técnicas e saberes desenvolvidos pelos agentes têm sido importantes no contexto de cada fa-mília para assegurar provimento de renda e de alimentação. Constituem elementos de referência para preser-vação ambiental, uso sustentável de recursos e convivência com o semiárido. Em uma das experiências obser-vamos o valor do protagonismo feminino.

COMO OPERAM AS EXPERIÊNCIAS?

As experiências descritas neste relatório referem-se a duas famílias de moradores do município de Remanso, que tem contribuído com inovações e boas práticas na área de produção agropecuária, acesso e armazena-mento de água. O principal representante de uma das famílias é João Cícero Justiniano de Souza, 46 anos, morador da comunidade de fundo de pasto Sítio Barra. Na outra família, localizada em Sítio Pajeú, a principal representante é Maria das Graças Gomes de Almeida, a Gracinha, 52 anos.

As duas famílias tem se voltado nos últimos anos a realizar práticas agroecológicas com resultados positivos, a ponto de serem convidados para receber diversas pessoas em intercâmbios, interessados nos aprendizado que eles proporcionam. Pode-se considerar que o trabalho das famílias tem um viés político, dada sua opção de produzir de maneira sustentável, agroecológica em oposição às práticas introduzidas pela “revolução verde”. O que se destaca é a utilização de várias técnicas que envolvem o manejo da caatinga, o plantio de árvores frutífe-ras e forrageiras, os roçados de feijão, milho e as hortas de verduras e hortaliças, produzidos sem agrotóxicos. Estas experiências possuem uma relação de convivência harmoniosa com o semiárido, destacando a diversi-dade produtiva (roçado; horta; árvores; criação de galinhas, patos, caprinos e bovinos e produção de mel) e o modo como captam e armazenam água de diversas formas,

O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Rosana Carvalho Paivah

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CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Além de organizarem as estruturas produtivas de forma particular, as experiências se diferenciam pois Cícero reside em uma comunidade de fundo de pasto enquanto Gracinha evidencia a importância do protagonismo feminino.

QUAIS GANHOS FORAM OBTIDOS?

A comunidade de Sítio Barra tem sua organização e mobilização relacionada à identidade coletiva de fundo de pasto. O papel de Cícero como agricultor experimentador se reflete na sua participação ativa na associação, ocupando atualmente o cargo de presidente. Em relação a sua família e sua terra, as inovações no âmbito da produção, baseada em princípios agroecológicos, possibilitaram uma diversidade nas hortas, roçados e criação. A produção de forragens permite que a caprinocultura seja realizada como um aprimoramento das práticas tradicionais. O plantio de forrageiras e árvores é feito para produção de feno e de silagem. Esta ativida-de também é realizada pela conscientização da necessidade de restaurar o bioma caatinga e contrabalancear com os desmatamentos que ocorrem na região, através do plantio especialmente de espécies que têm ficado cada vez mais raras de se encontrar.

No caso da experiência de Gracinha, ganha destaque o empoderamento feminino através de seu protagonis-mo nas atividades produtivas. Entre estas a caprinocultura tem um papel central pela produção de animais de corte e leiteiros. Para a alimentação destes animais são preparadas forragens balanceadas de diversas origens vegetais. Outra atividade constitui a fabricação de queijo de leite de cabra e sua comercialização. A família de Gracinha não utiliza agrotóxicos nos plantios e tem consciência da necessidade de preservação ambiental, também não realizando queimadas para abertura de roças para agricultura ou plantio de capim.

Comunidades de Fundo de Pasto

A designação de “comunidades de fundo de pasto” é utilizada como autorreferência a um modo de vida tradicional, que compreende a utilização de um sis-tema agrosilvopastoril, desenvolvido através de um processo de territorialização marcado pela conjunção do uso entre áreas de apropriação privada com áreas de uso comum. Nestas áreas, a vegetação nativa é en-contrada com um grau de preservação melhor que nas áreas do seu entorno, sendo utilizada como pastagens naturais e para extrativismo.

Como um elemento central na organização de tais comunidades encontra-se a atividade produtiva da criação solta de caprinos, ovinos e bovinos Acrescen-ta-se uma pequena agricultura realizada em áreas pri-vadas, cuidadosamente cercadas para não permitir a entrada dos animais criados soltos. A expressão “nos-so jeito de viver no sertão”, é utilizada pelo movimento de fundo de pasto, indicando todo um jeito de ser, um

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modo tradicional de viver, e não apenas um sistema produtivo. Neste sentido, o arranjo interno de regras, construídas nas relações de parentesco, compadrio e vizinhança, mediam a formação de solidariedade e ajuda mútua e os processos decisórios, especialmente para o acesso à terra e uso dos recursos naturais.

Protagonismo das Mulheres

A experiência de Gracinha pode conduzir a uma re-flexão sobre a participação das mulheres no universo do trabalho e seu empoderamento no contexto fami-liar. Significa retirar da figura da mulher a posição de submissão perante os maridos, na qual as atividades produtivas desempenhadas pelas mulheres não são

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vistas como trabalho, e sim como “ajuda” oferecida aos maridos. Ao executar suas atividades tem poder de de-cisão sobre o armazenamento de água e o cuidado com os caprinos como quando se trata de vender e comprar animais, aplicar medicamentos, fabricar e dar ração, distribuí-los nos chiqueiros e no aprisco. Viajou até Jussaa, e comprou algumas cabras e um reprodutor visando melhorar seu rebanho. Também fabrica e distribui a ração. Ela está incluída no rol de mulheres que participam ativamente de determinadas atividades produtivas e da vida comunitária, sem interferência dos marido e conciliando estas atividades com os afazeres domésticos.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO À CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO?

As experiências de Gracinha e Cícero evidenciam que através do uso de técnicas e práticas, baseadas em prin-cípios agroecológicos, é possível realizar uma produção agropecuária de qualidade e que repercute considera-velmente no uso sustentável dos recursos naturais, garantindo que os ganhos obtidos em uma geração possam ser transmitidos às gerações seguintes. Os saberes que se destacam nas experiências são os seguintes:

• Captação de água das chuvas pelas cisternas de consumo humano, de enxurrada e calçadão; por caldeirões e tanques de barreiro; captação por lençol freático através de bombas de água popular e cacimbas;

• Fabricação de queijo de leite de cabra e outros derivados como doce, manteiga e requeijão;

• Plantio de árvores e plantas que favorecem a biodiversidade e podem ser utilizadas como forragens;

• Fabricação de silagem e feno como reserva estratégica para períodos de estiagem;

• Realização de derrubada da caatinga sem utilização de fogo para limpar terrenos. Seleção de espécies mais raras para serem mantidas e retirada daquelas mais comuns;

• Fabricação de adubo orgânico através do empilhamento das plantas retiradas do terreno.

• Estruturas como aprisco e casa de ordenha para facilitar o trabalho com a caprinocultura;

• Organização e mobilização para obter recursos, projetos e cursos sobre atividades produtivas;

• Organização e mobilização em torno de uma identidade coletiva de fundo de pasto;

Fotos deste documento: Programa Semear/Manuela Cavadas. 38ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM