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Faculdade Estácio de Sergipe - FASE Jurisdição Constitucional (2013.2) - Prof. Fernando Monteiro Controle de Constitucionalidade Roteiro de Aula – Ação Direta de Inconstitucionalidade Parte I 1. Evolução histórica. Prevalência, até o advento da CF/88, do controle pela via incidental. Após 1988, com a ampliação dos legitimados ativos para propositura da ADI, o controle de constitucionalidade no Brasil voltou-se de forma mais contundente para o caminho da via direta (controle abstrato). 2. Pressupostos de admissibilidade da Ação: Legitimação para agir e capacidade postulatória. Com exceção das confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional e dos partidos políticos (Art. 103, VIII e IX da CF/88), todos os demais legitimados para ADI possuem capacidade postulatória especial (podem propor a ação sem o patrocínio de advogado). Por exemplo: o Governador do Estado pode assinar sozinho a inicial da ADI, sem a presença do Procurador Geral do Estado. Também pode fazê-lo em conjunto com o Procurador Geral. Este, entretanto, não pode propor a ação em nome do Governador. Discussão no STF acerca do que é confederação sindical e entidade de classe de âmbito nacional. De forma geral, precisam representar interesses comuns específicos (e não genéricos) de uma dada categoria. Grupos formados circunstancialmente (como associação de empregados de uma empresa) não se enquadram nos legitimados ativos. A UNE não é tida como entidade de classe (congrega extratos sociais, profissionais

Roteiro de Aula - ADI

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Faculdade Estácio de Sergipe - FASE

Jurisdição Constitucional (2013.2) - Prof. Fernando Monteiro

Controle de Constitucionalidade

Roteiro de Aula – Ação Direta de InconstitucionalidadeParte I

1. Evolução histórica. Prevalência, até o advento da CF/88, do controle pela via incidental. Após 1988, com a ampliação dos legitimados ativos para propositura da ADI, o controle de constitucionalidade no Brasil voltou-se de forma mais contundente para o caminho da via direta (controle abstrato).

2. Pressupostos de admissibilidade da Ação:

Legitimação para agir e capacidade postulatória. Com exceção das confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional e dos partidos políticos (Art. 103, VIII e IX da CF/88), todos os demais legitimados para ADI possuem capacidade postulatória especial (podem propor a ação sem o patrocínio de advogado). Por exemplo: o Governador do Estado pode assinar sozinho a inicial da ADI, sem a presença do Procurador Geral do Estado. Também pode fazê-lo em conjunto com o Procurador Geral. Este, entretanto, não pode propor a ação em nome do Governador.

Discussão no STF acerca do que é confederação sindical e entidade de classe de âmbito nacional. De forma geral, precisam representar interesses comuns específicos (e não genéricos) de uma dada categoria. Grupos formados circunstancialmente (como associação de empregados de uma empresa) não se enquadram nos legitimados ativos. A UNE não é tida como entidade de classe (congrega extratos sociais, profissionais ou econômicos diversificados). A CUT (e nenhuma central sindical) não é admitida pelo STF como confederação sindical, mesmo após as mudanças na CLT, de 2008, que passou a considerar as centrais sindicais como entidades de representação geral dos trabalhadores em âmbito nacional.

Sobre o tema da abrangência nacional, analogia com a Lei Orgânica dos Partidos Políticos. Precisa ter representação em pelo menos 9 unidades federativas (Estados e Distrito Federal). Já houve admissão, pelo STF, de entidade de classe de âmbito nacional (Associação Brasileira dos Produtores e Extratores de Sal/Abersal), presente em menos de 9 estados, propondo a ação, por situação excepcional: não há 9 unidades federativas no Brasil que produzam sal (e trata-se de produto de consumo nacional).

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Pertinência Temática. Precisa-se aferir a relação direta entre a entidade de classe de âmbito nacional ou confederação e o tema previsto em ato normativo objeto do pedido de impugnação.

Partidos Políticos. Análise do tema da representação no Congresso Nacional. Basta um representante. Para o STF, o momento da aferição da legitimação do Partido Político é o momento da propositura da ação (a relação processual instaurada em decorrência da ação tem prosseguimento mesmo que o Partido perca o seu representante no Congresso).

3. Objeto da ADI:

Lei (todas as espécies previstas no Art. 59 da CF) ou ato normativo (resolução administrativa dos Tribunais; Resoluções Administrativas que incidam sobre atos de caráter normativo; deliberações administrativas de órgãos judiciários; deliberações dos Tribunais Regionais do Trabalho que determinem pagamento a magistrados e servidores; Resolução do Conselho Interministerial de Preços – CIP; Decreto do Chefe do Executivo que promulga Tratados e Convenções).

A jurisprudência do STF não tem admitido propositura de ADI contra atos de efeito concreto (o controle é para normas jurídicas in abstrato), ainda que sob a forma de lei (ex. Lei orçamentária que configuraria determinada dotação). Mas há críticas a tal posicionamento (por conta de a lei, mesmo apenas de natureza formal, possuir a índole da generalidade). Há decisão recente do STF (2009) revendo a sua posição clássica. Para os atos realmente de natureza concreta (e não sendo leis), cabe o controle difuso.

Para fins de propositura da ADI, devem ser compreendidos atos normativos federais e estaduais posteriores à promulgação da CF/88. Atos, portanto, pré-constitucionais não podem ser atacados por ADI. Com a entrada em vigor da Lei 9882/99, que disciplina a ADPF, tais atos são controlados pela via direta da arguição (quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional, lembre-se).

Controvérsia sobre o controle dos atos municipais. Pode ser feito o controle em face da Constituição Estadual (porquanto haja previsão nas Constituições Estaduais para tal fim, conforme dispõe o Art. 125, § 2º, da CF/88). Se o texto da Constituição Estadual repetir norma da Federal, o controle abstrato da lei ou ato municipal em face da CF estará sendo feito por via oblíqua. Fora desses casos, o controle de lei ou ato municipal será feito por ADPF (quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional, lembre-se).

Atos do Poder Executivo com caráter meramente secundário não serão atacados pela via direta do controle (trata-se de fenômeno de ilegalidade). Se o Decreto do Executivo referenda inconstitucionalidade da lei que regulamente, será ela o objeto do controle direto. Sobre o caso há uma situação excepcional admitida pelo STF: o decreto tem natureza autônoma, exorbitando da lei. Nesse caso o STF admitiu o controle direto, por violação do princípio constitucional da reserva legal.

Não se admite a ADI para combater inconstitucionalidade de Projeto de Lei ou de Lei aprovada mas ainda não promulgada. Não há, portanto, ADI

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de caráter preventivo. Publicação superveniente da Lei, em meio a tramitação da ADI, corrige a carência original da ação.

Ainda que a posição assumida anteriormente pelo STF fosse outra, houve revisão por unanimidade da posição para permitir o controle por ADI de ato normativo já revogado, por conta da eventual necessidade de correção dos efeitos causados enquanto a norma se encontrava em vigor. Como regra parte-se do pressuposto que a revogação do ato se deu após a propositura da ação. De qualquer sorte não se trata ainda de posição pacificada na Suprema Corte.

Normas constitucionais originárias não comportam controle de constitucionalidade, pois são expressão genuína do legislador constituinte originário. Filosoficamente é possível sustentar algum tipo de controle, extrajurídico, em face de princípios gerais de direito com caráter universalizante.

Alteração do parâmetro constitucional invocado (ou seja, a norma constitucional é alterada pela via da reforma). O STF, em tais casos, entendia como prejudicado o objeto da ADI. Em decisão recente, tratando do controle de uma lei estadual inconstitucional quando da sua promulgação e publicação, mesmo com posterior alteração da norma constitucional parâmetro da análise, ainda assim a lei estadual foi declarada inconstitucional.

Respostas emitidas pelo TSE em consultas formuladas não se submetem a controle de constitucionalidade.

ADI em face de políticas públicas (reserva do possível). Caracterização da violação da Constituição precisa ser flagrante, para admitir o controle.

Bloco de constitucionalidade. Aplicação tímida no direito brasileiro. Com a Emenda 45/2004 houve até certa ampliação do conceito, com o Art. 5º, § 3º, da CF/88.

Transcendência dos motivos determinantes (ou efeitos irradiantes ou transbordantes dos motivos determinantes). Já houve aceitação da tese em sede de controle difuso. Postura defensiva do STF.

Inconstitucionalidade por “arrastamento”. Declarada inconstitucional uma norma, outra conexa a ela (no mais das vezes por razões procedimentais) é declarada inconstitucional também. Admissibilidade pelo STF.

Obs. ADI em face de Súmulas, de Medida Provisória, de Emendas Constitucionais e de Tratados Internacionais – pesquisa para ser entregue no dia da prova, a saber 09/04/2013.