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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE ROBÉRIO GARBINI CONHECIMENTOS E ATITUDES DE OBSTETRAS DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA AO ABORTO LEGAL EM ALAGOAS: legalidade, ética e objeção de consciência Maceió-AL 2020

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE

ROBÉRIO GARBINI

CONHECIMENTOS E ATITUDES DE OBSTETRAS DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA AO ABORTO LEGAL EM ALAGOAS: legalidade, ética e

objeção de consciência

Maceió-AL 2020

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE

ROBÉRIO GARBINI

CONHECIMENTOS E ATITUDES DE OBSTETRAS DO SERVIÇO DE

REFERÊNCIA AO ABORTO LEGAL EM ALAGOAS: legalidade, ética e objeção de consciência

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Pesquisa em Saúde do Centro Universitário CESMAC, na modalidade Profissional, como requisito para obtenção de Título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa, e Co-Orientação do Prof. Dr. Diego Figueiredo Nóbrega.

Maceió-AL 2020

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE

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ROBÉRIO GARBINI

CONHECIMENTOS E ATITUDES DE OBSTETRAS DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA AO ABORTO LEGAL EM ALAGOAS: legalidade, ética e

objeção de consciência

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Pesquisa em Saúde do Centro Universitário CESMAC, na modalidade Profissional, como requisito para obtenção de Título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa, e Co-Orientação do Prof. Dr. Diego Figueiredo Nóbrega.

Data de Defesa: 14-03-2020 Orientador: Prof. Dr. Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa Co-Orientador: Prof. Dr. Diego Figueiredo Nóbrega BANCA EXAMINADORA: ______________________________________________________________ Profa. Dra. Mara Cristina Ribeiro (Cesmac) ______________________________________________________________ Profa. Dra. Sonia Maria Soares Ferreira (Cesmac) _______________________________________________________________ Prof. Dr. José Elias Soares da Rocha (UFAL)

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5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por toda força e saúde, e por ter me iluminado nas horas

difíceis em que pensei em desistir.

Agradeço à minha família, pela compreensão, apoio e paciência durante os

últimos dois anos com muitas ausências.

Agradeço ao Magnífico Reitor do Centro Universitário Cesmac, Dr. João

Rodrigues Sampaio; ao Vice-Reitor, Douglas Aprato Tenório; à Coordenação do

Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde do Cesmac, Profa. Dra. Sonia Maria

Soares Ferreira, por proporcionarem a realização de mais uma etapa da minha vida

profissional.

Agradeço ao meu Orientador, Prof. Dr. Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa, por

toda dedicação e disponibilidade incansável; ao meu Co-Orientador, Prof. Dr. Diego

Figueiredo Nóbrega, pelo apoio na construção do trabalho. Aos professores: Natanael

Barbosa dos Santos e Kristiana Cerqueira Mousinho, sempre disponíveis com

orientações pertinentes. E aos demais professores que contribuíram com tudo que sei

de Pesquisa Científica.

Um agradecimento especial para essa turma de mestrado, hoje grandes

amigos para a vida, grandes incentivadores, sempre prontos para qualquer

dificuldade.

Por fim, agradeço à direção da Maternidade Escola Santa Mônica, à Rede de

Assistência às Vítimas de Violência Sexual/Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas

e aos colegas obstetras participantes da pesquisa, que tornaram a pesquisa possível.

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LISTA DE FIGURA

Figura 1 ─ Legislação sobre o aborto no mundo (ONU, 2011) ......................... 20

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 ─ Conhecimento dos médicos obstetras quanto à legalidade do aborto legal no Brasil. N = 26. Alagoas, Brasil...........................

31

Gráfico 2 ─ Razões elencadas pelos médicos obstetras para não realizar a prática do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil......................

32

Gráfico 3 ─ Conhecimento dos médicos obstetras quanto ao órgão que regulamenta a possibilidade de realização do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil.....................................................................

32

Gráfico 4 ─ Opinião dos médicos obstetras quanto a qualidade do serviço de aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil......................................

34

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LISTA DE QUADRO

Quadro 1 ─ Descrição das melhorias elencadas pelos obstetras que o serviço de aborto legal deve realizar..........................................

35

Page 10: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 ─ Descrição das características gerais da amostra de médicos obstetras do serviço de referência à prática de aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil..................................................................

29

Tabela 2 ─ Descrição da posição ética dos médicos obstetras quanto à prática do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil..........................

33

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LISTA DE SIGLAS ADPF ─ Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

CAAE ─ Certificado de Apresentação Ética

CEM ─ Código de Ética Médica

CEP ─ Comitê de Ética em Pesquisa

CFM ─ Conselho Federal de Medicina

CPB ─ Código Penal Brasileiro

DO ─ Declaração de Óbito

FEBRASCGO Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia

HM ─ Hospital da Mulher

JAIG ─ Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez

MESM ─ Maternidade Escola Santa Mônica

MS ─ Ministério da Saúde

NT ─ Norma Técnica

OMS ─ Organização Mundial da Saúde

PT ─ Parecer Técnico

PTARVS ─ Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes de Violência Sexual

RAVVS ─ Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual

SAIPSVS ─ Serviços de Atenção Integral às Pessoas em Situação de Violência Sexual

SESAU ─ Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas

SINAN ─ Sistema Nacional de Agravos de Notificação

SSPSS ─ Software Statistical Package for the Social Sciences (version 20.0)

STF ─ Supremo Tribunal Federal

SUS ─ Sistema Único de Saúde

TAPIGRE ─ Termo de Aprovação de Procedimento de Interrupção da Gravidez Resultante de Estupro

TCLE ─ Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TRC ─ Termo de Relato Circunstanciado

TR ─ Termo de Responsabilidade

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RESUMO

O aborto tem sido um tema polêmico e controverso em todo o mundo. No Brasil, ele é considerado um crime de acordo com o Código Penal Brasileiro. Apenas em três casos dentro da legislação brasileira, abre-se possibilidade de um médico realizar tal procedimento desde que realizado em um hospital de referência: estupro, anencefalia e risco de morte materno. Em Alagoas, até o presente momento, o local de realização de aborto ditos legais é feito em um hospital público do Estado. O objetivo desta pesquisa foi verificar o perfil do quadro médico obstetra do serviço de referência ao aborto legal em Alagoas, com relação ao conhecimento legal, posição ética e caracterização do serviço. Utilizou-se uma metodologia observacional, analítica e transversal para aferir os fatores em análise. A amostra foi composta por 26 médicos obstetras. Do total da amostra apenas 19,2% (n=5) aceitaram os três casos de aborto previsto em lei; 57,7% (n=15) apontaram a religião como principal fator de objeção ao aborto; quase metade não concorda que a mulher deva realizar o aborto em caso de violência sexual; mais da metade já enfrentou algum dilema ético na profissão relacionado ao aborto. 65,4% (n=17) não se consideram aptos para atuarem no serviço e 57,7% (n=15) consideram o serviço ruim. A análise que os médicos identificaram como possíveis de melhorar no serviço mostrou que “equipe capacitada” e “local mais apropriado” foram citadas 21 vezes e 10 vezes, respectivamente, sendo os principais fatores elencados. O protocolo de atendimento às vítimas de violência sexual, bem como fluxograma foi desenvolvido e passou a auxiliar o novo serviço que foi estruturado. Concluiu-se que o perfil médico obstetra do serviço de abortamento legal era insuficiente para as demandas, e a construção e uso do protocolo foi importante para reestruturar o atendimento às vítimas de estupro. PALAVRAS-CHAVE: Aborto Legal. Violência Sexual. Mulher.

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ABSTRACT

Abortion has been a controversial and controversial issue worldwide. In Brazil, it is considered a crime according to the Brazilian Penal Code. Only in three cases under Brazilian law is it possible for a doctor to perform such a procedure as long as it is performed in a referral hospital: rape, anencephaly and risk of maternal death. In Alagoas, until now, the legal abortion is performed in a public hospital in the state. The objective of this research was to verify the profile of the obstetric medical staff of the reference service for legal abortion in Alagoas, with regard to legal knowledge, ethical position and characterization of the service. An observational, analytical and cross-sectional methodology was used to assess the factors under analysis. The sample consisted of 26 obstetricians. Of the total sample, only 19.2% (n = 5) were successful in the three cases of abortion provided for by law; 57.7% (n = 15) pointed to religion as the main objection to abortion; almost half do not agree that women should have an abortion in case of sexual violence; more than half have faced an ethical dilemma in the profession related to abortion. 65.4% (n = 17) do not consider themselves able to work in the service and 57.7% (n = 15) consider the service to be bad. The analysis that the doctors identified as possible to improve the service showed that "trained staff" and "most appropriate place" were mentioned 21 times and 10 times, respectively, being the main factors listed. The protocol for assisting victims of sexual violence, as well as a flow chart was developed and started to assist the new service that was structured. It was concluded that the obstetrical medical profile of the legal abortion service was insufficient for the demands, and the construction and use of the protocol was important to restructure the assistance to rape victims. KEYWORDS: Legal Abortion. Sexual Violence. Women.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA.............................. 17

2.1 Evolução histórica do aborto................................................................. 17

2.2 Aborto no Brasil...................................................................................... 20

2.3 Fundamentação Metodológica............................................................... 24

3 MATERIAL E MÉTODO.............................................................................. 26

3.1 Tipo de Estudo....................................................................................... 26

3.2 Cenário de Estudo.................................................................................. 26

3.3 Amostra da Pesquisa............................................................................. 27

3.4 Coleta de Dados..................................................................................... 27

3.5 Análise de Dados.................................................................................. . 28

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 29

5 PRODUTOS DA PESQUISA..................................................................... 36

5.1 Protocolo de Estruturação do Serviço de Atendimento à Vítima de

Violência Sexual no Âmbito do Aborto Legal no Serviço de Referência

do Estado de Alagoas...........................................................................

36

5.2 Artigo Científico...................................................................................... 40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 41

REFERÊNCIAS............................................................................................. 42

APÊNDICES.................................................................................................. 45

APÊNDICE A: Questionário de Coleta da Pesquisa..................................... 46

APÊNDICE B: Artigo Científico...................................................................... 47

ANEXOS........................................................................................................ 65

ANEXO I: Termo de Relato Circunstanciado................................................. 66

ANEXO II: Parecer Técnico........................................................................... 67

ANEXO III: Termo de Aprovação de Procedimento de Interrupção da

Gravidez Resultante de Estupro....................................................................

68

ANEXO IV: Termo de Responsabilidade...................................................... 69

ANEXO V: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Interrupção de

Gravidez Resultante de Violência Sexual......................................................

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ANEXO VI: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa............................. 71

ANEXO VII: Normas da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia

(RBGG)..........................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com a medicina, o aborto é definido como o nascimento de um feto

com peso inferior a 500g ou antes de 20 a 22 semanas completas, não havendo

possibilidades de vida (VIEIRA, 2010; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Fetos

abortados acima desses valores citados devem ser incluídos como vida perdida e ser

feito a Declaração de Óbito (DO). A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014)

pontua que a definição do número de semanas para configuração do aborto é

dependente da legislação de cada país, mas pode variar até 28 semanas.

Existem duas formas de aborto: o espontâneo, que é involuntário; e o

induzido/provocado, que é consequência de uma ação intencional. De forma

espontânea, o aborto pode ocorrer devido a alguns fatores contribuintes, mas que nem

sempre são óbvias. Podemos citar como possíveis causas: doença febril, infecções

genitais e sistêmicas como doenças infectocontagiosas, doença crônica materna,

causas hormonais, toxinas ambientais, causas dietéticas, anomalias anatômicas e

gravidez na presença de um dispositivo intra uterino (OMS, 2014). Vale salientar que

às vezes não existe nenhum fator causal específico que aponte o aborto (OMS, 2014).

Outros fatores como uso de drogas lícitas e ilícitas no período gravídico puerperal

também podem estimular o aborto espontâneo (FREIRE, 2009). Fatores como

ansiedade e depressão também têm sido associados em mulheres que sofreram

abortamento (OLINTO, 2006; BENUTE, 2009).

O aborto intencional no Brasil é crime e pode ser considerado um ato de

violência se for considerado o que a OMS define como violência: “Uso de força física

ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um

grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano

psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação” (OMS, 1996).

A lei do aborto é regida por lei no Código Penal Brasileiro (CPB) e está inserida

nos artigos 124, 125, 126, 127, descritos ipsis litteris abaixo:

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena – detenção, de um a três anos. Aborto provocado por terceiro: Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de três a dez anos. Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante:

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Pena – reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência Forma qualificada: Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte (CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, 1940).

Estes artigos citados descrevem o que a lei entende de aborto e as penalidades

previstas. No artigo 128 do Código estão descritas as duas exceções em que não se

pune o aborto:

Art. 128 – Não se pune aborto praticado por médico: Aborto necessário I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Ou seja, se ela é resultante de estupro ou se gera riscos à saúde da mulher.

Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº54, pos em julgamento o projeto

que visava desconsiderar que o aborto de fetos anencefálicos fosse considerado

crime. Em 1º de abril de 2013 o Ministério da Saúde (MS) lança a Portaria nº528, que

regula as regras para habilitação e funcionamento dos Serviços de Atenção Integral

às Pessoas em Situação de Violência Sexual (SAIPSVS) no âmbito do Sistema Único

de Saúde (SUS) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).

Em 2015, o Ministério da Saúde (MS) lança a Portaria nº1.508/2005-MS

estabelecendo os procedimentos de Justificação e Autorização da Interrupção da

Gravidez (JAIG) no âmbito do SUS. Nesta referida portaria é dito que a mulher que

deseje realizar o aborto não necessita de comprovação policial ou judicial, apenas o

seu relato é necessário. O MS estabelece, então, cinco termos necessários para

interrupção da gravidez (ANEXOS I ao V).

Alguns médicos obstetras alegam que por questões de objeção de consciência

(religiosa, moral) se recusam a realizar o aborto de mulheres que informaram ter sido

vítimas de estupro. Este tipo de objeção está descrito no Código de Ética Médica

(CEM), no capítulo ‘Direito dos Médicos’ em seu artigo IX onde fala: “É direito do

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17

Médico: IX – Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam

contrários aos ditames de sua consciência” (CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA, 2017).

Quando a objeção de consciência médica é referente ao aborto em mulheres

vítimas de estupro, o tema tem sido controverso e tem gerado muita discussão.

Questões como: é legal ou não o médico se recusar a atender? Ou, em caso de

objeção, o médico deve realizar quais procedimentos? Esses questionamentos, sem

sombra de dúvidas, passam por questões da ética, justiça, moral, religião, dentre

outras tantas subjetividades.

Nesta perspectiva o objetivo desta pesquisa foi verificar o perfil do quadro

médico obstetra do serviço de referência ao aborto legal em Alagoas, com relação ao

conhecimento legal, posição ética e caracterização do serviço.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA

2.1 Evolução histórica do aborto

Tal como qualquer prática humana, práticas de aborto vêm desde as mais

remotas civilizações humanas – também com motivos tão variantes como no mundo

contemporâneo. Um dos registros mais antigos acerca desse assunto vem da China

Antiga, entre 2737 e 2696 a.C., onde um texto médico da época do imperador chinês

ShenNung relata a fórmula de um abortífero oral que, provavelmente, deva conter

mercúrio (SCHOR e ALVARENGA, 1994). Na civilização babilônica, no famoso

Código de Hamurabi (1700 a.C.), há também a citação do aborto, mas não como

recomendação médica ou receituário; vale a pena lembrar que o texto foi o primeiro

texto legal e a sua caracterização do ato era de um crime, um atentado contrário aos

direitos do homem enquanto papel social de pai/marido se executado pela mulher;

quando por um terceiro, a caracterização é de uma lesão contra a mãe/mulher

(PRADO, 1985).

A partir daí o debate social ganhava novos atores e pautas, envolvendo agora

interesses do ponto de vista político, religioso e/ou econômico, mas na questão de

permitir ou proibir. Um exemplo bastante claro desse apontamento se encontra nas

descrições gregas; Platão defendia uma postura mais severa com relação a utilizar tal

artifício, de forma que houvesse uma obrigatoriedade eugênica em abortos quando

de grávidas com 40 anos ou mais, preservada na fundamentação da pureza da raça,

em especial dos guerreiros da Grécia. Já Aristóteles entendia e defendia abortos como

estratégia de controle da natalidade (MATOS, 2011).

Quanto se parte para o entendimento da questão em Roma, embora houvesse

algum dispositivo legal, a situação era mais deixada nas mãos de curandeiros e outros

profissionais, não sendo algo estimulado ou legalmente proibido. Tanto era assim, que

existia uma espécie de receituário, como se pode ver abaixo:

Se as mulheres desejavam limitar os partos, tinham de recorrer aos abortivos, cujas receitas são muito abundantes. O primeiro risco era, portanto, o da ferida de um útero ainda imaturo devido à juventude das esposas romanas; neste caso os médicos recomendavam mesmo o aborto, inclusive por meios cirúrgicos (sondas) (DUBY e PERROT, 2004, p. 388).

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19

Ainda em Roma, havia um cenário social insurgente, que eram os que

buscavam garantir minimamente os direitos das mulheres – não necessariamente,

mães; Sorano e Éfeso, alguns dos filósofos da época, argumentavam que o aborto

visasse preservar a vida da mulher, afirmando ainda que prostitutas e mulheres

independentes de homens eram as únicas que poderiam dispor desse expediente.

Fora destes dois casos, eles afirmavam que a mulher deveria ser punida caso

cometesse o ato, punição essa que deveria ser o exílio (DUBY e PERROT, 2004).

A abordagem mudou do ponto de vista legal quando houve o processo de

conversão do imperador Constantino, durante o século IV; por conta da influência do

Cristianismo e dos valores embutidos no seu arcabouço, o aborto se transformou em

crime, na verdade crime grave. Esse modus operandi se tornou presente em toda a

Idade Média e início da Idade Moderna. Se nesses períodos havia o entendimento do

feto ser um apêndice da mãe, em meados do século XVIII, os avanços médicos

permitiram entender o feto como uma vida que se organiza independente, mas gerada

dentro do corpo da mulher. Ademais, mudaram também os interesses por trás: se

antes o feto era posse de um marido, a partir da Revolução Francesa se instituiu

observar que esse feto era um soldado ou um trabalhador a mais. Isso motivou

campanhas de preservação da vida e acirramento da postura contrária ao aborto,

porque o feto era entendido dentro desse papel e função sociais impostos a ele por

um Estado que o circunda e, de certa forma, já conta com sua futura força, braços e

pernas (DUBY e PERROT, 2004).

Ainda se falando da Revolução, Jacobsen (2009) argumenta que, a partir dela

e por causa dos elementos abordados acima, o aborto passa a ser tema central de

discussão estatal, de interesse público; a partir dela, a taxa de natalidade significava

uma mostra de força, dado o número de trabalhadores e soldados que eles

significavam e que os países em fase de afirmação geopolítica necessitavam. A pauta

foi se ampliando, de forma que no século XIX – em especial depois da Revolução

Industrial – o ato de abortar significava uma posição social, econômica e política; a

partir dessa leitura, verifica-se um enfrentamento de instituições: de um lado, as

igrejas pautando a inviolabilidade da vida do feto; e, de outro, alguns países de cunho

mais liberal ou menos pautados pela religião, que postulam por questões de saúde da

mulher. Mesmo assim, a postura da gestante ainda é passiva, uma mera coadjuvante

nessa organização de embates (JACOBSEN, 2009).

Page 21: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

20

Um outro dado a ser observado nessa questão no século XIX é que,

independente das posições institucionais sobre o aborto, houve uma expansão

considerável do ato entre as classes mais populares, pelo crescente êxodo de

populações inteiras em direção à cidade e aumento de áreas de subúrbio com

problemas de saneamento, alimentação e condições razoáveis de vida, levando a

uma deterioração da vida dessas pessoas. Tal postura constituía um risco e alerta

para os detentores de mão de obra, que via no aborto uma estratégia para a queda

na oferta de mão de obra barata e de consumidores. Na classe alta, embora a prática

fosse comum, ainda assim era condenada de forma severa. Os meios de controle de

natalidade consistiam na repressão sexual dos seus membros (BARROSO, 1980).

Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a queda de vivos –

em especial de pessoas do sexo masculino – fez com que a pauta abortista

retrocedesse, com o endurecimento das políticas antiaborto e de evitação da gravidez,

além da estimulação da pauta natalista. Ao contrário desse movimento, na União

Soviética, aborto deixa de ser crime a partir de 1920, sendo considerado um direito da

mulher (BARROSO, 1980).

Tendo como pano de fundo a instauração do nazifacismo, a pauta antiabortiva

se organizou de forma mais severa nos países que as implantaram, em especial entre

os anos de 1930 a 1945. A frase ideológica máxima adotada era de que se criassem

“filhos para a pátria”. Em determinados países, o aborto era considerado um crime

contra a nação, passível de punição com pena de morte (JACOBSEN, 2009).

Após esse período as leis que versavam sobre aborto só foram sofrer alguma

modificação a partir de 1960 uma vez que, de forma mais drástica do que ocorreu na

Primeira Guerra, a diminuição do contingente masculino amparava a manutenção

desses arcabouços legais; a exceção dessa regra eram os países escandinavos,

socialistas e o Japão, cuja legislação pró-aborto versa de 1948, em uma tentativa clara

de reduzir a população masculina para manter um exército frágil e de pouco

contingente (JACOBSEN, 2009).

Iniciado nos anos de 1960, uma revolução cultural e política dava as cartas na

organização legal sobre aborto. Seguindo a estrada aplainada pela Revolução Sexual,

há um claro posicionamento para que a decisão da mulher seja respeitada, de forma

que se legalize nos países formas de aborto que prezem pelo desejo da mesma em

manter ou não a gravidez. O movimento feminista, cuja eclosão se dá

aproximadamente no mesmo período, vem pautado de pensadores como Judith

Page 22: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

21

Butler, Michel Foucault e Simone de Beauvoir, contestando o papel da mulher como

instrumento da vontade masculina e insurgindo posições filosóficas e legais para que

uma estratégia libertária e emancipadora seja cada vez mais ampliada. Assim,

modifica-se paulatinamente a posição da mulher na sociedade contemporânea,

pautada também por interesses de ordem político-econômica. Em termos de

dispositivos legais, houve desde a década de 1970 acentuação da pauta abortista e

libertária feminista nas leis dos países, de forma que em 1976 2/3 da população

mundial já habitava sob a pauta de legislações mais liberais (SCHOR e ALVARENGA,

1994).

No Brasil, o abortamento é o nome correto para ser aplicado ao processo em

que a mulher realiza o aborto, enquanto que aborto é o produto gerado. A legislação

do aborto diverge entre os países. A figura abaixo ilustra os países e as possibilidades

de aborto. Percebemos que as leis mais liberais estão nos países do hemisfério Norte.

Figura 1. Legislação sobre o aborto no mundo. Fonte: ONU (2011).

2.2 Aborto no Brasil

No Brasil, o abortamento é o nome correto para ser aplicado ao processo em

que a mulher realiza o aborto, enquanto que aborto é o produto gerado. Ele é

considerado crime e tipificado entre os artigos 124 a 128 do Código Penal Brasileiro

(CPB). A detenção para a prática irá depender da gravidade e qualificação do crime

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22

cometido, assim como a responsabilidade dos envolvidos no processo. Abaixo estão

descritos os artigos supracitados:

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) Pena – detenção, de um a três anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de três a dez anos. Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) Pena – reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Forma qualificada Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Pelo disposto acima, não se pune o médico que realize o aborto, observando

as condições dispostas nos artigos I e II. Pelo Código Penal (CP) percebemos que

não há uma definição formal para o aborto, bem como do limite gestacional para

considerar o aborto, o que na prática enquadra-se que a interrupção da vida em

qualquer idade gestacional é considerado aborto e tipificado dentro da lei.

Em 2012, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) foi incluído que

no caso de gestações que resultem na formação de bebês anencéfalos será

possibilitado o abortamento por parte da mulher que o deseje fazê-lo. A decisão na

época gerou bastante discussão de âmbito ético.

Além de questões éticas, o aborto envolve uma discussão em torno da saúde

da mulher bem como das políticas de assistência à mesma. As políticas nacionais de

saúde no Brasil datam das primeiras décadas do século XX, restrita neste primeiro

momento às demandas referentes à gravidez e ao parto. Os programas materno-

infantis, criados nas décadas de 1930, 1950 e 1970, traduziam uma visão limitada

sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de

mãe e doméstica, responsável pela criação, educação e cuidado com a saúde dos

filhos e demais membros da família (BRASIL, 2007).

Page 24: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

23

Historicamente, a posição das mulheres, no que se refere às normas sexuais e

reprodutivas, era um dos pontos de maior tensão no momento da elaboração e da

aplicação de leis e políticas. Geralmente, estas leis e políticas estabeleciam mais

restrições à liberdade sexual e reprodutiva feminina, justificadas como necessárias

para a reprodução e o desenvolvimento saudável da população (VENTURA, 2009).

De acordo com Anjos (2013), a questão do aborto ilegal pode ser considerado

um problema de saúde pública:

Uma das problemáticas referentes ao aborto, que emerge como questão de saúde pública, é a sua forma de realização, que ocorre, na maioria das vezes, de maneira clandestina e insegura, provocando várias implicações biopsicossociais à mulher. Além disso, abortar em condições desfavoráveis à saúde é uma violação dos direitos humanos, principalmente para as mulheres com baixo grau de escolaridade, pobres e negras (ANJOS, 2013).

Anjos (2013) pontua que o aborto ilegal no Brasil afeta principalmente uma

parte da população mais vulnerável, que são mulheres negras, as mais jovens e com

menor acesso à informação.

Por outro lado, temos o aborto legal, que é aquele respaldado em lei. A

regulamentação nacional do aborto legal surgiu em 1999, com uma publicação de uma

Norma Técnica (NT) do Ministério da Saúde (MS) intitulada: Prevenção e Tratamento

dos Agravos Resultantes de Violência Sexual (PTARVS), que estimulava e

normatizava os serviços no país. A versão mais recente é a sua 3ª edição do ano de

2012 e que serve de guia para os estados brasileiros (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2012). O documento do Ministério da Saúde (MS) estabelece que para a prática do

aborto legal nos casos em que a mulher se diga vítima de violência sexual, é

necessário apenas a confissão da mulher e a assinatura de alguns termos juntamente

com a equipe médica: Termo de Relato Circunstanciado (TRC, ANEXO I), Parecer

Técnico (PT, ANEXO II), Termo de Aprovação de Procedimento de Interrupção da

Gravidez Resultante de Estupro (TAPIGRE, ANEXO III), Termo de Responsabilidade

(TR, ANEXO IV) e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, ANEXO V).

O fato de não haver necessidade de comprovação policial para a prática do

aborto legal nos serviços de referência ao aborto implica em um dilema ético, quando

o médico se recusa. O caso hipotético de surgimento de um dilema ético ocorre a

partir do momento que uma mulher sem relato policial de estupro deseja realizar

abortamento alegando violência sexual, e do outro lado um médico que se recusa a

Page 25: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

24

realizá-lo por alguma objeção de consciência (que vai de encontro às convicções

morais do médico).

É garantido ao médico a objeção de consciência e o direito de recusa em

realizar o abortamento em casos de gravidez resultante de violência sexual. No

entanto, é dever do médico informar à mulher sobre seus direitos e, no caso de

objeção de consciência, deve garantir a atenção ao abortamento por outro profissional

da instituição ou de outro serviço. Não se pode negar o pronto atendimento à mulher

em qualquer caso de abortamento, afastando-se, assim, situações de negligência,

omissão ou postergação de conduta que viole a lei, o código de ética profissional, e

os direitos humanos das mulheres (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

Segundo o artigo 7 do cap. I do Código de Ética Médica (CEM): “O médico deve

exercer a profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços

profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro médico, em casos de

urgência, ou quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis ao paciente”. O

artigo 2 do cap. II acrescenta que é direito do médico: “Indicar o procedimento

adequado ao paciente, observadas as práticas reconhecidamente aceitas e

respeitando as normas legais vigentes no país”.

Também é direito do médico, artigo 9: “Recusar a realização de atos médicos

que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência”. No

entanto, é vedado ao médico: “Descumprir legislação específica nos casos de

transplante de órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e abortamento”,

conforme o artigo 15 do cap. III.

O fato foi ainda mais acirrado a partir da publicação da Portaria nº.1.508, de 1º

de setembro, que confirma o que já era preconizado pela Norma Técnica (NT) de

1999: a não obrigatoriedade de um registro policial por parte da vítima de violência

sexual para realização do abortamento. Esta decisão é coerente com o Código Penal

(CP), pois o mesmo não obriga nenhuma documentação para realização do

abortamento. O problema ético surge quando há desconfiança médica de que a vítima

não tenha sofrido estupro, por exemplo quando há incompatibilidade do tempo

relatado de acontecimento do estupro e a idade gestacional.

Os médicos obstetras que compõem um serviço de aborto legal devem estar

preparados e aptos para tal, incluindo uma equipe que não possua objeção de

consciência para a prática do aborto. Além disso, apesar de existir o serviço no país,

muitas mulheres ainda têm dificuldade para acesso ao mesmo (MADEIRO, 2016).

Page 26: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

25

A situação do atendimento nos serviços públicos às mulheres vítimas de

violência sexual no Brasil foi alvo de duas pesquisas em 2005. A primeira delas avaliou

56 hospitais listados como serviços especializados para a interrupção da gravidez

prevista em lei (TALIB; CITELI, 2005). Os dados mostraram que somente 37 deles

estavam capacitados para o aborto legal; que 5 nunca tinham realizado esse

procedimento e que, em 6 Estados, não havia serviço estruturado. Além disso, 70%

dos atendimentos ocorreram na região Sudeste, cujos serviços receberam

encaminhamentos de todas as regiões do país. O segundo estudo, que entrevistou

gestores e profissionais de 1.395 estabelecimentos de saúde que prestavam

atendimento às mulheres vítimas da violência sexual, mostrou que apenas 12% dos

serviços haviam realizado pelo menos um aborto; 53% ofertavam anticoncepção de

emergência; e, 45% ofereciam profilaxia contra HIV (ANDALAFT-NETO et al., 2012).

Madeiro e Diniz (2016) publicaram um estudo cujo objetivo era descrever os

resultados de um estudo censitário nos serviços especializados que atendem

mulheres vítimas de violência sexual e habilitados para o aborto previsto em lei no

país, e apresentar dados atualizados sobre a estrutura dos serviços e a situação do

atendimento à violência sexual, além do perfil das mulheres e das características do

aborto. Foram identificados 68 serviços listados em funcionamento pelo Ministério da

Saúde (MS) em 2009, entretanto apenas 37 (54%) realizavam o abortamento em

casos de estupro. O estudo ainda identificou algumas dificuldades nos serviços como

pequena disponibilidade de médicos, necessidade de maior capacitação das equipes

quanto à ampliação do conhecimento sobre a legislação e sobre a garantia de direitos

em saúde sexual e reprodutiva. O estudo conclui que ainda há distanciamento entre

a previsão legal e a realidade dos serviços. A implementação de novos serviços e o

fortalecimento dos existentes são ações necessárias.

2.3 Fundamentação Metodológica

O presente estudo enquadra-se como observacional, transversal, descritivo e

prospectivo. No estudo observacional o pesquisador simplesmente observa o paciente

ou participantes, as características da doença, transtorno, agravo ou condição em

análise e sua evolução, sem intervir ou modificar qualquer aspecto que esteja

estudando.

Page 27: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

26

Os estudos transversais são estudos em que a exposição ao fator ou causa

está presente ao efeito no mesmo momento ou intervalo de tempo analisado. Aplicam-

se as investigações dos efeitos por causas que são permanentes, ou por fatores

dependentes de características permanentes dos indivíduos, como efeito do sexo ou

cor da pele sobre determinada doença (CAMPANA, 2011).

Os estudos transversais descrevem uma situação ou fenômeno em um

momento não definido, apenas representado pela presença de uma doença ou

transtorno, como, por exemplo, um estudo das alterações na cicatrização cutânea em

pessoas portadoras de doenças crônicas, como o diabetes (BAILAR, 1994). Assim

sendo, não havendo necessidade de saber o tempo de exposição de uma causa para

gerar o efeito, o modelo transversal é utilizado quando a exposição é relativamente

constante no tempo e o efeito (ou doença) é crônico.

Portanto, esse modelo apresenta-se como uma fotografia ou corte instantâneo

que se faz numa população por meio de uma amostragem, examinando-se nos

integrantes da casuística ou amostra, a presença ou ausência da exposição e a

presença ou ausência do efeito (ou doença) (HADDAD, 2004). Possui como principais

vantagens o fato de serem de baixo custo, e por praticamente não haver perdas de

seguimento.

A classificação de prospectivo refere-se à temporalidade do estudo.

Prospectivo (estudo contemporâneo, prospectivo concorrente, concorrente). Monta-

se o estudo no presente, e o mesmo é seguido para o futuro (FLETCHER e

FLETCHER, 2003). Apresenta as exigências inerentes à padronização e qualidade

das informações colhidas.

Page 28: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

27

3 MATERIAL E MÉTODO

3.1 Tipo de Estudo

A presente pesquisa é caracterizada como observacional, transversal,

descritiva e prospectiva. O período dos dados refere-se ao intervalo entre janeiro de

2019 e março de 2019. O estudo foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) com o Parecer de nº3.007.016 (CAAE: 02388918.6.0000.0039), conforme

consta no Anexo VI.

3.2 Cenário de Estudo

A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública do Estado de Alagoas.

Esta maternidade corresponde a uma unidade complementar assistencial, realizando

atendimentos de alta e média complexidade e é referência estadual para gestantes

de alto risco. A maternidade realiza serviços como: atendimento ambulatorial à

gestantes de alto risco, atendimento ginecológico, mastologia, seguimento de recém-

nascidos de alto risco pós-alta hospitalar, atendimento de pacientes na triagem

neonatal, acompanhamento de inúmeras especialidades médicas como cardiologia

adulta e pediátrica, nefrologia, endocrinologia, pneumologia infantil, ultrassonografia,

psicologia, nutrição e serviço social.

Além dessa grande diversidade de serviços realizados, a maternidade presta

assistência à pessoa vítima de violência sexual, sendo a referência no Estado para a

execução de procedimentos de abortos às mulheres que desejem realizar tal

procedimento em casos de violência sexual, motivo pelo qual optou-se em realizar a

pesquisa nesta instituição.

O serviço de atendimento às vítimas de violência sexual foi implementado a

cerca de 5 anos e os obstetras que já compunham o quadro oficial da maternidade

foram requisitados a participarem do serviço, sendo realizado algumas aulas sobre

uso de medicamentos e o fluxograma de atendimento no serviço.

Page 29: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

28

3.3 Amostra da Pesquisa

Médicos obstetras que recebem as vítimas de violência sexual (estupro) para

realização de abortos na Maternidade Escola Santa Mônica (MESM). A coleta de

dados foi realizada com todos os médicos que atendem vítimas de violência sexual.

Ao total 26 médicos fazem parte do quadro permanente e todos serão incluídos na

pesquisa.

3.4 Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada por um único pesquisador em local reservado

(sala). Utilizou-se como meio de coleta das informações um questionário estruturado

com questões sociodemográficas, conhecimento legal e ético dos profissionais

participantes da pesquisa (APÊNDICE A). Inicialmente o pesquisador explicou o

propósito da pesquisa e em seguida entregou o questionário para resposta, sendo

informado ao pesquisado que o mesmo não poderá consultar meios adicionais para

consulta. O pesquisador explicou os procedimentos éticos e formais da pesquisa e,

logo após entrega do questionário, se ausentou da sala para que o pesquisado

sentisse mais confortável em responder as questões.

O desenvolvimento do questionário foi baseado em estudos prévios da

literatura (CURLIN et al., 2007; LAWRENCE, CURLIN, 2009; COMBS et al., 2011;

HARRIS et al., 2011). Ele é composto por 4 itens: informações gerais; conhecimento

legal; posição ética e questões relacionadas ao serviço. O título do questionário

contém informações de identificação do sujeito para fins de organização interna dos

dados, e inclui o número da ficha, ano/mês da coleta e as iniciais do pesquisado. O

primeiro item é de ‘informações gerais’, onde incluiu-se a caracterização social,

demográfica, profissional e religiosa dos participantes. O segundo item serviu para

aferir o conhecimento legal, de algumas questões sobre aborto no Brasil. O terceiro

item englobou a posição ética do médico em relação às questões de cunho ético-

prático, e, por fim, o quarto item envolveu questões relacionadas ao serviço da

maternidade.

A coleta ocorreu entre os meses de janeiro de 2019 a março de 2019.

Page 30: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

29

3.5 Análise de Dados

Todos os dados da pesquisa foram inicialmente tabulados no programa

Microsoft Office Excel. Serão, então, exportados para o Software Statistical Package

for the Social Sciences (SPSS, version 20.0). Foram calculados os percentuais e as

frequências absolutas de cada variável. Inicialmente foi realizada uma análise

exploratória dos dados, em seguida foi feito um estudo detalhado sobre os

percentuais, identificando resultados mais relevantes e trazendo para discussão.

Page 31: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

30

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Descrevemos aqui os resultados descritivos de um total de 26 médicos

obstetras do serviço de referência à realização do aborto legal no Estado de Alagoas.

A média de idade da amostra foi de 49 anos (± 6,5). A Tabela 1 abaixo descreve todas

as demais características gerais da amostra. Cabe ressaltar o maior número de

mulheres obstetras que compõem o serviço, a maioria se diz de religião católica e com

especialidade/residência específica em ginecologia/obstetrícia.

Tabela 1. Descrição das características gerais da amostra de médicos obstetras do serviço de referência à prática de aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil.

Variáveis N % Sexo feminino 22 84,6 masculino 4 15,4 Estado Civil casado 11 42,3 separado 8 30,8 solteiro 4 19,2 união estável 2 15,4 viúvo 1 3,8 Raça Declarada parda 13 50,0 branca 12 46,2 preto 1 3,8 Possui Religião? sim 26 100,0 não - - Religião católica 22 84,6 espírita 2 7,7 não registrado 2 7,7 Especialização/residência? sim 26 100,0 não - - Especialidade/residência? ginecologia/obstetrícia 23 88,5 ginecologia/obstetrícia/anestesiologia 1 3,8 ginecologia/obstetrícia/clínica médica 1 3,8 ginecologia/obstetrícia/colposcopia 1 3,8

Fonte: Elaboração própria.

O número de obstetras do sexo feminino foi bem superior ao de homens.

Observando a distribuição nacional para o sexo, ainda há uma pequena

predominância de homens, mas este quadro vem mudando nos últimos anos. Dados

Page 32: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

31

do Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2018 mostram que o número de mulheres

na faixa-etária jovem já é superior ao dos homens (SCHEFFER, 2018).

O Gráfico 1 abaixo descreve as respostas dos médicos quanto ao entendimento

que eles possuem a respeito da legalidade do aborto no país. Apenas 19,2% (n = 5)

identificaram corretamente os três casos em que a legislação brasileira permite a

realização da prática do aborto. A maioria correspondente a 38,5% (n =10) acredita

ser apenas os casos de estupro em que a prática possa ser realizada. Cabe salientar

que apenas em três situações há possibilidade de abortamento por vias legais:

estupro, risco de morte materna e, mais recentemente, anencefalia pela ADPF-54. É

preocupante o fato de que mesmo os médicos do serviço de referência para o aborto

legal desconheçam a legislação para o aborto.

Estudo nacional realizado em 2002 com obstetras e ginecologistas brasileiros

filiados à Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia

(FEBRASGO) encontrou que 90% destes profissionais identificavam corretamente as

possibilidades de aborto legal (FAUNDES, 2004). Cabe ressaltar que na época ainda

não estava incluso na lei os bebês anencéfalos. Outro estudo mais recente realizou

uma comparativa entre médicos de um hospital referência para violência sexual e

médicos de um hospital geral, e não encontrou diferenças significativas sobre

conhecimento a respeito da legislação do aborto. De uma forma geral, ambos os

grupos de médicos conheciam bem as três condições de aborto legal (FRANÇA

JÚNIOR, 2015). Os nossos achados, entretanto, mostraram que menos da metade

julgou corretamente as possiblidades de aborto legal.

Page 33: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

32

Gráfico 1. Conhecimento dos médicos obstetras quanto à legalidade do aborto legal no Brasil. N = 26. Alagoas, Brasil. Fonte: Elaboração própria.

Todos os participantes da pesquisa afirmaram que os médicos podem se negar

a realizar a prática do aborto dentro do serviço de referência, sendo que a maioria

(57,7%; n = 15) revelou que a religião é a principal justificativa para a prática. O Gráfico

2 abaixo detalha os motivos de objeção de consciência apresentados pelos médicos

no questionamento sobre os motivos de não realizar o aborto legal.

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Estupro apenas

Estupro e Anencefalia

Estupro, Anencefalia e Risco Materno

Estupro e Risco Materno

Anencefalia apenas

10

7

5

3

1

38,5%

27,0%

19,2%

11,5%

3,8%

No Brasil, em quais casos é considerado aborto legal?

% n

Page 34: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

33

Gráfico 2. Razões elencadas pelos médicos obstetras para não realizar a prática do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil. Fonte: Elaboração própria.

O Gráfico 3 abaixo exibe o conhecimento que os médicos obstetras possuem

sobre o órgão que regulamenta a possibilidade do obstetra se negar a realizar algum

ato médico. A maioria (61,5%; n = 16) acredita ser o Código de Ética Médica (CEM).

Gráfico 3. Conhecimento dos médicos obstetras quanto ao órgão que regulamenta a possibilidade de realização do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil. Fonte: Elaboração própria.

0 10 20 30 40 50 60

Religião apenas

Alguma Objeção de Consciência

Religião e Ética

Religião e Motivos Pessoais

Religião e Moral

Caso tenha outro médico

Não informou

15

2

2

1

1

1

3

57,7%

7,7%

7,7%

3,8%

3,8%

3,8%

11,5%

Motivo para o médico não realizar aborto legal

% n

0 10 20 30 40 50 60 70

Código de Ética Médica

Conselho Federal de Medicina

Código Penal Brasileiro

Não Sei

Não Informou

16

4

2

3

1

61,5%

15,4%

11,5%

7,7%

3,8%

Qual órgão regulamenta a possibilidade do médico recusar-se a realizar o aborto?

% n

Page 35: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

34

A Tabela 2 expõe os dados referentes à posição ética dos médicos obstetras

do serviço de referência ao aborto legal em Alagoas. Quase todos os obstetras

(96,2%; n = 25) julgam ser ético que o médico explique à vítima os motivos da recusa

em abortar a vítima de violência sexual, assim como a maioria afirmou encaminhar a

um obstetra do serviço que o faça. Chama atenção o fato de que 42,4% (n = 11) dos

médicos do serviço de aborto legal de Alagoas não serem a favor da prática do aborto

em casos de estupro. Outro dado interessante é que 65,4% dos médicos do serviço

não se sentem preparados para estarem nele, mesmo sendo referência no Estado.

Tabela 2. Descrição da posição ética dos médicos obstetras quanto à prática do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil.

Variáveis n % Você considera ético que o médico explique à vítima de violência sexual, as razões pelo qual o médico se nega a realizar o aborto legal?

Sim 25 96,2 Não 1 3,8 Você considera que o médico tem obrigação de explicar à vítima de violência sexual as possibilidades de procedimentos de aborto legal?

Sim 22 84,6 Não 4 15,4 Caso você se negue a realizar aborto legal em uma vítima de violência sexual, você considera que deve encaminhar a paciente a alguém que o faça?

Sim 23 88,5 Não 3 11,5 Você concorda que mulheres possam realizar o aborto nos casos em que elas aleguem ser vítimas de violência sexual?

Sim 14 53,8 Não 11 42,3 não sei 1 3,8 Você enfrentou algum dilema ético relacionado ao aborto na sua profissão?

Sim 15 57,7 Não 11 42,3 Você se considera apto para lidar com os casos de violência sexual?

Sim 9 34,6 Não 17 65,4

Fonte: Elaboração própria.

Page 36: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

35

Todos os médicos pesquisados (N = 26) afirmaram que o serviço não está

plenamente preparado para realização da prática do aborto. O Gráfico 4 expressa a

opnião dos médicos quanto à qualidade do serviço. Cabe ressaltar que a maioria acha

o serviço ruim (57,7%; n = 15), numa escala entre boa, intermediária e ruim.

Gráfico 4. Opinião dos médicos obstetras quanto à qualidade do serviço de aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil. Fonte: Elaboração própria.

O Quadro 1 exibe aquilo que os médicos julgam ser necessário para melhoria

do serviço. A pergunta foi realizada sem restrição de opções objetivando a liberdade

de expressão do médico quanto a mais de uma possibilidade. Desta forma, foram

computadas as principais citações que os médicos apontaram. As principais

sugestões elencadas pelos médicos do serviço foram: necessidade de uma equipe

mais capacitada/qualificada para integrar o serviço de aborto legal e um local que

fosse apropriado para realização do atendimento à vítima de violência sexual.

Os pontos elencados no Quadro 1 servirão de bases para estruturação de um

protocolo de atendimento à vítima de violência sexual no Estado de Alagoas.

1

10

15

3,8%

38,5%

57,7%

0 10 20 30 40 50 60 70

Boa

Intermediária

Ruim

Qualidade do Serviço

% n

Page 37: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

36

Quadro 1. Descrição das melhorias elencadas pelos obstetras que o serviço de aborto legal deve realizar. Melhoria necessária para o serviço segundo os médicos Número de

citações

equipe mais capacitada e treinada para integrar o serviço 21x

local mais apropriado para atendimento à vítima de violência

sexual

16x

melhorar o acolhimento à vítima 5x

necessidade de medicações adequadas 5x

precisa unificar o serviço (concentrar) 4x

diminuir a lotação da maternidade 3x

laboratórios para exames de coleta de sêmen 2x

necessidade de protocolo 2x

Fonte: Elaboração própria.

Page 38: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

37

5. PRODUTOS DA PESQUISA 5.1 Protocolo de Estruturação do Serviço de Atendimento à Vítima de Violência Sexual no Âmbito do Aborto Legal no Serviço de Referência do Estado de Alagoas

Tendo em vista as falhas que o serviço de referência às vítimas de violência

sexual em Alagoas possui, um dos produtos desta dissertação é a estruturação de um

protocolo para reestruturação do serviço. A equipe responsável pela pesquisa

conseguiu estreitar uma relação com a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas

(SESAU) e o protocolo aqui descrito já está sendo usado como base para a

estruturação do seviço de aborto legal no Hospital da Mulher. A mediação desta

relação ocorreu via parceria com a Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual

(RAVVS).

Desta forma a proposta é que o serviço de aborto legal às vítimas de violência

sexual seja modificado do local anteriormente instalado na MESM para a nova

estrutura do Hospital da Mulher (HM). Cabe ressaltar que o presente protocolo é

apenas o ponta-pé incial e é passível de melhorias durante a sua fase de implantação

juntamente com médicos do serviço.

A mudança do serviço foi iniciada em novembro de 2019 com a inauguração

do HM, com serviços que visam o acolhimento da paciente em atendimento. A “Área

Lilás” faz parte do espaço onde médicos peritos, psicólogos, enfermeiros, assistentes

sociais, médicos ginecologistas e autoridade policial, podem como equipe

multidisciplinar realizar tal acolhimento, tendo a paciente medicação, vacinas,

contracepção de urgência e profilaxia de HIV. A autoridade policial está apta a emitir

o Boletim de Ocorrência (BO).

Na sequência, será feita uma capacitação dos médicos do HM para apresentar

e discutir o protocolo estruturado. A referida capacitação será feita por uma médica

ginecologista que tem trabalhado juntamente com a equipe de pesquisa da presente

dissertação e o coordenador do serviço, que conhecem a realidade do atendimento

às vítimas.

Os resultados da capacitação estarão contidos como parte dos resultados de

uma pesquisa ao qual a referida médica está realizando, apresentando resultados

assertivos sobre o andamento do protocolo/fluxograma.

Mais abaixo estão contidos a versão inicial do nosso: “Protocolo Médico de

Atendimento às Mulheres com Relato de Estupro que Desejam Realizar Abortamento”

e o Fluxograma de Atendimento.

Page 39: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

38

HOSPITAL

Protocolo Médico de Atendimento às Mulheres com Relato de Estupro que Desejem Realizar Abortamento

(Versão Final)

Equipe de Elaboração: -Robério Garbini (Coordenador do Serviço de Atendimento as Vìtimas de Violência Sexual do Hospital da MESM, Médico Obstetra e Mestrando de Pesquisa em Saúde do Centro Universitário Cesmac) -Lavici Garbini (Médica Ginecologista, Mestrando de Pesquisa em Saúde do Centro Universitário Cesmc -Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa (Professor do Centro Universitário Cesmac e Coordenador do LABEV-Laboratório de Estudos da Violência no Estado de Alagoas) Apoio de Execução: -Camile Wanderley (Coordenadora do RAVVS)

Ano: 2019 Público-Alvo: Médicos Obstetras de Alagoas habilitados para procedimentos de aborto

Justificativa: Após pesquisa realizada com os médicos obstetras do Serviço de Referência para realização do aborto legal em Alagoas, viu-se a necessidade de estruturação de um protocolo para melhor atendimento às vítimas de violência sexual e um melhor preparo e apoio aos médicos que integram o serviço, além de melhorias do próprio serviço. Constatou-se uma ausência de normas, rotina e indicadores precisos para o atendimento. O presente Protocolo é, portanto, um guia para o atendimento a vítima mulher que deseje realizar abortamento devido ao estupro.

A Legalidade Brasileira sobre o Aborto: Pela Legislação Brasileira existem apenas três possibilidades legais de não punição para a prática do abortamento induzido:

Anencefalia (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54, ADPF-54 de 2012)

Estupro (Código Penal Brasileiro, Art. 128 de 19140)

Risco de Morte Materna (Código Penal Brasileiro, Art. 128 de 19140) A regulamentação do serviço de aborto legal aconteceu apenas em 1999, sendo atualizada em 2005 e 2011. A Ética Médica e a Prática do Aborto Legal: Pelo Código de Ética Médica no seu capítulo ‘Direito dos Médicos’ em seu artigo IX onde fala: “É direito do Médico: IX – Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência”. Cabe ressaltar que o médico do serviço de referência que se opor a atender a vítima baseado neste argumento deverá encaminhar a um profissional do serviço que o faça. Acolhimento Institucional as Vítimas de Violência Sexual: O primeiro contato com a vítima de violência sexual é crucial para um melhor entendimento do caso e para que o direcionamento correto seja feito. A mulher que adentrar pela recepção, seja encaminhada ou de demanda espontânea ao Hospital da Mulher, com relato de violência sexual deverá ser encaminhada ao setor de acolhimento do hospital, onde será ouvida e avaliada por uma equipe multiprofissional.

Objetivo: Orientar e capacitar os médicos obstetras responsáveis pelo atendimento de aborto legal em Alagoas para um melhor atendimento a mulher vítima de violência sexual com entrada no Hospital da Mulher.

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39

Medicação/Procedimentos: As medicações e procedimentos utilizados deverão seguir as recomendações do Ministério da Saúde: 1ª opção -Amiu 2ª opção -Medicações para abortamento 3ª opção -Curetagem concencional

Orientação para o Boletim de Ocorrência: Na situação atual relativa ao aborto legal no Brasil, a mulher que deseseje abortar com relato de estutpro não necessita apresentar o Boletim de Ocorrência (BO), entretanto ela deve ser aconselhada pela equipe multiprofissional a realizar tal procedimento, objetivando um aparato legal tanto para a vítima quanto para a equipe. Entretanto deve ser reconhecido que o Ministério da Saúde não obriga a apresentação de do BO por parte da vítima. O encaminhamento preferencial é para um agente policial que deverá integrar o Hospital da Mulher. Caso ela já tenha prestado queixa em outra delegacia será desnecessário outro encaminhando policial.

A Longitudinalidade do Atendimento à Vítima: O Hospital da Mulher contará com uma equipe especializada de acompanhamento da mulher estuprada, de forma que ela possa trabalhar a diminuição do trauma sofrido, havendo também possibilidade de encaminhamento a outros setores que realizem programas de combate e enfrentamento da violência sexual contra a mulher.

Da solicitação de exames: O médico obstetra deverá solicitar todos os exames para comprovação da idade gestacional e compatibilidade com o relato da vítima. Os exames deverão ser realizados e no retorno entregues para que o médico possa fazer a avaliação.

Equipe Multiprofissional: Toda mulher que relatar abuso/violência sexual deverá ser ouvida cuidadosamente em sala reservada por uma equipe multiprofissional. Uma anamnese detalhada permitirá conhecer a história do relato, bem como o convívio familiar ao qual a mulher está inserida. Isto poderá auxiliar na orientação que a equipe pode fazer a vítima que deseje um auxílio para o enfrentamento da violência . A equipe deverá constar minimamente de: médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, psciologo, assistente social.

Da Notificação: Deve ser lembrada que a notificação de violência sexual é compulsória, devendo ser preenchida a ficha de notificação do Sistema Nacional de Notificação de Agravos―SINAN (Portaria nº 104, de 25 de Janeiro de 2011).

Menores de 18 anos: A vítima menor de 18 anos deverá estar acompanhada pelos pais ou responsável legal. A autorização para realização do aborto deverá ser consentida pelo responsável, que irá assinar em nome do menor de idade.

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39

FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO ÀS MULHERES COM RELATO DE ESTUPRO QUE DESEJEM REALIZAR ABORTAMENTO

MULHER > 18 ANOS GESTANTE COM RELATO DE ESTUPRO

PORTA DE ENTRADA: O ACOLHIMENTO DEVE SER FEITO NO HOSPITAL DA MULHER)

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

PREENCHIMENTO DA FICHA DE

NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DO SINAN

SOLICITAÇÃO DE EXAMES

RETORNO PARA CONFIRMAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL (NEXO

CAUSAL)

DESEJA ABORTAR

NÃO DESEJA

ABORTAR

MÉDICO DO PLANTÃO

REALIZA O

ABORTO?

SIM

NÃO

ABORTAMENTO +ASSISTÊNCIA

ENCAMINHAMENTO PÓS-CIRURGIA PARA

ACOMPANHAMENTO, INCLUSIVE PROGRAMAS

DISPONÍVEIS DE ENFRENTAMENTO DA

VIOLÊNCIA SEXUAL

ACONSELHAMENTO PARA IMPORTÂNCIA DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA. O HOSPITAL DA MULHER DEVERÁ POSSUIR UM

APORTE POLICIAL PARA REALIZAR ESTE PROCEDIMENTO, OU

ENCAMINHAR E DAR SUPORTE AO ENCAMINHAMENTO

PREENCHER OS TERMOS

NECESSÁROS DO HOSPITAL

ENCAMINHAR AO OBSTETRA QUE POSSA

REALIZAR

PRÉ-NATAL (POSSIBILIDADE DE

ENCAMINHAR A

ADOÇÃO)

< 18 ANOS GESTANTE COM RELATO DE ESTUPRO

CASO NÃO HAJA CONCORDÂNCIA ENTRE A ADOLESCENTE E O RESPONSÁVEL LEGAL,

ENCAMINHAR AO CONSELHO TUTELAR OU A PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA

JUVENTUDE

Page 42: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

40

5.2 Artigo Científico

O artigo científico (Apêndice B).

Page 43: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

41

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da presente dissertação apontam que os profissionais obstetras

do serviço de referência para a prática de aborto legal não se sentem capacitados

para tal prática, e também percebem que o serviço não está preparado para a prática

de tais procedimentos. Também foi identificado que os profissionais apresentam certo

grau de objeção à prática do aborto mesmo em condições de legalidade, o que reforça

a falta de aptidão para lidar com este tipo de serviço.

O protocolo do presente estudo já encontra-se em uso e está servindo de base

para a estruturação de um serviço mais qualificado e capacitado para a prática do

aborto legal em vítimas de estupro. Isto tem sido alcançado com um estreito

relacionamento com a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (SESAU) e da Rede

de Atenção às Vìtimas de Violência Sexual (RAVVS), por meio do apoio para

estruturação do serviço em um novo Hospital que tem sido referência para o serviço

de abortamento legal no Estado. Além disso, o novo serviço possui uma equipe mais

capacitada tanto do ponto de vista técnico, quanto ético e legal, características que

somadas ao novo espaço físico possibilitará uma melhor atenção à vítima de violência

sexual.

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42

REFERÊNCIAS ADPF-54. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54. Distrito Federal. 2012. BAILAR III, J.C.; LOUIS, T.A.; LAVORI, P. W.; POLANSKY, M. Uma classificación de los informes de investigación biomédica. In: OPS: Oficina Sanitária Panamericana. Aspectos metodológicos, éticos y prácticos en ciencias de la salud. Publicación Científica n. 550; 1994. p.3-13. BARROSO, C.; CUNHA, M. J C. O que é o aborto, frente de mulheres feministas. São Paulo: Cortez, 1980. BENUTE. Abortamento espontâneo e provocado: ansiedade, depressão e culpa. Rev Assoc Med Bras, 2009; 55(3):322-7. BRASIL. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. 2007. BRASIL. Resolução nº466, de 12 de Dezembro de 2012. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2013/06_jun_14_publicada_resolucao.html. Acesso em: 20 Jul. 2018. CAMPANA, A.O.; PADOVANI, C.R.; IARIA, C.T.; FREITAS, C.B.D.; DE PAIVA, S.A.R.; HOSSNE, W.S. Investigação científica na área médica. 1st ed. Sao Paulo: Manole; 2001. CÓDIGO PENAL BRASILEIRO. Decreto-Lei nº2.848, de 7 dezembro 1940, alterado pela Lei nº9.777, de 26 dezembro 1998 [Internet]. 1998. COMBS et al. Conscientious refusals to refer: Findings from a national physician survey. Med Ethics. 2011, July; 37(7):397–401. CURLIN et al. Religion, Conscience, and Controversial Clinical Practices. N engl j med 356;6. february 8, 2007. DUBY, G.; PERROT, M. História das Mulheres no Ocidente: a antiguidade. Porto: Edições Afrontamento, 2004.

Page 45: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

43

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OMS. Global consultation on violence and health. Violence: a public health priority. Geneva, WHO: 1996. OLINTO. Fatores de risco e preditores para o aborto induzido: estudo de base populacional. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(2):365-375, fev, 2006. PRADO, D. Que é aborto. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2018. São Paulo: Cremesp, 2018. 286 p. SCHOR, N.; ALVARENGA, A. T. O aborto: um resgate histórico e outros dados. Journal of Human Growth and Development. V. 4, n. 2, p. 17-22. 1994. VENTURA, M. Direitos Reprodutivos no Brasil. 3. ed. rev. ampl. Brasília: Fundo de População das Nações Unidas – UNFPA. 2009. VIEIRA. A questão do aborto no Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2010; 32(3):103-4.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO DE COLETA DA PESQUISA

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APÊNDICE B: ARTIGO CIENTÍFICO

Página de Título

Protocolo de atendimento às mulheres grávidas com relato de estupro e desejo de

abortamento no Estado de Alagoas

Robério Garbini (Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde, Centro Universitário Cesmac,

Maceió, AL, Brasil)

Lavici dos Anjos de Melo Garbini (Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde, Centro

Universitário Cesmac, Maceió, AL, Brasil)

Diego Figueiredo Nóbrega (Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde, Centro Universitário

Cesmac, Maceió, AL, Brasil)

*Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa (Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde, Centro

Universitário Cesmac, Maceió, AL, Brasil)

Autor Correspondente*

Endereço: Rua Prof. Ângelo Neto, 51, Farol-Maceió-AL, CEP: 57051-530 (Secretaria do

Mestrado Profissional)

Conflitos de interesse: Os autores declaram não possuir conflito de interesse.

Contribuições:

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Resumo

Objetivo: Delinear um protocolo de atendimento as vítimas de estupro que desejem realizar

abortamento por vias legais.

Métodos: Na primeira etapa foi realizado um estudo observacional, transversal e exploratório

com todos os 26 médicos obstetras que compunham o quadro do serviço de referência ao

atendimento de vítimas de violência sexual. Após investigação dos aspectos ético-legais entre

os médicos seguiu-se com a segunda etapa, a elaboração do protocolo e fluxograma de

atendimento, envolvendo a discussão com a Rede de Atenção à Violência Sexual no Estado e

especialistas no assunto.

Resultados: Foi identificado na primeira etapa que 11 (42,4%) dos 26 médicos do serviço de

referência eram contrários a prática do aborto; 17 (65,4%) não se julgam aptos a estarem no

serviço; 15 (57,7%) julgam o serviço ruim; e as principais limitações apontadas foram

necessidade de equipe mais qualificada e local mais apropriado. Um protocolo e fluxograma

foi construído a baseado nos resultados da primeira etapa e englobou questões como

acolhimento, solicitação de exames, necessidade de equipe multiprofissional, orientação para

notificação e longitudinalidade do cuidado.

Conslusão: O conhecimento do perfil médico obstetra do serviço de referência a vítimas de

violência sexual em Alagoas permitiu a construção de um protocolo de atendimento e

fluxograma para os casos de mulheres que optem pela interrupção da gravidez devido a estupro.

Palavras-chave: Aborto Legal; Aborto Criminoso; Estupro; Ética Médica; Jurisprudência.

Abstract

Objective: To outline a protocol for the care of rape victims who wish to have an abortion

legally.

Methods: In the first stage, an observational, cross-sectional and exploratory study was carried

out with all 26 obstetricians who made up the reference service for the care of victims of sexual

violence. After investigating the ethical-legal aspects among doctors, the second stage was

followed, the elaboration of the protocol and flowchart of care, involving the discussion with

the Network for Attention to Sexual Violence in the State and specialists on the subject.

Results: It was identified in the first stage that 11 (42.4%) of the 26 doctors in the reference

service were against the practice of abortion; 17 (65.4%) do not believe they are able to be in

the service; 15 (57.7%) considered the service poor; and the main limitations pointed out were

the need for a more qualified team and a more appropriate place. A protocol and flowchart was

built based on the results of the first stage and encompassed issues such as reception, ordering

tests, the need for a multidisciplinary team, guidance for notification and longitudinality of care.

Conclusion: Knowledge of the obstetrical medical profile of the reference service for victims

of sexual violence in Alagoas allowed the construction of a care protocol and flow chart for

cases of women who choose to terminate the pregnancy due to rape.

Keywords: Abortion, Legal; Abortion, Criminal; Rape; Ethics, Medical; Jurisprudence.

Page 51: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

49

Introdução

Estupro é definido pelo Código Penal Brasileiro como “constranger alguém, mediante

violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se

pratique outro ato libidinoso” (CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, 2009). Caso o estupro resulte

numa gravidez a legislação brasileira permite que a mulher opte pela interrupção da gestação,

ou assumir o recém-nascido, podendo ainda encaminhá-lo para adoção (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2012). Em 2018, ocorreram 66.041 casos de estupro, uma média de 180 por dia no

país, sendo que 55,8% das vítimas possuíam até 13 anos (FÓRUM BRASILEIRO DE

SEGURANÇA PÚBLICA, 2019).

A legislação da prática do aborto é divergente entre os países, no Brasil é considerado

crime e tipificado desde 1940 no Código Penal Brasileiro entre os artigos 124 a 128, gerando

detenção (CÓDIGO PENAL, 1940). A Suprema Corte de outros países como Estados Unidos

e Canadá permitem a prática do aborto sem que infringa as leis desses países, obviamente com

algum grau de regulamentação. O aborto no Brasil é somente perdoado judicialmente em três

casos: 1) risco materno; 2) em caso de estupro, em acordo com o Códido Penal; 3) em

nascimento de bebês anencéfalos, a partir da decisão de Arguição de Descumprimento de

Preceito Fundamental nº 54 (ADPF-54), de 2012 (BRASIL, 2012).

De acordo com a medicina, o aborto é definido como o nascimento de um feto com peso

inferior a 500g ou antes de 20 a 22 semanas completas, incompatível com a possibilidade de

vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012; VIEIRA, 2010). Fetos abortados acima desses valores

citados devem ser incluídos como vida perdida e ser feito a Declaração de Óbito (DO). A

Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Ginecologia e

Obstetrícia (FIGO) tratam o abortamento como um processo em que o produto final da gestação

gera um ser com menos de 16,5 cm (WIESE; SALDANHA, 2014). A justiça brasileira,

entretanto, não confere uma regulamentação para o limite gestacional.

Apesar de ser reconhecido em lei que a mulher vítima de estupro possa realizar o

abortamento, há um embate ético quando o médico de um serviço de referência em aborto legal

se recusa a realizar tal procedimento, baseado no Código de Ética Médica, no capítulo ‘Direito

dos Médicos’, em seu artigo IX onde consta: “É direito do Médico: IX – Recusar-se a realizar

atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência”

(CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA, 2017). A questão se acentua pelo fato de que o Ministério da

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50

Saúde por meio da Portaria 1.508 exige apenas o consentimento da mulher para realização do

abortamento, haja visto que o próprio Código Penal não impõe documento de notificação à

polícia para a prática do aborto legal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012; MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2005), o que por vezes gera insegurança nos médicos obstetras que realizam

procedimento de aborto legal nos serviços referenciados de cada Estado.

Os serviços de aborto legais deveriam possuir em seu quadro profissionais médicos que

não possuam objeção de consciência para a prática do aborto, uma vez que questões éticas

podem dificultar o processo de trabalho em um serviço que realiza cotidianamente

abortamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). Entretanto nem todos estados estão

prontamente preparados e capacitados para ofertar este tipo de serviço, apresentando por vezes

a ausência de pessoal capacitado, fluxograma adequado de atendimento bem como protocolos

de atendimento.

Apesar de já existirem protocolos para atendimento às vítimas de violência sexual no

Brasil, é escasso protocolos específicos para tratar o abortamento em mulheres com relato de

estupro. Desta forma, objetivamos neste estudo delinear um protocolo para atendimento às

mulheres com relato de estupro e necessidade de abortamento por vias legais, a partir do perfil

de quadro médico obstetra do serviço de referência ao aborto legal no Estado de Alagoas.

Métodos

Desenho de estudo

A presente pesquisa é caracterizada como observacional-seccional, prospectiva e

descritiva. Os dados referem-se ao intervalo entre janeiro de 2019 e março de 2019. O estudo

foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa com o parecer de nº 3.007.016 (CAAE:

02388918.6.0000.0039).

Cenário de pesquisa

A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública do Estado de Alagoas. Esta

maternidade corresponde a uma unidade complementar assistencial, realizando atendimentos

de alta e média complexidade e é referência estadual para gestantes de alto risco. A maternidade

presta assistência à pessoa vítima de violência sexual, sendo a referência no Estado para a

execução de procedimentos de abortos às mulheres que desejem realizar tal procedimento,

motivo pelo qual optou-se em realizar a pesquisa nesta instituição.

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51

O serviço de atendimento às vítimas de violência sexual foi implementado a cerca de 5

anos e os obstetras que já compunham o quadro oficial da maternidade foram requisitados a

participarem do serviço, sendo realizado alguns seminários sobre uso de medicamentos,

exames, e ao fluxograma de atendimento no serviço.

Participantes: etapa de investigação quantitativa

Os participantes da pesquisa foram todos os médicos obstetras plantonistas do serviço

de referência ao atendimento às vítimas de violência sexual do Estado de Alagoas. Ao todo 26

médicos foram incluídos na pesquisa.

A coleta de dados foi realizada por um único pesquisador em uma sala reservada.

Utilizou-se como instrumento de coleta das informações um questionário estruturado com

questões sociodemográficas, conhecimento legal e ético dos profissionais participantes da

pesquisa, bem como relacionadas ao serviço de atendimento. Inicialmente o pesquisador

explicou o propósito da pesquisa e em seguida entregou o questionário, sendo informado ao

participante que ele não poderia acessar quaisquer meios de informações para responder as

questões. O pesquisador explicou os procedimentos éticos e formais do estudo e logo após

entrega do questionário se ausentou da sala para que o pesquisado se sinta mais confortável em

responder as questões.

O desenvolvimento do questionário foi baseado em estudos prévios da literatura

(CURLIN et al. 2007; LAWRENCE, CURLIN, 2009; COMBS et al., 2011; HARRIS et al.,

2011). Ele foi composto por 4 items: informações gerais; conhecimento legal; posição ética e

questões relacionadas ao serviço. No título do questionário havia informações de identificação

do sujeito para fins de organização interna dos dados, e incluiu o número da ficha, ano/mês da

coleta, bem como as instruções para resposta. O primeiro item foi sobre ‘informações gerais’,

onde incluiu-se a caracterização social, demográfica, profissional e religiosa dos participantes.

O segundo item serviu para aferir o conhecimento legal, de algumas questões sobre aborto no

Brasil. O terceiro item englobou a posição ética do médico em relação às questões de cunho

ético-prático, e por fim, o quarto item envolveu questões relacionadas ao serviço da

maternidade.

Variáveis

As variáveis sociodemográficas foram: bairro de moradia, sexo, idade, estado civil, tipos

de especialidades médicas, religião, religiosidade (muito, moderado, um pouco) e etnia

declarada. O conhecimento legal dos médicos obstetras incluiu perguntas relacionadas a

Page 54: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

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legalidade do aborto no Brasil: “No Brasil, em quais casos o aborto é considerado legal”; “O

médico pode se negar a realizar aborto legal?”; “Qual o órgão/instrumento dispõe sobre

possibilidade do médico realizar ou não o aborto legal?”.

As variáveis relativas ao posicionamento ético do médico foram: “Você considera ético

que o médico explique a vitima de violência sexual, as razões pelo qual o médico se nega a

realizar o aborto legal?”; “Você considera que o médico tem obrigação de explicar a vítima de

violência sexual as possibilidade de procedimentos de aborto legal?”; “Caso você se negue a

realizar aborto legal em um vítima de violência sexual, você considera que deve encaminhar a

paciente a alguém que o faça?”; “Você é a favor que mulheres possam realizar o aborto nos

casos em que elas aleguem ser vítimas de violência sexual?”; “Você é a favor que mulheres

possam realizar o aborto nos casos em que elas aleguem ser vítimas de violência sexual?”;

“Você enfrentou algum dilema ético relacionado ao aborto na sua profissão?”.

As variáveis relacionadas ao serviço de atendimento às vítimas de violência sexual

foram: “O serviço está plenamente preparado para receber mulheres vítimas de violência sexual

e queira realizar o aborto?”; “Como você avaliaria a qualidade do atendimento a vítimas de

violência sexual?”; “Caso haja deficiência no serviço, o que poderia ser melhorado?”.

Etapa de construção do protocolo

O protocolo de atendimento às vítimas de violência sexual no Estado de Alagoas foi

construído após a equipe de pesquisa realizar o estudo quantitativo e discutir os resultados.

Nesse momento do estudo houveram discussões com o Coordenador da Obstetrícia da

materniadade (incluindo o serviço de atendimento à vítima de violência sexual e aborto legal),

com a Direção Geral e Médica da Maternidade e a Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas

via Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual (RAVVS).

Utilizamos como base para estruturação do protocolo a Norma Técnica do Ministério

da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012), alguns modelos já implementados em outras

localidades (ARRUDA; GOMES, 2018; PARANÁ, 2017; PREFEITURA DE MARINGÁ,

2012), bem como o conhecimento interno de funcionamento do serviço na maternidade. Além

do protocolo, estruturamos um fluxograma de atendimento para auxiliar na dinâmica da

prestação do seviço nos casos em que as mulheres com relato de estupro desejarem realizar

aborto.

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53

Análise dos dados

Todos os dados da pesquisa foram inicialmente tabulados no programa Microsoft Office

Excel. Serão então exportados para o software Statistical Package for the Social Sciences

(SPSS, version 20.0). Foram calculados os percentuais e as frequências absolutas de cada

variável.

Resultados

Etapa quantitativa

Na tabela 1 temos a descrição das características gerais da amosta. Ressalta-se o amplo

percentual de obstetras do sexo feminino, e de religião católica, além do equilíbrio percentual

da etnia branca e parda. Todos possuem religiosidade e tem residência médica.

O Gráfico 1 evidencia que 10 (38,5%) dos médicos obstetras consideram que apenas

nos casos de estupro a prática do aborto legal possa ser realizada. Apenas 5 (19,2%)

identificaram corretamente os três casos em que a legislação brasileira permite a realização da

prática do aborto.

O Gráfico 2 expõe o conhecimento dos médicos relacionados a regulamentação da

recusa de realização do aborto legal pelo médico. Grande parte dos participantes (n = 16;

61,5%) acreditam ser o Código de Ética Médica o regulamentador desta prática. Ainda

relacionado a parte legal da prática do aborto, todos os obstetras consideraram que o médico

pode se negar a realizar a prática dentro do serviço de referência, sendo que a religião foi a

principal justificativa para recusa (n = 15; 57,7%).

A posição ética dos médicos está descrita na tabela 2. Ressaltamos o fato de que 11

(42,4%) médicos obstetras não serem a favor da prática do aborto em casos de estupro, além

disso, 17 (65,4%) participantes não se considera apto a trabalharem no serviço.

Os resultados referentes a qualidade do serviço mostraram que 15 (57,7%)

consideravam o seviço ruim; 10 (38,5%) intermediário; e apenas 1 (3,8%) boa. Ao serem

questionados onde o serviço poderia ser melhorado os médicos afirmaram diversos fatores,

sendo computada as principais citações, que foram necessidade de equipe mais

capacitada/treinada (21 citações) e local mais apropriado para atendimento (16 citações).

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54

Etapa do protocolo

Após análise dos dados quantitativos anteriores seguimos com a estruturação do

protocolo inicial experimental. Houve discussão com a equipe da Direção do serviço de

violência sexual na maternidade para verificar a aplicabilidade do mesmo. Após os ajustes

finais, chegamos ao protocolo final abaixo descrito:

Título: Protocolo Médico de Atendimento às Mulheres com Relato de Estupro que

Desejem Realizar Abortamento

Objetivo: Orientar e capacitar os médicos obstetras responsáveis pelo atendimento de

aborto legal em Alagoas para um melhor atendimento a mulher vítima de violência

sexual.

Justificativa: Após pesquisa realizada com os médicos obstetras do Serviço de

Referência para realização do aborto legal em Alagoas, viu-se a necessidade de

estruturação de um protocolo para melhor atendimento às vítimas de violência sexual e

um melhor preparo e apoio aos médicos que integram o serviço, além de melhorias do

próprio serviço. Constatou-se uma ausência de normas, rotina e indicadores precisos

para o atendimento. O presente Protocolo é, portanto, um guia para o atendimento a

vítima mulher que deseje realizar abortamento devido ao estupro.

A Legalidade Brasileira sobre o Aborto: Pela Legislação Brasileira existem apenas três

possibilidades legais de não punição para a prática do abortamento induzido:

Anencefalia (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54, ADPF-54 de 2012)

Estupro (Código Penal Brasileiro, Art. 128 de 19140)

Risco de Morte Materna (Código Penal Brasileiro, Art. 128 de 19140)

A regulamentação do serviço de aborto legal aconteceu apenas em 1999, sendo

atualizada em 2005 e 2011.

A Ética Médica e a Prática do Aborto Legal: Pelo Código de Ética Médica no seu

capítulo ‘Direito dos Médicos’ em seu artigo IX onde fala: “É direito do Médico: IX –

Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos

ditames de sua consciência”. Cabe ressaltar que o médico do serviço de referência que

se opor a atender a vítima baseado neste argumento deverá encaminhar a um

profissional do serviço que o faça.

Acolhimento Institucional as Vítimas de Violência Sexual: O primeiro contato com

a vítima de violência sexual é crucial para um melhor entendimento do caso e para que

o direcionamento correto seja feito. A mulher que adentrar pela recepção, seja

encaminhada ou de demanda espontânea ao Hospital da Mulher, com relato de violência

sexual deverá ser encaminhada ao setor de acolhimento do hospital, onde será ouvida e

avaliada por uma equipe multiprofissional.

Da solicitação de exames: O médico obstetra deverá solicitar todos os exames para

comprovação da idade gestacional e compatibilidade com o relato da vítima. Os exames

deverão ser realizados e no retorno entregues ao médico para que o paciente seja

orientado sobre a conduta a ser realizada. Confirmada a gestação e a compatibilidade

entre a data do estupro e o tempo de gestação, a vítima será orientada sobre as opções a

partir daí. Três opções serão possíveis: 1-abortamento legal; 2-seguir a gestação com

pré-natal; 3-seguir a gestação com doação legal ao fim.

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Equipe Multiprofissional: Toda mulher que relatar abuso/violência sexual deverá ser

ouvida cuidadosamente em sala reservada por uma equipe multiprofissional. Uma

anamnese detalhada permitirá conhecer a história do relato, bem como o convívio

familiar ao qual a mulher está inserida. Isto poderá auxiliar na orientação que a equipe

pode fazer a vítima que deseje um auxílio para o enfrentamento da violência. A equipe

deverá constar minimamente de: médico, enfermeiro, técnico de enfermagem,

psciologo, assistente social.

Medicação/Procedimentos: As medicações e procedimentos utilizados deverão seguir

as recomendações do Ministério da Saúde:

1ª opção -Amiu (<12 semanas gestacional)

2ª opção -Medicações para abortamento (misoprostrol)

3ª opção -Curetagem uterina concencional

Menores de 18 anos: Deverá seguir a determinação do Ministério da Saúde. A vítima

menor de 18 anos deverá estar acompanhada pelos pais ou responsável legal. A

autorização para realização do aborto deverá ser consentida pelo responsável, que irá

assinar em nome do menor de idade. Caso a adolescente deseje permanecer com a

gestação, deverá seguir com o pré-natal, mesmo que a família deseje o aborto. Casos

em que a adolescente deseje abortar e a família se negue, deverá seguir a via juducial

pelo Conselho Tutelar ou Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude.

Orientação para o Boletim de Ocorrência: Na situação atual relativa ao aborto legal

no Brasil, a mulher que deseseje abortar com relato de estutpro não necessita apresentar

o Boletim de Ocorrência (BO), entretanto ela deve ser aconselhada pela equipe

multiprofissional a realizar tal procedimento, objetivando um aparato legal tanto para a

vítima quanto para a equipe. Entretanto deve ser reconhecido que o Ministério da Saúde

não obriga a apresentação de do BO por parte da vítima. O encaminhamento preferencial

é para um agente policial que deverá integrar o serviço de referências. Caso ela já tenha

prestado queixa em outra delegacia será desnecessário outro encaminhando policial.

Da Notificação: Deve ser lembrada que a notificação de violência sexual é compulsória,

devendo ser preenchida a ficha de notificação do Sistema Nacional de Notificação de

Agravos―SINAN (Portaria nº 104, de 25 de Janeiro de 2011).

A Longitudinalidade do Atendimento à Vítima: O serviço de referência deverá contar

com uma equipe especializada de acompanhamento da mulher vítima de violência

sexual, de forma que ela possa trabalhar a diminuição do trauma sofrido, havendo

também possibilidade de encaminhamento a outros setores que realizem programas de

combate e enfrentamento da violência sexual contra a mulher.

Após estruturação do protocolo a equipe de pesquisa confeccionou um fluxograma para

auxiliar a aplicação do protocolo, constante na Figura 1.

Discussão

O presente estudo descreveu um protocolo de atendimento às vítimas com relato de

gravidez por estupro e desejo de realizar o abortamento por vias legais. Inicialmente foi

investigado algumas características éticas, legais e relativas ao serviço de atendimento às

vítimas de violência sexual. A partir do cenário e perfil profissional levantado foi desenvolvido

um protocolo de atendimento, bem como um fluxograma par orientar o serviço.

Page 58: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

56

As características gerais da amostra revelou que o perfil dos médicos obstetras é

predominantemente religioso feminino e católico. A religião é reconhecidamente um fator que

compartilha princípios de manutenção da vida, considerando-a a partir do momento da

fecundação. Nos últimos anos acirrou-se o entrave com o movimento feminista que alega que

a mulher tem o direito e liberdade total sobre o seu corpo, constituindo o aborto uma prática

necessária, por outro lado o movimento religioso defensor da vida e que seria inaceitável a

prática do aborto desde os primeiros momentos de fecundação do óvulo (KALSING; 2002).

Curiosamente os médicos obstetras que compunham o quadro oficial do estado para os

serviços de abortamento legal não conheciam totalmente a legislação sobre o aborto legal. Este

dado é preocupante pois evidencia um despreparo da equipe para lidar com uma questão

bastante delicada. Nosso achado é bem descrepante comarando-se um estudo nacional que já

em 2004 verificou, entre ginecologistas e obstetras brasileiros, que cerca de 90% da amostra

respondeu corretamente ao quesito sobre a legalidade do aborto (FAÚNDES, 2004). É preciso

recordar que apenas três casos prevê a prática do aborto: estupro, risco de morte materno e

anencefalia fetal.

No Gráfico 2, referente a recusa do médico em realizar o abortamento legal, de fato, os

obstetras acertaram quando afirmaram que o Código de Ética Médica (CEM) prevê que o

médico não realize determinados procedimentos por objeção de consciência. O artigo 7 do

capítulo I do CEM prevê que: “o médico deve exercer a profissão com autonomia, não sendo

obrigado a prestar serviços profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro

médico, em casos de urgência, ou quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis ao

pacientes”. O artigo 9 do mesmo capítulo ainda prevê ao médico: “recusar a realizra atos

médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência”.

Entretanto o artigo 15 do capítulo III do CEM afirma que é vedado ao médico: “descumprir

legislação específica nos casos de transplante de órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação

artificial e abortamento”.

Percebemos pelo CEM que apesar de existir uma certa liberdade do médico em realizar

determinados procedimentos, ele não pode se negar nas condições de ausência de que o faça,

ou casos de urgência. No caso do serviço de aborto legal do presente estudo a situação é ainda

mais crítica, pois em geral há apenas um médico no plantão. A religião foi o principal motivo

apontado pelos médicos para recusa por objeção de consciência e ironicamente quase metade

(42,4%) dos médicos do serviço de referência ao aborto legal se dizem contra à prática do

Page 59: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

57

abortamento por estupro. Este dado é contratditório, haja vista que um serviço de referência

deveria possuir uma equipe sem objeção de consciência. Somado a isso, mais da metade dos

médicos não se dizem aptos para prestarem o serviço ao qual ofertam.

A explicação para o cenrário acima dada pelo coordenador do serviço é que a partir do

momento que o Hospital passou a ofertar o serviço de abortamento legal, foi utilizado para

compor a equipe os mesmos recursos humanos médicos que compunham o serviço regular de

obstetrícia. Estes profissionais não foram convocados para o seviço de abortamento, por isso

muitos deles apresetavam objeção de consciência. É preciso resgatar a ideia de que o obstetra

foi preparado para salvar-vidas, incluside prematuras, não sendo, portanto, compatível para

muitos a ideia de abortamento. Savulescu (2006) afirma que na prática médica moderna, os

médicos com objeção de consciência terão pouco espaço de atuação e afirma que as pessoas

com valores pessais muito conflitantes com a medicina não deveiram se tornar médicos.

Ao questionarmos os médicos sobre a autoavaliação da qualidade do seviço, apenas um

médico reconheceu o seviço como de boa qualidade. Os obstetras aprontaram dois principais

entraves no serviço que atuam: requerimento de uma equipe mais capacitada, bem como a

necessidade de um local mais apropriado. Madeiro (2016) em estudo nacional englobando os

serviços de aborto legal no país também levantou a mesma limitação do nosso estudo,

identificando que uma capacitação continuada melhoraria o acesso das mulheres ao serviço,

além disso a falta de informação dos profissionais sobre a legislação e políticas públicas criam

muitas barreiras.

A partir da problemática até então aqui traçada, levantamos os pontos mais importantes

para elaboração de um protocolo que auxiliasse nos casos de gestantes com relato de estupro e

que desejem realizar o abortamento no serviço do estado. O objetivo e justificativa traçados foi

determinado pelo conhecimento de um dos membros da equipe de pesquisa sobre o serviço,

sendo apontado a necessidade de um protocolo guia para os profissionais no serviço, bem como

um fluxograma para melhor visualização dos caminhos a serem seguidos. Além disso a nossa

pesquisa sobre os aspectos éticos legais da equipe que compõe o seviço não estava preparada

para atuar no serviço, enfatizando ainda mais a necessidade de um protocolo.

O acolhimento e necesside de atuação de equipe multiprofissional é fundamental, e foi

considerada no nosso protocolo. A pessoa vítima de violência necessita de um lugar reservdo e

propício para ser escutada, no intuito de entender o motivo que a levou à procura do

Page 60: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

58

atendimento, e o acolhimento é apenas a primeira etapa de atendimento, sendo fundamental

respeito aos princípios de ética, privacidade, confidencialidade e sigilo (PROTOCOLO

CURITIBA, 2018). A equipe multiprofissional é fundamental para o recebimento da vítima de

violência sexual, sendo preoconizado pelo Ministério da Saúde (Norma Técnica, 2012).

Consideramos uma equipe mínima no nosso protocolo composto de: médico, enfermeiro,

técnico de enfermagem, psciologo e assistente social.

A solicitação de exames é importante para aferir a idade gestacional, bem como para

estimar se a data do estupro é compatível com a idade gestacional, por isso foi considerado em

nosso protocolo. Aqui temos um dos pontos mais críticos a ser enfrentado pelo médico

responsável pelo caso, pois havendo inconsistência entre os exames e o relato o médico pode

se negar a realizar o procedimento, neste momento teremos o confronto do relato da vítima

contra a incompatibilidade de idade gestacional baseado no relato. A desição muitas das vezes

termina ficando à cargo do Coordenador do serviço, que muitas vezes é acionado mesmo não

estando de plantão.

Com relação a medicação recomendou-se no protocolo seguir as determinações da

Norma Técnica do Ministério da Saúde, que determina como procedimento de escolha até as

12 semanas a aspiração manual intrauterina (amiu), sendo que a curetagem uterina está indicada

apenas quando a aspiração a vácuo não estiver disponível. O uso de medicações seria uma opção

alternativa e segura sobretudo no primeiro trimestre, sendo utilizado o misoprostrol.

Utilizamos também as recomendações da Norma Técnica do Ministério da Saúde para

o caso de pacientes em menor idade penal (< 18 anos). Quando a adolescente escolhe por

permanecer a gravidez devido a estupro, deve ser escolhida a decisão da menor. A questão ética

recai quando a adolescente decide por interromper e a família se nega aceitar, deverá ser

recorrido a decisão do impasse por via judicial, através do Conselho Tutelar ou Promotoria de

Justiça da Infância e Juventude.

Com relação a notificação do estupro por parte da vítima, apesar do Ministério da Sáude

não obrigar a necessidade de boletim de ocorrência, incluímos no nosso protocolo o

aconselhamento para que a vítima o faça, pois considerando que o estupro é um crime (Art. 213

na redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) constante no Código Penal, este deve ser reportado

a autoridade policial para as devidas providência jurídicas. Além disso, nos casos de estupro é

Page 61: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

59

obrigatório o preenchimento da notificação para o Ministério da Saúde via Sistema Nacional

de Agravos de Notificação (SINAN).

Por fim é considerado no protocolo a necessidade de que a equipe que atende às

mulheres violentadas sexualmente faça um seguimento ambulatorial por meio de médico,

pscicólogo, enfermeiro, técnico em enfermagem e assistente social. Com isso será dada uma

longitudinalidade do cuidado a essa mulher. Estudo realizado por Nunes et al. (2016) ressaltou

a importância do apoio multiprofissional em mulheres que engravidaram por conta de estupro,

uma vez que muitas delas mostram vivos e intensos sentimentos, misturando-se representações de

culpa e de pavor com sentimentos de vergonha, raiva, medo, desespero e nojo.

Devido a magnitude ampla, complexa e diversa da violência, temos que considerar que

o presente estudo apesar de representar um Estado, é relativo a uma localidade com

características culturiais e sociais próprias. Há de se considerar que o cenário em outras regiões

inclusive do Brasil pode apresentar-se diferentes, devido a contextos religiosos, educacionais e

culturais variados.

Conclusão

A partir do presente estudo verificou-se que o perfil médico obstetra do serviço de

referência era insuficiente para responder as demandas do Estado. Isto foi comprovado pelo

fato de que nem todos conheciam profundamento as questões éticas e legais envolvendo o

abortamento legal. Além disso, identificou-se que os profissionais do serviço de referência não

possuíam perfil para atuarem no serviço, hava vista que quase metade afirmou ser contra a

prática do aborto em casos de estupro.

Baseado no perfil delineado, construíu-se um protocolo de atendimento e fluxograma

para os casos de mulheres com relato de estupro e desejo de realizar o abortamento. O referido

protocolo foi elaborado em parceria com a Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual no

Estado de Alagoas, de modo que um novo serviço de atendimento foi estruturado, incluindo um

novo espaço físico para o atendimento da mulher, passando a utilizar o novo protocolo e

fluxograma. Além disso, a Secretaria de Estado da Saúde incorporou a ideia levantada no atual

estudo sobre a necessidade de uma nova equipe profissional com um perfil mais adequado para

o serviço de aborto legal, tanto técnico quanto ético.

Referências

Código Penal Brasileiro. Art. 213. Estupro. Redação dada pela Lei nº 12.015 de 2009.

Page 62: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

60

Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e

Estratégicas. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes de violência sexual contra

mulheres e adolescentes. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 13. 2019

Código Penal Brasileiro. Decreto Lei Nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940.

Brasil. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Nº

54. 2012.

Vieira EM. The question of abortion in Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet 2010;32(3):103–104.

Wiese IR, Saldanha AA. Induced abortion at the interface of the health and law. Saúde Soc

2014;23(2):536-547.

Código de Ética Médica. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo,

2017.

Ministério da Saúde. Portaria Nº 1.508, de 1º de setembro de 2005. Dispõe sobre o

procedimento de justificação e autorização da interrupção da gravidez nos casos previstos em

lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS. 2005.

Combs MP, Antiel RM, Tilburt JC, Mueller PS, Curlin FA. Conscientious refusals to refer:

findings from a national physician survey. Med Ethics 2011;37(7):397–401. Doi:

10.1136/jme.2010.041194

Curlin FA, Lawrence RE, Chin MH, Lantos JD. Religion, conscience, and controversial clinical

practices. N Engl J Med 2007;356(6):593-600.

Harris LH, Cooper A, Rasinski KA, Curlin FA, Lyerly AD. Obstetrician–Gynecologists’

objections to and willingness to help patients obtain an abortion. Obstet Gynecol

2011;118(4):905–912. Doi: 10.1097/AOG.0b013e31822f12b7

Lawrence RE, Curlin FA. Physicians’ beliefs about conscience in medicine: a national survey.

Acad Med 2009;84(9):1276–1282. Doi: 10.1097/ACM.0b013e3181b18dc5

Arruda J, Gomes RS. Fundação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Protocolos de

Obstetrícia HUMAP–Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian. Protocolo para

atendimento às mulheres vítimas de violência sexual. 2018.

Paraná. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Superintendência de Atenção à Saúde.

Protocolo para o atendimento às pessoas em situação de violência sexual. 2. ed. Curitiba: SESA,

2017.

Prefeitura do Município de Maringá. Protocolo de proteção à mulher, criança e adolescente

vítimas de violência sexual, doméstica e intrafamiliar. 2012.

Savulescu J. Conscientious objection in medicine. BMJ 2006;332:294-7.

Page 63: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

61

Tabela 1. Descrição das características gerais da amostra de médicos obstetras do

serviço de referência a prática de aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil.

Variáveis N %

Sexo

feminino 22 84,6

masculino 4 15,4

Estado Civil

casado 11 42,3

separado 8 30,8

solteiro 4 19,2

união estável 2 15,4

viúvo 1 3,8

Raça Declarada

parda 13 50,0

branca 12 46,2

preto 1 3,8

Possui Religião?

sim 26 100,0

não - -

Religião

católica 22 84,6

espírita 2 7,7

não registrado 2 7,7

Especialização/residência?

sim 26 100,0

não - -

Especialidade/residência?

ginecologia/obstetrícia 23 88,5

ginecologia/obstetrícia/anestesiologia 1 3,8

ginecologia/obstetrícia/clínicamédica 1 3,8

ginecologia/obstetrícia/colposcopia 1 3,8

Page 64: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

62

Gráfico 2. Conhecimento dos médicos obstetras quanto ao órgão que regulamenta a

possibilidade de realização do aborto legal. N = 26. Alagoas, Brasil.

0 10 20 30 40 50 60 70

Código de Ética Médica

Conselho Federal de Medicina

Código Penal Brasileiro

Não Sei

Não Informou

16

4

2

3

1

61,5%

15,4%

11,5%

7,7%

3,8%

Qual órgão regulamenta a possibilidade do médico recusar-se a realizar o aborto?

% n

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Estupro apenas

Estupro e Anencefalia

Estupro, Anencefalia e Risco Materno

Estupro e Risco Materno

Anencefalia apenas

10

7

5

3

1

38,5%

27,0%

19,2%

11,5%

3,8%

No Brasil, em quais casos é considerado aborto legal?

% n

Gráfico 1. Conhecimento dos médicos obstetras quanto a legalidade do aborto

legal no Brasil. N=26, Alagoas, Brasil.

Page 65: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

63

Tabela 2. Descrição da posição ética dos médicos obstetras quanto a prática do aborto

legal. N = 26. Alagoas, Brasil.

Variáveis n %

Você considera ético que o médico explique a vítima de

violência sexual, as razões pelo qual o médico se nega a

realizar o aborto legal?

sim 25 96,2

não 1 3,8

Você considera que o médico tem obrigação de explicar a

vítima de violência sexual as possibilidades de procedimentos

de aborto legal?

sim 22 84,6

não 4 15,4

Caso você se negue a realizar aborto legal em uma vítima de

violência sexual, você considera que deve encaminhar a

paciente a alguém que o faça?

sim 23 88,5

não 3 11,5

Você concorda que mulheres possam realizar o aborto nos

casos em que elas aleguem ser vítimas de violência sexual?

sim 14 53,8

não 11 42,3

não sei 1 3,8

Você enfrentou algum dilema ético relacionado ao aborto na

sua profissão?

sim 15 57,7

não 11 42,3

Você se considera apto para lidar com os casos de violência

sexual?

sim 9 34,6

não 17 65,4

Page 66: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

64

Figura 1. Fluxograma de atendimento.

Page 67: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

65

ANEXOS

Page 68: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

66

ANEXO I: TERMO DE RELATO CIRCUNSTANCIADO

(IDENTIFICAÇÃO DO SERVIÇO) TERMO DE RELATO CIRCUNSTANCIADO

Eu,____________________________________________________, brasileira, _______anos, portadora do documento de identificação tipo ___________, nº ________, declaro que no dia _____, do mês _______________do ano de ________às ________, no endereço ________________________________ (ou proximidades – indicar ponto de referência) ______________________________, bairro ____________, cidade __________________________, fui vítima de crime de violência sexual, nas seguintes circunstâncias:_________________________________________

Em caso de agressor(s) desconhecido(os)

Declaro ainda, que fui agredida e violentada sexualmente por _______homem(s) de aproximadamente ____________anos, raça/cor ______________cabelos ___________________________, trajando (calça, camisa, camisetas, tênis e outros), outras informações (alcoolizado, drogado, condutor do veículo/tipo ________ etc.). -

O crime foi presenciado por (se houver testemunha) ________________________________________

EM CASO DE AGRESSOR(A)(S) CONHECIDO(A)(S)

Declaro ainda, que fui agredida e violentada sexualmente por (informação opcional) ____________________________________, sendo meu/minha_________________________ (indicar grau de parentesco ou de relacionamento social e afetivo), com ___________anos de idade e que no momento do crime encontrava-se/ou não (alcoolizado, drogado).

O crime foi presenciado por (se houver testemunha) ________________________________________________

É o que tenho/ temos a relatar Local e data:________________________________ ___________________________________________________ Nome, identificação e assinatura _____________________________________________________ TESTEMUNHAS ___________________________________________________ Profissional de saúde Nome, identificação e assinatura ___________________________________________________ Profissional de saúde Nome, identificação e assinatura

Page 69: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

67

ANEXO II: PARECER TÉCNICO

(IDENTIFICAÇÃO DO SERVIÇO) PARECER TÉCNICO

Em face da análise dos resultados dos exames físico geral, ginecológico, de ultrassonografia obstétrica e demais documentos anexados ao prontuário hospitalar nº______________ da paciente ________________________________________________________, documento tipo______ nº _______; manifesta-se pela compatibilidade entre a idade gestacional e a da data da violência sexual alegada.

Local e data:_________________________________

Médico

(assinatura e carimbo)

Page 70: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

68

ANEXO III: TERMO DE APROVAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO

(IDENTIFICAÇÃO DO SERVIÇO) TERMO DE APROVAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE INTERRUPÇÃO DA

GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO

Nesta data, a Equipe de Saúde multidisciplinar do Serviço de__________________ do Hospital _________________________, avaliou o pedido de interrupção de gestação, fundamentado na declaração de violência sexual apresentada, pela usuária _______________________________________________, portadora do documento de identificação tipo __________, nº ________, registro hospitalar nº__________ com ________semanas de gestação. Atesta-se que o pedido se encontra em conformidade com o artigo 128 do inciso II do Código Penal, sem a presença de indicadores de falsa alegação de crime sexual. Portanto, APROVA-SE, de acordo com a conclusão do Parecer Técnico, a solicitação de interrupção de gestação formulada pela paciente e/ou por seu representante legal.

Local e data_________________________________

RESPONSÁVEIS PELA APROVAÇÃO

Equipe multiprofissional:

____________________________________________

Carimbo e assinatura

_____________________________________________

Carimbo e assinatura

______________________________________________

Carimbo e assinatura

Page 71: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

69

ANEXO IV: TERMO DE RESPONSABILIDADE

(IDENTIFICAÇÃO DO SERVIÇO) TERMO DE RESPONSABILIDADE

Por meio deste instrumento, eu _______________________, portadora do documento de identificação tipo____________ nº __________, ou legalmente representada por ___________________________________________, portador(a) do documento de identificação tipo_____________ nº _________, assumo a responsabilidade penal decorrente da prática dos crimes de Falsidade Ideológica e de Aborto, previstos nos artigos 299 e 124 do Código Penal Brasileiro, caso as informações por mim prestadas ao serviço de atendimento às vítimas de violência sexual do Hospital________________________________ NÃO correspondam à legítima expressão da verdade.

Local e Data:______________________________

__________________________________________

Nome, identificação e assinatura.

Page 72: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

70

ANEXO V: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ RESULTANTE DE VIOLÊNCIA SEXUAL

(IDENTIFICAÇÃO DO SERVIÇO)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ RESULTANTE DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Por meio deste instrumento eu,__________________________, documento de identificação tipo __________, nº_____________ registro hospitalar nº____________ e/ou meu representante legal/responsável_______________________ documento de identificação tipo _________ nº ___________, em conformidade com o Artigo 128, inciso II do Código Penal Brasileiro, exerço o direito de escolha pela interrupção da gestação de forma livre, consciente e informada.

Declaro que estou informada da possibilidade de manter a gestação até o seu término, sendo-me garantidos os cuidados de pré-natal e parto apropriados para a situação; e das alternativas após o nascimento, que incluem a escolha de permanecer com a criança e inseri-la na família, ou de proceder com os mecanismos legais de doação.

Declaro, estar esclarecida(os) dos procedimentos médicos que serão adotados durante a realização da intervenção (abortamento previsto em Lei), bem como dos desconfortos e riscos possíveis à saúde, as formas de assistência e acompanhamentos posteriores e os profissionais responsáveis.

Declaro, que me é garantido o direito ao sigilo das informações prestadas, exceto em caso de requisição judicial.

Declaro, outrossim, que após convenientemente esclarecida pelos profissionais de saúde e ter entendido o que me foi explicado, solicito de forma livre e esclarecida a interrupção da gestação atual decorrente de violência sexual, e autorizo a equipe do Hospital ______________________________aos procedimentos necessários.

Local e data:__________________________________

_________________________________

Nome, identificação e assinatura.

______________________________

Testemunha

Nome, identificação e assinatura

______________________________ Testemunha

Nome, identificação e assinatura

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71

ANEXO VI: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Page 74: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

72

Page 75: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

73

ANEXO VII: NORMAS DA REVISTA BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (RBGG)

Escopo e política

Todo o conteúdo do periódico, exceto onde está identificado,

está licenciado sob uma Licença Creative Commons

O material enviado para análise não pode ter sido submetido

simultaneamente à publicação em outras revistas nem publicado

anteriormente. Na seleção dos manuscritos para publicação, são

avaliadas originalidade, relevância do tema e qualidade da

metodologia utilizada, além da adequação às normas editoriais

adotadas pela revista. O material publicado passa a ser

propriedade intelectual da Revista Brasileira de Ginecologia e

Obstetrícia e da Febrasgo.

Avaliação dos manuscritos Os manuscritos submetidos à revista são recebidos pelo

Escritório Editorial, que realiza a conferência das

documentações obrigatórias, bem como analisa se as normas

editoriais contidas nas Instruções aos Autores foram cumpridas.

Se o processo estiver em conformidade, o manuscrito será

enviado ao Editor-Chefe que fará uma avaliação de mérito do

manuscrito submetido. Se o Editor-Chefe concluir que o

trabalho está em condições científicas e técnicas favoráveis, o

manuscrito será encaminhado aos Editores Associados, que, por

sua vez, designarão pareceristas (processo double mind) para

avaliar o trabalho. Os pareceres dos revisores e as instruções do

editor serão enviados para os autores para que eles tomem

conhecimento das alterações a serem introduzidas. Os autores

devem reenviar o texto com as modificações sugeridas no prazo

solicitado. Ao resubmeter o manuscrito, as correções solicitadas

devem estar em destaque no texto (grifadas em amarelo). Em

casos de não concordância com as sugestões, inclua as

observações nos balões comentários. Seja assertivo e pontual

com a inquirição, inclusive sustentando a hipótese com

referências.

IMPORTANTE! Os Autores devem cumprir os prazos, visto

que o não atendimento resultará atraso de sua publicação ou até

mesmo no arquivamento do processo. Os autores podem

solicitar em qualquer ponto do processo de análise e edição do

texto a sustação do processo e a retirada do trabalho, exceto

quando o manuscrito estiver aceito para publicação. Os

conceitos e as declarações contidos nos artigos são de

responsabilidade dos autores.

Page 76: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

74

Preparando um manuscrito para submissão

Documentos obrigatórios para submissão Ao submeter um manuscrito à RBGO anexe os documentos

listados abaixo na plataforma de submissão ScholarOne. Cabe

ressaltar que o não encaminhamento resultará no cancelamento

do processo submetido. Documentação obrigatória para a

submissão online:

Autorização de transferência dos direitos autorais

assinada por todos os autores (escaneada e anexada)

Modelo;

Em conformidade com o capítulo XII.2 da Res. CNS

466/2012, no Brasil, pesquisas envolvendo seres

humanos necessitam informar o número do registro

referente ao Certificado de Apresentação para

Apreciação Ética (CAAE) ou o número do parecer de

aprovação da pesquisa (CEP/CONEP) no Comitê de

Ética. Manuscritos internacionais devem apresentar a

documentação ética local para seguirem no processo de

submissão;

Carta de Apresentação (Cover Letter): deverá ser

redigida com o propósito de justificar a

publicação. Deve- se identificar os autores, a titulação

da equipe que pretende publicar, instituição de origem

dos autores e a intenção de publicação;

Página de Título;

Manuscrito.

Página de Título

Título do manuscrito, no idioma inglês, com no máximo

18 palavras;

Nome completo, sem abreviações, dos autores (no

máximo seis);

Autor correspondente (Nome completo, endereço

profissional de correspondência e e-mail para contato);

Afiliação Institucional de cada autor. Exemplo:

Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo,

Ribeirão Preto, SP, Brasil.

Conflitos de interesse: os autores devem informar

quaisquer potenciais conflitos de interesse seja ele

político, econômico, de recursos para execução da

pesquisa ou de propriedade intelectual;

Agradecimentos: os agradecimentos ficam restritos às

pessoas e instituições que contribuíram de maneira

relevante, para o desenvolvimento da pesquisa. Qualquer

apoio financeiro seja ele oriundo de órgãos de fomento

ou empresas privadas deve ser mencionado na seção

Agradecimentos. A RBGO, para os autores Brasileiros,

Page 77: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

75

solicita que os financiamentos das agências CNPq, Capes, FAPESP entre outras, sejam obrigatoriamente

mencionadas com o número do processo da pesquisa ou

de bolsas concedidas.

Contribuições: conforme os critérios de autoria

científica do International Committee of Medical

Journal Editors (ICMJE), o crédito de autoria deve ser

fundamentado em três condições que devem ser

atendidas integralmente: 1. Contribuições substanciais

para concepção e delineamento, coleta de dados ou

análise e interpretação dos dados; 2. Redação do artigo

ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual e 3.

Aprovação final da versão a ser publicada.

Manuscrito

Instruções aos Autores A Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia publica as

seguintes categorias de manuscritos:

Artigos Originais, trabalhos completos prospectivos,

experimentais ou retrospectivos. Manuscritos contendo

resultados de pesquisa clínica ou experimental original têm

prioridade para publicação.

Relatos de Casos, de grande interesse e bem documentados, do

ponto de vista clínico e laboratorial. Os autores deverão indicar

na carta de encaminhamento os aspectos novos ou inesperados

em relação aos casos já publicados. O texto das seções

Introdução e Discussão deve ser baseado em revisão

bibliográfica atualizada.

Artigos de Revisão, incluindo comprehensive reviews

metanálises ou revisões sistemáticas. Contribuições espontâneas

são aceitas. Devem ser descritos os métodos e procedimentos

adotados para a obtenção do texto, que deve ter como base

referências recentes, inclusive do ano em curso. Tratando-se de

tema ainda sujeito a controvérsias, a revisão deve discutir as

tendências e as linhas de investigação em curso. Apresentar,

além do texto da revisão, resumo e conclusões. Ver a seção

"Instruções aos Autores" para informações quanto ao corpo do

texto e página de título;

Cartas ao Editor, versando sobre matéria editorial ou não, mas

com apresentação de informações relevantes ao leitor. As cartas

podem ser resumidas pela editoria, mas com manutenção dos

pontos principais. No caso de críticas a trabalhos publicados, a

carta é enviada aos autores para que sua resposta possa ser

publicada simultaneamente;

Page 78: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

76

Editorial, somente a convite do editor.

Título Ao escrever um artigo científico, o pesquisador deve se atentar

na elaboração do título do manuscrito. O título é o cartão de

visitas de qualquer publicação. Deve ser elaborado com muito

cuidado e de preferência escrito apenas após a finalização do

artigo. Um bom título é aquele que descreve adequadamente o

conteúdo do manuscrito. Geralmente, ele não é uma frase, pois

não contém o sujeito, além de verbos e objetos arranjados. Os

títulos raramente devem conter abreviações, fórmulas químicas,

adjetivos acessivos, nome de cidades entre outros. O título dos

manuscritos submetidos à RBGO deve conter no máximo 18

palavras.

Resumo O resumo deve fornecer o contexto ou a base para o estudo e

deve estabelecer os objetivos do estudo, os procedimentos

básicos, os principais resultados e as principais conclusões.

Deve enfatizar aspectos novos e importantes do estudo ou das

observações. Pelo fato de os resumos serem a única parte

substantiva do artigo indexada em muitas bases de dados

eletrônicas, os autores devem cuidar para que os resumos

reflitam o conteúdo do artigo de modo preciso e destacar. No

Resumo não utilize abreviações, símbolos e referências. No caso

de artigos originais oriundos de ensaios clínicos, os autores

devem informar o número de registro ao término da redação.

Resumo informativo, do tipo estruturado, de artigo original Os resumos dos artigos originais submetidos à RBGO devem

ser, obrigatoriamente, estruturados em quatro seções e conter no

máximo 250 palavras:

Objetivo: O que foi feito; a questão formulada pelo

investigador.

Métodos: Como foi feito; o método, incluindo o material usado

para alcançar o objetivo.

Resultados: O que foi encontrado, o achado principal e, se

necessário, os achados secundários.

Conclusão: O que foi concluído; a resposta para a questão

formulada.

Resumo informativo, do tipo estruturado, de artigo de

revisão sistemática Dentre os itens a serem incluídos, estão o objetivo da revisão à

pergunta formulada, a fonte de dados, os procedimentos de

seleção dos estudos e de coleta de dados, os resultados e as

Page 79: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

77

conclusões. Os resumos dos artigos de revisão sistemática submetidos à RBGO devem ser, obrigatoriamente, estruturados

em seis seções e conter no máximo 250 palavras:

Objetivo: Declarar o objetivo principal do artigo.

Fontes dos dados: Descrever as fontes de dados examinadas,

com datas, termos de indexação e limitações inclusive.

Seleção dos estudos: Especificar o número de estudos revisados

e os critérios empregados em sua seleção.

Coleta de dados: Resumir a conduta utilizada para extrair os

dados e como ela foi usada.

Síntese dos dados: Expor os resultados principais da revisão e

os métodos empregados para obtê-los.

Conclusões: Indicar as conclusões principais e sua utilidade

clínica.

Resumo informativo, do tipo não estruturado, de artigos de

revisão, exceto revisão sistemática e estudos de caso

Deve conter a essência do artigo, abrangendo a finalidade, o

método, os resultados e as conclusões ou recomendações. Expõe

detalhes suficientes para que o leitor possa decidir sobre a

conveniência da leitura de todo o texto (Limite de palavras:

150).

Palavras-chave As palavras-chave de um trabalho científico indicam o conteúdo

temático do texto que representam. Dentre os objetivos dos

termos mencionados considera-se como principais a

identificação do conteúdo temático, a indexação do trabalho nas

bases de dados e a rápida localização e recuperação do

conteúdo. Os sistemas de palavras-chave utilizados pela RBGO

são o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde – Indexador

Lilacs) e o MeSH (Medical Subject Headings – Indexador

MEDLINE-PubMed). Por gentileza, escolha cinco descritores

que representem o seu trabalho nestas plataformas.

Corpo do manuscrito (Os manuscritos submetidos à RBGO

devem possuir no máximo 4000 palavras, sendo que as

tabelas, quadros e figuras da seção Resultados não são

contabilizados, bem como as Referências)

Introdução A seção Introdução de um artigo científico tem por finalidade

informar o que foi pesquisado e o porquê da investigação. É a

Page 80: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

78

parte do artigo que prepara o leitor para entender a investigação e a justificativa de sua realização. O conteúdo a ser informado

nesta seção deve fornecer contexto ou base para o estudo (isto é,

a natureza do problema e a sua importância); declarar o

propósito específico, o objetivo de pesquisa ou a hipótese

testada no estudo ou observação. O objetivo de pesquisa

normalmente tem um foco mais preciso quando é formulado

como uma pergunta. Tanto os objetivos principais quanto os

secundários devem estar claros e quaisquer análises em um

subgrupo pré-especificados devem ser descritas; dar somente

referências estritamente pertinentes e não incluir dados ou

conclusões do trabalho que está sendo relatado.

Métodos

Métodos, segundo o dicionário Houaiss, “é um processo

organizado, lógico e sistemático de pesquisa”. Método

compreende o material e os procedimentos adotados na pesquisa

de modo a poder responder à questão central de investigação.

Estruture a seção Métodos da RBGO iniciando pelo tipo de

delineamento do estudo; o cenário da pesquisa (local e a época

em que se desenrolou); a amostra de participantes; a coleta de

dados; a intervenção a ser avaliada (se houver) e também a

intervenção alternativa; os métodos estatísticos empregados e os

aspectos éticos de investigação. Ao pensar na redação do

delineamento do estudo reflita se o delineamento é apropriado

para alcançar o objetivo da investigação, se a análise dos dados

reflete o delineamento e se foi alcançado o que se esperava com

o uso daquele delineamento para pesquisar o tema. A seguir os

delineamentos utilizados em pesquisa clínica ou epidemiológica

e que deverão constar na seção Métodos do manuscrito enviado

à RBGO:

Tipos de estudo (adaptada de Pereira, 2014*): Relato de Caso (Estudo de Caso): Investigação aprofundada

de uma situação, na qual estão incluídas uma ou poucas pessoas

(de10 ou menos usualmente);

Série de Casos: Conjunto de pacientes (por exemplo, mais de

10 pessoas) com o mesmo diagnóstico ou submetidos a mesma

intervenção. Trata-se, em geral, de série consecutiva de doentes,

vistos em um hospital ou em outra instituição de saúde, durante

certo período. Não há grupo-controle interno composto

simultaneamente. A comparação é feita em controles externos.

Dá-se o nome de controle externo ou histórico ao grupo usado

para comparação dos resultados, mas que não tenha sido

constituído ao mesmo tempo, no interior da pesquisa: por

exemplo, a série de casos é comparada com os pacientes de anos

anteriores.

Estudo Transversal (Ou Seccional): Investigação para

determinar prevalência; para examinar a relação entre eventos

Page 81: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

79

(exposição, doença e outras variáveis de interesse), em um determinado momento. Os dados sobre causa e efeito são

coletados simultaneamente: por exemplo, a série de casos é

comparada com os pacientes de anos anteriores.

Estudo de caso-controle: Particular forma de investigação

etiológica, de cunho retrospectivo; parte-se do efeito em busca

das causas. Grupos de indivíduos, respectivamente, com um

determinado agravo à saúde e, sem este, são comparados com

respeito a exposições que sofreram no passado de modo que se

teste a hipótese de a exposição a determinados fatores de

risco serem causas contribuintes da doença. Por exemplo,

indivíduos acometidos por dor lombar são comparados com

igual número de indivíduos (grupo-controle), de mesmo sexo e

idade, mas sem dor lombar.

Estudo de coorte: Particular forma de investigação de fatores

etiológicos; parte-se da causa em busca dos efeitos; portanto, o

contrário do estudo de caso-controle. Um grupo de pessoas é

identificado, e é coletada a informação pertinente sobre a

exposição de interesse, de modo que o grupo pode ser

acompanhado, no tempo e se verifica os que não desenvolvem a

doença em foco e se essa exposição prévia está relacionada à

ocorrência de doença. Por exemplo, os fumantes são

comparados com controles não fumantes; a incidência de câncer

de bexiga é determinada para cada grupo.

Estudo randomizado: Tem a conotação de estudo experimental

para avaliar uma intervenção; daí a sinonímia estudo de

intervenção. Pode ser realizado em ambiente clínico; por vezes

designado simplesmente como ensaio clínico ou estudo clínico.

Também é realizado em nível comunitário. No ensaio clínico, os

participantes são alocados, aleatoriamente, para formar grupos,

chamados de estudo (experimental) e controle (ou testemunho),

a serem submetidos ou não a uma intervenção (aplicação de um

medicamento ou de uma vacina, por exemplo). Os participantes

são acompanhados para verificar a ocorrência de desfecho de

interesse. Dessa maneira, a relação entre intervenção e efeito é

examinada em condições controladas de observação, em geral,

com avaliação duplo-cega. No caso de estudo randomizado

informe o número do Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos

(REBEC) e/ou o número do International Clinical Trials

Registration Platform(ICTRP/OMS), na página de título.

Estudo ecológico: Pesquisa realizada com estatísticas: a

unidade de observação e análise não é constituída de indivíduos,

mas de grupo de indivíduos; daí, seus sinônimos: estudo de

grupos, de agregados, de conglomerados, estatísticos ou

comunitários. Por exemplo, a investigação sobre a variação,

entre países europeus, dos coeficientes de mortalidade por

doenças do sistema vascular e do consume per capita de vinho.

Revisão Sistemática e Metanálise: Tipo de revisão em que há

uma pergunta claramente formulada e são usados métodos

explícitos para identificar, selecionar e avaliar criticamente

Page 82: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

80

pesquisas relevantes, e também para coletar e analisar dados a partir dos estudos que estão incluídos na revisão. São aplicadas

estratégias que limitam viéses, na localização, na seleção, na

avaliação crítica e na síntese dos estudos relevantes sobre

determinado tema. A metanálise pode fazer ou não parte da

revisão sistemática. Metanálise é a revisão de dois ou mais

estudos, para obter estimativa global, quantitativa, sobre a

questão ou hipótese investigada; emprega métodos estatísticos

para combinar resultados dos estudos utilizados na revisão.

Fonte: *Pereira MG. Artigos Científicos – Como redigir,

publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014.

Roteiro para revisão estatística de trabalhos científicos

originais Objetivo do estudo: O objetivo do estudo está suficientemente

descrito, incluindo hipóteses pré-estabelecidas?

Delineamento: O delineamento é apropriado para alcançar o

objetivo proposto?

Características da amostra: Há relato satisfatório sobre a

seleção das pessoas para inclusão no estudo? Uma taxa

satisfatória de respostas (de casos válidos) foi alcançada? Se

houve seguimento dos participantes, ele foi suficientemente

longo e completo? Se houve emparelhamento (por exemplo, de

casos e controles), ele é adequado? Como se lidou com os dados

não disponíveis (missing data)?

Coleta de dados (mensuração dos resultados): Os métodos de

mensuração foram detalhados para cada variável de interesse? A

comparabilidade dos métodos de mensuração utilizados nos

grupos está descrita? A validade e a reprodutividade dos

métodos empregados foram consideradas?

Tamanho da amostra: Foram fornecidas informações

adequadas sobre o cálculo do tamanho da amostra? A lógica

utilizada para a determinação do tamanho do estudo está

descrita, incluindo considerações práticas e estatísticas?

Métodos estatísticos: O teste estatístico utilizado para cada

comparação foi informado? Indique se os pressupostos para uso

do teste foram obedecidos. São informados os métodos

utilizados para qualquer outra análise realizada? Por exemplo,

análise por subgrupos e análise de sensibilidade. Os principais

resultados estão acompanhados da precisão da estimativa?

Informe o valor p, o intervalo de confiança. O nível alfa foi

informado? Indique o nível alfa, abaixo do qual os resultados

são estatisticamente significantes. O erro beta foi informado? Ou

então, indique o poder estatístico da amostra. O ajuste foi feito

para os principais fatores geradores de confusão? Foram

descritos os motivos que explicaram a inclusão de uns e a

exclusão de outros? A diferença encontrada é estatisticamente

significativa? Assegure-se que há análises suficientes para

mostrar que a diferença estatisticamente significativa não é

Page 83: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

81

devida a algum viés (por exemplo, falta de comparabilidade entre os grupos ou distorção na coleta de dados). Se a diferença

encontrada é significativa, ela também é relevante? Especifique

a mínima diferença clinicamente importante. Deixe clara a

distinção entre diferença estatisticamente e diferença clínica

relevante. O teste é uni ou bicaudal? Forneça essa informação,

se apropriado. Qual o programa estatístico empregado? Dê a

referência de onde encontrá-lo. Informe a versão utilizada.

Resumo: O resumo contém síntese adequada do artigo?

Recomendação sobre o artigo: O artigo está em padrão

estatístico aceitável para publicação? Em caso negativo, o artigo

poderá ser aceito após revisão adequada?

Fonte: *Pereira MG. Artigos Científicos – Como redigir,

publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2014.

IMPORTANTE! A RBGO aderiu à iniciativa do International Committee of

Medical Journal Editors (ICMJE) e da Rede EQUATOR

destinadas ao aperfeiçoamento da apresentação dos resultados

de pesquisas. Consulte as guias interacionais relacionadas:

Ensaio clínico randomizado:

http://www.equator-network.org/reporting-

guidelines/consort/

Estudos observacionais em epidemiologia:

http://www.equator-network.org/reporting-

guidelines/strobe/

Revisões sistemáticas e metanálises:

http://www.equator-network.org/reporting-

guidelines/prisma/

Estudos qualitativos:

http://www.equator-network.org/reporting-guidelines/srqr/

Resultados O propósito da seção Resultados é mostrar o que foi encontrado

na pesquisa. São os dados originais obtidos e sintetizados pelo

autor, com o intuito de fornecer resposta à questão que motivou

a investigação. Para a redação da seção, apresente os resultados

em sequência lógica no texto, nas tabelas e nas ilustrações,

mencionando primeiro os achados mais importantes. Não repita

no texto todas as informações das tabelas ou ilustrações; enfatize

ou resuma apenas observações importantes. Materiais adicionais

ou suplementares e detalhes técnicos podem ser colocados em

um apêndice, no qual estarão acessíveis, mas não interromperão

o fluxo do texto. Como alternativa, essas informações podem

ser publicadas apenas na versão eletrônica da Revista. Quando

os dados são resumidos na seção resultado, dar os resultados

numéricos não apenas em valores derivados (por exemplo,

percentuais), mas também em valores absolutos, a partir dos

Page 84: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

82

quais os derivados foram calculados, e especificar os métodos estatísticos usados para analisá-los. Use apenas as tabelas e

figuras necessárias para explicar o argumento do trabalho e para

avaliar o seu embasamento. Quando for cientificamente

apropriado, as análises dos dados com variáveis tais como idade

e sexo devem ser incluídas. Não ultrapasse o limite de no

máximo cinco tabelas, cinco quadros ou cinco figuras. As

tabelas, quadros e/ou figuras devem ser inclusas no corpo do

manuscrito e não contabilizam o limite solicitado de 4000

palavras.

ATENÇÃO! As seções Métodos e Resultados nos Estudos de Casodevem

ser substituídas pelo termo Descrição do Caso.

Discussão Na seção Discussão enfatize os aspectos novos e importantes do

estudo e as conclusões deles derivadas. Não repita

detalhadamente dados ou outras informações apresentados nas

seções de introdução ou de resultados. Para estudos

experimentais, é útil iniciar a discussão resumindo brevemente

os principais achados, comparar e contrastar os resultados com

outros estudos relevantes, declarar as limitações do estudo e

explorar as implicações dos achados para pesquisas futuras e

para a prática clínica. Evite alegar precedência e aludir a

trabalhos que não estejam completos. Não discuta dados que não

são diretamente relacionados aos resultados da pesquisa

apresentada. Proponha novas hipóteses quando justificável, mas

qualificá-las claramente como tal. No último parágrafo da seção

Discussão informe qual a informação do seu trabalho que

contribui relativamente para o avanço-novo conhecimento.

Conclusão A seção Conclusão tem por função relacionar as conclusões

com os objetivos do estudo, mas o autor deve evitar afirmações

sem embasamento e conclusões que não tenham sustentação

adequada pelos dados. Em especial, os autores devem evitar

fazer afirmações sobre benefícios econômicos e custos, a menos

que seu original inclua análises econômicas e dados apropriados.

Referências Uma pesquisa é fundamentada nos resultados de outras que a

antecederam. Uma vez publicada, passa a ser apoio para

trabalhos futuros sobre o tema. No relato que faz de sua

pesquisa, o autor assinala os trabalhos consultados que julga

pertinente informar aos leitores, daí a importância de escolher

boas Referências. As referências adequadamente escolhidas dão

credibilidade ao relato. Elas são fonte de convencimento do

leitor da validade dos fatos e argumentos apresentados.

Page 85: ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO DE …

83

Atenção! Para os manuscritos submetidos à RBGO, os autores devem numerar as referências por ordem de entrada no trabalho

e usar esses números para as citações no texto. Evite o número

excessivo de referências, selecionando as mais relevantes para

cada afirmação e dando preferência para os trabalhos mais

recentes. Não empregar citações de difícil acesso, como resumos

de trabalhos apresentados em congressos, teses ou publicações

de circulação restrita (não indexados). Busque citar as

referências primárias e convencionais (artigos em periódicos

científicos e os livros-textos). Não empregue referências do tipo

"observações não publicadas" e "comunicação pessoal".

Publicações dos autores (autocitação) devem ser empregadas

apenas se houver necessidade clara e forem relacionadas ao

tema. Nesse caso, incluir entre as referências bibliográficas

apenas trabalhos originais publicados em periódicos regulares

(não citar capítulos ou revisões). O número de referências deve

ser de 35, exceto para artigos de revisão. Os autores são

responsáveis pela exatidão dos dados constantes das referências.

Para formatar as suas referências, consulte o American Medical

Association (AMA) Citation Style.

*As instruções aos Autores deste periódico foram baseadas na

obra literária Artigos Científicos: Como redigir, publicar e

avaliar de Maurício Gomes Pereira, Editora Guanabara

Koogan, 2014.

Envio dos manuscritos

Os artigos deverão, obrigatoriamente, ser submetidos por via eletrônica, de

acordo com as instruções publicadas no site

https://mc04.manuscriptcentral.com/rbgo-scielo

Não há taxa para submissão e avaliação de artigos.

Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia Endereço: Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 3421, 01401-001, sala 903, Jardim

Paulista, São Paulo, SP, Brasil.

Tel.: + 55 11 5573.4919

Email: [email protected]

Home Page: https://www.thieme-

connect.com/products/ejournals/issue/10.1055/s-006-33175

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