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RESUMO O investimento em edifícios de escritórios, shopping centers, hotéis, parques temáticos, entre outros, está cada vez mais difundido no mercado brasileiro, seja diretamente por meio da aquisição do imóvel ou indiretamente através de quotas ou títulos de investimento lastreados no empreendimento. Desta forma, as transações de participações nestes negócios são realizadas das mais diversas maneiras por agentes muitas vezes tecnicamente pouco preparados, os quais acabam por desconhecer que o patamar de preços praticados deve estar intrinsecamente associado ao desempenho obtido na atividade que ali se desenvolve. Portanto, a análise do valor pelo qual é aceitável transacionar o bem é fundamental para balizar a tomada de decisão em relação a este negócio. Nesse sentido, a proposta desta dissertação é indicar um método de análise adequado para a tipologia destes empreendimentos, denominados de base imobiliária, por meio da exploração dos diversos disponíveis no mercado. O trabalho abrange o reconhecimento dos conceitos envolvidos, a definição das premissas básicas e o modo como a construção e a manipulação do modelo influencia os resultados obtidos. Uma rotina básica de análise de valor é apresentada de forma a ilustrar os procedimentos sugeridos para arbitragem de valor destes empreendimentos.

Rotina analise valor Empreendimentos Imobiliários

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  • RESUMO

    O investimento em edifcios de escritrios, shopping centers, hotis, parques temticos, entre

    outros, est cada vez mais difundido no mercado brasileiro, seja diretamente por meio da

    aquisio do imvel ou indiretamente atravs de quotas ou ttulos de investimento lastreados

    no empreendimento. Desta forma, as transaes de participaes nestes negcios so

    realizadas das mais diversas maneiras por agentes muitas vezes tecnicamente pouco

    preparados, os quais acabam por desconhecer que o patamar de preos praticados deve

    estar intrinsecamente associado ao desempenho obtido na atividade que ali se desenvolve.

    Portanto, a anlise do valor pelo qual aceitvel transacionar o bem fundamental para

    balizar a tomada de deciso em relao a este negcio. Nesse sentido, a proposta desta

    dissertao indicar um mtodo de anlise adequado para a tipologia destes

    empreendimentos, denominados de base imobiliria, por meio da explorao dos diversos

    disponveis no mercado. O trabalho abrange o reconhecimento dos conceitos envolvidos, a

    definio das premissas bsicas e o modo como a construo e a manipulao do modelo

    influencia os resultados obtidos. Uma rotina bsica de anlise de valor apresentada de forma

    a ilustrar os procedimentos sugeridos para arbitragem de valor destes empreendimentos.

  • ABSTRACT

    The investment in office buildings, shopping centers and hotels has been increasing over the

    past years. However, transactions of these properties have not been supported by careful

    studies, which should be able to help who decide. Besides the lack of information in the

    reports, valuers sometimes use inadequate approaches to estimate the value of the property.

    This dissertation aims to indicate an appropriate method to appraise these developments,

    which could be called income properties. The methods used in real estate market are analyzed

    in order to identify the most appropriate. The work covers recognition of the concepts and

    definition of basic assumptions. At the end of this text, a simulation is prepared to illustrate the

    routine to estimate value for these developments.

  • SUMRIO DA DISSERTAO

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE FIGURAS

    RESUMO

    ABSTRACT

    1. INTRODUO.......................................................................................................................................................31.1 Panorama Geral sobre a Questo ........................................................................ 31.2 Objetivos do Trabalho ........................................................................................ 31.3 Metodologia do Trabalho.................................................................................... 3

    2. PRINCPIOS PARA ANLISE DE VALOR DE IMVEIS........................................................................................32.1 Fatores Geradores de Valor................................................................................ 3

    2.1.1 Influncia dos Fatores na Demanda e na Oferta ........................................... 32.1.2 Utilidade..................................................................................................... 32.1.3 Escassez..................................................................................................... 32.1.4 Desejo........................................................................................................ 32.1.5 Acesso a Meios de Pagamento.................................................................... 3

    2.2 Conceitos de Valorao...................................................................................... 32.3 A Questo da Diversidade de Valores................................................................. 32.4 Panorama Internacional....................................................................................... 3

    2.4.1 O Mercado Norte-americano...................................................................... 32.4.2 O Mercado do Reino Unido........................................................................ 32.4.3 O Mercado Francs.................................................................................... 3

    2.5 Mercado Brasileiro ............................................................................................. 3

    3. MTODOS DE ANLISE DE VALOR...................................................................................................................33.1 Mtodo Comparativo de Dados de Mercado ...................................................... 33.2 Mtodo Comparativo do Custo de Reproduo de Benfeitorias........................... 33.3 Mtodo da Renda............................................................................................... 33.4 Outros Mtodos ................................................................................................. 3

    3.4.1 Mtodo Involutivo....................................................................................... 33.4.2 Mtodo Residual......................................................................................... 3

    4. EMPREENDIMENTOS DE BASE IMOBILIRIA...................................................................................................34.1 Conceituao...................................................................................................... 34.2 Ciclos Caractersticos.......................................................................................... 34.3 Os Agentes Envolvidos ....................................................................................... 3

    4.3.1 Investidores Institucionais ............................................................................ 34.3.2 Investidores Privados.................................................................................. 3

  • 4.4 Sntese das Caractersticas .................................................................................. 3

  • 5. ANLISE DE VALOR DE EMPREENDIMENTOS DE BASE IMOBILIRIA..........................................................35.1 Abordagem Tcnica............................................................................................ 35.2 O Conceito de Arbitragem.................................................................................. 35.3 Tcnicas Disponveis para Anlise ....................................................................... 3

    6. ROTINA PARA ARBITRAGEM DE VALOR.........................................................................................................36.1 Identificao do Objeto da Anlise de Valor........................................................ 36.2 Construo do Cenrio Referencial ..................................................................... 3

    6.2.1 Anlise da conjuntura econmica regional e local ......................................... 36.2.2 Identificao da Insero de Mercado......................................................... 36.2.3 Exame do desempenho histrico do empreendimento................................... 36.2.4 Premissas Bsicas do Modelo ..................................................................... 3

    6.3 Modelo de Anlise.............................................................................................. 36.3.1 Posicionamentos do Vendedor e do Comprador.......................................... 36.3.2 Verificao de situaes extremas de negociao......................................... 3

    6.4 Anlise de Desvios.............................................................................................. 3

    7. CONCLUSES.......................................................................................................................................................3

    8. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................................................3

  • LISTA DE TABELAS

    Quadro 1 Classificao da ABNT dos Mtodos de Anlise de Valor................................ 3

    Quadro 2 Classificao dos Mtodos de Anlise segundo a Raiz de Valorao................. 3

    Quadro 3 Eventuais Diferenas entre Dados de Transaes no Mercado .......................... 3

    Quadro 4 Notaes Bsicas utilizadas no Clculo dos Valores.......................................... 3

    Quadro 5 Valores Arbitrados para o inicio e final do ciclo opercional................................ 3

    Quadro 6 Notaes utilizadas segundo os agentes de eventual transao........................... 3

    Quadro 7 Valor resultante de eventual negociao entre Comprador e Vendedor.............. 3

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Ciclos caractersticos e transaes financeiras...................................................... 3

    Figura 2 Procedimento para anlise de valor. .................................................................... 3

    Figura 3 Resultado Operacional Disponvel para os Investidores. ...................................... 3

    Figura 4 Curva de Formao da Taxa de Retorno para o Vendedor (TRRv). ................... 3

    Figura 5 Curva de VOIvpr para o vendedor associados a TRRv. ..................................... 3

    Figura 6 Curvas de taxa de retorno para o comprador (TRRc)......................................... 3

    Figura 7 Curva de VOIcpr para o comprador associados a TRRc. ................................... 3

    Figura 8 Curva de valores na situao de taxas de atratividade crescentes. ........................ 3

    Figura 9 Curva de valores na situao de taxas de atratividade decrescentes. .................... 3

  • 11. INTRODUO

    1.1 Panorama Geral sobre a Questo

    No incio dos anos 80, a economia brasileira passou a notar a presena, com uma maior

    intensidade, de empreendimentos do tipo shopping centers1, os quais surgiram em 1966 com

    a inaugurao do Shopping Center Iguatemi em So Paulo, at hoje em operao. Nessa

    dcada, este mercado teve um impulso com a implantao de diversos empreendimentos nos

    grandes ncleos urbanos do pas. Em meados da dcada de 90, houve uma outra onda de

    desenvolvimento de novos produtos, devido, principalmente estabilidade econmica

    proporcionada pelo Plano Real em 1994. Atualmente, os shopping centers representam uma

    parcela cada vez mais significativa do total de vendas do comrcio varejista nacional,

    transformando profundamente os hbitos de consumo e a estrutura do setor de comrcio e

    servios.

    Paralelamente, pode-se citar o crescimento da indstria hoteleira advindo do lanamento de

    novos empreendimentos nas mais diversas regies do pas, os quais foram incentivados

    atravs do FUNGETUR (Fundo Geral do Turismo), cuja finalidade, segundo o INSTITUTO

    BRASILEIRO DE TURISMO [2001] EMBRATUR , tem sido facilitar, por meio de linhas de

    crdito para os investidores, o acesso aos recursos financeiros necessrios para a

    implantao, melhoria, conservao e manuteno de empreendimentos, e servios tursticos.

    1 Termo trazido do ingls, cujo conceito bsico um centro de compras, servios e entretenimentoplanejado, oferecendo maior nvel de conforto, segurana e agilidade em relao ao comrcio varejista derua.

  • 2PANORAMA SETORIAL [1999] destaca que a expanso do setor hoteleiro na dcada de

    70 foi estimulada pelo crescimento do nmero de viagens, provocado pelo desenvolvimento

    da infra-estrutura dos transportes areo e rodovirio, o elevado nvel de atividade econmica

    e os incentivos para os investimentos no setor de turismo oferecidos pela EMBRATUR a partir

    da segunda metade da dcada de 60.

    Mais recentemente, parques temticos/aquticos, resorts2, shoppings temticos, clubes de

    golfe, entre outros, comearam a ganhar flego no Brasil, devido, em grande parte, s

    experincias ocorridas no exterior, principalmente nos pases mais desenvolvidos. Alm

    destes, pode ser destacada a multiplicao de empreendimentos mais complexos na rea de

    sade como hospitais e centros mdicos, compostos por clnicas, centros cirrgicos e

    laboratrios.

    Entretanto, todos os empreendimentos citados tm uma caracterstica em comum: o seu valor

    est intrinsecamente associado ao desempenho obtido na atividade que ali se desenvolve.

    ROCHA LIMA JUNIOR [1994a] denomina-os como empreendimentos de base imobiliria,

    terminologia esta que ser utilizada freqentemente ao longo deste estudo.

    2 Segundo RUSHMORE [1992], resorts so empreendimentos voltados para o turismo de lazer, provendoou esto localizados prximos a atividades como natao, tnis, golfe, canoagem, esqui, patim no gelo,ciclismo, caminhada e outras atividades recreacionais. Alm disso, oferecem ainda espaos para reunies,restaurantes, centros de entretenimento, academia de ginstica e outros servios. Os resorts estousualmente localizados em reas de paisagem exuberante como em regies montanhosas ou na costalitornea. PANORAMA SETORIAL [1999] complementa que estes estabelecimentos so geralmente degrande porte e no contam com um perfil arquitetnico caracterstico, podendo ser verticais ouhorizontais.

  • 3Com o recente surgimento de processos de securitizao3 de empreendimentos no Brasil por

    meio da emisso de ttulos de investimento ou da formao de fundos imobilirios, h

    necessidade, em funo do prprio reconhecimento do lastro do investimento, de uma anlise

    de valor para tais tipologias de empreendimentos. ABUNAHMAN [1999] exemplifica

    diversos casos onde se empregam tais anlises de valor, destacando-se: transferncia de

    propriedades, reorganizaes, fuses e incorporaes de empresas, garantia de emprstimos

    sob forma de hipoteca, aquisio de propriedades hipotecadas, desapropriaes,

    determinao de impostos e de seguros.

    Todos estes casos enfatizam a importncia e a necessidade de atribuio criteriosa de valor a

    empreendimentos de base imobiliria, de forma a atender os diferentes fins a que a valorao

    atende. Contudo, o que se observa no mercado a ausncia de uniformizao mnima nestas

    anlises e, especialmente, no que tange ao emprego de metodologias fundamentadas em

    conceitos amparados insatisfatoriamente.

    As entidades brasileiras, concentradas em associaes e institutos, que so responsveis pela

    elaborao de textos tcnicos e instrues para avaliao de imveis, tm ditado regras e

    diretrizes, as quais so seguidas em muitos casos sem orientao adequada.

    A normalizao brasileira sobre o assunto, medida que prope mtodos avaliatrios a se

    empregar em diferentes situaes e tipologias de imveis, deveria servir de apoio para avaliar

    tais produtos. Todavia, as normas no fornecem subsdios suficientes para orientar a anlise

    3 Securitizao o termo adotado no mercado de capitais brasileiro, trazido do ingls (securitization), para

  • 4de valor destes empreendimentos, entregando a responsabilidade da escolha e aplicao dos

    mtodos para os profissionais que elaboram os estudos especficos.

    Esta funo entregue livremente aos avaliadores permite a abertura de certa forma perigosa

    para arbitragens de valor que poderiam atender a interesses especficos, visto que a

    justificativa de critrios adotados nem sempre clara e precisa. Valores arbitrados podem

    influenciar decises sobre transaes que envolveriam os direitos sobre uma propriedade.

    Nessa orientao, ROCHA LIMA JUNIOR [1995] coloca que usando o exemplo

    brasileiro, quantas decises sobre aplicaes em negcios de base imobiliria shopping

    centers, hotis, parques temticos, etc. - esto sendo tomadas de forma totalmente amadora,

    no sentido de que os indicadores oferecidos para a deciso de investir esto baseados em

    relatrios de avaliao firmados por profissionais e empresas que meramente dispem, nestes

    documentos, clculos de valores, cuja base conceitual, ou frgil, ou est errada.4

    o processo de gerao de ttulos de investimento a serem transacionados no mercado, os quais estoassociados a ativos de empresas.4 Recentemente, um diretor de uma grande empresa multinacional afirmou numa reunio que negciosimobilirios so pssimos, pois usualmente resultam em prejuzo comparativamente a outrosinvestimentos. Neste caso, o prejuzo dele pode estar associado ao lucro de outro agente do mercado, oqual pode ter utilizado tcnicas ou procedimentos de anlise de valor e de investimento sem fundamentosquando da realizao do negcio.

    ROCHA LIMA JUNIOR [1995] complementa que numa polmica sobre a anlise de valor de umempreendimento de base imobiliria, defrontei-me com um estudo que balizava o valor da oportunidadede investimento 40% abaixo do que se atingia usando conceitos e tcnicas avanados neste campo. Estaanlise era processada para o comprador, de forma que ele estava protegido pelo erro, pois, se ovendedor aceitasse a valorao, faria um bom negcio. Sucede que o vendedor no aceitou o negcio e ocomprador, baseado nos indicadores da anlise errada que recebeu, desistiu do negcio. Quem terperdido?

  • 5Quando se faz uma anlise de valor, acaba-se por fornecer subsdios para a tomada de uma

    determinada deciso em relao ao investimento, a qual representa um exerccio de vontade

    baseado em padres de qualidade e num patamar de aceitao de riscos.

    NICHOLSON apud GELBTUCH et al. [1997] reconhece que as decises de investimentos

    em empreendimentos imobilirios, em ltimo caso, dependem de avaliaes de propriedades.

    A anlise de valor sempre uma preocupao primordial para um investidor ou

    empreendedor5 que necessite tomar determinada deciso em relao oportunidade de

    aplicar recursos em determinado negcio, visto que sempre haver alternativas de

    investimento disponveis no mercado. A metodologia adotada deve ser capaz de fornecer, a

    partir de conceitos e tcnicas adequadas, subsdios para que o investidor possa escolher qual

    a melhor alternativa, no seu entender, para os recursos que pretenda imobilizar.6

    A globalizao mundial das economias poderia ser uma sada para a falta de textos

    normativos e tcnicos sobre o assunto no Brasil. Todavia, o estado da arte internacional

    conduz a um quadro preocupante, pois as doutrinas e mtodos adotados esto

    freqentemente, do ponto de vista conceitual, fragilmente aliceradas, ou seja, no possuem

    um suporte tcnico satisfatrio.

    5 Utiliza-se o termo investidor para aquele indivduo que mobiliza recursos na aquisio de certos direitossobre a propriedade para determinada finalidade. J empreendedor pode ser definido como aqueleindivduo que responsvel pelo desenvolvimento do produto imobilirio. Adiante sero discutidos maisdetalhadamente os agentes envolvidos.6 Inmeras vezes, o analista questionado sobre o emprego de procedimentos expeditos de clculo devalor, dos quais alguns so puramente empricos. O argumento simplista que esses poderiam auxiliar oinvestidor na tomada de deciso, visto que estariam fundamentados em experincias passadas e fatoshistricos, no deve ser considerado vlido, na medida em que estas tcnicas usualmente no contemplamtodos os casos em detalhes, sendo, portanto, pouco confiveis quando da sua aplicao.

  • 6NICHOLSON apud GELBTUCH et al. [1997] afirma que o crescimento de empresas

    internacionais e multinacionais, a proliferao de zonas de livre comrcio e o desenvolvimento

    de mercados financeiros mundiais interativos refletem numa acelerao da globalizao da

    atividade econmica e, conseqentemente, cada vez mais anlises de valor devem ter prticas

    padronizadas e conceitos internacionalmente reconhecidos, respeitadas, porm, as

    particularidades dos mercados.

    Por outro lado, a simples importao de conhecimento j difundido sem qualquer anlise

    crtica preocupante, na medida em que enganos e falhas acabam por se perpetuar atravs de

    relatrios tcnicos espelhados no passado.

    No Brasil, agregado falta de fundamento tcnico-conceitual, no h atualmente uma base de

    dados satisfatria que permita a aplicao de metodologias mais elaboradas, as quais

    demandam informaes mais detalhadas.Diversas vezes, o analista necessita obter

    informaes que possam lhe dar maior segurana no estabelecimento do seu juzo de valor

    sobre a expectativa de comportamento futuro, parte integrante do mtodo de valorao7.

    A ausncia ou a fragilidade destes dados resulta na utilizao de parmetros obtidos esmo

    ou extrapolados de outros casos prticos com diferentes configuraes, os quais, portanto,

    so inadequados para a finalidade a que se propem.

    7 Os mtodos mais elaborados para anlise de valor de empreendimentos englobam a construo decenrios, estruturao de modelos matemticos que so manipulados no intuito de se obter uma srie deindicadores que norteiam a arbitragem de valor. Vale ressaltar que a construo de cenrios no se fazapenas pela leitura do passado, mas, tambm, pela crena em determinado comportamento futuro. No sedeve ter a falsa idia que o cenrio futuro ser uma simples repetio de fatos passados.

  • 7Deve-se ressaltar que as transaes de empreendimentos de base imobiliria envolvem

    quantias vultuosas, diversos agentes da economia, prazos longos de anlise e negociaes,

    estudos complexos sobre a qualidade do investimento, eventualmente garantias extrnsecas ao

    bem, entre outros. Alm disso, o comprador, um dos agentes envolvidos, buscar sempre, ao

    imobilizar recursos no ambiente do empreendimento, certo patamar de rentabilidade que

    estar diretamente associado ao valor pago quando da aquisio.

    Face complexidade e importncia destes empreendimentos na economia, considera-se de

    fundamental importncia o estabelecimento de conceitos e mtodos mais adequados para a

    valorao destes ativos, no intuito de fornecer subsdios para a tomada de deciso tanto do

    comprador como do vendedor em relao eventual transao do empreendimento. O

    emprego destas metodologias deve ser orientado atravs do conhecimento tcnico atualmente

    disponvel no somente no Brasil como tambm no exterior, desde que sejam verificadas a

    sua consistncia e respectiva aplicabilidade para esta tipologia.

    1.2 Objetivos do Trabalho

    Diante do quadro apresentado de fragilidade doutrinria e tcnica na arbitragem de valor para

    empreendimentos de base imobiliria, o objetivo da dissertao identificar atravs da

    discusso de conceitos, caractersticas e comportamentos de mercados e respectivos

    produtos, a metodologia mais adequada de anlise de valor para ser utilizada no caso desta

    tipologia de empreendimentos.

  • 8No se trata de desenvolver uma nova metodologia, mas, sim, constatar dentre os mtodos

    empregados, aquele cuja base conceitual e a forma pela qual os procedimentos de anlise so

    aplicados, seja o adequado para o caso em questo.

    1.3 Metodologia do Trabalho

    Qualquer que seja o trabalho cientifico a ser desenvolvido, segundo TEIXEIRA [1999], a

    metodologia , com certeza, um ingrediente que acaba por diferenciar a simples intuio da

    cincia. FERREIRA [1999] define metodologia como o conjunto de tcnicas e processos

    utilizados para ultrapassar a subjetividade do autor e atingir a obra literria.

    Nesta dissertao, estruturou-se o texto na medida em que se desenvolveu a metodologia do

    trabalho, sendo, portanto, indissocivel a compreenso da estrutura do texto sem a leitura da

    metodologia adotada e vice-versa.

    A elaborao desta dissertao iniciou com uma ampla pesquisa da bibliografia disponvel. Os

    documentos, aos quais se tem acesso sem qualquer impedimento de divulgao, seja este por

    confidencialidade de informaes ou por direito de propriedade, encontram-se de certa forma

    escassos. Quando tratam do assunto da anlise de valor, muitas vezes, estes so

    conceitualmente frgeis. Para suprir esta deficincia, agregou-se ao texto a experincia prtica

    que teve sobre o tema de forma a evitar que a teoria se distanciasse da prtica do dia-a-dia,

    apesar das dificuldades reinantes no desenvolvimento de trabalhos na rea em questo.

    No primeiro captulo procurou se identificar o nvel de conhecimento mundial sobre o tema de

    anlise de valor atravs da busca de referncias bibliogrficas no Brasil e no exterior. A base

  • 9do texto foi obtida em livros, revistas especializadas, artigos de jornais, textos disponveis na

    Internet e publicaes do meio acadmico. Todas as informaes foram criteriosamente

    analisadas e, quando inseridas ao longo do texto, foram alvo de comentrios e observaes

    julgadas pertinentes.

    Nesse sentido, destacou-se mais profundamente a questo dos empreendimentos de base

    imobiliria, cuja difuso do conhecimento ainda mais restrita em relao do produto

    imobilirio e de outros setores da economia, apesar de sua importncia no ambiente da

    economia. Ao final do captulo, foram, ainda, explanados os principais objetivos desse texto

    e, conjuntamente, a metodologia de pesquisa adotada e a estrutura do texto em captulos, no

    sentido de elucidar a abrangncia dos assuntos tratados em cada um deles, o que

    fundamental para uma melhor compreenso dessa dissertao.

    O segundo captulo introduz o conceito de valor atravs dos fatores capazes de cri-lo e ao

    mesmo tempo nele interferirem, buscando identificar as principais razes de valorao.

    Verifica-se, tambm, o panorama internacional e brasileiro no que se refere clareza da

    definio de valor.

    J no terceiro captulo, descreve-se os mtodos de anlise de valor difundidos no mercado,

    identificando as razes de valor nas quais se encontram apoiados. Nessa linha, analisa-se

    como os mtodos correntes conduzem a valores para os empreendimentos, destacando-se os

    pontos importantes sob a tica doutrinria que, algumas vezes, so abordados de forma

    equivocada, ou incorreta, na literatura disponvel.

  • 10

    O Captulo 4 estabelece claramente a tipologia de empreendimento tratada por este estudo,

    destacando de forma concisa suas principais caractersticas, agentes envolvidos e suas

    respectivas atuaes, alm de discutir sucintamente a evoluo de valor potencial do

    empreendimento na medida em que este implantado e operado.

    Os conceitos a serem entendidos para anlise de valor de empreendimentos de base

    imobiliria foram trazidos no quinto captulo. Discute-se entre outros aspectos, a orientao

    disponvel para anlise, o conceito de arbitragem e a adequabilidade dos diversos mtodos de

    avaliao tipologia em discusso.

    Uma rotina para anlise de valor de empreendimento de base imobiliria apresentada no

    sexto captulo. O mtodo adotado foi o resultado das discusses anteriores com algumas

    adaptaes e complementaes, procurando-se destacar os fatores e aspectos mais

    relevantes para a tipologia em questo, abordando os principais pontos.

    Paralelamente, expe-se uma aplicao prtica de um empreendimento de base imobiliria

    hipottico, j implantado e em operao, cujas caractersticas e informaes de desempenho

    podem ser admitidas como bastante semelhantes a empreendimentos no Brasil. Este captulo

    visa aprofundar e ilustrar a discusso da manipulao do modelo para arbitragem de valor,

    incluindo uma breve discusso da flutuao do valor em funo dos desvios sobre o cenrio

    referencial.

    O ltimo captulo descreve, resumidamente, as concluses e recomendaes da dissertao,

    as quais sero fundamentalmente fruto das discusses e anlises efetuadas ao longo do

    trabalho. No final do texto encontram-se as referncias bibliogrficas que serviram de base

  • 11

    para este trabalho e que se julga capaz de ilustrar o estado da arte no que se refere

    arbitragem de valor de empreendimentos de base imobiliria, bem como assuntos gerais

    ligados macroeconomia.

  • 12

    2. PRINCPIOS PARA ANLISE DE VALOR DE IMVEIS

    Quando se fala em estabelecer um valor para determinado imvel, deve ser claro que o valor

    a ele associado seria aquele pelo qual o mercado estaria disposto a transacionar esse bem.

    FERREIRA [1999] define valor, entre outros significados, como sendo o equivalente em

    dinheiro ou bens de alguma coisa; preo. Entretanto, pode-se encontrar na literatura diversas

    definies de valor a serem atribudas ao imvel, as quais tm uso impreciso e relativo em

    funo das prprias condies de sua aplicabilidade.

    Nesse sentido, MOREIRA [1994] exemplifica que um edifcio dentro de uma rea a ser

    inundada por um reservatrio em construo s tem valor para qualquer um pelos materiais

    que possam ser apurados na sua demolio; todavia, o proprietrio pode dar um alto valor ao

    edifcio baseado nas rendas futuras que ele poderia obter se no fosse por causa do

    reservatrio; conseqentemente, na desapropriao, a indenizao paga considerando-se

    que ele poderia continuar operando a propriedade e recebendo renda razovel; uma vez nas

    mos do novo proprietrio (o governo) o mesmo edifcio cessa de ter valor, ou, pelo menos,

    no mais que o seu valor de demolio.

    importante destacar que preo no significa necessariamente valor, pois o primeiro se refere

    a uma transao efetuada. O APPRAISAL INSTITUTE [1996] coloca que preo

    representa o montante que um determinado comprador aceita pagar e um particular vendedor

    concorda em receber sob determinadas condies que definem sua transao.

    As teorias de valor desenvolvidas ao longo dos ltimos sculos se consolidaram em dois

    grandes grupos. As teorias objetivas admitiam que o valor de um bem era expresso como

  • 13

    resultado do trabalho necessrio para obt-lo, sendo, portanto, seu principal elemento

    determinante. Assim sendo, um produto que demandasse mais trabalho para ser elaborado

    que outro deveria valer proporcionalmente mais. ROSSETTI [1988] exemplifica que um

    arco teria um valor duas vezes maior que o de uma flecha se ele exigisse o dobro do trabalho

    para sua obteno. No incio do sculo XIX, David Ricardo citado por HUNT [1986]

    afirmava que se a quantidade de trabalho incorporada s mercadorias estabelecer seu valor

    de troca, todo aumento da quantidade de trabalho ter que aumentar o valor da mercadoria

    em que ele for empregado, e toda diminuio ter que baixar este valor.

    Na segunda metade do sculo XIX, surgiram as teorias subjetivas, admitindo que, segundo

    ROSSETTI [1988], a escassez relativa dos bens e a sua utilidade, somadas s escalas de

    preferncias individuais, que seriam os verdadeiros determinantes de valor. Este novo

    enfoque conduziu as anlises para a busca de determinantes baseados na faixa de utilidade da

    qual resultaria o valor que os indivduos, subjetivamente, atribuem aos bens e servios

    disponveis no mercado.

    Destas teorias apareceu a necessidade de identificao dos fatores geradores de valor e como

    estes interferem positiva ou negativamente no valor a ser arbitrado a um determinado bem. Tal

    gerao de valor est presa ocorrncia de uma efetiva transao envolvendo o bem, ou

    seja, algum aceita entregar por esse valor um produto (oferta) e outro aceita pagar este valor

    (demanda). Segundo PELLEGRINO [1983], a teoria da renda, que foi desenvolvida por

    Thomas R. Malthus, passou a considerar enfaticamente o fator de oferta e procura. A anlise

    da demanda baseada na utilidade no seria suficiente para se estabelecer valor, pois a anlise

    da oferta baseada nos custos de produo tambm importante.

  • 14

    TEIXEIRA [1999] conclui que luz da teoria econmica, pode-se sintetizar o conceito de

    valor e por sua vez de preo dos bens e servios como funo das condies de oferta e

    procura. FANNING et al. [1994] afirmam que o balano entre a oferta e a demanda num

    instante qualquer a chave para estimar valor.

    Contudo, ao se proceder uma anlise de valor, no se considera qualquer tipo de mecanismo

    que seja capaz de interferir de forma contundente nos princpios da economia, como por

    exemplo a formao de cartis ou monoplios, os quais teriam o poder de dirigir as relaes

    entre a oferta e demanda.

    Portanto, reconhece-se a premncia na identificao dos fatores que so capazes de agregar

    valor a um produto ou servio, sem os quais dificilmente haveria uma transao no mercado

    envolvendo os direitos sobre estes. Tais fatores interferem no crescimento ou na retrao da

    demanda e/ou da oferta, influenciando, logo, os valores vigentes na economia.

    2.1 Fatores Geradores de Valor

    Valor extrnseco ao bem, servio ou produto para o qual ele atribudo e, portanto, no ,

    e nunca ser, um dos seus atributos. Segundo o APPRAISAL INSTITUTE [1996], valor

    concebido nas mentes das pessoas que constituem o mercado. As relaes que formam valor

    so complexas, e valores mudam quando quaisquer dos fatores influenciadores de valor se

    alteram.

    Para que um bem qualquer tenha algum valor, segundo MILL apud ROSSETTI [1988], duas

    condies devem ser preenchidas: [i] primeiramente, ele deve corresponder a alguma

  • 15

    utilidade, convergir para algum fim, satisfazer alguma necessidade; e [ii] em segundo lugar, sua

    obteno deve ter esbarrado em alguma dificuldade econmica.

    Valor depende, portanto, dos desejos humanos que variam, no somente ao longo do tempo,

    mas tambm para cada indivduo. Conceitos de valor esto necessariamente relacionados

    com os objetivos que uma comunidade estabelece para si mesma.

    Quatro fatores econmicos independentes so determinantes na gerao de valor: Utilidade,

    Escassez, Desejo e Acesso a Meios de Pagamento. Todos estes fatores devem ser

    considerados quando da anlise de valor, pois podero conduzir a distintas diretrizes para

    arbitragem de valor.

    A complexa interao entre estes quatros fatores que geram valor reconhecida a partir do

    equilbrio entre a oferta e a demanda. Ao longo do texto, feita uma anlise dos fatores que

    so capazes de agregar valor a um produto sempre a partir do equilbrio entre a oferta e a

    demanda, visto que este bem estar, constantemente, exposto s condies de um mercado.

    Busca-se identificar tendncias de comportamento que no significam obrigatoriedade, mas

    apenas movimentos naturais da economia.

    A Utilidade de um bem, sua Escassez ou abundncia, a intensidade do Desejo humano para

    adquir-lo, e o efetivo Acesso a Meios para compr-lo, so todos fatores que afetam a oferta

    e a demanda por um determinado bem, numa dada circunstncia e, conseqentemente, o

    preo pelo qual poderia ser transacionado no mercado.

  • 16

    O preo de uma propriedade, segundo o APPRAISAL INSTITUTE [1996], varia

    diretamente, mas no necessariamente proporcionalmente, com a demanda, e inversamente,

    mas no necessariamente proporcionalmente com a oferta. Em outros termos, um aumento na

    demanda por um produto tende a causar um aumento o valor deste. Por outro, um aumento

    na oferta tende a reduzir seu valor.

    2.1.1 Influncia dos Fatores na Demanda e na Oferta

    Demanda por um bem gerada pela sua Utilidade e tende a aumentar na medida em que ele

    se torna mais til. Por outro lado, quanto mais escasso seja um determinado produto (oferta

    limitada em patamares relativamente baixos quando comparados com a demanda), existe uma

    tendncia de crescimento nos nveis de demanda por este bem.

    As foras que geram e estimulam o Desejo influenciam positivamente a demanda, no sentido

    que, quanto maior seja este por um bem, maior a propenso de haver um incremento de

    demanda pelo mesmo. Embora os anseios humanos por produtos possam ser ilimitados, o

    Desejo restringido pela condio de Acesso aos Meios de Pagamento. Assim sendo, a

    inabilidade ou dificuldade para comprar produtos que tenham preos mais caros afeta a sua

    respectiva demanda e, portanto, tende a ocasionar sua retrao.

    Analogamente, a Oferta de um bem influenciada pela sua Utilidade. Existe uma tendncia

    natural de um aumento na oferta dos produtos que sejam mais teis. Em outras palavras,

    mantido o mesmo padro de demanda, produtos que apresentem maior grau de utilidade

    tendem a serem mais ofertados do que os demais.

  • 17

    J a Escassez, por sua vez, acaba por limitar a oferta dos produtos. Mantidos os nveis de

    demanda, a escassez conduz a uma reduo na oferta de produtos. Segundo o APPRAISAL

    INSTITUTE [1996], especificamente no mercado imobilirio, a oferta composta pela

    quantidade de um tipo de propriedade disponvel para venda ou locao, por vrios preos,

    num dado mercado, por um dado perodo de tempo. Por se tratarem de produtos nicos no

    que tange aos seus atributos, pode-se afirmar que as propriedades imobilirias so, em tese,

    relativamente mais escassas do que outros bens da economia, no que refere oferta

    disponvel.

    Para exemplificar, pode-se afirmar que terrenos para desenvolvimento imobilirio so

    usualmente abundantes, porm apresentam certa limitao no que se refere a atributos para

    um uso especfico. Quando h um aumento na demanda por terrenos em reas adequadas

    para novos desenvolvimentos, existe uma tendncia de reduo da oferta em funo da

    prpria incapacidade de disponibilizao de outros terrenos e do atendimento desta procura

    crescente. Soma-se a estes fatores, tambm, o surgimento de eventuais movimentos

    especulativos no sentido de elevar os preos praticados no mercado.

    A restrio de Acesso a Meios de Pagamento diminui a demanda por bens e,

    conseqentemente, tende a pressionar a oferta no sentido de reduz-la. Por outro lado, no

    caso de uma expanso neste acesso, uma demanda adicional gerada, o que tender a

    aumentar a oferta de novos produtos.

    Num mercado em evoluo caracterizado pelo acrscimo contnuo da demanda, a oferta de

    produtos imobilirios pode estar relativamente limitada, o que gera sua escassez, conduzindo a

  • 18

    preos mais altos num curto perodo. No entanto, a oferta pode aumentar aps um prazo

    longo e trazer consigo um declnio no patamar dos preos, admitindo que a demanda

    permanea relativamente constante neste perodo de anlise.

    Geralmente no mercado imobilirio, a demanda tem um impacto mais imediato no patamar de

    preos de mercado do que a oferta em funo dos prazos longos necessrios e dos montantes

    elevados de recursos financeiros, matria-prima e mo-de-obra para produo de novos

    empreendimentos. WEIMER [1960] afirma que em perodos relativamente curtos um ano

    ou menos a presso da demanda muito mais importante que a de oferta, pois para a

    maioria dos produtos, como no caso dos imveis, simplesmente impossvel alterar

    materialmente a quantidade disponvel durante aquele perodo curto de tempo. Em funo

    dessa dificuldade, conclui-se que a oferta considerada mais inelstica que a demanda, ou

    seja, mudanas na oferta disponvel alteram mais acentuadamente os preos praticados no

    mercado do que as mesmas mudanas na demanda.

    Num mercado onde existe uma oferta de produtos significativamente maior que a respectiva

    procura, o mercado tende a reduzir a oferta de novos empreendimentos8 em funo da

    eventual reduo dos preos praticados no mercado. O empreendedor visualiza que, caso

    no haja alteraes nos seus custos de produo, preos menores acarretam uma

    8 Na Construo Civil, a oferta de novos empreendimentos no instantnea, pois a sua produo solicitaum prazo longo desde a deciso de um novo lanamento at a sua entrega efetiva. Portanto, h de se fazeruma diferenciao entre a oferta existente (ou seja, produtos prontos) e a potencial/futura (produtos emfase de implantao). Em determinados segmentos de mercado, a existncia de oferta potencial podereduzir a demanda existente, na medida em que ela no esteja sendo atendida satisfatoriamente com osprodutos disponveis no mercado e, portanto, os eventuais adquirentes aceitam postergar, se possvel,seus planos.

  • 19

    remunerao dos investimentos abaixo dos padres anteriores. Alm disso, a sobre-oferta

    vigente provavelmente influenciar na velocidade de vendas de um produto e,

    conseqentemente, na rentabilidade potencial do negcio.

    HINES [1976] exemplifica que se, num determinado instante, a demanda para determinada

    tipologia de residncia numa rea urbana excede a oferta disponvel que foi construda, tais

    imveis tendem a ser vendidos por preos muito altos. Por outro lado, se houver um aumento

    da oferta de residncias, fruto da produo do mercado, em relao demanda momentnea,

    os preos tendero a cair para nveis mais baixos, o que, por sua vez, poder eventualmente

    expandir a demanda, visto que novos potenciais compradores podero ter acesso a meios de

    pagamento para aquele bem.

    Quando perodos longos de tempo so considerados, fatores como conhecimento e

    tecnologias disponveis, mudanas nos desejos e anseios dos indivduos, desenvolvimento de

    novos produtos, alteraes no tamanho e composio da populao, alteraes na

    concepo dos empreendimentos, etc., acabam por influenciar mais intensamente a demanda,

    provocando ajustes nos produtos que esto sendo ofertados no mercado.

    2.1.2 Utilidade

    A utilidade a capacidade de um produto satisfazer uma necessidade (por exemplo, abrigo,

    vesturio, alimentao, etc.) de um ser humano. CAMARGO apud PELLEGRINO [1983]

    cita que a idia de valor est intimamente ligada de utilidade, isto , s tem valor aquilo que

    til. Logo, existe uma relao, passvel de ser reconhecida, entre as qualidades de um bem e

    as necessidades humanas que podem ser concretizadas (atendidas).

  • 20

    WEIMER [1960] afirma que a utilidade de um imvel resultado de uma srie de retornos

    antecipados que se tornaro disponveis ao longo de anos, os quais podem estar na forma de

    recursos financeiros ou por meio de satisfaes provenientes do uso da propriedade.

    As necessidades dos indivduos esto sempre em transformao, fruto da prpria evoluo da

    sociedade. FICEK et al. [1994] colocam que a utilidade de uma propriedade pode aumentar

    ou diminuir de um dia para outro ou pode mudar gradualmente, dependendo das foras

    atuantes no mercado. Isto afeta as relaes entre demanda e oferta e, portanto, valor.

    Com efeito, o valor de um litro de sangue ou de um copo de gua est intimamente associado

    necessidade de determinado indivduo em obt-lo. Um litro de sangue para uma pessoa

    hemoflica tende a ser mais valioso do que para a maioria da populao. FERNANDEZ apud

    PELLEGRINO [1983] menciona o seguinte exemplo: um copo de gua para um expositor

    tem um valor relativo uma vez que ter sua garganta seca medida que realiza sua

    apresentao; para o pblico presente no auditrio, o valor tende a ser bem menor, inclusive,

    passando desapercebido; porm, para um ser humano padecendo de sede no deserto este

    mesmo copo de gua teria certamente um valor potencial muito maior.

    Todas as propriedades imobilirias devem ter utilidade para seus locatrios, proprietrios,

    ocupantes ou investidores. Propriedades residenciais satisfazem a necessidade de abrigo.

    Propriedades comerciais podem ter caractersticas de projeto que realcem sua atratividade

  • 21

    para serem ocupados por determinadas atividades9. O valor dos benefcios proporcionados

    por estas propriedades est relacionado com sua atratividade e utilidade para um eventual

    ocupante.

    Empreendimentos residenciais so visualizados pelos seus potenciais compradores atravs de

    um conjunto de atributos, entre eles: localizao, espao interno, disposio e nmero de

    cmodos, facilidades de infra-estrutura e padro de acabamento. A partir do julgamento

    pessoal destes atributos vis--vis s necessidades de moradia da famlia, o comprador

    conduz sua escolha dentre os imveis disponveis para aquele que lhe seja mais til.

    No caso de imveis ocupados por terceiros, o valor de um empreendimento para um locador

    pode ser convertido em receita na forma de aluguel. Os benefcios derivados de produtos

    geradores de renda podem ser usualmente medidos em termos de fluxos de caixa, que so

    indicadores do acmulo de riqueza derivado da explorao do imvel.

    A influncia da utilidade no valor depende das caractersticas da propriedade. Tamanho,

    projeto, localizao e outras formas especficas de utilidade podem influenciar no valor do

    bem.

    Segundo, ainda, o APPRAISAL INSTITUTE [1996], os benefcios da propriedade de um

    bem so derivados do agrupamento dos direitos que um proprietrio possui, notadamente o

    9 O mercado de empreendimentos comerciais, notadamente escritrios, das grandes cidades brasileiras vemapresentando uma evoluo em termos de padres de acabamento e facilidades tecnolgicas incorporadasaos projetos e edificao. Entretanto, tais escritrios de alto padro s podero ser mais valiosos namedida em que haja empresas dispostas a usufruir desta qualidade. Qual o grau de utilidade do pisoelevado para uma biblioteca ou uma livraria?

  • 22

    direito de uso/ocupao. Restries nos direitos de propriedade (penhora, locao em juzo,

    hipoteca, reivindicaes, gravames, nus, entre outros contra o registro da propriedade)

    podem causar um impacto negativo nos seus benefcios, sejam eles j disponveis ou ainda

    potenciais, e, portanto, tendem a reduzir o valor atribuvel a uma propriedade, ou ento, o

    preo pelo qual passvel de ser transacionado10. Algumas restries so capazes at mesmo

    de influenciar a possibilidade de transferncia do bem, afetando seu valor.

    De maneira anloga, uma propriedade somente pode alcanar seu valor potencial mximo, se

    puder legalmente desempenhar sua funo de modo pleno. Regulamentaes ambientais,

    condicionantes de zoneamento, restries na escritura do imvel, e outras limitaes nos

    direitos de propriedade podem modificar a utilidade da propriedade e, conseqentemente, o

    respectivo valor potencial. Ao elaborar uma anlise de valor, deve-se investigar o suporte

    para determinada utilidade, verificando, inclusive a qualidade do investimento no seu uso atual.

    Em suma, qualquer bem ou produto ao ser transacionado deve ser til para o adquirente, no

    sentido de que seja possvel arbitrar valor a este em funo do seu grau de utilidade. Contudo,

    nem todos os bens teis tm valor, visto que a oferta influencia significativamente a capacidade

    que a utilidade tem em agregar valor. Para exemplificar, reconhece-se a gua como um bem

    indispensvel (face sua necessidade vital), cujo valor depende da oferta disponvel.

    10 Cabe salientar que imveis hipotecados ou penhorados no necessariamente perdem valor, mas, sim,incorporam um compromisso ao seu estado vigente a ser considerado quando da negociao entrecomprador e proprietrio.

  • 23

    2.1.3 Escassez

    O conceito de escassez est associado oferta diminuta de um bem em relao respectiva

    demanda, conforme afirma o APPRAISAL INSTITUTE [1996]. Os recursos disponveis na

    economia no so ilimitados, visto que a sua capacidade de produo e oferta est restrita a

    uma lista de opes de produtos em quantidades finitas, as quais so condicionadas pela

    preferncia momentnea da sociedade, em detrimento de outros produtos.

    Em geral, se a demanda para um determinado bem constante, a escassez deste no mercado

    provoca sua valorizao potencial, ou seja, h uma tendncia de crescimento dos preos

    praticados. Isto se deve ao fato que, na sociedade, os indivduos tm uma avidez de riqueza

    no sentido de lhes proporcionar melhoria no padro de vida e do bem-estar material.

    ROSSETTI [1988] coloca que, medida que os bens alcanam nveis de oferta que possam

    atender satisfatoriamente sua procura, a saturao do mercado ser compensada pela

    criao de outros bens, perpetuando-se assim o problema das necessidades e desejos

    insatisfeitos.

    Por outro lado, consumidores geralmente escolhem entre os bens que fornecem a mesma

    utilidade ou similar, aqueles com menores preos e, portanto, estes tendem a ter maior

    demanda, at o surgimento de um outro produto mais til. 11

    11 Utilizando um exemplo atual de como a sociedade evolui em termos de desejos e necessidades, quandolanado em 1990, o preo de um aparelho de telefone celular correspondia a valores de hoje, corrigidospelo IPC da Fipe, cerca de R$ 33.400 (trinta e trs mil e quatrocentos reais), segundo a REVISTA EXAME[2001]. Passados 11 anos do seu lanamento, a oferta foi ampliada imensamente (reduo da escassez),podendo-se adquirir um aparelho mais moderno por apenas R$ 400 (quatrocentos reais). No mesmo ano de1990, foi lanado o aparelho de vdeolaser por um preo de R$ 3.100 (trs mil e cem reais). Atualmente,

  • 24

    Voltando ao exemplo dos terrenos, estes so geralmente abundantes, mas so relativamente

    escassos aqueles cujas caractersticas os tornam atraentes e teis e, portanto, tendem a ter

    maior valor. HINES [1976] acrescenta que cada terreno nico em termos de, no mnimo,

    um atributo (notadamente, localizao), o que torna relativamente escassos terrenos

    adequados para construo de melhorias no intuito de desenvolver determinada atividade.

    Um bem, incluindo produtos imobilirios, s tem valor, se sua utilidade estiver associada com

    a escassez deste no mercado. Como exemplo, o ar que se respira, apesar do seu alto grau de

    utilidade para todos os indivduos, no tem valor devido sua abundncia na superfcie da

    Terra12. FICEK et at. [1994] complementam que o ar (gs oxignio) em mares profundos

    escasso para um mergulhador, tendo certamente sua utilidade e, por conseguinte, algum valor.

    Neste sentido, a oferta de produtos, traduzida pelo conceito de escassez, essencial na

    arbitragem de preos a serem praticados no mercado. Muitas vezes no mercado imobilirio,

    anlises de absoro num instante caracterizado por demanda relativamente estvel revelam

    que uma quantidade adicional de propriedades disponveis tende a reduzir o seu preo

    provvel de venda. Por outro lado, uma limitao desta quantidade tende a causar um

    aumento no patamar de preos praticados.

    praticamente no h mais oferta deste produto no mercado, face perda de sua utilidade e o surgimento denovos produtos que atendem de melhor maneira os consumidores.

    12 Atualmente, o ar disponvel , de certa forma, apropriado para ser consumido pelos seres vivos.Contudo, caso haja um aumento significativo nos nveis de poluio verificados, haver necessidade detratamento do ar antes de sua liberao para a atmosfera, introduzindo, portanto, custos de produo de arlimpo e, eventualmente, valor ao ar disponvel.

  • 25

    2.1.4 Desejo

    Desejo um anseio de um potencial comprador para obter um determinado item de forma a

    satisfazer suas vontades individuais, alm daquelas essenciais para sustentar a sua prpria

    vida. Utilidade e escassez, conjuntamente, no conferem ao bem valor a menos que haja

    desejo por parte de um potencial comprador. Na medida em que um produto seja mais

    almejado, a tendncia natural um aumento na demanda por este bem e, por conseguinte,

    valorizando-o potencialmente.

    Os conceitos de estima, apreo e desfrute esto intimamente associados ao desejo de possuir

    o produto ou mesmo ostent-lo. Os valores atrelados a estes conceitos dependem da forma

    como o bem se insere no subconsciente de cada indivduo, correspondendo, portanto, a

    valores de certa forma subjetivos, no associados a aspectos de utilidade ou necessidades

    bsicas. Nesta mesma linha, um determinado bem pode fazer parte de um patrimnio cuja

    importncia histrica est associado no sua utilizao prtica, mas ao que ele representa

    como memria de tempos passados da humanidade.

    O conceito de desejo esclarece o aparente paradoxo de que diamantes um luxo, um bem

    no essencial tenham mais valor do que a gua, que imprescindvel para a sobrevivncia.

    H ainda determinados bens cuja anlise de valor conduzida por meio de seus atributos

    estticos, como por exemplo esculturas e pinturas numa galeria de arte. A maior parte das

    negociaes envolvendo quadros de pintores famosos feita diretamente entre

  • 26

    colecionadores, longe de casas de leilo e em total discrio13. Os atributos utilizados para

    arbitragem dos valores destas obras so extremamente subjetivos, como por exemplo, a

    capacidade de produo de novas obras pelo mesmo autor14, a qualidade artstica da obra,

    sua importncia histrica, etc. Nesse sentido, o patamar de valor no qual tal obra de arte ser

    transacionada topicamente, estabelecer-se- em funo do aceite do preo proposto pelo

    vendedor para potenciais compradores, os quais so usualmente movidos pela obsesso pelas

    obras de um determinado artista, pela vontade de ganhar prestgio na sociedade ou mesmo

    pelo genuno amor pelas artes.

    Especificamente no ramo imobilirio, a deciso de investir em determinado negcio vai alm

    do simples objetivo de maximizao dos resultados econmico-financeiros. RATCLIFF;

    SCHWAB [1970] afirmam que esta deciso reflete objetivos de prestigio, orgulho pessoal e

    satisfao de posse da terra. Portanto, decises de investimento envolvem aspectos

    incomensurveis, assim como elementos subjetivos. RATCLIFF; SCHWAB [1970]

    complementam que uma viso clara das implicaes financeiras de uma deciso de

    investimento possibilita ao indivduo avaliar o montante de recursos financeiros necessrios

    para satisfazer seus desejos no monetrios. Isto pode ser visualizado por atributos intangveis

    dos imveis, como por exemplo, suas caractersticas arquitetnicas.

    13 Para se ter uma idia do tamanho do mercado, uma tela de Van Gogh foi vendida em leilo daChristies por US$ 82,5 milhes em 1990, porm cogita-se que j ocorreram transaes da ordem deUS$ 117 milhes por uma pintura de Paul Czanne.14 O que, obviamente, um fator limitante da oferta disponvel de novas obras de arte com atributos dequalidade semelhantes. Isto explica o porqu da valorizao das obras do autor aps sua morte.

  • 27

    2.1.5 Acesso a Meios de Pagamento

    Segundo o APPRAISAL INSTITUTE [1996], o acesso a meios de pagamento reflexo da

    capacidade de um indivduo, ou um grupo deles, de participao num segmento de mercado,

    isto , adquirir bens e servios atravs de recursos financeiros ou em termos equivalentes. A

    capacidade de consumo destes indivduos restrita ao seu poder de compra ou, em ltima

    instncia, sua renda disponvel. FICEK et al. [1994] afirmam que o Acesso a Meios de

    Pagamento normalmente gerado por uma renda pessoal, patrimnio existente e/ou

    extenso de crdito.

    A maioria das aquisies de imveis recai extensivamente em recursos emprestados de

    terceiros. Isto se deve ao fato de que os produtos imobilirios so geralmente bens de custo

    unitrio relativamente elevados. Como difcil a acumulao de poupana para pagamento de

    imveis vista por parte da maioria da populao, h necessidade de diferir o pagamento de

    uma parte do preo durante prazos longos. Portanto, a indisponibilidade de financiamentos no

    sentido de obter crditos suficientes para aquisio de imveis um fator que pode causar

    uma retrao de mercado e diminuir o valor dos bens.

    A demanda por bens de valores elevados bastante influenciada pelo acesso aos meios de

    pagamento no mercado. As condies conjunturais vigentes na economia so capazes de

    influenciar neste acesso, na medida em que volume disponvel, custos de captao e

    pagamento, prazos de amortizao e requisitos para aprovao de crdito esto intimamente

    relacionados com a situao geral macroeconmica. Para ilustrar esta questo, uma poltica

    de juros altos acaba por aumentar o custo de captao de recursos para aquisio de imveis

  • 28

    e, conseqentemente, reduz a capacidade de pagamento por uma parcela da populao,

    acarretando a reduo da oferta.

    Apesar de no afetarem diretamente o valor das propriedades, a inexistncia de linhas de

    crdito para aquisio de imveis influencia a demanda por tais bens, de forma que

    influenciam os preos praticados no mercado.

    Qualquer estimativa vlida de valor de uma propriedade inclui uma avaliao precisa da

    capacidade do mercado de pagar pela propriedade. Imveis mais valiosos tendem a ter

    maiores dificuldades de serem transacionados em mercados cujo volume de recursos

    financeiros disponveis est restringido15, reduzindo, portanto, sua liquidez.

    HINES [1976] exemplifica que, sob condies econmicas descritas como perodos

    recessivos, uma famlia ou um indivduo pode desejar adquirir uma casa, mas, geralmente, no

    h crditos e fundos adequados para o pagamento dos preos vigentes das casas. Voltando

    ao exemplo do ar, caso todos os mergulhadores no tivessem acesso a meios de pagamento,

    exemplificam FICEK et al. [1994], eles no poderiam comprar o ar e, portanto, valor no

    seria agregado a ele, dentro deste nicho de mercado.

    Logo, o Acesso a Meios de Pagamento necessrio para uma demanda efetiva. Valores de

    mercado podem declinar para nveis relativamente baixos durante perodos de recesso por

    causa de uma superoferta de propriedades disponveis face demanda existente. Num outro

    15 No sentido que se tornou reduzido. Em mercados onde os recursos financeiros so restritos,provavelmente j ocorreu uma acomodao entre os nveis de oferta e demanda, que, por sua vez, jcausou um reflexo direto no valor destes produtos mais caros.

  • 29

    extremo, o preo mdio desses imveis pode subir rapidamente, caso haja um aumento nos

    custos, ou reduo do volume disponvel de financiamentos para produo de novos

    produtos.

    2.2 Conceitos de Valorao

    Ao elaborar um estudo de valorao, um profissional no determina o valor de um bem. O

    que se faz um juzo de valor para aqueles que transacionam usualmente no mercado,

    estabelecendo-se somente uma faixa referencial de mercado. Tal juzo de valor est ligado aos

    anseios e necessidades dos agentes da eventual transao. ROCHA LIMA JUNIOR [1994a]

    afirma que valor s transparecer na economia, quando se estabelecer um patamar de preo

    em torno do qual se operam trocas no mercado e, em tese, a cada momento e a cada

    transao o valor se altera, dependendo de como sejam as presses da conjuntura

    econmica, o nvel de procura e oferta alternativa existente no mercado, configurando-se de

    forma extremamente voltil.

    O valor arbitrado pode ser diferente daquele pelo qual o bem ser transacionado, pois este

    ser fruto da habilidade para comercializar dos envolvidos na negociao. Caso ambos,

    comprador e vendedor, tenham a mesma habilidade, o preo da transao ser

    necessariamente prximo do valor arbitrado. ROCHA LIMA JUNIOR [1998a] destaca que

    na hiptese de ocorrer uma transao envolvendo um determinado bem, o nico que se

    poder dizer que, [i] somente para aqueles que transacionaram e [ii] nas condies

    particulares de mercado e de estado de anseios e necessidades dos que fizeram a transao,

    o bem teve valor correspondente ao preo da transao, ou ao arbtrio da troca, se essa foi a

  • 30

    sua natureza. Num momento seguinte, em que j ter ocorrido alguma modificao de estado

    dos que transacionaram, ou alterao do meio, estes mesmos podero alterar seu juzo de

    valor sobre o bem, de forma tal que transao no tenha, por exemplo, reversibilidade no

    mesmo nvel de valor, mas em outro.

    Ao compreender os aspectos que agregam valor aos bens, pode-se afirmar que o processo

    de valorao possui trs razes distintas que norteiam os mtodos aplicveis nas anlises de

    valor de empreendimentos do setor da Construo Civil: [i] raiz de custo de reposio ou

    reproduo16, associada ao que precisa ser pago17; [ii] raiz de troca, associada

    possibilidade de venda ou troca do produto; e [iii] raiz de uso, associada ao atendimento das

    necessidades funcionais.

    A raiz de custo est fundamentada no esforo despendido para a produo do bem. Tal

    esforo composto de todos os insumos, matria-prima, mo-de-obra, equipamentos,

    energia, recursos financeiros e tecnologias empregadas para que o produto seja elaborado no

    intuito de atender s necessidades e anseios dos potenciais compradores.

    Segundo FERNANDES apud PELLEGRINO [1983], o conceito de troca surgiu quando o

    homem comeou a produzir algo mais do que estritamente necessrio para viver, propiciando

    excedentes para trocar.

    16 No caso de empreendimentos da Construo Civil, o que se utiliza o conceito de reproduo, visto queno se pode fazer reposio do produto, pois cada um tem caractersticas particulares (localizao, porexemplo), que o torna mpar.17 Traduzido pelo reestabelecimento do poder de compra do empreendedor para realizar novos negcios nomesmo setor.

  • 31

    Associada capacidade de um bem ser trocado por outros bens, ou por dinheiro, a raiz de

    troca admite que a arbitragem est condicionada, em princpio, pelas relaes entre a oferta e

    a demanda e, portanto, resultado da interferncia dos interesses de inmeros indivduos e

    instituies. O interesse primordial para a aquisio do bem corresponde ao seu uso, que

    pode ser admitido como a medida do potencial de seu desempenho em uma atividade

    econmica especfica.

    A raiz de uso est associada capacidade de um bem satisfazer s necessidades e anseios

    humanos. Logo, a arbitragem de valor pela raiz de uso depende do estado atual do bem em

    relao concluso de sua implantao e das possibilidades de retorno do capital investido

    ao longo do tempo de uso.

    As razes de custo e de uso constituem usualmente os limiares para o interesse da troca, sendo

    variveis com o tempo. Segundo TEIXEIRA [1999], sob o ponto de vista do comprador, a

    questo determinar o valor mximo que ele est disposto a pagar em funo do retorno,

    fruto da sua utilidade, que o bem a ser adquirido proporcionar, conduzindo, portanto,

    valorao atravs da raiz de uso. J para o vendedor, trata-se de saber qual ser o valor

    mnimo a ser aceito na operao, o qual ser traduzido pela arbitragem por meio da raiz de

    custo. TEIXEIRA [1999] complementa que estes valores so os que se confrontam numa

    negociao.

    Os condicionantes conjunturais influenciam os fatores que agregam mais-valia nos bens.

    Segundo o APPRAISAL INSTITUTE [1996], a natureza dinmica das foras ambientais,

    governamentais, sociais e econmicas que influenciam o valor dos imveis acarretam em

  • 32

    mudanas que so inevitveis e contnuas, podendo ser graduais e de difcil discernimento.

    Mudanas nem sempre so previsveis e valores estimados podem ser vlidos somente por

    um perodo relativamente breve, aps a data de anlise.

    As foras sociais esto relacionadas, segundo o APPRAISAL INSTITUTE [1996], com as

    caractersticas populacionais, principalmente, sua composio demogrfica, cujas tendncias

    so fundamentais para revelar a demanda potencial. Podem ser indicados, a ttulo de exemplo,

    que o perfil da populao composio por idade, sexo, renda, ocupao, grau de

    escolaridade, etc. est presente na formao do valor dos bens. As foras sociais tambm

    se manifestam por atitudes com respeito educao, leis e ordem, a opes de estilo de vida,

    participao e mobilidade social, alm de fatores psicolgicos. Podem ser citados exemplos

    de pases que sofreram os dramas causados pelas guerras, que mesmo aps anos de seu

    trmino, a populao ainda persiste com hbitos justificveis (estoque de alimentos, acmulo

    excessivo de poupana, etc.) somente em momentos de crise.

    Foras econmicas so importantes em funo da habilidade da populao em satisfazer seus

    anseios e necessidades atravs da disponibilidade de crdito. Evoluo e fontes de emprego,

    disponibilidade de mo-de-obra, crescimento demogrfico, nveis de salrios, depsitos

    bancrios, expanso da indstria, nveis de preos, custo e disponibilidade de financiamentos

    podem ser citados como algumas das caractersticas relacionadas com a circunstncia

    econmica em determinado momento.

    Atividades legais, polticas e governamentais, conforme afirma o APPRAISAL INSTITUTE

    [1996], em todos os nveis, podem ter um grande impacto em valores. O contexto legal, num

  • 33

    dado momento e local, pode ofuscar as foras naturais de mercado de oferta e demanda. O

    governo fornece vrios servios e facilidades que afetam, por exemplo, padres de uso do

    solo. Portanto, regulamentaes e restries governamentais18 influenciam o valor de um

    determinado bem.

    Foras ambientais como precipitao de chuva e neve, temperatura, umidade, topografia e

    solo, contaminantes txicos, barreiras naturais (rios, montanhas, lagos, oceanos, etc.),

    sistemas de transportes (metr, rodovias, aeroportos, vias fluviais navegveis, etc.), entre

    outros, so aspectos, de acordo com o APPRAISAL INSTITUTE [1996], que interferem no

    valor dos produtos imobilirios. Estas foras podem ser traduzidas pela localizao do

    produto em relao vizinhana e, tambm, pelos mecanismos de interao existentes entre

    as mesmas e o produto.

    2.3 A Questo da Diversidade de Valores

    Segundo FERNANDES [1983], existem duas escolas para conceituar valor. A escola

    plurivalente admite a existncia de inmeros tipos de valor, pois esta liga o conceito de valor

    finalidade para a qual ele determinado e considera que o valor, como elemento

    extremamente subjetivo, varia facilmente ao sabor dos acontecimentos mais corriqueiros.

    PELLEGRINO [1983] complementa que os adeptos desta escola conferem ao valor um

    carter extremamente subjetivo, sujeito s mais diversas variaes, em funo dos mais

    insignificantes detalhes.

    18 Podem ser citados os seguintes exemplos: regulamentos de zoneamento, cdigos de edificaes,

  • 34

    Tal escola parte de pressuposto que dependendo da raiz de valorao e do mtodo de

    clculo utilizado para se arbitrar valor, este configurado como um tipo especfico. Esta linha

    de pensamento vai de encontro aos conceitos mais modernos e difundidos no meio tcnico da

    atualidade, cuja crena est num valor a ser arbitrado independente da finalidade ou da

    entidade envolvida com uma eventual negociao com o bem. Cada indivduo pode ter uma

    percepo de valor diferente, o que no necessariamente se traduz em inmeros valores para

    determinados bens.19

    ROCHA LIMA JUNIOR [1994a] argumenta que no h diferentes valores na economia,

    mas, sim, diferentes vetores para que qualquer das partes envolvidas numa transao

    estabelea juzo de valor sobre o qual est disposto a exercitar a troca do bem ao qual se

    associa este valor, que acabam se denominando de valor, mas que, em realidade so

    diferentes mecanismos de valorao do bem.

    O valor fruto do reconhecimento do equilbrio entre oferta e demanda num certo momento.

    CHANDAS apud PELLEGRINO [1983] argumenta que embora num dado momento sejam

    muitas as pessoas interessadas num bem, o avaliador no exerccio de suas funes no est no

    mercado, sendo apenas um seu observador. E complementa que avaliar independe da

    finalidade, porque avaliar j a finalidade.

    impostos, proteo contra incndio, domnio til, controles de aluguis, etc.19 Para ilustrar o conceito de percepo de valor, EUSTACHIO [2001] descreve a histria do boteco debeira de estrada que oferecia apenas quatro opes de lanches e os preos eram os seguintes: po compresunto: R$ 2,00; po com mortadela: R$ 1,50; po sem presunto: R$ 1,00; po sem mortadela: R$ 0,50. Umeventual consumidor poderia no ter a mesma percepo de valor do comerciante e no estaria disposto apagar um preo maior pelo produto sem presunto em relao ao sem mortadela.

  • 35

    J a escola univalente, segundo FERNANDES [1983], estabelece que para um dado

    momento o valor nico independente de sua finalidade, porm admite que valor no uma

    propriedade intrnseca do bem, sendo uma caracterstica do mercado, resultante da oferta e

    da procura. Eventuais variaes so resultantes do grau de preciso considerado no

    estabelecimento do valor. CAIRES apud PELLEGRINO [1983] afirma que o valor da

    propriedade nico para aquele instante, sendo a finalidade do valor arbitrado relevante

    apenas para determinar o grau de preciso da anlise.

    importante ressaltar que a arbitragem de valor depende extremamente dos condicionantes

    conjunturais utilizados quando da anlise do bem em questo, os quais podem variar de forma

    rpida e abrupta ao longo do tempo. Ao perceber tais mudanas, o prprio mercado capaz

    de automaticamente encontrar outro nvel de equilbrio entre oferta e demanda para este

    produto, levando, provavelmente, a outro patamar de valor.

    A ausncia de padronizao de conceitos no que se refere anlise de valor pode ser

    verificada no somente no Brasil, mas tambm internacionalmente, como ser discutido

    brevemente a seguir.

    2.4 Panorama Internacional

    Considerando a evoluo dos mercados internacionais, ser feita uma breve explanao da

    situao do tema em alguns pases, notadamente Estados Unidos, Reino Unido e Frana, que

    merecem destaque e podem contribuir para o enriquecimento da discusso.

  • 36

    Acredita-se que a anlise destes mercados j suficiente para ilustrar a questo, face sua

    evoluo em termos de legislao, documentao disponvel, textos tcnicos produzidos,

    atividade do setor e sofisticao de produtos e servios na rea de empreendimentos

    imobilirios e de base imobiliria. No ser feita uma apresentao dos diversos mercados

    abordados nas referncias bibliogrficas, visto que escaparia do alvo deste texto.

    2.4.1 O Mercado Norte-americano

    Certamente, um dos mercados mais evoludos no que se refere ao assunto de anlise de valor

    de empreendimentos, os Estados Unidos concentram o maior nmero de textos produzidos

    com tratamento mais fundamentado tanto do ponto de vista doutrinrio como tcnico. At

    mesmo pela prpria dinmica do mercado norte-americano, provavelmente deve ser a

    economia, onde o maior nmero de transaes envolvendo empreendimentos de base

    imobiliria deve ocorrer.

    Segundo GELBUTCH et al. [1997], o APPRAISAL STANDARDS BOARD (ASB)20 da

    APPRAISAL FOUNDATION21 desenvolve, publica, interpreta e faz as emendas no Uniform

    Standards of Professional Appraisal Practice (USPAP)22 em nome dos avaliadores e dos

    usurios de servios de avaliao, incluindo as agncias reguladoras federal e estaduais.

    Todos os anos, o ASB publica uma nova edio do Uniform Standards, a qual inclui as

    20 Conselho de Padres de Avaliao, na lngua portuguesa.21 Fundao de Avaliao.22 Padres Uniformes de Prtica de Avaliao Profissional.

  • 37

    modificaes realizadas, o texto completo, todas as opinies consultivas emitidas para

    distribuio geral, etc.

    O conceito de valor mais difundido nos Estados Unidos denominado de valor de mercado,

    para o qual existem diversas definies. RUSHMORE [1992] define-o como o valor mais

    provvel, numa determinada data, vista, em termos equivalentes ou em outros termos

    precisamente revelados, para o qual os direitos sobre uma propriedade especfica devem ser

    cedidos aps razovel exposio num mercado competitivo sob todas as condies

    requisitadas para uma venda justa, com cada vendedor e cada comprador agindo

    prudentemente, sabiamente e para o seu prprio interesse, e assumindo que nenhum dos dois

    est compelido indevidamente de algum modo.

    As agncias reguladoras das instituies financeiras nos Estados Unidos estabelecem que o

    valor de mercado o preo mais provvel que uma propriedade pode alcanar num

    mercado aberto e competitivo sob todas as condies requisitadas para uma venda justa, o

    comprador e o vendedor agindo prudente e sabiamente e assumindo que o preo no est

    afetado por estmulos indevidos. Implcito nesta definio est a consumao da venda numa

    data especfica e na passagem do registro do vendedor para o comprador sob a condio de

    que: [i] o comprador e o vendedor esto tipicamente motivados, [ii] ambas as partes esto

    bem informadas e bem advertidas, e atuando em favor do que consideram seus melhores

    interesses; [iii] foi permitido um tempo razovel para exposio no mercado aberto; [iv] o

    pagamento feito em moeda corrente ou em termos de comparvel acordo financeiro; e [v] o

    preo representa uma considerao normal para a propriedade vendida e no est afetado

  • 38

    por uma concesso de venda ou um financiamento inventivo ou especial transferido por

    algum associado com a venda.

    O APPRAISAL INSTITUTE [1996] define que valor de mercado o preo mais provvel

    que um especificado direito sobre uma propriedade capaz de alcanar, mediante as

    seguintes condies:

    1. A consumao da venda ocorre numa determinada data;

    2. Um mercado aberto e competitivo existe para o direito sobre a propriedade avaliada;

    3. O comprador e o vendedor esto cada um agindo prudente e sabiamente;

    4. O preo no est afetado por estmulos indevidos;

    5. O comprador e o vendedor esto tipicamente motivados;

    6. Ambas as partes esto agindo em favor do que consideram seus melhores interesses;

    7. Os esforos de marketing foram apropriados e foi permitido um tempo razovel de

    exposio no mercado;

    8. O pagamento foi feito em moeda corrente, ou em outros termos comparveis; e

    9. O preo representa uma considerao normal para a propriedade vendida e no est

    influenciado por uma concesso de venda ou um financiamento inovador ou especial,

    transferido por algum associado com a venda.

    Como exemplo, FRIEDMAN et al. [2000] colocam que uma valorao de uma residncia

    indica que seu valor de mercado $150.000. Num mercado normalmente ativo, a residncia

    deveria ser vendida por este montante, se permanecesse no mercado por um tempo razovel.

    O proprietrio pode, entretanto, entregar a residncia para um parente por $250, ou,

    tambm, ficar impaciente e vender por $140.000. Inversamente, um comprador ansioso pode

  • 39

    ser encontrado, o qual pagaria $160.000. Finalmente, o proprietrio pode prover um

    financiamento atraente e vender por $170.000.

    Devem ser destacados, ainda, que alguns componentes agregam valor a determinado

    empreendimento de forma intangvel, como por exemplo, patentes, marcas, contratos,

    estrutura organizacional, entre outros. Este valor agregado est intimamente associado

    estima quando da anlise de valor, podendo ser distinta em funo da percepo de valor que

    cada indivduo tem em relao ao produto. Tais componentes no sero tratados ou

    discutidos neste texto.

    2.4.2 O Mercado do Reino Unido

    As principais entidades, segundo GELBTUCH et al. [1997], que orientam a educao e a

    prtica de anlise de valor de propriedades no Reino Unido, so a ROYAL INSTITUTION OF

    CHARTERED SURVEYORS (RICS)23 e a INCORPORATED SOCIETY OF VALUERS AND

    AUCTIONEERS (SVA)24. As prticas e os padres de anlise de valor mais difundidos so

    desenvolvidos pela RICS, as quais fornecem detalhadamente instrues de confirmao,

    bases e definies de valor e relatrios de valorao. A entidade fornece ainda orientao

    para avaliaes no caso de emprstimos e seguros, contabilidade empresariais, cotaes de

    aes no mercado e troca de comando em empresas.

    23 Instituto Real de Pesquisadores Qualificados.24 Sociedade Incorporada de Avaliadores e Leiloeiros.

  • 40

    A base normal para trabalhos de anlise de valor no Reino Unido o valor de mercado

    aberto. Este valor de mercado aberto, segundo ROYAL INSTITUTION OF CHARTERED

    SURVEYORS [1990], o melhor preo, considerado na data da anlise, para o qual a venda

    de um direito sobre uma propriedade teria sido completada incondicionalmente vista,

    assumindo: [i] um vendedor desejoso; [ii] que, previamente a esta data, houve um tempo

    razovel (observada a natureza da propriedade e o estado do mercado) de marketing

    apropriado deste direito, para que fossem acordados o preo e condies de pagamento, e

    concretizada a venda; [iii] que o estado do mercado, nvel de valores e outras circunstncias

    eram, em qualquer data assumida anterior assinatura de contratos, as mesmas da data da

    valorao; [iv] que nenhuma importncia tomada de qualquer lance adicional por um

    comprador prospectivo com um interesse especial; e [v] que ambas as partes envolvidas com

    a transao tm atuado sabia e prudentemente, sem qualquer tipo de coao.

    GELBTUCH et al. [1997] afirmam que a definio de valor de mercado aberto est bem

    estabelecida e entendida no Reino Unido como sendo o valor de mercado.

    2.4.3 O Mercado Francs

    Apenas uma pequena parte dos profissionais especializados em anlise de valor (avaliadores

    judiciais, de propriedade agrcolas e de reservas naturais) so regulamentados pela legislao,

    sendo que quase todos os demais atuam independentemente, muitos no setor privado para

    empresas de avaliao, subsidirias de bancos ou consultorias imobilirias.

    As poucas organizaes existentes agrupam esses profissionais, como avaliadores de terrenos

    e edificaes urbanas, nas seguintes entidades: [i] FEDERATION NATIONALE DES AGENTS

  • 41

    IMMOBILIERS (FNAIM)25 e [ii] INSTITUT FRANAIS DE LEXPERTISE IMMOBILIRE (IFEI)26.

    Ambas as entidades so compostas, essencialmente, de corretores. Principalmente, no caso

    de avaliadores existem qualificaes mnimas para seu ingresso. A IFEI muito mais restritiva

    e responsvel pela publicao de um guia de avaliao, Guide Mthodologique relatif

    lvaluation ds Actifs Immobiliers27, o qual se tornou uma referncia em avaliao na

    Frana.

    Segundo FOXLEY apud GELBTUCH et al. [1997], no h nenhuma definio para qualquer

    das principais concepes de valor. Contudo, IFEI e contadores franceses tm produzido um

    guia para valorao de propriedades no qual so definidas as suas bases. FOXLEY

    complementa que vrias autoridades regulatrias e outros envolvidos com valorao de

    propriedades cada vez mais crem neste trabalho.

    2.5 Mercado Brasileiro

    A principal entidade responsvel pela elaborao de recomendaes e orientaes para

    avaliaes de imveis no Brasil o Instituto Brasileiro de Avaliaes e Percias de Engenharia

    (IBAPE).

    Em 1989, a ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS (ABNT) definiu

    que o valor a ser determinado para um imvel corresponde sempre quele que , num dado

    instante, nico, qualquer que seja a finalidade da avaliao, bem como quele que se

    25 Federao Nacional dos Agentes Imobilirios.26 Instituto Francs do Conhecimento Imobilirio.

  • 42

    definiria em um mercado de concorrncia perfeita, caracterizado pelas exigncias de: [i]

    homogeneidade dos bens levados a mercado; [ii] nmero elevado de compradores e

    vendedores, de sorte tal que no possam, individualmente ou em grupos, alterar o mercado;

    [iii] inexistncia de influncias externas; [iv] racionalidade dos participantes e conhecimento

    absoluto de todos sobre o bem, o mercado e as tendncias; e [v] perfeita mobilidade de

    fatores e de participantes, oferecendo liquidez com liberdade plena de entrada e sada do

    mercado.

    No sentido de abranger todas as tipologias de imveis passveis de anlise de valor, o

    conceito adotado pela ABNT impe uma srie de condies por intermdio das quais

    poderia ser definido um valor com maior grau de confiabilidade e de segurana. Contudo,

    diversas destas condies so extremamente difceis de serem obtidas ou, mesmo simuladas,

    no caso de empreendimentos de base imobiliria.

    Nesse sentido, surgem definies outras que buscam um melhor entendimento do conceito.

    MONETTI [1998] afirma que a troca vigente para um determinado bem significa, em ltima

    instncia, que seu detentor aceita troc-lo num determinado referencial de valor, enquanto

    existe um comprador que aceita compr-lo nessa mesma referncia de preo, ou seja, como

    estabelece FERREIRA [1999], valor de um bem seria determinado pela complexa interao

    entre a oferta e a demanda.

    27 Guia Metodolgico relativo Avaliao dos Ativos Imobilirios.

  • 43

    O conceito de valor est ancorado na transao que se faz sobre determinado bem. Portanto,

    o empreendimento vale algo, desde que exista no mercado a possibilidade de ser

    transacionado nessa base de valor, ou seja, existe uma demanda potencial para este produto

    naquele determinado momento. Ao proceder uma anlise de valor, o profissional deve ser

    capaz de reconhecer em detalhes a demanda potencial para determinado bem e seu

    comportamento face oferta disponvel (atual e prevista) naquele momento e naquela

    conjuntura de mercado.

  • 44

    3. MTODOS DE ANLISE DE VALOR

    Conforme j comentado, inmeros so os casos onde h necessidade de atribuio de valor a

    imveis, de forma a servir como subsdio da deciso em relao a uma eventual transao

    desta propriedade ou de determinados direitos sobre a mesma. A EPUSP Rt n 40.001

    [1995] coloca que o patamar de preo em que um bem ser trocado no mercado ser,

    sempre, resultado de uma negociao, onde o preo ser o valor entendido, por ambas as

    partes envolvidas, como aceito para a transao, prprio, portanto, de cada transao.

    Cada indivduo utiliza parmetros prprios para arbitrar o valor que aceita para entregar um

    direito sobre uma propriedade (vendedor) ou que aceita pagar por ela (comprador). Os

    mtodos, na realidade, acabam por se basear nas razes de valor que os indivduos se utilizam

    para estabelecer a faixa de valor na qual, possivelmente, haveria uma transao. Tcnicas ou

    mtodos sem lastro em raiz de valor no devem ser empregados para anlise de valor de

    bens. Portanto, as tcnicas passam pelo reconhecimento destes parmetros que norteiam as

    decises de quem ir transacionar os produtos. O comportamento atual e as suas tendncias

    dos potenciais compradores devem servir como referncia de mercado para promover a

    anlise de valor.

    A EPUSP RT N 40.001 [1995] complementa que como invivel se reconhecer os

    aspectos especficos associados a cada troca, as tcnicas de avaliao so lastreadas,

    preferencialmente, no reconhecimento da forma segundo a qual esto ocorrendo transaes

    num especificado momento do mercado, para uma determinada tipologia de produto. Neste

  • 45

    sentido, a partir deste reconhecimento, so capazes de identificar o estado de mercado para

    transaes de bens com essas caractersticas.

    Tal reconhecimento realizado de acordo com a identificao de uma quantidade significativa

    de transaes que possibilite configurar um nvel de preos praticados naquele momento para

    os agentes envolvidos naquelas trocas. Sendo o produto semelhante aos transacionados,

    admite-se que, se ofertado ao mercado em patamar de preo similar ao praticado, tender a

    haver liquidez suficiente para ser transacionado nesse instante. A EPUSP RT N 40.001

    [1995] afirma que este referencial considerado, ento, o valor atribudo a esse bem,

    naquele momento. MONETTI [1998] coloca que os processos avaliatrios visam

    reconhecer uma referncia de valor no qual podem ocorrer transaes sobre esse

    empreendimento.

    Como corolrio dessa discusso, reconhece-se que a anlise de valor passa, inexoravelmente,

    pela identificao do estado das transaes de bens no mercado para atribuir valor a

    determinado bem com caractersticas prprias, alm do reconhecimento do comportamento e

    das tendncias de potenciais agentes que eventualmente transacionariam este bem.

    A EPUSP RT N 40.001 [1995] coloca, ainda, que imprescindvel, pois, identificar uma

    condio de mercado de concorrncia perfeita, onde seja possvel reconhecer, de um lado,

    um grande nmero de potenciais compradores e, de outro, igualmente, um grande nmero de

    potenciais vendedores, ambos, com alta mobilidade junto ao mercado e, individualmente,

    incapaz de alterar o estado das transaes vigentes no momento em que se analisa.

  • 46

    Contudo, concorrncia perfeita, onde seja possvel identificar inmeras transaes de

    produtos assemelhados, no uma situao que se verifica no mercado de empreendimentos

    de base imobiliria. MONETTI [1998] constata que como nem sempre possvel vislumbrar

    o estado do mercado para trocas de determinada natureza, derivam-se mtodos outros que

    passam pelo entendimento do ciclo do empreendimento, enfocando-o como instrumento

    gerador de riqueza, que imobiliza recursos num certo regime para, num momento futuro,

    serem desmobilizados num padro maior, atravs da comercializao ou operao desse

    empreendimento.

    A normalizao brasileira classifica em dois grandes grupos, conforme quadro a seguir, os

    mtodos de anlise de valor, os quais diferem na forma de abordagem da questo, nas

    premissas adotadas e, especialmente, nos conceitos sobre os quais esto fundamentados.

    Quadro 1 Classificao da ABNT dos Mtodos de Anlise de Valor

    Comparativo de Dados de MercadoMTODOS DIRETOS

    Comparativo de Custo de Reproduo de Benfeitorias

    Da Renda

    ResidualMTODOS INDIRETOS

    Involutivo

    Fonte: ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS [1989]

    possvel, entretanto, classificar os mtodos disponveis em funo da raiz de valorao

    utilizada para se arbitrar valor. Nesse sentido, o quadro a seguir ilustra com maiores detalhes

    a classificao em trs grandes grupos, incluindo suas principais caractersticas, a qual ser

    utilizada nas futuras discusses.

  • 47

    Quadro 2 Classificao dos Mtodos de Anlise segundo a Raiz de Valorao

    RAIZ DE CUSTOComparativo de Custo deReproduo de Benfeitorias

    Orientado pelo valor pretendidopelo vendedor

    RAIZ DE TROCAComparativo de Dados deMercado

    Orientado pelos valoresobservados de transaesocorridas no mercado

    RAIZ DE USO Da RendaOrientado pelo valor aceito pelocomprador

    3.1 Mtodo Comparativo de Dados de Mercado

    Na vertente de reconhecer o estado das transaes no mercado se estrutura o mtodo

    comparativo, que o mais conhecido e difundido no mercado a ponto de FERNANDEZ

    [1983] afirmar que todos os mtodos para avaliar imveis so comparativos genericamente,

    pois ao utilizarmos qualquer um dos mtodos preconizados, estaremos sempre comparando

    alguma coisa, sejam elas valores de locao, taxa de renda, ou at a forma e aproveitamento

    eficiente do terreno.

    A ABNT [1989] estabelece como sendo aquele que define o valor atravs da comparao

    com dados de mercado assemelhados quanto s caractersticas intrnsecas e extrnsecas. As

    caractersticas e os atributos dos dados pesquisados que exercem influncia na formao dos

  • 48

    preos e, conseqentemente, no valor, devem ser ponderados por homogeneizao28 ou por

    inferncia estatstica29, respeitados os nveis de rigor estabelecidos em norma.

    Conforme MONETTI [1998], neste mtodo busca-se reconhecer o estado do mercado

    para transaes envolvendo bens assemelhados e, a partir dessa referncia, atribuir um

    patamar de valor no qual poderia ocorrer a troca de um determinado bem que se avalia,

    consideradas suas especificidades. A EPUSP RT N 40.001 [1995] complementa que deve

    resultar deste reconhecimento uma amostra adequada ao emprego de mtodos estatsticos,

    seja no que se refere representatividade dos elementos, enquanto portadores dos mesmos

    atributos presentes no imvel que se pretende avaliar, seja relativamente dimenso da

    amostra.

    A validao de uma amostra competente para a anlise de valor atravs do mtodo

    comparativo se apia nas transaes ocorridas e identificadas para associar ao valor o nvel

    d