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Resenha - O senso prático
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Resenha de “A objetividade do subjetivo”
Na obra "O Senso Prático" de 1998, o sociólogo e antropólogo francês Pierre
Bourdieu traz a tona um debate sobre a distinção e a sua relação com distribuição do
capital e de recursos. Tal debate encontra no capítulo 9 denominado de "A objetividade
do subjetivo". Ao longo das 11 páginas o autor traz reflexões sobre o papel das ciências
sociais perante as coisas, e também sobre vizinhanças, fronteiras e a relação entre
multiplicação, escassez e práticas simbólicas.
O capítulo começa com o aviso de que a ordem estabelecida e a distribuição do
capital são perpetuadas pelo efeito simbólico que exercem ao se assumirem publica e
oficialmente, o que as fazem conhecidas e reconhecidas. Tal aviso orienta a critica de
Bourdieu ao pensamento clássico de Émile Durkheim, este que faz uma apologia para
que os cientistas sociais tratem os fatos sociais como coisas. Contrapondo esse
pensamento, Bourdieu lembra que a ciência não pode esquecer que as chamadas
“coisas” são frutos de conhecimento.
O autor destaca que os indivíduos e grupos são definidos não somente por aquilo
que são, mas, também, pelo que supostamente são “por um outro ser percebido”. Sendo
assim, é recomendado no texto que a ciência social leve em consideração duas
propriedades: as materiais e simbólicas. As primeiras são passíveis de medição (como o
corpo) e as segundas são as propriedades materiais quando percebidas e apreciadas nas
relações mútuas, o que Bordieu enfatiza como sendo propriedades distintivas.
A seguir, o texto apresenta a necessidade de não desvincular a ciência social da
física social – que se realiza no economismo objetivista para perceber uma realidade
objetiva - e da fenomenologia social – que age para registrar e decifrar as significações
produzidas. Sobre a fenomenologia social, Bourdieu destaca o surgimento de “ordem
social” que é “uma classificação coletiva obtida pela adição dos julgamentos
classificadores e classificados pelos quais as pessoas classificam e se classificam...”
(p.227). Jogo esse que para o autor envolve representações mentais que são feitas tendo
com base nas representações teatrais dadas pelo próximo e em representações mentais
que estes se fazem deles. Tais representações e julgamentos são colocados como
motivos que denunciam a falha da visão objetivista que, para o autor, não trabalha com
o “véu de relações simbólicas”.
O pensador francês apresenta a seguir a influência da quantidade das práticas
e/ou dos bens como sendo determinantes para o valor marginal. Com isso, a sua
diminuição surge com a multiplicação e divulgação. Já sobre divisões, Bourdieu lembra
que existem lutas em espaços homogêneos, fato esse que contradiz uma filosofia
conservadora que visa a união através de um emburguesamento da classe operária, que
resulta na diminuição das diferenças e das lutas de classes. A propósito, tais lutas são
apresentadas no capítulo como sendo localizadas em “vizinhos”, ameaçando
conseqüentemente a identidade social.
É destacada também a vontade da lógica do simbólico de fazer sobressair as
diferenças absolutas (fronteiras jurídicas) sobre as diferenças chamadas pelo autor de
“infinitesimais”. Como conseqüência, temos a “vitória” da distinção absoluta e durável
contra os recortes diferentes sob diferentes pontos de vista. Vale ressaltar que para
Bourdieu a distinção na vizinhança tem limite, como por exemplo, nos títulos de
nobreza e escolares, essas que são marcas de respeito por conta da exibição pública de
símbolos. Como resultado, as classes dominantes são legitimadas.
Por sua vez, na página 235, Bourdieu apresenta dialéticas como condição de
classe contra “sentido de classe”, e condições “objetivas” contra disposições
estruturantes. O autor ainda avisa, na mesma página, que “as lutas simbólicas são mais
realistas do que pensa o economismo objetivista e muito menos do que deseja o puro
marginalismo social”.
Em “A objetividade do subjetivo”, Pierre Bourdieu constrói um pensamento que
reafirma a existência das classes sociais sem deixar de lado as representações e
julgamentos derivados dos símbolos. Esses que estão conectados com números,
quantidades e escassez, dados esses de que impulsionam e legitimam distinções.
Referência bibliográfica.
Bourdieu, Pierre. O senso prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.