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RUDIMENTOS DlREITO PUBLICO PORTUGUEZ CANDlD33 DE FIGUEIRTDO

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RUDIMENTOS

D lREITO PUBLICO P O R T U G U E Z

CANDlD33 DE FIGUEIRTDO

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RUDIMENTOS DE

DIREITO PUBLICO FORTUGUEZ

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RUDIMENTOS

DIREITO PUBLICO P O R T U G U E Z

Accommodndoe ao proprauirna officinl para uso dom alumnoil de

instrucçf o secundaria

POR

CANDIDO DE FIGUEIREDO

LISBOA L I V R A R I A F E R R E I R A

i32-Rua Aurea-i31 i884

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AO SEU ESCLARECIDO E PROVADO AMIGO

O U.mo SR. CONSELHEIRO

J U L I O D E V I L H E N A

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PREAMBULO

Ao lado da notoria conveniencia de vulgarisar as noções mais elementares do direito publico, e as prescripções legaes em que se baseia o nosso di- reito politico, o auctor da presente monographia teve, por mira especial, o occorrer a uma necessi- dade urgente do ensino publico, creada pela ulti- ma reforma de instrucçZo secundaria.

Com este intuito, abriu deante de si o program- ma oficial da cadeira de elementos de legislação ci- vil, de direito pu61zco e administrdtiuo portuguez e de econonaia politica, e acompanhou cada um dos pontos do programma com as noções que a scien- cia presta, e com os ensinamcntos que a legislapão faculta.

Segundo os exemplos dos bons mestres, e os pro- cessos observados pelo auctor em outras monogra- phias didacticas, presume elle que n'este seu tra-

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balho se acha alliada á concisão e A claresa, a ex- posiplo methodica de toda a doutrina officialmente indicada, na parte respectiva do alludido program- ma.

De esperar 6 , pois, que o pequeno serviço, por esta prestado ao ensino, seja compen- sado com a acceitapão benevola, que o publico e O

professorado reitererá aos modestos e desambicio- sos trabalhos do auctor.

Lisboa, dezembro de 1883.

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RUDIMENTOS DE

DIREITO PUBLICO PORTUGUEZ

CAPITULO I

N O C ~ E S GERAES

a I

O direito

A palavra direito, na sua accepçáo mais ampla, designa a faculdade que o homem tem, de prati- car aquillo que não e prohibido.

Em sentido restricto, da-se o nome de direito ao conjuncto das leis, com que o homem, na socieda- de, deve conformar os seus actos.

Direito pubIico e direito privado

A extensa area do direito comprehende dois cam- pos distinctos : o direito ptiblico e O direito privado

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10 DIREITO PUBLICO

O direito pricado regula as relações juridicas dos particulares entre si.

O direito publico occupa-se das relações juridicas do Estado, e abrange as leis que regulam a fdrma de governo.

Superioridade do direito publico

Ao direito publico cor$espondem deveres mais 110- bres e mais energicos que os deveres correspon- dentes ao direito privado. Assim, o juiz tem o direito e o dever de julgar; as camaras legislativas têm o direito e o dever de legislar.

No direito privado predomina a vontade indivi- dual: os cidadãos, ao passo que não podem dero- gar os direitos publicas, podem modificar o direito privado. Assim, o negociante tem Q direito de ven- der um genero qualquer, mas pode deixar de o vender; tem o direito de o vender por escripto, mas pdde vendel-o verbalmente.

No entanto, casos ha, em que os limites do di- reito publico se confundem com os limites do di- reito prit:ado.

Exemplificando: o direito de peticão 8 um direito publico, e comtudo o cidadão pdde deixar de exer- cel-o, porque tal direito esta essencialmente ligado á sua liberdade individual.

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DIREITO PUBLICO l i

Pelo contrario, a tutela, que é de direito priva- do, é obrigatoria, porque a ella estA ligado o inte- resse publico.

Mas estes casos, e ainda outros, são meras ex- cepções a doutrina do paragrapho antecedente.

Constituição

Os principias fundamentaes do direito publico acham-se comprehendidos nas Conslituiçóes dos paizes civilisados.

Constiluiçáo, na accepção privativa d'esta pala- vra, e-a lei que determina a forma de governo, a s attribuiç0es dos poderes publicas, os direitos poli- ticos e os direitos indiziiduaes garantidos a todos os cidadãos.

Governo e suas fbrmas

O governo, considerado genericamente, abrange todos os poderes qiie entram na administração do Estado ; e, restrictamente considerado, confunde-se com o poder ~xewlico.

As formas de governo são principalmente duas : monarchia e republim.

Monarchia 6 o governo que tem um chefe he- reditario, com poderes absolutos ou limitados.

Republica e o governo que tem um ou mais che-

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ie DIREITO PUBLICO

fes, por tempo determinado, e desligados do prin- cipio da hereditariedade.

Tanto a monarchia, como a reptrblica, são gover- nos constitucionaes, se se baseiam n'uma Consti- tuição.

Em opposição ao gnverno constitucional, ha o go- verno despotico, em que os poderes do chefe e os direitos dos cidadaos não são determinados nem garantidos por lei.

Poderes publicos

Os poderes publicos são constituidos pelos func- cionarios e assembleas que intervêm na feitura e na execução das leis.

O numero e as attribuições d'esses poderes va- riam segundo as differentes Constituip3es dos Es- tados, observando-se que nenhuma d'ellas omitte o poder legislativo e o poder c.xeczitiuo, porque legis- lar e fazer cumprir a lei designam as essenciaes attribuições dos poderes publicos.

Direitos politicos e individuaes

Direitos politicos são aquelles que as Constitui- ções garantem aos cidadãos, e baseiam-se como os

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DIRERO PUBLICO 13 -

direitos individuaes, no direito originario da liber- dade humana.

Os direitos individuaes são mais ou menos am- plamente garantidos pelas leis, consoante os tem- pos e os povos, podendo affirmar-se o mesmo ácer- ca dos direitos politicos.

Nas ConstitzciçGes modernas são porem geral- mente garantidos, como direitos politicos, o direito de peligáo, o direito de associação e a egualdade dos direitos ; e, como direitos individuaes, o direito de viver, a liberdade de industria, a liberdade de imprensa, a inviolabilidade do domicilio.

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CAPITULO I1

MONUMENTOS DO DIREITO PUBLICO PORTUGUEZ

O rei e o povo

A convocação e celebração de cortes contraba- lançou, durante alguns seculos, o poder absoluto dos reis.

Mas a significação e importancia d'essas assem- bléas começou a decair sensivelmente desde o tem- po de D. João 1V. Os privilegios e os fóros da nação foram perdendo o terreno que haviam ganho nas cortes de Coimbra em 1385, e nas de Torres Novas em 4438.

D. Pedro 11, a quem passou pela mente a ideia de imitar Luiz XIV, procurou arredar as cortes da intervenção no governo, chegando a dissolver as que tiveram em 1674 a pretenção de fiscalisar as despezas publicas !

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DIREITO PUBLICO i5

D. João V, aproveitando as boas graças do clero e da nobreza, illudiu constantemente a nação, pro- mettendo-lhe convocar côrtes, que nunca se cele- braram.

Este desprezo pelos direitos e prcrogativas da nação subiu de ponto no reinado de D. José I. A par dos altissimos e meritorios serviços do mar- quez de Pombal, não póde a justiça da historia es- conder nem dissimular os ultrajes que a liberdade e a naçáo suffrerarn iio governo do grande minis- tro. O seu systema de governo cifrava-se em pou- cas palavras :-o rei manda e a nação obedece.-

Não se tratou de côrtes. O rei, ou antes, o seu ministro collocou-se acima da nação, e não tinha para ella ao menos as promessas hypocritas de D. João V.

A proposito do governo de D. Jose I, merece registo a seguinte ponderação de um historiador conspic.uo :

-eNão é o concurso das ordens, (clero, nobreza e povo), nem a opinião dos povos, que occupa os pomposos preambulos das leis d'este tempo; mas sim a alta e independente soberania, que o rei re- cebe immediamente de Deus, pela qual, manda, quer e decreta aos seus ucsssallos, de sciencia certa e po- der absoluto. . . -

Prenuncios de reforma

Proseguiu a decadencia politica do paiz at6 aos primeiros annos do presente seculo, em que a re-

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16 DIREITO PUBLICO

tirada da familia real para o Brasil aggravou o des- contentamento geral.

Sujeito a uma regencia arbitraria e sem presti- gio, opprimido e vilipendiado, longe da familia real que o havia abandonado, o paiz preparava-se para qualquer mudança politica, quando a corte do Rio de Janeiro julgou poder obstar a essa mudança, collocando o governo de Portugal nas mãos do in- glez Beresford.

Surdo aos clamores da indisposição geral, Beres- ford amordaçou a impreosa, e estimuli~u, mau gra- do seu, os brios nacionaes, que se manifestaram brilhantemente por uma revolução liberal, levada a effeito na cidade do Porto em 1820.

Constituição de i822

D'esta revolução sairam as u3rtes constituintes, que fizeram a Constiticiçíio politica da monarchèa, de 23 de setembro de 1822.

Assentaram-se pela primeira vez entre nòs as bases do systema constitucional, pela divisão dos poderespoliticos, consignada na Constituição de 1822: poder legislativo, poder executivo e poder judicial.

Segundo a Constituicão de 1822, o poder legis- lativo reside nas cortes, com sancção do rei ; o executivo no rei, e o judicial nos magistrados. O rei ficou sem o veto absoluto; e havia uma depu- tação permanente das côrtes, encarregada de vigiar o procedimento do governo.

As côrtes eram simplesmente formadas por uma camara electiva.

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18 BIREITO RUBLICO

Carta Constitucional

L). Pedro, filho primogenito de D. João VI, e cri- t30 imperador do Brasil, reconliecido como siicces- sor da coroa portugueza pelo governo da repente D. Isabel Alaria e pelos governos estrangeiros, viu que não podia sem perigo conservar as (luas co- roas, e ahdicoii a de Portugal em sua filha L). Ma- ria da Gloria, destiiiando casal-a com seri ii-nifio D. biiguel, e outorgando ao mesmo tempo aos por- tugiiezcs a Cnrta Constitucional de 29 de abril de 1826.

A outorga da Carta accortlou tlcsde logo os otlios dos retrdistns, que ficararli recoriliecendo por cliefe a D. i\liçucl, emquarito que D. Pedro ficou serido o cliefe do partido lrbernl.

A Carta Constil~icioital estabelece as principaes garantias de liberdade, ja consignadas na Consti- tuição de 1822; inas distirigue-se d'esta, principal- mente porqiie creou um quarto poder, o poder motlerndor, de que o rei se serve para manter o equilibrio politico ; e porqiie deferiu o podw legis- lrtico a duas camaras, a dos deputados e a dos pares.

Acceitação da Carta

As outras nações não mostraram desagrado por esta reforma politica ; o governo portuguez accei- toii-a e fel-a executar; e o proprio D. Miguel ju-

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UIHEITO PUBLICO 19

sou-a em Vienna de Ausliia, oritle chegou a cori- traliir esporisaes solenines cuni sua sobririlia 1). Ma- ria de Gloiaia, proteslaiiclo public;riiiciilt: obediencia a seu irmão I). Pedro.

I). Pedro, correspondendo a este5 j~i~otostos, coii- sentiu que I). Miguel viesse tomar çoiita da rcgeii- cia em Portugal, aonde chegou em 1828, jui,:~iitlo de iiovo a Carla peraiite as cortes.

A volta do absolutismo

A esse tempo porkrn j i alguris corpos niililares se haviam revoltatlo, ~~roclaiiiaiido o absolutisiiio na pessoa de I), Uiçuel; e I). .\ligue], seguindo o perisamento da revolta, dissolvcu a> CÚlltJs, e con- vocou os tres estados do reino, isto e , aa çórtes ;in- tigas, as quaes em 11 de julho de 4828 declara- ram D. Miçuel rei legitimo de Portugal.

Os representantes das nações estrangeiras em Lisboa, a excepção do nuncio e do ministro de Hispanha, suspenderam desde logo as suas rela- ções com o rci absoluto, que liavia jurado a Carta; e, se bem que o reirio se mostrou tlisl~osto a ac- ceitar acoiitecimentos t;io extraurcliiiarios, a Ilha Terceira ni;iiiteve-se fiel á i~~iiiilia, e alii se estabe- leceu uirla i8egeiicia, a clut: \cio presidir o proprio I). Pcdro, depuia de abdicar eiii seu filtio a coroa do Brasil.

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40 DIREITO PUBLICO .=

Restauração liberal

Da Ilha Terceira saiu D. Pedro com 7500 bra- vos, dirigindo-se a I'ortugal, cujo thro~io havia de restituir a sua filha ; occupou a cidade do Porto em 1838, resistiu alii a uni cerco de 1 l mezes, lutando contra 80:000 homens; e em 1834 viu desorganisado o partido realista : assigiiara-se a co~zvençüo de Evora Monte, D. hliguel retirava-se para o estrangeiro, e D. Maria I1 occupava defirii- tivamente o throno de Portugal.

Revolução de setembro

Posta em vigor a Carta Corzstit~icio~~al e em pleno exercicio o regimeii parla~iieritar, levaritou-se desde logo nas cortes de 1834 uma vigorosa oppo- sição aos actos financeiros do governo.

D'esta opposição surgiu em Lisboa uma revo- lução popular em 9 de setembro de 1836.

A r e o o l ~ ü o de setembro, que alias só tivera por fito a demissão do ministerio, acabou por abolir a Carta e proclamar provisoriamente a Constitziiçüo de 1842, ate que umas côrtes constituintes fizes- sem n'essa constituição as necessarias reformas.

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DIREITO PUBLICO 2 1

Constituiçáo de 1838

Effectivamente, convocadas as cortes constituin- tes, concluiram ellas uma nova Constituição, que foi sanc,cionada pela rainha e publicada a 4 de abril de 1838.

Esta Consti t t~i~ão, seguramente mais democratica que a Carta, Conslitrrcionnl, adoptou o principio das eleiçdes directas, eliminou o poder moderador, e al- terou a organisação da segunda camara legislativa, preceitriando que, em vez de ella ser composta de pares nomeados pelo rei, o fosse de senadores elei- tos pelo povo. Os senadores sairiam d'entre os ci- dadaos mais notaveis por seus meios de fortnna e posição oficial.

A Constituição e a Carta

A Constituipáo do ,1838, oriunda da reuolzlção de setem,bro, e obra principal do partido setenabrlsta, obteve a adhesão do pariido cartista; mas, quando os carlistas subiram ao poder em 1840, os seus intuitos conservadores não se limitaram As refor- mas administrativa e judicial, e voltaram-se para a questlo politica.

Em 27 de janeiro de 1842, um dos ministros promoveu no Porto uma insurreição militar, a fim de abolir a Constitziicáo de 1838 e proclamar a Carta Constitticin?~al.

O paiz não seciindoii o movimento do Porto ; a

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2% DIREITO PCBLICO

raiiilia e quasi todos os ministros protestaram con- tra os fins da insurreição : e, n3o ol)stante, a Carta Co?r.strtucional, unicameute pela infliieric-ia tlo exer- cito e pelos esforços de uin n~iiiibtro, supplaritoii a Co,/stittiição de 1838, e iiovaniente ficou em vigor.

O Acto Addicional

Km 18:i2, as còrtrs r l ~ c r ~ t n r a m um additamento ti Corln Cotzstitilc.rotc«/. Eqcc' adtlitsmento, com o titulo de Acto Addicinimi. tiroii junto a Curta, am- pliando-llie algumas cliq)oqit:Or~;. modificando-lhe oiitr;is, e consignando alguiis ~irtlceítos riovos.

Assim, o Aclo Addicinnal mandou applicar em a noineaçáo dos ileputados a e l ~ r ~ f i o tiir.~cta, pririci- 1)io que, como vimos, foi adoptado pela Constztui- , cão de 4838 ; tornou inconipativeis as funcçGes de deputado com a acceitaqso dc nicrc8 o11 cmprcgo retrihuido, concedido pelo governo ; e eritre outras meclidas de reconhecitln irnportancia c opppt>rtitni- íiade, aboliu a pena de morte nos criiiies politicos.

Projectos de reformas

A Carla Colastitucional, additada com o Acto de 1882, tem sido desde essa data sem interrupçáo, e continua a ser, a lei fundamental do Estado.

Entretanto, os partidos politicos têm 110s ulti- mos annos ventilado a opportunidade e a inoppor-

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DIREITO PUBLICO 23

tuiiiclatle de reformar a Carta Constitucional; e va- rios projectos de reforma tem saido a publico, ja na imprensa politica, ja em propostas parlamenta- res.

Esses projectos, no seu conjuntu, alvejam a mo- dificar, as attribui~ões do poder moderudor , a dila- tar os direitos politicos, a amplilicar praticamente os direitos individuaes ; não faltarido quem propo- nha e suslente, de accordo com a Constituipio de 18:18, a substituição da camara dos pares de no- niea~ao iskgia, por uma camara de senadores elei- tos pclo povo.

Seja por0rn qual for a resultante d'estas tenta- tivas tle reforma, k certo que no actual niomento a Carta Co~zsti1uc~o~tnI, com O - 4 ~ t o Addicional, 0 a lei furidamental do Estailu, e por ella nos cumpre estiidar e conliecer o direito publico portuguez, tendo em vista algumas disposiçaes legislativas, que ri'urii ou n'outro ponto ulteriorrneiile a modi- ficaram ou ampliaram.

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CAPITULC 111

OS PODERES DO ESTADO

Divisão, harmonia e funcções dos poderes politicos

A Carta Constitucional reconhece quatro poderes politicos :-o poder legislativo, o poder moderador, o poder executivo e o poder judicial; e , segundo as palavras da propria Carla, a divisão e harmo- nia dos poderes polilicos 4 o principio conservador dos dilwlos dos cidadãos e o mais seguro meio de fazer elli,ctivas as garantias que a constituição offe- rece.

A distinccão e independencia dos poderes do Estado, priricipio proclamado pela primeira vez no alvorecer da grande revolução franceza, constitue a base do nosso direito publico.

Em virtude d'este principio, o cidadão não pode accumular o exercicio das funcções de dois pode-

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DIREITO PUBLICO $5

res politicos, excepto a faculdade que os magistra- dos têm de fazer parte do corpo legislativo; e nenhum poder do Estado póde assumir attribui- ções que são privativas de outro poder.

A harmonia dos poderes politicos é condição indeclinavel para a realisaçáo dos fins do Estado, que se cifram na proficua e uniforme administra- ção da collectividade nacional, e na garantia eficaz e egual dos direitos de cada cidadáo.

Os fins do Estado, e o principio de ordem, in- dispensavel nas relações dos cidadãos entre si, e dos cidadãos com a collectividade, deleminam as funcçóes de cada um dos poderes do Estado, func- ç6es que conviri conliecerem-se, ao tratar-se in- dividualmente dos mesmos poderes.

Ideia geral do poder legislativo

O poder legislativo representa integralmente a nação, considerada no seu chefe e nos seus mem- bros, pois que reside nas côrtes com a sancçáo do rei, e o rei e as c0rtes são a expressão completa da representação nacional.

As cbrtes reunem-se com poder constituinte, quando por lei se tem declarado aos eleitores que confiram aos deputados, para a seguinte legisla- tura, a faculdade especial de reformar ou alterar quaesquer pontos da lei fundamental do Estado.

Fóra d'estes casos excepcionaes, as cortes sáo sempre convocadas com poder icgislativo ordinario.

As côrtes ordinarias são convocadas pelo poder

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26 DIREITO' PUBLICO

ekecutivo, no dia 2 de iridrço do quarto anrio d e catla legislatura. E.ctrnortlinarin~nente, pUde convo- cal-as o rei, rio exercicio tlo poder inoderador, quaiido o bem do Esl,~tlo assiiii o exija.

A prorogaçáo e o adiauierilo daa cbrtes S tam- bem iima das attribiiiçUes do poder nivderador.

Legislnttira tt o periodo de 4 annos, em que a s cbrtes fuiiccionani. e. fiiido o qiial, tem de se pro- ceder a novas rlciciic~s cle depritntios.

E m cada um d'esses i ariiios, Iinveiba ama ses- são de tres niezcs, abei-la ciii (101s de jarieiro. Nas este praso constitiit: ;il)eiias a tl~tracfio ort l i t~a~.ia das sessões ; eztrnort l i t~a~~rarn~~~~Io, podelri ellas du- r a r emquarito assim o exigirem as coiiveiiieiic~ias publicas.

Cada uma das cairiara3 que coiistitueni as cbr- tes tem a faculciacie de p,olirjl,, rrilptrgrrar oii ap- proçar os projectos de lei.

Verdade e qiie a p~*uposicíio, o11 proposta, dos projectos d e lei coinpete ao pc~der executivo ; inas a s iro opostas sb depois d e esamiiiadas por uma comrnissáo da camsra dos dep~itados, 6 que podem se r convertidas em projectos tle lei.

A carnara dos deputados discute, e pode appro- var, ou rejeitar, a proposta do governo: approvari- do-a, remette-a para a camara dos pares, com a forrnula, ou parecer, d e que ellu tem logur; i-ejei- tando-a, assim o participa ao rei.

Quando a camara dos pares ijão adriiitte a pro- posta, devolve-a a camara dos deputados corri a declaração d e que nao pôde dar o seu consenti- mento á proposta; e , quando a adiiiitte eni parte, o11 com emendas, dcvolve-a com o parecer de que,

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DIREITO PUBLICO 27

assim reduzida oii alterada, a proposta merecerá a sancçáo do rei.

Conclriida a discussáo e approvado o projecto, as cortes solicitam do rei a soa scl~~cfdo.

O rei pode dar, ou recusar a sarccBclí.o, isto é, pbde consenlir, ou não, na promulça~ão da lei pro- jectada.

Dado o consentimento do rei, a lei é promztl- gccdn pcla respectiva srcretaria de Estado.

.\ í k t a Constitztcio?~crl coriferc aos membros das cÔrl(:s nlguiis p~.it~ilc!/ios e imnlzinitJades. Assim, q~ialqiicr d(lpritado oii par e inviolaoel pelas opi- nióes qiie prnferissern no excrcicio das suas func- ções; 1130 pode ser prcso por auctoridade al- guma, s:ilvo por ordeln tl;i siia respectiva camara. Se : i l g~~n i tleputado oii !);ir é pronunciado, o juiz dar$ conta li camiira respectiva, a qual decidira se o procrsso deve conti~iiiar.

O cscrcicio das furiccões de par ou ilepiitado e inteiiSnrricntr~ iricompativel coin o exercicio de qual- quer eiril)reço, a excepção c10 de conselheiro de Estado; e o deputado que, depois tle eleito, acceitar rneibci: tionorifica, emprego retribaido ou coinrriissão subsidiada, sendo o despacho depen- dcrile tla livre escoltia do çoverrio, perde o 10- gar de deputado. Mas quarido o par ou deputado exerce na capital um einprego qualquer, poderá accumulal-o com o seu logar na camara, se ella as- sim o per~iiittir, a pedido do governo.

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98 DIREITO PUBLICO

A camara dos pares

A organisaçáo da camara dos pares, baseada embora na Carta Constitucional, foi objecto de leis posteriores, e, ainda ha pouco, em 1878, a lei de 3 de maio d'aqiielle anno veio regular o direito de admissão ao pariato e fixar as categorias para a no- meaçáo dos pares.

Segundo a Carta e todo o direito vigente, a ca- mara dos pares e composta de membros vitalicios e hereditarios, nomeados pelo rei, e sem numero fixo.

São membros de direito d'esta camara o prin- cipe real e os infantes, depois dos 25 annos de idade; o patriarcha de Lisboa, os arcebispos e os bispos. Por direito herede'lario, pode tomar assento na cainara dos pares o descendente de par, ha- vendo completado 30 arinos de idade, tendo um curso de iiislruccáo superior, e achando-se com- prehenditio n'algurna das categorias, entre as quaes o rei pode escolher os pares.

Entre essas categorias aviiltam os cidadãos que por determinado espaço de tempo hajam exercido as frincçóes legislativas, os cargos superiores da administração publica, as funcções do magisterio superior, e os cidadãos que pelos seus meios de fortuna offereçam garantias solidas de independen- cia e do seu interesse pela ordem e pelo bem commum.

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DIREITO PUBLICO 29

A camara dos deputados

Ja sabemos que o Acto Addicional deu á eleição dos deputados a forrna directa. Assim, o povo es- colhe directunzente quem o liade representar em cortes, em vez de escolher os individiios que, reunidos em asseinblka eleitoral, escolhcsseni o depiitado, como se procedia na eleicão indirecta.

Nas a divisão do paiz em circulos eleitoraes não veio logo coiri o Acto Addicional. SO em 18S9, e que a lei de "L de novembro d'aquelle anno poz em pratica esta divisão, com referencia ao çoiilinente e i s ilhas adjacentes.

h divis5o eleitoral das provincias ultramarinas, já tiriha coiiieçado a fazer-se em 18'13 ; foi ainda regulada pelo decreto de 21 de dezembro de 1859; mas a divisão eleitoral do reino acha-se aclualmen- te regulada pela lei de 8 de maio de 1878, que fi- xou o numero de circulos em 149, sendo 127 no continente, 10 nas ilhas adjacentes, e 14 no ultra- mar. Posteriornierite, o circulo de Macali e Timor subdividiu-se eni dois.

Cada circulo dli um deputado. Os circulos dividem-se em assernbEdas eleitoraes;

e o numero d'estas, o logar e o dia da reuriilo, são annunciados por editaes, afixados no domingo an- terior ao da eleiçáo dos deputados.

Os eleilores de deputados sáo todos os cidadãos portuguezes que, estando no goso dos seus direi- tos civis e politicos, e sendo de maior idade, te--

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30 DJRHITO PUBLICO

nham 1008000 rkis de renda liquida annual, pro- venieiites de bens de raiz, capitaes, coinniercio, in- dustria, oii emprego iiiamovivel; e bem assim to- dos os que soubereni ler c escrever, ou foreni che- fes de familia.

Elegiveis, isto e , legalmente habeis para serem deputados, são todos os eleitores, que tiverem 400k000 reis de reriila liquida annual, e os que ti- verem certas graduaçues ou litilios lillerar ios.

Os estrangeiros naturalisados e os riiemt)ros da camara dos pares sáo absoliiiameiile irzelcgiuris.

Eleito uni deputado, o seu logar na caniara C in- co?~iyati~.cE com o etiiprego qrie tiver tia casa real; coiii a adniiiiistrac;20 dt: reiidinientos c10 Eslado ou de obras publicas; com a direcção de qualquer companliia subsitliada pelo Estado ; coni os logares de goveriiador c i ~ il, secretariu geral, adniiiiistra- dor de concelho, procurador regio e seus delega- dos, (!alegado do thesoiiro, thesoureiro pagador, escriv3o tle fazenda, governadores e secretarios das proiincias iillrainarinas, directores de alfandegas, coinmandaiites de estaçóes navaes, chefes de mis- são diplun~atica, juizes do ultrarriar.

O cidadão que, tendo qualquer d'estes enipre- gos, for eleito deputado, S obrigado a optar eritre o mesmo emprego e o seu logar de deputado.

A qualidade de eleitor- e a de elegieel depende da verificação a que se procede por meio do wçensea- nztlnto, formado por co)utnissó~s, eleitas em 7 de janeiro de cada atino pelos quarenta maiores con- tribuintes do concellio ou bairro.

Cada commissüo de r.rcensecl?tzento e composta de setc membros, rccenseailos para cargos muriicipaes, e installa-se no dia 2$de janeiro de cada anno,

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DIREITO PUBLICO 3 1

funccionando com a assistcricia do administrador do concelho ou bairro, do escrivao de fazenda, dos pa- rochos, dos regedores e recebctlores, que a auxilia- rão com os documentos e iiiforniações, do que po- derem dispor.

A b;iso tias oporafõPs cla commissão 6, em geral, o ultiiiio rccerist3:rnieiito para a eleição de tlepiita- dos, fazi:iido-se ii'osse receriseamerilo as alteracóes necessarias, oíliciosamerite, ou sobre reclamações da aiictoriilnde, ou a requcrimeiito dos interessa- tios.

O livro do recenseamento deve estar concliiido ate 15 tle fevereiro. E. atk 19 rlo mesmo mez, tem a cortimissão de fazer extrair e aflisar na porta da egreja do catla fregiiezia ;I copia do reccnseamerito na parte respectiva á iiirsma í'i.eçriezia.

Essa copia deve consei.var-se afixada ate ao ul- timo dia de fevereiro, assii~i corno se deve conservar paterite até esse dia o livro do recenseamerito ge- ral, para que toclos o possarn examinar e extrair d'elle quaesquer copi:is.

Se a comrniss5o incluir ou excluir indevidamente qualquer cicladSo do recenseamento, phde-se, ate ao ultimo (lia de fevereiro, reclamar contra essa iiit~liisáo ou cxclils;~o, contanto que as reclaiiiações scjain feitas por cscripto, e acompanhadas dos tlo- cumcntos em qiie se fundarem.

A commissão tem de decidir as rcclamações ate ao dia (i tle marco, em scss2o piiblica.

O livro do recenscameiito, alterado por essas dpcisaes, fica pnterite ate ao dia 15.

Das decisões da commissão de recenseamento, p6itc o interessado, ou outrem por elle, recorrer

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r$ DIREITO PUBLICO

para o juiz de direito da respectiva comarca, ate ao dia 21 de março, em petiçáo fundamentada, e acompanhada com a reclamaçáo e os outros docu- mentos que haviam sido apresentados A commiss30.

Do despacho do juiz de direito pode ainda in- terpor-se recurso, dentro dos cinco dias immedia- tos ao despacho, para o tribunal da Relação; e da decisão da Relação, ha o recurso de revista para o Supremo tribunal de justi(.a.

Ate ao dia 30 de junho devem estar feitas no recenseamento as alterações ordenadas pelos tri- bunaes, e que ali! esse dia forem presentes li com- missão.

Organisado e concluido assim o recenseamento, subsiste ate 30 de junho do anno seguinte, e por elle se regulam as eleições que haja n'esse periodo, para deputados ou para cargos municipaes ou pa- rochiaes.

Constituida a camara dos deputados, sò a ella compete a iniciativa sobre inipostos e sobre recru- tamento.

E' tambem da sua privativa attribuição o decretar que tem logar a accusaçáo dos ministros e conse- lheiros de Estado.

O poder moderador

O rei 6 , por direito hereditario, chefe supremo da naçáo e representante d'ella.

O principio da hereditariedade monarchica vigora

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DIREITO PUBLICO 33

nos Estadcs modernos, evitando as ambições do mando supremo, as lutas em que o mais forte nem sempre d O mais digno, e os interregnos ; ga- rantindo a estabilidade da nação, pela harmonia entre a cabeça e o corpo da mesma nação; e fi- xando a mutualidade de interesses entre a nação e o seu cliefe.

Da organisaçao politica dos romanos passou para a Egre,ja, e da Egreja para os paizes catholicos, a foiainul;r de qtie -a pessoa do rei 6 inviolavel e sa- grada. E S L ~ express.50, nos paizes protestantes, é substituida pela inviolabilidade de direito publico.

É da exclusiva attribuição no rei, no exercicio do poder moderador :

1 .O Nomear os pares ; "L0 Convocar as cortes geraes extraordinaria-

nieiite ; 3." Sanccionar os decretos e resoluções das cbr-

tes ; 4." Prorogar e adiar as cbrtes, e dissolver a ca-

mara dos deputados, nos casos em que assim o exija a salvaç3o do Estado;

5." Nomear e demittir livremente os ministros clc Estado;

6." Suspender os magistrados, em casos deter- minados ;

7." Perdoar e moderar penas ; 8.O Conceder amnistia ; A indicação das attribuiçiies privativas do rei

insinua a influencia do poder moderador nos ou- tros poderes do Estado. Assim, o poder modera- dor, co?zvocando, prorogando ou dissoloendo as cor- tes, e sanccionando as leis, completa o poder le- gislativo.

3

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Ik DIREITO PUBLICO -- .

A prorogaçüo e a dissolução differem em que a primeira termina a sessüo, a segunda termina a le- gislaturu.

Cumpre não confundir a snncção com o veto,- expressões que a miude se tomam indevidamente como synonimas. O veto é uma formula negativa, oriunda da legislação romana, emquanto que a saiicção é um facto positivo, que vai completar a lei.

Tambem no poder judicial se exerce a influencia do poder moderador, pela faculdade que este tem de stlspender os jiiizes, por queixas contra elles fei- tas, ouvidos os mesmos juizes e o conselho deEstado.

A influencia do poder t,zode~.ador sobre o poder execzitivo evidencia-se desde que, pela lei funda- mental, o rei e o chefe do poder execzctivo, e B o rei quem exerce este poder pelos seus ministros de Estado.

O exercicio das indicadas attribuições cessa dep- nz'ticamente na pessoa do rei, não só no caso do fallecimento d'este, senão tambem no caso de abdi- cação. O rei tem a plena liberdade de abdicar, ou renunciar, o throno. E cessa provisoriamente, quando o rei se acha. ausente, ou uma grave causa physica ou moral o impede de reinar.

N'estes dois ultimos casos, as attribuições do po- der moderador são exercidas por uma regencia, eleita pelas cortes.

Tambem tem logar a regencia quando, na falta do rei, o herdeiro do throno não attingiu ainda a ida- de dos dezoito annos.

Nos termos expressos da Carta, o rei não está sujeito a responsabilidade alguma.

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36 DIREITO PUBLICO

ções indirectas, a direcção geral de contabilidade, a direcção geral das contribuições directas, a di- recção geral dos proprios nacionaes e a direqão geral da thesouraria;

Secretaria dos negocios estrangeiros, comprehen- dendo uma direcção politica e a direcção dos con- sulados ;

Secretaria dos negocios eeclesimlicos e de justica, comprehendendo a direcção geral dos negocios ec- clesiasticos, e direcção geral dos negocios da jus- tiça, e a direcção geral de registo civil e estatista.

Secretaria das obras pttblicas commercio e indus- &ia, comprehendendo a direcção geral de obras publicas e minas, a direccão geral do commercio e industria, e a direcçio geral dos correios, telegra- phos e pharoes.

Secretaria dos negocios da guerra; Secretaria dos negocios da marinha e ttltramar,

comprehendendo a direcção geral da marinha e a direcção geral do ultramar.

Cada ministro apresenta os seus projeclos a sano ção do rei, e referenda, ou subscreve, a ordem ema- nada da sancção.

Sem esta referenda, ou assignatura, não podem ter execução actos alguns do poder executivo.

Embora a auctoridade formal d'esses actos de- rive do rei, é o ministro respectivo quem assume a responsabilidade dos mesnios actos.

A responsabilidade dos ministros, quer seja por traição, quer por suborno, ou por abuso do poder, ou por falta de observancia da lei, ou por proce- derem contra a liberdade, propriedade e seguran- Ca dos cidadãos, ou por qualquer dissipação dos

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DIREITO PUBLICO 37

bens publicas, torna-se effectiva perante a opinião publica, representada pela imprensa, perante as c&- tes, que representam a nação, e perante os tribu- naes.

As principaes attrihuições do poder executivo acham-se consignadas no artigo 75 da Carta Con- stitucional, sobresaindo entre ellas :

Expedir decretos, instrucçbes e regulamentos adequados a boa execução das leis ;

Prover a tudo que fôr concernente á segurança interna e externa do Estado ;

Dirigir as negociações politicas com as nações es- trangeiras ;

Prover os empregos ecr.lesiasticos, civis e politi- COS ;

Declarar a guerra e fazer a paz; Conceder titulos e honras.

O poder judicial

O poder judicial reside nos juizes, e lambem nos jurados, no caso em que estes são admissiveis.

O seu fim 6 fazer justiça, applicando independen- temente o direito, e consagrando praticamente o principio da igualdade de todos os cidadãos perante a lei.

Independente nos limites da sua esphera, o po- der judicial e por isso Risíincto do poder executi- vo, sem que se possa dizer absolutamente separa- do d'elle. vis10 como o chefe do Estado e o eqntro commum de todo o governo da nação.

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38 DIREITO PUBLICO

A otganisação do poder judicial, posta em pra- tica pelo decreto n." 24, de 16 de maio de 1832, foi reformada pelos decretos de 29 de novembro de 1836 e 13 de janeiro de 1837. A doutrina d'es- tes dois decretos constituiu a chamada Antiga Re- forma Jzidiciaria, em contraposição a Novissima Reforma Judiciaria, contida no decreto de 24 de maio 1841, que reformo26 todas as leis judiciarias anteriores, e pelo qual, ainda hoje, principalmente se regula a wganiscr~ão do poder judicial.

O continente do reino, com as ilhas adjacentes, divide-se judicialmente em districtos, comarcas, jul- gados e freguezias.

Em Portugal e ilhas ha tres diszrictos judiciaes, o de Lisboa, o do Porto e o de Ponta delgada, ca- da um com uma Relafão; cada comarca tem um juiz de direito; cada julgado em juiz ordinario, e cada freçuezia um juiz de paz.

Ha um supremo tribunal de justiça, com sua sé- de em Lisboa, e cuja jurisdição se estende a todo o reino e suas dependencias.

O supremo tribunal de justiça k composto de luz- zes conselheiros, que, a par de outras attribuições, concedem ou negam revista em processos julga- dos, indicando o tribunal em que de nuvo deve ser julgado o pleito, se a revista e3 concedida.

As Relacdes são formadas de juizes, escolhidos entre os juizes de direito, e constituem os tribu- naes de stlgunda instancia. Julgam as appellaçóes civis e criniinaes, interpostas dos tribunaes de pri- meira instancia, os recursos a coroa, as cansas dos

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DIREITO PUBLIDO 39 -- -

erros de ofl[icio dos juizes de direito, e os confli; ctos de jurisdição entre os mesmos juizes.

Os tribunaes de primeira instancia tem sua s6- de nas cornarcas, e são presididos pelo juiz de di- leito, aci qual compete julgar em primeira instan- cla as causas não exceptuadas da sua competen- cia, e decidir os recursos, interpostos dos juizes que lhe são inferiores.

A cat.egoria judicial, immediatamente inferior a dos juizes de direito, é a dos juizes ordinarios, cuja jurisdição k limitada pelos julgados.

Os juizes de paz são eleitos pelo povo, e as suas attribuiç'ues são-conciliar as partes em suas de- mandas.

Em materia judiciaria, ha jurisdições ordinarias, e jurisdicZies especiues.

Por jurisdipio devemos intender a competencia que urn magistrado ou um tribunal tem para jul- gar determinadas causas.

As jurisdiges ordinarias tem por objecto as causas cirrs, e as causas criminaeu.

As jurisdipes especiaes referem-se a certos tri- bunaes ou magistrados, especzalmente encarregados de julgar determinadas causas.

Entram na categoria de jzcrisdicões especiaes os tribunaes de conii~iercio, o tribunal de contas, os conselhos de guerra, o supremo tribunal adminis- trativo, os adlfros, o jury.

A jurisdiçáo dos arbitros da-se nas causas, em que não intervenha o ministerio publico e em que

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60 DIREITO PUBLICO

as partes interessadas nomeiam voluntariamente um ou mais arbitros para decidirem o pleito.

Os arbitros não constituem tribunaes ordinarios, organisados pela autqridade publica : são juizes crea- dos pelos particularis, a quem apraz usar da fa- culdade, concedida no artigo 437." da Carta Cons- titucional.

Quando as partes sujeitam o pleito a decisão dos arbitros, o compromisso pbde ser feito por escri- ptura publica, ou por termo nos autos, ou por es- cripto particular, assignado pelos compromittentes e por duas testemunhas.

Os arbiaos julgam de facto e de direito. Julgar de facto pertence ao jury criminal, e ainda ao com- mercaal.

E do maior alcance a instituição do jury, sob o ponto de vista politico, e sob o ponto de vista da boa administração da justiça.

O jury completa, por assim dizer, a indepen- dencia do poder judicial, porque, em quanto o po- der executivo pode exercer irifluencia moral iio magistrado, dificilmente a podera exercer na col- lectividade do jury.

Por outro lado, no julgamento dos crimes, ha duas questões capilaes-a de faclo e a de direito; e o conhccimento e a recta apreciação de um facto mais facilmente se póde colher em muitos que em um indiriduo.

Depois, o julgamento do homem pelos seus iguaes coaduna-se com os mais altos principios da digni- dade pessoal e do respeito pela liberdade.

A lei de i de julho de 4867, reformando toda a

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DIREITO PUBL~CO 41

anterior legislação correlativa, organisou sobre no- vas bases o jury criminal.

Por virtude d'esta lei, o recenseamento dos jzt- rados de uma comarca é feito por uma commis- são, composta do juiz de direito, presidente e vice- presidente da commissão de recenseamento do concelho, presidente da camara municipal e admid nistrador do coricelho.

Concluido o recenseamento, publica-se a lista geral dos cidadãos recenseados, e ha o prazo de oito dias para se reclamar contra a indevida ex- clusão ou inclusão de qualquer nome no recensea- mento.

Alem dos funccionarios, cujos cargos e serviços são incompativeis com as fiincções do jury, nos termos do artigo 2." da lei de 24 de julho de 1855, podem reclamar contra a sua inclusão na lista dos jurados os individuos de mais de 65 annos, e os que por impedimento physico ou moral não pos- sam exercer as funcções do jury.

Das decisões da commissão, sobre as reclama- ções apresentadas. lia recurso para as Relações, e d'estas para o supremo tribunal de justiça.

No primeiro domingo de janeiro e julho, a com- missão de recenseamento procede ao sorteio dos jurados, e organisa a pauta dos 36 que háo de funccionar n'esse semestre. L

O jury criminal intervem no julgamento de to- dos os crimes, a que corresponda alguma das pe-

Com mais algum desenvolritnento, pode ver-se esta ma- teria em o nosso MANUAL DOS JURADOS, publicado em i876 pela Livraria _Ferreira.

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4% DIREITO PWLICO

nas indicadas no artigo 2." da carta de lei de 18 de agosto de 1853, isto e , crinies que não são jul- gados em policia correccional. No processo correc- cional julga unicamente o juiz; no processo ordi- nario criminal, são julgadores o juiz e os jurados, estes conhecendo e apreciando os factos incrimi- nados, e aquelle applicando a lei.

No processo preparatorio dos crimes em que in- tervem o jury, os aclos principaes são a querela, o corpo de delicto, a pronuncia e a prisão.

Quereta a declaraçiio de qualquer crime, feita em juizo pelo ministerio publico ou pelas partes par- ticularmente offendidas, para que d'elle se conheça, inquirindo-se as testemunhas aponladas.

O corpo de delicto consiste na indagação, judi- cialmente feita, do facto incriminado e das suas circumstancias.

A essa indagação pode proceder-se por meio de inspecção ocular o11 por teslemzrnhas. No primeiro caso, o corpo de delicto chama-se direclo; e indire- cto, no segundo.

Para a formação dos corpos de delicto não ha ferias: podem fazer-se em qualquer dia c a qual- quer hora

Logo que do processo constem sufiientes indzcios de crime contra o querelado, e lançado nos autos o despacho de pronuncia, em que o juiz declara criminoso o facto, citando a lei que o prohibe.

Logo em seguida i pronuncia, passam-se man; dados de prisão contra o querelado, para que seja conduzido a câdeia da comarca onde corre o pro- cesso.

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DIREITO PUBLICO 63

Fóra d'estes casos, isto é, sem czclpa formada, nenhum cidadão pode ser preso, senão em flagt-ante delicto.

Flagrante delicto e aquelle que se esta commet- tendo, ou que se acaba de cominetter, sem inter- vallo algum.

Os actos preparatorios do processo sáo seguidos da accusaçáo.

O procPsso torna- se definitivamente acczuatorio, desde que se articula o libello, seguirido-se os de- mais termos.

Lihello é a narra~ão, por artigos, do facto ou fa- ctos criminosos e suas circiimstaricias, indicando-se o nome do acciisado e citando-se a lei que prohibe o facto e commina a pena.

Uma copia do libello e entregue aos reus, os quaes podem, no prazo de I 2 dias, contestal-o por escripto. Fbra d'este prazo, não póde ser recebida a contestapio cscripla, mas os r8us podem na dis- cussão da causa allegar e provar a sua defesa ver- balmenle.

Oilo dias arites da discussão da causa, é entre- gue a cada réu uma copia da pauta dos jurados.

Na audiencia do julgainerito, P proporçáo que se vão sorteando os nomes dos jurados que hão de funccionar na respectiva cansa, pode cada uma das partes m a s a r sem motivo um ate tres dos ju- rados.

O réu póde livremente escolher'o seu advogado; mas, havendo muitos reus na mesma causa, só são admissiveis na defesa dois advogados.

Quando o r6u não tenha escolliido advogado, ter-

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44 DIREITO PWLICO

lhe-ha sido nomeado 015ciosamcnte pelo juiz, para os effeitos da contestação e Ja defesa.

Constituido e ajuramentado o jury, e feita a leiturs publica dos documentos essenciaes do pro- cesso, inquirem-se as testemunhas, sendo ouvidas em primeiro logar as da accusação, e depois as da defesa.

Inquiridas as testemiinhas, e interrogados os reus sobre o crime de que são accusados, tem logar as allegações oraes, usando primeiramente da palavra o representante do ministerio publico e a parte par- ticularmente accusadora, quando a ha. Falam de- pois os advogados da defesa, e pQde replicar-lhes o ministerio publico, comtanto quo os advogados dos reus sejam sempre os ultimos a falar.

As allegaçóes oraes. se o reu nada mais tem a dizer em sua defeza, são seguidas de um relatorio verbal do juiz sobre o facto, e sobre as provas que na a favor ou contra o niesmo facto. hcto continuo, o juiz propóe aos jurados os qiiesitos, a qiie elles háo de responder, acerca do crime comprehendido no libello.

Entregues os quesitos ao jury, recolhe-se este A sala das suas deliberações, d'onde não p6de sair, antes de proferir a sua decisão,

O jury, depois de escriptas as suas respostas aos quesitos, volta sala da aiidiencia, e o seu pre- sidente lê em voz alta os mesmos quesitos e res-, postas.

Se a decisão do jury parecer ao juiz iniqua e img justa, póde elle annullar a discussêo, e ordenar que se discuta a causa em novo dia perante novo jury.

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DIREITO PUBLICO 65

Fora d'este caso excepcional, a decisão legal do jury e irrevogavel, e não adniitte recurso algum.

Se o jury declara que o crime não está provado, os accusados, por via de regra, são logo postos em liberdade; mas se declara, por unanimidade ou por maioria, que rsta provado o crime, o represen- tante dii acçusação pede ao juiz a applicação da pena estal)elecida ; e os reus e os advogados ainda podem fazer allegaçóes, não questionando o facto, mas ponderando que não e criminoso, ou que se acha ao abrigo da pr~scrip@o oii da amnistia.

Consecutivameiite, o juiz profere a sua sentença, absolvendo ou condeninando o reu.

Ern caso de corideiniiaç20, o réu e intimado para recorrer de sentença, querendo; e indica-se-llie o prazo ein que deve interpor o recurso.

O conselho de Estado

O arligo 101 da Carta Con.~titztcirmol e a base d'esla iiistilui~ão, cuja lei organica tem a data de 3 de maio de itil5.

Mas a lei de 3 de maio de 4845, organisando o coriselho de Estado, uniu-lhe iima nova instituição, a cujas tlecisões confiou as altas quest'ies adminis- tralivas: isto e, fundiu n'uma sò instituição o con- sellio de Estado politim e o conselho de Estado administrativo.

Os inconvementes d'esta fusão foram obviados pelo decreto de 9 de jonho de 1870, pelo qual o eonseltio de Estado politico ficou separado do con-

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46 DIREITO PUBLICO

selho de Estado administrativo, ficando este a de- nominar-se supremo tribunal ndininistrativo.

Por virtude d'este decreto, são gratuitas as func- ções do conselho de Estado politico, e o numero dos respectivos conselheiros ficou fixado em doze, alterando-se assim o decreto de 31 de dezembro de 1868, que havia lambem alterado a lei orçanica de 1845, reduzindo de 12 a 8 os conselheiros effe- ctiyos.

E da indole das attribuições do conselho de Es- tado o ser ouvido pelo rei em todos os assiimptos de maior importancia publica, assirri conio em to- das as occasióes em que o rei se propóe exercer o poder moderador: é a doutrina do artigo 4 4 0 . O da Carta Constitzlcional.

O Regulumento do conselho de Estado, de O de janeiro de 1850, individiialisando os principaes as- sumptos em que o conselho de Estado e ouvido pelo rei, accentua a nomeacào dos pares; a convo- cação extraordinaria de côrtes ; a scl.ncção dos de- cretos das côrtes geraes ; a stispensão (10s jziizes; o perdão ou moderacão das pfJncts impostas aos cri- minosos ; a concessão de a~wnistin ; as declarações de guerra; os ajustes & paz ; os tratados e as ai- lianças:

Nos termos expressos da Carta Constitzlcional, os membros do conselho de Estado politico sáo responsaveis pelos conselhos, que derem oppostos ás kis, e ao interesse do Estado, vlanifestamente dolosos.

Quando a camara dos deputados, usando da fa- culdade que lhe confere o artigo 37." da Carta Constitucional, decreta que tem logar a accusaçáo de um conselheiro de Estado, fica elle desde logo suspenso do exercicio das suas funcções; mas o

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juiz do processo, em que um conselheiro de Esta- do se ache indiciado por crime ou delicto indivi- dual, não pcide, sem que se decrete a alludida ac- ciisação, prosegiiir nos termos do mesmo processo.

O processo das reformas constitucionaes

A discussão e approvação de reformas em pon- tos constilucionacs orienta-se pela praxe geral das discussões e approvações parlamentares. Mas o que ha a notar, e o que ja n'outra parte deixamos in- dicado, e que as côrtes ordinarias não siio compe- tentes para a discussão e approvação de reformas consti tucionaes.

Ao consignarmos a ideia g e r d do poder legislati- ao, dissemos que as cbrtes se reunem com poder constituinte, quando por lei se tem declarado aos eleitores que confiram aos deputados, para a se- guinte legislatara, a faculdade especial de refor- mar ou alterar quaesquer pontos da lei fundamen- tal do Estado.

As chrtes ordinarias resolveni que as reformas constitucionaes se sujeitem a disciissáo e appro- vação do parlamento; mas so as cdrtes constituin- tes são competentes para proceder a essa discussão e approvação.

Os pontos cmphttrCionaGP, sobre que pode recair a reforma por esta p m s s o , são unicamente os que dizem respeito aos limites e attribuições dos poderes politicas. e roo direitos politicos e indivi- duaes dos c i M ~ s . *a d'estes pontos, são as cbrtes ordinarias eanpetentes para qualquer alte- ração na lei i n i a i do Estado.

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CAPITULO IV

DIREITOS GARANTIDOS AOS CIDADhOS

Acquisição, snspensáo e perda dos direitos constitucionaes

A acquisiç3o dos direitos, garantidos aos cida- dãos pela lei fiiiidaiilental do Estado, deriva da qua- lidade de cidadfio porluguez ; e a qualidade de cida- dão portuguez pode adquirir-se pelo nascimento, pela naluralisação e pelo casamento.

Pelo nasci~nento, e cidadão portuguez o filho de portugiiez e portugueza, ou sb de pnrtugueza, sen- do illegitimo; o que nasce em Portugal, de pai es- trangeiro, se este não reside por. serviço da sua nação; o que nasce no reino, de pais incognitos, ou de nacionalidade desconhecida.

Pela natui-alisação, e cidadão portuguez o es-

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DIREITO PUBLICO 49

trangeirn que em termos legaes renunciar a sua nai:ionalidade, preferindo a porlugueza.

Pelo ensclntento, adquire a mesnia qualidade a miilher estrangeira, que casa corn cidadão portii- guez.

Stispendc-se o esercicio dos direitos politicos, ou perde-se provisoriamente a qualidade de cidadão portiigiiez, por inwpaciáa& physica otc moral, e por s~~rifpnrn comdemnatoiia a prisão ou a degredo temporario.

Perde-se n qiinlidade de cidacl30 port~igiiez, e p x - tanto os direitos garantidos pela coiisiitiiição :

Com a nntiiralisac5o em paiz esiraiipeiro ; Com n accc4tação de funcções ou rnercils tle çrlrer-

no estrangeiro, sem licença do governo portuguez. E perde os mesmos direitos a mulher portugueza

que casa com cidad3o estrangeiro.

Portuguezes e estrangeiros natualisados

O estrangeiro, qu i se natriralisa em l+~rtiigal, ndfluire por esse facto a qualidade de ciilatl50 por- tuçuez ; mas, entre ; ~ o r t u ~ e z e s e estrangeiros na- turalisados, ha algunia differença, quanto ao exer- cicio dos direitos politicoz.

Assim, embora a h r l a Con~f i l r~onal , no 5 13 do ar t igo Ik5, proclame que tudo o cidadão pdde ser nd~niltido aos a o r p pibiiças, sem nutra dilfe- renca, que não seja a dos seus talentos e urttides, e certo qnc a mema Ccrrla não permitte que os estrangeiros n a t u n l i d o s stjam depulados, minis-

4

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50 DIREITO PUBLICO

tros ou conselheiros de Estado, (artigos 106, .108, e 68, 3 2 .O) .

Segundo o decreto de 29 de dezembro de 1848, o proprio logar de vereador, rio municipio de Ma- cau, não póde ser exercido por estrangeiros natu- ralisados,

Estas exccpç0es todavia não prejudicam o prin- cipio geral da igualdade de todos os cidadãos pe- raiite a lei.

Igualdade perante a lei

Entre os direitos gararitidos a todos os cidadãos portiiguezes pelo artigo I45 da Corta Constitucio- nal, acha-se consignatla a igualdade pel.a?rte a lei.

- A lei e igual para todos, quer proteja, quer castigue, - diz a Carta.

Significa isto que a le i , ou, mais propriamente, o ezeculor da lei, deve protec$ío e justiça a todos, seiii dislinc~40 de fortuiia tieiii de classe.

iiitli.;l~n>nvel porem náo desvirtuar a signifi- caç4o d oste direito. Quando elle foi proc1am:ido em 4789, cliegoii-se erradamente a suppor que desap- parecera a desigualdade entre govcrnantes e gover- nados, entre pais e filhos, entre amos e criados. Este erro, levado as suas ultimas conseqiiericias, produziria necessariamente a desordem e a subver- são de todo o dircilo.

Cunipre distingiiir pois em 116s o homm e o indi- viduo : como ho~~zens, todos somos ahsolutaniente iguaes, pela nalui-e:rc e pela dignidade; como in- dicitklos, somos desigzraes, pelas differenças basea-

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DIREITO PUBLICO 51

das na ithtle, iio srzo, e nas exigeiicias da boa or- ganisação do Estado.

Assiin S que, pelo qiie toca aos direitos ciris, todos fruimos igii;ilrnoiite os direitos tla capaci- dade, do pareliresco e da propric.rlcade, porque são diixitos itihci.critcs B natiii.eza Iiuinana. c, conio laes, de caiS;rctl:r rrt/ice~.sal. .\Ias, com referencia aos direitos politic.os, iiáo pode a lei gararitil-os coiii absoluta igii;illl:idt: a todos, por~lue a ~nltlher, por exeiiil)lo, iiáo ~~útlc: exercer todos os dircitos poli- ticos qiio coiiil)eterii ao Iioniem; urii ministro de F:stailo n;io esta ~~recisainente sujeito, como qiial- queia outro cidadão, a todas as leis ordinarias do processo criniiiial; uiii cidadGo de vinte e cinco ariiios, a quem por direito heredilario pertenca lo- gar nii camara dos pares, náo pbde assumir as f~incçóes do p;iriato, porque Iti'o vbda a idade.

Estas (i(~s(?gttciltl(~rle~, de caracter purairieiite in- diziitluul, ilcvt:rn tomar-se c111 1)ruderite considera- ção, quan~io alliibiiiainos que os Iiornens, pela com- niiinlijo rla liatureza, são iyuaes perante a lei.

Liberdade individaal

A lei fundamental i10 Estado garante-rios a liber- dade i~zdioidital. ~)receituarido que, alem de outra., consequencias d'iiquelle direito, neuhii~ii cidadác) p0de ser obi.iqdu a fazer. ou deixar de fazer al- guma coisa, seiilio ein virtude da lei; e que qualquer pbde conservar-se ou sair do reino, como lhe con- veiilia, levando comsigo os seus bens.

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5s DIREITO PUBLICO

A liberdade 6dividtra1, garantida pela lei, não coincide exactamente com a liberdade ncctural. A liberdade nalza.al e mais extensa que a liberdade le- gal; mas esta completa-se com aquella, porqiie liga a noçáo de individuo com a noç3o dc Estado; e nem a liberdade natural p6de exercer-se contra os di- reitos do Estado, isto e , contra a liberdade da na- ção, nem a liberdade legal pbde procurar outra base que não seja a natureza humana, encarada sob o ponto de vista da uiiidade de raça.

Graças a garantia da liberdade individual, o di- reito de ~ m i g ~ - n ~ ã o , sejam quaes forem as suas con- seqriericias, pratica-se amplamente e representa de facto um progresso e uma conquista ; a prisão ar- bitraria desappareceu das nossas leis e costiimes, porque ningtíena pdde ser preso sem culpa formada, excepto em flagrante delicto; e o cidaclBo p6de li- vremente escolher a profissão que mais lhe conve- nha, sem dependencid da tutela do Estado, e sem o constrangiinento dos escravos e dos antigos ser- oos da gleba.

Inviolabilidade do domicilio

Diz n Carta Constitucional: -aTodo o cidadão tem em sua casa um asylo

inviolavel. De noite não se podera entrar n7ella se- não por seu consentimento, ou em caso de recla- maç40, feita de dentro, ou para o defender de in- cendio ou de inundaçso; e de dia sera franqueada a siia entrada nos casos e pela maneira que a lei dctermitiar.a-

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DIREITO PUBLICO 53

Esta disposiç5o veio para nrjs da Constituicão franceza do arino vrir da primeira republica, e teni por si não si, as tradições da legislação antiga, mas os preceitos analogos de quasi todas as constitui- ções modernas, nomeadamente a hollandeza, a bel- ga, a grega, a iioruegueza, a allemã e a prussiana.

A lei, protegentlo o lar domestico contra as in- vasões e per1urbac;ões de estranhos, recoiiliece que a 1iai~il;lç30 du homem e da farriilia e um coinple- mento tla sua existeiicia, e pune severamente quem violar o domicilio do cidad3o.

A' inviolnbilidade do domicilio prende-se a invio- labilidatlc do segredo das ca~.ias, tarnbem garantida pelo artigo 145 da Carta Consiiiucional.

A violaçáo do segredo das cartas, sendo, como 6, uma offensa grave a moral publica e ao direito pessoal, k justamente poliida pelas nossas leia cri- minaes, erii observancia do preceito constituciunal.

Propriedade

Temos qaranfido o dtrãk, dG propriedade em toda a sua plenitude, quer a propriedade recaia no pro- diicto do nosso irabrlbo, quer nos productos es- porilarieos da nabreza, c p r DOS objectos ou direi- tos trarisrniltidos por - os tiaja adquirido por trabalho ou livre -.

São evidentes as d'eta garantia : se a lei náo garantisse os p d u ~ s do iiusso trabalho, dif-

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54 DIREITO PCBI.IC0

ficilmente nos sujeitariamos a elle, pelo receio de o vermos frustrado, ou teriamos de viver ern per- petuas lutas para defender os produclos da nossa actividade contra as perturbações de outrem.

Para evitar estas mesmas lutas, e que a lei tam- bem garante a propriedade de quenz primeiro occu- pa os productos espontaneos da natureza.

A propriedade, proveniente de transmissão one- rosa ou gratuita, baseia-se na liberdade individual, qiic permitle ao cidadio levar os seiis bens para onde lhe aprouver, e dispbr d'elles segundo a sua vontade, salvo a observancia das leis que regulam a administração e a transmissáo da propriedade.

O direito de propriedade soffre apenas uma res- tricçáo: e quando, por utilidnde ptiblica, se decre- ta a expropria~ão: mas, airicla n'este caso, o cida- dão não ser8 expropriado, sem prkvia iiidemiiisa- çáo.

!$ VI1

Liberdade de consciencia

h liberdnde de cnnsciencin e natural corollario da liberdade indicidual.

Em respeito da liberdade de consçiencia, nin- guerra pdde ser perseguido,-diz a C(clata Cnnslitu- ciona1,-por rnoti~os de religiiio, zcnza vez que res- peite a do Estado e niio offenda a ntot-a1 publica.

A consciet~cia e o pensamenlo sáo livres e invio- laveis. Constituem a parte mais ~ i o t ~ r e da nature- za humana, e ninguem os pode offerider ou per- turbar, sem que perturbe ou offenda a lei siipre- ma da criação do homem.

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DIREITO PUBLICO 55

Da lihetdade de cotwcier~cia e de pensamento de- riva riaturalriiente a liberdade da palavra, e por- tanto a liberdade de imprensa.

Liberdade de imprensa

I-rn dos mais incontestaveis deveres do liomem P .5cJr. e>erdadeiro, isto e , dizer o que sente e pen- sa, evitando a mentira e a liypocrisia.

Se a natureza nos deu o diiseito de pensar e sen- tir livremerite, k de justiça e razáo que a lei nos garanta a livre iiiaiiifestaç3o do que sentimos e pensamos. Por isso, estatue a Carta Constitzicional:

-aTodos podem communicar os seus pensa- mentos por palavras, escriptos, e publical-os pela arnprensu, >em clependeiicia tle censttra, contan to que hiijam de responder pelos abusos, que com- mettert!m no esercicio d'este direito. u -

A cet~szcr.ct era urria iiistitiiição que Linha a seu cargo vigi;ir a iinprrrisa, e evitar as ofleriaas a re- ligiào e á politi~a dli Estado.

Foi adoptada pela Egreja eni teriipo do papa Alexaiidre VII: jiXil), e imitada em qunsi todos os paizes.

Mas, refugiari~b* na @Iaterra a liberdade de imprensa d'abi clarp~udaai a w r w a nos fins do seciilo xvrr, - d t S O U Z S S U W ~ banida da Prussia, dos E- UniQs e da França.

Hoje a liberdade .le impensa acha-se garantida pelas constituiç-a d f ~ I & X ~~o pvvos civilisados. Na Europa, e a Rossia o unico yaiz culto que con- serva a imprensa dehaixo da tutela do Estado.

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56 DIREITO PUBLICO

A liberdade de imprensa e modificada pela res- ponsabilidade geral dos que abusam d'ella, offen- dsndo o Estado, a moral, ou o credito alheio.

Para a imprensa periodica, ha uma responsati- lidade especial, exigindo-se que a publicaçuo de qualquer follia seja precedida de uma caução, pres- tada por um editor responsavel; e o cidadáo, aggre- dido por uma follia periodica, tein o direito de se defender nas columnas da mesiiia follia.

Liberdade do trabalho e da industria

Citemos as palavras do 5. 23 do artigo Iifi da Carta Constilucional:

-uNenhuin genero de trabalho, cultura, indus- tria o11 commercio, póde ser prohibido. uma vez que não se opponha aos costumes publicas, li se- guranc;a e saude dos cidadãos. ,, -

A abolição dos privilegios, e a extincção das an- tigas corporaçí5es de arles e oficios, abriu caini- nho a liberdade do trabalho e da industria.

Entretanto, e náo obstante h;i\-cr para o cicla- dão o direito amplissimo de escc,lliei- a protissão que inais lhe apraz, essa prolissão, desde que se torna publica, esta sujeita a regulamentos e dispo- sições, que procuram coadunar o direito individual com os direitos da collectividade, e com as coiive- niencias do Estado.

As alhiidegas, por exemplo, são uma restricção da liberdade de industria e commercio, embora a legislaçio aduaneira tenda felizmente em todos os

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DIREITO PUBLICO 5 7

paizes a deixar progredir a liberdade da produc- ção e da troca.

Direito de associação, de reunião e de petiçilo

O principio de associagáo e hoje considerado como um factor impoi~taiitissimo na rn~ltipli~açáo dos pro- gressos rrioraes e sociaes.

O direito, que a todos os cidad3os assiste, de constituirein greinios litterarios, benefiçeiites ou recreativos, baseia-se na libei~iatle iridividiial, e nas corrdiçijes que o Iiomeili tem a observar no cumpriirieiito do seu fim social ; e pbile ser larga- mente exercido, sob a cla~isula de se observarem as leis e regiilamentos que dizem respeito á forma praiica da associaçdo.

Maior vigilancia da parte do Estado reqiierem as associagúes tle cai-acter politico, cujos intuitos podem contrariar a segiirança publica e o prestigio das instituiçijcs. Por isso, e não obstarite a tolerancia, a cuja sombra possam medrar associa~óes oppos- tas á mariuteiiçao da ordem politica, a lei n3o re- coiiticce o direi10 de se orgaiiis;ireiri associagóes, cujos fins sejam claramente alteiitatorios contra a legal orga!iis;tçáo !o Estatlo, e coinmiiia-llies pe- nas.

Quucsquer considerações a este rcspeito pertcnct3ni mais proprian~~~ntr ao d ~iiiinio d a economia politica, e po- dt.iii ver-se alguinas em o nosso livro A LIBERDADE DE IN- D U Y T R I A , nos suris relasõ~s com n econontia politica e com n historra da ciz~iltsa~üo, editado pela Livvaria Chardron, do Porto, eni 1872.

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58 DJRBITO PUBLICO

Alem do direito de associação, temos o direito de ~.erinião; isto S , podemos constituir nssembléas ac- c.t~I~ntaes, para alii se formular uma opinião de ca- raclcr collectivo, uma queixa, uina peLic;áo ou uma exigencia.

Mas este direito k tambem modificado pela re- gulamentação policial e administrativa, visto como, sendo em geral as assembleas populares uma de- rnonstrocão partitlaria, o goveriio tem o dever e o direito de 1-elar pela niariutenção da ordem, obs- taiido a que o legitimo e o regular exercicio do direito de r-acincüo náo seja siipplantado pelo iiite- resse privativo de uma facçao, oii pela torrente siibversiva de lima demagogia audaz.

-4s associações e as reunióes pttbiicns, normal- nieiite coiistituidas, e cada cidadão de per si, go- san1 do direito de peliçiio. garantido pelo arligo 145, S; 28 da Carta Conslititcional, e por isso po- dem apresentar por escripto ao poder lrgislativo e ao excctrtivo reclamações, quetkas ou pelirões, e ate expor qualquer in fr-occdo d a consiittii~áo , requerendo perante a çontpetente ncictoridade a efectiva respon- snbilidadr dos infruclores.

O direito de peticáo, maiitido o respeito as insti- tuições e aos costumes, aclia-se admittido ern todas as riações, em que náo & estraiiha a liberdade po- litica; porque, alem de significar que os cidadlíos tomam nobremente como seus os interesses colle- ctivos, o chefe da riaç3o, o governo, as auctorida- des em suinma, são iiiteies>ados em conliecer os sentimentos e necessidades do poro, e esse coiihe- cimento é tlc incontestavcl interesse para a colle- ctividticle nacional.

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DIREITO PUBLICO 59

Um governo, que não reconhecesse nos cidadãos o diretto de peticão, seria a personificação completa da mais rude tyrania.

Suspensão de garantias

Os direitos garantidos aos cidadãos deixam de o ser excepcionalmente, ou, pelo menos, dispensam-se por tempo determinado,-como diz a Carta Consri- twcional ,-algztmas das formalidades que garantem a liberdade intliaidzcal, nos casos de rebellião ou inva- são de irtintigos, se assim o exigir a segurança do Estado.

A essa dispensa de formalidades da-se geralmente o nome de sttspe.nsáo de garantias.

No caso excepcional, em que a segurança do Es- tado exige a silspensão de garantias, e acharido-se as chrtes reunidas, compete ao poder leçislativo esse acto especial. Nào estando reunidas as cortes, exerce o govcrno a mesma providencia, dando de- pois ao parlameiito rima relação motivada das me- didas e prevenções tomadas.

A strspensão de garantias, no caso indicado, jus- tifica se com a simples ponderação de que o direito individual e menos energico e menos exigente que o direito collectivo. Perante um grave perigo para o Estado, e perante a liberdade da ilação, i! justo o sacrificio da liberdade do individuo. Salztspopuli szcprema lex.

FIM

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INDICE ALPHABETiCO

.............................. Abdicação Acceitação da carla ...................... Acciisação dos consellieiros de Estado ......

.................. A Constituição e a Carta Acquisiçáo dos direitos constitucionaes . . . . .

......................... Acto addicional Advogados de defeza .....................

............................. Alfandegas Alterações rio recenseamento ..............

............................... Arbitros Assemhlbas eleitoraes ....................

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Associ;tção ..................... Associações politicas

Attribuições privativas da camara dos deputa- dos .................................

Atti3ihuic;Ges do conselho de Estado ........ Attrihuições do poder executivo ........... Attribuiqóes do rei ......................

.............................. Beresford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cam;ira dos depiitados

....................... Camara dos pares ..................... Carta Constitucional

.............................. Cartistas Censura ...............................

......................... Cerco do Porto ....................... Circulos eleitoraes

Comarcas .............................. Commissão do recenseamento ............. Coiisciencia ............................ Conselho de Estado ......................

............................ Conslituiçáo

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DIREITO PUBLICO 61

Constituição de i850 ..................... 16 Conslitiiição de 1838 .................... 20 Coiitestaçáo do libello .................... 43 Contra-revoliição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Convenção de Evora Monte ............... 20 COpia do recenseamento .................. 31

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Corpo cle delicto 42 Cortes extraordinarias ................... 26

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cortes ordiriarias 25 .......................... Culpa formada 43

Decisáo iniqua do jury ................... 44 Decisóes da comrnissão de recenseamento ... 32 Direilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Direito de associação .................... 57 Direito de petição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Direito de propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Direito de reuiiião 57 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Direito privado 9 .......................... Direito publico 9

Direitos garnntidos aos cidadãos ........... 48 Direitos politicos e indivirluaes ............ 18 Disciissão de causa criminal ............... 44 Dispensa das furicções do jury ............. 41 Distincçlo do poder judicial ............... 37

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Districtos judiciaes 38 Divisão dos poderes politicos .............. 24

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . D . Joáo V 15 D . JoãoVl ............................. 17 D . Jose I .............................. 15

.............................. D . Rliguel 26 D . Pedro I1 ............................ 14 D . Pedro I V ........................... 17

.............................. Elegiveis 30 ........................ Eleições directas 20

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eleitores 29

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6% DIREITO PUBLICO

............................. Emigraçio Esponaaes de D . bliguel .................. Flagrante delicto ........................ Formas de governo ...................... Funcçóes dos poderes polilicos ............

............................... Goveriio Governo coiistitucional ................... Goverrio despotico ....................... IIarrrionia dos poderes politicos ............ Hereditariedade riionarchica . . . . . . . . . . . . . . Ideia geral do poder legislativo. ........... Igualdade perante a lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . Importancia do jiiry ..................... Ineornpatibilitlade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 e lnde[)eride~icia do poder judicial ........... 1rielegivi.i~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Iiilluencia do poder iiioderadoi. . . . . . . . . . . . . Iniciativa da cainara dos deputados . . . . . . . . . Iiitcrvenção do jiiry . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Inviolabilidadc do domicilio . . . . . . . . . . . . . . . Inviolabilidade do rei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1rresporisabilitl:~ile do rei ................ Irrevogabiliclntle das decisões do jury ......

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Juizes de clircito ........................... Juizes de 1)az

........................ Juizes ordio.irios Julgados ............................... Jiiramerito da Carta por D . Rliguel ......... Jurisùiçio .............................. Jiirisdições especiaes ..................... Jurisdiçóes ordinarias .................... Legislatura ............................. Libello ................................ Liberdade de consciencia .................

................... Liberdade de imprerisa

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DIREITO PUBLICO 63

Liberdade de industria ................... 56 Liberdade de trabaltio ................... 56 Liberdade individual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Livro do recenseamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Marquez de Pombal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1:; Miiiisti.os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Moria~~cliia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1 hloi~i~ineritos do direito piiblico . . . . . . . . . . . . 14 Norneaçáa das pares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 IVoiiieac;áo oficiosa de advogado . . . . . . . . . . . 45 OpeiançGes do i~ccic~ii.~e~riiieiito . . . . . . . . . . . . . . 31 O rei e o povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Organisaç3o do coiii!lho de Estado . . . . . . . . . 43 Oi~gniiisaçáo do j1ii.y. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Orgaiiisaçáo do poder judicial . . . . . . . . . . . . . 38 Os tros estados, e111 18% . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Pauta dos jurados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Pciisamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Pilrda dos direitos coiistitucioi~aes . . . . . . . . . . 48 Poder const.ituiiite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Poderes do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Poderes publicas.. ...................... I 2 Poder executivo ........................ 35 Potler judicial .......................... 37 Poder legislativo ordinario ................ 25 Poder moderador ....................... 32 Poiitos constitucionaes .................... '17 Portug~iezes e estrangeiros . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Prenuricias de reforma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Prisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Processo accusatorio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 'i3 Processo correccional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a 42 Processo das reformas constitucionaes . . . . . . 47 Processo orcliriai.io ...................... 42 Processo preparatorio .................... 42

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66 DIREITO PUBLICO

Proclamação do absolutismo ............... .................... Projectos de reforma

Proniulgaçáo ........................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pronuncia

........................ Propostas de lei ............................ Propriedade

Receiiseamento de eleitores e elegiveis ..... Recenseamento do jury .................. Reclamaçóes contra o recenseamerito ....... Reciirsos sobre recenseamento . . . . . . . . . . . . Referenda .............................

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Heçencia . . . . . . . . . . . . . . . . Kegencia da Ilha Tercetra

.............. Regencia de L) . Isabel Pilaria ................... Hegencia de D . Niguel

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Relações judiciaes .............................. Reputlica

Responsabilidade do conselho de Estado ..... Responsabilidade ministerial ..............

....................... Reuniões publicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Restauraç30 liberal

................... Revoluçiio de setembro ...................... Revoluçáo de 1820

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sancçáo .................... Secretarias de Estado

...................... Segredo das cartas ....................... Senadores eleitos ....................... Sessáo legislativa

Sorteio dos jurados ...................... Superioridade do direito publico ...........

. . . . . . . . . . . . . . Supremo tribunal de Justiça .................. Siispeiisão de garantias

Suspensão dos direitos constitucionaes ...... ........................ Utilidade piiblica

Veto ..................................

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fi.311. piir V. S~~lpado.-I: parte, i \-oI. coiri grn\>uras, cnrt. 300 . - ----

q'yp do Addpho, aodesto & C.'- Calpia do Tijolo, 39