151
Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais (BPR) Dissertação submetida à Universidade do Minho para obtenção do grau de Mestre em Informática, na especialidade de Informática de Gestão, sob a orientação do Doutor João Álvaro Carvalho. Departamento de Informática Escola de Engenharia Universidade do Minho Braga, 1997

Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Rui Manuel Dinis de Sousa

Técnicas de Modelação de Processos

para a

Redefinição de Processos Organizacionais

(BPR)

Dissertação submetida à Universidade do Minho para obtenção do grau de Mestre em Informática,

na especialidade de Informática de Gestão, sob a orientação do Doutor João Álvaro Carvalho.

Departamento de Informática Escola de Engenharia

Universidade do Minho

Braga, 1997

Page 2: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

ii

À Fátima.

Page 3: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

iii

Agradecimentos

A todos quantos de alguma forma contribuíram para que este trabalho fosse possível, aqui expresso a minha gratidão e em particular: Ao João Álvaro Carvalho, um orientador sempre disponível, pelo incentivo, pela aposta que em mim fez, pela infinita paciência, porque a ele se deve o meu regresso à actividade de investigação. Ao Luís Amaral, um grande amigo sempre presente, pelos seus sábios conselhos, pelo incentivo e pela confiança que em mim sempre depositou. À Ana e à Rosa, duas grandes amigas, pela sua hospitalidade e compreensão. Ao Paulo Lopes, pela amizade, pelo apoio constante, pela presença amiga em momentos cruciais.. À Cristina e ao Miguel Maia Louro, pelo incentivo e apoio em algumas das fases mais difíceis. Aos meus estagiários Rui, Frederico e Casimiro, pela documentação preciosa a que tive acesso. Aos colegas e amigos, Pedro Coutinho e Carlos Sousa Pinto, porque estiveram presentes quando precisei. Aos colegas de mestrado, Maribel, Paulo Novais, António Coutinho e Isabel, pela solidariedade demonstrada. Aos colegas dos grupos de Sistemas de Informação e Informática no Ensino, especialmente ao José Luís, pelas longas e proveitosas conversas sobre o nosso futuro na Universidade. Ao Miguel Brito e à Manuela, pelas noites bem passadas à procura da motivação que tardava em chegar. Aos meus pais e à minha irmã, pelo apoio incondicional. À Fátima, pela sua infinita paciência durante um noivado algo conturbado e pelo seu apoio sem o qual, dadas as dificuldades que tiveram de ser ultrapassadas, este trabalho teria sido bem mais difícil.

Page 4: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

iv

Resumo

A Redefinição de Processos Organizacionais (BPR) é uma actividade de intervenção na

organização que visa a obtenção de ganhos significativos no desempenho organizacional

através da introdução de mudanças radicais na forma como os processos são conduzidos.

No contexto desta actividade, a organização é encarada como um conjunto de processos,

numa forma trans-funcional de organizar o trabalho onde o valor que o cliente reconhece ao

produto ou serviço disponibilizado pelo processo assume especial importância na definição da

sua estrutura e funcionamento.

Em qualquer actividade de intervenção, são necessários modelos que representem o

objecto de intervenção. Nesta actividade, os modelos são importantes na identificação dos

aspectos que devem ser redefinidos nos processos, como linguagem de consubstanciação de

ideias para novos processos e como mecanismo de difusão do conhecimento organizacional.

A identificação e a análise das técnicas para a construção dos modelos de processos

constituiu o objectivo desta dissertação. No estudo efectuado a vários métodos BPR, foram

encontradas diversas técnicas.

A análise a cada uma das técnicas com base nos conceitos que aquelas representam,

permitiu enquadrá-las nas diferentes perspectivas sob as quais um processo pode ser

observado, dada a sua complexidade.

Page 5: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

v

Abstract

Business Process Reengineering (BPR) is an activity of intervention in the organization

that aims to achieve dramatic improvements in organizational performance through radical

changes in the way processes are driven.

In the context of this activity, the organization is seen as a set of processes in a cross-

functional way of organizing work where the value perceived by the customer concerning the

product or service delivered by the process is very important in the redesign of its structure

and way of working.

In every activity of intervention, models are needed to represent the object of interest. In

this activity, models are important to identify the aspects in the process to be redesign, as a

language to concretize ideas to new processes and as a mechanism to disseminate

organizational knowledge.

The identification and analysis of modelling techniques for building process models is the

objective of this dissertation. From the study of several BPR methods, different techniques

have been found.

The analysis of each one of the techniques based on the concepts they represent, allowed

to frame them according the different perspectives from which a process can be observed,

given its complexity.

Page 6: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

vi

Índice

Agradecimentos .......................................................................................................iii

Resumo .....................................................................................................................iv

Abstract......................................................................................................................v

Índice.........................................................................................................................vi

Índice de Figuras....................................................................................................viii

Índice de Tabelas ......................................................................................................x

Siglas.........................................................................................................................xi

1. Introdução..............................................................................................................1

2. A Redefinição de Processos Organizacionais ...................................................3 2.1 O contexto ......................................................................................................................3 2.2 A essência da actividade BPR ........................................................................................6

2.2.1 Princípios ...............................................................................................................6 2.2.2 Fases ......................................................................................................................7 2.2.3 Perspectivas ...........................................................................................................8

2.3 Definição da BPR ...........................................................................................................8 2.4 Âmbito da BPR.............................................................................................................11 2.5 Fundamentos da BPR ...................................................................................................12

2.5.1 Processo ...............................................................................................................14 2.5.2 Transformação .....................................................................................................19 2.5.3 Tecnologias da Informação..................................................................................21 2.5.4 Mudança no Negócio...........................................................................................24 2.5.5 Gestão da Mudança .............................................................................................26 2.5.6 Análise de Sistemas .............................................................................................28

2.6 O processo organizacional............................................................................................29

3. Métodos para BPR ..............................................................................................32 3.1 Breakpoint BPR............................................................................................................33 3.2 Business Process Transformation.................................................................................34 3.3 Reengineering for Results.............................................................................................37 3.4 Value Driven Reengineering ........................................................................................38 3.5 Enterprise Engineering Methodology...........................................................................39 3.6 STRIM..........................................................................................................................41 3.7 ARIS .............................................................................................................................42 3.8 Object-Oriented Business Engineering.........................................................................46 3.9 Process Improvement....................................................................................................47

Page 7: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

vii

3.10 Discussão dos métodos...............................................................................................48

4. A Modelação de Processos Organizacionais ...................................................52 4.1 Técnicas de modelação .................................................................................................54

4.1.1 Fluxogramas ........................................................................................................56 4.1.2 Diagramas de Fluxos de Dados ...........................................................................64 4.1.3 Diagramas Entidades-Relacionamentos ..............................................................68 4.1.4 Diagramas de Actividade Organizacional ...........................................................69 4.1.5 Diagramas IDEF ..................................................................................................73 4.1.6 “Use Cases” e Objectos .......................................................................................85 4.1.7 Ciclos de Coordenação ........................................................................................92 4.1.8 Diagramas de Actividades e Papéis.....................................................................96 4.1.9 Simulação ..........................................................................................................108

4.2 Outras técnicas............................................................................................................114 4.2.1 Análise da Cadeia de Valor ...............................................................................114 4.2.2 Diagramas causa-efeito......................................................................................118 4.2.3 Modelos matemáticos, rede e sinápticos ...........................................................119

4.3 Ferramentas ................................................................................................................120

5. Conclusões........................................................................................................122 5.1 Discussão das técnicas de modelação.........................................................................122 5.2 Tipos de modelos em BPR .........................................................................................128 5.3 Trabalho futuro ...........................................................................................................134

Referências............................................................................................................136

Page 8: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

viii

Índice de Figuras

Figura 2.1 - Evolução na base da competição; adaptado de (Johansson et al. 1993) .................4 Figura 2.2 - Ciclo de Vida para o conceito BPR (Ormerod 1995) .............................................5 Figura 2.3 - Níveis de gestão e BPR (Kelly 1995) ...................................................................11 Figura 2.4 - O espectro da BPR; adaptado de(Talwar 1994)....................................................12 Figura 2.5 - Síntese de domínios na BPR; adaptado de (Ormerod 1995).................................13 Figura 2.6 - O velho e o novo no BPR; adaptado de (Earl 1994).............................................13 Figura 2.7 - Um processo trans-funcional típico; adaptado de (Davenport 1993) ...................15 Figura 2.8 - A cadeia interna de valor de Porter; adaptado de (Peppard and Rowland 1995)..16 Figura 2.9 - Tipos de processos; adaptado de (Earl 1994)........................................................17 Figura 2.10 - Relação TI - Processo - Produtividade; adaptado de (Davenport 1993).............21 Figura 2.11 - O papel das TI na Redefinição de Processos (Davenport 1993 p. 49) ................22 Figura 2.12 - Modelo de Leavitt da organização (1964); adaptado de (Earl 1994)..................24 Figura 2.13 - Enquadramento MIT90 proposto por Scott-Morton; adaptado de (Swatman et

al. 1994) ........................................................................................................................25 Figura 2.14 - Resistência à mudança (Carr et al. 1994)...........................................................26 Figura 2.15 - TQM e BPR; adaptado de (Spurr et al. 1993).....................................................30 Figura 2.16 - Conjugação para a mudança organizacional .......................................................31 Figura 3.1 - Fases da BreakPoint BPR da Coopers & Lybrand................................................33 Figura 3.2 - Fases da Business Process Transformation (Price Waterhouse)...........................34 Figura 3.3 - Quadro de referência para um projecto BPR (Alves 1995) ..................................38 Figura 3.4 - Fases da Enterprise Engineering Methodology.....................................................40 Figura 3.5 - Níveis de um Sistema de Informação (Scheer 1995) ............................................43 Figura 3.6 - Modelação de processos na abordagem ARIS (Scheer 1995)...............................45 Figura 3.7 - Fases da Mudança Organizacional (Flaatten et al. 1992) .....................................48 Figura 3.8 - Comparação entre as fases dos diferentes métodos ..............................................49 Figura 4.1 - Notação básica para fluxogramas .........................................................................56 Figura 4.2 - Fluxograma para “Admissão e Discussão da Dissertação” (visão global) ...........58 Figura 4.3 - “Routing by Walking About” (Coopers&Lybrand 1995) .....................................60 Figura 4.4 - Fluxograma (do Requerimento à Admissão ao Requerimento de Provas) ...........61 Figura 4.5 - Fluxograma (do Requerimento de Provas ao Despacho Liminar) ........................62 Figura 4.6 - Fluxograma (da Despacho Liminar ao Resultado da Prova) ................................63 Figura 4.7 - Diagrama de Contexto (DFD 0)............................................................................65 Figura 4.8 - DFD de primeiro nível de decomposição .............................................................67 Figura 4.9 - Diagrama ER.........................................................................................................68 Figura 4.10 - Notação BAM (Morris and Brandon 1993) ........................................................69 Figura 4.11 - Diagrama BAM...................................................................................................71 Figura 4.12 - Notação RD (Relational Diagram) (Morris and Brandon 1993).........................72 Figura 4.13 - Bloco ICOM........................................................................................................74 Figura 4.14 - Diagrama de Contexto ........................................................................................75 Figura 4.15 - Árvore de Decomposição....................................................................................77 Figura 4.16 - Decomposição em IDEF .....................................................................................78 Figura 4.17 - Diagrama de decomposição IDEF0 para o primeiro nível..................................80 Figura 4.18 - Conceitos do modelo objecto..............................................................................85 Figura 4.19 - Modelo Use Case ................................................................................................87

Page 9: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

ix

Figura 4.20 - Modelo Objecto do Use Case “Requerer Provas” ..............................................88 Figura 4.21 - Diagrama de Interacção para o Use Case “Requerimento de Provas de

Mestrado” .....................................................................................................................90 Figura 4.22 - Sistema Organizacional e Sistema de Informação ..............................................91 Figura 4.23 - Ciclo básico de coordenação (httpnotation )......................................................93 Figura 4.24 - Ciclos de Coordenação .......................................................................................95 Figura 4.25 - Notação RAD (Ould 1995) .................................................................................96 Figura 4.26 - RAD “Apresentação e Discussão da Dissertação”............................................101 Figura 4.27 - RAD “Requerer Admissão à Dissertação”........................................................103 Figura 4.28 - RAD “Requerer Provas” ...................................................................................105 Figura 4.29 - RAD “Marcar Prova”........................................................................................106 Figura 4.30 - RAD “Discutir Dissertação” .............................................................................107 Figura 4.31 - Notação para simulação em Ithink (Systems 1994a) ........................................109 Figura 4.32 - Estrutura simplificada do modelo para simulação ............................................110 Figura 4.33 - Modelo para simulação em Ithink.....................................................................112 Figura 4.34 - Cadeia de Valor de uma companhia de aviação(Flaatten et al. 1992) ..............117 Figura 4.35 - Diagrama causa-efeito (Keen and Knapp 1996) ...............................................118 Figura 4.36 - Análise de Causas num Processo (Coopers&Lybrand 1995)............................119 Figura 5.1 - Suporte às Perspectivas pelas Técnicas de Modelação.......................................124 Figura 5.2 - Tipos de modelos nas fases de uma actividade de intervenção (e.g., BPR); ......128 Figura 5.3 - Modelos na Redefinição de Processos Organizacionais .....................................133

Page 10: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

x

Índice de Tabelas

Tabela 2.1 - Tipologia de processos em função do conhecimento; adaptado de (Earl 1994)...19 Tabela 2.2 - Simplificação versus BPR; adaptado de (Coulson-Thomas 1994).......................20 Tabela 2.3 - Comparação de abordagens; adaptado de (Manganelli and Klein 1994) e (Alves

1995).............................................................................................................................20 Tabela 2.4 - O impacto das TI na Inovação de Processos; adaptado de (Davenport 1993).....24 Tabela 3.1 - Técnicas de Modelação de Processos utilizadas em métodos BPR .....................51

Page 11: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

xi

Siglas

BAM Business Activity Map Diagrama de Actividade Organizacional

BPI Business Process Improvement Melhoria de Processos Organizacionais

BPR Business Process Reengineering Redefinição de Processos Organizacionais

DSI Desenvolvimento de Sistemas de Informação

IDEF0 Integration Definition for Function Modeling Modelação de Processos

IDEF1X Integration Definition for Information Modeling

Modelação de Dados

MIS Management Information Systems Gestão de Sistemas de Informação

PERT Project Evaluation and Review Technique Técnica de Gestão de Projectos

RAD Role Activity Diagram Diagrama de Actividades e Papéis

SADT Structured Analysis and Design Technique Teécnica de Análise e Desenho Estruturados

SI Sistemas de Informação

TI Tecnologias da Informação

TQM Total Quality Management Gestão da Qualidade Total

Page 12: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 1

1. Introdução

Esta dissertação identifica e analisa tipos de modelos e técnicas de modelação utilizados

no contexto da actividade de redefinição de processos organizacionais (BPR)1.

As organizações vivem, actualmente, num clima de mudança, competitividade e

complexidade crescentes. A mudança é não só cada vez mais extensa e profunda, mas

também vertiginosa. Rígidas na sua estrutura e demasiado burocratizadas, as organizações

enfrentam problemas que decorrem da falta de capacidade de resposta perante clientes que

alteram frequentemente os seus requisitos, cada vez mais exigentes em factores como o custo,

a qualidade e a rapidez.

Para garantir o seu sucesso e muitas vezes, a sua sobrevivência, as organizações precisam

ser pró-activas à mudança, antecipando-a. E esta é uma das razões pelas quais estas se

submetem a actividades de intervenção, cujo objectivo é a melhoria significativa do

desempenho organizacional pela introdução de alterações mais ou menos profundas ao seu

funcionamento.

Uma das actividades de intervenção que mais controvérsia tem criado nesta década,

nomeadamente, pela radicalidade na mudança a introduzir, é a BPR. A visão holística,

integradora e abrangente que a BPR preconiza, e a radicalidade com que questiona os

fundamentos em que a organização baseia o seu funcionamento, colocam-na em destaque

relativamente a outras actividades de intervenção, como a Gestão da Qualidade Total (TQM)2,

sua antecessora. Relativamente às melhorias graduais e contínuas propostas pela TQM, a BPR

contrapõe ganhos significativos no desempenho organizacional, exigidos pela rapidez na

mudança que ocorre na envolvente à organização e para a qual a TQM não é suficiente.

Uma comparação, não só com a TQM, mas também com outras iniciativas de mudança

organizacional, é efectuada no segundo capítulo desta dissertação. Este capítulo começa por

apresentar os fundamentos da actividade BPR e as diferentes iniciativas que, baseadas neste

1 BPR - Business Process Reengineering - Dada a utilização generalizada da sigla para identificar a actividade de redefinição

de processos organizacionais, também neste texto ela será doravante utilizada com esse significado. 2 TQM - Total Quality Management

Page 13: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 1 2

conceito, são desencadeadas sob diferentes designações. As interligações com outras

actividades de intervenção são descritas, nomeadamente, com o Desenvolvimento de Sistemas

de Informação (DSI), dada a sua contribuição ao nível dos modelos e técnicas de

representação, entretanto redefinidas ou enquadradas no âmbito da BPR.

No terceiro capítulo, são apresentadas as recomendações metodológicas, com a

referência às técnicas de modelação de processos que lhes estão associadas, utilizadas por

algumas das empresas de consultoria mais envolvidas na actividade BPR. De uma

comparação entre aquelas recomendações metodológicas, identificar-se-á a essência de um

programa para a actividade BPR.

O quarto capítulo é dedicado à apresentação das técnicas mais utilizadas na

representação de processos organizacionais. A modelação de um caso exemplo pelas

diferentes técnicas permitirá explicar os conceitos envolvidos e comentar as vantagens e/ou

desvantagens na sua utilização. O capítulo encerra com alguns exemplos de outras técnicas a

utilizar na fase de diagnóstico, anterior à modelação de processos. É, ainda, apresentada uma

classificação para as ferramentas a utilizar na modelação e efectuada a referência às utilizadas

para suportar as técnicas de modelação consideradas no estudo.

O quinto e último capítulo, apresenta a discussão das técnicas onde se procura concluir

quanto ao suporte que aquelas dão às diferentes perspectivas sob as quais um processo

organizacional pode ser observado; uma classificação para os modelos obtidos é proposta e

apresentadas as conclusões quanto à utilidade daqueles na Redefinição dos Processos

Organizacionais.

Salienta-se que, embora “vinho velho em garrafas novas”, a perspectiva holística dos

diferentes componentes da organização na redefinição dos processos, tal como preconizada

pela BPR, é inovadora. Ainda que muitas das técnicas provenham de domínios já bem

conhecidos como o dos Sistemas de Informação, o sucesso de uma actividade de intervenção

como a BPR poderá passar, entre outros factores, pela aplicação dessas técnicas redefinidas e

enquadradas em métodos adequados a um contexto mais abrangente e integrador como é

aquele que deve ser considerado numa actividade de intervenção como a BPR.

Page 14: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

3

Capítulo 2

2. A Redefinição de Processos Organizacionais

2.1 O contexto

A redefinição de processos organizacionais (BPR), apresenta-se nesta década como uma

das ideias mais sedutoras para as actividades de mudança numa organização. Muitos são os

seminários e conferências que a ela se dedicam e muitas são as organizações que a adoptam.

Se compararmos a BPR com outras soluções para a melhoria do desempenho das

organizações que a antecederam, como a JIT3 ou a TQM, o que se pretende atingir com esta

actividade de intervenção é um aumento ainda mais significativo no desempenho

organizacional ao questionar o que se faz e só depois, como se faz. E quando é a

sobrevivência da organização que está em causa, uma das alternativas mais viáveis ao seu

desaparecimento pode passar pela submissão a uma actividade de intervenção como a BPR.

As melhorias incrementais, como as proporcionadas pela TQM, já não são suficientes para

evitar a espiral de cortes e reduções nos recursos da organização face à sua perda de

competitividade (Coulson-Thomas 1994).

O actual ambiente empresarial apresenta uma crescente complexidade organizacional,

caracterizada pela globalização das operações empresariais, pela pressão constante no tempo

dos processos, pela reestruturação empresarial (reorganização, reinstalação, fusões e

aquisições) e pelas descontinuidades (políticas, económicas, sociais, empresariais) (Ilharco

1993).

Neste quadro de complexidade organizacional, são factores como a criação de bons

produtos e a satisfação do cliente que permitem que as organizações se apresentem na linha da

frente na competição empresarial (Moad 1993). Para sobreviver e prosperar, a organização

precisa ser flexível e adaptar-se rapidamente aos requisitos do cliente, dada a crescente

frequência com que este os altera. Mas a organização tradicional, centrada sobre si mesma e

3 JIT - Just-in-Time

Page 15: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 4

após anos de especialização em tarefas, com divisões funcionais claramente demarcadas e

com objectivos entre si que chegam a ser conflituosos, está mal preparada para o efeito.

A base em que assenta a competição entre as organizações tem vindo a mudar, assim

como o “preço de admissão” que estas têm de pagar para poderem competir. O que é hoje o

“preço de admissão”, é amanhã a base da competição, e novos factores, a traduzir em

vantagens competitivas, terão que ser apresentados pelas organizações que pretendem

permanecer no mercado. As características dos produtos e serviços apresentados pelas

organizações já não são suficientes para que estas permaneçam competitivas; factores como o

custo, a funcionalidade, a qualidade, a inovação, a flexibilidade e o tempo de resposta ao

mercado devem também ser contemplados (Figura 2.1):

Figura 2.1 - Evolução na base da competição; adaptado de (Johansson et al. 1993)

A virtualidade é o novo factor a considerar e poderá vir a constituir a base da competição.

Este factor assenta na capacidade das organizações se constituírem sinergeticamente em

grupos, formando organizações de organizações, ou organizações virtuais que englobam toda

a cadeia de fornecedores por forma a diminuirem drasticamente o tempo de resposta ao

mercado.

A BPR visa alterar o status quo. Na sua génese, está um compromisso do tudo ou nada.

Começar do zero. É esta radicalidade que é simultaneamente tanto um pólo de atracção como

de repulsão, que atrai ao colocar a questão: “Se pudesse começar de novo, o que faria?”, mas

que repele quando se encara o elevado risco que comporta um processo de mudança tão

profundo. Trata-se de uma revolução, não de uma evolução, e atitudes como o medo, o

cepticismo e a rejeição devem ser esperadas (Hammer and Stanton 1995).

Apesar dos obstáculos, a BPR continua a suscitar a adesão, se não for por outra razão,

porque está na moda. O conceito de gestão que lhe está subjacente é claramente identificado,

Características do produto

Funcionalidade

Custo

Qualidade

Inovação

Tempo de resposta Flexibilidade

Serviço Funcionalidade

Custo

Qualidade

Inovação

Tempo de resposta Flexibilidade

Serviço

Virtualidade

1970 Amanhã Hoje

Base da Competiçã

Preço de admissão

Page 16: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 5

tal é a proliferação de iniciativas e de seminários que lhe são consagrados. E como qualquer

conceito de gestão, também tem o correspondente ciclo de vida, encontrando-se actualmente

na fase de disseminação (Figura 2.2):

Figura 2.2 - Ciclo de Vida para o conceito BPR (Ormerod 1995)

Considera-se que a fase de experimentação terminou em 1990, quando foram publicados

os primeiros ensaios onde o conceito foi apresentado (Davenport and Short 1990) (Hammer

1990). A fase de conceptualização terminou em 1993 com a publicação pelos mesmos autores

dos resultados do amadurecimento do conceito (Hammer and Champy 1993) (Davenport

1993). Desde então, convertido em serviço pelas empresas de consultoria e adoptado como

programa de mudança por inúmeras organizações, a BPR conheceu o seu período de

divulgação.

Os primeiros resultados decorrentes da sua aplicação começaram a aparecer e não

pareceram muito animadores. Os resultados obtidos ficaram aquém das expectativas (Champy

1995) geradas na fase de conceptualização da BPR (Hammer and Champy 1993):

• redução de 70% na duração do ciclo do produto;

• redução de 40% nos custos;

• aumento de 25% na quota de mercado.

Os estudos efectuados nas empresas norte-americanas seleccionadas pelos seus esforços

em BPR, permitiram concluir que apenas 30% daquelas conseguiram atingir os objectivos

fixados (Champy 1995) (Moad 1993).

São, contudo, muitas as organizações que, desde que envolvidas num processo de

mudança, afirmam estarem a ser objecto da actividade BPR. O conceito serve de capa a outro

tipo de iniciativas cujo ónus do insucesso recai sobre a BPR; uma filosofia de gestão não

consentânea com a actividade BPR, uma percepção e utilização incorrectas do conceito são

Experimentação Conceptualização

Divulgação Disseminação

Abandono

- 1990 1993

1995

1996

Page 17: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 6

alguns dos erros a apontar, responsáveis pela indicação de 70% para a taxa de insucesso

(Hammer and Stanton 1995).

2.2 A essência da actividade BPR

Na essência da actividade BPR, está uma ideia, simples e intuitiva: começar do zero.

Identificar os processos da organização que realmente são importantes para o seu sucesso e

para ela representam valor acrescentado e proceder à sua redefinição (Davenport and Short

1990) (Hammer 1990).

Na fase de conceptualização, destacaram-se duas aproximações à BPR: uma, centrada nas

motivações e nos benefícios resultantes (Hammer 1990); a outra, mais analítica e sistemática,

baseada no recurso às Tecnologias da Informação (TI) para redefinir os processos (Davenport

and Short 1990).

2.2.1 Princípios

Dos resultados das primeiras iniciativas BPR, decorre um conjunto de princípios que se

consideram críticos para o seu sucesso (Hammer and Champy 1993):

• Organizar em termos de resultados, não de tarefas;

• Possibilitar a execução do processo por quem utiliza o seu resultado;

• Incluir as regras de processamento da informação no trabalho de quem a produz;

• Interligar actividades paralelas em vez de integrar resultados;

• Tratar recursos geograficamente dispersos como se eles estivessem centralizados;

• Incorporar pontos de decisão e controlo nos processos de trabalho através da

tecnologia;

• Recolher informação apenas uma vez e na fonte.

E este conjunto de princípios traduz-se num conjunto importante de recomendações para a

BPR:

• Ter uma perspectiva trans-funcional para estudar os processos;

Page 18: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 7

• Criar o papel de gestor de processo;

• Constituir equipas representativas dos processos a serem redefinidos;

• Verificar se as actividades adicionam valor ao produto final;

• Esperar níveis elevados nas melhorias.

A responsabilidade, o trabalho em equipa, a delegação de poder e a tomada de decisão

devem ser considerados na redefinição dos processos. Os esforços da BPR devem ser

canalizados, não para a eficiência e o controlo, mas para a inovação, rapidez, serviço e

qualidade.

2.2.2 Fases

O primeiro programa da actividade BPR a ser proposto, identificava cinco grandes fases

(Davenport and Short 1990):

• Construir uma visão estratégica e estabelecer os objectivos específicos. Assumir uma

visão trans-funcional, estratégica e ampla dos propósitos da organização nos quais os

novos processos redefinidos se devem integrar.

• Identificar os processos fundamentais a redefinir. Embora no limite todos os processos

da organização pudessem ser identificados, são os processos mais críticos, cujo

impacte no desempenho organizacional é mais significativo, que são objecto de

redefinição.

• Compreender e medir o desempenho dos processos existentes. Caso contrário, os

objectivos a atingir com a redefinição não poderão ser avaliados dada a ausência de

critérios que permitam aferir o seu sucesso.

• Identificar as TI a utilizar na redefinição dos processos. As TI não devem ser utilizadas

apenas para automatizar os processos definidos, mas para criarem novos modelos e

proporcionarem formas radicalmente diferentes de executar os processos.

• Conceber e construir um protótipo do processo. As TI devem ser utilizadas como

suporte para as ferramentas de concepção e prototipagem na modelação de processos.

Page 19: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 8

2.2.3 Perspectivas

Nos contributos mais significativos para a conceptualização e divulgação da BPR

(Hammer and Champy 1993) (Davenport 1993), é possível identificar duas aproximações que

reflectem o posicionamento perante a utilização das TI na BPR. Entre os aspectos mais

marcantes, salientam-se os seguintes:

• As TI assumem um papel mais relevante na aproximação efectuada por Davenport;

• Enquanto Hammer apresenta os princípios que devem ser seguidos para atingir o

sucesso, Davenport apresenta uma forma sistemática de efectuar a BPR;

• A partir dos casos de sucesso reconhecidos na BPR, Davenport identifica cinco fases

na actividade, enquanto Hammer os utiliza para demonstrar a necessidade de repensar

o modo como são executados os processos;

• Hammer enfatiza a necessidade de utilizar a imaginação, de responsabilizar as

pessoas, de criar um novo tipo de organização enquanto Davenport enfatiza o poder

capacitador das TI.

São perspectivas complementares que ilustram duas sensibilidades: uma mais próxima da

gestão e a outra, mais próxima da tecnologia. Hammer apresenta uma visão mais estratégica

enquanto Davenport, realça o papel das TI numa visão mais operacional. Ambas, no entanto,

falham :

• ao assumir que a tomada de decisões e o empowerment4 são facilmente aceites pelos

membros da organização;

• ao esquecerem os custos ou os problemas na redefinição das TI para suportar os

processos.

2.3 Definição da BPR

A definição mais referenciada para a BPR será talvez a proposta por Hammer:

4 autorização e poder para agir com delegação de responsabilidades

Page 20: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 9

“A BPR é o repensar fundamental e a redefinição radical dos processos organizacionais

para conseguir melhorias drásticas em indicadores críticos e actuais de desempenho, tais

como custos, qualidade, atendimento e rapidez” (Hammer and Champy 1994).

Nesta definição, destacam-se quatro palavras chave:

• fundamental: as questões mais básicas a respeito da organização e do seu

funcionamento são colocadas: Por que fazemos o que fazemos? E por que o fazemos

desta forma?

• radical: não se trata de aperfeiçoar, ajustar estruturas e procedimentos de trabalho

existentes mas de os reinventar.

• drástico: são melhorias significativas e não marginais, aquelas que se pretendem no

desempenho; trata-se de uma revolução, não de uma evolução.

• processo: o conceito mais importante na BPR e aquele cuja implementação apresenta

maior dificuldade à maioria dos gestores, que orientam a sua acção para a gestão das

tarefas, estruturas e pessoas e que têm que a reorientar para o processo (conjunto de

actividades com uma ou mais espécies de entradas que cria uma saída de valor para o

cliente).

A partir da definição de Hammer, outras definições são propostas que, embora sem alterar

o essencial, aumentam a abrangência do conceito. É o caso da inclusão explícita da infra-

estrutura de apoio aos processos:

“ A BPR é o redesenho rápido e radical de processos produtivos estratégicos e de valor

acrescentado - e dos sistemas, dos procedimentos e das estruturas organizacionais que os

sustentam - por forma a optimizar os fluxos de trabalho e de produtividade numa

organização” (Manganelli and Klein 1994)

Da interpretação do conceito BPR resultam várias aproximações que traduzem, por vezes,

diferentes níveis de ambição e perspectivas na sua aplicação. Enquanto Business Process

Reengineering (Hammer 1990) e Process Innovation (Davenport 1993) se referem a atitudes

mais radicais, Business Process Improvement (Harrington 1991) traduz melhorias

incrementais aos processos existentes. A adopção do conceito é, por vezes, efectuada sem

que a radicalidade seja uma questão fundamental, mas sim a melhoria significativa do

desempenho:

Page 21: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 10

“BPR diz respeito a iniciativas, grandes ou pequenas, radicais ou conservadoras, cujo

motivo é atingir melhorias significativas no desempenho organizacional pelo aumento da

eficiência e eficácia dos processos chave do negócio” (Wastell et al. 1994)

Todas as definições apresentadas esquecem, contudo, o papel primordial das TI na

actividade BPR. A aliança BPR/TI tem contribuído para ganhos consideráveis no desempenho

organizacional (Macarthur et al. 1994) e, embora seja possível, não é realista executar a

actividade BPR sem recurso às TI. Um dos objectivos da BPR dever ser a utilização do poder

das TI para redefinir radicalmente os processos organizacionais:

“BPR é uma abordagem integrada que trata de problemas organizacionais e

oportunidades através do repensar fundamental dos seus processos principais de modo a

atingir efeitos sustentáveis e grandes melhorias pela mudança radical e pelo alinhamento

efectivo dos sistemas de informação e da tecnologia aos objectivos da organização” (Glasson

1994).

Se a concepção da BPR é revolucionária, a sua implementação é evolutiva (Davenport

1994). Do grau de radicalidade na implementação, resultam diferentes iniciativas que

compõem um espectro de grande amplitude. A actividade BPR é, assim, associada a

diferentes graus de profundidade na mudança que decorre da sua implementação. Importa

estratificar os diferentes tipos de iniciativa BPR e identificar aquilo que os distingue.

Page 22: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 11

2.4 Âmbito da BPR

A primeira estratificação da actividade BPR decorre do nível de gestão a partir do qual

aquela é desencadeada (Figura 2.3).

Figura 2.3 - Níveis de gestão e BPR (Kelly 1995)

O nível mais alto na pirâmide pressupõe uma mudança mais profunda na organização,

com uma visão global, facilitada pelo envolvimento mais directo da gestão de topo na

actividade BPR. A base da pirâmide identifica-se mais com melhorias graduais e localizadas,

características de iniciativas TQM.

Um outro espectro, mais detalhado, enquadra as diferentes iniciativas BPR em função do

grau de mudança requerido, do âmbito na aplicação, dos ganhos desejados e do risco a

assumir (Figura 2.4):

• Melhoria do Processo (Process Improvement). Não poderá ser considerada

verdadeiramente BPR. O objecto desta actividade não é o processo, mas parte deste:

uma função que se pretende ver melhorada.

• Redefinição de Processos (Process Reengineering). É a iniciativa mais adoptada, que

considera o processo na sua globalidade, e não cada uma das funções per si a que este

recorre, e procede à sua redefinição.

• Redefinição do Negócio (Business Reengineering). Traduz melhorias drásticas em

todos os processos fundamentais da organização.

• Transformação (Transformation). Questiona a existência da organização e os seus

objectivos mais fundamentais, situando-se na reinvenção do próprio negócio.

Em que negócio é que queremos estar?

Como podemos reestruturar a empresa?

Existe uma forma melhor de executar este processo?

Business Reengineering

Business Process Reengineering

Process Improvement

estratégico

táctico

operacional

Page 23: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 12

• Renovação Contínua (Ongoing Renewal). Quando as redefinições se tornam parte

integrante da organização de forma a que esta se possa em contínuo refocar e

reinventar em reacção constante à sua envolvente.

Figura 2.4 - O espectro da BPR; adaptado de(Talwar 1994)

Para um espectro tão amplo na sua aplicação, a BPR assenta os seus fundamentos em

diferentes domínios de intervenção nas organizações.

2.5 Fundamentos da BPR

A BPR tem na sua génese vários domínios (Figura 2.5), muitos dos quais não sendo

recentes, a sua actualidade continua a ser justificada pelos problemas para os quais as

organizações ainda não encontraram as soluções desejadas. Porque a BPR se constitui como

síntese de conceitos já conhecidos, leva os seus críticos a designá-la por “vinho velho em

garrafas novas” .

Mudança de paradigma

MUDANÇA MENTAL

Nenhuma

RISCO Local e limitado

Ameaça à sobrevivência

GANHOS

Sustentáveis Grandes

Incrementais

ÂMBITO Local Abrangente

Melhoria do Processo

Redefinição de Processos

Redefinição do Negócio

Transformação

Renovação contínua

Page 24: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 13

Figura 2.5 - Síntese de domínios na BPR; adaptado de (Ormerod 1995)

Mas se os conceitos não são novos, a sua síntese na BPR, proporciona uma visão

holística da organização cujo elemento integrador é o processo. É esta síntese, representada no

modelo dos dois triângulos, que traduz a importância e o carácter inovador da actividade BPR

(Figura 2.6):

Figura 2.6 - O velho e o novo no BPR; adaptado de (Earl 1994)

O velho triângulo apresenta antigos desafios, mas nem por isso com uma solução

definitiva: a Mudança no Negócio, a Gestão da Mudança e a Análise de Sistemas. A

complexidade aumenta com a introdução do novo triângulo com os três elementos que,

embora não completamente novos, quando conjugados, constituem o factor de diferenciação

Transformação

Análise de Sistemas

Processo

Mudança no Negócio

velho

novo

Novas TI

Gestão da Mudança

Tecnologias da

Informação

Computadores

Software

Análise de Requisitos

Análise de Processos

Engenharia Gestão de Recursos Humanos

Qualidade Serviço Engenharia da

Informação Concepção

Concepção Total

Motivação

Delegação

Equipas

TQM

SPC

Gestão da Qualidade

Prestação do serviço

O cliente em primeiro

Excelência no serviço

Organização e Gestão

BPR

Procedimentos administrativos

Produtividade

Automação de

escritórios

Análise de Processos

Automação

Page 25: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 14

e inovação na BPR: a Transformação, as Novas TI e o Processo. De entre estes, o processo

é o elemento mais diferenciador que caracteriza a actividade BPR.

2.5.1 Processo

O processo constitui o elemento característico e fulcral na BPR. Centrado na actividade, o

processo é a unidade organizacional por excelência que deve traduzir a forma natural de

pensar sobre o funcionamento da organização. Caracteriza-se por ser trans-funcional, com a

sua execução baseada em equipas, onde o controlo cede lugar à comunicação e onde são

postos em causa procedimentos habituais. As interpretações a que este conceito se presta pela

complexidade dos diferentes elementos que integra, podem ser agrupadas segundo duas

visões (Keen and Knapp 1996):

- processo como fluxo de trabalho, uma série de actividades cujo objectivo é produzir

algo de valor;

- o processo como coordenação do trabalho, onde um conjunto de capacidades e

procedimentos são explorados para criar uma capacidade dificilmente alcançável por

outros meios.

Para a interpretação como fluxo de trabalho, a mais comum, encontram-se as seguintes

definições para processo organizacional:

“Um conjunto de actividades que recebem um ou mais tipos de entrada e criam uma saída

com valor para o cliente” (Hammer and Champy 1994)

“Uma sequência específica de actividades produtivas no tempo e no espaço, com um início,

um fim e entradas e saídas claramente identificadas: uma estrutura para a acção”

(Davenport 1993)

“Um processo é um conjunto de actividades interligadas que recebem uma entrada e a

transformam numa saída” (Johansson et al. 1993)

“Um processo é definido como uma actividade que executa um conjunto de passos para

produzir um resultado específico ou um conjunto de resultados relacionados entre si”

(Morris and Brandon 1993)

“... todos os processos podem ser vistos como um conjunto de actividades (por ex., passos,

tarefas, ou subprocessos” (Malone et al. 1993)

Page 26: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 15

Para a segunda interpretação, onde o processo é encarado como coordenação de trabalho,

encontra-se a seguinte definição:

“Mais do que um conjunto de fluxos de materiais e informação, os processos organizacionais

representam a coordenação da acção entre pessoas” (Flores) apu (Keen and Knapp 1996):

A interpretação do processo como coordenação complementa a do processo como fluxo

de trabalho, adicionando factores como o trabalho em equipa, colaboração e coordenação. O

processo organizacional pode ser visto como uma combinação das capacidades humanas com

as tecnologias (Keen and Knapp 1996).

Uma das características mais importantes deste processo organizacional, é a sua trans-

funcionalidade; a estrutura funcional da organização, com os seus diferentes departamentos

(produção, vendas, marketing, ...) dá lugar a uma estrutura orientada ao processo, com este a

recorrer às actividades dos diferentes departamentos (Figura 2.7):

Figura 2.7 - Um processo trans-funcional típico; adaptado de (Davenport 1993)

O objectivo do processo é gerar valor5 para o cliente. São os processos, dos quais o cliente

se apercebe e recebe o resultado, produto ou serviço, que devem ser objecto da BPR.

A noção de valor tem as suas raízes na engenharia de valor aplicada aos produtos. A

engenharia de valor, técnica desenvolvida pela General Electric em 1940, consiste em

melhorar a eficiência de um produto através da sua redefinição. Qualquer aspecto na

concepção do produto que não contribua directamente para a utilidade deste, deve ser

eliminado. O produto dever ser novamente especificado para que o seu valor seja entregue ao

cliente, com o menor custo possível.

5 valor: rácio entre qualidade percebida e preço percepcionado (pelo cliente) (Matos 1996)

Protótipo do novo

produto

Investigação e

Desenvolvimento Marketing Produção

Desenvolvimento de um novo produto

Estudo de Mercado

Análise dos competidores

Page 27: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 16

O mesmo se passa com a BPR, mas aqui são os processos e não os produtos que devem

ser redefinidos por forma a eliminar naqueles as actividades que não acrescentam qualquer

valor.

Para a identificação das actividades geradoras de valor, é importante salientar o recurso à

cadeia de valor de Porter (Figura 2.8), que classifica as actividades em primárias e de suporte:

Figura 2.8 - A cadeia interna de valor de Porter; adaptado de (Peppard and Rowland 1995)

2.5.1.1 Tipos de Processos

O processo organizacional é um conceito complexo. Da sua análise decorrem diferentes

classificações, consoante o objectivo e a perspectiva em que aquela é efectuada.

Quando a análise é efectuada na perspectiva da cadeia de valor, os processos podem ser

estruturados em quatro tipos (Figura 2.9):

PRIMÁRIAS

Infra-estrutura da organização

Gestão de Recursos Humanos

Desenvolvimento de Tecnologia

Compras

Serviços Marketing e Vendas

Logística externa

Operações Logística interna

SUPORTE

M a

r g

e m

M a

r g

e m

Page 28: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 17

Figura 2.9 - Tipos de processos; adaptado de (Earl 1994)

Uma outra classificação, é aquela que divide os processos organizacionais em três

categorias: estratégicos, operacionais e capacitadores (Peppard and Rowland 1995):

• Processos estratégicos - aqueles pelos quais a organização planeia e desenvolve o seu

futuro, tais como o Planeamento Estratégico, Desenvolvimento de Produtos/Serviços e

Desenvolvimento de Novos Processos.

• Processos operacionais - aqueles pelos quais a organização executa as suas funções

regulares de apoio ao cliente, gestão de tesouraria ou execução de relatórios

financeiros.

• Processos capacitadores - aqueles que permitem que os processos estratégicos e

operacionais sejam executados, tais como gestão de recursos humanos, gestão

contabilística e gestão de sistemas de informação.

Qualquer um destes processos pode ser detalhado em sub-processos, cada um dos quais é

decomposto em actividades até se atingir por esta aproximação top-down, a tarefa individual.

Os processos organizacionais podem, ainda, ser classificados quanto ao tipo de fluxo que

processam (Alves 1995):

• Processos físicos - são todos os processos que envolvem predominantemente o

manuseamento de materiais e equipamentos.

• processos de informação - são todos os processos que envolvem actividades

predominantemente de recolha, sistematização, registo e análise de dados.

Primário

Secundário

Alta Baixa Estruturaçã

o dos

Objectivo na cadeia de

Nuclear

Rede

Suporte

Gestão

Page 29: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 18

• processos de decisão/acção - são todos os processos que envolvem actividades

predominantemente de reflexão sobre os dados, e que normalmente se concluem com a

tomada de uma decisão, que desencadeia por sua vez uma acção.

A ênfase no papel do ser humano relativamente à tecnologia e a produtividade baseada

nos trabalhadores do conhecimento (Drucker 1993), levam à identificação do último tipo de

processos também como processos humanos. Pode ser estabelecida uma hierarquia na

coordenação: os processos humanos coordenam as actividades entre as pessoas e são também

utilizados para coordenar os processos de informação que por sua vez, coordenam os

processos físicos.

Na classificação proposta por (Manganelli and Klein 1994), apenas existem processos de

gestão que são suportados por infra-estruturas de apoio: sistemas, procedimentos e estruturas

organizacionais. Os processos de gestão compreendem três tipos de actividades primárias:

• actividades de valor acrescentado - as que acrescentam algo importante ao cliente,

como um produto ou serviço que ele pretende e está disposto a pagar;

• actividades de delegação - as transacções diárias que constituem o trabalho através

dos diversos departamentos funcionais da organização;

• actividades de controlo - as que existem para controlar a coordenação entre

departamentos.

Os processos com uma alta estruturação são facilmente descritos, sujeitos a regras e

oferecem grande probabilidade de se atingirem os objectivos com a sua redefinição. Pelo

contrário, aqueles com uma baixa estruturação implicam uma maior complexidade e uma

maior incerteza, e por consequência, um maior risco. No outro eixo, distinguem-se os

processos primários dos processos secundários. Os primários são aqueles que respeitam ao

modo como se faz o negócio e que têm clientes externos; o seu impacto é estratégico no

sentido do posicionamento competitivo; são aqueles pelos quais podemos modificar o

negócio. Os processos secundários são aqueles pelos quais administramos e gerimos e o seu

foco é interno à organização. São utilizados para melhorar a eficiência interna e dizem

respeito à capacidade da organização, não à sua vantagem competitiva.

Há ainda uma outra distinção que se pode fazer quanto ao grau de conhecimento

envolvido nos processos; quanto maior este é, mais difícil se torna a sua representação. Para

Page 30: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 19

os processos baseados em actividade, cujos fluxos são regulares, a sua representação é

simples por recurso a fluxogramas ou equivalentes. Mas o mesmo já não acontece com os

processos baseados no conhecimento, cujos fluxos são irregulares, por vezes caóticos, e

requerem regras para decidir e pressupostos sobre o ambiente que envolve a organização

(Tabela 2.1):

Baseados Exemplos Frequência Que representar?

Actividade Aprovisionamento

Satisfação de

encomendas

Desenvolvimento de

Produtos

Regular Fluxos de

actividades

Conhecimento Inovação

Definição de estratégias

Irregular Decisões

Pressupostos

Tabela 2.1 - Tipologia de processos em função do conhecimento; adaptado de (Earl 1994)

2.5.2 Transformação

A transformação preconizada pela BPR encerra em si mais um espírito de revolução do

que evolução. O aumento substancial que se pretende obter com a BPR no desempenho

organizacional apenas poderá ser conseguido por uma mudança radical, não por sucessivos

incrementos como os oferecidos por outros processos de transformação. Não se trata de

simplificar, mas de redefinir (Tabela 2.2):

Simplificação BPR

mudança incremental mudança radical

orientada pelo processo orientada pela visão

no enquadramento existente revê o enquadramento

melhora a aplicação da tecnologia

introduz nova tecnologia

assume atitudes e comportamentos

altera atitudes e comportamentos

vários projectos em simultâneo

número limitado de iniciativas

Page 31: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 20

Tabela 2.2 - Simplificação versus BPR; adaptado de (Coulson-Thomas 1994)

Os processos de simplificação tendem a assumir o enquadramento existente, os limites da

tecnologia instalada e as actuais atitudes e comportamentos; visam melhorias graduais sem

grandes sobressaltos. É o caso da automação, que se limita geralmente a automatizar os

procedimentos manuais.

Os processos BPR desafiam o enquadramento existente, questionam atitudes e

comportamentos e podem sugerir a introdução de nova tecnologia; visam uma mudança

radical.

Os processos de transformação podem ser avaliados em função do grau de mudança

requerido e de entre os apresentados, a BPR constitui o processo com o mais elevado grau de

mudança (Tabela 2.3):

Reengenharia

(BPR) Rightsizing/ Downsizing

Reestruturação Qualidade Total (TQM)

Automação

Aparecimento Meados da década de 90

Início da década de 90

Meados e final da década de 80

Meados e final da década de 80

Início da década de 80

Objectivos Melhorias dramáticas

Redução significativa de custos

Redução moderada de custos

Aumentar a satisfação dos clientes

Aumentar a produtividade

Questiona Fundamentos da empresa

Gestão de pessoal Relações humanas Desejos e necessidades do cliente

Tecnologia Aplicações

Abordagem Top-down Top-down Top-down Bottom-up Funcional Ênfase Estratégica Reduzir custos Reduzir custos Estratégica Reduzir tempo Acções Re-inventar

processos Aplicar tecnologia

Reduzir nº de pessoas, subcontratar, eliminar infra-estruturas

Eliminar níveis na hierarquia

Melhorias graduais nos processos

Automatizar actividades manuais

Âmbito da mudança

Radical Departamento de pessoal, definição de responsabilidades

Estrutura organizacional

Incremental Sistemas de informação e gestão/ automação

Baseado em Processos Funcional Funcional Processos Procedimentos Papel dos trabalhadores

Equipas de reengenharia

Vítima Vítima Círculos de melhoria/ garantia de qualidade

Equipas de especialistas técnicos

Prazo de obtenção de resultados

2-4 anos Rápido Rápido Longo 1-3 anos

Importância da Tecnologia

Fundamental Nula Nula Considerada Principal ênfase

Tabela 2.3 - Comparação de abordagens; adaptado de (Manganelli and Klein 1994) e (Alves 1995)

Page 32: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 21

Esta mudança radical tem mais a ver com missão, estratégia, liderança e cultura

empresarial do que com questões transaccionais como sistemas de gestão, políticas e

procedimentos ou práticas operacionais. Isto é, há claramente uma ligação entre BPR e a

estratégia da organização.

2.5.3 Tecnologias da Informação

Os aumentos de produtividade até agora obtidos com a introdução das tecnologias da

informação ficaram aquém das expectativas e são insuficientes para justificar os avultados

investimentos efectuados (Tapscott and Caston 1993). Poder-se-ão apontar várias razões que

o justifiquem:

• a utilização das novas tecnologias da informação apenas para automatizar

procedimentos manuais, já de si ineficazes;

• uma implementação coordenada por técnicos e não por gestores, sem ter em conta a

estratégia do negócio;

• uma implementação condicionada pela estrutura funcional da organização que acaba

por reforçar as fronteiras existentes entre departamentos ao invés de as esbater.

Todas estas razões e muitas outras se podem resumir à utilização da tecnologia para

automatizar os processos existentes em vez de proceder à sua reestruturação ou inovação

(Davenport 1993). Às TI tem sido reservada a função de implementar, i.e., pensar o processo

primeiro e só depois procurar a tecnologia de suporte. Esta é a forma dedutiva de aplicar as

TI. Mas a BPR sugere a forma indutiva que consiste em reconhecer uma solução tecnológica

com potencial para redefinir o processo. Sem uma alteração profunda ao nível dos processos

que não passe apenas por torná-los mais rápidos, não há aumentos significativos na

produtividade (Figura 2.10).

Figura 2.10 - Relação TI - Processo - Produtividade; adaptado de (Davenport 1993)

Iniciativas das Tecnologias da

Informação

Mudança de

Processos Produtividade

Page 33: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 22

Esta é uma das mensagens da BPR: utilizar as TI sobretudo para redefinir as actividades

nas organizações e não apenas para as automatizar. Como resultado desta automatização,

coexistem “ilhas tecnológicas” separadas formalmente, que não comunicando entre si,

contribuem para um funcionamento global incoerente da organização. As recentes evoluções

nas diferentes áreas das TI podem contribuir para anular essa incoerência. A microinformática

é disso um bom exemplo; distribuiu os recursos informáticos pelos utilizadores, permitindo a

sua personalização. As arquitecturas cliente/servidor permitem anular a centralização dos

sistemas e o groupware permite uma troca de informações interactiva, ambos contribuindo

para a criação de uma “rede de valor acrescentado” na organização (Tapscott and Caston

1993).

As TI são chamadas a desempenhar um papel cada vez mais importante na actividade

BPR assumindo-se como capacitadoras e não apenas como implementadoras. Sugerir que um

processo deve ser concebido independentemente da tecnologia a utilizar é ignorar ferramentas

poderosas na sua redefinição. Um outro papel das TI é o que concerne à disponibilização de

ferramentas que suportem a actividade de modelação de processos organizacionais

(Figura 2.11):

Figura 2.11 - O papel das TI na Redefinição de Processos (Davenport 1993 p. 49)

Sem constituirem um fim em si mesmas, as TI são, em conclusão, importantes em duas

grandes áreas da BPR (Miers 1994):

• modelação dos processos organizacionais;

• implementação desses mesmos processos.

Oportunidades

Limitações

Ferramentas de Modelação

Sistemas e Engenharia da Informação

Concepção do

Novo Processo

TI como

capacitadora

TI como

implementadora

Page 34: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 23

O seu impacto na organização pode ser classificado em nove categorias, apresentadas na

Tabela 2.4:

Page 35: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 24

Impacto Explicação Automatizante Eliminar o trabalho humano no processo Informativo Recolher informação do processo para o compreender Sequencial Modificar a sequência do processo ou possibilitar o paralelismo Rastreante Controlar a situação e os objectos do processo Analítico Melhorar a análise da informação e a tomada de decisões Geográfico Coordenar processos à distância Integrante Coordenar tarefas e processos Intelectual Recolher e distribuir bens intelectuais Eliminatório Eliminar intermediários num processo

Tabela 2.4 - O impacto das TI na Inovação de Processos; adaptado de (Davenport 1993)

2.5.4 Mudança no Negócio

O realinhamento das operações, administração, gestão e relações entre organizações com a

visão por processos requer uma mudança radical na forma como toda a organização pensa e

actua. O eixo dos processos tem que ser realinhado com o eixo das responsabilidades e da

estrutura. O modelo de Leavitt apresenta as quatro variáveis com as quais a BPR deve ser

congruente (Figura 2.12):

Figura 2.12 - Modelo de Leavitt da organização (1964); adaptado de (Earl 1994)

A BPR poderá ser mais um contributo para a reflexão sobre sistemas sociotécnicos, em

cuja análise inicial sobre os problemas e necessidades da organização pouco diferem. Embora

um dos objectivos principais da abordagem sociotécnica fosse a optimização na utilização das

pessoas e da tecnologia, o seu impacto nunca foi muito significativo quanto à tecnologia

Estrutura

Tecnologia Tarefa

Pessoas

Page 36: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 25

(Mumford 1994). E optimizar apenas um aspecto pode resultar em sub-optimizar no resultado

global.

Outros modelos podem ser encontrados para descrever a organização, como o proposto

por Scott-Morton, que a representa em termos de cinco forças que permanecem em equilíbrio

dinâmico à medida que ocorrem alterações nas envolventes tecnológica e sociotécnica

(Figura 2.13):

Figura 2.13 - Enquadramento MIT90 proposto por Scott-Morton; adaptado de (Swatman et al. 1994)

Destas cinco forças, os processos de gestão, estrutura, pessoas e respectivos papéis são

considerados críticos para qualquer transformação organizacional. Se as organizações estão

para mudar como resultado da evolução tecnológica, elas devem centrar-se sobre a cultura da

organização representada pela estrutura organizacional e pelos papéis e tarefas das pessoas. Se

as organizações pretendem introduzir uma transformação considerável (equacionada em

termos de BPR) devem assumir uma visão holística destas cinco forças e da sua interacção

(Swatman et al. 1994).

A transformação organizacional consubstancia-se ao nível das pessoas; as mudanças mais

importantes são aquelas que as afectam, e se a visão da mudança não tiver sido compreendida

e adoptada, então poder-se-á contar com a resistência à mudança (Figura 2.14):

Estrutura

Processos de Tecnologia

Pessoas e papéis

Estratégia

Cultura

Envolvente Tecnológica

Envolvente socioeconómica

Fronteira organizacional

Page 37: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 26

Figura 2.14 - Resistência à mudança (Carr et al. 1994)

A resistência à mudança é tanto maior quanto menor for a frequência com que esta ocorre.

À alteração de requisitos pelo cliente, a organização oferece pouca ou nenhuma resistência, já

que a alternativa pode ser perder o cliente. Contudo, a mudança tecnológica, a mudança

estrutural e a mudança de atitudes, requerem por esta ordem, caso não sejam fruto de uma

imposição, uma crescente energia interna da organização para introduzir a mudança.

A introdução de novas tecnologias ou a execução de qualquer projecto que passe por uma

mudança tecnológica, requer diferentes capacidades e uma aproximação integradora de

diferentes variáveis na organização, nomeadamente, as pessoas.

A mudança estrutural, quando altera as relações de poder na organização, nomeadamente,

as responsabilidades, a delegação de poder, os mecanismos de controlo, encontra forte

resistência por parte daqueles que hajam adquirido posições ou estatutos que considerem

direitos adquiridos.

A mudança de atitudes pressupõe uma motivação e uma consciencialização por parte dos

membros da organização dos seus objectivos e do melhor contributo que pode ser dado para a

sua consecussão em função das respectivas capacidades, algo ainda mais difícil de ser

alcançado.

2.5.5 Gestão da Mudança

É a implementação desta mudança que constitui o grande desafio. Quatro características

distinguem a BPR de outros projectos de mudança:

• o conceito de processo adiciona novas complexidades.

Mudança nos requisitos do

Mudança tecnológica

Mudança estrutural na

Mudança de atitudes na

Aumento da resistência

Diminuição da frequência

Page 38: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 27

Dado que o processo ignora as fronteiras entre departamentos ou funções na

organização, é necessária a existência de um coordenador de processo capaz de o

gerir, providenciando para a sua execução os recursos adequados;

• não existem métodos universais ou testados.

Os métodos BPR estão em desenvolvimento; uns estão ao nível da gestão de projectos,

outras são baseados em modelos, técnicas e ferramentas. As organizações chegaram à

conclusão que um método é necessário para que se vá para além da intenção, que

ferramentas são necessárias para a análise, o trabalho em equipa é necessário dada a

natureza inerente aos processos e também porque diferentes capacidades e níveis de

conhecimento são requeridos;

• o factor de transformação é significativo.

A transformação a executar enfatiza a questão da liderança e do benchmarking6; o

projecto de mudança exige uma liderança forte, capaz de remover obstáculos e de

vencer a inércia à mudança; o benchmarking estabelece objectivos que a organização

tenta atingir e superar;

• a associação aparente ou assumida com as TI.

A função TI é importante, mas quando esta assume a liderança da BPR, pode trazer

mais prejuízos que benefícios. Trata-se de um projecto de mudança que deve estar

subordinado aos objectivos da organização e portanto coordenado por aqueles que os

estabeleceram, i.e, os gestores. Mas a participação dos técnicos não deve ser

dispensada, nomeadamente, quando aqueles sabem melhor que os gestores, como

funcionam os processos. E efectuar a redefinição de processos sem recorrer às TI,

embora possível, raramente ocorre. Por outro lado, a experiência em gestão de

projectos bem como nas ferramentas de modelação, pode revelar-se muito útil na

BPR.

Todas estas características chamam a atenção para que a própria organização construa as

suas próprias capacidades de gerir a mudança e este é mais um dos contributos desta

actividade de mudança organizacional.

Page 39: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 28

2.5.6 Análise de Sistemas

O conceito de processo já é central na análise de sistemas, mas a perspectiva em que é

utilizado é mais funcional que trans-funcional. Os processos são sistemas com entradas e

saídas. Há processos e sub-processos. Compreendem interligação, interacção e actividades

interdependentes. A BPR também implica a sistematização e aproximação à concepção e

resolução de problemas que é característica da análise de sistemas. Muitas ferramentas da

análise de sistemas estão a ser utilizadas ou redefinidas no âmbito da BPR.

Uma das tarefas mais comuns em BPR é efectuar a análise de fluxos nos processos: fluxos

de trabalho, actividades, materiais, tempo, e informação. Para esta tarefa, é sugerida a

utilização de várias técnicas já conhecidas (Earl 1994):

• técnicas da engenharia industrial como análise de tempos ou análise de valor;

• técnicas do desenvolvimento de sistemas de informação como os fluxogramas;

• técnicas de modelação ou ferramentas de engenharia de software (como a

representação orientada ao objecto) para representar e mapear os processos.

A estas técnicas de análise, ainda devem ser acrescentada a simulação. Baseados na

Dinâmica de Sistemas desenvolvida por Forrester (1961), os modelos baseados em

computador servem não só para representar os processos, mas também para analisar fluxos,

actividades e testar o comportamento dos processos redefinidos.

Um dos contributos da BPR é forçar a organização a reaprender a analisar-se antes de

conceber os sistemas informáticos de suporte.

A BPR não requer da função Sistemas de Informação (SI) apenas uma rápida entrega de

aplicações informáticas, mas a capacidade de criar aplicações numa forma inteiramente nova -

uma forma que esteja em sintonia com os novos processos emergentes na organização. Mas se

é fácil para os especialistas em SI entenderem que a organização tem que mudar, já não é tão

fácil entenderem que eles também têm que mudar. E este é um desafio colocado pela BPR ao

domínio da Gestão dos Sistemas de Informação (GSI).

6 Benchmarking: processo permanente de pesquisa de novas ideias para métodos, práticas e processos, adopção ou

adaptação das suas melhores características e respectiva implementação afim de obter o melhor entre os melhores desempenhos num dado sector (Camp 1989)

Page 40: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 29

As iniciativas BPR podem, ainda, constituir quer os meios quer os fins do Planeamento de

Sistemas de Informação (Earl 1994). Por outro lado, a função SI pode ser uma fonte de

competência na gestão do projecto e no desenvolvimento de métodos na actividade BPR; a

função SI pode fornecer as ferramentas e as técnicas até agora utilizadas no Desenvolvimento

de Sistemas de Informação (DSI) para a análise dos processos organizacionais.

2.6 O processo organizacional

Apesar de importante, não é o carácter radical da BPR que é o seu aspecto mais positivo.

Demasiada ênfase foi dada à ideia da folha em branco, de começar do zero. Na prática, porém,

a radicalidade do conceito BPR acabou por ser amenizada e a sua aplicação foi efectuada com

diferentes graus de profundidade e abrangência.

O aspecto mais positivo da BPR foi, sem dúvida, ter contribuído para tornar o processo o

centro das atenções na melhoria do desempenho organizacional. Desde a revolução industrial

que se vinha assistindo ao oposto, à destruição da noção de processo: a especialização cada

vez mais acentuada do trabalho em tarefas, uma organização sobre estas centrada, com

departamentos que constituíam barreiras à comunicação.

Mas não só a BPR contribuiu para tal atenção sobre o processo. A BPR faz parte de uma

filosofia de gestão que baseia as organizações em processos, na qual se enquadra também a

TQM. Ambas partilham a orientação ao processo e ao cliente. Frequentemente em confronto,

dada a ênfase colocada na transformação do processo, mais radical na BPR, mais incremental

na TQM, elas não são senão duas correntes de uma mesma filosofia.

BPR e TQM podem ser vistas como complementares para fases diferentes na vida de uma

organização. A TQM parte do pressuposto de que o processo se encontra bem definido e

procede à sua melhoria por sucessivos ajustes. Todavia, nem sempre os ganhos que resultam

destas melhorias incrementais são suficientes para que a organização se mantenha

competitiva; por outro lado, é possível que o processo, tal e qual como se encontra concebido,

não possibilite a obtenção de grandes melhorias. Os ganhos substanciais raramente se podem

obter por outra forma que não seja pela redefinição do processo no contexto global de todos

os processos em que se baseia o funcionamento da organização, isto é, pela BPR.

Mas também é compreensível que uma organização não possa suportar sucessivos

processos de mudança profundos sem que entre deles haja o interregno necessário, não só à

Page 41: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 30

reposição de energias, mas também aos eventuais ajustes, situação onde as técnicas TQM se

podem revelar adequadas. Uma vez redefinido um processo, este pode ser continuamente

melhorado até que outra redefinição se venha a revelar necessária (Figura 2.15):

Figura 2.15 - TQM e BPR; adaptado de (Spurr et al. 1993)

Nesta conjugação entre BPR e TQM, pode residir a base para um bem sucedido programa

de mudança da organização. Tal programa não pode, contudo, ser desencadeado e orientado

sem uma Visão Estratégica, uma visão do futuro da organização, quanto ao que deverá ser

feito, porquê e com que meios. E um dos meios mais importantes é, sem dúvida, a Tecnologia

e, nomeadamente, as Tecnologias da Informação. As TI não constituem só uma fonte de ideias

para a definição de novos processos ou redefinição dos existentes no que concerne às

oportunidades para novos produtos ou mercados e novas formas de trabalhar; as TI viabilizam

o aparecimento de ferramentas a utilizar na própria actividade BPR. Muitas dessas

ferramentas actualmente utilizadas na BPR suportam técnicas com origem na Engenharia da

Informação (IE). O conjunto de técnicas que a IE compreende bem como os métodos para a

sua aplicação permitem a concepção dos sistemas de informação de suporte aos processos

redefinidos.

A Visão Estratégica, BPR, TQM e IE devem, segundo James Martin (Spurr et al. 1993),

ser conjugados para um processo de mudança organizacional (Figura 2.16).

TQM

BPR

Tempo

Aumento de

Visão Estratégica

BPR TQM

Page 42: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 2 31

Figura 2.16 - Conjugação para a mudança organizacional

Pode constituir uma vantagem o facto de se utilizarem as mesmas técnicas da IE nas

actividades BPR e DSI, pela considerável redução de custos e esforço na integração entre as

referidas actividades. Esta solução está bem patente em alguns dos métodos que constituem

uma referência na actividade BPR, os quais serão objecto de estudo no próximo capítulo.

Page 43: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

32

3. Métodos para BPR

Os métodos ou sugestões metodológicas para BPR são quase tantos quantas as consultoras

que se dizem especializadas na actividade BPR, as quais são as principais difusoras e

responsáveis por este tipo de intervenção. Muitas delas nem desenvolveram novas técnicas e

ferramentas, mas utilizaram no novo contexto as que já eram características de outras

actividades de intervenção como o Desenvolvimento de Sistemas de Informação. Muitas

viram a BPR como a actividade para recuperar a credibilidade que haviam perdido com outras

actividades como o Planeamento Estratégico ou a Gestão da Qualidade Total.

Algumas das abordagens mais referenciadas são aqui brevemente descritas para que

possam ser identificadas as principais fases na BPR e proceder ao posterior enquadramento

das diferentes técnicas de modelação:

- Breakpoint BPR da Coopers & Lybrand

- Business Process Transformation da Price Waterhouse

- Reengineering for Results da Deloitte & Touche

- Value Driven Reengineering da Andersen Consulting

- Enterprise Engineering Methodology da James Martin Co.

- STRIM da Praxis

- ARIS do Prof. Scheer

- Object-Oriented Business Engineering de Ivar Jacobson

- Process Improvement da High Performance Systems Inc.

Page 44: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 33

3.1 Breakpoint BPR

A Coopers & Lybrand, define Breakpoint BPR, como “uma abordagem para atingir e

manter progressos em vantagens competitivas através da redefinição inovadora e

implementação da mudança em processos de negócio fundamentais” (Coopers&Lybrand

1995). Apresenta quatro conceitos fundamentais como referencial: processos nucleares,

inovação, aumento das vantagens competitivas e gestão da mudança. São três, as fases em que

se processa este método (Figura 3.1):

Figura 3.1 - Fases da BreakPoint BPR da Coopers & Lybrand

• Descobrir

Os processos actuais são estudados e seleccionados aqueles que deverão ser

redefinidos. Esta fase decompôe-se em quatro etapas: mobilizar, avaliar, seleccionar e

comprometer.

• Redefinir

Os processos seleccionados são redefinidos em cinco etapas: mobilizar, analisar,

inovar, redefinir e comprometer.

• Quais os processos a melhorar?

• Qual o grau de melhoria a introduzir?

• Quais as

• Como pode a execução dos processos ser mais eficaz?

• Como os colocar em funcionamento?

• Como implementar as alterações?

• Houve sucesso quanto aos

Processos de Negócio

Aumento nas Vantagens

Inovação

Gestão da Mudança

1. Descobrir 2. Redefinir 3. Realizar

Conceitos

Page 45: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 34

• Realizar

Os novos processos são implementados em cinco etapas: mobilizar (por exemplo,

constituir a equipa e planear em detalhe), comunicar (por ex., explicar e validar a

visão), actuar (executar tarefas, controlar segundo o plano), manter (gestão continuada

das principais medidas de desempenho)

A Breakpoint BPR, encarada como independente das TI, centra a sua atenção na

optimização de factores como o tempo, custo, qualidade e serviço nos processos nucleares.

Entre as técnicas de modelação de processos utilizadas, destacam-se as normas IDEF, bem

como os fluxogramas e os DFD.

3.2 Business Process Transformation

O método da Price Waterhouse, designado por Business Process Transformation (BPT)

consiste na “redefinição radical dos processos organizacionais, estruturas, sistemas de gestão

e valores para atingir aumentos significativos no desempenho” (Waterhouse 1995). O método

é executado em quatro fases num conjunto de sete passos (Figura 3.2):

Figura 3.2 - Fases da Business Process Transformation (Price Waterhouse)

Rever Estratégia e

Desenvolver o Modelo de Processo

Compreender o Processo

Benchmarking e Procura de

Oportunidades

Avaliar Distâncias & Planear a

Implementação Implementação Melhoria

Contínua

Perspectivar o Processo Alvo

AVALIAR CONCEBER DELEGAR SUPERAR

Page 46: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 35

• Rever estratégia e desenvolver o modelo de processo

São consideradas questões quanto aos objectivos da organização e aos processos

pelos quais aqueles deverão ser atingidos, bem como as medidas para os avaliar.

• Compreender o processo

É construído um modelo do funcionamento actual da organização para que possam

ser compreendidos os fluxos dos processos, custos, as capacidades das pessoas

envolvidas e a infra-estrutura da organização.

• Benchmarking e procura de oportunidades

As actividades que não acrescentam valor são identificadas e eliminadas do

processo. Introduzem-se best practices e identificam-se medidas de desempenho

obtidas por benchmarking.

• Perspectivar o processo alvo

São definidas as alternativas para a execução dos processos fundamentais, através

de técnicas de brainstorming e idealização de soluções.

• Avaliar distâncias e planear a implementação

As alternativas definidas no passo anterior são avaliadas sob diferentes

perspectivas: do cliente, das pessoas envolvidas na execução dos processos, da

organização, dos sistemas e da infra-estrutura.

• Implementação do plano

A implementação é acompanhada pelo gestor do processo organizacional.

• Melhoria contínua

É constituída uma equipa para coordenar o processo, ao qual aplicará os princípios

da Qualidade Total.

Page 47: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 36

Para a modelação de processos, a BPT sugere a utilização da técnica BAM7. Estabelecida

a fronteira para cada processo, deverão ser identificados os seus Fornecedores, Entradas,

Cliente e Saídas, bem como a sua Missão, os seus Factores Críticos de Sucesso e as suas

Medidas de Desempenho. Deverá ainda ser identificada a ligação às Actividades de Suporte.

Por exemplo:

Missão do Processo. Fornecer um serviço de vendas eficiente ao cliente que nos dê uma

vantagem competitiva através da adopção de princípios de qualidade.

Factores Críticos de Sucesso. Oferecer um único ponto de contacto ao cliente. Reduzir os

prazos de entrega de 24 horas relativamente aos competidores. Eliminar bens defeituosos

ou devolvidos.

Medidas de Desempenho. Questões por telefone a responder dentro de 30 segundos.

Questões a serem resolvidas num dia. Entregas a efectuar dentro de 48 horas após

encomenda. Redução de bens defeituosos a 0-5% do volume de vendas. Permanência em

stock reduzida a 15 dias. Período de pagamento inferior a 42 dias.

Olhando o processo na perspectiva do cliente, são várias as tarefas que não acrescentam

qualquer valor. Na aproximação BPT, as tarefas são classificadas nos seguintes tipos:

• Cliente. Tarefas que contribuem para a satisfação da relação com o cliente.

• Negócio. Tarefas adicionais introduzidas pela organização que são fundamentais

como, por exemplo, aprovação de crédito.

• Sem Valor Acrescentado. Tarefas desnecessárias, quer para o cliente, quer para a

organização.

7 BAM - Business Activity Map (Diagramas da Actividade Organizacional)

Page 48: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 37

3.3 Reengineering for Results

O método da Deloitte & Touche, designado por Reengineering for Results, é definido

como “uma abordagem multidisciplinar para implementar mudanças fundamentais na maneira

como o trabalho é realizado numa organização, para melhorar significativamente o seu

desempenho e o seu valor no mercado” (Touche 1995).

Este método é executado em cinco fases e tem como referência um quadro composto por

quatro vertentes (infra-estruturas, tecnologias, pessoas e processos):

• Estabelecer o imperativo da mudança

A estratégia da organização é avaliada e são definidas iniciativas de melhoria

• Criar a visão e definir os objectivos

A visão estratégica é clarificada, o desempenho organizacional actual é avaliado e

são definidos os objectivos a atingir.

• Redefinir o processo

São elaborados modelos dos processos actuais e efectuada a sua redefinição, e

explicitados os requisitos quanto às infra-estruturas e à renovação do sistema de

informação.

• Construir o modelo final

É efectuada uma implementação piloto acompanhada por programas de formação.

• Implementar

Arranque global dos processos redefinidos, controlados segundo as novas medidas

de desempenho.

Não são efectuadas referências a quaisquer técnicas específicas para a modelação de

processos.

Page 49: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 38

3.4 Value Driven Reengineering

Na abordagem da Andersen Consulting, Value Driven Reengineering é “um projecto de

mudança que procura materializar melhorias dramáticas no desempenho de uma empresa, de

forma sustentada, através da procura de uma completa compatibilidade dos seus Recursos

Humanos, dos seus Processos e da sua Tecnologia, com os seus imperativos estratégicos de

uma forma coerente e harmoniosa” (Alves 1995).

Para esta actividade, é sugerido um quadro de referência assente em quatro vertentes:

estratégia, tecnologia, processos de negócio e recursos humanos (Figura 3.3):

Figura 3.3 - Quadro de referência para um projecto BPR (Alves 1995)

Este método é aplicado em cinco fases:

• visão partilhada

Definir os objectivos a atingir.

• avaliar/contrastar

Tecnologi

Processos de

Recursos

Estratégi

Definir as iniciativas necessárias e estabelecer as

Aplicar de forma inovadora:

• Tecnologia dos Processos Físicos

• Tecnologia daInventar, re-inventar e optimizar:

• Processos físicos • Processos de

Capacitar: • Comunicaç

ão • Formação • Motivação

Quadro de Referência BPR

Reengenharia

Page 50: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 39

Avaliar as vertentes fundamentais da empresa: recursos humanos, processos,

tecnologia e infra-estrutura.

• plano director

Definir um plano, medidas de desempenho e desenvolver análises e projecções que

suportem a análise custo/benefício.

• conceber/projectos piloto/implementar

Especificar detalhadamente as soluções, demonstrar os seus benefícios e executar a

transição para os novos processos.

• operar

Concretizar e maximizar os benefícios alcançados, implementando mecanismos

que suscitem uma cultura de empresa empenhada na melhoria contínua.

Não são referidas as técnicas de modelação utilizadas, embora a Andersen Consulting

utilize uma ferramenta CASE designada VDRE Workbench.

3.5 Enterprise Engineering Methodology

O método da JM&Co, Entreprise Engineering Methodology, caracteriza-se por uma forte

influência das TI e integra uma estratégia de desenvolvimento de sistemas onde se assume

uma atitude de melhoria contínua (Barden et al. 1994). É executado em seis fases (Figura 3.4).

• Posicionar e Planear BPR

São identificadas as áreas candidatas a melhorias significativas e estabelecido um

acordo com todos os intervenientes quanto aos resultados a obter.

• Avaliar a Cadeia de Valor

Uma vez determinado o estado actual dos processos organizacionais, as actividades

são analisadas para identificar tempos, custos, recursos, problemas e responsabilida-

des, entre outras medidas julgadas adequadas para a definição da cadeia de valor.

• Redefinir a Cadeia de Valor

Page 51: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 40

Para a redefinição da cadeia de valor, são geradas ideias que possam contribuir para

uma melhoria significativa do desempenho organizacional, avaliado o seu impacto e

determinada a forma de as implementar.

• Experimentar a Solução

Compreende a transição da concepção para a implementação, onde são testados os

novos elementos do processo redefinido, incluindo novas actividades, estruturas,

responsabilidades, sistemas de informação e controlo antes de serem completamente

integrados na organização.

• Implementar a Solução

A organização é preparada para a mudança e os processos redefinidos, eventualmente

aperfeiçoados em função dos resultados da última fase, são generalizados a toda a

organização.

• Controlar a Cadeia de Valor

Avalia os resultados da implementação do novo processo em confronto com os

objectivos inicialmente definidos na sua redefinição.

Figura 3.4 - Fases da Enterprise Engineering Methodology

Posicionar e Planear BPR

Avaliar a Cadeia de Valor

Controlar a Cadeia de

Experimentar a Solução

Implementar a Solução

Redefinir a Cadeia de

Page 52: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 41

Não são referidas quaisquer técnicas de modelação de processos, mas é de supor que

sejam utilizadas técnicas provenientes da Engenharia da Informação. A única técnica referida

explicitamente na redefinição do processo é a análise da cadeia de valor.

3.6 STRIM

O método da Praxis, designado por STRIM, distingue-se em relação aos demais pela

utilização de uma técnica que consiste em modelar os processos organizacionais na

perspectiva de quem os executa, segundo um conjunto de papéis interactuantes. Cada um

destes papéis é modelado por um RAD8 (Diagrama de Actividades e Papéis), onde são

representadas as diferentes actividades que o constituem (Huckvale and Ould 1993).

Este método incentiva a que a modelação seja efectuada por quem executa o processo,

assistido tecnicamente por consultores em técnicas de modelação. A partir destes diagramas,

são identificadas as diferentes entidades para a construção de um modelo de dados, recorrendo

aos diagramas entidades-relacionamentos.

O primeiro passo desta abordagem consiste em recolher informação a partir de quem

executa o processo com o objectivo de identificar:

• os diferentes papéis;

• os objectivos organizacionais de cada papel;

• a interacção entre papéis;

• as actividades que constituem um papel;

• as entidades que desencadeiam a execução das actividades.

Uma vez modelado o processo, são efectuados dois tipos de análise (Barden et al. 1994):

• qualitativa

− verificar se as decisões tomadas são executadas e qual o seu resultado;

− verificar se a informação correcta está disponível quando necessário para apoio

ao papel desempenhado;

− verificar se as actividades e as interacções acrescentam valor;

Page 53: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 42

− compreender o efeito na diferente combinação de actividades;

• quantitativa

− duração das actividades;

− atrasos introduzidos;

− caminhos críticos.

3.7 ARIS

O método do Prof. Sheer, ARIS, um acrónimo alemão para Arquitectura de Sistemas de

Informação Integrados, é uma combinação de métodos para a redefinição de processos

organizacionais através dos seus sistemas de informação de suporte. Os métodos utilizados

são característicos do Desenvolvimento de Sistemas de Informação para uma melhor

integração dos Sistemas de Informação com os processos organizacionais que aqueles

suportam.

Para simplificar a complexidade que advém da consideração simultânea de todos os

efeitos de todas as componentes de um processo organizacional quando se efectua a sua

redefinição, a arquitectura ARIS propõe que tal seja efectuado segundo perspectivas

correspondentes a essas diferentes componentes. Tal divisão permite ainda o recurso a

métodos adequados a cada uma das perspectivas sem preocupações excessivas com

interligações entre aquelas (Scheer 1995).

• As perspectivas

As componentes a serem descritas incluem processos, actividades, eventos, condições,

unidades organizacionais e tecnologias da informação. Eventos como “encomendar” ou

“receber encomenda” e condições como o “estado do cliente” são objectos de informação que

são representados na perspectiva dos dados. As funções a executar e as suas relações

constituem uma segunda perspectiva, a das funções. A estrutura e relações entre os membros

da organização e as unidades organizacionais constituem a perspectiva da organização. As

tecnologias da informação constituem uma quarta perspectiva, a dos recursos.

8 RAD - Role Activity Diagram

Page 54: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 43

• Os níveis

A perspectiva das Tecnologias da Informação, presente em qualquer uma das outras

perspectivas mais fortemente ligadas à organização, é utilizada para as descrever segundo

uma arquitectura onde se apresentam os níveis característicos de um ciclo de vida de

desenvolvimento de um sistema de informação (Figura 3.5).

Figura 3.5 - Níveis de um Sistema de Informação (Scheer 1995)

Contudo, este ciclo de vida não tem o mesmo significado que no modelo procedimental

para o desenvolvimento de um sistema de informação; são apenas diferentes níveis que têm

por referência a proximidade às tecnologias da informação.

A descrição do problema da organização é o ponto de partida. Neste passo são

incorporados as opções quanto às tecnologias da informação de suporte aos processos

organizacionais. Trata-se de uma descrição simplificada fortemente orientada aos objectivos

O problema da

organização

Definição de Requisitos (modelos semânticos)

Especificação da

Concepção

Descrição da

Implementação

Tecnologias da Informação

Ciclos/frequência de actualização

Page 55: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 44

dos utilizadores e à sua linguagem. Apenas métodos descritivos semiformais são utilizados.

Pela ausência de detalhe e de um vocabulário muito técnico, esta descrição não pode servir

como ponto de partida para uma tradução formal para a implementação. A definição de

requisitos deve descrever a aplicação do negócio a ser suportada numa linguagem formal que

possa ser utilizada como ponto de partida para uma tradução coerente em tecnologias da

informação. A definição de requisitos está fortemente associada com a descrição do problema,

tal como é expresso pela largura da seta (Figura 3.5). O nível da definição de requisitos é

particularmente significativo porque é simultaneamente um repositório de longo prazo do

conhecimento colectivo do negócio e ao mesmo tempo um ponto de partida para os passos

seguintes na geração de descrição da implementação. Por esta razão, é colocada ênfase na

definição dos requisitos ou modelos semânticos.

O nível da especificação da concepção pode ser encarado como uma adaptação dos

requisitos aos interfaces genéricos com as tecnologias da informação. Não deve existir forte

dependência entre a definição de requisitos e a especificação da concepção; esta deverá poder

ser alterada sem modificar a definição de requisitos. Mas tal não significa que podem ser

desenvolvidas separadamente.

No terceiro passo, a descrição da implementação, a especificação da concepção é

transferida para componentes software e hardware, estabelecendo a ligação física às

tecnologias da informação.

Os níveis são caracterizados por diferentes ciclos de actualização (Figura 3.5). A

frequência de actualização é maior ao nível da tecnologia da informação e menor ao nível da

definição de requisitos. A descrição da implementação está fortemente ligada ao

desenvolvimento da tecnologia da informação e é objecto de contínua revisão como resultado

das alterações tecnológicas.

A arquitectura ARIS recorre a cada um destes três níveis para descrever as diferentes

perspectivas em função das quais os processos organizacionais podem ser descritos. Às

perspectivas da organização, dos dados e da função, é adicionada uma outra, a do controlo,

essencial à sua interligação (Figura 3.6):

Page 56: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 45

Figura 3.6 - Modelação de processos na abordagem ARIS (Scheer 1995)

A arquitectura resultante é composta por quatro perspectivas:

- a da função, onde são descritas as funções ou operações executadas na organização e as

suas relações;

- a dos dados, onde são descritos os seus estados e os eventos que os alteram;

- a da organização, onde são descritas as unidades organizacionais e a estrutura e relações

do quadro de pessoal;

- a do controlo, onde são descritas as relações entre as três perspectivas anteriores, tendo

como centro os processos organizacionais.

Descrição da implementação

Especificação da Concepção

Definição de Requisitos

Dados

Descrição da implementação

Especificação da Concepção

Definição de Requisitos

Função Controlo

Descrição da implementação

Especificação da Concepção

Definição de Requisitos

Definição de Requisitos

Especificação da Concepção

Descrição da Implementação

OrganizaçãARIS

Page 57: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 46

• Os modelos de referência

A arquitectura ARIS pressupõe a utilização de modelos de referência como forma de

facilitar a redefinição dos processos organizacionais.

Um modelo de referência é um modelo básico que apresenta um certo grau de validade

quanto à sua aplicação em diferentes situações. Deve ser suficientemente genérico para poder

ser utilizado na derivação de modelos específicos. E deve possuir um certo grau de

especificidade para que possa também ser aplicado sem alterações.

Os modelos de referência constituem um ponto de partida para a descrição dos processos

existentes e podem, inclusive, ser utilizados para ilustrar o processo que no futuro se deseja

ver implementado. Estes mesmos modelos podem pressupor o recurso às tecnologias de

informação, nomeadamente, componentes de software para partes específicas da cadeia do

processo. A selecção, configuração e adaptação de componentes padrão de software podem

ser facilitadas recorrendo a estes modelos. A tecnologia SAP constitui um dos exemplos mais

aplicados.

3.8 Object-Oriented Business Engineering

A Object-Oriented Business Engineering (OOBE) é um método BPR caracterizado pela

orientação ao objecto (Jacobson et al. 1995). As actividades que o método considera são as

mais básicas que podem ser consideradas na actividade BPR:

• perspectivar;

• representar os processos existentes;

• definir os futuros processos;

• implementar.

Na modelação de processos, são utilizados dois tipos de modelos, designados Use Case e

modelo Objecto. O Use Case é um modelo externo do processo que representa a interacção

entre o cliente e a organização. O modelo Objecto é o modelo interno do processo onde são

representados diferentes tipos de objectos e as respectivas interacções.

Page 58: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 47

3.9 Process Improvement

Process Improvement é o método da High Performance Systems para a criação de

organizações de elevado desempenho.

Para atingir este objectivo, o método baseia-se na sinergia que resulta da integração da

Orientação ao Processo com o Pensamento Sistémico e a Aprendizagem Organizacional

(Systems 1994b).

Neste enquadramento são aplicados os princípios do Pensamento Sistémico à modelação

de processos, actividade a executar em seis etapas::

• focar: definir os objectivos e as expectativas para o processo;

• representar: construir diagramas para descrever a estrutura do processo;

• construir o modelo: transformar os diagramas em modelos para simulação;

• simular: criar cenários que permitam validar o modelo;

• repetir: pela consideração do comportamento obtido, proceder a alterações na

estrutura e executar nova simulação;

• implementar.

A IthinK é a ferramenta para simulação utilizada na modelação de processos no

âmbito deste método.

Page 59: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 48

3.10 Discussão dos métodos

Da análise aos diferentes métodos, é possível identificar uma sequência estruturada com

as principais tarefas nas diferentes fases que constituem uma actividade típica de intervenção

BPR:

• percepção

- desenvolver um modelo da organização ao mais alto nível;

- identificar as medidas de desempenho e o seu âmbito;

• concepção

- eliminar as actividades sem valor acrescentado;

- redefinir o(s) processo(s), incluindo medições, análise de custos e simulações;

• implementação

- construir protótipos e efectuar testes;

- preparar um caso concreto para validar o(s) processo(s) redefinidos;

- implementar as melhorias planeadas.

Caso a actividade BPR incorpore em si os mecanismos de melhoria contínua na sequência

das mudanças introduzidas, então poder-se-á considerar mais uma fase para o efeito

(Figura 3.7), à semelhança do que explicitamente é referido em alguns dos métodos

apresentados como no Business Process Transformation da Price Waterhouse.

Figura 3.7 - Fases da Mudança Organizacional (Flaatten et al. 1992)

Qualquer um dos métodos apresentados pode ser enquadrado neste programa de mudança

em quatro fases; apresentam-se, a título ilustrativo, alguns deles (Figura 3.8):

Diagnóstico/

Avaliação

Redefinição Organizacion

al

Transformação

Organizacion

Melhoria Contínua

Page 60: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 3 49

Coopers & Lybrand Price Waterhouse Deloitte & Touche Andersen Consulting James Martin&Co.

Programa de mudança

organizacional a quatro fases

Breakpoint BPR

Business Process

Transformation

Reegineering for

Results

Value Driven

Reengineering

Enterprise

Engineering

Methodology

1. Diagnóstico/Avaliação 1. Descobrir 1. Avaliar 1. Estabelecer o

imperativo da mudança

1. Definir os objectivos

a atingir (visão

partilhada)

1. Posicionar e planear

2. Criar a visão e

definir os objectivos

2. Avaliar/contrastar

(até que ponto teremos

que mudar?)

2. Avaliar a cadeia de

valor

2. Redefinição da Organização 2. Redefinir 2. Conceber 3. Redefinir o processo 3. Plano Director (o

“mapa” para lá chegar)

3. Redefinir a cadeia de

valor

4. Construir 4. Desenhar/

Projectos Piloto/

4. Experimentar a

solução

3. Transformação da Organização 3. Realizar 3. Delegar 5. Implementar Implementar 5. Implementar a

solução

4. Melhoria Contínua 4. Superar 5. Operar (concretizar e

maximizar os

benefícios)

6. Controlar a cadeia de

valor

Figura 3.8 - Comparação entre as fases dos diferentes métodos

Page 61: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 50

Diagnóstico/Avaliação: Nesta fase, são identificadas as razões que justificam a mudança e

criada a visão, a descrição da organização após a transformação a operar. Para o efeito, uma

estratégia de comunicação deve ser implementada para permitir ultrapassar as resistências à

mudança e levar todos os membros da organização a adoptar e partilhar a mesma visão.

Redefinição da Organização: Uma vez identificadas as mudanças, uma estratégia para a sua

introdução deve ser desenvolvida. A opção por um projecto piloto, tendo em atenção a

dimensão, o âmbito e a natureza da mudança, deve ser tomada. Para além da especificação ao

mais alto nível da organização futura, devem ser antecipadas as necessidades em termos de

capacidades a exigir aos recursos humanos na nova situação e proceder à formação necessária.

Transformação da Organização: É a fase da implementação da mudança não só ao nível

dos processos, como também da estrutura e cultura organizacionais. Quando necessário, uma

nova liderança pode ser instalada e programas de formação podem ocorrer para que os novos

processos possam ser suportados. Para se avaliar a eficácia da transformação, um sistema de

acompanhamento e medição do desempenho por comparação com a situação de partida

deverá ser implementado.

Melhoria Contínua: Para impedir o retrocesso nos progressos alcançados, uma infra-

estrutura de avaliação e manutenção dos processos organizacionais redefinidos deve ser

instalada que permita a aprendizagem e a adaptação às mudanças que entretanto vão

ocorrendo. Tal infra-estrutura também servirá como base para a identificação de novas áreas a

submeter a programas de mudança organizacional.

Nestas diferentes fases da actividade BPR, os modelos de processo organizacional

assumem um papel importante, quer como meio de comunicação entre os analistas, quer entre

estes e os diferentes intervenientes no processo organizacional.

Na fase inicial de percepção, a representação dos processos existentes facilita a

identificação de problemas. Para além das técnicas de modelação necessárias à representação

dos processos, são ainda utilizadas técnicas de avaliação e diagnóstico, cujo estudo está fora

do âmbito deste trabalho, mas que são de crucial importância na fase de arranque de um

projecto BPR.

As mesmas técnicas de modelação podem ser utilizadas em diferentes fases, por exemplo,

na fase de percepção e na fase de concepção. Nos métodos apresentados, os modelos “as-is” e

Page 62: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 51

os modelos “to-be”, respectivamente, os modelos dos processos existentes e os modelos dos

processos redefinidos, são representados com a mesma técnica de modelação. É natural que

assim seja, pois entre as várias vantagens em manter a mesma linguagem de comunicação,

destaca-se ainda a possibilidade de se efectuarem comparações quanto aos ganhos a obter

antes de passar à implementação. Nesta última fase e dada a especificidade de cada situação, é

possível que possam surgir outras técnicas de modelação. Nomeadamente, existem técnicas

como as da área da simulação que permitem testar alterações a efectuar aos processos antes de

proceder à sua implementação.

A partir das referências às técnicas pelos métodos apresentados e tanto quanto foi possível

recolher em termos de informação que, aliás, não se encontra muito acessível (constitui o

segredo do negócio das consultoras), apresenta-se um quadro onde são identificadas as

técnicas de modelação de processos utilizadas (Tabela 3.1):

Métodos BPR Técnicas de Modelação de Processos

Breakpoint BPR (Coopers & Lybrand)

Fluxogramas, RBWA DFD IDEF

Business Process Transformation (Price Waterhouse)

Fluxogramas BAM

ARIS (Prof. Scheer)

Diagramas E-R DFD

STRIM (Praxis)

Diagramas RAD Diagramas E-R

Object-Oriented Business Engineering (Ivar Jacobson)

Use Cases, Modelo Objecto, Diagramas de Interacção

Process Improvement (High Performance Systems)

Dinâmica de Sistemas (Ithink)

Tabela 3.1 - Técnicas de Modelação de Processos utilizadas em métodos BPR

Cada uma destas técnicas será objecto de discussão no próximo capítulo, onde se

procurará analisar as potencialidades que aquelas oferecem na modelação das diferentes

componentes de um processo organizacional.

Page 63: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 52

4. A Modelação de Processos Organizacionais

O processo organizacional é o objecto da actividade BPR, cuja redefinição visa melhorar

significativamente o seu desempenho. Importa compreender a sua estrutura e o seu

funcionamento, mas dada a complexidade inerente a uma organização, apenas com o detalhe e

a profundidade necessários e suficientes à obtenção da informação relevante à tomada de

decisões.

Um dos melhores meios para o fazer tem sido o recurso à utilização de modelos para

descrever a organização nas suas múltiplas facetas e extrair da realidade organizacional o que

é considerado relevante em cada situação. Os modelos facilitam, ainda, a transferência do

conhecimento organizacional às pessoas que dele precisam para correctamente executarem as

suas tarefas.

Os modelos, como resultado da actividade de modelação, constituem meios importantes

para:

• identificar os aspectos que devem ser redefinidos no processo organizacional por forma

a melhorar o seu desempenho;

• difundir o conhecimento organizacional.

Segundo (Huckvale and Ould 1993), um modelo constitui:

• um meio para a discussão. O modelo de processos ajuda a colocar as questões

relevantes ao permitir a abstracção do mundo real, salientando os objectos e

relacionamentos que são de interesse e ignorando detalhes que possam contribuir para

aumentar a complexidade;

• um meio para a comunicação. Permite que outras pessoas, que não as envolvidas no

desenvolvimento do modelo, o possam utilizar como base para a sua implementação ou

para a concepção de novos modelos;

• uma base para a análise. A análise de um modelo pode revelar os pontos fortes e fracos

do processo, com especial relevância para estes últimos como acções que acrescentam

Page 64: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 53

pouco valor ou são potenciais focos de problemas. A análise por simulação e animação

do modelo permite, ainda, estudar os efeitos de alterações a efectuar ao processo;

• uma base para a concepção de novos processos;

• uma base para a melhoria contínua. As sugestões para a mudança podem ser expressas

em termos de alterações ao modelo e da sua análise e podem ser sugeridas métricas

para avaliar o seu desempenho;

• uma base para o controlo. Quando suficientemente formal para ser automatizado, o

modelo pode ser utilizado para controlar a execução do sistema modelado, como por

exemplo, num Sistema de Gestão Workflow. Para além de garantir o correcto

funcionamento, permite ainda efectuar medições quanto ao desempenho do processo.

Entre as características mais relevantes que um modelo de processo organizacional deve

apresentar, salientam-se as seguintes (Huckvale and Ould 1993):

• a sua representação deve ser mais diagramática que textual, porque facilita a sua

compreensão;

• os objectos e relações representadas no modelo devem ser intuitivamente familiares, de

modo a que as pessoas possam utilizá-lo sem grandes exigências de formação nas

técnicas de modelação;

• a notação deve obedecer a uma sintaxe e semântica formais, se possível, para facilitar a

sua análise e a construção de ferramentas de suporte;

• deve possibilitar o tratamento da complexidade.

Não é exequível exigir que um modelo represente todas as perspectivas sob as quais um

processo pode ser observado. A complexidade inerente ao processo seria transposta para o

modelo que o representava, retirando-lhe qualquer utilidade. E a complexidade é um dos

aspectos que se pretende ver tratado com a modelação. Não se fala, portanto, de um modelo

organizacional, mas de vários modelos organizacionais. Um modelo é uma perspectiva, cuja

concepção deve atender a quem se destina.

Page 65: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 54

4.1 Técnicas de modelação

Na literatura sobre a actividade BPR poucas são as técnicas descritas para a modelação de

processos organizacionais. Tal situação pode ser resultado do segredo de negócio mantido

pelas consultoras, do pouco valor que é atribuído à actividade de modelação em BPR,

particularmente, por aqueles cuja formação não é tecnológica, ou devido à ausência de

técnicas de modelação, reconhecidas como eficazes e simples para utilização no contexto

BPR.

Constata-se que a maioria das técnicas de modelação actualmente disponíveis em

ferramentas recomendadas para a actividade BPR pertence à mesma família das utilizadas na

modelação de sistemas de informação. Entre as mais usuais, destacam-se:

• Fluxogramas;

• Diagramas de Entidades-Relacionamentos, Diagramas de Fluxos de Dados

provenientes da Análise e Desenho Estruturados (Yourdon 1989);

Diagramas IDEF0 e IDEF1X, respectivamente, para a modelação das actividades e do

sistema de informação de suporte, desenvolvidas pela Força Aérea dos Estados Unidos

com base na SADT9 (Ross 1977).

Para ilustrar as diversas técnicas de modelação e facilitar a sua análise, descreve-se

sucintamente o processo correspondente à “Apresentação e Discussão da Dissertação”, a

partir do Regulamento dos Cursos de Pós-Graduação e do conhecimento que o autor tem do

funcionamento do processo:

- o mestrando solicita a admissão à preparação da dissertação mediante requerimento que

é apresentado nos Serviços de Pós-Graduação, dirigido ao Presidente do Conselho

Científico da Escola (de Engenharia); verificada a parte curricular pelos Serviços, e

examinados o orientador, tema e plano de actividades em reunião do Conselho Científico,

o mestrando é informado quanto à sua admissão;

- admitido à dissertação, e de acordo com o plano de actividades, o mestrando entrega ao

orientador relatórios do seu progresso e recebe deste orientações durante a realização da

sua dissertação;

9 SADT - Structured Analysis and Design Technique

Page 66: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 55

- concluída a dissertação, o mestrando apresenta o requerimento para a sua discussão

dirigido ao Reitor; a Comissão Directiva do Mestrado, consultado o orientador, submete à

aprovação do Conselho Científico do Departamento a composição do júri, que por sua vez

o faz em relação ao Conselho Científico da Escola; compete ao Presidente da Escola, por

delegação de competência do Reitor, proceder à nomeação do júri, e informar o mestrando

de tal facto;

- o júri reúne para proferir um despacho liminar a aceitar a dissertação ou a recomendar

fundamentadamente a sua reformulação; em caso de reformulação, o mestrando pode

optar por declarar manter a dissertação tal como está, ou aceitar as recomendações e

proceder à sua reformulação; caso não se pronuncie dentro do prazo estabelecido,

considerar-se-á ter havido desistência do mestrando.

- uma vez entregue a dissertação (reformulada ou não), procede-se à marcação da prova;

concluída a prova, o júri reúne para deliberar e informa o mestrando do resultado.

As técnicas a aplicar ao processo organizacional descrito são aquelas às quais mais

referências foram encontradas nos métodos BPR apresentados no capítulo anterior, bem como

nos fora de discussão na Internet sobre esta temática:

• Fluxogramas;

• Diagramas de Fluxos de Dados;

• Diagramas de Entidades-Relacionamentos;

• Diagramas de Actividade Organizacional;

• Diagramas IDEF;

• “Use Cases” e Objectos;

• Ciclos de Coordenação;

• Diagramas de Actividades e Papéis;

• Simulação.

Page 67: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 56

4.1.1 Fluxogramas

Os fluxogramas constituem uma das técnicas mais antigas e mais utilizadas para

representar a execução de tarefas, nomeadamente, na área pela qual foram introduzidos como

técnica, a programação de software segundo o paradigma procedimental. Qualquer

programador ou analista de sistemas está familiarizado com esta técnica, dada a simplicidade

na sua utilização e a disponibilidade de ferramentas de suporte.

Um fluxograma representa graficamente uma sequência de acções, onde as decisões a

tomar constituem ramificações a essa sequência. Consoante o âmbito e a complexidade do

objecto em estudo, poder-se-á tratar, de uma sequência de passos num tarefa, de uma

sequência de tarefas numa actividade ou de uma sequência de actividades num processo.

Esta técnica é, certamente, aquela para a qual é proposta a maior variedade de símbolos.

Também é conhecida por mapeamento, tal é o grau de detalhe que proporciona à

representação da realidade. Entre a profusão de símbolos que é vulgar encontrar associada a

esta técnica, apresenta-se na Figura 4.1 um conjunto de símbolos representativo.

? Não

Sim

X

Actividade

Iniciar, terminar ou interromper

Entrada / Saída

Decisão

Continua na referência X

Fluxo de trabalho

Figura 4.1 - Notação básica para fluxogramas

Page 68: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 57

A utilidade mais vísivel que se reconhece a esta técnica é a identificação da sequência pela

qual as actividades são realizadas. No contexto BPR, contudo, outras dimensões assumem

especial importância, particularmente, as financeira e temporal, já que entre os objectivos na

redefinição do processo organizacional, se destacam a redução de custos e a redução no

tempo de execução do processo. Por estas razões, ao processo em estudo é aplicada esta

técnica com a adição da dimensão temporal (Figura 4.2).

As anotações temporais proporcionam uma análise da percentagem que cada uma das

actividades detém em relação ao tempo global de execução do processo e várias questões

podem ser levantadas relativamente àquelas que maior valor possuem.

Por exemplo, da análise à actividade “Admitir à Dissertação”, a indicação de 15 dias

resulta da leitura do Regulamento da Pós-Graduação que especifica tal prazo para que a

Comissão Directiva do Mestrado se pronuncie quando, na realidade, é o Conselho Científico a

fazê-lo, por exemplo, quatro meses após o pedido, numa das suas reuniões periódicas.

Também relativamente à actividade “Orientar Dissertação”, a de maior valor acrescentado

para o processo, se poderão efectuar análises ao seu tempo médio e consoante os resultados

encontrados, que indiciam tempos de execução elevados, com sucessivos prorrogações dos

prazos, encontrar as razões para tal situação e as formas de o resolver.

É comum encontrar a aplicação desta técnica sob outras designações a processos

caracterizados pelo manuseamento de materiais e sua transformação. A técnica RBWA

(Routing By Walking About), assim designada pela Coopers & Lybrand, é particularmente

adequada para a representação de processos físicos e com carácter repetitivo, onde se

pretendem identificar as tarefas que acrescentam valor. Para esse efeito, o processo é

decomposto nas suas tarefas elementares as quais são classificadas segundo as seguintes

categorias: operações, transporte, inspecções, esperas e armazenamento. Para cada uma das

tarefas é indicado o tempo exigido. Uma análise ao modelo obtido permite comparar o tempo

total para a execução do processo com aquele que é despendido nas operações, as únicas

actividades geradoras de valor.

Page 69: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 58

Admitir à Dissertação

Requerer Provas

Orientar Dissertação

Nomear Júri

Apreciar Dissertação

Discutir Dissertação

Deliberar Resultado

Terminar

15 dias a 4 meses

6 meses a 1 ano

1 dia

30 dias

> 30 dias

90 minutos

15 minutos

Iniciar

Figura 4.2 - Fluxograma para “Admissão e Discussão da Dissertação” (visão global)

Page 70: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 59

Na Figura 4.3, apresenta-se um exemplo para a transformação de um dado produto, onde

se verifica que o tempo global de execução exigido é superior a 15 dias e a operação de

transformação demora 3 minutos.

A maior parte do tempo é despendida em armazenamento (2 semanas) e a aguardar

transporte (1.5 dias). Esta análise poderá levar a repensar a forma como o processo está

concebido, de forma a reduzir o tempo global do processo por eliminação ou redução das

actividades sem qualquer valor acrescentado.

Operações

Transporte

Esperas

Inspecções

Armazenamento

1 Descarregar o camião

2 Verificar a carga

3 Aguardar inspecção

4 Retirar amostra para inspecção

5 Verificar as características da amostra

6 Aguardar resultado da amostragem

7 Devolver a amostra

8 Aguardar transporte para a oficina

9 Transportar para a oficina

10 Armazenar

11 Transportar caixote para a máquina

12 Preparar a máquina

13 Transformar

3 mins

5 mins

4 hrs

2 mins

10 mins

30 mins

2 mins

1.5 dias

2 mins

2 semanas

2 mins

3 hrs

3 mins

SEM

VALOR ACRESCENTADO

COM

“RBWA - Routing by Walking About”

Page 71: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 60

Figura 4.3 - “Routing by Walking About” (Coopers&Lybrand 1995)

Nas Figuras 4.4, 4.5 e 4.6, o processo do caso em estudo é descrito com maior detalhe, já

com a incorporação dos pontos de decisão e de interacção (entradas e saídas de informação)

com o cliente do processo, o mestrando. Optou-se, neste caso, por adicionar uma outra

dimensão importante no contexto BPR, a da responsabilidade, i.e., a quem compete a

execução da actividade. Constatar-se-á que mesmo com o nível de detalhe mantido no

mínimo, a representação assume uma dimensão considerável e este pode constituir um dos

obstáculos à utilização generalizada desta técnica. Em processos de maior complexidade e

dimensão, poder-se-á assistir à produção de inúmeros diagramas, cuja interligação se torna

difícil de efectuar e em que facilmente se pode perder a visão de conjunto.

A ausência de mecanismos para a decomposição hierárquica a vários níveis de detalhe

constitui um obstáculo à compreensão dos modelos quando se trata de efectuar a

correspondência entre modelos com diferentes graus de detalhe. Na comparação entre um

nível mais abstracto (Figura 4.2) e um nível mais detalhado (Figuras 4.4, 4.5 e 4.6) do

processo em estudo, só um bom conhecimento do processo poderá ajudar a identificar quais

as actividades último nível cuja agregação corresponde a uma actividade no primeiro nível

com menor detalhe.

Os fluxogramas e todas as técnicas que efectuam o mapeamento de um processo e

constituem uma réplica ao seu funcionamento, passo a passo, pelo detalhe que envolvem, não

se recomendam para a modelação dos futuros processos.

A sua utilização é mais útil na análise dos processos actuais e quando se circunscreve a

parte do processo com o objectivo de identificar ineficiências e passos cujo valor acrescentado

é nulo e proceder à sua eliminação, caso seja possível.

De uma análise mais localizada mediante flixogramas, ideias para a redefinição dos

processos podem surgir, mas o seu impacto precisa ser estudado com o recurso a outras

técnicas.

Page 72: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 61

Verificar Parte Curricular

Examinar Tema, Orientadore Plano de Actividades

Iniciar

Requerimentode Admissão

Aprovada?

Requerimentoindeferido

Indeferir Requerimento

Terminar

Orientar Dissertação

Sim

Aprovados?

A

Não

Sim

Não

Serviços Pós-Graduação

Conselho Científicoda Escola

Orientador

RequerimentodeferidoDeferir Requerimento

OrientaçõesRelatórios deProgresso

Figura 4.4 - Fluxograma (do Requerimento à Admissão ao Requerimento de Provas)

Page 73: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 62

Requerimentode Provas

Propôr Júri

Aprovar Júri

Nomear Júri

Apreciar Dissertação

Comissão Directiva

Conselho Científico da Escola

Presidente da Escola

Júri

DespachoLiminar

Sugerir Júri

Orientador

Requerer Júri

Conselho Científico do Departamento

Edital

A

B

Serviços Pós-Graduação

Figura 4.5 - Fluxograma (do Requerimento de Provas ao Despacho Liminar)

Page 74: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 63

Discutir Dissertação

Marcar Data da Prova

Júri

Deliberar Resultado

Serviços Pós-Graduação

Resultado daProva

Terminar

Dissertaçãoaceite?

Aceitoureformular?

Declaroumanter?Não Não

SimSim

DesistiuNão

B

DissertaçãoReformulada

Sim

Figura 4.6 - Fluxograma (da Despacho Liminar ao Resultado da Prova)

Page 75: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 64

4.1.2 Diagramas de Fluxos de Dados

Os Diagramas de Fluxos de Dados (DFD10) constituem uma técnica muito utilizada na

Análise Estruturada e na Engenharia da Informação.

Nesta técnica de representação, assume-se que todo e qualquer sistema, pode ser descrito

em termos de dois conceitos básicos: informação e processos. A informação, que permite o

conhecimento sobre as coisas e o modo como estas se organizam; os processos, que trabalham

a informação e a transformam, alterando a existente, ou criando nova informação.

A interligação entre os processos faz-se através da informação, i.e., através dos fluxos de

dados. Pela simplicidade da notação, constituída apenas por quatro símbolos, que representam

as quatro componentes de um DFD (processo, fluxo de dados, entidade externa e depósito de

dados), esta técnica de representação é facilmente e frequentemente adoptada na modelação

de sistemas na actividade de Desenvolvimento de Sistemas de Informação.

Os DFD constituem, também, uma boa técnica para estabelecer o âmbito do projecto BPR

através do designado Diagrama de Contexto (Figura 4.7). Esta delimitação das fronteiras da

organização com a sua envolvente permite centrar a atenção sobre o que se percepciona como

realmente susceptível de ser modelado como processo organizacional e permite identificar

claramente as interacções da organização com os seus clientes e fornecedores. No contexto

BPR, a identificação dos clientes e fornecedores do processo organizacional assume particular

importância e para o efeito esta técnica recorre ao conceito de entidade externa. No exemplo

em causa, o Mestrado como cliente e o Membro Externo do Júri como fornecedor são as

entidades externas identificadas. Todas as outras entidades envolvidas como o Orientador ou

a Comissão Directiva do Mestrado, são consideradas internas ao processo e a sua

representação pode ser directa ou indirectamente efectuada através do conceito de depósito de

dados.

No âmbito da BPR, esta técnica pode ser utilizada com um maior nível de abstracção

(menor detalhe). Raramente se justificará recorrer ao processo de decomposição sucessiva

top-down até ao mais elementar grau de detalhe. Interessa determinar na essência o que o

novo processo deverá fazer; os DFD assim obtidos poderão constituir um bom ponto de

partida para o desenvolvimento do sistema de informação de suporte ao processo

organizacional. Por outro lado, mais facilmente a consistência poderá ser mantida entre a

10 DFD - Data Flow Diagrams

Page 76: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 65

redefinição do processo e a implementação dessas mudanças consubstanciadas num sistema

de informação quando se utiliza uma mesma técnica como os Diagramas de Fluxos de Dados.

Mestrando

Membro Externo doJúri

Apresentação eDiscussão daDissertação

Requerimento de AdmissãoRelatórios de Progresso

Requerimento de Provas

Dissertação Reformulada

Declaração

Edital

Resposta ao Requerimento de Admissão

Despacho Liminar

Orientações

Deliberação

Disponibilidade

Convite

Figura 4.7 - Diagrama de Contexto (DFD 0)

Dois tipos de modelos podem resultar da aplicação desta técnica: o modelo lógico ou

essencial e o modelo físico ou transaccional. Em qualquer um deles, encontram-se as mesmas

quatro componentes dos DFD, mas no físico, são incluídos detalhes que respeitam à

implementação. O modelo lógico representa o que deve ser executado, enquanto o modelo

Page 77: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 66

físico representa como é que deve ser executado, nomeadamente, quais as actividades a

automatizar.

Na Figura 4.8, é apresentado o DFD para o primeiro nível de decomposição a partir do

Diagrama de Contexto. A numeração utilizada nas actividades não traduz, necessariamente, a

sequência pela qual aquelas são executadas; neste caso particular, coincide, mas o seu

objectivo é permitir a identificação dos diferentes níveis de decomposição para cada

actividade.

A ausência de qualquer indicação quanto à ordem pela qual as actividades devem ser

executadas, é um dos aspectos que esta técnica não contempla; todas as actividades são

representadas como se qualquer uma delas pudesse ser desencadeada a qualquer momento. O

início e fim do processo não são claramente representados.

Outros aspectos como a selecção das actividades ou a sua iteração também não são

contemplados.

Também não existe qualquer tipo de representação para os fluxos que são opcionais ou

mutuamente exclusivos (Declaração ou Dissertação Reformulada, por ex).

Não é possível afirmar que a execução de uma actividade exige todos os fluxos

especificados como entradas e produz obrigatoriamente todos os fluxos especificados como

saídas.

Mas se o principal objectivo for a identificação da informação necessária à execução das

diferentes actividades, sem quaisquer preocupações com a sequência pela qual aquelas são

executadas, então esta técnica pode ser útil no contexto BPR, para além de estabelecer uma

ponte com o domínio do Desenvolvimento de Sistemas de Informação, onde é

tradicionalmente utilizada.

Page 78: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 67

1.Admitir à

Dissertação

2.Orientar

Dissertação

4.Apreciar

Dissertação

3.Nomear JúriMestrando

Membro Externo doJúri

Requerimento de Admissão

Res

post

a ao

Req

uerim

ento

de

Adm

issã

oPlano de

Actividades

Relatórios de Progresso

Orie

ntaç

ões

Requerimento de Provas

Edital

Dis

poni

bilid

ade

Con

vite

Parte Curricular

Docentes

Mestrandos

Júris

Actas

Disponibilidade

Data da Reunião

Data da Discussão

Des

pach

o Li

min

ar

Dis

serta

ção

/ Dec

lara

ção

Dis

serta

ção

Ref

orm

ulad

a

Del

iber

ação

Processo

Fluxo deDados

Depósitode Dados

EntidadeExterna

Mestrandos

Figura 4.8 - DFD de primeiro nível de decomposição

Page 79: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 68

4.1.3 Diagramas Entidades-Relacionamentos

Os Diagramas Entidades-Relacionamentos (ER11), encontram-se invariavelmente

associados aos DFD nas técnicas utilizadas na Análise Estruturada e na Engenharia da

Informação para o Desenvolvimento de Sistemas de Informação. Também podem ser

encontradas variantes destes diagramas nas técnicas de análise orientadas ao objecto, e.g.,

(Rumbaugh et al. 1991).

Os ER representam os relacionamentos entre as “coisas” de um sistema, designadas por

entidades. Cada uma destas entidades representa algo sobre o qual se pretende obter

informação: uma pessoa, um lugar, uma coisa ou um acontecimento. São dois os conceitos

básicos a utilizar: entidade e relacionamento. No relacionamento, são ainda representados os

aspectos da cardinalidade e opcionalidade com que aquele é estabelecido entre as entidades.

No exemplo apresentado na Figura 4.5, um docente pode não ter qualquer mestrando sob

orientação ou pode ter vários (um ou mais); um mestrando pode ser co-orientado e pode, se o

entender, apresentar apenas um requerimento para efectuar as suas Provas.

Figura 4.9 - Diagrama ER

À semelhança dos DFD, também os ER podem ser utilizados a diferentes níveis de

abstracção. Na fase de redefinição dos processos, não se pretende recolher a informação em

detalhe, mas apenas a mais relevante necessária à execução do processo. Como constitui uma

11 ER - Entity-Relationship

um

zero

vários

Entidade

Relacionamento

Requerimento

Mestrando Docente

cardinalidade

opcionalidade

Page 80: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 69

técnica cuja atenção recai sobre a informação e não sobre o modo como aquela é processada,

permite que novas visões surjam para o processo, não condicionadas pelo anterior modo de

funcionamento.

Naturalmente que esta mesma técnica, quando utilizada com detalhe e associada a técnicas

de normalização de dados, permite derivar esquemas de bases de dados e efectuar uma

transição, tão suave quanto possível, entre a fase de redefinição do processo e a sua

implementação, quando baseada em computador.

4.1.4 Diagramas de Actividade Organizacional

Os Diagramas de Actividade Organizacional (BAM12) constituem uma técnica

utilizada na abordagem Business Process Transformation da Price Waterhouse, que resulta da

conjugação de duas outras técnicas, fluxogramas e Diagramas de Fluxos de Dados (DFD). A

notação a utilizar traduz conceitos já introduzidos aquando da apresentação das referidas

técnicas (Figura 4.10)

Figura 4.10 - Notação BAM (Morris and Brandon 1993)

Actividade

Função da Organização

Saída condicional da actividade; é uma decisão e representa um “ou”

Início ou fim do fluxo

Relatório ou utilização de ficheiro

Conector (quando o fluxo se encontra no mesmo BAM)

Conector externo BAM (interliga com outro BAM)

Indicador do sentido do fluxo

Page 81: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 70

A conjugação de fluxogramas com DFD resulta do reconhecimento da complementaridade

que existe entre aquelas técnicas; a primeira permite a identificação da sequência pela qual as

actividades são executadas, assim como as decisões a tomar e as ramificações resultantes; a

segunda, permite a decomposição hierárquica a diferentes níveis de detalhe e a identificação

das fontes de informação necessárias à execução das actividades.

Não se trata, contudo, de uma conjugação pura e simples. Nem todos os conceitos foram

importados, um dos quais se considera importante: a entidade externa dos DFD. E um outro

aspecto que distingue esta técnica relativamente às anteriores é a profusão de comentários que

aparecem embebidos nos diagramas como explicação para o funcionamento de cada uma das

actividades (Figura 4.11).

Para o nível mais elementar do BAM, é proposta uma outra técnica: os Diagramas

Relacionais (RD)13.

Os Diagramas Relacionais são uma combinação de representação gráfica e de texto que

ilustra o fluxo e relacionamentos entre tarefas manuais ou automatizadas. Permitem

representar a interacção entre as pessoas e os sistemas de computação através de um fluxo

acção/reacção. Esta interacção é mostrada como um fluxo que se desloca de actividade para

actividade. À medida que o trabalho é executado, os relacionamentos entre as actividades são

descritos segundo a notação apresentada na Figura 4.12.

Um Diagrama Relacional (RD) é apresentado num formato a três colunas:

• Fluxo Operacional (à esquerda). Todas as tarefas executadas manualmente, bem como

todos os relatórios e apresentações no écran são representados nesta coluna;

• Fluxo de Actividade do Sistema (ao centro). Representação de todas as tarefas

computacionais e dos ficheiros associados;

• Descrição da Acção. Descrição textual das actividades.

O fluxo é representado, quer na própria coluna, quer entre colunas quando tarefas são

desencadeadas no computador e o resultado são écrans para serem preenchidos ou então

informação para continuar a actividade.

12 BAM - Business Activity Map

Page 82: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 71

1.Admitir à

Dissertação

Plano deActividades Relatórios de

Progresso

Orientações

Requerimentode Provas

Edital

Disponibilidade

Mestrando apresentaRequerimento para

Admissão à Dissertação

Requerimentode Admissão

Parte Curricular

Admitir?

Comunicar ao Mestrando oIndeferimento

Não Comunicar ao Mestrando oDeferimento

Sim

2.Orientar

Dissertação

Verificar parte curricular.Aprovar tema, orientador eplano de actividades.Registar orientador.Actualizar processo domestrando.

Comunicação

Comunicação

Mestrando entrega Relatóriosde Progresso

Mestrando recebeOrientações

Mestrandos

Docentes

3.Nomear Júri

Mestrando apresentaRequerimento de Provas

Convidar Membro Externodo JúriConvite

Membro Externo do Júriinforma a sua

disponibilidade

Comunicar Júri aoMestrando e Publicar Edital

Proposta de júri pelo orientador.Aprovação do júri: Comissão Científica do Mestrado; Conselho Científico do Departamento; Conselho Científico da Escola.Nomeação do Júri pelo Presidente daEscola.Publicação do Edital e comunicação aoMestrando.

4.Apreciar

Dissertação

Comunicar "Recusado" aoMestrando

Comunicar ao Mestrando:Muito Bom, Bom com

Distinção ou Bom

Resultado?

Recusado

Aprovado

Júris

Emitir Despacho Liminar a aceitar ou a propôra reformulação da dissertação;Em caso de reformulação, aguardar declaraçãoou dissertação reformulada (esgotado o prazo,considerar a desistência).Marcar a discussão, efectuá-la e comunicar oresultado ao Mestrando

Considerar que o Mestrandodesistiu

Ausência dedeclaração oudissertaçãoreformulada

Comunicar DespachoLiminar ao Mestrando

Apresentar dissertação,declaração ou dissertação

reformulada

Figura 4.11 - Diagrama BAM

13 RD - Relational Diagram

Page 83: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 72

Figura 4.12 - Notação RD (Relational Diagram) (Morris and Brandon 1993)

À técnica BAM poderá ser reconhecida a vantagem de conciliar a representação

hierárquica (decorrente dos DFD) com a representação em rede (decorrente dos fluxogramas).

Efectivamente, nem sempre os processos a modelar, pela sua complexidade, são passíveis de

serem abordados segundo uma decomposição hierárquica top-down. Raramente os processos

organizacionais são tão estruturados como aquele que serve de caso exemplo para este estudo

e para esses casos, esta técnica pode apresentar alguma utilidade.

Tarefa (manual ou automatizada)

Écran do computador

Decisão (tarefas manuais ou automatizadas)

Início ou fim do fluxo

Ficheiro manual

Conector (quando o fluxo se encontra no mesmo RD, mas noutra página)

Conector externo (interliga com outro RD)

Indicador do sentido do fluxo

Relatório (gerado ou não por computador)

Identificação da tarefa

Ficheiro em computador

Page 84: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 73

4.1.5 Diagramas IDEF

As técnicas de modelação IDEF surgiram como resultado de um programa levado a cabo

pela Força Aérea dos E.U.A. nos anos 70 que procurava melhorar a produtividade dos

processos de fabrico pela aplicação sistemática da tecnologia da computação. O programa,

designado por ICAM (Integrated Computer Aided Manufacturing), identificou a necessidade

de utilizar melhores técnicas de análise e comunicação para as pessoas envolvidas na melhoria

da produtividade.

Como resultado, o programa ICAM desenvolveu uma série de técnicas conhecidas como

métodos IDEF (ICAM Definitions):

• IDEF0 para construir o “modelo de função”, uma representação estruturada das

actividades ou processos no ambiente ou sistema;

(concebido para colocar ou responder à questão: “O que se faz?”)

• IDEF1 para construir o “modelo da informação”, uma representação da estrutura e da

semântica da informação no ambiente ou sistema;

(concebido para colocar ou responder à questão: “Que se precisa saber, para se fazer

o que se faz?”)

• IDEF2 utilizado para construir o “modelo dinâmico”, uma representação no tempo da

variação das características comportamentais do ambiente ou sistema.

(concebido para colocar ou responder à questão:”quando é necessário saber, o que se

precisa saber, para se fazer o que se faz?”

Estas técnicas foram publicadas em 1981.

Em 1983, era iniciado um projecto no âmbito do ICAM denominado I2S2 (Integrated

Information Support System) cujo objectivo era fornecer a tecnologia capaz de integrar lógica

e fisicamente uma rede de software e hardware heterogéneos. Como resultado deste projecto

e da experiência na indústria, foi reconhecida a necessidade de melhorar a técnica para a

modelação da informação. O modelo Entidades-Relacionamentos foi reconhecido como

insuficiente (Dennis E. Wisnosky). Em 1985, era publicada essa melhoria designada por

IDEF1 Extended ou simplesmente IDEF1X, uma extensão ao IDEF1, e que se tornou no

modelo Entidades-Atributos-Relacionamentos. Pretendia-se uma integração entre os modelos,

Page 85: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 74

com uma reutilização das entidades já criadas na análise dos problemas efectuada com os

modelos IDEF0.

Em 1991, IDEF0 e IDEF1X foram seleccionados pelo NIST (National Institute of

Standards and Technology) como FIPS (Federal Information Processing Standards) para

técnicas de modelação. E em 1993, foram publicadas pelo governo americano.

4.1.5.1 IDEF0

A técnica IDEF0 (Integration DEFinition language 0) é baseada numa outra técnica de

modelação desenvolvida por Douglas T. Ross e pela SofTech, Inc. e designada por SADT

(Structured Analysis and Design Technique) (Ross 1977).

O bloco básico no qual esta técnica de modelação se baseia é designado por ICOM (Input,

Control, Output e Mechanism). A Figura 4.13 apresenta um bloco genérico com as relações

entre os principais conceitos, entrada, saída, controlo e mecanismo da actividade.

Figura 4.13 - Bloco ICOM

• Entrada - informação ou material a transformar pela actividade;

• Saída - resultado da actividade; informação ou material produzidos pela transformação

da entrada;

• Controlo - condições requeridas para produzir a saída, que condicionam a execução da

actividade; políticas, limitações orçamentais e requisitos do cliente são alguns

exemplos;

Actividade

Controlo

Saída Entrada

Mecanismo Chamada

Page 86: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 75

• Mecanismo - os meios para executar a actividade; podem ser pessoas, sistemas ou

equipamentos; também os custos directos da execução da actividade estão associados

aos mecanismos;

• Chamada - ligação a outros modelos que representam outras perspectivas, têm um

objectivo diferente, ou são construídos num contexto diferente recorrendo a outras

técnicas de modelação que não a IDEF.

Diagrama de Contexto

O diagrama de contexto é o primeiro passo na construção do modelo de actividades

IDEF0. Trata-se de um modelo ao mais alto nível que delimita as fronteiras do processo a

modelar e no qual se encontram representadas todas as suas entradas, controlos, saídas e

mecanismos (Figura 4.14).

Apresentação e Discussão daDissertação

Regulamento da Pós-Graduação

Orientações

Disponibilidade Membro Externo do Júri

Apreciação do Júri

Resposta ao Requerimento de Admissão

OrientaçõesEdital

Despacho Liminar

Deliberação

Requerimento de Admissão

Relatórios de Progresso

Requerimento de Provas

Dissertação Reformulada

Declaração

Serviços Pós-Graduação

Conselhos Científicos

Orientador

Comissão Directiva do Mestrado

Presidente da Escola

Júri

A0

Figura 4.14 - Diagrama de Contexto

Page 87: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 76

Relativamente aos DFD. cuja raíz é comum, os IDEF distinguem-se, fundamentalmente,

pelo utilização dos conceitos de controlo e mecanismo.

O Regulamento da Pós-Graduação, as orientações na realização da dissertação, a

disponibilidade do membro externo do júri ou a apreciação deste último, constituem

restrições, condicionam a execução da actividade, e por isso são representados como seus

controlos.

Os Serviços de Pós-Graduação, o orientador, ou o júri, por exemplo, são recursos

utilizados na execução da actividade e por isso, constituem os seus mecanismos.

Árvore de Decomposição

A decomposição funcional do diagrama de contexto é o segundo passo da modelação

IDEF. Essa decomposição é ilustrada por uma árvore à semelhança do que acontece na gestão

de projectos. No exemplo em causa, a actividade “Apresentação e Discussão da Dissertação”

foi decomposta em quatro actividades (Figura 4.15). Cada uma destas actividades pode ser

posteriormente decomposta consoante a necessidade de maior detalhe na análise. Como

resultado da decomposição de uma actividade, recomenda-se entre três a seis actividades. As

actividades são identificadas por um número que indica o seu nível no modelo e a relação

com a actividade na qual tiveram origem. Cada nível nesta decomposição top-down descreve

completamente a actividade “Apresentação e Discussão da Dissertação” e em maior detalhe

que o nível anterior.

Esta árvore constitui a base para o próximo passo da modelação - a construção dos

diagramas de decomposição.

Diagrama de Decomposição

A construção dos diagramas de decomposição, a partir da árvore de decomposição, é

efectuada segundo uma representação em degraus de uma escada (Figura 4.16).

Page 88: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 77

Admitir à dissertação Orientar dissertação Apreciar dissertação

Apresentação e Discussão daDissertação

Nomear júri

DiscutirDissertação

DeliberarResultado

MarcarProva

ProferirDespachoLiminar

AprovarJúri

PublicarEditalPropôr JúriSugerir Júri

Deferir/Indeferir

requerimento

ExaminarTema,

Orientadore Plano

VerificarParte

CurricularA12A11 A13 A31 A32 A33 A34 A41 A42 A43 A44

A1 A2 A3 A4

A0

A21 - Avaliar Relatórios de ProgressoA22 - Orientar

Figura 4.15 - Árvore de Decomposição

Page 89: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 78

Figura 4.16 - Decomposição em IDEF

A representação em escada não pretende indicar a ordem pela qual as actividades são

executadas. Tal como nos DFD, também aqui não é representada qualquer sequência, embora

o tipo de representação seja mais sugestivo e possa ser utilizado com essa intenção.

Para cada actividade, são representados os ICOM’s que correspondem aos já

representados no diagrama de contexto e que podem ser objecto de decomposição. A título de

exemplo, refira-se o caso do mecanismo Conselhos Científicos, decomposto em Conselho

Científico do Departamento e Conselho Científico da Escola (Figura 4.17).

Actividade

CONTROLO

SAÍDA ENTRADA

MECANISMO CHAMADA

Procedimentos Normas

Informação Material

Pessoas Funções Sistemas TI Máquinas

Informação Material

1

3

2

Necessidade de

4

Page 90: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

Capítulo 4 79

Nomear Júri

Apreciar Dissertação

Orientar Dissertação

Requerimento deAdmissão

Relatórios de Progresso

Admitir à Dissertação Plano de Actividades

Júri

Resposta ao Requerimento deAdmissão

Orientações

Edital

Despacho Liminar

Deliberação

Requerimento deProvas

Dissertação Reformulada

Regulamento (artº 23º) Regulamento (artº 24º)

Orientações

Regulamento (artº 25º e 26º)

Disponibilidade MembroExterno do Júri

Regulamento (artº 27º a 30º)

Apreciação do Júri

Declaração

Serviços Pós-Graduação

Conselho Científico da Escola

Orientador Orientador

Comissão Directiva do Mestrado

Conselhos Científicos

Presidente da Escola

A1

A2

A3

A4

Page 91: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

Capítulo 4 80

Figura 4.17 - Diagrama de decomposição IDEF0 para o primeiro nível

Page 92: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 81

De salientar que a saída de uma actividade pode constituir o controlo ou o mecanismo de

uma outra actividade. Tal é o caso da saída Edital na actividade “Nomear Júri”, que funciona

como controlo de “Apreciar Dissertação” ao designar o Júri que apreciará a dissertação. Uma

actividade pode, inclusivé, não possuir quaisquer entradas, desde que possua definidos

controlos, os quais acabam por funcionar como entradas.

A construção de modelos IDEF0 é um processo iterativo. O refinamento é efectuado até se

atingir o nível de detalhe que se considere adequado. No caso em estudo, tal refinamento é

dispensado.

4.1.5.2 IDEF1X

As normas IDEF1X resultaram da combinação das normas IDEF1 com uma parte

substancial das características técnicas da LDDT (Logical Database Design Technique)

(Technology 1993).

A IDEF1 constituíu a aproximação inicial à modelação da informação e foi publicada em

1981. Baseada nas necessidades da indústria, tinha por base a teoria relacional de Codd e o

modelo entidades-relacionamentos de Chen. A técnica IDEF1 constituiu-se com base no

trabalho de R. R. Brown e T. L. Ramey da Hughes Aircraft e de D. S. Coleman da Appleton

Company após revisão por C. W. Bachman, P. P. S. Chen, M. A. Melkanoff e G. M. Nijssen.

A sua aplicação industrial, no âmbito do projecto I2S2, levou ao desenvolvimento em 1982 da

técnica de desenho lógico das bases de dados (LDDT) por R. G. Brown da Database Design

Group.

O projecto I2S2 centrava-se sobre a compreensão, gestão e utilização de uma única

definição semântica para os dados designada por “Esquema Conceptual”, independente da

forma como aqueles eram fisicamente armazenados e acedidos. Pretendia-se uma definição

consistente dos significados e relacionamentos a utilizar para integrar, partilhar e gerir a

integridade dos dados. A técnica LDDT baseava-se no modelo relacional de E. F. Codd, no

modelo relacional de P. P. S. Chen e nos conceitos de generalização de J. M. Smith e D. C. P.

Smith. Possibilitava múltiplos níveis de modelos e um conjunto de gráficos para representar a

visão conceptual da informação na organização. Da sua fusão com a IDEF1, resultou a IDEF1

Extended com o objectivo de suportar a modelação de dados.

Page 93: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 82

Os modelos de dados que resultam da aplicação destas normas têm por base os conhecidos

diagramas Entidades-Relacionamentos, constituídos pelas entidades, seus atributos, e

relacionamentos entre aquelas.

4.1.5.3 IDEF2

As normas IDEF2 foram concebidas para que se entrasse em consideração com os

aspectos dinâmicos dos sistemas, mas foram ultrapassadas pelos acontecimentos. Quando

foram disponibilizadas, já haviam sido ultrapassadas por métodos comercialmente disponíveis

que dispensavam a sua adopção (Wisnosky 1996).

4.1.5.4 IDEF3

As normas IDEF3 resultam já da investigação levada a efeito na KBSI (Knowledge Based

Systems, Inc) pela equipa de investigação que se transferiu da USAF (United States Air

Force) e que foi responsável pela elaboração das normas IDEF 0, 1-1X e 2. Embora

desenvolvidas por uma empresa privada, estas normas ainda obtiveram a aprovação das

entidades oficiais. Enquadram-se num projecto que pretende disponibilizar comercialmente

um conjunto de 19 IDEF’s já concebidos, mas que não respeitam já o objectivo inicial de criar

um conjunto integrado de métodos (Wisnosky ).

As normas IDEF3 foram concebidas para responder às questões:

• Como e em que ordem são executados os processos organizacionais?

• Em que condições são aqueles executados e como podem ser melhorados?

A documentação resultante obedece às normas ISO9000 (KBSI ).

A modelação de processos segundo IDEF3 permite obter modelos preparados para

simulação. Baseia-se na combinação da perspectiva dos processos com a perspectiva dos

objectos. Para o efeito, recorre-se a três modelos:

• Matriz: interacção entre processos e objectos;

• Diagrama: representação da hierarquia de processos, a sua sequência e os pontos de

decisão associados;

Page 94: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 83

• Objecto: descrição dos objectos, do seu comportamento e quais os eventos que

desencadeiam as alterações comportamentais; o OSTN (Object State Transition

Networks) é um dos diagramas associados a este modelo.

4.1.5.5 IDEF4

As normas IDEF4 regulamentam a construção de modelos que permitem responder às

seguintes questões (KBSI ):

• Como implementar os processos?

• Quais as aplicações que a organização necessita para implementar a sua estratégia de

redefinição de processos?

• Como converter facilmente concepções orientadas ao objecto em código?”

As normas IDEF4 correspondem a um método para a Concepção Orientada ao Objecto

onde são representados os seguintes modelos:

• Perspectiva: representação das classes e relações de herança;

• Lista de Nodos: representação hierárquica das classes e de diferentes visões para um

dado modelo;

• Matriz de Herança: matriz de interacção entre cada uma das classes e as classes que a

constituem.

4.1.5.6 Normas IDEF

No contexto da actividade BPR, apenas se destaca a utilização das normas IDEF0 para a

modelação das actividades. A adopção das normas IDEF1X surge como uma consequência

lógica quando se pretende obter o modelo de dados de suporte à actividade e para o efeito

existem ferramentas como as da Logic Works que permitem estabelecer a ligação entre os

modelos nas referidas normas.

Entre outras razões que possam justificar a adopção destas normas, destaca-se a sua

grande comunidade de utilizadores, em parte justificado pelo facto de se ter convertido em

norma para a modelação de processos em projectos de grande dimensão patrocinados pelo

governo americano.

Page 95: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 84

Uma outra razão prende-se com o facto de lhes ser reconhecida grande familiaridade com

outras técnicas tradicionais na área do Desenvolvimento de Sistemas de Informação como os

DFD e os ER, pelo que a sua aprendizagem está, desde já, facilitada.

Quanto às restantes normas, talvez por não haverem sido impostas e não se terem tornado

de facto normas, não foram encontradas referências significativas no âmbito da BPR e outras

técnicas terão sido encontradas em alternativa.

Page 96: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 85

4.1.6 “Use Cases” e Objectos

A orientação ao objecto é o paradigma que está subjacente às técnicas utilizadas na OOBE

(Object Oriented Business Engineering), aplicada à redefinição de processos organizacionais,

onde aqueles são representados segundos duas visões:

• uma visão externa: representada pelo Use Case

• uma visão interna: representada pelos modelos Objecto

as quais resultam, respectivamente, de duas ideias fundamentais (Jacobson et al. 1995):

- o Use Case é a forma mais simples e natural de identificar o processo organizacional. O

cliente, como utilizador da organização, interactua com esta através de um processo

organizacional. A cada interacção corresponde um Use Case diferente. O Use Case

identifica a utilização de um processo organizacional por um cliente exterior à

organização que disponibiliza um produto ou serviço ao qual o cliente reconhece valor.

- a orientação ao objecto constitui um meio apropriado para compreender os processos,

produtos, serviços e recursos da organização e as dependências entre aqueles.

Jacobson sugere quatro tipos de objectos internos (Figura 4.18):

Figura 4.18 - Conceitos do modelo objecto

Objecto

Objecto

Objecto

Subsistema

Conceitos do Modelo Objecto

Page 97: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 86

• objectos entidade: representam as coisas utilizadas no processo como a dissertação;

• objectos de controlo: representam um conjunto finito de tarefas internas ao

processo como aquelas que são realizadas pelo Presidente do Conselho Científico

da Escola;

• objectos de interface: representam pessoas ou recursos que interactuam com o

exterior, i.e., com o mestrando, como é o caso do orientador ou do funcionário do

Serviço de Pós-Graduação;

• subsistemas: delimitam as fronteiras funcionais na organização, os Serviços de Pós-

Graduação, o Departamento ou a Escola.

Qualquer entidade externa ao processo que com ele interage, seja cliente ou fornecedor do

processo organizacional, é designada por Actor. No caso exemplo, são considerados actores o

mestrando (como cliente) e o membro externo do júri (como fornecedor de um serviço).

São várias as utilizações que o cliente, o mestrando, efectua do processo organizacional

designado por “Apresentação e Discussão da Dissertação”. Podem ser identificados quatro

Use Cases, cada um dos quais corresponde a um conjunto de interacções com a organização

do qual resulta algo a que o cliente reconhece valor:

• Admitir à Dissertação; resultado: resposta ao requerimento de admissão:

• Orientar Dissertação; resultado: dissertação realizada;

• Requerer Provas; resultado: nomeação do júri com marcação da data da discussão;

• Discutir Dissertação; resultado: classificação.

Na execução do Use Case “Requerer Provas”, após a nomeação do júri, da sua apreciação

pode resultar a recomendação para reformular a dissertação. Esta alternativa pode ser

representada por uma das associações possíveis em modelos Use Case: a associação

“extends”. As outras associações são a “communication”, a interacção com o actor e a “uses”,

a que se recorre para representar um Use Case que é partilhado por vários.

Na Figura 4.19 apresenta-se o modelo Use Case para o caso em estudo.

Admitir à Dissertação

Page 98: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 87

Figura 4.19 - Modelo Use Case

Para a construção do modelo objecto correspondente a este Use Case, são identificados os

diferentes objectos segundo os princípios já definidos:

• objectos interface para qualquer actividade que envolva comunicação com o actor;

• objectos controlo para o controlo do comportamento interno ao processo;

• objectos entidade para as coisas que são utilizadas no processo.

Identificados também os subsistemas (um objecto pode participar em vários Use Cases,

mas apenas pertence a um subsistema), apresenta-se o modelo objecto com os

correspondentes subsistemas na Figura 4.20.

Page 99: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 88

Figura 4.20 - Modelo Objecto do Use Case “Requerer Provas”

A colaboração entre os objectos na execução do fluxo de eventos que constitui o Use Case

pode ser representada por um Diagrama de Interacção que se apresenta na Figura 4.21.

No caso do pedido de reformulação, que constitui uma alternativa à sequência do fluxo de

eventos no Use Case “Requerer Provas”, a referência explícita ao Use Case “Reformular

Dissertação” é assinalada no ponto em que tal situação pode ocorrer.

Funcionário dos Serviços de Pós-

Graduação

Orientador

Presidente da Comissão Directiva

do Mestrado

Presidente do Conselho Científico

do Departamento

Presidente do Conselho Científico

da Escola Presidente da Escola

Dissertação

Júri

Departamento Serviços Pós-Graduação

Escola

Membro Externo do

Júri

Mestrando

Page 100: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 89

O Mestrando apresenta o Requerimento de Provas aos Serviços de Pós-Graduação que solicitam ao Presidente da Comissão Directiva do Mestrado que desencadeie o processo de nomeação do júri; ao orientador é solicitada a indicação do membro externo do júri.

A Comissão Directiva do Mestrado propõe o júri para nomeação ao Presidente do Conselho Científico do Departamento, que requer a sua aprovação ao Presidente do Conselho Científico da Escola, que por sua vez solicita a sua nomeação ao Presidente da Escola, que o faz público através de Edital, o qual é comunicado ao Mestrando.

Os Serviços Académicos requerem ao júri a apreciação da dissertação O resultado, a marcação da data das provas ou o pedido da reformulação da dissertação, é comunicado ao Mestrando.

O resultado é comunicado ao Mestrando pelos Serviços Académicos, indicando a data para a realização das provas ou solicitando a reformulação da dissertação.

Funcionário dos Serviços

Pós-Graduação

Presidente da Comissão

Directiva do Mestrado

Presidente do Conselho

Científico do Departamento

Presidente da Escola

Júri

requerimento

requerer nomeação

de júri

propôr júri

nomear júri

requerer apreciação

fronteira do sistema objecto transmissão

do estímulo

sequência de tarefas

Presidente do Conselho

Científico do Escola

Dissertação

requerer júri

apreciar dissertação Despacho Liminar: data das provas

ou pedido de reformulação Use Case Reformular Dissertação

Data das

Provas

aprovar júri

Orientador

membro externo do

júri?

sugerir júri

Edital

Page 101: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 90

Figura 4.21 - Diagrama de Interacção para o Use Case “Requerimento de Provas de Mestrado”

A orientação ao objecto na modelação de processos organizacionais pode constituir um

importante contributo para a redução da complexidade resultante da diversidade de modelos

actualmente utilizados. Entre estes, consoante a perspectiva e a técnica a utilizar, salientam-se

os seguintes:

• Os Modelos de Dados, utilizados na representação da informação das entidades da

organização.

• Os Modelos de Processo, utilizados na representação das actividades na organização.

• Os Modelos Workflow, utilizados na representação das actividades humanas

requeridas na execução dos processos.

• Os Modelos Financeiros, na projecção das consequências de diferentes decisões e

influências externas no estado financeiro da organização.

• Os Modelos de Simulação, utilizados no estudo do comportamento da organização

decorrente da interacção entre as suas entidades e os processos perante diferentes

cenários.

Cada um destes modelos é concebido, utilizado e actualizado independentemente. A

interacção entre estes torna-se, por vezes, impossível. No desenvolvimento de sistemas de

informação, são nomeadamente os modelos de dados e de processos, aqueles com os quais

mais se trabalha e a sua sincronização e actualização já envolve alguma complexidade. Se a

estes, na modelação de processos organizacionais, acrescentarmos os outros modelos, então a

complexidade aumenta.

Entre os modelos organizacionais e os modelos dos sistemas de informação de suporte

não deve existir qualquer divergência. Modelos divergentes constituem uma resistência à

mudança. Os modelos devem ser facetas de um único e integrado modelo de negócio. Por

outro lado, a tecnologia utilizada na concepção do sistema informático de suporte ao sistema

Page 102: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 91

de informação não deve introduzir descontinuidades semânticas nos modelos que não só

tornem difícil compreender a sua interligação mas sobretudo, efectuar alterações como se

pretende ilustrar com a Figura 4.22.

Figura 4.22 - Sistema Organizacional e Sistema de Informação

O objecto, na modelação orientada ao objecto, pode ser o elemento integrador para todos

estes modelos. Aliás, a tecnologia objecto foi, essencialmente, concebida para a modelação. A

primeira linguagem orientada ao objecto foi a SIMULA, utilizada na simulação do

comportamento de sistemas complexos. Os objectos de software, numa correspondência

directa com os objectos do mundo real, representam toda a informação e comportamento que

lhes estão associados. Não se trata de uma questão de programação, mas de representação.

Os objectos facilitam a modelação e ajudam a integrar os modelos. Considerando os

diferentes tipos de modelos:

Modelo Use-case

Modelo Objecto Análise/Concepção

Modelo Objecto Concepção

Modelo Implementação

Modelo Teste

Desenvolvimento do Sistema de

Informação

Desenvolvimento do Sistema

Organizacional

Modelo Use-case

Modelo Objecto Análise/Concepção

OOBE

Object Oriented

Business Engineering

Page 103: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 92

• modelos de dados e de processos. São completamente integrados porque cada objecto

contém toda a informação e os processos de que precisa para desempenhar o seu

papel. Um objecto bem concebido esconde a distinção entre dados e processos.

• modelos workflow. À medida que os objectos assumem as suas responsabilidades na

organização, interagem quer com as pessoas quer com outros objectos para executar as

suas tarefas. Estas interacções estão completamente encapsuladas no objecto.

• os modelos financeiros. Devem ser os próprios objectos a gerir as suas questões

financeiras, requerendo a alocação de orçamentos, reportando as despesas, projectando

as receitas, etc. A incorporação da gestão financeira directamente no sistema permite

um acesso imediato a valores actuais para um melhor controlo financeiro.

• modelos de simulação. Para utilizar um modelo de objecto como simulador, efectuar-

se-ia uma cópia deste, com a informação actual, e executar-se-iam vários cenários com

hipotéticas entradas. Questões do tipo “O que aconteceria se ..” seriam respondidas

não com uma folha de cálculo cheia de números, mas com toda a organização.

Um objecto organizacional será aquele que é capaz de ser utilizado em qualquer um destes

modelos sem sofrer alterações. Para que tal seja possível, as características e comportamento

de um objecto não devem ser definidas tendo em atenção um papel em particular, mas a

multiplicidade de papéis para os quais possa vir a ser solicitado. (Anderson 1995).

4.1.7 Ciclos de Coordenação14

A modelação de processos organizacionais através de ciclos de coordenação baseia-se na

teoria da comunicação e coordenação desenvolvidas por Fernando Flores e Terry Winograd

em finais dos anos 70.

Esta coordenação ocorre em quatro fases com o pedido, negociação, execução e satisfação

de compromissos entre os agentes intervenientes no processo (Figura 4.23):

SOLICITAÇÃ1

2

3 4

EXECUÇÃO

NEGOCIAÇÃ

SATISFAÇÃ

Cliente Executante

Page 104: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 93

Figura 4.23 - Ciclo básico de coordenação (httpnotation )

O ciclo básico de coordenação interliga um cliente (aquele que efectua a solicitação ou

aceita a oferta) e um executante (aquele que assume a execução) num ciclo a quatro fases,

onde a transição é efectuada com os seguintes actos:

1. Cliente: eu solicito;

2. Executante: eu prometo;

3. Executante: já executei;

4. Cliente: estou satisfeito.

Em qualquer uma das fases, os participantes podem efectuar solicitações, e desencadear

novos ciclos. Após a conclusão de cada um destes ciclos secundários, o ciclo primário retoma

a sua execução.

O diagrama da Figura 4.24 representa parte do processo a partir do momento em que são

requeridas as provas, situação que desencadeia a nomeação do júri numa expansão em ciclos

secundários. De salientar a utilização de pontos de decisão, no caso particular, na fase de

satisfação do ciclo principal onde o mestrando decide se deve ou não reformular a dissertação,

se for confrontado com tal recomendação. No diagrama, poderiam ainda ser incluídos

temporizadores para cada um dos ciclos e as respectivas fontes de informação a utilizar.

O processo organizacional como coordenação humana consiste numa rede de ciclos

recorrentes, cada um dos quais executa uma actividade. A organização é vista como uma rede

de tais processos que em conjunto, executam a missão da organização.

Com esta representação, é evidenciada a satisfação do cliente, um dos objectivos que

norteia toda a actividade BPR. As acções que levam à satisfação de um acordo entre as partes

envolvidas são explicitamente apresentadas. Não se considera apenas o cliente final, mas

14 Action Workflow Loops

Page 105: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 94

encara-se cada um dos agentes intervenientes no processo como cliente e executante

(fornecedor).

Os ciclos de coordenação, quando interrompidos na fase da satisfação, permitem detectar

clientes insatisfeitos; trata-se de uma técnica que se enquadra no contexto da BPR onde uma

das ideias fundamentais é a atenção ao cliente.

Page 106: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 95

Requerer Provas

Sugerir Júri

Apreciar Dissertação

Serviços Pós-Graduação

Mestrando

Propôr Júri

Aprovar Júri

Nomear Júri

Requerer JúriPresidente daComissãoDirectiva doMestrado

Orientador

Presidente daConselhoCientífico doDepartamento

Presidente doConselhoCientífico daEscola

Presidente daEscola

Serviços Pós-Graduação

Presidente daComissãoDirectiva doMestrado

Presidente daComissãoDirectiva doMestrado

Presidente daConselhoCientífico doDepartamento

Presidente doConselhoCientífico daEscola

Serviços Pós-Graduação

Júri

Reformular Dissertação OrientadorMestrando

Reformular?

Figura 4.24 - Ciclos de Coordenação

Page 107: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 96

4.1.8 Diagramas de Actividades e Papéis

Os Diagramas de Actividades e Papéis (RAD) constituem a técnica de modelação de

processos utilizada no método STRIM, desenvolvido pela Praxis para a Redefinição de

Processos Organizacionais (BPR).

Com esta técnica, o processo é modelado como um conjunto coordenado de papéis entre

os quais ocorrem interacções para atingir os objectivos definidos para o processo. Apresenta-

se a notação a utilizar na Figura 4.25 e procede-se à explicação dos conceitos que aquela

suporta através das referências aos diagramas apresentados nas Figuras 4.26 a 4.30.

Papel

Evento

Estado

Actividade

Criar outropapel

Descrição doestado/objectivo

Fim do percurso

Percursosalternativos

Percursosparalelos

Interacção entredois papéis

Interacçãoentre trêspapéis

No papel que desencadeiaou controla a interacção

Figura 4.25 - Notação RAD (Ould 1995)

• papel

Page 108: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 97

Um papel é formado por um conjunto de actividades que são executadas por um agente

(uma pessoa, um grupo de pessoas, ou uma máquina, por ex.) com alguma responsabilidade

organizacional relevante. Um agente pode desempenhar vários papéis e um papel pode ser

desempenhado por vários agentes. Na Figura 4.26, o papel Orientador é geralmente

desempenhado por um docente, mas no caso de co-orientação, seriam dois os agentes a

desempenhar tal papel. O papel dos Serviços de Pós-Graduação é desempenhado por um

grupo de pessoas, cujas actividades internas não são consideradas relevantes; apenas se

representam as actividades dos Serviços que constituem interacção com outros papéis,

nomeadamente, com o Mestrando. O caso de um agente que participa em dois papéis está

ilustrado pelo docente convidado como Membro Externo do Júri (Figura 4.28) e Júri

(Figura 4.29).

• objectivo

O objectivo não é mais que o caso particular de um outro conceito mais básico: o conceito

de estado. O objectivo pode ser visto como um estado ou combinação de estados que se

pretende atingir na execução do processo. Na Figura 4.26 o objectivo final do processo

“Apresentação e Discussão da Dissertação” está representado pelo estado “Resultado da

Prova”. Todavia, outros estados intermédios, considerados importantes, como “Não

Admitido”, “Admitido”, “Dissertação realizada” e “Júri comunicado” estão assinalados ao

longo do percurso que conduz ao objectivo/estado final.

• actividade

A actividade, o que se faz, é representado por uma caixa preta com uma linha vertical que

a antecede e outra que se lhe segue, cada uma das quais traduz, respectivamente, o estado que

deve ser atingido para que a actividade possa ter início (pré-estado) e o estado em que se fica

após a sua execução (pós-estado).

A simbologia inerente à caixa preta pretende significar que na perspectiva em que se está

a modelar o processo, não é relevante saber como é que a actividade é executada, por ex.,

“Publicar Edital” (Figura 4.28).

As noções de pré-estado e pós-estado permitem definir a sequência de actividades, uma

vez que o pós-estado de uma actividade se identifica como o pré-estado de outra (no diagrama

resulta na ligação das respectivas linhas de estado): o tempo avança no sentido descendente da

leitura dos RAD.

Page 109: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 98

• interacção entre papéis

A execução de um processo envolve, invariavelmente, a colaboração entre vários papéis,

colaboração essa que ocorre sob os mais variados tipos de interacção: pela entrega de

documentos no “Requerimento de Provas” (Figura 4.28), pela concordância entre papéis na

“Sugestão de Júri” entre a Comissão Directiva e Orientador (Figura 4.28) ou pela simples

comunicação oral na interacção “Comunicar Classificação” (Figura 4.30). Nem sempre uma

interacção ocorre mediante troca de objectos; uma interacção traduz, essencialmente, a

sincronização de estados entre papéis e tal pode ocorrer pela simples troca de informação. Os

meios físicos que suportam a interacção não são, geralmente, referidos. A interacção

“Sugestão de Júri?” (Figura 4.28) pode ser efectuada presencialmente, por telefone ou através

de um pedido escrito; a interacção “Requerimento de Provas” envolve a entrega da

dissertação e tal não está referido (Figura 4.26); nada impede, contudo, que a descrição da

interacção refira o fluxo físico que a suporta como acontece na “Entrega da Dissertação

Reformulada” (Figura 4.28). Importa salientar que num RAD, a atenção está centrada no

significado da interacção e não nos fluxos de informação ou físicos decorrentes da interacção.

Refira-se, ainda, que existe notação adicional para as interacções quando se pretende

representar quem tem a iniciativa na interacção, o caso do Mestrando na interacção

“Requerimento de Admissão” (Figura 4.26) ou quando no desempenho de um papel se cria

um outro como no caso do Orientador relativamente ao Membro Externo do Júri

(Figura 4.28).

• evento

O evento representa um acontecimento externo, i.e., algo que não está sob o controlo do

papel e que a ocorrer, cria um novo estado a que o papel reagirá como no caso da “Entrega da

Declaração, da Dissertação Reformulada ...” (Figura 4.29), evento perante o qual o papel toma

uma decisão.

O evento pode ser visto como uma interacção com um papel que não está representado no

RAD, por exemplo, um relógio ou um calendário como é o caso dos restantes eventos

representados, em particular, daquele que é responsável pelo desencadeamento do processo

“Prazo de Candidatura” (Figura 4.26).

• regras

As regras às quais a execução do processo deve obedecer podem ser obtidas a partir

Page 110: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 99

- da sequência pela qual as actividades são executadas, representada na interligação

entre os seus estados:

- da tomada de decisões, representada pelos triângulos invertidos (por comparação

com o “ou” lógico) e exemplificada na questão “Aceita Reformular?”, perante a qual

três percursos são possíveis (Figura 4.29)

- dos percursos paralelos, situação representada por triângulos (por comparação com o

“e” lógico”), e exemplificada na Figura 4.28 com o estado “Júri nomeado”, onde duas

actividades ficam em condições de poderem ser iniciadas, “Publicar Edital” e a

interacção “Comunicar Júri” que terá que ocorrer no prazo máximo de cinco dias.

Além das questões de notação, outras importa considerar na adopção de uma técnica de

modelação de processos e uma delas é a forma como a complexidade é tratada.

A complexidade a tratar depende não só da inerente ao processo, mas também das razões

pelas quais a modelação é efectuada e a quem se destinam os modelos, o que justifica a

adopção de uma perspectiva por parte do modelador. No caso do processo “Apresentação e

Discussão da Dissertação” (Figura 4.26), a perspectiva assumida é a do Mestrando.

Na visão global que o Mestrando tem do processo, são identificados os pontos em que

aquele, o cliente, se reconhece em interacção directa com a organização, a Universidade,

através dos Serviços de Pós-Graduação, do Orientador e do Júri. Se algo mais se pretender

saber sobre a complexidade que qualquer uma daquelas interacções envolve, então há que

proceder à sua “decomposição”. Esta não é, contudo, efectuada pela forma tradicional de

decomposição estruturada em níveis de hierarquia, já referida quando apresentados os

Diagramas de Fluxos de Dados ou as normas IDEF, por exemplo. Embora possa constituir

uma forma simples e atractiva de tratar o problema, dificilmente reflecte a realidade dos

processos organizacionais que mais se assemelham a redes multi-dimensionais e menos a

hierarquias estruturadas, abordagem que tem origem nas técnicas utilizadas para o

desenvolvimento de soluções informáticas.

Considere-se a interacção “Requerimento de Admissão” (Figura 4.26). Mais que a

apresentação de maior detalhe na interacção entre Mestrando e Serviços de Pós-Graduação, a

decomposição da interacção permite que aquela possa ser vista sob um novo ângulo e outros

papéis aparecem, considerados não relevantes no RAD de origem, como é o caso do Conselho

Científico da Escola (Figura 4.27). A interligação entre estes RAD (Figuras 4.26 e 4.27) pode

Page 111: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 100

ser efectuada através da identificação dos eventos e estados que lhes são comuns: o evento

“Prazo de Candidatura” e os estados “Admitido” e “Não Admitido”. Não é, contudo,

necessário que a interligação seja efectuada por um qualquer par de estados; um estado é

suficiente para estabelecer a sincronização entre diferentes RAD, como acontece com o estado

“Júri nomeado” (Figuras 4.28 e 4.29) e com o estado “Prova marcada” (Figuras 4.29 e 4.20).

O tratamento da complexidade é o mesmo quando se trata de decompôr uma actividade.

Por exemplo, decompôr “Publicar Edital” (Figura 4.28) poderia levar ao aparecimento de

novos papéis como a Secretária do Presidente da Escola, ou de outras actividades como

“Publicar no Boletim Oficial da Universidade” com interacção com outro novo papel, a

Reprografia.

Conclui-se que os RAD centram a sua atenção sobre a organização social dos processos,

sem que haja preocupação com os fluxos de informação ou materiais necessários à execução

das actividades.

Ao contrário do que acontece na decomposição por níveis de hierarquia onde cada nível se

apresenta com o mesmo grau de detalhe e reflecte a globalidade do processo, um RAD pode

apresentar diferentes graus de detalhe e apenas relativamente à parte do processo que se

entende relevante representar.

Os RAD permitem modelar de uma forma mais natural a realidade dos processos

organizacionais, em particular, daqueles que não se encontram hierarquicamente estruturados

e funcionam como uma rede multi-dimensional de interacções. Esta técnica facilita a

colocação de questões quanto à identificação

- dos objectivos e à sua consecução;

- de papéis cuja actividade não acrescente valor;

- de interacções desnecessárias que aumentam o tempo de execução do processo.

Page 112: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 101

Prazo deCandidatura

Requerimento de Admissão

Júri comunicado

Requerimento de Provas

Serviços Pós-Graduação

Orientador

Indeferido?

Sim Não

Resposta ao Requerimento de Admissão

Não Admitido

Realizar Dissertação

Admitido

Dissertação realizada

Mestrando

Comunicação de Júri

Data da Prova

Discussão da Dissertação

Júri

Resultado da Prova

Apresentaçãoe

Discussãoda

Dissertação

Figura 4.26 - RAD “Apresentação e Discussão da Dissertação”

Page 113: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 102

Prazo deCandidatura

Parte Curricular ok?

Não

Indeferir RequerimentoSubmeter tema,

orientador e plano de actividades

Requerimento de Admissão

Verificar Parte Curricular

Sim

Não Admitido

Aprovados?

Não

Examinar tema, orientadore plano de actividades

Sim

Indeferir RequerimentoIndeferir Requerimento

Orientador

Comunicar Admissão

Deferir RequerimentoDeferir Requerimento

Admitido

Serviços Pós-Graduação

Mestrando

Conselho Científico da Escola

ComissãoDirectiva do

Mestrado

Requerer Admissão à Dissertação

Page 114: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 103

Figura 4.27 - RAD “Requerer Admissão à Dissertação”

Page 115: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 104

MestrandoServiços

Pós-Graduação

ComissãoDirectiva do

Mestrado

Orientador

MembroExterno do

Júri

Conselho Científico doDepartamento

Conselho Científicoda Escola

Presidente da Escola

Dissertação realizada

Membro Externodo Júri

Requerimento de Provas

Sugestão de Júri?

Convite

Sugestão de Júri

Júri comunicado

Comunicar Júri

até 5 dias apósnomeação do júri Publicar Edital

Júri nomeado

até 30 dias apósRequerimento de Provas

Júri

Nomear Júri

Aprovar Júri Aprovar Júri Aprovar Júri

Requerer Provas

Page 116: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 105

Figura 4.28 - RAD “Requerer Provas”

Júri nomeado

Júri

até 30 dias após a Nomeação do Júri

Despacho Liminar Despacho LiminarPara reformular?

Não Sim

Entrega da Declaração, daDissertação Reformulada ou

esgotado o Prazo.

Declaração apresentada ou Dissertação Reformulada?

Sim Não

No prazo de 15 dias após entrega daDeclaração ou da Dissertação Reformulada

Desistência

Marcar Prova

Comunicação da Data da Prova

Aguarda Marcação da Prova

Prova marcada Prova marcada

Sim Não

Recomendada a reformulação?

Não Não se pronuncia

Desistência

Aguarda Realização da Prova

Aceita reformular?

Sim

Reformular Dissertação

Orientador

Entrega da Declaração

Entrega da Dissertação Reformulada

Serviços Pós-Graduação

Mestrando

Marcar Prova

Page 117: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4 106

Figura 4.29 - RAD “Marcar Prova”

Page 118: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

107

Prova marcada

Data da Prova

Realizar Prova

Deliberar Resultado

Resultado?

Aprovado Recusado

Comunicar "Recusado"AtribuirClassificação

Comunicar ClassificaçãoRecusado

Bom Bom comDistinção

MuitoBom

JúriMestrando

Bom Bom comDistinção

MuitoBom

Classificação?

Discutir Dissertação

Figura 4.30 - RAD “Discutir Dissertação”

Page 119: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

108

4.1.9 Simulação

Os modelos de simulação têm sido objecto de estudo da Dinâmica de Sistemas.

Compreender as relações entre a estrutura de um sistema, as suas políticas (regras de decisão)

e o seu comportamento (o seu desempenho no tempo) é o objectivo deste domínio.

Um modelo de simulação reproduz artificialmente o comportamento de um processo real.

Estes modelos são geralmente programas de computador que apresentam o comportamento

alterado de um processo quando as variáveis relevantes são alteradas.

A modelação por simulação pode ser usada para apoiar a redefinição de processos

organizacionais quando uma análise numérica é requerida para as alternativas que estão em

estudo. É mais fácil proceder à redefinição quando se podem comparar alternativas que estão

quantificadas.

Entre os modelos já frequentemente utilizados para essa quantificação, destacam-se as

folhas de cálculo. Todavia, são modelos estáticos, que correspondem a sistemas de equações

que são resolvidos de uma só vez sem a dimensão temporal. Os modelos de simulação que

importa considerar são os modelos dinâmicos. As computações matemáticas ligadas a

processos são executadas a intervalos de tempo, permitindo que o sistema seja estudado à

medida que aquele evolui no tempo. Dado que a maior parte dos processos de negócio

apresentam a dimensão temporal, é a simulação dinâmica que será objecto de estudo.

Na modelação de processos para simulação, um processo representa-se pelo fluxo material

e/ou de informação através de uma sequência de actividades, cada uma das quais procede à

sua transformação ou armazenamento. Uma vez que nem todas as actividades são executadas

com o mesmo ritmo, criam-se acumulações ao longo do processo.

Neste enquadramento, são fundamentais dois conceitos para a modelação de processos:

• depósitos

Representam as acumulações dos materiais ou da informação manuseados no

processo e o seu conjunto representa, quando medido em qualquer altura no

tempo, o estado global do processo; podem comportar-se como entidades

passivas ou imporem determinadas condições ao que armazenam;

Page 120: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

109

• fluxos

Representam as actividades que alteram o estado dos depósitos, procedendo ao

aumento ou diminuição das acumulações existentes; exprimem-se em unidades por

período de tempo.

Na Figura 4.31 apresenta-se a notação suportada pela Ithink, uma das ferramentas mais

utilizadas na Dinâmica de Sistemas e referenciada no contexto BPR.

Reservatório

Tapete

Fluxo

Fila

Forno

Fronteira

Conector

Conversor

Figura 4.31 - Notação para simulação em Ithink (Systems 1994a)

Para representar um depósito, quatro tipos são disponibilizados:

• Reservatório: depósito por defeito, utilizado para acumulações passivas;

• Tapete: depósito que não permite que as entradas se misturem, mantendo-as segmentadas e

durante um determinado período de tempo (“Dissertações para orientação” na Figura 4.33);

• Fila: depósito para segmentação das entradas; o primeiro bloco a entrar, é o primeiro a sair;

• Forno: depósito para admissão de entradas durante um determinado tempo ou até exceder a

capacidade definida, situações em que deixa de admitir e após um dado tempo, é

reinicializado (“Desempenho médio” na Figura 4.33)

Será sempre possível utilizar o reservatório em substituição dos restantes pela

incorporação das funcionalidades daqueles nas actividades mas o recurso aos restantes,

facilita a construção e a legibilidade do modelo construído.

Page 121: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

110

Além do fluxo, já explicado, outros conceitos são suportados pela notação:

• fronteira: representa um ponto de contacto do processo com o ambiente que lhe é externo

em termos de fluxos materiais ou de informação e por isso, aparece sempre associado ao

fluxo; pode ser visto como uma fonte inesgotável de recursos ou um destino com uma

infinita capacidade de absorção;

• conversor: representa uma variável que é determinada em cada instante de tempo; pode

resultar do cálculo efectuado com outros conversores ou representar a entrada de

informação; no caso particular de um gráfico, o conversor incorpora um til;

• conector: interliga depósitos, fluxos e conversores, permitindo estabelecer as relações de

dependência que existem entre aqueles.

Para o processo organizacional em estudo, esta técnica proporciona a adopção de uma

perspectiva substancialmente diferente das anteriores: uma perspectiva quantitativa, que

permite avaliar o impacto no desempenho do processo quando variáveis consideradas

relevantes são alteradas.

Assim, e dadas as potencialidades a explorar, optou-se por não efectuar uma representação

detalhada do processo em causa e apresenta-se a sua estrutura simplificada com as actividades

consideradas mais significativas (Figura 4.32).

admitir

Dissertaçõespara

admissão

requerer admissão

Dissertaçõespara

orientação

Dissertaçõespara

apreciação

desistir

requerer Provas concluir Provas

Serviços de Pós-Graduação Orientador Júri

abandonarindeferir

Figura 4.32 - Estrutura simplificada do modelo para simulação

O fluxo a considerar é o conjunto das dissertações que começam por ser submetidas para

admissão, são orientadas e posteriormente concluídas com as Provas. Em qualquer uma destas

Page 122: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

111

fases do processo, algumas dissertações são retiradas do fluxo principal pelas actividades

“indeferir”, “abandonar” e “desistir”.

O desempenho do processo pode ser avaliado, em última análise, pela qualidade e

quantidade de dissertações concluídas. Como a conclusão tardia das dissertações, com

sucessivas prorrogações de prazos não resulta da execução do conjunto de procedimentos

administrativos, mas da realização propriamente dita da dissertação, importa considerar o

comportamento exibido pelo processo na fase crucial da sua orientação.

Admita-se que o problema possa residir na inadequada distribuição do tempo dedicado à

investigação, assumindo que a generalidade dos mestrandos tem que compatibilizar esse

tempo com o dedicado a outras actividades como a docência, por exemplo.

O modelo construído Figura 4.33) indexa o sucesso na conclusão das Provas ao

“Desempenho médio” obtido no conjunto das dissertações, o qual é representado por um

depósito do tipo forno, que acumula as avaliações efectuadas sobre os relatórios de progresso

entregues durante a orientação. A avaliação efectuada pode ser considerada uma função da

“criatividade” e do “tempo acumulado em investigação”. Considere-se a “criatividade” como

uma função inversa do “Cansaço” (representada em termos gráficos) e determine-se este

último pela comparação entre o “tempo global de actividade” e o “tempo tolerado sem

cansaço”.

Se o tempo global de actividade exceder o tolerado, o aumento do “cansaço” implica a

diminuição da “criatividade” e consequentemente uma “avaliação média” menos pontuada.

Por outro lado, se esse aumento de actividade for o resultado do aumento do “tempo não

dedicado a investigação”, uma consequência directa é a redução de uma “fracção” do “Tempo

acumulado em investigação”, mais uma vez, contribuindo para uma “avaliação média” menos

pontuada, e portanto, para um menor “Desempenho médio”. A redução no “Desempenho

médio” pode levar à dedicação de mais tempo à investigação contribuindo para o aumento do

“tempo global de actividade”, que a superar o tolerado, aumenta o “cansaço”, diminui a

“criatividade” e mais uma vez, contribui para a redução do “Desempenho médio”.

A identificação destes ciclos de influência, também designados por causa-efeito, é um dos

contributos mais significativos que se reconhece na utilização desta técnica. A informação

reactiva (de feedback) obtida pode traduzir um reforço do efeito (ciclo positivo de reforço) ou

a sua anulação (ciclo negativo de balanceamento). No caso do processo em estudo, o

Page 123: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

112

“Desempenho médio” poderá ser cada vez menor (ciclo de reforço) a menos que uma

adequada distribuição do tempo pela investigação e pelas outras actividades permita que o

“tempo de recuperação” seja suficiente para reduzir o “cansaço” para níveis que permitam

inverter a tendência e entrar num ciclo de balanceamento.

avaliação média reinicializar

tempo de recuperação

Dissertaçõespara

orientação

requerer Provas

tempo global de actividade

Desempenho médio

~

tempo não dedicado a investigação

Tempo acumulado em investigação

admitir

Cansaço

Dissertaçõesorientadas

~tempo tolerado sem cansaço

alteração tempo de investigação

esgotamento recuperação

orientar

~

criatividade

desistir

cansaço função do tempo

concluir Provas

~fracção tempo investigação

Dissertaçõespara

apreciação

abandonar

Figura 4.33 - Modelo para simulação em Ithink

Entre as razões que possam justificar o recurso a esta técnica no contexto BPR,

destaca-se a possibilidade que estes modelos oferecem de avaliar globalmente as

Page 124: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

113

mudanças nos resultados da organização provocadas por alterações locais à sua estrutura

ou modo de funcionamento.

Outra das razões poderá ser a facilidade na identificação de taxas de utilização,

constrangimentos ou subutilizações nas actividades, cuja análise permita uma melhor

realocação dos recursos.

Estes modelos são adequados para identificar deficiências em situações onde exista

necessidade de sincronização, conflito de recursos ou actividades paralelas.

A utilização destes modelos, contudo, está fortemente condicionada pelas

características das ferramentas que suportam a sua representação. Os modelos são de fácil

compreensão quando animados, nomeadamente, porque recorrem à representação gráfica

para facilitar a comparação de vários cenários. Mas a sua construção pode levantar

problemas a quem não domine as técnicas de simulação. Esta tarefa ficará simplificada se

para o efeito já existirem modelos base para determinados tipos de problemas que possam

ser adaptados à situação em estudo.

.

Page 125: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

114

4.2 Outras técnicas

Além das técnicas de modelação, outras técnicas se afiguram importantes na fase de

arranque de um projecto BPR, para a compreensão dos problemas nos processos e

respectivas causas a eliminar com a sua redefinição.

A título de exemplo, referem-se algumas dessas técnicas utilizadas na fase de

diagnóstico:

- análise da cadeia de valor;

- diagramas causa-efeito;

- modelos matemáticos, rede e sinápticos.

Uma vez que não constituem o objecto de estudo nesta dissertação e o objectivo com a

modelação do caso em estudo não é a sua redefinição, as técnicas são apresentadas com os

exemplos encontrados na literatura.

4.2.1 Análise da Cadeia de Valor

A cadeia de valor de uma organização é constituída pelas actividades que são responsáveis

pela criação de valor no bem ou serviço que é entregue ao cliente. A análise da cadeia de valor

permite compreender a execução, interacção e importância relativa de cada uma das

actividades que a constituem.

Na cadeia de valor são identificadas as actividades primárias, as actividades de suporte e o

valor acrescentado, também designado por margem. As actividades primárias são aquelas que

estão directamente ligadas à criação do bem ou serviço como o seu fabrico, venda ou

assistência pós-venda. As actividades de suporte apoiam as primárias em funções como os

recursos humanos, apoio administrativo ou tecnologia de suporte (Figura 2.8).

Actividades primárias

São geralmente identificadas cinco categorias, independentemente do tipo de indústria:

Page 126: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

115

• logística interna que inclui actividades associadas à recepção, armazenamento e

distribuição dos materiais e informação necessários à criação do bem ou serviço. São

exemplos, o armazenamento e a gestão de stocks.

• operações que incluem actividades associadas à transformação das diferentes

componentes a integrar no bem ou serviço. São exemplos, a fabricação e a embalagem.

• logística externa que inclui actividades associadas com a distribuição do produto ou

bem ao cliente como a facturação e o transporte.

• marketing e vendas que incluem actividades associadas aos métodos de persuasão que

levam o cliente a adquirir o bem ou serviço de que é exemplo a publicidade.

• serviços que incluem as actividades pós-venda como a instalação, reparação ou

acompanhamento para melhorar ou manter o valor do bem ou serviço vendido.

Actividades de suporte

Podem ser classificadas em quatro categorias:

• compras, que engloba as actividades associadas com a aquisição de todas as matérias-

primas necessárias à criação do bem ou serviço, a selecção de fornecedores e a

avaliação do seu desempenho;

• desenvolvimento de tecnologia onde se incluem a concepção de bens e serviços e a

selecção de tecnologia apropriada;

• gestão de recursos humanos onde estão incluídas as actividades relacionadas com a

contratação, formação, avaliação e incentivos ao pessoal;

• infra-estrutura da organização que engloba as actividades que apoiam todos os

componentes da cadeia de valor. São exemplos, a gestão em geral, o planeamento, a

gestão financeira e as questões legais.

Aplicação da análise da cadeia de valor

Embora a identificação das actividades da cadeia de valor se torne por vezes díficil, dever-

se-á procurar o seguinte tipo de actividades:

Page 127: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

116

• actividades com elevado potencial para aumentar o valor acrescentado de um bem ou

serviço da organização;

• actividades que representam uma parte significativa ou crescente do custo na

organização.

Na Figura 4.34 apresenta-se o exemplo de uma cadeia de valor para uma companhia aérea.

O modelo de Porter é útil na identificação das diferentes actividades geradoras de valor

acrescentado e que integradas num processo organizacional, um processo trans-funcional

orientado ao cliente, podem ser objecto da actividade BPR. A orientação da seta da esquerda

para a direita indica a entrega de valor ao cliente na perspectiva da organização, para o qual

contribuem actividades desde a gestão de matérias-primas à produção, passando pela vendas

até ao cliente. Este modelo será ainda mais útil se a orientação da seta for invertida (Keen and

Knapp 1996) para obter, não a cadeia de valor interno da organização, mas a cadeia de valor

do cliente desde o primeiro contacto com aquele até às actividades de logística interna.

Page 128: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

117

Infra-estrutura da

organização

Gestão de Recursos Humanos

• Contratar e formar pessoal

• Definir as férias e as regras de trabalho

• Escalonar e superinten-der tripulações

- ar - terra

• Contratar e formar pessoal de Vendas

Desenvolvi-mento de

Tecnologia

• Investigar sistemas de reservas e de bilhetes

• Investigar a preparação de refeições

• Averiguar retorno do Marketing

• Desenvol-ver cobertura dos meios de comunica-ção

Compras • Obter peças sobresse-lentes e equipamen-to de terra

• Obter localização dos terminais do aeroporto

• Obter seguro

Comprar publicidade

• Gerir inventário de peças sobresselen-tes

• Gerir refeições

• Manusear a bagagem

• Manter o equipamen-to

• Controlar o sistema de bilhetes

• Controlar o sistema de portas

• Controlar o sistema de embarque

• Escalonar a manutenção

• Escalonar a gestão das rotas

• Gerir as reservas

• Definir estratégia de preços

• Determinar comissões

• Garantir relação com agente de viagens

• Definir estratégia de pontualida-de

• Serviço de interligação

• Oferecer outros serviços

Logística Interna

Operações Logística Externa

Vendas e Merketing

Serviço

Figura 4.34 - Cadeia de Valor de uma companhia de aviação(Flaatten et al. 1992)

• Estudar a regulamentação governamental • Analisar a estrutura das rotas • Desenvolver o modelo de previsão de mercado

Page 129: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

118

4.2.2 Diagramas causa-efeito

O diagrama causa-efeito, também designado por diagrama espinha, pelo formato que

adquire semelhante à espinha de um peixe, é utilizado na modelação de processos para:

• compreender a estrutura de decomposição do processo nas suas actividades e de cada

uma destas nas respectivas tarefas;

• identificar todas as causas de um problema no processo por análise causa-efeito.

A análise de todas as causas de um problema é efectuada com a colocação de sucessivas

questões “porquê?” relativamente ao efeito detectado; no extremo da espinha é identificado o

problema e as espinhas do peixe representam as causas (Figura 4.35):

Figura 4.35 - Diagrama causa-efeito (Keen and Knapp 1996)

carburador desafinado

pneus com pouca pressão

má concepção

MÁQUINAS

Não sabia o octano correcto

gás octano impróprio

MATERIAIS

sem manual do

proprietário

EFEITO reduzida

quilometragem (a gás)

má manutenção

sem orçamento

fraco sentido de responsabilidade

má formação

maus hábitos de condução

MÃO-DE-

horário apertado

condução rápida

utilização incorrecta das mudanças

inadequadas ao carro

MÉTODOS

má lubrificação

sem mudança do óleo

sem orçamento

óleo incorrecto

sem manual do proprietário

Não sabia o óleo correcto

Page 130: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

119

Uma outra representação deste diagrama, é a que a Coopers & Lybrand utiliza para a sua

análise de causas. O exemplo apresentado diz respeito ao fabrico de placas de circuitos

integrados, onde foi detectado um elevado número de placas que têm que ser refeitas

(Figura 4.36):

Figura 4.36 - Análise de Causas num Processo (Coopers&Lybrand 1995)

4.2.3 Modelos matemáticos, rede e sinápticos

• matemáticos

As soluções matemáticas, designadas modelos matemáticos, são aplicáveis em alguns

problemas da organização. Estas soluções são modelos no sentido em que a organização

utiliza os seus próprios dados como entrada para elas. O mais utilizado é a programação

linear. Os programas lineares são uma série de equações lineares simultâneas, designadas

restrições e o que é designado por função objectivo, que é uma outra equação que diz ao

modelo o que a organização pretende optimizar. Um exemplo poderá ser qual a melhor

operadores sem formação?

muito trabalho a refazer

fraco controle do processo

fabrico complicado das placas

operadores cometem muitos erros

não sabem como controlar o processo

desenho complexo

os operadores não assumem a responsabilidade pelo seu trabalho confiam 100%

na verificação

os desenhos passam por várias iterações

não conseguem executar a especificação à primeira

não compreendem as implicações da especificação

Problema Porquê? Porquê? Porquê? Porquê? Porquê?

Page 131: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

120

mistura de ingredientes para um cosmético. A função objectivo será a soma dos custos de

todos os ingredientes, expressa pela quantidade usada multiplicada pelo preço de cada um,

e as restrições seriam os limites inferior e superior de cada ingrediente a utilizar na

concepção do produto. Esta técnica é utilizada para problemas específicos e raramente

pode ser utilizada na generalidade dos processos.

• modelos rede

Os modelos rede começam com um único ponto e depois mostram cada passo

subsequente. O fluxo está implícito na posição do passo. O relacionamento entre os passos

é mostrado pela sua posição. Temporização e actividade iterativa são muitas vezes difíceis

de representar com esta técnica. Uma aplicação geralmente utilizada de um modelo rede

são os diagramas PERT.

• modelos sinápticos

Os modelos sinápticos pretendem simular o funcionamento do cérebro humano. Eles

representam uma visão matricial ou reticular das actividades. Os processos são caminhos

através do modelo, com os nodos representando actividades ou unidades organizacionais.

4.3 Ferramentas

São muitas as ferramentas desenvolvidas para suportar as técnicas de modelação de

processos e análise de fluxos de trabalho. Muitas destas ferramentas pouco mais fazem do que

disponibilizar um conjunto de símbolos para representar actividades. Algumas ferramentas

permitem efectuar algum tipo de análise condicionada pelo método que serviu como

referência à sua construção. As ferramentas mais recentes já incorporam capacidades de

simulação e animação, permitindo o estudo do comportamento do sistema perante diferentes

cenários.

As ferramentas podem ser classificadas em três categorias (Tumay 1995):

• Diagramáticas

Page 132: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

121

permitem definir os processos interligando descrições daqueles aos símbolos que os

representam; são basicamente ferramentas de desenho, fáceis de utilizar, embora

ofereçam reduzidas capacidades de análise. Alguns exemplos: EasyFlow, ABC

Flowcharter e Visio.

• Analíticas

permitem um enquadramento conceptual para a modelação de hierarquias e definições

dos processos. São construídas tendo por base um referencial metodológico em áreas

como a Gestão de Projectos, Análise Workflow ou CASE (Computer Aided Software

Engineering). Estas ferramentas já disponibilizam funções que permitem efectuar a

análise determinística, estática e linear dos processos. Algumas delas já permitem uma

integração com ferramentas de simulação, para onde os modelos são exportados.

Alguns exemplos: BPWin/ERWin, Design/IDEF, FlowModel e Process Charter.

• Simulação

permitem efectuar a análise estocástica e dinâmica, de eventos discretos e contínuos

no tempo. As capacidades de animação que oferecem permitem visualizar os

diferentes fluxos e as interacções que ocorrem entre os diferentes intervenientes nos

processos. Alguns exemplos: Extend, Ithink e ServiceModel.

Na modelação do processo em estudo, foi possível utilizar uma versão demo da

ferramenta de simulação Ithink; todos os outros modelos apresentados foram construídos com

a Visio, uma ferramenta diagramática utilizada, por exemplo, na construção de fluxogramas.

Existem, no entanto, ferramentas como a ARIS-Tools para os Diagramas de Fluxos de Dados,

BPWin/ERWin para as normas IDEF0/IDEF1X, Objectory para “Use Cases” e Objectos,

ActionWorkflow para os Ciclos de Coordenação e Raditor para os Diagramas de Actividades

e Papéis, cuja utilização seria indispensável em processos de maior complexidade ou

dimensão.

Page 133: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5 122

5. Conclusões

5.1 Discussão das técnicas de modelação

As técnicas de modelação apresentadas foram identificadas no contexto da actividade de

Redefinição de Processos Organizacionais (BPR) e são aquelas às quais mais referências

foram encontradas.

Entre os vários tipos de informação que se desejam obter a partir dos modelos que

resultam da aplicação das técnicas, destacam-se os seguintes:

• o que se faz;

• quem o vai fazer;

• quando e onde será feito;

• como e porquê;

• quem é que está dependente do que se vai fazer no processo.

A resposta a estas questões poderá ser mais ou menos facilitada mediante os conceitos que

as técnicas de modelação permitem representar. E embora não haja consenso quanto aos

conceitos que no seu conjunto constituem a base de um modelo de processos, são

frequentemente considerados os seguintes (Curtis, 1992):

• agente - o actor (pessoa ou máquina) que trabalha no processo;

• papel - um conjunto de tarefas que se atribuem a um agente;

• artefacto - o que é manuseado na execução do processo.

A um agente podem ser atribuídos vários papéis, assim como um papel pode ser

desempenhado por vários agentes. O processo resulta da coordenação dos papéis que

colectivamente interactuam para cumprir um objectivo e na sua execução são manuseados

artefactos.

Page 134: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 4

123

As perspectivas que um modelo organizacional pode apresentar estão limitadas pelos

conceitos que são suportados pela notação das técnicas de modelação utilizadas. Entre as mais

comuns, referidas por (Curtis et al. 1992) no contexto da modelação de processos de software,

mas que são igualmente úteis no contexto BPR, destacam-se as seguintes quatro perspectivas:

• funcional, para representar quais as actividades em execução e os fluxos de dados que

as interligam;

• informacional, para representar as entidades (documentos, artefactos, produtos)

manuseadas no processo, incluindo a sua estrutura e os relacionamentos entre aquelas;

• organizacional, para representar por quem e onde são executadas as actividades e os

respectivos mecanismos de comunicação;

• comportamental, para representar quando é que as actividades são executadas, a sua

sequenciação, os resultados da sua execução, iterações, tomadas de decisão e condições

para o seu desencadeamento.

De entre estas, as perspectivas funcional e informacional têm sido as dominantes na

modelação de processos, respectivamente, com a utilização de técnicas como DFD

(Diagramas de Fluxos de Dados) e ER (Diagramas de Entidades-Relacionamentos).

Com a utilização de outras técnicas de modelação, outras perspectivas podem ser

consideradas, nomeadamente, as perspectivas organizacional e comportamental. Os papéis

desempenhados pelas pessoas bem como as regras que controlam a sequência e a tomada de

decisões são, provavelmente, as componentes que mais precisam de ser redefinidas para a

melhoria do processo organizacional.

Dada, ainda, a grande relevância que assumem as reduções de tempos e custos nos

processos que são objecto da BPR, acrescentar-se-ia uma outra perspectiva às já apresentadas:

• quantitativa, para representar os tempos, os custos, a utilização de recursos pelas

actividades ao longo do tempo.

Page 135: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5 124

Para as técnicas de modelação incluídas neste trabalho, apresenta-se um quadro com o

suporte que aquelas fazem das diferentes perspectivas (Figura 5.1):

Suporte: ⇔ bom; ⇐ razoável/limitado Perspectivas

Técnicas

Fluxogramas ⇔ ⇐ ⇐ ⇐

Diagramas de Fluxos de Dados ⇔ ⇐

Entidades-Relacionamentos ⇔

Diagramas de Actividade Organizacional ⇔ ⇐ ⇐

IDEF0 ⇔ ⇐ ⇐ ⇐ ⇐

Use Cases, Modelo Objecto e Diagrama de Interacção ⇐ ⇔ ⇔ ⇐

Ciclos de Coordenação ⇐ ⇐ ⇐ ⇐

Diagramas de Actividade entre Papéis ⇐ ⇔ ⇔

Simulação (Ithink) ⇐ ⇐ ⇐ ⇔ ⇔

Figura 5.1 - Suporte às Perspectivas pelas Técnicas de Modelação

• perspectiva funcional

A perspectiva funcional é aquela que mais se encontra nas técnicas consideradas no

estudo, com uma melhor expressão nos Fluxogramas, Diagramas de Fluxos de Dados,

Diagramas de Actividade Organizacional e IDEF0. Estas técnicas, centradas sobre as

actividades, permitem a sua representação com diferentes níveis de detalhe. Exceptuando a

Entidades-Relacionamentos, todas as outras técnicas, embora de forma mais limitada e menos

visível, representam esta perspectiva: nos diagramas de interacção para os modelos objecto

dos Use Cases, nas actividades nos Diagramas de Actividades e Papéis, na identificação dos

Ciclos de Coordenação e nos fluxos na Simulação.

Page 136: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

125

• perspectiva informacional

Esta perspectiva tem a sua melhor representação com as Entidades-Relacionamentos e

com os modelos Objecto. É, no entanto, possível obtê-la de forma limitada a partir dos

depósitos de dados/ficheiros utilizados nos Diagramas de Fluxos de Dados e nos Diagramas

de Actividade Organizacional ou a partir dos fluxos de dados, eventualmente, físicos, também

utilizados, para além dos anteriores, nos IDEF0. Também na simulação, a partir da descrição

dos depósitos, se obtém informação sobre as entidades manuseadas no processo.

• perspectiva organizacional

A indicação da responsabilidade na execução das actividades pode ser representada pela

indicação dos sectores nos Fluxogramas e nos modelos para simulação em Ithink. No caso da

IDEF0, essa responsabilidade representa-se pelos mecanismos e nos Ciclos de Coordenação,

pela indicação dos intervenientes na interacção. Mas é com os papéis nos Diagramas de

Actividades e Papéis e com os subsistemas e tipos de objecto interface e controlo nos

modelos Objecto que se considera existir uma melhor representação desta perspectiva.

• perspectiva comportamental

A representação das decisões nos Fluxogramas, nos Diagramas de Actividade

Organizacional e nos Ciclos de Coordenação permite perspectivar o comportamento do

processo em termos de percursos alternativos. Os controlos em IDEF0, representam as regras

ou condições sob as quais as diferentes actividades podem ser executadas. Nos diagramas de

interacção para o modelo Objecto, o comportamento é representado pela sequência de

estímulos a que os objectos são sujeitos e perante os quais executam as actividades. Mas é

com os Diagramas de Actividades e Papéis, mediante a representação das decisões, dos

eventos e das interacções, que melhor se considera expresso o comportamento do processo.

Com a simulação, um outro aspecto torna ainda mais importante esta técnica: para além de se

representar a sequência nas actividades, e as condições em que aquelas são executadas, a

obtenção de resultados permite compreender melhor o comportamento do processo.

• perspectiva quantitativa

Page 137: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

126

As anotações temporais ou financeiras nos Fluxogramas, constituem uma forma muito

limitada, cuja análise se torna tanto mais complexa quanto maior for o número de

ramificações a considerar. Em IDEF0, a incorporação de técnicas como a Activity Based

Costing, permite associar centros de custos às actividades, uma vez determinado o custo

daquelas em função de elementos como a duração e a frequência com que ocorrem as

actividades. Também nos Ciclos de Coordenação, as anotações financeiras e temporais

permitem determinar o custo e a duração para a execução de um dado percurso. Mas esta é

uma análise estática; uma análise da dinâmica do sistema torna-se necessária quando se

pretende compreender as implicações na gestão dos recursos que decorrem da execução em

paralelo de várias actividades. A Simulação permite definir as interdependências e apresentar

resultados do comportamento do processo ao longo do tempo para diferentes cenários. Pelas

razões apontadas, é a que melhor se adequa à modelação do processo sob a perspectiva

quantitativa.

Cada uma destas perspectivas, quando separada, constitui apenas um ponto de vista sob o

qual pode ser observado um processo; quando conjugadas entre si, podem constituir um

modelo completo, coerente e integrado do processo. Nem todas as técnicas disponibilizam os

conceitos necessários à representação de todas estas perspectivas e se o tentam fazer, nunca o

conseguem com a mesmo grau de clareza.

Um modelo, para ser útil, precisa ser compreendido e isso só acontece, se a linguagem de

modelação (a técnica de representação) for dominada. Uma vez que muitos são os potenciais

utilizadores de modelos de processo, com conhecimentos e necessidades de informação

diferenciados, também diferentes são as técnicas a utilizar. Por vezes, outras razões,

nomeadamente de natureza comercial levam a que apareçam novas técnicas que são apenas

variantes de anteriores e cujo valor acrescentado é reduzido.

Outras técnicas há que se impõem porque uma determinada comunidade as adopta como

meio de comunicação priveligiado na modelação de processos e uma sinergia se cria com a

sua utilização e consequente construção de ferramentas de suporte, como é o caso das normas

IDEF. Todos os projectos sob a égide da governo americano que envolvam a modelação de

processos, recorrem às normas IDEF. A sua adopção na actividade BPR pelas consultoras

americanas é, pois, natural.

Page 138: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

127

Verifica-se que a maioria destas técnicas já era utilizada no âmbito de outras actividades

de intervenção como o Desenvolvimento de Sistemas de Informação. A ideia de recorrer a

técnicas já conhecidas e de comprovada utilidade na modelação de processos não é nova. Se

as técnicas existentes, com as necessárias adaptações, quer ao nível sintáctico, quer ao nível

semântico permitem obter os resultados desejados na redefinição dos processos, não há

necessidade de inventar outras. Qualquer nova técnica, cuja notação não seja facilmente

apreendida, exige um esforço suplementar por parte dos seus utilizadores que pode antes ser

canalizado para a solução do problema; por outro lado, exige um investimento na concepção

ou aquisição de ferramentas adequadas para o seu suporte que pode ser evitado pelo recurso a

ferramentas já disponíveis.

A combinação das técnicas é um aspecto a explorar que se pode revelar útil. Como

exemplo, considere-se a utilização de IDEF0 para uma descrição alto nível do processo e os

RAD, com uma interligação dos papéis às actividades em IDEF0, para uma descrição mais

detalhada. Poder-se-ia seguir uma conversão dos RAD para efeitos de simulação em Ithink,

pela correspondência entre os estados do RAD e os depósitos em simulação por um lado, e

entre as actividades e os fluxos, pelo outro.

Page 139: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

128

5.2 Tipos de modelos em BPR

A utilização de cada uma das técnicas apresentadas conduz à obtenção de diferentes tipos

de modelos, para os quais podem ser encontradas várias classificações. A mais genérica é

aquela que diz respeito a qualquer actividade de intervenção, onde se reconhece

fundamentalmente a existência de dois tipos de modelos: descritivos e prescritivos

(Figura 5.2):

Figura 5.2 - Tipos de modelos nas fases de uma actividade de intervenção (e.g., BPR);

adaptado de (Carvalho and Amaral 1994)

Nos modelos descritivos, são obtidas representações dos processos existentes na

organização, comummente designados no contexto BPR por modelos “as-is”; os modelos

prescritivos representam os futuros processos, designados por “to-be”. A utilização de uma

mesma técnica de modelação para ambos os modelos facilita a comparação entre a situação

actual e a que se deseja em termos de medidas de desempenho como, por exemplo, tempo de

execução, custos ou satisfação do cliente. Geralmente, os modelos obtidos na actividade BPR

situam-se a um nível de abstracção mais elevado que os obtidos na actividade DSI. Nesta

última actividade, a preocupação com o suporte dos sistemas de informação em computador

(sistemas informáticos) leva a um maior grau de detalhe. Algumas técnicas de modelação

como DFD, ER e IDEF’s, que possibilitam diferentes níveis de abstracção, quando utilizados

na modelação de processos na actividade BPR, podem constituir um bom ponto de partida

para a actividade DSI.

modelos descritivos

modelos prescritivo

objecto de intervenção

ImplementaçPercepção

Concepção

realidademodelos

Page 140: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

129

Na modelação de processos, as mesmas técnicas podem ser utilizadas em ambas as

actividades, BPR e DSI. A outras técnicas se recorre, contudo, na actividade BPR, dado o seu

carácter mais abrangente e transformador da organização. Nomeadamente, na fase de

percepção ou em termos de fases dum projecto (planeamento, análise, concepção e

implementação), no seu planeamento, particular ênfase é dada a técnicas de avaliação e

diagnóstico. Técnicas como a análise de valor ou os diagramas causa-efeito auxiliam na

detecção de problemas nos processos e na identificação das suas causas.

Um factor de distinção entre as duas actividades, BPR e DSI, é o seu ponto de partida. Na

BPR, a organização é questionada na sua missão, objectivos e medidas de desempenho e a

existência de determinados processos pode ser posta em causa. Para a actividade de DSI, a

estratégia da organização está (ou deve estar) claramente definida e o sistema de informação a

desenvolver deve estar em consonância com a missão e objectivos já delineados.

A partir da perspectiva que melhor é representada nos modelos obtidos com as técnicas de

modelação apresentadas e considerada a relevância no contexto BPR, propõe-se o

agrupamento destes modelos em três tipos:

• funcionais (o que se faz)

• de coordenação (quem faz o quê)

• dinâmicos (de simulação - o que acontece se ...)

Modelos Funcionais

Nos modelos funcionais, o conceito central é a actividade.

Entre os mais representativos, consideram-se os modelos obtidos com IDEF0. Na

modelação segundo IDEF0, o processo é representado como um conjunto de actividades com

as entradas e saídas dos artefactos, materiais ou informação, a serem sujeitos a transformação,

à semelhança do que acontece com os DFD. Com IDEF0, contudo, há a salientar os conceitos

de controlo e mecanismo que permitem representar, respectivamente, as regras a que obedece

a execução do processo e os recursos que lhe devem ser disponibilizados. Apesar destas

limitações, os DFD, ao contrário dos IDEF0, facilitam a identificação dos clientes e

Page 141: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

130

forncedores, internos ou externos ao processo, através dos conceitos de depósito de dados e

entidade externa.

Em qualquer um destes modelos, a complexidade dos processos é tratada pela sucessiva

decomposição hierárquica das actividades até ao nível de detalhe que se entender adequado;

se necessário, suficientemente detalhado para ser automatizado. Contudo, outros aspectos

como a sequência, iteração ou sincronização, bem como a dinâmica do comportamento do

processo não são considerados.

A sequência na execução das actividades é um aspecto modelado com os fluxogramas e

torna-se relevante em situações de pormenor, para uma pesquisa localizada das ineficiências

num processo. Os modelos obtidos permitem compreender o comportamento do processo

através das decisões que alteram a sequência na execução das actividades. Mas para se

compreender a essência de um processo, numa fase de percepção, não é aconselhável se

aquele for demasiado complexo, pela dificuldade em seguir as sucessivas ramificações.

Da combinação dos fluxogramas com os DFD, resultam os BAM onde os aspectos da

complexidade do processo e a sequência das suas actividades são considerados.

Todas estes modelos salientam a perspectiva funcional, partilhando uma mesma visão

para o processo organizacional, que é entendido como fluxo de trabalho, uma série de

actividades com o objectivo de produzir algo a que se reconheça valor, nomeadamente, pelo

cliente. Uma outra visão é partilhada pelos modelos de coordenação.

Modelos de Coordenação

Nos modelos de coordenação, é dada especial atenção a quem faz o quê, deixando para

segundo plano os artefactos e a informação necessários à execução do processo. Na

modelação do processo, observado como resultado da coordenação entre vários intervenientes

(agentes) para atingir um objectivo, são salientados os aspectos de sincronização e

dependência que entre estes existem ou devem existir.

Um bom exemplo pode ser obtido com a orientação ao objecto, utilizada na descrição dos

Use Cases. A orientação ao objecto pode contribuir significativamente para reduzir a

complexidade que emerge do manuseamento de diversos modelos construídos segundo

técnicas de modelação diferentes. A integração das diferentes perspectivas é possibilitada pelo

conceito de objecto. O processo organizacional pode ser representado por um conjunto de

Page 142: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

131

objectos interactuantes (agentes, actores), onde cada um possui a informação que lhe permite

interactuar e assumir diversos papéis.

Os Ciclos de Coordenação constituem uma outra técnica onde se salienta a interacção nas

suas diferentes fases entre quaisquer dois intervenientes, cliente e fornecedor. Estes modelos,

para além de obrigarem à identificação do cliente e fornecedor de cada actividade, consideram

explicitamente a aceitação do resultado por parte do cliente, salientando o aspecto da sua

satisfação. A detecção de ciclos que não são concluídos pode evidenciar situações às quais

deve ser prestada atenção. A principal virtude destes modelos pode constituir também a sua

maior fraqueza uma vez que nem todos os processos são facilmente representados por uma

interaccção a dois; os modelos resultantes podem tornar-se artificialmente mais complexos na

sua legibilidade quando comparados com outro tipo de modelos de coordenação como os

RAD.

Os RAD constituem um dos melhores exemplos de modelos de coordenação, cujas

construção e compreensão se afiguram fáceis, nomeadamente, quando as dependências entre

os papéis são bem conhecidas. Da sua leitura, o agente que se identifica com o papel,

facilmente se apercebe das diferenças que possam existir entre o que está modelado e o que

realmente acontece. Os papéis cuja actividade se traduza na simples passagem de informação

a outros papéis sem qualquer valor acrescentado, são facilmente identificados e candidatos à

redefinição.

O grau de liberdade permitido pelos RAD no tratamento da complexidade é mais

adequado à generalidade dos processos organizacionais, observados como redes multi-

dimensionais e não como hierarquias, tratamento que é adoptado nos modelos funcionais.

Os RAD podem ser importantes no fortalecimento do espírito de equipa e na

consciencialização do contributo de cada um na execução do processo para um melhor

desempenho organizacional.

Modelos Dinâmicos

Os modelos dinâmicos representam o processo com base numa série de relações

quantitativas entre as variáveis de interesse na análise do seu comportamento. Da interacção

decorrente dessas relações, nomeadamente, pelo estabelecimento de ciclos de influência,

Page 143: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

132

resulta um comportamento dinâmico que não é possível obter com os modelos funcionais ou

com os modelos de coordenação. Os modelos dinâmicos permitem analisar o impacto no

desempenho global do processo de alterações a efectuar e diminuir os riscos associados à sua

concretização. Não raras vezes sucede que melhorias consideradas significativas num

processo podem ser anuladas por problemas e ineficiências que resultam da interacção entre

as suas diferentes actividades. Todavia, os modelos dinâmicos apresentam alguma dificuldade

na sua construção. Um cuidado especial deve ser dedicado à identificação das variáveis

realmente importantes e às relações entre aquelas. Os modelos a obter devem situar-se ao

mais alto nível de abstracção possível, apenas com o detalhe necessário à obtenção de ideias

para a redefinição dos processos sem que seja necessário dedicar muito tempo a análises

numéricas infindáveis, perdendo de vista o essencial.

Na Figura 5.3, apresenta-se a utilização dos modelos na actividade de Redefinição de

Processos Organizacionais ou em sentido mais lato, na Gestão de Processos, já que a primeira

actividade é parte intergrante da segunda.

A identificação de duas grandes famílias de modelos, os Modelos Funcionais e os

Modelos de Coordenação, traduz as duas visões pelas quais um processo organizacional pode

ser observado:

a) o processo como fluxo de trabalho, uma série de actividades cujo objectivo é

transformar entradas em saídas com valor (Modelos Funcionais);

b) o processo como coordenação de trabalho, um conjunto de interacções entre papéis

desempenhados por agentes no cumprimento de objectivos (Modelos de Coordenação)

A execução destes modelos permite, pelo registo de eventos e dos dados que lhes estão

associados, comparar o que acontece com o que devia acontecer.

A análise (estática) aos modelos permite, nomeadamente, pela consideração das diferentes

alternativas que se podem colocar na sua execução em termos de custos e tempos, sugerir a

sua redefinição.

Page 144: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

133

Modelos Funcionais

Modelos de Coordenação

Análises

Medidas de

Desempenho

Eventos

Dados

Modelos Dinâmicos

Modelos de Processo

Análise (estática)

Execução (real)

Simulação

Redefinir

Redefinição de Processos Organizacionais

O que aconteceria se ...

O que deve acontecer ...

O que acontece ...

Figura 5.3 - Modelos na Redefinição de Processos Organizacionais

Na simulação, uma execução “virtual” do processo, outros tipos de análise que os

modelos dinâmicos proporcionam, em particular, pela consideração das interdependências

entre as diferentes actividades, permitem comparar o que aconteceria perante determinados

cenários. As redefinições a efectuar aos processos organizacionais decorrentes dessas análises

são, então, posteriormente transpostas para os modelos funcionais e para os modelos de

coordenação.

Page 145: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

134

5.3 Trabalho futuro

Como trabalho futuro, podem ser identificadas as seguintes quatro tarefas:

• aplicação das técnicas a um exemplo de maior complexidade

Para melhor compreender as capacidades oferecidas pelas diversas técnicas, exige-se um

estudo mais aprofundado para o qual será necessário seleccionar um caso com a

complexidade e dimensão adequadas. A modelação deste caso, já com o recurso a

ferramentas de suporte às técnicas de modelação, permitirá aferir a facilidade com que os

modelos são manuseados no armazenamento e na obtenção do conhecimento

organizacional.

• avaliação da eficácia dos modelos

Avaliar a eficácia dos modelos é outra das tarefas importantes que passa pela confrontação

das diferentes utilizações que os diversos intervenientes no processo fazem dos

respectivos modelos. Para o efeito, será necessário o envolvimento num caso real.

• classificação do trabalho

A natureza do trabalho tem vindo a sofrer alterações, nomeadamente, com a introdução de

novas tecnologias nas organizações. Identificar os diferentes tipos de trabalho constitui

um passo importante para a compreender como funcionam os processos organizacionais e

sobre estes poder actuar. Tal identificação é também importante na selecção ou concepção

das linguagens (técnicas de modelação) necessárias para descrever os diferentes tipos de

trabalho. O trabalho operacional, o trabalho de coordenação ou o trabalho de tomada de

decisão colocam exigências diferentes na sua descrição.

Page 146: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

135

• definição de um sistema de conceitos

A definição de um sistema de conceitos, com base no qual se efectue a modelação dos

processos organizacionais, é outro trabalho a desenvolver.

Poder-se-á, eventualmente, falar de vários sistemas de conceitos numa actividade de

intervenção como a BPR, de natureza contingencial, consoante a perspectiva assumida na

modelação do trabalho. Mas será desejável que exista um “denominador comum”, um

conjunto de conceitos base que permita a criação de um repositório onde modelos produzidos

por diferentes técnicas possam ser armazenados. Tal repositório deverá, ainda, permitir o

acesso ao conhecimento organizacional a diferentes níveis, uma vez que diferentes agentes no

processo organizacional exigem graus de conhecimento organizacional diferentes para

desempenharem o seu papel.

um comentário final

No objectivo desta dissertação esteve a identificação e análise das diversas técnicas de

modelação de processos no âmbito da Redefinição de Processos Organizacionais (BPR).

Tratou-se de um trabalho exploratório, cuja síntese resultou na cobertura que se

entende que as técnicas de modelação fazem das perspectivas sob as quais um processo

organizacional pode ser observado e na identificação dos tipos de modelos a utilizar na

actividade de Redefinição de Processos Organizacionais.

Constitui-se como um ponto de partida para a identificação dos diferentes tipos de

conhecimento organizacional com base nos quais possam ser definidos sistemas de

conceitos adequados à construção e utilização dos modelos organizacionais. Trabalho

futuro.

Page 147: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

136

Referências

Alves, M. L. (1995). A Reengenharia de Processos de Negócio, Texto Editora, Lisboa.

Anderson, M. “IT Strategies for Business Re-engineering.” The Role of IT in BPR, London.

Barden, R., Beasley, R., Benson, C., Carr, N., Lucas, A., and Zorgios, Y. (1994). “Enterprise

State of the Art Survey;Part 2: Contexts in which Enterprise Modelling is Used.” 8032 - 2,

University of Edinburgh, Edinburgh.

Camp, R. C. (1989). Benchmarking: the search for industry best practices that lead to

superior performance, ASQC Quality Press.

Carr, N., Fraser, J., Gladwell, M., Macintosh, A., Phipps, B., Storrs, G., Uschold, M.,

Wilkins, J., Woherem, E., and Zorgios, Y. (1994). “Enterprise State of the Art Survey;Part 1:

Business Perspectives for Enterprise Modelling.” 8032 - 1, University of Endinburgh,

Edinburgh.

Carvalho, J. Á., and Amaral, L. (1994). “Managing the Organisation's Information System:

Intervention Activities and Organisational Knowledge.” .

Champy, J. (1995). Reengineering Management - The Mandate for New Leadership,

HarperCollins, London.

Coopers&Lybrand. “Breakpoint BPR.” Reengenharia, Porto.

Coulson-Thomas, C. J. (1994). “Business Process Re-engineering: Nirvana or Nemesis for

Europe?” Business Process Re-engineering: myth and reality, C. Coulson-Thomas, ed., Kogan

Page, London.

Curtis, B., Kellner, M. I., and Over, J. (1992). “Process Modeling.” Communications of ACM,

35(9).

Davenport, T. (1994). “The Business Change and Re-engineering interview.” The Official

Journal of the Institute of Business Process Re-engineerin, 2(1), 2-6.

Page 148: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

137

Davenport, T. H. (1993). Process Innovation - Reengineering Work through Information

Technology, Harvard Business School Press.

Davenport, T. H., and Short, J. E. (1990). “The New Industrial Engineering: Information

Technology and Business Process Redesign.” Sloan Management Review(Summer 1990), 11-

27.

Drucker, P. F. (1993). Sociedade Pós-Capitalista, Maria Fernanda Jesuíno, translator, Difusäo

Cultural, Lisboa.

Earl, M. J. (1994). “Viewpoint - The new and the old of business process redesign.” Journal

of Startegic Information Systems, 3(1), 5-22.

Flaatten, P. O., McCubbrey, D. J., O'Riordan, P. D., and Burgess, K. (1992). Foundations of

Business Systems, Andersen Consulting.

Glasson, B. C. (1994). “BPR - answers to those questions you always wanted to ask.” , Curtin

Business Scholl, Perth Australia.

Hammer, M. (1990). “Reengineering Work: Don't Automate, Obliterate.” Harvard Business

Review(July-August 1990), 104-112.

Hammer, M., and Champy, J. (1993). “Reengineering the Corporation: A Manifesto for

Business Revolution.” Journal of Strategic Information Systems, 4, 339-348.

Hammer, M., and Champy, J. (1994). Reengenharia - Revolucionando a empresa em funçäo

dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência, Ivo Korytowsky,

translator, Editora Campus, Rio de Janeiro.

Hammer, M., and Stanton, S. A. (1995). The Reengineering Revolution, Harper Business.

Harrington, H. J. (1991). Business Process Improvement: The Breakthrough Strategy for

Total Quality, Productivity and Efectiveness, McGraw-Hill, New York.

httpnotation. “cne.gmu.edu/modules/workflow/workloop-notation.html.” .

Huckvale, T., and Ould, M. (1993). “Process Modeling: Why, What and How.” Software

Assistance for Business Re-Engineering, K. Spurr, ed., John Wiley & Sons.

Page 149: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

138

Ilharco, F. (1993). “A reengenharia da empresa.” Público, 6-7.

Jacobson, I., Ericsson, M., and Jacobson, A. (1995). The Object Advantage - Business Process

Reengineering with Object Technology, Addison-Wesley Publishing Company.

Johansson, H. J., McHugh, P., Pendlebury, A. J., and III, W. A. W. (1993). Business Process

Reengineering: Breakpoint Strategies for Market Dominance, John Wiley & Sons.

KBSI. (1996). “http://www.kbsi.com/aiOwin.html.” .

Keen, P. G. W., and Knapp, E. M. (1996). Business Processes: a glossary of key terms &

concepts for today's business leader, Harvard Business School Press.

Kelly, S. “Aligning IT and BPR: Building the Enterprise Model.” The Role of IT in BPR,

London.

Macarthur, P. J., Crosslin, R. L., and Warren, J. R. (1994). “A Strategy for Evaluating

Alternative Information System Designs for Business Process Reengineering.” International

Journal of Information Management, 14(4), 237-251.

Malone, T. W., Crowston, K., Lee, J., and Pentland, B. “Tools for inventing organizations:

Toward a handbook of organizational processes.” 2nd IEEE Workshop on Enabling

Technologies Infrastructure for Collaborative Enterprises, Morgantown.

Manganelli, R. L., and Klein, M. M. (1994). “Como aplicar o conceito.” Management

Review.

Matos, J. (1996). “Marketing de Serviços.” Executive Digest, 42-43.

Miers, D. (1994). “Use of Tools and Technology within a BPR initiative.” Business Process

Re-engineering, C. Coulson-Thomas, ed., Kogan Page, London, 142 - 165.

Moad, J. (1993). “Does Reengineering Really Work?” Datamation, 22-28.

Morris, D., and Brandon, J. (1993). Re-engineering your business, R. R. Donnelley & Sons

Company.

Page 150: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

139

Mumford, E. (1994). “New treatments or old remedies: is business process reengineering

really socio-technical design?” Journal of Strategic Information Systems, 4, 313-326.

Ormerod, R. “Reengineering in the Consultancy Business: Lessons from the Field.”

Reengenharia e Transformaçäo das Empresas, Lisboa.

Ould, M. A. (1995). Business Processes: modelling and analysis for re-engineering and

improvement, John Wiley & Sons.

Peppard, J., and Rowland, P. (1995). The Essence of Business Process Re-engineering,

Prentice Hall.

Ross, D. T. (1977). “Structured Analysis (SA): a language for communicating ideas.” IEEE

Transactions on Software Engineering, 3, 16-34.

Rumbaugh, J., Blaha, M., Premerlani, W., Eddy, F., and Lorensen, W. (1991). Object-

Oriented Modeling and Design, Prentice Hall, New Jersey.

Scheer, A. W. “Business Reengineering: From Vision to Implementation.” Business

Engineering: Tools & Methods, EUA.

Spurr, K., Layzell, P., Jennison, L., and Richards, N. (1993). Software Assistance for Business

Re-Engineering, John Wiley & Sons Ttd.

Swatman, P. M. C., Swatman, P. A., and Fowler, D. C. (1994). “A model of EDI integration

and strategic business reengineering.” Journal of Strategic Information Systems, 3(1), 41-60.

Systems, H. P. (1994a). “Introduction to Systems Thinking and Ithink.” .

Systems, H. P. (1994b). “Process Improvement Module.” .

Talwar, R. (1994). “Re-engineering - A Wonder Drug for the 90s?” Business Process Re-

engineering - myth & reality, C. Coulson-Thomas, ed., Kogan Page, London.

Tapscott, D., and Caston, A. (1993). Paradigm Shift - The New Promise Of Information

Technology, McGraw-Hill, Inc.

Page 151: Rui Manuel Dinis de Sousa - Universidade do Minho · 2001. 6. 19. · Rui Manuel Dinis de Sousa Técnicas de Modelação de Processos para a Redefinição de Processos Organizacionais

Capítulo 5

140

Technology, N. I. o. S. a. (1993). “Integration Definition For Information Modeling

(IDEF1X).” FIPS - Federal Information Processing Standards Publication 184, USA.

Touche, D. “Reengineering for Results.” Reengenharia, Porto.

Tumay, K. “Business Engineering Tools II.” Tools & Methods for Business Engineering.

Wastell, D. G., White, P., and Kawalek, P. (1994). “A methodology for business process

redesign: experiences and issues.” Journal of Strategic Information Systems, 3(1), 24-40.

Waterhouse, P. (1995). “An Introduction to Business Process Transformation.” .

Wisnosky, D. E. (1996). “IDEF3 - Request for Information.” , [email protected].

Yourdon, E. (1989). Análise Estruturada Moderna, Campus.