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Dinis Manuel Nhanga Mona
O PROPOacuteSITO DAS PARAacuteBOLAS DE JESUS Um estudo exegeacutetico de Mc 410-12
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio como parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Teologia
Orientador Prof Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes
Rio de Janeiro Marccedilo de 2017
Dinis Manuel Nhanga Mona
O PROPOacuteSITO DAS PARAacuteBOLAS DE JESUS Um estudo exegeacutetico de Mc 410-12
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial para ob-tenccedilatildeo do grau de Mestre pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Teologia da PUC-Rio Aprovada pela Co-missatildeo Examinadora abaixo assinada
Prof Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes Orientador
Departamento de Teologia ndash PUC-Rio
Prof Waldecir Gonzaga Departamento de Teologia ndash PUC-Rio
Prof Dioniacutesio Oliveira Soares Faculdade Batista do Rio de Janeiro
Prof Monah Winograd Coordenadora Setorial de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa
do Centro de Teologia e Ciecircncias Humanas ndash PUC-Rio
Rio de Janeiro 6 de Marccedilo de 2017
Todos os direitos reservados Eacute proibida a reproduccedilatildeo total ou parcial
do trabalho sem autorizaccedilatildeo da universidade do autor e do orientador
Dinis Manuel Nhanga Mona
Graduou-se em Teologia no Seminaacuterio Adventista Latino-americano de
Teologia (Faculdades Adventistas da Bahia) em 2010 Cursou especia-
lizaccedilatildeo em Interpretaccedilatildeo e Ensino da Biacuteblia na mesma Instituiccedilatildeo de
2011-2014
Ficha Catalograacutefica
CDD 200
Mona Dinis Manuel Nhanga O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico
de Mc 410-12 Dinis Manuel Nhanga Mona orientador Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes ndash 2017
93 f 30 cm Dissertaccedilatildeo (mestrado)ndashPontifiacutecia Universidade Catoacutelica do
Rio de Janeiro Departamento de Teologia 2017 Inclui bibliografia 1 Teologia ndash Teses 2 Paraacutebolas 3 Ensinos de Jesus 4
Propoacutesito das paraacutebolas 5 Reino de Deus 6 Endurecimento-Facilitamento I Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira II Pontifiacutecia Universi-dade Catoacutelica do Rio de Janeiro Departamento de Teologia III Tiacutetu-lo
Agradecimentos
Agradeccedilo primeiramente a Deus por tornar este sonho real pela forma como gui-
ou este projeto de vida ateacute aqui suprindo no caminho as condiccedilotildees necessaacuterias
Por Sua muacuteltipla bondade expressa por vaacuterios meios que me assistiram neste pro-
cesso Por prover para mim amparo mesmo em terra distante da minha enfim
agradeccedilo a Deus por tudo
A Minha esposa Rose por ser um braccedilo direito neste processo pela maravilhosa
compreensatildeo incentivo apoio A minha filha Laura que nasceu junto com esta
pesquisa me proporcionando mais aprendizado
Aos meus familiares em Angola pela coragem que tecircm me concedido e pela
compreensatildeo de longa ausecircncia e paciecircncia pelo retorno
Aos administradores da Igreja Adventista do Seacutetimo Dia em Angola por aceita-
rem meu pedido para que pudesse continuar os estudos
Ao Departamento de Teologia da PUC-Rio pela oportunidade de participar deste
excelente programa de poacutes-graduaccedilatildeo pela admissibilidade ao mesmo programa e
pela oportunidade de crescimento acadecircmico
Ao meu orientador Dr Joseacute Otaacutecio Oliveira Guedes por ter aceitado ser orienta-
dor desta pesquisa pela maravilhosa experiecircncia proporcionada tanto em sala de
aula como no processo de orientaccedilatildeo pela inspiraccedilatildeo na postura de pesquisar seri-
amente o texto sagrado e pelo exemplo humano que serviu de inspiraccedilatildeo Agrade-
ccedilo pela orientaccedilatildeo acadecircmica e tambeacutem de vida aprendida neste processo
Aos professores do Departamento de Teologia PUC-Rio por terem compartilhado
conosco seus saberes notaacuteveis aperfeiccediloando nossas ferramentas de pesquisa e
pela amizade oferecida
Aos funcionaacuterios da secretaria do Departamento de Teologia-PUC-Rio pela paci-
ecircncia e eficiecircncia no atendimento pela orientaccedilatildeo que constantemente passaram
pela prestatividade e pela forma humana destacada em atender a todos sua assis-
tecircncia tornou o processo agradaacutevel Muito obrigado
A CAPES e agrave PUC-Rio pelos auxiacutelios financeiros sem os quais natildeo seria possiacutevel
a participaccedilatildeo no programa e a elaboraccedilatildeo desta pesquisa
Aos colegas de mestrado e outros amigos pela amizade desenvolvida e pela ajuda
neste processo E a todos que colaboraram diretamente ou indiretamente neste
processo
Resumo
Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira O propoacutesito
das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Rio de Ja-
neiro 2017 93 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro
O propoacutesito das paraacutebolas de Jesus um estudo exegeacutetico de Mc 410-12 Es-
ta pesquisa abordou o propoacutesito do uso de paraacutebolas nos ensinamento de Jesus
isto eacute qual ou quais os motivos que levaram Jesus a usar paraacutebolas em seus ensi-
namentos Para alcanccedilar os objetivos traccedilados esta pesquisa combinou a metodo-
logia da anaacutelise narrativa e anaacutelise retoacuterica considerando tambeacutem os elementos
histoacutericos do texto Com isto a exegese chegou a um resultado apresentando outra
possibilidade de interpretaccedilatildeo da teoria sobre o ensino por paraacutebolas expressa em
Mc 4 10-12 A pesquisa concluiu que na atual configuraccedilatildeo haacute possibilidades de
admitir que a periacutecope referida natildeo afirma que Jesus ensinou por meio de paraacutebo-
las para endurecer o coraccedilatildeo de Seus ouvintes e dificultar-lhes o acesso as coisas
do Reino de Deus Ao contraacuterio disto a exegese concluiu que Jesus usou paraacutebolas
em Seus ensinamentos com o propoacutesito de facilitar o processo de entendimento de
todos que O ouviam trazendo agrave compreensatildeo as coisas do Reino de Deus atraveacutes
de uma linguagem que era familiar e natural aos Seus ouvintes
Palavras-chave Paraacutebolas Ensinos de Jesus propoacutesito das paraacutebolas Reino de Deus Endu-
recimento-Facilitamento
Abstract
Mona Dinis Manuel Nhanga Guedes Joseacute Otaacutecio Oliveira (Advisor) The
purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 Rio de
Janeiro 2017 91 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de Teologia
Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro
The purpose of Jesus parables an exegetical study of Mk 410-12 This re-
search survey the purpose of the use of parables in Jesus teachings namely what
is or which are the reasons that led Jesus to use parables in his teachings To
achieve the goals outlined this research combined narrative analysis and rhetori-
cal analysis methodology considering of historical elements of the text Thereby
the exegesis reached a result bring up another interpretation possibility of theory
about Jesus teaching by parables as it apear in Mk 4 10-12 The research conclud
that in current setting there is the possibility to acknowledge that the refered sec-
tion of text does not state that Jesus taught by parables with the purpose of
hardering hearts of his listeners and to rise difficulties upon him in acessing of
the things of the kingdom of God Instead this exegesis conclude that Jesus used
parables in his teachings with purpose to make easy the understanding process of
all his listeners bring up to the understanding the things of the kingdom of God
through a language that was familiar and natural to his listeners
Keywords
Parables Jesus Teachings Parables purpose Kingdom of God Hardering-
Facilitator
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas 11
21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia 11
22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias) 14
221 A Juumllicher 15
222 C Dodd 16
223 J Jeremias 17
23 Periacuteodo Contemporacircneo 18
231 A nova criacutetica literaacuteria 19
232 Nova hermenecircutica 20
233 Criacutetica esteacutetica 21
234 Estruturalismo 22
235 Desconstrutivismo 23
236 Resposta-do-leitor 24
237 Outras abordagens 25
3 Exegese de Mc 410-12 27
31 O texto e o contexto 27
32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo 29
33 Criacutetica Textual 30
34 A constituiccedilatildeo do texto 33
341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope 33
342 Verificaccedilatildeo da unidade 36
343 Uso de fontes literaacuterias 37
35 Estrutura literaacuteria 40
351 A estrutura da unidade menor 410-12 44
352 A organizaccedilatildeo do texto 46
353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412 50 4 Comentaacuterio exegeacutetico 53 41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c) 53
42 ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd) 56
43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεου (v11c) 59
44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento 63
441 O motivo de falar em paraacutebolas 63
442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento 66
443 A temaacutetica do endurecimento 68 5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope 73 51 Leitura dificultante 73
52 Leitura facilitadora 77
53 Leitura harmonizante 79 6 Conclusatildeo 82 7 Referecircncias bibliograacuteficas 84 71 Obras de referecircncia 84
72 Livrospartes de livros e verbetes de dicionaacuterio 84
73 Artigos 91
9
1 Introduccedilatildeo
As paraacutebolas de Jesus foram e continuam sendo uma aacuterea de estudo do No-
vo Testamento que tecircm ocupado a atenccedilatildeo de muitos pesquisadores Uma das
questotildees basilares dentro desta aacuterea de pesquisa eacute a declaraccedilatildeo que expressa o
propoacutesito pelo qual Jesus usa paraacutebolas em Seus ensinamentos que estaacute contido
na periacutecope de Mc 410-12 (tambeacutem nos paralelos de Mt 1310-12 e Lc 89-10) A
maioria dos estudiosos afirma que no atual contexto a periacutecope de Marcos sugere
que Jesus ensinou por paraacutebolas para ocultar ou impedir que os de fora tivessem
acesso ao Reino de Deus endurecendo-lhes os coraccedilotildees
Esses estudiosos compreendem que nesta configuraccedilatildeo o texto soa estranho
no contexto do Evangelho de Marcos inserindo uma contradiccedilatildeo dentro do proacute-
prio Evangelho Segundo esses estudiosos visto que a declaraccedilatildeo da periacutecope
provoca uma ruptura e contradiz outras declaraccedilotildees do Evangelho a conclusatildeo eacute
que se trata de uma adiccedilatildeo A explicaccedilatildeo para a origem desta adiccedilatildeo apresenta
grande variaccedilatildeo cada estudioso explica a seu modo
Haacute no entanto uma possibilidade de um olhar alternativo para Mc 410-12
considerando a atual configuraccedilatildeo dentro de seu contexto e de toda narrativa do
Evangelho de Marcos Eacute com esta possibilidade que esta pesquisa procuraraacute inter-
pretar o propoacutesito das paraacutebolas de Jesus na periacutecope de Mc 410-12
O objetivo desta pesquisa eacute apresentar uma explicaccedilatildeo na atual configuraccedilatildeo
do texto sobre o uso que Jesus fez das paraacutebolas Desejaria Ele ocultar ou dificul-
tar o acesso ao Reino de Deus para os de fora e endurecendo-lhes os coraccedilotildees
Para alcanccedilar os objetivos pretendidos esta pesquisa combinaraacute a metodologia da
anaacutelise narrativa algumas vezes da anaacutelise retoacuterica com uma anaacutelise dos elemen-
tos histoacutericos do texto
Assim no primeiro capiacutetulo desta pesquisa se resumiraacute como as paraacutebolas
foram interpretadas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a contemporaneidade tal resu-
mo se torna importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como
horizonte para a mesma
No segundo capiacutetulo seratildeo analisados os aspectos internos e externos do tex-
to isto eacute as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos
da anaacutelise do texto
10
No terceiro capiacutetulo se apresentaraacute o resultado do capiacutetulo anterior um co-
mentaacuterio exegeacutetico destacando-se a temaacutetica do tiacutetulo οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα
(10c) a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς βασιλείας
τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento
E finalmente o quarto capiacutetulo apresentaraacute a siacutentese e uma breve anaacutelise te-
oloacutegica das trecircs grandes teorias relativas ao conceito de endurecimento em Mc
410-12 a proposta do endurecimento a facilitadora e a harmonizante
11
2 Histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas
Neste capiacutetulo se apresentaraacute um breve resumo histoacuterico sobre como as pa-
raacutebolas foram interpretadas ao longo dos seacuteculos Neste resumo histoacuterico natildeo se
seguiraacute estritamente uma sequecircncia histoacuterica o enfoque seraacute dado mais nas for-
mas de interpretaccedilatildeo ao longo de alguns periacuteodos da histoacuteria Este capiacutetulo se tor-
na importante para a temaacutetica proposta nesta pesquisa por servir como horizonte
para a mesma isto eacute contextualiza a temaacutetica central desta pesquisa O capiacutetulo se
basearaacute nas obras bibliograacuteficas que descrevem a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das
paraacutebolas resumiraacute a histoacuteria da interpretaccedilatildeo no periacuteodo patriacutestico e idade meacutedia
(mais expressivamente a interpretaccedilatildeo dos pais da Igreja) o periacuteodo moderno (pe-
riacuteodo posterior das pesquisas mais cientiacuteficas) e finalmente o periacuteodo contempo-
racircneo (considerando as seis uacuteltimas deacutecadas)
21 Periacuteodo Patriacutestico e Idade Meacutedia
Neste periacuteodo o pensamento Greco-Romano predominava e neste pensa-
mento a ldquoalegoria era uma abordagem comum para interpretar textos religiosos
[] Alguns primeiros cristatildeos adotaram acriticamente alguns dos meacutetodos inter-
pretativos de seus diasrdquo1 em muitas geraccedilotildees passadas era comum tratar a alego-
ria como interpretaccedilatildeo imposta sobre um texto2 Kissenger observa que ldquodo periacuteo-
do Patriacutestico ao final do seacuteculo XIX a interpretaccedilatildeo alegoacuterica das paraacutebolas (com
poucas exceccedilotildees) prevaleciardquo3 Os registros disponiacuteveis sobre a exegese patriacutestica
relacionados agraves paraacutebolas confirmam que a alegorizaccedilatildeo foi uma ferramenta co-
mumente usada naquele periacuteodo Alguns exemplos ajudam na compreensatildeo do
exposto
A seccedilatildeo Mc 41-34 foi objeto da praacutetica descrita acima Sobre a semente que
eacute lanccedilada sobre a terra e frutifica (Mc 48) Clemente de Roma sugere que seja a
1 PLUMMER R Parables in the Gospels History of interpretation and hermeneutical guidelines
Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 5 2 Cf WHITMAN J (Ed) Interpretation and Allegory Antiquity to the Modern Period Leiden
Brill 2000 p 34 3 KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-
don The Scarecrow Press 1979 p xiii
12
indicaccedilatildeo da ressurreiccedilatildeo futura4 Na Paraacutebola do semeador Pastor de Hermas
afirma que os cardos representam os ricos os espinhos os envolvidos em vaacuterios
negoacutecios natildeo se unem aos servos de Deus pois temem que se lhes peccedila algo5
Sobre a possiacutevel lacircmpada debaixo do suporte ou cama (Mc 421) Clemente de
Alexandria afirma que equivale agrave sabedoria que natildeo faz saacutebio a quem eacute capaz de
entendecirc-la6
Tertuliano equivale a semente que cresce (Mc 426-29) com a justiccedila que
junto com a criaccedilatildeo estavam em seus rudimentos no comeccedilo depois chegou a
infacircncia por meio da Lei e os profetas mais tarde alcanccedilou a exuberacircncia da ju-
ventude mediante o Evangelho e entatildeo chega agrave maturidade do gratildeo ao Paraacutecleto7
Atanaacutesio entedia que as aves que colocam seus ninhos em Mc 431 satildeo os anjos de
Deus e as almas sublimes8 A parte dessa estrutura outros exemplos de alegoriza-
ccedilatildeo neste periacuteodo tambeacutem satildeo notaacuteveis
Irineu identifica o campo do tesouro oculto (Mt 1344-46) com a Escritura e
o tesouro com Jesus9 Sobre os trabalhadores na vinha ele interpreta o primeiro
chamado como o comeccedilo do mundo criado o segundo chamado simboliza a anti-
ga alianccedila o terceiro chamado o ministeacuterio de Jesus o quarto chamado eacute a longa
era que vivemos e o quinto chamado eacute o fim do tempo A vinha eacute a justificaccedilatildeo o
dono da casa eacute o Espiacuterito de Deus e o denaacuterio a imortalidade10
Jaacute Oriacutegenes interpreta a mesma paraacutebola da seguinte forma o primeiro tur-
no de trabalhadores significa a geraccedilatildeo da criaccedilatildeo ateacute Noeacute o segundo aqueles de
4 Cf CLEMENTE DE ROMA Carta a los Corintios 24 1-26 apud ODEN T C HALL C A
(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-
ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 106 5 Cf PASTOR DE HERMAS Comparacioacuten 9 20 1-3 apud ODEN T C HALL C A (Orgs)
La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evan-
gelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 108 JOAtildeO CRISOacuteSTOMO tambeacutem
identifica os espinhos com os ricos (cf Homiliacuteas sobre el Ev de Mateo 44 4-5 apud ODEN T
C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la
eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 112 6 CLEMENTE DE ALEXANDRIA Stromata 1 12 2-3 apud ODEN T C HALL C A
(Orgs) La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutesti-
ca Evangelio seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 113 7 TERTULIANO El velo de latildes viacutergenes 1 5-7 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La
Biblia comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio
seguacuten San Marcos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 115 8 ATANASIO Fragmentos 7 2 apud ODEN T C HALL C A (Orgs) La Biblia comentada
por los Padres de la Iglesia y otros autores de la eacutepoca patriacutestica Evangelio seguacuten San Mar-
cos Madrid Ciudad Nueva 2000 p 116 9 Cf IRINEU Against Heresies book 4 chap 26 1 apud KISSINGIR W S The Parables of
Jesus a history of interpretation and bibliography London Scarecrow 1979 p 2 10
Cf Ibid chap 36 7 apud KISSINGIR W S op cit p 2-3
13
Noeacute ateacute Abraatildeo o terceiro de Abraatildeo a Moiseacutes o quarto de Moiseacutes a Josueacute o
quinto os do tempo de Jesus O senhor da casa eacute Deus enquanto o salaacuterio
representa a salvaccedilatildeo11
Esses exemplos ilustram como essa forma de interpreta-
ccedilatildeo predominou no periacuteodo patriacutestico no entanto alguns inteacuterpretes tinham uma
postura oposta
Havia algumas exceccedilotildees nesse periacuteodo ldquoos antioquenos no quarto seacuteculo
desafiaram a abordagem alegoacuterica adotada pelos alexandrinos no terceiro [seacutecu-
lo] Em suas afirmaccedilotildees anti-alegoacutericas os antioquenos destacaram a historiardquo12
e a gramaacutetica13
Os dois grandes nomes desta escola satildeo Teodoro de Mopsueacutestia e
Joatildeo Crisoacutestomo14
Este uacuteltimo afirmava que ldquoas paraacutebolas natildeo deveriam ser ex-
plicadas palavras por palavras uma vez que muitos absurdos se seguiratildeordquo15
Na paraacutebola do semeador Crisoacutestomo interpretava a semente como a doutri-
na de Jesus os solos como a alma dos homens o semeador o proacuteprios Jesus que
ao semear natildeo faz distinccedilatildeo dos solos lanccedilando indiferentemente a semente As-
sim Jesus natildeo faz acepccedilatildeo de pessoas mas procura discursar com todos Crisoacutes-
tomo conclui que os vaacuterios solos simbolizam as diferentes formas de destruiccedilatildeo
mas o bom solo daacute esperanccedila para o arrependido e a possibilidade de afastamento
da condiccedilatildeo anterior16
Crisoacutestomo aplicava o mesmo princiacutepio de interpretaccedilatildeo
para outras paraacutebolas
Julius Africano eacute outro nome da escola de Antioquia ele introduziu os prin-
ciacutepios exegeacuteticos dessa escola no Oeste ele traduziu para o latim uma introduccedilatildeo
ao estudo biacuteblico de Paulo de Nisibis obra que reflete os meacutetodos de Teodoro de
Mopsueacutestia17
Tomaacutes de Aquino tambeacutem poderia ser citado junto com o grupo
que natildeo usou a alegoria pois ldquoinsistia num significado literal como a base para
11
Cf ORIacuteGENES De la Rue 1862 T 3 p 1347 apud BUGGE A C Die Haupt-Parabeln
Jesu Giessen J Ricker Verlagsbuchhandlung 1908 p 283 (cf HUNTER A M Interpreting
the Parables London SCM Press 1960 p 25) 12
HAUSER A J WATSON D F (Eds) A history of biblical interpretation v 1 Grands
Rapids William B Eerdmans 2003 p 334 342 13
Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography
London The Scarecrow Press 1979 p 27 14
Cf MARSHALL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Meth-
ods Milton Keynes UK Paternoster 1977 p 20 15
Cf JOHN CHYSOSTOM Homilie XLVII 1 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-
Nicene Fathers v 10 Oregon Sage Software 1996 p 621 16
Cf Ibd XLIV 4-7 apud SCHAFF P (Ed) The Nicene and Post-Nicene Fathers v 10
Oregon Sage Software 1996 p 597 17
MARSHAL I Howard New Testament Interpretation Essays on Principles and Methods
Milton Keynes Paternoster 1977 p 27
14
todas as outras interpretaccedilotildeesrdquo18
no entanto natildeo rejeitou a alegoria completamen-
te mas sua ecircnfase na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas era literal e metafoacuterica19
Outros
nomes de eacutepocas poacutes-patriacutestica tambeacutem rejeitaram a alegoria na interpretaccedilatildeo das
paraacutebolas
Martinho Lutero advogava uma abordagem histoacuterico-cristoloacutegica20
Joatildeo
Calvino procurava ir diretamente ao ponto central da paraacutebola21
Joatildeo Maldonado
ignorava o perifeacuterico e se centrava na intenccedilatildeo e mensagem central22
Alexander
B Bruce se propocircs a expor as paraacutebolas como um criacutetico de arte mostrando quatildeo
habilmente as paraacutebolas foram pintadas em seus detalhes23
e foi o primeiro inteacuter-
prete das paraacutebolas que experimentou tratar as mesmas ao longo das linhas da alta
criacutetica24
Na opiniatildeo de Juumllicher Bruce quebrou com o meacutetodo de interpretaccedilatildeo
alegoacuterica e foi quem adotou a abordagem liguiacutestica agraves paraacutebolas25
Em periodos
posteriores a interpretaccedilatildeo alegoacuterica deixou de ter predominacircncia teve sua criacutetica
severa principalmente na voz de Adolf Juumllicher
22 Periacuteodo Moderno (de A Juumllicher agrave J Jeremias)
Alguns outros pesquisadores surgiram neste periacuteodo no entanto seratildeo des-
tacados trecircs nomes pelo fato de que suas pesquisas deram notaacutevel contributo e
continuam influenciando as pesquisas recentes Estes satildeo A Juumllicher C Dodd e J
Jeremias
18
BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento histoacuteria literatura e teologia Satildeo Paulo
Academia Cristatilde Satildeo Paulo Paulus 2016 p 102 19
Cf KISSINGER W S The parables of Jesus a history of interpretation and bibliography
London The Scarecrow Press 1979 p 41 20
Cf Ibid p 45 21
No entanto embora em menor grau interpretou certas paraacutebolas alegoricamente Assim tambeacutem
Lutero (cf Ibid p 48 STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Min-
nesota v 5 n 3 p 248-257 1985 p 249 22
Cf KINGBURRY J D Major trends in the parables interpretation Concordia Theological
Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 56 23
BRUCE A B The Parabolic Teching of Christ a systematic and critical study of the parables
of our Lord 4th New York Hodder amp Stoughton 1882 p 1 24
Cf KISSINGER W S op cit p 70 25
Cf JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu 1 p 300 apud KISSINGER op cit p 71
15
221 A Juumllicher
Embora o proacuteprio Juumllicher reconheccedila que Bruce tenha quebrado o meacutetodo
de interpretaccedilatildeo alegoacuterica26
como visto acima a maioria dos autores da atualida-
de colocam Juumllicher como expoente na mudanccedila da pesquisa sobre as paraacutebolas
Hunter o qualifica como o ldquoestudante mais cientiacutefico das paraacutebolas no seacuteculo de-
zenoverdquo27
para Theissen amp Merz com ele ldquocomeccedila a moderna pesquisa sobre as
paraacutebolasrdquo28
Jeremias afirma que ldquoeacute meacuterito de Adolf Juumllicher ter rompido defini-
tivamente com a interpretaccedilatildeo alegoacutericardquo29
e Kingsburry observa que a ideia de
muitos estudiosos expressa uma aceitaccedilatildeo modificaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo da teo-
ria sobre as paraacutebolas de Juumllicher30
Este sustentava que as paraacutebolas eram claras e pretendiam transmitir um
ponto ou moral que deveriam ser entendidas de forma mais geral possiacutevel que os
evangelistas natildeo apresentaram corretamente a essecircncia das paraacutebolas de Jesus que
as paraacutebolas satildeo autoexplicativas com propoacutesito de compelir o leitor a formar um
julgamento31
No entanto a despeito de sua forte importacircncia algumas de suas
posturas foram fortemente criticadas por autores posteriores o que sugere que a
histoacuteria da interpretaccedilatildeo eacute dinacircmica
Jeremias observa que ldquono esforccedilo por libertar as paraacutebolas da fantasia e do
arbiacutetrio da interpretaccedilatildeo alegoacuterica de cada um dos detalhes Juumllicher deixou-se
levar a um erro nefasto [] olhar as paraacutebolas como uma peccedila de vida real e []
em natildeo se tirar delas a natildeo ser uma soacute ideia sendo esta a mais geral possiacutevel []
Juumllicher parou a meio do caminhordquo32
Kissinger observa que o caraacuteter da teologia
liberal em Juumllicher eacute destacada33
Ricoeur observa que o erro inicial de Juumllicher foi
ldquoidentificar o maschal da literatura hebraica com a parabolegrave da retoacuterica gregardquo34
e
26
Juumllicher tambeacutem reconhce que J Maldonatus J Calvinus M Butzer C E van Koetsveld e B
Weiss lutaram contra o meacutetodo alegoacuterico e procuraram aplicar um meacutetodo mais histoacuterico e criacutetico
(cf Die Gleichnisreden 1 p 226-229 314-320 apud TUCKER J Example Stories Perspecti-
ves on Four Parables in the Gospel of Luke Sheffield Sheffild Academic Press 1998 p 79-80) 27
HUNTER A M Interpreting Parables London SCM Press 1960 p 21 28
THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 344 29
JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 11 30
Cf KINGBURRY J D Major Trends in the Parables Interpretation Concordia Theological
Monthly Missouri v 42 n 9 p 579-596 1971 p 579 31
Cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography
London The Scarecrow Press 1979 p 74-76 32
JEREMIAS J op cit p 12 33
KISSINGER W S op cit p 77 34
RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 181
16
ainda ter errado duplamente em sua anaacutelise sobre a comparaccedilatildeo entre dois enunci-
ados e duas correntes de pensamento que requer um terceiro a lsquoratiorsquo35
A despeito destas observaccedilotildees natildeo se pode desmerecer a grande contribui-
ccedilatildeo de Juumllicher na pesquisa sobre as paraacutebolas pois influenciou fortemente as
geraccedilotildees posteriores Muitos outros estudos relacionados diretamente ou indireta-
mente (os que tratam sobre o Reino de Deus) agraves paraacutebolas foram elaborados de-
pois de Juumllicher Kissinger destaca algumas pesquisas elaboradas depois de Juumlli-
cher36
no entanto nesta pesquisa se destacam as obras de Dodd e Jeremias que
foram as mais notaacuteveis e continuam influenciando as pesquisas recentes
222 C Dodd
Apoacutes Juumllicher Dodd eacute outro nome proeminente na pesquisa da exegese so-
bre as paraacutebolas Jeremias reconhece que uma de suas contribuiccedilotildees notaacuteveis foi
situar as paraacutebolas dentro da vida de Jesus37
Para Dodd as paraacutebolas satildeo expres-
satildeo natural da verdade por meio de figuras concretas e natildeo abstraccedilotildees38
Dodd
compartilha a mesma ideia de Juumllicher sobre o ponto uacutenico de comparaccedilatildeo39
mas
observa que nesta tarefa natildeo se deve ser muito rigoroso pois se o ouvinte fizer
corretamente a aplicaccedilatildeo entatildeo um significado secundaacuterio seraacute visto40
Dodd
tambeacutem se distancia de Juumllicher no que se refere agrave categorizaccedilatildeo generalista por-
que para ele se trata mais do que uma eacutetica comum41
Dodd procura interpretar as
paraacutebolas no contexto do ministeacuterio de Jesus e sugere que as mesmas tecircm um sig-
nificado especiacutefico para o ouvinte
Outro aspecto distinto de Dodd na interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute sua ideia
sobre a escatologia relacionada ao Reino de Deus O autor sustenta que ldquoJesus
35
RICOEUR P A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006 p 180-181 36
Sobre aquelas pesquisas que tratam especificamente das paraacutebolas KISSINGER W S opcit p
77-117 destaca BUGGE C A Die Haupt-Parabeln Jesu 1903 FIEBIG P Altjuumldische Glei-
chnisse und die Gleichnisse Jesu Tuumlbingen Mohr 1904 CADOUX A T The Parables of
Jesus their art and use London James Clarke amp Co 1930 menciona-se tambeacutem as obras de
DIBELIUS M From Tradiction to Gospel 1971 e BULTMAN R The History of the Synop-
tic Tradition 1968 que aplicaram sistematicamente a criacutetica da forma agraves paraacutebolas influenciando
pesquisadores posteriores neste aspecto 37
Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 38
Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p
16 39
Cf Ibid p 18 40
Cf Ibid p 20 41
Cf Ibid p 22
17
pretendia proclamar o Reino de Deus natildeo como algo por vir no futuro proacuteximo
mas como um assunto de experiecircncia presenterdquo42
para ele ldquoo eschaton se moveu
do futuro para o presente da esfera da expectativa para a da experiecircncia realiza-
dardquo43
Tal postura eacute criticada por Jeremias que observa que o restringimento das
paraacutebolas do reino a categoria de algo jaacute irrompido definitivamente acarreta um
encolhimento da escatologia44
e de fato a argumentaccedilatildeo de Dodd neste ponto ca-
rece soacutelidos fundamentos
Em suma Dodd resume sua interpretaccedilatildeo para chegar ao significado e apli-
caccedilatildeo original das paraacutebolas de Jesus em dois princiacutepios (1) deve-se encontrar o
fio condutor uma guia (frequentemente o AT) e (2) o significado que se atribui as
paraacutebolas deve ser adequado com a interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus nos ditos
expliacutecitos e ambiacuteguos45
As pesquisas de Dodd influenciaram os pesquisadores
posteriores46
o que inclui Jeremias
223 J Jeremias
Jeremias propotildee novos enfoques no estudo das paraacutebolas Sua metodologia
para interpretaccedilatildeo das paraacutebolas traz alguns elementos de pesquisadores anteriores
e acrescenta novos elementos Ela se resume na tentativa de chegar a lsquoipsissma
voxrsquo de Jesus47
Sua metodologia compreende
a) ecircnfase no Sitz im Leben da vida de Jesus e natildeo da Igreja b) reconstruccedilatildeo
linguiacutestica hipoteacutetica (para ele as paraacutebolas foram traduzidas do aramaico para o
grego o que o leva a propor que uma retraduccedilatildeo eacute importante para se obtiver o
significado original48
) c) tentativa de reconstruccedilatildeo hipoteacutetica da histoacuteria da
transmissatildeo das paraacutebolas da forma oral agrave forma escrita d) remoccedilatildeo dos acreacutesci-
mos da tradiccedilatildeo das comunidades cristatildes para se chegar ao estaacutegio original e)
consideraccedilatildeo de apenas um ponto uacutenico principal Um resumo da metodologia de
42
DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books p 38 43
Ibid p 41 44
Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 14 45
Cf DODD C H op cit p 27 46
KISSINGER menciona uma pesquisa antes de Jeremias SMITH B T The Parables of the
Synoptic Gospels Cambridge Cambridge University Press 1937 (cf KISSINGER W S The
Parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press
1979 p 125-131) 47
Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 48
Cf Ibid p 19
18
Jeremias e seu desdobramento em dez pontos podem ser encontrados em Kissin-
ger49
Esta metodologia de Jeremias foi um marco na histoacuteria da interpretaccedilatildeo das
paraacutebolas sua influecircncia continua forte ateacute o momento Perrin afirma que quando
se fala de interpretaccedilatildeo das paraacutebolas hoje significa interpretaacute-las como Jeremias
as reconstruiu50
No entanto aleacutem de apontar os pontos fortes na metodologia de
Jeremias (principalmente no aspeto da critica textual e criacutetica-histoacuterica) Perrin
tambeacutem aponta como seus limites
a) a natildeo consideraccedilatildeo da integridade do texto em si mesmo que exige ser in-
terpretado em seu proacuteprio correto modo b) se preocupa com a mensagem de Jesus
como um todo mas sua interpretaccedilatildeo das paraacutebolas eacute apenas um meio para a re-
construccedilatildeo desta mensagem c) apresenta a interpretaccedilatildeo das paraacutebolas sob uma
seacuterie de estatutos que reduzem sua mensagem algo que a proacutepria natureza do tex-
to proiacutebe d) natildeo percebeu a forma de funcionamento como metaacutefora ou metaacutefora
estendida para ilustrar ou narrar e) seu patente interesse pela mensagem das paraacute-
bolas como um meio para se chegar ao que Jesus disse originalmente O estorva-
ram grandemente f) este mesmo interesse patente o estorvaram tambeacutem de explo-
rar a interaccedilatildeo dinacircmica entre o texto e o inteacuterprete sua forte ecircnfase eacute no ouvinte
original de Jesus natildeo evidencia esforccedilo para o leitor atual51
Certamente como afirmou Perrin as pesquisas de Jeremias satildeo a base para
um nuacutemero expressivo de pesquisadores contemporacircneos sobre as paraacutebolas de
Jesus No entanto deve se observar que na contemporaneidade outras metodolo-
gias continuam surgindo
23 Periacuteodo Contemporacircneo
A criacutetica da forma e posteriormente a criacutetica da redaccedilatildeo foram as metodolo-
gias que dominaram a pesquisa das paraacutebolas na modernidade No entanto seu uso
expressivo jaacute desde a modernidade teve limitaccedilotildees Outras abordagens comeccedila-
49
KISSINGER W S The parables of Jesus A History of Interpretation and Bibliography Lon-
don The Scarecrow Press 1979 p 134-138 50
Cf PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976
p 101 51
Cf Ibid p 105-106 Similar criacutetica eacute feita por THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico
Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 quando observam sobre os dois problemas das abordagens
contextualizantes
19
ram a surgir na modernidade e continuam surgindo na contemporaneidade (para
os devidos efeitos seratildeo considerados aqui somente as seis uacuteltimas deacutecadas)
231 A nova criacutetica literaacuteria
A nova criacutetica literaacuteria52
eacute uma reaccedilatildeo ao meacutetodo criacutetico histoacuterico e compre-
ende o texto como literatura isto eacute ldquoo texto em si mesmo eacute objeto uacutenico de inves-
tigaccedilatildeo [] tem vida em si mesmo independentemente de seu contexto original
[] eacute autocircnomo tem seu significado proacuteprio deve ser interpretado exclusivamen-
te em seus proacuteprios termosrdquo53
Assim para Perrin por exemplo um texto eacute aberto
e apresenta diferentes interpretaccedilotildees em diferentes situaccedilotildees e a intenccedilatildeo original
do autor o significado original que o autor deu ao texto natildeo eacute determinativo para
uma interpretaccedilatildeo futura54
no entanto observa que a natureza do texto como texto
deve ser respeitada a fim de se evitar a alegoria no caso das paraacutebolas55
Para alguns estudiosos esta metodologia tem levado alguns agrave alegorizaccedilatildeo
das paraacutebolas Stein observa que a nova criacutetica literaacuteria conduziu a todo tipo de
abuso do texto por meio da alegorizaccedilatildeo e alguns dos mais recentes tratamentos
criacuteticos literaacuterios das paraacutebolas ressurgem Oriacutegenes da morte como um existencia-
lista do seacuteculo vinte56
Esta postura eacute endossada por Parsons ao afirmar que haacute
uma tendecircncia de alegorizar por parte dos criacuteticos literaacuterios57
Stein ainda observa
que uma abordagem somente literaacuteria seraacute sempre menos satisfatoacuteria como um
meacutetodo para interpretar as paraacutebolas58
Na praacutetica da pesquisa das paraacutebolas os
proponentes desta metodologia a aplicam em conjunto com outra e uma delas eacute a
Nova Hermenecircutica
52
PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Pers-
pectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 149 identifica esta metodologia
com a anaacutelise narrativa 53
BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Diction-
ary v 1 London Yale University Press p 734 54
Cf PERRIN N Historical Criticism Literary Criticism and Hermeneutic The Interpretation of
the parables of Jesus and the Gospel of Mark today The Journal of Religion Chicago v 52 n 4
p 361-375 1972 p 367 55
Cf Ibd p 370 56
STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press
1981 p 69 57
PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation Per-
spectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 150 58
STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p
248-257 1985 p 257
20
232 Nova hermenecircutica59
Esta abordagem tem ganhado espaccedilo na pesquisa sobre as paraacutebolas Ernst
Fuchs e Gerhard Ebeling satildeo dois dos grandes nomes desta corrente A abordagem
enfatiza a subjetividade na interpretaccedilatildeo buscando superar a distinccedilatildeo tradicional
entre o inteacuterprete (sujeito) e o texto (objeto) atraveacutes da fusatildeo de horizontes do
texto e o inteacuterprete60
Esta ferramenta trouxe novos enfoques sobre as paraacutebolas
Perrin observa que ldquoo caminho para uma compreensatildeo alternativa e nova das pa-
raacutebolas de Jesus foi pavimentada pela Nova Hermenecircuticardquo61
Um dos enfoques
da Nova Hermenecircutica eacute uso do termo metaacutefora a ferramenta enfatiza a impor-
tacircncia do termo e o coloca em oposiccedilatildeo direta com a alegoria62
Outro enfoque que se pode destacar da Nova Hermenecircutica eacute a forte influ-
ecircncia da filosofia muitos autores (eg Ernst Fuchs Eberhard Juumlngel Hans We-
der Eta Linnemann) interpretam as paraacutebolas como evento linguiacutestico dinacircmico63
ldquoRobert Funk e Amos Wilder ligaram a paraacutebola mais estritamente com metaacutefora
e Dominic Crossan chegou a propor as paraacutebolas como um lsquoanti-mitorsquo que quebra
a expectativa de mito estabelecido normalrdquo64
Estes novos enfoques suscitaram
criacuteticas
Blomberg afirma que ldquoa nova hermenecircutica descreve o que as paraacutebolas fa-
zem mais do que elas significamrdquo65
Bomblerg ainda observa que a nova compre-
ensatildeo ou metaacutefora eacute fundamentalmente enganosa por pelo menos algumas ra-
zotildees66
Estes aspectos relacionam a Nova Hermenecircutica diretamente com outra a-
bordagem o existencialismo Muitos dos autores que advogam uma adotam a
59
Esta nomeclatura eacute usada pelos pesquisadores nos EUA os pesquisadores alematildees a denominam
simplesmente por Hermeneutik (cf KISSINGER W S The Parables of Jesus A History of
Interpretation and Bibliography London The Scarecrow Press 1979 p 173) 60
Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990
p 134 135 61
PERRIN N Jesus and the Language of the Kingdom Philadelphia Fortress Press 1976 p
110-126 62
Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990
p 135 63
Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 346 64
HENAUT B W Oral Tradiction and Gospels the problem of Mark 4 Sheffield Sheffield
Press 1993 p 193 65
BLOMBERG C opcit p 137 66
Cf BLOMBERG C opcit p 139-144
21
outra67
Dan Via por exemplo expressou menos interesse na voz do Jesus histoacuteri-
co procurando uma compreensatildeo de vida atraveacutes de uma leitura existencial das
paraacutebolas68
Para o mesmo autor Jesus natildeo deu informaccedilatildeo sobre Sua situaccedilatildeo
mas uma compreensatildeo das possibilidades de existecircncia que Sua situaccedilatildeo trouxe69
Outra abordagem similar a estas que tambeacutem prioriza o texto em si eacute a criacutetica esteacute-
tica
233 Criacutetica esteacutetica
Tambeacutem designada como criacutetica retoacuterica esteacutetica70
a criacutetica esteacutetica se asse-
melha em muitos pontos com as abordagens anteriores Foi Amos N Wilder (com
a obra Early Christian rhetoric 1964) que introduziu mais efetivamente esta a-
bordagem agrave pesquisa das paraacutebolas nos EUA71
Esta abordagem entende a paraacutebo-
la como elemento puramente esteacutetico e autocircnomo que natildeo aponta para nada fora
dela seu sentido estaacute no contato dos elementos inter-relacionados da narraccedilatildeo
Elas podem ser entendidas fora de sua situaccedilatildeo original e tambeacutem de seu autor72
Scott afirma que a estrutura de superfiacutecie de uma paraacutebola eacute composta pela
performance dos evangelistas e a estrutura originadora e que prestando atenccedilatildeo agrave
algumas caracteriacutesticas literaacuterias (eg recursos mnemocircnicos quiasmos jogos de
palavras) pode se perceber como a estrutra originadora oscilou desde a liacutengua ateacute
o atual discurso73
Assim para se chegar ao efeito original de uma paraacutebola e sua
estrutura originadora das atualizaccedilotildees eacute necessaacuterio uma descontextualizaccedilatildeo
radical do contexto dos Evangelhos e da histoacuteria interpretativa74
Estas posturas
confirmam a relaccedilatildeo desta abordagem com as citadas anteriormente
67
Eg FUCHS E Studies of the Historical Jesus Napperville A R Allenson 1964 p 23
213-228 LINNEMANN E Parables of Jesus introduction and exposicion London
SPCK1966 68
VIA Jr D O The Parables Philadelphia Fortress 1967 (cf SNODGRASS K A Hermeneutic
of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 61-62) 69
Ibid p46 94 185 (cf SNODGRASS K opcit p 61-62) 70
Cf GOWLER D B What they are Saying about the Parables New York Paulist Press
2000 p 16 71
STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p
248-257 1985 p 254 72
Cf VIA Jr D O Die Gleichnisse Jesu Ilre Literarische und Existentielle Dimension Kaiser
Verlag Muumlnchen 1970 apud THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola
2002 p 347 73
SCOTT B B Hear then the Parable Minneapolis Fortress Press 1990 p 74-75 74
Cf Ibid p 189-202 apud THEISSEN G MERZ A O op cit p 347
22
Theissen amp Merz observam que Robert W Funk Dan O Via John D
Crossan e Bernard B Scott satildeo devedores da hermenecircutica existencial na
interpretaccedilatildeo das paraacutebolas que se baseia na metaacutefora e modifica a existecircncia
Eles veem as paraacutebolas como obras literaacuterias autocircnomas e que contecircm mensagens
que contradizem as posturas religiososas estabelecidas Estes autores apresentam
esta postura devido a seu interesse estritamente cientiacutefico-literaacuterio e estrutural nas
paraacutebolas75
Esta postura certamente apresenta muitas limitaccedilotildees na compreensatildeo
das paraacutebolas por desconsiderar a contribuiccedilatildeo de outras metodologias como por
exemplos os elementos histoacutericos visto que as paraacutebolas natildeo surgiram no vaacutecuo
Outra metodologia que tambeacutem tem seu foco excessivo no texto similar a esta eacute
o estruturalismo
234 Estruturalismo
O estruturalismo se caracteriza como uma metodologia estritamente sincro-
nista ldquoque envolve uma combinaccedilatildeo da teoria linguiacutestica e pesquisa antropoloacutegi-
cardquo de Claude Leacutevi-Strauss76
O objetivo desta metodologia ldquoeacute a estrutura profun-
da que estaacute codificada dentro do proacuteprio texto A preocupaccedilatildeo eacute com a estrutura
linguiacutestica do texto natildeo com a mensagem que a linguagem transmiterdquo77
Ela se
interessa ldquoprimariamente com a estrutura profunda do significado que repousa
abaixo da superfiacutecie de uma narrativardquo78
Por isto de acordo com os estruturalistas
natildeo haacute salvaccedilatildeo fora do texto79
Eacute com estes instrumentos que o estruturalismo
analisa as paraacutebolas
Blomberg destaca algumas implicaccedilotildees do estruturalismo sobre a autentici-
dade e interpretaccedilotildees das paraacutebolas a) muitas anaacutelises estruturalistas tecircm discer-
nido padrotildees de narrativas que acredita-se caracterizar as paraacutebolas autecircnticas de
Jesus Divergecircncias destes padrotildees tomaram certas paraacutebolas como suspeitas de
natildeo autecircnticas b) uma anaacutelise estruturalista mais cuidadosa realccedila o argumento
para a autenticidade das paraacutebolas c) algumas anaacutelises estruturais oferecem uma
75
Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 347 76
Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-
tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 77
Ibid p 735 78
STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press
1981 p 65 79
Cf BAIRD W opcit p 735
23
forma uacutetil de classificar as paraacutebolas e) muitos estudos estruturalistas das
paraacutebolas se focam em outras questotildees a mais popular eacute a anaacutelise actancial80
Al-
guns autores poreacutem chamam atenccedilatildeo para as limitaccedilotildees da metodologia
Os autores apontam como limites do estruturalismo os seguintes pontos a)
perde de vista o contexto histoacuterico no qual a paraacutebola foi proferida e apresenta
tendecircncias alegorizantes81
b) o fim aberto significa que o sentido da paraacutebola natildeo
eacute determinado pela intenccedilatildeo original de Jesus82
c) rejeita a possibilidade da reve-
laccedilatildeo transcendente e a verdadeira liberdade pessoal83
d) eacute dialeacutetico quando pro-
cura identificar oposiccedilotildees no texto e como elas satildeo mediadas e superadas84
Por
conta destas limitaccedilotildees duas outras abordagens surgiram como reaccedilatildeo ao estrutu-
ralismo nominalmente o desconstrutivismo e a resposta do leitor
235 Desconstrutivismo
Juntamente com a resposta-do-leitor o desconstrutivismo tem sido designa-
do como poacutes-estruturalismo pois ldquose originaram em repuacutedio direto de certos prin-
ciacutepios chave do estruturalismo [hellip] ambos rejeitam as reivindicaccedilotildees do estrutu-
ralismo [que busca] encontrar significado objetivo no textordquo85
O propoacutesito do
desconstrutivismo eacute gerar conflitos de significado do mesmo texto e jogar esses
significados um com outro para mostrar como cada peccedila do escrito finalmente se
desconstroacutei ou se enfraquece a si mesmo86
Alguns autores de forma mesclada
com outras abordagens tecircm aplicado esta abordagem no estudo das paraacutebolas
Segundo Blomberg87
John Dominic Crossan tem adotado muitos meacutetodos
literaacuterios em suas obras incluindo o desconstrutivismo visto que alguns de seus
conceitos sobre as paraacutebolas como por exemplo o de que as paraacutebolas subvertem
o mundo expressam essa abordagem O desconstrutivismo tambeacutem estaacute presente
em sua ideia quando define que as paraacutebolas satildeo ldquoparadoxos formados na histoacuteria
80
Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p
146-149 81
STEIN R H An Introduction to the Parables of Jesus Philadelphia Westminster Press
1981 p 69 82
Ibid p 69 83
Cf BLOMBERG C opcit p 145 84
Cf Ibid p 145 85
Cf Ibid p 152 86
Ibid p 153 87
Ibid p 153
24
efetuando reversotildees simples ou duplas das expetactivas mais profundas da audi-
ecircnciardquo88
A postura desconstrutivista de Crossan eacute muito mais expliciacuteta em sua
anaacutelise sobre a paraacutebola do semeador e em sua discussatildeo da interpretaccedilatildeo poliva-
lente (multifacetada)89
Como ocorre com outras metodologias o desconstrutivis-
mo apresenta suas limitaccedilotildees
Stein afirma que o desconstrutuvismo rejeita a situaccedilatildeo histoacuterica em que o
texto foi produzido a transmissatildeo do texto a histoacuteria de sua interpretaccedilatildeo90
e ten-
de a reduzir o significado de toda literatura para verdades antropoloacutegicas univer-
sais91
Blomberg observa que a criacutetica descontrutivista inevitavelmente mina a si
mesma e tambeacutem natildeo acredita que a realidade seja entidade objetiva para ser to-
mada seriamente92
Como jaacute observado acima outra reaccedilatildeo ao estruturalismo se-
melhante a esta eacute a resposta-do-leitor
236 Resposta-do-leitor
A nomeclatura desta abordagem naturalmente indica a sua ecircnfase o leitor
Esta abordagem estabelece que ldquopelo menos uma parte do significado do texto eacute
criado pelo leitor durante o processo de interaccedilatildeo com o texto frequentemente em
conjunto com abordagens preacutevias agrave obra que o leitor estaacute familiarizadordquo93
Baird
observa que esta abordagem susteacutem que o autor impliacutecito manipula o leitor real a
fim de que este reaja e se torne como o leitor impliacutecito (ou ideal)94
A leitura nesta abordagem ldquonatildeo eacute estaacutetica se move atraveacutes do texto numa
sequecircncia de tempo e este processo temporal e sequencial envolve antecipaccedilatildeo
reflexatildeo e diaacutelogordquo95
por conseguinte eacute uma leitura que ldquoenfatiza a subjetividade
88
Cf CROSSAN J D Raid on the Articulate Comic Eschatology in Jesus and Borges New
York Harper amp Row 1976 p 98 apud BLOMBERG C opcit p 153 89
Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p
150 90
Cf STEIN R The Parables of Jesus in Recent Study Word amp World Minnesota v 5 n 3 p
248-257 1985 p 252 91
Cf Ibd p 254 92
Cf BLOMBERG C op cit p 154 93
Ibid p 155 94
Cf BAIRD W New Testament Criticism In FREEDMAN D N The Anchor Bible Dic-
tionary v 1 London Yale University Press 1992 p 735 95
Ibid p 735
25
da interpretaccedilatildeordquo96
Esta postura eacute observada em muitos autores quando analisam
as paraacutebolas
Segundo Plummer alguns criacuteticos resposta-do-leitor e tambeacutem esteacuteticos
por exemplo Via97
tomam as paraacutebolas como tendo um significado dinacircmico
produzindo vida polivalente nela mesma isto eacute as paraacutebolas podem significar o
que o leitor quiser que elas signifiquem98
Susan Wittig advoga por uma aplicaccedilatildeo
combinada do estruturalismo e a resposta-do-leitor no estudo das paraacutebolas99
e
Tolbert tambeacutem pende para esta linha100
Com tal postura esta abordagem eacute alvo de algumas criacuteticas Plumer observa
que esta abordagem insiste em ler as paraacutebolas agrave parte de seu contexto histoacuteri-
co101
Blomberg informa que esta abordagem alega que o significado natildeo repousa
tanto na intenccedilatildeo do autor original nem no que o texto diz atualmente mas sim na
escolha que o inteacuterprete faz102
Parson afirma que ela cria espaccedilo para muacuteltiplas
interpretaccedilotildees das paraacutebolas103
e Blomberg ainda afirma que a aplicaccedilatildeo desta
abordagem agraves paraacutebolas assemelha-se em algumas formas ao desconstrutivismo
especificamente sua abertura agrave alegoria104
Outras abordagens com foco nas paraacute-
bolas tecircm surgido na contemporaneidade
237 Outras abordagens
96
BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove Ill InterVarsity Press 1990 p
155 97
VIA D O The parables Their Literacy and Existencial Dimension Philadelphia Fortress
1967 98
Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical Guide-
lines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 O proacuteprio
Via declara em sua obra que usa uma metodologia baseada na hermenecircutica existencialista e
anaacutelise literaacuteria (cf VIA Jr D O The Parables Their Literary and Existencial Dimension
Philadelphia Fortress 1967 p ix) 99
WITTIG S Meaning and Modes of Signification Toward a Semiotic of the Parable In
PATTE D (Ed) Semiology and Parables Pittsburgh Pickwick 1976 p 319ndash47 A Theory of
multiple Meanings Semeia v 9 p 75ndash103 1977 (cf BLOMBERG C opcit p 159) 100
TOLBERT M A Perspectives on the Parables An Approach to Multiple Interpretations
Philadelphia Fortress 1979 p 68ndash72 apud BLOMBERG C opcit p 159 101
Cf PLUMMER R Parables in the Gospels History of Interpretation and Hermeneutical
Guidelines Souther Baptist Journal of Theology Louisville v 13 n 3 p 4-11 2009 p 6 102
Cf BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p
155 103
Cf PARSONS M C Allegorizing Allegory Narrative Analysis and Parable Interpretation
Perspectives in Religious Studies v 15 n 2 p 147-164 1988 p 159 104
Cf BLOMBERG C op cit p 155
26
Muitas outras abordagens surgiram no cenaacuterio da pesquisa sobre as paraacutebo-
las Destas podem se mencionar a abordagem histoacuterica social ou simplesmente
social que tem como representante expressiva Luise Schottroff105
Similar a esta eacute
a abordagem socioloacutegica-cultural-antropoloacutegica principalmente nas paraacutebolas que
tecircm toacutepicos sobre economia106
Theissen amp Merz informam sobre uso da compre-
ensatildeo homileacutetica das paraacutebolas107
Fala-se tambeacutem da anaacutelise psicoloacutegica na paraacute-
bola do filho proacutedigo108
Haacute tambeacutem uma rede interpretativa da economia Marxis-
ta na qual Jesus se torna um oponente expliacutecito do capitalismo109
Khatry observa
que alguns estudiosos tecircm proposto que algumas paraacutebolas poderiam ser explica-
das como midrash em passagens do AT110
Esta vasta proposta metodoloacutegica interpretativa sobre as paraacutebolas comeccedila-
do no periacuteodo patriacutestico e chegando agrave contemporaneidade demonstra que o cam-
po de estudos sobre as paraacutebolas eacute dinacircmico composta por vaacuterios tipos de propos-
tas
3
Exegese de Mc 410-12
105
SCHOTTROFF L As paraacutebolas de Jesus uma nova hermecircutica Satildeo Leopoldo Sinodal
2007 106
BLOMBERG C Interpreting the Parables Downers Grove InterVarsity Press 1990 p 161
nota 73 apresenta uma lista de autores que usam esta metodologia TIDBALL D An Introducti-
on to the Sociology of the New Testament Exeter Paternoster 1983 (=The Social Context of
the New Testament Grand Rapids Zondervan 1984) Cf MALINA B J Christian Origins
and Cultural Anthropology Atlanta John Knox 1986 HARRINGTON D J Second Testament
Exegesis and the Social Sciences A Bibliography Biblical Theology Bolletin v 18 p 77ndash85
1988 este uacuteltimo apresenta bibliografia detalhada 107
Cf THEISSEN G MERZ A O Jesus histoacuterico Satildeo Paulo Loyola 2002 p 349 108
BLOMBERG C opcit p 161 indica os seguintes autores BOVON F The Parable of the
Prodigal Son Luke 1511ndash32 Read by an Analyst In BOVON F ROUILLER G (Eds)
Exegesis Problems of Method and Exercises in Reading (Genesis 22 and Luke 15) Pittsburgh
Pickwick 1978 p 197ndash210 VIA D O Via The Prodigal Son A Jungian Reading Semeia v 9
p 21ndash43 1977 The Parable of the Unjust Judge A Metaphor of the Unrealized Self In
PATTE D (Ed) Semiology and parables Oregon Pickwick 1976 p 1ndash32 109
BLOMBERG C opcit p 161 nota 75 indica os seguintes autores BELO F A materialist
reading of the Gospel of Mark Maryknoll Orbis 1981 p 185ndash86 CASSIDY R J Jesus poli-
tics and society Maryknoll Orbis 1978 TALBERT C H Martyrdom in Luke-Acts and the
Lukan social ethic In CASSIDY R J SCHARPER P J (Eds) Political Issues in Luke-Acts
Maryknoll Orbis 1983 p 99ndash110 110
KHATRY R The Autenticity of the Parables of the Wheat and Tare and its
Interpreattios 1991 276p Monografia (Tese) ndash Council for National Academic Awards Reino
Unido1991 p 6 lista os seguintes autores que propotildeem esta leitura FORD J M The Parable of
the Foolish Scholars 1967 SANDERS J A The Ethic of Election in Lukeacutes Great Banquet
Parable In CRENSHAW J L WILLIS J T (Eds) Essays in Old Testament Ethics Michi-
gan Ktav1974 DERRETT J D Law in the New Testament 1970
27
Neste capiacutetulo seratildeo abordados os aspectos internos e externos do texto
Primeiramente seratildeo descritas de forma resumida as questotildees introdutoacuterias do
Evangelho de Marcos isto eacute conteuacutedo autoria local data destinataacuterios propoacutesi-
to gecircnero estilo e teologia Estas questotildees ajudaratildeo na contextualizaccedilatildeo da uni-
dade em estudo Apoacutes estes aspectos externos se analisaratildeo os aspectos internos
Assim primeiramente se procederaacute com a segmentaccedilatildeo da unidade e traduccedilatildeo em
seguida se observaratildeo as questotildees de criacutetica textual a seguir a delimitaccedilatildeo da uni-
dade e sua verificaccedilatildeo a estrutura da mesma a organizaccedilatildeo do texto e o contexto
literaacuterio-teoloacutegico da unidade
31 O texto e o contexto
Antes de analisar o texto faz-se necessaacuterio situar o texto dentro de seu con-
texto isto eacute questotildees preacutevias A respeito das questotildees introdutoacuterias111
referentes
ao evangelho de Marcos os autores apresentam opiniotildees diferentes e abertas ateacute a
presente eacutepoca Em resumo o evangelho de Marcos enfatiza os relatos sobre os
feitos de Jesus A questatildeo relacionada agrave autoria do evangelho de Marcos permane-
ce aberta Em nenhuma parte do Evangelho o autor eacute indicado poreacutem muitas ten-
decircncias ainda pendem para a tradiccedilatildeo de que seja Joatildeo Marcos
111
Para uma discussatildeo sobre as questotildees introdutoacuterias de Marcos ver HAGNER D A The New
Testament A Historical and Theological Introduction Grand Rapids Baker Academic 2012 p
163-186 HOLLADAY C R A Critical Introduction to the New Testament Interpreting the
Message and Meaning of Jesus Christ Nashville Abingdon 2005 p 146-180 MARTIN D B
New Testament History amp Literature SCHREINER J DAUTZENGERG G Forma e exigecircn-
cia do Novo Testamento Satildeo Paulo Paulinas 1977 CRANFILED C E B The Gospel Ac-
cording to Mark Cambridge Cambridge University Press 1959 TENNEY M C O Novo Tes-
tamento sua origem e anaacutelise Satildeo Paulo Vida Nova 1995 p 163-176 COMBET-GALLAND
C O Evangelho segundo Marcos in MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria
escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola 2009 p 45-78 MARIE L E LANGRAGE J Eacutevangele
selon Sant Marc Paris Librairie 1947 p xvi-xix CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Tes-
tamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 29-34 BRUCE F F Merece confianccedila o Novo Tes-
tamento Satildeo Paulo Vida Nova 2010 p 45-54 DELORME J Leitura do Evangelho segundo
Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 7-12 WINN A The Purpose of Markacutes Gospel
Tubingen Mohr Siebeck 2008 ROSKAM H N (Ed) The Purpose of the Gospel of Mark in
its Historical and Social Context Leiden Brill 2004 CROSSLEY J G The Date of Markacutes
Gospel Insight from the Law in Earlister Christianity London T amp T Clark International 2004
MANN C S O Mark New York Doubleday 1986 p 72-83 STEIN R H Mark Grand
Rapids Baker Academic 2008 p 1-37 MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca
Siacutegueme 2010 p 31-106 EDWARDS J R The Gospel According to Mark Grand Rapids
William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] BENOIT P BOISMARD ME MALILLOS J L
Sinopsis de los Cuatro Evangelios Tomo II Bilbao Desclee de Brouwer 1977 p 15-34
28
Para alguns natildeo haacute objeccedilatildeo seacuteria para tal questionamento112
Essa incerteza
referente ao autor tambeacutem se nota quanto ao local Natildeo haacute unanimidade desde os
pais da igreja ateacute os tempos atuais Locais como Antioquia Cesareia Galileia
Siacuteria e Transjordacircnia tecircm sido sugeridos poreacutem a alternativa mais indicada tem
sido Roma A falta de unanimidade tambeacutem estaacute presente com maior grau na
determinaccedilatildeo da data Muitas propostas tecircm sido apresentadas ldquotem se atribuiacutedo a
Marcos datas de quatro deacutecadas diferentes os anos quarenta os anos cinquenta
os anos sessenta e os anos setentardquo113
uma harmoniosa conclusatildeo estaacute longe de
ser alcanccedilada
O puacuteblico alvo de Marcos satildeo cristatildeos vindos do paganismo isto eacute eacutetnico-
cristatildeos sem se excluir uma minoria judeu-cristatilde114
A identificaccedilatildeo do objetivo
do Evangelho de Marcos tambeacutem apresenta inuacutemeras identificaccedilotildees Eacute possiacutevel
mencionar de forma resumida ldquotrecircs interpretaccedilotildees tiacutepicas a primeira concentra-se
na escatologia a segunda na cristologia e a terceira na apologeacuteticardquo115
portanto
a afirmativa de abertura do Evangelho destaca o principal objetivo
Quanto ao gecircnero Marcos pode se dizer que eacute um evangelho116
certamente
alguns outros gecircneros secundaacuterios estatildeo contidos no livro de forma menos expres-
siva Seu estilo eacute despretensioso e proacuteximo do grego comum da eacutepoca117
ldquomila-
greiro clarividente exorcista poderosos em sinais e palavras de Jesusrdquo118
Desta-
cam-se ainda suas narrativas histoacutericas e curtas Quanto agrave teologia Marcos apre-
senta diversos temas portanto desde o princiacutepio fica claro que o tema central e
dominante eacute a cristologia119
do qual os demais temas estatildeo relacionados Feita
esta apresentaccedilatildeo resumida das questotildees preacutevias ao texto que permitem uma
112
Cf CULLMAN O A formaccedilatildeo do Novo Testamento Satildeo Leopoldo Sinodal 1979 p 30
MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY
R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 58-64
LANE W L L The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 7-28 113
CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento Satildeo Paulo Vida
Nova 1997 p 108-112 114
Cf MONASTERIO R A Evangelhos Sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos Satildeo Paulo Ave-
Maria 2000 p 163 DELORME J Leitura do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo
Paulus 1982 p 10 115
CARSON D A MOO D J MORRIS L opcit p 113 116
Cf KUumlMMEL W G FEINE P BEHM J Introduccedilatildeo ao Novo Testamento 4 ed Satildeo Pau-
lo Paulus 2009 p 97 117
Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Saint Mark Cambridge Cambridge
University Press 1959 p 20 118
Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo Editor 2004 p 17 119
Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 21
29
compreensatildeo melhor do mesmo faz-se necessaacuterio avanccedilar para outros passos da
exegese propriamente dita
32 Segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo
O procedimento exegeacutetico comeccedilaraacute com a segmentaccedilatildeo e traduccedilatildeo do tex-
to A segmentaccedilatildeo do texto em unidades semacircnticas menores seraacute baseada em
frases verbais e nominais Se torna necessaacuterio a segmentaccedilatildeo ldquoPorque as palavras
falam e suscitam atitudes Tudo no texto eacute elemento de comunicaccedilatildeo com o ou-
vinte-leitor [hellip] as partes recebem do conjunto seu horizonte de compreensatildeo
[hellip] o todo do texto eacute composto pelo belo mosaico das palavras e da relaccedilatildeo das
palavras entre sirdquo120
assim segue o texto segmentado e traduzido
Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας 10a e quando se encontrou121
sozinho
ἠρώτων αὐτὸν 10b indagavam-lhe
οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα τὰς
παραβολάς
10c os que [estavam]122
ao redor dele
com os doze [a respeito]123
das
paraacutebolas
καὶ ἔλεγεν αὐτοῖς 11a e dizia para eles
ὑμῖν τὸ μυστήριον δέδοται τῆς
βασιλείας τοῦ θεου
11b para voacutes o misteacuterio do Reino de
Deus tem sido dado124
ἐκείνοις δὲ τοῖς ἔξω ἐν παραβολαῖς
τὰ πάντα γίνεται
11c mas para aqueles aos de fora em
paraacutebolas todas coisas
120
GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do
estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 19 121
Uma traduccedilatildeo literal da frase verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο κατὰ μόνας (10a) poderia ser lsquoe quando se
tornou por sozinhorsquo ou lsquoe quando fez-se por soacutersquo portanto esta traduccedilatildeo natildeo faria muito sentido na
liacutengua de chegada A traduccedilatildeo lsquoficoursquo para o verbo ἐγένετο (10a) tambeacutem eacute cabiacutevel visto se tratar
de um verbo meacutedio depoente na forma mas ativo no significado (cf ZERWICK M Il Greco nel
Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p 105 BLASS F
DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-
erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 307) 122
O verbo εἶναί pode ser omitido no NT (cf BLASS F DEBRUNNER A opcit sect 127) 123
Este complemento estaacute ausente no texto poreacutem o verbo ἠρώτων (10a) requer tal complemento
que completa o sentido de toda estrutura do v 10 124
Visto que o perfeito ldquodenota continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo completadardquo (cf BLASS F
DEBRUNNER A opcit p 175 ZERWICK M opcit p 128 ROBERTSON AT A
Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research London Hodder
amp Stoughton 1919 (Logosbible 2006 p 893) optou-se por esta equivalecircncia do perfeito compos-
to na voz passiva
30
acontecem125
ἵνα βλέποντες βλέπωσιν 12a a fim de que vendo vejam
καὶ μὴ ἴδωσιν 12b mas126
natildeo notem
καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν 12c e ouvindo ouccedilam
καὶ μὴ συνιῶσιν 12d mas natildeo compreendam
μήποτε ἐπιστρέψωσιν 12e a fim que natildeo se convertam127
καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς 12f e seja-lhes perdoado
33 Criacutetica Textual
As questotildees sobre a criacutetica textual envolvendo a periacutecope sob estudo natildeo a-
fetam de certa forma profundamente o texto Talvez seja este o motivo que o
Textual commentary o the greek New Testament128
natildeo ter dedicado nenhuma dis-
cussatildeo textual sobre essa periacutecope e embora a criacutetica textual jaacute esteja descrita no
aparato das ediccedilotildees criacuteticas ainda assim a mesma seraacute apresentada a fim de apre-
sentar as justificativas que levaram a preferecircncia do texto apresentado e natildeo as
leituras variantes
A primeira variante na periacutecope aparece no v10 Onde a maioria da tradiccedilatildeo
lecirc περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) os maiuacutesculos D W Θ e os minuacutesculos f12
28 565 2542 e as versotildees it sirs e Or
lat leem μαθηταὶ αὐτοῦ A variante talvez
traga uma implicaccedilatildeo exegeacutetica pois a leitura μαθηταὶ αὐτοῦ lsquodisciacutepulos delersquo
levanta uma pergunta μαθηταὶ se refere somente aos doze ou considerar tambeacutem
οἱ περὶ αὐτὸν (10b) lsquoos [que estavam] ao redor delersquo 129
Embora a leitura variante
125
Este tipo de construccedilatildeo de sujeito plural neutro com verbo singular eacute frequente no NT Visto
que o neutro se refere a coisas impessoais o verbo singular considera o sujeito como coletivo
Assim ambos devem ser traduzidos no plural (cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma
sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 399) 126
Visto que a conjunccedilatildeo καὶ aleacutem de ser copulativa tambeacutem pode marcar contraste ou adversida-
de (cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other
Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 227
ZERWICK M Il Greco nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 1997 p
185) optou-se traduzir a mesma por uma adversativa lsquomasrsquo A sintaxe e dinacircmica do texto indicam
que haacute um contraste estabelecido corroborando a ideia adversativa O mesmo ocorre em 12d 127
Literalmente lsquoretornemrsquo A inserccedilatildeo do elemento apassivador se deve a adaptaccedilatildeo de sentido
para a liacutengua de chegada 128
METZGER B M A Textual Commentary on the Greek New Testament 3th
London Uni-
ted Bible Societies 1971 p 83 129
Sobre este assunto ver o toacutepico 41
31
esteja dentro do criteacuterio lectio brevior = lectio potior deve haver cautela pois este
criteacuterio ldquonatildeo pode ser aplicado de forma mecacircnica ou automaacuteticardquo130
Visto que se trata de uma passagem com paralelos (Mc 410Mt 1310Lc
89) haacute que se lembrar que ldquoeacute antiquiacutessimo o afatilde de harmonizar e equilibrar os
lugares paralelosrdquo131
Quando outros criteacuterios satildeo levados em conta a fragilidade
da leitura variante eacute clara Observa-se que a leitura como consta no texto conteacutem
testemunhas mais antigas e melhor categorizadas para o Evangelho de Marcos
Observa-se ainda que a liccedilatildeo do texto tem a preferecircncia por ser a mais difiacutecil vis-
to que ldquoa anaacutelise dos manuscritos demonstra que a tendecircncia dos copistas era
sempre a de simplificar ou esclarecer o texto nunca de tornaacute-lo mais difiacutecilrdquo132
Assim tendo em conta todos esses fatores a probabilidade da leitura original re-
cai sobre a leitura como consta no texto
No mesmo versiacuteculo haacute outra variante que merece uma pequena observaccedilatildeo
Por um lado os maiacutesculos A K e os minuacutesculos f1 579 700 1241 1424 o Ucirc a
vgcl a sy
ph e uma testemunha da bo lecircem τὴν παραβολήν por outro lado a maio-
ria da tradiccedilatildeo apresentam τὰς παραβολάς (10c) A diferenccedila reside no nuacutemero
isto eacute uma eacute acusativo feminino singular (τὴν παραβολήν lsquoa paraacutebolarsquo) e a outra eacute
acusativo feminino plural (τὰς παραβολάς lsquoas paraacutebolasrsquo) Assim como na leitura
anterior esta pequena mudanccedila ocasiona certa implicaccedilatildeo exegeacutetica a pergunta
dos disciacutepulos se referia agrave paraacutebola do semeador apenas proferida na periacutecope
anterior De fato ao observar a estrutura maior verifica-se que apoacutes 410-12 Jesus
explica imediatamente a paraacutebola do semeador
Haacute talvez uma tentativa de arranjo intencional por parte do copista para ligar
a periacutecope especificamente agrave paraacutebola do semeador e sua explicaccedilatildeo (conjetura-se
apenas visto que natildeo haacute como demonstrar factualmente) No entanto consideran-
do as limitaccedilotildees das testemunhas (que apoiam a leitura variante qualidade inferi-
or categorias natildeo relevantes posteridade cronoloacutegica e a resposta equivalente
isto eacute a resposta no plural concorda com a pergunta no plural) a preferecircncia recai
sobre τὰς παραβολάς visto que suas atestaccedilotildees externas e internas satildeo mais fide-
dignas
130
ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB 2013 p 288 131
OacuteCALLAGHAN J Introducioacuten a la Criacutetica Textual del Nuevo Testamento Estella Verbo
Divino 2000 p 64 132
PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB
2012 p 185
32
Semelhante variante ocorre com leitura τις ἡ παραβολὴ αὐτή apoiada pelas
seguintes testemunhas D W Θ f13
28 565 2542 it Orlat
Esta leitura eacute contes-
tada por א B C L ∆ 892 vgst sy
s e co que apoacuteiam a leitura como consta no
texto que ganha preferecircncia de autenticidade pela melhor qualidade de suas tes-
temunhas (texto mais antigo melhor categoria apresenta um texto mais breve
sem tendecircncia de explicaccedilatildeo)
Os elementos de diferenccedila (o pronome indefinido τις o nominativo femini-
no singular ἡ παραβολή e o pronome pessoal feminino singular nominativo αὐτή)
provocam claramente desconcerto ao texto pois a) o pronome τις eacute um elemento
estranho ao texto que provoca falta de coesatildeo e coerecircncia b) a construccedilatildeo ἡ
παραβολή da pergunta que eacute singular natildeo concorda com a resposta de Jesus que
eacute plural παραβολαῖς (11c) c) o pronome αὑτή que eacute feminino eacute completamente
discordante ao seu referente αὐτὸν (10b 2x) que eacute masculino Embora apresente
uma compreensatildeo mais difiacutecil o criteacuterio da lectio difficilior natildeo pode ser aplicado
aqui porque a leitura natildeo eacute apenas difiacutecil mas muito difiacutecil Assim reafirma-se a
preferecircncia pela leitura do texto
As leituras variantes no v11 natildeo satildeo tatildeo relevantes a ponto de merecer uma
discussatildeo extensa Elas natildeo afetam o sentido do texto em nenhum aspecto133
Lei-
turas similares tambeacutem ocorrem no v12 As liccedilotildees que diferem do texto satildeo apoi-
adas por testemunhas de menor qualidade e de nuacutemero limitadiacutessimo e ainda
mostram graves problemas de concordacircncia A inserccedilatildeo τὰ ἁμαρτήματα αὐτῶν
apoacutes αὐτοῖς (12f) embora apresente numeroso apoio natildeo deve ter preferecircncia
pois o fato de ter uma quantidade maior de testemunhas natildeo indica necessaria-
mente preferecircncia134
Ademais as testemunhas que diferem desta leitura e apoiam
a leitura do texto satildeo melhor categorizadas e satildeo mais antigas Esta inserccedilatildeo ao
que tudo indica eacute uma clara tentativa de esclarecimento
133
A leitura εξωθεν apoiada somente por B e 1424 natildeo tem preferecircncia sobre ἔξω que tem apoio da
vasta tradiccedilatildeo Mesmo se admitida o sentido pretendido mantem-se pois ldquoἔξω eacute sinocircnimo de
ἔξωθενrdquo (cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical
Dictionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William D Eermans 1990 sect 19145) A
omissatildeo de τὰ (11c) em א D K W Θ 8 565 1424 e 2542 tem forte oposiccedilatildeo de A B C L ∆
f113
33 579 700 892 1241 Ucirc e bo Sua omissatildeo ou inclusatildeo no texto tambeacutem natildeo altera o senti-
do do mesmo E por fim a variante λεγεται (presind 3 sg mp) sustentada por D Θ 28 565
1424 2542 it e vgms
natildeo pode ter preferecircncia pela leitura conforme consta no texto devido que
apresenta testemunhos mais bem categorizados de texto mais antigo leitura mais dificil etc As-
sim assume-se a leitura do texto como a mais confiaacutevel 134
Cf COLWELL E C Studies in Methodology in Textual Criticism of the New Testament
Leiden Brill 1969 p 65
33
Conclui-se que a criacutetica textual da periacutecope sob estudo mostrou natildeo haver
problemas textuais de grande peso ou seja eacute um texto praticamente sem pro-
blemas de criacutetica textual Isto sugere que historicamente ao longo dos tempos a
tradiccedilatildeo transmitiu bem este texto Assim analisada a confiabilidade da periacutecope
em estudo passa-se a estudaacute-la do ponto de vista interno isto eacute sua constituiccedilatildeo
34 A constituiccedilatildeo do texto
A criacutetica textual demonstrou do ponto de vista documental que Mc 410-12
eacute um texto de transmissatildeo sadia O texto foi preservado nos melhores e bem cate-
gorizados manuscritos Estaacute presente nos manuscritos do IV seacuteculo e nos posterio-
res tambeacutem135
isto indica que estamos diante de um texto com altas probabilida-
des de confianccedila Estes fatores que dizem respeito agraves evidecircncias externas seratildeo
complementados pela constituiccedilatildeo do texto Assim faz-se necessaacuterio marcar o
iniacutecio e o fim devidamente para que se obtenha o sentido pretendido e natildeo diverso
da unidade bem como sua verificaccedilatildeo136
Estes satildeo os dois passos que seratildeo dados
a seguir
341 Delimitaccedilatildeo da periacutecope
A demarcaccedilatildeo de uma unidade textual eacute importante para a anaacutelise exegeacutetica
pois ldquotodo texto supotildee o desenvolvimento de um tema com seu princiacutepio seus
desdobramentos e a chegada a um ponto de repousordquo137
comunicando assim o que
pretende Faz-se tambeacutem necessaacuterio devido seu caraacuteter antoloacutegico saber qual eacute a
sua mensagem138
Os diversos indicadores dos limites de uma unidade textual
presentes na narrativa de Marcos indicam que 410-12 forma uma unidade literaacute-
ria Haacute no entanto algumas sugestotildees de demarcaccedilatildeo diferentes com um iniacutecio
no v11139
e com um final estendido ateacute o v13140
Poreacutem natildeo haacute razotildees para admi-
135
Ver PAROSCHI W Origem e transmissatildeo do Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB
2012 p 285-293 ALAND K ALAND B O Texto do Novo Testamento Satildeo Paulo SBB
2013 p 116-168 PARKER DC An Introduction to the New Testament Manuscripts and
their Texts Cambridge Cambridge University Press 2008 p 319-320 136
Cf LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 90 137
Ibid p 85 138
Cf SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Loyola
2000 p 79 139
Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328-330 e
MALLY E J Evangelio seguacuten san Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MURPHY
34
tir tais sugestotildees pois satildeo propostas sem motivos razoaacuteveis As mesmas apresen-
tam problemas de desorganizaccedilatildeo estrutural que exigiria muito artifiacutecio para reor-
ganizar a estrutura do todo como apresentada no texto
A extensatildeo do texto Mc 410-12 como unidade literaacuteria autocircnoma eacute distin-
guida por fatores que indicam como mudanccedila de personagens tempo assunto
gecircnero mudanccedila de linguagem discursiva para narrativa A variaccedilatildeo e mudanccedila
de personagens satildeo claras na narrativa Na periacutecope antecedente haacute uma multidatildeo
escutando Jesus (Mc 41) jaacute em Mc 410 haacute apenas a presenccedila de alguns poucos
οἱ περὶ αὐτόν mais os δώδεκα isto sugere uma reduccedilatildeo nos ouvintes de Jesus
aspecto enfatizado pelo adjetivo μόνας (10a)
Tambeacutem haacute uma indicaccedilatildeo cronoloacutegica na construccedilatildeo ὅτε ἐγένετο (10a)
composta por ὅτε uma conjunccedilatildeo temporal que denota o lsquoquandorsquo141
e daacute o tempo
da accedilatildeo142
e ἐγένετο um aoristo indicativo Isto indica que Jesus passou um tem-
po com a multidatildeo terminou e agora estava soacute com alguns e os doze Observa-se
tambeacutem que haacute diferenccedila nas temaacuteticas que circundam Mc 410-12 a temaacutetica
anterior eacute a paraacutebola do semeador que se conclui no v9 e a posterior que comeccedila
no v13 eacute a explicaccedilatildeo da paraacutebola do semeador No entanto natildeo se pode ignorar
a relaccedilatildeo entre as trecircs unidades
Outro elemento que indica os limites desta periacutecope eacute ldquoa mudanccedila de lin-
guagem discursiva para narrativa []rdquo que eacute ldquoeacute o caso de passagens como Mc 43-
9 (linguagem discursiva) seguida de Mc 410 (linguagem narrativa)rdquo143
que eacute se-
guida de um discurso direto (11b-12f) O que vem a seguir eacute novamente uma lin-
guagem narrativa (13a) seguida de uma linguagem discursiva que retoma e conti-
nua o assunto antes de 410
R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80-81
colocam o v 10 fora da periacutecope comeccedilando assim a marcar a demarcaccedilatildeo no v 12 estabelecen-
do a periacutecope como Mc 4 11-12 140
Eg BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 79-81 estende a unidade
inserindo o v13 na mesma demarcando a unidade como Mc 4 10-13 141
BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early
Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 237 142
WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo
Batista Regular do Brasil 2009 p 677 143
WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo
Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 86
35
Esta demarcaccedilatildeo tambeacutem eacute assumida pelas ediccedilotildees criacuteticas do Novo Testa-
mento como o Greek New Testament144
Novum Testamentum Graece (NestleA-
land)145
Greek New Testament (SBL Edition)146
Cambridge Greek Testament147
Novum Testament Graece148
A maioria dos autores tambeacutem delimita a periacutecope
da mesma forma149
Conclui-se portanto que natildeo haacute motivos para uma demarca-
ccedilatildeo diferente de Mc 410-12
Em seu conteuacutedo a periacutecope apresenta uma introduccedilatildeo no v10 que apre-
senta pontos de separaccedilatildeo e relaccedilatildeo com a periacutecope anterior e que tambeacutem intro-
duz o assunto a ser tratado isto eacute as paraacutebolas No v11 se relata como o misteacuterio
do Reino de Deus eacute apresentado aos disciacutepulos e aos de fora E no v12 se usa um
dito do profeta Isaiacuteas (69) sobre o motivo do por que falar em paraacutebolas Esta
pequena disposiccedilatildeo eacute mais bem compreendida quando se observa a estrutura do
todo
Deve-se observar no entanto que esta periacutecope em estudo faz parte de um
todo isto eacute estaacute inserida na estrutura maior (Mc 41-34) A inter-relaccedilatildeo e depen-
decircncia entre as pequenas unidades e o todo satildeo evidentes150
Haacute um tema que eacute
transversal a todas as unidades que compotildeem 41-34 o tema das paraacutebolas No
v34 haacute uma clara retomada e conclusatildeo sobre o assunto geral as paraacutebolas Uma
anaacutelise mais detalhada sobre a estrutura mostraraacute de melhor forma a organizaccedilatildeo e
funcionalidade da mesma
144
NESTLE-ALAND The Greek New Testament 5 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft
2014 145
Id Novum Testamentum Graece 28 ed Stuttgart Deutsche Bibelgesellschaft 2012 146
HOLMES M W (Ed) The Greek New Testament SBL Edition Lexham Press Society of
Biblical Literature (Logos Bible Software) 2013 147
CAMBRIDGE UNIVERSITY Cambridge Greek Testament Greek Text Cambridge
Cambridge University Press 2012 148
TISCHENDORF C Novum Testament Graece v 1 Lipsiae Giesecke amp Devrient 1869 149
Ver eg MANN CS Mark New York Doubleday 1986 p 262-265 LANE WLL The
Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1974 p 155-157 CULPEPPER R A
Mark Macon Smyth amp Helwys 2007 p 131-139 EDWARDS J R The Gospel According to
Mark Grand Rapids William B Eerdmans Publishing 2002 [SP] STEIN R H Mark Grand
Rapids Baker Academic 2008 p 191 150
Para uma completa abordagem sobre a estrutura e organizaccedilatildeo de Mc 4 1-34 ver FAY G
Introduction to incomprehension the literary structure of Mark 41-34 The Catholic Biblical
Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989
36
342 Verificaccedilatildeo da unidade
Analisando a unidade sob estudo verifica-se que natildeo haacute turbamento no de-
senvolvimento da temaacutetica Haacute suficientes elementos que indicam continuidade no
texto a) uma pergunta (v10) continuada em uma resposta (v11-12) b) os trecircs
versiacuteculos comeccedilam com conjunccedilatildeo elemento que enfatiza a continuidade (v10 e
11 Καὶ v12 ἵνα) visto que as conjunccedilotildees relacionam unidades de pensamento
entre si e tambeacutem expressam a inter-relaccedilatildeo das sentenccedilas e claacuteusulas151
c) a
conjunccedilatildeo ἵνα que indica o alvo de uma accedilatildeo e tambeacutem seu motivo152
indica que o
v12 eacute a conclusatildeo de uma accedilatildeo anterior (v10-11) d) ἵνα tambeacutem indica que toda
sentenccedila apoacutes ela eacute subordinada agrave sentenccedila anterior enfatizando a continuidade na
unidade Assim percebe-se do ponto de vista morfossintaacutetico que natildeo haacute nenhu-
ma dificuldade na compreensatildeo do texto como um todo o que implica ausecircncia de
turbamentos ou rupturas no texto Os aparentes turbamentos que apresentam certa
dificuldade ao texto satildeo de ordem de concordacircncia sintaacutetica O verbo γίνεται
(11c) 3ordf pessoa singular natildeo concorda em nuacutemero com seu sujeito τὰ πάντα
(11c) neutro plural isto eacute trata-se de um sujeito plural neutro com um verbo no
singular Portanto esta aparente falta de concordacircncia pode ser explicada De a-
cordo Wallace153
Embora falte concordacircncia nessas construccedilotildees elas satildeo frequentes De fato sujeito plural
neutro normalmente tem verbo singular Esse eacute um dos exemplos constructio ad sensum
(construccedilatildeo de acordo com o sentido em lugar de seguir a concordacircncia gramatical restri-
ta) Visto que o neutro geralmente se refere a coisas impessoais (incluindo animais) o ver-
bo singular considera o sujeito plural como um todo coletivo Deve-se traduzir o sujeito e o
verbo como plurais em lugar de traduzir somente este no singular
Blass-Debruner154
tambeacutem pontua que se trata de uma peculiaridade sintaacuteti-
ca do grego Assim percebe-se que este tipo de construccedilatildeo natildeo eacute estranha ao NT
Esta talvez se enquadre no modo de construccedilatildeo loacutegica da eacutepoca algo que se torna
estranho na construccedilatildeo loacutegica e sintaacutetica atual
151
Cf WALLACE D B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo
Paulo Batista Regular do Brasil 2009 p 667 BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar
of the New Testament and Other Early Christian Literature Cambridge Cambridge Univer-
sity Press 1961 sect 438 152
WALLACE D B opcit p 676 ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma
Pontificio Istituto Biblico 2010 sect 406 153
WALLACE D B op cit p 399 154
BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early
Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 132
37
Em suma esses aspectos indicam natildeo haver no texto oposiccedilotildees injustifica-
das interrupccedilatildeo no desenvolvimento do discurso presenccedila de tensotildees e interrup-
ccedilotildees na construccedilatildeo sintaacutetica presenccedila de duplicaccedilotildees diversidade estiliacutestica for-
tes presenccedila de fundo histoacuterico institucional ou religioso natildeo corrente com o tex-
to155
Assim eacute correto afirmar que se trata de uma unidade soacutelida e muito bem
delimitada O elemento de estilo diferente na mesma encontra-se no v12 portanto
eacute explicaacutevel pelo fato de se tratar do uso de fonte literaacuteria neste caso uma citaccedilatildeo
de Isaiacuteas 6910
343 Uso de fontes literaacuterias
A relaccedilatildeo literaacuteria dentro de toda Escritura eacute fato concreto principalmente
quando se considera Escritura como um todo Esse fator tambeacutem indica uma rela-
ccedilatildeo harmocircnica e contiacutenua entre o AT e o NT156
E ldquouma das ligaccedilotildees teoloacutegicas
entre o AT e NT satildeo as citaccedilotildees do NT de passagens do ATrdquo157
e assim o faz Mc
412 O uso de fonte literaacuteria estaacute presente de forma expliacutecita nesta unidade Trata-
se de uma fonte de procedecircncia biacuteblica Veterotestamentaacuteria Esta fonte constitui a
citaccedilatildeo que compotildee todo v12
Eacute um consenso de que a fonte usada eacute Is 6910158
Portanto ao se compara-
rem os textos se verificaraacute que a citaccedilatildeo natildeo eacute literal palavra por palavra pois
155
Estes indicativos satildeo retirados de SIMIAN-YOFRE H (coord) Metodologia do Antigo Tes-
tamento Satildeo Paulo Loyola 2000 BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011
p 81-83 156
Cf EICHRODT W Theology of the Old Testament v 1 Philadelphia Westminster Press
1960 p 26-27 Von RAD G Teologia do Antigo Testamento v 1 e 2 Satildeo Paulo
ASTETARGUMIM 2006 p 783-835 ROWLEY H H The Unity o the Bible London 1953
(apud HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo
Paulo Academia Cristatilde 2012 p 364) CHILDS B S New Testament Minneapolis Fortress
1993 p 70-79 BRUEGGEMANN W Theology of the Old Testament Minneapolis Fortress
Press 1997 p 729-733 KAISER W C Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida No-
va 2007 p 273-276 HOUSE P R Teologia do Antigo Testamento Satildeo Paulo Vida 2005
HASEL G opcit p 364-380 157
HASEL G opcit p 366 158
Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 209 MARCUS J El
Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 341 MANN CSO Mark New York
Doubleday 1986 p 263-264 FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the
Greek Text Grand Rapids WB Eerdmans 2002 p 193 YOSHIMURA H Did Jesus Cite Isa
69-10 Jesus Saying in Mark 411-12 and the Isaianic Idea of Hardering and Remnant Aringbo
2010 300p Monografia (Tese) ndash Aringbo Akademis Foumlrlag EVANS C A On Isaianic Background
of the Sower Parable The Catholic Biblical Quartely v 47 p 464-468 1985 WATTS R E
Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do Antigo Testamento
no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188-194 RATZINGER J Jesus de Naza-
reacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on
38
ldquoos autores biacuteblicos podem usar suas fontes de forma literal parcial ou livre []
No segundo caso ele utiliza o material alheio de forma seletiva ou seja natildeo re-
produz todas as partes de fonte nem todas as palavras originais []rdquo159
Um qua-
dro comparativo clarifica mais a forma de citaccedilatildeo
Mc 412 Is 69-10
ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ
ἴδωσιν καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ
μὴ συνιῶσιν μήποτε ἐπιστρέψωσιν
καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς
מעו שמוע אמר לך ואמרת לעם הזה ש וי
ינו וראו ראו ואל־תדעו ואל־תב
ו הכבד ועיניו השמן לב־העם הזה ואזני
שמע ולבבו ראה בעיניו ובאזניו י השע פן־י
ין ושב ורפא לו יב
Ao comparar paralelamente o texto grego e o hebraico se percebe que a di-
ferenccedila de extensatildeo entre os dois textos salta aos olhos Outra diferenccedila eacute a que
determina o tipo de citaccedilatildeo isto eacute natildeo se trata de uma citaccedilatildeo na iacutentegra mas de
uma equivalecircncia semacircntica de termos A equivalecircncia se percebe nos segmentos
formados por seus devidos membros 12ab a[] βλέποντες βλέπωσιν
bκαὶ μὴ
ἴδωσιν lsquo[] avendo vejam
be natildeo notemrsquo 9ef ואל־תדעו f
וראו ראו e lsquo
ee vede ven-
do fmas natildeo percebeisrsquo - 12cd
cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν
dκαὶ μὴ συνιῶσιν lsquo
ce
ouvindo ouccedilam de natildeo compreendamrsquo 9cd ינו dואל־תב
מעו שמוע cש lsquo
cescutai
escutando dmas natildeo entendeisrsquo - 12ef
eμήποτε ἐπιστρέψωσιν
fκαὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς
lsquoea fim que natildeo se convertam
fe seja-lhes perdoadorsquorsquo 10ef ורפא לוf
eושב lsquo
ee re-
torna fe o curarsquo
Percebe-se ainda que haacute uma ligeira diferenccedila na ordem dos segmentos No
texto hebraico o segmento 9cd (ינו dואל־תבמעו שמוע cש
) estaacute antes do segmento
9ef (וראו ראוfוראו ראו
e) na equivalecircncia do texto grego o segmento 9ef estaacute an-
tes de 9cd isto eacute primeiro aparece a[] βλέποντες βλέπωσιν
bκαὶ μὴ ἴδωσιν
the Gospel According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 72-74 BEAVIS M A
Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 159
WEGNER U Exegese do Novo Testamento Manual de metodologia 5 ed Satildeo Leopoldo
Sinodal S Paulo Paulus 1998 p 106
39
(12ab) depois cκαὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν
dκαὶ μὴ συνιῶσιν (12cd) Portanto obser-
va-se que haacute apenas ordem inversa entre eles e natildeo tensatildeo contraditoacuteria
Outra diferenccedila consta nos segmentos do texto de Isaiacuteas que foram omitidos
na citaccedilatildeo em Marcos Portanto para esta diferenccedila considera-se apenas o conteuacute-
do da ordem dada a Isaiacuteas como a fonte no sentido mais estrito Assim os segmen-
tos 9ab (לך ואמרת לעם הזהbאמר aוי
) visto que natildeo satildeo conteuacutedos da ordem natildeo
se consideram uma omissatildeo A omissatildeo consideraacutevel consta no trecho 10ad
( ראה בעיניו פן־יd ועיניו השע
c ואזניו הכבד
b השמן לב־העם הזה
a) Assim percebe-
se que o texto de Is 69-10 estaacute ldquocitado de forma abreviada (e com as primeiras
duas claacuteusulas revertidas []) no v12rdquo160
de Mc 4 Tambeacutem eacute oportuno lembrar
que ldquoas referecircncias ao AT natildeo foram feitas de modo sistemaacuteticordquo161
no NT fato
que eacute perceptiacutevel na periacutecope em estudo
Assim essas pequenas omissotildees talvez sejam o motivo que leva muitos a-
firmarem que Mc 412 natildeo esteja citando o TM mas outra tradiccedilatildeo que alguns
poucos sugerem ser a LXX162
adaptada outros sugerem o Targum163
e uns poucos
natildeo admitem nenhuma versatildeo164
Esta divergecircncia sobre o tipo de tradiccedilatildeo usada
em Mc 412 natildeo eacute muito relevante e natildeo causa nenhuma mudanccedila no significado
do texto ademais para os devidos efeitos de identificaccedilatildeo da fonte usada natildeo haacute
duacutevida que se trata de Is 69-10 Um quadro comparativo entre as diversas tradi-
ccedilotildees textuais torna a comparaccedilatildeo melhor elucidada
Gr Mc 412 LXX Is 69-11 Targ Is 69-10 TM Is 69-10
ἵνα βλέποντες
βλέπωσιν καὶ μὴ
ἴδωσιν καὶ
ἀκούοντες
καὶ εἶπεν πορεύθητι
καὶ εἰπὸν τῷ λαῷ
τούτῳ ἀκοῇ ἀκούσετε
καὶ οὐ μὴ συνῆτε καὶ
יזיל ואמר א
עמא ותימר ל
ין הדין דשמע
שמע ולא מ
אמר לך ואמרת וי
מעו לעם הזה ש
ינו שמוע ואל־תב
וראו ראו
160
Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids
WB Eerdmans 2002 p 193 161
Cf HASEL G Teologia do Antigo e Novo Testamento questotildees baacutesicas no debate atual Satildeo
Paulo Academia Cristatilde 2012 p 367 162
Eg GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St
Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 72 163
Cf WATTS R E Mark In BEALE G K CARSON D A (Orgs) Comentaacuterio do uso do
Antigo Testamento no Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2014 p 188 BEAVIS M A
Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 80 STEIN R H Mark Grand Rapids Baker
Academic 2008 p 210 164
Eg MARCUS J El Evangello seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 342
40
ἀκούωσιν καὶ μὴ
συνιῶσιν μήποτε
ἐπιστρέψωσιν καὶ
ἀφεθῇ αὐτοῖς
βλέποντες βλέψετε καὶ
οὐ μὴ ἴδητε
ין וחזן סתכל מ
ין חזא ולא ידע מ
ואל־תדעו
ἐπαχύνθη γὰρ ἡ
καρδία τοῦ λαοῦ
τούτου καὶ τοῖς ὠσὶν
αὐτῶν βαρέως
ἤκουσαν καὶ τοὺς
ὀφθαλμοὺς αὐτῶν
ἐκάμμυσαν μήποτε
ἴδωσιν τοῖς ὀφθαλμοῖς
καὶ τοῖς ὠσὶν
ἀκούσωσιν καὶ τῇ
καρδίᾳ συνῶσιν καὶ
ἐπιστρέψωσιν καὶ
ἰάσομαι αὐτούς
ביה טפיש ל
דעמא הדין
י יקר ואודנוה
י טמטים ועינוה
חזון למא י ד
בעיניהון 1
באודנהוןו 2
ובאודניהון
יבהון שמעון ובל י
סתכלון י 1
יתובון ו
2ויתיבון
שתביק להון וי
השמן לב־העם
הזה ואזניו הכבד
ועיניו השע
ראה בעיניו פן־י
שמע ובאזניו י
ין ושב ולבבו יב
ורפא לו
O objetivo desta pesquisa natildeo eacute demonstrar qual a tradiccedilatildeo textual usada em
Mc 412 Para efeito de contextualizaccedilatildeo as comparaccedilotildees acima foram apresenta-
das para notar que as quatro tradiccedilotildees tecircm muitas semelhanccedilas e diferenccedilas tam-
beacutem (principalmente nos aspectos modos verbais e sintaxe) Poreacutem a despeito
das diferenccedilas as tradiccedilotildees ainda compartilham do mesmo contexto e mesma con-
figuraccedilatildeo o que sugere que o contexto de Isaiacuteas deve ser levado em conta e que as
diferenccedilas nas tradiccedilotildees textuais natildeo afetam a compreensatildeo do texto
35 Estrutura literaacuteria
Antes de tratar da estrutura da unidade 410-12 eacute razoaacutevel tratar da estrutura
maior na qual estaacute inserida pois ldquouma curta seccedilatildeo do texto nunca deve estar iso-
lada de seu contexto largordquo165
Assim conveacutem abordar resumidamente acerca do
165
Cf WARREN W F Interpreting New Testament Narrative The Gospels and Acts In
CORLEY B LEMKE S W LOVEJOLY G I Biblical Hermeneutic Nashville Broadman amp
Holman 2002 p 323
41
arranjo estrutural de todo o livro para uma devida contextualizaccedilatildeo ldquoAteacute muito
pouco tempo os comentaristas vinham aceitando sem discutir o dito de Papias
segundo o qual Marcos escreveu lsquocuidadosamente embora natildeo com ordemrsquordquo166
A tendecircncia era afirmar a falta absoluta de qualquer estrutura organizada de
Marcos167
Portanto mais recentemente as posiccedilotildees tecircm sido mais moderadas
muitos autores contemporacircneos tecircm sugerido vaacuterias formas de ver uma estrutura
organizada em Marcos168
Trata-se de uma questatildeo aberta cujo todas estas contri-
buiccedilotildees tecircm seu valor No entanto com relaccedilatildeo agrave unidade maior em que estaacute inse-
rida Mc 410-12 muitos autores tecircm visto naturalmente estruturas definidas
A maioria de estudiosos considera Mc 41-34 como uma seccedilatildeo uma unidade
maior na qual estatildeo inseridas outras unidades Esta estaacute constituiacuteda de uma cuida-
dosa construccedilatildeo de paraacutebolas169
tendo uma introduccedilatildeo (41-2) e uma conclusatildeo
(4 33-34)170
A seccedilatildeo caracteriza uma sequecircncia de narrativas visto que descreve
ldquoacontecimentosaccedilotildees que se sucedem numa determinada ordem e que estatildeo rela-
cionados entre si como tambeacutem agentes que com sua accedilatildeo causam modifica-
ccedilotildeesrdquo171
Apoacutes a introduccedilatildeo surge a primeira narrativa (v3-9) com a temaacutetica do
semeador a semente e os diversos solos dirigida agrave grande multidatildeo A accedilatildeo desta
comeccedila no v1 com o semeador semeando seu momento de complicaccedilatildeo estaacute
presente na reaccedilatildeo negativa dos diversos solos v4-7 a resoluccedilatildeo estaacute no v8 com
a reaccedilatildeo positiva do solo e finalmente a conclusatildeo no v9 A segunda narrativa
166
MALLY E J Evangelio seguacuten san Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R
E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 61 167
LOISY A LrsquoEacutevangile selon Marc Paris Eacutemile Nourry 1912 p 9 DELORME J Leitura
do Evangelho segundo Marcos 4 ed Satildeo Paulo Paulus 1982 p 8 168
Ver discussatildeo e propostas em DODD C H The Framework of the Gospel Narrative Exposi-
tory Times v 43 1932 p 396-400 COMBET-GALLAND C O Evangelho segundo Marcos
In MARGUERAT D (Org) Novo Testamento histoacuteria escritura e teologia Satildeo Paulo Loyola
2009 p 47-49 MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 10-
16 WILLIAN J Does Marks Gospel Have an Outline Journal of the Evangelical Theological
Society v 49 n 3 p 505-25 2006 DEWEY J Mark as Interwoven Tapestry Forecasts and
Echoes for a Listening Audience Catholic Biblical Quarterly v 53 1991 p 221-235
HEDRICK C W What is a Gospel Geography Time and Narrative Structure Perspectives in
Religious Studies v 10 p 254-268 1983 BELTRAN V B El Yo-Testigo en el Evangelio de
San Marcos (Perspectiva Estructural) 1990 250 p Monografia (Tese) ndash Faculdade de Teologia
Universidade de Navarra Navarra 1990 p 209-238 169
Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191 170
Cf MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 STEIN R
H loccit MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A
MURPHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972
p 80 171
EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo PauloLoyola 1994 p 116
42
estaacute nos v10-12 onde haacute uma reduccedilatildeo de personagens soacute estatildeo alguns poucos e
os doze na qual haacute um dito sobre a razatildeo de se falar em paraacutebolas
A terceira sequecircncia (13-20) explica a paraacutebola em v3-9 Na quarta sequecircn-
cia se profere a paraacutebola da candeia (v21-23) comeccedilando e se tornando mais
complexa no v21 se solucionado no v22 e concluindo-se no v23 No v24-25
constam ditos de sentenccedilas Na sequecircncia eacute descrita a paraacutebola da semente que
germina (v26-29) com um comeccedilo da accedilatildeo (v26) um desenrolar-se (v27-28) e
um repouso (v29) E finalmente antes da conclusatildeo se profere a paraacutebola do gratildeo
de mostarda com um iniacutecio da accedilatildeo (v30) um desenvolvimento (v31) e um
repouso (v32)
Alguns elementos sintaacuteticos e da narrativa indicam que estes quadros estatildeo
intimamente ligados pois trata-se de uma unidade que foi ldquodevidamente constru-
iacutedardquo172
assim podem ser observaacuteveis A ldquointerpretaccedilatildeo (13-20) assim como as
sentenccedilas (21-25) [] satildeo introduzidas em cada caso pela tiacutepica foacutermula de cone-
xatildeo empregada por Marcos kai elegen autois (13 21 24) lsquolhes dissersquordquo173
O ter-
mo e o tema παραβολή se repetem ao longo da narrativa de modo que formam
um incluacutesio (v3 e 34) A unidade 13-20 eacute uma retomada explicando a unidade 3-
9 (sendo os v10-12 o elo entre as duas e o elemento que justifica o porquecirc da ex-
plicaccedilatildeo isto eacute haacute uma descriccedilatildeo uma pergunta sobre a descriccedilatildeo e uma resposta
a pergunta)174
O v34 sintetiza tematicamente toda estrutura haacute fator de contraste comum
nos v3-25175
Em 3-913-2026-2930-33 haacute elementos morfossintaacuteticos semacircnti-
cos e temaacuteticos comuns o tema da semente que germina e cresce176
correspon-
dente agrave lacircmpada colocada no lampadaacuterio estaacute presente em toda unidade funcio-
172
MARCUS J El Evangelio seguacuten Marcos Salamanca Siacutegueme 2010 p 328 173
MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-
PHY R E (Eds) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p 80 174
Aqui se analisa do ponto de vista narrativo-semacircntico do texto como um todo isto eacute a sua
forma final isto pelo motivo da natureza narrativa do texto 175
solo bom-solo ruim Semeador-satanaacutes oculto-manifesto secreto-manifesto o que tem-o que
natildeo tem 176
Visto que no diaacutelogo estatildeo presentes os disciacutepulo de Jesus logo se percebe a clara ecircnfase na
importacircncia do crescer o dar o fruto como condiccedilatildeo para o Reino de Deus em toda unidade Uma
abordagem mais elaborada sobre esta relaccedilatildeo pode ser encontrada em GUEDES J O O A gecircnese
do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo
151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 119-135
43
nando como elemento comum e unificador Esta unidade tem sido esquematizada
como um quiasmo por alguns autores177
como se segue
A Introduccedilatildeo (1-2)
B Paraacutebola do Semeador (3-9)
C Explicaccedilatildeo do ensinamento em paraacutebola (10-12)
D Interpretaccedilatildeo da paraacutebola do Semeador (13-20)
Cacute ditos paraboacutelicos (21-15)
Bacute Paraacutebolas de sementes (26-32)
Aacute Conclusatildeo (33-34)
Outras formas de arranjo estruturais tambeacutem satildeo sugeridas por exemplo
Williamson baseado nos indiacutecios literaacuterios do proacuteprio texto sugere outra forma
de arranjo178
Tolbert179
sugere uma estrutura tripartida France180
observa que
ldquoeste discurso eacute delineado por Marcos para ser lido como um todordquo e subdivide a
unidade em 41-2 +4 3-9 + 410-12 + 413-20 + 421-25 + 426-32 + 433-34
Stein181
apresenta uma subdivisatildeo mais extensa subdividindo a unidade em 41-2
+ 43-9 + 410-12 + 413-20 + 421-22 + 424-25 + 426-29 + 430-32 + 433-34
Estes diferentes olhares e as proacuteprias informaccedilotildees literaacuterias indicam que Mc
41-34 eacute uma unidade bem articulada A presenccedila abundante de paraacutebolas nestas
unidades e suas subunidades demonstram a importacircncia que as paraacutebolas tecircm no
ensino de Jesus E especificamente na unidade em estudo o arranjo estrutural mos-
177
Sugerem esta construccedilatildeo FAY G Introduction to incomprehension the literary structure of
Mark 41-34 The Catholic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 69 CUVILLIER E
Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second evangile Eacutetudes Bibliques v 19 n 1 1993 Paris
Gabalda p 117 HEIL J P Reader-Response and the Narrative Context of the Parables about
Growing Seed in Mark 41-34 Catholic Biblical Quarterly v 54 n 2 p 271-286 1992 outros
citados por BEAVIS M A Mark Grand Rapids Baker Academic 2011 p 76 satildeo DONAHUE
J R The Gospel in Parable Philadelphia Fortress 1988 MARCUS J The Mystery of the
Kingdom of God Society of Biblical Literature Dissertation Series 90 Atlanta Scholars Press
1986 MOLONEY F J The Gospel of Mark Peabody MA Hendrickson 2002 outros tambeacutem
citados por BEAVIS M A opcit p 76 sugerem um quiasmo mais simplificado cf DEWEY J
Marcan Public Debate Society of Biblical Literature Dissertation Series 40 Chico CA Scholars
Press 1980 LAMBRECHT J Once More Astonished The Parables of Jesus New York Cross-
road 1981 STOCK A The Method and Message of Mark Wilmington DE Michael Glazier
1989 178
Ver WILLIAMSON L Mark Atlanta J Knox Press 1983 p 88 179
Ver TOLBERT M A Sowing the Gospel Markrsquos World in Literary-Historical Perspective
Minneapolis Fortress 1989 (apud BEAVIS M A op cit p 76) 180
FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids WB
Eerdmans Paternoster Press 2002 p 187 181
STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191
44
trou que o uso de paraacutebola para ensinar eacute um elemento fundamental As pequenas
unidades que compotildeem a maior seguem a mesma dinacircmica Assim feita a anaacutelise
estrutural da unidade maior cabe analisar a estrutura da unidade 410-12 que estaacute
inserida em seu contexto
351 A estrutura da unidade menor 410-12
Como visto acima a unidade sob estudo eacute parte de uma unidade maior A
ligaccedilatildeo entre as partes e o todo eacute evidente pelos elementos morfossintaacuteticos co-
muns e tambeacutem pela temaacutetica O mesmo ocorre com Mc 410-12 Os elementos
morfossintaacuteticos que ligam esta periacutecope agraves outras podem ser a conjunccedilatildeo καί
(v10) no iniacutecio da unidade indicando continuidade da narrativa o verbo γίνομαι
(2x na unidade menor v10 e 11 e 5x na unidade maior v417192232) a locu-
ccedilatildeo verbal Καὶ ὅτε ἐγένετο (v10) que sugere tempo decorrido isto eacute sucessatildeo de
fatos o substantivo παραβολή (παραβολάς v10) eacute transversal a todas as unidades
de 41-34182
A locuccedilatildeo καὶ ἔλεγεν no v11 ocorre outras vezes ao longo da unidade maior
(7x v291321242630) o verbo δίδωμι no v11 tambeacutem aparece nos v7825 a
locuccedilatildeo βασιλεία τοῦ θεου no v11 eacute repetido nos v26 e 30 o verbo βλέπω no
v12 (2x) tambeacutem ocorre no v24 o verbo ἀκούω no v12 (2x) ocorre novamente
nos v 3 9 (2x)1516182023(2x)2433 a construccedilatildeo ἀκούοντες ἀκούωσιν no v
12 semanticamente equivale a oraccedilatildeo εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω no v23
todo discurso depois do v10 eacute causado pela pergunta no mesmo versiacuteculo seman-
ticamente o v10 eacute complementado no v34 Estes aspectos e outros indicam a
ligaccedilatildeo de 410-12 com a unidade maior 41-34 Por sua vez esta tambeacutem apre-
senta a proacutepria dinacircmica
O texto nesta periacutecope se apresenta como uma unidade muito bem definida e
estruturada Do ponto de vista da narrativa podem ser identificadas as seguintes
partes 10a-c comentaacuterio do narrador 11a narradorabertura de discurso direto
11b-12f discurso direto O v10 pode ser considerado como o comeccedilo da trama
aqui se apresenta ou se traz uma questatildeo a pergunta sobre as paraacutebolas A trama
182
Segundo CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bi-
bliques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 83 o termo παραβολή ocorre treze vezes em Marcos
e oito destas treze ocorrecircncias estatildeo na unidade 41-34
45
alcanccedila sua complexidade no v11 no qual se fala sobre o misteacuterio do Reino de
Deus o ensino em paraacutebolas para alguns e a explicaccedilatildeo para outros haacute um anta-
gonismo entre ὑμῖν e ἐκείνοις
No v12 haacute um repouso natural da trama uma resoluccedilatildeo da tensatildeo eacute apre-
sentada Ainda se percebe que estruturalmente os v11 e 12 estatildeo subordinados ao
v10 pois satildeo respostas agrave accedilatildeo do verbo ἠρώτων cuja accedilatildeo recai diretamente so-
bre τὰς παραβολάς isto eacute seu objeto direto indicando a temaacutetica que amarra as
partes tanto da unidade menor como da maior
A forma estrutural que predomina nesta unidade eacute o paralelismo Num as-
pecto geral a disposiccedilatildeo em paralelo eacute perceptiacutevel entre os v10 e v11 Visto que
o v12 ainda eacute parte do discurso direto comeccedilado em 11b eacute coerente consideraacute-lo
em junto com o v11 Assim a disposiccedilatildeo paralela da unidade pode ser A
(10bc)ǁB (11a-12f) isto eacute AB183
Dentro desta disposiccedilatildeo maior eacute possiacutevel notar
uma disposiccedilatildeo concecircntrica no v12 como se segue aǁarsquo ǁb isto eacute a-b-aacute184
sendo
a (composto pelo segmento bimembre 12ab) b (12e) e aacute (composto pelo segmen-
to bimembre 12cd) assim a estrutura pode ser disposta como abaixo
A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν καὶ μὴ ἴδωσιν
B μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς
Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν καὶ μὴ συνιῶσιν
Ou
A ἵνα βλέποντες βλέπωσιν
B καὶ μὴ ἴδωσιν
183
FAY G Introduction to Incomprehension The Literary Structure of Mark 41-34 The Catho-
lic Biblical Quarterly v 51 n 1 p 65-81 1989 p 81 sugere uma estrutura concecircntrica da uni-
dade como se segue a-b-c-aacute-bacute sendo a (v10 questatildeo-compreensatildeo) b (v11a resultado positi-
ve-disciacutepulos) c (v 11b meacutetodo paraboacutelico) bacute(v 12 resultado negative-os de fora) aacute(v 13
questatildeo-compreensatildeo) O que se percebe eacute a inclusatildeo do v 13 como parte da unidade portanto
este arranjo apresenta algumas dificuldades como jaacute foi visto acima o v 13 deve ser parte de outra
unidade a segmentaccedilatildeo usada natildeo eacute clara e parece arbitraacuteria visto que haacute elementos sintaacuteticos que
permitem e requerem uma divisatildeo em mais membros (ver segmentaccedilatildeo acima) Todavia esta
sugestatildeo ainda eacute uma tentativa positiva que indica que estrutura tem um esquema organizado
indicando o tema paraboacutelico como o central 184
DORSEY D A The Literary Structure of the Old Testament Grand Rapids Baker Books
1999 p 29 observa que este tipo de arranjo pode ocorrer ldquoquando um esquema paralelo tem um
nuacutemero excedente de unidades a unidade inigualaacutevel pode ser colocado no final (a-b-c ǁ arsquo-brsquo-crsquo -
d) centralizando (a-b-c-d-arsquo-brsquo-crsquo)rdquo
46
C μήποτε ἐπιστρέψωσιν καὶ ἀφεθῇ αὐτοῖς
Bacute καὶ μὴ συνιῶσιν
Aacute καὶ ἀκούοντες ἀκούωσιν
Estas disposiccedilotildees indicam que haacute um nexo entre as diversas partes da uni-
dade haacute relaccedilotildees de complementaridade na unidade a unidade tem uma finalida-
de que eacute comunicada por meio de paraacutebola a temaacutetica central da mesma Todos
estes elementos compotildeem um conjunto que indicam a forma como o texto estaacute
arranjado e organizado
352 A organizaccedilatildeo do texto
Como visto acima a forma como a unidade em estudo estaacute esquematizada
descreve muito de sua organizaccedilatildeo Assim como o texto estaacute bem estruturado
tambeacutem estaacute bem organizado Visto que um ldquotexto possui uma organizaccedilatildeo que eacute
dada pela sua sintaxe no modo como os morfemas se relacionamrdquo185
entatildeo se
torna necessaacuterio e proveitoso observar estes elementos na unidade Para observar
a organizaccedilatildeo do texto seraacute destacada a correspondecircncia complementaridade e
fluxo verbal a funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade a alternacircncia e rela-
ccedilatildeo dos pronomes e a constataccedilatildeo das amarras na unidade
a) Correspondecircncia complementaridade e fluxo verbal
Os verbos na unidade se correspondem e tambeacutem se complementam do
ponto de vista sintaacutetico e semacircntico A unidade apresenta um total de treze verbos
(considerando os particiacutepios e as repeticcedilotildees) Dois no v10 (ἐγένετο e ἠρώτων)
trecircs no v11 (ἔλεγεν δέδοται γίνεται) e oito no v12 (βλέποντες βλέπωσιν ἴδωσι-
ν ἀκούοντες ἀκούωσιν συνιῶσιν ἐπιστρέψωσιν ἀφεθῇ) Todos estes verbos se
relacionam diretamente formando uma cadeia de accedilotildees Os trecircs primeiros verbos
constituem fala do narrador
O verbo ἐγένετο introduz a narrativa o verbo ἠρώτων forma um par com o
verbo ἔλεγεν (pergunta-resposta) o verbo δέδοται faz parte do discurso introduzi-
do pelo verbo anterior e juntamente com os anteriores se referem ao grupo que
185
GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir
do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25
47
ficou com Jesus Os outros verbos restantes da unidade se referem aos de fora O
verbo γίνεται eacute uma correspondecircncia de δέδοται no paralelismo do v11 e como
sugere o teor conclusivo de ἵνα todos os verbos que a procedem complementam e
concluem a accedilatildeo dos verbos anteriores e tambeacutem satildeo complementares entre si
O particiacutepio βλέποντες tem sua accedilatildeo e ideia completada no verbo βλέπωσιν
e ambos satildeo complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καὶ) na accedilatildeo do
verbo ἴδωσιν formando assim uma relaccedilatildeo trinocircmia Da mesma forma ocorre com
o particiacutepio ἀκούοντες que de igual maneira tem sua accedilatildeo e ideia completada no
verbo ἀκούωσιν e ambos complementados (relaccedilatildeo indicada pela conjunccedilatildeo καί)
na accedilatildeo do verbo συνιῶσιν formando tambeacutem uma relaccedilatildeo trinocircmia
Todas estas accedilotildees como sugere a conjunccedilatildeo μήποτε tecircm sua ideia concluiacute-
da e complementada nos verbos ἐπιστρέψωσιν e ἀφεθῇ (ligados pela conjunccedilatildeo
καὶ) Estas correspondecircncias e complementaridades demonstram que os sujeitos
as accedilotildees e os predicados na unidade estatildeo muito bem encadeados e concatenados
O diagrama abaixo ilustra graficamente o exposto
ἐγένετοv10
ἠρώτων v10 ἔλεγενv11
δέδοταιv11 γίνεταιv11
βλέποντεςv12 βλέπωσιν v12 ἴδωσιν v12
ἀκούοντες v12 ἀκούωσιν v12 συνιῶσιν v12
ἐπιστρέψωσιν v12 ἀφεθῇ v12
Assim se observa que a costura do narrador e da narrativa entre os verbos
do discurso direto estaacute bem feita deixando o texto mais coeso e coerente Esta
costura eacute melhor visiacutevel quando se observa o uso de conjunccedilotildees na unidade
b) A funccedilatildeo das conjunccedilotildees na tessitura da unidade
O uso de conjunccedilotildees satildeo um meio importante de concatenaccedilatildeo de um tex-
to186
E estas estatildeo presentes expressivamente na unidade Esta conteacutem dez con-
junccedilotildees ao todo Estas estatildeo distribuiacutedas da seguinte forma Καὶ1x (10a) 1x
(11a) 4x (12bcd) ὅτε1x (10a) δὲ 1x (11c) ἵνα 1x (12a) μήποτε 1x (12e) A
186
EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 77
48
conjunccedilatildeo predominante na unidade eacute Καὶ que ocorre 6x no total No v10a καί
tem uma funccedilatildeo aditiva estabelecendo uma relaccedilatildeo de coordenaccedilatildeo com a oraccedilatildeo
anterior pois uma conjunccedilatildeo coordenada conecta ldquoelementos na estrutura da frase
que estatildeo em par com outrasrdquo187
A conjunccedilatildeo ὅτε desempenha claramente uma funccedilatildeo adverbial temporal
No v11 a conjunccedilatildeo καί parece ter a mesma funccedilatildeo que no v10 ao que tudo in-
dica A conjunccedilatildeo δὲ em 11d eacute uma coordenada adversativa que estabelece a opo-
siccedilatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις Em 12a ἵνα eacute uma subordinada adverbial final que
pode expressar tambeacutem ldquoindicar uma consequecircncia loacutegicardquo188
indicando neste
caso a convergecircncia do que se tratou antes
No v12 pela sugestatildeo do paralelismo parece funcionalidade por par em
12b e 12d a conjunccedilatildeo καί desempenham uma funccedilatildeo aditiva na relaccedilatildeo de coor-
denaccedilatildeo Visto que καί tambeacutem pode ser empregado com significado adversati-
vo189
eacute cabiacutevel admitir esta possibilidade aqui pois a mesma responde perfeita-
mente ao contexto Jaacute a funccedilatildeo da mesma conjunccedilatildeo em 12c funciona como uma
coordenada aditiva E finalmente a conjunccedilatildeo μήποτε funciona como uma subor-
dinada adverbial final Em suma a anaacutelise do uso das conjunccedilotildees na unidade indi-
cou que haacute uma relaccedilatildeo organizada entre as diversas oraccedilotildees que compotildeem a uni-
dade Esta organizaccedilatildeo tambeacutem eacute reforccedilada pela alternacircncia de pronomes na
mesma
c) Alternacircncia e relaccedilatildeo dos pronomes
Os pronomes tecircm destaque na unidade e estatildeo bem distribuiacutedos Estes indi-
cam dentro da narrativa quem fala para quem se fala e sobre quem se fala A pri-
meira ocorrecircncia eacute do pronome pessoal de 3ordf pessoa αὐτὸν (10b) indicando que
seu referente sofre a accedilatildeo de οἱ περὶ Aὐτὸν de 10b se repete em 10c reforccedilando e
tornando mais claro a accedilatildeo que sofre de οἱ περὶ
A partir de 11a as funccedilotildees se invertem οἱ περὶ eacute retomado por αὐτοῖς e sofre
a accedilatildeo de αὐτὸν isto eacute responde ao questionamento feito anteriormente constitu-
indo uma relaccedilatildeo accedilatildeo-reaccedilatildeo Em 11b o pronome da 2ordf plural ὑμῖν tambeacutem eacute uma
187
BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early
Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 p 225 188
Cf LAMP P ἵνα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the New
Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 2525 1 b 189
ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010 p
185
49
retomada de οἱ περὶ no entanto esta mudanccedila indica a troca do narrador para o
discurso direto isto eacute a fala de αὐτὸν Esta permuta sugere uma aproximaccedilatildeo do
ouvinte-leitor pois ldquoa alternacircncia nuacutemero-pessoal daacute ao texto um forte impacto
comunicativo [] quem escuta e lecirc tal texto como seu destinataacuterio naturalmente se
percebe envolvido [] atitudes requeridas satildeo indicadas pelo texto na sua gramaacute-
ticardquo190
Em 11d o demonstrativo plural ἐκείνοις ocorre pela primeira vez e como
sugere a conjunccedilatildeo adversativa δὲ estaacute em uma relaccedilatildeo de antiacutetese com ὑμῖν E
por fim o pronome de 3ordf masculino plural αὐτοῖς retoma o demonstrativo
ἐκείνοις que aqui em 12f funciona como objeto direito Esta relaccedilatildeo entre os pro-
nomes demonstra que existe complementaridade e continuidade entre eles e con-
sequentemente unidade enfatizando sua soacutelida organizaccedilatildeo
d) Constataccedilatildeo das amarras na unidade
Alguns elementos gramaticais na unidade indicam que a mesma estaacute muito
bem tecida Elementos que criam coesatildeo como conjunccedilotildees repeticcedilotildees e profor-
mas191
satildeo encontradas na unidade As conjunccedilotildees que satildeo abundantes e distribuiacute-
das uniformemente na unidade como jaacute foi observado acima conectam as dife-
rentes partes da unidade estabelecendo as conexotildees por coordenaccedilatildeo e subordina-
ccedilatildeo Tambeacutem ocorrem alguns elementos que se repetem tais como o verbo
γίνομαι (2x 10a e 11e) o substantivo παραβολάς (10c e 11d) a raiz βλέπω (2x
12a) e a raiz ἀκούω (2x 12c)
A temaacutetica definida pelo substantivo παραβολάς funciona como o principal
fio condutor que integra todos os elementos nesta unidade e tambeacutem a proacutepria
unidade com as outras como jaacute foi observado Retomadas e proformas tambeacutem
satildeo abundantes na unidade Aleacutem das retomadas pronominais analisadas acima
outras retomadas e proformas tambeacutem constam no texto
As locuccedilotildees βλέποντες βλέπωσιν (12a) ἀκούοντες ἀκούωσιν (12c) e os
verbos ἴδωσιν (12b) συνιῶσιν (12d) ἐπιστρέψωσιν (12e) funcionam como pro-
forma de ἐκείνοις (11c) O pronome ὑμῖν (11b) tambeacutem pode ser lido como uma
190
GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir
do estudo de Filipenses 31-16 e Joatildeo 151-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 25-26 191
Cf EGGER W Metodologia do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Loyola 2005 p 76
(entende-se aqui por proforma uma palavra que faz a retomada Substitui outras palavras que nor-
malmente tem o fim de evitar repeticcedilotildees)
50
proforma de οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα Tambeacutem haacute relaccedilotildees binomiais que
indicam relaccedilatildeo de continuidade complementaridade e demonstram a forte tessi-
tura na unidade satildeo estas (10b) ἠρώτων- ἔλεγεν (11a) (11b) ὑμῖν- ἐκείνοις
(11d) (12a) βλέπωσιν- ἴδωσιν (12b) (12c) ἀκούωσιν- συνιῶσιν (12d) (12e)
ἐπιστρέψωσιν- ἀφεθῇ (12f) Em suma se observa que a trama estaacute muito bem
tecida e organizada
353 Contexto literaacuterio-teoloacutegico do dito em Mc 412
A narrativa descrita em Mc 410-12 comeccedila informando que Jesus a partir
daquele momento se encontrava apenas com os Doze e mais alguns (cf 10b) e
que os mesmos levantaram uma pergunta a respeito do ensino em paraacutebolas (10b)
continuando a trama Jesus responde-lhes proferindo um dito (v11-12) Este dito
(concentrado especificamente no v12) eacute uma citaccedilatildeo Veterotestamentaacuteria de Isaiacute-
as 69-10 A imagem tambeacutem estaacute presente direta e indiretamente em outros lu-
gares do AT Aleacutem da unidade primaacuteria de Isaiacuteas 61-13 o conceito do dito apare-
ce tambeacutem em Dt 294 Jr 521 Ez 122
No relato de vocaccedilatildeo em Isaiacuteas 61-13 que eacute a fonte usada por Marcos
Deus daacute ordens ao profeta para proclamar Sua mensagem O dito usado em Mar-
cos era parte desta mensagem (Is 6910) Nesta Deus fala ao povo de coraccedilatildeo
endurecido portanto ao final da mensagem se percebe que se trata de um convite
de retorno ao SENHOR finalizando com um oraacuteculo de um remanescente Esta
accedilatildeo pode ser observada de forma praacutetica na experiecircncia do profeta que ldquonatildeo eacute
apenas um veiacuteculo impessoal mas um que se identifica com seu povo cuja limpe-
za pelo fogo e cuja restauraccedilatildeo faze-o paradigma do novo surgimento do ve-
lhordquo192
Esta mesma dinacircmica estaacute presente tambeacutem em Mc 410-12 visto que
esta passagem de Isaiacuteas sobre o ldquoendurecimento de Israel desempenha um papel
importante na interpretaccedilatildeo do ministeacuterio de Jesus Cristordquo193
Assim em Marcos
esse quadro parece se repetir visto que Deus envia Seu Servo o Filho do Homem
para fazer um convite do retorno a um povo obstinado
A estrutura em que Dt 294 (3) estaacute contido descreve o discurso que Moisecircs
proferiu diante do povo exortando-o a ser fiel agrave Alianccedila Este texto demonstra
192
CHILDS BS Isaiah Louisville KY Westminster John Knox Press 2001 p 58-59 193
Ibid p 59
51
alguns contatos com a unidade em estudo Morfoloacutegicamente os contatos se
observam em נתן (TM 3a)ἔδωκεν (LXX 3a) δέδοται (NT 11b) ראות TM) ל
3b) βλέπειν (LXX 3b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) ע שמ ἀκούειν (TM 3b) ל
(LXX 3c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O status paradoxal tambeacutem estaacute pre-
sente em ambos pois em ambos se descreve que Deus eacute a causa da natildeo compreen-
satildeo do natildeo ver e ouvir poreacutem deve-se compreender que o povo eacute o sujeito da
proacutepria accedilatildeo
Aqui o dito se refere ao povo de Israel o povo de Deus em Mc 412 se refe-
re a um grupo fora dos seguidores de Jesus Portanto a accedilatildeo do proacuteprio povo de
Deus confirmou que eles mesmos tambeacutem satildeo os obstinados quando violaram a
alianccedila indicando assim que o dito se refere a eles tambeacutem isto eacute para todos que
apresentam as mesmas caracteriacutesticas Assim a dinacircmica dos textos permanece
harmocircnica isto eacute Deus atraveacutes de seus servos lida com coraccedilotildees obstinados Em
ambas narrativas se apela para destinataacuterios obstinados e se oferece nova oportu-
nidade
Semelhante situaccedilatildeo ocorre em Jr 521 As duas narrativas tambeacutem
compartilham morfologicamente alguns elementos a saber ראו י (TM 21b)
βλέπουσιν (LXX 21b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) שמעו י (TM 21c)
ἀκούουσιν (LXX 21c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) Aqui em Jeremias Deus
fala contra a obstinaccedilatildeo do povo que endurece seu coraccedilatildeo natildeo vendo e natildeo
ouvindo ldquoO envelope de Jr 521 se move de lsquoshemarsquo para lsquoshemarsquo [] Porque
lsquoouvirrsquo eacute a palavra base de resposta da alianccedilardquo194
o que sugere a quebra da
mesma por parte do povo de Deus (Judaacute e Jacoacute v) daiacute o lsquonatildeo ver e natildeo ouvirrsquo
este ldquovocabulaacuterio de sabedoria negativo eacute usada para repreender a comunidade
aqui pela falha de aprender uma liccedilatildeo oacutebviardquo195
Assim observa-se que a dinacircmica
eacute a mesma que em Mc 412 haacute uma mensagem de advertecircncia e nova
oportunidade para um povo de coraccedilatildeo endurecido
Em Ezequiel 122 tambeacutem se observa o mesmo padratildeo dos observados aci-
ma196
Os seguintes vocaacutebulos satildeo comuns - ראו ראות - βλέπειν καὶ (TM 2b) ל
194
BRUEGGEMANN W A Commentary on Jeremiah Exile and Homecoming Grand Rapids
William B Eerdmans 1998 p 67 195
ALLEN LC Jeremiah Louisville KY London Westminster John Knox Press 2008 p 80 196
ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 sugere uma relaccedilatildeo entre esta
passagem com Is 6 9-10 e Jr 521 tambeacutem TAYLOR J B Ezequiel introduccedilatildeo e comentaacuterio
Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 ZIMMERLI W A Commentary on the Book of Prophet
52
βλέπουσιν (LXX 2b) βλέποντες βλέπωσιν (NT 12a) - שמעו ע שמ (TM 2c) ל
ἀκούειν καὶ οὐκ ἀκούουσιν (LXX 2c) ἀκούοντες ἀκούωσιν (NT 12c) O
discurso eacute dirigido a Ezequiel mas se refere ao povo que como acima natildeo
permanece fiel a Deus antes O resiste ldquoA evidecircncia da rebeliatildeo eacute uma recusa em
escutar a apresentaccedilatildeo de Ezequiel da vontade divinardquo197
sendo a rebeliatildeo o
motivo do endurecimento do coraccedilatildeo contra Deus
Ainda assim como ocorre tambeacutem nas passagens acima haacute uma oportuni-
dade de retorna pois ldquoDeus agora fala a Ezequiel e expressa a esperanccedila Bem
pode ser que o entendemrdquo198
Percebe-se pelo exposto que o dito encontra vasto
uso no AT Zimmerli afirma que aleacutem dos textos supracitados tambeacutem usam o
dito199
os seguintes textos Is 438 Sl 1155 13516 e Mc 412 818 Assim
conclui-se que o dito usado em Mc 412 tem sua raiacutez no AT onde eacute usado
vastamentede forma explicita ou implicita
Ezekiel Chapter 1-24 Philadelphia Fortress 1979 p 270 relaciona esta passagem com Jr 521 e
Dt 293 e a ideia tambeacutem aparece em Mc 412 812 Sl 1155 13516 197
ALLEN L C Ezekiel 1-19 Dallas Word Books 1994 p 178 198
TAYLOR J B Ezequiel Satildeo Paulo Vida Nova 1984 p 105 199
ZIMMERLI W opcit p 269
53
4 Comentaacuterio exegeacutetico
A partir da exegese se realccedilam os seguintes pontos os tiacutetulos οἱ περὶ αὐτὸν
e os δώδεκα (10c) os ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω (11bd) o μυστήριον τῆς
βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) o motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endu-
recimento Estas temaacuteticas constituem a essecircncia da periacutecope por este motivo
seratildeo analisados e comentados nesta seccedilatildeo
41 οἱ περὶ αὐτὸν e os δώδεκα (v10c)
A preposiccedilatildeo σὺν sugere que οἱ περὶ αὐτὸν e δώδεκα se referem a dois gru-
pos distintos Os autores identificam οἱ περὶ αὐτὸν como membros da multidatildeo
descrita em 41-2 que foram desafiados pela paraacutebola de Jesus a serem Seus disciacute-
pulos200
os futuros fieacuteis201
os disciacutepulos no geral distinguidos da multidatildeo mas
tambeacutem distintos dos doze202
aqueles que em algum momento estatildeo acompa-
nhando ou associados com a figura central da narrativa203
O que se observa eacute que
certos autores diferem ligeiramente uns dos outros portanto um acordo de que se
trata de dois grupos distintos que constituem um grupo maior eacute perceptiacutevel Uma
anaacutelise da ocorrecircncia de οἱ περὶ αὐτὸν lanccedilaraacute luz sobre a identificaccedilatildeo dos mes-
mos
O sintagma com pronome pessoal masculino com suas variaccedilotildees de caso
referindo-se a pessoas em Marcos ocorre em 33234 725 410 Em 332 ocorre
no acusativo singular sem artigo e περὶ se refere a ὄχλον e αὐτὸν a Jesus Em
334 ocorre no acusativo singular com artigo (τοὺς περὶ αὐτὸν) nesta τοὺς περὶ
tambeacutem se refere a ὄχλος e αὐτὸν a Jesus e de acordo 37-102032 ὄχλος eacute uma
grande multidatildeo que vai a busca dos milagres de Jesus
No entanto em 410 o sintagma οἱ περὶ αὐτὸν natildeo se refere mais agrave grande
multidatildeo do capiacutetulo anterior pois os v1 e 10 indicam que houve uma reduccedilatildeo no
200
Cf MARCUS J Mark 1-8 (The Anchor Bible) New York Doubleday 1999 p 302 201
Cf SCHNACKENBURG R O Evangelho Segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983
p 111 202
Cf GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to St
Mark Edinburgh T amp T Clark 1912 p 9 BULTAMANN R Historia de La Tradicion Si-
noacuteptica Salamanca Sigueme 2000 p 125 203
Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids
WB Eerdmans Paternoster Press 2002 p 191
54
grupo ao redor de Jesus tanto que no v10 natildeo se menciona mais ὄχλος Em 31-
35 Jesus apresenta um conceito do que eacute οἱ περὶ αὐτὸν (visto que a definiccedilatildeo se
aplica a eles) lsquoo que faz a vontade de Deusrsquo (335a)
Se este conceito se aplica para aqueles que estatildeo escutando a Jesus entatildeo
ganha mais densidade com aqueles que satildeo seus seguidores comprometidos ou
seja οἱ περὶ αὐτὸν em 410 indica um grupo que rompe os laccedilos sanguiacuteneos e tem
uma relaccedilatildeo muito proacutexima com Jesus204
isto eacute uma ilustraccedilatildeo concreta de expe-
riecircncia mestre que define a modulaccedilatildeo para o disciacutepulo205
Assim o fato de οἱ περὶ
αὐτὸν (Mc 410) estarem a soacutes com Jesus juntamente com os doze a parte da mul-
tidatildeo sugere naturalmente que οἱ περὶ αὐτὸν deve ser identificado com o grupo
maior dos disciacutepulos de Jesus dentro do qual estavam os δώδεκα
A preposiccedilatildeo σύν na unidade 410-12 indica que os δώδεκα estatildeo associa-
dos com os περὶ αὐτὸν A identificaccedilatildeo de τοῖς δώδεκα eacute uma questatildeo jaacute esclare-
cida ldquosatildeo os doze que foram selecionados em 313-19rdquo206
eacute um termo teacutecnico
para se referir a este grupo207
natildeo primariamente ao nuacutemero Mais que um nuacuteme-
ro eacute um tiacutetulo208
Compreende-se a partir de Mc 313-19 que o termo se refere ao
grupo dos homens escolhidos por Jesus dentro de um grupo maior de seguidores
esta ldquosimples forma lsquoos dozersquo mostra que uma tarefa especial estaacute em questatildeo
mais do que dignidade especialrdquo209
Natildeo eacute necessaacuterio elaborar somente sobre a
identificaccedilatildeo de δώδεκα visto que como descrito eacute uma questatildeo muito bem defi-
nida Para a presente pesquisa a identificaccedilatildeo e a anaacutelise da essecircncia deste grupo
parece ser mais viaacutevel
A descriccedilatildeo da essecircncia do grupo dos doze juntamente com outro grupo de
disciacutepulos desempenha um papel importante neste capiacutetulo210
Esta ajuda a com-
preender outros aspectos desta unidade Holtz afirma que a ldquoa tradiccedilatildeo da com-
204
Cf TAYLOR E L The Disciple of Jesus in the Gospel of Mark Louisville 1979 346p
Monografia (Tese) ndash Southern Baptist Theological Seminary p 132 205
Cf GUELICH R A Mark 1-826 Dallas Word Books 1989 p 204 206
FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids
WB Eerdman 2002 p 190 207
Cf CUVILLIER E Le Concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans Le second Eacutevangile Paris J
Gabalda ET Cie 1993 p 96 208
Cf BRATCHER R G NIDA E A A Handbook on the Gospel of Mark New York United
Bible Societies 1993 p 134 209
RENGSTORF K H δώδεκα In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Diction-
ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1985 sect 203 210
TAYLOR E L op cit p 118 observa que este capiacutetulo ldquoeacute de significado primaacuterio para inter-
pretaccedilatildeo do papel dos disciacutepulos no Segundo Evangelhordquo
55
plementaccedilatildeo do ciacuterculo dos doze (Atos 1[15]21-26) indica a precedecircncia da ins-
tituiccedilatildeo sobre o nuacutemero na mesma necessidade de completar este nuacutemerordquo211
Esta
ecircnfase na essecircncia e natildeo no nuacutemero estaacute muito bem relacionada com a funccedilatildeo que
Jesus daacute aos seus disciacutepulos
Winn observa que talvez Marcos tenha criado um paradigma para o discipu-
lado ao fazer descriccedilotildees positivas dos disciacutepulos pretendendo que seus leitores
imitassem tais descriccedilotildees satildeo disposiccedilatildeo de abandonar seu modo antigo de vida
para seguir Cristo comprometer a vida presente para estar com Jesus proclamar a
mensagem de arrependimento e o Reino de Deus executar as instruccedilotildees que Jesus
lhes deu212
poreacutem os mesmos tambeacutem apresentam descriccedilotildees negativas
As seguintes descriccedilotildees negativas podem ser destacadas no grupo dos do-
ze falta de feacute falta de habilidade em reconhecer a verdadeira identidade de Jesus
falha em confiar no poder de Jesus falha em compreender os ensinamentos de
Jesus preocupaccedilatildeo pelo poder e posiccedilatildeo de autoridade213
Poreacutem mais do que
funcionar polemicamente as descriccedilotildees negativas de Marcos sobre os disciacutepulos
promovem seu ensinamento sobre discipulado214
Relacionado as limitaccedilotildees dos disciacutepulos Guedes observa que ldquoo disciacutepulo
deveraacute acostumar-se com os limites do lsquoainda natildeorsquo esses limites estatildeo neles e
noutros disciacutepulos e consequentemente na comunidade dos disciacutepulos sempre
vatildeo precisar ser podados para produzir mais frutosrdquo215
Assim ao analisar os as-
pectos positivos do discipulado se observa que a funccedilatildeo dada a eles desempenha
papel importante na compreensatildeo dos demais elementos na unidade A narrativa
do evangelho de Marcos mais adiante indica que a estes doze foi dada uma missatildeo
especial a de pregar as Boas Novas confirmando que eles compartilharam o que
viram e ouviram de Jesus Este aspecto que enfatiza a essecircncia dos περὶ αὐτὸν e os
δώδεκα
42
211
HOLTZ T δώδεκα In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dictionary of the
New Testament v 1 Grands Rapids William D Eermans 1990 sect 1473 212
WINN A The Purpose of Markacutes Gospel Tuumlbingen Mohr Siebeck 2008 p 140 213
Ibid p 14-145 214
Ibid p 145 215
GUEDES J O O A gecircnese do disciacutepulo uma relaccedilatildeo semacircntica de Paulo e Joatildeo a partir
do estudo de Filipenses 3 1-16 e Joatildeo 15 1-8 Satildeo Paulo Paulinas 2015 p 71
56
ὑμῖν e os ἐκείνοις τοῖς ἔξω (v11bd)
Com relaccedilatildeo a identificaccedilatildeo dos ὑμῖν natildeo haacute muito que se deter pois a sin-
taxe e a narrativa do texto natildeo deixam margem para duacutevidas A narrativa indica
que haacute apenas trecircs personagens ativas nesta unidade Jesus retomado por αὐτὸν
(10b) os οἱ περὶ αὐτὸν (10b) que satildeo o grupo maior de seguidores de Jesus como
visto acima e os δώδεκα (10b) O diaacutelogo eacute estabelecido entre Jesus οἱ περὶ
αὐτὸν e δώδεκα logo eacute neste grupo que se deve identificar os ὑμῖν
O antecendente que concorda com este em nuacutemero e gecircnero satildeo os οἱ περὶ
αὐτὸν e os δώδεκα O verbo ἠρώτων (10b) tambeacutem concorda com estes em nuacuteme-
ro e gecircnero e os tem como sujeito Assim fica claro que ὑμῖν eacute uma retomada de
οἱ περὶ αὐτὸν σὺν τοῖς δώδεκα (10b) No entanto a definiccedilatildeo que Jesus daacute em 3
35 sugere que a ecircnfase estaacute no conceito que caracteriza e natildeo tanto no grupo ou
nas pessoas que formam o grupo
Os ὑμῖν por contraste impliacutecito a ἐκείνοις-τοῖς ἔξω satildeo considerados lsquode
dentrorsquo porque se enquadram na definiccedilatildeo dada por Jesus em 335 Estes ldquoquerem
conhecer mais e converter-se em Seus [de Jesus] disciacutepulos [] foram estimula-
dos o suficiente pelo que ouviram das boas novas a fazer esforccedilo para aprender
maisrdquo216
Estes possuem este status porque seguem Jesus estatildeo ao redor dEle se tor-
naram famiacutelia ao fazer a vontade de Deus seguem Jesus ao tomar a cruz e persis-
tir ateacute o fim217
Mally afirma que se trata de uma nova comunidade que substitui o
antigo Israel218
De fato quando se analisa a dinacircmica dos personagens no conjun-
to de Marcos e tambeacutem nos outros sinoacuteticos se observa que os que se dispuseram
em seguir a Jesus viveram realmente o conceito expresso em 335
A identificaccedilatildeo de ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo eacute facilitada pela sintaxe assim co-
mo ὑμῖν Muitos autores consideram que a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις- τοῖς ἔξω eacute
um forte indicativo de uma matildeo redatora219
outros na mesma dinacircmica sugerem
216
MARCUS J Mark 1-8 A New Translaction with Introduction and Commentary New York
Doubleday 1999 p 302 217
Cf AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in
the Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 218
MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R E FITZMYER J A MUR-
PHY R E (Orgs) Comentario Biblico San Jeronimo Tomo 3 Madrid Cristandad 1972 p
82 219
Ver eg MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A
57
que a citaccedilatildeo de Is 69-10 seja uma inclusatildeo220
portanto Mazzarolo observa que
esta proposta natildeo soluciona a tensatildeo entre ὑμῖν e ἐκείνοις221
Alguns autores ob-
servam que ἐκείνοις-τοῖς ἔξω relembra a matildee e os irmatildeos de Jesus que de acordo
331-32 estavam do lado de fora222
Raumlisaumlnen afirma que eacute uma referecircncia a multi-
datildeo223
similarmente Balz e Schneider sugerem que se trata da massa que natildeo per-
tence aos disciacutepulos os natildeo cristatildeos os gentios224
Outros sugerem que satildeo os escribas ou alguma oposiccedilatildeo endurecida simi-
lar225
No entanto uma anaacutelise do conjunto do Evangelho de Marcos sugere que
ἐκείνοις-τοῖς ἔξω ldquonatildeo se trata apenas de uma designaccedilatildeo fiacutesico-espacial poreacutem
mais como uma designaccedilatildeo simboacutelicardquo 226
o que eacute confirmado pela atitude de
cada indiviacuteduo ou grupo diante da exortaccedilatildeo que Jesus faz o que leva a identificaacute-
los como aqueles que tecircm uma postura resistente ao convite e ensinamento de
Jesus
Algumas das identificaccedilotildees sugeridas acima satildeo difiacuteceis de assumir como
primaacuterias e especiacuteficas quando se analisa a narrativa de Marcos os outros sinoacuteti-
cos e todo NT Ademais o pronome demonstrativo ἐκεῖνος embora possa designar
uma pessoa jaacute mencionada tambeacutem pode fazer uma menccedilatildeo natildeo especiacutefica (cf
Mt 722 2 Ts 110)227
o que talvez pode ser o caso aqui Como jaacute visto acima de
MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 80-81
LEacuteGASSE S LEacutevangile de Marc I-II Paris Cerf Coll 1997 apud MAZZAROLO I Evange-
lho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 GNILKA J El Evangelio segun San
Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 54 220
Ver eg TAYLOR V The Gospel According to St Mark London Macmillan 1966 p 254-
258 GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme
1999 p 56 CUVILLIER E Le concept de ΠΑΡΑΒΟΛΗ dans le second Evangile Eacutetudes Bibli-
ques v 19 n 1 1993 Paris Gabalda p 97 221
Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 222
Veja eg BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 2001 p 82 GOULDER M
D Those outside Novum Testamentum v 33 n 4 p 289-302 1991 p 298 223
Cf RAumlISAumlNEN H The Messianic Secret in Marks Gospel Edinburgh T amp T Clark
1990 p 78 224
Cf PEPPERMUumlLLER R ἔξω In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Diction-
ary of the New Testament v 2 Grands Rapids William B Eerdmans 1990 sect 1914 tambeacutem
ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B Eerdmans 1976 p 131 225
Ver alguns nomes em GOULDER M D Those outside (Mk 410-12) Novum Testamentum
v 33 n 4 p 289-302 1991 p 291 nota 8 tambeacutem WATTS R E Isaiahacutes New Exodus in
Mark Grand Rapids Baker Academy 1997 p 197-198 MALLY E J Evangelio seguacuten San
Marco In BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo
Madrid Cristiandad 1972 p 82 afirma que satildeo os Judeus que por ter rejeitado a Jesus perderam
seus privileacutegios GOULDER M D opcit p 298 identifica os escribas juntamente com a famiacutelia
de Jesus 226
Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 227
Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other
Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 291
58
acordo Mc 334-35 pertencer a famiacutelia de Jesus ( ser lsquode dentrorsquo) e natildeo pertencer
(ser lsquode forarsquo) estaacute mais relacionado a aceitaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo dos ensinos de Jesus
e natildeo tanto ao grupo ou pessoa especiacutefica
Assim a famiacutelia sanguiacutenea de Jesus natildeo pode ser identificada como os
ἐκείνοις-τοῖς ἔξω pois a narrativa dos sinoacuteticos e Atos descreve claramente Maria
tanto como membro da famiacutelia sanguiacutenea como da famiacutelia dos fieacuteis da mesma
forma Tiago tornou-se um dos principais na comunidade dos fieacuteis (cf Gl 119)
Em muitas ocorrecircncias satildeo alguns fora do grupo dos disciacutepulos e os gentios que
entendem o que Jesus fala e faz (eg A Sirofeniacutecia o cego Bartimeu o
Centuriatildeo) Estes fatos sugerem que o sintagma ἐκείνοις-τοῖς ἔξω natildeo pode servir
como foacutermula para se referir primariamente aos de fora do grupo dos disciacutepulos
ou aos gentios
Snodgrass observa que ldquoaqueles de fora natildeo satildeo um grupo predeterminado
mas aqueles que natildeo responderam com obediecircncia agrave mensagem de Jesusrdquo228
Em
1Cor 512f Cl 45 e 1Tm 37 lsquoaqueles de forarsquo satildeo pessoas que permanecem fora
da feacute cristatilde229
De fato pela dinacircmica das antiacuteteses e correspondecircncias na grande
narrativa (41-35) eacute possiacutevel observar que solos maus (v3-7) os de fora (v11) e
os que natildeo permanecem com a Palavra (v15-19) se correspondem dinamicamen-
te eacute o que Stein entende quando expressa que ὑμῖν (11a) corresponde ao bom
solo230
(8a) enquanto τοῖς ἔξω corresponde aos trecircs primeiros solos maus (v4-
7)231
Manson sugere que o semeador (v3-9) eacute uma paraacutebola sobre o ensino
paraboacutelico (v10-12) isto eacute ldquoa eficaacutecia das paraacutebolas natildeo depende das paraacutebolas
mas do caraacuteter dos ouvintesrdquo232
O quadro abaixo sobre as correspondecircncias
dinacircmicas antiteacuteticas em 41-35 lanccedila mais luz sobre tal equivalecircncia pois sugere
228
SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p
59-79 2004 p 74 229
Cf TAYLOR E L The Disciples of Jesus in the Gospel of Mark 1979 366p Monografia
(Tese) - Southern Baptist Theological Seminary Louisville 1979 p 132-133 230
JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 81 afirma que a paraacute-
bola eacute uma ldquoexortaccedilatildeo aos convertidos no sentido que eles testem suas disposiccedilotildees de coraccedilatildeo para
verem se levam ou natildeo a seacuterio a conversatildeordquo o que confirma o aspecto positivo da uacuteltima parte da
paraacutebola (o solo bom) contrastada com o negativo de outras partes (os solos maus) 231
STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 207 semelhantemente HOOK-
ER M D Marks Parables of the Kingdom (Mark 41-34) In LONGENECKER R N (Ed)
The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids Cambridge William B Eerdmans Publishing
Company 2000 p 90 232
MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge Cam-
bridge University Press 1967 p 76-77
59
que a unidade tem um enfoque especial nestas correspondecircncias indicando que a
postura negativa diante dos ensinos de Jesus tem predominacircncia na caracterizaccedilatildeo
do grupo ou pessoa que constituem ἐκείνοις-τοῖς ἔξω
Correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35
O que semeia a Palavra v14 O que tira a Palavra v15
O solo bom v8 O solo mau v3-7
Semente que germina e daacute muito fruto
v8
Semente que natildeo germina ou germina e
daacute pouco fruto v3-7
Voacutes v11 Os de fora v11
Os que permanecem com a palavra v20 Os que natildeo permanecem com a Palavra
v15-19
Candeia vista v21 Candeia oculta v21
Mostrado v22 Oculto v22
Visiacutevel v22 Escondido v22
Ouvidos para ouvir v23 Ouvidos que natildeo ouvem v12
Os que medem os outros v24 Os que seratildeo medidos v24
O que tem e receberaacute v25 O que natildeo tem e seraacute tirado v25
Em suma se observa aqui que embora ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se refiram a
grupos respectivamente os que estatildeo ao redor de Jesus e os que se opotildeem a Ele
os termos satildeo mais conceitos que caracterizam pessoas ou grupos do que uma
especificaccedilatildeo de grupos predeterminados Assim os ὑμῖν ou os lsquode dentrorsquo satildeo
aqueles que responderam ao convite de Jesus jaacute os de fora ldquosatildeo os que no Evan-
gelho de Marcos recusam-se a reconhecer em Jesus a presenccedila operante do Reino
de Deusrdquo233
Mais do que grupos este contraste pretende descrever a atitude de
cada ouvinte frente ao convite de Jesus relacionado ao Reino de Deus
233
BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p
463
60
43 τὸ μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c)
Sobre o significado do substantivo μυστήριον natildeo haacute necessidade de uma
tentativa de elaboraccedilatildeo exaustiva visto jaacute haverem excelentes pesquisas234
o que
seraacute apresentado aqui eacute uma breve anaacutelise com fim de contextualizaccedilatildeo e com-
plementaccedilatildeo de outras questotildees desta pesquisa O substantivo μυστήριον tem sido
conceituado por muitos de diversas formas Alguns sugerem que o substantivo se
refere a enigma algo velado mesmo com a presenccedila de Jesus235
Para Brown
ldquolsquomisteacuteriorsquo no mundo semiacutetico natildeo se refere ao que eacute misterioso e desconhecido
mas [se refere] agrave revelaccedilatildeo ao que seria desconhecido se Deus natildeo revelasserdquo236
consiste no conhecimento de que o Reino de Deus surgiu com Jesus237
Seria difiacutecil conciliar o caraacuteter do Evangelho com a ideia de algo natildeo reve-
lado Marcus observa que o perfeito δέδοται limita μυστήριον a algo jaacute menciona-
do no Evangelho238
isto eacute algo que natildeo eacute desconhecido dos ouvintes o que bem
representa a ideia do perfeito a continuaccedilatildeo de uma accedilatildeo que jaacute foi completada239
A sintaxe de Mc 411bc tem levado muitos autores a ver certo privileacutegio
(receber o misteacuterio do reino) para os ὑμῖν natildeo estendido aos ἐκείνοις-τοῖς ἔξω
Mann sugere que eacute o segredo iacutentimo da providecircncia divina que foi garantido aos
disciacutepulos por ouvirem obedientemente240
Baird chega a afirmar que ldquohaacute um
contraste aqui entre os disciacutepulos e aqueles de fora tanto no propoacutesito pelo qual o
234
Uma extensiva indicaccedilatildeo bibliograacutefica pode ser encontrada em GUELICH R A Mark 1-826
Dallas Word Books 1989 p 198 e GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826
4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 189 235
Cf eg GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Mc 1 1-826 4 ed Salamanca
Siacutegueme 1999 p 192 GOULD E P A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel
According St Mark Edinburg T amp T Clarck 1912 p 71-72 SCHMID J El Evangelio seguacuten
San Marcos Barcelona Herder 1973 p 138-139 (sugere que eacute um aspeto do reino ocultado ao
povo e revelado somente aos disciacutepulos o comeccedilo do Reino de Deus) 236
BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phil-
adelphia Fortress 1968 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical
Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 74 237
MALLY E J Evangelio seguacuten San Marcos In BROWN R FITZMYER J A MURPHY
R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 238
Cf MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v
103 n 4 p 557-574 1984 p 565 239
Cf BLASS F DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other
Early Christian Literature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 340 240
MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary (The Anchor Bi-
ble) New York Doubleday 1986 p 263
61
ensinamento eacute dado como no meacutetodo de sua apresentaccedilatildeordquo241
Outros chegam a
sugerir que haacute uma predestinaccedilatildeo expressa no texto242
o que de certa forma
limita o privileacutegio da revelaccedilatildeo aos disciacutepulos fazendo o texto soar exclusivismo
algo que criaria uma auto contradiccedilatildeo no Evangelho de Marcos Poreacutem outros
autores pensam de forma diferente Mazzarolo observa que ldquoJesus natildeo privatiza a
Boa Nova e desde a convocaccedilatildeo dos disciacutepulos inclui publicanos pecadores e
mulheres na sua missatildeordquo243
Stein observa que o misteacuterio do Reino de Deus eacute a-
bertamente proclamado a todos244
Este pensamento se solidifica quando se consi-
dera o sujeito dos verbos δέδοται (11b) e γίνεται (11c)
A identificaccedilatildeo dos sujeitos dos verbos no v10 lanccedila luz sobre a questatildeo em
anaacutelise A interrogaccedilatildeo lsquoquem daacutersquo se feita ao verbo δέδοται indica que se trata de
uma referecircncia indireta a Deus o que alguns chamam de passivo teoloacutegico245
ou
passivum Divinum246
o que estabelece Deus como o sujeito subentendido (teoloacutegi-
co) da accedilatildeo de dar o misteacuterio do reino Semelhante aspecto ocorre com o verbo
γίνεται
No entanto de acordo a narrativa visto que a pergunta se refere ao ato de
Jesus ao ensinar em paraacutebolas247
entatildeo a resposta naturalmente tambeacutem pode ser
entendida como accedilatildeo de Jesus o que tambeacutem O qualifica como sujeito dos ver-
bos Assim tendo em conta isto visto que a accedilatildeo descreve uma accedilatildeo tanto de
Deus como de Jesus eacute mais viaacutevel compreender que esta accedilatildeo natildeo eacute ocultada O
NT testemunha constantemente sobre o dom gratuito de Deus concedido a todos
na Pessoa de Jesus
O paralelismo no v11bc tambeacutem sugere as seguintes correspondecircncias ὑμῖν
ἐκείνοις-τοῖς ἔξω μυστήριον τῆς βασιλείας τοῦ θεοῦ τὰ πάντα [τῆς βασιλείας
241
BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of
Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 242
Cf GNILKA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme
1999 p 191 HOOKER M D Markacutes Parables of the kingdom (Mk 41-34) In
LONGENECKER R N (Ed) The Challenge of Jesus Parables Grand Rapids William B
Eerdmans 2000 p 90 243
Cf MAZZAROLO I Evangelho de Marcos Rio de Janeiro Mazzarolo 2004 p 137 244
Cf STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 245
Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010
p 107 246
Cf JEREMIAS J Teologiacutea Del Nuevo Testamento Salamanca Siacutegueme 1974 p 21-17
STEIN R H opcit p 207 Para uma anaacutelise criacutetica sobre a identificaccedilatildeo de passivos Divinos em
Marcos ver PASCUT B The so-called Passivum Divinum in Markacutes Gospel Novum Testamen-
tum v 54 n 4 2012 p 313-333 247
A narrativa de Mateus indica claramente que a pergunta feita a Jesus aponta a ele como sujeito
das accedilotildees de lsquofalarrsquo O que naturalmente a pergunta subtende que Jesus justificaraacute Sua accedilatildeo
62
τοῦ θεοῦ] δέδοται γίνεται e para ἐν παραβολαῖς Baird248
sustenta que o corres-
pondente deve ter lsquocom explanaccedilatildeorsquo como correspondente249
Estas correspondecircn-
cias indicam que ambos os grupos recebem informaccedilatildeo pois δέδοται γίνεται
Ademais o verbo γίνεται sugere que natildeo se oculta nada para lsquoaqueles de forarsquo
pelo contraacuterio se apresenta ldquoJeremias admite que ἐν παραβολαῖς se refere a lsquofor-
marsquo na qual o ensino eacute apresentadordquo250
visto que ἐν com dativo pode designar
tambeacutem o modo251
isto eacute a forma didaacutetica como Jesus se dirige a cada um dos
grupo
Talvez Jesus se refira a Sua presenccedila constante com os disciacutepulos sendo
uma revelaccedilatildeo direta de Deus Eacute importante lembrar que ldquoa exclusatildeo ou inclusatildeo
da audiecircncia de Marcos procura maximizar a participaccedilatildeo da audiecircncia em sua
narrativa da revelaccedilatildeo do Reino de Deus []rdquo252
Stein observa que em 327
1210ndash11 Mt 1118ndash19 2131bndash32 2214 Lc 743ndash47 1036ndash37 1328ndash30
141133 15710 e 1814b a interpretaccedilatildeo de vaacuterias paraacutebolas eacute dado lsquoaos de
forarsquo253
aspecto que se opotildee a idea de exclusividade dos disciacutepulos no recebimen-
to das coisas do Reino de Deus
Assim ao se observar a sintaxe e teologia da unidade da seccedilatildeo maior e de
todo o conjunto de Marcos eacute razoaacutevel concluir que receber o lsquomisteacuterio do Reino
de Deusrsquo natildeo eacute privileacutegio dos disciacutepulos sendo que a expressatildeo lsquomisteacuteriorsquo aqui se
refere a ldquoprovidecircncia divina e Seu trabalho em referecircncia a salvaccedilatildeo do
homemrdquo254
e ldquoeste misteacuterio eacute o proacuteprio Jesus com aquilo que faz e dizrdquo sua
248
Cf BAIRD J A A Pragmatic Approach to Parable Exegesis Some New Evidence Journal of
Biblical Literature v 76 n 3 p 201-207 1957 p 202 tambeacutem concordam com este arranjo
BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery In the New Testament Phila-
delphia Fortress 1968 p 13 apud SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for
Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 SNODGRASS K Between Text and Sermon In-
terpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p 285 249
JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Pauo Paulus 1986 p 10 e tambeacutem GNIL-
KA J El Evangelio segun San Marcos Me 1 1-826 4 ed Salamanca Siacutegueme 1999 p 190
sustentam que μυστηριον deve corresponder a παραβολή poreacutem BAIRD J A opcit p 202 ob-
serva que Jeremias falha neste ponto visto que em Mc 434 πάντα se refere as coisas apresentadas
aos disciacutepulos 250
BAIRD J A op cit p 202 251
Cf ZERWICK M Il Greco Nel Nuovo Testamento Roma Pontificio Istituto Biblico 2010
sect 64 252
AHEARNE-KROLL S P Audience Inclusion and Exclusion as Rhetorical Technique in the
Gospel of Mark Journal of Biblical Literature v 129 n 4 p 717-735 2010 p 735 253
STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 208 254
BROWN R The Semitic Background of the Term Mystery in the New Testament Phil-
adelphia Fortress 1968 apud MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of
Biblical Literature v 103 n 4 p 557-574 1984 p 564
63
palavra ldquoque torna atual a possibilidade de salvaccedilatildeo e libertaccedilatildeordquo255
accedilotildees que
natildeo podem se limitar aos disciacutepulos Portanto ldquodizer lsquoo misteacuterio do Reino de
Deus tem sido dado agrave vocecircsrsquo eacute dizer que a revelaccedilatildeo de Deus acerca do reino tem
sido dado agrave vocecircs (cf Mt 1316-17Lc 1023-24)rdquo256
Em suma natildeo haacute privatizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Reino de Deus Todos rece-
bem a informaccedilatildeo do Reino de Deus No entanto a teologia do conjunto da narra-
tiva de Marcos observando Mc 411 sugere que para aqueles que ouvem e res-
pondem positivamente esta revelaccedilatildeo eacute contiacutenua mas para aqueles que natildeo res-
pondem positivamente natildeo eacute contiacutenua isto eacute o fato de resistirem dificulta a accedilatildeo
daquilo que jaacute lhes foi dado o que acaba sendo improdutivo como demonstra a
paraacutebola em 41-9 e o dito em 425 A reaccedilatildeo de cada solo tambeacutem deixa claro que
a atitude de natildeo receber mais revelaccedilatildeo de Deus parte da postura de natildeo se tornar
disciacutepulo ou ouvir positivamente a exortaccedilatildeo de Jesus Embora haja um passivum
divinum deve-se entender este a partir da escolha de cada ouvinte Tais aspectos
auxiliam na compreensatildeo do motivo de falar em paraacutebolas e o dito do endureci-
mento
44 O motivo de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento
A pergunta em 10b e a conjunccedilatildeo ἵνα em 12a unem naturalmente o motivo
de falar em paraacutebolas e a temaacutetica do endurecimento Por isto seratildeo abordados em
conjunto neste toacutepico Primeiramente seraacute abordado o tema do motivo ou propoacutesi-
to de falar em paraacutebolas e em seguida se abordaraacute a temaacutetica do endurecimento E
visto que Marcos faz uso de Is 6910 entatildeo se analisaraacute tambeacutem de forma breve
esta fonte Veterotestamentaacuteria em seu contexto
441 O motivo de ensinar em paraacutebolas
Alguns afirmam que Jesus no atual contexto de Mc 410-12 teria usado pa-
raacutebolas para ocultar o misteacuterio do Reino de Deus e endurecer o coraccedilatildeo aos de
255
BARBAGLIO G FABRIS R MAGGIONI B Os Evangelhos I Satildeo Paulo Loyola 1990 p
462-463 256
MARCUS J Marc 410-12 and Marcan Epistemology Journal of Biblical Literature v 103
n 4 p 557-574 1984 p 74
64
fora257
ao que Jeremias acrescenta que as mesmas satildeo afirmaccedilotildees enigmaacuteticas e
ininteligiacuteveis para os de fora258
Outros chegam a sugerir que o objetivo eacute ofuscar
o misteacuterio aos que natildeo estatildeo destinados ou predestinados259
Outros no entanto
entendem que a unidade como se encontra natildeo sugere que Jesus usou paraacutebolas
para ocultar o misteacuterio de Reino de Deus aos de fora ou endurecer o coraccedilatildeo de
Seus ouvintes pelo contraacuterio usou para revelar260
Uma observaccedilatildeo no material
que Jesus usa nas paraacutebolas indicaraacute que o segundo grupo tem uma probabilidade
maior de preferecircncia
Quando se observa o conteuacutedo das paraacutebolas eacute natural perceber certo propoacute-
sito didaacutetico261
o que parece ser corroborado por Mc 433 e tambeacutem por uma
foacutermula introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo nas paraacutebolas262
pois a con-
junccedilatildeo ὡς (Mc 42631) evidencia o aspecto de analogia o que sugere uma adap-
taccedilatildeo de conteuacutedo De fato a tentativa de adaptar a forma de falar do Reino de
257
Eg DIBELIUS M From Tradition to Gospel Cambrige James Clarke 1971 p 228 JE-
REMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 DODD C H The
Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 15-16 HASTING J (Ed)
A Dictionary of the Bible v 3 New York Scribners 1903 p 663 CROSSAN J D The Power
of the Parables New York HarperOne 2012 p 36-37 afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a
funccedilatildeo das paraacutebolas criando incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo A maioria destes
autores com pequena variaccedilatildeo defende que a unidade provoca uma tensatildeo estranha acrescentada
posteriormente por motivaccedilatildeo teoloacutegica Outros afirmam que Marcos deslocou as palavras de
Jesus Nesta pesquisa procura-se analisar o texto como se encontra pelo fato de que a) natildeo haacute
nenhuma testemunha que apresenta o texto como pretendido pelos que rejeitam a atual
configuraccedilatildeo b) o texto como estaacute possui um aspecto comunicativo importante no conjunto do
Evangelho c) o texto oferece uma possibilidade de entender a tensatildeo presente e d) a
impossibilidade de adotar a emenda de um autor pois cada um retalha subjetivamente o texto a seu
modo natildeo havendo unanimidade na questatildeo 258
Cf JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 69 (Jeremias crecirc
que o sentido original das paraacutebolas natildeo tecircm este propoacutesito) 259
Eg DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p
15 (observa que os judeus que rejeitaram a Cristo natildeo a multidatildeo) BARRYC The Literary and
Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-386
1948 p 379 260
Eg MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge
Cambridge University Press 1967 p 79 MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In
BROWN R FITZMYER J A MURPHY R E Comentaacuterio biacuteblico San Jerocircnimo Madrid
Cristiandad 1972 p 83) ANDERSON H The Gospel of Mark Grand Rapids William B
Eerdmans 1976 p 131 (afirma que para Marcos as paraacutebolas satildeo dirigidas para todos) RAT-
ZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 169 observa que se as paraacutebolas satildeo
convites escondidos ldquoentatildeo depara no nosso caminho uma palavra de Jesus que nos irritardquo 261
Alguns autores enxergam este propoacutesito nas paraacutebolas ver eg HULTGREN A J The Para-
bles of Jesus Grand Rapids William B Eerdmans 2000 p 15 CROSSAN J D Parable In
FREEDMAN D N The Anchor Bible Dictionary v 5 New York Doubleday 1992 p 146-
152 DODD C H op cit p 20 observa que nas paraacutebolas natildeo haacute mera analogia mas uma afini-
dade entre a ordem natural e espiritual 262
Em Mc 41-14 haacute duas foacutermulas introdutoacuteria de equiparaccedilatildeo ou comparaccedilatildeo ἡ βασιλεία τοῦ
θεοῦ ὡς (Mc 426) e πῶς ὁμοιώσωμεν τὴν βασιλείαν τοῦ θεου (Mc 430)
65
Deus adaptando a elementos conhecidos e comuns de Seus ouvintes indica um
processo didaacutetico
Dodd afirma que ldquoJesus natildeo sentiu a necessidade de fazer ilustraccedilotildees artifi-
ciais para a verdade Ele queria ensinarrdquo263
Tambeacutem se percebe que o ldquomaterial
das imagens eacute retomado da vida na Palestina [ e] levam os ouvintes a um mun-
do que lhes eacute familiar tudo eacute tatildeo simples e clarordquo264
trazem ao conhecimento o
que era desconhecido para os ouvintes265
sendo uma ldquoforma para a mensagem de
Seu reino celestialrdquo266
Assim eacute natural perceber que o objetivo de Jesus ao ensinar por paraacutebolas
era confrontar e persuadir os recalcitrantes a ouvir positivamente a mensagem de
Deus267
suscitar a atenccedilatildeo de seus ouvintes268
convidar o ouvinte a fazer um juiacute-
zo sobre si mesmo269
e dar uma chance de genuiacutena decisatildeo270
relacionada ao Rei-
no de Deus ilustrar verdades espirituais e provocar reflexatildeo e decisatildeo271
Este
objetivo de mostrar e natildeo ocultar serve de base para a compreensatildeo do dito em
412 e visto que se trata de uma citaccedilatildeo do profeta Isaiacuteas como bem observa Rat-
zinger para compreender as palavras de Jesus aqui se deve fazecirc-lo a partir do proacute-
prio profeta272
especificamente em Is 69-10
263
DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 20
embora sugerir que no atual contexto de Marcos as paraacutebolas ocultam 264
JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus Satildeo Paulo Paulus 1986 p 7 9 DODD C H The
Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p 19 afirma que ldquonas paraacutebo-
las [] tudo eacute autecircntico da natureza e da vida Cada similitude ou histoacuteria eacute uma descriccedilatildeo perfeita
de alguma coisa que pode ser observada no mundo de nossa experiecircnciardquo 265
Cf RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 266
Cf BARRYC The Literary and Artistic Beauty of Christacutes Parables The Catholic Biblical
Quarterly v 10 n 4 p 376-386 1948 p 376 RATZINGER J op cit p 171 observa que as
paraacutebolas falam do misteacuterio da cruz e tambeacutem lhe pertencem 267
SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p
284 268
Cf JEREMIAS J op cit p 23 269
REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A
(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 270
Cf LINNEMANN E Parables of Jesus Introduction and Exposicion London SPCK 1966
p 22 DODD C H opcit p 21 271
Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman 1991 p 77 272
Cf RATZINGER J op cit p 170
66
442 O contexto literaacuterio-teoloacutegico do mashal do endurecimento
Estaacute claro que Mc 412 cita Is 69-10 conforme jaacute foi visto no capiacutetulo dois
desta pesquisa Por isto uma breve anaacutelise desta fonte veterotestamentaacuteria seraacute de
grande proveito comeccedilando pelo contexto narrativo Os capiacutetulos antecedentes e
posteriores de Isaiacuteas 6 proporcionam uma boa chave para interpretaccedilatildeo do capiacutetu-
lo seis especialmente o dito do endurecimento Desde o capiacutetulo um a reclamaccedilatildeo
de YHWH acerca da rejeiccedilatildeo do povo eacute constante No capiacutetulo cinco o povo eacute
descrito com a imagem da vinha que produziu uvas azedas (v24) em vez de uvas
boas (v24) mesmo sendo plantada como boa vide e em local muito feacutertil (v1)
imagem que corresponde aos lsquoouvidos que natildeo ouvemrsquo lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e
lsquocoraccedilatildeo endurecidorsquo
Ainda no capiacutetulo cinco YHWH tambeacutem denuncia os delitos do povo
(v811-1318-24) que de acordo o v7 eacute a temaacutetica representada pela imagem das
uvas bravas isto eacute o povo em vez de praticar a retidatildeo praticou a transgressatildeo
Por causa desta postura YHWH alerta o povo ao anunciar o exiacutelio atraveacutes de um
exeacutercito que viria contra eles (v26-30) Eacute para este povo obstinado que YHWH
envia o profeta Isaiacuteas numa tentativa de levaacute-los ao arrependimento no capiacutetulo
seis
Os diversos criteacuterios que permitem averiguar os limites de uma unidade in-
dicam que Is 61-13 eacute uma unidade literaacuteria Esta unidade baseando-se na temaacuteti-
ca e personagens pode ser subdividida em cinco partes introduccedilatildeo (v1) seccedilatildeo I
(v2-4) seccedilatildeo II (v5-7) e seccedilatildeo III (v8-10) seccedilatildeo IV (v11-13) A introduccedilatildeo
situa e contextualiza a cena A seccedilatildeo I apresenta um discurso do profeta (2a-2e) e
um discurso dos serafins e sua subsequente accedilatildeo Nesta seccedilatildeo os serafins satildeo os
protagonistas Na seccedilatildeo II se descreve a reaccedilatildeo do profeta diante do que observa e
a accedilatildeo de um serafim sendo portador da purificaccedilatildeo do profeta Nesta seccedilatildeo haacute
uma interaccedilatildeo entre todos os personagens ativos na unidade
A seccedilatildeo III narra o diaacutelogo entre o profeta e YHWH Neste YHWH procura
a quem enviar e o profeta se disponibiliza entatildeo eacute comissionado Aqui nesta se-
ccedilatildeo YHWH e o profeta satildeo protagonistas o segundo eacute o agente do Primeiro para
executar Suas accedilotildees A seccedilatildeo IV narra outro diaacutelogo entre YHWH e o profeta
Aqui haacute uma ecircnfase na devastaccedilatildeo ao que o profeta questiona a YHWH sobre a
67
duraccedilatildeo da postura obstinada do povo que levaraacute a tal consequecircncia YHWH con-
cede resposta ao profeta anunciando um oraacuteculo devastaccedilatildeo e tambeacutem um de es-
peranccedila para o remanescente
As imagens e elementos na unidade tais como templo (1c) serafins (2a)
impureza-purificaccedilatildeo (5cd 7de) brasa (6b) altar (6c) casa (4b) evocam o santuaacute-
rio e seus serviccedilos sugerem a presenccedila das tradiccedilotildees do ecircxodo e do deserto Swee-
ney afirma que ldquoEmbora 61-13 natildeo faz menccedilatildeo expliacutecita do ecircxodo e da tradiccedilatildeo
do deserto um nuacutemero de seus temas e motivos correspondem aqueles do ecircxodo e
das tradiccedilotildees do desertordquo273
A ordem dada a Isaiacuteas para endurecer o coraccedilatildeo do povo corresponde a or-
dem que YHWH daacute a Moiseacutes para endurecer o coraccedilatildeo de Faraoacute274
a resposta de
YHWH que fez o mudo o surdo o que vecirc e o cego (Ex 411) antes de enviar
Moiseacutes identifica-se com a comissatildeo de Isaiacuteas275
Tambeacutem as imagens de escutar
mas natildeo entender (v9de) ver mas natildeo perceber (9fg) expressam o tema do cora-
ccedilatildeo obstinado do povo A impureza tambeacutem talvez seja uma chave para entender a
ordem do v10 indicando que se trata de uma metaacutefora que descreve a obstinaccedilatildeo
do proacuteprio povo276
informado desde o comeccedilo do livro (12)
Considerando os elementos acima se compreende que a ordem dada a Isaiacuteas
no v10 para lsquotornar pesado endurecer e cegarrsquo eacute um recurso retoacuterico usado por
YHWH para exprimir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo no entanto natildeo pode ser en-
tendido no sentido literal Ao se observar a estrutura desta unidade se percebe que
a descriccedilatildeo do endurecimento eacute preacutevia agrave ordem em 9defg Ao fazer uma observa-
ccedilatildeo conjunta de Is 6910 Dt 293 Jr 521 Kaiser conclui que ldquoa doenccedila do povo
consiste de uma falta de temor de Deus e um temor inapropriado do homem e
todas consequecircncias que na praacutetica surgem destardquo 277
Em Dt 294 Moiseacutes lembra
ao povo sobre sua natureza obstinada mesmo tendo presenciado grandes sinais de
YHWH
273
SWEENEY M A Isaiah 1-39 With Introduction to Prophetic Literature Grand Rapids Wil-
liam B Eerdmans 1996 p 119 274
Cf WATTS J D W Isaiah 1-33 Waco Word Book 2005 p 75 275
Cf Ibid p 118 276
Para uma complementaccedilatildeo ver a exposiccedilatildeo de ROBINSON G D The Motif of Deafness and
Blindness in Isaiah 69-10 A Contextual Literary and Theological Analysis Bulletin for Bibli-
cal Research v 8 p 167-186 1998 277
KAISER O Isaiah 1-12 2th Philadelphia Westminster Press 1983 p 131
68
A menccedilatildeo de Faraoacute no v2 aponta para uma semelhanccedila de comportamento
com o povo a de ter coraccedilatildeo obstinado indicando que o endurecimento eacute accedilatildeo do
povo e natildeo de Deus Jr 521 descreve o povo como sujeito das accedilotildees da falta de
entendimento de natildeo ver e de natildeo ouvir nada lhes eacute imputado Em Ez 1223 a
queixa de YHWH indica claramente que eacute o povo que se obstina ainda assim no
v3 YHWH envia o profeta a um povo que de antematildeo sabe que natildeo corresponde-
raacute poreacutem o faz na esperanccedila de haver um arrependimento Assim se conclui que
a ordem de endurecimento em Is 69-10 eacute uma forma retoacuterica de se referir ao povo
que jaacute tem coraccedilatildeo obstinado natildeo haacute determinismo no texto Eacute com esta configu-
raccedilatildeo que se deve ler a temaacutetica do endurecimento em Mc 412
443 A temaacutetica do endurecimento
O tema do endurecimento estaacute descrito aqui na unidade pelos motivos do
lsquover que natildeo notarsquo (12ab) e do lsquoouvir que natildeo compreendersquo (12cd) Este tema eacute
recorrente em toda Escritura sendo representado tambeacutem pelos motivos da lsquodura
cerviz278
rsquolsquodureza de coraccedilatildeorsquo279
lsquocoraccedilatildeo de pedrarsquo280
lsquoincircuncisatildeo de cora-
ccedilatildeorsquo281
lsquonatildeo dar ouvidoouvido incircuncisorsquo282
lsquoolhos que natildeo vecirccegueirarsquo283
e
outros Em sua recorrecircncia se observa que a temaacutetica eacute usada em sentido figurado
para expressar a resistecircncia obstinada do povo aos apelos de Jesus
Nas passagens em que o tema e seus motivos ocorrem se verifica sempre
que o povo eacute o sujeito ativo da accedilatildeo ou seja nunca lhe eacute imputado ou levado a
tal eacute uma atitude e accedilatildeo levada a cabo voluntariamente (em Mc 817-18 652 35
o tema eacute aplicado aos disciacutepulos) Ainda pode se observar que a causa desta obsti-
naccedilatildeo estaacute na resistecircncia agrave palavra de Deus por parte do povo
Ademais o caraacuteter teoloacutegico do evangelho de Marcos natildeo permite uma in-
terpretaccedilatildeo que afirma que Jesus pretendia ocultar as coisas do Reino de Deus ou
endurecer o coraccedilatildeo de alguns A ideia de mostrar e natildeo ocultar ou endurecer eacute
278
Cf Ex 329 3335 349 Dt 1016 etc 279
Cf Ex 421 71322 815 91235 102027 1110 144817 Jr 317 724 1310 1612
2317 Ez 24 37 Mt 1918 Mc 1614 Jo 1240 At 2827 Ef 418 etc 280
Cf Ez 1119 3626 etc 281
Cf Lv 2641 Jr 925 Ez 4479 etc 282
Cf Dt 28154562 294 3017 Jz 220 610 1Sm 1215 1519 2818 2Re 1714 2213 Sl
10625 Is 610 4224 Jr 31325 610 Ez 37 122 At 751 2827 Rm 118 etc 283
Cf Is 610 2910 4418 Jr 521 Ez 122 Jo 1240 At 2827 Rm 118 1Jo 211 etc
69
reforccedilada na grande seccedilatildeo (v1-34) por vaacuterios elementos narrativo-semacircnticos
estes satildeo
a) A foacutermula exortativa conclusiva
Em dois momentos Jesus conclui apresentando uma foacutermula de exortaccedilatildeo
para lsquoouvirrsquo ὃς ἔχει ὦτα ἀκούειν ἀκουέτω (Mc 49b) e εἴ τις ἔχει ὦτα ἀκούειν
ἀκουέτω (Mc 423) Este convite para ouvir eacute enfatizado em toda seccedilatildeo nesta ldquoa
ecircnfase eacute colocada no ouvir produtivamenterdquo284
O verbo ἀκούω ocorre treze vezes
em Mc 41-35 estas recorrecircncias ldquomostram que a intenccedilatildeo eacute encorajar o ouvirrdquo285
Este verbo expressa audiccedilatildeo de apropriaccedilatildeo que tem a feacute e obediecircncia como mar-
ca286
tambeacutem conota o sentido de ldquodar atenccedilatildeo cuidadosardquo287
obedecer e ouvir
para entender288
Tambeacutem pode significar entender ou ouvir e entender uma men-
sagem289
entender no sentido de retenccedilatildeo de sentido ou significado reconhecer
discernir concordar com aceitar ou acreditar no que eacute dito290
Snondgrass observa que ldquoao inveacutes de guardar as pessoas de ouvir impedin-
do assim o perdatildeo de Deus a intenccedilatildeo elocucional [em Mc 412] eacute justamente o
opostordquo291
As foacutermulas conclusivas de certa forma tambeacutem retomam o dito do
v12 e estatildeo ligadas intimamente com o tema da dureza de coraccedilatildeo sugerindo que
o coraccedilatildeo endurecido eacute aquele que natildeo quer escutar ou obedecer voluntariamente
Assim estas foacutermulas exortativas conclusivas se configuram como um convite e
este convite no evangelho de Marcos exclui qualquer ideia de ocultaccedilatildeo ou endu-
recimento
284
HATING P J The Role of the Disciples in the Jesus Story Communicated by Mark Koers v
58 n 1 p 35-52 1993 p 41 285
SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286 2013 p
285 286
Cf SCHMIDT L ἀκούω In KITTEL G FRIEDRICH G (Orgs) Theological Dictionary
of the New Testament v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 43 287
DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other
Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 288
Cf LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th
ed add Oxford Clarendon Press
1996 sect 1505 IV 2 3 289
DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other
Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 278 290
Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1
p 59-79 2004 p 59 291
Id loc cit
70
b) A funccedilatildeo ou essecircncia da candeia (v21-23)
A paraacutebola da candeia aponta para uma intenccedilatildeo de revelar e natildeo de ocultar
A pergunta no v21 requer uma resposta negativa como sugere a partiacutecula interro-
gativa μήτι292
isto eacute ningueacutem pode ocultar uma candeia impedindo que execute
sua funccedilatildeo natural lsquoiluminarrsquo Esta ecircnfase eacute confirmada por outra oraccedilatildeo interro-
gativa οὐχ ἵνα ἐπὶ τὴν λυχνίαν τεθῇ (21c) que requer uma resposta positiva isto
eacute a candeia deve estar no lugar adequado o suporte a fim de iluminar e natildeo ser
ocultada O v23 concluiacute com a foacutermula exortativa que retoma o tema do ouvir
presente em 12c
Aleacutem de ter esta temaacutetica em comum Mc 421-13 e Mc 410-12 tambeacutem
tecircm alguns termos em comum ἐγένετο (10a21a) αὐτοῖς (12f 10b (αὐτὸν)21a)
ἔλεγεν (11a21a) o verbo ἀκούω (12c23) e a conjunccedilatildeo ἵνα (12a21bc22d) Estes
pontos em comum tambeacutem reforccedilam que haacute uma intenccedilatildeo de mostrar e natildeo ocul-
tar (cf v22) Este versiacuteculo ldquomostra que mesmo que a paraacutebola natildeo seja entendi-
da seu propoacutesito se manteraacute e este propoacutesito eacute revelar a Deusrdquo293
o que equivale
a intenccedilatildeo em comum a de tornar sensiacutevel o coraccedilatildeo dos ouvintes ao inveacutes de
endurecer
c) O que todos receberam (v25)
Este versiacuteculo retoma a dinacircmica de distinccedilatildeo dos dois grupos de ouvintes
do v11 ldquoO proveacuterbio nesta passagem descreve os esforccedilos de Deus em conceder
luz espiritual para o homemrdquo294
O verbo ἔχει (21acd) sugere que todos receberam
ou tecircm algo o que se opotildee a ideia de que Jesus ocultou ou endureceu para alguns
e revelou para outros
d) As siacutemiles da semente e do gratildeo de mostarda (v26-32)
A recorrecircncia da conjunccedilatildeo ὡς (v26b e 31a) indica claramente uma siacutemile
O Reino de Deus eacute equiparado ou ilustrado por meio de um homem que lanccedila
semente na terra e esta frutifica e com a dimensatildeo diminuta do gratildeo de mostarda
que quando eacute lanccedilado a terra se torna grande As siacutemiles mostram claramente uma
intenccedilatildeo de revelar por parte de Jesus pois estas ilustraccedilotildees traduzem a linguagem
292
Cf BALZ H SCHNEIDER G μήτι In BALZ H SCHNEIDER G (Orgs) Exegetical Dic-
tionary of the New Testament v 2 Grand Rapids William B Eerdmans 1990 sect 3418 μήτι In
DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early
Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 4910 BLASS F
DEBRUNNER A A Greek Grammar of the New Testament and Other Early Christian Lit-
erature Cambridge Cambridge University Press 1961 sect 427 293
SCHWEIZER E The Good News According to Mark London SPCK 1971 p 100 294
Ibid p 99
71
do Reino de Deus para a linguagem que eacute conhecida aos ouvintes caso houvesse
intenccedilatildeo de endurecer ou ocultar a adaptaccedilatildeo certamente seria evitada
e) O ensino por muitas paraacutebolas
Haacute duas expressotildees iguais na seccedilatildeo maior que enfatizam o ensino por meio
de muitas paraacutebolas (παραβολαῖς πολλὰ -v2a e παραβολαῖς πολλαῖς-v33a) Es-
tas expressotildees sugerem que as paraacutebolas foram elementos costumeiros no ensino
de Jesus como bem indica a oraccedilatildeo ἐν τῇ διδαχῇ αὐτοῦ (v2b) o que se a ideia de
que Jesus endureceu ou ocultou em suas paraacutebolas for admitida entatildeo equivaleria
dizer que costumeiramente Jesus ocultou e endureceu em Seus ensinamentos Tal
ideia natildeo se harmoniza com as declaraccedilotildees do conjunto do Evangelho de Marcos e
de todo NT principalmente com aquelas que declaram a missatildeo de Jesus Tam-
beacutem natildeo se harmoniza com a expressatildeo καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν (33b) pois esta
sugere claramente que as paraacutebolas soacute eram proferidas em moldes que poderiam
ser compreendidas o que implica numa facilidade e abertura de Jesus e natildeo o o-
posto
Em suma se observa que o tema do endurecimento estaacute presente metafori-
camente em todo bloco (Mc 41-34) de forma expliacutecita e impliacutecita Em Mc 41-9 o
tema do endurecimento pode ser observado nos vaacuterios motivos da semente que
natildeo germina e a que natildeo frutificou como deveria Em 410-12 o tema eacute expresso
pelo motivo dos lsquoolhos que natildeo vejamrsquo e dos lsquoouvidos que natildeo escutamrsquo Em 4
13-20 o tema eacute expresso pelo motivo do ser lsquoinfrutiacuteferorsquo (v19) Em Mc 4 21-25 o
endurecimento pode ser visto no motivo hipoteacutetico da lsquolacircmpada colocada debaixo
do alqueire ou da camarsquo ilustrando que haacute uma alienaccedilatildeo na funccedilatildeo da mesma ou
seja uma rejeiccedilatildeo da funccedilatildeo de iluminar
Em 426-29 o tema natildeo estaacute presente explicitamente pode ser deduzido por
contraste no motivo da semente que germina e daacute muitos frutos Assim o tema do
endurecimento pode ser visto o oposto isto eacute natildeo germinar Semelhante observa-
ccedilatildeo se percebe em 430-34 em que o tema do endurecimento eacute expresso pelo o-
posto o motivo do lsquopequeno gratildeo de mostarda que se torna em grande aacutervore e daacute
muitos ramosrsquo Essas equivalecircncias sugerem que o endurecimento nos v10-12 eacute a
negaccedilatildeo de algo neste caso das palavras de Jesus tal como ocorre com Isaiacuteas o
qual ele cita Assim visto que haacute uma equivalecircncia de contextos eacute plausiacutevel ob-
servar que a conclusatildeo que se chegou sobre Is 69 deve ser similar agrave da unidade
em estudo
72
Tal como Isaiacuteas Jesus fala para um povo com histoacuterico de obstinaccedilatildeo isto
sugere que o dito sobre o endurecimento usado em Mc 412 eacute um modo tradicio-
nal de se referir agrave obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo E tal como Isaiacuteas eacute comissionado a
um povo que previamente se sabia que rejeitaria mas ainda assim foi enviado na
tentativa de despertar arrependimento tal tambeacutem ocorre com Jesus Assim a
temaacutetica do endurecimento tanto em Isaiacuteas como em Marcos ao inveacutes de expres-
sar uma ideia oposta as boas novas ela expressa em seu sentido o caraacuteter miseri-
cordioso de um Deus que tenta salvar um povo cego por sua obstinaccedilatildeo
73
5 Leituras Teoloacutegicas da periacutecope
Este capiacutetulo se basearaacute nos dois capiacutetulos antecedentes principalmente o
uacuteltimo Seraacute abordada de forma sinteacutetica as trecircs grandes teorias relativas ao pro-
poacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa em Mc 410-12 a saber a proposta do en-
durecimento a facilitadora e a harmonizante Este capiacutetulo seraacute uma siacutentese dos
diversos autores associada a uma anaacutelise teoloacutegica de cada uma das teorias
51 Leitura dificultante
Esta leitura sugere que no atual contexto de Mc 410-12 o propoacutesito das pa-
raacutebolas seria endurecer o coraccedilatildeo ocultar ou dificultar as coisas referentes ao Rei-
no de Deus a determinado grupo Satildeo muitos os autores que datildeo suporte a esta
posiccedilatildeo
Comeccedilando pelos trecircs primeiros pioneiros destacados da pesquisa cientiacutefica
sobre paraacutebolas observa-se que Juumllicher rejeita Mc 410-12 como autecircntico e
propotildee que os evangelistas satildeo os culpados por uma ideia de que as paraacutebolas
ocultam295
Esta posiccedilatildeo eacute adotada pelos autores pioneiros da pesquisa cientiacutefica
sobre as paraacutebolas Para Juumllicher o ldquopropoacutesito de Jesus com paraacutebolas era unica-
mente fazer seus pensamentos claros e convincentesrdquo296
ou seja ele entende que a
atual configuraccedilatildeo de Mc 410-12 sugere ocultaccedilatildeo o que para ele natildeo se harmo-
niza com a postura de Jesus que acredita ser a oposta isto eacute revelar
Similarmente Dodd expressa que a ideia de que a paraacutebola eacute uma revelaccedilatildeo
velada estaacute expressa em Mc 411-12297
Este ainda afirma que estes versiacuteculos
foram ditos a fim de impedir o entendimento dos ensinamentos de Jesus aos que
natildeo foram predestinados para a salvaccedilatildeo298
Assim Dodd atribui os v11-12 a tra-
diccedilatildeo apostoacutelica e natildeo a Jesus afirmando que natildeo pode ser criacutevel em nenhuma
295
JUumlLICHER A Die Gleichnisreden Jesu v 1 p 135-48 apud SNODGRASS K A Herme-
neutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-79 2004 p 65 296
Ibid p 65 297
Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p
15 298
Ibid p 15 tambeacutem BARRY C The Literary and Artistic Beauty of Christs Parables The
Catholic Biblical Quarterly v 10 n 4 p 376-383 1948 p 379
74
leitura razoaacutevel dos Evangelhos que Jesus desejou natildeo ser entendido pelo povo
em geral299
Com alguma diferenccedila Jeremias sustenta que Mc 411b12 diz no seu atual
contexto que Jesus usou paraacutebolas para ocultar aos de fora o misteacuterio do Reino de
Deus e endurececirc-los300
No entanto reconhece que Mc 411b12 apesenta as
palavras autecircnticas de Jesus que originalmente eram independentes sendo inseri-
das por Marcos no capiacutetulo das paraacutebolas301
Juumllicher Dodd e Jeremias embora
admitam que no atual contexto as paraacutebolas tenham o sentido de ocultar assumem
que em seu contexto original tecircm o propoacutesito oposto isto eacute revelar
Os autores que se seguiram a Dodd e Jeremias usando suas pesquisas ou
baseando-se nelas partilham da mesma opiniatildeo com pequenas diferenccedilas Mar-
cus observa que a citaccedilatildeo de Is 69 em Mc 412 concede aos de fora uma forma de
percepccedilatildeo superficial pois para os de fora Jesus frequentemente retinha as expli-
caccedilotildees evitando deles o arrependimento e perdatildeo302
Marcus ainda sugere que o texto de Mc 411-12 mostra a mesma dualidade
[Deus temiacutevel e fantaacutestico] jaacute expressa no AT nos casos de Faraoacute e outros O autor
poreacutem observa que a condenaccedilatildeo dos de fora agrave cegueira e obstinaccedilatildeo em 412 eacute
justamente uma ratificaccedilatildeo de um processo jaacute comeccedilado anteriormente concluin-
do que os oponentes de Jesus se excluem a eles mesmos do ciacuterculo da salvaccedilatildeo
pela sua atitude de hostilidade contra Jesus303
Em suma para Marcus o contexto
atual de Mc 411-12 apresenta endurecimento poreacutem deve ser entendido nos mol-
des dos relatos semelhantes no AT
Para Mann o atual contexto de Mc 412 apresenta uma leitura como se fosse
propoacutesito deliberado de Jesus obscurecer o significado de Seu ensino304
Para
Mann tal leitura ignora duas consideraccedilotildees importantes o contexto da passagem
299
Cf DODD C H The Parables of the Kingdom rev ed Glasgow Fontana Books 1961 p
15 300
JEREMIAS J As paraacutebolas de Jesus 5 ed Satildeo Paulo Paulus 1986 p 10 Dibelius apresen-
ta ideia similar quando afirma que nesta seccedilatildeo o elemento divino nas paraacutebolas natildeo eacute visiacutevel para o
secular mas apena para o olho aberto (cf DIBELIUS M From Tradiction to Gospel Cam-
bridge amp London James Clarke amp Co 1971 p 228) 301
Cf JEREMIAS J opcit p 10-11 Assim tambeacutem pensa SCHMID J El Evangelio seguacuten
San Marcos Barcelona Herder 1973 p 137-138 e SIEGMAN E F Teaching in Parables Mk
410-12 Lk 89-10 Mt 1310-15 The Catholic Biblical Quarterly v 23 n 2 p 161-181 1961
p 165 302
MARCUS J Mark 1-8 A New Translation With Introduction and Commentary New York
Doubleday 1999 p 305 303
Ibid p 306 304
Cf MANN C S Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York
Doubleday 1986 p 263-264
75
de Isaiacuteas e o uso da ordem para expressar resultado como algo tipicamente semiacuteti-
co305
Mann por fim sugere duas saiacutedas 1) talvez Marcos tenha sido induzido
entendendo lsquoparaacutebolarsquo como lsquoenigmarsquo 2) originalmente o dito talvez natildeo tivesse
nada a ver com as paraacutebolas como todo mas talvez tenha sido trazido ao contexto
pelo uso de paraacutebolas no v11306
E conclui que sob qualquer hipoacutetese Mc 411 eacute
um crux interpretum
Stein expressa ideia similar ao observar que ldquoMarcos explica que lsquoaqueles
de forarsquo da comunidade de crentes embora escutando a palavra e vendo as obras
do reino natildeo entendem o que estaacute ocorrendordquo enquanto que para os disciacutepulos e
outros seguidores Deus deu o entendimento e a convicccedilatildeo do Seu Reino no minis-
teacuterio de Jesus307
Estes uacuteltimos autores afirmam que o atual contexto de Mc 410-
12 de fato endurece o coraccedilatildeo dos de fora no entanto procuram apresentar uma
explicaccedilatildeo dentro da estrutura do texto como se encontra sem o corte da unidade
Esta proposta conteacutem um aspecto positivo e tambeacutem algumas limitaccedilotildees A
consideraccedilatildeo detalhada agrave tensatildeo presente no texto eacute um aspecto positivo desta
proposta pois natildeo ignora um dos principais dados do texto No entanto suas limi-
taccedilotildees que tambeacutem acarretam seacuterias implicaccedilotildees teoloacutegicas satildeo numerosas des-
tacam-se aqui as seguintes
a) interpretaccedilatildeo literalista
A interpretaccedilatildeo dos proponentes desta proposta tem uma tendecircncia literalis-
ta ao inteacuterpretar a periacutecope em questatildeo Seu foco tem se concentrado na tensatildeo
existente no texto entre ὑμῖν e ἐκείνοις - τοῖς ἔξω e tambeacutem com o fim dos uacutelti-
mos Eles sugerem que o atual texto afirma que Jesus omite propositalmente as
verdades do Reino aos de fora a fim de que natildeo se convertam nem sejam perdoa-
dos Para eles as palavras em 11c-12f satildeo entendidas literalmente o que para eles
natildeo se harmoniza com a postura de Jesus pelo fato de excluir Assim para esses
proponentes estas palavras estatildeo deslocadas Ora se assim fosse haveria de se
considerar que as paraacutebolas satildeo dirigidas tambeacutem aos disciacutepulos tanto aqui como
em muitas outras ocasiotildees e isto natildeo os qualifica como lsquode forarsquo
O contexto a semacircntica e a forma fixa do dito sugerem que o texto natildeo deve
ser entendido literalmente Por exemplo os verbos ἴδωσιν (12b) lsquoolhar ver per-
305
Cf MANN CS Mark A New Translation with Introduction and Commentary New York
Doubleday 1986 p 264 306
Cf Ibid p 265 307
STEIN R H Mark Grand Rapids Baker Academic 2008 p 191
76
ceber notarrsquo308
e συνιῶσιν (12d) lsquocompreender entenderrsquo309
natildeo podem ser en-
tendido simplesmente no sentido fiacutesico do ato o contexto sugere que se referem a
um ato de aceitaccedilatildeo sentido que eacute melhor compreendido quando se consideram os
verbos ἐπιστρέψωσιν (retornar voltar)310
ἀφεθῇ (despedir deixar afastar perdo-
ar)311
e todo o contexto aspectos natildeo considerados nesta proposta
b) Desconsideraccedilatildeo do contexto
O contexto da estrutura maior (41-34) e tambeacutem de todo o Evangelho pare-
ce natildeo ter sido bem observado nesta postura Uma observaccedilatildeo na estrutura maior
demonstra que haacute inter-relaccedilatildeo e dependecircncia entre as pequenas unidades e o to-
do312
Esta ligaccedilatildeo indica que Jesus usa antiacutetese frequentemente e de forma natu-
ral313
mas isto natildeo provoca nenhuma contradiccedilatildeo dentro do Evangelho Parece
natildeo ter havido uma tentativa de explicar a tensatildeo dentro da estrutura do contexto
atual para verificar se a aparente dificuldade na compreensatildeo do texto eacute natural
dentro do todo314
O contexto indica claramente que a linguagem na unidade eacute
uma forma fixa para se referir a obstinaccedilatildeo do proacuteprio povo
c) Desconsideraccedilatildeo do contexto de Is 61-13
O contexto da fonte do AT citada por Marcos parece que natildeo foi observada
com detalhe pelos autores que defendem esta postura O contexto de Mc 410-12
embora com algumas poucas diferenccedilas pode ser considerado paralelo ao contex-
to de Is 61-13315
Snondgrass observa que Mc 410-12 natildeo pode ser interpretado
de forma literal visto que o texto citado de Isaiacuteas tambeacutem natildeo pode316
Outrossim
eacute que o texto de Isaiacuteas citado aqui apresenta uma linguagem mais dura mas natildeo eacute
308
LIDDEL H G SCOTT R Greek-English Lexicon 9th
ed add Oxford Clarendon Press
1996 sect 31127 DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English lexicon of the New Testament
and Other Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 5358 309
DANKER F W (Rev Ed) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other
Early Christian Literature 3th Chicago Chicago University Press 2000 sect 7107 310
LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 17052 DANKER F W opcit sect 3042 311
DANKER F W opcit sect 1327 LIDDEL H G SCOTT R opcit sect 7560 BULTMANN R
ἀφίημι In KITTEL G FRIEDRICH G (Eds) Theological Dictionary of the New Testament
v 1 Grand Rapids William B Eerdmans 1985 sect 115 312
Ver o toacutepico 35 desta pesquisa 313
Ver correspondecircncias antiteacuteticas em Mc 41-35 no toacutepico 32 que trata sobre os ὑμῖν e os
ἐκείνοις - τοῖς ἔξω 314
LIMA M L C Exegese biacuteblica teoria e praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2014 p 95 observa que
natildeo se pode procurar indiacutecios de ruptura no texto estes devem ser naturais natildeo se deve impor
sobre o texto E ainda recomenda que deve haver uma tentativa de se explicar a tensatildeo que provo-
ca dificuldade de compreensatildeo do texto dentro do todo 315
Ver o toacutepico 353 acima sobre o contexto teoloacutegico-literaacuterio do dito do endurecimento 316
SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1 p 59-
79 2004 p 70
77
entendido de forma literal o que seu proacuteprio contexto tambeacutem indica que se trata
de uma forma jaacute tradicionalmente aceita para se referir agrave resistecircncia do povo em
obedecer agraves diretrizes de Deus assim como acontece em Marcos tambeacutem
d) Justificativa ou fundamentaccedilatildeo subjetiva
Como visto acima para justificar sua postura alguns proponentes desta po-
siccedilatildeo afirmam que a unidade foi uma inserccedilatildeo da Igreja primitiva e outros embo-
ra admitindo que sejam palavras de Jesus afirmam que foram ditas em outro con-
texto deslocadas aqui por Marcos No entanto nenhuma fundamentaccedilatildeo com ba-
se em evidecircncias da tradiccedilatildeo manuscrita ou evidecircncia interna eacute apresentada Com
relaccedilatildeo aos que sugerem que Marcos natildeo soube interpretar o aramaico Edwards
observa que natildeo haacute evidecircncia textual de maacute traduccedilatildeo ou mal entendido em Mc
412 pois se houvesse esperariacuteamos variantes e emendas na tradiccedilatildeo textual Pelo
contraacuterio a evidecircncia manuscrita nos v10-12 estaacute notavelmente de acordo317
O
que apresenta-se em defesa dos remanejos e arranjos satildeo suposiccedilotildees ou argumen-
taccedilotildees baseadas num subjetivismo supervalorizado Consequentemente o nuacutemero
de explicaccedilotildees para tal varia tanto quanto o nuacutemero dessas suposiccedilotildees
e) Insinuaccedilatildeo de contradiccedilatildeo no proacuteprio Evangelho ignorando as implica-
ccedilotildees da mesma
Muitos autores que apoacuteiam esta vertente afirmam direta ou indiretamente
que esta unidade no Evangelho de Marcos eacute uma autocontradiccedilatildeo Crossan por
exemplo afirma que ldquoMarcos contrariou-se sobre a funccedilatildeo das paraacutebolas criando
incompreensatildeo garantido assim condenaccedilatildeordquo318
Esses autores quando afirmam
sobre a contradiccedilatildeo que a unidade provoca natildeo analisam as implicaccedilotildees que tal
afirmaccedilatildeo traz sobre o Evangelho e posteriormente sobre todo NT Levantam uma
problemaacutetica poreacutem natildeo apresentam sugestotildees sobre como a mesma problemaacutetica
se encaixaria dentro do Evangelho
Manson embora admitindo a inserccedilatildeo dos v11-12 observa que a ldquointrusatildeo
deste dito eacute perfeitamente natural [] Marcos interpretou corretamente as
317
Cf EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans
2002 p 134 318
CROSSAN J D The Power of Parable How Fiction by Jesus Became Fiction about Jesus
San Francisco HarperOne 2012 p 37
78
paraacutebolas nos termos da resposta feita ao proacuteprio Jesusrdquo319
Assim a insinuaccedilatildeo
de que esta unidade contradiz a proposta do proacuteprio Evangelho natildeo eacute correta
52 Leitura facilitadora
Esta leitura propotildee que a presente configuraccedilatildeo de Mc 410-12 natildeo pretende
dificultar o acesso agraves coisas do Reino de Deus ou endurecer o coraccedilatildeo dos de fora
Pelo contraacuterio afirma que o atual contexto da periacutecope sugere um ato de facilitar a
compreensatildeo dos ouvintes de Jesus tanto os de dentro como os de fora Muitos
autores que abordam o texto desta forma jaacute foram indicados no capiacutetulo quatro
desta pesquisa Dentre muitos proponentes desta postura menciona-se Brooks que
observa que Jesus natildeo falou em paraacutebolas com o propoacutesito de estorvar a verdade
para alguns320
Nesta mesma dinacircmica France comenta que o teor das paraacutebolas
de Jesus tanto em Mc 410-12 como na tradiccedilatildeo sinoacutetica eacute transmitir a verdade ao
inveacutes de ocultar321
Para Snodgrass a teoria de Marcos sobre paraacutebola natildeo eacute ininteligiacutevel ou o-
fuscante322
pois a maneira enigmaacutetica de falar natildeo era apreciada por Jesus323
e
esta de fato natildeo seria sua intenccedilatildeo324
Pelo contraacuterio seu objetivo era confrontar e
persuadir os resistentes a ouvirem positivamente sua mensagem325
ou fazer um
juiacutezo de si mesmo326
Esta mensagem eacute aberta a todos natildeo sendo misteriosa esoteacute-
rica ou enigmaacutetica327
logo natildeo pode haver ocultaccedilatildeo na tentativa de levar seus
ouvintes a responder positivamente Comparada agrave primeira proposta esta segunda
proposta se harmoniza melhor com a teologia do Evangelho de Marcos e tambeacutem
319
Cf MANSON T W The Teaching of Jesus Studies in its Form and Content Cambridge
Cambridge University Press 1967 p 7690 320
Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82 321
Cf FRANCE R T The Gospel of Mark A Commentary on the Greek Text Grand Rapids
WB Eerdman 2002 p 193 322
Cf SNODGRASS K A Hermeneutic of Hearing Bulletin for Biblical Research v 14 n 1
p 59-79 2004 p 71 323
Cf PAGOLA J A Jesus aproximaccedilatildeo histoacuterica Petroacutepolis Vozes 2010 p 149 324
Cf MALLY E J Evangelio seguacuten San Marco In BROWN R FITZMYER J A MUR-
PHY R E Comentaacuterio Biacuteblico San Jerocircnimo Madrid Cristiandad 1972 p 83 325
Cf SNODGRASS K Between Text and Sermon Interpretation v 67 n 3 p 284-286
2013 p 284 326
Cf REISER M Eschatology in the Proclamation of Jesus In LABAHN M SCHMIDT A
(Eds) Mark and Q Sheffield Sheffield Academic Press 2001 p 182 327
Cf PAGOLA J A opcit p 49
79
de todo o NT Dentre seus muitos aspetos positivos se podem destacar os seguin-
tes
a) Interpretaccedilatildeo natildeo literalista
Esta abordagem procura interpretar o texto respeitando os recursos retoacuteri-
cos presentes no mesmo o que implica que procura entender as figuras de lingua-
gem presentes na unidade Isto leva a uma leitura sem tendecircncia literalista o que
parece se encaixar melhor com os dados sintaacuteticos semacircnticos e teoloacutegicos pre-
sentes no texto como jaacute foi visto acima
b) A tensatildeo no texto eacute explicada dentro do contexto
A tensatildeo que provoca dificuldade na compreensatildeo do texto natildeo eacute ignorada
antes eacute explicada dentro do contexto do todo do texto Esta explicaccedilatildeo se harmo-
niza com o conjunto do livro de Marcos e tambeacutem todo o NT
c) Consideraccedilatildeo do contexto
O contexto tanto da unidade como de todo Evangelho eacute levado em consi-
deraccedilatildeo nesta proposta Ratzinger328
observa que
Eacute deste modo que o inquietante esclarecimento de Jesus sobre o sentido das suas paraacutebolas
nos conduz para o seu sentido mais profundo apenas se lermos mdash como eacute correto a partir
da essecircncia da palavra de Deus escrita mdash a Biacuteblia e especialmente os Evangelhos como
uma unidade e como um todo que exprime em todas as suas camadas histoacutericas uma men-
sagem que estaacute interiormente interligada
O contexto de todo Evangelho indica claramente uma tensatildeo entre aqueles
que creem nos sinais e ensinamento de Jesus e aqueles que mesmo vendo natildeo cre-
em E este mesmo contexto indica que a proposta do Evangelho eacute para todos sem
predeterminaccedilatildeo ou exclusivismo Isto implica que como visto ao longo de todo
Evangelho satildeo os ouvintes que se excluem por decisatildeo proacutepria
d) Consideraccedilatildeo do contexto do texto do AT que foi citado
Jaacute observou-se acima que o contexto de Mc 410-12 assemelha-se ao con-
texto de Is 61-13329
Em ambos haacute um povo obstinado um mensageiro de Deus
com uma palavra de advertecircncia e convite para mudanccedilas330
Estes horizontes
paralelos orientam uma melhor leitura do texto o que eacute visiacutevel aqui nesta propos-
ta Logo se o texto do AT natildeo tinha o propoacutesito de ocultar entatildeo o de Marcos
tambeacutem natildeo pode ter Se o texto de Isaiacuteas eacute uma demonstraccedilatildeo da misericoacuterdia de
328
RATZINGER J Jesus de Nazareacute Satildeo Paulo Planeta 2007 p 171 329
WATTS R E Isaiahacutes New Exodus Mark Grand Rapids Baker Academic 2000 p 188-198
e KERNAGHAN R J Mark Downers Grove InterVarsity Press 2007 p 87-90 apresentam
uma excelente analogia de contextos entre Mc 412 e Isaiacuteas 330
BRUCE F F The Harding Says of Jesus Illinois IVP Press 1983 p 122 observa que a
ldquoexperiecircncia de Isaiacuteas foi reproduzida no ministeacuterio de Jesusrdquo
80
Deus que tenta resgatar um povo que de antematildeo jaacute se sabe de sua obstinaccedilatildeo
entatildeo semelhante aspecto ocorre em Marcos
e) Fundamentaccedilatildeo em bases concreta
Sem ignorar o processo histoacuterico do texto esta proposta busca se basear no
elemento mais concreto disponiacutevel que eacute o proacuteprio texto Natildeo haacute uma tentativa ou
muacuteltiplas tentativas de aplicar ao texto categorias subjetivas A tradiccedilatildeo
manuscrita informa que natildeo soacute em Marcos como tambeacutem nos paralelos de
Mateus e Lucas que o texto natildeo apresenta variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica
que a histoacuteria da transmissatildeo do texto assegura que a estabilidade do texto como
segura sem variaccedilatildeo consideraacutevel o que implica que qualquer sugestatildeo que
ignore este dado material deve ser evitada
53 Leitura harmonizante
Uma terceira abordagem a ser considerada eacute a que poder-se-ia designar por
leitura ou abordagem muacuteltipla Natildeo eacute uma proposta sistematizada como as duas
anteriores Algumas vezes eacute apresentada dentro de uma das anteriores Esta pro-
posta traz uma abordagem que unifica as duas anteriores ou seja ela propotildee que
no atual contexto de Marcos as paraacutebolas tecircm tanto o propoacutesito de revelar como o
de ocultar ou endurecer
Segundo Kermode o evangelho tanto revela como oculta331
Similarmente
Cranfield comenta que estes dois aspetos podem ser vistos no ministeacuterio de Jesus
que por um lado ensina a multidatildeo envia os disciacutepulos para pregar demonstra
poder e compaixatildeo e por outro lado ensina a multidatildeo indiretamente atraveacutes de
paraacutebolas procurando ocultar seus feitos332
Neste sentido Brooks expotildee que e-
xiste tensatildeo em Marcos entre o Jesus revelado e ocultado333
Ainda nesta linha de pensamento Hengel comenta que o que se observa nas
paraacutebolas eacute uma lsquoocultaccedilatildeo reveladorarsquo isto eacute a ldquorevelaccedilatildeo pode ocultar e a ocul-
331
KERNODE F The Genesis of Secrecy Cambridge Harvard University Press 1979 apud
BOMBLERG C L The Historical Reliability of the Gospels Leicester Inter-Varsity Press
1987 p 64 332
Cf CRANFIELD CEB The Gospel According to Mark Cambridge Cambridge University
Press 1977 p 157 333
Cf BROOKS J A Mark Nashville Broadman amp Holman Publishers 1991 p 82
81
taccedilatildeo pode revelarrdquo334
Schnackenburg afirma que se ao termo lsquoem paraacutebolarsquo for
aplicado o sentido de lsquomisteacuteriorsquo entatildeo este uacuteltimo pode ser desvendado e tambeacutem
ocultado isto eacute desvenda-se para os que tecircm feacute e oculta-se para os que natildeo
tecircm335
Concorda com este pensamento Edwards quando observa que o Deus que daacute
o misteacuterio tambeacutem cega os olhos do relutante tal como as paraacutebolas que satildeo o-
cultas e misteriosas336
Observa-se que estes autores embora possam pender para
uma das propostas acima ainda admitem esta possibilidade No entanto esta a-
bordagem apresenta muitas limitaccedilotildees das quais destacam-se
a) Natildeo considera as implicaccedilotildees da ambivalecircncia
Os proponentes que adotam esta abordagem natildeo se detecircm na questatildeo se a
unificaccedilatildeo das duas ideias eacute possiacutevel ou natildeo agrave luz do objetivo e da teologia de
Marcos A admissibilidade desta proposta aplica naturalmente ao ensino de Jesus
um caraacuteter predeterminista e seletivo ou exclusivista o que natildeo se harmoniza com
a teologia de Marcos e de todo NT Esta unificaccedilatildeo ainda se torna impossiacutevel di-
ante dos objetivos ou missatildeo do Filho do Homem expressos pelos temas cristoloacute-
gicos em Marcos
O fato do ouvinte rejeitar natildeo implica que a mensagem da paraacutebola o endu-
receu Pelo contraacuterio eacute a negaccedilatildeo que endurece o proacuteprio ouvinte pois a resistecircn-
cia sempre parte de dentro do ouvinte e natildeo vem de fora com a paraacutebola Outros-
sim o teor da estrutura 41-34 indica preferecircncia pelo tema da revelaccedilatildeo e natildeo da
ocultaccedilatildeo ou de ambos337
b) Justificativa deficitaacuteria
A abordagem muacuteltipla apresenta uma explicaccedilatildeo que justifica a unificaccedilatildeo
das propostas muito deficitaacuteria As explicaccedilotildees que seus proponentes apresentam
para admitirem tal possibilidade natildeo tecircm plausibilidade principalmente quando
analisadas no conjunto de Marcos e do NT Natildeo responder positivamente natildeo im-
334
HENGEL M Studies in the Gospel of Mark London SCM Press 1985 p 95ndash96 apud
EDWARDS J R The Gospel According Mark Grand Rapids William B Eerdmans 2002 p
119 335
SCHNACKENBURG R O Evangelho de segundo Marcos 2 ed Petroacutepolis Vozes 1983 p
112 336
EDWARDS J R The Gospel According Mark Grands Rapids William B Eerdmans 2002
p 119 337
Sobre estes detalhes ver aliacuteneas abcd e do toacutepico 443
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plica em um ato de natildeo entender o que foi dito Esta abordagem natildeo apresenta
uma explicaccedilatildeo que se enquadre na dinacircmica desta ambivalecircncia dentro das de-
claraccedilotildees de Marcos e do NT sobre por exemplo o convite aberto a participar do
Reino de Deus
c) desconsideraccedilatildeo do antagonismo das duas propostas
A proposta mista desconsidera a contradiccedilatildeo natural entre as abordagens
Confunde a rejeiccedilatildeo do ouvinte com dificuldade imposta pela mensagem da paraacute-
bola Natildeo reflete no aspecto de que a entrada no reino natildeo eacute barrada por Jesus ou
Deus mas pela proacutepria escolha ou decisatildeo do ouvinte O ato de convidar atraveacutes
das paraacutebolas natildeo pode ser um ato excludente ao mesmo tempo acolhedor satildeo
ideias incompatiacuteveis
A ecircnfase dada no verbo ἀκούω sugere que a conduta de endurecer parte do
proacuteprio ouvinte e natildeo lhe eacute imputado o que sugere tambeacutem que haacute na estrutura
indiretamente uma antiacutetese entre a accedilatildeo endurecer e aceitar (escutar) Assim per-
cebe-se que embora a proposta dificultante e a muacuteltipla sejam propostas feitas
com seriedade acadecircmica ainda assim perdem preferecircncia diante da proposta faci-
litadora principalmente quando os aspetos que envolvem cada uma delas satildeo le-
vados em conta
83
6 Conclusatildeo
Esta pesquisa se ocupou no estudo sobre as paraacutebolas de Jesus especifica-
mente sobre a teoria do propoacutesito das paraacutebolas de Jesus expressa na atual confi-
guraccedilatildeo da periacutecope de Mc 410-12 A pesquisa procurou responder por qual mo-
tivo Jesus usou paraacutebolas em Seus ensinamentos e concluiu que Jesus natildeo usou
paraacutebolas para endurecer o coraccedilatildeo aos de fora nem lhes dificultar o acesso agraves
coisas do Reino de Deus Nesta se admitiu a possibilidade de que a tensatildeo no
atual texto natildeo expressa uma contradiccedilatildeo ao contexto geral da narrativa de Mar-
cos mas que a mesma pode ser explicada dentro da dinacircmica da narrativa Esta
possibilidade evita a imposiccedilatildeo ao texto de dados preacute-estabelecidos que talvez
leve a desconsideraccedilatildeo dos aspectos histoacutericos do texto como por exemplo a in-
tenccedilatildeo do que o texto pretendia comunicar e ainda o pretende
A pesquisa se constituiu de quatro capiacutetulos No primeiro capiacutetulo se resu-
miu a histoacuteria da interpretaccedilatildeo das paraacutebolas desde o periacuteodo patriacutestico ateacute a con-
temporaneidade percebendo-se que o processo interpretativo das paraacutebolas eacute di-
nacircmico e natildeo estaacutetico No segundo capiacutetulo se analisou os aspectos exegeacuteticos da
periacutecope as questotildees introdutoacuterias do Evangelho de Marcos e os procedimentos
da anaacutelise do texto Neste a anaacutelise criacutetico textual demonstrou que o texto natildeo
apresenta problemas relevantes o que sugere que o texto foi transmitido de forma
segura Tambeacutem se verificou que a unidade de Mc 410-12 eacute verificaacutevel coesa e
coerente e se enquadra perfeitamente na estrutura maior (Mc 41-34) e em toda
narrativa do Evangelho Estes dois primeiros capiacutetulos serviram como horizontes
da pesquisa para outros dois que se seguiram
No terceiro capiacutetulo se colheu os resultados do capiacutetulo anterior e constituiu
o comentaacuterio exegeacutetico da periacutecope Neste comentaacuterio se concluiu que οἱ περὶ
αὐτὸν (10c) satildeo um grupo maior de seguidores e os δώδεκα (10c) satildeo o grupo dos
apoacutestolos escolhidos em Mc 313-19 caracterizados pela disposiccedilatildeo de seguir a
Jesus que ὑμῖν e ἐκείνοις-τοῖς ἔξω se referem a grupos distintos respectivamente
os que estavam ao redor de Jesus e os que se opunham a Ele no entanto os termos
satildeo primariamente conceitos que caracteriza pessoas ou grupos e natildeo uma foacuter-
mula aleatoacuteria ou predeterminaccedilatildeo de pessoas ou grupos que o μυστήριον τῆς
βασιλείας τοῦ θεοῦ (v11c) natildeo se refere a algo algo misterioso revelado apenas