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ANO 38 – Nº 275 – Maio/Junho de 2014 ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS Entrevistas Juraci Barbosa Sobrinho Dalberto Adulis Para além das quatro linhas O que, afinal, ganhamos com a Copa? EDITORIAL Para além das quatro linhas

Rumos 275

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Revista Rumos - Maio/Junho

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Entrevistas Juraci Barbosa SobrinhoDalberto Adulis

Para além dasquatro linhas

O que, afinal, ganhamos com a Copa?

EDITORIAL

Para além dasquatro linhas

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pontapé inicial dado pela seleção brasileira de futebol no dia 12 de junho significou, na verdade, a reta de chegada de um processo que se iniciou sete anos antes, com a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de futebol. Trans-corrido todo este tempo, chegou o momento de contabili-

zarmos o que, de fato, fica para o país após a passagem deste grande evento. Quais os legados efetivos trazidos pela Copa? Essa é a motivação da reportagem de capa desta edição, que busca junto a governos e especi-alistas um balanço do que – independente do resultado das quatro linhas – o país ganha ao sediar o principal evento esportivo do planeta.

Além deste importante debate, a Rumos traz nesta edição um especial sobre o Inovacred, com números sobre o programa, que, em articulação com os agentes financeiros locais, tem sido fundamental para o financia-mento dos projetos inovadores Brasil afora. Apresentamos ainda a ação do BRDE com as cooperativas de crédito e de produção do sul, que foi reconhecida com um importante prêmio internacional. De Minas Gerais, trazemos uma experiência inovadora utilizada pelo BDMG, que tem facilitado o acesso ao crédito para empreendedores da base da pirâmide.

Em nossa seção Expertise, Dalberto Adulis defende a racionalização do uso dos recursos naturais como meio para se alcançar o desenvolvi-mento. E ainda tem um retrato minucioso do banco de desenvolvimento chinês, o grande propulsor da economia que mais cresce em todo o globo.

Boa leitura!

OAO LEITOR

SeçõesLIVROS52

RUMOS - 3 – Maio/Junho 2014

EXPERTISE

S SUMÁRIO

8

FOMENTO46

30 CAPALegado

Depois do apito final

ENTREVISTA4 Juraci Barbosa

Em todos os cantos

Via alternativaDalberto Adulis

38REPORTAGEMDesenvolvimento localReforço para a base da pirâmide

42REPORTAGEMEconomia

Um “novo Brasil” em debate

22REPORTAGEMAmérica Latina

Reconhecida e premiada

Resultados

Portas abertas à pequena empresa16REPORTAGEM

Análise

Desigualdade disfuncional20OPINIÃO

Cooperativas

Fomento ao agronegócio26REPORTAGEM

36EM DIA

O complexo mundo das negociações coletivas e das greves

Heli Gonçalves Moreira

24PELO MUNDO

O gigantes chinêsDesenvolvimento

40CENÁRIOS DO RIOGestãoMais mudanças

12REFLEXÃOLavinia Barros de Castro

Sistemas Nacionais de Fomento: velhos problemas, novos desafios

14REPORTAGEMInovação

Para aumentar a competitividade

48MICRO E PEQUENAS

Cooperar em vez de competirEncadeamento produtivo

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“Carismático e intelectual”

Pedro Falabella morre aos 72 anos21MEMÓRIA

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nômica, para sermos agentes financeiros dos municípios para financiar obras de mobilidade e de saneamento, com recursos do FGTS. São R$ 200 milhões. E desenvolvemos uma parce-ria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), em um programa de financiamento para projetos de gestão de resíduos sólidos nos municípios. São R$ 140 milhões.

Rumos – Quais são as expectativas para 2014, em que a Copa do Mundo, as eleições e as manifestações popula-res prometem marcar a agenda política e também eco-nômica do país? Acredita que esses eventos podem, de alguma maneira, afetar o desempenho das instituições financeiras de desenvolvimento? Barbosa – A Fomento Paraná fez um grande esforço para via-bilizar financeiramente a Copa do Mundo em Curitiba. Tive-mos assertividade no projeto ao contratar uma auditoria exter-na, que permitiu manter um controle do avanço físico e finan-ceiro do cronograma, da avaliação da qualidade dos materiais, do cumprimento do projeto e do custo dos insumos. A cidade recebeu muitos investimentos por conta do projeto, com impacto visível nos aspectos renda e trabalho. Vamos estar na mídia internacional e isso pode atrair muitos investimentos. No aspecto eleitoral, a experiência nos permite antecipar o pla-nejamento das ações, porque é um procedimento incorporado ao calendário institucional. Estamos trabalhando muito para poder atender aos municípios com os recursos do FGTS e da AFD, que vamos contratar. São volumes significativos e que se revertem em ações importantes para a melhoria da qualidade de vida da população, que representam muitos empregos e recursos novos circulando na economia, especialmente nas pequenas cidades.

Quanto ao ambiente e horizonte econômico, somos extremamente confiantes. As IFDs [Instituições Financeiras de Desenvolvimento] são um importante instrumento de combate à inércia econômica e uma alavanca para o cresci-mento do produto interno. Temos atuação complementar às demais instituições financeiras. Logo, temos espaço e nicho para ampliar nossas atividades. A dinâmica econômica gerada pela atuação das IFDs promove um ciclo virtuoso. Obras de empreendimentos financiados precisam de insumos, de tra-balhadores. Isso gera contratos, aumenta a arrecadação de impostos, que proporcionam benefícios sociais. O crédito é

RUMOS – 4 – Maio/Junho 2014 RUMOS –5 – Maio/Junho 2014

umos – A Fomento Paraná atende desde o pequeno empreendedor em situação de vul-nerabilidade até grandes projetos, como foi o caso recente do financiamento para a arena

da Copa do Mundo. Como é, no dia a dia, lidar com essa diversidade?Juraci Barbosa – A Fomento Paraná, que completou 15 anos em junho, assumiu o Sistema de Financiamento aos Municípios com a entrada em vigor da Lei de Responsabilida-de Fiscal, em 2000. A lei vedou a realização de operações de crédito entre entes federativos. Com isso, acumulamos exper-tise em financiar o setor público, que responde por 86% da car-teira de crédito. São obras, máquinas e equipamentos para os municípios. Contabilizamos R$ 1,7 bilhão em mais de 2.960 contratos que beneficiaram 367 dos 399 municípios parana-enses. Temos a parceria da Secretaria de Estado do Desenvol-vimento Urbano e o serviço social autônomo Paranacidade, para estruturação e acompanhamento dos projetos.

Também acumulamos expertise no microcrédito. A cartei-ra soma R$ 32 milhões em mais de cinco mil contratos ativos. Nos últimos três anos, focamos o atendimento ao setor pri-vado, com oferta de crédito a empreendedores de todos os portes e todos os setores. Chegamos a R$ 463 milhões.

Para isso, a instituição foi reorganizada, com ampliação de espaços físicos, modernização tecnológica, adequação da estrutura orgânica, especialmente na área de atendimento e suporte ao cliente. O quadro de pessoal ganhou um plano de cargos e salários, que deu suporte a um concurso público. Cria-mos linhas de crédito, que atendem do informal até empresas de médio porte. Formalizamos parcerias com as secretarias de estado e com prefeituras para criar uma ferramenta de apoio aos empreendedores menos privilegiados e nasceu o Paraná Juro Zero. Financiamos valores entre R$ 300 e R$ 4.000, em 11 ou 22 parcelas. Quem paga as parcelas em dia tem a última ou as duas últimas parcelas equalizadas por um fundo.

A Copa do Mundo foi um case especial, que exigiu um grande esforço para criar um modelo diferenciado e capaz de atender ao interesse público de ter uma arena para sediar o mundial em Curitiba. Foi uma grande experiência, que nos habilitou para dar passos maiores no financiamento de gran-des projetos de infraestrutura de interesse do Paraná.

E a comprovação aparece no contrato com a Caixa Eco-

Por Jader Moraes

um propulsor da economia. Criamos as facilidades para que isso aconteça, pela amplitude dos recursos disponíveis e pela rede de agentes que formamos.

Rumos – O Banco do Empreendedor - Taxistas é uma das linhas de financiamento de maior destaque da insti-tuição. Pode nos explicar como funciona o programa e quais resultados tem obtido?Barbosa – Criamos esta linha ao final de 2012, para estimular a renovação da frota de veículos e a capacitação dos motoris-tas que prestam serviços de táxi nos municípios, dentro das ações para o projeto Copa do Mundo no Brasil. Proporcio-namos uma taxa de juros muito atrativa e competitiva em rela-ção aos bancos comerciais e aos das montadoras. Essa dife-rença representa uma renda extra, que fica com a família. Até abril deste ano tínhamos 324 veículos financiados. Outras 400 operações estão em análise. Somando tudo, são mais de R$ 24 milhões.

A linha financia veículos novos para serviços de táxi, para conversão do veículo ao uso de gás natural veicular (GNV) ou para adaptar o automóvel para atender passageiros com dificuldade de mobilidade. É possível financiar até 100% do veículo, entre R$ 3 mil e R$ 50 mil. Podem solicitar o financi-amento pessoas físicas, titulares de autorização, permissão ou concessão.

Rumos – Os desembolsos referentes ao microcrédito cresceram significativamente na carteira da agência nes-tes últimos anos. Qual a importância do apoio aos pequenos empreendedores para o desenvolvimento da economia local? Barbosa – O crescimento da carteira de microcrédito resulta de um amplo trabalho para formar uma rede de parceiros

Presente

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com diferentes atores do segmento privado e público. Foi a fórmula que encontramos para superar limitações que impe-dem a abertura de agências, filiais etc., e pelo custo envolvido. Não conseguiríamos ofertar as taxas que praticamos se tivés-semos unidades regionais. Por isso formalizamos convênios com prefeituras, secretarias de estado, sindicatos patronais, cooperativas de crédito, sociedades de garantia de crédito, conselhos de profissionais autônomos, federações e associa-ções comerciais. Cada parceiro indica colaboradores para atu-ar como agentes de crédito, que são capacitados, por meio de uma plataforma exclusiva de ensino à distância. Eles são cer-tificados e passam a formalizar e fazer o acompanhamento das propostas e da aplicação dos recursos. Criamos uma estrutura interna para identificar as demandas, os parceiros e operacionalizar uma sistemática eficiente de ação. A rede já conta com mais de 600 agentes atuando em cerca de 400 pon-tos de atendimento localizados em mais de 300 dos 399 muni-cípios paranaenses. Com esta ação, a carteira de microcrédito passou de R$ 8,9 milhões, em 2010, para R$ 32,2 milhões, em 2013. São mais de 5 mil contratos ativos com empreendedo-res do comércio, da indústria, do setor de serviços. Segura-mente estamos contribuindo para a consolidação do cresci-mento do PIB paranaense, que cresce a uma velocidade bem superior à média nacional.

Rumos – Como tem sido a atuação do banco junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios paranaenses?Barbosa – Nosso modelo de financiamento aos municípios é referência nacional, com mais de R$ 1,7 bilhão em financia-

E ENTREVISTA

Em todos os cantos

Juraci Barbosa

Agência de Fomento do Paraná completa 15 anos com presença em mais de 90% dos municípios paranaenses; presidente destaca parcerias e modelo de financiamento que é referência no país

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Juraci Barbosa Sobrinho é presidente da Fomento Paraná desde 2011. Advogado e especialista em Gestão Pública, foi fundador do Instituto Paraná Metrologia, subchefe da Casa Civil do Governo do Estado do Paraná e diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba.

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nômica, para sermos agentes financeiros dos municípios para financiar obras de mobilidade e de saneamento, com recursos do FGTS. São R$ 200 milhões. E desenvolvemos uma parce-ria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), em um programa de financiamento para projetos de gestão de resíduos sólidos nos municípios. São R$ 140 milhões.

Rumos – Quais são as expectativas para 2014, em que a Copa do Mundo, as eleições e as manifestações popula-res prometem marcar a agenda política e também eco-nômica do país? Acredita que esses eventos podem, de alguma maneira, afetar o desempenho das instituições financeiras de desenvolvimento? Barbosa – A Fomento Paraná fez um grande esforço para via-bilizar financeiramente a Copa do Mundo em Curitiba. Tive-mos assertividade no projeto ao contratar uma auditoria exter-na, que permitiu manter um controle do avanço físico e finan-ceiro do cronograma, da avaliação da qualidade dos materiais, do cumprimento do projeto e do custo dos insumos. A cidade recebeu muitos investimentos por conta do projeto, com impacto visível nos aspectos renda e trabalho. Vamos estar na mídia internacional e isso pode atrair muitos investimentos. No aspecto eleitoral, a experiência nos permite antecipar o pla-nejamento das ações, porque é um procedimento incorporado ao calendário institucional. Estamos trabalhando muito para poder atender aos municípios com os recursos do FGTS e da AFD, que vamos contratar. São volumes significativos e que se revertem em ações importantes para a melhoria da qualidade de vida da população, que representam muitos empregos e recursos novos circulando na economia, especialmente nas pequenas cidades.

Quanto ao ambiente e horizonte econômico, somos extremamente confiantes. As IFDs [Instituições Financeiras de Desenvolvimento] são um importante instrumento de combate à inércia econômica e uma alavanca para o cresci-mento do produto interno. Temos atuação complementar às demais instituições financeiras. Logo, temos espaço e nicho para ampliar nossas atividades. A dinâmica econômica gerada pela atuação das IFDs promove um ciclo virtuoso. Obras de empreendimentos financiados precisam de insumos, de tra-balhadores. Isso gera contratos, aumenta a arrecadação de impostos, que proporcionam benefícios sociais. O crédito é

RUMOS – 4 – Maio/Junho 2014 RUMOS –5 – Maio/Junho 2014

umos – A Fomento Paraná atende desde o pequeno empreendedor em situação de vul-nerabilidade até grandes projetos, como foi o caso recente do financiamento para a arena

da Copa do Mundo. Como é, no dia a dia, lidar com essa diversidade?Juraci Barbosa – A Fomento Paraná, que completou 15 anos em junho, assumiu o Sistema de Financiamento aos Municípios com a entrada em vigor da Lei de Responsabilida-de Fiscal, em 2000. A lei vedou a realização de operações de crédito entre entes federativos. Com isso, acumulamos exper-tise em financiar o setor público, que responde por 86% da car-teira de crédito. São obras, máquinas e equipamentos para os municípios. Contabilizamos R$ 1,7 bilhão em mais de 2.960 contratos que beneficiaram 367 dos 399 municípios parana-enses. Temos a parceria da Secretaria de Estado do Desenvol-vimento Urbano e o serviço social autônomo Paranacidade, para estruturação e acompanhamento dos projetos.

Também acumulamos expertise no microcrédito. A cartei-ra soma R$ 32 milhões em mais de cinco mil contratos ativos. Nos últimos três anos, focamos o atendimento ao setor pri-vado, com oferta de crédito a empreendedores de todos os portes e todos os setores. Chegamos a R$ 463 milhões.

Para isso, a instituição foi reorganizada, com ampliação de espaços físicos, modernização tecnológica, adequação da estrutura orgânica, especialmente na área de atendimento e suporte ao cliente. O quadro de pessoal ganhou um plano de cargos e salários, que deu suporte a um concurso público. Cria-mos linhas de crédito, que atendem do informal até empresas de médio porte. Formalizamos parcerias com as secretarias de estado e com prefeituras para criar uma ferramenta de apoio aos empreendedores menos privilegiados e nasceu o Paraná Juro Zero. Financiamos valores entre R$ 300 e R$ 4.000, em 11 ou 22 parcelas. Quem paga as parcelas em dia tem a última ou as duas últimas parcelas equalizadas por um fundo.

A Copa do Mundo foi um case especial, que exigiu um grande esforço para criar um modelo diferenciado e capaz de atender ao interesse público de ter uma arena para sediar o mundial em Curitiba. Foi uma grande experiência, que nos habilitou para dar passos maiores no financiamento de gran-des projetos de infraestrutura de interesse do Paraná.

E a comprovação aparece no contrato com a Caixa Eco-

Por Jader Moraes

um propulsor da economia. Criamos as facilidades para que isso aconteça, pela amplitude dos recursos disponíveis e pela rede de agentes que formamos.

Rumos – O Banco do Empreendedor - Taxistas é uma das linhas de financiamento de maior destaque da insti-tuição. Pode nos explicar como funciona o programa e quais resultados tem obtido?Barbosa – Criamos esta linha ao final de 2012, para estimular a renovação da frota de veículos e a capacitação dos motoris-tas que prestam serviços de táxi nos municípios, dentro das ações para o projeto Copa do Mundo no Brasil. Proporcio-namos uma taxa de juros muito atrativa e competitiva em rela-ção aos bancos comerciais e aos das montadoras. Essa dife-rença representa uma renda extra, que fica com a família. Até abril deste ano tínhamos 324 veículos financiados. Outras 400 operações estão em análise. Somando tudo, são mais de R$ 24 milhões.

A linha financia veículos novos para serviços de táxi, para conversão do veículo ao uso de gás natural veicular (GNV) ou para adaptar o automóvel para atender passageiros com dificuldade de mobilidade. É possível financiar até 100% do veículo, entre R$ 3 mil e R$ 50 mil. Podem solicitar o financi-amento pessoas físicas, titulares de autorização, permissão ou concessão.

Rumos – Os desembolsos referentes ao microcrédito cresceram significativamente na carteira da agência nes-tes últimos anos. Qual a importância do apoio aos pequenos empreendedores para o desenvolvimento da economia local? Barbosa – O crescimento da carteira de microcrédito resulta de um amplo trabalho para formar uma rede de parceiros

Presente

R

com diferentes atores do segmento privado e público. Foi a fórmula que encontramos para superar limitações que impe-dem a abertura de agências, filiais etc., e pelo custo envolvido. Não conseguiríamos ofertar as taxas que praticamos se tivés-semos unidades regionais. Por isso formalizamos convênios com prefeituras, secretarias de estado, sindicatos patronais, cooperativas de crédito, sociedades de garantia de crédito, conselhos de profissionais autônomos, federações e associa-ções comerciais. Cada parceiro indica colaboradores para atu-ar como agentes de crédito, que são capacitados, por meio de uma plataforma exclusiva de ensino à distância. Eles são cer-tificados e passam a formalizar e fazer o acompanhamento das propostas e da aplicação dos recursos. Criamos uma estrutura interna para identificar as demandas, os parceiros e operacionalizar uma sistemática eficiente de ação. A rede já conta com mais de 600 agentes atuando em cerca de 400 pon-tos de atendimento localizados em mais de 300 dos 399 muni-cípios paranaenses. Com esta ação, a carteira de microcrédito passou de R$ 8,9 milhões, em 2010, para R$ 32,2 milhões, em 2013. São mais de 5 mil contratos ativos com empreendedo-res do comércio, da indústria, do setor de serviços. Segura-mente estamos contribuindo para a consolidação do cresci-mento do PIB paranaense, que cresce a uma velocidade bem superior à média nacional.

Rumos – Como tem sido a atuação do banco junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios paranaenses?Barbosa – Nosso modelo de financiamento aos municípios é referência nacional, com mais de R$ 1,7 bilhão em financia-

E ENTREVISTA

Em todos os cantos

Juraci Barbosa

Agência de Fomento do Paraná completa 15 anos com presença em mais de 90% dos municípios paranaenses; presidente destaca parcerias e modelo de financiamento que é referência no país

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Juraci Barbosa Sobrinho é presidente da Fomento Paraná desde 2011. Advogado e especialista em Gestão Pública, foi fundador do Instituto Paraná Metrologia, subchefe da Casa Civil do Governo do Estado do Paraná e diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba.

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E ENTREVISTA

mentos. Apresentamos o modelo em eventos conjuntos da ABDE com o BID e com o Banco Central, para estimular outras agências. Funciona tão bem na parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, o Paranacidade e a Secretaria do Tesouro Nacional, que estamos replicando o procedimento com a Caixa, para recursos do FGTS, e com a AFD, para finan-ciamento de projetos e programas de gestão de resíduos sóli-dos, na área de sustentabilidade e meio ambiente. Nosso pri-meiro contrato com os recursos do FGTS está com obras em andamento em Quatro Barras, na região metropolitana de Curi-tiba. Estimamos contratar R$ 50 milhões nessa linha em 2014. E temos uma minuta de contrato em análise pela AFD, em Paris, para os projetos de gestão de resíduos sólidos. O desta-que desta linha é dar aos municípios a oportunidade de atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos e assim eliminar os lixões a céu aberto desenvolvendo programas de coleta seleti-va, compostagem e reciclagem de materiais. Além disso, para nós, uma obra é um investimento, que desencadeia uma série de funções, que exigem mão de obra, insumos, operadores, prestadores de serviço. E tudo isso se reverte em aumento da renda e da arrecadação. Isso é desenvolvimento. Rumos – A Fomento Paraná trabalha com um conceito de “gestão por resultados”, presente em seu planeja-mento estratégico e alinhado com as diretrizes do Exe-cutivo estadual. Pode nos explicar como funciona esse modelo de gestão? Barbosa – A gestão por resultados é uma diretriz prevista no plano de governo do governador Beto Richa para o período 2011-2014. Seguindo essa diretriz, elaboramos um planeja-mento estratégico em linha com o contrato de gestão do esta-do, onde ficam estabelecidas as metas a serem atingidas, com as respectivas métricas. Esse contrato de gestão também é assinado pelos colaboradores da instituição e as respectivas diretorias e gerências, com a presidência. O objetivo é otimi-zar processos e o uso dos recursos, para fazer mais e melhor, gerando melhores resultados a cada período. As macrometas previstas para o contrato de gestão 2014, e aprovadas pelo Conselho de Administração, envolvem alcançar um Lajida de R$ 86,6 milhões, com rentabilidade sobre o patrimônio líqui-do de 5,5%. Para isso devemos chegar a R$ 237 milhões em operações com o setor privado, nas diversas linhas, e R$ 190 milhões em financiamentos contratados com o setor público.

Rumos – Em dezembro de 2013, foi entregue à presi-denta Dilma Rousseff uma moção reivindicando a cria-ção do Fundo Constitucional do Sul. No que consiste e por que se faz necessária a criação desse fundo? Barbosa – A criação do Fundo Constitucional do Sul pode aju-dar a superar gargalos logísticos que atrasam o desenvolvimen-to e impedem o pleno emprego do potencial produtivo da região, porque prejudicam a circulação da produção e compro-metem a mobilidade urbana. Estradas precisam ser construídas ou duplicadas. Faltam contornos rodoviários e ferroviários. Os portos necessitam de requalificação, e os aeroportos, de ampli-ação. A Ferrovia Norte-Sul precisa chegar ao Rio Grande e deve ter um ramal de ligação ao porto de Paranaguá, maior por-to graneleiro e importante porta de entrada de insumos agríco-

las. São projetos acalentados há tempos, que podem alavancar a produção de riqueza da região e ajudar a reduzir o custo Brasil.

Um fundo constitucional pode beneficiar milhares de empreendedores com a possibilidade de buscar recursos a taxas de juros mais baixas do que as dos bancos comerciais. Isso alavanca negócios nas diferentes cadeias produtivas, move a economia e promove o desenvolvimento regional, gerando emprego e renda. São fatores que resultam em mais qualidade de vida para a população. O sul contribui significativamente para a desconcentração econômica e a riqueza de sua produ-ção beneficia os contingentes populacionais das outras regiões. Mas está na hora de a balança se equilibrar, em favor do sul, sob o risco de perdermos a competitividade.

Rumos – A agência acaba de assinar seu primeiro con-trato do programa Finep Inovacred. Como foi esse pro-cesso e qual a perspectiva?Barbosa – O governo do Paraná tem compromisso com a inovação e isso está presente em ações coordenadas pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, na Fun-dação Araucária, no Fundo Paraná, no programa Tecnova e outros. A Fomento Paraná se insere nesse contexto, fechando a cadeia, e com os recursos da Finep consegue levar apoio às empresas inovadoras já instaladas ou em implantação. Mais que assinar o primeiro contrato — um case de investimento importante para um pequeno município no Sudoeste do esta-do —, iniciamos uma agenda com todas as instituições envol-vidas com a inovação e o desenvolvimento tecnológico no estado, para encontrarmos as empresas inovadoras e as áreas estratégicas onde o apoio financeiro é mais necessário.

Rumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a entidade que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimen-to e pelas agências de fomento do país?Barbosa – Consideramos importante o fortalecimento da ABDE. É por meio dela que estabelecemos a troca de expe-riência entre os afiliados de todos os estados no Sistema Naci-onal de Fomento, para tirarmos proveito da diversidade cul-tural e econômica de um país tão vasto e criativo. Cada estado tem uma realidade e desenvolve uma alternativa econômica para atender suas demandas. O compartilhamento dessas experiências é fundamental. Da mesma forma como é funda-mental que as discussões sejam organizadas para que se tenha um interlocutor único nos organismos que nos fiscalizam ou que podem ser nossos parceiros, como a Finep, o BID, a AFD, o BNDES, etc. A ABDE está de parabéns ao liderar a construção de uma pauta de reivindicações que é importante para o desenvolvimento das IFDs.

RUMOS – 6 – Maio/Junho 2014

Juraci Barbosa

Fomento Paraná em númerosColaboradoresPatrimônio líquidoAtivos totaisCarteira de crédito para o setor públicoCarteira de crédito do setor privadoContratos ativosMunicípios atendidos

162 R$ 1.185,7 miR$ 1.248,6 mi

R$ 604,2 mi69,5 mi

5.674376 (94% do estado)

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ser humano aprendeu utilizar todos os recur-sos disponíveis na Terra necessários à sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento. Porém a falsa ideia de inesgotabilidade e o uso irresponsável desses insumos fizeram com que ultrapassássemos vários limites do planeta. “A

previsão é que a população mundial salte dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9 bilhões de pessoas em 2050. Se mantiver-mos os padrões de consumo de hoje, não haverá água e ali-mento suficientes para todos, e não haverá como dar destino a todo o resíduo produzido”, afirma Dalberto Adulis, gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu, organiza-ção não governamental que trabalha pela conscientização da sociedade para o consumo consciente. Akatu em tupi quer dizer ao mesmo tempo boa semente e mundo melhor. O Instituto foi criado há 12 anos pelo presidente da instituição, Hélio Mattar, ex-secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que já trabalhava a questão da sustentabilidade jun-to às empresas no Instituto Ethos.

“Ele percebeu que paralelamente era necessário trabalhar junto aos consumidores, pois é muito difícil promover uma mudança desta monta apenas pelo lado da oferta. Sem um con-sumidor consciente não se mudam padrões de consumo”, explica Dalberto. A ideia é que os consumidores sejam esta boa semente na construção de um mundo melhor. Mantido por empresas que apostam na sustentabilidade, o Instituto vem produzindo conteúdos, realizando pesquisas e gerando informações que possam ser utilizados para sensibilizar os con-sumidores. O objetivo é munir o cidadão com um repertório maior de informações, tornando-o mais capaz de tomar deci-sões de consumo que diminuam os impactos negativos destas atividades.

Especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável defende o consumo consciente como uma forma eficaz de promover o desenvolvimento, por meio da geração de renda e dinamização da economia

Por Ana Redig

OEEX

PE

RTI

SE

Viaalternativa

Dalberto Adulis

Professor de Sustentabilidade e Desenvolvimento na Faculdades de Campinas (Facamp) e especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável, Dalberto Adulis garante que o consumo consciente é uma das formas mais efi-cientes de promover o desenvolvimento, por meio de efeitos positivos, como geração de renda e dinamização da economia, além de minimizar os efeitos negativos, ambientais e sociais. Inicialmente o Akatu trabalhava focado apenas na conscienti-zação do cidadão consumidor, e colaborando com empresas interessadas em oferecer produtos com menor impacto, mas que tinham dificuldades em comunicar isso ao seu público. Com o tempo, o Instituto percebeu que podia ir além e levar o olhar do consumidor para contribuir com a elaboração, desenho e implementação de políticas públicas.

Avanços – O professor aponta avanços no que tange à susten-tabilidade nos últimos anos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que passa a vigorar em agosto, é um exemplo. Ela cola-bora com a adoção de uma economia circular, em que os resí-duos são vistos como recursos naturais reaproveitáveis. No entanto são necessários investimentos em Pesquisa & Desen-volvimento para pensar formas de produção com menor impacto e para transformar o que antes ia para o lixo em insu-mos. “Esta é uma tendência mundial. Nos Estados Unidos a empresa de carpetes que mais cresce nos últimos anos já opera com 70% e tem como meta utilizar 100% de matéria-prima rea-proveitada. É preciso investir em inovação e estimular este tipo de iniciativa”, cobra Adulis.

O Akatu vem atuando em várias frentes – mobilidade, meio ambiente, água, energias renováveis etc. – sempre trazen-do a questão do consumo consciente e o olhar do consumidor para os debates. Atualmente a instituição está envolvida na ela-boração do Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentá-

Dalberto Adulis é professor de Sustentabilidade e Desenvolvimento na Faculdades de Campinas (Facamp) e especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável. Atualmente é gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu.

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ser humano aprendeu utilizar todos os recur-sos disponíveis na Terra necessários à sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento. Porém a falsa ideia de inesgotabilidade e o uso irresponsável desses insumos fizeram com que ultrapassássemos vários limites do planeta. “A

previsão é que a população mundial salte dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9 bilhões de pessoas em 2050. Se mantiver-mos os padrões de consumo de hoje, não haverá água e ali-mento suficientes para todos, e não haverá como dar destino a todo o resíduo produzido”, afirma Dalberto Adulis, gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu, organiza-ção não governamental que trabalha pela conscientização da sociedade para o consumo consciente. Akatu em tupi quer dizer ao mesmo tempo boa semente e mundo melhor. O Instituto foi criado há 12 anos pelo presidente da instituição, Hélio Mattar, ex-secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que já trabalhava a questão da sustentabilidade jun-to às empresas no Instituto Ethos.

“Ele percebeu que paralelamente era necessário trabalhar junto aos consumidores, pois é muito difícil promover uma mudança desta monta apenas pelo lado da oferta. Sem um con-sumidor consciente não se mudam padrões de consumo”, explica Dalberto. A ideia é que os consumidores sejam esta boa semente na construção de um mundo melhor. Mantido por empresas que apostam na sustentabilidade, o Instituto vem produzindo conteúdos, realizando pesquisas e gerando informações que possam ser utilizados para sensibilizar os con-sumidores. O objetivo é munir o cidadão com um repertório maior de informações, tornando-o mais capaz de tomar deci-sões de consumo que diminuam os impactos negativos destas atividades.

Especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável defende o consumo consciente como uma forma eficaz de promover o desenvolvimento, por meio da geração de renda e dinamização da economia

Por Ana Redig

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Viaalternativa

Dalberto Adulis

Professor de Sustentabilidade e Desenvolvimento na Faculdades de Campinas (Facamp) e especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável, Dalberto Adulis garante que o consumo consciente é uma das formas mais efi-cientes de promover o desenvolvimento, por meio de efeitos positivos, como geração de renda e dinamização da economia, além de minimizar os efeitos negativos, ambientais e sociais. Inicialmente o Akatu trabalhava focado apenas na conscienti-zação do cidadão consumidor, e colaborando com empresas interessadas em oferecer produtos com menor impacto, mas que tinham dificuldades em comunicar isso ao seu público. Com o tempo, o Instituto percebeu que podia ir além e levar o olhar do consumidor para contribuir com a elaboração, desenho e implementação de políticas públicas.

Avanços – O professor aponta avanços no que tange à susten-tabilidade nos últimos anos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que passa a vigorar em agosto, é um exemplo. Ela cola-bora com a adoção de uma economia circular, em que os resí-duos são vistos como recursos naturais reaproveitáveis. No entanto são necessários investimentos em Pesquisa & Desen-volvimento para pensar formas de produção com menor impacto e para transformar o que antes ia para o lixo em insu-mos. “Esta é uma tendência mundial. Nos Estados Unidos a empresa de carpetes que mais cresce nos últimos anos já opera com 70% e tem como meta utilizar 100% de matéria-prima rea-proveitada. É preciso investir em inovação e estimular este tipo de iniciativa”, cobra Adulis.

O Akatu vem atuando em várias frentes – mobilidade, meio ambiente, água, energias renováveis etc. – sempre trazen-do a questão do consumo consciente e o olhar do consumidor para os debates. Atualmente a instituição está envolvida na ela-boração do Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentá-

Dalberto Adulis é professor de Sustentabilidade e Desenvolvimento na Faculdades de Campinas (Facamp) e especialista em gestão pública e desenvolvimento sustentável. Atualmente é gerente de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu.

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tório consistente”, avisa Adulis.

Dalberto Adulis realça que o Brasil registrou uma melhoria significativa na dis-tribuição de renda nos últi-mos 15 anos, destacando o país de qualquer outro neste quesito. Um contingente muito grande de brasileiros migrou das classes D e E para a classe C, ou seja, essas pessoas foram incluídas no mercado consumidor. Ape-sar de extremamente positi-va, ele afirma, é preciso estar preparado para os desafios impostos por esse novo cená-rio, especialmente no que tan-ge a impactos ambientais: aumento de demanda por recursos naturais – água, ali-mentos, energia etc. – e o crescimento na quantidade de resíduos gerados. “Como

vamos atender a toda esta demanda?”, indaga o especialista.Por seu volume populacional, a China ainda é um grande

mercado de venda de automóveis. No entanto, a malha ferro-viária do país é planejada para que toda cidade que alcance 200 mil habitantes passe a ser servida por um trem bala no prazo de cinco anos. Este planejamento é fundamental e não estaria sen-do feito no Brasil. “O mesmo acontece com os serviços ambi-entais. O desmatamento de florestas melhorou, mas não temos um plano para pensar a biodiversidade como um recur-so estratégico no país. Continuamos a adotar uma agricultura de commodities, de baixo valor agregado – no fundo estamos exportando água –, e a gente vai caminhando para trás de certa forma em relação há 20 anos”, critica o especialista.

Para o professor, quem mais avançou nos últimos anos no Brasil foi a sociedade. “As redes sociais e as novas ferramen-tas de mobilização permitiram às pessoas assumirem posi-ções mais enfáticas em relação àquilo que querem. As recen-tes pressões por escolas, hospitais e mobilidade ‘padrão Fifa’ vão nessa direção”, opina. Para Dalberto Adulis, este novo consumidor começa a perceber que ter renda não é suficien-te. É preciso alcançar qualidade de vida: uma cidade mais sus-tentável, com mais espaços públicos, mais espaços verdes, segurança, transporte adequado. “Cada vez mais pessoas que-rem alimentos saudáveis, e não em quantidade; transporte público em vez de carro; energia e água limpas em vez de far-tas; o durável mais do que o descartável”, garante. De fato, é preciso conhecer os limites do planeta para não ultrapassá-los. “A economia precisa se reconciliar com o meio ambiente e com a ética. Só assim conseguiremos promover a diminui-ção da desigualdade,” conclui.

vel. O Plano nasceu no Processo de Marrakesh, ini-ciativa liderada globalmente pelas Nações Unidas e no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente e, ape-sar de já desenhado, encontra dificuldades na implementação de suas propostas. “Os sistemas econômicos dominantes não querem ver essas mudanças acontecerem e fazem tudo para manter a legislação como está”, afirma Dalberto. O profes-sor lembra que este é um setor estratégico, pois uma malha mais barata e eficiente reflete na boa logística, impactando na economia do país como um todo. “Precisamos abandonar o modelo cen-trado no automóvel individual e enfatizar o trans-porte coletivo de qualidade. Isso inclui fornecer

ligações ferroviárias entre as cidades”, sugere.O Brasil, no entanto, parece caminhar na direção contrária.

A malha ferroviária no país diminui a cada ano. No semestre passado, a Rodovia Bandeirantes, em São Paulo, uma das melhores do país, ganhou mais pistas. “O ideal seria utilizar aquela via para criar um trem bala, há muito prometido. E o pior é que as novas pistas vão gerar um fluxo maior de carros que, quando chegarem à Marginal, ficarão parados”, conclui Dalberto Adulis. Ele elogia a atuação do Ministério do Meio Ambiente na elaboração do Plano, porém lembra que várias propostas lá colocadas não conseguem hegemonia para se tor-narem efetivas do ponto de vista de incentivo e de financia-mento. “Muitas vezes o marco legal inviabiliza que os bancos de desenvolvimento ofereçam mais incentivos”, avalia o espe-cialista.

Resistências e avanços – A questão dos resíduos enfrentou a mesma resistência, por isso o professor acredita na educação para promover uma real mudança de cultura. “Os indicadores melhoraram, mas a qualidade do ensino ainda é fraca e as cri-anças passam pouco tempo na escola. Precisamos de uma edu-cação mais abrangente, que promova o desenvolvimento de um indivíduo capaz de compreender o mundo e promover mudanças. Só este cidadão será capaz de dar o salto”, aposta Dalberto. Para envolver crianças e jovens de 8 a 16 anos no debate sobre consumo consciente e sustentabilidade, o Insti-tuto Ikatu criou o desafio “De onde vêm as coisas?”. Pela rede de aprendizagem Edukatu, mais de mil escolas públicas e par-ticulares participam gratuitamente de uma espécie de gincana. Alunos utilizam uma plataforma especialmente criada para o projeto como recurso de aprendizagem. O professor lidera o ambiente virtual e os alunos participam de um circuito com três percursos: água, ar e terra. “Todas as informações neces-sárias para vencer o desafio estão presentes na plataforma, que também tem espaços interativos e de consulta. Como o desa-fio é lúdico, desperta o interesse dos jovens, que muitas vezes discutem os temas de forma prática”, explica Dalberto.

O especialista explica que precisamos construir uma mudança de cultura e, para isso, será necessária a participação do governo, das empresas e do consumidor. “O Brasil se ilude com sua grandiosidade, com sua fartura. Os recursos são mui-

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tos, mas não são ilimitados. Praticamos a cultura do desperdí-cio e estamos perdendo com isso”, argumenta Adulis. “No Bra-sil a gente tem essa ilusão de que a natureza é infinita e percebe que ela se torna mais limitada quando a população passa a ser mais urbana e passa a consumir mais. Por isso investir nas pró-ximas gerações é fundamental”, conclui.

Apesar das dificuldades, tanto culturais quanto políticas, o processo de desenvolvimento econômico sustentável no Bra-sil tem obtido avanços em diferentes áreas. Um bom exemplo de tendência que parece ter vindo para ficar são os produtos concentrados, especialmente de higiene e limpeza. Fruto do tão necessário investimento em P&D, a inovação permite ofe-recer ao consumidor embalagens de 500 ml do mesmo produ-to tradicionalmente oferecido em recipientes de 2 litros. Este processo gera economia na logística e transportes, reduzindo as emissões de CO , usando menos papelão para embalagens e 2

diminuindo as áreas necessárias para estocagem. Além disso, economiza água na produção, já que a diluição será feita em casa. Este conjunto de benefícios reduz fortemente a pegada desses produtos, tornando-os mais sustentáveis.

O problema, segundo o professor, é que o marco regulató-rio brasileiro não favorece ou estimula este tipo de iniciativa, como acontece no exterior. “Estamos falando de todos os recursos disponíveis e essenciais para a produção e não de algo distante. Racionalizar o uso dos recursos naturais representa economia. A ideia de que a sustentabilidade e o meio ambiente são contra o desenvolvimento é totalmente equivocada. Até hoje, no Brasil, as iniciativas têm partido da indústria, sem qual-quer incentivo. A legislação precisa ser cada vez mais exigente, já que esses benefícios são para todos”, argumenta Dalberto. O especialista avisa que investimentos em tecnologia e inova-ção tecnológica são fundamentais para permitir o desenvolvi-mento de produtos mais eficientes e com menor impacto. “É o que acontece com as pás para produzir energia eólica, por exemplo: dependemos de importação, pois não investimos no desenvolvimento da tecnologia”, cita.

Adulis explica que quando uma indústria adota uma pro-dução sustentável ocorre uma economia imediata, com redu-ção de custos logísticos e outros já citados. Segundo ele, o mes-mo acontece com o consumidor consciente: o primeiro ganho é econômico, por isso, a oferta de produtos não pode inviabili-zar a escolha. O segundo passo é o redesenho dos produtos, incorporando inovações. “Este é o salto maior, que além da economia vai gerar reputação, pois os consumidores valorizam cada vez mais as empresas com atuação mais responsável. As empresas que não entrarem nisso estão com os dias contados”, garante.

Na Alemanha, as líderes da indústria automobilística Volkswagen e BMW disputam o mercado de locação de carros de forma intensa. Apostando na tendência do compartilha-mento e não na posse do veículo, que ganha cada vez mais espa-ço na Europa, as empresas entenderam que se não oferecerem este serviço com qualidade, em paralelo às vendas de automó-veis, em 10 anos estarão fora do mercado. Pelo celular os usuá-rios localizam o carro disponível estacionado mais próximo

em uma vaga comum. Com o cartão de crédito, o caro é liberado e aquele usuário fica com ele até estacioná-lo nova-mente para que outro possa utilizá-lo. O sistema é inspi-rado no das bicicletas, inicia-tiva de sucesso em muitas cidades no Brasil e no mun-do. “Esta é uma tendência muito forte, pois diminui o uso de recursos naturais ao mesmo tempo que oferece qualidade de serviços. Infe-lizmente esta ainda é uma rea-lidade distante para o Brasil”, lamenta Dalberto.

Desenvolvimento – De for-ma geral o Brasil tem apre-sentado melhorias em seus indicadores econômicos, ambientais e sociais, mesmo quando colocado em compa-ração com outras nações em desenvolvimento como Índia, China e México. No entanto, ain-da há importantes pontos para se avançar. O Social Progress Index, indicador desenvolvido pelo professor Michael Porter, na Universidade de Harvard, procura observar simultanea-mente o bem-estar, as oportunidades e as necessidades básicas dos habitantes. O Brasil ocupa o 46° lugar. “Houve avanços no que tange às necessidades básicas. No entanto, pioramos nos itens que nos permitem dar um salto significativo rumo ao desenvolvimento sustentável, inclusive comparado a outros países da América Latina”, avisa o professor.

A questão da segurança é uma delas. O Brasil está em 122° lugar e exibe uma taxa alarmante de mortes: 60 mil pessoas assassinadas em 2013 e o mesmo número de vítimas fatais no trânsito. É um contingente muito expressivo. “Quando se anali-sa o desenvolvimento do ponto de vista puramente econômico, podemos concluir que a violência contribui com o crescimento do PIB: aumentam os gastos com segurança patrimonial priva-da, blindagem, cercas elétricas, serviços de vigilância, entre outros. No entanto, isso não é um benefício para a sociedade, pois cai a qualidade de vida da população. Por isso é fundamen-tal considerar aspectos não econômicos”, frisa o professor.

Para o especialista, o país também apresenta retrocesso em outro setor estratégico: o energético. Ele critica a recente opção pelo uso crescente de energia termelétrica, diminuindo a utilização das fontes consideradas limpas e renováveis em nossa matriz energética. “Na comparação com os países em desenvolvimento, a China sai na frente com um plano de inves-timentos expressivo em energia solar e eólica que inclui a cons-trução de parques enormes. No Brasil faltam incentivos para o desenvolvimento desses parques, bem como um marco regula-

Racionalizar o uso dos recursos

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A ideia de que a sustentabilidade e o meio ambiente são

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tório consistente”, avisa Adulis.

Dalberto Adulis realça que o Brasil registrou uma melhoria significativa na dis-tribuição de renda nos últi-mos 15 anos, destacando o país de qualquer outro neste quesito. Um contingente muito grande de brasileiros migrou das classes D e E para a classe C, ou seja, essas pessoas foram incluídas no mercado consumidor. Ape-sar de extremamente positi-va, ele afirma, é preciso estar preparado para os desafios impostos por esse novo cená-rio, especialmente no que tan-ge a impactos ambientais: aumento de demanda por recursos naturais – água, ali-mentos, energia etc. – e o crescimento na quantidade de resíduos gerados. “Como

vamos atender a toda esta demanda?”, indaga o especialista.Por seu volume populacional, a China ainda é um grande

mercado de venda de automóveis. No entanto, a malha ferro-viária do país é planejada para que toda cidade que alcance 200 mil habitantes passe a ser servida por um trem bala no prazo de cinco anos. Este planejamento é fundamental e não estaria sen-do feito no Brasil. “O mesmo acontece com os serviços ambi-entais. O desmatamento de florestas melhorou, mas não temos um plano para pensar a biodiversidade como um recur-so estratégico no país. Continuamos a adotar uma agricultura de commodities, de baixo valor agregado – no fundo estamos exportando água –, e a gente vai caminhando para trás de certa forma em relação há 20 anos”, critica o especialista.

Para o professor, quem mais avançou nos últimos anos no Brasil foi a sociedade. “As redes sociais e as novas ferramen-tas de mobilização permitiram às pessoas assumirem posi-ções mais enfáticas em relação àquilo que querem. As recen-tes pressões por escolas, hospitais e mobilidade ‘padrão Fifa’ vão nessa direção”, opina. Para Dalberto Adulis, este novo consumidor começa a perceber que ter renda não é suficien-te. É preciso alcançar qualidade de vida: uma cidade mais sus-tentável, com mais espaços públicos, mais espaços verdes, segurança, transporte adequado. “Cada vez mais pessoas que-rem alimentos saudáveis, e não em quantidade; transporte público em vez de carro; energia e água limpas em vez de far-tas; o durável mais do que o descartável”, garante. De fato, é preciso conhecer os limites do planeta para não ultrapassá-los. “A economia precisa se reconciliar com o meio ambiente e com a ética. Só assim conseguiremos promover a diminui-ção da desigualdade,” conclui.

vel. O Plano nasceu no Processo de Marrakesh, ini-ciativa liderada globalmente pelas Nações Unidas e no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente e, ape-sar de já desenhado, encontra dificuldades na implementação de suas propostas. “Os sistemas econômicos dominantes não querem ver essas mudanças acontecerem e fazem tudo para manter a legislação como está”, afirma Dalberto. O profes-sor lembra que este é um setor estratégico, pois uma malha mais barata e eficiente reflete na boa logística, impactando na economia do país como um todo. “Precisamos abandonar o modelo cen-trado no automóvel individual e enfatizar o trans-porte coletivo de qualidade. Isso inclui fornecer

ligações ferroviárias entre as cidades”, sugere.O Brasil, no entanto, parece caminhar na direção contrária.

A malha ferroviária no país diminui a cada ano. No semestre passado, a Rodovia Bandeirantes, em São Paulo, uma das melhores do país, ganhou mais pistas. “O ideal seria utilizar aquela via para criar um trem bala, há muito prometido. E o pior é que as novas pistas vão gerar um fluxo maior de carros que, quando chegarem à Marginal, ficarão parados”, conclui Dalberto Adulis. Ele elogia a atuação do Ministério do Meio Ambiente na elaboração do Plano, porém lembra que várias propostas lá colocadas não conseguem hegemonia para se tor-narem efetivas do ponto de vista de incentivo e de financia-mento. “Muitas vezes o marco legal inviabiliza que os bancos de desenvolvimento ofereçam mais incentivos”, avalia o espe-cialista.

Resistências e avanços – A questão dos resíduos enfrentou a mesma resistência, por isso o professor acredita na educação para promover uma real mudança de cultura. “Os indicadores melhoraram, mas a qualidade do ensino ainda é fraca e as cri-anças passam pouco tempo na escola. Precisamos de uma edu-cação mais abrangente, que promova o desenvolvimento de um indivíduo capaz de compreender o mundo e promover mudanças. Só este cidadão será capaz de dar o salto”, aposta Dalberto. Para envolver crianças e jovens de 8 a 16 anos no debate sobre consumo consciente e sustentabilidade, o Insti-tuto Ikatu criou o desafio “De onde vêm as coisas?”. Pela rede de aprendizagem Edukatu, mais de mil escolas públicas e par-ticulares participam gratuitamente de uma espécie de gincana. Alunos utilizam uma plataforma especialmente criada para o projeto como recurso de aprendizagem. O professor lidera o ambiente virtual e os alunos participam de um circuito com três percursos: água, ar e terra. “Todas as informações neces-sárias para vencer o desafio estão presentes na plataforma, que também tem espaços interativos e de consulta. Como o desa-fio é lúdico, desperta o interesse dos jovens, que muitas vezes discutem os temas de forma prática”, explica Dalberto.

O especialista explica que precisamos construir uma mudança de cultura e, para isso, será necessária a participação do governo, das empresas e do consumidor. “O Brasil se ilude com sua grandiosidade, com sua fartura. Os recursos são mui-

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tos, mas não são ilimitados. Praticamos a cultura do desperdí-cio e estamos perdendo com isso”, argumenta Adulis. “No Bra-sil a gente tem essa ilusão de que a natureza é infinita e percebe que ela se torna mais limitada quando a população passa a ser mais urbana e passa a consumir mais. Por isso investir nas pró-ximas gerações é fundamental”, conclui.

Apesar das dificuldades, tanto culturais quanto políticas, o processo de desenvolvimento econômico sustentável no Bra-sil tem obtido avanços em diferentes áreas. Um bom exemplo de tendência que parece ter vindo para ficar são os produtos concentrados, especialmente de higiene e limpeza. Fruto do tão necessário investimento em P&D, a inovação permite ofe-recer ao consumidor embalagens de 500 ml do mesmo produ-to tradicionalmente oferecido em recipientes de 2 litros. Este processo gera economia na logística e transportes, reduzindo as emissões de CO , usando menos papelão para embalagens e 2

diminuindo as áreas necessárias para estocagem. Além disso, economiza água na produção, já que a diluição será feita em casa. Este conjunto de benefícios reduz fortemente a pegada desses produtos, tornando-os mais sustentáveis.

O problema, segundo o professor, é que o marco regulató-rio brasileiro não favorece ou estimula este tipo de iniciativa, como acontece no exterior. “Estamos falando de todos os recursos disponíveis e essenciais para a produção e não de algo distante. Racionalizar o uso dos recursos naturais representa economia. A ideia de que a sustentabilidade e o meio ambiente são contra o desenvolvimento é totalmente equivocada. Até hoje, no Brasil, as iniciativas têm partido da indústria, sem qual-quer incentivo. A legislação precisa ser cada vez mais exigente, já que esses benefícios são para todos”, argumenta Dalberto. O especialista avisa que investimentos em tecnologia e inova-ção tecnológica são fundamentais para permitir o desenvolvi-mento de produtos mais eficientes e com menor impacto. “É o que acontece com as pás para produzir energia eólica, por exemplo: dependemos de importação, pois não investimos no desenvolvimento da tecnologia”, cita.

Adulis explica que quando uma indústria adota uma pro-dução sustentável ocorre uma economia imediata, com redu-ção de custos logísticos e outros já citados. Segundo ele, o mes-mo acontece com o consumidor consciente: o primeiro ganho é econômico, por isso, a oferta de produtos não pode inviabili-zar a escolha. O segundo passo é o redesenho dos produtos, incorporando inovações. “Este é o salto maior, que além da economia vai gerar reputação, pois os consumidores valorizam cada vez mais as empresas com atuação mais responsável. As empresas que não entrarem nisso estão com os dias contados”, garante.

Na Alemanha, as líderes da indústria automobilística Volkswagen e BMW disputam o mercado de locação de carros de forma intensa. Apostando na tendência do compartilha-mento e não na posse do veículo, que ganha cada vez mais espa-ço na Europa, as empresas entenderam que se não oferecerem este serviço com qualidade, em paralelo às vendas de automó-veis, em 10 anos estarão fora do mercado. Pelo celular os usuá-rios localizam o carro disponível estacionado mais próximo

em uma vaga comum. Com o cartão de crédito, o caro é liberado e aquele usuário fica com ele até estacioná-lo nova-mente para que outro possa utilizá-lo. O sistema é inspi-rado no das bicicletas, inicia-tiva de sucesso em muitas cidades no Brasil e no mun-do. “Esta é uma tendência muito forte, pois diminui o uso de recursos naturais ao mesmo tempo que oferece qualidade de serviços. Infe-lizmente esta ainda é uma rea-lidade distante para o Brasil”, lamenta Dalberto.

Desenvolvimento – De for-ma geral o Brasil tem apre-sentado melhorias em seus indicadores econômicos, ambientais e sociais, mesmo quando colocado em compa-ração com outras nações em desenvolvimento como Índia, China e México. No entanto, ain-da há importantes pontos para se avançar. O Social Progress Index, indicador desenvolvido pelo professor Michael Porter, na Universidade de Harvard, procura observar simultanea-mente o bem-estar, as oportunidades e as necessidades básicas dos habitantes. O Brasil ocupa o 46° lugar. “Houve avanços no que tange às necessidades básicas. No entanto, pioramos nos itens que nos permitem dar um salto significativo rumo ao desenvolvimento sustentável, inclusive comparado a outros países da América Latina”, avisa o professor.

A questão da segurança é uma delas. O Brasil está em 122° lugar e exibe uma taxa alarmante de mortes: 60 mil pessoas assassinadas em 2013 e o mesmo número de vítimas fatais no trânsito. É um contingente muito expressivo. “Quando se anali-sa o desenvolvimento do ponto de vista puramente econômico, podemos concluir que a violência contribui com o crescimento do PIB: aumentam os gastos com segurança patrimonial priva-da, blindagem, cercas elétricas, serviços de vigilância, entre outros. No entanto, isso não é um benefício para a sociedade, pois cai a qualidade de vida da população. Por isso é fundamen-tal considerar aspectos não econômicos”, frisa o professor.

Para o especialista, o país também apresenta retrocesso em outro setor estratégico: o energético. Ele critica a recente opção pelo uso crescente de energia termelétrica, diminuindo a utilização das fontes consideradas limpas e renováveis em nossa matriz energética. “Na comparação com os países em desenvolvimento, a China sai na frente com um plano de inves-timentos expressivo em energia solar e eólica que inclui a cons-trução de parques enormes. No Brasil faltam incentivos para o desenvolvimento desses parques, bem como um marco regula-

Racionalizar o uso dos recursos

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A ideia de que a sustentabilidade e o meio ambiente são

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odos aqueles que começam a estudar Sistemas Nacionais de Fomento (SNF) se deparam com a mesma questão. Frente à variedade institucional existente, como defini-lo? Não há, de fato, descri-ção abrangente o suficiente para comportar a mul-

tiplicidade de desenhos institucionais compreendida num “Siste-ma Nacional”, que envolve desde bancos especializados a bancos que atuam em múltiplos setores, bancos nacionais, regionais, agências com atuação local ou de atuação. Há, porém, três caracte-rísticas que parecem ser fundamentais para caracterizar um SNF.

A primeira é de senso comum: atuar em segmentos de crédito pouco desenvolvidos pelo mercado privado, seja pelos maiores prazos, volumes de capital requeridos ou dificuldade em avaliar riscos. Já a segunda é o reconhecimento de que os riscos devem ser avaliados não apenas em relação à rentabilidade esperada de cada um dos projetos, individualmente. É preciso manter a susten-tabilidade financeira da instituição no longo prazo, mas, a depen-der das prioridades de fomento, é possível, por exemplo, praticar subsídios cruzados entre diferentes atividades, criar fundos onde o sucesso de um projeto viabiliza os demais, entre outros. Por fim, um “sistema” só se caracteriza se houver entre as diversas institui-ções complementaridade e inter-relações em prol de um objetivo comum mais amplo: o desenvolvimento nacional – conceito este também abrangente e mutante ao longo do tempo.

Para os adeptos da tese do “Estado Mínimo”, a intervenção do Estado inibe o desenvolvimento natural do mercado de crédito, seja pela existência de subsídios ou por seu excessivo direcionamento. A intervenção reprimiria a oferta de poupança – com implicações para o crescimento econômico. No máximo, reconhece-se algum papel para instituições de fomento nas “falhas de mercado”.

De acordo com esta tese, a atuação pública no mercado de crédito só se justificaria em situações em que existe poder de monopólio (caso em que se defende a regulação), na presença de assimetrias de informação (o que justifica, por exemplo, o apoio público às MPMEs), de externalidades positivas (ex.: apoio à exportação) ou negativas (evitar corridas bancárias) e diante de bens públicos (ex.: apoio à infraestrutura urbana). Ademais, reconhece-se que quando há grande instabilidade macroeconômica, instituições de fomento são necessárias – o que desapareceria quando os fundamentos fossem colocados “em seu devido lugar”.

Não se está negando que o aprofundamento do sistema

financeiro possa contribuir para o desenvolvimento econômico, ao ampliar e diversificar fontes de financiamento. Nem tampou-co que existam segmentos que, embora extremamente relevan-tes, dificilmente serão atendidos pelo setor privado em virtude de falhas, como o crédito para MPMEs. O que a teoria das falhas não reconhece é a própria inexistência de um mercado financei-ro nacional de longo prazo como problema estrutural que, se não tratado, inviabiliza o crescimento e, portanto, justifica um sistema público. A necessidade de instituições de fomento não está apenas em contrabalançar a instabilidade macroeconômica, nem se restringe a países em desenvolvimento; nem muito menos deve atuar apenas nas “falhas”

A verdade é que quando os riscos são muito grandes ou prazos muito longos, mesmo que o financiamento seja privado, exigem-se garantias ou alguma forma de apoio creditício do Estado, inclusive em países desenvolvidos. Dificilmente o mer-cado privado contribui para reduzir desigualdades regionais, sociais e setoriais. Sim, existem problemas estruturais no merca-do de crédito. Sim, o mercado privado tende a se comportar ciclicamente e possuir instituições de fomento já consolidadas em momentos de crise pode ser muito importante. Sim, existe incerteza no sentido forte – a informação, às vezes, simplesmen-te não existe, não é que seja apenas assimétrica (Studart, 1995).

Reconhecidos os antigos problemas do mercado, cabe nos perguntarmos sobre os novos desafios. Estamos preparados para apoiar financeiramente um país inovador? Compreendemos o significado das novas demandas sociais? Temos exercido a nossa capacidade de ver primeiro os desafios do desenvolvimento? Atiçamos o espírito empreendedor? Fomentamos a competitivi-dade tendo em conta nossos novos competidores? Estamos atentos aos desafios do envelhecimento da população em termos das demandas futuras em infraestrutura urbana e saúde? Esta-mos atuando para integrar as dimensões social e ambiental à dimensão econômica? Complementamos políticas públicas voltadas ao desenvolvimento local e regional? Somos financeira-mente sustentáveis e atendemos as novas demandas regulatórias?

Não basta existir. É preciso responder aos novos desafios do desenvolvimento.

Sistemas Nacionais de Fomento

T

RREFLEXÃO

Economista do BNDES*

Lavinia Barros de Castro

Antigos problemas, novos desafios

* As opiniões aqui expressas não representam a posição do BNDES

Referência:

STUDART, Rogério: Investment Finance in Economic Development, London, 1995.

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RUMOS – 15 – Maio/Junho 2014

INOVAÇÃO

Por Alana Gandra

Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo oferece crédito para projetos inovadores, visando o desenvolvimento das empresas capixabas

novação. Esse é o caminho que levará ao desenvolvi-mento das empresas capi-xabas, disse à Rumos o pre-s iden te do Banco de

Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Guilherme Henrique Perei-ra. Ele apontou que uma das ferra-mentas que levarão a esse caminho é o Bandes Inovação, linha de crédito ope-rada pelo banco com recursos de diversas fontes, cujo lançamento ofici-al está programado para este mês pelo governo do estado. O Bandes Inova-ção se insere no âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo (Proedes).

Guilherme Henrique Pereira esclareceu que a instituição, nos anos anteriores, ficou muito voltada para operações de microcrédito e agora, após aumentar seu capital, está traba-lhando para abrir novas frentes de tra-balho. Com o Bandes Inovação, o banco inaugura uma nova fase, “como se estivesse criando uma agência virtual, uma forma nova de atendimento”, para sinalizar aos empresários locais que a instituição está trabalhando com outros produtos que visem o desenvolvimento inovador e tecnológico.

Segundo Pereira, a linha de crédito vai ser um “guarda-chuva”, uma vez que o banco fez convênio com a Agência Brasileira de Inovação (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, no âmbito do programa Inova-cred, e também com as linhas do BNDES Inovação, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Também em parceria com o BNDES, o Bandes vai ope-rar o Criatec 3, que, de acordo com o presidente, “vai dar formato à participação societária”, tendo em vista que o

RUMOS – 14 – Maio/Junho 2014

I

Bandes Inovação prevê a participação da instituição inclu-sive como sócia no capital de empresas inovadoras. “Essa possibilidade existe. Nós estamos legalmente autorizados a fazer isso”, manifestou. O Criatec é um fundo de capital, criado em 2007 pelo BNDES e outras instituições e opera-do por gestores regionais, que apoia empresas nascentes inovadoras, as chamadas startups – empresas novas ou ain-da em fase de constituição, que contam com projetos pro-missores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvi-mento de ideias inovadoras. Por serem jovens e estarem implantando uma ideia no mercado, necessitam de investi-mento de risco.

Há possibilidade ainda de o Bandes apoiar projetos ino-vadores das empresas do Espírito Santo com recursos pró-prios, explica Carlos Magno de Barros, diretor de Crédito e Fomento do banco. Com estes recursos, a instituição se

Guilherme Henrique Pereira, diretor-presidente do Bandes.

SX

C

habilita a apoiar as empresas inovadoras. “É o Bandes fomentando a inovação para conferir competitividade às empresas locais”, salientou o diretor.

Flexibilidade – O Bandes Inovação tem limite para empréstimos de até R$ 15 milhões por empresa. As condi-ções para que as empresas acessem os recursos são as mes-mas do BNDES Inovação e do Inovacred, da Finep. Já com recursos próprios do Bandes, o presidente assegurou

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Encontros com empresários

Para aumentar a competitividadeque há flexibilidade para o atendimento aos projetos. “Quer dizer, o banco está aberto para incluir projetos que porventura não se enquadrem nas linhas do BNDES ou da Finep”, explicou. O Bandes Inovação está disponível a empresas de qualquer porte, não se restringindo ao seg-mento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).

Os diretores afirmam que “se houver uma grande com-panhia que quiser recursos para inovação, para desenvol-ver um projeto que caiba dentro do limite de R$ 15 milhões, ela também pode ser contemplada”. A ideia é melhorar o valor agregado das empresas já existentes e aumentar sua competitividade no mercado. Para as empre-sas nascentes que tenham um produto considerado inova-dor, indicou que o Bandes Inovação pode dar o impulso necessário para o crescimento do negócio.

Linha de crédito inaugura nova forma de atuação do Bandes, que deseja sinalizar aos empresários locais que a instituição trabalha com novos produtos que visem ao desenvolvimento inovador e tecnológico. No contexto do Bandes Inovação, o banco está

promovendo encontros visando identificar empresá-rios capixabas que manifestam interesse em diversifi-car suas atividades, e também empreendedores que criaram ou desenvolvem produtos inovadores e têm uma proposta de constituir um plano de negócios. “A gente está fazendo um dia de trabalho em que junta-mos esses empreendedores com esses empresários, nos quais é debatido o plano de negócios dele”, comentou o presidente. O intuito é que esses empre-sários, junto com os empreendedores inovadores, pos-sam discutir o interesse de uma ação conjunta para tocar um plano de negócios. O sucesso da primeira edi-ção do Encontro de Oportunidades de Investimen-tos, realizado no último dia 26 de maio, do qual parti-ciparam 15 empresários, com sete planos de negócios apresentados, sinaliza que o projeto terá continuida-

de. Pereira informou que já está com vários pedidos de empresas que querem participar dessa reunião com empreendedores inovadores. Além de fomentar o desenvolvimento econômico do estado a partir da maior competitividade das empresas, o Bandes quer estimular a inovação e, também, a sustentabilidade das empresas, porque acredita que, com isso, contribui para a geração de empregos e o aumento da renda no Estado. “O Bandes Inovação é isso: um conceito para abrigar essas linhas que trabalham especificamente com inovação e vão desde a promoção do negócio, como é o caso desses encontros de empreendedores inovadores e investidores, até o financiamento da empresa”. O financiamento do Bandes Inovação tem juros que variam de 4,5% até 11% ao ano, dependendo do enquadramento das empresas e o prazo de paga-mento se estende por até dez anos.

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RUMOS – 15 – Maio/Junho 2014

INOVAÇÃO

Por Alana Gandra

Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo oferece crédito para projetos inovadores, visando o desenvolvimento das empresas capixabas

novação. Esse é o caminho que levará ao desenvolvi-mento das empresas capi-xabas, disse à Rumos o pre-s iden te do Banco de

Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Guilherme Henrique Perei-ra. Ele apontou que uma das ferra-mentas que levarão a esse caminho é o Bandes Inovação, linha de crédito ope-rada pelo banco com recursos de diversas fontes, cujo lançamento ofici-al está programado para este mês pelo governo do estado. O Bandes Inova-ção se insere no âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo (Proedes).

Guilherme Henrique Pereira esclareceu que a instituição, nos anos anteriores, ficou muito voltada para operações de microcrédito e agora, após aumentar seu capital, está traba-lhando para abrir novas frentes de tra-balho. Com o Bandes Inovação, o banco inaugura uma nova fase, “como se estivesse criando uma agência virtual, uma forma nova de atendimento”, para sinalizar aos empresários locais que a instituição está trabalhando com outros produtos que visem o desenvolvimento inovador e tecnológico.

Segundo Pereira, a linha de crédito vai ser um “guarda-chuva”, uma vez que o banco fez convênio com a Agência Brasileira de Inovação (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, no âmbito do programa Inova-cred, e também com as linhas do BNDES Inovação, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Também em parceria com o BNDES, o Bandes vai ope-rar o Criatec 3, que, de acordo com o presidente, “vai dar formato à participação societária”, tendo em vista que o

RUMOS – 14 – Maio/Junho 2014

I

Bandes Inovação prevê a participação da instituição inclu-sive como sócia no capital de empresas inovadoras. “Essa possibilidade existe. Nós estamos legalmente autorizados a fazer isso”, manifestou. O Criatec é um fundo de capital, criado em 2007 pelo BNDES e outras instituições e opera-do por gestores regionais, que apoia empresas nascentes inovadoras, as chamadas startups – empresas novas ou ain-da em fase de constituição, que contam com projetos pro-missores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvi-mento de ideias inovadoras. Por serem jovens e estarem implantando uma ideia no mercado, necessitam de investi-mento de risco.

Há possibilidade ainda de o Bandes apoiar projetos ino-vadores das empresas do Espírito Santo com recursos pró-prios, explica Carlos Magno de Barros, diretor de Crédito e Fomento do banco. Com estes recursos, a instituição se

Guilherme Henrique Pereira, diretor-presidente do Bandes.

SX

C

habilita a apoiar as empresas inovadoras. “É o Bandes fomentando a inovação para conferir competitividade às empresas locais”, salientou o diretor.

Flexibilidade – O Bandes Inovação tem limite para empréstimos de até R$ 15 milhões por empresa. As condi-ções para que as empresas acessem os recursos são as mes-mas do BNDES Inovação e do Inovacred, da Finep. Já com recursos próprios do Bandes, o presidente assegurou

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R REPORTAGEM

Encontros com empresários

Para aumentar a competitividadeque há flexibilidade para o atendimento aos projetos. “Quer dizer, o banco está aberto para incluir projetos que porventura não se enquadrem nas linhas do BNDES ou da Finep”, explicou. O Bandes Inovação está disponível a empresas de qualquer porte, não se restringindo ao seg-mento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).

Os diretores afirmam que “se houver uma grande com-panhia que quiser recursos para inovação, para desenvol-ver um projeto que caiba dentro do limite de R$ 15 milhões, ela também pode ser contemplada”. A ideia é melhorar o valor agregado das empresas já existentes e aumentar sua competitividade no mercado. Para as empre-sas nascentes que tenham um produto considerado inova-dor, indicou que o Bandes Inovação pode dar o impulso necessário para o crescimento do negócio.

Linha de crédito inaugura nova forma de atuação do Bandes, que deseja sinalizar aos empresários locais que a instituição trabalha com novos produtos que visem ao desenvolvimento inovador e tecnológico. No contexto do Bandes Inovação, o banco está

promovendo encontros visando identificar empresá-rios capixabas que manifestam interesse em diversifi-car suas atividades, e também empreendedores que criaram ou desenvolvem produtos inovadores e têm uma proposta de constituir um plano de negócios. “A gente está fazendo um dia de trabalho em que junta-mos esses empreendedores com esses empresários, nos quais é debatido o plano de negócios dele”, comentou o presidente. O intuito é que esses empre-sários, junto com os empreendedores inovadores, pos-sam discutir o interesse de uma ação conjunta para tocar um plano de negócios. O sucesso da primeira edi-ção do Encontro de Oportunidades de Investimen-tos, realizado no último dia 26 de maio, do qual parti-ciparam 15 empresários, com sete planos de negócios apresentados, sinaliza que o projeto terá continuida-

de. Pereira informou que já está com vários pedidos de empresas que querem participar dessa reunião com empreendedores inovadores. Além de fomentar o desenvolvimento econômico do estado a partir da maior competitividade das empresas, o Bandes quer estimular a inovação e, também, a sustentabilidade das empresas, porque acredita que, com isso, contribui para a geração de empregos e o aumento da renda no Estado. “O Bandes Inovação é isso: um conceito para abrigar essas linhas que trabalham especificamente com inovação e vão desde a promoção do negócio, como é o caso desses encontros de empreendedores inovadores e investidores, até o financiamento da empresa”. O financiamento do Bandes Inovação tem juros que variam de 4,5% até 11% ao ano, dependendo do enquadramento das empresas e o prazo de paga-mento se estende por até dez anos.

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nados em 28 de maio de 2013 durante Assembleia Geral da ABDE, entre a Finep e três agentes financeiros: um do Rio de Janeiro, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio); e dois do Rio Grande do Sul, a agência de fomento Badesul e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “A meta era chegar ao fim de 2013 com dez contratados. Nós encerramos o ano passado com 12 e hoje já estamos com 15”, informou Guimarães.

A proposta de descentralização do crédito à inovação em escala nacional teve como decorrência a necessidade de adaptação do programa às peculiaridades das regiões geo-gráficas do país. “A extensão do Brasil impõe diferenças mar-cantes entre as regiões, em termos de inovação. Um exemplo

é o projeto de silos que financi-amos no Acre para proteger a colheita de castanha, aipim e outros produtos agrícolas. Para a região, esses silos represen-tam uma inovação porque pre-servam os produtos e possibili-tam o beneficiamento posteri-or para exportação”, disse.

Conhecimento – Outro aspec-to destacado pelo gestor do Ino-vacred é a necessidade de conhecimento da realidade local por parte de quem conce-de o crédito: “O agente conhece o micro e o pequeno empresá-rio local. Com isso, ele consegue avaliar de perto quão inovador é o projeto”.

Também para atender as peculiaridades regionais, foram adotadas taxas de juros dife-renciadas nos financiamentos. O custo para as empresas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste tomadoras de crédito é TJLP mais a taxa do agente. Nas regiões Norte e Nordeste, os juros têm diferencial de 1,5%.

Para formar seu funding, o Inovacred recebeu um aporte fundamental de recursos do governo federal. No lançamen-to do programa Inova Empresa, também gerido pela Finep, a presidenta Dilma Rousseff aprovou a destinação de R$ 1 bilhão do FAT para o crédito de inovação à pequena empre-

RESULTADOS

RUMOS – 16 – Maio/Junho 2014

m pouco mais de um ano após o lançamento, o Inovacred, criado pela Finep em parceria com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), caminha rapidamente para ser a porta de

entrada da inovação no universo das pequenas empresas. No curto período entre maio de 2013 e agora, saltou de três para 15 o número de agentes financeiros credenciados em diferen-tes regiões do país. Dispondo de funding de R$ 1,2 bilhão, o pro-grama oferece a empreendimentos com receita operacional bruta anual ou anualizada de até R$ 90 milhões crédito para desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e serviços, marketing ou inovação organizacional.

Cláudio Guimarães Júnior, diretor Financeiro e de Con-troladoria da Finep, empresa pública que lidera a inovação no Brasil, é o ges-tor do programa e se entusiasma ao mostrar os resultados já alcançados. “O Inovacred é a resposta da Finep ao desafio de descentralizar o crédito à inovação. Assim como o Tecnova, nos-so programa que promove a descen-tralização concedida a empresas ino-vadoras, o Inovacred é executado jun-to com os agentes financeiros dos esta-dos”, explicou.

Guimarães ressaltou que a resposta ao desafio da descentralização do cré-dito assenta-se sobre dois pilares. Um deles é o Finep 30 dias, sistema que for-nece nesse prazo as análises de crédito, risco e teor de inovação dos projetos. O outro pilar é a Comissão de Inova-ção da ABDE, da qual ele é presidente, que promove bimestralmente encon-tros de agentes da entidade com técnicos das diferentes insti-tuições de fomento associadas, para discussão de temas refe-rentes à inovação e contratação de projetos.

“O ano de 2013 foi de conhecimento, nosso e dos agen-tes, sobre inovação. Agora, com o Finep 30 dias e o trabalho de integração conduzido pela ABDE, acredito que em 2014 nós possamos efetivamente fazer decolar a descentralização do crédito para a inovação no Brasil inteiro”, afirmou.

Começo – Os primeiros contratos do Inovacred foram assi-

Por Gilberto Negreiros

E

Aposta da Finep para descentralizar o crédito à inovação, Inovacred supera suas próprias metas e amplia presença junto aos agentes financeiros dos estados

RUMOS – 17 – Maio/Junho 2014

sa. A contrapartida de R$ 200 milhões que coube à Finep no rateio totalizou R$ 1,2 bilhão. Esse montante de recursos é empregado nos contratos firmados com os agentes financei-ros estaduais, cujos valores variam de R$ 30 milhões a R$ 80 milhões, de acordo com o porte da agência de fomento ou do banco.

Assistência – “Ao longo de 2013”, relatou Guimarães, “nós contratamos os agentes e demos treinamento para análise de projetos de inovação. O BDMG [Banco de Desenvolvimen-to de Minas Gerais] já tinha um núcleo que financiava proje-tos de inovação e a AgeRio também. Então, alguns já estavam acostumados a trabalhar com inovação. Mas os agentes que apresentaram necessidade recebem toda a assistência e acom-panhamento. E continuamos a fazer isso. Nossas equipes vão lá onde eles estão e fazem o treinamento. Recentemente, pro-movemos aqui na Finep, com ampla participação de agentes, uma reunião para mostrar como nós acompanhamos os pro-jetos de inovação”.

No treinamento dos agentes, as equipes de apoio procu-ram estabelecer com precisão o conceito de inovação. “Em nossas apresentações básicas”, disse o diretor da Finep, “es-clarecemos o que entendemos por inovação, que não é algo restrito ao produto. A inovação pode ser de processo, de ser-viço.” Dentro desse enfoque amplo, “tudo o que tiver estrita ligação com o projeto, até obras civis, treinamento, consulto-ria, é agregado ao financiamento”.

As atividades das equipes de treinamento incluem, tam-

R REPORTAGEM

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Os primeiros contratos do Inovacred foram assinados em maio de 2013 durante Assembleia da ABDE (foto); técnicos da Finep têm ido aos estados para auxiliar os agentes locais na identificação dos projetos inovadores.

bém, o trabalho de prospecção de clientes. “Na ponta, nós integramos os agentes locais para que eles se habilitem a par-ticipar do Inovacred. A Finep realiza nos estados reuniões entre agências, universidades e incubadoras, em um trabalho conjunto que faz a triagem de clientes potenciais”.

Garantias – Na estruturação do programa, um dos maiores obstáculos enfrentados foi a questão das garantias necessárias à concessão de crédito. “Concluiu-se que, pelo fato de a pequena e a média empresa não terem inicialmente garantias a dar, essa era uma das maiores dificuldades no financiamento da inovação”, contou Guimarães. “Mas, com a ajuda da ABDE, negociamos com o BNDES o acesso dos agentes do Inovacred ao Fundo Garantidor da Inovação (FGI), que esta-rá disponível para os participantes do programa no primeiro trimestre de 2015. ”

O leque de garantias ampliou-se com o apoio do Sebrae, que dobrou de R$ 300 mil para R$ 600 mil a cobertura pro-porcionada pelo Fundo de Apoio à Pequena e Média Empre-sa (Fampe) nas operações dos agentes do programa. “E esta-mos trabalhando junto ao Banco do Brasil para que, da mes-ma forma como aconteceu com o BNDES, os nossos agen-tes tenham também acesso ao Fundo Garantidor de Opera-ções (FGO), que já desenvolve um projeto piloto com a Age-Rio”, anunciou. “Tudo isso reduz custos drasticamente e dá segurança aos agentes do programa. O sistema de garantias vai impulsionar de maneira bastante significativa o volume de operações. ”

Portas abertas à pequena empresa

“O fato de uma empresa como a Finep dar uma

resposta em 30 dias, com qualidade, é uma quebra

de paradigma na administração pública, um

tremendo avanço para o Brasil.”

Cláudio Guimarães Júnior, diretor Financeiro e de

Controladoria.

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nados em 28 de maio de 2013 durante Assembleia Geral da ABDE, entre a Finep e três agentes financeiros: um do Rio de Janeiro, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio); e dois do Rio Grande do Sul, a agência de fomento Badesul e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “A meta era chegar ao fim de 2013 com dez contratados. Nós encerramos o ano passado com 12 e hoje já estamos com 15”, informou Guimarães.

A proposta de descentralização do crédito à inovação em escala nacional teve como decorrência a necessidade de adaptação do programa às peculiaridades das regiões geo-gráficas do país. “A extensão do Brasil impõe diferenças mar-cantes entre as regiões, em termos de inovação. Um exemplo

é o projeto de silos que financi-amos no Acre para proteger a colheita de castanha, aipim e outros produtos agrícolas. Para a região, esses silos represen-tam uma inovação porque pre-servam os produtos e possibili-tam o beneficiamento posteri-or para exportação”, disse.

Conhecimento – Outro aspec-to destacado pelo gestor do Ino-vacred é a necessidade de conhecimento da realidade local por parte de quem conce-de o crédito: “O agente conhece o micro e o pequeno empresá-rio local. Com isso, ele consegue avaliar de perto quão inovador é o projeto”.

Também para atender as peculiaridades regionais, foram adotadas taxas de juros dife-renciadas nos financiamentos. O custo para as empresas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste tomadoras de crédito é TJLP mais a taxa do agente. Nas regiões Norte e Nordeste, os juros têm diferencial de 1,5%.

Para formar seu funding, o Inovacred recebeu um aporte fundamental de recursos do governo federal. No lançamen-to do programa Inova Empresa, também gerido pela Finep, a presidenta Dilma Rousseff aprovou a destinação de R$ 1 bilhão do FAT para o crédito de inovação à pequena empre-

RESULTADOS

RUMOS – 16 – Maio/Junho 2014

m pouco mais de um ano após o lançamento, o Inovacred, criado pela Finep em parceria com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), caminha rapidamente para ser a porta de

entrada da inovação no universo das pequenas empresas. No curto período entre maio de 2013 e agora, saltou de três para 15 o número de agentes financeiros credenciados em diferen-tes regiões do país. Dispondo de funding de R$ 1,2 bilhão, o pro-grama oferece a empreendimentos com receita operacional bruta anual ou anualizada de até R$ 90 milhões crédito para desenvolvimento ou aprimoramento de produtos, processos e serviços, marketing ou inovação organizacional.

Cláudio Guimarães Júnior, diretor Financeiro e de Con-troladoria da Finep, empresa pública que lidera a inovação no Brasil, é o ges-tor do programa e se entusiasma ao mostrar os resultados já alcançados. “O Inovacred é a resposta da Finep ao desafio de descentralizar o crédito à inovação. Assim como o Tecnova, nos-so programa que promove a descen-tralização concedida a empresas ino-vadoras, o Inovacred é executado jun-to com os agentes financeiros dos esta-dos”, explicou.

Guimarães ressaltou que a resposta ao desafio da descentralização do cré-dito assenta-se sobre dois pilares. Um deles é o Finep 30 dias, sistema que for-nece nesse prazo as análises de crédito, risco e teor de inovação dos projetos. O outro pilar é a Comissão de Inova-ção da ABDE, da qual ele é presidente, que promove bimestralmente encon-tros de agentes da entidade com técnicos das diferentes insti-tuições de fomento associadas, para discussão de temas refe-rentes à inovação e contratação de projetos.

“O ano de 2013 foi de conhecimento, nosso e dos agen-tes, sobre inovação. Agora, com o Finep 30 dias e o trabalho de integração conduzido pela ABDE, acredito que em 2014 nós possamos efetivamente fazer decolar a descentralização do crédito para a inovação no Brasil inteiro”, afirmou.

Começo – Os primeiros contratos do Inovacred foram assi-

Por Gilberto Negreiros

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Aposta da Finep para descentralizar o crédito à inovação, Inovacred supera suas próprias metas e amplia presença junto aos agentes financeiros dos estados

RUMOS – 17 – Maio/Junho 2014

sa. A contrapartida de R$ 200 milhões que coube à Finep no rateio totalizou R$ 1,2 bilhão. Esse montante de recursos é empregado nos contratos firmados com os agentes financei-ros estaduais, cujos valores variam de R$ 30 milhões a R$ 80 milhões, de acordo com o porte da agência de fomento ou do banco.

Assistência – “Ao longo de 2013”, relatou Guimarães, “nós contratamos os agentes e demos treinamento para análise de projetos de inovação. O BDMG [Banco de Desenvolvimen-to de Minas Gerais] já tinha um núcleo que financiava proje-tos de inovação e a AgeRio também. Então, alguns já estavam acostumados a trabalhar com inovação. Mas os agentes que apresentaram necessidade recebem toda a assistência e acom-panhamento. E continuamos a fazer isso. Nossas equipes vão lá onde eles estão e fazem o treinamento. Recentemente, pro-movemos aqui na Finep, com ampla participação de agentes, uma reunião para mostrar como nós acompanhamos os pro-jetos de inovação”.

No treinamento dos agentes, as equipes de apoio procu-ram estabelecer com precisão o conceito de inovação. “Em nossas apresentações básicas”, disse o diretor da Finep, “es-clarecemos o que entendemos por inovação, que não é algo restrito ao produto. A inovação pode ser de processo, de ser-viço.” Dentro desse enfoque amplo, “tudo o que tiver estrita ligação com o projeto, até obras civis, treinamento, consulto-ria, é agregado ao financiamento”.

As atividades das equipes de treinamento incluem, tam-

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Os primeiros contratos do Inovacred foram assinados em maio de 2013 durante Assembleia da ABDE (foto); técnicos da Finep têm ido aos estados para auxiliar os agentes locais na identificação dos projetos inovadores.

bém, o trabalho de prospecção de clientes. “Na ponta, nós integramos os agentes locais para que eles se habilitem a par-ticipar do Inovacred. A Finep realiza nos estados reuniões entre agências, universidades e incubadoras, em um trabalho conjunto que faz a triagem de clientes potenciais”.

Garantias – Na estruturação do programa, um dos maiores obstáculos enfrentados foi a questão das garantias necessárias à concessão de crédito. “Concluiu-se que, pelo fato de a pequena e a média empresa não terem inicialmente garantias a dar, essa era uma das maiores dificuldades no financiamento da inovação”, contou Guimarães. “Mas, com a ajuda da ABDE, negociamos com o BNDES o acesso dos agentes do Inovacred ao Fundo Garantidor da Inovação (FGI), que esta-rá disponível para os participantes do programa no primeiro trimestre de 2015. ”

O leque de garantias ampliou-se com o apoio do Sebrae, que dobrou de R$ 300 mil para R$ 600 mil a cobertura pro-porcionada pelo Fundo de Apoio à Pequena e Média Empre-sa (Fampe) nas operações dos agentes do programa. “E esta-mos trabalhando junto ao Banco do Brasil para que, da mes-ma forma como aconteceu com o BNDES, os nossos agen-tes tenham também acesso ao Fundo Garantidor de Opera-ções (FGO), que já desenvolve um projeto piloto com a Age-Rio”, anunciou. “Tudo isso reduz custos drasticamente e dá segurança aos agentes do programa. O sistema de garantias vai impulsionar de maneira bastante significativa o volume de operações. ”

Portas abertas à pequena empresa

“O fato de uma empresa como a Finep dar uma

resposta em 30 dias, com qualidade, é uma quebra

de paradigma na administração pública, um

tremendo avanço para o Brasil.”

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RUMOS – 18 – Maio/Junho 2014

I Guimarães ressaltou que a gestão do Inova-

cred exigiu também da sua executora disposição para enfrentar o desafio da inovação. Isso foi consegui-do com a criação, em setem-

bro do ano passado, do Finep 30 dias, sis-tema que simplificou o processo de aná-lise das propostas de financiamento. Sem mais complicações burocráticas, os projetos reembolsáveis recebem os três ratings exigidos – crédito, risco e inova-ção – no prazo de 30 dias, algo até então inédito.

Paradigma – “O fato de uma empresa pública, como é a Finep, dar uma res-posta em 30 dias, com qualidade, é uma quebra de paradigma na administração pública, um tremendo avanço para o Bra-sil. Nem as agências de inovação dos paí-ses mais desenvolvidos têm um módulo como esse”, afir-mou.

Para Guimarães, o padrão de eficiência firmado com o Finep 30 dias deveria gerar iniciativas semelhantes em outros órgãos governamentais: “Se uma empresa pública responde a um pedido de financiamento em 30 dias, é incon-cebível que a Previdência demore mais de 30 dias para dizer se alguém tem ou não direito à aposentadoria. Ou que se demore mais de seis meses para analisar o projeto de compra de uma caldeira”.

Com a implantação do Finep 30 dias, as empresas toma-doras de financiamento para inovação passaram a se cadas-trar pela internet. Se o projeto tem valor igual ou abaixo de R$ 10 milhões, é imediatamente repassado aos agentes do Inova-cred. “Em 2014, nós vamos mais e mais mandar projetos para os agentes”, disse Guimarães. “E também pretendemos estender ao longo deste ano o sistema 30 dias aos nossos agen-tes, para capacitá-los a analisar um projeto de inovação com segurança e prontidão. Com isso, a Finep valoriza cada centa-vo do contribuinte brasileiro que financia a inovação. Nós dizemos isso com muito orgulho. ”

Guimarães destacou, também, a criação da Comissão de Inovação da ABDE. “Formou-se um caldo de cultura para falar de inovação. O BNDES está conosco na Comissão. Lá se discute a situação de setores e são apresentados cases sobre a experiência de cada agente na contratação de proje-tos”, disse.

As análises sobre o estágio da inovação no Brasil conver-gem, quase invariavelmente, para a comparação com a Coreia do Sul, que em menos de três décadas deu o salto tecnológico e hoje compete na primeira linha da produção de automóveis, eletrônica digital e telefonia. O diretor da Finep concorda: “Em 1974, o Brasil era mais inovador que a Coreia; nos anos 80, estávamos próximos; e hoje eles estão lá em cima e nós estamos cá embaixo. A Coreia investiu em educação e inova-ção. Porque quando se investe em inovação, as empresas ino-vadoras geram empregos de melhor qualidade e produtos melhores e mais competitivos no mercado mundial.”

Produtividade – Guimarães acrescentou que a inovação tem relação direta com dois fatores cruciais na economia moderna: produtividade e competitividade. “A empresa industrial brasileira precisa ter produtividade semelhante à da agricultura, onde o Brasil cresce mais que o mundo”, afir-mou. Na sua avaliação, o caminho para o salto da produtivi-dade está traçado.

“Em março do ano passado”, lembrou, “a presidenta Dil-ma lançou o programa Inova Empresa. Nunca antes na histó-ria deste país foram destinados R$ 32,9 bilhões à inovação. Agora, a Finep coordenou, através do seu presidente, Glauco Arbix, o Programa Nacional de Plataformas do Conheci-mento, voltado para a ciência e com duração de dez anos, que vai ter o mesmo impacto do Inova Empresa. ”

Coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o programa tem como objetivo integrar o conhe-cimento científico produzido nas universidades e institutos de pesquisa com as empresas e os órgãos do governo. As Pla-taformas do Conhecimento abrangem um conjunto de sete áreas: agricultura, saúde, energia, aeronáutica, manufatura avançada, tecnologia da informação e Amazônia. Também está prevista a contratação de pesquisadores de alta qualifi-cação, do Brasil e do exterior, e o reaparelhamento e a implantação de instituições de pesquisa com padrão interna-cional. Uma das primeiras ações será na área da saúde.

“Com esse novo programa, o Brasil vai se aproximar da fronteira do conhecimento. Estamos muito felizes e estimu-lados por estar participando de um processo que vai entrar para a história deste país”, afirmou Guimarães.

BANCO DA AMAZÔNIA

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livro do economista francês Thomas Piketty, O Capital no século 21, merece o sucesso editorial e as atenções dos meios acadêmicos, mas é um exa-gero dizer que ele revolucionará o estudo da Eco-nomia. A tendência à acumulação da renda e do

patrimônio é um fenômeno muito conhecido dos historia-dores e vem sendo estudada quantitativamente pelos econo-mistas desde o final do século 19, quando Vilfredo Pareto (Cours d´économie politique, 1897) estabeleceu as famosas leis estatísticas que mimetizam a distribuição da renda nas mais variadas sociedades e que Piketty usou em suas extrapola-ções. Quem tiver dúvida pode consultar uma ingênua nota publicada há 60 anos sobre a distribuição da renda no Brasil (ADN – “A Lei de Pareto e o Imposto de Renda em 1951 no Brasil”, Revista dos Mercados, agosto de 1953), para testemu-nhar a qualidade daquela aproximação.

As conclusões de Piketty têm sido abusadas pelas varia-das vertentes ideológicas que infestam os estudos da Econo-mia. Talvez seja hora de lembrar um gigantesco estudo sobre a História da Civilização, que Will e Ariel Durant publicaram em 10 volumes, entre 1935 e 1967. Ignorado pelos historia-dores profissionais, impressionaram amadores, como foi o meu caso. Em 1968 publicaram um pequeno volume, The Lessons of History, onde condensaram o que tinham aprendi-do tentando entender 25 séculos da caminhada do homem. O capítulo 8, “Economics and History”, é muito interessan-te. Em apenas seis páginas expõem o poder da interpretação materialista da história de Karl Marx e suas limitações. Avan-çam, depois, um largo quadro que mostra que ao longo da História, nos mais variados regimes e circunstâncias, a con-centração da riqueza parece inevitável.

A concentração pode chegar a um ponto em que o poder do número de pobres atinge o poder das habilidades dos poucos que são ricos, uma situação de equilíbrio instável que será enfrentada por uma redistribuição pacífica e legal da riqueza ou por uma revolução que distribuirá a pobreza. Um exemplo da primeira foi a reforma de Sólon, da Atenas de 594 a.C., onde prevaleceu o bom senso e a capacidade políti-ca. Exemplo da segunda foi a indiferença do Senado Roma-no à proposta de Tiberius Gracco (162-133 a.C.) para redu-zir a concentração da riqueza, que resultou em um século de lutas de classe e guerra civil.

Os autores afirmam que a experiência do passado deixa poucas dúvidas que todo sistema econômico, cedo ou tarde, apoia-se em alguma forma de estímulo para levar indivíduos ou grupos a produzirem. Organizações alternativas – escra-vidão, coerção, entusiasmo ideológico – mostraram-se muito improdutivas, custosas e transitórias.

A habilidade prática difere de pessoa para pessoa, e em quase todas as sociedades elas concentram-se numa minoria. A concentração da riqueza é resultado natural dessa concen-tração das habilidades e aparece recorrentemente na Histó-ria. A taxa de concentração varia com a liberdade econômica aceita pela moral e pelas leis.

A relativa igualdade que prevalecia nos EUA antes de 1776 (Guerra da Independência) foi soterrada por milhares de diferenciações físicas, mentais e econômicas, de maneira que a distância entre o mais rico e o mais pobre, agora (1967) é maior do que em qualquer tempo.

Os governos americanos em 1933-52 (Franklin Roose-velt e Harry Truman) e 1960-65 (John Kennedy e Lyndon Jonhson) conseguiram uma moderada e pacífica redistri-buição. A classe alta americana reagiu com submissão, mas logo recomeçou a concentração da riqueza, que Piketty ago-ra aponta.

Will e Ariel Durant viram com clareza que quem contro-lou a moeda e o crédito controlou os outros: “dos Medicis de Florença e os Fuggers de Augsburg aos Rothschilds de Paris e os Morgans de Nova York, os banqueiros sentaram nos conselhos dos governos, financiaram guerras e papas e, às vezes, revoluções”.

A conclusão dessa viagem extraordinária pela história do homem é que “a concentração da riqueza é natural e inevitável, mas periodicamente aliviada por redistribui-ção pacífica ou violenta que ocorre quando algum fenô-meno crítico – uma crise de abastecimento como no pas-sado ou um aumento profundo e prolongado do desem-prego como no presente – reduz à miserabilidade parte importante da sociedade e o sistema político parece inca-paz de corrigi-la”.

Não há lei histórica! A desigualdade disfuncional nada tem a ver com “direita” ou “esquerda”. É apenas insensibili-dade e incompetência de quem controla o poder político, como sugere Piketty.

ANÁLISE

Desigualdade disfuncional

RUMOS – 20 – Maio/Junho 2014

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.M

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O OPINIÃO

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residente da Associação Brasileira de Desenvolvimen-to (ABDE) em um momen-to-chave da vida da entidade, e fundador da Agência de

Fomento do Amazonas (Afeam), Pedro Falabella faleceu aos 72 anos, no último dia 28 de maio. Economista e artista plástico, Falabella estava internado por conta de problemas cardíacos na Unida-de de Terapia Intensiva do Hospital Beneficente Portuguesa, em Manaus, quando veio a falecer.

O economista foi presidente da ABDE entre 2007 e 2009, em um momento importante para a associação, e teve papel destacado durante as negociações com o Banco Central para as alterações na Resolução 2.828, que trata da normatização das agências de fomento. Ele considerava essa negociação a maior conquista de sua gestão. “As alterações dessa resolução foram um grande legado”, afirmou recentemente em entre-vista à revista Rumos, na edição especial de aniversário da ABDE.

Nesta mesma entrevista, ele recordou que no período em que esteve à frente da entidade a associação conseguiu supe-rar uma etapa crítica de sua história. “Superamos a crise e preparamos o terreno para o início do planejamento estraté-gico, que visava a abertura do diálogo dos associados com o Banco Central e o BNDES”, contou.

O presidente da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e diretor da ABDE, Milton Luiz de Melo Santos, que conviveu com Falabella durante o período em que este presidiu a associação, lembrou de seu permanente engajamento em favor das instituições de fomento.

“Pedro Falabella foi uma das pessoas que mais me impressionou nesses anos todos em que eu convivi com agências de fomento e bancos de desenvolvimento, pela sua luta incansável em defesa de um sistema de fomento voltado às empresas de pequeno porte. Ele foi um lutador, um grande defensor de um sistema de crédito mais objetivo, menos burocrático e mais simplificado, para que o pequeno produ-tor, o pequeno empresário, pudesse obter o crédito mais adequado ao seu negócio”.

Presidente da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc), Luis Antonio Ramos também guarda boas

recordações de Falabella. Ele lembrou sua liderança em um momento muito delicado da ABDE. “Conheci o Pedro Falabella no contexto da militância em prol do fomento de crédito no Brasil. Foi presidente da ABDE em um momento muito delicado para a institui-ção. Ali reconheci um líder que prioriza-va os interesses coletivos em detrimento dos assuntos particulares. Filho de imi-grantes italianos, foi prefeito de Uruca-rá, no interior do estado do Amazonas, por cinco mandatos, mas o que o fazia

vibrar era a luta pelo fomento em prol dos povos ribeirinhos do seu estado. Tinha consciência de que pequenas interven-ções podem mudar a vida das pessoas”, lembrou, sobre o amigo. “Ao nos deixar abruptamente, Pedro empobrece o cenário das lutas pelo desenvolvimento em geral e do fomen-to em particular”, completou.

Nas redes sociais e por meio de notas oficiais, políticos e personalidades do estado de Manaus lamentaram a morte de Falabella, querido por onde passou. Em sua página pessoal no facebook, o senador Eduardo Braga postou uma declara-ção emocionada sobre a perda de seu amigo e companheiro de militância política: “Urucará, o Amazonas e o Brasil per-deram um grande homem público. Vá em paz, meu amigo. Obrigado por tudo”, declarou.

O governador José Melo também emitiu uma nota sobre o legado de Falabella. “Homem de profundo espírito público, dedicou sua vida à luta pela construção de tempos melhores para a população deste estado. Pedro Falabella deixa um legado de dignidade e trabalho”, concluiu.

Na Assembleia Legislativa, que já havia conferido ao economista a Medalha do Mérito Legislativo, os deputados relembraram, durante sessão plenária, a atuação de Falabella em favor do desenvolvimento econômico e social do estado, em especial o desenvolvimento do setor primário da econo-mia local. Representantes do Ministério Público Estadual também lamentaram a morte de Falabella. “Por onde passou, ele deixou sua marca de um administrador eficiente e ao mesmo tempo conhecedor da estrutura política do Amazo-nas”, testemunhou o promotor de justiça, Otávio Gomes, que classificou o economista como uma figura “carismática e intelectual”.

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MEMÓRIA

Pedro Falabella morre aos 72 anos

“Carismático e intelectual”,

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Por Sarah Barros

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Iniciativa do BRDE é vencedora de prêmio internacional; ação aumenta a capilaridade do banco e permite alcançar pequenos produtores da agricultura familiar com maior volume de crédito, a custos mais baixos

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Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE) recebeu em maio, na cidade de Cartagena de Índias (Colômbia), prêmio ofereci-do anualmente pela Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras para o

Desenvolvimento (Alide) pelo modelo de convênio utilizado para levar crédito aos pequenos produtores da agricultura familiar no sul do Brasil. As parcerias operacionais com cooperativas de crédito e de produção, além de empresas do setor agropecuário, têm permitido a distribuição do crédito de fomento no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, com aumento de 350%, entre 2000 e 2013, no núme-ro de municípios dos três estados com contratações de finan-ciamentos junto ao BRDE.

O Prêmio Alide 2014 foi entregue em 9 de maio, durante a 44ª Assembleia da associação, que contou com a presença de aproximadamente 200 líderes dos setores público e privado de fomento. O objetivo da premiação é reconhecer e divulgar as melhores práticas e as inovações em produtos e serviços vol-tados para o desenvolvimento econômico e social dos países da região. Atualmente, a Alide congrega cerca 80 entidades na América Latina, além de membros associados na Alemanha, Canadá, China, Espanha, Portugal, Suécia e Rússia.

O trabalho intitulado “Parcerias Operacionais do BRDE: uma solução para o financiamento à agricultura familiar na Região Sul do Brasil” foi premiado na categoria 1 – Produtos Financeiros. “A premiação internacional foi um reconhecimento pela modalidade que o BRDE criou para financiar o desenvolvimento da agricultura familiar, fazendo com que um banco com apenas três agências consiga apoiar agricultores no território dos três estados do Sul, com a inte-gração das cooperativas de crédito e produção, parceiras desde o primeiro momento”, destaca o diretor de Planeja-mento do banco, Carlos Horn.

Na oportunidade, também foram reconhecidas iniciativas de bancos de desenvolvimento da Argentina, do México e da

Colômbia, além de projeto do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Brasil, na categoria Informação, Assistência Técnica e Responsabilidade Social.

Capilaridade – O modelo de parceria utilizado pelo banco consiste principalmente na aproximação junto às cooperati-vas de crédito e de produção, que possuem contato direto com pequenos produtores da agricultura familiar e já conhe-cem suas necessidades, além de suas capacidades financeiras para assumir financiamentos. Desta forma, a solução permite que um banco de desenvolvimento como BRDE, que man-tém, por questões normativas, apenas uma agência em cada capital dos três estados do Sul do Brasil, alcance empreendi-mentos em quase todos os municípios da região, assegurando benefícios para todos os envolvidos. “Isso encurta o tempo de liberação do crédito ao produtor e dá acesso ao recurso de maneira mais adequada, a partir de sua própria cooperativa, com quem ele já tem uma relação de mútua confiança”, expli-ca o coordenador do trabalho premiado e superintendente de Planejamento do BRDE, Carlos Ponzoni.

A avaliação é acompanhada pela economista Mayara Dias, assessora de diretoria e analista de projetos do banco, atuante no projeto premiado. “A parceria com as cooperati-vas, que conhecem a atuam diretamente com a agricultura familiar, possibilitou ao BRDE ter a confiança necessária para fazer o crédito chegar a esses agricultores”, completa.

A partir de 41 convênios em vigor atualmente, a instituição mantém parceiros para análise e concessão de crédito para a agricultura familiar em 749 municípios. No ano de 2000, o banco havia contratado financiamentos em 214 cidades. “Ampliar os canais de distribuição e conseguir atingir 89% dos municípios que compõem a região Sul do Brasil, possuindo apenas três agências, foi o principal desafio encontrado ao longo dos anos, mas superado por meio das parcerias”, reforça a economista e analista de projetos do BRDE, Fernanda Sou-za, que também foi uma das autoras do trabalho premiado.

Esse modelo de parceria contribuiu para que a parcela de volume de crédito destinada para o interior dos estados abrangidos aumentasse consideravelmente, respondendo por 92,3% dos valores financiados em 2013. Este percentual era de 79% em 2000, com os demais 21% dos financiamen-tos obtidos por tomadores em áreas metropolitanas.

Os resultados do estudo apontam ainda que, do total de contratos firmados pelo BRDE em 2013, 88% são produtores rurais, dos quais 31% correspondem a mini e pequenos pro-dutores. O valor médio contratado pela agricultura familiar junto ao banco entre 2000 e 2014 atingiu o montante de R$ 23 mil. “Isso demonstra que conseguimos desconcentrar o crédi-to, alcançando o interior dos estados”, aponta Ponzoni.

Operacionalização – No modelo de parceria desenvolvido pelo BRDE e cooperativas, cabe à entidade conveniada divul-gar as linhas de crédito disponíveis aos produtores, selecionar os possíveis tomadores e realizar parte da análise cadastral de seu associado. Após este primeiro trabalho, o banco de desen-volvimento faz a conferência de documentação e o registro do cadastro, completa a análise de crédito e efetiva a contratação caso o crédito seja aprovado. Os recursos, provenientes prin-cipalmente de linhas administradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), são, então, liberados e repassados ao produtor.

A principal linha de crédito acionada por meio das parce-rias é o Pronaf Investimentos, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), responsá-vel por mais de 70% do valor contratado pelo BRDE com esse segmento.

Para garantir a correta aplicação do crédito é importante a aproximação com as cooperativas junto ao produtor. “A con-cessão do crédito por meio da cooperativa é importante não apenas na hora de receber os recursos, mas a instituição tam-bém zela pela correta identificação da necessidade do produ-tor e da aplicação do crédito”, afirma Ponzoni. No caso do Pronaf Investimentos, o montante liberado deve ser aplicado em ações como aquisição de equipamentos e maquinários ou ampliação de áreas de armazenagem da produção.

Com isso, é esperado que o pequeno produtor rural alcance maior produtividade e melhor qualidade do trabalho, elevando os níveis de renda e qualidade de vida nas proprie-dades da agricultura familiar que, no Sul do Brasil, corres-pondem a 84% do total de propriedades rurais e a 77% da população ocupada na agricultura. “Os pequenos produto-

res familiares têm dificuldades de superar os obstáculos ine-rentes à sua atividade e ao seu porte para acessarem o crédito oferecido pelas instituições financeiras”, indica o documento apresentado na premiação na Colômbia.

Evolução – As primeiras parceiras do BRDE no desafio de levar crédito aos pequenos produtores do Sul do país foram cooperativas de crédito rural, por meio de convênios firmados ainda nos anos 90. “Contribuiu o fato de essas cooperativas já possuírem experiência quanto à identificação de clientes em potencial e familiaridade com análise de cadastro”, assinala o superintendente do banco. Neste processo, tais entidades também se beneficiam com o fortalecimento proveniente do apoio técnico fornecido pelo banco de desenvolvimento.

Os principais parceiros do banco hoje, nesta modalidade, são o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural (Crehnor) e o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). O amadurecimento do modelo junto às cooperativas de crédito permitiu incorporar, posteriormente, as cooperativas de pro-dução e ainda empresas agroindustriais.

Em 2014, vigoram 17 convênios firmados pelo banco com empresas agroindustriais, incluindo fornecedores de maquinários, implementos agrícolas e outros atores da cadeia agropecuária.

Este é o caso do convênio firmado, em 2010, com a empresa Gonçalves e Tortola S/A, do grupo GTFoods, que tem como principal produto itens derivados da criação de frangos. De acordo com o consultor financeiro do grupo, Luiz Pedro, a parceria com o BRDE tem sido uma importan-te ferramenta de aproximação do produtor rural junto ao crédito e às suas necessidades de investimentos na proprieda-de rural. “A avicultura se apresenta como uma excelente oportunidade de viabilizar a pequena propriedade agrícola e o convênio como um agente financeiro veio mitigar certos conceitos de crédito e risco”, analisa.

Luiz Pedro acredita que a principal vantagem incorporada pelo modelo de convênio premiado é o acesso do pequeno produtor a crédito para investimentos em valores mais eleva-dos. “Normalmente o pequeno produtor busca recursos de valores menos elevados até pelo tamanho da propriedade ou pela atividade exercida. A avicultura agrega valor e em muito à propriedade, gerando emprego e renda no campo, e isso per-mite que, mesmo o pequeno proprietário, possa ter acesso a volumes maiores de crédito”, completa.

Reconhecida e premiada O trabalho intitulado “Parcerias Operacionais do BRDE: uma solução para o financiamento à agricultura familiar na Região Sul

do Brasil" foi premiado na categoria 1 – Produtos Financeiros do Prêmio Alide 2014.

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Iniciativa do BRDE é vencedora de prêmio internacional; ação aumenta a capilaridade do banco e permite alcançar pequenos produtores da agricultura familiar com maior volume de crédito, a custos mais baixos

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Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE) recebeu em maio, na cidade de Cartagena de Índias (Colômbia), prêmio ofereci-do anualmente pela Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras para o

Desenvolvimento (Alide) pelo modelo de convênio utilizado para levar crédito aos pequenos produtores da agricultura familiar no sul do Brasil. As parcerias operacionais com cooperativas de crédito e de produção, além de empresas do setor agropecuário, têm permitido a distribuição do crédito de fomento no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, com aumento de 350%, entre 2000 e 2013, no núme-ro de municípios dos três estados com contratações de finan-ciamentos junto ao BRDE.

O Prêmio Alide 2014 foi entregue em 9 de maio, durante a 44ª Assembleia da associação, que contou com a presença de aproximadamente 200 líderes dos setores público e privado de fomento. O objetivo da premiação é reconhecer e divulgar as melhores práticas e as inovações em produtos e serviços vol-tados para o desenvolvimento econômico e social dos países da região. Atualmente, a Alide congrega cerca 80 entidades na América Latina, além de membros associados na Alemanha, Canadá, China, Espanha, Portugal, Suécia e Rússia.

O trabalho intitulado “Parcerias Operacionais do BRDE: uma solução para o financiamento à agricultura familiar na Região Sul do Brasil” foi premiado na categoria 1 – Produtos Financeiros. “A premiação internacional foi um reconhecimento pela modalidade que o BRDE criou para financiar o desenvolvimento da agricultura familiar, fazendo com que um banco com apenas três agências consiga apoiar agricultores no território dos três estados do Sul, com a inte-gração das cooperativas de crédito e produção, parceiras desde o primeiro momento”, destaca o diretor de Planeja-mento do banco, Carlos Horn.

Na oportunidade, também foram reconhecidas iniciativas de bancos de desenvolvimento da Argentina, do México e da

Colômbia, além de projeto do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Brasil, na categoria Informação, Assistência Técnica e Responsabilidade Social.

Capilaridade – O modelo de parceria utilizado pelo banco consiste principalmente na aproximação junto às cooperati-vas de crédito e de produção, que possuem contato direto com pequenos produtores da agricultura familiar e já conhe-cem suas necessidades, além de suas capacidades financeiras para assumir financiamentos. Desta forma, a solução permite que um banco de desenvolvimento como BRDE, que man-tém, por questões normativas, apenas uma agência em cada capital dos três estados do Sul do Brasil, alcance empreendi-mentos em quase todos os municípios da região, assegurando benefícios para todos os envolvidos. “Isso encurta o tempo de liberação do crédito ao produtor e dá acesso ao recurso de maneira mais adequada, a partir de sua própria cooperativa, com quem ele já tem uma relação de mútua confiança”, expli-ca o coordenador do trabalho premiado e superintendente de Planejamento do BRDE, Carlos Ponzoni.

A avaliação é acompanhada pela economista Mayara Dias, assessora de diretoria e analista de projetos do banco, atuante no projeto premiado. “A parceria com as cooperati-vas, que conhecem a atuam diretamente com a agricultura familiar, possibilitou ao BRDE ter a confiança necessária para fazer o crédito chegar a esses agricultores”, completa.

A partir de 41 convênios em vigor atualmente, a instituição mantém parceiros para análise e concessão de crédito para a agricultura familiar em 749 municípios. No ano de 2000, o banco havia contratado financiamentos em 214 cidades. “Ampliar os canais de distribuição e conseguir atingir 89% dos municípios que compõem a região Sul do Brasil, possuindo apenas três agências, foi o principal desafio encontrado ao longo dos anos, mas superado por meio das parcerias”, reforça a economista e analista de projetos do BRDE, Fernanda Sou-za, que também foi uma das autoras do trabalho premiado.

Esse modelo de parceria contribuiu para que a parcela de volume de crédito destinada para o interior dos estados abrangidos aumentasse consideravelmente, respondendo por 92,3% dos valores financiados em 2013. Este percentual era de 79% em 2000, com os demais 21% dos financiamen-tos obtidos por tomadores em áreas metropolitanas.

Os resultados do estudo apontam ainda que, do total de contratos firmados pelo BRDE em 2013, 88% são produtores rurais, dos quais 31% correspondem a mini e pequenos pro-dutores. O valor médio contratado pela agricultura familiar junto ao banco entre 2000 e 2014 atingiu o montante de R$ 23 mil. “Isso demonstra que conseguimos desconcentrar o crédi-to, alcançando o interior dos estados”, aponta Ponzoni.

Operacionalização – No modelo de parceria desenvolvido pelo BRDE e cooperativas, cabe à entidade conveniada divul-gar as linhas de crédito disponíveis aos produtores, selecionar os possíveis tomadores e realizar parte da análise cadastral de seu associado. Após este primeiro trabalho, o banco de desen-volvimento faz a conferência de documentação e o registro do cadastro, completa a análise de crédito e efetiva a contratação caso o crédito seja aprovado. Os recursos, provenientes prin-cipalmente de linhas administradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), são, então, liberados e repassados ao produtor.

A principal linha de crédito acionada por meio das parce-rias é o Pronaf Investimentos, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), responsá-vel por mais de 70% do valor contratado pelo BRDE com esse segmento.

Para garantir a correta aplicação do crédito é importante a aproximação com as cooperativas junto ao produtor. “A con-cessão do crédito por meio da cooperativa é importante não apenas na hora de receber os recursos, mas a instituição tam-bém zela pela correta identificação da necessidade do produ-tor e da aplicação do crédito”, afirma Ponzoni. No caso do Pronaf Investimentos, o montante liberado deve ser aplicado em ações como aquisição de equipamentos e maquinários ou ampliação de áreas de armazenagem da produção.

Com isso, é esperado que o pequeno produtor rural alcance maior produtividade e melhor qualidade do trabalho, elevando os níveis de renda e qualidade de vida nas proprie-dades da agricultura familiar que, no Sul do Brasil, corres-pondem a 84% do total de propriedades rurais e a 77% da população ocupada na agricultura. “Os pequenos produto-

res familiares têm dificuldades de superar os obstáculos ine-rentes à sua atividade e ao seu porte para acessarem o crédito oferecido pelas instituições financeiras”, indica o documento apresentado na premiação na Colômbia.

Evolução – As primeiras parceiras do BRDE no desafio de levar crédito aos pequenos produtores do Sul do país foram cooperativas de crédito rural, por meio de convênios firmados ainda nos anos 90. “Contribuiu o fato de essas cooperativas já possuírem experiência quanto à identificação de clientes em potencial e familiaridade com análise de cadastro”, assinala o superintendente do banco. Neste processo, tais entidades também se beneficiam com o fortalecimento proveniente do apoio técnico fornecido pelo banco de desenvolvimento.

Os principais parceiros do banco hoje, nesta modalidade, são o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural (Crehnor) e o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). O amadurecimento do modelo junto às cooperativas de crédito permitiu incorporar, posteriormente, as cooperativas de pro-dução e ainda empresas agroindustriais.

Em 2014, vigoram 17 convênios firmados pelo banco com empresas agroindustriais, incluindo fornecedores de maquinários, implementos agrícolas e outros atores da cadeia agropecuária.

Este é o caso do convênio firmado, em 2010, com a empresa Gonçalves e Tortola S/A, do grupo GTFoods, que tem como principal produto itens derivados da criação de frangos. De acordo com o consultor financeiro do grupo, Luiz Pedro, a parceria com o BRDE tem sido uma importan-te ferramenta de aproximação do produtor rural junto ao crédito e às suas necessidades de investimentos na proprieda-de rural. “A avicultura se apresenta como uma excelente oportunidade de viabilizar a pequena propriedade agrícola e o convênio como um agente financeiro veio mitigar certos conceitos de crédito e risco”, analisa.

Luiz Pedro acredita que a principal vantagem incorporada pelo modelo de convênio premiado é o acesso do pequeno produtor a crédito para investimentos em valores mais eleva-dos. “Normalmente o pequeno produtor busca recursos de valores menos elevados até pelo tamanho da propriedade ou pela atividade exercida. A avicultura agrega valor e em muito à propriedade, gerando emprego e renda no campo, e isso per-mite que, mesmo o pequeno proprietário, possa ter acesso a volumes maiores de crédito”, completa.

Reconhecida e premiada O trabalho intitulado “Parcerias Operacionais do BRDE: uma solução para o financiamento à agricultura familiar na Região Sul

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DESENVOLVIMENTO

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RUMOS – 25 – Maio/Junho 2014

este terceiro artigo da série “Pelo Mundo”, colu-na onde discutimos a atuação e relevância de dife-rentes instituições de fomento em diversos paí-ses ao redor do globo, falaremos sobre o Banco

de Desenvolvimento da China (China Development Bank Corporation – CDB). O CDB foi fundado em 1994 e, no momento, é dono de 37 agências espalhadas pelo país, além de uma agência em Hong Kong, três escritórios de represen-tação em outros países – no Brasil, no Egito e na Rússia, com planos para estabelecer um escritório na Venezuela – e cinco subsidiárias, o Village Bank, o Fundo de Desenvolvimento China-África, o CDB Leasing, o CDB Capital e o CDB Valores Mobiliários. Sua estrutura conta com mais de sete mil empre-gados. O banco é totalmente controlado pelo Estado chinês, vinculado diretamente ao governo central, e age como um ins-trumento de políticas públicas, contribuindo para o desen-volvimento da nação e seguindo as diretrizes dos planos quin-quenais.

Com o slogan “financiando o desenvolvimento”, o CDB é especializado em crédito de médio e longo prazo, com foco no financiamento à infraestrutura, especialmente em energia e transporte (totalizando aproximadamente 66% do total de suas operações de crédito neste segmento, em 2013), algumas indústrias chaves, projetos de interesse do Estado, agrope-cuária e projetos ambiental e socialmente responsáveis. Fomentador do desenvolvimento regional, com operações em todas as regiões da China, atuando como coordenador do desenvolvimento local e da urbanização, o banco opera jun-tamente com os governos para desenvolver e implantar pro-jetos produtivos. Adicionalmente, a instituição tem o impor-tante papel de promover a cooperação internacional, financi-ando os investimentos chineses fora de suas fronteiras e esti-mulando o fomento a países em desenvolvimento, de forma a impuls ionar no exter ior os interesses chineses. Resumidamente, o CDB age como um braço do Estado. Seu tamanho é incomparável: seus ativos, algo em torno de US$ 1,3 trilhão, ultrapassaram os 14% do gigantesco PIB chinês

em 2013, e seu saldo de operações de crédito alcançaram 12,6% do PIB (ou US$ 1,1 trilhão). Seu expressivo desempe-nho operacional vem acompanhado de uma taxa de inadim-plência de menos de 1%. Ainda, conta com a qualificação de grau de investimento, concedida tanto pela Moody’s quanto pela Standard & Poor’s.

A criação do banco está intimamente ligada ao recente pro-cesso chinês de desenvolvimento. Deng Xiaoping, presidente que articulou e implantou tal processo no final da década de 70, decidiu que o país precisava crescer de forma planejada. O modelo de desenvolvimento tinha sua raiz num longo, gradual e incrementalista movimento de reforma das instituições. Dadas suas características naturais e políticas (população ele-vada, baixa produtividade, baixa disponibilidade de terra culti-vável, entre outros), via-se como fundamental a necessidade de aumento da produtividade tanto no campo quanto na cidade. Para isso, era indispensável o aumento considerável do investi-mento, que seria feito através da participação tanto do governo central quanto dos regionais. Deng providenciou que o primei-ro tivesse acesso ao financiamento de longo prazo sem, no entanto, fazer o mesmo com os segundos.

O problema foi resolvido de uma forma nada ortodoxa: os governos locais conseguiam linhas de financiamento desenfre-adamente através do déficit orçamentário ou da emissão de títu-los de crédito. Em 1994 o governo central regulamentou as finanças dos governos locais, proibindo-os de vender títulos ou incorrer em déficits (o que dificultou sua capacidade de finan-ciar o processo produtivo). Observe que no período ainda não havia fonte de financiamento de longo prazo na China que des-se conta do processo de desenvolvimento pretendido pelo governo. Nesse cenário de reestruturação da economia e do sis-tema financeiro, nasce o CDB, juntamente com o Banco de Desenvolvimento Agrícola da China, que atua na política agrí-cola estadual, e o Export-Import Bank (Eximbank), banco de desenvolvimento que apoia as exportações. Ao estimular o mer-cado financeiro no financiamento ao desenvolvimento o governo prescindia de utilizar o orçamento público.

O CDB nasceu para minimizar o problema do financiamento ao desen-volvimento, especialmente o regional, e passou a prover os governos locais com o capital para seus projetos (esses governos locais podem agir como com-panhias). O banco opera com emissão de títulos próprios, de dívida e do Tesouro, com maturidade, normalmen-te, de dez anos, podendo chegar a 50 anos, comprados pelos bancos comer-ciais chineses (o sistema financeiro na China é, essencialmente, público), espe-cialmente os quatro grandes bancos comerciais – Banco Comercial e Industr ia l da China , Banco de Construção da China, Banco da China e Banco de Agricultura da China – e repassados, principalmente, aos gover-nos locais e a empresas controladas pelo Estado. Ou seja, com o sistema desenvolvido, o gigante chinês vende títulos aos bancos comerciais que os compram com recursos provenientes da poupança da população, com risco zero e taxas de retorno atrativas. À medida que os bancos comerciais capitalizavam o CDB, sua capacidade de financiar os governos locais aumen-tava consideravelmente.

Crises – O Banco de Desenvolvimento da China, assim como a maioria de seus congêneres em outros países, tomou corpo em momentos de crises econômicas. Os agentes financeiros privados atuam de forma pró-cíclica – nas crises há retração de crédito, em períodos de crescimento, há abundância, tornando o sistema instável. Uma das funções das instituições públicas é a de operarem de forma contracíclica. A crise financeira de 1996-1997, iniciada na Tailândia e espalhada pelo restante do continente asiático, atingiu especialmente a China e contribuiu para represar o crédito. O banco atuou como agente financeiro de desenvolvimento, aumentando suas operações e garantin-do a oferta de crédito ao fomento do país – seu principal canal de financiamento foi o massivo investimento em infraestrutu-ra. Nesse período, os gastos no setor dobraram e até 2002 tri-plicaram. A instituição atuou nesse processo com os investi-mentos iniciais, depois atraindo outros grandes investidores – uma vez que um governo local conseguisse empréstimo do CDB os outros quatro grandes bancos comerciais chineses investiam nas regiões também (a aprovação da linha de crédito pelo banco de desenvolvimento era considerada uma certifica-ção de solidez por parte do Estado chinês). Posteriormente, os outros bancos nacionais e locais também seguiram o movi-mento, gerando, assim, um círculo virtuoso.

Quase uma década mais tarde, durante a crise financeira que se iniciou em 2007-2008, o Banco de Desenvolvimento da

China agiu da mesma forma e usou a opor-tunidade para intensificar seu fortaleci-mento. Com o intuito de minimizar a depressão que os efeitos da crise financei-ra tiveram sobre a economia chinesa, o governo anunciou, já no fim de 2008, um estímulo de quatro trilhões de yuans (algo em torno de US$ 585 bilhões ou 13% do PIB). O governo central financiou apenas 30% desse valor, o restante foi provenien-te dos bancos públicos, principalmente do CDB, via estímulo aos governos locais. A maioria do investimento foi direcionada, assim como na crise asiática, para projetos de infraestrutura. Da mesma forma que os bancos públicos ajudaram, na década de 90, o país a navegar com calma a maré tur-bulenta da crise asiática, eles ampararam novamente o país nesse período conturba-do da economia mundial.

A atuação do banco em resposta à cri-se não se limitou apenas ao aumento de suas operações de crédito. Desde 2007 suas operações fora do território chinês

se intensificaram. O CDB aumentou seus investimentos no mercado internacional, onde supervisionou mais projetos, procurou novas demandas e mandou funcionários para aces-sar os investimentos ou instalar escritórios de representação nesses lugares. Foi a partir de então que intensificou sua expansão nas operações no restante da Ásia, na América Latina e África. Em 2011 os financiamentos em moedas estrangeiras totalizaram 20% da carteira do banco, apesar de eles não contarem com investidores internacionais que adquirissem seus títulos. A partir de meados de 2012 essa rea-lidade mudou e o CDB começou a vender seus títulos no mer-cado internacional, marcando a capacidade de o governo chi-nês comercializá-los em sua própria moeda com uma taxa de juros bastante reduzida.

O banco, indutor do desenvolvimento regional, com seu massivo investimento em infraestrutura é também essencial para o processo de urbanização chinês – processo que transfor-ma trabalhadores agrários de baixa produtividade em trabalha-dores urbanos de alta produtividade. A urbanização produz efei-to significativo no PIB, garantindo altas taxas de crescimento e promovendo o desenvolvimento econômico e social. Em 2011 a China se tornou uma nação predominantemente urbana.

Analisar o estrondoso crescimento chinês das últimas décadas não é tarefa fácil, dada a velocidade do seu cresci-mento, sua capacidade de adaptação e magnitude das grande-zas de seus dados. No entanto, esse crescimento foi, certa-mente, propulsionado pela atuação do Banco de Desenvolvimento Chinês que, ao agir como instrumento de política pública, canaliza o investimento e promove o desen-volvimento.

RUMOS – 24 – Maio/Junho 2014

Fernanda Feil

Formada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre na mesma área pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Gerente de Estudos Econômicos da ABDE.

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O gigante chinês Analisar o estrondoso crescimento chinês das

últimas décadas não é tarefa fácil;

mas certamente esse crescimento foi propulsionado

pela atuação do Banco de Desenvolvimento Chinês,

um instrumento de política pública que

canaliza o investimento e promove

o desenvolvimento.

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RUMOS – 25 – Maio/Junho 2014

este terceiro artigo da série “Pelo Mundo”, colu-na onde discutimos a atuação e relevância de dife-rentes instituições de fomento em diversos paí-ses ao redor do globo, falaremos sobre o Banco

de Desenvolvimento da China (China Development Bank Corporation – CDB). O CDB foi fundado em 1994 e, no momento, é dono de 37 agências espalhadas pelo país, além de uma agência em Hong Kong, três escritórios de represen-tação em outros países – no Brasil, no Egito e na Rússia, com planos para estabelecer um escritório na Venezuela – e cinco subsidiárias, o Village Bank, o Fundo de Desenvolvimento China-África, o CDB Leasing, o CDB Capital e o CDB Valores Mobiliários. Sua estrutura conta com mais de sete mil empre-gados. O banco é totalmente controlado pelo Estado chinês, vinculado diretamente ao governo central, e age como um ins-trumento de políticas públicas, contribuindo para o desen-volvimento da nação e seguindo as diretrizes dos planos quin-quenais.

Com o slogan “financiando o desenvolvimento”, o CDB é especializado em crédito de médio e longo prazo, com foco no financiamento à infraestrutura, especialmente em energia e transporte (totalizando aproximadamente 66% do total de suas operações de crédito neste segmento, em 2013), algumas indústrias chaves, projetos de interesse do Estado, agrope-cuária e projetos ambiental e socialmente responsáveis. Fomentador do desenvolvimento regional, com operações em todas as regiões da China, atuando como coordenador do desenvolvimento local e da urbanização, o banco opera jun-tamente com os governos para desenvolver e implantar pro-jetos produtivos. Adicionalmente, a instituição tem o impor-tante papel de promover a cooperação internacional, financi-ando os investimentos chineses fora de suas fronteiras e esti-mulando o fomento a países em desenvolvimento, de forma a impuls ionar no exter ior os interesses chineses. Resumidamente, o CDB age como um braço do Estado. Seu tamanho é incomparável: seus ativos, algo em torno de US$ 1,3 trilhão, ultrapassaram os 14% do gigantesco PIB chinês

em 2013, e seu saldo de operações de crédito alcançaram 12,6% do PIB (ou US$ 1,1 trilhão). Seu expressivo desempe-nho operacional vem acompanhado de uma taxa de inadim-plência de menos de 1%. Ainda, conta com a qualificação de grau de investimento, concedida tanto pela Moody’s quanto pela Standard & Poor’s.

A criação do banco está intimamente ligada ao recente pro-cesso chinês de desenvolvimento. Deng Xiaoping, presidente que articulou e implantou tal processo no final da década de 70, decidiu que o país precisava crescer de forma planejada. O modelo de desenvolvimento tinha sua raiz num longo, gradual e incrementalista movimento de reforma das instituições. Dadas suas características naturais e políticas (população ele-vada, baixa produtividade, baixa disponibilidade de terra culti-vável, entre outros), via-se como fundamental a necessidade de aumento da produtividade tanto no campo quanto na cidade. Para isso, era indispensável o aumento considerável do investi-mento, que seria feito através da participação tanto do governo central quanto dos regionais. Deng providenciou que o primei-ro tivesse acesso ao financiamento de longo prazo sem, no entanto, fazer o mesmo com os segundos.

O problema foi resolvido de uma forma nada ortodoxa: os governos locais conseguiam linhas de financiamento desenfre-adamente através do déficit orçamentário ou da emissão de títu-los de crédito. Em 1994 o governo central regulamentou as finanças dos governos locais, proibindo-os de vender títulos ou incorrer em déficits (o que dificultou sua capacidade de finan-ciar o processo produtivo). Observe que no período ainda não havia fonte de financiamento de longo prazo na China que des-se conta do processo de desenvolvimento pretendido pelo governo. Nesse cenário de reestruturação da economia e do sis-tema financeiro, nasce o CDB, juntamente com o Banco de Desenvolvimento Agrícola da China, que atua na política agrí-cola estadual, e o Export-Import Bank (Eximbank), banco de desenvolvimento que apoia as exportações. Ao estimular o mer-cado financeiro no financiamento ao desenvolvimento o governo prescindia de utilizar o orçamento público.

O CDB nasceu para minimizar o problema do financiamento ao desen-volvimento, especialmente o regional, e passou a prover os governos locais com o capital para seus projetos (esses governos locais podem agir como com-panhias). O banco opera com emissão de títulos próprios, de dívida e do Tesouro, com maturidade, normalmen-te, de dez anos, podendo chegar a 50 anos, comprados pelos bancos comer-ciais chineses (o sistema financeiro na China é, essencialmente, público), espe-cialmente os quatro grandes bancos comerciais – Banco Comercial e Industr ia l da China , Banco de Construção da China, Banco da China e Banco de Agricultura da China – e repassados, principalmente, aos gover-nos locais e a empresas controladas pelo Estado. Ou seja, com o sistema desenvolvido, o gigante chinês vende títulos aos bancos comerciais que os compram com recursos provenientes da poupança da população, com risco zero e taxas de retorno atrativas. À medida que os bancos comerciais capitalizavam o CDB, sua capacidade de financiar os governos locais aumen-tava consideravelmente.

Crises – O Banco de Desenvolvimento da China, assim como a maioria de seus congêneres em outros países, tomou corpo em momentos de crises econômicas. Os agentes financeiros privados atuam de forma pró-cíclica – nas crises há retração de crédito, em períodos de crescimento, há abundância, tornando o sistema instável. Uma das funções das instituições públicas é a de operarem de forma contracíclica. A crise financeira de 1996-1997, iniciada na Tailândia e espalhada pelo restante do continente asiático, atingiu especialmente a China e contribuiu para represar o crédito. O banco atuou como agente financeiro de desenvolvimento, aumentando suas operações e garantin-do a oferta de crédito ao fomento do país – seu principal canal de financiamento foi o massivo investimento em infraestrutu-ra. Nesse período, os gastos no setor dobraram e até 2002 tri-plicaram. A instituição atuou nesse processo com os investi-mentos iniciais, depois atraindo outros grandes investidores – uma vez que um governo local conseguisse empréstimo do CDB os outros quatro grandes bancos comerciais chineses investiam nas regiões também (a aprovação da linha de crédito pelo banco de desenvolvimento era considerada uma certifica-ção de solidez por parte do Estado chinês). Posteriormente, os outros bancos nacionais e locais também seguiram o movi-mento, gerando, assim, um círculo virtuoso.

Quase uma década mais tarde, durante a crise financeira que se iniciou em 2007-2008, o Banco de Desenvolvimento da

China agiu da mesma forma e usou a opor-tunidade para intensificar seu fortaleci-mento. Com o intuito de minimizar a depressão que os efeitos da crise financei-ra tiveram sobre a economia chinesa, o governo anunciou, já no fim de 2008, um estímulo de quatro trilhões de yuans (algo em torno de US$ 585 bilhões ou 13% do PIB). O governo central financiou apenas 30% desse valor, o restante foi provenien-te dos bancos públicos, principalmente do CDB, via estímulo aos governos locais. A maioria do investimento foi direcionada, assim como na crise asiática, para projetos de infraestrutura. Da mesma forma que os bancos públicos ajudaram, na década de 90, o país a navegar com calma a maré tur-bulenta da crise asiática, eles ampararam novamente o país nesse período conturba-do da economia mundial.

A atuação do banco em resposta à cri-se não se limitou apenas ao aumento de suas operações de crédito. Desde 2007 suas operações fora do território chinês

se intensificaram. O CDB aumentou seus investimentos no mercado internacional, onde supervisionou mais projetos, procurou novas demandas e mandou funcionários para aces-sar os investimentos ou instalar escritórios de representação nesses lugares. Foi a partir de então que intensificou sua expansão nas operações no restante da Ásia, na América Latina e África. Em 2011 os financiamentos em moedas estrangeiras totalizaram 20% da carteira do banco, apesar de eles não contarem com investidores internacionais que adquirissem seus títulos. A partir de meados de 2012 essa rea-lidade mudou e o CDB começou a vender seus títulos no mer-cado internacional, marcando a capacidade de o governo chi-nês comercializá-los em sua própria moeda com uma taxa de juros bastante reduzida.

O banco, indutor do desenvolvimento regional, com seu massivo investimento em infraestrutura é também essencial para o processo de urbanização chinês – processo que transfor-ma trabalhadores agrários de baixa produtividade em trabalha-dores urbanos de alta produtividade. A urbanização produz efei-to significativo no PIB, garantindo altas taxas de crescimento e promovendo o desenvolvimento econômico e social. Em 2011 a China se tornou uma nação predominantemente urbana.

Analisar o estrondoso crescimento chinês das últimas décadas não é tarefa fácil, dada a velocidade do seu cresci-mento, sua capacidade de adaptação e magnitude das grande-zas de seus dados. No entanto, esse crescimento foi, certa-mente, propulsionado pela atuação do Banco de Desenvolvimento Chinês que, ao agir como instrumento de política pública, canaliza o investimento e promove o desen-volvimento.

RUMOS – 24 – Maio/Junho 2014

Fernanda Feil

Formada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre na mesma área pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Gerente de Estudos Econômicos da ABDE.

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O gigante chinês Analisar o estrondoso crescimento chinês das

últimas décadas não é tarefa fácil;

mas certamente esse crescimento foi propulsionado

pela atuação do Banco de Desenvolvimento Chinês,

um instrumento de política pública que

canaliza o investimento e promove

o desenvolvimento.

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gilidade e atendimento quali-ficado são algumas caracte-rísticas inerentes ao coopera-tivismo financeiro, cujo obje-

tivo é o desenvolvimento social. Para for-talecer a atividade econômica nas comu-nidades e consequentemente melhorar a qualidade de vida da população de forma justa e democrática, o segmento dispõe de um amplo portfólio de serviços que auxilia todo tipo de cooperado.

Associado à Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Brasília (Sicoob Brasília), o produtor rural de Planaltina, no Distrito Federal, Jaito Carlos Costa, utiliza há mais de 14 anos os recursos ofe-recidos por sua cooperativa para finan-ciar as despesas que tem com a atividade agrícola e pecuária em sua região.

Na opinião do produtor, o que difere o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) de outras instituições é justamente a agilidade no processo de negociação e o atendimento exclusivo oferecido ao associa-do. “Conheço o Sicoob tanto quanto ele me conhece. Muito do meu crescimento, enquanto agricultor e empresário, deve-se ao apoio que recebo do sistema, principalmente quando a safra não é favorável”, disse Jaito.

Para operar com o crédito rural, o Sicoob, com o apoio do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), além de utilizar o próprio capital, disponibiliza linhas de repasses oriundas de várias fontes. Entre elas estão o Banco Nacional do Desen-volvimento (BNDES), o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), a Poupança Rural e o Depósito Interfinanceiro Rural (DIR).

A partir de julho deste ano, o Governo Federal irá dispo-nibilizar por meio do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 mais de R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comerci-alização da atividade rural, o que representa um aumento de quase 15% em relação à safra anterior. Nos últimos três anos, o volume de recursos para o financiamento da agropecuária cresceu mais de R$ 40 bilhões.

O Sicoob disponibiliza recursos do Plano Safra de forma

RUMOS –26 – Maio/Junho 2014

em Rio Verde (GO). Os consultores do Sistema utilizam a estrutura para fomentar o agronegócio e difundir o cooperati-vismo. “Aproveitamos para apresentar o nosso portfólio de produtos e explicar o funcionamento do Sicoob e do Bancoob. Muitas vezes o produtor obtém o crédito em nosso estande e já compra um trator ou outro equipamento no estande de alguma empresa ao lado”, disse o diretor.

Cooperativas – As cooperativas são organizadas por atividade econômica. Podem ser formadas por pessoas de uma determi-nada profissão ou atividade, como agricultores, pequenos e microempresários e microempreendedores. Além disso, exis-tem cooperativas de crédito de livre admissão de associados, nas quais coexistem grupos de associados de diversas origens e atividades econômicas.

O Sicoob disponibiliza produtos e serviços para mais de 2,6 milhões de cooperados em 23 estados e no Distrito Fede-ral. Existem 17 cooperativas centrais e mais de 500 filiadas. Até o fim de 2013 existiam mais de 2 mil pontos de presença física e outros 2,2 mil terminais de autoatendimento. O Siste-ma ocupa a sexta posição no ranking das maiores redes de ser-viços presentes no Brasil.

RREPORTAGEM COOPERATIVAS

contínua ao longo do ano. De acordo com o diretor financeiro do Bancoob, Ricardo Simone Pereira, o cooperativismo é um importante meio de repasse de crédito rural. “O Sistema Financeiro Cooperativo representa mais de 10% do segmento de crédito rural brasileiro. O Sicoob foi res-ponsável pela transferência de mais de R$ 12 bilhões aos associados em 2013, ocu-pando o 2º lugar entre os principais aloca-dores de recursos”, ressaltou o diretor.

O próximo ano safra se inicia em 1º de julho de 2014 e termina em 30 de junho de 2015. Para esse período, o Pla-no Agrícola apresenta novidades como o aumento do limite de financiamento do Programa Agricultura de Baixo Car-bono (ABC), lançado em 2010 para financiar atividades que promovam o desenvolvimento sustentável. Houve também incrementos para a pecuária de corte. A partir de julho cada criador poderá financiar até R$ 1 milhão para

aquisição de matrizes e reprodutores.

Desenvolvimento local – O compromisso do Sicoob é com o associado, mas visa à melhoria da qualidade de vida na área de abrangência da cooperativa. No cooperativismo essa ação é chamada de círculo virtuoso, em que o dinheiro, alocado pelos cidadãos nas cooperativas, é realocado nas regiões gerando renda e aumento do poder aquisitivo da população. As empresas passam a vender mais, o que repercute na arreca-dação de impostos, além de gerar novas vagas de emprego. Com mais dinheiro, o poder público municipal pode investir em infraestrutura e em outros projetos de desenvolvimento econômico e social, o que amplia a capacidade produtiva e gera novas riquezas para a região.

O capital originário de outras fontes permite que o Siste-ma ofereça ao associado opções para cada tipo de necessidade, como no caso de Jaito Carlos, que utiliza praticamente todos os produtos disponibilizados por sua cooperativa. “O que me mantém associado é a relação que tenho com o Sicoob. Da mesma forma que sou fidelizado, ele é fidelizado a mim. Eu realmente sou tratado como um dos donos da cooperativa. Não preciso ficar rogando pelos serviços e tudo o que invisto a

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mais, retorna no fim de cada período, porque as sobras da coo-perativa são divididas entre os cooperados”, explicou.

Segundo informações do Mapa, o Brasil possui 851 milhões de hectares, cujas áreas urbanas representam 10% do total. As florestas e as áreas de produção rural correspondem a 60% e 30%, respectivamente. De acordo com a Organiza-ção para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil está entre os principais países que irão cola-borar para o crescimento de 20% da produção mundial de ali-mentos nos próximos oito anos. O agronegócio já responde por 23% do PIB brasileiro.

A capacidade produtiva do país contribui para o fortaleci-mento da agropecuária e as cooperativas têm interesse de inves-tir principalmente em pequenas regiões. “A capilaridade é uma forte característica do cooperativismo, atendemos grande número de produtores rurais de pequeno e médio portes. É uma filosofia que coloca as pessoas em primeiro plano. Não faz distinção social, racial, ou de gênero. O lucro não é o objetivo. O desenvolvimento por meio do capital, sim”, salientou Simo-ne.

Para disseminar essa cultura, o Sicoob participa de feiras como a Agrishow, que ocorre em Brasília (DF) e a Tecnoshow,

Cooperativismo financeiro representa mais de 10% do segmento de crédito rural brasileiro

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Fomento ao agronegócio

Diretor financeiro do Bancoob, Ricardo Simone Pereira ressaltou que o Sicoob foi responsável pela transferência de mais de R$ 12 bilhões aos associados.

Por Ana Carolina Oliveira

Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 prevê mais de R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comercialização da atividade rural. Nos últimos três anos, o volume de recursos para o financiamento da agropecuária cresceu mais de R$ 40 bilhões.

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gilidade e atendimento quali-ficado são algumas caracte-rísticas inerentes ao coopera-tivismo financeiro, cujo obje-

tivo é o desenvolvimento social. Para for-talecer a atividade econômica nas comu-nidades e consequentemente melhorar a qualidade de vida da população de forma justa e democrática, o segmento dispõe de um amplo portfólio de serviços que auxilia todo tipo de cooperado.

Associado à Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Brasília (Sicoob Brasília), o produtor rural de Planaltina, no Distrito Federal, Jaito Carlos Costa, utiliza há mais de 14 anos os recursos ofe-recidos por sua cooperativa para finan-ciar as despesas que tem com a atividade agrícola e pecuária em sua região.

Na opinião do produtor, o que difere o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) de outras instituições é justamente a agilidade no processo de negociação e o atendimento exclusivo oferecido ao associa-do. “Conheço o Sicoob tanto quanto ele me conhece. Muito do meu crescimento, enquanto agricultor e empresário, deve-se ao apoio que recebo do sistema, principalmente quando a safra não é favorável”, disse Jaito.

Para operar com o crédito rural, o Sicoob, com o apoio do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), além de utilizar o próprio capital, disponibiliza linhas de repasses oriundas de várias fontes. Entre elas estão o Banco Nacional do Desen-volvimento (BNDES), o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), a Poupança Rural e o Depósito Interfinanceiro Rural (DIR).

A partir de julho deste ano, o Governo Federal irá dispo-nibilizar por meio do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 mais de R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comerci-alização da atividade rural, o que representa um aumento de quase 15% em relação à safra anterior. Nos últimos três anos, o volume de recursos para o financiamento da agropecuária cresceu mais de R$ 40 bilhões.

O Sicoob disponibiliza recursos do Plano Safra de forma

RUMOS –26 – Maio/Junho 2014

em Rio Verde (GO). Os consultores do Sistema utilizam a estrutura para fomentar o agronegócio e difundir o cooperati-vismo. “Aproveitamos para apresentar o nosso portfólio de produtos e explicar o funcionamento do Sicoob e do Bancoob. Muitas vezes o produtor obtém o crédito em nosso estande e já compra um trator ou outro equipamento no estande de alguma empresa ao lado”, disse o diretor.

Cooperativas – As cooperativas são organizadas por atividade econômica. Podem ser formadas por pessoas de uma determi-nada profissão ou atividade, como agricultores, pequenos e microempresários e microempreendedores. Além disso, exis-tem cooperativas de crédito de livre admissão de associados, nas quais coexistem grupos de associados de diversas origens e atividades econômicas.

O Sicoob disponibiliza produtos e serviços para mais de 2,6 milhões de cooperados em 23 estados e no Distrito Fede-ral. Existem 17 cooperativas centrais e mais de 500 filiadas. Até o fim de 2013 existiam mais de 2 mil pontos de presença física e outros 2,2 mil terminais de autoatendimento. O Siste-ma ocupa a sexta posição no ranking das maiores redes de ser-viços presentes no Brasil.

RREPORTAGEM COOPERATIVAS

contínua ao longo do ano. De acordo com o diretor financeiro do Bancoob, Ricardo Simone Pereira, o cooperativismo é um importante meio de repasse de crédito rural. “O Sistema Financeiro Cooperativo representa mais de 10% do segmento de crédito rural brasileiro. O Sicoob foi res-ponsável pela transferência de mais de R$ 12 bilhões aos associados em 2013, ocu-pando o 2º lugar entre os principais aloca-dores de recursos”, ressaltou o diretor.

O próximo ano safra se inicia em 1º de julho de 2014 e termina em 30 de junho de 2015. Para esse período, o Pla-no Agrícola apresenta novidades como o aumento do limite de financiamento do Programa Agricultura de Baixo Car-bono (ABC), lançado em 2010 para financiar atividades que promovam o desenvolvimento sustentável. Houve também incrementos para a pecuária de corte. A partir de julho cada criador poderá financiar até R$ 1 milhão para

aquisição de matrizes e reprodutores.

Desenvolvimento local – O compromisso do Sicoob é com o associado, mas visa à melhoria da qualidade de vida na área de abrangência da cooperativa. No cooperativismo essa ação é chamada de círculo virtuoso, em que o dinheiro, alocado pelos cidadãos nas cooperativas, é realocado nas regiões gerando renda e aumento do poder aquisitivo da população. As empresas passam a vender mais, o que repercute na arreca-dação de impostos, além de gerar novas vagas de emprego. Com mais dinheiro, o poder público municipal pode investir em infraestrutura e em outros projetos de desenvolvimento econômico e social, o que amplia a capacidade produtiva e gera novas riquezas para a região.

O capital originário de outras fontes permite que o Siste-ma ofereça ao associado opções para cada tipo de necessidade, como no caso de Jaito Carlos, que utiliza praticamente todos os produtos disponibilizados por sua cooperativa. “O que me mantém associado é a relação que tenho com o Sicoob. Da mesma forma que sou fidelizado, ele é fidelizado a mim. Eu realmente sou tratado como um dos donos da cooperativa. Não preciso ficar rogando pelos serviços e tudo o que invisto a

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mais, retorna no fim de cada período, porque as sobras da coo-perativa são divididas entre os cooperados”, explicou.

Segundo informações do Mapa, o Brasil possui 851 milhões de hectares, cujas áreas urbanas representam 10% do total. As florestas e as áreas de produção rural correspondem a 60% e 30%, respectivamente. De acordo com a Organiza-ção para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil está entre os principais países que irão cola-borar para o crescimento de 20% da produção mundial de ali-mentos nos próximos oito anos. O agronegócio já responde por 23% do PIB brasileiro.

A capacidade produtiva do país contribui para o fortaleci-mento da agropecuária e as cooperativas têm interesse de inves-tir principalmente em pequenas regiões. “A capilaridade é uma forte característica do cooperativismo, atendemos grande número de produtores rurais de pequeno e médio portes. É uma filosofia que coloca as pessoas em primeiro plano. Não faz distinção social, racial, ou de gênero. O lucro não é o objetivo. O desenvolvimento por meio do capital, sim”, salientou Simo-ne.

Para disseminar essa cultura, o Sicoob participa de feiras como a Agrishow, que ocorre em Brasília (DF) e a Tecnoshow,

Cooperativismo financeiro representa mais de 10% do segmento de crédito rural brasileiro

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Fomento ao agronegócio

Diretor financeiro do Bancoob, Ricardo Simone Pereira ressaltou que o Sicoob foi responsável pela transferência de mais de R$ 12 bilhões aos associados.

Por Ana Carolina Oliveira

Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 prevê mais de R$ 156 bilhões para custeio, investimento e comercialização da atividade rural. Nos últimos três anos, o volume de recursos para o financiamento da agropecuária cresceu mais de R$ 40 bilhões.

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realização de um evento do porte da Copa 2014 implicou um contrato do Brasil não só com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), mas principalmente com o mundo, de que ela seria bonita, teria conforto e segurança para os torce-

dores que aqui vivem e visitantes. Um contrato que traz implícito momentos especiais de confraternização entre os povos de todos os continentes. Torcedores de 186 países com-praram ingressos para assistir aos jogos e milhões os acompa-nham à distância. Quando seleções entram em campo, emo-ções afloram para além dos chutes a gol. Jogadores vestem-se com as cores nacionais, hinos são tocados, bandeiras tremu-lam. “A seleção é a pátria de chuteiras”, dizia Nelson Rodri-gues, escritor, jornalista, apaixonado pelo esporte.

Mas se a grandiosidade da Copa 2014 não a livra de con-

RUMOS – 30 – Maio/Junho 2014

trovérsias, é certo também que há uma lista de benefícios para além do campo esportivo em jogo desde o momento em que o país foi eleito para sediar o evento. Nos meses que antece-deram e também durante o torneio acontecem manifestações nas cidades-sedes contra o volumoso dispêndio com a sua rea-lização em um país ainda carente de infraestrutura e de servi-ços básicos para a população, como água, esgoto, saúde e edu-cação. Dois dias antes da abertura solene, em 12 de junho, a presidenta Dilma Rousseff ocupou rede nacional de rádio e televisão para defender os investimentos feitos, enumerando os benefícios que já estão trazendo para a população. “As obras não irão embora nas malas dos turistas”, tem dito.

Para a presidenta, organizar uma Copa é como disputar uma longa partida, com direito a prorrogação e disputa nos pênaltis. Mas o resultado e a celebração final valem o esforço.

RUMOS – 31 – Maio/Junho 2014

também prometeu que contas da Copa estão sendo analisa-das minuciosamente pelos órgãos de fiscalização. Se ficar pro-vada qualquer irregularidade, os responsáveis serão punidos com o máximo rigor.

O balanço final da Copa, incluindo seus efeitos para a eco-nomia, serão conhecidos apenas no médio prazo, quando cer-tamente analistas, governos e institutos de pesquisa se debru-çarão sobre os números do evento para chegar a um quadro mais preciso do que ele significou para o país. Antes disso, porém, já é possível fazer uma projeção de quais os ganhos que o Brasil herdará após este ciclo de sete anos desde que fomos escolhidos como sede do mais importante torneio esportivo do planeta. Para isso, a Rumos ouviu especialistas, fontes do governo, empresários e outras instituições para ten-tar compreender a dimensão deste legado, com o que de fato já está investido em grandes áreas, como o turismo, a infraes-trutura, as tecnologias e o desenvolvimento regional.

Projeção internacional – A Copa 2014 garantiu ao Brasil, desde o momento que foi concebida, grande inserção no mun-do. Milhões de pessoas, em todos os continentes, puderam acompanhar pelos jornais, televisão, rádio e internet seus pre-parativos. Mesmo antes da abertura oficial, em São Paulo, em 12 de junho, o processo de organização já colocou o país no foco da mídia mundial. O governo, por meio de porta-vozes de todos os escalões, defendeu a realização da Copa como for-ma de o país mostrar-se ao mundo com grande impacto inter-no e externo. As obras programadas já concluídas e em pro-cesso de conclusão permitiram a investidores de todos os por-tes a identificação de oportunidades de negócios, além de explicitar roteiros turísticos importantes, mas ainda com pou-ca visibilidade. Quem aponta são os especialistas.

Para Maria Aparecida de Aquino, historiadora e professora da Universidade de São Paulo (USP), os investimentos em 12 sedes trarão maior interiorização do turismo. Ela rebate com veemência as críticas ao número considerado excessivo de sedes. Isso porque a Copa 2014 trata-se também de um proje-to pensado no longo prazo. Os investimentos, avalia, trarão resultados locais importantes em termos de maior faturamen-to para empresas e capacitação de mão de obra. Ela dá como exemplo o Teatro Amazonas, uma das principais atrações turísticas de Manaus, inaugurado em 1896, expressão cultural das mais significativas do ciclo da borracha. “O teatro está lá há tempos, tem seus eventos, não morreu. Os estádios tam-bém não morrerão”, afirmou ao defender, inclusive, os inves-timentos feitos em arenas como as de Manaus e Cuiabá.

Na primeira fase da Copa, Manaus foi “invadida” por ingleses, e Cuiabá, por cerca de quatro mil chilenos, que vie-ram em caravana rodoviária. Todos planejaram com antece-

O Brasil “venceu os principais obstáculos e chegou prepara-do para a Copa, dentro e fora do campo”, disse. Na lista de benefícios, estão a duplicação da capacidade dos aeroportos, reformas e construção de portos, avenidas, viadutos, pontes, vias de trânsito rápido e sistemas de transporte público. Outro resultado encanta brasileiros e estrangeiros: os doze estádios multiuso modernos e confortáveis que, além de ser-vir ao futebol, também foram programados para funcionar como centros comerciais, de negócios e de lazer, palcos de shows e festas populares. “Uma Copa dura apenas um mês, os benefícios ficam para toda a vida. A Copa não representa gastos apenas. Ela gera negócios, injeta bilhões de reais em nossa economia. Cria empregos, é fator de desenvolvimento econômico e social”, enfatizou Rousseff no pronunciamento em cadeia nacional e recorrentemente em solenidades públi-cas por todo o Brasil.

Os investimentos nos estádios, construídos em parte com financiamento dos bancos públicos federais e, em parte, com recursos dos governos estaduais e das empresas priva-das, somaram R$ 8 bilhões. Desde 2010, quando começaram as obras das arenas até 2013, o governo federal, os estados e os municípios investiram, no mesmo período, cerca de R$1,7 trilhão em educação e saúde, valor 212 vezes maior. Rousseff

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Após sete anos de preparação, a Copa do Mundo desembarca no Brasil e o país se pergunta: o que fica depois da festa? A Rumos ouviu especialistas, governo e empresários para um balanço sobre o que foi investido e o legado do evento para o país.

No coração de Manaus, a Arena Amazônia foi construída especialmente para a Copa do Mundo e virou alvo de elogios da imprensa internacional e torcedores, por sua beleza e imponência. Depois do apito final

Por Lúcia Lima

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realização de um evento do porte da Copa 2014 implicou um contrato do Brasil não só com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), mas principalmente com o mundo, de que ela seria bonita, teria conforto e segurança para os torce-

dores que aqui vivem e visitantes. Um contrato que traz implícito momentos especiais de confraternização entre os povos de todos os continentes. Torcedores de 186 países com-praram ingressos para assistir aos jogos e milhões os acompa-nham à distância. Quando seleções entram em campo, emo-ções afloram para além dos chutes a gol. Jogadores vestem-se com as cores nacionais, hinos são tocados, bandeiras tremu-lam. “A seleção é a pátria de chuteiras”, dizia Nelson Rodri-gues, escritor, jornalista, apaixonado pelo esporte.

Mas se a grandiosidade da Copa 2014 não a livra de con-

RUMOS – 30 – Maio/Junho 2014

trovérsias, é certo também que há uma lista de benefícios para além do campo esportivo em jogo desde o momento em que o país foi eleito para sediar o evento. Nos meses que antece-deram e também durante o torneio acontecem manifestações nas cidades-sedes contra o volumoso dispêndio com a sua rea-lização em um país ainda carente de infraestrutura e de servi-ços básicos para a população, como água, esgoto, saúde e edu-cação. Dois dias antes da abertura solene, em 12 de junho, a presidenta Dilma Rousseff ocupou rede nacional de rádio e televisão para defender os investimentos feitos, enumerando os benefícios que já estão trazendo para a população. “As obras não irão embora nas malas dos turistas”, tem dito.

Para a presidenta, organizar uma Copa é como disputar uma longa partida, com direito a prorrogação e disputa nos pênaltis. Mas o resultado e a celebração final valem o esforço.

RUMOS – 31 – Maio/Junho 2014

também prometeu que contas da Copa estão sendo analisa-das minuciosamente pelos órgãos de fiscalização. Se ficar pro-vada qualquer irregularidade, os responsáveis serão punidos com o máximo rigor.

O balanço final da Copa, incluindo seus efeitos para a eco-nomia, serão conhecidos apenas no médio prazo, quando cer-tamente analistas, governos e institutos de pesquisa se debru-çarão sobre os números do evento para chegar a um quadro mais preciso do que ele significou para o país. Antes disso, porém, já é possível fazer uma projeção de quais os ganhos que o Brasil herdará após este ciclo de sete anos desde que fomos escolhidos como sede do mais importante torneio esportivo do planeta. Para isso, a Rumos ouviu especialistas, fontes do governo, empresários e outras instituições para ten-tar compreender a dimensão deste legado, com o que de fato já está investido em grandes áreas, como o turismo, a infraes-trutura, as tecnologias e o desenvolvimento regional.

Projeção internacional – A Copa 2014 garantiu ao Brasil, desde o momento que foi concebida, grande inserção no mun-do. Milhões de pessoas, em todos os continentes, puderam acompanhar pelos jornais, televisão, rádio e internet seus pre-parativos. Mesmo antes da abertura oficial, em São Paulo, em 12 de junho, o processo de organização já colocou o país no foco da mídia mundial. O governo, por meio de porta-vozes de todos os escalões, defendeu a realização da Copa como for-ma de o país mostrar-se ao mundo com grande impacto inter-no e externo. As obras programadas já concluídas e em pro-cesso de conclusão permitiram a investidores de todos os por-tes a identificação de oportunidades de negócios, além de explicitar roteiros turísticos importantes, mas ainda com pou-ca visibilidade. Quem aponta são os especialistas.

Para Maria Aparecida de Aquino, historiadora e professora da Universidade de São Paulo (USP), os investimentos em 12 sedes trarão maior interiorização do turismo. Ela rebate com veemência as críticas ao número considerado excessivo de sedes. Isso porque a Copa 2014 trata-se também de um proje-to pensado no longo prazo. Os investimentos, avalia, trarão resultados locais importantes em termos de maior faturamen-to para empresas e capacitação de mão de obra. Ela dá como exemplo o Teatro Amazonas, uma das principais atrações turísticas de Manaus, inaugurado em 1896, expressão cultural das mais significativas do ciclo da borracha. “O teatro está lá há tempos, tem seus eventos, não morreu. Os estádios tam-bém não morrerão”, afirmou ao defender, inclusive, os inves-timentos feitos em arenas como as de Manaus e Cuiabá.

Na primeira fase da Copa, Manaus foi “invadida” por ingleses, e Cuiabá, por cerca de quatro mil chilenos, que vie-ram em caravana rodoviária. Todos planejaram com antece-

O Brasil “venceu os principais obstáculos e chegou prepara-do para a Copa, dentro e fora do campo”, disse. Na lista de benefícios, estão a duplicação da capacidade dos aeroportos, reformas e construção de portos, avenidas, viadutos, pontes, vias de trânsito rápido e sistemas de transporte público. Outro resultado encanta brasileiros e estrangeiros: os doze estádios multiuso modernos e confortáveis que, além de ser-vir ao futebol, também foram programados para funcionar como centros comerciais, de negócios e de lazer, palcos de shows e festas populares. “Uma Copa dura apenas um mês, os benefícios ficam para toda a vida. A Copa não representa gastos apenas. Ela gera negócios, injeta bilhões de reais em nossa economia. Cria empregos, é fator de desenvolvimento econômico e social”, enfatizou Rousseff no pronunciamento em cadeia nacional e recorrentemente em solenidades públi-cas por todo o Brasil.

Os investimentos nos estádios, construídos em parte com financiamento dos bancos públicos federais e, em parte, com recursos dos governos estaduais e das empresas priva-das, somaram R$ 8 bilhões. Desde 2010, quando começaram as obras das arenas até 2013, o governo federal, os estados e os municípios investiram, no mesmo período, cerca de R$1,7 trilhão em educação e saúde, valor 212 vezes maior. Rousseff

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LEGADOR REPORTAGEM

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Após sete anos de preparação, a Copa do Mundo desembarca no Brasil e o país se pergunta: o que fica depois da festa? A Rumos ouviu especialistas, governo e empresários para um balanço sobre o que foi investido e o legado do evento para o país.

No coração de Manaus, a Arena Amazônia foi construída especialmente para a Copa do Mundo e virou alvo de elogios da imprensa internacional e torcedores, por sua beleza e imponência. Depois do apito final

Por Lúcia Lima

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R REPORTAGEM

dência os roteiros para o devido acompanha-mento das respectivas seleções. Farão desloca-mentos que lhes permitirão ter uma ideia melhor do país e de sua gente. “O turismo no Brasil se resumia a São Paulo e Rio, além de alguns locais do Nordeste. A Copa permitirá que se espalhe para outras regiões”, afirma Aquino. As imagens

dos principais canais de televisão mostraram a torcida holan-desa fazendo a festa em Salvador. Muitas dessas pessoas nun-ca viriam ao Brasil se não fosse pela Copa do Mundo. Vieram, podem retornar e recomendar o país aos amigos.

Para Francisco Alambert Jr., também professor do Departamento de História da USP, eventos como a Copa do Mundo obrigam os governos dos países a planejar e a fazer, de fato, investimentos altos que necessariamente agregam imagens positivas. Prova disso é o encantamento registrado pelas equipes de TV, Rádio, jornais e mídia eletrônica de todo o mundo com relação às arenas das cidades sedes. Monica Cabanãs, gaúcha, moradora de Ferney-Voltaire, na divisa entre França e Suíça, registrou em sua página do facebook a admiração dos repórteres e narradores franceses, suíços e ale-mães com as imagens das arenas lotadas de torcedores e tam-bém dos respectivos entornos. “Em todos os lugares do mun-do, Copas e Olimpíadas podem trazer transtornos econômi-

cos no curto prazo. Mas, a médio e longo prazos, há ganhos em termos de visibilidade internacional. Ficam também cla-ros os avanços que um país como o Brasil precisa perseguir para buscar a modernidade, a competitividade entre as nações” , registra o professor.

Segundo o Ministério do Turismo cerca de 6,2 milhões de pessoas circularão pelo país durante o torneio. “É uma ótima oportunidade para apresentarmos a extensão e a diversidade cultural, ambiental e social do Brasil. Isso aumentará o interes-se das pessoas de todo o mundo de conhecer o país e a hospita-lidade do nosso povo nos próximos anos”, ressalta Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae, que implemen-tou um programa especial para orientação aos pequenos empresários neste período (ver box). É inegável, assinala, a importância do Mundial para incrementar o turismo brasileiro e gerar emprego e renda em diferentes segmentos. “Os resulta-dos desse evento não se encerram com o jogo final, mas serão colhidos ao longo dos próximos anos”, prevê o diretor.

ProCopa – Os financiamentos concedidos pelo BNDES para a construção e melhoria das arenas das cidades-sedes estão todos discriminados no site do banco. As operações foram feitas com os respectivos governos estaduais, limitadas a 75% do valor de cada obra. As três primeiras foram firma-

RUMOS – 32 – Maio/Junho 2014

das com os estados da Bahia (R$ 323,6 milhões), do Ceará (R$ 351,5 milhões) e do Mato Grosso (R$ 393 milhões), em setembro de 2010. O novo estádio da Fon-te Nova, Salvador, que também teve participação da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) para sua viabilização, está entre os que têm maravilhado torcedores brasileiros e estrangeiros. Tem capacidade para 50.273 espectadores. A concepção do projeto teve como referência a AWD Arena, da cidade de Hanno-ver, Alemanha, sede da Copa do Mundo de 2006. Aten-dendo a pré-requisitos do BNDES ProCopa Arenas e do caderno de encargos da FIFA, o estádio obedece a critérios de sustentabilidade ambiental, o que inclui pla-no de gestão de resíduos gerados pela demolição, racio-nalização do uso da água e implantação de central de aquecimento solar. Considerando as etapas de demoli-ção, implantação e operação, o empreendimento gerou em torno de 4.200 empregos diretos e indiretos. Além do benefício mais imediato, o de viabilizar a participa-ção de Salvador como cidade-sede da copa, o projeto em questão tem o mérito de contribuir para revitalizar uma área da cidade que passou por sério processo de degradação.

Segundo o discriminado no site do BNDES, ao todo foram liberados R$ 3,8 bilhões para construção e refor-mas de 11 arenas, incluindo o lendário Maracanã, no Rio de Janeiro, e o novo Itaquerão (ou, como define o padrão Fifa, “Arena Corinthians”), em São Paulo. O Estádio Nacional de Brasília, o Mané Garrincha, foi o mais caro de todos (R$ 1 bilhão) e o único fora dos financiamentos do BNDES. Foi construído com recursos da Terracap, empresa que gerencia a venda de terrenos no Distrito Federal.

Outra ação do banco especialmente voltada para o evento é o BNDES ProCopa Turismo. Em 42 meses de vigência, o programa formou uma carteira de 29 projetos, com um total de financiamentos de R$ 2 bilhões, incluídas desde operações aprovadas até aquelas ainda em fase de consulta. Com orça-mento de R$ 1 bilhão e vigência até o fim de 2012, o progra-ma teve sua dotação ampliada para R$ 2 bilhões e seu prazo para protocolar projetos estendido até 30 de junho de 2013. Até setembro de 2013, 17 operações foram aprovadas, o que viabilizou investimentos de R$ 1,7 bilhão (incluindo a partici-pação da iniciativa privada), por meio da contratação de ope-rações de crédito de R$ 1 bilhão.

Criado em janeiro de 2010, o programa adequou as condi-ções do crédito direto do BNDES às necessidades do merca-do hoteleiro, quadro evidenciado pelo baixo fluxo de financi-amentos contratados pelo setor com o banco nos anos anteri-ores. Visou atender o aquecimento da demanda por hospeda-gem no Brasil e a expectativa de seu crescimento acentuado, da qual a Copa do Mundo era um ingrediente emblemático. Entre construção de novas unidades, reformas e moderniza-ção, os financiamentos já aprovados abrangeram 4.727 quar-tos, dos quais 30,2% encontram-se no Nordeste, 58,7% no Sudeste e 7,5% no Sul. A implantação de novos hotéis repre-sentou um incremento de 3.237 quartos, o equivalente a 68,5% do total do ProCopa, demandando para tal 75,8% dos créditos aprovados.

Até o lançamento do ProCopa, as operações diretas res-pondiam por um pouco mais de 10% dos créditos do BNDES para os investimentos em hotelaria. O programa fez esse percentual praticamente dobrar e elevar-se a quase um quarto do total de desembolsos do banco para o setor, em um contexto de crescimento acentuado dos fluxos de financiamento a hotéis e similares. Em termos nominais, a média anual do volume de financiamentos contratados pelo setor com o banco saltou de R$ 7,5 milhões, no período de dez anos que antecederam o ProCopa (2000 a 2009), para R$ 271,7 milhões, a partir do lançamento do programa. Em ter-mos reais, trata-se de um incremento superior a 1.900%. Do total de investimentos aprovados, 93,1% destinaram-se a empreendimentos localizados em municípios que vão sediar esse evento. Outros 3,7% foram direcionados a hotéis situa-dos em cidades bem próximas a Recife, Salvador ou Rio de Janeiro. O prognóstico é que o Brasil terá pelo menos 422 novos empreendimentos de hospedagem até 2016.

Além do BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia vêm direcionando mais fortemente, desde 2010, recursos para a ampliação e modernização da rede de hotéis e pousadas Bra-sil afora. Diversas agências estaduais de fomento, em todo o país, também criaram linnhas especiais voltadas para o fortale-cimento do setor, visando a Copa do Mundo. Já o investimen-to privado deve ultrapassar os R$ 12,2 bilhões, gerando 33,8 mil novos empregos diretos no setor. A região Sudeste con-centra a maior parte dos investimentos previstos (59%), com 250 novos estabelecimentos, seguida pelo Nordeste (13%), Sul (11%), Centro-Oeste (10%) e Norte (7%). Entre 2011 e 2013, cerca de 150 empreendimentos foram inaugurados no país, gerando mais de 11 mil empregos diretos com a injeção de R$ 3,3 bilhões na construção de 21,3 mil novos quartos.

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LEGADO

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se-brae) implementou programa especial, o Sebrae 2014, para que o segmento auferisse as vantagens possíveis do evento. O programa foi montado com base no tripé: difusão de informações e orientação sobre as oportunidades; capacita-ção e preparação para que as empresas pudessem atender as exigências dos organizadores; realização de eventos de apro-ximação comercial, em que micro e pequenas empresas ofertantes podem atender demandas de oferta de produtos e serviços contratados.

Como orientação empresarial, foram lançadas cartilhas sobre turismo e comércio varejista, que integram a série inti-tulada “Cenários e Projeções”. As publicações trazem casos e lições como a Copa da África do Sul, em 2010; pro-jeções, perfil e hábitos de turistas; informações sobre aspec-tos de infraestrutura; polícia e economia. O objetivo do Sebrae é estender esse tipo de prática de análise de cenários para outras ocorrências de impacto para o país, como as derivadas da exploração de petróleo (Pré-Sal) e as conces-sões de grandes obras.

Maria Cristina é proprietária da Brasil Solutions Turis-mo, no município paulista de Serra Negra, que faz parte do Circuito das Águas. A microempresa oferece pacotes turís-ticos e receptivos em toda a região que engloba nove muni-cípios responsáveis pela produção de 50% de toda água mineral do país, além dos banhos termais. Com dois funcio-nários, a empresária conta com aumento de 20% no fatu-ramento deste ano por conta da Copa. A região recebeu a

delegação da Costa do Marfim, que ficou concentrada na cidade de Águas de Lindoia.

De olho nos turistas e nos jornalistas, especialmente os de língua francesa, Maria capacitou seus servidores nesse idioma e desenvolveu roteiros turísticos especiais. “Oferecemos uma rota de queijos e vinhos, pela Serra Negra, e uma rota da cachaça, que passa por diferentes engenhos de Monte Alegre do Sul. Além disso, temos opções para quem curte esportes e aventuras, como arvorismo, rafting e rapel”, informa. A empresária acredita que a Copa ajudará muito na consolida-ção desses roteiros. Na primeira fase da competição, a maior concentração de turistas nas primeiras fases da competição se deu nas regiões Nordeste e Sudeste. Nas fases finais dos jogos, as grandes concentrações se movem em direção ao Dis-trito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

O faturamento adicional das 40 mil empresas apoiadas pelo Sebrae com foco na Copa 2014 está estimado em R$ 400 milhões. Além disso, avaliação feita por meio da Matriz Competitividade demonstra que esse conjunto de empresas sai da Copa mais preparado para enfrentar as demandas do mercado, graças às ações organizadas de promoção de inte-ligência competitiva setorial. Também continuarão em ativi-dade os pontos de venda instalados para venda de artesana-to (Projetos Brasil Original e Mosaico Brasil) e a Central de Oportunidades, ambiente online criado pelo Sebrae para empresas fazerem negócios. Por meio da Central, pequenos negócios podem ofertar produtos, procurar fornecedores e solicitar orçamentos.

Pequenos negócios também faturam

Aeroportos passaram por grandes obras nos últimos anos e a conclusão das intervenções ficou para depois da Copa. Na foto, o novo terminal do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

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dência os roteiros para o devido acompanha-mento das respectivas seleções. Farão desloca-mentos que lhes permitirão ter uma ideia melhor do país e de sua gente. “O turismo no Brasil se resumia a São Paulo e Rio, além de alguns locais do Nordeste. A Copa permitirá que se espalhe para outras regiões”, afirma Aquino. As imagens

dos principais canais de televisão mostraram a torcida holan-desa fazendo a festa em Salvador. Muitas dessas pessoas nun-ca viriam ao Brasil se não fosse pela Copa do Mundo. Vieram, podem retornar e recomendar o país aos amigos.

Para Francisco Alambert Jr., também professor do Departamento de História da USP, eventos como a Copa do Mundo obrigam os governos dos países a planejar e a fazer, de fato, investimentos altos que necessariamente agregam imagens positivas. Prova disso é o encantamento registrado pelas equipes de TV, Rádio, jornais e mídia eletrônica de todo o mundo com relação às arenas das cidades sedes. Monica Cabanãs, gaúcha, moradora de Ferney-Voltaire, na divisa entre França e Suíça, registrou em sua página do facebook a admiração dos repórteres e narradores franceses, suíços e ale-mães com as imagens das arenas lotadas de torcedores e tam-bém dos respectivos entornos. “Em todos os lugares do mun-do, Copas e Olimpíadas podem trazer transtornos econômi-

cos no curto prazo. Mas, a médio e longo prazos, há ganhos em termos de visibilidade internacional. Ficam também cla-ros os avanços que um país como o Brasil precisa perseguir para buscar a modernidade, a competitividade entre as nações” , registra o professor.

Segundo o Ministério do Turismo cerca de 6,2 milhões de pessoas circularão pelo país durante o torneio. “É uma ótima oportunidade para apresentarmos a extensão e a diversidade cultural, ambiental e social do Brasil. Isso aumentará o interes-se das pessoas de todo o mundo de conhecer o país e a hospita-lidade do nosso povo nos próximos anos”, ressalta Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae, que implemen-tou um programa especial para orientação aos pequenos empresários neste período (ver box). É inegável, assinala, a importância do Mundial para incrementar o turismo brasileiro e gerar emprego e renda em diferentes segmentos. “Os resulta-dos desse evento não se encerram com o jogo final, mas serão colhidos ao longo dos próximos anos”, prevê o diretor.

ProCopa – Os financiamentos concedidos pelo BNDES para a construção e melhoria das arenas das cidades-sedes estão todos discriminados no site do banco. As operações foram feitas com os respectivos governos estaduais, limitadas a 75% do valor de cada obra. As três primeiras foram firma-

RUMOS – 32 – Maio/Junho 2014

das com os estados da Bahia (R$ 323,6 milhões), do Ceará (R$ 351,5 milhões) e do Mato Grosso (R$ 393 milhões), em setembro de 2010. O novo estádio da Fon-te Nova, Salvador, que também teve participação da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) para sua viabilização, está entre os que têm maravilhado torcedores brasileiros e estrangeiros. Tem capacidade para 50.273 espectadores. A concepção do projeto teve como referência a AWD Arena, da cidade de Hanno-ver, Alemanha, sede da Copa do Mundo de 2006. Aten-dendo a pré-requisitos do BNDES ProCopa Arenas e do caderno de encargos da FIFA, o estádio obedece a critérios de sustentabilidade ambiental, o que inclui pla-no de gestão de resíduos gerados pela demolição, racio-nalização do uso da água e implantação de central de aquecimento solar. Considerando as etapas de demoli-ção, implantação e operação, o empreendimento gerou em torno de 4.200 empregos diretos e indiretos. Além do benefício mais imediato, o de viabilizar a participa-ção de Salvador como cidade-sede da copa, o projeto em questão tem o mérito de contribuir para revitalizar uma área da cidade que passou por sério processo de degradação.

Segundo o discriminado no site do BNDES, ao todo foram liberados R$ 3,8 bilhões para construção e refor-mas de 11 arenas, incluindo o lendário Maracanã, no Rio de Janeiro, e o novo Itaquerão (ou, como define o padrão Fifa, “Arena Corinthians”), em São Paulo. O Estádio Nacional de Brasília, o Mané Garrincha, foi o mais caro de todos (R$ 1 bilhão) e o único fora dos financiamentos do BNDES. Foi construído com recursos da Terracap, empresa que gerencia a venda de terrenos no Distrito Federal.

Outra ação do banco especialmente voltada para o evento é o BNDES ProCopa Turismo. Em 42 meses de vigência, o programa formou uma carteira de 29 projetos, com um total de financiamentos de R$ 2 bilhões, incluídas desde operações aprovadas até aquelas ainda em fase de consulta. Com orça-mento de R$ 1 bilhão e vigência até o fim de 2012, o progra-ma teve sua dotação ampliada para R$ 2 bilhões e seu prazo para protocolar projetos estendido até 30 de junho de 2013. Até setembro de 2013, 17 operações foram aprovadas, o que viabilizou investimentos de R$ 1,7 bilhão (incluindo a partici-pação da iniciativa privada), por meio da contratação de ope-rações de crédito de R$ 1 bilhão.

Criado em janeiro de 2010, o programa adequou as condi-ções do crédito direto do BNDES às necessidades do merca-do hoteleiro, quadro evidenciado pelo baixo fluxo de financi-amentos contratados pelo setor com o banco nos anos anteri-ores. Visou atender o aquecimento da demanda por hospeda-gem no Brasil e a expectativa de seu crescimento acentuado, da qual a Copa do Mundo era um ingrediente emblemático. Entre construção de novas unidades, reformas e moderniza-ção, os financiamentos já aprovados abrangeram 4.727 quar-tos, dos quais 30,2% encontram-se no Nordeste, 58,7% no Sudeste e 7,5% no Sul. A implantação de novos hotéis repre-sentou um incremento de 3.237 quartos, o equivalente a 68,5% do total do ProCopa, demandando para tal 75,8% dos créditos aprovados.

Até o lançamento do ProCopa, as operações diretas res-pondiam por um pouco mais de 10% dos créditos do BNDES para os investimentos em hotelaria. O programa fez esse percentual praticamente dobrar e elevar-se a quase um quarto do total de desembolsos do banco para o setor, em um contexto de crescimento acentuado dos fluxos de financiamento a hotéis e similares. Em termos nominais, a média anual do volume de financiamentos contratados pelo setor com o banco saltou de R$ 7,5 milhões, no período de dez anos que antecederam o ProCopa (2000 a 2009), para R$ 271,7 milhões, a partir do lançamento do programa. Em ter-mos reais, trata-se de um incremento superior a 1.900%. Do total de investimentos aprovados, 93,1% destinaram-se a empreendimentos localizados em municípios que vão sediar esse evento. Outros 3,7% foram direcionados a hotéis situa-dos em cidades bem próximas a Recife, Salvador ou Rio de Janeiro. O prognóstico é que o Brasil terá pelo menos 422 novos empreendimentos de hospedagem até 2016.

Além do BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia vêm direcionando mais fortemente, desde 2010, recursos para a ampliação e modernização da rede de hotéis e pousadas Bra-sil afora. Diversas agências estaduais de fomento, em todo o país, também criaram linnhas especiais voltadas para o fortale-cimento do setor, visando a Copa do Mundo. Já o investimen-to privado deve ultrapassar os R$ 12,2 bilhões, gerando 33,8 mil novos empregos diretos no setor. A região Sudeste con-centra a maior parte dos investimentos previstos (59%), com 250 novos estabelecimentos, seguida pelo Nordeste (13%), Sul (11%), Centro-Oeste (10%) e Norte (7%). Entre 2011 e 2013, cerca de 150 empreendimentos foram inaugurados no país, gerando mais de 11 mil empregos diretos com a injeção de R$ 3,3 bilhões na construção de 21,3 mil novos quartos.

RUMOS – 33 – Maio/Junho 2014

LEGADO

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se-brae) implementou programa especial, o Sebrae 2014, para que o segmento auferisse as vantagens possíveis do evento. O programa foi montado com base no tripé: difusão de informações e orientação sobre as oportunidades; capacita-ção e preparação para que as empresas pudessem atender as exigências dos organizadores; realização de eventos de apro-ximação comercial, em que micro e pequenas empresas ofertantes podem atender demandas de oferta de produtos e serviços contratados.

Como orientação empresarial, foram lançadas cartilhas sobre turismo e comércio varejista, que integram a série inti-tulada “Cenários e Projeções”. As publicações trazem casos e lições como a Copa da África do Sul, em 2010; pro-jeções, perfil e hábitos de turistas; informações sobre aspec-tos de infraestrutura; polícia e economia. O objetivo do Sebrae é estender esse tipo de prática de análise de cenários para outras ocorrências de impacto para o país, como as derivadas da exploração de petróleo (Pré-Sal) e as conces-sões de grandes obras.

Maria Cristina é proprietária da Brasil Solutions Turis-mo, no município paulista de Serra Negra, que faz parte do Circuito das Águas. A microempresa oferece pacotes turís-ticos e receptivos em toda a região que engloba nove muni-cípios responsáveis pela produção de 50% de toda água mineral do país, além dos banhos termais. Com dois funcio-nários, a empresária conta com aumento de 20% no fatu-ramento deste ano por conta da Copa. A região recebeu a

delegação da Costa do Marfim, que ficou concentrada na cidade de Águas de Lindoia.

De olho nos turistas e nos jornalistas, especialmente os de língua francesa, Maria capacitou seus servidores nesse idioma e desenvolveu roteiros turísticos especiais. “Oferecemos uma rota de queijos e vinhos, pela Serra Negra, e uma rota da cachaça, que passa por diferentes engenhos de Monte Alegre do Sul. Além disso, temos opções para quem curte esportes e aventuras, como arvorismo, rafting e rapel”, informa. A empresária acredita que a Copa ajudará muito na consolida-ção desses roteiros. Na primeira fase da competição, a maior concentração de turistas nas primeiras fases da competição se deu nas regiões Nordeste e Sudeste. Nas fases finais dos jogos, as grandes concentrações se movem em direção ao Dis-trito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

O faturamento adicional das 40 mil empresas apoiadas pelo Sebrae com foco na Copa 2014 está estimado em R$ 400 milhões. Além disso, avaliação feita por meio da Matriz Competitividade demonstra que esse conjunto de empresas sai da Copa mais preparado para enfrentar as demandas do mercado, graças às ações organizadas de promoção de inte-ligência competitiva setorial. Também continuarão em ativi-dade os pontos de venda instalados para venda de artesana-to (Projetos Brasil Original e Mosaico Brasil) e a Central de Oportunidades, ambiente online criado pelo Sebrae para empresas fazerem negócios. Por meio da Central, pequenos negócios podem ofertar produtos, procurar fornecedores e solicitar orçamentos.

Pequenos negócios também faturam

Aeroportos passaram por grandes obras nos últimos anos e a conclusão das intervenções ficou para depois da Copa. Na foto, o novo terminal do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

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Novos avanços – Como a Rumos trouxe em sua primei-ra edição do ano, as previ-sões eram de que, apenas para o evento, turistas de 186 países desembarcassem no Brasil. A maioria (62%)

pela primeira vez. No cálculo menos oti-mista, isso corresponde a mais de 600 mil estrangeiros em viagem pelo país em fun-ção dos jogos programados, além de 3,1 milhões de brasileiros em trânsito inter-no. A previsão é que esse fluxo de turistas injete R$ 6,7 bilhões nas 12 cidades-sede, descontando-se os custos com desloca-mentos. Na Copa das Confederações, em 2013, 138 cidades brasileiras foram visitadas. Esse número deve mais que dobrar em 2014.

Para o ministro do Turismo, Vinícius Lages, os impactos da Copa são imedia-tos e de longo prazo. São também econô-micos e de imagem. O Brasil – ressalta – tem dois pontos muito fortes em seu posicionamento como destino turístico internacional. Um é a beleza natural. Outro é a hospitalidade e a cultura. “Temos essa cultura de celebração, de acolhimento para o outro se sen-tir em casa. Isso é muito importante para qualquer destino turístico. E é o que nos interessa. É importante que os turistas vejam que aqui é um país muito bom de estar, de ficar. O país está tendo uma janela de visibilidade enorme, para fortalecer o nosso posicionamento. Mas é fundamental que a gente saia dessa Copa com uma ação forte de promoção. Se nós cruzar-mos os braços, não vamos aproveitar essa grande visibilidade que o país tem. Então, o Ministério do Turismo lançará, por meio da Embratur, uma campanha de fortalecimento da boa imagem que o país vai conseguir até o final da Copa. Quere-mos aumentar o fluxo de turistas internacionais e estimular mais brasileiros a viajarem internamente”.

Ainda de acordo com o ministro, o Brasil herda da Copa uma infraestrutura bastante qualificada. “Há questões relaci-onadas ao esforço de gestão pública no país, como a integra-ção, por exemplo, na área de segurança, dos equipamentos dis-poníveis com inteligência e a capacitação. Esse processo ago-ra é um legado e o Brasil precisa cuidar disso. As obras de mobilidade urbana já realizadas sem dúvida projetam melho-rias ainda maiores nas grandes cidades brasileiras. A econo-mia dos esportes pode crescer muito, sobretudo com as Olím-piadas de 2016. Vamos ter condições de mostrar que o Brasil não é só o país do futebol. Estamos com uma herança muito boa do ponto de vista dos aeroportos, um Brasil que viaja cada vez mais e que poderá receber cada vez mais gente”.

De acordo com Lages, a Copa mostrou que o Brasil é um bom local para se visitar, um país alegre, um “spa” para a alma. “Se melhorarmos ainda mais a logística e a infraestrutu-ra, e é o que vamos continuar fazendo, vamos atingir novos mercados. No caso dos americanos, a questão do visto era um desafio. Acho que a simplificação através de procedimen-

tos eletrônicos já nos ajuda muito. Temos que avançar para termos reciprocidade, liberar essa questão do visto. Avançar-mos também para mercados que hoje são os maiores emisso-res, como os da Ásia. O mercado dos nossos vizinhos tam-bém interessa muito. Se tivermos a média do que ocorreu em outros países que sediaram a Copa, nos próximos anos tere-mos um crescimento de 5 a 10% no número de turistas. Com isso, cumulativamente, vamos ultrapassar o teto de 6 milhões de turistas estrangeiros”.

Mobilidade – Se os estádios foram construídos a tempo para a Copa, mesmo que alguns tenham sido concluídos somente às vésperas do evento, boa parte das obras incluídas no plano de investimentos nos terminais aéreos, divulgado em 2010, teve sua conclusão adiada para depois do fim do torneio da Fifa. Dos nove aeroportos administrados pelo Poder Público em sedes do Mundial de futebol, sete estavam inacabados quando o evento começou. Entre eles, o de Belo Horizonte (Confins), Manaus, Rio de Janeiro (Galeão) e Salvador. Tam-bém não ficaram prontas a construção da nova torre de con-trole do aeroporto de Recife e a ampliação da pista de pouso e decolagem do aeroporto de Porto Alegre. Os dois projetos foram retirados da lista oficial de obras para o Mundial, a cha-mada Matriz de Responsabilidades. As obras do aeroporto de Curitiba também obedecem a um cronograma pós-Copa.

O governo tem defendido que as melhorias feitas são capazes de atender as necessidades de um grande evento como a Copa do Mundo, mas as obras continuam porque são importantes para atender ao crescimento da demanda do Bra-sil e garantir o bem-estar da população, que passou a ter renda suficiente para comprar passagens aéreas. De 2003 a 2014, o número de passageiros que transitam pelos aeroportos saltou de 33 milhões para 111 milhões ao ano. Outra aposta do governo é na aviação regional, para descentralizar e facilitar o

fluxo de passageiros – estão sendo investidos cerca de R$ 7,3 bilhões na expansão de 270 aeroportos no interior do país.

Entre as diversas obras de mobilidade construídas para a Copa, nas cidades sedes do evento, uma das mais robustas é o BRT TransCarioca, no Rio de Janeiro. Entregue ainda sem todas as estações funcionando, no início de junho, a linha expressa para ônibus vai reduzir, quando totalmente concluí-da, em 66% o tempo de deslocamento entre o aeroporto internacional e a região da Barra da Tijuca, importante centro

turístico e econômico da cidade. Tem 39 km de extensão e corta 27 bairros do Rio. A obra, que prevê 10 viadutos, nove pontes, três mergulhões, 47 estações e cinco terminais de inte-gração, faz parte da Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo e conta com R$ 1,18 bilhão de investimento federal, além de R$ 524 milhões em contrapartida municipal. A nova opção de transporte atenderá diariamente 320 mil pessoas nessa primeira fase.

Para o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, além de ser uma obra fundamental para a Copa do Mundo e as Olimpía-das 2016, a via mostra que os eventos, além da geração de empregos, da projeção da imagem das cidades e do próprio país, também podem deixar resultados para a população em obras urbanísticas transformadoras.

Os comerciantes do Mercadão de Madureira, tradicional ponto de comércio popular do Rio de Janeiro, esperam que o início das atividades do BRT inclua o local no roteiro de mais cariocas e turistas. O bairro vai ficar no meio do caminho do corredor de ônibus expressos. Há uma parada bem em frente ao Mercadão. “Há muitas pessoas que não vêm ao Mercadão porque não conhecem ou porque não têm onde deixar o car-ro. Os estacionamentos sempre estão todos lotados”, afirma Vicente Gazola, 56 anos, um dos mais de 300 lojistas do cen-tro popular.

Telecomunicações – No setor de telecomunicações, a Tele-bras registrou investimentos de R$ 79,2 milhões, até o mês de março de 2014, com a implantação de infraestrutura de fibra óptica para atender as demandas da Copa. Este valor engloba os dispêndios de 2012, 2013 e os três primeiros meses deste ano. Foram investidos R$ 40,7 milhões em 2012, R$ 29,5 milhões em 2013 e mais R$ 9 milhões nos três primeiros meses de 2014.

A Telebras é a empresa responsável pela construção da rede de fibra óptica que será usada na transmissão de imagens de alta definição (HDTV – vídeo e áudio) entre os estádios e o Centro Internacional de Coordenação de Transmissão (IBC) no Rio de Janeiro. Essas infraestruturas se incorporam à rede da Telebras como parte das redes metropolitanas e ficam como legado para utilização no Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), além de servirem de base aos demais objetivos comerciais e sociais da empresa pós-Copa do Mundo, a exem-plo do que aconteceu com a Copa das Confederações.

As redes de telefonia celular e de banda larga móvel tam-bém foram ampliadas e instaladas pelas prestadoras privadas do serviço nos estádios e arredores. Ao todo, 4.738 antenas fazem parte da infraestrutura interna instalada pelas presta-doras nas arenas. Para a instalação da infraestrutura de telefo-nia móvel e banda larga, as prestadoras fizeram uma parceria para a implantação de um projeto único, com investimentos de R$ 226 milhões e infraestrutura compartilhada.

Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Telefo-nia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), além da cobertura indoor, que permanecerá instalada nos estádios depois da Copa, as empresas de telefonia também investiram R$ 1,3 bilhão nas cidades que sediam os jogos, ampliando em 28%, em média, a infraestrutura que ficará de legado para a população.

RUMOS – 35 – Maio/Junho 2014

R REPORTAGEM LEGADO

Segundo pesquisa elaborada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), órgão vinculado ao Banco do Nordeste, os impactos econômicos da Copa do Mundo de 2014 apontam para um efeito de crescimento adi-cional de 1,2% no PIB do Nordeste, com geração de 49 mil empregos nos quatro municípios-sede (Salvador, Recife, Natal e Fortaleza).

O Banco do Nordeste financiou, ao todo, 79 projetos ligados à Copa do Mundo de 2014, destinando R$ 1,3 bilhão em recursos e viabilizando investimentos totais da ordem de R$ 3,9 bilhões. Os créditos foram empregados, em sua maio-ria, na rede hoteleira nordestina, em empreendimentos nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Per-nambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. As organi-zações internacionais estimam que o turismo é responsável pela geração de um em cada 12 empregos diretos no mundo. Com amplo efeito multiplicador, cada um deles gera 1,5 emprego em outros setores. Também foram registrados financiamentos para arenas de futebol, locadoras de veícu-los e restaurantes.

Os financiamentos se deram por meio das linhas FNE-Proatur e FNE-MPE Turismo, voltadas para ações estrutura-doras da cadeia produtiva do turismo. As linhas contemplam inclusive a aquisição de empreendimentos que constituam meios de hospedagem, com unidades já construídas ou em construção, além de capital de giro e aquisição de insumos. O BNB Proatur financia construção, ampliação e reforma de benfeitorias e instalações; veículos automotores; máquinas e equipamentos; móveis e utensílios; capacitação de mão de obra; capital de giro, dentre outros itens.

Os financiamentos do programa têm prazo total de até 20 anos, incluindo até cinco anos de carência, de acordo com a finalidade do projeto e dependendo da capacidade de paga-mento do mutuário, e podendo ser apoiado até 100% do investimento total, para empreendedores individuais, micro e pequenas empresas; de até 80 a 95%, para pequenas-médias e médias empresas; e de até 65 a 90%, para grandes empresas.

Torcedores de 186 países compraram ingressos para o evento; o ministério prevê que, por conta da Copa, o país tenha um crescimento de 5 a 10% no número de turistas nos próximos anos.

Desenvolvimento regional: Nordeste em altaP

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RUMOS – 34 – Maio/Junho 2014

Novos avanços – Como a Rumos trouxe em sua primei-ra edição do ano, as previ-sões eram de que, apenas para o evento, turistas de 186 países desembarcassem no Brasil. A maioria (62%)

pela primeira vez. No cálculo menos oti-mista, isso corresponde a mais de 600 mil estrangeiros em viagem pelo país em fun-ção dos jogos programados, além de 3,1 milhões de brasileiros em trânsito inter-no. A previsão é que esse fluxo de turistas injete R$ 6,7 bilhões nas 12 cidades-sede, descontando-se os custos com desloca-mentos. Na Copa das Confederações, em 2013, 138 cidades brasileiras foram visitadas. Esse número deve mais que dobrar em 2014.

Para o ministro do Turismo, Vinícius Lages, os impactos da Copa são imedia-tos e de longo prazo. São também econô-micos e de imagem. O Brasil – ressalta – tem dois pontos muito fortes em seu posicionamento como destino turístico internacional. Um é a beleza natural. Outro é a hospitalidade e a cultura. “Temos essa cultura de celebração, de acolhimento para o outro se sen-tir em casa. Isso é muito importante para qualquer destino turístico. E é o que nos interessa. É importante que os turistas vejam que aqui é um país muito bom de estar, de ficar. O país está tendo uma janela de visibilidade enorme, para fortalecer o nosso posicionamento. Mas é fundamental que a gente saia dessa Copa com uma ação forte de promoção. Se nós cruzar-mos os braços, não vamos aproveitar essa grande visibilidade que o país tem. Então, o Ministério do Turismo lançará, por meio da Embratur, uma campanha de fortalecimento da boa imagem que o país vai conseguir até o final da Copa. Quere-mos aumentar o fluxo de turistas internacionais e estimular mais brasileiros a viajarem internamente”.

Ainda de acordo com o ministro, o Brasil herda da Copa uma infraestrutura bastante qualificada. “Há questões relaci-onadas ao esforço de gestão pública no país, como a integra-ção, por exemplo, na área de segurança, dos equipamentos dis-poníveis com inteligência e a capacitação. Esse processo ago-ra é um legado e o Brasil precisa cuidar disso. As obras de mobilidade urbana já realizadas sem dúvida projetam melho-rias ainda maiores nas grandes cidades brasileiras. A econo-mia dos esportes pode crescer muito, sobretudo com as Olím-piadas de 2016. Vamos ter condições de mostrar que o Brasil não é só o país do futebol. Estamos com uma herança muito boa do ponto de vista dos aeroportos, um Brasil que viaja cada vez mais e que poderá receber cada vez mais gente”.

De acordo com Lages, a Copa mostrou que o Brasil é um bom local para se visitar, um país alegre, um “spa” para a alma. “Se melhorarmos ainda mais a logística e a infraestrutu-ra, e é o que vamos continuar fazendo, vamos atingir novos mercados. No caso dos americanos, a questão do visto era um desafio. Acho que a simplificação através de procedimen-

tos eletrônicos já nos ajuda muito. Temos que avançar para termos reciprocidade, liberar essa questão do visto. Avançar-mos também para mercados que hoje são os maiores emisso-res, como os da Ásia. O mercado dos nossos vizinhos tam-bém interessa muito. Se tivermos a média do que ocorreu em outros países que sediaram a Copa, nos próximos anos tere-mos um crescimento de 5 a 10% no número de turistas. Com isso, cumulativamente, vamos ultrapassar o teto de 6 milhões de turistas estrangeiros”.

Mobilidade – Se os estádios foram construídos a tempo para a Copa, mesmo que alguns tenham sido concluídos somente às vésperas do evento, boa parte das obras incluídas no plano de investimentos nos terminais aéreos, divulgado em 2010, teve sua conclusão adiada para depois do fim do torneio da Fifa. Dos nove aeroportos administrados pelo Poder Público em sedes do Mundial de futebol, sete estavam inacabados quando o evento começou. Entre eles, o de Belo Horizonte (Confins), Manaus, Rio de Janeiro (Galeão) e Salvador. Tam-bém não ficaram prontas a construção da nova torre de con-trole do aeroporto de Recife e a ampliação da pista de pouso e decolagem do aeroporto de Porto Alegre. Os dois projetos foram retirados da lista oficial de obras para o Mundial, a cha-mada Matriz de Responsabilidades. As obras do aeroporto de Curitiba também obedecem a um cronograma pós-Copa.

O governo tem defendido que as melhorias feitas são capazes de atender as necessidades de um grande evento como a Copa do Mundo, mas as obras continuam porque são importantes para atender ao crescimento da demanda do Bra-sil e garantir o bem-estar da população, que passou a ter renda suficiente para comprar passagens aéreas. De 2003 a 2014, o número de passageiros que transitam pelos aeroportos saltou de 33 milhões para 111 milhões ao ano. Outra aposta do governo é na aviação regional, para descentralizar e facilitar o

fluxo de passageiros – estão sendo investidos cerca de R$ 7,3 bilhões na expansão de 270 aeroportos no interior do país.

Entre as diversas obras de mobilidade construídas para a Copa, nas cidades sedes do evento, uma das mais robustas é o BRT TransCarioca, no Rio de Janeiro. Entregue ainda sem todas as estações funcionando, no início de junho, a linha expressa para ônibus vai reduzir, quando totalmente concluí-da, em 66% o tempo de deslocamento entre o aeroporto internacional e a região da Barra da Tijuca, importante centro

turístico e econômico da cidade. Tem 39 km de extensão e corta 27 bairros do Rio. A obra, que prevê 10 viadutos, nove pontes, três mergulhões, 47 estações e cinco terminais de inte-gração, faz parte da Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo e conta com R$ 1,18 bilhão de investimento federal, além de R$ 524 milhões em contrapartida municipal. A nova opção de transporte atenderá diariamente 320 mil pessoas nessa primeira fase.

Para o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, além de ser uma obra fundamental para a Copa do Mundo e as Olimpía-das 2016, a via mostra que os eventos, além da geração de empregos, da projeção da imagem das cidades e do próprio país, também podem deixar resultados para a população em obras urbanísticas transformadoras.

Os comerciantes do Mercadão de Madureira, tradicional ponto de comércio popular do Rio de Janeiro, esperam que o início das atividades do BRT inclua o local no roteiro de mais cariocas e turistas. O bairro vai ficar no meio do caminho do corredor de ônibus expressos. Há uma parada bem em frente ao Mercadão. “Há muitas pessoas que não vêm ao Mercadão porque não conhecem ou porque não têm onde deixar o car-ro. Os estacionamentos sempre estão todos lotados”, afirma Vicente Gazola, 56 anos, um dos mais de 300 lojistas do cen-tro popular.

Telecomunicações – No setor de telecomunicações, a Tele-bras registrou investimentos de R$ 79,2 milhões, até o mês de março de 2014, com a implantação de infraestrutura de fibra óptica para atender as demandas da Copa. Este valor engloba os dispêndios de 2012, 2013 e os três primeiros meses deste ano. Foram investidos R$ 40,7 milhões em 2012, R$ 29,5 milhões em 2013 e mais R$ 9 milhões nos três primeiros meses de 2014.

A Telebras é a empresa responsável pela construção da rede de fibra óptica que será usada na transmissão de imagens de alta definição (HDTV – vídeo e áudio) entre os estádios e o Centro Internacional de Coordenação de Transmissão (IBC) no Rio de Janeiro. Essas infraestruturas se incorporam à rede da Telebras como parte das redes metropolitanas e ficam como legado para utilização no Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), além de servirem de base aos demais objetivos comerciais e sociais da empresa pós-Copa do Mundo, a exem-plo do que aconteceu com a Copa das Confederações.

As redes de telefonia celular e de banda larga móvel tam-bém foram ampliadas e instaladas pelas prestadoras privadas do serviço nos estádios e arredores. Ao todo, 4.738 antenas fazem parte da infraestrutura interna instalada pelas presta-doras nas arenas. Para a instalação da infraestrutura de telefo-nia móvel e banda larga, as prestadoras fizeram uma parceria para a implantação de um projeto único, com investimentos de R$ 226 milhões e infraestrutura compartilhada.

Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Telefo-nia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), além da cobertura indoor, que permanecerá instalada nos estádios depois da Copa, as empresas de telefonia também investiram R$ 1,3 bilhão nas cidades que sediam os jogos, ampliando em 28%, em média, a infraestrutura que ficará de legado para a população.

RUMOS – 35 – Maio/Junho 2014

R REPORTAGEM LEGADO

Segundo pesquisa elaborada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), órgão vinculado ao Banco do Nordeste, os impactos econômicos da Copa do Mundo de 2014 apontam para um efeito de crescimento adi-cional de 1,2% no PIB do Nordeste, com geração de 49 mil empregos nos quatro municípios-sede (Salvador, Recife, Natal e Fortaleza).

O Banco do Nordeste financiou, ao todo, 79 projetos ligados à Copa do Mundo de 2014, destinando R$ 1,3 bilhão em recursos e viabilizando investimentos totais da ordem de R$ 3,9 bilhões. Os créditos foram empregados, em sua maio-ria, na rede hoteleira nordestina, em empreendimentos nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Per-nambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. As organi-zações internacionais estimam que o turismo é responsável pela geração de um em cada 12 empregos diretos no mundo. Com amplo efeito multiplicador, cada um deles gera 1,5 emprego em outros setores. Também foram registrados financiamentos para arenas de futebol, locadoras de veícu-los e restaurantes.

Os financiamentos se deram por meio das linhas FNE-Proatur e FNE-MPE Turismo, voltadas para ações estrutura-doras da cadeia produtiva do turismo. As linhas contemplam inclusive a aquisição de empreendimentos que constituam meios de hospedagem, com unidades já construídas ou em construção, além de capital de giro e aquisição de insumos. O BNB Proatur financia construção, ampliação e reforma de benfeitorias e instalações; veículos automotores; máquinas e equipamentos; móveis e utensílios; capacitação de mão de obra; capital de giro, dentre outros itens.

Os financiamentos do programa têm prazo total de até 20 anos, incluindo até cinco anos de carência, de acordo com a finalidade do projeto e dependendo da capacidade de paga-mento do mutuário, e podendo ser apoiado até 100% do investimento total, para empreendedores individuais, micro e pequenas empresas; de até 80 a 95%, para pequenas-médias e médias empresas; e de até 65 a 90%, para grandes empresas.

Torcedores de 186 países compraram ingressos para o evento; o ministério prevê que, por conta da Copa, o país tenha um crescimento de 5 a 10% no número de turistas nos próximos anos.

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á um ano a sociedade brasileira vem assistindo perplexa uma verdadeira onda de movimentos sociais reivindicatórios, inicialmente pacíficos, mas com muita disposição. A falta de preparo e inabilidade dos governos para lidar com esta

nova situação muito contribuiu para o seu crescimento exponencial, com adesões de outros grupos sociais representativos, incluindo os trabalhadores de diferentes categorias profissionais.

Neste ambiente e com a chegada da Copa do Mundo era previsível que determi-nadas categorias profissionais aproveitas-sem para reivindicar condições de trabalho, como no caso do carnaval no Rio de Janeiro, com os garis conquistando, por meio da greve, um expressivo aumento salarial. O oportunismo ou a oportunidade não é relevante, mas sim o fato de que o sindicato da categoria pouco influenciou.

Greves semelhantes estão ocorrendo em outras sedes da Copa, de categorias profissionais que prestam serviços públicos, como motoris-tas de ônibus, metroviários, ferroviários, professores, polícia e serviços de trânsito. Umas mais focadas e controladas, outras nem tanto, como a dos motoristas de ônibus de São Paulo, cuja paralisação ocorreu imediatamente após a assina-tura do acordo coletivo.

Estes fatos nos colocam diante de uma situação comple-xa: a ambiguidade entre a representação e a representativida-de das lideranças dos movimentos sociais e sindicais.

A representação tem o caráter de formalidade e legalida-de e decorre da outorga pelo Estado. Este é o caso dos sindi-catos dos trabalhadores, cuja existência é prevista legalmente. A representatividade, por sua vez, diz respeito à legitimidade da representação, que é outorgada pelo coletivo dos repre-sentados, no caso os trabalhadores.

Com este novo poder das redes sociais os trabalhadores estão descobrindo que não necessariamente precisam de suas lideranças sindicais para mobilizar e criar forças sufici-entes para pressionar seus empregadores. Na greve dos

motoristas de ônibus de São Paulo as lideranças sindicais se viram em apuros, pois uma parcela dos representados apro-vou os termos do acordo coletivo, enquanto outra não acei-tou e, por sua conta, paralisaram o trabalho na maior metró-pole brasileira. Certamente a liderança sindical não contava

com a representatividade total da categoria. O presidente do sindicato da categoria che-gou a declarar que iria mover um processo judicial contra os grevistas da sua própria categoria.

Outros fatores concorrem para essa ambi-guidade entre representação e representativi-dade, gerando uma divisão entre as categorias profissionais.

Em 2008, o Governo Lula oficializou as centrais sindicais constituídas em bases ideo-lógicas, concedendo-lhes 10% da arrecadação da contribuição sindical (R$200 milhões anuais). O acesso a essa verba depende do nível de representatividade das centrais – leia-se a quantidade de sindicatos filiados e seus associados. Isso estimula a competitividade

interna nos sindicatos, colocando em xeque o poder de repre-sentatividade de suas lideranças.

O crescente nível de conscientização do trabalhador brasileiro sobre o valor de seu trabalho, não acompanhado pelas lideranças sindicais, é outro fator preocupante, como no caso da construção civil em grandes obras, onde apesar dos acordos coletivos assinados a ocorrência de greves pro-movidas por categorias profissionais específicas, como pedreiros, soldadores, motoristas etc., chegam a ultrapassar mais de uma dezena no período de um ano.

Assim, quem sofre as consequências é a população que, além de não ter poder para intervir, paga pelos serviços e não os tem no nível de suas necessidades.

A conclusão é que ainda temos um longo caminho a percorrer até que as partes envolvidas amadureçam e que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nos níveis federal, estaduais e municipais, se interessem, de fato, pelo tema, gerando soluções adequadas que acompanhem a evolução econômica e social que o Brasil requer.

MANIFESTAÇÕES

RUMOS – 36 – Maio/Junho 2014

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O complexo mundo das negociações coletivas e das grevesHeli Gonçalves Moreira

Fundador e sócio-diretor da HGM Consultores, é especialista em administração e solução de conflitos trabalhistas e estratégias empresariais.

Com as redes sociais, os

trabalhadores estão descobrindo

que não necessariamente precisam de suas

lideranças sindicais para

mobilizar

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RUMOS – 39 – Maio/Junho 2014

sonho de empreender está mais palpável em Minas Gerais. Desde abril, o Banco de Desen-volvimento de Minas Gerais (BDMG) atua com uma linha de crédito inovadora, destinada a empresas com até seis meses de vida. O BDMG Acredita, que disponibiliza empréstimos de R$

2 mil a R$ 15 mil, reúne longo prazo para pagamento – 24 meses, com três meses de carência –, taxa fixa de 1,78% ao mês e taxa de abertura de crédito (TAC) de 2%, descontada no ato da liberação. Mais do que evitar uma falência precoce, a linha de crédito visa dar força para os empreendedores da base da pirâmide.

“É algo inovador para o sistema de formalização, que apoia o desenvolvimento da produtividade dos países. Hoje, 50% da força de trabalho da América Latina está na informa-lidade”, explica Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que é um dos parceiros do projeto. “É uma parceria visando encontrar uma solução financeira para atender um segmento de mercado que normalmente não é atendido pelo sistema financeiro”, justifica Júlio Onofre, presidente do BDMG.

Com a parceria, o BID vai manter um fundo de R$ 21 milhões como garantia para os financiamentos. A expectativa do BDMG é de que mais de seis mil novos empreendimentos sejam beneficiados ainda neste ano, principalmente nos setores do comércio e de prestação de serviços. Ao todo, estarão disponíveis 60 milhões de reais para financiamentos que poderão ser utilizados como capital de giro, sem a neces-sidade de comprovação do investimento. “O empresário que está iniciando seu negócio obviamente não tem um passado para mostrar, portanto ele fica sem ter possibilidade de aces-so ao crédito. Essa metodologia propõe uma solução para o problema”, explica Onofre.

Esse tipo de problema foi evitado pelo empresário Ronie Azevedo, de Ribeirão das Neves. O pai de Ronie é comerci-ante na cidade há mais de 30 anos e quando os dois decidiram se unir e formalizar o comércio, o empresário passou a pes-quisar sobre linhas de crédito que pudessem impulsionar o negócio. Após identificarem potencial, os dois decidiram que

RUMOS –38 – Maio/Junho 2014

atividade empresarial, para traçar o perfil do avaliado e determinar a avaliação de risco de crédito da nova empresa. A metodologia nasceu dentro da Universidade de Harvard e, após o EFL se tornar uma organi-zação independente, foi premiada e reconhecida pelo G-20 SME Finan-ce como uma das soluções mais inovadoras no mundo para financia-mento de empresas da base da pirâ-mide. Segundo o BID, o BDMG é o primeiro banco público a aplicar a metodologia baseada em testes psicométricos no Brasil.

O banco interamericano, parcei-ro do EFL, decidiu ampliar o alcance das ferramentas que o laboratório havia desenvolvido. Assim, o banco de Minas Gerais foi eleito para se tornar um dos pioneiros no uso das ferramentas na região, por meio de uma iniciativa chamada Oportunida-des para a Maioria – um programa do BID que aplica estratégias sus-tentáveis, com base no mercado,

para levar os benefícios do desenvolvimento econômico e social à maioria da população da América Latina e do Caribe.

Esta iniciativa promove e financia modelos de negócios emergentes que mobilizam empresas do setor privado, governos locais e comunidades para o planejamento e a exe-cução de produtos e serviços de qualidade, a criação de empregos e a participação de produtores e consumidores de baixa renda na economia formal.

“Nós temos uma história de parceria muito longa com o BDMG”, lembra Luis Alberto Moreno. De fato, a parceria com o banco mineiro começou ainda em 2008, quando as duas instituições firmaram acordo para promover investi-mentos em energia renovável, eficiência energética e mudan-ças climáticas. Foi assim também no ano seguinte, quando foi feito um acordo entre as duas partes para diminuir os resíduos sólidos no estado de Minas Gerais.

Júlio Onofre destaca que, para o BDMG, é importante contribuir com a missão do BID de desenvolver as comuni-dades e regiões que necessitam de apoio. “Esse projeto (o Acredita) tem um mérito muito grande porque é voltado para a base da pirâmide, que é o público mais difícil de alcançar. O sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado como referência em vários outros países”, completou.

O

R REPORTAGEM DESENVOLVIMENTO LOCAL

Por Ricardo Vieira

Linha de crédito do BDMG beneficia empresas nascentes com empréstimos de até R$ 15 mil; metodologia inovadora para análise do crédito, premiada internacionalmente, foi utilizada pela primeira vez por um banco público no Brasil

o açougue, de nome “Esquinão da Carne”, tornar-se-ia tam-bém uma mercearia. Durante as pesquisas, Ronie encontrou o programa. “Veio na hora certa, impossível ser mais certa. O empréstimo tem sido importante tanto para fluxo de caixa quanto para compra de novos equipamentos”, conta Ronie. Os novos equipamentos citados pelo empresário fazem parte de mais um passo dado com o auxílio dos R$ 15 mil obtidos através do Acredita: um novo empreendimento na cidade, com as mesmas características do primeiro.

O negócio de Ronie e de seu pai é um bom exemplo de atuação de base da pirâmide com potencial para se fortalecer. Formalizado em novembro do ano passado, o “Esquinão da Carne” original conta apenas com quatro funcionários, inclu-indo Ronie e os pais. O patriarca da família cuida do açougue, enquanto o filho se divide entre o caixa, as entregas, o estoque e a parte financeira. O empresário tem experiência adminis-trativa, trabalhou como gerente de vendas e foi corretor de imóveis. Além disso, mora bem próximo ao estabelecimento. Muitos desses fatores foram levados em conta no questioná-rio que Ronie preencheu para obter o financiamento. “Eles abordam dois pontos importantes. Além de perguntar sobre a finalidade do empréstimo, querem saber sobre a vida dos sócios, se têm bens, experiências anteriores, entre outras questões”, explicou, salientando que o procedimento é bem simples: “Existe um passo a passo no site que não deixa nenhuma dúvida. Não demorou 15 dias do dia que eu solicitei até a liberação do empréstimo.”

A rapidez que impressionou o empreendedor deve ser uma constante para os outros pedidos. O BDMG estima que o questionário leva cerca de 30 minutos para ser completado. A análise da adequação das informações fornecidas sobre o perfil do empresário com a política interna do banco também não demora. Em poucas horas, o candidato recebe um e-mail com o resultado, informando se teve ou não acesso ao finan-ciamento. Depois dessa etapa, o empresário precisa enviar uma relação simples de documentos e, dentro de no máximo cinco dias úteis, o recurso é liberado na conta bancária da pessoa jurídica do CNPJ solicitante.

Cada cliente pode obter no máximo três vezes o capital

social integralizado da empresa. O empresário não precisa ter sido cliente do BDMG, ter começado a faturar ou ter de com-provar o faturamento ou o patrimônio dos sócios. O questio-nário de identificação de perfil fica disponibilizado inicial-mente na plataforma de crédito online do banco, acessado no próprio site. Posteriormente, será estendido para os Corres-pondentes Bancários espalhados pelo interior do estado.

Inovação – O questionário que Ronie respondeu – e que todo solicitante deve preencher – é fruto de mais uma parce-ria firmada para a criação do BDMG Acredita, e mais uma das inovações do programa. Ele foi elaborado pelo Eutreuprene-urial Finance Lab (EFL) [Laboratório de Finanças para o Empreendedorismo, em tradução livre]. Com escritórios na América do Sul, na América do Norte, na Ásia e na África, o EFL busca o desenvolvimento de ferramentas para identifi-car empresários de potencial para instituições financeiras no mundo todo. “O resultado foi muito satisfatório em outros países, o que nos animou a buscar essa experiência para Minas Gerais”, justifica Júlio Onofre, sobre a adoção deste critério para a liberação do crédito.

Trata-se de uma análise psicométrica do candidato, que conta com questões éticas e morais, além de dados sobre

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Reforço para a base da pirâmide

Júlio Onofre, presidente do BDMG: “O sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado como referência em vários outros países”.

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sonho de empreender está mais palpável em Minas Gerais. Desde abril, o Banco de Desen-volvimento de Minas Gerais (BDMG) atua com uma linha de crédito inovadora, destinada a empresas com até seis meses de vida. O BDMG Acredita, que disponibiliza empréstimos de R$

2 mil a R$ 15 mil, reúne longo prazo para pagamento – 24 meses, com três meses de carência –, taxa fixa de 1,78% ao mês e taxa de abertura de crédito (TAC) de 2%, descontada no ato da liberação. Mais do que evitar uma falência precoce, a linha de crédito visa dar força para os empreendedores da base da pirâmide.

“É algo inovador para o sistema de formalização, que apoia o desenvolvimento da produtividade dos países. Hoje, 50% da força de trabalho da América Latina está na informa-lidade”, explica Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que é um dos parceiros do projeto. “É uma parceria visando encontrar uma solução financeira para atender um segmento de mercado que normalmente não é atendido pelo sistema financeiro”, justifica Júlio Onofre, presidente do BDMG.

Com a parceria, o BID vai manter um fundo de R$ 21 milhões como garantia para os financiamentos. A expectativa do BDMG é de que mais de seis mil novos empreendimentos sejam beneficiados ainda neste ano, principalmente nos setores do comércio e de prestação de serviços. Ao todo, estarão disponíveis 60 milhões de reais para financiamentos que poderão ser utilizados como capital de giro, sem a neces-sidade de comprovação do investimento. “O empresário que está iniciando seu negócio obviamente não tem um passado para mostrar, portanto ele fica sem ter possibilidade de aces-so ao crédito. Essa metodologia propõe uma solução para o problema”, explica Onofre.

Esse tipo de problema foi evitado pelo empresário Ronie Azevedo, de Ribeirão das Neves. O pai de Ronie é comerci-ante na cidade há mais de 30 anos e quando os dois decidiram se unir e formalizar o comércio, o empresário passou a pes-quisar sobre linhas de crédito que pudessem impulsionar o negócio. Após identificarem potencial, os dois decidiram que

RUMOS –38 – Maio/Junho 2014

atividade empresarial, para traçar o perfil do avaliado e determinar a avaliação de risco de crédito da nova empresa. A metodologia nasceu dentro da Universidade de Harvard e, após o EFL se tornar uma organi-zação independente, foi premiada e reconhecida pelo G-20 SME Finan-ce como uma das soluções mais inovadoras no mundo para financia-mento de empresas da base da pirâ-mide. Segundo o BID, o BDMG é o primeiro banco público a aplicar a metodologia baseada em testes psicométricos no Brasil.

O banco interamericano, parcei-ro do EFL, decidiu ampliar o alcance das ferramentas que o laboratório havia desenvolvido. Assim, o banco de Minas Gerais foi eleito para se tornar um dos pioneiros no uso das ferramentas na região, por meio de uma iniciativa chamada Oportunida-des para a Maioria – um programa do BID que aplica estratégias sus-tentáveis, com base no mercado,

para levar os benefícios do desenvolvimento econômico e social à maioria da população da América Latina e do Caribe.

Esta iniciativa promove e financia modelos de negócios emergentes que mobilizam empresas do setor privado, governos locais e comunidades para o planejamento e a exe-cução de produtos e serviços de qualidade, a criação de empregos e a participação de produtores e consumidores de baixa renda na economia formal.

“Nós temos uma história de parceria muito longa com o BDMG”, lembra Luis Alberto Moreno. De fato, a parceria com o banco mineiro começou ainda em 2008, quando as duas instituições firmaram acordo para promover investi-mentos em energia renovável, eficiência energética e mudan-ças climáticas. Foi assim também no ano seguinte, quando foi feito um acordo entre as duas partes para diminuir os resíduos sólidos no estado de Minas Gerais.

Júlio Onofre destaca que, para o BDMG, é importante contribuir com a missão do BID de desenvolver as comuni-dades e regiões que necessitam de apoio. “Esse projeto (o Acredita) tem um mérito muito grande porque é voltado para a base da pirâmide, que é o público mais difícil de alcançar. O sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado como referência em vários outros países”, completou.

O

R REPORTAGEM DESENVOLVIMENTO LOCAL

Por Ricardo Vieira

Linha de crédito do BDMG beneficia empresas nascentes com empréstimos de até R$ 15 mil; metodologia inovadora para análise do crédito, premiada internacionalmente, foi utilizada pela primeira vez por um banco público no Brasil

o açougue, de nome “Esquinão da Carne”, tornar-se-ia tam-bém uma mercearia. Durante as pesquisas, Ronie encontrou o programa. “Veio na hora certa, impossível ser mais certa. O empréstimo tem sido importante tanto para fluxo de caixa quanto para compra de novos equipamentos”, conta Ronie. Os novos equipamentos citados pelo empresário fazem parte de mais um passo dado com o auxílio dos R$ 15 mil obtidos através do Acredita: um novo empreendimento na cidade, com as mesmas características do primeiro.

O negócio de Ronie e de seu pai é um bom exemplo de atuação de base da pirâmide com potencial para se fortalecer. Formalizado em novembro do ano passado, o “Esquinão da Carne” original conta apenas com quatro funcionários, inclu-indo Ronie e os pais. O patriarca da família cuida do açougue, enquanto o filho se divide entre o caixa, as entregas, o estoque e a parte financeira. O empresário tem experiência adminis-trativa, trabalhou como gerente de vendas e foi corretor de imóveis. Além disso, mora bem próximo ao estabelecimento. Muitos desses fatores foram levados em conta no questioná-rio que Ronie preencheu para obter o financiamento. “Eles abordam dois pontos importantes. Além de perguntar sobre a finalidade do empréstimo, querem saber sobre a vida dos sócios, se têm bens, experiências anteriores, entre outras questões”, explicou, salientando que o procedimento é bem simples: “Existe um passo a passo no site que não deixa nenhuma dúvida. Não demorou 15 dias do dia que eu solicitei até a liberação do empréstimo.”

A rapidez que impressionou o empreendedor deve ser uma constante para os outros pedidos. O BDMG estima que o questionário leva cerca de 30 minutos para ser completado. A análise da adequação das informações fornecidas sobre o perfil do empresário com a política interna do banco também não demora. Em poucas horas, o candidato recebe um e-mail com o resultado, informando se teve ou não acesso ao finan-ciamento. Depois dessa etapa, o empresário precisa enviar uma relação simples de documentos e, dentro de no máximo cinco dias úteis, o recurso é liberado na conta bancária da pessoa jurídica do CNPJ solicitante.

Cada cliente pode obter no máximo três vezes o capital

social integralizado da empresa. O empresário não precisa ter sido cliente do BDMG, ter começado a faturar ou ter de com-provar o faturamento ou o patrimônio dos sócios. O questio-nário de identificação de perfil fica disponibilizado inicial-mente na plataforma de crédito online do banco, acessado no próprio site. Posteriormente, será estendido para os Corres-pondentes Bancários espalhados pelo interior do estado.

Inovação – O questionário que Ronie respondeu – e que todo solicitante deve preencher – é fruto de mais uma parce-ria firmada para a criação do BDMG Acredita, e mais uma das inovações do programa. Ele foi elaborado pelo Eutreuprene-urial Finance Lab (EFL) [Laboratório de Finanças para o Empreendedorismo, em tradução livre]. Com escritórios na América do Sul, na América do Norte, na Ásia e na África, o EFL busca o desenvolvimento de ferramentas para identifi-car empresários de potencial para instituições financeiras no mundo todo. “O resultado foi muito satisfatório em outros países, o que nos animou a buscar essa experiência para Minas Gerais”, justifica Júlio Onofre, sobre a adoção deste critério para a liberação do crédito.

Trata-se de uma análise psicométrica do candidato, que conta com questões éticas e morais, além de dados sobre

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Reforço para a base da pirâmide

Júlio Onofre, presidente do BDMG: “O sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado como referência em vários outros países”.

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Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) está conduzindo uma profunda trans-formação em sua área jurídica, que passou a ter um perfil mais consultivo e focado nas questões estratégicas. Para isso, rotinas e contratos foram

padronizados e as áreas operacionais capacitadas, reduzindo a demanda sobre a área e dando autonomia para a área de negó-cios tomar as decisões.

Larry Matos, diretor jurídico da AgeRio, ressalta que, em primeiro lugar, o Jurídico tem de ter cons-ciência do seu papel fundamental para as instituições financeiras de desenvolvimen-to, seja na questão de garantir a conformi-dade dos negócios e de todas as ações dessas instituições, seja para buscar, ao máximo, a eficiência necessária para o alcance dos resultados da empresa. Isso requer uma mudança de postura dos advo-gados, que, pela formação, podem tender para o conservadorismo.

“A mudança implica em pensar o negó-cio e agir de forma estratégica e preventiva, como uma espécie de lanterna que vai iluminando os próximos passos da institui-ção, e, com o respaldo da empresa, tornar o Jurídico menos operacional e mais consul-tivo”, reitera Larry Matos.

Em meio às mudanças, as duas áreas distintas (jurídico operacional e jurídico consultivo) que formavam juntamente com a área de contencioso o setor jurídico da instituição, foram unificadas na nova Gerência Executiva Jurídica Consultiva (GEJUC), que cuida de toda e qualquer consulta jurídica da empresa, independentemente da matéria. “Isso privilegia a interdisciplinaridade do Direito e proporcio-na maior troca de conhecimento e experiências dos advoga-dos”, justifica o diretor.

Por meio de uma equipe mais enxuta, foi possível dar ênfase às questões prospectivas, com foco na eliminação de riscos jurídicos, e tornando, na medida do possível, os proces-

Por Carmen Nery

RUMOS – 40 – Maio/Junho 2014 RUMOS – 41 – Maio/Junho 2014

GESTÃO

Depois do aprimoramento nos processos da área de Recursos Humanos, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio) aposta na transformação de sua área jurídica, com caráter consultivo e pensamento estratégico

C CENÁRIOS DO RIO

Asos mais simples, ágeis e eficientes. Para viabilizar esse novo modelo, processos, contratos e documentos foram padroniza-dos e as rotinas ganharam manuais, reduzindo as possibilida-des de erro e agilizando as operações. Para esse projeto foi criado um grupo de trabalho com missão específica de rever os instrumentos contratuais de crédito. O resultado é que a média de folhas caiu de 56 para seis. “Pegamos o que era imprescindível para o cliente saber e inserimos nos contratos. O resto era norma de observância interna”, esclarece.

Com todas essas mudanças, Larry Matos destaca que foi possível tornar a atividade negocial mais leve, facilitando a relação das áreas operacionais com os clientes. Outra vantagem desse modelo é que ele permite ao advogado a busca ou até mesmo a construção de instrumentos jurídicos novos ou mais modernos, como, por exemplo, uma garantia não usual no mercado, assegurando, assim, uma maior flexibilidade e a customização das operações.

“Um Jurídico menos operacional e mais estratégico age de forma mais pre-ventiva, facilitando as operações e evitan-do a ocorrência de problemas. Ao mesmo tempo, um Jurídico mais consul-tivo é capaz de tornar a área de negócios mais independente, com maior autono-mia em sua atuação”, diz.

Capacitação – Para que o modelo alcan-çasse resultados, foi realizado um amplo trabalho de capacita-ção com as demais áreas da empresa, de modo a transmitir conhecimentos jurídicos básicos e diminuir a dependência da área jurídica. Afinal, não adianta tornar o setor mais consultivo, se as demais áreas continuarem demandando questões básicas, de fácil solução.

“Com o treinamento, as áreas de negócio passaram a ter condições de interpretar um contrato ou uma garantia. Além de ter um entendimento melhor, as áreas deixaram de enviar

ao Jurídico algo corriqueiro, mas apenas o que foge ao padrão básico. Com isso, ganhamos velocidade e agilidade nas respos-tas e melhor qualidade tanto da área operacional quanto da área jurídica”, diz Marcos Lima, gerente regional de negócios interior Sul. Ele observa que, com a manualização, todas as regras estão escritas e são de conhecimento de todos. “Com isso houve uma boa integração entre a área jurídica e as áreas operacionais”, acrescenta Lima.

A lógica foi reforçada por Cláudio Moraes, superintenden-te de participações e desenvolvimento de produtos financeiros. Ele observa que, antes da mudança, o Jurídico era uma área robusta que participava de todas as questões ordinárias. Com a migração para um perfil mais consultivo, a área passou a se voltar para as questões que fogem ao padrão, encontrando soluções para situações mais sofisticadas.

“Antes, havia uma dependência das áreas operacionais em relação a questões básicas, o que gerava uma grande demanda no Jurídico, e, em decorrência, havia problemas de agilidade no processo de consulta jurídica. Com o novo modelo, houve maior independência das áreas de negócio, maior agilidade nas respostas, e os advogados ficaram livres para pensar soluções mais criativas e sofisticadas”, analisa Moraes.

Para o superintendente, a padronização e a manualização de processos, contratos e documentos levaram segurança aos gestores. “Ao mesmo tempo, houve empoderamento das áreas operacionais e negociais para que os superintendentes pudes-sem resolver questões ordinárias com maior autonomia, em vez de ficar esperando uma decisão do Jurídico”, acrescenta.

Larry Matos observa que a consultoria jurídica empresarial – sobretudo a financeira, que requer muita agilidade – deve atuar nas exceções, ou seja, nas matérias que fogem ao trivial,

que não estão manualizadas pela empresa. Isso se reflete direta-mente na eficiência da área de negócios e na consequente satis-fação dos clientes da instituição. Para ele, o Jurídico deve atuar, sobretudo, com foco no cliente, sempre buscando viabilizar as operações, os negócios.

“Há que se ter inquietude ao esbarrar nas dificuldades de se dizer o ‘sim’, porque o ‘não’ é fácil de se dizer. Assim, o Jurídi-co deve atuar de forma estratégica, pensando na melhor manei-ra de atrair e manter o cliente, e na sua comodidade, no limite do que não possa gerar problemas para a agência”, diz o diretor jurídico. Mas ele ressalva que, como não há crédito sem risco, alguns problemas nas operações acabam acontecendo, por mais que se tente minimizá-los. Nesse ponto, quando o curso das operações de crédito se torna problemático, gerando ina-dimplência, há de se agir igualmente de forma rápida. Na sua gestão, a área tem procurado atuar não só nos tribunais, mas, principalmente, na fase anterior, que é a de renegociação dessa carteira.

“Isso possibilita a proximidade entre o Jurídico contencio-so e a área de recuperação de crédito extrajudicial. Essa atuação conjunta, nas hipóteses em que as atividades estão sob diferen-tes gestões, facilita a obtenção de êxito na recuperação do crédito”, reforça.

Um dos reflexos da renovação da área jurídica foi a mudan-ça do perfil do profissional que se quer atuando na área: mais consultivo, criativo, aberto a novas soluções e apto a dar res-postas mais ágeis. Segundo o diretor, ao fim do processo, os próprios advogados se sentem mais satisfeitos com uma atua-ção mais estratégica, o que facilita o alcance dos objetivos institucionais e, principalmente, a viabilização do desenvolvi-mento econômico regional.

Mais mudanças

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“Um Jurídico menos operacional e mais estratégico age de forma mais preventiva, facilitando as operações e evitando a ocorrência de problemas. Ao mesmo tempo, um Jurídico mais consultivo é capaz de tornar a área de negócios mais independente, com maior autonomia em sua atuação”, Larry Matos, diretor jurídico.

Um dos reflexos da renovação foi a

mudança do perfil do profissional que se

quer atuando na área: mais

consultivo, criativo, aberto a novas

soluções e apto a dar respostas mais ágeis.

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Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) está conduzindo uma profunda trans-formação em sua área jurídica, que passou a ter um perfil mais consultivo e focado nas questões estratégicas. Para isso, rotinas e contratos foram

padronizados e as áreas operacionais capacitadas, reduzindo a demanda sobre a área e dando autonomia para a área de negó-cios tomar as decisões.

Larry Matos, diretor jurídico da AgeRio, ressalta que, em primeiro lugar, o Jurídico tem de ter cons-ciência do seu papel fundamental para as instituições financeiras de desenvolvimen-to, seja na questão de garantir a conformi-dade dos negócios e de todas as ações dessas instituições, seja para buscar, ao máximo, a eficiência necessária para o alcance dos resultados da empresa. Isso requer uma mudança de postura dos advo-gados, que, pela formação, podem tender para o conservadorismo.

“A mudança implica em pensar o negó-cio e agir de forma estratégica e preventiva, como uma espécie de lanterna que vai iluminando os próximos passos da institui-ção, e, com o respaldo da empresa, tornar o Jurídico menos operacional e mais consul-tivo”, reitera Larry Matos.

Em meio às mudanças, as duas áreas distintas (jurídico operacional e jurídico consultivo) que formavam juntamente com a área de contencioso o setor jurídico da instituição, foram unificadas na nova Gerência Executiva Jurídica Consultiva (GEJUC), que cuida de toda e qualquer consulta jurídica da empresa, independentemente da matéria. “Isso privilegia a interdisciplinaridade do Direito e proporcio-na maior troca de conhecimento e experiências dos advoga-dos”, justifica o diretor.

Por meio de uma equipe mais enxuta, foi possível dar ênfase às questões prospectivas, com foco na eliminação de riscos jurídicos, e tornando, na medida do possível, os proces-

Por Carmen Nery

RUMOS – 40 – Maio/Junho 2014 RUMOS – 41 – Maio/Junho 2014

GESTÃO

Depois do aprimoramento nos processos da área de Recursos Humanos, a Agência Estadual de Fomento (AgeRio) aposta na transformação de sua área jurídica, com caráter consultivo e pensamento estratégico

C CENÁRIOS DO RIO

Asos mais simples, ágeis e eficientes. Para viabilizar esse novo modelo, processos, contratos e documentos foram padroniza-dos e as rotinas ganharam manuais, reduzindo as possibilida-des de erro e agilizando as operações. Para esse projeto foi criado um grupo de trabalho com missão específica de rever os instrumentos contratuais de crédito. O resultado é que a média de folhas caiu de 56 para seis. “Pegamos o que era imprescindível para o cliente saber e inserimos nos contratos. O resto era norma de observância interna”, esclarece.

Com todas essas mudanças, Larry Matos destaca que foi possível tornar a atividade negocial mais leve, facilitando a relação das áreas operacionais com os clientes. Outra vantagem desse modelo é que ele permite ao advogado a busca ou até mesmo a construção de instrumentos jurídicos novos ou mais modernos, como, por exemplo, uma garantia não usual no mercado, assegurando, assim, uma maior flexibilidade e a customização das operações.

“Um Jurídico menos operacional e mais estratégico age de forma mais pre-ventiva, facilitando as operações e evitan-do a ocorrência de problemas. Ao mesmo tempo, um Jurídico mais consul-tivo é capaz de tornar a área de negócios mais independente, com maior autono-mia em sua atuação”, diz.

Capacitação – Para que o modelo alcan-çasse resultados, foi realizado um amplo trabalho de capacita-ção com as demais áreas da empresa, de modo a transmitir conhecimentos jurídicos básicos e diminuir a dependência da área jurídica. Afinal, não adianta tornar o setor mais consultivo, se as demais áreas continuarem demandando questões básicas, de fácil solução.

“Com o treinamento, as áreas de negócio passaram a ter condições de interpretar um contrato ou uma garantia. Além de ter um entendimento melhor, as áreas deixaram de enviar

ao Jurídico algo corriqueiro, mas apenas o que foge ao padrão básico. Com isso, ganhamos velocidade e agilidade nas respos-tas e melhor qualidade tanto da área operacional quanto da área jurídica”, diz Marcos Lima, gerente regional de negócios interior Sul. Ele observa que, com a manualização, todas as regras estão escritas e são de conhecimento de todos. “Com isso houve uma boa integração entre a área jurídica e as áreas operacionais”, acrescenta Lima.

A lógica foi reforçada por Cláudio Moraes, superintenden-te de participações e desenvolvimento de produtos financeiros. Ele observa que, antes da mudança, o Jurídico era uma área robusta que participava de todas as questões ordinárias. Com a migração para um perfil mais consultivo, a área passou a se voltar para as questões que fogem ao padrão, encontrando soluções para situações mais sofisticadas.

“Antes, havia uma dependência das áreas operacionais em relação a questões básicas, o que gerava uma grande demanda no Jurídico, e, em decorrência, havia problemas de agilidade no processo de consulta jurídica. Com o novo modelo, houve maior independência das áreas de negócio, maior agilidade nas respostas, e os advogados ficaram livres para pensar soluções mais criativas e sofisticadas”, analisa Moraes.

Para o superintendente, a padronização e a manualização de processos, contratos e documentos levaram segurança aos gestores. “Ao mesmo tempo, houve empoderamento das áreas operacionais e negociais para que os superintendentes pudes-sem resolver questões ordinárias com maior autonomia, em vez de ficar esperando uma decisão do Jurídico”, acrescenta.

Larry Matos observa que a consultoria jurídica empresarial – sobretudo a financeira, que requer muita agilidade – deve atuar nas exceções, ou seja, nas matérias que fogem ao trivial,

que não estão manualizadas pela empresa. Isso se reflete direta-mente na eficiência da área de negócios e na consequente satis-fação dos clientes da instituição. Para ele, o Jurídico deve atuar, sobretudo, com foco no cliente, sempre buscando viabilizar as operações, os negócios.

“Há que se ter inquietude ao esbarrar nas dificuldades de se dizer o ‘sim’, porque o ‘não’ é fácil de se dizer. Assim, o Jurídi-co deve atuar de forma estratégica, pensando na melhor manei-ra de atrair e manter o cliente, e na sua comodidade, no limite do que não possa gerar problemas para a agência”, diz o diretor jurídico. Mas ele ressalva que, como não há crédito sem risco, alguns problemas nas operações acabam acontecendo, por mais que se tente minimizá-los. Nesse ponto, quando o curso das operações de crédito se torna problemático, gerando ina-dimplência, há de se agir igualmente de forma rápida. Na sua gestão, a área tem procurado atuar não só nos tribunais, mas, principalmente, na fase anterior, que é a de renegociação dessa carteira.

“Isso possibilita a proximidade entre o Jurídico contencio-so e a área de recuperação de crédito extrajudicial. Essa atuação conjunta, nas hipóteses em que as atividades estão sob diferen-tes gestões, facilita a obtenção de êxito na recuperação do crédito”, reforça.

Um dos reflexos da renovação da área jurídica foi a mudan-ça do perfil do profissional que se quer atuando na área: mais consultivo, criativo, aberto a novas soluções e apto a dar res-postas mais ágeis. Segundo o diretor, ao fim do processo, os próprios advogados se sentem mais satisfeitos com uma atua-ção mais estratégica, o que facilita o alcance dos objetivos institucionais e, principalmente, a viabilização do desenvolvi-mento econômico regional.

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Um dos reflexos da renovação foi a

mudança do perfil do profissional que se

quer atuando na área: mais

consultivo, criativo, aberto a novas

soluções e apto a dar respostas mais ágeis.

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RUMOS – 43 – Maio/Junho 2014

m sua 26ª edição, o Fórum Nacional – promovido pelo Instituto Nacional de Autos Estudos (INAE), sob o comando do economista

João Paulo dos Reis Velloso – escolheu como foco os temas das reformas, opor-tunidades, inovação e competitividade. O evento reuniu membros do governo, representantes de entidades empresariais e especialistas, que se apresentaram em três dias de seminário, realizado no audi-tório da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. Na sessão de abertura, o presidente do Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Socia l (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu a necessidade de reformas e de investi-mentos em tecnologia e inovação.

“É imperioso melhorar e simplificar a estrutura tributária brasileira, tornan-do-a mais eficiente e menos onerosa. Precisamos melhorar a capacidade de planejamento do setor público, com elaboração de projetos, sobretudo para as concessões das rodovias, portos, aero-portos e ferrovias. E temos uma necessi-dade premente de ampliar os instrumentos privados de financiamento de longo prazo”, disse Coutinho. Ele obser-vou que o país avançou nos indicadores sociais, reduzindo as taxas de desemprego. Mas ressaltou que isso exige que se alcancem ganhos de produtividade.

“Isso é necessário para que possamos responder ao virtuoso ganho de inclusão social. A produtividade virá com medidas que vão desde a expansão da banda larga e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) até a integração das pequenas e médias empresas em sistemas de gestão. Também precisamos tornar a logística mais eficien-te, pois hoje 9% do Produto Interno Bruto (PIB) são custos

RUMOS – 42 – Maio/Junho 2014

dez anos anteriores, mas hoje está concentrado no efeito salário, o que sinaliza escassez de mão de obra.

“O trabalho tem sido a base do crescimento, o grande protagonista é a renda do trabalhador. Mas precisamos aumentar a produtividade e a poupança. Falta uma agenda de ensino técnico para os ocupados, e outra de certificação e atração de talentos. Cerca de 74% da população concorda em trazer talento qualificado do exterior”, considera.

Oswaldo Pedrosa Júnior, presidente da Pré-Sal Petróleo S.A (PPSA) – empresa pública que vai gerenciar e fiscalizar contratos de exploração de petróleo sob regime de partilha –,

E

R REPORTAGEM ECONOMIA

Por Carmen Nery

Após ciclo virtuoso de crescimento e inclusão social, Fórum Nacional discute, em sua 26ª edição, as reformas necessárias e as oportunidades existentes para acelerar o desenvolvimento do país

logísticos, que poderiam cair para 5%”, defendeu.

Para Coutinho, o país tem capaci-dade de participar e criar as indústrias do futuro, revitalizando os complexos em que é competitivo, como minera-ção, agronegócio, papel e celulose, petroquímica, automotivo e bens de capital. “A revitalização pressupõe investimento em inovação. E pode-mos aproveitar novas oportunidades em microeletrônica, energias renová-veis, como eólica e solar, e em petró-leo e gás, que tem desdobramento em toda a cadeia produtiva, já que a explo-ração em águas profundas impõe desafios logísticos e de inovação”, analisa.

Para João Paulo dos Reis Veloso, em 2014 temos necessidade de uma nova estratégia para retomar o cresci-mento de 5% dos anos 1970. Ele diz que a proposta de um “novo Brasil” exige duas ações. A primeira seria a criação de um Grupo de Ação para o Brasil das Reformas – com supervisão da presidência, execução ministerial e

avaliação pelas equipes técnicas e de empresários selecionados. A segunda envolve a criação do Grupo das Oportunidades.

“O país vive uma revolução, com a emergência de uma sociedade mais ativa, que se manifesta, e mais moderna, que defende o interesse público para que tenhamos melhores governos federal, estaduais e municipais. Precisamos de reformas nas áreas fiscal, de educação, administrativa e polí-tica”, defendeu. Ele destacou que há uma enorme diversida-de de oportunidades. “Temos que explorar o potencial da indústria criativa e das tecnologias do futuro, como a biotec-nologia associada à nossa biodiversidade, as tecnologias da informação e comunicação e a nanotecnologia”, elencou.

Desafios – Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR), defendeu que as novas transformações brasileiras e a agenda das reformas devem focar no tripé prosperidade, igualdade e sustentabilidade. Em sua análise, o país vive um quadro de instabilidade com manifestações que oferecem oportunidades e riscos. Mas ele destacou os avanços obtidos nos últimos anos. De 2003 a 2014, o PIB brasileiro cresceu 27,8%, a renda média segundo a PNAD avançou 51,5%, mas na camada mais pobre a expansão foi de 106,17% – três vezes mais que o PIB.

Para Luciano Coutinho, presidente do BNDES, é preciso ampliar os instrumentos privados de financiamento de longo prazo

Um “novo Brasil” em debate

“Isso é uma grande mudança, pois o econômico sempre cresceu mais que o social. E o mais importante é que não houve nos últimos três anos um deslocamento do crescimen-to da renda em relação aos anos em que o país cresceu bem”, observou. Outro indicador que ele destacou é o da oportuni-dade de subir na vida, que está em 27,13%, o que, para ele, sustenta o quão estrutural são as transformações. “Em 2000, 41% dos municípios apresentavam Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH) baixo; em 2010 eram apenas 0,6%”, comemora.

Ele lembrou, contudo, que há desafios, como o fato de os bens públicos avançarem menos que os bens de consumo. O crescimento da renda do trabalhador é tão grande quanto nos

informou que em 2014 o Brasil vai produzir 428 mil barris por dia de petróleo na camada do pré-sal. Em 2020, este número saltará para 4 milhões de barris diários nas bacias de Santos e de Campos. Ele observou que já foram descobertos campos gigantes no Cazaquistão e no Irã, mas só o Brasil é líder em descoberta de recursos recuperáveis, que somam 106 bilhões de barris.

“Cerca de 88% desses 106 bilhões ainda estão por produ-zir. Há uma oportunidade imensa de desenvolvimento tecno-lógico. E como há elevada receita fiscal, haverá novos recur-sos para o Fundo Social, que visa a induzir o desenvolvimen-to tecnológico e criar novas oportunidades para o aprimora-mento da indústria nacional”, detalhou Pedrosa.

O evento reuniu membros do governo, representantes de entidades empresariais e especialistas. O economista João Paulo dos Reis Velloso, ao centro, é o coordenador do Fórum desde a sua primeira edição.

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RUMOS – 43 – Maio/Junho 2014

m sua 26ª edição, o Fórum Nacional – promovido pelo Instituto Nacional de Autos Estudos (INAE), sob o comando do economista

João Paulo dos Reis Velloso – escolheu como foco os temas das reformas, opor-tunidades, inovação e competitividade. O evento reuniu membros do governo, representantes de entidades empresariais e especialistas, que se apresentaram em três dias de seminário, realizado no audi-tório da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. Na sessão de abertura, o presidente do Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Socia l (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu a necessidade de reformas e de investi-mentos em tecnologia e inovação.

“É imperioso melhorar e simplificar a estrutura tributária brasileira, tornan-do-a mais eficiente e menos onerosa. Precisamos melhorar a capacidade de planejamento do setor público, com elaboração de projetos, sobretudo para as concessões das rodovias, portos, aero-portos e ferrovias. E temos uma necessi-dade premente de ampliar os instrumentos privados de financiamento de longo prazo”, disse Coutinho. Ele obser-vou que o país avançou nos indicadores sociais, reduzindo as taxas de desemprego. Mas ressaltou que isso exige que se alcancem ganhos de produtividade.

“Isso é necessário para que possamos responder ao virtuoso ganho de inclusão social. A produtividade virá com medidas que vão desde a expansão da banda larga e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) até a integração das pequenas e médias empresas em sistemas de gestão. Também precisamos tornar a logística mais eficien-te, pois hoje 9% do Produto Interno Bruto (PIB) são custos

RUMOS – 42 – Maio/Junho 2014

dez anos anteriores, mas hoje está concentrado no efeito salário, o que sinaliza escassez de mão de obra.

“O trabalho tem sido a base do crescimento, o grande protagonista é a renda do trabalhador. Mas precisamos aumentar a produtividade e a poupança. Falta uma agenda de ensino técnico para os ocupados, e outra de certificação e atração de talentos. Cerca de 74% da população concorda em trazer talento qualificado do exterior”, considera.

Oswaldo Pedrosa Júnior, presidente da Pré-Sal Petróleo S.A (PPSA) – empresa pública que vai gerenciar e fiscalizar contratos de exploração de petróleo sob regime de partilha –,

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R REPORTAGEM ECONOMIA

Por Carmen Nery

Após ciclo virtuoso de crescimento e inclusão social, Fórum Nacional discute, em sua 26ª edição, as reformas necessárias e as oportunidades existentes para acelerar o desenvolvimento do país

logísticos, que poderiam cair para 5%”, defendeu.

Para Coutinho, o país tem capaci-dade de participar e criar as indústrias do futuro, revitalizando os complexos em que é competitivo, como minera-ção, agronegócio, papel e celulose, petroquímica, automotivo e bens de capital. “A revitalização pressupõe investimento em inovação. E pode-mos aproveitar novas oportunidades em microeletrônica, energias renová-veis, como eólica e solar, e em petró-leo e gás, que tem desdobramento em toda a cadeia produtiva, já que a explo-ração em águas profundas impõe desafios logísticos e de inovação”, analisa.

Para João Paulo dos Reis Veloso, em 2014 temos necessidade de uma nova estratégia para retomar o cresci-mento de 5% dos anos 1970. Ele diz que a proposta de um “novo Brasil” exige duas ações. A primeira seria a criação de um Grupo de Ação para o Brasil das Reformas – com supervisão da presidência, execução ministerial e

avaliação pelas equipes técnicas e de empresários selecionados. A segunda envolve a criação do Grupo das Oportunidades.

“O país vive uma revolução, com a emergência de uma sociedade mais ativa, que se manifesta, e mais moderna, que defende o interesse público para que tenhamos melhores governos federal, estaduais e municipais. Precisamos de reformas nas áreas fiscal, de educação, administrativa e polí-tica”, defendeu. Ele destacou que há uma enorme diversida-de de oportunidades. “Temos que explorar o potencial da indústria criativa e das tecnologias do futuro, como a biotec-nologia associada à nossa biodiversidade, as tecnologias da informação e comunicação e a nanotecnologia”, elencou.

Desafios – Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR), defendeu que as novas transformações brasileiras e a agenda das reformas devem focar no tripé prosperidade, igualdade e sustentabilidade. Em sua análise, o país vive um quadro de instabilidade com manifestações que oferecem oportunidades e riscos. Mas ele destacou os avanços obtidos nos últimos anos. De 2003 a 2014, o PIB brasileiro cresceu 27,8%, a renda média segundo a PNAD avançou 51,5%, mas na camada mais pobre a expansão foi de 106,17% – três vezes mais que o PIB.

Para Luciano Coutinho, presidente do BNDES, é preciso ampliar os instrumentos privados de financiamento de longo prazo

Um “novo Brasil” em debate

“Isso é uma grande mudança, pois o econômico sempre cresceu mais que o social. E o mais importante é que não houve nos últimos três anos um deslocamento do crescimen-to da renda em relação aos anos em que o país cresceu bem”, observou. Outro indicador que ele destacou é o da oportuni-dade de subir na vida, que está em 27,13%, o que, para ele, sustenta o quão estrutural são as transformações. “Em 2000, 41% dos municípios apresentavam Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH) baixo; em 2010 eram apenas 0,6%”, comemora.

Ele lembrou, contudo, que há desafios, como o fato de os bens públicos avançarem menos que os bens de consumo. O crescimento da renda do trabalhador é tão grande quanto nos

informou que em 2014 o Brasil vai produzir 428 mil barris por dia de petróleo na camada do pré-sal. Em 2020, este número saltará para 4 milhões de barris diários nas bacias de Santos e de Campos. Ele observou que já foram descobertos campos gigantes no Cazaquistão e no Irã, mas só o Brasil é líder em descoberta de recursos recuperáveis, que somam 106 bilhões de barris.

“Cerca de 88% desses 106 bilhões ainda estão por produ-zir. Há uma oportunidade imensa de desenvolvimento tecno-lógico. E como há elevada receita fiscal, haverá novos recur-sos para o Fundo Social, que visa a induzir o desenvolvimen-to tecnológico e criar novas oportunidades para o aprimora-mento da indústria nacional”, detalhou Pedrosa.

O evento reuniu membros do governo, representantes de entidades empresariais e especialistas. O economista João Paulo dos Reis Velloso, ao centro, é o coordenador do Fórum desde a sua primeira edição.

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RUMOS – 44 – Maio/Junho 2014

ECONOMIA

O painel “O Brasil como Potência de Inovação e Tecno-logia, Impulsionando as Tecnologias do Século XXI” foi responsável por um dos debates mais intensos do evento. Daniela Carrera-Marquis, representante do Banco Interame-ricano de Desenvolvimento (BID), destacou que, na América Latina, de 75% a 80% da população vive nas cidades, mas que, apesar disso, é uma das regiões com menor crescimento em tecnologia no mundo. Para ela, parte disso está explicado pelo fato da grande concentração na indústria de serviços em comparação com outras regiões do mundo.

“Há muita informalidade; falta uma união mais produtiva entre setor público, setor privado e academia, e as inovações científicas não chegam à sociedade. A inova-ção se dá por meio de compra de tecnologia que é inserida nos processos produtivos. Para o BID há uma importância fundamen-tal em haver uma integração entre esses três setores e a sociedade”, alerta Daniela.

Glauco Arbix (foto), presidente da Agên-cia Brasileira da Inovação (Finep), ressaltou que há uma proposta em andamento no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inova-ção (MCTI) para elevar o patamar desses três setores. O Plano Inova Empresa reuniu recursos de R$ 32,9 bilhões para aplicação em pesquisa e desenvolvimento nas empre-sas, nos anos de 2013 e 2014, visando a aumentar a produtividade.

O programa reuniu recursos de duas agências – a Finep e o BNDES – e de 12 ministérios. O objeti-vo é incentivar projetos de alto risco tecnológico, com financi-amentos com taxas de 3% ao ano, prazo de 12 anos, sendo quatro de carência.

“Tivemos uma demanda agregada de R$ 93,4 bilhões de projetos, de 2.667 empresas e 223 Institutos de Ciência e Tecnologia. Estamos conduzindo programas que visam potencializar o poder de compra do Estado por meio de chamadas públicas com adesão de consórcios privados e compra garantida”, comemora Arbix.

Ele destacou ainda os avanços da Finep. A agência está integrando os instrumentos de crédito, subvenção, não reem-bolsável e Equity. Promoveu a descentralização do crédito, por meio de parceria com 16 bancos e agências de fomento estaduais, reservando R$ 1,6 bilhão para pequenas e médias empresas. Também atuou fortemente com subvenção eco-nômica, em parceria com 21 fundações estaduais de amparo à pesquisa. “E conseguimos reduzir os prazos de análise e aprovação de 454 para 30 dias”, destaca Arbix.

Claudio Frischtak, diretor do International Growth Cen-ter apresentou a palestra “O Brasil na Terceira Revolução Industrial”. Para ele, o país investe muitos recursos em Pes-quisa e Desenvolvimento, mas a maior parcela é destinada à

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ciência, enquanto pouco sobra para a inovação. “Temos apenas 0,14% em patentes concedidas ante 25,5% do Japão, 23,1% dos EUA. O país encontra dificuldade para competir e se integrar às cadeias de valor. Entre 2000 e 2013 a importa-ção de alta tecnologia cresceu assustadoramente. Estamos rateando há muitos anos na transformação da ciência e tecno-logia e da tecnologia em inovação”, alertou.

Propostas – Por outro lado, Antônio Gil, presidente da Asso-ciação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e

Comunicação (Brasscom), defendeu que o país tem avançado muito na área da Tecnologia da Informação. Em 2012, o setor cresceu 10,8%, e em 2013 estima-se que chegou a 15,4%, alcançando o segundo maior crescimento do mundo, abaixo apenas da China, e o dobro da média mundial. O Brasil é um mercado de R$ 32 bilhões, o quarto maior do mundo, mas tem grandes desafios, como o fato de a maior empresa faturar apenas R$ 1,5 bilhão, enquanto na Índia as cinco maiores empresas faturam acima de US$ 10 bilhões.

“O crescimento das TICs será nas áreas de educação, saúde e segurança. Além disso, as tecnologias mais avança-das se tornaram mais acessíveis: Big Data, social business, computação na nuvem e mobilidade. Nossa proposta é

que criemos um Chief Digital Officer à presidência da repú-blica para que haja um trabalho conjunto entre o governo e os representantes do setor para a definição de uma agenda pública de TIC”, diz Gil.

O evento também contou com a apresentação de Antonio Paes de Carvalho, presidente da Extracta Moléculas Nature, empresa de biotecnologia. Ele defendeu a criação do “Plano de Desenvolvimento da Biotecnologia à Base da Biodiversida-de”. A empresa nasceu de forma conjunta com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para buscar moléculas bioa-tivas de interesse, por meio de um processo de triagem robóti-ca de alta velocidade que analisa grandes números de amostras.

“Uma vez identificada uma molécula biológica de interes-se, as rotas metabólicas podem ser descobertas por meio da bioengenharia reversa. A partir de uma atividade biológica conhecida, chega-se ao gene que pode ser modificado”, expli-ca Carvalho.

Ele propõe a criação, a partir de um núcleo no Rio de Janeiro, de um grande centro de processamento de informa-ções para atingir parceiros em todo o Brasil. “A ideia é que, além da base de dados, a atividade empresarial interessada se organize em torno do Instituto Brasileiro da Biodiversidade com coordenação acadêmica e empresarial”, conclui.

Inovação e Tecnologia como portas para o futuro

R REPORTAGEM

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AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S/APresidente: Sávio Pereswww.afap.ap.gov.br

AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A Presidente: Evandor Geber Filhowww.afeam.am.gov.br

AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A Presidente: Murilo Gomes Pereirawww.aferr.rr.gov.br

AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A Presidente: Agnaldo Nunes de Souzawww.agefepe.pe.gov.br

AGERIO – Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A Presidente: José Domingos Vargaswww.agerio.com.br

AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A Presidente: João Augusto da Cunha Melowww.agnrn.com.br

BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A Presidente: Luis Antônio Ramoswww.badesc.gov.br

BADESUL – Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS Presidente: Marcelo de Carvalho Lopes www.badesul.com.br

BANCO DA AMAZÔNIA –Banco da Amazônia S/A Presidente: Valmir Pedro Rossiwww.bancoamazonia.com.br

BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S/A Presidente: Marco Aurélio B. de Almada Abreuwww.bancoob.com.br

BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A Presidente: Guilherme Henrique Pereirawww.bandes.com.br

BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S/A Presidente: Augusto Sergio Amorim Costawww.banparanet.com.br

BB – Banco do Brasil S/A Presidente: Aldemir Bendinewww.bb.com.br

BDMG – Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais S/A Presidente: Júlio Onofre Mendes www.bdmg.mg.gov.br

BNB – Banco do Nordeste S/A Presidente: Nelson Antônio de Souzawww.bnb.gov.br

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Presidente: Luciano Coutinhowww.bndes.gov.br

BRB – Banco de Brasília Presidente: Paulo Roberto Evangelista de Limawww.brb.com.br

BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul Presidente: Jorge Gomes Rosa Filhowww.brde.com.br

CAIXA – Caixa Econômica Federal Presidente: Jorge Fontes Heredawww.caixa.gov.br

DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A Presidente: Vitor Lopeswww.desenbahia.ba.gov.br

DESENVOLVE – Agência de Fomento do Estado de Alagoas S/A Presidente: Antonio Carlos Quintilianowww.desenvolve-al.com.br

DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista Presidente: Milton Luiz de Melo Santoswww.desenvolvesp.com.br

FINEP – Inovação e Pesquisa Presidente: Glauco Arbixwww.finep.gov.br

FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S/A Presidente: Juraci Barbosa Sobrinhowww.fomento.pr.gov.br

GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A Presidente: Luiz Antônio Faustino Maroneziwww.fomento.goias.com.br

MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A Presidente: Mário Milton Verlangieri Ferreira Mendeswww.mtfomento.mt.gov.br

PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A Presidente: Antônio Luiz Medeiros de A. Filhowww.fomento.pi.gov.br

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Presidente: Luiz Eduardo Barretto Filho www.sebrae.com.br

SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( B N D E S ) a p r o v o u financiamento de R$ 2,7 bilhões ao município do Rio de Janeiro para melhorias na infraestru-tura de mobilidade urba-

na. Os recursos representam 88% do total a ser investido nos projetos, que compreendem o lote zero do BRT Transo-este, a Via Expressa Transolímpica, a ligação BRT Transo-límpica-BRT Transbrasil, entorno do Parque Olímpico, duplicação do Elevado das Bandeiras, Ciclovia Niemeyer, extensão da Via Expressa do Porto Maravilha e entorno do Engenhão.

O lote zero do BRT Transoeste prevê a implantação de um corredor exclusivo para ônibus na Barra da Tijuca, com 6,4 km de extensão. Serão construídas sete estações, duas pontes sobre o Canal de Marapendi e um viaduto sobre a Ave-nida Armando Lombardi.

O projeto, no qual serão investidos aproximadamente R$ 95 milhões, permitirá a integração do BRT Transoeste, que hoje liga Santa Cruz e Campo Grande ao Terminal Alvorada, na Barra, com a estação de metrô da linha 4, que está sendo construída no Jardim Oceânico, possibilitando que a cidade tenha, pela primeira vez, um transporte de passageiros de mas-sa ligando o Centro aos bairros da Barra e do Recreio.

RUMOS – 46 – Maio/Junho 2014 RUMOS – 47 – Maio/Junho 2014

A Caixa Econômica Federal avalia possibilidades para ampliar seu funding de projetos de infraestrutura, que envolve-rão este ano investimentos de R$ 32 bilhões. “Se continuar o apetite do mercado e as medidas corretas do governo, o cres-cimento de projetos (de infraestrutura) pode ser da ordem de 20% ao ano”, afirmou o vice-presidente de Governo da Cai-xa, José Carlos Medaglia Filho, no Fórum Brasil de Infraes-trutura, realizado em Brasília, no início de junho.

Segundo ele, a expectativa é de que os investimentos em infraestrutura aumentem para R$ 38 bilhões em 2015. Na sua avaliação, o crescimento dos investimentos em obras poderá contribuir para recuperar o que chamou de “gap de infraestru-tura”. O país viveu mais de duas décadas sem investimentos em infraestrutura, afirmou Medaglia. “Mas a população cresceu, adensada nas cidades, e entramos nos anos 2000 com déficit de infraestrutura, frente às exigências da população. Houve deficiência em todas as áreas de investimento”, disse.

O ritmo das obras, na sua avaliação, é desproporcional aos anseios da sociedade. “Os investimentos deveriam ser multiplicados dez ou vinte vezes para atender à necessidade (da população). Cada companhia estadual que executa proje-tos de infraestrutura precisa se aparelhar, ou não conseguire-mos dar o salto que nós queremos”, disse.

F FOMENTO

O Banco de Desen-volvimento do Espírito Santo (Bandes) e a Fede-ração das Indústrias do Espírito Santo (Findes) assinaram um novo con-vênio para consolidar a parceria entre as duas

instituições e fortalecer as ações de fomento aos programas setoriais e regionais integrados, que fazem parte do novo perfil da instituição financeira, incluído no Plano Estratégico do banco até 2016.

Por meio do convênio, o banco capixaba vai disponibili-zar acesso mais ágil e simplificado às suas linhas de crédito para os empresários da indústria associados aos sindicatos, que atuarão como agentes estruturadores dos programas setoriais. Para isso, o banco contará com um posto de atendi-mento no Centro de Apoio aos Sindicatos (CAS) da Findes, além de promover a articulação dos gerentes de relaciona-mento do Bandes com as diretorias regionais da federação, de acordo com a atuação de cada um.

O diretor-presidente do banco, Guilherme Henrique Pereira, e o presidente da federação, Marcos Guerra, assina-ram o documento durante evento que reuniu empresários, lideranças e representantes de vários sindicatos capixabas.

A Agência de Fomento do Paraná (Fomento Paraná) encerrou o primeiro quadrimestre de 2014 contabilizando a soma de R$ 538,5 milhões em financiamentos contratados com municípios, desde janeiro de 2011, para obras de infraes-trutura e equipamentos urbanos pelo Sistema de Financia-mento aos Municípios, Paraná Juro Zero – Máquinas e equi-pamentos e pela nova linha FGTS Pró-Transporte.

Os pequenos municípios, com população inferior a 20 mil habitantes, correspondem a 42% desses contratos, que somam R$ 228 milhões no período. Na faixa entre 20 mil e 100 mil habitantes, os contratos somam R$ 165 milhões. Outros R$ 144 milhões foram contratados por municípios com mais de 100 mil habitantes.

Incentivar e facilitar o acesso ao crédito para o auxílio ao fortalecimento da produção de man-dioca em Alagoas. Este foi o principal objetivo

da Agência de Fomen-to de Alagoas (Desen-volve) ao participar das discussões de um fórum idealizado pelo Arranjo Produtivo Local (APL) da Man-dioca no Agreste. Durante o encontro, produtores loca i s

conheceram as linhas de financiamento disponíveis pela insti-tuição e oportunidades de desenvolvimento para o setor produtivo.

No evento, o diretor de Desenvolvimento e Projetos da Desenvolve, Fabio Leão, apresentou o perfil e ações que a agência de fomento vem realizando no meio rural do estado, exemplificando as parcerias que já ocorrem por intermédio das linhas de crédito disponíveis no mercado para as necessi-dades locais, como já acontece com a cadeia do leite.

“Precisamos criar juntos soluções diferenciadas que aten-dam as necessidades do APL da Mandiocultura no Agreste e garantir a movimentação do mercado”, afirmou o diretor.

Na 7ª edição da Feira, o BRB alcançou um mon-tante neg oc ia l superior ao dos anos anteriores. Em relação ao evento do ano pas-sado, o banco teve crescimento aci-ma de 76%.

Em 2012, foram prospectados R$ 116 milhões; em 2013, este número subiu para R$ 176 milhões; e, este ano, para R$ 310 milhões. A maioria das operações destinou-se à aquisição de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas. Desta-que, também, para linhas voltadas à agricultura familiar, em que foi prospectado o valor aproximado de R$ 10 milhões.

O presidente do BRB, Paulo Evangelista, avaliou como positiva a participação do banco no evento. Ele conta que foram entregues 607 propostas ao banco e, destas, 256 foram de produtores que ainda não são clientes do BRB. “O resulta-do alcançado foi além do esperado.”

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Bandes e Findes assinam convênio para consolidar fomento aos programas setoriais

BNDES aprova R$ 2,7 bilhões para projetos de mobilidade urbana no Rio de Janeiro

Caixa avalia novas fontes definanciamento para projetos de infraestrutura

Desenvolve propõe soluções para produção de mandioca

Fomento Paraná já contratou R$ 538,5 milhões em financiamentos para municípios

BRB participa da Agrobrasília e supera o número de negócios prospectados em anos anteriores

A Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenba-hia), ao fechar as contas, se consolidou como o principal f i n a n c i a d o r d o

agronegócio do oeste baiano. Com uma estratégia agressiva de marketing durante a Bahia Farm Show, a agência duplicou sua participação em relação ao ano anterior. A instituição tornou-se praticamente o banco oficial da maior feira de tecnologia agrícola do Nordeste, respondendo por um em cada três dos negócios fechados. “Ultrapassamos a nossa meta, que era de R$ 200 milhões”, disse Vitor Lopes, presidente da instituição

Em 2014, a Desenbahia completou dez anos de participa-ção no evento. Segundo Marko Svec, gerente comercial, o resultado se deve à estratégia focada, envolvendo condições de financiamento diferenciadas; atendimento personalizado prévio, durante e pós feira; atuação local de dez gerentes; marketing intenso; além da presença dos diretores da agência.

A Agênc i a de Fomento do Estado de Pernambuco (Age-fepe) traz uma boa n o t í c i a p a r a o s empresários pernam-bucanos que traba-lham com inovação tecnológica e querem financiar projetos. A partir de agora, a agência está credenciada à Finep, por meio do programa Ino-vacred, tornando-se o único agente repassador do programa em Pernambuco.

Para o presidente da agência, Agnaldo Nunes, o Inova-cred vai incentivar o desenvolvimento de projetos no setor. “O programa é um avanço para quem trabalha com inova-ção tecnológica em Pernambuco e vai possibilitar que empresários da área criem e desenvolvam pesquisas e estu-dos tendo a garantia de que, agora, o processo para financiar os negócios ficou bem mais fácil, já que a instituição oferece toda a estrutura para dar suporte às necessidades desses empresários”.

Agefepe se torna agente repassador do Inovacred em Pernambuco

Desenbahia se destaca durante a Bahia Farm Show

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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( B N D E S ) a p r o v o u financiamento de R$ 2,7 bilhões ao município do Rio de Janeiro para melhorias na infraestru-tura de mobilidade urba-

na. Os recursos representam 88% do total a ser investido nos projetos, que compreendem o lote zero do BRT Transo-este, a Via Expressa Transolímpica, a ligação BRT Transo-límpica-BRT Transbrasil, entorno do Parque Olímpico, duplicação do Elevado das Bandeiras, Ciclovia Niemeyer, extensão da Via Expressa do Porto Maravilha e entorno do Engenhão.

O lote zero do BRT Transoeste prevê a implantação de um corredor exclusivo para ônibus na Barra da Tijuca, com 6,4 km de extensão. Serão construídas sete estações, duas pontes sobre o Canal de Marapendi e um viaduto sobre a Ave-nida Armando Lombardi.

O projeto, no qual serão investidos aproximadamente R$ 95 milhões, permitirá a integração do BRT Transoeste, que hoje liga Santa Cruz e Campo Grande ao Terminal Alvorada, na Barra, com a estação de metrô da linha 4, que está sendo construída no Jardim Oceânico, possibilitando que a cidade tenha, pela primeira vez, um transporte de passageiros de mas-sa ligando o Centro aos bairros da Barra e do Recreio.

RUMOS – 46 – Maio/Junho 2014 RUMOS – 47 – Maio/Junho 2014

A Caixa Econômica Federal avalia possibilidades para ampliar seu funding de projetos de infraestrutura, que envolve-rão este ano investimentos de R$ 32 bilhões. “Se continuar o apetite do mercado e as medidas corretas do governo, o cres-cimento de projetos (de infraestrutura) pode ser da ordem de 20% ao ano”, afirmou o vice-presidente de Governo da Cai-xa, José Carlos Medaglia Filho, no Fórum Brasil de Infraes-trutura, realizado em Brasília, no início de junho.

Segundo ele, a expectativa é de que os investimentos em infraestrutura aumentem para R$ 38 bilhões em 2015. Na sua avaliação, o crescimento dos investimentos em obras poderá contribuir para recuperar o que chamou de “gap de infraestru-tura”. O país viveu mais de duas décadas sem investimentos em infraestrutura, afirmou Medaglia. “Mas a população cresceu, adensada nas cidades, e entramos nos anos 2000 com déficit de infraestrutura, frente às exigências da população. Houve deficiência em todas as áreas de investimento”, disse.

O ritmo das obras, na sua avaliação, é desproporcional aos anseios da sociedade. “Os investimentos deveriam ser multiplicados dez ou vinte vezes para atender à necessidade (da população). Cada companhia estadual que executa proje-tos de infraestrutura precisa se aparelhar, ou não conseguire-mos dar o salto que nós queremos”, disse.

F FOMENTO

O Banco de Desen-volvimento do Espírito Santo (Bandes) e a Fede-ração das Indústrias do Espírito Santo (Findes) assinaram um novo con-vênio para consolidar a parceria entre as duas

instituições e fortalecer as ações de fomento aos programas setoriais e regionais integrados, que fazem parte do novo perfil da instituição financeira, incluído no Plano Estratégico do banco até 2016.

Por meio do convênio, o banco capixaba vai disponibili-zar acesso mais ágil e simplificado às suas linhas de crédito para os empresários da indústria associados aos sindicatos, que atuarão como agentes estruturadores dos programas setoriais. Para isso, o banco contará com um posto de atendi-mento no Centro de Apoio aos Sindicatos (CAS) da Findes, além de promover a articulação dos gerentes de relaciona-mento do Bandes com as diretorias regionais da federação, de acordo com a atuação de cada um.

O diretor-presidente do banco, Guilherme Henrique Pereira, e o presidente da federação, Marcos Guerra, assina-ram o documento durante evento que reuniu empresários, lideranças e representantes de vários sindicatos capixabas.

A Agência de Fomento do Paraná (Fomento Paraná) encerrou o primeiro quadrimestre de 2014 contabilizando a soma de R$ 538,5 milhões em financiamentos contratados com municípios, desde janeiro de 2011, para obras de infraes-trutura e equipamentos urbanos pelo Sistema de Financia-mento aos Municípios, Paraná Juro Zero – Máquinas e equi-pamentos e pela nova linha FGTS Pró-Transporte.

Os pequenos municípios, com população inferior a 20 mil habitantes, correspondem a 42% desses contratos, que somam R$ 228 milhões no período. Na faixa entre 20 mil e 100 mil habitantes, os contratos somam R$ 165 milhões. Outros R$ 144 milhões foram contratados por municípios com mais de 100 mil habitantes.

Incentivar e facilitar o acesso ao crédito para o auxílio ao fortalecimento da produção de man-dioca em Alagoas. Este foi o principal objetivo

da Agência de Fomen-to de Alagoas (Desen-volve) ao participar das discussões de um fórum idealizado pelo Arranjo Produtivo Local (APL) da Man-dioca no Agreste. Durante o encontro, produtores loca i s

conheceram as linhas de financiamento disponíveis pela insti-tuição e oportunidades de desenvolvimento para o setor produtivo.

No evento, o diretor de Desenvolvimento e Projetos da Desenvolve, Fabio Leão, apresentou o perfil e ações que a agência de fomento vem realizando no meio rural do estado, exemplificando as parcerias que já ocorrem por intermédio das linhas de crédito disponíveis no mercado para as necessi-dades locais, como já acontece com a cadeia do leite.

“Precisamos criar juntos soluções diferenciadas que aten-dam as necessidades do APL da Mandiocultura no Agreste e garantir a movimentação do mercado”, afirmou o diretor.

Na 7ª edição da Feira, o BRB alcançou um mon-tante neg oc ia l superior ao dos anos anteriores. Em relação ao evento do ano pas-sado, o banco teve crescimento aci-ma de 76%.

Em 2012, foram prospectados R$ 116 milhões; em 2013, este número subiu para R$ 176 milhões; e, este ano, para R$ 310 milhões. A maioria das operações destinou-se à aquisição de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas. Desta-que, também, para linhas voltadas à agricultura familiar, em que foi prospectado o valor aproximado de R$ 10 milhões.

O presidente do BRB, Paulo Evangelista, avaliou como positiva a participação do banco no evento. Ele conta que foram entregues 607 propostas ao banco e, destas, 256 foram de produtores que ainda não são clientes do BRB. “O resulta-do alcançado foi além do esperado.”

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BNDES aprova R$ 2,7 bilhões para projetos de mobilidade urbana no Rio de Janeiro

Caixa avalia novas fontes definanciamento para projetos de infraestrutura

Desenvolve propõe soluções para produção de mandioca

Fomento Paraná já contratou R$ 538,5 milhões em financiamentos para municípios

BRB participa da Agrobrasília e supera o número de negócios prospectados em anos anteriores

A Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenba-hia), ao fechar as contas, se consolidou como o principal f i n a n c i a d o r d o

agronegócio do oeste baiano. Com uma estratégia agressiva de marketing durante a Bahia Farm Show, a agência duplicou sua participação em relação ao ano anterior. A instituição tornou-se praticamente o banco oficial da maior feira de tecnologia agrícola do Nordeste, respondendo por um em cada três dos negócios fechados. “Ultrapassamos a nossa meta, que era de R$ 200 milhões”, disse Vitor Lopes, presidente da instituição

Em 2014, a Desenbahia completou dez anos de participa-ção no evento. Segundo Marko Svec, gerente comercial, o resultado se deve à estratégia focada, envolvendo condições de financiamento diferenciadas; atendimento personalizado prévio, durante e pós feira; atuação local de dez gerentes; marketing intenso; além da presença dos diretores da agência.

A Agênc i a de Fomento do Estado de Pernambuco (Age-fepe) traz uma boa n o t í c i a p a r a o s empresários pernam-bucanos que traba-lham com inovação tecnológica e querem financiar projetos. A partir de agora, a agência está credenciada à Finep, por meio do programa Ino-vacred, tornando-se o único agente repassador do programa em Pernambuco.

Para o presidente da agência, Agnaldo Nunes, o Inova-cred vai incentivar o desenvolvimento de projetos no setor. “O programa é um avanço para quem trabalha com inova-ção tecnológica em Pernambuco e vai possibilitar que empresários da área criem e desenvolvam pesquisas e estu-dos tendo a garantia de que, agora, o processo para financiar os negócios ficou bem mais fácil, já que a instituição oferece toda a estrutura para dar suporte às necessidades desses empresários”.

Agefepe se torna agente repassador do Inovacred em Pernambuco

Desenbahia se destaca durante a Bahia Farm Show

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Fórum do Sebrae discute estratégia em que empresas – pequenas e grandes – saem ganhando e ninguém sai perdendo

Por Ricardo Berezin

RUMOS – 48 – Maio/Junho 2014

ncadeamento produtivo pode não ser um termo com o qual nos deparamos todo dia, mas sua menção parece ter um efeito imediato entre os empresários. É a partir dele, afinal, que se estabe-lecem relações de cooperação entre pequenas e grandes companhias inseridas numa mesma

cadeia de valor. Estas relações são, por definição, de longo prazo e mutuamente benéficas. É como se Davi e Golias, em vez de brigar, dessem as mãos.

Este foi o assunto do fórum realizado pelo Serviço Brasi-leiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nos dias 21 e 22 de maio em São Paulo, que, como não poderia deixar de ser, reuniu grandes e pequenos empresários, além de especialistas e pesquisadores em gestão de negócios. Roberto Simões, presidente do conselho deliberativo nacional da entidade, foi quem abriu o ciclo de debates. “O encadeamento produtivo é um dos mecanismos mais efetivos e indispensá-veis para incrementar a competitividade da economia nacio-nal”, afirmou. “A integração entre empresas é uma tarefa desafiadora, mas a partir dela as pequenas obtêm conheci-mento e atendem à demanda das grandes, o que permite aumentar a produtividade e investir mais em inovação.”

Cadeia de valor é um conceito cunhado pelo professor norte-americano Michael Porter, também presente no even-to, por meio de vídeo, e designa todo o processo por que passa uma mercadoria, desde a aquisição de matérias-primas à produção em si, passando por sua distribuição, manutenção ou mesmo reciclagem. Nesse sentido, o encadeamento pro-dutivo é pensado em relação à empresa-âncora, que desem-penha papel de liderança no sistema, enquanto as outras atuam a montante ou a jusante dela. “Pensando no fabricante como empresa-âncora, teríamos as fornecedoras como mon-tantes, e uma vasta cadeia de companhias, ligadas ao comér-cio e ao pós-venda, por exemplo, como jusantes”, explica Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae. Como destacou durante sua fala no fórum, é a partir de uma dessas vias, pré ou pós-produção, que muitas pequenas empresas podem crescer. “Eu chego à prateleira do supermercado, não com uma marca própria, mas como parte de uma cadeia

produtiva. Para se ter uma ideia, não há um avião exportado da Embraer que não possua componentes fornecidos por uma pequena companhia.”

Para Santos, em um contexto de economias avançadas, para o qual o Brasil caminha, existe mais sofisticação na forma como as companhias se colocam na economia. “No momento vemos muitos pequenos negócios disputando no mercado de produtos e serviços padronizados. É um erro capital. Pequena disputando o mercado com grande, sem ter as vantagens da economia de escala, não sobrevive.” Por outro lado, ressalta, elas podem tanto se inserir num sistema de encadeamento produtivo, como já falado, quanto em nichos específicos, nos quais se aproveitam de uma estratégia diferenciada para se destacar. “Pegue o exemplo da pinga e da cachaça. A cachaça é artesanal, traz o nome do dono, uma pequena produção com alto valor agregado. Já a pinga é industrializada, em grande quantidade e baixo valor. Se o pequeno negócio tentar fazer pinga não vai conseguir e se a grande empresa quiser produzir cachaça não vai convencer.”

O diagnóstico é de que há muitas pequenas empresas no Brasil, que prestam uma grande contribuição à geração de empregos, mas que representam pouco em relação à massa salarial e ao PIB nacional. “Mais do que a armadilha da renda média, temos a armadilha da produtividade média, pois é por meio de seu aumento que elevamos a renda e o país se desen-volve”, disse Santos. “O que está em jogo, portanto, não são os pequenos negócios, mas a economia brasileira.”

Além da filantropia – Michael Porter, professor da Escola de Negócios de Harvard, foi um dos primeiros a formalizar o conceito de cadeia de valor e, consequentemente, é um dos principais teóricos do encadeamento produtivo. Em sua fala no fórum ele foi enfático: os pequenos negócios são vitais para o desenvolvimento de um país, mas sua integração com as grandes empresas também é fundamental. Segundo Por-ter, historicamente as grandes corporações se envolveram com a sociedade a partir da filantropia, seja via doações, seja pelo engajamento voluntário de seus funcionários. “Isso foi bom, mas devemos dar o próximo passo. Ir além da simples

RUMOS – 49 – Maio/Junho 2014

contribuição monetária ou da prevenção de danos”, afirma. “É o que chamamos de criação de valor compartilhado.”

A proposta de Porter é que as corporações se conectem com a comunidade – e também com os empreendimentos que a constituem – por meio da atividade econômica que desempenham. “Vemos milhares de exemplos no mundo em que o setor privado, através de um modelo empresarial, melhora a saúde, estimula a educação e desenvolve o meio em que atua. Ao utilizar seu próprio plano de negócios para aten-der necessidades sociais importantes, as empresas são capa-zes de dar maior escala às soluções encontradas e isso pode crescer infinitamente, ao contrário de quando se limitam a recursos destinados a doações”, diz. “Não se trata de fazer o bem, de ser um bom cidadão, mas de negócios. Essa é a mane-ira mais eficiente de se construírem pontes entre grandes e pequenos empreendimentos.”

Segundo o especialista, essa nova consciência corporativa tem se expandido. Ele usou a experiência da mexicana Arca Continental, uma das maiores engarrafadoras da Coca-Cola, como exemplo. A Arca, ao perceber que seu sucesso dependia também das tiendas, as pequenas lojas que comercializam as bebidas, decidiu trabalhar com elas, melhorando seus refrige-

radores, investindo em sua estrutura física e treinando seus funcionários. Durante o processo, as vendas de seus produtos cresceram 25% e, em menos de seis meses, o dinheiro gasto já havia sido recuperado. Assim, ao mesmo tempo que a região se desenvolveu economica-mente, graças ao crescimento comercial das tiendas, a Arca obteve lucro, o que a estimulou a manter o plano.

Grandes – Veio do gerente de desenvolvimento da área de materi-ais da Petrobras, Ronaldo Mascare-nhas Lima Martins, o relato de outra experiência positiva, dessa vez sob a perspectiva do desenvolvimento tecnológico. “A Petrobras tem uma disposição para inovar e por isso ela é o que é hoje, líder em produção em águas profundas”, disse. “Foi através de seu centro de pesquisa, com ênfase em encontrar soluções de engenharia junto com seus for-

necedores locais, que chegamos a essa posição. Não foi copi-ando ninguém.” De acordo com Martins, se no início das operações da empresa quase tudo vinha de fora, hoje mais de 80% dos contratos são firmados com parceiros nacionais.

Embora exista um requisito legal, formatado pela Agên-cia Nacional de Petróleo, para que a estatal se supra prioritari-amente do empresariado brasileiro, Martins assegura que a questão vai além de uma norma estabelecida. “Com o tempo e os resultados obtidos, ficou claro, dentro e fora da empresa, que essa estratégia não havia sido escolhida só por sermos uma estatal, por procurarmos ter uma conduta socialmente responsável de suportar a cadeia de suprimento local. Por mais que isso também seja válido, estávamos pensando no próprio negócio, pensando como empresa.”

Também presente no Fórum, o diretor de relações insti-tucionais da L’Oréal Brasil, Patrick Sabatier, falou sobre o outro lado da cadeia, o da distribuição. Ele enfatizou que a companhia surgiu há mais de 105 anos a partir do relaciona-mento entre seu fundador e salões de beleza, ou seja, antes de vender para grandes varejistas, os pequenos empreendimen-tos é que foram procurados. De acordo com o executivo, há mais de 500 mil cabeleireiros no país e, para atingir tantos

M

E

MICRO E PEQUENAS

Michael Porter, professor da universidade norte-americana de Harvard e fomulador do conceito de cadeia de valor: os pequenos negócios são vitais para o desenvolvimento de um país, mas sua integração com as grandes empresas também é fundamental.

Cooperar em vez de competir

ENCADEAMENTO PRODUTIVO

Luiz

Pra

do

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Fórum do Sebrae discute estratégia em que empresas – pequenas e grandes – saem ganhando e ninguém sai perdendo

Por Ricardo Berezin

RUMOS – 48 – Maio/Junho 2014

ncadeamento produtivo pode não ser um termo com o qual nos deparamos todo dia, mas sua menção parece ter um efeito imediato entre os empresários. É a partir dele, afinal, que se estabe-lecem relações de cooperação entre pequenas e grandes companhias inseridas numa mesma

cadeia de valor. Estas relações são, por definição, de longo prazo e mutuamente benéficas. É como se Davi e Golias, em vez de brigar, dessem as mãos.

Este foi o assunto do fórum realizado pelo Serviço Brasi-leiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nos dias 21 e 22 de maio em São Paulo, que, como não poderia deixar de ser, reuniu grandes e pequenos empresários, além de especialistas e pesquisadores em gestão de negócios. Roberto Simões, presidente do conselho deliberativo nacional da entidade, foi quem abriu o ciclo de debates. “O encadeamento produtivo é um dos mecanismos mais efetivos e indispensá-veis para incrementar a competitividade da economia nacio-nal”, afirmou. “A integração entre empresas é uma tarefa desafiadora, mas a partir dela as pequenas obtêm conheci-mento e atendem à demanda das grandes, o que permite aumentar a produtividade e investir mais em inovação.”

Cadeia de valor é um conceito cunhado pelo professor norte-americano Michael Porter, também presente no even-to, por meio de vídeo, e designa todo o processo por que passa uma mercadoria, desde a aquisição de matérias-primas à produção em si, passando por sua distribuição, manutenção ou mesmo reciclagem. Nesse sentido, o encadeamento pro-dutivo é pensado em relação à empresa-âncora, que desem-penha papel de liderança no sistema, enquanto as outras atuam a montante ou a jusante dela. “Pensando no fabricante como empresa-âncora, teríamos as fornecedoras como mon-tantes, e uma vasta cadeia de companhias, ligadas ao comér-cio e ao pós-venda, por exemplo, como jusantes”, explica Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae. Como destacou durante sua fala no fórum, é a partir de uma dessas vias, pré ou pós-produção, que muitas pequenas empresas podem crescer. “Eu chego à prateleira do supermercado, não com uma marca própria, mas como parte de uma cadeia

produtiva. Para se ter uma ideia, não há um avião exportado da Embraer que não possua componentes fornecidos por uma pequena companhia.”

Para Santos, em um contexto de economias avançadas, para o qual o Brasil caminha, existe mais sofisticação na forma como as companhias se colocam na economia. “No momento vemos muitos pequenos negócios disputando no mercado de produtos e serviços padronizados. É um erro capital. Pequena disputando o mercado com grande, sem ter as vantagens da economia de escala, não sobrevive.” Por outro lado, ressalta, elas podem tanto se inserir num sistema de encadeamento produtivo, como já falado, quanto em nichos específicos, nos quais se aproveitam de uma estratégia diferenciada para se destacar. “Pegue o exemplo da pinga e da cachaça. A cachaça é artesanal, traz o nome do dono, uma pequena produção com alto valor agregado. Já a pinga é industrializada, em grande quantidade e baixo valor. Se o pequeno negócio tentar fazer pinga não vai conseguir e se a grande empresa quiser produzir cachaça não vai convencer.”

O diagnóstico é de que há muitas pequenas empresas no Brasil, que prestam uma grande contribuição à geração de empregos, mas que representam pouco em relação à massa salarial e ao PIB nacional. “Mais do que a armadilha da renda média, temos a armadilha da produtividade média, pois é por meio de seu aumento que elevamos a renda e o país se desen-volve”, disse Santos. “O que está em jogo, portanto, não são os pequenos negócios, mas a economia brasileira.”

Além da filantropia – Michael Porter, professor da Escola de Negócios de Harvard, foi um dos primeiros a formalizar o conceito de cadeia de valor e, consequentemente, é um dos principais teóricos do encadeamento produtivo. Em sua fala no fórum ele foi enfático: os pequenos negócios são vitais para o desenvolvimento de um país, mas sua integração com as grandes empresas também é fundamental. Segundo Por-ter, historicamente as grandes corporações se envolveram com a sociedade a partir da filantropia, seja via doações, seja pelo engajamento voluntário de seus funcionários. “Isso foi bom, mas devemos dar o próximo passo. Ir além da simples

RUMOS – 49 – Maio/Junho 2014

contribuição monetária ou da prevenção de danos”, afirma. “É o que chamamos de criação de valor compartilhado.”

A proposta de Porter é que as corporações se conectem com a comunidade – e também com os empreendimentos que a constituem – por meio da atividade econômica que desempenham. “Vemos milhares de exemplos no mundo em que o setor privado, através de um modelo empresarial, melhora a saúde, estimula a educação e desenvolve o meio em que atua. Ao utilizar seu próprio plano de negócios para aten-der necessidades sociais importantes, as empresas são capa-zes de dar maior escala às soluções encontradas e isso pode crescer infinitamente, ao contrário de quando se limitam a recursos destinados a doações”, diz. “Não se trata de fazer o bem, de ser um bom cidadão, mas de negócios. Essa é a mane-ira mais eficiente de se construírem pontes entre grandes e pequenos empreendimentos.”

Segundo o especialista, essa nova consciência corporativa tem se expandido. Ele usou a experiência da mexicana Arca Continental, uma das maiores engarrafadoras da Coca-Cola, como exemplo. A Arca, ao perceber que seu sucesso dependia também das tiendas, as pequenas lojas que comercializam as bebidas, decidiu trabalhar com elas, melhorando seus refrige-

radores, investindo em sua estrutura física e treinando seus funcionários. Durante o processo, as vendas de seus produtos cresceram 25% e, em menos de seis meses, o dinheiro gasto já havia sido recuperado. Assim, ao mesmo tempo que a região se desenvolveu economica-mente, graças ao crescimento comercial das tiendas, a Arca obteve lucro, o que a estimulou a manter o plano.

Grandes – Veio do gerente de desenvolvimento da área de materi-ais da Petrobras, Ronaldo Mascare-nhas Lima Martins, o relato de outra experiência positiva, dessa vez sob a perspectiva do desenvolvimento tecnológico. “A Petrobras tem uma disposição para inovar e por isso ela é o que é hoje, líder em produção em águas profundas”, disse. “Foi através de seu centro de pesquisa, com ênfase em encontrar soluções de engenharia junto com seus for-

necedores locais, que chegamos a essa posição. Não foi copi-ando ninguém.” De acordo com Martins, se no início das operações da empresa quase tudo vinha de fora, hoje mais de 80% dos contratos são firmados com parceiros nacionais.

Embora exista um requisito legal, formatado pela Agên-cia Nacional de Petróleo, para que a estatal se supra prioritari-amente do empresariado brasileiro, Martins assegura que a questão vai além de uma norma estabelecida. “Com o tempo e os resultados obtidos, ficou claro, dentro e fora da empresa, que essa estratégia não havia sido escolhida só por sermos uma estatal, por procurarmos ter uma conduta socialmente responsável de suportar a cadeia de suprimento local. Por mais que isso também seja válido, estávamos pensando no próprio negócio, pensando como empresa.”

Também presente no Fórum, o diretor de relações insti-tucionais da L’Oréal Brasil, Patrick Sabatier, falou sobre o outro lado da cadeia, o da distribuição. Ele enfatizou que a companhia surgiu há mais de 105 anos a partir do relaciona-mento entre seu fundador e salões de beleza, ou seja, antes de vender para grandes varejistas, os pequenos empreendimen-tos é que foram procurados. De acordo com o executivo, há mais de 500 mil cabeleireiros no país e, para atingir tantos

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MICRO E PEQUENAS

Michael Porter, professor da universidade norte-americana de Harvard e fomulador do conceito de cadeia de valor: os pequenos negócios são vitais para o desenvolvimento de um país, mas sua integração com as grandes empresas também é fundamental.

Cooperar em vez de competir

ENCADEAMENTO PRODUTIVO

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canais, um projeto foi criado, cujo objetivo é a formação de microdistribuidores dentro de comunidades, que possam comercializar os produtos em lugares aonde eles não chegam. “Assim, criamos uma cadeia de valor entre a empresa, micro- distribuidores e os milhares de salões de beleza que não têm acesso à informação ou a produtos de qualidade.”

Pequenas – Se por um lado, com o encadeamento produti-vo, as empresas grandes conseguem aumentar a qualidade dos produtos e reduzir os custos de produção, por outro, as pequenas avançam em questões fundamentais como produti-

vidade, gestão e faturamento. É o “ganha-ganha”, conforme destacou o diretor de administração e finanças do Sebrae, José Cláudio dos Santos, ao apresentar os exemplos de pequenos negócios que também tiveram seu espaço no fórum, representados por empresários que, se antes lutavam pela sobrevida de suas companhias, hoje, em situação confor-tável, têm objetivos bem mais ambiciosos.

As dificuldades da CPF Parafusos, por exemplo, começa-ram em 2007, quando a Petrobras, uma de suas principais clientes, passou a encomendar os suprimentos através de um site de e-commerce próprio. “Com isso passamos a competir com o Brasil todo, inclusive com nossos próprios fornecedo-res”, disse o fundador da empresa, Marcelo Yeiri Marinho. “Por um problema de competitividade, nós sumimos da lista de compras da Petrobras e ela, ao perceber isso, nos sugeriu o programa do Sebrae. Entramos com o intuito de diversificar nossa produção ou até mudar de ramo se necessário.”

Marinho recebeu consultoria, teve acesso a cursos e con-seguiu auxílio com seu plano de alavancagem tecnológica. A empresa precisou alterar tanto a gestão quanto a produção, mas o esforço valeu a pena: se a ideia era de apenas retomar a presença no mercado de Sergipe, agora 80% das vendas são para fora do estado e os clientes já passam de 300. “Do início do projeto, em 2007, até o ano passado, nossa lucratividade aumentou 400%”, disse Marinho, acrescentando que até recebeu uma proposta de aquisição de um de seus fornecedo-res. “Mas é claro que não aceitei.”

A história da Soma Usinagem, fabricante de componentes mecânicos para processos de usinagem, é parecida. Instalada em Conselheiro Lafaiete (MG), ela também é uma empresa familiar com 30 funcionários, e passou por uma crise, em 2008, perdendo boa parte de seus fornecedores. Foi convidada pela Gerdau para o programa de encadeamento em 2011. Segundo seu fundador, Renato Henriques Serafim, a empresa sofreu uma reviravolta e deixou de ser uma pequena fornecedora da Gerdau para se tornar grande, com mais de 1.600 itens de contrato. Além disso, reduziu sua dependência da siderúrgica, que, de 100%, passou a responder por 60% de suas vendas. “Reduzimos os custos gerais em 40%, aumentamos nossa receita e a pontualidade da entrega, que está próxima da perfei-ção. A empresa ganhou muito, nossos funcionários também.”

Já a Pred Engenharia, empresa de manutenção industrial de Vitória (ES), não enfrentava um momento complicado quando foi convidada pela Vale para o programa do Sebrae no final de 2011, mas, ainda assim, ele foi um “divisor de águas”, segundo o empresário Ozório Rezende Correia Filho. “A gente fazia bem a nossa rotina, mas depois passa-mos a questioná-la. Você acha que está tudo normal e acaba se limitando a um patamar muito pequeno”, disse.

Correia Filho enfatizou que a experiência o ajudou a entender o negócio em vez de apenas trabalhar nele, o que contribuiu para que a Pred aumentasse seu faturamento em 73% entre 2012 e 2013. “Hoje temos parcerias estratégicas com a Motorola e a SAP, por exemplo. Nós nos conscientiza-mos de que, como não vamos competir com corporações desse tamanho, o melhor e que fiquemos ao lado delas.”

RUMOS – 50 – Maio/Junho 2014 RUMOS – 51 – Maio/Junho 2014

M MICRO E PEQUENAS

Logo no início do Fórum, o Sabrae apresentou números a fim de comprovar que tanto as grandes empresas como as pequenas se beneficiam de uma relação de colaboração. Os dados foram obtidos através de uma pesquisa feita com quase dois mil empresários que participaram do programa de enca-deamento produtivo, conduzida entre os dias 18 e 21 de março deste ano. A questão básica era: o que mudou após as práticas de colaboração com outras empresas de diferentes portes? As respostas estão agrupadas em pequenas e grande empresas.

Todos ganham

71,4% Aumentaram a qualidade de seus produtos

65,8% O faturamento bruto cresceu

48%Aumento na lucratividade

47,1% Elevou o número de pessoas ocupadas

90%Qualidade dos produtos ou serviços aumentou

80%Relacionamento com pequenas empresas melhorou.

Grandes empresas

60% Aumentou a participação das micro e pequenas empresas no volume de vendas

80% O relacionamento com o consumidorfinal – ou seja, cliente da pequena – avançou.

40%Cresceu o faturamento bruto como um todo

Pequenos empresários

ENCADEAMENTO PRODUTIVO

m fundo de segundo piso para as Sociedades Garantidoras de Crédito (SGCs), que dê suporte

financeiro para as garantidoras reali-zarem operações com mais seguran-ça, aumentando os limites das garan-tias concedidas aos pequenos negóci-os. Este foi o projeto apresentado pelo Banco Nacional do Desenvolvi-m e n t o E c o n ô m i c o e S o c i a l (BNDES) durante o IV Fórum Brasi-leiro de Garantias de Crédito para MPE. O modelo está em fase de análise e foi bem recebido pelos parti-cipantes do evento, promovido pelo Sebrae, que aconteceu no início de junho em Foz do Iguaçu (PR).

A proposta de modelo desse suporte financeiro prevê quatro fases: habilitação (análise das garantidoras), processo de contratação (na qual a garantidora contrata o Fundo Garantidor de Investimen-tos do BNDES – FGI), pagamento do Encargo por Con-cessão de Garantia (ECG) – que é o custo para utilização do FGI –, e, por fim, o processo da honra e da recuperação, em que há a verificação das garantias.

“Com a parceria do Sebrae, estamos discutindo e anali-sando esse modelo, que, em breve, deve ser aprovado e disponibilizado às SGCs”, afirmou Alex Costa, do Depar-tamento do Instrumento de Garantias do BNDES.

Para Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae, a apresentação de um modelo de contragarantia para as SGCs, por parte do BNDES, é o reflexo do avanço do sistema. “No passado, no Fórum no Rio de Janeiro, nós não tínhamos essa perspectiva. Agora, temos a proposta de passo a passo e as instruções de adesão. Veja o avanço e como isso é importante”, disse.

Segundo o diretor, as garantidoras se consolidarão como cooperativas financeiras e já apresentam segurança jurídica para uma regulamentação do Banco Central. A expectativa é que o anúncio formal do marco regulatório das SGC seja feito no Fórum Banco Central de Inclusão Financeira, programado para novembro, em Florianópolis.

Fórum – Realizando sua 4ª edição em 2014, o Fórum é um evento que tem reunido dirigentes e representantes de instituições que estão preocupadas em definir estratégias e buscar soluções para apoiar as micro e pequenas empresas

a serem cada vez mais competitivas. O encontro reuniu mais de 200 participantes, entre autoridades públicas, agen-tes do sistema financeiro, lideranças empresariais, dirigen-tes de SGC e especialistas em serviços financeiros do Bra-sil, América Latina e Europa. Representantes de seis países apresentaram fatores de sucesso e lições de modelos de sistemas de garantias no mundo.

Em um dos painéis do evento, o Sebrae apresentou o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), em que a entidade se dispõe a ser avalista ou fiador na hora de o pequeno negócio pedir empréstimo ou financiamento. Segundo o gerente de Acesso a Mercados e Serviços Finan-ceiros da instituição, Paulo Alvim, as operações contrata-das com o apoio do Fampe totalizaram cerca de R$ 9,4 bilhões em financiamentos e R$ 6,9 bilhões em aval. O BNDES, por sua vez, mostrou os detalhes do Fundo Garantidor de Investimento (FGI); e o Banco do Brasil, o Fundo de Garantia de Operações (FGO).

Para muitos dos representantes de garantidoras brasilei-ras presentes ao evento, a questão da credibilidade é o gran-de desafio das SGCs. Por isso, a necessidade de regulação por parte do Banco Central e de uma contragarantia gover-namental foram citadas como meios para que essas organi-zações componham, de fato, o sistema financeiro brasileiro.

É necessário que haja melhoria das operações, investi-mento em tecnologia da informação e profissionalização, bem como aperfeiçoamento e automatização dos proces-sos envolvendo as SGCs, sempre com o cuidado de não encarecer as transações.

BNDES apresenta fundo de segundo piso para SGCs

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Alex Costa, do Departamento do Instrumento de Garantias do BNDES, afirmou que modelo deve ser aprovado e disponibilizado em breve

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canais, um projeto foi criado, cujo objetivo é a formação de microdistribuidores dentro de comunidades, que possam comercializar os produtos em lugares aonde eles não chegam. “Assim, criamos uma cadeia de valor entre a empresa, micro- distribuidores e os milhares de salões de beleza que não têm acesso à informação ou a produtos de qualidade.”

Pequenas – Se por um lado, com o encadeamento produti-vo, as empresas grandes conseguem aumentar a qualidade dos produtos e reduzir os custos de produção, por outro, as pequenas avançam em questões fundamentais como produti-

vidade, gestão e faturamento. É o “ganha-ganha”, conforme destacou o diretor de administração e finanças do Sebrae, José Cláudio dos Santos, ao apresentar os exemplos de pequenos negócios que também tiveram seu espaço no fórum, representados por empresários que, se antes lutavam pela sobrevida de suas companhias, hoje, em situação confor-tável, têm objetivos bem mais ambiciosos.

As dificuldades da CPF Parafusos, por exemplo, começa-ram em 2007, quando a Petrobras, uma de suas principais clientes, passou a encomendar os suprimentos através de um site de e-commerce próprio. “Com isso passamos a competir com o Brasil todo, inclusive com nossos próprios fornecedo-res”, disse o fundador da empresa, Marcelo Yeiri Marinho. “Por um problema de competitividade, nós sumimos da lista de compras da Petrobras e ela, ao perceber isso, nos sugeriu o programa do Sebrae. Entramos com o intuito de diversificar nossa produção ou até mudar de ramo se necessário.”

Marinho recebeu consultoria, teve acesso a cursos e con-seguiu auxílio com seu plano de alavancagem tecnológica. A empresa precisou alterar tanto a gestão quanto a produção, mas o esforço valeu a pena: se a ideia era de apenas retomar a presença no mercado de Sergipe, agora 80% das vendas são para fora do estado e os clientes já passam de 300. “Do início do projeto, em 2007, até o ano passado, nossa lucratividade aumentou 400%”, disse Marinho, acrescentando que até recebeu uma proposta de aquisição de um de seus fornecedo-res. “Mas é claro que não aceitei.”

A história da Soma Usinagem, fabricante de componentes mecânicos para processos de usinagem, é parecida. Instalada em Conselheiro Lafaiete (MG), ela também é uma empresa familiar com 30 funcionários, e passou por uma crise, em 2008, perdendo boa parte de seus fornecedores. Foi convidada pela Gerdau para o programa de encadeamento em 2011. Segundo seu fundador, Renato Henriques Serafim, a empresa sofreu uma reviravolta e deixou de ser uma pequena fornecedora da Gerdau para se tornar grande, com mais de 1.600 itens de contrato. Além disso, reduziu sua dependência da siderúrgica, que, de 100%, passou a responder por 60% de suas vendas. “Reduzimos os custos gerais em 40%, aumentamos nossa receita e a pontualidade da entrega, que está próxima da perfei-ção. A empresa ganhou muito, nossos funcionários também.”

Já a Pred Engenharia, empresa de manutenção industrial de Vitória (ES), não enfrentava um momento complicado quando foi convidada pela Vale para o programa do Sebrae no final de 2011, mas, ainda assim, ele foi um “divisor de águas”, segundo o empresário Ozório Rezende Correia Filho. “A gente fazia bem a nossa rotina, mas depois passa-mos a questioná-la. Você acha que está tudo normal e acaba se limitando a um patamar muito pequeno”, disse.

Correia Filho enfatizou que a experiência o ajudou a entender o negócio em vez de apenas trabalhar nele, o que contribuiu para que a Pred aumentasse seu faturamento em 73% entre 2012 e 2013. “Hoje temos parcerias estratégicas com a Motorola e a SAP, por exemplo. Nós nos conscientiza-mos de que, como não vamos competir com corporações desse tamanho, o melhor e que fiquemos ao lado delas.”

RUMOS – 50 – Maio/Junho 2014 RUMOS – 51 – Maio/Junho 2014

M MICRO E PEQUENAS

Logo no início do Fórum, o Sabrae apresentou números a fim de comprovar que tanto as grandes empresas como as pequenas se beneficiam de uma relação de colaboração. Os dados foram obtidos através de uma pesquisa feita com quase dois mil empresários que participaram do programa de enca-deamento produtivo, conduzida entre os dias 18 e 21 de março deste ano. A questão básica era: o que mudou após as práticas de colaboração com outras empresas de diferentes portes? As respostas estão agrupadas em pequenas e grande empresas.

Todos ganham

71,4% Aumentaram a qualidade de seus produtos

65,8% O faturamento bruto cresceu

48%Aumento na lucratividade

47,1% Elevou o número de pessoas ocupadas

90%Qualidade dos produtos ou serviços aumentou

80%Relacionamento com pequenas empresas melhorou.

Grandes empresas

60% Aumentou a participação das micro e pequenas empresas no volume de vendas

80% O relacionamento com o consumidorfinal – ou seja, cliente da pequena – avançou.

40%Cresceu o faturamento bruto como um todo

Pequenos empresários

ENCADEAMENTO PRODUTIVO

m fundo de segundo piso para as Sociedades Garantidoras de Crédito (SGCs), que dê suporte

financeiro para as garantidoras reali-zarem operações com mais seguran-ça, aumentando os limites das garan-tias concedidas aos pequenos negóci-os. Este foi o projeto apresentado pelo Banco Nacional do Desenvolvi-m e n t o E c o n ô m i c o e S o c i a l (BNDES) durante o IV Fórum Brasi-leiro de Garantias de Crédito para MPE. O modelo está em fase de análise e foi bem recebido pelos parti-cipantes do evento, promovido pelo Sebrae, que aconteceu no início de junho em Foz do Iguaçu (PR).

A proposta de modelo desse suporte financeiro prevê quatro fases: habilitação (análise das garantidoras), processo de contratação (na qual a garantidora contrata o Fundo Garantidor de Investimen-tos do BNDES – FGI), pagamento do Encargo por Con-cessão de Garantia (ECG) – que é o custo para utilização do FGI –, e, por fim, o processo da honra e da recuperação, em que há a verificação das garantias.

“Com a parceria do Sebrae, estamos discutindo e anali-sando esse modelo, que, em breve, deve ser aprovado e disponibilizado às SGCs”, afirmou Alex Costa, do Depar-tamento do Instrumento de Garantias do BNDES.

Para Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae, a apresentação de um modelo de contragarantia para as SGCs, por parte do BNDES, é o reflexo do avanço do sistema. “No passado, no Fórum no Rio de Janeiro, nós não tínhamos essa perspectiva. Agora, temos a proposta de passo a passo e as instruções de adesão. Veja o avanço e como isso é importante”, disse.

Segundo o diretor, as garantidoras se consolidarão como cooperativas financeiras e já apresentam segurança jurídica para uma regulamentação do Banco Central. A expectativa é que o anúncio formal do marco regulatório das SGC seja feito no Fórum Banco Central de Inclusão Financeira, programado para novembro, em Florianópolis.

Fórum – Realizando sua 4ª edição em 2014, o Fórum é um evento que tem reunido dirigentes e representantes de instituições que estão preocupadas em definir estratégias e buscar soluções para apoiar as micro e pequenas empresas

a serem cada vez mais competitivas. O encontro reuniu mais de 200 participantes, entre autoridades públicas, agen-tes do sistema financeiro, lideranças empresariais, dirigen-tes de SGC e especialistas em serviços financeiros do Bra-sil, América Latina e Europa. Representantes de seis países apresentaram fatores de sucesso e lições de modelos de sistemas de garantias no mundo.

Em um dos painéis do evento, o Sebrae apresentou o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), em que a entidade se dispõe a ser avalista ou fiador na hora de o pequeno negócio pedir empréstimo ou financiamento. Segundo o gerente de Acesso a Mercados e Serviços Finan-ceiros da instituição, Paulo Alvim, as operações contrata-das com o apoio do Fampe totalizaram cerca de R$ 9,4 bilhões em financiamentos e R$ 6,9 bilhões em aval. O BNDES, por sua vez, mostrou os detalhes do Fundo Garantidor de Investimento (FGI); e o Banco do Brasil, o Fundo de Garantia de Operações (FGO).

Para muitos dos representantes de garantidoras brasilei-ras presentes ao evento, a questão da credibilidade é o gran-de desafio das SGCs. Por isso, a necessidade de regulação por parte do Banco Central e de uma contragarantia gover-namental foram citadas como meios para que essas organi-zações componham, de fato, o sistema financeiro brasileiro.

É necessário que haja melhoria das operações, investi-mento em tecnologia da informação e profissionalização, bem como aperfeiçoamento e automatização dos proces-sos envolvendo as SGCs, sempre com o cuidado de não encarecer as transações.

BNDES apresenta fundo de segundo piso para SGCs

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Alex Costa, do Departamento do Instrumento de Garantias do BNDES, afirmou que modelo deve ser aprovado e disponibilizado em breve

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RUMOS – 53 –Maio/Junho 2014

uando chegou ao país para lançar seu mais recente livro, o sociólo-go italiano Domenico de Masi,

pensador influente e criador do celebra-do (e controverso) conceito do “ócio cri-ativo”, teve que responder continua-mente, entrevista após entrevista, a uma mesma questão: “Por que o Brasil?”

É que em sua nova obra, O futuro che-gou: modelos de vida para uma sociedade desori-entada, de Masi afirma que o país tem con-dições de fornecer ao mundo um novo modelo social. Após o que ele enxerga como declínio dos modelos europeu e norte-americano, o Brasil pode ser um farol que indique para o mundo um novo modo possível de viver.

Segundo o sociólogo, mesmo com o progressivo aumento de países demo-cráticos e a difusão de informação e edu-cação, o mundo se sente preso entre desorientação e medo. Aguarda vento favorável, mas não sabe para onde ir. Para tentar iluminar os caminhos, ele faz uma uma reflexão sobre todos os modelos socioeconômicos que já foram testados pela humanidade no decorrer de sua história.

Assim, além de analisar a estrutura de países como Brasil, Índia, China e Japão, o autor perpassa pelos sistemas que mais marcaram a história social do mundo, os modelos católico, hebraico, muçulmano, protestante, clássico, iluminista, liberal, capitalista, socialista, comunista, até nosso atual modelo pós-industrial. O objetivo é extrair o melhor de cada um deles para se construir um modelo de vida global inédito, que seja finalmente adequado à sociedade pós-industrial.

De Masi sustenta que durante 450 anos o Brasil foi pressio-nado a copiar o modelo europeu; há 50 anos tem copiado o dos Estados Unidos. Agora que os EUA e a Europa estão em pro-funda crise, o Brasil está sozinho consigo mesmo e é obrigado a desenvolver seu próprio modelo, que pode ser valioso para o mundo inteiro. E qual é o cerne do nosso modelo?

Para o sociólogo, o segredo está em uma série de aspectos positivos que, mesmo com as distorções existentes na sociedade

O futuro chegou – e ele se chama Brasil

L LIVROS

brasileira (como a desigualdade e a cor-rupção), transformam o modelo brasi-leiro em algo muito bem-sucedido: o sincretismo, a cordialidade, a sensuali-dade sem o senso de culpa, a receptivi-dade, a amizade, a antropofagia cultural, a postura positiva em relação à vida, a aversão à guerra, entre outros.

Em um âmbito ainda mais profun-do, de Masi defende que no país há um conceito já bastante enraizado, com que o mundo precisará conviver cada vez mais: a miscigenação. “Está aconte-cendo no mundo a mais imponente mis-tura racial de todos os tempos, determi-nada em nível físico pelas migrações e, em nível cultural, pela mídia e pela internet. Todo o mundo está virando mestiço, mas apenas o Brasil já experi-mentou há tanto tempo e tão a fundo a miscigenação”, explicou em entrevista a um jornal brasileiro, citando os inte-lectuais que Sérgio Buarque de Hollan-da classificoude inventores do Brasil (“de Joaquim Nabuco a Euclides da Cunha, de Manoel Bomfim a Paulo Pra-do, de Gilberto Freire a Celso Furta-do”), que partiram justamente da mis-

cigenação em seu esforço de revelar o Brasil para os brasileiros.Na obra, o sociólogo defende as conquistas do país nas últi-

mas três décadas, especialmente nos anos dos governos de Fer-nando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva.

“O Brasil democrático de hoje demonstra que o seu futuro chegou, e não só pelo fato de ter um alto percentual de popula-ção jovem, mas também porque é uma das poucas democracias do planeta cujo PIB cresce há trinta anos, cujas distâncias sociais diminuem, a qualidade de vida melhora e a alternância no poder é assegurada por eleições democráticas regulares. É o único grande país que não trava guerras com nenhum outro nem quer dominar nenhuma nação. É a única economia na qual, por oito anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redis-tribuí-la”, afirma, em um dos trechos destacados do livro. A Rumos recomenda.

Em novo livro, sociólogo italiano Domenico de Masi, um dos mais influentes pensadores da atualidade, afirma que o Brasil pode contribuir para um novo modelo de vida em sociedade

Q

RUMOS – 52 – Maio/Junho 2014

O jornalista americano George Packer conta a história das últimas três décadas dos Estados Unidos e retrata a imagem de um país em crise. A partir de personagens anônimos e famosos, o escritor afirma que mudanças importantes ocorridas no espaço de uma geração criaram possibilidades antes inimagináveis de ascensão soci-al, e uma liberdade sem precedentes (nos costumes, iniciativa, vida priva-da), mas também conduziram o siste-ma político à beira da falência e deixa-ram legiões de cidadãos à deriva.

Nesta viagem à “nova América”, o leitor encontrará figuras como Danny e Ronale Hertzell, que largam a escola para se casar e a quem a “terra das oportunidades” oferece subem-pregos no Walmart, habitação num estacionamento de trailers e o comple-to afastamento de familiares e amigos.

Vencedora do National Book Award, um dos mais importantes prê-mios literários dos Estados Unidos, a obra retrata um superpoder ameaça-do de perder sua essência, com insti-

Uma nação em crise

tuições que não mais funci-onam e pessoas comuns às quais não resta nada senão improvisar esquemas pró-prios de salvação e sucesso.

Desagregação – por dentro de uma Nova AméricaGeorge PackerCompanhia das Letras, 488p., 2014

Editado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), por ocasião do XXVI Fórum Nacional, o livro faz parte da coletânea “Cadernos Fórum Nacional” e conta com ensaios do consultor econômico Raul Velloso, do professor Claudio de Moura Cas-tro, do ministro Aloizio Mercadante e do próprio organizador, o econono-mista João Paulo dos Reis Velloso.

Os textos abordam a necessida-de de reformas, em diferentes áreas, para que o país siga avançando no médio e longo prazo. No prefácio, Reis Vellosos destaca que a agenda de reformas tem sido negligenciada e que ela é indispensável para que “o Brasil deixe de ser o Prometeu Acor-rentado, passe a crescer a uma taxa razoável e entre na rota de país desen-volvido”.

O livro defende, desse modo, as reformas Fiscal e da Educação. Advo-ga, ainda, por uma revolução que se dê pela emergência de uma sociedade ativa e moderna; a modernização do Sistema de Partidos e o Congresso

Reformas na agenda

Brasil: o país das reformasJoão Paulo dos Reis VellosoInae, 96p., 2014

Nacional; e uma visão moderna de governo, com um Estado Inteli-gente e maior capacidade de governar.

Para estimular o debate sobre o desenvolvimento brasileiro na pers-pectiva dos pequenos negócios, o Sebrae lançou o sexto volume da coletânea Pequenos Negócios – Desafios e Perspectivas, sob a coor-denação do seu diretor-técnico Car-los Alberto dos Santos. São aborda-gens plurais, que, para além de seu público direto, pretendem contribuir para ampliar a literatura e o debate na universidade brasileira.

A publicação reúne 22 artigos de 37 especialistas em encadeamento produtivo e cadeias de valor de insti-tuições de apoio e da iniciativa priva-da. O debate conceitual, vários casos de sucesso, os desafios setoriais – na indústria, comércio, serviços e agro-negócios – e abordagens comple-mentares ao tema vão possibilitar ao leitor uma visão ampliada das expe-riências que vêm se desenvolvendo no Brasil, com foco na maior compe-titividade das pequenas e grandes empresas.

Os outros volumes da Coletânea

Pequenos Negócios

são, respectivamente, “Pro-g r amas Nac iona i s do Sebrae”, “Desenvolvimen-to Sustentável”, “Inova-ção”, “Educação Empre-endedora” e “Serviços Financeiros”.

Encadeamento produtivoCarlos Alberto dos Santos (coord.)Sebrae, 388p, 2014.

O Centro da Memória da Eletri-cidade no Brasil acompanha as trans-formações no setor de energia elétri-ca, promovendo a preservação da memória e evidenciando a sua impor-tância para a história contemporânea do país. O trabalho de pesquisa mais recente dá luz às regiões Centro-Oeste e Norte e gerou a obra O rio Tocantins no olhar dos viajantes. A publicação resgata o desenvolvi-mento dos quatro estados que o rio atravessa – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará – e os esforços despendidos na construção das atu-ais sete hidrelétricas, com 12 mil megawatts instalados.

Dividida em oito capítulos, a obra conta com o olhar de diferentes personagens que por ali passaram, além de registros iconográficos e documentos de época, em um mergu-lho entre os anos de 1500 até 2013. Num dos relatos, o médico Júlio Paternostro, em 1930, classificou o espaço em regiões, de acordo com cri-térios econômicos.

Às margens do rio

O livro coloca em pers-pectiva as interferências humanas no vale de um rio e constitui, com isso, um exce-lente exercício para com-preender o mundo no qual nos movemos.

O rio Tocantins no olhar dos viajantes: paisagem, território e energia elétricaMemória da Eletricidade, 436p., 2013

O futuro chegou - modelos de vida para uma socieda-de desorientadaDomenico de MasiCasa da Palavra, 768p., 2014

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RUMOS – 53 –Maio/Junho 2014

uando chegou ao país para lançar seu mais recente livro, o sociólo-go italiano Domenico de Masi,

pensador influente e criador do celebra-do (e controverso) conceito do “ócio cri-ativo”, teve que responder continua-mente, entrevista após entrevista, a uma mesma questão: “Por que o Brasil?”

É que em sua nova obra, O futuro che-gou: modelos de vida para uma sociedade desori-entada, de Masi afirma que o país tem con-dições de fornecer ao mundo um novo modelo social. Após o que ele enxerga como declínio dos modelos europeu e norte-americano, o Brasil pode ser um farol que indique para o mundo um novo modo possível de viver.

Segundo o sociólogo, mesmo com o progressivo aumento de países demo-cráticos e a difusão de informação e edu-cação, o mundo se sente preso entre desorientação e medo. Aguarda vento favorável, mas não sabe para onde ir. Para tentar iluminar os caminhos, ele faz uma uma reflexão sobre todos os modelos socioeconômicos que já foram testados pela humanidade no decorrer de sua história.

Assim, além de analisar a estrutura de países como Brasil, Índia, China e Japão, o autor perpassa pelos sistemas que mais marcaram a história social do mundo, os modelos católico, hebraico, muçulmano, protestante, clássico, iluminista, liberal, capitalista, socialista, comunista, até nosso atual modelo pós-industrial. O objetivo é extrair o melhor de cada um deles para se construir um modelo de vida global inédito, que seja finalmente adequado à sociedade pós-industrial.

De Masi sustenta que durante 450 anos o Brasil foi pressio-nado a copiar o modelo europeu; há 50 anos tem copiado o dos Estados Unidos. Agora que os EUA e a Europa estão em pro-funda crise, o Brasil está sozinho consigo mesmo e é obrigado a desenvolver seu próprio modelo, que pode ser valioso para o mundo inteiro. E qual é o cerne do nosso modelo?

Para o sociólogo, o segredo está em uma série de aspectos positivos que, mesmo com as distorções existentes na sociedade

O futuro chegou – e ele se chama Brasil

L LIVROS

brasileira (como a desigualdade e a cor-rupção), transformam o modelo brasi-leiro em algo muito bem-sucedido: o sincretismo, a cordialidade, a sensuali-dade sem o senso de culpa, a receptivi-dade, a amizade, a antropofagia cultural, a postura positiva em relação à vida, a aversão à guerra, entre outros.

Em um âmbito ainda mais profun-do, de Masi defende que no país há um conceito já bastante enraizado, com que o mundo precisará conviver cada vez mais: a miscigenação. “Está aconte-cendo no mundo a mais imponente mis-tura racial de todos os tempos, determi-nada em nível físico pelas migrações e, em nível cultural, pela mídia e pela internet. Todo o mundo está virando mestiço, mas apenas o Brasil já experi-mentou há tanto tempo e tão a fundo a miscigenação”, explicou em entrevista a um jornal brasileiro, citando os inte-lectuais que Sérgio Buarque de Hollan-da classificoude inventores do Brasil (“de Joaquim Nabuco a Euclides da Cunha, de Manoel Bomfim a Paulo Pra-do, de Gilberto Freire a Celso Furta-do”), que partiram justamente da mis-

cigenação em seu esforço de revelar o Brasil para os brasileiros.Na obra, o sociólogo defende as conquistas do país nas últi-

mas três décadas, especialmente nos anos dos governos de Fer-nando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva.

“O Brasil democrático de hoje demonstra que o seu futuro chegou, e não só pelo fato de ter um alto percentual de popula-ção jovem, mas também porque é uma das poucas democracias do planeta cujo PIB cresce há trinta anos, cujas distâncias sociais diminuem, a qualidade de vida melhora e a alternância no poder é assegurada por eleições democráticas regulares. É o único grande país que não trava guerras com nenhum outro nem quer dominar nenhuma nação. É a única economia na qual, por oito anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redis-tribuí-la”, afirma, em um dos trechos destacados do livro. A Rumos recomenda.

Em novo livro, sociólogo italiano Domenico de Masi, um dos mais influentes pensadores da atualidade, afirma que o Brasil pode contribuir para um novo modelo de vida em sociedade

Q

RUMOS – 52 – Maio/Junho 2014

O jornalista americano George Packer conta a história das últimas três décadas dos Estados Unidos e retrata a imagem de um país em crise. A partir de personagens anônimos e famosos, o escritor afirma que mudanças importantes ocorridas no espaço de uma geração criaram possibilidades antes inimagináveis de ascensão soci-al, e uma liberdade sem precedentes (nos costumes, iniciativa, vida priva-da), mas também conduziram o siste-ma político à beira da falência e deixa-ram legiões de cidadãos à deriva.

Nesta viagem à “nova América”, o leitor encontrará figuras como Danny e Ronale Hertzell, que largam a escola para se casar e a quem a “terra das oportunidades” oferece subem-pregos no Walmart, habitação num estacionamento de trailers e o comple-to afastamento de familiares e amigos.

Vencedora do National Book Award, um dos mais importantes prê-mios literários dos Estados Unidos, a obra retrata um superpoder ameaça-do de perder sua essência, com insti-

Uma nação em crise

tuições que não mais funci-onam e pessoas comuns às quais não resta nada senão improvisar esquemas pró-prios de salvação e sucesso.

Desagregação – por dentro de uma Nova AméricaGeorge PackerCompanhia das Letras, 488p., 2014

Editado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), por ocasião do XXVI Fórum Nacional, o livro faz parte da coletânea “Cadernos Fórum Nacional” e conta com ensaios do consultor econômico Raul Velloso, do professor Claudio de Moura Cas-tro, do ministro Aloizio Mercadante e do próprio organizador, o econono-mista João Paulo dos Reis Velloso.

Os textos abordam a necessida-de de reformas, em diferentes áreas, para que o país siga avançando no médio e longo prazo. No prefácio, Reis Vellosos destaca que a agenda de reformas tem sido negligenciada e que ela é indispensável para que “o Brasil deixe de ser o Prometeu Acor-rentado, passe a crescer a uma taxa razoável e entre na rota de país desen-volvido”.

O livro defende, desse modo, as reformas Fiscal e da Educação. Advo-ga, ainda, por uma revolução que se dê pela emergência de uma sociedade ativa e moderna; a modernização do Sistema de Partidos e o Congresso

Reformas na agenda

Brasil: o país das reformasJoão Paulo dos Reis VellosoInae, 96p., 2014

Nacional; e uma visão moderna de governo, com um Estado Inteli-gente e maior capacidade de governar.

Para estimular o debate sobre o desenvolvimento brasileiro na pers-pectiva dos pequenos negócios, o Sebrae lançou o sexto volume da coletânea Pequenos Negócios – Desafios e Perspectivas, sob a coor-denação do seu diretor-técnico Car-los Alberto dos Santos. São aborda-gens plurais, que, para além de seu público direto, pretendem contribuir para ampliar a literatura e o debate na universidade brasileira.

A publicação reúne 22 artigos de 37 especialistas em encadeamento produtivo e cadeias de valor de insti-tuições de apoio e da iniciativa priva-da. O debate conceitual, vários casos de sucesso, os desafios setoriais – na indústria, comércio, serviços e agro-negócios – e abordagens comple-mentares ao tema vão possibilitar ao leitor uma visão ampliada das expe-riências que vêm se desenvolvendo no Brasil, com foco na maior compe-titividade das pequenas e grandes empresas.

Os outros volumes da Coletânea

Pequenos Negócios

são, respectivamente, “Pro-g r amas Nac iona i s do Sebrae”, “Desenvolvimen-to Sustentável”, “Inova-ção”, “Educação Empre-endedora” e “Serviços Financeiros”.

Encadeamento produtivoCarlos Alberto dos Santos (coord.)Sebrae, 388p, 2014.

O Centro da Memória da Eletri-cidade no Brasil acompanha as trans-formações no setor de energia elétri-ca, promovendo a preservação da memória e evidenciando a sua impor-tância para a história contemporânea do país. O trabalho de pesquisa mais recente dá luz às regiões Centro-Oeste e Norte e gerou a obra O rio Tocantins no olhar dos viajantes. A publicação resgata o desenvolvi-mento dos quatro estados que o rio atravessa – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará – e os esforços despendidos na construção das atu-ais sete hidrelétricas, com 12 mil megawatts instalados.

Dividida em oito capítulos, a obra conta com o olhar de diferentes personagens que por ali passaram, além de registros iconográficos e documentos de época, em um mergu-lho entre os anos de 1500 até 2013. Num dos relatos, o médico Júlio Paternostro, em 1930, classificou o espaço em regiões, de acordo com cri-térios econômicos.

Às margens do rio

O livro coloca em pers-pectiva as interferências humanas no vale de um rio e constitui, com isso, um exce-lente exercício para com-preender o mundo no qual nos movemos.

O rio Tocantins no olhar dos viajantes: paisagem, território e energia elétricaMemória da Eletricidade, 436p., 2013

O futuro chegou - modelos de vida para uma socieda-de desorientadaDomenico de MasiCasa da Palavra, 768p., 2014

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CARTAS DO LEITOR

Redação e AdministraçãoAvenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906Telefone (21) 2109.6041Fax (21) 2109.6004

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CONSELHO DOS ASSOCIADOSPresidente: Luciano Coutinho

DIRETORIAPresidente: Carlos Henrique Horn

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Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima.

Publicação bimestralISSN 1415-4722

Instituições Associadas à ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL Badesul Desenvolvimento S.A. Agência de Fomento – – BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Capa Noel Joaquim Faiad com foto de Paulino Menezes/Portal da Copa

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialCarlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

RUMOS - – Maio/Junho 2014 54

@

Ano 38 – Nº 275 Maio/Junho 2014

InclusãoVimos, pela presente, solicitar que sejamos inseridos na lista de recebi-mento do exemplar: Rumos – Economia & Desenvolvimento para os Novos Tempos – ABDE Editorial. Informamos que somos da FIEP – Federação das Indústrias do Paraná/ Gerência de Fomento e Desen-volvimento/ Coordenação de Desenvolvimento.Faustina Melo. Curitiba (PR)

AniversárioLi com satisfação a história da fundação da ABDE. Participei do encontro em Araxá na equipe de apoio organizada pelo BDMG. No entanto, o artigo não mencionou seu idealizador, o Dr. Hindemburgo Pereira-Diniz, então dirigente do BDMG e o Dr. Marcos Viana, do BNDES, seu primeiro presidente eleito na assembleia de fundação.Deixo aqui o registro pela admiração que tenho pelos dois.Antônio Augusto de Castro.

InformaçõesPrezados, bom dia. Gostaria de verificar se é possível receber a revista Rumos e mais informações da ABDE. Desde já, agradeço.Enelvo Sanchotene Martinelli. Centro Internacional de Inovação. Paraná.

UniversidadeGostaríamos de agradecer o recebimento da revista Rumos – Econo-mia & Desenvolvimento para os Novos Tempos, Ano 38, nº 273. Suellen Amaral. Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana (BA)

ErrataNa reportagem “Seminário reafirma compromisso com o desenvolvi-mento”, da edição nº 274 da revista Rumos, creditamos erroneamente o sr. Claudio Torres como presidente da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP). Torres é diretor de Fomento e Crédito da referida instituição.

Acesse: www.abde.org.br

Leia a revista econsulte as edições passadas.

DIGITAL

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Melhores práticas do

Sistema Nacional de

Fomento

Tema 2: Excelência em

Gestão

Prêmio de R$ 5 mil para o melhor trabalho em cada categoriaPremiação para as instituições dos autores vencedores

Informações: [email protected]

Regulamento no site www.abde.org.br

Envio dos trabalhos até 30 de agosto de 2014

$?

Prêmio ABDE

Realização:

Edição 2014

Tema1: Financiamento do Desenvolvimento