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ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS Entrevistas Vitor Lopes Carlos Antonio Costa Ribeiro Banco do Brics: nasce um gigante ANO 38 – Nº 276 – Julho/Agosto de 2014 EDITORIAL

Rumos 276

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Revista Rumos - Julho/Agosto 2014

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E C O N O M I A & D E S E N V O LV I M E N T O P A R A O S N O V O S T E M P O S

Entrevistas Vitor LopesCarlos Antonio Costa Ribeiro

Banco do Brics: nasce um gigante

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EDITORIAL

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esta edição da Rumos, apresentamos os detalhes do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), instituição financeira criada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os

países que formam o Brics, para financiar projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países-membros e em outras economi-as emergentes. O capital inicial do banco será de US$ 50 bilhões e sua operação deve ter início em 2016. Ao Brasil caberá, neste primeiro momento, a presidência do Conselho de Diretores, órgão que será res-ponsável pela condução das operações gerais da instituição.

Em outra reportagem, lembramos dos 15 anos de três importantes instituições do Norte do país: as Agências de Fomento do Amazonas, do Amapá e de Roraima. Embora diversas, têm em comum uma contribui-ção expressiva para o desenvolvimento de suas regiões. Vale a pena conhecer o trabalho desenvolvido por cada uma delas.

Na seção Expertise, o pesquisador Carlos Antonio Costa Ribeiro esmiúça as análises do economista francês Thomas Piketty, que se tor-nou best-seller mundial com uma ampla pesquisa, publicada em livro, sobre a concentração de renda e as desigualdades nos países desenvolvi-dos no século XXI. Será que as conclusões a que chega Piketty também podem ser estendidas para o Brasil?

Boa leitura!

NAO LEITOR

SeçõesLIVROS48

RUMOS - 3 – Julho/Agosto 2014

EXPERTISE

S SUMÁRIO

8

FOMENTO42

28 CAPAInternacional

O gigante de50 bilhões de dólares

ENTREVISTA4 Vitor Lopes

Busca ativa

Desigualdade crescente

Carlos Antonio Costa Ribeiro

36ARTIGOCooperativismo Financeiro e SistemaBancário Global

O que vem por aí?

20REPORTAGEMSocioambiental

Compromisso verde

Aniversário

Desenvolvimento emtrês vozes16REPORTAGEM

Fortunas

Grande engano22OPINIÃO

Regional

Atuação polivalente24REPORTAGEM

40PELO MUNDO

Também no Norte!Estados Unidos

12REFLEXÃOPaulo Faveret

O imperativo da coexistência

14CENÁRIOS DO RIOInovação

Novo foco

44MICRO E PEQUENAS

Megaeventos e grandesoportunidades

Pequenos empreendedores

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38REPORTAGEMExpansão

Novos caminhos

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concessão do Centro de Convenções da Bahia e para o proje-to de desenvolvimento do Recôncavo Sul, com a implantação da ponte Salvador-Itaparica. É uma área nova na agência, que está se organizando à medida que os desafios aparecem, mas que já contribui decisivamente para os principais projetos ora pensados para a Bahia.

Rumos – Quais os principais desafios que estão coloca-dos neste momento para a Agência?Lopes – Estamos buscando expandir nossas operações, ao mesmo tempo que atuamos nessas diferentes frentes. Arrisco dizer que nosso maior desafio, no momento, é aprender a tra-balhar eficientemente com projetos e necessidades de distin-tas ordens de grandeza e de complexidade. Como esse desa-fio já se pronunciava em 2011, quando preparamos o Planeja-mento Estratégico 2012-2015, percebemos a necessidade de investir em melhorias internas: processos mais ágeis e siste-mas adequados. Para nossa sorte, acreditamos e perseguimos nosso Planejamento Estratégico. Avançamos na interioriza-ção, constituímos a Superintendência de Estruturação de Pro-jetos (a área que trabalha com os projetos estratégicos e que citei antes) e implantamos uma linha de financiamento para capital de giro voltada para micro e pequenas empresas, no qual praticamente todo o processo é realizado via internet. Batizamos essa linha de Girorápido, porque ela conta com uma plataforma de acesso via internet e a análise é automati-zada. O empresário encaminha os seus dados via internet, o sistema analisa as informações, faz um diagnóstico e atribui uma nota, sinaliza o limite de crédito e, por fim, envia o con-trato para ele assinar. Na Desenbahia, os analistas conferem a documentação e se estiver tudo em conformidade, o crédito é liberado. São dos desafios que nascem as melhores soluções, não é?

Rumos – Os desembolsos da Desenbahia saltaram de R$ 123 milhões em 2008, ano em que se iniciou a crise

RUMOS – 4 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 5 – Julho/Agosto 2014

umos – A Desenbahia tem como missão “ofe-recer soluções financeiras e técnicas para melhorar a vida da população baiana”. De que forma a instituição tem contribuído para

fortalecer as estruturas econômicas e sociais do estado e alcançar esse objetivo?Vitor Lopes – De diferentes formas, uma vez que atuamos em uma economia complexa, situada em um território com dimensão próxima da de vários países europeus. Assim, para atingirmos nossa missão, precisamos despender esforços no apoio aos micro e pequenos empresários localizados nas áre-as mais carentes do estado, tanto quanto no apoio à instalação de projetos estratégicos para o desenvolvimento da Bahia, como os projetos de infraestrutura. Vamos tratar apenas des-sas duas situações aqui, porque elas já são suficientemente difíceis. No primeiro caso, considerando o fato de que o terri-tório baiano é grande e a riqueza econômica está concentrada em poucas regiões – mais de 50% do PIB do estado está con-centrado em 10 municípios, ficando 407 municípios com uma participação de menos da metade da riqueza gerada no estado –, o esforço de levar o crédito ao interior, em especial às áreas mais carentes, tem sido uma meta importante da agên-cia. Essa interiorização tem se realizado através da alocação de Gerentes de Negócios (GN) em diferentes regiões da Bahia e por meio de parcerias com instituições com escritóri-os distribuídos no interior do estado, como o Sebrae e a Câmara de Dirigentes Lojistas. A ideia é fazer da Desenbahia uma agência proativa, que prospecta e realiza negócios em áreas onde há necessidade de crédito, mas ele não chega tão facilmente. No caso do apoio a projetos estratégicos, consti-tuímos uma área na agência que se ocupa com estudos de modelagem econômico-financeira, jurídica, de engenharia etc., com vistas a garantir a implantação de projetos relevan-tes para a Bahia. Alguns dos projetos com os quais estamos ou estivemos envolvidos são a Arena Fonte Nova, o Sistema Metroviário de Salvador-Lauro de Freitas, os estudos para a

Por Jader Moraes

econômica mundial, para R$ 416 milhões em 2013. A que se deve esse aumento e qual a importância das ins-tituições públicas de desenvolvimento em um cenário como o que sucedeu o epicentro da crise?Lopes – Por uma questão didática, vício de professor, vou dividir essa questão em duas: a expansão operacional da Desenbahia e o papel contracíclico das instituições financei-ras públicas. A expansão das operações da Desenbahia era quase que uma condição sine qua non para a sobrevivência da agência. Como justificar a existência de uma agência de fomento que não tivesse uma carteira de projetos relevante? Como sabíamos que nossa saída era crescer ou crescer, inves-timos na proatividade, na busca de melhorias internas. Sepa-ramos a atividade de captação de negócios da atividade de análise, para que pudéssemos ter colaboradores focados na sua meta. Hoje não ficamos esperando que o negócio chegue até a agência. Só vão chegar espontaneamente os negócios que vêm pela internet. Os maiores projetos ou os mais robus-tos são captados pelos nossos Gerentes de Negócios. Ainda sobre essa expansão, gostaria de registrar aqui que aposto na nossa capacidade de continuar crescendo em 2014. Estou seguro disso porque os investimentos que fizemos nas melhorias internas estão começando a gerar frutos agora. Ou seja, temos fôlego para manter o ritmo.

Sobre o papel das instituições financeiras públicas nos momentos de crise, a literatura está repleta de pensadores eco-nômicos que justificam a existência dessas instituições devido à sua capacidade e possibilidade de atuação contracíclica. No Brasil, assim como em vários outros países, a crise de 2008 só veio a confirmar a importância do setor público na concessão do crédito quando o sistema privado passa a operar restritiva-mente. Recentemente, o Ipea divulgou um estudo confirman-do que os bancos públicos federais tiveram uma atuação con-tracíclica durante a crise financeira mundial, de tal modo que permitiu que o crédito mantivesse o ritmo de crescimento no país. Enquanto os créditos desses bancos se elevaram acima

Iniciativa

R dos 30%, os créditos do setor privado reduziram o ritmo de aumento de 25% para 10%. Em escala regional, também as agências de fomento fizeram a sua parte naquele momento. A Desenbahia, por exemplo, intensificou a interiorização do cré-dito e apostou no crédito às prefeituras.

Rumos – Os desembolsos referentes ao microcrédito também cresceram significativamente na carteira da agência e chegaram a R$ 45 milhões no ano passado. Qual a importância do apoio aos pequenos empreende-dores para o desenvolvimento da economia local?Lopes – Através do microcrédito conseguimos reforçar nos-sa atuação nas regiões mais carentes e onde não há grandes projetos a serem apoiados. Acreditamos que, com o micro-crédito, contribuímos para dinamizar a economia dessas regiões, porque injetamos recursos essenciais para acelerar a circulação de mercadorias e serviços. Do ponto de vista indi-vidual, esse tipo de crédito favorece o microempreendedor que não tinha e passa a ter acesso ao sistema financeiro for-mal. E no plano macroeconômico, o microcrédito, se bem estruturado, pode se constituir em um dinamizador de eco-nomias menores. Faz pouco tempo, resolvemos aprimorar nosso programa de microcrédito, criando condições diferen-ciadas para o microempreendedor formal. Para esses, o valor e o prazo têm limites maiores.

Rumos – Em artigo recente para a Rumos, o senhor apontou como fundamental o investimento em infraes-trutura pelos agentes do Sistema Nacional de Fomento, para viabilizar os projetos estruturantes para nossa eco-nomia. Por que este é um gargalo difícil de ser superado em nosso país?Lopes – Os projetos de infraestrutura são, via de regra, gran-des e complexos. Algumas vezes envolvem mais de uma esfera de governo, o que implica numa coordenação de atividades complicada. São projetos que possuem prazo de maior matu-

E ENTREVISTA

Busca ativa

Vitor Lopes

Operando projetos de ordens de grandeza e complexidade distintas, o presidente da Desenbahia destaca o desafio de expandir o crédito para áreas e regiões carentes de apoio: “Não ficamos esperando que o negócio chegue até a agência.”

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Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia, Vitor Lopes é presidente da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) desde 2013, depois de atuar como gerente de Estudos e Assessoria e diretor de Negócios da instituição. É também vice-presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).

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concessão do Centro de Convenções da Bahia e para o proje-to de desenvolvimento do Recôncavo Sul, com a implantação da ponte Salvador-Itaparica. É uma área nova na agência, que está se organizando à medida que os desafios aparecem, mas que já contribui decisivamente para os principais projetos ora pensados para a Bahia.

Rumos – Quais os principais desafios que estão coloca-dos neste momento para a Agência?Lopes – Estamos buscando expandir nossas operações, ao mesmo tempo que atuamos nessas diferentes frentes. Arrisco dizer que nosso maior desafio, no momento, é aprender a tra-balhar eficientemente com projetos e necessidades de distin-tas ordens de grandeza e de complexidade. Como esse desa-fio já se pronunciava em 2011, quando preparamos o Planeja-mento Estratégico 2012-2015, percebemos a necessidade de investir em melhorias internas: processos mais ágeis e siste-mas adequados. Para nossa sorte, acreditamos e perseguimos nosso Planejamento Estratégico. Avançamos na interioriza-ção, constituímos a Superintendência de Estruturação de Pro-jetos (a área que trabalha com os projetos estratégicos e que citei antes) e implantamos uma linha de financiamento para capital de giro voltada para micro e pequenas empresas, no qual praticamente todo o processo é realizado via internet. Batizamos essa linha de Girorápido, porque ela conta com uma plataforma de acesso via internet e a análise é automati-zada. O empresário encaminha os seus dados via internet, o sistema analisa as informações, faz um diagnóstico e atribui uma nota, sinaliza o limite de crédito e, por fim, envia o con-trato para ele assinar. Na Desenbahia, os analistas conferem a documentação e se estiver tudo em conformidade, o crédito é liberado. São dos desafios que nascem as melhores soluções, não é?

Rumos – Os desembolsos da Desenbahia saltaram de R$ 123 milhões em 2008, ano em que se iniciou a crise

RUMOS – 4 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 5 – Julho/Agosto 2014

umos – A Desenbahia tem como missão “ofe-recer soluções financeiras e técnicas para melhorar a vida da população baiana”. De que forma a instituição tem contribuído para

fortalecer as estruturas econômicas e sociais do estado e alcançar esse objetivo?Vitor Lopes – De diferentes formas, uma vez que atuamos em uma economia complexa, situada em um território com dimensão próxima da de vários países europeus. Assim, para atingirmos nossa missão, precisamos despender esforços no apoio aos micro e pequenos empresários localizados nas áre-as mais carentes do estado, tanto quanto no apoio à instalação de projetos estratégicos para o desenvolvimento da Bahia, como os projetos de infraestrutura. Vamos tratar apenas des-sas duas situações aqui, porque elas já são suficientemente difíceis. No primeiro caso, considerando o fato de que o terri-tório baiano é grande e a riqueza econômica está concentrada em poucas regiões – mais de 50% do PIB do estado está con-centrado em 10 municípios, ficando 407 municípios com uma participação de menos da metade da riqueza gerada no estado –, o esforço de levar o crédito ao interior, em especial às áreas mais carentes, tem sido uma meta importante da agên-cia. Essa interiorização tem se realizado através da alocação de Gerentes de Negócios (GN) em diferentes regiões da Bahia e por meio de parcerias com instituições com escritóri-os distribuídos no interior do estado, como o Sebrae e a Câmara de Dirigentes Lojistas. A ideia é fazer da Desenbahia uma agência proativa, que prospecta e realiza negócios em áreas onde há necessidade de crédito, mas ele não chega tão facilmente. No caso do apoio a projetos estratégicos, consti-tuímos uma área na agência que se ocupa com estudos de modelagem econômico-financeira, jurídica, de engenharia etc., com vistas a garantir a implantação de projetos relevan-tes para a Bahia. Alguns dos projetos com os quais estamos ou estivemos envolvidos são a Arena Fonte Nova, o Sistema Metroviário de Salvador-Lauro de Freitas, os estudos para a

Por Jader Moraes

econômica mundial, para R$ 416 milhões em 2013. A que se deve esse aumento e qual a importância das ins-tituições públicas de desenvolvimento em um cenário como o que sucedeu o epicentro da crise?Lopes – Por uma questão didática, vício de professor, vou dividir essa questão em duas: a expansão operacional da Desenbahia e o papel contracíclico das instituições financei-ras públicas. A expansão das operações da Desenbahia era quase que uma condição sine qua non para a sobrevivência da agência. Como justificar a existência de uma agência de fomento que não tivesse uma carteira de projetos relevante? Como sabíamos que nossa saída era crescer ou crescer, inves-timos na proatividade, na busca de melhorias internas. Sepa-ramos a atividade de captação de negócios da atividade de análise, para que pudéssemos ter colaboradores focados na sua meta. Hoje não ficamos esperando que o negócio chegue até a agência. Só vão chegar espontaneamente os negócios que vêm pela internet. Os maiores projetos ou os mais robus-tos são captados pelos nossos Gerentes de Negócios. Ainda sobre essa expansão, gostaria de registrar aqui que aposto na nossa capacidade de continuar crescendo em 2014. Estou seguro disso porque os investimentos que fizemos nas melhorias internas estão começando a gerar frutos agora. Ou seja, temos fôlego para manter o ritmo.

Sobre o papel das instituições financeiras públicas nos momentos de crise, a literatura está repleta de pensadores eco-nômicos que justificam a existência dessas instituições devido à sua capacidade e possibilidade de atuação contracíclica. No Brasil, assim como em vários outros países, a crise de 2008 só veio a confirmar a importância do setor público na concessão do crédito quando o sistema privado passa a operar restritiva-mente. Recentemente, o Ipea divulgou um estudo confirman-do que os bancos públicos federais tiveram uma atuação con-tracíclica durante a crise financeira mundial, de tal modo que permitiu que o crédito mantivesse o ritmo de crescimento no país. Enquanto os créditos desses bancos se elevaram acima

Iniciativa

R dos 30%, os créditos do setor privado reduziram o ritmo de aumento de 25% para 10%. Em escala regional, também as agências de fomento fizeram a sua parte naquele momento. A Desenbahia, por exemplo, intensificou a interiorização do cré-dito e apostou no crédito às prefeituras.

Rumos – Os desembolsos referentes ao microcrédito também cresceram significativamente na carteira da agência e chegaram a R$ 45 milhões no ano passado. Qual a importância do apoio aos pequenos empreende-dores para o desenvolvimento da economia local?Lopes – Através do microcrédito conseguimos reforçar nos-sa atuação nas regiões mais carentes e onde não há grandes projetos a serem apoiados. Acreditamos que, com o micro-crédito, contribuímos para dinamizar a economia dessas regiões, porque injetamos recursos essenciais para acelerar a circulação de mercadorias e serviços. Do ponto de vista indi-vidual, esse tipo de crédito favorece o microempreendedor que não tinha e passa a ter acesso ao sistema financeiro for-mal. E no plano macroeconômico, o microcrédito, se bem estruturado, pode se constituir em um dinamizador de eco-nomias menores. Faz pouco tempo, resolvemos aprimorar nosso programa de microcrédito, criando condições diferen-ciadas para o microempreendedor formal. Para esses, o valor e o prazo têm limites maiores.

Rumos – Em artigo recente para a Rumos, o senhor apontou como fundamental o investimento em infraes-trutura pelos agentes do Sistema Nacional de Fomento, para viabilizar os projetos estruturantes para nossa eco-nomia. Por que este é um gargalo difícil de ser superado em nosso país?Lopes – Os projetos de infraestrutura são, via de regra, gran-des e complexos. Algumas vezes envolvem mais de uma esfera de governo, o que implica numa coordenação de atividades complicada. São projetos que possuem prazo de maior matu-

E ENTREVISTA

Busca ativa

Vitor Lopes

Operando projetos de ordens de grandeza e complexidade distintas, o presidente da Desenbahia destaca o desafio de expandir o crédito para áreas e regiões carentes de apoio: “Não ficamos esperando que o negócio chegue até a agência.”

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Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia, Vitor Lopes é presidente da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) desde 2013, depois de atuar como gerente de Estudos e Assessoria e diretor de Negócios da instituição. É também vice-presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).

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E ENTREVISTA

ração e risco elevado, e que, por essas características, não cos-tumam interessar ao setor financeiro privado. Este concentra suas preferências no mercado de curto prazo e de baixo risco. Se nos ativermos apenas à questão do volume de investimen-tos e da necessidade de coordenar atividades distintas (enge-nharia, negócio, questões jurídicas) e stakeholders distintos, per-cebemos como os projetos de infraestrutura exigem análises diferenciadas e mecanismos mais complexos para a sua mate-rialização. Até bem pouco tempo, no Brasil, esses projetos eram tratados como obras públicas e a maior dificuldade ficava restrita à seara dos recursos orçamentários. Com a percepção de que o envolvimento do setor privado poderia elevar o grau de eficiência do serviço prestado e, ao mesmo tempo, devido à maior limitação dos recursos públicos disponíveis frente às necessidades de infraestrutura, novos mecanismos de financi-amento têm sido acionados, a exemplo das Parcerias Público-Privadas. O que percebemos é que as PPPs têm viabilizado à implantação de projetos de infraestrutura, mas têm tornado o projeto ainda mais com-plexo na medida em que envolve um maior leque de agentes. Que instituição está dis-posta a ter esse trabalho? A despender mais tempo com análises, correr mais riscos com atrasos nas entregas de marcos, problemas com distribuição de responsabilidades etc.? Vivemos um momento de aprendizagem para viabilizar tais projetos e este processo, que é sempre custoso, alinha-se à missão dos agentes do Sistema Nacional de Fomento.

Rumos – A agência teve participação importante no projeto Arena Fonte Nova reformada para a Copa do Mun-do. Conte-nos sobre essa experiência e o que ela agregou à instituição.Lopes – A demolição da velha Fonte Nova e a reconstrução da Arena Fonte Nova foi uma das nossas primeiras experiências com project finance. Foram dois contratos de financiamento, um para demolição e início dos trabalhos de reconstrução e outro para andamento e conclusão da obra, que resultaram de análises técnicas nas quais a engenharia financeira ficava suportada contratualmente pelo fluxo de caixa do projeto. Desse modo, os ativos e recebíveis do projeto assumiam a condição de garantia das operações de crédito. Até então, não tínhamos realizado uma operação na Desenbahia com tantos contratos interdependentes. Como disse há pouco, foi um verdadeiro processo de aprendizagem de como operar com projetos complexos de infraestrutura, nos quais vários agen-tes interagem. Vou citar algumas características do projeto para tornar o que digo mais concreto para o leitor. O Estado da Bahia contratou um financiamento junto ao BNDES; colo-cou esse recurso no Fundo de Desenvolvimento Social e Eco-nômico – Fundese (gerido pela Desenbahia); e fez uma licita-ção para contratação de uma PPP para a reconstrução e ope-ração da Arena. A Desenbahia, por sua vez, financiou parte dos investimentos da SPE (Sociedade de Propósito Específi-

co) com os recursos captados pelo Estado e colocados no Fundese. Mas não era o único agente financiador. Além dos recursos dos acionistas, o BNB [Banco do Nordeste] também se envolveu com o projeto, já que financiou parte do investi-mento, assim como o Santander, que ficou responsável pela emissão das debêntures. Os três agentes financeiros precisa-vam compartilhar garantias. Foi montado então um verdadei-ro bloco de contratos interdependentes. Como somos a insti-tuição financeira oficial da Bahia, temos um quadro de pesso-al qualificado e trabalhamos muito para fazer essa engenharia de contratos, além de coordenar a entrada de recursos do BNDES no Fundo e financiar o projeto. Já dá para imaginar o orgulho que sentimos quando vemos a Arena funcionando bem e com excelente avaliação do público.

Gostaria de registrar, no entanto, que para a análise do pro-jeto da Arena Fonte Nova já contávamos com certa experiên-cia acumulada, por conta do financiamento do Hospital do

Subúrbio, um projeto de PPP, mas que não foi um project finance puro, e do financiamento da concessionária do Sis-tema Rodoviário BA 093. Este último se processou quase que paralelamente à análise do projeto da Fonte Nova, e também era um project finance. Trata-se de um sistema rodoviário fundamental para logística do estado, porque interli-ga pontos estratégicos, como o Porto de Aratu e o Aeroporto Internacional de Salvador com o Centro Industrial de Aratu, a região de Candeias (onde a Petrobras tem unidades importantes) e o Polo Petroquímico de Camaçari.

Rumos – Como tem sido a atuação da Desenbahia junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios baianos?Lopes – Acreditamos que, por meio

das linhas para prefeituras, podemos contribuir para melhorar a infraestrutura urbana e social das cidades baianas. Na verda-de, com esse apoio atingimos alguns dos nossos focos estraté-gicos: interiorizamos o crédito, contribuímos com a adminis-tração pública municipal da Bahia e, como resultado, melhora-mos a vida da população baiana. Mas como nem tudo são flo-res, temos limitações severas para atuar nesse campo: o pro-cesso de financiamento demanda um tempo que não está sob nosso controle, uma vez que é preciso que a prefeitura tenha previsão orçamentária para contrair a dívida, além de termos de fazer consultas ao STN. Ademais, esse tipo de operação compromete bastante nossa capacidade de emprestar, já que trabalhamos com destaque de capital para realizar os financia-mentos. Como, numa balança imaginária, o lado contendo os benefícios sociais da operação pesa mais que as dificuldades elencadas, continuamos firmes no trabalho com essas opera-ções, ainda que com limites operacionais menores.

Rumos – Desde abril deste ano, a agência também tem

RUMOS – 6 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 7 – Julho/Agosto 2014

disponibilizado recursos por meio do Inovacred. Como este instrumento pode ampliar a competitividade das empresas baianas?Lopes – A linha direciona-se às empresas que pretendem desenvolver novos produtos, processos ou serviços, ou ainda aperfeiçoar os já existentes. Também está disponível para empresas que pretendem investir em inovação organizacio-nal. O objetivo é sempre o de ampliar a competitividade das empresas baianas. Como se trata de uma linha amparada no programa Inovacred da Finep, que utiliza como fonte de recursos o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, os custos da linha são atrativos e o prazo de até oito anos, com até dois de carência, também se apresenta sufi-cientemente confortável para as empresas e adequado para o tipo de investimento que está sendo realizado. A Finep nos disponibilizou R$ 80 milhões para essas operações e nossa intenção é fazer uma captação proativa de negócios. Estamos certos que assim contribuímos com as empresas baianas e, por conseguinte, com o conjunto da economia baiana, que se apresentará mais competitiva para o mercado.

Rumos – Quais os números da instituição hoje? Funcio-nários, patrimônio líquido, projetos financiados, recur-sos financiados, municípios atendidos?Lopes – A carteira de crédito gerida pela Desenbahia, que inclui recursos próprios, de repasses e de fundo estadual, alcançou a marca histórica de R$ 1,5 bilhão no fim do primei-ro semestre de 2014. Essa carteira corresponde a operações de financiamento de mais de 33.500 projetos, localizados em 334 municípios baianos, o que representa um índice de cobertura de 80% do território do estado baiano. Esse resul-tado é reflexo da estratégia de expansão da agência e da ado-ção de políticas voltadas para a interiorização e a desconcen-tração do crédito, que já mencionei antes.

Somente no primeiro semestre de 2014, a Desenbahia liberou cerca de R$ 230 milhões em operações de crédito para projetos localizados em 187 municípios baianos. O setor com maior volume de desembolsos é o de comércio e serviços, com cerca de R$ 110 milhões, seguido pela indús-tria, próximo a R$ 70 milhões, agropecuária, com R$ 40 milhões, e prefeituras, R$ 6,6 milhões.

O patrimônio líquido da Agência atin-giu perto de R$ 495 milhões no final do primeiro semestre deste ano e o do Fun-dese totalizou de R$ 1,4 bilhão. Atual-mente, a agência conta com 245 colabo-radores, sendo 16 novos funcionários recém-ingressos por meio de concurso público realizado no início do ano.

Rumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a entidade que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimento e pelas agências de fomento do país?Lopes – As instituições financeiras e

não financeiras de fomento sempre tiveram uma importân-cia pronunciada no desenvolvimento econômico do Brasil. O papel do BNDES, assim como dos demais bancos federa-is e estaduais, foi essencial para o Milagre Brasileiro do final dos anos 1960 e início da década de 1970. Mesmo que se argu-mente que a maior parte dos recursos que viabilizaram os investimentos daquele período proveio do sistema financei-ro internacional, grande parcela desses recursos entrou no Brasil via bancos, através dos mecanismos da Resolução 63. Com as crises dos anos 1980 – crise de solvência do país, cri-se do setor público, estagnação econômica etc. – o conjunto dessas instituições também entrou em crise, e a sua relevân-cia foi bastante questionada. Na retomada gradual da econo-mia brasileira nos anos 1990, principalmente pós-Plano Real, não foi designado um papel importante para essas insti-tuições. Ao contrário, com o Proes (Programa de Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária) muitas ins-tituições desapareceram e as que sobreviveram perderam muito espaço. A expectativa era de que o mercado de capitais pudesse dar conta sozinho das necessidades de recursos para os investimentos das empresas. As agências de fomento foram constituídas nesse contexto e, assim, o campo de atua-ção delas ficou bastante restrito. Elas não foram concebidas para dar certo. Aos poucos, no entanto, elas foram mostran-do-se peças valiosas para o desenvolvimento das economias locais e o campo de atuação das agências só vem aumentan-do. Ao congregar as agências de fomento, os bancos de desenvolvimento regio-nais e federal e outras instituições financeiras e não financeiras voltadas para o fomento da eco-nomia brasileira, a ABDE assume o status de uma entidade não-governamental cujas ações têm o poder de impactar o modelo de desenvolvimento e financiamento do investi-mento de todo o país. É a entidade que pensa e atua em nome e para o Sistema Nacional de Fomento, articulando-se com as autoridades monetárias, com a administração pública fede-ral e outros órgãos e entidades pertinentes. Se fizermos uma avaliação da associação nos últimos dez anos, temos que reconhecer que a ABDE tem se revelado uma associação pro-ativa, fortemente engajada nas ações que têm resultado no aprimoramento dos instrumentos e instituições relaciona-dos ao fomento do Brasil.

“As agências de fomento não foram

concebidas para dar certo. Aos poucos,

no entanto, elas foram mostrando-se peças valiosas para o desenvolvimento

das economias locais e o campo de

atuação só vem aumentando.”

Vitor Lopes

Arena Fonte Nova, palco de seis jogos da Copa: processo de aprendizagem para a agência, devido à complexidade do projeto e interação com outros agentes financeiros.

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E ENTREVISTA

ração e risco elevado, e que, por essas características, não cos-tumam interessar ao setor financeiro privado. Este concentra suas preferências no mercado de curto prazo e de baixo risco. Se nos ativermos apenas à questão do volume de investimen-tos e da necessidade de coordenar atividades distintas (enge-nharia, negócio, questões jurídicas) e stakeholders distintos, per-cebemos como os projetos de infraestrutura exigem análises diferenciadas e mecanismos mais complexos para a sua mate-rialização. Até bem pouco tempo, no Brasil, esses projetos eram tratados como obras públicas e a maior dificuldade ficava restrita à seara dos recursos orçamentários. Com a percepção de que o envolvimento do setor privado poderia elevar o grau de eficiência do serviço prestado e, ao mesmo tempo, devido à maior limitação dos recursos públicos disponíveis frente às necessidades de infraestrutura, novos mecanismos de financi-amento têm sido acionados, a exemplo das Parcerias Público-Privadas. O que percebemos é que as PPPs têm viabilizado à implantação de projetos de infraestrutura, mas têm tornado o projeto ainda mais com-plexo na medida em que envolve um maior leque de agentes. Que instituição está dis-posta a ter esse trabalho? A despender mais tempo com análises, correr mais riscos com atrasos nas entregas de marcos, problemas com distribuição de responsabilidades etc.? Vivemos um momento de aprendizagem para viabilizar tais projetos e este processo, que é sempre custoso, alinha-se à missão dos agentes do Sistema Nacional de Fomento.

Rumos – A agência teve participação importante no projeto Arena Fonte Nova reformada para a Copa do Mun-do. Conte-nos sobre essa experiência e o que ela agregou à instituição.Lopes – A demolição da velha Fonte Nova e a reconstrução da Arena Fonte Nova foi uma das nossas primeiras experiências com project finance. Foram dois contratos de financiamento, um para demolição e início dos trabalhos de reconstrução e outro para andamento e conclusão da obra, que resultaram de análises técnicas nas quais a engenharia financeira ficava suportada contratualmente pelo fluxo de caixa do projeto. Desse modo, os ativos e recebíveis do projeto assumiam a condição de garantia das operações de crédito. Até então, não tínhamos realizado uma operação na Desenbahia com tantos contratos interdependentes. Como disse há pouco, foi um verdadeiro processo de aprendizagem de como operar com projetos complexos de infraestrutura, nos quais vários agen-tes interagem. Vou citar algumas características do projeto para tornar o que digo mais concreto para o leitor. O Estado da Bahia contratou um financiamento junto ao BNDES; colo-cou esse recurso no Fundo de Desenvolvimento Social e Eco-nômico – Fundese (gerido pela Desenbahia); e fez uma licita-ção para contratação de uma PPP para a reconstrução e ope-ração da Arena. A Desenbahia, por sua vez, financiou parte dos investimentos da SPE (Sociedade de Propósito Específi-

co) com os recursos captados pelo Estado e colocados no Fundese. Mas não era o único agente financiador. Além dos recursos dos acionistas, o BNB [Banco do Nordeste] também se envolveu com o projeto, já que financiou parte do investi-mento, assim como o Santander, que ficou responsável pela emissão das debêntures. Os três agentes financeiros precisa-vam compartilhar garantias. Foi montado então um verdadei-ro bloco de contratos interdependentes. Como somos a insti-tuição financeira oficial da Bahia, temos um quadro de pesso-al qualificado e trabalhamos muito para fazer essa engenharia de contratos, além de coordenar a entrada de recursos do BNDES no Fundo e financiar o projeto. Já dá para imaginar o orgulho que sentimos quando vemos a Arena funcionando bem e com excelente avaliação do público.

Gostaria de registrar, no entanto, que para a análise do pro-jeto da Arena Fonte Nova já contávamos com certa experiên-cia acumulada, por conta do financiamento do Hospital do

Subúrbio, um projeto de PPP, mas que não foi um project finance puro, e do financiamento da concessionária do Sis-tema Rodoviário BA 093. Este último se processou quase que paralelamente à análise do projeto da Fonte Nova, e também era um project finance. Trata-se de um sistema rodoviário fundamental para logística do estado, porque interli-ga pontos estratégicos, como o Porto de Aratu e o Aeroporto Internacional de Salvador com o Centro Industrial de Aratu, a região de Candeias (onde a Petrobras tem unidades importantes) e o Polo Petroquímico de Camaçari.

Rumos – Como tem sido a atuação da Desenbahia junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios baianos?Lopes – Acreditamos que, por meio

das linhas para prefeituras, podemos contribuir para melhorar a infraestrutura urbana e social das cidades baianas. Na verda-de, com esse apoio atingimos alguns dos nossos focos estraté-gicos: interiorizamos o crédito, contribuímos com a adminis-tração pública municipal da Bahia e, como resultado, melhora-mos a vida da população baiana. Mas como nem tudo são flo-res, temos limitações severas para atuar nesse campo: o pro-cesso de financiamento demanda um tempo que não está sob nosso controle, uma vez que é preciso que a prefeitura tenha previsão orçamentária para contrair a dívida, além de termos de fazer consultas ao STN. Ademais, esse tipo de operação compromete bastante nossa capacidade de emprestar, já que trabalhamos com destaque de capital para realizar os financia-mentos. Como, numa balança imaginária, o lado contendo os benefícios sociais da operação pesa mais que as dificuldades elencadas, continuamos firmes no trabalho com essas opera-ções, ainda que com limites operacionais menores.

Rumos – Desde abril deste ano, a agência também tem

RUMOS – 6 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 7 – Julho/Agosto 2014

disponibilizado recursos por meio do Inovacred. Como este instrumento pode ampliar a competitividade das empresas baianas?Lopes – A linha direciona-se às empresas que pretendem desenvolver novos produtos, processos ou serviços, ou ainda aperfeiçoar os já existentes. Também está disponível para empresas que pretendem investir em inovação organizacio-nal. O objetivo é sempre o de ampliar a competitividade das empresas baianas. Como se trata de uma linha amparada no programa Inovacred da Finep, que utiliza como fonte de recursos o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, os custos da linha são atrativos e o prazo de até oito anos, com até dois de carência, também se apresenta sufi-cientemente confortável para as empresas e adequado para o tipo de investimento que está sendo realizado. A Finep nos disponibilizou R$ 80 milhões para essas operações e nossa intenção é fazer uma captação proativa de negócios. Estamos certos que assim contribuímos com as empresas baianas e, por conseguinte, com o conjunto da economia baiana, que se apresentará mais competitiva para o mercado.

Rumos – Quais os números da instituição hoje? Funcio-nários, patrimônio líquido, projetos financiados, recur-sos financiados, municípios atendidos?Lopes – A carteira de crédito gerida pela Desenbahia, que inclui recursos próprios, de repasses e de fundo estadual, alcançou a marca histórica de R$ 1,5 bilhão no fim do primei-ro semestre de 2014. Essa carteira corresponde a operações de financiamento de mais de 33.500 projetos, localizados em 334 municípios baianos, o que representa um índice de cobertura de 80% do território do estado baiano. Esse resul-tado é reflexo da estratégia de expansão da agência e da ado-ção de políticas voltadas para a interiorização e a desconcen-tração do crédito, que já mencionei antes.

Somente no primeiro semestre de 2014, a Desenbahia liberou cerca de R$ 230 milhões em operações de crédito para projetos localizados em 187 municípios baianos. O setor com maior volume de desembolsos é o de comércio e serviços, com cerca de R$ 110 milhões, seguido pela indús-tria, próximo a R$ 70 milhões, agropecuária, com R$ 40 milhões, e prefeituras, R$ 6,6 milhões.

O patrimônio líquido da Agência atin-giu perto de R$ 495 milhões no final do primeiro semestre deste ano e o do Fun-dese totalizou de R$ 1,4 bilhão. Atual-mente, a agência conta com 245 colabo-radores, sendo 16 novos funcionários recém-ingressos por meio de concurso público realizado no início do ano.

Rumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a entidade que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimento e pelas agências de fomento do país?Lopes – As instituições financeiras e

não financeiras de fomento sempre tiveram uma importân-cia pronunciada no desenvolvimento econômico do Brasil. O papel do BNDES, assim como dos demais bancos federa-is e estaduais, foi essencial para o Milagre Brasileiro do final dos anos 1960 e início da década de 1970. Mesmo que se argu-mente que a maior parte dos recursos que viabilizaram os investimentos daquele período proveio do sistema financei-ro internacional, grande parcela desses recursos entrou no Brasil via bancos, através dos mecanismos da Resolução 63. Com as crises dos anos 1980 – crise de solvência do país, cri-se do setor público, estagnação econômica etc. – o conjunto dessas instituições também entrou em crise, e a sua relevân-cia foi bastante questionada. Na retomada gradual da econo-mia brasileira nos anos 1990, principalmente pós-Plano Real, não foi designado um papel importante para essas insti-tuições. Ao contrário, com o Proes (Programa de Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária) muitas ins-tituições desapareceram e as que sobreviveram perderam muito espaço. A expectativa era de que o mercado de capitais pudesse dar conta sozinho das necessidades de recursos para os investimentos das empresas. As agências de fomento foram constituídas nesse contexto e, assim, o campo de atua-ção delas ficou bastante restrito. Elas não foram concebidas para dar certo. Aos poucos, no entanto, elas foram mostran-do-se peças valiosas para o desenvolvimento das economias locais e o campo de atuação das agências só vem aumentan-do. Ao congregar as agências de fomento, os bancos de desenvolvimento regio-nais e federal e outras instituições financeiras e não financeiras voltadas para o fomento da eco-nomia brasileira, a ABDE assume o status de uma entidade não-governamental cujas ações têm o poder de impactar o modelo de desenvolvimento e financiamento do investi-mento de todo o país. É a entidade que pensa e atua em nome e para o Sistema Nacional de Fomento, articulando-se com as autoridades monetárias, com a administração pública fede-ral e outros órgãos e entidades pertinentes. Se fizermos uma avaliação da associação nos últimos dez anos, temos que reconhecer que a ABDE tem se revelado uma associação pro-ativa, fortemente engajada nas ações que têm resultado no aprimoramento dos instrumentos e instituições relaciona-dos ao fomento do Brasil.

“As agências de fomento não foram

concebidas para dar certo. Aos poucos,

no entanto, elas foram mostrando-se peças valiosas para o desenvolvimento

das economias locais e o campo de

atuação só vem aumentando.”

Vitor Lopes

Arena Fonte Nova, palco de seis jogos da Copa: processo de aprendizagem para a agência, devido à complexidade do projeto e interação com outros agentes financeiros.

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RUMOS – 8 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 9– Julho/Agosto 2014

ecentemente, o lançamento da versão em inglês do livro Le capital au 21e siècle, do econo-mista francês Thomas Piketty, causou grande repercussão e tornou-se, sem dúvida, o livro de economia mais debatido dos últimos tempos. Foi uma verdadeira febre. As vendas estoura-

ram e a publicação transformou-se em um grande best-seller econômico. As ideias de Piketty sobre a concentração de ren-da e desigualdades no capitalismo são, na verdade, fruto do esforço de mais de 20 grandes cientistas e suas equipes de pes-quisadores. Mas por que o livro chamou tanta atenção em

todo o mundo? Por que provocou tanta polêmi-ca e figurou por meses na lista dos mais procu-rados e mais vendidos?

A Rumos conversou com o doutor Carlos Antonio Costa Ribeiro, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp /Uerj), sobre como as i d e i a s d e T h o m a s Piketty, que serão lança-das nes te segundo semestre no Brasil , podem contribuir com o debate sobre a desi-

gualdade social e seus efeitos para a economia e o desenvolvi-mento dos países. Carlos Ribeiro é Ph.D. em sociologia pela Columbia University e foi pesquisador convidado do Center for Advanced Studies in the Behavioral Sciences (CASBS), da

Pesquisador brasileiro faz uma análise das conclusões do economista francês Thomas Piketty, sobre concentração de renda e riqueza, no livro que virou best-seller mundial, e discute sobre as conexões da pesquisa com a realidade social brasileira

Por Ana Redig

REEX

PE

RTI

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Desigualdadecrescente

Carlos Antonio Costa Ribeiro

Stanford University. Seu principal objeto de pesquisa é a Estra-tificação e Mobilidade Social.

O tema se relaciona com as desigualdades sociais e econô-micas não somente em um determinado período de tempo, mas também na reprodução ou superação dessas desigualda-des ao longo das gerações e dos ciclos de vida dos indivíduos. Para compreender esses fenômenos, o professor dedicou-se a estudar temas como mobilidade social intergeracional, desi-gualdade de oportunidades educacionais, classes sociais, desi-gualdades raciais, mercados de casamento, transições para a vida adulta, criminalidade e justiça.

Carlos Costa Ribeiro recebeu o livro de Piketty com gran-de interesse. “A maior novidade dessa pesquisa é que os cien-tistas coletaram informações no Imposto de Renda, permi-tindo conhecer dados sobre tributos, heranças e registros de altos salários. Isso revelou que a desigualdade, que havia caí-do entre a Primeira e a Segunda Guerras, havia voltado a cres-cer a partir dos anos 1980 em quase todos os países desenvol-vidos. E tudo isso com concentração de renda entre os mais ricos, que ocupam o topo da pirâmide”, explica. Basicamente, o livro do economista francês derruba a teoria de Simon Kuz-nets, de dizia que a desigualdade tenderia a subir por algum tempo nas sociedades em processo de industrialização, até atingir um ponto máximo, a partir do qual passaria a diminuir. Combinados a outros efeitos de menor importância, a modernização da economia aliada a políticas públicas carac-terísticas da democracia resultariam em menor desigualdade no longo prazo.

“Em um gráfico, este movimento era representado por uma curva em forma de U invertido. No Brasil, nos anos 1970, se dizia que primeiro era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuir”, lembra Carlos Ribeiro. Piketty revela, com os novos dados, que essa curva teria sido verdadeira até certo

Carlos Antonio Costa Ribeiro é pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp / Uerj). Ph.D. em sociologia pela Columbia University, foi pesquisador convidado do Center for Advanced Studies in the Behavioral Sciences (CASBS), da Stanford University. Seu principal objeto de pesquisa é a Estratificação e Mobilidade Social.

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RUMOS – 8 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 9– Julho/Agosto 2014

ecentemente, o lançamento da versão em inglês do livro Le capital au 21e siècle, do econo-mista francês Thomas Piketty, causou grande repercussão e tornou-se, sem dúvida, o livro de economia mais debatido dos últimos tempos. Foi uma verdadeira febre. As vendas estoura-

ram e a publicação transformou-se em um grande best-seller econômico. As ideias de Piketty sobre a concentração de ren-da e desigualdades no capitalismo são, na verdade, fruto do esforço de mais de 20 grandes cientistas e suas equipes de pes-quisadores. Mas por que o livro chamou tanta atenção em

todo o mundo? Por que provocou tanta polêmi-ca e figurou por meses na lista dos mais procu-rados e mais vendidos?

A Rumos conversou com o doutor Carlos Antonio Costa Ribeiro, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp /Uerj), sobre como as i d e i a s d e T h o m a s Piketty, que serão lança-das nes te segundo semestre no Brasil , podem contribuir com o debate sobre a desi-

gualdade social e seus efeitos para a economia e o desenvolvi-mento dos países. Carlos Ribeiro é Ph.D. em sociologia pela Columbia University e foi pesquisador convidado do Center for Advanced Studies in the Behavioral Sciences (CASBS), da

Pesquisador brasileiro faz uma análise das conclusões do economista francês Thomas Piketty, sobre concentração de renda e riqueza, no livro que virou best-seller mundial, e discute sobre as conexões da pesquisa com a realidade social brasileira

Por Ana Redig

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Desigualdadecrescente

Carlos Antonio Costa Ribeiro

Stanford University. Seu principal objeto de pesquisa é a Estra-tificação e Mobilidade Social.

O tema se relaciona com as desigualdades sociais e econô-micas não somente em um determinado período de tempo, mas também na reprodução ou superação dessas desigualda-des ao longo das gerações e dos ciclos de vida dos indivíduos. Para compreender esses fenômenos, o professor dedicou-se a estudar temas como mobilidade social intergeracional, desi-gualdade de oportunidades educacionais, classes sociais, desi-gualdades raciais, mercados de casamento, transições para a vida adulta, criminalidade e justiça.

Carlos Costa Ribeiro recebeu o livro de Piketty com gran-de interesse. “A maior novidade dessa pesquisa é que os cien-tistas coletaram informações no Imposto de Renda, permi-tindo conhecer dados sobre tributos, heranças e registros de altos salários. Isso revelou que a desigualdade, que havia caí-do entre a Primeira e a Segunda Guerras, havia voltado a cres-cer a partir dos anos 1980 em quase todos os países desenvol-vidos. E tudo isso com concentração de renda entre os mais ricos, que ocupam o topo da pirâmide”, explica. Basicamente, o livro do economista francês derruba a teoria de Simon Kuz-nets, de dizia que a desigualdade tenderia a subir por algum tempo nas sociedades em processo de industrialização, até atingir um ponto máximo, a partir do qual passaria a diminuir. Combinados a outros efeitos de menor importância, a modernização da economia aliada a políticas públicas carac-terísticas da democracia resultariam em menor desigualdade no longo prazo.

“Em um gráfico, este movimento era representado por uma curva em forma de U invertido. No Brasil, nos anos 1970, se dizia que primeiro era preciso fazer o bolo crescer para depois distribuir”, lembra Carlos Ribeiro. Piketty revela, com os novos dados, que essa curva teria sido verdadeira até certo

Carlos Antonio Costa Ribeiro é pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp / Uerj). Ph.D. em sociologia pela Columbia University, foi pesquisador convidado do Center for Advanced Studies in the Behavioral Sciences (CASBS), da Stanford University. Seu principal objeto de pesquisa é a Estratificação e Mobilidade Social.

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de de oportunidades de todos os tempos. “No Brasil isso se dá tardiamente, mas está de fato acontecendo. Até a década de 1960 mais da metade dos brasileiros estava fora da escola. Hoje, mesmo estando longe dessa escola ser boa, mais gente está sendo incluída, aumentando a competição e fazendo a mobilidade no Brasil crescer”.

Observar a realidade brasileira sob a ótica das ideias que Piketty e sua equipe de pesquisadores trazem sobre os países desenvolvidos permite perceber a necessidade de o país pro-mover um desenvolvimento não somente econômico. O pro-fessor Carlos Antonio Ribeiro elege as políticas educacionais como a mais importante delas, mas afirma que também é pre-ciso instituir e aplicar diversas políticas de inclusão para que o país se desenvolva no longo prazo. “É neste ponto que preci-samos nos perguntar qual desenvolvimento queremos para o Brasil. Onde queremos colocar o país no cenário internacio-nal? Que tipo de economia queremos ser no contexto global?”

Como país em desenvolvimento, o Brasil ainda tem mar-gem para avançar para além da educação básica. Para o soció-logo, é preciso dar atenção também aos investimentos em geração de empregos de qualidade e que ajudem a impulsionar o desenvolvimento do país, como em tecnologia, economia criativa etc. “É preciso formar as pessoas, gerar competitivi-dade econômica interna e externa. Quando o país tem muita desigualdade, perdem-se muitos talentos. A baixa qualidade da educação aborta a criatividade de muitas pessoas que pode-riam, em alguns anos, estar colaborando para o desenvolvi-mento do país de maneira decisiva. São empreendedores, cien-tistas, médicos, matemáticos, artistas, pessoas com diferentes talentos que vêm sendo desperdiçados”, ensina.

Forças equalizadoras – Para contornar o processo identifi-cado por Piketty de concentração de renda entre os mais ricos dos países mais ricos do mundo, o economista francês aponta a adoção de políticas de equalização como solução para a redução das desigualdades. Ele diz que uma das principais for-ças equalizadoras que aconteceram na Europa foram as polí-ticas adotadas logo após as duas Grandes Guerras, que arra-saram a economia e as reservas dos países e das famílias sem distinção de classe econômica ou social. Para reconstruir esses países e suas economias foram criadas muitas políticas públicas que promovessem o desenvolvimento sem concen-tração de renda.

“No Brasil, o desenvolvimento foi sempre muito concen-trador de renda. E grande parte dessa desigualdade se deve ao protecionismo”, avalia o professor Carlos Antonio Ribeiro. Na sua opinião, “quando o país elege alguns setores da eco-nomia para receber crédito diferenciado, incentivos e isen-ções especiais está permitindo que uns enriqueçam mais do que outros, sem a devida competição”, pontua o especialista. Ele pensa que, com menos favorecimentos, talvez o resultado fosse mais positivo. “Muitas vezes essas políticas não são tão evidentes como podem parecer. O fato é que elas represen-tam escolhas que o país faz sobre os caminhos possíveis do desenvolvimento. E isso é de suma importância”, destaca.

momento, e que agora ela estaria se assemelhando a uma onda, ou um til. O professor explica que esta mudança pode ter acontecido porque quando se mede a desigualdade de renda em um determinado país ou mesmo na comparação entre países , as – – pesquisas são feitas por amostragem, sejam as PNADs, utilizadas em todo o mundo, ou os Cen-sos. “Por serem amostrais, essas pesquisas apre-sentam algumas falhas. Uma delas é não pegar o topo da distribuição de renda, porque a quantidade de pessoas nessa faixa é tão pequena que não chega a ser representativa da população como um todo”.

Ao analisar os dados sobre os mais ricos dos países mais desenvolvidos do planeta, Piketty

demonstrou que a desigualdade de renda está aumentando, ou seja, os ricos estão se tornando cada vez mais ricos. Para o sociólogo, o livro causou grande impacto nos Estados Unidos porque o país vem percebendo um aumento desta desigualda-de desde a década de 1970, fato que preocupa muitos estudio-sos. “O diagnóstico do problema é muito interessante e importante, pois permite uma análise mais fina da distribuição de renda na sociedade”, avalia Carlos Ribeiro.

Ao tocar na distribuição de renda do topo da sociedade, ele está falando de grandes heranças, altos salários, ou seja, de uma parte da população que tem muitos recursos e forte poder de decisão. Isso não inclui somente as grandes fortunas, mas também os altos salários dos executivos e empresários. Isso porque a concentração de capital permite a formação de grandes empresas, que controlam um volume expressivo de dinheiro. E quem decide sobre esses recursos são seus diri-gentes, pessoas que têm poder para aumentar consideravel-mente seus próprios salários, gerando mais renda, que se tor-nará o capital que realimenta o processo.

O economista francês argumenta que os mercados não possuem nem os mecanismos nem os incentivos necessários para frear esse processo, e avisa que é preciso aumentar o con-trole desses mercados por instituições, especialmente pelo Estado. “O que Piketty diz é que há uma tendência nesses paí-ses a não só aumentar a desigualdade de renda, como também a de oportunidades, por meio da concentração das heranças dos mais ricos. Assim, ele propõe a criação de impostos mais altos sobre as grandes fortunas, entre outros mecanismos de controle que permitam uma distribuição mais eficiente deste dinheiro”, explica o especialista. O problema é que o capital muda de lugar sempre que necessário. “A solução proposta pelo economista francês seria criar um imposto global, o que, na minha opinião, seria inviável”, avalia.

Brasil – No Brasil, a desigualdade na distribuição de renda é histórica. O debate em torno do tema vem ganhando corpo desde meados da década de 1990, apesar de os avanços nessa área serem visíveis. O Brasil, assim como a China e Índia, incluiu um contingente muito expressivo de pessoas na eco-nomia nos últimos anos. “Da mesma forma, aumenta, ano a ano, o número de pessoas que declaram Imposto de Renda no

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país, revelando um crescimento real de poder aquisitivo”, explica o sociólogo. Ainda assim, o país deve ficar atento para que a taxa de crescimento do capital e seus rendimentos não fique maior do que as taxas de crescimento das outras rendas, como as do trabalho, por exemplo. “Se isso acontecer, a desi-gualdade crescerá, aumentando a desigualdade total”, avisa o professor.

De fato, hoje a classe média brasileira representa mais de 50% da população. Cabe esclarecer que este conceito engloba situações de renda média mensal per capita entre R$ 400 e R$ 1.000. “A vida das pessoas realmente mudou e o salário aumentou. Naturalmente, o consumo também cresceu. Cul-turalmente, entretanto, quando se fala de classe média, enten-de-se como pessoas não só de uma faixa econômica mais alta, mas também com um melhor nível educacional”, observa Cos-ta Ribeiro. Para ele, o ganho econômico é um fato, assim como a mobilidade no Brasil é real, mas avisa que ainda há muito a fazer. “O país passa por um momento de mudanças e trans-formações importantes. Preocupa o fato de estarmos em cam-panha eleitoral e não se tocar nos temas da desigualdade e da mobilidade social, como se a questão estivesse resolvida”, des-taca o sociólogo.

Segundo o pesquisador, ainda não é possível verificar se o mesmo fenômeno observado por Piketty nas grandes potên-cias está acontecendo entre os ricos no Brasil, pois os dados ainda não foram liberados. Ele afirma que é possível, através do acompanhamento de outros indicadores de riqueza, reco-nhecer na sociedade brasileira tanto sinais de melhoria de ren-da, como de oportunidade de mobilidade social. “Este é um processo, vem melhorando desde a década de 70 e acredito que ainda temos potencial para avançar. Ainda estamos na fase de crescer o bolo, mas é preciso aguardar os números ofi-ciais”, diz o professor. O governo brasileiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já estão trabalhando na disponibilização desses dados para pesquisadores, mas é pre-ciso tomar algumas medidas de segurança, como garantir o acesso às informações preservando o sigilo da identidade dos declarantes.

Carlos Antonio Costa Ribeiro destaca que existem outros fatores relacionados ao desenvolvimento e que contribuem muito para a formação desse cenário. Exemplo mais emble-mático e atual é a enorme inclusão que vem acontecendo nos países em desenvolvimento e que têm uma população muito volumosa, como a China, Índia e até o Brasil. “Se analisarmos as informações disponíveis sobre a China, por exemplo, encontraremos altas taxas e indicadores de forte desigualda-de. No entanto, é fácil perceber que nos últimos tempos ocor-reu a inclusão de um grupo realmente expressivo de pessoas no mercado econômico. Sempre que isso ocorre com popula-ções gigantes como a China, acabam impactando todo o pla-neta”, observa Costa Ribeiro.

O livro de Piketty mostra que, ao menos nos países desen-volvidos, esse ciclo de melhorias em termos de mobilidade social e redução de desigualdade de renda aconteceu até mais ou menos a década de 1970. A partir da década de 1980 a desi-

gualdade de renda começou a aumentar e, assim, come-çou a haver uma maior con-centração de renda. Segundo as previsões nada otimistas do economista francês, a ten-dência é haver uma maior concentração e uma redução de oportunidades. Compa-rando os estudos de Piketty sobre os países mais desen-volvidos do planeta com aqueles que ainda têm espa-ço para crescer, fica a per-gunta: o Brasil estaria cami-nhando para o mesmo lugar?

O professor responde explicando como funciona a relação entre o desenvolvi-mento econômico e a mobi-lidade social e a desigualdade de oportunidades: “Em geral, na maior parte dos paí-ses quando o desenvolvi-mento econômico aumenta, a desigualdade de oportunidades diminui. É isso que faz cres-cer muito a mobilidade social”, opina. Segundo o professor Costa Ribeiro, desde a década de 1970 essa mobilidade vem acontecendo no Brasil e tem aumentado intergeracionalmen-te, ou seja, as oportunidades têm sido maiores a cada geração. Neste período ocorreu uma mudança de perfil na sociedade brasileira, deixando de ser predominantemente rural para se tornar urbana e moderna. “Muitos filhos de agricultores mui-to pobres subiram na estrutura social brasileira, tornando-se trabalhadores não qualificados nos centros urbanos”, explica. Com isso, a família passa a ter acesso a uma série de outras coi-sas, não só a bens de consumo, mas também a informação, cul-tura etc.

O professor destaca, entretanto, a enorme distância de oportunidades entre os filhos das famílias pobres e das de ori-gem mais abastada. “Quando se compara esses dois grupos, os filhos de famílias ricas – e não estamos avaliando as super ricas – têm muito mais chances de aproveitar essas oportuni-dades do que os que nasceram em lares pobres”, afirma. Segundo o sociólogo, é essa desigualdade de condições, de ren-da, de riqueza e de oportunidades que afeta a capacidade de mobilidade social de uma geração para a outra, ou seja, de um filho de pobres se tornar e manter-se rico.

Com o desenvolvimento do Sistema Educacional Brasilei-ro e a ampliação ao acesso à Educação, essa tendência caiu con-sideravelmente. “Ainda que reconheçamos que a Educação não seja de qualidade, é melhor uma escola deficiente do que nenhuma escola”, opina Carlos Ribeiro. Segundo ele, a expan-são do Sistema Educacional no Brasil é o principal fator de redução da desigualdade de renda e diminuição da desigualda-

Precisamos nos perguntar qual

desenvolvimento queremos para o

Brasil. Onde queremos colocar o

país no cenário internacional? Que tipo de economia queremos ser no contexto global?

Carlos Antonio Costa Ribeiro

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RUMOS – 10 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 11– Julho/Agosto 2014

de de oportunidades de todos os tempos. “No Brasil isso se dá tardiamente, mas está de fato acontecendo. Até a década de 1960 mais da metade dos brasileiros estava fora da escola. Hoje, mesmo estando longe dessa escola ser boa, mais gente está sendo incluída, aumentando a competição e fazendo a mobilidade no Brasil crescer”.

Observar a realidade brasileira sob a ótica das ideias que Piketty e sua equipe de pesquisadores trazem sobre os países desenvolvidos permite perceber a necessidade de o país pro-mover um desenvolvimento não somente econômico. O pro-fessor Carlos Antonio Ribeiro elege as políticas educacionais como a mais importante delas, mas afirma que também é pre-ciso instituir e aplicar diversas políticas de inclusão para que o país se desenvolva no longo prazo. “É neste ponto que preci-samos nos perguntar qual desenvolvimento queremos para o Brasil. Onde queremos colocar o país no cenário internacio-nal? Que tipo de economia queremos ser no contexto global?”

Como país em desenvolvimento, o Brasil ainda tem mar-gem para avançar para além da educação básica. Para o soció-logo, é preciso dar atenção também aos investimentos em geração de empregos de qualidade e que ajudem a impulsionar o desenvolvimento do país, como em tecnologia, economia criativa etc. “É preciso formar as pessoas, gerar competitivi-dade econômica interna e externa. Quando o país tem muita desigualdade, perdem-se muitos talentos. A baixa qualidade da educação aborta a criatividade de muitas pessoas que pode-riam, em alguns anos, estar colaborando para o desenvolvi-mento do país de maneira decisiva. São empreendedores, cien-tistas, médicos, matemáticos, artistas, pessoas com diferentes talentos que vêm sendo desperdiçados”, ensina.

Forças equalizadoras – Para contornar o processo identifi-cado por Piketty de concentração de renda entre os mais ricos dos países mais ricos do mundo, o economista francês aponta a adoção de políticas de equalização como solução para a redução das desigualdades. Ele diz que uma das principais for-ças equalizadoras que aconteceram na Europa foram as polí-ticas adotadas logo após as duas Grandes Guerras, que arra-saram a economia e as reservas dos países e das famílias sem distinção de classe econômica ou social. Para reconstruir esses países e suas economias foram criadas muitas políticas públicas que promovessem o desenvolvimento sem concen-tração de renda.

“No Brasil, o desenvolvimento foi sempre muito concen-trador de renda. E grande parte dessa desigualdade se deve ao protecionismo”, avalia o professor Carlos Antonio Ribeiro. Na sua opinião, “quando o país elege alguns setores da eco-nomia para receber crédito diferenciado, incentivos e isen-ções especiais está permitindo que uns enriqueçam mais do que outros, sem a devida competição”, pontua o especialista. Ele pensa que, com menos favorecimentos, talvez o resultado fosse mais positivo. “Muitas vezes essas políticas não são tão evidentes como podem parecer. O fato é que elas represen-tam escolhas que o país faz sobre os caminhos possíveis do desenvolvimento. E isso é de suma importância”, destaca.

momento, e que agora ela estaria se assemelhando a uma onda, ou um til. O professor explica que esta mudança pode ter acontecido porque quando se mede a desigualdade de renda em um determinado país ou mesmo na comparação entre países , as – – pesquisas são feitas por amostragem, sejam as PNADs, utilizadas em todo o mundo, ou os Cen-sos. “Por serem amostrais, essas pesquisas apre-sentam algumas falhas. Uma delas é não pegar o topo da distribuição de renda, porque a quantidade de pessoas nessa faixa é tão pequena que não chega a ser representativa da população como um todo”.

Ao analisar os dados sobre os mais ricos dos países mais desenvolvidos do planeta, Piketty

demonstrou que a desigualdade de renda está aumentando, ou seja, os ricos estão se tornando cada vez mais ricos. Para o sociólogo, o livro causou grande impacto nos Estados Unidos porque o país vem percebendo um aumento desta desigualda-de desde a década de 1970, fato que preocupa muitos estudio-sos. “O diagnóstico do problema é muito interessante e importante, pois permite uma análise mais fina da distribuição de renda na sociedade”, avalia Carlos Ribeiro.

Ao tocar na distribuição de renda do topo da sociedade, ele está falando de grandes heranças, altos salários, ou seja, de uma parte da população que tem muitos recursos e forte poder de decisão. Isso não inclui somente as grandes fortunas, mas também os altos salários dos executivos e empresários. Isso porque a concentração de capital permite a formação de grandes empresas, que controlam um volume expressivo de dinheiro. E quem decide sobre esses recursos são seus diri-gentes, pessoas que têm poder para aumentar consideravel-mente seus próprios salários, gerando mais renda, que se tor-nará o capital que realimenta o processo.

O economista francês argumenta que os mercados não possuem nem os mecanismos nem os incentivos necessários para frear esse processo, e avisa que é preciso aumentar o con-trole desses mercados por instituições, especialmente pelo Estado. “O que Piketty diz é que há uma tendência nesses paí-ses a não só aumentar a desigualdade de renda, como também a de oportunidades, por meio da concentração das heranças dos mais ricos. Assim, ele propõe a criação de impostos mais altos sobre as grandes fortunas, entre outros mecanismos de controle que permitam uma distribuição mais eficiente deste dinheiro”, explica o especialista. O problema é que o capital muda de lugar sempre que necessário. “A solução proposta pelo economista francês seria criar um imposto global, o que, na minha opinião, seria inviável”, avalia.

Brasil – No Brasil, a desigualdade na distribuição de renda é histórica. O debate em torno do tema vem ganhando corpo desde meados da década de 1990, apesar de os avanços nessa área serem visíveis. O Brasil, assim como a China e Índia, incluiu um contingente muito expressivo de pessoas na eco-nomia nos últimos anos. “Da mesma forma, aumenta, ano a ano, o número de pessoas que declaram Imposto de Renda no

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país, revelando um crescimento real de poder aquisitivo”, explica o sociólogo. Ainda assim, o país deve ficar atento para que a taxa de crescimento do capital e seus rendimentos não fique maior do que as taxas de crescimento das outras rendas, como as do trabalho, por exemplo. “Se isso acontecer, a desi-gualdade crescerá, aumentando a desigualdade total”, avisa o professor.

De fato, hoje a classe média brasileira representa mais de 50% da população. Cabe esclarecer que este conceito engloba situações de renda média mensal per capita entre R$ 400 e R$ 1.000. “A vida das pessoas realmente mudou e o salário aumentou. Naturalmente, o consumo também cresceu. Cul-turalmente, entretanto, quando se fala de classe média, enten-de-se como pessoas não só de uma faixa econômica mais alta, mas também com um melhor nível educacional”, observa Cos-ta Ribeiro. Para ele, o ganho econômico é um fato, assim como a mobilidade no Brasil é real, mas avisa que ainda há muito a fazer. “O país passa por um momento de mudanças e trans-formações importantes. Preocupa o fato de estarmos em cam-panha eleitoral e não se tocar nos temas da desigualdade e da mobilidade social, como se a questão estivesse resolvida”, des-taca o sociólogo.

Segundo o pesquisador, ainda não é possível verificar se o mesmo fenômeno observado por Piketty nas grandes potên-cias está acontecendo entre os ricos no Brasil, pois os dados ainda não foram liberados. Ele afirma que é possível, através do acompanhamento de outros indicadores de riqueza, reco-nhecer na sociedade brasileira tanto sinais de melhoria de ren-da, como de oportunidade de mobilidade social. “Este é um processo, vem melhorando desde a década de 70 e acredito que ainda temos potencial para avançar. Ainda estamos na fase de crescer o bolo, mas é preciso aguardar os números ofi-ciais”, diz o professor. O governo brasileiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já estão trabalhando na disponibilização desses dados para pesquisadores, mas é pre-ciso tomar algumas medidas de segurança, como garantir o acesso às informações preservando o sigilo da identidade dos declarantes.

Carlos Antonio Costa Ribeiro destaca que existem outros fatores relacionados ao desenvolvimento e que contribuem muito para a formação desse cenário. Exemplo mais emble-mático e atual é a enorme inclusão que vem acontecendo nos países em desenvolvimento e que têm uma população muito volumosa, como a China, Índia e até o Brasil. “Se analisarmos as informações disponíveis sobre a China, por exemplo, encontraremos altas taxas e indicadores de forte desigualda-de. No entanto, é fácil perceber que nos últimos tempos ocor-reu a inclusão de um grupo realmente expressivo de pessoas no mercado econômico. Sempre que isso ocorre com popula-ções gigantes como a China, acabam impactando todo o pla-neta”, observa Costa Ribeiro.

O livro de Piketty mostra que, ao menos nos países desen-volvidos, esse ciclo de melhorias em termos de mobilidade social e redução de desigualdade de renda aconteceu até mais ou menos a década de 1970. A partir da década de 1980 a desi-

gualdade de renda começou a aumentar e, assim, come-çou a haver uma maior con-centração de renda. Segundo as previsões nada otimistas do economista francês, a ten-dência é haver uma maior concentração e uma redução de oportunidades. Compa-rando os estudos de Piketty sobre os países mais desen-volvidos do planeta com aqueles que ainda têm espa-ço para crescer, fica a per-gunta: o Brasil estaria cami-nhando para o mesmo lugar?

O professor responde explicando como funciona a relação entre o desenvolvi-mento econômico e a mobi-lidade social e a desigualdade de oportunidades: “Em geral, na maior parte dos paí-ses quando o desenvolvi-mento econômico aumenta, a desigualdade de oportunidades diminui. É isso que faz cres-cer muito a mobilidade social”, opina. Segundo o professor Costa Ribeiro, desde a década de 1970 essa mobilidade vem acontecendo no Brasil e tem aumentado intergeracionalmen-te, ou seja, as oportunidades têm sido maiores a cada geração. Neste período ocorreu uma mudança de perfil na sociedade brasileira, deixando de ser predominantemente rural para se tornar urbana e moderna. “Muitos filhos de agricultores mui-to pobres subiram na estrutura social brasileira, tornando-se trabalhadores não qualificados nos centros urbanos”, explica. Com isso, a família passa a ter acesso a uma série de outras coi-sas, não só a bens de consumo, mas também a informação, cul-tura etc.

O professor destaca, entretanto, a enorme distância de oportunidades entre os filhos das famílias pobres e das de ori-gem mais abastada. “Quando se compara esses dois grupos, os filhos de famílias ricas – e não estamos avaliando as super ricas – têm muito mais chances de aproveitar essas oportuni-dades do que os que nasceram em lares pobres”, afirma. Segundo o sociólogo, é essa desigualdade de condições, de ren-da, de riqueza e de oportunidades que afeta a capacidade de mobilidade social de uma geração para a outra, ou seja, de um filho de pobres se tornar e manter-se rico.

Com o desenvolvimento do Sistema Educacional Brasilei-ro e a ampliação ao acesso à Educação, essa tendência caiu con-sideravelmente. “Ainda que reconheçamos que a Educação não seja de qualidade, é melhor uma escola deficiente do que nenhuma escola”, opina Carlos Ribeiro. Segundo ele, a expan-são do Sistema Educacional no Brasil é o principal fator de redução da desigualdade de renda e diminuição da desigualda-

Precisamos nos perguntar qual

desenvolvimento queremos para o

Brasil. Onde queremos colocar o

país no cenário internacional? Que tipo de economia queremos ser no contexto global?

Carlos Antonio Costa Ribeiro

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RUMOS – 12 – Julho/Agosto 2014

inanciar o desenvolvimento é uma atividade nobre, com impactos sensíveis sobre a vida de milhões de pessoas. Apoiar o desenvolvimento das pessoas e organizações que ajudam a população é tarefa igual-mente nobre. Trata-se de uma mesma e longa cadeia

de relacionamentos e encadeamentos, que só se justifica pela melhoria da qualidade de vida da população brasileira, sobretudo a mais necessitada.

Entidades financeiras cujo objetivo é contribuir para o desen-volvimento têm uma missão diferente daquela que empresas priva-das costumam escolher. Nas IFDs, a dimensão finalística do mapa estratégico não é a maximização do resultado financeiro, mas sim o desenvolvimento de um país, região ou estado. Esta particular defi-nição de “negócio” é a chave para entender o papel da gestão nesse tipo de organização.

Os desafios de IFDs não são menores dos que os de empresas privadas. O traço distintivo da gestão de agências e bancos de desenvolvimento é a intensidade dos dilemas postos pela disjuntiva mudança e continuidade. Explico.

Um fabricante de computadores parece ter sempre o mesmo negócio. Ledo engano. Computadores são na essência a mesma coi-sa desde o início: máquinas de processar informação. Em sua for-ma e função, entretanto, as mudanças são imensas. Hoje os com-putadores servem como instrumentos para acessar informações e lazer disponíveis na rede, substituem os telefones e, eventualmente, processam informações. As mudanças no ambiente de negócios obrigaram as empresas de hardware a adquirir novas competências, readequar processos, cativar novos consumidores, estabelecer novas parcerias etc.

Se negócios cujos produtos são sempre iguais a si mesmos estão em mudança permanente, o que dirá de um cujo objeto é o desenvolvimento? A dinâmica socioeconômica está em contínua operação, produzindo mudanças que nenhum analista consegue aquilatar com precisão de antemão. Para além dos óbvios riscos financeiros, uma das maiores ameaças às IFDs é escorregar para a vala comum da irrelevância. Esta só pode ser evitada pela aplicação disciplinada da mudança contínua.

Bancos lidam com dinheiro. Bancos estatais lidam com dinhei-ro público. Frequentemente há conexões orçamentárias. Tal con-texto tende a gerar posturas e práticas conservadoras. “Emprestar dinheiro para quem pode pagar” não é exatamente uma missão que requer inovação, nem sequer a induz. Ao contrário, quase a exclui. Mas esse “cliente” insiste em mudar e se reinventar.

Nos anos 50, o BNDES, por exemplo, tinha poucos clientes, parecidos uns com os outros, ao menos em seus setores: hidrelétri-cas, siderúrgicas, ferrovias, fabricantes de automóveis e quase mais ninguém. Hoje tem centenas de milhares, desde indivíduos a multi-nacionais, cooperativas de catadores de lixo, usinas de bioetanol,

fabricantes de aviões, governos estrangeiros, entre outros. Para atendê-los, são desenvolvidos novos produtos financeiros, imple-mentadas novas parcerias e a inovação se torna um elemento imprescindível do modelo de negócios.

Para lidar com um ambiente de negócios cada dia mais com-plexo, a organização que só pensava em trabalhar precisa come-“ ”çar a falar sobre gestão. O que antes era uma atividade intrínseca às operações, visível apenas a olhos muito treinados, aos poucos se torna uma área de grande protagonismo. Cada dia mais profissio-nais das IFDs se dedicam a temas como planejamento estratégico, gestão de projetos, sistemas integrados, processos, controles, con-formidade, competências, liderança – uma pletora de atividades novas, sempre mais especializadas e com forte propensão a se reali-mentarem continuamente.

Hoje a modernidade gerencial reclama um espaço cada vez maior no dia a dia das organizações públicas. Ela alega substituir com vantagem as antigas práticas de administração, muitas delas eivadas de elementos tradicionais. No lugar de sucessivas intera-ções pessoais entram normas, processos e sistemas ditos impesso-ais. Ao invés de uma adaptação flexível e diferenciada a vários con-textos, defende-se a padronização e a automação. O controle cen-tralizado limita a autonomia das equipes, percebida como fonte de riscos operacionais. O planejamento estratégico privilegia as metas corporativas, universais, em detrimento das estratégias emergentes que predominavam.

A modernização da gestão é um caminho sem volta. Os novos instrumentos são extremamente úteis para lidar com um contexto operacional cada vez mais complexo. As IFDs lidam com desafios em constante mutação, sem um caminho preestabelecido com cla-reza, pois o desenvolvimento é realizado por milhões de agentes em sucessivas interações, dentro de um sistema mundial que tam-bém está em mudança.

Sugiro que é necessário conciliar os requisitos de moderniza-ção com as práticas tradicionais, típicas de organizações que se iden-tificam como comunidades. Isso se traduz em aceitação das subje-tividades, na valorização das interações pessoais, no reconhecimen-to dos particularismos, na conciliação de estratégias centralizadas com as que emergem das ações das equipes, entre outras caracterís-ticas. Este é o terreno fértil para o florescimento de relações de con-fiança, base de toda organização bem-sucedida e duradoura.

As IFDs deveriam construir um estilo de gestão que reco-nheça diversos comportamentos e práticas. Precisamos traba-lhar esse meio de campo. Devemos ser protagonistas de um modelo de gestão onde diversos instrumentos e abordagens convivam, coexistam, com sinergia e harmonia. Nosso modelo deveria privilegiar o E ao invés do OU . Tal como o desen-“ ” “ ”volvimento que perseguimos, a gestão deve ser inclusiva e abrangente, consequente e justa.

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RREFLEXÃO

Economista. Superintendente de Recursos Humanos do BNDES.

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Desenvolvimento e Gestão O Imperativo da Coexistência

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m função do ambiente de negócios favorável e do seu potencial de crescimento, a área de Renda Variável da Agência Estadual de Fomento (Age-Rio) foi transformada em fevereiro de 2014 na Superintendência de Participações, Parcerias e

Produtos (Supar), que já tem em seu portfólio participações em cinco fundos de investimentos e em uma empresa, dos setores de tecnologia da informação e comunicação (TIC), audiovisual, tecnologia limpa, biotecnologia e energia. Mas quer mais. No momento, estão em análise diferentes oportu-nidades de investimentos nas áreas definidas como prioritárias pela agência, especialmente no que diz respeito às empresas inovadoras.

A superintendência, vinculada à Diretoria de Operações, tem foco em participações, parcerias e produtos e visa atender à vocação do estado para a inovação, traduzida por três par-ques tecnológicos, 19 incubadoras de empresas, 26 centros de pesquisa, 19 universidades e a maior concentração de Ph.Ds por habitantes do país. “Isto traz desenvolvimento econômico para o estado”, salientou o diretor de Operações e Governo da AgeRio, Dário Araújo.

O diretor disse ainda que o estado tem duas cidades com grande potencial de geração de conhecimento, que são a capi-tal fluminense e Niterói. “As duas estão no quadrante de mai-or concentração de número de pesquisadores por habitante, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)”. Araújo frisou que, por essas razões, o estado do Rio reúne condições básicas para que a AgeRio possa desenvol-ver uma área estratégica de participações. “Até porque isso atrai empresas startups, com viés de inovação, buscando desenvolver suas ideias e seu potencial”.

Foco – Após a busca inicial de profissionais de mercado com competência instalada para dar início aos trabalhos do novo departamento, a agora superintendência já está na fase de desenvolver o próprio corpo técnico, que está sendo capacita-

Por Alana Gandra

RUMOS – 14 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 15 – Julho/Agosto 2014

INOVAÇÃO

Participação acionária em empresas inovadoras se transforma em um dos grandes eixos de atuação da Agência Estadual de Fomento (AgeRio); estratégia visa explorar o potencial de geração de conhecimento do estado, que conta com 19 universidades, 26 centros de pesquisa e a maior concentração de Ph.Ds por habitantes do país

C CENÁRIOS DO RIO

Edo, do mesmo modo que ocorreu em relação ao corpo jurídico. Parceiros importantes do ponto de vista estratégico, com expe-riência em participações, foram identificados no mercado pela agência, entre os quais o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Finep, a Federação das Indús-trias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e Fundos de Pensão.

Olhando as vocações do estado fluminense, foram estabe-lecidas como focos prioritários de atuação, sem excluir oportu-nidades em outros setores, as áreas de turismo, indústria cine-matográfica, tecnologia limpa, biotecnologia, TIC e energia, esta englobando petróleo e gás. “Elegemos seis setores que entendemos como estratégicos do ponto de vista de vocações do estado. Mas não excluímos nenhuma oportunidade de negó-cio”, ressaltou o diretor.

Nessa linha, o pré-sal é uma das áreas de interesse. “Porque sabemos que está trazendo para o Rio de Janeiro um grande número de empresas, inclusive estrangeiras, buscando essa oportunidade. Junto com a empresa vem toda a sua cadeia de fornecedores, que em muitos casos é desenvolvida localmente”.

Capital – A agência trabalha com o capital semente e o venture capital, uma vez que na etapa seguinte, de equity (tipo de fundo que compra participações em empresas), são exigidos capitais maiores, ou seja, volumes mais robustos de aporte. Na posição da cadeia de valor, quando as empresas nascentes amadurecem, passam pelas aceleradoras e começam a crescer, elas precisam de financiamento. Nesse momento, a Finep abriu uma linha de financiamento, por meio do programa Inovacred, priorizando as agências estaduais de fomento. “Buscamos nos habilitar na primeira hora. Fomos a primeira agência estadual”, contou o diretor, ressaltando que a agência não atende só startups no Ino-vacred, mas empresas maduras também, desde que tenham um projeto ou processo inovador que esteja enquadrado nas regras do programa, como é o caso do Easy Food que, após ser inves-tida por um Fundo (NascenTI), está buscando junto à AgeRio financiamento do Inovacred (ver boxe).

A AgeRio usa recursos próprios nas participações. Como a agência é cotista de fundos que, por sua vez, têm outros cotis-tas, os recursos aplicados acabam alavancando novos investi-mentos, que trazem retorno para o estado. “O retorno não é só a nossa participação direta. É o que aquele fundo faz de aplica-ção na economia do estado”, ponderou Dário.

Dentro do orçamento anual da instituição, é previsto um valor para ser trabalhado no segmento de renda variável. Este ano, a dotação é de R$ 20 milhões, valor que pode evoluir, dependendo do resultado que for obtido. A expectativa é que o retorno dos investimentos ocorra entre quatro ou cinco anos, “que é quando as empresas amadurecem e começam a gerar retorno dos investimentos”, explicou.

Após a análise das oportunidades de negócio do ponto de vista econômico-financeiro e jurídico, os comitês de investi-mento opinam sobre os projetos, contando com a participação de especialistas do mercado. “Depois, dependendo do valor de comprometimento a ser subscrito, nós submetemos à diretoria executiva e até mesmo ao Conselho Diretor da agência. O pro-cedimento faz parte do processo de governança corporativa para aprovar as oportunidades de negócio”, detalhou o diretor.

Como se trata de recursos públicos, tem que ter uma estru-tura de governança sólida, acrescentou Dário. “Tem que preva-lecer a técnica, sempre, para que a gente tenha sucesso e traga bons frutos para alavancar a economia do estado”. O foco, rei-terou, é desenvolver a empresa, mas também gerar resultado. Por isso a análise das oportunidades deve ser criteriosa, mas com expectativa de retorno. “Alavancar, sim, a economia, fazer a empresa ficar madura e gerar emprego, mas com a expectati-vade remuneração do capital”, concluiu.

Novo foco

Dário Araújo, diretor da AgeRio, e Guilherme Cohn, sócio da Easy Food, empresa inovadora apoiada pelo fundo NascenTI, que possui participação acionária da agência de fomento.

Em virtude do fundo NascenTI, gerido pela Con-frapar e que possui participa-ção acionária indireta da Age-Rio, a Easy Food pôde dar um salto de crescimento, rela-tou Guilherme Cohn, sócio e líder da área de finanças da empresa. A Easy Food é uma provedora de solução de mei-os de pagamento para canti-nas escolares, ao mesmo tem-po que agrega funcionalida-des de nutrição.

Conforme explicou o sócio, a partir de um cartão pré-pago a criança não preci-sa mais usar dinheiro no ambiente escolar. “Inicialmente, retiramos o dinheiro de circulação com o cartão pré-pago e, depois, no momento em que temos uma análise estatística bem profunda em relação ao que é consumido na cantina, conseguimos pro-mover, junto à escola e à cantina, hábitos alimentares mais saudáveis. Nós conseguimos identificar para a esco-la quais são os alimentos com pior qualidade nutricional, conseguimos recomendar o consumo adequado. O obje-tivo é levar hábitos alimentares mais saudáveis”, disse.

O aporte de R$ 2,3 milhões recebido pela Easy Food no ano passado, por meio do fundo NascenTI, significou, segundo Cohn, um “recurso fundamental” para a empre-sa. “Sem esse tipo de recurso, seria impossível para a empresa crescer, se estruturar, profissionalizar a sua ges-tão. Quando você tem esse aporte, a principal coisa é que você consegue trazer pessoas muito boas para o time. Isso, na verdade, fez com que a gente desenvolvesse essa plataforma completa de meios de pagamento e educação alimentar. Conseguimos trazer profissionais de nutrição muito qualificados, também pessoal de tecnologia. Tudo isso com o aporte que o fundo trouxe”.

Além disso, conta, foi possível expandir a tecnologia carioca para outros mercados, como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. “Tudo isso graças ao aporte. Foi muito importante para a gente se estruturar e crescer”. A Easy Food nasceu em 2011, em Macaé, no norte do estado do Rio de Janeiro. No ano seguinte, recebeu o primeiro aporte de R$ 600 mil de investidores-anjo (pessoas que investem recursos pró-prios em empresas nascentes com potencial de desen-volvimento), reunidos na LAB22, que é uma empresa que funciona como aceleradora de investimentos. Em 2013, recebeu o apoio do fundo NascenTI.

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m função do ambiente de negócios favorável e do seu potencial de crescimento, a área de Renda Variável da Agência Estadual de Fomento (Age-Rio) foi transformada em fevereiro de 2014 na Superintendência de Participações, Parcerias e

Produtos (Supar), que já tem em seu portfólio participações em cinco fundos de investimentos e em uma empresa, dos setores de tecnologia da informação e comunicação (TIC), audiovisual, tecnologia limpa, biotecnologia e energia. Mas quer mais. No momento, estão em análise diferentes oportu-nidades de investimentos nas áreas definidas como prioritárias pela agência, especialmente no que diz respeito às empresas inovadoras.

A superintendência, vinculada à Diretoria de Operações, tem foco em participações, parcerias e produtos e visa atender à vocação do estado para a inovação, traduzida por três par-ques tecnológicos, 19 incubadoras de empresas, 26 centros de pesquisa, 19 universidades e a maior concentração de Ph.Ds por habitantes do país. “Isto traz desenvolvimento econômico para o estado”, salientou o diretor de Operações e Governo da AgeRio, Dário Araújo.

O diretor disse ainda que o estado tem duas cidades com grande potencial de geração de conhecimento, que são a capi-tal fluminense e Niterói. “As duas estão no quadrante de mai-or concentração de número de pesquisadores por habitante, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)”. Araújo frisou que, por essas razões, o estado do Rio reúne condições básicas para que a AgeRio possa desenvol-ver uma área estratégica de participações. “Até porque isso atrai empresas startups, com viés de inovação, buscando desenvolver suas ideias e seu potencial”.

Foco – Após a busca inicial de profissionais de mercado com competência instalada para dar início aos trabalhos do novo departamento, a agora superintendência já está na fase de desenvolver o próprio corpo técnico, que está sendo capacita-

Por Alana Gandra

RUMOS – 14 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 15 – Julho/Agosto 2014

INOVAÇÃO

Participação acionária em empresas inovadoras se transforma em um dos grandes eixos de atuação da Agência Estadual de Fomento (AgeRio); estratégia visa explorar o potencial de geração de conhecimento do estado, que conta com 19 universidades, 26 centros de pesquisa e a maior concentração de Ph.Ds por habitantes do país

C CENÁRIOS DO RIO

Edo, do mesmo modo que ocorreu em relação ao corpo jurídico. Parceiros importantes do ponto de vista estratégico, com expe-riência em participações, foram identificados no mercado pela agência, entre os quais o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Finep, a Federação das Indús-trias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e Fundos de Pensão.

Olhando as vocações do estado fluminense, foram estabe-lecidas como focos prioritários de atuação, sem excluir oportu-nidades em outros setores, as áreas de turismo, indústria cine-matográfica, tecnologia limpa, biotecnologia, TIC e energia, esta englobando petróleo e gás. “Elegemos seis setores que entendemos como estratégicos do ponto de vista de vocações do estado. Mas não excluímos nenhuma oportunidade de negó-cio”, ressaltou o diretor.

Nessa linha, o pré-sal é uma das áreas de interesse. “Porque sabemos que está trazendo para o Rio de Janeiro um grande número de empresas, inclusive estrangeiras, buscando essa oportunidade. Junto com a empresa vem toda a sua cadeia de fornecedores, que em muitos casos é desenvolvida localmente”.

Capital – A agência trabalha com o capital semente e o venture capital, uma vez que na etapa seguinte, de equity (tipo de fundo que compra participações em empresas), são exigidos capitais maiores, ou seja, volumes mais robustos de aporte. Na posição da cadeia de valor, quando as empresas nascentes amadurecem, passam pelas aceleradoras e começam a crescer, elas precisam de financiamento. Nesse momento, a Finep abriu uma linha de financiamento, por meio do programa Inovacred, priorizando as agências estaduais de fomento. “Buscamos nos habilitar na primeira hora. Fomos a primeira agência estadual”, contou o diretor, ressaltando que a agência não atende só startups no Ino-vacred, mas empresas maduras também, desde que tenham um projeto ou processo inovador que esteja enquadrado nas regras do programa, como é o caso do Easy Food que, após ser inves-tida por um Fundo (NascenTI), está buscando junto à AgeRio financiamento do Inovacred (ver boxe).

A AgeRio usa recursos próprios nas participações. Como a agência é cotista de fundos que, por sua vez, têm outros cotis-tas, os recursos aplicados acabam alavancando novos investi-mentos, que trazem retorno para o estado. “O retorno não é só a nossa participação direta. É o que aquele fundo faz de aplica-ção na economia do estado”, ponderou Dário.

Dentro do orçamento anual da instituição, é previsto um valor para ser trabalhado no segmento de renda variável. Este ano, a dotação é de R$ 20 milhões, valor que pode evoluir, dependendo do resultado que for obtido. A expectativa é que o retorno dos investimentos ocorra entre quatro ou cinco anos, “que é quando as empresas amadurecem e começam a gerar retorno dos investimentos”, explicou.

Após a análise das oportunidades de negócio do ponto de vista econômico-financeiro e jurídico, os comitês de investi-mento opinam sobre os projetos, contando com a participação de especialistas do mercado. “Depois, dependendo do valor de comprometimento a ser subscrito, nós submetemos à diretoria executiva e até mesmo ao Conselho Diretor da agência. O pro-cedimento faz parte do processo de governança corporativa para aprovar as oportunidades de negócio”, detalhou o diretor.

Como se trata de recursos públicos, tem que ter uma estru-tura de governança sólida, acrescentou Dário. “Tem que preva-lecer a técnica, sempre, para que a gente tenha sucesso e traga bons frutos para alavancar a economia do estado”. O foco, rei-terou, é desenvolver a empresa, mas também gerar resultado. Por isso a análise das oportunidades deve ser criteriosa, mas com expectativa de retorno. “Alavancar, sim, a economia, fazer a empresa ficar madura e gerar emprego, mas com a expectati-vade remuneração do capital”, concluiu.

Novo foco

Dário Araújo, diretor da AgeRio, e Guilherme Cohn, sócio da Easy Food, empresa inovadora apoiada pelo fundo NascenTI, que possui participação acionária da agência de fomento.

Em virtude do fundo NascenTI, gerido pela Con-frapar e que possui participa-ção acionária indireta da Age-Rio, a Easy Food pôde dar um salto de crescimento, rela-tou Guilherme Cohn, sócio e líder da área de finanças da empresa. A Easy Food é uma provedora de solução de mei-os de pagamento para canti-nas escolares, ao mesmo tem-po que agrega funcionalida-des de nutrição.

Conforme explicou o sócio, a partir de um cartão pré-pago a criança não preci-sa mais usar dinheiro no ambiente escolar. “Inicialmente, retiramos o dinheiro de circulação com o cartão pré-pago e, depois, no momento em que temos uma análise estatística bem profunda em relação ao que é consumido na cantina, conseguimos pro-mover, junto à escola e à cantina, hábitos alimentares mais saudáveis. Nós conseguimos identificar para a esco-la quais são os alimentos com pior qualidade nutricional, conseguimos recomendar o consumo adequado. O obje-tivo é levar hábitos alimentares mais saudáveis”, disse.

O aporte de R$ 2,3 milhões recebido pela Easy Food no ano passado, por meio do fundo NascenTI, significou, segundo Cohn, um “recurso fundamental” para a empre-sa. “Sem esse tipo de recurso, seria impossível para a empresa crescer, se estruturar, profissionalizar a sua ges-tão. Quando você tem esse aporte, a principal coisa é que você consegue trazer pessoas muito boas para o time. Isso, na verdade, fez com que a gente desenvolvesse essa plataforma completa de meios de pagamento e educação alimentar. Conseguimos trazer profissionais de nutrição muito qualificados, também pessoal de tecnologia. Tudo isso com o aporte que o fundo trouxe”.

Além disso, conta, foi possível expandir a tecnologia carioca para outros mercados, como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. “Tudo isso graças ao aporte. Foi muito importante para a gente se estruturar e crescer”. A Easy Food nasceu em 2011, em Macaé, no norte do estado do Rio de Janeiro. No ano seguinte, recebeu o primeiro aporte de R$ 600 mil de investidores-anjo (pessoas que investem recursos pró-prios em empresas nascentes com potencial de desen-volvimento), reunidos na LAB22, que é uma empresa que funciona como aceleradora de investimentos. Em 2013, recebeu o apoio do fundo NascenTI.

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RUMOS – 17 – Julho/Agosto 2014

rês das principais agências de fomento da região Norte – Afeam (Agência de Fomento do Estado do Amazonas), Afap (Agência de Fomento do Amapá) e Aferr (Agência de Fomento do Estado de Roraima) – estão completando 15 anos de atuação no apoio ao desenvolvimento econômi-

co da região. Juntas, elas atuam em estados que possuem pouco mais que cinco milhões de habitantes, mas com o grande desafio de conjugar o crescimento econômico e o desenvolvimento social e sustentável. E assim, se tornarem cada dia mais impor-tantes para o desenvolvimento de suas regiões.

História – No final da década de 1990, o governo federal resolveu reduzir a presença do Estado na atividade finan-ceira bancária e editou uma série de Medidas Provisórias estabelecendo mecanismos para a privatização, extin-ção ou transformação em agências de fomento de instituições financeiras sob controle acionário de unidades da fede-ração. Foi nesse contexto que o Gover-no do Amazonas recebeu autorização no dia 12 de novembro de 1998, para privatizar ou federalizar o Banco do Estado do Amazonas SA (BEA) e para constituir a Afeam – Agência de Fomen-to do Estado do Amazonas. A empresa foi constituída sob a forma de empresa pública destinada a promover o desenvolvimento econômi-co do Estado, mediante o financiamento de atividades pro-dutivas (Lei Estadual 2.505).

O BEA era um banco múltiplo, com atuação em três segmentos: comércio, desenvolvimento e crédito imobiliário. Foi federalizado e privatizado. Com a federalização, a carteira de crédito imobiliário incorporou-se à Caixa Econômica Federal e a carteira de desenvolvimento foi absorvida pela

RUMOS – 16 – Julho/Agosto 2014

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R REPORTAGEM ANIVERSÁRIO

Por Carmen Nery

Agências de fomento do Amazonas, Amapá e Roraima completam 15 anos e projetam futuro; passados os principais desafios, instituições projetam investir em inovação e ampliar sua interlocução com outros agentes econômicos do país

Afeam. A privatização aconteceu em seguida: o BEA comer-cial foi vendido em leilão e os seus ativos transferiram-se para o Bradesco.

A Afeam foi constituída em Assembleia Geral realizada no dia 4 março de 1999, tendo como acionista controlador o Estado do Amazonas, que subscreveu 99,9% das ações, e acionista minoritário o município de Manacapuru. Rege-se pela Lei Federal 6.404/76, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, definindo-se como instituição financeira não

bancária, subordinada à fiscalização e à supervisão do Banco Central do Brasil e organizada sob a forma de sociedade anônima de capital fechado.

A agência originou-se do segmen-to de crédito agrícola do BEA e incor-porou os funcionários a ela vincula-dos, compondo um quadro técnico experiente e qualificado. Isso lhe per-mitiu organizar com rapidez e eficiên-cia seus manuais e normas técnicas e estruturar-se para cumprir os objeti-vos sociais definidos no art. 4º do seu Estatuto: concorrer para o desenvol-vimento econômico e social do Ama-zonas, realizando estudos e pesquisas e desenvolvendo operações de crédi-to, financiamento e investimento direcionadas para os diversos setores da atividade econômica, prioritaria-mente para os pequenos negócios.

Autorizada pelo Banco Central do Brasil a iniciar suas atividades no dia 2 de setembro de 1999, no decorrer desses 15 anos de história a instituição credenci-ou-se como um dos principais agentes de oferta de crédito ao setor produtivo do Amazonas: apoiando o crescimento e a modernização de empreendimentos industriais, comerciais e de serviços; proporcionando a geração de trabalho e empre-go, renda e salário; e contribuindo para o fortalecimento da estrutura econômico-social e para a melhoria da qualidade de

No Amazonas, agência de fomento possui capilaridade em todo o estado e, desde seu surgimento, já realizou mais de 136 mil operações de crédito para empreendedores de todos os portes.

Desenvolvimentoem três vozes

vida dos amazonenses. “A oferta de crédito por meio da Afeam é um grande incentivo para o desenvolvimento eco-nômico do estado”, registra o presidente Evandor Geber Filho. Entre os programas de fortalecimento da economia amazonense implementados pela agência, ele destaca o apoio às principais cadeias produtivas nos segmentos de borracha,

Números – Em 15 anos de atuação, a agência de fomento investiu R$ 289 milhões no setor rural, por meio de 46 mil operações de crédito. No setor da indústria foram realizadas 29.755 operações, com investimentos de R$ 337 milhões. O setor de comércio e serviço recebeu o maior volume de investimentos: cerca de R$ 519 milhões, através de 61.159

operações de crédito. A Afeam prevê investir

em novos projetos direcio-nados para inovação, apoio ao transporte rodoviário, aperfeiçoamento do pro-cesso de concessão de crédito de capital de giro e parceria internacional para apoiar o desenvolvimento de cade ias produt ivas potenciais da economia estadual.

Afap também comemoraA agência de fomento do Amapá foi a terceira institui-ção do gênero a entrar em operação no país em 10 de maio de 1999. Hoje respon-de por 25% das operações de crédito entre as agências com capital de até R$ 100 milhões e apresentou um crescimento de 1.462,5% em três anos. Para Sávio Peres, presidente da Afeam, a agência atua essencialmen-te na economia popular e é a segunda maior agência em

microcrédito produtivo orientado.“Nosso objetivo é o fortalecimento da micro e da peque-

na empresa e dos excluídos do sistema de crédito formal tradicional: ambulantes, empreendedores individuais, peque-nos negócios. Logo no dia seguinte à do MEI (Micro Empre-endedor Individual), já estávamos com produtos prontos para oferecer. Os empréstimos vão de R$ 100 a R$ 16 mil, com até 14 meses para pagar. Temos um total de 19 linhas de crédito; entre as quais a Credjuv, voltada para o jovem empre-endedor de 18 a 29 anos, com taxas de 1,5% ao mês e juro zero, se o pagamento ocorrer em dia”, enumera Peres.

Na primeira semana de agosto, a Afap, em parceria com a Secretaria de Estado da Inclusão e Mobilização Social (SIMS), foi às comunidades das áreas de ressaca de Macapá apresentar às famílias moradoras sua nova linha de crédito: a Afap Morar Melhor. A linha visa ao atendimento das exigên-cias mínimas para uma vida mais confortável e segura para a população que ainda não foi atendida pelos programas habi-

Asc

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fibra, juta, malva e guaraná, transporte aquaviário, apoio a mecanização agrícola e incentivo aos profissionais liberais.

A ação de crédito especial direcionada à categoria de moto-taxistas totaliza investimentos superiores a R$3,6 milhões e destaca-se entre as de maior alcance social realizadas este ano pela agência. Está permitindo a efetiva melhoria das condições de trabalho de 477 profissionais dessa categoria. “A finalidade é renovar a frota dos mototaxistas regularizados, proporcio-nando mais segurança aos profissionais e usuários desse trans-porte alternativo”, enfatiza Geber.

Com o objetivo de proporcionar um melhor serviço a seus clientes, a agência lançou no primeiro semestre deste ano seu novo site institucional, com ferramentas para agilizar o atendimento de forma simplificada e amigável, além de infor-mações sobre linhas de crédito, checklist, calendários de ações de crédito, notícias atualizadas e o portal da transparência – que permite à sociedade obter informações relacionadas à atuação financeira da instituição.

“A oferta de crédito por meio da Afeam é um

grande incentivo para o

desenvolvimento econômico do estado.”

Evandor Geber Filho, presidente da Afeam

Page 17: Rumos 276

RUMOS – 17 – Julho/Agosto 2014

rês das principais agências de fomento da região Norte – Afeam (Agência de Fomento do Estado do Amazonas), Afap (Agência de Fomento do Amapá) e Aferr (Agência de Fomento do Estado de Roraima) – estão completando 15 anos de atuação no apoio ao desenvolvimento econômi-

co da região. Juntas, elas atuam em estados que possuem pouco mais que cinco milhões de habitantes, mas com o grande desafio de conjugar o crescimento econômico e o desenvolvimento social e sustentável. E assim, se tornarem cada dia mais impor-tantes para o desenvolvimento de suas regiões.

História – No final da década de 1990, o governo federal resolveu reduzir a presença do Estado na atividade finan-ceira bancária e editou uma série de Medidas Provisórias estabelecendo mecanismos para a privatização, extin-ção ou transformação em agências de fomento de instituições financeiras sob controle acionário de unidades da fede-ração. Foi nesse contexto que o Gover-no do Amazonas recebeu autorização no dia 12 de novembro de 1998, para privatizar ou federalizar o Banco do Estado do Amazonas SA (BEA) e para constituir a Afeam – Agência de Fomen-to do Estado do Amazonas. A empresa foi constituída sob a forma de empresa pública destinada a promover o desenvolvimento econômi-co do Estado, mediante o financiamento de atividades pro-dutivas (Lei Estadual 2.505).

O BEA era um banco múltiplo, com atuação em três segmentos: comércio, desenvolvimento e crédito imobiliário. Foi federalizado e privatizado. Com a federalização, a carteira de crédito imobiliário incorporou-se à Caixa Econômica Federal e a carteira de desenvolvimento foi absorvida pela

RUMOS – 16 – Julho/Agosto 2014

T

R REPORTAGEM ANIVERSÁRIO

Por Carmen Nery

Agências de fomento do Amazonas, Amapá e Roraima completam 15 anos e projetam futuro; passados os principais desafios, instituições projetam investir em inovação e ampliar sua interlocução com outros agentes econômicos do país

Afeam. A privatização aconteceu em seguida: o BEA comer-cial foi vendido em leilão e os seus ativos transferiram-se para o Bradesco.

A Afeam foi constituída em Assembleia Geral realizada no dia 4 março de 1999, tendo como acionista controlador o Estado do Amazonas, que subscreveu 99,9% das ações, e acionista minoritário o município de Manacapuru. Rege-se pela Lei Federal 6.404/76, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, definindo-se como instituição financeira não

bancária, subordinada à fiscalização e à supervisão do Banco Central do Brasil e organizada sob a forma de sociedade anônima de capital fechado.

A agência originou-se do segmen-to de crédito agrícola do BEA e incor-porou os funcionários a ela vincula-dos, compondo um quadro técnico experiente e qualificado. Isso lhe per-mitiu organizar com rapidez e eficiên-cia seus manuais e normas técnicas e estruturar-se para cumprir os objeti-vos sociais definidos no art. 4º do seu Estatuto: concorrer para o desenvol-vimento econômico e social do Ama-zonas, realizando estudos e pesquisas e desenvolvendo operações de crédi-to, financiamento e investimento direcionadas para os diversos setores da atividade econômica, prioritaria-mente para os pequenos negócios.

Autorizada pelo Banco Central do Brasil a iniciar suas atividades no dia 2 de setembro de 1999, no decorrer desses 15 anos de história a instituição credenci-ou-se como um dos principais agentes de oferta de crédito ao setor produtivo do Amazonas: apoiando o crescimento e a modernização de empreendimentos industriais, comerciais e de serviços; proporcionando a geração de trabalho e empre-go, renda e salário; e contribuindo para o fortalecimento da estrutura econômico-social e para a melhoria da qualidade de

No Amazonas, agência de fomento possui capilaridade em todo o estado e, desde seu surgimento, já realizou mais de 136 mil operações de crédito para empreendedores de todos os portes.

Desenvolvimentoem três vozes

vida dos amazonenses. “A oferta de crédito por meio da Afeam é um grande incentivo para o desenvolvimento eco-nômico do estado”, registra o presidente Evandor Geber Filho. Entre os programas de fortalecimento da economia amazonense implementados pela agência, ele destaca o apoio às principais cadeias produtivas nos segmentos de borracha,

Números – Em 15 anos de atuação, a agência de fomento investiu R$ 289 milhões no setor rural, por meio de 46 mil operações de crédito. No setor da indústria foram realizadas 29.755 operações, com investimentos de R$ 337 milhões. O setor de comércio e serviço recebeu o maior volume de investimentos: cerca de R$ 519 milhões, através de 61.159

operações de crédito. A Afeam prevê investir

em novos projetos direcio-nados para inovação, apoio ao transporte rodoviário, aperfeiçoamento do pro-cesso de concessão de crédito de capital de giro e parceria internacional para apoiar o desenvolvimento de cade ias produt ivas potenciais da economia estadual.

Afap também comemoraA agência de fomento do Amapá foi a terceira institui-ção do gênero a entrar em operação no país em 10 de maio de 1999. Hoje respon-de por 25% das operações de crédito entre as agências com capital de até R$ 100 milhões e apresentou um crescimento de 1.462,5% em três anos. Para Sávio Peres, presidente da Afeam, a agência atua essencialmen-te na economia popular e é a segunda maior agência em

microcrédito produtivo orientado.“Nosso objetivo é o fortalecimento da micro e da peque-

na empresa e dos excluídos do sistema de crédito formal tradicional: ambulantes, empreendedores individuais, peque-nos negócios. Logo no dia seguinte à do MEI (Micro Empre-endedor Individual), já estávamos com produtos prontos para oferecer. Os empréstimos vão de R$ 100 a R$ 16 mil, com até 14 meses para pagar. Temos um total de 19 linhas de crédito; entre as quais a Credjuv, voltada para o jovem empre-endedor de 18 a 29 anos, com taxas de 1,5% ao mês e juro zero, se o pagamento ocorrer em dia”, enumera Peres.

Na primeira semana de agosto, a Afap, em parceria com a Secretaria de Estado da Inclusão e Mobilização Social (SIMS), foi às comunidades das áreas de ressaca de Macapá apresentar às famílias moradoras sua nova linha de crédito: a Afap Morar Melhor. A linha visa ao atendimento das exigên-cias mínimas para uma vida mais confortável e segura para a população que ainda não foi atendida pelos programas habi-

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fibra, juta, malva e guaraná, transporte aquaviário, apoio a mecanização agrícola e incentivo aos profissionais liberais.

A ação de crédito especial direcionada à categoria de moto-taxistas totaliza investimentos superiores a R$3,6 milhões e destaca-se entre as de maior alcance social realizadas este ano pela agência. Está permitindo a efetiva melhoria das condições de trabalho de 477 profissionais dessa categoria. “A finalidade é renovar a frota dos mototaxistas regularizados, proporcio-nando mais segurança aos profissionais e usuários desse trans-porte alternativo”, enfatiza Geber.

Com o objetivo de proporcionar um melhor serviço a seus clientes, a agência lançou no primeiro semestre deste ano seu novo site institucional, com ferramentas para agilizar o atendimento de forma simplificada e amigável, além de infor-mações sobre linhas de crédito, checklist, calendários de ações de crédito, notícias atualizadas e o portal da transparência – que permite à sociedade obter informações relacionadas à atuação financeira da instituição.

“A oferta de crédito por meio da Afeam é um

grande incentivo para o

desenvolvimento econômico do estado.”

Evandor Geber Filho, presidente da Afeam

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RUMOS – 18 – Julho/Agosto 2014

tacionais dos governos federal, estadual ou municipal – que, só em Macapá, passam de cinquenta mil famílias residentes em áreas de ressaca.

A previsão é de que a Afap atenda duas mil famílias até o final do ano, com oferta de crédito que parte de mil reais, aumentando, progressivamente, 500 reais a cada novo empréstimo, até o limite de três mil reais, com juros de 0,5% ao mês e com 18 meses para pagar.

Mas que uma linha de crédito, a Afap Morar Melhor reafirma a razão de ser da agência de fomento, que é a de promo-ver a economia solidária como forma de combater a pobreza nas periferias urba-nas. Além de assegurar a dinamização da economia do estado como um todo.

“A ideia é fazer com que o dinheiro circule na própria comunidade e áreas de entorno, onde o morador encontra a mão de obra para as reformas que necessita fazer, além de também lojas para comprar seus móveis, etc.”, diz Peres.

O presidente explica ainda que os moradores das áreas de ressaca têm poder aquisitivo mínimo para contratar uma linha como a Morar Melhor, inclu-sive alguns moradores já são clientes do Banco do Povo.

“Eles não têm mil reais para pagar de uma única vez a compra de móveis e eletrodomésticos de que precisam, mas conseguem pagar R$ 59,40 por mês pelo financiamento da Afap. Muitos deles recorrem às financeiras para conseguir adquirir os mesmos produtos e acabam pagando até 80% do

valor emprestado. Na Afap, irão pagar somente R$ 69,13, além dos mil reais, isso após 18 meses. O que, sem sombra de dúvida, é um grande negócio”, explica Sávio.

A flexibilidade, a criatividade e a facilidade com que a agência se movimenta pelos diversos seto-res da economia amapaense são uma marca da Afeam. Os clientes incluem artistas, camelôs, moto-taxistas, empresários do esporte, professores, funcionários públi-cos, panificadores, jovens empre-endedores, profissionais liberais e agora os moradores das comu-nidades que habitam nas ressacas de Macapá e Santana.

Peres é um pioneiro na Afeam, tendo participado de sua fundação em 2000 e onde permane-ceu até 2002 para retornar em 2011. “Partimos de um patri-mônio líquido negativo de R$ 3 milhões e fomos conduzindo uma recomposição patrimonial. Os recursos vêm do tesouro do estado, que aportou R$ 11,5 milhões desde 2011, nos per-mitindo o maior crescimento patrimonial entre as agências de

fomento. Segundo pesquisa do Sebrae, a Afeam está entre as cinco maiores agências de crédito do Amapá. Hoje a carteira ativa é de R$ 16 milhões distri-buídos em 3.112 operações”, enumera o presidente. A meta da agência agora é tornar-se agente das principais institui-ções financeiras de desenvolvimento, como o Banco da Amazônia e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social.

“Estamos aguardando uma mis-são do BNDES para tentarmos uma carteira de microcrédito e depois postularmos ser agente operador. E estamos negociando com o Banco da Amazônia para nos tornarmos agente operador do Fundo Constitucional do Norte (FNO)”, anuncia.

O trabalho da agência tem permiti-do desenvolver setores vitais para a economia do estado, sempre com foco no desenvolvimento sustentável. Um

exemplo é a cadeia produtiva do Açaí, cuja demanda tem crescido em todo o país. Segundo Peres, a instituição tem investido, principalmente, nas vitaminadoras locais, onde se prepara o açaí para ser distribuído à população. Há três mil vitaminadoras só na capital.

ANIVERSÁRIO

“O açaí nos permitiu uma condi-ção ímpar. Hoje o homem da floresta alterou o aspecto predatório e o desmatamento; e, com a economia do açaí, o caboclo tem uma relação mais harmoniosa com a natureza. Por meio de novas técnicas, temos conseguido fixar o homem na flores-ta sem degradar o ambiente. O forta-lecimento dessa economia tem garantido o desenvolvimento sus-tentável. Hoje, no Amapá, apenas 3% da área estão degradados”, come-mora Peres. Ele destacou, ainda, a importância das agências de fomen-to para o desenvolvimento econômi-co pela expertise maior das peculiari-dades locais.

“Somos especialistas no estado. Nenhuma outra instituição financeira tem um olhar mais aguçado. É preciso haver um olhar mais atento do governo federal e do BNDES no sentido de aumentar nossos instru-mentos de apoio por meio de linhas do BNDES, do Fundo

de Amparo ao Trabalhador e do Ministério do Trabalho, e das linhas da economia solidária”, conclui.

Roraima – A Aferr, no estado de Roraima, teve sua homolo-gação pelo Banco Central em março de 1999. Além de operar linhas de crédito para financiamento dos mais diferentes segmentos produtivos na região, atua como agente financeiro do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fun-der), do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) e Fundo Estadual de Aval (FEA), mecanismos de promoção do desenvolvimento operados pelo governo local.

Entre as diversas linhas operadas pela agência, o atendi-mento ao microempreendedor, por meio da recém-lançada linha CredFácil, tem mudado a vida de muitos pequenos empreendimentos no estado. “Estamos trabalhando para fazer com que a Aferr cumpra seu papel junto ao empreende-dor. Eles precisam de apoio para crescer e acreditamos no

potencial que eles apresentam. Somos o agente de fomento público do Estado e esse é nosso foco”, comenta o presidente da instituição, Murilo Gomes.

Por meio do acesso ao crédito produtivo e ori-entado, o programa tem ajudado a aumentar a renda familiar e gerar posto de ocupação, sobretu-do na capital Boa Vista. Em um período de pouco

mais de um mês após o seu lançamento, o programa atendeu mais de 70 tomadores de crédito.

O fomento ao empreendedorismo rural também está no foco da agência, que tem realizado ações itinerantes ao encontro deste público. “Faz-se necessário que a Aferr esta-beleça estrategicamente um contato direto com o produtor rural. O primeiro passo é o atendimento para informação e cadastro. Em seguida damos sequência ao atendimento, até chegar a uma proposta de crédito favorável ao produtor”, explica Murilo Gomes.

RUMOS – 19 – Julho/Agosto 2014

O trabalho das agências

tem permitido desenvolver setores

vitais para a economia dos

estados, sempre com foco no

desenvolvimento sustentável

Data de homologação das agências pelo Banco Central

R REPORTAGEM

Afap em diálogo com moradores das periferias do Amapá, por meio de palestras e visitas às diversas comunidades da região.

Lançado recentemente pela Aferr, programa Açaí Roraima beneficia o agricultor e produtor rural com financiamento e assistência técnica.

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RUMOS – 18 – Julho/Agosto 2014

tacionais dos governos federal, estadual ou municipal – que, só em Macapá, passam de cinquenta mil famílias residentes em áreas de ressaca.

A previsão é de que a Afap atenda duas mil famílias até o final do ano, com oferta de crédito que parte de mil reais, aumentando, progressivamente, 500 reais a cada novo empréstimo, até o limite de três mil reais, com juros de 0,5% ao mês e com 18 meses para pagar.

Mas que uma linha de crédito, a Afap Morar Melhor reafirma a razão de ser da agência de fomento, que é a de promo-ver a economia solidária como forma de combater a pobreza nas periferias urba-nas. Além de assegurar a dinamização da economia do estado como um todo.

“A ideia é fazer com que o dinheiro circule na própria comunidade e áreas de entorno, onde o morador encontra a mão de obra para as reformas que necessita fazer, além de também lojas para comprar seus móveis, etc.”, diz Peres.

O presidente explica ainda que os moradores das áreas de ressaca têm poder aquisitivo mínimo para contratar uma linha como a Morar Melhor, inclu-sive alguns moradores já são clientes do Banco do Povo.

“Eles não têm mil reais para pagar de uma única vez a compra de móveis e eletrodomésticos de que precisam, mas conseguem pagar R$ 59,40 por mês pelo financiamento da Afap. Muitos deles recorrem às financeiras para conseguir adquirir os mesmos produtos e acabam pagando até 80% do

valor emprestado. Na Afap, irão pagar somente R$ 69,13, além dos mil reais, isso após 18 meses. O que, sem sombra de dúvida, é um grande negócio”, explica Sávio.

A flexibilidade, a criatividade e a facilidade com que a agência se movimenta pelos diversos seto-res da economia amapaense são uma marca da Afeam. Os clientes incluem artistas, camelôs, moto-taxistas, empresários do esporte, professores, funcionários públi-cos, panificadores, jovens empre-endedores, profissionais liberais e agora os moradores das comu-nidades que habitam nas ressacas de Macapá e Santana.

Peres é um pioneiro na Afeam, tendo participado de sua fundação em 2000 e onde permane-ceu até 2002 para retornar em 2011. “Partimos de um patri-mônio líquido negativo de R$ 3 milhões e fomos conduzindo uma recomposição patrimonial. Os recursos vêm do tesouro do estado, que aportou R$ 11,5 milhões desde 2011, nos per-mitindo o maior crescimento patrimonial entre as agências de

fomento. Segundo pesquisa do Sebrae, a Afeam está entre as cinco maiores agências de crédito do Amapá. Hoje a carteira ativa é de R$ 16 milhões distri-buídos em 3.112 operações”, enumera o presidente. A meta da agência agora é tornar-se agente das principais institui-ções financeiras de desenvolvimento, como o Banco da Amazônia e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social.

“Estamos aguardando uma mis-são do BNDES para tentarmos uma carteira de microcrédito e depois postularmos ser agente operador. E estamos negociando com o Banco da Amazônia para nos tornarmos agente operador do Fundo Constitucional do Norte (FNO)”, anuncia.

O trabalho da agência tem permiti-do desenvolver setores vitais para a economia do estado, sempre com foco no desenvolvimento sustentável. Um

exemplo é a cadeia produtiva do Açaí, cuja demanda tem crescido em todo o país. Segundo Peres, a instituição tem investido, principalmente, nas vitaminadoras locais, onde se prepara o açaí para ser distribuído à população. Há três mil vitaminadoras só na capital.

ANIVERSÁRIO

“O açaí nos permitiu uma condi-ção ímpar. Hoje o homem da floresta alterou o aspecto predatório e o desmatamento; e, com a economia do açaí, o caboclo tem uma relação mais harmoniosa com a natureza. Por meio de novas técnicas, temos conseguido fixar o homem na flores-ta sem degradar o ambiente. O forta-lecimento dessa economia tem garantido o desenvolvimento sus-tentável. Hoje, no Amapá, apenas 3% da área estão degradados”, come-mora Peres. Ele destacou, ainda, a importância das agências de fomen-to para o desenvolvimento econômi-co pela expertise maior das peculiari-dades locais.

“Somos especialistas no estado. Nenhuma outra instituição financeira tem um olhar mais aguçado. É preciso haver um olhar mais atento do governo federal e do BNDES no sentido de aumentar nossos instru-mentos de apoio por meio de linhas do BNDES, do Fundo

de Amparo ao Trabalhador e do Ministério do Trabalho, e das linhas da economia solidária”, conclui.

Roraima – A Aferr, no estado de Roraima, teve sua homolo-gação pelo Banco Central em março de 1999. Além de operar linhas de crédito para financiamento dos mais diferentes segmentos produtivos na região, atua como agente financeiro do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fun-der), do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) e Fundo Estadual de Aval (FEA), mecanismos de promoção do desenvolvimento operados pelo governo local.

Entre as diversas linhas operadas pela agência, o atendi-mento ao microempreendedor, por meio da recém-lançada linha CredFácil, tem mudado a vida de muitos pequenos empreendimentos no estado. “Estamos trabalhando para fazer com que a Aferr cumpra seu papel junto ao empreende-dor. Eles precisam de apoio para crescer e acreditamos no

potencial que eles apresentam. Somos o agente de fomento público do Estado e esse é nosso foco”, comenta o presidente da instituição, Murilo Gomes.

Por meio do acesso ao crédito produtivo e ori-entado, o programa tem ajudado a aumentar a renda familiar e gerar posto de ocupação, sobretu-do na capital Boa Vista. Em um período de pouco

mais de um mês após o seu lançamento, o programa atendeu mais de 70 tomadores de crédito.

O fomento ao empreendedorismo rural também está no foco da agência, que tem realizado ações itinerantes ao encontro deste público. “Faz-se necessário que a Aferr esta-beleça estrategicamente um contato direto com o produtor rural. O primeiro passo é o atendimento para informação e cadastro. Em seguida damos sequência ao atendimento, até chegar a uma proposta de crédito favorável ao produtor”, explica Murilo Gomes.

RUMOS – 19 – Julho/Agosto 2014

O trabalho das agências

tem permitido desenvolver setores

vitais para a economia dos

estados, sempre com foco no

desenvolvimento sustentável

Data de homologação das agências pelo Banco Central

R REPORTAGEM

Afap em diálogo com moradores das periferias do Amapá, por meio de palestras e visitas às diversas comunidades da região.

Lançado recentemente pela Aferr, programa Açaí Roraima beneficia o agricultor e produtor rural com financiamento e assistência técnica.

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preocupação com o meio ambiente e com a inclu-são social é, cada vez mais, parte do dia a dia das empresas, inclusive das instituições financeiras. Elaborar projetos social e ambientalmente susten-

táveis não é responsabilidade apenas de companhias que atuam na chamada economia real, mas uma preocupação crescente também de bancos e entidades dedicadas ao financiamento dos empreendimentos. Atuando em uma região onde o tema sus-tentabilidade é particularmente sensível e importante, o Banco da Amazônia tem se destacado pelo compromisso com o desenvolvimento econômico e social e com a preservação do patrimônio natural para as futuras gerações.

Desde a edição da Resolução 4.327 do Banco Central do Brasil, em 25 de abril passado, todas as instituições financei-ras e de crédito que atuam no país estão obrigadas a seguir diretrizes e elaborar Políticas de Responsabilidade Socioam-biental, compreendendo a criação de sistemas de gerencia-mento de riscos ambientais e a adequação das operações aos ditames da legislação existente sobre o assunto. Muito antes disso, no entanto, o Banco da Amazônia já possuía um con-junto de normativos voltados à sustentabilidade, com foco no crédito concedido a clientes, na adequação dos fornece-dores e no aprimoramento das atividades internas. E, desde o início, a instituição participou das discussões com o Banco Central para a definição das novas regras.

A Resolução deu força coercitiva a várias iniciativas prece-dentes, como os Princípios do Equador, adotados por grandes instituições internacionais públicas e privadas a partir de 2003, e, no Brasil, o Protocolo Verde dos Bancos Públicos, de 1995, reformulado em 2008, e o Protocolo Verde da Federação Brasi-leira de Bancos (Febraban), de 2010.

As ações e práticas bancárias recomendadas por esses documentos, no entanto, eram de adesão voluntária. A partir da Resolução do Banco Central, as Políticas de Responsabili-dade Socioambiental passam a fazer parte da política estraté-gica das instituições financeiras. Desse modo, elas passaram a ter a responsabilidade de analisar o grau de exposição a riscos

socioambientais das atividades e projetos que apoiam, con-forme o grau de impacto que provocam no meio ambiente e nas comunidades afetadas. Além disso, precisam adotar pro-cedimentos, rotinas e instrumentos que permitam identificar, avaliar e gerenciar os riscos. E podem, inclusive, responder solidariamente, caso ocorram incidentes sociais e ambientais nos projetos financiados.

Ferramentas – Embora já disponha de uma política própria sobre o tema – o atual Plano pela Sustentabilidade compreende o período 2011-2022 –, o Banco da Amazônia, como as demais entidades financeiras, está adaptando suas regras às diretrizes da Resolução 4.327. Oduval Lobato Neto, gerente de gestão de Programas Governamentais da instituição, explica que o banco está investindo em tecnologia para desenvolver ferramentas gerenciais, como a implantação de um banco de dados sobre riscos ambientais, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo normativo do Banco Central. O prazo para adequação vai até 31 de julho de 2015.

Em áreas como o crédito rural e atividade extrativa, o Banco da Amazônia já possui diretrizes bastante adiantadas. Desde 2006, por exemplo, não são financiados projetos pecuários que impliquem desmatamento em qualquer grau. Nesse caso, a instituição vai além do previsto no Código Florestal, que permite desmatamento de até 20% das propriedades localizadas na Amazônia Legal. Somente projetos com alto grau de tecnologia e inovação, que possibilitem intensificar o aproveitamento das áreas já desmatadas podem contar com a aprovação do banco, explica Oduval.

No caso da atividade madeireira, outro ramo que com-porta alto risco ambiental, o banco é bastante rigoroso no sentido de não financiar empreendimentos sem planos de manejo florestal estabelecidos de acordo com a legislação. No caso de serrarias, a documentação de que a madeira é proveni-ente de áreas licenciadas e regularizadas é uma exigência básica na análise das operações, que leva em conta ainda a instalação de equipamentos de controle da poluição.

RUMOS – 21 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 20 – Julho/Agosto 2014

Por André Tennitz

A AMAZÔNIA

SOCIOAMBIENTAL

Por iniciativa própria, o Banco da Amazônia também não financia projetos de lavouras de fumo. E, de acordo com o que também estabelece a Resolução do Banco Central, não dá apoio de nenhuma espécie à fabricação de armas nem a atividades que impliquem exploração da prostituição ou de trabalho escravo ou infantil. No caso de atividades lícitas, porém com algum grau de risco social ou ambiental, a institu-ição negocia com os empreendedores medidas de salvaguar-da ou mitigação dos impactos, que são aferidas e acompanha-das durante a implantação do projeto.

Empreendimentos sustentáveis – Os resultados da preo-cupação com a redução dos impactos ambientais e sociais podem ser vistos em alguns empreendimentos financiados pela instituição. Em Benevides, a menos de 30 quilômetros de Belém, às margens da BR-316, está prestes a ser inaugura-do o Alianza Business Park, o maior complexo logístico do Norte do país, projetado para atender as necessidades de crescimento da região. Com um investimento de R$ 200 milhões, o complexo possui uma área total de 320 mil metros quadrados, sendo 115 mil apenas para armazenagem, heli-porto, centro de convenções, restaurante, escritórios, galpão frigorífico e áreas de apoio a caminhoneiros e de preservação ecológica permanente.

Pelas estimativas dos idealizadores, o investimento vai gerar 2.500 empregos diretos e 5 mil indiretos, além de reforçar a arrecadação de ICMS do estado do Pará. Um dos destaques é o conceito de sustentabilidade inerente ao projeto. O empreendi-mento dispõe de diversas áreas verdes, espaço de preservação ambiental e trilha ecológica, que terá catalogação da fauna e da flora. O método de construção adotado, com a utilização de colunas e estruturas pré-moldadas, acelerou a obra e reduziu consideravelmente a geração de entulho em comparação a sistemas tradicionais.

O Alianza também dispõe de uma estação de tratamento de esgoto, uma infraestrutura que trata as águas residuais do empreendimento antes do despejo. O projeto incorpora ainda uma política social, reservando um espaço onde serão minis-trados cursos técnicos profissionalizantes voltados para a área

de logística e armazenamento, com o objetivo de qualificar a mão de obra local, para trabalhar nas empresas que irão se instalar no local.

O Shopping Center Paricá, a ser inaugurado em 2015 na cidade paraense de Paragominas, é outro exemplo da aplicação de princípios socioambientais em empreendimentos econô-micos. O centro de compras foi projetado para atender cerca de meio milhão de consumidores, dos quais mais de dois ter-ços pertencentes às classes C e D, em uma região formada por 10 municípios. Com 18 mil metros quadrados de área locável, o Paricá é o primeiro shopping da Amazônia a ter o selo Leed – uma certificação internacional de construção sustentável. Todas as empresas contratadas para a obra estão se adequando às condições de sustentabilidade exigidas, como reaproveita-mento de material, coleta seletiva, controle na geração de resíduos e outros.

Envolvimento – A Política de Responsabilidade Socioam-biental permeia toda a estrutura do Banco da Amazônia, alcançando também os fornecedores e o próprio corpo funcional. Os editais de licitação para a contratação de servi-ços, como o de reprodução de documentos, e a compra de equipamentos e materiais, como papel e artigos de escritó-rio, são elaborados de modo a atender critérios de sustenta-bilidade, explica Oduval Lobato Neto. No caso das ativida-des internas, há diversos programas voltados à otimização do uso de energia e à reciclagem de materiais, bem como ações para melhorar o ambiente de trabalho e a qualidade de vida dos funcionários, passando pela adequação da ilumina-ção dos escritórios, ventilação, uso de móveis ergonomica-mente corretos, até orientações sobre alimentação saudável e controle de problemas de saúde. Políticas de patrocínios a ações esportivas e culturais também se preocupam em pro-mover princípios de responsabilidade social e ambiental. “O objetivo é ter todos os nossos produtos, ações e atividades adaptadas à economia verde e certificadas por órgãos exter-nos”, frisa Lobato Neto. “Temos que ter consciência de que tudo o que fazemos tem reflexo no meio ambiente e na sociedade.”

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Maior complexo logístico do Norte do país, Alianza Business Park teve financiamento do Banco da Amazônia e é um exemplo de empreendimento sustentável: entre outros atributos, dispõe de uma estação de tratamento de esgoto e uma infraestrutura que trata as águas residuais do empreendimento antes do despejo.

Em uma região onde o tema é particularmente sensível e importante, o Banco da Amazônia tem se destacado pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a preservação do patrimônio natural para as futuras gerações; antes mesmo da Resolução do Banco Central sobre a questão, a instituição já possuía um amplo conjunto de normativos voltados à sustentabilidade

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Compromisso verde

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preocupação com o meio ambiente e com a inclu-são social é, cada vez mais, parte do dia a dia das empresas, inclusive das instituições financeiras. Elaborar projetos social e ambientalmente susten-

táveis não é responsabilidade apenas de companhias que atuam na chamada economia real, mas uma preocupação crescente também de bancos e entidades dedicadas ao financiamento dos empreendimentos. Atuando em uma região onde o tema sus-tentabilidade é particularmente sensível e importante, o Banco da Amazônia tem se destacado pelo compromisso com o desenvolvimento econômico e social e com a preservação do patrimônio natural para as futuras gerações.

Desde a edição da Resolução 4.327 do Banco Central do Brasil, em 25 de abril passado, todas as instituições financei-ras e de crédito que atuam no país estão obrigadas a seguir diretrizes e elaborar Políticas de Responsabilidade Socioam-biental, compreendendo a criação de sistemas de gerencia-mento de riscos ambientais e a adequação das operações aos ditames da legislação existente sobre o assunto. Muito antes disso, no entanto, o Banco da Amazônia já possuía um con-junto de normativos voltados à sustentabilidade, com foco no crédito concedido a clientes, na adequação dos fornece-dores e no aprimoramento das atividades internas. E, desde o início, a instituição participou das discussões com o Banco Central para a definição das novas regras.

A Resolução deu força coercitiva a várias iniciativas prece-dentes, como os Princípios do Equador, adotados por grandes instituições internacionais públicas e privadas a partir de 2003, e, no Brasil, o Protocolo Verde dos Bancos Públicos, de 1995, reformulado em 2008, e o Protocolo Verde da Federação Brasi-leira de Bancos (Febraban), de 2010.

As ações e práticas bancárias recomendadas por esses documentos, no entanto, eram de adesão voluntária. A partir da Resolução do Banco Central, as Políticas de Responsabili-dade Socioambiental passam a fazer parte da política estraté-gica das instituições financeiras. Desse modo, elas passaram a ter a responsabilidade de analisar o grau de exposição a riscos

socioambientais das atividades e projetos que apoiam, con-forme o grau de impacto que provocam no meio ambiente e nas comunidades afetadas. Além disso, precisam adotar pro-cedimentos, rotinas e instrumentos que permitam identificar, avaliar e gerenciar os riscos. E podem, inclusive, responder solidariamente, caso ocorram incidentes sociais e ambientais nos projetos financiados.

Ferramentas – Embora já disponha de uma política própria sobre o tema – o atual Plano pela Sustentabilidade compreende o período 2011-2022 –, o Banco da Amazônia, como as demais entidades financeiras, está adaptando suas regras às diretrizes da Resolução 4.327. Oduval Lobato Neto, gerente de gestão de Programas Governamentais da instituição, explica que o banco está investindo em tecnologia para desenvolver ferramentas gerenciais, como a implantação de um banco de dados sobre riscos ambientais, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo normativo do Banco Central. O prazo para adequação vai até 31 de julho de 2015.

Em áreas como o crédito rural e atividade extrativa, o Banco da Amazônia já possui diretrizes bastante adiantadas. Desde 2006, por exemplo, não são financiados projetos pecuários que impliquem desmatamento em qualquer grau. Nesse caso, a instituição vai além do previsto no Código Florestal, que permite desmatamento de até 20% das propriedades localizadas na Amazônia Legal. Somente projetos com alto grau de tecnologia e inovação, que possibilitem intensificar o aproveitamento das áreas já desmatadas podem contar com a aprovação do banco, explica Oduval.

No caso da atividade madeireira, outro ramo que com-porta alto risco ambiental, o banco é bastante rigoroso no sentido de não financiar empreendimentos sem planos de manejo florestal estabelecidos de acordo com a legislação. No caso de serrarias, a documentação de que a madeira é proveni-ente de áreas licenciadas e regularizadas é uma exigência básica na análise das operações, que leva em conta ainda a instalação de equipamentos de controle da poluição.

RUMOS – 21 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 20 – Julho/Agosto 2014

Por André Tennitz

A AMAZÔNIA

SOCIOAMBIENTAL

Por iniciativa própria, o Banco da Amazônia também não financia projetos de lavouras de fumo. E, de acordo com o que também estabelece a Resolução do Banco Central, não dá apoio de nenhuma espécie à fabricação de armas nem a atividades que impliquem exploração da prostituição ou de trabalho escravo ou infantil. No caso de atividades lícitas, porém com algum grau de risco social ou ambiental, a institu-ição negocia com os empreendedores medidas de salvaguar-da ou mitigação dos impactos, que são aferidas e acompanha-das durante a implantação do projeto.

Empreendimentos sustentáveis – Os resultados da preo-cupação com a redução dos impactos ambientais e sociais podem ser vistos em alguns empreendimentos financiados pela instituição. Em Benevides, a menos de 30 quilômetros de Belém, às margens da BR-316, está prestes a ser inaugura-do o Alianza Business Park, o maior complexo logístico do Norte do país, projetado para atender as necessidades de crescimento da região. Com um investimento de R$ 200 milhões, o complexo possui uma área total de 320 mil metros quadrados, sendo 115 mil apenas para armazenagem, heli-porto, centro de convenções, restaurante, escritórios, galpão frigorífico e áreas de apoio a caminhoneiros e de preservação ecológica permanente.

Pelas estimativas dos idealizadores, o investimento vai gerar 2.500 empregos diretos e 5 mil indiretos, além de reforçar a arrecadação de ICMS do estado do Pará. Um dos destaques é o conceito de sustentabilidade inerente ao projeto. O empreendi-mento dispõe de diversas áreas verdes, espaço de preservação ambiental e trilha ecológica, que terá catalogação da fauna e da flora. O método de construção adotado, com a utilização de colunas e estruturas pré-moldadas, acelerou a obra e reduziu consideravelmente a geração de entulho em comparação a sistemas tradicionais.

O Alianza também dispõe de uma estação de tratamento de esgoto, uma infraestrutura que trata as águas residuais do empreendimento antes do despejo. O projeto incorpora ainda uma política social, reservando um espaço onde serão minis-trados cursos técnicos profissionalizantes voltados para a área

de logística e armazenamento, com o objetivo de qualificar a mão de obra local, para trabalhar nas empresas que irão se instalar no local.

O Shopping Center Paricá, a ser inaugurado em 2015 na cidade paraense de Paragominas, é outro exemplo da aplicação de princípios socioambientais em empreendimentos econô-micos. O centro de compras foi projetado para atender cerca de meio milhão de consumidores, dos quais mais de dois ter-ços pertencentes às classes C e D, em uma região formada por 10 municípios. Com 18 mil metros quadrados de área locável, o Paricá é o primeiro shopping da Amazônia a ter o selo Leed – uma certificação internacional de construção sustentável. Todas as empresas contratadas para a obra estão se adequando às condições de sustentabilidade exigidas, como reaproveita-mento de material, coleta seletiva, controle na geração de resíduos e outros.

Envolvimento – A Política de Responsabilidade Socioam-biental permeia toda a estrutura do Banco da Amazônia, alcançando também os fornecedores e o próprio corpo funcional. Os editais de licitação para a contratação de servi-ços, como o de reprodução de documentos, e a compra de equipamentos e materiais, como papel e artigos de escritó-rio, são elaborados de modo a atender critérios de sustenta-bilidade, explica Oduval Lobato Neto. No caso das ativida-des internas, há diversos programas voltados à otimização do uso de energia e à reciclagem de materiais, bem como ações para melhorar o ambiente de trabalho e a qualidade de vida dos funcionários, passando pela adequação da ilumina-ção dos escritórios, ventilação, uso de móveis ergonomica-mente corretos, até orientações sobre alimentação saudável e controle de problemas de saúde. Políticas de patrocínios a ações esportivas e culturais também se preocupam em pro-mover princípios de responsabilidade social e ambiental. “O objetivo é ter todos os nossos produtos, ações e atividades adaptadas à economia verde e certificadas por órgãos exter-nos”, frisa Lobato Neto. “Temos que ter consciência de que tudo o que fazemos tem reflexo no meio ambiente e na sociedade.”

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Maior complexo logístico do Norte do país, Alianza Business Park teve financiamento do Banco da Amazônia e é um exemplo de empreendimento sustentável: entre outros atributos, dispõe de uma estação de tratamento de esgoto e uma infraestrutura que trata as águas residuais do empreendimento antes do despejo.

Em uma região onde o tema é particularmente sensível e importante, o Banco da Amazônia tem se destacado pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a preservação do patrimônio natural para as futuras gerações; antes mesmo da Resolução do Banco Central sobre a questão, a instituição já possuía um amplo conjunto de normativos voltados à sustentabilidade

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Compromisso verde

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ão é somente entre nós que isso acontece, mas, graças ao bom Deus, o Brasil é um país onde qualquer pequeno problema pode transformar-se numa grande paixão. Inventa-se ou (de pre-ferência) copia-se uma ideia e, com um esforço

de divulgação, logo se transforma celeremente num modismo. Com um pouco mais de empenho consegue-se colocá-la na Constituição! Aí pronto. Está tudo resolvido! Basta uma lei complementar para regulá-la e a nação encontrará o caminho da felicidade...

Talvez haja algum exagero nessa descrição. Mas não será muito. É, por exemplo, o caso do imposto sobre as “ ” “grandes fortunas . O texto constitucional diz: Art.153. Compete à União instituir impostos sobre: VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. O cidadão bra-”sileiro imagina que esse item (como tudo o mais do sistema tributário) foi produto de uma longa e meditada discussão, em que se ouviram professores de finanças, historiadores, economistas e, obviamente, o povo. Está convencido de que tal “proposição” foi produto de uma análise cuidadosa das experiências de outros países: que representa a “última palavra” em termos da justiça tributária. Tem certeza que os técnicos nacionais e estrangeiros convocados pela Cons-tituinte foram ouvidos com atenção e mostraram conclusi-vamente que: 1º) quase todos os países estão adotando impostos sobre “grandes fortunas” e 2º) todo sistema tri-butário moderno se apoia sobre esse tipo de imposto.

Na Inglaterra, a mudança do sistema tributário levou três anos de intensos estudos da Câmara dos Comuns e foram ouvidos dezenas de especialistas ingleses, america-nos, suecos e italianos. Nos EUA, a mudança do sistema tributário levou mais do que isso. Na Suécia, o problema foi tratado de forma quase religiosa. No Brasil, não aconte-ceu nada disso. Em poucos dias um grupo de pessoas com pouca afinidade com qualquer sistema tributário costurou o nosso. Felizmente ficou na costura.

A verdadeira história daquele dispositivo é a seguinte: como não havia a menor certeza sobre ele; sobre o que sig-nificava; sobre o que pretendia; se era uma necessidade ou um ato de vontade; estabeleceu-se uma polêmica. Para

alguns, ele parecia um “avanço”, pois um imposto sobre as “grandes fortunas” há de ser um “avanço”. Por outro lado, não parecia tão fácil saber em que direção era o “avanço”. Logo, acordou-se o seguinte: como a Constituição não pode esperar porque o povo está lá fora reclamando que “aqui não trabalhamos , vamos acolher a ideia, mas acres-”centar “de acordo com lei complementar”, porque isso dará tempo para que se estude melhor a sugestão. Em pou-cas palavras: vamos empurrá-la com a barriga para ver como é que fica.

É claro que um imposto sobre o patrimônio pode ser um complemento para dar maior justiça tributária ao imposto de renda. Mas é claro, também, que ele apresenta problemas graves e sua implementação é duvidosa. Não há nada que uma regulamentação adequada do imposto de renda não possa fazer com maior justiça e com maior eficiência.

O nível de renda pode não ser uma medida exata da capacidade de pagar. O que o imposto sobre o patrimônio líquido pretende é maior equidade horizontal. É por isso que nos países europeus onde ele tem tradição (Alemanha, Dinamarca, Noruega, Holanda, Suécia e França), a sua alí-quota é extremamente baixa (a mais alta taxa marginal não passa de 2,5%) e a sua importância na receita geral é despre-zível (em torno de 1%). Em 1974 o “Labour” tentou imple-mentá-lo na Inglaterra. O resultado dos estudos foram con-traditórios: depois de um ano de trabalho, a comissão apre-sentou um relatório em 4 volumes com mais de 2.000 pági-nas e as conclusões se resumem a dois parágrafos, porque não se chegou a um consenso. O imposto foi esquecido.

O que aumenta a confusão é quando pessoas defendem que o imposto sobre “grandes fortunas” vai cumprir um papel de distribuição da propriedade, pois obrigaria a ven-da do patrimônio para pagá-lo, mas ele não tem essa função em nenhum país onde foi instituído. Seria um desastre pelos efeitos catastróficos sobre os níveis de poupança e dos investimentos privados.

Chegaram à conclusão que existem meios mais eficien-tes para diminuir as desigualdades que não comprometem o processo produtivo.

FORTUNAS

Grande engano

RUMOS – 22 – Julho/Agosto 2014

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.M

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O OPINIÃO

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UNINDO POTÊNCIAS PARA FINANCIAR UM GRANDE PAÍS

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RUMOS – 25 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 24 – Julho/Agosto 2014

Por Gilberto Negreiros

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Após grande êxito na atração da primeira montadora de automóveis de Santa Catarina, agência catarinense do BRDE é convidada a operar fundo estadual de apoio aos municípios; em outra frente, aposta na inovação como área estratégica para o desenvolvimento da região

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om uma equipe polivalente reuni-da na agência de Florianópolis, o Banco Regional do Extremo Sul (BRDE) tem cumprido um papel relevante na promoção e no plane-

jamento do crescimento econômico no estado de Santa Catarina. Os técnicos da AGFLO, como é conhecida a agência, atuam simultane-amente na estruturação e execução de três ações estratégicas para o desenvolvimento regi-onal: a instalação da montadora alemã BMW, a operação do Fundo de Apoio aos Municípios (Fundam) e o financiamento de empresas ino-vadoras.

Segundo o gerente de Operações, Marco-ne Melo, os êxitos alcançados pela agência se inserem “na tradição de 53 anos que o BRDE tem no cumprimento do papel de agente pro-motor do desenvolvimento”. Criado em 1961, o banco surgiu de uma iniciativa dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Para-ná, somando forças para fomentar a economia da Região Sul.

Melo destacou que, além de estar respalda-do na tradição desenvolvimentista, o BRDE consolidou a expertise com a experiência adqui-rida ao longo de um processo. Os integrantes do seu corpo téc-nico acumularam conhecimento na gestão do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (Prodec), estrutu-rado para a implantação e expansão de empresas industriais e agroindustriais, oferecendo como incentivo a postergação no recolhimento do ICMS a ser gerado pelo projeto.

Indústria – Um salto de qualidade, assinalou Melo, ocorreu recentemente. Há cerca de um ano, a agência foi convocada para atuar como “uma das pontas viabilizadoras da engenha-

ria financeira” para a atração da fábrica da BMW para Santa Catarina. Segundo seu relato, ao se deparar com a complexidade na busca de uma fórmula que não entrasse em conflito com a legislação estadual, o governo catarinense decidiu recorrer aos especialistas.

Chamada, a equipe da AGFLO criou o Pro-grama BRDE de Apoio a Projetos de Investi-mentos de Segmentos Produtivos Estratégicos, com recursos provenientes da capitalização do banco realizada pelo governo de Santa Catarina e do sistema BNDES, a custo mais competitivo e tratamento diferenciado. Dirigido aos setores automotivo, aeronáutico, aeroespacial e de defe-sa, o programa permitiu ao BRDE contratar, em 2013, o financiamento da instalação da pri-meira montadora da BMW na América Latina, no município de Araquari, às margens da rodo-via BR-101, no norte catarinense. Em estreita colaboração com o governo estadual, a ação gerou o maior contrato de financiamento indi-vidual já firmado pelo banco, de R$ 240 milhões, destinado à infraestrutura da fábrica, que em outubro próximo iniciará a produção de seus veículos premium.

“A operação da BMW foi um marco histó-rico para a agência porque permitiu mostrar que a compe-tência da nossa equipe técnica não se restringe à atuação no repasse de recursos. Demos uma grande prova de que somos capazes, também, de estruturar projetos e isso somou-se à tradição, ao conceito de respeito que o BRDE tem no mercado”, afirmou Melo.

Desafio – O êxito alcançado com o projeto da montadora ale-mã abriu à agência as portas do Fundam, da Secretaria de Fazenda. Convocada novamente pelo governo estadual, a

AGFLO arquitetou a estruturação do fundo, que destina R$ 623 milhões em recursos não reembolsáveis e sem neces-sidade de contrapartida para todos os 295 municípios catarinenses. Repassada pelo BNDES, a verba deve ser aplicada em projetos indutores de investimentos. Em forma de contrato de prestação de serviços, a parceria delega à AGFLO a análise técnica dos projetos e a fiscaliza-ção das obras.

O conjunto de 17 analistas da agên-cia foi mobilizado para cumprir a tarefa dupla do Fundam. Tudo isso acontece sem prejuízo à contratação de novas ope-rações, que nos cinco primeiro meses de 2014 atingiram o volume de R$ 417 milhões.

“No Fundam, estamos em estágio adi-antado de aprovação de propostas”, informou Melo. “Dos R$ 623 milhões disponibilizados, R$ 414 milhões já tiveram a análise concluída e foram encaminha-dos à Secretaria de Fazenda do estado. Cerca de R$ 276 milhões foram liberados e R$ 21 milhões já aplicados estão em fiscalização.”

Os financiamentos do programa abrangem equipamentos de intervenção viária (pás mecânicas, motoniveladoras e cami-nhões), aquisição de ônibus de transporte escolar e construção de postos de saúde e salas de aula. Mas o esforço principal está concentrado na pavimentação viária. “Mais de mil ruas estão sendo pavimentadas ou modernizadas em todo o estado”, acrescentou o gerente. O serviço de pavimentação totaliza 1.307 trechos, superando em extensão a rodovia BR-282, que corta de leste a oeste o território de Santa Catarina, de Floria-nópolis até a fronteira com a Argentina.

Inovação – Outra frente estratégica de desenvolvimento na qual a AGFLO vem imprimindo a marca da sua presença ativa é na inovação. “Santa Catarina tem uma economia muito diversificada e com isso se afirma como grande polo de inova-ção”, pontuou Melo.

Neste campo, as ações da agência são realizadas através BRDE Inova, criado pelos técnicos do banco. Para que o pro-grama deslanchasse foi necessário, entretanto, superar dificul-dades. “A primeira delas era a das garantias”, enumerou. “No atendimento às pequenas e médias empresas inovadoras, o grande problema é que, geralmente, elas não têm garantias a oferecer para a concessão de financiamento.”

Uma das soluções adotadas no âmbito do BRDE Inova foi a flexibilização das exigências de contrapartida para con-cessão de crédito. Um dos desafios consistia no estabeleci-mento de um conceito para determinar, com precisão, o que é ou não inovação. Esse obstáculo foi contornado através de par-cerias com entidades certificadoras como o Instituto Euvaldo Lodi da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapesc), Associação de Empresas de Tecnologia (Acate), e Associação das Fundações Educacionais (Acafe), Associação Brasileira de Empresas de

Software, Fundação Certi, Sociedade Educacional (Sociesc) e o SEBRAE. Esse conjunto de instituições de tecnologia avalia o mérito inovador dos projetos avançando como primeiro pas-so para a contratação do financiamento. Os parceiros atuam também no recebimento de projetos de inovação.

A diversidade da carteira de financiamento do BRDE Ino-va evidencia o sucesso do programa. Há projetos da área de informática, de softwares de gestão empresarial, utilização raci-onal da água e compartilhamento de exames médicos, por exemplo, em nuvem. A lista se enriquece com empreendimen-tos como os projetos de uma embarcação para pesquisa hidro-gráfica e de uma máquina que facilita o transporte e uso de moedas como troco, mediante o uso de bônus.

Subsídios – Melo acrescentou que o programa de inovação mantido pelo BRDE se integra às linhas de financiamento do Inovacred, da Finep, e do MPME Inovadora, do BNDES. A Finep e o BNDES buscaram subsídios no BRDE para a for-matação destes programas.

A agência catarinense do BRDE cumpre sua função de agente estatal de fomento, mantendo o nível de excelência na promoção do crescimento econômico com uma equipe enxu-ta, de apenas 134 funcionários. Desses, mais da metade são ana-listas de projetos. No ano passado, foram contratadas 2.947 operações, que proporcionaram investimentos de R$ 1,899 bilhão, resultando em 30.065 postos de trabalho gerados ou mantidos e a criação de uma receita adicional de ICMS que atin-giu a marca de R$ 218,39 milhões.

Para Melo, isso é motivo de um orgulho que ele não escon-de e diz ter explicação na rotina de trabalho adotada. “Eviden-temente, temos várias coisas a melhorar no BRDE. Mas temos também um diferencial extremamente positivo, que é a qualifi-cação da nossa equipe técnica. Os projetos que analisamos são customizados, porque passaram pelo debate caso por caso. O resultado disso é que ocorre uma intensa troca de ideias e expe-riências, que nos permite ir adquirindo mais qualificação a cada projeto analisado. Procurar sempre soluções faz parte do nos-so DNA”, arrematou.

Atuação polivalente

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Engenharia financeira formulada pelo BRDE em parceria com o governo catarinense possibilitou a construção da fábrica da BMW no município de Araquari; investimento de R$ 250 milhões foi a maior operação realizada pelo banco em sua história.

Marcone Melo, gerente de Operações da AGFLO: “Santa Catarina tem uma economia muito diversificada e com isso se afirma como grande polo de inovação”.

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Por Gilberto Negreiros

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Após grande êxito na atração da primeira montadora de automóveis de Santa Catarina, agência catarinense do BRDE é convidada a operar fundo estadual de apoio aos municípios; em outra frente, aposta na inovação como área estratégica para o desenvolvimento da região

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om uma equipe polivalente reuni-da na agência de Florianópolis, o Banco Regional do Extremo Sul (BRDE) tem cumprido um papel relevante na promoção e no plane-

jamento do crescimento econômico no estado de Santa Catarina. Os técnicos da AGFLO, como é conhecida a agência, atuam simultane-amente na estruturação e execução de três ações estratégicas para o desenvolvimento regi-onal: a instalação da montadora alemã BMW, a operação do Fundo de Apoio aos Municípios (Fundam) e o financiamento de empresas ino-vadoras.

Segundo o gerente de Operações, Marco-ne Melo, os êxitos alcançados pela agência se inserem “na tradição de 53 anos que o BRDE tem no cumprimento do papel de agente pro-motor do desenvolvimento”. Criado em 1961, o banco surgiu de uma iniciativa dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Para-ná, somando forças para fomentar a economia da Região Sul.

Melo destacou que, além de estar respalda-do na tradição desenvolvimentista, o BRDE consolidou a expertise com a experiência adqui-rida ao longo de um processo. Os integrantes do seu corpo téc-nico acumularam conhecimento na gestão do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (Prodec), estrutu-rado para a implantação e expansão de empresas industriais e agroindustriais, oferecendo como incentivo a postergação no recolhimento do ICMS a ser gerado pelo projeto.

Indústria – Um salto de qualidade, assinalou Melo, ocorreu recentemente. Há cerca de um ano, a agência foi convocada para atuar como “uma das pontas viabilizadoras da engenha-

ria financeira” para a atração da fábrica da BMW para Santa Catarina. Segundo seu relato, ao se deparar com a complexidade na busca de uma fórmula que não entrasse em conflito com a legislação estadual, o governo catarinense decidiu recorrer aos especialistas.

Chamada, a equipe da AGFLO criou o Pro-grama BRDE de Apoio a Projetos de Investi-mentos de Segmentos Produtivos Estratégicos, com recursos provenientes da capitalização do banco realizada pelo governo de Santa Catarina e do sistema BNDES, a custo mais competitivo e tratamento diferenciado. Dirigido aos setores automotivo, aeronáutico, aeroespacial e de defe-sa, o programa permitiu ao BRDE contratar, em 2013, o financiamento da instalação da pri-meira montadora da BMW na América Latina, no município de Araquari, às margens da rodo-via BR-101, no norte catarinense. Em estreita colaboração com o governo estadual, a ação gerou o maior contrato de financiamento indi-vidual já firmado pelo banco, de R$ 240 milhões, destinado à infraestrutura da fábrica, que em outubro próximo iniciará a produção de seus veículos premium.

“A operação da BMW foi um marco histó-rico para a agência porque permitiu mostrar que a compe-tência da nossa equipe técnica não se restringe à atuação no repasse de recursos. Demos uma grande prova de que somos capazes, também, de estruturar projetos e isso somou-se à tradição, ao conceito de respeito que o BRDE tem no mercado”, afirmou Melo.

Desafio – O êxito alcançado com o projeto da montadora ale-mã abriu à agência as portas do Fundam, da Secretaria de Fazenda. Convocada novamente pelo governo estadual, a

AGFLO arquitetou a estruturação do fundo, que destina R$ 623 milhões em recursos não reembolsáveis e sem neces-sidade de contrapartida para todos os 295 municípios catarinenses. Repassada pelo BNDES, a verba deve ser aplicada em projetos indutores de investimentos. Em forma de contrato de prestação de serviços, a parceria delega à AGFLO a análise técnica dos projetos e a fiscaliza-ção das obras.

O conjunto de 17 analistas da agên-cia foi mobilizado para cumprir a tarefa dupla do Fundam. Tudo isso acontece sem prejuízo à contratação de novas ope-rações, que nos cinco primeiro meses de 2014 atingiram o volume de R$ 417 milhões.

“No Fundam, estamos em estágio adi-antado de aprovação de propostas”, informou Melo. “Dos R$ 623 milhões disponibilizados, R$ 414 milhões já tiveram a análise concluída e foram encaminha-dos à Secretaria de Fazenda do estado. Cerca de R$ 276 milhões foram liberados e R$ 21 milhões já aplicados estão em fiscalização.”

Os financiamentos do programa abrangem equipamentos de intervenção viária (pás mecânicas, motoniveladoras e cami-nhões), aquisição de ônibus de transporte escolar e construção de postos de saúde e salas de aula. Mas o esforço principal está concentrado na pavimentação viária. “Mais de mil ruas estão sendo pavimentadas ou modernizadas em todo o estado”, acrescentou o gerente. O serviço de pavimentação totaliza 1.307 trechos, superando em extensão a rodovia BR-282, que corta de leste a oeste o território de Santa Catarina, de Floria-nópolis até a fronteira com a Argentina.

Inovação – Outra frente estratégica de desenvolvimento na qual a AGFLO vem imprimindo a marca da sua presença ativa é na inovação. “Santa Catarina tem uma economia muito diversificada e com isso se afirma como grande polo de inova-ção”, pontuou Melo.

Neste campo, as ações da agência são realizadas através BRDE Inova, criado pelos técnicos do banco. Para que o pro-grama deslanchasse foi necessário, entretanto, superar dificul-dades. “A primeira delas era a das garantias”, enumerou. “No atendimento às pequenas e médias empresas inovadoras, o grande problema é que, geralmente, elas não têm garantias a oferecer para a concessão de financiamento.”

Uma das soluções adotadas no âmbito do BRDE Inova foi a flexibilização das exigências de contrapartida para con-cessão de crédito. Um dos desafios consistia no estabeleci-mento de um conceito para determinar, com precisão, o que é ou não inovação. Esse obstáculo foi contornado através de par-cerias com entidades certificadoras como o Instituto Euvaldo Lodi da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapesc), Associação de Empresas de Tecnologia (Acate), e Associação das Fundações Educacionais (Acafe), Associação Brasileira de Empresas de

Software, Fundação Certi, Sociedade Educacional (Sociesc) e o SEBRAE. Esse conjunto de instituições de tecnologia avalia o mérito inovador dos projetos avançando como primeiro pas-so para a contratação do financiamento. Os parceiros atuam também no recebimento de projetos de inovação.

A diversidade da carteira de financiamento do BRDE Ino-va evidencia o sucesso do programa. Há projetos da área de informática, de softwares de gestão empresarial, utilização raci-onal da água e compartilhamento de exames médicos, por exemplo, em nuvem. A lista se enriquece com empreendimen-tos como os projetos de uma embarcação para pesquisa hidro-gráfica e de uma máquina que facilita o transporte e uso de moedas como troco, mediante o uso de bônus.

Subsídios – Melo acrescentou que o programa de inovação mantido pelo BRDE se integra às linhas de financiamento do Inovacred, da Finep, e do MPME Inovadora, do BNDES. A Finep e o BNDES buscaram subsídios no BRDE para a for-matação destes programas.

A agência catarinense do BRDE cumpre sua função de agente estatal de fomento, mantendo o nível de excelência na promoção do crescimento econômico com uma equipe enxu-ta, de apenas 134 funcionários. Desses, mais da metade são ana-listas de projetos. No ano passado, foram contratadas 2.947 operações, que proporcionaram investimentos de R$ 1,899 bilhão, resultando em 30.065 postos de trabalho gerados ou mantidos e a criação de uma receita adicional de ICMS que atin-giu a marca de R$ 218,39 milhões.

Para Melo, isso é motivo de um orgulho que ele não escon-de e diz ter explicação na rotina de trabalho adotada. “Eviden-temente, temos várias coisas a melhorar no BRDE. Mas temos também um diferencial extremamente positivo, que é a qualifi-cação da nossa equipe técnica. Os projetos que analisamos são customizados, porque passaram pelo debate caso por caso. O resultado disso é que ocorre uma intensa troca de ideias e expe-riências, que nos permite ir adquirindo mais qualificação a cada projeto analisado. Procurar sempre soluções faz parte do nos-so DNA”, arrematou.

Atuação polivalente

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Engenharia financeira formulada pelo BRDE em parceria com o governo catarinense possibilitou a construção da fábrica da BMW no município de Araquari; investimento de R$ 250 milhões foi a maior operação realizada pelo banco em sua história.

Marcone Melo, gerente de Operações da AGFLO: “Santa Catarina tem uma economia muito diversificada e com isso se afirma como grande polo de inovação”.

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RUMOS – 28 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 29 – Julho/Agosto 2014

INTERNACIONALR REPORTAGEM

A

Em um passo considerado ousado, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – o Brics – criam novo Banco de Desenvolvimento e esperam mexer com os tabuleiros da geopolítica mundial

Criação do banco foi formalizada durante a VI Cúpula de líderes do Brics, em Fortaleza; a sede será erguida em Xangai, na China, e a Índia vai assumir a primeira presidência da instituição.

Por André Tennitz

O gigante de 50 bilhões de dólares

pós dois anos de negociação, os países do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – formalizaram em 15 de julho a criação do New Development

Bank (NDB, Novo Banco de Desenvolvimento). Com capital inicial de US$ 50 bilhões, e autorizado de US$ 100 bilhões, a instituição tem o objetivo de aprofundar a integração econômico-financeira do bloco e alavancar recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países-membros e em outras economias emergentes. O banco terá sede em Xangai, na China, e um primeiro escritório regional na África do Sul.

Anunciada durante a VI Cúpula de líderes do Brics, em Fortaleza, o NDB é uma demons-tração de força e representa o passo mais ousado dado pelo grupo que surgiu em 2006 do

acrônimo criado cinco anos antes pelo economis-ta britânico Jim O’Neill, do banco de investimen-tos nor te-amer icano Goldman Sachs, para designar as economias emergentes em acelerado processo de desenvolvi-mento. A instituição surge t ambém em me io à frustração desses países com a falta de avanço das prometidas reformas do Banco Mundial e do F u n d o M o n e t á r i o Internacional (FMI) para permitir que a estrutura de poder dessas organiza-ções, dominada pelos países desenvolvidos, s o b r e t u d o E s t a d o s Unidos, Inglaterra, França e Alemanha, reflita de M

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Guido Mantega: “no banco do Brics, o poder é igual. O importante é quem tem o controle acionário, e não haverá controle acionário de ninguém”.

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INTERNACIONALR REPORTAGEM

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Em um passo considerado ousado, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – o Brics – criam novo Banco de Desenvolvimento e esperam mexer com os tabuleiros da geopolítica mundial

Criação do banco foi formalizada durante a VI Cúpula de líderes do Brics, em Fortaleza; a sede será erguida em Xangai, na China, e a Índia vai assumir a primeira presidência da instituição.

Por André Tennitz

O gigante de 50 bilhões de dólares

pós dois anos de negociação, os países do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – formalizaram em 15 de julho a criação do New Development

Bank (NDB, Novo Banco de Desenvolvimento). Com capital inicial de US$ 50 bilhões, e autorizado de US$ 100 bilhões, a instituição tem o objetivo de aprofundar a integração econômico-financeira do bloco e alavancar recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países-membros e em outras economias emergentes. O banco terá sede em Xangai, na China, e um primeiro escritório regional na África do Sul.

Anunciada durante a VI Cúpula de líderes do Brics, em Fortaleza, o NDB é uma demons-tração de força e representa o passo mais ousado dado pelo grupo que surgiu em 2006 do

acrônimo criado cinco anos antes pelo economis-ta britânico Jim O’Neill, do banco de investimen-tos nor te-amer icano Goldman Sachs, para designar as economias emergentes em acelerado processo de desenvolvi-mento. A instituição surge t ambém em me io à frustração desses países com a falta de avanço das prometidas reformas do Banco Mundial e do F u n d o M o n e t á r i o Internacional (FMI) para permitir que a estrutura de poder dessas organiza-ções, dominada pelos países desenvolvidos, s o b r e t u d o E s t a d o s Unidos, Inglaterra, França e Alemanha, reflita de M

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Guido Mantega: “no banco do Brics, o poder é igual. O importante é quem tem o controle acionário, e não haverá controle acionário de ninguém”.

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No encontro de Fortaleza, os dirigentes dos países do Brics assinaram tam-bém um acordo para disponibilizar até US$ 100 bilhões de suas reservas interna-cionais para se ajudarem mutuamente em caso de problemas de balanço de paga-mentos. Cada país terá um limite de recursos que poderá pedir aos sócios se enfrentar eventuais crises de liquidez.

Pelos termos do acordo, denominado Arranjo Contingente de Reservas (ACR), a China entrará com a maior cota, de US$ 41 bilhões. Brasil, Rússia e Índia vão disponibilizar US$ 18 bilhões cada um, cabendo à África do Sul US$ 5 bilhões. Em caso de dificuldades, cada país poderá sacar uma vez e meia o valor correspondente à sua participação.

Se o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), como emprestador de recursos de longo prazo, pode ter como referência o Banco Mundial, o ACR, voltado a oferecer ajuda para situações emergenciais, se espelha no Fundo Monetário Internacional (FMI). A ideia é que até 30% do valor da cota possa ser sacado como empréstimo de curto prazo. Para ter acesso a valores mais ele-vados, qualquer um dos países terá que negociar um acordo de ajuste de suas contas com o FMI.

Bancos de fomento vão financiar empresas em moeda local

Arranjo Contingente de Reservas (ACR), assinado pelos dirigentes dos cinco países do Brics, vai disponibilizar até US$ 100 bilhões de reservas internacionais.

Outro acordo firmado durante o encontro em Fortaleza estabeleceu que instituições de fomento do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul vão dis-ponibilizar linhas de crédito em moeda local para investidores do bloco. No acordo assinado durante a VI Cúpula do Brics, os bancos de desenvolvimento se comprometem a financiar mutuamente as empresas de seus países, dentro de limites fixados previamente.

Na prática, o mecanismo vai permitir que empresa chinesa, por exemplo, possa investir no Brasil recebendo créditos em reais do BNDES. Em contra-partida, uma companhia brasileira terá condições de desenvolver projetos na China com crédito em moeda local, fornecido pelo banco chinês de fomento.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho (foto), explicou que o meca-nismo deve incentivar a internacionalização das empresas dos cinco países que investem dentro do bloco. “Para investimentos diretos, isso é importante porque as companhias que investem em outros mercados têm suas receitas na moeda local”, observou.

No caso do BNDES, segundo Coutinho, o funding para as operações pode-rá ser obtido no exterior e não vai disputar espaço com as fontes locais de recursos. “O BNDES poderá fazer captações externas. Já fizemos isso de for-ma bem-sucedida”, disse ele.

Mecanismo vai ajudar a enfrentar crises de balanço de pagamentos

maneira mais fiel a atual configuração econômica e geopolítica mundial.

Na declaração final do encontro, os líderes do Brics afirmaram estar “desapontados e seriamen-te preocupados” com o atraso das reformas das instituições multilaterais. A presidenta Dilma Rousseff lembrou que, embora sejam responsá-

veis por mais de 40% da população e por um quarto do PIB global, os países do Brics têm apenas 11% do poder de voto no FMI. Observou ainda que, com a criação do novo banco, o bloco “ganha densidade política e afirma seu papel no cenário

mundial”, além de “dar uma contribuição importante à reconfiguração do sistema de governança econômica internacional”. Procurou, todavia, evitar um tom de confron-tação. “O banco não é contra ninguém. É a nosso favor. É uma constatação de que o mundo é multilateral”, afirmou a presidenta.

Demanda – Apresentada formalmente pela Índia na reunião de cúpula de Nova Délhi, no início de 2012, a proposta de criação de um banco de fomento do Brics se consolidou no ano seguinte, no encontro de Durban, na África do Sul. “Hoje

é evidente que as atuais instituições multilate-rais, embora tenham expandido sua base de recursos durante a recente crise global, não são capazes de atender às imensas necessidades de investimento dos países emergentes”, afirma o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, embaixador Carlos Márcio Cozendey. “Isso ficou claro, inclusive, em discussões levadas a cabo no G-20 (grupo que reúne as 19 maiores economias e a União Europeia), nas quais os países desenvolvidos deixaram claro que não fariam tão cedo outra capitalização dessas instituições.”

O NDB, porém, não se propõe a substituir as fontes tradicionais de financia-mento, mas a criar um espaço adicional de mobilização de recursos para as economias em desenvolvimento. Conforme estabelece o artigo primeiro do Acordo Constitutivo do novo banco, que define os objetivos da nova instituição, ela agirá “complementando os esforços existentes de instituições financeiras multilaterais e regionais em prol do cresci-mento e do desenvolvimento globais”.

O NDB nasce com capital maior que o do Banco Interamericano de Desenvolvimento, de US$ 35 bilhões, e do próprio Banco Mundial, atualmente de aproximadamente US$ 40 bilhões. Para a economista Glória Moraes, professora da Faculdade Mackenzie Rio, é importante que os países emergentes, que vêm crescendo a taxas superiores à média internacional nos últimos anos, disponham de um instrumento financeiro próprio para dar suporte à expansão e suas economias. “O Banco Mundial e outras instituições multilate-rais existentes têm hoje pouco fôlego e seguem a agenda imposta pelos Estados Unidos e pelos principais países europeus”, diz ela. “Essas instituições”, acredita, “não estão, necessariamente, comprometidas com o desenvolvimento econômico dos países da periferia sistêmica.”

Os resultados, porém, não deverão aparecer no curto prazo. Para que possa ter validade, o acordo de criação do NDB precisa ser ratificado pelos parlamentos dos países do

Brics. Além disso, embora a estimativa oficial seja a de que o banco comece a funcionar em 2016, ele só atingirá a capacida-de plena de operação no início da próxima década. Isso porque o capital inicial de US$ 50 bilhões, que será dividido igualmente entre os sócios, não será integralizado de uma só vez. Após a aprovação dos respectivos poderes legislativos, cada país terá de fazer um aporte inicial de US$ 2 bilhões, completando os US$ 10 bilhões de sua cota num período de sete anos.

Condicionalidades – Ainda que em grande parte tenha sido concebido num modelo que espelha as instituições multilaterais em atividade, o NDB pretende marcar diferenças importantes na forma de operação. A principal delas será não estabelecer condicionalidades, exigências de ações de política econômica, como privatização e abertura comercial, que se tornaram comuns, por exemplo, nas operações do Banco Mundial a partir dos anos 1980. “Quando se definiu que a nova instituição seria voltada para a área de infraestrutura e para o desenvolvimento sustentá-vel, consolidou-se a ideia de um banco de projetos, e não de policy”, diz Cozendey. “Portanto, o NDB não vai vincular seus empréstimos à adoção de políticas específicas, nem condicionar a liberação de recursos a outros aspectos que não sejam a viabilidade econômica e ambiental dos projetos financiados.”

O ato constitutivo do NDB define um escopo bastante amplo para as operações do banco do Brics. A instituição poderá dar suporte a projetos públicos ou privados por meio de empréstimos, garantias, participação acionária e outros instrumentos financeiros. O NDB também deverá cooperar com instituições internacionais e outras entidades financei-

ras, além de prover assistência técnica aos projetos apoiados.“O novo banco abre a possibilidade de acesso a recursos

que não os de mercado para financiar projetos, principalmen-te de infraestrutura e de modernização e atualização de estruturas produtivas, que, geralmente, exigem recursos vultosos e possuem baixas taxas de retorno”, diz Glória Moraes. As diretrizes operacionais, entretanto, ainda serão detalhadas pelos órgãos diretivos da nova instituição, que também deverá captar recursos no mercado financeiro global. Segundo Cozendey, a avaliação é de que o NDB conseguirá obter classificação de risco melhor que a conferida hoje, individualmente, aos países-membros – o que justifica a expectativa de que ele conseguirá operar com custos reduzidos e taxas de juros competitivas.

Um ponto importante, de acordo com Glória Moraes, é que a instituição deverá agregar a experiência que os sócios possuem com seus próprios bancos de desenvolvimento – todos eles importantes e decisivos para os projetos nacionais. “Não se pode falar de desenvolvimento econômico da China sem citar o Banco de Desenvolvimento da China, assim como não se pode tratar de desenvolvimento econômico do Brasil sem mencionar o BNDES”, diz ela.

Capital – Os sócios fundadores do NDB terão participação equitativa no capital da instituição. Isso significa que cada um dos cinco membros iniciais terá igual poder de voto, e não haverá predominância de nenhum país em detrimento dos demais. Conforme ressaltou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no evento em que a instituição foi anunciada, “no banco do Brics, o poder é igual. O importante é quem tem o controle acionário, e não haverá controle acionário de ninguém”.

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No encontro de Fortaleza, os dirigentes dos países do Brics assinaram tam-bém um acordo para disponibilizar até US$ 100 bilhões de suas reservas interna-cionais para se ajudarem mutuamente em caso de problemas de balanço de paga-mentos. Cada país terá um limite de recursos que poderá pedir aos sócios se enfrentar eventuais crises de liquidez.

Pelos termos do acordo, denominado Arranjo Contingente de Reservas (ACR), a China entrará com a maior cota, de US$ 41 bilhões. Brasil, Rússia e Índia vão disponibilizar US$ 18 bilhões cada um, cabendo à África do Sul US$ 5 bilhões. Em caso de dificuldades, cada país poderá sacar uma vez e meia o valor correspondente à sua participação.

Se o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), como emprestador de recursos de longo prazo, pode ter como referência o Banco Mundial, o ACR, voltado a oferecer ajuda para situações emergenciais, se espelha no Fundo Monetário Internacional (FMI). A ideia é que até 30% do valor da cota possa ser sacado como empréstimo de curto prazo. Para ter acesso a valores mais ele-vados, qualquer um dos países terá que negociar um acordo de ajuste de suas contas com o FMI.

Bancos de fomento vão financiar empresas em moeda local

Arranjo Contingente de Reservas (ACR), assinado pelos dirigentes dos cinco países do Brics, vai disponibilizar até US$ 100 bilhões de reservas internacionais.

Outro acordo firmado durante o encontro em Fortaleza estabeleceu que instituições de fomento do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul vão dis-ponibilizar linhas de crédito em moeda local para investidores do bloco. No acordo assinado durante a VI Cúpula do Brics, os bancos de desenvolvimento se comprometem a financiar mutuamente as empresas de seus países, dentro de limites fixados previamente.

Na prática, o mecanismo vai permitir que empresa chinesa, por exemplo, possa investir no Brasil recebendo créditos em reais do BNDES. Em contra-partida, uma companhia brasileira terá condições de desenvolver projetos na China com crédito em moeda local, fornecido pelo banco chinês de fomento.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho (foto), explicou que o meca-nismo deve incentivar a internacionalização das empresas dos cinco países que investem dentro do bloco. “Para investimentos diretos, isso é importante porque as companhias que investem em outros mercados têm suas receitas na moeda local”, observou.

No caso do BNDES, segundo Coutinho, o funding para as operações pode-rá ser obtido no exterior e não vai disputar espaço com as fontes locais de recursos. “O BNDES poderá fazer captações externas. Já fizemos isso de for-ma bem-sucedida”, disse ele.

Mecanismo vai ajudar a enfrentar crises de balanço de pagamentos

maneira mais fiel a atual configuração econômica e geopolítica mundial.

Na declaração final do encontro, os líderes do Brics afirmaram estar “desapontados e seriamen-te preocupados” com o atraso das reformas das instituições multilaterais. A presidenta Dilma Rousseff lembrou que, embora sejam responsá-

veis por mais de 40% da população e por um quarto do PIB global, os países do Brics têm apenas 11% do poder de voto no FMI. Observou ainda que, com a criação do novo banco, o bloco “ganha densidade política e afirma seu papel no cenário

mundial”, além de “dar uma contribuição importante à reconfiguração do sistema de governança econômica internacional”. Procurou, todavia, evitar um tom de confron-tação. “O banco não é contra ninguém. É a nosso favor. É uma constatação de que o mundo é multilateral”, afirmou a presidenta.

Demanda – Apresentada formalmente pela Índia na reunião de cúpula de Nova Délhi, no início de 2012, a proposta de criação de um banco de fomento do Brics se consolidou no ano seguinte, no encontro de Durban, na África do Sul. “Hoje

é evidente que as atuais instituições multilate-rais, embora tenham expandido sua base de recursos durante a recente crise global, não são capazes de atender às imensas necessidades de investimento dos países emergentes”, afirma o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, embaixador Carlos Márcio Cozendey. “Isso ficou claro, inclusive, em discussões levadas a cabo no G-20 (grupo que reúne as 19 maiores economias e a União Europeia), nas quais os países desenvolvidos deixaram claro que não fariam tão cedo outra capitalização dessas instituições.”

O NDB, porém, não se propõe a substituir as fontes tradicionais de financia-mento, mas a criar um espaço adicional de mobilização de recursos para as economias em desenvolvimento. Conforme estabelece o artigo primeiro do Acordo Constitutivo do novo banco, que define os objetivos da nova instituição, ela agirá “complementando os esforços existentes de instituições financeiras multilaterais e regionais em prol do cresci-mento e do desenvolvimento globais”.

O NDB nasce com capital maior que o do Banco Interamericano de Desenvolvimento, de US$ 35 bilhões, e do próprio Banco Mundial, atualmente de aproximadamente US$ 40 bilhões. Para a economista Glória Moraes, professora da Faculdade Mackenzie Rio, é importante que os países emergentes, que vêm crescendo a taxas superiores à média internacional nos últimos anos, disponham de um instrumento financeiro próprio para dar suporte à expansão e suas economias. “O Banco Mundial e outras instituições multilate-rais existentes têm hoje pouco fôlego e seguem a agenda imposta pelos Estados Unidos e pelos principais países europeus”, diz ela. “Essas instituições”, acredita, “não estão, necessariamente, comprometidas com o desenvolvimento econômico dos países da periferia sistêmica.”

Os resultados, porém, não deverão aparecer no curto prazo. Para que possa ter validade, o acordo de criação do NDB precisa ser ratificado pelos parlamentos dos países do

Brics. Além disso, embora a estimativa oficial seja a de que o banco comece a funcionar em 2016, ele só atingirá a capacida-de plena de operação no início da próxima década. Isso porque o capital inicial de US$ 50 bilhões, que será dividido igualmente entre os sócios, não será integralizado de uma só vez. Após a aprovação dos respectivos poderes legislativos, cada país terá de fazer um aporte inicial de US$ 2 bilhões, completando os US$ 10 bilhões de sua cota num período de sete anos.

Condicionalidades – Ainda que em grande parte tenha sido concebido num modelo que espelha as instituições multilaterais em atividade, o NDB pretende marcar diferenças importantes na forma de operação. A principal delas será não estabelecer condicionalidades, exigências de ações de política econômica, como privatização e abertura comercial, que se tornaram comuns, por exemplo, nas operações do Banco Mundial a partir dos anos 1980. “Quando se definiu que a nova instituição seria voltada para a área de infraestrutura e para o desenvolvimento sustentá-vel, consolidou-se a ideia de um banco de projetos, e não de policy”, diz Cozendey. “Portanto, o NDB não vai vincular seus empréstimos à adoção de políticas específicas, nem condicionar a liberação de recursos a outros aspectos que não sejam a viabilidade econômica e ambiental dos projetos financiados.”

O ato constitutivo do NDB define um escopo bastante amplo para as operações do banco do Brics. A instituição poderá dar suporte a projetos públicos ou privados por meio de empréstimos, garantias, participação acionária e outros instrumentos financeiros. O NDB também deverá cooperar com instituições internacionais e outras entidades financei-

ras, além de prover assistência técnica aos projetos apoiados.“O novo banco abre a possibilidade de acesso a recursos

que não os de mercado para financiar projetos, principalmen-te de infraestrutura e de modernização e atualização de estruturas produtivas, que, geralmente, exigem recursos vultosos e possuem baixas taxas de retorno”, diz Glória Moraes. As diretrizes operacionais, entretanto, ainda serão detalhadas pelos órgãos diretivos da nova instituição, que também deverá captar recursos no mercado financeiro global. Segundo Cozendey, a avaliação é de que o NDB conseguirá obter classificação de risco melhor que a conferida hoje, individualmente, aos países-membros – o que justifica a expectativa de que ele conseguirá operar com custos reduzidos e taxas de juros competitivas.

Um ponto importante, de acordo com Glória Moraes, é que a instituição deverá agregar a experiência que os sócios possuem com seus próprios bancos de desenvolvimento – todos eles importantes e decisivos para os projetos nacionais. “Não se pode falar de desenvolvimento econômico da China sem citar o Banco de Desenvolvimento da China, assim como não se pode tratar de desenvolvimento econômico do Brasil sem mencionar o BNDES”, diz ela.

Capital – Os sócios fundadores do NDB terão participação equitativa no capital da instituição. Isso significa que cada um dos cinco membros iniciais terá igual poder de voto, e não haverá predominância de nenhum país em detrimento dos demais. Conforme ressaltou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no evento em que a instituição foi anunciada, “no banco do Brics, o poder é igual. O importante é quem tem o controle acionário, e não haverá controle acionário de ninguém”.

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Pelo acordo constitutivo, determinadas decisões estratégicas só poderão ser tomadas por maioria especial, ou seja, mediante dois terços dos votos e a aprovação de pelo menos quatro dos cinco sócios fundadores. “Isso quer dizer que os membros originais terão influência grande, mas nenhum terá o poder de veto”, explica Cozendey. “É uma regra importante, pois impede bloqueios no processo decisório, e abre a perspectiva de uma gestão equilibrada.”

O acordo prevê ainda que outros países integrantes da

25%do PIB mundial

15%do coméciomundial

O Brics Organização das Nações Unidas, bancos de investimento e instituições multilaterais poderão se tornar acionistas do banco – como tomadores ou não tomadores de recursos. A entrada desses novos acionistas é justamente um dos casos que terão de ser aprovados por maioria especial dos integran-tes do Brics. Os novos membros não poderão ter, individual-mente, mais do que 7% do capital, e os cinco países fundado-res, em qualquer hipótese, terão sempre garantida uma participação mínima de 55%.

Além do capital integralizado e de recursos captados no mercado, o NDB poderá administrar fundos especiais de investimentos formados pelos sócios, que não precisarão seguir a mesma proporção do capital. Esses recursos, porém, não farão parte do capital do banco e, portanto, não influen-ciarão o poder de voto de cada país. O primeiro desses fundos, segundo Cozendey, deverá ter o objetivo específico de financiar e apoiar tecnicamente a preparação de projetos – área identificada como uma das principais carências dos países do grupo.

Governança compartilhada – Haverá um rodízio entre os países-membros na indicação dos dirigentes. O primeiro presidente executivo, conforme ficou acertado na reunião de Fortaleza, será indicado pela Índia, vindo a seguir o Brasil, acompanhado por Rússia, África do Sul e China. O mandato será de cinco anos. Cada país fundador indicará ainda um vice-presidente.

A instância máxima de decisão política do novo banco será o Conselho de Governadores. Indicados pelos sócios, os governadores deverão ter status ministerial. Caberá a esse conselho, inicialmente sob o comando da Rússia, definir, a cada cinco anos, as linhas estratégicas de atuação do banco. O órgão se reunirá uma vez por ano, no mínimo, e terá poderes para admitir novos sócios, aumentar ou diminuir o capital, decidir sobre a suspensão de membros que não tenham cumprido com suas obrigações, emendar o acordo constituti-vo da instituição, aprovar acordos de cooperação com outras organizações internacionais, deliberar sobre a distribuição de resultados, decidir pelo encerramento das atividades e eleger o presidente executivo.

Completa a estrutura o Conselho de Diretores, que será presidido inicialmente pelo Brasil. O board será responsável pela condução das operações gerais do banco e, de acordo com as orientações do Conselho de Governadores, deverá tomar as decisões sobre estratégias de negócios, aprovar operações de empréstimo, garantias ou a utilização de outros instrumentos financeiros, aprovar o orçamento anual e submeter as contas da instituição à aprovação dos governadores.

Diferentemente do modelo das instituições multilaterais existentes, o board será não residente, ou seja, não terá sede fixa. Cada sócio fundador apontará um diretor. O modelo, nota Cozendey, é mais próximo ao das modernas sociedades anônimas, onde os diretores representam diretamente os acionistas. Caso ocorra a entrada de novos sócios, o Conselho de Governadores estabelecerá regras, de modo que o total de diretores não passe de 10. Os diretores se reunirão pelo menos a cada quatro meses, terão mandado de dois anos e poderão ser reeleitos.

Banco do BricsAs principais características da nova instituição de desenvolvimento

África do Sul

Brasil

China

Índia

Rússia

Capital inicial do Bancoserá de

US$ 50 bilhõesdividido igualmenteentre os sócios

Banco vai alavancar recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países-membros e em outras economiasemergentes.

A sede será em Xangai, na China, e o primeiro escritório regional na África do Sul.

Estimativa inicial para o começo das operações é em 2016.

Cada país terá de fazer um aporte inicial de US$ 2 bi, completando os US$ 10 bi de sua cota num período de sete anos.

Todos os cinco membros fundadores têm igual poder de voto.

Presidente-Executivo mandato rotativo entre os países-membros; o primeiro será indicado pela Índia.

Vice-presidentes cada país fundador indicará um executivo para a função.

Conselho de Governadores instância máxima de decisão política; indicadospelos sócios, terá o poder ministerial.

Conselho de Diretores será coordenado inicialmente pelo Brasil e cada sócio-fundador apontará um diretor, que terá mandado de dois anos e poderá ser reeleito; mesmo com a entrada de novos sócios, o total de diretores não poderá ser superior a 10.O órgão se reunirá pelo menos a cada quatro meses e será responsável pela condução das operações gerais do banco, devendo, entre outras ações, tomar as decisões sobre estratégias de negócio e aprovar o orçamento anual.

Outros países integrantes da ONU poderão ser acionistas e, assim, membros do Banco.

Decisões estratégicas deverão ser aprovadas por maioria especial (2/3 dos votos) e por pelo menos 4 dos 5 membros fundadores. Não haverá poder de veto.

PROPOSTA

RECURSOS

COMPOSIÇÃO

GOVERNANÇA

CAPITAL

US$ 35 bi

Banco MundialUS$ 40 bi

BIDBRICSUS$ 50 bi

11% do poder de voto no FMI

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40%da populaçãomundial

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INTERNACIONAL

Pelo acordo constitutivo, determinadas decisões estratégicas só poderão ser tomadas por maioria especial, ou seja, mediante dois terços dos votos e a aprovação de pelo menos quatro dos cinco sócios fundadores. “Isso quer dizer que os membros originais terão influência grande, mas nenhum terá o poder de veto”, explica Cozendey. “É uma regra importante, pois impede bloqueios no processo decisório, e abre a perspectiva de uma gestão equilibrada.”

O acordo prevê ainda que outros países integrantes da

25%do PIB mundial

15%do coméciomundial

O Brics Organização das Nações Unidas, bancos de investimento e instituições multilaterais poderão se tornar acionistas do banco – como tomadores ou não tomadores de recursos. A entrada desses novos acionistas é justamente um dos casos que terão de ser aprovados por maioria especial dos integran-tes do Brics. Os novos membros não poderão ter, individual-mente, mais do que 7% do capital, e os cinco países fundado-res, em qualquer hipótese, terão sempre garantida uma participação mínima de 55%.

Além do capital integralizado e de recursos captados no mercado, o NDB poderá administrar fundos especiais de investimentos formados pelos sócios, que não precisarão seguir a mesma proporção do capital. Esses recursos, porém, não farão parte do capital do banco e, portanto, não influen-ciarão o poder de voto de cada país. O primeiro desses fundos, segundo Cozendey, deverá ter o objetivo específico de financiar e apoiar tecnicamente a preparação de projetos – área identificada como uma das principais carências dos países do grupo.

Governança compartilhada – Haverá um rodízio entre os países-membros na indicação dos dirigentes. O primeiro presidente executivo, conforme ficou acertado na reunião de Fortaleza, será indicado pela Índia, vindo a seguir o Brasil, acompanhado por Rússia, África do Sul e China. O mandato será de cinco anos. Cada país fundador indicará ainda um vice-presidente.

A instância máxima de decisão política do novo banco será o Conselho de Governadores. Indicados pelos sócios, os governadores deverão ter status ministerial. Caberá a esse conselho, inicialmente sob o comando da Rússia, definir, a cada cinco anos, as linhas estratégicas de atuação do banco. O órgão se reunirá uma vez por ano, no mínimo, e terá poderes para admitir novos sócios, aumentar ou diminuir o capital, decidir sobre a suspensão de membros que não tenham cumprido com suas obrigações, emendar o acordo constituti-vo da instituição, aprovar acordos de cooperação com outras organizações internacionais, deliberar sobre a distribuição de resultados, decidir pelo encerramento das atividades e eleger o presidente executivo.

Completa a estrutura o Conselho de Diretores, que será presidido inicialmente pelo Brasil. O board será responsável pela condução das operações gerais do banco e, de acordo com as orientações do Conselho de Governadores, deverá tomar as decisões sobre estratégias de negócios, aprovar operações de empréstimo, garantias ou a utilização de outros instrumentos financeiros, aprovar o orçamento anual e submeter as contas da instituição à aprovação dos governadores.

Diferentemente do modelo das instituições multilaterais existentes, o board será não residente, ou seja, não terá sede fixa. Cada sócio fundador apontará um diretor. O modelo, nota Cozendey, é mais próximo ao das modernas sociedades anônimas, onde os diretores representam diretamente os acionistas. Caso ocorra a entrada de novos sócios, o Conselho de Governadores estabelecerá regras, de modo que o total de diretores não passe de 10. Os diretores se reunirão pelo menos a cada quatro meses, terão mandado de dois anos e poderão ser reeleitos.

Banco do BricsAs principais características da nova instituição de desenvolvimento

África do Sul

Brasil

China

Índia

Rússia

Capital inicial do Bancoserá de

US$ 50 bilhõesdividido igualmenteentre os sócios

Banco vai alavancar recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países-membros e em outras economiasemergentes.

A sede será em Xangai, na China, e o primeiro escritório regional na África do Sul.

Estimativa inicial para o começo das operações é em 2016.

Cada país terá de fazer um aporte inicial de US$ 2 bi, completando os US$ 10 bi de sua cota num período de sete anos.

Todos os cinco membros fundadores têm igual poder de voto.

Presidente-Executivo mandato rotativo entre os países-membros; o primeiro será indicado pela Índia.

Vice-presidentes cada país fundador indicará um executivo para a função.

Conselho de Governadores instância máxima de decisão política; indicadospelos sócios, terá o poder ministerial.

Conselho de Diretores será coordenado inicialmente pelo Brasil e cada sócio-fundador apontará um diretor, que terá mandado de dois anos e poderá ser reeleito; mesmo com a entrada de novos sócios, o total de diretores não poderá ser superior a 10.O órgão se reunirá pelo menos a cada quatro meses e será responsável pela condução das operações gerais do banco, devendo, entre outras ações, tomar as decisões sobre estratégias de negócio e aprovar o orçamento anual.

Outros países integrantes da ONU poderão ser acionistas e, assim, membros do Banco.

Decisões estratégicas deverão ser aprovadas por maioria especial (2/3 dos votos) e por pelo menos 4 dos 5 membros fundadores. Não haverá poder de veto.

PROPOSTA

RECURSOS

COMPOSIÇÃO

GOVERNANÇA

CAPITAL

US$ 35 bi

Banco MundialUS$ 40 bi

BIDBRICSUS$ 50 bi

11% do poder de voto no FMI

$

R REPORTAGEM

40%da populaçãomundial

Page 34: Rumos 276

inguém deveria ter mais dúvidas de que as eco-nomias do Brasil, da Índia, da Rússia, da China e da África do Sul são destoantes, se consideramos os países de industrialização tardia. Além das

dimensões territoriais, o que implica no fato de possuírem riquezas naturais, elas agregam uma população superior a três bilhões de pessoas e um PIB que alcança US$ 16,2 tri, superior ao PIB dos países da Zona do Euro. Além disso, o crescimento médio da produção dessas economias se desta-ca, quando analisamos o período compreendido entre 2004 e 2012: o crescimento médio da China foi de 10,20%; da Índia, de 7,50%; da Rússia, de 4,01% ; e do Brasil de 3,73%. E de quanto foi o crescimento médio do PIB dos EUA, no mesmo período? E o do Japão? E o da Alemanha? Todos tiveram crescimento médio em torno de 1%, sendo que os EUA, dentre esses países, foi o que apresentou maior indica-dor, teve crescimento médio de 1,74%. Logo, todas essas economias que formam o Brics passaram a ser relevantes para a geoeconomia mundial.

Primeiro, é bom que se ressalte que criar um banco não é uma coisa fácil, ainda mais num momento de crise capitalista prolongada como a que vivemos. Entretanto a criação de um banco do Brics é uma pontuação não desprezível, neste momento. O que é relevante é que os países que não fazem parte do “pelotão de ponta” da geoeconomia mundial pode-rão contar com uma alternativa, pois há uma outra proposta em andamento. Parece ser difícil entender que o credo liberal não é o único possível, e que outras economias encontram melhores resultados em função da adoção de outro tipo de política de desenvolvimento. Não faria sentido criar-se um banco do Brics para ser apenas mais uma instituição multila-teral, como as já existentes. Desse ponto de vista, bem além dos recursos disponíveis, em prol do crescimento e do desen-volvimento econômico e social, o Banco de Desenvolvimen-to do Brics deixa claro que há uma outra geoeconomia e geo-política em andamento.

É evidente que as vantagens que ele poderá oferecer são as taxas de juros diferenciadas e prazos melhores, ainda mais quando nos referimos às instituições bancárias privadas. Mas, sobretudo, uma instituição desse porte agregará, certamente, a experiência que esses países possuem com os seus bancos de desenvolvimento, pois todos possuem bancos de desenvolvi-mento importantes e decisivos para os projetos nacionais que se encontram em andamento. Por exemplo, não se pode falar

de desenvolvimento econômico da China sem se falar do Ban-co de Desenvolvimento da China (CDB), assim como não se pode falar de desenvolvimento econômico do Brasil sem se falar no BNDES. A história nos ensinou que quase todos os projetos de desenvolvimento nacionais exitosos contaram com recursos criados por instituições bancárias financeiras, quase sempre estatais. Vamos pensar: se hoje alguém fosse fazer um empreendimento privado e necessitasse de recursos de terceiros, como é o mais usual, recorreria a uma instituição bancária privada ou a um banco de desenvolvimento? Por quê? Porque o pressuposto é de que são necessárias taxas de juros baixos e longo prazo, não? E esta é a lógica das institui-ções bancárias tradicionais? É claro que não!

Sabemos que o Banco de Desenvolvimento do Brics terá capital inicial de US$ 50 bilhões, ou seja, este é o seu funding de partida, mas um banco de desenvolvimento é lucrativo, tal como é lucrativo o BNDES. Ninguém pense que um banco de desenvolvimento empresta a fundo perdido, não é isto. Essa instituição tem retorno e até pode e deve, em algumas situações, ampliar prazos e subsidiar juros, mas não pode ser confundido em hipótese alguma com uma instituição bancá-ria tradicional. Em suas operações, visa retorno e lucrativida-de, mas sua perspectiva é o desenvolvimento, o que implica em financiamento de projetos de longo prazo, principalmen-te os de infraestrutura.

Podemos considerar que ele se diferencia das atuais insti-tuições multilaterais, primeiro, porque o Banco Mundial hoje tem pouco fôlego, e sua agenda segue a imposta pelos EUA e pelos principais países europeus. Depois, porque as atuais ins-tituições multilaterais bancárias financeiras, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimentos, e outras instituições menos importantes, não estão, necessariamente, comprome-tidas com o desenvolvimento econômico dos países da peri-feria sistêmica, mas sim com projetos específicos, humanitá-rios, grande parte das vezes, mas nem sempre dispostos a financiar a infraestrutura e a promover o crescimento.

RUMOS – 34 – Julho/Agosto 2014

O banco do Brics é uma pontuação não desprezível

Glória Moraes*

*Economista. Coordenadora do curso de mestrado em Relações Internacionais do Centro de Estudos Brasileiros e Latino-Americanos (CEBELA) e professora de Economia da Universidade Mackenzie-Rio

R REPORTAGEM

N

INTERNACIONAL

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AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S/APresidente: Sávio Pereswww.afap.ap.gov.br

AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A Presidente: Evandor Geber Filhowww.afeam.am.gov.br

AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A Presidente: Murilo Gomes Pereirawww.aferr.rr.gov.br

AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A Presidente: Agnaldo Nunes de Souzawww.agefepe.pe.gov.br

AGERIO – Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A Presidente: José Domingos Vargaswww.agerio.com.br

AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A Presidente: João Augusto da Cunha Melowww.agnrn.com.br

BADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A Presidente: Luis Antônio Ramoswww.badesc.gov.br

BADESUL – Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS Presidente: Marcelo de Carvalho Lopes www.badesul.com.br

BANCO DA AMAZÔNIA –Banco da Amazônia S/A Presidente: Valmir Pedro Rossiwww.bancoamazonia.com.br

BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S/A Presidente: Marco Aurélio B. de Almada Abreuwww.bancoob.com.br

BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A Presidente: Guilherme Henrique Pereirawww.bandes.com.br

BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S/A Presidente: Augusto Sergio Amorim Costawww.banparanet.com.br

BB – Banco do Brasil S/A Presidente: Aldemir Bendinewww.bb.com.br

BDMG – Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais S/A Presidente: Júlio Onofre Mendes www.bdmg.mg.gov.br

BNB – Banco do Nordeste S/A Presidente: Nelson Antônio de Souzawww.bnb.gov.br

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Presidente: Luciano Coutinhowww.bndes.gov.br

BRB – Banco de Brasília Presidente: Paulo Roberto Evangelista de Limawww.brb.com.br

BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul Presidente: Jorge Gomes Rosa Filhowww.brde.com.br

CAIXA – Caixa Econômica Federal Presidente: Jorge Fontes Heredawww.caixa.gov.br

DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A Presidente: Vitor Lopeswww.desenbahia.ba.gov.br

DESENVOLVE – Agência de Fomento do Estado de Alagoas S/A Presidente: Antonio Carlos Quintilianowww.desenvolve-al.com.br

DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento Paulista Presidente: Milton Luiz de Melo Santoswww.desenvolvesp.com.br

FINEP – Inovação e Pesquisa Presidente: Glauco Arbixwww.finep.gov.br

FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S/A Presidente: Juraci Barbosa Sobrinhowww.fomento.pr.gov.br

GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A Presidente: Humberto Tannús Júniorwww.fomento.goias.com.br

MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A Presidente: Mário Milton Verlangieri Ferreira Mendeswww.mtfomento.mt.gov.br

PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A Presidente: Antônio Luiz Medeiros de A. Filhowww.fomento.pi.gov.br

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Presidente: Luiz Eduardo Barretto Filho www.sebrae.com.br

SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

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RUMOS – 37 – Julho/Agosto 2014

ora do Brasil, notadamente nos Estados Unidos e na Europa, as grandes preocupações da indústria bancária começam pela reconquista da confiança perdida em razão da crise financeira que eclodiu em 15 de setembro de 2008 (originada em mea-

dos de 2007 no mercado hipotecário norte-americano de alto risco, mais conhecido como subprime), pelo aperfeiçoamento da regulação do setor (em decorrência da própria crise) e avan-çam na direção da busca por novos clientes, campo em que

RUMOS – 36 – Julho/Agosto 2014

publicado sob o título “O cooperativismo financeiro e os canais de (auto)atendimento”.

3) A informação como vantagem competitiva.As instituições capazes de rapidamente integrar as bases

de dados e informações de suas diferentes áreas – comercial, operacional, riscos, financeira etc. –, e explorá-las no relacio-namento com os usuários, tenderão a ser as vencedoras, ante-cipando-se na conquista de mercado.

4) O impulso à inovação.A dinâmica imposta pela mudança de hábitos e práticas

dos usuários, impulsionada pelo avassalador progresso tec-nológico, exigirá dos bancos – e das cooperativas também –constante renovação de seu “cardápio” e contínua reinven-ção de seus processos. As instituições mais atentas e dispos-tas e adaptar-se com maior celeridade, amparadas em orça-mentos aderentes aos investimentos reivindicados, manter-se-ão na dianteira. 5) A gestão mais proativa dos riscos, do capital e da regulação.

Diferente de antes da crise, quando a preocupação com este aspecto não se situava entre as mais imediatas das organi-zações – notadamente fora do Brasil, em que o setor era sub-metido a baixo grau de regulamentação , doravante a cautela –terá de ser redobrada, já que os modelos regulatórios vêm avançando em densidade e complexidade, e os órgãos de supervisão tenderão a ser menos flexíveis.

Nesse novo ambiente, em tom de proatividade, boas prá-ticas de gestão, que ponderem adequada e tempestivamente os riscos das estratégias operacionais, haverão de constituir a tônica. O horizonte, portanto, aponta para algo mais consis-tente, algo verdadeiro e coerente a longo prazo, prudência que desde sempre integra o próprio DNA do cooperativismo financeiro.

A lógica da insustentabilidade de ganhos baseados em ati-vos sem lastros sólidos, portanto, deverá sensibilizar os admi-nistradores e os próprios acionistas. Com isso, a reputação se restabelecerá e os investidores e usuários em geral voltarão a confiar no sistema. Ganharão todos!

AARTIGO

COOPERATIVISMO FINANCEIRO E SISTEMA BANCÁRIO GLOBAL

terão de disputar espaço com entrantes não convencionais, dispostos a colocar na berlinda a intermediação financeira tal como a conhecemos e hoje praticamos.

Por aqui, os desafios principais transitam ao largo dos dois primeiros temas, vez que o incidente que abalou a banca internacional não contagiou ou muito pouco afetou o sis-– –tema financeiro local, naquele momento já muito bem regula-mentado e adequadamente supervisionado, e que não vinha apostando em ativos de mesma precariedade.

A atenção com os agentes he te rodoxos que es tão ingressando no mercado de serviços financeiros (consi-derada a principal ameaça à prática bancária tradicional), contudo, está na pauta, a cuja ordem do dia deve-se acres-centar, ainda, como meta doméstica, a busca por uma maior eficiência operacional, visto que nesse quesito, no geral, as Instituições Finance-iras (Ifs) brasileiras – coope-rativas, entre elas - estão bas-tante aquém das congêneres norte-americanas, europeias e, especialmente, asiáticas (conforme dados do BIS – banco central dos bancos cen-trais).

Além de lidar com essas macroquestões, conforme pes-quisa no formato de entre-–vistas realizada pela Price-–

F waterhouseCoopers (PwC (La banca'retail'en 2020, ¿Evolu-ción o revolución?) junto a 560 dirigentes de entidades finan-ceiras em 17 países diferentes, o sistema financeiro ao redor do mundo terá de adaptar-se a algumas grandes mudanças nos próximos anos, com destaque para:

1) A revisão do seu modelo de negócios, substituindo o foco no produto pelo relacionamento com o cliente/usuário.

Atualmente, as instituições financeiras, incluindo – com exceções pontuais as cooperativas, conhecem apenas –superficialmente o seu público, ao passo que o portfólio de produtos e serviços se mostra bastante completo. Os mode-los de relacionamento terão de ser aprimorados de modo a permitirem um domínio mais aprofundado sobre o perfil e os hábitos de consumo dos usuários. Nesse particular, as coope-rativas largam em vantagem, podendo antecipar-se nas cor-respondentes ações, pois estão bem mais próximas dos seus cooperados do que os bancos dos seus clientes.

2) A simplificação dos modelos operativos e a otimização das redes de distribuição.

No formato de hoje, as dependências físicas ainda são a referência no contato com os usuários. Logo mais (a rigor, isso já vem ocorrendo...), entretanto, assumirá grande rele-vância o conceito de instituição financeira direta, em que o autosserviço deixará margem bem menor para o atendimen-to convencional.

Em tal cenário, além da intensificação dos investimentos nos canais digitais, vislumbra-se a necessidade de alianças com redes de varejo não financeiras e uma reformulação dos espaços físicos dos bancos e das cooperativas financeiras (es-sa tendência é explorada mais detidamente em outro artigo,

“Perca dinheiro da firma, e eu serei compreensivo. Perca uma migalha da reputação da firma, e

eu serei impiedoso”. (Warren E. Buffett, investidor)

O que vem por aí?

Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual milita há 30 anos , entre eles: “O cooperativismo de crédito ontem, –hoje e amanhã” e “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

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Ênio Meinen

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RUMOS – 37 – Julho/Agosto 2014

ora do Brasil, notadamente nos Estados Unidos e na Europa, as grandes preocupações da indústria bancária começam pela reconquista da confiança perdida em razão da crise financeira que eclodiu em 15 de setembro de 2008 (originada em mea-

dos de 2007 no mercado hipotecário norte-americano de alto risco, mais conhecido como subprime), pelo aperfeiçoamento da regulação do setor (em decorrência da própria crise) e avan-çam na direção da busca por novos clientes, campo em que

RUMOS – 36 – Julho/Agosto 2014

publicado sob o título “O cooperativismo financeiro e os canais de (auto)atendimento”.

3) A informação como vantagem competitiva.As instituições capazes de rapidamente integrar as bases

de dados e informações de suas diferentes áreas – comercial, operacional, riscos, financeira etc. –, e explorá-las no relacio-namento com os usuários, tenderão a ser as vencedoras, ante-cipando-se na conquista de mercado.

4) O impulso à inovação.A dinâmica imposta pela mudança de hábitos e práticas

dos usuários, impulsionada pelo avassalador progresso tec-nológico, exigirá dos bancos – e das cooperativas também –constante renovação de seu “cardápio” e contínua reinven-ção de seus processos. As instituições mais atentas e dispos-tas e adaptar-se com maior celeridade, amparadas em orça-mentos aderentes aos investimentos reivindicados, manter-se-ão na dianteira. 5) A gestão mais proativa dos riscos, do capital e da regulação.

Diferente de antes da crise, quando a preocupação com este aspecto não se situava entre as mais imediatas das organi-zações – notadamente fora do Brasil, em que o setor era sub-metido a baixo grau de regulamentação , doravante a cautela –terá de ser redobrada, já que os modelos regulatórios vêm avançando em densidade e complexidade, e os órgãos de supervisão tenderão a ser menos flexíveis.

Nesse novo ambiente, em tom de proatividade, boas prá-ticas de gestão, que ponderem adequada e tempestivamente os riscos das estratégias operacionais, haverão de constituir a tônica. O horizonte, portanto, aponta para algo mais consis-tente, algo verdadeiro e coerente a longo prazo, prudência que desde sempre integra o próprio DNA do cooperativismo financeiro.

A lógica da insustentabilidade de ganhos baseados em ati-vos sem lastros sólidos, portanto, deverá sensibilizar os admi-nistradores e os próprios acionistas. Com isso, a reputação se restabelecerá e os investidores e usuários em geral voltarão a confiar no sistema. Ganharão todos!

AARTIGO

COOPERATIVISMO FINANCEIRO E SISTEMA BANCÁRIO GLOBAL

terão de disputar espaço com entrantes não convencionais, dispostos a colocar na berlinda a intermediação financeira tal como a conhecemos e hoje praticamos.

Por aqui, os desafios principais transitam ao largo dos dois primeiros temas, vez que o incidente que abalou a banca internacional não contagiou ou muito pouco afetou o sis-– –tema financeiro local, naquele momento já muito bem regula-mentado e adequadamente supervisionado, e que não vinha apostando em ativos de mesma precariedade.

A atenção com os agentes he te rodoxos que es tão ingressando no mercado de serviços financeiros (consi-derada a principal ameaça à prática bancária tradicional), contudo, está na pauta, a cuja ordem do dia deve-se acres-centar, ainda, como meta doméstica, a busca por uma maior eficiência operacional, visto que nesse quesito, no geral, as Instituições Finance-iras (Ifs) brasileiras – coope-rativas, entre elas - estão bas-tante aquém das congêneres norte-americanas, europeias e, especialmente, asiáticas (conforme dados do BIS – banco central dos bancos cen-trais).

Além de lidar com essas macroquestões, conforme pes-quisa no formato de entre-–vistas realizada pela Price-–

F waterhouseCoopers (PwC (La banca'retail'en 2020, ¿Evolu-ción o revolución?) junto a 560 dirigentes de entidades finan-ceiras em 17 países diferentes, o sistema financeiro ao redor do mundo terá de adaptar-se a algumas grandes mudanças nos próximos anos, com destaque para:

1) A revisão do seu modelo de negócios, substituindo o foco no produto pelo relacionamento com o cliente/usuário.

Atualmente, as instituições financeiras, incluindo – com exceções pontuais as cooperativas, conhecem apenas –superficialmente o seu público, ao passo que o portfólio de produtos e serviços se mostra bastante completo. Os mode-los de relacionamento terão de ser aprimorados de modo a permitirem um domínio mais aprofundado sobre o perfil e os hábitos de consumo dos usuários. Nesse particular, as coope-rativas largam em vantagem, podendo antecipar-se nas cor-respondentes ações, pois estão bem mais próximas dos seus cooperados do que os bancos dos seus clientes.

2) A simplificação dos modelos operativos e a otimização das redes de distribuição.

No formato de hoje, as dependências físicas ainda são a referência no contato com os usuários. Logo mais (a rigor, isso já vem ocorrendo...), entretanto, assumirá grande rele-vância o conceito de instituição financeira direta, em que o autosserviço deixará margem bem menor para o atendimen-to convencional.

Em tal cenário, além da intensificação dos investimentos nos canais digitais, vislumbra-se a necessidade de alianças com redes de varejo não financeiras e uma reformulação dos espaços físicos dos bancos e das cooperativas financeiras (es-sa tendência é explorada mais detidamente em outro artigo,

“Perca dinheiro da firma, e eu serei compreensivo. Perca uma migalha da reputação da firma, e

eu serei impiedoso”. (Warren E. Buffett, investidor)

O que vem por aí?

Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual milita há 30 anos , entre eles: “O cooperativismo de crédito ontem, –hoje e amanhã” e “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

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RUMOS – 38 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 39 – Julho/Agosto 2014

Por Ricardo Vieira

uem passa pela Avenida Brasil, principal porta de entrada e saída do Rio de Janeiro, pode se surpre-ender com um imponente castelo de arquitetura destacada em meio à degradada paisagem da maior avenida em extensão do país. É o Castelo

Mourisco, o grande símbolo da Fiocruz, com cinco andares, decorado com afrescos e mandalas por toda a construção, feita com inspiração nos palácios mouriscos espanhóis. Aque-les que têm a oportunidade de visitá-lo também acabam impressionados com o tamanho da sede da Fundação. O visitante pode encontrar exposições, peças teatrais e outras tantas atrações, além de um trenzinho que percorre parte dos 800 mil metros quadrados do local. Mas esse tamanho se apequena quando comparado ao do “irmão” mais novo do campus principal da Fundação.

Há mais de quatro anos a instituição também conta com o Campus Fiocruz da Mata Atlântica (CFMA), situado em Curicica, na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ao todo, são nada menos que cinco milhões de metros quadrados de uma área rara para a cidade, com cerca de 90% do terreno composto pelo bioma Mata Atlântica. “É

EXPANSÃO

Q

Jacarepaguá. Com ele, o Plano Diretor e o Plano de Regulari-zação Fundiária também foram criados. Além disso, o progra-ma articulou ações para conhecer o novo território. Projetos de captação de recursos externos foram elaborados e alianças com outras instituições para viabilizar a implantação do CFMA começaram a ser costuradas.

Sustentabilidade – Desde o início, a Fiocruz buscou uma ocupação exemplar para o terreno. De cara, implementou três projetos para coleta seletiva solidária. Um deles, o da Colônia Juliano Moreira, recebeu fomento de quase R$ 35 mil. Mais tarde, em 2013, o CFMA lançou um projeto ecoló-gico com apoio do BNDES. O Projeto de Recuperação e Restauração Ecológica foi orçado em R$ 2,5 milhões e teve origem com a proposta de gerar modelos sustentáveis para a restauração florestal e conservação dos serviços ambientais. “Toda a região do CFMA, que no passado sediou fazendas de cana de açúcar e café, passou por séculos de devastação. Em geral, em 1 hectare de Mata Atlântica encontram-se cerca de 400 espécies de árvores. Aqui, no entanto, estamos encon-trando uma média de apenas 50”, contou a bióloga Andrea Vanini, uma das coordenadoras do projeto.

Nesse programa, outro problema observado pela bióloga foi a expressiva quantidade de espécies exóticas – como pés de jaqueira e jamelão – a serem retiradas e substituídas por plantas nativas da Mata Atlântica. “Isso tem que ser feito de maneira equilibrada, porque a fauna da região já está acostu-mada com essas árvores e delas extrai seus alimentos”, expli-cou Andrea, acrescentando que o enriquecimento ambiental é uma das tarefas do projeto.

Riqueza histórica – A Casa de Oswaldo Cruz (COC) fez o levantamento do patrimônio histórico e arquitetônico do Campus e também fez os levantamentos arqueológicos. Da lista de sítios arqueológicos constam ainda um cemitério, uma senzala, uma igreja e a sede da antiga fazenda. O local está tombado pelos órgãos de defesa do patrimônio históri-co. A região de Jacarepaguá foi, desde o início da colonização portuguesa, ocupada por engenhos de cana-de-açúcar. A partir da década de 1830 transformou seus antigos engenhos de açúcar em fazendas de lavoura de café.

Na área do Campus encontra-se o Maciço da Pedra Bran-ca, que circunda os bairros de Guaratiba a oeste, Bangu e Realengo ao norte, Jacarepaguá a leste, Barra da Tijuca a sudoeste, Recreio dos Bandeirantes e Grumari ao sul e Campo Grande a noroeste. No maciço está um dos maiores parques urbanos do mundo, o Parque Estadual da Pedra Branca, que tem cerca de 12,5 mil hectares de área coberta por vegetação típica de Mata Atlântica. O parque tem uma importante rede hidrográfica, já que parte dela contribui para o abastecimento de água da região circunvizinha, destacan-do-se as represas do Pau da Fome e do Camorim, das Taxas e do Engenho Novo. A área ainda conta com oito bacias prin-cipais e 53 microbacias. “É um território rico em termos da história de ocupação humana. Já foram encontradas, por exemplo, peças como machados e outros objetos produzidos por indígenas que habitavam a região séculos atrás”, relata o coordenador Gilson Antunes.

R REPORTAGEM

Novos caminhosCampus Fiocruz da Mata Atlântica, com cinco milhões de metros quadrados, se torna diferencial atrativo na recepção de indústrias na área de ciência e tecnologia; grande empresa de biofármacos começa a operar no local em 2015

uma excelente oportunidade para se estabelecer uma ocupa-ção baseada nos princípios da sustentabilidade”, afirmou à época do lançamento do CFMA, em 2010, o coordenador do novo campus, Gilson Antunes. Porém a décima parte do terreno também tem muita importância, com comprovação atestada em julho deste ano, quando foi divulgada a parceria da Fiocruz com a empresa Bionovis. Dessa junção vai nascer dentro de um ano uma grande indústria farmacêutica de biofármacos para o tratamento de artrite reumatoide e cân-cer. “A importância da Bionovis naquele terreno, para além de garantir uma nova fronteira de biofármacos e a sustenta-bilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), também significa estar integrada a uma região com condições especiais de beleza e patrimônio ecológico, mas que estava numa área de risco e sem projeto de desenvolvimento”, comemora o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.

O Campus Fiocruz da Mata Atlântica apareceu como um importante fator na disputa entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina para sediar a nova empresa, que deverá investir R$ 500 milhões nos próximos cinco anos e que, em contrapartida, vai receber incentivos fiscais do governo esta-

dual para sua instalação. A importância vital do novo empre-endimento é evidenciada com o dado de que o Brasil hoje é totalmente dependente de importações no setor. A indústria de biológicos movimenta US$ 160 bilhões de dólares, sendo US$ 6 bilhões apenas no Brasil.

Ás na manga do Rio, o terreno do CFMA tem uma relação de mais de uma década com a Fiocruz. Começou em 2003, quando a instituição recebeu o chamado Setor 1 do local (o maior e mais bem preservado), com cessão precária. Em 2007, a cessão foi consolidada por 50 anos e dois anos depois teve início o processo de doação definitiva da área à Fiocruz. Os outros setores do terreno são o 2, onde funcionava a extinta Colônia Juliano Moreira – hospital psquiátrico que foi referên-cia nacional durante grande parte do século passado; o 3, que foi cedido à Secretaria de Habitação para assentar pessoas desabrigadas; o 4, vendido pelo Exército; o 5, onde está insta-lado o Hospital Rafael Pedro Souza; e o 6, onde se encontra o Centro Hélio Fraga. Um ano depois do início da cessão do espaço, em 2004, a Fiocruz logo definiu três eixos de atuação do então Campus Jacarepaguá 1: fitomedicamentos, patrimô-nio cultural da saúde e biodiversidade e saúde. Mais tarde, em 2005, foi criado o Programa de Implantação do Campus de

Lin

Lim

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Parceria da Fiocruz com a empresa Bionovis fará nascer dentro de um ano uma grande indústria farmacêuticade biofármacos para o tratamento de artrite reumatoide e câncer; será a primeira do tipo no país.

A parceria que colocou o CFMA nos noticiários recentemente vai garantir a primeira indústria do tipo do país. A Bionovis foi criada em 2012 em uma união das gigantes EMS, Aché, Hypermarcas e União Química. Cada uma delas terá 25% das ações da nova indústria.

O complexo processo de produção dos medicamen-tos biológicos acontece a partir de células vivas modifica-das geneticamente. Eles são desenvolvidos para tornar inativos mecanismos específicos de certas doenças, e são adequados para diversas categorias de produtos, desde terapia celular contra o câncer até terapias gênicas e vaci-nas. São muito mais precisos e seletivos do que a maioria dos remédios convencionais. “Não tem nada no setor de saúde que seja mais inovador e relevante do que o projeto de se produzir no Brasil biofármacos”, afirma o presiden-te da Bionovis, Odnir Finotti.

Os remédios fabricados pela nova indústria devem estar em três anos no mercado, pois esse é o prazo para que as suas patentes sejam expiradas. Na lista de produ-tos estão os remédios Rituximabe (linfoma e artrite reumatoide), Etanercepte (oncológico), Infliximabe (artrite reumatoide), Cetuximabe (oncológico), Trastu-zumabe (oncológico) e Bevacizumabe (oncológico). Eles serão vendidos ao Ministério da Saúde para distri-buição gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, o governo deverá ser o principal comprador da Bionovis. A ideia é reduzir o deficit da balança comercial da saúde. A expectativa é de uma economia de pelo menos R$ 460 milhões nos próximos cinco anos.

Mais sobre a indústria de biofármacos

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RUMOS – 38 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 39 – Julho/Agosto 2014

Por Ricardo Vieira

uem passa pela Avenida Brasil, principal porta de entrada e saída do Rio de Janeiro, pode se surpre-ender com um imponente castelo de arquitetura destacada em meio à degradada paisagem da maior avenida em extensão do país. É o Castelo

Mourisco, o grande símbolo da Fiocruz, com cinco andares, decorado com afrescos e mandalas por toda a construção, feita com inspiração nos palácios mouriscos espanhóis. Aque-les que têm a oportunidade de visitá-lo também acabam impressionados com o tamanho da sede da Fundação. O visitante pode encontrar exposições, peças teatrais e outras tantas atrações, além de um trenzinho que percorre parte dos 800 mil metros quadrados do local. Mas esse tamanho se apequena quando comparado ao do “irmão” mais novo do campus principal da Fundação.

Há mais de quatro anos a instituição também conta com o Campus Fiocruz da Mata Atlântica (CFMA), situado em Curicica, na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ao todo, são nada menos que cinco milhões de metros quadrados de uma área rara para a cidade, com cerca de 90% do terreno composto pelo bioma Mata Atlântica. “É

EXPANSÃO

Q

Jacarepaguá. Com ele, o Plano Diretor e o Plano de Regulari-zação Fundiária também foram criados. Além disso, o progra-ma articulou ações para conhecer o novo território. Projetos de captação de recursos externos foram elaborados e alianças com outras instituições para viabilizar a implantação do CFMA começaram a ser costuradas.

Sustentabilidade – Desde o início, a Fiocruz buscou uma ocupação exemplar para o terreno. De cara, implementou três projetos para coleta seletiva solidária. Um deles, o da Colônia Juliano Moreira, recebeu fomento de quase R$ 35 mil. Mais tarde, em 2013, o CFMA lançou um projeto ecoló-gico com apoio do BNDES. O Projeto de Recuperação e Restauração Ecológica foi orçado em R$ 2,5 milhões e teve origem com a proposta de gerar modelos sustentáveis para a restauração florestal e conservação dos serviços ambientais. “Toda a região do CFMA, que no passado sediou fazendas de cana de açúcar e café, passou por séculos de devastação. Em geral, em 1 hectare de Mata Atlântica encontram-se cerca de 400 espécies de árvores. Aqui, no entanto, estamos encon-trando uma média de apenas 50”, contou a bióloga Andrea Vanini, uma das coordenadoras do projeto.

Nesse programa, outro problema observado pela bióloga foi a expressiva quantidade de espécies exóticas – como pés de jaqueira e jamelão – a serem retiradas e substituídas por plantas nativas da Mata Atlântica. “Isso tem que ser feito de maneira equilibrada, porque a fauna da região já está acostu-mada com essas árvores e delas extrai seus alimentos”, expli-cou Andrea, acrescentando que o enriquecimento ambiental é uma das tarefas do projeto.

Riqueza histórica – A Casa de Oswaldo Cruz (COC) fez o levantamento do patrimônio histórico e arquitetônico do Campus e também fez os levantamentos arqueológicos. Da lista de sítios arqueológicos constam ainda um cemitério, uma senzala, uma igreja e a sede da antiga fazenda. O local está tombado pelos órgãos de defesa do patrimônio históri-co. A região de Jacarepaguá foi, desde o início da colonização portuguesa, ocupada por engenhos de cana-de-açúcar. A partir da década de 1830 transformou seus antigos engenhos de açúcar em fazendas de lavoura de café.

Na área do Campus encontra-se o Maciço da Pedra Bran-ca, que circunda os bairros de Guaratiba a oeste, Bangu e Realengo ao norte, Jacarepaguá a leste, Barra da Tijuca a sudoeste, Recreio dos Bandeirantes e Grumari ao sul e Campo Grande a noroeste. No maciço está um dos maiores parques urbanos do mundo, o Parque Estadual da Pedra Branca, que tem cerca de 12,5 mil hectares de área coberta por vegetação típica de Mata Atlântica. O parque tem uma importante rede hidrográfica, já que parte dela contribui para o abastecimento de água da região circunvizinha, destacan-do-se as represas do Pau da Fome e do Camorim, das Taxas e do Engenho Novo. A área ainda conta com oito bacias prin-cipais e 53 microbacias. “É um território rico em termos da história de ocupação humana. Já foram encontradas, por exemplo, peças como machados e outros objetos produzidos por indígenas que habitavam a região séculos atrás”, relata o coordenador Gilson Antunes.

R REPORTAGEM

Novos caminhosCampus Fiocruz da Mata Atlântica, com cinco milhões de metros quadrados, se torna diferencial atrativo na recepção de indústrias na área de ciência e tecnologia; grande empresa de biofármacos começa a operar no local em 2015

uma excelente oportunidade para se estabelecer uma ocupa-ção baseada nos princípios da sustentabilidade”, afirmou à época do lançamento do CFMA, em 2010, o coordenador do novo campus, Gilson Antunes. Porém a décima parte do terreno também tem muita importância, com comprovação atestada em julho deste ano, quando foi divulgada a parceria da Fiocruz com a empresa Bionovis. Dessa junção vai nascer dentro de um ano uma grande indústria farmacêutica de biofármacos para o tratamento de artrite reumatoide e cân-cer. “A importância da Bionovis naquele terreno, para além de garantir uma nova fronteira de biofármacos e a sustenta-bilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), também significa estar integrada a uma região com condições especiais de beleza e patrimônio ecológico, mas que estava numa área de risco e sem projeto de desenvolvimento”, comemora o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.

O Campus Fiocruz da Mata Atlântica apareceu como um importante fator na disputa entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina para sediar a nova empresa, que deverá investir R$ 500 milhões nos próximos cinco anos e que, em contrapartida, vai receber incentivos fiscais do governo esta-

dual para sua instalação. A importância vital do novo empre-endimento é evidenciada com o dado de que o Brasil hoje é totalmente dependente de importações no setor. A indústria de biológicos movimenta US$ 160 bilhões de dólares, sendo US$ 6 bilhões apenas no Brasil.

Ás na manga do Rio, o terreno do CFMA tem uma relação de mais de uma década com a Fiocruz. Começou em 2003, quando a instituição recebeu o chamado Setor 1 do local (o maior e mais bem preservado), com cessão precária. Em 2007, a cessão foi consolidada por 50 anos e dois anos depois teve início o processo de doação definitiva da área à Fiocruz. Os outros setores do terreno são o 2, onde funcionava a extinta Colônia Juliano Moreira – hospital psquiátrico que foi referên-cia nacional durante grande parte do século passado; o 3, que foi cedido à Secretaria de Habitação para assentar pessoas desabrigadas; o 4, vendido pelo Exército; o 5, onde está insta-lado o Hospital Rafael Pedro Souza; e o 6, onde se encontra o Centro Hélio Fraga. Um ano depois do início da cessão do espaço, em 2004, a Fiocruz logo definiu três eixos de atuação do então Campus Jacarepaguá 1: fitomedicamentos, patrimô-nio cultural da saúde e biodiversidade e saúde. Mais tarde, em 2005, foi criado o Programa de Implantação do Campus de

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Parceria da Fiocruz com a empresa Bionovis fará nascer dentro de um ano uma grande indústria farmacêuticade biofármacos para o tratamento de artrite reumatoide e câncer; será a primeira do tipo no país.

A parceria que colocou o CFMA nos noticiários recentemente vai garantir a primeira indústria do tipo do país. A Bionovis foi criada em 2012 em uma união das gigantes EMS, Aché, Hypermarcas e União Química. Cada uma delas terá 25% das ações da nova indústria.

O complexo processo de produção dos medicamen-tos biológicos acontece a partir de células vivas modifica-das geneticamente. Eles são desenvolvidos para tornar inativos mecanismos específicos de certas doenças, e são adequados para diversas categorias de produtos, desde terapia celular contra o câncer até terapias gênicas e vaci-nas. São muito mais precisos e seletivos do que a maioria dos remédios convencionais. “Não tem nada no setor de saúde que seja mais inovador e relevante do que o projeto de se produzir no Brasil biofármacos”, afirma o presiden-te da Bionovis, Odnir Finotti.

Os remédios fabricados pela nova indústria devem estar em três anos no mercado, pois esse é o prazo para que as suas patentes sejam expiradas. Na lista de produ-tos estão os remédios Rituximabe (linfoma e artrite reumatoide), Etanercepte (oncológico), Infliximabe (artrite reumatoide), Cetuximabe (oncológico), Trastu-zumabe (oncológico) e Bevacizumabe (oncológico). Eles serão vendidos ao Ministério da Saúde para distri-buição gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, o governo deverá ser o principal comprador da Bionovis. A ideia é reduzir o deficit da balança comercial da saúde. A expectativa é de uma economia de pelo menos R$ 460 milhões nos próximos cinco anos.

Mais sobre a indústria de biofármacos

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Estados Unidos

PPELO MUNDO

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RUMOS – 41 – Julho/Agosto 2014

debate sobre a importância das políticas públicas para o desenvolvimento dos países emergentes ganha novos contornos e visões que se revigo-ram de tempos em tempos. No entanto, elas sem-

pre estiveram presentes e continuam até hoje, mesmo nos paí-ses mais liberais. Existem diversas maneiras dos governos estarem presentes na promoção do desenvolvimento. Um dos instrumentos, largamente conhecido, são as Instituições Financeiras para o Desenvolvimento, que, por meio de fun-dos e carteiras específicas, apoiam o investimento dos mais variados portes, setores e atividades.

Dos Estados Unidos, podemos conhecer e analisar a atua-ção da Overseas Private Investment Corporation (Opic), que atua na promoção de negócios de empresas norte-americanas em economias emergentes. Sob uma rápida análi-se, a Opic poderia ser vista tão somente no papel de um ban-co de ajuda a países em desenvolvimento. No entanto, tem como missão o desenvolvimento de negócios e a geração de empregos também dentro dos Estados Unidos.

A Opic é uma instituição financeira de desenvolvimento do Governo dos Estados Unidos, que possui a capacidade de mobilizar capital privado para ajudar a resolver desafios do desenvolvimento americano em conjunto com a política externa desse país. Trabalhando com o setor privado, permite que os negócios de empreendedores americanos tenham bases seguras em mercados emergentes, gerando receitas, empregos e oportunidades de crescimento nos Estados Unidos e no exterior. Para o alcance de sua missão, a institui-ção oferece aos empreendedores financiamentos, garantias, seguros e apoio com os fundos de investimentos.

Criado como uma agência do governo dos Estados Unidos em 1971, a Opic opera com uma base autossustentá-vel. Os serviços do banco estão disponíveis para expansão de novos negócios em mais de 150 países ao redor do mundo. Em sua história, já apoiou mais de quatro mil projetos inves-

tindo pelo menos US$ 200 bilhões. A estimativa é de que mais de US$ 76 bilhões em exportações tenham sido gerados nos Estados Unidos, apoiando mais de 278 mil empregos em ter-ritório americano.

Para tanto, o Office of Investment Policy (OIP) da insti-tuição segue políticas de desenvolvimento em suas análises, refletindo nos projetos, os requerimentos estatutários e ge-rais do mandato da Opic.

Especificamente a instituição apoia projetos que:- São ambiental e socialmente sustentáveis;- Respeitem os direitos humanos, incluindo direitos dos

trabalhadores;- Impactem positivamente o desenvolvimento dos países

receptores; e- Não impactem negativamente a economia dos Estados

Unidos.A Opic é ativa e, para garantir os interesses americanos, os

projetos passam por rigorosa análise econômica para serem apoiados pela instituição. Por sua vez, o OIP é responsável por avaliar o potencial impacto econômico nos Estados Unidos e nos países receptores dos projetos apoiados pela ins-tituição. A análise tenta garantir que os requerimentos do esta-tuto do Opic sejam atendidos, conforme o mandato dado pelo Congresso quando de sua criação. Essa análise, chamada de Development Impact Profile (DIP), é exigida pelo Foreign Assistance Act de 1961.

Para o trabalho de análise, o OIP depende fortemente das informações enviadas pelos investidores à Opic por meio de formulários próprios. O envio de materiais comple-mentares, incluindo planos de negócios, declarações finan-ceiras e projeções de fluxos de caixa, ajuda o OIP a ter uma compreensão geral do projeto. Dependendo das especifici-dades do projeto o OIP pode pedir mais informações aos empreendedores.

O escritório realiza uma análise do impacto esperado do

projeto no emprego e no balanço de paga-mentos dos Estados Unidos. Dependendo do projeto, a avaliação do OIP pode incluir uma revisão profunda da atividade e previ-sões de impacto para a economia norte-americana. Adicionalmente são calculados os possíveis efeitos positivos no emprego nos Estados, a exemplo das compras a serem realizadas pelo projeto.

Selecionamos como exemplo o proje-to da pequena empresa Sambazon. A empresa localizada em San Clemente, na Califórnia, identificou o potencial do açaí, que possui o apelo de alimento saudável e que também poderia ser processado como bebida. Em sua análise, a Opic identificou que o projeto, além de beneficiar mais de dez mil famílias produtoras do fruto no Brasil, também afetaria positivamente mais que o dobro daquele número na base de empregos nos Estados Unidos.

Como pode ser visto, a Opic também apoia pequenas empresas americanas. A instituição conta com serviços que incluem o apoio à elaboração de planos de negócios, captação de recursos, assistência técnica, treinamentos, assistência à exportação e análise de viabilidade do negócio.

Alguns projetos são considerados sensíveis a partir da perspectiva da economia americana. No entanto, a instituição tem poucas categorias de proibição. A principal delas, sempre observada na análise de todos os projetos, é a intenção de reduzir ou eliminar empregos em operações que levam a pro-dução para o exterior. Adicionalmente, entre as proibições estão projetos a exemplo de jogos de azar, fumo, álcool e pro-dução de munição.

Apesar da forte relação da ação da Opic com o desenvol-vimento dos Estados Unidos, também é destacada nas análi-ses a preocupação para que os projetos possam ter efeitos positivos para as economias que recebem os investimentos. Com o objetivo de assegurar esse efeito, o escritório de análi-ses projeta o impacto econômico e social nos locais recepto-res. As análises utilizam indicadores para medir e demonstrar o impacto desenvolvimentista dos projetos apoiados pela Opic. Os resultados dessas análises são demonstrados no OPIC's Annual Development Report e enviados para o congresso americano.

Considerando tais políticas e os resultados alcançados pela Opic, já destacados anteriormente, fica claro o seu papel de Instituição Financeira Pública de Desenvolvimento, pro-movendo exportações e empregos nos Estados Unidos.

Assim como pode ser visto por meio desse exemplo ame-ricano, a autonomia que é dada pelas instituições financeiras públicas de desenvolvimento aos seus respectivos países e regiões deveria ser perseguida por aqueles que ainda não pos-suem esse tipo de instituição. A existência de instituições

financeiras de desenvolvimento garante também a ampliação da taxa de sucesso dos planos de desenvolvimento.

Além da autonomia para a promoção do desenvolvimento, a justificativa para a existência de instituições financeiras para este fim ganhou novo impulso após a cri-se de 2008. Analisando a ampliação da ação das instituições financeiras públicas de desenvolvimento naquela época, ficou clara a importância dessas institui-ções e seus respectivos fundos para a segurança do sistema e garantindo a con-tinuidade dos investimentos.

Apesar das justificativas apresenta-das, o debate acerca de instrumentos para o desenvolvimento ainda existe, por-que ações e políticas antes adotadas e ain-da presentes, como é o caso da Opic, são muitas vezes criticadas por países já

desenvolvidos.Essa visão ganhou um contorno interessante quando o

economista sul-coreano Ha-Joon Chang denominou a crítica dos países desenvolvidos às medidas tomadas pelos países em desenvolvimento como “chutar a escada” – ou seja, aque-les que já subiram com o apoio de diversas medidas, incluin-do a ação de direta das Instituições Financeiras Públicas de Desenvolvimento, “chutam a escada” daqueles que ainda pre-cisariam utilizar os mesmos meios para o alcance de seus pla-nos de desenvolvimento.

Para o redirecionamento do debate, Chang indica a importância de uma maior divulgação dos fatos históricos ligados ao processo de desenvolvimento dos países desenvol-vidos, principalmente para permitir que os países em desen-volvimento façam escolhas bem informadas no que se refere à conveniência das políticas e instituições que pretendem ou que são impelidos a adotar.

O artigo pretendeu apresentar brevemente uma das expe-riências americanas com instituições financeiras para o desenvolvimento, ao mesmo tempo que destaca a importân-cia desse tipo de instituição para os países e regiões. Como ficou demonstrado, inclusive por artigos já publicados pela seção “Pelo Mundo”, mesmo os países e regiões mais desen-volvidas ainda utilizam suas respectivas instituições financei-ras públicas como instrumento para suas políticas de desen-volvimento econômico e social.

RUMOS – 40 – Julho/Agosto 2014

Wellington Santos Damasceno*

Div

ulg

açã

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Também no Norte!

O quarto artigo da série “Pelo Mundo” foi escrito por Wellington Santos Damasceno e trata da Overseas Private Investment Corporation (Opic), uma Instituição Financeira de Desenvolvimento controlada pelo governo estadunidense. Wellington explica como o Opic funciona e chama atenção para a importância das instituições públicas de desenvolvimento para o crescimento econômico e a geração de empregos mesmo em países de cunho mais liberal. Wellington é economista, mestre em economia e economista no Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) do Banco do Nordeste do Brasil.

Fernanda Feil, economista e gerente de Estudos Econômicos da ABDE.

________Referências:Rogerio Studart – O Estado Acorrentado – Jornal Brasil EconômicoSite OPIC – www.opic.govFernanda Cardoso – Mito da Convergência - Estariam os Países Desenvolvidos Chutando a Escada?World Bank Group – Financing Development Post 2015.

* O artigo não expressa a opinião do Banco do Nordeste do Brasil S/A

“A existência de instituições financeiras de

desenvolvimento garante, além da autonomia, a ampliação

da taxa de sucesso dos planos de

desenvolvimento.”

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Estados Unidos

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RUMOS – 41 – Julho/Agosto 2014

debate sobre a importância das políticas públicas para o desenvolvimento dos países emergentes ganha novos contornos e visões que se revigo-ram de tempos em tempos. No entanto, elas sem-

pre estiveram presentes e continuam até hoje, mesmo nos paí-ses mais liberais. Existem diversas maneiras dos governos estarem presentes na promoção do desenvolvimento. Um dos instrumentos, largamente conhecido, são as Instituições Financeiras para o Desenvolvimento, que, por meio de fun-dos e carteiras específicas, apoiam o investimento dos mais variados portes, setores e atividades.

Dos Estados Unidos, podemos conhecer e analisar a atua-ção da Overseas Private Investment Corporation (Opic), que atua na promoção de negócios de empresas norte-americanas em economias emergentes. Sob uma rápida análi-se, a Opic poderia ser vista tão somente no papel de um ban-co de ajuda a países em desenvolvimento. No entanto, tem como missão o desenvolvimento de negócios e a geração de empregos também dentro dos Estados Unidos.

A Opic é uma instituição financeira de desenvolvimento do Governo dos Estados Unidos, que possui a capacidade de mobilizar capital privado para ajudar a resolver desafios do desenvolvimento americano em conjunto com a política externa desse país. Trabalhando com o setor privado, permite que os negócios de empreendedores americanos tenham bases seguras em mercados emergentes, gerando receitas, empregos e oportunidades de crescimento nos Estados Unidos e no exterior. Para o alcance de sua missão, a institui-ção oferece aos empreendedores financiamentos, garantias, seguros e apoio com os fundos de investimentos.

Criado como uma agência do governo dos Estados Unidos em 1971, a Opic opera com uma base autossustentá-vel. Os serviços do banco estão disponíveis para expansão de novos negócios em mais de 150 países ao redor do mundo. Em sua história, já apoiou mais de quatro mil projetos inves-

tindo pelo menos US$ 200 bilhões. A estimativa é de que mais de US$ 76 bilhões em exportações tenham sido gerados nos Estados Unidos, apoiando mais de 278 mil empregos em ter-ritório americano.

Para tanto, o Office of Investment Policy (OIP) da insti-tuição segue políticas de desenvolvimento em suas análises, refletindo nos projetos, os requerimentos estatutários e ge-rais do mandato da Opic.

Especificamente a instituição apoia projetos que:- São ambiental e socialmente sustentáveis;- Respeitem os direitos humanos, incluindo direitos dos

trabalhadores;- Impactem positivamente o desenvolvimento dos países

receptores; e- Não impactem negativamente a economia dos Estados

Unidos.A Opic é ativa e, para garantir os interesses americanos, os

projetos passam por rigorosa análise econômica para serem apoiados pela instituição. Por sua vez, o OIP é responsável por avaliar o potencial impacto econômico nos Estados Unidos e nos países receptores dos projetos apoiados pela ins-tituição. A análise tenta garantir que os requerimentos do esta-tuto do Opic sejam atendidos, conforme o mandato dado pelo Congresso quando de sua criação. Essa análise, chamada de Development Impact Profile (DIP), é exigida pelo Foreign Assistance Act de 1961.

Para o trabalho de análise, o OIP depende fortemente das informações enviadas pelos investidores à Opic por meio de formulários próprios. O envio de materiais comple-mentares, incluindo planos de negócios, declarações finan-ceiras e projeções de fluxos de caixa, ajuda o OIP a ter uma compreensão geral do projeto. Dependendo das especifici-dades do projeto o OIP pode pedir mais informações aos empreendedores.

O escritório realiza uma análise do impacto esperado do

projeto no emprego e no balanço de paga-mentos dos Estados Unidos. Dependendo do projeto, a avaliação do OIP pode incluir uma revisão profunda da atividade e previ-sões de impacto para a economia norte-americana. Adicionalmente são calculados os possíveis efeitos positivos no emprego nos Estados, a exemplo das compras a serem realizadas pelo projeto.

Selecionamos como exemplo o proje-to da pequena empresa Sambazon. A empresa localizada em San Clemente, na Califórnia, identificou o potencial do açaí, que possui o apelo de alimento saudável e que também poderia ser processado como bebida. Em sua análise, a Opic identificou que o projeto, além de beneficiar mais de dez mil famílias produtoras do fruto no Brasil, também afetaria positivamente mais que o dobro daquele número na base de empregos nos Estados Unidos.

Como pode ser visto, a Opic também apoia pequenas empresas americanas. A instituição conta com serviços que incluem o apoio à elaboração de planos de negócios, captação de recursos, assistência técnica, treinamentos, assistência à exportação e análise de viabilidade do negócio.

Alguns projetos são considerados sensíveis a partir da perspectiva da economia americana. No entanto, a instituição tem poucas categorias de proibição. A principal delas, sempre observada na análise de todos os projetos, é a intenção de reduzir ou eliminar empregos em operações que levam a pro-dução para o exterior. Adicionalmente, entre as proibições estão projetos a exemplo de jogos de azar, fumo, álcool e pro-dução de munição.

Apesar da forte relação da ação da Opic com o desenvol-vimento dos Estados Unidos, também é destacada nas análi-ses a preocupação para que os projetos possam ter efeitos positivos para as economias que recebem os investimentos. Com o objetivo de assegurar esse efeito, o escritório de análi-ses projeta o impacto econômico e social nos locais recepto-res. As análises utilizam indicadores para medir e demonstrar o impacto desenvolvimentista dos projetos apoiados pela Opic. Os resultados dessas análises são demonstrados no OPIC's Annual Development Report e enviados para o congresso americano.

Considerando tais políticas e os resultados alcançados pela Opic, já destacados anteriormente, fica claro o seu papel de Instituição Financeira Pública de Desenvolvimento, pro-movendo exportações e empregos nos Estados Unidos.

Assim como pode ser visto por meio desse exemplo ame-ricano, a autonomia que é dada pelas instituições financeiras públicas de desenvolvimento aos seus respectivos países e regiões deveria ser perseguida por aqueles que ainda não pos-suem esse tipo de instituição. A existência de instituições

financeiras de desenvolvimento garante também a ampliação da taxa de sucesso dos planos de desenvolvimento.

Além da autonomia para a promoção do desenvolvimento, a justificativa para a existência de instituições financeiras para este fim ganhou novo impulso após a cri-se de 2008. Analisando a ampliação da ação das instituições financeiras públicas de desenvolvimento naquela época, ficou clara a importância dessas institui-ções e seus respectivos fundos para a segurança do sistema e garantindo a con-tinuidade dos investimentos.

Apesar das justificativas apresenta-das, o debate acerca de instrumentos para o desenvolvimento ainda existe, por-que ações e políticas antes adotadas e ain-da presentes, como é o caso da Opic, são muitas vezes criticadas por países já

desenvolvidos.Essa visão ganhou um contorno interessante quando o

economista sul-coreano Ha-Joon Chang denominou a crítica dos países desenvolvidos às medidas tomadas pelos países em desenvolvimento como “chutar a escada” – ou seja, aque-les que já subiram com o apoio de diversas medidas, incluin-do a ação de direta das Instituições Financeiras Públicas de Desenvolvimento, “chutam a escada” daqueles que ainda pre-cisariam utilizar os mesmos meios para o alcance de seus pla-nos de desenvolvimento.

Para o redirecionamento do debate, Chang indica a importância de uma maior divulgação dos fatos históricos ligados ao processo de desenvolvimento dos países desenvol-vidos, principalmente para permitir que os países em desen-volvimento façam escolhas bem informadas no que se refere à conveniência das políticas e instituições que pretendem ou que são impelidos a adotar.

O artigo pretendeu apresentar brevemente uma das expe-riências americanas com instituições financeiras para o desenvolvimento, ao mesmo tempo que destaca a importân-cia desse tipo de instituição para os países e regiões. Como ficou demonstrado, inclusive por artigos já publicados pela seção “Pelo Mundo”, mesmo os países e regiões mais desen-volvidas ainda utilizam suas respectivas instituições financei-ras públicas como instrumento para suas políticas de desen-volvimento econômico e social.

RUMOS – 40 – Julho/Agosto 2014

Wellington Santos Damasceno*

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Também no Norte!

O quarto artigo da série “Pelo Mundo” foi escrito por Wellington Santos Damasceno e trata da Overseas Private Investment Corporation (Opic), uma Instituição Financeira de Desenvolvimento controlada pelo governo estadunidense. Wellington explica como o Opic funciona e chama atenção para a importância das instituições públicas de desenvolvimento para o crescimento econômico e a geração de empregos mesmo em países de cunho mais liberal. Wellington é economista, mestre em economia e economista no Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) do Banco do Nordeste do Brasil.

Fernanda Feil, economista e gerente de Estudos Econômicos da ABDE.

________Referências:Rogerio Studart – O Estado Acorrentado – Jornal Brasil EconômicoSite OPIC – www.opic.govFernanda Cardoso – Mito da Convergência - Estariam os Países Desenvolvidos Chutando a Escada?World Bank Group – Financing Development Post 2015.

* O artigo não expressa a opinião do Banco do Nordeste do Brasil S/A

“A existência de instituições financeiras de

desenvolvimento garante, além da autonomia, a ampliação

da taxa de sucesso dos planos de

desenvolvimento.”

Page 42: Rumos 276

Mais de 300 aten-dimentos foram reali-zados pela GoiásFo-mento, durante a 10ª edição da Feira do Empreendedor, que ocorreu em Goiânia, de 31 de julho a 3 de agosto, no Centro de Convenções da capital.

Foram em média 100 atendimentos por dia, com infor-mações específicas sobre crédito e acesso a serviços finan-ceiros oferecidos pela instituição durante um dos eventos de maior sucesso promovidos pelo Sebrae em todo o país.

Foram apresentadas oportunidades aos empreendedo-res, potenciais empresários, microempresas, empresas de pequeno porte, microempreendedores individuais e produ-tores rurais que participaram do evento.

RUMOS – 42 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 43 – Julho/Agosto 2014

Com a presença do p r e s i d en t e G l a uco Arbix, a Finep apresen-tou o seu novo sistema de análise e gestão de projetos com universida-des, institutos tecnológi-cos e centros de pesqui-

sa, o Finep 30 Dias Pesquisa. A inovação vai reduzir todo o processo, desde o lançamento do edital até a execução do projeto, de oito para três meses, com a divulgação do resultado da análise ocorrendo em até 30 dias.

As universidades, ICTs (Institutos de Ciência e Tecnolo-gia) e outras instituições que atuam como proponentes de projetos terão até o começo de 2015 para se cadastrarem. De acordo com o presidente da agência, até outubro todos os projetos serão submetidos através do novo sistema. “Além de ser mais rápido e eficiente, a análise dos projetos, com o 30 Dias Pesquisa, é ainda mais rigorosa”, destacou Glauco Arbix.

O Finep 30 Dias Pesquisa segue a mesma linha do Finep 30 Dias voltado para empresas, que opera desde setembro do ano passado. Saiba mais sobre o novo sistema.

F FOMENTO

Desde 2004, o Banco está presente no país inicialmente através de um escritório de representação em Xangai que tinha escopo de trabalho bastante limitado em respeito à legislação local. A estratégia em transformar o escritório em agência permitirá a ampliação negocial decorrente do incre-mento do intercâmbio comercial sino-brasileiro, do aumento dos investimentos chineses no Brasil e, também, da presença de transnacionais brasileiras no mercado chinês.

Atualmente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, com um fluxo comercial de US$ 83 bilhões em 2013, podendo atingir os US$ 100 bilhões nos próximos anos. São mais de 70 empresas brasileiras presentes de alguma forma na China e mais de 25 empresas chinesas operando no Brasil. Também já operam no Brasil três grandes bancos chineses (Bank of China, ICBC e CCB).

Com a nova agência, o BB passa a buscar oportunidades de negócios no segmento de atacado, atendendo, principal-mente, as demandas por produtos e serviços das empresas brasileiras com negócios com a China e as empresas chinesas com negócios com o Brasil, além dos bancos locais, grandes parceiros de negócios com o Banco do Brasil.

Alagoas par-ticipou da 6ª edi-ção do Congres-s o L a t i n o -Americano de Inclusão Finan-ceira (CLIF), em São Paulo, reu-nindo agentes financeiros de diversos países. O evento teve como objetivo fomentar o deba-te acerca das experiências e das melhores práticas para pro-moção do acesso aos serviços financeiros.

O encontro recebeu executivos e especialistas nacionais e internacionais, visando difundir a atividade bancária nas diversas esferas sociais. Foram debatidos os meios de paga-mentos que mais colaboram com a inclusão financeira, e apresentadas análises e informações sobre assuntos relacio-nados ao crédito consignado, direitos do consumidor, coo-perativas de crédito, microcrédito e outros assuntos do seg-mento.

Alagoas está representado pela Desenvolve, através do seu diretor-presidente, Antonio Carlos Quintiliano; Jamer-son Silva, gerente de crédito; e Thiago Pires, gestor de proje-

Como forma de garantir a sustentabilidade em todas as suas ações, a Caixa Econômica Federal adotou uma norma pela qual todos os projetos de infra-estrutura com valor acima de US$ 10 milhões devem ser sub-metidos a uma análise sobre a regularidade socioambiental.

Estão incluídos nesta determinação os projetos para financia-mento de obras de energia, logística, saneamento, indústria e empreendimentos imobiliários.

A determinação da Caixa de só conceder financiamentos com altos valores a empresas que se preocupam com o meio ambiente faz parte do acordo internacional chamado de Prin-cípios do Equador (PE), ao qual o banco aderiu em 2009 e começou a operar a partir de 2012. Os Princípios do Equador definem critérios mínimos para a concessão de crédito e asse-guram que os projetos financiados sejam desenvolvidos de forma social e ambiental.

Para o gerente nacional de Sustentabilidade e Responsabi-lidade Socioambiental da Caixa, Jean Benevides, essa avaliação é de grande importância para as empresas. “Existe a redução de risco socioambiental, de acordo com as melhores práticas do mercado financeiro, que podem refletir na reputação e na imagem da instituição, além de evitar possíveis perdas financei-ras decorrentes de irregularidades socioambientais”, explica.

De acordo com a Caixa, os projetos a serem financiados passam por uma análise prévia das áreas técnicas. Posterior-mente, são enquadrados de acordo com os critérios previstos nos Princípios do Equador, em duas categorias: Project Finan-ce e Empréstimo Corporativo.

A Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio) e o Banco do Nor-deste (BNB) firmaram con-vênio que vai beneficiar as operações que envolvem recebíveis (que representam o crédito que a empresa tem para receber de seus deve-dores). O acordo foi forma-

lizado no final de julho pelos presidentes da AgeRio, Domingos Vargas, e do BNB, Nelson Antônio de Souza.

A parceria vai permitir que a garantia de recebíveis seja ope-racionalizada com mais eficiência pela AgeRio. Quando o clien-te da agência apresentar os recebíveis como garantia para tomar crédito, será possível que ele abra conta corrente na agência do BNB do Rio de Janeiro, para que nela sejam depositados os rece-bíveis oferecidos como garantia para o financiamento. Além dis-so, o convênio também viabiliza a chamada “reserva de meio de pagamento”, por meio da qual os recursos depositados na con-ta no BNB podem ser transferidos mensalmente para a AgeRio, para o pagamento das parcelas do financiamento.

Durante a assinatura do convênio, Domingos Vargas valo-rizou a importância do BNB como referência nacional, especi-almente o programa de microcrédito do banco, e afirmou que ambas as instituições só têm a ganhar com essa iniciativa:” Sonho que se sonha só é só sonho, mas sonho que se sonha jun-to é realidade'. Quando a gente compartilha sonhos, marcha-mos na mesma direção, e isso que esperamos dessa parceria. Queremos ser tão importantes para o Rio de Janeiro quanto o BNDES é para o Brasil, e quanto o BNB é para o Nordeste”, afirmou.

Financiamento que viabilizou a instalação do primeiro espaço dedicado somente a tratamentos faciais de Curitiba já gera lucros. E o empreendedor já contratou mais duas pes-soas para atender à clientela, que não para de crescer.

O empreendedor Magnus Guerios teve uma boa ideia de negócio em meados de 2013 e decidiu montar um espaço de estética exclusivo para tratamento facial, único em Curitiba.

“Pesquisei linhas de crédito em diversas instituições financeiras. Na Fomento Paraná, as condições estavam mais adequadas e os juros menores”, afirma Guerios.

Com o financiamento, o empreendedor comprou equipa-mentos, reformou o local e viabilizou a instalação da clínica. “O processo de concessão do crédito foi muito fácil e rápi-do”, completa ele.

Empreendedores de micro, pequeno e médio portes, da indústria, do comércio ou do setor de serviços podem ter aces-so às linhas de crédito da Fomento Paraná.

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BB inaugura agência na China GoiásFomento obtém bons resultados durante feira na capital

Fomento Paraná financia clínica de tratamento facial

Finep lança novo sistema de análise de convênios

Projetos de infraestrutura acima de US$ 10 mi passam por crivo da área ambiental da Caixa

AgeRio e Banco do Nordeste assinam convênio

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Desenvolve representa Alagoasem Congresso Latino-americano

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Mais de 300 aten-dimentos foram reali-zados pela GoiásFo-mento, durante a 10ª edição da Feira do Empreendedor, que ocorreu em Goiânia, de 31 de julho a 3 de agosto, no Centro de Convenções da capital.

Foram em média 100 atendimentos por dia, com infor-mações específicas sobre crédito e acesso a serviços finan-ceiros oferecidos pela instituição durante um dos eventos de maior sucesso promovidos pelo Sebrae em todo o país.

Foram apresentadas oportunidades aos empreendedo-res, potenciais empresários, microempresas, empresas de pequeno porte, microempreendedores individuais e produ-tores rurais que participaram do evento.

RUMOS – 42 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 43 – Julho/Agosto 2014

Com a presença do p r e s i d en t e G l a uco Arbix, a Finep apresen-tou o seu novo sistema de análise e gestão de projetos com universida-des, institutos tecnológi-cos e centros de pesqui-

sa, o Finep 30 Dias Pesquisa. A inovação vai reduzir todo o processo, desde o lançamento do edital até a execução do projeto, de oito para três meses, com a divulgação do resultado da análise ocorrendo em até 30 dias.

As universidades, ICTs (Institutos de Ciência e Tecnolo-gia) e outras instituições que atuam como proponentes de projetos terão até o começo de 2015 para se cadastrarem. De acordo com o presidente da agência, até outubro todos os projetos serão submetidos através do novo sistema. “Além de ser mais rápido e eficiente, a análise dos projetos, com o 30 Dias Pesquisa, é ainda mais rigorosa”, destacou Glauco Arbix.

O Finep 30 Dias Pesquisa segue a mesma linha do Finep 30 Dias voltado para empresas, que opera desde setembro do ano passado. Saiba mais sobre o novo sistema.

F FOMENTO

Desde 2004, o Banco está presente no país inicialmente através de um escritório de representação em Xangai que tinha escopo de trabalho bastante limitado em respeito à legislação local. A estratégia em transformar o escritório em agência permitirá a ampliação negocial decorrente do incre-mento do intercâmbio comercial sino-brasileiro, do aumento dos investimentos chineses no Brasil e, também, da presença de transnacionais brasileiras no mercado chinês.

Atualmente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, com um fluxo comercial de US$ 83 bilhões em 2013, podendo atingir os US$ 100 bilhões nos próximos anos. São mais de 70 empresas brasileiras presentes de alguma forma na China e mais de 25 empresas chinesas operando no Brasil. Também já operam no Brasil três grandes bancos chineses (Bank of China, ICBC e CCB).

Com a nova agência, o BB passa a buscar oportunidades de negócios no segmento de atacado, atendendo, principal-mente, as demandas por produtos e serviços das empresas brasileiras com negócios com a China e as empresas chinesas com negócios com o Brasil, além dos bancos locais, grandes parceiros de negócios com o Banco do Brasil.

Alagoas par-ticipou da 6ª edi-ção do Congres-s o L a t i n o -Americano de Inclusão Finan-ceira (CLIF), em São Paulo, reu-nindo agentes financeiros de diversos países. O evento teve como objetivo fomentar o deba-te acerca das experiências e das melhores práticas para pro-moção do acesso aos serviços financeiros.

O encontro recebeu executivos e especialistas nacionais e internacionais, visando difundir a atividade bancária nas diversas esferas sociais. Foram debatidos os meios de paga-mentos que mais colaboram com a inclusão financeira, e apresentadas análises e informações sobre assuntos relacio-nados ao crédito consignado, direitos do consumidor, coo-perativas de crédito, microcrédito e outros assuntos do seg-mento.

Alagoas está representado pela Desenvolve, através do seu diretor-presidente, Antonio Carlos Quintiliano; Jamer-son Silva, gerente de crédito; e Thiago Pires, gestor de proje-

Como forma de garantir a sustentabilidade em todas as suas ações, a Caixa Econômica Federal adotou uma norma pela qual todos os projetos de infra-estrutura com valor acima de US$ 10 milhões devem ser sub-metidos a uma análise sobre a regularidade socioambiental.

Estão incluídos nesta determinação os projetos para financia-mento de obras de energia, logística, saneamento, indústria e empreendimentos imobiliários.

A determinação da Caixa de só conceder financiamentos com altos valores a empresas que se preocupam com o meio ambiente faz parte do acordo internacional chamado de Prin-cípios do Equador (PE), ao qual o banco aderiu em 2009 e começou a operar a partir de 2012. Os Princípios do Equador definem critérios mínimos para a concessão de crédito e asse-guram que os projetos financiados sejam desenvolvidos de forma social e ambiental.

Para o gerente nacional de Sustentabilidade e Responsabi-lidade Socioambiental da Caixa, Jean Benevides, essa avaliação é de grande importância para as empresas. “Existe a redução de risco socioambiental, de acordo com as melhores práticas do mercado financeiro, que podem refletir na reputação e na imagem da instituição, além de evitar possíveis perdas financei-ras decorrentes de irregularidades socioambientais”, explica.

De acordo com a Caixa, os projetos a serem financiados passam por uma análise prévia das áreas técnicas. Posterior-mente, são enquadrados de acordo com os critérios previstos nos Princípios do Equador, em duas categorias: Project Finan-ce e Empréstimo Corporativo.

A Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio) e o Banco do Nor-deste (BNB) firmaram con-vênio que vai beneficiar as operações que envolvem recebíveis (que representam o crédito que a empresa tem para receber de seus deve-dores). O acordo foi forma-

lizado no final de julho pelos presidentes da AgeRio, Domingos Vargas, e do BNB, Nelson Antônio de Souza.

A parceria vai permitir que a garantia de recebíveis seja ope-racionalizada com mais eficiência pela AgeRio. Quando o clien-te da agência apresentar os recebíveis como garantia para tomar crédito, será possível que ele abra conta corrente na agência do BNB do Rio de Janeiro, para que nela sejam depositados os rece-bíveis oferecidos como garantia para o financiamento. Além dis-so, o convênio também viabiliza a chamada “reserva de meio de pagamento”, por meio da qual os recursos depositados na con-ta no BNB podem ser transferidos mensalmente para a AgeRio, para o pagamento das parcelas do financiamento.

Durante a assinatura do convênio, Domingos Vargas valo-rizou a importância do BNB como referência nacional, especi-almente o programa de microcrédito do banco, e afirmou que ambas as instituições só têm a ganhar com essa iniciativa:” Sonho que se sonha só é só sonho, mas sonho que se sonha jun-to é realidade'. Quando a gente compartilha sonhos, marcha-mos na mesma direção, e isso que esperamos dessa parceria. Queremos ser tão importantes para o Rio de Janeiro quanto o BNDES é para o Brasil, e quanto o BNB é para o Nordeste”, afirmou.

Financiamento que viabilizou a instalação do primeiro espaço dedicado somente a tratamentos faciais de Curitiba já gera lucros. E o empreendedor já contratou mais duas pes-soas para atender à clientela, que não para de crescer.

O empreendedor Magnus Guerios teve uma boa ideia de negócio em meados de 2013 e decidiu montar um espaço de estética exclusivo para tratamento facial, único em Curitiba.

“Pesquisei linhas de crédito em diversas instituições financeiras. Na Fomento Paraná, as condições estavam mais adequadas e os juros menores”, afirma Guerios.

Com o financiamento, o empreendedor comprou equipa-mentos, reformou o local e viabilizou a instalação da clínica. “O processo de concessão do crédito foi muito fácil e rápi-do”, completa ele.

Empreendedores de micro, pequeno e médio portes, da indústria, do comércio ou do setor de serviços podem ter aces-so às linhas de crédito da Fomento Paraná.

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Fomento Paraná financia clínica de tratamento facial

Finep lança novo sistema de análise de convênios

Projetos de infraestrutura acima de US$ 10 mi passam por crivo da área ambiental da Caixa

AgeRio e Banco do Nordeste assinam convênio

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Sebrae no Pódio busca repetir nas Olimpíadas e Paralimpíadas o sucesso obtido na Copa do Mundo, com iniciativas de aproximação comercial e promoção de negócios para pequenas empresas

Por Sarah Barros

RUMOS – 44 – Julho/Agosto 2014

mpresários do segmento de pequeno porte de todo o Brasil devem estar prontos para aprovei-tar as oportunidades de negócios previstas com

a a realização das Olimpíadas e das Paralimpíadas, programadas para agosto e setembro de 2016,

no Rio de Janeiro. Mesmo que os jogos estejam concentra-dos em território carioca, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desenvolve, em todo o Brasil, o Projeto Sebrae no Pódio 2016. A expectativa é repetir o sucesso obtido na Copa do Mundo, em transações comerciais realizadas com o setor microempresarial, seja como fornecedor direto para a organização dos jogos, seja atendendo demandas previstas com a presença de atletas e turistas.

As ações do “Sebrae no Pódio” tiveram início em 2013, destinadas a envolver 5 mil empresas que atuam em cerca de 40 segmentos econômicos. A seleção dos participantes, que conta com a atuação de representações do Sebrae nas 26 unidades federativas do Brasil, além do Rio de Janeiro, leva em conta a aptidão para fornecer serviços e produtos relacionados aos setores do comércio, serviço, agronegócio e indústria e seus respectivos segmentos demandados pelo Comitê Organizador da Rio 2016. A expectativa é de que as demandas para o megaevento esportivo ultrapassem 500 itens.

Neste contexto, o diretor-técnico do Sebrae, Carlos

Alberto dos Santos, destaca a existência de oportunidades para empresas localizadas nas cinco regiões brasileiras, uma vez que em todas elas foram disponibilizadas instalações de treinamento pré-jogos para as delegações esportivas inter-nacionais. “São localidades previamente selecionadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), situadas em todas as regiões brasileiras, gerando um ambiente de motivação e mobilização das empresas e potenciais empreendedores”, afirmou Santos.

Ao todo, aproximadamente 170 instalações esportivas de mais de 70 cidades brasileiras estão disponíveis para receber atletas olímpicos e paraolímpicos. A escolha das estruturas, feitas pelo Comitê Organizador, considerou requisitos técnicos e recomendações das Federações Esportivas Internacionais. Outros critérios também foram observados, como os acessos à instalação, distância de aeroportos com voos domésticos, além da rede hoteleira e hospitalar disponível nas proximidades, de forma a favore-cer a permanência das equipes e, com isso, estender os benefícios, inclusive econômicos, a todo o país.

Projeções – A previsão da comissão organizadora das Olim-píadas e Paralimpíadas 2016 é de que a realização dos jogos no Brasil conte com a presença de mais de 10.500 atletas, que vão representar cerca de 200 nações ao redor do mundo. Ao todo, são 28 modalidades esportivas – duas a mais do que a

RUMOS – 45 – Julho/Agosto 2014

edição anterior, em Londres –, em diversas categorias, por meio de competições em 37 instalações. O valor total de investimentos públicos e privados previstos para colocar de pé toda esta estrutura é de R$ 36,6 bilhões, conforme núme-ros apresentados em abril deste ano por representantes dos governos municipal, estadual do Rio e federal.

Já no documento disponibilizado em 2009 ao Comitê Olímpico Internacional (COI) pelo governo brasileiro, em defesa da escolha do Rio de Janeiro para sediar os jogos, a projeção de investimentos era de R$ 28,8 bilhões. A partir deste montante, a Fundação Instituto de Administração (FIA) apontou em estudo divulgado também em 2009 que a aplicação desses investimentos poderá gerar um multiplica-dor de produção de 4,26, estimando uma movimentação na economia brasileira de US$ 51,1 bilhões (R$ 102,2 bilhões em valores de 2008) no período de 2009 a 2027. No período de 2009 a 2016, o impacto na produção (Valor Bruto de Produção) do país, projetado pela FIA, alcançou US$ 24,6 bilhões (R$ 49,2 bilhões).

O aproveitamento deste cenário para os negócios é o que está no foco do projeto “Sebrae no Pódio”, no qual estão sendo investidos R$ 8,2 milhões. A execução do pro-jeto está alicerçada diretamente na realização de negócios a partir de ações que incluem a mobilização das empresas, a elaboração de diagnósticos e a promoção de capacitação empresarial aliada ao sistema de Inteligência Competitiva

(IC), visando à disseminação contínua das oportunidades.Com isso, a meta do projeto é culminar na efetivação de

negócios para, ao menos, 40% das 5 mil empresas atendidas nos setores de comércio, serviço, indústria e agronegócio, ao final dos 41 meses de sua implementação. “Também pretendemos alcançar melhoria competitiva de, pelo menos, 10% destas empresas”, prevê o diretor do Sebrae.

Experiência – As boas perspectivas para a participação de pequenas empresas em negócios ligados às Olimpíadas e Paralimpíadas estão baseadas nas experiências obtidas nos grandes eventos esportivos recebidos pelo Brasil nos últi-mos anos, nos quais o Sebrae já tem atuado. Em 2007, por exemplo, a entidade, por meio do Sebrae/RJ, esteve junto a pequenos empresários para atender demandas dos Jogos Pan-Americanos, realizados no Rio de Janeiro.

Em seguida, foi a vez de investir nas oportunidades abertas para a Copa das Confederações, realizada em 2013 em seis cidades-sede: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. A proposta foi incentivar o desenvolvimento do mercado e mostrar aos turistas a quali-dade do artesanato brasileiro. O projeto intitulado Brasil Original permitiu ao visitante conferir de perto peças origi-nais produzidas em todo o país, como tapeçarias, rendas, cestaria, cerâmica, marchetaria e produtos em fibras naturais.

Todos os grupos de artesãos selecionados para partici-

M MICRO E PEQUENAS

Projeção do Parque Olímpico dos Jogos Rio 2016. A dois anos do evento, o Sebrae pretende investir R$ 8,2 milhões e envolver empresas de todo o país, que atuam em cerca de 40 segmentos econômicos.

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Sebrae no Pódio busca repetir nas Olimpíadas e Paralimpíadas o sucesso obtido na Copa do Mundo, com iniciativas de aproximação comercial e promoção de negócios para pequenas empresas

Por Sarah Barros

RUMOS – 44 – Julho/Agosto 2014

mpresários do segmento de pequeno porte de todo o Brasil devem estar prontos para aprovei-tar as oportunidades de negócios previstas com

a a realização das Olimpíadas e das Paralimpíadas, programadas para agosto e setembro de 2016,

no Rio de Janeiro. Mesmo que os jogos estejam concentra-dos em território carioca, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desenvolve, em todo o Brasil, o Projeto Sebrae no Pódio 2016. A expectativa é repetir o sucesso obtido na Copa do Mundo, em transações comerciais realizadas com o setor microempresarial, seja como fornecedor direto para a organização dos jogos, seja atendendo demandas previstas com a presença de atletas e turistas.

As ações do “Sebrae no Pódio” tiveram início em 2013, destinadas a envolver 5 mil empresas que atuam em cerca de 40 segmentos econômicos. A seleção dos participantes, que conta com a atuação de representações do Sebrae nas 26 unidades federativas do Brasil, além do Rio de Janeiro, leva em conta a aptidão para fornecer serviços e produtos relacionados aos setores do comércio, serviço, agronegócio e indústria e seus respectivos segmentos demandados pelo Comitê Organizador da Rio 2016. A expectativa é de que as demandas para o megaevento esportivo ultrapassem 500 itens.

Neste contexto, o diretor-técnico do Sebrae, Carlos

Alberto dos Santos, destaca a existência de oportunidades para empresas localizadas nas cinco regiões brasileiras, uma vez que em todas elas foram disponibilizadas instalações de treinamento pré-jogos para as delegações esportivas inter-nacionais. “São localidades previamente selecionadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), situadas em todas as regiões brasileiras, gerando um ambiente de motivação e mobilização das empresas e potenciais empreendedores”, afirmou Santos.

Ao todo, aproximadamente 170 instalações esportivas de mais de 70 cidades brasileiras estão disponíveis para receber atletas olímpicos e paraolímpicos. A escolha das estruturas, feitas pelo Comitê Organizador, considerou requisitos técnicos e recomendações das Federações Esportivas Internacionais. Outros critérios também foram observados, como os acessos à instalação, distância de aeroportos com voos domésticos, além da rede hoteleira e hospitalar disponível nas proximidades, de forma a favore-cer a permanência das equipes e, com isso, estender os benefícios, inclusive econômicos, a todo o país.

Projeções – A previsão da comissão organizadora das Olim-píadas e Paralimpíadas 2016 é de que a realização dos jogos no Brasil conte com a presença de mais de 10.500 atletas, que vão representar cerca de 200 nações ao redor do mundo. Ao todo, são 28 modalidades esportivas – duas a mais do que a

RUMOS – 45 – Julho/Agosto 2014

edição anterior, em Londres –, em diversas categorias, por meio de competições em 37 instalações. O valor total de investimentos públicos e privados previstos para colocar de pé toda esta estrutura é de R$ 36,6 bilhões, conforme núme-ros apresentados em abril deste ano por representantes dos governos municipal, estadual do Rio e federal.

Já no documento disponibilizado em 2009 ao Comitê Olímpico Internacional (COI) pelo governo brasileiro, em defesa da escolha do Rio de Janeiro para sediar os jogos, a projeção de investimentos era de R$ 28,8 bilhões. A partir deste montante, a Fundação Instituto de Administração (FIA) apontou em estudo divulgado também em 2009 que a aplicação desses investimentos poderá gerar um multiplica-dor de produção de 4,26, estimando uma movimentação na economia brasileira de US$ 51,1 bilhões (R$ 102,2 bilhões em valores de 2008) no período de 2009 a 2027. No período de 2009 a 2016, o impacto na produção (Valor Bruto de Produção) do país, projetado pela FIA, alcançou US$ 24,6 bilhões (R$ 49,2 bilhões).

O aproveitamento deste cenário para os negócios é o que está no foco do projeto “Sebrae no Pódio”, no qual estão sendo investidos R$ 8,2 milhões. A execução do pro-jeto está alicerçada diretamente na realização de negócios a partir de ações que incluem a mobilização das empresas, a elaboração de diagnósticos e a promoção de capacitação empresarial aliada ao sistema de Inteligência Competitiva

(IC), visando à disseminação contínua das oportunidades.Com isso, a meta do projeto é culminar na efetivação de

negócios para, ao menos, 40% das 5 mil empresas atendidas nos setores de comércio, serviço, indústria e agronegócio, ao final dos 41 meses de sua implementação. “Também pretendemos alcançar melhoria competitiva de, pelo menos, 10% destas empresas”, prevê o diretor do Sebrae.

Experiência – As boas perspectivas para a participação de pequenas empresas em negócios ligados às Olimpíadas e Paralimpíadas estão baseadas nas experiências obtidas nos grandes eventos esportivos recebidos pelo Brasil nos últi-mos anos, nos quais o Sebrae já tem atuado. Em 2007, por exemplo, a entidade, por meio do Sebrae/RJ, esteve junto a pequenos empresários para atender demandas dos Jogos Pan-Americanos, realizados no Rio de Janeiro.

Em seguida, foi a vez de investir nas oportunidades abertas para a Copa das Confederações, realizada em 2013 em seis cidades-sede: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. A proposta foi incentivar o desenvolvimento do mercado e mostrar aos turistas a quali-dade do artesanato brasileiro. O projeto intitulado Brasil Original permitiu ao visitante conferir de perto peças origi-nais produzidas em todo o país, como tapeçarias, rendas, cestaria, cerâmica, marchetaria e produtos em fibras naturais.

Todos os grupos de artesãos selecionados para partici-

M MICRO E PEQUENAS

Projeção do Parque Olímpico dos Jogos Rio 2016. A dois anos do evento, o Sebrae pretende investir R$ 8,2 milhões e envolver empresas de todo o país, que atuam em cerca de 40 segmentos econômicos.

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PEQUENOS EMPREENDEDORES

Megaeventos e grandes oportunidades

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par precisaram, como um dos requisitos, apresentar garan-tia da formalização que é possuir o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Além de realizar as exposições em showrooms montados em pontos estratégicos das cidades-sede, o Sebrae promoveu uma série de atividades de capaci-tação junto aos participantes, incluindo cursos sobre otimi-zação da produção, desenvolvimento de coleções, gestão empresarial e outros temas.

Para a Copa do Mundo, o Programa Sebrae 2014 foi mais fundo e mapeou as oportunidades e requisitos para apoiar empresas atendidas na realização de negócios gerados a partir dos investimentos e seus efeitos multiplicadores com impacto e maior aderência a dez segmentos econômicos priorizados. Ao todo, o programa, que teve orçamento de aproximadamente R$ 90 milhões entre 2010 e 2014, atendeu 44 mil pequenos negócios nos 11 estados e no Distrito Fede-ral onde foram realizados os jogos do mundial.

Em um primeiro momento, antes do evento, as oportu-nidades foram para as empresas da Construção Civil (como fornecedores das grandes obras), da Tecnologia da Informa-ção (na produção de aplicativos ou instalação de sistemas,

por exemplo), de Vestuário (como a fabricação de unifor-mes, roupas temáticas etc.) e de Madeira/Móveis. Com a proximidade do evento, cresceram as oportunidades para o Agronegócio (em especial para alimentos e bebidas, como a cachaça e o café brasileiro) e o setor de Serviços. Atividades ligadas ao Turismo, como receptivo, hotelaria, entreteni-mento e restaurantes, foram beneficiadas com os cerca de 800 mil turistas nas capitais-sede dos jogos e seu entorno.

Foi neste contexto que o empresário carioca José Luiz Munin Montoiro fechou importantes contratos para forne-cimento de lajes para instalações dos jogos, incluindo o Estádio do Maracanã, palco da final entre Alemanha e Argentina. O produto diferenciado dispensa a utilização de estruturas de apoio usadas tradicionalmente na construção civil, o que facilita o processo e possibilita economia de tempo e dinheiro. Esse e outros contratos fechados por conta do campeonato mundial de futebol aumentaram 30% o faturamento mensal da Trelicon – Artefatos de Cimento. “Já tenho outros contratos encaminhados para as obras das Olimpíadas, como a Vila dos Atletas e devo fornecer para o Parque Olímpico”, afirmou Montoiro.

RUMOS – 46 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 47 – Julho/Agosto 2014

M MICRO E PEQUENAS

evantamento do Sebrae estima que a Copa do Mundo proporcionou às pequenas empresas oportunidades de negócios que geraram um faturamento de quase

R$ 500 milhões. Além do resultado financeiro, a Copa dei-xou ainda aos pequenos negócios cinco legados significati-vos: melhoria na gestão, adesão à agenda da sustentabilida-de, aperfeiçoamento dos canais de distribuição e de logísti-ca, conhecimento do seu cliente e a possibilidade de acessar novos mercados. “No Programa Sebrae 2014, focamos na preparação das empresas, que precisavam preencher requi-sitos para efeito de contratação dos serviços, por exemplo, apresentar alvará, certidões, certificações e outros”, refor-çou Carlos Alberto.

Essas experiências serviram de parâmetro ao planeja-mento das ações voltadas para as Olimpíadas 2016, princi-palmente aquelas relacionadas ao atendimento de requisi-tos, aproximações comerciais e acesso a mercados. “Para as Olimpíadas, o projeto Sebrae no Pódio tem foco em apro-ximação comercial. Pequenos negócios devem aproveitar o poder de compra da Rio 2016”, acrescentou o diretor.

É o que espera o produtor gaúcho Evandro Weber, proprietário do Alambique Weber Haus, com sede em Porto Alegre (RS). Mesmo distante dos locais de realização dos jogos olímpicos, ele se fará presente nas áreas de com-petição para ampliar a sua atuação no mercado da cachaça, assim como fez durante a Copa do Mundo. “A Copa do Mundo mudou significativamente a percepção do mercado em relação ao nosso produto. O evento ajudou a posicionar

ConsolidaçãoOs resultados positivos e as experiências exitosas

vivenciadas por micro e pequenas empresas em ações diretamente relacionadas às competições internacionais sediadas no Brasil são fruto de atividades permanentes no sentido de fortalecer o setor microempresarial como um todo e aumentar a sua competitividade nos diversos merca-dos em que está inserido. Esta orientação é o que permite verificar ganhos permanentes para os participantes do projeto do Sebrae, mesmo após as disputas finais de cada campeonato. “A experiência dos pequenos negócios ao atuar como fornecedores antes, durante e pós-evento tende a elevar o patamar de competitividades dessas empresas, à medida que elas se qualificam para atender os requisitos de contratação”, disse o diretor do Sebrae, Car-los Alberto.

Para ele, esse ganho é permanente, pois o conheci-mento adquirido nesse processo leva o empresário a uma visão ampliada do mercado, o que facilita identificar opor-tunidades no dia a dia de seu negócio, já que ele passa a conhecer também as fontes de informação, apoio e orien-tação. Neste sentido, o Sebrae estimula os empresários do segmento de pequeno porte dentro da lógica de inteligên-cia de mercado. “Ele precisa se antecipar às tendências do mercado no qual atua, fazer o monitoramento das oportu-nidades e implementar estratégias adequadas. Essa postu-ra permitirá que ele esteja preparado para as variações de mercado”, completou.

O programa Sebrae 2014 atendeu, entre 2010 e 2014, 44 mil pequenos negócios nas doze cidades-sede onde foram realizados os jogos do mundial.

PEQUENOS EMPREENDEDORES

o produto no mercado externo”, apontou. Dono de 38 prêmios, alguns deles internacionais, Weber

aproveitou a fama mundial da caipirinha para criar uma ver-são mais prática da bebida, chamada de Lundu e elaborada com cachaça (produção própria), suco de limão, açúcar e água mineral – além de teor alcoólico entre 15% e 18%. “Antes da Copa, percebemos que a cachaça em si era mais conhecida. Já a caipirinha conseguiu boa aceitação pelas ações que fizemos na Copa do Mundo”, contou Weber. Atualmente, a cachaça-ria produz 285 mil litros por ano e, até 2016, deve ampliar a produção para conseguir exportar 500 mil litros por ano só de caipirinha. O Alambique Weber Haus também desenvolve produtos de cachaça com açaí, cupuaçu, coco e maracujá.

Com estes números, Weber mantém as boas expectativas de negócio nas Olimpíadas. “Certamente, será uma chance muito importante, porque haverá outros países envolvidos nos jogos, ligados a outros esportes”, comparou. Segundo o empresário gaúcho, será necessário readequar a estratégia para alcançar mercados em países que têm mais tradição em outros esportes e não somente no futebol, figurando entre os grandes medalhistas olímpicos, como é o caso da China, do Japão e dos Estados Unidos. “Na Copa, o foco estava mais concentrado sobre os mercados da Alemanha e da Espanha, além dos países da América do Sul”, explicou.

Para atingir esses objetivos, Weber pretende contar com o projeto do Sebrae para aproximação comercial, como foi feito a durante a Copa, em que a caipirinha gaúcha esteve presente nos quiosques do Sebrae levantados em todas as

cidades-sede, por exemplo. “A experiência em Manaus foi muito interessante na Copa, abrindo oportunidades em um mercado novo, onde não atuávamos ainda”, lembrou. Para ele, também foram importantes a participação em cursos de capacitação, recebimento de consultoria em gestão, presença em eventos.

Na Copa, faturamento de R$ 500 milhões

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Carlos Alberto: a experiência da Copa permitiu elevar o patamar de competitividade das pequenas empresas.

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par precisaram, como um dos requisitos, apresentar garan-tia da formalização que é possuir o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Além de realizar as exposições em showrooms montados em pontos estratégicos das cidades-sede, o Sebrae promoveu uma série de atividades de capaci-tação junto aos participantes, incluindo cursos sobre otimi-zação da produção, desenvolvimento de coleções, gestão empresarial e outros temas.

Para a Copa do Mundo, o Programa Sebrae 2014 foi mais fundo e mapeou as oportunidades e requisitos para apoiar empresas atendidas na realização de negócios gerados a partir dos investimentos e seus efeitos multiplicadores com impacto e maior aderência a dez segmentos econômicos priorizados. Ao todo, o programa, que teve orçamento de aproximadamente R$ 90 milhões entre 2010 e 2014, atendeu 44 mil pequenos negócios nos 11 estados e no Distrito Fede-ral onde foram realizados os jogos do mundial.

Em um primeiro momento, antes do evento, as oportu-nidades foram para as empresas da Construção Civil (como fornecedores das grandes obras), da Tecnologia da Informa-ção (na produção de aplicativos ou instalação de sistemas,

por exemplo), de Vestuário (como a fabricação de unifor-mes, roupas temáticas etc.) e de Madeira/Móveis. Com a proximidade do evento, cresceram as oportunidades para o Agronegócio (em especial para alimentos e bebidas, como a cachaça e o café brasileiro) e o setor de Serviços. Atividades ligadas ao Turismo, como receptivo, hotelaria, entreteni-mento e restaurantes, foram beneficiadas com os cerca de 800 mil turistas nas capitais-sede dos jogos e seu entorno.

Foi neste contexto que o empresário carioca José Luiz Munin Montoiro fechou importantes contratos para forne-cimento de lajes para instalações dos jogos, incluindo o Estádio do Maracanã, palco da final entre Alemanha e Argentina. O produto diferenciado dispensa a utilização de estruturas de apoio usadas tradicionalmente na construção civil, o que facilita o processo e possibilita economia de tempo e dinheiro. Esse e outros contratos fechados por conta do campeonato mundial de futebol aumentaram 30% o faturamento mensal da Trelicon – Artefatos de Cimento. “Já tenho outros contratos encaminhados para as obras das Olimpíadas, como a Vila dos Atletas e devo fornecer para o Parque Olímpico”, afirmou Montoiro.

RUMOS – 46 – Julho/Agosto 2014 RUMOS – 47 – Julho/Agosto 2014

M MICRO E PEQUENAS

evantamento do Sebrae estima que a Copa do Mundo proporcionou às pequenas empresas oportunidades de negócios que geraram um faturamento de quase

R$ 500 milhões. Além do resultado financeiro, a Copa dei-xou ainda aos pequenos negócios cinco legados significati-vos: melhoria na gestão, adesão à agenda da sustentabilida-de, aperfeiçoamento dos canais de distribuição e de logísti-ca, conhecimento do seu cliente e a possibilidade de acessar novos mercados. “No Programa Sebrae 2014, focamos na preparação das empresas, que precisavam preencher requi-sitos para efeito de contratação dos serviços, por exemplo, apresentar alvará, certidões, certificações e outros”, refor-çou Carlos Alberto.

Essas experiências serviram de parâmetro ao planeja-mento das ações voltadas para as Olimpíadas 2016, princi-palmente aquelas relacionadas ao atendimento de requisi-tos, aproximações comerciais e acesso a mercados. “Para as Olimpíadas, o projeto Sebrae no Pódio tem foco em apro-ximação comercial. Pequenos negócios devem aproveitar o poder de compra da Rio 2016”, acrescentou o diretor.

É o que espera o produtor gaúcho Evandro Weber, proprietário do Alambique Weber Haus, com sede em Porto Alegre (RS). Mesmo distante dos locais de realização dos jogos olímpicos, ele se fará presente nas áreas de com-petição para ampliar a sua atuação no mercado da cachaça, assim como fez durante a Copa do Mundo. “A Copa do Mundo mudou significativamente a percepção do mercado em relação ao nosso produto. O evento ajudou a posicionar

ConsolidaçãoOs resultados positivos e as experiências exitosas

vivenciadas por micro e pequenas empresas em ações diretamente relacionadas às competições internacionais sediadas no Brasil são fruto de atividades permanentes no sentido de fortalecer o setor microempresarial como um todo e aumentar a sua competitividade nos diversos merca-dos em que está inserido. Esta orientação é o que permite verificar ganhos permanentes para os participantes do projeto do Sebrae, mesmo após as disputas finais de cada campeonato. “A experiência dos pequenos negócios ao atuar como fornecedores antes, durante e pós-evento tende a elevar o patamar de competitividades dessas empresas, à medida que elas se qualificam para atender os requisitos de contratação”, disse o diretor do Sebrae, Car-los Alberto.

Para ele, esse ganho é permanente, pois o conheci-mento adquirido nesse processo leva o empresário a uma visão ampliada do mercado, o que facilita identificar opor-tunidades no dia a dia de seu negócio, já que ele passa a conhecer também as fontes de informação, apoio e orien-tação. Neste sentido, o Sebrae estimula os empresários do segmento de pequeno porte dentro da lógica de inteligên-cia de mercado. “Ele precisa se antecipar às tendências do mercado no qual atua, fazer o monitoramento das oportu-nidades e implementar estratégias adequadas. Essa postu-ra permitirá que ele esteja preparado para as variações de mercado”, completou.

O programa Sebrae 2014 atendeu, entre 2010 e 2014, 44 mil pequenos negócios nas doze cidades-sede onde foram realizados os jogos do mundial.

PEQUENOS EMPREENDEDORES

o produto no mercado externo”, apontou. Dono de 38 prêmios, alguns deles internacionais, Weber

aproveitou a fama mundial da caipirinha para criar uma ver-são mais prática da bebida, chamada de Lundu e elaborada com cachaça (produção própria), suco de limão, açúcar e água mineral – além de teor alcoólico entre 15% e 18%. “Antes da Copa, percebemos que a cachaça em si era mais conhecida. Já a caipirinha conseguiu boa aceitação pelas ações que fizemos na Copa do Mundo”, contou Weber. Atualmente, a cachaça-ria produz 285 mil litros por ano e, até 2016, deve ampliar a produção para conseguir exportar 500 mil litros por ano só de caipirinha. O Alambique Weber Haus também desenvolve produtos de cachaça com açaí, cupuaçu, coco e maracujá.

Com estes números, Weber mantém as boas expectativas de negócio nas Olimpíadas. “Certamente, será uma chance muito importante, porque haverá outros países envolvidos nos jogos, ligados a outros esportes”, comparou. Segundo o empresário gaúcho, será necessário readequar a estratégia para alcançar mercados em países que têm mais tradição em outros esportes e não somente no futebol, figurando entre os grandes medalhistas olímpicos, como é o caso da China, do Japão e dos Estados Unidos. “Na Copa, o foco estava mais concentrado sobre os mercados da Alemanha e da Espanha, além dos países da América do Sul”, explicou.

Para atingir esses objetivos, Weber pretende contar com o projeto do Sebrae para aproximação comercial, como foi feito a durante a Copa, em que a caipirinha gaúcha esteve presente nos quiosques do Sebrae levantados em todas as

cidades-sede, por exemplo. “A experiência em Manaus foi muito interessante na Copa, abrindo oportunidades em um mercado novo, onde não atuávamos ainda”, lembrou. Para ele, também foram importantes a participação em cursos de capacitação, recebimento de consultoria em gestão, presença em eventos.

Na Copa, faturamento de R$ 500 milhões

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Carlos Alberto: a experiência da Copa permitiu elevar o patamar de competitividade das pequenas empresas.

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RUMOS – 49 –Julho/Agosto 2014

umos – Os cem anos de nasci-mento de Ignácio Rangel foram a inspiração para esta

obra?Luiz César Faro – Apesar da excelente coincidência, não foi exatamente isso. O que nos motivou foi a descoberta de que a obra de Rangel estava se esmaecendo, a sua imagem um pouco enevoada. Fize-mos uma pesquisa e havia pouca infor-mação sobre ele na internet, não obstan-te durante décadas ele ter escrito sema-nalmente em jornais, por exemplo. Essa era uma percepção não apenas minha, de que ele estava sendo esquecido na His-tória. Havia apenas um livro, uma com-pilação de seus pensamentos, editado pelo próprio BNDES, mas não havia nenhuma obra mais biográfica sobre esse grande personagem brasileiro.

Rumos – E o que o senhor acredita que seja a causa desse aparente esquecimento?Faro – O próprio Rangel reconhecia os sinais disso e disse uma vez, numa entrevista, que havia uma “conspiração do silêncio”, uma espécie de complô para tirar do ambiente acadêmico as ideias dele, que eram pou-co comuns. Ele não se alinhava inteiramente com nenhum dos lados, aí está a sua originalidade. Como dizia o Rômulo [de Almeida], o pensamento de Rangel era como uma andorinha, voava livre.

Rumos – Qual era o cerne desse pensamento? No que ele contribuiu para o pensamento desenvolvimentista e a teo-ria econômica brasileira?Faro – A grande contribuição teórica que Rangel nos dá é a sua originalidade. Ela era um grande teórico, não se dedicava tanto à economia aplicada, às soluções práticas. Mas produzia modelos econômicos para que você pudesse prever melhor e projetar a realidade, como a teoria da dualidade e os ciclos. Parte dos eco-nomistas de sua época deu importantes contribuições no campo histórico, como o Celso Furtado; já Rangel foi capaz de criar

O olhar humano sobre a vida de um mestre

L LIVROS

novas molduras para se pensar a estru-tura econômica do país. Nem sei se podemos chamá-lo de um desenvolvi-mentista clássico, embora seja um industrialista importante, e com certeza um nacionalista.

Rumos – O livro é também um registro afetivo da vida de Ignácio Rangel, para além de sua importân-cia técnica e econômica. Por que essa opção?Faro – Eu o conheci, tive essa oportu-nidade. As ideias estão muito bem regis-tradas nos livros dele e no do BNDES. Avançar sobre isso está circunscrito aos acadêmicos, é tarefa deles. Nós quería-mos contar as histórias desse persona-gem arretado. Pesquisamos em jornais, colhemos depoimentos em que ele é citado do CPDOC, realizamos uma série de entrevistas com amigos como Maria da Conceição Tavares e Carlos Lessa, também conversamos com a família. Ele era um cientista da econo-mia, se é que isso é possível. Tinha invenções, criações inovadoras e, nova-mente, um pensamento muito original.

Era uma pessoa muito agradável, muito didática, que gostava de sentar junto aos jovens e ensiná-los, mas que também reagia dura-mente quando era contrariado. Aos poucos, deixa de ser um comunista, sem jamais deixar de ser “sovietnamista” (risos). É um grande personagem, cheio de contradições e de histórias fan-tásticas. Acho, aliás, que sua personalidade tinha semelhanças com a teoria da dualidade, que tanto pregou: era um sujeito doce, mas também duro; ele próprio era dual.

Rumos – O título do livro: “Elogio à ousadia” trata do per-sonagem ou de suas teorias econômicas?Faro – É sobre o conjunto, um elogio à ousadia que ficou um pouco neblinada nestes últimos tempos, não foi tão bem tratada pelo desenvolvimentismo e pelas teorias econômicas, ficou meio que relegado a um “lugar nenhum”. A ideia é que outras se filiem a esse pensamento livre, importante e original.

Livro de Luiz César Faro e Mônica Sinelli resgata histórias e passagens importantes da vida do economista Ignácio Rangel, por meio de ampla pesquisa e entrevistas com familiares e amigos, quase todos também grandes representantes do pensamento econômico brasileiro; em entrevista à Rumos, autor destaca a originalidade das ideias do economista, alerta para o silenciamento sobre sua obra e revela um pouco da figura do “arretado” e “doce” Ignácio Rangel: “À semelhança da teoria que pregou, ele próprio era dual”.

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RUMOS – 48 – Julho/Agosto 2014

Publicado originalmente em 1929, por um dos mais importantes pensadores da teoria econômica mar-xista, a obra histórica de Isaac Ilich Rubin é traduzida pela primeira vez para o português e lançada por uma editora brasileira. O livro é considera-do um trabalho importante e sem pre-cedentes por situar a teoria econômica de Karl Marx em relação às teorias anteriores – do mercantilismo a John Stuart Mill, passando pelos fisiocratas e economistas políticos clássicos (Smith e Ricardo).

O autor, Isaac Rubin, nasceu na Rússia e foi participante ativo na Revo-lução de 1917. Preso pelo regime stali-nista em 1930 e 1937, foi condenado à morte e sua execução se deu nesse mesmo ano.

No livro, Rubin apresenta suas análises sobre as escolas do pensa-mento econômico, com especial aten-ção para o ambiente social, político e ideológico. Como destaca o econo-mista Aloisio Teixeira, na apresenta-ção desta edição brasileira, a obra per-

Economia histórica

mite que o leitor refaça tanto o percurso teórico de Marx quanto a leitura que dele faz Rubin e, assim, compare suas próprias conclusões com aquelas alcançadas pelos autores.

.

História do Pensamento Econô-mico. Isaac Ilich RubinEditora UFRJ, 523 p., 2014.

O livro procura refletir, a partir de diferentes perspectivas, sobre o período posterior ao agravamento da crise econômica internacional e seus efeitos para o cenário brasileiro. São oito artigos, de pesquisadores reuni-dos no Grupo de Economia da Fun-dação do Desenvolvimento Adminis-trativo (Fundap), além de outros estu-diosos convidados especialmente para a obra. Organizado por Luis Fer-nando Novais, Rafael Fagundes Cag-nin e Geraldo Biasoto Junior, o livro procura se equilibrar entre uma análi-se de caráter estrutural do significado das transformações ocorridas recen-temente no país e o acompanhamen-to rotineiro de indicadores econômi-cos e de medidas de política, que são as duas pontas que definem o debate conjuntural.

Os artigos destacam questões como as diferentes etapas da crise internacional, as políticas macroeco-nômicas adotadas no Brasil para ten-tar minimizar os efeitos da crise no país e a mudança na dinâmica setorial

Pensando o pós-crise

A economia brasileira no contexto da crise global. Luis Fernando Novais, Rafael Fagundes, Geraldo Biasoto Junior (orgs).Fundap, 283p., 2014.

da geração de empregos pós-2009. Este conjunto permite um registro da evolução da economia brasileira em tempos de crise.

Em sua décima segunda edição, o livro permanece como um dos princi-pais guias para as áreas e profissionais que atuam nas gestão financeira de organizações e coorporações dos mais diversos segmentos. Atualizada em face dos padrões internacionais de contabilidade, a obra segue um pro-cesso contínuo de aprimoramento e expansão de conteúdo para manter-se sempre atual mesmo em meio a um contexto econômico dinâmico e glo-balizado.

O guia é composto por vinte e cin-co capítulos – com a identificação dos objetivos de aprendizagem no início de cada um, o destaque dos conceitos mais relevantes, ilustrações com qua-dros e gráficos, além de questões que permitem uma revisão segura de cada capítulo ao fim do mesmo – e está divi-dido em seis partes: ambiente da aná-lise financeira; demonstrações contá-beis; análise financeira das empresas; análise do capital de giro; fluxo de cai-xa e projeções financeiras; e alavanca-gem operacional e financeira.

Guia para as finanças

O livro é recomendado para profissionais atuantes em áreas de crédito, análise de investimento, bem como para programas de desen-volvimento profissional.

Análise financeira das empresas, 12ª ed. José Pereira da Silva.Atlas, 616 p., 2014.

As ferramentas tecnológicas vão substituir a presença humana em seto-res fundamentais do trabalho? Haverá limites na penetração dos computa-dores em áreas de domínio das pesso-as? Ancorados em dados históricos e também na “análise objetiva da reali-dade presente”, os pesquisadoes Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, do instituto norte-americano MIT Cen-ter for Digital Business, buscam res-ponder a essas e outras questões e tra-çam o que acreditam ser os cenários para o futuro do trabalho.

O livro pretende traçar um diag-nóstico sobre como as tecnologias da informação estão afetando os empre-gos, as habilidades, os salários e a eco-nomia. Como ponto de partida, eles analisam as estatísticas de emprego dos Estados Unidos e alertam: vive-mos em uma economia que não con-segue recolocar os desempregados de volta ao mercado.

Os autores garantem, entretan-do, que não são “tão pessimistas” no que diz respeito ao uso da teconolo-

O que está em jogo?

gia. Apenas acreditam que as teconlogias digitais, embora forças propulsoras importantes para a econo-mia hoje, ainda não estão sendo bem compreendidas em sua relação com o mer-cado de trabalho.

Novas tecnologias versus empregabilidade. Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee.M.Books, 104 p., 2013.

Ignácio Rangel: elogio à ousadia. Luiz César Faro e Mônica SinelliInsight, 377p., 2014.

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RUMOS – 49 –Julho/Agosto 2014

umos – Os cem anos de nasci-mento de Ignácio Rangel foram a inspiração para esta

obra?Luiz César Faro – Apesar da excelente coincidência, não foi exatamente isso. O que nos motivou foi a descoberta de que a obra de Rangel estava se esmaecendo, a sua imagem um pouco enevoada. Fize-mos uma pesquisa e havia pouca infor-mação sobre ele na internet, não obstan-te durante décadas ele ter escrito sema-nalmente em jornais, por exemplo. Essa era uma percepção não apenas minha, de que ele estava sendo esquecido na His-tória. Havia apenas um livro, uma com-pilação de seus pensamentos, editado pelo próprio BNDES, mas não havia nenhuma obra mais biográfica sobre esse grande personagem brasileiro.

Rumos – E o que o senhor acredita que seja a causa desse aparente esquecimento?Faro – O próprio Rangel reconhecia os sinais disso e disse uma vez, numa entrevista, que havia uma “conspiração do silêncio”, uma espécie de complô para tirar do ambiente acadêmico as ideias dele, que eram pou-co comuns. Ele não se alinhava inteiramente com nenhum dos lados, aí está a sua originalidade. Como dizia o Rômulo [de Almeida], o pensamento de Rangel era como uma andorinha, voava livre.

Rumos – Qual era o cerne desse pensamento? No que ele contribuiu para o pensamento desenvolvimentista e a teo-ria econômica brasileira?Faro – A grande contribuição teórica que Rangel nos dá é a sua originalidade. Ela era um grande teórico, não se dedicava tanto à economia aplicada, às soluções práticas. Mas produzia modelos econômicos para que você pudesse prever melhor e projetar a realidade, como a teoria da dualidade e os ciclos. Parte dos eco-nomistas de sua época deu importantes contribuições no campo histórico, como o Celso Furtado; já Rangel foi capaz de criar

O olhar humano sobre a vida de um mestre

L LIVROS

novas molduras para se pensar a estru-tura econômica do país. Nem sei se podemos chamá-lo de um desenvolvi-mentista clássico, embora seja um industrialista importante, e com certeza um nacionalista.

Rumos – O livro é também um registro afetivo da vida de Ignácio Rangel, para além de sua importân-cia técnica e econômica. Por que essa opção?Faro – Eu o conheci, tive essa oportu-nidade. As ideias estão muito bem regis-tradas nos livros dele e no do BNDES. Avançar sobre isso está circunscrito aos acadêmicos, é tarefa deles. Nós quería-mos contar as histórias desse persona-gem arretado. Pesquisamos em jornais, colhemos depoimentos em que ele é citado do CPDOC, realizamos uma série de entrevistas com amigos como Maria da Conceição Tavares e Carlos Lessa, também conversamos com a família. Ele era um cientista da econo-mia, se é que isso é possível. Tinha invenções, criações inovadoras e, nova-mente, um pensamento muito original.

Era uma pessoa muito agradável, muito didática, que gostava de sentar junto aos jovens e ensiná-los, mas que também reagia dura-mente quando era contrariado. Aos poucos, deixa de ser um comunista, sem jamais deixar de ser “sovietnamista” (risos). É um grande personagem, cheio de contradições e de histórias fan-tásticas. Acho, aliás, que sua personalidade tinha semelhanças com a teoria da dualidade, que tanto pregou: era um sujeito doce, mas também duro; ele próprio era dual.

Rumos – O título do livro: “Elogio à ousadia” trata do per-sonagem ou de suas teorias econômicas?Faro – É sobre o conjunto, um elogio à ousadia que ficou um pouco neblinada nestes últimos tempos, não foi tão bem tratada pelo desenvolvimentismo e pelas teorias econômicas, ficou meio que relegado a um “lugar nenhum”. A ideia é que outras se filiem a esse pensamento livre, importante e original.

Livro de Luiz César Faro e Mônica Sinelli resgata histórias e passagens importantes da vida do economista Ignácio Rangel, por meio de ampla pesquisa e entrevistas com familiares e amigos, quase todos também grandes representantes do pensamento econômico brasileiro; em entrevista à Rumos, autor destaca a originalidade das ideias do economista, alerta para o silenciamento sobre sua obra e revela um pouco da figura do “arretado” e “doce” Ignácio Rangel: “À semelhança da teoria que pregou, ele próprio era dual”.

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RUMOS – 48 – Julho/Agosto 2014

Publicado originalmente em 1929, por um dos mais importantes pensadores da teoria econômica mar-xista, a obra histórica de Isaac Ilich Rubin é traduzida pela primeira vez para o português e lançada por uma editora brasileira. O livro é considera-do um trabalho importante e sem pre-cedentes por situar a teoria econômica de Karl Marx em relação às teorias anteriores – do mercantilismo a John Stuart Mill, passando pelos fisiocratas e economistas políticos clássicos (Smith e Ricardo).

O autor, Isaac Rubin, nasceu na Rússia e foi participante ativo na Revo-lução de 1917. Preso pelo regime stali-nista em 1930 e 1937, foi condenado à morte e sua execução se deu nesse mesmo ano.

No livro, Rubin apresenta suas análises sobre as escolas do pensa-mento econômico, com especial aten-ção para o ambiente social, político e ideológico. Como destaca o econo-mista Aloisio Teixeira, na apresenta-ção desta edição brasileira, a obra per-

Economia histórica

mite que o leitor refaça tanto o percurso teórico de Marx quanto a leitura que dele faz Rubin e, assim, compare suas próprias conclusões com aquelas alcançadas pelos autores.

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História do Pensamento Econô-mico. Isaac Ilich RubinEditora UFRJ, 523 p., 2014.

O livro procura refletir, a partir de diferentes perspectivas, sobre o período posterior ao agravamento da crise econômica internacional e seus efeitos para o cenário brasileiro. São oito artigos, de pesquisadores reuni-dos no Grupo de Economia da Fun-dação do Desenvolvimento Adminis-trativo (Fundap), além de outros estu-diosos convidados especialmente para a obra. Organizado por Luis Fer-nando Novais, Rafael Fagundes Cag-nin e Geraldo Biasoto Junior, o livro procura se equilibrar entre uma análi-se de caráter estrutural do significado das transformações ocorridas recen-temente no país e o acompanhamen-to rotineiro de indicadores econômi-cos e de medidas de política, que são as duas pontas que definem o debate conjuntural.

Os artigos destacam questões como as diferentes etapas da crise internacional, as políticas macroeco-nômicas adotadas no Brasil para ten-tar minimizar os efeitos da crise no país e a mudança na dinâmica setorial

Pensando o pós-crise

A economia brasileira no contexto da crise global. Luis Fernando Novais, Rafael Fagundes, Geraldo Biasoto Junior (orgs).Fundap, 283p., 2014.

da geração de empregos pós-2009. Este conjunto permite um registro da evolução da economia brasileira em tempos de crise.

Em sua décima segunda edição, o livro permanece como um dos princi-pais guias para as áreas e profissionais que atuam nas gestão financeira de organizações e coorporações dos mais diversos segmentos. Atualizada em face dos padrões internacionais de contabilidade, a obra segue um pro-cesso contínuo de aprimoramento e expansão de conteúdo para manter-se sempre atual mesmo em meio a um contexto econômico dinâmico e glo-balizado.

O guia é composto por vinte e cin-co capítulos – com a identificação dos objetivos de aprendizagem no início de cada um, o destaque dos conceitos mais relevantes, ilustrações com qua-dros e gráficos, além de questões que permitem uma revisão segura de cada capítulo ao fim do mesmo – e está divi-dido em seis partes: ambiente da aná-lise financeira; demonstrações contá-beis; análise financeira das empresas; análise do capital de giro; fluxo de cai-xa e projeções financeiras; e alavanca-gem operacional e financeira.

Guia para as finanças

O livro é recomendado para profissionais atuantes em áreas de crédito, análise de investimento, bem como para programas de desen-volvimento profissional.

Análise financeira das empresas, 12ª ed. José Pereira da Silva.Atlas, 616 p., 2014.

As ferramentas tecnológicas vão substituir a presença humana em seto-res fundamentais do trabalho? Haverá limites na penetração dos computa-dores em áreas de domínio das pesso-as? Ancorados em dados históricos e também na “análise objetiva da reali-dade presente”, os pesquisadoes Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, do instituto norte-americano MIT Cen-ter for Digital Business, buscam res-ponder a essas e outras questões e tra-çam o que acreditam ser os cenários para o futuro do trabalho.

O livro pretende traçar um diag-nóstico sobre como as tecnologias da informação estão afetando os empre-gos, as habilidades, os salários e a eco-nomia. Como ponto de partida, eles analisam as estatísticas de emprego dos Estados Unidos e alertam: vive-mos em uma economia que não con-segue recolocar os desempregados de volta ao mercado.

Os autores garantem, entretan-do, que não são “tão pessimistas” no que diz respeito ao uso da teconolo-

O que está em jogo?

gia. Apenas acreditam que as teconlogias digitais, embora forças propulsoras importantes para a econo-mia hoje, ainda não estão sendo bem compreendidas em sua relação com o mer-cado de trabalho.

Novas tecnologias versus empregabilidade. Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee.M.Books, 104 p., 2013.

Ignácio Rangel: elogio à ousadia. Luiz César Faro e Mônica SinelliInsight, 377p., 2014.

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CARTAS DO LEITOR

Redação e AdministraçãoAvenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906Telefone (21) 2109.6041Fax (21) 2109.6004

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CONSELHO DOS ASSOCIADOSPresidente: Luciano Coutinho

DIRETORIAPresidente: Carlos Henrique Horn

1º Vice-Presidente: Vitor César Ribeiro Lopes

Vice-Presidentes: Antonio Carlos Sampaio Quintiliano, Carlos Alberto dos Santos, Guilherme Narciso Lacerda, Milton Luiz de Melo Santos, Paulo Roberto Evangelista de Lima, Rogério de Paula Tavares, Rubens Rodrigues Filho, Valmir Pedro Rossi.

Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima.

Publicação bimestralISSN 1415-4722

Instituições Associadas à ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL Badesul Desenvolvimento S.A. Agência de Fomento – – BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Capa Noel Joaquim Faiad

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialCarlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

RUMOS – – Julho/Agosto 2014 50

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Ano 38 – Nº 276 Julho/Agosto 2014

ProfessorSou professor da Unifesp, PUC-SP e outras universidades. Tenho mui-to interesse em receber em forma de cortesia a revista Rumos na Uni-versidade ou na minha residência. Tal fato se prende a que sou pesqui-sador e sua revista aponta vários caminhos no Desenvolvimento.Antonio Cordeiro Filho. Professor. São Paulo (SP).

EspecialistaPoderiam me enviar, em meio eletrônico, a edição nº 214 - março/abril de 2004 (ano 28), da revista Rumos? Procurei no site e não achei. Tem uma reportagem sobre Política Industrial que me interessa muito.Talita Daher. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Bra-sília (DF).

DiretorNós somos uma instituição localizada no bairro: Tabuleiro do Martins em Maceió-AL, onde trabalhamos com muitas Micros e Pequenas Empresas, nesta região e em regiões adjacentes. Por isso ficamos muito interessados em saber como adquirir a revista Rumos pois achamos o conteúdo dela de suma importância para o disponibilizarmos em nos-sa biblioteca a cada um de nossos clientes, e gostaríamos muito de saber como obtê-la e ficar recebendo cada nova edição lançada aqui em nossa sede em Maceió.Gilvan Santos Moura. Cindeamptma. Maceió (AL).

EducaçãoGostaria de fazer o cadastro para receber a revista Rumos – Economia & Desenvolvimento para os novos tempos.Stéffany Costa. Instituto Mineiro de Educação Superior. Governador Valadares (MG) .

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Entrevistas

Vitor Lopes

Carlos Antonio Costa Ribeiro

Banco do Brics:

nasce um gigante

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