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Revista Rumos – Janeiro/Fevereiro 2016
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#285
JANEIRO/FEVEREIRO 2016
PARA VOLTARA FUNCIONARA trajetória do Brasil nos últimos 40 anos:
da ditadura à democracia; da hiperinflação
à estabilidade da moeda. O que esperar das
próximas quatro décadads? p. 30
ENTREVISTA ARTIGO E ENTREVISTA EMPREENDER
O ex-ministro Bresser-Pereira faz
uma avaliação dos últimos 20 anos
da economia. p. 38
Os presidentes do BNDES e da ABDE
apontam os caminhos futuros para o
Sistema Nacional de Fomento. p. 08
À frente do Sebrae, Guilherme Afif
Domingos explica como fazer crescer
os pequenos negócios. p. 18
JANEIRO | FEVEREIRO 20164
SUMÁRIO
FOMENTO LIVROS
ARTIGO | Luciano Coutinho
Quarenta anos para
trás e para frente
ENTREVISTA | Guilherme Afi fDomingos
Crédito para quem
precisa: a vez dos
pequenos negócios
ENTREVISTA | Luiz Carlos Bresser-Pereira
Fundamentos da Economia
MEMÓRIA
A década do estigma06ENTREVISTAS
Milton Luiz de Melo Santos
Marco Crocco Afonso
Ilton Luís Schwaab
Em nome do desenvolvimento de longo prazo
10
OPINIÃO
Antonio Delfim Netto
Capital humano22
PRÊMIO
O debate continua23
REPORTAGEM
Um país em amadurecimento
30
REPORTAGEM
Uma história pioneira26
ARTIGO
Ênio Meinen
A economia e o cooperativismo financeiro em 2016
44
ARTIGO
Andrej Slivnik
Fernanda Feil
História econômica em revista
48
46 52
08
18
38
Parece ousadia iniciar o ano com festejos. As
previsões indicam que 2016 será um ano difícil
para o país. Mas não nos entreguemos ao pes-
simismo, há o que comemorar sim, principal-
mente quando se revisita a história recente do
país, os últimos 40 anos. Saímos do regime mi-
litar, promulgamos a Constituição, realizamos
mais de sete eleições diretas para presidente
e houve redução da desigualdade. Todos esses
fatos foram narrados nas páginas dessa revista.
A Rumos completa 40 anos de narrativa sobre
o crescimento do Brasil, e traz para os leitores
um novo projeto gráfico repleto de entrevistas
que revisitam as quatro décadas passadas e
apontam o olhar para o futuro.
Na reportagem de capa, um balanço da tra-
jetória dos planos econômicos e das mudanças
políticas que permitiram construir a estabili-
zação da moeda e a redução das desigualdades.
Depois, a palavra de que fez a história aconte-
cer: o ex-ministro da Fazenda e da Reforma do
Estado, em diferentes governos, no primeiro
mandato do então presidente Fernando Henri-
que Cardoso, Luiz Carlos Bresser-Pereira ana-
lisa os caminhos percorridos pela economia
brasileira e sinaliza a importância de se cons-
truir um sentimento de nação.
Ainda partindo de um ponto de vista privile-
giado da história, os presidentes do Sebrae, Gui-
lherme Afi f Domingos, e do Ipea, Jessé Souza,
convidam a refl etir sobre o fortalecimento eco-
nômico e social de diferentes grupos. Também
sobre esse tema, o presidente, Milton Luiz San-
tos, e os vice-presidentes da ABDE, Marco Croc-
co e Ilton Schwaab, explicam como a construção
do Planejamento Estratégico do Sistema Nacio-
nal de Fomento irá contribuir para o desenvolvi-
mento do país. E, como estamos comemorando,
um contumaz articulista da revista, nesses últi-
mos 40 anos, retorna para nossas páginas: o pre-
sidente do BNDES e da Assembleia da ABDE,
Luciano Coutinho, sinaliza para os novos de-
safi os da sociedade brasileira. Enfi m, é tempo
de lubrifi car as engrenagens e ir para frente.
Boa leitura!
#285JANEIRO/FEVEREIRO 2016
AO LEITOR NESSA EDIÇÃO
SEÇÕES
DESTAQUES
LIVRO ESPECIAL
Jessé Souza
Trazer luz aos velhos paradigmas
50
EXPERTISE
Hugo Kantis
Condições para empreender
14
RUMOS 5
JANEIRO | FEVEREIRO 20152
Superar os preconceitosNo primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff
houve uma evidente deterioração das contas públicas
pelo atraso do governo em reconhecer que: 1) a situ-
ação externa tinha se invertido; e 2) as intervenções
voluntaristas nos projetos de infraestrutura e pontu-
ais nos mercados de bens e serviços eram incapazes
de alterar a causa básica da redução da taxa de cres-
cimento do PIB: a substituição da oferta interna da
indústria nacional pela oferta internacional (a im-
portação). Nunca houve falta de demanda industrial
interna. Os aumentos dos salários reais, a ampliação
do crédito e a redução da taxa de juros real sempre a
sustentaram. O que ocorreu foi uma dramática des-
truição das condições que garantiam uma relativa
isonomia competitiva da indústria nacional, o que a
levou à estagnação e arrastou com ela o PIB.
Essa alteração da estrutura produtiva – que está
se transformando de conjuntural em estrutural –
torna ainda mais problemática a estimativa do eté-
reo “produto potencial” e, consequentemente, da
“falsa-constante”, a taxa de juro real de equilíbrio,
aquela que manteria o emprego perto do seu máxi-
mo sem acelerar a taxa de infl ação, ambas exigidas
para o exercício da política monetária “ótima”.
Há pouca “ciência” e muito “arbítrio” em tudo
isso, o que mostra os graus da sorte, conhecimento,
sensibilidade, humildade, habilidade e arte dos no-
vos executores da política econômica, que a presi-
dente espera que “com o menor sacrifício dos menos
favorecidos”, cumpram tarefas pouco conciliáveis:
1) a recuperação do equilíbrio fi scal sem comprome-
ter os investimentos públicos; 2) a rápida redução
das intervenções no sistema de preços, principal-
mente na taxa de câmbio, com a simultânea redu-
ção da “expectativa” infl acionária; e 3) que acordem
o “espírito animal” do setor privado mostrando que
o “ajuste” não é a redução da demanda efetiva, mas
apenas a preparação para a volta ao crescimento do
setor industrial e, consequentemente, do PIB.
Alguns sinais parecem indicar a séria disposi-
ção da nova administração de assegurar a redução
dos desequilíbrios e criar as expectativas de volta do
crescimento do investimen-
to público, dos investimen-
tos privados e do PIB, condi-
ções necessárias para facilitar
o ajuste “benigno” desejado.
O primeiro sinal foi a decisão
anunciada de reduzir fi rme-
mente o “imbróglio” fi scal sem retroceder no proces-
so civilizatório, isto é, com o menor desconforto para
os menos favorecidos e na manutenção do aumento
da igualdade de oportunidades para que eles possam
continuar a construir a sua cidadania com dignidade.
Isso é fundamental para a coesão e justiça sociais e é
a condição política de sustentabilidade das medidas.
É evidente que o ajuste fi scal só será bem sucedido se
for capaz de despertar o “espírito animal” do setor
privado, dentro de um prazo razoável. De qualquer
forma, parece que o superávit primário projetado de
1,2% do PIB em 2015 é um bom começo.
O segundo sinal veio do Relatório do Banco Cen-
tral de dezembro de 2014, que revela maior disposi-
ção de resistir à “dominância fi scal” e sugere a ne-
cessidade de uma íntima cooperação entre a política
monetária e as políticas social, fi scal, salarial e cam-
bial. Por último, recente decisão do Banco Central
mostra que as intervenções no mercado cambial
destinam-se a reduzir a volatilidade e não a “deter-
minar” o nível da taxa de câmbio. Há muitas difi cul-
dades à frente no segundo mandato da presidente
Dilma. A tragédia da Petrobras é enorme, mas não
pode e não deve “congelar” o governo. Esta é a hora
da grandeza e da solidariedade com a nação.
É hora de superar ridículos preconceitos ideoló-
gicos (os “selfi es” do atraso) e reconhecer que nos-
sas instituições estão cada vez.
ANTONIO DELFIM NETTO
Professor emérito da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade
(FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da
Agricultura e do Planejamento
Mus nobis enimpor ibearum adio. Cab in re pre culluptur, omnienim vere peleniat audit, quae aut quamus.
OPINIÃO
e , a taxa de juro real
teria o emprego perto
r a taxa de infl ação, am
da política monetária
ência” e muito “arbít
ra os graus da sorte, c
umildade, habilidade
Mus nobis enibearum adiopre culluptuvere peleniataut quamus
Um novo projeto gráfi co
Para comemorar os 40 anos de edição da Rumos
trazemos para os leitores um novo projeto gráfico,
isto é, uma nova apresentação visual das seções da
revista. Com as mudanças, buscou-se trazer mais
leveza para as reportagens e entrevistas e adequar
os conteúdos aos mais modernos formatos de ex-
posição de conteúdos.
Desenvolvido pela Dragon Rouge, o mesmo es-
critório criativo responsável pela reformulação da
marca da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o projeto
gráfico, apresentado acima e nas páginas seguintes, traz uma nova fonte
para leitura (mais simples e elegante) que convida o leitor a percorrer os
textos agora com mais cores, entretítulos e espaços de respiro. As seções
ganharam pictogramas que orientam sobre que conteúdos serão encon-
trados naquela folha (entrevistas, reportagens, artigos). Já as fotos estão
em grande escala, coloridas e, também, em preto e branco.
São grandes as mudanças para tornar a leitura mais simples e prazero-
sa, facilitando assim o desafio de entender o desenvolvimento brasileiro.
Supprec
JANEIRO | FEVEREIRO 2
o
Pictogramas e nome das seções no início
das páginas.
Títulos mais curtos e fonte
mais elegante.
Nova fonte para os textos:
mais espaçada e confortável
para a leitura. Colunas com
tamanhos diferenciados.
Uso diferenciado das fotos: novos
recortes e opção em preto e branco.
Rodapé simplificado: com
a referência da edição e
número de página.
Frases destacadas
com uso de cores
e nova fonte.
JANEIRO | FEVEREIRO 20166
A década do estigma
Os anos 1980 entraram para a história brasileira
como a “década perdida”. Não é para menos, hipe-
rinflação, dívida externa, ditadura, insucesso dos
planos econômicos e desilução no futebol torna-
ram esse período uma época para esquecer. Mas,
nem tudo foram más notícias. Nos anos 1980, os
economistas assumiram o protagonismo, pelo me-
nos nas páginas da Rumos, no debate sobre o futuro
do desenvolvimento brasileiro diante de tantos pla-
nos desajustados. Também foi a década da disten-
são lenta e gradual da política e, principalmente, da
promulgação da Constituição Federal.
Procurar soluções para recolocar o país nos tri-
lhos do crescimento foi uma constante nas edições
da revista ao longo dessa década. Pelas páginas pas-
saram especialistas no tema do desenvolvimento,
como Ignácio Rangel e Celso Furtado, e economis-
tas que, no futuro, assumiriam posições estraté-
gicas na condução e reflexão sobre os caminhos a
seguir – Antonio Barros de Castro, Paulo Nogueira
Batista, Cândido Mendes, Gustavo Franco.
A cada número, uma dose de angústia em re-
lação ao contexto da época. “O governo não pode
sentar em torno de uma mesa, em Brasília, e num
passe de mágica decidir que a economia vai voltar
a crescer”, pontuou o presidente do Banco Cen-
tral em janeiro de 1982, Carlos Geraldo Langoni,
em uma edição ao tema da reativação da economia
(Ano 6, nº 33). Em outra entrevista, o economista
Edmar Bacha (Ano 10, nº 57), em uma análise da
economia brasileira, fez um balanço do momento
ao falar sobre o que levou o presidente José Sarney
a promover uma profunda reforma na economia:
“São três, assim, os grandes problemas principais:
déficit público, a aceleração da inflação e a trans-
ferência de recursos para o exterior, que colocam
óbices na retomada sustentada do crescimento
para os próximos anos”. Mas também houve a si-
nalização de alternativas, como mostrou a edição
de janeiro/fevereiro de 1989 (Ano 13, nº 75) com o
então ministro da Fazenda,
Maílson da Nóbrega: “Em
primeiro lugar, ..., não há o
menor sintoma de que o país
caminha para uma brutal re-
cessão. As informações mais
recentes de que se dispõe
mostram que as atividades
econômicas estão se recupe-
rando e que as vendas já estão em níveis superiores às que se registra-
vam no período anterior ao Plano [Verão]”. Sete anos se passaram entre
as entrevistas e os cenários pareciam diferentes. A esperança se reno-
vava com mais um plano econômico. Na década de 1980, economistas
em vão tentaram decifrar o elo entre os planos econômicos e o combate
à hiperinflação.
Foi também uma época pródiga em rever e analisar a contribuição que
os bancos de desenvolvimento poderiam dar ao país, com destaque para
os estudos e pesquisas apresentados pela ABDE e realizados de forma pe-
riódica. A questão de busca de alternativas para ampliação das fontes e
recursos e a capacitação do quadro de colaboradores já apareciam como
temas a serem aprimorados. Nessa década, a revista passou a publicar o
Relatório do Sistema de Bancos de Desenvolvimento, o precursor do Info-
ABDE, um relevante relatório com os dados econômicos (operacionais e
contábeis) das instituições financeiras de desenvolvimento pertencen-
tes à Associação.
Tão na moda hoje, a palavra crise estava estampada em todas as pá-
ginas, a cada entrevista, nos artigos assinados; são nestes, aliás, que
encontramos um dos maiores interlocutores da revista nessa década:
Ignácio Rangel. Suas reflexões extrapolam as questões econômicas e
invadem outros campos, como o social. Ao lado, destacamos algumas
de suas considerações presentes em artigos e entrevistas publicados
ao longo dos anos 1980. Uma fala, entretanto, merece nossa atenção:
“Quando essa crise, enfim, houver passado, ficaremos perplexos ao re-
cordar o impasse atual, tão óbvia nos parecerá a solução do problema”
(Ano 12, nº 70). Com essas palavras, Ignácio Rangel nos transporta para
a realidade, e nos ajuda a sermos mais otimistas. Se aquela crise passou,
a atual também passará.
* Editora da revista Rumos e Gerente de Comunicação da ABDE. Formada em Comunicação Social, com mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na década de 1980, economistas em vão tentaram decifrar o elo entre os planos econômicos e o combate à hiperinflação.
MEMÓRIA
Da hiperinflação à promulgação da Constituição brasileira, a década de 1980 teve os seus altos e baixos, tanto
na economia quanto na política. Nas páginas da revista, os economistas travaram um duelo de ideais em busca
do melhor caminho para a retomada do crescimento brasileiro. POR THAIS SENA SCHETTINO*
RUMOS 7
A voz de uma época:Ignácio Rangel
ECONOMIA BRASILEIRA“Uma economia na qual a inflação tornou-se endêmica não pode
prescindir de um eficiente mecanismo de correção monetária.”
nº 36, 1982.
“Até hoje, o Brasil tem sido parte integrante da
periferia subdesenvolvida do mundo capitalista.
Ora, somos, agora, uma considerável potência
industrial [...] Isso supõe, portanto, [que deve-
mos empreender] um comércio exterior de novo
estilo, basicamente planificado e de Estado”.
nº 70, 1988.
PRIVATIZAÇÃO“A prestação desses serviços de utilidade pública
não evoluiu na mesma rapidez que a indústria e,
para recuperar esse atraso, serão necessários pe-
sadíssimos investimentos.” nº 70, 1988.
“O clamor levantado em torno da possível privatização dessas
atividades não pode ser descartado como questão irrelevante,
como assunto de meras preferências pessoais, porque nossa mar-
gem para opções tem limites estreitos.” nº 36, 1982.
REFORMA AGRÁRIA“A questão agrária brasileira é, no fundamental, um resultado da
penetração do capitalismo no campo. As antigas relações de pro-
dução vigentes no setor agrícola foram subvertidas.” n º 36, 1982.
“O fato de não ter havido reforma agrária significa, hoje, que a
economia está exposta a uma série de problemas de difícil solu-
ção [...] Mas a verdade, evidentemente, é que
não vamos fazer agora, nos anos 80, a refor-
ma agrária que não fizemos nos anos 30 [...]
Outra reforma terá que ser feita, mas conti-
nuamos a sonhar com a que não realizamos
em 30.” nº 70, 1988.
PENSAMENTOS GERAIS“Sempre que as mudanças objetivas das re-
lações de produção fazem surgir uma nova
classe social, a consciência de si mesma, que
essa nova classe tente a definir, costuma atra-
sar-se, em relação às condições objetivas que
a fazem surgir.” nº 28, 1981.
“A longo prazo, é certo, esse excedente [vindo do campo] encon-
trará emprego na indústria e nos serviços urbanos, porque este é
um imperativo universal. Mas, ao longo prazo, não chegaremos
senão através de curtos prazos e, no curto prazo, o problema
do emprego terá que encontrar uma solução, ainda que apenas
para possibilitar um compasso de espera.” nº 28, 1981.
Ace
rvo
JANEIRO | FEVEREIRO 20168
Quarenta anos para trás e para frente
Há 40 anos, a primeira Rumos de
1976 trazia como artigo inicial tex-
to escrito por Marcos Pereira Viana,
então presidente do BNDES. O autor
chamava atenção para os problemas de
infraestrutura urbana (água, esgotos,
vias de circulação e meios de transpor-
te), moradia e educação decorrentes
dos “dramáticos efeitos do processo
de urbanização” (p. 4). O artigo dizia
ainda: “Diante deste quadro, cabe aos
bancos de desenvolvimento... trans-
cende(r) o mero objetivo de expansão
da produção, abrangendo também a
aspiração de bem-estar da população,
a necessidade de exploração racional
dos recursos naturais, a preservação do
meio ambiente e a atenuação dos de-
sequilíbrios na distribuição espacial e
social da renda nacional” (Rumos nº 1,
set.-out., 1976, p. 5)
A citação parece desconcertante na
percepção de sua atualidade. Em qua-
renta anos nada teria mudado? Seriam
as grandes questões do desenvolvimen-
to brasileiro as mesmas? Ou seria o pró-
prio processo, em si, desestruturante,
de forma que os desequilíbrios se repro-
duzem? Qual a contribuição do Sistema
Nacional de Fomento (SNF) para essa
evolução no passado e para o futuro?
Sim, avançamos muito na agenda do
desenvolvimento. Para citar um único
dado, a proporção de pobres declinou
de 68,3% da população, em 1970, para
10,1%, em 2011, última atualização da
série longa (Rocha, 2013, p. 2). Esta
história foi possível, em larga medida,
graças à conjugação de políticas públi-
cas com a atuação do SNF. Em diversos
indicadores, portanto, ainda que permaneçam de-
safios, estes persistem em outros patamares.
Mas, não se trata apenas de magnitude – há
problemas que mudaram em sua natureza e
adicionaram complexidade. Este é o caso do
desafio da industrialização e do crescimento da
produtividade. Vivemos em um mundo onde,
paradoxalmente, há enormes avanços tecnoló-
gicos, mas a produtividade cresce pouco, global-
mente. Ademais, a dissociação entre indústria e
serviços é hoje certamente inviável – o que tor-
na distinto o desafio.
De forma semelhante, a “Quarta Re-
volução Industrial” está transforman-
do a natureza das firmas, das cadeias
de valor e as relações trabalhistas, im-
pondo novas questões. Como será asse-
gurado o trabalho digno e a assistência
social na era digital? Quais os desafios
exigidos na educação para este novo
mundo, marcado pela rápida difusão
das inovações? As tecnologias de In-
formação e Comunicação (TICs) per-
mitirão a integração de grandes redes
digitais (via “internet das coisas”), cada vez mais
abrangentes e com enorme potencial de aumento
de eficiência, de poupança de energia e de traba-
lho. Qual o papel do SNF para preparar o Brasil
para esta revolução?
NOVAS DEMANDASAlguns temas ganharam nova roupagem. Diante
do preocupante aquecimento global e dos com-
promissos internacionais firmados nos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS), as ques-
tões ambientais se tornaram uma agenda global e
urgente. Incorporou-se à dimensão ambiental, a
social, de forma que o conceito de sustentabilida-
de se tornou mais amplo. O mesmo ocorreu com o
conceito de desenvolvimento tecnológico, que foi
Sim, avançamos muito na agenda do desenvolvimento. Para citar um único dado, a proporção de pobres declinou de 68,3% da população, em 1970, para 10,1%, em 2011.
ARTIGO
RUMOS 9
LUCIANO COUTINHO
Presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social e
presidente da Asssembleia da ABDE.
ampliado para o de inovação. Estas mudanças se refletiram no
SNF. Fomentar a inovação, o desenvolvimento socioambien-
tal e o desenvolvimento regional são hoje temas transversais
no BNDES, isto é, a serem avaliados em todos os projetos.
Existem também desafios antes inexistentes. Em 1976,
éramos um país de jovens. A proporção de pessoas com 60
anos e mais em relação ao total da população, que era de 6,1
% em 1980, passou para 10,0 % em 2010 e chegará a 18,6 % em
2030 (IBGE). Será necessário repensar a infraestrutura ur-
bana, a saúde e a educação, apenas para mencionar os temas
mais relacionados ao SNF. Não menos importante, em 1976,
vivia-se uma ditadura. Hoje temos uma democracia madura,
que traz exigências de prestação de contas e transparência
também para o SNF.
Infraestrutura foi e continuará sendo prioridade do BN-
DES e do SNF, por suas características intrínsecas. Mas
há novas demandas, como a necessidade de investir maci-
çamente em telecomunicações de rede, sob o risco de ex-
clusão digital. O desafio do financiamento também mudou.
Diante das restrições fiscais do país, precisamos avançar na
criação de instrumentos que alavanquem parcerias com o
setor privado e novas formas de compartilhamento de ris-
co. Os problemas não se limitam ao financiamento, há pen-
dências regulatórias, de estruturação de projetos e necessi-
dade de planejamento.
Em suma, os desafios do desenvolvimento mudam em
magnitude e em complexidade, surgem novas questões e há
ainda desequilíbrios que emergem do próprio avançar.
O BNDES, ao longo de sua história, sempre buscou
responder aos mutantes desafios do desenvolvimento.
Os grandes temas permanecem, ainda que as questões a
serem respondidas mudem. Mas, outrora e sempre, acre-
ditamos, desenvolvimento requer: planejamento, criativi-
dade e determinação.
Referência:
ROCHA, S.: “Pobreza no Brasil – A Evolução de Longo Prazo
(1970-2011). XXV Fórum Nacional, 2013.
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Fonte: Reprodução, ROCHA, 2013, p. 2.
JANEIRO | FEVEREIRO 201610
ENTREVISTAS
Em nome dodesenvolvimento de longo prazoDiante de um Planejamento Estratégico recém-construído de forma
democrática e coletiva, a ABDE reafirma seu propósito de manter na
agenda pública o debate sobre o desenvolvimento do país e os possíveis
caminhos para que ele aconteça de forma sustentável e constante. Nas
páginas seguintes, a Rumos conversou com o presidente, Milton Luiz de
Melo Santos, e os vice-presidentes da associação, Marco Crocco e Ilton
Luís Schwaab, que apontam os principais desafios a serem enfrentados
para o fortalecimento do Sistema Nacional de Fomento.
Confira! POR JADER MORAES E THAIS SENA
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RUMOS 11
RUMOS – O objetivo principal do Sistema Nacio-
nal de Fomento (SNF), expresso em seu Planeja-
mento Estratégico, é ser o promotor da agenda de
fomento ao desenvolvimento, em diálogo com o
Congresso Nacional, em articulação permanente
com os diferentes níveis de governo, fortalecendo
as instituições de fomento de todo o país. Como
trabalhar para alcançar essa meta?
MILTON LUIZ DE MELO SANTOS – Temos
hoje um planejamento estratégico desenvolvido
com a participação de todas as instituições que
compõem o nosso sistema, e esse planejamento
vem num momento muito importante, na medi-
da em que se percebe claramente que o Brasil tem
o sistema financeiro nacional forte, capitalizado,
com um volume de recursos muito expressivo, mas
que, no entanto, uma grande parte de recursos que
poderia ser canalizada para financiar o desenvolvi-
mento do país, na prática, financia a dívida pública
federal. Então, o objetivo do Sistema Nacional de
Fomento em ser promotor da agenda de fomento
é extremamente nobre e esse planejamento estra-
tégico aponta algumas direções para que possamos
trabalhar no sentido de aperfeiçoar a governança
das Instituições Financeiras de Desenvolvimen-
to: melhorar a regulamentação dessas instituições,
para que possam executar determinadas operações
que hoje lhe são vetadas; atuar sobre a questão da
tributação, pois há uma incompatibilidade muito
grande no papel de uma agência de fomento ver-
sus o sistema tributário em vigor; ampliar as fon-
tes de capitalização é outro tema importante, uma
vez que essas instituições, para desempenharem
seu papel precisam ter operações de prazo mais
longo. Enfim, esses pontos passam por uma dis-
cussão muito séria e profunda sobre que modelos
podemos construir para melhorar o ambiente para
essas instituições de fomento ao desenvolvimento.
RUMOS – O estado de São Paulo é reconhecido por
deter mais da metade da produção científica do país e
o maior número de incubadoras. Na atual conjuntu-
ra econômica, na qual investir em inovação tornou-
-se uma questão de sobrevivência entre as empresas,
quais prioridades uma agência de fomento pode as-
sumir para alavancar o desenvolvimento local?
SANTOS – O papel de uma agência de fomento jun-
to às chamadas empresas inovadoras é fundamen-
tal. A agência identifica as empresas e os programas
que já existem, no tocante ao apoio a essas empresas
e, uma vez reconhecido esse ecoambiente de inova-
MILTON LUIZ
DE MELO SANTOS
Presidente da ABDE e da
Agência de Fomento de São
Paulo (Desenvolve SP)
MARCO CROCCO
1º Vice-presidente da
ABDE e presidente do
Banco de Desenvolvimento
de Minas Gerais (BDMG)
ILTON LUÍS SCHWAAB
2º Vice-presidente da
ABDE e Diretor de Micro
e Pequenas Empresas
do Banco do Brasil
ção (que envolve entidades governamen-
tais, as Fundações de Apoio à Pesquisa,
entre outras), é preciso que a agência de
fomento procure ser o elo entre as enti-
dades para desenhar linhas de financia-
mento e programas de apoio financeiro
a essas empresas, seja com recursos da
própria agência, de fundos de desenvol-
vimento ou ainda oriundos de repasses.
E não só o financiamento, mas também
com apoio sobre a forma de investimento
e capital de risco e a utilização dos fundos
de investimento em participações (FIPs),
em que as agências podem investir no ca-
pital dessas empresas inovadoras, levan-
do para elas um conceito de governança
moderna, de forma que possam acelerar
o seu desenvolvimento e, quem sabe mais
à frente, abrir o capital.
Na minha gestão na ABDE, esse tema
adquire uma relevância muito forte, por-
que noto, pela experiência em São Pau-
lo, que diferetnemente dos setores con-
vencionais da nossa economia, há um
outro setor – o das empresas inovado-
ras – que vem apresentando expressivo
crescimento em seus negócios, com um
desempenho extraordinário, agregan-
do um valor científico fantástico e que
precisa ter os instrumentos apropriados
para que que esses investidores consigam
sair do estágio de uma startup para o está-
gio, de uma empresa de governança mais
profissionalizada. Com o fortalecimento
do SNF, poderemos dar um passo mui-
to importante na modernização da nossa
economia de modo que essas empresas
venham incorporar conhecimento cien-
tífico, desenvolvimento tecnológico e ino-
vação de processos em todos seus siste-
mas. O que dará às nossas empresas, sem
sombra de dúvida, uma competitividade
de que hoje elas não dispõem.
Com o fortalecimento do Sistema Nacional de Fomento, poderemos dar um passo muito importante na modernização da nossa economia.
JANEIRO | FEVEREIRO 201612
MARCO CROCCO
RUMOS – O SNF tem o objetivo de construir uma agenda
positiva na imprensa para que o debate sobre o desenvolvi-
mento realmente esteja presente na sociedade. Como a co-
municação pode ser uma aliada para o sistema?
MARCO CROCCO – Sempre achei que o trabalho das ins-
tituições de fomento estaria facilitado se o debate sobre a
necessidade de intervenção ou não do Estado na economia
estivesse posto, e hoje este é um debate que está em vigor no
Brasil. A ABDE tem um papel nessa disputa, e a comunica-
ção é fundamental, porque o nosso trabalho vai estar mui-
to mais facilitado se a sociedade também entender o que é
uma instituição de fomento e como ela deve atuar; que ela
não deve ser horizontal, mas sim deve ter intencionalidade.
Esse é um diferencial em relação às organizações comer-
ciais, pois uma agência e um banco de desenvolvimento não
são somente ofertadores de crédito. Desenvolvimento eco-
nômico não é horizontal, pressupõe intencionalidade: tem
que ter setores prioritários (inovação, modernização, sus-
tentabilidade...) e definir a sua orientação, porque é isso que
é uma agência de desenvolvimento. A importância da comu-
nicação é que existe um debate hoje que as agências de fo-
mento e os bancos de desenvolvimento têm que participar e
a ABDE também. A questão de fundo desse debate é: o Esta-
do deve ou não deve atuar na economia? E a ABDE, como ór-
gão, pode influir nesse debate de várias formas: por meio de
uma pauta positiva junto à imprensa ou então dando supor-
te para os seus associados terem uma pauta no seu respec-
tivo estado. A comunicação é divulgar e disputar na socie-
dade o debate sobre a importância do Estado e de um banco
de desenvolvimento, de uma agência de fomento; no fundo,
a importância de o Estado ter intencionalidade econômica.
Então, a comunicação é fundamental e esse é o papel dela: a
ABDE tem que ser capaz de participar do debate nacional.
RUMOS – O senhor dirige um banco de desenvolvimento
estadual com mais de 50 anos de história, passando por di-
ferentes fases e estágios de desenvolvimento da sua região.
Qual o papel que o senhor credita às instituições públicas de
desenvolvimento em momentos como esse que o Brasil vive
hoje, de crise?
CROCCO – O momento atual é muito complicado. Dentro
do princípio que eu acredito que ABDE e um banco de de-
senvolvimento têm que ter, que é o Estado intervindo na
economia, o momento é menos propício para essa discus-
são, pois está contaminada. Concretamente, mais do que
nunca, depois de 2008 o mundo inteiro voltou a luz para o
papel dos bancos e das agências de fomento, porque podem
atuar no momento contracíclico. Estamos vivendo hoje no
Brasil uma situação bem complicada, porque o debate po-
lítico está mais árido, mais difícil para
aqueles que defendem uma interven-
ção da economia. Contudo, ponto de
vista prático, a solução é a participa-
ção das instituições do Sistema Nacio-
nal de Fomento. No momento de cri-
se, quando o setor privado recua, se vê
mais ainda a necessidade do Estado. Só
que no Brasil, e unicamente em nosso
país, tem essa névoa. No mundo, o de-
bate é outro.
Na Inglaterra, o partido conserva-
dor, da Margareth Thatcher, está mon-
tando um banco de desenvolvimento
para infraestrutura. A China montou
dois. A França recuperou o dela. A si-
tuação do Brasil é muito complexa,
mas o momento econômico favorece o
discurso das agências de fomento e dos
bancos de desenvolvimento.
Desenvolvimento econômico não é horizontal, pressupõe intencionalidade: tem que ter setores prioritários (inovação, modernização, sustentabilidade)...
RUMOS 13
ILTON LUÍS SCHWAAB
RUMOS – Os bancos federais já possuem relações com gran-
de parte dos demais agentes do Sistema Nacional de Fomen-
to. Como o senhor acredita que será possível expandir isso e
fortalecer a articulação entre todas as Instituições Financei-
ras de Desenvolvimento? Qual o ganho que isso poderia re-
presentar ao país e às próprias instituições?
ILTON LUÍS SCHWAAB – Os agentes do Sistema Nacional
de Fomento vinculados à ABDE desempenham, cada um na
sua esfera de atuação, um papel fundamental para a econo-
mia e para a sociedade brasileira. É por meio do apoio das
Instituições Financeiras de Desenvolvimento que são gera-
dos milhões de empregos, comunidades e empresas se de-
senvolvem e milhões de brasileiros são beneficiados por esse
círculo virtuoso. Por isso, o Banco do Brasil reconhece a im-
portância de unir forças com outras instituições para conso-
lidar o SNF e para alinhar os esforços em prol de iniciativas e
ações benéficas ao nosso país.
Especificamente no apoio às Micro e Pequenas Empresas
(MPEs), por exemplo, temos uma parceria de longa data com
o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social (BNDES). Desenvolvemos ações conjuntas
e nos apoiamos mutuamente em diversas iniciativas, que re-
sultaram em benefícios e melhores condições para as MPEs.
Da mesma forma, podemos estreitar o relacionamento em ou-
tras áreas e com os demais membros, planejando uma atuação
cada vez mais sinérgica e que contribua para a geração de em-
pregos, renda e desenvolvimento do país e das suas instituições.
RUMOS – Uma das ações das IFDs consiste no apoio ao desen-
volvimento regional. Como o Banco do Brasil pode atuar, em ar-
ticulação com os demais membros do SNF, nessa questão?
SCHWAAB – A capilaridade do Banco do Brasil (BB) favo-
rece a ampliação e democratização do acesso à rede bancária
e ao crédito, apoiando o desenvolvimento regional e local. A
nossa rede de atendimento atinge 99,7% das cidades brasi-
leiras. Atualmente, o BB conta com 5.424 agências bancárias,
representando 23,6% das unidades de atendimento do Sis-
tema Financeiro Nacional. Fruto da parceria do BB com os
Correios, o Banco Postal atua na prestação de serviços ban-
cários e está presente em 94% dos municípios, prestando
atendimento em 6.164 agências dos Correios. Os Correspon-
dentes Bancários do BB chegam a 8.235 unidades de atendi-
mento espalhados por todo o país.
No âmbito do acesso ao crédito, podemos citar algumas
iniciativas do BB que visam promover esse desenvolvimen-
to regional de forma mais direta. Por meio da estratégia Elos
Produtivos, por exemplo, o Banco do Brasil vem formalizando
parcerias com grandes líderes setoriais – empresas privadas
e entes públicos – visando oferecer me-
lhores condições de financiamento para
as micro e pequenas empresas que atu-
am como fornecedoras e prestadoras de
serviço nas cadeias produtivas, seja no
ramo da indústria automobilística, de
alimentos, de siderurgia e muitas outras.
O Banco do Brasil também oferece li-
nhas de crédito com recursos do Fundo
de Amparo ao Trabalhador (FAT) no âm-
bito do Programa de Geração de Empre-
go e Renda do Governo Federal (Proger),
que apoiam o financiamento dos inves-
timentos indispensáveis para as micro e
pequenas empresas se desenvolverem,
sendo possível financiar reformas, im-
plantação de benfeitorias, aquisição de
máquinas, equipamentos e veículos uti-
litários, etc. Para financiar projetos de
investimento de empresas que atuam
na região Centro-Oeste, o BB ainda dis-
ponibiliza linhas de crédito que utilizam
recursos do Fundo Constitucional de Fi-
nanciamento do Centro-Oeste (FCO),
possibilitando condições mais vantajosas
aos clientes. Assim, por meio da bancari-
zação e do apoio creditício, o BB pode al-
cançar todas as regiões do país, facilitando
a comunicação com os atores regionais e
movimentando a economia.
O Banco do Brasil reconhece a importância de unir forças com outras instituições para consolidar o SNF e para alinhar os esforços em prol de iniciativas e ações benéficas ao nosso país.
JANEIRO | FEVEREIRO 201614
EXPERTISE
O economista Hugo Kantis lidera um programa pioneiro na Universidade Nacional de General Sarmiento,
na Argentina, e publica o Índice de Condições Sistêmicas para o Empreendedorismo Dinâmico, que mede as
condições em cada país para o surgimento de empreendedores e de novas empresas com potencial de crescimento
e inovação. À Rumos ele comenta sobre as possibilidades e as dificuldades do Brasil e da América Latina para se
igualar aos países mais desenvolvidos do ranking. POR ANA REDIG
Condições para empreender
Kantis explica que o índice busca ser uma
bússola para orientar os países à ação
JANEIRO | FEVEREIRO 201614
Div
ulg
ação
RUMOS 15
Cerca de um terço (34%) dos brasileiros adultos
são empreendedores. É o que revela uma pesquisa
realizada em 2015 pela Global Entrepreneurship
Monitor, que acompanha, desde 1999, o papel do
empreendedorismo no desenvolvimento econô-
mico em vários países. Depois da casa própria
(41,9%) e de viajar pelo Brasil (2,0%), ter seu pró-
prio negócio é sonho de (31,4%) dos entrevistados.
Os números são, de fato, impressionantes e mos-
tram o potencial do empreendedorismo no Brasil.
Mas ter um líder criativo, com boas ideias e inicia-
tiva, é suficiente?
Para responder a esta e a outras perguntas sobre
o tema, a Rumos conversou com o especialista em
empreendedorismo dinâmico Hugo Kantis. Com
Ph.D. em Economia pela Universidade Autônoma
de Barcelona, ele tem mais de 20 anos de experiência
internacional em pesquisas e estudos sobre criação e
desenvolvimento de empresas na América Latina.
Em sua carreira, Kantis tem realizado assessora-
mento organizacional, concepção e avaliação de
programas de desenvolvimento empresarial para
organismos nacionais e internacionais, além de ter
dirigido alguns programas de formação de recur-
sos humanos para o desenvolvimento produtivo.
Hoje, ele lidera o pioneiro Programa de Desenvol-
vimento Empreendedor (Prodem), da Universida-
de Nacional de General Sarmiento, na Argentina,
que pretende desenvolver as capacidades empre-
endedoras em todos os sentidos.
O empreendedorismo pode ser compreendido
como qualquer tentativa de criar uma empresa ou
expandir uma já existente; instituir uma nova ati-
vidade autônoma ou mesmo uma nova atividade
econômica. O importante é que a iniciativa inove
para resolver um problema, atender a uma deman-
da, implementar um novo processo ou criar um
produto. Isso inclui as empresas recém-criadas
com líderes e equipes com vocação empreendedo-
ra e ambição de crescer. “Em geral são empresas
jovens – pequenas e médias – que projetam e pla-
nejam seguir crescendo de forma dinâmica, mas
encontram grandes desafios”, explica Kantis.
O empreendedorismo dinâmico vai além e en-
globa as condições necessárias para que projetos
com potencial de rápido crescimento iniciem ve-
lozmente sua transformação. “É preciso mais do
que sobreviver nos primeiros anos de vida, que
são os de maior risco de mortalidade. Por isso é
necessário criar um ecossistema favorável para
que a empresa recém-criada possa tornar-se uma
É necessário criar um ecossistema favorável para que a empresa recém-criada possa tornar-se competitiva, com potencial de seguir crescendo de forma significativa com base na diferenciação e na inovação.
pequena ou média empresa
competitiva, com potencial
de seguir crescendo de for-
ma significativa com base na
diferenciação e na inovação”,
afirma o economista.
O Prodem tenta dar uma
resposta a essa demanda so-
cial, gerando e transferindo
conhecimentos sobre o ecos-
sistema e o empreendimen-
to a partir de uma estratégia
metodológica baseada em
estudos e na própria experi-
ência de trabalho com os atores envol-
vidos. O modelo dá grande valor à parti-
cipação em redes e alianças com outras
instituições nacionais e internacionais,
profissionais e empreendedores, para
conseguir um melhor vínculo de ida e
volta entre o processo de construção de
conhecimento e a prática concreta.
Desde 2014, a equipe do Prodem
publica o Índice de Condições Sistê-
micas para o Empreendedorismo Di-
nâmico (ICSED-Prodem), construído
na Universidade Nacional de General
Sarmiento em parceria com o Banco
Interamericano de Desenvolvimento
(BID). O índice regional e o ranking in-
ternacional são construídos com base
em dez dimensões relevantes para o
surgimento de empreendedores e de
novas empresas com potencial de cres-
cimento e inovação – as melhores práti-
cas da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O ICSED-Prodem reflete os principais
fatores sociais, culturais, econômicos
e políticos que contribuem para com-
preender o cenário em relação ao em-
preendedorismo dinâmico e suas pers-
pectivas. Esses dados e suas análises
auxiliam na identificação das maiores
forças e fraquezas em cada um dos pa-
íses e na construção de uma agenda de
iniciativas para fomentar o empreende-
dorismo na América Latina.
A primeira dimensão e a mais essen-
cial é a existência de empreendedores ca-
pazes de construir propostas de valor:
TERCEIRO
FRAQUEZAS
DISTÂNCIA
O BRASIL NO RANKING INTERNACIONAL SOBRE EMPREENDEDORISMO DINÂMICO:
No ranking latino-
americano, está atrás de
Chile e México e na frente de
Costa Rica e Argentina, que
fecham o Top 5 da região
Sistema educacional
pouco orientado para a
educação empreendedora
e mercado interno
excessivamente regulado,
provável causa da menor
ambição de crescimento dos
empreendedores brasileiros
Mesmo os latinos mais bem
posicionados estão longe
dos primeiros no ranking,
encabeçado pelos Estados
Unidos, Finlândia e Singapura
JANEIRO | FEVEREIRO 201616
o capital humano empreendedor. Este é um dos
principais problemas dos países da América Lati-
na, inclusive do Brasil, já que o processo do surgi-
mento desses empreendedores é influenciado por
outras dimensões adotadas no Índice, como cultu-
ra e condições sociais das famílias onde as pessoas
nasceram e se formaram, que precisam ser favorá-
veis para o surgimento desse empreendedor. O sis-
tema educativo ao qual ele está conectado também
precisa prepará-lo para que seja capaz de construir
propostas de valor. Para fechar o complexo ecos-
sistema empreendedor ainda é necessário acesso a
financiamentos e a capital social para nascer, se de-
senvolver e expandir. Políticas e regulações claras
criam o ambiente seguro necessário para que tudo
flua sem sustos. “Os empreendimentos dinâmicos
são os que têm a maior capacidade de criar empre-
gos de qualidade e ajudar a diversificar a estrutura
produtiva da região”, destaca.
FORÇAS E FRAQUEZASO Chile é o país da região com as melhores condi-
ções sistêmicas para o empreendedorismo dinâ-
mico. Em seguida estão o México, o Brasil, a Costa
Rica e a Argentina, formando os Top 5 do ranking
da América Latina. Contudo, mesmo os países
mais bem posicionados da região se encontram
longe dos primeiros lugares no ranking interna-
cional, encabeçado pelos Estados Unidos, Finlân-
dia e Singapura. Kantis observa, entretanto, que o
lugar de cada país no ranking não é o mais impor-
tante. “O Índice pretende ser uma bússola que nos
oriente para a ação. Por isso foi estruturado pen-
sando em governos, universidades, incubadoras e
aceleradoras, investidores e outros atores que in-
tegram este ecossistema”.
O economista explica que o nível de condições
sistêmicas para o empreendimento nos diferentes
países está profundamente correlacionado com
seu grau de desenvolvimento e, em geral, os mais
desenvolvidos são também os que têm melhores
condições sistêmicas para empreender e vice-ver-
sa. O terceiro lugar entre os países latino-america-
nos não deixa o Brasil “bem na foto”. Longe disso,
há um longo caminho a percorrer. “Eu não diria
que o Brasil deva aprender com o Chile ou com o
México, dado que é um país com uma enorme ri-
queza, uma trajetória impressionante e condições
culturais que valorizam o empreendedor. Por ou-
tro lado, o tamanho não pode ser sua única for-
ça, enquanto estes países estão em vantagem por
terem uma maior base de
ciência e tecnologia ou um
tecido industrial mais for-
te”, orienta Kantis. Para ele,
preocupa o atraso do Brasil
em relação a esses países no
que diz respeito a um siste-
ma educacional orientado
para a educação empreende-
dora. Além disso, o mercado
interno brasileiro é excessi-
vamente regulado, provável
causa da menor ambição de
crescimento dos empreendedores brasileiros re-
gistrado na pesquisa. “É possível que isso mude
ante a situação atual da economia brasileira”, con-
sidera o economista.
Kantis explica que a liderança do Chile no
ranking regional está claramente ligada a uma po-
lítica de empreendedorismo proativa, à adequação
das normas e regulamentos às necessidades dos
empreendedores naquele país e ao desenvolvi-
mento de uma indústria de capital empreendedor
(venture capital). Ele diz que, em geral, os países
da América Latina costumam ocupar posições da
metade inferior na “Copa do Mundo” do empre-
endedorismo dinâmico em grande parte porque
há mais investimentos nos países desenvolvidos
em plataformas de ciência e tecnologia, tanto por
parte dos governos como das empresas. “Nas so-
ciedades mais intensivas em conhecimento isso é
crucial”, observa.
Outra característica que coloca os países lati-
no-americanos em desvantagem é a dificuldade
de acesso à educação, especialmente a de nível su-
perior. Também há menos empreendedores com
ambição e potencial de crescimento na região, e
os que existem enfrentam dificuldades para esta-
belecer e formar redes necessárias para acessar
um empresário ou investidor. “O networking é
fundamental, pois ninguém investe em quem não
confia”, comenta.
POLÍTICASA falta de estrutura empresarial e a dificuldade
de acesso a financiamentos são dificuldades mais
comuns para a maioria dos países da região, in-
clusive para os três líderes, Chile, México e Brasil,
apontando para a necessidade de implementar
políticas e regulações capazes de contribuir com
o empreendedorismo. “As políticas empresariais
O nível de condições para o empreendimento está profundamente correlacionado com o grau de desenvolvimento dos países. Em geral, os mais desenvolvidos são também os que têm melhores condições sistêmicas para empreender e vice-versa.
RUMOS 17
se caracterizam pela necessidade de envolver di-
ferentes atores, tanto em sua formulação como em
sua implementação. Não só os governos, mas tam-
bém as universidades, incubadoras e aceleradoras,
os investidores, as instituições financeiras, as enti-
dades empresariais e os jovens empresários devem
contribuir para que sejam estabelecidas normas
específicas (habilitações e permissões, impostos e
regulações para o comércio exterior) mais amigá-
veis ao empreendedorismo,” sugere Hugo Kantis.
Entre os avanços observados na América Latina
está o aumento do espaço na educação empreende-
dora nas universidades. Um estudo do ecossistema
no Brasil, Chile e Argentina realizado pelo Prodem
indica que pouco mais de um terço dos empreen-
dedores tiveram algum curso de empreendedoris-
mo na universidade. “Mais de 60% deles afirmou
que isso foi relevante para desenvolver suas capa-
cidades empreendedoras, diferentemente do que
ocorria na década passada, quando poucos empre-
endedores reconheciam a importância do aporte
das universidades. Não obstante, esses esforços
dependem, ainda, de iniciativas pessoais dos pro-
fessores e, com frequência, as metodologias de en-
sino utilizadas são pouco inovadoras. É nisso que
precisamos investir”, observa Kantis.
A cultura está entre as áreas em que os países latinos se destacam, afirma o especialista.
Div
ulg
ação
Segundo a pesquisa, os países latino-americanos investem, em média,
por aluno apenas um terço dos recursos desembolsados pelos países es-
candinavos, que lideram essa dimensão no ranking. O investimento no
ensino médio e superior fica em torno da metade do apurado na esfera
internacional. “Com esses dados fica muito claro observar a desvanta-
gem dos países latino-americanos na educação empreendedora em re-
lação a países como Coreia, Estados Unidos e Finlândia, cujas taxas de
acesso à educação são muito mais elevadas”, aponta Hugo Kantis.
O especialista destaca que esta é uma questão muito relevante se qui-
sermos formar uma sociedade empreendedora e avisa que mudanças no
sistema educacional incluem capacitar os professores em metodologias
específicas e contar com materiais adequados. Também é preciso fazer
mudanças na formação desses docentes, para que estes possam se con-
verter em verdadeiros agentes de transformação. “É importante traba-
lhar, com docentes e autoridades, preconceitos ideológicos que costu-
mam gerar resistências e bloquear a possibilidade de avançar no campo
da educação empreendedora”, alerta Kantis.
RANKINGAs condições da demanda e a cultura são as dimensões que registraram
os menores gaps em relação aos países que lideram o ranking interna-
cional. A cultura vem evoluindo de maneira positiva e atualmente os
empreendedores são bem-vistos e valorizados na maioria dos países,
incidindo favoravelmente sobre o desejo de empreender das pessoas. Os
empreendedores brasileiros são, em geral, caçadores de oportunidades
que seguem sua paixão por inovar e crescer.
A América Latina também vem se beneficiando das boas condições da
demanda que, em geral, têm estado associadas ao aumento dos preços in-
ternacionais dos principais bens exportados e à expansão das classes mé-
dias. Segundo o estudo do Banco Mundial, a classe média – pessoas com
renda per capita entre US$ 10 e US$ 50 ao dia – na América Latina cres-
ceu 50% entre 2003 e 2009, passando de 100 milhões para 150 milhões
de pessoas, ou um terço da população. A previsão para 2030 é de que 42%
da população latino-americana integre essa faixa. “Para que a população
que veio engrossar a ‘nova classe média’ se constitua em uma plataforma
fértil para o surgimento de novos empreendedores dinâmicos, é necessá-
rio que melhore, junto com os ingressos, seu acesso à educação de quali-
dade e ao capital social”, aconselha Hugo Kantis.
O economista informa que já estão surgindo, na região, iniciativas de
aceleração e fundos de investimento que podem contribuir para melho-
rar o acesso ao financiamento e ao capital social com mentores e inves-
tidores. Ainda que de forma incipiente, algumas empresas também já
estão começando a apostar na inovação e no empreendedorismo. Por
outro lado, a maioria dos governos está apoiando empreendedorismo
com capital semente, enquanto apenas alguns apostam em um menu
mais amplo. “Estou certo de que o Brasil pode fazer com que as empre-
sas e instituições de Ciência & Tecnologia se convertam em uma fonte de
oportunidades para o empreendedorismo inovador, com programas de
empreendedorismo corporativo e inovação aberta, em que as ideias e o
conhecimento se encontram com empreendedores capazes de dar solu-
ções a diferentes desafios”, espera.
JANEIRO | FEVEREIRO 201618
EMPREENDER
Crédito para quem precisa: a vez dos pequenos negócios Enquanto negocia com o BNDES a criação de novos produtos para os pequenos
negócios, o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, reafirma nessa
entrevista a importância desses empreendimentos para a economia brasileira,
uma vez que empregam mais da metade dos trabalhadores com carteira
assinada e respondem por 27% do PIB nacional. POR THAIS SENA E JADER MORAES
RUMOS 19
GUILHERME AFIF
DOMINGOS
Presidente do Sebrae
Nacional. Foi ministro-
chefe da Secretaria
da Micro e Pequena
Empresa da Presidência
da República entre maio
de 2013 e setembro de
2015. Entre 2011 e 2014,
foi vice-governador de
São Paulo. Já ocupou
várias secretarias de
governo do estado de
São Paulo, foi presidente
da Confederação das
Associações Comerciais
do Brasil (CACB),
da Federação e da
Associação Comercial
de São Paulo (Facesp e
Acsp). Foi candidato à
Presidência da República
em 1989.
RUMOS – Ainda que tenha tido mu-
danças recentes, ainda são grandes
os desafios que os pequenos negócios
enfrentam. Se pudesse apontar um de-
safio a ser superado neste momento,
qual seria a prioridade?
GUILHERME AFIF DOMINGOS –
Crédito. Os pequenos negócios preci-
sam de crédito para manter o capital
de giro e sobreviver gerando emprego
e renda. No atual cenário econômico,
isso é essencial para continuar fazendo
a roda girar. O Brasil hoje tem um dos
sistemas financeiros mais concentrados
do mundo. O micro e o pequeno empre-
sário têm imensa dificuldade em lidar
com o sistema financeiro que está volta-
do principalmente para as grandes em-
presas. Talvez seja esse o grande desafio.
RUMOS – O que falta para financiar os
empreendedores: mais recursos, novos
produtos, ampliação da rede de institui-
ções financeiras? E a criação de uma li-
nha de crédito especial para micro e pe-
quenas junto ao BNDES, como o senhor
avalia essa proposta?
AFIF – Estamos negociando com o
BNDES para lançar produtos voltados
para os pequenos negócios. Já consegui-
mos acabar com a exigência do registro
em cartório de contratos de emprésti-
mo para pequenos empreendimentos.
Isso vai gerar uma economia de R$ 2
mil para cada operação de financiamen-
to que uma micro ou pequena empresa
fizer. Também estamos pedindo a cria-
ção de linhas de crédito pulverizadas e
voltadas para as micro e pequenas em-
presas, em especial, as que faturam até
R$ 360 mil por ano. Os juros devem
Os pequenos negócios estão perto da casa oudo trabalho de todos nós. Eles promovem a circulação de pessoas e dinheiro nos bairros
Ren
ata
Cas
tello
Bra
nco
JANEIRO | FEVEREIRO 201620
ficar entre 15% e 18% ao ano, bem
abaixo dos praticados no mercado.
Os principais alvos são o Cartão
BNDES, produto voltado à conces-
são de financiamento para micro e
pequenas empresas, e o Programa
BNDES de Apoio ao Fortalecimen-
to da Capacidade de Geração de
Emprego e Renda (Progeren), des-
tinado a capital de giro.
RUMOS – Como as Instituições
Financeiras de Desenvolvimento
(IFDs) podem trabalhar para se
aproximar dos pequenos empreen-
dedores?
AFIF – Estamos trabalhando em
uma proposta, apresentada na
ABDE, de direcionar parte dos re-
cursos do Fundo de Aval às Micro
e Pequenas Empresas (Fampe),
criado pelo Sebrae, para projetos
de desenvolvimento e inovação
das micro e pequenas empresas.
Instituições como BNDES, BNB
e BDMG, entre outras, priorizam
projetos e financiamentos de maior
prazo. A prioridade à ampliação do
crédito e de garantias aos peque-
nos negócios é parte central desse
planejamento, e será buscado por
meio da integração entre os diver-
sos instrumentos financeiros das instituições financeiras e
agências de fomento associadas à ABDE.
RUMOS – A pesada carga tributária é uma das principais re-
clamações dos pequenos negócios, como o que vem aconte-
cendo com a nova regra do ICMS. O SuperSimples veio para
ajudar nessa questão, entretanto, outros ajustes precisam ser
feitos. O que mudar?
AFIF – Precisamos aprimorar ainda mais o Simples, aumen-
tar o teto de faturamento e criar uma rampa de crescimento
gradativa para os pequenos negócios não se virem obrigados
a sair de repente de um sistema simplificado de tributação
e cair em outro mais complexo. Está pronto para ser votado
no Plenário do Senado o Projeto de Lei Complementar PLC
125/2015, que estamos chamando de Crescer sem Medo. O
projeto prevê a ampliação dos tetos de faturamento e a apli-
cação de uma progressão de alíquota como a já praticada no
Imposto de Renda de Pessoa Física, ou seja, quando uma
empresa exceder o limite de faturamento da sua faixa a nova
alíquota será aplicada somente no mon-
tante ultrapassado. O Projeto também
prevê a criação da Empresa Simples de
Crédito (ESC), que serão empresas que
poderão emprestar dinheiro para os pe-
quenos negócios de sua cidade.
RUMOS – Como os pequenos negócios
podem ajudar na economia brasileira
para que se mantenha um desenvolvi-
mento sustentável de longo prazo?
AFIF – Hoje, os 10,6 milhões de peque-
nos negócios existentes no Brasil re-
presentam 95% dos empreendimentos,
empregam 52% da população que tem
carteira assinada e respondem por 27%
do Produto Interno Bruto (PIB) nacio-
nal. Eles estão em todos os lugares e mo-
vimentam a economia local. Os peque-
RUMOS 21
Os pequenos negócios precisam de crédito para continuar sobrevivendo e gerando emprego e renda. No atual cenário econômico, isso é essencial para continuar fazendo a roda girar.
Cha
rles
Dam
asce
no
*Outros 1% - Arte: Noel Joaquim Faiad. Fonte: Movimento Compre do Pequeno Negócio/Sebrae.
nos negócios estão perto da casa ou do
trabalho de todos nós. Eles promovem a
circulação de pessoas e dinheiro nos bair-
ros e geram possibilidade de ganhos para
outros negócios já instalados ou mesmo
para a abertura de novas empresas.
RUMOS – O senhor assumiu, de for-
ma voluntária, a presidência do Conse-
lho Deliberativo do Programa Bem Mais
Simples Brasil. Há uma convergência en-
tre as duas agendas (a do Programa e a do
Sebrae). Como fazê-las caminhar?
AFIF – Vou levar adiante os projetos no
Sebrae e cuidarei também do Bem Mais
Simples, cujas pautas são convergentes:
desburocratizar a vida da população e
de negócios. As diretrizes do Bem Mais
Simples Brasil são: eliminar exigências
que ficaram obsoletas com a tecnologia;
unificar o cadastro e a identificação do
cidadão; dar acesso aos serviços públicos
em um só lugar; guardar informações do
cidadão para consulta; e resgatar a fé na
palavra do cidadão, substituindo docu-
mentos por declarações pessoais. Esses
objetivos são muito parecidos com os
que o Sebrae tem realizado em relação às
micro e pequenas empresas.
JANEIRO | FEVEREIRO 201622
Capital humanoO desemprego é o maior mal que corrói qualquer
sociedade. Cada vez que um indivíduo que pode e
quer trabalhar não encontra emprego, sente-se
excluído. A situação é ainda pior quando o desem-
prego se prolonga e ele perde o “capital humano”
que incorporou no simples ato de trabalhar: vai-
-se com o tempo a sua expertise, superada pelo
avanço tecnológico. No fim de cada dia de procu-
ra ele perdeu um pedaço da sua identidade e vê a
destruição da família.
A economia brasileira resistiu por um quin-
quênio à dramática redução das oportunidades
de trabalho que atingiu boa parte do mundo em
seguida à crise financeira de 2009. Em 2015,
o Brasil deixou de ser uma exceção, com o cor-
te mais forte de postos de trabalho no setor in-
dustrial, mas logo sem poupar os demais. Neste
início de 2016, estamos numa situação extre-
mamente delicada: ambos – o Brasil e o mundo
– perdemos tração. Estamos diante da urgente
necessidade de corrigir distorções produzidas
por um “pensamento mágico” desatento às restri-
ções físicas deste mundo, às identidades da Conta-
bilidade Nacional e à “regra de três”, que procurou
a redistribuição continuada de bens que não foram
produzidos. O desejado desenvolvimento econô-
mico com inclusão tem como condição necessária
simultânea o aumento da produtividade do traba-
lhador, que depende de uma miríade de fatores: os
mais importantes são o capital físico, que incorpo-
ra avanços tecnológicos, e o conhecimento para
bem utilizá-lo de que se dota cada trabalhador.
O que isso impõe? Que qualquer que seja o regime
da organização social e da economia nela inserida, ele
tem que harmonizar a distribuição do que foi produ-
zido entre: 1) o que se destina à satisfação imediata de
suas necessidades (o consumo e o bem-estar da popu-
lação); e 2) o que se destina a aumentar a quantidade e
a qualidade do capital físico (máquinas, infraestrutura)
operado pelo capital humano (educação, saúde). A lei
de Helmut Schmidt é incontornável: é o investimento
de hoje que produzirá o crescimento de amanhã e cria-
rá a oportunidade de emprego
de depois de amanhã.
Os resultados da Pesqui-
sa Nacional por Amostra de
Domicílio (PNAD), divul-
gados neste ano pelo IBGE,
são alarmantes. A taxa de
desemprego atingiu 8,9% no
terceiro trimestre de 2015
(um aumento de 30% sobre
o seu homólogo de 6,9% no triênio 2012-14), em
resposta a uma queda do PIB de 4,5% no mesmo
período. O Brasil corre o risco de ter 10 milhões de
desempregados em março deste ano: Não dá para
esperar mais!
É fundamental que o Executivo e o Legislativo
incorporem o senso de urgência e trabalhem para
restabelecer a “confiança” entre eles e o respeito
da sociedade, sem o qual não haverá crescimento e,
com ele, a recuperação do emprego.
Uma das medidas estruturais para acomodar
as flutuações do emprego ínsitas no capitalismo
é autorizar a plena validade do entendimento
direto entre comitês de fábrica e empresários
sob a vigilância dos sindicatos (que têm muito a
aprender). O que se propõe é que trabalhadores e
empresários possam discutir – com informações
relevantes, de forma livre e transparente – qual
a melhor forma de obter uma distribuição mais
“justa” dos ganhos e dos inconvenientes da flu-
tuação da conjuntura, respeitando a segurança,
a estabilidade e os direitos constitucionais de
ambas as partes. Por si mesmo, tal entendimen-
to aumentará o bem-estar de todos e mitigará as
próprias flutuações da conjuntura.
ANTONIO DELFIM NETTO
Professor emérito da Faculdade
de Economia, Administração e
Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro
da Fazenda, da Agricultura e do
Planejamento.
É fundamental que o Executivo e o Legislativo incorporem o senso de urgência e trabalhem pararestabelecer a “confiança”entre eles e o respeito da sociedade.
OPINIÃO
Mar
celo
Co
rrea
RUMOS 23
O debate continua
Nas páginas seguintes publicamos mais dois
artigos participantes do Prêmio ABDE-BID
de Monografias sobre o Sistema Nacional
de Fomento – edição 2015. Desta vez, serão
apresentados resumos dos trabalhos classi-
ficados na segunda colocação em cada uma
das categorias, “Financiando o Desenvol-
vimento” e “Melhores Práticas do Sistema
Nacional de Fomento”.
O primeiro texto é sobre a experiência
dos convênios operacionais no Banco Re-
gional de Desenvolvimento do Extremo Sul
(BRDE). Escrito por Eversão Leão, Mateus
Müller e Nicolas Suhadolnik, o trabalho
premiado analisa os principais resultados
obtidos pela instituição entre 2005 e 2014
com a estruturação desses convênios, com
uma série de indicadores que demonstram
o êxito da estratégia.
Já o artigo de Fabio Biagini e Filipe Bor-
sato da Silva, do Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico e Social (BNDES),
trata do capital de risco e do desenvolvi-
mento de empresas de base tecnológica
no Brasil. No texto, há o relato sobre a im-
portância dos Fundos Criatec, criados pelo
banco para apoiar esse segmento que tem se
desenvolvido de forma crescente no país.
NOVIDADESEm 2016, o prêmio chega
à sua terceira edição com
uma grande novidade:
antes restrito à participa-
ção de funcionários das
instituições associadas à
ABDE, a partir deste ano,
qualquer pessoa interes-
sada poderá inscrever seu
trabalho. A categoria I,
“Desenvolvimento em De-
bate”, será aberta a mem-
bros de universidades,
instituições de pesquisa e
interessados na temática.
A categoria II, que tem como tema “Financiamento: de-
safios e soluções”, segue exclusiva para empregados das
instituições de fomento associadas, mas também conta com
novidades. Os trabalhos serão divididos em dois grupos – o
primeiro reunirá os bancos públicos federais, bancos coope-
rativos, Finep e Sebrae; e no outro, os bancos de desenvol-
vimento controlados por estados da federação, os bancos
públicos comerciais estaduais com carteira de desenvolvi-
mento e as agências de fomento.
O edital e demais informações estão disponíveis em www.
abde.org.br. As inscrições começaram em 1º de março e se es-
tendem até 25 de julho. Participe!
O edital do PrêmioABDE-BID e demais informações estão disponíveis em www.abde.org.br. Participe!
PRÊMIOB
runo
Mo
rgad
o
Vencedores da edição 2015 participam da Cerimônia de Entrega do Prêmio.
JANEIRO | FEVEREIRO 201624
Alianças para o desenvolvimentoAs alianças estratégicas, estabelecidas sob a forma
de Convênios Operacionais, foram fundamentais
para o Banco Regional de Desenvolvimento do
Extremo Sul (BRDE) conquistar reconhecimento
e uma posição de destaque entre as instituições
integrantes do Sistema Nacional de Fomento
(SNF). A experiência de Convênios Operacionais,
iniciada há mais de 20 anos pelo BRDE, permitiu,
entre outros benefícios, maior capilaridade e “in-
teriorização” na oferta de crédito de longo prazo
em toda sua região de atuação.
Os Convênios Operacionais têm como objeti-
vo principal o desenvolvimento de ações conjun-
tas buscando o suprimento de recursos fi nancei-
ros para o atendimento da demanda de crédito
dos associados, integrados e clientes dos parcei-
ros envolvidos. Os recursos são direcionados para
o fi nanciamento da aquisição de máquinas, equi-
pamentos, implementos agrícolas, ônibus e cami-
nhões. Além disso, são atendidas solicitações para
o fi nanciamento de projetos de investimentos, in-
cluindo a construção e modernização de benfeito-
rias e instalações agropecuárias e industriais, com
destaque para a avicultura, suinocultura e pecuá-
ria leiteira, em sistemas integrados de produção.
Por meio de mecanismos de cooperação entre os
agentes envolvidos, os convênios conseguem atin-
gir a quase totalidade dos municípios da Região
Sul, incluindo diversas áreas com baixo grau de
desenvolvimento, que enfrentam obstáculos para
acesso ao crédito nos canais tradicionais ofereci-
dos pelas instituições fi nanceiras.
Desde o início da operacionalização até 2014,
foram contratadas 89.435 operações de crédi-
to pelos Convênios Operacionais, no valor de R$
4,44 bilhões. Deste total, mais da metade, 58% do
valor contratado, foi direcionado para o Paraná.
Esse resultado pode ser explicado, em parte, pela
presença de cooperativas de crédito e produção
agropecuária que apresentam longo histórico de
relacionamento com o BRDE neste estado e, além
disso, ocupam lugar de destaque no sistema coope-
rativista nacional. Já em Santa Catarina, uma parcela considerável do va-
lor total contratado foi direcionada para as MPMEs, com destaque para
o setor de comércio e serviços. No Rio Grande do Sul, as cooperativas de
crédito assumem o protagonismo nas parcerias estabelecidas, e mais os
convênios fi rmados com fabricantes e distribuidores autorizados de má-
quinas e equipamentos. Apesar das particularidades observadas na cons-
tituição e operacionalização em cada estado, os convênios estão em per-
feita sintonia com a missão do BRDE.
Como principais elementos que contribuem para o sucesso e manu-
tenção das alianças estabelecidas, podemos destacar: o interesse co-
mum no desenvolvimento econômico e social em suas regiões de atua-
ção; o reconhecimento do crédito como instrumento indispensável para
a obtenção de níveis de produtividade e qualidade compatíveis com as
necessidades de maior competitividade no mercado nacional e inter-
nacional; a ampliação dos limites operacionais junto aos provedores de
funding; a redução do custo efetivo total das operações para os mutuá-
rios; e o desenvolvimento e compartilhamento de conhecimento técni-
co entre os parceiros. Para o BRDE, os Convênios Operacionais foram
essenciais para consolidar sua atuação como agente de fomento à agri-
cultura familiar e aos sistemas integrados de produção agropecuária na
Região Sul, contribuindo, dessa forma, para a geração de renda e aumen-
to do bem-estar das famílias.
NICOLAS SUHADOLNIK
Mestre em Economia pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e Ana-
lista da Gerência de Produtores Rurais e
Convênios do BRDE.
Todos trabalham na Agência do Paraná do BRDE.
MATEUS MÜLLER
Economista pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e Analista da
Gerência de Planejamento do BRDE.
EVERSON LEÃO
Mestre em Economia pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR) e Gerente
Adjunto de Operações – Micro e Pequenas
Empresas do BRDE.
PRÊMIO
Div
ulg
ação
RUMOS 25
A Experiência dos Fundos Criatec O mercado internacional de capital de risco surgiu
e se desenvolveu para preencher a lacuna do siste-
ma financeiro que não era suprida nem pelo crédi-
to tradicional nem pela capitalização por meio de
listagem em bolsa de valores. O termo capital de
risco se refere a todos os investimentos em partici-
pações negociados privadamente em empresas não
listadas em bolsas de valores.
O BNDES é reconhecido como um impulsiona-
dor relevante do crescimento da indústria de capi-
tal de risco no Brasil e, até o final de 2014, a sua car-
teira de fundos de investimento era composta por
34 fundos, dos quais 19 eram de Seed Capital e Ven-
ture Capital e os outros 15 eram de Private Equity.
Os fundos voltados para inovação apresentam o
maior número de empresas investidas indireta-
mente pela BNDESPAR, respondendo por quase
50% da sua carteira. O patrimônio comprometido
nesses 34 fundos totalizava, ao final de 2014, R$
2,51 bilhões, sendo o banco o investidor institucio-
nal nacional com a carteira mais relevante de fun-
dos de Seed Capital e Venture Capital. Os fundos
atualmente ativos e acompanhados pela BNDES-
PAR aprovaram aportes em mais de 200 empresas e
investiram efetivamente em mais de 160 empresas.
Verifica-se que, se no Brasil a obtenção de recur-
sos financeiros para realização de investimentos em
geral é algo difícil, para as empresas de base tecnoló-
gica são ainda mais escassos. Nesse sentido, institui-
ções e agentes do setor público possuem uma função
importante ao direcionarem capital para segmentos
em que ocorre maior escassez de recursos, como o
desenvolvimento de empresas de base tecnológica.
Dessa forma, o Fundo Criatec se insere em um con-
texto de evolução da atuação do BNDES, tendo como
uma de suas principais características o fato de co-
brir uma clara lacuna de recursos existente para os
estágios mais incipientes do setor, notadamente o
capital semente. A construção de um circuito virtu-
oso para utilização do capital de risco no fomento
ao desenvolvimento tecnológico, associado à inova-
ção e empreendedorismo, é uma iniciativa de longo
prazo, cabendo o reconheci-
mento de que as iniciativas
públicas nesse sentido pos-
suem grande importância.
O BNDES iniciou, em 1995,
seu apoio à estruturação de
fundos fechados destinados
à realização de investimentos na forma de subscrição pela BNDESPAR de
valores mobiliários. O conhecimento adquirido pela equipe do banco nesse
período serviu como importante insumo para a estruturação de um novo
modelo para atuação na participação nos fundos de capital semente mate-
rializada no lançamento do Programa Criatec, em 2007.
O Fundo Criatec I inovou ao se configurar como um fundo de capital
semente nacional com presença física em diversos polos regionais de
inovação, sendo capaz de unir prospecção ampla de empresas de base
tecnológica, diversificação de riscos, diluição de custos e proximidade
das empresas investidas. O sucesso desse fundo levou o BNDES a lançar
o Fundo Criatec II, em 2013, e o Criatec III, no início de 2016. Os patri-
mônios comprometidos dos três Fundos da Série Criatec ao serem soma-
dos chegam a cerca de R$ 500 milhões. O fomento ao desenvolvimento
de empresas inovadoras com alto potencial de crescimento e com prá-
ticas de governança transparentes é de fundamental importância para a
constituição de um país mais competitivo e com melhores oportunida-
des para seus cidadãos. Nesse sentido, os produtos financeiros tais como
os fundos da série Criatec permitem que os empreendedores de alto im-
pacto e os pesquisadores desenvolvam empresas de alta tecnologia, mes-
mo em locais de menor atividade econômica no Brasil, contando com o
suporte financeiro e gerencial.
FILIPE BORSATO DA SILVA
Mestre em Finanças pela PUC-Rio, com
MBA em Gestão Internacional pela Uni-
versité Pierre-Mendés-France e engenhei-
ro de Telecomunicações pela UFF.
FABIO LUIZ BIAGINI
Mestre em Finanças pela PUC-Rio, com
MBA em Engenharia Econômica pela
UFRJ.
Os produtos financeiros tais como os fundos da série Criatec permitem que os empreendedores de alto impactoe os pesquisadores desenvolvamempresas de alta tecnologia.
Ambos trabalham na Área de Capital Empreendedor do BNDES.
Div
ulg
ação
JANEIRO | FEVEREIRO 201626
Em 1961, diante de um cenário de desafios econômicos e desigualdades
regionais, os governadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do
Paraná se uniram e criaram o Banco Regional de Desenvolvimento do
Extremo Sul (BRDE). A ideia de prover o desenvolvimento dos três esta-
dos com uma instituição de fomento, que foi rejeitada por alguns críticos
políticos, deu certo.
Hoje, 55 anos depois, o BRDE pode contar uma história de parce-
rias com o setor público ou privado na promoção de desenvolvimen-
to. Em foco está o bem-estar da sociedade, a prestação de serviços
públicos qualificados, a distribuição de riqueza e a sustentabilidade
ambiental.
Milhares de empregos foram gerados, com diferentes linhas de financia-
mento, juros e prazos. Um dos norteadores da instituição é sempre buscar
alternativa de aplicação de recurso que gere o menor custo para o tomador
e os melhores benefícios para a sociedade. Nesses 55 anos, cativou fontes de
Uma instituição de desenvolvimento para três estados, o
Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) completa,
em 2016, 55 anos de trajetória pioneira no fomento ao
desenvolvimento do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. POR DANILE REBOUÇAS
financiamentos, aumentou o patrimônio e ganhou
posição entre os 30 maiores bancos do Brasil.
Em 2014, o BRDE encerrou o ano com mais de
33 mil clientes ativos, em 1.059 dos 1.191 municí-
pios da região sul. No ranking do Sistema do Ban-
co Nacional de Desenvolvimento (BNDES), neste
mesmo ano, o BRDE ficou na nona posição entre os
76 agentes financeiros credenciados que operam
com recursos do banco federal. Na região Sul, de
55 agentes financeiros operando, o BRDE ocupou
a quarta posição no ranking.
A HISTÓRIATudo começou na década de 1960, quando a região
Sul não acompanhava o ritmo de industrialização
do Brasil, que vivia os efeitos desenvolvimentistas
do governo de Juscelino Kubitschek, com a criação
do BNDES e da Petrobras. O cenário estimulou os
governadores – Leonel Brizola (RS), Ney Braga
(PR) e Celso Ramos (SC) – a desenvolver a implan-
tação de um banco de fomento.
REPORTAGEM
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Uma história pioneira
RUMOS 27
Em março de 1961, em reunião dos governadores com o presidente do
Brasil, Jânio Quadros, apresentou-se a ideia do Banco Regional de De-
senvolvimento do Extremo Sul. O presidente aprovou e determinou o
início dos projetos e estudos técnicos.
Em 15 de junho, os governadores assinaram o convênio que cria o
Conselho de Desenvolvimento do Extremo Sul (Codesul) e o BRDE. O
Conselho estuda a vida econômica da região, programa o desenvolvimen-
to regional e aprova a política de atuação do banco (contas, orçamento e
relatório anual de atividades).
O BRDE ganhou personalidade jurídica própria, autonomia adminis-
trativa e a função de atender com financiamentos, os mais diversos seto-
res da economia. O Decreto n° 51.617, assinado por João Goulart, suces-
sor de Jânio Quadros, autorizou o funcionamento do banco – inaugurado
dia 22 de dezembro de 1961, em Porto Alegre. Agências em Florianópolis
e em Curitiba foram abertas em 1963 e 1964, respectivamente. Estava
dada a largada de uma história de desenvolvimento regional.
Conforme registrado no livro comemorativo aos 45 anos do banco, a
empresa gaúcha Irmãos Krolikowski S/A, de Canoas – primeira indústria
de disjuntores do Brasil – foi quem recebeu o financiamento inaugural do
BRDE. Outras empresas que figuram entre as pioneiras nos financiamen-
tos são: Curtume N. Lichetler; Metalúrgica Aço Técnica; Celulose Irani S/A;
Cristais Hering e Artex; e as Centrais Elétricas de Santa Catarina.
Nos dois primeiros anos de existência, o BRDE operava com recursos
próprios dos três estados, que destinavam 1% da receita tributária anual
para a constituição do capital do banco. A União começou a contribuir três
anos depois, com 10% do produto do “Acordo do Trigo”, assinado entre o
Brasil e os Estados Unidos (EUA).
Com dinheiro em caixa, o BRDE iniciou a trajetória de consolidação e
expansão. Em fevereiro de 1965 começou a operar como agente financeiro
do BNDES. O aumento da demanda foi certo. No final de 1960, o BRDE já
sentiu a necessidade de buscar recursos externos. O Banco Central apare-
ce como segunda fonte supridora de recursos, além de ter aporte da Caixa
Econômica Federal.
Novas linhas de crédito foram abertas para financiar projetos e estudos
voltados à melhoria tecnológica; cotistas e acionistas para integralização
e aumento de capital de empresas; micro e pequenas empresas; área cul-
tural. No entanto, a partir de 1974, a escassez de recursos atinge o banco e,
no início dos anos 1980, o cenário brasileiro de inflação e recessão acentua
a inadimplência das empresas que não tinham condições de assumir suas
dívidas. Houve uma crise, solucionada na década de 1990, quando os então
governadores Alceu Collares, Roberto Requião e Vilson Kleinübing encer-
raram a liquidação e retomaram o BRDE.
No início do ano 2000, o banco reorganiza sua estrutura; entra em
prática o Plano de Fortalecimento Financeiro do BRDE e lança uma nova
política de apoio às cooperativas e às atividades de exportação; desenvol-
ve programa de apoio a microempresas e empresas de pequeno porte; de
investimento na agropecuária; e de crédito para micro e pequenos produ-
tores rurais. Em termos de fonte de recurso, nos últimos anos, destaca-se
o Inovacred da Finep, que teve o BRDE como o primeiro banco de fomento
do Brasil credenciado para o programa, voltado para inovação nas micro,
pequenas e médias empresas. Já quando se fala em
capitalização, é importante destacar que em 2013 os
governadores dos três estados aprovaram nova capi-
talização do banco, no montante de R$ 600 milhões.
Foi a maior da história da instituição.
RECONHECIMENTOO importante papel exercido pelo banco é atestado
por funcionários, em especial por aqueles que acom-
panham a mais tempo a sua trajetória.
Vilmar Valentin das Neves, funcionário mais an-
tigo da agência de Santa Catarina, tem quase 44 anos
no BRDE. Ele confessa que o tempo não lhe tirou a
vontade e o entusiasmo de trabalhar na instituição.
“Assisti de a cadeira todo o processo de transformação
da economia da região Sul, com a participação desde o
pequeno até o grande empreendedor, transformando
e dando respostas aos anseios da sociedade”.
Carlos José Ponzoni, atual assessor da diretoria
em Porto Alegre, nos seus 46 anos e oito meses de
BRDE, já trabalhou nas áreas financeira, adminis-
trativa, operacional, de crédito e de planejamento,
e afirma: “É gratificante participar de equipes que
auxiliam na formulação de políticas e no finan-
ciamento de projetos em áreas de infraestrutura
econômica e social, de inovação, de produção e co-
mercialização, que abrem espaço e transformam a
realidade econômica propiciando bem-estar e qua-
lidade de vida para as pessoas”.
Nesses 55 anos de história, muitos foram os
momentos que se tornaram marcos da trajetória
do BRDE. Das conquistas mais recentes, destaca-
-se o financiamento do Parque Eólico de Osório,
em 2006, que representou a consolidação de in-
vestimento em energia alternativa. O empreen-
dimento foi reconhecido como o maior complexo
eólico do hemisfério sul e o primeiro do gênero a
usar turbinas eólicas de grande potência unitária e
avançada tecnologia.
Houve também o credenciamento junto ao
BNDES, desde 2012, para atuar como agente
financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual
(FSA) – importante ferramenta de investimento
e valorização da arte cinematográfica no Brasil;
e a atuação, a partir de 2013, como agente man-
datário do Fundo de Apoio aos Municípios do
Estado de Santa Catarina (Fundam), que permi-
te investimentos em infraestrutura; mobilidade;
lazer; saneamento básico; educação, saúde, ser-
viço social; entre outros.
VOCÊ QUER MAIS PARA O SEU NEGÓCIO?
O SEBRAE QUER MAIS É ESTAR AO SEU LADO.
É da porta para dentro que a gestão,
inovação e produtividade fazem a diferença.
É aí que entra a mão do Sebrae para ajudar
a fazer o seu negócio ser cada vez melhor.
SUA VIDA É SE SUPERAR A CADA DIA? ESTAMOS JUNTOS.
JANEIRO | FEVEREIRO 201630
REPORTAGEM
JANEIRO | FEVEREIRO 201630
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RUMOS 31
Um país em amadurecimento
O Brasil passou por profundas transformações na política, na
economia e na sociedade desde a criação da Revista Rumos em
1976. Após o período de ditadura militar, com um pouco mais
de três décadas do regime democrático iniciado em 1985 – o
mais longo de toda sua história –, o país experimentou uma
nova e avançada Constituição, vivenciou a reorganização ins-
titucional e o ressurgimento dos movimentos sociais, sindicais
e da sociedade civil organizada. Em 2016, ano em que a revista
completa 40 anos, o Brasil vive um novo momento de impasse
com a ameaça de impeachment da presidente Dilma Rousseff
e o crescimento da intolerância política de um país dividido.
Não se pode esquecer que 1976 foi um ano emblemático
na política e na economia brasileiras. Em janeiro, morria nos
porões do Destacamento de Operações Internas – Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo, o
operário Manoel Fialho Filho, 84 dias após a morte do jorna-
lista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, no Destacamento
de Operação de Informações – Centro de Operações de Defe-
sa Interna (DOPS/SP). Os dois episódios forçaram o início da
distensão do regime. O presidente da época, general Ernesto
Geisel, demitiu seu ministro do Exército, o general Sylvio Fro-
ta, e o comandante do 2º Exército, Ednardo D´Ávilla Mello. As
duas demissões aceleraram o processo de distensão política
“lenta e gradual” que o presidente iria colocar em prática.
Na economia, o governo Geisel, com seu II Plano Nacional
de Desenvolvimento, também chamado II PND, realizava o
terceiro e último grande bloco de investimentos do país – o pri-
meiro ocorreu na era Vargas e o segundo com o Plano de Me-
tas de Jucelino Kubitschek. Isso que fez com que tivéssemos
percorrido os últimos 40 anos – décadas de 1980, 1990, 2000
e 2010 – apenas com ciclos de consumo, como pontua Már-
cio Pochmann, economista e professor titular da Unicamp,
ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo.
Nos anos 1980, a “década perdida”, e 1990, a “década ga-
Nos últimos 40 anos, em que a Rumos acompanhou os principais processos políticos e econômicos
do Brasil, o país caminhou por águas turvas, viveu grandes crises, mas também celebrou importantes
conquistas – de crescimentos improváveis à estabilização da moeda, culminando com a redução da
pobreza experimentada no período recente. POR CARMEN NERY
nha”, foram conduzidas diversas tentativas de es-
tabilização da economia com os primeiros planos
heterodoxos – Cruzado, Bresser, Verão, Collor e,
finalmente, o Plano Real, que misturou conceitos
heterodoxos e ortodoxos –, após 20 anos de contro-
le ortodoxo da economia pelos governos militares.
“Em 40 anos prescindindo de um novo bloco
de investimentos, houve apenas tentativas, pós-
-governos militares, de se retomar forte expansão
econômica”, diz Pochmann. Ele observa que no
Plano Cruzado a ideia era estabilizar a economia
para viabilizar um novo bloco de investimentos, o
que acabou não ocorrendo devido ao fracasso do
plano. No segundo governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC), enfrentando recessão, desempre-
go e com o fim do câmbio fixo, em 1999, é criado o
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-
mércio como a grande oportunidade de se ter um
plano de investimentos.
“Mas desentendimentos entre os ministérios da
Fazenda e do Desenvolvimento fizeram fracassar a
perspectiva desenvolvimentista. Depois, uma nova
tentativa ocorreu no Governo Lula, com o Plano
de Aceleração do Crescimento (PAC), por meio
de investimentos públicos e privados e do capital
estrangeiro com a retomada dos investimentos da
Petrobras e da Eletrobrás. Mas o movimento foi
travado pela crise financeira de 2008, que trans-
formou a quarta tentativa de criação de um novo
bloco de investimentos em uma política anticícli-
ca”, analisa Pochmann.
A RAIZ DAS CRISES ECONÔMICASEmbora tenha representado o último bloco de
investimentos, o II PND de Geisel era um pro-
JANEIRO | FEVEREIRO 201632
grama financiado pelo endividamento
externo. Com os choques do petróleo, o
país viu a dívida externa crescer, geran-
do, no início dos anos 1980, a chamada
Crise da Dívida, conhecida como a mãe
de todas as crises. O primeiro choque do
petróleo ocorreu em 1973, quando a Or-
ganização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep), cartel dos produtores,
aumentou os preços internacionais. Em
valores atualizados, o preço foi de US$
14,30 o barril, em 1973, para US$ 47,50,
no ano seguinte. Isso não impediu Gei-
sel de continuar importando petróleo e
conduzindo os investimentos.
“O Brasil importava petróleo a um
custo caríssimo e o país não quis pro-
mover racionamento. Seria necessário
contrair a atividade interna, mas para
não haver recessão, Geisel fez mais dí-
vida para importar petróleo”, analisa
Antônio Carlos Porto Gonçalves, pro-
fessor da Escola Brasileira de Economia
e Finanças da Fundação Getulio Vargas
(EPGE/FGV). Até que veio a segunda
crise de oferta do petróleo em 1978, com
a revolução islâmica no Irã. A cotação,
que em 1978 estava em US$ 77,70 o bar-
ril, pulou para US$ 103,60 em 1980.
“A crise da dívida se agravou ainda
mais com a decisão dos EUA de elevar
os juros para 18% ao ano para controlar
sua economia”, acrescenta Gonçalves.
O crédito farto e barato dos anos 1970
havia estimulado o endividamento dos
países latino-americanos, como Brasil
e México, gerando grandes investimen-
tos e crescimento econômico acelerado,
que, no caso do Brasil, ficou conhecido
como Milagre Econômico. O país cres-
ceu, em média, 8,7% nos anos 1970, che-
gando a atingir índices de 14%, em 1973,
e 10,3% em 1976.
Apesar do grande crescimento eco-
nômico experimentado pelo México,
no final da década de 1970, a sua econo-
mia ainda era altamente dependente da
economia norte-americana. O país foi
duramente atingido pela elevação dos
juros nos Estados Unidos da América
(EUA) para combater a inflação provo-
cada pelas crises do petróleo, que gerou
a primeira recessão do pós-guerra na
economia norte-americana. Afetado
pela redução das encomendas dos EUA,
diminuição do crédito e queda nos pre-
ços das commodities, o México decretou
a moratória em 13 de agosto de 1982.
Os juros internacionais haviam subido
de uma média anual de 7,5% em 1977
para 20,18% em 1980.
A moratória do México contaminou
todos os países endividados do Tercei-
ro Mundo, na América Latina, Norte
da África e Leste Europeu. No Brasil,
a elevação do serviço da dívida com o
aumento dos juros e a queda das ex-
portações gerou uma crise de liquidez,
levando o país a recorrer, em fevereiro
de 1983, ao Fundo Monetário Interna-
cional (FMI), que impôs como condição
a liberalização da economia e o controle
do déficit público. Por meio de acordo
com os bancos credores foi efetuada a
rolagem da dívida. Era o fim do clico de
crescimento vigoroso e o início do que
ficou conhecida como a década perdida
envolta em sucessivas crises.
“Havia muita instabilidade política
pelo fato de o país estar trocando um
governo militar por governos civis. Os
anos 1980 foram a pior década, che-
gando ao final com inflação de 80% ao
mês”, resume Gonçalves. Chegou-se a
este cenário porque a crise da dívida
gerou o aumento do déficit público e
a escalada inflacionária. Surgiram os
planos econômicos que procuraram
estabilizar a economia. Em 28 de fe-
vereiro de 1986, o presidente Sarney –
primeiro presidente civil eleito após o
fim da ditadura militar, ainda de forma
indireta no Colégio Eleitoral – lançou
o Plano Cruzado. O plano consistia no
congelamento dos preços e na troca da
moeda de Cruzeiro para Cruzado com
o corte de três zeros – 1 mil Cruzeiros
equivaliam a um cruzado. Primeiro
plano heterodoxo, após o ciclo mili-
tar, tinha como lógica intrínseca que
a inflação era inercial: os preços eram
reajustados para recompor a inflação
RUMOS 33
passada. O Plano Cruzado tentou eliminar a inflação inercial via con-
gelamento, mas ao mirar apenas na memória inflacionária do país,
descuidou do outro componente da inflação, o excesso de demanda.
Sem redução dos gastos públicos, a demanda cresceu e o consumo ex-
plodiu. Com o congelamento dos preços, Sarney estimulou a população a
fiscalizar os preços, no que ficou conhecido como os “fiscais do Sarney”.
Mas logo passou a faltar mercadorias e Sarney chegou a decretar o con-
fisco do gado no pasto.
“O problema é que o presidente Sarney não controlou o déficit público
e não havia mais recursos para financiar o déficit”, diz Gonçalves. Assim,
em 22 de novembro de 1986, foram efetuados ajustes no plano com o lan-
çamento do Plano Cruzado II. O objetivo era controlar o consumo, o dé-
ficit público e, por tabela, a inflação, via aumento de tarifas e de impostos.
Foi criado o chamado “gatilho salarial”: cada vez que a inflação superasse
20% em um determinado período, os trabalhadores teriam a garantia do
reajuste automático no mesmo valor, processo que se tornou frequente.
As mercadorias voltaram a faltar e surgiu o mecanismo de ágio, em que
as pessoas pagavam um valor a mais por fora do congelamento de preços.
“O governo então desfez o Plano Cruzado, a inflação voltou com mais
força ainda e o congelamento acabou”, lembra o professor da FGV. Sem
condições de arcar com os compromissos da dívida externa, o país de-
cretou, em 20 de fevereiro de 1987, a suspensão, por tempo indetermi-
nado, do pagamento dos juros da dívida – o principal já não era pago
havia vários anos. A moratória foi considerada inevitável pelo então
ministro da Fazenda Dilson Funaro, após o fracasso dos Plano Cruzado
I e II, que fizeram os superávits comerciais minguarem. Em janeiro de
1987, o saldo da balança foi de apenas US$ 129 milhões, o pior desde
1983. Desse modo, não havia como fazer frente ao pagamento dos ju-
ros – que tinham consumido US$ 55,8 bilhões em cinco anos, desde o
acordo com o FMI.
Assim, em 12 de junho de 1987, o presidente Sarney lançou seu ter-
ceiro plano econômico, o Plano Bresser, com choque cambial e tarifário
e congelamento de preços, salários e aluguéis. O objetivo era aumentar
as exportações e, assim, auferir receitas em dólar, após a moratória de
janeiro. A meta também era o controle do déficit público, o que mais uma
vez não ocorreu.
Em 16 de janeiro de 1989, Sarney lançou sua última tentativa de equi-
librar a economia e combater a inflação com o Plano Verão, com mais um
congelamento e uma nova troca de moeda e corte de zeros. O Cruzado dá
lugar ao cruzado nNovo numa relação de 1 mil cruzados para 1 cruzado
novo. O plano tentou eliminar a correção monetária por meio da extinção
das Obrigações do Tesouro Nacional (OTN). Mas, aos poucos, os preços
foram descongelados e a inflação atingiu 1.972% ao final de 1989, ano da
primeira eleição direta para presidente.
“O fracasso dos planos heterodoxos dos anos 1980 está relacionado
à restrição do acesso a recursos externos em função da crise da dívida.
Com o Plano Collor, o Brasil entra na globalização financeira e passa a ter
acesso a recursos internacionais. Os planos anteriores não tiveram essa
âncora de estabilização que ocorrerá mais tarde com o Plano Real, com
o dólar funcionando como âncora cambial”, analisa Márcio Pochmann,
professor titular de economia da Unicamp.
Em março de 1990, a inflação mensal chegou a
82,39%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (IPCA). O presidente Collor de Melo
– que vencera o metalúrgico Luiz Inácio Lula da
Silva no segundo turno das primeiras eleições
presidenciais diretas – lança, em 16 de março, o
Plano Collor, surpreendendo o país com o confis-
co da poupança, das contas correntes e dos ativos
financeiros. A moeda voltou a se chamar cruzeiro,
porém sem cortes de zeros.
De caráter ortodoxo, a ideia do plano era promo-
ver um enxugamento brusco da liquidez. Com a po-
pulação e as empresas sem recursos para consumir
e investir, a atividade econômica seria reduzida. Os
preços foram congelados e os salários passaram a
ser corrigidos com base na inflação, não mais do
passado, mas na previsão do mês seguinte.
“Em vez do congelamento, Collor provocou
uma recessão brutal, enxugando a liquidez. A de-
manda caiu e a inflação reduziu de 80% para 40%.
Mas as empresas alegaram que, como não estavam
vendendo, não havia como pagar salários. E o go-
verno liberou recursos para o pagamento de salá-
rios”, lembra Gonçalves.
Ações na Justiça começaram a liberar os recur-
sos confiscados e a inflação voltou. Em 31 de ja-
neiro de 1991, o presidente lança o Plano Collor II,
com novo congelamento de preços, contenção sa-
larial e tentativa de incentivar a produção. Surgem
as denúncias de corrupção e, sem apoio político,
As mercadorias voltaram a faltar e surgiu o mecanismo de ágio, em que as pessoas pagavam um valor a mais por fora do congelamento de preços.
JANEIRO | FEVEREIRO 201634
Collor não consegue implementar o plano e renuncia em
29 de dezembro de 1992, em meio ao processo de impea-
chment, que, apesar da renúncia, não consegue evitar.
Com o afastamento de Collor, o vice-presidente Ita-
mar Franco assumiu o cargo maior da nação em 1993,
ano em que a inflação brasileira atingiu seu maior pa-
tamar (2.477%). Após trocar três vezes de ministro da
Fazenda, Itamar convidou Fernando Henrique Car-
doso (FHC) para ocupar o cargo. Fernando Henrique
Cardoso fez um discurso dizendo que era sociólogo da
Universidade de São Paulo (USP) e não entendia nada
de finanças públicas, Banco Central e Ministério da
Fazenda. Mas montou uma equipe formada pelos eco-
nomistas Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara Re-
sende, Gustavo Franco, Pedro Malan para criar o Plano
Real, que finalmente promoveu o controle inflacioná-
rio e o equilíbrio fiscal. Antes, em 1993, FHC resolveu
fazer, pela primeira vez, o orçamento do setor público
consolidado. O objetivo era saber o tamanho do rombo
para então estabilizar a economia.
Ao contrário dos demais planos anteriores, de ca-
ráter heterodoxo (à exceção do Plano Collor), o Plano
Real uniu conceitos heterodoxos (combate à inflação
inercial) e ortodoxos (ajuste fiscal e política monetária
restritiva). O plano se alicerçou em três fundamen-
tos: ajuste fiscal, desindexação da economia e políti-
ca monetária restritiva. Em seu aspecto heterodoxo,
o Plano Real criou na sua primeira fase, em março de
1994, a Unidade Referencial de Valor (URV), um in-
dexador diário e oficial, que existia paralelamente ao
padrão monetário oficial, o cruzeiro real (CR$), e que
correspondia à variação dos preços dos bens e serviços.
Com o Plano Real, o Brasil passou a atrair recursos não para
investimentos na produção e sim para auferir altos ganhos em
função das elevadas taxas de juros. Isso tornou o país prisio-
neiro das taxas de juros elevadas, que, se não existirem, não se
atraem recursos e não se fecha o Balanço de Pagamentos. E, com
isso, surgiriam novas crises.
“Dos anos 1990 para cá, são mais de 20 anos em que o país
tem as mais altas taxas de juros, que significam moeda nacio-
nal valorizada, dificultando as exportações e facilitando im-
portações. Isso transformou a indústria em uma operação co-
mercial”, diz Pochmann.
Ele observa que o capitalismo brasileiro a partir do terceiro
bloco de investimento de 40 anos atrás, no governo Geisel, convi-
ve com ciclos de consumo que apontam para uma tendência de es-
tagnação do desenvolvimento econômico. De 1980 a 2015, a renda
per capita foi de 0,8% ao ano e o Produto Interno Bruto (PIB) mé-
dio de 2,1% ao ano. Nos períodos de blocos de investimentos como
de 1945 a 1980, o PIB cresceu em média 5,8% ao ano.
“O produto da estagnação econômica é o esvaziamento da in-
dústria brasileira. No II PND, em 1976, a indústria representava
um terço do PIB. Hoje, 40 anos depois, não chega a 10%. Um país
que tinha o capital industrial motor do seu crescimento econômi-
co, apequenou-se e esse vácuo foi ocupado por uma dominância
financeira. Dos anos 1930 a 1970, os capitais comercial e finan-
ceiro eram subordinados à dominância do capital industrial. Hoje
todos os capitais estão subordinados à dominância financeira”,
analisa Pochmann.
Ele explica que esse quadro está associado à arquitetura do
PND de Geisel, que recupera os mecanismos do rentismo à lógica
do capital internacional. O financiamento aos investimentos não
foi feito com a conversão dos bancos nacionais ao financiamento
de médio e longo prazos, mas sim com o capital internacional.
“Quando ocorre a crise da dívida, de 1981 a 1983, o governo
aceita o acordo com o FMI para tirar o foco do mercado interno e
se voltar para as exportações a fim de pagar a dívida. Havia 15 mil
empresas exportadoras num universo de 3 milhões de empresas.
Sem oportunidade de crescer no mercado interno, há uma queda
na taxa de lucro da maior parte das empresas, que passa a com-
pensá-la com ganhos financeiros e arrocho salarial”, explica Po-
chmann, apontando algumas das razões da desindustrialização.
Para José Eduardo Cassiolato, professor de economia do Ins-
tituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), do ponto de vista da estrutura econômica, o Brasil é um
país que resolveu não avançar no processo de industrialização
até o final da Segunda Guerra Mundial. Ele afirma que a Revolu-
EM 40 ANOS, desindustrialização e estagnação
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RUMOS 35
Houve disponibilização de inúmeras vagas de ensino superior com a criação de universidades e escolas técnicas públicas. A economia cresceu e mudou-se a matriz econômica.
ção Industrial passou ao largo do país
e havia apenas algumas indústrias de
bens de consumo não duráveis. No pós-
-guerra, nos anos de 1950, a indústria
se expandiu com bens de consumo du-
ráveis e, nos anos 1970, Geisel avançou
com os setores de química e construção
pesada e metal mecânica, entre outros
setores que geraram uma capacidade
de engenharia.
“No final dos anos 1970, o Brasil ti-
nha um parque industrial complexo e
a participação da indústria no PIB era
de cerca de 40%. Foi nesse momento
que o mundo estava entrando na 2ª re-
volução tecnológica, com a informáti-
ca e países de industrialização tardia,
como a Coreia, puderam dar um salto,
introduzindo na sua estrutura produ-
tiva a revolução da microeletrônica”,
analisa Cassiolato.
Ele fixa como marco o ano de 1981
com o lançamento do IBM PC com
Windows, o primeiro computador de
mesa. A partir de então, as indústrias
que conseguiram se transformar o fize-
ram usando Tecnologias da Informação
e Comunicação (TICs).O Brasil criou a
Reserva de Mercado para a informática
que, na sua avaliação, teve alguns equí-
vocos, como se limitar aos microcom-
putadores. A partir de 1984, a política de
informática passou a sofrer ataques.
“Era uma política de substituição
de importações na área de microinfor-
mática. Em telecomunicações havia o
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Telecomunicações (CPqD), criado
em 1976 como parte da política de de-
senvolvimento do setor, em que o Es-
tado usava seu poder de compra. Com
a abertura de Collor e a liberalização
de FHC, essas políticas foram extintas.
A infraestrutura de uma empresa como
a Embratel nos EUA até hoje é públi-
ca. No Brasil, optou-se pela
privatização e a empresa foi
adquirida por uma compa-
nhia americana. Houve um
processo de desnacionaliza-
ção e a produção industrial
caiu”, lamenta Cassiolato.
Ele observa que no Brasil
não há uma burguesia in-
dustrial, a não ser aquela su-
bordinada ao capital estran-
geiro. Para ele, um dos problemas desse quadro é não poder internalizar a
3ª revolução tecnológica. Ele se recente do fato de o país não contar com
uma política industrial, alegando que as que foram adotadas têm sido fra-
cas, baseadas apenas em incentivos e crédito e não distinguem empresas
nacionais das multinacionais. Após a vitória de Lula em 2002, o mun-
do assistiu ao boom da China, com um processo de revolução produ-
tiva profunda, tornando-se o motor da economia global.
Cassiolato destaca que o Brasil foi capaz de pegar o bonde da China,
aproveitando o crescimento das commodities e do mercado interno com a
grande transformação promovida pelo governo Lula em termos de melho-
ria de renda da população pobre. Cerca de 40 milhões de pessoas engrossa-
ram o mercado de consumo. Houve disponibilização de inúmeras vagas de
ensino superior com a criação de universidades e escolas técnicas públicas.
A economia cresceu e mudou-se a matriz econômica. O país foi capaz de
saltar a crise econômica de 2008 com o apoio do crédito do BNDES, num
momento em que o mundo inteiro restringiu o crédito.
“Só que, após este período, tivemos uma série de decisões equivocadas
de política industrial de incentivo ao automóvel. O crescimento por meio
de política de estímulo ao consumo começou a dar errado por causa de
uma leitura equivocada, no início do governo Dilma, de que a crise estava
acabando. Mas a crise se aprofundou em 2012 na Europa, atingindo Es-
panha, Irlanda, Grécia. E inclusive nos EUA ainda há crise. E a China, que
crescia 13%, caiu para um crescimento de 7%”, analisa.
No plano internacional o mundo tem convivido com baixas taxas de
crescimento e o comércio global tem caído para taxas negativas. Para
Cassiolato, as medidas adotadas em 2011 e 2012 foram muito fracas,
tendo em vista as fragilidades da nossa estrutura produtiva.
Ele observa que as políticas industriais foram extintas no governo
FHC. Até meados dos anos 1990 o país tinha a segunda maior indústria
naval do mundo, que foi dizimada no final dos anos 1990, com FHC. O
presidente Lula tentou recuperar a indústria naval, mas o processo
não é simples ,pois a indústria não se atualizou. Mas ele considera que
há potencial na indústria que floresce fora dos grandes centros eco-
nômicos do Sudeste.
JANEIRO | FEVEREIRO 201636
Assim, os preços transformados em URVs eram estáveis, crian-
do uma história não inflacionária.
Em 1º de julho de 1994, a URV ganha paridade e é substi-
tuída pelo real, a nova moeda, estável até os dias de hoje. O
alinhamento de preços evitou o movimento de recomposição
de perdas e derrubou a inflação já no primeiro mês de adoção
da URV. FHC se elege em primeiro turno presidente do país
em 1994. Com o sucesso do Plano Real, conquista um segundo
mandato em 1998, vencendo novamente Luís Inácio Lula da
Silva. Um ano depois, a economia deu sinais do esgotamento
dos instrumentos do real.
Em 1998, veio a crise da Rússia devido à transição acelerada e
malsucedida de uma economia planificada para uma economia
de mercado, em meio ao colapso político da União Soviética. Essa
crise afetou o Brasil. Um dos problemas do Plano Real foi o fato
de se alicerçar numa âncora cambial. A isso somaram-se dese-
quilíbrios fiscais. Houve uma valorização cambial acompanhada
de juros elevados, que acabaram levando à maxidesvalorização
do real no 1999. Foi então criado o regime de meta de inflação e
no ano seguinte a Lei de Responsabili-
dade Fiscal (LRF) para conter os gastos
dos governos. Em paralelo, o governo
adotou medidas como o aumento da
taxa de juros para restringir a atividade
econômica e segurar a inflação.
Com recessão e taxa de desempre-
go média de 10%, FHC não conseguiu
fazer seu sucessor, perdendo a eleição
em 2002 para Lula. Após três derrotas
seguidas, Lula se elegeu presidente,
vencendo o economista José Serra,
candidato oficial, duas vezes ministro
de FHC e uma das principais lideran-
ças do PSDB. A iminência de sua vitó-
ria chegou a assustar os mercados e o
dólar disparou. Mas, em sua gestão,
Lula manteve o tripé macroeconômi-
co baseado em metas de inflação, me-
tas fiscais e câmbio flutuante.
“Lula aprofundou as políticas
sociais. Convidou Armínio Fraga
para o Banco Central, que recusou,
e acabou indicando Henrique Mei-
reles, então deputado pelo PSDB. O
partido ficou sem condições de fazer
oposição porque Lula encampou as
políticas econômicas do PSDB. O
presidente aproveitou ainda a déca-
da de ouro e fez um sucesso diabóli-
co, deixando a presidência com mais
de 60% de aprovação popular”, ressalta Gonçalves. Lula
também conseguiu fazer de Dilma Rousseff sua sucessora.
Mas, na avaliação do economista da FGV, o seu perfil é de mi-
litante, sem grande capacidade de articulação política.
Pochmann, da Unicamp, observa que o governo Dilma
continuou as políticas anticíclicas implementadas por Lula
a partir de 2008 com objetivo de encurtar a crise. Esta-
beleceram uma política semelhante a uma ponte que liga
uma margem a outra a fim de facilitar a recuperação, com
o Estado gastando mais do que arrecada. A ideia era de,
na recuperação, passar a arrecadar mais do que gastar. “A
aposta é de que estaríamos numa crise pequena. Ocorre que
o outro lado da ponte não chegou até agora e ainda não se
encontrou a saída de uma crise que já dura oito anos”, diz
Pochmann. Ele observa que, numa tentativa de sustentar a
taxa de lucro do setor privado, usamos demais as políticas
anticíclicas e o uso generalizado de desonerações fiscais.
Para o economista, faltaram reformas, mas só se fazem re-
formas com maioria política.
Ano Pessoas Ocupadas (PO)
Pessoas Desocupadas
(PD)
Pessoas Economicamente Ativas - PEA (PO
+ PD)
Taxa de desocupação
1992 65.152.614 4.556.801 69.709.415 6,5
1993 66.304.454 4.378.984 70.683.438 6,2
1995 69.438.576 4.502.434 73.941.010 6,1
1996 67.920.787 5.076.190 72.996.977 7,0
1997 69.331.507 5.881.776 75.213.283 7,8
1998 69.963.113 6.922.619 76.885.732 9,0
1999 73.345.531 7.830.218 81.175.749 9,6
2001 76.936.438 7.949.826 84.886.264 9,4
2002 79.708.522 8.041.301 87.749.823 9,2
2003 80.775.414 8.709.298 89.484.712 9,7
2004 85.245.933 8.317.854 93.563.787 8,9
2005 87.695.271 8.986.775 96.682.046 9,3
2006 89.636.973 8.222.820 97.859.793 8,4
2007 90.854.655 8.044.520 98.899.175 8,1
2008 93.420.362 7.165.931 100.586.293 7,1
2009 93.783.537 8.497.336 102.280.873 8,3
2011 94.763.220 6.822.433 101.585.653 6,7
2012 96.100.290 6.362.771 102.463.061 6,2
2013 96.659.379 6.742.085 103.401.464 6,5
2014 99.447.612 7.376.798 106.824.410 6,9
Fonte: Banco Multidimensional de Estatísticas (BME) do IBGE
Condição de ocupação, semana de referência: Ocupado Nota: Seleção por expressão conjuntiva
Evolução da força de trabalho - 1992-2014
JANEIRO | FEVEREIRO 201638
Após ver as mudanças dos últimos 40 anos,
cabe avaliar os recentes 20. E pensar no
que virá. Para trazer um panorama da eco-
nomia e do país, conversamos com o ex-mi-
nistro Luiz Carlos Bresser-Pereira, que
nos recebeu em seu escritório, em São Pau-
lo. Profícuo estudioso, pensador do “novo
desenvolvimentismo” e crítico de sua pró-
pria biografia, Bresser nos concede uma
aula sobre o Brasil. Confira os principais
trechos da entrevista. POR MARCO ANTONIO A.
DE ARAÚJO LIMA E THAIS SCHETTINO
DESINDUSTRIALIZAÇÃOEm 2005, eu escrevi no jornal Folha de S.Paulo um
artigo em que eu resumia o meu modelo de doen-
ça holandesa [é a sobreapreciação permanente da
taxa de câmbio de um país resultante da existên-
cia de recursos naturais abundantes e baratos – ou
de mão de obra barata combinada com um dife-
rencial de salários elevado – que garantem rendas
ricardianas aos países que os possuem e expor-
tam as commodities com eles produzidas] e lançava
a ideia de que o Brasil estava em grave processo de de-
sindustrialização. Dois anos depois, eu publiquei um
Fundamentos da economia
ENTREVISTA
RUMOS 39
livro chamado Macroeconomia da Estagnação. Em
2007, o Brasil está bombando e eu falando em quase
estagnação da economia e desindustrialização. En-
tão, de duas uma: ou eu estou completamente equi-
vocado, ou os economistas brasileiros têm se revela-
do nessa matéria de uma profunda incompetência.
Porque não se consegue fazer um diagnóstico do pro-
blema, caso se acredite que tudo está bem. Agora te-
mos uma crise, todos concordam, mas o país está es-
tagnado desde 1980, ou seja, cresce a uma taxa de 1%
ao ano per capita. O Brasil crescia entre 1930 e 1980 a
4% per capita. A diferença é brutal.
ELITES E NAÇÃOO Brasil está sempre estagnado e isso está relacio-
nado com a incompetência dos economistas bra-
sileiros e mais amplamente das elites brasileiras:
intelectuais, políticas, empresariais e associativas.
Elas estão solenemente fracassando em relação ao
desenvolvimento brasileiro e o povo está ficando
para trás. Existem três alternativas: a nação pode
estar falling behind (ficando para trás), catching
up (alcançando), ou acompanhando. Nós estamos
falling behind. Esse é o nosso projeto, porque as
nossas elites estão se revelando profundamente incompe-
tentes. Isso por dois motivos, diria culturais: um seria a alta
preferência pelo consumo imediato. O povo e as elites têm
preferência pelo consumo imediato. E o outro problema é a
perda de ideia de nação. As nossas elites não sabem mais que
o mundo está organizado em nações, que essas nações com-
petem entre si, e que só atrai êxito no seu desenvolvimento
ou na sua competição o país que tiver uma estratégia nacio-
nal de desenvolvimento. Como se perdeu a ideia de nação, o
que se diz sobre nós em Washington, Nova York, ou Londres,
é basicamente o certo. E todos os nossos problemas apare-
cem quando não fazemos aquilo que eles nos recomendam.
E o que é que isso dá na prática? Isso dá uma alta taxa de ju-
ros e uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo. Há uma
perfeita confluência, um perfeito encontro de almas entre os
cosmopolitas que perderam a ideia de nação, que são quase
todos, e os consumistas que querem consumir em curto pra-
zo. Portanto, com a perda da nação, entregamos o nosso mer-
cado interno para as multinacionais e para financistas exter-
nos. Isso é o acordo perverso que existe hoje no Brasil.
NOVA ORDEM MUNDIALHoje, em nível mundial, o sistema financeiro ficou muito
mais poderoso do que era nos últimos 40 anos, 50 anos. Nos
anos 1950, no Brasil, por exemplo, quem tinha poder eram os
industriais, o que interessava saber era a opinião da Federa-
ção das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Atualmente, os in-
dustriais pesam muito pouco. Quem manda, quem tem ampla
dominação ideológica no Brasil, e não só no Brasil, no mundo,
é o sistema financeiro. O que houve é que apareceu um fato
histórico novo: a macroeconomia keynesiana e, especifica-
mente, a política econômica daí derivada. Quer dizer, a políti-
ca macroeconômica se tornou algo fundamental para todos os
países: para o seu desenvolvimento e para a sua estabilidade
de preços e crescimento financeiro. Tudo depende de uma boa
política macroeconômica; e as pessoas sabem disso. E quem é
que entende de macroeconomia no mundo? Quem é que en-
tende de macroeconomia no Brasil? É o sistema financeiro. E
porque eu digo isso? Porque nele atuam os macroeconomistas
políticos, que são pessoas que entendem realmente de macro-
economia, de taxa de juro, de câmbio, de inflação, não apenas
academicamente. E sabendo disso, influencia a opinião públi-
ca por meio de artigos, entrevistas e informações que forne-
ce. E eles atuam no sistema financeiro na administração da te-
sousaria, e no aconselhamento na aplicação da riqueza de seus
clientes. E esse sistema está associado fundamentalmente aos
capitalistas rentistas aqui no Brasil, como em outras partes do
mundo, e eles representam exatamente o oposto da indústria.
Então, se olharmos hoje quem são os industriais brasilei-
ros, o poder que ele têm é muito pequeno, desapareceu. Qua-
se toda indústria está entregue às multinacionais.
Fotos: Thais Sena Schettino
JANEIRO | FEVEREIRO 201640
UMA BIOGRAFIA
Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da Fundação Getulio Var-
gas, onde ensina economia, teoria política e teoria social. É presidente do
Centro de Economia Política e editor da Revista de Economia Política des-
de 1981. Escreve coluna quinzenal da Folha de S. Paulo. Em 2010 recebeu
o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Buenos Aires. Foi
Ministro da Fazenda, da Administração Federal e Reforma do Estado, e da
Ciência e Tecnologia.
Suas maiores influências intelectuais vêm de Marx, Weber, Keynes e do
estruturalismo latino-americano. Suas contribuições teóricas mais signifi-
cativas, na teoria econômica, são o modelo de crescimento e distribuição
a partir da tendência à queda da taxa de lucro, a teoria da inflação inercial
(com Yoshiaki Nakano), os fundamentos da macroeconomia estruturalista
do desenvolvimento a partir da tendência à sobreapreciação cíclica da taxa
de câmbio, e a critica à teoria econômica neoclássica a partir do método uti-
lizado. Na teoria política e social contribuiu sobre a emergência da classe
tecnoburocrática ou profissional, os modelos históricos de Estado, as rela-
ções entre a nação ou a sociedade civil e o Estado, o modelo de transição
e consolidação democrática a partir da revolução capitalista, e a teoria es-
trutural da reforma da gestão pública. Em sua interpretação do Brasil, ele
combinou a análise dos modelos econômicos de desenvolvimento e as cor-
respondentes coalizões ou pactos políticos. A emergência do empresariado
industrial e da burocracia pública e a transição para a democracia são temas
aos quais ele ofereceu contribuição especial.
Luiz Carlos Bresser-Pereira na sceu em 1934 em São Paulo. É bacharel
em Direito pela Universidade de São Paulo, mestre em administração de
empresas pela Michigan State University, doutor e livre-docente em eco-
nomia pela Universidade de São Paulo. Foi professor visitante de desenvol-
vimento econômico na Universidade de Paris I (1978), e de teoria política
no Departamento de Ciência Política da USP (2002/03). Foi também visi-
tante da Oxford University (1999 e 2001) e do Instituto de Estudos Avan-
çados da USP (1989). Desde 2003, oferece regularmente um seminário de
um mês na École d’Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. De 1963
a 1982, enquanto mantinha suas atividades acadêmicas, foi vice-presidente
do grupo de varejo Pão de Açúcar. Em 1983, com a eleição do primeiro go-
vernador democrático de São Paulo, André Franco Montoro, foi presiden-
te do Banco do Estado de São Paulo e secretário de Governo. Em abril de
1987, em meio à crise provocada pelo fracasso do Plano Cruzado, tornou-se
ministro da Fazenda, e propôs a solução para a crise da dívida de 1980 que,
mais tarde, se tornou no Plano Brady. No governo de Fernando Henrique
Cardoso foi ministro da Administração e Reforma do Estado (1995-1998),
quando iniciou a Reforma da Gestão Pública de 1995, e, em 1999, ministro
da Ciência e Tecnologia. Desde julho de 1999 ele se dedica inteiramente à
vida acadêmica. É membro do conselho de administração de diversas orga-
nizações sem fins lucrativos e da Lelis Blanc. Texto extraído de www.bres-
serpereira.org.br
O economista e sua história; formação e interesses
ÚLTIMOS LIVROS LANÇADOS
A construção política do Brasil: sociedade, economia e Estado desde a Independência.
São Paulo: Editora 34, 2014.
Developmental Macroeconomics: New Developmentalism as a Growth Strategy
Londres: Routledge, 2014.
RUMOS 41
NOVO DESENVOLVIMENTISMO Desde que eu voltei do governo, em 1999, estou pensando no
chamado novo desenvolvimentismo, que tem uma teoria eco-
nômica e uma economia política. E nessa teoria econômica há
uma macroeconomia que nós estamos chamando de macro-
economia desenvolvimentista, ou macroeconomia estrutura-
lista do desenvolvimento, que coloca no centro da macroeco-
nomia não mais a taxa de juros e o déficit público, mas a taxa
de câmbio e o déficit em conta corrente. E nessa macroecono-
mia existe uma ideia central que é a seguinte: o investimento
depende da taxa de câmbio. Não há nenhuma teoria econômi-
ca que afirme isso.
A desindustrialização se deveu essencialmente a uma taxa
de câmbio altamente apreciada que tornou a expectativa de
taxa de lucro dos empresários muito baixa, senão negativa
em muitos casos. E o novo desenvolvimentismo também tem
uma tendência, é a tendência à sobreapreciação cíclica e crô-
nica, crônica quer dizer de longo prazo, da taxa de câmbio nos
países em desenvolvimento. Logo, se essa tendência for ver-
dadeira, vamos observar que país em desenvolvimento que
não administra sua taxa de câmbio firmemente vai de crise fi-
nanceira em crise financeira, isso é cíclico, e cresce pouco.
SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO Agora, eu preciso dramaticamente de um sistema de finan-
ciamento. Por quê? Porque nesse contexto eu sou keynesiano
e schumpeteriano. A teoria de [Joseph Alois] Schumpeter só
existe com a teoria do empresário, se há tem crédito. E na teo-
ria de [John Maynard] Keynes, o investimento é que determi-
na a poupança, que também só existe se tiver crédito. Então, o
crédito é absolutamente fundamental. E, necessariamente, o
crédito é investimento, o que, aliás, os bancos privados não fa-
zem. Então, é por isso que se precisa dramaticamente de ban-
cos de desenvolvimento públicos.
É fundamental que haja bancos de desenvolvimento, por-
que o BNDES não tem condições de chegar nas médias em-
presas dos estados com o nosso problema da capilaridade.
Então, é claro que são os bancos regionais e as agências de fo-
mento que resolvem esse assunto. Eu estou imaginando que o
BNDES podia criar linhas de crédito para os diversos bancos
de desenvolvimento. Existiria uma política de financiamento
público que seria encabeçada pelo BNDES.
PACTO PARA O DESENVOLVIMENTO Não vejo espaço para um pacto. O Brasil está vivendo desde
2013 não apenas o colapso do projeto de pacto desenvolvi-
mentista do Partido dos Trabalhadores, mas nós estamos vi-
vendo um recrudescimento muito forte da luta de classes. Só
que a luta de classes não é a de [Karl] Marx. Agora, a luta é da
burguesia e, principalmente, dos financistas e ren-
tistas contra o povo. Como é que nós vamos ter um
acordo, se a burguesia hoje está unida, sobre o co-
mando da burguesia, do capitalismo rentista e fi-
nancista, e não do capitalismo empresarial produ-
tivo? Então, eu não vejo perspectivas de curto ou
médio prazo para isto.
FUTURO E CRISE Nós estamos em crise aguda. Maior crise do que
essa é impossível. Na verdade, a luta de classes
está colocada. O que é a política? A política é o
embate entre adversários, e é o governo tentando
fazer acordos, com concessões mútuas por meio
da política. Nela não existem inimigos. Na políti-
ca, existem adversários que fazem acordos. Hoje
ninguém quer acordo nenhum. A direita que está
aí, põe a culpa de todos os problemas do Brasil no
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na pre-
sidenta Dilma Rousseff. E a esquerda está total-
mente desarvorada.
O crédito é absolutamente fundamental. E, necessariamente, o crédito é investimento, o que, aliás, os bancos privados não fazem. Então, é por isso que se precisa dramaticamente de bancos de desenvolvimento públicos.
JANEIRO | FEVEREIRO 201644
A economia e o cooperativismo financeiro em 2016
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: es-
quenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinqueta. O que ela quer da gente é CORAGEM.”
(Guimarães Rosa)
Dado o quadro já amplamente conhecido, é im-
provável que em 2016 tenhamos algo de novo na
esfera econômica. Ou seja, o ano em curso deverá
reproduzir as dificuldades que foram a tônica em
2015, diagnóstico este que, a julgar pelo pessimis-
mo recente dos mercados, pode ser agravado pela
cena internacional.
O prognóstico, com efeito, indica um exercí-
cio com retração na atividade econômica (baixo
consumo e investimento paralisado), inflação re-
sistente, juros em patamar elevado, desemprego
crescente e perda de renda pelos trabalhadores,
cenário que aprofunda a incerteza e a desconfian-
ça. Adicionalmente, seguiremos sob forte instabi-
lidade no campo político, o que fará, novamente,
desviar a atenção do Congresso e do Executivo
para objetivos menos relevantes sob a perspectiva
dos cidadãos e dos empreendedores.
Em decorrência, somado o fato de as famílias,
em grande parte, já terem chegado ao limite de sua
capacidade de endividamento e de a inadimplência
recrudescer, é certo que o sistema financeiro será
ainda mais seletivo na concessão de crédito nos
próximos meses. Os bancos manterão sua políti-
ca de compensar a perda de receitas com juros via
calibragem dos ganhos com tarifas de prestação de
serviços e tesouraria (diante da Selic alta), sem ne-
gligenciar a gestão de seus custos.
Do lado das instituições financeiras cooperati-
vas, historicamente (vide 2009-2011 e 2015), os in-
tervalos de crise têm-se transformado em oportuni-
dades reais de crescimento e de ganho de mercado.
Mantida a imprescindível cautela, as cooperati-
vas poderão preservar o seu compromisso de assis-
tir aos seus cooperados em suas demandas de cré-
dito, em especial àqueles fiéis à entidade e com bom
histórico de adimplemento, bem como aos que estão
ligados a setores menos vulneráveis à crise.
O momento é igualmente sugestivo à intensifica-
ção do relacionamento operacional com os sócios,
fora da intermediação financeira. As cooperativas
dispõem, hoje, de um eclético e competitivo portfó-
lio de produtos e serviços, cobrindo praticamente
todas as demandas dos cooperados. Daí que é neces-
sária uma postura (mais) ousada no sentido de levar
ao associado soluções como consórcios (altamente
competitiva em cenário de juros altos), cartões, ad-
quirência (“maquininha” de cartões), seguros, pre-
vidência privada, cobrança, convênios e similares.
Por óbvio, a atual fase também pede (especial)
parcimônia nos gastos. Logo, é uma boa hora para
repensar estruturas, processos, contratos de pres-
tação de serviço e despesas administrativo-opera-
cionais em geral. Um melhor aproveitamento dos
serviços ofertados pelas entidades de segundo (cen-
trais) e terceiro (confederações e bancos cooperati-
vos) níveis do sistema cooperativo associado é, sem
dúvida, oportunidade a ser considerada solução
para a diluição de custos e investimentos locais.
Para esses dias de escassez, aliás, calha bem a li-
ção de Benjamin Franklin: “Cuidado com as despe-
sas miúdas: pequenos vazamentos podem levar um
grande navio a pique”.
De tudo, uma certeza: A crise – como sempre –
será passageira... O desafio é fazer a travessia!
ARTIGO
ÊNIO MEINEN
Advogado, pós-graduado em direito e em
gestão estratégica de pessoas. É diretor de
operações do Banco Cooperativo do Brasil
(Bancoob).Div
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ação
JANEIRO | FEVEREIRO 201646
FOMENTO
BRDE LIBERA R$ 188 MILHÕES EM NEGÓCIOS DURANTE EVENTOO Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-
mo Sul (BRDE) trouxe R$ 300 milhões em finan-
ciamentos para o Show Rural, dos quais R$ 188
milhões foram liberados durante a feira, com a
assinatura de contratos com empresas, cooperati-
vas e produtores das regiões Oeste e dos Campos
Gerais do Paraná e do Mato Grosso do Sul.
A liberação de recursos foi um dos eventos pro-
movidos pelo BRDE no Show Rural, que aproveitou
a participação da feira para abrir as comemorações
dos 55 anos do banco. Outro evento foi uma pales-
tra com o agrônomo e mestre em economia rural
Xico Graziano. “É uma alegria e um orgulho para
o BRDE fechar negócios durante o Show Rural, o
que comprova mais uma vez a vocação do banco,
que está completando 55 anos em 2016, como in-
dutor do desenvolvimento econômico e social do
Sul do Brasil”, afirmou o diretor Administrativo do
Banco, Orlando Pessuti.
No início de fevereiro, o gerente de negócios do Su-
doeste da Agência de Fomento do Estado da Bahia
(Desenbahia), Victor David Filho, participou de reu-
nião com o presidente da Coopmaq, Jamilton Gus-
mão, e representantes da Associação das Indústrias
(AINVIC), Sebrae, Associação Comercial (Acivic) e
CDL de Vitória da Conquista. O encontro discutiu
sobre a participação das entidades na Feira de Negó-
cios Coopmaq que ocorre anualmente na Expocon-
quista. Além disso, o objetivo da reunião foi incenti-
var a geração de novos negócios dessas instituições.
Segundo o gerente de negócios, a participação da
Desenbahia é fundamental para dar visibilidade à
agência, com oportunidade de apresentar as linhas
de crédito ao público da região.
O BNDES aprovou repasse no valor de R$ 100 mi-
lhões ao Banco do Nordeste (BNB). Os recursos,
oriundos do Produto BNDES Microcrédito, serão
utilizados em operações de microcrédito produtivo
orientado, que se destinam a pessoas físicas e jurídi-
cas empreendedoras de atividades de pequeno porte.
O banco nordestino contabilizou que, com
este aporte, poderá realizar 600 mil operações
com valor médio de R$ 1,4 mil e manter perto de
125 mil postos de trabalho. Credenciado como
agente financeiro do BNDES desde 1973, o BNB
tem atualmente, no âmbito do Produto BNDES
Microcrédito, duas operações contratadas: a pri-
meira, de 2011, no valor de R$ 50 milhões, que
está em fase de amortização, e outra, de 2014, no
valor de 100 milhões, já em fase de carência. Em
2015, até o terceiro trimestre do ano, o BNB em-
prestou um total de R$ 5,9 bilhões, atendendo a
mais de três milhões de microempreendedores.
A carteira de microcrédito do BNDES, em junho
de 2015, apresentou crescimento de 143% em
relação ao ano de 2012, alcançando um total de
R$ 200,4 milhões.
BNDES APROVA R$ 100 MI AO BNB PARA OPERAÇÕES DE MICROCRÉDITO
DESENBAHIA DISCUTE PARTICIPAÇÃO EM FEIRA DE NEGÓCIOSA
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do
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RUMOS 47
Empresas capixabas terão mais uma fonte de recursos para
se ampliar e se modernizar. O Banco de Desenvolvimento do
Espírito Santo (Bandes) e a Inseed Investimentos receberam
cerca de 150 empresários e empreendedores interessados no
funcionamento dos Fundos de Investimento em Participa-
ções (FIPs). Esse tipo de investimento é uma modalidade de
apoio distinta do crédito tradicional, onde uma empresa ges-
tora do Fundo identifica o potencial de crescimento de um
negócio e adquire um percentual de suas ações.
De acordo com Luiz Paulo Vellozo Lucas, diretor-presiden-
te do Bandes, a participação das empresas nos FIPs não é em-
préstimo, é sociedade. “A empresa que gerencia esse fundo é um
banco de investimento privado. O Criatec é o fundo para star-
tups. Se o gestor do fundo achar que aquele produto tem futuro
e vai dar lucro, ele entra como sócio”, destaca.
Mais cursos, possibilidades e soluções para os empreendedores com foco
em inovação. Essas novidades chegam ao Programa InovAtiva Brasil, que
promove a aceleração de startups, a partir da assinatura do Termo de Co-
operação entre o Sebrae e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC). O programa já conta com mais de 11.000 em-
preendedores em sua plataforma, 400 mentores voluntários no Brasil e no
exterior e ampla rede de parceiros privados. O acordo foi selado em feve-
reiro, pelo ministro Armando Monteiro e pelo presidente do Sebrae, Gui-
lherme Afif Domingos. Durante a solenidade, foi apresentado o programa
de internacionalização do Inovativa Brasil e um painel sobre o tema, com a
presença de representantes da Agência Brasileira de Promoção de Expor-
tações e Investimentos (Apex-Brasil), do MDIC, da Fundação Certi e do Se-
brae, além de dois empreendedores com experiência internacional: Flávio
Ludgero, cofundador da Startaê; e Joni Hoppen dos Santos, fundador da
Aquarela Knowledge & Innovation, finalista do Inovativa 2015.
O Banco de Desenvolvimento de Minas Ge-
rais (BDMG) participou da I Oficina de In-
ternacionalização Regionalizada promovido
pela Assessoria de Relações Internacionais
do governo do estado. O evento teve como pú-
blico os secretários-executivos dos 17 fóruns
regionais, com o objetivo de qualificar os
municípios para a projeção internacional e a
identificação de oportunidades nessa área.
Um dos painéis apresentados, de Pro-
moção Comercial e Atração de Investimen-
tos, teve participação do banco, representa-
do pela gerente Juliana Assis, que palestrou
sobre a atuação do BDMG no setor público
e a experiência na captação e repasse de re-
cursos internacionais. Segundo a gerente:
“o banco está bastante atento ao que está
sendo discutido e priorizado nos fóruns re-
alizados nos Territórios de Desenvolvimen-
to e o produto desse trabalho tem gerado
relevantes insumos para o desenvolvimen-
to de programas e para a definição sobre a
forma de atuação do BDMG”.
BDMG PARTICIPA DE OFICINA DE OPORTUNIDADES
BANDES LANÇA FUNDO PARA INVESTIR EM NEGÓCIOS INOVADORES
SEBRAE E MDIC FIRMAM PARCERIA QUE FORTALECE PROGRAMA DE FOMENTO A STARTUPS
Div
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ação
JANEIRO | FEVEREIRO 201648
História econômicaem revista
A revista Rumos completa 40 anos em
2016. Nesse período, ela promoveu de-
bates centrais ao processo de desen-
volvimento brasileiro. Testemunha de
muitas histórias, Rumos documentou
ideias em constante transformação, re-
flexões teóricas confrontadas pela ur-
gência da conjuntura econômica.
Esta coluna pretende recuperar, nas
próximas edições, alguns dos principais
pontos do debate brasileiro sobre con-
juntura e desenvolvimento econômico,
na forma como apareceram nas páginas
desta revista. A proximidade entre Ru-
mos e a discussão sobre desenvolvimen-
to faz das Instituições Financeiras de
Desenvolvimento preocupação central
da maior parte dos artigos e entrevistas
veiculados. Constituindo-se enquanto
espaço de reflexão sobre os problemas
do desenvolvimento, de modo geral,
mas também a respeito do papel das
Instituições Financeiras de Desenvol-
vimento (IFDs) neste processo, a revis-
ta teve por hábito enfatizar a discussão
sobre a importância deste conjunto de
instituições que hoje chamamos de Sis-
tema Nacional de Fomento (SNF).
Dois dos maiores pensadores do
Brasil, Ignácio Rangel e Celso Furtado,
foram protagonistas de acaloradas dis-
cussões sobre o processo de desenvolvi-
mento. A transição democrática foi em
si um processo conflituoso e o período
entre março e agosto de 1985 foi par-
ticularmente tumultuado. Tancredo
Neves, eleito presidente da República,
após duas décadas de ditadura militar,
morre em 21 de abril, deixando ao vice,
José Sarney, a tarefa de conduzir a tran-
sição democrática e estabilizar uma economia que
enfrentava desafios crônicos. Mais do que isso, as
forças políticas se articulavam em torno de proje-
tos distintos para a Assembleia Constituinte, que
definiria os contornos da Nova República. Período
fértil em perguntas de difícil resposta e, portanto,
rico em debates marcantes e decisivos.
Neste contexto, Rangel e Furtado expõem suas
divergências a respeito dos caminhos a seguir. Na
edição de março/abril daquele ano, provocado a
comentar a máxima de Tancredo – “É proibido
gastar” –, Rangel inverte os termos do
raciocínio e lança sua própria versão da
diretiva – “Urge buscar novas fontes de
recursos”. Segundo ele, para viabilizar a
continuidade do processo de desenvol-
vimento, era necessário repactuar a re-
lação entre os setores público e privado,
fortalecendo o papel do Estado, no âm-
bito da intermediação financeira, con-
comitantemente a diminuição de sua participação
nas atividades produtivas, inclusive por meio da
privatização de determinados serviços de utilida-
de pública. Nos dizeres de Rangel, o capitalismo
financeiro, que se fortalecia, seria “o casamento de
uma usina cada vez mais privada, com um banco
cada vez mais estatal”.
Na edição julho/agosto, Furtado questiona o
argumento de Rangel e reafirma a inconveniência
das privatizações, já que os serviços até então pres-
tados pelo Estado dificilmente seriam integrados
ao mercado. Para Furtado, só existiria a possibili-
dade de concessão se houvesse controle do Estado
sobre a administração dos preços e, portanto, sobre
os lucros, tratando-se, assim, não de privatização,
mas de transferência de gestão. A solução era ou-
tra, fazia-se mister reduzir juros para então adotar
medidas capazes de gerar emprego: “o verdadeiro
problema do Brasil é a retomada do investimento e
isto significa a redução das taxas de juros”.
Rumos documentou ideias em constante transformação, reflexões teóricas confrontadas pela urgência da conjuntura econômica.
ARTIGO
RUMOS 49
ANDREJ SLIVNIK
É economista, formado pela Universidade
de Campinas (Unicamp), e mestrando
pela mesma instituição. Atua como
técnico da Gerência de Estudos
Econômicos da ABDE.
A temperatura do debate pode ser medida pelo
tom provocativo com que Furtado questiona Ran-
gel: “É evidente que o Ignácio, para pensar isso,
deve ter hoje uma visão de desenvolvimento total-
mente diferente da que ele teve no passado”.
Furtado e Rangel, a despeito das divergências,
concordavam quanto à importância do Sistema
Nacional de Fomento para a economia brasileira e
como saída para a crise. Na opinião de Rangel, era
“uma peça essencial do sistema econômico brasi-
leiro atual”, enquanto Furtado via em sua criação
“um salto adiante”. Ambos, no entanto, faziam
ressalvas e destacavam pontos de fragilidade que
ainda precisavam ser equacionados: a questão re-
gional, entendida por Rangel como o desafio da
igualização espacial do desenvolvimento, cuja
solução passava pela ação do BNDES no aprovei-
tamento de oportunidades locais, inclusive pela
intermediação dos Bancos de Desenvolvimento
(BDs) regionais e estaduais; e o desafio do plane-
jamento, fundamental, na leitura de Furtado, para
evitar que os BDs se degradassem, distorcendo o
foco de sua função essencial de promover o desen-
volvimento econômico e social.
Esse debate foi continuamente explorado pela
Rumos. Nesse período de tensões na economia e
de importantes redefinições políticas, muitos dos
números da revista se dedicaram a reflexões sobre
as crises e o futuro, do Brasil e dos Bancos de De-
senvolvimento: Os BDs e a crise: uma proposta para
reativar o desenvolvimento; Crise econômica torna
ação dos BDs ainda mais importante; O papel futuro
dos BDs; entre outras tantas entrevistas e artigos,
que não se furtaram em estabelecer estreita rela-
ção entre a recuperação da economia brasileira e
o resgate da capacidade de atuação dos Bancos de
Desenvolvimento, sempre advogando em defesa da
vocação sistêmica destas instituições.
Na verdade, a crise econômica, associada ao pro-
cesso de revisão constitucional, colocava sob risco
a própria existência destas instituições. Assim, é
significativo que uma das mais contundentes de-
fesas do SNF, naquele momento, tenha partido de
José Lins de Albuquerque, presidente da Comissão
da Ordem Econômica da Constituinte. Na edição
março/abril de 1987, o deputado sistematiza as
principais razões para sua existência: primeiro, por
ser instrumento de atuação dos Poderes Executi-
vos, por meio dos quais era possível apoiar o desen-
volvimento; segundo, por ser composto por insti-
tuições que se predispunham a trabalhar com visão
de longo prazo; e finalmente, em defesa dos bancos
estaduais, por sua proximidade com os problemas
locais, o que os colocava em posição privilegiada
para avaliar cada projeto, para cada região. Na vi-
são do constituinte, estas instituições mereciam a
confiança da sociedade para enfrentar os desafios
do presente e do futuro.
Portanto, mais do que testemunha dos deba-
tes pelo desenvolvimento, Rumos acompanhou de
perto as diversas transformações vivenciadas nos
últimos 40 anos. Desenvolvimento regional, pla-
nejamento estratégico, fontes de recurso, papel
das pequenas e médias empresas, planos de esta-
bilização monetária e participação do Estado na
intermediação financeira – uma ampla gama de
temas que fazem da revista Rumos uma publicação
singular, espaço em que a análise dos desafios atu-
ais da economia sempre vem acompanhada de um
convite a reflexões mais abrangentes. Mesmo dian-
te das piores crises, as urgências do presente nunca
afastaram Rumos de sua preocupação com o futuro
do desenvolvimento brasileiro.
Desafios do passado, recolocados no presente.
A proposta desta coluna é, justamente, recuperar
a discussão sobre o desenvolvimento interligado
com esta rica história de defesa das instituições
financeiras de desenvolvimento, como forma de
prospectar caminhos para o futuro do Sistema Na-
cional de Fomento.
FERNANDA FEIL
É formada em economia pela
Universidade de São Paulo (USP), mestre
na mesma área pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul e gerente de Estudos
Econômicos da ABDE.No
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JANEIRO | FEVEREIRO 201650
Nesta entrevista de abertura de “Li-
vros”, o presidente do Instituto de Pes-
quisa Econômica Aplicada (Ipea), Jessé
Souza, faz um convite à reflexão sobre
os velhos paradigmas norteadores da
sociedade brasileira, explicados em sua
última obra. E também apresenta o an-
damento da mais recente pesquisa do
Instituto.
RUMOS – O que a “Radiografia do Bra-
sil contemporâneo” trará de novo sobre
a sociedade brasileira? Em qual mo-
mento a pesquisa se encontra?
JESSÉ SOUZA – A pesquisa reflete
essa tentativa de termos acesso à po-
pulação brasileira, especialmente a po-
pulação que é menos conhecida, que é
menos privilegiada. São cerca de 70% da
população do Brasil que estão abaixo da
classe média real. São eles que queremos
conhecer melhor; por exemplo, existem
privilégios que são moldados dentro da
instituição familiar, que parecem na-
turais, mas não são, como a capacidade
de concentração. Ela é um privilégio de
classe, a classe média tem. E boa parte
da população brasileira mais carente
não tem. E, talvez, a ausência dela seja
uma das causas mais importantes para
que ainda hoje uma porção significativa
dos pobres saia da escola como analfabe-
tos funcionais, porque se precisa dessa
capacidade de concentração para poder
aprender efetivamente. Então, estamos
tentando entender melhor essa relação,
da socialização familiar, entre a escola e
o mercado de trabalho.
RUMOS – E em que momento nós esta-
mos da pesquisa? Já é possível adiantar?
SOUZA – A pesquisa está avançada.
Ela tem duas fases. A primeira é de um
levantamento geral do Brasil inteiro so-
bre todas as classes e as extrações destes
aspectos que iremos examinar. E essa
TRAZER LUZ AOS VELHOS PARADIGMAS
LIVROS
primeira fase está em dia, fico muito contente com
os resultados, que estão espetaculares. Essa é uma
pesquisa extraordinária que está acontecendo e
vamos tê-la pronta em março. Na segunda fase, ela
vai ter outros focos.
RUMOS – A próxima questão é pensar que ter um
banco de dados, esse rol de informações, irá auxi-
liar no desenho de novas políticas ou na reorien-
tação delas. É fundamental ter informações nesse
grau de profundidade e confiabilidade para orien-
tar esse momento pós-ajuste fiscal?
SOUZA – Sem dúvida. Até porque é exatamente
o tipo de conhecimento que é necessário agora,
pois, por exemplo, os programas sociais têm uma
especificidade muito grande. E essa especificida-
de significa que não pode só ser medida em termos
monetários. Além da transparência de renda, os
programas implicaram em expansão de horizontes
familiares. Há indicativos de que as famílias mais
pobres passaram em investir mais em educação, o
que é um item muito importante porque o capital
econômico é concentrado em todos os lugares, mas
o que vai mudar os países, ou seja, se eles vão ser
mais igualitários, ou mais desiguais, como o nosso,
é o fato de que o capital cultural vai ser democrati-
zado ou não. O que o capitalismo consegue demo-
cratizar nunca é o capital econômico, isso fica sem-
Estamos tentando entender melhor essa relação, da socialização familiar, entre a escola e o mercado de trabalho.
Div
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ação
RUMOS 51
pre em poucas mãos, mas ele pode democratizar o
capital cultural. Então, poderemos avaliar esses
programas por esse lado: de que maneira essa
ação está transformando o horizonte das famí-
lias mais pobres, ou seja, elas estão percebendo o
mundo e o seu lugar nele de outro modo. Isso é
muito mais do que ter dinheiro.
RUMOS – No livro, o senhor propõe uma leitu-
ra que está separada do que tradicionalmente é
dito e feito dos paradigmas do pensamento social
brasileiro. E o senhor mostra que esses conceitos
estão incorporados no dia a dia das pessoas, que
as repetem de forma irrefletida. De que forma
esse paradigma que saiu do campo da academia
não ficou restrito lá, influiu no desenho das polí-
ticas públicas e no processo de desenvolvimento
do Brasil até agora?
SOUZA – Ele influiu muito, bastante. Isso é ou-
tra coisa que não se percebe normalmente por-
que as ideias normalmente ficam invisíveis, o
que estimula, digamos assim, uma cegueira ge-
ral. As ideias são muito importantes, no fundo.
As ideias não são importantes aqui, mas elas ga-
rantem a compra dos interesses poderosos. Nor-
malmente, pensamos que o dinheiro é tudo, mas
no fundo são as ideias dominantes que dizem a
forma como você vai usar o dinheiro. Então, as
ideias são fundamentais nisso. Elas são muito
específicas e singulares, ou seja, o jornalista está
no jornal, ele pode ter até uma opinião pessoal,
mas ela vai ser uma variação sobre aquilo que já
é, sobre aquela ideia que já é dominante naquele
tema, então o jornalista repete no fundo as ideias
dominantes, como o professor na universidade, o
juiz na sua causa. O que aconteceu é que temos no
Brasil uma luta de classes que é muito escondi-
da, porque é encoberta. Nós somos um dos países
com a pior distribuição de renda do mundo. Mas
a sociedade se acomodou, acha isso normal. Essa
questão é muito assustadora: que a desigualdade
não seja obviamente a grande questão a ser com-
batida no Brasil.
Com isso se monta um mundo que só existe na
ideia com nenhuma relação com o real para que
se possa manipular o resto da sociedade. No fun-
Nós somos um dos países com a pior distribuição de renda do mundo. Mas, a sociedade se acomodou, acha isso normal. Essa questão é muito assustadora: que a desigualdade não seja obviamente a grande questão a ser combatida no Brasil.
A Tolice da Inteligência
Brasileira
Jessé Souza
Casa da Palavra, 272p., 2015.
.
do, há uma luta de classes que está des-
conhecida. A classe média, por exem-
plo, corresponde há 20% da população,
no máximo. No fundo, a classe média
é explorada sobre todos os modos, por
mecanismos estatais, ou por mecanis-
mos de mercado por essa meia dúzia de
ricos, mas ela não percebe isso, ela vê,
considera que o mal está no Estado.
RUMOS – Seria o caso de pensar num
novo paradigma para entender o Bra-
sil? Como construir, ou como abrir esse
caminho para essa reflexão ampla des-
ses mitos que estão incorporados?
SOUZA – A dúvida é essa. O meu ca-
minho é pensar que devemos pôr a luz
àquilo que estava escondido. Então,
todas essas estruturas de dominação
precisam ser explicitadas. Na minha
visão, esse aspecto é o mais importan-
te. A questão central entre nós é a desi-
gualdade. Por que todos os problemas
centrais que temos advêm dela: a inse-
gurança, a má qualidade dos serviços, a
baixa produtividade. E essa é a questão
econômica, social e política mais im-
portante, não tem nenhuma outra.
RUMOS – O senhor acredita, agora à
frente do Ipea, que existe algum instru-
mento que permita ao instituto mudar
o modo como o Estado brasileiro é vis-
to? Este é um papel que cabe ao Ipea?
SOUZA – O Ipea tem que assessorar
o governo. Ele atua do melhor modo
possível e tem a função institucional de
promover os seus debates importan-
tes para o desenvolvimento brasileiro.
E esse desenvolvimento brasileiro é
em todos os níveis: desenvolvimen-
to social, político e econômico. É com
o aprofundamento dessa agenda que
o país deve e pode se debruçar. Es-
sas questões mais essenciais são uma
agenda fundamental.
JANEIRO | FEVEREIRO 201652
Guerra dos lugares
Raquel Rolnik
Boitempo Editorial, 424 p., 2015.
UM LUGAR NO MUNDOCom o instigante título, Guerra dos
lugares, a nova obra da urbanista Ra-
quel Rolnik, reúne as reflexões pos-
teriores ao mandato da autora como
relatora para o Direito à Moradia
Adequada da ONU. No livro, ela abor-
da o processo global de financeiri-
zação das cidades e seu impacto so-
bre os direitos à terra e à moradia dos
mais pobres e vulneráveis.
Dividido em três partes, Rolnik,
no início, descreve e analisa as trans-
formações recentes nas políticas ha-
bitacionais e fundiárias em vários
países do mundo, no marco da ex-
pansão de uma economia neoliberal
globalizada, controlada pelo sistema
financeiro, que provocaram um pro-
cesso global de insegurança da pos-
se. Na terceira, a urbanista explora a
mesma questão, com foco no Brasil.
A originalidade da obra reside no enfo-
que global do fenômeno, investigado a
partir da vivência direta de uma autora
brasileira olhando as condições de mo-
radia no mundo. A leitura da evolução
recente das políticas habitacionais e ur-
banas no Brasil – inclusive na era Lula
– à luz desses processos globais ajuda a
pensar as especificidades e as diferenças
da crise urbana no país.
Também é original o entrelaçamen-
to entre as políticas habitacionais e a
política urbana, articuladas pela auto-
ra através da construção da hegemonia
da propriedade individual e da trans-
mutação dos imóveis em ativos. Ainda
sobre essa temática, Rolnik escreveu O
que é cidade e A cidade e a Lei, dentre
outras obras.
China em Transformação
Marcos Antonio Macedo Cintra, Edison
Benedito da Silva Filho e Eduardo Costa
Pinto (orgs.)
Ipea, 602 p., 2015.
O NASCIMENTO DE UMA POTÊNCIA O que fez a China se tornar a segunda
maior economia do mundo? As varia-
das transformações ocorridas naquele
país são examinadas em detalhes por
professores de diversas universidades
brasileiras, sob a coordenação de Mar-
cos Antonio Macedo Cintra, Edison
Benedito da Silva Filho e Eduardo Cos-
ta Pinto e publicação do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
É uma obra robusta que aborda desde
questões referentes à industrialização,
à inserção nas cadeias produtivas glo-
bais, à gestão da moeda e do crédito,
passando pelo aparato modernizante.
Ao escrever sobre o livro, o profes-
sor associado do Instituto de Econo-
mia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IE/UFRJ), Ernani Teixeira
Torres Filho, destaca que o texto “es-
timula o debate sobre as principais
características do modelo de desen-
volvimento chinês e as céleres trans-
formações ocorridas no socialismo de
mercado, ou uma das formas existen-
tes de organização do capitalismo na
China contemporânea. Este debate
entre funcionários públicos, formula-
dores de políticas, empresários, sindi-
catos, partidos políticos, acadêmicos,
jornalistas e estudantes pode ser fru-
tífero para alimentar a discussão sobre
um novo desenho de desenvolvimento
para o Brasil, projeto que deverá impli-
car mudanças na inserção internacio-
nal do nosso país, nas dimensões co-
mercial, produtiva e financeira.”
A obra foi publicada em versão
digital e está disponível na internet
para download gratuito por meio do
endereço eletrônico do Ipea: http://
migre.me/t8S9h.
JANEIRO | FEVEREIRO 201654
EXPEDIENTE ERRATANa última edição da Rumos não foi publicada
a referência bibliográfica do artigo “A história
de um Sistema”, na coluna Pelo Mundo. Com
as devidas desculpas aos autores citados,
indicamos abaixo as referências:
CUNHA, A.M., CARVALHO, C.E. e PRATES,
D.M.. 2015. Desenvolvimento de indicadores
de desempenho do Sistema Nacional de
Fomento. InfoABDE. Rio de Janeiro: ABDE,
2015.
HORN, C.H., FEIL, F. e TAVARES, D.. 2015.
Instituições Financeiras de Desenvolvimento
no Brasil: razões e desafios para um Sistema
Nacional de Fomento. ABDE. Prêmio ABDE-
BID. Rio de Janeiro: ABDE, 2015, pp. 9-58.
CARTAS DO LEITORAssessoraNa última edição foi publicada uma nota da
Radar PPP. O autor do texto, Bruno Pereira,
agradece a publicação e solicita, se possível,
o envio do exemplar mensalmente para sua
residência. Ele vai ler todas as que receber
com prazer.
Natália Helen. Radar PPP. São Paulo (SP).
BibliotecáriaCom enorme satisfação que acusamos o
recebimento do título ofertado por essa
estimada instituição. Obrigada por contribuir
para o enriquecimento do nosso acervo, e por
último, informamos que assim que tivermos
novas publicações serão encaminhadas para
vocês.
Ana Lúcia. Biblioteca Central Julieta
Carteado, Universidade Estadual de Feira de
Santana. Feira de Santana (BA).
Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall | Brasília | DF | CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: [email protected]
Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andar Grupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906 Telefone: (21) 2109.6000 E-mail: [email protected]
CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho
DIRETORIA Presidente: Milton Luiz de Melo Santos 1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 2º Vice-Presidente: Ilton Luis Schwaab
Diretores: Francisco Soares, José Henrique Paim, Humberto Tannús Junior, Otto Alencar Filho, Rogério Tavares, Susana Kakuta
Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima
AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.
AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.
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AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de TocantinsAGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de FomentoBANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
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