104
Revista do CONAPRA - Conselho Nacional de Praticagem - Edição especial

Rumos Edicao Especial

Embed Size (px)

Citation preview

  • Revista do CONAPRA - Conselho Nacional de Praticagem - Edio especial

  • ndice indexCONAPRA Conselho Nacional de Praticagem

    Av. Rio Branco, 89/1502 Centro Rio de Janeiro RJ CEP 20040-004Tel.: 55 (21) [email protected]

    diretor-presidente Ricardo Augusto Leite Falco

    diretoresAlexandre Koji TakimotoCarlos Alberto de Souza FilhoLauri Rui RamosLinsio Gomes Barbosa Junior

    diretor / vice-presidente snior da IMPAOtavio Fragoso planejamento Otavio Fragoso / Flvia Pires / Claudio Davanzo

    edio e redao Maria Amlia Parente (jornalista responsvel) MTb/RJ 26.601

    reviso Maria Helena Torres

    traduo Celimar de OliveiraRoberto James Ramsay Paola Gmez Salvador

    projeto grfico e designKatia Piranda

    pr-impresso / impressoDVZ/Davanzzo Solues Grficas

    fotosFbio Moreira Salles

    As informaes e opinies veiculadas nesta publicao so de exclusiva responsabilidade de seus autores. No exprimem, necessariamente, pontos de vista do CONAPRA.

    5Ricardo FalcoApresentao

    Os trabalhadores no desenvolvimento da atividade martima e porturia 9Severino Almeida

    Praticagem: atividade essencial e de interesse pblico. O paradigma internacional, a importncia da regulao social e econmica 14

    Michael R. Watson

    Uma viso geral das orientaes da IMO incluindo a Resoluo A.960 e as regras Solas relativas praticagem

    21Gurpreet Singhota

    Avaliao e expectativas da Intertanko em relao ao servio de praticagem

    26Joseph Angelo

    Gerenciamento de risco nas atividades do prtico 32Siegberto Rodolfo Schenk Jr.

    A regulao inadequada e suas consequncias: o exemplo do Reino Unido 40John Pearn

    Comparao do modelo brasileiro com modelos de praticagem de outros pases: a praticagem nos Estados Unidos 47

    Paul Kirchner

    Comparao do modelo brasileiro com modelos de praticagem de outros pases: a praticagem na Europa

    54Hans-Herman Lckert

    Caractersticas econmicas da praticagem, competitividade e regulao econmica

    59Ronaldo Fiani

    As consequncias da concorrncia no servio de praticagem: o exemplo da Argentina

    62Pablo Pineda

    Infraestrutura porturia e aquaviria: dragagem e levantamento batimtrico _

    parmetros e planejamento65Edson Mesquita

    A simulao como ferramenta para o desenvolvimento de terminais e vias de acesso

    69Eduardo Tannuri

    A evoluo tecnolgica da navegao martima: e-navigation e VTMIS. O prtico ser substitudo pela tecnologia?

    75Simon Pelletier

    Aspectos Jurdicos do servio de praticagem: o armador estrangeiro, suas representatividade e responsabilidades 87

    Eliane Octaviano

    A necessidade da estabilidade institucional, jurdica, operacional e econmica para a eficincia do servio de praticagem

    93Jaime Machado

    Qualidade e eficincia no servio de praticagem 79Jean-Philippe Casanova

    Palavras Iniciais da autoridade martima brasileira 7Vice-alte. Claudio Portugal de Viveiros

    Encerramento 101Ricardo Falco

    4IntroduoPraticagem, a eficincia em benefcio do interesse pblico

  • Praticagem, a eficincia em benefcio do interesse pblico

    Prticos no esto diretamente vinculados atividade porturia; afinal, o exerccio desses profissionais aquavirios se comple-ta exatamente com a atracao do navio no porto, momento a partir do qual a atividade porturia efetivamente tem incio.

    Entretanto, o debate que tem como palco principal o Congresso Nacional, em torno da reviso do marco regulatrio do sistema porturio, popularizado pela intensa cobertura da imprensa, tem includo com frequncia o servio de praticagem entre os setores da infraestrutura porturia que precisam ser "modernizados" visando garantir a eficincia logstica necessria para fazer frente previso do crescimento do comrcio martimo nos prximos anos.

    Viso equivocada, gerada principalmente pela falta de informao sobre a atividade, mesmo entre aqueles que, no sendo usurios diretos do servio, so beneficiados por sua boa qualidade e sero prejudicados se essa qualidade for comprometida.

    De fato, mesmo no sendo os prticos porturios, sua atuao fundamental para a utilizao segura e eficiente dos portos e de suas vias de acesso. Os prticos, entretanto, no so a pedra no caminho para a eficincia do comrcio exterior brasileiro. Ao contrrio, da mesma forma que evitar as pedras e outros perigos submersos e garantir o trfego seguro das embarcaes na costa brasileira constituem sua atividade diuturna, a busca da eficincia tem sido a marca do desenvolvimento desses profissionais desde que, em 1808, em seguida abertura dos portos s naes amigas, D. Joo VI regulamentou o exerccio da profisso.

    Nada mais oportuno, no momento em que o foco da discusso a eficincia, do que apresentar ao pblico o padro que caracteriza o servio de praticagem nas naes martimas tidas como referncias internacionais de qualidade, padro ao qual a praticagem brasileira nada fica a dever.

    Com essa finalidade o Conselho Nacional de Praticagem realizou nos dias 9 e 10 de maio, no Rio de Janeiro, o seminrio "O servio de praticagem no Brasil e a experincia internacional", reunindo profissionais e especialistas de diversos pases.

    A inteno foi mostrar a realidade nos diferentes pases em que esses profissionais atuam, bem como evidenciar as qualidades do modelo brasileiro, cujas caractersticas e resultado so comparveis aos dos melhores exemplos internacionais.

    Desde 1808 o servio de praticagem foi provido ou regulado pela Marinha do Brasil, que responde pela segurana da navegao em nossas guas. Recentemente foi incorporada estrutura de regulao a Comisso Nacional de Assuntos de Praticagem CNAP, com representantes de outros setores do governo federal e com a finalidade de assessorar a autoridade martima brasileira na coordenao dessa atividade estratgica para o interesse nacional.

    Mais uma boa razo para a realizao desse seminrio que pde proporcionar aos membros do CNAP a maioria iniciando seu aprendizado nas questes relacionadas com a atividade de praticagem um panorama extenso e detalhado da organizao do servio.

    Os primeiros registros do servio de praticagem remontam a tempos babilnicos. Conhecemos a importante funo social de nossa atividade e a responsabilidade de garantir a movimentao segura e sem regime de preferncias dos navios e, por consequncia, a livre circulao de mercadorias. Estamos convictos da necessidade de aprimorar cada vez mais os servios e oferecer nossa contribuio ao desenvolvimento sustentado do pas. Esperamos, em contrapartida, que nossos legisladores e governantes tenham iguais responsabilidade e viso pblica na elaborao da legislao pertinente e na gesto do servio.

    Nesta edio da Rumos Prticos o leitor ter acesso a todo o contedo do seminrio realizado pelo CONAPRA, em maio, no Rio de Janeiro. Divulgamos a seguir os discursos e as palestras do evento a fim de que fique registrado em nosso peridico esse importante momento da praticagem brasileira, quando especialistas brasileiros e estrangeiros se debruaram sobre uma profisso to importante quanto silenciosa. Uma profisso que faz jus mxima britnica No news is good news.

    Ricardo Falco

    4

  • 5 com imensa satisfao que dou as boas-vindas a todos!

    O seminrio O servio de praticagem no Brasil e a experincia

    internacional evento histrico, e muito nos honra estarem aqui

    reunidos distinguidos profissionais e especialistas de diversos

    pases para abordar, com amplitude, serenidade e iseno, este

    tema to em pauta e, infelizmente, to distorcido no Brasil: o

    servio de praticagem.

    A competitividade do Brasil tema recorrente na mdia, e essa

    discusso sempre nos remete histria da formao do pas e a

    dois questionamentos: por que no nos tornamos um pas desen-

    volvido, como a quase totalidade das naes da Europa ocidental e

    da Amrica do Norte, com os quais compartilhamos forte herana

    sociocultural? E por que com um parque industrial amplo e diversi-

    ficado, nossa vantagem comparativa sempre se concentrou em

    matrias-primas e manufaturados de baixa tecnologia? H diversas

    teses que pretendem explicar essa diferena, que no condio

    apenas do Brasil, mas da maioria dos pases latino-americanos.

    No pretendemos responder a essas questes nem nos prolongar

    nessa discusso. Queremos registrar apenas que os brasileiros

    Diretor-presidente do CONAPRA

    Ricardo Falco

    nada tiveram de graa e que, pelo esforo de alguns setores

    destacados da economia, fomos capazes de transformar muitas

    das desvantagens iniciais em poderosos trunfos, custa de muito

    trabalho, dedicao e inventividade. A praticagem brasileira

    parte ativa desse processo de desenvolvimento h 205 anos.

    Permanentemente disponvel, estruturada com profissionais habi-

    litados e qualificados, sempre teve como caracterstica principal a

    capacidade de superar desafios. Na verdade a praticagem foi mais

    e alm, assumindo inmeras funes tpicas de uma autoridade

    porturia e substituindo com tecnologia e atuao prprias as

    lacunas de levantamento hidrogrfico e balizamento. A busca de

    excelncia na prestao do servio tem permitido que a praticagem

    brasileira se mantenha na linha de frente do contnuo desenvolvi-

    mento de nosso pas, muito adiante dos investimentos nos portos

    e suas vias de acesso.

    A importncia da praticagem para a competitividade nacional

    passa pela presena qualitativa e quantitativamente destacada do

    servio nos portos, rios e demais vias navegveis, bem como pelo

    papel fundamental no crescimento dos navios que frequentam

    nossos portos e no volume de cargas transportadas sem que inves-

    timentos proporcionais em infraestrutura tenham sido feitos. Os

    maiores navios do mundo, sejam petroleiros da classe ULCC,

    graneleiros valemax, navios de passageiros como o impressio-

    nante Queen Mary II, enfim navios aceitos em pouqussimos portos

    do mundo, frequentam os nossos, com prticos sempre prontos a

    garantir segurana e eficincia. No estamos falando a respeito de

    um projeto de futuro, pois praticagem de primeiro nvel, de

    excelncia, a realidade j disponvel em nosso pas. No fossem

    a proatividade, os investimentos prprios em estrutura e trei-

    namento, a integrao e, sobretudo, a capacitao e a percia dos

    prticos brasileiros, que a regulao atual tem possibilitado, o

    Porto de Santos, por exemplo, no teria condies de receber

    Silncio: o som da segurana

  • 6

    navios com 330 metros de comprimento, praticamente o dobro do

    que sua estrutura permite. No Porto de Manaus, o terminal cons-

    trudo em 1907 e projetado para navios de at 35 mil toneladas

    no estaria operando com embarcaes trs vezes maiores.

    O Porto de Itaqui no estaria recebendo, com total segurana,

    navios com capacidade para transportar 400 mil toneladas de

    minrio de ferro.

    A praticagem brasileira referncia

    mundial! Nosso maior problema a

    falta de manchetes anunciando o quanto

    somos eficientes e eficazes. As senho-

    ras e os senhores jamais lero alguma

    manchete anunciando a no ocorrncia

    de acidentes: o som da segurana

    o silncio.

    Reitero a importncia histrica deste

    seminrio!

    Nestes dois dias, reconhecidos

    profissionais martimos, cientistas e

    intelectuais do mar, renomados juristas

    e outros peritos, do Brasil e do

    exterior, compartilharo uma parcela

    de sua experincia e de seu conhecimento, lanando muita

    luz sobre o assunto.

    Como j manifestei publicamente em outras ocasies, a criao da

    Comisso Nacional para Assuntos de Praticagem, da qual vrios

    membros se encontram presentes, foi muito bem recebida pela

    praticagem brasileira.

    Ela representa uma nova oportunidade de desmitificar a profisso,

    consolidando tudo de positivo que foi desenvolvido por mais de

    200 anos de atuao regulamentada e aprimorando pequenas

    imperfeies que porventura ainda subsistam.

    Senhoras e senhores, um de nossos prticos o vice-presidente

    snior da International Maritime Pilots Association IMPA, o

    segundo maior cargo na associao mundial dos prticos.

    No final do ano passado, durante o Congresso Mundial da catego-

    ria, ocorrido em Londres, a organizao da praticagem brasileira foi

    apresentada com seu atual modelo regulatrio e reconhecida como

    padro de eficincia, de qualidade de prestao de servio e prin-

    cipalmente pelo baixssimo nvel de acidentes: na faixa de poucos

    milsimos porcento, tal como o dos Estados Unidos, a despeito das

    restries de infraestrutura e da precria qualidade e quantidade

    de ferramentas de apoio aqui existentes.

    Assim, a grande questo : o que e

    como deve ser mudado?

    O ltimo estudo abrangente sobre a

    praticagem nos Estados Unidos ocupou

    170 verdadeiros especialistas durante

    um ano e meio, gerando relatrio final

    de 500 pginas. Na Europa outros tan-

    tos especialistas se debruaram sobre a

    questo durante dois anos, para uma

    concluso de 400 pginas. Ambos os

    estudos, contando sempre com a par-

    ticipao das praticagens nacionais,

    recomendaram a manuteno do para-

    digma mundial de organizao da ativi-

    dade, o mesmo adotado no Brasil.

    Senhoras e senhores, qualquer manobra com embarcaes de

    grande porte em guas restritas envolve riscos enormes.

    As discusses sobre o servio de praticagem esto muito incipientes

    e contaminadas por meias verdades. Nem de longe houve tempo

    suficiente para alcanar o aprofundamento necessrio produo de

    alteraes significativas nessa rea extremamente sensvel.

    O interesse pblico deve prevalecer acima de tudo.

    Da, a relevncia de um evento desse porte.

    Sejamos receptivos! Mantenhamos nossas mentes abertas!

    Participemos dos debates! E, sobretudo, busquemos a resposta

    a uma s questo: que servio de praticagem queremos para

    o Brasil?

    Muito obrigado!

  • 7Ilmo Sr. Ricardo Falco, diretor-presidente do CONAPRA Conselho

    Nacional de Praticagem; oficiais da MB e representantes da CNAP;

    Ilmo Sr. Michael Watson, vice-presidente do International Maritime

    Pilots Association; Ilmo Sr. Severino Almeida, presidente do

    Sindicato Nacional de Oficiais da Marinha Mercante; IImo Sr.

    Gurpreet Singhota, representante da Organizao Martima

    Internacional; Ilmos Srs. presidentes das associaes e empresas

    de praticagem; Ilmos Srs. prticos brasileiros e prticos repre-

    sentantes de associaes e entidades de outras naes; Ilmos

    Srs. representantes de empresas, associaes, sindicatos e arma-

    dores; Ilmos Srs. professores; Ilmos Srs. palestrantes; bom dia!

    Neste seminrio e encontro com os prticos, de que participo pela

    primeira vez como diretor de Portos e Costas, gostaria de inicial-

    mente transmitir-lhes a minha satisfao em poder dirigir-me aos

    senhores, proferindo estas breves palavras.

    Agradeo a gentileza do convite do Sr. Ricardo Falco, diretor-

    presidente do CONAPRA, e quero parabeniz-lo pela idealizao

    deste evento, que se reveste de especial significado ao reunir to

    seleto grupo de palestrantes para abordar o servio de praticagem

    no Brasil, incluindo neste debate a valiosa experincia internacio-

    Diretor de Portos e Costas

    Vice-alte. Claudio Portugal de Viveiros

    nal. Considero importante ressaltar a grandeza do nosso pas, com

    a diversidade de portos, rios e canais, segmentados em 22 zonas

    de praticagem (ZP), que agrupam prticos trabalhando em cenrios

    distintos, e que neste evento tero a oportunidade de compartilhar

    suas vivncias, aprimorando ainda mais a expertise desses compe-

    tentes profissionais.

    O servio de praticagem, desde sua criao oficial em 1808, com o

    primeiro decreto imperial regulamentador, tem merecido especial

    ateno da Marinha do Brasil, por sua vinculao direta com a

    segurana da navegao, prestando assessoria essencial aos coman-

    dantes das embarcaes quando navegando em guas restritas.

    A atividade de praticagem envolve tambm aspectos importantes de

    cunho econmico, social e ambiental, como o comrcio exterior, as

    relaes com o Estado e com os tomadores de servio, a proteo do

    meio ambiente, a salvaguarda da vida humana, o custo do seguro e

    muitos outros que deixarei de elencar, mas que integram essa

    dinmica atuao em prol dos componentes do Poder Martimo.

    Historicamente, so incontestveis as excelentes referncias sobre

    a qualidade, o profissionalismo e a slida formao dos nossos

    prticos, e acredito que a principal contribuio de todos os

    agentes que atuam como representantes da autoridade martima

    para a manuteno dessa capacitao tcnica buscar,

    diuturnamente: o aperfeioamento das Normas da Autoridade

    Martima para o Servio de Praticagem (Normam-12); manter

    em alto nvel o processo seletivo e os programas de qualificao

    e habilitao dos praticantes de prtico; com o apoio do

    Conselho Nacional de Praticagem (CONAPRA), realizar os

    Cursos de Atualizao de Prticos (ATPR) e, enfim, como

    previsto em diplomas legais, regular o servio de praticagem

    com o mximo empenho, alis, como tem sido conduzido desde

    Palavras iniciais da autoridade martima brasileira

  • 8o reinado de D. Joo VI at a entrada, em 1997, da Lei 9.537,

    comumente conhecida como Lesta.

    A poca para a realizao deste seminrio tambm oportuna,

    haja vista que se encontra em andamento a adoo de vrias

    medidas e aes governamentais para o setor atinente ao tema,

    ensejando relevantes modificaes que geram expectativas

    otimistas no meio martimo e que, certamente, contribuiro para

    melhorar a eficincia de nossos portos, de forma a dar conta

    da crescente movimentao de cargas e do incremento das

    atividades martimas e fluviais.

    Para no me alongar na abertura deste seminrio, de forma que

    os senhores possam tirar o mximo proveito dos ensinamentos

    que certamente aqui sero trazidos, quero concluir com a seguinte

    mensagem: que a DPC e seu diretor mantero o relacionamento

    franco e profcuo com o CONAPRA, com as associaes de prticos

    e com os prticos de forma geral. Ressalto que a expresso

    mxima de um servio de praticagem, seja em nvel nacional ou

    internacional, atingida quando essa atividade se desenvolve

    com maturidade e conscincia profissional, de modo a que a

    autoridade martima, competente para exercer a superviso e

    o controle, possa estar tranquila e convicta, sabedora de que

    a segurana da navegao, a salvaguarda da vida humana e a

    preveno da poluio ambiental no mar e nas hidrovias

    interiores esto asseguradas.

    Por fim, desejo-lhes para estes dois dias um produtivo seminrio.

    Muito obrigado!

  • Bacharel em cincias nuticas. Presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante Sindmar.

    Presidente da Confederao Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquavirio e Areo, na Pesca e nos Portos Conttmaf.

    Vice-presidente da International Transport Workers Federation ITF.

    Severino Almeida

    9

    Bom dia a todos e a todas. Para no nominar cada um, sado todos

    os palestrantes presentes na pessoa do presidente do CONAPRA,

    companheiro Ricardo Falco, e os demais presentes neste semi-

    nrio na pessoa do almirante Viveiros, atual diretor de Portos e

    Costas, representante da autoridade martima brasileira. Alm de

    satisfao imensa em dirigir a palavra a vocs, fiquei um pouco

    surpreso com o convite. Pediu-me o CONAPRA que apresentasse

    uma viso de nossa organizao, o que poderia significar o que

    seria desenvolvimento na nossa atividade. Ento vou-me permitir

    expressar-me muito mais como presidente de confederao do que

    como presidente do Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante.

    A questo bsica que se apresenta diante do desafio que me colo-

    caram como a representao dos trabalhadores do setor marti-

    mo e porturio expressa o que seus representados entendem

    como desenvolvimento na atividade. Aparentemente simples, essa

    questo extremamente complexa dependendo dos interesses,

    das perspectivas do que desenvolvimento. Vou expressar nossa

    viso, a do trabalhador do setor. S faz sentido para ns dizer que

    alcanamos desenvolvimento em determinada atividade quando

    desenvolvimento implica aumento de eficincia, sem excluso

    social, justa distribuio de riqueza produzida, com valorizao do

    trabalho e contribuio para um pas mais rico e justo.

    Infelizmente essa viso no consensual nem no Brasil, nem,

    provavelmente, em nenhuma regio do mundo, independente da

    ideologia reinante. Ainda mais na relao capital/trabalho, no

    sistema capitalista. O prprio sistema busca o lucro, seu objetivo

    maior. Pode at haver alguma sensibilidade social ou compromisso

    de distribuio de riqueza, mas fato que h prioridade muito clara

    na acumulao de riqueza, atravs do lucro. Assim o sistema.

    Nosso pas, neste momento, nos desafia a faz-lo crescer.

    No nos esquecendo de que o compromisso maior no

    deve ser com a concentrao dessas riquezas, mas com

    sua distribuio.

    Assim como cada um de vocs, eu gostaria que nosso crescimento

    fosse maior do que o ocorrido nos dois ltimos anos. Estamos

    crescendo, verdade. Mas a alegria maior o fato de que estamos

    conseguindo distribuir melhor nossa riqueza. Nosso setor

    extremamente estratgico para o pas. O que eu vou dizer todos

    vocs sabem; provavelmente todos lembram, mas a sociedade

    brasileira de um modo geral nem sequer se lembra disso. Ao sair

    de casa, ao tomar seu caf da manh aqueles que podem nem

    sequer se lembram de que o trigo passou num poro de navio. Ao

    vestir a roupa no passa pela cabea do cidado brasileiro que

    aquele material passou efetivamente por um navio. Ao tomar um

    nibus, um txi, no lhe passa pela cabea que o combustvel

    passou pelo nosso setor.

    absolutamente impossvel uma sociedade moderna se organizar

    e existir sem a nossa participao. Costumo dizer que enquanto

    no inventarem uma mquina que transporte uma mercadoria de

    um ponto A para um ponto B atravs de um sistema que lhe

    garanta desaparecer do ponto A e aparecer repentinamente no

    ponto B, a nossa continuar sendo uma das atividades mais

    Os trabalhadores no desenvolvimento da atividade martima e porturia

  • 10

    estratgicas do mundo. Podemos comprar e vender mercadorias

    pela internet, dispensar a ida fsica a estabelecimentos bancrios,

    fazer negociaes usando meios eletrnicos; muita coisa pode-se

    fazer neste mundo de hoje sem necessariamente a presena fsica.

    Mas ainda no inventaram uma forma de concretizar todas essas

    negociaes e trocas necessrias para que uma sociedade

    moderna possa existir sem que ns estejamos presentes.

    Isso nos faz muito especiais e responsveis; exige que todos ns,

    em nosso setor, tenhamos plena conscincia do nosso papel

    nesse processo. No podemos nem devemos permitir que o

    desenvolvimento nessa atividade venha favorecer grupos

    especficos ou possa deixar nosso pas dependente de controle

    externo. O capital estrangeiro neste pas pelo menos assim que

    os trabalhadores pensam muito bem-vindo. Mas temos

    que aceit-lo mantendo nossa soberania e sabendo utiliz-lo da

    forma que nos interessa, dando contrapartida quele que investe.

    Desde os anos 90 evidente em nosso pas o esforo de

    armadores e operadores porturios em responsabilizar os

    trabalhadores martimos e porturios pelos altos custos e

    ineficincia operacionais do setor. A mdia em regra amplifica

    esse entendimento formando opinio nesse sentido.

    Desafio qualquer um que viva em nosso pas a afirmar desconhecer

    que o tripulante brasileiro extremamente caro, que o sistema

    porturio um problema grave porque, alm de ineficiente, atra-

    vanca especialmente atravs de sua organizao sindical o desen-

    volvimento porturio brasileiro. Duvido que algum aqui no saiba

    atravs da mdia que o servio de praticagem abusivo, extrema-

    mente caro, realizado de forma absurda porque no se justifica.

    assim que ns que fazemos esse setor no Brasil somos conhecidos.

    Talvez pelo fato de nossa sociedade s ver navios quando est na

    praia; at o acesso a nossos portos para contato maior com

    homens e mulheres desse setor quase impossvel de ser alcan-

    ado pela sociedade organizada.

    Ao contrrio de diversos pases em mais de 14 anos de exerccio

    profissional como marinheiro, testemunhei no exterior que a visita-

    o a navios at estimulada e que o trabalho desses homens

    e mulheres merece reverncia da sociedade. Em alguns pases e

    cidades porturias muitos so os monumentos em honra a esses

    trabalhadores. Aqui de um modo geral a sociedade brasileira no

    nos v, no nos conhece e tem uma ideia equivocada em relao a

    ns. Vou-me ater a alguns tpicos para reflexo de todos vocs,

    pois claro que me interessa formar, naqueles que no esto na

    atividade hoje, opinio favorvel importncia do trabalho que

    exercermos.

    Comentarei o histrico da representao dos prticos e demais

    trabalhadores do setor; as caractersticas das empresas no setor

    de transporte martimo no Brasil; o papel estratgico da pratica-

    gem no desenvolvimento do transporte martimo; o processo

    de estigmatizao da imagem do prtico; o modelo da relao de

    trabalho; e, finalmente; o usurio do transporte martimo como

    instrumento de presso por mudanas e consequncias.

    O primeiro tpico aquele de que sentimos falta. Ns no temos

    conseguido passar para a sociedade brasileira a nossa identidade,

    a nossa origem no mar. O que lamentvel, dada a importncia da

    atividade... Um dos primeiros atos da Coroa portuguesa quando

    tangida da Europa pelo Exrcito de Napoleo foi tentar estabelecer

    regras para a praticagem. Isso h mais de dois sculos.

    Precisamente em 1808. Curioso o fato de que um dos primeiros

    atos do Brasil Repblica (no final do sculo 19) foi decretar uma

    regulamentao para essa atividade. Estamos diretamente envolvi-

    dos com o Estado e sob sua custdia no que se refere certificao

    das condies do exerccio profissional desde 1926.

    Ser que diante de um histrico como esse cabvel que algum

    possa referir-se ao trabalho de praticagem como um trabalho com-

    parvel ao de um grupo de flanelinhas arrumando carros em um

    estacionamento? Muitos no sabem, mas ns, aquavirios, somos

    muito diferentes. No somos melhores nem piores do que qualquer

    outro trabalhador. Ns comeamos no mar. Aprendemos nosso

  • 11

    ofcio seja o estivador, o marinheiro, o prtico na sua origem

    vivenciando, olhando e sentindo o mar. Hoje a maioria esmagadora

    dos nossos prticos tem experincia de mar, seja como oficiais

    mercantes, seja como oficiais da Marinha do Brasil. Mesmo

    aqueles que no tm um passado diretamente ligado a essas

    atividades, at mesmo sem saber, j incorporaram muito da nossa

    identidade com origem no mar.

    Talvez por isso seja o setor que, alm de estratgico, mais tem

    resistido no Brasil s mudanas prejudiciais que deslocariam o

    controle de nossos portos. Outro aspecto que muitos desconhe-

    cem: ns no somos antigos apenas em termos de atividades. Os

    primeiros sindicatos no Brasil so da ltima dcada do sculo 19.

    O primeiro, formalizado como associao, dos oficiais sapateiros,

    foi fundado em 1896. Em nosso setor a primeira associao data

    de 1903; j estamos fazendo 110 anos. Em 1905 j tnhamos trs

    associaes. Os oficiais numa poca em que nem comando nem

    chefia de navio eram exercidos por oficiais brasileiros em 1917 j

    se estavam organizando de forma unificada. Quando muitas cate-

    gorias iriam organizar-se 20, 30, 40 anos depois, e algumas sequer

    existiam, ns j estvamos nos organizando h muito tempo.

    Talvez toda essa histria de experincia, resistncia e luta que

    tenha contribudo para que possamos sobreviver diante das

    investidas que sofremos. Quem do setor sabe, no novidade

    para ningum. Por exemplo: Montevidu e a dificuldade de fechar

    acordos j h uns trs anos dentro do Mercosul. Ora, 60% do

    Porto de Montevidu est reservado para carga de transbordo da

    empresa Maersk. Ao no se aceitar essa carga de transbordo

    dentro do acordo do Mercosul, por que a Argentina iria aceitar

    um acordo como esse? Eu pergunto at mesmo por que o Brasil

    aceitaria? Em tese j aceitou, o que lamentvel. Isso no bom

    para um pas; ns no podemos permitir que o processo de

    concentrao que vou abordar logo a seguir possa tirar-nos o

    controle de nossos portos.

    Ns, trabalhadores, iremos contribuir para que isso no ocorra. No

    prximo tpico destacarei aspectos que no podemos esquecer. A

    imprensa no vai lembrar isso para vocs, mas ns hoje somos o

    setor que efetivamente, em sua esmagadora maioria, existe em

    funo de investimentos estrangeiros. Hoje os principais emprega-

    dores do martimo brasileiro so empresas de capital estrangeiro.

    A nica brasileira grande hoje , alis, do Estado, a Transpetro,

    subsidiria da Petrobras. O monoplio do transporte algo muito

    curioso. Todos vocs sabem que ningum consegue transportar um

    simples continer de sapatos, por exemplo, de Rio Grande a

    Fortaleza, ou vice-versa, sem passar necessariamente por uma

    empresa brasileira de navegao. No existe cabotagem brasileira

    sem monoplio da Empresa Brasileira de Navegao, que na sua

    maioria de capital estrangeiro.

    Quem de fato vive numa realidade dessa pode reclamar de

    monoplio? Por mais crticas que os senhores e senhoras tenham

    em relao a monoplio, ningum que vive num cenrio desses

    pode falar mal de monoplio. Por que monoplio s incomoda

    quando de alguma forma utilizado a favor dos trabalhadores? Por

    que essa boca torta devido ao uso de um cachimbo indevido? Tanto

    se falava em monoplio do Estado, dos sindicatos etc.... Passados

    esses anos todos, desde a aprovao da Lei 8.630, em 1993, o que

    ns temos hoje? Trocamos um monoplio do Estado por um verda-

    deiro oligoplio privado em nossos portos. E preocupem-se com

    isso. O fenmeno de concentrao dessas empresas, com esse

    oligoplio, vai colocar o usurio do transporte refm desse siste-

    ma. Acredito que por essa razo o Estado brasileiro atravs de seu

    governo esteja tentando impedir um controle acionrio significativo

    de empresas armadoras dentro dos terminais privados brasileiros.

    Quanto segurana das operaes porturias, na ampliao do

    volume de carga operada e em suporte ao controle do trfego

    aquavirio, Ricardo Falco j falou. Em relao a essas questes,

    a primeira observao que eu gostaria de fazer a respeito

    do acidente que aconteceu em Gnova h um par de dias.

    A imprensa internacional divulgou o fato com muito mais

  • 12

    interrogaes do que certezas sobre o que teria ocorrido.

    curioso que, se ocorresse esse tipo de acidente no Brasil e a

    praticagem tem orgulho de mostrar ndices que afastam essa

    possibilidade, e contamos que continue assim , as manchetes

    seriam: Manobra de prtico no Porto X mata seis e faz trs

    desaparecerem. Seria essa a manchete, no haveria interrogao!

    Contudo, segurana alm do que Ricardo muito bem disse:

    O som da segurana o silncio , eu digo a vocs: segurana

    custa caro. Segurana no rima com gratuidade. E se queremos

    ter operaes seguras precisamos ter disposio em investir em

    bons profissionais e timas condies de trabalho.

    A segunda observao desse tpico que ns, que conhecemos o

    trfego porturio, as manobras e como se d nossa realidade nos

    portos, sabemos que o prtico no uma figura isolada que sobe a

    bordo, munido de walk-talk que provavelmente lhe foi doado na rua

    e surge a bordo como gerao espontnea. O prtico s vezes

    tratado como se fosse a prova contundente de que Lavoisier estava

    errado. A gerao espontnea existe! E de repente surge o prtico

    a bordo, ajudando a manobra segura do navio. No! Existe todo um

    sistema, uma estrutura dando-lhe suporte. E ao adentrar o pas-

    sadio esse sistema j foi colocado em ao: desde o transporte,

    desde o preparo dos homens, equipamentos para manobra da

    embarcao. Isso representa custo. S que normalmente coloca-se

    o valor da praticagem como se aqueles milhes de reais fossem

    diretamente para aquela figura que costuma contrariar Lavoisier,

    aparecendo repentinamente no passadio dos navios.

    O outro tpico o processo de estigmatizao da imagem do prti-

    co. Isso o que mais choca e revolta. Porque no dirigido apenas

    ao prtico. No nosso setor, o martimo e o porturio brasileiros pas-

    sam por isso. A meno a uma figura abjeta, porque imprpria o

    flanelinha no gratuita, porque quanto mais se reduz a importn-

    cia desse trabalho o papel estratgico do prtico em nosso portos

    mais se torna absurdo o custo da praticagem. Mais convencem-se

    as foras polticas deste pas a promover mudanas em direo a

    outros interesses. O servio de praticagem essencial por fora de

    lei. Est escrito na Lei de Segurana do Trfego Aquavirio,

    classificado como um servio essencial. E no o porque o redator

    estava procurando palavras fortes para incluir numa legislao

    ordinria. No! Ele essencial h mais de dois sculos. E no

    pode ser aceito que seja tratado como trabalho de quinta ou

    quarta categoria se pudermos classificar trabalho por categoria.

    bom perguntar sempre ao armador ou a qualquer outro que

    defenda mudanas ou precarizao nessa prestao de servios se

    o usurio em algum momento vai receber alguma vantagem nessa

    busca de reduo de custos. J vivi o suficiente no meio dessa

    armao para saber que o usurio normalmente s serve para

    pagar a conta. J negociei na minha vida milhares de acordos

    coletivos de trabalho no Brasil e no exterior at porque sou

    chairman desse setor para a nossa regio. Para pases no Caribe,

    na Amrica do Sul e em outras regies. Cansei de sentar mesa

    de negociao. Eu nunca recebi como negociador compreenso da

    armao, nem sequer nos Anos Dourados, antes de 2008, quando

    o sistema levou um baque. Naquele ano, houve trimeste em que o

    armador aumentou seu frete em 48%. E nem sequer, num ato de

    magnitude, nos foi repassado 2%, por compreenso. O modelo

    de relao de trabalho est no cerne de toda essa questo.

    Outro ponto. O martimo brasileiro tem uma organizao sindical

    forte? Isto no interessa interlocuo, relao capital/trabalho.

    Empregador, e no apenas o armador, gosta de subordinao.

    Trabalha para isso, para obter dependncia. Extrema compreenso

    do trabalho em relao s necessidades do capital. Prtico no

    empregado de empresa alguma. Nem de armador, nem de

    operador. um prestador de servio, recebe pelo servio prestado

    previamente contratado e negociado. No a melhor relao de

    trabalho deste mundo capitalista, para um tomador de servio.

    H ausncia de subordinao! O prtico leva em considerao

    sua conscincia e competncia alm de seus compromissos

    profissionais para tomar a deciso quanto a fazer ou no esta ou

    aquela manobra porque coloca em risco a segurana das pessoas,

    do navio e da carga!

    Ele no est subordinado vontade de um empregador, que pensa:

    ... mas a cada hora est me custando milhares de reais. No

    existe o ... mas, meu empregador, essa operao no segura,

    ou o faa ou est demitido. Isso incomoda. A praticagem conti-

    nua h mais de dois sculos estritamente ligada ao papel funda-

    mental do Estado. No prtico quem quer. Tem que se certificar

    e tem que obedecer a critrios estabelecidos pelo Estado, definidos

    pela autoridade martima. No se pode ter neste pas quatro, cinco

    mil prticos numa fila monstruosa de prticos desempregados

    pedindo: Pelo amor de Deus, me d pelo menos uma ou duas das

    mais de 13 mil operaes anuais de Santos. Aqui no Rio seriam

    19 mil. Isso no existe, um cenrio desejado pela armao que

  • 13

    no existe no Brasil e, repito, isso incomoda. O armador pensa

    Isso precisa ser mudado.... Mas a questo : onde fica a segu-

    rana operacional, onde fica o servio de praticagem independente,

    forte e seguro? E, finalmente, quem vai efetivamente agregar os

    servios complementares da praticagem? Porque o prtico no

    uma prova de contrariedade Lei de Lavoisier.

    E finalmente reservei dois ou trs minutos para o nosso querido

    usurio, aquele que paga a conta. No tenho a menor dvida de

    que os usurios, de modo geral, so caldo de cultura muito apro-

    priado motivao por mudanas, at porque para o usurio

    quanto menos pagar mais interessante . Tenho bem forte na

    memria, nos anos 80, quando tnhamos um outro modelo, sem

    entrar no mrito de vantagens e desvantagens, o usurio pagou

    muito caro pelo transporte martimo. O usurio normalmente um

    aliado nesse processo de mudana. Agora, como vai ficar esse

    usurio no futuro? Como todos sabem, talvez mais de 70% de

    contineres sejam controlados por trs ou quatro grandes

    empresas. Desafio vocs a listar dez empresas megacarries em

    cada tipo de transporte: granel, lquidos, cargas especiais... Esse

    um setor que se concentra. Anualmente a Maersk, por exemplo,

    empresa que conheo razoavelmente bem, promove um encontro

    em regies diferentes e tenta convencer de sua viso toda a malha

    sindical que est envolvida. Talvez no devesse estar falando da

    Maersk, talvez porque eu tenha um carinho especial por ela. Ela

    gosta de me bater, e eu gosto de bater nela. Uma questo de amor

    mal resolvida.

    Esses eventos renem porturios, trabalhadores de apoio por-

    turio, martimos, toda uma malha para discutir polticas de

    integrao de sua rede no mundo. Eu pergunto ao usurio se ele j

    pensou em ficar dependendo de um oligoplio restrito a muito

    poucas empresas concentradoras de todo esse servio. Do

    comeo do servio at a entrega no ponto B. Se j pensou nas

    consequncias disso. Se interessante que ns venhamos a tirar

    a voz do martimo, tirar a independncia da praticagem, eliminar a

    organizao dos trabalhadores porturios, destruir a nossa

    identidade e a nossa capacidade de resistir. Deixo a pergunta e

    agradeo a pacincia de me escutarem durante esses minutos.

    Bom dia e obrigado.

  • 14

    realmente uma honra dirigir-me ilustre plateia deste seminrio.

    No breve tempo que terei com vocs, pediram-me que falasse sobre

    o inestimvel servio que os prticos prestam ao pblico;

    sobre a importncia de se implantar um sistema de praticagem

    organizado, no qual a praticagem seja obrigatria e os prticos

    tenham autonomia para exercer juzo independente na execuo

    de suas obrigaes de servio pblico; sobre a importncia de

    haver apenas uma associao de prticos em cada zona de prati-

    cagem; e sobre a necessidade de regulao governamental abran-

    gente para assegurar que a praticagem que o melhor instru-

    mento para garantir a segurana martima no seja deixada

    merc de foras de mercado destrutivas e desestabilizadoras.

    Antes de iniciar minha discusso sobre essas importantes questes

    polticas, gostaria de dizer algumas palavras sobre o respeito que

    os prticos brasileiros conquistaram na comunidade martima

    internacional. O capito Otavio Fragoso foi recentemente reeleito

    vice-presidente snior da IMPA, um dos cargos mais importantes

    do corpo executivo da Associao, e sou grato pelo fato de ter um

    profissional to motivado, qualificado e talentoso em minha equi-

    pe. Os servios prestados pelo capito Fragoso e sua reeleio

    como vice-presidente snior demonstram que ele conquistou a

    confiana e o respeito do conjunto de membros da IMPA em todo o

    mundo, o que inclui oito mil prticos de mais de 50 pases. Quero

    igualmente agradecer ao capito Ricardo Falco, atual presidente

    do CONAPRA, ele tambm um verdadeiro profissional, que rapida-

    mente mereceu o respeito de seus colegas presidentes de associa-

    es nacionais de prticos. prova da influncia internacional de

    ambos o fato de terem conseguido reunir um painel to impres-

    sionante de especialistas em praticagem e navegao, entre os

    quais um dos diretores da Organizao Martima Internacional.

    Presidente da Associao dos Prticos dos Estados Unidos da Amrica (APA) eleito em 2000 e reeleito em 2004, 2008 e 2012. Vice-presidente da Associao Internacional dos Prticos (IMPA) eleito em 2002. Atual presidente da IMPA eleito em 2006 e reeleito em 2010.

    Michael R. Watson

    Vou comear minha apresentao dizendo que todo governo corre

    grande risco se subestimar a importncia de manter um sistema de

    praticagem obrigatrio abrangente, eficiente e moderno. O traba-

    lho de pilotar navios ocenicos desgastante e exige conhecimen-

    tos e habilidades especializados, ateno e vigilncia constantes,

    alm de tomadas de deciso das mais complexas. Um prtico deve

    estar extraordinariamente familiarizado com cada uma das carac-

    tersticas das reas de praticagem. Ele ou ela deve conhecer e

    ser capaz de enumerar instantaneamente, em todas as condies

    de clima e visibilidade, e muitas vezes em circunstncias

    estressantes cada canal, ponte, obstruo, equipamento de

    auxlio navegao, bem como as caractersticas hidrogrficas e

    geogrficas. Um prtico deve entender os efeitos das mars,

    correntes, ventos e a hidrodinmica das embarcaes que se

    deslocam por vias de acesso estreitas. Cada embarcao apre-

    senta novo desafio, pois cada uma tem caractersticas nicas de

    manobra e governo, e reage de forma diferente ao meio ambiente.

    Um prtico tambm deve estar preparado para enfrentar a

    multiplicidade de equipamentos presentes no passadio de

    embarcaes oriundas de portos de todo o globo, bem como para

    lidar com tripulaes de navios de diversas nacionalidades.

    Mudanas drsticas no tamanho dos navios atuais, na indstria de

    shipping e na viso da autoridade porturia tambm impactam as

    Praticagem: atividade essencial e de interesse pblico. O paradigma internacional, a importncia da regulao social e econmica

  • 15

    atribuies do prtico. O tamanho dos navios comprimento, boca

    e calado aumenta rapidamente. Isso vai continuar. Todos ns,

    que trabalhamos junto ao governo a fim de obter verbas para

    dragagem, sabemos: os canais de navegao no crescem em

    velocidade proporcional do crescimento dos navios. Por conse-

    guinte, as autoridades porturias vo continuar a pedir aos prticos

    que nadem com a corrente e aceitem menores lazeiras abaixo da

    quilha, bem como a esperar que os prticos manobrem navios

    imensos a metros de estruturas fixas e em vias confinadas. Essa

    tendncia de crescimento dos navios frente da expanso dos

    canais vai jogar ainda mais presso sobre os prticos e sobre

    nossas habilidades.

    Tambm se evidencia que, no futuro, muitos navios vo operar com

    tripulaes ainda menores. Embora certamente existam alguns

    armadores que so focados na segurana e trabalham em parceria

    com os prticos para melhorar as prticas de navegao, alguns

    armadores e alguns governos vo continuar a forar os limites da

    definio de tripulao mnima de segurana. Infelizmente, a

    contnua diminuio no tamanho da frota vai ser acompanhada por

    reduo ainda maior na competncia dos marinheiros. No se trata

    de reflexo sobre os marinheiros de hoje, mas sobre alguns, no

    setor de navegao, que insistem em manter tripulaes mal

    remuneradas e mal treinadas. Isso tambm vai aumentar a presso

    sobre os prticos, o que me leva diretamente ao prximo ponto.

    Alguns interesses da rea de navegao e alguns governos acredi-

    tam que qualquer problema de navegao pode ser resolvido pela

    tecnologia. Essa tendncia vai ajudar a solidificar a relutncia de

    segmentos do setor em valorizar pessoas especialmente seus

    prprios prticos. A desvalorizao da funo dos marinheiros j

    est levando muitos no setor e alguns governos a pressionar por

    mais controle das embarcaes em terra. Essa obsesso, equivo-

    cada e perigosa, com a navegao por controle remoto vai piorar.

    Diante disso, faz-se ainda mais importante manter sistemas

    eficazes de praticagem obrigatria, que posicionam no passadio

    de navios profissional treinado, experiente e independente para

    orientar a navegao.

    Os prticos de hoje prestam um dos servios de segurana marti-

    ma mais importantes disponveis para o setor de navegao e,

    sobretudo, para o pblico. Todos ns, que temos responsabilidade

    pela movimentao segura e ambientalmente saudvel de

    mercadorias e pessoas em nossas hidrovias, devemos assegurar

    que os regimes regulatrios que regem a praticagem e a

    qualificao e habilitao de prticos sejam abrangentes,

    voltados para a segurana e efetivamente aplicados.

    Um dos pontos mais importantes que desejo enfatizar neste painel

    que a praticagem no simplesmente um negcio. Na verdade,

    bastante diferente at mesmo de outros servios profissionais, a

    maioria dos quais normalmente prestada atravs de contrato

    privado com consumidor voluntrio. A praticagem martima

    obrigatria uma norma de segurana de navegao talvez sua

    principal forma , e a responsabilidade primordial do prtico deve

    ser proteger os interesses do governo que emite a habilitao e

    regulamenta a operao de praticagem. O principal cliente do

    prtico no o navio nem o armador, mas o interesse pblico. Ao

    examinar os custos associados a um sistema de praticagem de

    primeira classe, profissional e abrangente, esse aspecto de servio

    pblico da praticagem deve ser mantido em primeiro lugar na

    mente dos formuladores de poltica. A praticagem jamais deve ser

    vista simplesmente como mais um custo comercial da navegao.

    Em todo o mundo martimo, a experincia mostrou que os benef-

    cios mximos da praticagem obrigatria s so possveis quando

    ela fornecida atravs de um regime regulatrio governamental

    abrangente. Como presidente da IMPA, organizao que rene

    associaes de prticos de dezenas de pases, tenho pleno conhe-

    cimento do fato de que os sistemas de praticagem compreensivel-

    mente variam conforme as necessidades locais e demandas espe-

    cficas de portos e hidrovias. Existem, porm, alguns atributos

    bsicos que os regimes regulatrios de praticagem devem apre-

    sentar, entre os quais se encontram: (1) exigncia de praticagem

    obrigatria; (2) exigncia de disponibilidade de 24 horas/7 dias na

    semana/365 dias por ano; (3) prticos livres para exercer seu juzo

  • profissional, que deve ser totalmente independente dos interesses

    econmicos da embarcao; (4) escala nica de rodzio de prticos

    num determinado porto ou rea porturia; e (5) controle do nmero

    de habilitaes de prtico emitidas. Vou falar brevemente sobre

    cada um dos atributos necessrios a um sistema de praticagem

    profissional e moderno.

    Os regimes regulatrios de praticagem devem assegurar que cer-

    tas embarcaes numa rea porturia sejam obrigadas a se sub-

    meter orientao e ao controle de um prtico devidamente certi-

    ficado que tenha treinado com os demais prticos daquele porto e

    que com eles trabalhe em cooperao. A rea porturia em sua

    totalidade e as comunidades adjacentes ficam mais seguras

    quando toda a navegao de grande porte est sob esse controle

    de praticagem. Num regime regulatrio abrangente, os prticos

    trabalham juntos para garantir o cumprimento das restries de

    navegao locais e se consideram, corretamente, parte de uma

    rede de segurana maior. A exigncia de praticagem obrigatria ,

    de longe, o mecanismo mais eficiente disponvel para um governo

    proteger suas guas, garantir a segurana da populao e do meio

    ambiente, e facilitar o comrcio martimo. eficiente porque coloca

    no passadio do navio um indivduo cujo propsito de ali estar

    proteger o interesse pblico. A deciso de embarcar um prtico

    deve ser mandatria e no pode ser deixada a critrio das empre-

    sas de navegao. Os donos e operadores de embarcaes esto

    naturalmente focados nos aspectos econmicos e comerciais do

    transporte martimo. Para alguns interesses de navegao de

    menor responsabilidade, a praticagem pode no ser considerada

    norma de proteo ambiental e de segurana de navegao, mas

    custo que se pode reduzir ou mesmo eliminar. Esse pensamento

    pode beneficiar o resultado financeiro de curto prazo de uma

    empresa, mas arriscada poltica pblica, que pode ter consequn-

    cias catastrficas para um porto e sua comunidade adjacente.

    Alm de tornar obrigatrios os servios de praticagem, um regime

    regulatrio de praticagem eficaz tambm deve procurar assegurar

    que prticos treinados, competentes e fisicamente capazes este-

    jam disponveis 24 horas por dia, 365 dias por ano e que todos os

    navios sejam tratados com igualdade e sem discriminao. A fim

    de alcanar isso, um sistema de praticagem deve exigir que os

    prticos estejam disponveis para atender a todos os navios que

    so obrigados a embarcar um prtico, e que mantenham programas

    de treinamento, lanchas de prtico, estao de controle para o

    recebimento de pedidos e distribuio dos prticos, escalas

    de rodzio e todos os demais tipos de equipamentos e servios de

    apoio necessrios a uma operao de praticagem moderna,

    eficiente e segura. Isso, evidentemente, requer significativo

    investimento de recursos.

    Um regime regulatrio de praticagem eficaz tambm deve garantir

    que os prticos estejam protegidos das presses econmicas que

    as empresas de navegao sofrem ao movimentar mercadorias e

    pessoas. Como mencionei, grande parte da operao de pratica-

    gem consiste em julgamento. Num sistema de praticagem real-

    mente abrangente, os prticos so livres para exercer seu juzo

    profissional e independente, que vai ao encontro do interesse

    pblico. Muitas vezes um prtico precisa decidir entre diferentes

    procedimentos. Por exemplo, se o navio deve prosseguir sob

    neblina densa ou outra condio inesperada; se o navio deve

    aguardar condies de mar ou corrente especficas; se uma rota

    ou manobra deve ser usada em vez de outra que pode levar mais

    tempo; ou se um navio deve deslocar-se numa velocidade maior do

    que a normal, a fim de manter sua programao. Ao tomar essas

    decises, absolutamente essencial que o prtico seja

    independente do navio e que esteja protegido contra presses, de

    operadores de navios ou terminais, contrrias s necessidades

    de segurana.

    Talvez o meio mais eficaz para assegurar que o prtico no seja

    indevidamente afetado pelas presses econmicas associadas

    com a navegao comercial seja garantir que os prticos operem

    sob regime regulatrio no qual no se vejam obrigados a competir

    entre si. Um prtico que precisa disputar trabalho com outro

    prtico sabe que, para garantir seu meio de vida, deve agir NO no

    interesse do governo e da populao, mas da pessoa que controla

    a escolha do prtico. Quando a funo de um prtico est compro-

    metida dessa maneira, a segurana da navegao, que o objetivo

    vinculado exigncia de praticagem obrigatria, frustrada.

    A verdade que, trabalhando num sistema competitivo, os prticos

    vo tomar atitudes que no tomariam, por razes de segurana,

    num ambiente no competitivo tradicional. Num sistema em que

    precisam competir entre si por trabalho, os prticos normalmente

    vo preferir e buscar os clientes que oferecem o trabalho mais

    regular, de maior volume, mais lucrativo ou mais fcil. Em resumo,

    num sistema competitivo, alguns prticos podem querer atender s

    16

  • 17

    nata. Um navio que chega a uma boia ou que est pronto para

    deixar um ancoradouro pode descobrir que o prtico que estava

    sendo aguardado preferiu assumir um trabalho mais vantajoso ou

    atender outro navio sob contrato exclusivo. Essas situaes

    encorajam abatimentos informais, propinas e outras aes ilegais

    quando tanto prticos quanto navios buscam tratamento preferen-

    cial. Essa situao seria ruim para a navegao, ruim para os

    prticos, mas, sobretudo, ruim para a segurana da navegao.

    Para evit-la, na maioria dos pases martimos, no mundo inteiro, o

    governo julgou que um sistema abrangente de regulao econmica

    e uma superviso atenta das atividades profissionais dos prticos

    prefervel a deixar o objetivo da segurana de navegao da pratica-

    gem merc das foras do mercado aberto. Posso afirmar que,

    apesar da poltica nacional de longa data e da arraigada cultura nos

    Estados Unidos favorecendo os mercados livres, as autoridades

    governamentais em meu pas reconheceram que algumas atividades,

    particularmente aquelas que envolvem segurana pblica, no

    devem ser ditadas por quem pode oferecer o servio mais barato,

    mas que so mais bem fornecidas por operaes altamente regula-

    das, sujeitas a estrita superviso governamental. Um bom exemplo

    desse entendimento pode ser encontrado nos estatutos de pratica-

    gem do estado da Flrida, que incluem a seguinte declarao: A

    praticagem servio essencial, de importncia to superior, que sua

    existncia contnua deve ser assegurada pelo Estado, e no ser

    deixada aberta s foras de mercado.

    Importante benefcio de uma operao de praticagem altamente

    regulada, na qual os prticos no precisam competir entre si por

    trabalho, eles se poderem organizar numa escala nica de

    rodzio. Tal escala ajuda a garantir que os prticos estejam dis-

    ponveis a qualquer tempo e para qualquer navio, em termos de

    igualdade. Com a escala nica de rodzio, cada navio leva o prxi-

    mo prtico da escala, quando o navio precisa de um desses profis-

    sionais e no quando conveniente para o prtico. Alm disso, ao

    distribuir o trabalho entre os prticos, o rodzio oferece maior

    garantia de que o prtico estar descansado o suficiente e fsica e

    mentalmente preparado para a tarefa. Alm de os servios de

    praticagem se beneficiarem da escala nica de rodzio, tambm as

    atividades administrativas e de apoio, bem como de treinamento,

    podem ser realizadas regular e ordenadamente. Por fim, a escala

    de rodzio assegura que os prticos mantenham em dia sua

    experincia com todos os diferentes tipos de navios e tarefas de

    praticagem. No h como cumprir exigncia de disponibilidade

    de 24 horas dirias 365 dias por ano e rodzio regular num contexto

    em que os navios podem selecionar e escolher seus prticos.

    Outra caracterstica que os sistemas de regulao do servio

    de praticagem devem ter um mtodo para limitar o nmero de ha-

    bilitaes de prtico emitidas. Como indiquei, ao contrrio de

    esquemas de habilitao simples de outras profisses, as normas

    de praticagem constituem um sistema de segurana de navegao

    abrangente, atravs do qual um governo exige que as embarcaes

    embarquem um prtico habilitado e assegura que toda embarcao

    que leva um prtico receba um profissional descansado, treinado e

    competente, fornecido sem discriminao nem atrasos.

    Limitando o nmero de habilitaes emitidas, a autoridade gover-

    namental pode garantir que os prticos recebam a quantidade

    certa de trabalho. A quantidade certa de trabalho consiste em

    trabalho suficiente para que os prticos possam ganhar o bastante

    para pagar os substanciais custos de infraestrutura de uma opera-

  • o de praticagem eficiente e moderna, e para que cada prtico

    permanea atualizado em sua experincia com um amplo leque de

    tipos de embarcaes e localizaes geogrficas. A quantidade

    certa de trabalho tambm no deve ser tal que o prtico se veja

    sobrecarregado e, por conseguinte, fatigado. Determinar a quanti-

    dade certa de trabalho para um prtico um importante compo-

    nente da funo de superviso regulatria do governo.

    Embora a praticagem seja um servio pessoal, prestado por um

    indivduo, as operaes de praticagem configuram atividade de

    capital relativamente intensivo. Dentro de uma rea porturia, os

    prticos precisam ter recursos suficientes para manter programas

    de treinamento slidos, lanchas de prtico seguras e modernas,

    com tripulaes bem treinadas, redes de comunicao, distribuio

    de prticos, escalas de rodzio, servios de apoio e hoje, cada vez

    mais, sofisticados equipamentos eletrnicos de navegao. Manter

    a infraestrutura necessria para operar um servio de praticagem

    de primeira classe seria difcil para um prtico individualmente. ,

    portanto, importante que os prticos de um determinado porto ou

    zona de praticagem se organizem em associao local.

    Essas associaes locais desempenham papel vital para garantir

    praticagem eficiente e segura a determinado porto. Coletivamente,

    so fundamentais para a eficincia de um sistema nacional de

    praticagem obrigatria. As associaes facilitam as atividades

    conjuntas essenciais, tais como administrar a distribuio dos

    prticos e a escala de rodzio; identificar o bom uso da tecnologia

    de navegao; garantir a segurana e a eficincia das operaes

    das lanchas de prtico; auxiliar na coordenao do trfego por-

    turio; e executar a mirade de funes contbeis e administrativas

    e os servios de apoio necessrios a uma operao de praticagem

    eficiente e moderna. Alm de aumentar a confiabilidade e a eficin-

    cia da praticagem e aumentar as crticas eficincias comerciais

    e de apoio, as associaes desempenham papel importante na

    melhoria do treinamento dos prticos. Tambm podem trabalhar

    de perto com as autoridades para ajudar a executar atividades de

    praticagem de acordo com as normas governamentais. Sem as

    associaes locais, cada prtico teria de fornecer sua prpria

    estrutura de apoio praticagem e seu prprio programa de trei-

    namento. Nenhuma economia de escala seria obtida, haveria

    pouco investimento em novas tecnologias e poucas melhorias em

    treinamento e operaes, e as operaes de praticagem seriam

    pouco eficientes, mais caras e muito menos efetivas.

    Tambm desejo enfatizar a importncia de se ter apenas uma

    associao para cada zona de praticagem. Em razo do grande

    investimento de capital exigido para as operaes de praticagem

    modernas e com servio completo, quando dois ou mais grupos

    operam em uma zona de praticagem ocorre inevitavelmente a

    duplicao de muitos custos, tais como lanchas e estaes de

    praticagem. Sendo o objetivo da determinao da tarifa de pratica-

    gem assegurar que os preos da praticagem no sejam mais altos

    do que o necessrio, essa duplicao de custos contrria aos

    interesses pblicos e da navegao. Nenhuma das partes com

    interesse numa praticagem eficiente nem o governo, nem a

    navegao, nem os prticos deve querer mais de um grupo de

    prticos numa rea porturia.

    At agora, falei sobre algumas das consequncias negativas que,

    conforme mostra a experincia, ocorrem quando a praticagem

    tratada meramente como outro empreendimento comercial. Quero

    rapidamente discutir um aspecto diferente desse problema.

    Deixando de lado por um momento os danos que as foras de

    mercado causaro independncia, efetividade e eficincia da

    praticagem, algumas pessoas equivocadamente acreditam que

    permitir a concorrncia entre os prticos pode de alguma forma

    diminuir a necessidade de regulao governamental da praticagem.

    A histria e a experincia nos dizem que o contrrio verdadeiro.

    A experincia com exemplos de concorrncia na praticagem

    mostrou que os nus impostos s autoridades regulatrias so

    muito maiores, particularmente nas reas de habilitao, treina-

    mento e preos de praticagem. No contexto altamente regulado de

    associao de prticos nica, no h incentivo para os prticos

    tomarem atalhos no processo de habilitao ou treinamento, a fim

    18

  • de adicionar rapidamente outros prticos, oferecer abatimentos ou

    adotar outros tipos de prticas ilegais de preos. Quando a pratica-

    gem deixada merc das foras do mercado aberto e os prticos

    buscam vantagem competitiva sobre outros prticos, faz-se

    necessrio grau de superviso governamental mais elevado,

    a fim de monitorar as atividades dos prticos e assim evitar

    esses tipos de abuso.

    O treinamento tambm apresenta difcil problema regulatrio num

    ambiente competitivo. Apesar dos recentes avanos na instruo

    com simulao e em sala de aula, o principal ingrediente no

    treinamento de um prtico ainda um programa do tipo

    aprendizado treinamento prtico no passadio de um navio sob a

    orientao de um prtico snior. Quando grupos concorrentes

    operam numa zona, muitas vezes um praticante de prtico no

    consegue fazer as viagens necessrias em todos os tipos de

    embarcao e em toda a rea de sua zona de praticagem para

    se tornar plenamente qualificado e proficiente. Ainda que fosse

    possvel exigir que os prticos treinassem seus futuros concorrentes,

    um relacionamento baseado em cooperao e confiana necessrio

    ao treinamento no pode ser imposto. As autoridades da pratica-

    gem nos poucos locais onde existe concorrncia constataram ter

    de supervisionar os detalhes do treinamento em nvel que se

    torna desnecessrio em ambiente de associao nica e no

    competitivo. Em outras palavras, deixar a praticagem merc

    das foras do mercado aberto leva necessidade de mais,

    no menos, regulao.

    Como concluso, gostaria de destacar um ltimo ponto. Embora se

    considere que os prticos alcanaram o auge da profisso martima

    e ocupam um dos cargos mais importantes no setor, grande parte

    do pblico no est ciente da imensa contribuio desses profis-

    sionais proteo do meio ambiente martimo, mantendo sem

    sobressaltos o trfego de embarcaes em nossos movimentados

    portos e garantindo o transporte seguro de milhes de pessoas e

    bilhes de dlares em comrcio martimo. atravs de encontros

    como o de hoje que esse trabalho vital, mas difcil e perigoso,

    obtm reconhecimento.

    Agradeo a todos por isso e por me oferecerem esta oportunidade

    de trazer meu depoimento at vocs. Estou disposio para

    responder a suas perguntas.

    19

  • 8

  • Capito de longo curso, mestre em cincias pela Cranfield University, Inglaterra.Diretor adjunto da Diviso de Segurana Martima e secretrio do Subcomit de Segurana da Navegao NAV

    da Organizao Martima Internacional IMO, com responsabilidade sobre este e o Subcomit de Radiocomunicaes, Busca e Salvamento (Comsar), tambm da IMO.

    Gurpreet Singhota

    21

    Bom dia a todos. Bom dia, ilustres participantes. Antes de tudo,

    gostaria de agradecer ao presidente do Conselho Nacional de

    Prticos, Sr. Ricardo, e ao almirante Viveiros.

    um privilgio e uma honra para a IMO estar aqui hoje, e em nome

    do secretrio-geral da IMO gostaria de agradecer ao CONAPRA

    o convite.

    Vou falar sobre a orientao que a IMO desenvolveu ao longo dos

    anos sobre praticagem. Basicamente, vamos voltar a 1967, quando

    pela primeira vez tivemos uma resoluo da Assembleia da IMO,

    referente recomendao sobre as escadas de prtico e sobre a

    qualidade e os equipamentos das escadas de prtico para pesca-

    dores. A verdadeira recomendao sobre praticagem, porm, veio

    da Resoluo A.159, de 27 de novembro de 1968. H muito tempo,

    portanto; h 45 anos, e essa resoluo recomenda que os governos

    devem a palavra principal aqui devem organizar os servios

    de praticagem nas reas em que esse servio contribuiria para a

    segurana da navegao de modo mais eficaz do que outras

    possveis medidas e, onde aplicvel, definir os navios e as classes

    de navios para os quais o emprego de um prtico seria obrigatrio.

    Essa foi a primeira resoluo da Assembleia sobre praticagem

    emitida pela IMO.

    Em seguida vamos para novembro de 1973, quando tivemos a

    Resoluo A.263(8) da Assembleia da IMO; o nmero 8 entre

    parnteses indica que foi a oitava sesso da Assembleia da IMO

    que adotou uma emenda Resoluo A.517 sobre escadas de

    prtico e pilot hoists, e convidou os governos em questo a

    aceit-la o quanto antes. Em paralelo, tivemos a Resoluo A.275,

    que trouxe a recomendao sobre padres de desempenho para

    pilot hoists.

    Avanando, tivemos a Resoluo A.332 da nona sesso da

    Assembleia da IMO referente recomendao sobre os procedi-

    mentos de embarque e desembarque de prticos em navios muito

    grandes. Foi quando o assunto comeou realmente a ficar srio. O

    tamanho dos navios vinha aumentando, e a resoluo recomendou

    que todas as embarcaes nas quais a distncia do nvel do mar ao

    ponto de acesso do navio, a qualquer tempo, ultrapassasse nove

    metros deveriam tambm ter uma escada de portal de cada lado,

    para facilitar o embarque do prtico.

    Em seguida, h toda uma srie de resolues adotadas pela IMO.

    A primeira foi a Resoluo A.426, que revogou a A.332, em

    novembro de 1979.

    E depois, na 12a sesso da Assembleia da IMO, em novembro

    de 1981, adotamos uma resoluo muito importante: as

    Uma viso geral das orientaes da IMO incluindo a Resoluo A.960 e as regras Solas relativas praticagem

  • 22

    Recomendaes sobre treinamento, emisso de certificados e

    procedimentos operacionais para prticos que no os prticos

    de alto-mar.

    Oito anos depois, tivemos a Resoluo A.667(16), sobre os proce-

    dimentos para transbordo do prtico, e ento, em 1999, uma nova

    resoluo da Assembleia revogou todas as aqui mencionadas.

    Finalmente, tivemos a Resoluo A.1045(27), sobre os procedimen-

    tos para transbordo do prtico, que revogou at mesmo a anterior,

    A.889(21). Foi nessa poca que tambm adotamos, como mostrarei

    adiante, as emendas ao Captulo 5 da Solas.

    A mais relevante resoluo da Assembleia a A.960(23), que revo-

    gou, como mencionei, a A.485(12) e trata das recomendaes

    sobre treinamento, emisso de certificados e procedimentos

    operacionais para prticos que no prticos de alto-mar; em seu

    pargrafo preambular informa que tem dois anexos, urge os

    governos a pr em vigor essas recomendaes to logo possvel e

    solicita ao Comit de Segurana Martima, que o rgo tcnico

    mximo da IMO, que mantenha as recomendaes sob exame e as

    emende conforme necessrio, luz da experincia adquirida com

    sua implementao.

    Ento, basicamente, foi um perodo de 22 anos, desde a Resoluo

    A.485 at a A.960(23), e esta ltima foi muito bem debatida e

    planejada. Tivemos algumas discusses sobre isso no subcomit

    NAV, que promove o melhor consenso possvel na IMO. Meu colega

    palestrante Paul Kirchner, da APA, tambm vai explicar a resoluo

    com um pouco mais de detalhes, pois era o presidente do grupo de

    redao, e acho que ele merece reconhecimento. Muito reconheci-

    mento, por gerenciar tarefa to difcil.

    Essa resoluo adotou duas recomendaes, constantes no

    Anexo 1 e no Anexo 2. O Anexo 1 traz as Recomendaes sobre

    o treinamento e emisso de certificados de prticos, que no os

    prticos de alto-mar, e o Anexo 2, as Recomendaes sobre

    os procedimentos operacionais para prticos, que no os prticos

    de alto-mar. Portanto, ela especifica as recomendaes da IMO

    para os governos-membros sobre como estabelecer autoridade

    da praticagem e como treinar prticos.

    Na seo sobre escopo, o Anexo 1, recomenda encorajar o governo

    a estabelecer ou manter autoridades competentes da praticagem

    para administrar sistemas de praticagem seguros e eficientes.

    Todas as resolues das Assembleias da IMO empregam a palavra

    deve; so, portanto, recomendaes, a palavra ser no

    empregada. Ser o termo usado no texto da Conveno;

    ento obrigatrio. A Conveno trata da autoridade competente

    da praticagem. Diz que todo governo deve estabelecer uma

    autoridade competente da praticagem, e o que isso significa?

    Significa que o governo nacional ou regional, ou grupos e

    organizaes locais, por lei ou tradio, administram ou fornecem

    um sistema de praticagem. Cabe aos governos informar as

    autoridades competentes da praticagem sobre as disposies

    desse documento e incentivar sua implantao.

    A avaliao da experincia, das qualificaes e da adequabilidade

    de um candidato certificao ou ao licenciamento responsabili-

    dade de cada autoridade competente da praticagem.

    A resoluo descreve o que as autoridades competentes da

    praticagem devem fazer. Elas devem estabelecer os requisitos

    de admisso e elaborar as normas para obteno do certificado ou

    da licena, exigir a manuteno das normas elaboradas, especifi-

    car os necessrios pr-requisitos, experincia ou provas para

    assegurar que os candidatos certificao ou ao licenciamento

    como prticos sejam adequadamente treinados e qualificados, e

    tambm providenciar para que os relatrios sobre as investigaes

    de incidentes estejam disponveis e sejam levados em

    considerao no treinamento dos prticos martimos.

  • 23

    Em seguida, trata do certificado ou da licena de praticagem.

    Significa que todo prtico deve ter um certificado ou uma licena

    de praticagem adequada, emitida pela autoridade competente da

    praticagem e que estabelea para quais reas a licena vlida.

    Aptido mdica: todo prtico deve provar autoridade

    competente da praticagem que tem aptido mdica e que

    esta atende aos requisitos da Conveno do STCW.

    Um prtico que tenha sofrido ferimento ou doena deve ser

    reexaminado a fim de garantir que cumpre as normas de

    aptido para retornar a suas funes.

    Somente a autoridade competente da praticagem tem todas as

    responsabilidades para assegurar que as normas de treinamento e

    de certificao ou licenciamento sejam cumpridas. O prtico deve

    ser treinado em gerenciamento de recursos de passadio, e as

    autoridades competentes da praticagem devem ser encorajadas a

    oferecer treinamento de atualizao e aperfeioamento. Isso

    significa que, aps obter sua licena, o prtico deve continuar o

    treinamento ou fazer cursos de aperfeioamento. E a proficincia

    contnua essencial.

    No Anexo 1 h um sumrio sobre a certificao ou licenciamento

    para praticagem. Eu no a inclu aqui, mas o presidente do

    CONAPRA informou-me que cpias da Resoluo A.960(23) esto

    disponveis em portugus e em ingls do lado de fora do salo de

    conferncias, ento eu incentivo os distintos delegados a pegar um

    exemplar, para ter uma melhor ideia dos requisitos.

    O Anexo 2 trata das recomendaes sobre os procedimentos

    operacionais para prticos, que no os prticos de alto-mar.

    Estabelece em geral quais so as diretrizes e afirma que a coorde-

    nao efetiva entre prtico, comandante e pessoal do passadio

    muito necessria para operaes seguras de praticagem. Detalha

    as atribuies do comandante, dos oficiais do passadio e do

    prtico, e, evidentemente, a regra bsica sempre composta por

    ordens do comandante e conselho do prtico, o que no absolve o

    comandante de nenhuma de suas responsabilidades quanto a

    acidentes pessoais. Aborda o ponto de embarque de praticagem

    e cabe autoridade competente da praticagem estabelecer e

    divulgar a localizao dos pontos seguros de embarque

    e desembarque do prtico. Sei que esto marcados nas cartas,

    mas responsabilidade das autoridades competentes da

    praticagem informar aos oficiais em questo que os pontos esto

    na carta, mas a informao tambm est disponvel para

    os armadores e para os usurios do porto.

  • 24

    Depois h os procedimentos para solicitar um prtico. A autoridade

    competente da praticagem deve estabelecer, divulgar e manter os

    procedimentos para solicitar um prtico para um navio entrando ou

    saindo, ou para movimentar um navio dentro de uma rea porturia,

    e evidentemente as horas previstas de chegada e de partida devem

    ser fornecidas s autoridades da praticagem to logo possvel.

    Esse um ponto vital, a troca de informaes entre comandante e

    prtico. Foi discutido muitas vezes nos fruns, subcomits e no

    STW, e mesmo no subcomit NAV, e muito, muito importante que

    o comandante e o prtico troquem informaes para garantir a

    praticagem segura. O anexo diz que, no incio da praticagem, o

    comandante e o prtico devem trocar informaes em relao

    a procedimentos de navegao, condies e regras locais,

    e as caractersticas do navio. Sei que um requisito que as

    caractersticas de manobras do navio sejam exibidas no passadio,

    curvas de evoluo e tudo o mais, mas pode ter havido um defeito

    durante a viagem. Quando um equipamento no est funcionando,

    dever do comandante informar isso ao prtico.

    Outra questo muito importante o idioma de comunicao, pois

    atualmente temos tripulaes de mltiplas nacionalidades. Houve

    um tempo em que os pases tinham companhias de navegao

    estatais. Isso no era um grande problema, mas hoje . A

    resoluo da Assembleia da IMO enfatiza que os prticos devem

    conhecer o vocabulrio-padro de Comunicao Martima da IMO;

    uma resoluo da Assembleia e tambm est disponvel como

    livro, publicado pela IMO. Alm disso, estabelece que as comuni-

    caes a bordo entre o prtico e o pessoal do passadio devem ser

    feitas no idioma ingls ou em outro idioma que seja comum a todos

    os envolvidos na operao.

    Em caso de acidente, o prtico deve relatar qualquer incidente ou

    acidente que tenha ocorrido durante o processo de praticagem. E

    depois h a recusa de prestar servios de praticagem. O prtico

    deve ter o direito de recusar a praticagem quando o navio

    considerado um perigo para o meio ambiente ou para a segurana

    da navegao. Evidentemente, deve haver uma base slida ou

    uma boa razo para a recusa. Depois, h a obrigao do prtico de

    estar apto para o servio.

    Essas foram as resolues da Assembleia, mas tambm h

    as regras da Conveno Solas que concernem praticagem. A

    primeira a Solas V/23 sobre os procedimentos de transbordo do

  • 25

    prtico, que foi adotada no MSC 88 em 3 de dezembro de 2010

    e entrou em vigor no ano passado, em 1o de julho. A norma Solas

    II-1/3-9 trata das escadas de portal para uso no embarque e

    desembarque dos navios. Foi adotada em maio de 2008 e entrou

    em vigor em 1o de janeiro de 2010.

    H uma nota de rodap nessa norma e na Resoluo A.1047 sobre

    os procedimentos de transbordo do prtico. Existem tambm

    circulares relevantes do MSC que oferecem diretrizes para a

    administrao e para as autoridades de praticagem em relao aos

    procedimentos de transbordo do prticos. Em termos de hierarquia,

    as resolues da Assembleia ocupam a posio mais alta,

    seguidas pela circulares do MSC, pela segurana de navegao e

    depois outras circulares.

    Alm disso, h trs circulares do MSC que so de relevncia:

    MSC.1/Circ.1402, sobre a segurana dos procedimentos de

    transbordo do prtico; depois a MSC.1/Circ.1428, sobre os

    procedimentos de embarque necessrios para prticos. Uma cpia

    dessa circular tambm est disponvel do lado de fora do salo

    de conferncias. Depois h a MSC.1/Circ.1331, sobre as diretrizes

    para construo, instalao, manuteno e inspeo dos meios

    de embarque e desembarque. Isso est relacionado com a regra

    Solas V/23, que uma referncia cruzada com a resoluo da

    Assembleia A.1047.

    A MSC.1/Circ.1402 muito importante, pois trata da segurana

    dos procedimentos de transbordo do prtico. Essa circular encoraja

    os governos a incluir, formalmente, a inspeo realizada pelo

    Estado do Porto (PSCO e FSCO) nesses arranjos. Reconhecemos

    que a segurana do prtico fundamental e deve ser parte

    do processo de inspeo do Estado.

    Concluses

    Como vocs veem, de 1967 em diante, a IMO elaborou orientaes

    suficientes e detalhadas para os problemas de praticagem.

    Mantivemos o processo sob anlise e, quando tomamos

    conhecimento de preocupaes de governos-membros de que

    existia a necessidade de revisar determinada diretriz, ns o

    fizemos; mas o processo no foi acidental. Por exemplo, a

    Resoluo A.960 foi revisada aps quase 22 anos. Portanto, isso

    no mudou da noite para o dia. A diretriz foi emendada/atualizada

    como e quando necessrio para atender a um novo regime

    regulatrio. Nessa tarefa, a IMO foi assistida a cada estgio do

    processo de maneira muito construtiva pela IMPA. E devo deixar

    registrado o excelente relacionamento que a IMO estabeleceu ao

    longo dos anos com a IMPA. Na verdade, todas as organizaes

    observadoras trabalharam muito prximo IMPA no que concerne

    praticagem.

    Quero concluir dizendo que a implementao da diretriz da

    IMO , evidentemente, prerrogativa dos governos, mas tambm

    muito importante que os governos-membros adotem as

    recomendaes constantes da Resoluo A.960(23).

    Muito obrigado.

  • 26

    Diretor-geral adjunto da Associao Internacional de Armadores Independentes de Navios Petroleiros Intertanko, tendo sido diretor-geral (2011-2012). Diretor de Assuntos Regulatrios e das Amricas (2005-2010).Primeiro diretor (1995) de Padres de Segurana da Navegao, Salvaguarda da Vida Humana e Preveno da Poluio Hdrica da Guarda Costeira Americana.Chefiou (1980-2004) inmeras delegaes dos EUA nas comisses de Segurana da Navegao e Preveno da Poluio NAV, MSC e MEPC da IMO.

    Joseph Angelo

    Avaliao e expectativas da Intertanko em relao ao servio de praticagem

    Muito obrigado. Em nome da International Association of

    Independent Tanker Owners (Intertanko), gostaria de agradecer

    ao Ricardo e ao CONAPRA o convite para falar neste seminrio

    to importante.

    Primeiro comentrio. Trabalhei durante muitos, muitos anos, para

    a Guarda Costeira dos Estados Unidos. Meu chefe era sempre o

    almirante. Estou muito impressionado, almirante Viveiros. Na

    Guarda Costeira, um almirante de trs estrelas vem, faz o discurso

    de abertura e depois vai embora, nunca permanece depois do

    intervalo. Eu lhe agradeo por ficar e escutar. Isso me diz como

    importante para a Marinha brasileira lidar com essa questo.

    Meu segundo comentrio. Examinei a programao e descobri

    ontem noite que sou o nico palestrante representando arma-

    dores. Assim, a esse respeito, farei os seguintes comentrios: pri-

    meiro, estou aqui representando a Intertanko. No vim falar sobre

    esse assunto em nome de todos os armadores. Isso importante.

    O terceiro comentrio que mencionei isso ao Ricardo ontem

    noite , como sou o nico representante dos armadores a falar,

    espero que no tenham preparado uma cilada para mim, para que

    eu sofra a ira dos armadores. Mas, mesmo que seja uma cilada, no

    que concerne Intertanko, acreditamos que o que estamos fazendo

    correto e o que vou lhes dizer a maneira certa de lidar com

    essa questo.

    Com isso, vamos passar minha apresentao. Gostaria de

    dividi-la em trs reas, basicamente. Primeiro, gostaria de falar

    um pouco sobre a Intertanko, para que vocs saibam quem

    somos, quem representamos e qual nosso foco. Segundo,

    gostaria de falar sobre o relacionamento que a Intertanko

    mantm com a IMPA, a Associao Internacional de Prticos

    Martimos. E terceiro, e o mais importante, claro, a Intertanko

    e nosso relacionamento atual com o Brasil e com vrias entidades

    no Brasil.

    Ento, primeiro, uma pequena propaganda. A Intertanko a

    Associao Internacional de Armadores Independentes de Navios

    Petroleiros. Somos uma organizao sem fins lucrativos, e aqui

    vocs podem ver quais so nossos objetivos. Minha inteno

    no ler cada slide. Vou deix-los ler este, mas o mais

    importante que ns trabalhamos pela segurana no mar e pela

    proteo do ambiente marinho para nossos membros. Esse

    nosso foco principal.

    A misso que estabelecemos para ns oferecer liderana ao

    setor de petroleiros e fornecer ao mundo transporte martimo

    seguro, ambientalmente correto e eficiente de petrleo e

    produtos qumicos.

  • 27

    Associados a essa misso, identificamos sete objetivos que quere-

    mos alcanar. No vou falar sobre todos eles; apenas sobre o mais

    importante e que nossos membros quiseram impor a si mesmos.

    Isso no para o secretrio; isso para os membros que operam

    os petroleiros. Eles decidiram que queriam liderar o aperfeioa-

    mento contnuo do desempenho do setor de petroleiros, esforan-

    do-se para alcanar os objetivos de fatalidade zero, poluio zero

    e deteno zero. Houve discusses sobre se queramos usar o

    zero como objetivo, algumas pessoas poderaram que isso no

    vivel. Mas a filosofia foi a de que melhor ter o copo meio cheio

    do que meio vazio, e por isso que eles escolheram esse objetivo.

    A associao rene proprietrios independentes de petroleiros.

    Companhias de petrleo, operadores de proprietrios de petro-

    leiros estatais no so proprietrios independentes de petroleiros,

    e, portanto, no se qualificam para ser membros da Intertanko;

    podem, contudo, ser membros associados. E, como membros asso-

    ciados, temos aqueles que esto relacionados com o setor de

    petroleiros. Isso pode incluir sociedades classificadoras, estaleiros,

    prestadores de servios, escritrios de advocacia, clubes de P&I

    etc. Temos alguns lidando com isso. Ento, se algum tem

    interesse em fazer parte da Intertanko, como membro ou como

    membro associado, claro, fale comigo, por favor.

    Esta nossa atual posio com relao aos associados. Comeando

    em 2013, temos pouco mais de 220 membros, mais de 3.200 petro-

    leiros com mais de 280 milhes de toneladas. Estamos presentes

    em 40 pases. Tenho orgulho de dizer que temos membros no

    Brasil, na Argentina, no Chile, no Peru, no Equador, na Venezuela e

    na Colmbia, e no devo excluir o Mxico, que tambm faz parte

    da Amrica Latina. Representamos mais de 70% da frota mundial

    de petroleiros independentes.

    No ano passado, nosso conselho, que nosso rgo normativo,

    decidiu que devamos adotar um plano estratgico de cinco anos.

    So sete os principais itens que eles adotaram como parte de

    nosso plano estratgico de cinco anos, e destaco para vocs os

    dois primeiros itens.

    O primeiro a sustentabilidade do setor de petroleiros. Se no

    sabem, o setor de petroleiros est com problemas financeiros

    bastante significativos. Existem petroleiros demais agora. Ento,

    estamos tentando garantir a sobrevivncia de nossos membros.

    O segundo item da lista segurana e desempenho dos petro-

    leiros. Para essas duas importantes questes (no vou falar sobre

    todas elas, s essas duas), que resultado desejamos? O que que-

    remos obter em cada uma delas? Quanto sustentabilidade,

    queremos assegurar que nossos membros tenham acesso s

    ferramentas, aos modelos e s informaes de que precisam para

    continuar a operar com segurana. E, quanto segurana e ao

    desempenho dos petroleiros, queremos que nossos membros

    sejam posicionados proativamente para um alto desempenho.

    Enfatizo tudo isso porque existe um tema comum que se v aqui.

    Segurana. A Intertanko quer garantir, todos os nossos membros

    querem garantir, que estejamos operando nossos petroleiros de

    maneira segura em todo o mundo. Temos uma estrutura de comits

    que nos ajuda a realizar isso. Temos um comit tcnico, um comit

    ambiental, um comit de navegao. Eu no queria entediar vocs

    com todos os detalhes, ainda que pertinentes a este seminrio

    especfico, mas temos um grupo de trabalho de praticagem.

    formado por membros que oferecem voluntariamente seus

    servios para aconselhar especificamente a Intertanko sobre

    quais so as questes que devemos abordar, o que devemos fazer

    com relao aos problemas de praticagem. Nosso foco est em

    duas principais questes: promover os relacionamentos com as

    associaes de prticos, tanto nacionais como internacionais, e

    tambm revisar e fornecer contribuies e recomendaes sobre

    qualquer dos mais recentes requisitos ou diretrizes emitidos

    pela IMO ou em qualquer parte do mundo. Essa foi uma breve

    viso geral da Intertanko.

  • 28

    Vamos tratar agora do nosso desenvolvimento com a IMPA, comean-

    do com alguns fatos bsicos, alguns, alis, j identificados.

    Fato 1. Penso que todos vo concordar, todos queremos a navega-

    o segura das embarcaes em todos os portos e vias navegveis

    das naes. Me parece que ningum pode discordar disso.

    Fato nmero 2 que temos de aceitar. Os prticos so obrigados,

    pela legislao nacional, a dar assistncia navegao segura das

    embarcaes nas guas daquele pas.

    E o terceiro fato, j mencionado, me parece, e que no pode ser

    mudado: os membros da Intertanko no escolhem o prtico que vai

    a bordo de seus navios.

    A partir desses trs fatos bsicos, o que os membros da Intertanko

    esperam? Bem, queremos prticos com conhecimento slido e

    treinamento adequado para assegurar que as viagens em zonas de

    praticagem sejam livres de acidentes. E, devo acrescentar, a um

    custo justo e razovel. Observem que eu no disse ao menor custo

    possvel. A um custo justo e razovel o que consideramos o modo

    certo de lidar com isso.

    Evidentemente, quando tudo est correndo bem, no se v nada na

    imprensa. Quando ocorre um acidente, porm, as questes surgem.

    Quais so es