29
S2C4T1 Fl. 1.279 1 1.278 S2C4T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 10437.720889/201482 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 2401004.568 – 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 7 de fevereiro de 2017 Matéria IRPF. CLASSIFICAÇÃO INDEVIDA DE RENDIMENTOS. Recorrente SALIM DAYAN Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO:IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2009, 2010, 2011 NULIDADE. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS DO LANÇAMENTO. DIREITO DE DEFESA. Preenchidos os requisitos do lançamento, não há que se falar em nulidade, nem em cerceamento do direito de defesa. USUFRUTO. NATUREZA JURÍDICA. PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS. O usufruto representa uma divisão das faculdades inerentes ao direito de propriedade, uma vez que o direito real sobre o objeto do usufruto é conferido a outrem, que passa a retirar os frutos e utilidades que a coisa alheia produz, sem alterar sua substância. É da essência do usufruto o aproveitamento dos rendimentos do bem pelo usufrutuário. Com base na disciplina normativa afeta ao direito civil e societário, os valores a titulo de lucros/dividendos e de juros sobre capital próprio, pagos ou creditados como resultado de participações societárias, são rendimentos que pertencem ao usufrutuário. USUFRUTO. LUCROS/DIVIDENDOS. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. TRIBUTAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA. No caso dos rendimentos pagos ou creditados a título de lucros/dividendos e de juros sobre capital próprio, o legislador tributário deixou de atribuir ao instituto do usufruto efeitos tributários específicos, o que implica remeter o intérprete aos efeitos típicos decorrentes do direito privado. As normas que estabelecem exceções à tributação ordinária devem ser interpretadas de maneira estrita, não comportando ampliação de conteúdo ou emprego de analogias, assim como inviável também a utilização pelo ACÓRDÃO GERADO NO PGD-CARF PROCESSO 10437.720889/2014-82 Fl. 1279 DF CARF MF

S2C4T1 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · Daycoval como sendo distribuição de juros sobre capital próprio JCP e/ou dividendos. Esses Esses valores teriam sido recebidos

  • Upload
    lamcong

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

S2C4T1Fl.1.279

1

1.278

S2C4T1 MINISTRIODAFAZENDACONSELHOADMINISTRATIVODERECURSOSFISCAISSEGUNDASEODEJULGAMENTO

Processon 10437.720889/201482

Recurson Voluntrio

Acrdon 2401004.5684Cmara/1TurmaOrdinriaSessode 7defevereirode2017

Matria IRPF.CLASSIFICAOINDEVIDADERENDIMENTOS.

Recorrente SALIMDAYAN

Recorrida FAZENDANACIONAL

ASSUNTO:IMPOSTOSOBREARENDADEPESSOAFSICAIRPFAnocalendrio:2009,2010,2011

NULIDADE. INEXISTNCIA. REQUISITOS DO LANAMENTO.DIREITODEDEFESA.

Preenchidos os requisitos do lanamento, no h que se falar em nulidade,nememcerceamentododireitodedefesa.

USUFRUTO. NATUREZA JURDICA. PARTICIPAESSOCIETRIAS.

O usufruto representa uma diviso das faculdades inerentes ao direito depropriedade, uma vez que o direito real sobre o objeto do usufruto conferido a outrem, que passa a retirar os frutos e utilidades que a coisaalheia produz, sem alterar sua substncia. da essncia do usufruto oaproveitamentodosrendimentosdobempelousufruturio.

Com base na disciplina normativa afeta ao direito civil e societrio, osvaloresa titulode lucros/dividendosede juros sobrecapitalprprio,pagosou creditados como resultado de participaes societrias, so rendimentosquepertencemaousufruturio.

USUFRUTO. LUCROS/DIVIDENDOS. JUROS SOBRE CAPITALPRPRIO. TRIBUTAO. INTERPRETAO DA LEGISLAOTRIBUTRIA.

Nocasodosrendimentospagosoucreditadosattulodelucros/dividendosede juros sobre capital prprio, o legislador tributrio deixou de atribuir aoinstitutodousufrutoefeitos tributriosespecficos,oque implica remeterointrpreteaosefeitostpicosdecorrentesdodireitoprivado.

As normas que estabelecem excees tributao ordinria devem serinterpretadasdemaneiraestrita,nocomportandoampliaodecontedoouemprego de analogias, assim como invivel tambm a utilizao pelo

ACR

DO

GERA

DO N

O PG

D-CA

RF PR

OCES

SO 10

437.7

2088

9/201

4-82

Fl. 1279DF CARF MF

10437.720889/2014-82 2401-004.568 SEGUNDA SEO DE JULGAMENTO Voluntrio Acrdo 4 Cmara / 1 Turma Ordinria 07/02/2017 IRPF. CLASSIFICAO INDEVIDA DE RENDIMENTOS. SALIM DAYAN FAZENDA NACIONAL Recurso Voluntrio Provido Crdito Tributrio Exonerado CARF Relator 2.0.4 24010045682017CARF2401ACC Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Fsica - IRPF Ano-calendrio: 2009, 2010, 2011 NULIDADE. INEXISTNCIA. REQUISITOS DO LANAMENTO. DIREITO DE DEFESA. Preenchidos os requisitos do lanamento, no h que se falar em nulidade, nem em cerceamento do direito de defesa. USUFRUTO. NATUREZA JURDICA. PARTICIPAES SOCIETRIAS. O usufruto representa uma diviso das faculdades inerentes ao direito de propriedade, uma vez que o direito real sobre o objeto do usufruto conferido a outrem, que passa a retirar os frutos e utilidades que a coisa alheia produz, sem alterar sua substncia. da essncia do usufruto o aproveitamento dos rendimentos do bem pelo usufruturio. Com base na disciplina normativa afeta ao direito civil e societrio, os valores a titulo de lucros/dividendos e de juros sobre capital prprio, pagos ou creditados como resultado de participaes societrias, so rendimentos que pertencem ao usufruturio. USUFRUTO. LUCROS/DIVIDENDOS. JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. TRIBUTAO. INTERPRETAO DA LEGISLAO TRIBUTRIA. No caso dos rendimentos pagos ou creditados a ttulo de lucros/dividendos e de juros sobre capital prprio, o legislador tributrio deixou de atribuir ao instituto do usufruto efeitos tributrios especficos, o que implica remeter o intrprete aos efeitos tpicos decorrentes do direito privado. As normas que estabelecem excees tributao ordinria devem ser interpretadas de maneira estrita, no comportando ampliao de contedo ou emprego de analogias, assim como invivel tambm a utilizao pelo intrprete de exegese restritiva, para o fim de distinguir onde a lei no distingue. JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. USUFRUTO. TRIBUTAO EXCLUSIVA NA FONTE. Os juros pagos ou creditados a pessoa fsica na condio de usufruturio de participaes societrias, a ttulo de remunerao do capital prprio, devem ser tributados exclusivamente na fonte alquota de 15% (quinze por cento), na data do pagamento ou crdito. LUCROS OU DIVIDENDOS. USUFRUTO. ISENO. Os valores pagos a ttulo de lucros ou dividendos, calculados com base nos resultados da pessoa jurdica apurados a partir do ms de janeiro de 1996, no esto sujeitos incidncia do imposto de renda na fonte, nem integram a base de clculo do imposto sobre a renda da pessoa fsica beneficiria dos rendimentos na condio de usufruturia de participaes societrias. Recurso Voluntrio Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, para, no mrito, por maioria, dar-lhe provimento. Vencidos a relatora e o conselheiro Mrcio de Lacerda Martins que negavam provimento ao recurso e a conselheira Maria Cleci Coti Martins que dava provimento parcial, mantendo a tributao sobre os juros sobre capital prprio. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Cleberson Alex Friess. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Lazarini - Relatora e Presidente. (assinado digitalmente) Cleberson Alex Friess - Redator Designado. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Maria Cleci Coti Martins, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Rayd Santana Ferreira, Mrcio de Lacerda Martins, Andrea Viana Arrais Egypto e Luciana Matos Pereira Barbosa. Trata-se de Auto de Infrao, fls. 787/796, que exige do contribuinte R$ 6.493.388,11 de imposto, com multa de ofcio de 75% e juros moratrios, em razo da apurao de RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA JURDICA CLASSIFICADOS INDEVIDAMENTE NA DIRPF como isentos e no-tributveis e/ou rendimentos sujeitos a tributao exclusiva/definitiva.De acordo com o Termo de Verificao Fiscal, fls. 755/786, o contribuinte, nos anos-calendrio 2009, 2010 e 2011, declarou ter percebido rendimentos isentos e no tributveis e/ou rendimentos sujeitos a tributao exclusiva/definitiva, de pessoas jurdicas, conforme quadro 1.Quadro 1 - Rendimentos declaradosAno-calendrioRendimento valor

2009juros sobre capital prprio Banco Daycoval R$ 10.091.578,42

2010lucros e dividendos Banco Daycoval R$ 12.265.152,29

reservas ao capital/bonificao de aes Daycoval Financeira R$ 83.135.894,57

juros sobre capital prprio Banco Daycoval R$ 9.958.729,42

2011lucros e dividendos Banco Daycoval R$ 3.415.081,14

juros sobre capital prprio Banco Daycoval R$ 9.693.425,42

Ainda de acordo com referido termo:a) Em maro de 2007, o contribuinte e outros cinco acionistas do Banco Daycoval S/A, pertencentes mesma famlia, constituram a empresa Daycoval Holding Financeira S/A com um capital social de R$ 10.000,00, que foi aumentado para R$ 254.998.749,79 e para R$ 354.631.818,87, em 19/03/2007 e 20/03/2007, respectivamente, por meio da integralizao da nua propriedade de aes do Banco Daycoval S/A, pertencentes aos nicos seis acionistas da Holding, os quais reservaram para si o usufruto dos direitos econmicos de tais aes.b) Como o contribuinte e os demais membros da famlia citados deixaram de ser acionistas do Banco Daycoval S/A, uma vez que a titularidade das aes passou para a Daycoval Holding Financeira S/A, no poderiam declarar os valores recebidos do Banco Daycoval como sendo distribuio de juros sobre capital prprio - JCP e/ou dividendos. Esses valores teriam sido recebidos em decorrncia da situao jurdica de usufruturio e no de acionista.c) O novo titular dos direitos de acionista do Banco Daycoval S/A passou a ser a empresa Daycoval Holding Financeira S/A, sendo que os direitos econmicos percebidos pelo contribuinte, no lugar daquela holding, no se fundamentam na situao jurdica de acionista, mas sim, de usufruturio, devendo, portanto, os rendimentos com origem nesta condio, serem tributados, por determinao legal, pelo regime de tributao de ajuste anual, que, no caso, submete-se alquota de 27,5% dos rendimentos anuais auferidos.d) A distribuio de JCP dedutvel da base de clculo do IRPJ e da CSLL das sociedades annimas e que, para serem pagos aos scios da Holding, deveriam antes ser registrados como receita financeira desta, o que no aconteceu, tendo sido pagos pelo Banco Daycoval S/A diretamente ao ex-scio, sem transitar contabilmente pela Holding, legtima beneficiria dos rendimentos pagos ou creditados a ttulo de dividendos ou JCP, que tambm no efetuou qualquer pagamentos a ttulo de JCP e/ou dividendos a seus scios.e) No cabe ao usufruturio de aes a percepo de rendimentos da companhia, a ttulo de dividendos ou JCP, tendo em vista que no participa da composio do capital social da sociedade.f) O pagamento de dividendos e JCP constitui remunerao para os scios em decorrncia do capital aplicado na sociedade, enquanto os valores recebidos pelo usufruturio decorrem de direito real sobre a coisa alheia e no da condio de investidor em uma sociedade (acionista).g) Nota-se que o Banco Daycoval S/A remunerou o contribuinte com valores, a ttulo de distribuio de lucros e/ou JCP, completamente a descoberto de participao societria, em detrimento da sociedade Daycoval Holding Financeira S/A, e sem qualquer reconhecimento e controle do registro contbil desses pagamentos, nesta empresa.h) A instituio do usufruto apenas concede ao contribuinte o direito de receber, de outro scio, ou diretamente por parte do banco, a mando do scio cedente do direito, ou por lei, VALORES EQUIVALENTES queles que seriam pagos ou creditados ao acionista , no dando direito ao scio a descoberto de perceber os recursos econmicos e financeiros a que o scio de direito faz jus a receber da sociedade, no transforma esse direito do scio a descoberto no mesmo direito do verdadeiro scio, aquele que o real proprietrio das aes/quotas que deram origem parcela de rendimentos sem fundamentos societrios recebidos por aquele, por meio de um negcio jurdico qualquer.i) A existncia de um negcio jurdico qualquer (usufruto no caso) entre as partes diz respeito somente a elas, no exime o contribuinte da responsabilidade tributria, nem implica na modificao da definio legal do sujeito passivo, assim como no pode ser oposta Fazenda Pblica, no se aceitando a realizao aparentemente dissimulada de negcios jurdicos, que devem ser desconsiderados nos termos do CTN, art. 116, pargrafo nico.j) No presente caso, o usufruto das aes, apenas concede ao usufruturio o direito de receber, por parte da companhia, valores equivalentes aos que seriam pagos ou creditados ao nu-proprietrio (acionista), caso este no estivesse sujeito ao gravame de usufruto sobre as aes de sua propriedade. O direito do usufruturio a receber os valores devidos ao acionista no transforma esse direito no mesmo direito do acionista da companhia.k) No h previso legal de equiparao entre usufruturio e acionista, especificamente em relao tributao do imposto de renda.l) Os valores recebidos pelo usufruturio esto sujeitos tributao do IR, sem direito iseno. Esses valores foram considerados como semelhantes a alugueis e/ou royalties de bens e direitos.m) O contribuinte possua at 29/7/11, 2,46% do capital total do Banco Daycoval S/A, implicando que parte dos rendimentos recebidos so efetivamente decorrentes de dividendos e/ou JCP. Assim, a parcela excedente de rendimentos auferidos pelo contribuinte, oriunda do exerccio do usufruto foi reclassificada, conforme tabela de fl. 784.n) Os valores referentes ao imposto de renda retido na fonte - IRPF, declarados em DIRF foram considerados com parte do imposto de renda devido pelo contribuinte e recolhidos antecipadamente pela fonte pagadora Banco Daycoval S/A.o) Em 29/7/11 foi reduzido o capital da Daycoval Holding Financeira S/A, pela entrega aos acionistas da nua-propriedade de aes ordinrias nominativas do Banco Daycoval S/A, a partir de 60 dias da publicao da ata, ao contribuinte e seus familiares, passando esses, a serem acionistas desta sociedade. Os valores recebidos por eles, a partir de dessa data podem ser realizados a ttulo de dividentos e JCP. Assim, no foram tributados os valores recebidos em 17/10/11, pois o contribuinte se encontrava na posio de acionista de direito do Banco Daycoval S/A.p) Os rendimentos considerados indevidamente declarados como dividendos e JCP, conforme tabela de fl. 784, esto discriminados na tabela 1.Tabela 1 - Rendimentos e IRRFAno-calendrioRendimento reclassificado valor IRRF

2009juros sobre capital prprio Banco Daycoval R$ 9.534.527,86 R$ 1.430.179,17

2010lucros e dividendos Banco Daycoval R$ 9.885.725,46 R$ 0,00

juros sobre capital prprio Banco Daycoval R$ 9.440.489,47 R$ 1.416.073,42

2011lucros e dividendos Banco Daycoval R$ 2.750.298,50 R$ 0,00

juros sobre capital prprio Banco Daycoval R$ 5.172.834,86 R$ 775.925,23

Cientificado do Auto de Infrao - AI, o contribuinte apresentou impugnao, sendo proferido o Acrdo com a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FSICA - IRPF Exerccio: 2010, 2011, 2012 DECADNCIA. INOCORRNCIA. RENDIMENTOS SUJEITOS AO AJUSTE ANUAL. FATO GERADOR EM 31 DE DEZEMBRO. Os rendimentos sujeitos ao ajuste anual se enquadram no conceito de lanamento por homologao, cujo termo inicial da contagem do prazo decadencial de cinco anos a data da ocorrncia do fato gerador: 31 de dezembro do ano-calendrio correspondente ao exerccio analisado. NULIDADE. INEXISTNCIA. REQUISITOS CORRETOS. DIREITO DE DEFESA EXERCIDO. Afasta-se a preliminar de nulidade quando o lanamento foi lavrado por pessoa competente e com informaes que permitiram ao sujeito passivo exercer o direito de defesa. JURISPRUDNCIA. EFEITOS. As decises administrativas e judiciais que no se enquadram dentre as hipteses que vinculam a administrao tributria somente se aplicam questo em anlise e vinculam as partes envolvidas naqueles litgios. INSTRUMENTO PARTICULAR. ALTERAO DA SUJEIO PASSIVA. INOPONIBILIDADE AO FISCO. Salvo disposies de lei em contrrio, as convenes particulares relativas responsabilidade pelo pagamento de tributos no podem ser opostas Fazenda Pblica para modificar a definio legal do sujeito passivo das obrigaes tributrias correspondentes. JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. DIVIDENDOS. USUFRUTO DE AES. TRIBUTAO. A celebrao de contrato de usufruto de aes importa transferncia do direito de percepo dos valores correspondentes aos juros sobre capital prprio e dividendos, mas no transforma o usufruturio em acionista e, assim, os valores recebidos por no scios em decorrncia do direito de fruio das aes no se confundem com a percepo de JCP e dividendos, porque derivam de relaes jurdicas distintas e, consequentemente, esto sujeitas a formas de tributao especficas, devendo o valor recebido pela pessoa fsica usufruturia das aes ser tributado integralmente. JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. DIVIDENDOS. NATUREZA JURDICA DIVERSA. Os juros sobre capital prprio (JCP) correspondem a lucros apurados em perodos anteriores e que ficaram retidos na empresa, sendo pagos com a finalidade de remunerar o scio/acionista pela indisponibilidade do capital que ele aplicou na sociedade; j os dividendos so pagos aos scios/acionistas em decorrncia do desempenho da empresa, expresso no lucro apurado no ano, e remuneram o investidor pelo sucesso do empreendimento no qual investiu, portanto, os dividendos e os JCP so institutos diferentes, que possuem natureza jurdica e tratamento tributrio distintos. Impugnao Improcedente Crdito Tributrio MantidoCientificado do Acrdo em 20/8/15 (Aviso de Recebimento - AR de fl. 1.105), o contribuinte apresentou recurso voluntrio em 21/9/15, fls. 1.119/1.199, que contm, em sntese:LEGALIDADE DO PROCEDIMENTODiz ter agido na legalidade ao receber JCP e dividendos do Banco em razo do ato de transferncia da nua propriedade das aes para a Holding e a reserva do usufruto econmico delas para si. Explica o porqu da operao.Afirma que a Holding no ficou com a propriedade integral das aes. Com a reserva de usufruto, os direitos decorrentes da propriedade das aes do Banco se dividiram entre nu-proprietrio e usufruturio. A Holding ficou com os direitos polticos, enquanto a recorrente, como usufruturio, com o direito percepo dos frutos (direitos econmicos).Alega que em ratificao ao ato de usufruto perpetrado com as Atas das Assembleias Gerais Extraordinrias - AGEs ficou determinado ter a recorrente, na figura de usufruturio, direito percepo de JCP e dividendos (fls. 972/1.020).Acrescenta que, nos termos da Lei 6.404/76, art. 100, o referido usufruto foi registrado no Livro de Aes Nominativas do Banco. Diz que atendeu tambm ao parecer CVM n 30.Aduz que a Receita Federal do Brasil trata com naturalidade e acata seus reflexos fiscais, como se v do PN CST n 16/72 e do PN CST n 4/95, os quais se aplicam ao caso por tratarem do tema usufruto.Argumenta que o CARF, ao analisar a situao formalizada em decorrncia da mesma operao ora analisada, s que em face da Holding (Acrdo 1103-001.123 proferido no processo 16327.720576/2011-13), sedimentou que o recorrente, como usufruturio, pessoa legalmente capaz de receber JCP e dividendos.Cita trecho do voto: que o usufruturio passa a figurar, ao lado do nu-proprietrio, como acionista da sociedade: ambos so titulares da ao. Em outras palavras, conforme a doutrina de Modesto Carvalhosa, o nu-proprietrio ter a titularidade primria da ao e o usufruturio deter a sua titularidade secundria, isto , ambos tero direitos de acionista.Entende que o usufruto cumpriu as formalidades previstas em lei e teve finalidade prpria, que justifica a classificao fiscal adotada pelo recorrente e a correta tributao em DIRPF.Afirma que o auditor fiscal e a DRJ/CTA reconhecem a legalidade dos atos, mas agem como se eles no existissem e criam uma nova realidade no qual os rendimentos percebidos pelo recorrente a ttulo de JCP e dividendos, como usufruturio, se tornam "alugueis" e/ou "royalties".DECADNCIAExplica que a decadncia deve ser analisada em face da possibilidade, ou no, de se alterar a classificao do rendimento que, pela norma aplicvel ao rendimento tributado exclusivamente na fonte, estaria preclusa em razo do tempo decorrido desde o fato gerador reconhecido pela fonte pagadora e pelo recorrente, at a cincia do AI.Afirma que sendo o IRPF um tributo sujeito ao lanamento por homologao, a contagem do prazo decadencial desloca-se da regra gerado do CTN, art. 173, para o art. 150, 4. Diante disso, como houve antecipao do pagamento do IRPF, deve-se contar os cinco anos, para efeito de lanamento de eventual diferena, a partir do fato jurdico.Acrescenta que mesmo que se considere o valor recebido como aluguel ou royalty, o IRPF foi recolhido e admitido com essa rubrica (fonte).Cita decises do 1 Conselho de Contribuintes, Acrdo 106-14.117 e Acrdo 104-17.561, no sentido de que do fato que gera o recolhimento do IRPF que se deve contar o prazo de decadncia, independentemente do momento da entrega da DIRPF, e que o fato gerador previsto em lei o pagamento ou crdito.Conclui que todos os valores recebidos pelo recorrente de JCP at 9/12/09 e que foram objeto de IRPF se encontram extintos pela decadncia.NULIDADEOfensa ao artigo 142 do CTNDiz que no restou comprovado a ocorrncia do fato jurdico tributrio consistente no suposto recebimento de valores a ttulo de alugueis ou royalties, ofendendo assim o CTN, art. 142.Entende que o trabalho fiscal precrio e j comea na utilizao do termos "e/ou". Para reclassificar a natureza de recebimento de valores o AFRFB deveria especificar se tais valores so decorrentes de alugueis ou de royalties.Aduz que no h nos autos qualquer elemento material que indique terem as partes envolvidas no processo de fiscalizao expressado qualquer elemento de vontade que embasasse acordo de aluguel ou de royalty. Critica ter a DRJ considerado irrelevante tais dados, consistentes na justificativa do reenquadramento.Conclui que a presuno absoluta do AFRFB, tida como vlida pela DRJ/CTA sem justificativa plausvel, que visa distorcer a realidade e criar um cenrio para arrecadar, sem estabelecer os liames do fato jurdico tributrio passvel de tributao do IRPF, fere o art. 142 do CTN e o art. 10 do Decreto 70.235/72. Afirma que a falta de especfica descrio do fato e comprovao de sua existncia, so motivos de nulidade do lanamento.Cerceamento do Direito de DefesaAfirma que a consequncia da falta de descrio de como teriam sido perpetrados os acordos de locao ou royalty, sem qualificar as partes, objeto e teor do pagamento e, por conseguinte, de comprovao do fato jurdico tributrio acarreta a nulidade por cerceamento de defesa. Cita deciso da DRJ em Fortaleza.CONCEITO DE ALUGUEIS E ROYALTIES - DESRESPEITO AO DIREITO LIVRE CONTRATAOCita o cdigo civil, art. 565, que trata do contrato de locao e afirma que no h como transformar o usufruto em contrato de locao.Diz que o recorrente somente recebeu dividendo e JCP do Banco e para isso nada pagou (a ttulo de aluguel, royalty ou qualquer outra contraprestao).Acrescenta que a DRJ/CTA ao retratar que o art. 53 do RIR/99 s "equipara" os rendimentos a "alugueis" e/ou "royalties", revela o desprezo legalidade.Conclui que tanto a desconsiderao da natureza do usufruto quanto falta de delimitao do suposto aluguel ou royalty demonstram desrespeito s relaes jurdicas, devendo o lanamento ser cancelado.ILEGALIDADE DO LANAMENTO DE OFCIOAfirma que o lanamento de ofcio ilegal, pois no h no ordenamento jurdico ptrio norma legal que a autorize a transformao dos valores recebidos a ttulo de JCP e dividendos pelo usufruturio em aluguel ou royalties.Aduz que o AFRFB no descaracterizou o usufruto. Foi criada uma nova realidade, dspar da verdade material acostada aos autos.Cita decises do CARF no sentido de que a autoridade fiscal tem o dever de provar o fato jurdico tributrio (Acrdos 3102-00.696 e 104-17.561).Conclui que por falta de previso legal, no h como sustentar o lanamento baseado na presuno absoluta de que os JCP e dividendos recebidos pelo usufruturio seriam alugueis ou royalties, devendo ser afastado o acrdo proferido pela DRJ/CTA e cancelado o AI.CORRETA CLASSIFICAO DE VALORES RECEBIDOS NA DIRPFDiz que est correta a classificao do recebimento de dividendos e JCP nas DIRPFs do recorrente, haja vista o contrato de usufruto, que legal sob o ponto de vista da legislao privada e no altera a substncia dos frutos percebidos pelo usufruturio.Disserta sobre o usufruto, citando o Cdigo Civil (artigos 1.390, 1.394, 1.400 e 1.410) e doutrina.Reafirma estar correta a classificao dos rendimentos como JCP e dividendos e que o usufruto formalizado tornou-se perfeito e acabado no momento da formalizao das AGEs e do registro realizado no livro de aes do Banco. Acrescenta que no h relao de rendimento entre a Holding (nu-proprietria) e o recorrente (usufruturio).Destaca que a relao entre as partes : i) a Holding com a nua-propriedade e os direitos polticos; e ii) o recorrente com direito aos frutos, neles includos os JCP e os dividendos. E, por isso, o recorrente recebeu dividendos e JCP do Banco. Cita o CC, Lei das SA, art. 205,e a Lei 9.249, art. 9. Volta a citar o Acrdo 1103-001.123 do CARF. Cita tambm jurisprudncia e entendimento da CVM no sentido de que os JCP so dividendos.Cita decises do CARF (Acrdos 107-09.588 e 101-97.083) no sentido de que o usufruto no altera a natureza do recebimento dos dividendos pelo usufruturio.Menciona decises do CARF sobre usufruto de imvel, onde consta que os rendimentos produzidos pelo bem pertencem ao usufruturio e a ele cabe tributar o valor correspondente (Acrdos 13-29263 e 12-45671).Alega que a Soluo de Consulta n 11, de 14/1/10, da RFB, ratifica que os lucros distribudos aos usufruturios das quotas de capital da empresa constituem rendimento no sujeito tributao pelo imposto de renda.Conclui que considerando que os JCP foram pagos com reteno de IRPF na fonte pelo Banco e os dividendos so isentos, nos termos do art. 75 da Lei 383/91, o recorrente classificou corretamente seus rendimentos em suas DIRPFs.OFENSA AO ART. 110 DO CTNEntende que ao desrespeitar o instituto privado do usufruto e classificar os rendimentos como "alugueis ou royalties", o AFRFB feriu o art. 110 do CTN, que determina ser defeso lei tributria alterar os institutos de direito privado. Cita decises do CARF nesse sentido. Repete argumentos j relatados sobre o usufruto e afirma que o lanamento deve ser cancelado.PEDIDORequer o cancelamento integral do AI ou, quando menos, a extino por decadncia dos valores exigidos no ano de 2009.CONTRARRAZES DA PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONALA PGFN apresentou contrarrazes, nos termos do RICARF, art. 48, 2, juntada s fls. 1.259/1.276, que contm, em sntese:PRELIMINAR DE DECADNCIA PARCIALDiz que a premissa bsica que norteia a acusao fiscal est assentada no fato de que o recorrente no detm participao acionria no Banco Daycoval, mas apenas faz jus ao usufruto dos direitos econmicos das aes de titularidade da Daycoval Holding, no recebeu pagamentos a ttulo de JCP. Assim, tais rendimentos estariam submetidos ao regime de tributao de ajuste anual.Afirma que como houve a reclassificao dos valores recebidos para rendimentos tributveis no ajuste anual, imperativo a anlise da decadncia considerando-se essa reclassificao.Aduz que para que se proceda contagem do prazo decadencial, necessrio perquirir o momento em que ocorreu o fato gerador quanto ao recebimento de rendimentos oriundos do usufruto e no de JCP.Cita a Lei 9.250/95, art. 7 e art. 13, e o CTN, art. 150, 4, concluindo que no caso de rendimentos submetidos tributao no ajuste anual, a data de ocorrncia do fato gerador corresponde ao dia 31 de janeiro (sic) de cada ano-calendrio. Destaca julgados do CARF nesse sentido.Na hiptese, tendo em vista que o fato gerador mais remoto ocorreu em 31/12/09, no h que se cogitar de decadncia, pois o lanamento foi notificado ao sujeito passivo em 10/12/14. TITULARIDADE DAS RECEITAS PROVENIENTES DOS JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO Descreve os atos realizados pela Daycoval Holding Financeira S/A: o capital social desta empresa foi integralizado pelos scios apenas com a nua propriedade das aes que possuam do Banco Daycoval, ficando estes com o usufruto das aes do Banco, enquanto a Holding exercia o controle direto sobre o Banco.Destaca que o ponto central deste processo reside em saber a quem pertencem as receitas provenientes do pagamento de JCP, feito pelo Banco Daycoval. Para o recorrente tais receitas seriam dos scios da Holding, em virtude do usufruto; para a fiscalizao, tais receitas seriam da Daycoval Holding, no existindo relao societria com as pessoas fsicas que justificasse o seu pagamento a ttulo de JCP diretamente para elas.Afirma que a constituio do usufruto confere ao usufruturio o direito a receber os resultados econmicos auferidos pela companhia. Assim, o pagamento dos dividendos est em conformidade com a Lei 6.404/76.Entende que o recorrente busca conferir aos JCP o mesmo tratamento dispensado pela Lei das SA aos dividendos. A analogia utilizada pelo recorrente no sentido de que, tal qual os dividendos, os JCP a que teria direito a Daycoval Holding, na qualidade de acionista do Banco Daycoval, poderiam ser destinados aos scios pessoas fsicas daquela empresa. Desta maneira, os scios escapariam ao regime de tributao mais oneroso, que recairia sobre a Daycoval Holding caso esta recebesse os rendimentos provenientes do pagamento da JCP. Entretanto, no possvel estender aos JCP a mesma disciplina legal prevista para os dividendos.Ressalta que a fiscalizao no questionou a criao da Holding, nem a utilizao do usufruto, mas a correta interpretao das normas tributrias e consequente apurao dos tributos.Destaca que as repercusses tributrias do pagamento de JCP e dos dividendos so distintas. Enquanto os dividendos so disciplinados pela Lei das S/A, os JCP so regidos pro legislao especfica, que regulamenta seus aspectos e efeitos tributrios.Cita a Lei 9.249/95, art. 9, destacando: a) pessoa jurdica poder deduzir, para efeitos da apurao do lucro real, os juros pagos ou creditados; b) juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, scios ou acionistas, a ttulo de remunerao do capital prprio. O primeiro trecho evidencia a pessoa jurdica que paga os JCP, enquanto o segundo, aqueles que recebem os respectivos valores. Portanto, o legislador explicitou os participantes das operaes envolvendo o pagamento de JCP - a sociedade paga uma remunerao a seus acionistas. Cita doutrina e entendimento exarado na deciso de primeiro grau proferida no processo envolvendo da Daycoval Holding (16327.720576/2011-13).Afirma que a existncia de usufruto que determine a entrega de valores referentes a JCP a terceiros no tem o condo de descaracterizar a relao jurdico-tributria estabelecida pelo art. 9 da Lei 9.249/96.Cita trecho do Acrdo da DRJ/CTA, ao citar o CTN, artigos 109, 116 e 123, no sentido de afastar os efeitos das convenes estabelecidas entre particulares, concluindo que as alegaes referentes validade ou ao momento em que teria sido constitudo o usufruto perdem fora, visto que o ponto central discutido neste processo resume-se a interpretar a legislao tributria especfica e apontar o titular das receitas de JCP.NATUREZA JURDICA DOS JCPDisserta sobre a natureza jurdica das JCP, afirmando que no tm natureza de dividendos, sendo receitas financeiras que deveriam ter sido oferecidas tributao na pessoa jurdica. Os dividendos so valores pagos aos acionistas com base no resultado econmico da empresa, enquanto os juros sobre capital prprio so recebidos como forma de remunerao do capital investido.Cita ementa do Acrdo 101-96.692 do CARF, proferido no processo 11080.009776/2005-81: IRPJ JUROS SOBRE O CAPITAL PRPRIO Os juros sobre capital prprio investido pela sociedade em outra empresa no tm natureza de lucro ou dividendo, mas de receita financeira. Regime jurdico tributrio diferenciado. Os juros recebidos em decorrncia de aplicao capital prprio em outra pessoa jurdica compem a base de clculo do IRPJ.Cita outros acrdos do CARF no mesmo sentido e deciso do STJ.SUPOSTA NULIDADE DO AI POR AUSNCIA DE COMPROVAO DO FATO GERADORCita o Decreto 70.235/72, art. 59 e art. 60, e afirma que foi propiciado ao sujeito passivo o efetivo direito de defesa que apresentou longo e detalhado arrazoado, contestando o mrito da questo. A jurisprudncia da Cmara Superior do CARF tem firmado entendimento de que se o autuado revela conhecer plenamente as acusaes que lhe foram imputadas, rebatendo-as, mostra-se incabvel a declarao de nulidade do lanamento por cerceamento de defesa. Cita doutrina.Acrescenta que foram devidamente informados no AI todos os requisitos do art. 10 do Decreto 70.235/72 e tambm esto presentes os ditames do art. 142 do CTN.Explica que a fiscalizao no deixa dvidas de que os valores recebidos em virtude do usufruto devem ser apropriados com renda tributvel submetida ao regime de tributao de ajuste anual. O fato de se ter mencionado que as importncias recebidas pelo contribuinte em razo do usufruto deveriam ser consideradas como alugueis ou royalties no nulifica o lanamento, na medida em que a submisso de tais rendimentos ao regime de ajuste anual independe de tal enquadramento. Quer fossem as importncias recebidas efetivamente alugueis ou royalties, quer fossem enquadradas pela fiscalizao genericamente como rendimentos recebidos de pessoa jurdica, a consequncia jurdico-tributria seria a mesma, submisso ao ajuste anual.PEDIDORequer seja negado seguimento ao recurso voluntrio, mantendo-se a deciso recorrida. o relatrio. Conselheira Miriam Denise Xavier Lazarini - Relatora.ADMISSIBILIDADEO recurso voluntrio foi oferecido no prazo legal, assim, deve ser conhecido.INTRODUOInicialmente, ressalte-se que o cerne da questo que ora se apresenta a reclassificao dos rendimentos recebidos pelo sujeito passivo do Banco Daycoval, declarados por ele como sendo distribuio de juros sobre capital prprio - JCP e/ou dividendos, considerados pela fiscalizao como rendimentos tributveis, sujeitos ao regime de tributao de ajuste anual. A discusso sobre tal procedimento questo de mrito que ser apreciada no presente voto.DECADNCIACaso o procedimento adotado pelo sujeito passivo tivesse sido considerado correto, no teria sido feito o lanamento. Entretanto, uma vez que a fiscalizao reclassificou os valores declarados, a decadncia deve ser avaliada em relao forma de tributao apontada pela fiscalizao.No cabe ento o argumento de que os valores de JCP esto sujeitos tributao exclusiva na fonte, cujo fato gerador do imposto sobre a renda seria a data do pagamento, uma vez que tais rendimentos foram reclassificados como rendimentos tributveis no ajuste anual.Para os rendimentos sujeitos ao ajuste anual, a Lei 9.250/95, art. 7 e art. 13, pargrafo nico, dispem que:Art. 7 A pessoa fsica dever apurar o saldo em Reais do imposto a pagar ou o valor a ser restitudo, relativamente aos rendimentos percebidos no ano-calendrio, e apresentar anualmente, at o ltimo dia til do ms de abril do ano-calendrio subseqente, declarao de rendimentos em modelo aprovado pela Secretaria da Receita Federal.Art. 13. O montante determinado na forma do artigo anterior constituir, se positivo, saldo do imposto a pagar e, se negativo, valor a ser restitudo.Pargrafo nico. Quando positivo, o saldo do imposto dever ser pago at o ltimo dia til do ms fixado para a entrega da declarao de rendimentos.Tais dispositivos legais conferem ao imposto sobre a renda os contornos de um lanamento por homologao, aplicando-se ento, para se apurar a decadncia, o comando do CTN, art. 150, 4:Art. 150. O lanamento por homologao, que ocorre quanto aos tributos cuja legislao atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prvio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.[...] 4 Se a lei no fixar prazo a homologao, ser ele de cinco anos, a contar da ocorrncia do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pblica se tenha pronunciado, considera-se homologado o lanamento e definitivamente extinto o crdito, salvo se comprovada a ocorrncia de dolo, fraude ou simulao.No caso dos rendimentos submetidos tributao no ajuste anual, a data de ocorrncia do fato gerador corresponde ao dia 31 de dezembro de cada ano-calendrio. No presente caso, o fato gerador mais remoto ocorreu em 31/12/09, comeando nesta data a fluir o prazo decadencial de cinco anos. Assim, a fiscalizao teria at 31/12/14 para efetuar o lanamento. Como a cincia do sujeito passivo ocorreu em 10/12/14 (Aviso de Recebimento - AR fl. 800), no h que se falar em decadncia.NULIDADEA fiscalizao ao reclassificar os valores recebidos pelo sujeito passivo, considerados por ele como JCP e dividendos, considerou que tais rendimentos devem ser tributados, por determinao legal, pelo regime de tributao de ajuste anual, que, no caso, submete-se alquota de 27,5% dos rendimentos anuais auferidos.Consta do TVF, conforme relatado, que a instituio do usufruto apenas concede ao contribuinte o direito de receber, de outro scio, ou diretamente por parte do banco, a mando do scio cedente do direito, ou por lei, VALORES EQUIVALENTES queles que seriam pagos ou creditados ao acionista , no dando direito ao scio a descoberto de perceber os recursos econmicos e financeiros a que o scio de direito faz jus a receber da sociedade, no transforma esse direito do scio a descoberto no mesmo direito do verdadeiro scio, aquele que o real proprietrio das aes/quotas que deram origem parcela de rendimentos sem fundamentos societrios recebidos por aquele, por meio de um negcio jurdico qualquer.A fiscalizao (fl. 779) deixa claro que a natureza do rendimento no de JCP ou dividendos, devendo tais rendimentos serem apropriados como renda tributvel, semelhantemente a alugueis e/ou royalties, nos termos do RIR/99, art. 53Art. 53. Sero tambm consideradas como aluguis ou royalties todas as espcies de rendimentos percebidos pela ocupao, uso, fruio ou explorao dos bens e direitos, alm dos referidos nos arts. 49 e 52, tais como [...]Da leitura do TVF v-se claramente que em nenhum momento a fiscalizao apurou rendimentos de alugueis ou royalties, mas apenas afirmou que os rendimentos recebidos pelo sujeito passivo so tributveis, tal qual, os alugueis ou royalties.Assim, descabidos os argumentos de desrespeito ao art. 142 do CTN e ao art. 10 do Decreto 70.235/72.Tambm no h que se falar em cerceamento do direito de defesa, pois a recorrente demonstra na impugnao e no recurso voluntrio apresentados, perfeito entendimento sobre o lanamento, fato gerador, base de clculo, alquotas, tributo devido e sujeito passivo da obrigao.Se no h qualquer lanamento a ttulo de alugueis ou royalties, tambm no tem razo o contribuinte ao questionar a natureza destas verbas.Quanto legalidade do lanamento, mais uma vez, descabido o argumento do recorrente, como j relatado e acima afirmado, no houve transformao de valores de JCP e dividendos em alugueis ou royalties.O que se verifica foi um pagamento realizado pelo Banco Daycoval, em valor equivalente aos devidos Daycoval Holding a ttulo de JCP e dividendos, a pessoa fsica. Tais valores recebidos pelo recorrente, que no se enquadram como JCP ou dividendos, foram, portanto, considerados como tributveis.Se uma empresa paga a uma pessoa fsica qualquer valor que no se enquadre nas hipteses de iseno ou rendimento tributvel exclusivamente na fonte, nos termos da lei, tais valores possuem a natureza de rendimento tributvel, independentemente do nome dado verba.DOUTRINA, JURISPRUDNCIA E DECISES ADMINISTRATIVASEm que pese o respeito aos entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais apresentados no recurso, inclusive o que consta no voto vencedor do Acrdo 1103-001.123, citado no recurso, eles no tm o condo de vincular este rgo julgador.O CTN, art. 100, II, dispe que:Art. 100. So normas complementares das leis, dos tratados e das convenes internacionais e dos decretos:[...]II - as decises dos rgos singulares ou coletivos de jurisdio administrativa, a que a lei atribua eficcia normativa; [...]Conforme consta do Acrdo de impugnao, as consultas que vinculam a administrao tributria so as Solues de Consulta Cosit e as Solues de Divergncia, nos termos da Instruo Normativa - IN RFB 1.396/13, art. 13.No mbito do CARF, apenas as hipteses descritas nos artigos 62 e 75 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - RICARF, aprovado pela Portaria MF n 343, de 9/6/15, na redao dada pela Portaria MF n 152, de 2016, vinculam o julgamento:Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicao ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. 1 O disposto no caput no se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo:I - que j tenha sido declarado inconstitucional por deciso definitiva plenria do Supremo Tribunal Federal; II - que fundamente crdito tributrio objeto de:a) Smula Vinculante do Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 103-A da Constituio Federal;b) Deciso do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justia, em sede de julgamento realizado nos termos do art. 543-B ou 543-C da Lei n 5.869, de 1973- Cdigo de Processo Civil (CPC), na forma disciplinada pela Administrao Tributria;b) Deciso definitiva do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justia, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543-B e 543-C da Lei n 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei n 13.105, de 2015 - Cdigo de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administrao Tributria;c) Dispensa legal de constituio ou Ato Declaratrio da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) aprovado pelo Ministro de Estado da Fazenda, nos termos dos arts. 18 e 19 da Lei n 10.522, de 19 de julho de 2002;d) Parecer do Advogado-Geral da Unio aprovado pelo Presidente da Repblica, nos termos dos arts. 40 e 41 da Lei Complementar n 73, de 10 de fevereiro de 1993; ee) Smula da Advocacia-Geral da Unio, nos termos do art. 43 da Lei Complementar n 73, de 1993. 2 As decises definitivas de mrito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justia em matria infraconstitucional, na sistemtica dos arts. 543-B e 543-C da Lei n 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei n 13.105, de 2015 - Cdigo de Processo Civil, devero ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no mbito do CARF.Art. 75. Por proposta do Presidente do CARF, do Procurador-Geral da Fazenda Nacional, do Secretrio da Receita Federal do Brasil ou de Presidente de Confederao representativa de categoria econmica ou profissional habilitada indicao de conselheiros, o Ministro de Estado da Fazenda poder atribuir smula do CARF efeito vinculante em relao administrao tributria federal.OFENSA AO ART. 110 DO CTNSobre este assunto, transcreve-se o contedo que consta no voto do acrdo de impugnao, que muito bem tratou da questo:Incabvel tambm a alegao trazida na impugnao de que o lanamento teria ferido o art. 110 do CTN, uma vez que esse dispositivo direcionado ao legislador, cabendo a esta instncia de julgamento somente aplicar as determinaes existentes na legislao tributria, conforme definido no j transcrito no art. 142 do CTN: Art. 110. A lei tributria no pode alterar a definio, o contedo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituio Federal, pelas Constituies dos Estados, ou pelas Leis Orgnicas do Distrito Federal ou dos Municpios, para definir ou limitar competncias tributrias.MRITOA fiscalizao no questionou o procedimento adotado pelo contribuinte quando instituiu o usufruto dos direitos econmicos das aes, muito menos os fatos que determinaram tal conduta do recorrente.Como afirmado no incio deste voto, o cerne da questo que ora se apresenta a reclassificao dos rendimentos recebidos pelo sujeito passivo do Banco Daycoval, declarados por ele como sendo distribuio de juros sobre capital prprio - JCP e/ou dividendos, considerados pela fiscalizao como rendimentos tributveis.A atividade vinculada do agente administrativo no o permite interpretar a lei de forma diversa, devendo observar o disposto no CTN, art. 142:Art. 142. Compete privativamente autoridade administrativa constituir o crdito tributrio pelo lanamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrncia do fato gerador da obrigao correspondente, determinar a matria tributvel, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicao da penalidade cabvel.Pargrafo nico. A atividade administrativa de lanamento vinculada e obrigatria, sob pena de responsabilidade funcional.Cumpre, inicialmente, perquirir a quem cabe o recebimento de JCP e dividendos de uma empresa.Para avaliar o JCP, deve ser observada a Lei 9.249/95, art. 9, e o RIR/99, art. 347:Lei 9.249/95:Art. 9 A pessoa jurdica poder deduzir, para efeitos da apurao do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, scios ou acionistas, a ttulo de remunerao do capital prprio, calculados sobre as contas do patrimnio lquido e limitados variao, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP. (grifo nosso)[...] 2 Os juros ficaro sujeitos incidncia do imposto de renda na fonte alquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crdito ao beneficirio. 3 O imposto retido na fonte ser considerado:I - antecipao do devido na declarao de rendimentos, no caso de beneficirio pessoa jurdica tributada com base no lucro real;II - tributao definitiva, no caso de beneficirio pessoa fsica ou pessoa jurdica no tributada com base no lucro real, inclusive isenta, ressalvado o disposto no 4; [...]RIR/99:Art. 347. A pessoa jurdica poder deduzir, para efeitos de apurao do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, scios ou acionistas, a ttulo de remunerao do capital prprio, calculados sobre as contas do patrimnio lquido e limitados variao, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLPDa leitura da legislao citada, nota-se que o destinatrio do JCP o scio ou acionista da pessoa jurdica, para remunerar o capital por ele investido na empresa.Quanto aos dividendos, deve-se observar o comando do RIR/99, art. 663:Art. 663. Esto isentos do imposto os lucros e dividendos pagos a scios, acionistas ou titular de empresa individual, que no ultrapassarem o valor que serviu de base de clculo do imposto de renda da pessoa jurdica, deduzido do imposto correspondente (grifo nosso)Destaca-se que quanto a iseno, assim dispe o CTN:Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislao tributria que disponha sobre:[...]II - outorga de iseno; [...]Art. 176. A iseno, ainda quando prevista em contrato, sempre decorrente de lei que especifique as condies e requisitos exigidos para a sua concesso, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua durao.Diante da interpretao literal da legislao tributria que trata da iseno, na ausncia de lei que atribua iseno aos valores recebidos em razo do usufruto, no h como aplicar-lhes tal benefcio.Como bem descrito no TVF, "a mera condio de usufruturio no transforma o mesmo em acionista, com direito percepo de dividendos e/ou juros sobre capital prprio".Dito isto, quem a lei confere o direito de receber os dividendos e/ou JCP o scio ou acionista, mas no o usufruturio.Diante da situao apresentada, verifica-se que o Banco Daycoval pagou ao sujeito passivo determinados valores (em montante equivalente ao JCP e dividendos devidos Daycoval Holding) que deveriam ter sido oferecidos tributao do IRPF, uma vez que a tributao independe da denominao dada aos rendimentos, conforme dispe o CTN, art. 43, e a Lei 7.713/88, art. 3:CTNArt. 43. O imposto, de competncia da Unio, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade econmica ou jurdica:I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinao de ambos;II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acrscimos patrimoniais no compreendidos no inciso anterior. 1o A incidncia do imposto independe da denominao da receita ou do rendimento, da localizao, condio jurdica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepo. 2o Na hiptese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecer as condies e o momento em que se dar sua disponibilidade, para fins de incidncia do imposto referido neste artigo.Lei 7.713/88Art. 3 O imposto incidir sobre o rendimento bruto, sem qualquer deduo, ressalvado o disposto nos arts. 9 a 14 desta Lei. 1 Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinao de ambos, os alimentos e penses percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim tambm entendidos os acrscimos patrimoniais no correspondentes aos rendimentos declarados.[...] 4 A tributao independe da denominao dos rendimentos, ttulos ou direitos, da localizao, condio jurdica ou nacionalidade da fonte, da origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepo das rendas ou proventos, bastando, para a incidncia do imposto, o benefcio do contribuinte por qualquer forma e a qualquer ttulo.Cite-se trecho do Acrdo de impugnao, sobre os direitos do usufruturio:Os dispositivos legais do Direito Civil definem ter o usufruturio direito percepo dos frutos do bem, mas essa uma relao particular acertada entre as partes, proprietrios e usufruturio, que no pode ser oposta definio da fonte pagadora e do sujeito passivo, empresa investida e scio/acionista, definidos na legislao tributria para os casos de pagamento de JCP e dividendos. Essa determinao est contida nos arts. 109, 116 e 123 do CTN, que so claros ao definir: que o direito privado no pode ser utilizado na definio dos efeitos tributrios de institutos nele definidos; que o sujeito passivo da obrigao tributria a pessoa que tem relao pessoal e direta com a situao que constituiu o fato gerador e que as convenes particulares no podem ser opostas Fazenda Pblica: Art. 109. Os princpios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definio, do contedo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas no para definio dos respectivos efeitos tributrios. Art. 121. Sujeito passivo da obrigao principal a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniria. Pargrafo nico. O sujeito passivo da obrigao principal diz-se: I - contribuinte, quando tenha relao pessoal e direta com a situao que constitua o respectivo fato gerador; [...] Art. 123. Salvo disposies de lei em contrrio, as convenes particulares, relativas responsabilidade pelo pagamento de tributos, no podem ser opostas Fazenda Pblica, para modificar a definio legal do sujeito passivo das obrigaes tributrias correspondentes. Portanto, o instrumento de concesso de usufruto s produz efeito entre as partes que o firmaram e no geram repercusses tributrias no previstas na legislao do Imposto de Renda.Certo que o contrato faz "lei" entre as partes, contudo, no tm validade as clusulas que so contrrias ao disposto em lei.O fato de ter o contribuinte atendido s disposies da Lei 6.404/76, para instituir o usufruto, no lhe confere o direito de opor tal determinao Fazenda Pblica. O disposto no art. 100 de referida lei no transforma o usufruturio em acionista.Acrescente-se que o disposto no art. 205 da Lei 6.404/76 faz referncia apenas aos dividendos:Art. 205. A companhia pagar o dividendo de aes nominativas pessoa que, na data do ato de declarao do dividendo, estiver inscrita como proprietria ou usufruturia da ao.Tal dispositivo, como descrito no TVF, no deve ser interpretado isoladamente, contrariando a legislao tributria, especialmente o RIR/99, art. 663, transcrito acima.Ademais, tal permisso legal para pagar dividendos ao usufruturio no pode ser estendida para o pagamento de JCP, pois possuem natureza jurdica e tratamento tributrio distintos.Sendo assim, correto o procedimento fiscal que reclassificou os valores declarados pelo sujeito passivo como dividendos (rendimento isento) e JCP (rendimento sujeito tributao exclusiva), como rendimentos tributveis sujeitos ao ajuste anual.CONCLUSOVoto por conhecer do recurso, NEGANDO-LHE provimento.

(assinado digitalmente)Miriam Denise Xavier Lazarini

Conselheiro Cleberson Alex Friess - Redator DesignadoPeo vnia a Ilustre Relatora para discordar do voto proferido, especificamente quanto ao mrito.Depreende-se do Termo de Verificao Fiscal, s fls. 755/786, que a fiscalizao no questionou a idoneidade dos atos societrios praticados pelas partes, inclusive a criao da Holding, assumindo que perfeitamente lcita a instituio do usufruto dos direitos econmicos de participaes societrias sob a tica do direito privado.A controvrsia instaurada pela autoridade lanadora refere-se aos efeitos tributrios decorrentes do usufruto reservado aos acionistas, dentre eles o ora recorrente, da sociedade Daycoval Holding Financeira S/A sobre os direitos econmicos das aes do Banco Daycoval S/A e a consequente apurao do imposto sobre a renda incidente sobre o acrscimo patrimonial da pessoa fsica.Em sntese apertada, para a fiscalizao o pagamento de lucros/dividendos e de juros sobre capital prprio constitui remunerao para os scios em virtude do capital aplicado na sociedade. Todavia, o usufruturio no participa diretamente da composio do capital social da sociedade e recebe valores com origem no seu direito real sobre a coisa alheia, e no na condio de acionista da companhia.Logo, os valores recebidos pelo usufruturio so rendimentos sujeitos ao regime ordinrio de tributao no ajuste anual, sem direito iseno e/ou tributao definitiva do imposto sobre a renda. Tal linha de raciocnio acabou sendo acatada pela deciso de primeira instncia e pelo voto da I. Relatora.Pois bem. Longe de questes de fato, a matria em debate nos autos cinge-se interpretao da legislao tributria atinente distribuio de lucros/dividendos e de juros sobre capital prprio diretamente ao usufruturio, como parcelas dos rendimentos produzidos pelas participaes societrias que foram objeto de usufruto.Em outros dizeres, a tarefa do intrprete consiste em pesquisar e extrair o exato contedo das normas jurdicas contidas no art. 9 da Lei n 9.249, de 26 de dezembro de 1995, que trata da tributao exclusiva na fonte pagadora relacionada aos pagamentos a ttulo de juros sobre capital prprio, assim como no art. 10 da mesma Lei, o qual dispe sobre a iseno do imposto de renda sobre pagamentos de lucros/dividendos.Com vistas a tal anlise interpretativa, cabe relembrar inicialmente o que prescreve o art. 109 do Cdigo Tributrio Nacional (CTN), veiculado pela Lei n 5.172, de 25 de outubro de 1966, abaixo reproduzido:Art. 109. Os princpios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definio, do contedo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas no para definio dos respectivos efeitos tributrios.Ao cuidar de instituto previsto no Cdigo Civil, o significado e a extenso do usufruto so obtidos a partir do conjunto normativo do direito privado. Porm, lcito ao legislador, e no ao intrprete, conferir efeitos tributrios prprios, diversos daqueles normalmente produzidos nas relaes entre particulares, os quais estaro submetidos aos princpios de direito tributrio. Acontece que o legislador tributrio, na matria controversa, no atribuiu ao instituto do usufruto efeitos tributrios especficos, o que implica remeter o hermeneuta aos efeitos tpicos decorrentes do direito privado, cuja interpretao reclama, no caso do usufruto de aes, tambm a investigao das normas de direito societrio.Segundo a definio civilista, o proprietrio do bem aquele tem a faculdade de usar, gozar e dispor, alm do direito de reav-lo do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha (art. 1.228 do Cdigo Civil, veiculado pela Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002).Por sua vez, o instituto do usufruto representa uma diviso das faculdades inerentes ao direito de propriedade, cujo direito real de obteno dos frutos e das utilidades conferido a outrem (arts. 1.390 e 1.394 do Cdigo Civil). Quero dizer com isso que o usufruturio detm a possa direta da coisa, possuindo o direito real de uso e gozo do bem, explorando-o economicamente na retirada de seus rendimentos e acessrios. O nu-proprietrio, por outro lado, permanece com a faculdade de dispor do bem.No mbito da disciplina das sociedades por aes, a Lei n 6.404, 15 de dezembro de 1976 (Lei das S/A), contm diversos dispositivos que cuidam especificamente da possibilidade de constituio do usufruto sobre participaes societrias. Seno vejamos, entre outros:Outros Direitos e nusArt. 40. O usufruto, o fideicomisso, a alienao fiduciria em garantia e quaisquer clusulas ou nus que gravarem a ao devero ser averbados:(...)Voto das Aes Gravadas com UsufrutoArt. 114. O direito de voto da ao gravada com usufruto, se no for regulado no ato de constituio do gravame, somente poder ser exercido mediante prvio acordo entre o proprietrio e o usufruturio.(...)Direito de PrefernciaArt. 171. Na proporo do nmero de aes que possurem, os acionistas tero preferncia para a subscrio do aumento de capital.(...) 5 No usufruto e no fideicomisso, o direito de preferncia, quando no exercido pelo acionista at 10 (dez) dias antes do vencimento do prazo, poder s-lo pelo usufruturio ou fideicomissrio.(...)Pagamento de DividendosArt. 205. A companhia pagar o dividendo de aes nominativas pessoa que, na data do ato de declarao do dividendo, estiver inscrita como proprietria ou usufruturia da ao.(...)(GRIFEI)No difcil perceber que a lei das sociedades por aes, em respeito ao conceito civil de usufruto, prev o aproveitamento pelo usufruturio dos rendimentos produzidos pelas participaes societrias, consistente nas faculdades de usar e fruir das aes do capital social.Conquanto no empregue uma linguagem uniforme em todos os artigos que tratam do usufruto, a Lei S/A reconhece, ao fim e ao cabo, que tanto nu-proprietrio quanto usufruturio esto legitimados a exercerem direitos de acionistas. que conforme realado pelo voto-condutor do Acrdo n 1103-001.123, proferido pela 3 Turma da 1 Cmara da Primeira Seo, na sesso de 21/10/2014, com base na doutrina de Modesto Carvalhosa, o nu-proprietrio tem a titularidade primria da ao e o usufruturio detm a sua titularidade secundria. Salta aos olhos ainda que o art. 205 da Lei das S/A, acima reproduzido, contm expressa previso para pagamento de dividendos ao usufruturio. Nada menciona a Lei, contudo, a respeito dos juros sobre capital prprio, at porque um instituto criado mais recentemente.Acentuou com lucidez a I. Relatora que dividendos e juros sobre capital prprio possuem natureza jurdica e tratamentos tributrios distintos. uma assertiva verdadeira.Entretanto, em uma acepo ontolgica dos termos, ambos so formas de remunerao do acionistas pelo capital investido na companhia. Os lucros/dividendos remuneram o resultado econmico da sociedade, enquanto os juros sobre capital prprio tem por finalidade remunerar o capital do investidor que deixou de ser direcionado, por opo do acionista, a outra aplicao financeira.Em uma e outra hiptese apontada, so riquezas representativas de direitos econmicos das aes, consistindo em rendimentos a serem aproveitados pelo usufruturio, na concepo de proveitos dos frutos e utilidades que a coisa alheia produz.Nessa linha de compreenso sobre o tema, interessante anotar que a prpria Lei n 9.249, de 1995, que possui natureza tributria, estabelece a possibilidade de as companhias pagarem juros sobre capital prprio em substituio aos lucros/dividendos. Reproduzo o 7 do seu art. 9:Art. 9 (...) 2 Os juros ficaro sujeitos incidncia do imposto de renda na fonte alquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crdito ao beneficirio.(...) 7 O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurdica, a ttulo de remunerao do capital prprio, poder ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei n 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuzo do disposto no 2.(...)(GRIFEI)Dessa forma, levando em conta o regramento normativo exposto do direito civil e societrio, possvel assegurar que, uma vez institudo o usufruto, os lucros/dividendos e os juros sobre capital prprio, pagos ou creditados como resultado produzido pelas participaes societrias, so rendimentos que pertencem ao usufruturio. No tocante legislao tributria, cabe realar que a subsuno do fato regra de incidncia tributria do imposto sobre a renda enseja, via de regra, a tributao do acrscimo patrimonial. Por isso, os dispositivos legais que estabelecem excees tributao ordinria, a exemplo daqueles que conferem iseno aos rendimentos percebidos ou estabelecem a aplicao de alquotas mais benficas ao contribuinte, devem ser interpretados de forma literal, tal como indica o art. 111 do CTN:Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislao tributria que disponha sobre:(...)II - outorga de iseno;(...)Porm, o legislador no quis dizer que no se possa utilizar os critrios teleolgico, histrico e sistemtico na interpretao da legislao tributria que trata de regras de exceo. que a legislao tributria, em que pese a autonomia de conceitos prprios, no pode ser examinada de maneira dissociada das demais normas que fazem parte do ordenamento jurdico, sob pena de levar a um distanciamento do alcance do texto de lei.Em verdade, a interpretao literal a que alude o CTN diz respeito aos efeitos tributrios produzidos pela avaliao do hermeneuta, devendo as normas de exceo serem interpretadas de maneira estrita. Significa que a interpretao no comporta ampliao da norma jurdica, tampouco analogias. Mas no s. Tambm invivel a utilizao de exegese restritiva, a qual acarreta distino onde a lei no distingue ("ubi lex non distingui nec nos distinguere debemus").Traados os contornos bsicos do meu ponto de vista sobre o vis interpretativo da matria controvertida, passa-se ao exame dos correspondentes dispositivos legais, considerando que o recorrente declarou parte dos valores recebidos como isentos (lucros/dividendos) e outra parte como de tributao exclusiva na fonte (juros sobre capital prprio). Em ambas as situaes, a autoridade lanadora reclassificou os rendimentos, oriundos do exerccio do usufruto, para fins do lanamento de ofcio do crdito tributrio, submetendo-os tributao no ajuste anual.Juros sobre Capital PrprioPara melhor visualizao do contedo do dispositivo de lei, transcrevo o art. 9 da Lei n 9.249, de 1995, no que interessa ao feito:Art. 9 A pessoa jurdica poder deduzir, para efeitos da apurao do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, scios ou acionistas, a ttulo de remunerao do capital prprio, calculados sobre as contas do patrimnio lquido e limitados variao, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP.(...) 2 Os juros ficaro sujeitos incidncia do imposto de renda na fonte alquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crdito ao beneficirio. 3 O imposto retido na fonte ser considerado:(...)II - tributao definitiva, no caso de beneficirio pessoa fsica ou pessoa jurdica no tributada com base no lucro real, inclusive isenta, ressalvado o disposto no 4;(...)(GRIFEI)Esse o mesmo teor dos arts. 347 e 668 do Regulamento do Imposto sobre a Renda, veiculado pelo Decreto n 3.000, de 26 de maro de 1999 (RIR/99): Art. 347. A pessoa jurdica poder deduzir, para efeitos de apurao do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, scios ou acionistas, a ttulo de remunerao do capital prprio, calculados sobre as contas do patrimnio lquido e limitados variao, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP (Lei n 9.249, de 1995, art. 9).(...) 2 Os juros ficaro sujeitos incidncia do imposto na forma prevista no art. 668 (Lei n 9.249, de 1995, art. 9, 2).(...)Art. 668. Esto sujeitos ao imposto na fonte, alquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crdito, os juros calculados sobre as contas do patrimnio lquido, na forma prevista no art. 347 (Lei n 9.249, de 1995, art. 9, 2). 1 O imposto retido na fonte ser considerado (Lei n 9.249, de 1995, art. 9, 3, e Lei n 9.430, de 1996, art. 51, pargrafo nico):(...)II - tributao definitiva, nos demais casos, inclusive se o beneficirio for pessoa jurdica isenta.(...)Em linha de aderncia com o retratado neste voto, nenhum efeito tributrio especfico atribuiu o legislador ao usufruto. Embora o regime jurdico esteja regulado pela Lei n 9.249, de 1995, o legislador no imps limitaes ao recebimento pelo usufruturio de valores a ttulo de juros sobre capital prprio, que, em razo da instituio do usufruto, a ele pertencem.Configura-se restritiva a interpretao de que a expresso "acionista", tal como inserida na "cabea" do art. 9 da Lei n 9.249, de 1995, diga respeito somente ao beneficirio que detm a participao acionria direta na pessoa jurdica, na condio de proprietrio pleno ou mesmo de possuidor da nua propriedade dos ativos, com excluso das pessoas fsicas usufruturias dos direitos econmicos. O legislador no adotou esse tipo de restrio, mesmo porque a instituio do usufruto no altera a natureza jurdica dos frutos percebidos pelo usufruturio. da essncia do usufruto o aproveitamento dos rendimentos pelo usufruturio, em harmonia com as disciplinas previstas nas leis civil e societria, que abrange, entre outros, os juros sobre capital prprio. A condio de usufruturio implica consider-lo acionista, para fins de percepo dos juros sobre capital prprio. De fato, como dito, o usufruturio detm a titularidade secundria das participaes acionrias. vista disso, correta a classificao dos valores recebidos pelo recorrente do Banco Daycoval S/A, no perodo da autuao, como rendimentos a ttulo de juros sobre capital prprio.Os juros pagos ou creditados, a ttulo de remunerao do capital prprio, devem ser tributados exclusivamente na fonte alquota de 15% (quinze por cento), na data do pagamento ou crdito.Logo, improcedente o lanamento de ofcio do crdito tributrio na forma de rendimentos tributveis sujeitos ao ajuste anual.Dada a insubsistncia do crdito tributrio lanado pela fiscalizao, deixo de reavaliar, por absolutamente desnecessrio, o critrio para o cmputo do prazo decadencial aplicvel aos rendimentos pagos a ttulo de juros sobre capital prprio, tributados exclusivamente na fonte.Lucros/DividendosNeste ponto controvertido, copio a redao do "caput" do art. 10 da Lei n 9.249, de 1995:Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do ms de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurdicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, no ficaro sujeitos incidncia do imposto de renda na fonte, nem integraro a base de clculo do imposto de renda do beneficirio, pessoa fsica ou jurdica, domiciliado no Pas ou no exterior.(...)O texto de lei est reproduzido no inciso XXIX do art. 39 e no art. 692 do RIR/99:Rendimentos DiversosArt. 39. No entraro no cmputo do rendimento bruto:(...)XXIX - os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do ms de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurdicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado (Lei n 9.249, de 1995, art. 10);(...)Lucros ou DividendosApurados a partir de 1 de janeiro de 1996Art. 692. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do ms de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurdicas tributadas com base no lucro real ou arbitrado a pessoa fsica ou jurdica, domiciliada no exterior, no esto sujeitos incidncia do imposto na fonte (Lei n 9.249, de 1995, art. 10).De pronto, observa-se que a legislao de regncia no faz qualquer meno figura do titular, scio ou acionista. Os lucros/dividendos apurados a partir de 1 de janeiro de 1996, como a hiptese dos autos, pagos ou creditados a pessoa fsica ou jurdica, no esto sujeitos incidncia do imposto sobre a renda na fonte, tampouco integram a base de clculo do imposto submetido ao ajuste anual da pessoa fsica.Cuida-se de uma verdadeira iseno tributaria de natureza objetiva, na medida em que o legislador ordinrio escolheu como parmetro um determinado fato jurdico, sem levar em considerao as condies das pessoas beneficiadas pela exceo.Em outras palavras, a iseno alcana a riqueza lucros/dividendos na sua concepo primria, ou seja, os lucros/dividendos das pessoas jurdicas apurados com base nos seus resultados e pagos ou creditados aos respectivos beneficirios dos rendimentos. E como exaustivamente afirmado, o usufruturio, haja vista a essncia do instituto do usufruto, beneficirio dos lucros/dividendos.Alm dos argumentos j deduzidos no presente voto, nessa situao ainda mais evidente que o legislador no circunscreveu o tratamento tributrio diferenciado apenas para o beneficirio que detenha participao acionria direta na pessoa jurdica, promovendo a excluso do usufruturio da regra de iseno. Da porque, utilizando-se de via inadequada, a interpretao da autoridade lanadora inova a norma jurdica contida no art. 10 da Lei n 9.249, de 1995.Assim sendo, correta a classificao dos valores recebidos pelo recorrente do Banco Daycoval S/A, no perodo da autuao, como rendimentos a ttulo de lucros/dividendos recebidos de pessoa jurdica.Os valores pagos ou creditados, a ttulo de lucros/dividendos apurados a partir de 1996, so rendimentos isentos do imposto sobre a renda da pessoa fsica.Logo, tambm improcedente o lanamento de ofcio do crdito tributrio na forma de rendimentos tributveis sujeitos ao ajuste anual.ConclusoAnte o exposto, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso voluntrio. como voto.

(assinado digitalmente)Cleberson Alex Friess

2

intrprete de exegese restritiva, para o fim de distinguir onde a lei nodistingue.

JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. USUFRUTO. TRIBUTAOEXCLUSIVANAFONTE.

Osjurospagosoucreditadosapessoafsicanacondiodeusufruturiodeparticipaes societrias, a ttuloderemuneraodocapitalprprio,devemsertributadosexclusivamentenafontealquotade15%(quinzeporcento),nadatadopagamentooucrdito.

LUCROSOUDIVIDENDOS.USUFRUTO.ISENO.

Osvalorespagosa ttulode lucrosoudividendos,calculadoscombasenosresultadosdapessoajurdicaapuradosapartirdomsdejaneirode1996,noestosujeitosincidnciadoimpostoderendanafonte,nemintegramabasede clculo do imposto sobre a renda da pessoa fsica beneficiria dosrendimentosnacondiodeusufruturiadeparticipaessocietrias.

RecursoVoluntrioProvido.

Vistos,relatadosediscutidosospresentesautos.

Acordamosmembrosdocolegiado,porunanimidadedevotos,emconhecerdo recurso, para, no mrito, por maioria, darlhe provimento. Vencidos a relatora e oconselheiroMrcio deLacerdaMartins que negavamprovimento ao recurso e a conselheiraMariaCleciCotiMartinsquedavaprovimentoparcial,mantendoa tributaosobreos jurossobre capital prprio.Designadopara redigir o voto vencedoro conselheiroClebersonAlexFriess.

(assinadodigitalmente)

MiriamDeniseXavierLazariniRelatoraePresidente.

(assinadodigitalmente)

ClebersonAlexFriessRedatorDesignado.

ParticiparamdopresentejulgamentoosConselheiros:MiriamDeniseXavierLazarini,Maria Cleci CotiMartins, CarlosAlexandre Tortato, ClebersonAlex Friess, RaydSantanaFerreira,MrciodeLacerdaMartins,AndreaVianaArraisEgypto eLucianaMatosPereiraBarbosa.

Fl. 1280DF CARF MF

Processon10437.720889/201482Acrdon.2401004.568

S2C4T1Fl.1.280

3

Relatrio

Tratase de Auto de Infrao, fls. 787/796, que exige do contribuinte R$6.493.388,11 de imposto, com multa de ofcio de 75% e juros moratrios, em razo daapurao de RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA JURDICA CLASSIFICADOSINDEVIDAMENTENADIRPFcomoisentosenotributveise/ourendimentossujeitosatributaoexclusiva/definitiva.

DeacordocomoTermodeVerificaoFiscal, fls.755/786,ocontribuinte,nos anoscalendrio 2009, 2010 e 2011, declarou ter percebido rendimentos isentos e notributveis e/ou rendimentos sujeitos a tributao exclusiva/definitiva, de pessoas jurdicas,conformequadro1.

Quadro1Rendimentosdeclarados

AnocalendrioRendimento valor2009 jurossobrecapitalprprioBancoDaycoval R$10.091.578,42

lucrosedividendosBancoDaycoval R$12.265.152,29reservasaocapital/bonificaodeaesDaycovalFinanceira R$83.135.894,57

2010 jurossobrecapitalprprioBancoDaycoval R$9.958.729,42lucrosedividendosBancoDaycoval R$3.415.081,14

2011 jurossobrecapitalprprioBancoDaycoval R$9.693.425,42

Aindadeacordocomreferidotermo:

a) Em maro de 2007, o contribuinte e outros cinco acionistas do BancoDaycoval S/A, pertencentes mesma famlia, constituram a empresa Daycoval HoldingFinanceira S/A com um capital social de R$ 10.000,00, que foi aumentado para R$254.998.749,79eparaR$354.631.818,87,em19/03/2007e20/03/2007,respectivamente,pormeiodaintegralizaodanuapropriedadedeaesdoBancoDaycovalS/A,pertencentesaosnicos seis acionistas da Holding, os quais reservaram para si o usufruto dos direitoseconmicosdetaisaes.

b)Comoocontribuinteeosdemaismembrosdafamliacitadosdeixaramdeser acionistas doBancoDaycoval S/A, uma vez que a titularidade das aes passou para aDaycoval Holding Financeira S/A, no poderiam declarar os valores recebidos do BancoDaycovalcomosendodistribuiodejurossobrecapitalprprioJCPe/oudividendos.Essesvalores teriam sido recebidos em decorrncia da situao jurdica de usufruturio e no deacionista.

c)OnovotitulardosdireitosdeacionistadoBancoDaycovalS/ApassouaseraempresaDaycovalHoldingFinanceiraS/A,sendoqueosdireitoseconmicospercebidospelo contribuinte, no lugar daquela holding, no se fundamentam na situao jurdica deacionista, mas sim, de usufruturio, devendo, portanto, os rendimentos com origem nestacondio,seremtributados,pordeterminaolegal,peloregimedetributaodeajusteanual,que,nocaso,submetesealquotade27,5%dosrendimentosanuaisauferidos.

Fl. 1281DF CARF MF

4

d)AdistribuiodeJCPdedutveldabasedeclculodoIRPJedaCSLLdassociedadesannimaseque,paraserempagosaossciosdaHolding,deveriamantesserregistradoscomoreceita financeiradesta,oquenoaconteceu, tendosidopagospeloBancoDaycoval S/A diretamente ao exscio, sem transitar contabilmente pela Holding, legtimabeneficiriadosrendimentospagosoucreditadosa ttulodedividendosouJCP,quetambmnoefetuouqualquerpagamentosattulodeJCPe/oudividendosaseusscios.

e) No cabe ao usufruturio de aes a percepo de rendimentos dacompanhia,attulodedividendosouJCP,tendoemvistaquenoparticipadacomposiodocapitalsocialdasociedade.

f)OpagamentodedividendoseJCPconstituiremuneraoparaossciosemdecorrnciadocapitalaplicadonasociedade,enquantoosvaloresrecebidospelousufruturiodecorremdedireitorealsobreacoisaalheiaenodacondiodeinvestidoremumasociedade(acionista).

g)NotasequeoBancoDaycovalS/Aremunerouocontribuintecomvalores,a ttulo de distribuio de lucros e/ou JCP, completamente a descoberto de participaosocietria, em detrimento da sociedade Daycoval Holding Financeira S/A, e sem qualquerreconhecimentoecontroledoregistrocontbildessespagamentos,nestaempresa.

h)A instituio do usufrutoapenas concede ao contribuinte o direito dereceber, de outro scio, ou diretamente por parte do banco, amandodo scio cedente dodireito,ouporlei,VALORESEQUIVALENTESquelesqueseriampagosoucreditadosaoacionista,nodandodireitoaoscioadescobertodeperceberosrecursoseconmicosefinanceirosaqueosciodedireitofazjusareceberdasociedade,notransformaessedireitodoscioadescobertonomesmodireitodoverdadeiroscio,aquelequeorealproprietriodas aes/quotas que deram origem parcela de rendimentos sem fundamentos societriosrecebidosporaquele,pormeiodeumnegciojurdicoqualquer.

i)Aexistnciadeumnegcio jurdicoqualquer (usufrutonocaso)entreaspartesdizrespeitosomenteaelas,noeximeocontribuintedaresponsabilidadetributria,nemimplicanamodificaodadefiniolegaldosujeitopassivo,assimcomonopodeseropostaFazenda Pblica, no se aceitando a realizao aparentemente dissimulada de negciosjurdicos,quedevemserdesconsideradosnostermosdoCTN,art.116,pargrafonico.

j)Nopresentecaso,ousufrutodasaes,apenasconcedeaousufruturioodireito de receber, por parte da companhia, valores equivalentes aos que seriam pagos oucreditadosaonuproprietrio(acionista),casoestenoestivessesujeitoaogravamedeusufrutosobreasaesdesuapropriedade.Odireitodousufruturioa receberosvaloresdevidosaoacionistanotransformaessedireitonomesmodireitodoacionistadacompanhia.

k) No h previso legal de equiparao entre usufruturio e acionista,especificamenteemrelaotributaodoimpostoderenda.

l)Os valores recebidos pelo usufruturio esto sujeitos tributao do IR,sem direito iseno. Esses valores foram considerados como semelhantes a alugueis e/ouroyaltiesdebensedireitos.

m) O contribuinte possua at 29/7/11, 2,46% do capital total do BancoDaycovalS/A, implicandoquepartedosrendimentosrecebidossoefetivamentedecorrentesde dividendos e/ou JCP. Assim, a parcela excedente de rendimentos auferidos pelocontribuinte,oriundadoexercciodousufrutofoireclassificada,conformetabeladefl.784.

Fl. 1282DF CARF MF

Processon10437.720889/201482Acrdon.2401004.568

S2C4T1Fl.1.281

5

n) Os valores referentes ao imposto de renda retido na fonte IRPF,declarados em DIRF foram considerados com parte do imposto de renda devido pelocontribuinteerecolhidosantecipadamentepelafontepagadoraBancoDaycovalS/A.

o)Em29/7/11 foi reduzidoo capital daDaycovalHoldingFinanceiraS/A,pela entrega aos acionistas da nuapropriedade de aes ordinrias nominativas do BancoDaycoval S/A, a partir de 60 dias da publicao da ata, ao contribuinte e seus familiares,passandoesses,aseremacionistasdestasociedade.Osvalores recebidosporeles,apartirdedessadatapodemserrealizadosattulodedividentoseJCP.Assim,noforamtributadososvalores recebidos em17/10/11,poiso contribuinte se encontravanaposiode acionistadedireitodoBancoDaycovalS/A.

p)OsrendimentosconsideradosindevidamentedeclaradoscomodividendoseJCP,conformetabeladefl.784,estodiscriminadosnatabela1.

Tabela1RendimentoseIRRF

AnocalendrioRendimentoreclassificado valor IRRF2009 jurossobrecapitalprprioBancoDaycoval R$9.534.527,86 R$1.430.179,17

lucrosedividendosBancoDaycoval R$9.885.725,46 R$0,002010 jurossobrecapitalprprioBancoDaycoval R$9.440.489,47 R$1.416.073,42

lucrosedividendosBancoDaycoval R$2.750.298,50 R$0,002011 jurossobrecapitalprprioBancoDaycoval R$5.172.834,86 R$775.925,23

CientificadodoAutodeInfraoAI,ocontribuinteapresentouimpugnao,sendoproferidooAcrdocomaseguinteementa:

ASSUNTO:IMPOSTOSOBREARENDADEPESSOAFSICAIRPF

Exerccio:2010,2011,2012

DECADNCIA. INOCORRNCIA.RENDIMENTOSSUJEITOSAO AJUSTE ANUAL. FATO GERADOR EM 31 DEDEZEMBRO.

Os rendimentos sujeitos ao ajuste anual se enquadram noconceitodelanamentoporhomologao,cujotermoinicialdacontagem do prazo decadencial de cinco anos a data daocorrnciadofatogerador:31dedezembrodoanocalendriocorrespondenteaoexerccioanalisado.

NULIDADE. INEXISTNCIA. REQUISITOS CORRETOS.DIREITODEDEFESAEXERCIDO.

Afastase a preliminar de nulidade quando o lanamento foilavrado por pessoa competente e com informaes quepermitiramaosujeitopassivoexercerodireitodedefesa.

JURISPRUDNCIA.EFEITOS.

As decises administrativas e judiciais que no se enquadramdentre as hipteses que vinculam a administrao tributria

Fl. 1283DF CARF MF

6

somente se aplicam questo emanlise e vinculamas partesenvolvidasnaqueleslitgios.

INSTRUMENTO PARTICULAR. ALTERAO DA SUJEIOPASSIVA.INOPONIBILIDADEAOFISCO.

Salvo disposies de lei em contrrio, as convenesparticulares relativas responsabilidade pelo pagamento detributos no podem ser opostas Fazenda Pblica paramodificar a definio legal do sujeito passivo das obrigaestributriascorrespondentes.

JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. DIVIDENDOS.USUFRUTODEAES.TRIBUTAO.

A celebrao de contrato de usufruto de aes importatransferncia do direito de percepo dos valorescorrespondentes aos juros sobre capital prprio e dividendos,mas no transforma o usufruturio em acionista e, assim, osvalores recebidos por no scios em decorrncia do direito defruiodasaesnoseconfundemcomapercepodeJCPedividendos, porque derivam de relaes jurdicas distintas e,consequentemente, esto sujeitas a formas de tributaoespecficas, devendo o valor recebido pela pessoa fsicausufruturiadasaessertributadointegralmente.

JUROS SOBRE CAPITAL PRPRIO. DIVIDENDOS.NATUREZAJURDICADIVERSA.

Os juros sobre capital prprio (JCP) correspondem a lucrosapurados em perodos anteriores e que ficaram retidos naempresa, sendo pagos com a finalidade de remunerar oscio/acionistapelaindisponibilidadedocapitalqueeleaplicouna sociedade josdividendos sopagosaosscios/acionistasem decorrncia do desempenho da empresa, expresso no lucroapurado no ano, e remuneram o investidor pelo sucesso doempreendimento no qual investiu, portanto, os dividendos e osJCP so institutos diferentes, que possuem natureza jurdica etratamentotributriodistintos.

ImpugnaoImprocedente

CrditoTributrioMantido

Cientificado do Acrdo em 20/8/15 (Aviso de Recebimento AR de fl.1.105),ocontribuinteapresentourecursovoluntrioem21/9/15,fls.1.119/1.199,quecontm,emsntese:

LEGALIDADEDOPROCEDIMENTO

DizteragidonalegalidadeaoreceberJCPedividendosdoBancoemrazodoatode transfernciadanuapropriedadedas aesparaaHoldingea reservadousufrutoeconmicodelasparasi.Explicaoporqudaoperao.

AfirmaqueaHoldingnoficoucomapropriedadeintegraldasaes.Comareservadeusufruto, os direitosdecorrentesdapropriedadedas aesdoBanco sedividiramentre nuproprietrio e usufruturio. A Holding ficou com os direitos polticos, enquanto arecorrente,comousufruturio,comodireitopercepodosfrutos(direitoseconmicos).

Fl. 1284DF CARF MF

Processon10437.720889/201482Acrdon.2401004.568

S2C4T1Fl.1.282

7

Alega que em ratificao ao ato de usufruto perpetrado com as Atas dasAssembleiasGerais Extraordinrias AGEs ficou determinado ter a recorrente, na figuradeusufruturio,direitopercepodeJCPedividendos(fls.972/1.020).

Acrescentaque,nostermosdaLei6.404/76,art.100,oreferidousufrutofoiregistrado no Livro de Aes Nominativas do Banco. Diz que atendeu tambm ao parecerCVMn30.

Aduz que a Receita Federal do Brasil trata com naturalidade e acata seusreflexosfiscais,comosevdoPNCSTn16/72edoPNCSTn4/95,osquaisseaplicamaocasoportrataremdotemausufruto.

ArgumentaqueoCARF,aoanalisarasituaoformalizadaemdecorrnciada mesma operao ora analisada, s que em face da Holding (Acrdo 1103001.123proferido no processo 16327.720576/201113), sedimentou que o recorrente, comousufruturio,pessoalegalmentecapazdereceberJCPedividendos.

Citatrechodovoto:

queousufruturiopassaafigurar,aoladodonuproprietrio,comoacionistadasociedade:ambosso titularesdaao.Emoutraspalavras,conformeadoutrinadeModestoCarvalhosa,onuproprietrio ter a titularidade primria da ao e ousufruturiodeterasuatitularidadesecundria, isto,ambosterodireitosdeacionista.

Entende que o usufruto cumpriu as formalidades previstas em lei e tevefinalidade prpria, que justifica a classificao fiscal adotada pelo recorrente e a corretatributaoemDIRPF.

AfirmaqueoauditorfiscaleaDRJ/CTAreconhecemalegalidadedosatos,mas agemcomo se eles no existissem e criamumanova realidade no qual os rendimentospercebidos pelo recorrente a ttulo de JCP e dividendos, como usufruturio, se tornam"alugueis"e/ou"royalties".

DECADNCIA

Explica que a decadncia deve ser analisada em face da possibilidade, ouno, de se alterar a classificao do rendimento que, pela norma aplicvel ao rendimentotributadoexclusivamentenafonte,estariapreclusaemrazodotempodecorridodesdeofatogeradorreconhecidopelafontepagadoraepelorecorrente,atacinciadoAI.

AfirmaquesendooIRPFumtributosujeitoaolanamentoporhomologao,acontagemdoprazodecadencialdeslocasedaregrageradodoCTN,art.173,paraoart.150,4.Diantedisso,comohouveantecipaodopagamentodo IRPF,devesecontaroscincoanos,paraefeitodelanamentodeeventualdiferena,apartirdofatojurdico.

Acrescenta quemesmoque se considereo valor recebido como aluguel ouroyalty,oIRPFfoirecolhidoeadmitidocomessarubrica(fonte).

Cita decises do 1 Conselho de Contribuintes, Acrdo 10614.117 eAcrdo10417.561,nosentidodequedofatoquegeraorecolhimentodoIRPFquesedeve

Fl. 1285DF CARF MF

8

contaroprazodedecadncia,independentementedomomentodaentregadaDIRPF,equeofatogeradorprevistoemleiopagamentooucrdito.

ConcluiquetodososvaloresrecebidospelorecorrentedeJCPat9/12/09equeforamobjetodeIRPFseencontramextintospeladecadncia.

NULIDADE

Ofensaaoartigo142doCTN

Diz que no restou comprovado a ocorrncia do fato jurdico tributrioconsistente no suposto recebimento de valores a ttulo de alugueis ou royalties, ofendendoassimoCTN,art.142.

Entendequeotrabalhofiscalprecrioejcomeanautilizaodotermos"e/ou".ParareclassificaranaturezaderecebimentodevaloresoAFRFBdeveriaespecificarsetaisvaloressodecorrentesdealugueisouderoyalties.

Aduzquenohnosautosqualquerelementomaterialqueindiqueteremaspartes envolvidas no processo de fiscalizao expressado qualquer elemento devontadequeembasasse acordo de aluguel ou de royalty. Critica ter a DRJ considerado irrelevante taisdados,consistentesnajustificativadoreenquadramento.

Conclui que a presuno absoluta do AFRFB, tida como vlida pelaDRJ/CTA sem justificativa plausvel, que visa distorcer a realidade e criar um cenrio paraarrecadar,semestabelecerosliamesdofatojurdicotributriopassveldetributaodoIRPF,fere o art. 142 doCTN e o art. 10 doDecreto 70.235/72.Afirma que a falta de especficadescriodofatoecomprovaodesuaexistncia,somotivosdenulidadedolanamento.

CerceamentodoDireitodeDefesa

Afirma que a consequncia da falta de descrio de como teriam sidoperpetrados os acordos de locao ou royalty, sem qualificar as partes, objeto e teor dopagamentoe,porconseguinte,decomprovaodofatojurdicotributrioacarretaanulidadeporcerceamentodedefesa.CitadecisodaDRJemFortaleza.

CONCEITODEALUGUEISEROYALTIESDESRESPEITOAODIREITOLIVRECONTRATAO

Citaocdigocivil,art.565,quetratadocontratodelocaoeafirmaquenohcomotransformarousufrutoemcontratodelocao.

DizqueorecorrentesomenterecebeudividendoeJCPdoBancoeparaissonadapagou(attulodealuguel,royaltyouqualqueroutracontraprestao).

AcrescentaqueaDRJ/CTAaoretratarqueoart.53doRIR/99s"equipara"osrendimentosa"alugueis"e/ou"royalties",revelaodesprezolegalidade.

Concluiquetantoadesconsideraodanaturezadousufrutoquantofaltadedelimitao do suposto aluguel ou royalty demonstram desrespeito s relaes jurdicas,devendoolanamentosercancelado.

ILEGALIDADEDOLANAMENTODEOFCIO

Fl. 1286DF CARF MF

Processon10437.720889/201482Acrdon.2401004.568

S2C4T1Fl.1.283

9

Afirma que o lanamento de ofcio ilegal, pois no h no ordenamentojurdicoptrionormalegalqueaautorizeatransformaodosvaloresrecebidosattulodeJCPedividendospelousufruturioemaluguelouroyalties.

Aduz que o AFRFB no descaracterizou o usufruto. Foi criada uma novarealidade,dspardaverdadematerialacostadaaosautos.

CitadecisesdoCARFnosentidodequeaautoridadefiscaltemodeverdeprovarofatojurdicotributrio(Acrdos310200.696e10417.561).

Concluiqueporfaltadeprevisolegal,nohcomosustentarolanamentobaseadonapresunoabsolutadequeosJCPedividendosrecebidospelousufruturioseriamalugueisouroyalties,devendoserafastadooacrdoproferidopelaDRJ/CTAecanceladooAI.

CORRETACLASSIFICAODEVALORESRECEBIDOSNADIRPF

DizqueestcorretaaclassificaodorecebimentodedividendoseJCPnasDIRPFsdo recorrente,hajavistaocontratodeusufruto,que legal sobopontodevistadalegislaoprivadaenoalteraasubstnciadosfrutospercebidospelousufruturio.

Dissertasobreousufruto,citandooCdigoCivil(artigos1.390,1.394,1.400e1.410)edoutrina.

Reafirma estar correta a classificao dos rendimentos como JCP edividendos e que o usufruto formalizado tornouse perfeito e acabado no momento daformalizaodasAGEsedoregistrorealizadonolivrodeaesdoBanco.AcrescentaquenohrelaoderendimentoentreaHolding(nuproprietria)eorecorrente(usufruturio).

Destacaquearelaoentreaspartes:i)aHoldingcomanuapropriedadeeos direitos polticos e ii) o recorrente com direito aos frutos, neles includos os JCP e osdividendos.E,porisso,orecorrenterecebeudividendoseJCPdoBanco.CitaoCC,LeidasSA, art. 205,e a Lei 9.249, art. 9. Volta a citar o Acrdo 1103001.123 do CARF. CitatambmjurisprudnciaeentendimentodaCVMnosentidodequeosJCPsodividendos.

CitadecisesdoCARF(Acrdos10709.588e10197.083)nosentidodequeousufrutonoalteraanaturezadorecebimentodosdividendospelousufruturio.

MencionadecisesdoCARFsobreusufrutodeimvel,ondeconstaqueosrendimentos produzidos pelo bem pertencem ao usufruturio e a ele cabe tributar o valorcorrespondente(Acrdos1329263e1245671).

AlegaqueaSoluodeConsultan11,de14/1/10,daRFB,ratificaqueoslucrosdistribudosaosusufruturiosdasquotasdecapitaldaempresaconstituemrendimentonosujeitotributaopeloimpostoderenda.

ConcluiqueconsiderandoqueosJCPforampagoscomretenodeIRPFnafontepeloBancoeosdividendossoisentos,nostermosdoart.75daLei383/91,orecorrenteclassificoucorretamenteseusrendimentosemsuasDIRPFs.

OFENSAAOART.110DOCTN

Fl. 1287DF CARF MF

10

Entendeque ao desrespeitaro instituto privado do usufruto e classificar osrendimentoscomo"alugueisouroyalties",oAFRFBferiuoart.110doCTN,quedeterminaserdefesoleitributriaalterarosinstitutosdedireitoprivado.CitadecisesdoCARFnessesentido.Repeteargumentosjrelatadossobreousufrutoeafirmaqueolanamentodevesercancelado.

PEDIDO

Requer o cancelamento integral do AI ou, quando menos, a extino pordecadnciadosvaloresexigidosnoanode2009.

CONTRARRAZESDAPROCURADORIADAFAZENDANACIONAL

A PGFN apresentou contrarrazes, nos termos do RICARF, art. 48, 2,juntadasfls.1.259/1.276,quecontm,emsntese:

PRELIMINARDEDECADNCIAPARCIAL

DizqueapremissabsicaquenorteiaaacusaofiscalestassentadanofatodequeorecorrentenodetmparticipaoacionrianoBancoDaycoval,masapenasfazjusao usufruto dos direitos econmicos das aes de titularidade da Daycoval Holding, norecebeupagamentosattulodeJCP.Assim,taisrendimentosestariamsubmetidosaoregimedetributaodeajusteanual.

Afirma que como houve a reclassificao dos valores recebidos pararendimentostributveisnoajusteanual,imperativoaanlisedadecadnciaconsiderandoseessareclassificao.

Aduzqueparaqueseprocedacontagemdoprazodecadencial,necessrioperquirir omomento em que ocorreu o fato gerador quanto ao recebimento de rendimentosoriundosdousufrutoenodeJCP.

CitaaLei9.250/95,art.7eart.13,eoCTN,art.150,4,concluindoquenocasoderendimentossubmetidos tributaonoajusteanual,adatadeocorrnciadofatogerador corresponde ao dia 31 de janeiro (sic) de cada anocalendrio. Destaca julgados doCARFnessesentido.

Na hiptese, tendo em vista que o fato gerador mais remoto ocorreu em31/12/09, no h que se cogitar de decadncia, pois o lanamento foi notificado ao sujeitopassivoem10/12/14.

TITULARIDADEDASRECEITASPROVENIENTESDOSJUROSSOBRECAPITALPRPRIO

DescreveosatosrealizadospelaDaycovalHoldingFinanceiraS/A:ocapitalsocialdestaempresafoiintegralizadopelossciosapenascomanuapropriedadedasaesquepossuamdoBancoDaycoval, ficandoestescomousufrutodasaesdoBanco,enquantoaHoldingexerciaocontrolediretosobreoBanco.

Destaca que o ponto central deste processo reside em saber a quempertencemas receitasprovenientesdopagamentodeJCP,feitopeloBancoDaycoval.Paraorecorrente tais receitas seriam dos scios da Holding, em virtude do usufruto para a

Fl. 1288DF CARF MF

Processon10437.720889/201482Acrdon.2401004.568

S2C4T1Fl.1.284

11

fiscalizao,taisreceitasseriamdaDaycovalHolding,noexistindorelaosocietriacomaspessoasfsicasquejustificasseoseupagamentoattulodeJCPdiretamenteparaelas.

Afirma que a constituio do usufruto confere ao usufruturio o direito areceber os resultados econmicos auferidos pela companhia. Assim, o pagamento dosdividendosestemconformidadecomaLei6.404/76.

Entende que o recorrente busca conferir aos JCP o mesmo tratamentod