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Safatle – aula 5 Fim do módulo Hegel com a discussão sobre a noção hegeliana de sujeito Recapitulação O objetivo dessas aulas foi permitir uma compreensão renovada de problemas fundamentais da reflexão dialética. Eu procurei explorar certas vias pra requalificar melhor o que devemos entender por dialética. Nós vimos inicialmente porque a dialética não pode ser uma ontologia do ser, isso através da insistência hegeliana em qualificar toda ontologia do ser como pensamento do puramente indeterminado. Daí a necessidade de insistir na indissociabidade entre ser e nada, assim como na elevação da categoria de devir à primeira categoria concreta da ontologia. Nessa mesma aula eu apresentei a vocês a crítica de Heidegger à maneira com que Hegel desqualifica toda e qualquer ontologia do ser. Pra Heidegger, tratava-se da consequência necessária de uma filosofia incapaz de abrir mão das aspirações fundacionistas do conceito de sujeito. Nós ficamos assim com a necessidade de explorar de forma mais sistemática os usos hegelianos do conceito de sujeito. Nós vimos na aula seguinte como em Hegel nós não temos algo como um devir sem tempo. Já que o devir é a primeira categoria concreta, então eu utilizei a segunda aula para discutir a maneira hegeliana de pensar o devir, não como um devir sem tempo, ou seja, um movimento eterno a uma totalidade infinita porém imóvel, como seria o caso de Spinoza (segundo a leitura do prof.). Na verdade é um modelo de devir que se articula no interior da historicidade, a categoria fundamental de temporalidade pro Hegel. Não se fala em uma temporalidade no sentido abstrato, fala-se da historicidade como temporalidade concreta. Ou seja, a reflexão sobre a natureza da experiência histórica e as estruturas de seu movimento são campos decisivos para a compreensão das formas gerais do movimento que fornece um fundamento pra crítica das

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Fim do mdulo Hegel com a discusso sobre a noo hegeliana de sujeitoRecapitulaoO objetivo dessas aulas foi permitir uma compreenso renovada de problemas fundamentais da reflexo dialtica. Eu procurei explorar certas vias pra requalificar melhor o que devemos entender por dialtica. Ns vimos inicialmente porque a dialtica no pode ser uma ontologia do ser, isso atravs da insistncia hegeliana em qualificar toda ontologia do ser como pensamento do puramente indeterminado. Da a necessidade de insistir na indissociabidade entre ser e nada, assim como na elevao da categoria de devir primeira categoria concreta da ontologia. Nessa mesma aula eu apresentei a vocs a crtica de Heidegger maneira com que Hegel desqualifica toda e qualquer ontologia do ser. Pra Heidegger, tratava-se da consequncia necessria de uma filosofia incapaz de abrir mo das aspiraes fundacionistas do conceito de sujeito. Ns ficamos assim com a necessidade de explorar de forma mais sistemtica os usos hegelianos do conceito de sujeito.Ns vimos na aula seguinte como em Hegel ns no temos algo como um devir sem tempo. J que o devir a primeira categoria concreta, ento eu utilizei a segunda aula para discutir a maneira hegeliana de pensar o devir, no como um devir sem tempo, ou seja, um movimento eterno a uma totalidade infinita porm imvel, como seria o caso de Spinoza (segundo a leitura do prof.). Na verdade um modelo de devir que se articula no interior da historicidade, a categoria fundamental de temporalidade pro Hegel. No se fala em uma temporalidade no sentido abstrato, fala-se da historicidade como temporalidade concreta. Ou seja, a reflexo sobre a natureza da experincia histrica e as estruturas de seu movimento so campos decisivos para a compreenso das formas gerais do movimento que fornece um fundamento pra crtica das categorias da ontologia, tal como ns encontramos na Cincia da Lgica. Essa temporalidade concreta descrita por Hegel visa a mostrar que a dialtica no pode ser um movimento que parte de uma noo de substncia previamente assegurada que expressar suas potencialidades atravs da multiplicidade de seus atributos, como no fundo vrias vezes se criticou em Hegel, como se a dialtica hegeliana fosse uma dialtica na qual todas as possibilidades j esto previamente inscritas, ento por isso no h acontecimento, nada ocorre ao final das contas, porque tudo a reiterao de uma espcie de plano que j est de uma maneira ou de outra colocado no seu incio, ento um tipo de falso movimento. Insisti que o absoluto no est dado no incio, mas que ele um resultado, isso significa aceitar que totalidades no podem se estabelecer como campo de determinao prvia das condies gerais de possibilidade da experincia. Totalidades so resultados, em processualidade contnua, da integrao de acontecimentos contingentes em suas temporalidades mltiplas. Falar em absoluto, nesse caso, significa simplesmente falar da possibilidade de apreenso, no da totalidade dos contedos do saber, mas da estrutura, da processualidade que atravessa o existente. Alcanar o absoluto no implica ser capaz de deduzir o que e o que ser, mas se reconciliar com o movimento, se reconciliar com a inquietude do tempo.Por fim, vemos como Hegel pensa a estrutura de tal movimento atravs de uma discusso sobre as determinaes de reflexo, em especial a identidade, a diferena e a contradio. Nesse caso procurei dar ateno especial ao estatuto da contradio em Hegel, o que no poderia ser diferente para um pensamento que define a dialtica como esprito de contradio organizado. Ns vimos como uma discusso rigorosa a respeito do estatuto da contradio condio maior pra compreenso da especificidade do projeto hegeliano. A ideia de contradio ser a determinao essencial do movimento nos levou compreenso da maneira com que Hegel compreende o movimento atravs de um processo de destruio das identidades postas e de retorno a si no interior de novas formas de determinaoDiscusso das categorias principais do conceito hegeliano de sujeito. No foram poucas vezes que a filosofia hegeliana foi compreendida por seus crticos como uma filosofia que hipostasia o conceito de conscincia, s conseguindo determinar experincias a partir do quadro prvio de categorias prprias a uma subjetividade constituinte. Nesse sentido a dialtica hegeliana sempre seria uma dialtica idealista, porque parte da conscincia e daquilo que a conscincia capaz de determinar, mesmo que essa conscincia se transforme no interior de um processo de experincia. A tese idealista fundamental : a estrutura e a unidade do conceito a mesma que a estrutura e a unidade do eu. Ou seja, compreender como o conceito capaz de conceitualizar, como o conceito capaz de organizar o campo da experincia, o modo ou a forma como organiza o mesmo modo ou a forma com que o eu constitudo. O mesmo princpio de unidade/identidae que o conceito aplica s coisas nos encontramos no eu, ou seja, h um holismo entre a estrutura do eu e a estrutura do mundo devido a essa similitude.Ns podemos compreender essa proposio (tese idealista) de duas formas. Primeiro, o eu projeta sua estrutura e sua unidade no mundo atravs dos conceitos por ele produzidos; segundo, o eu descobre no seu interior a estrutura daquilo que o conceito tenta unificar. Dois processos diferentes. Eu projeto no mundo as categorias de um pensamento, eu fao com que o mundo seja um estado de coisas organizado conceitualmente; outra, algo da opacidade do mundo encontrado no interior do eu. Por isso que a relao que o eu tem consigo mesmo ser da mesma natureza com que relaciona com o mundo, porque a relao que ele tem consigo mesmo no uma relao de identidade. De certa forma, no primeiro caso, o objeto parece como o que se submete a estrutura representacional da conscincia e essa a sua definio: objeto aquilo que organizado de maneira representacional pela conscincia, e o mundo um conjunto de objetos. No segundo, a conscincia descobre no seu interior algo da ordem da opacidade prpria dos objetos do mundo e a meu ver esta segunda a maneira mais adequada para pensarmos a dialtica hegeliana.Pra mostrar tal tese, ns devemos compreender como, em Hegel, o sujeito no uma entidade substancial e autoidntica, capaz de determinar a si mesmo, como encontramos na tradio da filosofia moderna que vai desde Locke a Descartes. Sujeito, pra Hegel, o nome de um movimento de reflexo e de implicao com que no importa imediatamente a forma de identidade. Por que que h sujeito, por que precisamos conservar a categoria de sujeito? Porque no se pode abrir mo da ideia de implicao. Implicao no fundo o que anima a ideia hegeliana de reflexo. Ser e reflexo so a mesma coisa, no possvel um ser irrefletido, impossvel pensar o prrreflexivo. Para que eu possa reconhecer a existncia de algo eu preciso estar implicado nesse algo, para que eu possa dizer da existncia de algo preciso que eu tenha a experincia desse algo. Apenas pelo fato de conseguir tematizar algo isso significa que eu estou implicado nela, e essa implicao o atributo fundamental do conceito de sujeito: sujeito aquele que se implica naquilo que no lhe imediatamente idntico. Da porque a ideia do sujeito como movimento, muito mais do que uma substncia, e esse movimento pensado por Hegel atravs do conceito de negatividade, da porque sujeito e negatividade so termos quase simtricos. O sujeito animado por um movimento que Hegel descreve como um movimento de negatividade, e ao cunhar esse termo negatividade Hegel pensava no apenas em uma negao, ou seja, o sujeito no apenas aquele que nega a imediaticidade do mundo. Tratava-se tambm de insistir em uma atividade negativa, uma atividade que parte da negao do mito do dado, de que h alguma coisa que est imediatamente dada para ns, do mito das espcies naturais (o mundo se organiza de maneira imanente a partir de suas espcies naturais) vai ser sempre parte da negao daquilo que se naturalizou como uma representao imediata do pensar. Por que h uma negatividade inerente ao sujeito? Porque no pensamos no vazio, porque pensamos j diante de representaes naturais. Ns pensamos contra. Negatividade ento o nome dado a essa atividade que compreende o campo de determinaes socialmente disponveis como limitado, como em falta diante das potencialidades da experincia. Isso nos obriga a quebrar duas iluses: a primeira consiste em confundir o conceito de sujeito com o conceito de indivduo. O sujeito no o que entendemos numa tradio liberal por indivduo, essa entidade dotado de inseparabilidade corporal, continuidade identitria e um sistema pretensamente consciente de interesses singulares. Sujeito no diz respeito a uma conscincia, mas a uma estrutura de relao entre conscincias. Sujeito no uma conscincia isolada (como p.ex. em Descartes). E o nome dessa relao entre conscincias, para Hegel, conscincia-de-si. Essa relao entre conscincias pensada por Hegel a partir das dinmicas de reconhecimento. Reconhecimento o nome dado por Hegel para descrever o processo atravs do qual sujeitos so institudos em conscincias-de-si. S existem sujeitos que so reconhecidos como tal.Implicao no necessariamente consciente. Pode haver relao de implicao sem representao (implicao inconsciente, implicao emocional). mais ampla do que a ideia de intencionalidade. Mas ambas tm um problema comum, assumem que existe uma forma de relao do sujeito com aquilo que lhe exterior.Os movimentos da conscincia no so dados pela prpria conscincia. A conscincia habitada pelo movimento do mundo, e no s habita nele. ao mesmo tempo uma relao da conscincia com o mundo e da conscincia com ela mesma, no apenas uma relao entre o eu e o mundo, mas entre o eu e o eu. O pensamento hegeliano holista: no possvel fazer uma distino entre a conscincia e o mundo de maneira brutal.Hegel desenvolve seu conceito de sujeito atravs da noo de conscincia-de-si. No entanto, esquecemos com frequncia que a conscincia-de-si hegeliana no um conceito mentalista, uma reflexividade/subjetividade auto suficiente, que se delimita em relao ao que lhe exterior. Na verdade, conscincia-de-si para Hegel um conceito relacional, visa descrever certos modos de imbricao entre um sujeito e outro. Por ser um conceito relacional, seus atributos maiores na dimenso prtica (autonomia, determinao, liberdade, imputabilidade) s podem ser pensados em seu verdadeiro sentido quando ns abandonamos a crena que a ipseidade est assentada em princpios formais de identidade ou de unidade. At porque a conscincia-de-si no se funda na apreenso imediata da auto..., ela se funda naquilo que nega sua determinao. S que dizer que a conscincia-de-si um conceito relacional ainda muito pouco. Pois isso poderia significar simplesmente que toda subjetividade desde o incio dependente de uma estrutura intersubjetiva. No entanto, parece que Hegel quer dizer alguma coisa mais. Precisamos compreender melhor quem esse outro com o qual me relaciono no campo da conscincia-de-si. A dimenso prtica da conscincia-de-si pensada em trs campos profundamente articulados: desejo, trabalho e linguagem, que o que define uma forma de vida. A conscincia-de-si se desdobra nesses campos. Com quem ela se desdobra, quem esse outro? uma outra conscincia? Trata-se de outra conscincia-de-si ou de uma alteridade mais profunda, que est para alm do que determina uma individualidade, um para alm que me coloca diante de algo que do ponto de vista da conscincia indeterminado? Se seguirmos essa segunda hiptese poderemos entender por que pra Hegel a individualidade livre aquele que leva o campo da determinao a fora desruptiva de confrontrao com o indeterminado, e que por isso tem a capacidade de fragilizar toda aderncia limitadora. A liberdade no se vincula ao determinado ou ao indeterminado, mas ambas. Determinao aquilo que se submete estrutura de uma representao mental. Indeterminado aquilo que no se submete a esse campo de determinaes, por isso ele aparece inicialmente como aquilo que coloca uma questo minha forma inicial de pensar (penso naturalmente a partir de representaes). A primeira coisa que a conscincia tenta afirmar a sua liberdade (movimento tipicamente hegeliano), como ela afirma sua liberdade, ela no se determina em nada, ela indeterminada, uma liberdade negativa, me libero de tudo que parece que me determina, me libero dos meus papeis, dos meus contextos de ao, para que eu possa ter uma realidade que transcenda essas determinaes. Ento, Hegel insiste: o primeiro movimento da liberdade um movimento de perda do limite, de liberdade negativa. Lembrar de Descartes: eu no sei o que eu sou, s sei que sou: primeira posio da liberdade negativa da conscincia. Ela no um erro, uma condio fundamental. Se nenhum momento ela passa por esse ponto de partida, no possvel ter sujeito. Haver outra coisa, uma pessoa, p.ex., mas no um sujeito. Esse primeiro movimento nunca completamente perdido, ele vai assombrar todas as determinaes posteriores (estas tero que dar conta desse estranhamento inicial que o sujeito teve). por isso que o sujeito est sempre em movimento. Isso uma caracterstica no s da subjetividade como sujeito do conhecimento, mas da subjetividade como sujeito prtico. Vejam por exemplo como Hegel pensa no campo poltico a experincia do jacobinismo. O que o jacobinismo? Primeiro, ele no esse terrorismo de Estado baseado na destruio dos opositores do Estado. A primeira caracterstica do jacobinismo o Estado se auto-destruindo: todos os que aparecem frente do Estado so os prximos a serem guilhotinados.Como ento agora dar conta da inscrio de sujeitos que descobriram a natureza negativa da sua liberdade? Que no tem mais nada natural? Passar diante da morte: tudo que era natural caiu. Uma experincia histrica que o ilustra: Revoluo Francesa. Nenhuma institucionalidade fica em p. Toda a questo da modernidade agora institucionalizar essa experincia, sem manter sua potencialidade destrutiva.Crtica leitura habermasiana/honnethiana do reconhecimento: os indivduos no querem ser reconhecidos apenas como indivduos (direitos fundamentais), mas tambm como aquilo que no assume a forma do indivduo. Voc pode sofrer por no ter uma individualidade especifica, mas pode sofrer tambm por ser apenas um indivduo. Reconhecimento como indivduo pessoa jurdica, mas a conscincia de si no se incarna completamente dentro da figura da pessoa jurdica. O que se quer reconhecer no so identidades, mas aquilo que no se submete ao princpio da identidade.Campo relativamente no problemtico ao qual se pudesse recorrer para constituir pessoas. Hegel e Adorno: esse campo no existe mais. A exp da moder retirou um espao no conflitual. Crtica ao conceito de Lebenswelt de Habermas.

Comentrio da dialtica do senhor e do escravo. A fenom do esprito composta por figuras da conscincia.H uma condio social para o conhecimento. No h relao direta entre sujeito e objeto, h uma relao entre sujeitos que determinam objetos. Hegel submete o conhecimento ao reconhecimento.As figuras da conscincia so condensaes de vrias figuras (sobredeterminao das figuras da conscincia).As relaes intersubjetivas so inicialmente (comeam como) relaes de dominao e servido. Elas no so simtricas. As relaes afetivas iniciais so radicalmente assimtricas.As relaes de reconhecimento se do inicialmente sob a forma do desejo. Para se entender o sujeito hegeliano, preciso entender o desejo, funo intencional fundamental da conscincia.Conscincia-de-si desejo em geral (no desejo disto ou daquilo).A unidade da conscincia-de-si com aquilo que havia expulso como coisa-em-si a partir do momento em que compreendermos as relaes entre sujeito e objeto no como relaes de conhecimento, mas tambm como relaes de desejo e satisfao. No faz sentido falar em conhecimento abstraindo do sistema de interesses.Eu descrevo a maneira como organizo o conhecimento, e no objetos.Hegel no cair num relativismo se for capaz de mostrar que os interesses prticos no so guiados pelo particularismo de apetites e de inclinaes, mas que, ao se engajar na dimenso prtica, tendo em vista a satisfao de seus desejos, os sujeitos realizam necessariamente as aspiraes universalisantes da razo. Lembrana de Adam Smith, embora no na esfera do mercado. Hegel desloca a ideia em direo quilo que chama astcia da razo. Hegel no faz uma ruptura radical entre desejo patolgico e vontade livre, como Kant. Ou seja, uma distino entre l onde sou causado pela natureza (animal) e l onde sou causado pela liberdade (onde minha vontade autnoma). Hegel no trabalha com a distino humanidade/animalidade. Para Hegel, no desejo a vontade se realiza; mesmo porque para ele liberdade no livre-arbtrio, a liberdade a adequao entre a vontade e o desejo, a situao em que eu quero o que desejo. Liberdade ser causado por si mesmo. Spinoza. Diz-se que o desejo irracional; mas de onde veio esse pressuposto? Preconceito de que a dimenso do corpo o do irracional por excelncia.O poder precisa estar claramente em um ponto (o soberano)O que move o desejo a falta, que aparece intuda no objeto, objeto que por isso pode determinar a essencialidade do sujeito, como aquilo que lhe falta. Ter a sua essncia em um outro, o objeto, uma contradio, que a conscincia pode suprimir por no ser um ser, mas uma atividade (uma reflexo que assimila o objeto a si). A exp do desejo uma exp relacional. Ao consumir (integrar algo que me outro).A satisfao ocorre pelo suprimir do objeto. O desejo o ato de suprimir o objeto. O desejo no pode desaparecer, pois isso significaria a negao da prpria conscincia (Nietzsche, ningum deseja o objeto, mas o desejo, o ato de desejar). Porque se deseja o ato de desejar? Porque o desejo no simplesmente uma funo intencional ligada satisfao de uma necessidade natural, como se a falta fosse a falta de um objeto natural especfico. Desejo uma operao de autoposio da conscincia, atravs do desejo a conscincia procura se auto-intuir no objeto, tomar a si mesma como objeto, e esse o verdadeiro motor da satisfao. Ou seja, a conscincia procura a si mesma atravs do desejo. At porque a falta o modo de ser da conscincia. A falta no a falta de um objeto especfico, nunca foi, o desejo humano no uma necessidade animal; a falta um modo de ser da conscincia, um modo que a conscincia pode dizer que as determinaes esto sempre em falta em relao ao ser da conscincia. Aquilo que elea pode ser tal como encontra numa realidade social est em falta com aquilo que ela potencialmente quer ser. A falta no do desejo, mas dos objetos que se propem ao desejo, das determinaes que procuram definir o desejo. Porque o desejo no se satisfaz com o objeto? Porque o desejo uma ao de negatividade em relao aos objetos. H trs maneiras de entender o desejo como falta, sendo a ltima a hegeliana. 1. Falta como privao de um objeto por necessidade. 2. Falta como transcendncia negativa do desejo em rela aos objetos empricos. Essa falta no est diremente ligada aos objetos sensveis. DO pensamento da ideia todos os objetos esto em falta. Muitos que criticaram a negatividade em Hegel (Deleuze e Guattari) pensaram neste ponto. 3. Nem privao, carncia, transcendncia, a falta uma manifestao da infinitude. Pode ser ruim, se a satisfao do desejo for o consumo reiterado de objetos, um atrs do outro, num movimento infinito ruim. Mas pode ser tambm a manifestao de uma inifinitude verdadeira, quando se confronta com objetos liberados de determinaes finitas.Era do sentimento subjetivo de determinao, atomizao das esferas de valores, eroso das autoridades tradicionais, Hegel, Durkheim, Weber.O sujeito como essa noite, esse nada vazio. O que caracteriza a exp do desejo a no ser essa indeterminao?Essa perda de valores estveis no deve ser visto apenas como resultado de processos scio-histricos, mas como a realizao de um destino marcado pela necessidade do que tem dignidade ontolgica. Para isso Hegel precisa de um sujeito como aquilo que habitado por uma potencia de indeterminao. A teoria do desejo como negatividade que impulsiona o agir o teria fornecido. A falta aqui apontada como descrevendo a potencia de indeterminao (infinitude infinito o que marca a instabilidade e inadequao de qualquer determinao) que reside em qualquer sujeito. O sujeito o locus de manifestao dessa infinitude.

Althusser, contradio e sobredeterminao