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Sally Mackenzie – Série Lord Apaixonado #2.5 - O Lorde Apaixonado

Sally MacKenzie - Nobres Apaixonados 2.5 - O Lorde Apaixonado

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Sally Mackenzie – Série Lord Apaixonado #2.5 - O Lorde Apaixonado

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Sally MacKenzie – Nobres Apaixonados #2.5 – O Lord Apaixonado

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Sinopse:

(Ian e Nell – Laird e Lady Kilgorn)

Lordes e Ladies podem se tornar companheiros distantes...

A festa na casa do Visconde promete ser um dos destaques da temporada, e

Laird e Lady Kilgorn estavam encantados em comparecer. No entanto se esse

casal há muito tempo separado soubesse que ambos foram convidados — e

que lhes foi reservado o mesmo quarto...

Lady Kilgorn não viajou quilômetros de sua casa confortável para que

tivesse que compartilhar um quarto muito pequeno com o escocês canalha e

bonito, que ela se casara quando muito jovem — e com extrema avidez!

E a última coisa que Laird Kilgorn precisa é ser provocado pela visão de

sua esposa, cada vez mais linda! Mas enquanto o fim de semana avança, o

casal vai descobrir que há alguns incêndios que até mesmo o tempo não pode

apagar...

PROJETO

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Sally MacKenzie – Nobres Apaixonados #2.5 – O Lord Apaixonado

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ÍNDICE

Capítulo 1 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 4

Capítulo 2 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 18

Capítulo 3 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 33

Capítulo 4 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 49

Capítulo 5 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 64

Capítulo 6 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 77

Capítulo 7 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 92

Capítulo 8 ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...107

RESENHA BIBLIOGRÁFICA... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...128

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Capítulo 1

Eleanor, condessa de Kilgorn, se afundou ainda mais na

banheira de cobre, depois da longa viagem de carruagem, a água

quente era maravilhosa, o nó de tensão nas costas começou a

afrouxar.

Mas não o nó que tinha no estômago, que seguia duro e

tenso. Fechou os olhos e tentou respirar fundo.

Durante toda a longa viagem desde a Escócia, tinha esse nó

pesado no ventre. Tinha desejado voltar atrás a cada quilômetro

que a tinha trazido para esta terra tediosa e antinatural.

Seu lugar não estava aqui, entre esses toscos convidados.

Seu lugar era em casa, entre os despenhadeiros e os lagos, a

salvo em Pentforth Hall.

Agarrou a borda da banheira. Mas em Hall, já não estava mais

a salvo, graças a esse verme do Pennington. Esse bastardo baboso.

Por quê Ian o tinha contratado? Acaso não pode encontrar um

administrador mais adequado, menos desprezível, quando o senhor

Lawrence, aquele doce velhinho, se aposentou? Por acaso…?

Deus santo! Se incorporou de um salto e um pouco de água

foi parar no chão. Estava na Inglaterra, muito perto de Londres. Por

acaso Ian... ? Ele não podia estar aqui, verdade?

Era por isto que foi convidada? Para que esses sassenach

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pudessem rir dela enquanto observavam como o conde de Kilgorn

rechaçava publicamente sua inoportuna esposa?

Obrigou os dedos a relaxar e afrouxar a pressão que faziam na

borda da banheira.

Não, de certo que não. Ian declinaria qualquer convite que a

incluísse. Sem dúvida tinha tão pouca vontade de vê-la como ela à

ele.

— Os lacaios eram muito atraentes, não é mesmo, milady?

Para ser sassenach, claro.

— Annie, sua jovem criada, sorriu amplamente e alcançou o

sabonete;

— Percebeu como me olhava o de olhos azuis?

— Não, não me dei conta — Annie não ia começar a perseguir

os lacaios de Lorde Motton, certo!?! Aquela reunião já era ruim o

suficiente sem isto.

— Não acredito que sua mãe gostasse de escutar o quão

atraentes te parecem os lacaios de Lorde Motton, Annie.

— Oh, mamãe não ia se importar. Ela sabe que tenho olhos na

cara — resmungou Annie, enrugando o nariz enquanto olhava a sua

volta.

— E agora o que estou vendo é essa pequena ratoeira. Achei

que iam lhe dar um dormitório mais elegante, milady.

A habitação era… acolhedora, estava quase toda ocupada por

uma cama de quatro colunas.

— É perfeitamente adequada para mim.

— Mas a senhora é uma condessa. Merece o melhor.

— Besteira — uma condessa sem um conde era mais uma

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figura alvo de diversão do que de respeito. Só esperava que não

ficassem lhe olhando como tontos. Seu estômago revirou. Talvez,

além dos nervos, tivesse fome. Tinha comido horas atrás.

— Não disse que ia descer para me trazer o chá?

— Sim, é verdade — Annie se olhou no espelho e alisou a

saia.

— O chá, Annie. Apenas, o chá. Não olhe para os lacaios.

Annie deu risada.

— A senhora se preocupa mais do que a minha mãe.

Nell suspirou quando a porta fechou e se virou para o fogo da

lareira. Era bem provável que se preocupasse mais que Martha que

tinha criado cinco filhas, enquanto que Nell não tinha sido capaz

nem de dar à luz a seu pobre filhinho. Formou redemoinhos na água

da banheira com os dedos. Como teria sido sua vida se não tivesse

perdido o bebê?

Agora teria uma filha – ou um filho, — um forte jovenzinho de

dez anos, um garoto com extremidades firmes e ágeis, sorriso

inteligente e um gênio afiado que o faria passar horas subindo em

árvores e nadando no Lago Kilgorn. Sorriu. Sem dúvida teriam mais

filhos, dois ou mesmo três. Ian e ela.

Em que estava pensando? Detestava esse homem! Não tinha

pranteado seu pobre filho, só quis fazer outro em seguida. Por certo

não perdeu tempo depois que lhe deixou, e em seguida, tinha

encontrado outra mulher para esquentar sua cama.

Bom, de acordo, não sua cama no castelo. Não levou

nenhuma mulher a sua casa, mas era um ponto sem importância.

Tinha visitado muitas camas sassenach em Londres. Era um

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homem, só tinha uma coisa na cabeça!

Esfregou o corpo com força. Era como Pennington. Esse

baboso a tinha agarrado pela cintura quando o senhor MacNeill

irrompeu na biblioteca. Ah, foi o suficiente para que o mordomo

achasse que tinha visto algo! Os olhos do ancião se desorbitaram.

Apostava o dinheiro de um mês de seus pequenos ganhos, que o

homem não deixou passar sequer aquela noite para enviar uma

mensagem a Ian sobre o suposto flerte.

Pennington não era o primeiro homem apaixonado ao que

tinha tido de afastar. Durante todos aqueles anos os rumores

tinham proporcionado ao senhor MacNeill um vasto material para

ruminar. Alguns homens pareciam considerar sua estranha situação

matrimonial como um desafio... mas o senhor Pennington? Devia

seu emprego ao homem no qual, tudo indicava, queria colocar

chifres!

Fulminou com o olhar a barra de sabão. E não que Ian se

importasse, de forma alguma. Se os rumores nos jornais

estivessem certos, já tinha escolhido a viúva do conde de

Remington para substituí-la... e tinha feito uma cuidadosa inspeção

na mulher entre os lençóis.

Bom, para ser justa, ele já tinha alcançado os trinta, devia

pensar na sucessão. Necessitava um herdeiro, e para conseguir um,

necessitava uma esposa de verdade, não a jovem com quem tinha

se casado muito cedo.

Afundou na banheira. Meu Deus, que confusão! Deveria

escrever hoje mesmo para ele. Isto já tinha durado demais.

Agora os dois eram adultos, ainda que na época que se

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casaram e em seguida se separaram, não fossem. Sem dúvida

alguma, podiam solucionar esse... problema de forma racional. Ele

não era má pessoa. A porta abriu e fechou. Annie devia ter voltado

como chá. Nell atirou água na cara. Se tivesse os olhos vermelhos, a

jovem ia pensar que tinha caído sabão.

— Viu o lacaio de olhos azuis, Annie?

— Dos olhos azuis... que diabos!?!

O coração parou.

Oh Deus, oh Deus. Essa voz. Mesmo depois de dez anos, se

deslizou até seu coração como nenhuma outra tinha feito nunca.

Depois de todas as lágrimas, toda a dor, aquela voz trouxe

recordações de riso, de estar deitada no campo aquecido pelo sol

com a brisa de verão rompendo a calma do lago. De lençóis

retorcidos, corpos suados, calor, umidade e...

Não, não podia ser.

— I... Ian? – cambaleei até ficar de joelhos, girando para se

agarrar a parte de trás da banheira. Era Ian. Tinha mudado, sem

dúvida. Aquele jovem alto e delgado agora era mais corpulento.

Seus traços eram mais pronunciados, tinha linhas ao redor da boca

e dos olhos que antes não existiam. No entanto, os olhos eram

iguais, o mesmo verde turbulento de um mar revolto pela tormenta.

E estavam cravados em...

Nell olhou para baixo, a água pingava pelos seus seios

desnudos.

— Ai! — Dei um salto para pegar a toalha, mas estava um

pouco longe e a banheira resvaladiça. Cai de bruços. — Ai! Ahh!

Bateu com força o tornozelo e a canela na borda da banheira,

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mas ia bater com mais força ainda a cara no chão.

— Nell! — Mãos fortes a seguraram antes que chegasse a cair

de bruços e a rodearam em um abraço duro como uma rocha. O

tecido grosso do casaco de Ian roçou seus seios, o estômago, o...

Deus santo!

Fechou os olhos com força, ia morrer de vergonha. Estava nua

nos braços de Ian.

— Está bem, Nell? Pode ficar de pé?

Sentiu o ar frio na pele molhada, a tinha afastado e estava... ,

abriu um olho para dar uma espiada, sim, a estava olhando. Os

mamilos ficaram duros... tinha frio, sim, era isso. Não ardia. Seu

sexo não se derretia naquele lugar entre suas coxas, morto há tanto

tempo, não palpitava nem inchava.

Tinham se casado quando ela tinha dezessete anos. Naquela

época o amava como uma louca e não podia esperar para ir para

cama com ele.

Engoliu um soluço, mas não rápido o bastante.

— Se machucou?

— Não, é…

— Sim, se machucou, garota. Te ouvi gritar. — A ergueu

apertando contra si e a segurou com um braço enquanto o outro

deslizava por suas costas nuas e molhadas. Queria consolá-la? Não

a estava tranquilizando, precisamente. Mais bem alimentava as

chamas de um fogo que estava há tanto tempo apagado, que

achava que até as cinzas estavam geladas.

— Diz onde dói. É a perna? Pode ficar em pé, amor?

Ela tinha sido seu amor uma vez, há muito tempo, antes de

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ter perdido o bebê. Conteve outro soluço e notou seus lábios

roçando sua testa.

— Oh, carinho. Não chore. Deixa eu ver a perna.

— Não, eu…

Mas Ian já se inclinava, deslizando a mão pela coxa, o joelho,

a panturrilha. Tinha a cara no mesmo nível que...

Por favor, que pensasse que a umidade das coxas fosse pelo

banho.

— Agarra os meus ombros, Nell.

Sua voz era mais rouca?

— Não, estou bem, Ian. Só quero que me alcance a toalha.

Estou nua, se por acaso você não se deu conta.

Ele riu, apesar que foi um riso breve e contido.

— Me dei conta, Nell. — Deslizou as mãos pelo seu corpo até

em cima, roçando os seios com os polegares ao passar. A segurou

pelo queixo e a encarou com olhos famintos.

Também tinha esse olhar de fome aos dezenove anos, mas

agora de certa forma era diferente. Também tinha dor misturada

com um toque de desespero?

Ela sem sombra de dúvida estava desesperada e umedeceu os

lábios. Os olhos dele seguiram o movimento da língua e inclinou a

cabeça.

Em alguns momentos Nell voltaria a sentir outra vez seus

lábios, depois de tantos, tantos anos. A percorreu um calafrio de

expectativa.

— Lamento, Nell, tem frio e eu estou... estou... — Levantou

a cabeça de repente e deu um passo atrás.

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– Que diabos estou fazendo!?!

Deus Santo, tinha estado a ponto de beijar Nell. A

necessidade, a luxúria inebriante, todavia o sacudia como as ondas

da tormenta arrebentando contra a costa. Nunca tinha sentido essa

intensidade com nenhuma outra mulher. Como tinha conseguido se

deter?

Mas graças a Deus que tinha. Ainda que se não fosse ele teria

sido Nell. Ela o odiava.

Agora o estava fulminando com o olhar.

Ian a olhou com o cenho franzido. Não ia colocar a maldita

roupa!?! Acaso não se dava conta de quanto o atormentava

estando aí de pé nua? A luz do fogo brilhava sobre a pele nua, era

ainda mais bela do que quando era uma jovenzinha, algo mais

arredondada, um pouco mais cheia. Seus seios... Obrigou os olhos

a subirem até sua cara. Não devia olhar seus seios.

Ela por fim se envolveu na toalha. Ele é quem deveria ter

alcançado à ela, mas para ser sincero, não confiava em si mesmo.

Apertou os punhos. A maldita era como uma febre violenta. Se se

movia, cairia sobre ela como o animal no cio que Nell achava que

ele era.

Tinha deixado bem claro há dez anos que não o queria mais

na sua cama. Em todos os anos seguintes, não tinha dado nenhuma

indicação de que tinha mudado de opinião, ainda que MacNeill lhe

disse uma e outra vez que não era contrária a companhia

masculina. Diabos! Se não tinha nem duas semanas que o homem

tinha lhe enviado uma mensagem dizendo que a mulher coqueteava

com o maldito administrador. MacNeill os flagrou na biblioteca ao

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que parece apenas momentos antes de que Pennington tivesse tido

tempo de tirar o vestido de Nell e derrubá-la no tapete.

Será possível que não ia colocar alguma roupa!?!

Agora, por fim agarrava a bata. Segurava a maldita prenda

diante dela como um escudo. Quanto antes a vestisse, melhor.

Teria que virar de costas e dar-lhe privacidade para que

terminasse de se cobrir. Se se virasse, não a seguiria encarando.

Mas não podia se mover. Era pior que um adolescente

excitado, esperando dar outra espiada em seu perfeito...

Malditos sejam todos os infernos, era um homem de trinta

anos. Tinha visto muitas mulheres nuas. Não deveria estar

ofegando, quase cego de desejo, pelo simples fato de estar ali no

dormitório, os dois sozinhos. Nell nua.

Ia ter uma apoplexia se ela não colocasse alguma maldita

peça de roupa nesse mesmo instante. Talvez falar ajudasse.

Articular palavras e talvez algumas frases afastasse os pensamentos

de contemplar Nell, nua e...

— Que demônios faz nos meus aposentos?

— Não grite. — Nell franziu o cenho. Ian também a encarava

com o cenho franzido.

— De acordo. — Esta vez a voz soou como se estivesse

falando entredentes. — O que malditos infernos está fazendo nos

meus aposentos?

— Não amaldiçoe, — Acaso isso que ouvia era o ranger dos

dentes de Ian?

— E este não é a teu, é o meu quarto, – se afastou dando

meia volta lutando para colocar a bata, logo voltou a virar,

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apertando o cinto enquanto o fulminava com o olhar.

— Como deve ter notado, estava tomando banho. Te sugiro

que respeite minha intimidade e vá procurar a governanta. É óbvio

que se perdeu.

Sim, estava tomando banho... e também o desejando.

O que estava acontecendo com ela? Esse homem era um

maldito adivinho? Não tinha sentido esse... desejo por dez anos.

Não queria sentir. Estava contente com sua vida. Não necessitava

mais angústia.

— Esta é meu quarto, — a voz de Ian era dura e seca.

Esse era o homem que recordava. O homem que tinha

insistido que voltasse a sua cama quando se recuperou. O homem

que tinha lhe dito que esse era seu dever de esposa.

Talvez tivesse razão, segundo a lei, mas ela simplesmente não

podia fazer. Se tivesse se rendido as suas exigências, algo teria

morrido dentro dela. Algo além do bebê que já estava morto.

— Não é seu quarto.

— Sim, é. — Rebateu ele com a mandíbula tensa. Ian podia

ser incrivelmente obstinado.

Todo mundo costumava dizer que só era obstinado com ela,

porque era a única que tinha caráter suficiente para lhe fazer frente.

— Esta é o meu quarto – Nell assinalou a banheira e depois se

ruborizou. Preferia que ele não se lembrasse da banheira, mas essa

era a maneira de demonstrar que tinha razão. — Os lacaios de

Lorde Motton não teriam trazido ela aqui se não fosse o meu

quarto.

Ian olhou a banheira com o cenho franzido.

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— Devem ter se confundido. Digo que a governanta tinha

tudo bem claro. Não há dúvida que esse é o meu quarto. Não me

equivoquei.

— Pois é óbvio que sim, o fez.

— Não eu… — soltou um grunhido, — Espera aqui. — abriu a

porta e saiu ao corredor.

Nell se aproximou do fogo. Claro, que ia esperar ali. Onde

mais ia esperar? Nem sequer estava vestida, pelo amor de Deus!

Pegou o pente e com brusquidão começou a desembaraçar o

cabelo.

Passaram cinco, dez minutos. O que estava levando tanto

tempo? Tinha ido embora, Ian? Mas sua bagagem estava ali...

A porta se abriu de golpe e Ian entrou com a senhora Gilbert,

a governanta. Ele estava franzindo o cenho e a senhora Gilbert

torcia as mãos.

— Sinto muito, milorde.

— Diga a minha... — Ian fez um ruído raro, uma mistura de

tosse e grunhido, — Diga a Lady Kilgorn o que me disse.

Nell se aproximou com rapidez da senhora Gilbert. A pobre

mulher parecia muito nervosa.

— Senhora Gilbert, por favor, não se preocupe. Asseguro que

o latido de Laird Kilgorn é muito pior do que sua mordida.

— Espera para ouvir o que tem para dizer, Nell.

— O que? — Nell fulminou Ian com o olhar. Por quê estava se

mostrando tão cruel? Acaso não via que estava assustando a

senhora Gilbert? Antes não costumava descarregar sua cólera sobre

os serviçais.

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— Oh, basta. Está fazendo a pobre senhora Gilbert sofrer –

virou para acariciar o ombro da mulher – O que acontece? Tenho

certeza que não é tão ruim como parece.

— Oh, milady, temo que tenha havido um mal-entendido.

— Um mal-entendido? — O estômago de Nell se contorceu –

que classe de mal-entendido?

— Já sabe que a senhorita Smyth, a tia de Lorde Motton, atua

como anfitriã.

— Não, não sabia.

A senhora Gilbert fez um gesto afirmativo.

— É assim. Foi ela quem designou todas as habitações. No

geral, não comete erros.

— Não? E desta vez cometeu?

— Eu… — a senhora Gilbert endereçou um olhar nervoso para

Ian, — Sim, milady, ao que parece, sim.

Então Ian tinha razão. Essa era seus aposentos. Bom, não

tinha importância. Não se preocupava, apesar de que lhe pediria um

tempo para se vestir antes de ir para seu novo quarto.

— Está tudo bem, senhora Gilbert. Não me importa.

— Não lhe importa? – parecia que a senhora Gilbert estava a

ponto de atirar os braços ao redor do pescoço de Nell e chorar de

alegria. A reação era algo desproporcional para a situação.

— Não creio que você compreendeu bem o alcance do

equívoco, Nell.

— Não? — Nell olhou primeiro para Ian depois para a

governanta, — Talvez seria melhor me explicar com mais detalhe,

senhora Gilbert.

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A senhora Gilbert empalideceu. Levou as mãos a cara e logo

as deixou cair sobre a saia, como pardais agonizando.

— A senhorita Smyth não deve ter entendido... não deve ter

conhecimento que a senhora e milorde...

Ela e milorde? Nell sentiu um rebuliço inesperado no seu

interior e se armou de coragem.

— Vamos, senhora Gilbert, me diga.

— A senhorita Smyth me disse que colocasse Laird e Lady

Kilgorn, a vocês dois milady,

Nos aposentos do Cardo, — a senhora Gilbert pigarreou. Devia

pensar que a inteligência de Nell era bem pequena, algo nada

surpreendente já que Nell se sentia bastante estúpida naquele

momento, porque voltou a repetir, — Juntos, milady. Em um

aposento. Aqui.

— Oh — a situação era um pouco incômoda, mas sem dúvida

o embaraço era algo momentâneo. Não era necessário que a

senhora Gilbert ficasse tão aflita. Nell esboçou um sorriso débil, —

mas isto é fácil de arrumar, certo? Basta que a senhora traslade um

de nós. E já que Lorde Kilgorn parece resistente a mudar de quarto,

não me importa ser eu a que se mude, só deixe que me vista e

reúna minhas coisas.

Era estranho que Ian não se comportasse como um cavalheiro

e se oferecesse a procurar outro aposento, mas devia ter suas

razões. Fez um nó no seu estômago quando a razão óbvia veio a

sua cabeça. Já devia ter organizado um encontro com alguma

amante, com Lady Remington provavelmente.

A boca da senhora Gilbert se moveu, mas pelo jeito a pobre

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mulher não podia articular palavra. Foi Ian quem falou.

— A solução não é tão simples, Nell.

— Ah, não? E por quê? — Nell virou de novo para a senhora

Gilbert. Parecia como se a governanta estivesse a ponto de

desmaiar.

— O problema é... — a senhora Gilbert engoliu saliva com

tanta força que eles puderam ver como a garganta se movia, — A

complicação... o problema é... bom, a senhora verá... — a mulher

ficou calada e buscou Ian com o olhar. Nell também o encarou.

Tinha os lábios contraídos em um meio sorriso estranho, quase

inesperado.

— O problema é — disse Ian, — que não há nenhum outro

dormitório disponível.

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Capítulo 2

Nell seguia lhe encarando quando a porta se fechou atrás da

senhora Gilbert, mas o clique do trinco a tirou de seu estupor.

Trincou a mandíbula, cruzou os braços com força e foi até a lareira

com passo majestoso.

Maravilhoso. Ian observou sua coluna tensa. Era o mesmo que

usar uma placa escrita com letras maiúsculas: Proibido passar.

O que diabos ele ia fazer agora? Ian deu uma olhada no

diminuto aposento, em seguida a cama. Como iam se arranjar? Era

o único maldito móvel sólido nesse pequeno agulheiro. Não podia

ficar aqui. E, claro, não podia dormir aí. Dormir? Ah! Dormir era o

último que queria fazer naquela cama.

Era um idiota, um total e completo idiota. Alguém pensaria

que depois de todo esse tempo... Olhou de novo para Nell. Ela

seguia com o olhar perdido no fogo, ignorando-o tal como vinha

fazendo nos últimos dez anos.

Maldição e mil vezes maldição!

Quis gritar, atirar algo, fazer alguma coisa que a obrigasse a

reconhecer sua existência.

Quando a seguiu a Pentforth Hall, depois de esperar um par

de semanas pensando que já tinha se recuperado, deu com a cara

na porta. À ele, o conde de Kilgorn, o dono da propriedade, tinham

mandado as favas! Não MacNeill, por certo, o mordomo sabia quem

lhe pagava o salário. Foi a senhora MacNeill quem disse que Nell se

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negava a vê-lo.

Se negava a vê-lo! Apertou com força os punhos. Pensar nisto

ainda tinha o poder de enfurecê-lo. A senhora MacNeill tinha falado

muito mais, mas ele estava demasiado irritado, bem, e também

magoado para escutá-la. Então atirou algo, depois de tudo só tinha

vinte anos, e essa dor era novidade. Tinha lançado um enfeite

horrível na lareira. Pareceu escutar música celestial quando se

rompeu em pedaços.

Desabotoou o casaco. Por que Nell o rechaçou? Até agora

seguia sem entender. Era sua esposa. Havia jurado obedecer. As

leis da Igreja e do estado a obrigavam a se submeter à ele, e ela

não tinha tido sequer a cortesia de recebê-lo. Não era como se ele

fosse um liberto. O aborto não tinha sido culpa dele. Maldição! Não

era culpado!

Tirou o casaco e jogou sobre a cama. Ele a amou. Foi seu

primeiro e único amor. Tinha dezenove anos, era pouco mais que

um menino, quando se casaram. E também era virgem. Descobriu o

céu nos braços de Nell. Tinha se sentido feliz, orgulhoso e para ser

sincero, malditamente arrogante, quando sua semente fincou raízes

com tanta rapidez.

Sim, se sentiu decepcionado quando ela perdeu o bebê, mas

achava que podiam voltar a tentar.

Negou com a cabeça. Não conseguia entender porque tinha

perdido seu filho e sua esposa. Acaso Nell nunca o amou? Era isto?

Deus, ele sim que a tinha amado. Ela tinha levado seu coração

ao partir. Nada, nunca, tinha voltado a ser como antes.

Começou a desabotoar o colete. Estava suado, cansado e sujo

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da viagem de Londres. A banheira com água já estava ali. Ele

também podia usar. Certo que Nell não ia se importar, ela já tinha

se banhado. Ainda estava na frente do fogo, penteado o cabelo

negro e longo.

Deus, como era bonita. Ele costumava dizer bobagens tipo

que seu cabelo era tão escuro como uma noite sem luar. Que

rapazinho mais idiota era, se achando quase um poeta. Mas era

verdade. Seus cabelos eram tão negros como uma noite sem luar e

seus olhos tão azuis como as águas do lago Kilgorn.

Não foi só pelo seu corpo que ele a tinha cortejado. Estava

cheia de vida quando era jovem, tão cheia de alegria.

Deixou o colete cair em cima do casaco. E ele tinha sido tão

bobo. Tinha deixado Pentforth ultrajado, lívido, mas a ira

desvaneceu com rapidez. Sentiu tanta falta dela que quase se

converteu numa dor física. A saudade era tamanha que escreveu

carta depois de carta durante o primeiro e horrível ano, colocando

todo seu coração em cada palavra, inclusive, apesar de lhe que

envergonhasse admitir, tinha chorado sobre algumas delas. Nunca

recebeu uma só palavra em resposta.

Enviou uma última nota a Nell no seu décimo nono

aniversário. Quando a resposta também foi o silêncio, a baniu da

mente.

Ou nisto quis acreditar. Ela o atormentava, inclusive quando

estava na cama com outra mulher. E agora, a imagem de Nell nua

na banheira, com a água deslizando por aqueles seios preciosos e

exuberantes, ficaria gravada a fogo no seu cérebro por toda a

eternidade.

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Talvez tenha sido algo positivo revê-la outra vez. Com um

pouco de sorte, a experiência seria tão dolorosa que por fim se

curaria de sua obsessão por ela.

— Lady Remington ainda não chegou?

— O quê? — perguntou erguendo a vista. Nell mantinha os

olhos cravados no fogo e tinha conseguido fazer desaparecer

qualquer emoção de sua voz. Por quê? Sabia que Cara era sua

amante? Sem dúvida alguma não lhe importava.

— Lady Remington. Ainda não está aqui?

— Lady Remington não virá — respondeu desatando o lenço.

Cara ficou incomodada com isto. Tentou obrigá-lo a conseguir um

convite, mas Ian se deu conta de que gostava da ideia de ficar sem

ela por uns dias, o que era um sinal definitivo de que o momento

para deixar de vê-la tinham chegado.

— Oh! — Pronunciou Nell. Esse tom... parecia deleitada pela

ausência de Cara.

— O que lhe importa se ela está aqui ou não?

Nell deu de ombros.

— Só me interessava em saber se teria que me sentar à mesa

com a amante de meu marido.

— Ah. — Então sabia de Cara. Não devia estar surpreso. Não

tinha se esforçado muito em ser discreto. Cara era viúva, e não

tinha passado pela cabeça dele que sua esposa se importasse se ele

resolvesse fornicar nos jardins do Almack’s. Bom, ela não estava

livre de culpa como para atirar a primeira pedra.

— Devo entender que não vou me encontrar com

Pennington?

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Sally MacKenzie – Nobres Apaixonados #2.5 – O Lord Apaixonado

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Fez o possível para que ela não notasse o veneno na sua voz.

Não queria que Nell pensasse que estava ciumento, que lhe

importava o mais mínimo o que ela fizesse na sua cama. Puxou com

brutalidade a camisa do cós da calça.

— O senhor Pennington ? — Por fim se virou para encará-lo,

— Ele é o administrador de Pentforth. Por que estaria aqui?

— MacNeill disse que se converteu em algo mais do que um

empregado. — era impossível deter as palavras, — Ou que está

empregando seu tempo em... algo mais que administrar a

propriedade.

— Como se atreve? — os olhos de Nell dardejaram e se

afastou do fogo, — E não gosto que faça com que os criados me

espionarem.

Ele grunhiu e agarrou a ponta da camisa.

— MacNeill não é um espião, é um mordomo.

— É um espião como você bem sabe e... o que está fazendo?

— Não é óbvio? — tirou a camisa pela cabeça. Quando se

livrou dela se deu conta que Nell encarava seu peito como se

estivesse ao mesmo tempo consternada e fascinada.

Ele abaixou os olhos. Seu peito parecia igual que antes, mas

uma parte do seu corpo respondeu a sua atenção de maneira

inadequada. Seria melhor que Nell não descesse mais o olhar ou

ficaria consternada de verdade. Olhou de volta para o rosto dela.

— Não vai usar a água outra vez, não é mesmo? — Pôs as

mãos nas calças. Nell gritou.

— Está tirando a roupa!

— É normal tirar a roupa antes de tomar banho — essa

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mulher agia como uma virgem tímida. O que fazia Pennington, ou

não fazia para ser mais exato, com ela? Seguro que o homem não

fazia amor com a roupa posta, verdade?

— Mas não pode... quero dizer... não deve... Não vai se

meter nessa banheira, não é?

Nell não devia estar tão nervosa. Devia ser uma atuação.

Mesmo que Pennington fosse um amante aborrecido, segundo

MacNeill ela tinha se entretido com um bom número de homens

para se mostrar alarmada ao vê-lo nu.

— Acabo de chegar. A água está aqui e não vou me

apresentar diante dos convidados de Motton todo sujo.

Ela olhou a sua volta.

— Não deveria esperar seu ajudante de quarto?

Por acaso pensava que tinha escondido o homem na sua

maleta? Encolheu os ombros... e se deu conta de como os olhos de

Nell se dilataram levemente ao ver o movimento.

— Crandall não se sentia muito bem, assim que o deixei em

casa. Me viro bem sozinho.

Que o condenassem se os olhos de Nell não voltaram a ficar

cravados em seus ombros e peito.

Deu um passo em direção a banheira e a língua dela deslizou

umedecendo o lábio inferior.

De saída aquela atenção toda o excitava. Uma parte dele

estava muito estimulada. Se deixasse cair agora a roupa que ainda

tinha por cima, Nell poderia dar uma boa olhada.

Acaso podia… seria possível… Deveria tentar seduzi-la? O mais

provável é que o repelisse de novo, mas o risco podia valer a pena.

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Era dez anos mais velho, agora seu coração estava bem protegido.

Se pudesse levar Nell para cama, ele por fim ia se dar conta

de que ela não era diferente de nenhuma outra mulher e se curaria

daquela doença.

Esboçou um leve sorriso. Valia a pena tentar. Como Nell

sinalizou, Cara não estava ali. E eles estavam confinados nesse

quartinho com sua caminha.

— Crandall não está aqui, mas você sim. Assim que pode me

ajudar.

— Oh, eu não… — Agarrou o pente nas mãos com firmeza e

retrocedeu até o fogo da lareira.

— Cuidado. Não acho que queira que essa preciosa bata

acabe envolta em chamas.

— Ai! — exclamou se afastando de um salto da lareira.

Ian sentou na cadeira e esticou as pernas. Nell ainda lançava

olhadelas a seu peito.

— Vem me ajudar a tirar as botas.

— As botas?

— Sim — disse levantando uma perna, — Essas coisas de

couro que tenho nos pés.

Ela franziu o cenho.

— Sei o que são botas.

— Sim, isto imaginava, mas começava a duvidar, — tentou

assumir a expressão mais condoída possível, — Me faça o favor?

Conseguiria tirá-las lutando com elas, mas seria muito mais fácil

com sua ajuda.

Ela lançou uma olhadela em direção a porta.

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— Annie entrará de um momento a outro.

— Duvido. Creio que a senhora Gilbert decidiu que precisamos

ter um pouco de intimidade.

— Intimidade? Desde quando importa aos criados a intimidade

de alguém?

— Desde que esse alguém ficou afastado de sua esposa por

dez anos — respondeu com suavidade, — Eu posso me fazer de sua

criada. Fiz muitas vezes no começo do nosso casamento.

Nell ruborizou.

— Era diferente. E não faremos nada que requeira intimidade.

Os detalhes do ato que requeriam mais intimidade invadiram

de golpe a mente de Nell. Fechou os olhos durante um momento.

Não tinha pensado nessa... atividade durante anos. E Não queria

pensar nela agora, mas era como se uma represa construída com

esmero, tivesse arrebentado. As recordações a inundaram,

arrasando com qualquer pensamento racional. Quase podia sentir

seus dedos na pele, sua boca nos seios...

O fogo da lareira deve ter acendido alguma lenha ainda que

sem queimar, a temperatura tinha subido de repente.

Percorreu com os olhos o peito masculino, os ombros e os

braços outra vez. Tinha esses músculos tão bem definidos quando

era mais jovem? De certo que não. Não recordava umas curvas tão

esculpidas.

Mas sim, recordava a sensação de seus braços a rodeando

com força, fazendo que se sentisse segura. Lembrou do consolo que

lhe haviam dado quando a parteira disse que tinha abortado. Como

podia ter esquecido disto? Ian a abraçou enquanto ela soluçava,

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quando perdeu junto com seu bebê, seus sonhos e a confiança no

mundo.

Pestanejou para afastar as lágrimas. Não queria lembrar. As

recordações doíam muito.

— Não? Não necessitaremos intimidade? — Ian meio que se

riu dela, com um vislumbre de brilho no olhar, — Que pena.

Oh, Deus, esse sorriso. Convertia o lorde duro e severo em

um homem malicioso e sedutor. Parecia ser dez anos mais jovem,

muito parecido com o rapaz por quem tinha se apaixonado.

Que ridículo! Esse rapaz, igual que essa mocinha que ela tinha

sido, há tempos tinham desaparecido. Se devia recordar, tinha que

considerar todas as amantes que ele tinha tido. Apertou com mais

força o cinto e lhe deu um olhar fulminante.

— Não me olhe com o cenho franzido, Nell – os olhos de Ian

pareciam convidar a repartir um segredo com ele.

— Hã!? Não o quê? Que não a provocasse? Que não se

divertisse as custas dela?

Que não a seduzisse?

Era isto o que lhe dava medo? Mas por quê? Já não podia

seduzi-la. O prazer tinha morrido quando perdeu o bebê. Fechou os

olhos, esperando que a inundasse aquela terrível tristeza familiar.

Não ocorreu. O que acontecia, era que estava cansada e alterada.

Distraída. Não esperava encontrar Ian.

Voltou a dar uma espiada no seu peito... e logo se obrigou a

baixar os olhos e cravar nas suas botas. Seria infantil não ajudar.

Ajudaria agora e depois se afastaria e sentaria na cama... bem,

talvez não na cama. Arrastaria a cadeira o mais longe possível da

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banheira e iria ler até que ele tivesse terminado o banho, se vestisse

e partisse, dando a ela, enfim, a privacidade necessária para se

vestir.

— Oh, está bem, — se aproximou dele, agarrou a bota e

puxou. Durante um momento não passou nada e em seguida saiu

com mais facilidade do que tinha imaginado.

— Ai! — gritou ao se estatelar de bunda no chão.

— Está bem? — Era óbvio que Ian se esforçava para aguentar

a risada. Mas lhe convinha não rir, porque se o fizesse ela abriria

sua cabeça com essa maldita bota.

— Estou bem, — se levantou e agarrou a outra bota, puxando

com mais cuidado. — Pronto. Aqui está.

— Obrigado – ele disse ao mesmo tempo que se colocava de

pé sem dar lhe tempo de se afastar a uma distância segura. Ela

voltou a cambalear perdendo mais uma vez o equilíbrio. Ian a

segurou com força, mas com suavidade.

Ele estava tão perto agora. Ela era alta, mas ele ainda mais.

Se se inclinasse levemente para frente podia roçar seu peito com os

lábios. Se se estirasse apenas um pouco para cima, podia beijar sua

clavícula. Se...

Retrocedeu e ele a deixou ir, mas seus olhos tinham uma luz

que lhe provocou sensações inquietantes no estômago.

— De nada — respondeu ela dando meia volta e se afastando.

A inquietude que sentia era muito compreensível. Ter visto Ian e

estar com ele naquele espaço reduzido, foi uma comoção. Uma vez

que se acostumasse a situação, ficaria bem.

Sim. E também estaria bem, compartilhando com ele aquela

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cama tão, tão pequena. Ian costumava se esparramar, ocupando

todo o espaço. Ainda era assim?

Não pretendia checar. Seguro que a senhora Gilbert se

equivocava. Com certeza tinha outro aposento para onde ele ou ela

poderiam trasladar-se. Talvez ela mesma poderia dormir com

alguma das outras mulheres.

Podia pedir a Ian que colocasse uma cadeira no outro lado do

quarto e, mais tarde, quando tivesse se vestido, procurar a senhora

Gilbert.

— Ian… — deu a volta sem pensar e se encontrou encarando

o traseiro nu de seu marido enquanto ele revolvia sua mala. Um

traseiro duro e musculoso.

— O quê? — virou para olhá-la e agora tinha diante de si algo

mais, algo que cresceu debaixo de seu olhar, se pondo grosso,

comprido e...

Teve que se obrigar a afastar os olhos e fixá-los na cara. Ian

tinha uma expressão sombria... ardente e pouco a pouco seus lábios

se curvaram num meio sorriso.

— Garota, pode olhar todo o tempo que quiser.

Ela virou para o fogo.

— Não seja ridículo.

Ian sempre se sentiu cômodo com seu corpo. Nunca se

importou de passear pelado pelo quarto.

Seria melhor que não acreditasse que ali podia fazer o

mesmo.

Tinha que conseguir outro quarto. Ficando ali com Ian, se

sentia indisposta. Dolorida. Necessitada. Não queria se sentir assim.

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Não queria sentir nada. Sentir doía demais.

Escutou o barulho da água contra os lados da banheira.

— Pode me dar o sabão, Nell?

— Pegue você, — se negava a olhá-lo outra vez. Deveria sair

dali agora mesmo, mas não estava vestida, e por nada ia se vestir

com Ian no quarto.

— Não alcanço. Me faça o favor, Nell?

Oh, pelo amor de Deus!

— Onde está?

— No chão, debaixo da cadeira. Certamente saiu voando

quando você caiu.

Ela ruborizou. Existia algo mais embaraçoso do que, ao ver

seu marido pela primeira vez depois de uma década, se estatelar

pelada no chão?

— Tem certeza que não alcança?

— Sim. Está muito longe… e se você der a volta, vai ver que

já estou metido na banheira.

— Já sei que está na banheira. Não pode sair e pegá-lo?

— Vou deixar o piso todo molhado. Qualquer um diria que

estou pedindo para você ir até Glasgow, Nell.

— Oh, está bem, — Desviou o olhar justo para poder ver o

sabão, pegar e empurrar para ele. Ele riu entredentes.

— O que há, Nell? Ficou tímida? Antes não era. Costumava

olhar com bastante entusiasmo.

— Basta! — Agora sim o encarou. Estava por demais irritada

como para não ter nenhum problema em dirigir o olhar apenas para

sua cara, — Não pode voltar a minha vida por uma casualidade e

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agir como se os dez anos passados não existissem.

A expressão de seu rosto se tornou fria e o olhar duro.

— Foi você que me deixou, Nell. Tentei lhe ver, escrevi uma

carta depois da outra. E você me repeliu uma e outra vez.

Nell apertou os lábios. Esteve tão zangada aquele primeiro

ano, zangada e enlouquecida. Mas não tinha importância. Ian não

entendeu, nunca entenderia porque ela chorou tanto por um

pequeno pedacinho de carne, um bebê que tinha morrido antes

mesmo que seu ventre começasse a inchar.

Agora não podia falar disto.

— Eu… — Negou com a cabeça, — Passou muito tempo. A

ferida é muito profunda para ser curada por algo tão frívolo como

esta festa casual, este encontro fortuito.

— Talvez este encontro seja uma oportunidade.

Ele não ia perturbar sua paz desta maneira. Tinha custado

muita dor e tempo a Nell para consegui-la.

— Não será o caso de que está buscando alguém para

esquentar sua cama enquanto

Lady Remington não está disponível? Se trata disto? — viu

como Ian se ruborizava. Ah, assim que tinha acertado em cheio.

Ignorou o vazio que lhe provocou aquele pensamento. O que queria

sentir era ira. A ira sempre a salvou no passado, — Já vejo. Onde

está Lady Remington? Tinha outro compromisso? O lógico seria que

o cancelasse para vir aqui contigo.

Ian entrecerrou os olhos.

— Lady Remington não foi convidada.

— Não? Nossa, me surpreende. — Continuou ela, colocando

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mais lenha na fogueira da raiva. Tinha aperfeiçoado a arte do

sarcasmo durante anos. Era um modo excelente de repelir avanços

indesejados. — Não lê Lorde Motton as páginas da sociedade? Não

conhece as intimidades de Lorde K. e Lady R.?

A expressão no rosto de Ian se tornou mais rígida e sua voz

soou mais inglesa, precisa e fria.

— Não tenho nem ideia do que faz ou deixa de fazer Lorde

Motton. Não sabia que você lia estas baboseiras.

— Pois faço. Gosto de estar ao corrente de suas conquistas. É

tão recreativo ficar a par de suas aventuras – a raiva lhe fazia bem,

e se dava conta que estava enfurecendo também a Ian, — Tenho a

impressão que podia ter conseguido um convite para ela.

— Talvez conseguisse se tivesse tentado.

— Oh, então não queria que sua amante lhe estorvasse.

Esperava encontrar uma substituta na festa, alguém mais jovem,

mais divertida? Pobre Lady Remington.

O rosto de Ian estava roxo de raiva. Era espantoso que a água

da banheira não fervesse.

Abaixou o olhar até a água... e voltou a levantar de imediato

para a sua cara. A água estava excepcionalmente clara. Podia ver...

tudo. Ao menos aquela parte dele tinha se acalmado, ao contrário

do rosto de Ian. Tinha a mandíbula apertada, de modo que devia

estar rangendo os dentes. De fato, as palavras que pronunciou

soaram como se estivesse.

— Talvez dê uma olhada para ver se encontro algo

interessante. Normalmente não tenho problema em encontrar

companheiras de cama... e suponho que nossa situação em um

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espaço tão reduzido ajudaria, não é mesmo? Tem certeza que não

te interessa? Se bem que acredito que uma esposa não pode ser

uma amante, não é?

Nell o esbofetearia com gosto.

— Você, convencido, arrogante…

— Pensa bem. Assim seria muito mais agradável compartilhar

a cama. Como você bem disse, eu não tenho Cara... e você não

tem Pennington.

— Pennington? — Ela mesma também estava a ponto de

gerar uma fervura. Como se atrevia a atirar na sua cara aquele

asqueroso, babão... polvo?

— MacNeill disse que estava lhe abraçando na biblioteca.

— Exato. Ele me abraçava, eu não. Foi você que enviou esse

homem a Pentforth. Em que estava pensando?

— Pode ter certeza que não pensava em enviar um amante

para minha esposa!

— Realmente acredita que… Pennington e eu… de verdade

pensa que nós…?

Ian encolheu os ombros.

— É uma mulher muito luxuriosa. Não sou nenhum ingênuo...

sei que as mulheres têm necessidades. Passaram dez anos desde

que nós... — sua voz se suavizou — presumo que durante estes

anos teve amantes, Nell, apenas você foi muito discreta e não me

esfregou ao estúpido homem na cara, algo pelo qual estou muito

agradecido, sem dúvida.

Nell ficou boquiaberta. Queria chorar e gritar ao mesmo

tempo. Queria afogar a esse cachorro vira-lata desprezível, ruim e

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ignorante. É possível que não entendesse nada!?!

Daria um murro nele, lhe estrangularia, lhe...

Ainda tinha a barra de sabão na mão. Pensou em atirar na

cabeça dele, mas a lançou na banheira, fazendo a água toda

salpicar.

Esperava de todo o coração ter dado no alvo.

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Capítulo 3

Pelo jeito tinha estragado tudo.

Ian abriu a porta do quarto para sair ao corredor e deixou Nell

passar à frente. Ela exigiu que saísse enquanto se vestia, mas ele

lhe recordou que precisava de ajuda com a roupa. Foi algo bem

desconfortável, parecido a vestir uma estátua. Não tinham trocado

uma única palavra desnecessária desde que ela tinha tentado

castrá-lo com a barra de sabão.

Ian estremeceu. Graças a Deus a água amorteceu a

velocidade daquele míssil. Era desconcertante como era boa a sua

pontaria.

— Vai segurar meu braço?

Ela lhe deu uma olhada gelada e começou a percorrer o

corredor sozinha. Maravilhoso.

Ian apressou o passo. Não ia persegui-la até o salão de

Motton.

— Não parece que você está sendo um pouco infantil?

Ela lhe brindou com outro olhar fulminante, os olhos

entrecerrados e as fossas nasais dilatadas.

— Se aperta um pouco mais os dentes, vai partir a mandíbula.

Nell fez um ruído, uma mistura de assobio e grunhido, e

caminhou ainda mais rápido.

Diabos! Não era sua culpa se tinham acabado juntos neste

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aposento minúsculo. Ele era tão vítima do humor distorcido da

senhorita Smyth, quanto ela.

Ian ofereceu o braço quando chegaram na escada. Nell

agarrou o corrimão.

Deus! E daí que tinha flertado com ela? Ele era um homem!

Maldita fosse, ainda era seu marido perante a lei. Podia ter insistido

que ela subisse nessa cama e cumprisse com seus deveres de

esposa. Não faria isto, claro. Não necessitava de uma companheira

de cama contrariada.

Ainda que não tivesse sido contrariada. Demônios! Ela quase

não tinha sido capaz de afastar os olhos dele. Ele esteve contendo o

fôlego, esperando que lhe tocasse, que passasse os dedos pela sua

perna nua...

Podia tê-la seduzido.Com certeza ela sabia disto, Nell nunca

foi estúpida. E não tinha porque ter chilique. Ele pode ter tido

amantes, mas ela teve muitos ―amigos‖ masculinos.

Arriscou uma olhada de canto de olho. Nell parecia esculpida

em pedra. Não se dignava sequer a acusar sua presença.

Deveria se divorciar dela. Cara esteve brincando sobre isto

quase desde a primeira vez que se meteu na sua cama. O motivo

era óbvio, sem dúvida, ela queria ser a próxima condessa. O inferno

congelaria antes que isto acontecesse.

A verdade é que vinha usando seu estado de casado como um

escudo protetor, para evitar as mães a caça de marido e suas filhas.

Qualquer mulher decidida a se envolver com ele, sabia desde o

princípio que um anel de casamento não fazia parte do jogo. Era

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perfeito para ele. Não tinha a menor vontade de passar novamente

por este calvário.

Mas agora estava com trinta anos. E não podia ignorar a

realidade de sua posição, necessitava um herdeiro. Não tinha irmãos

ou primos do sexo masculino esperando nos bastidores. E para ter

um herdeiro, necessitava uma esposa, uma de verdade. Uma

mulher que, mesmo que não lhe desse as boas-vindas, ao menos

lhe permitisse se meter na sua cama e no seu corpo. Era óbvio que

Nell não faria nem uma coisa nem outra.

Insistiria com Motton para remediar essa situação infernal do

dormitório e logo depois a evitaria durante os dias que durasse a

festa. Quando regressasse a Londres, se ocuparia de dar fim ao seu

casamento.

Malditos infernos, tinha a sensação que seu estômago se

encheu de chumbo. Gostaria de esmurrar algo. Ou alguém. Talvez a

Motton, não pegaria bem estapear a senhorita Smyth.

O lacaio os viu e se apressou a abrir a porta se afastando do

caminho quase saltando.

Ali estava Motton, ao lado da lareira, falando com duas

mulheres jovens idênticas. Para ele poderiam ser micos amestrados.

— Motton.

O outro arqueou uma sobrancelha. As mulheres deixaram de

matraquear surpresas. Claro que ele não tinha se mostrado,

particularmente, cortês. Bem, não se sentia cortês.

— Se pode me atender um momento, — fez um gesto

sinalizando Nell, — Temos algo urgente que falar.

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— Ah, — o sorriso de Motton permaneceu no rosto, mas o

olhar ficou cauteloso. — O que...

— LairdKilgorn, Lady Kilgorn, que bom vê-los.

Ian estava seguro que não havia nada de bom nele naquele

momento. Deu a volta para ver quem havia falado. Uma mulher

baixinha de cabelo cinza lhe sorria.

O cenho franzido dele ficou mais profundo, o sorriso dela

aumentou. De fato, seus olhos azuis resplandeciam.

— Me permitam apresentar minha tia, a senhorita Winifred

Smyth? — disse Motton. Dirigiu um olhar sarcástico a mulher. Ela

lhe deu umas palmadinhas no braço.

— Tem um pouco de indigestão, não é mesmo, Edmund? Não

se preocupe. Tenho o remédio certo para isto. Se quer, lhe darei um

pouco mais tarde.

— Não, obrigado, — Motton esboçou um sorriso, — A última

vez que provei um dos seus remédios de curandeira, tia Winifred,

tive que ir ao médico para que me curasse da sua cura.

— Que disparate. O mais provável é que tenha tomado

demasiado, ou não o suficiente.

A senhorita Smyth se voltou para Ian e seu sorriso ficou ainda

mais brilhante, se isso era possível.

— Sinto muitíssimo não ter estado para lhe dar as boas-vindas

quando chegou. Espero que tenha encontrado tudo a seu gosto.

Motton se engasgou com o xerez.

— A verdade, senhorita Smyth, é que as coisas não estavam a

meu gosto.

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— Oh, lamento muito ouvir isto, LairdKilgorn. O que é que não

lhe agrada?

Será possível que tinha se metido num manicômio e não havia

se dado conta!?!

— Talvez pudéssemos falar sobre isto em um lugar mais

privado. É um assunto delicado.

Não é que todo o salão já não soubesse que ele e Nell

estavam separados. Por certo

Motton sabia, ou não teria esta expressão vazia congelada na

cara. A senhorita Smyth devia ser a única mulher em toda a

Inglaterra e Escócia que não era consciente da situação, se é que

de verdade a ignorava.

— Certamente, — a voz da senhorita Smyth soava tão alegre

como se estivessem conversando sobre um ameno dia de

primavera. — Vamos ao salão verde? Edmund, por que não traz um

pouco de xerez?

— Uma ideia magnífica — Motton pegou um decantador e fez

sinal a Ian e as senhoras para que lhe precedessem.

O salão era uma salinha simples com um sofá, duas cadeiras

estofadas, mesinhas espalhadas por todos os cantos... e sem

nenhum pingo de verde.

— Antes era verde —disse Motton, fechando a porta atrás

dele, — Mas minha mãe odiava a cor, de modos que a pintou um

dia depois de casar com meu pai. Um pouco de xerez?

— Por favor —Seria preferível um uísque, mas nessa altura,

Ian tomaria qualquer coisa que tivesse álcool.

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Observou a senhorita Smyth. Como alguém podia se enfurecer

com uma mulher excessivamente cordial e que, pela sua idade,

podia ser sua mãe!?! Nell estava sentada ao lado dela no sofá

dourado. Talvez tivesse que ser ela a encarregada deste assunto.

Ou talvez não. A senhorita Smyth se inclinava e acariciava a

mão de Nell.

— Não diga nem uma palavra antes de ter tomado um pouco

de xerez, Lady Kilgorn. Pobrezinha. Você parece necessitar um

fortificante.

— Sim, bom…

— Eu também tomarei um, Edmund, um copinho cheio, por

favor.

— Sem dúvida, — Motton entregou as bebidas para as

senhoras.

A senhorita Smyth tomou um gole e olhou para Nell com um

amplo sorriso.

— Sabe, me daria muito gosto que conhecesse Theo, Lady

Kilgorn. Você é o tipo de pessoa alegre que se divertiria com ele.

— Alegre? — Ian pestanejou.Ultimamente, Nell era tudo

menos alegre.

— Theo não, tia Winifred, — gemeu Motton.

— E Edmund! — riu a senhorita Smyth, — Oh, não este

Edmund, outro Edmund.

Motton voltou a gemer, esta vez mais alto.

— Edmund tampouco. Sem dúvida alguma, Edmund não. Já

causou muitos problemas antes.

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— Ora, vamos! — a senhorita Smyth agitou uma mão

desdenhosa para Motton, — Onde está seu espírito aventureiro?

— Não em um salão com um mico solto.

— Um mico? — Nell quase se afoga com o xerez.

— Sim, isto mesmo. Um pequenino doce, bem educado…

Motton bufou.

A senhorita Smyth o encarou indignada.

— Um mico muito simpático, mas nunca vou entender porque

lhe dei o nome do meu sobrinho. Meu Edmundo não é nenhum

torpe.

— E Theo? — perguntou Nell sorrindo. Inclusive parecia que ia

começar a rir.

— Theo é o papagaio da tia Winifred – Motton revirou os

olhos, — O papagaio falante.

— Oh — e então Nell soltou uma gargalhada.

Várias coisas passavam na mente de Ian para dizer, mas

nenhuma delas apropriada para uma sala de senhoras. Pelo visto

tinham ido parar em um zoológico e um manicômio ao mesmo

tempo. Mas ao se dar conta que Nell estava se divertindo, seu

ânimo também levantou.

A senhorita tomou um gole de xerez.

— Mas não viemos aqui para falar de meus mascotes, não é

mesmo? Disseram que tinham um problema. Qual é, Lady Kilgorn?

Qualquer sinal de alegria desapareceu da cara de Nell.

— É nossos aposentos, senhorita Smyth – disse ela.

— Vocês estão nos aposentos do Cardo, não é? — a senhorita

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Sally MacKenzie – Nobres Apaixonados #2.5 – O Lord Apaixonado

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Smyth sorriu, — Achei que era uma ideia muito boa, já que vocês

são escoceses.

— Sim, mas...

A senhorita Smyth franziu o cenho.

— É muito pequena? Certamente, não é o que vocês estão

acostumados. Peço desculpas.

— O problema não é o tamanho senhorita Smyth, é... bem...

sem dúvida a senhora já sabe – Nell deu de ombros de forma

sugestiva.

A senhorita Smyth pestanejou.

— Sem dúvida sei o quê, Lady Kilgorn?

— Que LairdKilgorn e eu estamos… —Nell deu de ombros

outra vez.

— Sinto muito. Não entendo — a senhorita Smyth cometeu o

erro de olhar para Ian.

De verdade que aquela mulher não sabia!?!

— Senhorita Smyth, — disse ele, — Sem dúvida a senhora é

consciente do fato, de conhecimento de todos, de que Lady Kilgorn

e eu não vivemos juntos durante os últimos dez anos.

— Oh, — a senhorita Smyth franziu o cenho, — Mas ainda

estão casados, não é mesmo?

— Sim, tecnicamente sim, mas…

Foi como se o astro rei tivesse saído detrás de uma nuvem.

— Bem, então é perfeito. Será uma excelente oportunidade

para se conhecerem de novo.

Nell tomou outro gole de xerez, enquanto escutava desatenta

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Lady Wordham, uma senhora de cabelo branco, avó do divorciado

Lorde Dawson e Lady Oxbury, uma mulher delicada de uns quarenta

anos que estava ali com um sorriso e Lady Grace Belmonto, a filha

do conde de Standen. Estavam falando de gente que Nell nunca

tinha ouvido falar.

Os homens entrariam no salão daqui a pouco, quando

acabassem seus drinques.

Poderia escapar agora e ir se refugiar no seu quarto?

Não, não era seu quarto, era seu e de Ian. Era mais uma

armadilha do que um refúgio.

Como ia sobreviver aos dias que duravam aquela festa? A

comida tinha sido uma tortura, sentada entre Ian e o senhor

Boland, um homem delgado e calvo de idade indeterminada que se

mostrou mais interessado na carne de cordeiro de seu prato do que

nos companheiros de mesa. Alguém pensaria que o pobre homem

não tinha comido em meses. Tinha tentado entabular conversa com

ele, inclusive falando da carne que estava no prato, mas ele

respondia a cada uma de suas tentativas com um grunhido, um

olhar furioso e mastigando com energia.

Fechou os olhos por um momento. Estava muito consciente da

presença de Ian. Jurava que sentia o calor que emanava do seu

corpo. Estavam sentados muito perto. Alguém, provavelmente a

senhorita Smyth, tinha decidido colocar uma cadeira extra

justamente ao seu lado. Não podia se mover, sem lhe roçar.

Sentiu sua coxa grudada nela. Observou como aquela mão

grande e forte erguia o copo e envolvia a base com seus dedos

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compridos, e o anel do brasão de ouro maciço que brilhava na luz

da vela. A manga de seu casaco com o musculoso braço dentro, um

braço que ela tinha visto nu em toda sua glória apenas umas horas

antes, roçou seu braço mais de uma vez. A primeira vez que

aconteceu, ela tentou colocar mais espaço entre os dois se

inclinando em direção ao senhor Boland. Este, lhe fulminou com o

olhar como se suspeitasse que Nell arrancaria os camarões untados

de manteiga de seu prato.

— Gostaria de um pouco mais de chá, Lady Kilgorn?

Nell tomou um susto, salpicando o corpete com umas gotinhas

do líquido. Não tinha visto a senhorita Smyth se aproximar.

— Não, obrigada. Está bem, assim.

— A senhora também, Lady Kilgorn?

— Eu também... o quê?

— Se também está bem assim, — e moveu as sobrancelhas de

cima a baixo. Era óbvio que não falava do chá.

—Bem, eu…

— Talvez este seja o momento de uma mudança, – a

senhorita Smyth se inclinou para ela esboçando um sorriso, — Às

vezes as oportunidades aparecem nos lugares mais inesperados,

não é certo?

— Como?

— Pense querida Lady Kilgorn, — deu umas palmadinhas na

mão de Nell, — Peço desculpas por meu... erro. Falarei com a

senhora Gilbert pela manhã e verei o que se pode fazer. Agora, se

me dá licença.

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— Sim, claro, — Nell observou como a senhorita Smyth

escapulia pela porta.

Era muito difícil acreditar que uma casa daquele tamanho não

tinha habitações de sobra, mas a senhorita Smyth tinha dado

desculpas tais como tetos com goteiras, aberturas estropeadas,

mofo, lareiras obstruídas, até mesmo invasão de roedores. Deu uma

olhada

ao redor. Não parecia que o conde descuidasse a esse ponto

de sua casa, se bem que

na sala verde não tinha protestado diante da história de sua

tia, apenas se dedicou a acabar o xerez com toda a tranquilidade e

a observar um vaso negro e dourado colocado sobre uma imaculada

mesinha.

— Estão chegando! — as duas senhoritas Addison deram um

pulo em seus assentos quando a porta se abriu e o primeiro varão

confiante cruzou o umbral.

Lady Oxbury franziu o cenho.

— Não entendo por que a senhora Addison não controla

melhor suas filhas.

— Provavelmente porque está no seu quarto com uma garrafa

de brandy, — a senhora Wordham moveu com pesar a cabeça, —

Suspeito que já se convenceu de que é impossível tentar controlá-

las. Uma pena. Não posso aceitar de bom grado a forma como

perseguem meu neto.

No entanto, Lorde Dawson demonstrou ser um expert em

esquivar as gêmeas.

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Conseguiu manter Ian entre ele e as Addison, logo depois se

deslizou por trás da bandeja de chá até chegar em Lady Grace.

— Bem, se eu tivesse uma filha... — Lady Oxbury se

interrompeu de golpe. Primeiro ficou de um vermelho aceso e logo

depois pálida como um fantasma.

— Se encontra bem? — Nell pôs uma mão no braço de Lady

Oxbury. Tinha a pele quase úmida. Ia desmaiar?

— S-sim. Estou bem.

— Perdão, mas não tem um bom aspecto. Quer que lhe traga

um copo com água?

— Lady Kilgorn tem razão, querida, — Lady Wordham parecia

quase tão preocupada como Nell, — Parece que você vai desmaiar a

qualquer momento. Talvez devesse ir buscar os sais.

— Não, não, de verdade, estou bem, — Lady Oxbury esboçou

um sorriso fraco, — Por favor, não se preocupem mais.

Nell intercambiou um olhar com Lady Wordham. A anciã

encolheu os ombros.

— De acordo, mas tenha cuidado. Sei que sou uma velha, mas

a senhora já não é tão jovem como antes. Tem que se cuidar.

Lady Oxbury fez um ruído raro, uma mistura entre um riso

nervoso e um soluço.

— Sim, farei. Me desculpe, mas acho que vou tomar um pouco

de chá recém feito.

Nell observou como Lady Oxbury se servia o chá e logo depois

perambulava até o senhor Wilton. Por que a mulher reagiu de uma

maneira tão rara? Estavam falando dos Addison e suas filhas... .

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— Talvez Lady Oxbury perdeu um bebê, — Nell não se deu

conta de que tinha falado em voz alta até que Lady Wordham

respondeu.

— Se refere a um aborto? Talvez. É algo muito comum, se

bem que não acredito que sua perda seja recente. Oxbury esteve

muito tempo doente antes de morrer.

— Os abortos espontâneos são algo comum?

Lady Wordham assentiu.

— Muito comum. Eu perdi meu primeiro bebê assim que me

interei que estava grávida. Depois tive um filho muito robusto e três

filhas.

— Mas Lady Oxbury não tem nenhum filho.

— Certo, mas Lorde Oxbury era trinta anos mais velho que

ela. Suspeito que esse foi o problema. Homem velho, semente

velha, já sabe.

— Oh.

— Mas um homem jovem, como Laird Kilgorn, — Lady

Wordham calou por um momento, olhando para Nell com olhos

penetrantes.

Ela se ruborizou e afastou a vista, — Laird Kilgorn e a senhora

estão estremecidos, certo, Lady Kilgorn?

— Sim, mas não desejo falar disto.

— E não vou bisbilhotar. Me acredite, conheço o

distanciamento muito bem. Não tenho o prazer de conhecer meu

neto devido a uma briga com a minha filha caçula, — Lady

Wordham se inclinou para frente e alisou a mão de Nell, — Acredite,

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Lady Kilgorn quando lhe digo com toda a sinceridade que só as

transgressões mais atrozes merecem a dor de se afastar de um ser

querido. Considere bem os pecados de Laird Kilgorn. São de

verdade tão graves para que a senhora se condene a uma vida

solitária? Ou o perdão é uma melhor opção?

Nell estava certa de que ia morrer de vergonha.

— Lady Wordham, aprecio sua…

Por sorte foi interrompida por uma comoção na porta do

salão. Era a senhorita Smyth com...

— Oh, meu Deus.

— O que está acontecendo? — Lady Wordham se virou e riu

— Oh, meu Deus, com efeito.

A tia de Lorde Motton tinha regressado com um papagaio

cinza bem grande no ombro e no outro um pequeno mico de cor

marrom, vestido de libré negra e prateada como os lacaios de

Motton.

Lorde Motton não parecia muito contente. Deixou de falar com

o senhor Wilton e se dirigiu decidido para sua tia.

— Atenção! Problemas a bombordo! — esganiçou o papagaio

agitando as asas, o mico guinchou e as tontas das gêmeas Addison

gritaram.

Nell levou uma mão a boca para abafar a risada.

— Nunca escutei um pássaro falar.

— Não? — Ian se aproximou com tranquilidade com uma taça

de chá na mão e cumprimentou com a cabeça Lady Wordham, —

Um dos meus companheiros de colégio tinha um pássaro como

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esse. São criaturas muito espertas.

— Verdade, Laird Kilgorn? — perguntou Lady Wordham

sorrindo, — Por favor sente conosco.

Ian sentou na cadeira que Lady Oxbury tinha desocupado. Nell

tentou não cravar os olhos nele, na profunda prega que formaram

suas bochechas quando sorriu. Tinha esquecido como seus olhos

brilhavam quando recordava alguma bobagem ou travessura.

O cabelo brilhava na luz da vela com uma cor quente de

castanho e, se o olhasse com atenção, o que deveria parar de fazer

antes que ele se desse conta de seu interesse, veria a sombra

vermelha e dourada de sua barba que percorria a forte linha da

mandíbula.

— Meu companheiro ensinou o pássaro a recitar declamações

em latim, – dizia ele,

— Para que o professor pensasse que estava estudando,

quando na realidade o que fazia era ... – Ian sorriu e pigarreou, —

Se divertir um pouco.

— Já vejo. Que... astuto de sua parte, – disse Lady Wordham

com sagacidade.

Nell estudou suas mãos. O que acontecia com os homens?

Não pareciam dar nenhuma importância ao fato de se meter na

cama com qualquer mulher. Servia o mesmo uma mulher ou outra.

O amor era irrelevante. O senhor Pennington, obviamente, não a

amava, mas tinha ficado encantado de fazer... isso com ela. E Ian...

Olhou para ele de canto de olho. Agora estava encarando com

o cenho franzido o mico que tinha subido a viga ornamentada e

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olhava para baixo, gritando para o visconde.

— Essa corda ridícula vai se soltar, — disse ele, — Não está

bem atada.

Ela olhou para a coleira de couro vermelha.

— Por acaso não acredita que a senhorita Smyth saiba como

controlar seu mascote?

Ele olhou com as sobrancelhas levantadas e a incredulidade

assomando na cara.

— Você acredita que essa mulher saiba controlar algo?

— Bem…

Justo naquele momento a senhorita Smyth puxou o extremo

da corda. Tal como Ian previu, o couro vermelho soltou da perna do

mico. Liberada, a criatura guinchou outra vez e saltou pelas

cortinas, trepando mais de meio metro pelo tecido dourado. Lorde

Motton fulminou sua tia com um olhar e em seguida o mico.

A senhorita Smyth endereçou um brilhante sorriso a todos os

presentes.

— Quem gostaria de dar um belo passeio pelo terraço?

Ian bufou.

— Aposto que Motton gostaria de enviar sua tia de volta para

Londres em uma corrida – moveu pesaroso a cabeça, — Verei se

posso ajudar a capturar essa pequena besta.

Talvez como agradecimento encontre um dormitório vazio.

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Capítulo 4

— Acha que vai chegar logo? — perguntou Annie, dando uma

olhada na porta enquanto ajudava Nell com o vestido.

— Quem se supõe que vai chegar? — Assim que as palavras

deixaram sua boca, Nell soube que deviam soar terrivelmente

estúpidas. Havia apenas um homem que era esperado naquele

quarto.

Annie revirou os olhos.

— Sua senhoria, lógico, — aclarou e sua boca formou um

amplo sorriso, — O vi esta noite. É um velho pedacinho de...

— Velho? Está cega, Annie? Ele acaba de fazer trinta anos.

— Sim, mas nem se nota.

Nell apertou os lábios. Talvez aos dezoito anos alguém de

trinta já era um velho... Claro, que sim. Agora, para ela, alguém de

dezoito parecia muito jovem.

Nell tinha dezessete anos quando se casou com Ian. Estava

tão cheia de amor. Naquela época a vida era sinônimo de felicidade.

Fulminou a si mesma com o olhar através do espelho.

Que boba! Bem, não cabia dúvida de que agora era mais

velha... e mais sábia.

— O vi no corredor. — Annie soltou uma risadinha, — E tenho

que admitir que esperava que passasse por aqui, – recolheu a roupa

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de Nell, — É muito atraente. Pode ter certeza de que eu não o teria

expulsado da minha cama se fosse meu marido.

— Annie! — Não lhe agradou nada ter uma criada que

desejava seu marido, estando estremecida com ele ou não.

— Já sei, já sei, não deveria dizer essas coisas. O aspecto

físico pode enganar. Batia na senhora?

— Não! Claro que não batia!

Annie deu um olhar de lado.

— Já sei que deveria ficar no meu lugar e não perguntar, mas

nós os criados sempre nos perguntamos por que a senhora estava

em Pennington. Até minha mãe não sabia o motivo.

— É… — Não devia nenhuma explicação a Annie, mas tinha

que dizer alguma coisa. Ian era o laird, afinal de contas, e o

problema recaía tanto nele como nela. Mas o que podia dizer? — A

coisa não funcionou, Annie. Às vezes as coisas da vida são assim.

Annie bufou.

— ―As coisas‖ não se resolvem sozinhas, milady. Temos que

sacudi-las. Mamãe sempre disse que era uma vergonha que vocês

vivessem sozinhos, cada um por seu lado. E milorde necessita um

herdeiro. Esta pode ser uma ocasião de ouro – Annie sorriu

alegremente, — Sei que pensaria assim se tivesse um marido tão

esplêndido como o seu.

Nell não podia ficar mais vermelha, disto estava segura.

— Sim, bem, humm, — Olhou a sua volta. Onde Annie ia

dormir?

— Não vejo nenhum catre para você.

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— Bem, vocês não poderiam aproveitar a oportunidade,

comigo aqui no meio, verdade? — e a muito descarada piscou um

olho!

— Não se preocupe. A senhora Gilbert me deu um quartinho

mais do que cômodo com a criada de Lady Oxbury.

— Mas...

Annie já tinha fechado com firmeza a porta atrás dela.

Nell suspirou e percorreu a cama com o olhar, uma cama que

parecia muito estreita. Não acreditava que aquela noite conseguiria

dormir um instante.

A imagem de Ian, a imagem muito detalhada dele se despindo

para entrar na banheira, apareceu de repente na sua cabeça.

O calor a inundou. Isto só queria dizer que estaria muito

nervosa, muito consciente dele, como para dormir.

Abraçou a cintura e mordeu os lábios. Não tinha pensado nisto

em anos. Estava muito imersa na dor do aborto, da comoção e

medo que sentiu primeiro ao ver o sangue escorrendo pelas pernas,

a angústia e o desespero que tomaram conta dela, por fim teve que

admitir que tinha perdido o bebê. Em seguida chorou até ficar sem

lágrimas, até seu coração ficar esgotado e já não pode sentir mais

nada.

E assim foi como decidiu, como quis seguir vivendo, em paz,

com sossego. Nada de paixão, nada de amor, nada de dor.

Tranquila.

Pentforth Hall foi seu refúgio. Os vizinhos há muito tinham

aprendido a deixá-la em paz. Os criados eram cordiais, mas

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mantinham a distância apropriada. Tudo era tranquilo. Até agora.

Agora Pennington lhe obrigou a deixar Pentforth. Annie tinha

começado a lhe dar conselhos. E Ian... .

Deus querido, o que faria com Ian?

Ele nunca chorou, nunca derramou uma lágrima pelo seu

bebê. Não, o que queria era voltar para sua cama o antes possível e

tentar de novo. Tinha dito algo estúpido sobre voltar a montar a

cavalo imediatamente depois de levar um tombo.

A senhora MacNeill contou que Ian tinha ido atrás dela, mas

não quis vê-lo. Rasgou todas as suas cartas até que deixou de

enviar. Contou suas amantes durante todos aqueles anos, cada uma

delas era uma evidência de que ele não tinha coração, que nunca

lhe amou, nem ela nem o bebê.

Mas agora que o viu...

Sentou na poltrona ao lado do fogo com os pés embaixo do

corpo. As chamas tremeluziam e dançavam. Um tronco se partiu,

aspirou o aroma de madeira e cinzas.

O fato de vê-lo, fez com que voltasse a sentir. Não queria

voltar a sentir... certo?

Sua vida era tranquila… e vazia.

Olhou a cama. Ian estava aqui, estaria no quarto daqui a

pouco. E Lady Remington não estava.

No que estava pensando? Ficou completamente louca? É

lógico que ela não ia fazer... ou sim, faria?

O desejava. Pronto, já tinha admitido. Era algo tão ruim? Se

os homens desejavam as mulheres, não podiam as mulheres...

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desejar à eles?

A verdade é que a luxúria não era realmente sentir. Era uma

resposta a um instinto animal... e pelo jeito Ian conseguia aflorar os

instintos animais que haviam nela. E se Lady Wordham tinha

razão... bem, talvez ela pudesse solucionar um dos problemas mais

urgentes. Podia dar um herdeiro para ele.

Não precisavam voltar ao que tinham antes. Era impossível.

Inclusive não precisavam viver na mesma casa. Muito casais da

sociedade não viviam. Mas podiam compartilhar esta cama e ver se

saia algo disto.

E se saia algo? Se Ian lhe desse um filho e ela não perdesse

outra vez... não, não ia pensar nisto. Esta noite levaria os assuntos

de cama como fazia Ian. Como faziam os homens.

E Ian ao que parece, estava muito disposto. Muito, mas muito

disposto. Mordeu o lábio ao recordar exatamente o muito disposto

que parecia. Muito comprido, grosso e ansioso.

Juntou as pernas apertando e estremeceu. Estava úmida e

dolorida, e isso já era um pequeno milagre. Nell apoiou a bochecha

na mão. Tinha a pele muito quente... seguro que era pelo fogo.

Ian esteve tão gracioso perseguindo o miquinho pelo salão de

Lorde Motton. Ele era grande, e aquele mico bobinho tão pequeno,

barulhento e, sim, tão arrogante. Esteve guinchando e se

balançando na barra da cortina enquanto Ian e Lorde Motton

tiravam os casacos e discutiam um plano de captura. Sorriu ao

lembrar. Fazia anos que não ria tanto.

Ele ficava muito bonito só com a camisa. Melhor ainda sem a

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camisa. Ou sem as calças. Despido, tal como tinha estado...

Abanou o rosto com a mão. O fogo estava muito forte esta

noite.

Devia se deitar. Era tarde e estava muito cansada.

Cansada, mas nervosa. Olhou a cama. Seu estômago deu um

nó. Era muito pequena, muito estreita, muito... muito parecida com

uma cama.

Onde estava Ian? Acaso Lorde Motton tinha encontrado outro

aposento?

A alma lhe caiu aos pés.

E isto apenas demonstrava que estava louca... não deveria

estar decepcionada, deveria estar aliviada. Estava aliviada. Se

salvou de uma vergonha incomensurável. Sem dúvida Ian teria rido

dela se tivesse mencionado o assunto dos bebês.

Afastou os lençóis e se meteu na cama. Começou a tremer. Os

lençóis estavam frios. Ian sempre esquentava a cama.

Idiota! Ian não esteve na sua cama desde muito anos. Estava

acostumada a dormir só.

Era...

O que foi isto? Parecia como se… Oh, meu Deus, não, não

podia ser.

Era. Observou com uma expressão horrorizada como a porta

que dava ao corredor começava a abrir.

— Brandy? — o visconde Motton se deteve com a garrafa na

mão.

— Não terá por aqui algo de uísque, verdade? — Ian se

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recostou na enorme poltrona de couro e esticou as pernas até o

fogo do estúdio. Todos os demais já tinham se retirado para deitar,

Nell incluída. Malditos infernos. Seria melhor que tomasse uma boa

bebedeira se queria sobreviver aquela noite.

— Está com sorte, — respondeu Motton com um grande

sorriso e moveu algumas garrafas, tirando uma cuja etiqueta se lia:

Tônico Especial do Dr. Maclean, — Sobra justo um pouco.

— Não creio que justo um pouco seja suficiente, a menos que

me encontre outro quarto para passar a noite.

Graças a Deus, Motton conseguiu tirar uma boa dose. Ian

aceitou o copo que lhe oferecia.

— Peço desculpas pela confusão. Aqui está —Motton colocou

a garrafa na mesa ao lado do cotovelo de Ian, — Para você. Tenho

mais uma ou duas no lugar de onde tirei esta, e pode que um tonel

guardado no sótão, – puxou outra garrafa enquanto falava e se

serviu uma dose generosa.

Ian deu voltas no seu copo e observou o brilho dourado do

uísque sob a luz das velas. O uísque cheirava a ar e a turfa da

Escócia, de casa. O primeiro gole deslizou pela língua suave e

ardente lhe inundando de calor a extensão do peito.

— Nossa homem! Tem um uísque muito bom. Onde o

conseguiu?

Motton deu de ombros e meio que se atirou na poltrona em

frente dele.

— Tenho alguns amigos na Escócia.

Ian bebeu outro trago e fechou os olhos. Delicioso.

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— Bons amigos. Também tem amigos entre os recolhedores

de impostos? — Abriu os olhos para examinar o visconde, — Ou não

deveria perguntar?

— Seguro que não deveria. Deve saber que apoio

incondicionalmente os esforços dos nossos recolhedores de

impostos, — Motton deu uma olhada sorridente, — A menos quando

não faço.

— Humm. É um fato conhecido que eu não sou um amante

dos recolhedores. Só diga a seus amigos escoceses que o conde de

Kilgorn lhes envia afetuosos cumprimentos e que acha que poderia

ter uma clara necessidade de seu tônico no futuro.

Motton assentiu.

— Creio que ficarão encantados de ouvir isto. Tenho certeza

que desejam que continue são e vigoroso.

— Sim, — vigoroso. Maldição, por que isto o fazia pensar em

Nell e na maldita cama lá em cima? Tomou outro gole, — Parece

raro que um visconde inglês conheça a um destilador de uísque

escocês. Não é que me queixe, já sabe, — saboreou um pouco o

uísque com a língua. — Mmm, de fato, esqueça inclusive que o

mencionei.

Motton esboçou um leve sorriso.

— Só lhe direi para passar algum tempo na Escócia se

misturando com o entorno.

Ian se endireitou.

— Espionagem para a Coroa? — Ele vivia entre os sassenach,

inclusive tinha amigos entre eles, mas antes de tudo era um Laird

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escocês. Se Motton havia traído...

— Não, não. Nada tão elaborado, asseguro. E meu interesse

eram os ingleses, não os escoceses.

Ian grunhiu e estudou Motton, em seguida assentiu. Suas

entranhas lhe diziam que o homem não mentia, e ele confiava nas

suas entranhas. Nunca antes tinha se equivocado... exceto com

Nell. Deus, Nell! O que ia fazer com Nell?

Voltou a encher o copo.

— Tome cuidado, — disse Motton, — O uísque é forte.

— Sim, e necessito que o uísque seja forte para poder

suportar esta noite.

Motton deu um meio sorriso.

— Deixei a organização a cargo da tia Winifred. Talvez ela

encontre algo amanhã de manhã.

— Talvez encontre um método novo para me torturar. Não

quero ser desrespeitoso, Motton, mas sua tia é um pouco curta das

ideias, não acha?

— Em absoluto. Creio que acabará compreendendo que é

incrivelmente sagaz.

— Sagaz? Como pode dizer isto? Todo mundo sabe que Nell e

eu vivemos separados nos últimos dez anos. Não posso entender

como é que sua tia não sabe.

Motton deu de ombros com um maldito brilho no olhar e os

lábios curvados num sorriso satisfeito.

— Talvez devesse aproveitar a oportunidade que lhe deu

minha tia Winifred. Não fiquei com a impressão que odeie Lady

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Kilgorn.

— Odiar Nell? Não, evidente que não odeio Nell, — Ian bebeu

o uísque que restava no copo e agarrou a garrafa para se servir o

pouco que ainda ficava. Não saiu nada. Emborcou a garrafa. Nada.

—Toma, — Motton empurrou sua garrafa para ele.

— Não homem, não quero beber seu uísque.

— Por favor. Tenho bastante, — assinalou seu copo como

prova. Todavia estava pela

Metade, — Eu, como disse antes, tenho mais se a sede é

demasiada.

—Ah, bom, se é assim, obrigado, — Ian não necessitava que

ele repetisse, — De verdade que é um uísque magnífico.

— Me alegro que você goste, — Motton sorriu, logo abaixou

os olhos observando como rodava o uísque no copo, — Assim que

não odeia Nell?

— Och, não. A amo. Sempre a amei. Nunca deixei de amá-la,

– Ian inspirou pelo nariz e engoliu o uísque. Normalmente o álcool

não lhe transformava em um sentimental. Talvez fosse a idade. Já

tinha trinta anos, se via obrigado a enfrentar o fato de que não

viveria para sempre.

— E me deu uma impressão muito clara de que ela sente

carinho por você.

— Não, nesse caso está equivocado. Ela me odeia. Me deixou

faz exatamente dez anos – Ian fechou os olhos. Deus, não queria

reviver aquele dia. De manhã tinha descido a escada e a encontrou

no hall de entrada rodeada de baús de viagem e chapeleiros,

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esperando a carruagem que a tiraria de sua vida.

Tinham discutido na noite anterior. Ele tinha dito tantas coisas

que não queria dizer.

Estava sexualmente muito frustrado sim, mas era mais do que

isto. Não tinha tido nem ideia de como estender uma ponte para

cruzar o abismo que se abria entre eles. Não podia trazer o bebê de

volta... e a verdade era que não tinha chegado a ser um bebê. Seu

ventre nem mesmo tinha começado a inchar.

Essas coisas aconteciam. Ela não era a única mulher que tinha

perdido uma criança no começo da gravidez. O único que se podia

fazer era tentar de novo, mas ela não deixava que lhe tocasse.

Havia terminado a discussão lhe dizendo que se não ia ser

uma esposa para ele, deveria ir embora. Tinha lamentado essas

palavras em seguida depois que saíram de sua boca, mas já não

podia apagá-las. Viu como os olhos de Nell endureceram, como

tinha se retraído ainda mais dentro de si mesma.

Acreditou que na manhã seguinte ela estaria melhor. Não de

todo bem, começava a desconfiar que ela nunca voltaria a ficar

bem, mas melhor. Nunca imaginou que partiria de verdade.

Ela ia sem destino fixo. O coração ainda se retorcia quando

pensava no que poderia ter acontecido se não tivesse baixado.

Ainda que estivesse seguro que o cocheiro nunca a teria deixado em

uma pousada, não se quisesse conservar o emprego. Ian tentou

persuadi-la para ficar, mas ao não conseguiu, disse a Seamus que a

levasse a Pentforth.

Achou que ela regressaria ao cabo de poucos dias, uma

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semana quando muito.

— Não acredito que lhe odeie, — disse Motton.

— Och, homem, já eu, acredito que sim. Se tivesse visto a

expressão de seus olhos o dia que se foi... — havia sido tão fria

como o lago no mais severo inverno. Tinha enxergado através dele,

como se Ian não estivesse ali, ou como se fosse o mais desprezível

dos insetos.

— Vi a expressão de seus olhos esta noite no jantar. Ali não

havia ódio. Havia desejo.

— Não. Não, está equivocado, — Ian ficou olhando para o

uísque. Podia ser que Motton tivesse razão? Seria possível que

tivesse abrandado em relação a ele? Que lhe tivesse perdoado?

Perdoado ele do quê? Ele não tinha feito nada errado. Não

tinha feito que perdesse o bebê. Sim, depois ele não tinha mantido

seus votos matrimoniais, mas ela tampouco. Nell tinha lhe

abandonado, e se envolvido com Pennington e os demais.

Não, ele tinha sido fiel até que lhe abandonou, mas depois,

bem, o que ela imaginava?

Que viveria como um monge quando o tinha excluído de sua

cama? E uma merda.

— Você gostaria de se reconciliar com Lady Kilgorn?

— O que? — Maldição, tinha esquecido até que Motton estava

na sala.

— Lady Kilgorn, gostaria de se reconciliar com ela? — Motton

olhou-o nos olhos, depois examinou seu próprio uísque, — Lady

Remington esteve dizendo que você vai se divorciar

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e se casar com ela.

— Lady Remington não figura entre as minhas pessoas de

confiança, – e era condenamente certo que não ia estar em sua

cama outra vez, — Não tenho nem ideia de onde ela tirou uma ideia

tão ridícula.

— Nem ideia?

Ian notou como se ruborizava. Sim, tinha ido a vários eventos

sociais com Caro. Estava aborrecido e havia sido mais fácil permitir

que se aferrasse a ele que cortar a relação.

Nunca mais. Se a maldita harpia tinha a desfaçatez de se

aproximar de novo dele, ia deixar bem claro que opinião merecia.

— Não tenho nenhum interesse em Lady Remington. Nenhum,

em absoluto.

Motton assentiu.

— Talvez devesse dizer isto a Lady Kilgorn, — o olhar de

Motton era firme, — Talvez pudesse levar a cabo uma reconciliação.

— Nã-não — Podia fazer as pazes com Nell? Não se tivesse

sugerido antes desta maldita festa, mas agora... Motton teria razão?

Nell sentia carinho por ele? Lhe desejava?

É verdade que tinha ficado lhe encarando no quarto quando

ele estava nu. Não tinha podido afastar os olhos. E tinha ficado com

ciúmes de Cara...

Deveria tentar. O faria.

Terminou as últimas gotas de uísque e se pôs de pé

cambaleando.

— Boa noite, Motton.

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Motton o encarou com o cenho franzido.

— Está seguro que não bebeu muito uísque? Talvez um pouco

de café... .

— Sou capaz de aguentar perfeitamente o álcool que bebi.

— Sim, mas nesse momento bebeu uma grande quantidade.

Não tenho certeza... .

— Eu sim, tenho certeza, e além disto estou impaciente para ir

para cama — balançou as sobrancelhas, — Se é que entende o que

quero dizer.

— Receio que sim. Escuta, Kilgorn, pode ser que queira estar

menos, humm, alegre antes de se aproximar de Lady Kilgorn.

Ian ergueu uma mão para deter Motton, e logo a usou para se

equilibrar se apoiando na estante. Falou com cuidado.

— Gostei do que me aconselhou antes, e acho que vou

colocar imediatamente em prática.

— Oh, meu Deus.

Ian lhe endereçou um amplo sorriso. A melancolia tinha

desaparecido.

— Rezar é muito bom, Motton. Vou sair para que continue

com suas orações – deu a volta cuidadosamente e se dirigiu até a

porta, aproveitando as poltronas, a escrivaninha e as estantes para

ficar nos trilhos e se manter reto todo o caminho.

Nell já estaria na cama? Mmm, sim, o mais provável. Na cama.

Deitada debaixo das cobertas, com o cabelo solto. Não o teria

trançado, certo? Bom, se o tinha, ele o soltaria e estenderia sobre o

travesseiro.

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Calculou mal a altura de um degrau e teve que se agarrar no

corrimão para não cair da escada. Antes que dissessem qualquer

coisa, seus reflexos eram excelentes. Sempre foi capaz de aguentar

tudo o que bebia. Podia beber mais que muitos homens. Evidente

que não estava bêbado. Talvez um pouco alegre, bem, isto atribuiria

a Motton, mas só um pouco. O suficiente para suavizar as coisas.

Chegou ao final das escadas e virou para o corredor. Maldição!

Alguém tinha colocado de forma descuidada uma mesinha

encostada na parede. Não sabiam que as pessoas tinham de passar

por aqui? Agarrou o vaso de flores antes que caísse, mas as flores

ficaram esparramadas no chão. Bem, era fácil consertar. A água não

tinha derramado completamente. Apenas tinha que recolher as

flores e metê-las onde estavam antes.

Ah, aqui estava nos aposentos, o quarto de ambos. Buscou

tateando o trinco da porta, abriu... Magnífico! Nell já estava na

cama... sorriu amplamente.

— Estou aqui, garota. E venho completamente preparado.

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Capítulo 5

— Ian.

O coração de Nell subiu para a garganta. Tentou engolir para

que baixasse ao lugar onde deveria estar. Não se moveu. Teve que

sussurrar as palavras através do nó formado — Preparado?

Preparado para o quê?

Ele parecia tão... grande. Preenchia toda a entrada. Ergueu a

colcha como um escudo.

Seus olhos tinham uma expressão um tanto aturdida? Andou

bebendo?

— Preparado para a cama, — se infiltrou nos aposentos e

fechou a porta,

— E para dormir — sinalizou olhando com um comprido

sorriso por fim.

Nell sentiu tremores no lugar mais embaraçoso e ergueu ainda

mais a colcha.

— O que exatamente você quer dizer?

— Exatamente? — repetiu enquanto desabotoava o colete.

— Humm, o que quero dizer exatamente? — o colete caiu no

chão.

— Deixe-me pensar — puxou a camisa do cós da calça e tirou

pela cabeça.

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Oh, Deus santo. Nell não podia deixar de admirar. Estava com

a boca seca... mas outra parte de sua anatomia estava bem úmida.

Essa parte estremeceu outra vez, desejosa, impaciente.

O estômago contorceu de... medo?

Devia fazer isto? Podia sentir apenas sensações físicas ou

sentiria algo mais? Queria sentir mais? E se ela... se sua semente...

se ficasse grávida…

Não podia pensar.

O fogo brincou com a pele de Ian, revelando e logo

escondendo. Indiscutivelmente, era maior do que recordava. Bem,

era apenas um rapazola quando se casaram. Agora cada centímetro

dele era o de um homem. Os músculos esculpidos incharam na

parte superior dos braços e do tórax baixando até o estômago plano

e...

Oh, Deus. Os músculos não eram a única parte inchada. Tinha

sido sempre tão grande ali, ou seu... seu... seu isso também era

maior?

— Quer olhar mais de perto, garota?

— O quê? — Nell afastou os olhos de seu..., humm, bom…

afastou os olhos para olhá-lo na cara. O maldito homem sorria com

satisfação. E estava se aproximando dela.

Se virou para lhe observar enquanto se aproximava dela,

deixando os pés pendurados ao lado da cama e segurando ainda a

colcha na frente do corpo.

Ian riu e de um tirão puxou o tecido dos seus dedos.

Rescendia a uísque.

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— Está bêbado.

— Não — ele sorriu, a maldita covinha que não tinha visto

desde uma eternidade apareceu na sua bochecha esquerda.

— Bem, talvez um pouquinho aturdido.

Mais que um pouquinho. Ela terminaria bem aturdida só

inalando aqueles vapores. Tudo isto era uma má ideia.

Ele agarrou suas mãos e colocou sobre o peito nu. Estava com

a pele quente, o pelo sob seus dedos era suave e sedoso e pode

sentir como palpitava o coração dele.

— Seu cabelo é como a noite, sua pele como um creme, tão

suave e macia, – afastou seu cabelo do rosto, enrolando os dedos

em todo seu comprimento.

Nell fechou os olhos para se concentrar nas carícias.

Os dedos de Ian roçaram sua face, as bochechas e desceram

até o queixo. Ele inclinou a cabeça, querida Mãe de Deus, ia beijá-

la!?! Sentiu como os lábios inchavam e os abriu em expectativa.

A boca dele tomou a dela, sua língua deslizou para dentro.

Mmm. A encheu de fogo e uísque e um sabor que era só dele.

O desejo se concentrou em um ponto entre as suas pernas, ardente

e úmido. Os lábios, ali, também incharam.

Separou os joelhos e a perna de Ian se introduziu entre eles.

Com os dedos puxou a bainha da camisola levantando até as coxas

para poder separar mais os joelhos. Se aproximou ainda mais dela.

Era tão prazeroso. Era delicioso sentir como o ar da noite

esfriava o ardor que sentia.

Agora os dedos lhe acariciavam na frente, desabotoando a

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camisola. Isto também era prazeroso. Tinha muito, muitíssimo calor.

Mal podia esperar para sentir o ar frio também ali.

Ela deslizou as mãos pelo contorno suave do musculoso peito

masculino, por aqueles ombros largos, pelo pescoço. Enterrou os

dedos no seu cabelo e segurou sua cabeça.

Oh. Agora ele separava os dois lados da camisola, expondo-

a...

— Mmm. — As palmas de Ian deslizaram por seus seios,

rodeando com as mãos, levantando enquanto seus polegares...

— Ahh — Ela se libertou da sua boca, — Oh.

— Gosta disto, não é mesmo, Nell? Seus seios estavam

sempre tão sensíveis. Me encantava tocá-los, me encantava lhe

escutar gritar. – Ian lhe acariciou o pescoço com o nariz no ponto

logo abaixo da orelha.

— Você ainda grita?

— Ah, não, ah, ahhhh!! — Ian deu uma tapinha no mamilo

com o polegar o transformando em um broto duro e ansioso, depois

riu e lhe beijou no queixo.

— Sim, ainda grita. — sussurrou acariciando os mamilos.

— Ohhh.

— E também gemi – segurou seu rosto com as mãos para

poder olhar seus olhos.

— Deus, Nell como senti saudades!

Os olhos de Ian eram tão... ardentes.

Não tinham mudado. Oh, sem dúvida tinham umas rugas nos

cantos, mas seu olhar era tão irresistível como sempre. Tinha lhe

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olhado assim antes, quando eram jovens e estavam apaixonados.

Ela afastou os dedos do pelo de Ian e os levou ao cinto.

— Ah, assim mesmo, garota, — Ian apoiou a testa sobre a de

Nell. Não devia ter bebido tanto uísque. Tinha uma ideia vaga.

Agora via tudo como numa neblina. Queria recordar cada momento.

Aquela preciosa mulher estava desabotoando suas calças. Os

dedos eram tão brancos sobre o tecido negro. Tão esbeltos.

Roçaram seu ventre. Ah, tão suaves. Encolheu o estômago para lhe

dar mais espaço com os botões. Graças a Deus que descartava as

cuecas quando viajava. Uma vez que terminasse de desabotoar...

Tinha desabotoado as calças de Pennington?

Não, não ia pensar naquele bastardo.

Talvez fosse sorte que estivesse bêbado. A neblina do uísque

fazia a espera menos... agonizante. Podia arrancar ele mesmo a

roupa, não é? Mas não seria muito cavalheiresco de sua parte.

Não, era uma sorte que estivesse um pouco aturdido pela

bebida. Não queria saltar sobre Nell como um tarado, correto?

Não. Não, não faria. Nada de tarados. Só sex... sexo com...

compartilhado.

Tinham feito bem tantos anos atrás, não? Recordava o quanto

gozavam, mas como podia estar seguro? Os dois eram tão jovens. E

ele era virgem.

Ela tinha encontrado mais satisfação com Pennington?

Malditos infernos. Ah, mas ele tinha aprendido alguns truques

naqueles anos. Faria com que se esquecesse de

Pennington.

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Se não estivesse tão bêbado... mas se asseguraria de fazer

bem feito para ela.

Umedeceu os lábios. Paciência. Tinha toda noite pela frente.

Não tinha nenhuma pressa.

A espera era parte do prazer...

Ah… que delícia. Um sonho feito realidade.

O maldito uísque fazia com que tudo parecesse demais com

um sonho.

Nell deixou de lutar por um momento com o botão para cobrir

com a mão seu pobre membro confinado. A carícia foi amortecida

pelo maldito tecido das malditas calças, mas de todas as formas se

sentiu agradecido. Uma vez que estivesse nu, uma vez que esta

maldita névoa saísse de sua cabeça e o maldito tecido do seu

membro ah, seria uma delícia.

Garota inteligente, conseguiu desabotoar o último botão.

Deus, como tinha sentido falta dela. Fez isto incontáveis

vezes, bem, talvez não incontáveis, mas muitas vezes. Esteve em

muitos quartos diferentes durante aqueles longos e solitários anos,

Londres estava cheia de mulheres dispostas a entreter um

cavalheiro que estava sozinho, mas nunca foi como isto. Nunca teve

aquele deleite. Liberação, sim, mas nenhum prazer e nenhuma

satisfação verdadeira. Somente corpos.

Bom, era justamente o que tinha buscado. Somente liberação

física, nada de amor, nada de qualquer outra coisa. Mas com Nell...

com Nell nunca se tratou apenas de corpos.

Tinha sido corações e almas. Mesmo que naquela época não

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houvesse entendido.

Ah! a preciosa Nell por fim desabotoou tudo. Abaixou suas

calças até as coxas. O ar frio e aquelas mãos preciosas e suaves lhe

acariciaram.

Ele estremeceu de desejo e prazer. Era maravilhoso. Mais que

maravilhoso. Ela cobriu sua ereção e acariciou com suavidade como

se fosse um... bibelô.

Nesse momento ele queria colocá-la em um santuário.

Tinham casado tão jovens, estiveram casados tão pouco

tempo. Nem sequer um ano antes de que ela engravidasse. Se

amaram com tal intensidade que habilidade e sutileza foram

desnecessárias.

Ah, esta noite tampouco eram necessárias, ao menos para ele.

Os dedos dela percorreram a ereção e ele juraria que cresceu outro

centímetro. Esperava que Nell sentisse a excitação com toda força

como ele, porque neste momento a habilidade e a sutileza estavam

fora de seu alcance.

Oh, os inteligentes dedos de Nell se moveram para explorar os

testículos. Teve que morder o lábio. Deus, nunca tinha sentido nada

tão maravilhoso!

Se esticou e agarrou a cabeceira da cama. Ela agora esfregava

a bochecha contra ele.

Que prazer! Que imenso prazer!

Usaria depois os lábios? Não tinham posto em prática esse

jogo quando estavam casados, ele aprendeu com sua primeira

amante, a condessa de Wexmore. A condessa tinha sido

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exuberante, fascinante, pecaminosa e com muito mais experiência

Bem, era dez anos mais velha que ele e se casou com um homem

muito rico e muito velho. Provou a maior parte dos membros

masculinos da sociedade, um jogo de palavras proposital. Aprendeu

muitos jogos de cama interessantes na sua penteadeira.

Franziu o cenho. Acaso Nell aprendeu esse jogo de Pennington

ou de algum dos outros homens com quem havia se envolvido?

Ah. Fechou os olhos, mordendo os lábios outra vez. Agora lhe

estava beijando. E agora... sim... o movimento exploratório e úmido

da sua língua.

— Gosta disto?

Se gostava!?! Mas será possível que não notava que estava a

ponto de explodir de entusiasmo!?!

— Sim. É maravilhoso, — acariciou seu cabelo, — Pennington

te ensinou?

— Como?

Era obvio que perguntar isto tinha sido algo muito estúpido.

Muito estúpido. Não necessita ouvir a fúria na voz de Nell, notava

no modo como o agarrava. A garota apertou os dedos ao redor do

sensível pedaço de carne que segurava. Por sorte, não tinha o

apertão mais forte do mundo, mas sim forte o bastante. Ian

suspirou, a dor subiu pelo corpo até se meter no seu cérebro

embotado.

Ao menos ela não o tinha colocado na boca. Se houvesse

mordido... Talvez ainda mordesse. Parecia bastante enraivecida. Ele

se atirou para trás fora do seu alcance. Por desgraça as calças

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estavam meio postas. Por sorte não golpeou nada com muita força

ao cair no chão.

Por desgraça, a mudança de atitude não chegou a desanuviar

o embotamento de seu cérebro alcoolizado.

— Assim que, não fez com Pennington?

Um travesseiro bateu diretamente na sua cara.

Como era possível que Ian tivesse dito aquilo? Como podia

pensar tal coisa? Pode que ele tivesse tido enxurradas de amantes,

mas ela manteve seus votos matrimoniais.

Nell fulminou com o olhar ao homem esparramado no chão do

quarto. Estava roncando o grande fanfarrão, tinha roncado a noite

toda. Ela mal tinha conseguido dormir.

Se compadeceu dele em dos muitos períodos de vigília, o por

quê, não sabia, e lhe atirou com um pontapé uma de suas mantas.

Talvez esperasse que ele dormisse mais profundamente e acabasse

com aquele alvoroço. Não roncava assim quando era mais jovem. E

só dormia de bruços. O chão não era uma cama muito suave, talvez

por isto estava estatelado de costas.

A manta tinha resvalado até sua cintura, mostrando os braços

musculosos e o amplo peito nu. Não era de admirar que as

mulheres fizessem fila para entrar na sua cama. O homem era uma

estátua clássica, um deus materializado. Cada centímetro dele,

todos e cada um dos centímetros era impressionante.

E ela não deveria ter acariciado aqueles centímetros a noite. O

que passou com ela?

Nunca antes tinha sido tão atrevida.

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— Bruñgf.

Santo céu, não ia despertar agora, verdade? Não devia

encontrá-la observando. Não, só se dava a volta sobre...

Oh, Deus!

A manta se deslizou. Em algum momento durante a noite, Ian

tinha se desfeito das calças. Aquela bunda preciosa e musculosa

ficou a vista para sua inspeção, e se jogasse uma olhada por cima

do quadril, quase veria...

Não estava dando uma espiada. Claro que não.

Levantou com rapidez da cama, pelo lado contrário do que se

encontrava o diabo adormecido e lavou a cara com água. O líquido

frio caiu muito bem na sua pele acalorada.

Se ocupou de algumas tarefas íntimas e em seguida pôs um

vestido bastante usado e uma capa, e se dirigiu a porta para ir dar

um passeio. Em Pentforth se acostumou com o exercício e estava

bem claro que tinha que colocar alguma distância entre ela e Laird

Kilgorn.

Percorreu com o olhar sua figura, conservando

cuidadosamente os olhos cravados na sua cara... bem, depois de

dar uma espiadinha a... humm. Olhou sua cara com a mão

descansando no pomo. Ian parecia tão jovem, tão inocente. Bãh!

Teria que levar pendurado uma placa que proclamasse

―mulherengo‖. Bem, e bêbado. E sedutor.

Isto era redundante. Ele tinha passado muito tempo em

Londres, não é certo? E ali tinha sido corrompido. Todos na

sociedade londrina eram uns cafajestes e um violadores, e umas

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rameiras e umas putas. Lobos vestidos de cordeiro. Todos e cada

um deles.

Escapuliu pela porta... e quase se chocou com a senhorita

Smyth.

— Bom dia Lady Kilgorn. — A senhorita Smyth lhe dedicou

uma olhada astuta.

— Espero que tenha dormido bem.

Dormido bem? Por que sentiu de repente a face acalorada?

Devia parecer tão culpada, mas era inocente, completamente

inocente.

Bom, talvez não completamente inocente.

Existiam aqueles breves momentos de atrevimento nos quais

tinha tocado Ian...

A senhorita Smyth lhe estava encarando com satisfação!

Pois não tinha porque, fechou a porta com firmeza e

endireitou a coluna.

— A verdade, senhorita Smyth, é que não dormi nada bem. É

muito embaraçoso compartilhar um espaço tão pequeno com Laird

Kilgorn. A senhora conseguiu encontrar um aposento vazio para um

de nós dois?

A senhorita Smyth observou a porta fechada.

— Sinto muito. — encolheu os ombros, — É complicado, a

senhora já sabe.

— Não, não sei.

A senhorita Smyth franziu o cenho.

— Está segura de que não teve uma noite, ãh... noite

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agradável? — a mulher estava movendo as sobrancelhas de forma

sugestiva? O que estava insinuando?

Nada, com certeza.

— Estou completamente segura. De fato, apenas consegui

pregar o olho, — a expressão da senhorita Smyth tinha se

iluminado?

— Me mexi e dei voltas a noite toda.

— Isto deve ter mantido Laird Kilgorn acordado.

Não havia nenhuma razão para ocultar os fatos. Quem sabe,

se a mulher fosse consciente da extensão do problema, se

mostrasse mais diligente em encontrar uma solução.

— Não saberia dizer. Laird Kilgorn foi um completo cavalheiro.

– talvez isto não fosse de todo verdade, — E dormiu no chão.

— No chão! — a senhorita Smyth parecia completamente

impressionada e bastante, bem, abatida. Ótimo. Quem sabe assim

se iluminasse.

— Isto não pode ser.

— Exato, como pode ver é muito importante que encontre um

quarto livre para um de nós. Talvez algum dos outros convidados

não se oponha a dividir o dormitório. O senhor Wilton, por exemplo.

Não poderia dividir os aposentos com seu sobrinho, o senhor

Dawson?

A senhorita Smyth negou com tanta energia que o severo

coque cinza corria o risco de perder os prendedores.

— Não, impossível. Receio que não funcionaria em absoluto.

Nell apertou os lábios. Uma pessoa mais fornida, agarraria a

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mulher pelos ombros e a sacudiria, mas ela não ia esquecer a boa

educação. Estava muito, mas muito tentada a começar a gritar, mas

também engoliu o impulso. Podia despertar Ian e não queria fazer

isto. E o que ia conseguir gritando? Apenas porque dois cavalheiros

com laços de sangue, não podiam dividir os mesmos aposentos...

Respirou fundo e forçou um sorriso.

— Estou segura que a senhora encontrará uma solução antes

desta noite. Agora, se me perdoa. Estava a ponto de sair para

passear.

— Lá fora tem umidade, já sabe. Está nublado. Inclusive

chuviscando.

— Esplêndido. Me recordará a minha casa. Se me desculpa. —

Passou pela frente da senhorita Smyth e prosseguiu corredor

abaixo. Não ia se apressar. Não fugia da tia de Motton ou, pior

ainda, de Ian. Somente queria fazer um pouco de exercício e

desanuviar a cabeça.

Deu uma olhada para trás quando virou para baixar a escada.

A senhorita Smyth ainda estava no mesmo lugar, contemplando a

porta do dormitório, afirmando com a cabeça e dando palmadas na

cara. Não iria entrar no quarto para averiguar onde exatamente

tinha dormido Ian, verdade?

Nell se deteve. Deveria dizer algo? Se a mulher se arriscasse a

entrar ia ficar bastante escandalizada. E Ian ficaria, se não

envergonhado, pelo menos sim alarmado. Não seria uma cena

agradável.

Independente de qual fosse a cena, não era problema seu. Se

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a senhorita Smyth entrava nas habitações sem ser convidada, teria

que estar preparada para enfrentar qualquer coisa que descobrisse

ali. E se Ian ia se comportar como um estúpido cabeça oca, um

estúpido cabeça oca bem nu, não sentiria nenhuma pena dele.

Agarrou com firmeza o corrimão e desceu as escadas.

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Capítulo 6

Era um idiota, um imbecil, um estúpido cabeça oca, um

lesado, um...

— Bom dia, Kilgorn. — Motton levantou o olhar do jornal e dos

restos do café-da-manhã.

Seus olhos se detiveram e em seguida percorreram de cima a

baixo a imagem bastante desalinhada de Ian.

— Demasiado uísque a noite?

Ian grunhiu e se virou para o aparador. Pegou um prato e se

serviu de rins. Sim, a noite tomou muito uísque o que o levou a agir

como um asno colossal. A verdade é que estava pensando com o

pênis e não com a cabeça.

— E como está Lady Kilgorn? Espero que melhor que você.

Ian rangeu os dentes e acrescentou uns arenques no prato.

Gostaria de atirar alguma coisa na cabeça de Motton, mas o homem

era seu anfitrião. De todos modos, o tipo era geralmente inteligente.

Deveria saber que essa gozação não era bem-vinda.

— Estamos um pouco mal-humorados esta manhã, não é

mesmo? — a sobrancelha direita de Motton arqueou.

Ian contou até dez. Não ia atirar seus arenques defumados e

seus rins sobre o visconde, não importava o quanto estava tentado.

— Tenho sono, — Diabos, estava ruborizando? — A divisão

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das habitações não é nada agradável, já sabe. A senhorita Smyth

fez algum progresso buscando um quarto só para mim?

— Depois do que falamos ontem à noite, fiquei com a

impressão de que já não era mais necessária uma mudança.

— Pois sim, é. Lady Kilgorn não acha nada cômoda a situação

atual – e sem dúvida, nem ele tampouco. Não apreciava dormir no

chão.

Motton voltou a focar sua atenção no jornal.

— Vou falar com tia Winifred assim que a vir. Não acredito

que já tenha levantado.

— Deve ter uma cama vazia em alguma parte desta mansão

enorme, — disse entredentes.

Gritar com o visconde não era uma boa ideia, mas seu humor

não estava em seu melhor momento.

Motton deu de ombros e ficou de pé.

— Seria lógico que fosse assim, mas tia Winifred foi bastante

categórica no assunto.

Ian manteve os dentes apertados com força.

— Se me desculpa, — estava dizendo Motton. — Tenho que

me ocupar de um assunto da propriedade, — lhe estendeu o jornal,

— Gostaria de ler The Post?

— Obrigada — o que gostaria era de enrolar o periódico e

bater com ele na cabeça de alguém. A senhorita Smyth veio

imediatamente na sua mente.

Se sentou em uma bendita solidão e contemplou o prato. O

estômago lhe advertiu que talvez uma torrada tivesse sido uma

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escolha melhor. Se serviu um pouco de café.

Chegou Dawson, mas teve o bom senso de permanecer mudo,

ao igual que Wilton, que apareceu não muito depois.

Mas então chegou a senhorita Smyth e a paz se acabou.

Estava tão malditamente alegre.

E falar com ela tentando conseguir uma resposta racional

sobre uma novo aposento, foi impossível. Foi como tentar dialogar

com seu papagaio louco ou seu tonto mico.

Ian debandou tão logo foi possível, e saiu para o ar fresco da

manhã. Era frio e úmido e o recordou sua casa.

Caminhou com passos rápidos e compridos pela grama.

Escutou que Motton tinha um lago em alguma parte da propriedade.

Um mergulho na água clara e fria cairia a perfeição para aclarar a

cabeça.

Nell caminhou e caminhou, mas não encontrou a paz.

Como Ian podia pensar que tinha feito... isto com o senhor

Pennington? Como podia pensar que tinha feito isto com alguém?

Não podia ser que acreditasse nas loucas histórias do senhor

MacNeill nas quais ela se envolvia com todos os homens dos

arredores de Pentforth Hall, não é certo?

Não, Ian acreditava que ela tinha sido infiel, porque ele foi

infiel. Muitas, muitas vezes, começando pela condessa de Wexmore.

E ainda que sua amante atual fosse viúva, muitas das mulheres com

as quais tinha se deitado, eram casadas quando ele se meteu

debaixo dos seus lençóis. Pensava que Nell era como elas? Que sua

esposa era tão… pérfida como essas putas sassenach? Tão pouco

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lhe conhecia?

Ian podia ficar com as mulheres de Londres. Ela tinha sido

mais do que estúpida por considerar permitir que lhe deixasse

grávida. O divórcio era uma solução estupenda para o problema que

tinham. Mal podia esperar para se ver livre dele.

Seguiu o caminho através de umas árvores e apareceu um

lago precioso. Um cisne se deslizava pela superfície da água. Era

muito bonito... mas os cisnes podiam ser bastante desagradáveis.

Igual que muitas damas de Londres. Melhor se manter afastada

dessas criaturas.

Ela também tinha sido um pouco desagradável?

Não, evidente que não. Teve uma boa razão para abandonar

Ian. Ela...

Ela se negou a vê-lo quando foi a Pentforth Hall, mas é que a

ferida era muito recente.

E ele não havia voltado outra vez. Mas deu a ele alguma

esperança para que voltasse? Queimou todas suas cartas sem ler.

Nunca escreveu para ele. O correio entre Escócia e Londres,

funcionava bem. Podia ter escrito.

Não, se era honesta consigo mesma, total e dolorosamente

honesta teria que confessar que ao menos um pouco de culpa ela

tinha. Se sentiu feliz quando ouviu falar na condessa. Bem, a

verdade é que feliz não. Se sentiu traída, mas também um pouco

aliviada. Não queria Ian em sua cama. Não estava preparada para

voltar a ser uma esposa para ele.

Afinal, a tinha traído ele, ou o tinha abandonado ela?

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Isto que ouvia lá adiante eram golpes na água? O que… oh.

Se agachou detrás de um grande salgueiro e olhou através dele.

Alguém, um homem estava nadando.

Ian. Seus braços brilhavam fora da água enquanto se

deslizava pelo lago. Em seguida mergulhou e as costas, as nádegas

e as pernas emitiram um flash branco antes de desaparecerem.

A água devia estar bem fria, mas isso não importava a Ian.

Sempre gostou de nadar em Kilgorn, onde o lago estava quase

gelado. Costumava tentar atrai-la para que se unisse a ele, mas ela

ia somente se o dia estivesse bem cálido. E mesmo assim, não

costumava ficar muito.

Nell levantou a cara em direção ao sol com um sorriso

curvando seus lábios. Mmm. Às vezes que ela tinha ido nadar, Ian

tinha sido muito, muito eficiente em lhe fazer entrar em calor, uma

vez que tivessem saído da água. Se deitavam ao sol sobre uma

manta na grama, com uma suave brisa que brincava com suas

extremidades acaloradas, entrelaçadas, e faziam amor antes de que

o frio do anoitecer os fizesse entrar em casa.

Como o tinha amado. Ele tinha sido toda a sua vida até que

perdeu o bebê. Depois daquilo... bem, o coração tinha ficado tão

frio como o lago, demasiado frio para que o sol ou Ian o

esquentasse.

Ainda o tinha assim?

Ele começou a nadar até a beira. Sairia em poucos minutos e

ela veria...

O que era isso!?! Um graveto que se partiu? Olhou a sua

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esquerda. Um caminho subia através das árvores e ao final, a uns

vinte metros, estava Lady Grace.

A garota não podia ver Ian! Grace era solteira e, bem, Nell

não queria que outra mulher visse seu esposo, esposo do qual havia

se separado, nu.

Ian todavia estava nadando. Tinha tempo de interceptar Lady

Grace. Saiu como uma flecha detrás do salgueiro e se apressou em

ir ao seu encontro.

— Lady Grace, que agradável vê-la.

Lady Grace sorriu.

— Lady Kilgorn. Estava buscando a senhora.

— Ah, sim? — O que poderia a mulher querer com ela? A

enlaçou pelo braço e conduziu de volta pelo caminho que tinha

vindo, — Me chame Nell.

— De acordo, Nell. Eu, — Lady Grace pigarreou, — Eu me

perguntava... bem, queria... enfim, pensava talvez...

Nell franziu o cenho. A troco do que tudo isto?

— Sim? Existe algo de natureza privada que queira me falar?

Lady Grace parecia claramente aliviada.

— Sim. Quer dizer, se não se importa... se não pareço uma

impertinente.

— Impertinente? Claro que não. — do que poderia se tratar?

Estava segura de não ter intercambiado mais do que umas quantas

cortesias com Lady Grace já que se conheciam apenas desde

ontem. Porque foi lhe buscar?

— Verá, tem um assunto que me enche de dúvidas. Não

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posso perguntar a minha tia já que ela tem seus próprios

problemas, mas necessito do conselho de uma mulher mais velha,

com experiência.

— Ah, — Isto foi tudo que ocorreu a Nell dizer. Mais velha e

experimentada? Existia apenas três ou quatro anos de diferença

entre elas. Engoliu saliva tentando se concentrar.

— E esse assunto seria...?

— O amor, — Lady Grace soltou a palavra e logo se pôs

vermelha como um tomate.

— Oh.

Pelo jeito, essa palavra horrível foi o disparo que, uma vez

feito, derrubou todas as muralhas.

— Sim, amor. Não sei o que fazer. Lorde Dawson foi muito

atencioso, e eu o am... gosto muito dele, mas meu pai o odeia.

Não era um problema pequeno.

— Sabe se seu pai tem uma boa razão para sentir isto? — Nell

nunca teria imaginado que Lorde Lawson fosse um canalha, mas

enfim, o que sabia ela? — Às vezes os homens são mais

conscientes do que nós do caráter de outro homem e... — como

lhe diria? De seus hábitos desagradáveis.

Lady Grace negou com a cabeça.

— Estou segura que papai não sabe nada sobre Da… Lorde

Dawson. Nem sequer o conhece.

— Como? — Bem, talvez o conhecer não fosse necessário. As

reputações precediam as pessoas. — Por que acha que seu pai o

odeia? Pode estar equivocada.

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— Oh, não, não estou equivocada. Seguríssimo que papai

odiaria a Da… Lorde Dawson se o conhecesse. Odeia todos os

Wilton por princípio desde que aconteceu alguma coisa faz anos,

quando papai era jovem.

— Oh, — Uma inimizade familiar ao estilo Romeu e Julieta,

talvez. Mas por mais interessante que fosse a obra de teatro, não

seria uma boa encenação na vida real.

— Isto não parece muito inteligente.

— Não, não é, mas papai não é particularmente inteligente. É

obstinado e teimoso e, bem, algo autoritário. Mas é meu pai. Minha

mãe morreu quando eu era muito jovem, assim que estamos os dois

sozinhos há muito tempo, – a voz de Lady Grace tremeu um pouco.

— O amo demais. Não quero magoá-lo.

— Claro que não.

Grace olhou para Nell e em seguida desviou a vista olhando

para longe.

— Arrumou meu casamento com um vizinho, – mostrou tão

pouco entusiasmo que podia estar falando de cerzir meias.

— É velho e gordo o vizinho?

Grace começou a rir.

— Oh, não. John tem um aspecto apresentável. Bem normal.

Seria um marido excelente para qualquer mulher.

— Mas não para você.

— Não, hmm, o caso é que também seria um marido

conveniente e adequado para mim, gosto quando começa a falar

sobre suas plantas.

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— Hmm. Está segura que não pode falar sobre isto com Lady

Oxbury? Foi ela que levou você para passar a temporada em

Londres. Deve ter acreditado que poderia encontrar um marido mais

adequado para você.

Lady Grace moveu a cabeça negando com veemência.

— Oh, não. De nenhuma maneira. Como lhe disse, a tia Kate

tem seus próprios problemas, e não que os tenha compartilhado

comigo. Mas algo vai mal entre ela e o tio de Lorde Dawson, o

senhor Wilton.

— Entendo, — estavam a ponto de chegar na casa e Nell

seguia sem ter a menor ideia de por que Lady Grace estava lhe

contando tudo isto.

— Bem, deveria saber que não sou a pessoas mais indicada

para dar conselhos de natureza conjugal.

— Mas exatamente por isto que queria falar com a senhora,

Lady Kilgorn. Quer dizer, não tenho intenção de bisbilhotar, mas,

bem, o amor em um matrimônio... não dura, verdade? — Lady

Grace franziu o cenho — Não tenho a experiência de meus pais para

me servir de exemplo já que minha mãe morreu sendo eu tão

jovem, mas pelo que sei do casamento da tia Kate, não foi de todo

mal com Lorde Oxbury, ainda que ela não o amasse. E se me fixo

na sociedade... ali não tem muitos casamentos por amor.

— Não sei. Nunca estive em Londres, — a casa estava bem

próxima. Poderia se lançar a correr e terminar com essa

conversação tão incômoda?

— Mas... sei que não me diz respeito, estou bem ciente disto,

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mas... o seu foi um casamento por amor, Lady Kilgorn?

— Sim, — Não havia nenhuma dúvida sobre isto. Ela estava

completa e irremediavelmente apaixonada por Ian como talvez

somente uma garota de dezessete anos pode estar. Ele era quase

um deus para ela, e com toda certeza um herói. Estava cega em

relação a todos os seus defeitos... do mesmo jeito que ele estava

em relação aos dela. Nunca duvidou que ele lhe amava. E se a vida

tivesse sido diferente...

Mas a vida era como era.

— Então o amor não é suficiente, — Lady Grace lhe dirigiu um

sorriso triste, — Isso é o que pensava.

— Pode ser, — já tinham chegado na porta. Nell estendeu a

mão para deter Grace.

— Mas é muito. Ainda amo meu marido, — era certo. O amor

estava misturado com a dor e a decepção, mas ainda estava ali.

— E apesar disto, a senhora não tem um casamento de

verdade, – Grace roçou a mão de Nell, — Não é minha intenção

criticar. Agradeço com toda sinceridade sua franqueza, mas não

acredito que eu pudesse viver uma vida como a sua. É muito

solitária.

Ah. A solidão. Isto era algo sobre o qual Nell podia falar com

toda propriedade.

Ian cortou a carne de veado de seu prato em pedaços iguais.

A água gelada do lago ajudou a clarear seus pensamentos. Tinha

tomado uma decisão. Aguentaria esta maldita festa e em seguida se

ocuparia dos trâmites do divórcio.

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Manteve o olhar grudado no prato. Não tinha apetite. Olhou

de relance a sua direita. Nell parecia tão aflita como ele. E não dava

a menor atenção a sua comida.

Percorreu a mesa com o olhar. De fato, estava sendo

consumida muito pouca comida.

Bom, Motton e sua tia estavam fazendo um trabalho digno

com as suas e as gêmeas

Addison completavam seus pratos pela segunda vez, para não

mencionar a atenção que

o senhor Boland prestava as suas vitelas, — mas Wilton e

Lady Oxbury, Dawson e Lady

Grace usavam os talheres para a mesma finalidade que Neel e

ele usavam os seus, empurrar a comida pelo prato de um lado a

outro.

Bebeu um gole de vinho. Esta noite não ia provar nem uma

gota de uísque. Iria para aquele maldito quarto bem sóbrio. Pescou

um pedaço de veado com o garfo e o levou a boca... e o devolveu

ao prato. Era como se tivesse uma pedra no estômago.

Não queria se divorciar de Nell, mas o que podia fazer?

Necessitava um herdeiro. Não tinha um casamento de verdade, e

nenhuma esperança de tê-lo, agora. A noite passada tinha soterrado

com cal todas suas possibilidades.

Desdenhou as ervilhas verdes. Nunca podia acreditar que

chegasse a ser tão estúpido.

— Tem algum problema com as verduras, Laird Kilgorn?

Espero que não tenha encontrado nenhum talinho ou algum outro

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troço indigesto. As criadas da cozinha de vez em quando se põem a

tagarelar e não prestam a devida atenção a sua tarefa, – a

senhorita Smyth se inclinou para frente, apontando seu garfo ao

prato de Ian como se fosse pegar algumas ervilhas para averiguar

por si mesma se tudo estava bem.

Ele ergueu sua faca preparado caso fosse necessário fazê-la

retroceder, ou ao menos afastar com um empurrão o utensílio da

mulher.

— Não, não, não tem nada errado. As ervilhas estão boas.

Perfeitas, — sem dúvida não era culpa da cozinheira que tudo que

provava aquela noite tivesse gosto de cinza.

— Tem certeza? Apenas tocou na comida.

Deus Santo, a senhorita Smyth soava como sua babá.

— Lhe asseguro, senhora, que a comida está boa. Apenas não

tenho apetite suficiente para fazer justiça.

— Não estará doente, verdade?

Deveria dizer que sim, mas a mulher parecia preocupada de

verdade.

— Não, só um pouco cansado, — sorriu. — Tenho certeza que

dormirei melhor quando a senhora me encontrar outro dormitório.

Maldição. Os olhos da senhorita Smyth brilharam. Era uma

maliciosa faísca de astúcia o que tinha visto? Não seria capaz de

fazer algum comentário lascivo sobre a carência de sono e o

compartilhamento da cama com Nell, não é mesmo? Pois parecia

que estava a ponto de fazer. A mulher abriu a boca e o horror lhe

destroçou a alma.

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— Senhorita Smyth, pode me passar as moelas?

Graças foram dadas a Deus pela senhorita Addison, qualquer

delas que tivesse falado.

Teria jurado que nunca agradeceria ao Todo Poderoso por

honrar ao mundo com essas molestas jovenzinhas, mas o pedido

não poderia ter sido feito em melhor hora. A senhorita Smyth se

deteve, deu de ombros e alcançou o prato solicitado.

— Claro, senhorita Addison. Me agrada muito que tenha um

apetite tão bom.

Nell se engasgou.

— Está bem? — Deveria lhe dar alguns tapas nas costas?

Levantou a mão, mas ela também levantou a sua para detê-lo.

— Lamento, — sussurrou ela quando recuperou o fôlego, —

Desconfio que um pouco de vinho desceu pelo lugar errado. Já

estou bem, – disse e voltou a focar sua atenção com muita

habilidade nas ervilhas verdes.

Se pudesse voltar atrás o relógio. Quando Nell era jovem,

estava tão cheia de alegria, de vida, que não podia conter. Ele tinha

se sentido atraído por ela, igual aos outros rapazes.

Mas ele era o Laird...

Fincou com força um pedaço de veado. Não, não tinha sido

por sua posição que tinha preferido ele. Bom, podia ser que sua

posição causasse a desistência dos demais rapazes depois de

perceberem que ele a queria, mas Nell não dava bola, não teria se

importado que se fosse o moço do estábulo mais humilde. Ela o

tinha amado por ele mesmo.

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Se obrigou a mastigar a maldita carne. Ainda que a mesma

pudesse ser a sola de um sapato.

Quando Nell lhe amava, ele se sentia mais forte, mais

inteligente, mais rápido. Mais feliz.

— Laird Kilgorn, gostaria de umas batatas?

— Não, obrigado, senhorita Smyth.

Por que, em nome de Deus, tinha perdido o bebê? Ela era

jovem e saudável. Não deveria ter tido nenhum problema. Não tinha

tido nenhum aviso. Somente um calafrio e depois o sangue.

Agarrou a taça e bebeu um bom gole. Esse foi um dia que não

queria voltar a viver nunca. Nell não tinha feito nada mais que

chorar como se seu coração tivesse quebrado. Ele tinha se sentido

tão condenadamente impotente.

Meteu outro pedaço insípido de comida na boca e mastigou de

forma mecânica.

Somente lhe ocorrera uma solução, lhe dar outro filho e ela

tinha se negado. Mais que negado. Tinha gritado com ele,

soluçado... se sentiu como um completo monstro.

E logo mais à noite...

Fincou uma vagem e a meteu na boca.

Nell parecia interessada ao princípio, evidente que não estava

tão bêbado como para se equivocar nisto. Mais que interessada.

Tinha segurado seu pênis na mão. Deus, tinha sido tão maravilhoso.

A vacilação de seus dedos, em seguida o roçar suave e delicado da

bochecha, a carícia delicada da língua...

— Laird Kilgorn, gostaria de uma moela?

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— O qu…? — a senhorita Smyth olhava para ele e segurava

um prato de... – Não, não, obrigado, senhorita Smyth. A verdade é

que não quero mais nada. Já estou satisfeito.

A maldita sobrancelha da mulher se levantou com rapidez e

olhou para Nell de modo significativo. Se tivesse um Deus no céu,

Nell estaria ainda com os olhos enterrados no prato. Ao que tudo

indicava, sua fé não era forte o bastante.

— Oh, duvido que o senhor esteja satisfeito, milorde.

Uma certa parte de sua anatomia, por sorte oculta debaixo da

mesa, esteve de acordo com ela com muita veemência.

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Capítulo 7

Estava se escondendo. De acordo, admitia. Era uma covarde.

Nell ergueu ainda mais as mantas e tentou encontrar uma

posição cômoda. As criadas deviam ter recheado de pedras o

colchão durante o dia.

Deitou de barriga para cima e observou o dossel. Tinha que

dormir, não queria estar acordada quando Ian subisse. Com um

pouco de sorte chegaria tarde como a noite passada, e sem estar

bêbado.

Quantos dias mais teria que ficar nessa festa infernal? Apenas

podia contar os dias para voltar para casa.

Um volume duro se cravou na parte baixa da coluna. Ficou de

lado e voltou a puxar as mantas.

Oh, por que mentia? Não queria voltar a Pentforth Hall, e sem

a menor dúvida, aos avanços amorosos do senhor Pennington.

Virou de bruços. Se Ian pensava de verdade que ela se

dedicava a tais atividades com esse homem, por que tinha permitido

que esse sapo asqueroso mantivesse o emprego?

A resposta era dolorosamente óbvia, não lhe importava. Era

por completo indiferente para ele a possibilidade de que sua esposa

separada tivesse um envolvimento com o administrador da

propriedade.

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E não estava chorando. Estava com raiva, e ponto.

Limpou a cara com o travesseiro. Tinha que dormir antes que

Ian chegasse.

Talvez ele tenha decidido fazer companhia a Lorde Dawson. O

barão parecia bastante desolado depois que Lady Grace saiu do

salão. A garota estaria certa ao decidir casar com seu vizinho? Era

óbvio que amava Lorde Dawson, e que ele a amava.

Sim, com certeza. Não cabia dúvida que Lady Grace era bem

esperta. O amor não dava garantias. Ela amou Ian por cima de toda

razão e aqui estava, neste limbo infernal, casada e ao mesmo

tempo não casada. O amor dava mais problemas do que valia.

Ficou de barriga para cima de novo. Sem dúvida que poderia

encontrar uma postura bastante cômoda para dormir, certo?

Fechou os olhos e respirou fundo, mas o sono seguia

escapando.

Pode que o problema não era tanto o colchão cheio de

saliências como, bem, os caroços da consciência. Realmente era o

amor a causa da sua desgraça... ou era o medo? Temia deixar Ian

entrar de novo em seu coração e arriscar a dor de conceber e

perder outro filho?

Sim. Sim, tinha medo. E agora já era muito tarde. Se ao

menos a noite tivesse controlado seu caráter quando a excitação

abafou o terror...

E o trinco da porta estava girando? Deus querido. Ergueu a

cabeça para observar a porta.

Ian não podia subir tão rápido, verdade? Não era possível…

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Sim, era. A porta rangeu ao abrir. Fechou os olhos deixando a

cabeça cair no travesseiro. Já que não podia dormir, fingiria. Ouviu

outro ruído.

— Sei que está cordada, Nell, – a voz vinha de muito perto.

Abriu de uma vez os olhos.

— Ack! — o homem estava de pé, bem ao lado da cama, com

o peito nu para que o visse todo mundo. Ou ao menos para que ela

visse. A luz da vela oscilava sobre a pele dourada e cobria de ouro o

pelo que se eriçava no peito, no ventre, abaixando até...

Pelo menos ainda levava as calças postas.

— Estava dormindo.

Sua maldita sobrancelha se levantou. Nunca pode lhe mentir

de maneira convincente.

— O que faz aqui?

Ele esboçou um leve sorriso.

— Não é óbvio? Me preparo para me meter na cama.

— Na cama? — a voz saiu com um tom agudo. Tentou

respirar profundamente para se tranquilizar, — Não está querendo

dizer que... não irá... — outra respiração profunda.

— Não está planejando compartilhar esta c-cama comigo,

verdade?

Deveria reunir um pouco de coragem, mas o coração lhe

palpitava rápido demais para pensar.

— Pois, sim — deu uma olhada para o outro lado — a noite

descobri que o chão é muito incômodo.

—Bem… — Nell desviou os olhos para o outro travesseiro.

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Estava muito, muito perto.

A cama era muito pequena.

— A menos que queira mudar de lugar e dormir no chão. Se

bem que lhe advirto que é absolutamente necessário que Motton

mude o tapete. É muito fino.

Nell olhou o tapete.

— N-não.

— Assim pensava, — Ian deu de ombros. Seus músculos se

moveram, lhe distraindo.

Morria de vontade de tocá-lo como tinha feito na noite

anterior.

Deus santo! Bem, a culpa era dele, passeando sem sequer um

pedacinho de tecido cobrindo o peito. Existiam motivos para que os

homens, os homens educados deixassem a camisa posta. Bom, os

homens como Ian. Pennington era um caso completamente

diferente. Pensar em seu peito magro e ossudo sem camisa, colete

ou casaco provocava seus sentidos de uma maneira muito diferente,

de uma maneira muito desagradável.

E se girava na metade da noite e terminava em cima de Ian?

E se com a face lhe tocasse a pele cálida do peito? E se a mão

desnuda se encontrava com aquelas costas tão fortes e tão suaves?

E se...?

E se parasse com as perguntas e se lançasse sobre ele agora

mesmo?

Até que ponto poderia ser descarada? Queria circular aquele

órgão encantador que tocou na noite passada. Queria senti-lo

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enterrado profundamente dentro dela. Se estremeceu.

— Tem frio, Nell?

— Não-não.

— Hmm. Parece bastante acalorada. Não está doente, não é?

Deus santo, Ian pôs a mão na sua testa e em seguida nas

bochechas. Os dedos eram grandes e um pouco ásperos.

— Não está quente.

Oh, seguro que sim, estava. Era um milagre que não

incendiasse a sua mão.

— Uh, — Deveria dizer alguma coisa... o quê? — Hmm, —

afastou a cabeça rompendo o contato.

Recordou com uma clareza estremecedora a sensação

daqueles dedos no seu corpo, acariciando seus braços, seus seios...

Ele costumava dormir abraçado, bom, enredado, nu, quente e

relaxado depois do sexo. Ainda era assim?

Umedeceu os lábios. Ian podia cheirar seu desejo? Podia

cheirá-lo pela forma como se entrecortava sua respiração?

Ele retirou a mão.

— Então tem medo? — a voz era áspera, — Se preocupa que

a force?

Não, o que a preocupava é que ela forçasse a ele. Mas não

podia dizer. Seria muito mortificante. De modos que só negou com

a cabeça e manteve os olhos cravados nas mãos mesmo quando

Ian soltou um pequeno suspiro de desgosto.

— Será mais fácil para você dormir com isto? — Foi até a

lareira, pegou o atiçador e colocou no centro da cama. Era escuro e

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rígido, restos de cinza caíram sobre os lençóis brancos, — E ficarei

vestido com as calças, e por cima dos lençóis.

— Oh — a desilusão provocou um nó na garganta do tamanho

de um ovo, mas não podia deixar Ian pensar que o desejava como

faziam todas as mulheres de Londres.

— Esplêndido. Quem sabe, depois de tudo, esta noite possa

dormir.

Levantou o olhar. A cara de Ian parecia de granito. Franziu o

cenho quando ambos se encararam nos olhos.

— A noite você tinha a cama. Achei que tinha dormido

profundamente.

Nell notou como se ruborizava.

— É difícil dormir compartilhando o quarto com você.

A expressão da cara do homem ficou ainda mais sombria, se é

que isto era possível.

— Bem, com sorte, esta será a última vez que se veja

obrigada a isto. Amanhã vou insistir com a senhorita Smyth para

que me encontre outro dormitório.

— Bem, — afundou o estômago só de pensar nisto. Como ia

voltar a Pertforth Hall e encontrar alguma vez um pouco de

felicidade?

Ia explodir e se voltar louco de atar.

Ian atravessou a grandes passos a grama bem cuidada de

Motton. Se não abandonasse este maldito dormitório, ia começar a

cuspir espuma pela boca. O manicômio não seria grande o bastante

para conter sua loucura.

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Aquela noite tinha sido um inferno total. Mal tinha dormido.

Cada vez que começava a adormecer, Nell fazia um ruído. Ela não

tinha parado de dar voltas. Ian quase suspeitava que tentava

atormentá-lo de propósito. Não era tão inquieta assim dormindo

quando eram jovens.

Fulminou com o olhar a um inocente esquilo que teve a

ousadia de cruzar seu caminho.

Um pouco mais perto e teria pisoteado ao estúpido roedor.

Quando eram jovens, se ela estivesse inquieta, ele teria uma

maneira muito eficiente, uma muito agradável de acalmá-la. Um

exaustivo combate sexual sempre lhes havia deixado

maravilhosamente relaxados. Mas era óbvio que a noite esta

solução não tinha estado disponível, malditos fossem todos os

demônios.

O maldito atiçador não tinha sido o único objeto duro naquela

cama. Chegou até um enorme carvalho e deu a volta caminhando

em direção a casa. Tudo isto era ridículo. Já tinha selado seu cavalo

e cavalgado durante uma hora e ainda estava tão... tenso que doía.

Seu cavalo não era o que, a quem ansiava montar.

E se tentasse na pousada? Sem dúvida encontraria a uma

mulher para poder aliviar o problema que tinha...

Não, maldita seja! Não desejava uma puta, desejava Nell.

Deus, a desejava tanto! Mas ela não lhe desejava.

Isto era um maldito desastre. Vê-la outra vez, cheirá-la, ouvi-

la, tinha ressuscitado o antigo desejo. Por isto não tinha voltado a

visitar Pentforth. Sabia que o único modo que podia viver sem ela

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era tratando de esquecer que existia. Nunca tinha conseguido

totalmente, mesmo depois de todos estes anos, mas foi capaz de

manter a necessidade em um nível manejável de insatisfação.

Agora se converteu em uma maldita e furiosa febre. Não

conseguiria sobreviver a essa maldita festa.

Tinha que se divorciar dela. Era a incerteza da situação de

acordo, a esperança, a causa do problema. Uma vez que tomasse as

medidas para terminar com seu casamento... bem, seria o final.

Como a morte.

Se hoje não conseguisse seu próprio quarto, acabaria morto.

Se aproximou da casa. Hmm. Tinha uma carruagem na

entrada. Como ia se encarregar disto a senhorita Smyth? Teria que

reajustar a distribuição dos dormitórios ou encontrar por arte da

magia um aposento vazio. Esboçou um ligeiro sorriso. Seria

interessante.

Um amontoado de gente obstruía a entrada, Dawson, Lady

Grace, a senhorita Smyth, Motton... Nell. Seus olhos se viram

atraídos para ela como o ferro ao imã. Maldição. Se obrigou a se

concentrar na cena. Acontecia uma bela discussão ali.

O conde de Standen chegou para arrastar sua filha para casa.

O por que era um mistério e, a verdade, é que para Ian não

importava em nada os motivos que tivesse o o homem. Se

Lady Grace partia, seus aposentos ficaria de repente vago

para ele, ainda que não estranhasse nem um pouco se a senhorita

Smyth encontrasse outra estúpida razão para que ele não pudesse

ocupá-la. Bem, não iam lhe enganar outra vez. Insistiria com mais

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energia.

— Mas a festa ainda não terminou, — dizia Motton, sorrindo a

Staden. — Por que não fica conosco? Tenho certeza que podemos

encontrar um aposento para você.

Encontrar um aposento para Staden? Malditos todos os

infernos.

— Ah, então tem um aposento de sobra?

Ian ia conseguir finalmente seu quarto. Ela estava encantada,

sem dúvida. Tinha sido muito incômodo e embaraçoso dividir um

espaço tão pequeno, assim como uma cama tão pequena com ele.

Apenas conseguiu dormir um momento desde que chegou. Estava...

Não estava encantada. Se sentia cansada e deprimida.

Nell fechou os olhos e se inclinou no banco do jardim, um

pouco para trás, levantando a cara para o sol. As abelhas zumbiam

na volta. Os aromas misturados das flores flutuavam no ar. O dia

estava cheio de vida.

A vida que passava de longe frente aos seus olhos. Fechou os

olhos com mais força.

Este era o final. Quando Ian fosse embora da festa tomaria

medidas necessárias para começar com o divórcio. Tentou engolir o

enorme nó que apareceu de repente na garganta.

Estúpida! Isto era o que ela queria, não? Era algo positivo que

Ian tomasse por fim as medidas necessárias para acabar com esta

farsa de casamento. Tinha chegado o momento dela seguir com sua

vida normal.

Uma vida que se estendia cinza e solitária, ano após ano,

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durante tanto tempo quanto ela poderia imaginar.

— Se encontra bem, Lady Kilgorn?

— Como…? — Nell abriu os olhos de repente. Lady Oxbury

estava na frente dela com um olhar de preocupação no rosto.

— Se encontra bem? Não pretendo ser curiosa, mas, bem,

vejo que esteve chorando.

— Chorando? — Nell levou as mãos a cara. Tinha as

bochechas úmidas. — Oh, não. Só estou... muito acalorada. Depois

de tudo, hoje faz sol e fiquei sentada aqui bastante tempo.

— Lady Kilgorn… — Lady Oxbury suspirou e moveu um pouco

a cabeça como se afastasse as reservas pelo que ia dizer, — Se

importa se me sento com a senhora?

Nell aceitou, claro. Não é que desejasse que lhe brindassem

com conselhos não solicitados, mas foi incapaz de reunir o tato ou a

energia para rechaçar com cortesia a companhia de Lady Oxbury.

Além disto, a mulher já tinha se sentado no banco, ao lado dela.

— Normalmente não… não costumo… ¡oh, que bobagem! —

Lady Oxbury encarou Nell diretamente nos olhos.

Nell baixou a vista como um coelho assustado para admirar as

mãos entrelaçadas no colo. Tudo era muito incômodo.

— Deve saber que todo o mundo, inclusive me atreveria a

incluir a senhorita Smyth, é consciente de sua estranha e

desafortunada situação.

— Não estou certa do que a senhora quer me...

— Sem dúvida que sabe o que eu quero dizer. Viveu a

senhora separada do seu marido durante uma década.

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— Não é tão estranho. Muitos casais da sociedade vivem

separados, não?

— Sim, mas não muitos destes casais se casaram tão jovens...

e por amor.

— Er… — de verdade, de verdade que não queria falar sobre

isto, sobretudo com uma quase desconhecida, — Nós éramos muito

jovens, demasiado jovens para...

Lady Oxbury soltou um som de desprezo.

— E estavam muito apaixonados, não?

Não havia nenhuma razão para mentir.

— Sim. Mas como a senhora disse, éramos jovens, demasiado

jovens para ter mais juízo. Demasiado jovens para manter...

Esta vez Lady Oxbury bufou de desgosto.

— Bobagens! Contudo, vocês ainda estão apaixonados.

Nell olhou boquiaberta a mulher mais velha. Não lhe seria

permitido conservar algo de orgulho?

— Como pode dizer tal coisa?

— Porque é a verdade — Lady Oxbury a atravessou com um

olhar que não tolerava

Besteiras.

— Não se preocupe em dissimular. Vi o modo como olha seu

marido. Seus sentimentos não são um segredo para ninguém,

exceto para ele, pelo visto.

— Ohh, — Fechou os olhos. Ia morrer de vergonha.

— E ele lhe ama.

— Como? — Nell voltou a abrir os olhos de repente e quase

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saem das órbitas.

— A senhora deve estar, não, está equivocada.

— Não, não estou, — Lady Oxbury se inclinou para frente. Nell

pensou por um momento que lhe agarraria os ombros e sacudiria. E

na verdade as mãos enluvadas da mulher se ergueram por um

momento da saia.

O que alguém podia dizer diante de tal declaração?

— Oh, — Uma resposta idiota, mas a única que ocorria a Nell.

— De fato, — Lady Oxbury moveu a cabeça com decisão, —

Mas como a maior parte dos homens, é provável que se negue a

reconhecer seus sentimentos a menos que seja forçado a isto.

—Oh, — Nell se sentiu tão monótona como o papagaio da

senhorita Smyth. Mais monótona. Ao menos as declarações de Theo

eram sempre contundentes.

— Sim, — Lady Oxbury apoiou suas mãos nas de Nell, — Por

favor me entenda, Lady Kilgorn, normalmente não sou tão atrevida,

mas esta vez creio que devo falar com clareza. Não posso deixar

que cometa o mesmo erro que eu.

— Erro? Não creio…

— Evidente que a senhora não sabe do que eu falo. É muito

jovem, e a... situação nunca chegou a ser um escândalo, – a mulher

franziu o cenho, — Se tivesse sido mais valente, e com a coragem

de seguir meu coração...

Lady Oxbury lamentava não causar um escândalo? Era difícil

de entender.

— A verdade é que não acredito que…

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A mulher mais velha apertou sua mão com mais força.

— Há vinte e três anos, conheci e me apaixonei pelo senhor

Wilton.

— O senhor Wilton? Mas a senhora se casou com...

— Exato. Me casei com Lorde Oxbury. Os por quês não são

importantes. O importante é que amava Alex e não lutei por esse

amor. Deixei as circunstâncias me arrastarem, e lamento por isto,

lamentei minha covardia cada momento de cada ano que estivemos

separados, – suspirou e baixou o olhar para suas mãos que ainda

estavam apoiadas nas de Nell, — Não é que não tivesse... carinho

por meu marido, mas... — olhou Nell nos olhos.

— Só direi que a tristeza ofuscou qualquer felicidade que

pudesse ter conseguido.

— Entendo, – a tristeza. Sim, essa era uma emoção familiar.

Lady Oxbury sorriu.

— Afortunadamente, tenho uma segunda oportunidade.

Vamos nos casar o mais rápido possível.

— Ah. Minhas felicitações mais sinceras, – Nell tentou sufocar

uma pontada de ciúmes.

Lady Oxbury afastou com um gesto seus bons votos.

— Obrigada, mas o importante aqui é a senhora. Não cometa

o mesmo erro que eu. Seja valente. Seja decidida. Se a senhora

ama Laird Kilgorn, lute por ele. Pode que não seja tão afortunada

como eu, pode que esta seja sua última oportunidade. Não deixe

que escape por entre seus dedos.

Lady Oxbury foi comovente, mas não conhecia os detalhes de

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sua separação.

— Aprecio de verdade seu interesse, Lady Oxbury, mas acho

que a senhora é vítima de um mal-entendido, Ian não me ama.

— Perguntou para ele?

— Claro que não! — Lady Oxbury não estava comovente,

estava louca, total e completamente louca.

— E mais concretamente, e essa pergunta sim que pode a

senhora responder, o ama?

— E-eu… não é possível que possa…

— Seja valente, Lady Kilgorn. O que a senhora pode perder? E

não é melhor saber com segurança os sentimentos de Laird Kilgorn

que passar o resto da sua vida se perguntando o que teria

acontecido se a senhora tivesse tido mais coragem?

Lady Oxbury olhou mais adiante, e de repente sorriu com

tanta alegria que sua cara resplandeceu. Nell não ficou surpresa ao

ver que o senhor Wilton surgia no terraço.

— Se me dá licença, — Lady Oxbury tinha se distanciado dois

passos em direção a casa antes de se deter e voltar atrás um

momento, — Reflita sobre tudo o que lhe disse, Lady Kilgorn. Me

acredite. A tristeza não é uma grata companhia.

Nell assentiu com cortesia e observou como a mulher se

apressava para se reunir com o senhor Wilton.

—Ela tem toda a razão.

— Aaahhh — Nell se virou de um salto. A senhorita Smyth

estava na sombra, apenas a um metro de distância. — Quanto

tempo faz que está aqui?

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— Não faz muito. Cheguei quando Lady Oxbury a incentivava

a reunir alguma coragem, e de verdade espero que consiga logo.

Laird Kilgorn se trasladará para seu próprio quarto esta tarde. Já

não podia fazê-lo esperar mais.

— Oh, — Assim que a tia de Lorde Motton tinha motivos

ocultos ao organizar a distribuição dos dormitórios. Devia estar

enfurecida.

Mas só estava mais deprimida.

— Oh, de fato, — a senhorita Smyth soltou um bufo, — Estava

certa que a senhora tinha um pouco mais de brio. Lhe proporcionei

a oportunidade perfeita para limar as asperezas com seu marido e,

pelo que vejo, estragou tudo. Não sabe então seduzir um homem,

Lady Kilgorn?

— Uh…

A senhorita Smyth revirou os olhos.

— Pois bem, espero que resolva com rapidez, porque seu

tempo acabou. É agora ou nunca. Como disse Lady Oxbury, a

tristeza não é uma boa companhia... é uma companhia

condenadamente desagradável.

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Capítulo 8

O que deveria fazer?

Nell estava sentada sozinha no banco do jardim. A senhorita

Smyth entrou na casa se desvencilhando daquela torpe e estúpida

covarde.

Suspirou. Saiu para o jardim para ter um pouco de paz.

Aproveitou um bom número de tardes pacíficas nos jardins de

Pentforth, desfrutando da quietude, da solidão, da... tristeza.

Era a risada de Lady Oxbury o que se ouvia través das

árvores? E em seguida o murmúrio suave de uma voz masculina e

um silêncio repentino...

Maldição. Podia imaginar com riqueza de detalhes o que o

senhor Wilton e Lady Wilton faziam exatamente entre os arbustos

do visconde Motton. Deveria estar horrorizada. Mas, não estava.

Estava ciumenta, angustiadamente ciumenta.

Pressionou a face com força. Queria, ansiava o som da voz de

Ian, o roçar de suas mãos, o sabor de seu...

Maldição, raios, inferno.

Se pressionava com um pouco mais de força a cara, o crânio

ia se partir. Estava causando uma terrível dor de cabeça.

De modo que agarrou as mãos.

Tudo era culpa da senhorita Smyth. A vida estava indo muito

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bem até que essa mulher lhe convidou para essa festa terrível. Por

que a tia de Lorde Motton, sentia essa necessidade de se meter na

vida de estranhos? O lógico seria que a mulher tivesse o bom senso,

o decoro de limitar suas inclinações a seus próprios parentes. O

visconde era bem grandinho e estava solteiro. A senhorita Smyth

não deveria estar ocupada em selecionar uma esposa apropriada

para ele?

Bom, já não podia ficar mais tempo no jardim. Já não teria

paz aqui com Lady Oxbury e o senhor Wilton escondidos entre os

arbustos. Escutá-los já era ruim o bastante, encontrá-los seria mais

do que embaraçoso. Teria que entrar na casa.

E o que faria? Ler um livro? Não tinha vontade de ler. Costurar

um pouco? Não, estava muito agitada. Se espetaria com a agulha.

Se estivesse de volta em Pentforth Hall... estaria se esquivando das

indigestas atenções do insistente senhor Pennington.

Oh, a quem queria enganar? Seria mais honesto dizer que sua

vida já não ia bem antes de receber a carta da senhorita Smyth. A

verdade é que não ia nada bem. Tinha estado tão congelada como

o lago no inverno.

Durante os últimos dez anos, seus dias tinham sido uma

sucessão monótona de obrigações mecânicas. Nem sequer

obrigações. Ninguém dependia dela. Ninguém sentiria falta de ao

menos uma das tarefas que executava para preencher seu tempo.

Haviam lhe dado esta última oportunidade para escolher um

caminho novo. Podia seguir sentindo medo e se limitar a viver ou

existir como estava fazendo. Ou podia ser valente e se arriscar a

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encontrar a felicidade que teve uma vez.

Lady Oxbury e a senhorita Smyth tinham razão. Ela não tinha

nada a perder.

Ian percorreu o quartinho com o olhar. Como diabos

sobreviveu aos últimos dois dias? E para ser mais específico, como

maldito inferno, tinha sobrevivido as últimas duas noites? Observou

aquela cama tão estreita. Era um milagre que não tivesse ficado

louco. Cada vez que Nell se movia, ele sentiu. Cada vez que ela

emitiu o ruído mais leve, ele escutou. Tinha lhe desejado tanto que

chegou a doer.

Mudou a postura, vestindo as calças. Ainda doía, mas tinha

chegado o momento de virar a página. De encerrar um ciclo. Passou

uma década desejando e sofrendo, e essas emoções inúteis não

tinham lhe trazido nem sequer um pingo de felicidade. Ou

satisfação. Ou até mesmo resignação. Já tinha deixado de ansiar

que fosse possível mudar o passado. Não podia ser. E era hora de

seguir em frente.

E que fosse todo mundo ao inferno pelo maldito vazio que

sentia no estômago ao pensar nisto.

Pelo menos tinha obrigado a senhorita Smyth a admitir o

óbvio. Com a partida de Lady

Grace somente o mais idiota dos idiotas acreditaria que não

havia nenhum quarto disponível, e ele por certo que não era. Oh, a

mulher tinha tentado contar um conto de que levaria vários dias

para preparar o quarto, mas ele não aceitou. Em seguida tentou lhe

passar um sermão sobre Nell, algo que tampouco aceitou. A cortou

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antes que pudesse proferir três palavras.

Pegou a mala. Assim que, por fim, se mudava. Por fim teria

um pouco de paz. Por fim...

Escutou um som de tecido atrás dele, o roçar de um sapato no

tapete. Deu a volta.

Nell estava na porta.

Deus. Sentiu como se tivessem lhe dado um pontapé no

estômago... ou mais abaixo.

Apertou os dentes. De modos que esteve mentindo a si

mesmo. Ainda desejava que fosse possível fazer o passado

desaparecer. Não importava. Nell terminou com ele.

— Nell, — sem sombra de dúvida que a voz soava normal e

distante. Tinha tido anos de prática para esconder as emoções.

Ela entrou, tropeçou, para ser mais exato no aposento e

fechou a porta. A garota estava perfilando os ombros? Se a postura

do queixo fosse um termômetro, se via muito decidida. De repente

veio a sua mente uma imagem de Nell quando era jovem, insistindo

que podia subir na maior árvore do lago, quando ele sabia que ela

tinha pavor a altura.

O que estava acontecendo?

— Está se mudando, Ian?

Ele deu de ombros.

— A senhorita Smyth, por fim, concordou em me dar minha

própria, — pigarreou, — Cama. – Maldição! Por que não disse

aposentos? Não, tinha que dizer cama. Estava parecendo tão fora

de lugar como um colegial enlouquecido pela luxúria. Nell teria

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notado?

Não parecia, — Não podia me negar com Lady Grace partindo.

Nell mordia o lábio.

— Não, suponho que não podia, — lançou uma olhada na

cama, — Ficará mais cômodo, – disse e ruborizou.

— A cama, — Pelo amor de Deus. Não podia ser que ele

também estivesse ruborizando, não é?

— Quero dizer, esta cama é muito estreita.

Ela assentiu. Estava mordendo o lábio de novo e retorcia a

saia com as mãos. Deveria ir já. Ambos estariam mais a vontade

quando esta conversa extremamente embaraçosa terminasse.

Uma vez que tivesse transposto essa porta, deixaria o passado

para trás. A juventude.

O coração.

Ridículo. Soava como um ator em uma peça de teatro. E das

ruins. E daí que se sentia como se tivessem cortado uma parte dele?

As vezes a amputação era necessária para salvar o paciente. Deu

um passo em direção a porta.

Nell não se moveu. Se fosse possível, parecia ainda mais

decidida. Deixou de retorcer as mãos e ao invés disto, agarrou o

vestido fechando os punhos. O pobre vestido ia ficar bastante

amarrotado.

Lhe encarou com o cenho franzido e a mandíbula apertada

como um granito. Ia ter que afastá-la para sair do quarto?

— Quis o bebê, Ian?

O estômago revirou.

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— Como? O bebê? — Por que falava do bebê agora? Nunca

falaram antes deste assunto.

— Quis o bebê? — Sua voz era agora tênue, oscilando a beira

das lágrimas.

Ele sentiu que também oscilava. Como se tivesse os olhos

vendados e obrigado a cruzar um abismo com apenas uma corda

fina como ponte. Um passo em falso e se precipitaria rapidamente a

um pântano de emoções, dor e arrependimento.

— Evidente. Evidente que quis o bebê, Nell.

Ela ainda seguia ali de pé, bloqueando a porta.

— Nunca disse isto.

— Eu… — Nunca disse? Claro, que sim. Bom, talvez não. As

recordações daquela época eram obscuras e confusas. Tinha ficado

triste quando ficou claro que Nell ia perder o filho deles. Tinha

ficado tão orgulhoso por tê-la engravidado, como o cão arrogante

que tinha sido. Mas, então, acreditava que iam tentar outra vez.

Era verdade, não tinha sentido a perda tanto como Nell. Tinha

ficado mais alterado por sua dor. Odiou vê-la tão perturbada. Quis

desesperadamente arrumar as coisas, curá-la e que voltasse a ser

feliz de novo.

Agora Nell estava chorando, com as lágrimas escorrendo pelas

faces, as mãos ainda agarrando a saia e o corpo rígido.

— Evidente que quis o bebê, Nell — talvez esse momento era

como tinha que ser. Deviam compartilhar esta verdade antes de se

separar, — Mas lhe queria mais. Me deixou de

Fora, — ouviu a dor da sua própria voz. Respirou pelo nariz,

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tinha os olhos molhados. Estúpido. Não era nenhum fedelho

melindrado, almofadinha sentimental para chorar pelo passado, —

Nunca entendi, e sigo sem entender, por que tive que perder você

também.

Ela negou com a cabeça enquanto colocava as mãos na

cintura.

— Não me perdeu.

— Sim, perdi. Me colocou para fora, fora da sua cama, da sua

vida e de seu coração.

— Não. É... é que sentia tanta dor. E tinha medo, – ela estava

chorando com força, falando com voz quebrada, — Tudo foi minha

culpa. Sinto tanto, Ian.

Ele deixou a mala cair e se aproximou um passo dela. Seguia

sem suportar lhe ver sofrer.

— Nell, não foi sua culpa.

— Sim, foi. Perdi nosso bebê, Ian.

— Não.

— Sim. Falhei contigo, teu clã... com todo mundo.

— Não, — queria lhe consolar, mas ia aguardar que ela

fechasse a distância entre eles. Era sua decisão, — Você não falhou.

Foi somente o destino, ou má sorte, ou... — ou o quê?

Como ele podia explicar as tragédias da vida? A vontade de

Deus? A maldição de Deus? Não, ele nunca acreditaria que Deus

fosse tão cruel.

— São coisas que acontecem, Nell. As vezes as coisas apenas

acontecem.

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— Mas perdi nosso bebê.

O filho dos dois, nascido do amor, um amor jovem, feliz, cheio

de esperança, selvagemente romântico. Tinham tido amor o

suficiente apenas para um filho? Nunca havia colocado as coisas

assim.

— Nosso bebê morreu, Nell. Você o perdeu. Algo foi mal. Não

foi sua culpa.

Emudeceu por uns momentos e engoliu, — Nunca cheguei a

entender por que não pudemos tentar outra vez.

Ela sacudiu a cabeça como se quisesse jogar para longe as

recordações.

— Não estava preparada.

— E eu lhe pressionei? — As coisas teriam sido diferentes se

tivesse esperado um pouco mais para voltar a sua cama? Mas se

tinha esperado o que parecia uma eternidade... ao menos para um

rapaz de vinte anos.

— Não. Sim. Não sei. E-eu tinha tanto medo, — negou com a

cabeça, — Me equivoquei.

— Era jovem. Nós dois éramos. Deveria, deveríamos, nos

perdoar.

Provavelmente, tinham se casado muito jovens. Muitos dos

seus amigos haviam dito que cometiam um erro, que deveria

primeiro correr algumas jardas. Mas ele estava tão seguro...

Passou uma mão pelo cabelo.

— Fui atrás de você, Nell, mas se negou a me ver. Me doeu.

Escrevi, mas não respondeu e voltou a me doer. Já não sabia mais o

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que fazer.

— Eu sei, eu sei, sinto muito, – Nell limpou a cara com os

dedos, — Era tão infeliz, estava tão absorta na minha dor, que era

incapaz de pensar em nada, ou ninguém, exceto em mim, –

respirou e depois se endireitou. Aquele olhar estranho e decidido

tinha voltado aos seus olhos, — Mas se está disposto, se me

perdoar, gostaria de voltar a tentar.

Tinha entendido direito?

— Tentar outra vez, o quê?

— Fazer um bebê.

— Ah, — os joelhos estavam a ponto de dobrar. Ia

desmoronar como um trapo a seus pés.

Ela gostaria de tentar outra vez fazer um bebê. Bom. Ele

desde um princípio estava impaciente para fazer. Mais que

impaciente. Se ela se aproximasse um pouco mais.

Tinha jurado que seria ela quem fecharia a brecha que existia

entre os dois, mas se Nell não agia logo, receava que ia romper a

promessa.

Uma parte muito insistente dele, tentava saltar a brecha, ela

sozinha.

Ela se moveu… apenas para colocar uma mão no seu peito,

mantendo-o afastado.

— Mas deve compreender algumas coisas, Ian.

— Sim, — manteve as mãos nos lados por um simples

exercício de força de vontade, – que coisas?

— Nunca tive nada, nada nem com o senhor Pennington, nem

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com ninguém. Você foi o único homem que se meteu na minha

cama.

— Bem, — Isso era importante. Dizia a si mesmo que era

importante. E dizia a seu impaciente membro, que fosse paciente.

Estava encantado por ter sido o único amante de Nell, mas o que de

verdade queria, de verdade, era deixar de falar e começar a parte

do amante, — Acredito.

— E a partir de hoje, vou ser a única mulher na sua cama.

Não haverá mais amantes.

— Ah.

— Promete? — olhava com o cenho franzido, mas parecia

também insegura, — Jura?

Ele poderia ter uma pergunta também para fazer. Por muito

que quisesse se meter na cama com Nell, talvez existisse algo mais

importante.

— Vai ser uma esposa para mim? Isto não se trata apenas

sobre a possibilidade de ter um filho, certo? Também diz respeito a

ter uma vida juntos. Porque acabo de decidir que lhe perder uma

vez foi o suficiente. Não posso passar por isto de novo. Não

sobreviveria.

Ela levantou a outra mão até seu peito e deu o primeiro passo

para juntar seus corpos.

— Sim. Quero ser sua esposa, Ian, e a mãe de seus filhos, se

Deus quiser.

— E se Deus não quiser, Nell? Se não formos abençoados com

filhos, seguirá sendo minha esposa?

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— Sim. Sim, Ian, seguirei.

— Então juro que não haverá outras mulheres. É fácil jurar,

Nell. Nunca desejei outras mulheres, a não ser você. Quando me

meti em outras camas, e sim fiz isto, mas só depois de você me

abandonar, sempre desejei que fossem você. Nunca deixei de lhe

amar. Nunca.

Ela fechou os olhos por um momento. Acreditava nele.

Acreditava.

— Eu tampouco deixei de lhe amar, Ian – levantou uma mão

do seu peito e lhe acariciou a face, — Senti sua falta. Durante muito

tempo não senti nada. Nada em absoluto. Estava congelada como o

lago Kilgorn no inverno. Mas agora... ao lhe ver outra vez se

derreteu o gelo que me envolvia o coração.

Ele esboçou um leve sorriso, mas seus olhos eram decididos,

quase tensos.

— Gostaria de dizer mais, Nell. Gostaria... desejaria... acha

que podemos ir para cama agora?

— Agora, — Ela ruborizou, — Mas se apenas passou do meio-

dia.

Ele cobriu sua mão com a dele.

— Isto nunca nos deteve antes.

— Não, — Nell sentiu que ruborizava mais ainda. As

palpitações na parte debaixo do seu corpo tinham começado de

novo, — Mas agora somos mais velhos.

— Mais velhos, mas não velhos. Decrépitos.

Ela começou a rir.

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— Não, não decrépitos.

— E passou tanto tempo desde a última vez que lhe toquei.

Essas últimas noites estiveram a ponto de me deixar louco. E agora

está aqui. Dizendo que deseja, – sua voz ficou mais baixa, mais

rouca, mais profunda, — Tentar fazer um filho.

Calor e umidade se uniram na parte baixa do seu ventre e

entre as pernas. De repente estava ardendo. A roupa apertava

demais, restringia em excesso.

Por que estavam esperando?

— Por favor, Nell. Por favor deixa que lhe faça amor agora.

E então ela sorriu. Tinha prometido ser valente, agora seria

atrevida. Era seu esposo e tinha razão. Tinha passado muito tempo

desde que ele tinha sido um esposo para ela.

Deixou cair as mãos e começou a desabotoar os botões do

colete.

— De acordo, se insiste, — Seus dedos se detiveram. Eram

jovens e inexperientes a última vez que fizeram. Ela ainda tinha

pouca prática, mas ele... — Passaram dez anos, ficará

decepcionado.

— Como posso ficar decepcionado, Nell? Finalmente estou

com minha esposa, a quem amo.

— Mas não sei nada, não aprendi nada...

Ele pôs os dedos sobre seus lábios.

— Faz duas noites foi bem inventiva.

Ele se referia a...? Nell ruborizou.

Ian sorriu.

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— Racionalizamos, conversamos, discutimos bastante, Nell.

Agora toca sentir e substituiu os dedos pelos lábios. Eram cálidos e

firmes e... reconfortantes. Acolhedores – recorda, – murmurou

quando moveu os lábios até as pálpebras, — Temos toda a tarde e

toda a noite para aprender juntos. Temos uma vida toda. Não há

pressa.

Deslizou os lábios até o queixo e em seguida a esse lugar tão

sensível atrás da orelha.

Os joelhos de Nell afrouxaram, teve que se aferrar a ele ou

teria caído.

Ian voltou a beijar sua boca e inseriu a língua dentro. A carícia

era urgente, devoradora.

Ela se apertou contra ele. Queria ser devorada. Desejava com

todas as suas forças estar tão unida àquele homem de tal forma

que ninguém soubesse onde terminava ela e começava ele. Nunca,

nunca, voltaria a se separar dele.

Estavam separados por roupas demais.

Ian deve ter lido sua mente.

— Este vestido é lindo, Nell, mas seria ainda mais bonito no

chão, – sussurrou enquanto movia as mãos para se encarregar dos

botões.

— Mmm, — Seus dedos eram muito ágeis. Aprendeu... não,

não ia pensar nas outras mulheres. E a verdade é que tirava a

roupa dela tão rápido como no início do casamento.

O vestido caiu no chão, seguido rapidamente pelo corpete e

as anáguas. O ar frio do quarto se derramou por sua pele,

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endurecendo os mamilos.

— Nell, — Ian tentou segurá-la, mas ela lhe deteve colocando

outra vez a mão sobre o peito, melhor dizendo, sobre o colete. No

seu muito elegante e também inoportuno colete. Nell só tinha

conseguido abrir um botão quando se distraiu.

Ele franziu o cenho.

— O que?

Ela olhou sorridente, encantada com o olhar ardente e

apaixonado de Ian.

— É minha vez – e passou ao segundo botão.

— Posso fazer com que isto vá mais rápido.

— Oh, então se tratava de velocidade. Acredito recordar...

muito vagamente, já sabe... uma vez me disse que mais rápido não

era sempre o melhor.

Ele soltou uma gargalhada curta e entrecortada.

— Eu disse isto? Não creio que tivesse tanto juízo quando era

apenas um garoto.

— Era mais que um garoto.

Ele deu um salto, respirando com dificuldade quando as mãos

de Nell, depois de desabotoar o último botão do colete, roçaram a

considerável protuberância embaixo das calças.

— Não, apenas era pouco mais que um menino.

Ian traçou um círculo ao redor de um dos mamilos quando ela

puxou sua camisa para desvencilhá-la das calças. Foi sua vez de

respirar com dificuldade. Um calor úmido inundou a parte dela que

estava mais ansiosa para receber suas carícias.

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Talvez ir lento não seria possível desta vez, mas Nell tentaria

enquanto pudesse.

— Tira a camisa.

— Será um prazer, — Ian deixou cair o colete pelos ombros e

agarrou a camisa, puxando ela com força e tirando pela cabeça e

atirando num canto. Em seguida pegou Nell e a aproximou dele,

deslizando as mãos por todo seu corpo, desde os ombros baixando

pela coluna, ao longo da cintura até as nádegas redondas e

voltando todo o caminho até roçar as laterais dos seios que estavam

apertados contra seu tórax.

As mãos de Nell também estavam ocupadas, explorando. A

pele de Ian era suave, mas os músculos fortes. Apoiou a cara em

seu peito e inspirou profundamente. Ele cheirava a... casa. Não a

Pentforth, nem mesmo ao Castelo Kilgorn, senão a urze e sol, como

Escócia. Como Ian.

Ian, que todavia levava postas as calças. As sentia ásperas ao

roçar sua pele, e a crista dura escondida nelas lhe pressionava com

urgência o ventre.

Ela se moveu, e Ian deixou que se afastasse apenas o

necessário para chegar nos botões.

— Ah, garota, estava esperando que chegasse aí.

— Seria impossível esquecer, verdade? Está empurrando com

bastante insistência.

— Sim. Estou muito, muito… — ficou sem fôlego quando ela

liberou o último botão.

— Impaciente. Oh, Nell...

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Ela o envolveu com as mãos. Era comprido e grosso. E

quente. Esfregou uma gota de umidade que tinha na ponta.

— Nell, — Sua voz agora parecia muito tensa. Estava

resfolegando. Bom, ela também resfolegava, —Este jogo é muito

tentador, mas agora é hora de acabar. Não posso esperar mais.

Ela se esticou, esfregando os seios contra ele.

— Só estava matando o tempo, antes que assumisse o

controle, Ian, tal como sempre fazia.

Do fundo da garganta de Ian, veio um grunhido.

— E eu que acreditei que era um cavalheiro me submetendo

aos desejos de uma dama.

— Oh, — Nell beijou seu queixo, — Bem, pois esta dama

deseja ser levada de imediato para cama.

— Já vejo, — ele disse com um sorriso aberto, — Então ficarei

encantado de obedecer – a levantou nos braços e depositou sobre a

estreita cama.

Se deteve um momento para admirá-la. Nunca tinha achado

que a veria assim novamente, com o cabelo negro estendido pelo

travesseiro, os ombros brancos e cremosos. Amava a mente e o

coração de Nell, mas também amava muitíssimo seu corpo, as

elegantes elevações de seus seios com aqueles preciosos mamilos

rosados, a curva delicada de sua cintura que se deslizava até a

extensão generosa de seu quadril, os formosos riscos escuros que

marcavam o lugar onde entraria dentro de alguns instantes.

Ian se inclinou para tirar os sapatos e baixar as meias,

passando devagar as mãos pelos joelhos e panturrilhas. Inspirou o

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odor almiscarado de sua necessidade.

Já não podia resistir mais. Se inclinou com rapidez e lhe beijou

ali, bebeu...

— Aaahhh, — Nell lhe agarrou pelo cabelo e tentou se afastar,

— O que está fazendo?

Ele moveu a língua sobre seu sexo.

— Gosta, Nell? — deslizou as mãos por baixo dos quadris, a

levantando para poder beber com mais profundidade, lambendo o

pequeno ponto tão sensível que estava escondido ali.

— Oh. Ah. Ohh.

— Me fala. Você gosta?

— Sssim.

Ela estava ardendo, resfolegando, se retorcendo entre os

lençóis. Cheirava a mulher, a paixão, a Nell. Não recordava ter sido

nunca tão feliz.

Um órgão em particular insistente lhe recordou que muito em

breve seria ainda mais feliz. Muito mais em breve se seguia com

isto.

Nell, garota esperta, pelo visto estava de acordo.

— Ian, — puxou outra vez seu cabelo, — Agora. Por favor.

Não quero esperar mais.

Ele abaixou seus quadris e se recostou sobre ela.

— Eu tampouco quero esperar mais – a beijou na boca com

lentidão, logo passou para os seios, os mamilos. Mmm. Chupou

enquanto deslizava um dedo sobre a carne molhada

e sensível da entrada de seu sexo.

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Os quadris de Nell estremeceram com força e ela gritou.

— Ian, tira as calças agora. Não quero esperar mais.

— Sim, milady. Como a senhora desejar, — saiu da cama e do

resto de sua roupa.

Nell o via através de uma neblina de desejo. Ela literalmente

padecia por ele. O passado, o presente... tudo se resumia a este

quarto, esta cama, a pequena abertura entre as coxas que chorava

por ele. Estava louca de excitação e de amor.

Ian veio por ela e Nell abriu as pernas para lhe dar boas-

vindas. No momento em que ele a tocou ali, começou a se desfazer.

Quando a penetrou, seu corpo estremeceu e se apertou ao redor

dele. Ian se moveu uma vez, duas vezes... e então ela sentiu como

sua semente quente a preenchia.

Havia dado vida para ela? Tinha feito uma criança?

Tinham começado de novo seu amor, seu casamento. Se os

filhos viessem, seria uma bendição adicional. Ela suspirou e com as

mãos percorreu suas costas molhadas pelo suor. Tinha a impressão

que ia estalar de tanto amor que a preenchia.

Ian riu entredentes.

— Foi rápido.

— Mmm.

— No geral não sou tão rápido, sabe?

— Mmm. Eu também fui rápida.

— Deus, Nell, — suspirou ele com os olhos fechados e apoiou

a testa na dela, — Senti sua falta.

Nell lhe acariciou a mandíbula.

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— Eu também.

— Não vai mudar de opinião? Não me deixará outra vez? Não

poderia suportar se o

Fizesse, – sussurrou as palavras, sobre a boca.

— Não, Ian, aprendi bem a lição, — assegurou ela, passando

os dedos por seu pelo.

— Vou me aferrar a você como uma trepadeira.

O canto da boca de Ian se curvou e moveu os quadris.

— Uma trepadeira? Acha que agora estamos bem juntos?

Quer que a mantenha aderida a mim dessa maneira?

Nell soltou um risinho e notou como se punha duro dentro

dela.

— Sim, por favor.

— Mmm, — a beijou outra vez e logo levantou a cabeça, — O

que é? — franziu o cenho ao tocar as lágrimas com os dedos, —

Está chorando.

— São lágrimas de alegria, — disse ela limpando as

bochechas, — Estive tão preocupada desde que cheguei aqui...

desde antes de chegar, – soltou outro risinho. — Não andei

dormindo bem, digamos. Já sabe.

— Sim, — o outro canto de sua boca se curvou também até

em cima, — Sim, sei muito bem.

— Eu tampouco dormi muito, — se inclinou para beijá-la no

nariz e moveu outra vez o quadril, — Iremos a... — emudeceu de

repente e em seguida saiu com rapidez do seu corpo, tampando os

dois com a colcha.

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— Não…

Ian pôs um dedo em seus lábios e a encarou com um grande

sorriso.

— Tenho uma audição muito fina... resultado do tempo que

malgastei longe de você.

Estamos a ponto de ter companhia.

— Como? — Nell desviou o olhar para a porta. Sem dúvida

estava abrindo. Nell se meteu mais para baixo das cobertas quando

Annie entrou com um montão de roupa.

— A senhorita Smyth me disse que a senhora estaria aqui,

milady, assim que... — Annie por fim olhou para a cama. Ficou

boquiaberta... e em seguida lhes dirigiu um sorriso amplo.

— Bom, alguma novidade?

Nell estava segura que ia morrer de vergonha. Olhou para Ian,

o homem se destrambelhava de rir! Era óbvio que não seria de

nenhuma ajuda. Pigarreou.

— Queria algo, Annie? Laird Kilgorn e eu estávamos… — Ian

todavia estava rindo as gargalhadas. Estava claro que ela não ia

contar o que estavam fazendo, se bem que só um idiota não

adivinharia a resposta, — Bem, necessita, algo?

Annie também tinha se posto a rir.

— Não, milady. Já vou. Direi a senhorita Gilbert que não

precisa se preocupar em arrumar um aposento para milorde, —

abriu a porta, — Mamãe vai ficar muito contente.

Nell se deixou cair sobre os travesseiros no momento em que

a porta fechou. Ian ria tanto que umas grossas lágrimas desciam

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pelas bochechas e respirava com dificuldade.

— Oh, basta. Em uns minutos toda a casa saberá com

exatidão o que estávamos fazendo.

Isto o fez reagir. Deixou de rir e pôs uma de suas enormes

mãos sobre um seio.

— Esplêndido. Vou me assegurar de estar à altura até mesmo

do falatório mais escandaloso.

— Mas… oh. Hmm. Mmm.

Nell decidiu que na verdade não tinha vontade de discutir.

F I M

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RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Sally MacKenzie decidiu que queria ser escritora quando

era criança. No entanto, optou por estudar Direito, mesmo que não

estivesse muito convencida de querer exercer a profissão. Casou

com seu namorado, companheiro de faculdade, e quando tiveram

seu primeiro filho, Sally decidiu dar o grande salto e começar seu

almejado sonho. Mas seus afazeres como mãe não lhe deixaram

tempo para praticamente nada que não fosse cuidar de seus

―rebentos‖. Quando seus filhos forma para a universidade, por fim!

Sally se dedicou de corpo e alma a escrita.