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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL – UNIDERP
SAMUEL COELHO LIMA
TRANSFORMAÇÕES DE QUATRO RUAS DE CAMPO GRANDE,
MATO GROSSO DO SUL:
MUITAS HISTÓRIAS, AMBIÊNCIAS E O IMAGINÁRIO COLETIVO
CAMPO GRANDE – MS 2007
SAMUEL COELHO LIMA
TRANSFORMAÇÕES DE QUATRO RUAS DE CAMPO GRANDE,
MATO GROSSO DO SUL:
MUITAS HISTÓRIAS, AMBIÊNCIAS E O IMAGINÁRIO COLETIVO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado Acadêmico em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.
Orientação: Profª. Drª. Lucia E. A. Raffo Mascaró Profª. Drª.Albana Xavier Nogueira Profª. Drª.Mercedes Abid Mercante
CAMPO GRANDE – MS 2007
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UNIDERP
Lima, Samuel Coelho.
Transformações de quatro ruas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul: muitas histórias, ambiências e o imaginário coletivo / Samuel Coelho Lima. -- Campo Grande, MS, 2007.
76 f. : il. color.
Dissertação (mestrado)- Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, 2007.
“Orientação: Profª. Dra. Lucia E. A. Raffo Mascaró”.
1. Ruas - Campo Grande (MS) 2. Espaço urbano - Percepção ambiental 3. Degradação ambiental 4. Qualidade ambiental. I.Título.
CDD 21.ed. 307.342098171
304.2098171
L732t
FOLHA DE APROVAÇÃO
Candidato: Samuel Coelho Lima Dissertação defendida e aprovada em 22 de novembro de 2007 pela Banca Examinadora: __________________________________________________________ Profa. Doutora Lúcia Elvira Alícia Raffo de Mascaró (orientadora) Doutora em Arquitetura e Urbanismo __________________________________________________________ Profa. Doutora Lúcia Salsa Corrêa (UFMS) Doutora em História Econômica __________________________________________________________ Prof. Doutor Silvio Jacks dos Anjos Garnés (UNIDERP) Doutor em Ciências Geodésicas
_________________________________________________ Prof. Doutor Silvio Favero
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
________________________________________________ Prof. Doutor Raimundo Martins Filho
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIDERP
Dedico este trabalho a duas pessoas,
que, sem elas, nada disso seria
possível minha “Mãe e meu Pai”
Dulcinês Pereira Lima e
Sergio Coelho Lima, exemplos de
esperança, amor e dedicação naquilo em que
acreditam.
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e Nossa Senhora, por colocar pessoas
tão maravilhosas no meu caminho, uma delas, Lúcia Mascaró, atenciosa e paciente, e
principalmente muito competente.
Agradeço também, a toda minha família, que nos momentos mais difíceis,
sempre estiveram ao meu lado, principalmente, meu Irmão Saulo e minhas irmãs Sarah
e Déborah, e a minha afilhada, fonte de inspiração, Larah e, a recém chegada a família
Mariana.
Ao amor de minha vida Polyana, e meus primos Raphael e Reginaldo
(Dinho), que me apoiaram nas visitas in-locu deste trabalho.
Ao meu amigo Rodrigo Abdo e minha amiga Eva Teixeira, e gostaria ainda
de agradecer a paciência e a compreensão da Coordenação do Curso do Mestrado em
Meio Ambiente e a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIDERP.
Agradeço a todos os anônimos, que participaram do questionário, que
possibilitaram a construção deste trabalho, e a um grande amigo do peito, Adilson Melo
pelos muitos embates sociais travados na adolescência, onde iniciou a centelha da
busca continua do conhecimento.
iii
O assunto mais importante
do mundo pode ser simplificado
até ao ponto em que todos possam
apreciá-lo e compreendê-lo.
Isso é - ou deveria ser - a
mais elevada forma de arte.
Charles Chaplin
iv
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................ iii
EPIGRAFE............................................................................................................ iv
LISTA DE FIGURAS............................................................................................ vii
LISTA DE TABELAS............................................................................................ x
RESUMO.............................................................................................................. xi
ABSTRACT.......................................................................................................... xii
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1
2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................ 4
2.1 BREVE REVISÃO DA EVOLUÇÃO HISTÓRICO-AMBIENTAL DAS RUAS
DAS CIDADES..................................................................................................... 4
2.2 A FORMAÇÃO DA CIDADE DE CAMPO GRANDE E SUAS RUAS............. 8
2.3 CARACTERÍSTICAS DAS QUATRO RUAS ESTUDADAS........................... 16
2.3.1 Características gerais.................................................................................. 16
2.3.2 Características específicas.......................................................................... 19
2.3.2.1 Rua 14 de Julho....................................................................................... 19
2.3.2.2 Av. Calógeras........................................................................................... 21
2.3.2.3 Rua Dom Aquino...................................................................................... 24
2.3.2.4 Rua Barão do Rio Branco........................................................................ 25
3 METODOLOGIA............................................................................................... 28
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................... 30
4.1 O OLHAR DO PESQUISADOR: ANÁLISE DESCRITIVA DAS RUAS
ESTUDAS............................................................................................................. 30
4.1.1 Calçadas, o lar do homem livre................................................................... 30
4.1.2 Mobiliário urbano......................................................................................... 35
4.1.3 Arborização urbana...................................................................................... 43
4.1.4 A edificação e o entorno.............................................................................. 46
4.2 O OLHAR DOS USUÁRIOS........................................................................... 51
v
4.2.1 Apresentação dos resultados obtidos com o questionário e seus
comentários.......................................................................................................... 51
4.2.1.1 A relação usuário com comércio, lazer e ambiência................................ 53
5 CONCLUSÃO.................................................................................................... 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 73
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Aqueduto de Romano de Segóvia, Espanha........................................ 5
Figura 2. Rua de Tuy, Espanha........................................................................... 6
Figura 3. Planta de Campo Grande do Plano 1909............................................. 9
Figura 4. Morada dos Baís, Campo Grande 1913............................................... 10
Figura 5. Avenida Afonso Pena, Campo Grande................................................. 11
Figura 6. Colônia japonesa, Campo Grande........................................................ 12
Figura 7. Reunião no Coreto da Praça Ary Coelho, Campo Grande................... 13
Figura 8. Desfile na Rua 14 de Julho, Campo Grande........................................ 14
Figura 9. Avenida Afonso Pena, Campo Grande..................................................... 15
Figura 10. O quadrilátero das quatro ruas estudadas, Campo Grande............... 18
Figura 11. Relógio da rua 14 de Julho, Campo Grande...................................... 20
Figura 12. Rua 14 de Julho, Corpus Christi , Campo Grande............................. 20
Figura13. Estação Ferroviária, Campo Grande................................................... 21
Figura 14. Charreteiros na Avenida Calógeras ao lado da Estação Ferroviária, Campo Grande..................................................................................................... 22
Figura 15. Armazém ferroviário reformado, Campo Grande................................ 23
Figura 16. Início da Avenida Calógeras, Campo Grande.................................... 23
Figura 17. Rua Dom Aquino, Campo Grande...................................................... 24
Figura 18. Rua Dom Aquino, Campo Grande...................................................... 25
Figura 19. Rua Barão do Rio Branco, Campo Grande........................................ 26
Figura 20. Rua Barão do Rio Branco, Campo Grande........................................ 27
Figura 21. Calçada oeste av. Calógeras, Campo Grande................................... 30
Figura 22. Calçada sul rua Dom Aquino, Campo Grande................................... 31
Figura 23. Calçada sul rua Barão do Rio Branco, Campo Grande...................... 32
Figura 24. Calçada norte rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.................. 34
Figura 25. Benefícios de uma árvore adulta........................................................ 34
Figura 26. Poste de controle de estacionamento de veículos, Campo Grande... 35
Figura 27. Poluição visual do ambiente urbano, Campo Grande........................ 36
Figura 28. Lixeira na rua Dom Aquino, Campo Grande....................................... 37
vii
Figura 29. Lixeira na rua Dom Aquino, Campo Grande....................................... 37
Figura 30. rua 14 de Julho, guarda bicicletas, Campo Grande............................ 38
Figura 31. rua Barão do Rio Branco, guarda bicicletas, Campo Grande............. 38
Figura 32. Banco na rua 14 de Julho Campo Grande......................................... 38
Figura 33. Banco na av. Calógeras, Campo Grande........................................... 38
Figura 34. Telefones públicos na rua Dom Aquino, Campo Grande................... 39
Figura 35. Placas comerciais na rua Dom Aquino, Campo Grande.................... 40
Figura 36. Caixas de correspondência na av.Calógeras, Campo Grande........... 40
Figura 37. Banca de jornal, rua Barão do Rio Branco, Campo Grande............... 40
Figura 38. Banca de jornal, rua Dom Aquino,Campo Grande............................. 40
Figura 39. Marquise na rua Dom Aquino, Campo Grande................................... 41
Figura 40. Marquise na rua Dom Aquino, Campo Grande................................... 41
Figura 41. Semáforo para pedestres, rua Dom Aquino, Campo Grande............. 41
Figura 42. Fiação aérea, rua Dom Aquino, Campo Grande................................ 42
Figura 43. Fiação aérea, rua Barão do Rio Branco, Campo Grande................... 42
Figura 44. Fiação aérea, rua 14 de Julho, Campo Grande.................................. 42
Figura 45. Fiação aérea, av. Calógeras, Campo Grande.................................... 42
Figura 46. Jardim na rua Barão do Rio Branco, Campo Grande......................... 43
Figura 47. Canteiro de flores na rua Barão do Rio Branco, Campo Grande....... 43
Figura 48. Sibipiruna da rua Barão do Rio Branco, próximo a av. Calógeras, Campo Grande..................................................................................................... 44
Figura 49. Sibipiruna na rua Dom Aquino, esquina com av. Calógeras, Campo Grande................................................................................................................. 44
Figura 50. rua Dom Aquino, Campo Grande........................................................ 44
Figura 51. rua Dom Aquino, Campo Grande........................................................ 44
Figura 52. rua Dom Aquino, Campo Grande........................................................ 45
Figura 53. rua Dom Aquino, Campo Grande........................................................ 45
Figura 54. avenida Calógeras, Campo Grande................................................... 45
Figura 55. Amenização da temperatura dia e noite pela vegetação.................... 46
Figura 56. Fator céu visível.................................................................................. 47
Figura 57. Paralines da avenida Calógeras, Campo Grande.............................. 47
Figura 58. Paralines da rua 14 de Julho, Campo Grande.................................... 47
viii
Figura 59. Fachadas expostas Rua Barão, Campo Grande................................ 48
Figura 60. Toldos de proteção solar, rua 14 de Julho, Campo Grande............... 49
Figura 61. Toldo de proteção solar, rua 14 de Julho, Campo Grande................. 49
Figura 62. rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.......................................... 50
Figura 63. rua Dom Aquino, Campo Grande........................................................ 50
Figura 64. avenida Calógeras, Campo Grande................................................... 50
Figura 65. rua 14 de Julho, Campo Grande......................................................... 50
Figura 66. Deterioro do meio fio na rua 14 de Julho, Campo Grande................. 51
Figura 67. Deterioro do meio fio na rua Dom Aquino, Campo Grande................ 51
Figura 68. Mobiliário urbano do projeto de Jaime Lerner, Campo Grande.......... 54
Figura 69. Vista calçadão da rua Barão do Rio Branco, Campo Grande............ 56
Figura 70. Vista aérea e fluxo de veículos da área estudada, Campo Grande.. 57
Figura 71. Vista rua 14 de julho (sombra) Campo Grande.................................. 58
Figura 72. Vista rua 14 de julho (sol) Campo Grande.......................................... 58
Quadro 1. Número de pessoas que podem circular, numa única direção, em vias horizontais ou de pouca declividade............................................................. 58
Figura 73. Vista rua Barão do Rio Branco (sol), Campo Grande......................... 59
Figura 74. Vista rua Barão do Rio Branco (sombra), Campo Grande................. 59
Figura 75. Vista esquina rua 14 de Julho, Campo Grande.................................. 63
Figura 76. Vista esquina rua Dom Aquino, Campo Grande................................. 64
Figura 77. Vista esquina rua Dom Aquino, Campo Grande................................. 65
Figura 78. Vista rua Barão do Rio Branco, Campo Grande................................. 69
Figura 79. Vista rua Dom Aquino, Campo Grande............................................... 69
Figura 80. Movimento de pessoas dia “sem carro”, rua 14 de Julho, Campo Grande................................................................................................................. 69
Figura 81. Praça artificial, dia “sem carro”, rua 14 de Julho, Campo Grande...... 69
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Motivo pelo qual os usuários freqüentam as ruas analisadas............ 53
Tabela 2 - Opinião dos usuários pelos espaços urbanos estudados................... 55
Tabela 3 - Aspectos das ruas que mais agradam ao usuários............................ 55
Tabela 4 - Preferência dos usuários em relação á freqüentar a rua ou o shopping............................................................................................................... 56
Tabela 5 - Influência do tempo frio no uso da rua................................................ 60
Tabela 6 - Influência do calor no uso das ruas.................................................... 60
Tabela 7 - Influência da chuva no uso das ruas.................................................. 60
Tabela 8 – Influência de cada fator climático questionado no uso das ruas........ 61
Tabela 9 - Preferência da estação do ano para fazer compras no centro da cidade................................................................................................................... 61
Tabela 10 - Percepção dos usuários em relação às edificações de interesse da área analisada................................................................................................. 62
Tabela 11 - Aspectos que incomodam aos usuários das ruas estudadas........... 63
Tabela 12 - Opinião dos usuários sobre as calçadas das ruas analisadas......... 64
Tabela 13 - Opinião dos usuários sobre as edificações que delimitam as ruas analisadas............................................................................................................ 66
Tabela 14 - Opinião dos usuários sobre a aparência das ruas analisadas......... 66
Tabela 15 - Opinião sobre as ruas estudadas no período noturno...................... 67
Tabela 16 - Opinião sobre a presença de árvores nas ruas................................ 67
Tabela 17 - Propostas de mudança dos usuários................................................ 68
x
RESUMO
As ruas centrais da cidade foram, durante muito tempo, a principal forma de
demonstração do poder do desenvolvimento econômico e sócio-político da cidade. Os
novos pólos comerciais de serviço e lazer ofuscaram este brilho; no entanto, ao nos
defrontarmos com os novos paradigmas da sustentábilidade nos deparamos novamente
com a oportunidade de rever sua importância para o desenvolvimento sustentável da
cidade. Seguindo essa linha de raciocínio, foi desenvolvida esta pesquisa que procura
retratar os aspectos físicos e de uso, assim como a opinião dos usuários de quatro ruas
da região central da cidade de Campo Grande ao longo do tempo (rua 14 de julho, rua
Dom Aquino, rua Barão do Rio Branco e avenida Calógeras). Ruas que foram feitas
através do tempo e pela acumulação de pequenos e grandes gestos, essas são as
analisadas neste estudo, verificando nelas diversos aspectos negativos. Na análise dos
aspectos físicos das ruas ficou clara a falta de incentivos e reformas amplas que
beneficiem os usuários da área central; este problema vem se arrastando desde a
segunda metade do século 20. Os serviços oferecidos e as instalações existentes não
resolvem problemas como proteção contra sol e chuva, escoamento das águas pluviais,
acessibilidade, segurança quanto à circulação das pessoas nas faixas de pedestre e
calçadas; a paisagem não agrada aos usuários, que possuem uma opinião negativa
das ruas e reclamam da “feiúra” desse quadrilátero central. Mas, a rua não pode deixar
de ser um fator de eficiência funcional, gerador de qualidades ambientais desejáveis e
de integração entre atores sociais diferenciados. Nesta perspectiva de análise, a
riqueza e variedade de experiências que propõe a rua, esboçam, novamente, o
problema de como articular em um sentido coletivo essa diversidade de lugares
urbanos em benefício dos interesses comuns e resgatar o caráter “condensador de
público” que as ruas tiveram e podem voltar a ter.
Palavras – chave: Degradação – Percepção - Recinto Urbano – Qualidade Ambiental.
xi
ABSTRACT
The streets of the central city were, for a long time, the main form of demonstration of
the power of economic development and socio-political city. The new poles commercial
service and leisure ofuscaram this brightness; However, the in defrontarmos with the
new paradigms of sustentábilidade we again with the opportunity to review their
importance to the sustainable development of the city. Following this line of reasoning,
this research has been developed that describe the physical demand and usage, as well
as the views of users of four streets in the region's central city of Campo Grande over
time (street on July 14, street Dom Aquino , Baron of Rio Branco street and avenue
Calógeras). Streets that were made through time and the accumulation of large and
small gestures, these are analyzed in this study, checking them several negative
aspects. In the analysis of the physical aspects of the streets was clearly a lack of
incentives and broad reforms that benefit users to the center; This problem has been
dragging since the second half of the 20th century. The services offered and existing
installations do not solve problems such as protection from sun and rain, disposal of
rainwater, accessibility, security on the movement of people on the tracks and
pedestrian walkways; The landscape does not like to users, which have a negative
opinion of streets and call the "feiúra" this central quadrilateral. But the street can only
be a factor of operational efficiency, generating environmental qualities desirable and
integration between different social actors. In this light of analysis, the richness and
variety of experiences that proposes street outline, again, the problem of how to
articulate in a collective sense that diversity of urban places for the benefit of common
interests and redeem the character "condenser of the public" that the streets and were
able to have.
Keywords: Degradation – Perception - Urban House- Environmental Quality
xii
1
1 INTRODUÇÃO
A rua surge quando aparecem as fronteiras que separam o interior do
exterior, com sentido diferencial entre o público e o privado. O aparecimento da rua é o
símbolo da separação entre estes dois domínios, entre a comunidade e a unidade
familiar.
A rua, máxima expressão da vida urbana, lugar de encontros e de
intercâmbios, espaço de igualação e democrático por excelência, é também um espaço
social.
O espaço urbano parte da natureza modificada e, da ação do homem,
com um fim específico e carregado de significados. Falar sobre a rua é falar da cidade,
estruturada em espaços abertos de caráter eminentemente público, comunitário e
participativo.
As dimensões espaço e tempo andaram e evoluíram juntas no decorrer da
história e na materialização da cidade. O tempo, por meio da memória, converte-se na
consciência do lugar; memória que é necessária para que o espaço urbano, a rua, por
exemplo, tenha significado, que possa ser identificado e apropriado pela sociedade.
Espaço e tempo são duas dimensões fundamentais para a interpretação
da vida em sociedade do ser humano, para o reconhecimento dos modos de uso social
dos lugares, para penetrar na história da comunidade.
Hoje, os espaços públicos são usados de diferentes maneiras, dentre, as
que se destacam a passagem do uso passivo ao ativo. As atividades populares são
mais freqüentes e as pessoas, a música e o teatro se apropriam deles. Vendedores de
todo tipo, gente que manifesta publicamente suas idéias religiosas, políticas ou sociais,
que nem sempre são “heróis” ou tiveram seus nomes gravados na história, são os
cidadãos anônimos, atores fundamentais no processo construtivo da cidade.
A rua constitui a manifestação essencial da cidade, é a base da
convivência e o âmbito de representação da coletividade. Como todos os espaços
públicos, têm múltiplas dimensões físicas e funcionais, mas também simbólicas e
políticas. As ruas são consideradas recintos urbanos, compostas de piso e parede,
2
onde o teto é a abóbada celeste. Esse ambiente possui mobiliário como nossas casas,
iluminação natural e artificial, canteiros e árvores, o piso é representado pela
pavimentação da rua e das calçadas e as paredes pelas fachadas das edificações.
Ao analisar esses aspectos sob a ótica socioambiental, foi realizada uma
pesquisa de observação direta, registro fotográfico e entrevistas, em quatro ruas: 14 de
Julho, Dom Aquino, Barão do Rio Branco e Avenida Calógeras, todas elas localizadas
na região central da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de forma a criar
alguns marcos referenciais que as resumissem. A revisão da bibliografia sobre o tema
foi fundamental para a descrição da evolução e avaliação de suas ambiências e a forma
de apreensão de seus usuários. Na observação desses recintos, tentou-se mostrar que
alguns elementos fazem parte do imaginário coletivo e, que podem contribuir
positivamente ou negativamente para o senso de orientação, para o convívio social e
todas as atividades exercidas pelo homem na cidade contemporânea.
Segundo Mascaró (1998), sempre existiu uma estreita relação entre a história geral do homem e seu progresso técnico-econômico. O império Romano, por exemplo, baseou-se na descoberta de seus engenheiros, incluindo os construtores de estradas, tanto quanto nos mais abstratos conceitos de lei e dever. A expansão da Europa no século XVI dependeu da existência de novos meios para cruzar os oceanos, bem como da vontade em fazê-los.
Hoje se vive a era da sustentábilidade, portanto valorizar o espaço
construído é tão importante quanto valorizar o ambiente natural, visto que as ruas da
cidade recobertas pelas camadas de asfalto, um dia fizeram parte do cerrado de Mato
Grosso do Sul. Repensar os espaços modificados ao analisar suas características
sociais-ambientais é uma tentativa de compreendê-los, e criar estratégias para mitigar
os impactos causados pelas novas construções e expansões da cidade, juntamente,
deve-se desenvolver o vínculo de habitar que se tem com as residências também com
as ruas.
Leff (2002) considera o habitat como: o lugar em que se constrói e se define a territorialidade de uma cultura, a espacialidade de uma sociedade e de uma civilização, onde se constituem os sujeitos sociais que projetam o espaço geográfico apropriando-se dele, habitando-o
3
com suas significações e práticas, com seus sentidos e sensibilidades, com seus gostos e prazeres.
O estudo da percepção do usuário sobre a rua, e sua qualidade física-
ambiental, foi dividido em duas partes: a análise dos aspectos físicos do ambiente
(mobiliário urbano, calçadas, edificações e vegetação pública) e a percepção do usuário
dos espaços urbanos analisados, assim o estudo realizado destaca o valor narrativo
desses espaços, e a necessidade de entender todas as suas dimensões (incluída a
comunicativa sujeito-objeto) na sua análise. O objetivo principal deste estudo é
interpretar a forma com que essas pessoas, usuários anônimos, independentemente de
sua formação cultural ou posição social, apreendem o espaço que utilizam para realizar
suas atividades. Para logo compará-lo com a realidade das ruas estudadas, na tentativa
de verificar sua influência na apreensão do recinto pelos citadinos.
4
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Evolução histórico-ambiental das ruas das cidades.
Presentes em todas as cidades, as ruas, em alguns casos surgem
espontaneamente pelas necessidades locais e, em outros, a partir de estudos
complexos, como exemplos as cidades planejadas.
Consideradas como recinto urbano e, por isso, um ambiente passível de
sofrer alterações, sejam elas conscientes e planejadas ao longo da história as ruas são
espectadoras e agentes da evolução da cidade, pois há uma série de fatores que
influenciam na paisagem da rua, sua função, localização, forma, revestimento,
vegetação, edificações, iluminação e mobiliário urbano e, é claro, o agente principal, o
usuário.
As ruas, como espaços físicos e de ambiência social, sempre existiram e
são tão velhas quanto as cidades, perdendo-se nos séculos, entrecruzando-se em
esquinas, numa rede emaranhada de vivências, cortando os demais espaços
existentes. Velhas ruas do mundo antigo, ruelas medievais, acanhadas ruas do mundo
colonial.
Com o aparecimento das primeiras cidades, as ruas tinham uma função
específica que era de permitir a entrada e saída de mantimentos e pessoas e, separar a
área privada da área pública, a casa da rua. Nessa época, eram apenas caminhos
abertos, sem qualquer tipo de preocupação com a forma ou revestimento; não havia
nenhum tipo de ordenamento na ocupação do solo, mas existia um intenso mercado
que era realizado a céu aberto e cumpria com a função básica de permitir o transporte
de mercadorias e a circulação das pessoas a pé e nas carroças puxadas por animais.
Por isso é fácil ver nas cidades antigas, quando a topografia é acentuada, que as ruas
têm forma sinuosa tornando possível seu percurso.
Inicialmente, a iluminação era feita por tochas, a água retirada de poços
coletivos ou individuais, a vegetação existente considerada obstáculo e local de
5
esconderijo; não havia separação entre os homens a pé e os homens montados, todos
transitavam no mesmo plano.
As cidades gregas e romanas são exemplos históricos de organização
espacial, possuíam um sistema de distribuição de água eficiente, por meio de
aquedutos (Figura 1) que conduziam a água por ação da gravidade, mas o traçado
deveria ser o mais retilíneo possível para não haver perda da velocidade da água. Não
existia distribuição individual para os edifícios, a rua continuava a ser apenas um local
de comércio e circulação.
Apesar do revestimento das ruas já ter sido utilizado pelos romanos, foi
com o surgimento do automóvel que seu uso se generalizou, facilitando o transporte,
gerando menos incômodos com buracos e sujeira (MASCARÓ, 1987). Até então a
concepção das ruas tinha como foco principal o pedestre, Figura 2, onde se nota que a
calçada tinha duas vezes a largura da rua. Nota-se, também nessa figura, que com a
menor permeabilidade das ruas causada pelo revestimento de pedras, aumentou o
fluxo e a velocidade da água da chuva que escorriam por elas; por isso, passaram a
Figura 1. Aqueduto de Romano de Segóvia, Espanha. Fonte: MASCARÓ (1987, p.26)
6
receber valas para sua captação, geralmente no centro da rua. Novas funções criaram
a necessidade de encontrar formas de conciliá-las.
Mas, no entender de Georgel (1986), há um momento em que seu
percurso sofreu uma inflexão, que permite afirmar que elas são uma criação do século
19, objeto de um novo imaginário social. Esse momento seria marcado pela
transformação capitalista do mundo e pela progressiva expansão de uma ordem
burguesa, com seu corolário de crenças, valores e idéias.
Com o advento da industrialização, as cidades sofreram uma brusca
transformação, causada pelo aumento desordenado da população e da malha urbana;
ruas estreitas não suportavam o novo fluxo de pessoas e veículos (MASCARÓ,1987).
Pela falta de ordenamento, as edificações amontoavam-se umas as outras e
muito próximas da pista de rolamento, tornaram as ruas pouco ventiladas e
ensolaradas, o que facilitou a disseminação de doenças e pestes pela falta de
saneamento básico. Este fato originou uma série de reformas urbanas.
Figura 2. Rua de Tuy, Espanha. Fonte: MASCARÓ (1987, p.31)
7
Nesse contexto deu-se a emergência paulatina de uma ordem urbano-
industrial que re-inverteu a relação campo-cidade, colocou a urbe como o “lugar onde
as coisas aconteciam”, e trouxe à cena novos atores sociais, portadores de novas
práticas e idéias. A contrapartida cultural desta ampla gama de transformações
materiais e sociais se passa a entender como modernidade, o novo que instala outra
ordem, sendo, também, um elemento de destruição que ameaça valores e altera a
construção do imaginário social. O processo histórico impõe a superação da “velha
ordem” pela “nova ordem” transformando valores, hábitos e formas de representação,
contudo, ocorre casos da convivência dos novos elementos e os velhos.
A rua ordenada e bela passou a ser símbolo das cidades modernas e
burguesas, foram realizados diversos rasgos para que a cidade se preparasse para os
novos e promissores tempos. O foco que antes se voltava para os pedestres, agora
está voltado aos veículos, as ruas ficam mais largas e as calçadas mais curtas
(MASCARÓ, 1987).
As ruas do fim do século 19, sofreram uma série mudanças para que se
adaptasse à cidade moderna, ampla, aberta e ordenada, com boa capitação das águas
pluviais e de esgoto, com distribuição de água potável para as edificações; a
iluminação, que outrora fora feita com lamparinas a gás, é substituída pelas redes
energia elétrica.
Devido à melhoria da qualidade do espaço urbano, sobretudo quanto à
salubridade; ventilação e insolação, a criação dos passeios públicos e uma boa
iluminação noturna a transformam em um local de sociabilização, e a rua deixa de ser
apenas um local de comércio e circulação.
A paisagem urbana muda conforme muda a interação com o usuário. As
possibilidades de realizar atividades mudaram e passaram a agregar outros valores, ao
comércio e a circulação, tais como: festivais, comemorações, diversão, passeio,
reivindicações. A rua do mundo que se transforma sob o impacto do capitalismo, se
povoa de atores sociais específicos, alguns novos, outros nem tanto, mas que por ela
transitam, numa mistura caótica, o povo, a multidão, a burguesia, o proletariado.
(VERÍSSIMO et al, 2001).
8
No decorrer do novo século XX, que despontava ao pulsar da
industrialização e reformas urbanas, carros e gente povoaram as ruas do ambiente
urbano, num bulício de ruídos variados, de modo a configurar um novo cenário com
nova identidade; cartão de visitas de uma cidade, a rua nova foi retratada pelo olhar dos
pintores, escritores, jornalistas, poetas e fotógrafos.
2.2 Formação da cidade de Campo Grande e suas ruas.
Historicamente as cidades brasileiras se estabelecem ao redor de uma
quadra central, onde se concentrava o poder público e o clero, como forma de facilitar o
controle das atividades sociais da comunidade (OLIVEIRA NETO, 1999).
O pequeno vilarejo que deu origem ao atual município de Campo Grande,
no estado de Mato Grosso do Sul, iniciou sua formação ao longo de uma rua, sem
controle, com precário alinhamento entre os ranchos que se instalavam; o traçado das
primeiras ruas era sinuoso para que os carros de bois e as comitivas pudessem vencer
a topografia.
A primeira praça a surgir na vila é dos imigrantes, que ficava no final da
rua Velha, ponto de parada dos boiadeiros. A cidade de Campo Grande não se
configura nos padrões da maioria das cidades brasileiras, ela se estabelece ao longo da
Rua Velha, atual 26 de Agosto, e não a partir de um centro de controle estabelecido na
praça central.
Logo, o vilarejo se tornaria bastante conhecido pelo clima ameno, pela
boa qualidade da terra e, especialmente, pela sua localização que fica na porção
central do Brasil. Em 26 de agosto de 1899, com aproximadamente 300 habitantes, foi
elevada à categoria de cidade, segundo a Resolução Estadual nº 225.
Campo Grande inicia, em 1905, um processo de regulação do espaço
físico e social da cidade, instituindo o Código de Posturas que estabelecia regras,
principalmente com relação ao aforamento dos terrenos municipais e as edificações.
Esse Código de Posturas para o município foi criado em decorrência do processo de
implementação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (WEINGARTNER, 2003).
9
Em 1909 foi elaborado o Plano de Alinhamento de Ruas e Praças de
Campo Grande, projetado pelo Engenheiro Nilo Javari Barém, com o formato de um
tabuleiro de xadrez, ficava evidente a preocupação com o arejamento e higiene do
lugar, ao criar ruas largas, estabelecer praças e, uma nova localização para o cemitério,
fora do centro e no sentido oposto ao vento predominante.
A vida social e a função das ruas da cidade eram as mesmas do tempo da
vila, onde as manifestações e os encontros se realizavam em função do comércio de
gado e festas religiosas. Como espaços da paisagem urbana, as ruas não possuíam
calçamento nem iluminação pública e as pessoas se misturavam ao vai e vem de
carroças e cavalos.
No período noturno a cidade, desde seu surgimento como vila, sempre
teve como atração os bares e cabarés da rua 7 de Setembro, como Machado (2006),
relata a melhoria do “nível dos velhos bordéis” com a chegada das paraguaias bonitas e
amáveis, inclusive a música paraguaia que se tornaria parte do nosso folclore, foi
proibida de ser tocada em muitos salões de família porque lembrava a zona de baixo
meretrício da cidade.
O Plano de Alinhamento de Ruas e Praças (Figura 3), foi uma leitura do
espaço geográfico da vila na época e uma proposta de expansão; nele já aparecem às
ruas 14 de Julho, Dom Aquino, Barão do Rio Branco e a Avenida Calógeras (que forão
o objeto de estudo desta pesquisa)
Figura 3. Planta de Campo Grande do Plano 1909. Fonte: ARRUDA (1999)
10
Essa planta histórica tinha como referências urbanísticas o traçado ortogonal modernista e a sua implantação obedeceu a lógica de instalação das pessoas na época, ou seja, utilizando-se os córregos Prosa, ao sul, e o Segredo a oeste, como limites referenciais. A única rua povoada era a atual rua 26 de Agosto, denominada de rua Velha (ARRUDA, 2001).
Procurou-se, então, criar um ordenamento para a expansão da cidade, no
sentido norte e leste, haja vista que a população e as atividades ainda se concentravam
ao longo e nas proximidades da Rua Velha. O Plano foi posto em prática no mesmo
ano de sua aprovação e as ruas foram abertas e roçadas, proporcionando a
possibilidade de uma nova organização espacial, deixando de concentrar-se em apenas
um recinto urbano.
Aos poucos a cidade passou a se ocupar de suas novas ruas, os ares da
modernidade começaram a se expressar nos novos edifícios de alvenaria, como é o
caso da residência de Amando de Oliveira na Rua Velha esquina com a Avenida
Calógeras (já demolida): o prédio da Intendência municipal e o da Câmara Municipal,
em 1912, na esquina da Avenida Marechal Hermes (agora Av. Afonso Pena) com a Av.
Calógeras (também já demolido) e a Morada dos Baís, o primeiro sobrado de alvenaria
da cidade iniciado em 1913, segundo Arruda (1999), reformado recentemente e
transformado em museu e galeria de artes, com uma área para confraternizações
(Figura 4).
Figura 4. Morada dos Baís, Campo Grande 1913. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
11
Arlindo de Andrade Gomes, em 1911 foi o pioneiro na arborização da
cidade e em 1913, juntamente com o então Intendente José Santiago, tentou realizar os
primeiros plantios de árvores com espécies vindas do Rio de Janeiro e que, pela longa
viagem muitas nem chegavam em boas condições e as que eram plantadas eram alvos
da falta de educação dos carroceiros, segundo o próprio Arlindo1. O movimento para
arborizar a cidade era um fato que ocorria nas grandes cidades.
Mas fora durante seu governo, em 1921, que Arlindo de Andrade Gomes,
com a arborização da avenida principal (hoje Afonso Pena) conseguiu êxito, plantando
no canteiro central Fícus Benjamim e no passeio público Grevílea, que estão presentes
nos dias atuais (Figura 5).
Com a inauguração da ligação dos trilhos e da Estação Ferroviária em
1914, implantada no trecho inicial da Avenida Calógeras, um novo processo de
desenvolvimento se estabelece na cidade, que deixa de ser apenas um lugar de
passagem e parada de comitivas, para ser tornar uma cidade promissora transformando
não só o espaço construído, mas, principalmente, o modo com que as pessoas
utilizavam esse espaço (OLIVEIRA NETO, 1999).
1 Arlindo de Andrade Gomes – Revista Sul-mato-grossense de Letras ano 2006 – p.86. O Município de Campo Grande.
Figura 5. Avenida Afonso Pena, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
12
A ferrovia trouxe consigo o novo, o inédito, o diferente, o dinâmico e, logo
as ruas à sua volta foram sendo ocupadas por pessoas vindas de vários lugares, o
comércio deixou de ser abastecido apenas pelo porto de Corumbá e o transporte dos
animais e as novidades agora chegavam e saiam trazidos pelo trem, diretamente de
São Paulo.
Os trilhos encurtaram a distância, tanto na escala do tempo quanto na do
espaço, entre Campo Grande e os eixos culturais, econômicos e político do país, a
região sudeste, encabeçada por São Paulo. As novidades chegam mais rapidamente
ao interior, as viagens ficaram mais fáceis e os imigrantes foram surgindo, tanto para o
trabalho no comércio, quanto na construção, trazidos pelo embalo do trem, sírios,
libaneses, japoneses, paulistas, baianos, mineiros...(Figura 6)
A ferrovia trouxe o elemento que faltava para modificar a função da rua
visto que até esse momento, o movimento comercial era pequeno e movido por alguns
parcos comércios que eram abastecidos pelo porto de Corumbá (MACHADO, 1990).
Era, portanto, até 1914, um pólo urbano pequeno e com bem limitadas nos sertões
brasileiros.
Figura 6. Colônia japonesa, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
13
As ruas passaram a ocupar um importante lugar na vida social da cidade
de Campo Grande. Os imigrantes trouxeram sua cultura e tradições, seu modo de vida,
novos conhecimentos na construção e, no comércio. A vida social se intensificou e as
ruas adquiriram novas funções. O comércio se expandiu, os intercâmbios culturais
aumentaram e as manifestações da comunidade ganharam novos elementos e atores
sociais, então, a rua é ponto de encontro para as mais variadas discussões, desde
política ao flerte, durante as caminhadas do fim de tarde, as reuniões nas praças para
ver a banda tocar no coreto e terminar por reunir-se com os amigos no pavilhão do chá
(Figura 7).
Figura 7. Reunião no Coreto da Praça Ary Coelho, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
14
Apesar de a estação estar localizada na Avenida. Calógeras, a rua 14 de
julho se tornou a principal da cidade (Figura 8), por ligar a Rua Velha à estação
passando pela praça Ary Coelho, local de encontro da sociedade na época.
Múcio Teixeira Junior que foi convidado a participar do projeto para o
calçamento das ruas centrais da cidade em 1928, relata que a cidade parecia um
verdadeiro faroeste: “Minha primeira impressão foi de estar diante de uma morena
bonita, mas muito mal vestida, descalça, cabelos desgrenhados”2, referindo-se ao
estado com que encontrara e como a interpreta por meio de seu imaginário, relata,
também, que na época da chuva a lama era demais e na seca o vento levantava uma
poeira vermelha insuportável.
A chegada da energia elétrica e dos automóveis por volta de 1920
transformou os hábitos e criou um novo cenário para a cidade (Figura 9). Os trabalhos
de calçamento iniciaram-se na Rua General Melo, em 1928, que liga a estação à Rua
14 de Julho; também foram calçadas a rua 14 de julho e Barão do Rio Branco, 13 de
maio, Rui Barbosa e 15 de novembro chegando até a praça Ary Coelho, terminando os
2 Múcio Teixeira Júnior - Revista Sul-mato-grossense de Letras ano 2006 – p.81, parte do depoimento dado a Maria da Glória Sá Rosa.
Figura 8. Desfile na Rua 14 de Julho, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
15
serviços na Avenida Afonso Pena. Esse trabalho durou dois anos, tendo terminado em
1930.
O desenvolvimento da cidade eleva o seu status na região e, em 1921
instala-se o Comando da Circunscrição Militar vinda da cidade de Corumbá, Campo
Grande passa a ser sede do comando militar da região. É também nesse ano que se
institui o segundo código de posturas, muito mais abrangente, ratificando as questões
quanto à salubridade, ventilação e iluminação natural e criando regras para o
comportamento social.
Surgiram novas atividades de lazer trazidas pela intensificação das
viagens de trem e o transporte aéreo. O que acontecia nas demais cidades brasileiras
logo chegava a Campo Grande, as diversões no espaço público com os piquiniques e
festividades entre grupos sociais começaram a dividir o espaço com os clubes privados,
cinemas e centros culturais (WEINGARTNER, 2003).
Em 1938 foi contratado o Escritório de Saturnino de Brito para realizar os
estudos para um plano de saneamento, que estabeleceu o zoneamento da cidade e a
Figura 9. Avenida Afonso Pena, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
16
divide em cinco zonas: comercial (ou central), industrial, residencial e mista (1ª e 2ª
categorias), numa tentativa de organizar a expansão e uso do espaço.
Nas décadas que se sucederam a cidade se expandiu, em dois períodos,
com a construção e inauguração da Capital Federal Brasília em 1960, e de 1979 a 1982
após a implantação do Estado de Mato Grosso do Sul (EBNER, 1999).
Outros planos e códigos de posturas e obras vieram sempre com o
mesmo intuito de organizar o desenvolvimento da cidade, mas o único que teve um
impacto direto e um olhar diferenciado para a região central foi o Plano de
Complementação Urbana de Jaime Lerner, de 1977, que constaria uma nova Lei de
Uso do Solo, com um novo zoneamento e código de obras, a reestruturação do sistema
viário, do transporte urbano, da infra-estrutura e das áreas de lazer público.
Como resultado do plano de Jaime Lerner, o Projeto Cura Piloto - Área de
Pedestres da Avenida Barão do Rio Branco mostra, dentre outras, a intenção de
intensificar a atividade dos pedestres na região e restabelecer o convívio social, re-
humanizando a área por meio da melhoria do espaço urbano. O calçadão da Rua Barão
de Rio Branco é fruto desse plano, bem como o pontilhão que fora demolido durante a
sua reforma ocorrida entre 2000 e 20023.
As ruas da região central atualmente retratam a imagem de um ambiente
entregue as transformações pontuais e espontâneas4. Este ambiente é repleto de
histórias vivas, representadas por muitos edifícios que ainda resistem ao descaso dos
dias de hoje, as poucas árvores, quase centenárias que amenizam o calor dos usuários
que continuam a usar este recinto e, geram diversidade e vida, história sobre a história
da cidade.
2.3 Características das quatro ruas estudadas 2.3.1 Características gerais
As quatro ruas estudadas são denominadas vias do tipo Principal 2,
segundo o mapa da Hierarquia do Sistema Viário de Campo Grande, que conforme o
Decreto Lei Nº 7.360 de 1996 institui a Hierarquização do Sistema Viário e da outras
3 Revista ARCA, 2006 nº 12, p. 22 4 Situação verificada durante o estudo e a observação direta do ambiente físico.
17
providências; no seu inciso IV descreve que essas vias se caracterizam por realizarem
a ligação entre as regiões da cidade e ordenar o tráfego de transporte coletivo e
veículos leves, provenientes das vias Principais e Coletoras.
Seu revestimento é de asfalto betuminoso, flexível, que apresenta
deformações, principalmente nas vias onde há o trafego de ônibus (Avenida Calógeras
e Rua 14 de Julho).
Nas ruas Dom Aquino e Barão do Rio Branco não há trafego de veículos
pesados, já a rua 14 de Julho e Avenida Calógeras fazem parte da rota do transporte
coletivo urbano e nesta última ainda passam ônibus interestaduais. O trafego de
caminhões é permitido nas quatro ruas estudadas apenas de madrugada, quando as
lojas repõem seus estoques.
A falta de vagas para estacionar os veículos, foi um dos motivos que
levaram a instalar em toda a área central da cidade uma forma de controle e cobrança
pela vaga utilizada.
O quadrilátero que se forma com o cruzamento das quatro ruas esta
dentro de um perímetro considerado pelo Plano Diretor de Campo Grande como sendo
área de interesse cultural, conforme Decreto n. 6752/93.
A rua 14 de Julho e a Avenida Calógeras estão orientadas no sentido
norte-sul. A rua 14 de julho inicia-se mais ao sul, próxima ao cemitério Santo Antonio,
com fluxo de mão única, como todas as ruas estudas neste trabalho, percorrendo 4,8
km, tendo 12 m de caixa, com cinco faixas sendo três para rolagem de veículos e duas
para estacionamento, situadas nas extremidades da pista, termina em uma rotatória
com a rua Mascaranhas de Morais (Figura 10). Já a Avenida Calógeras inicia-se mais
ao norte junto a Estação Ferroviária e percorre 3,0 km, tendo 14 m de caixa com cinco
faixas, sendo uma para estacionamento, outra para utilização exclusiva dos ônibus e
três para veículos leves na parte central; a separação entre a via para ônibus e veículos
é feita por uma faixa pintada no chão, a avenida termina no cruzamento com outra
avenida, a Salgado Filho, onde está localizado o cemitério Santo Antônio (OLIVEIRA
NETO, 1999).
18
As ruas Dom Aquino e Barão do Rio Bando estão orientadas no sentido
leste-oeste. A rua Dom Aquino inicia-se perpendicular à rua 25 de dezembro, próximo à
praça Belmar Fidalgo e percorre 2,86 km, tendo 14,90 m de faixa, com cinco faixas
sendo três para rolagem de veículos e duas para estacionamento nas extremidades da
pista, termina após passar entre duas praças, a praça das Araras e praça Cuiabá, e
encontrando-se com a Avenida Noroeste. Já a rua Barão do Rio Branco inicia-se ao
lado da praça Costa Marques e percorre cerca de 2,78 km, tendo 9,50 m de caixa com
3 faixas sendo 2 para rolagem e 1 para estacionamento, isto no trecho estudado, por
causa da existência do calçadão que começa junto à rodoviária e vai até a rua 14 de
Julho e termina ao encontrar a rua Bahia5.
5 Dados do cumprimento total das Ruas Dom Aquino e Barão do Rio Branco, fornecidos pelo núcleo de geoprocessamento do PLANURB – 2007, os outros dados, Calçada, caixa da rua e faixas colhidos in-locu.
Figura 10. O quadrilátero das quatro ruas estudadas, Campo Grande. Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Grande (2007)
19
2.3.2 Características específicas 2.3.2.1 Rua 14 de Julho
A rua de 14 de Julho era chamada simplesmente de beco, de acordo com
Machado (1990), tinha a mesma infra-estrutura das outras que nasceram com o plano
de 1909. No entanto, um dos grandes trunfos que a ajudou a transformar-se na
principal rua da cidade foi ser via de ligação com a ferrovia (símbolo de prosperidade e
novas riquezas) e com a praça onde toda a sociedade se reunia para o lazer. Em pouco
tempo a rua 14 de Julho pulsava junto com o movimento intenso e diário, sendo palco
das mais diversas comemorações populares, cívicas e religiosas.
Foi a primeira rua a receber algum tipo de calçamento (1928) tornando-a
mais organizada e limpa, favorecendo o bem estar de seus usuários. O relógio,
inaugurado em 23 de agosto de 1933, foi o marco que ratificou sua importância social
para a cidade (Figura 11). O entroncamento da Avenida Afonso Pena com a rua 14 de
Julho, passa a ser o principal ponto de encontro e de manifestações sociais e políticas,
até mesmo posterior a sua demolição, em 1969, o local continuava sendo utilizado para
reuniões públicas (OLIVEIRA NETO, 1999).
Nos dias atuais, cerimônias como a de Corpus Christi (Figura12) e o
desfile de 7 de setembro ainda são realizados nesta via, passeatas e protestos, em sua
maioria, passam por ela, fruto do elo fundido ao longo do tempo entre o cidadão e a rua
14 de Julho, mas que pode vir a perder suas forças com o surgimento de novas
avenidas, mais largas e com melhores infra-estruturas, como é o caso da Via Morena,
onde foi realizado o Carnaval de 2007, que por muitos anos fora realizado na 14 de
Julho.
20
O chá, no fim da tarde, junto à praça e o flerte durante os passeios, não
fazem mais parte da vida social desta rua, hoje o que se vê é um vai e vem quase que
insano de pessoas que mal olham uns para os outros, como se não se importassem
com o que ocorre a sua volta. O comércio é o único carro-chefe da rua e, não há outros
atrativos nesse espaço urbano.
Figura 11. Relógio da rua 14 de Julho, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
Figura 12. Rua 14 de Julho, Corpus Christi , Campo Grande. Fonte: COELHO (2006)
21
2.3.2.2 Avenida Calógeras
Com o nome de Santo Antônio, dado em 1909, a Avenida Calógeras
passa a se chamar assim, em homenagem ao Eng. Pandiá Calogeras, Ministro do
Exército, quem projetou e construiu o primeiro sobrado da cidade, a residência de
Bernardo Franco Baís , hoje a Morada dos Baís, (ARRUDA, 1999).
O trecho inicial da avenida abrigou às instalações da ferrovia (Figura 13),
esplanada, armazém, galpões de manutenção e casas dos trabalhadores ferroviários e,
ao longo do seu percurso, instalou-se o comércio, principalmente de imigrantes árabes
e sírio-libaneses.
Apesar da presença da Estação Ferroviária, a Avenida Calógeras não
recebe os mesmos incentivos por parte do Poder Público que a rua 14 de Julho, tanto
que seu primeiro calçamento foi realizado apenas no final da década de 1960.
Também foi ponto de chegada de ônibus intermunicipal e interestadual,
recebendo muitos imigrantes, pedintes e mendigos; este trecho inicial foi chamado de
“boca do lixo”, (OLIVEIRA NETO, 1999). Os ônibus deixaram essa área após a
inauguração do Terminal Rodoviário Eduardo Laburu, mas a fama de lugar feio e sujo,
gerou uma representação do espaço que não a abandonou (Figura 14).
Figura13. Estação Ferroviária, Campo Grande. Fonte: Revista ARCA (2006, p.8)
22
A Avenida Calógeras ainda guarda preciosidades arquitetônicas como a
própria Estação e os edifícios que compreendem seu complexo, como o Armazém
(Figura 15), revitalizado recentemente com instalação da Feira Livre Central. O trecho
inicial apresenta uma paisagem bastante desagradável e degradada (Figura 16),
apresenta pouco movimento e algumas lojas fechadas e abandonadas.
A Avenida Calógeras é a que possui o maior número de edificações
históricas, significados atribuídos pela população e gestores arbitrariamente, algumas
tombadas pelos governos municipal e estadual, dentre as principais a casa onde
moraram os chefes da NOB (Ferrovia Noroeste do Brasil) que esta sendo revitalizado
para ser sede da ARCA (Arquivo Histórico de Campo Grande), a própria Estação e a
Esplanada, a Casa da Memória de Arnaldo Estevão de Figueiredo, o Prédio dos
Correios, Telégrafos, a Casa do Artesão e a Catedral de Santo Antônio. No entanto,
não basta à história estar presente através dos edifícios, é preciso fazer com que seus
cidadãos se identifiquem com ela, com sua história e memória, facilitando o
Figura 14. Charreteiros na Avenida Calógeras ao lado da Estação Ferroviária, Campo Grande. Fonte: Revista ARCA (1998, p.28)
23
conhecimento e compreensão do espaço, dessa forma, melhorar a relação do usuário
com esses recintos urbanos.
Figura 15. Armazém ferroviário reformado, Campo Grande. Fonte: Revista ARCA (2006, p.8)
Figura 16. Início da Avenida Calógeras, Campo Grande.
24
Arruda (2002) cita no artigo O centro e a preservação da arquitetura, os
desafios atuais: “[...] não da para reconstruir um marco da importância do relógio, em
outro lugar, descaracterizado e sem nenhuma discussão com a sociedade. Reproduzir
bens históricos é muito complicado e pode virar um Kitsch sem valor, como acabou
acontecendo”, comentando sobre a reconstrução do relógio no canteiro central da av.
Afonso Pena com a av. calógeras.
2.3.2.3 Rua Dom Aquino
A Rua Dom Aquino recebeu o nome de 1º de março, que foi o dia do fim
da guerra com o Paraguai, no ano de 1870. Em 1919, passa a se chamar Dom Aquino
em homenagem ao governador de Mato Grosso, que elevou a vila de Campo Grande à
categoria de cidade.
A rua Dom Aquino foi uma das primeiras a receber uma intervenção paisagística
e foram plantadas árvores da região para facilitar sua adaptação ao meio urbano. Hoje
quase não há árvores no trecho estudado, apenas algumas sibipirunas que podem
fazer parte da história dos primeiros plantios na cidade. As Figuras 17 e 18 mostram
duas imagens da rua: na primeira não havia calçamento e a arborização era escassa e,
na segunda, a rua já asfaltada e arborizada.
Figura 17. Rua Dom Aquino, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
25
2.3.2.4 Rua Barão do Rio Branco
A rua Barão do Rio Branco recebe o nome do deputado por Mato Grosso,
de 1869 a 1875 e Ministro da República durante o ano de 1894. Foi a única que não
mudou de nome desde sua criação (MACHADO ,1991).
Desde seu surgimento os bares e restaurantes fazem parte de sua
história, como é o caso do “Café Suave” que segundo Machado (1991) era de
propriedade dos irmãos Zahran, o ponto preferido de reunião dos comerciantes,
profissionais liberais e boiadeiros. Posteriormente transformou-se em Bar do Zé e, nos
dias de hoje, seu público é muito variado. Não é considerado um lugar de encontro para
a juventude atual, e seus clientes se resumem a trabalhadores e usuários das ruas
centrais.
Em 1977 foi parte da reformulação urbana proposta pelo “Plano de
Complementação Urbana”, idealizada pelo escritório do arquiteto e urbanista Jaime
Lerner. A intenção era criar um calçadão que iniciaria do Terminal Rodoviário e passaria
pela rua Barão de Rio Branco, virando na 14 de Julho até a Afonso Pena, incluindo um
pedaço desta. Mas, segundo Oliveira Neto (1999) os comerciantes, temerosos de
Figura 18. Rua Dom Aquino, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
26
perder clientes pela diminuição da circulação de veículos, pediram para não realizar o
projeto e apenas a parte da rua Barão de Rio Branco foi executada.
Foi criado um pontilhão para dar passagem aos pedestres sobre os trilhos
da NOB; o calçadão se dividia em duas partes: antes do pontilhão e depois do
pontilhão. Na parte de baixo próxima à rodoviária houve grande concentração de
camelôs (Figura19), que vendiam desde produtos importados da Bolívia e Paraguai até
ervas e raízes medicinais.
O pontilhão dava acesso à parte de cima, haja vista que além dos trilhos
também há diferença de nível de um lado para o outro; o caminho pelo pontilhão não
era nada agradável, exalava um odor quase que insuportável de urina, pois havia
muitos mendigos, na parte de cima até a Avenida Calógeras ainda havia camelôs, da
avenida em diante a calçada ficava mais livre sem a presença das barracas (Figura 20).
No ano 2000 o calçadão passou pela primeira fase de sua reforma,
quando foram substituídos o mobiliário, iluminação, piso e o pontilhão foi demolido para
dar passagem aos veículos. A segunda fase foi concluída em agosto de 2002 e
compreendia o trecho da Avenida Calógeras até a rua 13 de Maio.
Figura 19. Rua Barão do Rio Branco, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
27
Atualmente, a rua tem como seus principais atrativos os serviços
oferecidos por bancos e cartórios e a presença de alguns bares e restaurantes, já que a
reforma de 2002 tirou e não repôs o mobiliário e a iluminação que lhe davam um ar
diferenciado. A imagem, e sua utilização nos dias de Hoje, a resume numa calçada
grande e larga.
Figura 20. Rua Barão do Rio Branco, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
28
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O objeto de estudo desta pesquisa são quatro ruas da região central da
cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, (rua 14 de Julho, rua Dom Aquino, av.
Calógeras e rua Barão do Rio Branco). Nelas foram analisados e registrados seus
aspectos físicos, tais como mobiliário urbano, tipo de calçamento, iluminação pública,
vegetação e edificações que delimitam esses ambientes urbanos. Posteriormente, as
informações levantadas foram comparadas com a percepção que os usuários possuem
desses locais, numa tentativa de verificar a relação existente entre o objeto real e sua
percepção, para obter informação que permita a execução de um projeto do ambiente
urbano mais ligado às necessidades e anseios dos citadinos que dele fazem uso.
O método usado na realização do trabalho foi o descritivo, a partir dos
recursos da revisão da literatura sobre o tema e o levantamento fotográfico. A análise
descritiva da situação atual das ruas estudadas, foi realizada com o uso de ficha
previamente preparada. As fotografias que possibilitaram a análise descritiva foram
registradas em dia de domingos, quando as lojas estão fechadas para facilitar a
percepção apenas dos aspectos físicos sem a interferência do usuário. Já as fotografias
tiradas para a análise do questionário foram em dias de expediente normal no centro.
Os recursos utilizados no estudo, foram complementados com um
questionário para conhecer a opinião dos usuários sobre o ambiente estudado, que
contém questões fechadas e abertas. Sua aplicação foi aleatória, cuidando apenas para
que fosse aplicado de forma diversificada em gênero e idade. Foram 24 em cada rua,
totalizando 96 questionários. Essa atividade foi executada no mês de agosto de 2007
em dias de expediente normal. Também foi realizada a observação direta dos usos e
costumes das pessoas que transitam e trabalham nelas. A intenção foi retratar a visão
espontânea dos usuários anônimos desses ambientes urbanos, visto que são o
combustível que as mantêm vivas e pulsantes. O material coletado gerou 17 tabelas,
cujo conteúdo foi discutido junto com os resultados obtidos na observação direta e na
análise da descrição física das ruas.
29
Essas ruas que evidenciam a evolução de parte da história do centro da
cidade, da forma de vida, costumes, relações e construções, oferecem oportunidades
interessantes para estudar alguns aspectos do ambiente urbano no decorrer do tempo.
Esta pesquisa gerou dados para a discussão sobre a sustentábilidade do espaço físico
e social das cidades, haja vista que as ruas em questão, estão localizadas em uma
área da cidade que não somente tem infra-estrutura (dado fundamental para o
planejamento sócio econômico local), mas também estão cheias de história e
experiências valiosas para o projeto urbano.
30
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 O olhar do pesquisador: análise descritiva das ruas estudas
4.1.1 Calçadas, o lar do homem livre
Cada rua estudada possui duas calçadas implantadas em suas
extremidades, que dão acesso aos prédios públicos e privados, em três das quatro ruas
estudadas encontram-se calçadas em péssimas condições para o tráfego de pedestres
e isto ocorre em ambos os lados da calçada.
Os principais problemas encontrados foram desníveis e buracos em todo
o percurso da calçada, alguns modelos de piso como ardósia, cerâmica esmaltada,
granito polido e pintura a óleo, são revestimentos inadequados para uso externo e
foram encontrados em alguns trechos das ruas estudadas (Figura 21).
Figura 21. Calçada oeste av. Calógeras, Campo Grande.
31
A maior parte das calçadas, são utilizados revestimentos considerados
apropriados para uso externo como lajotas cerâmicas, ladrilho hidráulico, pedra
portuguesa, no entanto a falta de uma homogeneidade causa um desconforto físico e
visual (Figura 23).
A av. Calógeras foi que apresentou a pior condição dentre todas, e
encontra-se em franca decadência e depreciada. A rua Barão do Rio Branco é a única
calçada continua, sem obstáculos causados por ela mesma, como rachaduras e uso de
material inadequado.
A falta de manutenção das calçadas dá-se a sensação de degradação,
isto vai se impregnando no consciente e inconsciente coletivo da sociedade, pois a
visão é um dos principais meios de capitação das informações e fundamental na
definição do significado do espaço, Gordon Cullen (apud RODRIGUES, 1986) “Chama
a atenção para a necessidade de conscientização da ‘Capacidade Cênica’ da cidade,
pois é através da visão que conhecemos e apreendemos seu espaço”.
Figura 22. Calçada sul rua Dom Aquino, Campo Grande.
32
As reformas realizadas pelos proprietários e inquilinos dos imóveis são de
caráter estritamente individual, observado in-locu, apenas na faixa que compreende a
fachada de sua edificação.
A rua Barão do Rio Branco mostra-se diferente das outras ruas pela
presença do calçadão, que foi objeto de reformas recentemente quando foi retirado o
pontilhão, que dava passagem apenas aos pedestres sobre a rede ferroviária, para
também dar passagem os veículos, já que o trem não passa mais pela região central da
cidade. Zuleide Simabuco6, em entrevista para a revista ARCA, relata que a primeira
fase do projeto foi entregue em agosto de 2000 e a segunda em agosto de 2002, que é
o trecho da av. Calógeras até a rua 13 de maio. Nota-se que há diferença na execução
das duas etapas, na primeira fase o revestimento utilizado foi a pedra portuguesa, e no
trecho da segunda fase da reforma foi utilizado blocos de concreto intertravado, que
além de facilitar a sua manutenção e, permitir fácil acesso às redes subterrâneas,
também são antiderrapantes, produzem uma superfície mais homogênea e pode-se
compor desenhos múltiplos e de várias cores, também apresenta uma inércia térmica
muito boa para regiões quentes (Figura 23), como é o caso de Campo Grande.
6 Arquiteta e Coordenadora de Estudos, Projetos e Captação de Recursos da Secretária Municipal de Serviços e Obras Públicas da Prefeitura Municipal de Campo Grande.
Figura 23. Calçada sul rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
33
Dentre as ruas estudadas a Barão é a que tem maior largura tanto no lado
sul, com 5,70 m, quanto no lado norte, com 9,50m, a rua 14 de Julho e a av. Calógeras
possuem as mesmas dimensões em ambos os lados 2,90 m, já a largura das duas
calçadas da rua Dom Aquino é de 4,90 m.
As calçadas desta região são muito movimentadas, num vai e vem
frenético de pessoas, sempre andando em direção a algum lugar, poucas as pessoas
que se vê parada, desfrutando do ambiente e do lugar, mesmo porque, não há um
ambiente propício a isto, maioria das pessoas não freqüentam essas ruas com o intuito
de lazer, contemplação e diversão, vêem com objetivo traçado de fazer suas compras,
trabalhar e pagar suas contas, a visita à região central da cidade a passeio se resume a
lembranças nostálgicas dos idos tempos do footing do fim da tarde na rua 14 de julho.
Ao observar as ruas vazias sem os usuários à representação perceptível é
de um ambiente frio e seco, e a imagem que se tem do lugar é visualmente
desagradável, praticamente desertas em dias de comércio fechado. Um único trecho
pode ser considerado agradável situado na calçada norte da Barão do Rio Branco
próximo ao edifício Joselito, que possui um bom trecho sombreado pelas árvores, uma
calçada larga, ótimo para sentar-se num domingo quente e tomar um teréré com os
amigos, mas se quer há um banco para sentar. Reparem na composição do mosaico
entre o piso e as sombras das árvores, a cada movimento do sol forma-se um novo
desenho, isto aguça nosso olhar e ameniza o reflexo do sol e o calor (Figura 24).
A arborização nos centros urbanos deve ser feita de acordo com a
necessidade de cada local, no caso da região central de Campo Grande dois fatores
devem ser decisivas na tomada de decisão, a temperatura local e a umidade, a
arborização utilizada deve ser capaz de agir como reguladora destes fatores. A beleza
em formas e tons,e o prazer em andar sob a proteção das árvores são valores não
computados em números mais importantíssimos para a qualidade de vida. Uma árvore
de 25 metros de altura é capaz de purificar o ar de 10 pessoas (LENGEN, 2004, p.138),
e presta outros serviços ao ambientes como o verificado na Figura 25. Apesar destas
ruas serem tão antigas quanto à própria cidade, apenas algumas sibipirunas e
magnólias amarelas aparentam ter mais de 30 anos pelo porte atual.
34
Figura 24. Calçada norte rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
Figura 25. Benefícios de uma árvore adulta.
35
4.1.2 Mobiliário Urbano
O mobiliário encontrado nas ruas estudadas, exerce apenas a função de
serviço (coletoras de lixo e telefones públicos), nenhum se quer, com a finalidade de
proporcionar bem estar ao usuário, como bancos por exemplo.
Em toda a região central da cidade há um sistema de controle de
estacionamento de veículos chamado de Flex Park, equipamento que registra a
cobrança por minuto do tempo que se utiliza a vaga junto ao meio fio, indicado por
faixas no chão que demarcam as vagas e um poste de controle fixado na calçada para
cada duas vagas, Figura 26.
Nota-se uma desordem dos objetos que compõem a paisagem, os que
dão a impressão de estarem implantados independente do local que os contém, muitos
se tornam obstáculos físicos para circulação dos pedestres e, poluem visualmente o
Figura 26. Poste de controle de estacionamento de veículos, Campo Grande.
36
espaço, sendo freqüente alvo de vandalismo, que pode ser visto como uma reação às
intervenções arbitrárias e não apenas a violência e ignorância.
Uma prática utilizada para divulgar serviços ou comércios, são os cartazes
que se multiplicam colados uns sobre os outros nos objetos urbanos, gerando poluição
visual, Figura 27.
Também as lixeiras, são exemplo dessa desordem já que há três tipos
diferentes, sendo que a rua Dom Aquino tem dois modelos distintos no mesmo lado da
calçada. A maioria está quebrada. A única rua que possui mais de quatro lixeiras é a
Barão do Rio Branco: doze do lado norte da calçada e nove do lado sul; nas outras ruas
há duas de cada lado. Na rua Dom Aquino existe uma única lixeira com separação para
lixo reciclável: papel, metal e vidro, Figura 28.
A Figura 29 mostra a falta de importância que se dá para o verde nesta
área da cidade, pois no local onde deveria haver uma bela árvore tem um “pé de lixo”.
Perde-se com isso, a possibilidade de ter um local para lazer e descanso para o
cidadão, que não pode sentar-se à sombra de uma árvore, já que a mureta do canteiro
é alta e tem acabamento em granito polido, mas, não há a árvore.
Figura 27. Poluição visual do ambiente urbano, Campo Grande.
37
As Figuras 30 e 31 mostram a presença de locais próprios para guardar
bicicleta, de desenho diferentes, usados em sua maioria por office boy. Não há ciclovia
nessa área da cidade.
Figura 28. Lixeira na rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 29. Lixeira na rua Dom Aquino, Campo Grande.
38
Na rua 14 de julho encontra-se hidrantes nas duas esquinas da calçada
oeste, também um banco para sentar e outros dois na esquina da av. Calógeras com a
rua Barão de Rio Branco, todos colocados pelos mototaxistas e taxistas que trabalham
no local, para uso próprio, sem qualquer preocupação com a forma e qualidade do
mobiliário, Figuras 32 e 33.
Figura 30. rua 14 de Julho, guarda bicicletas, Campo Grande.
Figura 31. rua Barão do Rio Branco, guarda bicicletas, Campo Grande.
Figura 32. Banco na rua 14 de Julho Campo Grande.
Figura 33. Banco na av. Calógeras, Campo Grande.
39
As ruas Dom Aquino e Barão do Rio Branco são as que possuem maior
número de telefones públicos, doze na Barão, tendo, apenas um para cadeirantes e, na
Dom Aquino, são três para cadeirantes, Figura 34. A Avenida Calógeras possui um
telefone público quase fora do trecho estudado, e na rua 14 de julho há apenas um na
esquina com a rua Dom Aquino.
Outros elementos que obstruem a passagem e geram poluição visual, são
utilizados para propaganda comercial como é o caso das placas nas esquinas
encontradas, não só na área estudada, mas em toda a região central, Figura 35. Na
Avenida Calógeras há uma caixa de correspondência fixada na parede do prédio dos
Correios e o quadro de distribuição de telefonia fica junto à parede deixando de ser um
obstáculo físico para o pedestre, mas continua contribuindo para a poluição visual, pois
são objetos sem qualquer preocupação com um desenho atraente, apenas funcional,
Figura 36.
Figura 34. Telefones públicos na rua Dom Aquino, Campo Grande.
40
As bancas de jornal e revistas estão instaladas nas ruas Barão de Rio
Branco e Dom Aquino, visto que possuem as calçadas mais largas; mesmo assim o
fluxo de pedestres fica comprometido e a paisagem também, Figuras 37 e 38.
Na rua Dom Aquino há duas marquises de proteção para uso dos taxistas
colocadas pela prefeitura e, apesar de ambas estarem na mesma rua, alguns metros
uma da outra, não apresentam nenhuma comunicação entre elas, é como se cada um
fizesse o que quisesse, tanto o poder público quanto a iniciativa privada, Figuras 39 e
Figura 35. Placas comerciais na rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 36. Caixas de correspondência na av.Calógeras, Campo Grande.
Figura 37. Banca de jornal, rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
Figura 38. Banca de jornal, rua Dom Aquino,Campo Grande.
41
40. Também há uma marquise na rua Barão do Rio Branco que fica escondida atrás da
banca de jornal.
Todas as esquinas das ruas estudadas, possuem semáforos para
pedestre que tentam ordenar a circulação dos pedestres e dos veículos, Figura 41.
Foi verificado que a iluminação pública tem como prioridade a pista de
rolagem de veículos, não há iluminação para as calçadas, com exceção da rua Barão
do Rio Branco no calçadão. A iluminação inadequada contribui para a pouca utilização
do espaço no período noturno.
Figura 39. Marquise na rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 40. Marquise na rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 41. Semáforo para pedestres, rua Dom Aquino, Campo Grande.
42
A fiação aérea das infra-estruturas urbanas contribui para a degradação
do espaço urbano, haja vista que é um emaranhado de fios que estão por toda parte,
Figuras 42, 43, 44 e 46.
Como o pouco mobiliário urbano encontrado, a iluminação também segue
o mesmo princípio de desenho e instalação de caráter estritamente funcional.
Figura 42. Fiação aérea, rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 44. Fiação aérea, rua 14 de Julho, Campo Grande.
Figura 45. Fiação aérea, av. Calógeras, Campo Grande.
Figura 43. Fiação aérea, rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
43
4.1.3 Arborização urbana
A rua 14 de Julho e a Avenida Calógeras são consideradas recintos
secos, pois não apresentam nenhuma arborização (MASCARÓ, 2004).
A rua Barão do Rio Branco tem um misto de árvores de pequeno porte na
calçada sul, mais estreita, e na calçada norte, mais larga, apresenta árvores de
diferente tamanho, espécies e idade. Existe, também, um pequeno maciço de
vegetação que sombreia o calçadão, o único trecho das ruas analisadas onde se
consegue sentir o frescor produzido por sua sombra. As espécies encontradas foram,
Sibipiruna, Magnólia Amarela, Murta de Cheiro, Ipê Roxo, conforme levantamento in-
locu. Completam a vegetação desse trecho um jardim privado em frente a uma agência
bancária e na esquina da rua 14 de Julho e Avenida Calógeras há pequenos canteiros
de flores, que agradam ao olhar, mas não auxiliam, de forma significativa, a amenizar o
calor (Figuras 46 e 47).
Na rua Dom Aquino existem sibipirunas que, parecem ser da mesma
época das encontradas na rua Barão do Rio Branco, por apresentarem o mesmo porte
de tronco, copa e altura que chega a aproximadamente 20 m (Figuras 48 e 49).
Figura 46. Jardim na rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
Figura 47. Canteiro de flores na rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
44
As árvores, que fazem parte da história e do patrimônio ambiental da
cidade, hoje são tratadas como estorvos pelos proprietários das edificações que, as
cortam, ou cimentam em volta de seu caule sufocando as raízes (Figuras 50, 51, 52 e
53).
Figura 48. Sibipiruna da rua Barão do Rio Branco, próximo a av. Calógeras, Campo Grande.
Figura 49. Sibipiruna na rua Dom Aquino, esquina com av. Calógeras, Campo Grande.
Figura 50. rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 51. rua Dom Aquino, Campo Grande.
45
A Avenida Calógeras e a rua 14 de Julho, não possuem nenhum tipo de
arborização; existe na primeira a presença de pequenos canteiros triangulares que,
quando não tampados por concreto, funcionam como lixeiras (Figura 54).
É importante ressaltar que, quanto mais quente é o clima local, maior a
necessidade de refrigerá-lo, caso da cidade de Campo Grande. O resfriamento do
ambiente urbano somente é possível por meio da arborização pública, estratégia não
usada neste caso (MASCARÓ, 2003).
Figura 52. rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 53. rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 54. avenida Calógeras, Campo Grande.
46
Segundo Mascaró (1996), “A influência da vegetação na temperatura do
ar esta relacionada ao controle da radiação solar, do vento e da umidade do ar”.
Ressalta ainda que “A composição de grupamentos arbóreos constituídos por espécies
de diferentes portes contribui para a redução da temperatura do ar” (Figura 55).
4.1.4 A edificação e o entorno
No quadrilátero urbano estudado prevalecem as edificações de um a três
pavimentos, criando uma paisagem mais horizontal que vertical; o maior fator de céu
visível favorece a insolação das ruas e calçadas, (Figura 56).
Em toda a área analisada, apesar que na revisão da literatura foi
ressaltado que houve um incentivo do Poder Público para a construção de edifícios com
mais de quatro andares, há apenas quatro edifícios com mais de cinco andares que
são: Ed. Joselito, seis andares, na rua Barão do Rio Branco, Ed. NaKao, cinco andares,
na esquina da rua Dom Aquino com a 14 de Julho e, que possui 2 edifícios de quatorze
andares na rua Dom Aquino.
Figura 55. Amenização da temperatura dia e noite pela vegetação. Fonte: MASCARÓ (1996, p.77)
47
A configuração das fachadas é formada por uma seqüência continua e
desorganizada de paralines7, que se reproduzem aleatoriamente, sem qualquer
preocupação com o contexto geral. As fachadas, que se escondem por de trás dos
paralines, estão em sua maioria em péssimo estado de conservação, o que contribui
para a degradação ambiental desta região, juntamente com o próprio paraline em sua
maioria são repletos de propagandas, que compõem um cenário caótico e poluído
visualmente (Figuras 57 e 58).
7 Estruturas metálicas e outros materiais, que formam uma nova composição da fachada, tampando a fachada original.
Figura 56. Fator céu visível. Fonte: MASCARÓ (1996, p.57)
Figura 57. Paralines da avenida Calógeras, Campo Grande.
Figura 58. Paralines da rua 14 de Julho, Campo Grande.
48
As fachadas das edificações da rua 14 de Julho recebem um tratamento
mais sofisticado que os encontrados nas outras ruas, haja vista que, ainda hoje, é o
principal local do comércio de Campo Grande, principalmente no que se refere a
roupas, calçados e acessórios.
Sua importância continua fisicamente visível, já que suas fachadas e seus
interiores são melhores trabalhados arquitetonicamente, mas com grande utilização de
estruturas que impedem a percepção das construções antigas que descaracterizam a
paisagem.
A rua Barão do Rio Branco, é a que apresenta a maior número de
fachadas antigas expostas, algumas estão em bom estado de conservação (Figura 59).
Em nenhuma das ruas estudadas, as edificações possuem um sistema de
proteção eficiente contra o sol e a chuva para seus usuários. As calçadas da rua 14 de
Julho e da Avenida Calógeras sofrem com a incidência direta do sol, já que suas
fachadas são voltadas para leste e oeste. Os comerciantes, na tentativa de solucionar o
problema, instalaram toldos que deslizam na vertical ou inclinados, que geram sombra
na calçada, esta solução não é agradável para quem trabalha no local nem para quem
Figura 59. Fachadas expostas Rua Barão, Campo Grande.
49
transita, visto que fica abafado no interior do toldo, cria-se uma visão nada agradável,
transforma-se em obstáculo para os pedestres, diminuindo o espaço para circulação,
mas resolvendo, paliativamente, o problema (Figuras 60 e 61).
As esquinas com a rua Barão do Rio Branco possuem um ótimo rebaixo
da guia do passeio, que compreende praticamente toda a faixa de pedestre, facilitando
a circulação dos usuários (Figura 62). A esquina da av. Calógeras com a rua Dom
Aquino possui rebaixo, não para quem transita na faixa de pedestre (Figura 63), mas
para dar acesso ao telefone público adaptado. Os demais rebaixos não apresentam
boas condições de tráfego, com buracos e desníveis (Figuras 64 e 65).
Figura 60. Toldos de proteção solar, rua 14 de Julho, Campo Grande.
Figura 61. Toldo de proteção solar, rua 14 de Julho, Campo Grande.
50
Um problema encontrado nas quatro ruas estudadas, é a diferença de
altura entre a rua e a calçada, o vão que existe para escoamento das águas pluviais
tem buracos que acumulam água e sujeira. A falta de manutenção das vias públicas
colabora para a imagem de um recinto urbano abandonado pelo poder público, pelos
usuários que não reconhecem a importância do espaço e não reclamam, nem
colaboram, para sua melhoria (Figuras 66 e 67).
Figura 62. rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
Figura 63. rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 64. avenida Calógeras, Campo Grande.
Figura 65. rua 14 de Julho, Campo Grande.
51
O banheiro público mais próximo da área estudada é o da Praça Ary
Coelho. Há, também, um bar que cobra R$ 0,50 centavos para permitir sua utilização,
ou se a pessoa comprar alguma coisa também tem direito a usá-lo; o dono do bar
informou que cobra para que seu banheiro não se torne público.
4.2 O olhar dos usuários
4.2.1 Apresentação dos resultados obtidos com o questionário e seus comentários
As ruas são como as digitais da cidade, olhando de cima de um avião ou
na planta de um projeto, podem parecer iguais, mas ao adentrar o seu recinto e
percorrer seus espaços, logo nota-se suas diferenças. As ruas são ainda as veias e
artérias da cidade, capazes de levar a vida aos órgãos vitais e, oxigenar a cidade.
Figura 66. Deterioro do meio fio na rua 14 de Julho, Campo Grande.
Figura 67. Deterioro do meio fio na rua Dom Aquino, Campo Grande.
52
Por elas entra o sol, a chuva, o vento, fonte de distribuição das redes de
infra-estrutura e, percurso por onde passa a matéria prima ou industrializada, nela
realizamos o primeiro direito constitucional, o direito de ir e vir livremente.
O espaço construído, tem a capacidade de interferir na percepção do
usuário positiva ou negativamente. Nenhuma rua é igual a outra, por mais parecidas
que sejam cada uma tem seu espaço, seu usuário e sua história. Essas variantes
somadas às que agem sobre o ambiente como: iluminação, arborização, calçamento,
mobiliário, localização, tipologia da construção, do terreno, ambiência, orientação solar
e dos ventos, formam um leque de informações que, quando observado de forma
atenta, podem gerar resultados surpreendentes da percepção coletiva do espaço.
As ruas centrais da cidade foram durante muito tempo, a principal forma
de demonstração do poder do desenvolvimento econômico e sócio-político da cidade.
Com sua fragmentação setorial, os novos pólos comerciais de serviço e lazer
ofuscaram este brilho, no entanto, ao nos defrontarmos com os novos paradigmas da
sustentábilidade, nos deparamos novamente com a oportunidade de rever sua
importância para o desenvolvimento sustentável da cidade.
No caso estudado, pode verificar que há diferentes tipos de ruas
(FERNÁNDEZ, 2001):
• A rua temática é aquela em que predomina certa homogeneidade de
localizações, sobretudo comerciais e tradicionais, que origina-se do agrupamento
corporativo e solidário medieval, como a avenida Calógeras, que guarda até hoje
serviços que eram realizados desde o início da formação da cidade, como o
artesanato das selarias, e prédios que retratam parte da história não catalogada
das construções anônimas.
• A rua anônima, como a rua Dom Aquino, importante principalmente pela sua
localização e, pouco retratada pela história e pela memória coletiva, mas
fundamenta para a interação social, econômica e ambiental das outras ruas.
• A rua histórica, que tem influência direta na formação da cidade, ou de um bairro,
com algum sucesso ou prática significativa de um fragmento urbano, como é o
caso da rua 14 de julho que foi e, é a principal rua comercial da cidade.
53
• A rua de pedestres, se pode dizer que é conquista dos pedestres, é
caracterizada pelo passeio preparado para receber o fluxo demorado ou não, de
citadinos e visitantes, como é o caso do calçadão da rua Barão do Rio Branco.
Os tipos de ruas a que temos feito referência, coexistem dentro do
contexto da cidade, que tem crescido como um mosaico constituído por peças
diferenciadas. Suas particularidades se descobrem na sua configuração histórica, na
pluralidade de seus atores, nos imaginários urbanos, nos rasgos de economia urbana,
usos e costumes, no seu patrimônio tangível e intangível.
Mas o estudo vai além de categorizar a rua, esta é apenas uma das
características levantadas de seus aspectos físicos; a continuação adentra-se no
universo de cada uma delas, para logo compará-las com percepção de seus usuários.
4.2.1.1 A relação usuário com comércio, lazer e ambiência
O trabalho realizado por Oliveira Neto (2003) informa que, a rua 14 de
julho perdeu seu poder irradiador de sociabilidade e decisões políticas, mas que se
ratifica como importante centro comercial, pois mantém relativo investimento privado,
como algumas lojas que migram do shopping center. Segundo ele e confirmado neste
estudo, o comércio é, em sua maioria, de produtos nacionais voltados à classe popular.
A Tabela 1 mostra os resultados obtidos sobre a questão: qual o motivo
que te trouxe a esta rua? Ficou evidente a perda de valores sociais e de lazer, visto
que, 75% dos entrevistados disseram vir apenas para fazer compras ou pagar contas,
12,5% para passear e 12,5% aproveitam e fazem tudo ao mesmo tempo.
Tabela 1 – Motivo pelo qual os usuários freqüentam as ruas analisadas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio Branco
14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
Fazer compras (4) (16) (12) (8) 40 41,6
Pagar contas (16) (6) (8) (2) 32 33,4
Passear (2) (0) (4) (6) 12 12,5
Todas as alternativas (2) (2) (0) (8) 12 12,5
54
Nesta tabela, ainda é possível verificar que, a rua 14 de julho e a rua Dom
Aquino, se destacam no quesito compras, e a rua Barão do Rio Branco no quesito
serviços, mesmo ela possuindo um calçadão apenas duas pessoas disseram ir para
passear. Isto é um indício grave de incompatibilidade das propostas do projeto da área
para pedestres e, as aspirações de seus usuários. Como foi descrito na sua análise,
não possui atrativos que possam fazer dela um calçadão, não há mobiliário que permita
que seus usuários permaneçam no seu recinto, como bancos e locais próprios para um
breve descanso, nem mesmo banheiro público.
O primeiro projeto de Jaime Lerner teve uma grande preocupação com o
mobiliário urbano (Figura 68), desenhando suas floreiras, definindo os modelos dos
bancos e das luminárias públicas8. Hoje o calçadão é apenas uma grande calçada com
mobiliário que só dificulta a circulação, e em nada favorece o bem estar do usuário,
embora seja a melhor calçada das quatro ruas estudadas.
8 Projeto Cura Piloto – Área de Pedestre – Avenida Barão do Rio Branco, Campo Grande, 1977
Figura 68. Mobiliário urbano do projeto de Jaime Lerner, Campo Grande. Fonte: cd-rom WEINGARTNER (1999)
55
A avenida Calógeras é um recinto concorrido que, apesar de ser
considerada pelos usuários como uma rua feia e desagradável, tem um número
elevado de pessoas que a utilizam para passear e comprar. Este resultado pode estar
relacionado à existência do único ponto de ônibus da área estudada, e haver comércio
de utensílios domésticos e produtos bem populares, como o caso das “lojas de R$
1,99”. Também deve ser levado em consideração o fenômeno do consumo que, mesmo
não sendo objeto de estudo desta pesquisa, merece destaque, já que para muitos
campograndenses o ato de comprar se tornou a única forma de lazer na área central, já
que não existem outras opções.
Os usuários ao serem perguntados: gosta de vir a esta rua? Houve um
alto percentual disse gostar de freqüentar as ruas estudadas (Tabela 2), cria-se uma
contradição que pode ser explicada exatamente com a afirmação acima, do fenômeno
do consumo, pois veremos na Tabela 3 que, ao serem questionados: o que mais lhe
agrada nesta rua? Constatou-se que, 77 % das pessoas disseram vir à rua só pela
disponibilidade de lojas e serviços. Isto mostra o descontentamento do usuário com o
espaço criado, ou seja, ele não gosta do ambiente, mas gosta de ir às compras nele,
portanto, não é a rua e sua ambiência que o motiva, mas a possibilidade de consumo.
Tabela 2 - Opinião dos usuários pelos espaços urbanos estudados
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (20) (16) (12) (14) 62 64,5
NÃO (4) (8) (12) (10) 34 35,5
Tabela 3 - Aspectos das ruas que mais agradam ao usuários
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
Lojas e disponibilidade
de vários serviços. (16) (22) (22) (14) 74 77
Ou o ambiente da rua
calçada, fachada,
vegetação...
(8) (2) (2) (10) 22 23
56
Os dados obtidos na resposta a pergunta: Qual o recinto para você é mais
agradável, o shopping ou esta rua? Por que? Fortalecem a impressão de
descontentamento do usuário com os espaços urbanos em analise, e seu anseio por
um ambiente que apresente melhor qualidade. A Tabela 4 informa que 64,5% dos
entrevistados disseram preferir ir ao shopping que freqüentar a rua, pois há melhor
ambiência, climatização, proteção do sol, chuva e eventos indesejáveis, boa circulação,
banheiros, bancos, praça da alimentação.
Tabela 4 – Preferência dos usuários em relação á freqüentar a rua ou o shopping
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SHOPPING (6) (16) (16) (24) 62 64,5
RUA (18) (8) (8) (0) 34 35,5
A rua Barão de Rio Branco obteve o melhor resultado sobre as ruas
analisadas, exatamente pelas vantagens oferecidas pelo calçadão, mas como pode-se
verificar na Figura 69, muito falta para proporcionar ao usuário um ambiente agradável,
as pessoas são obrigadas a se espalham na calçada de forma aleatória, atrapalhando a
circulação, tentando aproveitar ao máximo a sombra do ipê roxo e os guardas-sol do
bar.
Figura 69. Vista calçadão da rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
57
As ruas orientadas no sentido leste-oeste, obviamente terão suas
calçadas voltadas para norte e sul, e vice e versa. Como as ruas estudadas se cruzam
formando um quadrilátero e estão orientadas norte-sul e leste-oeste, tem-se a radiação
solar agindo em quase todas as calçadas, menos nas voltada para o sul (Figura 70).
A movimento nas calçadas muda de acordo com a posição do sol, na rua
14 de Julho e na avenida Calógeras durante o período da manhã, a calçada oeste é
menos utilizada, visto que, o sol incide diretamente sobre elas e as fachadas que se
voltam para leste. No período da tarde quando estão protegidas do sol pelas
edificações, o movimento aumenta, é assim também com o lado leste da calçada
(Figuras 71 e 72).
Todas as ruas mostraram possuir aumento da circulação de pedestres nas
calçadas no horário de almoço, finais de semana e feriados, e notou-se que nesses
picos as calçadas ficam apertadas para tanta gente, principalmente a rua 14 de Julho
Rua 14 de Julho (Sul-Norte)
Rua Dom Aquino (Leste-Oeste)
Rua Barão do Rio Branco (Oeste-Leste)
Av. CAlógeras (Norte-Sul)
Figura 70. Vista aérea e fluxo de veículos da área estudada, Campo Grande. Fonte: GOOGLE EARTH (2007)
58
por onde transitam a maioria dos usuários, sendo sua largura inferior à demanda por
espaço.
Mascaró (1989), estabelece uma relação de quantidade de pessoas por
mesmo metro linear da via, identificando três momentos:
Quadro 1 – Número de pessoas que podem circular, numa única direção, em vias horizontais ou de pouca declividade
Tipo de Fluxo de Tráfego Número de Pessoas que Podem Circular
(Por Minuto e Metro de Largura de Via)
Completamente Livre 4 a 6
Obstaculizado (ziguezague) 6 a 10
Apertado (incômodo) 18 a 30
Congestionado 30 a 60
Segundo este quadro as calçadas da rua 14 de Julho sempre estão
obstaculizadas, pois seus usuários realizam ziguezagues durante a caminhada, fato
verificado por observação direta; quando há alguma atividade diferente no centro, como
“feiras de queima de estoque”, a circulação torna-se apertada e congestionada.
Figura 71. Vista rua 14 de julho (sombra) Campo Grande.
Figura 72. Vista rua 14 de julho (sol) Campo Grande.
Fonte: MASCARÓ (1989, p.32)
59
A avenida Calógeras apresentou um baixo fluxo de pedestres em todas as
ocasiões observadas, nas ruas Barão do Rio Branco e Dom Aquino a circulação foi
mais tranqüila, mesmo nos dias de maior movimento devido a largura de suas calçadas.
As ruas Dom Aquino e Barão do Rio Branco estão orientadas no sentido
leste-oeste, a calçada sul, voltada para norte recebe a incidência solar o dia inteiro, não
tem os toldos de proteção solar e a circulação de pedestres é menor do que da calçada
norte que fica protegida do sol o dia todo pelo sombreamento proporcionado pela
edificação (Figuras 73 e 74).
Os edifícios que “se escondem” por de trás das “muralhas” de paralines
podem guardar páginas interessantes da história edilícia de Campo Grande, já que as
construções do início do século XX, seguiam padrões da arquitetura eclética e, foram
importadas e executadas sem adaptações ao clima da região. O alinhamento das
fachadas organizava o espaço, as fachadas foram sendo construídas apenas no eixo
vertical, não havia marquises que se lançavam no eixo horizontal, portanto, a falta de
proteção solar e da chuva para o usuário, é histórica, contemplavam apenas o que
previa o código de postura vigente, sobretudo com relação ao alinhamento das
fachadas. No entanto a ambiência da rua parece ter sido mais agradável do que hoje,
pois o recobrimento era de pedras que absorviam menos calor do que o asfalto, a
poluição sonora e visual praticamente não existia, os veículos eram poucos e as ilhas
Figura 73. Vista rua Barão do Rio Branco (sol), Campo Grande.
Figura 74. Vista rua Barão do Rio Branco (sombra), Campo Grande.
60
de calor não faziam parte da vida da cidade naquele momento. Enfim, o ambiente
urbano era bem diferente do atual e as pessoas também; a rua era o principal local de
sociabilização.
As diferentes condições climáticas, pouco influenciam a vinda do usuário
ao centro, foi aplicada as seguintes perguntas aos usuários: Nos dias frios você deixa
de vir a esta rua? (Tabela 5); Nos dias de sol quente você deixa de vir a esta rua?
(Tabela 6); Nos dias de chuvas você deixa de vir a esta rua? (Tabela 7); apenas os dias
de chuva foram indicados como inconvenientes por 58% dos entrevistados.
Tabela 5 – Influência do tempo frio no uso da rua
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (6) (8) (8) (10) 32 34
NÃO (18) (16) (16) (14) 64 66
Tabela 6 – Influência do calor no uso das ruas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (6) (4) (12) (12) 34 35
NÃO (18) (20) (12) (12) 62 65
Tabela 7 Influência da chuva no uso das ruas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (14) (16) (16) (10) 56 58
NÃO (10) (8) (8) (14) 40 42
61
Na Tabela 8, fica clara o despreparo do ambiente para receber os
usuários em dias de chuva, foi questionado se: segundo o Clima nesta rua o que mais
lhe incomoda? Sol, Chuva, Frio? Onde 75% reclamaram sobre as condições em dias de
chuva. A falta de permeabilidade do solo e as péssimas condições do escoamento das
águas pluviais, criam verdadeiros rios entre a rua e a calçada tornando dificultosa e
perigosa sua travessia quando chove, e a descontinuidade das marquises, não
proporcionam proteção aos usuários contra a chuva.
Tabela 8 – Influência de cada fator climático questionado no uso das ruas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SOL (6) (4) (2) (1) 13 13,5
CHUVA (14) (16) (20) (22) 72 75
FRIO (4) (4) (2) (1) 11 11,5
É nos meses mais quentes, primavera e verão, que o usuário prefere
realizar suas compras, segundo as respostas dadas na Tabela 9: Com relação ao clima,
qual a melhor época para vir a esta rua? Primavera, verão, outono ou inverno? É uma
situação compreensível, já que vivemos num clima dominantemente quente.
Tabela 9 – Preferência da estação do ano para fazer compras no centro da cidade
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
Primavera (4) (10) (12) (8) 34 35,5
Verão (14) (8) (10) (6) 38 39,5
Outono (4) (4) (1) (6) 15 16
Inverno (2) (2) (1) (4) 9 9
Apesar do usuário estar presente nas ruas analisadas nos dias atuais, o
que mais se evidenciou nas respostas ao questionário foi a sua falta de identificação
com o espaço urbano, decorrente das péssimas condições verificadas na analise
realizada. Quando interpelados sobre: Existe alguma construção ou um lugar que você
62
ache interessante nesta rua ou próxima a ela? (Tabela 10), fica notória a percepção da
dificuldade que os entrevistados tiveram para identificar edifícios importantes da região
central: apenas 31,25% das pessoas responderam conhecer e se lembrar de edifícios
que são a marca dessa área como a Morada dos Baís, a Casa do Artesão, Casa da
Memória, Prédio dos Correios e outros edifícios modernos como a Loja Riachuelo e as
Lojas Americanas. A cada dia que passa aumenta a distância entre o usuário e a rua,
ele não se apropria dela, não a considera um lugar, apenas um caminho por onde
chega ao seu destino. Campo Grande possui história, não tem memória.
D’Alessio (1999) afirma que: Usos e hábitos constituem a manifestação
concreta do lugar urbano na mesma medida em que o lugar é
manifestação concreta do espaço. Usos e hábitos, reunidos, constroem
a imagem do lugar, mas suas características de rotina cotidiana
projetam sobre ele uma membrana de opacidade que impede sua
percepção, tornando o lugar, tal como o espaço, homogêneo e ilegível,
sem decodificação.
Tabela 10 – Percepção dos usuários em relação às edificações de interesse da área analisada.
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (6) (8) (8) (8) 30 31,25
NÃO (18) (16) (16) (16) 66 68,75
construção ou
um lugar
Morada
dos Baís
citada 4
vezes
Casa da
Memória
citada 2
vez
Casa do
artesão citada
4 vezes
Riachuelo
citada 2 vezes
Casa da
memória
citada 2
vezes
Morada dos
Baís citada 4
vezes
Americana
citada 2 vezes
Prédio dos
Correios
citado 2
vezes
Casa do artesão
citada 2 vez
Morada dos
Bais citada 2
vezes
Relógio citado 2
vezes
Casa da
Memória
citada 2
63
O descontentamento coletivo com a questão: O que é pior pra você nesta
rua? É, principalmente, com relação à presença dos veículos, mas também com todos
os objetos e fatores que compõem a ambiência de sua paisagem (Tabela 11).
Tabela 11 – Aspectos que incomodam aos usuários das ruas estudadas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
o movimento de
pessoas? (6) (8) (2) (5) 21 22
o movimento de
veículos? (16) (12) (18) (14) 60 62,5
o clima (sol, chuva, frio,
vento) (2) (4) (4) (5) 15 15,5
Nas esquinas das ruas analisadas, existe um grande conflito entre
pedestre e veículos, visto que ao abrir o sinal para o pedestre, também abre o sinal
para os veículos na rua paralela à faixa de pedestre; os carros que contornam a
esquina acabam por disputar esse espaço, quase sempre ganhando do pedestre
(Figuras 75 e 76)
Figura 75. Vista esquina rua 14 de Julho, Campo Grande.
64
Dentro da análise da qualidade do espaço urbano, foi perguntado ao
usuário: Acha as calçadas boas e seguras para caminhar? Suas respostas coincidem
com os aspectos físicos levantados, a calçada eleita como melhor foi o calçadão da rua
Barão do Rio Branco e a pior da avenida Calógeras. A maioria das reclamações foram
pela falta de regularidade no piso (Tabela 12).
Tabela 12 Opinião dos usuários sobre as calçadas das ruas analisadas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (20) (12) (16) (4) 52 54
NÃO (4) (12) (8) (20) 44 46
O Plano Diretor de Campo Grande de 1995, em sua 2ª edição, traz em
anexo a Lei n. 3670, de 29 de outubro de 1999, que dispõe sobre adequação de
logradouros e edifícios abertos ao público, garantindo acesso apropriado a pessoas
com deficiência e dá outras providências, dentre estas o Art. 5º: “as calçadas deverão
ser construídas de maneira continua, revestidas de material antiderrapante, sem
degraus ou obstáculos que prejudiquem a circulação das pessoas”. Mas não é o que
Figura 76. Vista esquina rua Dom Aquino, Campo Grande.
65
acontece, pois como verificado durante a descrição e análise física do local, a Lei é
descumprida quase que plenamente, visto que, foram encontradas calçadas em
péssimo estado de conservação, rebaixos de esquina inadequados ou inexistentes e o
uso impróprio de materiais que revestes as calçadas.
Deve-se lembrar que o Art. 2º da a Lei n. 3670 que foi constituída em
1999, oito anos atrás, consta que “O Poder Público Municipal promoverá o
rebaixamento de guias e sarjetas nas esquinas e locais onde se localizam faixas de
pedestre, com a finalidade de possibilitar o acesso de pessoas com deficiências”; esta
lei foi aprovada e entrou em vigor 30 dias após sua publicação. Na esquina da rua Dom
Aquino com a avenida Calógeras não há rebaixo até hoje, (Figura 77).
Essa lei também estabelece que deve haver sinalização para vagas de
veículos para deficientes físicos, mas não existe, nem vertical, nem horizontal, apenas
um sistema eficiente de cobrança a todos, por hora estacionada.
A Lei n. 3670, Art 8º estabelece que deve ser deixada uma faixa de 1,20
m livre continua para a circulação de pedestres nas calçadas, valendo esta medida para
toda a cidade, desde a calçada de um bairro da periferia, até rua 14 de Julho. O que
Figura 77. Vista esquina rua Dom Aquino, Campo Grande.
66
tem que ficar claro é que as ruas da área central devem ser tratadas de forma
diferenciada e não separadamente.
A opinião do usuário sobre a pergunta: acha as edificações velhas e
ultrapassadas? Se mostra muito crítica quanto à aparência das edificações que
delimitam as fachadas das quadras estudadas: 75% dos entrevistados disseram as
achar velhas e ultrapassadas e na avenida Calógeras foram 100% de dos
entrevistados, os que tiveram essa opinião sobre :(Tabela 13).
Isso é preocupante já que segundo Jane Jacob (2000), “O edifício não
fracassa por ser velho, ele é velho por ter fracassado”. Portanto, é preciso cuidar das
ruas da cidade para evitar que os usuários as abandonem tornando-as velhas e
obsoletas.
Tabela 13 – Opinião dos usuários sobre as edificações que delimitam as ruas analisadas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio Branco
14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (14) (14) (20) (24) 72 75
NÃO (10) (10) (4) (0) 24 25
Quando se perguntou: Destas 04 ruas do centro, 14 de julho, Dom
Aquino, Barão do Rio Branco e Calógeras, qual você acha menos agradável com
relação à aparência? A avenida Calógeras recebeu, novamente, a maior votação
(Tabela 14), ratificando a análise do espaço físico, assim como a falta de identificação
que existia no tempo da chegada da Ferrovia, até os dias atuais.
Tabela 14 – Opinião dos usuários sobre a aparência das ruas analisadas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio Branco
14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
14 de Julho (4) (0) (2) (10) 16 17
Dom Aquino (2) (2) (0) (0) 4 4
Barão do Rio Branco (2) (8) (6) (4) 20 21
Calógeras (16) (14) (16) (10) 56 58
67
A rua Dom Aquino recebeu a menor quantidade de votos desfavoráveis,
mesmo assim, isto não a torna a mais agradável, visto que foi categorizada como rua
anônima; como sua paisagem pouco se faz presente na representação da percepção
do coletivo, pouco há o que reclamar.
Foi também perguntado aos entrevistados: você já passou por esta rua no
período noturno? O que achou? Apenas 19% disseram conhece a rua no período
noturno e, os 81 % que a conhecem a classificaram como sendo deserta, com pouco
movimento de pessoas e veículos (Tabela 15). Não há comércio nem bares abertos,
causando insegurança e facilitando a fixação de locais de prostituição, como na esquina
da avenida Calógeras com a rua Dom Aquino e, com a Barão do Rio Branco.
Tabela 15 – Opinião sobre as ruas estudadas no período noturno
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio Branco
14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (20) (24) (12) (22) 78 81
NÃO (4) (0) (12) (2) 18 19
A falta de arborização desta região é um dos motivos que tornam o
ambiente da rua menos agradável, já que o clima é quente, seco e insolarado. Das 96
pessoas que responderam a pergunta: você acha importante para tornar o clima mais
agradável o uso de árvores na rua? 96% disseram acreditar que o plantio de árvores na
rua pode torná-la mais agradável (Tabela 16).
Tabela 16 – Opinião sobre a presença de árvores nas ruas
RUA
PERGUNTA
Barão do Rio
Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras TOTAL %
SIM (24) (22) (22) (24) 92 96
NÃO (0) (2) (2) (0) 4 4
68
Quando interpelados sobre: se pudesse mudar alguma coisa nesta rua o
que mudaria? Houve uma série de propostas, três delas interessantes: a diminuição do
número de veículos circulando, a criação de uma rua apenas para pedestres (calçadão)
e a melhoria das calçadas já existentes (calçada); estes itens somados correspondem a
50% do que o usuário gostaria que fosse modificado nesse espaço urbano (Tabela 17).
A arborização, apesar de ter sido considerada pelos usuários importante para tornar o
ambiente mais agradável, teve apenas duas respostas que propuseram melhorá-la.
Tabela 17 – Propostas de mudança dos usuários
Ruas
Barão do Rio Branco 14 de Julho Dom Aquino Calógeras
(2) ambulantes
(6) diminuir o
movimento de
veículos
(2) diminuir o
movimento de
veículos
(2) diminuir o
movimento de
veículos
(2) calçadão (4) calçadão (4) calçadão (4) comércio
(2) embelezamento das
fachadas
(4) embelezamento
das fachadas
(4)
embelezamento
das fachadas
(6)
embelezamento
das fachadas
(4) bancos de assento (2) sombreamento
(marquise) (2) Árvores
(6) iluminação noturna (2) calçadas (8) calçadas (12) calçada
(6) não mudaria nada (4) não mudaria nada (2) estaciona-
mento
(2) não souberam opinar (2) limpeza (2) segurança (2) não souberam
opinar
69
Outro item que se destacou pela baixa solicitação de mudança foi a
segurança, atitude que coincide com as observações realizadas que verificaram a
presença ostensiva de rondas policiais a pé durante o período diurno na área (Figuras
78 e 80).
O usuário das ruas centrais, mesmo que inconscientemente, é atraído por
elas, é só dar uma oportunidade e logo ele está presente. Foi o que ocorreu durante o
“O Dia sem carro”, uma iniciativa das principais capitais do Brasil e do mundo, na
tentativa de minimizar a utilização de carros nas cidades. Em Campo Grande, foi
fechado o trecho da rua 14 de Julho, da rua Dom Aquino até uma das vias da avenida
Afonso Pena, o público compareceu por haver outros atrativos além do comércio, como
ações sociais e de saúde, brincadeiras e jogos para crianças, jovens e adultos, show ao
vivo e até praças adaptadas no meio da rua, com bancos e árvores (Figuras 80 e 81).
Figura 78. Vista rua Barão do Rio Branco, Campo Grande.
Figura 79. Vista rua Dom Aquino, Campo Grande.
Figura 80. Movimento de pessoas dia “sem carro”, rua 14 de Julho, Campo Grande.
Figura 81. Praça artificial, dia “sem carro”, rua 14 de Julho, Campo Grande.
70
5 CONCLUSÃO
A área central de Campo Grande guarda um volumoso acúmulo de fatos
que, marca sua memória e define seu espaço, sobretudo em questões de significado,
percepção e ambiente. Nas quatro ruas estudadas há riquezas de referências culturais,
que expressam de maneira, muitas vezes bastante clara, os componentes que
conformam a memória da cidade, outras, encobertas pelo véu do descaso com o
ambiente construído, tanto do passado quanto do presente, como é o caso dos edifícios
abandonados e degradados da av. Calógeras, dividem o espaço com edifícios
históricos e recém reformados e o enorme poder de atração que a rua 14 de julho ainda
exerce sobre o campograndense.
Construir uma imagem coletiva dessas quatro ruas do centro de Campo
Grande, a partir de depoimentos da população e do espaço estudado, permitiu o
resgate e construção da ambiência e do imaginário coletivo, onde se evidenciou as
transformações urbanas que deveriam trazer melhorias para qualidade de vida dos
citadinos. As informações coletadas quanto à percepção espontânea dos usuários
revelou a falta de identificação e uma forte crítica a qualidade ambiental, as condições
físicas, a imagem e aos espaços para convivência. O entendimento dessa relação
intrínseca é uma importante ferramenta para a discussão, análise e compreensão do
fenômeno urbano.
Ruas que foram feitas por meio do tempo e acumulação de pequenos e
grandes gestos, essas são as analisadas neste estudo, verificando nelas diversos
aspectos positivos e negativos da percepção e do espaço físico.
Seu aspecto positivo é seu caráter de “marco da memória” e seu
persistente valor econômico no imaginário coletivo; assim como as interessantes
possibilidades de sua recuperação, por estar na área central da “cidade original” (de
recuperar sua centralidade e sociabilização) e por possuir grande parte da infra-
estrutura urbana instalada, que facilita sua ocupação e, gera menos impactos nos
limites urbanos e a possibilidade de diversidade de usos.
71
Os aspectos negativos iniciam-se com a debilitação de sua centralidade
(entendida como a capacidade de atrair pessoas para si perseguindo diversos fins),
com a criação de lugares e ambiente que proporcionam melhor ambiência, como novas
ruas e shoppings, que por meio de melhor qualidade passam a ocupar posição de
destaque no imaginário coletivo por intermédio da mídia e intervenções externas;
apresentam conflitos de circulação e transporte, agravados pela incidência de um
importante trânsito de passantes; exibem um espaço público degradado pela ocupação
privada; uma desordem comunicacional entre público privado; o deterioro da
arborização urbana e o intenso trânsito veicular; não apresenta uma política eficiente de
proteção do patrimônio e contra poluição visual; falta diversidade de atividades e de
horários, e incentivos e ações do Poder Público, em conjunto com a opinião da
sociedade.
Cada rua mostrou ter sua singularidade: a avenida Calógeras temática, a
rua 14 de Julho histórica, a rua Barão do Rio Branco pedestres e a rua Dom Aquino
anônima. No entanto, a opinião do usuário foi praticamente a mesma para todas as
ruas, de que precisam de melhorias, tanto em infra-estrutura como nas calçadas, no
aspecto visual e nas fachadas dos edifícios.
Esta ambiência negativa cria uma barreira que impede a identificação do
usuário com o espaço urbano em que está inserido, evidenciado pela dificuldade que os
entrevistados tiveram de citar um edifício ou monumento que lhe chamassem a
atenção. O uso desses recintos se resume a realizar atividades tais como compras e
pagamentos de contas (am bancos e nas lojas), essa é a relação atual de parte dos
citadinos com as ruas centrais.
Durante a análise dos aspectos físicos das ruas ficou clara a falta de
incentivos e reformas amplas que beneficie os usuários da área central; este problema
vem se arrastando desde a segunda metade do século 20. Os serviços oferecidos e as
instalações existentes não resolvem problemas como proteção contra sol e chuva, bom
escoamento das águas pluviais, acessibilidade, segurança quanto à circulação das
pessoas nas faixas de pedestre e calçadas, a paisagem não agrada aos usuários, que
possuem uma visão bastante pragmática das ruas e reclamam da “feiúra” desse
quadrilátero central.
72
Mas, a rua não pode deixar de ser um fator de eficiência funcional,
gerador de qualidades ambientais desejáveis e de integração entre atores sociais
diferenciados. Nesta perspectiva de análise, a riqueza e variedade de experiências que
propõe a rua, esboçam, novamente, o problema de como articular em um sentido
coletivo e sustentável, essa diversidade de lugares urbanos em benefício dos
interesses comuns e resgatar o caráter “condensador de público” que as ruas tiveram e
podem voltar a ter, desde que haja vontade política da sociedade campograndense.
73
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