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30 Sanidade Suínos & Cia Ano VII - nº 41/2011 Desinfecção e Desinfetantes Introdução A limpeza e a desinfecção são consideradas os principais métodos de prevenção de doenças. É indispensável que se adote um programa de limpeza e desinfecção abrangente e de uso rotineiro, visando a diminuir e manter uma concen- tração baixa de microrganismos patogê- forma, a probabilidade de infecções. A desinfecção consiste em contro- lar ou eliminar os microrganismos pato- gênicos, utilizando processos químicos ou físicos que atuam na estrutura ou no metabolismo deles. Este artigo tem como objetivo dis- correr sobre a importância da desinfecção em saúde animal e as características dos desinfetantes mais utilizados na pecuária. Conceitos Desinfetante: é um agente, nor- malmente químico, que mata as formas vegetativas, mas não necessariamente as formas esporuladas de microrganismos patogênicos. Geralmente, essas substân- cias são aplicadas em objetos inanima- dos. Germicida: é o termo aplicado à substância química ou processo físico capaz de destruir todos os microrganis- mos, incluindo também suas formas de resistência, denominadas de esporos, como aqueles produzidos por bactérias do gênero sp e sp. Bactericida: são todas as subs- tâncias químicas ou processos físicos capazes de destruir bactérias na sua forma vegetativa, não necessariamente os espo- ros bacterianos. Antisséptico: é uma substância química que pode não ter efeito germicida, impede ou bloqueia o desenvolvimento, ou a ação dos microrganismos, tanto pela inibição de sua atividade quanto por sua destruição. Fungicida e viricida: são os pro- cessos físicos ou substâncias químicas que destroem fungos ou vírus, respecti- vamente. Sanitizante: reduz o número de contaminantes bacterianos até um nível seguro. O termo se refere à condição de como sanitizante. Não é necessário que o produto sanitizante tenha ação germicida. Detergente enzimático: são compostos basicamente por enzimas, sur- factantes e solubilizantes. A combinação balanceada desses elementos faz com que o produto possa remover a matéria orgâ- nica da superfície do material em curto período de tempo, de 1 a 15 minutos. As grupos funcionais, dependendo do tipo de substrato que irão afetar: proteases, que interagem com proteínas; amilases, que interagem com carboidratos; e lípases, que interagem com lipídeos. Os detergen- tes enzimáticos não evitam a necessidade posterior do uso de uma solução desinfe- tante, pois não possuem a capacidade de destruir microrganismos e, sim, de elimi- nar a matéria orgânica que serve como substrato para que os microrganismos se multipliquem. No manejo zoosanitário aplicado às diferentes espécies de interesse zootéc- nico, no que se refere à higiene, é impor- As medidas de limpeza e desinfecção são um suporte, e não substitutas das outras medidas de Paulo Francisco Domingues 1, 3 Gisele Dela Ricci 2, 3 2, 3 1 Professor do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública, 3 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Campus de Botucatu 2 Acadêmicas do curso de Zootecnia [email protected]

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Sanidade

Suínos & Cia Ano VII - nº 41/2011

Desinfecção e Desinfetantes

Introdução

A limpeza e a desinfecção são consideradas os principais métodos de prevenção de doenças. É indispensável que se adote um programa de limpeza e desinfecção abrangente e de uso rotineiro, visando a diminuir e manter uma concen-tração baixa de microrganismos patogê-

forma, a probabilidade de infecções.

A desinfecção consiste em contro-lar ou eliminar os microrganismos pato-gênicos, utilizando processos químicos ou físicos que atuam na estrutura ou no metabolismo deles.

Este artigo tem como objetivo dis-correr sobre a importância da desinfecção em saúde animal e as características dos desinfetantes mais utilizados na pecuária.

Conceitos

Desinfetante: é um agente, nor-malmente químico, que mata as formas vegetativas, mas não necessariamente as formas esporuladas de microrganismos patogênicos. Geralmente, essas substân-cias são aplicadas em objetos inanima-dos.

Germicida: é o termo aplicado à substância química ou processo físico capaz de destruir todos os microrganis-mos, incluindo também suas formas de resistência, denominadas de esporos, como aqueles produzidos por bactérias do gênero sp e sp.

Bactericida: são todas as subs-tâncias químicas ou processos físicos capazes de destruir bactérias na sua forma

vegetativa, não necessariamente os espo-ros bacterianos.

Antisséptico: é uma substância química que pode não ter efeito germicida, impede ou bloqueia o desenvolvimento, ou a ação dos microrganismos, tanto pela inibição de sua atividade quanto por sua destruição.

Fungicida e viricida: são os pro-cessos físicos ou substâncias químicas que destroem fungos ou vírus, respecti-vamente.

Sanitizante: reduz o número de contaminantes bacterianos até um nível seguro. O termo se refere à condição de

como sanitizante. Não é necessário que o produto sanitizante tenha ação germicida.

Detergente enzimático: sãocompostos basicamente por enzimas, sur-

factantes e solubilizantes. A combinação balanceada desses elementos faz com que o produto possa remover a matéria orgâ-nica da superfície do material em curto período de tempo, de 1 a 15 minutos. As

grupos funcionais, dependendo do tipo de substrato que irão afetar: proteases, que interagem com proteínas; amilases, que interagem com carboidratos; e lípases, que interagem com lipídeos. Os detergen-tes enzimáticos não evitam a necessidade posterior do uso de uma solução desinfe-tante, pois não possuem a capacidade de destruir microrganismos e, sim, de elimi-nar a matéria orgânica que serve como substrato para que os microrganismos se multipliquem.

No manejo zoosanitário aplicado às diferentes espécies de interesse zootéc-nico, no que se refere à higiene, é impor-

As medidas de limpeza e desinfecção são um suporte, e não substitutas das outras medidas de

Paulo Francisco Domingues 1, 3

Gisele Dela Ricci 2, 3

2, 3

1 Professor do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública,3 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Campus de Botucatu

2 Acadêmicas do curso de [email protected]

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Ano VII - nº 41/2011

tante frisar que um programa de limpeza e desinfecção é um suporte, e não um

tais como o banho e a troca de roupa do pessoal operacional ou de pessoas visitan-tes da granja, a proibição ou controle da entrada de veículos na granja, o destino adequado das carcaças de animais mortos, o depósito e o tratamento dos dejetos dos animais e a utilização de baia ou área de quarentena para novos animais que serão introduzidos na granja.

O objetivo de um programa de limpeza e desinfecção é manter uma con-centração baixa de agentes patogênicos no ambiente, diminuindo a probabilidade de infecções, resultando nos seguintes benefícios: aumento da produtividade e diminuição da incidência de doenças infecciosas e parasitárias, do número de animais refugos (debilitados) e de gastos com medicamentos por animal/ano e mão de obra.

No planejamento e programação do processo de limpeza e desinfecção devem ser considerados alguns parâme-tros, como:

1) Superfícies e volumes a limpar e a desinfetar;

2) Intervalos e frequências de limpeza e desinfecção, em consonância com o sistema de produção;

3) Tipo de desinfetante que será utilizado, sua concentração ou diluição, e tempo de atuação;

4) Determinação de uma sequência lógica para as operações de limpeza e desinfecção;

5)de operadores necessários para cada fase do serviço;

6) Treinar os operadores, instruindo-os sobre os equipamentos de proteção individual e processos de limpeza e desinfecção;

7) Determinar custos em função dos métodos empregados, número de operadores e desinfetante a utilizar;

8) Registrar, em livro especial, a data, o material de limpeza usado, o desinfetante com sua concentração/diluição e forma de aplicação e o responsável pela operação;

9) Realizar teste de controle da qualidade microbiológica, colocando placas de Petri ou por amostragens com , analisando-se em laboratório especializado;

10) Programar o rodízio de desinfetantes

desinfecção e evitar o aparecimento de cepas de microrganismos resistentes a determinados desinfetantes.

Na suinocultura, uma limpeza diá-ria e completa é necessária para reduzir, principalmente, a probabilidade de infec-ções do aparelho gastrointestinal, infec-ções de pele, verminose, entre outras.

A falta desta prática na materni-dade, por exemplo, aumenta a probabili-dade de infecção em animais recém-nas-cidos, constante reinfecção de lotes mais velhos e perda de leitões, além de resultar em maior gasto com medicamentos cura-tivos e de mão de obra.

Além disso, a falta de uma lim-peza diária conduz à maior incidência de doenças clínicas e subclínicas, as quais têm, como resultado, baixa conversão ali-mentar, queda no ganho de peso e aumento no número de animais refugos.

Existem dois sistemas de desin-fecção, um deles realizado por processo químico e o outro físico. A desinfecção química é obtida utilizando-se os produ-

tos químicos minerais, sintéticos ou natu-rais, enquanto que a desinfecção física é procedida pelo calor e radiação solar.

Desinfecção por agentes físicos

Radiação solar: esta tem efeito germicida pelos raios ultravioletas. Em ambientes de laboratórios, por exem-plo, existem lâmpadas ultravioletas com o objetivo de desinfetar o local. Este

ação é lenta e não penetra a fundo nos materiais. No ambiente de criação dos animais, a ação da luz solar sobre deter-minados microrganismos patogênicos contribui para controlar a ocorrência de enfermidades nos animais, pois a sobrevi-vência dos microrganismos é bem maior quando abrigados à luz solar direta.

Calor: utilizado de diferentes maneiras, principalmente na forma de vapor sob pressão (ex. autoclave) ou ebu-lição em ambiente livre. O processo de compostagem sólida de dejetos (esterco) e carcaças de animais mortos também pro-duz calor em sua profundidade, atingindo, em média, 70°C, e destruindo, desta forma, os microrganismos patogênicos. O calor também é utilizado no processo de pasteurização, incineração e vassoura de fogo (lança-chamas). Quanto ao frio, é utilizado apenas para retardar o cresci-

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mento dos microrganismos, sendo muito utilizado para a conservação de alimentos.

Desinfecção química

A desinfecção por meios quími-cos é a prática mais usual e efetiva em saúde animal. Atualmente há um grande número de produtos químicos à disposi-ção no comércio para a prática da desin-fecção. Embora as marcas comerciais sejam as mais variadas, os princípios ati-vos são restritos, principalmente, a com-postos fenólicos e derivados do alcatrão de hulha, halogênios, alcoóis, aldeídos, agentes tensoativo como os detergentes, agentes oxidantes, derivados de metais pesados, corantes, álcalis, ácido e ainda os compostos orgânico-naturais.

Critérios para a escolha de um desinfetante

Não existe o desinfetante ideal, assim, a escolha deverá recair sobre

-jada com o maior número de requisitos, lembrando-se, entretanto, que um bom desinfetante é aquele que, na mesma con-

centração e no mesmo espaço de tempo, elimina bactérias, vírus, fungos, protozo-ários e parasitos.

Características desejáveis de um desinfetante:

ser germicida;

ser de baixo custo e de aplicação econômica (relação custo x benefício);

ser atóxico para o homem e animais, não devendo irritar a pele e mucosas;

ser estável frente à matéria orgânica, pH, luz;

ser solúvel em água;

não conferir odor ou sabor aos alimentos e objetos;

ter poder residual;

ser de fácil aplicação;

apresentar poder de penetração e rapidez de ação;

não ser corrosivo;

ser biodegradável.

Métodos de desinfecção (técnicas)

As técnicas de desinfecção empregadas dependem dos objetos e dos materiais a serem desinfetados, levando-

se em consideração as necessidades e a

facilidade de aplicação. A seguir, as prin-

cipais técnicas utilizadas:

Pedilúvio: é colocado à porta das

instalações para desinfecção dos calça-

dos das pessoas, mesmo para aqueles que

trabalham no próprio estabelecimento ou

propriedade. É muito importante no caso

de visitas às propriedades rurais, pois,

muitas vezes, os microrganismos podem

ser introduzidos nelas pela sola dos cal-

çados. É de uso rotineiro nas granjas de

suínos e avícolas e em caso de exposições

e feiras de animais.

A prática do pedilúvio deve ser de

e controle de afecções podais, como as

pododermatites infecciosas. Ele deve ser

instalado no caminho de entrada ou no

retorno da sala de ordenha.

Rodolúvio: é utilizado na entrada

das granjas para desinfecção não apenas

dos pneus de veículos que adentram a

propriedade, mas de todo o veículo, evi-

tando a introdução de agentes infecciosos

na granja.

Imersão: mergulham-se os obje-

tos na água em ebulição ou na solução

contendo o desinfetante a ser utilizado.

Tabela 1 – Propriedades e a indicação do uso dos desinfetantes na prática da desinfecção.

DESINFETANTES

AMÔNIAQUATERNÁRIA

Bactericida + + + + + + +

Fungicida + - - + + ± +

Viricida + + ± + + ± +

Toxicidade + - + - + - +

Faixa de pH efetivo alcalino alcalino ácido ácido neutro alcalino alcalino

Ação na presença de matéria orgânica ++++ + + +++ ++++ ++ ++++

Equipamentos de incubatório + + + + + + ±

Desinfecção da água - + + + - + -

Pessoas - + + + - + -

Lavagem de ovos - + + - - + +

Pisos + ± - - + + +

Pedilúvio + - - - + + -

+ - ± + ± + +

Fonte: Código Zo

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Pulverização: é obtida pulve-rizando-se o desinfetante, por meio de bombas costais ou sob a forma de .

Aspersão: espalha-se o desinfe-tante sobre o material a ser desinfetado. Difere da pulverização, pois na aspersão, as partículas são menores.

Fumigação: aproveitam-se as emanações antissépticas obtidas de certas substâncias, por meio de gás. É obtida, por exemplo, com a queima de pastilhas e pó, de diversas composições. Geralmente é utilizado o formol e o permanganato de potássio.

Propriedades e usos dos desinfetantes

As propriedades dos desinfetan-tes variam de acordo com o seu princípio ativo. A Tabela 1 ilustra as propriedades e usos de alguns desinfetantes (O.I.E., 1986).

-micos depende de vários fatores, como:

Concentração ou diluição do produto: devem-se considerar as recomendações do fabricante quanto à forma de aplicação e o volume a ser utilizado;

Tempo de atuação ou exposição, seguindo as recomendações do fabricante;

Temperatura alta acelera o processo de desinfecção;

Presença de matéria orgânica: a retirada prévia de sujidades melhora a ação do desinfetante;

Material a ser desinfetado: quanto mais

desinfetante;

Sensibilidade e quantidade de microrganismos presentes no material ou no ambiente a ser desinfetado;

Educação sanitária dos usuários.

Importância da limpeza prévia no processo de desinfecção

Antes de proceder à desinfecção, é importante que se faça uma limpeza prévia do local ou material a ser desinfe-tado, pois, além de a maioria dos desinfe-tantes diminuir a sua ação na presença de matéria orgânica, este procedimento eli-mina mecanicamente grande quantidade de microrganismos presentes no local. A limpeza permite uma ação direta e mais

-ganismos presentes na superfície a ser desinfetada.

A limpeza pode ser realizada por

varredura, lavagem com água e sabão ou detergente, removendo-se fezes, restos de alimentos, gordura, entre outras sujidades. Os resíduos contaminados não devem ser deixados ao ar livre, pelo risco de con-taminação imediata do local ou pela dis-persão dos contaminantes, pelo vento ou água pluvial.

Rodízio de desinfetantes

Em um programa de desinfecção devem ser ainda considerados determina-dos aspectos para seu êxito. De maneira geral, não se deve misturar ou combinar desinfetantes, pois este procedimento pode causar efeitos negativos, como a neutralização do poder desinfetante e reação química, produzindo subprodutos tóxicos, e ainda por poder incrementar a resistência de determinados microrga-nismos. Deve-se também evitar o uso de desinfetantes tóxicos, irritantes e/ou com odores penetrantes na presença de animais, reduzir o uso dos corrosivos e empregar aqueles com amplo espectro germicida, garantindo, assim, êxito no processo de desinfecção.

Desinfetantes químicos

1. Fenóis e derivados do alcatrão de hulha

1.1. Fenol ou ácido carbólico: foi desco-berto no alcatrão de hulha, sendo denomi-nado, inicialmente, como ácido carbólico. Foi o primeiro antisséptico a ser usado em cirurgia asséptica.

1.2. Cresol (ácidos cresílicos, tricresol):são os produtos derivados do fenol mais conhecidos e utilizados. Estes produ-tos são recomendados na desinfecção de pisos, esgotos e instalações sanitárias. A sua ação baseia-se na combinação com a proteína celular bacteriana, desnaturan-do-a.

1.3. Fenóis halogenados: a atividade do fenol é aumentada quando associado

e iodo. O hexaclorofeno é um difenol

Rodolúvio ou arco de desinfecção utilizado para desinfetar não apenas os pneus de veículos que adentram a propriedade, mas todo o veículo

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branco, cristalino, que possui seis átomos de cloro. É inodoro e virtualmente inso-lúvel em água, porém, solúvel em álcali, álcool e acetona. A alcalinidade do sabão

-feno em solução aquosa. O hexaclorofeno (0,75%) incorpora-se em sabões sólidos e líquidos, cremes detergentes e outros veículos para desinfecção cutânea pré-operatória.

Um grupo de microrganismos importantes em saúde animal e pública são as bactérias do gênero ,que resistem muitas horas ou dias aos desinfetantes comuns, sendo que os fenóis orgânicos conseguem inativá-las em 30 minutos, se utilizados na concentração de 3% (ZANON et al., 1974).

2. Alcalinos

Os álcalis são usados como desin-fetantes desde os tempos antigos. O meca-nismo da ação relaciona-se com a concen-tração de íon hidroxila. Sabe-se que um valor de pH superior a 9,0 inibe o cres-cimento e o desenvolvimento da maioria das bactérias. A maior parte do poder antisséptico dos sabões deve-se ao seu conteúdo de álcali. Possuem um amplo espectro de ação, entretanto, não têm efeito sobre os esporos bacterianos. São recomendados para desinfecção de pisos e paredes das instalações. São tóxicos, cor-rosivos, irritantes e não biodegradáveis.

2.1. Soda cáustica: a “lixívia de soda” encerra aproximadamente 94% de hidró-xido de sódio e é amplamente utilizada. É indicada para desinfecção de estábulos, em solução a 2% em água quente, durante

lixívia pode ser aumentada com a adição de 1 Kg de cal, pois este retarda a con-versão de hidróxido de sódio em carbo-nato de sódio, aumentando, consequente-mente, a sua ação desinfetante.

2.2. Carbonato de sódio: conhecido comercialmente como “soda de lavar”. Quando associado à lixívia aquecida, melhora o seu poder desinfetante. É indi-

cado sob a forma de uma solução na con-centração de 4% para desinfecção de ins-talações e objetos contaminados.

2.3. Cal (óxido de cálcio, cal viva): a cal viva (CaO), combinada com água, desenvolve grande quantidade de calor, transformando-se em Ca (OH)

2, cal apa-

gada ou cal extinta, apresentando elevado valor desinfetante. A cal comercial é um desinfetante de baixo custo e comumente utilizada para desinfecção de estábulos e instalações dos animais. Pode ser apli-cada como pó ou sob a forma de mistura espessa com água, conhecida como “leite de cal”. As grandes vantagens da cal, como desinfetante, são fácil disponibili-dade e baixo custo.

A cal hidratada ou cal extinta: quando misturada a quatro volumes de água forma-se uma suspensão alcalina, denominada “água de cal”. O leite de cal é obtido utilizando-se 2,5 litros de água para 9,0Kg de cal. Esta solução deve ser preparada no momento de sua utilização, para não perder o seu poder de ação.

3. Aldeídos

3.1. Formaldeído ou formol: o formalde-ído sob a forma gasosa tem excelente pro-priedade bactericida e germicida. Possui a

capacidade de reagir com o grupo amina da proteína celular, produzindo, assim, o efeito letal sobre as bactérias. O formal-deído (37% a 40%) mais água recebe o nome de formalina, conhecido como for-mol comercial. Quando associado a deter-

em instalações é recomendado nas con-centrações entre 4% a 10%.

O mesmo é indicado para desin-fecção de incubadoras, câmaras assép-ticas e ambientes fechados, sendo muito utilizado na desinfecção de galpões de criação de frangos. O gás deve atuar por oito a dez horas no ambiente a ser desin-fetado.

O formol também tem aplica-ção em pedilúvio, principalmente para controle do , doença dos ovinos conhecida como podridão dos cascos, bem como para afecções podais em bovi-nos.

3.2. Glutaraldeído: é um aldeído rela-tivamente novo, sendo menos tóxico que o formol. O glutaraldeído tem largo espectro de ação e é ativo na presença de matéria orgânica. É biodegradável, e seus resíduos contaminam alimentos.

É usado na desinfecção de instru-

mento cirúrgico, na instalação dos ani-

mais, equipamentos e salas de incubação.

A fumigação é um processo de desinfecção obtida por certas substâncias por meio do gás

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4. Halogênios e seus derivados

4.1. Iodo: é um germicida com alto poder de penetração, reagindo com o substrato proteico da célula bacteriana. É solúvel no álcool e proporciona efetiva ação contra as bactérias existentes na pele íntegra.

A solução de tintura de iodo é

principalmente na desinfecção do umbigo de animais recém-nascidos.

4.2. Iodóforos ou Iodophor: são conhe-cidos como transportadores de iodo, constituindo-se de uma mistura de iodo com detergentes e solubilizadores. Esta é a melhor forma de se utilizar o iodo, prin-cipalmente na desinfecção de instalações.

se diminui o pH. Em pH neutro ou alca-lino, a atividade antimicrobiana é mínima. Assim, os iodóforos devem ser formula-

o mais frequentemente utilizado para esta

boa atividade bactericida na presença de matéria orgânica.

Consideram-se os iodóforos como substâncias seguras, com baixa toxici-dade, sendo destituídos de odor e que apresentam boa estabilidade. São indica-dos, principalmente, para a desinfecção dos tetos dos animais, antes (pré- )e após a ordenha (pós- ) e na pre-venção e controle das mastites em reba-nhos leiteiros.

4.3. Cloro: foi utilizado, inicialmente, como alvejante na indústria têxtil. Teve suas propriedades desinfetantes demons-tradas em condições laboratoriais pelo bacteriologista alemão Kock, em 1881. Em 1886, a

aprovou o uso dos hipocló-ritos como desinfetantes. Em 1908, foi

da água consumida pela população dos Estados Unidos.

As indústrias de laticínios e ali-mentos rapidamente aderiram ao uso do cloro para melhorar a qualidade da água

que utilizavam e também na higienização de pisos, paredes, utensílios e equipamen-tos. Pode ser utilizado como desinfetante, sob as formas de gás, compostos inorgâni-cos e orgânicos.

Os principais compostos clora-dos, disponíveis no comércio, com suas respectivas porcentagens de cloro ativo em Cl

2, são apresentados na Tabela 2.

No Brasil, os hipocloritos são amplamente usados na indústria de lati-cínios e nas propriedades produtoras de leite para desinfecção de equipamentos, utensílios de ordenha e higienização do úbere dos animais antes da ordenha. O hipoclorito de sódio é mais usado na forma líquida, com teores de 1% a 15% de cloro ativo, expresso em Cl

2.

Os hipocloritos de cálcio e lítio, contendo respectivamente 70% e 35% de cloro ativo, são comercializados nas formas de pó e granulado. O fosfato tris-sódico clorado, também comercializado sob a forma de pó, além de 3,5% de cloro ativo, que lhe confere ação bactericida, apresenta ainda funções de detergente.

Os compostos clorados orgânicos ou as cloraminas, geralmente comercia-lizados sob a forma de pó, apresentam níveis de cloro ativo que variam de 24% a 90%. São largamente empregados como desinfetantes, sendo menos agressivos e mais estáveis que os hipocloritos, libe-rando mais lentamente o cloro.

Todos os compostos clorados, à

exceção do dióxido de cloro, apresentam

o mesmo mecanismo de ação. Quando

estes produtos estão em solução aquosa,

libera-se o ácido hipocloroso, em sua

forma não dissociada, que apresenta capa-

cidade de penetrar na célula bacteriana e

destruí-la.

O cloro é considerado como

desinfetante universal para a água, e a

parte que permanece nela, após período

de ação média de 20 minutos, constitui

o cloro livre, de grande poder desinfe-

tante. Nas concentrações recomendadas,

os hipocloritos desinfetam superfícies

limpas. Quando há considerável resíduo

de matéria orgânica e/ou minerais, elas se

combinam à solução de cloro, dando ori-

gem ao cloro combinado, que apresenta

baixa ação desinfetante.

5. Clorhexidina

O cloridrato de clorhexidina é

um composto sintético. Quimicamente

é o dicloridrato de 1,1-hexametil-enobis

(p-clorofenil) biguanida. Tem reação

alcalina, é levemente hidrossolúvel e rela-

tivamente atóxico. A clorhexidina é ativa

contra diversas bactérias gram-positivas e

gram-negativas e outros microrganismos.

Tem boa ação na presença de matéria

orgânica.

Tabela 2. Compostos clorados, com suas respectivas porcentagens de cloro ativo.

Inorgânicos

Nome Químico % de cloro ativo em Cl2

Hipoclorito de sódio 1 - 15

Hipoclorito de cálcio 70 - 72

Hipoclorito de lítio 30 - 35

Fosfato trissódico clorado 3,5

Dióxido de cloro 17

Cloro gás 100

Nome Químico % de cloro ativo em Cl2

Ácido Dicloroisocianúrico 70,9

Ácido Tricloroisocianúrico 89 - 90

Sulfonamida p-Tolueno de sódio (cloramina-T) 24 - 26

Sulfonamida p-Tolueno (Dicloramina-T) 56 - 60

Diclorodimetil Hidantoína 66

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A clorhexidina demonstrou ser útil na desinfecção de equipamentos e instalações contaminadas, bem como nos de ordenha. Tem boa ação no controle da mastite, pela imersão das tetas após a ordenha (pós- ). Normalmente, a

-lidade é de 0,2% a 1% (RADOSTITS & BLOOD, 1986). A redução de novas taxas

-cativa com a utilização de digliconato de clorhexidina a 0,5% com glicerina a 6% (HICKS et al., 1981).

6. Substâncias tensoativas ou detergentes

As substâncias tensoativas pos-suem a capacidade de diminuir a tensão

---

cas, catiônicas, não iônicas e anfóteras.

6.1. Compostos de amônio quaterná-rio: são substâncias tensoativas catiô-

atuam aumentando a permeabilidade da membrana celular dos microrganismos, possibilitando a hidratação das células e sua implosão com perda de nitrogênio e potássio e inativação do sistema enzimá-

tico bacteriano. Os compostos de amônio quaternário mais conhecidos são o cloreto de benzetônio e o cloreto de benzalcônio.

Entre suas vantagens estão a baixa toxicidade, excelente ação bactericida, atuando contra sp, boa ação em pH alcalino, pouco corrosivo e boa estabilidade. Como desvantagens estão a diminuição da sua ação em pH ácido e inativação na presença de matéria orgâ-nica, bem como pequena ação em águas com altas concentrações de cálcio e mag-nésio (água dura).

6.2. Substâncias aniônicas ou sabões e detergentes: o mecanismo de ação é simi-lar aos catiônicos, mas com atividade bac-tericida fraca, provavelmente, por serem repelidos pela carga elétrica negativa da

-minação da maioria dos microrganismos da pele. Não funcionam em água dura, ou seja, naquelas com altas concentrações de cálcio e magnésio. Possuem grupo polar

2. São mais ativos quando

constituídos à base de ácidos graxos insa-turados, como, por exemplo, ácido oleico. Não são biodegradáveis.

6.3. Substâncias anfóteras: possuem um grupo catiônico, responsável pela ação bactericida; e um aniônico, responsável

pelo efeito detergente. O pH considerado ótimo para atuação desses compostos é variável e depende do número de gru-pos nitrogenados. O dodecil-glicina atua melhor em pH igual a 3,0, enquanto que o dodecil-diamino-etil-glicina age em fai-xas de pH entre 9,0 a 9,5.

7. Álcoois

Os álcoois alifáticos comuns são bons solventes antissépticos e desinfetan-tes. O álcool etílico ou etanol é tradicio-nalmente o mais comum e também o mais utilizado. É conhecido, ainda, como álcool de cereal, porque é produzido pela fer-mentação de grãos de cereais. Os álcoois possuem pronunciada ação bacteriana.

O etanol é comumente usado na diluição de 70%. Aparentemente, os álco-ois produzem seu efeito pela desnaturação de proteínas solúveis e diminuição da ten-

O álcool a 70% é considerado bom antisséptico, tendo a sua ação melho-rada quando adicionado de 2% de tintura de iodo, conhecido como álcool iodado. É muito recomendado como antisséptico para a pele e desinfecção de material clí-nico-cirúrgico.

8. Substâncias oxidantes

8.1. Água oxigenada (H2O

2) ou

peróxido de hidrogênio: pela ação da catalase existente nas bactérias ou em tecidos orgânicos, nos casos de ferimen-tos, sangue e pus, ocorre a liberação de oxigênio nascente, promovendo a desin-fecção por oxidação. A água oxigenada, na concentração de 3%, tem indicação principalmente como antisséptico e tam-bém na limpeza, pelo borbulhamento de lesões e feridas. Sua ação é rápida e ins-tável, não sendo corrosiva nem tóxica. É biodegradável. É muito utilizada na lim-peza e desinfecção de feridas, entretanto, o seu espectro de ação é reduzido, não agindo sobre esporos.

8.2. Permanganato de potássio (KMnO

4): ocorre sob a forma de cristais

A tintura de iodo é um potente germicida utilizado para desinfecção do umbigo de recém-nascido

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Suínos & Cia

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Sanidade

Ano VII - nº 41/2011

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púrpuro-escuros, solúveis em água na proporção de 1:15. É um oxidante enér-gico com ação desinfetante e desodori-zante. Em contato com a matéria orgânica libera oxigênio. Não penetra profunda-mente, apresentando somente ação super-

as soluções podem ser bacteriostáticas, adstringentes, irritantes ou cáusticas.

8.3. Ozônio (O3): decompõe-se facil-

mente, liberando oxigênio nascente. É usado principalmente na desinfecção do ar e da água. A sua ação tóxica o impede de ser utilizado na desinfecção de locais habitados.

9. Compostos orgânicos naturais

Na natureza encontram-se mui-tos compostos complexos orgânicos de origem vegetal, com características bac-tericida e germicida. QUINTERO (1994)

estudados com características germicidas:

Extrato de sementes cítricas: Grapefruit ( ), Bergamot ( ), Tangerina (

) e Laranja ( );

Extrato de ,planta da Índia, estudada em 1992 por Kumar & Prassad, Universidade de Bhagalpur, Índia;

off);

off);

);

9.1. Extrato de sementes cítricas: trata-se de um composto complexo orgânico-natural, extraído de frutas cítricas brasi-leiras, ativadas por processo biológico, e estabilizado por métodos físico-químicos. É integrado por traços orgânico-químicos,

Recognized As Grass) pela F.D.A. (Food

and Drug Administration), dos Estados

-

vonoides cítricos, ácido cítrico, pectina

cítrica, aminoácidos e grupos aminas,

ácidos graxos e glicerídeos, tocoferóis e

açucares.

Utilização de diferentes desinfe-

tantes em algumas enfermidades infec-

ciosas dos animais (Adaptado de COSTA,

1987).

A desinfecção contribui para a

produção de alimentos de elevado padrão

em qualidade e para a manutenção de um

bom estado sanitário do rebanho, uma vez

que a contaminação ambiental e o risco

de doenças infecciosas são uma constante

nos rebanhos.