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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS SANTA TERESA DE JESUS NA AZULEJARIA E PINTURA DO SÉCULO XVIII LÚCIA MARIA RODRIGUES MARINHO Orientador(es): Professor Doutor Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão Doutor Alexandre Manuel Nobre da Silva Pais Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de História, especialidade em História da Arte 2018

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

SANTA TERESA DE JESUS NA AZULEJARIA E PINTURA DO SÉCULO XVIII

LÚCIA MARIA RODRIGUES MARINHO

Orientador(es): Professor Doutor Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Doutor Alexandre Manuel Nobre da Silva Pais

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de História,

especialidade em História da Arte

2018

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ELENCO DOCUMENTAL

DOCUMENTAÇÃO

-Santa Teresa de Jesus: biografia 04

-São João da Cruz: biografia 15

-Decreto da XXVª sessão do Concílio de Trento: Da invocaçaõ, veneraçaõ e Reliquias

dos Santos e das Sagradas Imagens, de 3 de Dezembro de 1563 20

-Epistolário de Santa Teresa de Jesus:

1.Carta a D. Teotónio, em Évora – Ávila,16 de Janeiro de 1578 23

2.Carta a D. Teotónio, em Évora – Valladolid, 22 de Julho de 1579 30

-Breve de Beatificação de Santa Teresa, de 24 de Abril de 1614 32

-Escriptura de padroado da Serenissima Snrã Donna Maria Filha do Snor Rey Dom

João o 4º aos Religiozos Carmelitas Descalços feita no Mes de Fevrº Anno 1681 34

-Fundação do Convento de São João da Cruz de Carnide e suas obras 40

-Conta da causa que levou à construção da actual igreja do Convento de São José da

Esperança, em Évora 55

-Conta da demolição do Convento de Santa Teresa de Santarém, dos Carmelitas

Descalços, dando lugar ao edifício do Governo Civil 57

-“Anno 1891-1892 / Districto de Lisboa / Convento de Santa Thereza de Carnide /

Inventário dos quadros n’elle encontrados depois da sua extinção e posse pela

Fazenda Nacional / valor R.s 4:736$700” 59

-“Auto da avaliação e descripção do Convento das Religiozas de S. José desta Cidade

d'Evora, e suas pertenças, situado na Rua d'Aviz, freguesia de São Mamede / Aos

quatro dias do mez de Novembro do anno de mil oito cento e cincoenta e sete nesta

Cidade d'Evora e Edificio do Convento das Religiozas de São Joze, freguesia de São

Mamede” 62

-“Auto de descripção e avaliação dos Paineis que actualmente existem no Convento

de S. José desta Cidade d'Evora, freguesia de S. Mamede” 63

-Ofício 669 / 11 de 29 de Outubro de 1946, do director do Museu Nacional de Arte

Antiga, o Dr. João Couto 65

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-Ofício 3-M-9 / JC. / MF. / 472 de 31 de Outubro de 1957 do director do Museu

Nacional de Arte Antiga, o Dr. João Couto 66

-Ofício 330 / 4-M-4 JC. AG. de 29 de Julho de 1958, do director do Museu Nacional de

Arte Antiga, o Dr. João Couto 67

-“Adaptação dos Edifícios do antigo Convento da Madre de Deus a Museu de

Azulejaria”, texto de João Miguel dos Santos Simões, 1960 68

-Ofício 264 58-M-1 de 13 de Julho de 1961, do director do Museu Nacional de Arte

Antiga, o Dr. João Couto 73

-Carta de João Miguel dos Santos Simões de 25 de Junho de 1963 e notas de

recebimento de azulejos de Junho de 1963 75

-Carta de João Miguel dos Santos Simões a Maria José de Mendonça, Directora do

Museu Nacional de Arte Antiga, de 1 de Fevereiro de 1970 78

-Carta de Rafael Salinas Calado ao Presidente do Conselho Administrativo da

Fundação Calouste Gulbenkian, 25 de Novembro de 1975 80

-Quadro: Conventos da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo

do reino de Portugal – Carmelitas Descalços (séculos XVI - XVIII), ordem crescente de

acordo com a data de fundação 81

-Mapa: Conventos da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo do

reino de Portugal – Carmelitas Descalços (séculos XVI – XVIII) 83

-Mapa: Conventos da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo do

reino de Portugal – Carmelitas Descalços (séculos XVI – XVIII): Ciclos de Azulejaria e Pintura in situ 84

-Corpus: património descontextualizado e em contexto museológico e em espaços

conventuais 85

-Quadro_1: Santa Teresa de Jesus em Azulejo 108

-Quadro_2: Santa Teresa de Jesus em Pintura 111

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SANTA TERESA DE JESUS: BIOGRAFIA1

1515: A 28 de Março nasce em Ávila, Teresa Sánchez Cepeda y Ahumada,

filha de Alonso Sánchez de Cepeda (Toledo) e de Beatriz de Ahumada (natural

de Olmedo). A 4 de Abril é baptizada na paróquia de São João e, neste mesmo

ano, dá-se a inauguração solene do Convento da Encarnação de Ávila, no local

definitivo.

1521-1523: Teresa na idade de seis ou sete anos lê o “Flos Sanctorum” com o

seu irmão Rodrigo (Livro da Vida, cap. 1-1).

1523: Data provável da fuga de Teresa e Rodrigo para a terra dos mouros

(Santa Teresa e o irmão caminham para a terra dos mouros).

1528: Em Dezembro (?) morre, em Gotarrendura, D. Beatriz, mãe de Teresa

(data do seu testamento: 24 de Novembro de 1528). Teresa recorre a Nossa

Senhora (Imagem de Nossa Senhora da Caridade na ermida de S. Lázaro):

“Supliquei-lhe que fosse minha Mãe” (Livro da Vida, cap. 1-7).

1528-1530: Crise de adolescência de Teresa.

1531: Teresa é internada no Convento de Santa Maria de Graça de agostinhas,

em Ávila.

1532: Pelo Outono, sai doente do Convento de Santa Maria de Graça.

1533: Convalescente, pela Primavera, passa algum tempo em Hortigosa com

seu tio D. Pedro, e em Castellanos de la Cañada com a sua irmã Maria.

1533-1534: Leitura das “Cartas” de S. Jerónimo. Teresa opta pela vocação

religiosa. Seu pai opõe-se.

1535: A 2 de Novembro, Teresa foge de casa e entra no Convento da

Encarnação.

1536: A 31 de Outubro, carta de dote de Teresa para receber o hábito. A 2 de

Novembro, Teresa recebe o hábito de Carmelita no Convento da Encarnação.

1 SANTA TERESA DE JESUS; ÁLVAREZ, Tomás (introd. e notas); RIBEIRO, Vasco Dias (trad.) - Obras Completas: Cronologia Teresiana. Paço de Arcos, Edições Carmelo, 2000, pp.

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1537: 3 de Novembro: profissão de Teresa.

1538: Teresa adoece gravemente. Passa o Inverno em Hortigosa e Castellanos

de la Cañada. Em Hortigosa lê o “Terceiro Abecedário Espiritual” do

franciscano Francisco de Osuna. Lê também “Morales” de S. Gregório Magno.

1539: De Abril até Agosto, em Becedas, sujeita-se ao tratamento de uma

curandeira, com “tão grandíssimos tormentos nas curas” (Livro da Vida, cap. 6-

4). A 14 ou 15 de Agosto, colapso de Teresa: “Deu-me, naquela noite, um

paroxismo que durou quatro dias, pouco menos, ficando eu sem nenhum dos

sentidos” (Livro da Vida, cap. 5-9).

1539-1542: Quase três anos na enfermaria do Convento da Encarnação,

melhora pouco a pouco (Livro da Vida, cap. 6-2).

1542: Grande devoção a S. José. Teresa sente-se curada por sua intercessão

(Livro da Vida, cap. 6, 5-8).

1543-1544: Morte de D. Alonso, seu pai, assistido por Teresa.

1544: Teresa acorre à direcção espiritual de P. Vicente Barrón (Ordem dos

Pregadores) que a faz regressar à prática da oração e à frequência dos

Sacramentos.

1544-1553: Teresa luta contra si mesma para recomeçar uma vida espiritual

sem condições. Sem o conseguir (Livro da Vida, cap. 7).

1548: Verão, Teresa peregrina ao Santuário de Guadalupe.

1551: Os Jesuítas estabelecem-se em Ávila, no Colégio de S. Gil.

1554: Lê as “Confissões” de Santo Agostinho. Durante a Quaresma (?):

conversão de Teresa diante dum Cristo muito chagado: Santa Teresa orando

diante do Ecce Homo2. Acolhe-se à direcção espiritual do jesuíta P. Cetina.

Tem início uma série de graças Místicas.

15-24. 2 Segundo María José Pinilla Martín a data desta «conversão» é 1556, durante a festa de Pentecostes (MARTÍN, María José Pinilla - Imagen e Imágenes de Santa Teresa de Jesús entre 1576 y 1700: origen, evolución y clasificación de su iconografía. Ávila: Diputación de Ávila, Institución Gran Duque de Alba, 2015, p. 252).

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1555: Teresa passa a estar sob a direcção espiritual do jesuíta P. Juan de

Prádanos.

1556: Viagens a Alba de Tormes e a Villanueva del Aceral.

1557: Durante o Inverno, passa por Ávila S. Francisco de Borja que fala com

Teresa. Primeiro arroubamento.

1558: Teresa passa para a direcção espiritual do P. Baltazar Álvarez.

1558-1560: “Dois anos” de tenaz resistência a êxtases e falas místicas (Livro

da Vida, cap. 10).

1559: 29 de Junho, primeira visão intelectual de Cristo (Livro da Vida, cap. 27-

1). O inquisidor Fernando de Valdés publica o índice dos livros proibidos.

“Quando se tiraram do público muitos livros em língua vulgar, para que se não

lessem, eu senti-o muito, porque me recreava lendo alguns e já não o podia

fazer por só os permitirem em latim. Disse-me o Senhor: Não tenhas pena, que

Eu te darei livro vivo.”3

1560: A 25 de Janeiro, visão de Cristo ressuscitado (Livro da Vida, cap. 28-3).

Mandaram-na que se “benzesse quando visse alguma visão e fizesse figas,

porque podia ter por certo que era demónio” (Livro da Vida, cap. 29-5).

Graça da Transverberação (Livro da Vida, cap. 29-13). Encontro com S. Pedro

de Alcântara, em Ávila, que a conforta. Espantosa visão do Inferno (Livro da

Vida, cap. 32-1).

Em Setembro, toma a decisão de fundar um convento reformado (Livro da

Vida, cap. 32-10). Neste sentido, consulta o P. Frei Pedro Ibañez, da Ordem de

São Domingos.

Escreve a 1ª Relação.

1561: Novo impulso ao projecto de fundação. A 12 de Agosto, Santa Clara

promete ajudá-la (Livro da Vida, cap. 33-13), e São José promete ajuda

económica. A 15 de Agosto, aparição da Virgem e S. José: Imposição do colar

e do mando (Livro da Vida, cap. 33-14). “Na noite de Natal”, o Provincial

3 SANTA TERESA DE JESUS; (…) - Obras Completas: Livro da Vida, 2000, cap. 26-5, p. 210.

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ordena-lhe que viaje para Toledo, para casa de D. Luísa de la Cerda (Livro da

Vida, cap. 34-1).

1562: De Janeiro a Julho, em Toledo, permanece em casa de D. Luísa de la

Cerda. Escreve a 2ª Relação. A 7 de Fevereiro, publica-se em Roma o Rescrito

Apostólico para a fundação do Convento de São José. Em Março, encontro

com Maria de Jesus, fundadora do Carmelo de Alcalá (Livro da Vida, cap. 35-

1). A 14 de Abril, carta de São Pedro de Alcântara a Teresa, sobre a pobreza

da fundação. Em Junho termina em Toledo a primeira redacção do Livro da

Vida, hoje desaparecida. Em Julho regressa a Ávila onde recebe o Rescrito da

fundação do Convento de São José, de 7 de Fevereiro. Entre Julho e Agosto

São Pedro de Alcântara escreve ao Bispo D. Álvaro a favor da fundação (Livro

da Vida, cap. 35-2). A 10 de Agosto eleição da nova prioresa do Convento da

Encarnação.

Inauguração do Carmelo de São José em Ávila, a 24 de Agosto (Livro da Vida,

cap. 36-5). No dia seguinte, Teresa regressa ao Convento da Encarnação e

pede “desculpa” ao Provincial (Livro da Vida, cap. 36-12). A 26 de Agosto, tem

início a oposição do Conselho da cidade de Ávila (Livro da Vida, cap. 36-15). A

19 de Outubro morre São Pedro de Alcântara. A 5 de Dezembro, Rescrito

Apostólico concedendo à fundação de S. José para que viva sem rendimentos.

Fins de 1562 ou início de 1563, Teresa regressa ao Convento de São José. A

licença formal do Provincial para que permanecesse em São José só chega a

22 de Agosto de 1563 (Livro da Vida, cap. 34-17).

1562-1567: Cinco anos de vida “sossegada” em São José.

1563: Escreve a 3ª Relação. A 23 de Junho, Maria de Jesus funda o Convento

da Imagem em Alcalá de Henares.

Frei João de São Matias veste o hábito da Ordem do Carmo em Medina del

Campo.

1564: A 21 de Março é eleito o novo P. Geral da Ordem, Juan Bautista Rossi

(Rubeo). A 21 de Agosto, licença do núncio A. Crivelli para que Teresa

continue a residir no Convento de São José.

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1565: A 17 de Julho, bula do Papa Pio IV, confirmando a pobreza do Convento

de São José (Livro da Vida, cap. 39-14). No final deste ano termina a nova

redacção do Livro da Vida.

1566: Durante o verão deste ano, o franciscano Alonso Maldonado visita o

Carmelo de S. José (Fundações, cap. 1-7).

1566-1567: Escreve o Caminho de Perfeição.

1567: A 18 de Fevereiro o P. Geral da Ordem, Juan Bautista Rubeo chega a

Ávila e inicia a visita canónica na Encarnação. Mais tarde, encontra-se com

Teresa em S. José (Fundações, cap. 2-2). A 27 de Abril dá a Teresa a

autorização necessária (patentes) para que esta fundasse novos conventos

reformados. A 13 de Agosto, Teresa sai de Ávila para fundar o Carmelo de

Medina del Campo. Três dias depois, dá poderes a Teresa para fundar

conventos de frades contemplativos, excepto na Andaluzia.

Encontros de Teresa com Frei João de S. Matias que, entretanto, também tinha

chegado a Medina del Campo para cantar a sua primeira missa (Fundações,

cap. 3-17). Num destes encontros, Teresa convida-o e pede-lhe que inicie a

vida reformada entre os Carmelitas, convite que ele aceita alterando o seu

nome para Frei João da Cruz.

1568: Teresa dai de Medina del Campo e chega a Alcalá de Henares onde

visita o Convento da Imagem. A 30 de Março assina em Toledo as escrituras

para a fundação do Carmelo de Malagón. A 2 de Abril Teresa chega a Malagón

onde inaugura o Carmelo no dia 11 do mesmo mês. Em Maio viaja a Toledo,

Escalona e Ávila, onde chega no início de Junho.

A 30 de Junho sai de Ávila, visita Duruelo e chega a Medina del Campo. A 9 de

Agosto vai de Medina del Campo para Valhadolid, acompanhada por Frei João

da Cruz. A 15 de Agosto funda o Carmelo de Valhadolid, em rio de Olmos.

Esclarece Frei João da Cruz acerca da vida dos Carmelos (Fundações, cap.

15-5). A 28 de Novembro, Frei João da Cruz inaugura o pequeno convento de

Duruelo.

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Redacção das Constituições das Carmelitas Descalças4.

1569: A 27 de Fevereiro viaja de Valhadolid a Medina del Campo, visita

Duruelo e fica em Ávila. A 14 de Maio Teresa inaugura o Carmelo de Toledo. A

30 de Maio parte para Pastrana, a pedido da Princesa de Éboli, ficando oito

dias nas Descalças Reais de Madrid. A 23 de Junho inaugura convento de

monjas de Pastrana. No dia 10 deste mês tinha sido fundado na mesma cidade

o convento de frades.

A 26 De Agosto são nomeados os Visitadores Apostólicos para os Carmelitas:

os Dominicanos Pedro Fernández para Castel e Francisco de Vargas para a

Andaluzia.

1570: Em Pastrana, a 10 de Julho, Teresa assiste à profissão de Ambrósio

Mariano e de Frei Juan de la Miseria (autor do primeiro retrato de Teresa,

pintado tinha ela 61 anos). Viagem de Teresa a Medina del Campo, Alba de

Tormes, Medina del Campo, Valhadolid e Toledo. Entre Agosto e Setembro,

viaja de Toledo a Ávila e Salamanca aonde chega a 31 de Outubro. A 1 de

Novembro, inauguração do Carmelo de Salamanca. Os Descalços fundam o

Colégio de S. Cirilo em Alcalá.

A 2 de Novembro Ana de S. Bartolomeu veste o hábito em S. José de Ávila.

1571: A 25 de Janeiro, fundação em Alba de Tormes. Acompanha Teresa, Frei

João da Cruz. A 6 de Abril o P. Geral, Juan Bautista Rubeo, dá nova

autorização a Teresa para que continue as fundações. A 27 de Julho Pedro

Fernández visita o Convento da Encarnação altura em que pede a Teresa que

aceite novamente o cargo de prioresa deste convento. A 13 de Julho, Teresa

renuncia formalmente à Regra mitigada e renova a sua profissão em São José

de Ávila. Fazem-no igualmente as Descalças vindas da Encarnação. A 6 de

Outubro Pedro Fernández dá a Teresa a conventualidade de Salamanca. A 14

de Outubro, tem início o seu priorado no Convento da Encarnação.

1572: A 19 de Janeiro, no Convento da Encarnação, durante o Cântico da

Salve sabatina, aparece-lhe Nossa Senhora no Coro (Relações, cap. 25). A 25

4 AUCLAIR, Marcelle - Santa Teresa de Ávila, a Dama Errante de Deus. 4.a ed. Braga: Livraria A.I., 1990, p. 467.

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de Março, Jerónimo Graciano veste o hábito das Descalcez em Pastrana,

adoptando o nome de Jerónimo da Madre de Deus5. Na Primavera deste ano,

Teresa leva Frei João da Cruz para confessor das freiras do Convento da

Encarnação. Em Setembro (?) Teresa escreve a Resposta a um desafio. A 18

de Novembro, obtêm a graça do Matrimónio espiritual ao receber a Comunhão

das mãos de Frei João da Cruz (Relações, cap. 35).

Teresa começa a redigir os Conceitos do amor de Deus6.

1573: No início de Fevereiro, estando em Alba de Tormes, Teresa assina uma

cópia do Caminho da Perfeição. A 31 de Julho chega a Salamanca e encontra

dificuldades para adquirir a casa para a fundação do convento. A 25 de Agosto,

começa a redigir as Fundações. A 28 de Setembro as freiras de Salamanca

trasladam-se para as casas de Pedro de la Vanda (Fundações, cap. 19-9).

Os Descalços fundam conventos na Andaluzia com autorização do Visitador

Apostólico, mas contrariando as ordens do P. Geral. Origem de graves

dificuldades para o futuro.

1574: Em Março, Teresa sai para Segóvia acompanhada por Frei João da

Cruz, Julião de Ávila e A. Gaytán. A 19 de Março inauguração do Carmelo de

Segóvia. A 7 de Abril chegam a Segóvia as Descalças de Pastrana depois de

abandonarem esta fundação. A 13 de Julho o Visitador dominicano Francisco

de Vargas anuncia o P. Jerónimo Graciano como Visitador e Vigário Visitador

dos Carmelitas de Andaluzia. No início de Outubro Teresa regressa ao

Convento da Encarnação para terminar o seu priorado que cessa no dia 6

desse mês, altura em que Teresa regressa ao Convento de São José,

acompanhada por Frei João da Cruz.

1575: A 24 de Fevereiro inaugura a fundação de Beas de Segura. Ali encontra-

se com o P. Jerónimo Graciano (Relações, cap. 39 e 40). A 18 de Maio sai de

Beas de Segura para Sevilha. A 24 de Maio em Ecija, na ermida de Santa Ana,

voto de obediência ao P. Jerónimo Graciano (Relações, cap. 40). A 29 de

Maio, inauguração do Carmelo de Sevilha. A 10 de Junho, em Alba de Tormes,

5 Foi educado no Colégio Jesuíta de Madrid onde se formou e foi ordenado padre. Após ter adoptado o nome de Jerónimo da Madre de Deus, as referências a si são, na grande maioria, como P. Jerónimo Gracián ou Graciano, em português.

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o P. Domingo Bañez dá a sua aprovação a um manuscrito dos Conceitos do

amor de Deus. A 7 de Julho o mesmo padre assina a sua censura favorável ao

Livro da Vida que desde o início do ano tinha sido denunciado à Inquisição e

retido por esta. A 24 de Novembro, Teresa concede poderes a Ana de S.

Alberto para fundar em Caravaca.

Em Dezembro uma ex-noviça de Sevilha acusa Teresa e as suas monjas à

Inquisição. Em Ávila, são feitos prisioneiros Frei João da Cruz e o seu

companheiro e, em Sevilha, Teresa é intimada a recolher-se num convento.

Para um dos consultores da Inquisição de Sevilha, o jesuíta Rodrigo Álvarez,

Teresa escreve a 4ª Relação.

1576: A 1 de Janeiro Ana de S. Alberto inaugura o Carmelo de Caravaca.

Teresa escreve outra Relação do seu espírito (Relação 6) para os Padres

Rodrigo Álvarez e Henrique Enríquez. Em Sevilha, por ordem do P. Jerónimo

Graciano, Teresa deixa-se retratar por Frei Juan de la Miseria. Em Agosto e

também por indicação do P. Jerónimo Graciano, Teresa escreve o Modo de

visitar os Conventos. Em Toledo, segue com a redacção das Fundações.

1577: A 6 ou 7 de Fevereiro, Teresa tem uma crise de esgotamento por

excesso de trabalho. O médico proíbe-a de escrever pela sua própria mão. A 2

de Junho, em Toledo, começa a redigir o livro das Moradas, por ordem do P.

Jerónimo Graciano. Em Julho, Teresa viaja até Ávila para pôr o Convento de

São José sob a jurisdição da Ordem (Fundações, epílogo), acto que ocorreu no

dia 27 desse mês. A 29 de Novembro termina o livro As Moradas ou Castelo

Interior, no Convento de São José de Ávila. Na noite de 3 a 4 de Dezembro

Frei João da Cruz e o seu companheiro são presos, primeiro em Ávila; depois

Frei João da Cruz é levado para o cárcere de Toledo. A 4 de Dezembro,

Teresa escreve ao rei pedindo justiça a favor de Frei João da Cruz. A 24 de

Dezembro, no Convento de São José, Teresa cai pelas escadas e fractura o

braço esquerdo.

1578: Em Maio, uma curandeira de Medina del Campo cura o braço de Teresa.

A 23 de Junho o novo núncio Filipe Sega despoja o P. Jerónimo Graciano das

6 AUCLAIR, Marcelle, 1990, p. 467.

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suas faculdades. A 12 de Agosto, o P. Jerónimo Graciano encontra-se com

Teresa em Ávila. Entre 17 e 18 de Agosto Frei João da Cruz foge do cárcere. A

16 de Outubro o núncio Filipe Sega anula as determinações do capítulo de

Almodóvar e submete os Descalços e Descalças aos provinciais Calçados. A 4

de Novembro morre o Geral da Ordem, Juan Bautista Rubeo. A 20 de

Dezembro o núncio Filipe Sega e os seus assessores pronunciam-se contra o

P. Jerónimo Graciano e assignam-lhe para cárcere o Convento de Alcalá.

Ainda neste ano, o núncio Filipe Sega retira aos Calçados o seu poder sobre

os Descalços7.

1579: A 1 de Abril Ângelo de Salazar é nomeado Vigário Geral dos Descalços.

A 6 de Junho, véspera de Pentecostes, na ermida de Nazaré, no Convento de

São José de Ávila, Teresa escreve os “quatro avisos” para os Descalços

(Relações, cap. 67). De 25 de Junho a 3 de Julho Teresa viaja a Medina del

Campo e Valhadolid. Entre 16 e 22 de Julho, Teresa envia a D. Teotónio de

Bragança o Caminho da Perfeição e a Vida de S. Alberto para que lhos

publique em Évora, Portugal. A 30 de Julho Teresa sai de Valhadolid e viaja

para Medina del Campo, Alba de Tormes e Salamanca, aonde chega a 14 de

Agosto. Em Novembro viaja novamente a Toledo e Malagón aonde chega no

dia 24. A 8 de Dezembro as freiras de Malagón passam para o novo convento,

construído sob a direcção de Teresa.

1580: A 13 de Fevereiro Teresa sai de Malagón para a fundação de Villanueva

de la Jara, aonde chega no dia 21. No dia 25 dá o hábito às “beatas”

fundadoras. No dia 18 de Março Teresa queixa-se novamente do braço

esquerdo. Dois dias depois sai de Villanueva de la Jara chegando no dia 26 de

Março a Toledo, doente do coração. Entre 7 e 8 de Junho sai de Toledo e

passa por Madrid, chegando a Segóvia no dia 13. É de 22 de Junho deste ano

o Breve “Pia Consideratione”, do Papa Gregório XIII, que assinala a fundação

da Província dos Descalços. Em Segóvia o P. Jerónimo Graciano e Diego

Yanguas revisam o autógrafo de Moradas, em diálogo com Teresa. A 6 de

Julho viaja de Segóvia para Ávila. Em Agosto Teresa vai para Medina del

7 AUCLAIR, Marcelle, 1990, p. 468.

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Campo e Valhadolid, onde adoece gravemente. A 28 de Dezembro sai de

Valhadolid para ir fundar o convento de Palência.

1581: A 3 de Março, começa em Alcalá de Henares o Capítulo dos Descalços.

A 4 de Março, o P. Jerónimo Graciano é eleito provincial. A 26 de Maio,

trasladação do Carmelo de Palência para Nossa Senhora de la Calle. A 29 de

Maio Teresa sai para a fundação de Sória aonde chega no dia 2 de Junho,

sendo o Carmelo de Sória inaugurado no dia seguinte. 6ª Relação dirigida ao

Bispo de Osma, Dr. A. Velázquez. A 23 de Agosto Teresa chega a Segóvia. A

6 de Setembro chega a Ávila, onde é eleita prioresa do Convento de São José

no dia 10 desse mês. Em Novembro, Pedro de Castro (futuro Bispo de Lugo e

de Segóvia) lê e elogia o Livro da Via e as Moradas. Em Ávila, no dia 28 de

Novembro Teresa encontra-se com Frei João da Cruz. Não se decide a ir à

fundação de Granada.

Filipe II dá as instruções necessárias para a execução do decreto de

separação em províncias separadas de Descalços e Mitigados. O Capítulo de

Alcalá confirma as Constituições dos Conventos de Descalças que são,

posteriormente, impressas8.

1582: A 2 de Janeiro, Teresa sai para a fundação de Burgos, acompanhada

pelo P. Jerónimo Graciano. Passa por Medina del Campo, Valhadolid e

Palência. A 20 de Janeiro, Frei João da Cruz e Ana de Jesus fundam o

Carmelo de Granada. A 24 de Janeiro Teresa sai de Palência e chega a

Burgos dois dias depois. Entre 26 e 27 de Julho sai de Burgos e passa por

Palência, Valhadolid e Medina del Campo. A 20 de Setembro Teresa chega a

Alba de Tormes muito doente. A 3 de Outubro recebe os últimos Sacramentos.

A 4 de Outubro, por volta das nove da noite, Teresa morre em Alba de Tormes,

aos 67 anos, exclamando: «Por fim, Senhor, morro filha da Igreja!».

Neste ano o Papa Gregório XIII ordenou a actualização do calendário (bula

Inter gravíssimas, de 24 de Fevereiro), pelo que a seguir ao dia 4 de Outubro

passou a ser dia 15. É neste dia que é celebrada a Solenidade de Santa

Teresa de Jesus.

8 AUCLAIR, Marcelle, 1990, pp. 468-469.

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1614: 24 de Abril. Breve de Beatificação de Teresa de Jesus pelo Papa Paulo

V.

1622: A 22 de Março é canonizada pelo Papa Gregório XV.

1726: é estabelecida a festa carmelita da Transverberação do Coração de

Santa Teresa, celebrada pelas comunidades do Carmelo Teresiano. O Papa

Bento XIII decretou a festa em 25 de Agosto de 1726, determinando-se o dia

26 de Agosto para o efeito, ainda que dioceses como Ávila e Salamanca,

festejem no dia 27 do mesmo mês.

1922: A Universidade de Salamanca a declarou doutora honoris causa.

1965: A 18 de Setembro o Papa Paulo VI proclamou Santa Teresa de Jesus

padroeira dos escritores católicos da Espanha.

1970: A 27 de Setembro, junto com Santa Catarina de Siena, Santa Teresa de

Jesus é elevada a Doutora da Igreja, pelo mesmo Papa Paulo VI.

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SÃO JOÃO DA CRUZ: BIOGRAFIA9

1542: Nasce Juan (João) de Yepes y Álvarez em Fontiveros, província de Ávila,

Espanha. Filho de Gonçalo de Yepes e de Catalina Álvarez, tecelões, é o mais

novo de três irmãos: Francisco, Luís e João. A família viva tempos de grande

penúria e, pouco tempo depois de João nascer, morrem o seu pai e o seu

irmão Luís.

1548-1551: João vive três anos em Arévolo com a sua mãe e o seu irmão mais

velho.

1551: Procurando subsistência, João muda-se para Medina del Campo, com a

família, aqui permanecendo durante treze anos (1551-1564). Durante estes

anos decisivos, destacam-se-lhe três características: a piedade no serviço à

Igreja como acólito no Convento de freiras agostinhas da Madalena; o amor

para com os doentes, pedindo esmola e ajudando no hospital agregado ao

referido convento e sob a protecção de D. Alonso Álvarez, administrador do

hospital; a dedicação ao estudo de Humanidades, frequentando com

regularidade, e durante quatro anos, o colégio dos Jesuítas (1559-1563).

1563: João entra em Medina del Campo no noviciado dos Carmelitas (Igreja de

Santa Ana) e recebe o nome de Frei João de S. Matias. O Carmelo atrai-o com

o seu espírito contemplativo e vivência da piedade mariana.

1564: João faz a sua profissão. Os seus superiores, dadas as provas de

grande talento que tinha demonstrado, quiseram proporcionar-lhe uma

excelente formação cultural e enviam-no para a Universidade de Salamanca.

Aqui estuda Filosofia e Teologia durante quatro anos. É reconhecido como o

melhor dos estudantes devido à sua inteligência e santidade. No Colégio de S.

André da Ordem do Carmo vive uma vida de austeridade, de oração e de

estudo. Na sua modesta estante encontram-se livros de ciências teológicas e

espirituais: A Mística do Aeropagita, os Comentários de Juan Bacón, as obras

de São Tomás e de Miguel de Bolonhas, o Flos Sanctorum, a Bíblia, etc.

9 SÃO JOÃO DA CRUZ; LEAL, Agostinho dos Reis (texto e notas); REIS, Manuel Fernandes dos (trad. e adaptação das introduções) - Obras Completas. 6.a ed. Marco de Canaveses:

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1567: João é ordenado sacerdote na Catedral de Salamanca. Sente-se

insatisfeito com o ambiente e o modo de viver a sua experiência contemplativa

no Carmelo, andando a pensar em mudar-se para a Cartuxa.

No verão deste ano, desloca-se a Medina del Campo para cantar a sua

primeira missa, e encontra-se com Teresa de Jesus, que está a fundar um

segundo convento para as Carmelitas Descalças. Ela manda-o chamar e

expõe-lhe os seus projectos; ao mesmo tempo, convida-o e pede-lhe para

iniciar a vida reformada entre os Carmelita. João aceita. Conclui o seu último

ano de Teologia em Salamanca, enquanto Teresa vai fazendo os

preparativos10.

1568: Duruelo. No dia 28 de Novembro, juntamente com mais dois

companheiros (um deles era Frei António de Jesus), João inaugura a vida

reformada teresiana entre os religiosos carmelitas. É uma vida que se

caracteriza por uma intensa oração e penitência, uma moderada actividade

ministerial pelas aldeias vizinhas. João pronunciou os seus votos neste

convento descalço recém-fundado, passando a chamar-se João da Cruz, e

torna-se mestre de noviços.

Edições Carmelo, 2005, pp. 14-17. 10 “Julho 1568. Calores sufocantes em Medina del Campo. No ambiente fresco de uma salita conventual, umas religiosas talham e cosem um hábito de burel grosseiro. Entre elas dá ordens e trabalha a Madre Teresa de Jesus. Há pressa e emoção no lavor mongil. As mãos, brancas e pequenas, movem-se com agilidade; os olhos brilham com ilusão e há cochichos suaves enquanto as toucas se inclinam amorosas sobre o trabalho. Entretanto um frade espera silencioso no locutório exterior. É Frei João. Acaba de chegar de Salamanca, onde cursara o último ano matriculado na Universidade como “presbítero e teólogo”, e vai receber o hábito das Descalcês, que, com tanta ilusão, prepararam dentro as mãos de Teresa e das suas monjas. Faz justamente um ano, quando o estudante carmelita veio, também de Salamanca, cantar a sua primeira missa, que teve lugar o primeiro encontro entre ele e a Madre Fundadora. Naquela altura planearam o acto que hoje se vai realizar. A santa, que procurava, havia muito, o homem cabal para iniciar entre frades a reforma começada por ela entre as freiras, saltou de gozo ao encontrar-se com aquele jovem em cujos olhos resplandeciam aos mesmo tempo o talento e a virtude, predicados requeridos, para a sua empresa. Desde então, ao longo daquele ano, ela pelos caminhos das suas fundações e ele nas aulas universitárias sonhariam muitas vezes com a cerimónia familiar de hoje. (…) Apenas assistem eles: as monjas dentro das grades e Frei João do lado de fora. Quando a Madre Teresa vê diante de si a figura do primeiro carmelita reformado – hábito grosseiro, capa curta, rosto humilde e tranquilo, pés descalços – sente um gozo inefável, que fora precedido de ansiedades, perigos e preocupações. E Frei João de pé, frente às grades, através das quais o contemplavam enlevadas a Madre Teresa e as suas filhas, estremece de gozo ao ver realizada aquela ilusão de vida pobre e retirada – vida de cartuxo – com que sempre sonhara nos últimos anos de estudante na Universidade de Salamanca.”, JESUS, Crisógono de, O. C. D. - Vida de São João da Cruz. Oeiras: Edições Carmelo, 1989, pp. 29-30.

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1570: Em Junho, a fundação é trasladada para Mancera de Abajo. De Junho a

Setembro, João orienta o noviciado de Pastrana (Guadalajara).

1571: Em Abril, João é nomeado reitor do Colégio dos Carmelitas Descalços de

Alcalá de Henares, o primeiro Colégio da Reforma, onde permanece um ano.

1572: Chega a Ávila onde se torna o confessor do Convento da Encarnação,

chamado por Teresa de Jesus, prioresa desde o ano anterior. João estreia-se

como director espiritual de religiosas, e entre elas está a própria Madre Teresa

de Jesus. Amadurece em experiência e estilo. Ali permanece durante cinco

anos.

1574: Acompanha Teresa de Jesus na fundação de Segóvia e, mais tarde, ao

Convento de São José de Ávila.

1576: Em Setembro participa no Capítulo da reforma em Almodóvar (Ciudad

Real).

1577: Na noite de 2 de Dezembro João é sequestrado da sua pequena casa da

Encarnação pelos religiosos do antigo Carmelo. Poucos dias depois é

trasladado para Toledo a fim de ser julgado como rebelde, por causa de

conflitos de jurisdição entre e Ordem e a Reforma. Fica preso numa pequena

cela estreita e incomunicável, sendo tratado de uma forma agreste. Queriam à

força obrigá-lo a abandonar a Reforma e que regressasse à Ordem do Carmo

da antiga observância. Os nove meses ali passados, até ao mês de Agosto de

1578, influenciaram muito a sua maturidade mística, humana e literária. Na

prisão escreve os Romances, a Fonte e o poema Cântico Espiritual.

1578: João foge da prisão em Agosto e refugia-se no Convento das Descalças

de Toledo. D. Pedro de Mendonza, nobre cónego e administrador do Hospital

de Santa Cruz, dá-lhe guarida. Mais tarde vai para a Andaluzia. Em Outubro

participa no Capítulo da Reforma em Almodóvar. Em Novembro chega ao

Convento do Calvário (Jaén), como Superior. Ajuda também as Carmelitas do

vizinho convento de Beas.

1579: No dia 14 de Junho João inaugura a fundação de Baeza, que é o novo

colégio da Reforma, do qual é depois reitor.

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1578-1579: Escreve o poema Noite escura.

1581: Em Março, João participa no Capítulo de Alcalá de Henares, onde é

comunicada oficialmente a decisão do Papa: separação entre a Reforma e a

Ordem. É nomeado terceiro Definidor.

1582: Chega em Janeiro, como Prior do Convento dos Mártires, a Granada.

João vive aqui seis anos de intensa actividade: governo, viagens e redacção de

algumas obras; construção e ampliação do convento; longas viagens por

Castel e Andaluzia.

Granada é o escritório de Frei João da Cruz. De Toledo, do Calvário e de Beas,

já trazia escritos alguns poemas, avisos e fragmentos. Contudo, é em Granada

que faz a redacção sistemática dos quatro grandes comentários, além de mais

algumas poesias.

1585: Durante dois anos é o Provincial de Andaluzia, embora mantendo a sua

residência em Granada. Por esta altura, chega a Lisboa para participar no

Capítulo Provincial.

1581-1585: Escreve Subida do Monte Carmelo.

1585-1586: Escreve a primeira versão de Chama de Amor Viva, em Granada.

1587: Acaba o seu tempo de Provincial e é reeleito Prior dos Mártires.

1588: Em Junho é celebrado o Primeiro Capítulo Geral dos Carmelitas

Descalços, em Madrid. É nomeado Primeiro Definidor. O Governo Geral

estabelece-se em Segóvia. Frei João fica também como Superior do convento.

Permaneceu ali durante três anos. É neste convento que a Imagem de Jesus

com a Cruz às costas, pintada em pele, falou um dia a Frei João da Cruz

perguntando-lhe que prémio queria por todos os seus serviços. Ao que o ele

respondeu: “Senhor, o que quero é que me deis mais trabalhos para sofrer por

Vós e que eu seja desprezado”11.

É um período muito concentrado, sem viagens nem redacções. Vive uma

actividade intensa com os encargos de governo, construção e direcção

espiritual. A partir de 1590 começam a surgir alguns conflitos devido à sua

11 JESUS, Crisógono de, O.C.D., 1989, p. 109.

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oposição em relação a certas determinações tomadas pelo P. Dória contra o P.

Jerónimo Graciano e as Irmãs carmelitas.

1591: É o fim das tensões criadas com o Governo Geral, bem como da vida

terrena.

Em Junho, João assiste ao Capítulo Geral, celebrado em Madrid. Fica sem

qualquer ofício, e é mandado para o México. Entretanto, surge a doença e a

situação muda, ficando em Espanha.

Nos primeiros dias de Agosto, muda-se para o deserto de La Peñuela (Jaén).

Escreve a segunda versão, quase idêntica à primeira, de Chama de Amor Viva.

No final de Setembro chega a Úbeda para tratamento médico. Passa por uma

doença muito dolorosa e cheia de sofrimentos morais. Morre na primeira hora

de sábado, dia 14 de Dezembro, aos 49 anos.

1593: Transladação do seu corpo para Segóvia, onde ainda hoje permanece.

1618: Primeira edição das suas obras.

1675: Beatificação pelo Papa Clemente X, a 25 de Janeiro.

1726: Canonização pelo Papa Bento XIII, a 27 de Dezembro.

1926: Proclamado Doutor da Igreja pelo papa Pio XI, a 24 de Agosto.

1952: Declarado Padroeiro dos poetas espanhóis, a 21 de Março.

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Decreto da XXVª sessão do Concílio de Trento: “Da invocaçaõ, veneraçaõ e Reliquias dos Santos e das Sagradas Imagens”, de 3 de Dezembro de

1563 “Manda o santo Concilio a todos os Bispos, e aos mais que tem o offício, e

cuidado de ensinar, que conforme a praxe da Igreja Catholica, e Apostolica,

recebida desde os tempos primitivos da Religiaõ Christã, e consenso dos

Santos Padres, e Decretos dos sagrados Concilios, instruaõ diligentemente os

Fiéis primeiramente da intercessaõ dos Santos, sua invocaçaõ, veneraçaõ das

Relíquias, e legitimo uso das Imagens: e lhes ensinem que os Santos, que

reinaõ juntamente com Christo, offerecem a Deos pelos homens as suas

orações; e que he bom, e util invocallos humildemente, e recorrer às suas

orações, poder, e auxilio, para alcançar beneficios de Deos, por seu Filho

Jesus Christo nosso Senhor, que he o nosso unico Redemptor, e Salvador.

Sentem pois impiamente aquelles que dizem, que os Santos, que gozaõ de

eterna felicidade no Ceo, naõ devem ser invocados; e os que afirmaõ, ou que

elles naõ oraõ pelos homens, ou que invocallos para que orem por cada hum

de nós he idolatria, ou que he opposto à palavra de Deos, e contrario à honra

do unico mediador de Deos, e dos homens Jesus Christo, ou que he estulticia

supplicar com palavras, ou com o pensamento aos que reinam no Ceo.

Que também os santos córpos dos Santos Martyres, e de outros que vivem

com Christo, que foraõ membros vivos de Christo, e templo do Espírito Santo,

que elle ha de resuscitar, e glorificar para a vida eterna, pelos quaes faz Deos

aos homens muitos beneficios, devem ser venerados pelos Fiéis: e assim os

que affirmarem, que se naõ deve veneraçaõ, e honra às Reliquias dos Santos,

e que estes, e outros sagrados monumentos saõ inutilmente honrados pelos

Fiéis, e que debalde visitaõ as memorias dos Santos, por motivos de conseguir

o seu soccorro, devem ser infallivelmente condemnados, segundo muito ha os

condenou, e agora condemna a Igreja. Quanto às Imagens de Christo, da Mãi

de Deos, e de outros Santos, se devem ter, e conservar, e se lhes deve tributar

a devida honra, e veneraçaõ: naõ porque se creia, que ha nellas alguma

divindade, ou virtude, pela qual se hajaõ de venerar, ou se lhes deva pedir

alguma cousa, ou se deva pôr a confiança nas Imagens, como antigamente os

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Gentios punhaõ a sua confiança nos Idolos; mas por que a honra, que se lhes

dá, se refere aos originaes, que ellas representaõ: em fórma que mediantes as

Imagens que beijamos, e em cuja presença descobrimos a cabeça, e nos

prostramos, adoremos a Christo, e veneremos os Santos, cuja semelhança

representaõ: o que está decretado pelos Decretos dos Concilios,

principalmente do Niceno segundo, contra os impugnadores das Imagens.

Ensinem pois os Bispos com cuidado, que as historias dos mysterios da nossa

redempçaõ, com as pinturas, e outras semelhanças se instrue, e confirma o

povo, para se lembrar, e venerar com frequencia os Artigos da Fé; e que

tambem de todas as sagradas Imagens se recebe grande fructo, naõ so por

que se manifestaõ ao povo os beneficios, e mercês, que Christo lhes concede,

mas tambem por que se expoem aos olhos dos Fiéis os milagres, que Deos

obra pelos Santos, e seus saudaveis exemplos: para que por estes dem graças

a Deos, ordenem a sua vida, e costumes à imitaçaõ dos Santos, e se excitem a

adorar, e amar a Deos, e exercitar a piedade. Se alguem pois ensinar, ou sentir

o contrario destes Decretos, seja excomungado. Se alguns abusos se tiverem

introduzido nestas santas, e saudaveis observancias, ardentemente deseja o

santo Concilio se extingaõ totalmente; de modo que se naõ estabeleçaõ

Imagens algumas do falso dogma, que dem aos rudes occasiaõ de erro. E se

alguma vez acontecer exprimir, e figurar em presença do novo indouto as

historias, e narrações da sagrada Escritura, quando assim convier; seja

instruído o povo, que nem por isso se figura a Divindade, como se podesse ver-

se com os olhos, ou exprimir-se com figuras, ou côres algumas. Toda a

supertiçaõ pois na invocação dos Santos, venereçaõ das Reliquias, e sagrado

uso das Imagens seja extincta; todo o lucro sórdido desterrado; toda a lascívia:

de modo que as Imagens naõ sejaõ pintadas com formusura dissoluta, e os

homens naõ abusem da celebração dos Santos, e vista das Reliquias, para

glotonerias, e embriaguezes: como se os dias festivos empregados em luxo, e

lascívia fossem em honra dos Santos. Em fim ponhaõ os Bispos nesta matéria

tanto cuidado, que nada se veja desordenado, transtornado, ou posto em

confusaõ, nada profano, nada deshonesto apareça, pois à casa de Deos só

convém a santidade. Para isto se observar com fidelidade, estabelece o santo

Concilio, que ningue, possa colocar, nem procurar se coloque Imagem alguma

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extraordinária em lugar algum, ou Igreja, ainda isenta, sem ser aprovada pelo

Bispo, e que tambem se naõ haõ de admitir novos Milagres, nem receber

novas Reliquias, sem as reconhecer, e aprovar o mesmo Bispo; o qual tanto

que souber alguma cousa destas, chamando o conselho Theologos, e outros

sujeitos pios, executara o que lhe parecer conveniente à verdade, e piedade. E

se houver de extirparse algum abuso duvidoso, ou dificil, ou ocorrer alguma

questão mais grave nesta materia, o Bispo antes de decidir a controversia,

espere a sentença do Metropolitano, e Comprovinciaes, no Concilio Provincial:

de modo porém, que nada novo, e até o presente nunca usado se devrete, sem

se consultar o Santissimo Romano Pontifice.”12

12 REYCEND, João Baptista, 1781, tomo II, pp. 347-357.

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1.

“Carta a D. Teotónio de Bragança, em Évora13

Ávila, 16 de Janeiro de 1578

1. Jesus – A graça do Espírito Santo esteja com V. ilustríssima Senhoria,

amen. Há mais de dois meses que recebi uma carta de V. Senhoria e bem

quisera ter respondido logo; mas aguardava alguma bonança nos grandes

trabalhos e preocupações que temos enfrentado Descalços e Descalças desde

Agosto14, para dar a V. Senhora notícias de tudo isto, como me diz na sua

carta; por isso me detive. Parece que, até agora, está tudo cada vez pior, como

depois direi a V. Senhoria.

2. Agora só quereria encontrar-me com V. Senhoria pois, por carta, mal poderei

manifestar o contentamento que me deu uma sua que recebi ainda esta

semana, de que era portador o padre Reitor15, embora tivesse notícias de V.

Senhoria há mais de três semanas, e ainda mas disseram de outra fonte;

assim, não sei como pensa V. Senhoria manter em segredo coisas

semelhantes. Praza à Divina Majestade que seja tudo para Sua maior honra e

glória e ajude V. Senhoria a crescer em santidade como eu penso que assim

será. Acredite que, coisa tão recomendada a Deus e por almas que só se

preocupam em que Ele seja servido em tudo o que lhe pedem, não deixará de

as ouvir; e eu, ainda que ruim, constantemente Lho suplico, tal como em todos

estes mosteiros destas servas de V. Senhoria, onde sempre encontro almas

que, certamente, me causam grande confusão. Só parece que Nosso Senhor

13 SANTA TERESA DE JESUS; (…) - Obras Completas: Cartas, 2000, n.º 30, pp. 1201-1207. Antecede esta carta duas de D. Teotónio às quais a Santa responde. Nelas, D. Teotónio pedia-lhe notícias acerca dos dolorosos acontecimentos da Reforma, comunicava-lhe sigilosamente a sua nomeação para a sede episcopal de Évora, falava do seu afecto à Companhia de Jesus, propunha uma fundação teresiana na sua Diocese portuguesa e, novamente, se queixava de dificuldades na vida interior. Ela responde gozosa pela notícia do bispado de D. Teotónio e com pena, por ter que negar a fundação em Portugal, obrigada pela situação da Reforma em Espanha: é o momento em que o Núncio Filipe Sega e o Visitador Tostado se lhe declaram hóstis; Frei João da Cruz está na prisão, as freiras da Encarnação tinham sido excomungadas, O P. Jerónimo Graciano estava desalentado e humilhado…, tudo “cada dia pior”. 14 Nesse mês tinha chegado a Espanha o novo Núncio, Filipe Sega, avesso à obra da Santa. No fim de Agosto tinham começado os memoriais contra o P. Jerónimo Graciano. 15 Gonçalo d’Ávila, Reitor dos Jesuítas de Ávila. – A carta anunciava a nomeação de D. Teotónio para a Sede Arquiepiscopal de Évora.

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as vai escolhendo em terras onde não há notícia desta vida, para as trazer a

estas casas.

3. Assim, V. Senhoria anime-se muito e não lhe passe pelo pensamento pensar

que não foi por vontade de Deus (pois eu tenho-o por certo), mas que Sua

Majestade quer que, naquilo que V. Senhoria desejou servi-l’O, o ponha agora

em prática, pois esteve muito tempo ocioso e Nosso Senhor precisa muito de

quem o fortaleça na virtude, pois, gente baixa e pobre como somos, pouco

podemos, se Deus não suscita quem nos ampare, ainda que não queiramos

outra coisa a não ser o Seu serviço. Porque a malícia, a ambição e a honra

estão tão subidas em muitos que as deveriam ter, bem canonizada, debaixo

dos pés, que o mesmo Senhor, sendo tão poderoso, quer deixar-Se ajudar

pelas suas criaturas, para que, sem elas, a virtude saia vencedora, porque lhe

faltam os que tinha escolhido para ampará-la, e assim escolhe as pessoas que

sabe O podem ajudar.

4. V. Senhoria procure empenhar-se nisto, como eu entendo o fará, pois Deus

lhe dará forças e saúde (e eu espero isto de Sua Majestade) e graça para que

acerte em tudo. Por cá estaremos na disposição de servir V. Senhoria

suplicando-o insistentemente; e praza ao Senhor dê a V. Senhoria pessoas

muito inclinadas ao bem das almas, para que possa viver sossegado. Muito me

consola saber que V. Senhoria considere a Companhia como sua, o que é

muito bom para todos16.

5. Alegrei-me muito pelo êxito da minha senhora, a marquesa de Elche17 que,

com grande pena e preocupação, me trouxe aquele negócio até que tudo

terminou felizmente. Deus seja louvado. Quando o Senhor dá tantos trabalhos

juntos, sempre costuma proporcionar bom êxito, pois, como nos conhece

frágeis e tudo permite para nosso bem, mede o sofrimento em conformidade

com as forças. E assim penso acontecerá o mesmo nestas tempestades de

tantos dias; pois, se não estivesse segura de que estes Descalços e Descalças

procuram cumprir a sua Regra com rectidão e verdade, temeria que os

Calçados sairiam com a sua (que é acabar este princípio que a Santíssima 16 D. Teotónio tinha sido jesuíta pelos anos de 1549-1554; e tinha conhecido S. Inácio de Loyola em Roma. 17 Marquesa de Elche, D. Joana de Bragança, viúva de D. Bernardino de Cárdenas. O bom êxito é, provavelmente, o casamento da filha da marquesa.

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Virgem procurou se começasse), conforme as astúcias do demónio, pois

parece ter-lhe dado Deus licença de exercer nisto o seu poder.

6. São muitas as coisas e as diligências que tem havido para nos desacreditar,

sobretudo ao padre Graciano e a mim (onde caem todos os golpes), e digo a V.

Senhoria que são tantos os testemunhos18 que se têm levantado contra este

homem, e os memoriais tão pesados enviados ao Rei, e o mesmo destes

mosteiros de Descalças, que V. Senhoria ficaria espantado, se o chegasse a

saber, de como se pode inventar tanta maldade. Eu entendo que muito se

ganhará com isto: estas monjas com tanto regozijo como se não lhes dissesse

respeito; e o padre Graciano, com uma perfeição que me admira. Deus tem

nesta alma um grande tesouro; ora especialmente por aqueles que lhe

levantaram tais calúnias e tudo enfrenta com tanta alegria que parece um S.

Jerónimo.

7. Só o aflige o que se refere às Descalças. Como ele as visitou dois anos e as

conhece bem, não o pode suportar, porque as considera uns anjos e assim as

chama. Deus foi servido que, de tudo o que disseram de nós,19 se retratassem

os que o tinham afirmado. De outras coisas que diziam do padre Graciano, fez-

se um inquérito por ordem do Conselho Real e viu-se a verdade. Também se

retrataram de outras coisas e chegou-se a descobrir toda a paixão que existia

na Corte. Creia, V. Senhoria, que o demónio pretendeu eliminar o

aproveitamento espiritual destas casas.

8. Refiro-me agora ao que fizeram com estas pobres monjas da Encarnação,

que, pelos seus pecados, me elegeram; foi um julgamento e toda a gente deste

lugar está espantada com o que sofreram e sofrem e ainda não sei quando

terminará. Foi muito estranho o rigor do padre Tostado com elas20. Castigaram-

nas a estarem sem Missa mais de cinquenta dias, a não receberem visitas – e

já lá vão três meses –, com grandes ameaças diárias lhes diziam que estavam

excomungadas, mas todos os teólogos de Ávila dizem que não. A excomunhão

era para que não elegessem uma de fora da Comunidade (e não lhes disseram

então que era por mim que as castigavam). A elas pareceu-lhes que, como era

18 No sentido de falsos testemunhos. 19 Se retratassem: refere-se, pelo menos, ao caso de frei Miguel da Coluna e Baltazar Nieto. 20 P. Jerónimo Tostado, português, Visitador das Carmelitas em Espanha e em Portugal.

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professa daquela casa e estive nela tantos anos, não era de fora (porque, se

agora quisesse regressar, podia, por estar lá o meu dote, e não ser Província

separada)21, e confirmaram outra prioresa com a menor parte dos votos22. No

Conselho entraram as penitenciadas; não sei em que parará tudo isto.

9. Senti muito ver, por causa de mim, tanto desassossego e escândalo na

cidade e tantas almas inquietas; as excomungadas eram mais de cinquenta e

quatro. Só me consolou ter feito tudo o que pude para não me elegerem; e

garanto a V. Senhoria que é um dos grandes trabalhos que me podem

acontecer na terra ver-me ali; assim, o tempo que lá estive, nem uma hora me

senti bem de saúde.

10. Mas, embora lamente muito a sorte daquelas almas (algumas de grande

perfeição, como se vê pela maneira de suportar as tribulações), o que mais

senti foi que, por ordem do padre Tostado, há mais de um mês “los del paño”23

prenderam os dois Descalços que as confessavam; por serem bons religiosos,

doutrinando as pessoas da terra nos cinco anos que há que lá estão,

ampararam o mosteiro na situação em que eu o deixei. Ao menos um,

chamado frei João da Cruz24, todos o têm por santo, tal como todas as

religiosas, e creio não exageram; na minha opinião, é um grande tesouro.

Foram lá colocados pelo Visitador Apostólico, frade dominicano e pelo Núncio

anterior25 e, estando sujeitos ao Visitador Graciano, parece-me grande loucura

que tem toda a gente espantada. Nem sei em que parará isto. A minha pena é

que os levaram e não sabemos para onde. Há o temor de os perseguirem e eu

receio alguma desgraça. Já seguiu uma queixa para o Conselho Real26. Que

Deus ponha remédio.

11. V. Senhoria perdoe alongar-me tanto; mas tenho gosto em que saiba a

verdade de tudo o que sucede, se for por aí o padre Tostado. Quando veio, o

Núncio favoreceu-o muito e disse ao padre Graciano que não o visitasse; e,

embora por isso não deixe de Ser Comissário Apostólico, porque nem o Núncio

tinha usado os seus poderes nem, pelo que diz, o privou dessa faculdade, foi

21 Por não pertencer a “Província separada”. 22 Prioresa: será eleita D. Ana de Toledo. 23 “Los del Paño” – Carmelitas Calçados. 24 O outro era frei Germán de S. Matias. 25 Visitador: Pedro Fernández. Núncio anterior: Nicolau Ormaneto.

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logo para Alcalá, e ali e em Pastrana encerrou-se numa cova, sofrendo, como

referi, abominações de falsos testemunhos e não mais exerceu o seu cargo de

Comissário, mas lá está sujeito à suspensão.

Ele não quer exercer mais o cargo de Visitador, mas todos o desejamos,

porque ficamos mal conceituadas, se Deus não nos conceder a graça de criar

uma Província à parte (se assim não for, não sei como acabará), e de lá me

escreveu dizendo que estava decidido, se fosse visitar o padre Tostado, a

obedecer-lhe e que todas nós fizéssemos o mesmo.

12. Ele27 não foi lá nem veio cá. Creio o deteve o Senhor, porque, pela má

vontade que depois manifestou, nos faria grande mal. Os Calçados (“los de

paño”) dizem que ele28 continua a fazer tudo, até as visitas, e é isto o que nos

incomoda. Verdadeiramente não há outro motivo, além do que digo a V.

Senhoria; e fico sossegada por ter contado toda esta história, embora se canse

ao ler isto tudo; V. Senhoria tem obrigação de favorecer esta Ordem e tem que

saber os inconvenientes que há em que vamos para aí29. Outros há ainda que

agora direi e que são outra grande barafunda.

13. Como eu não posso deixar de procurar, por todos os meios ao meu

alcance, que não desapareça este bom começo30, nem qualquer letrado, meu

confessor, me aconselha outra coisa, estes padres estão muito desgostosos

comigo, e informaram o nosso padre Geral, que reuniu um Capítulo31 onde

determinaram, por ordem do padre Geral, que nenhuma descalça pudesse sair

do seu mosteiro, particularmente eu; que escolhesse a que quisesse, sob pena

de excomunhão.

14. Vê-se claramente que é para não se fazerem mais fundações de monjas. E

é pena pela multidão de almas que clamam por estes mosteiros; sendo tão

poucos e não se fundando mais, não as podemos receber. E ainda que o

Núncio anterior32 tivesse mandado que não deixasse de fundar depois de tudo

26 Faz alusão à carta de 4 de Dezembro de 1577 que escreve o rei Filipe II. 27 O P. Tostado. 28 O P. Graciano. 29 Para Portugal, para Évora. 30 As suas fundações. 31 O Capítulo Geral de Piacenza, em Maio-Junho de 1575. O padre Geral é Juan Bautista Rubeo. 32 Nicolau Ormaneto.

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isto e tenha todas as patentes do Visitador Apóstolico para fundar, estou

determinada a não o fazer, se o nosso padre Geral ou o Papa não mandarem

outra coisa; porque, não sendo por minha culpa, Deus faz-me essa mercê, pois

já estou cansada, posto que, para servir a V. Senhoria, seria bom descanso –

pois é coisa bem dura pensar que não mais o verei –, e, se mo mandarem, dar-

me-ão grande consolação. E, mesmo que isto não fosse ordenado pelo

Capítulo Geral, as patentes que eu tenho do nosso padre Geral, são só para os

Reinos de Castela33; seria, por isso, necessária uma nova ordem.

15. Eu tenho a certeza de que, para já, o nosso padre Geral não a dará. Seria

fácil conseguí-la do Papa, especialmente se se procedesse a uma prova que

mandou fazer o padre Graciano, dizendo como vivem nestes mosteiros e a vida

que levam e o aproveitamento doutras pessoas que vivem nas terras onde

estão – até dizem que as podiam canonizar – e o parecer de pessoas sérias.

Eu não li isso, porque temo que se alonguem em dizer bem de mim; mas muito

quereria eu que se conseguisse do nosso padre Geral, se assim tiver de ser, e

se pedisse autorização para fundar em Espanha, pois, sem eu sair, há

religiosas que o podem fazer. Digo, terminada a casa, enviar as religiosas para

grande aproveitamento das almas. Se V. Senhoria se encontrasse com o

Protector da nossa Ordem34, que dizem ser sobrinho do Papa, ele o alcançaria

do nosso padre Geral; entendo que será grande graça de nosso Senhor que V.

Senhoria o procure e fará grande mercê a esta Ordem.

16. Há outro inconveniente (quero que V. Senhoria esteja ao corrente de tudo):

o padre Tostado foi nomeado vigário geral neste reino, e seria coisa muito

desumana cair nas suas mãos, especialmente eu, e creio o impediria com

todas as forças; não o será em Castela, pelo que agora parece, porque, como

usou o seu cargo sem ter mostrado os seus poderes (especialmente no caso

da Encarnação, que pareceu muito mal), por uma provisão real, obrigaram-no a

entregar esses poderes ao Conselho Real, e não lhos voltaram a dar nem creio

lhos darão35.

33 Refere-se às patentes de fundadora. 34 Cardeal Protector da Ordem do Carmo era Filipe Buoncompagni, sobrinho de Gregório XIII e parente do Núncio Sega. 35 O Conselho Real tinha proibido o P. Jerónimo Tostado de exercer os seus poderes em Espanha.

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17. Para estes mosteiros também temos cartas dos Visitadores Apostólicos

para que não sejamos visitadas, a não ser por quem o nosso padre Geral

mandar, contanto que seja descalço. Ali, não havendo nada disto, sujeitos a

“los del paño”, depressa cairá por terra a perfeição, tal como aqui começam a

fazer-nos muito dano, se não tivessem vindo os Comissários Apostólicos. V.

Senhoria verá a melhor maneira para remediar todos estes inconvenientes;

boas religiosas não faltarão para servir V. Senhoria. E o padre Julião de Ávila36,

que parece estar já a caminho, beija as mãos de V. Senhoria. Está muito

alegre com as notícias (já as sabia antes de eu lhas dar37) e muito confiante em

que V. Senhoria ganhará muito com todos esses cuidados diante de Nosso

Senhor.

18. Maria de S. Jerónimo, a que era subprioresa desta casa, beija também as

mãos de V. Senhoria. Diz que irá de muito boa vontade para servir a V.

Senhoria, se Nosso Senhor lho mandar. Sua Majestade faça o que for para a

Sua maior glória e guarde V. Senhoria crescendo muito no Seu amor.

19. Não é para admirar que V. Senhoria não possa agora ter o recolhimento

que deseja, com todas estas notícias. Nosso Senhor lho duplicará, como

costuma fazer quando se deixou por Seu serviço, ainda que eu sempre deseje

que V. Senhoria procure encontrar tempo para si, pois nisto está todo o nosso

bem.

Nesta casa de S. José de Ávila, a 16 de Janeiro.

Por amor de Nosso Senhor, suplico a V. Senhoria que não me

atormente mais com estes supra escritos38.

Indigna serva e súbdita de V. Senhoria ilustríssima.

Teresa de Jesus.”

36 Capelão do Carmelo de São José, Ávila. 37 A nomeação episcopal de D. Teotónio. 38 D. Teotónio reincidia no uso de títulos pomposos a favor de Teresa de Jesus. Em contraponto, Teresa acrescentou “ilustríssima” ao tratamento de D. Teotónio, depois de o nomearem Arcebispo.

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30

2.

“Carta a D. Teotónio de Bragança, em Évora39

Valhadolid, 22 de Julho de 1579

1. Jesus – A graça do Espírito Santo esteja sempre com V. ilustríssima

Senhoria, amen. Na semana passada escrevi longamente a V. Senhoria e

enviei-lhe o livrito40; não o serei tanto nesta, porque é só por me ter esquecido

de pedir a V. Senhoria que a vida do nosso padre Santo Alberto, que vai num

cadernito no mesmo livro, a mandasse V. Senhoria imprimir com ele; será

grande consolo para todas nós, porque não o há senão em latim, de onde o

tirou, para me contentar, um padre da Ordem de S. Domingos41, um dos bons

letrados que há por aqui, e muito servo de Deus, embora não pensasse que se

haveria de imprimir, porque não tem licença do seu Provincial, nem a pediu42

mas, mandando-o V. Senhoria e contentando-o, pouco deve importar isso.

2. Na carta que digo, dava conta a V. Senhoria de como vão bem os nossos

negócios43 e de como me mandaram ir daqui a Salamanca, onde penso estar

alguns dias. De lá escreverei a V. Senhoria.

3. Por amor de Nosso Senhor, não deixe V. Senhoria de me dar notícias da

sua saúde (ao menos para remédio da soledade que me há-de dar não

encontrar V. Senhoria naquele lugar44) e V. Senhoria faça-me saber se há por

aí alguma boa nova de paz, pois traz-me muito aflita o que por cá ouço, como 39 SANTA TERESA DE JESUS; (…) - Obras Completas: Cartas, 2000, n.º 31, pp. 1208-1209. Dois acontecimentos são motivo desta carta: um, pessoal: a edição do primeiro livro teresiano – Caminho da Perfeição –, patrocinado por D. Teotónio e que será editado em Évora; o outro, nacional ou internacional: a morte do Cardeal D. Henrique, Rei de Portugal e tio de D. Teotónio. Por isso, respira-se um ambiente de guerra entre as duas nações que há que evitar, custe o que custar. D. Teotónio pode fazer alguma coisa para a evitar; ela chega mesmo a “desejar a morte para não a ver”. 40 O livrito é o Caminho de Perfeição, que D. Teotónio editará em Évora e só sairá do prelo alguns meses depois da morte de Teresa de Jesus (1583). A carta a que alude extraviou-se. 41 Era o P. Diogo de Yanguas, com quem Teresa contactou em Segóvia. A sua obra foi publicada por D. Teotónio depois do Caminho de Perfeição com o título: “Vida e milagres do glorioso Padre S. Alberto… Esta obra vai dirigida à religiosa senhora e madre Teresa de Jesus, fundadora das Carmelitas Descalças. É escrito a seu pedido: e escrevem-se muitas coisas para além da história para a maior glória deste santo. Ano de 1582”. 42 Na edição não consta a licença da Ordem. 43 Os negócios que vão bem referem-se à criação da Província à parte para toda a família teresiana; em 15 de Julho de 1579 o Núncio Sega e os seus sucessores propunham a instituição da Província. 44 Naquele lugar: Salamanca, onde Teresa tinha conhecido D. Teotónio (1574).

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31

escrevi a V. Senhoria; porque se, por meus pecados, este negócio se resolve

pela guerra, temo grandíssimo mal nesse Reino, e a este não pode deixar de

vir grande dano45.

4. Dizem-me que é o Duque de Bragança que a sustenta e, por ser coisa de V.

Senhoria, dói-me a alma, pondo de parte as muitas causas que há sem esta.

Por amor de Nosso Senhor – pois, com razão, V. Senhoria será muito ouvido

para isto pelo Duque –, procure que se concertem as coisas, pois, segundo me

dizem, o nosso Rei faz tudo o que pode, e isto justifica muito a sua causa –, e

tenham-se presentes os grandes danos que podem advir, como tenho dito, e

olhe V. Senhoria pela honra de Deus, como creio o fará sem respeito por outra

coisa.

5. Praza a Sua majestade pôr nisto as Suas mãos, como todas Lhe

suplicamos; e eu digo a V. Senhoria que o sinto tão ternamente que, se Deus

permitir que se chegue a tanto mal, desejo a morte para não o ver.

6. Que Ele guarde V. Senhoria muitos anos, para bem da Sua Igreja, com a

santidade que eu Lhe peço e tanta graça que possa aplanar negócio tão em

Seu serviço.

7. Por cá dizem todos que o nosso Rei é que tem o direito e que fez todas as

diligências que tem podido para o averiguar. O Senhor dê luz para que se

entenda a verdade sem tantas mortes como há-de haver, se se corre este

risco; e, em tempo em que há tão poucos cristãos, que se matem uns aos

outros é grande desventura.

8. Todas estas irmãs, servas de V. Senhoria a quem conhece, estão boas e, a

meu parecer, vão mais aproveitadas as suas almas. Todas tem o cuidado de

encomendar a Deus as intenções de V. Senhoria. Eu, embora ruim, faço-o

continuamente.

É hoje dia da Madalena.

Desta casa da Conceição do Carmo em Valhadolid.

Indigna serva e súbdita de V. ilustríssima Senhoria.

Teresa de Jesus.”

45 Tinha morrido D. Henrique de Portugal, tio de D. Teotónio e seu predecessor no arcebispado de Évora. Principais pretendentes ao trono: Filipe II (depois Filipe I de Portugal) e D. João, Duque de Bragança, sobrinho de D. Teotónio.

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Breve de Beatificação de Santa Teresa, de 24 de Abril de 1614

“Pablo Papa V para perpetua memoria.

Teniendo Nos en la tierra, aunque indigno, las veces del rey de la gloria eterna,

quecorona con diadema de la vida inmortal a sus fieles siervos, por el oficio

pastoral que Nos está encomendado, pesa sobre nosotros la obligación de oír

las peticiones de los fieles de Cristo, especialmente de los reyes católicos, de

los príncipes y de las familias religiosas, cuando se ordenan al acrecentamiento

del honor y de la veneración debidos a los siervos de Jesucristo, por lo cual de

buena gana les hacemos gracia de acoger benignamente sus votos, según que

vemos convenir saludablemente en el Señor. Ahora bien, en nombre de todos

los amados hijos de la Orden de Carmelitas Descalzos de la Santísima Virgen

María del Monte Carmelo se nos ha hecho relación de que la Fundadora de

dicha Orden de Carmelitas Descalzos, Teresa de Jesús, de gloriosa memoria,

fue adornada por Dios con tantas y tan eximias virtudes, gracias y milagros,

que la devoción a su nombre y su memoria florece en el pueblo cristiano; razón

por la cual, no solamente la dicha Orden, sino también Nuestro querido hijo

Felipe, rey católico de las Españas, y casi todos los Arzobispos, Obispos,

Príncipes, Corporaciones, Universidades y súbditos de los reinos españoles

han elevado a Nosotros repetidas veces humildes súplicas, pidiéndonos que,

mientras la Iglesia concede a Teresa los honores de la canonización, los

cuales, atendidos sus grandes merecimientos esperan no ha de tardar mucho

en otorgárselos, todos y cada uno de los religiosos de la dicha Orden puedan

celebrar el sacrosanto sacrificio de la misa y rezar el oficio de dicha Teresa

como de virgen bienaventurada. Así pues, Nos, examinada con detención esta

causa, por medio de nuestros venerables hermanos los Cardenales de la santa

Iglesia Romana, deputados para los sacros Ritos, a quienes encomendamos

sus estudio, y oído su consejo favorable a estas peticiones, concedemos que

en adelante se pueda celebrar en todos los monasterios e iglesias de la dicha

Orden de Carmelitas Descalzos y por todos los religiosos de ambos sexos el

oficio y la misa de la bienaventurada Teresa como de virgen, el día de su

glorioso tránsito, esto es, el día 5 del mes de Octubre, y que en la villa de Alba,

diócesis de Salamanca, en el monasterio y en la (p. 414) iglesia en que se

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guarda el cuerpo de la bienaventurada Teresa, puedan todos los sacerdotes,

tanto seculares como regulares, rezar y celebrar el oficio y la misa,

respectivamente, en honor de la dicha Beata Teresa, según la rúbricas del

Breviario y del Misal romanos. Gracia que, en virtud de Nuestra autoridad

apostólica y por las presentes Letras, concedemos a perpetuidad, sin que

obsten las Constituciones y Ordenaciones apostólicas, ni cosa alguna en

contrario. Queremos también que a los traslados de las presentes Letras,

aunque sean impresos, firmados por mano de algún notario público, y sellados

con el sello de cualquier persona constituida en dignidad eclesiástica o por el

Procurador General de dicha Orden, se los dé la misma fe y el mismo valor, en

juicio y fuera de él, que se daría a nuestras letras, si se mostraran y exhibieran.

Dado en Roma, junto a San Pedro, y con el anillo del Pescador, el día 24 de

Abril de 1614, año nono de nuestro Pontificado.”46

46 MARTÍN, María José Pinilla, 2013, pp. 223-224.

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“Escriptura de padroado da Serenissima Snrã DonnaMaria Filha do Snor Rey Dom João o 4º aos Religiozos Carmelitas Descalços feita no Mes de Fevrº Anno 1681

Em nome de Deos Amen. Saibão quantos este Instrumento de Padroado e obrigação virem que no Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jhs de mil e seis centos e outenta e hum em treze dias do Mes de Fevereiro, na cidade de Lisboa, dentro no convento dos Religiozos Carmelitas descalsos, de Nossa dos Remedios (sic) em huã caza do ditto Convento em q se costuma asignar as Escriptura. Aly estava prezente o reverendo Padre Frey João Baptista Provinsial da ditta Religião dos descalços de Nossa Senhora do Carmo em este Reyno de Portugal. Em nome do Reverendissimo Padre Geral de sua Religião Frey Silvestre da Asumpção por bem da Patente, q Prezentou passada no definitorio do seu Convento de Madrid em vinte e quatro de Janrº do Anno de seis centos e setenta e nove cellada com o sello da sua religião; Isto de huã parte; e da outra estava prezente o Reverendo Padre Frey Gregorio de Jhs Religiozo da mesma Ordem em nome da Serenissima Senhora Donna Maria filha do Senhor Rey Dom João o Quarto q

fl 12r

Que Sancta Gloria haja recolhida no Mosteiro de recolhidas de Sancta Thereza, digo recolhida noMosteiro de Carmelita de Sancta Thereza sito no lugar de Carnide por bem da Procuração que prezentou asignada pella ditta Senhora que he bastante pera se outorgar esta escriptura e della melhor se vera que com a Patente hirá tudo ao diante tresladado nesta notta e Treslados que della se derem; Logo por elles partes foi ditto a mi Tabalião perante as testemunhas ao diante nomeadas que o ditto Reverendissimo Padre Geral e Definitorio pella devoção q couberem ter o ditto lugar de Carnide e seus vezinhos a seu sagrado habitto e principalmente pello fruito que das Almas se espera com o Exemplo e doutrina q sua sagrada Religião espalha por todo o mundo dezejava se fundasse hum convento de seus Religiozos no ditto Lugar de Carnide pera satisfazer o seu Zelo. E porque de prezente se oferece occazião acomodada ao seu intento por quanto a ditta Serenissima Senhora Donna Maria conhecendo o zello do ditto Reverendissimo Padre Geral juntamente pella devoção, que tem â ditta Religião, e a seus Religiozos por estar recolhida ha muitos Annos no ditto convento de sancta Thereza

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do lugar de Carnide, se offereceu por Padroeira do futuro convento q tendo effeito sua fundação, se intitulará, com a invocação de São João da Cruz, e pera a compra do sitio em q se fundar o ditto convento promete e offereçe a ditta Serenissima Senhora sinco mil cruzados

fl 13

Cruzados e huma boa esmolla pera as Alfayas delle; e assim mais mil cruzados de renda cada anno dos quaes serão duzentos mil rs pera a fabrica delle athe de todo estar acabado e depois ficarão pera o sustento dos Religiozos que no ditto convento morarem e os outros duzentos mil rs serão por esmolla de tres missas quotidianas que o ditto convento e seus Religiozos serão obrigados celebrar pella ditta Serenissima Senhora. E com mais obrigação que as horas q os Religiozos q no ditto convento assistirem tiverem de oração os Domingos e quintas feiras e as disciplinas e jejuns das sestas se aplicará tudo pella ditta Serenissima Senhora. E assim mais que todo o tempo que a ditta Serenissima Senhora viver hirão dous Religiozos do ditto futuro convento a dizer missas todos os dias ao Mosteiro das dittas Religiozas de Sancta Thereza aonde a ditta Serenissima Sehora está moradora e assim que todos os Annos pª sempre qo outavo dia depois de sua Morte se lhe cantará hum officio de Defuntos e huã missa solemne, e todos os dias hum responso rezado depois da Missa conventual e tambem serão obrigados os dittos Religiozos q no ditto convento morarem, a todos os Annos a seis de Novembro rezarem hum officio de Defuntos +ja he cantado por decretto do definitorio pelas grosas esmolasq mais tem dado+ (na margem) pello Senhor Rei Dom João o Quarto Pai da ditta Serenissima Senhora Donna Maria +o referido porq o manda expresamte no testamento, q como testamenteiros devemos executar+ (na margem) e com estas obrigações disse elle Reverendo Padre Frei Gregorio de Jhs que na forma da ditta sua procura

fl 13r

Procuração outorga esta Escriptura em nome da ditta Serenissima Senhora Donna Maria e se obriga em seu nome a que comprandosse o sitio conveniente a fundação do sobreditto convento da invocação de São João da Cruz precedendo todas as lisensas q pera a ditta fundação forem necessarias a q entregará os dittos sinco mil cruzados pera a compra do sobreditto sitio a elle Reverendo Padre Provincial ou a seu

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sobsessor, ou a sua Ordem en quatro centos mil rs de Renda cada Anno que os Religiozos do ditto futuro convento hão de possuir os cobrarão aos quarteis de tres em tres mezes a ordê da ditta Serenissima Senhora em quanto viva fez pera o comprimento das obrigaçoens declaradas nesta escriptura, e por falecimento da ditta Senhora os cobrarão nos juros q tem na Junta do Comercio, os quais elle ditto Reverendo Padre rei Gregorio de Jhs no ditto nome lhes consigna desde logo e há por consignados, e delles lhes faz Doação irrevogavel pella melhor forma de dereito e pera maior firmeza desta obrigação desde logo disse os punha em cabeça do ditto futuro convento tendo effeito sua fundação, pera que os Religiozos delle os cobrem e arrecadem como couza sua propria que desde logo pera o tal tempo por esta escriptura lhes hião pertencendo e a tudo aqui declarado comprir disse elle Reverendo Padre rei Gregorio de Jhs, que o obrigava todas as Rendas da ditta Serenissima Senhora, em virtude de seu

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De seu poder. E por elle Reverendo Padre Provincial foi ditto que por esta mesma Escriptura se obriga ao comprimento de todas as condisoens nella declaradas em virtude da Patente de seu Muito Reverendissimo Padre Geral em a qual lhe faculta poder pera a ditta fundação e posse do sitio do convento q se ouver de fundar precedendo sempre a ordem do Sacrado Concilio Tridentino e os Mottos proprios de Sua Sanctidade q nesta forma se obriga ao comprimento desta Escriptura por sua parte por quanto todas as obrigaçoens aqui declaradas são aseitas na sobreditta Patente Pello Reverendissimo Padre Geral e Definitorio. E pera comprir obriga a posse que tiver do ditto sittio = Item declararão mais elles partes que do cruzeiro da Capella Mor do convento que se fundar senão enterrará pessoa algu,a senão Religiozos, ou pesoa que a ditta Serenissima ordenar na forma q se costumão nos mais Padroados. E com esta clauzulla outorgão esta escriptura testemunhas a forão prezentes Luis Lopes de Lemos digo Fernão Lopes de Lemos assistente em caza da Viscondessa da Asegua e Antonio Antunees Notario Appostolico morador na Rua da Costa freguezia de São Mamede que todos conhecemos a elles partes são os proprios que prezentes estavão e na nota asignarão com as testemunhas Jozeph da Foncequa Tabalião e Escrivão Frei João Bauptista " Frei Gregorio de Jesus

fl 14r

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Fernão Lopes de Lemos " Antonio Antunes = reslado dos Papeis de que atras se faz menção +Patente+ (na margem) "Jhs Maria" Frei Silvestre da Assumpção Geral dos Descalços de Nossa Senhora do Carmo da primitiva observancia com acordo de nosso Definitorio celebrado em o nosso convento de Madrid em dezasete dias deste prezente Mes e Anno. Por quanto pella devoção que havemos conhecido ter ao nosso sancto habito o lugar de Carnide distante da cidade de Lxª huma legoa, e pello fruto que nas Almas se espera fazer em ella com o exemplo e doutrina q pella Mizericordia de Deos, em todas as partes de nossa Religião se acha havemos dezejado fundar nelle hum convento de nossos Religiozos, e vendo q de prezente se offerece boa ocazião por quanto a Serenissima Senhora Donna Maria de Austrea Infante de Portugal que com o habito de nossa sagrada Religião mora no convento de nossa Madre Sancta Thereza em o sobredito lugar de Carnide offerece mil cruzados de Renda, pera a ditta fundação de Religiozos com condisão que os quinhentos se empreguem em a fabrica do dito convento athe concluilla, e depois em o substento dos Religiozos que hão de morar nelle, e os oultos quinhentos pella esmolla de tres missas quotidianas que ha de ter o dito convento obrigação de ce

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Celebrar por sua Alteza a sobreditta Senhora Donna Maria, e assi mesmo offerece sinco mil cruzados para comprar o sitio aonde de ha de fabricar o convento, e huã boa esmolla quando se funde pera comprar as Alfaias necessarias. E ha de ter o convento obrigação maes de aplicar as dittas tres missas quotidianas cada dia pella ditta Serenissima Senhora e o titulo ha de ser de nosso Padre São João da Cruz, as oras de oração que tiver a Comunidade os Domingos e quintas feiras e jejum e disciplinas das sestas se hã de aplicar assi mesmo por Sua Alteza. E todo o tempo que durar sua vida hão de hir dous Religiozos a dizer missa ao convento das nossas Religiozas do dito Lugar de Carnide. E depois da morte da dita Serenissima Senhora ao dia ou ano della, todos os Annos pera sempre se ha de cantar hum officio de Defunctos e huma missa sollemne e todos os dias hum responso rezado depois da missa conventual. E ultimamente a seis de Novembro todos os Annos hum officio de defunctos rezado *+ha de ser cantado por decreto de N. definitorio q se guarda no archivo por ter dado athe aqui a dita Sª mais de seis mil cruzados de esmola, oje 7 de

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fevro de 1685. Vejase assima folha 18 á margem+ (na margem) por El Rei om João o quarto Pai da ditta Serenissima Senhora, e depois de se haver considerado com atenção em o Deffinitorio foi admetida fundação digo foi admetida a sobreditta fundação ppor votos secretos com as cargas e gravames sobre dittos. Por tanto em virtude de nossos previlegios que tem nossa sagrada Religião dos Summos

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Summos Pontifices confirmdas (sic) ultimamente aprovadas e estendidas por nosso Sanctissimo Padre Clemente Nono dada em Roma a seis de Outubro de mil e seis centos, e secenta e outo, com clauzulas mui favoraveis para fundar donde quizer. Pello theor das prezentes damos licença ao Padre Provincial da provincia de Portugal e novo destricto do ditto lugar de Carnide pera que guardando a ordem do sagrado Consilio de Trento e mottos proprios de Sua Sanctidade aserca das novas fundações e com as demais liçenças necessarias faça a feiture a ditta fundação tomando posse do sitio que se lhes assignalar pondo alguns Religiozos e acomodando as couzas pera por o Sanctissimo Sacramento com Comunidade sufficiente pera poder dizer as horas canoniquas e pera que em Rezão da ditta fundação possa outorgar e outorhue a Escriptura, ou Escripturas publicas q necessarias forem, com todas as clauzullas vincolos firmezas e solemnidades que o dereito dispoem, q sendo assi outorgadas desde logo as aprovamos interpondo a Authoridade do nosso officio, em fee do qual mandamos dar as prezentes firmadas de meo nome selladas com o sello de nosso Definitorio e respaldadas por seu secratario em o nosso convento de Madrid a vinte e quatro dias do mes de Setembro de mil e seis centos setenta e nove annos" Frei Silvestre da Assumpção

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Geral" Frei Niculao de Sancto Elias Definidor Secretario +Pçam +(na margem) Eu Donna Maria filha de El Rei meu Senhor Dom João o Quarto que sancta gloria aja dou poder quanto em dereito for necessario, ao Padre Frei gregorio de Jhs meu confessor Carmelita Descalço pera por mi em meo nome celebrare fazer Escriptura da nova fundação que intento fazer neste Lugar de Carnide de Religiozos carmelitas Descalços aonde de prezente hei de por tres missas quotidianas e dous officios cada Anno com outras obrigaçoens e merecimentos, que me hão de aplicar como padroeira do dito convento e pera poder por e aseitar todas as clauzulas e condissoens que lhe parecerem necessarias pera firmeza e

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segurança das dittas obrigaçoens, e tudo o pello Padre Frei Gregorio de Jhs meo confessor, a cujo parecer deixo dalegar de minha justissa como meo Procurador e tudo onesta feito por elle o haverei por firme e valiozo, que pera isso lhe dou todos os poderes em dereito necessarios e asignar em meo nome Sancta Thereza de Carnide em sete de Fevereiro de mil e seis centos e outenta e hum "Donna Maria" E treslado tudo consertei como proprio a q me reporto e a ditta Patente a traduzi aqui de lingoa castelhana na nossa Portugueza e a tornei a entregar ao reverendo Padre Provincial - Jozeph da Foncequa

fl 16r

Tabalião o escrevi = Consertado por mi Tabalião Jozeph da Foncequa = Frei Manoel de Jhs Maria em lugar do Padre Provincial eu sobreditto Jozeph da Foncequa Tabalião de notas pello Princepe nosso Snor. nesta cide de Lxª e seu termo q este instrumto em meo livro de notas tomei e delle a que me reporto fiz tresladar comsortei sobescrevi e asinei de meu publico sinal

Assinatura ilegível

JozephdaFoncequa”47

47 ANTT, Ordem dos Carmelitas Descalços, Convento de São João da Cruz de Carnide - Livro da Fundação do Real Convento de Carnide de Carmelitas Descalços de que hé fundadora & Padroeira a Sereníssima Senhora D. Maria filha do Sereníssimo Rey & Senhor D. João o 4 Restaurador da Liberdade Portugueza, y verdadeiro Pay da Pátria, Anno de 1681. Lisboa, livro 1: 1681-1833, fl. 12r ao fl. 16r.

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“Fundação do Convento de São João da Cruz de Carnide e suas obras

No Anno do Nascimêto de Christo N SOR de 1681 no último dia do anno, em que a Iggreja celebra a festa de S. Silvestre Papa, e Martir, que foi o primeiro que em Roma cabeça do mundo levantou publicamte aras e consagrou Iggrejas ao verdadeiro Deos Xpto Nosso bem; neste anno, e neste dia se poz o Santissimo Sacramto neste Convto sendo Pontifice Romano N. mto Sto Pe Innossencio undessimo, governando este Reyno o Principe D. Pedro por seu irmão el Rey D. Afonso sexto, sendo Geral de N. Sagrada Religião N. mto Rdo Pe Fr. Silvestre da Assumpção, Pal desta Provincia N. Pe Fr. João Bapta.

Na vespora deste dia vierão do Convto dos Remedios o Pe Por

Fr.Rodrigo da Encarnação, o Pe Fr. Mel do Santissimo Sacramto, o Pe Fr. Lazaro de Xpto e do Convto de Corpus Xpti o Pe Por Fr. Frco de Sta Mª o Pe Pdor

Gal Fr. Mel de Jesus Mª o Pe Fr. Diogo de Sto Thomas o Pe Fr. Anto da Me de Deos, que com o Pe Fr. Gregorio de Jesus, e o Pe Fr. Dionizio de S. Pº e o Ir. Mel da Paixão, que estava cá desde o principio das obras da acomodação, que se fez pera a vinda dos Religiosos e N. Pe Pal com o seu Secretario Fr. Phelipe da Conceição fizerão no dia seguinte, em que se poz o Santissomo fazem o numero de treze Religiozos.

Ao amanhecer deste ditozo dia se benzeu a Iggreja e estando tudo disposto e consertado com bastante aseo ao culto se vestia pª dizer a primeira missa o Pe Fr. Gregorio de Jhs tageose, e repicouse o sino, e assistio alguã gente com os mais Religiozos no Corpo da Iggreja, que com suas velas nas mãos sahirão acompanhando ao sacerdote, sendo Acolitos o Pe Fr. Rodrigo da Encarnação Por dos Remedios, o Pe Por Gal

Fr. Mel de Jhs Mª e Turiferario o Pe Fr. Anto da Me de Deos. Começousse a Missa e posse o Santissimo Sacramento no sacrario, e ficou feito o Convto, tomada a posse pacificamte com o titulo de N. Pe S. João da Cruz. As nove horas do dia disse a Missa Conventual N. Pe Pal Fr. João Bapta expondo o Santissimo Sacramento, que esteve descuberto todo o dia na hostia; de Diacono o Pe Fr. Diogo de Sto Thomas, e de Subdiacono o Pe

Fr. Dionizio de S. Pº, e de Acolitos os mesmos, que se tinhão vestido pella menhã. Pregou mto douta mte o Pe Fr. Lazaro de Xpto; a muzica foi excelente, fazendo o gasto de tudo com magnificencia, e real grandeza a Nossa insigne Padroeira a Serenissima Senhora Infanta D. Maria de Austria, filha del Rey D. João, o 4 que Sta gloria haja. Pella noite ouve fogo, q ajudou a festejar dia tão ditozo.

O Primeiro acto de Comunidade foi o de Vesporas do dia de Jhs fl 1r

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de Jhs, e Circuncizão de N. Sor. Dahi por diante se guardou a vida Collegial com toda a observancia, e rigor, e tanto q porcahir este dia em quarta frª se tomou logo disciplina com Miserere cantado, e se foi fazendo a vida Regular como em os Collegios sem se faltar em couza alguã excepto o q as leys dispoe acerca da cantoria.

Começouse a pedir esmola, e foi tanta a devoção dos poucos circunvizinhos por donde se pedio que se tirou, e tira de esmola todo o pão necessario pª doze Religiozos, que logo começarão a assistir pª moços, e pª pobres, e se se alargarão a pedir mais muito mais tirarão, e não só de pão, mas tambem legumes, e outras frutas nos dão com mto

amor, e caridade, e tanta q os que são de longe quando sevem confessar dizem q porq não vão lá os Religiozos pedir ás suas terras; isto dizem obrigados da charidade, com q os Religiozos lhe acodem com o pasto espiritual de suas almas, e frequencia dos Sacramtos, que he tanta, principalmente nos dias santos, que mtas vezes pello mto concursso da gente se dilatão os actos de Comunidade porq nenhû vá desconsolado pª sua caza; que he justo que quem nos dá com tanta charidade o sustento pª a vida, lhe demos nos com mta mais o sustento pª a alma, q pª isso he o estado Religiozo; e se se exprimentão mingoas na charidade dos povos, he porq talvez faltão os Religiozos da charidade pª com suas almas: tendo por grande trabalho ouvir hû pobre penitente, que busca a graça de Deos na confissão de suas culpas, e na absolvisão de seu ministro: e porq em não haver falta nesta materia havia, e ha grande cuidado nos Religiozos desta fundação. Acode Ds com todo o necessario pª a vida dos Religiozos por mãos dos bemfeitores deste Convto com tanta abundancia que admira aos q o experimentão. Seja Sua divina Magestade pª sempre louvado. Amen.

Ficou por Vigro do Convto posto por N. Pe Pal Fr. João Bapta o Pe Fr. Gregorio de Jhs, que no mesmo dia começou a executar o officio lendo a patente em capitulo conventual e ficarão por conventuaes o Pe Fr. Diogo de Sto Thomas, o Pe Fr. Mel do Sacramto, o Pe Fr. Lazaro de Xpto, o Pe Fr. Dionisio de S. Pº, o Pe Fr. Anto da Me de Deos, e logo veo o Pe Fr. Thomas do Sacramto, o Ir. Mel de Sto Albto, o Ir. Mel da Paixão, depois veo o Pe Fr. Gaspar da Trindade, o Pe Fr. Alvaro da Cruz, o Pe Fr. Thomas da Me de Deos, o Ir. Matheos de Jhs, e o Ir. Anto de Jhs Mª.

O Principal bem feitor desta fundação foi o Serenissimo rey D. Pedro, 2º deste nome, porq a emparou, e defendeo como couza mto sua não obstante as mtas contradiçois, as quais como nuvens se opunhão e se como sol desfeas com os raios de sua real proteção despachando decreto pª q o desembargo do passo passasse alvará Real pª se effectuar a dita

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fundaçam; e posto q na chancelaria Real fl 2

Real ecclesiastica se tinhão posto embargos pª impedir o effeito Sua Real Magde fes com q os mesmos, q puserão os tornassem a tirar sabendo o empenho com q entrava em patrocinar a dita fundaçam, e compra deste sitio; o q tambem ajudarão mto o Excmo Sor Marqes de Gouveia presidente do passo e mordomo mor da casa real D. João da Silva, e o Sor Bisconde de Ponte de Lima D. Diogo de Lima, a quem como direito senhorio, q hera do dito sitio por pertencer ao seu morgado de Mafra prometião os contrarios maior presso, e maior foro. E este os não quis admitir, e só pª se fundar este Convto deu liberal mte a lça pª a compra com a condiçam q consta da escriptura da dita compra do dito sitio pello não poder faser de outro modo comforme a sua conciencia prejudicando aos futuros sucessores. Tambem foi particular bem feitora D. Brites de Oliveiros ????, mulher do Dtot Anto Freire da Fonseca, porq pª o sitio do Convto novo liberal, e graciosa mte deu toda atterra q era necessaria do olival q vem de fronte do primeiro sitio, q se comprou pª a fundaçam q tambem foi de sua Irmam D. Barbara Themuda, q com mto comodo o vendeo não obstantes mtos meios, q se tomarão pª q ella não effeitoase a dita venda. Tambem foi particular bem feitora a excelentisima Sar Marqueza de Gouveia, D. Mª de Alencastro filha dos Excelentissimos duques de Aveiro, porq deu mais de cem mil reis pª o vaso da sacrario, e outras peças da sancristia, e huma carta original de N. Sta Me, e quando a Ds levou pª si deixou dois legados pª esta fundação de livros, e oitenta mil reis em dinheiro.

Sobre todos a Serenissima Sar Infanta D. Mª Nossa Mai, e Real Padroeira, e fundadora, alem do q prometeo na escriptura do Padroado deu todo o dinheiro necessario pª se acomodarem os Religiozos na vivenda em q agora acistimos, q pasou de hum conto de Rs deu mil cruzados pª remir o foro, deu dusentos mil reis pª laudemios e cisas. Deu mais dos seis centos Rs, q prometeo pª comprar as alfaias das celas e officinas quatro centos mil Rs fral mte pª a sanchristia deu todo o necesario; e pª as outras officinas, com tal grandesa, q pª dose Religiozos q entrarão não faltou cousa alguma por piquena q fose, asim nas celas como nas officinas, conta mais dera, se as suas rendasabrangerão mais. E assim começou a fundação sem divida nem empenho algum fora ou dentro da Religiam; e pª as obras, q se vão fazendo vai dando alem do q pª ellas continuou com larga mão, ainda q não conforme sua Real vontade, como consta do livro das obras.

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A primeira obra q se fes, foi cercar a quinta com o muro, que tem novo, a q tambem ajudarão com grandes esmolas particulares bem feitores. E no anno de 1685 á 24 de Junho dia do grande Bap ta, *+sendo Prior Fr. Gregorio de Jezus+ (na margem) tendo só a fundação tres annos, e meio se lançou a primeira pedra, pª o Convta novo no cunhal do quarto; ou dormitorio, q olha ao meio dia, em 18 palmos de alto

f 2r

De alto com o letreiro seguinte; Maria Filia Joannis 4i Lusitaniae Regis hoc aedificavit monasterium anno Domini 1681, Regnãte Petro 2º Fratre suo amantissimo, et invictissimo. Lançou esta pedra o Excelentissimo Sor

D. Nuno Alvares Pereira Duque de Cadaval, Marques de Ferreira, Conde de Tentugal &. Benzeu o Illustrissimo Sor D. João Mascarenhas Filho dos senhores Condes de Obidos, oje Bispo de Portalegre. Na mesma tarde veio a Serenissima Sar Infanta D. Maria & a dar os parabens a Serenissima Sar D. maria da sua, e da parte Del Rey Seu Pai, q por se achar achacado, não veio em pessoa a lançar a pedra como disse, quando se lhe deu noticia da dita função; e naquelle verão foi correndo a obra, e asim se foi proseguindo athe pelos trienios seguintes se veyo a acabar de todo asim a Igreja nova, como todo o dormitorio da pte do meio dia, athe o fim, com a baranda que está sobre o mesmo dormitorio.

Despois disto não se obrou mais couza alguã, por falta de dinheiro, por cauza de huã larga demanda que este Convta tem trazido com os legatarios do testamta da Sra Infanta D. Maria Nossa Padroeira, a qual demanda ainda hoje dura; sé se forão sempre cobrando os duzentos mil rs

pª as missas quotidianas, e outros duzentos mil rs pª as obras, e com esses das obras se forão juntando materiais pª pelo tempo adiante se aver de proseguir; athe que no anno de 1716 vendose que a sobredita demanda se não acabava, se deu licença pª que este Convta tomase dez mil cruzados a rezão de juro sobre os duzentos mil rs das obras pª se obrar o que bastase pª o

comodo dos Religiozos, e decencia do SSmo Sacramto mudandoo pª a Igreja nova. Com o sobredito dinheiro que se tomou a rezão de juro, e com alguas esmolas particulares, e tãobem com a mta pedraria que estava junta dos trienios antecedentes, se fez o dormitorio de escada reglar, o qual corre desde a pte do meio dia athe a janela do norte com as quatro cellas que vão athe a mesma escada; mais se fez huã gde parte do dormitorio grande que corre pelas costas da Igra da pte norte; porem não se puderam fazer as cellas, deixando so as paredes levantadas e tudo telhado, e as janelas que avião de ser das celas ja acentadas, ficando desta sorte o

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ambito do claustro todo fechado com as paredes mestras, e com as duas capellas, e mais cazas que vão por baixo dos ditos dormitorios; tudo isto asim feito, se tratou logo de preparar o interior da Igra nova, fazendoselhe o presbiterio, pulpito, e altares, e lageandose de tijolo o cruzeiro, e pondose nella tudo o mais que era necessario pª se aver de mudar pª ella o SSmo

Sacramto. fl 3

Chegado o dia 23 de Abril do anno de 1718 pela tarde, foi o Pe Prior que então era o Pe Fr. Guilherme de Jezus Mª nal da Villa de Vianna do Lima acompanhado da Communide, a benzer a Igra nova na forma que dizem o nosso Manual; no dia seguinte, que era domingo de Pascoela, e 24 do sobredito mez, e anno, se fes a translação (sic) do SSmo pª a nova Igra

pela tarde, com huã solemnissima procição que se fes com toda a grandeza, a qual deu volta por todo o lugar de Carnide athe se recolher em a Igra nova. Constava a dita Procição de muitas Irmandades e Confrarias que concorrerão destes arredores, hindo os curas das freguezias todos com capas de asperges; hia mais toda a Communidade dos Religiozos de S. Domingos de Bemfica sem faltar Religiozo algum juntamte com a nossa Communidade que constava não só dos Religiozos da caza senão tãobem dos mtos que tinhão vindo pª esta função dos dous conventos de Lxª, e de Cascais; a que tãobem se agregarão os Religos de S. Bernardo asistentes em Odivelas, e tãobem os Religiozos de S. Franco de Tilheira, e os Capuchos da Convalecensa de Bemfica e outros mtos Religiozos de diversas Religioens que naquela occazião se acharão prezentes. Constava mais a dita Procição de mtos

Riquissimos andores, todos cobertos de riquissimas joyas, e consertados curiozissimamte, os quais andores derão diversos Convtod de Religiozas e outras Pesoas particulares; tãobem hião mto bem consertadas figura asim de pe como de cavalo; diversas danças e mto boas; tãobem diversos ternos de charamelas e clarins; e finalmte huã boa muzica; tudo o qual ajudava a solemnizar acção daquela tarde, em a qual concorreu innumeravel gente, asim de todos estes arredores, como de Lxª, Belem, Sacavem, e outras partes mais remotas. E tudo o sobredito, asim de figuras, danças, ternos de charamelas, clarins, e muzica derão pessoas particulares devotas da Religião. Levou o SSmo debaixo de hum riquissimo palio o Pe Prior asima nomeado; athe que junto da noite chegou a Procição á nova Igreja que estava toda mto bem armada, e nela se recolheu o SSmo em o sacrario athe o dia seguinte.

Logo em o seguinte dia, que era segunda feira 25 do corrente, e dia

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de Nossa Sra dos Prazeres, se fez a festa da translação, estando o Sor

exposto todo o dia; cantou a missa o pe Prior do Convento de Nossa Sra da Luz acompanhado de ministros do seu mesmo Convto, e pregou o Pe Prior de S. Domingos de Bemfica +era Prior da Luz o Pe Fr. Henrrique de Carvalho. E Prior de Bemfica o Pe Francisco de S. Jozeph+ (na margem); a tarde toda se gastou com excelente muzica e de instrumentos athe que forão horas de enserrar o SSmo, com o qual se benzeu o Povo, que era innumeravel, e se recolheu em o sacrario. Em as noites dos dous dia asim de Domingo como de segunda feira, ouve luminarias e repique de sinos não só em o nosso Convto mas tãobem em o Convto de Nossa Sra da Luz asistindonos e acompanhandonos aqueles Religiozos em nos ajudarem da mesma sorte a solemnizar a nossa festa, e o mesmo as nossas Religiozas do Convto de Sta Thereza deste lugar de Carnide, e da mesma sorte mtos moradores do mesmo lugar; ouve tãobem mto fogo nestas duas noites de fronte da nossa Igreja nova, e o mais dele derão alguãs Pessoas por sua devoção; e desta sorte se solemnizou a festa da translação do SSmo Sacramto pª a nova Igreja.

fl 3r

Logo em o seguinte mez de Mayo do sobredito anno de 1718 comesou novo trienio, pela entrada de novos Prelados; e como ja fica declarado asima que os duzentos mil rs que este convto tem todos os annos pª obras estavão quazi todos obrigados aos juros dos dez mil cruzados que se tomarão no trienio antecedente, por esta cauza se não proseguio a obra no tocante ás paredes mestras, mas obrouse mto em quanto a aperfeiçoar o que ja estava feito, porque na Igreja se pintarão a oleo fingidos (?) os tres Retablos principaes, e se fez a charola do coro, e a immagem de Nossa Sra que se poz na mesma charola; e pª a sanchrystia e Igreja se fizerão de novo mtos ornamtos de que ainda avia mta falta, com mais outras couzas pertencentes á mesma Igreja e sanchrystia; tãobem se lagearão de pedra o Portico da Igreja, e a Portaria do Convto asim da parte de dentro, como de fora. E se ladrilharão de jijolo o corpo da Igreja, a ante sanchrystia, e o de profundis do Refeitorio, e a caza do Esfregador; e ultimamte se fez tãobem a estante do coro toda de pao preto, e pª servir em ella se mandou fazer hum missal pertencente ás Domingas, todo feito á pena em folhas de pergaminho.

Seguiose outro trienio, que comesou em o mez de Maio de 1721 em o qual se augmentarão os ornamtos da sanchristia, e se fez pª servir na Igreja hum docel de Damasco branco, com sanefas de veludo carmesim

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labrado, e com franja e guarnição de ouro; e tãobem pª a mesma Igreja se fizerão outras couzas pertencentes ao ornato della; maisem o Dormitorio do norte se acabarão as seis cellas que correm desde a escad reglar athe a escadinha que dece pª a sanchristia, e tãobem se acabou a parte do mesmo dormitorio que corresponde ás ditas seis cellas, e se fez tudo isto capaz de poderem ali morar Religiozos.

Em o ultimo anno do trienio seguinte, que foi o de 1727 e no principio do mez de Março deste tal anno chegando a esta Provincia a noticia serta de como nosso SSmo Pe Bededicto 13 em 27 de Dezembro dia de S. João Evangelista do antecedente anno de 1726 tinha Sua Sanctidade feita a canonização do Nosso Pe S. João da Cruz, em acção de graças por tão feliz nova se cantou o Te Deum Laudamus, e por tempo de tres dias ouve mtos repiques de sinos, não só em este Convto, senão tãobem em o dos nossos vezinhos os Pes de Nossa Sra da Luz, e em a Igreja do lugar, e conseguinte mte, em as nossas Religiozas pella mesma rezão que nós tinhamos de fazer esta demostração de alegria, pois a ellas tãobem tocava: Em todos estes tres dias pellas noites ouve mtas

Luminarias, não só neste Convto, senão tãobem em os sobreditos Convtos, e ainda por todo o Lugar de Carnide, que todos nos ajudarão a festejar o que

fl 4

o que todo geral mte desejavão ver concluido, e não se fez por estar mais couza alguã por ser isto ja quazi em fim do trienio, e por estarem os Prelados pª acabar, não aver ja tempo pª se prevenir o que era necesario pª se fazer a festa com a devida selemnidade.

Chegado pois o mez de Mayo do sobredito anno em que se fez Capitulo Geral e sahio por Prior deste Convto o Pe Fr. Anto de Christo nal da cidade de Coimbra, que entrando a tomar posse da caza em 28 do seg te

mez de Junho começou logo a tratar do que era necesario pª a dita festa, sinalando pª ella os dias 8, 9, e 10 do futuro mez de Setembro, e pª a solemnidade deste triduo, asim do altar como do pulpito, convidou logo pª o primro dia aos Religiozos de S. Domingos de Bemfica; pª o segundo dia aos Religiozos da Ordem de Christo do Convento de N. Sra da Luz; e pª o terceiro dia aos Religiozos de S. Franco do seu Convto de Telheiras; acentando logo com estas tres communidades, que por escuzarem o trabalho de virem duas vezes a este nosso Convto huã a vesporas, e outra á misa, que em o mesmo dia em que viesem pª celebrar a Missa, officiarião tãobem as vesporas de tarde.

Disposto isto nesta forma pª que esta festa se fizese publica a todos

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em 10 de Agosto, hum mez antes dos sobreditos dias sinalados, defronte da porta da Igreja deste Convto se mandou levantar hû mastro de secenta palmos em alto, e sobre elle em hum varão de ferro huã bandeira á quadra, em que de huã parte se via de boa pintura a imagem de N. p. S. João da Cruz, e da outra parte a Imagem de N. Me Sta Thereza, e por ultimo remate de tudo se via hum famozo florão feito de metal, do meyo sobresahia huã palmafeita do mesmo metal, e pª que melhor se comunicase a todos se mandou fazer em as portas da Igreja das Freguezias circumvezinhas o Breve do Jubileu de oito dias ante dito por Sua Santide pª a ocazião desta festa, declarandose ao pé do mesmo Breve os sobreditos dias asima sinalados em que a dita festa se avia de fazer.

Pelos fins do mesmo mez de Agosto se comesou a tratar da armação da Igreja, em que os officiaes se esmerarão tanto, que não parecia toda ella, senão ver humparaizo na terra, pela perfeição, meudeza, e primor com que tudo estava proporcionado e disposto; toda esta armação estava acentada pelo feitio da mesma Igreja, e de sorte que não parecia senão estar toda ella debuxada, ou curioza mte pintada ao pincel, pela miudeza, e variedade de cores com que tudo estava matizado, e todas estascores divididas huãs de outras com galão de prata, ou de ouro, segundo a obra o pedia; os largos das paredes de pedrestal a pedrestal, como tãobem os largos das abobadas em volta e de arco a arco, com toda a meudeza matizado tudo, e com mta diferença as lunetas por sima da cornija, mas com a mesma meudeza e variedade de cores; e pª diviza de toda esta armação, estavão

fl 4r

estavão todos os pedrestaes e arcos, cubertos de almofadas de ármar, e todas ellas debuxadas de galão de ouro; toda a cornija estava pelo seu mesmo feitio, revestidos os frizos, e meyas canas, de diversas cores acertadas segundo a obra, e todas estas cores dividivas huãs de outras com galão de prata, ou de ouro.

O fundo, ou pé de toda esta armação, erão excellentes cortinados de damasco carmesim com suas sanefas, que em volta de toda a Igreja davão mta graça ao demais; e sobretudo hum bem formado pavilhão, que constava de vinte e duas pessas de damasco de diferentes cores, que como corôa de toda a obra se via em o mais athe da cupula, ou chamada meya laranja, que tendo la o seu principio em hum escudo, vinhão todas decendo em volta com mta igualdade, athe hirem pegar em a cornija que em redondo serve de pé á mesma cupula; em os Altares, e capellas, estava tudo curiozissima mte ornado, com riquissimos

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ornamentos, com cortinados de damasco carmezim, e todos com seus franjões de ouro; e final mte se via em tudo todo o conserto, e perfeição, que asim de custozo, como de curiozodade, se pôde ali agregar em occazião de de (sic) tanto empenho.

Feita pois a armação do interior da Igreja nesta forma, se proseguia logo a armar o exterior della, que ainda que não estivese ornada com tanto empenho, pois asim a boa rezão o pedia, com tudo, como seja couza preciza o darse aqui fiel relação de tudo o que em este nosso Convto de Carnide se obrou em occazião prezente, com toda a verdade se dará a noticia desta esterior armação: Em o portico, e experior entrada pª a Igreja, se via as paredes todas cubertas de ricos panos de damasco fabricados em Italia, e o tecto tambem todo cuberto de damasco carmezim, com suas divizas de galão de prata; em a porta principal da mesma Igreja se via hum famozo cortinado tãobem de damasco carmezim, e cubertos de ricas sedas os arcos exteriores desta entrada.

Logo sahindose a ver a frontaria toda, em toda ella não faltava em que os olhos se divertissem, pois toda estava cuberta de excellentes panos de paizes, que com sua primorozapintura verde, parecia estar todo o frontespicio cuberto de hum mui vistozo, e frondozo arvoredo; em o meyo do qual, e em nicho em que se vé colocada a Imagem de N. Pe S. João da Crus, como principal Patrão do Convto, se lhe formou hum rico pavilhão com seu cortinado, e tudo de excellentes sedas, e vistozissimas cores, a cujos dous lados estavão pendentes quatro famozos candieiros de metal, e cada hum a outo luzes de cera.

fl 5

No tocante ao conserto da portaria do Convto e Claustro estavão

todas as paredes cubertas de ricos panos, e o mesmo Claustro, por ainda estar imperfeito, se compoz de sorte, que não parecia senão estar ja de todo perfeito, e acabado, por quanto em todo o ambito delle, se vião levantadas huãs supostas columnas, e todas cubertas de panos de seda, e da mema sorte tãobem todo o tecto do mesmo ambito todado da mesma seda; Em o meyo deste claustro se fabricou um jardim repartido em quatro quartelas e em o meyo de todas se via hum bemfeito chafariz do qual corria agoa por outo bicas; todas as quatro quartelas deste jardim estavão mto bem debuxadas em lavores em os quatro lavores ou debuxos se tinhão antecedentemte semeado sertas sementes, que chegado o tempo da festa estarião nascidas e crescidas de sorte que hera pª ver sobresahidas estas verdes plantas pela mesma sorte do debuxo em que forão semeadas; e pª que este claro do claustro

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ficase mais alegre e frondozo, se ornou todo de mtos vazos de plantes verdes, e de flores, e tudo posto por tão boa ordem, que sendo ainda mto

perto do Outono, não parecia senão ser já então chegado o tempo da Primavera.

Chegou finalmente o dia sette de Setembro, vespora do primeiro dia em que se avia de dar principio a esta solemne festa, ja asima sinalado, e pela noite deste dia se comesou a annunciar a solemnidade de seguinte, com repiques de sinos, e com mtas luminarias por todas as partes do convento, e de sorte, que em todo elle se contavão duas mil e duzentas e trinta luzes, por que se mandarão por fabricas de madeira por todas as janellas, varanda, e mais lugares; e não parecia outra couza senão estar todo o convto por todas as partes ardendo em fogo; a tudo isto nos acompanharão logo os Religiozissimos Pes da Ordem de Christo nossos vezinhos tãobem com mtas luminarias, e repiques de sinos; da mesma sorte as Religiozas do Convto da Conceição; e tãobem as nossas Religioza do Convto de Sta Thereza; e finalmte a Igreja do Lugar, e todo eta Povo, e ainda em cazas de moradores mais distantes delle, se via por todas as partes arder tudo em luminarias; e tudo da mesma sorte se continuou, e continuarão todos em as noites dos seguintes dias.

Feita pois esta primeira demostração de alegria nesta forma, e chegado o seguinte dia, em que pª elle, e pª os demais dias, estava prevenida huã mto excellente muzica asim de vozes como de instrumentos, e sendo pelas nove horas da menhã, veyo chegando a Communidade dos Religiozos de S. Domingos convidados pª este primeiro dia, que sendo avistados na distancia do Convto de N. Sra da Luz, logo comesarão os sinos deste noso Convto a repicar, e a nossa Communidade puntualmte os sahio tãobem logo a

fl 5r

a receber, e os veyo quiando athe a porta da Igreja, aonde pelos ditos Religiozos se entoou o Te Deum laudamus, e forão proseguindo, hindo estas duas Communidades em forma de procição athe chegar ao cruzeiro da Igreja, o qual em se acabando de lançar, logo o Prezidente dos ditos Religiozos cantou a oração do sancto, e de foi logo revestir hum Religiozo nosso pª vir a expor o SSmo Sacramento, e tratarão tãobem logo os sobreditos Religiozos de se hir revestindo pª entrarem á Missa; em neste tempo Prior de S. Domingos de Bemfica o Padre Fr. Manoel Botelho, e o Prelado deste primro dia foi o Pe Subprior do seu mesmo Convto.

E na sanchristia a preparação pª a Missa, huã Cazula, e Dealmaticas

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de huã riquissima tella, e de mto presso por singular; erão mais quatro capas de tella branca pª quatro assistentes que alem dos dous ministros avião tambem de asistir em o altar; pª todos os quaes avia em a Igreja sette cadeiras sazas, ou tamboretas sem espaldar, que estavão abaixo do Presbiterio, e em o primeiro cruzeiro, tras da parte do Evangelho pª os tres Ministros da Missa, e os quatro da parte da Epistola pª os quatro asistentes, e pª todos se virem nelles sentar ao sermão, e mais occaziões em que na Missa se costuma fazer.

Logo que se expoz o SSmo Sacramto, sahirão a celebrar a Missa, e se fez tudo com mta solemnidade, achandose a nossa capella môr occupada com onze Religiozos Dominicos, e occupados todos em o serviço do altar, e acabada a missa e sermão se não fez mais couza alguã em esta menhã; porem sendo ja pelas tres horas da tarde sahio o Rdo Pe Prior com huã riquissima Capa de Asperges, e acompanhado dos seus quatro asistentes a dar principio ás vesporas cantadas, das quaes tanto que teve iniciada a primra antiphona, se forão logo todos sentar em os sobreditos tamboretes, e dali por sua ordem forão os quatro assistentes iniciando as demais antiphonas que se seguião; e finalmente acabadas as vesporas sobirão todos al altar mor a enserrar o SSmo Sacramto, a com isto derão fim á solemnide deste primro dia.

Em o dia seguinte, que era o segundo da nossa festa, tãobem pelas nove horas da menhã, sahirão do seu Convto da Luz os Religos da Ordem de Christo, que da mesma sorte em sendo avistados logo se comeou o repique dos sinos, e a nossa Communidae os sahio a receber, e tanto que chegarão ao Portico da Igreja, logo ali comesarão a cantar o psalmo Laudate Dominum omnes gentes, e no fim delle entrarão tambem logo o Te Deum laudamus, e o forão proseguindo athe chegarem ao cruzeiro da Igreja, aonde despois de acabado, disso o Prezidente a oração do sancto e se

fl 6

e se forão á sanchristia de donde sahio logo hum Religº nosso a expor o SSmo Sacramto; cantou a missa o Pe Fr. João Nuno que actualmte era Prezidente do seu Convto da Luz, e com elle asistio ao altar e missa o numero de Religiozos e assistentes que no dia antecedente; foi Pregador o Pe Por Fr. Guilherme de S. Jozeph Religº da mesma Ordem de Christo. E como forão tres hores da tarde, sahio o Pe Prexidente asim nomeado acompanhado dos seus quatro asistentes athe principio as vesporas cantadas, e se fez tudo como em o dia antecedente, e no fim dellas encerrarão o SSmo Sacramto, dando tãobem com isto fim a solemnide

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deste segundo dia. O terceiro dia, pª cuja solemnide erão convidados os Religiozos de S.

Francisco do seu Convto de Telheiras, e vindo as mesmas horas que nos dias antecedentes, e chegados em a mesma distancia que as duas Communides asima referidas forão logo recebelos com os demais a conduzilos pela nossa Communide athe a porta da Igreja, adonde logo se cantou o Te Deum laudamus r forão proseguindo athe o cruzeiro da Igra, e tudo o demais se fez como athe ali o tinhão feito os demais Religos; cantou a Missa o Pe Prezidente Fr. Pedro de Jezus, e foi ao altar com o mesmo numero de Religiozos que os demais. Pregou o Pe Fr. Phelipe da Conceição Lente de Filosophia e Religº da mesma Ordem de S. Franco; pelas tres horas da tarde sahio a cantar as vesporas o Pe

Prezidente acompanhado dos seus quatro asistentes, e no fim enserrou o SSmo Sacramto, pondo com esta ultima acção termo ao solemne triduo com que este Convto de Carnide festejou a canonização de N. Pe S. João da Cruz.

Em este mesmo trienio em que se fez a sobredita festa, quanto ás obras do Convto se tratou de adiantar o dormitorio do norte pª a parte de nascente em distancia de quarenta palmos, quanto ás paredes o mesmo; e asim mais se azulejou o refeitorio e o coro; e finalmte se distratarão dous mil cruzados dos dez que este Convto tinha tomado a juro pª as obras do mesmo convento, como consta deste mesmo livro fol 2 virada a folha. Declaro que dos oito centos mil rs que se destratarão supra, só pertence quinhentos aos dés mil cruzados, q tomou a juro o Pe Fr. Guilherme de Jesu mº e os outros trezentos forão os q se distratarão da festa de N. S. Pe

os quaes trezentos mil rs tomou a juro o Pe Por Fr. Anto de Christo, e elle mesmo os distratou com o dinheiro q recebeo da caza de Bragança, q lá estava retido, e se nos julgou na terça da Sra Dª Maria padroeira deste Convto.

fl 6r

No trienio seguinte sahio por Prior deste Convto o P Fr. Jozeph de Sto

Thomas nal de Verride, e tomou posse no prº de Junho de 1730; refez na capela das almas o painel, e retabolo dourado, hum Frontal e huã vestimenta de Damasco branco e com franjas de retrós cor de ouro, fez mais hum frontal da primavera, missal, alampada e mais paramentos, como Sto Christo, toalhas, e huã cortina, esta pª o Altar mor e colateraes cinco cortinados de Damasco carmesim com galão de lado e franja de retrós, e hum pano de estante de Damasco emcarnado; tres vestimentas, duas Dealmaticas, huã capa de Asperges hum pano de estante tudo de

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Damasco branco com franjas de retrós cor de ouro, quatro duzias de castiçais de estanho, hum relicario de prata com as reliquias dos doze Apostolos, e do Sto lenho, e nas costas do mesmo relicario hum retrato de N. Sª, caixotões pª frontais e esteiras; des jarros de estanho pª o vinho das missas, e uteis miudezas pª a sanchristia; dous jarros pª o refeitorio, quatro pratos com galhetas de cobre, duas pipas novas pª a adega, duzia e meya de varas de seda pª a Igra, e hum jardim (?).

No trienio seguinte sahio por Piror deste Convento N. Pe Fr. Clemente do Rozario nal de Portunhos Bispado de Coimbra, e tomou posse en quatorze de Junho de 1733. E distratou tres mil cruzados dom o dinheiro q deu a fazenda dos Vergados (?) acrescentando de fora parte duzentos mil reis; compos tambem huã caza, q rem porta para alameda, e rende catorze mil reis, fes seis alvas toalhas pª o lavatorio da sanchristia, coatro comunidades de amitos huma toalha pª a comunhão, sinco pª os sinco altares da igreja, duas duzias de sanguinhos, veos brancos pª 9 calices, mandou consertar os misais da igreja, coatro duzias de ramalhetes de seda, ditos dos grandes, e duas dos pequenios, hum vestido pª hum Menino Jezus, duas fitas pª os chaves do sacrario, esteiras pª a igreja, esteiras pª a mesma igreja, ramalhetes pª p choro pª prª

fl 7

e segunda claçe; hum almario pª meter os ramalhetes do choro, jarras pª os ramos da igreja, vidrados com seus caixilhos pª as genellas do dormitorio todas, e pª 9 da sanchristia, rodas pª a nora, caleiros pª vir agoa pª a cozinha, comprou hum alambique pª fazer agoa ardente, comprou huma pipa pª vinho. Pos correntes com todas as licenças, tres sermonarios de N. Pe Fr. Anto de Sto Elizeu, e o prº tomo ficou en primit... no seu tempo.

No trienio seguinte sahio por Por deste convento N. P. Fr. Jozé da Conceyção nal da cide de Lxª tomou posse aos 24 de Julho de 1736, e acabou por renuncia aos 18 de Fevereyro de 1738. Fes o adorno exterior, e interior e porta do sacrario do Altar mor, fes quasi de novo o Trono, e o mandou pintar, e dourar na forma q está; fes de novo o Paynel da Capela das almas, por estar podre, e todo roto o q tinha. Fes de novo o pé de hum calix q era de estanho, e a copa de outro q estava rota, e o dourou e a patena por estar incapas. Comprou oyto castiçais de estanho, dos altares q servem pª as Missas. Fes duas Comunides de servilhetas novas q são 41. Fes 4 toalhas do lavatorio da Comunide e seis do da saãchristia. Fes todo

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o alicersse da caza q ha de ser saãchristia, e parte da que ha de ser lavatorio. Compos e acabou as 3 cazas de Dispenssa de azeite e a em q se punha a cevada q fica por detras do esfregador. Conçertou todos os telhados do convento velho, e do novo o q neçeçitava. Pós na saãchristia seis singulos novos. Fes a segunda impressão dos sermois de N. P. Fr. Anto de Sto Elizeu e acabou o prº q ficou na imprenta, e do rendimto destes livros pagou o gasto do segundo tomo e distratou quinhentos mil reis, na forma q se declara no livro dos juros do convento. Pagou todas as dividas q achou qdo tomou posse e agora o entregua sem divida alguã excepto des moedas de 4800 de hum anno q se devia atrazado dos des (?) mil cruzados q tirou o P. Fr. Clemte do Rozario como deixou declarado o dº Pe no livro dos juros.

fl 7r

Os livros q meteo no seu tempo no convento são os seguintes 2 tomos da Cronica Divina, hum jogo das Jozephinas hum tomo das Flores do Carmelo tudo encadernado empasto, dous tomos dos Sermois de Fr. Pº da Anunciação, a 2ª pte de Valdecebro Corona Aurea em latim q trata do Rozario pellos cuangos das Domingas e tom. comple. D. Teom. hum jogo 4 tom; e do mesmo Autor os sumulas disputadas em 2 thomos e 2 tom pequenos das sumulas, 1 jogo do cursso filosofico do Palanco 4 tom 1 jogo do curso filosofico do Flaylan e deixa mais dos sermois de N. P. Fr. Anto de Sto Elizeu 2 tomos da prª pte e 2 da 2ª. Por renuncia do N. P. Fr. Joze da Conceyção entrou N. P. Fr. Luis do Rozario. Tirou ??? pª seis centos e treze mil. Cmprou 4 tomos dos Sermonarios do P. Fr. Joze do Nascimto acabou de lajear a dispenssa; comprou hum jogo de Moral de N. P. Fr. Angelo. Comprou huã bacia grande huã pequena, hum Relogio por desasete mil e o velho, fes roquetes e sapatos pª a saãchristia pagou quarenta e oyto mil reis de juros q se devião atrazados, e cento e quarenta e nove trezentos e sesenta e seis q se vençerão no seu tempo.

fl 8

Aos sette de Junho de 1796 tomou posse deste convto N. P. Fr. Izidoro de Sta Mª que reparou logo a gde ruina dos tilhados em q se achava o convto; fes de novo a caza dos Moços; fes as sepulturas da capella de Sto Angello, as do corpo da Igra; esteirou a mª; fez os Altares das Almas, e da Sta Anna Capella de Sta Anna, fes frontais pª os collaterais, renovou todas as ??? mtas

que necesitavão de concerto; poz na vinha hum grande pedaço de baullo

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(?), reparou o todo della de morgolhias, e dezempinhou o convto de todas as dividasdos seos Antecedentes”48

48 ANTT, Ordem dos Carmelitas Descalços, Convento de São João da Cruz de Carnide - Livro da Fundação do Real Convento de Carnide de Carmelitas Descalços de que hé fundadora & Padroeira a Sereníssima Senhora D. Maria filha do Sereníssimo Rey & Senhor D. João o 4 Restaurador da Liberdade Portugueza, y verdadeiro Pay da Pátria, Anno de 1681. Lisboa, livro 1: 1681-1833, fl. 1 ao fl. 8.

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Conta da causa que levou à construção da actual igreja do Convento de São José da Esperança, em Évora

[Fl. 1] “Dia em que fez muito vento e atemorizou as Rellig.as que estavam no

coro por-/ abalar as paredes o Conservando neste ponto de tarde algumas

Reli/giosas com a Priora que Antão era a Madre Josefa Maria dos Anjos lhe di-

çe a Irmã Catherina Josepha da Assumção que bem podia S. M. animarçe / e

principiar esta obra da Igreja e coros ao que respondeu a Prelada que era /

impraticavel esta obra porque A caza estava muito pobre e sem rendas para / o

sustento a que replicou a dita Irª Catherina Josepha que tivesse fé e que lhe

deçe / principio que Deus avia ajudar e que ella tinha lido uma chrónica nossa

que em hum dos nossos Conventos socedera o mesmo de estar a Igre/ja e

Convento aruinado a não querendo a comunidade por falta de po/der a

começar a obra viram que Nosso Pe. St. Alberto estava destilhan/do a Igreja. a

estas palavras disse a Priora pois sim quando eu souber que o Stº me vem de

fazer o coro eu darei principio a outra no/va. No dia seguinte, hindo passando

pella rua hum Mestre de Alve/naria chamado Manuel Gomes, estando a

comunidade em o coro rezando Prima veio a Portaria e com grande preça

disse a/ Porteira, que era amtão a Me Thereza de Jesus, que fosse ao Coro e

di/sseçe as Relligiosas saíssem com preça porque Estavão as paredes/

rachadas, e por instantes vindo ao chão e para que assim não sucede/çe lhe

acodiam logo com espeques com a posivel brividade, o que fizerão./ porem

sempre a cahio parte de hum tilhado que estava junto ao coro/ e servia de [sic]

E a vista desta nessecidade não mais reme/dio que dar ordem a principiar a

obra para o que mandarão pidir ao/ N. Rdo. Definitório licença para se

gastarem três dotes, com os quaes / se continuou a se lançar a primeira pedra

do novo edifício, dia/ de Stª Anna a 25 de Julho do anno de 1728 com

assistencia de to/da a nobreza desta Cidade Fes a Função o Exmo. Senhor

Bispo de / Patara D. Fr. José, levou o andor em que hia a pedra emgrasadamte

/ ornada com os Nossos Padres / Com [sic] gosto se continuou a obra/ até

chegar as simalhas da Igreja que não havia dinheiro para mais/ adiantarem, e

estando a comunidade Com o maior pezar por ter de/ despedir os ofissiaes;

mandou o Rev. Cónego Antº Rosado Bravo di-/zer à Priora que em este tempo

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dará a Madre Thereza N. Srª que elle que/ria acabar a Igreja o que cauzou

grande ademiração às Relligiosas / por ser pessoa De quem não tinhão

conhecimto algum nem comunecação / com creatura que lhe desse notícias

dos termos em que a obra hia e da pobreza // [Fl. 1v.] da caza; veio o dito

Reverendo Cónego falar as Madres. e ao Padre Prior / do Nosso Convento dos

Relligiosos desta Cidade.; que era antão o Padre Fr. Luís do Rosá/rio e propos

lhe o seu intento, que era acabar a obra da Igreja de tudo o que fo/sse perciso

assim de materiaes, e para se acabar a sacristia Como de / ornamentos

retabullos e mais miudezas, athe a por perfeitíssima/ para se dizer Missa , o

que fes ficando somente padroeiro da capellamor / aonde tem hum Mausuleu

alto de pedra mármore bem la/vrado em hum arco de fronte do Coro baicho,

aonde foi sepul/tado em o ano de 1733 e por seu Falecimento deixou, esta

comunidade por sua erdeira e senhora de todos os seos bens, com/ a condição

de 8 Capelains em esta mesma Igreja a quem daria a ca/da hum anno – 60000

reis a cada hum por ter fazendas, e / dinheiro que não só basta para a

satisfação destas Capelanias, mas / ainda sobra o milhor [sic] o que tudo se fez

e o [sic] / Tudo como aqui vai escrito, estava em outra meia folha / de papel

sem mais nada e já muito Emxuvalhada e velha e por isso / se tresladara para

este E mais digo que o mesmo que aqui vai escrito ouvi / eu de palavra contar

algumas vezes, a minha Mestra a Madre Ângela Josefa/ [sic] viveo com as

mesmas Relligiosas que espirimentarão estes aconteçi/mentos de pobreza. e

providencias por meios não esperados com que Nosso Senhor Lhe acudia

Como ficão referidos”.49

49 Biblioteca Pública de Évora, Fundo do Convento de S. José – Maço 18 – Documento avulso, in CARRUSCA, Suzana Andreia do Carmo - A Azulejaria Barroca nos Conventos da Ordem do Carmo e da Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal. Évora: Instituto de Investigação e Formação Avançada da Universidade de Évora, 2014. Dissertação de Doutoramento em História da Arte. Apêndice Documental e Gráfico, vol. 3, p. 24.

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Conta da demolição do Convento de Santa Teresa de Santarém, dos Carmelitas Descalços, dando lugar ao edifício do Governo Civil “À hora a que escrevemos está a junta geral do districto terminando essa obra

e começou a construir ali uma casa para as suas sessões.

Demorava o convento do Carmo a dois passos do da Graça, caminhando

d'este para o norte. Em 27 de abril de 1656 foi lançada a primeira pedra do seu

fundamento, na qual estavam esculpidas as armas da casa de Aveiro, próprias

das padroeiras, que foram a duqueza de Caminha, D. Julianna, e sua mãe a

condessa de Faro.

Era titular do convento Santa Thereza de Jesus; aquella que nos mysticos

enlevos da sua fé peregrina, dizia:

Vivo sin vivir en mi,

y tan alta vida espero,

que muero, porque do muero.

Agora o contraste entre o presente e o passado.

No presente, a camara de Santarém pede ao governo a demolição do

convento, para estabelecer no mesmo logar as repartições publicas do governo

civil do districto; ha pouco mais de dois séculos o senado scalabilano dirigia a

D. João IV uma carta como se segue:

«Senhor. Veyo-nos a noticia, que os Padres Carmelitas descalços pertendião

pedir licença a Vossa Magestade, para fundarem n'esta Villa um Convento.

Pedimos a Vossa Magestade, prostrados a seus Reaes pés com toda a

humildade, em nome d'este povo nos faça raercè conceder-lhes licença; pois

são Religiosos, que com menos esmolas se sustentão, e de grande exemplo, e

edificação para os Povos, em que habitão; e esperamos, que com a sua

presença se colham grandes fructos espirituais em todo este Povo. Esta mercê

que pedimos a V. M., assentámos todos primeiro em Camara, e nos pareceo

muy conveniente significal-o assim a V. M., cuja Calholica e Real Pessoa nos

guarde Deus nosso Senhor muitos e felicíssimos annos. -Eu Francisco Coelho,

Escrivão da Camará fiz em Santarém. - João de Freitas Coutinho, Juiz de Fora.

– Domingos Jorge, vereador Primeiro. - Diogo Carvalho, vereador Segundo. —

Manoel Botelho, vereador Terceiro. - João Monteiro,

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Domingos de Carvalho, Procuradores do Concelho. — João de Carvalho

Pereira, Manoel Dias, Misteres.»

E era a esse tempo a camara de Santarém mais caridosa do que muitos

frades, ou mais religiosa do que alguns religiosos, pois não foi sem dificuldade

que os carmelitas descalços fundaram o seu convento, por se opporem a isso

os franciscanos de Santarém.

Allegaram os taes franciscanos, que contrariavam a pretensão dos carmelitas

os breves dos papas Clemente, e Urbano VIII, nos quaes se determinava não

poder nenhuma familia mendicante fundar de novo no logar, em que elles

tivessem primeiramente fundado, porque como a sua Religião havia sido

firmada em estreitíssima pobreza, não podia acudir a ella a caridade dos fieis,

se se houvesse de dividir a outras Religiões, e que tinha a sua o mesmo

Instituto, qual era a dos Carmelitas Descalços novamente introduzida na villa.

Como os carmelitas venceram, os franciscanos nunca os ficaram olhando com

bons olhos.”50

50 Transcrição: Zephyrino N. G. Brandão, Monumentos e Lendas de Santarém, David Corazzi Editor, Lisboa, 1883. P. 516-517, in LUCAS, Margarida Herdade, 2012, anexo7, p. 9.

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“Anno 1891-1892 / Districto de Lisboa / Convento de Santa Thereza de Carnide

Inventário dos quadros n’elle encontrados depois da sua extinção e posse pela Fazenda Nacional / valor R.s 4:736$700”51

Calvário - Christo, Virgem, Magdalena, S. Joao; S. Hippólito; s. Joao

nepomeceno; S. Agostinho; virgem e o menino; irmã Leonce rodrigues;

senhora das dores; s. Miguel; senhor da cana verde; christo no horto; sao jose

tadeu; senhor da cana verde; d. Maria da encarnacao; mater doloroza; cabeca

de santo; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza moldura

pintada"; infanta d. Maria filha de d.joao IV; senhora do carmo; s.bento; s.jose e

o menino; um apostolo; um apostolo; um apostolo; um apostolo; anunciacao;

anjo e o menino; madre micaela d...de 1663; irmao francisco do menino jesus;

"Quadro a oleo (em tela) representando a morte de Santa Thereza"; senhor da

cana verde; frei luis santa thereza lente de teologia datado de 1757; "Quadro a

oleo (em tela) representando S.ta Thereza de Jesus freira e anjos moldura

pintada"; baptismo de santo agostinho (bispo e acolitos) muito estragado

moldura pintada; calvario; santa eufrosina?; sao jose e freira; sao francisco,

virgem e o menino; lava pés; familia sagrada; virgem e o menino; 5 caminho

para o golgota pertenciam a irmandade domsenhor dos passos; santa maria

magdalena; santo elias; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza,

muito deteriorado, moldura pintada"; s.jose e o menino; queda de christo no

caminho do calvario; sao joao baptista e cordeiro; senhor da cana verde; d. Frei

joao da cruz carmelita, datado de 1750, deteriorado, moldura pintada; nossa

senhora da p...; "Quadro a oleo (em tela) representando sao joao da cruz e

senhor dos passos, moldura pintada"; sao vito bispo; ecce homo; calix e hostia;

santo anastacio carmelita; coroacao da virgem; martirio de sao bartolomeu;

christo caminhando p o calvario, 2a estacao; uma freira; sao cassiano bispo;

christo caminhando p o calvario, 6a estacao; christo caminhando p o calvario,

3a estacao; senhora das dores e anjo e instrumentos do martirio; christo preso

à coluna; num altar virgem e anjos; bispo de penafiel; virgem e anjo com

51 ANTT, Ministério das Finanças (AHMF) - Convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide. Lisboa, cx. 1983: 1891-1892, capilha 2. [sublinhado nosso]

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fructos; virgem pintada em vidro; sao joao nepomeceno em vidro; santa maria

magdalna em vidro; senhora do rosario em vidro; fuga para o egipto; senhora

do carmo; senhora do carmo em vidro; mulher da veronica;

GRAVURA: adoracao dos pastores; duvidas se é uma nossa senhora

Monsarrate se um bispo; nossa senhora Monsarrate; santissimo sacramento e

anjos; sao jose; calvario - sao joao, santo elias, e senhora das dores; senhora

da conceicao; nossa senhora da soledade; ecce homo; ----uma aguarella;

aguarela imaculada conceicao; aguarela senhor dos passos;

OLEO EM TELA: "Quadro a oleo (em tela) representando s. Joao da cruz

pregando no refeitorio"; "Quadro a oleo (em tela) representando s. Joao da cruz

celebrando missa"; sao francisco xavier catequizando os indios; christo na

varanda de pilatos; assumpção da virgem; santa catarina; santa ines; "Quadro

a oleo (em tela) representando S.ta Thereza recebendo o colar, moldura

pintada"; "Quadro a oleo (em tela) representando a Virgem, Gloria, e S.Jose

salvando S. Joao da Cruz"; christo despedindo-se da virgem; christo a caminho

do calvario, 1a estacao; christo a caminho do calvario, 5a estacao; christo a

caminho do calvario, 4a estacao; apresentacao da virgem no templo; "Quadro a

oleo (em tela) representando a Santissima Trindade em Gloria, S.ta Thereza e

S. Joao da Cruz em adoração"; "Quadro a oleo (em tela) representando a

apparicao de Christo a S.ta Thereza, moldura dourada"; encontro de christo

com sua mae; "Quadro a oleo (em tela) S.ta Thereza"; sao Bernardo adorando

a virgem; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza, S. Simao

Stoque e Virgem, moldura de talha dourada"52;

IGREJA: "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza conduzida pelos anjos, detriorado, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando Christo coroando S.ta Thereza, detriorado, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando a morte de S.ta Thereza, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza, encima o retabulo da capela, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando a Santissima

52 Segundo documento do Ministério das Finanças, esta pintura foi transferida em 1892 para o Museu de Belas-Artes e Arqueologia. ANTT, Ministério das Finanças (AHMF) - Convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide. Lisboa, cx. 1983: [s.n.], capilha 3.

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Trindade em gloria e S.ta Thereza em adoracao, pertencente ao Camarin do altar-mor, bem conservado"; "Quadro a oleo (em tela) representando a apparicao de Christo a S.ta Thereza, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando Santa Thereza escrevendo, que encima o retabulo de talha dourada da capela lateral"; "Quadro a oleo (em tela) representando uma vizao S.ta Thereza, SantissimaTrindade e anjos, moldura dourada de talha"; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza em extazi, detriorado, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza menina e um cavaleiro, muito estragado, moldura de talha dourada"; "Quadro a oleo (em tela) representando S.ta Thereza e Christo apresentado-lhe o cravo do martyrio"; "Quadro a oleo (em tela) representando a aparicao de Christo a S.ta Thereza, sobre o arco da capela dos passos, moldura de talha dourada".”

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“Auto da avaliação e descripção do Convento das Religiozas de S. José desta Cidade d'Evora, e suas pertenças, situado na Rua d'Aviz, freguesia de São Mamede / Aos quatro dias do mez de Novembro do anno de mil

oito cento e cincoenta e sete nesta Cidade d'Evora e Edificio do Convento das Religiozas de São Joze, freguesia de São Mamede”53

fl.2v. “(…) o Edificio de que se trata é situado na Rua d'Aviz desta Cidade,

freguesia de São Mamede, para onde tem aporta da serventia compoe-se a

sua entrada de um lançe de escadaz de pedra de Cantaria parda com seu adro

ladrilhado tão bem da mesma pedra, segue-sea Caza da Portaria que é boa, ao

lado esq tem sua grade e Cazas onde habita a (...), ao lado esquerdo á uma

porta que dá para a Igreja e em frente acha-se a porta da entrada para o

Convento, esta portada serventia para o Claustro, que é piqueno, mas muito

regular, tem este uma Fonte de Marmore no meio e nas quatro extremidades

da Claustra quatto Capellas metidas na parede,em roda desta Clauatra á varias

Cazaz de acomodaçoes, como Celleiro Armazem para azeitecom doze potes,

fl.3 de Barro, e varias outras Cazas, tem tão bem uma piquena Cerca

quadrilonga, com algumas laranjeiras e arvores de fruto: subindo-se ao andar

superior por uma escada de Cantaria de tres lanças á neste quatro Dormitorios

compostos de Cellas, em que habitão as Religiozas, á tão bem duas bellas

Cazas, uma chamada do Prezepio e outra de recreio, á egualmente o Coro de

Cima, Informaria e varias outras Cazas, todas muito regulares, e de abobadas

assim como todo o Edificio, que o mais regular e edificada propriamente para

tal fim, á mais no pavimento terreo o Refeitorio, Cozinha, Coro de baixo que

acima deixei de mencionar, finalmente o Edificio apezae de ser piqueno é o

mais bello e regular possivel, o seu estado material é tal ue é conhecido nesta

Cidade pelo Convento Novo..." Manuel Joaquim Bugalho, aspirante da

Reparticao de Fazenda deste districto, encarregado da escripta dos Inventarios

das Cazas Religiozas”

53 ANTT, Ministério das Finanças (AHMF) - Convento de São José de Évora. Lisboa, cx. 1930: 4 de Novembro de 1857, capilha 2.

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“Auto de descripção e avaliação dos Paineis que actualmente existem no Convento de S. José desta Cidade d'Evora, freguesia de S. Mamede”54

“(…) principiando avaliar cada um dos paineis (…) pela maneira seguinte: / Na Igreja

A Ceia do Senhor ---80$000

São João Evangelista ---30$000

São Matheus São Marcos São Lucas e S.to Ambrosio Santo Agostinho São Jeronimo S. Grigorio Seis Paineis da vida de Nossa Senhora, trez de cada lado do Corpo da Igreja a 30$000 cada um55

Por cima da grade do Côro A Senhora do Carmo com a Ordem Carmelitana Santo Elias e outro dos lados do Côro de cima Na Sacristia

S.José salvando os naufragantes S. João da Cruz S. João dando esmolas aos pobres Na Grade

Santa Thereza

No Côro de baixo

O Menino na Fonte

Jesus Maria Jozé

S. Jozé

S. João

Annunciação

54 ANTT, Ministério das Finanças (AHMF) - Convento de São José de Évora. Lisboa, cx. 1930: 3 de Novembro de 1857, capilha 2.[sublinhado nosso] 55 Estes painéis são, na realidade, as seis pinturas dedicadas a Santa Teresa de Jesus que se encontram na nave da igreja.

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Calvario

A Senhora e o Menino

Baptista e o Menino

S. Miguel

No Claustro

O Senhor dos Passos

Na Capella de Populo

A Senhora com o Menino

Na Caza do Recreio

São Pedro

Doze paineis de varios Santos sem valor

A Senhora com o Menino

O Menino deitado

S. Francisco de Salles

O Senhor prezo á Colunna

No ante Côro

O Senhor morto

Santa Barbara

Santo Antonio

São Domingos

No Côro de cima

Calvario

Seis paineis de varios Santos sem valor

No Refeitorio

A Ceia do Senhor

Na Caza do Noviciado

Trez paineis de varios Santos

Na Grade de dentro

Jesus Maria José”

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Ofício 669 / 11 de 29 de Outubro de 1946, do director do Museu Nacional de Arte Antiga, o Dr. João Couto56

“669 / 11

Exm.º Senhor Director Geral da Fazenda Pública

Em referência ao ofício de V. Exª. nº. 286-0, de 10 de Outubro de 1946, tenho a

honra de remeter a V. Exª. a lista dos objectos que por êste museu, e em

virtude da autorização superior, foram cedidos a título precário à Capela das

Cadeias Civis Centrais de Lisboa:

2.000 Azulejos;

1 Altar em talha dourada;

1 Teia de madeira;

1 Reposteiro de veludo vermelho;

4 Peanhas misuladas de madeira;

4 Painéis de azulejos;

1 Lâmpada de latão;

1 Sacrário de talha dourada.

A bem da Nação.

Lisboa, 29 de Outubro de 1946.

O Director do museu Nacional de Arte Antiga:

João Couto”

56 MNAA, Arquivo Inventário - “Museu Nacional de Arte Antiga / Cópias da Correspondência Remetida / Janeiro a Dezembro 1946". Lisboa: [s.n.].

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Ofício 3-M-9 / JC. / MF. / 472 de 31 de Outubro de 1957 do director do Museu Nacional de Arte Antiga, o Dr. João Couto57

“3-M-9 472

JC.

MF.

Exmº. Senhor

Director-Geral do Ensino

Superior e das Belas-Artes

Nas obras que estão a efectuar-se no Limoeiro, para efeito de melhoramento

nas canalizações e esgotos do velho e histórico edifício que foi Paço Real e

Paço da Moeda, foi achado, pelo Senhor Gustavo de Matos Sequeira, um

azulejo pavimentar, de Fabrico valenciano, dos finais do século XV, oferecido

ao Engº. João dos Santos Simões e que este, por sua vez, pretende oferecer a

este Museu.

Junto remeto, por cópia a notícia que o ofertante elaborou, sobre a espécie, e

para cuja aceitação solicito a necessária autorização de V. Exª.

Apresento a V. Exª. os meus cumprimentos.

A BEM DA NAÇÃO

Lisboa, 31 de Outubro de 1957.

O DIRECTOR

João Couto”

57 MNAA, Arquivo Inventário - “Museu Nacional de Arte Antiga / Cópias da Correspondência Remetida / Julho a Dezembro 1957". Lisboa: [s.n.].

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Ofício 330 / 4-M-4 JC. AG. de 29 de Julho de 1958, do director do Museu Nacional de Arte Antiga, o Dr. João Couto58

“330

4-M-4 JC. AG.

Exm.º Senhor

Director-Geral do Ensino

Superior e das Belas-Artes

Em referência ao ofício n.º 448, 5-H, de 24 do corrente, tenho a honra de

mandar a V. Ex.ª fotografias das quatro telas que podem, a título de cedência

precária, ser depositados na Igreja do Convento dos Capuchos (Almada).

As pinturas, sendo decorativas, não têm interesse para figurar neste Museu;

têm os n.os de inv.º 1185, 1186, 1189 e 1190.

Apresento a V. Exª. os meus cumprimentos

A BEM DA NAÇÃO

Lisboa, 29 de Julho de 1958.

O DIRECTOR

João Couto

Depósito do Museu – Conv.º Capuchos (Almada).”

58 MNAA, Arquivo Inventário - “Museu Nacional de Arte Antiga / Cópias da Correspondência Remetida / Julho a Dezembro 1958". Lisboa: [s.n.]. As pinturas que o Dr. João Couto refere retratam quatro episódios da vida de Santa Teresa de Jesus e pertenciam ao espólio do antigo Convento de Santo Alberto de Carmelitas Descalças em Lisboa (Santa Teresa devolve a vida ao sobrinho, Santa Teresa penitencia-se das tentações do demónio, “Filia iam tota mea es, et ego totus tuus” ("Já és minha e Eu sou teu") e Imposição do colar e do manto).

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“Adaptação dos Edifícios do antigo Convento da Madre de Deus a Museu de Azulejaria”, texto de João Miguel dos Santos Simões, 196059

“A ideia de aproveitar os edifícios conventuais do antigo Mosteiro da Madre de

Deus, para nelas depositar e instalar azulejos não é nova. Já em 1896 Liberato

Telles, ao tempo encarregado das obras no monumento, deixou escrito no seu

livro “Duas Palavras sobre Pavimentos”, a pag. 243 que “O Governo n’estes

últimos tempos tem mandado proceder a varias reparações, demolições e

ampliações nos seus edifícios, por intermédio da respectiva Direcção de

Edifícios Públicos. Da execução desses trabalhos resultou obter-se uma

determinada quantidade d’Azulejos d’algum valor artístico e archeológico e que

s.exª. o engenheiro director dos Edificios Públicos, Snr. Pedro Romano Folque,

no muito louvavel intento de conservar aquelles restos da arte antiga mandou

depositar nas obras do extincto convento da Madre de Deus, cuja direcção me

foi confiada, afim de ali serem aplicados, o que se fez, pelo que se torna

interessante uma visita áquelle edificio.”

É o mesmo Liberato Telles que, trez anos mais tarde, publica um estudo

monografico com o título Mosteiro e Egreja da Madre de Deus, no “Boletim da

Associação dos Conductores de Obras Públicas” (N.º2, vol.III), estudo ilustrado

fora do texto com a reprodução de magnificos desenhos de Bemvindo Ceia. Na

nota que antecede a colocação destas ilustrações, Liberato Telles escreve:

“Todos os azulejos aqui desenhados, posto que de diversas proveniências, se

encontram actualmente aplicados na egreja da Madre de Deus e seus

annexos. A razão deste facto justifica-se pela necessidade de fazer conservar

exemplares mais ou menos precisos da industria ceramica, tendo-se escolhido

aquelle monumento como sendo o mais proprio para se conservarem as ditas

placas, que serão, embora n’um futuro remoto, mais um precioso documento

para a história da industria ceramica nos seculos que passaram.”

Foi na fidelidade a este programa que desde 1888, pelo menos, foram

enviados para a Madre de Deus azulejos retirados de vários conventos, igrejas

e mesmo palácios, nomeadamente do antigo Convento de Sant’Ana, do

59 MNAA, Arquivo da Secretaria - Processo 58-M-I - 1954-1971. Lisboa: [s.n.].

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Recolhimento chamado “das grilas”, onde foi a Padaria Militar e hoje é a fábrica

da Manutenção Militar, do Convento de Odivelas, do de Santa Joana, etc.

Mesmo depois do desaparecimento de Liberato Telles e ainda consoante o

principio estabelecido pelo Engenheiro Folque, forma para o velho mosteiro

fundado por D. Leonor, mais e variados azulejos, muitos dos quais não

chegaram a sair dos caixotes e barricas que os transportavam…”

José Queirós dedicava especial atenção à colecção de azulejos da Madre de

Deus, monumento que frequentava com assiduidade, e para lá encaminhou

tambem alguns azulejos, ou, pelo menos, deu indicações para a sua

colocação, já antes com intuitos de exposição didática. Afligia-o no entanto o

facto dos azulejos estarem sujeitos a possiveis estragos ocasionados pelos

educandos do Asilo Maria Pia – o que realmente aconteceu – e é curioso

transcrever um apontamento que deixou num dos seus pequenos livros de

notas, referente a 1918, mais precisamente ao dia 23 de Setembro: “Não

esquecer que às 9 ¾ da manhã já estava no Asilo Maria Pia a pregar aos

meninos que os azulejos como toda a obra de arte não se estragam: são

dignos de respeito.” Estas e outras admoestações que certamente eram

ministradas pelos mestres não evitaram vários atropelos e desrespeitos, mais

ou menos inconscientes.

Mais próximo de nós e com o quasi abandono de uma parte dos antigos

edifícios conventuais, muitos foram os azulejos que caíram e desapareceram…

Seria evidentemente exagerado considerar os edifícios da Madre-de-Deus

como os mais próprios para se conservarem os azulejos – como escreveu

Liberato Telles – mas não há dúvida que aquele monumento reúne condições

excepcionais para tal aplicação, não se vislumbrando outro, dentro da area de

Lisboa, que, de momento, melhor possa servir à instalação de um Museu de

Azulejaria. Na verdade, entre outros predicados, a Madre-de-Deus apresenta

os seguintes:

1º - É Próprio Nacional, e, desde 1932, se encontra anexado ao Museu

Nacional de Arte Antiga.

2º - Está desocupado na sua maior parte, portanto em condições ótimas de

receber imediatamente e sem mais despezas o primeiro “fundo” museológico.

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3º - Apoz as obras mandadas executar pela Direcção Geral dos Edifícios e

Monumentos Nacionais, com o generoso auxilio da Fundação Calouste

Gulbenkian – para a realização da Exposição Quadricentenária da Raínha

Dona Leonor – ficou em ótimas condições de segurança e conservação,

faltando apenas, pata complemento da utilisação, o arranjo de duas salas.

4º - Possue já um importantissimo núcleo de azulejos, quer os próprios da

Igreja, como os provenientes de outros locais, todos referenciados e

conhecidos.

5º - Os azulejos da Nave da Igreja, de fabricação Holandesa, são, no seu

género os mais notáveis do Mundo e justificam, só por si, o interesse que o

futuro Museu possa ter no plano internacional.

6º - Dispõem de uma area parietal bastante para colocação de algumas

centenas de espécies, permitindo a sua disposição e apresentação consoante

com as regras museológicas e didáticas.

7º - É susceptivel de expansão logo e à medida que o A Casa Pia seja dotada

de instalações próprias e mais condignas com a sua finalidade de instituto

assistencial e educativo.

Como anexo que é do Museu Nacional de Arte Antiga, a Madre-de-Deus,

passará a reunir e a expor os exemplares de azulejaria que fazem parte do

“fundo” daquele Museu, e simultaneamente as demais obras de arte que já ali

se encontram e ainda, possivelmente, outras que foram pertença do Real

Mosteiro e que possam, sem prejuizo do Museu de Arte Antiga, regressar aos

seus locais no edifício conventual.

Dada a natureza material do azulejo – cerâmica vidrada – não ha que recear de

forma particular a influencia nefasta das condições climatéricas locais –

excesso de humidade – como seria o caso se se tratasse de pintura, de tecidos

ou de mobiliário. Os ùnicos cuidados e condicionalismos respeitam à

integridade material do objecto de exposição, por fórma a evitar danos ou

roubos.

Os edifícios da Madre-de-Deus estão pois nas melhores condições para

albergar o primeiro MUSEU DE AZULEJARIA de Portugal, instituto que se

impõe numa hora em que se promove por todos os meios e em todos os

sectores a valorisação do património artístico da Nação, no qual o Azulejo é,

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incontestavelmente o mais representativo como expressão original da

decoração portuguesa.”

Quer o MUSEU DE AZULEJARIA se mantenha como anexo do Museu

Nacional de Arte Antiga quer venha um dia a constituir um museu autónomo,

carece para a sua instalação e manutenção de verbas bastantes para fazer

face às despezas de funcionamento e utilisação. Porque é o problema da

instalação aquele que urge resolver imediatamente, e porque só depois de

terminada a instalação é possivel prever quais os encargos de utilisação,

apenas se considera por agora esta primeira parte da actividade e para a qual

é indispensavel alcançar uma verba.

Despezas previstas para a instalação do Museu

Avultam, como não pode deixar de ser, os encargos com os transportes do

material, incluindo os fretes e pessoal necessário, encargos que sendo proprios

do Museu Nacional de Arte Antiga, poderãm ser suportados pelas respectivas

verbas, o que aliaz ficou assente com a aprovação do Exmo.Snr.Director, e se

tem executado.

Ficam portanto como encargos específicos do novo Museu, aqueles que

respeitarão à arrumação, triagem, inventariação, armazenagem, construção de

suportes, reparações ou restauros, montagem para exposição, etc.

Preve-se que tais trabalhos possam ser executados por pessoal servente,

assalariado consoante as necessidades, num total de 240 dias – homem, e do

trabalho de tipo permanente de um artífice-carpinteiro a contratar para o efeito.

A direcção dos trabalhos de instalação e assistência aos mesmos será

graciosa ou renumerada como “bolsa” de trabalho, o que se deixa para

oportuna resolução.

Mais importante por imprescindível é a montagem e equipamento de uma

pequena oficina de carpintaria privativa do Museu e onde se processarão os

trabalhos de montagem em “grades”, as reparações e restauros, etc.

Assim são de prever para se poder levar a cabo o trabalho de instalação as

verbas seguintes: Pessoal assalariado

240 dias – homem a 40$00……………………………………..9.600$00

Artifice Carpinteiro a 45$00…………………………………..15.600$00

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25.200$00 25.200$00

Carpintaria; equipamento………………………………………..4.000$00

- ; materias primas…………………………………….2.800$00

6.800$00 6.800$00

32.000$00

Os trabalhos teriam inicio logo que esta verba fosse disponivel, se não todos,

pelo menos na parte respeitante à instalação da oficina de carpintaria e para

fazer face aos primeiros salários, previstos mensalmente, ou seja:

Para instalação da

carpintaria………………………………………………………………… 6.800$00

Encargos mensais para o Artifice carpinteiro 1.250$00 / para serventes. (50 x

40$00) 2.000$00 / para salarios……………………………………3.250$00 /

JMSantos Simões”

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Ofício 264 58-M-1 de 13 de Julho de 1961, do director do Museu Nacional de Arte Antiga, o Dr. João Couto60

“264 58-M-1 / J.C. / M.L.

Exmº Senhor

Presidente do Conselho de Administração

da Fundação Calouste Gulbenkian

Após o encerramento da exposição comemorativa da rainha D. Leonor, levada

a efeito pela Fundação a que V. Exª. tão dignamente preside, voltou este

Museu a utilizar as dependências do Antigo Mosteiro da Madre de Deus, agora

beneficiado com algumas importantes obras, largamente comparticipadas por

essa Instituição. (…)

Possui o Museu Nacional de Arte Antiga nos seus depósitos considerável

quantidade de azulejos de variadas proveniências, alguns adquiridos por

direcções transactas com o fim de serem convenientemente expostos. Este

“fundo” da colecção do Museu foi objecto de uma Exposição Temporária (1947)

e desde logo se reconheceu o extraordinário interesse que teria a criação de

uma secção de azulejaria com exposição de carácter permanente. O

condicionalismo próprio destas espécies exige porém superfícies amplas as

quais se verificou ser impossível encontrar no edifício das Janelas Verdes. O

Convento da Madre de Deus, dependência deste Museu, não estava nesse

momento em condições de utilização e, só após a exposição “D. Leonor”, se

pôde encarar a possibilidade do seu aproveitamento, surgindo imediatamente a

idéia de nele se criar o “MUSEU DO AZULEJO”, tão necessário na capital de

um país onde esta modalidade de arte decorativa tem superlativa importância.

A ideia de aproveitar a Madre de Deus para Museu do Azulejo não é nova,

antes chegou a ter início de efectivação nos fins do século passado como se

pode verificar pela existência de preciosos azulejos estranhos ao primitivo

edifício e colocados com intenção museológica. Comunicado superiormente o

60 MNAA, Arquivo da Secretaria - Processo 58-M-I - 1954-1971. Lisboa: [s.n.].

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ponto de vista da Direcção do Museu, mereceu o projecto a aprovação do

Ministério competente e, desde logo – Janeiro 1960 – se iniciou a transferência

para a Madre de Deus de todas as espécies azulejares depositadas nas

Janelas Verdes. Contou o Museu Nacional de Arte Antiga com a

desinteressada colaboração do Sr. Engº. Santos Simões, que igualmente já

organizara a Exposição Temporária de 1947 e, foi este Senhor incumbido de

estudar e dirigir a instalação das espécies na Madre de Deus, trabalho que tem

prosseguido paulatinamente e apenas com as muito exíguas disponibilidades

deste Museu. (…)

13 de Julho de 1961, o Director – João Couto”

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Carta de João Miguel dos Santos Simões de 25 de Junho de 1963 e notas de recebimento de azulejos de Junho de 196361

“Madre-de-Deus, Lisboa, 25 de Junho de 1963

Exmo. Snr.

Director do

Museu Nacional de Arte Antiga

LISBOA

Exmo. Snr.

Para os devidos efeitos junto trez notas de recebimento de azulejos, duplicados

das que enviei ao Exmo. Snr. Director do Arquivo Histórico do Ministério das

Finanças e às remessas de caixotes contendo azulejos que fui pessoalmente

escolher ao deposito da D.G. da Fazenda Publica no antigo Convento das

Trinas, de acordo com o despacho do Exmo. Ministro das Finanças em que

autorisou a respectiva transferência.

Ficou assim cumprida a deligência e encontram-se actualmente na Madre-de-

Deus cerca de 25.000 azulejos de variadíssimas proveniências, tipos e

interesses os quais vão ser escolhidos para poderem ser expostos no “Museu

do Azulejo”. Os azulejos sobrantes ficarão arrecadados e devidamente

referenciados para eventual aplicação.

No caso de V. Excia entender ser feita comunicação ao Ministério das

Finanças, lembro a vantagem de fazer referencia à amabilidade e espirito de

colaboração do Director do Arquivo Histórico o qual muito facilitou a tarefa.

Aproveito para apresentar os meus melhores cumprimentos e fico

muito atenciosamente

J.M. dos Santos Simões”

Nota de Recebimento: “NOTA DOS AZULEJOS recebidos da Direcção Geral

da Fazenda Pública, do seu depósito do antigo Convento das Trinas, dacordo

com o despacho de S.Excia. o Ministro das Finanaças, com destino ao Museu

do Azulejo, dependência do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa no antigo

Mosteiro da Madre-de-Deus de Lisboa ---- 24 de Junho de 1963 61 MNAA, Arquivo da Secretaria - Processo 58-M-I - 1954-1971. Lisboa: [s.n.].

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243 (duzentos e quarenta e três) caixotes contendo vários azulejos dos seculos

XVII e XVIII, de tipos e proveniencias diversas, impossível de especificar antes

de devidamente triados, num total aproximado de (243 x 50 az.

Média)…………………………………………………………………………12.150

Total dos azulejos recebido até 19 de Junho de 1963…………………..12.788

Total recebido até esta data…………………………………………………24.938

(vinte e quatro mil novecentos e trinta e oito azulejos)

Com esta remessa ficou terminada a retirada de azulejos do depósito das

Trinas, não tendo sido considerados de interesse museológico os azulejos que

ali foram deixados, se bem que alguns tenham possibilidade de aproveitamento

prático no revestimento de paredes de corredores e outros compartimentos.

Lisboa (Madre de Deus), 24 de Junho de 1963

J.M. dos Santos Simões”

Nota de Recebimento: “NOTA DOS AZULEJOS recebidos da Direcção Geral

da Fazenda Pública, do seu depósito do antigo Convento das Trinas, dacordo

com o despacho de S.Excia. o Ministro das Finanaças, com destino ao Museu

do Azulejo, dependência do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa no antigo

Mosteiro da Madre-de-Deus de Lisboa. / 19 de Junho de 1963 / 43 (quarenta e

três) caixotes contendo três paineis de várias dimensões que faziam parte do

conjunto da escadaria do antigo Convento de S. Bento da Saúde de Lisboa,

completando a decoração da qual fazia parte o painel já recebido em 6/7 de

Dezembro de 1962, com um total

de….…………………………………………………………………………….…2.691

135 (cento e trinta e cinco) caixotes contendo azulejos de pintura azul,

fabricação recente, provenientes do edifício da Academia Das Ciencias de

Lisboa (antigo Convento de Jezus), estando alguns fraccionados, num total

aprox. de…………………………………………………………………...……..7.500

57 (cinquenta e sete) caixotes contendo azulejos a granel, de vários tipos e

épocas, de proveniências diversas e ignoradas, alguns quebrados, num total de

aprox.:……………………………………………………………….…………….1.500

Total dos azulejos recebidos nesta

data…………………………………………………………………………….…11.691

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Total recebido em 6/7 de Dezº de

1962………………………………………………………………………………..1.097

Total recebido até ao

presente………………………………………………………………...…………12.78

8

Lisboa (Madre de Deus),

20 / de Junho de 1963 /

J.M. dos Santos Simões”

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Carta de João Miguel dos Santos Simões a Maria José de Mendonça, Directora do Museu Nacional de Arte Antiga, de 1 de Fevereiro de 197062

"Lisboa, 1 de Fevereiro de 1970

Exma. Snra.

Directora do Museu Nacional de Arte Antiga

LISBOA

Exma. Snra.

Reconhecendo-se a imperiosa e urgente necessidade de se rever o problema

da inauguração do Museu do Azulejo, na dependência do Museu Nacional de

Arte Antiga no antigo Convento da Madre-de-Deus, tomo a liberdade de sugerir

a V. Excia. a convocação para uma reunião conjunta de representantes

qualificados das varias entidades intervenientes naquele monumento. (...)

Desde que foram nomeados os dois guardas para a Madre-de-Deus e

principalmente desde que estes dão a sua assistência permanente nos locais,

considerámos "aberto" o Museu e foram dadas ordens para que as salas já

completas fossem visitadas pelo publico.

Acontece porem que o actual "modus vivendi" nos edifícios, sem a necessária

regulamentação e estando sugeito a constantes intromissões alheias,

aconselhou como prudente não se fazer publicidade da abertura do Museu.

Tambem, por absoluta falta de espaço, há por vezes necessidade de ocupar a

sala da Azulejaria do Século XVII com azulejos em processo de montagem –

como por exemplo neste momento -. Nestes casos a dita sala fica interdita a

visitantes.

Insiste a D.G dos E.M.N. para que o signatário vá ao deposito de Materiais da Ajuda para dar o seu parecer quanto ao destino a dar a muitos silhares de azulejos que para ali foram de vários locais, muitos dos quais há toda a vantagem em transferir para o Museu do Azulejo, dado o seu interesse historico-artistico. Esta deligencia - que se afigura urgente - só poderá ser

feita quando na Madre-de-Deus haja condições de espaço e segurança, o que

se conseguiria com a ocupação do Páteo anterior;

62 MNAA, Arquivo da Secretaria - “Museu do Azulejo – 1960-1969". Lisboa: [s.n.]. [sublinhado nosso]

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Estudar a ocupação de parte do páteo a norte do Claustro, com a necessária

compartimentação, por forma a ali ser construido um "Armazem" para Deposito

Nacional de Azulejos (…)

No passado dia 30 de Janeiro esteve na Madre-de-Deus o Snr. Arquitecto

Nuno Beirão da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais ao qual

foram postos alguns destes problemas.

Este Senhor viu o local onde se deliberou instalar o grande painel de azulejos

vindo da antiga Biblioteca Nacional, ou seja na chamada "Sala do Presépio"

junto ao ante-coro. (...)

O Conservador-Ajudante

J.M. dos Santos Simões".

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Carta de Rafael Salinas Calado ao Presidente do Conselho Administrativo da Fundação Calouste Gulbenkian, 25 de Novembro de 197563

"Exmo. Senhor

Doutor José de Azeredo Perdigão

Digmo. Presidente do Concelho Administrativo

Fundação Calouste Gulbenkian

Avenida de Berna

LISBOA - 1

720/58-M-1

Estamos organizando o inventário das espécies do Museu do Azulejo, incluindo as reservas e, cerca de 60 000 exemplares de várias proveniências, entrados no corrente ano.

Seguimos o critério de classificação e ordenação adoptado pelo Senhor Eng.o Santos Simões, pelo que se torna indispensável a constante consulta dos volumes do "Corpus" editados pela Fundação.

Não é conveniente deslocar para a Madre de Deus os exemplares da biblioteca do Museu Nacional de Arte Antiga. Está em formação um pequeno núcleo de bibliografia de especialidade (para trabalho e consulta) no Museu do Azulejo.

Venho solicitar a V.Exa., sendo possível, que se digne dispensar 5 volumes da citada obra ao Museu do Azulejo, que tanto deve à Fundação Gulbenkian.

Agradecendo o interesse que possa merecer este pedido, apresento os meus respeitosos cumprimentos a V.Exa.

A bem da República

Museu Nacional de Arte Antiga, 25 de Novembro de 1975.

Rafael Salinas Calado

Conservador"

63 MNAA, Arquivo da Secretaria - “Museu do Azulejo – 1960-1969". Lisboa: [s.n.].

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Conventos da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo do

reino de Portugal – Carmelitas Descalços (séculos XVI - XVIII), ordem crescente

de acordo com a data de fundação:

Data da fundação Convento Feminino /

Masculino Localização

1581/1611 Nossa Senhora

dos Remédios Masculino Lisboa

1585 Santo Alberto Feminino Lisboa

1594 Nossa Senhora da

Piedade Masculino Cascais

1594 Nossa Senhora

dos Remédios Masculino Évora

1595 Divino Espírito

Santo Masculino Alter do Chão

1600 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Figueiró dos Vinhos

1603 São José dos

Marianos (colégio) Masculino Coimbra

1613 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Aveiro

1617 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Porto

1618 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Viana do Castelo

1628 Santa Cruz Masculino Buçaco (Luso)

1642 Santa Teresa de

Jesus Feminino Carnide, Lisboa

1646

Santa Teresa de

Jesus (vulgo do

Carmo)

Masculino Santarém

1648 Nossa Senhora da

Encarnação Masculino Olhalvo

1653 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Braga

1658 São João Feminino Aveiro

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Evangelista

1660 Santa Teresa de

Jesus Masculino Setúbal

1661 Corpus Christi Masculino Lisboa

1681

Nossa Senhora da

Conceição dos

Cardaes

Feminino Lisboa

1681 São João da Cruz Masculino Carnide, Lisboa

1681

São José da

Esperança

(Convento Novo)

Feminino Évora

1702 São José e Maria Feminino Porto

1737 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Tavira

1739 Santa Teresa de

Jesus Feminino Coimbra

1755 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Vila do Conde

1766 Nossa Senhora do

Carmo Masculino Faro

1767 Santa Teresa de

Jesus Feminino Braga

1780

Desterro de

Jesus, Maria e

José

Feminino Viana do Castelo

1781

Santíssimo

Coração de Jesus

à Estrela

Feminino Lisboa

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Mapa: Conventos da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo do reino de Portugal – Carmelitas Descalços (séculos XVI – XVIII)

Conventos masculinos Conventos femininos

Buçaco

Figueiró dos Vinhos

Olhalvo

Cascais

Alter do Chão

Tavira

VIANA DO CASTELO

BRAGA

VILA REAL

BRAGANÇA

AVEIRO VISEU

GUARDA

COIMBRA

CASTELO BRANCO LEIRIA

SANTARÉM PORTALEGRE

ÉVORA

BEJA

FARO

LISBOA

SETÚBAL

PORTO

Vila do Conde

Buçaco

Figueiró dos Vinhos

Olhalvo Alter do Chão

Tavira

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Mapa: Conventos da Congregação da Beatíssima Virgem Maria do Monte Carmelo do reino de Portugal – Carmelitas Descalços (séculos XVII – XVIII): Ciclos de Azulejaria e Pintura in situ

-Santa Teresa de Jesus: ciclo de azulejaria in situ ciclo(s) de azulejaria descontextualizado(s) ciclo de pintura in situ ciclo(s) de pintura

descontextualizado(s)

Santa Teresa de Jesus em programas “distintos” in situ

(azulejo) Santa Teresa de Jesus em

programa “distintos” in situ (pintura)

-Ciclo(s) relacionado(s) (azulejo in situ):

Ciclo São José Eremitas (paisagens)

Vila do Conde

Buçaco

Figueiró dos Vinhos

Olhalvo

VIANA DO CASTELO

BRAGA

VILA REAL

BRAGANÇA

AVEIRO VISEU

GUARDA

COIMBRA

CASTELO BRANCO LEIRIA

SANTARÉM PORTALEGRE

PORTO

Montemor-o-Novo Redondo Cascais

Alter do Chão

Tavira

ÉVORA

BEJA

FARO

LISBOA

SETÚBAL

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Corpus Património descontextualizado e em contexto museológico Espaços Conventuais Localidade Azulejaria Pintura Azulejaria Pintura Lisboa

Museu Nacional do Azulejo

Santa Teresa e o irmão caminham para a terra dos mouros (2º quartel do séc. XVIII);

São João da Cruz diante de Nossa Senhora com o Menino e anjos e São João da Cruz e a visão da Cruz (designação nossa) (2º e/ou 3ºquartel do séc. XVIII) – 1 painel com 2 cenas; São João da Cruz escritor inspirado pela pomba do Espírito Santo e Colóquio místico (2º e/ou 3ºquartel do séc. XVIII) – 1 painel com 2 cenas;

Exaltação da Virgem (2º quartel

Antigo Convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide

Antigo locutório: revestimento cerâmico a azul e branco com cenas alusivas a Santa Teresa de Jesus, com um dedicado à Restauração da Independência em 1640 no qual se colocou Santa Teresa com participação activa, 2ºquartel do séc. XVIII;

Igreja: revestimento cerâmico a azul e branco que percorre o subcoro, nave e transepto com cenas alusivas a Santa Teresa de Jesus, acrescido de dois painéis a representação do Profeta Elias, 2º e/ou 3º quartel do séc. XVIII;

Nave da igreja, séc. XVII-XVIII: Santa Teresa e o irmão caminham para a terra dos mouros;

Transverberação de Santa Teresa;

Casamento místico de Santa Teresa;

Capela-mor, séc. XVII-XVIII: “Filia iam tota mea es, et ego totus tuus” ("Já és minha e Eu sou teu");

Santa Teresa orando diante do Ecce Homo;

Sala de trabalho, séc. XVII-XVIII: Perdida no caminho para Medina del Campo, Santa Teresa é iluminada por anjos; Santa Teresa

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do séc. XVIII) - painel onde Santa Teresa de Jesus está representada em conjunto com outras santas

Frontal de altar, proveniente de Convento Carmelita Descalço da região de Coimbra (c. 1670-1675)

Transepto: 2 altares com frontais em azulejo policromo, séc. XVII;

Latero-coro ou coro baixo (actual sala do túmulo de D. Maria): Revestimento cerâmico a azul e branco com Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Nossa Senhora do Carmo, Profeta Eliseu, São Simão Stock e Santa Maria Madalena, 2º e/ou 3ºquartel do séc. XVIII; Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz perante o Santíssimo Sacramento (designação nossa), 2º e/ou 3ºquartel do séc. XVIII, painel localizado perto da portaria;

Claustro: 2 altares

perante a Santíssima Trindade (séc. XVIII, hoje na igreja Matriz de Santo André, Fermentelos)

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com frontais em azulejo policromo, séc. XVII

Lisboa Museu Nacional de Arte Antiga

Do antigo Convento de Santo Alberto de Carmelitas Descalças:

Ciclo de 6 pinturas (4 no Convento dos Capuchos em Almada e 2 nas reservas), séc. XVII, atribuídas a Domingos da Cunha, o Cabrinha;

2 no Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, séc. XVII-XVIII;

3 nas reservas, séc. XVII-XVIII;

2 de proveniência desconhecida, nas reservas, séc. XVII-XVIII

Antigo Convento de Santo Alberto de Carmelitas Descalças, Capela, melhor conhecida como Capela das Albertas (integra o Museu Nacional de Arte Antiga)

Revestimento cerâmico da nave, a azul e branco, 1.ª metade do século XVIII. Lado do Evangelho: “sem prizoens a alma para Deos voa” (coração alado em chamas preso a uma esfera por uma corrente). Painel “Filia iam tota mea es, et ego totus tuus” (“Já és minha e Eu sou teu”).

Lado da Epístola: “Amor pescando Amores” (coração que pesca outro coração). Painel Transverberação de Santa Teresa

5 pinturas in situ: Imposição do colar e do manto (séc. XVII-XVIII). Retábulo na Capela de Santa Teresa; Repouso na Fuga para o Egipto (séc. XVII-XVIII);

Transverberação de Santa Teresa (séc. XVII-XVIII);

Santa Teresa de Jesus (séc. XVII-XVIII); Profeta Elias (séc. XVII-XVIII)

Lisboa Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Cardaes

Igreja: revestimento cerâmico da nave, a azul e branco com emolduramento

Portaria do convento: Nossa Senhora do Carmo, José de Costa

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policromo, de Jan van (ou Johannes) Oort, c. 1688, composto por dez painéis com cenas da vida de Santa Teresa de Jesus e três com eremitas;

Sacristia: Revestimento cerâmico a azul e branco, que preenche o espaço livre das paredes com dois níveis de leitura separados à altura do tampo do arcaz, c. 1720-1730. O nível 1 apresenta padrão a azul e branco, e o nível 2 apresenta, entre albarradas, cinco painéis figurativos, um com Santa Teresa de Jesus e outro com São João da Cruz;

Coro alto: revestimento cerâmico a azul e

Negreiros, século XVIII;

Sala mariana: Nossa Senhora da Conceição protegendo os Santos da Ordem Carmelita, André Gonçalves (segundo desenho de Francisco Vieira Lusitano), c. 1730; Refeitório: Santa Teresa diante de Nossa Senhora com o Menino e anjos (designação nossa), séc. XVII-XVIII; Nossa Senhora da Conceição, Santa Teresa de Jesus e São Pedro de Alcântara, séc. XVII-XVIII;

Oratório da Capela de São José, junto ao coro alto: São José com o Menino, tradicionalmente atribuído a Francisco

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branco, sobre a vida de Santa Teresa de Jesus em dez painéis, mais um com Nossa Senhora e São Simão Stock e outro representando uma paisagem;

Claustro: frontal de azulejos a azul e branco, séc. XVIII

Vieira Lusitano, c. 1750;

Corredor antes do coro alto: Visão de São João da Cruz, séc. XVIII

Lisboa Convento do Santíssimo Coração de Jesus à Estrela, Basílica da Estrela

Revestimento cerâmico a azul e branco com emolduramento policromo, da Sala de Santa Teresa (antigo locutório), último quartel do século XVIII, com dez painéis dedicados à vida de Santa Teresa de Jesus, mais dois com a representação da santa carmelita ou de uma freira da ordem; Corredor de passagem entre a portaria, o claustro e

Capela de Nossa Senhora do Carmo (antecoro): 6 pinturas retratando episódios da vida de Santa Teresa de Jesus destacando-se o seu lado místico e de fundadora da Ordem dos Carmelitas Descalços, do 2.º quartel do séc. XVIII. Incluem-se neste conjunto duas pinturas, um sobre são Filipe Néri, outra com Santo António, atribuídas a Pedro Alexandrino de

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Capela do Senhor dos Passos com 4 painéis nos vãos da porta do corredor (dois de cada lado), último quartel do século XVIII: Santa Teresa de Jesus (?) ou representação de uma freira da Ordem;

Capela do Senhor dos Passos (coro baixo): Nossa Senhora do Monte do Carmo, último quartel do século XVIII;

Carvalho;

Transverberação de Santa Teresa, tecto, 2.º quartel do séc. XVIII, atribuída a Cirilo Volkmar Machado;

Capela do Senhor dos Passos (coro baixo): Nossa Senhora do Carmo, com o seu manto, protege a Ordem Carmelita Descalça, 2.º quartel do séc. XVIII;

Sala do claustro norte (?), perto da antiga sala do presépio: Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock e a Santa Teresa de Jesus (designação nossa), 2.º quartel do séc. XVIII;

Sala de Santa Teresa

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(antigo locutório): Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock e a Santa Teresa de Jesus (designação nossa), 2.º quartel do séc. XVIII(?);

Imaculada Conceição com São José, São Jacinto e Santo António, Pedro Alexandrino de Carvalho (assinado), c. 1779-1781;

Nave da Igreja, 2.ª capela retabular do lado do Evangelho: Santa Teresa a receber as ofertas da rainha de Portugal na presença das freiras carmelitas, Girolamo Pompeo Batoni, 1784;

Palacete ou Casa da Rainha: Rainha D. Maria I doando os

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planos da Basílica a Santa Teresa de Jesus, Cirilo Volkmar Machado, tecto, 2.º quartel do século XVIII

Lisboa Museu de São Roque

Imposição da Regra por Santa Teresa de Ávila, Pedro Alexandrino de Carvalho, 2.ª metade do século XVIII

Convento de São Pedro de Alcântara

Revestimento cerâmico da nave da igreja, a azul e branco, 3.º quartel do séc. XVIII, sobre a vida de São Pedro de Alcântara, no qual se inclui o painel São Pedro de Alcântara dá a comunhão a Santa Teresa, ajudado por São Francisco e Santo António

Capela-mor: Visão de Nossa Senhora por São Pedro de Alcântara e Santa Teresa de Jesus (ou Aparição de São Pedro de Alcântara a Santa Teresa), André Gonçalves, c. 1740

Lisboa Hospital de Santa Marta (antigo Convento de Santa Marta)

Revestimento cerâmico a azul e branco, do tímpano da antiga Sala do Capítulo (actual auditório), c. 1730-1750: Santa Teresa orando diante do Ecce Homo, Transverberação de Santa Teresa, Casamento místico

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de Santa Teresa Lisboa Palacete dos

Condes de Monte Real, Capela de Nossa Senhora da Conceição

Revestimento cerâmico da nave, a azul e branco, do 2.º quartel do século XVIII e de proveniência desconhecida. Dois dos seis painéis retratam Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz

Cascais Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção

Conjunto de pinturas da autoria de Josefa de Óbidos, provenientes do antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade e transferidas para a Igreja Matriz na sequência da extinção das ordens religiosas em 1834. 5 são sobre a vida e espiritualidade de Santa Teresa de Jesus, uma é dedicada à Sagrada Família, outra ao Menino Jesus

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Salvador do Mundo, e a última retrata a Visão de São João da Cruz (ou Aparição de Cristo a São João da Cruz), de 1672-73.

Figueiró dos Vinhos

Igreja Matriz de São João Baptista

Visão de São João da Cruz (ou Aparição de Cristo a São João da Cruz), 1673, da autoria de Josefa de Óbidos, proveniente do Convento e Colégio de Nossa Senhora do Carmo

Antigo Convento e Colégio de Nossa Senhora do Carmo

Revestimento cerâmico policromo da Capela de Nossa Senhora da Soledade: Transverberação de Santa Teresa e Profeta Elias, 3.º quartel do século XVII

Igreja, transepto: Aparição de Nossa Senhora do Carmo às almas do Purgatório (O Privilégio Sabatino) e Morte de Santa Teresa, séc. XVII

Redondo Convento dos Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa

Revestimento cerâmico a azul e branco, da antessacristia, c. 1710-1725, com dois painéis de grandes dimensões com três cenas cada e mais dois painéis com uma única cena, dedicados à vida de Santa Teresa de Jesus. Inclui dois painéis com a representação de anjos porta-círio a

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ladear a porta de acesso à igreja

Aveiro Convento de Nossa Senhora do Carmo

Repouso no regresso da fuga para o Egipto e Transverberação de Santa Teresa, cada pintura encima um retábulo em talha dourada, colateral à capela-mor. 1643 – data da conclusão das obras da igreja

Aveiro Museu de Aveiro Frontal de altar tripartido, proveniente do Convento das Carmelitas Descalças (?), séc. XVII

Colóquio místico e Nossa Senhora do Carmo, com o seu manto, protege a Ordem Carmelita Descalça, 1700-1725. Proveniência: Convento de São João Evangelista (?)

Igreja de São João Evangelista [Convento de São João Evangelista]

Revestimento cerâmico a azul sobre branco, com cenas de eremitas alternando com paisagens, cenas de costumes e o brasão carmelita descalço, datado de 1731

Igreja, tecto: vinte e três pinturas dedicadas à vida de Santa Teresa de Jesus; Igreja, nave: sete pinturas que representam vários santos da Ordem Carmelita Descalça, como Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, e Nossa Senhora do Carmo;

Igreja, capela-mor: sete pinturas do tecto sobre a vida de Cristo e outros

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santos; cinco pinturas nas paredes laterais sobre a vida da Virgem

Aveiro Igreja da Misericórdia

Igreja, capela-mor: retábulo com várias pinturas, nas quais se inclui Santa Teresa de Jesus escritora inspirada pela pomba do Espírito Santo, séc. XVII-XVIII

Coimbra Museu Nacional de Machado de Castro

Painel recortado com a representação de Santa Teresa, 1749 (data no painel)

2 frontais de altar do Colégio de São José dos Marianos, depois Real Colégio das Ursulinas das Chagas (séc. XIX) e, actualmente, Hospital Militar, em Coimbra (c. 1670)

Santa Teresa de Jesus escritora inspirada pela pomba do Espírito Santo, século XVII

Convento de Santa Teresa de Jesus (Carmelo de Santa Teresa)

Dependências do convento: Santa Teresa, séc. XVIII;

Transverberação de Santa Teresa, atribuída a Pascoal Parente, séc. XVIII

Coimbra Colégio de Nossa Igreja, espaldar do

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Senhora do Carmo cadeiral do coro alto: oito pinturas, sendo quatro da autoria de Pascoal Parente. Temas representados: passagens da vida dos principais santos carmelitas, destacando-se duas obras dedicadas a Santa Teresa de Jesus, 1780;

Reservas: duas pinturas de formato semicircular que retratam a Imposição do colar e do manto e Visão de São João da Cruz (ou Aparição de Cristo a São João da Cruz), séc. XVII-XVIII

Buçaco Convento de Santa Cruz

Revestimento cerâmico policromo, composto por vários frontais de altar do séc. XVII, que se dividem entre a igreja, os quatro cantos do claustro, a

Igreja, nave: Transverberação de Santa Teresa, c. 1770, e Visão de São João da Cruz (ou Aparição de Cristo a São João da Cruz), séc. XVII-XVIII;

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portaria, a Capela do Ecce Homo, as quatro capelas do Deserto, do Buçaco e ermidas

Corredor do claustro: Casamento místico de Santa Teresa, séc. XVIII e Santo Eliseu, séc. XVII;

Portaria do convento: Imposição do colar e do manto, séc. XVIII, e Santa Maria Madalena de Pazzi, séc. XVII-XVIII; Sacristia: Santa Teresa escritora inspirada pela pomba do Espírito Santo (esquerda) São João da Cruz escritor inspirado pela pomba do Espírito Santo (direita), do oratório ao centro do arcaz, séc. XVIII

Porto Igreja dos Carmelitas [Convento de Nossa Senhora do Carmo]

Igreja, capela-mor: Santa Teresa contempla a Assunção e a Coroação da Virgem e Imposição do colar e do manto, da 1.ª

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metade do século XVIII, atribuídas a Giovanni Battista Pachini (João Baptista Pachini);

Conjunto pictórico do transepto, nave e coro alto composto por dezasseis pinturas, de séries e autorias diferentes, numa iconografia que define um programa de engrandecimento da Ordem Carmelita Descalça e de Santa Teresa de Jesus, no qual se inclui a representação do Lava-pés e da Última Ceia

Porto Igreja da Ordem Terceira do Carmo

Igreja, sacristia: Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock, atribuída a Pascoal Parente, séc. XVIII

Açores Convento da Caloura

Revestimento cerâmico a azul e

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branco da capela-mor com dois painéis: São Filipe Néri e Transverberação de Santa Teresa, c. 1725

Venda do Pinheiro Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo

Revestimento cerâmico a azul e branco com emolduramento policromo com a representação de vários santos, no qual se inclui o painel Santa Teresa de Jesus, c. 1775-1780

Santarém Museu Diocesano de Santarém

Conjunto de seis pinturas que representam episódios da vida de Santa Teresa de Jesus, de proveniência desconhecida, séc. XVIII;

Duas pinturas que retratam Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz

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respectivamente, de proveniência desconhecida, séc. XVIII

Évora Museu Nacional de Frei Manuel do Cenáculo

Santa Teresa de Jesus escritora inspirada pela pomba do Espírito Santo, século XVII; Transverberação de Santa Teresa, século XVIII

Convento de Nossa Senhora dos Remédios

Igreja, nave: Apoteose de Nossa Senhora do Carmo perante Deus, Jesus Cristo e as Ordens do Carmo e dos Carmelitas Descalços, séc. XVII-XVIII

Igreja, nave: Aparição de Nossa Senhora do Carmo a São João da Cruz e a São Simão Stock, c. 1620

Évora Convento de São José da Esperança (Convento Novo)

Revestimento cerâmico a azul e branco, composto por treze painéis com cenas da vida de São José, de oficina lisboeta, séc. XVIII

Igreja, nave: seis pinturas representando episódios da vida de Santa Teresa de Jesus, rematadas, sobre balaústre pétreo, por pinturas dos quatro Doutores da Igreja. Perpendicular a estas está o tríptico

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Nossa Senhora do Carmo, com o seu manto, protege a Ordem Carmelita Descalça ladeada pelo Profeta Elias e por Santo Eliseu ou a personagem bíblica Enoque; Última Ceia na capela-mor e os quatro Evangelistas no transepto;

Sacristia: três pinturas dedicadas a São João da Cruz

Évora Convento de Nossa Senhora do Carmo

Igreja, capela-mor, lado do Evangelho: Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock e a Santa Teresa de Jesus (designação nossa), pertencia originalmente à tribuna do retábulo, c. 1715-1730; Igreja, nave, Capela lateral de Santo Alberto da Sicília

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(Epístola): Nossa Senhora do Carmo e São Simão Stock combatendo a iconoclastia, c.1620

Braga Museu dos Biscainhos

Transverberação de Santa Teresa, atribuída a Pedro Alexandrino de Carvalho, finais do séc. XVIII(?)

Igreja do Carmo, Convento de Nossa Senhora do Carmo [Convento do Carmo]

Igreja, capela-mor: Imposição do colar e do manto e Confirmação de São João da Cruz por Nossa Senhora, o Menino Jesus e anjos da graça divina (designação nossa), séc. XVIII;

Igreja, transepto: Elias arrebatado pelo carro de fogo, Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock e Transverberação de Santa Teresa, séc. XVIII;

Igreja, nave: São Cirilo de Alexandria, São Pedro Tomás, Santa Teresa de Jesus escritora inspirada pela

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pomba do Espírito Santo e São João da Cruz escritor inspirado pela pomba do Espírito Santo, séc. XVIII

Sacristia: Santa Teresa encontra escritas as visões que havia experimentado e Encontro de Santa Teresa com São João da Cruz em Duruelo, séc. XVIII;

Dependências da comunidade: Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock (tecto) e Santa Teresa perante São José e o Menino (designação nossa) / Nossa Senhora do Carmo, com o seu manto, protege a Ordem Carmelita Descalça (bandeira), séc. XVIII

Viana do Castelo Igreja de Nossa Senhora do Carmo,

Igreja, capela-mor, retábulo:

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Convento de Nossa Senhora do Carmo

Apresentação do Menino no templo / Imposição do colar e do manto e Esponsais da Virgem / Nossa Senhora do Carmo entrega o Escapulário a São Simão Stock, séc. XVIII

Olhalvo Igreja de Nossa Senhora da Encarnação [Convento de Nossa Senhora da Encarnação]

Igreja, nave: Transverberação de Santa Teresa, séc. XVIII

Viseu Igreja Matriz de São Pedro de Santar

Igreja, capela-mor: tecto com várias representações de santos, nas quais se inclui a Transverberação de Santa Teresa, séc. XVII-XVIII

Montemor-o-Novo Igreja do antigo Convento de São João de Deus

Igreja, nave, Capela de Nossa Senhora do Carmo (Evangelho): conjunto de quatro pinturas que integram o retábulo, sendo uma Santa Teresa de Jesus

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escritora inspirada pela pomba do Espírito Santo, 1666-1673 (datação da decoração de brutescos)

Faro Seminário Episcopal

Nossa Senhora e o Menino entregam o Escapulário a São Simão Stock e a Santa Teresa de Jesus (designação nossa), meados do século XVIII. Proveniência: Convento de Nossa Senhora do Carmo da antiga observância, de Lagos

Loulé Igreja Matriz de São Clemente

Santo Elias e Santa Teresa perante Cristo crucificado (designação nossa), século XVIII(?). Proveniência: provavelmente de uma desaparecida ermida de Nossa Senhora do Carmo, em Loulé

Tavira Igreja da Ordem Igreja, sacristia: duas

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Terceira de São Francisco

pinturas identificadas como sendo Santa Teresa, séc. XVII-XVIII

Guarda Museu da Guarda Santa Teresa de Jesus escritora inspirada pela pomba do Espírito Santo, século XVII-XVIII

Lagos Museu Municipal Dr. José Formosinho

Transverberação de Santa Teresa, séc. XVIII

Lamego Museu de Lamego Transverberação de Santa Teresa, séc. XVII

Torres Vedras Igreja Matriz de São Lucas de Freiria

Santa Teresa de Jesus, séc. XVII-XVIII

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Quadro_1: Santa Teresa de Jesus em Azulejo

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Quadro_2: Santa Teresa de Jesus em Pintura

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