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Sónia Maria Almeida Santos Acessibilidade em Museus Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em Museologia Dissertação de Mestrado Porto 2009

SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

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Sónia Maria Almeida Santos

Acessibilidade em Museus

Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em Museologia

Dissertação de Mestrado

Porto 2009

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ii

Dissertação de Mestrado

do Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados em Museologia

apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto

sob orientação científica da Professora Doutora Alice Semedo

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Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos,

Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem

José Saramago in “Ensaio sobre a Cegueira”

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iv

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v

Nota Prévia

O presente trabalho de investigação, centrado no acesso e inclusão de pessoas deficientes em

museus, teve início em 2006, integrado no mestrado do curso integrado em Museologia da

Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Desde muito cedo que a reflexão sobre os temas ligados à deficiência em Portugal despertou a

atenção e preocupação por parte da autora. Para tal, em muito contribuiu o facto do seu irmão

menor sofrer de paralisia cerebral profunda, conduzindo-a até ao conhecimento de outras

realidades. Realidades essas que levaram ao aprofundamento de todas as questões

transversais à deficiência e, da mesma forma, ao desenvolvimento de uma crescente vontade

de cruzar experiências e conhecimentos, adquiridos através da vivência pessoal e do percurso

académico e profissional.

Agradece-se, profundamente, a constante presença familiar e o seu incansável apoio ao longo

da vida, sem o qual esta meta nunca teria sido alcançada. Um obrigada muito especial aos

pais, Francisco e Emília, que sempre tornaram os sonhos em realidades, e ao irmão querido

que, mesmo sem querer, ou saber, transformou as vidas de quem com ele priva diariamente.

Quando, em 2005, se elaborou um “Plano de Acessibilidades” para o Museu do Papel Moeda,

da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no âmbito do estágio da pós-graduação do

curso de Museologia da Faculdade de Letras do Porto, foi lançada a pedra basilar da presente

investigação.

A concretização da intenção de explorar o universo museológico, sob o ponto de vista dos

cidadãos com necessidades especiais, muito se deveu à cooperação e visão social da

presidente da Fundação, Maria Amélia Cupertino de Miranda. Também a ela se agradece todo

o estímulo e apoio constante. Deixa-se ainda um grande bem-haja a toda a equipa que compõe

a Fundação, pelo caloroso acolhimento, profissionalismo e amizade.

Igualmente, este trabalho não teria sido factível sem a orientação imutável e preciosa da Prof.

Doutora Alice Semedo, cuja confiança transmitida e espírito crítico acompanhou esta autora ao

longo de toda a investigação.

Agradecimentos também são devidos aos profissionais de museus inquiridos que se

disponibilizaram a partilhar as suas experiências e desafios, sendo eles: Adriana Almeida, Ana

Bárbara Barros, Graça Lacerda, Maria Helena Pimentel e Maria João Vasconcelos.

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vi

Às amigas Ana Costa, Ana Fonseca e Tânia Martins, agradece-se a paciência… Em especial à

Ana Fonseca pelo tempo dedicado e horas perdidas, traduzidas em incansável amparo.

A todas as pessoas que, directa ou indirectamente, possibilitaram a realização da presente

investigação fica o mais sentido reconhecimento.

Obrigada!

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Sumário

Página

SIGLAS E ABREVIATURAS ix

ÍNDICE DE TABELAS xi

ÍNDICE DE IMAGENS xii

INTRODUÇÃO 1

CAPITULO I

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

1.1. Reflexões Epistemológicas e Metodológicas 7

1.2. O estado da arte. Portugal e Europa 12

CAPÍTULO 2

EXPLORANDO A DIFERENÇA

2.1. Da Desmistificação à Aceitação 20

2.2. Problematizando a Exclusão Social 25

2.3. Diversidade Humana 27

CAPÍTULO 3

A RECONFIGURAÇÃO DO MUSEU

3.1. A conceptualização do museu 30

3.2. O Paradigma na construção de novas missões museológicas. O Papel dos Museus 32

3.3. Museus Inclusivos Contra a Exclusão Social 37

3.3.1. Inclusão Versus Conservação? 40

CAPÍTULO 4

ASPECTOS LEGISLATIVOS

4.1. Breve Análise Legislativa Geral 43

4.1.1. Evolução Legislativa 44

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FACE À INCLUSÃO

5.1. Arquitectura Acessível 51

5.1.1. Construção da Organização Legislativa Arquitectónica 54

5.2. Design Inclusivo 56

5.3. As (Novas) Tecnologias da Informação 58

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viii

CAPÍTULO 6

A ACESSIBILIDADE EM AVALIAÇÃO

6.1. Manuais e Planos de Acessibilidade 65

6.1.1. Normas do Conceito Europeu de Acessibilidade – Edifícios públicos 69

6.2. Auditorias 74

CAPÍTULO 7

QUESTÕES DE ACESSIBILIDADE NOS MUSEUS DO PORTO

7.1. Posicionamento metodológico 77

7.2. Museu Nacional Soares dos Reis 80

7.3. Museu dos Transportes e Comunicações 83

7.4. Museu da Casa do Infante 86

7.5. Museu Romântico da Quinta da Macieirinha 88

7.6. Reflexões sobre a acessibilidade 90

8. Aplicação prática dos conhecimentos – Museu do Papel Moeda 91

CONSIDERAÇÕES FINAIS 98

BIBLIOGRAFIA 101

ÍNDICE DE ANEXOS 110

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ix

Siglas e abreviaturas

ACAPO – Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal

ACLB – Associação de Cegos Luís Braille

ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas

APD – Associação Portuguesa de Deficientes

APEC – Associação Promotora de Ensino dos Cegos

APEDV – Associação Promotora do Emprego dos Deficientes Visuais

ASP – Associação de Surdos de Portugal

CI – Museu Casa do Infante

CNOD – Confederação Nacional das Organizações de Deficientes

DDA – Discrimination Disability Act

DL – Decreto-lei

DPI – Disabled People International

Cap. – Capítulo

FACM – Fundação Dr. António Cupertino de Miranda

Fig. - Figura

GESTA – Grupo de Estudos Sociais e Tiflotécnicos

ICIDH – International Classification of Impairments, Disabilities, and Handicaps

IDA – International Disability Alliance

INE – Instituto Nacional de Estatística

IPM – Instituto Português de Museus

LCJD – Liga de Cegos João de Deus

MNSR – Museu Nacional Soares dos Reis

MOCEP – Movimento para a Organização dos Cegos Portugueses

MPM – Museu do Papel Moeda

MRQM – Museu Romântico Quinta da Macieirinha

MTC – Museu dos Transportes e Comunicações

MUAC – Movimento de Unificação das Associações de Cegos

NE – Necessidades Especiais

NFB – National Federation of the Blind

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONCE – Organização Nacional dos Cegos de Espanha

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

p. – Página

pp. - Páginas

RI – Rehabilitation International

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x

SE – Serviço Educativo

SNRIPD – Secretariado Nacional da Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

UE – União Europeia

UPIAS – Union of the Physically Impaired Against Segregation

WBU – World Blind Union

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xi

Índice de tabelas

Página

Tabela 1 – Adaptação de Bruno Miguel Gomes Maria de “Inquérito nacional às

incapacidades, deficiências e desvantagens”

16

Tabela 2 – Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e Desvantagens

16

Tabela 3 – Factores determinantes para a diversidade humana

27

Tabela 4 – Oposição binária do “entendimento-por-distinção”

33

Tabela 5 – Documentos da ONU

48

Tabela 6 – Documentos de outros organismos mundiais

48

Tabela 7 – Divisão tipológica de barreiras

53

Tabela 8 – Comparação informativa dos Decretos-Lei 123/97 e 163/06

54

Tabela 9 – Parâmetros para um meio físico acessível

57

Tabela 10 – Elementos a considerar num Plano de Acessibilidade

67

Tabela 11 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência visual

71

Tabela 12 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência auditiva

71

Tabela 13 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência motora

72

Tabela 14 – Cuidados específicos a ter com acompanhantes de pessoas com

deficiência

72

Tabela 15 – Identificação e classificação da amostra 78

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xii

Índice de imagens

Página

Imagem 01 – Dispositivo de informação para pessoas com deficiência auditiva, Victoria

and Albert Museum

37

Imagem 02 – Informação em Braille, Victoria and Albert Museum

37

Imagem 03 – Informação para pessoas com deficiência visual, National Portrait Gallery

38

Imagem 04 – Dispositivo de apoio a pessoas com mobilidade reduzida, Victoria and

Albert Museum

51

Imagem 05 – WC com lavatório para pessoas em cadeira de rodas, Victoria and Albert

Museum

51

Imagem 06 – Visitante em cadeira de rodas, British Museum

51

Imagem 07 – Entrada do Museu Nacional Soares dos Reis (MNRS)

80

Imagem 08 – Pormenor da rampa de entrada do MNSR

80

Imagem 09 – Escadaria de acesso ao primeiro piso do MNSR

80

Imagem 10 – WC adaptado, MNSR

81

Imagem 11 – Porta da entrada do MNSR

81

Imagem 12 – Exposição de peça em patamar ligeiramente superior, MNSR

81

Imagem 13 – Degrau com demarcação no rebordo, MNSR

81

Imagem 14 – Zona de descanso numa das salas de exposição, MNSR

82

Imagem 15 – Cadeira de rodas disponibilizada ao público, MNSR

82

Imagem 16 – Fachada principal do Museu dos Transportes e Comunicações (MTC)

83

Imagem 17 – Sistema de áudio mais bengala, MTC 83

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xiii

Imagem 18 – Maqueta táctil da evolução automóvel, MTC

83

Imagem 19 – Computador com leitor de ecrã, MTC

84

Imagem 20 – Informação disponibilizada em vídeo, MTC

84

Imagem 21 – Automóvel táctil (actividade oficinal), MTC

84

Imagem 22 – Marcador de caneta com informação em várias línguas, MTC

84

Imagem 23 – Espaço onde se realizam oficinas, MTC

85

Imagem 24 – Maqueta táctil do percurso expositivo, MTC

85

Imagem 25 – Entrada com rampa do Museu Casa do Infante (CI)

86

Imagem 26 – Rampa da entrada para o Arquivo Histórico, CI

86

Imagem 27 – Sistema de cadeira para subir escadas, CI

86

Imagem 28 – Lupa de ampliação, CI

86

Imagem 29 – Azulejos tácteis, CI

87

Imagem 30 – Maqueta sonora, CI

87

Imagem 31 – WC adaptado, CI

87

Imagem 32 – Entrada do Museu Romântico da Quinta da Macieirinha (MRQM)

88

Imagem 33 – Estacionamento, MRQM

88

Imagem 34 – Rua de acesso ao MRQM

88

Imagem 35 – Entrada lateral, MRQM

88

Imagem 36 – Vista geral do MRQM

89

Imagem 37 – Fachada da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda (MPM) 91

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xiv

Imagem 38 – Sala do Papel Moeda, MPM

91

Imagem 39 – Entrada para o auditório do piso -2, MPM

92

Imagem 40 – Viewmasters, MPM

92

Imagem 41 – Rampa com corrimão, MPM

92

Imagem 42 – Leitor óptimo de retina ocular, MPM

93

Imagem 43 – Computador equipado para pessoas com paralisia cerebral e deficiência

motora, MPM

93

Imagem 44 – Ecrã táctil, MPM

93

Imagem 45 – Guia em Braille, MPM

93

Imagem 46 – Fotoquiosques, MPM

93

Imagem 47 – Maqueta para a criação de notas tácteis

93

Imagem 48 – Visitante com paralisia cerebral a utilizar computador equipado com o

software GRID, MPM

93

Imagem 49 – Auditório onde se assiste a um filme sobre a história do dinheiro, MPM

94

Imagem 50 – Visitante cego a tactear o interior de um carro de colecção

94

Imagem 51 – Cena da peça de teatro da APPC, MPM

94

Imagem 52 - Cena da peça de teatro da APPC, MPM

94

Imagem 53 – Membro da ACAPO (cego) a ler o guia do museu, MPM

95

Imagem 54 – Membro da APPC a explorar o computador, MPM

95

Imagem 55 – Cena da peça de teatro da CRINABEL, centro comercial NorteShopping

95

Imagem 56 – Visita da APPACDM, MPM 96

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Acessibilidade em Museus

Página 1

Introdução

A acessibilidade é a característica de um meio físico ou de um objecto que permite a

interacção de todas as pessoas a esse meio físico ou objecto e a utilização destes de

uma forma equilibrada / amigável, respeitadora e segura. Isto significa igualdade de

oportunidades para todos os utilizadores ou utentes, quaisquer que sejam as suas

capacidades, antecedentes culturais ou lugar de residência no âmbito do exercício de

todas as actividades que integram o seu desenvolvimento social ou individual.

Portanto, a acessibilidade promove a igualdade de oportunidades, não a

uniformização da população (em termos de cultura, costumes ou hábitos). (CEA,

2005:23)

Actualmente, não se consegue conceber uma vida “normal” sem períodos de lazer e evasão. O

turismo e a cultura tornaram-se expoentes máximos da civilização e com eles, e por meio deles,

nasce o conceito de “Turismo de Qualidade”, regrando o livre acesso de todos à cultura e ao lazer.

É fundamental que a “fuga à vida quotidiana” permita o convívio, a cultura e a descoberta e,

justamente por isso, a acessibilidade assume um papel primordial e, com tal ascensão, não pode

discriminar determinados sectores ou grupos sociais (SNRIPD, 2007:8-9).

O tema que move a presente dissertação prende-se com a necessidade crescente de eliminação

de barreiras, sejam sob a forma de custos, facilidades, transportes, edificação física, comunicação,

informação ou preconceitos. O cidadão do século XXI vive e absorve a era tecnológica que desafia

todos os conceitos de comunicação e divulgação de informação conhecidos até então e, desta

forma, este cidadão tomou consciência dos seus direitos e deixou de permitir que estes continuem

a ser negados por ausência de condições mínimas de acessibilidade1. Mas não é só o cidadão

comum que tem de aceitar, permitir e implementar as transformações necessárias à autonomia de

todos. As instituições culturais, nomeadamente, os museus, têm de assumir a sua

responsabilidade social perante a inclusão de todos os possíveis públicos, que se afirmem como

organismos promotores do diálogo e da inter-ajuda social.

Ainda é ténue o reconhecimento do trabalho feito por estas instituições na promoção da inclusão,

muitas vezes associada a custos demasiado elevados, ligados à reconstrução urbanística, à

1 As diferenças assumiram-se como agência e deixaram de aceitar passivamente os discursos sobre elas (…)

este discurso (da diferença e não sobre a diferença) não é unificável numa narrativa coerente, em que todos

os outros se pudessem reconhecer e ver afirmados como uma unidade. O que caracteriza actualmente as

diferenças e as suas relações é precisamente a sua heterogeneidade. (Rodrigues, 2003:17).

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Acessibilidade em Museus

Página 2

formação das equipas e à disponibilização de materiais adequados, em contraposição com o fraco

índice estatístico que as pessoas com deficiência possam representar nas somas anuais de

visitantes. No entanto, ao contrário do que se pensa, as pessoas cm deficiência representam uma

percentagem expressiva da população europeia e, conforme é evidenciado por alguns estudos

realizados noutros países, uma importante fatia do consumo de serviços turísticos. Ao mesmo

tempo, é reconhecido que o potencial de crescimento deste segmento de consumidores é elevado

na justa medida em que a sua acessibilidade a estes bens e serviços está ainda fortemente

condicionada por barreiras físicas e sociais. Remover essas barreiras afigura-se, pois, como uma

importante oportunidade para intensificar a representatividade deste mercado (Feliciano, 2006:60).

É obrigatório que se tome consciência da importância que os museus podem representar no

aumento de auto-estima, criatividade e auto-confiança das pessoas com deficiência, pois, como

afirma Richard Sandell, the role of the museum in tackling exclusion and promoting inclusion is

understood in terms of its social impact in relation to disadvantage, discrimination and social

inequality (Sandell, 2003:46), e evitar que se veja o cidadão deficiente como sendo um visitante

diferente dos restantes. De facto, essa diferença deixará de ser notória se lhe forem dadas as

infraestruturas necessárias à sua autonomia, se a tolerância e o respeito inter-comunitário

desafiarem os estereótipos e romperam com as agendas culturais de âmbito tradicional.

Mas a questão da acessibilidade não diz só respeito á deficiência. Vive-se num contexto de

crescente aumento da esperança média de vida, todos querem viver o maior número de anos

possível e os avanços da medicina permitem-no cada vez mais, no entanto, apenas alguns

pensam no futuro a curto prazo. Os problemas de mobilidade, visão e audição são agravados e

acentuam-se com a idade. Se não se conseguir criar autonomia através de uma arquitectura

friendly, quem assumirá esse custo e esse dever? Quem cuidará da população envelhecida? Por

outro lado, há ainda que considerar o aumento anual de vítimas de acidentes que ficam com as

suas capacidades diminuídas e que fazem crescer exponencialmente o número de pessoas com

determinada necessidade especial, seja permanente, seja, apenas, por determinados períodos de

tempo. Por outro lado, as barreiras comunicativas e culturais definem-se sob novos padrões de

interculturalidade, de abertura de fronteiras ao cosmopolitismo.

Devido à diversidade de formas que a acessibilidade consegue assumir tornou-se imprescindível

delimitar a área de abrangência da investigação, o que significa que o objecto em estudo incidiu

unicamente na área da deficiência, no universo da acessibilidade museológica, visando a análise

das condições actuais de inserção de públicos com necessidades especiais nas agendas museais,

bem como as condições necessárias para que esse alargamento de novos visitantes se possa

efectuar.

Tendo em conta que o objecto de estudo é um fenómeno real concreto, realizaram-se, sobretudo,

análises de conteúdo, de dados estatísticos e legislação. Na literatura crítica (fontes secundárias)

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Acessibilidade em Museus

Página 3

usaram-se documentos de várias tipologias. Desta forma, integraram-se tanto fontes jornalísticas

como fontes de arquivo. Em paralelo, fez-se, igualmente, uso de fontes em segunda mão. No

entanto, procurou-se utilizar maioritariamente fontes em primeira mão dado os limites fixados pelo

objecto da pesquisa.

À medida que se foi recolhendo o material de apoio, evidenciou-se a pertinência de dois conceitos

muito importantes, os quais são, a exactidão dos dados pesquisados (referências bibliográficas,

origem dos documentos, datas e outros detalhes) e a clareza (da análise, da reflexão, da descrição

ou da explicação da informação).

Desde 1974 que existe uma preocupação em quantificar e avaliar o impacto negativo da exclusão2

social, procurando-se a integração de todos os cidadãos. Com o passar do tempo e evolução

sociocultural, os museus tomaram consciência do impacto que a inclusão de pessoas com

deficiência pode ter. Não pretendendo menosprezar a formação adequada dos técnicos, não existe

ninguém melhor do que os indivíduos que têm de lidar quotidianamente com dificuldades de

acesso para sugerir alterações e soluções de minimização dos problemas de acesso. Com essa

tomada de consciência, foi aparecendo, lenta e gradualmente, legislação que visa salvaguardar os

interesses de todos os cidadãos, independentemente da sua condição física e mental. Aos poucos,

os museus foram encarando e aceitando a sua missão social face à exclusão, criando,

paulatinamente, novos programas e novas aberturas.

No entanto, não se poderia desenvolver uma investigação na área da acessibilidade museológica

sem se fazer uma breve exposição do percurso que o conceito “deficiência” teve de enfrentar ao

longo da evolução civilizacional. Curiosamente, a idealização da perfeição corporal, dominante do

mundo grego, sobrevive até hoje, ainda que com notórias oscilações da significação do termo. A

necessidade de explicar um fenómeno estranho levou a que a existência de uma deficiência física

fosse atribuída ao plano divino, como sendo castigo dos deuses. A sua identificação, em oposição

à norma, e que viria a transformá-la em doença passível de tratamento, traçava já as linhas das

fronteiras sociais que a relacionavam com a exclusão, seja através dos asilos do século XIX ou do

capitalismo social. No entanto, foi apenas após a Guerra do Vietname que a sociedade se viu na

obrigação de aceitar os seus deficientes, em grande parte, devido à acção das primeiras

2 A noção de exclusão social tornou-se numa espécie de “lugar-comum” que designa um conjunto

heterogéneo de fenómenos sem os discriminar numa lógica em que a simples designação do fenómeno

parece fazer a economia da sua explicação e da justificação das modalidades de intervenção social

desenvolvidas. Em segundo lugar, constituiu-se, em torno desta noção, uma espécie de “nova narratividade

do social”, sugerindo que, nestes tempos de crise da modernidade, nos encontraríamos perante fenómenos

que não são dizíveis, recorrendo para isso a instrumentos cognitivos oriundos da modernidade, tais como as

noções de classe social, desigualdade ou injustiça social, ou mesmo as noções de exploração ou de

alienação social. (Rodrigues, 2003:38).

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Acessibilidade em Museus

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associações e movimentos, cujo objectivo visava a integração e a eliminação de estereótipos

politizados que imputavam à deficiência uma invalidez insuperável.

Quando se desenvolve um estudo sobre acessibilidade, é impossível não abordar questões como

a inclusão e exclusão social, questões essas que dão corpo à investigação proposta.

Curiosamente, apesar da multiplicidade cultural e social das sociedades actuais e da criação de

leis que protegem os interesses de pessoas com deficiência, ainda vigoram os princípios da

Revolução Industrial. Tal como Fernando Ruivo refere, na sua obra “Poder local e exclusão social”,

existe uma grande diferença entre a lei aplicada e a lei escrita.

Nos dias de hoje, não se pode falar de diversidade social e cosmopolita sem se falar, de igual

modo, na própria diversidade humana e da necessidade de a distribuir por várias áreas: a

dimensional, a perceptiva, a motora, a cognitiva e a demográfica.

Após a aquisição das primeiras noções e conceitos, torna-se pertinente abordar a filosofia e a

missão dos museus. Os museus como locais de culto, elitistas e restritos cedem à conquista das

massas populacionais. Que visitantes têm os museus? Quem são? O que procuram? As

alterações que as missões dos museus têm vindo a sofrer são sinónimo de consciencialização

para com as responsabilidades sociais. No entanto, responsabilidades acrescidas poderão pôr em

causa toda a estrutura basilar da antiga perspectiva museológica da conservação e preservação

inerente a qualquer museu.

Os conservadores, mais do que ninguém, são obrigados a assumir uma posição ingrata. Por um

lado têm o dever de “eternizar” as obras de arte, por outro lado, a responsabilidade da partilha

cultural com os públicos. Ao longo deste estudo, abordam-se, também, as agendas tradicionais

das instituições museológicas com o objectivo de repensar o papel social dos museus, a sua

missão e democratização e o seu crescente impacto. Em ditas agendas encontra-se reflectida a

questão sociológica, educativa e social dos cidadãos com deficiência e denota-se um evoluir da

sua integração nos programas culturais das instituições museológicas. Esta situação advém da

crescente sensibilização da comunidade e das instituições culturais.

A integração de pessoas com necessidades especiais não deve ser encarada como uma forma de

caridade, nem “boas práticas” sociais. É sim, um direito que os assiste e uma obrigação de todos

os cidadãos. Nesse sentido, analisaram-se algumas normas europeias e as respectivas

repercussões sociais. Desde 19483 que os direitos do homem estão nos ementários legislativos,

tendo-se assistido nas últimas décadas a um crescente número de acções de sensibilização, de

reafirmação de leis e de estabelecimento de novas e melhoradas directrizes que apelam ao

cumprimento legislativo por parte dos Estados.

3 Data da criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas

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Acessibilidade em Museus

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Este trabalho não pretende ser uma perspectiva de diferenciação de públicos mas sim, de criação

e estabelecimento de condições necessárias a todos os cidadãos activos da sociedade

contemporânea, tenham eles ou não, necessidades especiais permanentes ou em determinado

momento ou contexto vivencial. Pretende-se sim alertar para uma maior consciencialização e

promoção da inclusão social de todos os cidadãos, avaliar as actividades desenvolvidas, as

estratégias utilizadas e a diversidade de experiências e know-how das instituições culturais. Têm-

se igualmente por objectivo reforçar a necessidade de aprofundar a reflexão sobre esta temática,

bem como de ampliar a sua discussão, envolvendo os novos actores sociais, nomeadamente os

representantes, e todos os envolvidos na formação de profissionais, desta área.

Estes foram os princípios que nortearam a concepção do presente projecto, o qual, através do

aprofundamento, do conhecimento e da reflexão sobre vários factores de exclusão social, traz à

ordem do dia, as pessoas com deficiência e todos os problemas e obstáculos que enfrentam na

tentativa de participação cultural.

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Acessibilidade em Museus

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CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

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Acessibilidade em Museus

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1.1. Reflexões Epistemológicas e Metodológicas

Este capítulo destina-se à abordagem das técnicas e métodos investigacionais, no contexto das

ciências sociais, e sua aplicabilidade no processamento e análise da informação. Recorreu-se a

pensadores como Michel Foucault, Marcel Mauss, Émile Durkheim, Gaston Bachelard e Karl

Popper, ora unindo, ora contrapondo, as suas teorias adaptáveis às perspectivas sobre contextos

sociais.

Teve-se em conta investigações contextuais, bem como análises de teorias e, inclusivé, de

crenças sociais. Os textos foram encarados na perspectiva de discursos, ou seja, enquanto

práticas de controlo e selecção de temas / assuntos. Os discursos legislativos, embora pouco de

novo tenham aportado, serviram para enquadrar legislativamente as estratégias políticas, no

âmbito social e cultural, mais especificamente, no que diz respeito às práticas sociais.

Quando se refere que os discursos legislativos não trouxeram novidades, fala-se no âmbito dos

argumentos que há décadas se mantêm fora da ordem política nacional. Existe uma legislação

própria e adequada à promoção do bem-estar de todos os cidadãos na ordem da inclusão, seja ela

a que nível for. No entanto, é uma política de “papel”, já que a sociedade continua a excluir os seus

deficientes. O que leva à formulação de algumas questões: que tipo de sociedade e cidadania se

constroem para os deficientes? Quais as perspectivas, possíveis, de justiça social e cultural?

As análises de conteúdo encontram-se limitadas por delineações teóricas, ainda que possam ser

aplicadas em qualquer tipo de comunicação, enquanto as análises de discurso se enquadram

melhor na realidade social que se pretende analisar, relacionando-se com a estrutura social. No

entanto, a análise de conteúdo ajuda a descobrir os “(pre)supostos” e os chamados “não ditos” do

material em análise. A sua linguagem tem como função dizer a verdade e, mais uma vez,

estabelece a relação com a análise do discurso, cuja função da linguagem é reproduzir a

realidade, resistindo-lhe ou moderando-a.

Remete-se, então, para as questões do positivismo, da sua objectividade cientifica e da sua

cientificidade na análise da realidade social, ainda que seja difícil explicar e / ou prever os

fenómenos humanos. Nesta linha, considera-se ainda a posição de Foucault quanto ao poder /

conhecimento, que se insere numa visão particular do senso comum acerca do mundo, encarando-

se o discurso como um organizador de significado. Marcel Mauss, por outro lado, encara o

chamado “fenómeno social total” da perspectiva de que qualquer facto que ocorra em sociedade é

sempre complexo e pluridimensional, isto é, o comportamento só se torna compreensível dentro de

uma totalidade. As várias disciplinas, como sendo a sociologia, psicologia, filosofia, entre outras,

distinguem-se por pertencerem a perspectivas teóricas divergentes e por construírem

dissemelhantes objectos científicos que são dimensões inerentes a toda a acção social. As acções

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Acessibilidade em Museus

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humanas, na sua complexidade, englobam várias dimensões, o que leva à transdisciplinariedade

das várias ciências.

O quadro orientador em causa, não é meramente descritivo, nem teoricamente asséptico.

Qualquer esforço de sistematização envolve tomadas de posição epistemológicas e teóricas sobre

as ciências sociais, quer no seu conjunto, quer no seu individualismo. Ter-se-á sempre que

considerar os vários passados e patrimónios acumulados opondo a realidade social à ciência

social, isto é, por um lado existe o mundo marcado pela acção dos homens, por outro, a

qualificação do ponto de vista analítico que caracteriza um conjunto de disciplinas.

O sociólogo Émile Durkheim fala da regra metodológica, a explicação do social pelo social, ou

seja, o homem não tem de se apropriar de todos os sentidos e significados das coisas para que

deles possa fazer ideias, as quais regularão o seu comportamento. No mesmo seguimento

podemos integrar Gaston Bachelard, ao falar de conhecimento e do seu carácter construído. Deve-

se ter em conta a descontinuidade entre a ciência e o senso comum, criando uma ruptura com os

chamados “obstáculos epistemológicos”. A sociedade está integrada em estruturas sociais, isto é,

os cidadãos pertencem a certos grupos. Bachelard separa os factos humanos dos eventos físicos

colocando a consciência dos actores como elemento constitutivo decisivo do mundo social. Tal vai

transformar as representações colectivas da sociedade, no seu dia-a-dia, em noções construídas

no decurso da vida quotidiana.

O senso comum tenta produzir interpretações ligadas à natureza humana, por disposições

comportamentais particulares de cada indivíduo. É precisamente nas relações entre a natureza e a

cultura, entre o indivíduo e a sociedade, entre o “eu” e o “outro”, que o conhecimento e as teorias

científicas têm mais dificuldades. Usando o exemplo dado por Santos Silva, as pessoas que

frequentam museus são as pessoas que possuem certos “dons” artísticos e estéticos, e que,

portanto, as diferenças na frequência dos museus se deve a diferentes aptidões “naturais” que

estão para lá de condicionalismos económicos, educacionais ou familiares (Santos Silva, 2007:32).

Fala-se aqui da questão central do conhecimento, a relação entre natureza e diversidade dos

contextos sociais criados pelo homem. Do ponto de vista das ciências sociais, as condicionantes

biológicas são utilizadas e transformadas pela sociedade. Reconhecer, por exemplo, as diferenças

causadas pela deficiência, como condicionante limitativa leva à interpretação de condutas sociais

como comportamentos sociais, ou seja, a acção do homem está em permanente tensão com as

suas bases e limites biológicos, (Santos Silva, 2007:33).

Em suma, a acção humana tem a capacidade e o poder de transformar aspectos biológicos, como

a deficiência, em factos sociais. Nesta perspectiva, Santos Silva (2007) considera ainda que a

persistência e a eficácia das interpretações de senso comum não podem, pois, ser imputadas à

ignorância popular dos conhecimentos científicos, superável através da educação, já que a raiz é

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mais profunda e tem a ver com a imagem coerente que os actores tendem a produzir acerca do

mundo social em que vivem, com as representações simbólico-ideológicas que constantemente

criam e a que constantemente estão sujeitos, e que constituem o principal cimento da ordem

social. Interessa ainda referir que Bachelard distingue no processo de conhecimento científico, três

actos epistemológicos: a ruptura com as evidências de senso comum que possam vir a constituir

obstáculo ao processo de conhecimento científico, a construção dos objectos de análise e das

teorias explicativas e a verificação da validade das teorias explicativas pelo confronto com

informação empírica.

Não se poderia, no entanto, continuar a presente discussão sem altear mais uma questão: o

“etnocentrismo”. Esta palavra surgiu no princípio do século, e tem sido aplicada em dois

comportamentos relacionados, sendo eles a sobrevalorização do grupo e da cultura à qual

pertencem os sujeitos, e a correlativa depreciação das culturas e das organizações sociais

diferentes; a universalização dos valores próprios do grupo e da cultura de pertença, assumindo

que esses valores constituem as normas de referência para a avaliação de estruturas e práticas

sociais diversas, (Santos Silva, 2007:32). Regressa-se, mais uma vez, à dicotomia do “eu” versus

“nós”, apesar de o “eu”, nesta perspectiva, se assumir como “nós”, respectivamente à identidade

de um certo grupo, opondo-se a um “outros”, representado pelas classes.

A par das teorias anda a ruptura, pois esta será a condição lógica inicial do trabalho científico,

renovando-se e prolongando-se às outras fases. A teoria, tal como defende Bachelard, revela o

objecto de análise e confere significado à investigação, definindo-lhe esse mesmo objecto e seus

limites.

Karl Popper, identifica as teorias como um conjunto de disponibilidades conceptuais substantivas

e o método como instrumento técnico de recolha e tratamento de informação. Convém aqui focar a

conceptualização de teoria tanto para Popper como para Bachelard, sendo que para o primeiro, a

teoria advém de uma série de hipóteses que levam à sua verosimilhança e ao seu

“falsificacionismo” o que, por sua vez, conduz à sua refutação, e para Bachelard a aprendizagem é

renovada pela sucessão de erros.

A ciência é uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de atitudes e actividades racionais

dirigidas ao sistemático conhecimento com objecto limitado, capaz de ser submetido à verificação

(Markoni, 2006:80). O carácter experiencial do conhecimento científico diferencia-o de outras

categorias de conhecimentos. Por exemplo, no caso do conhecimento filosófico, o determinador da

veracidade é obtido por meio da razão. Este conhecimento é sistemático, tem uma ordenação

lógica e conexa, permitindo uma verificação que conduz à eliminação das afirmações que não

possam ser comprovadas. Não obstante, é falível.

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O método científico, independentemente da ciência, pode ser encarado como o conjunto das

actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o

objectivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando

erros e auxiliando as decisões do cientista, (Markoni, 2006:83).

O presente trabalho científico resulta maioritariamente de uma pesquisa empírica. É fruto colhido

concomitantemente de uma experiência pessoal e profissional, a qual se encontra intimamente

ligada ao objecto de estudo. Em termos de experiência profissional, foi possível analisar a prática

cultural das pessoas com deficiência, através de um largo período de observação.

Porém, tal como Santos Silva refere um dos problemas com que se debate a investigação

empírica, quando recorre aos indivíduos como fonte de informação, é saber que em tais condições

as respostas são afectadas por um certo número de enviesamentos, pelo menos potenciais,

decorrentes da consciência que os sujeitos têm de que estão a ser observados ou testados,

(Santos Silva, 2007:106). No sentido de contornar esse problema, estabeleceu-se um plano de

entrevista informal pós-experimental, mediante a qual os sujeitos falam sobre a sua experiência.

A presente dissertação, tem como pilar a análise de conteúdos provenientes de contributos

diversificados, os quais permitiram demonstrar a importância atribuída pelos sujeitos ao tema da

cultura. De forma a compreender e analisar a evolução dos problemas relacionados com o tema

foram consultadas diversas fontes documentais. Com tal, pretendeu-se obter elementos de

caracterização, locais, nacionais, assim como internacionais. De igual modo, procedeu-se à

pesquisa de dados estatísticos disponíveis e a documentação compilada no decurso da

investigação, gentilmente cedida pelas diversas entidades contactadas.

Nesta ocasião, considera-se oportuno citar Santos Silva para afirmar que é através da observação

directa e de comunicação com outros processos de interacção que têm por suporte um quadro de

relações sociais em que estão inseridos tanto os observados como o observador, que a

informação sobre as realidades sociais que pretendemos conhecer nos cega (…) os

procedimentos e categorias classificatórias de observação directa de certas dimensões

particulares da realidade social (…) podem ser utilizados isoladamente e podem ser, igualmente,

importantes instrumentos técnicos auxiliares do método de campo. Mas não são, só por si,

pesquisa de terreno, (Santos Silva, 2007:135-137). A avaliação da unidade social torna-se possível

através da interacção observador / observado, criando várias tipologias de classificação de

observação. De forma a serem teoricamente fundamentadas, todas elas passam por princípios de

sistematização.

Numa fase inicial, procedeu-se à planificação da pesquisa, a qual foi subdividida em dois grandes

campos: a recolha de informação e subsequente análise da mesma. A dita análise foi sendo

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realizada em paralelo com a sua recolha. A adopção deste método resulta de forma directa do

método de campo escolhido.

A presente dissertação apoiou-se na aplicação de diferentes métodos. De seguida procede-se à

enumeração dos mesmos: método experimental, reducionista e de pesquisa no terreno.

De acordo com o método experimental, o objecto de investigação científica é não só descobrir e

descrever acontecimentos e fenómenos, mas também explicar e compreender porque eles

ocorrem, (Santos Silva, 2007:215).

A aplicação do método reducionista permitiu a compreensão das reacções individuais em função

das interacções entre elementos. A experiência é um tratamento controlado pelo experimentador

aplicado em sujeitos sob análise, no sentido de testar hipóteses causais.

Foi, igualmente, utilizado o método de pesquisa no terreno, através da observação directa. Os

Museus assim como as IPSS’s, revelaram-se importantes fontes de recolha de informação. O

trabalho de campo aí efectuado tornou possível a análise dos comportamentos in loco. A pesquisa

aí efectuada permitiu a observação do local e dos comportamentos adoptados de forma individual.

Esta foi uma experiência deveras enriquecedora pois permitiu participar de forma activa do

quotidiano dos deficientes, através de um diálogo contínuo com os referidos indivíduos,

acompanhado da observação dos estados de espírito.

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1.2. O Estado da Arte.

Portugal e Europa

Procedeu-se a um levantamento geral do estado da arte, no contexto nacional e internacional,

abordando os projectos propostos e / ou realizados. Ainda nesse contexto, analisa-se e compara-

se a legislação em vigor, bem como a sua aplicação, falhas e possíveis aberturas face à

acessibilidade e sua transversalidade face a outras áreas.

A Resolução de 27 de Junho de 1974, instituiu o primeiro programa comunitário para a reabilitação

de pessoas com deficiência que pretendia prestar a assistência necessária, para que as pessoas

com necessidades especiais levassem uma vida normal, como membros assimilados e

perfeitamente integrados de uma sociedade e, como tal, com possibilidade de acesso regular às

actividades culturais. Tendo em conta que as necessidades especiais não se remetem unicamente

para pessoas com deficiência, mas também a seniores, grávidas, pessoas a recuperar de

acidentes, pessoas com volumes pesados, entre outras, o primeiro objectivo, normalmente,

passará pela eliminação de barreiras físicas que possam condicionar, dificultar ou impossibilitar a

mobilidade e o livre acesso.

Uma das técnicas mais utilizadas para inserção de pessoas com deficiência é a criação de equipas

multidisciplinares que, em conjunto, possibilitem a abertura do museu a todos os públicos. Isto

implica, necessariamente, a participação de pessoas deficientes nessas equipas, pois, melhor do

que qualquer pesquisa, por mais aprofundada e desenvolvida que seja, eles saberão como

solucionar e ultrapassar os problemas de acessibilidade que se lhes apresentem. Alguns dos

primeiros museus a pôr em prática a participação de equipas multidisciplinares, nos departamentos

responsáveis pela eliminação de barreiras, foram o Chatel-sur-Moselle, em França, onde existem

equipas de jovens com deficiência a trabalhar como voluntários e o Castle of Argy, em Indre, onde

jovens com deficiência foram integrados na própria equipa de restauro (Fondation, 1991:13).

Importa, ainda, salientar que muitas dessas iniciativas são apoiadas pelo Estado, reduzindo os

custos à instituição acolhedora/empregadora.

Em muitos museus foram adoptadas formas de garantir a acessibilidade a pessoas com deficiência

/ necessidades especiais, tais como, a implementação de um Code of Practice ou a criação de um

Disabilities Office, cujas missões passam por chamar a atenção e sensibilizar os museus para a

inserção de todos os visitantes nas suas actividades culturais. Com o mesmo intuito foi, também,

criada a MAGDA (Museums and Galleries Disabilities Association), que, através de um grupo

voluntário de trabalho, desafiava os museus e os seus colaboradores a criar exposições para todos

os públicos, apresentando como principais medidas a criação de rampas, elevadores,

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estacionamento, sistemas loop, telefones com a altura certa, disponibilização de informação em

computadores, sinalética adequada e publicidade (Fondation, 1991:16).

Em França, por exemplo, entre as várias instituições que se afirmaram pioneiras na criação de

acessibilidade para todos, destacam-se três casos de grande sucesso: o Museu d’Orsay, o Museu

do Louvre e a Cité dês Sciences et de l’Industrie4 (Cidade das Ciências e da Indústria), (Fondation,

1991:70-75). Neste último, estabeleceu-se a máxima de que todos têm direito a aceder à cultura,

particularmente à cultura tecnológica, científica e industrial, sem que nenhum grupo social seja

excluido (Fondation, 1991:160-162).

Na Dinamarca, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Reino Unido, Irlanda e Itália foi

estabelecido o código TO ENABLE5 que aprovisionava o acesso a teatros, cinemas e galerias

(Fondation, 1991:5). Num patamar organizacional, a EUROCREIA (European Association for the

Creativity of the Disabled) dedicou-se a levar a criatividade à vida das pessoas com deficiência

(Fondation, 1991:5).

Em 19786, foi publicado um documento legal representativo da percepção do problema que as

barreiras físicas podem causar às pessoas com problemas de locomoção. Este documento refere

as dificuldades de mobilidade dentro dos espaços, nomeadamente no acesso a todos os serviços

destinados ao público. A 30 de Abril de 1985, sob o artigo 3, Rules governing the abolition of

architectural barriers, criavam-se, legalmente, formas de inclusão, através da eliminação de

barreiras físicas/arquitectónicas. Na eliminação de barreiras tiveram-se em conta vários

parâmetros, constando-se os quatro seguintes como sendo os mais importantes:

4 Louis-Pierre Grosbois faz referência aos 10 a 15 mil visitantes por dia, com excepção do fim-de-semana

relativo ao dia de Todos os Santos em que recebeu 50 mil, dados relativos ao ano de 1988. A Cité dês

Sciences et de l’Industrie, em 1975 apresentava já como missão os seguintes aspectos: industrial and

commercial establishments whose cultural mission is to render progress in sciences, techniques and industrial

knowhow acessible to all publics, to broaden the cultural horizon of the men of this country ever more widly to

embrace the new prospects afforded by the sciences, the vast field of possible acjievements secured by the

new Technologies, and the changes in Outlook introduced into social and economic life by the scientific anf

technical transformations (Fondation, 1991, p. 23). 5 TO ENABLE refere-se a: T = Transport (Transportes), O = Outside (Exterior); E = Entrance and exit (Entrada

e saída), N = Notifications (Notificações), A = Areas of venue (Áreas locais), B = Bars and restaurants

(Cafetarias e restaurantes), L = Loos/Lavatories (Lavabos), E = Extras (extras: catálogos, interpretes, etc.),

(Fondation, 1991:5) 6 Statutory Instrument n.º 7-109, artigo 4, de Fevereiro de 1978, p.53: premisses are considered to be

accessible to disabled persons with a walking handicap in all cases where they afford such persons,

particularly those who must constantly use a wheelchair, the possibility of entering, moving freely from one

point to another once inside, leaving again under normal conditions of convenience, and taking advantage of

all the services offered to the public.

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a) Falta de acessibilidade física,

b) Problemas de percepção sensorial,

c) Entendimento conceptual,

d) Aceitação por parte do restante público.

Entre 1982 e 1984 foram publicados dois documentos, o Critères d’acessibilité aux présentation,

com a colaboração do arquitecto Louis-Pierre Grosbois, e Charter for the Disabled, apresentado

pelo então Director da Cité dês Sciences et de l’Industrie, Paul Delouvrier, que visavam a

integração das pessoas com deficiências nos espaços culturais.

As barreiras físicas foram, igualmente, abordadas no projecto Venice for all que, contemplava

todas as pessoas com deficiência de locomoção, bem como a população mais velha (que

constituía cerca de 60% da população Veneziana, no censo realizado em 1981), crianças com

menos de 5 anos, grávidas e vítimas de acidentes (Fondation, 1991:77-81).

Mas, não são só as barreiras físicas que impedem o livre acesso. Marcus Weisen refere como

maior barreira, o preconceito, e expõe a discriminação do público geral aos cegos, evidenciando o

popularizado pensamento aplicado nos museus: “és cego e os museus não são para ti” (tradução

da autora). Weisen identifica, estatisticamente, um em cada dez membros da população europeia

com deficiência, o que anula as pessoas portadoras de deficiência como sendo uma minoria,

reforçando a ideia, já exposta, relativamente aos 15% de deficientes na população europeia,

(Fondation, 1991:107-113).

Robert Benoist faz a mesma analogia, ao dizer que em França, e em outros países com

similaridades civilizacionais e económicas, há um cego em cada mil membros da população.

Refere, ainda, a importância da presença física no local a visitar, pela oportunidade de

testemunhar os sons, ecos e vibrações do ar, o que invalida a teoria por muitos creditada, de

recrear as visitas nos museus sem recorrer aos espaços de exposição, minorando desta forma a

necessidade de adaptação destes locais às pessoas com deficiência visual (Fondation, 1991:86-

92).

Mais uma vez, a necessidade de alteração de valores preestabelecidos é enunciada por Gilles

Grandjean que remete para a máxima do “NÃO TOCAR” típica dos museus e que exclui, à partida,

os visitantes cegos, (Fondation, 1991:101). Obviamente, a necessidade de conservação muitas

vezes impõe-se sobre a possibilidade de tocar nas peças. Por essa razão, ter-se-á de estabelecer

critérios de selecção que passarão, obrigatoriamente, pela natureza do material e da capacidade

de leitura da peça (determinada pelo tamanho).

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Na criação de material táctil terão de ser estudadas as melhores formas de disponibilização, tendo

em conta a sua resistência e degradação, tanto na escultura como no vidro, tapeçaria, pedra,

materiais orgânicos e metais.

Nas últimas décadas, tem-se assistido, por toda a Europa, e um pouco por todo o Mundo, a uma

crescente tomada de consciência e aceitação da ideia de que o acesso à cultura por parte de

crianças, jovens, adultos, idosos, deficientes e outras pessoas com necessidades especiais deve

ser incluída no sistema cultural.

Em Portugal, a partir dos anos 80, tem vindo a ser reforçado, no plano legislativo, o direito das

crianças e jovens com necessidades especiais de usufruírem de condições de educação

adequadas que promovam o seu desenvolvimento e o uso total das suas capacidades, devendo

estas beneficiar de um ambiente menos restritivo possível, baseado na filosofia da “escola para

todos”. No entanto, na condição de acesso cultural, nomeadamente a museus, não há legislação

específica, sendo esta constituída pela recolha de vários artigos contemplados na lei, que no

entanto são referentes a requisições específicas, como sendo o caso do Decreto-Lei 163/067 que

promove a eliminação de barreiras arquitectónicas, e da Declaração dos Direitos Humanos8 que

atende à igualdade de oportunidade para todos os cidadãos.

No entanto, a aplicação de medidas, consagradas na legislação, ainda enfrenta algumas

dificuldades. Por todo o país podem ser encontradas algumas experiências de sucesso, provando

que é possível pôr em prática os princípios da inclusão, apesar de todas as dificuldades ainda

existentes. Contudo, as boas práticas não devem ser apenas situações pontuais decorrentes da

abundância de recursos mas, sobretudo, devem partir do envolvimento real e do trabalho

desenvolvido por todos os agentes culturais.

No início de 2002, de acordo com os dados recolhidos pelo painel Europeu sobre deficiência

declarada, 10% dos Europeus sofrem de uma deficiência moderada, enquanto 4,5 % possui uma

deficiência profunda, o que equivale a quase 15% da população Europeia9, no grupo etário dos 16

aos 64 anos. Não se trata, portanto, de uma minoria social, como tão comummente é encarada e

descrita. O panorama nacional, segundo dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística

em 1996, também não deixa margens para dúvidas:

7 Vide anexo p. 140 8 Vide anexo p. 112 9 Fonte: Eurostat “Deficiência e Participação Social na Europa”

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Faixa etária % de deficiência

0 – 2 anos 2.6

3 – 5 anos 4.4

6 – 15 anos 6.9

16 – 24 anos 6.6

25 – 34 anos 7.8

35 – 44 anos 8.9

45 – 54 anos 13.7

55 – 64 anos 24.8

65- 74 anos 36.8

> 75 anos 76.2

Tabela 1 – Adaptação de Bruno Miguel Gomes Maria de “Inquérito nacional às incapacidades, deficiências e

desvantagens”, pp. 24 e 25

E se a decomposição for feita por incapacidade, resultará na seguinte divisão:

Incapacidade Percentagem

Visão 8.3

Audição 7.1

Fala 4.1

Comunicação 5.4

Locomoção 22.1

Tabela 2 – Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e Desvantagens, pp. 27-29

Sem descuidar outros tipos de necessidades especiais tais como a incapacidade face às tarefas

diárias, com 6.6%, aos cuidados pessoais, com 8.1%, comportamentais, com 12.3%, e face a

situações, com 25.9%.

Quanto à legislação europeia, já foram tomadas as principais medidas com vista a garantir os

direitos dos cidadãos europeus com deficiência e para prevenir a sua exclusão social. A

discriminação, baseada numa deficiência, e a prevenção da descriminação são, pela primeira vez,

enunciadas no Tratado da UE de 199710. Nas últimas décadas, têm sido levadas a cabo várias

10 Também conhecido por Tratado de Amesterdão. De acordo com o artigo 13, o Conselho da União Europeia

pode levar a cabo qualquer acção adequada ao combate da descriminação baseada no sexo, raça ou etnia,

religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual.

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reformas, com vista à melhoria das condições das pessoas com deficiência na Europa, sendo que

muitas destas reformas devem a sua existência ao Fundo Social Europeu11 (FSE).

Os cidadãos com necessidades especiais, têm o direito de usufruir de toda e qualquer actividade

cultural, a qual deverá ser realizada de forma a abarcar todos os cidadãos, por igual, contribuindo

para a sua integração na sociedade. Juha Siitonen12 vai mais longe ao afirmar que o sentimento

interior de poder ainda não foi assimilado no quotidiano das pessoas com deficiência, considerado

no conceito de empowerment, o qual é definido como sendo um sentimento que liberta as

faculdades e a responsabilidade criativa de uma pessoa. As pessoas que atingiram este

sentimento interior de poder transmitem uma carga positiva que está relacionada com uma

atmosfera confidencial e com uma experiência de avaliação. Estas pessoas estão dispostas a

testar o seu melhor e a ser responsáveis pelo bem-estar dos outros membros da comunidade.

Com base nesse conceito, o melhor exemplo de combate à exclusão é feito pelas pessoas com

deficiência que atingiram um sentimento interior de poder, dado saberem que podem e devem,

usufruir dos mesmos direitos que os outros cidadãos. Não obstante, a maior parte dos documentos

referentes à igualdade de oportunidades não faz menção a actividades culturais.

Para a maioria, este tema poderá ser considerado como superficial, comparado com outros temas

considerados de maior relevância. A dificuldade de integração na vida profissional e social

assume-se como prioritária. No entanto, a esfera do direito ao divertimento e ao lazer não diz

respeito apenas a aspectos legais e objectivos mas, também, a mudanças sociais, o que se traduz

na eliminação da barreira do preconceito e das injustiças, uma vez que existe uma tendência

constante em negar aos deficientes o direito de viverem a sua vida social, económica e cultural,

como qualquer outra pessoa. Independentemente da deficiência, há um aspecto partilhado por

todos os deficientes, a limitação das suas escolhas. A diferença entre o poder tomar uma decisão

baseada numa escolha é praticamente inexistente face à possibilidade de o poder fazer.

Tal como refere Gilles Grandjean, (Fondation, 1991:105-106) é fundamental que os museus

alterem os seus hábitos, reflectidos nos programas e nas próprias missões, os que,

eventualmente, irão ter de sofrer algumas alterações de forma a abarcarem todos os públicos, sem

excepção:

11 Financia a implementação de novas estruturas e práticas para a prevenção da exclusão das pessoas com

deficiência no mercado de trabalho. Algumas dessas medidas contemplam a protecção no trabalho, bem

como a criação de clubes ocupacionais, baseados no modelo Fountain House, que se destinam a reabilitar os

seus utentes para a entrada no mercado de trabalho, e o desenvolvimento de centros sociais realizados

através do programa HORIZON. 12 Informação retirada de “Dos Direitos às Politicas: Um Livro Verde para a Igualdade de Oportunidades para

as Pessoas com Deficiência e suas Famílias” referente à Tese de Doutoramento de Juha Siitonen “Teoria do

Empowerment – baseada num Estudo Teórico” (Voimaantumisteorian perusteiden hahmottelua, Universidade

de Oulo, Instituto de Formação de Docentes, 1999)

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Above all, the museums must understand the irreplaceable nature of their role and the

immense potential source of satisfaction they represent for the disabled. But the latter

must also understand the imperative to witch museums are subject and witch do not

always permit fully to live up their aspirations. The last and the most important point is

that, as experience shown, the human qualities of the staff, whether curators,

attendants or lectures, will suffice to smooth out the difficulties inherent in the

institutions themselves, since, where given requirements cannot be avoid, a solutions

will invariably be found, even if only of a makeshift nature and even if valid only in a

particular circumstances of time and place.

É importante reafirmar o direito dos cidadãos com deficiência a frequentarem os museus mas,

mais importante ainda, é criar condições para que essa seja uma actividade dita “normal”.

Entenda-se aqui “normal” como classificação de uma actividade comum que possa ser efectuada

com a regularidade desejada. Para se alcançar os ideais da inclusão social torna-se necessária a

criação de programas dirigidos aos públicos diversificados que o museu pode, e deve receber. Se

num futuro próximo, formos capazes de promover a total inclusão de pessoas com deficiência ao

nível dos tempos livres, a nossa sociedade dará certamente um passo adiante. Ou seja, estaremos

a contribuir para a criação de um novo sistema social, mais atento às necessidades dos cidadãos,

e viveremos em cidades ou países mais fáceis e amigáveis para todos. Para que seja construída

uma sociedade “à medida do homem” é essencial que o direito ao divertimento seja garantido às

pessoas com deficiência (LPDM, 2002:33).

Ao longo das últimas décadas, os museus têm-se metamorfoseado, abrindo as portas a um público

cada vez mais vasto, diversificado e exigente. É inegável o elevado estatuto que o público tem

vindo a obter face às próprias colecções e, cada vez mais, a existência e futura sobrevivência dos

museus passará pela inclusão e pela captação de novos públicos pelo que, se vai tornando

inadiável a sua abertura a todos, sem excepção.

Não há dúvida que grandes transformações foram e continuam a ser levadas a cabo no que

concerne à promoção da inclusão. Contudo, não se pode continuar a projectar programas para

pessoas com deficiência, de forma pontual, nem tão pouco, encará-las como um “não” público dos

museus. Os museus, neste campo, poderão ser parceiros interventivos de grande valor junto da

sociedade e é precisamente essa valia que demanda reconhecimento, aceitação e implementação.

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CAPÍTULO 2

EXPLORANDO A DIFERENÇA

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2.1. Da desmistificação à aceitação

Desde que o homem se conhece como tal que a deficiência está presente no seu universo social.

No entanto, várias foram as formas que esta adquiriu ao longo dos tempos. Neste capítulo,

pretende-se dar um breve conhecimento do caminho que o conceito de deficiência percorreu até

chegar à sua identificação actual e demonstrar, através de alguns exemplos, a sua evolução

“natural”. De forma geral, pretende-se explorar o universo lato da acessibilidade, definir alguns

conceitos e traçar uma linha histórica que marque e explore a evolução dos mesmos, de forma a

enquadrar as atitudes e mentalidades actuais.

Na Grécia Antiga, a perfeição do corpo apresentava-se como um ideal associado aos deuses, ideal

esse que apenas alguns humanos mais notórios podiam almejar. Tratava-se do aperfeiçoamento

humano supremo, sem lugar para defeitos e/ou desvios. De certa forma, esta noção foi

sobrevivendo, através de várias adaptações, até à actualidade, dado que a perfeição corporal

continua a ser um ideal a atingir e em destaque, quase extremo, no consciente do ser humano.

Tudo o que se afaste dessa noção de perfeição, foge da ideia de beleza, de harmonia e de

“normalidade”. Lennard Davis foi quem introduziu a noção de “hegemonia da normalidade” em que

a deficiência se distinguia da norma pela sua imposição de características de inferioridade.

O tema “corpo” foi, ao longo da história, atentamente estudado e fortemente discutido nas

relativamente às suas funcionalidades. Mas, foi Michel Foucault que reforçou o lugar do corpo na

crítica social, em a “História da Loucura”, na qual este pensador expôs o processo que levou à

separação da loucura e de outras formas de insanidade / perda da razão num nível histórico, ao

mesmo tempo que se iam separando os conceitos de normal e anormal.

A tentativa de controlar a deficiência vem, igualmente, desde a Grécia Antiga, sendo prova disso o

infanticídio praticado em Atenas e Esparta, onde todas as crianças que apresentassem qualquer

deformidade física ou atraso mental eram abandonadas em contextos naturais, como montanhas,

vales profundos ou zonas desertas, para que os desígnios dos deuses e da natureza sobre elas

actuassem. Mesmo em Roma, só a partir do século II foi proibida a acção de selecção, por parte

do paterfamilias. Aristóteles na sua obra “Política”, defendia a existência de uma lei que

assegurasse que nenhuma criança deformada sobrevivesse.

Durante a Idade Média, as práticas de caridade tomaram proporções gigantescas, primeiro, porque

as condições precárias e incertas da existência, comuns naquele tempo, marcariam com maior

incidência os mais vulneráveis; segundo, porque os relatos da vida de Jesus conferem particular

ênfase ao encontro transformador com as pessoas em que então se assinalava alguma doença ou

“deformidade” corporal; terceiro, porque a existência de condições que eram tidas como

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incapacitantes operava como forma de legitimar a necessidade de cuidado, subtraindo os sujeitos

a eventuais acusações de aproveitamento e ociosidade, (Martins, 2006: 54).

A deficiência era encarada como um mal proveniente de justiça divina13 em que os sujeitos eram

encarados como “objectos” de caridade, o que, no fundo, não é mais do que a aplicação das

práticas da tradição judaico-cristã que associam a deficiência a um castigo divino. A separação

entre o que é considerado normal e o que se reporta ao sobrenatural só foi estabelecida a partir do

século XVI. Até então, as deficiências eram vistas como consequência de pactos faustianos e

manifestações satânicas, e assim permaneceram até serem “desmistificadas” pelos movimentos

iluministas. Devido à associação da deficiência a forças sobrenaturais, durante a Inquisição, nos

séculos XV e XVI, muitas foram as pessoas que se viram arrastadas para a chamada “caça às

bruxas”, devido às suas manifestas “diferenças”, próprias da noção relativista do corpo que

persistiu até ao século XVIII.

No século XVII, surge a primeira forma de ligação entre o poder e a vida através do corpo. Este é

considerado uma máquina, estabelecendo uma ligação intrínseca com o aproveitamento

económico. Durante o século XVIII, houve nova ruptura na forma confusa com que as práticas de

caridade eram atribuídas aos mais necessitados. Foucault designaria por “Le Grand Renferment” o

movimento histórico em que os intervenientes procuram controlar a proliferação de mendigos14

derivada da crise económica, os quais afectavam a ordem social do mundo ocidental. Dá-se o

nascimento do “biopoder”, como norma reguladora da vida social.

Ao se constatar a existência de diversos tipos de deficiências assim como graus de gravidade das

mesmas, desenvolve-se a noção de “desvio” do estado normal de saúde, em que a doença se

categoriza como um desvio temporário, enquanto que a deficiência se assume como factor de fatal

incurabilidade.

A Carta de Diderot, 1749, representa a nova mentalidade social e cultural. As deficiências

começam a ser encaradas como situações passíveis de tratamento. O conceito de normalidade, o

“é” em oposição ao “deve ser” surge como um intento normalizador que se impõe como

consequência da nomeação da deficiência em contraposição à normalidade, isto é, cegueira em

oposição à visão, a surdez em oposição à audição.

Com o capitalismo industrial, aumenta a exclusão social. As pessoas com deficiência que

trabalhavam na agricultura e pequenas manufacturas familiares vêem-se marginalizadas e

13 Teodiceia – afirmação da bondade e justiça de Deus perante a existência do mal e do sofrimento. 14 Ao referir mendigos convém recordar que, nesse mesmo patamar, se encontravam as viúvas, os órfãos, os

doentes, os inválidos, os loucos, os mendigos, os promíscuos, os deficientes, os ociosos, etc., só muito mais

tarde se começou a fazer a separação entre aqueles que realmente necessitavam de caridade dos outros que

poderiam trabalhar para o próprio sustento.

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excluídas da economia produtiva, o corpo adquire uma apetência puramente mecânica e funcional

sob a máxima de que quem não se adaptava às condições de produção seria, automaticamente,

excluído. A deficiência era vista como uma incapacidade funcional, a representação de uma

máquina imperfeita.

A concepção do significado do termo ”deficiência” foi criada no século XVIII, tendo os mesmos

parâmetros sido mantidos até à década de 60 do século XX, altura em que se repensou a

organização social, sob o ponto de vista da marginalização e da opressão que levam à

subalternização das pessoas com deficiência. A alteração de valores, ocorridos no período que vai

desde 1960 a 1980, deveu-se, sobretudo, aos movimentos estudantis em prol dos direitos

humanos, que reestruturaram os valores e as práticas, bem como, a noção de cidadania como

princípio de igualdade.

Nos Estados Unidos, a Guerra do Vietname veio aumentar exponencialmente o número de

pessoas com deficiência e, com o fim da guerra, cresce a luta pela igualdade dos direitos

humanos.

Em Inglaterra, em 1976, a Union of the Physically Impaired Against Segregation (UPIAS) publicou

os “Princípios Fundamentais da Deficiência” (Fundamental Principles of Disability), que definem

impairment (deficiência) como uma condição biológica e a disability (incapacidade) como uma

forma particular de opressão social.15 Michael Oliver refere-se ao “Modelo Social da Deficiência”,

de 1983, como sendo a politização da deficiência, um modelo individual / médico da deficiência,

em que as pessoas deficientes tinham de assumir o papel social do doente / paciente, (Martins,

2006:27). É aí que residem os estereótipos centrais de inválido trágico, de amargurado que

procura vingança do mundo e alcançar a cura a qualquer custo, ou ainda, do herói que triunfa

sobre a tragédia. É nesta narrativa de tragédia pessoal que a deficiência se assume, silenciosa,

face à experiência da opressão e se entrega ao fatalismo da marginalização.

15Impairement é descrito como sendo a ausência de parte ou de totalidade de um membro, ou existência de

um membro, órgão ou mecanismo corporal defeituoso enquanto disability é a desvantagem ou restrição de

actividade causada por uma organização social contemporânea que tome pouca ou nenhuma consideração

pelas pessoas com impairments físicos, e que, assim, as exclui da participação nas actividades sociais

centrais. A deficiência física é, portanto, uma forma particular de opressão social. Note-se que em 1980 no

International Classification of Imparements, Disabilities, and Handicaps (ICIDH) as definições associadas à

deficiência são descritas como: Impairment: no contexto da experiência de saúde, é qualquer perda ou

anormalidade psicológica, fisiológica ou anatómica da estrutura ou função; Disability: no contexto da

experiência de saúde, é qualquer restrição ou ausência (resultando de um imparement) da capacidade para

realizar uma actividade do modo ou dentro do âmbito considerado normal para um ser humano; Handicap: no

contexto da experiência de saúde, é uma desvantagem para um dado indivíduo, resultando de um

imparement ou disability, que limita ou impede o cumprimento de um papel que é normal (dependendo da

idade, sexo, factores sociais e culturais) para dado indivíduo. (Martins, 2006)

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Existem ainda civilizações que não conseguiram desmistificar a deficiência e encará-la de forma

“natural”. Tal como referido anteriormente, muitas vezes associou-se a deficiência a forças

sobrenaturais, a castigos divinos, factos esses que podem ser constatados em alguns registos

etnográficos. Por exemplo, no Quénia e na ilha de Bornéu, a deficiência continua a ser vista como

um infortúnio divino imputado à criança. No Bornéu, atribuem a cegueira à nascença, à

inexistência do espírito do olho, e à separação e progressiva ausência deste no caso de doenças

que levam à cegueira. As pessoas com deficiência mental são consideradas apenas “meio-

humanas”. No caso de demência, os sujeitos encontram-se temporariamente “des-humanizados”

por espíritos que invadem os seus corpos, (Martins, 2006:30-35).

Igualmente na literatura pode-se verificar uma tendência de ligar a deficiência a um mundo mágico

coberto de misticismo. Na Bíblia, observam-se duas vertentes da mesma simbologia: no Velho

Testamento, a lei hebraica governa sob um rígido código de conduta: nenhum dos teus

descendentes, de geração em geração, se sofrer de alguma deformidade não poderá oferecer o

pão do seu Deus (Lv 21:1616) enquanto que no Novo Testamento, a evidência de impureza que

leva à caridade desaparece: Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego (Jo

5:1).17

Existem também referências à cegueira como uma forma de “ver” o invisível aos olhos, é o caso de

Tirésias, apresentado na mitologia como o cego vidente que descortina o fado do Réu Édipo, o

único de entre os homens em que a verdade lançou raízes (Sofocles, 1995:82), acabando por ser

punido com a cegueira, que aqui é retratada de forma simbólica, representando a morte, a luz

versus a escuridão, as trevas eternas: Tu vês e não tens olhos para a cegueira a que chegaste

(Sofocles, 1995:82). O mesmo se poderia dizer de Sansão que, ao lhe serem retirados os olhos,

pelos Filisteus, perdeu a visão da sua força a qual recupera, num último esforço de redenção (Jz

17:21).

Outra obra que não poderia deixar de ser referenciada é o “Ensaio sobre a Cegueira”, de José

Saramago (1998), cujo enredo é marcado por uma inexplicável epidemia de “cegueira branca” , a

qual leva ao encarceramento repressivo de todos os infectados (à semelhança das leprosarias da

Idade Média). Nesta obra, as vivências deixam a nú conceitos como a precariedade da dignidade

humana. Saramago anula a experiência das pessoas cegas em prol dos preconceitos sociais, o

que também acontece (demasiadas vezes) na vida real. Tratam-se conceitos como a ignorância, a

alienação, a morte, a vulnerabilidade, ganância, negrume, infortúnio, reclusão, incapacidade,

improdutividade e a dependência associados à falta de visão.

16 Todas as referências e citações apresentadas encontram-se na Bíblia Sagrada, 14º edição, 1988. 17 Muitas mais referências poderiam ser transcritas: A cura dum surdo-gago – Mc 7:31; A cura do cego de

Batsaida – Mc 9:22; O epiléptico demoníaco – Mc 9:14; O cego de Jericó – Lc 19:35

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“Perfume de Mulher”18 é mais um exemplo de fusão entre as fronteiras da ficção e da realidade.

Esta obra retrata um Tenente-coronel, remetido à reserva, depois de 50 anos de serviço, devido a

um acidente que o deixou cego. Este, ruma a Nova Iorque com o derradeiro objectivo de pôr fim à

sua vida, envergando o símbolo da sua dignidade (a farda do exército), dignidade essa que lhe

fora retirada pela cegueira. O público é, assim, remetido para todas as histórias silenciadas, de

tantos combatentes que regressaram da guerra com deficiências e que, desta forma, se viram

postos de parte pela mesma sociedade que os recebera como heróis.

Estes foram alguns dos exemplos escolhidos, mas muitos mais haveria a enunciar. A literatura e o

cinema estão repletos de histórias de realidade ficcionada. A tentativa de justificação cruza-se com

o esforço de sensibilização social, numa última busca de aceitação. A imposição de conceitos é

evidente, a normalidade tenta sempre abraçar a deficiência no seu seio, esquecendo que esta não

precisa de resgate mas sim, de ser, simplesmente, aceite e respeitada, na sua heterogeneidade.

18 Scent of a Woman – 1992, adaptação da obra de Dino Risi, Profomo di Donna, 1974.

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2.2. Problematizando a Exclusão Social19

A inclusão tem sido, nos últimos anos, um dos temas centrais da Comissão Europeia e surge como

uma problemática central no contexto de sociedades marcadas pelo processo desencadeado pela

volatilização do marcado de trabalho e pela assunção reflexiva das identidades dos indivíduos e

dos grupos. Estes dois processos sociais produzem formas de exclusão distintas. A primeira é

caracterizada pela individualização das necessidades dos indivíduos; a segunda, pelo

protagonismo dos indivíduos e dos grupos no âmbito da sua própria exclusão. (Stoer, 2005:61)

A internacionalização e o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais heterogénea e

cosmopolita leva à emergência de um novo cenário social. Tal como Fernando Ruivo refere,

vivemos numa época em que, diariamente, somos confrontados com o ritmo acelerado de

transformações sociais que fazem mudar, de modo por vezes quase imperceptível, os

comportamentos, as mentalidades e as próprias necessidades dos agentes e das instituições

(Ruivo, 2002:13). Talvez por isso mesmo, exista uma enorme lacuna entre a legislação existente,

chamada de “law-in-the-books”, e a que é realmente aplicada, a “law-in-action”, provocando muitas

vezes a confusão dentro das instituições, já que nem sempre a lei aponta para o combate à

exclusão social. Ruivo refere ainda que, muitas vezes, em termos jurídicos e político-

administrativos, os discursos e os modelos oficiais sobre o funcionamento das instituições

encerram sistemas de auto-imagem que procuram, de forma muito precisa, atrair a atenção da

audiência para a simplicidade, racionalidade e transparência das suas actuações para o exterior

(Ruivo, 2002:25).

Torna-se paradoxal que nesta cultura inclusiva, que tanto se advoga, seja nos aspectos

arquitectónicos ou sociais, a exclusão surja como sendo a norma (Stoer, 2005:10), e que sejam as

IPSS’s (Instituições Particulares de Solidariedade Social), a assumir as principais

responsabilidades relativas à inclusão, através da promoção de iniciativas diversas, tendo como

fim a eliminação, ou pelo menos, minimização dos factores que desencadeiam a exclusão social.

Citando, mais uma vez, Fernando Ruivo, a sociedade portuguesa tem vindo a ser qualificada por

alguns analistas como uma sociedade semi-periférica, ou seja, uma sociedade de desenvolvimento

intermédio com tradução ao nível do perfil e funcionamento da esfera da produção como também

no tipo de regulação social. Uma das especificidades desta sociedade consiste, precisamente, no

19 A exclusão em termos economicistas é definida por Manuel Castells como sendo o processo pelo qual

certos indivíduos e grupos são sistematicamente impedidos de aceder a posições que lhes permitiriam uma

forma autónoma dentro das normas sociais, enquadrados por instituições e valores, num determinado

contexto. Em circunstancias normais, no capitalismo informacional esta posição é comummente associada

com a possibilidade de acesso a um trabalho pago regularmente para, pelo menos, um membro num

agregado familiar estável. A exclusão social é, de facto, o processo que não permite a uma pessoa o trabalho

no contexto do capitalismo.

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interesse particular da relação entre os termos do binómio Estado-sociedade providência, dado

que, (…) se trata de mais uma chamada a desempenhar um papel central na prestação de

determinados serviços sociais (Ruivo, 2002:79). Mais uma vez, o dever social de todos os

cidadãos fica subvalorizado, perante a atribuição de responsabilidades apenas a determinadas

instituições, dificultando e prolongando a implementação de acções que seriam muito mais

profícuas se assumidas e partilhadas por todos.

Persiste, ainda, um sentimento de impotência, por parte dos intervenientes, que nem sempre

sabem como actuar e que se questionam sobre se possuem as ferramentas adequadas para

actuar, agir. Isto acontece, em grande parte, devido à grande diversidade e extensão do fenómeno

da exclusão. Desta forma, desenvolve-se o comummente chamado “efeito bola-de-neve”: o

sentimento de impotência leva à falta de motivação que, em última instância, conduzirá à redução

da intervenção. Ainda assim, nos últimos anos, verifica-se um interesse crescente nesta área,

começando a produzir profundas alterações nas intervenções realizadas. Acontece, por vezes, que

os agentes que criam obstáculos à participação efectiva, são os próprios indivíduos, que alternam

entre o envolvimento activo e intensivo e a atitude passiva e desencorajadora, sendo o factor

“participação” uma das componentes mais importantes para se desenvolver uma abordagem

integrada.

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2.3. Diversidade Humana

A população mundial é feita de diversidades, cosmopoliticismos, simbioses de culturas,

intercâmbios de conhecimentos, deixando de existirem fronteiras populacionais e culturais.

Quando se fala de diversidade, convém salientar que os factores determinantes da progressiva

diversificação da população Europeia traduzem-se na qualidade de vida, na imigração, na taxa de

nascimento e nos direitos civis, e que a diversidade se pode assumir perante cinco perspectivas

distintas, sendo elas (CEA, 2005:301-39):

Diversidade Identificação

Dimensional Relaciona-se com aspectos quantitativos como a altura, peso, tamanho e largura

dos membros, etc. É importante no sentido da criação de valores relacionados com

produtos, serviços e meios físicos, para um restrito sector populacional. Para que

se consiga abranger toda a população é necessário seguir os parâmetros do design

universal, isto é, desenhar de forma valida para todas as pessoas. Por exemplo,

desenhar portas suficientemente largas para cadeiras de rodas, permite,

igualmente, a passagem de utentes sem cadeira de rodas, o inverso já não é

possível.

Perceptiva A perda dos sentidos, maximizada pelo grau, interfere com a forma de

relacionamento com o meio físico

Motora Os problemas de mobilidade são estão restritos a pessoas em cadeiras de rodas,

como comummente se pensa, desta forma, embora o meio físico universal / para

todos seja pensado para utentes em cadeiras de rodas, é importante não esquecer

que existem outros problemas decorrentes da falta de mobilidade e é, igualmente,

importante não favorecer determinados grupos em detrimento de outros.

Cognitiva As alterações cognitivas interferem com a capacidade de recepção e

processamento de informação, nomeadamente, na orientação espacial / temporal.

Dentro das alterações de natureza cognitiva incluem-se os distúrbios de memória,

problemas de orientação espacial, dificuldades de recordar informação “básica” e falta de

habilidade ou capacidade para falar, ler, escrever ou compreender as palavras.

Demográfica O envelhecimento da população e o aumento da imigração são factores

determinantes da diversidade cultural e funcional

Tabela 3 – Factores determinantes para a diversidade humana

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As comunidades nacionais encontram-se globalizadas. Desta forma, não se justifica a aceitação de

novos “povos” sem a aceitação da diversidade, seja ela a nível social, cultural, etnográfico ou

geográfico. Contudo, continua a existir o preconceito. As pessoas são catalogadas segundo os

antigos princípios derivados da Revolução Industrial. Quem não tem total capacidade física, não é

considerado “apto” a interagir activamente na sociedade, seja essa incapacidade por motivos de

idade avançada, seja por qualquer outra deficiência limitativa.

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CAPÍTULO 3

A RECONFIGURAÇÃO DO MUSEU

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3.1. A conceptualização do museu

Instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins

lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:

a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valoriza-los através

da investigação, incorporação, conservação, interpretação, exposição e divulgação,

com objectivos científicos, educativos e lúdicos;

b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a

promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.

Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem

as características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para

o museu, ainda que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como

zoológicas, testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de

realidades existentes ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel,

ambiental e paisagístico.20

Esta é a definição de Museu, segundo a Lei-Quadro. Como se constata nas suas alíneas, o Museu

encontra-se ao serviço da protecção e conservação do património mas, também, do público. Dita

definição não difere da defendida pelo ICOM, na qual o museu se encontra ao serviço da

sociedade e do seu desenvolvimento, é aberto ao público. Para além disso, deve adquirir,

conservar, investigar, comunicar e expôr a evidência material do Homem e do que o rodeia, com o

objectivo de estudar, educar e divertir. No entanto, por mais natural que estas missões possam

parecer, a verdade é que caracterizam a longa evolução que os museus foram sofrendo ao longo

dos anos.

O que é um Museu? Que características deve ter? Que condições deve reunir para o seu

reconhecimento? Todas as questões sofreram uma evolução nas suas respectivas respostas. De

1951 a 1983, o museu foi questionado e definindo o seu reconhecimento perante a sociedade,

seguindo sempre parâmetros de abertura que modelaram novas formas de actuação. O seu

esforço em acompanhar as tendências sociais, não pode deixar de ser reconhecido mas, o museu

enfrenta novos desafios que se elevam para além da conservação e exposição, e que se cruzam

com a captação de públicos.

20 Segundo o artigo 3º do Capitulo I da Lei n.º 47/2004

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Muito tempo separa os Gabinetes de Curiosidades do agora complexo museu contemporâneo

massificado, que vê a sua sobrevivência ligada ao desenvolvimento de técnicas de convencimento,

nos processos de comunicação e divulgação. A caracterização dos museus deste século,

qualificam-no como um espaço de representação para um público cada vez mais heterogéneo e

exigente. Não basta, para a sua sobrevivência, a acumulação de história e de tempo, têm de ser

activos na busca e satisfação de necessidades, necessidades essas que se prendem, igualmente,

com as das pessoas com deficiência que não poderão ser esquecidas no planeamento dos

programas museológicos actuais.

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3.2. O paradigma na construção de novas missões museológicas

Any casual visitor to museums in Britain would assume that disabled people occupied a specific

range of roles in the nation’s history. The absence of disabled people as creators of arts, in

images and in artefacts, and their presence in selected works reinforcing cultural inclusion

stereotypes, conspire to present narrow perspective of the existence of disabled people? In my

opinion it is time that museums were more proactive in looking for what their collections hold,

digging out the information buried in the footnotes and re-instating the identity of the celebrated

and ordinary disabled people in their purview. Disabled people should be brought into the

museum and supported in understanding where they existed in the past, to reinforce their right

to belong in the present. Non-disabled people should be informed, through clear factual labelling

and positive images, to see disabled people as having always been there – and often to

societies benefit (Dodd e Sandell, 2001:33).

O papel social dos museus tem-se apresentado como uma crescente preocupação por parte dos

profissionais e das instituições museológicas, constituindo um novo desafio, resultante do

alargamento do conceito de públicos, dos programas dos serviços educativos, da renovação dos

projectos museológicos e discursos museográficos assim como da disposição arquitectónica dos

espaços e edifícios. Gilles Grandjean (Fondation, 1991:101-106) afirma que os museus têm de

compreender a natureza insubstituível do seu papel e do seu imenso potencial na possibilidade de

oferecer satisfação aos públicos com deficiência. Sem dúvida, estas questões obrigam a que uma

nova visão museológica se cruze, inevitavelmente, com a questão da revitalização do conceito de

museu, que passa em grande parte pela sua difusão “além paredes”.

Os museus ocupam um lugar paradoxal na cultura. Para que servem? Qual o seu objectivo na

sociedade contemporânea? Nos últimos anos tem-se assistido a uma busca incessante pelo

aumento de públicos. Ainda assim, os museus continuam a falhar no incremento do número de

visitantes, principalmente na atracção de minorias e na competição com outros espaços de lazer.

Estas questões obrigam os profissionais de museus e pensar menos na conservação e mais nas

missões dos serviços de educação e dos próprios museus. A função social dos museus tem

potencial e competências para desempenhar funções sociais. Coleccionar, preservar e expôr não

poderão ser um fim em si, mas um meio de desempenhar um papel social, facilitando o acesso à

cultura.

Nascido da sociedade ocidental, o Museu afirmou-se como uma criação cultural

urbana cuja função e importância é desde sempre interrogada, paralelamente à sua

progressiva afirmação de lugar de cultura, de conhecimento, de ilusão e de metáfora

do mundo, de ressonância de poder (…) O Museu oferece-se como um campo de

representação onde é possível constatar, analisar e reflectir sobre questões que

atravessam verticalmente a sociedade contemporânea (Guimarães, 2004:17-18).

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Desde 1980, assiste-se a uma mudança de natureza e de conceito, a uma maior harmonia entre a

teoria social e as práticas museológicas (Macdonald, 1996). O Museu actual assume vários papéis:

lazer, educacional, cultural, social. É um símbolo da comunidade, com um estatuto legitimador e

possuidor de características dinâmicas. Os Museus, em conjunto com a antropologia e a

sociologia, colaboram na formação da modernidade. Pode e deve ser entendido como um local

onde o mundo é realidade, ganhando, desta forma, importância no contexto do desenvolvimento,

em termos de afirmação de identidade cultural e de manifestação do seu potencial educativo

(Prösler, 1996). Não é, igualmente, novidade para estas instituições, a necessidade de mudança, à

qual têm sido expostos, no decorrer das últimas décadas, ao nível da sua organização, gestão,

recursos ou actividades (Sandell, 2002:46-47).

A nova visão museológica preocupa-se com os públicos e planeia a sua projecção social. Envolve-

se em filosofias democráticas, prevenindo-se contra o escrutínio do público e desenvolve

estratégias de marketing, de forma a alterar as tendências, em prol das necessidades das diversas

audiências, cada vez mais exigentes e conscientes dos seus direitos enquanto público cultural.

Cabe aos museus conseguir comunicar com todos os seus públicos, de forma correcta e assídua.

Tal como Eilean Hooper-Greenhill (2005) verbaliza, os museus têm de comunicar ou acabarão por

enfrentar a sua própria “morte”.

Estabeleceu-se a oposição entre “nós” e “outro”, sendo o primeiro referente ao visitante-tipo e o

segundo a todos os que não se enquadram nesse conceito.

A estrutura mental do “outro” faz parte da sociedade desde os primórdios da civilização. É um

conceito criado a partir da negação. Ou seja, o “outro” é aquele que não é “nós” (aquele que não é

branco; que não é católico; que não é europeu; que não é saudável, que não é fisicamente

perfeito…). Por outro lado, a noção de “nós” nasceu, igualmente, com a construção de um sistema

cronológico que suporta a “nossa visão de nós próprios”, (Hooper-Greenhill, 1997:29).

Nós Outro

Cristão Pagão

Clássico Bárbaro

Homem Mulher

Branco Negro

Razão Magia

Conhecimento Ignorância

Moralidade Imoralidade

Progresso Estático

Cultura Natureza

Tabela 4 – Oposição binária do “entendimento-por-distinção”

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Quando se transporta essa percepção para a vida social e cultural, aplica-se-lhe uma

compreensão ética e criam-se áreas especiais para grupos de pessoas específicos. Desta forma, a

noção de acessibilidade está presente, independentemente de ter uma aplicabilidade correcta, ou,

pelo contrário, de estimular, ainda mais, a exclusão através da promoção do preconceito, da

xenofobia, do racismo e da discriminação que elevaram barreiras culturais intransponíveis nestes

micro-ambientes que são os museus e outros centros de arte (Agyeman e Kinsman, 1997).

Os museus têm o dever social de articular a cultura com todas as pessoas, inclusive com os

“outros”, combatendo o monocentrismo instalado que nega a pluralidade, eliminando o medo pelo

desconhecido com a noção de que não existem audiências passivas. Estas, como já se referiu,

são diversificadas e autoritárias, no que concerne a aplicação e valência dos seus direitos,

enquanto membros de uma sociedade activa e multicultural. Os museus, especialmente os que

usufruem de fundos públicos, devem ser relevantes para todos os membros da sociedade, para

todos os que contribuem para a continuação do seu funcionamento. Os museus devem

estabelecer os seus objectivos em consonância com as necessidades de todos os indivíduos,

devendo dar primazia aos objectivos sociais e não aos culturais (Dodd e Sandell, 2001).

Neste seguimento, os profissionais de museus já tomaram consciência que os museus têm de ter

relevância de forma a cativarem as populações diversificadas. É imperativo estarem atentos às

necessidades das comunidades. Para isso, é necessário estabelecer contacto, envolver e atrair

novos públicos. É fundamental tornar o museu acessível, física e intelectualmente, e encorajar as

novas práticas museológicas.

A distinção entre os vários públicos dos museus deve ser estabelecida. Os museus devem tomar

em conta aspectos que os ligam a cada um desses públicos, como um todo. Não deve, no entanto,

procurar elos de ligação com as características do indivíduo em particular. Merriman estabelece

cinco tipos de visitantes de Museus: os que o museu já conquistou e mantém, as pessoas que

normalmente não visitam museus, os alunos e professores (público escolar), os turistas e os

profissionais de museus. Já Hargreaves subdivide os públicos em três simples categorias: os

frequentes (pelo menos três visitas/ano), os ocasionais (duas ou menos visitas/ano) e os não

participantes.

Hargreaves estabelece ainda seis parâmetros que devem ser considerados para cativar e manter

esses mesmos públicos. Segundo este pensador, são estes os motivos que levam um adulto a

visitar um museu, sendo eles: a interacção social, ir ao museu para estar / conviver com as

pessoas; para fazer qualquer coisa que “valha a pena”; para se sentir confortável; para ter uma

nova experiência / desafio; para ter a oportunidade de aprender algo novo ou, simplesmente, por

participação activa; acrescenta ainda que se resolveriam muitos problemas de audiência “ se

reconhecêssemos que os participantes ocasionais e os não participantes procuram experiências e

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Acessibilidade em Museus

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recompensas diferentes daquelas que actualmente encontram nos museus. Se os queremos a

adorar museus, temos de lhes oferecer alguns dos valores que para eles são importantes, em

programas que vão de encontro com algumas das suas necessidades, enquanto se continua a

providenciar o que os visitantes frequentes já acham satisfatório e recompensador”21.

Igualmente, na sua perspectiva, existem, grupos sub-representados, encontrando-se em primeiro

lugar, de forma destacada, o grupo constituído pelas pessoas com deficiência. Tal como refere, it

is impossible to underestimate the importance of addressing the needs of people with disabilities as

part of mainstream gallery position (Hooper-Greenhill, 1997:191), seguidas pelos jovens entre os

13 e os 23 anos, os negros e minorias étnicas e, por último, os grupos familiares, idosos, mulheres

e estudantes (Hooper-Greenhill, 1997).

Os museus têm um importante papel para a “união” social promovendo o aumento da auto-estima,

tanto a nível individual como colectivo, enquadrando os seus visitantes enquanto membros de uma

sociedade. No entanto, para isso, necessitam obrigatoriamente de se envolver com os públicos

que pretendem alcançar, precisam de entender os seus objectivos e aspirações, criando práticas

culturais inclusivas. Se assim não for, correm sérios riscos de se converterem socialmente em

locais “negativos”, ajudando, desta forma, à promoção da marginalização. Apesar da alteração de

atitudes em relação ao papel social e às responsabilidades que os museus devem ter, muitos

museus continuam a manter uma actividade centrada nas suas colecções, na gestão e criação das

mesmas. Essa atitude pode e deve ser mantida, no entanto, é imprescindível que o museu

mantenha um “pé no passado”, mas consiga, igualmente, colocar um “olho no futuro”.22

Os museus têm a responsabilidade social de atrair audiências, qualquer que seja o seu

background, no entanto, muitos profissionais de museus não estão bem cientes do significado que

acopla a diversidade cultural e dos desafios e oportunidades que estas diversidades podem trazer

aos museus (Dodd e Sandell, 2001:103).

Tal como se referiu, os museus para além do papel educativo e cultural têm ainda uma grande

responsabilidade social, devendo ser completamente integradores para que os visitantes com

deficiência possam usufruir ao máximo da exposição e da sua interpretação. Desde muito cedo

que o Disability Discrimination Act (DDA), proibiu a prestação de qualquer serviço que fuja da

razoabilidade na dificuldade do seu uso. “Museums, as service providers, must therefore take

reasonable steps to change any policy, practice, procedure or physical layout which makes it

impossible or difficult for a disabled person to use the service, and must provide auxiliary aids to

make the service easier to use” (Nolan, 1997:1).

21 Tradução de um excerto do artigo “Devoloping new audiences at the Nacional Portrait Gallery – London” de

Roger Hargreaves referente a Staying away: why people choose not to visit museums the M. Hood. 22 Tradução das expressões utilizadas em Dodd e Sandell, (2001:83).

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Acessibilidade em Museus

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Da mesma forma, a preocupação pela inclusão deve abranger vários sectores e não apenas as

barreiras físicas. Estas são fundamentais mas não são as únicas que podem levar ao afastamento

de públicos. E, também, devem ser considerados todos os tipos de deficiência, e não, apenas, a

“tradicional” cadeira-de-rodas, ainda que exista a deficiência física, esta não implica

obrigatoriamente que seja referente aos membros inferiores.

A deficiência é muito mais abrangente do que tradicionalmente se considera, quando se encara a

eliminação de barreiras e a inclusão de públicos com necessidades especiais. As barreiras de

comunicação são tão frustrantes como as físicas, já para não se falar nas barreiras sociais e de

preconceitos.

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Acessibilidade em Museus

Página 37

3.3.Museus Inclusivos Contra a Exclusão Social

Vivemos numa época em que, diariamente, somos confrontados com o ritmo

acelerado de transformações sociais que fazem mudar, de modo por vezes quase

imperceptível, os comportamentos, as mentalidades e as próprias necessidades dos

agentes e das instituições (Ruivo, 2002:13)

Segundo o Instituto Português de Museus (IPM) apenas 20 dos

120 museus portugueses "têm projectos em curso" para pessoas

com deficiência, tais como exposições complementadas com

audioguias, textos escritos em Braille, instalações com rampas ou

elevadores e materiais pedagógicos específicos.

Como já referido, apesar da existência de uma vasta legislação e

um enquadramento jurídico que apoia a inclusão, na verdade, os

direitos praticados pelas instituições nem sempre obedecem às

normas. Tal como refere Ruivo, o direito realmente praticado num

processo-acção leva muitas vezes as instituições a obedecerem a

sistemas contraditórios de ordem e poder. Até, porque, as instituições

tendem a actuar sob sistemas que pretendem atrair audiências

enquanto as Instituições Particulares de Solidariedade Social

(IPSS’s) ficam com a responsabilidade do combate à exclusão

social.

Tal como refere Caroline Lang (Dodd e Sandell, 2001),

Museums and galleries have a significant role to play in

promoting social inclusion. A inclusão / exclusão social são

conceitos relativamente recentes, a sua origem remonta à

década de setenta do século XX, aquando o seu uso em França,

para nomear aqueles que não estavam contemplados na

Segurança Social, desde aí, o conceito tem vindo a alargar-se e

a integrar-se nas várias áreas (social, política, cultural, etc.),

significando a desvantagem e desigualdade e acomodando-se a

Imagem 1 – [©SS-2007]

Imagem 2 – [©SS-2007]

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Acessibilidade em Museus

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outros conceitos, como a marginalização, pobreza23, etc.

Simultaneamente, a sua aplicação vulgarizou-se e expandiu-se,

ainda que mantenha características estáticas nas várias

aplicações do termo (Dodd e Sandell, 2001).

A exclusão social encontra-se intimamente ligada a uma série

de elementos, características que normalmente se combinam,

como sendo o desemprego, marginalidade, más condições de

vida, pobreza e problemas de saúde. Numa aplicação mais

direccionada, a nível individual ou de grupo, indica o não

acesso a bens, direitos ou serviços, nos diversos aspectos

vivenciais, adquirindo uma dimensão cruzada a nível

económico, social, politico e cultural.

Parafraseando Dodd e Sandell (2001:14), when the new elite says we must tackle social exclusion

such a statement could mean a lot of different things. “Social exclusion” sound like a nasty thing

because of its vague association with poverty and deprivation. However, like most key terms in the

language of the new elite, “social exclusion” is a radically subjective concept. Anybody can be

socially excluded if they feel that way, or what is more often the case, if the new elite thinks they

should feel that way. Na prática, os museus enfrentam dificuldades em adaptar as suas colecções

a públicos diversificados e se não o fizerem serão acusados de sobrevalorizar as colecções em

detrimento das pessoas. Contudo, social exclusion is about the inability of our society to keep all

groups and individuals within the reach of what we expect as a society. It is about the tendency to

push vulnerable and difficult individuals into the least popular places, furthest away from our

common aspirations (Dodd e Sandell, 2001:103).

Ao longo dos últimos anos, os museus têm dilatado esforços de forma a alcançar novos públicos

que possam usufruir de práticas inclusivas, tornando-se centrais, assumindo o seu importante

papel na promoção sócio-cultural. A única forma de servirem a sociedade em que se inserem,

através da educação, informação, promoção da criatividade, alargamento de horizontes e

promoção de novas visões sociais e culturais, é desafiando os estereótipos e combatendo a

intolerância. Desta forma, têm de se alterar as agendas museais e, sobretudo, a forma de

conceber os projectos e os programas educativos. Alterar filosofias, valores, objectivos e práticas é

indispensável para que as audiências aumentem e a comunidade se envolva com o museu. Da

23 Walker cruza a definição de exclusão social com pobreza: Whereas poverty is concerned with a lack of

material ressources, especially income, necessary to participate in British society, social exclusion is a more

comprehensive formulation which refers to the dynamic process of being shut out, fully or partially, from any of

the social, economic, political and cultural systems which determine the social integration of a person in

society (Dodd e Sandell, 2001:9).

Imagem 3 – [©SS-2007]

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Acessibilidade em Museus

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mesma forma, é indispensável a eliminação de barreiras, sejam elas, físicas, intelectuais,

emocionais, financeiras ou culturais.

Muitos museus têm sofrido pressões sociais no sentido de alterarem os seus comportamentos,

através da criação de projectos inclusivos. Em paralelo, são convidados a “prestar contas” sobre o

que têm feito, ou estão a fazer, em prol desse objectivo. No entanto, essa pressão leva a que não

se proceda da forma mais correcta, provocando a inaplicabilidade e o desânimo por parte das

audiências e dos próprios profissionais. Um dos motivos prende-se com a pluralidade do conceito

de inclusão. Enquanto uns associam a inclusão a deficientes, outros, associá-lo-ão a (outros)

públicos marginalizados, como estrangeiros, grupos étnicos, grupos de estratos económicos

baixos, ou até mesmo, por exemplo, aos horários ou preços aplicados. No meio de toda esta

panóplia de interpretações, os museus procuram alcançar os grupos sub representados no seu

conceito de visitante-tipo, procurando eliminar todos os obstáculos (sociais, económicos, físicos,

intelectuais e emocionais), de forma a alcançar o número máximo de audiências.

Mas, tal como refere Richard Sandell, em todos os assuntos controversos, há sempre um outro

lado a considerar As queixas são várias e diversificadas. Estas vão desde o desvio dos museus do

seu propósito e objectivos, que vêem, através da inclusão social, as suas responsabilidades

subvertidas a favor de fins políticos e governamentais, colocando as suas colecções em risco de

danos e destruição precoce, atribuindo, aos conservadores, a missão, não de preservar, mas de

cativar público, à impossibilidade de contemplação das exposições com a frequente perturbação

da inclusão de todos os públicos. A estas críticas a resposta não pode ser outra se não a de que o

museu se deve preocupar com as necessidades dos seus visitantes e tentar colmatar as falhas

que levam os não visitantes a não verem relevância nestas instituições (Dodd e Sandell, 2001).

As alterações culturais e demográficas obrigam a criação de “boas práticas” museológicas. Ao

longo dos anos, os museus foram adquirindo, para além da preservação cultural, valores de

educação, turismo e lazer. Agora, torna-se necessário trabalhar as suas perspectivas a nível de

discriminação e desigualdade social, em proveito da inclusão de todos os públicos. Obviamente,

não serão os museus a trabalhar em contextos políticos e governamentais, na diminuição de

padrões sociais, como a pobreza e o crime, mas podem ajudar no aumento de auto-estima e de

confiança pessoal, bem como no sentimento de identificação e de pertença, respondendo, desta

forma, às questões da desigualdade, injustiça e discriminação.

A relação convencional entre os museus e os seus públicos está a mudar. O tradicional modelo de

museu, o museu elitista e autoritário, está cada vez mais instável e em vias de extinção.

Actualmente, os museus vêem-se num universo mais lato e vasto, reconhecendo o seu valor e

potencial na alteração de conceitos e valores anteriormente encarados como irrelevantes. As

novas relações público / museus baseiam-se na participação activa e na partilha da tomada de

decisões por parte das audiências (Dodd e Sandell, 2001:76).

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Ao falar de exclusão museológica, e dada a diversidade do tema, não se poderia deixar de

referenciar os museus do interior, aqueles que ficam fora dos circuitos urbanos e que acabam eles

próprios por se sentirem marginalizados face à inclusão cultural. Caberá, desta forma, às Câmaras

Municipais, constituírem-se como actor aglutinante ou dinamizador de iniciativas locais que

promovam a inclusão social e cultural. O sentimento de impotência em termos interventivos deve-

se, normalmente, ao desconhecimento de como actuar, não só face à diversidade, como também á

grande extensão de fenómenos de exclusão de origem local que acaba por conduzir à falta de

motivação para combater a exclusão.

Há e haverá sempre factores que podem funcionar como obstáculos a uma participação total e

eficaz, vindos, muitas vezes, por parte dos indivíduos. Estes, ao invés de terem um envolvimento

intensivo e dinâmico, optam por uma atitude passiva e pouco encorajadora. O envolvimento do

público-alvo que se pretende atingir é fundamental mas, para isso, é, igualmente, necessária uma

conjugação de esforços por parte de todos os agentes e actores, bem como o funcionamento de

serviços indispensáveis, o incentivo à participação e a criação de condições necessárias.

3.3.1. Inclusão Versus Conservação?

Quando se pensa no conceito de alguém com a função de conservador, não é inusitado vir à

mente a imagem de um indivíduo envergando uma bata branca, rodeado de compostos químicos e

estojo de instrumentação, o qual emprega uma terminologia complexa e por vezes inacessível nos

diálogos que estabelece com os utentes das instalações afectas ao museu. Esta forma de encarar

a pessoa do conservador e a filosofia do “Não Tocar”, adoptada pelos museus, é referida por

Richard Sandell, como se pode comprovar pela leitura do excerto abaixo transcrito:

The principal ethic that governs and drives the conservator is to protect and preserve,

inevitably resulting in a Dont’t Touch philosophy that can be readily perceived as negative

anda t odds with the desire to view, use and enjoy the objects and artefacts held in

museums. The process of conserving an object is usually carried out behind closed doors by

a few individuals who will develop an intimate knowledge of the object and any consultation

regarding the extent and nature of the conservation process is usually limited to the curator.

(Dodd e Sandell, 2001:89).

A criação de museus tem como objectivo tornar acessível alguns aspectos culturais ao público em

geral, no entanto, o conceito de o museu para todos e com colecções tácteis vai contra o objectivo

primordial dos profissionais de museologia, o qual se traduz na conservação dos objectos

expostos. Será que se deverá criar réplicas para serem tacteadas? Haverá peças sacrificáveis?

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Acessibilidade em Museus

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Como manusear? Que posição tomar em relação às reservas abertas? Eis algumas das questões

com as quais os profissionais de museologia se debatem.

O contacto directo do público com o objecto, o qual não é possível quando o mesmo se encontra

num ambiente de vitrina, leva o conservador, de forma automática, a colocar questões sobre a

protecção e preservação do objecto a ser manuseado.

Sob o ponto de vista dos objectos é de ressaltar que estes necessitam de condições adequadas de

humidade relativa, de temperatura, de luminosidade, de acondicionamento, de manuseamento, de

limpeza e de restauro, condições essas que têm de ser respeitadas mas as quais serão violadas

através da permissão de interacção com o público. Por outro lado, os críticos que tomam o lugar

oposto, justificam a sua tomada de posição, argumentando que são as pessoas que têm

necessidades e não os objectos (Dood e Sandell, 2001: 91). Aqui talvez a solução resida no

respeito mútuo. Se o público for ensinado a manusear as peças, e alertado para a importância das

boas práticas para a perpetuação das mesmas ou, pelo menos, para o aumento da durabilidade

dos objectos, poder-se-á chegar a um consenso que apoie ambas as posições. Da mesma forma,

os museus devem estar mais atentos às vontades e desejos das possíveis audiências. Também

aqui as audiências desempenham um papel importante, na medida em que têm de ser flexíveis na

sua aproximação aos objectos. Deste modo, tornar-se-á possível responder às suas necessidades.

No entanto, há sempre excepções que têm de ser ponderadas. Por exemplo, no caso dos cegos,

colocar-lhes a obrigatoriedade do uso de luvas, aquando do manuseamento de alguns objectos, é

sinónimo de vedar-lhes, novamente, a possibilidade de “ver” ditos objectos, dado que a

sensibilidade táctil poderá ser condicionada e alterada, se não mesmo, impossibilitada, em alguns

casos.

As decisões nem sempre se apresentam como fáceis e os problemas, por vezes, são de (quase)

impossível resolução. Torna-se necessária a existência de um meio-termo, um cruzamento de

possibilidades, dadas as características específicas das questões que se colocam. Por vezes, as

peças podem ser sacrificadas mas também terão de ser respeitadas todas aquelas que dadas as

suas condições particulares não poderão obedecer a critérios tácteis.

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CAPÍTULO 4

ASPECTOS LEGISLATIVOS

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4.1. Breve Análise Legislativa Geral

1 - Os cidadãos física ou mentalmente deficientes gozam plenamente dos direitos e

estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com ressalva do exercício ou

do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados.

2 - O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de tratamento,

reabilitação e integração de deficientes, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize

a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a

assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos

e deveres dos pais e tutores.

3 - O Estado apoia as associações de deficientes.

Artigo 71º da Constituição Portuguesa

A responsabilidade social de todos os cidadãos na promoção e implementação de medidas

inclusivas, faz parte do conhecimento e do senso comum. No entanto, é importante acautelar as

informações à luz de análises legislativas válidas. Nesse contexto, realizou-se uma consulta

cuidadosa da informação seleccionada, que sublinha a importância de promover uma cultura de

não-descriminação, reafirmando o direito dos cidadãos. O objectivo primordial que se pretende

alcançar com a legislação direccionada ao tema é, para além do já enunciado direito à igualdade, é

o de alertar as instituições para a criação de condições necessárias para que estas considerem as

pessoas com deficiência como plenos cidadãos, com capacidade económica na área cultural. As

estatísticas mostram que a percentagem da população que pode ser incluída no âmbito da

deficiência, não se enquadra numa pequena categoria e não está, de forma alguma, ligada à perda

do papel a desempenhar na sociedade.

As leis não pretendem ser sugestões. Têm de ser aplicadas e fiscalizadas. É igualmente

fundamental que sejam feitas acções de sensibilização para a necessidade do cumprimento da lei.

É necessário eliminar os comportamentos discriminatórios em relação a cidadãos com deficiência.

Há normas e orientações europeias específicas que enunciam o acolhimento de uma pessoa

deficiente como um dever do operador turístico.

Existem ainda muitas pessoas com deficiência que vivem numa condição de

isolamento parcial ou total. A afirmação do direito aos tempos livres para todas as

pessoas com deficiência passa pela promoção e pelo apoio dos serviços dedicados à

integração das pessoas com deficiência que estão ainda excluídas das actividades de

tempos livres. Estes serviços devem disponibilizar actividades que envolvam não só

os operadores turísticos, mas também o resto da população. Particularmente

preocupante é a situação das pessoas com deficiência mental média-profunda, cuja

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vida está cada vez mais circunscrita às suas famílias ou a instituições especializadas.

Por vezes, esta situação parece ser justificada por situações objectivas sem solução

possível. É necessário sublinhar que, actualmente, o direito aos tempos livres é um

direito universal que não pode ser negado consoante o grau de deficiência. A

experiência demonstra que, através de iniciativas e serviços específicos, muitas

pessoas com deficiência mental podem viver a dimensão do divertimento, da

recreação e do enriquecimento cultural em ambientes integrados. Estas experiências

devem ser divulgadas de modo a contrapor aqueles que consideram inúteis os

esforços e os investimentos para proporcionar a igualdade de oportunidades a estes

cidadãos (LPDM, 2002:40).

Antes de se passar à legislação sobre direitos de pessoas com necessidades especiais, importa

demonstrar que não só esta área sofreu evoluções. A própria designação atribuída para identificar

pessoas com deficiência sofreu mutações que acompanharam a criação de normas e leis.

Inicialmente, foi empregue o termo “inválido” aplicável a pessoas ditas socialmente inúteis. A partir

de 1960, surgiu o termo “incapacitado”, aquando da identificação de alguém que não era “capaz”.

Apesar do reconhecimento de capacidades residuais, a deficiência era encarada como factor de

redução de capacidades. Entre 1960 e 1980, surgem vários termos como, por exemplo,

“defeituosos”, “deficientes” e “excepcionais” para nomear pessoas com deformidade, com

deficiência e com deficiência intelectual, respectivamente. O termo “pessoas deficientes” foi

empregue em 1980, na Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e

Incapacidades, da Organização Mundial de Saúde (OMS), tendo prevalecido até cerca de 1988,

altura em que a deficiência se assume como um detalhe de determinada pessoa. As então

chamadas “pessoas portadoras de deficiência”, acabam por lhes ver imputada uma característica.

No entanto, desde 1990 que se tem disseminado o termo “pessoas com necessidades especiais”,

sendo este o termo utilizado actualmente.

4.1.1. Evolução Legislativa

Apesar dos direitos gerais de todos os cidadãos estarem contemplados desde 1948, na

Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas24, apenas a partir de 1970 é que

começou a haver uma maior sensibilização relativa às perspectivas sociais da deficiência, através

do apelo aos vários direitos (direito à dignidade, ao trabalho, à segurança económica, à saúde e ao

24 Artigo XXII – Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo

esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado,

dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua

personalidade.

Artigo XXVII – 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir

as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

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lazer). No entanto, apenas na década seguinte, e graças ao envolvimento das Nações Unidas, é

que o tema da deficiência foi internacionalizado.

Em 1975, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a Declaração sobre os Direitos das

Pessoas Deficientes. Neste documento, debatiam-se conceitos referentes à igualdade de direitos

civis e políticos. No entanto, durante os anos 80, foram vários os documentos criados na tentativa

de transformar valores associados às pessoas deficientes. O desabrochar deu-se em 1981, com o

Ano Internacional das Pessoas com Deficiência o qual deu origem à resolução 31/123. No ano

seguinte, com o Programa Mundial de Acção relativo às Pessoas Deficientes, foi criada a

resolução 37/52. Ainda em 1980, realizou-se o International Classification of Imparements,

Disabilities, and Handicaps (ICIDH) que reformulou algumas definições associadas à deficiência,

fortemente rejeitadas e criticadas pelas várias ONG’s.

Este documento é consequência de uma discussão levada a cabo, na década de 70, tendo sido

publicado em 1980. Nele emergem três definições centrais, (Martins, 206:99):

Impairment: no contexto da experiência de saúde, imparement é qualquer perda ou

anormalidade psicológica, fisiológica ou anatómica da estrutura ou função.

Disability: no contexto da experiência de saúde, disability é qualquer restrição ou ausência

(resultando de um imparement) da capacidade para realizar uma actividade do modo ou

dentro do âmbito considerado normal para um ser humano.

Handicap: no contexto da experiência de saúde, um handicap é uma desvantagem para um

dado indivíduo, resultando de um imparement ou disability, que limita ou impede o

cumprimento de um papel que é normal (dependendo da idade, sexo, factores sociais e

culturais) para dado indivíduo.

Apesar das críticas, apenas em Maio de 2001 foi aprovado, pela OMS, um novo documento, o

Internacional Classification of Functioning Disability and Health (ICF ou ICIDH-II) cuja nova

definição de deficiência assenta sobre:

A) Funcionamento corporal (funções fisiológicas ou psicológicas) e estrutura (partes

anatómicas)

B) Actividades ao nível individual

C) Participação na sociedade

De 1983 a 1992, foi-se estabelecendo a Década das Nações Unidas para as Pessoas com

Deficiência. Várias foram as transformações introduzidas durante o seu longo caminho rumo à

história. O ponto de viragem da luta pelos dos Direitos Humanos deu-se com a criação de várias

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organizações, de e para pessoas com deficiência. Em 1981 surge a Disabled Peoples’

International (DPI). A participação limitativa das pessoas com deficiência no seu seio, levou a que,

em 1992, fosse criada a Rehabilitation International (RI). A DPI contava com a participação de 135

países e, em 1992, definiu a deficiência como sendo, “primeiro que tudo, uma questão de direitos

humanos” articulando-se, desta forma, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. No

Congresso mundial da DPI, em 2002, estabeleceu-se a Declaração de Sapporo, a qual impunha o

fim da pobreza e da guerra uma vez que, serem estes os factores mais conducentes à deficiência.

Esta declaração procurava ainda a erradicação da discriminação.

Da Declaração para as Nações Unidas para as Pessoas com Deficiência resultou o documento,

aprovado em 1993, intitulado Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas

com Deficiência25. Apesar da sua importância, sentida ainda nos dias de hoje, os estados não

aprovaram a sua vinculação, com receio do incumprimento do mesmo. Como resultado directo

desta decisão, foi fundado o Fórum Europeu da Deficiência, com estatutos jurídicos desde 1996.

No início de 1987, o Comité Coordenador para a Promoção da Acessibilidade Holandês, financiado

pela Comissão Europeia, e com o apoio de peritos dos diversos países europeus, iniciou a criação

de um “Manual Europeu”, com critérios normalizadores da acessibilidade. Esse Manual foi

publicado três anos depois. Contudo, parecia conter demasiadas questões para as quais não havia

concordância europeia. Desta forma, em 1996, é apresentado um novo manual, o “Conceito

Europeu de Acessibilidade”26 (CEA), que, apesar de não ser normativo, é utilizado por vários

países na promoção de acessibilidades.

O CEA foi actualizado e apresentado em Luxemburgo, em Novembro de 2003, ano Europeu das

Pessoas com Deficiência. Aqui afirma-se que os meios físicos criados sob o Conceito Europeu de

Acessibilidade tanto têm de respeitar a identidade do país e os costumes do seu povo, como

também de dar resposta ao progresso social e tecnológico em marcha. Por outras palavras, têm de

25 Atribuiu um enorme desempenho às organizações no artigo 18: Os Estados devem recorrer às

organizações de pessoas com deficiência o direito de representar essas pessoas a nível nacional, regional e

local. Os estados devem reconhecer igualmente o papel consultivo das organizações de pessoas com

deficiência na tomada de decisões sobre assuntos relativos à deficiência (SNR, 1995:37). 26 O Conceito Europeu de Acessibilidade, 1996, foi a resposta a um pedido da Comissão Europeia,

apresentado em 1997. O Conceito assentava nos princípios do desenho universal. Estes princípios aplicam-

se ao design de edifícios, infraestruturas e produtos para consumo.

1. O objectivo traduz-se na disponibilização de meios físicos adequados, seguros, usufruídos por todos

incluindo as pessoas com deficiência.

2. Os princípios de design universal rejeitam a divisão que se faz de pessoas sem e com deficiência.

3. O design universal inclui disposições complementares sempre que necessário.

Esta declaração foi apoiada por todos os membros do grupo directivo presente em Doorn, nos Países

Baixos, em 02 de Março de 1996 (CEA, 2005:14).

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Acessibilidade em Museus

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ter em consideração a diversidade da população e os avanços operados nos padrões de qualidade

(CEA, 2005:18).

Em Março de 2002, em Madrid, realizou-se o primeiro Congresso Europeu de Pessoas com

Deficiência. Contou com 600 participantes, provenientes de 34 países europeus, e da sua

realização resultou um documento intitulado A Declaração de Madrid27, procurando uma nova

abordagem da deficiência, diferente das visões individualizadas, medicalizadas e/ou caritárias,

promovendo medidas para o fim da discriminação e para a promoção da integração social. O seu

lema “não discriminação mais acção positiva igual a inclusão social”, tem como ponto de partida o

juízo de que “a deficiência não é uma questão de Direitos Humanos”, não é um atributo de um

indivíduo, mas de uma construção artificial do meio envolvente, largamente imposto pela atitude da

sociedade e pelas limitações do homem. Desta forma, para se praticar a inclusão, torna-se

necessário recorrer a acções sociais, impondo assim uma responsabilidade colectiva à sociedade.

Como foi já referenciado, 2003 foi o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, assinalando a

comemoração dos 10 anos desde a adopção das Regras Gerais criadas pela ONU e tendo como

principal objectivo, efectivar os princípios da não discriminação e da integração das pessoas com

deficiência, tal como consta nos artigos 21º e 26º da Carta dos Direitos Fundamentais da União

Europeia.

Tendo em conta que existem cerca de 37 milhões de deficientes na União Europeia e mais de 500

milhões de deficientes no mundo, 80% dos quais vivem em países em vias de desenvolvimento,

nos últimos 30 anos, as ONG’s, a nível nacional e internacional, impulsionaram transformações

importantíssimas que culminam na caracterização da deficiência como uma forma particular de

opressão fundada em argumentos biológicos.

Os documentos europeus apresentados, apelam aos Estados-membros para que adaptem a sua

legislação, eliminando todas as disposições discriminatórias e adoptando medidas concretas de

apoio a pessoas com deficiência. Como se pode observar, as questões legislativas da

acessibilidade são tão ou mais morosas que as demais (sociais, arquitectónicas). Só quando a

acessibilidade for considerada como uma questão horizontal, com padrões normativos vinculativos

claros, emanados pela Comissão Europeia, e que obriguem a indústria da construção e

empreendimentos afins a aceitarem e a adoptarem os princípios que enformam o design acessível,

se atingirá uma plena harmonia e respeito por todos os cidadãos. Outro dos factores apontados

para a dificuldade de articulação com os órgãos superiores é o facto de, normalmente, as

Instituições, Fundações e Associações tentarem cativar apoios governamentais através de pedidos

isolados. Estas deveriam unir-se num esforço comum de levar o Estado a cumprir as suas

obrigações, permitindo, assim, aumentar as verbas dos subsídios destinados aos cidadãos com

deficiências graves.

27 Vide anexo p. 110.

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Acessibilidade em Museus

Página 48

De forma a criar um encadeamento legislativo lógico, apresenta-se a seguinte epítome:

Ano Documento

1990 Declaração Mundial sobre Educação para Todos / Unesco

1993 Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência / ONU

1993 Inclusão Plena e Positiva de Pessoas com Deficiência em Todos os Aspectos da

Sociedade / ONU

1994 Declaração de Salamanca e Linhas de Acção sobre Educação para Necessidades

Especiais / Unesco

1999 Convenção Inter Americana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra

as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala) / OEA.

2001 Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF) / OMS, que

substituiu a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades /

OMS, de 1980

2003 Convenção Internacional para Protecção e Promoção dos Direitos e Dignidade das

Pessoas com Deficiência / ONU

2004 Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual / OMS-Opas

Tabela 5 – Documentos da ONU

Ano Documento

1992 Declaração de Vancouver

1993 Declaração de Santiago

Declaração de Maastricht

Declaração de Manágua.

1999 Carta para o Terceiro Milénio.

Declaração de Washington

2000 Declaração de Pequim.

Declaração de Manchester sobre Educação Inclusiva

2002 Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão

Declaração de Madrid

Declaração de Sapporo

Declaração de Caracas

2003

Declaração de Kochi

Declaração de Quioto

2004 Declaração Mundial sobre Deficiência Intelectual.

Tabela 6 – Documentos de outros organismos mundiais

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Acessibilidade em Museus

Página 49

O presente capítulo pretende ser uma súmula dos principais aspectos legislativos em torno da

problemática exposta. Tendo em conta os variados documentos legais que poderiam ter sido

mencionados, foram seleccionados aqueles que representavam mais ênfase para o tratamento da

informação pretendida.

Não obstante, poder-se-à recorrer a toda a legislação que contempla, directa ou indirectamente, o

tema, nomeadamente, legislação sobre a abolição de barreiras arquitectónicas e direitos humanos.

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Acessibilidade em Museus

Página 50

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FACE À INCLUSÃO

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Acessibilidade em Museus

Página 51

5.1. Arquitectura Acessível

Para tornar um museu inclusivo, obrigatoriamente, haverá que

repensar o aspecto da acessibilidade28

física. Sem a eliminação das barreiras que impeçam a

mobilidade, é impossível dar as boas-vindas a todos os

visitantes. Ao pensar em acessibilidade, cai-se facilmente no

“lugar-comum” de a associar a pessoas com deficiência, o

qual não está correcto. Como referido anteriormente, qualquer

pessoa pode vir a necessitar de condições especiais de

acesso, seja por ser deficiente, criança ou idoso, ou

simplesmente por carregar volumes pesados, estar grávida

ou, ainda, devido a condições físicas de manifesto cansaço.

Uns dos grandes públicos-alvo dos museus são os turistas.

Estes, muitas vezes, sujeitam-se a condições de extremo

cansaço físico, provocado pelo calor e pelas incursões a

vários locais de lazer, em curtos espaços de tempo.

Outro subgrupo de visitantes com grande projecção nos

museus são os idosos29. Devido ao factor idade, por vezes

não têm robustez física para superar eficazmente todos os

obstáculos arquitectónicos que um Museu lhes poderá

apresentar. Desta forma, é imprescindível que os museus

inclusivos não apresentem barreiras do ponto de vista físico.

A ambiguidade das normas, a ineficácia das fiscalizações, a morosidade dos projectos e suas

aprovações são apenas alguns dos graves impedimentos à acessibilidade arquitectónica. Por outro

lado, não se pode permitir a existência de construções que imponham, por exemplo, aos

deficientes, uma segunda entrada, como alternativa à entrada principal. O propósito da inclusão

não é o de tratar as pessoas com mobilidade condicionada de forma diferenciada, como sendo o

estereótipo dos “outros”, os “não normais”. Essas acções negam a sua relação com o mundo,

28 Acessibilidade – Conceito operativo que ajuda a projectar. Segundo a Legislação americana é a capacidade

do meio edificado de assegurar a todos uma igual oportunidade de uso [igualdade de oportunidade para

todos, todos devem ter possibilidade de escolha em usar ou não o meio e o que este oferece] de uma forma

directa, imediata, permanente e o mais autónoma possível. 29 Na Europa 25.9% da população é deficiente ou idoso e com o acelerado envelhecimento da população em

2050, 37% da população será idosa. Em Portugal 1 em cada 15 pessoas é idosa, no total há mais de 2

milhões de idosos. No espaço europeu existem cerca de 50 milhões de deficientes. (Dados fornecidos no

Fórum Arquitectura Acessível, organizados pela Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte, nos dias

27-29 de Junho de 2007).

Imagem 4 – [©SS-2007]

Imagem 6 – [©SS-2007]

Imagem 5 – [©SS-2007]

Page 67: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 52

conduzindo a um isolamento forçado. O aumento da esperança média de vida leva à necessidade

de maior preocupação prática com a questão das acessibilidades arquitectónicas. Os idosos têm

mobilidade condicionada, tal como as grávidas e pessoas com volumes pesados, embora nestes

últimos este seja um condicionamento provisório, sendo permanente no primeiro caso. Outros

factores a considerar são o significativo aumento dos acidentes rodoviários que, cada vez mais,

levam a um aumento de indivíduos com condicionamento de mobilidade, bem como, o número

crescente de pessoas com doenças degenerativas, como a esclerose múltipla.

Em 1 de Julho de 1986, foi criado um despacho conjunto para substituir o DL até aí em vigor e, em

1986, quando se efectivou a adesão de Portugal à Europa, passou-se a ter uma responsabilidade

social mais “controlada”. Foi, então, criado o DL 123/96 que, apesar de toda a divulgação e

discussão em torno dos vários organismos, teve uma enorme dificuldade de aplicabilidade. O

subterfúgio mais utilizado pelos organismos responsáveis para a sua não aplicação foi a “negação”

da existência30 e do direito de acesso total. Todas as desculpas foram possíveis, desde que a

obrigatoriedade da aplicação da lei não surgisse, todas as acções serviam para inviabilizar o

cumprimento da lei – dando origem à chamada “Síndrome do Incumprimento Legitimado”. O DL

163 surge, então, para tentar colmatar as dificuldades de aplicabilidade do anterior, tendo como

missão resolver o problema sem deixar que os lapsos legislativos servissem de impedimento legal

à acessibilidade total31.

As chamadas “minorias urbanas” são tratadas em locais próprios, longe das infraestruturas da

sociedade, vistas de uma perspectiva inactiva e longe do quotidiano social, promovendo outras

formas de exclusão social. Em oposição à sociedade multi-activa, surge uma nova, e cada vez

maior, sociedade geriátrica, com menos elasticidade motora que obrigará, no futuro32, a uma

transformação urbana, traduzindo-se numa cidade adaptada a receber pessoas com mobilidade

condicionada, não só na permissão de acesso mas, também, como necessidade, a longo prazo.

30 Com a expressão “negação da existência” pretendemos referir que os Organismos aos quais se exigia o

cumprimento das normas estipuladas no Decreto-Lei se refugiavam na desculpa que os seus edifícios não

eram frequentados por pessoas com mobilidade reduzida, o que, em parte não deixaria de ser verdade mas

essa não existência de pessoas com mobilidade reduzida nesses espaços dever-se-ia ao facto de não

existirem condições de acesso, a partir do momento em que essas condições fossem facilitadas as pessoas

com mobilidade reduzida poderiam passar a usufruir desses espaços. 31 Entende-se por acessibilidade total a conjugação de elementos construtivos e operativos que permitam

chegar, entrar, orientar, utilizar e comunicar de forma segura, autónoma, cómoda e digna. Desta forma a

acessibilidade total levará à criação de ambientes muito mais ricos. 32 Em 2050 deveram existir cerca de 3.2 milhões de idosos, sendo dobro de idosos do que jovens, isto é, 71

mil idosos para cada 100 adultos activos. (dados fornecidos por Maria Filomena Mónica num congresso sobre

a terceira idade, em Lisboa, Junho de 2007).

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Acessibilidade em Museus

Página 53

A diversidade e a deficiência não são o problema, mas sim o ambiente, uma vez que o espaço

envolvente não corresponde às necessidades humanas. O uso do espaço público é um direito do

cidadão, assim como o de ter acessibilidade no espaço público. É o direito de cidadania, ao acesso

à informação, às oportunidades, à formação, ao trabalho, às ofertas urbanas...

Os instrumentos de inclusão são imprescindíveis para cerca de 10% da população. Tornando as

infraestruturas 100%acessíveis, não só beneficia o indivíduo com dificuldades de mobilidade como

também todos os demais! Todas as pessoas têm desejos e necessidades e, acima de tudo, o

direito a serem autónomas, quer na via pública, nos edifícios, nos transportes ou nas

comunicações. A arquitectura do século XIX esqueceu-se do Homem, interessando-se mais pelas

formas e ordens. É de ressaltar que a arquitectura não é arte plástica, nem escultura, está

directamente ligada a toda e qualquer pessoa. Uma sociedade que não incluiu todos os seus

membros, é uma sociedade empobrecida.

A acessibilidade vista pela sociedade em geral, de forma negativa e como sendo algo que

pertence exclusivamente a uma minoria da sociedade actual. Não obstante, sempre existiu e existe

para todos, agora importa apenas um grupo restrito de pessoas, o que não é concreto. Porque

consideramos que temos de fazer determinada coisa para um determinado número de pessoas? É

para todos, falar de design inclusivo, eliminação de barreiras, etc., não faz sentido quando se

remete unicamente a sub-grupos sociais, pessoas específicas porque esse conceito remete-se a

todos nós.33 A acessibilidade não é apenas a eliminação de barreiras. É, principalmente, uma

questão de cidadania. O meio físico acessível tem de ser criado de forma a respeitar os princípios

universais da sustentabilidade. Caso contrário, que planeta, que qualidade de vida herdarão os

nossos filhos, netos – gerações futuras? (CEA, 2005:40).

Torna-se ainda necessário destrinçar o conceito de barreiras arquitectónicas. Segundo Cuyás

(2003), são todos os obstáculos, impedimentos físicos que limitam ou impedem a liberdade de

movimento e autonomia das pessoas, e podem-se subdividir em quatro tipos:

Tipo de Barreira Identificação

Barreiras arquitectónicas da

edificação pública ou privada

São aquelas que se encontram no interior dos edifícios, que se

resolvem mediante a acessibilidade da edificação

Barreiras arquitectónicas

urbanistas

São aquelas que se encontram nas vias e espaços livres de

uso público, resolvem-se mediante a acessibilidade urbanística

Barreiras arquitectónicas nos

transportes

São aquelas que se resolvem mediante a acessibilidade nos

transportes

33 Maria Guida de Freitas Faria e Maria José Lorena – Fundação Liga. Fórum Arquitectura Acessível

organizado pela OASRN, nos dias 27-29 de Julho de 2007, no Porto.

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Acessibilidade em Museus

Página 54

Barreiras de comunicação São todos os impedimentos para a emissão e recepção de

mensagens, resolvem-se mediante a acessibilidade na

comunicação

Tabela 7 – Divisão tipológica de barreiras

5.1.1. Construção da Organização Legislativa Arquitectónica

Uma das primeiras normas legislativas aplicadas à arquitectura acessível foi o RGEU

(Regulamento Geral das Edificações Urbanas), Decreto-Lei n.º38382/51 de 7 de Agosto, a qual,

apesar da sua antiguidade, continua a ser o grande pilar da arquitectura e da construção civil. O

Decreto-Lei 123/97, seu sucessor, apenas previu a obrigatoriedade de, pelo menos, um elevador

acessível nos edifícios e a obrigatoriedade de lugares para deficientes nos parques de

estacionamento.

Percorrendo o Decreto de Lei 123/97 (Normas Técnicas Básicas de Eliminação de Barreiras

Arquitectónicas em Edifícios Públicos, Equipamentos Colectivos e Via Pública), facilmente se

descobrem incumprimentos. O DL-123/97 estabeleceu, como prazo máximo, sete anos para a

eliminação de barreiras arquitectónicas, findos os quais, surgiram as acusações de violação dos

princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa, no respeitante aos direitos dos

cidadãos portadores de deficiência.

Em 2006, foi criado um novo Decreto-Lei, o DL 163/200634, tendo como base o antigo DL

123/199735.

DL 123/97 DL 163/06

Cap. 1 Urbanismo Via Pública

Cap. 2 Acesso aos edifícios Edifícios e estabelecimentos

(Engloba o cap. 2 e 3 do DL 123/97)

Cap. 3 Mobilidade Áreas de intervenção (exemplificação

detalhada)

Cap. 4 Áreas de intervenção especifica Percurso acessível

(Cap. Novo)

Tabela 8 – Comparação informativa dos Decretos-Lei 123/97 e 163/06

34 Vide anexo p. 140 35 Vide anexo p. 130

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Acessibilidade em Museus

Página 55

O DL 163/06 substituiu o DL 123/97, ficando a cargo do primeiro a representação da legislação

portuguesa em vigor. Mais uma vez, foram estabelecidos prazos legais e metas a cumprir.

Todavia, espera-se que o seu cumprimento parta de pressupostos humanos necessários à

obtenção de acessibilidade em todos os locais, sejam eles públicos e/ou privados, e que as suas

lacunas não sirvam de motivação para o incumprimento.

Page 71: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 56

5.2. Design Inclusivo

As questões da acessibilidade estão ligadas ao desenho universal e à ergonomia. O

desenho universal tende a ser naturalmente inclusivo, favorecendo a biodiversidade

humana natural e contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida para todos

(Actas, 2005:31).

No século XXI, as exigências dos visitantes dos museus obrigam à sua constante actualização,

tanto na área educacional como de entretenimento. As características “multimodais” das diversas

audiências desafiam os museus e, em particular, os seus profissionais, a corresponder às suas

necessidades e expectativas. Atendendo à pretensão de ser um museu aberto a todos os

cidadãos, será indispensável o recurso aos princípios do Desenho Universal36.

O conceito de Design Universal37 é entendido como sendo a intervenção no meio físico, produtos e

serviços, permitindo a participação de todos os cidadãos, independentemente da sua idade, sexo,

aptidões e antecedentes culturais. É, igualmente, entendido como sendo uma filosofia e estratégia

de planeamento, cujo objectivo é o acesso universal, tendo no seu suporte bases de

sustentabilidade, isto é, um ambiente físico favorável a todos os cidadãos.

Na acessibilidade arquitectónica / física é imprescindível que o meio físico edificado permita que

todos os indivíduos se desenvolvam como cidadãos com direitos iguais. Desta forma, o conceito

de design universal tem de ter, obrigatoriamente, em consideração a diversidade populacional e a

necessidade de autonomia e independência de cada pessoa. Todos devem aceder à cultura, aos

espaços, aos edifícios, às comunicações, aos serviços, à economia e à participação. Desta forma,

e segundo o Conceito Europeu de Acessibilidade / 2003 (CEA, 2005:20-21), um meio físico

36 The seven guiding principles of Universal Design (equitable for use, flexibility in use, simple and intuitive

operating instructions, perceptible information, tolerance of error, low physical effort and adequate space for

approach, reach, and comfort) can and should be implemented across all areas of the 21st century museum.

In website design as much as in ramps, we have the tools, we have the mandate. (LEONARD, 1999:29). 37 No design e na construção pormenorizada de edifícios, devem ser totalmente exploradas as oportunidades

que têm como ponto de partida a “sraight line” e o “right angle”. Os espaços internos de uma construção

devem ser concebidos ou modificados à escala do homem; os utentes devem ter uma percepção fácil de toda

a planificação, esquematização e dependências do edifício e deve ser globalmente providenciada uma pronta

ligação com o exterior. Os espaços exteriores ao edifico devem ser adequadamente por forma a que o utente

se oriente neles sem dificuldade. Os de circulação devem ser bem iluminados e concebidos de modo a

incentivar positivamente a interacção social. Um bom design arquitectural e boas sugestões sensoriais de

compreensão imediata, devem ser adoptadas de preferência à sinalética. Deve clausular-se de forma

adequada para que as pessoas possam personalizar os respectivos espaços educacionais/vivenciais/laborais

e controlar o enquadramento ambiental no âmbito de outros espaços físicos. (CEA,2005:35).

Page 72: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 57

acessível tem de obedecer a determinados parâmetros, de forma a atingir o máximo da sua

função.

Respeitador Deve respeitar a diversidade dos utilizadores. Ninguém deve sentir-se

marginalizado, a todos deve ser facilitado o acesso

Seguro Deve ser isento de riscos para todos os utilizadores. Assim, todos os elementos

que integram o meio físico têm de ser dotados de segurança

Saudável Não deve constituir-se, em si, um risco para a saúde

Funcional Deve ser desenhado e concebido de tal modo que funcione de forma a atingir os

fins para que foi criado, sem problemas ou dificuldades

Compreensível

Todos os utilizadores devem saber orientar-se sem dificuldade num dado

espaço e, por conseguinte, é fundamental uma informação clara (utilização de

símbolos comuns a vários países, evitando as palavras ou abreviaturas da

língua local). A disposição dos espaços deve ser coerente e funcional

Estético O resultado deve ser esteticamente agradável

Tabela 9 – Parâmetros para um meio físico acessível

Acatando estes indicadores será possível um acesso sem restrições e respeitador da diversidade

humana. Com a exposição feita, facilmente, se constata que as bases da arquitectura fundadas no

triangulo vitruviano: firmitas, venuastas e utilitas continuam actuais e se aplicadas, conduzirão as

parâmetros necessários para se alcançar uma construção acessível.

Page 73: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 58

5.3. As (Novas) Tecnologias de Informação

O termo “novas tecnologias” refere-se, igualmente, ao desenvolvimento cada vez mais

acelerado de novos produtos, sistemas e serviços que assentam na aplicação de

tecnologias por vezes altamente complexas. Abrange a tecnologia no que concerne o

consumidor com base nos princípios que norteiam o design para todos, tecnologia-e-

serviços-para-todos como parte integrante da Infraestrutura tecnológica, tecnologia

utilizada na acessibilidade física dos edifícios e no meio edificado e, obviamente, a

tecnologia de apoio, (CEA, 2005:81-82).

A necessidade de mudança começa a tornar-se inadiável. Primeiramente, os museus Portugueses

devem começar pelas alterações exteriores, pelos acessos – os transportes públicos devem ser

todos acessíveis, assim como a via pública e o espaço circundante. Dentro do museu, devem

existir equipamentos que facilitem a mobilidade, tais como elevadores ou plataformas elevatórias.

Igualmente importantes são as orientações, em relevo, colocadas no chão, para pessoas invisuais,

bem como informações escritas em Braille. Verifica-se que é no combate à exclusão que as novas

tecnologias podem ser uma grande mais valia. Exemplos disso são os audioguias, os quais

permitem visitas explicadas e autónomas, com o tempo e ritmo gerido pelo próprio utilizador.

No mundo informático, a construção de software de acessibilidade, para permitir uma perfeita

utilização do computador e uma fácil navegação na Internet, adquire cada vez maior importância.

Os sites, por sua vez, terão de aumentar quantitativa e qualitativamente. Deve-se recorrer, sempre

que possível, aos validadores de Web, que facilitem a construção de páginas acessíveis, uma vez

que, as tecnologias de informação (hardware e software) são muitas vezes desenhadas,

esquecendo a diversidade de possibilidades de acesso que vários utilizadores apresentam. De

facto, muitas pessoas apresentam dificuldades de utilização do teclado, do rato, do ecrã, devido a

tetraplegia, problemas no controlo efectivo das mãos, perda dos membros superiores, paralisia

cerebral, cegueira ou baixa visão (ACTAS, 2005:335)

As tecnologias da informação invadiram de tal forma o quotidiano dos cidadãos que se torna,

praticamente, impensável uma sobrevivência actual sem elas. Apesar de, muitas vezes, estas já

não tão novas tecnologias serem encaradas como inacessíveis, a verdade constatada é que

podem ser uma grande aliada de todos os cidadãos com necessidades especiais, tendo,

inclusivamente, um grande impacto na qualidade de vida das pessoas com deficiência.

Um comité de peritos criado pelo Conselho da Europa (P-RR-NTH), preparou o projecto de

Resolução sobre a política, a apresentar ao Conselho da Europa. O Comité de Ministros do

Conselho da Europa adoptou a Resolução ResAP (2003) na sua reunião de 24 de Outubro de

2001. O Comité de peritos coligiu dados provenientes dos Estados Membros que integram o

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Acessibilidade em Museus

Página 59

Acordo Parcial no Campo Social e da Saúde Pública do Conselho da Europa, de Organizações

Europeias Internacionais Não-Governamentais, entre outras organizações, utilizando diversos

meios e num período que se entendeu desde meados de 1998 até princípios de 200138.

Este relatório fornece a descrição dos pontos principais, tais como, os referentes à Qualidade de

Vida.

Considera, igualmente, os diferentes tipos de incapacidades, como as deficiências funcionais e as

estruturas do corpo, condicionamento e restrições da actividade e problemas decorrentes da

participação na sociedade. Isto significa, por exemplo, que tanto abarca as deficiências físicas e

sensoriais, como as referentes às dificuldades e consequentes limitações da aprendizagem,

incapacidade mental e condicionamentos da participação na comunidade devido a factores

pessoais e ambientais.

As conclusões deste relatório mostram que as novas tecnologias podem ajudar a melhorar a

qualidade de vida das pessoas com deficiência. Contudo, há necessidade de se estabelecer um

conjunto coerente de acções com o propósito de evitar que as novas tecnologias sejam

simplesmente sinónimo de novas barreiras a grupos de risco. Com vista a conseguir-se uma

sociedade para todos, esta extensa gama de medidas tem de ser considerada com seriedade para

se evitar o isolamento profundo, (CEA, 2005:81-82).

A tecnologia tem um papel cada vez preponderante na melhoria de condições de acessibilidade e

de autonomia pessoal. Porém, é importante salientar que a tecnologia, tal como a arquitectura, são

complementárias e não substitutivas, (Cuyás, 2003:31).

Desde 1980 que o Instituto Português dos Museus (IPM) tem vindo a assegurar a presença da

internet nos museus, melhorando as condições de acessibilidade, definidas na segunda fase do

projecto “Sítios Web autónomos do IPM”, nomeadamente durante a criação e desenvolvimento de

uma plataforma de gestão.

Para que melhor se perceba o âmbito da acessibilidade, no que respeita as tecnologias de

informação, dão-se os seguintes indicadores:

38 Estes documentos, o relatório e a Resolução ResAP(2001)3 podem ser solicitados ao Conselho da Europa

(O Impacto das novas tecnologias na qualidade de vida das pessoas com deficiência, elaborado por Theo

Bougie, e a Resolução ResAP (2001)3, aprovada pelo CD-P-RR na sua 24ª sessão, em Haia, datada de 26-

29 de Junho de 2001).

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Acessibilidade em Museus

Página 60

Leitores (ReadSpeakers)

Estes leitores podem ser disponibilizados em qualquer página de Internet favorecendo a sua

utilização por pessoas com capacidades sensoriais diminutas, sem que, apresente obstáculo à

aquisição de informação.

World Wide Web Consortium Directrizes39 que pretendem dar a conhecerem algumas recomendações e normas

a seguir para tornar os sites de internet acessíveis a todos, publicados na Web

39 O principal objectivo destas directrizes é promover a acessibilidade. No entanto, a sua utilização fará

também com que os sites da Web e todo o seu conteúdo se tornem de mais fácil acesso para todos,

independentemente dos respectivos agentes dos usuários utilizados: navegadores comuns, navegadores por

voz, celulares, PCs de automóveis, leitores de ecrã, ampliadores de ecrã, em qualquer que seja a limitação

associada. Além disso, a respectiva utilização destas directrizes irá ainda ajudar as pessoas a encontrarem

informações na Web mais rapidamente. Estas directrizes não visam de modo algum restringir a utilização de

imagem, vídeo, etc., por parte dos produtores de conteúdo; antes explicam como tornar o conteúdo

multimédia mais acessível a um público mais vasto. (…) Muita gente não faz ideia do que é, nem que

importância possa ter, a temática da acessibilidade associada ao desenvolvimento de páginas para a Web.

Pede-se, pois, ao leitor que pense que há muitos usuários que actuam em contextos muito diferentes do seu.

Referimo-nos a usuários que podem estar numa das seguintes situações:

- Não ter a capacidade de ver, ouvir ou deslocar-se, ou que podem ter grandes dificuldades, quando não

mesmo a impossibilidade, de interpretar determinados tipos de informações;

- Não ter um teclado ou rato, ou não ser capazes de os utilizar;

- Ter um navegador que apenas apresenta texto, um monitor de dimensões reduzidas ou uma ligação à

Internet muito lenta;

- Não falar ou compreender fluentemente a língua em que o conteúdo da página foi escrito;

- Ter os olhos, os ouvidos ou as mãos ocupados ou de outra forma solicitados (por ex.: ao volante a caminho

do emprego ou ao trabalhar num ambiente barulhento);

- Ter uma versão muito antiga de um navegador, um navegador completamente diferente dos habituais, um

navegador por voz, ou um sistema operacional menos vulgarizado.

Os criadores de conteúdo têm de levar em conta estas diferentes situações ao conceberem uma página para

a Web. Embora haja uma multiplicidade de situações, cada projecto de página, para verdadeiramente

potencializar a acessibilidade, tem de dar resposta a vários grupos de incapacidades ou deficiências em

simultâneo e, por extensão, ao universo dos usuários da Web. In Web Contents Accessibility Guidelines 1.0 -

Diretrizes para a Acessibilidade dos Conteúdo da Web - 1.0 (www.utad.pt/wai/wai-pageauth.html), acesso a

15 de Novembro de 2008.

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Acessibilidade em Museus

Página 61

Content Guidelines (WCAG) 2.0.

De forma a estabelecer vários parâmetros de acessibilidade foram estabelecidos três logótipos

diferentes:

Se os conteúdos avaliados estão em conformidade com TODOS os pontos de

verificação aplicáveis de prioridade 1, isso significa que os mesmos se

encontram em conformidade com o nível 'A' das WCAG 1.0.

Se os conteúdos avaliados estão em conformidade com TODOS os pontos de

verificação aplicáveis de prioridade 1 e 2, isso significa que os mesmos se

encontram em conformidade com o nível 'Duplo-A' das WCAG 1.0.

Se os conteúdos avaliados estão em conformidade com TODOS os pontos de

verificação aplicáveis de prioridade 1, 2 e 3, isso significa que os mesmos se

encontram em conformidade com o nível 'Triplo-A' das WCAG 1.0.

Símbolo identificativo de site acessível Normalmente é o símbolo gráfico mais utilizado nos sites considerados

acessíveis, em Portugal.

A legislação vigente prevê igualmente, a utilização de equipamentos dotados de visor (Decreto-Lei

n.º 349/93 de 1 de Outubro de 1993, a Directiva n.º 90/270/CEE, do Conselho, de 29 de Maio, e,

também, a Portaria n.º 989/93 sobre as normas técnicas e características de ergonomia e

usabilidade do software). Todavia, estas leis têm já quinze anos e encontram-se desactualizadas

face à legislação de outros países, sendo exemplos disso a Lei da Reabilitação dos Estados

Unidos da América, datada de 2001, ou, mais recente, a Lei sobre Promoção do Acesso às

Tecnologias de Informação para Deficientes, de 2004, em Itália. Desde 1998, com a promulgação

da lei americana de acessibilidade, a Section 508: the road to accessibility, as grandes empresas

de software começaram a investir em acessibilidade.

Transformar um site não acessível acarreta custos financeiros, uma equipa especializada e tempo.

Contudo, os benefícios são ilimitados. Em contrapartida, se um site for construído de raiz, tomando

em consideração as normas técnicas de usabilidade, tal não aumentará significativamente os

custos.

Existe sempre a noção pré-concebida de que um site ergonómico não é bonito e agradável, o que

é totalmente falso. Os sites acessíveis podem conter as mesmas imagens e gráficos que os não

acessíveis, terão é de ser criados de acordo com as normas, de forma a não prejudicarem a leitura

e a aquisição de informação. Outro erro comum é apontar grupos específicos e públicos alvo,

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Acessibilidade em Museus

Página 62

quando se restringe o acesso de um site ao que se julga serem as características do seu público-

alvo. Usa-se a internet para limitar o público, enquanto esta deveria produzir precisamente o efeito

oposto, uma vez que a internet deveria ser usada para ampliar e diversificar.

Mas nem só de sites é feita a acessibilidade tecnológica. Existe a tecnologia (hardwares,

periféricos e softwares) concebida para ajudar pessoas com incapacidades ou deficiências a

executarem actividades do quotidiano. Entre eles, encontramos os leitores de ecrã, os

sintetizadores de voz, os ampliadores de ecrã, os programas com comando de voz, os teclados e

ratos específicos (normalmente controlados através de joystick, movimentos de cabeça ou

oculares).

As dificuldades de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), são um factor que

maximiza a exclusão, criando-lhe mais uma variante, a info-exclusão. A Resolução do Conselho de

Ministros sobre a acessibilidade dos sítios da administração pública na internet, pelos cidadãos

com necessidades especiais, afirma que a Sociedade da Informação deve contribuir para melhorar

a qualidade de vida de todos os cidadãos40.

A questão da info-exclusão tendo vindo a preocupar as instituições culturais e a chamar a atenção

para as e-tecnologias que, correctamente aplicadas, serão uma mais-valia para os cidadãos com

necessidades especiais. A par de algumas iniciativas, tais como a e-Europe 2002 e a e-

40 Nos termos da alínea g) do artigo 199º da Constituição, o Conselho de Ministros resolve:

1.1. As formas de organização e apresentação da informação facultada na Internet pelas Direcções-Gerais e

serviços equiparados, bem como pelos institutos públicos nas suas diversas modalidades, devem ser

escolhidos de forma a permitirem o seu acesso pelos cidadãos com necessidades especiais.

1.2. A acessibilidade referida no ponto anterior deverá abranger, no mínimo, a informação relevante para a

compreensão dos conteúdo e para a sua pesquisa.

2º Para a concretização dos objectivos a que alude o número anterior, os organismos nele conferidos deverão

implementar formas de escrita e de apresentação das suas páginas na Internet que assegurem que:

a) A respectiva leitura possa ser feita sem recurso à visão, movimentos precisos, acções simultâneas ou a

dispositivos apontadores, designadamente ratos;

b) A obtenção da informação e a respectiva pesquisa possam ser efectuadas através de interfaces auditivos,

visuais ou tácteis.

3º Os sítios da Internet dos organismos abrangidos pelo presente diploma que satisfaçam os requisitos de

acessibilidade nele referidos deverão indicá-lo de forma clara, através de símbolo a que reconhecidamente

seja associada essa característica.

4.1. Os sítios dos organismos referidos no número 1 na Internet deverão ser adaptados ao estabelecido no

presente diploma devendo, no prazo máximo de um ano, serem submetidos às respectivas tutelas relatórios

relativos ao estado da sua concretização.

4.2. Os sítios a criar a partir da data da entrada em vigor do presente diploma deverão assegurar a

acessibilidade nele prevista de forma imediata.

(publicado no Diário da República N.º 199, Serie I-B, em 26/08/99)

Page 78: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 63

accessibility, também em Portugal se têm desenvolvido alguns projectos na área das TIC, nos

museus, o que demonstra nitidamente a crescente preocupação com todas estas questões. Tal

como refere Bairrão Oleiro, a utilização das tecnologias de informação (…) ou a criação de

websites são instrumentos que alargam o universo dos públicos potenciais e permitem projectar a

imagem do museu, do seu património e das suas actividades muito além dos meios de

comunicação tradicionais (Semedo, 2006:11).

A importância que as TIC assumem no quotidiano dos cidadãos não pode ser menosprezada e,

muito menos, se pode partir do pressuposto que os computadores assistem apenas o mercado de

trabalho.

Cada vez mais se procura informação online, seja sobre as colecções, horários, actividades ou,

simplesmente, para se recolher alguns dados sobre o museu. Os recém chegados museus virtuais,

revelam as suas colecções a um público muito mais vasto e diversificado. Mas, tal como acontece

com os museus físicos, se não estiverem acessíveis e de acordo com as normas técnicas, verão

os seus serviços limitados a determinados grupos sociais e serão, também eles, promotores de

exclusão social.

Page 79: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 64

CAPÍTULO 6

A ACESSIBILIDADE EM AVALIAÇÃO

Page 80: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 65

6.1. Manuais e Planos de Acessibilidade

O conceito de Acessibilidade Universal encontra-se intrinsecamente ligado ao de Desenho para

Todos (Design for All), tendo como campo de acção a diversidade humana. O conceito de Design

For All consiste na consideração de qualquer diminuição das capacidades motoras, visuais,

auditivas, cognitivas e mentais, assim como as necessidades das pessoas vulneráveis, como as

crianças e as pessoas idosas. É, também, igualmente, importante a dimensão social ligada à

incapacidade, às dificuldades financeiras ou relacionais, aos estrangeiros que não falam a língua

(tendo por isso dificuldades em compreender as informações), à sinalização, e às condicionantes

temporárias de mobilidade (transporte com bagagens ou mercadorias, pais com carinhos de

bebé…)41

Antes de se desenvolver qualquer plano, é necessário estabelecer um diagnóstico. Só

posteriormente se pode adoptar métodos de intervenção. Para isso, é necessário avaliar e

compreender o estado do meio físico e a sua interacção com as pessoas, tudo sob o ponto de

vista da gestão. Após a elaboração do diagnóstico, estuda-se a condução de política das futuras

intervenções e estabelecem-se prioridades.

Para desenvolver uma visão global da qualidade de vida, partindo de uma reflexão sobre a

acessibilidade, é necessário entender que as dificuldades de acesso são desencadeadas pela

incapacidade de interacção, entre uma pessoa e o meio ambiente que a rodeia. É no ambiente que

se manifestam as situações que levam à incapacidade. Neste âmbito, pode-se comprovar a

importância da obtenção de um instrumento metodológico que possa ser utilizado de forma a

programar, executar e avaliar. O plano de acessibilidade é, sobretudo, uma ferramenta de trabalho

que visa a participação de um conjunto de autores que serão sensibilizados (através do próprio

plano), para a importância da integração da acessibilidade como catalisador do desenvolvimento

da qualidade de vida. O plano deve fornecer soluções para o total acesso da diversidade humana.

Segundo o European Concept of Acessibility42, as condições acessíveis são confortáveis para

100% dos cidadãos, apesar de serem imprescindíveis apenas para 10%.

41 O Design for all define-se como sendo uma intervenção sobre formas, produtos e serviços, com a

finalidade de que todas as pessoas possam contribuir para o desenvolvimento da nossa sociedade, com

igualdade de oportunidades para participar nas actividades económicas, sociais, culturais, recreativas e de

lazer e também possam aceder, utilizar e entender as diferentes partes de uma maneira autónoma,

independente da idade, género, e das capacidades culturais. Rafael Montes e Nuno Peixoto – Fórum

Arquitectura Acessível, organizado pela Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte nos dias 27-29 de

Junho no Porto.

Page 81: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 66

Este documento foi apresentado em 2003, pelo Prof. Francesc Aragall, presidente da

ProASolutions, cujo Plano de Acessibilidades propõe que a envolvente e os serviços devem ser

respeitosos, seguros, saudáveis, compreensíveis, funcionais e estéticos.

Apresenta ainda oito critérios de intervenção:

1. Prioridade à mobilidade sustentável

2. Segurança dos peões e controlo da velocidade motorizada

3. Medidas de segurança e acessibilidade nos parques, jardins e praças

4. Inexistência de barreiras arquitectónicas

5. Medidas de segurança e acessibilidade a edifícios

6. Prioridade ao transporte acessível

7. Medidas de segurança na cadeia de transportes

8. Sinalização acessível

As avaliações são de extrema importância para o desenvolvimento de métodos de combate à

exclusão. Estas devem ser sempre acompanhadas por equipas multidisciplinares e pelas próprias

pessoas com deficiência, dado que estas, melhor que qualquer técnico, saberão identificar todas

as barreiras físicas e intelectuais que impeçam e / ou condicionem a inclusão de todos os cidadãos

nos museus. Tal como Anne Pearson (Hooper-Greenhill, 1997:191), refere, arrangements made on

the behalf of disabled people but without their involvement re invariably inappropriate and under-

use. This in turn can lead to disillusionment on the part of the museum and even a reluctance to

make further improvements.

Por outro lado,

A existência de um Plano de Acessibilidade para Todos, elaborado tendo em conta a

abordagem apresentada tem como efeito uma análise integrada da temática da

acessibilidade, sendo um documento que deverá servir de guia orientador para a

actuação dos intervenientes no espaço, nas suas diversas competências. O Plano de

Acessibilidades permitirá estabelecer objectivos claros, responsabilidades de cada um

dos intervenientes, numa mais eficiente coordenação das acções, optimização dos

recursos em termos físicos e financeiros e ainda na calendarização das acções a

serem executadas. O Plano de Acessibilidades é portanto mais uma ferramenta que

permite uma gestão responsável e esclarecida do espaço contribuindo para o

aumento da qualidade de vida de todos os cidadãos43

43 Conclusão da comunicação de Nuno Peixoto (Administrador de empresas, com experiência em Gestão de

Projectos), no Fórum Arquitectura Acessível, organizado pela Ordem dos Arquitectos – Secção regional Norte

nos dias 27-29 de Junho no Porto.

Page 82: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 67

Numa avaliação e / ou na criação de um Manual de Acessibilidade há vários elementos a

considerar:

Estacionamento Devem existir lugares de estacionamento específicos para pessoas em

cadeiras de rodas.

A superfície deve ser confortável para utilizadores em cadeiras de rodas.

Caso não exista estacionamento devem ser providenciados, sempre que

possível, locais onde possam parar viaturas para saída de passageiros,

quer autocarros, quer viaturas que transportem pessoas com mobilidade

reduzida.

Aproximação ao

edifício

Deve ser livre de mobiliário urbano, com superfícies planas ou com rampas.

A entrada do edifício Todas as áreas com degraus devem ter corrimãos e passagem alternativa,

de superfície plana ou rampeada.

Circulação lateral Os percursos internos e externos devem estar livres de mobiliário e ter

espaço suficiente para a passagem de cadeiras de rodas, pessoas com

acompanhantes ou com cães-guia.

Circulação vertical Sempre que houver escadas devem existir elevadores / plataformas

elevatórias / rampas / cadeiras de aplicação a escadas.

As escadas devem estar bem sinalizadas com materiais contrastantes e

cores, devem ainda ser assistidas por corrimãos de ambos os lados.

Recepção Deve ser facilmente localizada, espaçosa e construída com princípios

ergonómicos quer de design, quer de níveis de locais onde haja interacção

entre os funcionários e os visitantes.

Local de descanso Devem providenciar locais para cadeira de rodas e para cães-guia, bem

como para os acompanhantes.

Salas de

investigação /

Gabinetes

Devem ser espaçosos e bem sinalizados. Sempre que possível ter apoio

das novas tecnologias de informação com programas de leitura específicos

para cegos, monitores sensíveis ao toque, ratos e teclados adaptados,

ampliação de ecrã.

Bar e restaurante Devem ser espaçosos, com percursos sem obstáculos e mesas que

permitam acolher pessoas em cadeiras de rodas.

Livraria Deve ter percursos espaçosos e os livros serem de fácil acesso a todos.

Salas de

conferências /

Auditórios

Devem ter locais específicos para pessoas em cadeiras de rodas e

pessoas com cães-guia.

WC’s Devem ser unisexo e adaptados para pessoas com mobilidade reduzida.

Sistemas de

comunicação

Sistemas de áudio-descrição e de ampliação de som.

Sistemas de áudio-video-descrição, locais visíveis e bem iluminados para

posicionamento de interpretes de Língua Gestual.

Page 83: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 68

Sinalética

Deve ser bem visível e livre de ruído. A informação deve ainda existir em

Braille.

Tabela 10 – Elementos a considerar num Plano de Acessibilidade

Todas as linhas orientadoras enumeradas deverão estar em conformidade com as normas

técnicas estabelecidas, de forma a promover uma utilização segura e funcional. Não descuidando

as dificuldades de obtenção e criação de alguns pontos, a rigidez de aplicação terá sempre de ser

ponderada, de acordo com as circunstâncias próprias de cada museu.

No combate á exclusão deverá ser sempre empregue um determinado grau de bom senso e

humildade, para se saber aceitar os desafios, vitórias assim como as derrotas. Sempre existirão

barreiras. Porém, dever-se-á sempre tentar solucioná-las e desvendar alternativas possíveis,

recorrendo, sempre que possível, a equipas multidisciplinares e às próprias pessoas deficientes.

Page 84: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 69

6.1.1. Normas do Conceito Europeu de Acessibilidade – Edifícios públicos

No caso da normas para Edifícios Históricos44 o Conceito Europeu de Acessibilidade é da opinião

que se um castelo ou palácio mantém a traça desde a sua construção, sem sanitários ou

electricidade e apenas utilizados com propósitos arqueológicos, só nesse caso é que o argumento

anterior seria aceitável (a não adaptação). Mas, pelo contrário, o edifício tem uma utilização cívica

e, portanto, está dotado de instalações como as acima referidas, não existe qualquer razão para

evitar introduzirem-se melhorias que visem a acessibilidade, providenciando o respeito pelo

traçado original e ressaltando as alterações produzidas. Assim, desta forma, todos podem fruir a

herança histórica, (CEA, 2005:69-72). No entanto, essas alterações, ou esses novos elementos,

não devem destoar ou interromper a autenticidade e harmonia da construção original. Da mesma

forma, é importante que se considere sempre o facto reversibilidade, isto é, de retirar esses

elementos e voltar à construção original sem qualquer dano para o edifício.

Na adaptação de edifícios há que ter em consideração as seguintes normas.

a) Entrada – acesso ao nível da rua / rampa com ligeira inclinação

b) Informação sobre a traça interior do edifício – mapa com número identificação de andares,

elevadores, escadas, rampas, saídas de emergência, etc.

c) Informação sobre a disposição e localização de serviços

d) Sistemas de apoio e/ou assistência personalizada

e) Acesso através de elevadores, rampas com inclinação leve e harmoniosa, corredores e

portas largos, gabinetes espaçosos

f) Sanitários – pelo menos um por andar e com dispositivos acessíveis para pessoas dotadas

de capacidade de manobra diferenciada

g) Planos de emergência45

44 Integração de Edifícios Históricos no Contexto do Meio Edificado: Constitui uma parte fundamental da

nossa história comum o tesouro cultural representado e integrado nos muitos edifícios e ambientes físicos

antigos, que necessitam de ser preservados e protegidos. Estes edifícios são frequentemente inacessíveis

enquanto que, ao mesmo tempo, os requisitos com que são apetrechados em termos da sua preservação

colocam obstáculos no caminho da mudança positiva a empreender. Edifícios mais antigos muitas vezes

albergam serviços administrativos centrais destinados ao atendimento público.

A sociedade actual exige muito dos antigos edifícios em termos práticos. Como parte integrante destas

exigências, os edifícios devem ser acessíveis e utilizáveis por pessoas com mobilidade condicionada.

Partindo de todos os objectivos de inclusão e normalização, os exemplos de como se tornam acessíveis os

velhos e antigos edifícios são apresentados para mostrar que um tratamento considerado do seu valor

histórico pode combinar-se e estar em conformidade com a respectiva acessibilidade e utilização por parte

das pessoas com limitações de actividade. (CEA, 2005:76) 45 Protecção Contra Incêndios nos edifícios: A protecção contra incêndios tendo em vista as Pessoas com

Limitações da Actividade (2001 WHO ICF) tem de ser considerada em todos os estádios do design da

acessibilidade na implementação dos edifícios. Deve proceder-se a uma consulta prática, directa e

Page 85: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 70

h) Sinalética clara, tanto a nível visual como acústico

i) Iluminação suficiente e indicadora dos itinerários a seguir

j) Ar condicionado com boa manutenção e segurança

k) Paredes libertas de obstáculos

l) Elementos decorativos, tendo o cuidado de eliminar todos os possíveis obstáculos, tais

como: grandes espelhos que transmitem sensação de continuidade do espaço;

pavimentos encerados; portas a infra-vermelhos; tapetes não presos ao chão; balcões de

atendimento demasiado altos e / ou com arestas salientes e superfícies reflectoras

m) Todas as peças expostas se devem encontrar em lugares acessíveis

n) Informação disponibilizada em formato visual, sonoro e táctil

o) Lojas com os artigos assinalados com preços em etiquetas visíveis

p) Bar com cadeiras para crianças, menus em Braille, opções para vegetarianos e celíacos

significativa a cada uma das pessoas envolvidas. (…) A referência às seguintes categorias de utilizadores é

útil para se preparar uma Estratégia de Segurança contra incêndios (…) Todos os utilizadores com

deficiência ou doentes (…).

Alguns Pontos de Design Importantes num Plano Contra Incêndios:

1. “Conhecimento” do edifício

2. Orientação de utente e relacionamento com o exterior

3. Sinalética simples e não conflituosa com preferência por gráficos em vez de textos

4. Meios alternativos de evacuação

5. Detecção rápida e segura – com avisos que devem ser facilmente compreendidos por todos os

utentes do edifício

6. Evacuação por andares faseada

7. Áreas de salvamento e assistência

8. Utilização de elevadores, escadas e tapetes rolantes durante a ocorrência de um sinistro com fogo

9. Acessibilidade de todas as passagens para evacuação, incluindo escadas

10. Design das estruturas de combate ao fogo nas áreas de evacuação, incluindo escadas.

A saúde já não pode ser descrita como a ausência de doença ou enfermidade, mas como um estado de bem-

estar físico, mental, e psicológico. (CEA, 2005:72-73).

Page 86: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 71

A diversidade humana manifesta-se em diferentes níveis, provocando necessidades reais

específicas em diferentes tipos de deficiência. As tabelas que de seguida são apresentadas,

pretendem ser elucidativas quanto a essas mesmas deficiências, tendo em conta os cuidados

específicos a ter.

Pess

oas

com

Def

iciê

ncia

Vis

ual (

baix

a vi

são

e ce

guei

ra)

Iluminação Livre de sombras

Sinalética Tamanho e letra

Em Braille

Informação

Táctil

No chão

Nas escadas

Nos corrimãos de escadas e corredores

Nos marcadores de direcção através de cor, materiais de contraste

e textura.

Nas portas

Acústica

Sensorial Através do olfacto estimulado pelo aroma de plantas

Espaço

Áreas de circulação desimpedidas

Decoração das superfícies e das paredes – diminuição do ruído visual que

pode confundir

Autorização de entrada a cães-guia

Tabela 11 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência visual

Pes

soas

com

Def

iciê

ncia

Aud

itiva

Informação

Áudio

Induction loop

Sistema áudio de infra-vermelhos

Acústica minimizadora de ecos – superfície do chão e das paredes

Informação em formato visual, incluindo os sistemas de alarme

Sensorial Através do olfacto estimulado pelo aroma de plantas

Espaço

Chão resiliente

Minimização dos níveis de barulhos de fundo

Autorização para cães de assistência

Tabela 12 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência auditiva

Page 87: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 72

P

esso

as c

om d

efic

iênc

ia m

otor

a

Pessoas com bengalas Estacionamento

Superfícies de entrada pavimentada

Minimização das alterações de nível

Corrimãos

Portas automáticas

Elevadores

Cadeiras adaptadas às escadas

Plataformas elevatórias

Lugares de descanso em áreas de circulação

WC’s

Posição de controlos, evitar flexão das pernas

Pessoas em Cadeiras de Rodas

Estacionamento

Superfícies pavimentados

Percursos de entrada sem degraus

Rampas

Elevadores

Plataformas elevatórias

Mostradores rebaixados

Portas mais largas

WC’s

Locais de descanso para pessoas em cadeiras de

rodas e cadeiras para acompanhantes

Pessoas com Mobilidade Reduzida

dos Membros Superiores

Portas automáticas

Design dos puxadores das portas

Corrimãos de ambos os lados das escadas e

corredores

Mobiliário de WC adequado – torneiras automáticas,

secadores de mãos

Tabela 13 – Cuidados específicos a ter com pessoas com deficiência motora

Acompanhantes

Espaço nos elevadores para acompanhantes ou cães-guia

Espaço nos Wc’s

Espaço indicado para cadeiras de roda e cães-guia

Tabela 14 – Cuidados específicos a ter com acompanhantes de pessoas com deficiência

Page 88: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 73

As tabelas apresentadas baseiam-se em pressupostos de acessibilidade total, consoante o tipo de

deficiência e de necessidade especial de cada grupo de pessoas. Obviamente, cada pessoa

apresentará dificuldades mais ou menos específicas, consoante o grau de deficiência. Estes

valores, apenas pretendem ser elucidativos, de uma forma geral, das condições necessárias ao

acolhimento de pessoas com deficiência.

Page 89: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 74

6.2. Auditorias

Uma auditoria sobre o acesso é uma forma de avaliação de um edifício e de serviços, no que

concerne a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Consiste, no mínimo, de uma visita in

loco e de um relatório com recomendações para serem postas em prática. Essas recomendações

constituirão a base sobre a qual assentará um plano ou estratégia, visando a melhoria do acesso.

As auditorias, são comummente requeridas e autorizadas por serem solicitadas pelo mecenato /

criadores de projectos e porque permitem aos que prestam e disponibilizam serviços, responder a

obrigações regulamentadas por lei. As auditorias são reconhecidas como exemplos de boas

práticas, na remodelação de edifícios e na actualização de serviços, uma vez que analisam

detalhadamente a forma como o edifício é utilizado e revêem a acessibilidade dos serviços

oferecidos. Assim sendo, não analisam o edifício isoladamente, mas sim o acesso a este; os

espaços destinados ao público; as áreas destinadas ao pessoal; os serviços e instalações; as

políticas, práticas e procedimentos (linhas de actuação); os serviços ao consumidor; a informação

e publicidade e a interpretação e meios alternativos de acesso, (CEA, 2005:89).

No caso de auditorias devem ter-se em conta os seguintes aspectos:

a) Lugares no parque de estacionamento e locais de paragem para deixar sair

pessoas,

b) Acessibilidade na entrada do edifício – rampas, portas automáticas,

corrimãos, assistência, etc.,

c) Níveis de iluminação

d) Chão – sem reflexão e desníveis

e) Mobiliário adequado

f) Elevadores

g) Planos de Incêndio – locais de “refugio” e evacuação

h) WC’s adaptados

i) Sinalética e orientação – contrastes, legibilidade, compreensão, em formatos

visuais e acústicos

j) Cores e layouts

Ao longo deste capítulo foram enumeradas diversas estratégias, sob o ponto de vista do

aconselhamento e da exposição de normas aplicáveis, de forma a alcançar parâmetros de

acessibilidade totalmente satisfatórios.

Page 90: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 75

Certamente, poucos serão os museus que reúnem todas as condições necessárias para o seu

emprego. Assim, considerou-se importante, tendo em conta o discurso apresentado em torno da

temática da investigação, enumerá-los.

A primeira etapa deverá ser a avaliação da acessibilidade do museu através do Plano de

Acessibilidade, onde constarão todas as dificuldades sentidas e possíveis solucionamentos, tendo

em conta os orçamentos afectos, a equipa disponibilizada, os espaços e as colecções. O plano

não pretende ser desencorajador ou meramente descritivo de aspectos negativos, a sua função é

permitir uma análise concreta do nível de acessibilidade que se tem e que se poderá atingir. Da

mesma forma, as avaliações pretendem-se baseadas em críticas construtivas que visem o

aumento da acessibilidade.

Page 91: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 76

CAPÍTULO 7

QUESTÕES DE ACESSIBILIDADE

MUSEUS DO PORTO

Page 92: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 77

7.1. Posicionamento metodológico

Tendo em conta a realidade complexa e diversificada da acessibilidade museológica que vai sendo

preconizada, de acordo com abordagens próprias ou institucionais, considerou-se o fenómeno

social e cada indivíduo como produtor de conhecimento e significado.

Procedeu-se à recolha de informação numa pequena amostragem, limitadora, é certo, mas

representativa do grupo que se pretende analisar.

Este tipo de investigação, designada por Erickson (1986, 119:161) como sendo interpretativa,

traduz-se numa metodologia que atribui significados às acções desempenhadas pelos sujeitos,

cujo processo de interpretação adquire uma importância primordial na realidade do mundo. Com

esta abordagem, pretende-se compreender diferentes níveis de organizações sociais,

considerando os diversos significados que os acontecimentos poderão adquirir.

Estudando-se realidades humanas e práticas sociais (e as próprias interpretações dos actores

sociais que nelas intervêm), formulam-se construções de conhecimentos a partir de saberes do

senso comum, relativos a todos os campos da evolvente humana. São, precisamente, as

diferenças de significados que se pretende apreender.

Tendo em conta a homogeneidade do grupo profissional estudado nesta investigação, recorreu-se

à pesquisa exploratória, cujo objectivo foi a formulação de problemas reais concretos, e à pesquisa

descritiva para se decomporem determinadas características, opiniões e relações.

Não se pretendeu recolher apenas “experiências profissionais” mas apreender acontecimentos

sociais, interpretando seus impactos sobre os actores.

Através de relatos vivenciais reflectidos em práticas sociais, os profissionais de museus

manifestaram as suas expectativas, frustrações e receios face a uma problemática real e crescente

que se assume, cada vez mais, dentro dos espaços culturais e respectivas envolvências.

O campo de acção foi limitado ao campo geográfico dos museus da cidade do Porto, variando

entre o tipo de colecções, tutela e estatutos jurídicos, dos quais se privilegiou o Serviço

Educativo46, tendo em conta a proximidade com o objecto de estudo.

46 De forma a permitir a investigação proposta, o serviço de educação em causa pressupunha-se como

possuidor de um, ou mais, profissional, dotado de recursos mínimos para o desenvolvimento de acções

dirigidas ao público.

Page 93: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 78

Dadas as condições de proximidade que favoreciam o desenvolvimento da investigação, constitui-

se como amostra quatro museus, havendo sido incluído mais um museu, dado o envolvimento da

investigadora nas acções educativas aí desenvolvidas, destinadas a pessoas com deficiência.

Foram, assim, seleccionadas as seguintes instituições:

Nome Estatuto Jurídico

Tutela Colecção

Museu da Casa do Infante Público Câmara Municipal do Porto Arqueologia

Museu Nacional Soares

dos Reis

Público Instituto Português de Museus Artes

decorativas

Museu do Papel Moeda Privado Fundação Dr. António Cupertino

de Miranda

Especializada

Museu Romântico da

Quinta da Macieirinha

Público Câmara Municipal do Porto História

Museu dos Transportes e

Comunicações

Privado Associação para o Museu dos

Transportes e Comunicações

Especializada

Tabela 15 – Identificação e classificação da amostra

Apesar da reduzida amostra, pensa-se que a mesma será tradutora da realidade geral vivida pelos

museus portugueses. Desta forma, torna-se representativa de uma população mais abrangente.

Não se pretende com esta investigação atribuir valores estatísticos, funcionando estes como

complementos metodológicos. Salienta-se, ainda, a finalidade em explorar uma temática e não no

desenvolvimento de uma sondagem representativa.

Para a concretização das intenções da investigação, aplicou-se a técnica da entrevista, que se

pretendia informal e exploratória, tomando em consideração as limitações e perigos associados a

esta técnica. Ainda assim, a possibilidade de recolher dados através da expressão corporal, do

tom e ênfase impostos nas respostas e, sobretudo, na flexibilidade de encadear os assuntos e de

os aprofundar, demonstrou ser a melhor base para a recolha das informações pretendidas.

Concedeu-se liberdade e abertura ao entrevistado de forma a, não só, prestar as declarações

inquiridas mas, e sobretudo, expressar os seus sentimentos em relação ao tema, recorrendo a

manifestações de receios e dúvidas. Promoveu-se, também, o recurso á memória e a narrativas de

experiências em que o entrevistado cria o seu próprio discurso.

Page 94: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 79

Como entrevista semi-directiva, em que o entrevistado se pode apropriar da mesma, deixando-se

levar pela emoção e pelo desejo de partilha de experiências, a investigadora socorreu-se de um

guião para manter a narrativa centrada na temática, sem que este deixasse esgotar a entrevista.

As linhas orientadoras constitutivas do guião firmaram-se sob parâmetros cruzadores do serviço de

educação com a própria instituição e seus visitantes, no âmbito de:

a) Conceito de acessibilidade e inclusão

b) Públicos

c) Actividades do SE desenvolvidas com públicos com deficiência

d) Parcerias e protocolos com associações e instituições de apoio à deficiência

e) Recursos

f) Acções de formação

g) Avaliação do espaço

h) Interacção entre os visitantes com deficiência, a colecção, a equipa e o espaço

do museu

i) Experiências

j) Aspectos positivos e negativos

k) Expectativas

Constituída a metodologia a aplicar, delimitada a amostra e estabelecidos os tópicos para o guião,

iniciaram-se as solicitações para entrevista. As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho

dos entrevistados, recorrendo-se a um gravador digital para registo dos dados, após prévia

informação e autorização por parte dos sujeitos. Pediu-se, igualmente, autorização para fotografar

os espaços.

As entrevistas foram realizadas entre o final de Julho e início de Setembro de 2007 e encontram-se

transcritas na íntegra, em anexo.

Após a execução das mesmas, foi feita a sua transcrição, registando literal e fielmente o seu

conteúdo. Todavia, eliminaram-se algumas interjeições e repetições, de forma a permitir uma

melhor fruição da leitura e facilitar a interpretação. A eliminação de erros de construção gramatical

e frásica foi praticamente inexistente, verificando-se, apenas, em algumas situações pontuais.

Page 95: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 80

7.2. Museu Nacional Soares dos Reis

Criado em 1833 por D. Pedro IV, o então Convento de

Santo António da Cidade, torna-se no primeiro museu

público do país.

Quando em 1839 partilha a direcção com a Academia

Portuense de Belas-Artes, adquire características

académicas que o iriam distinguir nas suas colecções.

Com as reformas republicanas, o Museu Portuense

adquire o nome do notável pensionista em escultura

da Academia, Soares dos Reis.

Em 1932, ganha o estatuto de Museu Nacional e, em

1940, muda-se para o edifício conhecido como o

Palácio dos Carrancas e integra, ao longo dos anos

seguintes, as colecções do Museu Municipal. Entre

1992 e 2001, sofre vários processos de remodelação

e expansão, coordenados pelo arquitecto Fernando

Távora. Reabre, novamente, nesse ano, em que se

comemora o ano do Porto Capital Europeia da

Cultura, não só com novos espaços mas, também,

com programas renovados que pretendem abrir as

portas do museu à cidade.

No primeiro piso, podem-se encontrar colecções de

pintura e escultura portuguesa. No segundo piso,

surgem as artes decorativas (ourivesaria, joalharia,

mobiliário e faiança portuguesa). Conta ainda com

duas salas de exposição temporária, auditório,

cafetaria, loja e sala de leitura.

O sujeito entrevistado revelou as principais

preocupações do museu face aos seus públicos e as

barreiras que tem tido de superar, devido à falta de

meios que assolam as instituições culturais públicas.

Constata que o meio mais eficaz de ultrapassar

barreiras tem sido a equipa sensibilizada, preparada

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para acolher, orientar pessoas com necessidades

especiais.

Quando se fala de necessidades especiais, há que

tomar uma posição, reconhecendo-se que a

acessibilidade não serve só para garantir o acesso de

algumas pessoas, mas ajuda todos os cidadãos. A

melhor forma de ultrapassar obstáculos é através do

bom senso pois a comunicação pode-se tornar na pior

barreira que um museu pode ter. A par da

comunicação, temos as “proibições” impostas pelos

museus dado estimularem comportamentos

desviantes. O ambiente e o espaço de um museu não

devem criar tensões, as pessoas têm de estar

predispostas a comunicar, a pedir ajuda, a

compreender os próprios limites do museu.

O sujeito inquirido não considera que, fisicamente, o

museu apresente grandes barreiras: tem dois WCs

adaptados – um em cada piso, a sinalética é visível e

perceptível, existem dois elevadores, rampas nos

desníveis e tem, igualmente, uma cadeira de rodas à

disposição dos visitantes. No entanto, os acessos ao

museu poderão ser limitativos. Situado na Rua D.

Manuel II, não tem parque de estacionamento e

apesar de os autocarros poderem parar à porta, o

tráfego da rua dificulta a mobilidade.

Em preparação, encontram-se um áudio-guia, textos

em Braille que, pontualmente, acompanham algumas

exposições temporárias e o site. A respeito deste

último, foi dada a garantia que este está a ser criado,

em conformidade com as normas europeias de

acessibilidade electrónica. O entrevistado chama a

atenção para o radicalismo que tem pautado as

questões da acessibilidade, os sites que não estão

acessíveis para todos estão parados e, portanto, não

estão acessíveis para ninguém (…) acho que isto em

termos de acessibilidade é redutor, não acho correcto.

Por exemplo, não vamos demolir os monumentos

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onde não podem ir pessoas em cadeira de rodas,

deve-se fazer o máximo possível mas não vamos

demolir, proibir todos (…) deve estar sinalizado (e

indicar) que não é possível, (deve) garantir essa

informação.

O Serviço de Educação do museu acolhe públicos

com necessidades especiais, integrados em outros

grupos ou em visitas orientadas específicas, como é o

caso das visitas para cegos. Às segundas-feiras, ou

terças-feiras de manhã, o museu acolhe associados

da ACAPO – Porto, e possibilita visitas tácteis na área

da escultura.

Recordou ainda uma dessas visitas em que um cego

acabou por corrigir a interpretação do monitor e

explicou que a escultura representava alguém que

estava a puxar uma rede de pesca pela areia, sendo

os músculos da perna exemplificativos desse

movimento e do esforço necessário para essa acção.

O visitante provinha de uma família de pescadores e

essa actividade era-lhe muito familiar, por isso, ao

tocar na escultura, facilmente “leu” a sua

interpretação. Para além do protocolo com a ACAPO,

têm um outro com o Espaço T e recebem, também,

muitas visitas escolares de crianças com paralisia

cerebral.

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Acessibilidade em Museus

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7.3. Museu dos Transportes e Comunicações

O Museu dos Transportes e Comunicações é tutelado

pela Associação para o Museu dos Transportes e

Comunicações47 desde 1992 e encontra-se instalado

no edifício da Alfândega Nova do Porto. Data da

segunda metade do século XIX, saído da imaginação

do arquitecto Jean Colson. Posteriormente, sofreu

remodelações da autoria do Arquitecto Eduardo Souto

de Moura, com inauguração em Dezembro de 2000.

O serviço de educação acompanha a programação do

museu desde 1996 e tem estabelecido diversas

ligações ao público com necessidades especiais,

nomeadamente através de oficinas com participação

de utentes da Associação Portuguesa de Pais e

Amigos do Cidadão Deficiente Mental, de ciclos de

encontros da (in) Diferença, com participação da

Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão

Deficiente Mental, da Associação Portuguesa de

Paralisia Cerebral e do Centro de Reabilitação de

Gaia. Paralelamente a estas actividades, realizou

ainda duas edições do curso “Introdução à Língua

Gestual Portuguesa”, com duração de 30 horas.

Em termos de equipamento, o museu tem WCs

adaptados, elevadores e rampas. Tem, igualmente,

sistema de alarme visual, áudio-guias, software

adaptado para cegos e amblíopes (no final da

exposição tem um questionário de avaliação num

quiosque multimédia), e percurso áudio para cegos,

composto por uma bengala e sistema áudio.

Quanto às actividades do SE, o entrevistado informa

que não têm actividades específicas, optando por

integrar os visitantes nas oficinas já existentes.

47 Instituição privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública, constituída por associados fundadores

institucionais e privados.

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Segundo ele, a forma como acolhemos e

comunicamos, essa sim, é que se adapta aos

diferentes grupos (…) até porque para alguns pode

ser uma primeira experiência e pode não ser a

conclusão da tarefa em si mas o contacto com

diversos materiais, o que é plástico, o que é ferro, os

tecidos.

Por exemplo, para os cegos, se não houver

obstáculos por parte da coordenação e dos

proprietários automóveis, já que a maior parte deles

são de coleccionadores, eles então trazem as luvas,

tiram anéis e relógios e observam os automóveis e há

muitos que realmente nos fazem espantar porque

sabem modelos e marcas, de que país é. Se não

vierem integrados num grupo, mas sim,

individualmente ou em famílias, há um percurso áudio

apoiado por um trilho metálico, que funciona com

bengala e auriculares, e que percorre uma parte da

exposição. Assim se inicia o acesso à exposição,

onde terá sempre de ter um apoio, um elemento do

museu que explica o seu funcionamento e depois [o

cego] autonomamente coloca a bengala no trilho e vai

tendo dois níveis de informação: informação mais de

orientação – parar, avançar, direita, esquerda (…) e o

outro nível de informação é dos conteúdos.

Em relação à exposição da Comunicação do

Conhecimento e da Imaginação, composta por

oficinas práticas de rádio, televisão, jornal, ciência,

imaginação corporal, esta adapta-se em duração, tipo

de actividades e conteúdo aos diferentes grupos.

Têm, também, seis miniaturas automóveis em escala

1/12, [que] normalmente estão reservadas ao público

em geral com umas caixas em acrílico mas [numa

visita para cego] essas caixas são retiradas para

poder manusear, tactear e ter uma ideia de qual é o

percurso em termos de evolução automóvel que está

na exposição, em termos de épocas, começa com um

Ford T e acaba com veículo dos anos 50/60 (…) e, no

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final deste percurso, foram instalados dois

computadores com um inquérito em português e em

diferentes línguas do percurso áudio para turistas, um

desses computadores tem um sistemas de leitura de

ecrã (…) e permitirá também ao invisual, no final,

preencher o inquérito.

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7.4. Museu da Casa do Infante

A Casa do Infante é um dos edifícios mais antigos da

cidade do Porto, datado do século XIV, cuja história

remonta a 1325. Para além de ter o seu nome

associado ao nascimento do Infante D. Henrique, foi,

também, armazém da alfândega régia até ao século

XIX, quando as instalações passaram para Miragaia.

Não só a sua localização usufrui do título de zona

classificada como Património Mundial (desde 1996),

como também a própria Casa do Infante se encontra

classificada como Monumento Nacional, desde 1924.

Em 1980, instalou-se no edifício, o Arquivo Histórico

Municipal que conta entre os seus serviços, com o

núcleo museológico, salas de exposições temporárias,

auditório, sala de leitura e a Sala Memória. O núcleo

museológico, designado por “Torre Norte”, divide-se

em três pisos e apresenta objectos de escavações

arqueológicas da década de 90, relativas ao projecto

de ampliação e reabilitação orientado pelo arquitecto

Nuno Tasso de Sousa. Este núcleo foi desenvolvido

em duas fases: a primeira com inauguração em

Dezembro de 2001 e, a segunda, em Maio de 2005.

Entre a colecção podem-se encontrar postos

multimédia, uma maqueta do Porto Medieval, com

versão sonora à escala 1:500, e objectos tácteis,

nomeadamente algumas réplicas de azulejos. As

actividades do serviço de educação são adaptadas a

públicos com necessidades especiais. Segundo o

entrevistado, foram feitas algumas actividades

específicas mas acabaram por preferir adaptar as

restantes: Nós começamos por conceber uma oficina

adaptada especifica, pensávamos nós, para estes

grupos mas aprendemos com a experiência que as

actividades que nós temos poderão, muito mais

facilmente, ser adaptadas com a ajuda dos técnicos

especializados, do que pensarmos nós nesses

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termos, pois nós não temos formação específica para

trabalhar com esses grupos e fomos vindo a aprender

que mesmo na paralisia cerebral, num grupo com oito

utentes, temos pessoas com diferentes dificuldades e,

por isso, os técnicos, melhor do que ninguém, podem

dar-nos indicações e dizer “esta pessoas trabalha

melhor desta maneira (…) a actividade será então

personalizada.

Em termos físicos, a Casa do Infante encontra-se

equipada com rampas, elevador (no edifício do

arquivo – embora não permita aceder a todas as

áreas), e uma cadeira, que sobe degraus para aceder

aos pisos superiores do núcleo museológico. Devido à

localização do edifício, este não conta com

estacionamento e o acesso é bastante dificultado. A

par deste problema, encontra-se o da sinalética pouco

visível.

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7.5. Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

A Quinta da Macieirinha, também conhecida por

Quinta do Sacramento, actualmente alberga o Museu

Romântico mas, outrora, foi casa de campo de

António Ferreira Pinto Basto. Nela, também habitou o

Rei do Piemonte Carlos Alberto, durante os últimos

meses da sua vida. Em 1967, a Câmara Municipal do

Porto, decidiu organizar um museu de recordações do

século XIX e, em 1972, comprou a casa para aí

instalar o Museu.

O Museu pretende ser a recriação de ambientes

românticos do século XIX, através da reconstituição

do seu interior que testemunha a classe portuense e a

permanência do Rei Carlos Alberto.

A sua colecção constituiu-se através de doações,

aquisições e depósitos. A preocupação centrou-se

numa recriação museológica que apoiasse a

interpretação de uma determinada época e não a

reconstituição da casa conforme fora durante o

período no qual fora habitada. Até porque, não se

sabe como poderá ter sido a primeira construção

antes dos acrescentos seguintes e modificações.

Trata-se de uma casa adaptada a museu, sem

recurso a rampas ou elevadores, o que torna a

passagem do piso da entrada para o primeiro andar

impossível, para quem se desloque em cadeira de

rodas. Contudo, têm sido feitos vários esforços para

ultrapassar as barreiras e, sempre que solicitados,

realizam actividades para públicos com necessidades

especiais. A entrada possui uma rampa de acesso ao

museu em pedra (que) faz parte da própria estrutura

do edifício, a entrada ao museu é possível mas depois

temos um grande senão que é a deslocação ou a

movimentação entre o andar inferior e superior, não

temos qualquer elevador, existe já o pedido, o projecto

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mas há uma série de condicionantes. Condicionantes

essas que não impedem a mobilidade dos visitantes

que escolhem o Museu Romântico. Usando as

palavras do entrevistado, o acesso a públicos com

dificuldades motoras não é problema pois já estamos

habituados a carregar com as cadeiras…por isso não

é para nós impedimento.

O mesmo se faz com as actividades que são adaptadas, conforme o grupo. O último que tivemos

cá, nos jardins, escreveram até uma carta a agradecer imenso, correu lindamente. Os monitores

vão coordenando e vão fazer aquilo que eles acham que podem fazer, não ficam limitados (…).

Estiveram cá até ao meio-dia e correu muito bem. (…) As coisas têm sido adaptadas (…) Nem

sempre se pode dispor /disponibilizar um programa a 100%, temos de adapta-los. Não são feitos

efectivamente com o propósito de se destinar aqueles públicos mas conseguimos sempre uma

adaptação (…).

Apesar do acesso ao museu se efectuar através de uma rua bastante íngreme, o estacionamento

poderá ser garantido através da limitação de acesso aos outros carros, antigamente estacionava-

se em todo o terreiro e agora limitamos com uma divisória, amovível, portanto se necessário

retiramos e eles conseguem chegar até nós.

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7.6. Reflexões sobre a acessibilidade

Este trabalho de investigação teve como objectivo expor a forma e os métodos de trabalho

praticados pelos Serviços de Educação, face a públicos com deficiência, sem, no entanto, criar

expectativas relativamente às respostas obtidas, dado as mesmas terem apenas confirmado a

realidade.

Que actividades se realizam? Com que recursos? Com que apoios? Que dificuldades sentem?

Que papéis assumem?

Numa primeira leitura, constata-se que a crescente intervenção dos chamados novos públicos, se

encontra a despertar atenções por parte dos profissionais de museus. Apesar de a grande maioria

não programar especificamente para estes novos públicos, adapta, sem grande esforço, as

actividades realizadas, o que denota preocupação na integração e no tratamento não diferenciado.

Os recursos não são abundantes e a concepção de programas, a divulgação, a exploração da

colecção em prol de uma posição mais educativa atribui, cada vez mais, uma polivalência a todos

os que abraçam a museologia, e que se vêm obrigados a servir várias áreas com falta de

afectação de orçamentos financeiros.

O público escolar continua a liderar as visitas orientadas. Porém, muitas associações de apoio a

pessoas com deficiência e centros de reabilitação avançam autonomamente como participantes e

consumidores culturais.

Da mesma forma, os museus tomaram consciência da amplitude dos seus serviços e estão alerta

para as questões de acessibilidade, fazendo uso de todos os fins para alcançar a inclusão. Já não

se pretende, apenas, que o público vá ao museu, pretende-se que ele volte.

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Acessibilidade em Museus

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8. Aplicação prática dos conhecimentos

Desde 2005 que a investigadora trabalha, integrada no SE, para a implementação e criação de

actividades direccionadas a públicos com necessidades especiais, nomeadamente, pessoas com

deficiência. Assim sendo, paralelamente a toda a investigação, foi realizado trabalho prático

desenvolvido no Museu do Papel Moeda, da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda.

Como tal, apresenta-se, em seguida, a instituição e o respectivo desenvolvimento prático de todas

as questões ligadas à acessibilidade física dos espaços, das colecções, da informação

disponibilizada e das actividades realizadas.

Salienta-se, ainda, que não se pretende estabelecer critérios comparativos com as demais

instituições apresentadas. Esta exposição pretende, unicamente, relatar o trabalho prático que

acompanhou a investigação, enriquecendo-a.

Museu do Papel Moeda | Fundação Dr. António Cupertino de Miranda

A Fundação Dr. António Cupertino de Miranda acolhe

o Museu do Papel Moeda, construído de raiz, para

albergar a colecção de papel fiduciário, que lhe dá o

nome. A sua construção teve início em 1994 e foi

inaugurado em 1996. Em 2003, abriu mais uma sala

de exposição permanente, com uma colecção de

miniaturas de transportes. A exposição de papel

moeda é constituída por apólices do Real Erário,

notas de Portugal e ex-colónias, cheques, acções,

lotarias, papel selado e letras.

A Fundação encontra-se equipada com elevador,

rampas e WC para deficientes. Possui, igualmente,

catálogo e desdobráveis informativos em Braille.

Em 2005, iniciou-se um projecto, no âmbito da pós-

graduação em Museologia da Faculdade de Letras da

Universidade do Porto, que visava a análise da

acessibilidade do Museu, detecção de problemas e

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Acessibilidade em Museus

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atribuição de possíveis soluções, resultando na

elaboração de um Plano de Acessibilidades.

Desde então, o museu tem sido acompanhado por

técnicos da Associação de Cegos e Amblíopes de

Portugal (ACAPO) e elaborou visitas orientadas,

especificamente planeadas e desenvolvidas para este

público. A visita orientada pode ser feita com o apoio

de um catálogo com textos em Braille, com notas em

relevo ou através da descrição pormenorizada, por

parte dos monitores do Serviço de Educação,

acompanhada por elementos tácteis (apólice do Real

Erário e várias notas representativas). Na elaboração

das notas tácteis foram percorridos vários traçados

até se chegar ao produto final. Inicialmente procedeu-

se à selecção das peças que se destacariam na

colecção, pela sua importância e pela possibilidade de

transmitir a evolução histórica do papel fiduciário, em

Portugal. Em seguida, foram analisados os elementos

presentes na apólice e nas notas escolhidas que, pela

sua importância, identificariam a peça. Após essa

triagem, criaram-se maquetas das notas em papel

cartolina (em tamanho real) e recortaram-se esses

elementos. Por fim, essas maquetas foram colocadas

sobre papel cebola e foi criado o relevo nas zonas

“recortadas” resultando, assim, em notas tácteis (em

papel cebola). Foi ainda criado um guia para

amblíopes (pessoas com baixa visão), com uma

selecção criteriosa de informação sobre as peças,

num tamanho de letra aumentado e com imagens

ampliadas.

Em 2007, a Fundação criou uma parceria com a

Fundação Portugal Telecom que proveu os espaços

do museu com computadores equipados com leitores

e ampliadores de ecrã. Para essa utilização,

elaboraram-se novos guias da colecção, para serem

aplicados nos softwares de leitura (para cegos) e de

ampliação (para baixa visão). Ambos os guias, os

quais foram elaborados com o apoio técnico e

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especializado da ACAPO – Porto, encontram-se

desenvolvidos segundo as normas e foram testados

junto do público-alvo a que se destinam. Quando aqui

se faz referência a “normas”, trata-se das técnicas

aplicadas na criação de materiais. Os guias

electrónicos foram desenvolvidos tendo em conta

alguns critérios: no caso do guia para leitores de ecrã,

este teve de ser feito sem imagens, sem zonas vazias,

sem numeração romana (por exemplo, os séculos

tiveram de se colocar por extenso) e com descrições

muito pormenorizadas das peças. Já nos guias

criados para os leitores de ecrã, as descrições tiveram

de ser curtas e objectivas.

A Fundação Portugal Telecom equipou, também, o

Museu com software e hardware para serem utilizados

por pessoas com mobilidade reduzida dos membros

superiores e pessoas com paralisia cerebral. Entre o

hardware, encontram-se ratos adaptados, braços

mecânicos extensíveis, leitor de retina óptica e

monitores tácteis.

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Desde 2005, o Museu tem realizado vários eventos

dedicados a pessoas com deficiência, de forma a

promover a sua inclusão nos espaços museológicos:

Dia Internacional dos Museus – 2007

Contou com uma exposição táctil de carros antigos,

em tamanho real. Vários coleccionadores trouxeram

os seus carros e permitiram que os visitantes cegos

lhes pudessem tocar, ao mesmo tempo que lhes eram

descritos os próprios carros. Os proprietários

enriqueceram este evento, contando algumas

aventuras nas quais os seus carros foram

intervenientes.

Dia Internacional dos Museus – 2008 Em 2008, organizou-se a apresentação de uma peça

de teatro, cujos actores eram utentes da Associação

Portuguesa de Paralisia Cerebral do Porto.

A companhia de teatro convidada foi a “Era Uma

Vez… Teatro” da Associação de Paralisia Cerebral do

Porto. A peça chamava-se “Escuta-me” e referia-se

aos pensamentos e dificuldades das pessoas

deficientes, principalmente as que sofrem de paralisia

cerebral. Atendendo ao tema proposto para o ano de

2008: “Museus – Agentes de Mudança Social”, o

Museu do Papel Moeda, pretendeu divulgar os seus

programas ao público sénior, com necessidades

especiais, comunidades imigrantes e mães

adolescentes.

Projecto “Museu sem barreiras” Apresentação pública da parceria entre a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda e a

Fundação Portugal Telecom

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Outro dos eventos que evidenciam a preocupação

social do museu, foi a apresentação pública da

parceria supra citada. A par dos representantes da

Fundação Portugal Telecom e da Fundação Dr.

António Cupertino de Miranda, encontravam-se dois

representantes das pessoas com deficiência, um

utente da ACAPO e outro do Centro de Paralisia

Cerebral do Porto, que apresentaram o Museu e as

suas colecções, com recurso aos meios tecnológicos

disponibilizados (software para leitura de ecrã –

JAWS, e software para pessoas com paralisia cerebral

– GRID, bem como todo o hardware necessário á

utilização do computador por parte da pessoa com

paralisia cerebral).

Trata-se de um projecto pioneiro em Portugal que

permite às pessoas portadoras de deficiência, o livre

acesso, sem barreiras, ao Museu do Papel Moeda e à

apreensão da História de Portugal, contada através do

dinheiro. O projecto foi promovido pela Fundação Dr.

António Cupertino de Miranda e, só foi possível,

através do apoio prestado pela Fundação Portugal

Telecom. Contou, ainda, com o apoio da ACAPO

(Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) do

Porto) e da APPC (Associação Portuguesa de

Paralisia Cerebral).

Projecto “Um dia especial” Museu do Papel Moeda e NorteShopping E, por fim, para o último evento realizado (dia 5 de

Dezembro de 2008), a Fundação uniu-se ao centro

comercial NorteShopping, organizando uma festa de

Natal para crianças com deficiência (surdos, cegos,

deficientes mentais e crianças com paralisia cerebral).

Entre os participantes estiveram os alunos da Escola

do Cerco, utentes da ACAPO – Associação de Cegos

e Amblíopes de Portugal, da ASP - Associação de

Surdos do Porto e da APPACDM - Associação

Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente

Mental.

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Acessibilidade em Museus

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Após o almoço, a Companhia de Teatro da Crinabel

apresentou a peça “Antes de Começar”, de Almada

Negreiros, seguindo-se a visita ao Pai Natal.

Visitas A par destes eventos, contam-se inúmeras visitas

orientadas e desenvolvimento de materiais de apoio

às mesmas, nomeadamente, a preparação de oficinas

para crianças cegas (mais uma vez, com o apoio dos

técnicos da Associação de Cegos e Amblíopes de

Portugal).

Entre os muitos visitantes deficientes que já

conhecem o museu, destacam-se utentes de centros

de reabilitação, da Associação Portuguesa de Pais e

Amigos do Cidadão com Deficiência Mental

(APPACDM), da Associação de Cegos e Amblíopes

de Portugal (ACAPO) e alunos integrados em escolas

de currículos normais, bem como, de Centros de

Reabilitação.

Para dar apoio a todas as visitas, disponibilizam-se recursos especialmente concebidos e

adaptados:

- Software: GRID, MAGIC e JAWS

- Hardware: monitores tácteis, braços articulados, interfaces, manípulos e trackballs

- Guias em Braille

- Guias ampliados para amblíopes

- Notas tácteis

- Desdobráveis informativos em Braille

O Museu está preparado para acolher estes deficientes, permitindo-lhes o livre acesso aos

conteúdos, proporcionando-lhes momentos de convívio, de interacção e de grande prazer

intelectual.

Fez-se, igualmente, um esforço para integrar os deficientes auditivos, nomeadamente da

Associação de Surdos do Porto, realizando-se algumas vistas orientadas ao museu,

acompanhadas por um intérprete de Língua Gestual Portuguesa.

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Acessibilidade em Museus

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Formação

Deve-se ainda referenciar a formação obtida através de várias Instituições e Organizações, tais

como:

Grupo para Acessibilidade dos Museus - Sabe escrever para todos? A acessibilidade da comunicação escrita nos museus.

- Ao alcance das mãos.

Rede Portuguesa de Museus - Museus e Acessibilidade

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal - Técnicas de orientação e mobilidade

Associação de Surdos do Porto - Recepção e boas vindas, noções básicas da Língua Gestual Portuguesa

Ordem dos Arquitectos da Secção Regional do Norte.

- Arquitectura Acessível

Fundação Portugal Telecom Desenvolvimento de competências para trabalhar com: - GRID – software para pessoas com paralisia cerebral

- JAWS – software de leitura de ecrã

- MAGIC – software de ampliação de ecrã

Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto - Projecto Spread the sign – “Celebrar a diversidade linguística, promover a acessibilidade e a

excelência educativa dos surdos.

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Acessibilidade em Museus

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Considerações Finais

Séculos separam os tempos actuais do antigo museuon grego dos tempos imemoriais da época

helenística, em que o recolher e o guardar dos objectos se prendia com a preservação de

documentos que testemunhavam o saber e a cultura ou do, igualmente, ancião thesaurus, em que

a sacralização do espaço dá início à constituição de colecções. A Revolução Francesa veio abrir

as portas dos museus, face aos novos direitos de cidadania e aspiração de igualdade.Com ela,

veio a revolução que acabaria por converter os museus naquilo que hoje são e que Carlos

Guimarães (2004:42) considera verdadeiros “supermercados de cultura”, provocados pela

democratização das massas e pela abertura de horizontes e ambições.

Sem dúvida, os museus cultivados pelas elites, que neles exerciam o diletantismo cultural, foram

sendo substituídos por museus politizados, face ao acesso à cultura e à defesa dos bens culturais,

como património de toda a comunidade. Que, por princípio, abrem portas a todos mas que, na

realidade, continuam fechados para alguns. É da responsabilidade dos museus acolher os seus

visitantes, independentemente das suas exigências e necessidades. As campanhas publicitárias

para atrair público não são eficientes se esse público não se sentir integrado e com as suas

necessidades satisfeitas. A busca de uma nova linguagem com que se expressar e de uma nova

dinâmica na participação sociocultural, é preconizada pela nova museologia, o que pressupõe uma

nova tipologia de museu (Alonzo Fernández, 1999:8).

À função de salvaguarda patrimonial associaram-se outras funções, tais como a educativa e a

social, às quais se impuseram crescentes desafios face à organização, atitude e comunicação.

Também o crescente número de museus provocou uma alteração nos discursos. A busca de

visibilidade, o estabelecimento de parcerias, a procura de mecenato e a preocupação por uma

“nova” gestão, caracterizam o museu virado para o exterior e o nascimento de uma entidade

comunicadora e interventiva. Esta mudança de paradigma, reforça as competências de

programação, marketing e comunicação que tornam o museu num pólo atractivo á sociedade em

que o museu não tem razão de ser se não se abrir à comunidade, se não desenvolver acções

direccionadas para diferentes públicos através de mediação que reelabore a informação, tornando-

a acessível na forma de actividade lúdicas e oficinais (IPM, 2001).

E é precisamente com o acolher da vertente social que o museu recebe uma nova missão. Sem

renunciar às características de preservação do património, deve promover iniciativas culturais

inclusivas, promover a diferenciação e a inserção de novos públicos que, afastados durante

décadas, fazem valer os seus direitos de participação na vida cultural da sociedade actual. Para

que essa inclusão se materialize, é necessário equipar fisicamente os museus para receber os

novos visitantes e preparar as suas equipas para um acolhimento adequado. É, igualmente,

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Acessibilidade em Museus

Página 99

necessário transmitir a informação, com o formato adequado, cumprir normas, disponibilizar

conteúdos, preparar actividades… respeitar a diferença e aceitá-la. Fazendo-se uso das palavras

de Mark O’Neill: if social inclusion means anything, it means actively seeking out and removing

barriers, of acknowledging that people who have been left out for generations need additional

support in a whole variety of ways to enable them to exercise their rights to participate in many of

the facilities that the better off and better educated take for granted. The change in the way people

with disability have been treated in the past hundred years is an instructive example (Sandell,

2002:37-38).

Peremptoriamente, o público adquire uma importância suprema, desafiando, inclusive, a

salvaguarda patrimonial supra citada, pois, tal como Alonzo Fernández refere:

Los museos, cualquiera que sea su tipología o enfoque, sólo pueden justificarse social

y culturalmente en función de su destinatario: el público; o, por decirlo con la nueva

museología, es la comunidad la que marca y consagra la razón de ser de estas

instituiciones como un instrumento de desarrolo cultural, social y económico a su

servicio (Alonzo Fernández, 1999:15).

Com a consciencialização deste novo modelo cultural, o público passa de espectador passivo para

actor interventivo, e a emergência deste público cultural (des)estrutura o museu na sua forma pré-

concebida para o projectar num futuro mais abrangente, multifacetado e diversificado.

O presente trabalho prendeu-se com a apresentação geral, focando alguns pontos considerados

fulcrais, da acessibilidade, estudada no envolvimento com os museus, seus espaços, colecções e

actividades. As instituições culturais portuguesas começaram a despertar para este tema e para as

situações em que os museus trabalham, bem como, para a importância, como possíveis parceiros

sociais, no combate à exclusão e marginalização dos grupos compostos por cidadãos deficientes.

Assim, os museus começam a fazer uso dos mecanismos que promovem, a fim de alcançar a

“utopia” igualitária que nas últimas décadas se evidenciou.

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Acessibilidade em Museus

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Acessibilidade em Museus

Página 110

Índice de Anexos

Página

ANEXO I – LEGISLAÇÃO 111

Declaração Universal dos Direitos do Homem 112

Declaração de Direitos das Pessoas com Deficiência 117

Declaração de Madrid 119

Declaração de Salamanca 127

Decreto-lei 123/97 130

Decreto-lei 163/06 140

ANEXO II – ENTREVISTAS 178

Museu Nacional Soares dos Reis 179

Museu dos Transportes e Comunicações 187

Museu da Casa do Infante – Arquivo Histórico Municipal 196

Museu Romântico – Quinta da Macieirinha 199

ANEXO II - GLOSSÁRIO 202

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Página 111

Anexo I

Legislação

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Página 112

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

Adoptada e proclamada pela Assembleia Geral na sua resolução 217 A (III) de 10 de Dezembro de

1948

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família

humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e

da paz no mundo;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a actos de

barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os

seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como

a mais alta inspiração do homem;

Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de um regime de direito,

para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a

opressão;

Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as

nações;

Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos

direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de

direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o progresso social e a

instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;

Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a

Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das

liberdades fundamentais. Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é

da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:

A Assembleia Geral: Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como

ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e

todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e

pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por

medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação

universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos

territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e

de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2.º

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente

Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião,

de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de

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Acessibilidade em Museus

Página 113

qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político,

jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou

território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3.º

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4.º

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob

todas as formas, são proibidos.

Artigo 5.º

Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou

degradantes.

Artigo 6.º

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade

jurídica.

Artigo 7.º

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm

direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra

qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8.º

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os

actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9.º

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.º

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente

julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das

razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11.º

1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade

fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias

necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não

constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será

infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi

cometido.

Artigo 12.º

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Página 114

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou

na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou

ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13.º

Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um

Estado.

Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito

de regressar ao seu país.

Artigo 14.º

Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros

países.

Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de

direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15.º

1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de

nacionalidade.

Artigo 16.º

1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem

restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua

dissolução, ambos têm direitos iguais.

2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do

Estado.

Artigo 17.º

1. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18.º

Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito

implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a

religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela

prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19.º

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não

ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de

fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20.º

1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

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Página 115

Artigo 21.º

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer

directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu

país.

3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se

através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto

secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22.º

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente

exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço

nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada

país.

Artigo 23.º

1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e

satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.

2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.

3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua

família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os

outros meios de protecção social.

4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos

para defesa dos seus interesses.

Artigo 24.º

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da

duração do trabalho e a férias periódicas pagas.

Artigo 25.º

1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a

saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à

assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no

desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios

de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças,

nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26.º

1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a

correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino

técnico e profissional devem ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto

a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.

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2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do

homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade

entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das

actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27.º

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir

as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.

2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção

científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28.º

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz

de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29.º

1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno

desenvolvimento da sua personalidade.

2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações

estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos

direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem

pública e do bem-estar numa sociedade democrática.

3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos

princípios das Nações Unidas.

Artigo 30.º

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para

qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de

praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes

Resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75

A Assembleia Geral

Consciente da promessa feita pelos Estados Membros na Carta das Nações Unidas no sentido de

desenvolver acção conjunta e separada, em cooperação com a Organização, para promover

padrões mais altos de vida, pleno emprego e condições de desenvolvimento e progresso

económico e social,

Reafirmando, a sua fé nos direitos humanos, nas liberdades fundamentais e nos princípios de paz,

de dignidade e valor da pessoa humana e de justiça social proclamada na carta,

Recordando os princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem, dos Acordos

Internacionais dos Direitos Humanos, da Declaração dos Direitos da Criança e da Declaração dos

Direitos das Pessoas com Deficiência Mental, bem como os padrões já estabelecidos para o

progresso social nas constituições, convenções, recomendações e resoluções da Organização

Internacional do Trabalho, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura, do Fundo da Criança das Nações Unidas e outras organizações afins.

Lembrando também a resolução 1921 (LVIII) de 6 de Maio de 1975, do Conselho Económico e

Social, sobre prevenção da deficiência e reabilitação de pessoas com deficiência,

Enfatizando que a Declaração sobre o Desenvolvimento e Progresso Social proclamou a

necessidade de proteger os direitos e assegurar o bem-estar e reabilitação daqueles que estão em

desvantagem física ou mental,

Tendo em vista a necessidade de prevenir deficiências físicas e mentais e de prestar assistência

às pessoas com deficiência para que elas possam desenvolver suas capacidades nos mais

variados campos de actividades e para promover tanto quanto possível, a sua integração na vida

normal,

Consciente de que determinados países, nos seus actuais estádios de desenvolvimento, podem,

desenvolver apenas limitados esforços para este fim.

PROCLAMA esta Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência e apela à acção nacional

e internacional para assegurar que ela seja utilizada como base comum de referência para a

protecção destes direitos:

1 - O termo "pessoa com deficiência" é aplicável a qualquer pessoa que não possa por si só

responder, total ou parcialmente à exigência da vida corrente, individual e/ou colectiva, por motivo

de qualquer insuficiência, congénita ou adquirida, das usas capacidades físicas ou mentais.

2 - As pessoas com deficiência gozam de todos os direitos estabelecidos nesta Declaração. Estes

são reconhecidos a todas as pessoas com deficiência sem qualquer excepção e sem distinção ou

discriminação com base em questões de raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou

outras, origem social ou nacional, estado de saúde, nascimento ou qualquer outra situação que

diga respeito à própria pessoa com deficiência ou a sua família.

3 - As pessoas com deficiência têm o direito inalienável ao respeito pela sua dignidade humana. As

pessoas com deficiência, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências,

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têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica,

antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.

4 - As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos civis e políticos que os outros ser

humanos. O artigo 7.º da Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência Mental é aplicável

a qualquer possível limitação ou supressão daqueles direitos para estas pessoas.

5 - As pessoas com deficiência têm o direito às medidas destinadas a permitir-lhes tornarem-se tão

autónomas quanto possível.

6 - As pessoas com deficiência têm direito a tratamento médico, psicológico e funcional, incluindo

próteses e ortóteses, à reabilitação médica e social, à educação, educação vocacional e

reabilitação, assistência, aconselhamento, serviços de colocação e outros serviços que lhes

possibilitem desenvolver ao máximo as suas capacidades e aptidões e a acelerar o processo de

sua integração ou reintegração social.

7 - As pessoas com deficiência têm direito à segurança económica e social e a um nível de vida

decente. Têm o direito, segundo as suas competências, ao acesso e permanência no emprego ou

ao exercício de actividades úteis, produtivas e lucrativas, e de fazerem parte das organizações

sindicais respectivas.

8 - As pessoas com deficiência têm o direito a que o planeamento económico e social, a todos os

níveis, tome em consideração as suas necessidades específicas.

9 - As pessoas com deficiência têm direito de viver com suas famílias ou os seus substitutos e de

participar de todas as actividades sociais, criativas e recreativas. Nenhuma pessoa pessoa com

deficiência será submetida, por razões de natureza habitacional a tratamento diferente, além

daquele requerido pela sua condição ou necessidade de recuperação. Se a permanência de uma

pessoa com deficiência num estabelecimento especializado for indispensável, as condições de

vida e o meio ambiente devem aproximar-se, tanto quanto possível, de uma vida normal para

pessoas da mesma idade.

10 - As pessoas com deficiência devem ser defendidas contra toda a espécie de exploração, de

disciplina e de tratamento de natureza discriminatória, abusiva ou degradante.

11 - As pessoas com deficiência devem poder dispor de apoio jurídico qualificado, sempre que seja

indispensável para à defesa das suas pessoas e bens. Se contra elas for instaurado procedimento

judicial deverá ser tida em consideração a sua condição física e mental.

12 – É reconhecida a utilidade de consulta às organizações de pessoas com deficiência, em todos

os assuntos relativos aos direitos daqueles cidadãos.

13 - As pessoas com deficiência, as suas famílias e as suas organizações deverão ser

amplamente informadas, por todos os meios apropriados, dos direitos contidos nesta Declaração.

Resolução adoptada pela Assembleia Geral da Nações Unidas em 9 de Dezembro de 1975

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DECLARAÇÃO DE MADRID48

"NÃO DISCRIMINAÇÃO MAIS ACÇÃO POSITIVA IGUAL A INCLUSÃO SOCIAL"

Nós, os mais de 600 participantes no Congresso Europeu sobre deficiência, reunidos em Madrid,

saudamos calorosamente a proclamação do ano 2003 como o Ano Europeu das Pessoas com

Deficiência, acontecimento que deve contribuir para aumentar a consciência da opinião pública

sobre os direitos dos mais de 50 milhões de europeus com deficiência.

Registamos nesta Declaração a nossa visão com o objectivo de proporcionar um quadro

conceptual para a acção do Ano europeu à escala comunitária, nacional, regional e local.

PREÁMBULO

1. A DEFICIÊNCIA É UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS

As pessoas com deficiência gozam dos mesmos direitos fundamentais que os restantes cidadãos.

O artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos do Homem declara: “Todos os seres

humanos são livres e iguais em dignidade e direitos”. Para alcançar este objectivo, todas as

comunidades devem celebrar a sua diversidade intrínseca e devem assegurar que as pessoas

com deficiência possam desfrutar integralmente dos direitos humanos: civis, políticos, sociais,

económicos e culturais reconhecidos nas diversas Convenções Internacionais, no Tratado da

União Europeia e nas constituições nacionais.

2. AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA QUEREM A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E NÃO A

CARIDADE

A União Europeia, da mesma forma que muitas outras regiões do mundo, percorreu um longo

caminho, durante as últimas décadas, partindo de uma filosofia paternalista sobre as pessoas com

deficiência para uma outra aproximação que lhes faculta a responsabilidade de exercerem controle

sobre as suas próprias vidas. As concepções obsoletas baseadas, em grande parte, na compaixão

e na dita incapacidade de defesa das pessoas com deficiência são actualmente julgadas

inaceitáveis. As medidas visando, originalmente, a reabilitação do indivíduo de forma a “adaptá-lo”

à sociedade tendem a evoluir para uma concepção global que reclama a modificação da sociedade

para incluir e adaptar-se às necessidades de todos os cidadãos, incluindo as pessoas com

deficiência. As pessoas com deficiência exigem a igualdade de oportunidades e de acesso a todos

os recursos da sociedade, a saber, educação inclusiva, novas tecnologias, saúde e serviços

sociais, desporto e actividades de lazer, produtos, bens e serviços de defesa dos consumidores.

3. AS BARREIRAS SOCIAIS GERAM A DISCRIMINAÇÃO E A EXCLUSÃO SOCIAL

A forma como amiúde estão organizadas as nossas sociedades leva a que as pessoas com

deficiência não sejam capazes de exercer plenamente os seus direitos fundamentais e sejam

excluídas socialmente. Os dados estatísticos disponíveis mostram-nos que as pessoas com

deficiência atingem níveis inaceitavelmente baixos de educação e emprego. Isto tem como

48 Tradução: Associação Portuguesa de Deficientes

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resultado que um grande número de pessoas com deficiência viva em situação de pobreza

extrema em comparação com os cidadãos não deficientes.

4. AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: OS CIDADÃOS INVISÍVEIS

A discriminação que as pessoas com deficiência sofrem é muitas vezes baseada nos preconceitos

existentes contra elas mas, mais amiúde, é causada pelo facto de as pessoas com deficiência

serem largamente ignoradas e esquecidas, e isto resulta na criação e reforço das barreiras

ambientais e de atitude que impedem as pessoas com deficiência de tomar parte activa na

sociedade.

5. AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA CONSTITUEM UM GRUPO HETEROGÉNEO

Como em todas as esferas da sociedade, as pessoas com deficiência formam um grupo muito

heterogéneo de indivíduos e só as políticas que respeitarem esta diversidade funcionarão. Em

particular, são as pessoas com necessidades complexas de dependência e as suas famílias, as

que requerem acções específicas por parte das sociedades, já que muitas vezes são as mais

ignoradas entre as pessoas com deficiência. Da mesma forma, as mulheres com deficiência, assim

como as pessoas com deficiência pertencentes a minorias étnicas, são frequentemente expostas a

múltiplas discriminações, resultantes da interacção da discriminação causada pela sua deficiência

e da discriminação resultante do seu género ou origem étnica. Para as pessoas surdas é

fundamental o reconhecimento da língua gestual.

6. NÃO DISCRIMINAÇÃO + ACÇÃO POSITIVA = INCLUSÃO SOCIAL

A Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, recentemente adoptada, reconhece que para

alcançar a igualdade para as pessoas com deficiência, o direito à não discriminação deve ser

completado pelo direito a beneficiar de medidas concebidas para assegurar a sua independência,

integração e participação na vida da comunidade. Esta abordagem sintética foi o princípio

orientador do Congresso de Madrid que reuniu mais de 600 participantes em Março de 2002.

A NOSSA VISÃO

1. A NOSSA VISÃO PODE DESCREVER-SE DE FORMA MAIS APROPRIADA,

ESTABELECENDO O CONTRASTE ENTRE A NOVA VISÃO E A ANTIGA, QUE A PRIMEIRA

PROCURA SUBSTITUIR:

a) Não às pessoas com deficiência como objectos de caridade... Sim às pessoas com deficiência

como detentores de direitos.

b) Não às pessoas com deficiência como pacientes... Sim às pessoas com deficiência como

cidadãos independentes e consumidores.

c) Não aos profissionais que tomam decisões em nome das pessoas com deficiência... Sim a uma

tomada de decisão e de responsabilidade independente pelas pessoas com deficiência e suas

organizações sobre as matérias que lhes dizem respeito.

d) Não ao colocar a tónica unicamente sobre as incapacidades individuais... Sim à eliminação de

barreiras, à revisão das normas sociais, das políticas, das culturas e à promoção de um ambiente

acessível e sustentável.

e) Não ao etiquetar das pessoas como dependentes ou não empregáveis... Sim à enfatização das

aptidões assim como a disponibilização de medidas efectivas de apoio.

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f ) Não ao desenho de processos económicos e sociais para alguns ... Sim ao desenho de um

mundo flexível para todos.

g) Não a uma segregação desnecessária na educação, no emprego e outras esferas da vida ...

Sim à integração das pessoas com deficiência nas estruturas regulares.

h) Não a uma política de deficiência como um assunto que diga respeito a ministérios específicos...

Sim à inclusão da política da deficiência como uma responsabilidade colectiva de todo o governo.

2. SOCIEDADE INCLUSIVA PARA TODOS

Pôr em prática esta conceptualização, beneficiará não só as pessoas com deficiência, mas

também a sociedade no seu conjunto. Uma sociedade que exclui vários dos seus membros ou

grupos é uma sociedade empobrecida. As acções para melhorar as condições das pessoas com

deficiência culminarão no desenho de um mundo flexível para todos. “O que hoje se realizar em

nome das pessoas com deficiência, terá significado para todos no mundo de amanhã”.

Nós, os participantes no Congresso Europeu sobre a deficiência, reunidos em Madrid,

compartilhamos esta conceptualização e convidamos todas as partes interessadas para que

considerem o Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, em 2003 como o início de um processo

que irá tornar realidade esta visão. 50 milhões de pessoas europeias com deficiência esperam de

nós o impulso para que este processo se torne realidade.

O NOSSO PROGRAMA PARA CONCRETIZAR ESTA VISÃO

1. MEDIDAS LEGAIS

Deve promulgar-se legislação anti discriminatória quanto antes para eliminar os entraves

existentes e evitar a emergência de novas barreiras que as pessoas com deficiência possam

encontrar na educação, no emprego e no acesso aos bens e serviços e que as impede de alcançar

o seu pleno potencial em termos de participação social e de independência. A cláusula de não

discriminação do Artigo 13.º do Tratado da CE permite a sua aplicação à escala Comunitária,

contribuindo assim para uma Europa realmente livre de barreiras para as pessoas com deficiência.

2. MUDANÇA DE ATITUDES

A legislação anti discriminatória provou a sua eficácia na mudança de atitudes perante as pessoas

com deficiência. Contudo, a lei não é suficiente. Sem um forte compromisso de toda a sociedade,

incluindo a participação activa das pessoas com deficiência para garantir os seus próprios direitos,

a legislação carecerá de eficácia. A sensibilização pública é por conseguinte necessária para

apoiar medidas legislativas e para aumentar o entendimento das necessidades e dos direitos das

pessoas com deficiência na sociedade e lutar contra os preconceitos e a estigmatização que ainda

hoje prevalece.

3. SERVIÇOS QUE PROMOVAM A VIDA AUTÓNOMA

A concretização de um objectivo visando a igualdade de acesso e de participação requer que os

recursos sejam canalizados de tal forma que reforce a capacidade de participação das pessoas

com deficiência e o seu direito a viver de forma autónoma. Muitas pessoas com deficiência

necessitam serviços de apoio nas suas vidas quotidianas. Estes serviços devem ser de qualidade

e baseados nas necessidades das pessoas com deficiência. Devem estar integrados na sociedade

e não constituírem uma fonte de segregação. Um tal acompanhamento está de acordo com o

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modelo social europeu de solidariedade; um modelo que reconhece a nossa responsabilidade

colectiva uns sobre os outros e particularmente sobre aqueles que requerem ajuda.

4. APOIO ÀS FAMÍLIAS

A família das pessoas com deficiência, particularmente das crianças com deficiência e das

pessoas com deficiências profundas incapazes de se representar a si mesmas, desempenha um

papel essencial quanto à sua educação e inclusão social. Portanto, as autoridades públicas devem

estabelecer medidas adequadas às necessidades das famílias, que lhes possibilitem organizar o

apoio às pessoas com deficiência da forma mais integradora possível.

5. ATENÇÃO ESPECIAL ÀS MULHERES COM DEFICIÊNCIA

O Ano Europeu deve ser visto como uma oportunidade para considerar a situação da mulher com

deficiência numa nova perspectiva. A exclusão social que enfrenta a mulher com deficiência é não

só motivada pela sua deficiência mas igualmente pela questão do género. A múltipla discriminação

que enfrenta a mulher com deficiência deve ser combatida através da combinação de medidas de

integração e de acções positivas elaboradas em consulta com as interessadas.

6. A INTEGRAÇÃO GLOBAL DA DEFICIÊNCIA

As pessoas com deficiência devem ter acesso aos serviços regulares de saúde, de educação, de

formação e sociais, assim como ao conjunto de oportunidades disponíveis para as pessoas não

deficientes. A implementação de uma aproximação inclusiva da deficiência e das pessoas com

deficiência implica mudanças nas práticas habituais a vários níveis. Em primeiro lugar, é

necessário assegurar que os serviços disponíveis para pessoas com deficiência sejam

coordenados no seio e entre os diferentes sectores. As diversas necessidades de acessibilidade

dos diferentes grupos de pessoas com deficiência devem tomar-se em consideração no processo

de planificação de qualquer actividade, e não como uma adaptação a efectuar quando o processo

de planificação esteja completo. As necessidades das pessoas com deficiência e suas famílias são

numerosas, sendo importante conceber uma resposta compreensiva que tenha em conta a pessoa

e os diferentes aspectos da sua vida.

7. O EMPREGO COMO CHAVE PARA A INCLUSÃO SOCIAL

Devem levar-se a cabo importantes esforços com o objectivo de promover o acesso ao emprego

das pessoas com deficiência, preferencialmente no marcado normal de trabalho. Trata-se de um

dos instrumentos fundamentais de luta contra a exclusão social das pessoas com deficiência, de

promoção da sua independência assim como da sua dignidade. Esta medida requer, não somente

a activa mobilização dos parceiros sociais mas igualmente das autoridades públicas que devem

continuar a reforçar as medidas já existentes.

8. NADA SOBRE AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SEM AS PESSOAS COM DEFICIÈNCIA

O Ano 2003 deve dar a oportunidade de outorgar às pessoas com deficiência, às suas famílias,

aos seus representantes e às suas associações, um novo e mais amplo campo político e social, a

todos os níveis da sociedade, para comprometer os governos no diálogo, na tomada de decisões e

progresso em torno dos objectivos de igualdade e de inclusão.

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Página 123

Todas as acções devem empreender-se em diálogo e cooperação com as organizações mais

relevantes de pessoas com deficiência. Tal participação não deve confinar-se unicamente a

receber informação ou a sancionar decisões. Em contraponto, os governos devem estabelecer ou

reforçar, a todos os níveis de adopção de medidas, mecanismos pontuais de concertação e de

diálogo, permitindo às pessoas com deficiência através das suas organizações, contribuir na

planificação, aplicação, supervisão e avaliação de todas as acções.

Uma aliança forte entre os Governos e as organizações de pessoas com deficiência constitui o

requisito elementar a um progresso eficaz de igualdade de oportunidades e de participação social

das pessoas com deficiência.

Para facilitar este processo, a capacidade das organizações de pessoas com deficiência deve ser

reforçada através de uma maior disponibilização de recursos que lhes permita melhorar a sua

gestão e aumentar a capacidade de dinamizar campanhas de sensibilização. Isto implica, do

mesmo modo, uma responsabilidade por parte das organizações de pessoas com deficiência de

melhorar continuamente os seus níveis de governação e de representatividade.

PROPOSTAS PARA A ACÇÃO

O Ano 2003, Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, deve traduzir-se no avanço da agenda

política relativa à deficiência e requer o apoio activo de todas as partes numa ampla aproximação

de parceria. Por conseguinte, sugerem-se propostas concretas de acção para todos os agentes

interessados. Estas acções devem ser desenvolvidas durante o Ano Europeu e devem continuar

para além deste. Deve ser efectuada a avaliação posterior dos progressos conseguidos.

1. AS AUTORIDADES DA UNIÃO EUROPEIA, AS AUTORIDADES NACIONAIS DOS ESTADOS

MEMBROS E OS PAÍSES CANDIDATOS

As autoridades públicas devem dar o exemplo e por conseguinte devem ser os primeiros, mas não

os únicos, a desenvolver estas medidas:

- Rever o âmbito actual de aplicação dos dispositivos legais Comunitários e nacionais destinados a

combater as práticas discriminatórias no domínio da educação, do emprego e do acesso aos bens

e serviços.

- Proceder à investigação das restrições e das barreiras discriminatórias que limitam a liberdade

das pessoas com deficiência de participar plenamente na sociedade e tomar todas as medidas

necessárias para remediar a situação.

- Rever os serviços e os sistemas de apoios para assegurar que estas políticas ajudem e animem

as pessoas com deficiência a permanecer e/ou a tornarem-se parte integrante da sociedade em

que vivem.

- Empreender investigações sobre a violência e o abuso cometido contra as pessoas com

deficiência, particularmente em relação às pessoas com deficiência que vivem em grandes

instituições.

- Reforçar a legislação sobre acessibilidade para assegurar que as pessoas com deficiência

tenham o mesmo direito de acesso que os restantes cidadãos a todas as infra-estruturas públicas

e sociais.

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- Contribuir para a promoção dos direitos humanos das pessoas com deficiência à escala mundial,

participando activamente nos trabalhos de redacção de uma Convenção das Nações Unidas sobre

os direitos das pessoas com deficiência;

- Contribuir para a situação das pessoas com deficiência nos países em desenvolvimento,

introduzindo a integração social das pessoas com deficiência nos objectivos propostos pelas

políticas de cooperação para o desenvolvimento tanto europeias como nacionais.

2. AUTORIDADES LOCAIS

O Ano Europeu deve, antes de mais, desenvolver-se ao nível local, onde os problemas são mais

perceptíveis para os cidadãos e onde as associações de e para pessoas com deficiência realizam

a maior parte do seu trabalho. Todos os esforços possíveis devem pôr em relevo a promoção, os

recursos e as actividades de âmbito local.

Devem convidar-se os agentes locais a integrar as necessidades das pessoas com deficiência nas

políticas locais e comunitárias, incluindo a educação, o emprego, a habitação e o transporte, a

saúde e os serviços sociais, tendo presente a diversidade das pessoas com deficiência, incluindo,

entre outros, pessoas idosas, as mulheres e os migrantes.

As administrações locais devem prever planos locais de acção relativos à deficiência em

coordenação com os representantes das pessoas com deficiência, devendo preparar as suas

próprias comissões locais que serão a ponta de lança das actividades do Ano.

3. ORGANIZAÇÕES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

As organizações de pessoas com deficiência, como representantes das pessoas com deficiência,

têm a responsabilidade maior para garantir o êxito do Ano Europeu. Devem considerar-se a si

mesmas como embaixadoras do Ano Europeu e dirigir-se activamente aos sectores sociais mais

relevantes, propondo medidas concretas e tratando de estabelecer a cooperação em larga escala

quanto esta ainda não exista.

4. EMPREGADORES

Os empregadores devem aumentar os seus esforços para incluir, manter e promover as pessoas

com deficiência nos seus quadros de pessoal e desenhar os seus produtos e serviços de modo a

que sejam acessíveis às pessoas com deficiência. Os empregadores devem rever as suas

políticas internas para assegurar que nenhuma impeça as pessoas com deficiência de desfrutar da

igualdade de oportunidades. As organizações empresariais podem contribuir para estes esforços

recorrendo aos numerosos exemplos de boas práticas já existentes.

5. SINDICATOS

Os sindicatos devem aumentar o seu envolvimento para melhorar o acesso e manutenção do

emprego das pessoas com deficiência e assegurar que estas beneficiem de igualdade de acesso à

formação e medidas de promoção, nas negociações dos acordos com as empresas e sectores

profissionais. Deve ser dada atenção acrescida à promoção da participação e representação dos

trabalhadores e trabalhadoras com deficiência, quer nas suas próprias estruturas de decisão quer

nas existentes no âmbito das empresas e dos sectores profissionais.

6. MEIOS DE COMUNICAÇÃO

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Página 125

Os meios de comunicação social devem criar e fortalecer alianças com associações de pessoas

com deficiência, para melhorar a imagem das pessoas com deficiência nos meios de comunicação

social.

Dever-se-ia potenciar a inclusão de informação sobre as pessoas com deficiência nos meio de

comunicação como reconhecimento da existência da diversidade humana. Ao referir-se a questões

de deficiência os meios de comunicação deveriam evitar aproximações paternalistas ou

humilhantes e, pelo contrário, centrar-se melhor nas barreiras que enfrentam as pessoas com

deficiência e na contribuição positiva que estas podem oferecer à sociedade uma vez que estas

barreiras são ultrapassáveis.

7. O SISTEMA ESCOLAR

As escolas devem ter um papel relevante na difusão da mensagem de compreensão e aceitação

dos direitos das pessoas com deficiência, ajudar a dissipar medos, mitos e conceitos erróneos,

apoiando os esforços de toda a comunidade. Devem desenvolver-se e difundir-se amplamente

recursos educativos para ajudar a que os alunos desenvolvam um sentido individual com respeito

pela sua própria deficiência e pela dos outros e ajudá-los a reconhecer as suas diferenças de

modo mais positivo.

É necessário atingir a educação para todos baseada nos princípios da plena participação e

igualdade. A educação desempenha um papel fundamental na definição do futuro de todos, tanto

do ponto de vista pessoal, como social e profissional. O sistema educativo tem de ser, por isso, o

lugar chave para assegurar o desenvolvimento pessoal e a inclusão social, que permitirá às

crianças e jovens com deficiência ser tão independentes quanto possível. O sistema educativo é o

primeiro passo para uma sociedade inclusiva.

As escolas, os estabelecimentos de ensino superior, as universidades devem, em cooperação com

os activistas do movimento de pessoas com deficiência, promover conferências e seminários

dirigidos a jornalistas, publicitários, arquitectos, empregadores, assistentes sociais e agentes de

saúde, familiares, voluntários e membros dos agentes locais.

8. UM ESFORÇO COMUM PARA O QUAL TODOS PODEM E DEVEM CONTRIBUIR

As pessoas com deficiência esforçam-se para estar presentes em todos os domínios da vida o que

implica que todas as organizações revejam as suas práticas para assegurar que elas sejam

concebidas de maneira a que as pessoas com deficiência possam contribuir para elas e beneficiar

delas. Entre os exemplos de tais organizações destacam-se: as organizações de defesa dos

consumidores, organizações juvenis, organizações religiosas, organizações culturais e outras

organizações que representem grupos específicos de cidadãos. De qualquer forma é necessário

envolver os responsáveis pelas decisões políticas e os responsáveis por locais como museus,

teatros, cinemas, parques, estádios, centros de congressos, centros comerciais e postos de

correio.

Nós, os participantes no Congresso de Madrid, apoiamos esta Declaração e comprometemo-nos a

difundi-la amplamente, para que possa alcançar a base social e para animar todas as pessoas

envolvidas a seguir esta Declaração antes, durante e depois do ano Europeu das Pessoas com

Deficiência. Subscrevendo esta Declaração, as organizações afirmam abertamente o seu acordo

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Página 126

com conceptualização da Declaração de Madrid e comprometem-se a desenvolver as acções que

contribuirão para o processo que conduzirá todas as pessoas com deficiência e suas famílias à

igualdade efectiva.

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Página 127

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais

Reafirmando o direito à educação de todos os indivíduos, tal como está inscrito na Declaração

Universal dos Direitos do Homem de 1948, e renovando a garantia dada pela comunidade mundial

na Conferência Mundial sobre a Educação para Todos de 1990 de assegurar esse direito,

independentemente das diferenças individuais.

Relembrando as diversas declarações da Nações Unidas que culminaram, em 1993, nas Normas

das Nações Unidas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência, as

quais exortam os Estados a assegurar que a educação das pessoas com deficiência faça parte

integrante do sistema educativo.

Notando com satisfação o envolvimento crescente dos governos, dos grupos de pressão, dos

grupos comunitários e de pais, e, em particular, das organizações de pessoas com deficiência, na

procura da promoção do acesso à educação para a maioria dos que apresentam necessidades

especiais e que ainda não foram por ela abrangidos; e reconhecendo, como prova desde

envolvimento, a participação activa dos representantes de alto nível de numerosos governos, de

agências especializadas e de organizações intergovernamentais nesta Conferência Mundial.

1.

Nós delegados à Conferência Mundial sobre as Necessidades Educativas Especiais,

representando noventa e dois países e vinte cinco organizações internacionais, reunidos aqui em

Salamanca, Espanha, de 7 a 10 de Julho de 1994, reafirmamos, por este meio, o nosso

compromisso em prol da Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e a urgência de

garantir a educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais no

quadro do sistema regular de educação, e sancionamos, também por este meio, o Enquadramento

da Acção na área das Necessidades Educativas Especiais, de modo a que os governos e as

organizações sejam guiados pelo espírito das suas propostas e recomendações.

2.

Acreditamos e proclamamos que:

Cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e

manter um nível aceitável de aprendizagem,

Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que

lhe são próprias,

Os sistemas de educação devem ser planeados e os programas educativos implementados tendo

em vista a vasta diversidade destas características e necessidades,

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Página 128

As crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas

regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir

ao encontro destas necessidades,

As escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios capazes para

combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma

sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação

adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade,

de todo o sistema educativo.

3.

Apelamos a todos os governos e incitamo-los a:

Conceder a maior prioridade, através das medidas de política e através das medidas orçamentais,

ao desenvolvimento dos respectivos sistemas educativos, de modo a que possam incluir todas as

crianças, independentemente das diferenças ou dificuldades individuais,

Adoptar como matéria de lei ou como política o princípio da educação inclusiva, admitindo todas as

criança nas escolas regulares, a não ser que haja razões que obriguem a proceder de outro modo,

Desenvolver projectos demonstrativos e encorajar o intercâmbio com países que têm experiência

de escolas inclusivas,

Estabelecer mecanismos de planeamento, supervisão e avaliação educacional para crianças e

adultos com necessidades educativas especiais, de modo descentralizado e participativo,

Encorajar e facilitar a participação dos pais, comunidades e organizações de pessoas com

deficiência no planeamento e na tomada de decisões sobre os serviços na área das necessidades

educativas especiais,

Investir um maior esforço na identificação e nas estratégias de intervenção precoce, assim como

nos aspectos vocacionais da educação inclusiva,

Garantir que, no contexto duma mudança sistémica, os programas de formação de professores,

tanto a nível inicial com em serviço, incluam as respostas às necessidades educativas especiais

nas escolas inclusivas.

4.

Também apelamos para a comunidade internacional; apelamos em particular:

Aos governos com programas cooperativos internacionais e às agências financiadoras

internacionais, especialmente os patrocinadores da Conferência Mundial de Educação para Todos,

à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao fundo

das Nações Unidas para a Infância, (UNICEF), ao Programa de Desenvolvimento da Nações

Unidas (PNUD), e ao Banco Mundial:

A que sancionem a perspectiva da escolaridade inclusiva e apoiem o desenvolvimento da

educação de alunos com necessidades especiais, como parte integrante de todos os programas

educativos;

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Página 129

• Às Nações Unidas e às suas agências especializadas, em particular à Organização Internacional

do Trabalho (OIT), à Organização Mundial de Saúde (OMS), UNESCO e UNICEF: a que

fortaleçam a sua cooperação técnica, assim como reenforcem a cooperação e trabalho, tendo em

vista um apoio mais eficiente às respostas integradas e abertas às necessidades educativas

especiais;

• Às organizações não-governamentais envolvidas no planeamento dos países e na organização

dos serviços:

a que fortaleçam a sua colaboração com as entidades oficiais e que intensifiquem o seu crescente

envolvimento no planeamento, implementação e avaliação das respostas inclusivas às

necessidades educativas especiais;

• À UNESCO, enquanto agência das Nações Unidas para a Educação:

A que assegure que a educação das pessoas com necessidades educativas especiais faça parte

de cada discussão relacionada com a educação para todos, realizada nos diferentes fóruns;

A que mobilize o apoio das organizações relacionadas com o ensino, de forma a promover a

formação de professores, tendo em vista as respostas às necessidades educativas especiais;

A que estimule a comunidade académica a fortalecer a investigação e o trabalho conjunto e a

estabelecer centros regionais de informação e de documentação; igualdade, a que seja um ponto

de encontro destas actividades e um motor de divulgação e do progresso atingido em cada país,

no prosseguimento desta Declaração;

A que mobilize fundos, no âmbito do próximo Plano a Médio Prazo (1996-2000), através da criação

dum programa extensivo de apoio à escola inclusiva e de programas comunitários, os quais

permitirão o lançamento de projectos-piloto que demonstrem e divulguem novas perspectivas e

promovam o desenvolvimento de indicadores relativos às carências no sector das necessidades

educativas especiais e aos serviços que a elas respondem.

5.

Finalmente, expressamos o nosso caloroso reconhecimento ao Governo de Espanha e à UNESCO

pela organização desta Conferência e solicitamo-los a que empreendam da Acção que a

acompanha ao conhecimento da comunidade mundial, especialmente a fóruns tão importantes

como a Conferência Mundial para o Desenvolvimento Social (Copenhaga, 1995) e a Conferência

Mundial das Mulheres (Beijin, 1995).

Aprovado por aclamação, na cidade de Salamanca, Espanha, neste dia, 10 de Junho de 1994.

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Decreto-Lei n.º 123/97 de 22 de Maio

Adopção de um conjunto de normas técnicas básicas de eliminação de barreiras arquitectónicas

em edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública para melhoria da acessibilidade das

pessoas com mobilidade condicionada

Objecto...................................................................................................................................... 3

Âmbito de aplicação .................................................................................................................. 3

Aplicação diferida ...................................................................................................................... 4

Período de transição.................................................................................................................. 4

Excepções ................................................................................................................................ 4

Fiscalização ............................................................................................................................... 5

Coimas...................................................................................................................................... 5

Sanção acessória ...................................................................................................................... 5

Sanções disciplinares ................................................................................................................ 5

Entrada em vigor ....................................................................................................................... 5

NORMAS TÉCNICAS PARA MELHORIA DA ACESSIBILIDADE DOS CIDADÃOS COM

MOBILIDADE CONDICIONADA AOS EDIFÍCIOS, ESTABELECIMENTOS QUE RECEBEM

PÚBLlCO E VIA PÚBLICA. ........................................................................................................... 7

Urbanismo................................................................................................................................. 7

Acesso aos edifícios .................................................................................................................. 8

Mobilidade nos edifícios ............................................................................................................ 9

Áreas de intervenção específica.............................................................................................. 10

ANEXO II ................................................................................................................................... 12

O imperativo da progressiva eliminação das barreiras, designadamente urbanísticas e

arquitectónicas, que permita às pessoas com mobilidade reduzida o acesso a todos os sistemas e

serviços da comunidade, criando condições para o exercício efectivo de uma cidadania plena,

decorre de diversos preceitos da Constituição, quando proclama, designadamente, o princípio da

igualdade, o direito à qualidade de vida, à educação, à cultura e ciência e à fruição e criação

cultural e, em especial, quando consagra os direitos dos cidadãos com deficiência.

Decorre igualmente de orientações emanadas de diversas organizações internacionais em que o

nosso país se encontra integrado, nomeadamente a Organização das Nações Unidas e suas

agências especializadas, o Conselho da Europa e a União Europeia.

No quadro jurídico nacional importa salientar que o n.° 2 do artigo 71.° da Constituição comete ao

Estado a obrigação de tornar efectiva a realização dos direitos dos cidadãos com deficiência,

impondo, assim, acções por parte do Estado de que este não se pode eximir.

No sentido de dar cumprimento a estas injunções foi publicado o Decreto-Lei n.° 43/82, de 8 de

Fevereiro, que alterou vários preceitos do Regulamento Geral das Edificações Urbanas,

consagrando normas técnicas sobre acessibilidade. As vicissitudes que sofreu este diploma, cujo

prazo de entrada em vigor foi objecto de várias prorrogações e que culminou com a sua revogação

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Página 131

pelo Decreto-Lei n.° 172-H/86, de 30 de Junho, demonstram inequivocamente as dificuldades de

fazer aplicar as medidas nele consagradas.

Posteriormente, por despacho conjunto dos Ministros do Plano e da Administração do

Território, das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e do Trabalho e Segurança Social de

1 de Julho de 1986, foram aprovadas recomendações técnicas que visavam melhorar a

acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida aos estabelecimentos que recebem público.

No mesmo sentido e na sequência dos princípios consignados na Resolução do Conselho de

Ministros n.º 6/87, de 29 de Janeiro, relativos ao acolhimento e atendimento público, o

Conselho de Ministros, pela Resolução n.º 34/88, de 28 de Julho, reafirmou a necessidade de

eliminação das barreiras arquitectónicas no acesso às instalações dos serviços públicos, pela

adopção das recomendações técnicas constantes daquele despacho e, não o sendo possível, pela

instalação de equipamentos especiais ou providenciando os serviços pela deslocação do

funcionário a local do edifício devidamente assinalado e acessível ao utente, de modo a ser

prestado o serviço pretendido.

Por sua vez, a Lei de Bases da Prevenção e da Reabilitação e Integração das Pessoas com

Deficiência - Lei n.º 9/89, de 2 de Maio -, no seu artigo 24.º, dispõe que «o regime legal em matéria

de urbanismo e habitação deve ter como um dos seus objectivos facilitar às pessoas com

deficiência o acesso à utilização do meio edificado, incluindo espaços exteriores», e que, para o

efeito, «a legislação aplicável deve ser revista e incluir obrigatoriamente medidas de eliminação

das barreiras arquitectónicas».

No tempo que decorreu entre a publicação daqueles diplomas e o presente mudaram-se

mentalidades, apetrecharam-se serviços, aumentaram as potencialidades económicas do País,

consolidaram-se compromissos a nível europeu e internacional, pelo que se considera, sem

prejuízo de outras medidas em estudo, designadamente no âmbito da revisão do Regulamento

Geral das Edificações Urbanas, que existem condições que permitem consagrar legalmente

exigências técnicas mínimas de acessibilidade a adoptar nos edifícios da administração pública

central, regional e local e dos institutos públicos que revistam a natureza de serviços

personalizados e de fundos públicos, bem como em alguns edifícios e estabelecimentos que

recebam público.

A competência fiscalizadora cabe à Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e às

entidades licenciadoras.

O Governo está consciente da importância de que se reveste a supressão das barreiras

urbanísticas e arquitectónicas no processo de total integração social das pessoas com mobilidade

condicionada, permanente ou temporária, e na melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos

em geral, para que, na possibilidade da utilização por todos dos bens e serviços comunitários, se

materialize o princípio da igualdade consagrado na lei fundamental.

Espera-se que a sensibilização e a adesão da comunidade aos resultados destas medidas

viabilizem, a curto prazo, o alargamento do âmbito de aplicação do presente diploma e a

consagração de novas exigências técnicas.

Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

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Página 132

Foi ouvida a Associação Nacional de Municípios Portugueses.

O projecto do presente diploma foi publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 230, de 3 de

Outubro de 1996.

Assim:

No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pela Lei n.° 9/89, de 2 de Maio, e nos termos

da alínea c) do n.º 1 do artigo 201.° da Constituição, o Governo decreta o seguinte:

Artigo 1.º Objecto 1 - São aprovadas as normas técnicas destinadas a permitir a acessibilidade das pessoas com

mobilidade condicionada, nomeadamente através da supressão das barreiras urbanísticas e

arquitectónicas nos edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública, que se publicam no

anexo I ao presente decreto-lei e que dele fazem parte integrante.

2 - Para efeitos do presente diploma, é adoptado o símbolo internacional de acessibilidade que

consiste numa placa com uma figura em branco sobre um fundo azul, em tinta reflectora, e com as

dimensões especificadas no anexo II, a qual será obtida junto das entidades licenciadoras.

3 - O símbolo internacional de acessibilidade deverá ser afixado em local bem visível nos edifícios,

instalações, equipamentos e via pública que respeitem as normas técnicas aprovadas pelo

presente diploma.

Artigo 2.º Âmbito de aplicação 1 - As normas técnicas aprovadas aplicam-se a todos os projectos de instalações e respectivos

espaços circundantes da administração pública central, regional e local, bem como dos institutos

públicos que revistam a natureza de serviços personalizados ou de fundos públicos.

2 - Aplicam-se igualmente aos seguintes projectos de edifícios, estabelecimentos e equipamentos

de utilização pública e via pública:

a) Equipamentos sociais de apoio a pessoas idosas e ou com deficiência, como sejam lares,

residências, centros de dia, centros de convívio, centros de emprego protegido, centros de

actividades ocupacionais e outros equipamentos equivalentes;

b) Centros de saúde, centros de enfermagem, centros de diagnóstico, hospitais, maternidades,

clínicas, postos médicos em geral, farmácias e estâncias termais;

c) Estabelecimentos de educação pré-escolar e de ensino básico, secundário e superior, centros

de formação, residenciais e cantinas;

d) Estabelecimentos de reinserção social;

e) Estações ferroviárias e de metropolitano, centrais de camionagem, gares marítimas e fluviais,

aerogares de aeroportos e aeródromos, paragens dos transportes colectivos na via pública, postos

de abastecimento de combustível e áreas de serviço;

f) Passagens de peões desniveladas, aéreas ou subterrâneas, para travessia de vias férreas, vias

rápidas e auto-estradas;

g) Estações de correios, estabelecimentos de telecomunicações, bancos e respectivas caixas

multibanco, companhias de seguros e estabelecimentos similares;

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Página 133

h) Museus, teatros, cinemas, salas de congressos e conferências, bibliotecas públicas, bem como

outros edifícios ou instalações destinados a actividades recreativas e sócio-culturais;

i) Recintos desportivos, designadamente estádios, pavilhões gimnodesportivos e piscinas;

j) Espaços de lazer, nomeadamente parques infantis, praias e discotecas;

l) Estabelecimentos comerciais, bem como hotéis, apart-hotéis, motéis, residenciais, pousadas,

estalagens, pensões e ainda restaurantes e cafés cuja superfície de acesso ao público ultrapasse

150 m2;

m) Igrejas e outros edifícios destinados ao exercício de cultos religiosos;

n) Parques de estacionamento de veículos automóveis;

o) Instalações sanitárias de acesso público.

3 - As presentes normas aplicam-se sem prejuízo das contidas em regulamentação técnica

específica mais exigente.

Artigo 3.º Aplicação diferida O presente diploma não se aplica de imediato:

a) Às obras em execução, aquando da sua entrada em vigor;

b) Aos projectos de novas construções privadas cujo processo de aprovação e ou de licenciamento

esteja em curso à data da entrada em vigor do presente diploma;

c) Às instalações, edifícios e estabelecimentos já construídos.

Artigo 4.º Período de transição 1 - As instalações, edifícios e estabelecimentos, bem como os respectivos espaços circundantes, a

que se refere o artigo 2.º, já construídos e em construção que não garantam a acessibilidade das

pessoas com mobilidade condicionada terão de ser adaptados no prazo de sete anos, para

assegurar o cumprimento das normas técnicas aprovadas pelo presente diploma.

2 - Aplicam-se de imediato as referidas normas técnicas aos projectos de remodelação e

ampliação de instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços referidos no número anterior que

vierem a ser submetidos a aprovação e ou licenciamento após a entrada em vigor do presente

diploma.

3 - Nas situações previstas na alínea b) do artigo anterior devem as entidades licenciadoras

contactar as entidades promotoras no sentido de:

a) Reformularem o seu projecto de acordo com as presentes normas técnicas; ou

b) Terem as construções a edificar de estar conformes com as presentes normas técnicas no

prazo previsto no n.º 1 deste artigo.

Artigo 5.° Excepções 1 - Excepcionalmente, quando a aplicação das normas técnicas aprovadas por este diploma

origine situações de difícil execução, exija a aplicação de meios económico-financeiros

desproporcionados ou afecte sensivelmente o património cultural, os organismos competentes

para a aprovação definitiva dos projectos poderão autorizar outras soluções diferentes,

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respeitando-se os termos gerais do presente diploma de acordo com critérios a estabelecer, que

deverão ser publicitados com expressa e justificada invocação das causas legitimadoras de tais

soluções.

2 - A aplicação das normas técnicas aprovadas por este diploma a edifícios e respectivos espaços

circundantes que revistam especial interesse histórico e arquitectónico, designadamente os

imóveis classificados ou em vias de classificação, será avaliada caso a caso e adaptada às

características específicas do edifício em causa, ficando a sua aprovação dependente de parecer

favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico.

Artigo 6.º Fiscalização A fiscalização do cumprimento das normas técnicas aprovadas por este diploma compete às

entidades licenciadoras previstas na legislação específica.

Artigo 7.º Coimas 1 - Sem prejuízo da aplicação de outras normas sancionatórias da competência das entidades

licenciadoras, a execução de quaisquer obras com violação das normas técnicas aprovadas pelo

presente diploma é punida com coima de 50 000$ a 500 000$.

2 - Quando as coimas forem aplicadas a pessoas colectivas, os montantes fixados no número

anterior são elevados para 100 000 $ e 2 000 000 $.

3 - A competência para determinar a instauração dos processos de contra-ordenação, para

designar o instrutor e para aplicar as coimas pertence às entidades referidas no artigo 6.º

Artigo 8.º Sanção acessória As contra-ordenações previstas no artigo anterior podem ainda determinar, quando a gravidade da

infracção o justifique, a aplicação de sanção acessória de privação do direito a subsídios atribuídos

por entidades públicas ou serviços públicos.

Artigo 9.º Sanções disciplinares Os funcionários e agentes da administração pública central, regional e local e dos institutos

públicos que revistam a natureza de serviços personalizados ou fundos públicos que deixarem de

participar infracções ou prestarem informações falsas ou erradas relativas ao presente diploma de

que tiverem conhecimento no exercício das suas funções incorrem em responsabilidade

disciplinar, nos termos da lei geral, para além da responsabilidade civil e criminal que ao caso

couber.

Artigo 10.° Entrada em vigor O presente diploma entra em vigor 90 dias após a data da sua publicação.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 13 de Fevereiro de 1997. - António Manuel de

Oliveira Guterres - Mário Fernando de Campos Pinto - Artur Aurélio Teixeira Rodrigues

Consolado - António Manuel de Carvalho Ferreira Vitorino - António Manuel de Carvalho

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Ferreira Vitorino - Jaime José Matos da Gama - António Luciano Pacheco de Sousa Franco -

Alberto Bernardes Costa - João Cardona Gomes Cravinho - José Eduardo Vera Cruz Jardim -

Augusto Carlos Serra Ventura Mateus - Fernando Manuel Van-Zeller Gomes da Silva -

Eduardo Carrega Marçal Grilo - Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina -

Maria João Fernandes Rodrigues - Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues - Elisa Maria da

Costa Guimarães Ferreira - Manuel Maria Ferreira Carrilho - José Mariano Rebelo Pires Gago -

Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho.

Promulgado em 22 de Abril de 1997.

Publique-se.

O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.

Referendado em 8 de Maio de 1997.

O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.

ANEXO I NORMAS TÉCNICAS PARA MELHORIA DA ACESSIBILIDADE DOS CIDADÃOS COM MOBILIDADE CONDICIONADA AOS EDIFÍCIOS, ESTABELECIMENTOS QUE RECEBEM PÚBLICO E VIA PÚBLICA. CAPÍTULO I Urbanismo 1 - Passeios e vias de acesso:

1.1 - A inclinação máxima, no sentido longitudinal, dos passeios e vias de acesso circundante aos

edifícios é de 6 % e, no sentido transversal, de 2 %.

1.2 - A altura dos lancis, nas imediações das passagens de peões, é de O,12 m, por forma a

facilitar o rebaixamento até 0,02 m.

1.3 - A largura mínima dos passeios e vias de acesso é de 2,25m.

1.4 - Os pavimentos dos passeios e vias de acesso devem ser compactos e as suas superfícies

revestidas de material cuja textura proporcione uma boa aderência.

1.5 - A abertura máxima das grelhas das tampas dos esgotos de águas pluviais é de 0,02 m de

lado ou de diâmetro.

1.6 - O espaço mínimo entre os postes de suporte dos sistemas de sinalização vertical é de 1,20 m

no sentido da largura do passeio ou via de acesso. As raquetas publicitárias, as cabinas

telefónicas, os postes de sinalização rodoviária vertical ou outro tipo de mobiliário urbano não

deverão condicionar a largura mínima livre do passeio de 1,20 m.

1.7 - A altura mínima de colocação das placas de sinalização fixadas em postes, nas paredes ou

em outro tipo de suportes, bem como dos toldos ou similares, quando abertos, é de 2 m.

1.8 - O equipamento/mobiliário urbano deverá ter características adequadas, de modo a permitir a

sua correcta identificação ao nível do solo pelas pessoas com deficiência visual.

2 - Passagens de peões:

2.1 - De superfície:

2.1.1 - O comprimento mínimo da zona de intercepção das zebras com as placas centrais das

rodovias é de 1,50 m, não podendo a sua largura ser inferior à largura da passagem de peões.

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Página 136

2.1.2 - Os lancis dos passeios devem ser rebaixados a toda a largura das zebras pelo menos até

0,02 m da superfície das mesmas, por forma que a superfície do passeio que Ihe fica adjacente

proporcione uma inclinação suave.

2.1.3 - A textura do pavimento das passagens de peões deve ser diferente da utilizada no passeio

e na via e prolongar-se pela zona contígua do passeio.

2.1.4 - O sinal verde para os peões, nos semáforos, deve estar aberto o tempo suficiente para

permitir a travessia com segurança, a uma velocidade de 2 m/5 s.

2.1.5 - Devem existir sinais acústicos complementares nos semáforos, para orientação das

pessoas com deficiência visual.

2.2 - Desniveladas:

2.2.1 - Por rampas:

2.2.1.1. - A inclinação máxima das rampas é de 6% e a extensão máxima, de um só lanço, é de 6

m. A cada lanço seguir-se-á uma plataforma de nível para descanso com a mesma largura da

rampa e o comprimento de 1,50 m.

2.2.1.2 - A largura mínima das rampas é de 1,50 m, devendo ser ladeados por cortinas com duplo

corrimão, um a 0,90 m e outro a 0,75 m, respectivamente, da superfície da rampa. Os corrimãos

devem prolongar-se em 1 m para além da rampa, sendo as extremidades arredondadas.

Pode ser dispensada a exigência de corrimãos quando o desnível a vencer pelas rampas seja

inferior a 0,40 m.

2.2.1.3 - Os pavimentos das rampas devem, pelo seu lado de fora, ser igualmente ladeados por

uma protecção com 0,05 m a 0,10 m de altura, ao longo de toda a extensão, a qual rematará com

a superfície do piso através de concordância côncava.

2.2.1.4 - A textura dos revestimentos das superfícies dos pisos das rampas deve ser de material

que proporcione uma boa aderência e com diferenciação de textura e cor amarela no início e no

fim das rampas.

2.2.2 - Por dispositivos mecânicos - no caso de ser absolutamente impossível a construção de

rampas, devem prever-se dispositivos mecânicos (elevadores, plataformas elevatórias ou outro

equipamento adequado) para vencer o desnível. Os botões de comando devem ter alguma

diferenciação táctil, seja em relevo, braille ou outra, com dispositivo luminoso e colocados a uma

altura entre 0,90 m e 1,30 m.

2.2.3 - Por escadas:

2.2.3.1-Quando nas passagens desniveladas houver também recurso a escadas, estas devem ter

a largura mínima de 1,50 m, estar equipadas com guardas dos lados exteriores e corrimãos de

ambos os lados a 0,85 m ou 0,90 m de altura e, para permitir uma boa preensão das mãos,

aqueles devem ter também 0,04 m ou 0,05 m de espessura e diâmetro.

2.2.3.2 - No início das escadas, o material a usar no revestimento do pavimento deve ser de

textura diferente da do pavimento que as antecede e de cor amarela. Esse contraste cromático

deve efectuar-se no focinho dos degraus.

2.2.3.3 - Os degraus devem ter focinho boleado. A altura máxima do espelho é de 0,16 m. O piso

dos degraus deverá proporcionar uma boa aderência.

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Página 137

CAPÍTULO II Acesso aos edifícios 1 - Rampas de acesso - as características técnicas das rampas de acesso aos edifícios são

idênticas às previstas no capítulo anterior, devendo observar-se que a inclinação máxima não pode

ultrapassar 6 % e os lanços deverão ter uma extensão máxima de 6 m, considerando-se a largura

mínima de 1 m.

2 - Escadas - as escadas de acesso aos edifícios devem igualmente respeitar as características

técnicas definidas no capítulo anterior, considerando-se, nestes casos, uma largura mínima de

1,20 m e sempre a conjugação com as rampas.

CAPÍTULO III Mobilidade nos edifícios 1 - Entradas dos edifícios:

1.1 - A largura útil mínima dos vãos das portas de entrada nos edifícios abertos ao público é de

0,90 m, devendo evitar-se a utilização de maçanetas e de portas giratórias, salvo se houver portas

com folha de abrir contíguas.

1.2 - A altura máxima das soleiras das portas de entrada é de 0,02 m, devendo ser sutadas em

toda a largura do vão que abre em caso de impossibilidade de respeitar aquela dimensão.

1.3 - Os átrios das entradas dos edifícios, desde a soleira da porta de entrada até à porta dos

ascensores e dos vãos de porta de acesso às instalações com as quais comunicam, devem estar

livres de degraus ou de desníveis acentuados.

1.4 - Os botões de campainha ou de trinco devem situar-se entre 0,90 m e 1,30 m de altura e

devem ter alguma diferenciação táctil, seja em relevo, braille ou outra, e com dispositivo luminoso.

1.5 - As fechaduras e os manípulos das portas devem situar-se a uma altura entre 0,90 m e 1,10 m

do solo.

2 - Ascensores:

2.1 - A dimensão mínima do patamar localizado diante da porta do ascensor é de 1,50 m x 1,50m,

devendo as áreas situadas em frente das respectivas portas ser de nível sem degraus ou

obstáculos que possam impedir o acesso, manobras e entrada de uma pessoa em cadeira de

rodas.

2.2 - O mínimo da largura útil dos vãos das portas de entrada dos ascensores é de 0,80 m.

2.3 - As dimensões mínimas, em planta, do interior das cabinas dos ascensores são de 1,10 m

(largura) x 1,40 m (profundidade).

2.4 - A altura dos botões de comando, localizados no interior das cabinas dos ascensores, oscilará

entre 0,90 m e 1,30 m do chão. Os mesmos devem ter ainda alguma referência táctil, seja em

relevo, braille ou outra, e com dispositivo luminoso.

2.5 - Os botões de chamada dos ascensores devem estar colocados a 1,20 m do pavimento do

patim e sempre do lado direito da porta, com referência táctil, seja em relevo, braille ou outra, e

ainda com dispositivo luminoso.

2.6 - Devem ser colocadas barras no interior das cabinas a uma altura de 0,90 m da superfície do

pavimento e a uma distância da parede de 0,06 m.

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Acessibilidade em Museus

Página 138

2.7 - O limite de precisão de paragem dos ascensores não deve ser superior a 0,02 m.

2.8 - Devem ser instalados detectores volumétricos para imobilizar portas e ou andamento das

cabinas.

3 - Corredores e portas interiores - as portas interiores deverão ter uma largura livre de passagem

de 0,80 m e os vestíbulos e corredores uma dimensão mínima que possibilite para os primeiros a

inscrição de uma circunferência com 1,50 m de diâmetro e para os segundos 1,20 m de largura

mínima.

4 - Balcões ou guichets - a altura máxima dos balcões e guichets situa-se, pelo menos numa

extensão de 2 m, entre 0,70 m e 0,80 m. O mínimo de espaço livre em frente aos balcões ou

guichets de atendimento é de 0,90mx 1 m.

5 - Telefones:

5.1 - A altura máxima da ranhura para as moedas ou para o cartão, bem como do painel de

marcação de números, dos telefones para utilização do público situa-se entre 1 m e 1,30 m.

5.2 - Nas cabinas telefónicas o espaço livre é, no mínimo, de 0,90 m x 1,40 m. Nos casos de

cabina com campânula, esta deve estar a uma altura mínima de 2 m.

5.3 - Os aparelhos telefónicos instalados nas áreas de atendimento público de cada edifício devem

ter os números com alguma referência táctil, seja em relevo, em braille ou outra.

6 - Instalações sanitárias de utilização geral:

6.1. - Uma das cabinas do WC, quer para o sexo masculino quer para o sexo feminino, deve ter

medidas mínimas de 2,20 m X 2,20 m, permitindo o acesso por ambos os lados da sanita.

Nesta cabina é obrigatória a colocação de barras de apoio bilateral, rebatíveis na vertical e a 0,70

m do pavimento. A porta deve ser de correr ou de abrir para o exterior.

6.2 - O pavimento das cabinas do WC deve oferecer boa aderência.

6.3 - A altura de colocação de lavatórios situa-se entre 0,70 m e 0,80 m da superfície do

pavimento, devendo ser apoiados sobre poleias e não sobre colunas. As torneiras são de tipo

hospitalar ou de pastilha.

6.4 - Todas as instalações sanitárias adaptadas deverão ser apetrechadas com equipamento de

alarme adequado, ligado ao sistema de alerta (luminoso e sonoro) para o exterior ou outro.

CAPÍTULO IV Áreas de intervenção específica 1 - Para além das normas específicas deste capítulo, são aplicadas as normas gerais dos capítulos

anteriores.

2 - Recintos e instalações desportivas:

2.1 - Balneários - o espaço mínimo de pelo menos uma das cabinas de duche, com WC e

lavatório, é de 2,20 m X 2,20 m, sendo colocadas barras para apoio bilateral a 0,70 m do solo.

A altura máxima dos comandos da água é de 1,20 m da superfície do pavimento.

2.2 - Vestiários - nos vestiários, a área livre para circulação é de 2 m X 2 m e a altura superior de

alguns dos cabides fixos é de 1,30 m da superfície do pavimento.

2.3 - Piscinas:

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2.3.1 - A entrada das piscinas deve ser feita por rampa e escada no sentido do comprimento ou da

largura ou ainda através de meios mecânicos não eléctricos.

2.3.2 - As escadas e rampas devem ter corrimãos duplos, bilaterais, situados respectivamente, a

0,75 m e 0,90 m de altura da superfície do pavimento.

2.3.3.- Os acessos circundantes das piscinas devem ter revestimento antiderrapante.

3 - Edifícios e instalações escolares e de formação:

3.1 - As passagens exteriores entre edifícios são niveladas e cobertas.

3.2 - A largura mínima dos corredores é de 1,80 m.

3.3 - Nos edifícios de vários andares é obrigatório o acesso alternativo às escadas, por ascensores

e ou rampas.

4 - Salas de espectáculos e outras instalações para actividades sócio-culturais:

4.1 - A largura mínima das coxias e dos corredores é, respectivamente, de 0,90 m e de 1,50 m.

4.2 - Neste tipo de instalações, o espaço mínimo livre a salvaguardar para cada espectador em

cadeira de rodas é de 1 - X 1,50 m.

4.3 - O número de espaços especialmente destinados para pessoas em cadeiras de rodas é o

constante da tabela seguinte, ficando, porém, a sua ocupação dependente da vontade de

espectador:

Capacidade de lugares das salas ou recintos Número mínimo de lugares para cadeiras de rodas Até 300.............................................................

De 301 a 1 000.................................................

Acima de 1 000.................................................

5 mais 1 por cada 1000.

5 - Parques de estacionamento:

5.1 - Os acessos aos parques de estacionamento, quando implantados em pisos situados acima

ou abaixo do nível do pavimento das ruas, serão garantidos por rampas e ou ascensores.

5.2 - Nos parques até 25 lugares devem ser reservados, no mínimo, 2 lugares para veículos em

que um dos ocupantes seja uma pessoa em cadeira de rodas. Quando o número de lugares for

superior, deverá aplicar-se a tabela seguinte:

Lotação do parque Número mínimo de espaços reservados a acessíveis De 25 a 100......................................................

De 101 a 500....................................................

Acima de 500....................................................

5.3 - Os lugares reservados são demarcados a amarelo sobre a superfície do pavimento e

assinalados com uma placa indicativa de acessibilidade (símbolo internacional de acesso).

As dimensões, em planta, de cada um dos espaços a reservar devem ser, no mínimo, de 5,50 m

X 3,30 m.

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Decreto-Lei n.º 163/2006

A leitura deste documento, que transcreve o conteúdo do Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de

Agosto, não substitui a consulta da sua publicação em Diário da República.

Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de Agosto

Aprova o regime da acessibilidade aos edifícios e estabelecimentos que recebem público, via

pública e edifícios habitacionais, revogando o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio.

Índice

Artigo 1.º - Objecto

Artigo 2.º - Âmbito de aplicação

Artigo 3.º - Licenciamento e autorização

Artigo 4.º - Operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública

Artigo 5.º - Definições

Artigo 6.º - Licenciamento de estabelecimentos

Artigo 7.º - Direito à informação

Artigo 8.º - Publicidade

Artigo 9.º - Instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços circundantes já existentes

Artigo 10.º - Excepções

Artigo 11.º - Obras em execução ou em processo de licenciamento ou autorização

Artigo 12.º - Fiscalização

Artigo 13.º - Responsabilidade civil

Artigo 14.º - Direito de acção das associações e fundações de defesa dos interesses das pessoas

com deficiência

Artigo 15.º - Responsabilidade disciplinar

Artigo 16.º - Responsabilidade contra-ordenacional

Artigo 17.º - Sujeitos

Artigo 18.º - Coimas

Artigo 19.º - Sanções acessórias

Artigo 20.º - Determinação da sanção aplicável

Artigo 21.º - Competência sancionatória

Artigo 22.º - Avaliação e acompanhamento

Artigo 23.º - Norma transitória

Artigo 24.º - Aplicação às Regiões Autónomas

Artigo 25.º - Norma revogatória

Artigo 26.º - Entrada em vigor

ANEXO

Normas técnicas para melhoria da acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada

Capítulo 1 - Via pública

Secção 1.1 - Percurso acessível

Secção 1.2 - Passeios e caminhos de peões

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Secção 1.3 - Escadarias na via pública

Secção 1.4 - Escadarias em rampa na via pública

Secção 1.5 - Rampas na via pública

Secção 1.6 - Passagens de peões de superfície

Secção 1.7 - Passagens de peões desniveladas

Secção 1.8 - Outros espaços de circulação e permanência de peões

Capítulo 2 - Edifícios e estabelecimentos em geral

Secção 2.1 - Percurso acessível

Secção 2.2 - Átrios

Secção 2.3 - Patamares, galerias e corredores

Secção 2.4 - Escadas

Secção 2.5 - Rampas

Secção 2.6 - Ascensores

Secção 2.7 - Plataformas elevatórias

Secção 2.8 - Espaços para estacionamento de viaturas

Secção 2.9 - Instalações sanitárias de utilização geral

Secção 2.10 - Vestiários e cabinas de prova

Secção 2.11 - Equipamentos de auto-atendimento

Secção 2.13 - Telefones de uso público

Secção 2.14 - Bateria de receptáculos postais

Capítulo 3 - Edifícios, estabelecimentos e instalações com usos específicos

Secção 3.1 - Disposições específicas

Secção 3.2 - Edifícios de habitação - espaços comuns

Secção 3.3 - Edifícios de habitação - habitações

Secção 3.6 - Salas de espectáculos e outras instalações para actividades sócio-culturais

Secção 3.7 - Postos de abastecimento de combustível

Capítulo 4 - Percurso acessível

Secção 4.1 - Zonas de permanência

Secção 4.2 - Alcance

Secção 4.3 - Largura livre

Secção 4.5 - Altura livre

Secção 4.6 - Objectos salientes

Secção 4.7 - Pisos e seus revestimentos

Secção 4.8 - Ressaltos no piso

Secção 4.9 - Portas

Secção 4.10 - Portas de movimento automático

Secção 4.11 - Corrimãos e barras de apoio

Secção 4.12 - Comandos e controlos

Secção 4.13 - Elementos vegetais

Secção 4.14 - Sinalização e orientação

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A leitura deste documento, que transcreve o conteúdo do Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de

Agosto, não substitui a consulta da sua publicação em Diário da República.

Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de Agosto

Aprova o regime da acessibilidade aos edifícios e estabelecimentos que recebem público, via

pública e edifícios habitacionais, revogando o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio.

A promoção da acessibilidade constitui um elemento fundamental na qualidade de vida das

pessoas, sendo um meio imprescindível para o exercício dos direitos que são conferidos a

qualquer membro de uma sociedade democrática, contribuindo decisivamente para um maior

reforço dos laços sociais, para uma maior participação cívica de todos aqueles que a integram e,

consequentemente, para um crescente aprofundamento da solidariedade no Estado social de

direito. São, assim, devidas ao Estado acções cuja finalidade seja garantir e assegurar os direitos

das pessoas com necessidades especiais, ou seja, pessoas que se confrontam com barreiras

ambientais, impeditivas de uma participação cívica activa e integral, resultantes de factores

permanentes ou temporários, de deficiências de ordem intelectual, emocional, sensorial, física ou

comunicacional. Do conjunto das pessoas com necessidades especiais fazem parte pessoas com

mobilidade condicionada, isto é, pessoas em cadeiras de rodas, pessoas incapazes de andar ou

que não conseguem percorrer grandes distâncias, pessoas com dificuldades sensoriais, tais como

as pessoas cegas ou surdas, e ainda aquelas que, em virtude do seu percurso de vida, se

apresentam transitoriamente condicionadas, como as grávidas, as crianças e os idosos.

Constituem, portanto, incumbências do Estado, de acordo com a Constituição da República

Portuguesa, a promoção do bem-estar e qualidade de vida da população e a igualdade real e

jurídico-formal entre todos os portugueses [alínea d) do artigo 9.º e artigo 13.º], bem como a

realização de «uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos

cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias», o desenvolvimento de «uma

pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com

eles» e «assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e

deveres dos pais e tutores» (n.º 2 do artigo 71.º).

Por sua vez, a alínea d) do artigo 3.º da Lei de Bases da Prevenção, Habilitação, Reabilitação e

Participação das Pessoas com Deficiência (Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto) determina «a

promoção de uma sociedade para todos através da eliminação de barreiras e da adopção de

medidas que visem a plena participação da pessoa com deficiência».

O XVII Governo Constitucional assumiu, igualmente, no seu Programa que o combate à exclusão

que afecta diversos grupos da sociedade portuguesa seria um dos objectivos primordiais da sua

acção governativa, nos quais se incluem, naturalmente, as pessoas com mobilidade condicionada

que quotidianamente têm de confrontar-se com múltiplas barreiras impeditivas do exercício pleno

dos seus direitos de cidadania.

A matéria das acessibilidades foi já objecto de regulação normativa, através do Decreto-Lei n.º

123/97, de 22 de Maio, que introduziu normas técnicas, visando a eliminação de barreiras

urbanísticas e arquitectónicas nos edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública.

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Página 143

Decorridos oito anos sobre a promulgação do Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, aprova-se

agora, neste domínio, um novo diploma que define o regime da acessibilidade aos edifícios e

estabelecimentos que recebem público, via pública e edifícios habitacionais, o qual faz parte de um

conjunto mais vasto de instrumentos que o XVII Governo Constitucional pretende criar, visando a

construção de um sistema global, coerente e ordenado em matéria de acessibilidades, susceptível

de proporcionar às pessoas com mobilidade condicionada condições iguais às das restantes

pessoas.

As razões que justificam a revogação do Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, e a criação de um

novo diploma em sua substituição prendem-se, em primeiro lugar, com a constatação da

insuficiência das soluções propostas por esse diploma.

Pesem embora as melhorias significativas decorrentes da introdução do Decreto-Lei n.º 123/97, de

22 de Maio, a sua fraca eficácia sancionatória, que impunha, em larga medida, apenas coimas de

baixo valor, fez que persistissem na sociedade portuguesa as desigualdades impostas pela

existência de barreiras urbanísticas e arquitectónicas.

Neste sentido, o presente decreto-lei visa, numa solução de continuidade com o anterior diploma,

corrigir as imperfeições nele constatadas, melhorando os mecanismos fiscalizadores, dotando-o de

uma maior eficácia sancionatória, aumentando os níveis de comunicação e de responsabilização

dos diversos agentes envolvidos nestes procedimentos, bem como introduzir novas soluções,

consentâneas com a evolução técnica, social e legislativa entretanto verificada. De entre as

principais inovações introduzidas com o presente decreto-lei, é de referir, em primeiro lugar, o

alargamento do âmbito de aplicação das normas técnicas de acessibilidades aos edifícios

habitacionais, garantindo-se assim a mobilidade sem condicionamentos, quer nos espaços

públicos, como já resultava do diploma anterior e o presente manteve, quer nos espaços privados

(acessos às habitações e seus interiores).

Como já foi anteriormente salientado, as normas técnicas de acessibilidades queconstavam do

Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, foram actualizadas e procedeu-se à introdução de novas

normas técnicas aplicáveis especificamente aos edifícios habitacionais.

Espelhando a preocupação de eficácia da imposição de normas técnicas, que presidiu à

elaboração deste decreto-lei, foram introduzidos diversos mecanismos que têm, no essencial, o

intuito de evitar a entrada de novas edificações não acessíveis no parque edificado português.

Visa-se impedir a realização de loteamentos e urbanizações e a construção de novas edificações

que não cumpram os requisitos de acessibilidades estabelecidos no presente decreto-lei.

As operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública, que não carecem, de modo

geral, de qualquer licença ou autorização, são registadas na Direcção-Geral dos Edifícios e

Monumentos Nacionais, devendo as entidades administrativas que beneficiem desta isenção

declarar expressamente que foram cumpridas, em tais operações, as normas legais e

regulamentares aplicáveis, designadamente as normas técnicas de acessibilidades.

A abertura de quaisquer estabelecimentos destinados ao público (escolas, estabelecimentos de

saúde, estabelecimentos comerciais, entre outros) é licenciada pelas entidades competentes,

quando o estabelecimento em causa se conforme com as normas de acessibilidade.

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Página 144

Por outro lado, consagra-se também, de forma expressa, a obrigatoriedade de comunicação às

entidades competentes para esses licenciamentos, por parte de câmara municipal, das situações

que se revelem desconformes com as obrigações impostas por este regime, aumentando-se,

assim, o nível de coordenação existente entre os diversos actores intervenientes no procedimento.

Assume igualmente grande importância a regra agora introduzida, segundo a qual os pedidos de

licenciamento ou autorização de loteamento, urbanização, construção, reconstrução ou alteração

de edificações devem ser indeferidos quando não respeitem as condições de acessibilidade

exigíveis, cabendo, no âmbito deste mecanismo, um importante papel às câmaras municipais, pois

são elas as entidades responsáveis pelos referidos licenciamentos e autorizações. Outro ponto

fundamental deste novo regime jurídico reside na introdução de mecanismos mais exigentes a

observar sempre que quaisquer excepções ao integral cumprimento das normas técnicas sobre

acessibilidades sejam concedidas, nomeadamente a obrigatoriedade de fundamentar devidamente

tais excepções, a apensação da justificação ao processo e, adicionalmente, a publicação em local

próprio para o efeito. As coimas previstas para a violação das normas técnicas de acessibilidades

são sensivelmente mais elevadas do que as previstas no diploma anterior sobre a matéria, e, com

o intuito de reforçar ainda mais a co-actividade das normas de acessibilidades, a sua aplicação

pode também ser acompanhada da aplicação de sanções acessórias. Neste domínio, visa-se,

igualmente, definir de forma mais clara a responsabilidade dos diversos agentes que intervêm no

decurso das diversas operações urbanísticas, designadamente o projectista, o responsável técnico

ou o dono da obra. O produto da cobrança destas coimas reverte em parte para as entidades

fiscalizadoras e, noutra parte, para a entidade pública responsável pela execução das políticas de

prevenção, habilitação, reabilitação e participação das pessoas com deficiência.

Outra inovação importante introduzida pelo presente decreto-lei consiste na atribuição de um papel

activo na defesa dos interesses acautelados aos cidadãos com necessidades especiais e às

organizações não governamentais representativas dos seus interesses. Estes cidadãos e as suas

organizações são os principais interessados no cumprimento das normas de acessibilidades, pelo

que se procurou conceder-lhes instrumentos de fiscalização e de imposição das mesmas. As

organizações não governamentais de defesa destes interesses podem, assim, intentar acções, nos

termos da lei da acção popular, visando garantir o cumprimento das presentes normas técnicas.

Estas acções podem configurar-se como as clássicas acções cíveis, por incumprimento de norma

legal de protecção de interesses de terceiros, ou como acções administrativas. O regime aqui

proposto deve ser articulado com o regime das novas acções administrativas, introduzidas com o

Código de Processo nos Tribunais Administrativos, que pode, em muitos casos, ser um

instrumento válido de defesa dos interesses destes cidadãos em matéria de acessibilidades.

Por fim, a efectividade do regime introduzido por este decreto-lei ficaria diminuída caso não fossem

consagrados mecanismos tendentes à avaliação e acompanhamento da sua aplicação, pelo que

as informações recolhidas no terreno, no decurso das acções de fiscalização, são remetidas para a

Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que procederá, periodicamente, a um

diagnóstico global do nível de acessibilidade existente no edificado nacional.

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Acessibilidade em Museus

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Foram promovidas as diligências necessárias à audição da Ordem dos Engenheiros e da Ordem

dos Arquitectos.

Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas e a Associação Nacional de

Municípios Portugueses.

Assim:

No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido na Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto, e nos

termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:

Artigo 1.º

Objecto

1 - O presente decreto-lei tem por objecto a definição das condições de acessibilidade a satisfazer

no projecto e na construção de espaços públicos, equipamentos colectivos e edifícios públicos e

habitacionais.

2 - São aprovadas as normas técnicas a que devem obedecer os edifícios, equipamentos e infra-

estruturas abrangidos, que se publicam no anexo ao presente decreto-lei e que dele faz parte

integrante.

3 - Mantém-se o símbolo internacional de acessibilidade, que consiste numa placa com uma figura

em branco sobre um fundo azul, em tinta reflectora, especificada na secção 4.14.3 do anexo ao

presente decreto-lei, a qual é obtida junto das entidades licenciadoras.

4 - O símbolo internacional de acessibilidade deve ser afixado em local bem visível nos edifícios,

estabelecimentos e equipamentos de utilização pública e via pública que respeitem as normas

técnicas constantes do anexo ao presente decreto-lei.

Artigo 2.º

Âmbito de aplicação

1 - As normas técnicas sobre acessibilidades aplicam-se às instalações e respectivos espaços

circundantes da administração pública central, regional e local, bem como dos institutos públicos

que revistam a natureza de serviços personalizados ou de fundos públicos.

2 - As normas técnicas aplicam-se também aos seguintes edifícios, estabelecimentos e

equipamentos de utilização pública e via pública:

a) Passeios e outros percursos pedonais pavimentados;

b) Espaços de estacionamento marginal à via pública ou em parques de estacionamento público;

c) Equipamentos sociais de apoio a pessoas idosas e ou com deficiência, designadamente lares,

residências, centros de dia, centros de convívio, centros de emprego protegido, centros de

actividades ocupacionais e outros equipamentos equivalentes;

d) Centros de saúde, centros de enfermagem, centros de diagnóstico, hospitais, maternidades,

clínicas, postos médicos em geral, centros de reabilitação, consultórios médicos, farmácias e

estâncias termais;

e) Estabelecimentos de educação pré-escolar e de ensino básico, secundário e superior, centros

de formação, residenciais e cantinas;

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Acessibilidade em Museus

Página 146

f) Estações ferroviárias e de metropolitano, centrais de camionagem, gares marítimas e fluviais,

aerogares de aeroportos e aeródromos, paragens dos transportes colectivos na via pública, postos

de abastecimento de combustível e áreas de serviço;

g) Passagens de peões desniveladas, aéreas ou subterrâneas, para travessia de vias férreas, vias

rápidas e auto-estradas;

h) Estações de correios, estabelecimentos de telecomunicações, bancos e respectivas caixas

multibanco, companhias de seguros e estabelecimentos similares;

i) Parques de estacionamento de veículos automóveis;

j) Instalações sanitárias de acesso público;

l) Igrejas e outros edifícios destinados ao exercício de cultos religiosos;

m) Museus, teatros, cinemas, salas de congressos e conferências e bibliotecas públicas, bem

como outros edifícios ou instalações destinados a actividades recreativas e sócio-culturais;

n) Estabelecimentos prisionais e de reinserção social;

o) Instalações desportivas, designadamente estádios, campos de jogos e pistas de atletismo,

pavilhões e salas de desporto, piscinas e centros de condição física, incluindo ginásios e clubes de

saúde;

p) Espaços de recreio e lazer, nomeadamente parques infantis, parques de diversões, jardins,

praias e discotecas;

q) Estabelecimentos comerciais cuja superfície de acesso ao público ultrapasse 150 m2, bem

como hipermercados, grandes superfícies, supermercados e centros comerciais;

r) Estabelecimentos hoteleiros, meios complementares de alojamento turístico, à excepção das

moradias turísticas e apartamentos turísticos dispersos, nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo

38.º do Decreto

Regulamentar n.º 34/97, de 17 de Setembro, conjuntos turísticos e ainda cafés e bares cuja

superfície de acesso ao público ultrapasse 150 m2;

s) Edifícios e centros de escritórios.

3 - As normas técnicas sobre acessibilidades aplicam-se ainda aos edifícios habitacionais.

4 - As presentes normas aplicam-se sem prejuízo das contidas em regulamentação técnica

específica mais exigente.

Artigo 3.º

Licenciamento e autorização

1 - As câmaras municipais indeferem o pedido de licença ou autorização necessária ao loteamento

ou a obras de construção, alteração, reconstrução, ampliação ou de urbanização, de promoção

privada, referentes a edifícios, estabelecimentos ou equipamentos abrangidos pelos n.os 2 e 3 do

artigo 2.º, quando estes não cumpram os requisitos técnicos estabelecidos neste decreto-lei.

2 - A concessão de licença ou autorização para a realização de obras de alteração ou

reconstrução das edificações referidas, já existentes à data da entrada em vigor do presente

decreto-lei, não pode ser recusada com fundamento na desconformidade com as presentes

normas técnicas de acessibilidade, desde que tais obras não originem ou agravem a

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Acessibilidade em Museus

Página 147

desconformidade com estas normas e se encontrem abrangidas pelas disposições constantes dos

artigos 9.º e 10.º.

3 - O disposto nos n.os 1 e 2 aplica-se igualmente às operações urbanísticas referidas no n.º 1 do

artigo 2.º, quando estas estejam sujeitas a procedimento de licenciamento ou autorização, nos

termos do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro.

4 - O disposto no presente artigo não prejudica o estabelecido no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de

Dezembro, quanto à sujeição de operações urbanísticas a licenciamento ou autorização.

5 - Os pedidos referentes aos loteamentos e obras abrangidas pelos n.os 1, 2 e 3 devem ser

instruídos com um plano de acessibilidades que apresente a rede de espaços e equipamentos

acessíveis bem como soluções de detalhe métrico, técnico e construtivo, esclarecendo as soluções

adoptadas em matéria de acessibilidade a pessoas com deficiência e mobilidade condicionada,

nos termos regulamentados na Portaria n.º 1110/2001, de 19 de Setembro.

Artigo 4.º

Operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública

1 - Os órgãos da administração pública central, regional e local, dos institutos públicos que

revistam a natureza de serviços personalizados e de fundos públicos e as entidades

concessionárias de obras ou serviços públicos, promotores de operações urbanísticas que não

careçam de licenciamento ou autorização camarária, certificam o cumprimento das normas legais

e regulamentares aplicáveis, designadamente as normas técnicas constantes do anexo ao

presente decreto-lei, através de termo de responsabilidade, definido em portaria conjunta dos

ministros responsáveis pelas áreas das finanças, da administração local, do ambiente, da

solidariedade social e das obras públicas.

2 - O termo de responsabilidade referido no número anterior deve ser enviado, para efeitos de

registo, à Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Artigo 5.º

Definições

Para efeitos do presente decreto-lei, são aplicáveis as definições constantes do artigo 2.º do

Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro.

Artigo 6.º

Licenciamento de estabelecimentos

1 - As autoridades administrativas competentes para o licenciamento de estabelecimentos

comerciais, escolares, de saúde e turismo e estabelecimentos abertos ao público abrangidos pelo

presente decreto-lei devem recusar a emissão da licença ou autorização de funcionamento quando

esses estabelecimentos não cumpram as normas técnicas constantes do anexo que o integra.

2 - A câmara municipal deve, obrigatoriamente, para efeitos do disposto no número anterior,

comunicar às entidades administrativas competentes as situações de incumprimento das normas

técnicas anexas a este decreto-lei.

Artigo 7.º

Direito à informação

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Página 148

1 - As organizações não governamentais das pessoas com deficiência e das pessoas com

mobilidade condicionada têm o direito de conhecer o estado e andamento dos processos de

licenciamento ou autorização das operações urbanísticas e de obras de construção, ampliação,

reconstrução e alteração dos edifícios, estabelecimentos e equipamentos referidos no artigo 2.º,

nos termos do artigo 110.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro.

2 - As organizações não governamentais mencionadas no artigo anterior têm ainda o direito de ser

informadas sobre as operações urbanísticas relativas a instalações e respectivos espaços

circundantes da administração pública central, regional e local, bem como dos institutos públicos

que revistam a natureza de serviços personalizados ou de fundos públicos, que não careçam de

licença ou autorização nos termos da legislação em vigor.

Artigo 8.º

Publicidade

A publicitação de que o pedido de licenciamento ou autorização de obras abrangidas pelo artigo

3.º e o início de processo tendente à realização das operações urbanísticas referidas no artigo 4.º

é conforme às normas técnicas previstas no presente decreto-lei deve ser inscrita no aviso referido

no artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, nos termos a regulamentar em

portaria complementar à aí referida, da competência conjunta dos ministros responsáveis pelas

áreas da administração local, do ambiente, da solidariedade social e das obras públicas.

Artigo 9.º

Instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços circundantes já existentes

1 - As instalações, edifícios, estabelecimentos, equipamentos e espaços abrangentes referidos nos

n.os 1 e 2 do artigo 2.º, cujo início de construção seja anterior a 22 de Agosto de 1997, são

adaptados dentro de um prazo de 10 anos, contados a partir da data de início de vigência do

presente decreto-lei, de modo a assegurar o cumprimento das normas técnicas constantes do

anexo que o integra.

2 - As instalações, edifícios, estabelecimentos, equipamentos e espaços abrangentes referidos nos

n.os 1 e 2 do artigo 2.º, cujo início de construção seja posterior a 22 de Agosto de 1997, são

adaptados dentro de um prazo de cinco anos, contados a partir da data de início de vigência do

presente decreto-lei.

3 - As instalações, edifícios, estabelecimentos, equipamentos e espaços abrangentes referidos nos

n.os 1 e 2 do artigo 2.º que se encontrem em conformidade com o disposto no Decreto-Lei n.º

123/97, de 22 de Maio, estão isentos do cumprimento das normas técnicas anexas ao presente

decreto-lei.

4 - Após o decurso dos prazos estabelecidos nos números anteriores, a desconformidade das

edificações e estabelecimentos aí referidos com as normas técnicas de acessibilidade é

sancionada nos termos aplicáveis às edificações e estabelecimentos novos.

Artigo 10.º

Excepções

1 - Nos casos referidos nos n.os 1 e 2 do artigo anterior, o cumprimento das normas técnicas de

acessibilidade constantes do anexo ao presente decreto-lei não é exigível quando as obras

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Página 149

necessárias à sua execução sejam desproporcionadamente difíceis, requeiram a aplicação de

meios económico financeiros desproporcionados ou não disponíveis, ou ainda quando afectem

sensivelmente o património cultural ou histórico, cujas características morfológicas, arquitectónicas

e ambientais se pretende preservar.

2 - As excepções referidas no número anterior são devidamente fundamentadas, cabendo às

entidades competentes para a aprovação dos projectos autorizar a realização de soluções que não

satisfaçam o disposto nas normas técnicas, bem como expressar e justificar os motivos que

legitimam este incumprimento.

3 - Quando não seja desencadeado qualquer procedimento de licenciamento ou de autorização, a

competência referida no número anterior pertence, no âmbito das respectivas acções de

fiscalização, às entidades referidas no artigo 12.º.

4 - Nos casos de operações urbanísticas isentas de licenciamento e autorização, nos termos do

Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, a justificação dos motivos que legitimam o

incumprimento das normas técnicas de acessibilidades é consignada em adequado termo de

responsabilidade enviado, para efeitos de registo, à Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos

Nacionais.

5 - Se a satisfação de alguma ou algumas das especificações contidas nas normas técnicas for

impraticável devem ser satisfeitas todas as restantes especificações.

6 - A justificação dos motivos que legitimam o incumprimento do disposto nas normas técnicas fica

apensa ao processo e disponível para consulta pública.

7 - A justificação referida no número anterior, nos casos de imóveis pertencentes a particulares, é

objecto de publicitação no sítio da Internet do município respectivo e, nos casos de imóveis

pertencentes a entidades públicas, através de relatório anual, no sítio da Internet a que tenham

acesso oficial.

8 - A aplicação das normas técnicas aprovadas por este decreto-lei a edifícios e respectivos

espaços circundantes que revistam especial interesse histórico e arquitectónico, designadamente

os imóveis classificados ou em vias de classificação, é avaliada caso a caso e adaptada às

características específicas do edifício em causa, ficando a sua aprovação dependente do parecer

favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico.

Artigo 11.º

Obras em execução ou em processo de licenciamento ou autorização

O presente decreto-lei não se aplica:

a) Às obras em execução, aquando da sua entrada em vigor;

b) Aos projectos de novas construções cujo processo de aprovação, licenciamento ou autorização

esteja em curso à data da sua entrada em vigor.

Artigo 12.º

Fiscalização

A fiscalização do cumprimento das normas aprovadas pelo presente decreto-leicompete:

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Página 150

a) À Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais quanto aos deveres impostos às

entidades da administração pública central e dos institutos públicos que revistam a natureza de

serviços personalizados e de fundos públicos;

b) À Inspecção-Geral da Administração do Território quanto aos deveres impostos às entidades da

administração pública local;

c) Às câmaras municipais quanto aos deveres impostos aos particulares.

Artigo 13.º

Responsabilidade civil

As entidades públicas ou privadas que actuem em violação do disposto no presente decreto-lei

incorrem em responsabilidade civil, nos termos da lei geral, sem prejuízo da responsabilidade

contra-ordenacional ou disciplinar que ao caso couber.

Artigo 14.º

Direito de acção das associações e fundações de defesa dos interesses das pessoas com

deficiência

1 - As organizações não governamentais das pessoas com deficiência e demobilidade reduzida

dotadas de personalidade jurídica têm legitimidade para propor e intervir em quaisquer acções

relativas ao cumprimento das normas técnicas de acessibilidade contidas no anexo ao presente

decreto-lei.

2 - Constituem requisitos da legitimidade activa das associações e fundações:

a) Inclusão expressa nas suas atribuições ou nos seus objectivos estatutários a defesa dos

interesses das pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida;

b) Não exercício de qualquer tipo de actividade liberal concorrente com empresas ou profissionais

liberais.

3 - Aplica-se o regime especial disposto na Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto, relativa à acção

popular, ao pagamento de preparos e custas nas acções propostas nos termos do n.º 1.

Artigo 15.º

Responsabilidade disciplinar

Os funcionários e agentes da administração pública central, regional e local e dos institutos

públicos que revistam a natureza de serviços personalizados ou fundos públicos que deixarem de

participar infracções ou prestarem informações falsas ou erradas, relativas ao presente decreto-lei,

de que tiverem conhecimento no exercício das suas funções, incorrem em responsabilidade

disciplinar, nos termos da lei geral, para além da responsabilidade civil e criminal que ao caso

couber.

Artigo 16.º

Responsabilidade contra-ordenacional

Constitui contra-ordenação, sem prejuízo do disposto no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de

Dezembro, todo o facto típico, ilícito e censurável que consubstancie a violação de uma norma que

imponha deveres de aplicação, execução, controlo ou fiscalização das normas técnicas constantes

do anexo ao presente decreto-lei, designadamente:

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Página 151

a) Não observância dos prazos referidos nos n.os 1 e 2 do artigo 9.º para a adaptação de

instalações, edifícios, estabelecimentos e espaços abrangentes em conformidade com as normas

técnicas constantes do anexo ao presente decreto-lei;

b) Concepção ou elaboração de operações urbanísticas em desconformidade com os requisitos

técnicos estabelecidos no presente decreto-lei;

c) Emissão de licença ou autorização de funcionamento de estabelecimentos que não cumpram as

normas técnicas constantes do anexo ao presente decreto-lei;

d) Incumprimento das obrigações previstas no artigo 4.º.

Artigo 17.º

Sujeitos

Incorrem em responsabilidade contra-ordenacional os agentes que tenham contribuído, por acção

ou omissão, para a verificação dos factos descritos no artigo anterior, designadamente o

projectista, o director técnico ou o dono da obra.

Artigo 18.º

Coimas

1 - As contra-ordenações são puníveis com coima de € 250 a € 3740,98, quando se trate de

pessoas singulares, e de € 500 a € 44891,81, quando o infractor for uma pessoa colectiva.

2 - Em caso de negligência, os montantes máximos previstos no número anterior são,

respectivamente, de € 1870,49 e de € 22445,91.

3 - O disposto nos números anteriores não prejudica a aplicação de outras normas sancionatórias

da competência das entidades referidas nos artigos 3.º e 6.º.

4 - O produto da cobrança das coimas referidas nos n.os 1 e 2 destina-se:

a) 50% à entidade pública responsável pela execução das políticas de prevenção, habilitação,

reabilitação e participação das pessoas com deficiência para fins de investigação científica;

b) 50% à entidade competente para a instauração do processo de contraordenação nos termos do

artigo 21.º.

Artigo 19.º

Sanções acessórias

1 - As contra-ordenações previstas no artigo 16.º podem ainda determinar a aplicação das

seguintes sanções acessórias, quando a gravidade da infracção o justifique:

a) Privação do direito a subsídios atribuídos por entidades públicas ou serviços públicos;

b) Interdição de exercício da actividade cujo exercício dependa de título público ou de autorização

ou homologação de autoridade pública;

c) Encerramento de estabelecimento cujo funcionamento esteja sujeito a autorização ou licença de

autoridade administrativa;

d) Suspensão de autorizações, licenças e alvarás.

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a autoridade competente para a instauração do

processo de contra-ordenação notifica as entidades às quais pertençam as competências

decisórias aí referidas para que estas procedam à execução das sanções aplicadas.

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Página 152

3 - As sanções referidas neste artigo têm a duração máxima de dois anos, contados a partir da

decisão condenatória definitiva.

Artigo 20.º

Determinação da sanção aplicável

A determinação da coima e das sanções acessórias faz-se em função da gravidade da contra-

ordenação, da ilicitude concreta do facto, da culpa do infractor e dos benefícios obtidos e tem em

conta a sua situação económica.

Artigo 21.º

Competência sancionatória

A competência para determinar a instauração dos processos de contra-ordenação, para designar o

instrutor e para aplicar as coimas e sanções acessórias pertence:

a) À Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais no âmbito das acções de fiscalização

às instalações e espaços circundantes da administração central e dos institutos públicos que

revistam a natureza de serviços personalizados e de fundos públicos;

b) Às câmaras municipais no âmbito das acções de fiscalização dos edifícios, espaços e

estabelecimentos pertencentes a entidades privadas.

Artigo 22.º

Avaliação e acompanhamento

1 - A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais acompanha a aplicação do presente

decreto-lei e procede, periodicamente, à avaliação global do grau de acessibilidade dos edifícios,

instalações e espaços referidos no artigo

2.º.

2 - As câmaras municipais e a Inspecção-Geral da Administração do Território enviam à Direcção-

Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, até ao dia 30 de Março de cada ano, um relatório da

situação existente tendo por base os elementos recolhidos nas respectivas acções de fiscalização.

3 - A avaliação referida no n.º 1 deve, anualmente, ser objecto de publicação.

Artigo 23.º

Norma transitória

1 - As normas técnicas sobre acessibilidades são aplicáveis, de forma gradual, ao longo de oito

anos, no que respeita às áreas privativas dos fogos destinados a habitação de cada edifício,

sempre com um mínimo de um fogo por edifício, a, pelo menos:

a) 12,5% do número total de fogos, relativamente a edifício cujo projecto de licenciamento ou

autorização seja apresentado na respectiva câmara municipal no ano subsequente à entrada em

vigor deste decreto-lei;

b) De 25% a 87,5% do número total de fogos, relativamente a edifício cujo projecto de

licenciamento ou autorização seja apresentado na respectiva câmara municipal do 2.º ao 7.º ano

subsequentes à entrada em vigor deste decreto-lei, na razão de um acréscimo de 12,5% do

número total de fogos por cada ano.

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Página 153

2 - As normas técnicas sobre acessibilidades são aplicáveis à totalidade dos fogos destinados a

habitação de edifício cujo projecto de licenciamento ou autorização seja apresentado na respectiva

câmara municipal no 8.º ano subsequente à entrada em vigor deste decreto-lei e anos seguintes.

Artigo 24.º

Aplicação às Regiões Autónomas

O presente decreto-lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, sem prejuízo de

diploma regional que proceda às necessárias adaptações.

Artigo 25.º

Norma revogatória

É revogado o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio.

Artigo 26.º

Entrada em vigor

O presente decreto-lei entra em vigor seis meses após a sua publicação.

ANEXO

Normas técnicas para melhoria da acessibilidade das pessoas com mobilidade condicionada

Capítulo 1

Via pública:

Secção 1.1 - Percurso acessível:

1.1.1 - As áreas urbanizadas devem ser servidas por uma rede de percursos pedonais, designados

de acessíveis, que proporcionem o acesso seguro e confortável das pessoas com mobilidade

condicionada a todos os pontos relevantes da sua estrutura activa, nomeadamente:

1) Lotes construídos;

2) Equipamentos colectivos;

3) Espaços públicos de recreio e lazer;

4) Espaços de estacionamento de viaturas;

5) Locais de paragem temporária de viaturas para entrada/saída de passageiros;

6) Paragens de transportes públicos.

1.1.2 - A rede de percursos pedonais acessíveis deve ser contínua e coerente, abranger toda a

área urbanizada e estar articulada com as actividades e funções urbanas realizadas tanto no solo

público como no solo privado.

1.1.3 - Na rede de percursos pedonais acessíveis devem ser incluídos:

1) Os passeios e caminhos de peões;

2) As escadarias, escadarias em rampa e rampas;

3) As passagens de peões, à superfície ou desniveladas;

4) Outros espaços de circulação e permanência de peões.

1.1.4 - Os percursos pedonais acessíveis devem satisfazer o especificado no capítulo 4 e os

elementos que os constituem devem satisfazer o especificado nas respectivas secções do

presente capítulo.

1.1.5 - Caso não seja possível cumprir o disposto no número anterior em todos os percursos

pedonais, deve existir pelo menos um percurso acessível que o satisfaça, assegurando os critérios

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definidos no n.º 1.1.1 e distâncias de percurso, medidas segundo o trajecto real no terreno, não

superiores ao dobro da distância percorrida pelo trajecto mais directo.

Secção 1.2 - Passeios e caminhos de peões:

1.2.1 - Os passeios adjacentes a vias principais e vias distribuidoras devem ter uma largura livre

não inferior a 1,5 m.

1.2.2 - Os pequenos acessos pedonais no interior de áreas plantadas, cujo comprimento total não

seja superior a 7 m, podem ter uma largura livre não inferior a 0,9 m.

Secção 1.3 - Escadarias na via pública:

1.3.1 - As escadarias na via pública devem satisfazer o especificado na secção 2.4 e as seguintes

condições complementares:

1) Devem possuir patamares superiores e inferior com uma faixa de aproximação constituída por

um material de revestimento de textura diferente e cor contrastante com o restante piso;

2) Devem ser constituídas por degraus que cumpram uma das seguintes relações dimensionais:

valores em metros

Altura (espelho)

Comprimento (cobertor)

0,10, 0,125, 0,125 a 0,15, 0,15, 0,40 a 0,45, 0,35 a 0,40, 0,75, 0,30 a 0,35

3) Se vencerem desníveis superiores a 0,4 m devem ter corrimãos de ambos os lados ou um duplo

corrimão central, se a largura da escadaria for superior a 3 m, ter corrimãos de ambos os lados e

um duplo corrimão central, se a largura da escadaria for superior a 6 m.

Secção 1.4 - Escadarias em rampa na via pública:

1.4.1 - As escadarias em rampa na via pública devem satisfazer o especificado na secção 1.3 e as

seguintes condições complementares:

1) Os troços em rampa devem ter uma inclinação nominal não superior a 6% e um

desenvolvimento, medido entre o focinho de um degrau e a base do degrau seguinte, não inferior a

0,75 m ou múltiplos inteiros deste valor;

2) A projecção horizontal dos troços em rampa entre patins ou entre troços de nível não deve ser

superior a 20 m.

Secção 1.5 - Rampas na via pública:

1.5.1 - As rampas na via pública devem satisfazer o especificado na secção 2.5, e as que

vencerem desníveis superiores a 0,4 m devem ainda:

1) Ter corrimãos de ambos os lados ou um duplo corrimão central, se alargura da rampa for

superior a 3 m;

2) Ter corrimãos de ambos os lados e um duplo corrimão central, se a largura da rampa for

superior a 6 m.

Secção 1.6 - Passagens de peões de superfície:

1.6.1 - A altura do lancil em toda a largura das passagens de peões não deve ser superior a

0,02m.

1.6.2 - O pavimento do passeio na zona imediatamente adjacente à passagem de peões deve ser

rampeado, com uma inclinação não superior a 8% na direcção da passagem de peões e não

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Acessibilidade em Museus

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superior a 10% na direcção do lancil do passeio ou caminho de peões, quando este tiver uma

orientação diversa da passagem de peões, de forma a estabelecer uma concordância entre o nível

do pavimento do passeio e o nível do pavimento da faixa de rodagem.

1.6.3 - A zona de intercepção das passagens de peões com os separadores centrais das rodovias

deve ter, em toda a largura das passagens de peões, uma dimensão não inferior a 1,2 m e uma

inclinação do piso e dos seus revestimentos não superior a 2%, medidas na direcção do

atravessamento dos peões.

1.6.4 - Caso as passagens de peões estejam dotadas de dispositivos semafóricos de controlo da

circulação, devem satisfazer as seguintes condições:

1) Nos semáforos que sinalizam a travessia de peões de accionamento manual, o dispositivo de

accionamento deve estar localizado a uma altura do piso compreendida entre 0,8 m e 1,2 m;

2) O sinal verde de travessia de peões deve estar aberto o tempo suficiente para permitir a

travessia, a uma velocidade de 0,4 m/s, de toda a largura da via ou até ao separador central,

quando ele exista;

3) Os semáforos que sinalizam a travessia de peões instalados em vias com grande volume de

tráfego de veículos ou intensidade de uso por pessoas com deficiência visual devem ser equipados

com mecanismos complementares que emitam um sinal sonoro quando o sinal estiver verde para

os peões.

1.6.5 - Caso sejam realizadas obras de construção, reconstrução ou alteração, as passagens de

peões devem:

1) Ter os limites assinalados no piso por alteração da textura ou pintura com cor contrastante;

2) Ter o início e o fim assinalados no piso dos passeios por sinalização táctil;

3) Ter os sumidouros implantados a montante das passagens de peões, de modo a evitar o fluxo

de águas pluviais nesta zona.

Secção 1.7 - Passagens de peões desniveladas:

1.7.1 - As rampas de passagens de peões desniveladas devem satisfazer o especificado na

secção 2.5 e as seguintes especificações mais exigentes:

1) Ter uma largura não inferior a 1,5 m;

2) Ter corrimãos duplos situados, respectivamente, as alturas da superfície da rampa de 0,75 m e

de 0,9 m.

1.7.2 - Caso não seja viável a construção de rampas nas passagens de peões desniveladas que

cumpram o disposto na secção 1.5, os desníveis devem ser vencidos por dispositivos mecânicos

de elevação (exemplos: ascensores, plataformas elevatórias).

1.7.3 - Quando nas passagens desniveladas existirem escadas, estas devem satisfazer o

especificado na secção 2.4 e as seguintes condições mais exigentes:

1) Ter lanços, patins e patamares com largura não inferior a 1,5 m;

2) Ter degraus com altura (espelho) não superior a 0,16 m;

3) Ter patins intermédios sempre que o desnível a vencer for superior a1,5 m;

4) Ter uma faixa de aproximação nos patamares superior e inferior das escadas com um material

de revestimento de textura diferente e cor contrastante com o restante piso;

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Acessibilidade em Museus

Página 156

5) Ter rampas alternativas.

Secção 1.8 - Outros espaços de circulação e permanência de peões:

1.8.1 - Nos espaços de circulação e permanência de peões na via pública que não se enquadram

especificamente numa das tipologias anteriores devem ser aplicadas as especificações definidas

na secção 1.2 e as seguintes condições adicionais:

1) O definido na secção 1.3, quando incorporem escadarias ou degraus;

2) O definido na secção 1.3.1, quando incorporem escadarias em rampa;

3) O definido na secção 1.5, quando incorporem rampas.

1.8.2 - Nos espaços de circulação e permanência de peões na via pública cuja área seja igual ou

superior a 100 m2, deve ser dada atenção especial às seguintes condições:

1) Deve assegurar-se a drenagem das águas pluviais, através de disposições técnicas e

construtivas que garantam o rápido escoamento e a secagem dos pavimentos;

2) Deve proporcionar-se a legibilidade do espaço, através da adopção de elementos e texturas de

pavimento que forneçam, nomeadamente às pessoas com deficiência da visão, a indicação dos

principais percursos de atravessamento.

Capítulo 2

Edifícios e estabelecimentos em geral:

Secção 2.1 - Percurso acessível:

2.1.1 - Os edifícios e estabelecimentos devem ser dotados de pelo menos um percurso, designado

de acessível, que proporcione o acesso seguro e confortável das pessoas com mobilidade

condicionada entre a via pública, o local de entrada/saída principal e todos os espaços interiores e

exteriores que os constituem.

2.1.2 - Nos edifícios e estabelecimentos podem não ter acesso através de um percurso acessível:

1) Os espaços em que se desenvolvem funções que podem ser realizadas em outros locais sem

prejuízo do bom funcionamento do edifício ou estabelecimento (exemplo: restaurante com dois

pisos em que no piso não acessível apenas se situam áreas suplementares para refeições);

2) Os espaços para os quais existem alternativas acessíveis adjacentes e com condições idênticas

(exemplo: num conjunto de cabines de prova de uma loja apenas uma necessita de ser acessível);

3) Os espaços de serviço que são utilizados exclusivamente por pessoal de manutenção e

reparação (exemplos: casa das máquinas de ascensores, depósitos de água, espaços para

equipamentos de aquecimento ou de bombagem de água, locais de concentração e recolha de

lixo, espaços de cargas e descargas);

4) Os espaços não utilizáveis (exemplo: desvãos de coberturas);

5) Os espaços e compartimentos das habitações, para os quais são definidas condições

específicas na secção 3.3.

2.1.3 - No caso de edifícios sujeitos a obras de construção ou reconstrução, o percurso acessível

deve coincidir com o percurso dos restantes utilizadores.

2.1.4 - No caso de edifícios sujeitos a obras de ampliação, alteração ou conservação, o percurso

acessível pode não coincidir integralmente com o percurso dos restantes utilizadores,

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Acessibilidade em Museus

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nomeadamente o acesso ao edifício pode fazer-se por um local alternativo à entrada/saída

principal.

2.1.5 - Os percursos acessíveis devem satisfazer o especificado no capítulo 4 e os espaços e

elementos que os constituem devem satisfazer o definido nas restantes secções do presente

capítulo.

Secção 2.2 - Átrios:

2.2.1 - Do lado exterior das portas de acesso aos edifícios e estabelecimentos deve ser possível

inscrever uma zona de manobra para rotação de 360º.

2.2.2 - Nos átrios interiores deve ser possível inscrever uma zona de manobra para rotação de

360º.

2.2.3 - As portas de entrada/saída dos edifícios e estabelecimentos devem ter um largura útil não

inferior a 0,87 m, medida entre a face da folha da porta quando aberta e o batente ou guarnição do

lado oposto; se a porta for de batente ou pivotante deve considerar-se a porta na posição aberta a

90º.

Secção 2.3 - Patamares, galerias e corredores:

2.3.1 - Os patamares, galerias e corredores devem possuir uma largura não inferior a 1,2 m.

2.3.2 - Podem existir troços dos patamares, galerias ou corredores com uma largura não inferior a

0,9 m, se o seu comprimento for inferior a 1,5 m e se não derem acesso a portas laterais de

espaços acessíveis.

2.3.3 - Se a largura dos patamares, galerias ou corredores for inferior a 1,5 m, devem ser

localizadas zonas de manobra que permitam a rotação de 360º ou a mudança de direcção de 180º

em T, conforme especificado nos n.os 4.4.1 e 4.4.2, de modo a não existirem troços do percurso

com uma extensão superior a 10 m.

2.3.4 - Se existirem corrimãos nos patamares, galerias ou corredores, para além de satisfazerem o

especificado na secção 4.11, devem ser instalados a uma altura do piso de 0,9 m e quando

interrompidos ser curvados na direcção do plano do suporte.

Secção 2.4 - Escadas:

2.4.1 - A largura dos lanços, patins e patamares das escadas não deve ser inferior a 1,2 m.

2.4.2 - As escadas devem possuir:

1) Patamares superiores e inferiores com uma profundidade, medida no sentido do movimento,

não inferior a 1,2 m;

2) Patins intermédios com uma profundidade, medida no sentido do movimento, não inferior a 0,7

m, se os desníveis a vencer, medidos na vertical entre o pavimento imediatamente anterior ao

primeiro degrau e o cobertor do degrau superior, forem superiores a 2,4 m.

2.4.3 - Os degraus das escadas devem ter:

1) Uma profundidade (cobertor) não inferior a 0,28 m;

2) Uma altura (espelho) não superior a 0,18 m;

3) As dimensões do cobertor e do espelho constantes ao longo de cada lanço;

4) A aresta do focinho boleada com um raio de curvatura compreendido entre 0,005 m e 0,01 m;

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5) Faixas antiderrapantes e de sinalização visual com uma largura não inferior a 0,04 m e

encastradas junto ao focinho dos degraus.

2.4.4 - O degrau de arranque pode ter dimensões do cobertor e do espelho diferentes das

dimensões dos restantes degraus do lanço, se a relação de duas vezes a altura do espelho mais

uma vez a profundidade do cobertor se mantiver constante.

2.4.5 - A profundidade do degrau (cobertor) deve ser medida pela superfície que excede a

projecção vertical do degrau superior; se as escadas tiverem troços curvos, deve garantir-se uma

profundidade do degrau não inferior ao especificado no n.º 2.4.3 em pelo menos dois terços da

largura da escada.

2.4.6 - Os degraus das escadas não devem possuir elementos salientes nos planos de

concordância entre o espelho e o cobertor.

2.4.7 - Os elementos que constituem as escadas não devem apresentar arestas vivas ou

extremidades projectadas perigosas.

2.4.8 - As escadas que vencerem desníveis superiores a 0,4 m devem possuir corrimãos de ambos

os lados.

2.4.9 - Os corrimãos das escadas devem satisfazer as seguintes condições:

1) A altura dos corrimãos, medida verticalmente entre o focinho dos degraus e o bordo superior do

elemento preensível, deve estar compreendida entre 0,85 m e 0,9 m;

2) No topo da escada os corrimãos devem prolongar-se pelo menos 0,3 m para além do último

degrau do lanço, sendo esta extensão paralela ao piso;

3) Na base da escada os corrimãos devem prolongar-se para além do primeiro degrau do lanço

numa extensão igual à dimensão do cobertor mantendo a inclinação da escada;

4) Os corrimãos devem ser contínuos ao longo dos vários lanços da escada.

2.4.10 - É recomendável que não existam degraus isolados nem escadas constituídas por menos

de três degraus, contados pelo número de espelhos; quando isto não for possível, os degraus

devem estar claramente assinalados com um material de revestimento de textura diferente e cor

contrastante com o restante piso.

2.4.11 - É recomendável que não existam escadas, mas quando uma mudança de nível for

inevitável, podem existir escadas se forem complementadas por rampas, ascensores ou

plataformas elevatórias.

Secção 2.5 - Rampas:

2.5.1 - As rampas devem ter a menor inclinação possível e satisfazer uma das seguintes situações

ou valores interpolados dos indicados:

1) Ter uma inclinação não superior a 6%, vencer um desnível não superior a 0,6 m e ter uma

projecção horizontal não superior a 10 m;

2) Ter uma inclinação não superior a 8%, vencer um desnível não superiora 0,4 m e ter uma

projecção horizontal não superior a 5 m.

2.5.2 - No caso de edifícios sujeitos a obras de alteração ou conservação, se as limitações de

espaço impedirem a utilização de rampas com uma inclinação não superior a 8%, as rampas

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Página 159

podem ter inclinações superiores se satisfizerem uma das seguintes situações ou valores

interpolados dos indicados:

1) Ter uma inclinação não superior a 10%, vencer um desnível nãosuperior a 0,2 m e ter uma

projecção horizontal não superior a 2 m;

2) Ter uma inclinação não superior a 12%, vencer um desnível não superior a 0,1 m e ter uma

projecção horizontal não superior a 0,83 m.

2.5.3 - Se existirem rampas em curva, o raio de curvatura não deve ser inferior a 3 m, medido no

perímetro interno da rampa, e a inclinação não deve ser superior a 8%.

2.5.4 - As rampas devem possuir uma largura não inferior a 1,2 m, excepto nas seguintes

situações:

1) Se as rampas tiverem uma projecção horizontal não superior a 5 m, podem ter uma largura não

inferior a 0,9 m;

2) Se existirem duas rampas para o mesmo percurso, podem ter uma largura não inferior a 0,9 m.

2.5.5 - As rampas devem possuir plataformas horizontais de descanso: na base e no topo de cada

lanço, quando tiverem uma projecção horizontal superior ao especificado para cada inclinação, e

nos locais em que exista uma mudança de direcção com um ângulo igual ou inferior a 90º.

2.5.6 - As plataformas horizontais de descanso devem ter uma largura não inferior à da rampa e ter

um comprimento não inferior a 1,5 m.

2.5.7 - As rampas devem possuir corrimãos de ambos os lados, excepto nas seguintes situações:

se vencerem um desnível não superior a 0,2 m podem não ter corrimãos, ou se vencerem um

desnível compreendido entre 0,2 m e 0,4 m e não tiverem uma inclinação superior a 6% podem ter

apenas corrimãos de um dos lados.

2.5.8 - Os corrimãos das rampas devem:

1) Prolongar-se pelo menos 0,3 m na base e no topo da rampa;

2) Ser contínuos ao longo dos vários lanços e patamares de descanso;

3) Ser paralelos ao piso da rampa.

2.5.9 - Em rampas com uma inclinação não superior a 6%, o corrimão deve ter pelo menos um

elemento preênsil a uma altura compreendida entre 0,85 m e 0,95 m; em rampas com uma

inclinação superior a 6%, o corrimão deve ser duplo, com um elemento preênsil a uma altura

compreendida entre 0,7 m e 0,75 m e outro a uma altura compreendida entre 0,9 m e 0,95 m; a

altura do elemento preensível deve ser medida verticalmente entre o piso da rampa e o

seu bordo superior.

2.5.10 - O revestimento de piso das rampas, no seu início e fim, deve ter faixas com diferenciação

de textura e cor contrastante relativamente ao pavimento adjacente.

2.5.11 - As rampas e as plataformas horizontais de descanso com desníveis relativamente aos

pisos adjacentes superiores a 0,1 m e que vençam desníveis superiores a 0,3 m devem ser

ladeadas, em toda a sua extensão, de pelo menos um dos seguintes tipos de elementos de

protecção: rebordos laterais com uma altura não inferior a 0,05 m, paredes ou muretes sem

interrupções com extensão superior a 0,3 m, guardas com um espaçamento entre elementos

verticais não superior a 0,3 m, extensão lateral do pavimento da rampa com uma dimensão não

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inferior a 0,3 m do lado exterior ao plano do corrimão, ou outras barreiras com uma distância entre

o pavimento e o seu limite mais baixo não superior a 0,05 m.

Secção 2.6 - Ascensores:

2.6.1 - Os patamares diante das portas dos ascensores devem:

1) Ter dimensões que permitam inscrever zonas de manobra para rotação de 360º;

2) Possuir uma inclinação não superior a 2% em qualquer direcção;

3) Estar desobstruídos de degraus ou outros obstáculos que possam impedir ou dificultar a

manobra de uma pessoa em cadeira de rodas.

2.6.2 - Os ascensores devem:

1) Possuir cabinas com dimensões interiores, medidas entre os painéis da estrutura da cabina, não

inferiores a 1,1 m de largura por 1,4 m de profundidade;

2) Ter uma precisão de paragem relativamente ao nível do piso dos patamares não superior a

(mais ou menos) 0,02 m;

3) Ter um espaço entre os patamares e o piso das cabinas não superior a 0,035 m;

4) Ter pelo menos uma barra de apoio colocada numa parede livre do interior das cabinas situada

a uma altura do piso compreendida entre 0,875 m e 0,925 m e a uma distância da parede da

cabina compreendida entre 0,035 m e 0,05 m.

2.6.3 - As cabinas podem ter decorações interiores que se projectem dos painéis da estrutura da

cabina, se a sua espessura não for superior a 0,015 m.

2.6.4 - As portas dos ascensores devem:

1) No caso de ascensores novos, ser de correr horizontalmente e ter movimento automático;

2) Possuir uma largura útil não inferior a 0,8 m, medida entre a face da folha da porta quando

aberta e o batente ou guarnição do lado oposto;

3) Ter uma cortina de luz standard (com feixe plano) que imobilize as portas e o andamento da

cabina.

2.6.5 - Os dispositivos de comando dos ascensores devem:

1) Ser instalados a uma altura, medida entre o piso e o eixo do botão, compreendida entre 0,9 m e

1,2 m quando localizados nos patamares, e entre 0,9 m e 1,3 m quando localizados no interior das

cabinas;

2) Ter sinais visuais para indicam quando o comando foi registado;

3) Possuir um botão de alarme e outro de paragem de emergência localizados no interior das

cabinas.

Secção 2.7 - Plataformas elevatórias:

2.7.1 - As plataformas elevatórias devem possuir dimensões que permitam a sua utilização por um

indivíduo adulto em cadeira de rodas, e nunca inferiores a 0,75 m por 1 m.

2.7.2 - A precisão de paragem das plataformas elevatórias relativamente ao nível do piso do

patamar não deve ser superior a (mais ou menos) 0,02 m.

2.7.3 - Devem existir zonas livres para entrada/saída das plataformas elevatórias com uma

profundidade não inferior a 1,2 m e uma largura não inferior à da plataforma.

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2.7.4 - Se o desnível entre a plataforma elevatória e o piso for superior a 0,75m, devem existir

portas ou barras de protecção no acesso à plataforma; as portas ou barras de protecção devem

poder ser accionadas manualmente pelo utente.

2.7.5 - Todos os lados da plataforma elevatória, com excepção dos que permitem o acesso, devem

possuir anteparos com uma altura não inferior a 0,1 m.

2.7.6 - Caso as plataformas elevatórias sejam instaladas sobre escadas, devem ser rebatíveis de

modo a permitir o uso de toda a largura da escada quando a plataforma não está em uso.

2.7.7 - O controlo do movimento da plataforma elevatória deve estar colocado de modo a ser

visível e poder ser utilizado por um utente sentado na plataforma e sem a assistência de terceiros.

Secção 2.8 - Espaços para estacionamento de viaturas:

2.8.1 - O número de lugares reservados para veículos em que um dos ocupantes seja uma pessoa

com mobilidade condicionada deve ser pelo menos de:

1) Um lugar em espaços de estacionamento com uma lotação não superior a 10 lugares;

2) Dois lugares em espaços de estacionamento com uma lotação compreendida entre 11 e 25

lugares;

3) Três lugares em espaços de estacionamento com uma lotação compreendida entre 26 e 100

lugares;

4) Quatro lugares em espaços de estacionamento com uma lotação compreendida entre 101 e 500

lugares;

5) Um lugar por cada 100 lugares em espaços de estacionamento com uma lotação superior a 500

lugares.

2.8.2 - Os lugares de estacionamento reservados devem:

1) Ter uma largura útil não inferior a 2,5 m;

2) Possuir uma faixa de acesso lateral com uma largura útil não inferior a 1 m;

3) Ter um comprimento útil não inferior a 5 m;

4) Estar localizados ao longo do percurso acessível mais curto até à entrada/saída do espaço de

estacionamento ou do equipamento que servem;

5) Se existir mais de um local de entrada/saída no espaço de estacionamento, estar dispersos e

localizados perto dos referidos locais;

6) Ter os seus limites demarcados por linhas pintadas no piso em cor contrastante com a da

restante superfície;

7) Ser reservados por um sinal horizontal com o símbolo internacional de acessibilidade, pintado

no piso em cor contrastante com a da restante superfície e com uma dimensão não inferior a 1 m

de lado, e por um sinal vertical com o símbolo de acessibilidade, visível mesmo quando o veículo

se encontra estacionado.

2.8.3 - A faixa de acesso lateral pode ser partilhada por dois lugares de estacionamento reservado

contíguos.

2.8.4 - Os comandos dos sistemas de fecho/abertura automático (exemplos: barreiras, portões)

devem poder ser accionados por uma pessoa com mobilidade condicionada a partir do interior de

um automóvel.

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Página 162

Secção 2.9 - Instalações sanitárias de utilização geral:

2.9.1 - Os aparelhos sanitários adequados ao uso por pessoas com mobilidade condicionada,

designados de acessíveis, podem estar integrados numa instalação sanitária conjunta para

pessoas com e sem limitações de mobilidade, ou constituir uma instalação sanitária específica

para pessoas com mobilidade condicionada.

2.9.2 - Se existir uma instalação sanitária específica para pessoas com mobilidade condicionada,

esta pode servir para o sexo masculino e para o sexo feminino e deve estar integrada ou próxima

das restantes instalações sanitárias.

2.9.3 - Se os aparelhos sanitários acessíveis estiverem integrados numa instalação sanitária

conjunta, devem representar pelo menos 10% do número total de cada aparelho instalado e nunca

inferior a um.

2.9.4 - As sanitas acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:

1) A altura do piso ao bordo superior do assento da sanita deve ser de 0,45 m, admitindo-se uma

tolerância de (mais ou menos) 0,01 m;

2) Devem existir zonas livres, que satisfaçam ao especificado no n.º 4.1.1, de um dos lados e na

parte frontal da sanita;

3) Quando existir mais de uma sanita, as zonas livres de acesso devemestar posicionadas de

lados diferentes, permitindo o acesso lateral pela direita e pela esquerda;

4) Quando for previsível um uso frequente da instalação sanitária por pessoas com mobilidade

condicionada, devem existir zonas livres, que satisfaçam ao especificado no n.º 4.1.1, de ambos os

lados e na parte frontal;

5) Junto à sanita devem existir barras de apoio que satisfaçam uma das seguintes situações:

6) Se existirem barras de apoio lateral que sejam adjacentes à zona livre, devem ser rebatíveis na

vertical;

7) Quando se optar por acoplar um tanque de mochila à sanita, a instalação e o uso das barras de

apoio não deve ficar comprometido e o ângulo entre o assento da sanita e o tanque de água

acoplado deve ser superior a 90º.

2.9.5 - Quando a sanita acessível estiver instalada numa cabina devem ser satisfeitas as seguintes

condições:

1) O espaço interior deve ter dimensões não inferiores a 1,6 m de largura (parede em que está

instalada a sanita) por 1,7 m de comprimento;

2) É recomendável a instalação de um lavatório acessível que não interfira com a área de

transferência para a sanita;

3) No espaço que permanece livre após a instalação dos aparelhos sanitários deve ser possível

inscrever uma zona de manobra para rotação de 180º.

2.9.6 - Quando a sanita acessível estiver instalada numa cabina e for previsível um uso frequente

por pessoas com mobilidade condicionada devem ser satisfeitas as seguintes condições:

1) O espaço interior deve ter dimensões não inferiores a 2,2 m de largurapor 2,2 m de

comprimento;

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Página 163

2) Deve ser instalado um lavatório acessível que não interfira com a áreade transferência para a

sanita;

3) No espaço que permanece livre após a instalação dos aparelhos sanitários deve ser possível

inscrever uma zona de manobra para rotação de 360º.

2.9.7 - As banheiras acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:

1) Deve existir uma zona livre, que satisfaça ao especificado no n.º 4.1.1, localizada ao lado da

base da banheira e com um recuo de 0,3 m relativamente ao assento, de modo a permitir a

transferência de uma pessoa em cadeira de rodas;

2) A altura do piso ao bordo superior da banheira deve ser de 0,45 m, admitindo-se uma tolerância

de (mais ou menos) 0,01 m;

3) Deve ser possível instalar um assento na banheira localizado no seu interior ou deve existir uma

plataforma de nível no topo posterior que sirva de assento, com uma dimensão não inferior a 0,4m;

4) Se o assento estiver localizado no interior da banheira pode ser móvel, mas em uso deve ser

fixado seguramente de modo a não deslizar; 5) O assento deve ter uma superfície impermeável e

antiderrapante mas não excessivamente abrasiva;

6) Junto à banheira devem existir barras de apoio nas localizações e comas dimensões definidas

em seguida para cada uma das posições do assento:

2.9.8 - As bases de duche acessíveis devem permitir pelo menos uma das seguintes formas de

utilização por uma pessoa em cadeira de rodas:

1) A entrada para o interior da base de duche da pessoa na sua cadeira de rodas;

2) A transferência da pessoa em cadeira de rodas para um assento existente no interior da base

de duche.

2.9.9 - Se as bases de duche acessíveis não permitirem a entrada de uma pessoa em cadeira de

rodas ao seu interior, devem ser satisfeitas as seguintes condições:

1) Deve existir uma zona livre, que satisfaça ao especificado no n.º 4.1.1, localizada ao lado da

base de duche e com um recuo de 0,3 m relativamente ao assento, de modo a permitir a

transferência de uma pessoa em cadeira de rodas;

2) O vão de passagem entre a zona livre e o assento da base de duche deve ter uma largura não

inferior a 0,8 m;

3) Deve existir um assento no seu interior da base de duche;

4) A base de duche deve ter dimensões que satisfaçam uma das situações definidas em seguida:

5) Junto à base de duche devem ser instaladas barras de apoio de acordo com o definido em

seguida:

2.9.10 - Se as bases de duche acessíveis permitirem a entrada de uma pessoa em cadeira de

rodas ao seu interior, devem ser satisfeitas as seguintes condições:

1) O ressalto entre a base de duche e o piso adjacente não deve ser superior a 0,02 m;

2) O piso da base de duche deve ser inclinado na direcção do ponto de escoamento, de modo a

evitar que a água escorra para o exterior;

3) A inclinação do piso da base de duche não deve ser superior a 2%;

4) O acesso ao interior da base de duche não deve ter uma largura inferior a 0,8m;

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5) A base de duche deve ter dimensões que satisfaçam uma das situações definidas em seguida:

6) Junto à base de duche devem ser instaladas barras de apoio de acordo com o definido em

seguida:

2.9.11 - O assento da base de duche acessível deve satisfazer as seguintes condições:

1) O assento deve possuir uma profundidade não inferior a 0,4m e um comprimento não inferior a

0,7m;

2) Os cantos do assento devem ser arredondados;

3) O assento deve ser rebatível, sendo recomendável que seja articulado com o movimento para

cima;

4) Devem existir elementos que assegurem que o assento rebatível fica fixo quando estiver em

uso;

5) A superfície do assento deve ser impermeável e antiderrapante, mas não excessivamente

abrasiva;

6) Quando o assento estiver em uso, a altura do piso ao seu bordo superior deve ser de 0,45 m,

admitindo-se uma tolerância de (mais ou menos) 0,01 m.

2.9.12 - Os urinóis acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:

1) Devem estar assentes no piso ou fixos nas paredes com uma altura dopiso ao seu bordo inferior

compreendida entre 0,6 m e 0,65 m;

2) Deve existir uma zona livre de aproximação frontal ao urinol com dimensões que satisfaçam o

especificado na secção 4.1;

3) Se existir comando de accionamento da descarga, o eixo do botão deve estar a uma altura do

piso de 1m, admitindo-se uma tolerância de (mais ou menos) 0,02 m;

4) Devem existir barras verticais de apoio, fixadas com um afastamento de 0,3m do eixo do urinol,

a uma altura do piso de 0,75 m e com um comprimento não inferior a 0,7m.

2.9.13 - Os lavatórios acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:

1) Deve existir uma zona livre de aproximação frontal ao lavatório com dimensões que satisfaçam

o especificado na secção 4.1;

2) A altura do piso ao bordo superior do lavatório deve ser de 0,8 m, admitindo-se uma tolerância

de (mais ou menos) 0,02 m;

3) Sob o lavatório deve existir uma zona livre com uma largura não inferior a 0,7 m, uma altura não

inferior a 0,65 m e uma profundidade medida a partir do bordo frontal não inferior a 0,5 m;

4) Sob o lavatório não devem existir elementos ou superfícies cortantes ou abrasivas.

2.9.14 - Os espelhos colocados sobre lavatórios acessíveis devem satisfazer as seguintes

condições:

1) Se forem fixos na posição vertical, devem estar colocados com a base inferior da superfície

reflectora a uma altura do piso não superior a 0,9 m;

2) Se tiverem inclinação regulável, devem estar colocados com a base inferior da superfície

reflectora a uma altura do piso não superior a 1,1 m;

3) O bordo superior da superfície reflectora do espelho deve estar a uma altura do piso não inferior

a 1,8 m.

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2.9.15 - O equipamento de alarme das instalações sanitárias acessíveis deve satisfazer as

seguintes condições:

1) Deve estar ligado ao sistema de alerta para o exterior;

2) Deve disparar um alerta luminoso e sonoro;

3) Os terminais do equipamento de alarme devem estar indicados para utilização com luz e auto-

iluminados para serem vistos no escuro;

4) Os terminais do sistema de aviso podem ser botões de carregar, botões de puxar ou cabos de

puxar;

5) Os terminais do sistema de aviso devem estar colocados a uma altura do piso compreendida

entre 0,4 m e 0,6 m, e de modo a que possam ser alcançados por uma pessoa na posição deitada

no chão após uma queda ou por uma pessoa em cadeira de rodas.

2.9.16 - Para além do especificado na secção 4.11, as barras de apoio instaladas junto dos

aparelhos sanitários acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:

1) Podem ter formas, dimensões, modos de fixação e localizações diferentes das definidas, se

possuírem as superfícies de preensão nas localizações definidas ou ser for comprovado que

melhor se adequam às necessidades dos utentes;

2) Devem ter capacidade de suportar uma carga não inferior a 1,5 kN, aplicada em qualquer

sentido.

2.9.17 - Os controlos e mecanismos operáveis (controlos da torneira, controlos do escoamento,

válvulas de descarga da sanita) e os acessórios (suportes de toalhas, saboneteiras, suportes de

papel higiénico) dos aparelhos sanitários acessíveis devem satisfazer as seguintes condições:

1) Devem estar dentro das zonas de alcance definidas nos n.os 4.2.1 e 4.2.2, considerando uma

pessoa em cadeira de rodas a utilizar o aparelho e uma pessoa em cadeira de rodas estacionada

numa zona livre;

2) Devem poder ser operados por uma mão fechada, oferecer uma resistência mínima e não

requerer uma preensão firme nem rodar o pulso;

3) Não deve ser necessária uma força superior a 22 N para os operar;

4) O chuveiro deve ser do tipo telefone, deve ter um tubo com um comprimento não inferior a 1,5

m, e deve poder ser utilizado como chuveiro de cabeça fixo e como chuveiro de mão livre;

5) As torneiras devem ser do tipo monocomando e accionadas por alavanca;

6) Os controlos do escoamento devem ser do tipo de alavanca.

2.9.18 - Caso existam, as protecções de banheira ou bases de duche acessíveis devem satisfazer

as seguintes condições:

1) Não devem obstruir os controlos ou a zona de transferência das pessoas em cadeira de rodas;

2) Não devem ter calhas no piso ou nas zonas de transferências das pessoas em cadeira de

rodas;

3) Se tiverem portas, devem satisfazer o especificado na secção 4.9.

2.9.19 - O espaço que permanece livre após a instalação dos aparelhos sanitários acessíveis nas

instalações sanitárias deve satisfazer as seguintes condições:

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1) Deve ser possível inscrever uma zona de manobra, não afectada pelo movimento de abertura

da porta de acesso, que permita rotação de 360º;

2) As sanitas e bidés que tiverem rebordos elevados com uma altura ao piso não inferior a 0,25 m

podem sobrepor-se às zonas livres de manobra e de aproximação numa margem não superior a

0,1 m;

3) Os lavatórios que tenham uma zona livre com uma altura ao piso não inferior a 0,65 m podem

sobrepor-se às zonas livres de manobra e de aproximação numa margem não superior a 0,2 m;

4) A zona de manobra do espaço de higiene pessoal pode sobrepor-se à base de duche se não

existir uma diferença de nível do pavimento superior a 0,02 m.

2.9.20 - A porta de acesso a instalações sanitárias ou a cabinas onde sejam instalados aparelhos

sanitários acessíveis deve ser de correr ou de batente abrindo para fora.

Secção 2.10 - Vestiários e cabinas de prova:

2.10.1 - Em cada conjunto de vestiários ou cabinas de prova, pelo menos um deve satisfazer o

especificado nesta secção.

2.10.2 - Se a entrada/saída dos vestiários ou cabinas de prova se fizer por uma porta de abrir ou

de correr, o espaço interior deve ter dimensões que permitam inscrever uma zona de manobra

para rotação de 180º e que não se sobreponha ao movimento da porta.

2.10.3 - Se a entrada/saída dos vestiários ou cabinas de prova se fizer por um vão encerrado por

uma cortina, o vão deve ter uma largura não inferior a 0,8 m e o espaço interior deve ter

dimensões que permitam inscrever uma zona de manobra para rotação de 90º.

2.10.4 - No interior dos vestiários e cabinas de prova deve existir um banco que satisfaça as

seguintes condições:

1) Deve estar fixo à parede;

2) Deve ter uma dimensão de 0,4 m por 0,8 m;

3) O bordo superior do banco deve estar a uma altura do piso de 0,45 m, admitindo-se uma

tolerância de (mais ou menos) 0,02 m;

4) Deve existir uma zona livre que satisfaça o especificado na secção 4.1 de modo a permitir a

transferência lateral de uma pessoa em cadeira de rodas para o banco;

5) Deve ter uma resistência mecânica adequada às solicitações previsíveis;

6) Se for instalado em conjunto com bases de duche, em piscinas, ou outras zonas húmidas, deve

ter uma forma que impeça a acumulação de água sobre o banco e a superfície do banco deve ser

antiderrapante.

2.10.5 - Se existirem espelhos nos vestiários e cabinas de prova para as pessoas sem limitações

de mobilidade, então nos vestiários e cabinas de prova acessíveis deve existir um espelho com

uma largura não inferior a 0,45 m e uma altura não inferior a 1,3 m, montado de forma a permitir o

uso por uma pessoa sentada no banco e por uma pessoa de pé.

Secção 2.11 - Equipamentos de auto-atendimento:

2.11.1 - Nos locais em que forem previstos equipamentos de auto-atendimento, pelo menos um

equipamento para cada tipo de serviço deve satisfazer as seguintes condições:

1) Deve estar localizado junto a um percurso acessível;

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2) Deve existir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o

especificado na secção 4.1;

3) Se a aproximação ao equipamento de auto-atendimento for frontal, deve existir um espaço livre

com uma altura do piso não inferior a 0,7 m e uma profundidade não inferior a 0,3 m;

4) Os comandos e controlos devem estar localizados a uma altura do piso compreendida entre 0,8

m e 1,2 m, e a uma distância da face frontal externa do equipamento não superior a 0,3 m;

5) Os dispositivos para inserção e retirada de produtos devem estar localizados a uma altura do

piso compreendida entre 0,4 m e 1,2 m e a uma distância da face frontal externa do equipamento

não superior a 0,3 m;

6) As teclas numéricas devem seguir o mesmo arranjo do teclado, com a tecla do n.º 1 no canto

superior esquerdo e a tecla do n.º 5 no meio;

7) As teclas devem ser identificadas com referência táctil (exemplos: em alto-relevo ou braille).

Secção 2.12 - Balcões e guichés de atendimento:

2.12.1 - Nos locais em que forem previstos balcões ou guichés de atendimento, pelo menos um

deve satisfazer as seguintes condições:

1) Deve estar localizado junto a um percurso acessível;

2) Deve existir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o

especificado na secção 4.1;

3) Deve ter uma zona aberta ao público servindo para o atendimento com uma extensão não

inferior a 0,8 m e uma altura ao piso compreendida entre 0,75 m e 0,85 m.

Secção 2.13 - Telefones de uso público:

2.13.1 - Nos locais em que forem previstos telefones de uso público, pelo menos um deve

satisfazer as seguintes condições:

1) Estar localizado junto a um percurso acessível;

2) Possuir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o

especificado na secção 4.1;

3) Ter a ranhura para as moedas ou para o cartão, bem como o painel demarcação de números, a

uma altura do piso compreendida entre 1 m e 1,3 m;

4) Estar suspenso, de modo a possuir uma zona livre com uma largura não inferior a 0,7 m e uma

altura ao piso não inferior a 0,65 m;

5) Utilizar números do teclado com referência táctil (exemplos: em altorelevo ou braille).

Secção 2.14 - Bateria de receptáculos postais:

2.14.1 - A bateria de receptáculos postais deve satisfazer as seguintes condições:

1) Deve estar localizada junto a um percurso acessível;

2) Deve existir uma zona livre que permita a aproximação frontal ou lateral de acordo com o

especificado na secção 4.1;

3) Os receptáculos postais devem estar colocados a uma altura do piso não inferior a 0,6 m e não

superior a 1,4 m.

Capítulo 3

Edifícios, estabelecimentos e instalações com usos específicos:

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Secção 3.1 - Disposições específicas:

3.1.1 - Para além das disposições gerais definidas no capítulo anterior, devem ser aplicadas as

disposições deste capítulo aos edifícios, estabelecimentos e instalações com determinados usos.

Secção 3.2 - Edifícios de habitação - espaços comuns:

3.2.1 - Nos edifícios de habitação com um número de pisos sobrepostos inferior a cinco, e com

uma diferença de cotas entre pisos utilizáveis não superior a 11,5 m, incluindo os pisos destinados

a estacionamento, a arrecadações ou a outros espaços de uso comum (exemplo: sala de

condóminos), podem não ser instalados meios mecânicos de comunicação vertical alternativos às

escadas entre o piso do átrio principal de entrada/saída e os restantes pisos.

3.2.2 - Nos edifícios de habitação em que não sejam instalados durante a construção meios

mecânicos de comunicação vertical alternativos às escadas, deve ser prevista no projecto a

possibilidade de todos os pisos serem servidos por meios mecânicos de comunicação vertical

instalados a posteriori, nomeadamente:

1) Plataformas elevatórias de escada ou outros meios mecânicos de comunicação vertical, no caso

de edifícios com dois pisos;

2) Ascensores de cabina que satisfaçam o especificado na secção 2.6, no caso de edifícios com

três e quatro pisos.

3.2.3 - A instalação posterior dos meios mecânicos de comunicação vertical referidos no n.º 3.2.2

deve poder ser realizada afectando exclusivamente as partes comuns dos edifícios de habitação e

sem alterar as fundações, a estrutura ou as instalações existentes; devem ser explicitadas nos

desenhos do projecto de licenciamento as alterações que é necessário realizar para a instalação

posterior dos referidos meios mecânicos.

3.2.4 - Se os edifícios de habitação possuírem ascensor e espaços de estacionamento ou

arrecadação em cave para uso dos moradores das habitações, todos os pisos dos espaços de

estacionamento e das arrecadações devem ser servidos pelo ascensor.

3.2.5 - Nos edifícios de habitação é recomendável que o percurso acessível entre o átrio de

entrada e as habitações situadas no piso térreo se realize sem recorrer a meios mecânicos de

comunicação vertical.

3.2.6 - Em espaços de estacionamento reservados ao uso habitacional, devem ser satisfeitas as

seguintes condições:

1) O número de lugares reservados para veículos de pessoa com mobilidade condicionada pode

não satisfazer o especificado no n.º 2.8.1, desde que não seja inferior a: um lugar em espaços de

estacionamento com uma lotação inferior a 50 lugares; dois lugares em espaços de

estacionamento com uma lotação compreendida entre 51 e 200 lugares; um lugar por cada 100

lugares em espaços de estacionamento com uma lotação superior a 200 lugares;

2) Podem não existir lugares de estacionamento reservados para pessoas com mobilidade

condicionada em espaços de estacionamento com uma lotação inferior a 13 lugares;

3) Os lugares reservados para pessoas com mobilidade condicionada devem constituir um lugar

supletivo a localizar no espaço comum do edifício.

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3.2.7 - Os patamares que dão acesso às portas dos fogos devem permitir inscrever uma zona de

manobra para rotação de 180º.

Secção 3.3 - Edifícios de habitação - habitações:

3.3.1 - Nos espaços de entrada das habitações deve ser possível inscrever uma zona de manobra

para rotação de 360º.

3.3.2 - Os corredores e outros espaços de circulação horizontal das habitações devem ter uma

largura não inferior a 1,1 m; podem existir troços dos corredores e de outros espaços de circulação

horizontal das habitações com uma largura não inferior a 0,9 m, se tiverem uma extensão não

superior a 1,5 m e se não derem acesso lateral a portas de compartimentos.

3.3.3 - As cozinhas das habitações devem satisfazer as seguintes condições:

1) Após a instalação das bancadas deve existir um espaço livre que permita inscrever uma zona

de manobra para a rotação de 360º;

2) Se as bancadas tiverem um soco de altura ao piso não inferior a 0,3 m podem projectar-se

sobre a zona de manobra uma até 0,1 m de cada um dos lados;

3) A distância entre bancadas ou entre as bancadas e as paredes não deve ser inferior a 1,2 m.

3.3.4 - Em cada habitação deve existir pelo menos uma instalação sanitária que satisfaça as

seguintes condições:

1) Deve ser equipada com, pelo menos, um lavatório, uma sanita, um bidé e uma banheira;

2) Em alternativa à banheira, pode ser instalada uma base de duche com 0,8 m por 0,8 m desde

que fique garantido o espaço para eventual instalação da banheira;

3) A disposição dos aparelhos sanitários e as características das paredes devem permitir a

colocação de barras de apoio caso os moradores o pretendam de acordo com o especificado no

n.º 3) do n.º 2.9.4 para as sanitas, no n.º 5) do n.º 2.9.7 para a banheira e nos n.os 5) dos n.os

2.9.9 e 2.9.10 para a base de duche;

4) As zonas de manobra e faixas de circulação devem satisfazer o especificado no n.º 2.9.19.

3.3.5 - Se existirem escadas nas habitações que dêem acesso a compartimentos habitáveis e se

não existirem rampas ou dispositivos mecânicos de elevação alternativos, devem ser satisfeitas as

seguintes condições:

1) A largura dos lanços, patamares e patins não deve ser inferior a 1 m;

2) Os patamares superior e inferior devem ter uma profundidade, medida no sentido do

movimento, não inferior a 1,2 m.

3.3.6 - Se existirem rampas que façam parte do percurso de acesso a compartimentos habitáveis,

devem satisfazer o especificado na secção 2.5, com excepção da largura que pode ser não inferior

a 0,9 m.

3.3.7 - Os pisos e os revestimentos das habitações devem satisfazer o especificado na secção 4.7

e na secção 4.8; se os fogos se organizarem em mais de um nível, pode não ser cumprida esta

condição desde que exista pelo menos um percurso que satisfaça o especificado na secção 4.7 e

na secção 4.8 entre a porta de entrada/saída e os seguintes compartimentos:

1) Um quarto, no caso de habitações com lotação superior a cinco pessoas;

2) Uma cozinha conforme especificado no n.º 3.3.3;

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3) Uma instalação sanitária conforme especificado no n.º 3.3.4.

3.3.8 - Os vãos de entrada/saída do fogo, bem como de acesso a compartimentos, varandas,

terraços e arrecadações, devem satisfazer o especificado na secção 4.9.

3.3.9 - Os corrimãos e os comandos e controlos devem satisfazer o especificado respectivamente

na secção 4.11 e na secção 4.12.

Secção 3.4 - Recintos e instalações desportivas:

3.4.1 - Nos balneários, pelo menos uma das cabinas de duche para cada sexo deve satisfazer o

especificado nos n.os 2.9.7, 2.9.8, 2.9.9, 2.9.10, 2.9.11, 2.9.16 e 2.9.17.

3.4.2 - Nos vestiários devem ser satisfeitas as seguintes condições:

1) Deve existir pelo menos um conjunto de cabides fixos e cacifos localizados de modo a permitir o

alcance por uma pessoa em cadeira de rodas de acordo com o especificado na secção 4.2;

2) Após a instalação do equipamento, deve existir pelo menos um percurso que satisfaça o

especificado na secção 4.3 e na secção 4.4.

3.4.3 - Nas piscinas deve existir pelo menos um acesso à água por rampa ou por meios

mecânicos; os meios mecânicos podem estar instalados ou ser amovíveis.

3.4.4 - As zonas pavimentadas adjacentes ao tanque da piscina, bem como as escadas e rampas

de acesso, devem ter revestimento antiderrapante.

3.4.5 - O acabamento das bordas da piscina, dos degraus de acesso e de outros elementos

existentes na piscina deve ser boleado.

3.4.6 - As escadas e rampas de acesso aos tanques das piscinas devem ter corrimãos duplos de

ambos os lados, situados a uma altura do piso de 0,75 m e 0,9 m.

3.4.7 - Os locais destinados à assistência em recintos e instalações desportivas devem satisfazer o

especificado na secção 3.6.

Secção 3.5 - Edifícios e instalações escolares e de formação:

3.5.1 - As passagens exteriores entre edifícios devem ser cobertas.

3.5.2 - A largura dos corredores não deve ser inferior a 1,8 m.

3.5.3 - Nos edifícios com vários pisos destinados aos formandos devem existir acessos alternativos

às escadas, por ascensores e ou rampas; em edifícios existentes, se não for possível satisfazer

esta condição, deve existir pelo menos uma sala de cada tipo acessível de nível, por ascensor ou

por rampa.

Secção 3.6 - Salas de espectáculos e outras instalações para actividades sócio-culturais:

3.6.1 - O número de lugares especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas não deve

ser inferior ao definido em seguida:

1) Um lugar, no caso de salas ou recintos com uma capacidade até 25 lugares;

2) Dois lugares, no caso de salas ou recintos com uma capacidade entre 26 e 50 lugares;

3) Três lugares, no caso de salas ou recintos com uma capacidade entre 51 e 100 lugares;

4) Quatro lugares, no caso de salas ou recintos com uma capacidade entre 101 e 200 lugares;

5) 2% do número total de lugares, no caso de salas ou recintos com capacidade entre 201 e 500

lugares;

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6) 10 lugares mais 1% do que exceder 500 lugares, no caso de salas ou recintos com capacidade

entre 501 e 1000 lugares;

7) 15 lugares mais 0,1% do que exceder 1000, no caso de salas ou recintos com capacidade

superior a 1000 lugares.

3.6.2 - Os lugares especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas devem:

1) Ser distribuídos por vários pontos da sala;

2) Estar localizados numa área de piso horizontal;

3) Proporcionar condições de conforto, segurança, visibilidade e acústica pelo menos equivalentes

às dos restantes espectadores;

4) Ter uma zona livre para a permanência com uma dimensão não inferior a 0,8 m por 1,2 m;

5) Ter uma margem livre de 0,3 m à frente e atrás da zona livre para a permanência;

6) Estar recuados 0,3 m em relação ao lugar ao lado, de modo que a pessoa em cadeira de rodas

e os seus eventuais acompanhantes fiquem lado a lado;

7) Ter um lado totalmente desobstruído contíguo a um percurso acessível.

3.6.3 - Cada lugar especialmente destinado a pessoas em cadeiras de rodas deve estar junto de

pelo menos um lugar para acompanhante sem limitações de mobilidade.

3.6.4 - Os lugares especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas podem ser

ocupados por cadeiras desmontáveis quando não sejam necessários.

3.6.5 - No caso de edifícios sujeitos a obras de alteração ou conservação, os lugares

especialmente destinados a pessoas em cadeiras de rodas podem ser agrupados, se for

impraticável a sua distribuição por todo o recinto.

Secção 3.7 - Postos de abastecimento de combustível:

3.7.1 - Em cada posto de abastecimento de combustível deve existir pelo menos uma bomba

acessível, ou um serviço que providencie o abastecimento do veículo caso uma pessoa com

mobilidade condicionada o solicite.

3.7.2 - Uma bomba de abastecimento de combustível é acessível se todos os dispositivos de

utilização estiverem localizados de modo a permitirem:

1) A aproximação por uma pessoa em cadeira de rodas de acordo com o especificado na secção

4.1;

2) O alcance por uma pessoa em cadeira de rodas de acordo com o especificado na secção 4.2.

Capítulo 4

Percurso acessível:

Secção 4.1 - Zonas de permanência:

4.1.1 - A zona livre para o acesso e a permanência de uma pessoa em cadeira de rodas deve ter

dimensões que satisfaçam o definido em seguida:

4.1.2 - A zona livre deve ter um lado totalmente desobstruído contíguo ou sobreposto a um

percurso acessível.

4.1.3 - Se a zona livre estiver situada num recanto que confina a totalidade ou parte de três dos

seus lados numa extensão superior ao indicado, deve existir um espaço de manobra adicional

conforme definido em seguida:

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Secção 4.2 - Alcance:

4.2.1 - Se a zona livre permitir a aproximação frontal, os objectos ao alcance de uma pessoa em

cadeira de rodas devem situar-se dentro dos intervalos definidos em seguida:

4.2.2 - Se a zona livre permitir a aproximação lateral, os objectos ao alcance de

uma pessoa em cadeira de rodas devem situar-se dentro dos intervalos definidos em seguida:

Secção 4.3 - Largura livre:

4.3.1 - Os percursos pedonais devem ter em todo o seu desenvolvimento um canal de circulação

contínuo e desimpedido de obstruções com uma largura não inferior a 1,2 m, medida ao nível do

pavimento.

4.3.2 - Devem incluir-se nas obstruções referidas no n.º 4.3.1 o mobiliário urbano, as árvores, as

placas de sinalização, as bocas-de-incêndio, as caleiras sobrelevadas, as caixas de electricidade,

as papeleiras ou outros elementos que bloqueiem ou prejudiquem a progressão das pessoas.

4.3.3 - Podem existir troços dos percursos pedonais com uma largura livre inferior ao especificado

no n.º 4.3.1, se tiverem dimensões que satisfaçam o definido em seguida:

Secção 4.4 - Zonas de manobra:

4.4.1 - Se nos percursos pedonais forem necessárias mudanças de direcção de uma pessoa em

cadeira de rodas sem deslocamento, as zonas de manobra devem ter dimensões que satisfaçam o

definido em seguida:

4.4.2 - Se nos percursos pedonais forem necessárias mudanças de direcção de uma pessoa em

cadeira de rodas com deslocamento, as zonas de manobra devem ter dimensões que satisfaçam o

definido em seguida:

Secção 4.5 - Altura livre:

4.5.1 - A altura livre de obstruções em toda a largura dos percursos não deve ser inferior a 2 m nos

espaços encerrados e 2,4 m nos espaços não encerrados.

4.5.2 - No caso das escadas, a altura livre deve ser medida verticalmente entre o focinho dos

degraus e o tecto e, no caso das rampas, a altura livre deve ser medida verticalmente entre o piso

da rampa e o tecto.

4.5.3 - Devem incluir-se nas obstruções referidas no n.º 4.5.1 as árvores, as placas de sinalização,

os difusores sonoros, os toldos ou outros elementos que bloqueiem ou prejudiquem a progressão

das pessoas.

4.5.4 - Os corrimãos ou outros elementos cuja projecção não seja superior a 0,1m podem

sobrepor-se lateralmente, de um ou de ambos os lados, à largura livre das faixas de circulação ou

aos espaços de manobra dos percursos acessíveis.

4.5.5 - Se a altura de uma área adjacente ao percurso acessível for inferior a 2 m, deve existir uma

barreira para avisar os peões.

Secção 4.6 - Objectos salientes:

4.6.1 - Se existirem objectos salientes das paredes:

1) Não devem projectar-se mais de 0,1 m da parede, se o seu limite inferior estiver a uma altura do

piso compreendida entre 0,7 m e 2 m;

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2) Podem projectar-se a qualquer dimensão, se o seu limite inferior estiver a uma altura do piso

não superior a 0,7 m.

4.6.2 - Se existirem objectos salientes assentes em pilares ou colunas separadas de outros

elementos:

1) Não devem projectar-se mais de 0,3 m dos suportes, se o seu limite inferior estiver a uma altura

do piso compreendida entre 0,7 m e 2 m;

2) Podem projectar-se a qualquer dimensão, se o seu limite inferior estiver a uma altura do piso

não superior a 0,7 m.

4.6.3 - Os objectos salientes que se projectem mais de 0,1 m ou estiverem a uma altura do piso

inferior a 0,7 m devem ser considerados ao determinar a largura livre das faixas de circulação ou

dos espaços de manobra.

Secção 4.7 - Pisos e seus revestimentos:

4.7.1 - Os pisos e os seus revestimentos devem ter uma superfície:

1) Estável - não se desloca quando sujeita às acções mecânicas decorrentes do uso normal;

2) Durável - não é desgastável pela acção da chuva ou de lavagens frequentes;

3) Firme - não é deformável quando sujeito às acções mecânicas decorrentes do uso normal;

4) Contínua - não possui juntas com uma profundidade superior a 0,005m.

4.7.2 - Os revestimentos de piso devem ter superfícies com reflectâncias correspondentes a cores

nem demasiado claras nem demasiado escuras e com acabamento não polido; é recomendável

que a reflectância média das superfícies dos revestimentos de piso nos espaços encerrados esteja

compreendida entre 15% e 40%.

4.7.3 - Se forem utilizados tapetes, passadeiras ou alcatifas no revestimento do piso, devem ser

fixos, possuir um avesso firme e uma espessura não superior a 0,015 m descontando a parte

rígida do suporte; as bordas devem estar fixas ao piso e possuir uma calha ou outro tipo de fixação

em todo o seu comprimento; deve ser assegurado que não existe a possibilidade de enrugamento

da superfície; o desnível para o piso adjacente não deve ser superior a 0,005 m, pelo que podem

ser embutidos no piso.

4.7.4 - Se existirem grelhas, buracos ou frestas no piso (exemplos: juntas de dilatação, aberturas

de escoamento de água), os espaços não devem permitir a passagem de uma esfera rígida com

um diâmetro superior a 0,02 m; se os espaços tiverem uma forma alongada, devem estar

dispostos de modo que a sua dimensão mais longa seja perpendicular à direcção dominante da

circulação.

4.7.5 - A inclinação dos pisos e dos seus revestimentos deve ser:

1) Inferior a 5% na direcção do percurso, com excepção das rampas;

2) Não superior a 2% na direcção transversal ao percurso.

4.7.6 - Os troços de percursos pedonais com inclinação igual ou superior a 5% devem ser

considerados rampas e satisfazer o especificado na secção 2.5.

4.7.7 - Os revestimentos de piso de espaços não encerrados ou de espaços em que exista o uso

de água (exemplos: instalações sanitárias, cozinhas, lavandaria) devem:

1) Garantir boa aderência mesmo na presença de humidade ou água;

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2) Ter boas qualidades de drenagem superficial e de secagem;

3) Ter uma inclinação compreendida entre 0,5% e 2% no sentido de escoamento das águas.

Secção 4.8 - Ressaltos no piso:

4.8.1 - As mudanças de nível abruptas devem ser evitadas (exemplos: ressaltos de soleira,

batentes de portas, desníveis no piso, alteração do material de revestimento, degraus, tampas de

caixas de inspecção e visita).

4.8.2 - Se existirem mudanças de nível, devem ter um tratamento adequado à sua altura:

1) Com uma altura não superior a 0,005 m, podem ser verticais e sem tratamento do bordo;

2) Com uma altura não superior a 0,02 m, podem ser verticais com o bordo boleado ou chanfrado

com uma inclinação não superior a 50%;

3) Com uma altura superior a 0,02 m, devem ser vencidas por uma rampa ou por um dispositivo

mecânico de elevação.

Secção 4.9 - Portas:

4.9.1 - Os vãos de porta devem possuir uma largura útil não inferior a 0,77 m, medida entre a face

da folha da porta quando aberta e o batente ou guarnição do lado oposto; se a porta for de batente

ou pivotante, deve considerar-se a porta na posição aberta a 90º.

4.9.2 - Os vãos de porta devem ter uma altura útil de passagem não inferior a 2m.

4.9.3 - Os vãos de porta cujas ombreiras ou paredes adjacentes tenham uma profundidade

superior a 0,6 m devem satisfazer o especificado no n.º 4.3.1.

4.9.4 - Podem existir portas giratórias, molinetes ou torniquetes se existir uma porta ou passagem

acessível, alternativa, contígua e em uso.

4.9.5 - Se existirem portas com duas folhas operadas independentemente, pelo menos uma delas

deve satisfazer o especificado no n.º 4.9.1.

4.9.6 - As portas devem possuir zonas de manobra desobstruídas e de nível com dimensões que

satisfaçam o definido em seguida:

4.9.7 - No caso de edifícios sujeitos a obras de alteração ou conservação, podem não existir zonas

de manobra desobstruídas com as dimensões definidas no n.º 4.9.6 se a largura útil de passagem

da porta for aumentada para compensar a dificuldade do utente se posicionar perpendicularmente

ao vão da porta.

4.9.8 - Se nas portas existirem ressaltos de piso, calhas elevadas, batentes ou soleiras, não devem

ter uma altura, medida relativamente ao piso adjacente, superior a 0,02 m.

4.9.9 - Os puxadores, as fechaduras, os trincos e outros dispositivos de operação das portas

devem oferecer uma resistência mínima e ter uma forma fácil de agarrar com uma mão e que não

requeira uma preensão firme ou rodar o pulso; os puxadores em forma de maçaneta não devem

ser utilizados.

4.9.10 - Os dispositivos de operação das portas devem estar a uma altura do piso compreendida

entre 0,8 m e 1,1 m e estar a uma distância do bordo exterior da porta não inferior a 0,05 m.

4.9.11 - Em portas de batente deve ser prevista a possibilidade de montar uma barra horizontal fixa

a uma altura do piso compreendida entre 0,8 m e 1,1 m e com uma extensão não inferior a 0,25 m.

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4.9.12 - Se as portas forem de correr, o sistema de operação deve estar exposto e ser utilizável de

ambos os lados, mesmo quando estão totalmente abertas.

4.9.13 - A força necessária para operar as portas interiores, puxando ou empurrando, não deve ser

superior a 22 N, excepto no caso de portas de segurança contra incêndio, em que pode ser

necessária uma força superior.

4.9.14 - As portas e as paredes com grandes superfícies envidraçadas devem ter marcas de

segurança que as tornem bem visíveis, situadas a uma altura do piso compreendida entre 1,2 m e

1,5 m.

Secção 4.10 - Portas de movimento automático:

4.10.1 - As portas podem ter dispositivos de fecho automático, desde que estes permitam controlar

a velocidade de fecho.

4.10.2 - Podem ser utilizadas portas de movimento automático, activadas por detectores de

movimento ou por dispositivos de operação (exemplos: tapete ou interruptores).

4.10.3 - As portas de movimento automático devem ter corrimãos de protecção, possuir sensores

horizontais ou verticais e estar programadas para permanecer totalmente abertas até a zona de

passagem estar totalmente desimpedida.

Secção 4.11 - Corrimãos e barras de apoio:

4.11.1 - Os corrimãos e as barras de apoio devem ter um diâmetro ou largura das superfícies de

preensão compreendido entre 0,035 m e 0,05 m, ou ter uma forma que proporcione uma superfície

de preensão equivalente.

4.11.2 - Se os corrimãos ou as barras de apoio estiverem colocados junto de uma parede ou dos

suportes, o espaço entre o elemento e qualquer superfície adjacente não deve ser inferior a

0,035m.

4.11.3 - Se os corrimãos ou as barras de apoio estiverem colocados em planos recuados

relativamente à face das paredes, a profundidade do recuo não deve ser superior a 0,08 m e o

espaço livre acima do topo superior do corrimão não deve ser inferior a 0,3 m.

4.11.4 - Os corrimãos, as barras de apoio e as paredes adjacentes não devem possuir superfícies

abrasivas, extremidades projectadas perigosas ou arestas vivas.

4.11.5 - Os elementos preênseis dos corrimãos e das barras de apoio não devem rodar dentro dos

suportes, ser interrompidos pelos suportes ou outras obstruções ou ter um traçado ou materiais

que dificultem ou impeçam o deslizamento da mão.

4.11.6 - Os corrimãos e as barras de apoio devem possuir uma resistência mecânica adequada às

solicitações previsíveis e devem ser fixos a superfícies rígidas e estáveis.

Secção 4.12 - Comandos e controlos:

4.12.1 - Os comandos e controlos (exemplos: botões, teclas e outros elementos similares) devem:

1) Estar situados de modo que exista uma zona livre para operação que satisfaça o especificado

na secção 4.1;

2) Estar a uma altura, medida entre o nível do piso e o eixo do comando, que satisfaça o

especificado na secção 4.2;

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3) Ter uma forma fácil de agarrar com uma mão e que não requeira uma preensão firme ou rodar o

pulso;

4) Poder ser operados sem ser requerida uma força superior a 22 N;

5) Ter pelo menos uma das suas dimensões não inferior a 0,02 m.

4.12.2 - Os botões de campainha, os comutadores de luz e os botões do sistema de comando dos

ascensores e plataformas elevatórias devem ser indicados por dispositivo luminoso de presença e

possuir identificação táctil (exemplos: em alto-relevo ou em braille).

4.12.3 - Os sistemas de comando dos ascensores e das plataformas elevatórias não devem estar

trancados nem dependentes de qualquer tipo de chave ou cartão.

4.12.4 - Podem existir comandos e controlos que não satisfaçam o especificado nesta secção se

as características dos equipamentos assim o determinarem ou se os sistemas eléctricos, de

comunicações ou outros não forem para uso dos utentes.

Secção 4.13 - Elementos vegetais:

4.13.1 - As caldeiras das árvores existentes nos percursos acessíveis e situadas ao nível do piso

devem ser revestidas por grelhas de protecção ou devem estar assinaladas com um separador

com uma altura não inferior a 0,3 m que permita a sua identificação por pessoas com deficiência

visual.

4.13.2 - As grelhas de revestimento das caleiras das árvores de percursos acessíveis devem

possuir características de resistência mecânica e fixação que inviabilizem a remoção ou a

destruição por acções de vandalismo, bem como satisfazer o especificado no n.º 4.7.4.

4.13.3 - Nas áreas adjacentes aos percursos acessíveis não devem ser utilizados elementos

vegetais com as seguintes características: com espinhos ou que apresentem elementos

contundentes; produtoras de substâncias tóxicas; que desprendam muitas folhas, flores, frutos ou

substâncias que tornem o piso escorregadio, ou cujas raízes possam danificar o piso.

4.13.4 - Os elementos da vegetação (exemplos: ramos pendentes de árvores, galhos projectados

de arbustos) e suas protecções (exemplos: muretes, orlas, grades) não devem interferir com os

percursos acessíveis, satisfazendo para o efeito o especificado na secção 4.5 e na secção 4.6.

Secção 4.14 - Sinalização e orientação:

4.14.1 - Deve existir sinalização que identifique e direccione os utentes para entradas/saídas

acessíveis, percursos acessíveis, lugares de estacionamento reservados para pessoas com

mobilidade condicionada e instalações sanitárias de utilização geral acessíveis.

4.14.2 - Caso um percurso não seja acessível, a sinalização deve indicá-lo.

4.14.3 - O símbolo internacional de acessibilidade consiste numa figura estilizada de uma pessoa

em cadeira de rodas, conforme indicado em seguida:

4.14.4 - Se existirem obras nos percursos acessíveis que prejudiquem as condições de

acessibilidade definidas, deve ser salvaguardada a integridade das pessoas pela colocação de

barreiras devidamente sinalizadas por avisos, cores contrastantes e iluminação nocturna.

4.14.5 - Para assegurar a legibilidade a sinalização deve possuir as seguintes características:

1) Estar localizada de modo a ser facilmente vista, lida e entendida por um utente de pé ou

sentado;

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Acessibilidade em Museus

Página 177

2) Ter uma superfície anti-reflexo;

3) Possuir caracteres e símbolos com cores que contrastem com o fundo;

4) Conter caracteres ou símbolos que proporcionem o adequado entendimento da mensagem.

4.14.6 - Nos edifícios, a identificação do número do piso deve possuir as seguintes características:

1) Ser identificado por um número arábico;

2) Estar colocada centrada a uma altura do piso de 1,5 m, numa parede do patamar das escadas

ou, se existir uma porta de acesso às escadas, do lado do puxador a uma distância da ombreira

não superior a 0,3 m;

3) Utilizar caracteres com uma altura não inferior a 0,06 m, salientes do suporte entre 0,005 m e

0,007 m, espessos (tipo negrito) e de cor contrastante com o fundo onde são aplicados.

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Acessibilidade em Museus

Página 178

Anexo II

Entrevistas

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Acessibilidade em Museus

Página 179

Museu Nacional de Soares dos Reis

Tal como já falamos, considera a acessibilidade museológica importante. E há sempre o nível

físico, tal como o de conteúdo, que por vezes são um bocadinho esquecidos, as pessoas dão

muita importância às barreiras físicas e depois conteúdo, por exemplo, o plasma (da entrada de

uma das sala de exposição) é muito bom a esse nível…

E os conteúdos, neste momento, cada vez mais temos de os considerar, o que está em exposição

permanente, como o que é de exposição temporária, que as pessoas associam ao museu, quando

vêm (cá). Mas também aquilo que se vai fazendo no Museu, que se vai passando no Museu em

paralelo com aquilo que está estático, não é? E, portanto, é difícil conseguirmos atingir todos os

públicos. Para o exterior, só com publicidade agressiva, digamos. Nós com a falta de meios que

temos, eu penso que nesse aspecto, na questão da acessibilidade, os museus, têm dificuldades

acrescidas por esse lado, porque têm muita, nós pelo menos sentimos isso, muita dificuldade de

acesso a meios de informação.

Os custos em euros que isso tem, e por outro lado por não termos staffs capazes de preparar a

informação, eu penso que a acessibilidade tem muito a ver também com a maneira como nós

comunicamos. E nós se estamos de facto preparados e penso que nos museus, neste museu, há

gente claramente preparada e capaz de transmitir, da forma mais correcta, para cada público, para

o público-alvo, como se costuma dizer, tem essa sensibilidade e as coisas são feitas devidamente,

quer em termos escritos, quer em termos de acompanhamento, ou de visitas guiadas, de

acolhimento a visitas. Penso que nesse aspecto há uma adequação da linguagem mas há ainda

uma dificuldade muito grande, que eu sinto na pele, porque acabo por ser eu a fazer as coisas, eu

com umas das pessoas que trabalham comigo, normalmente ao fim da tarde e ao fim de semana,

quando podemos, que é o adequar à linguagem da divulgação para o exterior, para competir com

todo o tipo de informações com que as pessoas são bombardeadas.

É um bocadinho de marketing…

O marketing… Nós não temos preparação, não temos staff contemplando essas pessoas e

portanto andamos um bocado às apalpadelas a faze-lo. Eu aí acho que há uma franca

impreparação nossa.

Por outro lado, neste museu, há uma falha grande, ainda, que é a questão das traduções… temos

as legendas todas preparadas para mas depois como queremos alterar o percurso da exposição

permanente não achamos oportuno e uma coisa está a atrasar a outra e não temos, ainda, as

legendas traduzidas, o que é uma falha nossa, muito grande.

E guias, têm algum guia?

Temos. Temos um roteiro em inglês e um roteiro em português. Mas é um roteiro genérico.

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Acessibilidade em Museus

Página 180

Não temos ainda um áudio-guia, também, estamos a trabalhar nele… há muita coisa a caminho, o

que não é mau (risos).

Claro, exactamente. Antes estar a caminho de… não é? (risos) Visitantes por mês, qual é, mais ou

menos, a média de visitantes?

Andamos à volta dos 5000 (cinco mil).

Desses sabe-me dizer quantos têm necessidades especiais? Têm alguma indicação estatística?

Não temos trabalhadas as percentagens e as quantidades de pessoas com necessidades

especiais, até porque nós estamos a fazer abordagens aos públicos com um protocolo com a

universidade, com a Faculdade de Economia, com a Dra. Helena Santos e o Prof. Varejão, já

fizemos um inquérito numa exposição temporária, feito por nós e trabalhado por eles, primeiro, a

das máscaras, dos rituais modernos, depois era um pequeno inquérito. Depois fizemos, já

preparados por eles, na exposição dos vasos gregos, que está a ser trabalhado. Estamos agora a

fazer um ao público turista e vamos a partir de Setembro, Outubro, fazer um para o público escolar

e está nas nossas perspectivas fazer, também, um para o público com necessidades especiais…

estamos a ir por etapas, o que está a ser… vai ser, penso eu, muito útil para podermos tirar

conclusões sobre o tipo de público que temos.

Temos é dados, que depois lhe posso mandar, sobre as visitas especiais, as visitas que são feitas

para o público com necessidades especiais.

Trabalham com algum protocolo, com alguma associação, instituição…

Visitas orientadas. Temos, temos um com a ACAPO, temos aliás um cego como telefonista cá,

estagiário, que nos dá alguma… que nos ajuda.

Exactamente, eles melhor do que ninguém podem dar essa ajuda!

É, não é? Estamos agora a preparar uma exposição, para Setembro, em que ele vai ser, também,

um monitor importante. É uma exposição de estuques, portanto, materiais que se adequam muito

bem a serem “vistos” e usados por eles. Vamos fazendo algumas…

Temos várias visitas com o com o Espaço T. Temos com algumas escolas que têm grupos de

paralisia cerebral, portanto há vários… Temos ao longo do ano bastantes… depois posso lhe fazer

chegar, por exemplo, os dados deste ano, se quiser.

Sim, sim. Obrigada. Os que vêm um maior grupo seriam então os com deficiência visual e paralisia

cerebral?

Paralisia cerebral talvez mais, não lhe sei dizer assim porque por exemplo temos as pessoas de

idade, por exemplo, não sei se são “incluíveis” nos grupos de necessidades especiais… temos

muitos grupos de terceira idade neste momento…

Nós temos um problema a nível de acessibilidade, o museu tem dois elevadores na área do

público e um deles está avariado e é uma compostura de tal maneira cara que estamos a adia-la,

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Acessibilidade em Museus

Página 181

portanto só temos um elevador em funcionamento, o que às vezes levanta alguns problemas…

ainda ontem estavam, acho eu, duas camionetas da Trofa… umas pessoas engraçadíssimas, sem

preconceitos nenhuns, portanto andar no Museu ou andar na feira era a mesma coisa (risos) e eu

acho muito bem, ainda bem… e não tinham problema de barulho mas tinham problema de

mobilidade, de facto, uns desciam as escadas…

É necessário um bocadinho mais de paciência mas dá… a nível das actividades do serviço de

educação, têm actividades específicas que foram criadas para estes públicos ou adaptam as

visitas orientadas para eles…?

Depende, nós com os cegos, por exemplo, temos tido todos os anos esse protocolo com a

ACAPO, não é um protocolo escrito mas é um acordo… fazemos à segunda-feira, uma visita á

escultura, que tem sido um verdadeiro sucesso…

E eles podem tocar?

Vão para junto das esculturas e eles podem tactear as esculturas todas, portanto, o desterrado, as

esculturas grandes, tudo… e é de facto extraordinário a interpretação deles…

Até porque nem todos os museus se disponibilizam a deixa-los tocar nas colecções…

É… Eles usam luvas, não há problema algum, não estragam nada, tratam tudo muito bem e

ajudam-nos imenso a perceber questões de movimento, por exemplo, houve uma que nunca me

esqueço, do pescador, do Soares dos Reis, que a nossa técnica que estava com o grupo estava a

tentar dizer que ele estava a levantar a rede, (e alguém disse) “não, não está, ele está a arrastar,

ora veja esta perna”, e pô-la a ver, “ora veja os músculos da perna, a força que ele está a fazer

com esta perna, ele está a fazer este movimento” (exemplificação do movimento) “isto obriga-o a

fazer força com esta perna”. Ele era moçambicano, estava cá para fazer umas operações e tinha

sido pescador, o pai era pescador, e ele dizia que sabia muito bem o esforço que era preciso para

arrastar uma rede na areia, que traz um peso brutal e que revia naquela escultura isso… e isso é

notável, foi ele que nos explicou, (nós dizíamos) ele está a levantar e rede, (ele disse) não, não

está, está a arrastar a rede. Portanto, completou a interpretação, ele próprio é que estava a

interpretar de outra forma…

E apoios (à visita), textos em Braille, textos ampliados para amblíopes, versão sonora, as peças

tácteis já disse que eles podem tocar em algumas…

Sim, nessas marcações, fazemos à segunda-feira, normalmente, ou, à terça de manhã. Tem sido

às segundas porque depois implica retirar os estrados que se põem à volta… é preciso que haja

uma construção…

O Museu está fechado à segunda?

À segunda e à terça de manhã, portanto eles à segunda podem fazer isso sem incomodar as

outras pessoas.

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Acessibilidade em Museus

Página 182

Temos tido, só pontualmente, o Braille para algumas exposições temporárias, não temos,

genericamente, ainda o catálogo, as legendas todas trabalhadas mas nesta versão que estamos a

preparar das legendas traduzidas, queremos ter as folhas de sala traduzidas em Braille…

Aliás a ACAPO com algumas instituições também faz formação com funcionários, de como guiar…

É, também, já fizeram connosco… têm feito, nessas visitas, também servem para isso.

E o site do museu? Houve algum cuidado para ser acessível, dentro das normas?

O Museu tem o site “paralítico” neste momento, está em revisão e está pronto, em princípio, agora

em fim de Setembro… deve estar pronto… E está não só na norma mas na A, sabe qual é? (WC3)

… está de acordo com todas essas normas. Tudo o que era passível de provocar ruído e de nos

atrapalhar a vida e que paralisasse o site nós eliminamos, agora nesta segunda versão, portanto,

não temos animação, no próprio site não temos animações para evitar…

Normalmente quanto mais simples melhor, nesse aspecto…

É. Estamos a fazer, até num banner, uma alteração de imagem para cada clique mas sem

animação, porque de facto… Depois, estamos a tentar passar para um blogue o que for animado

para quem quiser mais informação… Eu não estou muito de acordo com isso, acho que devia

haver haver um sinal nos sites porque acho que também é um perda de acessibilidade para outras

pessoas. A acessibilidade está a ser entendida de uma maneira que me parece errada…

Radical?

Radical… Eu até admito que seja, como é que eu hei-de me explicar, eu admito que se obrigue a

ter a acessibilidade para todos, mas acho que o haver zonas que não são acessíveis para todos,

não deviam implicar o anular, deviam implicar estar sinalizadas… deviam ser premiados os que

têm a totalidade de sites acessível para todos mas neste momento os sites que não estão

acessíveis para todos estão parados e, portanto, não estão acessíveis para ninguém… Portanto eu

acho que isto em termos de acessibilidade é redutor, não é? Não acho correcto, nós não vamos

demolir os monumentos onde não podem ir pessoas em cadeiras de rodas… deve-se fazer o

máximo possível, mas não vamos demolir, proibir todos… não é? Acho isso disparatado…

Por vezes a barreira é um bocadinho ténue…

É disparatado, não vejo razões para isso. Agora acho que deve estar sinalizado, “não é possível, a

partir daqui não é possível”. Garantir essa informação.

Compreendo que deve ser terrível, o que me explicaram é que é terrível para eles o ruído que isso

provoca não estando sinalizado… Havendo obrigação de estar sinalizado é da mesma maneira

que se tiver uma rampa que explica que vai por um precipício abaixo… não é? Quer dizer, tem de

estar sinalizado, quer em termos físicos, quer em termos de acessibilidade de outro tipo… Eu não

concordo com este formato, com esta formatação mas pronto, é o que há. Ninguém me perguntou,

eu dou na mesma a minha opinião. (risos)

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Acessibilidade em Museus

Página 183

A nível físico, já disse que têm elevadores, rampas também têm…

Temos, temos tudo. A nível físico o museu está na sua totalidade acessível… menos na parte

administrativa, aqui! (risos) Isto é outra casa e a ligação foi feita no entre-piso e o resultado é que

os elevadores têm os patamares no piso e a acessibilidade do exterior é no entre-piso, portanto

para se chegar ao elevador tem de se descer escadas, ou subir. Portanto, há aqui um

desfasamento que não é só mau em termos de pessoas com necessidades especiais, é mau,

também, em termos de transporte de objectos…

Exactamente, como se costuma dizer, a acessibilidade não é só para pessoas com alguma

deficiência, mas todos nós, em determinada altura da vida ter uma (necessidade especial).

Claro que sim. Eu tenho muitos filhos portanto tive uma experiência extraordinária na cidade que

era andar com os carrinhos de bebé. Eu acho que as mães são muito mais sensíveis a isso… não

é preciso uma cadeira de rodas, basta um carrinho de bebé. Os malabarismos que as pessoas têm

de fazer para andar com um carrinho de bebé é uma coisa impressionante, e de facto, quem nunca

passou por isso, não sabe…

É muito complicado, eu tenho um irmão com paralisia cerebral, ele já tem vinte anos mas tem de

se deslocar num carrinho e há zonas em que é terrível conseguir superar os obstáculos…

As pessoas dizem “são uns aleijadinhos” mas os aleijadinhos somos nós todos, de facto, por que

realmente, eu também toda a vida andei… torci pé, andei de gesso, por isso também sei e os

carrinhos são uma violência. Há situações em que é uma violência, a pessoa tem de ir pela frente

e puxar as rodas para cima… Por isso quem passou por isso sabe o que é. Eu acho que pior do

que não ter rampas é ter aquelas coisas inacreditáveis, rampas assim (com muita inclinação) …

acho que devia haver multas para isso.

Sim, muitas servem só para dizer que têm e as pessoas vão confiantes porque vão ter uma rampa

e depois deparam-se com coisas incríveis…

Absolutamente. Isso, eu acho, é que é de fechar portas e de não deixar… Isso é um embuste, não

é? Pode ser grave! Pessoalmente eu acho que se alguém vem cá e percebe, não volta… E com

cadeiras eléctricas, aquilo pode provocar desastres!

E mesmo numa cadeira de rodas (normal), a subir a cadeira vira…

Sim, já me tenho irritado e dito umas coisas menos próprias porque de facto acho inacreditável, é

mesmo só para cumprir e estar-se nas tintas e não se importar…

São situações complicadas. E casas de banho, têm alguma casa de banho adaptada?

Temos nos dois pisos. Temos uma no piso de baixo e outra no piso de cima.

A sinalética do museu é legível, está bem identificada?

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Acessibilidade em Museus

Página 184

Está.

O estacionamento é que é mais complicado?

O nosso grande problema, neste momento, é o estacionamento, de facto. É uma das coisas que

temos preparadas em anunciar é o estacionamento para deficientes no parque da cafetaria, para o

caso… haver sempre um lugar, que não temos. Mas, também, é das tais coisas que estão em

preparação.

Eu quando vinha a subir reparei que havia ali um sinal a informar que os autocarros podem passar

aqui.

Quem vem para o Museu pode vir por aqui. Autocarros, cargas e descargas podem vir por aqui

porque com o túnel… acho que é para provocar deficientes aqui à porta, isto é um perigo, nas

horas de ponta eu não sei como é que não morre gente, é impossível…

Numa avaliação interna qual é que acha que seria ou que é a maior dificuldade do museu a nível

da acessibilidade: infraestruturas, colecção, edifício, acessos, informação…?

Acho que a pior, para já, é a informação. Neste momento, a pior é a informação. Eu acho que vai

haver um salto qualitativo muito grande quando houver o site por que uma das coisas que vamos

ter é possibilidades de (fazer) download das folhas de sala, portanto as pessoas já poderem trazer

a informação, para os professores já virem preparados e isso acho que é um salto qualitativo

muito, muito grande…. Vai estar em português e em inglês, portanto, também já é razoável. Nós

queríamos ver se tínhamos um posto onde as pessoas possam fazer o download no próprio museu

e, portanto, em vez de terem só as folhas de sala lá em cima, poderem imprimi-las na altura e levá-

las, fazer uma espécie de um caderno. Estamos também a tentar preparar isso e a possibilidade

da utilização da informação pelos grupos, pelas famílias, está a aumentar paulatinamente.

Nós começamos a ter, agora, ao fim-de-semana, nas salas, o carrinho de actividades, para que as

famílias possam usar os jogos com os miúdos e assim e isso também vai permitir que as pessoas

tenham outra intrusão… outro intrusamento com a colecção e com o espaço e criem outro à

vontade. Eu acho que a partir do momento que estejam mais à vontade, a acessibilidade passa a

ser mais natural, quer dizer as pessoas estão muito crispadas e tem alguma dificuldade em

encontrar… acho que as coisas estão todas muito ligadas, esta ideia do friendly que há para o

comércio, que há para os meios informáticos, acho que nos museus devia haver essa grande

preocupação.

Eu quando vim para cá tinha uma preocupação muito grande e as pessoas estavam a trabalhar

muito em todos estes sectores mas… eu tenho sempre uma leitura das coisas do ponto de vista

“de fora”, desde sempre, tive essa preocupação, tenho sempre o ponto de vista “se eu fosse um

cachorro malcriado, o que é que eu fazia nesta situação?” Eu acho que é a posição que não

devemos ter quando estamos a trabalhar para o público, “o pior que aqui entrar o que é que faz?”,

e a primeira coisa que me irrita, imenso, é quando chegamos a um sítio e “é proibido fumar”, “é

proibido andar”, “é proibido cantar”, “é proibido…”, apetece fumar, andar, cantar… fazer tudo o que

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Acessibilidade em Museus

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é proibido… não é? E a certa altura… “é proibido aproximar das obras de arte a menos de 50 cm”.

Os Srs. Guardas terem uma fita métrica? Depois é preciso medir, não é? Era o que eu faria logo!

Então faz favor, eu estou a 51cm (risos)… cria-se logo ali uma tensão, eu acho que o espaço e o

ambiente não pode criar essas tensões à partida, e com essas tensões as pessoas começam a

descobrir tudo o que está mal, tudo o que as irrita… e tudo as irrita!

Eu acho que o primeiro passo para a acessibilidade é as pessoas estarem predispostas a

encontrar a informação. Nós nunca conseguimos que seja ideal, porque se está muito baixo…?

Eu, por exemplo, acho que é uma das coisas que é má, é esta ideia que nós temos que as

legendas têm de estar baixas… Cada vez mais os miúdos são muito altos, se estamos a arranjar

acessibilidades para uns, estamos a arranjar sarilhos para outros, portanto temos de ter algum

bom senso… e achar que não vamos fazer o melhor… não é o melhor para todos factualmente… é

portanto a primeira coisa é criar… até para pedir, até para perguntar as pessoas têm de estar à

vontade… sentir-se bem, não é?

O museu aqui tem o chão em nogueira e depois tem uma volta, à volta uma zona de pega, de

granito, junto das paredes então é um dos indicadores e dizem, às vezes, aos miúdos, “olha não

passes ali” que é para não chegar muito perto dos quadros. No outro dia ou a rapariga estava mal

disposta ou os miúdos tinham sido mal criados, não sei, não percebi… Sei que veio a professora

fazer queixa que lhe tinha dito, “que não podes pisar a pedra, vês, não podes pisar a pedra!” e o

miúdo ia a passar para a outra sala e entre uma sala e outra o chão é de pedra, “E agora como é

que eu faço? Não posso pisar a pedra!” (risos) lá está! Se fosse eu fazia o mesmo, exactamente,

não tenho a mínima dúvida, fazia exactamente a mesma coisa. Portanto nós temos de evitar, isto

é, criar uma barreira, isto é uma barreira grave de diálogo. Se calhar, mesmo que as legendas

estejam mal, se as pessoas estiverem bem dispostas, se não estiver ali, perguntam e saem daqui

com a informação e bem dispostas, acho que é o que se quer, não é? Portanto, só a informação

por si, não chega, só poder andar por todos os lados não chega! É preciso que isso ajude à

pessoa compreender, estar bem. Os museus têm de ser um sítio onde as pessoas se sintam bem!

Muito obrigada!

Algumas considerações:

+ Considerar que está feito é o pior erro que se pode fazer.

+ Temos tido vários grupos em congressos que ficam tão contente por poder andar no Museu.

Alguns ao final de uns dias conhecem os cantos todos aos Museu, estão à vontade.

+ É um museu público, é património, é de toda a gente e para isso é bom estar sem barreiras

arquitectónicas… mas isso também não é tudo!

+ As rampas foram desenhadas pelo Arqt.º Távora – são umas laminas metálicas – e as pessoas

queixavam-se de se magoar, colocamos madeira no rebordo e agora queixam-se que tropeçam…

É complicado. Uma das barreiras que eu acho que existe muito grande é o preconceito! As

pessoas têm medo.

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Acessibilidade em Museus

Página 186

Mesmo a nível social, muitas pessoas acham que ao vir o museu têm de fazer comentários

eruditos. A maneira de receber as pessoas de uma forma simpática é meio caminho andado. O

nosso recepcionista é um vencedor de barreiras aqui no Museu, deixa as pessoas bem dispostas.

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Acessibilidade em Museus

Página 187

Museu dos Transportes e Comunicações

A acessibilidade que se pretende retratar é específica para pessoas com necessidades especiais,

apenas para pessoas com deficiência, exclui seniores e grupos estrangeiros…

As acessibilidades são pensadas para todos… Exactamente, até se costuma dizer que todas as pessoas podem ter uma necessidade especial

em determinada altura…

Eu tenho. Eu vejo mal. Uso óculos. Num dos encontros uma pessoa confronta-se depois com

estas coisas, “a senhora também tem uma deficiência por isso usa prótese – óculos” afinal são um

instrumento auxiliar como se fosse uma cadeira de rodas. Claro que não é bem a mesma coisa…

Mas depois também conforme idades…

Os turistas nem sempre têm a possibilidade de aceder aos conteúdo porque as traduções não

estão disponíveis. Portanto a acessibilidade tem questões a todos os níveis. Neste caso está mais

concentrado então a pessoas com deficiência. E algum tipo de deficiência?

Não. É geral. Cegos, surdos, paralisia cerebral…

Cegos, amblíopes, deficientes físicos, deficiência mental, paralisia cerebral, que são duas coisas

diferentes, experiências que já tivemos… Porque já tivemos com todos, tivemos mesmo com todos

até mesmo com… Não é bem uma deficiência, ou será que é? Com grupos sobredotados,

hiperactivos e com outros que as vezes não nos apercebemos a não ser naquelas actividades que

têm alguma continuidade, por exemplo ao longo de uma semana vamo-nos apercebemos de

pessoas, principalmente, crianças e jovens que têm algum problema e tentamos aceder a eles…

Sabe, mais ou menos qual é média de visitantes por mês, a nível geral?

Por mês é sempre muito relativo porque como no nosso caso, continua a ser o público escolar, as

entradas sobem e descem conforme o período do ano lectivo. Temos meses que atingimos 4000

visitantes e depois nos meses de verão, há meses em que temos à volta de 1000 / 1500. Agora de

momento não sei.

E públicos com necessidades especiais, dos que falamos, com deficiência, normalmente vêm

sozinhos, vêm com alguma instituição, de associações?

Sozinhos tem sido raro mas tem acontecido. Tivemos há pouco tempo um caso de um invisual que

surgiu mesmo sozinho, mesmo sem família, sem amigos. E hoje mesmo um deficiente físico que

chegou de manhã ao museu numa cadeira de rodas e foi o primeiro visitante da manhã. Mas são,

eu acho, situações muito raras porque os deficientes em Portugal, até pela dificuldade que têm, e

por estarem em instituições, em adquirir autonomia não é comum vê-los sozinhos nestas práticas

culturais, embora a reduzida prática cultural não seja só dos deficientes é da população geral em

Portugal. Portanto, a maioria, deste público específico, que vem aqui ao museu vem integrada em

instituições. Instituições específicas como a APPACDM, a APPC, a ACAPO, e outras que não me

lembro o nome ou não sei se continuam a existir, porque algumas delas desapareceram, porque

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Acessibilidade em Museus

Página 188

passaram a estar integradas. O Centro António Cândido, para os surdos, creio eu, e os Centros de

Reabilitação Profissional que também têm vindo com alguma frequência.

E dentro da APPACDM e da APPC vários núcleos aqui da área metropolitana e alguns até mais

distantes.

E estava-me a lembrar de uma experiência que também foi muito interessante, aqui há algum

tempo, antes das férias, foi um grupo de deficientes mentais que vieram de Vigo, estavam cá

alguns dias em actividades e fizeram aqui uma visita. Foi uma surpresa, porque eles andavam por

aí em visita ao Museu. E foi muito interessante.

Surgem com menos regularidade alguns integrados nas turmas do ensino regular, normalmente

para além do professor vêm com outros professores ou com técnicos auxiliares… surdos, cegos ou

outras ligeiras deficiências também vêm mas ainda não é com muita frequência porque acho que

só há pouco tempo é que foi decido que alguns seriam integrados em turmas.

Mas a média, não sei precisar, mas não é muito elevada. Também no âmbito geral da população

são uma minoria, o que não quer dizer que não devemos estar atentos a eles. E por vezes,

também, as instituições onde estão vivem com dificuldades… a diversos níveis, material,

económico, transporte, de pessoal e também não saem tantas vezes, não visitam, não frequentam

como desejariam.

Por mês, isto assim muito por alto, talvez tenhamos, em média, por mês, duas visitas.

Também têm de ser grupos mais pequenos que uma visita normal de uma escola.

Os grupos são mais reduzidos e em termos de tempo…

E em termos mesmo de pessoas.

Sim, até porque vêm em carrinhas e portanto limitam o número de pessoas que vêm… o que

depois também facilita a actividade porque é possível ter mais atenção e um acompanhamento dos

que vêm.

Desses que vêm cá, acha que há algum grupo que sobressai mais, por exemplo, cegos, com

deficiência auditiva…?

Acho que, pelo menos em estatística, os que têm vindo com grupos maiores é ao nível da

deficiência mental, a APPACDM, e digamos também os centros de reabilitação profissional que

fazem reintegração e formação profissional de pessoas que tiveram acidentes. São esses que

trazem grupos maiores e com maior regularidade. Os cegos vêm menos, bastante menos. Com

paralisia cerebral, normalmente, quando temos novidades e exposições novas eles são os mais

curiosos, normalmente, são sempre os primeiros a vir e depois durante um certo tempo ficam

ausentes. Surdos, também não são os mais frequentes mas temos tido experiências muito

interessantes e já há alguns anos.

Houve uma experiência que ficou muito marcante aqui no museu, foi uma exposição que fizemos

em 99/2000, foi uma exposição muito interactiva que era sobre as diferentes formas de comunicar

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Acessibilidade em Museus

Página 189

e tinha diversos exercícios, imagens e estímulos numa área aos sentidos. E tinha o sentido ligado

à audição, tinha diversas experiências, ao tocar ouvia-se instrumentos, algumas aplicações

informáticas também com sons e havia uma grande fotografia, que acho que está na galeria das

imagens do século XX, que era de um miúdo muito espantado, com os olhos muito arregalados

que é a fotografia de uma crianças que ouve pela primeira vez. E está com aquele olhar arregalado

por que é que está a nascer, a ver o mundo pela primeira vez, agora com sons. E nós tivemos uma

visita do Centro António Cândido e vinha uma intérprete de língua gestual que permitiu essa

comunicação e quando ela lhes traduziu o que era aquela imagem muitos deles viraram-se de

costas, não quiseram analisar, interpretar. E como é que esse comportamento nos foi interpretado:

as crianças, jovens e mesmo os adultos, enquanto surdos e enquanto grupo têm algo em comum,

vivem todas a mesma dificuldade e isso une-os. Quando há hipótese de uma intervenção cirúrgica,

por exemplo, um implante e que algum adquire de novo ou pela primeira vez a capacidade

auditiva, digamos que ele perde aquele elemento em comum que tem com o grupo e alguns

recusam isso. Realmente o universo deles é entre eles e vivem partilhando aquele handicap que

têm em comum e pensarem que vão sair fora, que vão ser postos fora daquele grupo porque vão

passar a ouvir é algo que alguns recusam. O mundo cá fora, fora daquele grupo é-lhes estranho. E

foi uma experiência porque nós imaginamos que ouvir para um surdo é algo maravilhoso mas

depois esquecemos toda a envolvente social, como é a vida deles, quem são os seus amigos,

como quem convivem, que ferramentas estão habituados a utilizar e ouvir para eles já não é tão

fantástico quanto nos possa parecer. Foi uma experiência, para nós, faz-nos pensar que realmente

temos sempre de relativizar tudo…

E protocolos com associações ou instituições, têm algum ou tiveram algum?

Formalizado, mesmo, por escrito, julgo que terá sido apenas um programa de estágio em que

tivemos cá uma pessoa da ACAPO, ou melhor eram dois elementos, era ela e o cão-guia e foi

também uma experiência muito interessante, não foi muito tempo, ela fez um trabalho específico

para o qual estava preparada. E tê-la cá durante um tempo, mais ao cão, até para as pessoas da

equipa foi muito pedagógico.

Também venceram barreiras!

No restante, nós sempre tivemos protocolos informais, em termos de administração do museu, ao

longo dos anos, foi assumido que estas instituições, as instituições, usufruem de entrada gratuita,

a APPACDM, a APPC, a ACAPO os Centros de Reabilitação Profissional, há no Porto e em Gaia,

pelos menos estes são os que costumam vir. Portanto, tem sido possível a entrada gratuita no

museu, não é nada que esteja escrito mas é uma pratica corrente.

E nos casos dos visitantes individuais, também têm?

Como tem sido raro, foi uma pergunta que se nos colocou e depois temos sempre de relativizar e

foi entendido que poderiam haver uma descriminação, neste caso positiva, mas pagarão o bilhete,

vamos respeita-los enquanto visitante, digamos entre aspas, normal, geral.

Page 205: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 190

As actividades do SE têm alguma específica, adaptam actividades que façam com os grupos

escolares?

Ao longo dos anos, integrando nas diversas exposições permanentes e temporárias que temos,

digamos que não preparamos actividades específicas. As actividades que temos e as formas como

as desenvolvemos, a forma como acolhemos e comunicamos, essa sim, é que se adapta aos

diferentes grupos. Nós não vamos dizer que não fazemos a oficina A ou B com eles, vamos sim

adapta-las as suas capacidades, sejam intelectuais, físicas… Por exemplo, no automóvel,

contamos a história do automóvel, obviamente, se for com um grupo de surdos contamos, por

exemplo, com a possibilidade de termos a pessoas que faz a tradução para Língua Gestual

Portuguesa. Se for, por exemplo, e esta visita para além da história e da exploração de imagens e

conteúdo tem uma parte prática que é a oficina do Sr. Teixeira e todos participam, o Sr. Teixeira,

caso esteja, que é o mecânico, uma personagem, ou no caso de não poder estar a técnica do SE

que acompanha a visita, fará as mesmas actividades, claro que com algumas limitações: por o

colete, manusear com mais ou menos dificuldade o macaco… Até porque para alguns pode ser

uma primeira experiência e pode não ser a conclusão da tarefa em si mas o contacto com diversos

materiais, o que é plástico, o que é ferro, os tecidos e isso pode ser muito importante e contactar

com situações que são novas, para eles e para muita mais gente.

Por exemplo, para os cegos, na exposição automóvel quando são em grupos, digamos que

adaptamos um pouco a exposição, contactamos com eles previamente, eles já estão habituados a

isto, eles querem ver à sua maneira e então verificamos se está tudo preparado, derrubamos

algumas barreiras físicas – há uns cabos de aço à volta de alguns automóveis, nós retiramo-los – e

se não houver obstáculos por parte da coordenação e dos proprietários automóveis, já que a maior

parte deles são de coleccionadores, eles então trazem as luvas, tiram anéis e relógios e observam

os automóveis e há muitos que realmente nos fazem espantar porque sabem modelos e marcas,

de que país é e que formas é que tem, também, há pessoas que já viram e há outras que não

tendo visto interessam-se, exploram e hoje em dia com aplicações específicas navegam na

Internet e sabem imensas coisas. Portanto, nós, exposição, adaptamo-nos a esses públicos, o que

acho também muito interessante. Para cegos que venham individualmente ou integrados numa

família, a exposição do automóvel está, neste momento, preparada com um circuito áudio.

Portanto, tem algumas ferramentas, temos um trilho metálico instalado no chão da exposição, não

percorre a 100% todo o circuito mas uma boa parte dele, e depois funciona com sistema de

bengala com auriculares. Inicia o acesso à exposição, onde terá sempre de ter um apoio, um

elemento do museu que explica o seu funcionamento e depois autonomamente coloca a bengala

no trilho e vai tendo dois níveis de informação: informação mais de orientação – parar, avançar,

direita, esquerda… e o outro nível de informação é dos conteúdo. E portanto está ajustado a essas

visitas individuais, embora eu prefira, isto é uma preferência pessoal, acho que é uma experiência

muito mais rica quando vêm em grupo e nós, então com eles, exploramos a exposição desta

maneira. O outro, o sistema áudio, permite alguma autonomia mas não… é um pouco como o

Page 206: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 191

visitante normal, também não lhe é permitido tocar no automóvel mas além da informação áudio

não poderá ir muito mais além.

Depois em relação à exposição da Comunicação do Conhecimento e da Imaginação, que são

oficinas práticas: rádio, televisão, jornal, ciência, imaginação corporal, elas adaptam-se em

duração, tipo de actividades, conteúdo, aos diferentes grupos.

Já houve um programa de rádio muito interessante com cegos. A oficina de televisão julgo que

também já teve grupos de deficiência mental e paralisia cerebral, eles fazem de tudo:

apresentação, conversa, mesmo em termos de camaramens, dependendo também dos limites e

das competências de cada um e contamos, também, sempre, com o apoio dos técnicos das

instituições, que ajudam.

No jornal também já tive, eu pessoalmente, um grupo de paralisia cerebral que fazia o jornal da

instituição e exploramos a informação, os telefonemas, consultar fax, dentro dos limites…

E o espaço da imaginação corporal adapta-se a todos. Exercícios, jogos de interacção,

interpretação, imitação e, eu pessoalmente, acompanhei com outra colega um grupo de deficiência

mental, não tinha nenhum profundo, tinha um elemento em cadeira de rodas, e todos cantaram,

dançaram, fizemos pequenos sketchs, representaram situações em pequenos grupos para que os

outros adivinhassem que situação era aquela. E foi muito interessante e muito rico e depois os

técnicos, no final, dizem sempre que é muito bom eles estarem com outras pessoas, contactarem

e perceberem que das outras pessoas não há medo, aquele retraimento que as vezes é do olhar…

Há pessoas que têm alguns problemas no contacto físico com estas pessoas. Também, nalguns

casos, digamos, são excessivos mas isso faz parte, quando temos pessoas com deficiência mental

temos de contar com abraços, beijinhos, festas no cabelo mas acho que isso também é uma

aprendizagem que ao longo dos anos se vai tendo. E são das visitas que no final nos deixam mais

satisfeitos, por um lado, pensamos que os ajudamos e eu acho que por outro lado, pelo menos a

mim pessoalmente, faz-me pensar mais na vida e ultrapassar estas pequenas questões e adorar

aqueles abraços. Passa sempre pela experiência pessoal, quando tive grávida faziam-me festinhas

na barriga e são muito mais expressivos e carinhosos que os restantes…

Também é o medo que as pessoas têm de se aproximar e de ser interpretadas…

Sim acham que eles vão ser violentos ou mal intencionados... muitos já são adultos… eu

pessoalmente sinto-me sempre mais enriquecida no final destas sessões…

Textos em Braille, textos ampliados, versão sonora?

Na exposição do automóvel temos o percurso áudio… e quando foi apresentado esse

complemento da exposição, a exposição já existia e houve um projecto apoiado pela RPM que nos

permitiu implementar este sistema que permite esta melhor acessibilidade e é complementado,

também, com postos áudio para turistas que têm tradução noutras línguas além do português e

temos um folheto de apresentação deste sistema em que foi possível comportar traduções em

diferentes línguas e também em Braille, mas é apenas o folheto de apresentação daquele

dispositivo. Os catálogos, os nossos folhetos, digamos, normais, que neste momento temos, não

comportam…

Page 207: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 192

Peças tácteis, também falou que podem tocar em alguns automóveis…

Ainda no âmbito deste percurso áudio, no hall de entrada da exposição foi colocada uma maqueta

com o percurso que é feito depois no interior da exposição mas como o percurso é algo labiríntico,

já tivemos algumas experiências, as pessoas a tactear a maqueta já se sentem perdidas e depois

guardar esta informação…

E temos 6 miniaturas automóveis em escala 1/12, normalmente elas estão reservadas ao público

em geral com umas caixas em acrílico mas, então, estando presente de uma visita invisual essas

caixas são retiradas para poder manusear, tactear e ter uma ideia de qual é o percurso em termos

de evolução automóvel que está na exposição, em termos de épocas, começa com um Ford T e

acaba com veículo dos anos 50/60. Dentro desse percurso áudio não será possível, dentro da

exposição, tocar nos restantes, é possível nas visitas de grupo em que fazemos uma visita mais

exploratória, mais interactiva…

E software e a hardware, têm postos multimédia que lhes permitam trabalhar com o computador?

Ainda bem que vai fazendo estas perguntas! (risos) Porque o percurso áudio realmente integrou…

temos o percurso no chão com as bengalas e com os auriculares, na entrada da exposição temos

então a maqueta e as 6 miniaturas automóveis e no final deste percurso foram instalados dois

computadores com um inquérito em português e em diferentes línguas do percurso áudio para

turistas, um desses computadores tem um sistemas de leitura de ecrã. Não sei como se chama…

tem o nome de uma mulher… não é o leitor de ecrã normal, aquele que tem a voz brasileira, esse

é o JAWS e este é outro, permite uma melhor audição em português e permitirá também ao

invisual no final preencher o inquérito.

E o site do museu é acessível? Está dentro das normas?

Quanto a isso não posso dizer nem sim nem não porque a colega que está mais bem informada

para lhe responder não está mas penso que não terá nenhuma especificidade…. Poderá consultar

o site… Em termos de layout foi elaborado já há alguns anos por uma empresa externa, nós neste

momento temos é a capacidade de ir integrando alguns conteúdo à medida que vão surgindo

coisas novas mas acho que não tem nenhum dispositivo específico. A não ser que as pessoas que

o consultam tenham os seus próprios…

Acessibilidade física: elevadores, rampas, WC’s adaptados, estacionamento para deficientes…?

O MTC ao estar integrado neste grande edifício da alfandega e tendo a circunstância de estar em

áreas físicas diferentes, mesmo para os visitantes em geral, coloca sempre alguns problemas de

orientação, mesmo com a sinalética que tem. Porque primeiro o visitante poderá ver uma das

exposições permanentes que é ou na parte central ou na parte nascente que não tem uma ligação

directa entre elas e isso obriga sempre a subir e a descer lanços de escadas mas em ambos os

espaços há elevadores, um geral, normal, outro é apenas usado com pessoas em casos

específicos, como deficientes, cadeirinhas de bebe, idosos com problemas de mobilidade ou

pessoas com algum problema momentâneo e são acompanhados por uma pessoas do museu.

Page 208: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 193

Dentro das exposições não há grandes desníveis, na exposição automóvel tem rampas, na

exposição CCI tem oficinas que são como ilhas que estão num plano mais elevado do que o chão,

tem rampas de acesso embora a inclinação não seja a mais indicada mesmo para uma pessoa

normal e falta-lhes corrimões, os idosos ou as pessoas que por vezes vêm com sapatos altos com

solas não muito indicadas… já tivemos algumas derrapagens! (risos) Mas sem nenhum incidente

de maior!

Tivemos uma instalação na entrada da exposição da comunicação, nós chamamos-lhe o corredor

do século XX, a entrada e a saída, também, é por rampa, lá dentro, já fizemos com cadeira de

rodas das grandes e consegue-se…

As casas-de-banho também estão preparadas nos diferentes níveis em que existem estes

equipamentos, tem uma específica para deficientes. Dentro das normas muito gerais acho que

estamos preparados, depois há sempre um ou outro aspecto que deveriam ser melhorados…

E estacionamento para deficientes?

Temos um parque mesmo aqui numa das laterais do edifício que dentro do horário de abertura

permite o acesso, não tem sinalética no chão, não tem lá o sinal nem aquelas divisórias, é um

terreno que corresponde à antiga estação ferroviária, tem lá uma ou outra estrutura, está

alcatroado, eu como não costumo estacionar lá não sei se tem os risquinhos, a indicação de lugar

mas desde que tenha capacidade…

A sinalética está visível e bem legível, identificada… dentro do museu?

Dentro do museu, poderia estar sempre melhor… Nós fazemos um esforço, temos alguns

dispositivos, alguns fixos que foram colocados no ano 2000 quando foi a apresentação pública do

museu e que houve também a apresentação de um percurso no interior do edifício baseado nuns

painéis com fotografias e textos e foi colocada alguma sinalética… em termos de dimensão,

visibilidade, coloca alguns problemas porque foi colocada a um nível superior ao nosso campo de

visão e as pessoas procuram dentro do campo de visão e só levantando a cabeça é que vêem, há

as questões de design, de não interferir com a linguagem do edifício mas depois não são visíveis…

Temos alguns dispositivos que nós chamamos “as bicicletas” que são uns elementos de vidro com

uma roda no qual colocamos cartazes, que podemos por ou tirar, noutros elementos a informação

é fixa com setas de informação mas como estes elementos são transportáveis, por vezes eles

transportam-se cá dentro e saem dos locais, também porque o edifício tem um Centro de

Congressos, tendo em conta que há conferências e feiras, por vezes esses elementos são

retirados e depois se não estão no local a tempo e horas, a sua não presença… Mas vamos tendo

o cuidado de ter nem que seja um cartaz feito aqui, uma folha…

As características físicas do edifício, o facto de ser um pouco labiríntico e o facto de ter exposições

em duas aéreas não é fácil para os visitantes, mesmo cá dentro, às vezes nas visitas, na

brincadeira “então de que lado é que está o rio?” E as pessoas já não sabem! Portanto há alguma

desorientação. E, por exemplo, o facto de junto às duas exposições permanentes mais antigas que

é o Automóvel no Espaço e no Tempo e Comunicação, Conhecimento e Imaginação, como o

Page 209: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 194

arquitecto decidiu manter a estrutura original dos espaços, lá não há casas de banho, as pessoas

têm de, novamente, descer ao piso térreo e depois aceder de novo ás exposições e, por vezes,

perdem-se. Mas julgamos que com alguma atenção e com mais algum investimento no futuro vai

melhorando … Por exemplo, há pouco tempo foi colocada uma nova sinalética em termos de

design e figuras que indicam as casas de banho de feminino e masculino e depois, também, há a

questão da interpretação que nem sempre é fácil às pessoas, “não percebi bem se ali era um

vestido e era para as senhoras”… São sempre questões em aberto e o importante é estarmos

atentos e querermos mudar.

Se tivesse de fazer uma avaliação interna qual consideraria a maior dificuldade?

É uma pergunta… quem sou eu, não é?! (risos) acho que em termos de acessibilidade física não

apresenta problemas de maior, quanto aos conteúdo, eu acho que o maior problema não estará

com este público específico, como ele vem maioritariamente em grupo há sempre

acompanhamento, actividades e há sempre alguém disponível para colaborar, para mim, neste

momento, o problema seria mais a nível de outros públicos como os turistas e de algum material

que poderíamos ter em línguas estrangeiras que neste momento está a terminar e estamos a

preparar outros mas ainda não estão prontos e, portanto, eles dizem sempre “é pena, se tivesse

em francês..” mas também não podemos ter nas línguas todas…

Mas em termos deste público específico, é claro que poderíamos ter mais e investir em

dispositivos, na parte de informática ter mais actividades, mais coisas, com hardware mas também

temos de ter em conta as dificuldades actuais, as situações e, também, o facto de não serem,

infelizmente, um grande número de visitantes… acho que mais importante, neste momento, nas

exposições, é o elemento humano, a sua abertura, a sua receptividade para com este público e a

ponte que faz com eles, disponibilidade, atenção, paciência, o seu esforço em tentar, não é

traduzir por miúdos, mas de contar a mesma história, fazer as mesmas coisas de maneira diferente

de forma a integra-los mas também não infantilizar, são pessoas que têm a idade que têm, com as

experiências que têm e devem ser respeitadas por isso e não fazer uma coisa mais infantil porque

são deficientes mentais e tem uma idade mental mais nova que a idade cronológica… acho que

devem ser tratados com a mesma atenção, com o mesmo respeito que temos com todos… A

descriminação positiva também é boa mas acho que acima de tudo trata-los como pessoas e o

mais normal possível, porque acho que se não entramos num percurso do “ai coitadinho, que

coitadinhos que eles são”, acho que isso não é respeitar. Por muitos dispositivos que tenhamos,

tecnológicos, para todos, até mesmo mecanismos facilitadores como o percurso áudio, acho que o

elemento humano quer para eles quer para todos continua a ser importante, hoje em dia aposta-se

muito em museus virtuais, que já existem, mas também em experiências interactivas da pessoas

com a máquina e não sei até que ponto essa experiências do visitante, qualquer que ele seja, com

a máquina se concretiza porque as pessoas nem sempre compreendem, nem sempre sabem se

podem mexer, se vão estragar ou não vão estragar… Essa experiência de visita será tão mais ou

menos rica do que aquelas que tem uma pessoa, um elemento que contextualiza, que explica, que

ri com, que compreende, que escuta e que há um diálogo, uma partilha. Acho que esse elemento

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Acessibilidade em Museus

Página 195

continua ser fundamental para todos e em especial para estes públicos específicos que nos

visitam…. Pelo menos que eu me recorde desde há 13 anos que cá estou e que como eu disse é

uma experiência muito, muito satisfatória, com todos eles…

Muito obrigada!

Page 211: SANTOS_2009_Acessibilidade Em Museus

Acessibilidade em Museus

Página 196

Casa do Infante – Arquivo Histórico Municipal do Porto

Em média, por mês, quantos visitantes recebem?

Mais ou menos, em grupos de Serviço Educativo, vamos dizer, em média um grupo por mês, este

ano tem sido um pouco menos pois no ano passado tivemos uma iniciativa bastante forte em

captar novos públicos com NE, nomeadamente, também, fomos a centros, visitamos a ACAPO e

outros centros de dia com pessoas com deficiências motoras e isso traduziu-se num maior número

de grupos por mês. Não fazendo este ano, dedicando-nos a outros tipos de grupos, veio então a

diminuir os grupos de visitantes por mês em 2008. Mas em 2007 foi bastante mais forte.

Têm dados estatísticos de quantos visitantes com NE vêm por mês?

Temos, neste momento não sei de cor mas é uma questão de consultar.

Dos que vêm cá com NE há algum grupo prioritário, por exemplo, cegos, com paralisia cerebral,

surdos ou é um bocadinho de cada sem que haja um grupo que sobressaia?

Nós tivemos em 2007 uma grande adesão dos grupos dos centros de paralisia cerebral e também

da ACAPO.

Por que como estava a dizer, têm um protocolo?

Exactamente, um protocolo não oficial. Nós fizemos visitas às instituições, contactos prévios

telefonicamente e depois confirmados por e-mail. E depois, realmente, as associações

corresponderam mas chegamos à conclusão que teremos que visar estes contactos que têm de

ser trabalhados.

E de paralisia cerebral foi de alguma associação, instituição ou centros de reabilitação?

Foram centros de reabilitação, das Antas por exemplo, a Associação de Paralisia Cerebral e

contactamos ainda, a partir de mais ou menos do segundo semestre de 2007, para virem cá e aí

foram os centros de dia, que tinham, por exemplo, nos próprios grupos, não só grupos de

deficientes motores mas um ou dois elementos que tinham dificuldades em andar mas que vieram

cá nesse grupo!

E as actividades do SE quando é para públicos com NE têm alguma actividade específica ou

acabam por adaptar as actividades?

Nós começámos por conceber uma oficina adaptada específica, pensávamos nós, para estes

grupos mas aprendemos com a experiência que as actividades que nós temos poderão muito mais

facilmente ser adaptadas com a ajuda dos técnicos especializados do que pensarmos nós nesses

termos pois nós não temos formação específica para trabalhar com esses grupos e fomos vindo a

aprender que mesmo na paralisia cerebral, num grupo com oito utentes, temos pessoas com

diferentes dificuldades e por isso os técnicos melhor do que ninguém podem-nos dar indicações e

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Acessibilidade em Museus

Página 197

dizer “esta pessoa trabalha melhor desta maneira, uma outra da outra”, e assim a própria

actividade será então personalizada.

Dispõem de textos em Braille, textos ampliados, versão sonora, já vimos que têm na maqueta,

peças tácteis também têm?

Também, exactamente. Para além da maqueta, como já disse, com versão sonora, objectos

tácteis, também, os azulejos, já agora gostava de acentuar que não foram feitos ou integrados aqui

no museu especificamente para esses públicos mas chegamos á conclusão que todos nós temos

necessidades especiais.

O projecto em Braille, no ano passado foi feito um contacto e foram traduzidos textos que nós

temos para Braille só que anda não estão divulgados, ou seja ainda não foram publicados e

disponibilizados ao público, tivemos também um projecto transdiciplinar em que uma criança

apareceu aqui com dificuldades em ler, não era cega, mas tinha dificuldades em ler e a própria

professora traduziu esses textos para Braille e, também, tivemos uma criança que não sabíamos

de antemão, ou melhor, peço desculpa, numa turma tivemos três crianças surdas e que trouxeram

também tradutores para fizeram esse trabalho, em Língua Gestual.

Têm hardware e software específico?

Não temos.

Os funcionários estão sensibilizados para trabalhar com público com NE, até porque como falou

tiveram aquela formação da ACAPO?

Sim, todos os que trabalham no atendimento ao publico tiveram essa formação e portanto foi-nos

também fornecido pela ACAPO um documento muito importante, imagens e ainda uma… falta-me

a palavra, uma formação de tudo o que nos tinha sido dado nessa curso de formação, uma

reciclagem, digamos assim, e portanto fomos sensibilizados, sim senhora, para esses públicos.

E acessibilidade física, também, já deu para ver que têm elevadores, têm rampas, quando têm

degraus também têm corrimão, têm casas de banho adaptadas, estacionamento é que não há?

Nós estamos na zona histórica e por isso mesmo não temos estacionamento em frente à casa ou

específico para a Casa do Infante para ninguém, e, infelizmente, também, não temos, o que seria

de esperar de um espaço municipal, pelo menos aqui em frente, um ou dois lugares para

deficientes, esperemos que estejam previsto, é questão de sensibilizar um pouco os políticos para

isso, que algum político queira visitar a casa do infante e que tenha deficiência motora e, nessa

altura, acho que terá, sem qualquer problema, um desses lugares reservados. (risos)

Na sinalética, acha que tem algum problema? Está bem identificada, está legível?

Não, não está legível e foi um dos pontos fracos que a ACAPO acentuou. Realmente a sinalética

tem de ser melhorada e aí é que temos mesmo que ter bastante cuidado porque o que é uma

sinalética para alguém que veja não deverá ser igual para alguém que não consiga ver e, portanto,

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Acessibilidade em Museus

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haveria a possibilidade de fazer, por exemplo, marcas nos degraus e aí realmente já transcende

um pouco o nosso conhecimento técnico para esse fim.

Se tivesse de fazer uma avaliação interna o que assinalaria como maior dificuldade na

acessibilidade do museu? A infraestutura, a colecção, a localização do edifício, os acessos, a

informação, a colecção ou qualquer outro?

Eu começaria pela sinalética em termos geral e, em especial, agora para ser acessível para os

públicos, e depois pela rampa, que é uma rampa provisória, na entrada que deveria ser reforçada

e revista, ela treme um pouco e não sei se oferece segurança para as pessoas que venham com

cadeiras de rodas, quem vem com cadeiras de rodas normalmente vem acompanhada mas de

qualquer maneira…depois o que vejo como ponto fraco é o acesso à sala de leitura, uma vez que

só é possível por escadas e realmente acho que poderíamos melhorar os postos informáticos que

temos disponíveis, no sentido de acrescentar também a versão sonora.

Muito obrigada!

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Acessibilidade em Museus

Página 199

Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

Quanto a protocolos com instituições / associações de acolhimento de pessoas com deficiência,

tem algum, seja a nível informal ou formal?

Sim, temos a nível informal, no sentido de eles nos procurarem para marcação de programas,

visitas e nós os acolhermos. Nem sempre se pode dispor / disponibilizar um programa a 100%,

temos de adaptá-los. Não são feitos, efectivamente, com o propósito de se destinar aqueles

públicos mas conseguimos sempre uma adaptação.

Normalmente, dos que vêm, centram-se mais em cegos, surdos, paralisia… há algum grupo que

sobressaia?

Não, portanto não é um grupo forte aqui no museu, é esporádico. São eles que nos contactam,

não temos feito nenhum esforço até agora, não temos tido essa disponibilidade de tempo, também,

para o fazermos, de nós irmos ao encontro deles, portanto o que eu posso falar desde Fevereiro

que aqui estou, tem sido mais da área da deficiência mental, mas ao longo dos tempos têm vindo

cá da área dos invisuais, da surdez… digamos que são deficiências que são mais fáceis de

ultrapassar no sentido de espaços do museu, enquanto outras áreas, como da paralisia, a

deslocação ao museu é complicada…

Os autocarros têm de ficar longe… e eles têm de descer e depôs de subir…

Exactamente, se vierem de transporte próprio têm a facilidade de aparcar aqui mas depois têm

uma série de constrangimentos dentro do próprio museu, mas vai-se adaptando… e vai-se

fazendo. Mas não há um grupo maioritário.

O museu está equipado? Elevadores? Rampas? Wc?

Não, não. Temos uma rampa de acesso ao museu em pedra faz parte da própria estrutura do

edifício, a entrada ao museu é possível mas depois temos um grande senão que é a deslocação

ou a movimentação entre o andar inferior e superior… não temos qualquer elevador, existe já o

pedido, o projecto mas até hoje… há uma série de condicionantes. Aguardamos …

Quando vem alguém numa cadeira de roda? Fazem a visita só no andar de baixo?

Adapta-se. No último programa que fizeram cá foi nos jardins, no exterior, mas levantou-se lá fora

(um problema) nas actividades que precisavam de ir a nível superior… Não é problema pois já

estamos habituados a carregar com as cadeiras, por isso não é para nós impedimento, mas não

possuímos nada. Nada, rampa só da entrada, não possuímos corrimões, não possuímos

elevador…

Estacionamento para deficientes?

Estacionamento, digamos que há um geral… Isso não é de todo problema, nós conseguimos ter

espaços para eles estacionarem. Limitamos é o acesso aos carros, antigamente estacionava-se

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Acessibilidade em Museus

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em todo o terreiro e agora limitamos com uma divisória, amovível, portanto se necessário retiramos

e eles conseguem chegar até nós… wc também não temos adaptado e também não temos

sinalética.

Numa avaliação interna, qual a maior dificuldade para o acolhimento de públicos com deficiência?

Infra-estruturas, colecção, localização do edifício, acessos, informação…?

Eu colocaria a dois níveis. O primeiro, o estrututal, claro, sem isto não pode fazer nada. E depois,

os recursos para podermos debruçar-nos sobre as colecções e na sua comunicação efectiva a

esses públicos e programações que sejam interessantes, de que qualquer grupo goste,

interessantes, cativantes.

Mas a primeira, digamos, não ultrapassando esse nível também não nos possibilita desenvolver,

como eu digo, os recursos são muito poucos em termos de actividades…

A dificuldade colocaria a nível das infra-estruturas, porque a localização do edifício não creio que

seja assim tão complicado, claro que temos o autocarro lá em cima mas o acesso é bastante fácil,

não é numa zona histórica onde há daquelas “ruelinhas” e com grande dificuldade de passagem.

Uma visita exactamente para pessoas com necessidades especiais… não temos… é adaptado…

Não temos elevador.

Nível físico ou de conteúdo, o que consideraria para já mais importante?

Ter uma cadeira de rodas para alguém que precise. Em que pudesse passear.

Média de públicos/mês?

Janeiro / Fevereiro / Março, a partir de Novembro até Junho, o museu tem muitas visitas, depois

disso há menos. Temos muitos grupos escolares, no currículo do 6º, 10º,11º e 12º faz parte, temos

muito público, sempre. Eles têm isso nos currículos escolares deles…. É uma mais valia.

E grupos com necessidades especiais? Em grupo ou individuais?

Temos grupos muito diversificados. Desde a cadeia de Custóias, os presos/reclusos, até à terceira

idade.

A APPC ainda no outro dia estiveram aqui, que nos vieram cá visitar… ao grupo escolar, temos um

grupo muito vasto.

Principais incapacidades de conteúdo? Qual é o público que normalmente vem mais ao museu?

Os surdos e os cegos vêm integrados. Agora já não há só escolas de cegos ou de surdos, estão

integrados., vem com as turmas. Têm vindo sempre com professores e correm muito bem, as

visitas. Da APPC e lares da 3ª idade são os que vêm mais.

Têm protocolos com instituições?

Não, quem quiser pode vir.

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Acessibilidade em Museus

Página 201

E têm actividades especialmente preparadas ou são adaptadas?

Adaptadas, conforme o grupo. O último que tivemos cá nos jardins escreveram até uma carta a

agradecer imenso, correu lindamente. Os monitores vão coordenando e vão fazer aquilo que eles

acham que podem fazer, não ficam limitados, aquelas horas, dentro do museu. Estiveram cá até

ao meio-dia e correu muito bem. E marcaram na outra semana… As coisas têm sido adaptadas…

O museu tem textos em Braille ou textos ampliados?

Não.

Muito obrigada!

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Acessibilidade em Museus

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Anexo III

Glossário

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Acessibilidade em Museus

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Glossário

Acessibilidade "Acessibilidade é uma característica do ambiente ou de um objecto que permite a qualquer pessoa

estabelecer um relacionamento com esse ambiente ou objecto, e utilizá-los de uma forma

amigável, cuidada e segura"49

“Acessibilidade significa não apenas permitir que pessoas com deficiências participem de

actividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a inclusão e extensão do

uso destes por todas as parcelas presentes em uma determinada população, com restrições as

mínimas possíveis.”50

Conjunto das condições de acesso a serviços, equipamentos ou edifícios destinadas a pessoas

com mobilidade reduzida ou com necessidades especiais

Acessibilidade Web refere-se a prática de fazer websites que possam ser utilizados por todas os

usuários. As necessidades que a "Acessibilidade Web" pretende abordar incluem:

- Visual: Deficiências Visuais, incluindo cegueira, vários tipos comuns de baixa visão e baixa

acuidade visual, vários tipos de daltonismo;

- Motora / Mobilidade: Dificuldade ou impossibilidade de utilizar as mãos, incluindo tremores,

lentidão muscular, perda ou baixo controle muscular, etc.

- Auditivos: Surdez ou deficiência auditiva, incluindo indivíduos com pouca audição;

- Convulsões: Fotoepilepticos

- Cognitiva / Intelectual: Deficiência desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e deficiências

cognitivas de várias origens.

Ajudas Técnicas Ajudas técnicas são dispositivos que se destinam a compensar a deficiência ou a atenuar as suas

consequências, bem como a permitir o exercício das actividades quotidianas e a participação na

vida escolar, profissional e social.

Ampliador de ecrã Programa de computador que amplia uma porção de ecrã. São utilizados sobretudo por pessoas

com baixa visão.

Braille É um sistema de leitura com o tacto para cegos inventado pelo francês Louis Braille.

49 Conceito Europeu de Acessibilidade – Relatório do Grupo de Peritos criado pela Comissão Europeia - 2003 50 http://www.easylogics.com/artigos/acessibilidade/tudo-sobre-acessibilidade

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Acessibilidade em Museus

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Deficiência Uma pessoa com deficiência é uma pessoa de corpo inteiro, colocada em situação de

desvantagem, ocasionada por barreiras físicas/ambientais, económicas e sociais que a pessoa,

por causa das suas especificidades, não pode transpor com as mesmas prerrogativas que os

outros cidadãos. Estas barreiras são muitas vezes reforçadas por atitudes marginalizadoras da

sociedade. Compete à sociedade suprimir/reduzir ou compensar estas barreiras a fim de garantir a

cada pessoa beneficiar de uma cidadania de pleno exercício, isto é, no respeito dos direitos e

deveres de cada um"51.

Este conceito foi definido pela Organização Mundial de Saúde através da sua subdivisão:

- Deficiência – Qualquer tipo de dano ou anormalidade na estrutura física, psíquica e anatómica

dos indivíduos.

- Incapacidade – Qualquer tipo de dano total ou parcial de uma capacidade funcional dos

indivíduos.

- Handicap – Qualquer tipo de desvantagem que advém de uma interacção deficiente entre o

individuo e o seu meio-envolvimento.

Descriminação É o acto ou efeito de separar, ou seja, a capacidade de estabelecer diferenças que podem levar a

tratamentos desiguais. Discriminar significa "fazer uma distinção".

Design Universal ou Design Total Significa "design que inclui" (o contrário de excluir) e "design para todos", ou seja, livre de barreiras

para dar acessibilidade a pessoas com deficiência que se rege pelos seguintes princípios:

- Uso equitativo

- Flexibilidade de uso

- Simples e intuitivo

- Informação perceptível

- Tolerância ao erro

- Baixo esforço físico

- Tamanho e espaço para uso e finalidade

Educação Inclusiva Educação inclusiva é um sistema de educação e de ensino onde os alunos com necessidades

especiais, incluindo os alunos com deficiência, são educados na escola do bairro, em ambientes

se salas de aula regulares, adequados à sua idade (cronológica), com colegas sem deficiência e

51 Definição da Associação Portuguesa de Deficientes de Nem Martins

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Acessibilidade em Museus

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onde lhes são oferecidos ensino e apoio de acordo com as suas capacidades e necessidades

individuais.52

Ergonomia É uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interacções entre seres humanos e

outros elementos de um sistema, e também é a profissão que aplica teoria, princípios, dados e

métodos para projectar a fim de optimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um

sistema53. Os ergonomistas contribuem para o projecto e avaliação de tarefas, trabalhos, produtos,

ambientes e sistemas, a fim de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e

limitações das pessoas. (IEA, 2000).

Empowerment È o processo através do qual os indivíduos adquirem as capacidades e os conhecimentos sobre si

mesmos e sobre o ambiente que os rodeia, permitindo-lhes aumentar a autoconfiança e a

capacidade de exercer controlo sobre o meio social, de modo a produzir as mudanças que eles

próprios desejam.54

Exclusão O termo exclusão, implica que um indivíduo, ou grupo de indivíduos seja excluído de algo, deste

modo, exclusão social indica alguém que é excluído da sociedade.

Exclusão social O termo «exclusão social» teve origem em França e, no modo francês de classificação social,

neste caso, especificamente relacionado com pessoas ou grupos desfavorecidos. O sociólogo

francês Robert Castel (1990), definiu a exclusão social como o ponto máximo atingível no decurso

da marginalização, sendo este, um processo no qual o indivíduo se vai progressivamente

afastando da sociedade através de rupturas consecutivas com a mesma.

Afastamento ou tratamento injusto de pessoa(s) por se considerar que não se enquadra(m) nos

padrões convencionais da sociedade, marginalização;

Existem diversos tipos de exclusões sociais, Alfredo Bruto da Costa (1998), referiu que as

exclusões sociais, deveriam ser definidas consoante as causas que apresentavam e os efeitos que

exigiam. Nesta perspectiva, o autor categorizou a exclusões sociais de cinco modos: a exclusão de

ordem económica, social, cultural, patológica, e comportamentos auto-destrutivos.

52 Gordon Porter, citado no Parecer n.º 3/99 do Conselho Nacional de Educação – Crianças e alunos com

necessidades educativas especiais. Diário da Republica, II Série, 17/02/99

53 Definição da Associação Internacional de Ergonomia (International Ergonomics Association - IEA em 2000. 54 Family Matters Project. Cornell University, 1974

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Acessibilidade em Museus

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Inclusão social é uma acção que combate a exclusão social geralmente ligada a pessoas de classe

social, nível educacional, portadoras de deficiência física, idosas ou minorias raciais entre outras

que não têm acesso a várias oportunidades.

Igualdade de Oportunidades È o processo pelo qual diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente, tais como serviços,

actividades, informação e documentação, se tornam acessíveis a todos e em especial às pessoas

com deficiência.55

Leitor de ecrã Programa de computador que lê o conteúdo do ecrã em voz alta. São utilizados sobretudos por

cegos. Normalmente apenas lêem o texto impresso (não desenhado) que aparece no ecrã.

Museu56 É uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos,

dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:

c) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valoriza-los através da

investigação, incorporação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com

objectivos científicos, educativos e lúdicos;

d) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da

pessoa e o desenvolvimento da sociedade.

Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as

características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu, ainda

que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas, testemunhos

resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou virtuais, assim

como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.

Necessidades Educativas Especiais O termo “necessidades educativas especiais”, refere-se ao desfasamento entre o nível do

comportamento ou de realização da criança e o que dele se espera em função da sua idade

cronológica.57 A expressão “necessidades educativas especiais” reporta, assim, a todas as

crianças e jovens cujas necessidades se relacionam com deficiências ou dificuldades escolares.

Muitas crianças apresentam dificuldades escolares e, consequentemente, têm necessidades

educativas especiais em algum momento da sua escolaridade.58

55 Normas Sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiência. A/RES/48/96, Março de 1994 56 Segundo o artigo 3º do Capitulo I da Lei n.º 47/2004 57 Declaração de Salamanca – Conferência Mundial da Unesco sobre Necessidades Educativas Especiais:

Acesso e Qualidade. Salamanca, Junho de 1994. Edição do Instituto de Inovação Educacional, Lisboa. 58 Jane Nelson e Simon Zadeck, “Partnership Alchemy – New Social Partnerships in Europe”. The

Copenhagen Center, 2000

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Acessibilidade em Museus

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Parcerias Entende-se por parceria um conjunto de pessoas e organizações dos sectores público e privado,

que se envolvem em relações de carácter voluntário, inovador e com benefícios mútuos, para

atingir objectivos comuns, articulando os seus recursos e competências.59

Tempos Livres O conceito de tempos Livres não se refere apenas ao tempo não dispendido no trabalho. Na nossa

sociedade moderna é o tempo dedicado ao prazer, aos interesses, à socialização, ao compromisso

político, às actividades sociais, às viagens, ao desporto. É o tempo dedicado aos amigos e à

família, ao cinema e ao teatro, à comida e à bebida, aos museus ou aos monumentos…É o tempo

consagrado às realizações pessoais e à busca do bem-estar e da felicidade. Para as pessoas com

deficiência, é também o tempo para avaliarem a igualdade de oportunidades existentes ao nível da

socialização.

Turismo Turismo é a oportunidade de viajar e de descobrir. Actualmente o Turismo é a possibilidade de

uma pessoa sair de casa durante um longo ou curto período de tempo, ao longo do ano, e de

usufruir do tempo de forma positiva. O Turismo, uma actividade especial dos Tempos Livres, tem

diferentes significados: viajar ou permanecer na zona de residência habitual, ir até à montanha ou

até ao mar, relaxar ou praticar algumas actividades, procurar o sossego ou a confusão. Para as

pessoas com deficiência é também o tempo para avaliarem a igualdade de oportunidades

existente ao nível da socialização.

Usabilidade Usabilidade é um termo usado para definir a facilidade com que as pessoas podem empregar uma

ferramenta ou objecto a fim de realizar uma tarefa específica e importante.

.

59 Wedel (citado por J. Bairrão, citado no Parecer n.º 3/99 do Conselho Nacional de Educação – Crianças e

alunos com necessidades educativas especiais. Diário da Republica, II Série, 17/02/99

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