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FACULDADE DE SÃO BENTO DE SÃO PAULO
Lucas Antônio Gobbo Custódio
SANTUÁRIO NACIONAL DE APARECIDA:
liturgia, inculturação e devoção na Obra de Claúdio Pastro
São Paulo
2017
Lucas Antônio Gobbo Custódio
SANTUÁRIO NACIONAL DE APARECIDA:
liturgia, inculturação e devoção na Obra de Claúdio Pastro
Dissertação apresentada à
Faculdade de São Bento de São
Paulo, como requisito parcial
para a obtenção do Título de
Bacharel em Teologia.
ORIENTADOR: Prof. Ms. José Afonso Brito
São Paulo
2017
Lucas Antônio Gobbo Custódio
SANTUÁRIO NACIONAL DE APARECIDA:
liturgia, inculturação e devoção na Obra de Claúdio Pastro
Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em
Teologia da Faculdade de São Bento do Mosteiro de São
Bento de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção
do título de Bacharel em Teologia.
Orientadora: Prof. Ms. José Afonso Brito
Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 19/12/2017, pela
banca examinadora:
Prof. Ms. José Afonso Brito
Prof. Ms. Luiz Edmundo Oliveira Preto
Prof. João Luiz Palata Viola
Dedico este trabalho àqueles que se dedicam à
arte sacra, para auxiliar a todos que recorrem aos
templos como um refúgio que inspira a
contemplação, a oração e a meditação.
Minha singela homenagem à Bem-Aventurada
Virgem Maria, Mãe e discípula de Jesus Cristo,
sob o título de Nossa Senhora Aparecida, em
especial no Ano Jubilar do Tricentenário do
encontro de sua pequena imagem.
AGRADECIMENTOS
A Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho Nele. A Maria, que como mãe
e discípula nos ajuda nesta peregrinação terrena em seguir cada vez mais o teu
filho Jesus.
A minha família, que sempre estão intercedendo a Deus pela minha vocação.
A Ordem dos Clérigos Regulares Teatinos, que pela particularidade e cuidado
litúrgico, me ajudam e me ensinam em ligar minha vida à Cruz de Cristo. A
Paróquia São Geraldo, em especial a Comunidade Nossa Senhora da Pureza.
Aos meus confrades: Pe. José Sérgio de Lima, CR; Pe. Misael Germano, CR; Ir.
Washington Vieira, CR; Ir. Blener Domingues, CR e Ir. Carlos Eduardo Garcia,
CR, que pelo testemunho fraterno, sempre me ensinaram as grandes e
magnificas virtudes da vida.
Aos professores, em particular, ao Prof. Dom Hildebrando (José Afonso), que
com paciência, disponibilidade e entusiasmo esteve comigo neste trabalho de
conclusão de curso. A Dom Lourenço (João Luiz) Palata, OSB e a Dom Isidoro
(Luiz Edmundo) Olivieira Preto, OSB, por aceitarem fazerem parte da banca de
apresentação desse trabalho. E mais, aos grandes Mestres Prof. Domingos
Zamagna e Prof. Sérgio Alejandro que, muito me ensinaram e se dedicaram para
minha formação durante o curso de Teologia. Aos funcionários e alunos da
Faculdade de São Bento, em especial aos Secretários da faculdade, Sra. Nanci
e Sr. Alexandre; Sra. Camila Porto (Mosteiro) e Sra. Mª Clara Gimenes (Colégio).
Ao Mosteiro de São Bento de São Paulo, e em especial Dom Camilo de Jesus
Dantas, OSB; que nos momentos da minha caminhada neste curso me ensinou
que na brevidade da vida devemos estar sempre em busca do Eterno e
aproveitarmos o hoje como se fosse o último momento de nossas vidas.
A todos os meus amigos: Dom Guilherme (Vinicius) Mercês, OSB Oliv.; Dom
João Marcos (Sidnei) Nonato, OSB; e ao Pe. Rodrigo Arnoso, CsSR; que me
ajudaram nesta jornada de estudos e sobretudo, nesta conclusão deste trabalho.
Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a
conclusão desta etapa acadêmica.
“Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, de pleno direito, as belas
artes, e muito especialmente a arte religiosa e o seu mais alto cimo, que é a arte sacra.
Elas tendem, por natureza, a exprimir de algum modo, nas obras saídas das mãos do
homem, a infinita beleza de Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de
Deus se não tiverem outro fim senão o de conduzir piamente e o mais eficazmente
possível, através das suas obras, o espírito do homem até Deus.
É esta a razão por que a santa mãe Igreja amou sempre as belas artes, formou artistas
e nunca deixou de procurar o contributo delas, procurando que os objetos atinentes ao
culto fossem dignos, decorosos e belos, verdadeiros sinais e símbolos do
sobrenatural...”
(Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, n. 122)
RESUMO
O presente trabalho aborda a importância da obra de arte no ambiente
sacro, como relevante instrumento de educação religiosa no interior da Basílica
de Nossa Senhora de Aparecida, o maior templo católico do Brasil e o segundo
maior do mundo. Trata-se do estudo sobre processo de comunicação e mídia
do artista Cláudio Pastro, responsável pela execução da arte sacra e visual da
Basílica, para atingir o grande público na contemporaneidade. Como o artista
cria esta comunicação estética, unindo todas as partes deste edifício de
dimensão monumental, impondo seu estilo único e atual. Com uma linguagem
desenvolvida em estudos no exterior e influências no passado, o artista busca
na arte sacra os ensinamentos da liturgia e atinge povos de todas as idades,
classes sociais e cultura. A análise da obra de acabamento, como o altar, a
cúpula e o baldaquino retratam a beleza do cuidado em que o artista expressou
na liturgia a presença dos inúmeros de brasileiros que estão interligados em
Aparecida.
Palavras-chave: Basílica de Aparecida, história, arte sacra, Cláudio Pastro,
comunicação.
ABSTRACT
This final paper approaches the importance of the work of art in the sacred
environment with relevant instrument of religious education in the interior of the
Basilica of Nossa Senhora Aparecida, the biggest Catholic temple in Brazil and
the second biggest in the world. It is studied here the process of communication
and media by Claudio Pastro, responsible for the visual and sacred art of the
Basilica, in order to reach the great public of the contemporaneity. How the artist
creates this aesthetic communication, uniting all parts of this monumental
building imposing his unique and current style. Using a language developed in
studies abroad and influenced by the past, the artist finds in the sacred art the
teachings of liturgy and reaches people of all ages, social classes and cultures.
The analysis of finishing work, like of the altar, the dome and the baldachin
depicts all the beauty and care that the artist expressed in the liturgy the presence
of uncountable Brazilians who are bonded in Aparecida.
Key words: Basilica of Aparecida, sacred art, Claudio Pastro, communication.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
CAP.1 – O ENCONTRO DA IMAGEM E A PRIMEIRA IGREJA 14
1.1. Contextualização histórica e a descoberta da imagem 14
1.2. O erguimento do primeiro oratório e o milagre das velas 15
1.3. A primeira igreja de Nossa Senhora Aparecida 16
1.3.1. Os primeiros milagres na primeira igreja 19
1.4. A necessidade de uma igreja maior 20
CAP. 2 – A CONSTRUÇÃO DO SANTUÁRIO NACIONAL DE APARECIDA 24
2.1. A idealização e os primórdios da construção da nova basílica 24
2.2. Inauguração da basílica de Aparecida 29
2.3. A concepção do acabamento da basílica 31
CAP. 3 – CLAUDIO PASTRO E O SANTUÁRIO NACIONAL 35
3.1. Uma vida rodeada de religiosidade e arte 35
3.2. A visão do artista Claudio Pastro sobre o templo 36
3.2.1 O altar e a cruz 38
3.2.2. O baldaquino e a cúpula central 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47
REFERÊNCIAS CONSULTADA 49
ÍNDICE REMISSIVO DAS FIGURAS
Cap. 1. A descoberta da imagem e a construção dos templos.
Fig. 1 – Primeiro oratório 16
Fig. 2 – Primeira igreja para Nossa Senhora Aparecida 17
Fig. 3 – Segunda igreja para Nossa Senhora Aparecida 21
Cap. 2. A construção do Santuário Nacional de Aparecida
Fig. 4 – Primeira planta da Basílica Nova 27
Fig. 5 – Placa de responsabilidade civil 27
Fig. 6 – Detalhe das portas da Nave Norte 28
Fig. 7 – Etapa das obras da Nave Norte 28
Fig. 8 – Vista atual da Basílica de Aparecida 31
Cap. 3. Claudio Pastro e o Santuário Nacional
Fig. 9 – Detalhes do altar central da Basílica 40
Fig. 10 – Vista do altar central 40
Fig. 11 – A cruz 41
Fig. 12 – O baldaquino 43
Fig. 13 – A cúpula 44
12
INTRODUÇÃO
Desde muito cedo, enquanto era ainda criança, sempre tínhamos o
costume de todos os anos, irmos ao Santuário Nacional de Aparecida. Com o
passar dos anos, pude perceber uma linda e magnifica igreja assim chamada de
“Basílica Nova” ser transformada. Aquilo que era apenas coberto por tijolinhos
sem muita expressividade, foi ganhando vida e grandes sentidos.
Esse trabalho a qual tive a alegria de desenvolver trata-se do Santuário
da Mãe do povo brasileiro, onde milhares de pessoas, assim chamados de
devotos, todos os anos caminham, peregrinam, rumo a grande igreja onde abriga
a imagem de Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil.
O trabalho é dividido em três capítulos; no primeiro é descrito a história
do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, desde a pesca milagrosa
até a primeira igreja construída e dedicada à Senhora Aparecida. No segundo
capítulo conta-se a história da construção da Basílica de Aparecida, desde a
escolha do terreno, o Monte das Pitas, na supervisão através do arquiteto
Benedito Calixto Neto, e após sua morte, assumida totalmente pelo Padre André
Sotilo. E por fim, no terceiro capitulo, inicia-se com a história do artista Cláudio
Pastro, como foi o trabalho e estudo de execução das obras, objetivos e
influências. E ainda, vemos toda a leitura de algumas obras que a princípio
parecem simples, mas, ao entendê-las melhor, descobrimos sua complexidade.
O projeto tratou de um dos maiores templos católicos do mundo. E, não
obstante as suas dimensões, foi possível vivenciar, ao admirar in loco a sua obra,
como o artista foi capaz de levar o observador à introspecção no espaço sagrado
do templo e integrar a comunicação de todos os espaços unindo em uma só
linguagem todos os cantos desta estrutura monumental.
Todos os pontos cardeais representados pela Nave norte, Nave sul,
Nave leste e Nave oeste desta basílica encontram-se em um ponto que é o Altar
Central, no interior da basílica. É o lugar de início da comunicação, que se
expande pelas paredes, contando histórias do nascimento de Jesus Cristo, sua
vida pública, sua paixão e ressurreição. Pelo chão vemos ondas que saem do
altar e como um rio esparramam-se, em contínuo movimento, para atingir todos
os cantos e todas as pessoas que por aí transitam.
13
Os detalhes abrangeram desde o processo de escolha do artista, até os
materiais das obras e os de revestimento. Entender o contexto de
desenvolvimento da obra através do artista e da Igreja podemos dizer que foi
uma experiência ímpar. Além disso, o acesso direto às obras, seus detalhes de
elaboração, técnicas de azulejaria e marmoria, bem como ao Centro de
Documentação e Memória da Basílica, nos transportaram para um ambiente de
arte monumental, ao tempo em que induzia à calma, à fruição artística e à
meditação diante do mistério religioso.
Que todos possam fazer uma boa apreciação deste trabalho.
14
CAPITULO I
O ENCONTRO DA IMAGEM E A PRIMEIRA IGREJA
A abordagem do templo, aqui entendido como a Basílica de N. Sra.
Aparecida, pressupõe uma contextualização do cenário histórico no qual foi
descoberta a imagem de Nossa Senhora e do desenvolvimento de sua devoção,
no século XVI.
1.1. Contextualização histórica e a descoberta da imagem
A descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida aconteceu em
outubro de 1717, onde estava ali, em meio ao lodo, no fundo do Rio Paraíba do
Sul.
A cidade de Aparecida ainda não existia naquela época, ali viviam
apenas alguns moradores que faziam parte do vilarejo que mais tarde se
emanciparia na cidade de Aparecida. Esse pequeno vilarejo pertencia a cidade
de Guaratinguetá.
Tudo começou quando a cidade Guaratinguetá iria receber a visita do
Governador, Conde de Assumar, Pedro de Almeida e Portugal que faria ali uma
visita oficial. Desse modo, a Câmara Municipal da cidade de Guaratinguetá
queria encontrar uma maneira para receber o tal governador e ordenou aos
homens pescadores que, mesmo em uma época que não tinha peixes, fossem
pescar e que deveriam a todo custo trazer peixes para a visita do governador1.
E assim eles, Domingos Martins Garcia, João Alves e Filipe Pedroso
foram tentar a sorte. Lançaram as canoas nas águas com suas redes e foram
em busca dos peixes. Depois de muitas tentativas, jogando e tirando as redes
do Rio Paraíba do Sul, quase já desistindo da pesca, eis que pescam algo.
Tratava-se de uma pequena imagem de uma santa, sem sua cabeça. Eles
ficaram assustados, pois pescar uma imagem assim, poderia ser uma desordem
no povoado ou um sinal de Deus.
Crendo no sinal de que era autêntico de Deus, resolveram guardar a
imagem sem cabeça com eles. Quando navegaram para o outro lado do rio,
1 Era uma tradição, na visita de alguém ilustre, oferecer nas principais refeições a culinária local.
15
decidiram jogar novamente as redes, e pescaram outra coisa, tratava-se de uma
cabeça de uma santa. Um dos pescadores que não é apresentado encaixou a
cabeça com o tronco da imagem, e elas se encaixaram perfeitamente2. Foram
novamente para outro lado do rio, jogaram novamente as redes e pescaram
tantos peixes que não tinham mais espaço em sua canoa para tamanha pesca.
E assim, com a pesca em abundância e com a imagem encontrada, eles
retornaram para seu povoado.
A imagem ficou e permaneceu por um tempo na casa do senhor Filipe
Pedroso, e foi lá que ela ganhou seu primeiro oratório. Em 1723, Filipe se mudou
para outro bairro chamado Ponte Alta, levou com ele e construiu um outro
oratório3 onde a devoção começou a se difundir e passara a chamar aquela
imagem de Nossa Senhora Aparecida4. A imagem de Nossa Senhora que foi
encontrada mede 39 centímetros, incluindo o pedestal. É feita de terracota (argila
modelada e cozida em forno). Pe. Júlio Brustoloni (2012) ainda diz que o primeiro
registro formal sobre as características da imagem constam de referidas Ânuas
dos padres jusuítas, onde consta “(…) Ex argilla caerulei coloris convecta esta
imago illa, multis patratis miraculis clara.” – aquela imagem foi moldada em
argila, sua cor é escura, mas famosa pelos muitos milagres realizados.
1.2. O erguimento do primeiro oratório e o milagre das velas
Anos mais tarde, Filipe novamente se mudou para o Porto Itaguaçu,
doando assim a imagem a seu filho que imediatamente se prontificou em
construir um novo oratório, onde a imagem permaneceu por mais algum tempo.
Foi nesse oratório que a imagem começou a realizar seus primeiros
milagres. Com a expansão da ‘fama’ da devoção de Nossa Senhora Aparecida,
as pessoas ou os devotos do povoado se encontravam todos os sábados para a
oração do terço.
2 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 4. 3 O oratório é compartimento de espaço consagrado à oração. 4 ALTEMEYER JR, Pe. Fernando; CORDEIRO, José. Aparecida Caminhos da fé. São Paulo: Edições Loyola,
1998. p. 11.
16
1. Primeiro oratório construído para abrigar a imagem de Senhora Aparecida. Possivelmente
o milagre das velas aconteceu nesse oratório. Fonte: Portal A12.com
Naquela época não existia luz elétrica, os devotos da imagem rezavam
à luz de velas que eram feitas de cera de abelha. De repente, enquanto rezavam,
as velas se apagaram e as pessoas ficaram preocupadas com aquilo, pois, não
havia motivos para que as velas se apagarem; de repente, quando não
esperavam as velas se acenderam sozinhas, como um verdadeiro milagre. E os
devotos com aquele sinal, puderam encontrar através do terço que rezavam
forças para suas vidas. E as orações que somente aconteciam aos sábados,
passaram a ser mais assíduas e quanto mais se rezava, a devoção só
aumentava.
1.3. A primeira igreja de Nossa Senhora Aparecida
Em julho de 1745, o padre vigário de Guaratinguetá, José Alves Vilela5,
devido ao grande aumento de devotos da imagem, convidou o povo para levar a
imagem a uma igreja no Morro dos Coqueiros6. Ali estava a primeira igreja
dedicada para permanecer a pequenina imagem de Nossa Senhora Aparecida.
A igreja que abrigava a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi doada pelas
5 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 6. 6 Localizado na cidade de Aparecida-SP, é a região urbana mais alta da cidade.
17
pessoas que moravam na circunvizinhança, e naquele local, o mais alto do
bairro7.
2. Primeira igreja construída para Nossa Senhora Aparecida. Fonte: Portal A12.com
A Basílica8 Velha (Igreja Matriz), construída pelo Padre José Alves Vilela,
em 1745, passou por duas reformas, a primeira entre 1760 e 1780, quando
recebeu nova fachada com duas torres e a segunda de 1824 a 18349. Passados
dez anos da última reforma, uma das torres não oferecia segurança. A Mesa
Administrativa10, que cuidava dos bens da Capela, pediu em julho de 1844, ao
mestre pedreiro José Mello Costa que verificasse seu estado. Constatado o
perigo, a Mesa decidiu, na seção de 26 de setembro deste mesmo ano, demolir
a torre e construir outra, ato que foi autorizado pelo Juiz Provedor11.
Os trabalhos de demolição foram iniciados em novembro com a ativação
da pedreira Cachoeira, situada no caminho que demandava a Cunha12. O
transporte das pedras foi iniciado em janeiro de 1845, pelo Padre Antônio
Francisco de Oliveira, que possuía carros de bois e escravos para esse serviço.
Como era difícil para os carros subirem a “Rua da Calçada”, atual Rua Monte
7 RIBEIRO, Zilda Augusta. História de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e de seus escolhidos.
Aparecida, São Paulo: Editora Santuário, 1998. p.23 8 A Basílica é, conforme o direito canônico, de certos privilégios: dispor de altar reservado ao papa, ao cardeal ou ao patriarca, e não estar submetida à jurisdição eclesiástica local, o que lhe confere status internacional. 9 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 26. 10 Comissão responsável para os cuidados da capela como construção e reforma. 11 RIBEIRO, Zilda Augusta. História de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e de seus escolhidos.
Aparecida, São Paulo: Editora Santuário, 1998. p.35. 12 Cunha é um município no leste do estado de São Paulo, no Brasil.
18
Carmelo, a Mesa decidiu, em fevereiro do mesmo ano, abrir outro caminho por
trás do morro da Capela, para facilitar o transporte13.
De início pensava-se em demolir a torre que oferecia perigo, mas depois
se decidiu pela demolição das duas torres e, posteriormente, a construção de
uma nova fachada e de duas novas torres. A mudança nos planos ocorreu
porque havia o desejo de se construir uma igreja mais bela e mais digna para
abrigar a imagem da Senhora Aparecida, isso porque a riqueza que o ciclo do
café estava trazendo ao Vale do Paraíba fazia aumentar o fluxo de peregrinos14.
A mudança de planos trouxe certo atraso no início das obras, mas em
maio de 1845 as atas15 já falam na construção de uma das torres. De fato, o
portal da primeira torre, a da direita, traz esculpida a data de 1846. As duas torres
da “Basílica Velha” são encimadas por um conjunto onde se pode ver uma
esfera, uma cruz e um galo. O conjunto é obra do artista João Júlio Gustavo, que
em 15 de setembro de 1859 recebeu o pagamento pela sua confecção e
colocação no topo da primeira torre, que ficou pronta neste mesmo ano16. Em
fevereiro de 1862, a Mesa decide carrear as pedras necessárias para a
construção da segunda torre e “depois das chuvas fazer o engenho para fazer
subir as mesmas e concluir a torre”17. O seu término, porém, se deu somente em
fins de janeiro de 186418. Finalmente, depois de 19 anos, a Capela ostentava
sua artística e vistosa fachada com suas duas torres. As mesmas torres que, no
dizer do Redentorista Pe. José Wendel19 detinham os romeiros, quando ainda
longe avistavam, para um instante de preces e de alegria. E apeando-se de seus
cavalos, ajoelhavam-se no chão, agradecendo a Deus e cantando hinos à
Senhora Aparecida.
13 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 31. 14 ALTEMEYER JR, Pe. Fernando; CORDEIRO, José. Aparecida Caminhos da fé. São Paulo: Edições Loyola,
1998. p. 14. 15 Dados fornecidos pelo historiador Dr. Helvécio Vasconcelos Castro Coelho, da cidade de Guaratinguetá. 16 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 33. 17 Ibid. p. 34. 18 Ibid. p. 57. 19 Ibid. p. 39.
19
1.3.1. Os primeiros milagres na primeira igreja
E foi justamente entre essas torres que encontramos os outros milagres
de Nossa Senhora Aparecida. Existia um sujeito muito valente que fazia tudo
aquilo que dava na cabeça e que duvidava da existência da chamada ‘santa’.
Foi então que ele decidiu ir sozinho até a igreja e entrar a cavalo na igreja,
deixando para trás o povo e os chamando de mentirosos e medrosos. E lá foi
ele, quando chegou próximo a igreja da santa, com o coração bravio, ele quis
desafiar a Mãe do Céu. E o grande milagre aconteceu: a marca da pata do cavalo
ficou gravada na pedra da escadaria, pois, em um singelo sinal, o cavalo se
recusou a entrar na igreja onde estava a imagem de Aparecida. O que faltava
naquele pobre e humilde homem era a Fé. E a partir de então o homem se tornou
devoto a Virgem Santa.
O outro milagre foi de um escravo, de nome Zacarias, que correndo do
seu feitor queria liberdade para sua vida. Em meio as suas fugidas, ele correu
em direção ao Vale do Paraíba, onde já sabia dos milagres da santa. Porém, no
caminho, cansado e com fome, adormeceu e seu feitor o encontrou embaixo de
um pé de laranjeira. O feitor o prendeu e queria leva-lo de volta a Curitiba, como
um animal, sendo arrastado. Passando próximo a Aparecida, ele pediu ao seu
feitor que o levasse a capela, mesmo resistindo, pois, seu feitor dizia que ele não
tinha direito a nada acabou levando o pobre Zacarias para a igreja onde queria
rezar. E na igreja, entrando acorrentado com seus feitor, ajoelhou-se e do nada,
as correntes caíram, em frente a imagem de Nossa Senhora Aparecida e o
escravo foi libertado.
Outro milagre que aconteceu nessa mesma igreja foi em 1867, da
menina cega de Jaboticabal-SP.
Dona Gertrudes Vaz morava com sua filha. Um irmão dela, chamado
Malaquias, ia sempre em peregrinação à Aparecida, e depois contava para a
sobrinha os milagres que ali se operavam. A menina pedia à mãe para irem
também em peregrinação. Mas como eram muito pobres, não tinham recursos
para a longa viagem. Confiando, porém, na Virgem Aparecida, elas se puseram
um dia a caminho, pedindo esmolas para se manterem.
Depois de semanas de viagem, ao chegarem próximo de Aparecida, de
repente, a menina que era cega de nascimento, exclama com simplicidade: “Olha
20
mãe! Aquilo não será a igreja de Nossa Senhora Aparecida?” E muito
emocionada, a mãe pergunta: “Então, minha filha, você está enxergando?”.
“Perfeitamente, mamãe!” - respondeu a menina. “De repente veio uma luz que
clareou a minha vista”.
Outro milagre foi o do menino no rio, acontecido quando pai e filho foram
pescar. Durante a pescaria, a correnteza estava muito forte e por um descuido o
menino, que não sabia nadar, caiu no rio. A correnteza o arrastava cada vez
mais rápido e o pai desesperado pediu a Nossa Senhora Aparecida para salvar
o menino. De repente, o corpo do menino parou de ser arrastado e o pai pôde
salvar seu filho. Houve ainda o milagre do caçador que estava voltando de sua
caçada já sem munição, e que, de repente, se deparou com uma enorme onça.
Ele se viu encurralado e a onça estava prestes a atacar. Quando o caçador pediu
desesperado à Nossa Senhora Aparecida por sua vida, a onça se virou e foi
embora. Assim, foram os inúmeros gestos de Nossa Senhora Aparecida, muitos
milagres e situações que fizeram que as pessoas fizessem conhecer ainda mais
a pequena imagem de Aparecida.
1.4 A necessidade de uma igreja maior
Devido ao grande número dos fiéis, o Frei Joaquim do Monte Carmelo,
o baiano arretado e guardião da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, decidiu
junto até mesmo na justiça, a construção de uma Basílica maior para Aparecida,
a qual até hoje encontramos situada e denominada como Matriz-Basílica.
O Frei Monte Carmelo era conhecido pelo temperamento difícil,
agressivo e irreverente demais para época. Ao chegar ao
vilarejo de Aparecida, diante do estado da igreja, em 1876, o frei
resolveu tomar uma decisão parada há 13 anos, não por falta de
verba, mas sim por causa da desonestidade de tesoureiros. A
decisão de Monte Carmelo foi retomar a construção da nova
basílica. O frei baiano se tornou o empreiteiro da obra. Naquele
tempo, a riqueza do café refletia também nas rendas do cofre.
Em meio ao conflito com a administração dos cofres, o frei foi
conseguindo recursos para a realização das obras. Vendeu o
antigo altar e as imagens do templo para angariar fundos. Teve
21
de dispor de seus bens pessoais para saldar compromissos com
os fornecedores de materiais para a construção. Fez de tudo
para que a obra não parasse. Entretanto, os maus tesoureiros
tiveram a ousadia de processá-lo, mas naturalmente ele
recorreu e ganhou a causa. (Portal A12.com)
A sua insistência fez com que, a tivesse um local adequado, onde a
maioria dos fiéis, pudessem encontrar um local de encontro, celebração e júbilo
naquele lugar e não desistiu, pois sabia que aquilo não era para ele, e sim para
os devotos da Virgem de Aparecida. E foi assim que, em 24 de julho de 1888, a
primeira missa era celebrada, coroando assim, um lugar digno e grande para
Nossa Senhora Aparecida. Uma construção feita com muito cuidado e atenção
para deixar que a igreja fosse elevada e dada imagem de Aparecida uma
morada, e hoje, há mais de 100 anos da construção da igreja Matriz-Basílica
encontramos ela lá, com sua arquitetura imponente, no alto do monte, tendo uma
grande praça a frente, onde muitos devotos, ainda nos dias de hoje, visitam
aquela que abrigou por alguns anos a imagem original da Virgem de Aparecida.
3. Segunda igreja construída para Nossa Senhora Aparecida pelo Frei Joaquim do Monte
Carmelo. Até hoje vemos a beleza dessa igreja elevada a Basílica Menor pelo Papa Pio X.
Nessa mesma praça também aconteceu a Solene Coroação de Nossa Senhora Aparecida.
Fonte: Portal A12.com
22
O Jornal O Lince, de fevereiro de 2008, publicou matéria de destaque,
de evento de 100 antes, quando o Papa Pio X concede em 29 de abril de 1908
o título de Basílica Menor, inclusive com a menção de que Dom Duarte Leopoldo
e Silva bispo da recém fundada Arquidiocese de São Paulo20, que até então era
a Diocese de São Paulo, fora o solicitante dessa honraria para o Santuário de
Nossa Senhora Aparecida:
Pio X, Papa. Em perpétua memória.
Segundo o uso e a prática dos Pontífices Romanos costumamos
nós com todo gôsto conceder honras e privilégios aos templos
conspícuos que diante de outros se distinguem por sua
construção e pela especial devoção dos fiéis para que seu culto
torne-se mais esplêndido e mais aumente o concurso e a
piedade do povo cristão. Sabendo porém existir um templo
nestas condições dedicado à Imaculada Virgem Mãe de Deus
sob o título popular de Aparecida, nas margens do rio Paraiba
no território da Diocese de São Paulo no Brasil, nós deferindo
benignamente os pedidos a nós apresentados por nosso
venerável irmão Duarte Leopoldo e Silva, bispo daquela diocese,
em nome do Clero e de todo o povo, tivemos por bem elevar
essa Igreja à dignidade mais alta. Fazemos isto com tanto mais
gosto porque conforme soubemos, o mencionado templo
construído no século XVIII e eminente entre os templos marianos
do Brasil por sua grandeza e obras de arte, atesta
clarissimamente a grande devoção à Virgem que primeiro tal
introduzida pelos Luzitanos nesta parte da América. (…) (…)
Enfim este Templo munido de abundantes paramentos sacros e
enriquecido de indulgências pelos romanos Pontífices, nossos
Predecessores, está agora confiado aos Presbíteros da
Congregação do Santíssimo Redentor que muito se esforçam
para promover ali o Culto Divino. A vista de tudo isto e na
esperança certa de que esta nossa concessão seja para a maior
glória de Deus e maior proveito das almas, em virtude de Nossa
autoridade apostólica, pelas presentes letras concedemos para
20 A elevação à Arquidiocese aconteceu em 07 de junho de 1908.
23
sempre à mesma Igreja da Imaculada Virgem Mãe de Deus,
chamada de Aparecida, sita na margem do rio paraiba dentre os
limites da diocese de São Paulo no Brasil, o título de Basílica
Menor e lhe conferimos todos os direitos, privilégios,
prerrogativas, honras e indultos que de direito competem às
Basílicas menores desta augusta cidade.(…) (…) Dado em
Roma, em São Pedro, sob o anel do pescador no dia 29 de Abril
de 1908; quinto ano de nosso Pontificado. (O LINCE, 2008).
24
CAPITULO II
A CONSTRUÇÃO DO SANTUÁRIO NACIONAL DE APARECIDA
O que aqueles simples pescadores, de oração diária do rosário junto à
imagem, não sabiam que aos poucos a Senhora Aparecida deixaria de lhes
pertencer e passaria a ser dos milhões de peregrinos e dos devotos. Apresento
a seguir a construção da maior casa de Nossa Senhora no mundo, sua
construção.
2.1. A idealização e os primórdios da construção da nova basílica
Em 1917, com o aumento dos ‘devotos de Nossa Senhora’ já se pensava
na construção de uma nova basílica. Em 1929, aconteceu o Congresso Mariano
que devido ao grande número de participantes, tornou-se assim evidente que
era necessária uma maior igreja. Como os recursos eram empregados na
construção da nova Catedral da Sé e em outras obras da Arquidiocese de São
Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva deixou essa tarefa para seu sucessor, pois
na época, a Arquidiocese de São Paulo abrangia todo o território do norte do
Vale do Paraíba, anos mais tarde apenas que foi ereta a Arquidiocese de
Aparecida21. Foi assim, em 1939, Dom José Gaspar de Afonseca e Silva22,
prometeu em uma visita a Aparecida, construir naquele lugar, um novo templo.
Ele mesmo escolheu a região do Morro do Cruzeiro, cujas terras foram
compradas em 1940. Porém, uma equipe de engenheiros não aconselhou a
construção naquele lugar, pois, se chegou à conclusão de que o solo era
impróprio para uma construção do porte que se pretendia para a nova basílica.
Acharam por bem escolher o local que seria a nova casa da imagem de
Aparecida, no Morro das Pitas, onde encontra-se a Basílica (Santuário23)
construída até os dias de hoje. O terreno é composto por uma gleba de 60
alqueires, que tem inicio no Morro das Pitas, em direção ao Porto Itaguaçu (local
21 A Arquidiocese de Aparecida é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica no Brasil. Foi criada em 1958. 22 Dom José Gaspar de Afonseca e Silva foi um sacerdote católico brasileiro; décimo quarto bispo e segundo arcebispo de São Paulo. 23 Um santuário, no conceito religioso, é um local sagrado, para onde, por devoção, acorrem peregrinos de diversas regiões.
25
onde, em 1717, foi encontrada a imagem de Nossa Senhora por pescadores). A
compra foi acertada por 300 contos de réis, mas a escritura não pôde ser
assinada por Dom José Gaspar, porque ele foi vítima de um desastre aéreo em
viagem à capital do país, à época no Rio de Janeiro. A gleba, composta por 10
terrenos, foi vendida à Cúria Metropolitana de São Paulo, em 1944, já sob a
gestão do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta24.
Em 1946, foi dada a benção a pedra fundamental, mas esta foi roubada
e jogada no rio25, tendo que assim, abençoar uma nova pedra fundamental, e
assim aconteceu em 1952.
É interessante observar, no periódico Ecos Marianos, que uma
reportagem de outubro de 1951 registrava uma ordem de Dom Carlos Carmelo
de Vasconcelos Motta, que na ocasião era o cardeal arcebispo de São Paulo:
Por determinação do eminentíssimo Sr. Cardeal-Arcebispo, a
construção da Nova Basílica será executada de modo que se
apronte o mais breve possível a grande cripta. Esta decisão visa
dar maior comodidade aos peregrinos, pois constatou Sua
Eminência que presentemente a atual Basílica não mais
comporta o número sempre crescente de devotos que procuram
aquêle Santuário (Ecos Marianos – Suplemento do Santuário de
Aparecida – 1952 – pag. 33). Essa edição registra, pela primeira
vez, uma publicação da planta da nova basílica. (ECOS
MARIANOS, 1951)
Entre 1946 e 1955, o engenheiro-arquiteto Dr. Benedito Calixto de Jesus
Neto se ocupou com o projeto das plantas e, em 1955 iniciou as obras da
construção da nova casa de Nossa Senhora Aparecida.
O arquiteto Benedito era neto do pintor brasileiro Benedito Calixto de
Jesus, considerado um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do
século XIX, nascido em 14 de outubro de 1853, na cidade de Itanhaém, no
24 Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta foi um sacerdote católico brasileiro; vigésimo quarto bispo do Maranhão e seu segundo arcebispo; décimo quinto bispo de São Paulo, sendo seu terceiro arcebispo e primeiro cardeal. 25 Não se há informações de quem a tivesse roubada. O autor do delito é desconhecido.
26
estado de São Paulo. A concepção original era de estilo neo-românico, com
características de arquitetura românica e bizantina e na forma de duas cruzes
gregas sobrepostas. A cruz grega, é um antigo tipo de cruz com braços de igual
longitude, na planta de Benedito Calixto Neto, elas aparecem sobrepostas e
cruzadas. Foi aprovado pela Pontifícia Comissão de Arte Sacra em 1949 e
composta por 4 naves. Segundo consta de relatos de “tradição oral”, Benedito
Calixto teria buscado inspiração nas arquiteturas românicas e em viagens feitas
à América do Norte. Em Washington, por exemplo, conheceu o Santuário da
Imaculada Conceição, construído no final do século XIX e início do XX, com
características romano-bizantinas, refletindo o Velho Mundo na América e muito
semelhantes ao formato da Basílica de Aparecida. Há que se destacar também
que consta dos Arquivos da Cúria Metropolitana de Aparecida os primeiros
esboços da basílica, feitos pelo famoso arquiteto austríaco Clemente
Holzmeister, que tem muitos projetos assinados na Europa e no Brasil26.
Na junção das quatro naves, formando uma cruz latina sobreposta à cruz
grega, encontram-se o Altar. A cruz latina, que é a mais comum de todas as
cruzes, representa o supremo sacrifício de Jesus, sua crucificação. Lembra-nos
também a ressurreição e a esperança da vida eterna. Tem 3 braços de igual
longitude e o quarto braço com um comprimento maior em duas vezes. Diferente
da cruz latina, a cruz grega tem todos os braços com o mesmo tamanho. Na
junção das duas cruzes, forma uma estrela de 8 pontas. O Altar, que se situa no
cruzamento das cruzes latina e grega, é o centro e coração do templo, bem ao
centro e abaixo da cúpula principal da área interna da nova basílica.
O Santuário tem o formato de uma cruz grega e latina. Latina – que são
as naves principais no formato da cruz que Cristo que simboliza o sacrifício. E a
Cruz grega que é formada pelas outras alas representadas pelas capelas de
passagem onde temos as madonas e as capelas de São José e do Santíssimo,
que formam uma cruz grega, perfeita em todos os lados. Então a cruz grega
sobreposta à cruz latina forma uma estrela guia. Pode-se dizer que o santuário
é uma estrela guia que, através de Maria, nos conduz até Jesus.
26 Ecos Marianos,2012. n. 46.
27
4 5
4. Primeira planta publicada da construção da nova Basílica, projeto de Benedito Calixto Neto,
jornal Ecos Marianos, p.34, 1952. Em torno da plataforma com a imagem teriam mais 8 pequenos
altares para celebrar 9 missas ao mesmo tempo. 5. Placa de responsabilidade civil da
terraplanagem, concretagem e construção da Basílica. Fotos 1 e 2: s/n e 2372. Cortesia do CDM
Pe. Antão Jorge.
A Basílica ou Santuário de Aparecida, foi construída por etapas, sendo
que, a primeira começou pela Nave Norte, em 1955, cuja construção deu-se em
1963. Em 1959, ainda enquanto se construía a Nave Norte, iniciou se a
construção da Torre, a qual deu-se o nome da cidade e capital do Brasil, Brasília.
Ela foi doada pelo governo federal, cujo presidente, Sr. Juscelino Kubitscheck.
Ela foi concluída em 196327
27 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 60.
28
6 7
6. Detalhe das portas de entrada da Nave Norte. Cortesia do CDM Pe. Antão Jorge, foto 2631.
7. Nave Norte em fase final de concretagem. Foto: 2830. Cortesia do CDM Pe. Antão Jorge.
Logo após essas duas obras, inicio-se a construção da cúpula central da
igreja, em 1964 e concluída em 1970. A cúpula mede 60 metros de altura e contra
de duas esferas sobrepostas. No ano de 1971, iniciou-se as obras da Nave Sul
e concluída em 1974, que ja foi utilizada na festa da padroeira daquele ano28. As
Naves Leste e Oeste praticamente foram construídas juntas, iniciando se em
1973, e sendo concluída em 1977, na festa da padroeira daquele ano. A estrutura
das quatros alas é idêntica, com exceção a ala sul que é 16 metros mais longa.
Todas as naves têm 40 metros de altura29.
A Basílica de Nossa Senhora Aparecida, assim como várias outras
construções, sofre influência das antigas construções. A igreja é toda
fundamentada em arcos, suas janelas, entradas e outras passagens são
marcadas do estilo românico tipo arquitetônico. Além do arco, podemos observar
o teto côncavo, encurvado da basílica, cuja estrutura é denominada abóbada.
Foram usados para sua construção cerca de 25.000.000 de tijolos e 40.000
metros cúbicos de concreto.
28 BRUSTOLINI, Júlio J.História de Nossa Senhora Aparecida: sua imagem e seu santuário. Aparecida: Ed. Santuario, 1998. p. 61. 29 Ibid. p. 62.
29
2.2. Inauguração da basílica de Aparecida
Foi inaugurada em 4 de julho de 1980, quando João Paulo II visitou o
Brasil pela primeira vez e lhe outorgou o título de Basílica Menor. Cabe destacar
aqui a terminologia adotada pela Igreja Católica para classificação de Basílica
Maior e de Basílica Menor. As basílicas maiores, também chamadas de basílicas
patriarcais, são 7 e estão localizadas em Roma, sob a autoridade do papa.
Outras igrejas, em diversos países, devido à sua importância, podem receber do
papa o título honorífico de basílica menor30.
Durante a inauguração da Basílica de Aparecida, perante uma multidão
de cerca de 300 mil pessoas, João Paulo II celebrou a Santa Missa na Esplanada
do Santuário. Após a Missa de Dedicação do Altar, o Papa fez sua consagração
e a de todos os brasileiros a Nossa Senhora Aparecida e deu a bênção final com
a imagem original de Nossa Senhora. Seu último gesto foi declarar o novo templo
“Basílica Menor”, o que viria a confirmar o costume do povo de chamar as igrejas
de Basílica Velha e Basílica Nova31. Em 30 de junho de 1980, durante a visita de
João Paulo II, o Governo Federal decretou oficialmente o dia 12 de outubro como
sendo feriado nacional de Nossa Sra. de Aparecida, padroeira do Brasil. Em
outra de suas visitas, passando por Aparecida, visitou o Santuário e, em 1984, a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, elevou a Nova Basílica a Santuário
Nacional.
A Basílica destaca-se pela sua magnitude e grandeza, por ser um dos
maiores centros da fé católica no Brasil. Considerado pela Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil, em 1984, como o “Maior Santuário Mariano do Mundo”.
Mais de um milhão de fiéis por ali passam anualmente, para visitarem a pequena
imagem, cumprirem com suas devoções, depositarem seus pedidos, pagarem
suas promessas e participarem das missas e celebrações. No mês de outubro,
por conta da festa da padroeira, é o mês de maior afluxo dos romeiros. A seguir,
algumas curiosidades32:
30 Basílica menor é um título honorífico concedido pelo Papa a igrejas em diversos países do mundo consideradas importantes por diversos motivos tais como: Veneração que lhe devotam os cristãos, Transcendência histórica e. Beleza artística de sua arquitetura e decoração. 31 O Estado de S.Paulo , 05 de julho 1980, p. 40. 32 Kit Imprensa . Administração do Santuário Nacional de Aparecida : s/data, ps. 28 e 29
30
• Extensão: 173 metros • Largura: 168 metros
• 4 naves: 40 metros de altura • Cúpula Central: 70 metros de altura
• Torre: 107 metros de altura • Área coberta: 18.000 m2
• Tijolos da construção: 25 milhões • Volume de concreto: 40.000 m3
• Área construída: 23.300 m2 • Telhado: 257.000 telhas azuis
• Estacionamento: 272.000 m2 • Lotação: 45.000 pessoas33
Segundo estatística reunida por Júlio Brustoloni, o fluxo de romeiros na
basílica mudou significativamente entre 1968 e 1997, evidenciando que a
estrutura atual do templo era uma demanda que não poderia de fato esperar
mais tempo. A quantidade de pessoas passou de 903 mil, em 1968, para 3
milhões em 1979 e ascendendo a 6,2 milhões em 1997. Um crescimento
vertiginoso de 687%. Em 2010, portanto passados outros 13 anos, os registros
acusaram 10.380.173 visitantes à basílica.
Por consequência, também o fluxo de veículos coletivos (ônibus) e de
passeio cresceu, de 16.127 e 51.594, em 1968, respectivamente, para 68.025 e
228.332, em 1997. Ou seja, registrou-se um crescimento de mais de 420% nos
veículos. Note-se que esta estatística registrou as concentrações aos domingos.
Era sem dúvida premente uma nova concepção dos espaços de
estacionamento, do contrário, se estabeleceria o caos na cidade e arredores.34
Além dos 182.000 m2 de piso a decorar, as 4 naves com 40 metros de
altura, a cúpula de 70 metros e os enormes vitrais de cada uma das naves e das
5 capelas, eram um grande desafio, principalmente tendo em vista que essa obra
em si mesma deveria ter um conteúdo evangelizador retratado nos “sinais” da
igreja, e expresso até os dias de hoje. A nova basílica, como vimos, foi projetada
no início da década de 50 e, portanto, foi adequada ao modelo litúrgico então
vigente. Em torno da plataforma teria mais oito pequenos altares, o que permitiria
a celebração de nove missas simultâneas”. A basílica pós concílio tinha
realmente que ser revista, em função das novas diretivas do Concílio Vaticano
2, em que o altar da celebração tem que ocupar um lugar de destaque e de
33 Disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/1874/1/Egidio%20Shizuo%20Toda.pdf. Acesso em: 16 nov.2017. 34 Brustoloni, 2012, ps.377-378.
31
modo, com que todos possam ter a possibilidade de vê-lo. Com isso, a Nave Sul
foi adaptada para receber a imagem de N. Sra. Aparecida, de forma que os fiéis
em todas as naves convergissem para o centro da celebração, o altar.
8. Vista atual da Basílica de Aparecida com a Nave Norte ao centro e a Torre Brasília à direita.
Foto: Lucas Antonio Gobbo Custódio. Registro em novembro de 2011.
2.3. A concepção do acabamento da basílica
Foi levando em conta o contexto pós conciliar que, em 1997, a convite
do então Cardeal Arcebispo de Aparecida, D. Aloísio Lorscheider, o artista
plástico Cláudio Pastro assumiu o processo de conclusão da gigantesca basílica,
juntamente com outros artistas e arquitetos especializados em Arte Sacra.
Em entrevista do reitor na época da Basílica à Revista de Aparecida35,
Pe. Darci Nicioli, CSsR., hoje, Dom Darci Nicioli36, falou sobre o processo seletivo
35 A Revista de Aparecida nasceu com a missão de auxiliar a vida espiritual das famílias dos Devotos de Nossa Senhora Aparecida de todo o Brasil. Sua missão é informar, formar e evangelizar. Criada em abril de 2002, a publicação é um presente, uma forma que a Campanha dos Devotos do Santuário Nacional encontrou para agradecer o ‘sim’ de cada membro da nossa grande Família em favor da obra evangelizadora da Casa da Mãe Aparecida. 36 Dom Darci José Nicioli é um arcebispo católico brasileiro, atual arcebispo de Diamantina. Foi Ecônomo
do Santuário Nacional de Aparecida, de 1997 a 2005 e Reitor do mesmo Santuário de 2008 até 2012, data de sua nomeação para o episcopado.
32
do artista para o desenvolvimento da obra de acabamento do templo. Esclareceu
que esse processo teve início em 1997, quando se resolveu entrar na fase de
acabamento da nova basílica. Foi então constituída uma comissão especial,
composta por teólogos, litúrgos, arquitetos, os principais responsáveis pela
condução da pastoral do Santuário, além da presença do cardeal arcebispo,
Dom Aluízio Loscheider. Foram convocados diversos artistas sacros, dentre eles
Cláudio Pastro. O que mais chamou à atenção na proposta dele foi a sua
consistência com as recomendações do Concílio Vaticano II, de que tudo deveria
partir do altar central, o Cristo como centro e não do trono de Nossa Senhora,
porque tudo se inicia e finda em Jesus Cristo. Daí é que derivaria todo o
acabamento da nova basílica. O grupo então resolveu, por unanimidade, optar
pelo Cláudio Pastro, pela sua competência, pelas obras realizadas por ele, não
só no Brasil, mas também no exterior, bem como pelos livros editados por
Cláudio Pastro, que mostram um conhecimento bastante profundo da arte sacra.
Mas foram mais de dois anos de análise das propostas de Cláudio Pastro, até
que finalmente seus projetos foram aprovados e se desse início ao processo
efetivo de acabamento. Destacou o Pe. Darci:
“… Muito particularmente a escolha dele se deveu ao fato de que
não optamos por uma arte figurativa. Porque a arte figurativa tem
um fim em si mesma. Se você vê, por exemplo, um quadro do
Renascimento, o quadro em si esgota toda a realidade. Nós
então preferimos a arte do Cláudio Pastro, que não é figurativa,
é mais representativa, porque ela remete ao mistério. Quando
você contempla a obra de Cláudio Pastro, você não fica na obra.
A obra é como um sinal. É como um símbolo, que remete a um
significado. No caso da Basílica, é importante falar do mistério
de Deus que se realiza dentro deste espaço. Então a obra dele
é mais adequada para este nosso objetivo. Fazer com que quem
aqui viesse percebesse a presença do mistério. A atuação do
mistério de Deus, que age neste espaço santo, neste espaço
sagrado. Então, a opção por Cláudio Pastro é justamente porque
a sua obra não é figurativa, mas vai até o mistério…” (DARCI,
2009)
33
Com relação ao Comentário do Pe.Darci, de ser a arte de Cláudio Pastro
representativa e não figurativa, embora muita discussão técnica aflore disso, o
próprio artista também reforça esse conceito37, porque para além da imediatez
que se apreende da própria imagem, ela traz consigo um conteúdo simbólico
muito grande, e complexo, na medida em que, da figura simples e de fácil
apreensão, o conjunto remete para todo o processo de vida, paixão e morte de
Jesus e de nossa redenção. As imagens instaladas sobre os portais são ainda
de um conteúdo simbólico muito grande e de maior complexidade. É o caso do
Cordeiro Imolado, cujos significados que traz vão muito além daquilo que se
pode apreender de pronto e que poderemos ver logo a seguir no depoimento do
artista, porque estão associados com passagens do Livro do Apocalipse de São
João.
Em outro momento da entrevista, o reitor destaca como se deu este
acordo de expectativas, entre o artista e a comissão de especialistas da Basílica:
“Eu digo que nada, para quem tem fé, acontece por acaso.
Cláudio Pastro é o artista sacro brasileiro da atualidade. O único
por sua tamanha competência e experiência… não posso falar
por ele, mas posso interpretar o que ele pensou. Certamente ele
viu nisto a possibilidade de imortalizar-se na arte sacra. Porque
Aparecida é o coração católico do Brasil e o Brasil é o maior país
católico do mundo. Então, entendo que houve um casamento,
entre a competência do Cláudio Pastro e aquilo que nós
queríamos e a vontade dele. E Deus agiu nesse meio, porque o
artista recebe esses dons, não por seus méritos, mas por graça,
como nós entendemos na fé. Então, entendo que o que o
Cláudio faz aqui é ser o instrumento de Deus. Deus está
trabalhando nele para se perpetuar. A Basílica quer ser a
perpetuação da presença de Deus. Uma extensão, um
instrumento, que vai dizer para nós que a arte que aqui está já
diz como Deus nos ama, como Deus nos escolheu para a vida,
que onde Deus está a vida é abundante e que nós não estamos
à deriva neste mundo. Deus é nosso grande parceiro. Nós nos
sentimos acolhidos na Basílica, que na verdade é o grande
37 PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. São Paulo: Paulinas, 2008. p. 24.
34
útero, onde nós renascemos para a vida e para a virtude”
(DARCI, 200938)
E a partir dessa escolha, segundo o reitor, foi dada a continuidade a todo
o acabamento, sempre passando pelo crivo dessa comissão de especialistas,
em teologia, em liturgia e em estética.
38 Disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/1874/1/Egidio%20Shizuo%20Toda.pdf. Acesso em: 16 nov.2017.
35
CAPITULO III
CLÁUDIO PASTRO E O SANTUÁRIO NACIONAL
“A Basílica Nacional de Aparecida não é apenas um edifício entre tantos
outros, mas por sua forma e simbologia é um espaço que une o Céu e a Terra”,
assim define o artista sacro responsável pelo as obras de acabamento do
Santuário Nacional, Claudio Pastro (1999).
3.1. Uma vida rodeada de religiosidade e arte: infância, estudos e
saber
O artista plástico Cláudio Pastro é brasileiro, nascido em 1948 em São
Paulo-SP, na Maternidade São Paulo, um hospital próximo da Avenida Paulista
e morou na altura do número 600 da rua Frei Caneca. Depois, foi viver com a
família no Tatuapé, também na cidade São Paulo. em frente ao convento das
Irmãzinhas da Assumção, cujas primeiras irmãs eram de origem francesa e os
padres holandeses. Naquela época quase não havia padres brasileiros.
Segundo ele, a própria cidade da São Paulo, na década de 50, era uma cidade
européia e que ele, pelo menos aos domingos, tinha a obrigação de falar em
francês na mesa. Rodeado por arte, treinou seus primeiros rabiscos em papéis
de pão, acompanhado por sua mãe.
Pastro estudou em colégio estadual e depois fez a graduação de
Ciências Sociais, na Pontifícia Universidade Católica - PUC de São Paulo, que
era o mais barato, concluindo em 1972. Nesse tempo de universitário, dava aulas
em cursos de madureza e de preparação para o vestibular, para sobreviver. Ao
concluir a graduação, já que gostava tanto de arte, foi instigado por amigos a
visitar a Europa e lá ficou por três meses.
A partir de 1974, através de amigos, começou seus trabalhos com arte.
O primeiro trabalho que, segundo ele, foi o mais consistente ligado à arte, foi
num projeto da Prefeitura de São Paulo, na região da Zona Leste – em
Itaquera39. Dedicou-se desde 1975 à arte sacra, quando fez a sua primeira
exposição individual de pintura no salão da PUC de São Paulo, na cidade de São
39PASTRO, Cláudio. Guia do espaço sagrado. São Paulo: Loyola, 1999. p.6
36
Paulo, Brasil. Em 1976/77, por volta do mês de agosto, um grupo de italianos
ligados a seus amigos visitou uma exposição sua em Itaquera. Entre eles estava
o marchand Francesco Ricci. Pastro tinha dez trabalhos em exposição e ele
comprou os dez. A temática já era a de arte sacra. Um dos trabalhos era uma
composição em couro para ser colocada numa porta de capela40. Tem realizado
pinturas, vitrais, azulejos, altares, cruzes, esculturas e presbitérios em igrejas,
mosteiros e catedrais nos estados do Brasil, Bélgica, Itália, Alemanha e
Portugal41.
Ilustrou os seguintes livros: Os diálogos de São Gregório Magno
(Alemanha), Vida de Santo Antônio (Itália), A Virgem de Guadalupe (Alemanha,
Espanha e Brasil), entre outros. Com frequência é chamado como palestrante, e
como docente, ministra cursos de Estética, Arte Sacra e Liturgia em seminários,
escolas teológicas, mosteiros, conventos, museus e faculdades. Cláudio tornou-
se um dos maiores nomes da arte sacra contemporânea no Brasil e reconhecido
mundialmente. Foi responsável pelo projeto artístico de mais de 350 igrejas,
capelas, catedrais e basílica no país e no exterior. Também é ilustrador de livros
e docente com mais de 30 anos dedicados a esta arte. Trabalhou em seu maior
desafio, é o responsável pela criação, comunicação, desenvolvimento estético e
artístico da área interna e externa da Basílica de Nossa Sra. de Aparecida. Sua
obra prima42.
Morreu na madrugada do dia 19 de outubro de 2016, aos 68 anos, após
sofrer um AVC. Seu velório e seu enterro ocorreram no Mosteiro Nossa Senhora
da Paz43, em Itapecerica da Serra, no estado de São Paulo.
3.2. A visão do artista Cláudio Pastro sobre o templo
A Basílica é um espaço universal que abrange o homem todo, do nascer
ao morrer, e todos os homens de todos os lugares de todos os tempos. Por sua
função e identidade, é um edifício sacro, isto é, não cuida das banalidades e
40 Ibid. p. 9 41 Ibid. p. 10 42 PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. São Paulo: Paulinas, 2008. 43 O Mosteiro Nossa Senhora da Paz pertence à Congregação Beneditina do Brasil e foi fundado em 21 de julho de 1974, como priorado dependente da Abadia de Santa Maria, e erigido em Abadia a 23 de maio de 1983, na cidade de Itapecerica da Serra, na Diocese de Campo Limpo, São Paulo.
37
interesses do cotidiano, do profano, mas existe para a gratuidade da essência
da vida, para a escuta e louvor de seu único Senhor e Deus.
Na junção das quatro naves, formando uma cruz latina sobreposta à cruz
grega, encontram-se o Altar. A cruz latina, que é a mais comum de todas as
cruzes, representa o supremo sacrifício de Jesus, sua crucificação. Lembra-nos
também a ressurreição e a esperança da vida eterna. Tem 3 braços de igual
longitude e o quarto braço com um comprimento maior em duas vezes. Diferente
da cruz latina, a cruz grega tem todos os braços com o mesmo tamanho. Na
junção das duas cruzes, forma-se uma estrela de 8 pontas. O Altar, que se situa
no cruzamento das cruzes latina e grega, é o centro e coração do templo, bem
ao centro e abaixo da cúpula principal da área interna da nova basílica. Para
Pastro, é a razão de ser do espaço sagrado, lugar do sacrifício cultural, o símbolo
tangível do lugar do encontro e da aliança entre Deus e o homem:
“Essa é a verdade fundamental própria a toda religião, os pontos
centrais e materiais na vida humana são escolhidos pelo
Sagrado que assim sempre quis se manifestar. No meio o
Santuário (microcosmos) o Altar dá testemunho do encontro e
da aliança selada entre Deus e os homens. O Altar é também o
lugar do sacrifício e não é uma mesa qualquer, é neste lugar que
se sacraliza os que dele participam, é o lugar da aliança e da
simples troca de dons entre os homens e Deus. Aí se celebra o
Mistério Pascal. Sacrifício = Sacrum Facere = Tornar Sagrado =
Tornar-se UM”. (PASTRO, 1993).
A função das obras de convergência das quatro naves é a doutrina cristã.
Sua relação conta a história do cristianismo e a vida, missão, morte e ressureição
de Cristo. Entre os inúmeros trabalhos de Pastro no Santuário, um deles com
certeza, o mais demorado, foi o revestimento das paredes da Basílica, que ainda
não está concluído, pois existem partes para a conclusão. Sobre isso, ele
destaca:
“Com que revestir as paredes? Eu sempre pensei no tijolo,
porque o tijolo é a terra brasileira. O tijolo, do ponto de vista físico
é termo-acústico. Ele é ótimo para um lugar aonde vão 30, 50
38
mil pessoas se agruparem dentro. Ele é sonoro. O fato de ser
térmico é um elemento muito importante, apesar de que a
arquitetura do Calixto Neto é muito boa. Eu sempre digo,
brincando, que a Basílica de São Pedro, em Roma, tem três
portas para você entrar e são as mesmas três para você sair,
sendo que uma fica sempre fechada. A basílica de Aparecida
tem 24 pórticos, além da belíssima arcada externa que dá a volta
nela toda. Então ela é extremamente arejada, agradável. Você
pode estar participando com outras 30 mil pessoas lá dentro ou
pode estar participando lá de fora, andando pelas arcadas que
são muito bonitas. Aliás, o Benedito Calixto Neto recebeu um
prêmio lá no Vaticano por esse projeto. Um grande prêmio na
época. Acho que foi em 1952 ou 1953”. (PASTRO, 2010)
A Basílica forma um espaço unitário, representativo e com vida própria,
um universo em si. Desde o exterior ao interior, suas formas de imensas
dimensões, de belezas geométricas e multicoloridas, com um caleidoscópio,
esse lugar que fascina, pois corresponde à Jerusalém Celeste que desceu do
Céu em terras brasileiras.
São inúmeras as obras de Claúdio Pastro pelo Santuário, porém nos
concentraremos, sobre o altar, a cruz, o baldaquino e a grande cúpula central:
3.2.1. O altar e a cruz
O Altar (a mesa de pedra-granito maciço) é o centro e a peça mais
importante de todo espaço da Basílica. Aí se dá o Mistério Pascal celebrado em
cada Missa. Para os cristãos, o Altar é o centro do Cosmo44, o umbigo do mundo,
o coração do Corpo Místico do Cristo, o lugar da relação silenciosa entre Deus
e os homens.
Em entrevista concedida ao Portal A12.com, o artista destacou a
necessidade do altar estar no centro da Basílica:
44 Cosmo ou cosmos é um termo que designa o universo em seu conjunto, toda a estrutura universal em sua totalidade.
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“Benedito Calixto, juntamente com os redentoristas alemães,
tinham colocado o altar na ponta, onde hoje está Nossa
Senhora, porque era antes do concílio, a missa era de costas
para povo, etc. Aí de fato nós pensamos que o altar tinha que
ser debaixo da cúpula central, porque realmente reúne, dos
quatro cantos da terra, norte, sul, leste e oeste, os povos. Então
tem esse sentido central, de centralidade. Depois também, a
questão do altar em si, tem todo seu significado. O centro do
cristianismo é o altar, onde é celebrado o Cristo e, onde já desde
o século II, III, se diz que o altar é Cristo. São Cirilo, de
Jerusalém, ele vai dizer que o altar é Cristo, quer dizer, encarna
naquele lugar. E o profeta Ezequiel, que vai dizer antes, muito
antes, na época do cativeiro, do segundo cativeiro, que foi o da
Babilônia, ele vai dizer que ele viu no templo, saindo do altar,
uma água, que essa água fertilizava o mundo. Então agora essa
água é o espírito de Jesus, a graça, como a gente chama, que
vai em direção aos quatro cantos da terra. E isso também está
ligado ao Livro do Apocalipse, que vai dizer nos capítulos
sobretudo XXI e XXII, que são os capítulos finais, que quando
desce a Jerusalém Celeste naquele lugar, porque desde uma
capelinha na roça, até uma catedral, todo espaço sagrado
cristão é a Jerusalém Celeste, que desce do céu naquele lugar.
Então, desce naquele lugar, ele vai dizer o evangelista João, eu
não vi templo nenhum. Então, a concepção antiga de templo
morre e agora é uma praça. E no meio dessa praça tem a fonte
da vida, e tem a árvore da vida, que é a árvore que Adão perdeu
no paraíso, e que Jesus recupera na cruz, que é a nova árvore
de Davi”. (PASTRO, 2011)
Ainda em outra ocasião, Pastro destaca o significado do altar em
entrevista feita pela TV Aparecida45:
“Na Basílica temos uma cruz grega que cruza uma cruz latina.
E, o importante, o altar, está no centro. Ou seja, tudo o que aqui
45 TV Aparecida é uma rede de televisão brasileira de conteúdo religioso e de entretenimento, com sede em Aparecida, no estado de São Paulo.
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se realiza é cristológico, é Jesus Cristo e é para Ele que nós
caminhamos. Embora nós chamemos a Basílica como Basílica
de Nossa Senhora Aparecida, nós a entendemos como a Casa
da Mãe, mas para onde nós nos dirigimos para o encontro
pascal, com o Cristo Ressuscitado. Portanto, o centro desta
Basílica é a Eucaristía, que é o centro da Igreja, que faz a Igreja,
pois sem Eucaristía não existe Igreja. Por isso, toda arte e toda
a arquitetura da Basílica converge para o altar central, para o
Cristo Jesus” (PASTRO, 2012)
9
10
9. e 10. Vista aérea do Altar Central da Basílica de Aparecida na junção das quatro naves,
Norte, Sul, Leste Oeste. Foto: Portal A12.com
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A Cruz46, o maior sinal cristão, é um aço com 8m de altura. A figura
vazada do Cristo indica o espaço vazio como o lugar da presença do Invisível
em nosso meio.
Altar e cruz revelam-nos o Mistério de nossa Redenção e o
Cristocentrismo de nossa fé.
11. A magnifica cruz, projeto desenhado por Claúdio Pastro, somente é possível de ser vista
das asas Norte e Sul. O estilo moderno em ferro retrata a figura do Cristo com o coração em
evidencia, está localizada pendurada exatamente acima do Altar do Sacrífico e da cúpula
central. Fonte: Portal A12.com
46 Cruz é uma figura geométrica formada por duas linhas ou barras que se cruzam em ângulo de 90°, dividindo uma das linhas, ou ambas, ao meio
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3.2.2. O baldaquino e a cúpula central
Nas quatro colunas do baldaquino estão representados os biomas
brasileiros: Mata Atlântica47, Caatinga48, Cerrado49, Floresta Amazônica50, Mata
de Araucárias51.
Cada coluna representa uma estação do ano, por meio dos ipês, e uma
fase da reprodução humana, expressada nas imagens. O conceito de toda a flora
e fauna brasileiras é que em Cristo todo o cosmo foi recuperado. “Tudo foi feito
por meio d’Ele e sem ele nada foi feito” (Jo 1,3). A presença dos quatro anjos
indica-nos que o Altar, a Eucaristia, é o centro dos quatro cantos da Terra e do
Cosmo. Os anjos representam as raças brasileiras – negro, branco, caboclo e
indígena52. As colunas do baldaquino se interligam na parte superior, o capite.
Nele está a saudação do Arcanjo Gabriel à Virgem, presente na primeira parte
da Ave-Maria, e as palavras de Santa Isabel no encontro com sua prima.
Como o altar é o lugar por excelência do Mistério Pascal53, os quatro
grandes arcos correspondem à travessia do Mar Vermelho para a libertação54 e
47 A Mata Atlântica abrangia uma área equivalente a 1.315.460 km2 e estendia-se originalmente ao longo de 17 Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí). Hoje, restam 8,5 % de remanescentes florestais acima de 100 hectares do que existia originalmente. Somados todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, temos atualmente 12,5%. Disponível em: https://www.sosma.org.br/nossa-causa/a-mata-atlantica/. Acesso em 26 de novembro de 2017. 48 A Caatinga é uma formação vegetal que podemos encontrar na região do semiárido nordestino. Está presente também nas regiões extremo norte de Minas Gerais e nos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Maranhão e Piauí. Este bioma é composto por um tipo de formação campestre de vegetação aberta, que também é conhecida como savana estépica. A caatinga é típica de regiões com baixo índice de chuvas (presença de solo seco). Disponível em: https://www.sosma.org.br/nossa-causa/caatinga/. Acesso em 26 de novembro de 2017. 49O Cerrado brasileiro abrange os estados: Amapá, Maranhão, Piauí, Rondônia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins, Bahia. Localiza-se em três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul, (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) o que, de
certa maneira, favorece sua biodiversidade. Disponível em: https://www.sosma.org.br/nossa-causa/a-cerrado/. Acesso em 26 de novembro de 2017. 50 A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo. Ocupa cerca de 600 milhões de hectares, cobrindo nove países, sendo mais da metade no território brasileiro. Em território nacional constitui a Amazônia Legal, que inclui os estados do Pará, Amazonas, Roraima, Amapá, Rondônia, Acre e parte dos estados do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. Disponível em: https://www.sosma.org.br/nossa-causa/floresta-amazonica. Acesso em 26 de novembro de 2017. 51 Mata de araucária é uma formação vegetal brasileira que se desenvolve especialmente nos estados da
região sul do país e em partes de relevo mais elevados e frios de São Paulo e Minas Gerais. Disponível em: https://www.sosma.org.br/nossa-causa/araucária . Acesso em 26 de novembro de 2017. 52 300 anos de devoção popular. São Paulo: Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2017. p. 47 53 Mistério pascal designa a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão aos céus de Jesus Cristo. 54 Cf. Ex. 14, 15-31. BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2004.
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a entrada a Terra Prometida55, graças ao sangue do Cordeiro Imolado e ao
sangue do Cristo, o novo Cordeiro Pascal.
A arte representa a presença de Deus neste lugar, ou seja, a fidelidade
de Deus, como o Sol e Lua que sempre estão presentes. Pombas, símbolos de
Paz, indicam-nos a Jerusalém Celeste que desceu do céu. São representadas
rãs no estilo marajoara, com tons de verde e azul. Em todos os povos primitivos
da América Latina são símbolos de Ressurreição. Correspondem à Terra
Indígena que acolheu o Cristianismo.
No último dia 11 de outubro, desse ano de 2017, aconteceu a
inauguração do revestimento da grande cúpula que está em cima do altar
principal. A cúpula, representa a “Arte da vida56” no “centro do paraíso”, na qual
os pássaros brasileiros são imagens dos peregrinos que vêm se aninhar e
repousar. A árvore da Vida é o próprio Reino de Deus entre nós.
12. O baldaquino, recordando as regiões do Brasil está localizado no ponto e eixo central do
Santuário sustentando a grande cúpula. Fonte: Portal A12.com
Os pássaros do paraíso em ouro e as palmeiras de oásis revestem as
paredes dos 24 arcos como uma cinta que a sustenta. Acima e abaixo deste
55 É o termo utilizado para descrever a terra prometida ou dada por Deus, de acordo com a Bíblia,
aos israelitas, descendentes dos patriarcas hebraicos Abraão , Isaque, e Jacó. 56 PASTRO, 2011
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cinturão temos azulejos simbolizando o fogo, a energia que faz tudo se mover
pelo Espirito57.
13. A recente cúpula, depois do seu revestimento, foi inaugurada em 11.10.2017. Tem como
sentido principal a recordação da vida prática e verdadeira. A pomba, representando o Espírito
é o responsável primeiro para articulação dos grandes momentos da vida do Cristão. A árvore,
símbolo da vida, recorda-nos a graça de Deus. Fonte: Portal A12.com
Bem no alto temos um sol, como a luz, primeiro elemento da criação58.
No centro, a pomba é uma imagem do Espirito de Deus que anima a criação, a
vida do universo. As aves são representatividades da fauna brasileira, como
arara, tucano, guará, tuiuiú, papagaio, entre outros. Abaixo da cúpula é possível
avistar diversos elementos da natureza como palmeiras, o fogo e a água.
57 Princípio vital, superior à matéria; sopro. 58 Cf. Gn. 1. BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2004
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre os anseios, expectativas e descobrimentos da linguagem artística
que o artista Cláudio Pastro desenvolve na Arte Sacra e que começaram em
diversas casas religiosas, culminando na Basílica de Aparecida, como a
construção de sua Obra Prima, tive a felicidade de estudar e pesquisar com a
ajuda da Faculdade de São Bento de São Paulo, com o auxílio do Pe. Rodrigo
Arnoso, do Santuário Nacional de Aparecida.
Com um projeto multidisciplinar, abrangendo as áreas de História, Arte
e Cultura, vimos no Capítulo 1 a história e a cultura sobre a aparição da imagem
da Nossa Senhora da Imaculada Conceição e a necessidade da construção da
Basílica de Nossa Senhora de Aparecida. No capítulo 2, tivemos uma visão geral
sobre a Construção do Santuário Nacional de Aparecida, como as capelas,
naves, Altar central, áreas internas e externas, sua linguagem, os materiais
utilizados e sua comunicação. Já no capítulo 3, deu-se a leitura completa da obra
de Cláudio Pastro, desde a preferência pela escolha do artista e por fim, alguns
aspectos da obra de Pastro como o altar, o crucifixo, o baldaquino e grande
cúpula. Depois de reunir tantos elementos de pesquisa, tornou-se possível
chegar com mais propriedade à análise da obra do artista na Basílica de
Aparecida e sua contribuição para a comunicação religiosa e para o culto.
Nesse contexto, a descoberta da imagem de Nossa Senhora e a
realização dos milagres, nela concentrou todas as energias devocionais dos
povos locais e para aqueles distantes, para onde se dirigiam as expedições. O
agregamento de sempre mais devotos levou à necessidade de construção de
duas capelas, da Basílica Velha e finalmente da atual Basílica, na condição de
Santuário Nacional.
É nesse contexto histórico que a administração do Santuário de Nossa
Senhora Aparecida, ao concluir a obra civil da nova basílica, se vê ante o desafio
de promover o seu acabamento interno de forma tal que fosse um elemento
importante na propagação da fé. A escolha de Cláudio Pastro, entre outros 20
artistas especializados, evidencia o cuidado que se teve em garantir que o artista
escolhido levasse em conta na obra todo esse patrimônio devocional que
tivemos oportunidade de ver ao longo do primeiro capítulo. De fato, pudemos
observar pelo passado histórico e atividades de Cláudio Pastro, que ele foi um
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artista sacro de profundo conhecimento litúrgico, que foi capaz de imprimir em
sua mensagem artística o conteúdo litúrgico e de evangelização que dele se
esperava, sem perder de vista o zelo e o esmero pela construção da obra de
arte. O material utilizado, principalmente da azulejaria dos painéis, até o detalhe
do acompanhamento de sua queima, são rica evidência do esmero a que nos
referimos.
A elaboração desta dissertação, como gostaríamos de registrar, foi um
exercício muito gratificante, porque antes de chegar à análise técnica da obra de
arte, suportada por tantos autores especialistas, dos quais lançamos mão,
tivemos a oportunidade de contato frequente com as obras de arte da Basílica,
franqueadas pelo Pe. Arnoso, bem como os registros do artista, Cláudio Pastro,
para compreender os motivos que o impulsionaram.
47
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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48
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49
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Centro de Documentação
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Arquivo do CDM - Centro de Documentação e Memória da basílica Nacional de
N. Sra. Aparecida.
Foto no. 2706: Morro das Pitas – trabalhos de terraplenagem - Arquivo do CDM
- Centro de Documentação e Memória da Brasília Nacional de N. Sra. parecida.
Foto no. 2593: Início das obras de concretagem da Nave Norte (observa-se o
arquiteto Benedito Calixto ao centro de terno e boina) - Arquivo do CDM -
Centro de Documentação e Memória da Basílica Nacional de N. Sra.
Aparecida.
Foto no. 2461: Vista das obras da Nave Norte - Arquivo do CDM - Centro de
Ecos Marianos, no. VII – 1940.
Ecos Marianos, no. VII – 1949.
Ecos Marianos da Basílica Nacional – A planta da Basílica Nova – 1952.
50
Ecos Marianos – Suplemento do Santuário de Aparecida – 1952.
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