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1. Em São Bernardo, todo o romance envolve a tensão psicológica de Paulo Honório, que se desenvolverá em dois planos: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Faça uma análise de Paulo Honório Narrador e o Paulo Honório personagem. A diferença básica entre Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem é o uso de tempos verbais diferente. O primeiro é marcado pelo uso de tempo presente, enquanto o outro faz uso do pretérito. O Paulo Honório narrador vem de uma forma mais reflexiva e avaliativa sobre si, ao mundo e até as circunstâncias da vida. E é nessa tentativa de auto compreensão que Paulo buscará narrar sua vida agreste. Logo no primeiro capítulo, o Paulo Honório narrador explica seu processo de divisão de trabalho para a criação literária. No fim, acaba sendo um desastre e como o protagonista diz: “ está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma! ” (RAMOS, 2009, p. 8 e 9). Por fim, assume a escrita e assim consegue dar vida ao Paulo Honório personagem, um homem rústico, ganancioso e autoritário. 2. Na narrativa fica muito clara como Paulo Honório exerce o seu poder sobre os funcionários e Madalena, demonstre como ele pratica esse poder e o que tipo de sujeito ele se inscreve a partir da utilização do poder da maneira exercida pelo personagem? Justifique com passagem do livro.

São Bernardo: Uma Analise Literária

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Uma análise realizada acerca da obra São Bernardo de Graciliano Ramos

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Page 1: São Bernardo: Uma Analise Literária

1. Em São Bernardo, todo o romance envolve a tensão psicológica de Paulo Honório, que

se desenvolverá em dois planos: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório

personagem. Faça uma análise de Paulo Honório Narrador e o Paulo Honório

personagem.

A diferença básica entre Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem é o

uso de tempos verbais diferente. O primeiro é marcado pelo uso de tempo presente, enquanto

o outro faz uso do pretérito.

O Paulo Honório narrador vem de uma forma mais reflexiva e avaliativa sobre si, ao

mundo e até as circunstâncias da vida. E é nessa tentativa de auto compreensão que Paulo

buscará narrar sua vida agreste.

Logo no primeiro capítulo, o Paulo Honório narrador explica seu processo de divisão

de trabalho para a criação literária. No fim, acaba sendo um desastre e como o protagonista

diz: “ está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma! ”

(RAMOS, 2009, p. 8 e 9). Por fim, assume a escrita e assim consegue dar vida ao Paulo

Honório personagem, um homem rústico, ganancioso e autoritário.

2. Na narrativa fica muito clara como Paulo Honório exerce o seu poder sobre os

funcionários e Madalena, demonstre como ele pratica esse poder e o que tipo de sujeito

ele se inscreve a partir da utilização do poder da maneira exercida pelo personagem?

Justifique com passagem do livro.

Paulo Honório desde o início do livro demonstra ser um personagem autoritário e

manipulador. Assim, como tratar ou comparar as pessoas como animais.

Existe uma diferença de como Paulo Honório exerce seu poder sobre as outras

pessoas, se for um subalterno o tratará com brutalidade: “Mandei-lhe o braço ao pé do ouvido

e derrubei-o. Levantou-se zonzo, bambeando, recebeu mais uns cinco trompaços e levou

outras tantas quedas. A última deixou-o esperneando na poeira. ” (RAMOS, 2009, p. 64).

Porém, se for com os seus iguais ou superiores usará a estratégia da simpatia para conseguir

algo em troca: “De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador

para certos favores que eu tencionava solicitar. ” (RAMOS, 2009, p. 28)

Quando a fazenda está prosperando, Paulo Honório procura uma esposa para ter um

herdeiro, o que para ele significa ter mais duas posses. Por fim, ele se casa com Madalena por

achar que ela seria alguém fácil de dominar. No entanto, esta torna-se a única pessoa que

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Paulo Honório não consegue se tornar o proprietário. Pela mulher não ser manipulável, ele

passa a ter um ciúme doentio e começa a ofendê-la e humilha-la. Apesar do casal ter um filho,

não há melhora na situação, pelo contrário, piora.

3. Comente sobre a importância da fazenda São Bernardo para a obra.

A fazenda São Bernardo é o principal foco de ação do enredo. Primeiro, foi

estabelecido como a grande ambição de vida de Paulo “ Resolvi estabelecer-me aqui na minha

terra, município de Viçosa, Alagoas, e logo planeei adquirir a propriedade S. Bernardo, onde

trabalhei, no eito, com salário de cinco tostões. ” (RAMOS, 2009, p. 14). Nesse momento,

para Paulo, adquirir São Bernardo significa adquirir respeito, pois para ele só os ricos detêm o

poder e são respeitados.

Para conseguir essa ascensão social e econômica, Paulo faz uso de atitudes antiéticas-

como ameaças, assassinatos e roubos- e como consequência é embrutecido e desumanizado.

Além disso, a fazenda São Bernardo também representa o sofrimento do homem

sertanejo através do olhar do opressor.

4. Descreva a figura de Madalena em toda a obra São Bernardo e qual foi a importância

dela para Paulo Honório.

Durante a década de 30, o papel da mulher era de satisfazer aos padrões daquela

época, ou seja, ser uma boa dona de casa, submissa ao marido, apta a maternidade e voltada

para as atividades do lar. E é por esse pensamento que Paulo julga Madalena como uma

mulher ideal “[…] sisuda, econômica, sabe onde tem as ventas e pode dar uma boa mãe de

família. ” (RAMOS, 2009, p.53). Porém, apenas depois de uma semana de casamento que ele

percebeu que Madalena rompia com o modelo, pois a personagem se interessava pelos livros

no escritório, pelo trabalho na fazenda e sempre expunha suas opiniões com os amigos de

Paulo.

Para Paulo, a instrução de Madalena era desnecessária e sem qualquer aplicação

prática na vida. Segundo ele, o melhor para Madalena era se casar e ter uma vida financeira

estável. Além disso, o conhecimento da esposa causava-lhe um complexo de inferioridade o

que faz com que ele questione a sua aparência física, como nesses dois momentos:

Mas exagerei os olhos bonitos do Nogueira, a roupa benfeita, a voz insinuante.

Pensei nos meus oitenta e nove quilos, neste rosto vermelho de sobrancelhas

espessas. Cruzei descontente as mãos enormes, cabeludas, endurecidas em muitos

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anos de lavoura. Misturei tudo ao materialismo e ao comunismo de Madalena — e

comecei a sentir ciúmes. (RAMOS, 2009p. 79)

Com o dr. Magalhães, homem idoso! Considerei que também eu era um homem

idoso, esfreguei a barba, triste. Em parte, a culpa era minha: não me tratava.

Ocupado com o diabo da lavoura, ficava três, quatro dias sem raspar a cara. E

quando voltava do serviço, trazia lama até nos olhos: deem por visto um porco.

Metia-me em água quente, mas não havia esfregação que tirasse aquilo tudo. Que

mãos enormes! As palmas eram enormes, gretadas, calosas, duras como casco de

cavalo. E os dedos eram também enormes, curtos e grossos. Acariciar uma fêmea

com semelhantes mãos! (RAMOS, 2009, p.83)

Madalena é a causa da insegurança referente autoimagem de Paulo que o leva a se

comparar com os demais homens por não se considerar a altura intelectualmente.

Ao contrário de Paulo Honório, a personagem Madalena busca mais o “ser” do que o

“ter”. Desde a chegada a S. Bernardo, Madalena demonstra ser uma pessoa terna e

preocupada sobre a necessidade dos empregados e salários mais justos, o que não agradava o

marido. O interessante é notar que apesar dela não ser uma pessoa ambiciosa, ainda fica uma

incógnita do porquê ela ter se casado com o Paulo.

No fim, com a morte da esposa, Paulo Honório reavalia sua vida e percebe que poderia

ter sido feliz caso tivesse tratado Madalena bem.

5. O romance gira em torno, também, da recuperação da dignidade humana na forma

de vida, principalmente relacionado com o trabalho e ao mesmo tempo mostra a

brutalidade humana e a falta de ética para atingir os objetivos do personagem. Explique

com base no livro toda essa relação de tensão e poder e exemplifique com passagem da

obra.

Paulo é um personagem pragmático que só vê as pessoas como “coisas” que podem

oferecer algo a ele. Todos os personagens eram considerados como uma posse dele, até a

chega que chegou a Madalena e ameaçou a autoridade de Honório. A impotência diante dessa

falta de autoridade que começou a degradação de Paulo e da própria Madalena.

A grande tensão da narrativa é o suicídio de Madalena que, após um tempo, faz os

personagens perceberem que seria destrutivo continuar ao lado de Paulo, e assim todos

abandonam São Bernardo.

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No fim, Paulo reconhece sua culpa, mas a joga para os fatores externos: “A culpa foi

minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste. ” (RAMOS,

2009, p.61) e percebe que não só acumulou bens, mas também acumulou perdas.

Considerações Finais

São Bernardo é um livro da perspectiva do opressor e como alguém que está nessa

posição perde sua humanidade para ter poder sobre as pessoas. Assim como, a ganância e o

ciúme podem degradar o ser humano. Também há uma discussão sobre o “ter”, representado

pelo Paulo Honório e o “ser” de Madalena. A narrativa bruta e direta conseguiu passar o jeito

pragmático e frio de como Paulo Honório se relacionava com as pessoas, e até mesmo a

evolução dele que, no final, está alguém mais reflexivo.

Referência

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2009.