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São Mateus ES 2009

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São Mateus – ES 2009

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“65º DEFTARA” DEFESA FITOSSANITÁRIA,

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO E RECEITUÁRIO AGRONÔMICO

Marcelo Barreto da Silva

Rodrigo Sobreira Alexandre

Antônio Drumond Neto

Jorge Gomes Soares

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Sumário

CAPÍTULO 1

“Minor Crops: importância, classificação e abordagem em espécies frutíferas ........

6

Considerações finais ..................................................................................................... 24

Referências bibliográficas ............................................................................................ 25

CAPÍTULO 2

Controle cultural de doneças de plantas em culturas com menor suporte

fitossanitário ................................................................................................................

27

Introdução .................................................................................................................... 27

Controle cultural ........................................................................................................... 29

Procedimentos utilizados no controle cultural de doenças de plantas ......................... 30

Material propagativo sadio ........................................................................................... 31

Plantio em áreas livres do patógeno ............................................................................. 32

Erradicação do hospedeiro ........................................................................................... 33

Remoção de hospedeiros alternativos em plantas voluntárias ..................................... 35

Barreira física ............................................................................................................... 36

Fumigação do solo ....................................................................................................... 36

Rotação de culturas ...................................................................................................... 37

Higienização ................................................................................................................. 40

Eliminação de restos culturais ...................................................................................... 41

Inundação da área de plantio ........................................................................................ 42

Adubação e calagem .................................................................................................... 43

Ciclo e porte da cultura ................................................................................................ 44

Escolha do local e época de plantio ............................................................................. 44

Adição de matéria orgânica ao solo ............................................................................. 45

Densidade de plantio .................................................................................................... 46

Tipo e manejo do sistema de irrigação ......................................................................... 46

Aumento da supressividade do solo ............................................................................. 47

Considerações finais ..................................................................................................... 48

Referências bibliográficas ............................................................................................ 48

CAPÍTULO 3

Manejo de plantas em mamão ......................................................................................

51

Introdução .................................................................................................................... 51

Época de controle ......................................................................................................... 52

Manejo Integrado ......................................................................................................... 54

Herbicidas .................................................................................................................... 57

Considerações finais ..................................................................................................... 60

Referências bibliográficas ............................................................................................ 61

CAPÍTULO 4

Manejo de plantas daninhas na cultura do maracujazeiro .........................................

65

Introdução .................................................................................................................... 65

Manejo de plantas daninhas ......................................................................................... 66

Período crítico de interferência .................................................................................... 68

Método de controle de plantas daninhas ...................................................................... 71

Considerações finais ..................................................................................................... 79

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Referências bibliográficas ............................................................................................ 81

CAPÍTULO 5

Dinâmica de herbicidas no solo ...................................................................................

85

Introdução .................................................................................................................... 85

Potencial de sorção de herbicidas e sua dinâmica no ambiente ................................... 86

Características do solo e atividade de herbicidas ......................................................... 89

Matéria orgânica e pH .................................................................................................. 89

Textura e mineralogia .................................................................................................. 91

Características dos herbicidas e comportamento no solo ............................................. 92

Coeficiente de partição octanol-água e solubilidade .................................................... 93

Potencial de dissociação eletrolítica ............................................................................. 93

Pressão de vapor e a constante da Lei de Henry .......................................................... 96

Persistência e lixiviação de herbicidas ......................................................................... 96

Práticas de manejo e dinâmica de herbicidas no solo .................................................. 98

Referências bibliográficas ............................................................................................ 103

CAPÍTULO 6

Resíduo de agrotóxicos e comercialização ..................................................................

108

O potencial do agronegócio ......................................................................................... 108

O resíduo de agrotóxico como barreira à comercialização .......................................... 110

Referências bibliográficas ............................................................................................ 119

CAPÍTULO 7

Produção integrada e segurança alimentar ................................................................

122

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Agradecimentos

Este trabalho não seria concluído sem a colaboração imprescindível

dos órgãos de fomento a pesquisa do Brasil, como o CNPq, e os

patrocinadores CREA-ES, ANDEF, RIT DA, Prefeitura Municipal de São

Mateus e INCAPER. Agradecemos também aos professores,

pesquisadores e demais profissionais que de alguma forma contribuíram

para a realização desta obra.

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Apresentação

Esta obra busca visa atualizar profissionais da área de Ciências

Agrárias, através de conhecimentos técnicos inerentes à defesa

fitossanitária, tecnologia de aplicação, receituário agronômico, uso de

agrotóxicos e o manejo de pragas em “minor crops” de interesse regional

dentro de uma visão sistêmica e integrada da produção agrícola sustentável.

Autores

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CAPÍTULO 1

“Minor Crops”: importância, classificação e abordagem

em espécies frutíferas

Rodrigo Sobreira Alexandre1

Marcelo Barreto da Silva2

Antônio Drumond Neto3

Jorge Gomes Soares4

Também denominado de pequenas culturas, ou seja, culturas com suporte

fitossanitário insuficiente, as “minor crops” são culturas para as quais falta ou há

número reduzido de agrotóxicos e afins registrados (ex.: cebolinha, coentro, acerola,

anonáceas, caju, coco, maracujá, jabuticaba, kin-kan, umbu, etc.) o que acarreta impacto

sócio-econômico negativo, em função do não atendimento das demandas fitossanitárias.

O que se tem discutivo ultimamente são os critérios e procedimentos a serem adotados

para o estabelecimento de limites máximos de resíduos (LMR) de agrotóxicos para

essas culturas.

Segundo o Diário Oficial da União de 27 de junho de 2008, a Portaria Nº 94, de

24 de junho de 2008, submete à consulta pública pelo prazo de 30 (trinta) dias, a contar

da data da publicação desta portaria, o Projeto de Instrução Normativa, com seus

respectivos Anexos, que estabelece os critérios e procedimentos a serem adotados para

extrapolação de LMR para as culturas com suporte fitossanitário insuficiente e para a

inclusão destas culturas na monografia dos ingredientes ativos registrados para uso

agrícola (MINOR CROPS, CONSULTA PÚBLICA-DOU, 2008).

Por outro lado, apenas as grandes culturas denominadas “representativas” são

consideradas no estabelecimento dos LMR‟s. Essas culturas são ditas representativas

devido a sua importância econômica, área de cultivo, consumo humano e

disponibilidade de agrotóxicos registrados (MINOR CROPS, CONSULTA PÚBLICA-

DOU, 2008). Como exemplo, dentre as representativas podemos citar a soja (primeira

1 Engº Agrº, D.S. e Professor da CEUNES/UFES – [email protected]

2 Engº Agrº, D.S. e Professor da CEUNES/UFES – [email protected]

3 Engº Agrº, Bolsista do CNPq – [email protected]

4 Grudaundo em Agronomia do CEUNES/UFES

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do total de agrotóxicos utilizados), algodão (segunda), milho e cana-de-açucar

(terceira), trigo, café e citrus (quarta), arroz (sexta), tomate, mamão, etc. Segundo o

Forum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECD) realizada em

Curitiba no ano de 2008, ao analisarem o Decreto nº 4.074/02 concluíram que os

fabricantes não investem em estudos de agrotóxicos para certas culturas por serem

altamente custosos, culturas de pouca expressão e com retorno financeiro menor

(FNECD, 2008).

A preocupação com as “minor crops” é a dificuldade do registro de produtos

(fungicidas, bactericidas, inseticidas, acaricidas, herbicidas, nematicidas e

fitorreguladores) principalmente pela pouca expressividade econômica de espécies

pertencentes a esse grupo. Em função disso o que se verifica é o uso indiscriminado de

produtos não registrados o que reflete em incertezas sobre vários aspectos como período

de carência, grau de toxicidade, contaminação humana e ambiental. Segundo Reis et al.

(2008) com a extensão de uso aprovada, todos os fungicidas e inseticidas listados e

registrados para o melão e pepino, por exemplo, também poderão ser utilizados na

cultura do chuchu, considerada uma “minor crops”.

Outra grande preocupação é com as espécies olerícolas e codimentares, onde se

encontram um grande número de “minor crops”, ou seja, culturas em que o alvo de

aplicação dos agrotóxicos é a parte aérea, e nessa se inclui folhas, inflorescências e

frutos que são partes vegetativas e reprodutivas, respectivamente, prontamente

comestíveis (ex.: couve, couve-flor, cebolinha, coentro, etc.). Um fato preocupante é o

que foi registrado nas culturas de cebola e cebolinha, em que um produto químico

aplicado em cebola é o mesmos utilizado em cebolinha, o problema é que nas duas

culturas o produto é direcionado para a parte aérea que é a parte comestível da

cebolinha, diferentemente da cebola que é o bulbo (FNECD, 2008). Os agrotóxicos

registrados para o tomate, por exemplo, estão sendo utilizados para combater ervas

daninhas e pragas da berinjela (NOTAPAJOS, 2009). O intervalo de aplicação ou prazo

de carência e o LMR, de um mesmo ingrediente varia com a cultura, não devendo ser

extrapolado para outra, frente as particularidades de cada uma, tais como: tipo de

consumo (in natura ou processado), quantidade ingerida, frequência e disponibilidade

(FNECD, 2008).

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Nos EUA em 1963 foi criado um programa denominado de Irregional Research

Project No. 4 (IR-4 Project) no qual fazem parte o State Agricultural Experiment

Stations (SAES), Unitet States Departament of Agriculture (USDA), Cooperative State

Research Education and Extension Service (CSREES) e Agricultural Research Service

(ARS), além das Universidades como parceiros, cuja missão é garantir soluções de

manejo de pragas para produtores de frutas, hortaliças e outras “minor crops” e, com

esse projeto alcançaram aumento de registros e melhor uso de agrotóxicos (ANVISA,

2008).

Neste mesmo propósito o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA) vem trabalhando, só que no Brasil o sistema de inter-relação é entre três

órgãos oficiais (MAPA, Ibama e Anvisa) para o registro de agrotóxicos, onde foi criado

em 2004, o chamado Grupo de Trabalho para os “Minor Crops”. O objetivo deste grupo

é normatizar e viabilizar o registro de agrotóxicos para culturas com pouco ou nenhum

produto registrado. O Brasil através do MAPA irá financiar os testes de eficiência

agronômica e os testes de resíduo e como o sistema Americano apoiarão as instituições

(ex.: Universidades) financiando os testes (ANVISA, 2008).

Encontra-se nas tabelas abaixo alguns “minor crops” do grupo das frutíferas,

com agroquímicos a serem registrados (IBRAF, 2009):

ABACATE – Produtos Registrados = 27 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Decis Deltametrina Bayer -

FUNGICIDAS

Sportak Procloraz Bayer -

FITORREGULADORES

Cultar Paclobutrazol Syngenta -

UVA – Produtos Registrados = 129 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

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Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Xentari Bacilus Thurigiensis var.

Kurstaki

Sumitomo Traça dos cachos

Diversos Imidacloprid Diversas Pulgão e mosca branca

Rumo gda/Avante Indoxacarb Du Pont Broca dos ramos

Mesurol 500 SC Methiocarb Bayer Tripes

Sanmite Piridabem Basf Ácaro branco, rajado e

mosca branca

Tracer Spinosad Dow Agro Traça dos cachos,

noctuídeos e tripes

Nomolt Teflubenzuron Basf Traça dos cachos,

noctuideos

Calypso Tiaclopride Bayer Pulgão e tripes

Karate Lambdacyhalotrin Syntenta Tripes

FUNGICIDAS

Forum Dimetomorph Basf Mildio

AMEIXA – Produtos Registrados = 14 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Intrepid/Valient Methoxyfenozide Dow/Bayer Grafolita

Match-CE Lefunoron Syngenta Grafolita

Tracen 240 SC Spinosad Dow Grafolita/tripes

Trebon 100 SC Ethofenprox Siplam Grafolita/mosca

Imidam Phosmet Sailam Grafolita/mosca

Proclaim Abamectina Syngenta Grafolita

Provado Imidacloprid Bayer Mosca/tripes

Rimon Novaluron Milema Grafolita

Mospilan Acetamirprid Ilhara Cigarrinha/tripes

Actar 250 WG Thiamethoxam Syngenta Tripes

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Actara Plus Thiamethoxam/Cipemetrina Syngenta Pulgões/mosca

FUNGICIDAS

Diversos Clorothalonil Diversas Podridão parda

Priori xtra Azoxistrobina/Ciproconazol Syngenta Ferrugem

Cabrio Top Pyraclostrobin+Metiram Basf Antracnose

Stratego Propiconazol+Trifloxistrobina Bayer Podridão parda

Unix 750 WG Ciprodinil Syngenta Ferrugem

Comet Pyraclostrobin Basf Antracnose

MAÇA – Produtos Registrados = 165 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Actaraplus Cipermrtrina + Tiametaxan Syngenta Pulgões e mosca da

fruta

Dipel Bacillus thurigiensis Sumitomo Lagartas

Mospilan Acetamiprido Iharabras Mosca da fruta

Match Lufenurom Syngenta Lagartas

Proclain Emamectina Syngenta Lagartas

Tracer Espinosade Dow Mosca das frutas e

lagartas

Trebon Etofenproxi Sipcam Mosca das frutas e

lagartas

Tiger Piriproxifem Sumitomo Lagartas

HERBICIDAS

Select Cletodim Hokko Folha estreita

OUTROS

ANA Ácido naftaleno acético Wiser Raleio químico e

queda de fruta

Etrel Etefon Bayer Antecipação de

maturação e aumento

de coloração-raleio

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Dropp Tridiazuron Wiser Pegamento de frutos

Buzan 30 Benzotiazol La Buckr Quebra de dormência

BANANA – Produtos registrados = 92 total

Produtos a registrar

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Imidacloprid Diversas Tripes:

Chaetanaphothrips

spp., Caliothrips spp.,

Pollencothrips spp.,

Tryphactithrips spp.,

Frankliniella spp.

Mospilan Acetamiprid Ihara

Connect Imidacloprid+Betaciflutrina Bayer Ácaro, tripes, broca do

rizoma

Diversos Enxofre Diversas Ácaros

Vertimec Abamectina Syngenta/Du

Pont

Ácaros

Diversos Clorpirifós Diversas Ácaros e broca do

rizoma

Sumithion Fenitrothion Sumitomo Gafanhoto

Decis Deltrametrin Bayer Gafanhoto

Turbo Beta-ciflutrina Bayer Lagartas

Match Lufenuron Syngenta Lagartas

Dipel Bacillus Thurigiensis var.

Kursitaki

Sumitomo Lagartas

Dimilin Diflubenzuron Chemtura Ind.

Química

Lagartas

Certero Triflumuro Bayer Lagartas

FUNGICIDAS

Diversos Carbendazin Diversas Sigatoka, Cloridium,

cordana, Cladosporium

MANGA – Produtos registrados = 47 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

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Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Dipel Bacillus thurigiensis var.

Kurstaki

Sumitomo Lagartas

Xantari Bacillus thurigiensis var.

Kurstaki

Sumitomo Lagartas

Trigard 750 PM Cyromazine Syngenta Mosquinha

Diversos Imidacloprid Diversas Pulgões

Tracer Spinosad Dow Tripes, mosquinha,

mosca das frutas

Calypso Thiaclopride Bayer Pulgão e Tripes

Mesorul Methiocarb Bayer Tripes

Actara 250 WG Tiometoxam Syngenta Cochonilha, cigarrinha,

mosca branca, pulgões

Mospilan Acetamiprid Ihara Cochonilha branca

Diversos Acephate Diversas Cochonilha branca

Focus Clothiadinin Hokko Cochonilha branca

FUNGICIDAS

Folpan Agricur 500 Folpet Agricur Oídio, antracnose e

Bothyodiplodia

Aliette Fosetyl-AL Bayer Míldio

Diversos Clorotalonil Diversas Antracnose

Midas Br Famoxadone+Mancozeb Du Pont Antracnose

Kocide wdg Hidróxido de cobre Du Pont Bacteriose

ACARICIDAS

Ortus/Kendo Fenpyroximate Hokko/Bayer Ácaros

OUTROS

Ethrel Ethefhon Bayer Maturação de ramos

MAMÃO – Produtos registrados = 43 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

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Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Óleo mineral Hidrocarburetos alifáticos Diversas Cochonilhas

Óleo vegetal Éteres de ácidos graxos Diversas Cochonilhas

Diversos Bacillus thurigiensis Diversas Lagartas

Diversos Carbaryl Diversas Lagartas e cigarrinhas

verdes

Diversos Methomyl Diversas Lagartas

Mospilan Acetomiprid Ihara Mosca branca

Diversos Imidacloprid Diversas Cigarrinha e

cochonilhas

Diversos Methidathion Diversas Cochonilhas

ACARICIDAS

Savex PM Hexithiazox Du Pont Ácaro rajado

Calicur Azocyclotin Bayer Ácaro rajado

Diversos Óxido de fembutatina Diversas Ácaro branco e ácaro

rajado

HERBICIDAS

Diversos Glyphosate Diversas Folhas estreitas e

lagartas

Finale Glufosinato de amônio Bayer Folhas estreitas e

largas

FUNGICIDAS

Aliette Fosetyl-AL Bayer Podridão,

Phytophthora,

antracnose,

Asperisporuim coricoe,

Colletotricum sp., pinta

preta, oídio, caricae,

mancha de phoma e

Corynospora.

Diversos Clorotalonil Diversas

Cerconil PM

Tiopamato metil

Ihara

Clorotalonil

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Diversos Carbendazin Diversas

Domark 100 CE Tetraconazole Sipcam

Diversos Propiconazole Diversas

Diversos Captan Diversas

Cuprozeb Oxicloreto de

cobre+Mancozeb

Sipcam Mancha de

Corynospora

Positron Duo Iprovalicarb+Propineb Bayer Podridão/Phytophthora

palmivora

Ridomil Gol MZ Metalaxil M+Mancozeb Bayer Podridão/Phytophthora

palmivora

Stroby SC Strobirulina Basf Pinta preta,

Asperisporium, caricae

Previcur N Propanocarb Bayer Corynespora

Stratego Propiconazole+Trifloxystrobin Bayer Corynespora

Opera Pyraclostrobin+Epoxiconazole Basf Corynespora

Cabrio Top Pyraclostrobin+Metiran Basf Corynespora

Antracol 700 PM Propineb Bayer Corynespora

Diversos Hidróxido de cobre Diversas Fungos diversos

ABACAXI – Produtos registrados = 42 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Endosulfan Diversas

Não foi informado

Diversos Parathion metil Diversas

Diversos Endosulfan Diversas

Meothrin 300 Fenpropatrina Sumitomo

Temik 150 Aldicarbe Bayer

Diversos Methidathion Diversas

HERBICIDAS

Fusilade 12S Fluazifop-P butílico Syngenta Não foi informado

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Fusilade 250EW Fluazifop-P butílico Syngenta

FUNGICIDAS

Diversos Oxicloreto de cobre Diversas

Não foi informado Derosal 500 SC Carbendazim Bayer

Derosal Plus Carbendazim+Tiram Bayer

Ridomil Metalaxil+Mancozeb Syngenta

NEMATICIDAS

Diversos Carbofuran Diversas

Não foi informado Nemacur Fanmiphos Bayer

Rhocap Ethoprophos Bayer

FIGO – Produtos registrados – 34 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Match CE Lufenuron Syngenta Broca (Azochis

grispusalis)

Rumo gda Indoxacarbe Du Pont -

Griff

Broca (Azochis

grispusalis)

Trebon 300 CE Etofenproxi Ihara Broca (Azochis

grispusalis)

Focus Clothiadinim Hokko Tripes Heliothrips

FUNGICIDAS

Midas BR Femoxadona+Mancozeb Du Pont -

Griff

Ferrugem, Phakospora

nishidiana

Score Difeconazol Syngenta Ferrugem, Phakospora

nishidiana

Manage Imibenconazole Hokko Antracnose

Colletotricum sp.

Sialex Procimidone Hokko Botrytis cinera

HERBICIDAS

Diversos Glyphosate Diversas Folhas estreitas e

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largas

OUTROS

Ethephon Ethrel Bayer Fitorregulador

COCO – Produtos registrados = 18 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Dimetoato Diversas Cochonilha

transparente

Diversos Carbaryl Diversas Lagartas raspadoras,

broca do bulbo e broca

da coroa foliar

Diversos Clorpyrifos Diversas Broca da estipe, traças

e gorgulhos

Diversos Cypermethrim Diversas Broca de estipe e

pulgão

Diversos Deltametrhrim Diversas Lagarta das folhas

Diversos Monocrotophos Diversas Broca da estipe

Diversos Parathion metil Diversas Broca da estipe

Diversos Monocrotophos Diversas Cigarrinha, percevejo e

broca da coroa

Óleo mineral Hidrocarburetos alifáticos Diversas Cochonilha

transparente e pulgões

Óleo vegetal Ésteres de ácidos graxos Diversas Cochonilha

transparente e pulgões

ACARICIDAS

Temik Aldicarb Bayer Cochonilha

transparente

Calicur Azocyclodin Bayer Ácaro da mancha

anelar

Diversos Bifenthrin Diversas Ácaro da mancha

anelar

Diversos Clhorfenapyer Diversas Ácaro da mancha

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anelar

Diversos Cyhexatin Diversas Ácaro da mancha

anelar

Polo Diafentiuron Syngenta Ácaro da mancha

anelar

Diversos Enxofre Diversas Ácaro da necrose

Diversos Fentropatrim Diversas Traça das flores e

ácaro da mancha anelar

Savery Hexithiazox Du Pont Ácaro da necrose

Sunmite Pyridaben Basf Ácaro da mancha

anelar

Tedion Tetradifon Hokko Ácaro da necrose

HERBICIDAS

Diversos Glyphosate Diversas Gramíneas

GOIABA – Produtos registrados = 31 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Imidacloprid Diversas

Psilidea, Triozoida

spp., cochonilhas,

Pseudococus spp. e

Ceroprastis spp.

Diversos Methidathion Diversas

Diversos Acephate Diversas

Actara Thiametoxican Syngenta

Mospilan Acetomiprid Ihara

Focus Clotiadinin Hokko

Diversos Bacillus thurigiensis Diversas Lagartas

FUNGICIDAS

Cerconil PM Thiofanato metil+Clorotalonil Ihara Antracnose,

Colletotricum

gloesporiodes

Diversos Tiofanato metílico Diversas Verrugose

Midas BR Famexadona+Mancozeb Du Pont – Elisione pitangae

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Griff

HERBICIDAS

Diversos Glyphosate Diversas Diversas plantas

invasoras

CAQUI – Produtos registrados = 10 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Imiedaclopriol Diversas

Hellithrips

haemorroidalis e

tripes: Selendthrips

rubrocinctus

Mospilan Acetamiprid Ihara

Focus Clotiadinin Hokko

Diversos Acephate Diversas

Alsystin 480 sc Triflumuron Bayer

Lagarta dos frutos:

Hypocala andremona Antrabon 50 Chlorfluazuron Hokko

Diversos Bacillus thurigiensis Diversas

Aplaude Buprofezin Hokko Cochonilha

pulverulenta

Mospilan Acetamirprid Hokko Pseudococus cmstocxi

FUNGICIDAS

Diversos Tiofamato metil Diversas Mancha angular

Manage Inibenconazole Hokko Cercospora kaki e

Antracnose

Sialex Procimidone Hokko Colletotrichum

gloesporioides,

Botrytis

Curpozeb Mancozeb+Oxicloreto de

cobre

Sipcam Agro B. cnerea

MARACUJÁ – Produtos registrados = 15 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

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20

Akito Betacipermethina Hokko Percevejo

Danimem/Meotrhin Fenpropathrin Ihara/Hokko Percevejo

Diversos Acephate Diversos Percevejo

Actara 250 Thomethoxan Syngenta Mosca branca e tripes

Tiger Pyroproxifen Ihara Mosca branca e tripes

Diversos Malathion Diversos Broca

Vertimec Ambamertin Syngenta Ácaros, cochonilhas e

brocas

Match Lufenuron Syngenta Ácaros, lagartas e

broca

Sanmite Pyridaben Ihara Ácaros

HigCrop680 Enxofre Ihara Ácaros

BACTERICIDAS/FUNGICIDAS

Diversos Oxicloreto de cobre Diversas Bacteriose/fungos

Diversos Hidróxido de cobre Diversas Bacteriose/fungos

Nativol Trifloxyistrobin+Tubuconazole Bayer Antracnose e verrugose

Manage Imibenconazole Hokko Antracnose e verrugose

Cercomil sl Tiofanato metil+Chlorothalonil Ihara Antracnose e verrugose

Diversos Tiofanato metil Diversas Antracnose e verrugose

Comet sc Pyrachlostrobin Basf Antracnose e verrugose

Frowncide sc Fluazinan Syngenta Antracnose e verrugose

Midas wg Famoxadone+Mancozeb Dupont Antracnose e verrugose

Diacobre pm Oxicloreto de

cobre+Chlorothalomil

Ihara Antracnose e verrugose

Diversos Chlorothalomil Diversos Antracnose e verrugose

Amistar wg Azoxystrobin Syngenta Antracnose e verrugose

Bion wg Acybenzolan Syngenta Antracnose e verrugose

MORANGO – Produtos registrados = 43 total

Produtos a registrar

FUNGICIDAS

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Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Antracol Propineb Bayer Flor preta

Stratego Propiconazole+Trifloyistrobin Bayer Flor preta

Comet Pyraclostrobin Basf Flor preta

Diversos Captan Diversas Flor preta

Folpan Folpet Agricur Flor preta

Ridomil Mancozeb+Metalaxil Syngenta Phytophthora

Sportak 450/Jade Procloraz Bayer/Milenia Flor preta

ACARICIDA

Pirate/Citrex Chorfenapyr Basf Ácaros

PÊSSEGO – Produtos registrados = 66 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Mimic240 SC Tebufenozid Dow Agro Grafolita

Intrepid/Valient Methoxyfenozide Dow

Agro/Bayer

Grafolita

Match CE Lefunuron Syngenta Grafolita

Tracer 240 SC Spinosad Dow Agro Grafolita

Trebon 100 SC Ethofemprox Sipcan Agro Grafolita

Imidan 500 PM Fosmet Sipcan Agro Grafolita

Proclain Amamectina Syngenta Grafolita

Diversos Imidacloprid Diversas Tripes e mosca

Tiger Piriproxifem Sumitomo Lagartas

Diversos Acephate Diversas Tripes

Actara Thiamethoxam Syngenta Tripes

Actara Plus Thiamethoxan+Cipermetrina Syngenta Pulgões e mosca

Mesurol Methiocarb Bayer Tripes

Diversos Propargite Diversas Ácaros

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FUNGICIDAS

Score Difenoconazole Syngenta Crespera e podridão

parda

Diversos Clorothalonil Diversas Podridão parda

Unix 750 wg Cyprodinil Syngenta Ferrugem

Comet Pyraclostrobin Basf Antracnose

Priori Extra Azoxystrobin+Cyproconazole Syngenta Ferrugem

Cabrio Top Pyraclostrobin+Metiram Basf Antracnose

Stratego Propiconazole+Trifloxistrobin Bayer Podridão parda

Antracol Propineb Bayer Antracnose e ferrugem

ACEROLA – Produtos registrados – 0 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Imidacloride Diversas -

Diversos Deltrametrine Diversas -

Diversos Dimetoato Diversas -

Diversos Trichlorfon Diversas -

Diversos Parathion metil Diversas -

Karate Lambdacyhalothrin Syngenta -

PI-Rimor Pirimicarb Syngenta -

Diversos Endosulfan Diversas -

Boveril Beauveria Itaforte -

Bioprodutos

-

FUNGICIDAS

Folicur Toboconazole Bayer -

Diversos Oxicloreto de cobre Diversas -

Score Difenoconazole Syngenta -

Sportak Prochloraz Bayer -

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ANONÁCEAS – Produtos registrados – 0 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS/NEMATICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Clorpirifós Diversas Lagartas

Cartap Cloridrato de Cartape Iharabras Lagartas/brocas

Diversos Carbofuran Diversas Brocas, lagartas,

nematóides

Counter Terbufós Basf Brocas e nematóides

FUNGICIDAS

Diversos Mancozeb Diversas Antracnose

Diversos Oxicloreto de cobre Diversas Antracnose

CAJU – Produtos registrados = 07 total

Produtos a registrar

INSETICIDAS

Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo

Diversos Cartap Diversas

Broca das pontas, traça

das castanhas, tripes da

cinta vermelha, pulgão

da inflorescência,

mosca branca, besouro

vermelho, mané

magro, saia justa, véu

de noiva, lagarta verde,

cochonilha, Calaspis

bicolor, Psilopter sp.,

diptera de galhas

Diversos Carbaryl Diversas

Diversos Clorpyriphos Diversas

Diversos Diazinon Syngenta

Diversos Dimetoato Diversas

Diversos Endosulfan Diversas

Fenthion Bayer

Diversos Malathion Diversas

Diversos Monocrotophos Diversas

PI-Rimor Pirimicarb Syngenta

Diversos Parathion metil Diversas

Hostation Br Triazophos Bayer

Kilval Vomidation Bayer Mosca branca e

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Diversos Óleo mineral Diversas cochonilha

FUNGICIDAS

Cerconil Tiofamato

metílico+Clortalomil

Ihara Mofo preto

Apron/Ridomil Metalaxil Syngenta Queima das mudas

Nesta lista de agroquímicos a serem registrados para essas 18 “minor crops -

frutíferas” apenas 5 (cinco) apresentaram herbicidas a serem registrados e, isso é uma

informação preocupante já que um dos grandes problemas em lavoura é a presença de

plantas daninhas hospedeiras de viroses. E a outra questão é o uso indiscriminado do

glyphosate (Roundap®), tendo com isso diversos problemas como a intoxicação de

plantas e animais e a contaminação ambiental. Existem ainda dentro desta lista de

espécies duas sem nenhum produto registrado que é a acerola e as anonáceas (pinhas e

graviola, as mais comercializadas na região sudeste). A acerola inclusive é umas das

fruteiras com maior teor de vitamina C já encontrada, abaixo do camu-camu, sendo

muito apreciada na forma de suco, e essa é a preocupação com um fruto muito

apreciado para a indústria e sem uma atenção devida. Outro exemplo é o da oliveira,

onde Oliveira Jorge et al. (2008) relatam a urgência de registro de produtos para a

cultura, seguindo uma estratégia para “minor crops”. Em estudos feitos por Gorenstein

(2008) verificou 30% de resíduos de agrotóxicos sem registro nas consideradas frutas

pequenas como kin-kan, jabuticaba, acerola e umbu, o que é motivo também de

preocupação.

Embora tenham levado o país a ostentar o título de maior consumidor mundial

de agrotóxicos, com 734 milhões de toneladas, os produtores rurais ainda reclamam da

morosidade do governo no controle e registro de agrotóxicos. Essa demora é

preocupante, por exemplo, onde o uso de agrotóxicos para as “minor crops” por área é

mais intenso do que as consideradas representativas. Com isso nesses alimentos a

contaminação é constante (EMBRAPA, 2009). Assim, inúmeras reuniões vem sendo

feitas como por exemplo, a organizada pela Coordenação de Fiscalização de

Agrotóxicos –CFA / Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal – DDIV onde

discutiram a Proposta de Registro de Agrotóxicos para “pequenas culturas” que vem

sendo desenvolvida pelo GTPR, Grupo de Trabalho de Resíduos de Pesticidas ligado ao

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Codex Alimentarius.a ser encaminhada ao Comitê Técnico de Assessoramento para

Agrotóxicos – CTA (ABCSEM, 2008).

A resistência de pragas a produtos químicos hoje é um dos grandes problemas da

agricultura. E uma das principais causas associadas ao problema da resistência de

pragas a inseticidas e acaricidas em morangueiro, e diversas outras culturas, como

frutíferas e hortaliças de menor expressão econômica, é o pequeno número de

inseticidas e acaricidas registrados, aliada à dificuldade (demora) para o registro de

novas moléculas. A esse exemplo podemos citar o ácaro-rajado (Tetranychus urticae

Koch) que ataca as culturas como a do morango, crisântemo, rosa, pêssego, algodão e

mamão, afetando as folhas e promovendo manchas branco prateadas e certa quantidade

de teia, tornando-se bronzeadas, secam e caem (Figura 1). Observou-se resistência de

aproximadamente 3 mil vezes ao acaricida FENPIROXIMATO; de 350 vezes ao

ABAMECTINA; 570 vezes ao CLORFENAPIR após poucas aplicações. Ao usar o

FENPIROXIMATO verificou-se que para matar o ácaro era necessário usar uma dose

de 200 vezes maior que a recomendada (SATO, 2009).

Figura 1. (A) Morangueiro não atacado. (B) e (C) Morangueiro atacado por ácaro-

rajado, inclusive com presença de teia (Fonte: SATO, 2009).

Considerações finais

Analisando hoje a importância da agricultura familiar na fixação do homem no

campo, verifica-se para cada região em particular que a tradição no cultivo de

determinadas espécies é um fator primordial como uma questão sócio-econômica para

essas famílias. Portanto, a necessidade de técnologias para se cultivar a terra é cada dia

mais necessária e por isso uma das grandes preocupações do agricultor é como trabalhar

diante de tantos problemas, como a incidência de pragas e doenças no campo. Assim

uma das insatisfações hoje no campo ao trabalhar com culturas de pequena expressão

A B C

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(“minor crops”) é a demora no registro de produtos, o que leva muitos produtores a

utilizarem aqueles não registrados, o que acarreta em uma infinidade de problemas

como a intoxicação das plantas e a contaminação humana e ambiental.

Referências Bibliográficas

ANVISA - Minor Crops: culturas com suporte fitossanitário insuficiente. Disponível

em:<http://www.anvisa.gov.br/DIVULGA/eventos/simposio_res_agrotoxicos/simposio

_iii_apresenta/041208_mesa4_1.pdf>. Acesso em: 03.10.2009.

ABCSEM – Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas. Proposta sobre

Registro de Agrotóxicos para “Pequenas Culturas” (Minor Crops). Disponível em:

<www.abcsem.com.br/site/noticias/20040601.doc>. Acesso em: 03.10.2009.

EMBRAPA – Meio Ambiente. Especialistas se reúnem em Jaguariúna para definir

estratégias de utilização de agrotóxicos em minor crops. Disponível em:

<www.cnpma.embrapa.br/nova/mostra2.php3?id=364>. Acesso em: 03.10.2009.

IBRAF-Instituto Brasileiro de Frutas. Lista de Agroquímicos a Registrar (Minor Crops).

Disponível em: <http://www.ibraf.org.br/servicos/ser_documentos.asp>. Acesso em:

03.10.2009.

FORUM NACIONAL DAS ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

Disponível em: <www.forumdoconsumidor.org.br>. Acesso em: 10.09.2009.

GORENSTEIN, O. Monitoramento de resíduos de agrotóxicos realizados pela

CEAGESP no período de dezembro de 2006 a maio de 2007. Informações

Econômicas, v.38, n.6, p.32-39, 2008.

MINOR CROPS – Consulta Pública. Diário Oficial da União. Seção 1, n.122, p.7-8, 27

de junho de 2008. Disponível em: <

www.ibraf.org.br/x_files/Documentos/MinorCrops_Consulta%20Pública.pdf >. Acesso

em: 03.10.2009.

NOTAPAJOS.COM. Rural-Produtores estão usando agrotóxicos irregulares em 61

culturas. Disponível em:<http://notapajos.globo.com/lernoticias.asp?id=23298>. Acesso

em: 03.10.2009.

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OLIVEIRA JORGE, R.; COUTINHO, E.F.; COSTA, V.B.; CAMACHO JORGE, Z.;

CAPPELLARO, T.H.; RIBEIRO, F.C. Principais pragas e doenças identificadas na

cultura da oliveira no Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE

FRUTICULTURA, Resumos...Vitória-ES. CD-ROM, 2008.

REIS, A.; HENZ, G.P.; BRUNE, S. Principais doenças do chuchuzeiro no Brasil.

EMBRAPA: Circular Técnica, n.60, p.1-5, 2008.

SATO, M.E. Frutas e derivados, Ano 4, Edição 13, p.40-42, 2009.

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CAPÍTULO 2

Controle cultural de doenças de plantas em culturas com

menor suporte fitossanitário

Marcelo Barreto da Silva1

Rodrigo Alexandre Sobreira2

Antônio Pereira Drumond Neto3

Jorge Gomes Soares4

Introdução

Não só a agricultura contemporânea, mas toda a atividade humana, tem neste

novo milênio o desafio da sustentabilidade. Ações que atuem em favor da

sustentabilidade devem ser incorporadas à agricultura e especialmente no Brasil que é

um dos poucos países do mundo que apresentam condições de ampliar sua capacidade

produtiva com menor impacto ambiental. Complementando os desafios decorrentes das

questões ambientais, a qualidade da produção é fator sem a qual o Brasil não conseguirá

vencer as barreiras impostas pelos principais países importadores de nossos produtos

agrícolas. Neste contexto, o controle cultural, integrado com outros métodos de controle

não poluentes, como o genético e o biológico, deve ser criteriosamente planejado e

implantado nos sistemas produtivos, especialmente naqueles que não dispõe do suporte

adequado de produtos fitossanitários.

Aliados à eficiência do controle, outros conceitos têm se somado ao manejo

integrado de doenças, como menor uso de insumos, proteção ao homem e ao ambiente,

redução de resíduos, dentre outros, o que torna o manejo de doenças uma atividade que

depende cada vez mais de uma visão abrangente do sistema produtivo sem, contudo,

abandonar o pragmatismo das demandas dos agricultores.

Os sistemas de produção precisam ser repensados diante dos novos desafios

propostos como a escolha dos materiais genéticos mais resistentes às condições

1 Engº Agrº, D.S. e Professor do CEUNES/UFES – [email protected]

2 Engº Agrº, D.S. e Professor da CEUNES/UFES – [email protected]

3 Engº Agrº, Bolsista do CNPq – [email protected]

4 Graduando em Agronomia do CEUNES/UFES

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adversas do clima, aumento da densidade de plantio, rotação de cultura, uniformidade

genética, sistema de irrigação, tecnologia de aplicação dentre outros.

Não obstante a visão mais abrangente que sempre permeou o controle de

doenças de plantas, o controle químico foi aquele que se despontou, especialmente nas

décadas de 60 e 70, quando a revolução verde apostou quase que exclusivamente nas

tecnologias derivadas da indústria (produtos fitossanitários e adubos) como a chave para

os problemas da produção de alimentos. Neste período, os métodos tradicionais de

controle foram colocados em segundo plano e a palavra “controle de doenças” passou a

ser sinônima da aplicação de produtos. O modelo unilateral e simplista proposto pela

revolução verde mostrou-se ineficiente e insustentável ao longo dos anos, gerando

vários exemplos negativos que relacionavam agricultura, produtos químicos e ambiente.

Outros modelos procuraram restabelecer o ponto de equilíbrio perdido, evoluindo para

propostas mais radicais como a agricultura orgânica e outras mais conservadoras com

base nos conceitos do manejo integrado, culminando com uma visão mais abrangente

que é a produção integrada.

No cenário de toda esta discussão estão as culturas de grande interesse nacional

e internacional como batata, tomate, café, feijão, soja, milho, arroz, algodão, citros

dente outras. Porém à margem desta discussão, estão as chamadas minor crops, que são

aquelas culturas que pela sua falta de expressividade nacional e baixo impacto

econômico, apresentam-se desassistidas de produtos químicos registrados para uso

regular dos agricultores.

Para as culturas de menor suporte fitossanitário, resta reforçar a importância das

práticas culturais no controle das doenças enquanto paralelamente trabalha-se junto às

empresas e ao governo para criar condições que viabilizem o registro de mais produtos

que possam ser utilizados de acordo com critérios técnicos específicos.

A seguir, serão apresentados os princípios envolvidos no controle cultural de

doenças de plantas, os procedimentos disponíveis e alguns patossistemas em que eles

são adotados com sucesso. Faz-se necessário salientar que há muito ainda a ser estudado

nesta área do conhecimento, em decorrência a complexidade das relações envolvidas

nos sistemas agrícolas, especialmente nas minor crops, que de certa forma são também

desassistidas em termos científicos e tecnológicos. Nas diferentes realidades do campo

há espaço para a criatividade e experimentação dos gestores dos sistemas produtivos

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agrícolas, com base na experiência e no conhecimento científico acumulado ao longo

dos anos.

Controle cultural

O controle cultural busca, a partir do conhecimento das relações entre o

patógeno, seu hospedeiro e o ambiente, encontrar procedimentos fitotécnicos que

possam atuar nesta relação com o propósito de torná-la menos favorável ao

estabelecimento e ao desenvolvimento da doença no campo ou em cultivos protegidos.

Na maioria das vezes, o controle cultural em seu caráter preventivo busca fazer com que

o patógeno não entre em contato com a cultura, ou fugir das condições de ambiente

favoráveis ao patógeno. Em áreas onde a doença já está estabelecida, as medidas

culturais procuram reduzir o inoculo inicial presente no sistema e criar ambiente menos

favorável à doença. Na tabela 1 são apresentados os principais procedimentos que

podem ser adotados no controle cultural de doenças de plantas e local de atuação em

relação ao triângulo da doença.

Tabela 1. Local de atuação dos procedimentos fitotécnicos sobre os componentes do

triângulo da doença.

Componente do Triângulo Procedimento Fitotécnico

Patógeno (inóculo inicial)

Uso de material propagativo sadio

Plantio em áreas livres do patógeno

Erradicação do hospedeiro

Remoção de hospedeiros alternativos e plantas voluntárias

Barreira física

Fumigação do solo

Rotação de cultura

Higienização

Eliminação de restos culturais

Inundação da área de plantio

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Hospedeiro

Adubação e Calagem

Densidade de plantio

Ciclo e porte da cultura

Ambiente

Escolha do local e época de plantio e colheita

Adubação e Calagem

Adição de matéria orgânica ao solo

Densidade de plantio

Tipo e manejo do sistema de irrigação

A eficácia de cada medida cultural isolada, ou em combinação com outras, varia

de acordo com o ciclo da cultura (anual ou perene) e características do patógeno como

biologia, capacidade de sobrevivência ou disseminação, dentre outras. A adoção

criteriosa do controle cultural proporciona a maior eficácia do controle químico,

reduzindo o número de pulverizações e contribuído para sustentabilidade dos sistemas

produtivos. A sua adoção é um dos pilares para a produção integrada de frutas e

hortaliças. Em contrapartida, nem todas as técnicas são de fácil adoção nos diferentes

sistemas agrícolas seja por questões relacionadas às tradições do homem do campo,

aspectos logísticos ou econômicos.

Procedimentos utilizados no controle cultural de doenças de plantas

O controle cultural não é um procedimento único que pode ser utilizado em toda

e qualquer situação com garantia de eficiência comprovada, como é comum no controle

químico. Sua adoção depende muito mais da facilidade de adoção e capacidade de

convencimento do produtor, que de sua viabilidade técnica. É importante salientar que a

grande maioria dos produtores não tem conhecimento de microbiologia e muito menos

conseguem abstrair o que seja um vírus, por exemplo. A conclusão de muitos

produtores quanto observam a doença no campo é de que ela surgiu na lavoura de uma

forma inexplicável, enquanto para os técnicos, muitas doenças foram introduzidas na

lavoura por falta de adoção dos princípios culturais básicos como sementes sadias e

plantio em áreas livres do patógeno, por exemplo. A seguir, serão listados os principais

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métodos de controle cultural, evidenciando as condições em que podem ser utilizados e

indicando alguns patossistemas em que são efetivamente aplicáveis.

1. Material propagativo sadio

Esta técnica é particularmente importante quando o material propagativo

(sementes, partes vegetativas ou mudas) é um dos principais métodos de disseminação

da doença e quando o plantio é realizado em áreas novas. Nas novas áreas de plantio

muitos patógenos ainda não estão presentes e é esperado que as fontes de inóculo

externas sejam raras.

Os principais patógenos transmitidos por material propagativo são os vírus e os

fungos, seguidos das bactérias e nematóides. Por esta via de disseminação muitas

doenças são introduzidas em determinada região ou país. Nas culturas do trigo, soja,

milho e mamão, este problema é minimizado pelo uso de sementes certificadas,

portadoras de atestado de qualidade controlado pelo governo. Culturas como tomate,

batata e morango apresentam problemas principalmente em decorrência das doenças

viróticas.

Doenças como o mofo branco do feijão tem na prática do plantio de grãos, e não

de sementes certificadas, o seu principal aliado na introdução e disseminação da doença,

inclusive em plantios mais tecnificados sob pivô-central.

Nas culturas propagadas por mudas como citros, banana, abacaxi e pimenta-do-

reino, o plantio de material sadio é essencial para o sucesso do pomar. O governo possui

programa de controle legislativo procurando garantir a qualidade fitossanitária de mudas

cítricas direcionadas principalmente para a CVC e o Cancro cítrico. Há programas

também que fiscalizam a produção de mudas de café arábica, com atenção especial ao

nematóide das galhas (Moloigogyn spp). O Certificado Fitossanitário de Origem (CFO),

é um instrumento legal emitido por profissional treinado e credenciado que garante ao

agricultor que o material adquirido encontra-se livre de patógenos transmitidos pelas

mudas.

Na tabela 2 são apresentados alguns patógenos transmitidos por material

propagativo, a cultura em que causam problemas e o veículo utilizado.

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Tabela 2. Patógenos transmitidos por material propagativo com seu respectivo

hospedeiro e veículo de transmissão.

Patógeno Hospedeiro Veículo

Meloidogyne spp Café Muda

Sclerotium cepivorum Alho e Cebola Bulbo e muda

Fusarium subglutinans f. sp. ananas Abacaxi Muda

Xylella fastidiosa Citros Muda

Xanthomonas axonopodis Citros Muda

Cadidatus liberobacter spp Citros Muda

Cucumber mosaic virus Banana Muda

Fusarium oxysporum f. sp. cubense Banana Muda

Colletotrichum lindemuthianum Feijão Semente

Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli Feijão Semente

2. Plantio em áreas livres do patógeno

Os microrganismos causadores de doenças não se encontram universalmente

distribuídos. Normalmente estão associados ao seu hospedeiro em áreas endêmicas ou

nos plantios comerciais. É esperando então que em novas áreas de plantio ou em áreas

destinadas à pastagem, por exemplo, os microrganismos patogênicos não estejam

presentes nem no solo e nem no ar. Esta medida é particularmente importante para

aqueles patógenos de difícil disseminação e que apresentam alta capacidade de

sobrevivência no solo com é o caso de fungos do gênero Fusarium, bactérias como

Ralstonia solanacearum, nematóides como Tylenchus semipenetrans. O plantio de áreas

livres de patógenos deve ser priorizado para culturas que apresentam patógenos com

capacidade de comprometer a produção, de difícil controle e quando a implantação da

cultura exige alto custo de investimento como pomares, plantio em pivô e em cultivo

protegido.

Para detectar a presença do patógeno em uma área faz-se uso de análise de solo,

no caso de nematóides, e avaliação do histórico da área, procurando identificar plantios

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realizados anteriormente e possível ocorrência de doenças. Como os nematóides

apresentam distribuição bastante agregada no campo, é importante que as amostras de

solo sejam feitas criteriosamente e com bastante representatividade. A análise de solo

para detecção de fungos do gênero Phytophthora e de nematóides nocivos é

procedimento rotineiro recomendado para a produção de mudas cítricas com apoio de

laboratórios credenciados.

3. Erradicação do hospedeiro

A erradicação ou destruição do hospedeiro é uma medida drástica adotada

normalmente por agências sanitárias do Governo como medida para erradicação de

doenças recém-introduzidas em determinado país ou região. Esta medida já foi adotada

no Brasil na tentativa de erradicar a ferrugem do café, em 1970 e a vassoura-de-bruxa

em 1989, ambos os casos no sul da Bahia, e o cancro-cítrico em 1999 no triângulo

Mineiro. Somente no último caso logrou-se sucesso na erradicação do patógeno. Para

que a erradicação de uma nova doença seja possível, algumas condições devem ser

observadas: a) o patógeno deve ser de difícil disseminação, b) apresentar baixa gama de

hospedeiros, c) difícil sobrevivência no solo e d) ação rápida e efetiva do Estado na

destruição das plantas doentes e controle do trânsito de material vegetal das áreas

infestadas.

Uma variação deste princípio, porém com menor intensidade e com propósito de

redução do inóculo presente na lavoura, é a eliminação de plantas vivas doentes

presentes no campo ou em casa-de-vegetção, também conhecido como rouging. É uma

medida laboriosa, cara, por eliminar plantas produtivas, porém necessária em alguns

patossistemas. O rouguing é recomendado no manejo de plantas de tomate no início do

plantio que apresentam sintomas de viroses e na murcha bacteriana. É recomendado no

manejo do mal-do-Panamá na cultura da banana e do anel-vermelho na cultura do coco.

Um dos melhores exemplos para ilustrar a importância da prática do rouging é a

cultura do mamão, que faz uso deste procedimento como uma das principais medidas

adotadas no manejo de viroses (Mosaico e Meleira, principalmente). Mesmo assim,

existe grande resistência por parte de alguns produtores. A planta de mamão infectada

não tem cura e passa a ser importante fonte de inóculo, rapidamente disseminado pelos

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vetores, infectando as demais plantas sadias. A adoção deste procedimento é tão

relevante para o sucesso da produção no estado do Espírito Santo, que foi

institucionalizada a Campanha de Erradicação do Mosaico do Mamoeiro, implantada

pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, e amparada pela

portaria número 175 de 25 de outubro de 1994. De acordo com a portaria, as

propriedades onde o diagnóstico oficial comprove a presença do mosaico do mamoeiro

(Potyvirus) são interditadas e é determinada a imediata erradicação de todos os focos de

plantas doentes. Caso o produtor não implemente as medidas previstas em lei, o pomar

é compulsoriamente erradicado pelo Estado mediante ação policial, além da aplicação

de outras penalidades. Na cultura do mamão foram criados os “olheiros”, ou seja,

trabalhadores de campo treinadas para identificar os primeiros sintomas de viroses e

erradicar a planta. Adotando-se este procedimento, evita-se a rápida disseminação das

viroses para as plantas sadias o que poderia comprometer toda a produção.

Outra opção é a eliminação das partes doentes na cultura em campo.

Normalmente são eliminados frutos e folhas doentes, com o objetivo de reduzir a

disseminação do inóculo no campo ou em sementeira. A medida é adotada em

sementeiras e canteiros de plantas folhosas; em frutos de pimentão, jiló e berinjela com

antracnose (Colletotrichum gloesporioides). Frutos e folhas doentes são importantes

fontes de inóculo na cultura do mamão responsáveis pelo aumento da intensidade de

doenças como antracnose (C. gloesporioides), mancha de ascochyta (Phoma caricae-

papyae) e a pinta preta (Asperisporium caricae), onde é necessária a remoção tanto das

folhas senescentes que permanecem na planta, quanto aquelas no chão. A eliminação de

galhos doentes por meio de podas fitossanitárias é uma das principais estratégias de

manejo da clorose variegada dos citros (Xylella fastidiosa), a CVC. A medida é mais

eficiente quanto adotada no início do aparecimento da doença. Para tanto há a

necessidade de realização de inspeções freqüentes do campo seguida de identificação

das plantas doentes, realização das podas e proteção dos ramos podados com pasta

cúprica. Caso a planta doente tenha menos de dois anos, o recomendado é a erradicação

e plantio de uma nova muda sadia. Mesmo em culturas de cultivo intensivo como a de

morango, a eliminação de folhas, flores e frutos doentes tem sido adotada com

eficiência no controle de doenças da parte aérea como a flor-preta (Colletotrichum

acutatum), mancha de micosferela (Mycospharella fragariae) e podridão de futos

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(Botrytis cinérea), melhorando a qualidade da produção e reduzindo o uso do controle

químico.

4. Remoção de hospedeiros alternativos ou plantas voluntárias

Um dos principais mecanismos de sobrevivência dos patógenos biotróficos após

a retirada da cultura do campo é a sobrevivência em plantas hospedeiras alternativas,

que podem ser plantas daninhas ou plantas voluntárias. Plantas voluntárias são

indivíduos da mesma espécie da cultura principal que, por vários motivos,

permaneceram vivas após a retirada da cultura no campo.

Estes hospedeiros alternativos ao serem infectados pelos patógenos se

comportarão como fonte de inóculo para o novo plantio que se inicia. Os principais

hospedeiros alternativos são plantas daninhas que permanecem no campo durante todo

ano hospedando vírus e nematóides. O controle eficiente do mato é a melhor maneira de

eliminar estes hospedeiros. A eliminação de curcubitáceas como abóbora, melão,

melancia, pepino e outras plantas hospedeiras do vírus do mosaico do mamoeiro

(Potyvirus) é uma das medidas recomendadas para reduzir o inóculo da doença que,

uma vez presente, é rapidamente disseminada no campo por afídios, Myzus persicae,

Aphis gossipi e Toxoptera citricida.

Para reduzir o impacto da ferrugem da asiática soja (Phakopsora pachyrhizi) tem

sido adotado com sucesso o procedimento que impede o plantio da soja nas regiões

produtoras dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais por

um período de 90 dias. Esta medida conhecida como vazio sanitário tem por objetivo

quebrar o ciclo da doença e reduzir drasticamente a fonte de inóculo para os novos

plantios. Neste contexto, as plantas voluntárias ou tigüeras, que permanecem no campo

ou nas beiradas das estradas, têm sido apontadas como uma das causas de redução da

eficiência desta medida de controle. Exemplo como este mostra não só a importância

dos hospedeiros alternativos no manejo de doenças no campo, como a necessidade de

ações de abrangência estadual para garantir a sustentabilidade dos sistemas produtivos.

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5. Barreira física

As barreiras físicas mais eficientes utilizadas no controle de doenças são telas

anti-afídios, utilizadas para proteger viveiros de mudas quanto do cesso de insetos

vetores de viroses. É uma medida de ação localizada, porém bastante eficiente para os

propósitos a que se destina. Ela é utilizada na produção de mudas e borbulhas sadias de

plantas cítricas. Os viveiros destinados à produção de mudas cítricas devem ser

obrigatoriamente telados de forma a impedir o acesso das cigarrinhas vetoras dos

patógenos causadores da CVC e tristeza. Esta medida pode elevar o custo de produção

das mudas, contudo garante sua qualidade sanitária e reduz os danos causados no campo

decorrente da contaminação das mudas. As matrizes fornecedoras de borbulhas que

permanecem no campo são protegidas por telas, mantidas sadias e certificadas juntos

aos órgãos do governo.

Outra local em que o uso de telas pode trazer benefícios é em sementeiras de

culturas olerícolas como tomate. Este procedimento reduz a presença de vários insetos

vetores de vírus como afídeos, tripes e mosca branca.

6. Fumigação do solo

A fumigação é a eliminação dos patógenos presentes no solo por meio de

processos químicos. O principal produto utilizado no tratamento do solo era o Brometo

de Metila, que tinha uma atividade biocida, eliminando todos os organismos vivos do

solo. Contudo, após a proibição do uso deste produto na agricultura, outros produtos e

métodos, como o tratamento térmico do solo, têm sido utilizados. A desinfestação de

solos é uma medida importante para aquelas culturas que ser propagam por meio de

mudas. Os solos utilizados para a produção de mudas podem abrigar estruturas de

resistência de patógenos que, por sua vez podem infectar as mudas, diminuído seu valor

de mercado ou até comprometendo sua comercialização no mercado.

A desinfestação de solos é recomendada em sementeiras, reduzindo a incidência

de tombamentos ou outras doenças causadas por patógenos dos gêneros Pythyum,

Rhizoctonia, Phytophthora e Fusarium.

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O uso de substrato artificial que já vem pronto para uso e o plantio em tubos e

bandejas, tem contribuído para a melhoria as condições sanitárias dos viveiros e

sementeiras. Contudo, mesmo nestas condições, os patógenos podem ser problemáticos

por poderem ser disseminados pelo vento e água de irrigação.

7. Rotação de cultura

A alternância de culturas na mesma área e estação do ano é considerada rotação

de cultura. Em fitopatologia, a rotação de cultura deve considerar o tempo necessário

para a degradação dos restos culturais e, com eles, as estruturas de sobrevivência do

patógeno antes do retorno à cultura principal. Este conceito difere da sucessão de

cultura, pois na sucessão o aspecto época de plantio não é levando em consideração.

Assim, se em uma localidade o milho é sempre plantado no verão e o feijão no inverno,

haverá duas monoculturas em mesma área. A monocultura de milho no verão e de feijão

no inverno. A rotação de cultura é uma medida de controle de amplo espectro e que

deveria estar presente em todo sistema produtivo, não só pelo seu efeito na redução de

dos problemas decorrentes de doenças (Figura 1), pragas e plantas daninhas, como

também nos efeitos positivos na nutrição das plantas, na estrutura do solo e no

agroecossistema como um todo.

Patógenos habitantes do solo que possuem uma gama restrita de hospedeiro

podem ter sua população drasticamente reduzida pelo plantio de espécies que não

hospedeiras. Esta medida se torna mais eficiente para os organismos biotróficos ou

aqueles que têm limitada capacidade de sobrevive em restos culturais como Alternaria

solani na cultura de tomate. Seguindo o mesmo raciocínio, a rotação é pouco eficiente

para os patógenos capazes de sobreviver no solo na ausência da planta hospedeira, seja

em processos saprofíticos ou por estruturas de resistência (Tabela 3).

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0

10

20

30

40

50

60

70

1993 1994 1994 1995

Ano

Se

ve

rid

ad

e (

%)

A

B

B

Figura 1. Efeito da rotação de culturas sobre a severidade de doenças do sistema

radicular do trigo, onde “A” representa os dados obtidos com a monocultura, “B”

quando em um inverno não foi plantado trigo e “C” foram mantidos dois invernos sem o

plantio de trigo. (Adaptado de Santos et al. 1998)

Tabelas 3. Patógenos capazes para os quais a rotação de cultura apresenta pouco efeito

em decorrência da produção de estruturas de resistência ou capacidade de sobrevivência

saprofítica ou em hospedeiros alternativos.

Gênero do Patógeno Capacidade de Sobrevivência Estrutura de Resistência

Pythium X Oósporo

Phytophthora X Oósporo

Rhizoctonia X Escleródio

Fusarium X Clamidósporo

Sclerotium X Escleródio

Sclerotinia X Escleródio

Verticiluium X Escleródio

Plasmodiophora X Cisto

Ralstonia X -

Heterodera X Cisto

Globodera X Cisto

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Em regiões produtoras de hortaliças, é comum a rotação de culturas com milho,

sorgo ou arroz, objetivando a redução do inóculo presente no solo. Algumas culturas

sem valor econômico, porém com capacidade de melhorar as características físicas e

químicas do solo, também são utilizadas com destaque para mucuna, aveia preta, feijão-

de-porco e outras leguminosas. Nestes casos, há necessidade de se fazer o manejo

adequado das culturas evitando a produção de sementes.

Mesmo para áreas destinadas à produção de frutas como abacaxi e mamão, a

monocultura não é recomendada em decorrência de problemas fitossanitários

decorrentes da proliferação de patógenos do gênero Phytophtora e Fusarium, e viroses.

Rotação de cultura é necessária em plantios sob pivô, pois nestas condições é desejável

que a produção se mantenha viável em uma mesma área em decorrência da dificuldade

da remoção deste sistema de irrigação para novas áreas. Recomenda-se a rotação de

culturas com milho, feijão ou pastagens em outras situações além das culturas anuais, é

utilizada adubação verde.

A rotação de cultura permite o controle satisfatório de uma gama variada de

patógenos (Tabela 4) sem a adoção de produtos químicos, contudo apresenta algumas

limitações como a dificuldade de encontrar um sistema que se ajuste às necessidades

dos agricultores, seus efeitos benéfico não são facilmente percebidos a curto praxo e não

pode ser utilizada em culturas perenes.

Tabela 4. Culturas e patógenos para os quais a rotação de cultura tem sido recomendada

com sucesso no controle de doenças.

Cultura Patógeno Anos de

Rotação Comentário

Alho

Ditylenchus dipsaci

Belonolaimus gracilis

Sclerotium cepivorum

2

5-10

8-10

Rotação com beterraba, cenoura,

crucíferas, alface e espinafre

Usar melancia e fumo e erradicar

plantas daninhas

Usar gramíneas, leguminosas ou

solanáceas

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Batata

Meloidogyne hapla

Rhizoctonia solani

Streptomyces scabies

Fusarium oxysporum

Verticillium albo-atrum

1

3-6

1+

3-6

2-3

Usar milho

Usar alfafa antes de batata

Usar soja antes

Alfafa antes de batata

Trevo (1-2 anos) e batata

Milho

Helminthosporium spp

Pratylenchus

leiocephalus

1-3

1-2

Rotação com não forrageiras

Alternar com cultura de amendoim

Feijão

Sclerotinia sclerotiorum

Corynebacterium

flaccumfacinens

Fusarium solani

2

2

5

Usar cereais, milho

Evitar a cultura de feijão

Evitar cultura de feijão e soja, dar

preferência a gramíneas

Soja

Heterodera glycines

Cercospora spjina

Pseudomonas glycines

1-5

1

1

Usar culturas não hospedeiras

Usar culturas não hospedeiras

Rotação e enterrar resíduos culturais

Tomate

Pseudomonas tomato

Xanthomonas

vesicatoria

Rhizoctonia solani

1

1

1

Rotação com gramíneas

Rotação com gramíneas

Usar capim pangola

Fonte:Vale et al (2004)

8. Higienização

A limpeza de equipamentos, ferramentas, caixas, veículos e roupas é um

procedimento importante para evitar a disseminação da doença dentro da cultura. Esta

medida é particularmente importante para culturas que recebem muita manipulação

especialmente no período de colheita. Culturas beneficiadas diretamente por estes

procedimentos são os citros, tomate e mamão. Para limpeza normalmente são utilizados

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desinfetantes como a amônia quartenária e produtos à base de cloro. Algumas doenças

viróticas importantes são transmitidas por contato de ferramentas e mãos (Tabela 5).

O trânsito de máquinas em áreas contaminadas permite a disseminação de

nematóides não só dentro da mesma propriedade, mas principalmente entre

propriedades. A lavagem de tratores e implementos é uma medida necessária para evitar

a disseminação de nematóides, que são facilmente veiculados nas partículas de solo que

permanecem aderidas aos implementos agrícolas.

Tabela 5. Viroses transmitidas mecanicamente de plantas doentes para sadias.

A principal medida higiênica da fusariose da pimenta-do-reino (Fusarium solani

(Mart.) Appel & Wr. emend. Snyd. & Hans. f. sp. piperis, Albuquerque (Tel.: Nectria

haematococca Berk. & Br. f. sp. piperis Albuq.) é o controle de qualidade das estacas

de propagação. As estacas devem ser provenientes de pimentais sadios e apresentar

bom estádo de desenvolvimento vegetativo, proveniente de áreas não contaminadas.

Outra medida é evitar o reaproveitamento de tutores provenientes de áreas em que a

doença já tenha sido observada e fazer a desinfecção das mesmas com produtos

fitossanitários como hipoclorito de sódio ou um fungicida registrado para a cultura.

9. Eliminação de restos culturais

É prática comum em várias culturas o fato dos agricultores, após a colheita dos

frutos ou grãos, deixarem a cultura ainda vegetando na área até o início do próximo

Vírus Hospedeiro

Papaya lethal yellowing vírus Mamão

Potato Virus X Batata

Potato Virus Y Batata

Tomato mosaic virus Tomate

Passion fruit yellow mosaic virus Maracujá

Soursop yellow blotch virus Graviola

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plantio. Este costume é desaconselhável especialmente nas condições tropicais, pois os

patógenos conseguem se desenvolver nestas condições produzindo mais inóculo na área

em que será iniciado o próximo plantio. Mesmo que o próximo plantio não seja

realizado na mesma área, mais próximos desta, muitos patógenos de parte aérea

possuem mecanismos de disseminação que possibilitam a movimentação dos seus

inóculos para as novas áreas.

No estado do Espírito Santo, a portaria que disciplina o controle do Mosaico do

Mamoeiro, obriga o produtor a eliminar os pomares abandonados, plantas hospedeiras

de pulgões e vírus, dentro e nas proximidades dos pomares, bem como instalar viveiros

e pomares o mais distante possível de outros pomares já instalados.

No caso da ocorrência da fusariose na parte aérea em pimenta-do-reino, caso a

mesma seja detectada na fase inicial, a realização de poda e eliminação do material da

lavoura, seguido da pulverização de fungicida é recomendável. O controle da doença a

partir de 15% de severidade não tem sido mais eficiente. Nesta condição, o

recomendável é o arranquio e eliminação da planta doente, evitando assim a

disseminação do patógeno dentro da lavoura.

10. Inundação da área de plantio

Esta prática é possível de ser realizada nas áreas sujeitas a alagamento durante os

períodos das chuvas. O alagamento possibilita o controle generalizado de

microrganismos presentes no solo, reduzindo o inóculo inicial para os próximos

plantios. É considerada uma das medidas mais eficientes de erradicação de patógenos

habitantes do solo. O encharcamento do solo cria condição para o desenvolvimento de

microrganismos anaeróbicos que liberam substância tóxicas para os fitopatógenos. A

redução do oxigênio livre e de nutrientes disponíveis também contribuem para

eliminação de patógenos como fungos e nematóides. A inundação pode ser feita como

técnica simplesmente de controle, ou em decorrência do plantio de arroz. Os benefícios

são perceptíveis em ambos os casos, especialmente para os organismos com alta

capacidade de sobrevivência no solo. Esta medida tem sido adotada com sucesso no

controle do nematóide das galhas e fungos como Sclerotium rolfssi e Sclerotinia

sclerotiorum.

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11. Adubação e Calagem

A nutrição equilibrada deveria ser considerada uma das primeiras medidas do

controle cultural. A rotação de cultura e demais práticas culturais contribuem para a

proteção das plantas pelo incremento dos nutrientes disponíveis e auxilia no controle de

plantas daninhas, competidoras eficientes por nutriente e água. A dinâmica dos

nutrientes no solo é capaz de influenciar não só as plantas como os microrganismos

presentes no solo, que por sua vez interagem com os patógenos, especialmente em sua

forma saprofítica. O recomendado é a manutenção do equilíbrio nutricional na área de

cultivo, o que é feito por meio da adubação na hora e modo adequado, após análise de

solo e em sistemas rotacionados.

Existem várias literaturas que relatam o efeito da nutrição sobre a incidência de

doenças, alguns casos mais conhecidos serão citados a seguir, contudo é importante

salientar que fatores como tipo de nutriente disponível, forma de disponibilização e

relação entre um ou mais nutrientes apresentam repostas positivas ou negativas na

interação entre a planta e o seu patógeno.

O excesso de boro e cálcio, ou seja, doses acima de 0,77 e 50 gramas por planta,

respectivamente, pode contribuem para o aumento em 70% de incidência da antracnose

em frutos de mamão.

Cálcio e nitrogênio na forma de NO3 elevam o pH, promove o a redução em

casos de murchas causadas por Fusarium. O excesso de nitrogênio pode levar ao rápido

crescimento celular e baixa espessura da parede celular aumentando a ocorrência de

tombamento.

A sarna da batata (Streptomyces scabies) tem o aumento da eficiência de seu

controle associada à variações de pH. Esta bacteriose é eficientemente com pH variando

de 5,0 a 8,0.

A deficiência nutricional é também responsável por algumas doenças abióticas

como o fundo preto do tomate e a deformação dos frutos do mamão.

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12. Ciclo e porte da cultura

A redução do tempo de permanência da cultura no campo tem efeito sobre o

número de ciclos que a doença poderá realizar no campo, refletindo na intensidade final

da doença. A aplicação correta das práticas culturais como época de plantio,

profundidade de semeadura e irrigação, dentre outras, possibilitará o crescimento

normal da planta e otimização do seu ciclo de vida. Qualquer processo que promova

estresse na planta poderá levar à desaceleração de seu crescimento e desenvolvimento,

com conseqüente efeito no ciclo da cultura. Outro fator que pode ser manejado é o uso

de variedades precoces. Considerando os aspectos epidemiológicos, é desejável manejar

o ciclo da cultura de forma a evitar que as condições favoráveis à doença coincidam

com os períodos críticos da cultura, que seja floração, formação de grãos, frutificação

ou colheita.

O porte e a arquitetura da cultura têm influência direta sobre o microclima no

interior do dossel. Normalmente as plantas mais eretas possibilitam maior aeração no

interior do plantio, reduzindo o período de molhamento foliar e, conseqüentemente, a

taxa de crescimento da doença.

13. Escolha do local e época de plantio

Em alguns patossistemas, a escolha da área de plantio é decisiva para o sucesso

do plantio, como é o caso do tomate, que não deve ser plantado em áreas de baixadas

para evitar o acúmulo de umidade nas épocas frias, tornando difícil o controle da

requeima (Phytophthora infestans). As hortaliças em geral necessitam de ser instaladas

em solos adequados evitando-se especialmente o acúmulo de água. Na cultura de café é

conhecido que as áreas de plantio mais expostas ao sol apresentam maior intensidade de

doenças como a cercosporiose, para a mesma cultura solos arenosos favorecem o

desenvolvimento do nematóide das galhas.

Cuidados devem ser tomados também na escolha do tipo de solo. Plantio de

mamão normalmente é feito em solos arenosos, evitando-se assim o encharcamento em

épocas chuvosas, condição favorável para a podridão do pé (Phytophthora palmivora)

que pode, em condições extremas dizimar o plantio.

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No caso da fusariose da pimenta-do-reino, o desejável é que a área de plantio

não tenha histórico de ocorrência da doença, esteja distante de plantios infectados,

apresente solos bem drenados e com declinação menor que 20%. Área com histórico de

ocorrência da doença pode ser utilizada somente após um período de cinco a oito anos

após o último plantio.

14. Adição de matéria orgânica ao solo

Os benefícios dos compostos orgânicos na sanidade e vigor das plantas são

conhecidos há mais de 100 anos. Uma das primeiras demonstrações experimentais foi

realizada no Canadá em 1926, quando Dr. G.B. Sanford mostrou que a sarna da batata

podia ser controlada quase que exclusivamente por compostos orgânicos. Entretanto,

sabe-se hoje que o efeito de compostos orgânicos no controle da sarna da batata é

controverso.

A matéria orgânica atua de diversas maneiras no controle dos patógenos no solo

podendo-se mencionar o favorecimento da proliferação de inimigos naturais, liberação

de compostos com efeito tóxicos aos patógenos e melhoria do aspecto nutricional das

plantas. Na tabela 6 são listados alguns patógenos, as culturas e os tipos de compostos

que apresentaram algum efeito no controle da doença.

Tabela 6. Patógenos controlados pela adição de matéria orgânica no solo

Patógeno Cultura Composto

Fusarium oxysporum f.sp. lycopercisi Tomate Vermicomposto

Meloidogyne SP Cenoura Esterco suíno e de carneiro

Meloidogyne javanica Café Palha de café

Sclerotium cepivorum Alho/Cebola Vermicomposto, esterco de aves e

bovinos

Phytophthora capsici Pimentão Exoesqueleto de crustáceos

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15. Densidade de plantio

O arranjo das plantas no campo, especialmente a densidade de plantio, tem

influência direta no microclima presente na cultura. Normalmente é esperado que o

aumento do espaçamento entre plantas facilite a passagem do vento reduzindo a

umidade relativa dentro da cultura como resultado da evapotranspiração. O aumento da

umidade na copa resultará no aumento em intensidade e duração da água livre na

superfície das folhas. Além do efeito sobre o microclima, o adensamento da copa da

cultura no campo reflete na eficiência da aplicação dos procedimentos fitossanitários

como a aplicação de fungicidas. A dificuldade em fazer com que os produtos

fitossanitáros alcancem o alvo bilógico, promoverá a redução da eficiência na da

medida de controle adotada.

O aumento da duração do molhamento foliar poderá favorecer as doenças

foliares como ferrugens e manhas foliares, e mais intensamente aquelas doenças

causadas Oomicetos, como Phytophthora, por serem mais dependentes da água.

Patógenos que colonizam a base da planta como Sclerotium, Rhizoctonia e Pythium são

beneficiados pelo aumento da umidade no sistema radicular e colo da planta.

16. Tipo e manejo do sistema de irrigação

Conhecer os patossistemas que serão irrigados é determinante para a escolha do

sistema de irrigação a ser adotado na condução de determinada cultura. As principais

preocupações quando se relaciona irrigação e doenças são o prolongamento do período

molhamento foliar e a disseminação de estruturas do patógeno na lavoura.

A irrigação pode ser utilizada como instrumento de controle da doença quando

possibilita o cultivo em épocas do ano ou regiões cujo clima não é favorável à doença.

Uma das grandes vantagens fitossanitárias do plantio irrigado de fruteiras no nordeste

brasileiro e outras regiões de clima seco, decorre do uso de sistemas de irrigação por

gotejamento ou superfície evitando a ocorrência de água nas folhas, reduzindo o

molhamento foliar.

O manejo adequado da irrigação resulta em plantas mais sadias reduzindo o

estresse hídrico, evitando o encharcamento do solo e favorecendo a absorção dos

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nutrientes. A harmonização do turno de rega e tipo de irrigação utilizado é uma

ferramenta importante no manejo das doenças. O manejo da irrigação deve então

considerar não só as exigências hídricas das plantas como também seu efeito na

disponibilidade de água para o desenvolvimento da doença. Duas orientações básicas

devem ser observadas, dar preferência à irrigação em períodos noturnos ou durante o

amanhecer, quando as folhas já se encontram molhadas pelo orvalho e o aumento do

tudo de rega, para reduzir o impacto da água no dossel das plantas.

17. Aumento da supressividade do solo

Vários patógenos habitantes do solo, como Fusarium oxysporum (causadador de

murchas), Phytophthora cinnamoni (causadora de podridão de raízes em fruteiras) e

Pythium sp. (causador de tombamento) são capazes de desenvolverem-se bem e causar

alta intensidade de doença em alguns tipos de solo, conhecidos como solos conducivos,

por outro lado, eles podem desenvolverem-se pouco e causarem pouca doença em

outros tipos de solo, conhecidos como supressivos. A existência de solos supressivos a

Fusarium tem sido investigada durante os últimos 50 anos. Os mecanismos pelos quais

determinados solos são supressivos e outros não, ainda não está bem claro porém sabe-

se que podem envolver fatores bióticos e abióticos, o que varia de acordo com o

patógeno e o tipo de solo observado. Em muitos casos são observadas associação com

microrganismos antagonistas que liberam substâncias capazes de inibirem o

crescimento do patógeno.

Alguns microrganismos antagonistas têm sido descritos como os fungos

Trichoderma e Penicilliu, e bactérias como Pseudomonas e Bacillus. Observações de

campo têm sugerido que fatores com pH e capacidade de infiltração do solo podem ser

favoráveis ou desfavoráveis à fusariose da pimenta-do-reino. Com relação a relações

bióticas, suspeita-se da relação nematóide do gênero Meloidogyne, Fursarium e

primenta-do-reino, favoreça o estabelecimento da doença, porém pesquisas precisam ser

realizadas de maneira a validar estas observações.

A interação cálcio e pH sobre fungos do gênero Fusarium tem sido observada

em alguns patossitemas há muitos anos. Casos de redução na severidade de murchas de

fusarium como conseqüência do aumento da concentração de cálcio no solo, variando

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de 5 a 500ppm foi observado por, por outro lado a deficiência deste elemento favoreceu

a doença.

Vários patossistemas envolvendo murchas causadas por Fusarium em interação

com nematóides, têm sido estudados. Os estudos indicam que a intensidade de várias

fusarioses aumentam três a quatro semanas após a interação da planta com o nematóide,

indicando que o ferimento em si não é o principal fator de favorabilidade e sim

alterações fisiológicas provocadas pelos nematóides.

Considerações finais

Em virtude da falta de suporte de produtos fitossanitários para as minor crops o

controle cultural deve ter importância fundamental no manejo integrado de doenças

nestas culturas.

O uso do controle cultural deve ser feito de forma planejada e diversas medidas

podem e devem ser recomendadas simultaneamente.

A adoção dos princípios culturais de controle ajudam a aumentar a qualidade da

culturas em termos de sustentabilidade e a presença de resíduos de produtos

fitossanitários.

O controle cultural, em determinadas condições deverá ser acompanhado do uso

dos produtos fitossanitários, contudo para tornar este uso possível nas culturas de menor

suporte fitossanitário, uma política deve ser estabelecida para aumentar o número de

produtos registrados para estas culturas.

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CAPÍTULO 3

Manejo de plantas daninhas em mamão

Cláudio Pagotto Ronchi1

Luiz Augusto Lopes Serrano2

Antonio Alberto da Silva3

Introdução

Em função dos tratos culturais necessários à cultura e da forma de colheita dos

frutos, o mamoeiro é cultivado em amplos espaçamentos (3,6 x 1,8 m – fileira simples;

3,6 x 1,8 x 1,8 – fileira dupla) (Marin et al.,1995; Costa et al., 2003). Por estes motivos,

e, também, pelo seu porte e arquitetura de copa, mesmo durante a fase adulta, observa-

se grande área de solo exposta na cultura do mamoeiro, favorecendo, a germinação, o

crescimento e o desenvolvimento de populações de plantas daninhas (Ronchi et al.,

2008). Além disso, nas regiões em que o mamoeiro é cultivado, como, por exemplo, em

Linhares-ES, geralmente predominam altas temperaturas (~26 ºC – inverno; ~32 ºC –

verão; Siag, 2008), altas irradiâncias (>1800 mol fotons m-2

s-1

), e praticamente todas

as lavouras são irrigadas (Martins, 2003). Esses fatores, somados ao grande aporte de

fertilizantes e de matéria orgânica (Martins, 2003) proporcionam condições muito

favoráveis à infestação do solo por plantas daninhas, agravando o efeito destas sobre a

cultura. O manejo de plantas daninhas é, portanto, prática comumente adotada na

maioria das lavouras de mamão (Ronchi et al., 2008).

As plantas daninhas interferem negativamente na cultura, causando prejuízos

econômicos a essa atividade agrícola, sejam eles diretos ou indiretos (Nishimoto, 1993;

Mederos-Olalde, 2000. Atualmente, tem sido utilizada por alguns produtores e

recomendada tecnicamente, seja no Brasil (Costa et al., 2003; Carvalho, 2005) ou na

Costa Rica (Bogantes e Mora, 2004), a eliminação das plantas daninhas na linha de

plantio e manutenção da vegetação (natural – plantas daninhas ou introduzidas -

leguminosas) na entrelinha, tendo em vista as vantagens que esse manejo pode trazer à

1 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV, Campus Rio Paranaíba, MG – [email protected]

2 Engº Agrº, D.S. e Pesquisador do INCAPER – [email protected]

3 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV, Viçosa,MG –[email protected]

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dinâmica do agroecossistema (Carvalho, 2005). Todavia, existem riscos associados a

esta prática uma vez que algumas espécies de plantas daninhas são hospedeiras de

afídeos vetores do vírus causador de uma das principais doenças da cultura do

mamoeiro (Ronchi et al., 2008).

Os gastos com o controle de plantas daninhas na cultura, nos três primeiros

meses de cultivo, são elevados, podendo chegar a R$ 1.200,00 por hectare (Ronchi et

al., 2008). No período desde o transplantio à sexagem, que ocorre aproximadamente aos

90 dias após o transplantio (DAT), realizam-se quatro operações de controle de plantas

daninhas, ou seja, uma capina a cada 22-23 dias, distribuídas da seguinte forma: de 15 a

30 DAT - 1ª capina (utilizam-se 27 homens dia-1

ha-1

); de 30 a 45 DAT - 2ª capina

(utilizam-se 15 homens dia-1

ha-1

); de 45 a 60 DAT - 3ª capina (utilizam-se 11 homens

dia-1

ha-1

); de 60 a 90 DAT - 4ª capina (utilizam-se 6 homens dia-1

ha-1

). Logo, para o

controle de plantas daninhas até aos 90 DAT, gastam-se, por hectare, o total de 59

homens dia-1

, que a R$ 20,00 dia-1

, equivale a R$ 1.180,00 ha-1

(Ferregueti,

comunicação pessoal). Esses dados mostram a necessidade de se desenvolver

tecnologias para o manejo de plantas daninhas na cultura (Ronchi et al., 2008).

Infelizmente, as pesquisas relacionadas ao manejo de plantas daninhas na

cultura do mamoeiro são incipientes (Ronchi et al., 2008). Por exemplo, a quantificação

das perdas causadas à cultura em função da interferência das plantas daninhas limita-se

a apenas alguns trabalhos. Verificaram-se que plantas de mamoeiro originadas de

semeadura direta foram praticamente destruídas pela presença de plantas daninhas

(Nishimoto et al., 1973) e que aquelas transplantadas, sob competição, produziram entre

34 e 59% do rendimento obtido nas plantas livres de interferência (Nishimoto, 1993).

Mederos-Olalde et al. (2000), por sua vez, constataram redução de 92% na

produtividade de lavouras sob infestação de plantas daninhas comparadas àquelas com

controle total das mesmas. Neste caso, o efeito foi indireto em função das planas

daninhas propiciarem maior incidência de viroses à lavoura.

Época de controle

Na cultura do mamoeiro, o período crítico de competição (período em que as

plantas daninhas concorrem efetivamente com a cultura), a rigor, é absolutamente

desconhecido. Carvalho (2003 e 2005) menciona que o período crítico de competição,

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para regiões de Tabuleiros Costeiros (Espírito Santo e Bahia), situa-se entre os meses de

setembro a maio. Todavia, o autor reconhece a ausência de informação sobre o tema e

menciona que tal período de competição trata-se apenas de uma extrapolação feita a

partir da cultura de citrus, porém para ambiente semelhante àquele em que o mamoeiro

é cultivado. Tornam-se premente, portanto, pesquisas de campo para se determinar o

período de interferência das plantas daninhas com a cultura do mamoeiro (Ronchi et al.,

2008). Essa informação permitiria a otimização do manejo de plantas daninhas seja por

reduzir o custo de produção (redução do número de operações de cultivo) ou por

prevenir danos ao meio ambiente, decorrente da eliminação indevida da cobertura

vegetal do solo, em épocas inoportunas, que seriam fundamentais na sustentabilidade do

sistema agrícola (Ronchi et al., 2008).

Nas lavouras comerciais e convencionais, altamente tecnificadas, em Linhares,

o manejo de plantas daninhas na linha de plantio tem sido realizado de acordo com o

esquema apresentado no Quadro 1 (Ronchi et al., 2008). Desde o transplantio até a

sexagem, período que dura entre três e quatro meses, cerca de três operações são

realizadas para se controlar as plantas daninhas, com predominância de capinas manuais

(uma vez que as plantas de mamoeiro ainda jovens são, de forma geral, sensíveis a

herbicidas - Nishimoto, 1997). Após a sexagem, faz-se o amontôo (geralmente

mecanizado), independentemente se a lavoura foi plantada em fileira simples (irrigação

por gotejamento) ou dupla (irrigação por microaspersão), ou em terreno plano ou sobre

pequenos camalhões. O amontôo, por si só, em analogia à arruação feita em lavouras de

café (Ronchi et al., 2001), constitui-se numa operação de controle de plantas daninhas

(Ronchi et al., 2008). Seguindo-se o amontôo, ou se faz mais uma capina ou,

definitivamente, até o final do ciclo, geralmente utiliza-se de herbicidas não seletivos,

em pós-emergência das plantas daninhas. Na entrelinha, o controle é feito com grade,

roçadeira ou com herbicidas não seletivos em pós-emergência das plantas daninhas. É

importante ressaltar, que na lavoura irrigada por microaspersão (portanto cultivadas em

fileira dupla), diferentemente das cultivadas em fileiras simples, as plantas daninhas são

completamente eliminadas para evitar que a uniformidade de distribuição de água na

área, dentro da fileira dupla, pelos aspersores, seja prejudicada (Ronchi et al., 2008).

Diante do exposto verificam-se algumas peculiaridades no controle de plantas

daninhas na cultura do mamoeiro que devem ser consideradas ao se estudar o período

crítico de competição e as estratégias de controle, sob pena, caso contrário, de os

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resultados obtidos revestirem-se de pequena ou nenhuma aplicação prática: (i) o

controle de plantas daninhas é subdividido em duas fases: antes e depois do amontôo;

(ii) o controle de plantas daninhas é diferenciado em função do sistema de plantio ou

tipo de irrigação: fileira simples - gotejamento; fileira dupla – microaspersão (Ronchi et

al., 2008).

Quadro 1. Esquema do manejo de plantas daninha na linha de plantio do mamoeiro, ao

longo de seu ciclo de vida. (Adaptado de Ronchi et al., 2008).

Transplantio 1ª florada, sexagem, amontôo 1ª colheita Última colheita

M A M J J A S O N D ...

1º ao 3-4º mês 4-5º ao 24-30º mês

Crescimento inicial Fase reprodutiva

Duas a três capinas ou duas

capinas + uma aplicação de

herbicida

Uma capina + várias aplicações de herbicidas sistêmicos

ou

Apenas várias aplicações de herbicidas sistêmicos

Manejo integrado

A manutenção do solo totalmente livre de plantas daninhas é uma prática não

recomendável, pois favorece a degradação do solo, além de ser de alto custo e

desnecessária. O mamoeiro, como a maioria das culturas perenes, necessita que se

mantenha limpa uma determinada área de solo ao redor do caule, para prevenir-se a

interferência entre as plantas daninhas e a cultura, mantendo-se a vegetação na

entrelinha (Bogantes e Mora, 2004). Além disso, é na região de solo próximo ao caule

da planta que se concentra a maioria do sistema radicular do mamoeiro (Masr, 1993;

Costa e Costa, 2003), principalmente devido à irrigação e ao uso intenso de fertilizantes

e de matéria orgânica localizados nesta região. No Brasil, em Linhares, a cobertura

verde do solo, entre as linhas de plantio, é praticada por 40% dos produtores (Martins,

2003). É importante considerar, também, que nas regiões em que o mamoeiro é

cultivado, o clima caracteriza-se por elevadas temperaturas e fortes ventos. Esses

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fatores, aliados ao solo predominantemente de textura arenosa a média e aos amplos

espaçamentos em que a cultura é plantada, podem trazer grandes prejuízos ao solo,

degradando-o, caso a vegetação na entrelinha não seja mantida (Ronchi et al., 2008).

Atualmente, nas lavouras comerciais, principalmente após o transplantio, o

controle de plantas daninhas é feito em faixa, porém a largura da mesma é definida de

forma aleatória, uma vez que nenhum estudo foi realizado sobre esse tema (Ronchi et

al., 2008). A faixa de controle deve ser ampla o suficiente para evitar o estabelecimento

da competição, mas ao mesmo tempo, mínima o suficiente para reduzir o custo de

controle e manter a superfície do solo na entrelinha protegida. Torna-se necessário,

portanto, sobretudo para plantios feitos em fileira simples, definir-se qual deve ser a

largura da faixa de controle de plantas daninhas de cada lado da linha de plantio, para

que não ocorra interferência com a cultura (Ronchi et al., 2008). Um trabalho realizado

na Costa Rica (Bogantes e Mora, 2004) sugere como adequada uma faixa de 0,60 m de

cada lado da linha de plantio.

Quando o mamão é cultivado em consórcio com outras culturas, o manejo das

plantas daninhas nas culturas consorciadas pode favorecer o mamoeiro (Sauls e

Campbell, 1980). Todavia, o hábito de crescimento da cultura consorciada deve ser

considerado para garantir a máxima produtividade do mamoeiro. Por exemplo, o

consórcio de mamão com caupi (Vigna unguiculata) reduziu a biomassa das plantas

daninhas em mais de 90%, não sombreou o mamoeiro e aumentou o rendimento da

cultura. Todavia, algumas combinações com milho, e, ou, feijão-de-vagem, causaram

sombreamento e reduziram a produtividade da cultura (Nishimoto, 1997)..

Nas regiões produtoras de mamão da Bahia e do Espírito Santo (Tabuleiros

Costeiros), em que predominam solos de fácil compactação e com presença marcante de

camada adensada sub-superficialmente, o manejo integrado de plantas daninhas,

particularmente a manutenção da cobertura vegetal (introduzida ou natural) na

entrelinha tem apresentado resultados positivos (Carvalho et al., 2004; Carvalho, 2005;

Santana et al., 2005). O cultivo de espécies como Canavalia ensiformis, Crotalaria

juncia e Vigna unguiculata além de propiciar a cobertura e proteção do solo, promove a

ciclagem de nutrientes, via grande aporte de massa seca à superfície, que é de extrema

importância naquele sistema, principalmente considerando-se a pouca profundidade do

sistema radicular do mamoeiro (Carvalho, 2005). Não menos importante, as

leguminosas promovem redução da massa seca de plantas daninhas na lavoura,

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diminuição significativa no banco de sementes (Santana et al., 2005) e melhorias das

propriedades físicas do solo (Carvalho et al., 2004).

Apesar do apelo agroecológico da manutenção da vegetação natural (plantas

daninhas) na entrelinha de cultivo, principalmente na produção integrada de mamão

(Martins, 2003; Ruggiero et al., 2003; Carvalho, 2005), existem riscos associados a esta

prática, que geralmente forçam os agricultores a eliminar toda a vegetação na lavoura,

pois muitas espécies de plantas daninhas são hospedeiras de afídeos vetores do vírus

causador de uma das principais doenças da cultura do mamoeiro, o mosaico (Ventura et

al., 2003). Também conhecido como mancha anelar, o mosaico representa 68% das

viroses que acometem a cultura (Martins, 2003) e pode causar perdas elevadas caso as

plantas doentes não sejam eliminadas tão logo apareçam os primeiros sintomas (Ventura

et al., 2003). Não obstante, algumas plantas daninhas também são hospedeiras de

cochonilhas, insetos que se constituem num importante problema fitossanitário dessa

cultura (Culik et al., 2007; Martins, 2007).

A região produtora de mamão do Espírito Santo apresenta elevado número de

plantas daninhas hospedeiras de pulgões associado à cultura (Lima et al., 2003b; Rocha

et al., 2005; Martins et al., 2007; Martins e Ventura, 2007). Neste caso, as 10 principais

espécies de plantas daninhas foram Bidens pilosa, Chamaesyce hirta, C. hyssopifolia, C.

benghalensis, Emilia coccinea, E. sonchifolia, Gnaphalium spicatum, Malvastrum

americanum, Sida spp. e Solanum americanum (Lima et al., 2003b). Das 31 espécies

hospedeiras de pulgões, S. americanum (maria-pretinha) foi a que apresentou maior

número destes insetos (apesar de não ser a mais freqüente), seguida da espécie C.

benghalensis (trapoeraba) que se destacou também por ser a espécie com maior

freqüência de infestação (Lima et al., 2003b). S. americanum mostrou-se hospedeira de

Aphis fabae e C. benghalensis, B. pilosa e Amaranthus spp. foram hospedeiras de Aphis

gossypii (Lima et al., 2003b). Trabalhos de Martins et al. (2005; 2007) e Rocha et al.

(2005) também evidenciam, independentemente do sistema de produção e tipo de

irrigação, que C. benghalensis é a espécie mais importante naquela região por ser

hospedeira de um maior número de espécies de afídeos e por estar associada à cultura

do mamão durante todo o ano.

A população de afídeos geralmente é maior nas lavouras do sistema integrado

que nas do sistema convencional de produção, provavelmente devido à presença (ou à

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obrigatoriedade da manutenção) da cobertura vegetal na entrelinha daquele sistema,

ainda que o número de plantas de mamoeiro infectadas não se tenha alterado (Lima et

al., 2003a). Em Cuba, Mederos-Olalde et al. (2000) verificaram que o número de

plantas doentes (viróticas) foi 7.088% superior em lavouras sem o controle do mato,

comparadas aquelas com controle em área total. Logo, as plantas daninhas foram

indiretamente o principal fator responsável pelas doenças viróticas (Mederos-Olalde et

al., 2000).

Um dos grandes desafios dessa cultura, particularmente da produção integrada

de mamão, será o de se eliminar, de forma seletiva, somente as plantas daninhas

hospedeiras dos pulgões, mantendo-se a cobertura vegetal natural (não-hospedeira de

vetores) na lavoura (Ronchi et al., 2008). É importante ressaltar que determinadas

espécies de plantas daninhas podem contribuir para a manutenção de elevadas

populações de inimigos naturais dos pulgões. Tomados em conjunto, esses aspectos

permitem concluir que em lavouras de mamão completamente infestadas por C.

benghalensis (o que é muito comum) a adoção da produção integrada é,

conceitualmente, inviabilizada (Ronchi et al., 2008). O mesmo não ocorre para a

produção convencional de mamão, uma vez que uma das medidas de controle

recomendada para diminuir a disseminação do mosaico é manter o pomar (e suas

vizinhanças) no limpo, para evitar a formação de colônias de afídeos nas plantas

daninhas (Ventura et al., 2003).

Herbicidas

O controle de plantas daninhas nas lavouras de mamão do estado do Espírito

Santo é feito exclusivamente com herbicidas em 34% das propriedades, e com

herbicidas associados a outros métodos de controle em 56% do total (Martins, 2003).

No entanto, manejar plantas daninhas na linha de plantio do mamoeiro constitui-se em

tarefa difícil, pois o controle manual é dispendioso, e, muitas vezes, impossível de ser

realizado, haja vista a escassez de mão-de-obra e a umidade excessiva do solo; o

controle químico carece de herbicidas seletivos para esta fase da cultura, registrado para

uso em pré ou pós-emergência, e, também, de tecnologias adequadas à aplicação de

herbicidas não seletivos, semelhantemente ao que se verifica em lavouras de café

(Ronchi et al., 2001). Além disso, o controle manual de plantas daninhas na linha de

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plantio, com o uso de enxadas, tem causado ferimentos no sistema radicular

(provavelmente por este ser superficial; Masr, 1993; Costa e Costa, 2003) e no caule do

mamoeiro, além de prejudicar o sistema de irrigação (perfuração das mangueiras de

gotejamento) (Ferregueti, comunicação pessoal). Estes fatos demonstram a necessidade

de se pesquisar tecnologias de controle de plantas daninhas na linha de plantio (Ronchi

et al., 2008).

A manutenção da linha de plantio no limpo pode ser conseguida utilizando-se

de herbicidas seletivos aplicados em pré ou pós-emergência das plantas daninhas ou por

meio de herbicidas não seletivos, aplicados em jato dirigido à linha de plantio, sob a

copa das plantas de mamão, evitando-se a deriva (Ronchi et al., 2008). Todavia, para a

cultura do mamoeiro, no Brasil, não existem herbicidas registrados que apresentem

seletividade total para serem aplicados diretamente sobre as plantas desta cultura, em

pré ou pós-emergência das plantas daninhas (Martins, 2003; Rodrigues e Almeida,

2005; Mapa, 2008).

O glyphosate (que é o único herbicida registrado para a cultura do mamoeiro

no Brasil – MAPA, 2008, em cultivo convencional) tem sido usado em pós-emergência,

sobretudo em lavouras adultas de mamão, para o controle não-seletivo de plantas

daninhas nesta cultura no Brasil (Martins, 2003; Rodrigues et al., 2003) ou na Costa

Rica (Guzmán, 1998). Não se tem observado injúrias ao mamoeiro ou redução da

produtividade pelo uso de aplicações repetidas desse herbicida, desde que seja aplicado

de forma dirigida às plantas daninhas, sem que as folhas e as partes verdes do caule do

mamoeiro sejam atingidas. Por isso, além do uso de tecnologia de aplicação adequada,

principalmente para se evitar ou reduzir a deriva, recomendam-se aplicações em

lavouras cujas plantas estejam com altura superior 1,1 m, o que pode ocorrer entre

quatro e 12 meses após o transplantio (Romanowski et al., 1972; Nishimoto e Hibbard,

1979; Nisimoto, 1997).

Assim como em outras culturas perenes (café e citrus, por exemplo), a

trapoeraba encontrou, nas lavouras de mamão, condições favoráveis ao seu ótimo

desenvolvimento, e, por isso, está amplamente disseminada e presente durante todo o

ano, particularmente nas lavouras do norte do estado do Espírito Santo (Ronchi et al.,

2008). A atual predominância dessa espécie nas lavouras é resultado, provavelmente, da

eliminação da interferência das outras plantas daninhas (Ramos e Durigan, 1996), pela

aplicação continuada de glyphosate, uma vez que a trapoeraba é tolerante a este

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herbicida (Ronchi et al., 2002a). Apesar da ineficiência do glyphosate no controle de

trapoerabas, este herbicida é muito utilizado nas lavouras de mamão, uma vez que

controla eficazmente praticamente quase a totalidade das demais plantas daninhas,

particularmente as Poaceae, e é de baixo custo (Ronchi et al., 2008). Considerando-se

que a trapoeraba é de ampla ocorrência nas lavouras (Martins, 2003) e sua presença é

indesejável, uma vez que é hospedeira de insetos (pulgões) vetores do vírus do mosaico

do mamoeiro, existe a necessidade de se identificar outros tratamentos herbicidas

eficientes para manejo dessa planta daninha nas lavouras de mamão, principalmente,

aqueles formados pela combinação de herbicidas (Ronchi et al., 2008). Existem

herbicidas com potencial para seu controle (Ronchi et al. 2002a; 2002b), todavia, são

necessárias pesquisas para comprovar a eficácia no controle de trapoeraba nessa cultura,

definir as doses adequadas, viabilidade econômica e ambiental; e também possíveis

injúrias sobre a cultura. Na cultura do café, aplicações seqüenciais de glyphosate, em

intervalos de 20 dias, permitem controle eficiente de trapoerabas (Ronchi et al., 2001).

Apesar de herbicidas recomendados para uso em pré-emergência (de outras

plantas cultivadas) praticamente não serem utilizados em lavoura de mamão em

semeadura direta, provavelmente em razão da tolerância marginal apresentada pela

cultura (Nishimoto, 1997), alguns têm potencial sem injuriar a cultura, como oryzalin,

pendimethalin e alachlor, porém com efeitos dependentes do tipo de solo, e eficiência

sobre poucas espécies de plantas daninhas (Nishimoto et al., 1973; Nishimoto, 1981).

Todavia, na cultura transplantada, a tolerância das plantas aos herbicidas aplicados em

pré-emergência é aumentada (Nishimoto et al., 1973, Nishimoto, 1981). Por exemplo,

imediatamente após o transplantio, as plantas de mamão toleram o oryzalin, se este for

dirigido à área de solo próxima ao caule do mamoeiro; todavia, se usado entre sete e

nove semanas após o transplantio, estando as plantas com 8-15 cm de altura, ele pode

ser aplicado diretamente sobre elas (Nishimoto 1981 e 1993).

Apesar da sua importância para o sucesso do controle químico, não há qualquer

registro de pesquisas científicas sobre tecnologia de aplicação de herbicidas nas

lavouras de mamão (Ronchi et al., 2008). Herbicidas não seletivos têm sido aplicados

com pulverizadores costais manuais ou tratorizados, e, ou, com equipamento que

permite aplicar o produto puro, em ultra baixo volume. Para os pulverizadores costais,

utilizam-se de pontas de pulverização tipo leque 110.01 e 110.02, vazão de 150 a 400 L

ha-1

e pressão de trabalho de 20 a 30 lb pol-2

; para os tratorizados, utilizam-se de pontas

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80.03, 80.03, 110.03 e 110.04, vazão de 200 a 400 L ha-1

e pressão de 30 a 40 lb pol-2

.

O número de bicos varia com o espaçamento da lavoura. Nas aplicações tratorizadas é

comum utilizarem-se de mangueiras acopladas nos tanques, reservatórios do produto:

são utilizadas duas mangueiras que possuem na sua extremidade barras semelhantes às

do pulverizador costal manual. Nestas barras são acopladas as pontas de pulverização, e,

comumente, o “chapéu Napoleão” (Ronchi et al., 2008).

Para aplicações em ultra baixo volume (UBV), o frasco de um litro do produto

comercial é acoplado diretamente no equipamento e a aplicação é realizada por meio de

gatilhos, de forma contínua ou intermitente, através da energia fornecida por pilhas, não

sendo necessário, portanto, bombear. O equipamento é dotado de uma barra de 1,20 m

de comprimento que possui na extremidade uma campânula protetora de 0,35 m de

diâmetro, sob a qual adapta-se um bico que aplica gotas de 150 a 300 micra, ideais para

aplicação em UBV. O equipamento com o frasco acoplado é leve, conferindo eficiência

e praticidade durante a aplicação. O rendimento é de aproximadamente 3.000 m2 h

-1

(Suporte Agrícola, 2008).

Considerações finais

A otimização do manejo de plantas daninhas na cultura do mamoeiro é um

campo totalmente em aberto para pesquisas científicas, sejam elas básicas ou aplicadas

(Ronchi et al., 2008). A grande diversidade edafoclimática sob a qual o mamoeiro é

cultivado, somada à diversidade elevada de genótipos existentes e aos vários sistemas

de cultivos empregados implicam na necessidade de estudos de abrangência local ou no

máximo regional. Com o advento da produção integrada de mamão, o manejo adequado

das plantas das plantas daninhas ganha importância, necessitando de um tratamento

diferenciado daquele dado ao manejo de plantas daninhas na produção convencional. É

necessário, além de se quantificar as perdas causadas pelas plantas daninhas, gerar

informações técnico-científicas e práticas sobre a biologia de plantas daninhas, espécies

que ocorrem nas lavouras e que são hospedeiras de patógenos, estudos de competição e

períodos de convivência, faixas de controle, freqüência de capinas e consorciamento.

Não obstante, pesquisas sobre o controle químico de plantas daninhas (seletividade de

herbicidas, eficiência de controle e tecnologias de aplicação) são de grande

aplicabilidade (Ronchi et al., 2008). Em conjunto, estas informações resultariam em

redução no custo de produção e melhoria da sustentabilidade do ambiente.

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CAPÍTULO 4

Manejo de plantas daninhas na cultura do maracujazeiro

Luiz Augusto Lopes Serrano1

Juares Ogliari2

Cláudio Pagotto Ronchi3

Carlos Magno Magalhães da Silva4

1. Introdução

Das 600 espécies de maracujás, pertencentes à família Passifloracea, distribuídas

nas regiões tropicais e subtropicais do mundo (Mabberley, 1997), a Passiflora edulis

Sims f. flavicarpa Deg (maracujazeiro-amarelo) é a mais cultivada, representando 90%

da produção mundial. No Brasil esta mesma espécie representa 95% de toda a área

plantada, cerca de 47 mil hectares, totalizando uma produção aproximada de 665 mil

toneladas (IBGE, 2009). Em 2007, o estado do Espírito Santo foi o terceiro maior

produtor nacional desta fruta, com uma produção de 80 mil toneladas em 3 mil hectares

(IBGE, 2009). Os maiores produtores estaduais são os municípios localizados na região

norte: Sooretama (30 mil ton.) – foi várias vezes o maior produtor nacional –, Pinheiros

(18 mil ton.), Jaguaré (8,4 mil ton.), Linhares (8,0 mil ton.), Boa Esperança (2,6 mil

ton.) e São Mateus (2,2 mil ton.).

A produtividade do maracujazeiro pode ser afetada pela intensidade da radiação

solar e horas diárias de exposição à luz (ideal 12 horas por dia), estresse hídrico (ideal

900 a 1.500 mm), deficiência nutricional, temperatura do ar (ideal 26 a 27°C) e do solo,

ataque de pragas e doenças (Simon e Karnatz, 1983; Menzel et al., 1986) e interferência

das plantas daninhas (Ogliari, 2003 e Rosa et al., 2002).

O plantio de maracujá no Brasil é importante pela quantidade de frutos

produzidos por ha, sendo essa cultura recomendada para pequenas propriedades. Ela

necessita de muita mão-de-obra, pelo fato da colheita ser manual e semanal, podendo

1 Engº Agrº, D.S. e Pesquisador do INCAPER – [email protected]

2 Engº Agrº, D.S. UENF, Campos dos Goytacazes, RJ – [email protected]

3 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV, Campus Rio Paranaíba, MG –[email protected]

4 Engº Agrº, D.S. INCRA, Rio de Janeiro, RJ – [email protected]

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necessitar de 112 a 272 dias de trabalho por ano em cada hectare cultivado (Agrianual,

2002). Essa cultura também gera empregos na indústria e nos serviços de

comercialização, pois o suco de maracujá é o terceiro mais produzido no Brasil (Aguiar

e Santos, 2001).

2. Manejo de plantas daninhas

A concorrência das plantas daninhas é um dos fatores que, juntamente com as

pragas e doenças, mais contribuem para a queda na produção de frutos na cultura do

maracujazeiro. Essas perdas podem variar de 75% (Rosa et al., 2002) a 97% (Ogliari,

2003), principalmente, devido à competição pelos fatores limitantes no ecossistema

como água, luz, nutriente, espaço útil, e também, devido a substâncias alelopáticas

produzidas pelas plantas daninhas.

Para o correto manejo das plantas daninhas, é de suma importância iniciarmos

pelo conhecimento da distribuição do sistema radicular do maracujazeiro, uma vez que

orienta melhor os tratos culturais. Segundo Carvalho (1987), a formação da parte aérea

da planta está diretamente relacionada com o desenvolvimento radicular. Assim, esta

característica é importante na fase de pós-plantio no campo, proporcionando aumento

no estabelecimento (crescimento rápido) da planta, elevando a competição com as

plantas daninhas. Estudos da profundidade e distribuição do sistema radicular do

maracujazeiro indicaram que 92% do total das raízes estão até 0,45 m de profundidade,

sendo que deste total 41% estão até 15 cm. Quanto à distribuição lateral das raízes, em

torno de 80% estão localizadas a uma distância de 0,15 a 0,45 m do tronco (Carvalho,

1987).

Por ser o maracujazeiro uma cultura perene, ele apresenta crescimento inicial

lento e um sistema radicular superficial, sendo bastante sensível à competição com

plantas daninhas pelos fatores de produção (água e nutrientes). Também neste período, a

competição das plantas daninhas tende a ser maior por luz, uma vez que devido ao

pouco sombreamento do solo, há um maior desenvolvimento das plantas daninhas (Foto

1). Essa competição interfere diretamente no desenvolvimento inicial do maracujazeiro

podendo em algumas situações, inviabilizar a exploração comercial.

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As plantas daninhas, diferentemente de outras pragas agrícolas, estão sempre

presentes nos agroecossistemas, sendo diretamente responsáveis pela competição e

alelopatia, ou podendo afetar a cultura indiretamente, funcionando como reservatório de

patógenos, atrativos para insetos-pragas, como a trapoeraba que serve de abrigo e local

de multiplicação do pulgão transmissor dos vírus que causa o endurecimento dos frutos

(PWV e CABMV) (Santana et al., 2008). Dessa forma, elas são responsáveis pela

diminuição drástica na produção econômica do maracujazeiro (Ogliari, 2003 e Rosa et

al., 2002).

Entretanto, quando as plantas daninhas são manejadas adequadamente, estas se

tornam importantes para a proteção do solo (evitando a erosão), servem de fonte de

matéria orgânica (resíduo vegetal), reciclam nutrientes e a sua rizosfera serve de abrigo

para microorganismos benéficos. Ademais, as suas flores produzem néctar que atraem

inimigos naturais de importantes pragas. Elas também atuam como barreiras físicas

contra pragas prejudiciais ao maracujazeiro, servindo de hospedeiras para estas (podem

ser utilizadas como fonte de alimentos para organismos que atacariam a cultura), e,

consequentemente, atraindo os inimigos naturais dessas pragas (Altieri e Liebman,

1986; Durigan e Timossi, 2002).

Foto 1. Planta nova de maracujazeiro-amarelo mantida no limpo. Observa-se que a alta

insolação favorece a emergência de várias espécies de plantas daninhas (Serrano, 2007).

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2.1. Período crítico de interferência

A maioria das plantas cultivadas é mais sensível à competição com as plantas

daninhas numa determinada fase do seu desenvolvimento. Portanto, em determinados

períodos as culturas devem ficar livres das plantas daninhas, para que sejam evitadas

perdas na produção. Esse período é definido como Período Crítico de Prevenção à

Interferência (PCPI), que compreende o início da interferência das plantas daninhas

(final do Período Anterior à Interferência – PAI) até o final desta interferência (final do

Período Total de Prevenção à Interferência – PTPI) (Figura 1).

A competição entre as plantas cultivadas e as plantas daninhas está relacionada

principalmente, a fatores limitantes do ecossistema, como água e nutrientes (Carvalho e

Vargas, 2004). Essa competição depende das espécies de plantas envolvidas, da

densidade das plantas daninhas, da altura e do hábito de crescimento da cultura e de

fatores ambientais como, umidade do solo e clima (Matos et al., 1991).

Figura 1. Esquema dos períodos de convivência de plantas daninhas nas culturas

(Serrano 2009).

Em períodos de déficit hídrico no solo, as plantas daninhas competem com o

maracujazeiro por água, podendo ocorrer perdas na produção de frutos de até 30%, se a

cultura não for irrigada. Já em períodos de chuvas abundantes e elevadas temperaturas,

as plantas daninhas competem com o maracujazeiro por nutrientes, acarretando

prejuízos de até 40% na produtividade. A elevada interferência das plantas daninhas

nesse período chuvoso, também afeta a produção de flores na próxima estação de

floração (Durigan, 2003).

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O conhecimento das principais plantas daninhas que infestam o maracujazeiro é

de fundamental importância para a aplicação correta dos métodos de controle

disponíveis. No norte do Espírito Santo, empresas produtoras e exportadoras de frutas

realizam o levantamento e monitoramento das plantas daninhas dentro dos talhões

produtivos. As plantas daninhas mais comuns na região são apresentadas na Tabela 1.

O estudo da biologia das plantas daninhas é importante para a escolha, e a

utilização dos métodos de controle mais eficazes. Assim, é necessário conhecer a

extensão do ciclo da espécie, exigência por fatores essenciais para o desenvolvimento e

formas de reprodução (vegetativa e/ou sexuada). As plantas daninhas são problemáticas

para o maracujazeiro, pois interferem no crescimento, na produção de frutos, dificulta a

colheita dos frutos e aumenta o custo de produção.

Os pomares de maracujazeiros são, não raramente, infestados por espécies

agressivas que faziam parte do agroecossistema anterior ou que foram introduzidas de

áreas próximas, como ocorrem em determinadas regiões onde a cultura é instalada em

áreas de pastagens. Nestes casos, sobressaem o capim-braquiária (Brachiaria

decumbens) e o capim-colonião (Panicum maximum), espécies com altas capacidades

de produção de sementes.

Tabela 1. Principais espécies de plantas daninhas encontradas em pomares produtivos

na região Norte Capixaba (Fonte: Caliman Agrícola S/A, modificada por Serrano,

2009).

Nome Científico Nomes Comuns Família

Amaranthus sp. Caruru-verde, roxo, rasteiro e

gigante

Amaranthaceae

Chenopodium ambosioides Erva-de-Santa-Maria Chenopodiaceae

Commelina benghalensis Trapoeraba Commelinaceae

Acanthospermum australe Carrapicho-rasteiro, mata-pasto Compositae

Acanthospermum hispidum Carrapicho-de-carneiro Compositae

Bidens pilosa Picão-preto Compositae

Blainvillea rhomboidea

(latifolia)

Erva palha, canela-de-urubu Compositae

Emília sonchifolia Falsa-serralha Compositae

Sonchus oleraceus Serralha Compositae

Ipomoea sp. Corda-de-viola Convolvulaceae

Coronopus didymus Mastruço Cruciferae

Momordica charantia Melão-de-São-Caetano Cucurbitaceae

Cyperus rotundus e C.

esculentus

Tiririca Cyperaceae

Chamaesyce hirta Erva-de-Santa-Luzia Euphorbiaceae

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Euphorbia heterophylla Leiteira Euphorbiaceae

Ricinus communis Mamona Euphorbiaceae

Brachiaria mutica Capim-angola Gramineae

Setaria geniculata Capim rabo-de-raposa Gramineae

Brachiaria decumbens Capim-braquiária Gramineae

Brachiaria plantaginea Capim-marmelada, papuã Gramineae

Cenchrus echinatus Capim-carrapicho, timbête Gramineae

Cynodon dactylon Grama-seda Gramineae

Digitaria horizontalis Capim-colchão, milhã Gramineae

Digitaria insularis Capim-amargoso, capim-flecha Gramineae

Echinochloa colonum Capim-arroz, coloninho Gramineae

Eleusine indica Capim pé-de-galinha Gramineae

Panicum maximum Capim colonião Gramineae

Paspalum maritimum Capim-Pernambuco Gramineae

Pennisetum clandestinum Capim-quicuio Gramineae

Sorghum arundinaceum Falso-massambará Gramineae

Eragrotis pilosa Capim-mimoso Gramineae

Leonotis neptaefolia Cordão-de-frade Labiatae

Crotalaria incana Xique-xique, guizo-de-cascável Leguminosae

Desmodium tortuosum Carrapicho-beiço-de-boi Leguminosae

Indigofera hirsuta Anileira Leguminosae

Senna obtusifolia Fedegoso Leguminosae

Senna ocidentalis Fedegoso Leguminosae

Sida cordifolia Guanxuma Malvaceae

Sida glaziovii Guanxuma Malvaceae

Sida rhombifolia Guanxuma Malvaceae

Portulaca oleracea Beldroega Portulacaceae

Nicandra physaloides Joá-de-capote Solanaceae

Solanum americanum Maria-pretinha Solanaceae

Plantas daninhas que apresentam grande disseminação por estruturas de

reprodução vegetativa devem ser criteriosamente monitoradas, como é o caso, dos

rizomas e estolões de grama-seda (Cynodon dactylon) e os tubérculos de tiririca

(Cyperus rotundus), pois além de serem altamente competitivas apresentam severa

dificuldade de controle.

Importante também é o monitoramento das plantas daninhas hospedeiras de

vetores que transmitem viroses para a cultura. Na cultura do mamoeiro, Martins (2003)

constatou no norte do Espírito Santo que as 10 principais espécies botânicas hospedeiras

de afídeos são: Solanum americanum, Commelina benghalensis, Malvastrum

americanum, Chamaesyce hyssopifolia, Bidens pilosa, Sida sp., Emilia sonchifolia,

Emilia coccínea, Chamaesyce hirta e Gnaphalium spicatum.

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2.2. Métodos de controle das plantas daninhas

O controle das plantas infestantes na cultura do maracujazeiro pode ser realizado

por diversos métodos, levando-se em consideração fatores de natureza técnica,

econômica, cultural e ecológica. Muitas técnicas de manejo de plantas daninhas

utilizadas em outras fruteiras podem ser utilizadas na cultura do maracujazeiro, como

cobertura morta, adubação verde, roçadas, capinas e utilização de herbicidas.

A rotação de cultura, um método de controle cultural, representa alternativa

importante para o controle de invasoras, principalmente para as mais problemáticas. No

caso da cultura do maracujazeiro tem-se, em média, uma vida útil do pomar de 2 a 3

anos (este período varia com as condições fitossanitária e nutricional da planta), quando,

então, o pomar é renovado. Geralmente os produtores renovam a lavoura na mesma

área, em muitos casos para reduzir os custos em termos da infra-estrutura já implantada

(irrigação, estruturas de sustentação das plantas, localização da área e etc), entretanto, a

fitossanidade do pomar poderá ficar comprometida, tanto para as plantas daninhas,

como, principalmente, para as doenças e pragas.

Quanto ao controle mecânico, a capina manual com enxada realizada ao redor

das plantas (coroamento) é comumente utilizada pelos pequenos produtores, entretanto

esse método demanda muita mão-de-obra, apresenta baixo rendimento e tem duração

muito curta, pois as plantas infestantes restabelecem rapidamente. Esta prática pode

ainda afetar o sistema radicular superficial do maracujazeiro, e este apresenta alta

sensibilidade aos danos no sistema radicular e no colo do tronco, além do que estes

ferimentos podem servir de porta de entrada para pátogenos do solo, principalmente

para o fungo causador da fusariose que ataca os vasos lenhosos a partir das raízes

causando murcha generalizada e morte rápida das plantas. A capina manual ou através

de implementos mecânicos, próximos a planta (menos de 1 m de distância), não é

recomendável em função dos danos causados às raízes, uma vez que estas se

concentram na sua maioria de 15 a 45 cm de distância do caule.

Ademais, Victoria Filho (1998) salienta que a capina manual, muitas vezes é

usada de forma errônea, pois geralmente as plantas daninhas capinadas e acompanhadas

de solo, são retiradas no sentido do tronco para fora da copa, acarretando na retirada de

nutrientes e material orgânico para locais de menor quantidade de raízes.

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O controle de plantas daninhas pela utilização de grades ou de enxadas rotativas

próximas as plantas de maracujá, também pode atingir as raízes, necessitando de gasto

substancial de energia para reposição das mesmas, principalmente na época reprodutiva.

Também é importante enfatizar, a baixa eficiência deste método para o controle de

plantas daninhas com reprodução vegetativa, sobretudo nos períodos chuvosos.

Devido a esses fatores descritos, o correto para a cultura é que na linha das

plantas da cultura, ocorra o arranque manual das plantas daninhas (antieconômico para

média e grandes áreas) ou o controle químico com herbicidas. A capina manual seria

utilizada, somente para controle de plantas daninhas especificas (perenes de difícil

erradicação), após o tratamento com herbicidas, ou em situações que sejam justificadas

seu emprego. Já nas entrelinhas do pomar de maracujazeiro a utilização de roçadeiras

tracionadas por tratores é uma prática viável e econômica, pois os custos operacionais

são reduzidos, em função do bom rendimento, além de atuar na proteção do solo contra

a erosão. Em cultivos mais adensados, podem ser utilizadas roçadeiras costais ou

tracionadas por tratores de menor potencia. Um dos principais entraves desse método é

o cuidado em se realizar repetidas operações que poderão ocasionar a compactação do

solo.

Uma vez que a localização superficial do sistema radicular do maracujazeiro

inviabiliza o controle mecânico na linha das plantas com uso de enxadas ou

escarificadores, temos como opção a prática da cobertura morta, que consiste em

proteger o solo principalmente com palha seca (arroz, milho, cana-de-açúcar e capins) e

cascas (café). Este método, além de impedir o desenvolvimento das plantas daninhas,

protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, diminuindo a possibilidade de

erosão no terreno. Este tipo de manejo é característico do sistema de plantio direto para

culturas anuais, sendo interessante a sua adequação para o cultivo do maracujazeiro. Por

enquanto, um único trabalho realizado com o plantio direto na cultura do maracujazeiro-

amarelo em sistema orgânico revelou aumento de produtividade (Araújo Neto et al.,

2009).

A utilização da cobertura morta necessita ser mais estudada para a cultura do

maracujazeiro, principalmente para o Norte Capixaba. Nesta região, há predominância

de solos arenosos, temperaturas elevadas e irrigação localizada, fato que pode estar

diretamente relacionado com o distúrbio conhecido como “cozimento do colo” que vem

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causando a morte de muitas plantas na região nos períodos mais quentes do ano. A

utilização de cobertura morta, adquirida pela própria palha das plantas daninhas roçadas

na entrelinha (principalmente oriunda da braquiária), protegeria o solo da radiação

direta e amenizava a temperatura do solo na região do colo.

A adubação verde nas entrelinhas do maracujazeiro pode proporcionar economia

na utilização de adubos químicos bem como no controle de plantas daninhas, visto que

o sombreamento proporcionado interfere negativamente no crescimento destas. Na

escolha das espécies a serem plantadas e exploradas como adubação verde na cultura do

maracujazeiro a característica mais importante a ser considerada é que as mesmas não

sejam hospedeiras de vetores das principais viroses que atinja a cultura. Também é

importante que as espécies utilizadas apresentem porte baixo; baixa competitividade por

água e nutrientes; facilidade de estabelecimento, com o mínimo de cultivo; tolerância a

seca; que não seja de hábito trepador; tolerante a maquinaria utilizadas nos pomares;

resistente à competição por plantas daninhas; facilidade de erradicação; resistência às

pragas e doenças, incluindo nematóides; e florescimento não coincidente com a cultura

para evitar competição com polinizadores.

Nesse contexto, podem ser utilizadas as seguintes espécies de leguminosas na

cultura do maracujazeiro: Crotalaria juncea, Crotalaria ochroleuca, guandu (Cajanus

cajan), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis L.), feijão-bravo (Canavalia brasiliensis)

e mucuna-anã (Mucuna sp) (Andrade et al., 2002). Borges e Lima (2003) observaram

várias vantagens no cultivo do maracujazeiro com o feijão-de-porco nas estrelinhas,

incluindo a melhoria significativa nas propriedades químicas do solo. Lima et al. (2003)

também verificaram uma tendência de maior produtividade para o manejo de cobertura

do solo com feijão-de-porco. Estes mesmos autores também verificaram que no

segundo ano de cultivo do maracujazeiro-amarelo, o milho e o feijão podem ser

utilizados como cultura intercalar nas entrelinhas do pomar.

Devido à dificuldade no manejo das plantas daninhas na linha de plantio, o uso

de herbicidas é considerado viável para este controle, uma vez que controla

eficientemente muitas espécies de plantas daninhas e, principalmente, não fere o sistema

radicular superficial da planta. Por incrível que pareça, atualmente, não há herbicidas

registrados para a cultura do maracujazeiro no Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, entretanto sabe-se da utilização destes produtos na cultura, uma vez que

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herbicidas registrados para outras frutíferas, já foram testados para a cultura do

maracujazeiro.

A aplicação de herbicidas apresenta elevado rendimento operacional, e

proporciona eficiente controle das plantas daninhas com reprodução vegetativa, além de

não danificar as radículas do maracujazeiro. Proporciona, ainda, maior independência,

economia e rendimento da mão-de-obra, devido a escassez de mão-de-obra e ao alto

custo na operação com capina manual, principalmente em grandes áreas de cultivo.

Entretanto, quando usados de forma incorreta, os herbicidas podem causar

fitotoxicidade às plantas de maracujá, e ineficiência no controle de algumas espécies de

plantas daninhas.

Para garantir boa eficiência dos herbicidas devem-se conhecer as espécies das

plantas daninhas, a textura do solo (teores de argila e areia), o teor de matéria orgânica,

a umidade do solo, a precipitação e a temperatura ambiental nos dias da aplicação

(Klingman e Ashton, 1982).

Solos com alto teor de matéria orgânica toleram doses maiores de herbicida, que

aqueles com teor baixo de matéria orgânica. Se for utilizada dosagem maior que a

recomendada, em solos pobres em matéria orgânica, corre-se o risco de provocar

intoxicação nas plantas, por outro lado se o herbicida for adsorvido, em solos argilosos,

pelos complexos orgânicos, corre-se o risco de ser pouco eficiente no controle das

plantas daninhas, devido a sua lenta liberação no complexo coloidal. Resultados obtidos

por Ogliari (2003) em três tipos de adubações (química, orgânica e química + orgânica)

com a utilização do diuron na cultura do maracujazeiro, indicaram menor intoxicação

das plantas, nos tratamentos com adubação orgânica e química+orgânica.

Alguns herbicidas já testados para a cultura do maracujazeiro apresentaram

resultados de controle satisfatório, sendo então utilizados pelos produtores. Em pré-

emergência são utilizados principalmente o diuron, o oxifluorfen e o alachlor; e em pós-

emergência o glifosato e o paraquat. As aplicações desses herbicidas devem ser

“dirigidas" em faixas laterais nas linhas de plantio, utilizando a largura de 0,80 a 1,0 m

de cada lado da fila das plantas, tanto nas aplicações em pré-emergência (residuais)

quanto nas em pós-emergência.

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As quantidades dos herbicidas em pré-emergência devem ser corretas e

adequadas para as espécies existentes no banco de sementes do solo. A ação dos

mesmos ocorre nos primeiros 5 a 8 cm de profundidade, onde os produtos químicos são

colocados fora da região de maior absorção radicular das plantas do maracujazeiro.

Silva et al. (2004) e Silva, Ogliari e Serrano (2006) avaliaram a tolerância do

maracujazeiro-amarelo a herbicidas aplicados em pré ou pós-transplante das mudas.

Partindo de um “screening”, foram selecionados os herbicidas napropamide,

chlorimuron-ethyl e ametryne (aplicados em pré-transplante) e MSMA, glifosato e

sethoxydim (aplicados em pós-transplante com proteção das mudas) (Figura 2). Alguns

herbicidas como clomazone, amicarbazone e metribuzin, aplicados em pré-transplante, e

sulfosate e halosulfuron, aplicadoes em pós-transplante, causaram alta toxicidade à

cultura.

Figura 2. Biomassa seca de parte aérea (g/vaso) de mudas de maracujazeiro-amarelo,

em função da aplicação de herbicidas no pré-transplante (à esquerda) e pós-transplante

(à direita), aos 60 dias após o transplantio (Silva, Ogliari e Serrano, 2006).

Em condições de campo (Ogliari, 2003) verificou que a aplicação de diuron, em

faixa de 2,0 m na linha de cultivo, cinco dias antes do plantio das mudas, causou

sintomas visuais de clorose entre 20 a 30 dias após o plantio, no entanto aos 50 dias as

folhas novas não apresentavam mais esses sintomas (Foto 2).

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Lima et al. (1999) ao verificarem a seletividade dos herbicidas diuron,

oxyfluorfen e alachlor em pré-emergência nas mudas de maracujazeiro-amarelo em

vaso, constataram nível crítico de intoxicação abaixo de 30%. As doses avaliadas não

promoveram injúrias que prejudicasse o desenvolvimento da planta, apenas o herbicida

atrazine + metalachlor, nas doses de 6,0 e 12,0 kg do i.a./ha promoveram danos mais

severos nas mudas, enquanto os demais mostraram promissores para a utilização.

Foto 2. Aspecto visual das mudas de maracujazeiro-amarelo: testemunha aos 30 dias

após plantio (à esquerda), toxidez provocada pelo diuron aos 30 dias após o plantio

(centro) e folhas novas sem sintomas de toxidez aos 50 dias após o plantio (Ogliari,

2003).

Rosa et al. (2002) trabalhando com o herbicida diuron (em pré-transplantio das

mudas) na cultura do maracujazeiro-amarelo em condições de campo, obtiveram boa

eficiência no controle das plantas daninhas, e verificaram economia de uma operação de

controle quando comparado ao tratamento capinado. Os mesmos não constataram

diferença no peso médio de frutos e produtividade, nos tratamentos com herbicidas em

relação ao capinado.

Ogliari (2003) verificou na cultura do maracujazeiro amarelo, em condições de

campo, que o herbicida diuron na quantidade de 3,0 L ha-1

i.a. (em pré-plantio das

mudas) provocou sintomas de intoxicação nas folhas do maracujá, entre 20 e 26 dias

após o transplantio (DAT) das mudas. Após este intervalo, as folhas novas não

apresentaram mais sintomas de intoxicação (Foto 2).

Trabalhos realizados por nosso grupo de pesquisa (Ogliari, Silva e Serrano), em

condições de campo, com os herbicidas diuron, oxyfluorfen e alachlor, aplicados em

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pré-plantio, proporcionaram controle eficiente das invasoras e baixas intoxicações nas

plantas de maracujazeiro-amarelo. Além disso, o oxyfluorfen se destacou em relação

aos demais no controle das plantas daninhas (dados não publicados) (Foto 3).

De modo geral, os herbicidas seletivos para a cultura do maracujazeiro em pré-

emergência e com boa eficiência no controle de plantas daninhas são; o diuron, o

bromacil, o DCPA, o oxyfluorfen e o alachlor (Lima et al., 1999; Lima et al., 2002;

Rosa et al., 2002; Ogliari, 2003).

Foto 3. Aspecto visual do cultivo de maracujazeiro-amarelo sem controle de plantas

daninhas (A), com controle com diuron (B) e com controle com oxyfluorfen (C) (Silva,

Ogliari e Serrano, 2006).

Os herbicidas em pós-emergência que vem sendo mais utilizados pelos

produtores é o paraquat e o glifosato. A utilização destes herbicidas em pós-emergência

devem ser dirigidas às plantas daninhas, em faixas laterais à linha do maracujazeiro,

utilizando protetores, (“chapéu-napoleão") tanto para os pulverizadores costais, quanto

para os motorizados.

O herbicida paraquat é indicado para o controle não seletivo de plantas daninhas

anuais. Quando misturado ao diuron, é mais eficiente para o controle de plantas mais

tolerantes, apesar do resultado ser um pouco tardio. A indicação da mistura pronta é

comum em áreas onde ocorreu seleção da flora (ex: trapoeraba, erva-quente) pelo uso

repetido do herbicida glifosato. O paraquat apresenta ação mais rápida e menor restrição

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quanto ao problema de chuva após a aplicação, pois em apenas 15 minutos o mesmo é

absorvido em quantidades letais. A ação desses herbicidas processa-se nas partes verdes

das plantas. Ogliari (2003) obteve bons resultados no controle das plantas daninhas no

maracujazeiro com aplicação do paraquat + diuron (2,4 l ha-1

do p.c.), mesmo ocorrendo

chuva 40 minutos após a aplicação.

O herbicida glifosato tem ação sistêmica sobre amplo espectro de plantas

daninhas anuais e perenes. A absorção do glifosato na planta é mais lenta e os

problemas com chuvas após as aplicações podem reduzir sua eficiência, no controle das

plantas daninhas. Portanto, é recomendado de no mínimo seis horas de intervalo sem

chuva para a garantia de bons resultados de controle. Carvalho et al. (2008)

recomendam a adição de sulfato de amônio à calda do glifosato (10 g L-1

) para se obter

melhor e mais rápida absorção do produto e melhor controle das plantas daninhas em

campo. Ogliari (2003) ao comparar os herbicidas em pós-emergência, MSMA, paraquat

+ diuron e glifosato constatou que os dois últimos foram os mais eficientes no controle

das plantas daninhas no maracujazeiro, sendo o glifosato o que melhor controlou as

invasoras mais desenvolvidas, enquanto o MSMA apresentou baixa eficiência.

Josan et al. (1994), estudando o efeito de vários herbicidas, como atrazine,

glifosato, diuron e paraquat, observaram que todos promoveram redução significativa na

população das plantas daninhas. O diuron seguido de aplicação do glifosato promoveu o

controle das plantas daninhas monocotiledôneas em até 80% e das dicotiledôneas de

82% em comparação com a testemunha.

Silva e Rabelo (1991) relatam que os produtores do Triângulo Mineiro e São

Paulo têm usado o paraquat ou glifosato em alguns plantios de maracujazeiro, em

aplicações dirigidas nas entrelinhas, para manter a cobertura morta.

Quando se utiliza herbicidas pós-emergentes na cultura do maracujazeiro, deve

se ter o máximo de cuidado com o tronco das plantas, principalmente das plantas novas,

que possuem o tecido do tronco pouco lignificado, podendo o produto ser absorvido

pela planta o que poderá ocasionar fitotoxidez e até a morte da mesma. Quando

necessário deve-se realizar podas antes da aplicação do herbicida, prática que minimiza

o risco das folhas serem atingidas pelo produto. Também com a utilização dos

herbicidas em pós-emergência, quando realizado próximo ao período de produção dos

frutos do maracujazeiro, deve-se ficar atento para a tolerância de resíduos e intervalo de

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segurança, para a colheita dos frutos (como os produtos não são registrados para a

cultura do maracujazeiro, espera-se que a tolerância de resíduos seja zero).

Também é necessário conhecermos o histórico da área de cultivo em que se

planeja cultivar o maracujazeiro, pois alguns herbicidas residuais podem prejudicar a

cultura. Silva et al. (2007) verificou que, após o término (colheita) de uma lavoura de

feijão que recebeu a aplicação do herbicida fluazifop-p-butil + fomesafen (160 + 200 g

ha-1

), o efeito residual deste herbicida causou injúrias aos maracujazeiros plantados em

sucessão.

Enfim, temos que, durante o período chuvoso são necessários de três a quatro

atividades de controle de plantas daninhas (capinas ou aplicações de herbicidas em pós-

emergência), podendo também ser feita aplicação de herbicida residual em pré-

emergência (Durigan 2003).

3. Considerações finais

A combinação dos vários métodos de controle deve ser a meta de qualquer

programa de manejo de plantas daninhas. O objetivo principal de utilizar vários

métodos de manejo das plantas daninhas, na cultura do maracujazeiro é devido à

exigência do mercado consumidor por frutas mais saudáveis. Com isso, à medida que a

população amplia o conhecimento da importância da qualidade dos alimentos

consumidos, ocorre um aumento no grau de exigência do consumidor pela qualidade

das frutas. Inicialmente buscavam-se fruta com boa aparência, tamanho e uniformidade.

Nesta nova etapa, o mercado passou a exigir novos atributos como, frutas mais

saudáveis e sem resíduos de agrotóxicos, proteção ao meio ambiente, geração de

emprego e garantia de melhor qualidade de vida para os trabalhadores (Carvalho e

Vargas, 2004; Martins et al., 2002 e Quirino, 1998).

Com isso, nova forma de produzir frutos vem sendo implantada pelos

produtores, devido à exigência do mercado consumidor que é a Produção Integrada de

Frutas (PIF) ou o EUREPGAP, que visa produzir frutas de qualidade, respeitando o

meio ambiente, a saúde do consumidor e do produtor, por meio do uso mínimo de

agroquímicos e da integração de práticas de manejo das fruteiras.

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Quando necessário, o uso de herbicidas deve ser feito de uma forma criteriosa e

técnica, sempre procurando balancear a sua vantagem de uso, com os seus riscos

toxicológicos e ambientais. Neste aspecto, os herbicidas devem ser aplicados em

rotação de diversos princípios ativos com modo de ação diferenciado, e outros métodos

de controle. Com isso, evita-se uma pressão de seleção na flora daninha, culminando

com a ocorrência de biótipos resistentes a determinados grupos de herbicidas (Blanco,

2002).

Em resumo, é necessário manter as plantas de maracujazeiro livres de plantas

daninhas, numa faixa de 0,80 a 1,0 m de cada lado da linha. Já nas entrelinhas das

plantas é recomendável somente roçar, para manter a cobertura vegetal nativa e proteger

o solo contra erosão, aumento da temperatura e perda de umidade nas camadas

superficiais (Foto 4).

Foto 4. Visão típica de pomares de maracujazeiro-amarelo nas regiões produtoras das

regiões norte dos estados do Rio de Janeiro (Ogliari, 2003) e do Espírito Santo (Serrano,

2007). As linhas da cultura são mantidas no limpo e nas entrelinhas as plantas daninhas

são roçadas. Observa-se que só recentemente os produtores optaram pela roçagem na

entrelinha (vegetação ainda rala). Tempos atrás o hábito dos produtores era a remoção

total das plantas daninhas.

Nas áreas infestadas com plantas de difícil controle é recomendada antes da

instalação do maracujazeiro, a utilização de implementos mecânicos, tais como grades

ou rotativas, na época "seca". Já em período de chuva a aplicação de herbicidas

sistêmicos quando as plantas daninhas ainda estão na fase jovem, possibilitam boa

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redução e, em algumas oportunidades, até a erradicação da grama-seda, pelo fato de

suas estruturas estarem limitadas até a profundidade de 0,30 a 0,40 m. O mesmo não é

possível para a tiririca, pois alguns dos seus tubérculos podem atingir a profundidades

de até 1,5 m, inviabilizando qualquer possibilidade da erradicação em áreas onde tais

plantas já estão estabelecidas há algum tempo (Bortolazzo, 2002).

Referências bibliográficas

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CAPÍTULO 5

Dinâmica de herbicidas no solo

Antônio Alberto da Silva1

Rafael Vivian2

Leonardo d‟ Antonino3

Introdução

O sistema produtivo deve ser planejado desde o início da instalação da lavoura,

no campo, até a sua comercialização final. Com relação à sua produção agrícola, espera-

se que, além de competitiva e eficiente, esteja englobada por um sistema socialmente

justo e ambientalmente correto, com a manutenção dos recursos naturais - como solo e,

principalmente, água. Para isso, produtores tecnologicamente informados têm optado

por sistemas rotacionais de culturas e pela implementação de coberturas vegetais

anteriormente à instalação da lavoura, permitindo a melhoria e manutenção das

qualidades física e química do solo.

Mesmo nesses sistemas, reconhecidos dentro de um manejo integrado de

agricultura todas as culturas possuem suscetibilidade à interferência de plantas daninhas

durante o seu cultivo, o que torna essencial a utilização do manejo químico, sobretudo

quando cultivado em larga escala. A cultura deve ser mantida em baixos níveis de

infestação, quer pela capacidade competitiva das plantas daninhas por recursos do meio,

quer pela qualidade do produto colhida e eficiência das maquinas colhedoras. Assim, o

manejo adequado das espécies infestantes depende não somente do controle químico

das plantas daninhas durante o ciclo da cultura, como também do manejo do banco de

sementes, do planejamento do sistema rotacional e da manutenção da atividade

biológica do solo na área cultivada.

No entanto, verifica-se que os sistemas adotados em parte por alguns produtores

encontram-se baseados simplesmente no controle químico com herbicidas pre-

1 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV – [email protected]

2 Engº Agrº, D.S. e Pesquisador da BASF – [email protected]

3 Engº Agrº, D.S. da UFV – [email protected]

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87

estabelecidos, não considerando as condições específicas locais, como solo, clima,

cultivar ou mesmo o sistema rotacional de cultivo utilizado. Logo, um dos grandes

problemas constatados nos diversos cultivos tem sido a intoxicação das plantas causada

por herbicidas utilizados durante o ciclo da cultura ou, ainda, por aqueles pulverizados

em culturas antecessoras e que possuem efeito residual no solo, comprometendo, assim,

a produtividade. Em áreas anteriormente ocupadas por pastagens degradadas e que são

reaproveitadas para a implantação de diversas culturas é comum constatar sintomas de

intoxicação quando pulverizadas anteriormente com herbicidas residuais. Assim, a

compreensão da dinâmica dos herbicidas no solo em função das características do

clima, do solo e do próprio herbicida é fundamental para a adoção do manejo integrado

de plantas daninhas nos cultivo da safra e nas culturas em sucessão.

Serão descritos a seguir algumas das principais características dos solos e dos

herbicidas, bem como o modo com que a interação desses dois fatores pode influenciar

a dinâmica dos herbicidas durante os cultivos sucessoriais. Posteriormente, serão

apresentados alguns dos problemas residuais de herbicidas constatados em cultivos,

decorrentes, principalmente, dos sistemas de manejo utilizados.

Potencial de sorção de herbicidas e sua dinâmica no ambiente

Devido à elevada utilização de herbicidas nos cultivos agrícolas brasileiros, tem-

se observado maior preocupação quanto à contaminação do ambiente e à utilização

racional dos recursos hídricos e do solo. Entre os efeitos diretos percebidos pelos

produtores estão os sintomas de intoxicação e a redução de produtividade das culturas,

ocasionados por herbicidas de ação residual. Sua permanência e degradação no solo são

processos-chave na determinação do seu efeito residual (Hinz, 2001), sendo

fundamentais para avaliar a eficiência de controle das plantas daninhas. No entanto a

mensuração e a repetibilidade da permanência dos herbicidas no solo tornam-se difíceis,

em razão de este ser considerado um ambiente heterogêneo sob influência de diversos

fatores, onde interagem inúmeros processos de ordem física, química e biológica (Doran

& Parking, 1994).

No solo, a adsorção ou sorção, conforme denominado por Koskinen & Harper

(1990), caracteriza-se por um fenômeno temporário pelo qual determinada substância

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em solução se fixa a uma superfície sólida ou líquida. Essa fixação ocorre por interação

de forças da superfície coloidal do adsorvente (solo) e do adsorvato (herbicida); o

sentido e a intensidade dessas forças resultam no aumento ou na diminuição da

concentração do herbicida na solução do solo. Na prática, a sorção é usualmente

determinada apenas por meio do desaparecimento da substância química da solução do

solo, sendo dependente das propriedades deste e do composto aplicado, as quais

incluem tamanho, distribuição, configuração, estrutura molecular, funções químicas,

solubilidade, polaridade, distribuição de cargas, natureza ácido/base dos herbicidas,

entre outros. A quantidade do herbicida sorvido aos constituintes do solo é diretamente

proporcional à superfície específica do material coloidal e decresce, geralmente, com o

aumento da temperatura provocado pelo incremento da energia cinética das moléculas.

Entretanto, a velocidade das reações químicas aumenta com a elevação da temperatura,

podendo favorecer a sorção com os constituintes orgânicos do solo.

Além disso, o processo sortivo de herbicidas, seja ele avaliado em condições

laboratoriais ou em campo, depende do tempo de equilíbrio estabelecido entre o solo e o

herbicida, o qual varia em função do mecanismo e da velocidade das reações envolvidas

(Figura 1). Esse é um dos motivos pelo quais determinados herbicidas possuem efeito

residual prolongado no solo e podem comprometer as culturas em sucessão.

A e B desaparecendo

C e D aparecendo0

0 TEMPO

CONCENTRAÇÕES

NO EQUILÍBRIO

ESTADO

INICIAL MUDANÇA EQUILÍBRIO

CO

NC

EN

TR

ÃO

Figura 1 – Representação do equilíbrio da sorção de herbicidas no solo em função do

tempo.

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Cw (ug mL-1

)

0 20 40 60 80

Cs (

ug

g-1

)

0

50

100

150

200

250

300

LVdf

LVAd

LVe

PVAe

RQ

LVd

A determinação do potencial de sorção de herbicidas e, conseqüentemente, a

estimativa do seu efeito residual no solo é fundamental na previsão da sua persistência,

podendo ser estimado por meio de coeficientes. Estes são normalmente utilizados como

valores comparativos entre diferentes herbicidas para os mais variados solos estudados.

O coeficiente de partição ou sorção (Kd) é o principal deles e representa a relação entre

a concentração do herbicida sorvido ao solo Cs (g/g) e a concentração do herbicida

encontrada na solução de equilíbrio Cw (g/ml), para determinada quantidade do

herbicida adicionado. Assim, solos que possuem Kd mais elevados para o mesmo

herbicida, na mesma concentração testada, são mais eficientes na retenção dessas

moléculas na sua fração orgânica e ou mineral. Logo, sua permanência no ambiente

tende a ser maior quando mantidas as mesmas condições edafoclimáticas. Resultados

apresentados por Vivian et al. (2006) demonstram a divergência entre os coeficientes

sortivos para o herbicida ametryn em relação a solos de características distintas (Figura

2). Observa-se que o solo Latossolo Vermelho distroférrico - LVdf apresentou elevada

capacidade de sorção do ametryn em relação aos demais solos avaliados, favorecendo,

assim, sua persistência no ambiente.

Figura 2 – Estimativas dos coeficientes de sorção para ametryn em diferentes solos:

LVdf (SL) Ŷ=6,7533 Cw0,9420

; LVAd (JP) Ŷ=1,3503 Cw1,0296

; LVe (CE)

Ŷ=1,5118 Cw1,0674

; PVAe (PN) Ŷ=3,5533 Cw0,7425

; RQ (TM) Ŷ=0,7951

Cw0,9790

; e LVd (SSP) Ŷ=2,1793 Cw0,890

, em função da solução em equilíbrio

(Cw).

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Além do Kd, muitos autores utilizam a correção desse coeficiente em relação ao

teor de matéria orgânica do solo, obtendo o coeficiente de sorção Koc. Entretanto, a

padronização do Kd em relação ao teor de matéria orgânica do solo não é consenso

entre os pesquisadores da área, pois a sorção de herbicidas à matéria orgânica do solo

ocorre de forma heterogênea, em função dos mecanismos e da fração orgânica

envolvida no processo sortivo, cujos índices podem não representar a realidade.

No entanto, o Kd e Koc expressam a adsorção de herbicidas em uma única

concentração avaliada, o que não é válido para maiores ou menores concentrações

disponíveis no solo. Um ajuste entre as concentrações em solução e a fase sólida do solo

pode ser obtido por meio do estudo de isotermas. As isotermas mais usadas na pesquisa

com adsorção de herbicidas em solo são obtidas pela equação empírica de Freundlich

(Vieira et al., 1999), a qual considera que a afinidade inicial é alta, e, conforme aumenta

a cobertura da superfície, diminuem a afinidade e declividade, reduzindo a energia de

interação, proporcionalmente ao recobrimento da superfície (Cleveland, 1996). Por

meio das isotermas de Freundlich, obtém-se o coeficiente ou constante de Freundlich

(Kf), o qual pode ser utilizado como parâmetro comparativo do potencial de sorção de

herbicidas no solo.

Outro fator considerado na dinâmica dos herbicidas no ambiente é sua meia-

vida, definida como o tempo necessário para que ocorra a dissipação de 50% da

quantidade inicial aplicada do herbicida. Por outro lado, embora a meia-vida sirva como

parâmetro para avaliação do tempo de permanência do herbicida no ambiente, sua

persistência é dependente, fundamentalmente, de quatro fatores: solo (teor de matéria

orgânica, pH, textura, etc.), população de microrganismos (atividade e densidade),

ambiente (radiação, temperatura e precipitação) e práticas culturais (sistemas de

semeadura e manejo).

Características do solo e atividade de herbicidas

a) Matéria orgânica e pH

O teor e a qualidade da matéria orgânica (MO) são os principais componentes

do solo que influenciam a atividade de herbicidas registrados para uso em solos

tropicais. Para os solos brasileiros, as propriedades que mais se correlacionam com a

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sorção são a capacidade de troca catiônica (CTC) e o teor de MO, principalmente para

os herbicidas de caráter básico e não-iônicos (Oliveira Jr. et al., 1999), uma vez que a

maior parte da CTC nesses solos está relacionada à matéria orgânica. Mallawatantri &

Mulla (1992) demonstraram que pelo menos 80% do incremento da sorção observada

para metribuzin, diuron e 2,4-D, ao compararem solos com diferentes propriedades,

estava relacionado ao aumento do conteúdo de carbono orgânico. O mesmo também foi

observado por Thompson et al. (1984), quando avaliaram a persistência e lixiviação do

herbicida 2,4-D, e Pinho et al. (2007), ao estudarem o comportamento de atrazine em

horizonte orgânico do solo.

Além do seu potencial de sorção de herbicidas, a MO está relacionada à

atividade de microrganismos, sendo mais abundante nas camadas superficiais do solo.

Os microrganismos atuam nos processos de biodegradação das moléculas dos

herbicidas, podendo utilizá-los tanto como substratos quanto para fonte de energia

(metabolismo), ou, ainda, a ação microbiana pode modificar a estrutura química do

produto, sem fornecimento de energia para o seu crescimento (co-metabolismo)

(Monteiro, 1996). Segundo Ravelli et al. (1997), a taxa de degradação dos

herbicidas pode diminuir com a profundidade do solo. Portanto, se um herbicida é

lixiviado rapidamente da camada superficial, onde tem maior chance de ser

biodegradado, ele pode se tornar mais persistente, uma vez que está menos exposto ao

contato direto com a microbiota do solo.

Sem dúvida, a adição de matéria orgânica ao solo acelera a degradação dos

herbicidas, sobretudo para aqueles cuja ação microbiana é a principal forma de

degradação. Conforme Prata et al. (2001), a adição de vinhaça ao solo favoreceu o

processo de mineralização de ametryn, acelerando a sua degradação. Logo, embora se

verifique extrema quantidade de interferentes nas características de sorção de herbicidas

à matéria orgânica, sabe-se que a sorção herbicida-matéria orgânica é mais estável do

que aquela resultante da ligação com componentes minerais do solo. Dessa forma, os

solos com altos teores de matéria-orgânica apresentam menor tendência geral de

lixiviação dos herbicidas, representando menor risco de contaminação dos lençóis

freáticos (Cox et al., 1998).

Existe grande complexidade e variabilidade da MO presente em diferentes solos.

Essas diferenças podem interferir não só na retenção dos herbicidas, mas também na sua

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3,03,0

2,52,5

4,04,0

5,05,0

6,0

Concentração em solução (mg L-1)

Qu

an

tid

ad

e s

orv

ida

(m

g L

-1)

6,06,06,0

Concentração em solução (mg L-1)

Qu

an

tid

ad

e s

orv

ida

(m

g L

-1)

transformação e no seu transporte (Correia, 2000). Nesse sentido, Traghetta et al. (1997)

observaram que o pH do meio é outro fator extremamente relevante na avaliação da

capacidade de sorção dos herbicidas no solo, provocando mudanças conformacionais

nas moléculas da matéria orgânica com a variação do pH do meio.

Na prática, as correções do solo pela calagem interferem na capacidade de

sorção dos herbicidas, podendo inclusive redisponibilizar as moléculas dos herbicidas já

sorvidos para a solução do solo. Esse processo ocorre naturalmente e é denominado de

dessorção, o qual pode ser intensificado pela utilização de calcário. Normalmente, os

solos com pH elevado, acima de 6,0, possuem menor capacidade de reter os herbicidas,

devendo-se atentar para as práticas de calagem antes da instalação da lavoura, quando

utilizados herbicidas residuais na cultura antecessora. Para o herbicida 2,4-D, é comum

o aumento da sua disponibilidade na solução do solo com o aumento do pH do meio,

conforme se verifica na Figura 3. Para se compreender melhor o efeito do pH na sorção

dos herbicidas, deve-se considerar conjuntamente a capacidade de ionização dos

herbicidas, a qual será abordada posteriormente nas características destes.

Figura 3 – Representação da sorção do herbicida 2,4-D no solo em função do aumento

do pH.

b) Textura e mineralogia

Outra importante característica do solo que interfere no seu potencial de sorção

dos herbicidas é a sua classe textural. Em conjunto com a MO, a textura do solo é um

dos principais parâmetros considerados na escolha dos herbicidas e doses

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recomendadas. Solos argilosos possuem, em geral, maior potencial de sorção das

moléculas dos herbicidas, sendo fundamental considerar o tipo de argila predominante.

A variação das argilas e a formação de compostos argilominerais representam diferentes

possibilidades de sorção a essas partículas. Logo, em alguns casos, não ocorrem

correlações entre a sorção do herbicida e o teor de argila, principalmente para herbicidas

ácidos ou em solos com altos teores de MO.

Em solos brasileiros altamente intemperizados, com predominância de argilas do

tipo 1:1, como a caulinita (não-expansível), as cargas de atração podem ser geradas nas

bordas do mineral pela dissociação de prótons H+, permitindo a sorção de herbicidas

catiônicos. Contudo, outros solos com predominância de argilas expansíveis 2:1

(montmorilonita) apresentam maior área superficial específica e, conseqüentemente,

possuem maior capacidade de sorção. Isso ocorre devido à formação de forças de

atração de grande intensidade, contribuindo significativamente para a sorção das

moléculas. A formação de cargas nos minerais 2:1 ocorre pela substituição isomórfica

nas camadas tetraédricas e octaédricas. Esses minerais apresentam fraca atração dos

cátions entre as camadas expansíveis, permitindo que água, herbicidas e outras

moléculas penetrem entre os planos basais e provoquem grande expansão do material.

Juntamente com a textura, a mineralogia, representada fundamentalmente por

óxidos de ferro e alumínio, também atua na sorção de diversos herbicidas, sobretudo

para aqueles com capacidade de dissociação de prótons (herbicidas ácidos fracos). Os

solos brasileiros, devido ao seu grau de intemperismo, possuem elevados teores desses

óxidos. A sua contribuição na sorção de herbicidas é considerada significativa,

principalmente em Latossolos onde existe a predominância desses minerais. Conforme

Prata (2002), a sorção de glyphosate ocorre basicamente na fração mineral do solo,

sendo elevada e instantânea; deve-se ressaltar que, em seus estudos, a fração orgânica

exerceu papel secundário sorção desse herbicida.

Características dos herbicidas e comportamento no solo

Assim como para o solo, as características físico-químicas das moléculas dos

herbicidas e sua formulação comercial interferem na sua dinâmica no ambiente. Dentre

as principais, destacam-se o coeficiente de partição octanol-água (Kow), a solubilidade

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(S), a capacidade de dissociação eletrolítica quando em solução aquosa (pKa), a pressão

de vapor (PV) e a constante da Lei de Henry (H).

a) Coeficiente de partição octanol-água e solubilidade

O Kow indica a afinidade que a molécula do herbicida tem em relação a duas

fases, polar e apolar, representadas pela água e pelo octanol, respectivamente. Porém, os

herbicidas possuem geralmente regiões polares e apolares em suas moléculas, sendo o

seu comportamento determinado pela fase que predominar na molécula ou pela própria

formulação comercial. A polaridade é muito importante para penetração das moléculas

dos herbicidas pela cutícula das folhas e também interfere nos processos sortivos com o

solo. Geralmente os herbicidas apolares ou lipofílicos (Kow >10.000) possuem maior

potencial de se adsorver à fração orgânica dos colóides do solo. Para os herbicidas

polares ou hidrofílicos (Kow <10), sua afinidade é maior em relação à fração mineral do

solo.

Já a S de um herbicida expressa a quantidade máxima com que este é dissolvido

em água, em determinada temperatura, até que ocorra a saturação da solução. Quando

saturada, haverá duas fases distintas, dependendo se o herbicida for um sólido ou um

líquido (Lavorenti, 1996). Seu valor, expresso em mg L-1

, reflete a polaridade da

substância química. Logo, quanto maior a quantidade de grupos hidrofílicos na

molécula do herbicida (mais polares), maior será a sua afinidade por água e,

conseqüentemente, maior a sua solubilidade. As moléculas muito solúveis possuem

facilidade de se dissiparem no ambiente por fluxo de água e apresentam coeficientes de

sorção relativamente baixos no solo. A solubilidade também pode se correlacionar

diretamente com o grau de ionização das moléculas, embora isso nem sempre ocorra

(Kogan & Pèrez, 2003).

b) Potencial de dissociação eletrolítica

O potencial de dissociação ácido/base, também conhecido como pKa, representa

o potencial de dissociação da molécula do herbicida. O seu valor é expresso em unidade

de pH no qual ocorre a dissociação de 50% do composto, ou seja, o valor de pH em que

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o herbicida apresenta 50% das suas moléculas na forma dissociada e 50% não

dissociada. Por meio dos valores de pKa, os herbicidas podem ser agrupados em três

classes: herbicidas ácidos fracos, herbicidas bases fracas e os não-iônicos (Tabela 1).

Essa classificação torna-se importante sob o ponto de vista da compreensão da

dinâmica dos herbicidas no solo em função do pH do meio. Para herbicidas ácidos

fracos, quando o pH do solo for igual ao seu pKa, a molécula estará 50% na sua forma

molecular ou neutra e 50% na forma dissociada (aniônica). Portanto, quanto menor o

pH do solo em relação ao pKa do herbicida, maior será a tendência de este ser sorvido às

partículas coloidais do solo. Ao contrário, quando o pH do meio for superior ao pKa do

herbicida, este será prontamente dissociado e sua capacidade de sorção no solo será

muito menor. Entre os herbicidas ácidos fracos, cita-se o 2,4-D, o qual pode liberar íons

hidrogênio numa solução quando o pH do meio se encontra acima do seu pKa. Esse é

um dos motivos pelos quais os solos pulverizados com 2,4-D podem liberar esse

herbicida para a solução do solo após sua correção com calcário e causar fitotoxicidez

às culturas subseqüentes. Outros compostos apresentam comportamento semelhante,

como o dicamba, o picloram e demais herbicidas pertencentes ao grupo das

sulfoniluréias e imidazolinonas, cujo período residual pode variar em função do seu pKa

e do pH do solo.

Quanto aos herbicidas de características base ou base-fraca, eles apresentam a

capacidade de receber prótons e formar íons carregados positivamente, podendo

competir com os sítios de adsorção de nutrientes no solo. Semelhantemente ao

observado para os herbicidas de caráter ácido-fraco, quando o pH do solo for inferior ao

seu pKa, há tendência desse herbicida de ficar sorvido às partículas de argila e aos

grupos funcionais que formam a CTC do solo. Entretanto, quando o pH do solo for

superior ao seu pKa, sua forma molecular predominará, reduzindo seu potencial de

sorção (Kogan & Pèrez, 2003). Os herbicidas atrazine, simazine, cyanazine, hexazinone,

entre outros, apresentam essa característica, podendo atrair íons hidrogênio em uma

solução ácida, passando a apresentar carga líquida positiva.

Já os herbicidas que não doam nem recebem prótons na solução do solo são

considerados não-iônicos, os quais não possuem carga elétrica líquida. Alguns

exemplos desses herbicidas são o alachlor, o metolachlor e o diuron, sendo o último

extremamente importante para o manejo químico na cultura do algodoeiro. Embora não-

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iônicos, esses herbicidas podem ser polares, e em virtude dessa condição, ser afetados

em menor intensidade pelo pH do solo, ficando retidos aos argilominerais e ao material

orgânico.

Tabela 1 – Classificação dos herbicidas em função dos seus grupos funcionais

Fonte: Silva et al. (2007).

Iônicos

Catiônicos Diquat, paraquat

Básicos Ametryne, atrazine, cyanazine, prometone, metribuzin,

propazine, simazine

Ácidos Dicamba, 2,4-D, MCPA, triclopyr, trifloxysulfuron-sodium,

picloram, imazaquin, imazapyr, imazetaphyr, chlorimuron-ethyl

Não-iônicos

Organofosforados

Methoxychlor

Dinitroanilidas Trifluralin, oryzalin, isopropalin

Carbamatos Chlorprophan, prophan

Benzonitrila Dichlobenil

Ésteres Isopropyl éster de 2,4-D

Anilidas Alachlor, metolachlor, propanil, propachlor

Uréias Linuron, diuron, chloroxuron

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c) Pressão de vapor e a constante da Lei de Henry

A PV representa a tendência de volatilização de um herbicida no seu estado

normal puro (sólido ou líquido), sendo função direta da temperatura. Sua importância é

ressaltada na estimativa da distribuição ou transferência do herbicida no ambiente; é

muito utilizada nos cálculos para prever a volatilização dos herbicidas. Contudo, além

do valor específico da PV, a volatilização do herbicida depende também da intensidade

e da velocidade de movimento até a superfície do solo onde ocorre o processo.

No momento da escolha e aplicação do herbicida, deve-se levar em consideração

além da PV, a constante da Lei de Henry (H), com a intenção de reduzir as perdas por

volatilização e deriva do produto. O H é um coeficiente de partição entre o ar e a água

(solução do solo); valores elevados de H são indicativos de herbicidas altamente

voláteis. Sua determinação é importante para os herbicidas na fase líquida do solo,

podendo ser utilizado, assim como o PV, na indicação do potencial de volatilização de

determinados herbicidas.

Persistência e lixiviação de herbicidas

Conforme anteriormente descrito, vários fatores influenciam o comportamento

de herbicidas no solo. Assim, o conhecimento dos parâmetros de sorção e lixiviação

auxiliam na prevenção dos prejuízos ambientais e na predição da dinâmica e potencial

residual para culturas em sucessão. Nesse sentido, a aplicação intensiva de herbicidas,

em solos cuja capacidade de sorção seja baixa, pode resultar em danos produtivos às

culturas posteriormente instaladas, assim como favorecer a contaminação de reservas de

água.

A ação dos fatores ambientais também altera a dinâmica desses compostos no

ambiente, denotando a importância de pesquisas em condições de campo para auxiliar

na compreensão do seu comportamento. Entre os fatores climáticos, a intensidade e o

volume de precipitação pluvial da região ou local podem afetar significativamente os

processos de sorção e lixiviação de herbicidas. Elevados índices pluviais permitem

maior solubilidade e distribuição dos herbicidas no solo, podendo favorecer a sua

percolação no perfil (Figura 4). Esse fenômeno é intensificado quando se utilizam altas

doses dos compostos em solos arenosos ou com baixos teores de material orgânico. Em

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áreas agrícolas irrigadas, a dinâmica de persistência e lixiviação de herbicidas também é

afetada, principalmente para compostos que apresentam elevada solubilidade ou com

degradação microbiana rápida (Crespìn et al., 2001).

Por outro lado, a baixa umidade do solo no momento da aplicação do herbicida

também pode afetar o processo de sorção deste. Conforme Procópio et al., (2001) teores

menores de água no solo favorecem a ligação das moléculas do herbicida à fase sólida,

reduzindo a sua mobilidade no perfil do solo. Todavia, herbicidas lipofílicos podem ter

sua sorção reduzida em condições de solo úmido, devido à competição por sítios

hidrofóbicos no material orgânico do solo.

Segundo Carter (2000), a quantidade do herbicida perdido pela movimentação

no perfil do solo é geralmente entre 0,1 e 1% do total aplicado, podendo, em

determinadas circunstâncias, ser igual ou superior a 5%. Nesse sentido, Pfeuffer &

Rand, (2004) monitoraram os teores de herbicidas utilizados no sul da Flórida entre

1992 e 2001. Seus estudos revelaram que atrazine e ametryn foram os compostos mais

comumente encontrados em águas superficiais. Já no Brasil, Laabs et al. (2002)

estudaram a contaminação da região nordeste do pantanal mato-grossense por pesticidas

utilizados na agricultura. Foram detectados resíduos de ametryn na maioria das amostras

coletadas em águas de superfície, embora em baixa concentração. Entretanto, em

amostras de sedimentos, as concentrações foram superiores a 4,5 µg kg-1

. A elevada

freqüência de detecção de ametryn, juntamente com sua alta concentração em algumas

amostras, foi atribuída, conforme os autores, ao intenso cultivo de cana-de-açúcar no

nordeste do pantanal.

Em condições de campo, a temperatura e a radiação também afetam processos

como volatilização, lixiviação, sorção e degradação dos herbicidas pulverizados,

podendo alterar a sua persistência no meio. Assim, qualquer conclusão sobre a

decomposição e persistência de um produto químico deverá considerar um conjunto de

condições particulares de solo e ambiente.

Conforme estudos realizados por Mandelbaum et al. (1993), a degradação do

atrazine pode ser fortemente influenciada pela elevação da temperatura. Os autores

verificaram que abaixo de 7oC a degradação foi insignificante, mas se acelerou acima

de 15oC, o que demonstra que a temperatura ótima para ocorrer a degradação está

dentro da faixa de atividade metabólica máxima dos microrganismos. Posteriormente,

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Andrea et al. (1996) também constatataram em seus experimentos que a degradação de

atrazine é proporcional ao aumento de temperatura.

Já em relação à radiação, alguns herbicidas apresentam sensibilidade à

fotodegradação, podendo alterar a sua persistência no ambiente em função da exposição

à radiação solar. O oxifluorfen é um dos exemplos, cuja meia-vida foi reduzida de 25

para 13 dias quando aplicado em ambiente sombreado e em outro a pleno sol,

respectivamente (Cassamassimo, 2006). Outro composto sensível à fotodegradação é a

trifluralina, cuja persistência é função do seu elevado potencial de volatilização e da sua

degradação pela radiação solar incidente sobre a superfície do solo (Hornsby et al.,

1995).

Figura 4 - Quantidade residual do herbicida Krismat (ametryn + trifloxysulfuron-

sodium) detectado nas profundidades de 0-5, 5-10, 10-15 e 15-20 cm do

perfil do solo após 30 dias de incubação.

Práticas de manejo e dinâmica de herbicidas no solo

Diante da importante função assumida pela cotonicultura no contexto

empresarial agrícola, é lógico que o sucesso desse setor está estreitamente relacionado

com a manutenção das áreas em condições adequadas para o seu cultivo. No entanto, a

prática demonstra que grande parte das áreas cultivadas enfrenta problemas

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relacionados à interferência de plantas daninhas. Por isso, a adoção do controle químico

dentro de um sistema integrado de manejo da área é fundamental para o sucesso

produtivo da lavoura. Nesse sentido, o uso de herbicidas no controle químico tem sido o

método mais eficaz no controle das plantas daninhas, em face das dificuldades no uso

de capina manual ou controle mecânico na linha da cultura. Logo, a determinação do

período crítico favorece o manejo adequado das plantas daninhas da área, com

significativos resultados na redução dos custos de controle, além de permitir a

delimitação do período residual que o herbicida deve ter para cobrir o período de

interferência das plantas daninhas.

Nesse contexto, o manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro não pode

ser realizado somente durante o seu cultivo ou no início da instalação da lavoura. As

práticas de manejo devem considerar o sistema rotacional de culturas a curto e médio

prazo, o nível de infestação das plantas daninhas, o banco de sementes, a variedade

cultivada, o sistema de semeadura e as condições edafoclimáticas predominantes.

Atualmente, o sistema de controle das plantas daninhas é realizado normalmente

em pré-plantio (PP), em pré-plantio incorporado (PPI), pré-emergência (PRE) ou em

pós-emergência (POS). Entre os herbicidas residuais mais utilizados na cultura do

algodão estão o clomazone, o diuron e o alachlor em pré-emergência, além da aplicação

de trifluralin em pré-plantio incorporada. Dentre esses, o diuron destaca-se pela sua

excelente ação no controle de plantas daninhas comumente encontradas na lavoura.

Contudo, a seletividade do algodoeiro a esse herbicida é toponômica, ou seja, a

profundidade de semeadura do algodoeiro ér diferente daquela onde o herbicida se

encontra. Assim, em casos de solos extremamente arenosos e/ou com chuvas intensas, o

herbicida pode entrar em contato com o caulículo do algodoeiro, reduzindo o estande e

ou causando injúrias às plantas. Já o clomazone pode causar intoxicação a cultura sem

reduzir os índices de produtividade, devendo-se levar em consideração a textura do solo

para recomendação da sua dosagem. Para esse herbicida, devido à sua baixa seletividade

ao algodoeiro, há necessidade de utilização de protetores “safeners”. Na prática, a

adição de inseticidas fosforados no tratamento de sementes, como o dissulfoton, permite

a ação protetora do algodoeiro ao herbicida.

Em pós-emergência, os herbicidas mais usados no algodoeiro são pyrithiobac-

sodium e trifloxysulfuron-sodium, porém eles são seletivos à cultura, não causando

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problemas de fitotoxicidade. Sua aplicação ocorre de duas a três semanas após a

semeadura do algodoeiro, com excelente controle para diversas espécies infestantes da

cultura. Atualmente, o pyrithiobac-sodium tem sido pouco utilizado pelo fato de seu

custo ser elevado.

Além dos anteriormente citados, outros herbicidas utilizados em culturas

antecessoras podem causar intoxicação ao algodão ou mesmo reduzir a produção sem

causar sintomas visuais à cultura. Os herbicidas 2,4-D e, principalmente, o picloram são

compostos que apresentam elevados índices de intoxicação ao algodoeiro, podendo

permanecer durante dias até meses no solo, conforme as condições de solo e clima.

Esses herbicidas são utilizados fundamentalmente em áreas de pastagem, sendo o 2,4-D

recomendado também para a cultura do milho. A meia-vida do 2,4-D costuma ser

próxima a 30 dias, embora o picloram possa permanecer até 300 dias em solos argilosos

e com teores elevados de matéria orgânica. Além disso, por ser um herbicida volátil,

deve-se evitar a utilização da formulação éster do 2,4-D em áreas próximas ao cultivo

do algodão, inclusive da formulação amina (não-volátil), devido à elevada sensibilidade

dessa cultura ao herbicida.

O sulfentrazone, registrado para controle de plantas daninhas nas culturas de

eucalipto, cana-de-açúcar e soja, possui elevada atividade no solo, podendo também

exercer ação residual em sistemas rotacionais, como soja e algodão. Apesar de a sua

degradação no solo ser predominantemente microbiana, sua meia vida pode variar de

110 a 280 dias, dependendo das condições edafoclimáticas. Sua sorção e mobilidade são

dependentes do tipo e do pH do solo, sendo a sua mobilidade favorecida com o aumento

do pH do meio. Segundo Ohmes et al. (2000), a dissipação do sulfentrazone está

diretamente relacionada com a disponibilidade de água no solo, a qual pode favorecer a

degradação da molécula ou mesmo lixiviá-la.

Outros herbicidas comumente utilizados na cultura da soja também podem afetar

o cultivo do algodoeiro em sucessão. Dentre eles, destacam-se o imazaquin, o

imazethapyr e o diclosulam, os quais podem permanecer por longos períodos no solo. O

diclosulam, por exemplo, pode permanecer por período superior a 18 meses no solo

(Embrapa, 1999), causando sintomas de intoxicação a culturas sensíveis, como o

girassol. Já o imazaquin, é recomendado o intervalo de 300 dias após a aplicação para o

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cultivo do milho, podendo causar sérios danos à cultura do algodoeiro (Barnes et al.,

1989).

O fomesafen também é um herbicida amplamente utilizado na cultura do feijão e

que necessita de cuidados para as culturas em sucessão. Seu efeito residual no solo afeta

culturas sensíveis como o milho e o sorgo, necessitando de intervalo mínimo de 90 a

210 dias após aplicação, conforme resultados constatados por Jakelaitis et al. (2006).

Paralelamente aos herbicidas utilizados, os sistemas de cultivo, sejam eles

convencional, mínimo ou de semeadura direta, devem ser considerados na avaliação do

efeito residual dos herbicidas. No caso do cultivo mínimo ou semeadura direta, o

manejo de plantas daninhas é freqüentemente realizado com o cultivo do milheto, com

intuito de reduzir a sua infestação e melhorar as condições do solo. Nesse caso, os

resíduos vegetais atuam como camada isolante, protegendo o solo das alterações

térmicas extremas ao longo do dia e favorecendo a manutenção da sua umidade. Além

desses benefícios, os resíduos vegetais podem impedir a germinação e, durante a sua

decomposição, produzir substâncias alelopáticas que atuam sobre as sementes das

plantas daninhas (Cobucci, 2001).

Por outro lado, alguns herbicidas, como trifluralin, pendimethalin, metolachlor

(Banks & Robison, 1986) e dimethenamid (Cobucci, 2001), são retidos na palhada, não

atingindo o solo ou atingindo-o em pequena quantidade, mesmo após a ocorrência de

chuva. Outros herbicidas, entretanto, são facilmente lixiviados da palhada para o solo,

como é o caso do atrazine (Fornarolli, 1997), diclosulan e sulfentrazone (Cobucci, 2001;

Barros et al., 2000). Segundo Lowder & Weber (1979), é necessária a utilização de

doses maiores de atrazine sobre cobertura vegetal em relação ao plantio convencional.

Os mesmos autores verificaram ainda que atrazine é lixiviada mais facilmente da

palhada de aveia do que de milho, influenciando a quantidade do herbicida que chega ao

solo.

Nos sistemas de cultivo convencional ou direto, a dinâmica de microrganismos

também é influenciada pelos processos de aração e gradagem tradicionais ou pela

manutenção dos resíduos vegetais sobre o solo, respectivamente. Isso contribui de

forma distinta nos processos de biodegradação e sorção de herbicidas. Espera-se que

solos cultivados sob o sistema de semeadura direta possuam maior velocidade de

degradação de herbicidas, pela sua elevada atividade microbiológica. Por outro lado,

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também, é muito importante cultivar espécies nas entressafras que sejam capazes de

promover a descontaminação do solo (fitorremediação). Além disso, a manutenção de

resíduos vegetais também favorece o incremento da fração orgânica do solo, podendo

aumentar a sorção e persistência de herbicidas.

A técnica da fitorremediação – uso de plantas para descontaminar terra e água da

ação de resíduos de diversas substâncias tóxicas -, desenvolvida há mais de 300 anos na

Europa para descontaminação de esgotos (Cunningham et al., 1996), ganhou atualmente

considerada importância, por ser considerada prática de manejo sustentável na

agricultura (Santos et al., 2007). Apesar de a técnica ser antiga, somente na última

década foi oficialmente definida como “uso de espécies vegetais e dos microrganismos

a elas associados, como ferramenta para contenção, isolamento, remoção ou redução das

concentrações de contaminantes em meio sólido, líquido ou gasoso” (US EPA, 2000).

No Brasil, o termo fitorremediação ainda parece desconhecido para grande parte

da comunidade científica. Entretanto, quando são consideradas as condições climáticas

mais favoráveis e a biodiversidade existente, comparativamente às regiões de clima

temperado, o País apresenta grande potencial de uso dessa tecnologia. Por esse motivo,

alguns grupos de pesquisas ligados a essa linha de trabalho têm dedicado especial

atenção para estudos em áreas agricultáveis, com trabalhos que evidenciaram a

possibilidade de empregar plantas para reduzir a intoxicação por herbicidas a culturas

suscetíveis, cultivadas em áreas que receberam tais compostos (Santos et al., 2007).

Essa linha de pesquisa pode ser considerada a mais recente para o emprego da técnica,

pois além de promover a recuperação de ecossistemas contaminados tem-se o efeito

prático de se reduzir o intervalo de tempo necessário ao plantio de culturas sensíveis

(Santos et al., 2007).

Na prática, o que se conquista é a antecipação da produção de culturas agrícolas

de interesse econômico antes impossibilitadas de serem cultivadas por até três anos em

determinadas áreas, além da garantia de sustentabilidade para gerações futuras.

Espécies como mucuna-preta (Stizolobium aterrimum) e feijão-de-porco (Canavalia

ensiformis) já foram testadas, apresentando grande potencial para descontaminação de

áreas com residual dos herbicidas trifloxysulfuron-sodium e tebuthiuron, muito

utilizados nas culturas do algodão e da cana-de-açúcar, respectivamente (Santos et al.,

2004; Pires et al., 2006). O cultivo dessas leguminosas por determinado período

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favorece o plantio seqüencial de espécies como feijão e soja, muito sensíveis à presença

desses compostos no solo.

A pesquisa na área da fitorremediação de solos contaminados por herbicidas

deve ser priorizada para aqueles compostos com elevado poder residual nos solos. Essa

prática possibilita opções de manejo como rotação de culturas e sistemas de

consorciação, diminuindo o impacto negativo que tais produtos promovem no ambiente.

Portanto, observa-se que o conhecimento disponível em relação às propriedades dos

compostos do solo, aos fatores climáticos envolvidos e aos mecanismos de interação

herbicida-ambiente em condições de campo ainda é restrito, principalmente em relação

à cultura do algodoeiro. Asim, a seqüência de pesquisas na dinâmica de herbicidas em

solos e clima brasileiros é fundamental na manutenção da qualidade ambiental e no

incremento da produtividade agrícola. Pelo fato de o tema ser abrangente, considera-se

que todas as características e fatores envolvidos na dinâmica de herbicidas no solo

atuam de forma conjunta, sendo necessária a continuidade dos estudos e o incentivo

nesse setor

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CAPÍTULO 6

Resíduo de agrotóxico e comercialização

José Roberto Macedo Fontes1

O potencial do agronegócio

A globalização e a abertura de mercado têm imposto grandes desafios para os

setores da economia mundial. O mercado internacional, diante das novas exigências do

consumidor, impõe a necessidade de produção de bens de alta qualidade. No cenário

competitivo do agronegócio, originado a partir dessa globalização econômica, não é

diferente. Diante da oportunidade de crescimento no mercado mundial, o setor vem

passando por profundas mudanças. Os desafios para esse crescimento passam pela

questão do desenvolvimento de novas práticas tecnológicas que, na maioria das vezes,

fortalece as empresas para atuar junto a concorrência. Estratégia de competitividade e

de internacionalização são duas práticas que muitas empresas buscam no mundo atual.

No setor agrícola, nos últimos anos, um dos pontos mais importantes no sistema

produtivo é a capacidade de gerar produtos de qualidade e saudáveis, conforme os

requisitos de sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e viabilidade econômica,

mediante a utilização de tecnologias não-agressivas ao meio ambiente e à saúde

humana.

Tudo isso, como conseqüência das novas tendências do consumidor no mercado

internacional, onde a exigência de alimentos seguros e livres de qualquer tipo de

agravante à saúde humana é pré-requisito crucial. Por este fato, o mercado adotou

programas específicos, assegurando o controle e a rastreabilidade de toda a cadeia

produtiva, resultando na obrigatoriedade de adoção de programas de qualidade na

cadeia de produção em diversos ramos produtivos.

O reflexo das novas exigências internacionais é a adoção de selos de certificação

que comprovam a qualidade e sanidade do bem importado, principalmente na União

1 Engº Agrº, D.S. da Germinar – [email protected]

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Européia. O mercado europeu tem se tornado cada vez mais exigente e se destaca como

o principal comprador dos produtos agrícolas brasileiros.

Assim, programas de qualidade na cadeia produtiva têm sido adotados em

diversos ramos produtivos, principalmente em mercados de produtos perecíveis,

incluindo o de frutas que tem forte aceitação a nível internacional.

Em 2007, o Brasil exportou, através do agronegócio, um total de US$56 bilhões.

No entanto, é importante ressaltar que o potencial do mercado mundial, apenas do setor

frutícola, é de mais de US$ 20 bilhões/ano e, segundo estudos, o acesso depende de um

conjunto de fatores, dentre os quais se destacam as barreiras não alfandegárias e os

requisitos de qualidade e competitividade exigidos pelos países importadores.

O mercado de frutas in natura representa a grande fatia da exportação brasileira.

Do total de frutas in natura exportado pelo Brasil em 2007 (ao redor de US$665

milhões), 94% é representado por 10 frutas (melão, uva, manga, maçã, banana, mamão,

limão, laranja, melancia e abacaxi). A UNIÃO EUROPÉIA absorveu, como média

geral, ao redor de 85% (US$565 milhões) do total exportado em 2007. No entanto, o

total de frutas exportadas pelo Brasil representa apenas 2% do total produzido.

No gráfico a seguir, o volume de exportação do mamão brasileiro in natura

representa bem o que ocorre com o restante das frutas exportadas, onde a União

Européia figura como nosso cliente potencial.

Fonte: MAPA (2009).

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O resíduo de agrotóxico como barreira à comercialização

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente cerca de 1,8

milhão de pessoas morrem, exclusivamente, por ingestão de bebidas e alimentos

contaminados e pelo menos 200 casos de fraude e contaminação de grandes proporções

são identificados no mundo. A OMS acredita que, anualmente, entre 3 e 5 milhões de

pessoas sejam intoxicadas por agrotóxicos no mundo e resíduos destes produtos nos

alimentos continuam a preocupar consumidores que carecem de informações. A

contaminação por agentes físicos (pedras, parafusos, pêlos), químicos (metais pesados,

pesticidas, sanitizantes), biológicos (bactérias, fungos) e radioisotopos (resíduos de

radiação) em produtos processados são os principais responsáveis pelos problemas de

comercialização e de saúde no Brasil e no mundo.

Por afetarem a segurança alimentar mundial, os produtos processados seguem

regras rígidas de importação e exportação, mas que variam de país para país. O Brasil,

como membro da FAO (Food and Agriculture Organization), está obrigado a cumprir

determinados requisitos definidos e aprovados pelos comitês que compõem a

organização. Em 1962 foi criada em nível internacional a Codex Alimentarius

Commission, um corpo subsidiário da FAO e da WHO (World Health Organization),

encarregado de proteger a saúde dos consumidores. Atualmente, mais de 150 nações

participam do Codex. A contribuição do Codex de particular relevância é o

estabelecimento dos valores de LMRs recomendados, e que podem ser aceitos

livremente pelos países membros. Com isso, o Codex Alimentarius também busca

assegurar práticas eqüitativas nos comércios regional e internacional de alimentos. As

normas Codex abrangem os principais alimentos processados, semiprocessados ou crus;

e também substâncias e produtos usados para a elaboração dos alimentos. Na Europa, o

nível de resíduo de pesticidas em alimentos de origem animal e vegetal é definido de

acordo com o critério proposto pelo Conselho Europeu. Portanto, a análise da presença

dos pesticidas em alimentos representa uma prática bastante comum nos países

desenvolvidos e níveis cada vez menores têm sido tolerados.

As exportações brasileiras de frutas e sucos enfrentam desafios tanto em razão

das barreiras tarifárias - dados o amplo espectro tarifário que se lhes aplica e a

imposição de taxas internas que, embora não discriminatórias, incidem na

competitividade dos preços dos produtos - como não-tarifárias, particularmente em

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razão da crescente diversificação e do aprofundamento de exigências de ordem

fitossanitária na maior parte dos mercados ora considerados, que constituem para as

exportações brasileiras de frutas frescas um dos mais importantes desafios no tocante ao

seu acesso a mercados externos.

Tais produtos estão sujeitos à proibição generalizada, como aplicada pela China

e Coréia, ou à imposição de regime de quarentena, inspeção na origem e destino,

certificação sanitária e de qualidade, tratamento especial, além de outras exigências

relativas à embalagem e características específicas dos produtos.

Nos produtos agrícolas em geral, para se combater as doenças e pragas, que

podem inviabilizar a comercialização e o consumo dos mesmos, são aplicados

agrotóxicos no tratamento fitossanitário. Assim como os agrotóxicos podem apresentar

eficácia profilática, dependendo da forma de aplicação, a sua utilização não criteriosa

pode acarretar males à saúde do consumidor quando ingeridos em grande quantidade.

De acordo com a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, agrotóxicos são

os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso

nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento dos produtos agrícolas,

nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas

e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a

composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos

considerados nocivos. A lei dispõe sobre as atividades realizadas com agrotóxicos no

território nacional, desde a sua produção ou importação até o destino final de seus

resíduos e embalagens.

A Portaria 3, de 16 de janeiro de 1992, do Ministério da Saúde, define resíduo de

agrotóxico como a “substância ou mistura de substâncias remanescentes ou existentes

em alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da presença de agrotóxicos e

afins, inclusive quaisquer derivados específicos, tais como produtos de conversão e de

degradação, metabólitos, produtos de reação e impurezas, consideradas tóxicas e

ambientalmente importantes”.

A regulamentação quanto ao uso dos agrotóxicos está baseada não só no

controle das classes químicas dos princípios ativos autorizados para uso, mas também

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no estabelecimento de nível de referência, que corresponde à quantidade máxima de

resíduo de determinado agrotóxico que pode ser aceita em cada alimento, quando

destinado ao consumo humano. Em tese, o cumprimento destes limites máximos de

resíduos permite preservar a saúde do consumidor da ação tóxica destes produtos. Neste

sentido, diversos organismos nacionais e internacionais estão encarregados de

estabelecer tais limites.

No Brasil, a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério

da Saúde é o orgão federal responsável pela legislação aplicável a resíduos em

alimentos. A ANVISA estabelece as monografias dos produtos agrotóxicos de uso

autorizado no Brasil, nas culturas para as quais se destinam. Nessas monografias,

constam as tolerâncias ou limites máximos de resíduos, estabelecidos caso a caso, que

são as quantidades permitidas de resíduos dos agrotóxicos naqueles alimentos,

decorrentes do seu uso, segundo a boa prática agrícola. Também, as monografias

estabelecem o intervalo de confiança (ou período de carência), que é o intervalo de

tempo, em dias, entre a última aplicação e a colheita, que deve ser observado pelo

agricultor; por lei, ele deve fazer parte das instruções do rótulo ou bula das formulações

comerciais dos agrotóxicos.

Além do problema potencial na saúde dos consumidores, outro sério problema

causado pelos resíduos de agrotóxicos é que eles podem se tornar uma barreira não-

tarifária, constituindo-se, assim, em obstáculos às nossas exportações. Países

importadores rejeitam a entrada de produtos agrícolas por seus portos e aeroportos, se

estes possuírem resíduos em níveis acima do que os legalmente aceitos. Assim, tem

acontecido, com certa freqüência, com nossas frutas tropicais de exportação.

A proibição da entrada de alguns produtos brasileiros em certos países,

principalmente as frutas, tem aumentado por apresentarem níveis de agrotóxicos acima

dos LMRs estabelecidos pelos países importadores ou pelo Codex Alimentarius. Com

isso, a implantação do monitoramento quanto aos níveis de contaminação dos produtos

agrícolas brasileiros por agrotóxicos virou febre em todo mundo e, dificilmente, um

cliente estrangeiro deixará de realizar análise multiresidual nas cargas recebidas.

Diversos países têm implantado programas de análise de resíduos nos alimentos.

Nos Estados Unidos, numerosos programas de análises de resíduos têm sido

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implantados, podendo-se destacar o programa do Departamento de Agricultura dos

Estados Unidos (USDA), o programa da Associação Nacional dos Alimentos

Processados (NFPA) e o programa da Administração de Drogas e Alimentos (FDA). A

União Européia possui trabalho similar de análise de alimentos.

No Brasil, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos -

PARA, da Anvisa, com o objetivo de avaliar continuamente os níveis de resíduos de

agrotóxicos nos alimentos in natura que chegam à mesa do consumidor, e o Programa

de Monitoramento do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, conduzido

pela Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes (CCRC), contribuem para

o fornecimento de dados aos órgãos de saúde pública para que discutam os programas

de fiscalização, conscientização ambiental e a saúde dos trabalhadores.

O Programa PARA foi idealizado em 2001 com o objetivo de cumprir a

legislação disposta no Decreto 4.074/02 e na Resolução – RDC nº 44/00. Os objetivos

específicos do PARA são (1) analisar resíduos de agrotóxicos in natura; (2) verificar se

os alimentos contaminados ultrapassam o limite máximo de resíduo (LMR); (3)

verificar a presença de resíduos de agrotóxicos não autorizados pela legislação em

vigor; (4) rastrear possíveis problemas e subsidiar ações de fiscalização de vigilância

sanitária; (5) melhorar a estimativa de exposição por meio da dieta, como parte da

reavaliação dos agrotóxicos já registrados; (6) monitorar o uso de produtos agrotóxicos

realizando um mapeamento de risco; (7) subsidiar com base cientifica e informações

laboratoriais concretas as negociações internacionais, principalmente, no âmbito do

Codex Alimentarius e do Mercosul; (8) fornecer subsídios ao Ministério da Agricultura

que permitam orientar e fiscalizar os produtores na utilização dos agrotóxicos; e (9)

disponibilizar informações à sociedade.

No entanto, é muito dispendiosa a análise de resíduos de agrotóxicos em

amostras ambientais ou de alimentos, principalmente quando o número de

contaminantes é elevado. Além de exigir a aplicação de técnicas elaboradas e onerosas,

existe um número grande de agrotóxicos no comércio e há carência de dados dos

produtos utilizados por lavoura, o que acaba por requerer o teste de vários padrões e

diferentes metodologias analíticas.

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Além disso, cada dia aumenta mais a conscientização dos consumidores em

relação ao consumo de alimentos sadios e sem resíduos de agrotóxicos. Assim, as

grandes redes distribuidoras de frutas e os supermercados do mundo inteiro têm

pressionado os exportadores para que estes adotem um sistema de certificação que

garanta a qualidade dos seus produtos.

Desta maneira, o cenário mercadológico internacional sinaliza para grandes

mudanças nos sistemas de produção de frutas, exigindo dos produtores a adoção de

critérios de qualidade, produção certificada e cumprimento de normas internacionais

relacionadas à segurança alimentar, rastreabilidade e respeito ao meio ambiente e ao

homem.

No entanto, a comunidade internacional demonstra preocupação com a barreira

comercial que poderá ser imposta a aqueles que não direciona suas atividades a

processos de certificação, uma vez que a não certificação poderá implicar na perda de

mercado. Nesse sentido, os produtores brasileiros vêm sentindo-se pressionados a

adequar-se e a orientar-se para garantir mercados internacionais e, mais recentemente,

também o mercado interno, onde o padrão de exigência nacional, cada dia mais, se

iguala ao padrão internacional. Essa exigência nacional muito tem a ver com a aquisição

recente de várias grandes redes de supermercado por empresas estrangeiras que, para

garantir seu padrão internacional de qualidade, adotam no mercado interno os mesmos

pré-requisitos já conhecidos pelos exportadores.

A preferência dos importadores de frutas frescas pela empresa certificada,

devido à habilidade na comprovação dos requisitos pré-definidos, é um aspecto seletivo

aos exportadores brasileiros no mercado internacional. Os diversos sistemas de

certificação possibilitam agregação de valor ao produto, diferenciando-o com

investimentos muitas vezes inferior em relação à criação de marcas e promoção da fruta

brasileira no mercado externo. A certificação adiciona valor sem a necessidade de

transformação do produto, garantindo os requisitos exigidos pelo mercado consumidor,

cada vez mais atento à qualidade e segurança do alimento nos últimos anos.

As exigências dos importadores visando a segurança do alimento aliado à

adoção da Certificação Agrícola das frutas brasileiras, também auxiliam na adaptação

do produtor diante das constantes proibições de princípios ativos utilizados no sistema

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produtivo. Isso ocorre pois os produtores que adotam os programas sustentáveis de

produção, utilizam os agroquímicos de maneira curativa e não preventiva e, na maioria

das vezes, conseguem diminuir o consumo de agroquímicos em até 50% (cinqüenta por

cento) se comparado aos sistema convencional de produção. Dessa forma, se enquadram

dentro das restrições continuamente impostas pelo mercado internacional,

principalmente pela Comunidade Européia com maior facilidade, uma vez que a maior

dificuldade do setor é o atendimento aos rígidos padrões internacionais com relação aos

LMR‟s de produtos permitidos para uso e a restrição, cada vez maior, sobre os

princípios ativos permitidos.

Assim, o aumento das exigências internacionais interfere na comercialização ao

restringir o número de fornecedores de frutas, dando preferência àqueles que possuem o

produto diferenciado, no caso, pelos selos de certificação, valorizando o produto e a

rentabilidade do exportador brasileiro. A seleção de fornecedores também possibilita a

obtenção de produtos de alta qualidade dentro dos padrões de segurança alimentar

exigido pelo mercado consumidor atingindo um novo nicho de mercado que tem

crescido nos últimos anos.

No entanto, em várias cadeias produtivas no Brasil, o controle da certificação é

dificultado, uma vez que, muitas empresas apenas beneficiam a fruta nos packing

houses, adquirindo a fruta de diversos produtores, entre eles, pequenos e médios

produtores, dificultando não só a rastreabilidade do produto quanto o controle do uso de

agrotóxicos e, consequentemente de seu resíduo no produto final exportado.

Para isso, o Governo brasileiro têm buscado, na elaboração de leis, o controle do

uso de agrotóxicos e acompanhar, através da rastreabilidade do produto, a segurança do

alimento comercializado, não apenas no mercado externo mas também no Brasil.

A Instrução Normativa Nº 42, de 31 de dezembro de 2008, publicada no DOU –

Seção 1 - Nº 2, em 05/01/2009, Institui o Plano Nacional de Controle de Resíduos e

Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal - PNCRC/Vegetal, que tem por

objetivos: Assegurar a qualidade, a inocuidade e a segurança higiênico-sanitária dos

produtos, seus subprodutos e derivados de valor econômico colocados à disposição da

população brasileira e/ou a serem exportados; Verificar o uso adequado e seguro dos

agrotóxicos, de acordo com as boas práticas agrícolas e as legislações específicas;

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Contribuir para a adoção das boas práticas agrícolas, fabris, de armazenamento e de

transporte na cadeia de produção; Conhecer o potencial de exposição da população aos

resíduos nocivos à saúde do consumidor, parâmetro orientador para a adoção de

políticas nacionais de saúde vegetal, fiscalização agropecuária e fiscalização sanitária e;

Evitar o consumo e comercialização de produtos de origem vegetal, seus subprodutos e

derivados de valor econômico oriundos de produção na qual se tenha constatado

violação dos Limites Máximos de Resíduo - LMR e Níveis Máximos de Contaminantes.

Outra instrução normativa a ser implantada, que se encontra em fase final de

projeto, trata-se da Portaria 54 – Certificado Higiênico-Sanitário, que foi submetida à

consulta pública, que estabelece os critérios e procedimentos para o controle dos fatores

higiênico-sanitários na cadeia produtiva dos produtos de origem vegetal, destinados ao

consumo humano no mercado interno e na exportação, referentes aos resíduos de

agrotóxicos e contaminantes químicos, físicos e biológicos que oferecem riscos à saúde

humana. Segundo a Portaria, o controle higiênico-sanitário deve ser preventivo e de

forma integrada em todas as etapas das cadeias produtivas, com aplicação em parte ou

no total, constituindo-se de autocontroles e de controles oficiais e manter os registros

dos dados e informações que comprovem as suas aplicações, visando prevenir e

controlar a ocorrência dos fatores higiênicosanitários. São considerados procedimentos

de autocontroles: Adoção de BPAs ou BPFs; Adoção de APPCC; Implementação de

sistema de rastreabilidade; Certificação de segurança higiênico-sanitária e; Realização

de amostragem e análise laboratorial, quando for o caso.

No entanto, a lei que poderá trazer maiores contribuições para o setor frutícola

nacional se encontra estagnada em Brasília. Trata-se da Portaria 94 – Minor Crops, que

submeteu à consulta pública o Projeto de Instrução Normativa com seus respectivos

Anexos, que estabelece os critérios e procedimentos a serem adotados para extrapolação

de limites máximos de resíduos (LMR) para as culturas com suporte fitossanitário

insuficiente e para a inclusão destas culturas na monografia dos ingredientes ativos

registrados para uso agrícola; onde os LMRs já estabelecidos em monografia para as

culturas representativas em cada grupo poderão ser extrapolados temporariamente para

as demais culturas do grupo. Os LMRs temporários teriam prazo de vigência de 24

(vinte e quatro) meses, após a publicação na monografia do ingrediente ativo, até que se

determine, por meio de estudos de resíduos o LMR da Cultura Representativa do sub-

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grupo. Caso não seja apresentado o estudo de resíduos durante esse período, a cultura de

suporte fitossanitário insuficiente será excluída da monografia do ingrediente ativo cujo

LMR foi extrapolado.

O fato da demora de implementação da lei das Minor Crops, é agravado ainda

mais por um dos principais pontos atualmente discutido pelo setor agrícola: A proibição

de diversos princípios ativos, largamente utilizados nas culturas tropicais, pela

Comunidade Européia. Esta parece ser a principal barreira técnica imposta pelo

mercado internacional sobre a produção de frutas frescas brasileiras.

Os países importadores da Comunidade Européia, dos Estados Unidos e do

Japão possuem normas técnicas, bastante rigorosas, que estabelecem concentrações

máximas de resíduos baixíssimas. Estas normas, não sendo atendidas, inviabilizam a

entrada de produtos agropecuários em seus territórios. O efeito destas barreiras técnicas,

não-alfandegárias, nas exportações brasileiras, é enorme, pois afeta integralmente várias

cadeias produtivas.

Porém, na visão de alguns produtores, a restrição no uso de determinados

ingredientes ativos nem sempre é encarado como grande entrave da produção. Para eles,

o principal argumento utilizado é a ampla variedade de agroquímicos existentes no

mercado, que possibilita, assim, a substituição dos princípios ativos proibidos,

mantendo o controle eficaz, e, além disso, os produtos vetados nem sempre são

imprescindíveis em suas propriedades.

No entanto, não é bem isso que ocorre nos setores produtivos da maioria das

frutas brasileiras, onde a dificuldade gerada pelo número reduzido de agrotóxicos

registrados para essas frutas torna-se um problema sério e limitante para o setor

frutícola.

A maior dificuldade na proibição do uso de determinados ingredientes ativos é o

fato de não se ter um acordo entre os países que integram a União Européia. Há grande

heterogeneidade entre os países europeus quanto a aceitação de determinados princípios

ativos, não existindo uma lista em comum. Os exportadores brasileiros encontram

diversos entraves para atender o mercado europeu, tendo em vista que cada país tem a

sua relação de agroquímicos permitidos, sendo essa, baseada nos princípios ativos

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registrados tanto no país de origem como de destino, onde, também, uma longa lista de

princípios ativos banidos é apresentada ao exportador.

Uma forma de contornar esse problema, cada vez mais usual no mercado

internacional, é o programa de fidelização, seja dos importadores para com seus

fornecedores ou dos exportadores brasileiros para com seus clientes estrangeiros. Desta

maneira, cria-se uma relação mais aberta, onde as exigências de ambos os lados são, em

grande parte atendidas. Pois, ao adquirir o produto agrícola, o importador exige a

relação dos produtos químicos utilizados durante o sistema produtivo e, por sua vez,

fornece a listagem de princípios ativos banidos e os produtos permitidos com seus

respectivos LMR‟s aceitos. Logo, o produtor visando um mercado definido,

automaticamente evita o uso de certos produtos, facilitando as negociações e

diminuindo o risco de rejeição de seu produto agrícola no mercado internacional.

Para analisar o problema, em 2008, a Secretaria de Defesa Agropecuária - SDA-

MAPA iniciou um levantamento sobre os agrotóxicos mais usados em soja, café, milho

e nas 10 frutas mais exportadas para a Comunidade Européia. A idéia é verificar os

novos LMRs estabelecidos pela U.E nestas culturas e seleção dos agrotóxicos mais

críticos para poder estimar o impacto econômico sobre os US$6,6 bilhões (total faturado

pela exportação destes produtos pelo Brasil para a UE, em 2007). No entanto, os

estudos ainda não foram publicados.

Quanto à restrição de uso de princípios ativos, uma ação que merece destaque

foi o estudo realizado no Reino Unido pelo Pesticides Safety Directorate of the UK,

sobre o impacto das propostas da Comissão Européia e das emendas do Parlamento

Europeu sobre a proteção de colheita no Reino Unido. Segundo o estudo, as propostas

poderiam remover até 15% das substâncias avaliadas, algumas de grande importância

para a proteção de colheitas nas Minor Crops e poderiam conduzir a 20-30% de perdas

do rendimento nos cereais. Além disso, poderiam levar à perda de até 85% das

substâncias químicas convencionais.

Outra preocupação considerável pode ser retratada pelo documento denominado

de Declaration of Ljubljana, produzido em 22 de abril de 2008, num workshop

realizado no Agricultural Institute of Slovenia, in Ljubljana. Neste documento, os

especialistas reafirmam que a resistência aos inseticidas, aos fungicidas e aos herbicidas

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é já um problema grave também para a produção agrícola européia nas Minor Crops e

que muitos inseticidas estabelecidos, apesar da baixa disponibilidade, têm sido perdidos

em consequência do programa em curso para renovação do registro. Os cientistas

concluíram que a solução mais sustentável ao controle de praga é o manejo integrado de

pragas, onde o controle químico também é um componente essencial, e recomendaram

que a diversidade química (diferentes modalidades de ações dos agrotóxicos) deve ser

mantida para o manejo sustentável da resistência e que as decisões para registrar ou

proibir compostos devem ser baseadas na avaliação de risco científica e não em critérios

de perigo do produto.

Sabe-se que somente a alta qualidade dos frutos produzidos, livres de pragas e

doenças e com limites de resíduos de agrotóxicos dentro dos níveis aceitáveis, é capaz

de conquistar novos mercados. Assim, para minimizar e solucionar possíveis problemas

advindos desta necessidade, é preciso colocar em prática algumas iniciativas no campo,

como a aplicação das Boas Práticas Agrícolas (BPAs) nos diferentes sistemas de

produção para melhoria da qualidade do alimento colhido. O manejo integrado de

pragas e doenças (MIP) e o manejo e a conservação do solo também serão aliados na

redução da quantidade de agrotóxicos aplicados nas lavouras e, consequentemente, na

redução dos custos de produção.

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Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) - Ministério da Agricultura, Pecuária e

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CAPÍTULO 7

Produção integrada e segurança alimentar

Marçal Zuppi da Conceição1

O nosso objetivo neste texto será o de responder, basicamente, três perguntas: de

onde viemos? – onde estamos ? – para onde vamos ? É importante conhecer o passado.

Quem conhece o passado pode perscrutar o futuro.

Os historiadores especialistas em Idade Média relatam que no primeiro milênio

se atribuía a existência da fome e da miséria à fúria dos céus. Hoje, no terceiro milênio,

essas desgraças ainda existem, mas sabemos todos que são de responsabilidade do

Homem. No limiar do terceiro milênio, ao final da sua primeira década, sabemos da

grande importância da Produção Integrada na Agricultura Moderna. É ela, a Produção

Integrada, nos leva à Boa Prática Agrícola. A Boa Prática Agrícola é o conjunto de

medidas adotadas pelo nosso Homem do Campo com o objetivo de produzir

economicamente alimentos saudáveis, com qualidade e de forma a preservar a saúde das

pessoas e o meio ambiente. É a Boa Prática Agrícola, que nos conduz a uma agricultura

sustentável, preservando os recursos naturais para gerações futuras. Quanto à Segurança

Alimentar ela tem que ser análisada nos seus principais aspectos: acesso ao alimento, a

qualidade do alimento e a segurança do alimento. Sem dúvida, a área de maior

preocupação é a segurança do alimento, e nela, a produção de alimentos sem resíduos

tóxicos. Temos que analisar os principais fatores que podem minimizar o problema de

resíduos tóxicos nos alimentos: a aquisição do produto fitossanitário, através da receita

agronômica, o manejo integrado de pragas, a segurança no manuseio e na aplicação dos

produtos fitossanitários e programas de alimentos seguros do Campo à Mesa. O

profissional de Assistência Técnica e Extensão Rural alem de orientar o homem do

campo na aplicação com qualidade dos defensivos agrícolas, respeitando princípios de

segurança, higiene, saúde e proteção do meio ambiente, soluciona também os problemas

fitossanitários de nossas culturas. Os procedimentos preceituados pela produção

integrada têm como base o rol de exigência dos mercados importadores, principalmente

1 Engº Agrº, D.S. e Consultor da ANDEF – mzuppi.cursos @gmail.com

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da comunidade Européia. A segurança dos alimentos é uma das prioridades máximas na

Europa. A regulamentação da União Européia neste domínio, já por si exigente, tem

sido reforçada desde o ano 2000, a fim de garantir o máximo grau de segurança possível

na alimentação dos europeus. Ao definir a sua política no domínio da segurança dos

alimentos e ao estabelecer os níveis de riscos aceitáveis, a Comunidade Européia

baseia-se em pareceres científicos sólidos e nos mais recentes desenvolvimentos sólidos

e nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos. Para esse efeito, a Comissão

Européia consulta o Comitê Permanente da Cadeia Alimentar, no qual estão

representados todos os paises do grupo.

A segurança do alimento é também extremamente importante para o nosso

mercado interno. O Brasil é um dos países mais populosos do mundo, cuja população é

a cada dia é mais exigente, de fato um direito de ter alimentação abundante e saudável.

Hoje, a sustentabilidade da produção agrícola e a adequação ambiental são

rotineiras. É importante destacarmos que os produtos fitossanitários modernos têm

maior eficiência agronômica, alem de aplicados em menores doses de ingrediente ativo

por área, com menores toxicidades e impacto ambiental.

A rastreabilidade dos alimentos é assegurada desde a exploração agrícola até a

mesa do consumidor.

Desde o alvorecer da agricultura a produtividade das plantas cultivadas tem sido

reduzida por pragas, doenças e pela competição com as plantas daninhas e, desde então,

os agricultores vêm buscando meios de limitar essas perdas e obter culturas mais sadias,

ou seja, meios de proteger a produção agrícola.

A terra destinada à agricultura não pode mais ser aumentada à vontade. A

destruição das florestas tropicais, ainda existentes neste Planeta, seria o mesmo que

proclamar a sentença de morte de nossa atmosfera. Cada metro quadrado de floresta é

uma parte do chamado “pulmão verde” e importante reserva de água. Eliminar as

florestas por queimadas, também intensifica o efeito estufa, que poderia acabar sendo

um desastre para o clima, acrescendo-se que o dióxido de carbono então liberado

contribui para o aumento da temperatura da atmosfera.

De modo geral, quanto mais intensivo for o sistema de produção maiores serão

os riscos de perdas dessa mesma produção pela ação de diversos organismos.

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A intensificação e a otimização dos métodos de cultivo têm resultado em

aumentos significativos na produção e na produtividade das lavouras e a defesa vegetal

tem se constituído num dos importantes fatores, contribuindo para esses resultados.

O grande esforço feito no sentido da adoção de novas tecnologias no campo foi,

sem dúvida, iniciado nos países desenvolvidos onde era vital a racionalização da

produção face ao contínuo êxodo rural. Isto explica os grandes avanços alcançados

pelos países Europeus, Estados Unidos, Canadá e Japão.

Nos países em desenvolvimento – e o Brasil é um exemplo – os avanços

tecnológicos como máquinas, cultivares com alta produtividade, o uso adequado de

fertilizantes e o emprego correto de produtos fitossanitários para proteção das lavouras,

foram absorvidos mais lentamente, concentrando-se o esforço nas culturas de

exportação, face às políticas de financiamento agrícola adotadas pelos diferentes países.

Tem-se portanto que reconhecer que, nos países em desenvolvimento, os avanços

tecnológicos visando aumentos de produção e produtividade, sofreram atrasos na sua

adoção pelos agricultores.

Implicações de ordem social, além de problemas ecológicos como os

desmatamentos que são particularmente sérios nos países em desenvolvimento, também

devem ser considerados quando o que está em jogo é a produção agrícola.

No que respeita à defesa fitossanitária, grandes mudanças ocorreram nos últimos 30

anos, com ênfase especial nos países industrializados, pois foi nesses países que tiveram

origem importantes inovações nas técnicas de defesa vegetal.

Ao que tudo indica, por muitos anos haverá demanda por produtos

fitossanitários. Isto porque, por mais que se procure tratar os sistemas agrícolas como

ecológicos, eles são por natureza altamente instáveis. O agrossistema é relativamente

frágil, constituído de muitos indivíduos, porém de poucas espécies. Essa

característica o faz muito tênue, suscetível ao desequilíbrio. Desde que existem, homem

e inseto lutam pelo mesmo alimento. Trezentos milhões de anos antes do homem,

insetos já habitavam a Terra. São mais antigos e experientes que o homem. Quando

deixou de ser nômade e fixou-se em determinados lugares da Terra, o ser humano

passou também a interferir nos Ecossistemas, modificando-os, quebrando seus

equilíbrios. A busca pelo alimento tem sido a primeira prioridade do homem. Na

verdade, temos comido o alimento que nos sobra do ataque das pragas, das doenças e da

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competição com plantas daninhas. Desde o momento em que o homem começou a

utilizar os produtos fitossanitários como arma para rebater os ataques às suas culturas,

seja aplicando os inorgânicos (como cobre e enxofre) ou os produtos de origem vegetal

(como a nicotina e piretro), tivemos vários estágios de controle em culturas de

importância econômica. Todavia, dois períodos marcaram duramente a história dos

produtos: A Fase da Crise e a Fase do Desastre.

O progresso tecnológico nos conduziu à fase que hoje vivemos, a do Controle

Integrado, a mais importante de todas, pois configura uma garantia de que estamos no

caminho certo para evitar que erros cometidos no passado voltem a se repetir.

Com a Lei nº 7.802/89 e seu decreto regulamentador, nº 98.816/90, tornaram-se

extremamente rígidos no Brasil os controles dos produtos fitossanitários, desde a sua

pesquisa, registro e produção até a aplicação no campo. Queremos ainda nos referir à

Lei nº 9.605/95 que trata de Crimes Ambientais, e à Lei nº 9.974/2000 e ao Decreto nº

3550 de 27/07/2000 que alteraram a Lei nº 7.802/89 e seu decreto regulamentador . Em

31 de maio de 2001 foi editado o Decreto nº3.828, passando para até 31 de maio de

2002, o prazo(um ano) para as empresas estruturarem-se adequadamente para as

operações de recebimento, recolhimento e destinação de embalagens vazias e produtos

de que trata o Decreto nº 98.916 de 11/01/90, este último substituído pelo Decreto 4074

de 04/01/02 . Nesta etapa, particularmente, as especificidades técnicas de manuseio e

utilização exigem a presença de assistência agronômica tanto mais assídua quanto

menor o nível de qualificação da mão de obra rural.

Várias entidades, entre elas a Associação Nacional de Defesa Vegetal, vêm

decididamente trabalhando para que erros da história dos defensivos agrícolas não mais

se repitam. No Brasil, o profissional de ciências Agrárias configura o elo entre esse

anseio e a realidade do campo. Os nossos objetivos têm sido comuns: o uso correto e

seguro dos produtos fitossanitários e o aumento da produção brasileira de alimentos.

É grande a contribuição da Defesa Vegetal. Se não vejamos: o agricultor norte-

americano gastava em 1915, em média, 132 horas de trabalho, para obter uma

produtividade de seis toneladas de alimento por hectare cultivado. Em 1950, o tempo

necessário para atingir as mesmas 6 toneladas caiu para a média de 53 horas e, em 1985,

com apenas 3 horas, ele obtinha o mesmo resultado. Esta progressão deveu-se,

particularmente, à introdução de novas tecnologias agrícolas, utilizadas em forma

integrada.

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Na história sobre o uso do manejo fitossanitário integrado, o ano de 1950

assumiu uma característica de divisor de águas para a agricultura mundial, pois a partir

daquela época passou-se a explorar a idéia de integração do controle químico com o

biológico, com o objetivo de se resolver o conflito entre o uso de inseticidas e ação dos

inimigos naturais. Estava, portanto, plantada a semente da seleção de métodos de

controle e do desenvolvimento de critérios para o emprego do Manejo Integrado de

Pragas (MIP), garantindo conseqüências favoráveis sob os pontos de vista econômico,

ecológico e sociológico. Uma conceituação que desabrochou, definitivamente, em 1961,

quando os ecologistas australianos Diana e Clark escreveram um artigo em que

defendiam uma tecnologia visando fazer o manejo protetor contra espécies benéficas

(predadores, parasitas, polinizadores).

No Brasil, entomologistas pioneiros, como Prof. Costa Lima (Escola Nacional

de Agronomia – Rio de Janeiro) já eram precursores da idéia de controle integrado pois,

quando fez o estudo dos problemas do algodoeiro no Nordeste do país (1950), propôs

uma série de medidas que se enquadram hoje, perfeitamente no conceito de integração.

A classe Agronômica tem apoiado o Método Integrado de Cultivo, onde se

levam em conta todos os fatores que podem proporcionar à planta a capacidade máxima

de produção, permitindo que ela aproveite eficazmente o seu potencial produtivo. O

controle químico é, então, apenas uma das medidas da Agricultura Integrada.

A prática do Manejo Integrado, em defesa fitossanitária, permite que sejam

aplicados produtos e métodos de acordo com as necessidades sentidas por produtores e

consumidores de alimentos.

Em termos mundiais, mais de 500 espécies de insetos e outros artrópodes já

demonstram resistência a uma classe de inseticidas. No Brasil, pode-se citar como

exemplo o caso do ácaro da leprose do citros, Brevipalpus phoenicis e os sérios

prejuízos causados nas principais regiões produtoras.

O desenvolvimento da resistência é simplesmente uma conseqüência da seleção

natural. Um agente de controle (um inseticida ou acaricida) evita a reprodução de

determinados insetos e ácaros sensíveis. Um pequeno percentual da população pode

portar genes resistentes que permitem que uma determinada praga sobreviva, já

existente na população da praga ou pode surgir através de mutação. Como os produtos

para proteção de culturas continuam a eliminar os indivíduos suscetíveis, o equilíbrio da

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população se altera. Os resistentes continuam se multiplicar até que por fim se tornam

predominantes.

É importante registrarmos o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo IRAC-

BR (Comitê Brasileiro de Ação a Resistência de Inseticidas), como os outros Comitês

afins nas áreas de Fungicidas e Herbicidas, isto é FRAC e HRAC.

A Defesa Fitossanitária é uma prática que objetiva salvaguardar a produção

agrícola dos danos provocados por pragas, doenças e plantas daninhas.

Tradicionalmente, estes problemas são enfrentados com o emprego de Produtos

Fitossanitários. Esta luta não é fácil, principalmente quando se levam em conta os

efeitos não desejados que podem advir do uso inadequado dos produtos fitossanitários,

em especial, o uso equivocado dos agroquímicos, baseando-se em calendários de

aplicações, independentemente de sua necessidade. Como resultado, tem-se a realização

de tratamentos que resultam levar ao meio ambiente quantidades desnecessárias desses

produtos.

A prática de intervir com o produtos fitossanitários em períodos programados,

mesmo quando as popula-ções de pragas não estão provocando “danos econômicos”, é

uma das causas que podem fazer parte desses efeitos não desejados e de outros

inconvenientes que afetam o agricultor, tais como:

Desenvolvimento de resistência pelos agentes a serem controlados

Aparecimento de novas Pragas, devido à eliminação maciça dos

Inimigos Naturais

O uso dirigido e adequado do Produto Fitossanitário é um método que

compreende sua utilização quando os agentes daninhos chegam a uma população que

realmente irá provocar prejuízo econômico à cultura estabelecida. Para isso, deve-se ter

como base para sua prescrição e utilização alguns quesitos como:

Conhecimento da Praga, Doença ou Planta Daninha

Eficiência dos Produtos Fitossanitários

Conhecimento dos Inimigos Naturais

Condições Climatológicas

Métodos de Amostragens

Conhecimento dos Níveis de Danos Econômicos

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O Manejo Integrado, sem dúvida, é o melhor caminho para o uso correto e

seguro dos produtos fitossanitários. Esta prática também oferece a possibilidade de

deixar que Predadores / Parasitas / Polinizadores desenvolvam seu papel útil à

agricultura. Paralelamente, existe a vantagem de reduzir a dimensão da resistência das

pragas aos diferentes produtos.

As exigências da moderna agricultura brasileira crescem à medida que se impõe

a necessidade de garantia dos níveis de produção e produtividade, adequados ao pleno

abastecimento do mercado interno e geração de excedentes exportáveis que possam

contribuir, de forma definitiva, para o superavit da balança comercial do País.

Os insumos agrícolas, quando utilizados sob a supervisão de profissionais

legalmente habilitados, geram resultados positivos para todos os envolvidos no

processo. O Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas, que consiste na

implementação de métodos de controle que utilizem, harmonicamente, os processos

químicos, físicos, biológicos e os métodos culturais, de forma planejada, resulta em

benefício da produtividade, proteção ambiental, segurança do consumidor e das pessoas

envolvidas na atividade agrícola.

A produção agrícola é norteada por 3 (três) tipos de fatores de produção (de

acordo com Rabbringe e De Wit, 1989):

fatores determinantes da produtividade

fatores limitantes da produtividade

fatores que reduzem a produtividade

Os fatores determinantes da produtividade tais como a capacidade genética da

planta, o solo e a luz solar, estabelecem o nível potencial da produção. Muitas vezes, o

potencial não pode ser concretizado, devido aos fatores limitantes, como falta de água,

nitrogênio ou fósforo, acidez do solo, entre outros. A produtividade efetiva (de acordo

com Zadoks e Schein, 1979 ) não pode ser colhida devido aos fatores redutores de

rendimento. A Proteção das Plantas trata dos fatores que reduzem a produtividade, com

devida consideração dos fatores limitantes.

As pragas, as doenças dos vegetais e as plantas daninhas estão entre os

principais fatores que reduzem a produção de alimentos e outros bens indispensáveis à

sobrevivência e bem-estar das populações. A tecnologia tem propiciado ao homem,

meios cada vez mais eficazes para superar tais problemas. Entre esses meios destaca-se

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o emprego dos Defensivos Agrícolas, produtos fitossanitários capazes de eliminar ou

reduzir as infestações e os conseqüêntes prejuízos trazidos pelas pragas, doenças e

plantas daninhas. Esta é uma luta contínua em que se empenham especialistas de todo o

mundo, nas instituições governamentais, nas entidades internacionais, nas universidades

e nas empresas particulares. Evitar as perdas na agricultura tem sido o nosso grande

objetivo. Nós, os Engenheiros Agrônomos, assim como profissionais de outras áreas

afins de ciências agrárias, nos preocupamos muito com as perdas na agricultura,

incluindo a área fitossanitária. De acordo com a FAO, 35% são as perdas nessa área:

14% pelos insetos, 12% devido às doenças e 9% através das plantas daninhas. A

situação é mais preocupante quando se comparam as perdas entre países em

desenvolvimento, como o Brasil, com os países desenvolvidos.

PAÍSES EM

DESENVOLVIMENTO

PAÍSES

DESENVOLVIDOS

PRAGAS 38% 9%

DOENÇAS 27% 14%

Fonte: GIFAP – International Group of National Associations of Agrochemical

Manufacturers (atualmente GCPF – Global Crop Protection Association).

O controle das pragas, doenças e plantas daninhas através dos produtos

fitossanitários, apesar de ser rápido, econômico e eficiente, deve ser utilizado de modo

vantajoso associado a outros métodos de controle.

Desde que o homem começou a usufruir dos Produtos Fitossanitários, como arma

para combater os insetos, aplicando os Inorgânicos (como os Arseniatos) ou os de

Origem Vegetal (como Nicotina, Rotenona e Piretro), tivemos várias Fases no controle

fitossanitário.

1ª Fase: “Fase da Subsistência”

O rendimento de controle era baixo, muito dependente do Controle Natural, da

Resistência Natural e de Prática Culturais. Raros eram os tratamentos com Produtos

Fitossanitários. O homem contava acima de tudo, com a sorte.

2ª Fase: “Fase da Exploração”

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Houve expansão do cultivo e a confiança em esquemas de Controle Químico. Os

Produtos Fitossanitários eram aplicados de acordo com um calendário prévio. Os

índices de produtividade cresceram e, por conseguinte, houve o abandono de métodos

alternativos.

3ª Fase: “Fase da Crise”

A aplicação no esquema de calendário, com épocas pré estabelecidas, levava, muitas

vezes, o agricultor a executar os tratamentos fitossanitários desnecessáriamente, quando

a incidência das pragas era ainda muito baixa, ou até mesmo inexistente. Isto contribuía

para uma redução drástica dos inimigos naturais, cujas populações não conseguiam

mais atingir os níveis adequados para um controle natural das pragas que, por sua vez,

ressurgiam em surtos mais severos. O uso intensivo de um mesmo produto contribuía,

além disso, para o desenvolvimento de resistência, tornando o problema ainda mais

sério.

4ª Fase: “Fase do Desastre”

Havia um maior custo do controle fitossanitário, o abandono das culturas por

produtores marginais e a impossibilidade do cultivo econômico em certas áreas.

5ª Fase: “Fase do Manejo Integrado”

Hoje, temos que conduzir a Agricultura com conhecimento técnico, criatividade e

inteligência, levando em consideração todos os fatores que podem proporcionar à planta

a sua capacidade máxima de produção, permitindo que ela aproveite eficazmente o seu

potencial produtivo. Isso só se consegue através do Sistema Integrado de Manejo na

Produção Agrícola. Na área de Proteção de Plantas, o objetivo é atingir os níveis mais

elevados possíveis no controle, dentro de uma visão sistemática e integrada da produção

agrícola sustentável.

Há muitos séculos, homem e insetos lutam pelo mesmo alimento. Das 10 pragas do

Egito, segundo a Bíblia, 3 ( três ) eram insetos. Desde que existe, o homem vê nascer do

mesmo solo que o alimenta os insetos contra os quais ele luta. Na verdade, comemos os

restos que os insetos deixam.

Os insetos também transmitem doenças como a Peste Bubônica, Malária, Encefalite,

Peste Negra e Cólera. Atualmente, estamos enfrentando o impacto da ação dos

mosquitos “Aedes aegypty” e “Aedes albopictus”, que transmitem uma doença

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infecciosa: a Dengue. O “Aedes aegypty” pode transmitir ao homem a Febre Amarela e

a Dengue Hemorrágica, ambas com alto índice de mortalidade.

É valido lembrar que a descoberta, em 1939, do efeito inseticida do DDT

(primeiro inseticida orgânico sintético) deu ao seu descobridor, Paul Müller, o Prêmio

Nobel. Mais de 2 milhões de pessoas foram salvas, na época, graças às aplicações do

DDT no controle de epidemias transmitidas por insetos. Robert Metcalf, da

Universidade de Illinois, em 1980, chamou aquela década de Època do Otimismo, tal

era a euforia que reinava pelas aplicações do DDT.

O Prof. Marcos Kogan (brasileiro, professor aposentado pela Oregon State

Universit/USA ), nos relata que, na própria Sociedade de Entomologistas dos Estados

Unidos, comentava-se que o DDT iria resolver todos os problemas ocasionados pelas

pragas. No entanto, o que aconteceu? Aplicações erradas, exageradas e irracionais, onde

verdadeiros territórios foram cobertos por aplicações de inseticidas, vieram trazer

Resistência de Insetos a Determinados Produtos Fitossanitários.

A experiência mostrou ao homem que não se deve combater os insetos, e sim

manejá-los. É necessário preservar Predadores, Parasitas e Polinizadores, deixando que

os mesmos desenvolvam seu papel útil à Agricultura. Em verdade, a ninguém interessa

um excessivo consumo de Defensivos Agrícolas, pois tal excesso acaba provocando o

aparecimento de Pragas Resistentes.

Não interessa ao Agricultor, nem ao Comerciante. Ao Técnico, que hoje deve

prescrever Receituário Agronômico, a indicação de um produto com problemas de

resistência, pode levar à perda da credibilidade junto aos seus consulentes. Para a

Indústria de Produtos Fitossanitários que, pesquisa e lança novos produtos, a

Resistência é assustadora, porque impede que o defensivo tenha um consumo adequado

e prolongado.

O sucesso de uma lavoura depende em grande parte do bom manejo e preparo do

solo, de modo a propiciar as melhores condições para o desenvolvimento da cultura e

garantia de boa produtividade. Um adequado preparo do solo previne a erosão

provocada pela água e pelo vento. Atualmente também os aspectos ecológicos vêm

assumindo papel importante, principalmente nos países industrializados onde os solos

agricultáveis vêm se tornando cada vez mais escassos. Estes conceitos todavia não vêm

merecendo a mesma atenção nos países em desenvolvimento e a cada ano o que se pode

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notar é a degradação de grandes extensões de solo que são abandonados e que devem

ser substituídos às expensas de florestas desmatadas para incorporação de novas áreas

para produção.

O cultivo mínimo e o plantio direto cresceram muito em importância por serem

eficientes quanto à prevenção de erosão e redução de custos, mas somente são viáveis

quando em associação com o emprego de herbicidas.

Semeadeiras de alta precisão permitem hoje ao agricultor quantidade adequada de

sementes para uma densidade de cultura previamente estabelecida. Entretanto, para o

sucesso da operação, torna-se indispensável o tratamento das sementes com fungicidas

/ inseticidas adequados para prevenir o ataque de doenças e pragas que ocorrem durante

a germinação, além do emprego de herbicidas logo no início, de forma a que as plantas

tenham plena condição de desenvolvimento.

A tendência em racionalizar as atividades agrícolas levou os países desenvolvidos a

concentrar a produção agrícola em cultivos que permitiam menor intervalo de tempo

entre as culturas em rotação, além de priorizar culturas de alta rentabilidade. Na Europa,

por exemplo, isto resultou na ampliação do cultivo de cereais em rotação, mas a

conseqüência foi o aumento de incidência de gramíneas invasoras, além de maior

ocorrência de doenças de folhagem em trigo e cevada principalmente.

O uso de herbicidas e fungicidas foi e tem sido a alternativa viável para possibilitar a

continuidade desse modelo que proporciona altos níveis de produtividade.

Nos últimos 30 anos houve também expressivas alterações na condução das técnicas

de cultivo em países em desenvolvimento. A política de incentivos a culturas de

exportação possibilitou, em muitos casos, o emprego de melhor tecnologia e os lucros

obtidos permitiram investir na melhoria da qualidade das sementes e no maior emprego

de fertilizantes e de produtos fitossanitários. Necessário se torna, todavia, nesses países

que já conseguiram incorporar essas tecnologias às culturas de exportação, passá-las

também para as de consumo doméstico, para benefício de toda a sociedade.

Outro fator limitante da produção e da produtividade agrícola é a disponibilidade de

água aos cultivos, tornando-se muitas vezes como fator limitante de produção. A

irrigação nestes casos é essencial mas traz consigo o possível agravamento da

ocorrência de doenças, ampliando as condições que facilitam a manifestação de

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infecções por determinados agentes patôgenicos. A irrigação, por manter a folhagem

molhada por longos períodos, pode contribuir para o aumento da ocorrência de doenças.

É um fato conhecido que as pragas, doenças e plantas invasoras competem com as

culturas econômicas, acarretando quedas na produção. A garantia de altas produções e

produtividades só é obtida com plantas sadias.

Os métodos empregados em defesa fitossanitária vêm apresentando uma evolução

apreciável nas últimas décadas:

o conhecimento e a utilização de métodos de diagnose envolvendo

dinâmica populacional e epidemiologia, em várias culturas, possibilitam

prever a ocorrência de pragas e doenças e como resultado, adotar as

medidas de proteção mais adequadas a cada caso, ou seja, o Manejo

Integrado de Pragas – MIP;

algumas práticas culturais podem ser empregadas para reduzir a incidência

de pragas, doenças e plantas invasoras de importância;

os produtos fitossanitários químicos de hoje são muito mais específicos e

seletivos do que os seus antepassados, e por isto mesmo com menores

chances de provocar efeitos secundários indesejáveis;

por outro lado, os novos produtos de modo geral são empregados em doses

muito mais reduzidas, além de apresentarem perfil toxicológico e

ecotoxicológico mais favoráveis, sob o ponto de vista de segurança para os

aplicadores e o ambiente;

tem havido substanciais avanços na tecnologia de formulação dos

produtos, bem como nas técnicas e equipamentos de aplicação;

nos países de clima temperado houve aumentos significativos no cultivo

intensivo de hortaliças e determinadas frutíferas em casas de vegetação e

estufas, tendo sido desenvolvido métodos específicos de controle

fitossanitário nessas condições, indispensáveis na obtenção de plantas

sadias com alta produtividade; e

métodos biológicos de controle fitossanitário vêm sendo gradativamente

introduzidos e a adoção de Manejo Integrado de Pragas é, neste particular,

o procedimento que melhor atende os parâmetros de aplicar quando

necessário, utilizando o método mais adequado visando a garantia de

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produtividade, mas sem perder de vista fatores tão importantes quanto a

preservação de inimigos naturais e prevenção ao possível desenvolvimento

de resistência das pragas e doenças.

A ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras numa determinada cultura e

região, pode apresentar variações e mesmo aumentar.

A grande maioria desses problemas fitossanitários que afeta uma determinada

cultura, não impacta de modo semelhante em todas as regiões onde a referida cultura é

cultivada. Algumas dessas pragas / doenças / plantas invasoras ocorrem com maior

presença numa região que em outras, ou até mesmo não estão presentes. Em geral, sua

disseminação se dá através do transporte da produção interna dentro dos países e

externamente através das exportações.

São bastante conhecidos os casos de introdução de ferrugem do café no Brasil e

nos países da América Latina; a Sigatoka negra nos bananais da América Latina, bem

como as introduções de Spodoptera exígua, Liriomysa trifolii e Bemisia tabaci atacando

várias culturas na Europa.

As alterações de técnicas de cultivo, principalmente quando se adotam cultivos

intensivos, levam ao aumento da incidência de pragas, doenças e plantas invasoras de

importância. São exemplos o aumento da incidência do míldio e pulgões em cereais na

Europa, Helminthosporium em milho nos Estados Unidos e América Latina, e

cigarrinhas em arroz no sudeste da África.

Assim sendo, é previsível e pode-se mesmo antever e esperar que o aumento da

incidência de pragas e doenças é possível em regiões de monoculturas, como algodão,

cereais, arroz, soja, entre outras cultivadas intensivamente, havendo nestes casos a

necessidade de adoção de métodos de controle fitossanitário adequados.

Produtos inorgânicos como o cobre e o enxofre já estavam em uso há mais de

cem anos, principalmente para controlar doenças. A Calda Bordaleza, por exemplo, já

era usada desde 1885.

O primeiro produto sintético, o dinitro cresol, foi colocado no mercado em 1892

sob a marca Antinonnin. O primeiro fungicida para tratamento de sementes, à base de

mercúrio orgânico, foi descoberto no início do século 20.

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Nos anos 30, foram descobertos os fungicidas ditiocarbamatos e nos anos 40 os

inseticidas organoclorados e organofosforados. Desde então têm havido substanciais

alterações na pesquisa desses compostos. Os investimentos em pesquisa aumentaram

significativamente e novos ingredientes ativos vêm sendo continuamente lançados no

mercado mundial para o controle das principais pragas, doenças e plantas invasoras.

Os novos produtos são submetidos a uma metodologia de avaliação muito mais

crítica sob o ponto de vista toxicológico e nos possíveis impactos que possam provocar

no ambiente. Hoje, cerca de 40% dos investimentos em pesquisa destinam-se às

avaliações toxicológicas e ecotoxicológicas.

Na década de 60, era necessário sintetizar cerca de 4.000 compostos e destes

apenas um conseguia chegar ao mercado, num prazo de avaliação entre 4 e 5 anos. No

início da década de 1990 esta proporção passou de 1 produto comercial para 20.000

sintetizados, para um período de avaliação entre 8-10 anos, significando que as chances

de sucesso diminuíram e o tempo de pesquisa e desenvolvimento ampliou-se de muito.

Para empresas que fazem pesquisa básica, isto significa que o retorno sobre o

capital investido é muito mais demorado do que foi no passado, levando muitas

empresas a rever suas estratégias quanto a permanecer neste setor de atividade. Devido

aos altos custos, tem havido fusões das empresas.

O mercado mundial de produtos fitossanitários varia de região para região e tem

experimentado crescimentos substanciais desde a década de 1960. Não é todavia o

objetivo, a análise desse mercado mas sim a forma como ele se desenvolveu, visando

trazer ao conhecimento dos técnicos o que vem sendo feito pela pesquisa básica, no

sentido de trazer ao mercado produtos que melhor atendam aos anseios da sociedade.

O MIP evoluirá para o Manejo Integrado de Culturas, que como vimos é a

produção econômica de culturas de alta qualidade, com prioridade para métodos de

cultivo ecologicamente seguros, minimizando efeitos secundários indesejáveis e

utilizando produtos fitossanitários que garantam a salvaguarda da saúde humana e a

preservação do ambiente. O Manejo Integrado de Culturas é a base de uma agricultura

sustentável.

Há ainda um longo caminho a percorrer, mas não temos dúvidas de que

iniciativas já praticadas e outras que certamente irão acontecer muito contribuirão

programas de Produção Integrada e da Segurança Alimentar no Brasil.