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São Mateus – ES 2009
2
“65º DEFTARA” DEFESA FITOSSANITÁRIA,
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO E RECEITUÁRIO AGRONÔMICO
Marcelo Barreto da Silva
Rodrigo Sobreira Alexandre
Antônio Drumond Neto
Jorge Gomes Soares
3
Sumário
CAPÍTULO 1
“Minor Crops: importância, classificação e abordagem em espécies frutíferas ........
6
Considerações finais ..................................................................................................... 24
Referências bibliográficas ............................................................................................ 25
CAPÍTULO 2
Controle cultural de doneças de plantas em culturas com menor suporte
fitossanitário ................................................................................................................
27
Introdução .................................................................................................................... 27
Controle cultural ........................................................................................................... 29
Procedimentos utilizados no controle cultural de doenças de plantas ......................... 30
Material propagativo sadio ........................................................................................... 31
Plantio em áreas livres do patógeno ............................................................................. 32
Erradicação do hospedeiro ........................................................................................... 33
Remoção de hospedeiros alternativos em plantas voluntárias ..................................... 35
Barreira física ............................................................................................................... 36
Fumigação do solo ....................................................................................................... 36
Rotação de culturas ...................................................................................................... 37
Higienização ................................................................................................................. 40
Eliminação de restos culturais ...................................................................................... 41
Inundação da área de plantio ........................................................................................ 42
Adubação e calagem .................................................................................................... 43
Ciclo e porte da cultura ................................................................................................ 44
Escolha do local e época de plantio ............................................................................. 44
Adição de matéria orgânica ao solo ............................................................................. 45
Densidade de plantio .................................................................................................... 46
Tipo e manejo do sistema de irrigação ......................................................................... 46
Aumento da supressividade do solo ............................................................................. 47
Considerações finais ..................................................................................................... 48
Referências bibliográficas ............................................................................................ 48
CAPÍTULO 3
Manejo de plantas em mamão ......................................................................................
51
Introdução .................................................................................................................... 51
Época de controle ......................................................................................................... 52
Manejo Integrado ......................................................................................................... 54
Herbicidas .................................................................................................................... 57
Considerações finais ..................................................................................................... 60
Referências bibliográficas ............................................................................................ 61
CAPÍTULO 4
Manejo de plantas daninhas na cultura do maracujazeiro .........................................
65
Introdução .................................................................................................................... 65
Manejo de plantas daninhas ......................................................................................... 66
Período crítico de interferência .................................................................................... 68
Método de controle de plantas daninhas ...................................................................... 71
Considerações finais ..................................................................................................... 79
4
Referências bibliográficas ............................................................................................ 81
CAPÍTULO 5
Dinâmica de herbicidas no solo ...................................................................................
85
Introdução .................................................................................................................... 85
Potencial de sorção de herbicidas e sua dinâmica no ambiente ................................... 86
Características do solo e atividade de herbicidas ......................................................... 89
Matéria orgânica e pH .................................................................................................. 89
Textura e mineralogia .................................................................................................. 91
Características dos herbicidas e comportamento no solo ............................................. 92
Coeficiente de partição octanol-água e solubilidade .................................................... 93
Potencial de dissociação eletrolítica ............................................................................. 93
Pressão de vapor e a constante da Lei de Henry .......................................................... 96
Persistência e lixiviação de herbicidas ......................................................................... 96
Práticas de manejo e dinâmica de herbicidas no solo .................................................. 98
Referências bibliográficas ............................................................................................ 103
CAPÍTULO 6
Resíduo de agrotóxicos e comercialização ..................................................................
108
O potencial do agronegócio ......................................................................................... 108
O resíduo de agrotóxico como barreira à comercialização .......................................... 110
Referências bibliográficas ............................................................................................ 119
CAPÍTULO 7
Produção integrada e segurança alimentar ................................................................
122
5
Agradecimentos
Este trabalho não seria concluído sem a colaboração imprescindível
dos órgãos de fomento a pesquisa do Brasil, como o CNPq, e os
patrocinadores CREA-ES, ANDEF, RIT DA, Prefeitura Municipal de São
Mateus e INCAPER. Agradecemos também aos professores,
pesquisadores e demais profissionais que de alguma forma contribuíram
para a realização desta obra.
6
Apresentação
Esta obra busca visa atualizar profissionais da área de Ciências
Agrárias, através de conhecimentos técnicos inerentes à defesa
fitossanitária, tecnologia de aplicação, receituário agronômico, uso de
agrotóxicos e o manejo de pragas em “minor crops” de interesse regional
dentro de uma visão sistêmica e integrada da produção agrícola sustentável.
Autores
7
CAPÍTULO 1
“Minor Crops”: importância, classificação e abordagem
em espécies frutíferas
Rodrigo Sobreira Alexandre1
Marcelo Barreto da Silva2
Antônio Drumond Neto3
Jorge Gomes Soares4
Também denominado de pequenas culturas, ou seja, culturas com suporte
fitossanitário insuficiente, as “minor crops” são culturas para as quais falta ou há
número reduzido de agrotóxicos e afins registrados (ex.: cebolinha, coentro, acerola,
anonáceas, caju, coco, maracujá, jabuticaba, kin-kan, umbu, etc.) o que acarreta impacto
sócio-econômico negativo, em função do não atendimento das demandas fitossanitárias.
O que se tem discutivo ultimamente são os critérios e procedimentos a serem adotados
para o estabelecimento de limites máximos de resíduos (LMR) de agrotóxicos para
essas culturas.
Segundo o Diário Oficial da União de 27 de junho de 2008, a Portaria Nº 94, de
24 de junho de 2008, submete à consulta pública pelo prazo de 30 (trinta) dias, a contar
da data da publicação desta portaria, o Projeto de Instrução Normativa, com seus
respectivos Anexos, que estabelece os critérios e procedimentos a serem adotados para
extrapolação de LMR para as culturas com suporte fitossanitário insuficiente e para a
inclusão destas culturas na monografia dos ingredientes ativos registrados para uso
agrícola (MINOR CROPS, CONSULTA PÚBLICA-DOU, 2008).
Por outro lado, apenas as grandes culturas denominadas “representativas” são
consideradas no estabelecimento dos LMR‟s. Essas culturas são ditas representativas
devido a sua importância econômica, área de cultivo, consumo humano e
disponibilidade de agrotóxicos registrados (MINOR CROPS, CONSULTA PÚBLICA-
DOU, 2008). Como exemplo, dentre as representativas podemos citar a soja (primeira
1 Engº Agrº, D.S. e Professor da CEUNES/UFES – [email protected]
2 Engº Agrº, D.S. e Professor da CEUNES/UFES – [email protected]
3 Engº Agrº, Bolsista do CNPq – [email protected]
4 Grudaundo em Agronomia do CEUNES/UFES
8
do total de agrotóxicos utilizados), algodão (segunda), milho e cana-de-açucar
(terceira), trigo, café e citrus (quarta), arroz (sexta), tomate, mamão, etc. Segundo o
Forum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECD) realizada em
Curitiba no ano de 2008, ao analisarem o Decreto nº 4.074/02 concluíram que os
fabricantes não investem em estudos de agrotóxicos para certas culturas por serem
altamente custosos, culturas de pouca expressão e com retorno financeiro menor
(FNECD, 2008).
A preocupação com as “minor crops” é a dificuldade do registro de produtos
(fungicidas, bactericidas, inseticidas, acaricidas, herbicidas, nematicidas e
fitorreguladores) principalmente pela pouca expressividade econômica de espécies
pertencentes a esse grupo. Em função disso o que se verifica é o uso indiscriminado de
produtos não registrados o que reflete em incertezas sobre vários aspectos como período
de carência, grau de toxicidade, contaminação humana e ambiental. Segundo Reis et al.
(2008) com a extensão de uso aprovada, todos os fungicidas e inseticidas listados e
registrados para o melão e pepino, por exemplo, também poderão ser utilizados na
cultura do chuchu, considerada uma “minor crops”.
Outra grande preocupação é com as espécies olerícolas e codimentares, onde se
encontram um grande número de “minor crops”, ou seja, culturas em que o alvo de
aplicação dos agrotóxicos é a parte aérea, e nessa se inclui folhas, inflorescências e
frutos que são partes vegetativas e reprodutivas, respectivamente, prontamente
comestíveis (ex.: couve, couve-flor, cebolinha, coentro, etc.). Um fato preocupante é o
que foi registrado nas culturas de cebola e cebolinha, em que um produto químico
aplicado em cebola é o mesmos utilizado em cebolinha, o problema é que nas duas
culturas o produto é direcionado para a parte aérea que é a parte comestível da
cebolinha, diferentemente da cebola que é o bulbo (FNECD, 2008). Os agrotóxicos
registrados para o tomate, por exemplo, estão sendo utilizados para combater ervas
daninhas e pragas da berinjela (NOTAPAJOS, 2009). O intervalo de aplicação ou prazo
de carência e o LMR, de um mesmo ingrediente varia com a cultura, não devendo ser
extrapolado para outra, frente as particularidades de cada uma, tais como: tipo de
consumo (in natura ou processado), quantidade ingerida, frequência e disponibilidade
(FNECD, 2008).
9
Nos EUA em 1963 foi criado um programa denominado de Irregional Research
Project No. 4 (IR-4 Project) no qual fazem parte o State Agricultural Experiment
Stations (SAES), Unitet States Departament of Agriculture (USDA), Cooperative State
Research Education and Extension Service (CSREES) e Agricultural Research Service
(ARS), além das Universidades como parceiros, cuja missão é garantir soluções de
manejo de pragas para produtores de frutas, hortaliças e outras “minor crops” e, com
esse projeto alcançaram aumento de registros e melhor uso de agrotóxicos (ANVISA,
2008).
Neste mesmo propósito o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) vem trabalhando, só que no Brasil o sistema de inter-relação é entre três
órgãos oficiais (MAPA, Ibama e Anvisa) para o registro de agrotóxicos, onde foi criado
em 2004, o chamado Grupo de Trabalho para os “Minor Crops”. O objetivo deste grupo
é normatizar e viabilizar o registro de agrotóxicos para culturas com pouco ou nenhum
produto registrado. O Brasil através do MAPA irá financiar os testes de eficiência
agronômica e os testes de resíduo e como o sistema Americano apoiarão as instituições
(ex.: Universidades) financiando os testes (ANVISA, 2008).
Encontra-se nas tabelas abaixo alguns “minor crops” do grupo das frutíferas,
com agroquímicos a serem registrados (IBRAF, 2009):
ABACATE – Produtos Registrados = 27 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Decis Deltametrina Bayer -
FUNGICIDAS
Sportak Procloraz Bayer -
FITORREGULADORES
Cultar Paclobutrazol Syngenta -
UVA – Produtos Registrados = 129 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
10
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Xentari Bacilus Thurigiensis var.
Kurstaki
Sumitomo Traça dos cachos
Diversos Imidacloprid Diversas Pulgão e mosca branca
Rumo gda/Avante Indoxacarb Du Pont Broca dos ramos
Mesurol 500 SC Methiocarb Bayer Tripes
Sanmite Piridabem Basf Ácaro branco, rajado e
mosca branca
Tracer Spinosad Dow Agro Traça dos cachos,
noctuídeos e tripes
Nomolt Teflubenzuron Basf Traça dos cachos,
noctuideos
Calypso Tiaclopride Bayer Pulgão e tripes
Karate Lambdacyhalotrin Syntenta Tripes
FUNGICIDAS
Forum Dimetomorph Basf Mildio
AMEIXA – Produtos Registrados = 14 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Intrepid/Valient Methoxyfenozide Dow/Bayer Grafolita
Match-CE Lefunoron Syngenta Grafolita
Tracen 240 SC Spinosad Dow Grafolita/tripes
Trebon 100 SC Ethofenprox Siplam Grafolita/mosca
Imidam Phosmet Sailam Grafolita/mosca
Proclaim Abamectina Syngenta Grafolita
Provado Imidacloprid Bayer Mosca/tripes
Rimon Novaluron Milema Grafolita
Mospilan Acetamirprid Ilhara Cigarrinha/tripes
Actar 250 WG Thiamethoxam Syngenta Tripes
11
Actara Plus Thiamethoxam/Cipemetrina Syngenta Pulgões/mosca
FUNGICIDAS
Diversos Clorothalonil Diversas Podridão parda
Priori xtra Azoxistrobina/Ciproconazol Syngenta Ferrugem
Cabrio Top Pyraclostrobin+Metiram Basf Antracnose
Stratego Propiconazol+Trifloxistrobina Bayer Podridão parda
Unix 750 WG Ciprodinil Syngenta Ferrugem
Comet Pyraclostrobin Basf Antracnose
MAÇA – Produtos Registrados = 165 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Actaraplus Cipermrtrina + Tiametaxan Syngenta Pulgões e mosca da
fruta
Dipel Bacillus thurigiensis Sumitomo Lagartas
Mospilan Acetamiprido Iharabras Mosca da fruta
Match Lufenurom Syngenta Lagartas
Proclain Emamectina Syngenta Lagartas
Tracer Espinosade Dow Mosca das frutas e
lagartas
Trebon Etofenproxi Sipcam Mosca das frutas e
lagartas
Tiger Piriproxifem Sumitomo Lagartas
HERBICIDAS
Select Cletodim Hokko Folha estreita
OUTROS
ANA Ácido naftaleno acético Wiser Raleio químico e
queda de fruta
Etrel Etefon Bayer Antecipação de
maturação e aumento
de coloração-raleio
12
Dropp Tridiazuron Wiser Pegamento de frutos
Buzan 30 Benzotiazol La Buckr Quebra de dormência
BANANA – Produtos registrados = 92 total
Produtos a registrar
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Imidacloprid Diversas Tripes:
Chaetanaphothrips
spp., Caliothrips spp.,
Pollencothrips spp.,
Tryphactithrips spp.,
Frankliniella spp.
Mospilan Acetamiprid Ihara
Connect Imidacloprid+Betaciflutrina Bayer Ácaro, tripes, broca do
rizoma
Diversos Enxofre Diversas Ácaros
Vertimec Abamectina Syngenta/Du
Pont
Ácaros
Diversos Clorpirifós Diversas Ácaros e broca do
rizoma
Sumithion Fenitrothion Sumitomo Gafanhoto
Decis Deltrametrin Bayer Gafanhoto
Turbo Beta-ciflutrina Bayer Lagartas
Match Lufenuron Syngenta Lagartas
Dipel Bacillus Thurigiensis var.
Kursitaki
Sumitomo Lagartas
Dimilin Diflubenzuron Chemtura Ind.
Química
Lagartas
Certero Triflumuro Bayer Lagartas
FUNGICIDAS
Diversos Carbendazin Diversas Sigatoka, Cloridium,
cordana, Cladosporium
MANGA – Produtos registrados = 47 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
13
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Dipel Bacillus thurigiensis var.
Kurstaki
Sumitomo Lagartas
Xantari Bacillus thurigiensis var.
Kurstaki
Sumitomo Lagartas
Trigard 750 PM Cyromazine Syngenta Mosquinha
Diversos Imidacloprid Diversas Pulgões
Tracer Spinosad Dow Tripes, mosquinha,
mosca das frutas
Calypso Thiaclopride Bayer Pulgão e Tripes
Mesorul Methiocarb Bayer Tripes
Actara 250 WG Tiometoxam Syngenta Cochonilha, cigarrinha,
mosca branca, pulgões
Mospilan Acetamiprid Ihara Cochonilha branca
Diversos Acephate Diversas Cochonilha branca
Focus Clothiadinin Hokko Cochonilha branca
FUNGICIDAS
Folpan Agricur 500 Folpet Agricur Oídio, antracnose e
Bothyodiplodia
Aliette Fosetyl-AL Bayer Míldio
Diversos Clorotalonil Diversas Antracnose
Midas Br Famoxadone+Mancozeb Du Pont Antracnose
Kocide wdg Hidróxido de cobre Du Pont Bacteriose
ACARICIDAS
Ortus/Kendo Fenpyroximate Hokko/Bayer Ácaros
OUTROS
Ethrel Ethefhon Bayer Maturação de ramos
MAMÃO – Produtos registrados = 43 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
14
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Óleo mineral Hidrocarburetos alifáticos Diversas Cochonilhas
Óleo vegetal Éteres de ácidos graxos Diversas Cochonilhas
Diversos Bacillus thurigiensis Diversas Lagartas
Diversos Carbaryl Diversas Lagartas e cigarrinhas
verdes
Diversos Methomyl Diversas Lagartas
Mospilan Acetomiprid Ihara Mosca branca
Diversos Imidacloprid Diversas Cigarrinha e
cochonilhas
Diversos Methidathion Diversas Cochonilhas
ACARICIDAS
Savex PM Hexithiazox Du Pont Ácaro rajado
Calicur Azocyclotin Bayer Ácaro rajado
Diversos Óxido de fembutatina Diversas Ácaro branco e ácaro
rajado
HERBICIDAS
Diversos Glyphosate Diversas Folhas estreitas e
lagartas
Finale Glufosinato de amônio Bayer Folhas estreitas e
largas
FUNGICIDAS
Aliette Fosetyl-AL Bayer Podridão,
Phytophthora,
antracnose,
Asperisporuim coricoe,
Colletotricum sp., pinta
preta, oídio, caricae,
mancha de phoma e
Corynospora.
Diversos Clorotalonil Diversas
Cerconil PM
Tiopamato metil
Ihara
Clorotalonil
15
Diversos Carbendazin Diversas
Domark 100 CE Tetraconazole Sipcam
Diversos Propiconazole Diversas
Diversos Captan Diversas
Cuprozeb Oxicloreto de
cobre+Mancozeb
Sipcam Mancha de
Corynospora
Positron Duo Iprovalicarb+Propineb Bayer Podridão/Phytophthora
palmivora
Ridomil Gol MZ Metalaxil M+Mancozeb Bayer Podridão/Phytophthora
palmivora
Stroby SC Strobirulina Basf Pinta preta,
Asperisporium, caricae
Previcur N Propanocarb Bayer Corynespora
Stratego Propiconazole+Trifloxystrobin Bayer Corynespora
Opera Pyraclostrobin+Epoxiconazole Basf Corynespora
Cabrio Top Pyraclostrobin+Metiran Basf Corynespora
Antracol 700 PM Propineb Bayer Corynespora
Diversos Hidróxido de cobre Diversas Fungos diversos
ABACAXI – Produtos registrados = 42 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Endosulfan Diversas
Não foi informado
Diversos Parathion metil Diversas
Diversos Endosulfan Diversas
Meothrin 300 Fenpropatrina Sumitomo
Temik 150 Aldicarbe Bayer
Diversos Methidathion Diversas
HERBICIDAS
Fusilade 12S Fluazifop-P butílico Syngenta Não foi informado
16
Fusilade 250EW Fluazifop-P butílico Syngenta
FUNGICIDAS
Diversos Oxicloreto de cobre Diversas
Não foi informado Derosal 500 SC Carbendazim Bayer
Derosal Plus Carbendazim+Tiram Bayer
Ridomil Metalaxil+Mancozeb Syngenta
NEMATICIDAS
Diversos Carbofuran Diversas
Não foi informado Nemacur Fanmiphos Bayer
Rhocap Ethoprophos Bayer
FIGO – Produtos registrados – 34 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Match CE Lufenuron Syngenta Broca (Azochis
grispusalis)
Rumo gda Indoxacarbe Du Pont -
Griff
Broca (Azochis
grispusalis)
Trebon 300 CE Etofenproxi Ihara Broca (Azochis
grispusalis)
Focus Clothiadinim Hokko Tripes Heliothrips
FUNGICIDAS
Midas BR Femoxadona+Mancozeb Du Pont -
Griff
Ferrugem, Phakospora
nishidiana
Score Difeconazol Syngenta Ferrugem, Phakospora
nishidiana
Manage Imibenconazole Hokko Antracnose
Colletotricum sp.
Sialex Procimidone Hokko Botrytis cinera
HERBICIDAS
Diversos Glyphosate Diversas Folhas estreitas e
17
largas
OUTROS
Ethephon Ethrel Bayer Fitorregulador
COCO – Produtos registrados = 18 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Dimetoato Diversas Cochonilha
transparente
Diversos Carbaryl Diversas Lagartas raspadoras,
broca do bulbo e broca
da coroa foliar
Diversos Clorpyrifos Diversas Broca da estipe, traças
e gorgulhos
Diversos Cypermethrim Diversas Broca de estipe e
pulgão
Diversos Deltametrhrim Diversas Lagarta das folhas
Diversos Monocrotophos Diversas Broca da estipe
Diversos Parathion metil Diversas Broca da estipe
Diversos Monocrotophos Diversas Cigarrinha, percevejo e
broca da coroa
Óleo mineral Hidrocarburetos alifáticos Diversas Cochonilha
transparente e pulgões
Óleo vegetal Ésteres de ácidos graxos Diversas Cochonilha
transparente e pulgões
ACARICIDAS
Temik Aldicarb Bayer Cochonilha
transparente
Calicur Azocyclodin Bayer Ácaro da mancha
anelar
Diversos Bifenthrin Diversas Ácaro da mancha
anelar
Diversos Clhorfenapyer Diversas Ácaro da mancha
18
anelar
Diversos Cyhexatin Diversas Ácaro da mancha
anelar
Polo Diafentiuron Syngenta Ácaro da mancha
anelar
Diversos Enxofre Diversas Ácaro da necrose
Diversos Fentropatrim Diversas Traça das flores e
ácaro da mancha anelar
Savery Hexithiazox Du Pont Ácaro da necrose
Sunmite Pyridaben Basf Ácaro da mancha
anelar
Tedion Tetradifon Hokko Ácaro da necrose
HERBICIDAS
Diversos Glyphosate Diversas Gramíneas
GOIABA – Produtos registrados = 31 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Imidacloprid Diversas
Psilidea, Triozoida
spp., cochonilhas,
Pseudococus spp. e
Ceroprastis spp.
Diversos Methidathion Diversas
Diversos Acephate Diversas
Actara Thiametoxican Syngenta
Mospilan Acetomiprid Ihara
Focus Clotiadinin Hokko
Diversos Bacillus thurigiensis Diversas Lagartas
FUNGICIDAS
Cerconil PM Thiofanato metil+Clorotalonil Ihara Antracnose,
Colletotricum
gloesporiodes
Diversos Tiofanato metílico Diversas Verrugose
Midas BR Famexadona+Mancozeb Du Pont – Elisione pitangae
19
Griff
HERBICIDAS
Diversos Glyphosate Diversas Diversas plantas
invasoras
CAQUI – Produtos registrados = 10 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Imiedaclopriol Diversas
Hellithrips
haemorroidalis e
tripes: Selendthrips
rubrocinctus
Mospilan Acetamiprid Ihara
Focus Clotiadinin Hokko
Diversos Acephate Diversas
Alsystin 480 sc Triflumuron Bayer
Lagarta dos frutos:
Hypocala andremona Antrabon 50 Chlorfluazuron Hokko
Diversos Bacillus thurigiensis Diversas
Aplaude Buprofezin Hokko Cochonilha
pulverulenta
Mospilan Acetamirprid Hokko Pseudococus cmstocxi
FUNGICIDAS
Diversos Tiofamato metil Diversas Mancha angular
Manage Inibenconazole Hokko Cercospora kaki e
Antracnose
Sialex Procimidone Hokko Colletotrichum
gloesporioides,
Botrytis
Curpozeb Mancozeb+Oxicloreto de
cobre
Sipcam Agro B. cnerea
MARACUJÁ – Produtos registrados = 15 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
20
Akito Betacipermethina Hokko Percevejo
Danimem/Meotrhin Fenpropathrin Ihara/Hokko Percevejo
Diversos Acephate Diversos Percevejo
Actara 250 Thomethoxan Syngenta Mosca branca e tripes
Tiger Pyroproxifen Ihara Mosca branca e tripes
Diversos Malathion Diversos Broca
Vertimec Ambamertin Syngenta Ácaros, cochonilhas e
brocas
Match Lufenuron Syngenta Ácaros, lagartas e
broca
Sanmite Pyridaben Ihara Ácaros
HigCrop680 Enxofre Ihara Ácaros
BACTERICIDAS/FUNGICIDAS
Diversos Oxicloreto de cobre Diversas Bacteriose/fungos
Diversos Hidróxido de cobre Diversas Bacteriose/fungos
Nativol Trifloxyistrobin+Tubuconazole Bayer Antracnose e verrugose
Manage Imibenconazole Hokko Antracnose e verrugose
Cercomil sl Tiofanato metil+Chlorothalonil Ihara Antracnose e verrugose
Diversos Tiofanato metil Diversas Antracnose e verrugose
Comet sc Pyrachlostrobin Basf Antracnose e verrugose
Frowncide sc Fluazinan Syngenta Antracnose e verrugose
Midas wg Famoxadone+Mancozeb Dupont Antracnose e verrugose
Diacobre pm Oxicloreto de
cobre+Chlorothalomil
Ihara Antracnose e verrugose
Diversos Chlorothalomil Diversos Antracnose e verrugose
Amistar wg Azoxystrobin Syngenta Antracnose e verrugose
Bion wg Acybenzolan Syngenta Antracnose e verrugose
MORANGO – Produtos registrados = 43 total
Produtos a registrar
FUNGICIDAS
21
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Antracol Propineb Bayer Flor preta
Stratego Propiconazole+Trifloyistrobin Bayer Flor preta
Comet Pyraclostrobin Basf Flor preta
Diversos Captan Diversas Flor preta
Folpan Folpet Agricur Flor preta
Ridomil Mancozeb+Metalaxil Syngenta Phytophthora
Sportak 450/Jade Procloraz Bayer/Milenia Flor preta
ACARICIDA
Pirate/Citrex Chorfenapyr Basf Ácaros
PÊSSEGO – Produtos registrados = 66 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Mimic240 SC Tebufenozid Dow Agro Grafolita
Intrepid/Valient Methoxyfenozide Dow
Agro/Bayer
Grafolita
Match CE Lefunuron Syngenta Grafolita
Tracer 240 SC Spinosad Dow Agro Grafolita
Trebon 100 SC Ethofemprox Sipcan Agro Grafolita
Imidan 500 PM Fosmet Sipcan Agro Grafolita
Proclain Amamectina Syngenta Grafolita
Diversos Imidacloprid Diversas Tripes e mosca
Tiger Piriproxifem Sumitomo Lagartas
Diversos Acephate Diversas Tripes
Actara Thiamethoxam Syngenta Tripes
Actara Plus Thiamethoxan+Cipermetrina Syngenta Pulgões e mosca
Mesurol Methiocarb Bayer Tripes
Diversos Propargite Diversas Ácaros
22
FUNGICIDAS
Score Difenoconazole Syngenta Crespera e podridão
parda
Diversos Clorothalonil Diversas Podridão parda
Unix 750 wg Cyprodinil Syngenta Ferrugem
Comet Pyraclostrobin Basf Antracnose
Priori Extra Azoxystrobin+Cyproconazole Syngenta Ferrugem
Cabrio Top Pyraclostrobin+Metiram Basf Antracnose
Stratego Propiconazole+Trifloxistrobin Bayer Podridão parda
Antracol Propineb Bayer Antracnose e ferrugem
ACEROLA – Produtos registrados – 0 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Imidacloride Diversas -
Diversos Deltrametrine Diversas -
Diversos Dimetoato Diversas -
Diversos Trichlorfon Diversas -
Diversos Parathion metil Diversas -
Karate Lambdacyhalothrin Syngenta -
PI-Rimor Pirimicarb Syngenta -
Diversos Endosulfan Diversas -
Boveril Beauveria Itaforte -
Bioprodutos
-
FUNGICIDAS
Folicur Toboconazole Bayer -
Diversos Oxicloreto de cobre Diversas -
Score Difenoconazole Syngenta -
Sportak Prochloraz Bayer -
23
ANONÁCEAS – Produtos registrados – 0 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS/NEMATICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Clorpirifós Diversas Lagartas
Cartap Cloridrato de Cartape Iharabras Lagartas/brocas
Diversos Carbofuran Diversas Brocas, lagartas,
nematóides
Counter Terbufós Basf Brocas e nematóides
FUNGICIDAS
Diversos Mancozeb Diversas Antracnose
Diversos Oxicloreto de cobre Diversas Antracnose
CAJU – Produtos registrados = 07 total
Produtos a registrar
INSETICIDAS
Nome comercial Ingrediente ativo Empresa Alvo
Diversos Cartap Diversas
Broca das pontas, traça
das castanhas, tripes da
cinta vermelha, pulgão
da inflorescência,
mosca branca, besouro
vermelho, mané
magro, saia justa, véu
de noiva, lagarta verde,
cochonilha, Calaspis
bicolor, Psilopter sp.,
diptera de galhas
Diversos Carbaryl Diversas
Diversos Clorpyriphos Diversas
Diversos Diazinon Syngenta
Diversos Dimetoato Diversas
Diversos Endosulfan Diversas
Fenthion Bayer
Diversos Malathion Diversas
Diversos Monocrotophos Diversas
PI-Rimor Pirimicarb Syngenta
Diversos Parathion metil Diversas
Hostation Br Triazophos Bayer
Kilval Vomidation Bayer Mosca branca e
24
Diversos Óleo mineral Diversas cochonilha
FUNGICIDAS
Cerconil Tiofamato
metílico+Clortalomil
Ihara Mofo preto
Apron/Ridomil Metalaxil Syngenta Queima das mudas
Nesta lista de agroquímicos a serem registrados para essas 18 “minor crops -
frutíferas” apenas 5 (cinco) apresentaram herbicidas a serem registrados e, isso é uma
informação preocupante já que um dos grandes problemas em lavoura é a presença de
plantas daninhas hospedeiras de viroses. E a outra questão é o uso indiscriminado do
glyphosate (Roundap®), tendo com isso diversos problemas como a intoxicação de
plantas e animais e a contaminação ambiental. Existem ainda dentro desta lista de
espécies duas sem nenhum produto registrado que é a acerola e as anonáceas (pinhas e
graviola, as mais comercializadas na região sudeste). A acerola inclusive é umas das
fruteiras com maior teor de vitamina C já encontrada, abaixo do camu-camu, sendo
muito apreciada na forma de suco, e essa é a preocupação com um fruto muito
apreciado para a indústria e sem uma atenção devida. Outro exemplo é o da oliveira,
onde Oliveira Jorge et al. (2008) relatam a urgência de registro de produtos para a
cultura, seguindo uma estratégia para “minor crops”. Em estudos feitos por Gorenstein
(2008) verificou 30% de resíduos de agrotóxicos sem registro nas consideradas frutas
pequenas como kin-kan, jabuticaba, acerola e umbu, o que é motivo também de
preocupação.
Embora tenham levado o país a ostentar o título de maior consumidor mundial
de agrotóxicos, com 734 milhões de toneladas, os produtores rurais ainda reclamam da
morosidade do governo no controle e registro de agrotóxicos. Essa demora é
preocupante, por exemplo, onde o uso de agrotóxicos para as “minor crops” por área é
mais intenso do que as consideradas representativas. Com isso nesses alimentos a
contaminação é constante (EMBRAPA, 2009). Assim, inúmeras reuniões vem sendo
feitas como por exemplo, a organizada pela Coordenação de Fiscalização de
Agrotóxicos –CFA / Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal – DDIV onde
discutiram a Proposta de Registro de Agrotóxicos para “pequenas culturas” que vem
sendo desenvolvida pelo GTPR, Grupo de Trabalho de Resíduos de Pesticidas ligado ao
25
Codex Alimentarius.a ser encaminhada ao Comitê Técnico de Assessoramento para
Agrotóxicos – CTA (ABCSEM, 2008).
A resistência de pragas a produtos químicos hoje é um dos grandes problemas da
agricultura. E uma das principais causas associadas ao problema da resistência de
pragas a inseticidas e acaricidas em morangueiro, e diversas outras culturas, como
frutíferas e hortaliças de menor expressão econômica, é o pequeno número de
inseticidas e acaricidas registrados, aliada à dificuldade (demora) para o registro de
novas moléculas. A esse exemplo podemos citar o ácaro-rajado (Tetranychus urticae
Koch) que ataca as culturas como a do morango, crisântemo, rosa, pêssego, algodão e
mamão, afetando as folhas e promovendo manchas branco prateadas e certa quantidade
de teia, tornando-se bronzeadas, secam e caem (Figura 1). Observou-se resistência de
aproximadamente 3 mil vezes ao acaricida FENPIROXIMATO; de 350 vezes ao
ABAMECTINA; 570 vezes ao CLORFENAPIR após poucas aplicações. Ao usar o
FENPIROXIMATO verificou-se que para matar o ácaro era necessário usar uma dose
de 200 vezes maior que a recomendada (SATO, 2009).
Figura 1. (A) Morangueiro não atacado. (B) e (C) Morangueiro atacado por ácaro-
rajado, inclusive com presença de teia (Fonte: SATO, 2009).
Considerações finais
Analisando hoje a importância da agricultura familiar na fixação do homem no
campo, verifica-se para cada região em particular que a tradição no cultivo de
determinadas espécies é um fator primordial como uma questão sócio-econômica para
essas famílias. Portanto, a necessidade de técnologias para se cultivar a terra é cada dia
mais necessária e por isso uma das grandes preocupações do agricultor é como trabalhar
diante de tantos problemas, como a incidência de pragas e doenças no campo. Assim
uma das insatisfações hoje no campo ao trabalhar com culturas de pequena expressão
A B C
26
(“minor crops”) é a demora no registro de produtos, o que leva muitos produtores a
utilizarem aqueles não registrados, o que acarreta em uma infinidade de problemas
como a intoxicação das plantas e a contaminação humana e ambiental.
Referências Bibliográficas
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em:<http://www.anvisa.gov.br/DIVULGA/eventos/simposio_res_agrotoxicos/simposio
_iii_apresenta/041208_mesa4_1.pdf>. Acesso em: 03.10.2009.
ABCSEM – Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas. Proposta sobre
Registro de Agrotóxicos para “Pequenas Culturas” (Minor Crops). Disponível em:
<www.abcsem.com.br/site/noticias/20040601.doc>. Acesso em: 03.10.2009.
EMBRAPA – Meio Ambiente. Especialistas se reúnem em Jaguariúna para definir
estratégias de utilização de agrotóxicos em minor crops. Disponível em:
<www.cnpma.embrapa.br/nova/mostra2.php3?id=364>. Acesso em: 03.10.2009.
IBRAF-Instituto Brasileiro de Frutas. Lista de Agroquímicos a Registrar (Minor Crops).
Disponível em: <http://www.ibraf.org.br/servicos/ser_documentos.asp>. Acesso em:
03.10.2009.
FORUM NACIONAL DAS ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
Disponível em: <www.forumdoconsumidor.org.br>. Acesso em: 10.09.2009.
GORENSTEIN, O. Monitoramento de resíduos de agrotóxicos realizados pela
CEAGESP no período de dezembro de 2006 a maio de 2007. Informações
Econômicas, v.38, n.6, p.32-39, 2008.
MINOR CROPS – Consulta Pública. Diário Oficial da União. Seção 1, n.122, p.7-8, 27
de junho de 2008. Disponível em: <
www.ibraf.org.br/x_files/Documentos/MinorCrops_Consulta%20Pública.pdf >. Acesso
em: 03.10.2009.
NOTAPAJOS.COM. Rural-Produtores estão usando agrotóxicos irregulares em 61
culturas. Disponível em:<http://notapajos.globo.com/lernoticias.asp?id=23298>. Acesso
em: 03.10.2009.
27
OLIVEIRA JORGE, R.; COUTINHO, E.F.; COSTA, V.B.; CAMACHO JORGE, Z.;
CAPPELLARO, T.H.; RIBEIRO, F.C. Principais pragas e doenças identificadas na
cultura da oliveira no Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, Resumos...Vitória-ES. CD-ROM, 2008.
REIS, A.; HENZ, G.P.; BRUNE, S. Principais doenças do chuchuzeiro no Brasil.
EMBRAPA: Circular Técnica, n.60, p.1-5, 2008.
SATO, M.E. Frutas e derivados, Ano 4, Edição 13, p.40-42, 2009.
28
CAPÍTULO 2
Controle cultural de doenças de plantas em culturas com
menor suporte fitossanitário
Marcelo Barreto da Silva1
Rodrigo Alexandre Sobreira2
Antônio Pereira Drumond Neto3
Jorge Gomes Soares4
Introdução
Não só a agricultura contemporânea, mas toda a atividade humana, tem neste
novo milênio o desafio da sustentabilidade. Ações que atuem em favor da
sustentabilidade devem ser incorporadas à agricultura e especialmente no Brasil que é
um dos poucos países do mundo que apresentam condições de ampliar sua capacidade
produtiva com menor impacto ambiental. Complementando os desafios decorrentes das
questões ambientais, a qualidade da produção é fator sem a qual o Brasil não conseguirá
vencer as barreiras impostas pelos principais países importadores de nossos produtos
agrícolas. Neste contexto, o controle cultural, integrado com outros métodos de controle
não poluentes, como o genético e o biológico, deve ser criteriosamente planejado e
implantado nos sistemas produtivos, especialmente naqueles que não dispõe do suporte
adequado de produtos fitossanitários.
Aliados à eficiência do controle, outros conceitos têm se somado ao manejo
integrado de doenças, como menor uso de insumos, proteção ao homem e ao ambiente,
redução de resíduos, dentre outros, o que torna o manejo de doenças uma atividade que
depende cada vez mais de uma visão abrangente do sistema produtivo sem, contudo,
abandonar o pragmatismo das demandas dos agricultores.
Os sistemas de produção precisam ser repensados diante dos novos desafios
propostos como a escolha dos materiais genéticos mais resistentes às condições
1 Engº Agrº, D.S. e Professor do CEUNES/UFES – [email protected]
2 Engº Agrº, D.S. e Professor da CEUNES/UFES – [email protected]
3 Engº Agrº, Bolsista do CNPq – [email protected]
4 Graduando em Agronomia do CEUNES/UFES
29
adversas do clima, aumento da densidade de plantio, rotação de cultura, uniformidade
genética, sistema de irrigação, tecnologia de aplicação dentre outros.
Não obstante a visão mais abrangente que sempre permeou o controle de
doenças de plantas, o controle químico foi aquele que se despontou, especialmente nas
décadas de 60 e 70, quando a revolução verde apostou quase que exclusivamente nas
tecnologias derivadas da indústria (produtos fitossanitários e adubos) como a chave para
os problemas da produção de alimentos. Neste período, os métodos tradicionais de
controle foram colocados em segundo plano e a palavra “controle de doenças” passou a
ser sinônima da aplicação de produtos. O modelo unilateral e simplista proposto pela
revolução verde mostrou-se ineficiente e insustentável ao longo dos anos, gerando
vários exemplos negativos que relacionavam agricultura, produtos químicos e ambiente.
Outros modelos procuraram restabelecer o ponto de equilíbrio perdido, evoluindo para
propostas mais radicais como a agricultura orgânica e outras mais conservadoras com
base nos conceitos do manejo integrado, culminando com uma visão mais abrangente
que é a produção integrada.
No cenário de toda esta discussão estão as culturas de grande interesse nacional
e internacional como batata, tomate, café, feijão, soja, milho, arroz, algodão, citros
dente outras. Porém à margem desta discussão, estão as chamadas minor crops, que são
aquelas culturas que pela sua falta de expressividade nacional e baixo impacto
econômico, apresentam-se desassistidas de produtos químicos registrados para uso
regular dos agricultores.
Para as culturas de menor suporte fitossanitário, resta reforçar a importância das
práticas culturais no controle das doenças enquanto paralelamente trabalha-se junto às
empresas e ao governo para criar condições que viabilizem o registro de mais produtos
que possam ser utilizados de acordo com critérios técnicos específicos.
A seguir, serão apresentados os princípios envolvidos no controle cultural de
doenças de plantas, os procedimentos disponíveis e alguns patossistemas em que eles
são adotados com sucesso. Faz-se necessário salientar que há muito ainda a ser estudado
nesta área do conhecimento, em decorrência a complexidade das relações envolvidas
nos sistemas agrícolas, especialmente nas minor crops, que de certa forma são também
desassistidas em termos científicos e tecnológicos. Nas diferentes realidades do campo
há espaço para a criatividade e experimentação dos gestores dos sistemas produtivos
30
agrícolas, com base na experiência e no conhecimento científico acumulado ao longo
dos anos.
Controle cultural
O controle cultural busca, a partir do conhecimento das relações entre o
patógeno, seu hospedeiro e o ambiente, encontrar procedimentos fitotécnicos que
possam atuar nesta relação com o propósito de torná-la menos favorável ao
estabelecimento e ao desenvolvimento da doença no campo ou em cultivos protegidos.
Na maioria das vezes, o controle cultural em seu caráter preventivo busca fazer com que
o patógeno não entre em contato com a cultura, ou fugir das condições de ambiente
favoráveis ao patógeno. Em áreas onde a doença já está estabelecida, as medidas
culturais procuram reduzir o inoculo inicial presente no sistema e criar ambiente menos
favorável à doença. Na tabela 1 são apresentados os principais procedimentos que
podem ser adotados no controle cultural de doenças de plantas e local de atuação em
relação ao triângulo da doença.
Tabela 1. Local de atuação dos procedimentos fitotécnicos sobre os componentes do
triângulo da doença.
Componente do Triângulo Procedimento Fitotécnico
Patógeno (inóculo inicial)
Uso de material propagativo sadio
Plantio em áreas livres do patógeno
Erradicação do hospedeiro
Remoção de hospedeiros alternativos e plantas voluntárias
Barreira física
Fumigação do solo
Rotação de cultura
Higienização
Eliminação de restos culturais
Inundação da área de plantio
31
Hospedeiro
Adubação e Calagem
Densidade de plantio
Ciclo e porte da cultura
Ambiente
Escolha do local e época de plantio e colheita
Adubação e Calagem
Adição de matéria orgânica ao solo
Densidade de plantio
Tipo e manejo do sistema de irrigação
A eficácia de cada medida cultural isolada, ou em combinação com outras, varia
de acordo com o ciclo da cultura (anual ou perene) e características do patógeno como
biologia, capacidade de sobrevivência ou disseminação, dentre outras. A adoção
criteriosa do controle cultural proporciona a maior eficácia do controle químico,
reduzindo o número de pulverizações e contribuído para sustentabilidade dos sistemas
produtivos. A sua adoção é um dos pilares para a produção integrada de frutas e
hortaliças. Em contrapartida, nem todas as técnicas são de fácil adoção nos diferentes
sistemas agrícolas seja por questões relacionadas às tradições do homem do campo,
aspectos logísticos ou econômicos.
Procedimentos utilizados no controle cultural de doenças de plantas
O controle cultural não é um procedimento único que pode ser utilizado em toda
e qualquer situação com garantia de eficiência comprovada, como é comum no controle
químico. Sua adoção depende muito mais da facilidade de adoção e capacidade de
convencimento do produtor, que de sua viabilidade técnica. É importante salientar que a
grande maioria dos produtores não tem conhecimento de microbiologia e muito menos
conseguem abstrair o que seja um vírus, por exemplo. A conclusão de muitos
produtores quanto observam a doença no campo é de que ela surgiu na lavoura de uma
forma inexplicável, enquanto para os técnicos, muitas doenças foram introduzidas na
lavoura por falta de adoção dos princípios culturais básicos como sementes sadias e
plantio em áreas livres do patógeno, por exemplo. A seguir, serão listados os principais
32
métodos de controle cultural, evidenciando as condições em que podem ser utilizados e
indicando alguns patossistemas em que são efetivamente aplicáveis.
1. Material propagativo sadio
Esta técnica é particularmente importante quando o material propagativo
(sementes, partes vegetativas ou mudas) é um dos principais métodos de disseminação
da doença e quando o plantio é realizado em áreas novas. Nas novas áreas de plantio
muitos patógenos ainda não estão presentes e é esperado que as fontes de inóculo
externas sejam raras.
Os principais patógenos transmitidos por material propagativo são os vírus e os
fungos, seguidos das bactérias e nematóides. Por esta via de disseminação muitas
doenças são introduzidas em determinada região ou país. Nas culturas do trigo, soja,
milho e mamão, este problema é minimizado pelo uso de sementes certificadas,
portadoras de atestado de qualidade controlado pelo governo. Culturas como tomate,
batata e morango apresentam problemas principalmente em decorrência das doenças
viróticas.
Doenças como o mofo branco do feijão tem na prática do plantio de grãos, e não
de sementes certificadas, o seu principal aliado na introdução e disseminação da doença,
inclusive em plantios mais tecnificados sob pivô-central.
Nas culturas propagadas por mudas como citros, banana, abacaxi e pimenta-do-
reino, o plantio de material sadio é essencial para o sucesso do pomar. O governo possui
programa de controle legislativo procurando garantir a qualidade fitossanitária de mudas
cítricas direcionadas principalmente para a CVC e o Cancro cítrico. Há programas
também que fiscalizam a produção de mudas de café arábica, com atenção especial ao
nematóide das galhas (Moloigogyn spp). O Certificado Fitossanitário de Origem (CFO),
é um instrumento legal emitido por profissional treinado e credenciado que garante ao
agricultor que o material adquirido encontra-se livre de patógenos transmitidos pelas
mudas.
Na tabela 2 são apresentados alguns patógenos transmitidos por material
propagativo, a cultura em que causam problemas e o veículo utilizado.
33
Tabela 2. Patógenos transmitidos por material propagativo com seu respectivo
hospedeiro e veículo de transmissão.
Patógeno Hospedeiro Veículo
Meloidogyne spp Café Muda
Sclerotium cepivorum Alho e Cebola Bulbo e muda
Fusarium subglutinans f. sp. ananas Abacaxi Muda
Xylella fastidiosa Citros Muda
Xanthomonas axonopodis Citros Muda
Cadidatus liberobacter spp Citros Muda
Cucumber mosaic virus Banana Muda
Fusarium oxysporum f. sp. cubense Banana Muda
Colletotrichum lindemuthianum Feijão Semente
Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli Feijão Semente
2. Plantio em áreas livres do patógeno
Os microrganismos causadores de doenças não se encontram universalmente
distribuídos. Normalmente estão associados ao seu hospedeiro em áreas endêmicas ou
nos plantios comerciais. É esperando então que em novas áreas de plantio ou em áreas
destinadas à pastagem, por exemplo, os microrganismos patogênicos não estejam
presentes nem no solo e nem no ar. Esta medida é particularmente importante para
aqueles patógenos de difícil disseminação e que apresentam alta capacidade de
sobrevivência no solo com é o caso de fungos do gênero Fusarium, bactérias como
Ralstonia solanacearum, nematóides como Tylenchus semipenetrans. O plantio de áreas
livres de patógenos deve ser priorizado para culturas que apresentam patógenos com
capacidade de comprometer a produção, de difícil controle e quando a implantação da
cultura exige alto custo de investimento como pomares, plantio em pivô e em cultivo
protegido.
Para detectar a presença do patógeno em uma área faz-se uso de análise de solo,
no caso de nematóides, e avaliação do histórico da área, procurando identificar plantios
34
realizados anteriormente e possível ocorrência de doenças. Como os nematóides
apresentam distribuição bastante agregada no campo, é importante que as amostras de
solo sejam feitas criteriosamente e com bastante representatividade. A análise de solo
para detecção de fungos do gênero Phytophthora e de nematóides nocivos é
procedimento rotineiro recomendado para a produção de mudas cítricas com apoio de
laboratórios credenciados.
3. Erradicação do hospedeiro
A erradicação ou destruição do hospedeiro é uma medida drástica adotada
normalmente por agências sanitárias do Governo como medida para erradicação de
doenças recém-introduzidas em determinado país ou região. Esta medida já foi adotada
no Brasil na tentativa de erradicar a ferrugem do café, em 1970 e a vassoura-de-bruxa
em 1989, ambos os casos no sul da Bahia, e o cancro-cítrico em 1999 no triângulo
Mineiro. Somente no último caso logrou-se sucesso na erradicação do patógeno. Para
que a erradicação de uma nova doença seja possível, algumas condições devem ser
observadas: a) o patógeno deve ser de difícil disseminação, b) apresentar baixa gama de
hospedeiros, c) difícil sobrevivência no solo e d) ação rápida e efetiva do Estado na
destruição das plantas doentes e controle do trânsito de material vegetal das áreas
infestadas.
Uma variação deste princípio, porém com menor intensidade e com propósito de
redução do inóculo presente na lavoura, é a eliminação de plantas vivas doentes
presentes no campo ou em casa-de-vegetção, também conhecido como rouging. É uma
medida laboriosa, cara, por eliminar plantas produtivas, porém necessária em alguns
patossistemas. O rouguing é recomendado no manejo de plantas de tomate no início do
plantio que apresentam sintomas de viroses e na murcha bacteriana. É recomendado no
manejo do mal-do-Panamá na cultura da banana e do anel-vermelho na cultura do coco.
Um dos melhores exemplos para ilustrar a importância da prática do rouging é a
cultura do mamão, que faz uso deste procedimento como uma das principais medidas
adotadas no manejo de viroses (Mosaico e Meleira, principalmente). Mesmo assim,
existe grande resistência por parte de alguns produtores. A planta de mamão infectada
não tem cura e passa a ser importante fonte de inóculo, rapidamente disseminado pelos
35
vetores, infectando as demais plantas sadias. A adoção deste procedimento é tão
relevante para o sucesso da produção no estado do Espírito Santo, que foi
institucionalizada a Campanha de Erradicação do Mosaico do Mamoeiro, implantada
pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, e amparada pela
portaria número 175 de 25 de outubro de 1994. De acordo com a portaria, as
propriedades onde o diagnóstico oficial comprove a presença do mosaico do mamoeiro
(Potyvirus) são interditadas e é determinada a imediata erradicação de todos os focos de
plantas doentes. Caso o produtor não implemente as medidas previstas em lei, o pomar
é compulsoriamente erradicado pelo Estado mediante ação policial, além da aplicação
de outras penalidades. Na cultura do mamão foram criados os “olheiros”, ou seja,
trabalhadores de campo treinadas para identificar os primeiros sintomas de viroses e
erradicar a planta. Adotando-se este procedimento, evita-se a rápida disseminação das
viroses para as plantas sadias o que poderia comprometer toda a produção.
Outra opção é a eliminação das partes doentes na cultura em campo.
Normalmente são eliminados frutos e folhas doentes, com o objetivo de reduzir a
disseminação do inóculo no campo ou em sementeira. A medida é adotada em
sementeiras e canteiros de plantas folhosas; em frutos de pimentão, jiló e berinjela com
antracnose (Colletotrichum gloesporioides). Frutos e folhas doentes são importantes
fontes de inóculo na cultura do mamão responsáveis pelo aumento da intensidade de
doenças como antracnose (C. gloesporioides), mancha de ascochyta (Phoma caricae-
papyae) e a pinta preta (Asperisporium caricae), onde é necessária a remoção tanto das
folhas senescentes que permanecem na planta, quanto aquelas no chão. A eliminação de
galhos doentes por meio de podas fitossanitárias é uma das principais estratégias de
manejo da clorose variegada dos citros (Xylella fastidiosa), a CVC. A medida é mais
eficiente quanto adotada no início do aparecimento da doença. Para tanto há a
necessidade de realização de inspeções freqüentes do campo seguida de identificação
das plantas doentes, realização das podas e proteção dos ramos podados com pasta
cúprica. Caso a planta doente tenha menos de dois anos, o recomendado é a erradicação
e plantio de uma nova muda sadia. Mesmo em culturas de cultivo intensivo como a de
morango, a eliminação de folhas, flores e frutos doentes tem sido adotada com
eficiência no controle de doenças da parte aérea como a flor-preta (Colletotrichum
acutatum), mancha de micosferela (Mycospharella fragariae) e podridão de futos
36
(Botrytis cinérea), melhorando a qualidade da produção e reduzindo o uso do controle
químico.
4. Remoção de hospedeiros alternativos ou plantas voluntárias
Um dos principais mecanismos de sobrevivência dos patógenos biotróficos após
a retirada da cultura do campo é a sobrevivência em plantas hospedeiras alternativas,
que podem ser plantas daninhas ou plantas voluntárias. Plantas voluntárias são
indivíduos da mesma espécie da cultura principal que, por vários motivos,
permaneceram vivas após a retirada da cultura no campo.
Estes hospedeiros alternativos ao serem infectados pelos patógenos se
comportarão como fonte de inóculo para o novo plantio que se inicia. Os principais
hospedeiros alternativos são plantas daninhas que permanecem no campo durante todo
ano hospedando vírus e nematóides. O controle eficiente do mato é a melhor maneira de
eliminar estes hospedeiros. A eliminação de curcubitáceas como abóbora, melão,
melancia, pepino e outras plantas hospedeiras do vírus do mosaico do mamoeiro
(Potyvirus) é uma das medidas recomendadas para reduzir o inóculo da doença que,
uma vez presente, é rapidamente disseminada no campo por afídios, Myzus persicae,
Aphis gossipi e Toxoptera citricida.
Para reduzir o impacto da ferrugem da asiática soja (Phakopsora pachyrhizi) tem
sido adotado com sucesso o procedimento que impede o plantio da soja nas regiões
produtoras dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais por
um período de 90 dias. Esta medida conhecida como vazio sanitário tem por objetivo
quebrar o ciclo da doença e reduzir drasticamente a fonte de inóculo para os novos
plantios. Neste contexto, as plantas voluntárias ou tigüeras, que permanecem no campo
ou nas beiradas das estradas, têm sido apontadas como uma das causas de redução da
eficiência desta medida de controle. Exemplo como este mostra não só a importância
dos hospedeiros alternativos no manejo de doenças no campo, como a necessidade de
ações de abrangência estadual para garantir a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
37
5. Barreira física
As barreiras físicas mais eficientes utilizadas no controle de doenças são telas
anti-afídios, utilizadas para proteger viveiros de mudas quanto do cesso de insetos
vetores de viroses. É uma medida de ação localizada, porém bastante eficiente para os
propósitos a que se destina. Ela é utilizada na produção de mudas e borbulhas sadias de
plantas cítricas. Os viveiros destinados à produção de mudas cítricas devem ser
obrigatoriamente telados de forma a impedir o acesso das cigarrinhas vetoras dos
patógenos causadores da CVC e tristeza. Esta medida pode elevar o custo de produção
das mudas, contudo garante sua qualidade sanitária e reduz os danos causados no campo
decorrente da contaminação das mudas. As matrizes fornecedoras de borbulhas que
permanecem no campo são protegidas por telas, mantidas sadias e certificadas juntos
aos órgãos do governo.
Outra local em que o uso de telas pode trazer benefícios é em sementeiras de
culturas olerícolas como tomate. Este procedimento reduz a presença de vários insetos
vetores de vírus como afídeos, tripes e mosca branca.
6. Fumigação do solo
A fumigação é a eliminação dos patógenos presentes no solo por meio de
processos químicos. O principal produto utilizado no tratamento do solo era o Brometo
de Metila, que tinha uma atividade biocida, eliminando todos os organismos vivos do
solo. Contudo, após a proibição do uso deste produto na agricultura, outros produtos e
métodos, como o tratamento térmico do solo, têm sido utilizados. A desinfestação de
solos é uma medida importante para aquelas culturas que ser propagam por meio de
mudas. Os solos utilizados para a produção de mudas podem abrigar estruturas de
resistência de patógenos que, por sua vez podem infectar as mudas, diminuído seu valor
de mercado ou até comprometendo sua comercialização no mercado.
A desinfestação de solos é recomendada em sementeiras, reduzindo a incidência
de tombamentos ou outras doenças causadas por patógenos dos gêneros Pythyum,
Rhizoctonia, Phytophthora e Fusarium.
38
O uso de substrato artificial que já vem pronto para uso e o plantio em tubos e
bandejas, tem contribuído para a melhoria as condições sanitárias dos viveiros e
sementeiras. Contudo, mesmo nestas condições, os patógenos podem ser problemáticos
por poderem ser disseminados pelo vento e água de irrigação.
7. Rotação de cultura
A alternância de culturas na mesma área e estação do ano é considerada rotação
de cultura. Em fitopatologia, a rotação de cultura deve considerar o tempo necessário
para a degradação dos restos culturais e, com eles, as estruturas de sobrevivência do
patógeno antes do retorno à cultura principal. Este conceito difere da sucessão de
cultura, pois na sucessão o aspecto época de plantio não é levando em consideração.
Assim, se em uma localidade o milho é sempre plantado no verão e o feijão no inverno,
haverá duas monoculturas em mesma área. A monocultura de milho no verão e de feijão
no inverno. A rotação de cultura é uma medida de controle de amplo espectro e que
deveria estar presente em todo sistema produtivo, não só pelo seu efeito na redução de
dos problemas decorrentes de doenças (Figura 1), pragas e plantas daninhas, como
também nos efeitos positivos na nutrição das plantas, na estrutura do solo e no
agroecossistema como um todo.
Patógenos habitantes do solo que possuem uma gama restrita de hospedeiro
podem ter sua população drasticamente reduzida pelo plantio de espécies que não
hospedeiras. Esta medida se torna mais eficiente para os organismos biotróficos ou
aqueles que têm limitada capacidade de sobrevive em restos culturais como Alternaria
solani na cultura de tomate. Seguindo o mesmo raciocínio, a rotação é pouco eficiente
para os patógenos capazes de sobreviver no solo na ausência da planta hospedeira, seja
em processos saprofíticos ou por estruturas de resistência (Tabela 3).
39
0
10
20
30
40
50
60
70
1993 1994 1994 1995
Ano
Se
ve
rid
ad
e (
%)
A
B
B
Figura 1. Efeito da rotação de culturas sobre a severidade de doenças do sistema
radicular do trigo, onde “A” representa os dados obtidos com a monocultura, “B”
quando em um inverno não foi plantado trigo e “C” foram mantidos dois invernos sem o
plantio de trigo. (Adaptado de Santos et al. 1998)
Tabelas 3. Patógenos capazes para os quais a rotação de cultura apresenta pouco efeito
em decorrência da produção de estruturas de resistência ou capacidade de sobrevivência
saprofítica ou em hospedeiros alternativos.
Gênero do Patógeno Capacidade de Sobrevivência Estrutura de Resistência
Pythium X Oósporo
Phytophthora X Oósporo
Rhizoctonia X Escleródio
Fusarium X Clamidósporo
Sclerotium X Escleródio
Sclerotinia X Escleródio
Verticiluium X Escleródio
Plasmodiophora X Cisto
Ralstonia X -
Heterodera X Cisto
Globodera X Cisto
40
Em regiões produtoras de hortaliças, é comum a rotação de culturas com milho,
sorgo ou arroz, objetivando a redução do inóculo presente no solo. Algumas culturas
sem valor econômico, porém com capacidade de melhorar as características físicas e
químicas do solo, também são utilizadas com destaque para mucuna, aveia preta, feijão-
de-porco e outras leguminosas. Nestes casos, há necessidade de se fazer o manejo
adequado das culturas evitando a produção de sementes.
Mesmo para áreas destinadas à produção de frutas como abacaxi e mamão, a
monocultura não é recomendada em decorrência de problemas fitossanitários
decorrentes da proliferação de patógenos do gênero Phytophtora e Fusarium, e viroses.
Rotação de cultura é necessária em plantios sob pivô, pois nestas condições é desejável
que a produção se mantenha viável em uma mesma área em decorrência da dificuldade
da remoção deste sistema de irrigação para novas áreas. Recomenda-se a rotação de
culturas com milho, feijão ou pastagens em outras situações além das culturas anuais, é
utilizada adubação verde.
A rotação de cultura permite o controle satisfatório de uma gama variada de
patógenos (Tabela 4) sem a adoção de produtos químicos, contudo apresenta algumas
limitações como a dificuldade de encontrar um sistema que se ajuste às necessidades
dos agricultores, seus efeitos benéfico não são facilmente percebidos a curto praxo e não
pode ser utilizada em culturas perenes.
Tabela 4. Culturas e patógenos para os quais a rotação de cultura tem sido recomendada
com sucesso no controle de doenças.
Cultura Patógeno Anos de
Rotação Comentário
Alho
Ditylenchus dipsaci
Belonolaimus gracilis
Sclerotium cepivorum
2
5-10
8-10
Rotação com beterraba, cenoura,
crucíferas, alface e espinafre
Usar melancia e fumo e erradicar
plantas daninhas
Usar gramíneas, leguminosas ou
solanáceas
41
Batata
Meloidogyne hapla
Rhizoctonia solani
Streptomyces scabies
Fusarium oxysporum
Verticillium albo-atrum
1
3-6
1+
3-6
2-3
Usar milho
Usar alfafa antes de batata
Usar soja antes
Alfafa antes de batata
Trevo (1-2 anos) e batata
Milho
Helminthosporium spp
Pratylenchus
leiocephalus
1-3
1-2
Rotação com não forrageiras
Alternar com cultura de amendoim
Feijão
Sclerotinia sclerotiorum
Corynebacterium
flaccumfacinens
Fusarium solani
2
2
5
Usar cereais, milho
Evitar a cultura de feijão
Evitar cultura de feijão e soja, dar
preferência a gramíneas
Soja
Heterodera glycines
Cercospora spjina
Pseudomonas glycines
1-5
1
1
Usar culturas não hospedeiras
Usar culturas não hospedeiras
Rotação e enterrar resíduos culturais
Tomate
Pseudomonas tomato
Xanthomonas
vesicatoria
Rhizoctonia solani
1
1
1
Rotação com gramíneas
Rotação com gramíneas
Usar capim pangola
Fonte:Vale et al (2004)
8. Higienização
A limpeza de equipamentos, ferramentas, caixas, veículos e roupas é um
procedimento importante para evitar a disseminação da doença dentro da cultura. Esta
medida é particularmente importante para culturas que recebem muita manipulação
especialmente no período de colheita. Culturas beneficiadas diretamente por estes
procedimentos são os citros, tomate e mamão. Para limpeza normalmente são utilizados
42
desinfetantes como a amônia quartenária e produtos à base de cloro. Algumas doenças
viróticas importantes são transmitidas por contato de ferramentas e mãos (Tabela 5).
O trânsito de máquinas em áreas contaminadas permite a disseminação de
nematóides não só dentro da mesma propriedade, mas principalmente entre
propriedades. A lavagem de tratores e implementos é uma medida necessária para evitar
a disseminação de nematóides, que são facilmente veiculados nas partículas de solo que
permanecem aderidas aos implementos agrícolas.
Tabela 5. Viroses transmitidas mecanicamente de plantas doentes para sadias.
A principal medida higiênica da fusariose da pimenta-do-reino (Fusarium solani
(Mart.) Appel & Wr. emend. Snyd. & Hans. f. sp. piperis, Albuquerque (Tel.: Nectria
haematococca Berk. & Br. f. sp. piperis Albuq.) é o controle de qualidade das estacas
de propagação. As estacas devem ser provenientes de pimentais sadios e apresentar
bom estádo de desenvolvimento vegetativo, proveniente de áreas não contaminadas.
Outra medida é evitar o reaproveitamento de tutores provenientes de áreas em que a
doença já tenha sido observada e fazer a desinfecção das mesmas com produtos
fitossanitários como hipoclorito de sódio ou um fungicida registrado para a cultura.
9. Eliminação de restos culturais
É prática comum em várias culturas o fato dos agricultores, após a colheita dos
frutos ou grãos, deixarem a cultura ainda vegetando na área até o início do próximo
Vírus Hospedeiro
Papaya lethal yellowing vírus Mamão
Potato Virus X Batata
Potato Virus Y Batata
Tomato mosaic virus Tomate
Passion fruit yellow mosaic virus Maracujá
Soursop yellow blotch virus Graviola
43
plantio. Este costume é desaconselhável especialmente nas condições tropicais, pois os
patógenos conseguem se desenvolver nestas condições produzindo mais inóculo na área
em que será iniciado o próximo plantio. Mesmo que o próximo plantio não seja
realizado na mesma área, mais próximos desta, muitos patógenos de parte aérea
possuem mecanismos de disseminação que possibilitam a movimentação dos seus
inóculos para as novas áreas.
No estado do Espírito Santo, a portaria que disciplina o controle do Mosaico do
Mamoeiro, obriga o produtor a eliminar os pomares abandonados, plantas hospedeiras
de pulgões e vírus, dentro e nas proximidades dos pomares, bem como instalar viveiros
e pomares o mais distante possível de outros pomares já instalados.
No caso da ocorrência da fusariose na parte aérea em pimenta-do-reino, caso a
mesma seja detectada na fase inicial, a realização de poda e eliminação do material da
lavoura, seguido da pulverização de fungicida é recomendável. O controle da doença a
partir de 15% de severidade não tem sido mais eficiente. Nesta condição, o
recomendável é o arranquio e eliminação da planta doente, evitando assim a
disseminação do patógeno dentro da lavoura.
10. Inundação da área de plantio
Esta prática é possível de ser realizada nas áreas sujeitas a alagamento durante os
períodos das chuvas. O alagamento possibilita o controle generalizado de
microrganismos presentes no solo, reduzindo o inóculo inicial para os próximos
plantios. É considerada uma das medidas mais eficientes de erradicação de patógenos
habitantes do solo. O encharcamento do solo cria condição para o desenvolvimento de
microrganismos anaeróbicos que liberam substância tóxicas para os fitopatógenos. A
redução do oxigênio livre e de nutrientes disponíveis também contribuem para
eliminação de patógenos como fungos e nematóides. A inundação pode ser feita como
técnica simplesmente de controle, ou em decorrência do plantio de arroz. Os benefícios
são perceptíveis em ambos os casos, especialmente para os organismos com alta
capacidade de sobrevivência no solo. Esta medida tem sido adotada com sucesso no
controle do nematóide das galhas e fungos como Sclerotium rolfssi e Sclerotinia
sclerotiorum.
44
11. Adubação e Calagem
A nutrição equilibrada deveria ser considerada uma das primeiras medidas do
controle cultural. A rotação de cultura e demais práticas culturais contribuem para a
proteção das plantas pelo incremento dos nutrientes disponíveis e auxilia no controle de
plantas daninhas, competidoras eficientes por nutriente e água. A dinâmica dos
nutrientes no solo é capaz de influenciar não só as plantas como os microrganismos
presentes no solo, que por sua vez interagem com os patógenos, especialmente em sua
forma saprofítica. O recomendado é a manutenção do equilíbrio nutricional na área de
cultivo, o que é feito por meio da adubação na hora e modo adequado, após análise de
solo e em sistemas rotacionados.
Existem várias literaturas que relatam o efeito da nutrição sobre a incidência de
doenças, alguns casos mais conhecidos serão citados a seguir, contudo é importante
salientar que fatores como tipo de nutriente disponível, forma de disponibilização e
relação entre um ou mais nutrientes apresentam repostas positivas ou negativas na
interação entre a planta e o seu patógeno.
O excesso de boro e cálcio, ou seja, doses acima de 0,77 e 50 gramas por planta,
respectivamente, pode contribuem para o aumento em 70% de incidência da antracnose
em frutos de mamão.
Cálcio e nitrogênio na forma de NO3 elevam o pH, promove o a redução em
casos de murchas causadas por Fusarium. O excesso de nitrogênio pode levar ao rápido
crescimento celular e baixa espessura da parede celular aumentando a ocorrência de
tombamento.
A sarna da batata (Streptomyces scabies) tem o aumento da eficiência de seu
controle associada à variações de pH. Esta bacteriose é eficientemente com pH variando
de 5,0 a 8,0.
A deficiência nutricional é também responsável por algumas doenças abióticas
como o fundo preto do tomate e a deformação dos frutos do mamão.
45
12. Ciclo e porte da cultura
A redução do tempo de permanência da cultura no campo tem efeito sobre o
número de ciclos que a doença poderá realizar no campo, refletindo na intensidade final
da doença. A aplicação correta das práticas culturais como época de plantio,
profundidade de semeadura e irrigação, dentre outras, possibilitará o crescimento
normal da planta e otimização do seu ciclo de vida. Qualquer processo que promova
estresse na planta poderá levar à desaceleração de seu crescimento e desenvolvimento,
com conseqüente efeito no ciclo da cultura. Outro fator que pode ser manejado é o uso
de variedades precoces. Considerando os aspectos epidemiológicos, é desejável manejar
o ciclo da cultura de forma a evitar que as condições favoráveis à doença coincidam
com os períodos críticos da cultura, que seja floração, formação de grãos, frutificação
ou colheita.
O porte e a arquitetura da cultura têm influência direta sobre o microclima no
interior do dossel. Normalmente as plantas mais eretas possibilitam maior aeração no
interior do plantio, reduzindo o período de molhamento foliar e, conseqüentemente, a
taxa de crescimento da doença.
13. Escolha do local e época de plantio
Em alguns patossistemas, a escolha da área de plantio é decisiva para o sucesso
do plantio, como é o caso do tomate, que não deve ser plantado em áreas de baixadas
para evitar o acúmulo de umidade nas épocas frias, tornando difícil o controle da
requeima (Phytophthora infestans). As hortaliças em geral necessitam de ser instaladas
em solos adequados evitando-se especialmente o acúmulo de água. Na cultura de café é
conhecido que as áreas de plantio mais expostas ao sol apresentam maior intensidade de
doenças como a cercosporiose, para a mesma cultura solos arenosos favorecem o
desenvolvimento do nematóide das galhas.
Cuidados devem ser tomados também na escolha do tipo de solo. Plantio de
mamão normalmente é feito em solos arenosos, evitando-se assim o encharcamento em
épocas chuvosas, condição favorável para a podridão do pé (Phytophthora palmivora)
que pode, em condições extremas dizimar o plantio.
46
No caso da fusariose da pimenta-do-reino, o desejável é que a área de plantio
não tenha histórico de ocorrência da doença, esteja distante de plantios infectados,
apresente solos bem drenados e com declinação menor que 20%. Área com histórico de
ocorrência da doença pode ser utilizada somente após um período de cinco a oito anos
após o último plantio.
14. Adição de matéria orgânica ao solo
Os benefícios dos compostos orgânicos na sanidade e vigor das plantas são
conhecidos há mais de 100 anos. Uma das primeiras demonstrações experimentais foi
realizada no Canadá em 1926, quando Dr. G.B. Sanford mostrou que a sarna da batata
podia ser controlada quase que exclusivamente por compostos orgânicos. Entretanto,
sabe-se hoje que o efeito de compostos orgânicos no controle da sarna da batata é
controverso.
A matéria orgânica atua de diversas maneiras no controle dos patógenos no solo
podendo-se mencionar o favorecimento da proliferação de inimigos naturais, liberação
de compostos com efeito tóxicos aos patógenos e melhoria do aspecto nutricional das
plantas. Na tabela 6 são listados alguns patógenos, as culturas e os tipos de compostos
que apresentaram algum efeito no controle da doença.
Tabela 6. Patógenos controlados pela adição de matéria orgânica no solo
Patógeno Cultura Composto
Fusarium oxysporum f.sp. lycopercisi Tomate Vermicomposto
Meloidogyne SP Cenoura Esterco suíno e de carneiro
Meloidogyne javanica Café Palha de café
Sclerotium cepivorum Alho/Cebola Vermicomposto, esterco de aves e
bovinos
Phytophthora capsici Pimentão Exoesqueleto de crustáceos
47
15. Densidade de plantio
O arranjo das plantas no campo, especialmente a densidade de plantio, tem
influência direta no microclima presente na cultura. Normalmente é esperado que o
aumento do espaçamento entre plantas facilite a passagem do vento reduzindo a
umidade relativa dentro da cultura como resultado da evapotranspiração. O aumento da
umidade na copa resultará no aumento em intensidade e duração da água livre na
superfície das folhas. Além do efeito sobre o microclima, o adensamento da copa da
cultura no campo reflete na eficiência da aplicação dos procedimentos fitossanitários
como a aplicação de fungicidas. A dificuldade em fazer com que os produtos
fitossanitáros alcancem o alvo bilógico, promoverá a redução da eficiência na da
medida de controle adotada.
O aumento da duração do molhamento foliar poderá favorecer as doenças
foliares como ferrugens e manhas foliares, e mais intensamente aquelas doenças
causadas Oomicetos, como Phytophthora, por serem mais dependentes da água.
Patógenos que colonizam a base da planta como Sclerotium, Rhizoctonia e Pythium são
beneficiados pelo aumento da umidade no sistema radicular e colo da planta.
16. Tipo e manejo do sistema de irrigação
Conhecer os patossistemas que serão irrigados é determinante para a escolha do
sistema de irrigação a ser adotado na condução de determinada cultura. As principais
preocupações quando se relaciona irrigação e doenças são o prolongamento do período
molhamento foliar e a disseminação de estruturas do patógeno na lavoura.
A irrigação pode ser utilizada como instrumento de controle da doença quando
possibilita o cultivo em épocas do ano ou regiões cujo clima não é favorável à doença.
Uma das grandes vantagens fitossanitárias do plantio irrigado de fruteiras no nordeste
brasileiro e outras regiões de clima seco, decorre do uso de sistemas de irrigação por
gotejamento ou superfície evitando a ocorrência de água nas folhas, reduzindo o
molhamento foliar.
O manejo adequado da irrigação resulta em plantas mais sadias reduzindo o
estresse hídrico, evitando o encharcamento do solo e favorecendo a absorção dos
48
nutrientes. A harmonização do turno de rega e tipo de irrigação utilizado é uma
ferramenta importante no manejo das doenças. O manejo da irrigação deve então
considerar não só as exigências hídricas das plantas como também seu efeito na
disponibilidade de água para o desenvolvimento da doença. Duas orientações básicas
devem ser observadas, dar preferência à irrigação em períodos noturnos ou durante o
amanhecer, quando as folhas já se encontram molhadas pelo orvalho e o aumento do
tudo de rega, para reduzir o impacto da água no dossel das plantas.
17. Aumento da supressividade do solo
Vários patógenos habitantes do solo, como Fusarium oxysporum (causadador de
murchas), Phytophthora cinnamoni (causadora de podridão de raízes em fruteiras) e
Pythium sp. (causador de tombamento) são capazes de desenvolverem-se bem e causar
alta intensidade de doença em alguns tipos de solo, conhecidos como solos conducivos,
por outro lado, eles podem desenvolverem-se pouco e causarem pouca doença em
outros tipos de solo, conhecidos como supressivos. A existência de solos supressivos a
Fusarium tem sido investigada durante os últimos 50 anos. Os mecanismos pelos quais
determinados solos são supressivos e outros não, ainda não está bem claro porém sabe-
se que podem envolver fatores bióticos e abióticos, o que varia de acordo com o
patógeno e o tipo de solo observado. Em muitos casos são observadas associação com
microrganismos antagonistas que liberam substâncias capazes de inibirem o
crescimento do patógeno.
Alguns microrganismos antagonistas têm sido descritos como os fungos
Trichoderma e Penicilliu, e bactérias como Pseudomonas e Bacillus. Observações de
campo têm sugerido que fatores com pH e capacidade de infiltração do solo podem ser
favoráveis ou desfavoráveis à fusariose da pimenta-do-reino. Com relação a relações
bióticas, suspeita-se da relação nematóide do gênero Meloidogyne, Fursarium e
primenta-do-reino, favoreça o estabelecimento da doença, porém pesquisas precisam ser
realizadas de maneira a validar estas observações.
A interação cálcio e pH sobre fungos do gênero Fusarium tem sido observada
em alguns patossitemas há muitos anos. Casos de redução na severidade de murchas de
fusarium como conseqüência do aumento da concentração de cálcio no solo, variando
49
de 5 a 500ppm foi observado por, por outro lado a deficiência deste elemento favoreceu
a doença.
Vários patossistemas envolvendo murchas causadas por Fusarium em interação
com nematóides, têm sido estudados. Os estudos indicam que a intensidade de várias
fusarioses aumentam três a quatro semanas após a interação da planta com o nematóide,
indicando que o ferimento em si não é o principal fator de favorabilidade e sim
alterações fisiológicas provocadas pelos nematóides.
Considerações finais
Em virtude da falta de suporte de produtos fitossanitários para as minor crops o
controle cultural deve ter importância fundamental no manejo integrado de doenças
nestas culturas.
O uso do controle cultural deve ser feito de forma planejada e diversas medidas
podem e devem ser recomendadas simultaneamente.
A adoção dos princípios culturais de controle ajudam a aumentar a qualidade da
culturas em termos de sustentabilidade e a presença de resíduos de produtos
fitossanitários.
O controle cultural, em determinadas condições deverá ser acompanhado do uso
dos produtos fitossanitários, contudo para tornar este uso possível nas culturas de menor
suporte fitossanitário, uma política deve ser estabelecida para aumentar o número de
produtos registrados para estas culturas.
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Estado do Espírito Santo. Vitória: Incaper. 18p.
52
CAPÍTULO 3
Manejo de plantas daninhas em mamão
Cláudio Pagotto Ronchi1
Luiz Augusto Lopes Serrano2
Antonio Alberto da Silva3
Introdução
Em função dos tratos culturais necessários à cultura e da forma de colheita dos
frutos, o mamoeiro é cultivado em amplos espaçamentos (3,6 x 1,8 m – fileira simples;
3,6 x 1,8 x 1,8 – fileira dupla) (Marin et al.,1995; Costa et al., 2003). Por estes motivos,
e, também, pelo seu porte e arquitetura de copa, mesmo durante a fase adulta, observa-
se grande área de solo exposta na cultura do mamoeiro, favorecendo, a germinação, o
crescimento e o desenvolvimento de populações de plantas daninhas (Ronchi et al.,
2008). Além disso, nas regiões em que o mamoeiro é cultivado, como, por exemplo, em
Linhares-ES, geralmente predominam altas temperaturas (~26 ºC – inverno; ~32 ºC –
verão; Siag, 2008), altas irradiâncias (>1800 mol fotons m-2
s-1
), e praticamente todas
as lavouras são irrigadas (Martins, 2003). Esses fatores, somados ao grande aporte de
fertilizantes e de matéria orgânica (Martins, 2003) proporcionam condições muito
favoráveis à infestação do solo por plantas daninhas, agravando o efeito destas sobre a
cultura. O manejo de plantas daninhas é, portanto, prática comumente adotada na
maioria das lavouras de mamão (Ronchi et al., 2008).
As plantas daninhas interferem negativamente na cultura, causando prejuízos
econômicos a essa atividade agrícola, sejam eles diretos ou indiretos (Nishimoto, 1993;
Mederos-Olalde, 2000. Atualmente, tem sido utilizada por alguns produtores e
recomendada tecnicamente, seja no Brasil (Costa et al., 2003; Carvalho, 2005) ou na
Costa Rica (Bogantes e Mora, 2004), a eliminação das plantas daninhas na linha de
plantio e manutenção da vegetação (natural – plantas daninhas ou introduzidas -
leguminosas) na entrelinha, tendo em vista as vantagens que esse manejo pode trazer à
1 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV, Campus Rio Paranaíba, MG – [email protected]
2 Engº Agrº, D.S. e Pesquisador do INCAPER – [email protected]
3 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV, Viçosa,MG –[email protected]
53
dinâmica do agroecossistema (Carvalho, 2005). Todavia, existem riscos associados a
esta prática uma vez que algumas espécies de plantas daninhas são hospedeiras de
afídeos vetores do vírus causador de uma das principais doenças da cultura do
mamoeiro (Ronchi et al., 2008).
Os gastos com o controle de plantas daninhas na cultura, nos três primeiros
meses de cultivo, são elevados, podendo chegar a R$ 1.200,00 por hectare (Ronchi et
al., 2008). No período desde o transplantio à sexagem, que ocorre aproximadamente aos
90 dias após o transplantio (DAT), realizam-se quatro operações de controle de plantas
daninhas, ou seja, uma capina a cada 22-23 dias, distribuídas da seguinte forma: de 15 a
30 DAT - 1ª capina (utilizam-se 27 homens dia-1
ha-1
); de 30 a 45 DAT - 2ª capina
(utilizam-se 15 homens dia-1
ha-1
); de 45 a 60 DAT - 3ª capina (utilizam-se 11 homens
dia-1
ha-1
); de 60 a 90 DAT - 4ª capina (utilizam-se 6 homens dia-1
ha-1
). Logo, para o
controle de plantas daninhas até aos 90 DAT, gastam-se, por hectare, o total de 59
homens dia-1
, que a R$ 20,00 dia-1
, equivale a R$ 1.180,00 ha-1
(Ferregueti,
comunicação pessoal). Esses dados mostram a necessidade de se desenvolver
tecnologias para o manejo de plantas daninhas na cultura (Ronchi et al., 2008).
Infelizmente, as pesquisas relacionadas ao manejo de plantas daninhas na
cultura do mamoeiro são incipientes (Ronchi et al., 2008). Por exemplo, a quantificação
das perdas causadas à cultura em função da interferência das plantas daninhas limita-se
a apenas alguns trabalhos. Verificaram-se que plantas de mamoeiro originadas de
semeadura direta foram praticamente destruídas pela presença de plantas daninhas
(Nishimoto et al., 1973) e que aquelas transplantadas, sob competição, produziram entre
34 e 59% do rendimento obtido nas plantas livres de interferência (Nishimoto, 1993).
Mederos-Olalde et al. (2000), por sua vez, constataram redução de 92% na
produtividade de lavouras sob infestação de plantas daninhas comparadas àquelas com
controle total das mesmas. Neste caso, o efeito foi indireto em função das planas
daninhas propiciarem maior incidência de viroses à lavoura.
Época de controle
Na cultura do mamoeiro, o período crítico de competição (período em que as
plantas daninhas concorrem efetivamente com a cultura), a rigor, é absolutamente
desconhecido. Carvalho (2003 e 2005) menciona que o período crítico de competição,
54
para regiões de Tabuleiros Costeiros (Espírito Santo e Bahia), situa-se entre os meses de
setembro a maio. Todavia, o autor reconhece a ausência de informação sobre o tema e
menciona que tal período de competição trata-se apenas de uma extrapolação feita a
partir da cultura de citrus, porém para ambiente semelhante àquele em que o mamoeiro
é cultivado. Tornam-se premente, portanto, pesquisas de campo para se determinar o
período de interferência das plantas daninhas com a cultura do mamoeiro (Ronchi et al.,
2008). Essa informação permitiria a otimização do manejo de plantas daninhas seja por
reduzir o custo de produção (redução do número de operações de cultivo) ou por
prevenir danos ao meio ambiente, decorrente da eliminação indevida da cobertura
vegetal do solo, em épocas inoportunas, que seriam fundamentais na sustentabilidade do
sistema agrícola (Ronchi et al., 2008).
Nas lavouras comerciais e convencionais, altamente tecnificadas, em Linhares,
o manejo de plantas daninhas na linha de plantio tem sido realizado de acordo com o
esquema apresentado no Quadro 1 (Ronchi et al., 2008). Desde o transplantio até a
sexagem, período que dura entre três e quatro meses, cerca de três operações são
realizadas para se controlar as plantas daninhas, com predominância de capinas manuais
(uma vez que as plantas de mamoeiro ainda jovens são, de forma geral, sensíveis a
herbicidas - Nishimoto, 1997). Após a sexagem, faz-se o amontôo (geralmente
mecanizado), independentemente se a lavoura foi plantada em fileira simples (irrigação
por gotejamento) ou dupla (irrigação por microaspersão), ou em terreno plano ou sobre
pequenos camalhões. O amontôo, por si só, em analogia à arruação feita em lavouras de
café (Ronchi et al., 2001), constitui-se numa operação de controle de plantas daninhas
(Ronchi et al., 2008). Seguindo-se o amontôo, ou se faz mais uma capina ou,
definitivamente, até o final do ciclo, geralmente utiliza-se de herbicidas não seletivos,
em pós-emergência das plantas daninhas. Na entrelinha, o controle é feito com grade,
roçadeira ou com herbicidas não seletivos em pós-emergência das plantas daninhas. É
importante ressaltar, que na lavoura irrigada por microaspersão (portanto cultivadas em
fileira dupla), diferentemente das cultivadas em fileiras simples, as plantas daninhas são
completamente eliminadas para evitar que a uniformidade de distribuição de água na
área, dentro da fileira dupla, pelos aspersores, seja prejudicada (Ronchi et al., 2008).
Diante do exposto verificam-se algumas peculiaridades no controle de plantas
daninhas na cultura do mamoeiro que devem ser consideradas ao se estudar o período
crítico de competição e as estratégias de controle, sob pena, caso contrário, de os
55
resultados obtidos revestirem-se de pequena ou nenhuma aplicação prática: (i) o
controle de plantas daninhas é subdividido em duas fases: antes e depois do amontôo;
(ii) o controle de plantas daninhas é diferenciado em função do sistema de plantio ou
tipo de irrigação: fileira simples - gotejamento; fileira dupla – microaspersão (Ronchi et
al., 2008).
Quadro 1. Esquema do manejo de plantas daninha na linha de plantio do mamoeiro, ao
longo de seu ciclo de vida. (Adaptado de Ronchi et al., 2008).
Transplantio 1ª florada, sexagem, amontôo 1ª colheita Última colheita
M A M J J A S O N D ...
1º ao 3-4º mês 4-5º ao 24-30º mês
Crescimento inicial Fase reprodutiva
Duas a três capinas ou duas
capinas + uma aplicação de
herbicida
Uma capina + várias aplicações de herbicidas sistêmicos
ou
Apenas várias aplicações de herbicidas sistêmicos
Manejo integrado
A manutenção do solo totalmente livre de plantas daninhas é uma prática não
recomendável, pois favorece a degradação do solo, além de ser de alto custo e
desnecessária. O mamoeiro, como a maioria das culturas perenes, necessita que se
mantenha limpa uma determinada área de solo ao redor do caule, para prevenir-se a
interferência entre as plantas daninhas e a cultura, mantendo-se a vegetação na
entrelinha (Bogantes e Mora, 2004). Além disso, é na região de solo próximo ao caule
da planta que se concentra a maioria do sistema radicular do mamoeiro (Masr, 1993;
Costa e Costa, 2003), principalmente devido à irrigação e ao uso intenso de fertilizantes
e de matéria orgânica localizados nesta região. No Brasil, em Linhares, a cobertura
verde do solo, entre as linhas de plantio, é praticada por 40% dos produtores (Martins,
2003). É importante considerar, também, que nas regiões em que o mamoeiro é
cultivado, o clima caracteriza-se por elevadas temperaturas e fortes ventos. Esses
56
fatores, aliados ao solo predominantemente de textura arenosa a média e aos amplos
espaçamentos em que a cultura é plantada, podem trazer grandes prejuízos ao solo,
degradando-o, caso a vegetação na entrelinha não seja mantida (Ronchi et al., 2008).
Atualmente, nas lavouras comerciais, principalmente após o transplantio, o
controle de plantas daninhas é feito em faixa, porém a largura da mesma é definida de
forma aleatória, uma vez que nenhum estudo foi realizado sobre esse tema (Ronchi et
al., 2008). A faixa de controle deve ser ampla o suficiente para evitar o estabelecimento
da competição, mas ao mesmo tempo, mínima o suficiente para reduzir o custo de
controle e manter a superfície do solo na entrelinha protegida. Torna-se necessário,
portanto, sobretudo para plantios feitos em fileira simples, definir-se qual deve ser a
largura da faixa de controle de plantas daninhas de cada lado da linha de plantio, para
que não ocorra interferência com a cultura (Ronchi et al., 2008). Um trabalho realizado
na Costa Rica (Bogantes e Mora, 2004) sugere como adequada uma faixa de 0,60 m de
cada lado da linha de plantio.
Quando o mamão é cultivado em consórcio com outras culturas, o manejo das
plantas daninhas nas culturas consorciadas pode favorecer o mamoeiro (Sauls e
Campbell, 1980). Todavia, o hábito de crescimento da cultura consorciada deve ser
considerado para garantir a máxima produtividade do mamoeiro. Por exemplo, o
consórcio de mamão com caupi (Vigna unguiculata) reduziu a biomassa das plantas
daninhas em mais de 90%, não sombreou o mamoeiro e aumentou o rendimento da
cultura. Todavia, algumas combinações com milho, e, ou, feijão-de-vagem, causaram
sombreamento e reduziram a produtividade da cultura (Nishimoto, 1997)..
Nas regiões produtoras de mamão da Bahia e do Espírito Santo (Tabuleiros
Costeiros), em que predominam solos de fácil compactação e com presença marcante de
camada adensada sub-superficialmente, o manejo integrado de plantas daninhas,
particularmente a manutenção da cobertura vegetal (introduzida ou natural) na
entrelinha tem apresentado resultados positivos (Carvalho et al., 2004; Carvalho, 2005;
Santana et al., 2005). O cultivo de espécies como Canavalia ensiformis, Crotalaria
juncia e Vigna unguiculata além de propiciar a cobertura e proteção do solo, promove a
ciclagem de nutrientes, via grande aporte de massa seca à superfície, que é de extrema
importância naquele sistema, principalmente considerando-se a pouca profundidade do
sistema radicular do mamoeiro (Carvalho, 2005). Não menos importante, as
leguminosas promovem redução da massa seca de plantas daninhas na lavoura,
57
diminuição significativa no banco de sementes (Santana et al., 2005) e melhorias das
propriedades físicas do solo (Carvalho et al., 2004).
Apesar do apelo agroecológico da manutenção da vegetação natural (plantas
daninhas) na entrelinha de cultivo, principalmente na produção integrada de mamão
(Martins, 2003; Ruggiero et al., 2003; Carvalho, 2005), existem riscos associados a esta
prática, que geralmente forçam os agricultores a eliminar toda a vegetação na lavoura,
pois muitas espécies de plantas daninhas são hospedeiras de afídeos vetores do vírus
causador de uma das principais doenças da cultura do mamoeiro, o mosaico (Ventura et
al., 2003). Também conhecido como mancha anelar, o mosaico representa 68% das
viroses que acometem a cultura (Martins, 2003) e pode causar perdas elevadas caso as
plantas doentes não sejam eliminadas tão logo apareçam os primeiros sintomas (Ventura
et al., 2003). Não obstante, algumas plantas daninhas também são hospedeiras de
cochonilhas, insetos que se constituem num importante problema fitossanitário dessa
cultura (Culik et al., 2007; Martins, 2007).
A região produtora de mamão do Espírito Santo apresenta elevado número de
plantas daninhas hospedeiras de pulgões associado à cultura (Lima et al., 2003b; Rocha
et al., 2005; Martins et al., 2007; Martins e Ventura, 2007). Neste caso, as 10 principais
espécies de plantas daninhas foram Bidens pilosa, Chamaesyce hirta, C. hyssopifolia, C.
benghalensis, Emilia coccinea, E. sonchifolia, Gnaphalium spicatum, Malvastrum
americanum, Sida spp. e Solanum americanum (Lima et al., 2003b). Das 31 espécies
hospedeiras de pulgões, S. americanum (maria-pretinha) foi a que apresentou maior
número destes insetos (apesar de não ser a mais freqüente), seguida da espécie C.
benghalensis (trapoeraba) que se destacou também por ser a espécie com maior
freqüência de infestação (Lima et al., 2003b). S. americanum mostrou-se hospedeira de
Aphis fabae e C. benghalensis, B. pilosa e Amaranthus spp. foram hospedeiras de Aphis
gossypii (Lima et al., 2003b). Trabalhos de Martins et al. (2005; 2007) e Rocha et al.
(2005) também evidenciam, independentemente do sistema de produção e tipo de
irrigação, que C. benghalensis é a espécie mais importante naquela região por ser
hospedeira de um maior número de espécies de afídeos e por estar associada à cultura
do mamão durante todo o ano.
A população de afídeos geralmente é maior nas lavouras do sistema integrado
que nas do sistema convencional de produção, provavelmente devido à presença (ou à
58
obrigatoriedade da manutenção) da cobertura vegetal na entrelinha daquele sistema,
ainda que o número de plantas de mamoeiro infectadas não se tenha alterado (Lima et
al., 2003a). Em Cuba, Mederos-Olalde et al. (2000) verificaram que o número de
plantas doentes (viróticas) foi 7.088% superior em lavouras sem o controle do mato,
comparadas aquelas com controle em área total. Logo, as plantas daninhas foram
indiretamente o principal fator responsável pelas doenças viróticas (Mederos-Olalde et
al., 2000).
Um dos grandes desafios dessa cultura, particularmente da produção integrada
de mamão, será o de se eliminar, de forma seletiva, somente as plantas daninhas
hospedeiras dos pulgões, mantendo-se a cobertura vegetal natural (não-hospedeira de
vetores) na lavoura (Ronchi et al., 2008). É importante ressaltar que determinadas
espécies de plantas daninhas podem contribuir para a manutenção de elevadas
populações de inimigos naturais dos pulgões. Tomados em conjunto, esses aspectos
permitem concluir que em lavouras de mamão completamente infestadas por C.
benghalensis (o que é muito comum) a adoção da produção integrada é,
conceitualmente, inviabilizada (Ronchi et al., 2008). O mesmo não ocorre para a
produção convencional de mamão, uma vez que uma das medidas de controle
recomendada para diminuir a disseminação do mosaico é manter o pomar (e suas
vizinhanças) no limpo, para evitar a formação de colônias de afídeos nas plantas
daninhas (Ventura et al., 2003).
Herbicidas
O controle de plantas daninhas nas lavouras de mamão do estado do Espírito
Santo é feito exclusivamente com herbicidas em 34% das propriedades, e com
herbicidas associados a outros métodos de controle em 56% do total (Martins, 2003).
No entanto, manejar plantas daninhas na linha de plantio do mamoeiro constitui-se em
tarefa difícil, pois o controle manual é dispendioso, e, muitas vezes, impossível de ser
realizado, haja vista a escassez de mão-de-obra e a umidade excessiva do solo; o
controle químico carece de herbicidas seletivos para esta fase da cultura, registrado para
uso em pré ou pós-emergência, e, também, de tecnologias adequadas à aplicação de
herbicidas não seletivos, semelhantemente ao que se verifica em lavouras de café
(Ronchi et al., 2001). Além disso, o controle manual de plantas daninhas na linha de
59
plantio, com o uso de enxadas, tem causado ferimentos no sistema radicular
(provavelmente por este ser superficial; Masr, 1993; Costa e Costa, 2003) e no caule do
mamoeiro, além de prejudicar o sistema de irrigação (perfuração das mangueiras de
gotejamento) (Ferregueti, comunicação pessoal). Estes fatos demonstram a necessidade
de se pesquisar tecnologias de controle de plantas daninhas na linha de plantio (Ronchi
et al., 2008).
A manutenção da linha de plantio no limpo pode ser conseguida utilizando-se
de herbicidas seletivos aplicados em pré ou pós-emergência das plantas daninhas ou por
meio de herbicidas não seletivos, aplicados em jato dirigido à linha de plantio, sob a
copa das plantas de mamão, evitando-se a deriva (Ronchi et al., 2008). Todavia, para a
cultura do mamoeiro, no Brasil, não existem herbicidas registrados que apresentem
seletividade total para serem aplicados diretamente sobre as plantas desta cultura, em
pré ou pós-emergência das plantas daninhas (Martins, 2003; Rodrigues e Almeida,
2005; Mapa, 2008).
O glyphosate (que é o único herbicida registrado para a cultura do mamoeiro
no Brasil – MAPA, 2008, em cultivo convencional) tem sido usado em pós-emergência,
sobretudo em lavouras adultas de mamão, para o controle não-seletivo de plantas
daninhas nesta cultura no Brasil (Martins, 2003; Rodrigues et al., 2003) ou na Costa
Rica (Guzmán, 1998). Não se tem observado injúrias ao mamoeiro ou redução da
produtividade pelo uso de aplicações repetidas desse herbicida, desde que seja aplicado
de forma dirigida às plantas daninhas, sem que as folhas e as partes verdes do caule do
mamoeiro sejam atingidas. Por isso, além do uso de tecnologia de aplicação adequada,
principalmente para se evitar ou reduzir a deriva, recomendam-se aplicações em
lavouras cujas plantas estejam com altura superior 1,1 m, o que pode ocorrer entre
quatro e 12 meses após o transplantio (Romanowski et al., 1972; Nishimoto e Hibbard,
1979; Nisimoto, 1997).
Assim como em outras culturas perenes (café e citrus, por exemplo), a
trapoeraba encontrou, nas lavouras de mamão, condições favoráveis ao seu ótimo
desenvolvimento, e, por isso, está amplamente disseminada e presente durante todo o
ano, particularmente nas lavouras do norte do estado do Espírito Santo (Ronchi et al.,
2008). A atual predominância dessa espécie nas lavouras é resultado, provavelmente, da
eliminação da interferência das outras plantas daninhas (Ramos e Durigan, 1996), pela
aplicação continuada de glyphosate, uma vez que a trapoeraba é tolerante a este
60
herbicida (Ronchi et al., 2002a). Apesar da ineficiência do glyphosate no controle de
trapoerabas, este herbicida é muito utilizado nas lavouras de mamão, uma vez que
controla eficazmente praticamente quase a totalidade das demais plantas daninhas,
particularmente as Poaceae, e é de baixo custo (Ronchi et al., 2008). Considerando-se
que a trapoeraba é de ampla ocorrência nas lavouras (Martins, 2003) e sua presença é
indesejável, uma vez que é hospedeira de insetos (pulgões) vetores do vírus do mosaico
do mamoeiro, existe a necessidade de se identificar outros tratamentos herbicidas
eficientes para manejo dessa planta daninha nas lavouras de mamão, principalmente,
aqueles formados pela combinação de herbicidas (Ronchi et al., 2008). Existem
herbicidas com potencial para seu controle (Ronchi et al. 2002a; 2002b), todavia, são
necessárias pesquisas para comprovar a eficácia no controle de trapoeraba nessa cultura,
definir as doses adequadas, viabilidade econômica e ambiental; e também possíveis
injúrias sobre a cultura. Na cultura do café, aplicações seqüenciais de glyphosate, em
intervalos de 20 dias, permitem controle eficiente de trapoerabas (Ronchi et al., 2001).
Apesar de herbicidas recomendados para uso em pré-emergência (de outras
plantas cultivadas) praticamente não serem utilizados em lavoura de mamão em
semeadura direta, provavelmente em razão da tolerância marginal apresentada pela
cultura (Nishimoto, 1997), alguns têm potencial sem injuriar a cultura, como oryzalin,
pendimethalin e alachlor, porém com efeitos dependentes do tipo de solo, e eficiência
sobre poucas espécies de plantas daninhas (Nishimoto et al., 1973; Nishimoto, 1981).
Todavia, na cultura transplantada, a tolerância das plantas aos herbicidas aplicados em
pré-emergência é aumentada (Nishimoto et al., 1973, Nishimoto, 1981). Por exemplo,
imediatamente após o transplantio, as plantas de mamão toleram o oryzalin, se este for
dirigido à área de solo próxima ao caule do mamoeiro; todavia, se usado entre sete e
nove semanas após o transplantio, estando as plantas com 8-15 cm de altura, ele pode
ser aplicado diretamente sobre elas (Nishimoto 1981 e 1993).
Apesar da sua importância para o sucesso do controle químico, não há qualquer
registro de pesquisas científicas sobre tecnologia de aplicação de herbicidas nas
lavouras de mamão (Ronchi et al., 2008). Herbicidas não seletivos têm sido aplicados
com pulverizadores costais manuais ou tratorizados, e, ou, com equipamento que
permite aplicar o produto puro, em ultra baixo volume. Para os pulverizadores costais,
utilizam-se de pontas de pulverização tipo leque 110.01 e 110.02, vazão de 150 a 400 L
ha-1
e pressão de trabalho de 20 a 30 lb pol-2
; para os tratorizados, utilizam-se de pontas
61
80.03, 80.03, 110.03 e 110.04, vazão de 200 a 400 L ha-1
e pressão de 30 a 40 lb pol-2
.
O número de bicos varia com o espaçamento da lavoura. Nas aplicações tratorizadas é
comum utilizarem-se de mangueiras acopladas nos tanques, reservatórios do produto:
são utilizadas duas mangueiras que possuem na sua extremidade barras semelhantes às
do pulverizador costal manual. Nestas barras são acopladas as pontas de pulverização, e,
comumente, o “chapéu Napoleão” (Ronchi et al., 2008).
Para aplicações em ultra baixo volume (UBV), o frasco de um litro do produto
comercial é acoplado diretamente no equipamento e a aplicação é realizada por meio de
gatilhos, de forma contínua ou intermitente, através da energia fornecida por pilhas, não
sendo necessário, portanto, bombear. O equipamento é dotado de uma barra de 1,20 m
de comprimento que possui na extremidade uma campânula protetora de 0,35 m de
diâmetro, sob a qual adapta-se um bico que aplica gotas de 150 a 300 micra, ideais para
aplicação em UBV. O equipamento com o frasco acoplado é leve, conferindo eficiência
e praticidade durante a aplicação. O rendimento é de aproximadamente 3.000 m2 h
-1
(Suporte Agrícola, 2008).
Considerações finais
A otimização do manejo de plantas daninhas na cultura do mamoeiro é um
campo totalmente em aberto para pesquisas científicas, sejam elas básicas ou aplicadas
(Ronchi et al., 2008). A grande diversidade edafoclimática sob a qual o mamoeiro é
cultivado, somada à diversidade elevada de genótipos existentes e aos vários sistemas
de cultivos empregados implicam na necessidade de estudos de abrangência local ou no
máximo regional. Com o advento da produção integrada de mamão, o manejo adequado
das plantas das plantas daninhas ganha importância, necessitando de um tratamento
diferenciado daquele dado ao manejo de plantas daninhas na produção convencional. É
necessário, além de se quantificar as perdas causadas pelas plantas daninhas, gerar
informações técnico-científicas e práticas sobre a biologia de plantas daninhas, espécies
que ocorrem nas lavouras e que são hospedeiras de patógenos, estudos de competição e
períodos de convivência, faixas de controle, freqüência de capinas e consorciamento.
Não obstante, pesquisas sobre o controle químico de plantas daninhas (seletividade de
herbicidas, eficiência de controle e tecnologias de aplicação) são de grande
aplicabilidade (Ronchi et al., 2008). Em conjunto, estas informações resultariam em
redução no custo de produção e melhoria da sustentabilidade do ambiente.
62
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de produção. Vitória: Incaper, 2003. P. 231-308.
66
CAPÍTULO 4
Manejo de plantas daninhas na cultura do maracujazeiro
Luiz Augusto Lopes Serrano1
Juares Ogliari2
Cláudio Pagotto Ronchi3
Carlos Magno Magalhães da Silva4
1. Introdução
Das 600 espécies de maracujás, pertencentes à família Passifloracea, distribuídas
nas regiões tropicais e subtropicais do mundo (Mabberley, 1997), a Passiflora edulis
Sims f. flavicarpa Deg (maracujazeiro-amarelo) é a mais cultivada, representando 90%
da produção mundial. No Brasil esta mesma espécie representa 95% de toda a área
plantada, cerca de 47 mil hectares, totalizando uma produção aproximada de 665 mil
toneladas (IBGE, 2009). Em 2007, o estado do Espírito Santo foi o terceiro maior
produtor nacional desta fruta, com uma produção de 80 mil toneladas em 3 mil hectares
(IBGE, 2009). Os maiores produtores estaduais são os municípios localizados na região
norte: Sooretama (30 mil ton.) – foi várias vezes o maior produtor nacional –, Pinheiros
(18 mil ton.), Jaguaré (8,4 mil ton.), Linhares (8,0 mil ton.), Boa Esperança (2,6 mil
ton.) e São Mateus (2,2 mil ton.).
A produtividade do maracujazeiro pode ser afetada pela intensidade da radiação
solar e horas diárias de exposição à luz (ideal 12 horas por dia), estresse hídrico (ideal
900 a 1.500 mm), deficiência nutricional, temperatura do ar (ideal 26 a 27°C) e do solo,
ataque de pragas e doenças (Simon e Karnatz, 1983; Menzel et al., 1986) e interferência
das plantas daninhas (Ogliari, 2003 e Rosa et al., 2002).
O plantio de maracujá no Brasil é importante pela quantidade de frutos
produzidos por ha, sendo essa cultura recomendada para pequenas propriedades. Ela
necessita de muita mão-de-obra, pelo fato da colheita ser manual e semanal, podendo
1 Engº Agrº, D.S. e Pesquisador do INCAPER – [email protected]
2 Engº Agrº, D.S. UENF, Campos dos Goytacazes, RJ – [email protected]
3 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV, Campus Rio Paranaíba, MG –[email protected]
4 Engº Agrº, D.S. INCRA, Rio de Janeiro, RJ – [email protected]
67
necessitar de 112 a 272 dias de trabalho por ano em cada hectare cultivado (Agrianual,
2002). Essa cultura também gera empregos na indústria e nos serviços de
comercialização, pois o suco de maracujá é o terceiro mais produzido no Brasil (Aguiar
e Santos, 2001).
2. Manejo de plantas daninhas
A concorrência das plantas daninhas é um dos fatores que, juntamente com as
pragas e doenças, mais contribuem para a queda na produção de frutos na cultura do
maracujazeiro. Essas perdas podem variar de 75% (Rosa et al., 2002) a 97% (Ogliari,
2003), principalmente, devido à competição pelos fatores limitantes no ecossistema
como água, luz, nutriente, espaço útil, e também, devido a substâncias alelopáticas
produzidas pelas plantas daninhas.
Para o correto manejo das plantas daninhas, é de suma importância iniciarmos
pelo conhecimento da distribuição do sistema radicular do maracujazeiro, uma vez que
orienta melhor os tratos culturais. Segundo Carvalho (1987), a formação da parte aérea
da planta está diretamente relacionada com o desenvolvimento radicular. Assim, esta
característica é importante na fase de pós-plantio no campo, proporcionando aumento
no estabelecimento (crescimento rápido) da planta, elevando a competição com as
plantas daninhas. Estudos da profundidade e distribuição do sistema radicular do
maracujazeiro indicaram que 92% do total das raízes estão até 0,45 m de profundidade,
sendo que deste total 41% estão até 15 cm. Quanto à distribuição lateral das raízes, em
torno de 80% estão localizadas a uma distância de 0,15 a 0,45 m do tronco (Carvalho,
1987).
Por ser o maracujazeiro uma cultura perene, ele apresenta crescimento inicial
lento e um sistema radicular superficial, sendo bastante sensível à competição com
plantas daninhas pelos fatores de produção (água e nutrientes). Também neste período, a
competição das plantas daninhas tende a ser maior por luz, uma vez que devido ao
pouco sombreamento do solo, há um maior desenvolvimento das plantas daninhas (Foto
1). Essa competição interfere diretamente no desenvolvimento inicial do maracujazeiro
podendo em algumas situações, inviabilizar a exploração comercial.
68
As plantas daninhas, diferentemente de outras pragas agrícolas, estão sempre
presentes nos agroecossistemas, sendo diretamente responsáveis pela competição e
alelopatia, ou podendo afetar a cultura indiretamente, funcionando como reservatório de
patógenos, atrativos para insetos-pragas, como a trapoeraba que serve de abrigo e local
de multiplicação do pulgão transmissor dos vírus que causa o endurecimento dos frutos
(PWV e CABMV) (Santana et al., 2008). Dessa forma, elas são responsáveis pela
diminuição drástica na produção econômica do maracujazeiro (Ogliari, 2003 e Rosa et
al., 2002).
Entretanto, quando as plantas daninhas são manejadas adequadamente, estas se
tornam importantes para a proteção do solo (evitando a erosão), servem de fonte de
matéria orgânica (resíduo vegetal), reciclam nutrientes e a sua rizosfera serve de abrigo
para microorganismos benéficos. Ademais, as suas flores produzem néctar que atraem
inimigos naturais de importantes pragas. Elas também atuam como barreiras físicas
contra pragas prejudiciais ao maracujazeiro, servindo de hospedeiras para estas (podem
ser utilizadas como fonte de alimentos para organismos que atacariam a cultura), e,
consequentemente, atraindo os inimigos naturais dessas pragas (Altieri e Liebman,
1986; Durigan e Timossi, 2002).
Foto 1. Planta nova de maracujazeiro-amarelo mantida no limpo. Observa-se que a alta
insolação favorece a emergência de várias espécies de plantas daninhas (Serrano, 2007).
69
2.1. Período crítico de interferência
A maioria das plantas cultivadas é mais sensível à competição com as plantas
daninhas numa determinada fase do seu desenvolvimento. Portanto, em determinados
períodos as culturas devem ficar livres das plantas daninhas, para que sejam evitadas
perdas na produção. Esse período é definido como Período Crítico de Prevenção à
Interferência (PCPI), que compreende o início da interferência das plantas daninhas
(final do Período Anterior à Interferência – PAI) até o final desta interferência (final do
Período Total de Prevenção à Interferência – PTPI) (Figura 1).
A competição entre as plantas cultivadas e as plantas daninhas está relacionada
principalmente, a fatores limitantes do ecossistema, como água e nutrientes (Carvalho e
Vargas, 2004). Essa competição depende das espécies de plantas envolvidas, da
densidade das plantas daninhas, da altura e do hábito de crescimento da cultura e de
fatores ambientais como, umidade do solo e clima (Matos et al., 1991).
Figura 1. Esquema dos períodos de convivência de plantas daninhas nas culturas
(Serrano 2009).
Em períodos de déficit hídrico no solo, as plantas daninhas competem com o
maracujazeiro por água, podendo ocorrer perdas na produção de frutos de até 30%, se a
cultura não for irrigada. Já em períodos de chuvas abundantes e elevadas temperaturas,
as plantas daninhas competem com o maracujazeiro por nutrientes, acarretando
prejuízos de até 40% na produtividade. A elevada interferência das plantas daninhas
nesse período chuvoso, também afeta a produção de flores na próxima estação de
floração (Durigan, 2003).
70
O conhecimento das principais plantas daninhas que infestam o maracujazeiro é
de fundamental importância para a aplicação correta dos métodos de controle
disponíveis. No norte do Espírito Santo, empresas produtoras e exportadoras de frutas
realizam o levantamento e monitoramento das plantas daninhas dentro dos talhões
produtivos. As plantas daninhas mais comuns na região são apresentadas na Tabela 1.
O estudo da biologia das plantas daninhas é importante para a escolha, e a
utilização dos métodos de controle mais eficazes. Assim, é necessário conhecer a
extensão do ciclo da espécie, exigência por fatores essenciais para o desenvolvimento e
formas de reprodução (vegetativa e/ou sexuada). As plantas daninhas são problemáticas
para o maracujazeiro, pois interferem no crescimento, na produção de frutos, dificulta a
colheita dos frutos e aumenta o custo de produção.
Os pomares de maracujazeiros são, não raramente, infestados por espécies
agressivas que faziam parte do agroecossistema anterior ou que foram introduzidas de
áreas próximas, como ocorrem em determinadas regiões onde a cultura é instalada em
áreas de pastagens. Nestes casos, sobressaem o capim-braquiária (Brachiaria
decumbens) e o capim-colonião (Panicum maximum), espécies com altas capacidades
de produção de sementes.
Tabela 1. Principais espécies de plantas daninhas encontradas em pomares produtivos
na região Norte Capixaba (Fonte: Caliman Agrícola S/A, modificada por Serrano,
2009).
Nome Científico Nomes Comuns Família
Amaranthus sp. Caruru-verde, roxo, rasteiro e
gigante
Amaranthaceae
Chenopodium ambosioides Erva-de-Santa-Maria Chenopodiaceae
Commelina benghalensis Trapoeraba Commelinaceae
Acanthospermum australe Carrapicho-rasteiro, mata-pasto Compositae
Acanthospermum hispidum Carrapicho-de-carneiro Compositae
Bidens pilosa Picão-preto Compositae
Blainvillea rhomboidea
(latifolia)
Erva palha, canela-de-urubu Compositae
Emília sonchifolia Falsa-serralha Compositae
Sonchus oleraceus Serralha Compositae
Ipomoea sp. Corda-de-viola Convolvulaceae
Coronopus didymus Mastruço Cruciferae
Momordica charantia Melão-de-São-Caetano Cucurbitaceae
Cyperus rotundus e C.
esculentus
Tiririca Cyperaceae
Chamaesyce hirta Erva-de-Santa-Luzia Euphorbiaceae
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Euphorbia heterophylla Leiteira Euphorbiaceae
Ricinus communis Mamona Euphorbiaceae
Brachiaria mutica Capim-angola Gramineae
Setaria geniculata Capim rabo-de-raposa Gramineae
Brachiaria decumbens Capim-braquiária Gramineae
Brachiaria plantaginea Capim-marmelada, papuã Gramineae
Cenchrus echinatus Capim-carrapicho, timbête Gramineae
Cynodon dactylon Grama-seda Gramineae
Digitaria horizontalis Capim-colchão, milhã Gramineae
Digitaria insularis Capim-amargoso, capim-flecha Gramineae
Echinochloa colonum Capim-arroz, coloninho Gramineae
Eleusine indica Capim pé-de-galinha Gramineae
Panicum maximum Capim colonião Gramineae
Paspalum maritimum Capim-Pernambuco Gramineae
Pennisetum clandestinum Capim-quicuio Gramineae
Sorghum arundinaceum Falso-massambará Gramineae
Eragrotis pilosa Capim-mimoso Gramineae
Leonotis neptaefolia Cordão-de-frade Labiatae
Crotalaria incana Xique-xique, guizo-de-cascável Leguminosae
Desmodium tortuosum Carrapicho-beiço-de-boi Leguminosae
Indigofera hirsuta Anileira Leguminosae
Senna obtusifolia Fedegoso Leguminosae
Senna ocidentalis Fedegoso Leguminosae
Sida cordifolia Guanxuma Malvaceae
Sida glaziovii Guanxuma Malvaceae
Sida rhombifolia Guanxuma Malvaceae
Portulaca oleracea Beldroega Portulacaceae
Nicandra physaloides Joá-de-capote Solanaceae
Solanum americanum Maria-pretinha Solanaceae
Plantas daninhas que apresentam grande disseminação por estruturas de
reprodução vegetativa devem ser criteriosamente monitoradas, como é o caso, dos
rizomas e estolões de grama-seda (Cynodon dactylon) e os tubérculos de tiririca
(Cyperus rotundus), pois além de serem altamente competitivas apresentam severa
dificuldade de controle.
Importante também é o monitoramento das plantas daninhas hospedeiras de
vetores que transmitem viroses para a cultura. Na cultura do mamoeiro, Martins (2003)
constatou no norte do Espírito Santo que as 10 principais espécies botânicas hospedeiras
de afídeos são: Solanum americanum, Commelina benghalensis, Malvastrum
americanum, Chamaesyce hyssopifolia, Bidens pilosa, Sida sp., Emilia sonchifolia,
Emilia coccínea, Chamaesyce hirta e Gnaphalium spicatum.
72
2.2. Métodos de controle das plantas daninhas
O controle das plantas infestantes na cultura do maracujazeiro pode ser realizado
por diversos métodos, levando-se em consideração fatores de natureza técnica,
econômica, cultural e ecológica. Muitas técnicas de manejo de plantas daninhas
utilizadas em outras fruteiras podem ser utilizadas na cultura do maracujazeiro, como
cobertura morta, adubação verde, roçadas, capinas e utilização de herbicidas.
A rotação de cultura, um método de controle cultural, representa alternativa
importante para o controle de invasoras, principalmente para as mais problemáticas. No
caso da cultura do maracujazeiro tem-se, em média, uma vida útil do pomar de 2 a 3
anos (este período varia com as condições fitossanitária e nutricional da planta), quando,
então, o pomar é renovado. Geralmente os produtores renovam a lavoura na mesma
área, em muitos casos para reduzir os custos em termos da infra-estrutura já implantada
(irrigação, estruturas de sustentação das plantas, localização da área e etc), entretanto, a
fitossanidade do pomar poderá ficar comprometida, tanto para as plantas daninhas,
como, principalmente, para as doenças e pragas.
Quanto ao controle mecânico, a capina manual com enxada realizada ao redor
das plantas (coroamento) é comumente utilizada pelos pequenos produtores, entretanto
esse método demanda muita mão-de-obra, apresenta baixo rendimento e tem duração
muito curta, pois as plantas infestantes restabelecem rapidamente. Esta prática pode
ainda afetar o sistema radicular superficial do maracujazeiro, e este apresenta alta
sensibilidade aos danos no sistema radicular e no colo do tronco, além do que estes
ferimentos podem servir de porta de entrada para pátogenos do solo, principalmente
para o fungo causador da fusariose que ataca os vasos lenhosos a partir das raízes
causando murcha generalizada e morte rápida das plantas. A capina manual ou através
de implementos mecânicos, próximos a planta (menos de 1 m de distância), não é
recomendável em função dos danos causados às raízes, uma vez que estas se
concentram na sua maioria de 15 a 45 cm de distância do caule.
Ademais, Victoria Filho (1998) salienta que a capina manual, muitas vezes é
usada de forma errônea, pois geralmente as plantas daninhas capinadas e acompanhadas
de solo, são retiradas no sentido do tronco para fora da copa, acarretando na retirada de
nutrientes e material orgânico para locais de menor quantidade de raízes.
73
O controle de plantas daninhas pela utilização de grades ou de enxadas rotativas
próximas as plantas de maracujá, também pode atingir as raízes, necessitando de gasto
substancial de energia para reposição das mesmas, principalmente na época reprodutiva.
Também é importante enfatizar, a baixa eficiência deste método para o controle de
plantas daninhas com reprodução vegetativa, sobretudo nos períodos chuvosos.
Devido a esses fatores descritos, o correto para a cultura é que na linha das
plantas da cultura, ocorra o arranque manual das plantas daninhas (antieconômico para
média e grandes áreas) ou o controle químico com herbicidas. A capina manual seria
utilizada, somente para controle de plantas daninhas especificas (perenes de difícil
erradicação), após o tratamento com herbicidas, ou em situações que sejam justificadas
seu emprego. Já nas entrelinhas do pomar de maracujazeiro a utilização de roçadeiras
tracionadas por tratores é uma prática viável e econômica, pois os custos operacionais
são reduzidos, em função do bom rendimento, além de atuar na proteção do solo contra
a erosão. Em cultivos mais adensados, podem ser utilizadas roçadeiras costais ou
tracionadas por tratores de menor potencia. Um dos principais entraves desse método é
o cuidado em se realizar repetidas operações que poderão ocasionar a compactação do
solo.
Uma vez que a localização superficial do sistema radicular do maracujazeiro
inviabiliza o controle mecânico na linha das plantas com uso de enxadas ou
escarificadores, temos como opção a prática da cobertura morta, que consiste em
proteger o solo principalmente com palha seca (arroz, milho, cana-de-açúcar e capins) e
cascas (café). Este método, além de impedir o desenvolvimento das plantas daninhas,
protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, diminuindo a possibilidade de
erosão no terreno. Este tipo de manejo é característico do sistema de plantio direto para
culturas anuais, sendo interessante a sua adequação para o cultivo do maracujazeiro. Por
enquanto, um único trabalho realizado com o plantio direto na cultura do maracujazeiro-
amarelo em sistema orgânico revelou aumento de produtividade (Araújo Neto et al.,
2009).
A utilização da cobertura morta necessita ser mais estudada para a cultura do
maracujazeiro, principalmente para o Norte Capixaba. Nesta região, há predominância
de solos arenosos, temperaturas elevadas e irrigação localizada, fato que pode estar
diretamente relacionado com o distúrbio conhecido como “cozimento do colo” que vem
74
causando a morte de muitas plantas na região nos períodos mais quentes do ano. A
utilização de cobertura morta, adquirida pela própria palha das plantas daninhas roçadas
na entrelinha (principalmente oriunda da braquiária), protegeria o solo da radiação
direta e amenizava a temperatura do solo na região do colo.
A adubação verde nas entrelinhas do maracujazeiro pode proporcionar economia
na utilização de adubos químicos bem como no controle de plantas daninhas, visto que
o sombreamento proporcionado interfere negativamente no crescimento destas. Na
escolha das espécies a serem plantadas e exploradas como adubação verde na cultura do
maracujazeiro a característica mais importante a ser considerada é que as mesmas não
sejam hospedeiras de vetores das principais viroses que atinja a cultura. Também é
importante que as espécies utilizadas apresentem porte baixo; baixa competitividade por
água e nutrientes; facilidade de estabelecimento, com o mínimo de cultivo; tolerância a
seca; que não seja de hábito trepador; tolerante a maquinaria utilizadas nos pomares;
resistente à competição por plantas daninhas; facilidade de erradicação; resistência às
pragas e doenças, incluindo nematóides; e florescimento não coincidente com a cultura
para evitar competição com polinizadores.
Nesse contexto, podem ser utilizadas as seguintes espécies de leguminosas na
cultura do maracujazeiro: Crotalaria juncea, Crotalaria ochroleuca, guandu (Cajanus
cajan), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis L.), feijão-bravo (Canavalia brasiliensis)
e mucuna-anã (Mucuna sp) (Andrade et al., 2002). Borges e Lima (2003) observaram
várias vantagens no cultivo do maracujazeiro com o feijão-de-porco nas estrelinhas,
incluindo a melhoria significativa nas propriedades químicas do solo. Lima et al. (2003)
também verificaram uma tendência de maior produtividade para o manejo de cobertura
do solo com feijão-de-porco. Estes mesmos autores também verificaram que no
segundo ano de cultivo do maracujazeiro-amarelo, o milho e o feijão podem ser
utilizados como cultura intercalar nas entrelinhas do pomar.
Devido à dificuldade no manejo das plantas daninhas na linha de plantio, o uso
de herbicidas é considerado viável para este controle, uma vez que controla
eficientemente muitas espécies de plantas daninhas e, principalmente, não fere o sistema
radicular superficial da planta. Por incrível que pareça, atualmente, não há herbicidas
registrados para a cultura do maracujazeiro no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, entretanto sabe-se da utilização destes produtos na cultura, uma vez que
75
herbicidas registrados para outras frutíferas, já foram testados para a cultura do
maracujazeiro.
A aplicação de herbicidas apresenta elevado rendimento operacional, e
proporciona eficiente controle das plantas daninhas com reprodução vegetativa, além de
não danificar as radículas do maracujazeiro. Proporciona, ainda, maior independência,
economia e rendimento da mão-de-obra, devido a escassez de mão-de-obra e ao alto
custo na operação com capina manual, principalmente em grandes áreas de cultivo.
Entretanto, quando usados de forma incorreta, os herbicidas podem causar
fitotoxicidade às plantas de maracujá, e ineficiência no controle de algumas espécies de
plantas daninhas.
Para garantir boa eficiência dos herbicidas devem-se conhecer as espécies das
plantas daninhas, a textura do solo (teores de argila e areia), o teor de matéria orgânica,
a umidade do solo, a precipitação e a temperatura ambiental nos dias da aplicação
(Klingman e Ashton, 1982).
Solos com alto teor de matéria orgânica toleram doses maiores de herbicida, que
aqueles com teor baixo de matéria orgânica. Se for utilizada dosagem maior que a
recomendada, em solos pobres em matéria orgânica, corre-se o risco de provocar
intoxicação nas plantas, por outro lado se o herbicida for adsorvido, em solos argilosos,
pelos complexos orgânicos, corre-se o risco de ser pouco eficiente no controle das
plantas daninhas, devido a sua lenta liberação no complexo coloidal. Resultados obtidos
por Ogliari (2003) em três tipos de adubações (química, orgânica e química + orgânica)
com a utilização do diuron na cultura do maracujazeiro, indicaram menor intoxicação
das plantas, nos tratamentos com adubação orgânica e química+orgânica.
Alguns herbicidas já testados para a cultura do maracujazeiro apresentaram
resultados de controle satisfatório, sendo então utilizados pelos produtores. Em pré-
emergência são utilizados principalmente o diuron, o oxifluorfen e o alachlor; e em pós-
emergência o glifosato e o paraquat. As aplicações desses herbicidas devem ser
“dirigidas" em faixas laterais nas linhas de plantio, utilizando a largura de 0,80 a 1,0 m
de cada lado da fila das plantas, tanto nas aplicações em pré-emergência (residuais)
quanto nas em pós-emergência.
76
As quantidades dos herbicidas em pré-emergência devem ser corretas e
adequadas para as espécies existentes no banco de sementes do solo. A ação dos
mesmos ocorre nos primeiros 5 a 8 cm de profundidade, onde os produtos químicos são
colocados fora da região de maior absorção radicular das plantas do maracujazeiro.
Silva et al. (2004) e Silva, Ogliari e Serrano (2006) avaliaram a tolerância do
maracujazeiro-amarelo a herbicidas aplicados em pré ou pós-transplante das mudas.
Partindo de um “screening”, foram selecionados os herbicidas napropamide,
chlorimuron-ethyl e ametryne (aplicados em pré-transplante) e MSMA, glifosato e
sethoxydim (aplicados em pós-transplante com proteção das mudas) (Figura 2). Alguns
herbicidas como clomazone, amicarbazone e metribuzin, aplicados em pré-transplante, e
sulfosate e halosulfuron, aplicadoes em pós-transplante, causaram alta toxicidade à
cultura.
Figura 2. Biomassa seca de parte aérea (g/vaso) de mudas de maracujazeiro-amarelo,
em função da aplicação de herbicidas no pré-transplante (à esquerda) e pós-transplante
(à direita), aos 60 dias após o transplantio (Silva, Ogliari e Serrano, 2006).
Em condições de campo (Ogliari, 2003) verificou que a aplicação de diuron, em
faixa de 2,0 m na linha de cultivo, cinco dias antes do plantio das mudas, causou
sintomas visuais de clorose entre 20 a 30 dias após o plantio, no entanto aos 50 dias as
folhas novas não apresentavam mais esses sintomas (Foto 2).
77
Lima et al. (1999) ao verificarem a seletividade dos herbicidas diuron,
oxyfluorfen e alachlor em pré-emergência nas mudas de maracujazeiro-amarelo em
vaso, constataram nível crítico de intoxicação abaixo de 30%. As doses avaliadas não
promoveram injúrias que prejudicasse o desenvolvimento da planta, apenas o herbicida
atrazine + metalachlor, nas doses de 6,0 e 12,0 kg do i.a./ha promoveram danos mais
severos nas mudas, enquanto os demais mostraram promissores para a utilização.
Foto 2. Aspecto visual das mudas de maracujazeiro-amarelo: testemunha aos 30 dias
após plantio (à esquerda), toxidez provocada pelo diuron aos 30 dias após o plantio
(centro) e folhas novas sem sintomas de toxidez aos 50 dias após o plantio (Ogliari,
2003).
Rosa et al. (2002) trabalhando com o herbicida diuron (em pré-transplantio das
mudas) na cultura do maracujazeiro-amarelo em condições de campo, obtiveram boa
eficiência no controle das plantas daninhas, e verificaram economia de uma operação de
controle quando comparado ao tratamento capinado. Os mesmos não constataram
diferença no peso médio de frutos e produtividade, nos tratamentos com herbicidas em
relação ao capinado.
Ogliari (2003) verificou na cultura do maracujazeiro amarelo, em condições de
campo, que o herbicida diuron na quantidade de 3,0 L ha-1
i.a. (em pré-plantio das
mudas) provocou sintomas de intoxicação nas folhas do maracujá, entre 20 e 26 dias
após o transplantio (DAT) das mudas. Após este intervalo, as folhas novas não
apresentaram mais sintomas de intoxicação (Foto 2).
Trabalhos realizados por nosso grupo de pesquisa (Ogliari, Silva e Serrano), em
condições de campo, com os herbicidas diuron, oxyfluorfen e alachlor, aplicados em
78
pré-plantio, proporcionaram controle eficiente das invasoras e baixas intoxicações nas
plantas de maracujazeiro-amarelo. Além disso, o oxyfluorfen se destacou em relação
aos demais no controle das plantas daninhas (dados não publicados) (Foto 3).
De modo geral, os herbicidas seletivos para a cultura do maracujazeiro em pré-
emergência e com boa eficiência no controle de plantas daninhas são; o diuron, o
bromacil, o DCPA, o oxyfluorfen e o alachlor (Lima et al., 1999; Lima et al., 2002;
Rosa et al., 2002; Ogliari, 2003).
Foto 3. Aspecto visual do cultivo de maracujazeiro-amarelo sem controle de plantas
daninhas (A), com controle com diuron (B) e com controle com oxyfluorfen (C) (Silva,
Ogliari e Serrano, 2006).
Os herbicidas em pós-emergência que vem sendo mais utilizados pelos
produtores é o paraquat e o glifosato. A utilização destes herbicidas em pós-emergência
devem ser dirigidas às plantas daninhas, em faixas laterais à linha do maracujazeiro,
utilizando protetores, (“chapéu-napoleão") tanto para os pulverizadores costais, quanto
para os motorizados.
O herbicida paraquat é indicado para o controle não seletivo de plantas daninhas
anuais. Quando misturado ao diuron, é mais eficiente para o controle de plantas mais
tolerantes, apesar do resultado ser um pouco tardio. A indicação da mistura pronta é
comum em áreas onde ocorreu seleção da flora (ex: trapoeraba, erva-quente) pelo uso
repetido do herbicida glifosato. O paraquat apresenta ação mais rápida e menor restrição
79
quanto ao problema de chuva após a aplicação, pois em apenas 15 minutos o mesmo é
absorvido em quantidades letais. A ação desses herbicidas processa-se nas partes verdes
das plantas. Ogliari (2003) obteve bons resultados no controle das plantas daninhas no
maracujazeiro com aplicação do paraquat + diuron (2,4 l ha-1
do p.c.), mesmo ocorrendo
chuva 40 minutos após a aplicação.
O herbicida glifosato tem ação sistêmica sobre amplo espectro de plantas
daninhas anuais e perenes. A absorção do glifosato na planta é mais lenta e os
problemas com chuvas após as aplicações podem reduzir sua eficiência, no controle das
plantas daninhas. Portanto, é recomendado de no mínimo seis horas de intervalo sem
chuva para a garantia de bons resultados de controle. Carvalho et al. (2008)
recomendam a adição de sulfato de amônio à calda do glifosato (10 g L-1
) para se obter
melhor e mais rápida absorção do produto e melhor controle das plantas daninhas em
campo. Ogliari (2003) ao comparar os herbicidas em pós-emergência, MSMA, paraquat
+ diuron e glifosato constatou que os dois últimos foram os mais eficientes no controle
das plantas daninhas no maracujazeiro, sendo o glifosato o que melhor controlou as
invasoras mais desenvolvidas, enquanto o MSMA apresentou baixa eficiência.
Josan et al. (1994), estudando o efeito de vários herbicidas, como atrazine,
glifosato, diuron e paraquat, observaram que todos promoveram redução significativa na
população das plantas daninhas. O diuron seguido de aplicação do glifosato promoveu o
controle das plantas daninhas monocotiledôneas em até 80% e das dicotiledôneas de
82% em comparação com a testemunha.
Silva e Rabelo (1991) relatam que os produtores do Triângulo Mineiro e São
Paulo têm usado o paraquat ou glifosato em alguns plantios de maracujazeiro, em
aplicações dirigidas nas entrelinhas, para manter a cobertura morta.
Quando se utiliza herbicidas pós-emergentes na cultura do maracujazeiro, deve
se ter o máximo de cuidado com o tronco das plantas, principalmente das plantas novas,
que possuem o tecido do tronco pouco lignificado, podendo o produto ser absorvido
pela planta o que poderá ocasionar fitotoxidez e até a morte da mesma. Quando
necessário deve-se realizar podas antes da aplicação do herbicida, prática que minimiza
o risco das folhas serem atingidas pelo produto. Também com a utilização dos
herbicidas em pós-emergência, quando realizado próximo ao período de produção dos
frutos do maracujazeiro, deve-se ficar atento para a tolerância de resíduos e intervalo de
80
segurança, para a colheita dos frutos (como os produtos não são registrados para a
cultura do maracujazeiro, espera-se que a tolerância de resíduos seja zero).
Também é necessário conhecermos o histórico da área de cultivo em que se
planeja cultivar o maracujazeiro, pois alguns herbicidas residuais podem prejudicar a
cultura. Silva et al. (2007) verificou que, após o término (colheita) de uma lavoura de
feijão que recebeu a aplicação do herbicida fluazifop-p-butil + fomesafen (160 + 200 g
ha-1
), o efeito residual deste herbicida causou injúrias aos maracujazeiros plantados em
sucessão.
Enfim, temos que, durante o período chuvoso são necessários de três a quatro
atividades de controle de plantas daninhas (capinas ou aplicações de herbicidas em pós-
emergência), podendo também ser feita aplicação de herbicida residual em pré-
emergência (Durigan 2003).
3. Considerações finais
A combinação dos vários métodos de controle deve ser a meta de qualquer
programa de manejo de plantas daninhas. O objetivo principal de utilizar vários
métodos de manejo das plantas daninhas, na cultura do maracujazeiro é devido à
exigência do mercado consumidor por frutas mais saudáveis. Com isso, à medida que a
população amplia o conhecimento da importância da qualidade dos alimentos
consumidos, ocorre um aumento no grau de exigência do consumidor pela qualidade
das frutas. Inicialmente buscavam-se fruta com boa aparência, tamanho e uniformidade.
Nesta nova etapa, o mercado passou a exigir novos atributos como, frutas mais
saudáveis e sem resíduos de agrotóxicos, proteção ao meio ambiente, geração de
emprego e garantia de melhor qualidade de vida para os trabalhadores (Carvalho e
Vargas, 2004; Martins et al., 2002 e Quirino, 1998).
Com isso, nova forma de produzir frutos vem sendo implantada pelos
produtores, devido à exigência do mercado consumidor que é a Produção Integrada de
Frutas (PIF) ou o EUREPGAP, que visa produzir frutas de qualidade, respeitando o
meio ambiente, a saúde do consumidor e do produtor, por meio do uso mínimo de
agroquímicos e da integração de práticas de manejo das fruteiras.
81
Quando necessário, o uso de herbicidas deve ser feito de uma forma criteriosa e
técnica, sempre procurando balancear a sua vantagem de uso, com os seus riscos
toxicológicos e ambientais. Neste aspecto, os herbicidas devem ser aplicados em
rotação de diversos princípios ativos com modo de ação diferenciado, e outros métodos
de controle. Com isso, evita-se uma pressão de seleção na flora daninha, culminando
com a ocorrência de biótipos resistentes a determinados grupos de herbicidas (Blanco,
2002).
Em resumo, é necessário manter as plantas de maracujazeiro livres de plantas
daninhas, numa faixa de 0,80 a 1,0 m de cada lado da linha. Já nas entrelinhas das
plantas é recomendável somente roçar, para manter a cobertura vegetal nativa e proteger
o solo contra erosão, aumento da temperatura e perda de umidade nas camadas
superficiais (Foto 4).
Foto 4. Visão típica de pomares de maracujazeiro-amarelo nas regiões produtoras das
regiões norte dos estados do Rio de Janeiro (Ogliari, 2003) e do Espírito Santo (Serrano,
2007). As linhas da cultura são mantidas no limpo e nas entrelinhas as plantas daninhas
são roçadas. Observa-se que só recentemente os produtores optaram pela roçagem na
entrelinha (vegetação ainda rala). Tempos atrás o hábito dos produtores era a remoção
total das plantas daninhas.
Nas áreas infestadas com plantas de difícil controle é recomendada antes da
instalação do maracujazeiro, a utilização de implementos mecânicos, tais como grades
ou rotativas, na época "seca". Já em período de chuva a aplicação de herbicidas
sistêmicos quando as plantas daninhas ainda estão na fase jovem, possibilitam boa
82
redução e, em algumas oportunidades, até a erradicação da grama-seda, pelo fato de
suas estruturas estarem limitadas até a profundidade de 0,30 a 0,40 m. O mesmo não é
possível para a tiririca, pois alguns dos seus tubérculos podem atingir a profundidades
de até 1,5 m, inviabilizando qualquer possibilidade da erradicação em áreas onde tais
plantas já estão estabelecidas há algum tempo (Bortolazzo, 2002).
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86
CAPÍTULO 5
Dinâmica de herbicidas no solo
Antônio Alberto da Silva1
Rafael Vivian2
Leonardo d‟ Antonino3
Introdução
O sistema produtivo deve ser planejado desde o início da instalação da lavoura,
no campo, até a sua comercialização final. Com relação à sua produção agrícola, espera-
se que, além de competitiva e eficiente, esteja englobada por um sistema socialmente
justo e ambientalmente correto, com a manutenção dos recursos naturais - como solo e,
principalmente, água. Para isso, produtores tecnologicamente informados têm optado
por sistemas rotacionais de culturas e pela implementação de coberturas vegetais
anteriormente à instalação da lavoura, permitindo a melhoria e manutenção das
qualidades física e química do solo.
Mesmo nesses sistemas, reconhecidos dentro de um manejo integrado de
agricultura todas as culturas possuem suscetibilidade à interferência de plantas daninhas
durante o seu cultivo, o que torna essencial a utilização do manejo químico, sobretudo
quando cultivado em larga escala. A cultura deve ser mantida em baixos níveis de
infestação, quer pela capacidade competitiva das plantas daninhas por recursos do meio,
quer pela qualidade do produto colhida e eficiência das maquinas colhedoras. Assim, o
manejo adequado das espécies infestantes depende não somente do controle químico
das plantas daninhas durante o ciclo da cultura, como também do manejo do banco de
sementes, do planejamento do sistema rotacional e da manutenção da atividade
biológica do solo na área cultivada.
No entanto, verifica-se que os sistemas adotados em parte por alguns produtores
encontram-se baseados simplesmente no controle químico com herbicidas pre-
1 Engº Agrº, D.S. e Professor da UFV – [email protected]
2 Engº Agrº, D.S. e Pesquisador da BASF – [email protected]
3 Engº Agrº, D.S. da UFV – [email protected]
87
estabelecidos, não considerando as condições específicas locais, como solo, clima,
cultivar ou mesmo o sistema rotacional de cultivo utilizado. Logo, um dos grandes
problemas constatados nos diversos cultivos tem sido a intoxicação das plantas causada
por herbicidas utilizados durante o ciclo da cultura ou, ainda, por aqueles pulverizados
em culturas antecessoras e que possuem efeito residual no solo, comprometendo, assim,
a produtividade. Em áreas anteriormente ocupadas por pastagens degradadas e que são
reaproveitadas para a implantação de diversas culturas é comum constatar sintomas de
intoxicação quando pulverizadas anteriormente com herbicidas residuais. Assim, a
compreensão da dinâmica dos herbicidas no solo em função das características do
clima, do solo e do próprio herbicida é fundamental para a adoção do manejo integrado
de plantas daninhas nos cultivo da safra e nas culturas em sucessão.
Serão descritos a seguir algumas das principais características dos solos e dos
herbicidas, bem como o modo com que a interação desses dois fatores pode influenciar
a dinâmica dos herbicidas durante os cultivos sucessoriais. Posteriormente, serão
apresentados alguns dos problemas residuais de herbicidas constatados em cultivos,
decorrentes, principalmente, dos sistemas de manejo utilizados.
Potencial de sorção de herbicidas e sua dinâmica no ambiente
Devido à elevada utilização de herbicidas nos cultivos agrícolas brasileiros, tem-
se observado maior preocupação quanto à contaminação do ambiente e à utilização
racional dos recursos hídricos e do solo. Entre os efeitos diretos percebidos pelos
produtores estão os sintomas de intoxicação e a redução de produtividade das culturas,
ocasionados por herbicidas de ação residual. Sua permanência e degradação no solo são
processos-chave na determinação do seu efeito residual (Hinz, 2001), sendo
fundamentais para avaliar a eficiência de controle das plantas daninhas. No entanto a
mensuração e a repetibilidade da permanência dos herbicidas no solo tornam-se difíceis,
em razão de este ser considerado um ambiente heterogêneo sob influência de diversos
fatores, onde interagem inúmeros processos de ordem física, química e biológica (Doran
& Parking, 1994).
No solo, a adsorção ou sorção, conforme denominado por Koskinen & Harper
(1990), caracteriza-se por um fenômeno temporário pelo qual determinada substância
88
em solução se fixa a uma superfície sólida ou líquida. Essa fixação ocorre por interação
de forças da superfície coloidal do adsorvente (solo) e do adsorvato (herbicida); o
sentido e a intensidade dessas forças resultam no aumento ou na diminuição da
concentração do herbicida na solução do solo. Na prática, a sorção é usualmente
determinada apenas por meio do desaparecimento da substância química da solução do
solo, sendo dependente das propriedades deste e do composto aplicado, as quais
incluem tamanho, distribuição, configuração, estrutura molecular, funções químicas,
solubilidade, polaridade, distribuição de cargas, natureza ácido/base dos herbicidas,
entre outros. A quantidade do herbicida sorvido aos constituintes do solo é diretamente
proporcional à superfície específica do material coloidal e decresce, geralmente, com o
aumento da temperatura provocado pelo incremento da energia cinética das moléculas.
Entretanto, a velocidade das reações químicas aumenta com a elevação da temperatura,
podendo favorecer a sorção com os constituintes orgânicos do solo.
Além disso, o processo sortivo de herbicidas, seja ele avaliado em condições
laboratoriais ou em campo, depende do tempo de equilíbrio estabelecido entre o solo e o
herbicida, o qual varia em função do mecanismo e da velocidade das reações envolvidas
(Figura 1). Esse é um dos motivos pelo quais determinados herbicidas possuem efeito
residual prolongado no solo e podem comprometer as culturas em sucessão.
A e B desaparecendo
C e D aparecendo0
0 TEMPO
CONCENTRAÇÕES
NO EQUILÍBRIO
ESTADO
INICIAL MUDANÇA EQUILÍBRIO
CO
NC
EN
TR
AÇ
ÃO
Figura 1 – Representação do equilíbrio da sorção de herbicidas no solo em função do
tempo.
89
Cw (ug mL-1
)
0 20 40 60 80
Cs (
ug
g-1
)
0
50
100
150
200
250
300
LVdf
LVAd
LVe
PVAe
RQ
LVd
A determinação do potencial de sorção de herbicidas e, conseqüentemente, a
estimativa do seu efeito residual no solo é fundamental na previsão da sua persistência,
podendo ser estimado por meio de coeficientes. Estes são normalmente utilizados como
valores comparativos entre diferentes herbicidas para os mais variados solos estudados.
O coeficiente de partição ou sorção (Kd) é o principal deles e representa a relação entre
a concentração do herbicida sorvido ao solo Cs (g/g) e a concentração do herbicida
encontrada na solução de equilíbrio Cw (g/ml), para determinada quantidade do
herbicida adicionado. Assim, solos que possuem Kd mais elevados para o mesmo
herbicida, na mesma concentração testada, são mais eficientes na retenção dessas
moléculas na sua fração orgânica e ou mineral. Logo, sua permanência no ambiente
tende a ser maior quando mantidas as mesmas condições edafoclimáticas. Resultados
apresentados por Vivian et al. (2006) demonstram a divergência entre os coeficientes
sortivos para o herbicida ametryn em relação a solos de características distintas (Figura
2). Observa-se que o solo Latossolo Vermelho distroférrico - LVdf apresentou elevada
capacidade de sorção do ametryn em relação aos demais solos avaliados, favorecendo,
assim, sua persistência no ambiente.
Figura 2 – Estimativas dos coeficientes de sorção para ametryn em diferentes solos:
LVdf (SL) Ŷ=6,7533 Cw0,9420
; LVAd (JP) Ŷ=1,3503 Cw1,0296
; LVe (CE)
Ŷ=1,5118 Cw1,0674
; PVAe (PN) Ŷ=3,5533 Cw0,7425
; RQ (TM) Ŷ=0,7951
Cw0,9790
; e LVd (SSP) Ŷ=2,1793 Cw0,890
, em função da solução em equilíbrio
(Cw).
90
Além do Kd, muitos autores utilizam a correção desse coeficiente em relação ao
teor de matéria orgânica do solo, obtendo o coeficiente de sorção Koc. Entretanto, a
padronização do Kd em relação ao teor de matéria orgânica do solo não é consenso
entre os pesquisadores da área, pois a sorção de herbicidas à matéria orgânica do solo
ocorre de forma heterogênea, em função dos mecanismos e da fração orgânica
envolvida no processo sortivo, cujos índices podem não representar a realidade.
No entanto, o Kd e Koc expressam a adsorção de herbicidas em uma única
concentração avaliada, o que não é válido para maiores ou menores concentrações
disponíveis no solo. Um ajuste entre as concentrações em solução e a fase sólida do solo
pode ser obtido por meio do estudo de isotermas. As isotermas mais usadas na pesquisa
com adsorção de herbicidas em solo são obtidas pela equação empírica de Freundlich
(Vieira et al., 1999), a qual considera que a afinidade inicial é alta, e, conforme aumenta
a cobertura da superfície, diminuem a afinidade e declividade, reduzindo a energia de
interação, proporcionalmente ao recobrimento da superfície (Cleveland, 1996). Por
meio das isotermas de Freundlich, obtém-se o coeficiente ou constante de Freundlich
(Kf), o qual pode ser utilizado como parâmetro comparativo do potencial de sorção de
herbicidas no solo.
Outro fator considerado na dinâmica dos herbicidas no ambiente é sua meia-
vida, definida como o tempo necessário para que ocorra a dissipação de 50% da
quantidade inicial aplicada do herbicida. Por outro lado, embora a meia-vida sirva como
parâmetro para avaliação do tempo de permanência do herbicida no ambiente, sua
persistência é dependente, fundamentalmente, de quatro fatores: solo (teor de matéria
orgânica, pH, textura, etc.), população de microrganismos (atividade e densidade),
ambiente (radiação, temperatura e precipitação) e práticas culturais (sistemas de
semeadura e manejo).
Características do solo e atividade de herbicidas
a) Matéria orgânica e pH
O teor e a qualidade da matéria orgânica (MO) são os principais componentes
do solo que influenciam a atividade de herbicidas registrados para uso em solos
tropicais. Para os solos brasileiros, as propriedades que mais se correlacionam com a
91
sorção são a capacidade de troca catiônica (CTC) e o teor de MO, principalmente para
os herbicidas de caráter básico e não-iônicos (Oliveira Jr. et al., 1999), uma vez que a
maior parte da CTC nesses solos está relacionada à matéria orgânica. Mallawatantri &
Mulla (1992) demonstraram que pelo menos 80% do incremento da sorção observada
para metribuzin, diuron e 2,4-D, ao compararem solos com diferentes propriedades,
estava relacionado ao aumento do conteúdo de carbono orgânico. O mesmo também foi
observado por Thompson et al. (1984), quando avaliaram a persistência e lixiviação do
herbicida 2,4-D, e Pinho et al. (2007), ao estudarem o comportamento de atrazine em
horizonte orgânico do solo.
Além do seu potencial de sorção de herbicidas, a MO está relacionada à
atividade de microrganismos, sendo mais abundante nas camadas superficiais do solo.
Os microrganismos atuam nos processos de biodegradação das moléculas dos
herbicidas, podendo utilizá-los tanto como substratos quanto para fonte de energia
(metabolismo), ou, ainda, a ação microbiana pode modificar a estrutura química do
produto, sem fornecimento de energia para o seu crescimento (co-metabolismo)
(Monteiro, 1996). Segundo Ravelli et al. (1997), a taxa de degradação dos
herbicidas pode diminuir com a profundidade do solo. Portanto, se um herbicida é
lixiviado rapidamente da camada superficial, onde tem maior chance de ser
biodegradado, ele pode se tornar mais persistente, uma vez que está menos exposto ao
contato direto com a microbiota do solo.
Sem dúvida, a adição de matéria orgânica ao solo acelera a degradação dos
herbicidas, sobretudo para aqueles cuja ação microbiana é a principal forma de
degradação. Conforme Prata et al. (2001), a adição de vinhaça ao solo favoreceu o
processo de mineralização de ametryn, acelerando a sua degradação. Logo, embora se
verifique extrema quantidade de interferentes nas características de sorção de herbicidas
à matéria orgânica, sabe-se que a sorção herbicida-matéria orgânica é mais estável do
que aquela resultante da ligação com componentes minerais do solo. Dessa forma, os
solos com altos teores de matéria-orgânica apresentam menor tendência geral de
lixiviação dos herbicidas, representando menor risco de contaminação dos lençóis
freáticos (Cox et al., 1998).
Existe grande complexidade e variabilidade da MO presente em diferentes solos.
Essas diferenças podem interferir não só na retenção dos herbicidas, mas também na sua
92
3,03,0
2,52,5
4,04,0
5,05,0
6,0
Concentração em solução (mg L-1)
Qu
an
tid
ad
e s
orv
ida
(m
g L
-1)
6,06,06,0
Concentração em solução (mg L-1)
Qu
an
tid
ad
e s
orv
ida
(m
g L
-1)
transformação e no seu transporte (Correia, 2000). Nesse sentido, Traghetta et al. (1997)
observaram que o pH do meio é outro fator extremamente relevante na avaliação da
capacidade de sorção dos herbicidas no solo, provocando mudanças conformacionais
nas moléculas da matéria orgânica com a variação do pH do meio.
Na prática, as correções do solo pela calagem interferem na capacidade de
sorção dos herbicidas, podendo inclusive redisponibilizar as moléculas dos herbicidas já
sorvidos para a solução do solo. Esse processo ocorre naturalmente e é denominado de
dessorção, o qual pode ser intensificado pela utilização de calcário. Normalmente, os
solos com pH elevado, acima de 6,0, possuem menor capacidade de reter os herbicidas,
devendo-se atentar para as práticas de calagem antes da instalação da lavoura, quando
utilizados herbicidas residuais na cultura antecessora. Para o herbicida 2,4-D, é comum
o aumento da sua disponibilidade na solução do solo com o aumento do pH do meio,
conforme se verifica na Figura 3. Para se compreender melhor o efeito do pH na sorção
dos herbicidas, deve-se considerar conjuntamente a capacidade de ionização dos
herbicidas, a qual será abordada posteriormente nas características destes.
Figura 3 – Representação da sorção do herbicida 2,4-D no solo em função do aumento
do pH.
b) Textura e mineralogia
Outra importante característica do solo que interfere no seu potencial de sorção
dos herbicidas é a sua classe textural. Em conjunto com a MO, a textura do solo é um
dos principais parâmetros considerados na escolha dos herbicidas e doses
93
recomendadas. Solos argilosos possuem, em geral, maior potencial de sorção das
moléculas dos herbicidas, sendo fundamental considerar o tipo de argila predominante.
A variação das argilas e a formação de compostos argilominerais representam diferentes
possibilidades de sorção a essas partículas. Logo, em alguns casos, não ocorrem
correlações entre a sorção do herbicida e o teor de argila, principalmente para herbicidas
ácidos ou em solos com altos teores de MO.
Em solos brasileiros altamente intemperizados, com predominância de argilas do
tipo 1:1, como a caulinita (não-expansível), as cargas de atração podem ser geradas nas
bordas do mineral pela dissociação de prótons H+, permitindo a sorção de herbicidas
catiônicos. Contudo, outros solos com predominância de argilas expansíveis 2:1
(montmorilonita) apresentam maior área superficial específica e, conseqüentemente,
possuem maior capacidade de sorção. Isso ocorre devido à formação de forças de
atração de grande intensidade, contribuindo significativamente para a sorção das
moléculas. A formação de cargas nos minerais 2:1 ocorre pela substituição isomórfica
nas camadas tetraédricas e octaédricas. Esses minerais apresentam fraca atração dos
cátions entre as camadas expansíveis, permitindo que água, herbicidas e outras
moléculas penetrem entre os planos basais e provoquem grande expansão do material.
Juntamente com a textura, a mineralogia, representada fundamentalmente por
óxidos de ferro e alumínio, também atua na sorção de diversos herbicidas, sobretudo
para aqueles com capacidade de dissociação de prótons (herbicidas ácidos fracos). Os
solos brasileiros, devido ao seu grau de intemperismo, possuem elevados teores desses
óxidos. A sua contribuição na sorção de herbicidas é considerada significativa,
principalmente em Latossolos onde existe a predominância desses minerais. Conforme
Prata (2002), a sorção de glyphosate ocorre basicamente na fração mineral do solo,
sendo elevada e instantânea; deve-se ressaltar que, em seus estudos, a fração orgânica
exerceu papel secundário sorção desse herbicida.
Características dos herbicidas e comportamento no solo
Assim como para o solo, as características físico-químicas das moléculas dos
herbicidas e sua formulação comercial interferem na sua dinâmica no ambiente. Dentre
as principais, destacam-se o coeficiente de partição octanol-água (Kow), a solubilidade
94
(S), a capacidade de dissociação eletrolítica quando em solução aquosa (pKa), a pressão
de vapor (PV) e a constante da Lei de Henry (H).
a) Coeficiente de partição octanol-água e solubilidade
O Kow indica a afinidade que a molécula do herbicida tem em relação a duas
fases, polar e apolar, representadas pela água e pelo octanol, respectivamente. Porém, os
herbicidas possuem geralmente regiões polares e apolares em suas moléculas, sendo o
seu comportamento determinado pela fase que predominar na molécula ou pela própria
formulação comercial. A polaridade é muito importante para penetração das moléculas
dos herbicidas pela cutícula das folhas e também interfere nos processos sortivos com o
solo. Geralmente os herbicidas apolares ou lipofílicos (Kow >10.000) possuem maior
potencial de se adsorver à fração orgânica dos colóides do solo. Para os herbicidas
polares ou hidrofílicos (Kow <10), sua afinidade é maior em relação à fração mineral do
solo.
Já a S de um herbicida expressa a quantidade máxima com que este é dissolvido
em água, em determinada temperatura, até que ocorra a saturação da solução. Quando
saturada, haverá duas fases distintas, dependendo se o herbicida for um sólido ou um
líquido (Lavorenti, 1996). Seu valor, expresso em mg L-1
, reflete a polaridade da
substância química. Logo, quanto maior a quantidade de grupos hidrofílicos na
molécula do herbicida (mais polares), maior será a sua afinidade por água e,
conseqüentemente, maior a sua solubilidade. As moléculas muito solúveis possuem
facilidade de se dissiparem no ambiente por fluxo de água e apresentam coeficientes de
sorção relativamente baixos no solo. A solubilidade também pode se correlacionar
diretamente com o grau de ionização das moléculas, embora isso nem sempre ocorra
(Kogan & Pèrez, 2003).
b) Potencial de dissociação eletrolítica
O potencial de dissociação ácido/base, também conhecido como pKa, representa
o potencial de dissociação da molécula do herbicida. O seu valor é expresso em unidade
de pH no qual ocorre a dissociação de 50% do composto, ou seja, o valor de pH em que
95
o herbicida apresenta 50% das suas moléculas na forma dissociada e 50% não
dissociada. Por meio dos valores de pKa, os herbicidas podem ser agrupados em três
classes: herbicidas ácidos fracos, herbicidas bases fracas e os não-iônicos (Tabela 1).
Essa classificação torna-se importante sob o ponto de vista da compreensão da
dinâmica dos herbicidas no solo em função do pH do meio. Para herbicidas ácidos
fracos, quando o pH do solo for igual ao seu pKa, a molécula estará 50% na sua forma
molecular ou neutra e 50% na forma dissociada (aniônica). Portanto, quanto menor o
pH do solo em relação ao pKa do herbicida, maior será a tendência de este ser sorvido às
partículas coloidais do solo. Ao contrário, quando o pH do meio for superior ao pKa do
herbicida, este será prontamente dissociado e sua capacidade de sorção no solo será
muito menor. Entre os herbicidas ácidos fracos, cita-se o 2,4-D, o qual pode liberar íons
hidrogênio numa solução quando o pH do meio se encontra acima do seu pKa. Esse é
um dos motivos pelos quais os solos pulverizados com 2,4-D podem liberar esse
herbicida para a solução do solo após sua correção com calcário e causar fitotoxicidez
às culturas subseqüentes. Outros compostos apresentam comportamento semelhante,
como o dicamba, o picloram e demais herbicidas pertencentes ao grupo das
sulfoniluréias e imidazolinonas, cujo período residual pode variar em função do seu pKa
e do pH do solo.
Quanto aos herbicidas de características base ou base-fraca, eles apresentam a
capacidade de receber prótons e formar íons carregados positivamente, podendo
competir com os sítios de adsorção de nutrientes no solo. Semelhantemente ao
observado para os herbicidas de caráter ácido-fraco, quando o pH do solo for inferior ao
seu pKa, há tendência desse herbicida de ficar sorvido às partículas de argila e aos
grupos funcionais que formam a CTC do solo. Entretanto, quando o pH do solo for
superior ao seu pKa, sua forma molecular predominará, reduzindo seu potencial de
sorção (Kogan & Pèrez, 2003). Os herbicidas atrazine, simazine, cyanazine, hexazinone,
entre outros, apresentam essa característica, podendo atrair íons hidrogênio em uma
solução ácida, passando a apresentar carga líquida positiva.
Já os herbicidas que não doam nem recebem prótons na solução do solo são
considerados não-iônicos, os quais não possuem carga elétrica líquida. Alguns
exemplos desses herbicidas são o alachlor, o metolachlor e o diuron, sendo o último
extremamente importante para o manejo químico na cultura do algodoeiro. Embora não-
96
iônicos, esses herbicidas podem ser polares, e em virtude dessa condição, ser afetados
em menor intensidade pelo pH do solo, ficando retidos aos argilominerais e ao material
orgânico.
Tabela 1 – Classificação dos herbicidas em função dos seus grupos funcionais
Fonte: Silva et al. (2007).
Iônicos
Catiônicos Diquat, paraquat
Básicos Ametryne, atrazine, cyanazine, prometone, metribuzin,
propazine, simazine
Ácidos Dicamba, 2,4-D, MCPA, triclopyr, trifloxysulfuron-sodium,
picloram, imazaquin, imazapyr, imazetaphyr, chlorimuron-ethyl
Não-iônicos
Organofosforados
Methoxychlor
Dinitroanilidas Trifluralin, oryzalin, isopropalin
Carbamatos Chlorprophan, prophan
Benzonitrila Dichlobenil
Ésteres Isopropyl éster de 2,4-D
Anilidas Alachlor, metolachlor, propanil, propachlor
Uréias Linuron, diuron, chloroxuron
97
c) Pressão de vapor e a constante da Lei de Henry
A PV representa a tendência de volatilização de um herbicida no seu estado
normal puro (sólido ou líquido), sendo função direta da temperatura. Sua importância é
ressaltada na estimativa da distribuição ou transferência do herbicida no ambiente; é
muito utilizada nos cálculos para prever a volatilização dos herbicidas. Contudo, além
do valor específico da PV, a volatilização do herbicida depende também da intensidade
e da velocidade de movimento até a superfície do solo onde ocorre o processo.
No momento da escolha e aplicação do herbicida, deve-se levar em consideração
além da PV, a constante da Lei de Henry (H), com a intenção de reduzir as perdas por
volatilização e deriva do produto. O H é um coeficiente de partição entre o ar e a água
(solução do solo); valores elevados de H são indicativos de herbicidas altamente
voláteis. Sua determinação é importante para os herbicidas na fase líquida do solo,
podendo ser utilizado, assim como o PV, na indicação do potencial de volatilização de
determinados herbicidas.
Persistência e lixiviação de herbicidas
Conforme anteriormente descrito, vários fatores influenciam o comportamento
de herbicidas no solo. Assim, o conhecimento dos parâmetros de sorção e lixiviação
auxiliam na prevenção dos prejuízos ambientais e na predição da dinâmica e potencial
residual para culturas em sucessão. Nesse sentido, a aplicação intensiva de herbicidas,
em solos cuja capacidade de sorção seja baixa, pode resultar em danos produtivos às
culturas posteriormente instaladas, assim como favorecer a contaminação de reservas de
água.
A ação dos fatores ambientais também altera a dinâmica desses compostos no
ambiente, denotando a importância de pesquisas em condições de campo para auxiliar
na compreensão do seu comportamento. Entre os fatores climáticos, a intensidade e o
volume de precipitação pluvial da região ou local podem afetar significativamente os
processos de sorção e lixiviação de herbicidas. Elevados índices pluviais permitem
maior solubilidade e distribuição dos herbicidas no solo, podendo favorecer a sua
percolação no perfil (Figura 4). Esse fenômeno é intensificado quando se utilizam altas
doses dos compostos em solos arenosos ou com baixos teores de material orgânico. Em
98
áreas agrícolas irrigadas, a dinâmica de persistência e lixiviação de herbicidas também é
afetada, principalmente para compostos que apresentam elevada solubilidade ou com
degradação microbiana rápida (Crespìn et al., 2001).
Por outro lado, a baixa umidade do solo no momento da aplicação do herbicida
também pode afetar o processo de sorção deste. Conforme Procópio et al., (2001) teores
menores de água no solo favorecem a ligação das moléculas do herbicida à fase sólida,
reduzindo a sua mobilidade no perfil do solo. Todavia, herbicidas lipofílicos podem ter
sua sorção reduzida em condições de solo úmido, devido à competição por sítios
hidrofóbicos no material orgânico do solo.
Segundo Carter (2000), a quantidade do herbicida perdido pela movimentação
no perfil do solo é geralmente entre 0,1 e 1% do total aplicado, podendo, em
determinadas circunstâncias, ser igual ou superior a 5%. Nesse sentido, Pfeuffer &
Rand, (2004) monitoraram os teores de herbicidas utilizados no sul da Flórida entre
1992 e 2001. Seus estudos revelaram que atrazine e ametryn foram os compostos mais
comumente encontrados em águas superficiais. Já no Brasil, Laabs et al. (2002)
estudaram a contaminação da região nordeste do pantanal mato-grossense por pesticidas
utilizados na agricultura. Foram detectados resíduos de ametryn na maioria das amostras
coletadas em águas de superfície, embora em baixa concentração. Entretanto, em
amostras de sedimentos, as concentrações foram superiores a 4,5 µg kg-1
. A elevada
freqüência de detecção de ametryn, juntamente com sua alta concentração em algumas
amostras, foi atribuída, conforme os autores, ao intenso cultivo de cana-de-açúcar no
nordeste do pantanal.
Em condições de campo, a temperatura e a radiação também afetam processos
como volatilização, lixiviação, sorção e degradação dos herbicidas pulverizados,
podendo alterar a sua persistência no meio. Assim, qualquer conclusão sobre a
decomposição e persistência de um produto químico deverá considerar um conjunto de
condições particulares de solo e ambiente.
Conforme estudos realizados por Mandelbaum et al. (1993), a degradação do
atrazine pode ser fortemente influenciada pela elevação da temperatura. Os autores
verificaram que abaixo de 7oC a degradação foi insignificante, mas se acelerou acima
de 15oC, o que demonstra que a temperatura ótima para ocorrer a degradação está
dentro da faixa de atividade metabólica máxima dos microrganismos. Posteriormente,
99
Andrea et al. (1996) também constatataram em seus experimentos que a degradação de
atrazine é proporcional ao aumento de temperatura.
Já em relação à radiação, alguns herbicidas apresentam sensibilidade à
fotodegradação, podendo alterar a sua persistência no ambiente em função da exposição
à radiação solar. O oxifluorfen é um dos exemplos, cuja meia-vida foi reduzida de 25
para 13 dias quando aplicado em ambiente sombreado e em outro a pleno sol,
respectivamente (Cassamassimo, 2006). Outro composto sensível à fotodegradação é a
trifluralina, cuja persistência é função do seu elevado potencial de volatilização e da sua
degradação pela radiação solar incidente sobre a superfície do solo (Hornsby et al.,
1995).
Figura 4 - Quantidade residual do herbicida Krismat (ametryn + trifloxysulfuron-
sodium) detectado nas profundidades de 0-5, 5-10, 10-15 e 15-20 cm do
perfil do solo após 30 dias de incubação.
Práticas de manejo e dinâmica de herbicidas no solo
Diante da importante função assumida pela cotonicultura no contexto
empresarial agrícola, é lógico que o sucesso desse setor está estreitamente relacionado
com a manutenção das áreas em condições adequadas para o seu cultivo. No entanto, a
prática demonstra que grande parte das áreas cultivadas enfrenta problemas
100
relacionados à interferência de plantas daninhas. Por isso, a adoção do controle químico
dentro de um sistema integrado de manejo da área é fundamental para o sucesso
produtivo da lavoura. Nesse sentido, o uso de herbicidas no controle químico tem sido o
método mais eficaz no controle das plantas daninhas, em face das dificuldades no uso
de capina manual ou controle mecânico na linha da cultura. Logo, a determinação do
período crítico favorece o manejo adequado das plantas daninhas da área, com
significativos resultados na redução dos custos de controle, além de permitir a
delimitação do período residual que o herbicida deve ter para cobrir o período de
interferência das plantas daninhas.
Nesse contexto, o manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro não pode
ser realizado somente durante o seu cultivo ou no início da instalação da lavoura. As
práticas de manejo devem considerar o sistema rotacional de culturas a curto e médio
prazo, o nível de infestação das plantas daninhas, o banco de sementes, a variedade
cultivada, o sistema de semeadura e as condições edafoclimáticas predominantes.
Atualmente, o sistema de controle das plantas daninhas é realizado normalmente
em pré-plantio (PP), em pré-plantio incorporado (PPI), pré-emergência (PRE) ou em
pós-emergência (POS). Entre os herbicidas residuais mais utilizados na cultura do
algodão estão o clomazone, o diuron e o alachlor em pré-emergência, além da aplicação
de trifluralin em pré-plantio incorporada. Dentre esses, o diuron destaca-se pela sua
excelente ação no controle de plantas daninhas comumente encontradas na lavoura.
Contudo, a seletividade do algodoeiro a esse herbicida é toponômica, ou seja, a
profundidade de semeadura do algodoeiro ér diferente daquela onde o herbicida se
encontra. Assim, em casos de solos extremamente arenosos e/ou com chuvas intensas, o
herbicida pode entrar em contato com o caulículo do algodoeiro, reduzindo o estande e
ou causando injúrias às plantas. Já o clomazone pode causar intoxicação a cultura sem
reduzir os índices de produtividade, devendo-se levar em consideração a textura do solo
para recomendação da sua dosagem. Para esse herbicida, devido à sua baixa seletividade
ao algodoeiro, há necessidade de utilização de protetores “safeners”. Na prática, a
adição de inseticidas fosforados no tratamento de sementes, como o dissulfoton, permite
a ação protetora do algodoeiro ao herbicida.
Em pós-emergência, os herbicidas mais usados no algodoeiro são pyrithiobac-
sodium e trifloxysulfuron-sodium, porém eles são seletivos à cultura, não causando
101
problemas de fitotoxicidade. Sua aplicação ocorre de duas a três semanas após a
semeadura do algodoeiro, com excelente controle para diversas espécies infestantes da
cultura. Atualmente, o pyrithiobac-sodium tem sido pouco utilizado pelo fato de seu
custo ser elevado.
Além dos anteriormente citados, outros herbicidas utilizados em culturas
antecessoras podem causar intoxicação ao algodão ou mesmo reduzir a produção sem
causar sintomas visuais à cultura. Os herbicidas 2,4-D e, principalmente, o picloram são
compostos que apresentam elevados índices de intoxicação ao algodoeiro, podendo
permanecer durante dias até meses no solo, conforme as condições de solo e clima.
Esses herbicidas são utilizados fundamentalmente em áreas de pastagem, sendo o 2,4-D
recomendado também para a cultura do milho. A meia-vida do 2,4-D costuma ser
próxima a 30 dias, embora o picloram possa permanecer até 300 dias em solos argilosos
e com teores elevados de matéria orgânica. Além disso, por ser um herbicida volátil,
deve-se evitar a utilização da formulação éster do 2,4-D em áreas próximas ao cultivo
do algodão, inclusive da formulação amina (não-volátil), devido à elevada sensibilidade
dessa cultura ao herbicida.
O sulfentrazone, registrado para controle de plantas daninhas nas culturas de
eucalipto, cana-de-açúcar e soja, possui elevada atividade no solo, podendo também
exercer ação residual em sistemas rotacionais, como soja e algodão. Apesar de a sua
degradação no solo ser predominantemente microbiana, sua meia vida pode variar de
110 a 280 dias, dependendo das condições edafoclimáticas. Sua sorção e mobilidade são
dependentes do tipo e do pH do solo, sendo a sua mobilidade favorecida com o aumento
do pH do meio. Segundo Ohmes et al. (2000), a dissipação do sulfentrazone está
diretamente relacionada com a disponibilidade de água no solo, a qual pode favorecer a
degradação da molécula ou mesmo lixiviá-la.
Outros herbicidas comumente utilizados na cultura da soja também podem afetar
o cultivo do algodoeiro em sucessão. Dentre eles, destacam-se o imazaquin, o
imazethapyr e o diclosulam, os quais podem permanecer por longos períodos no solo. O
diclosulam, por exemplo, pode permanecer por período superior a 18 meses no solo
(Embrapa, 1999), causando sintomas de intoxicação a culturas sensíveis, como o
girassol. Já o imazaquin, é recomendado o intervalo de 300 dias após a aplicação para o
102
cultivo do milho, podendo causar sérios danos à cultura do algodoeiro (Barnes et al.,
1989).
O fomesafen também é um herbicida amplamente utilizado na cultura do feijão e
que necessita de cuidados para as culturas em sucessão. Seu efeito residual no solo afeta
culturas sensíveis como o milho e o sorgo, necessitando de intervalo mínimo de 90 a
210 dias após aplicação, conforme resultados constatados por Jakelaitis et al. (2006).
Paralelamente aos herbicidas utilizados, os sistemas de cultivo, sejam eles
convencional, mínimo ou de semeadura direta, devem ser considerados na avaliação do
efeito residual dos herbicidas. No caso do cultivo mínimo ou semeadura direta, o
manejo de plantas daninhas é freqüentemente realizado com o cultivo do milheto, com
intuito de reduzir a sua infestação e melhorar as condições do solo. Nesse caso, os
resíduos vegetais atuam como camada isolante, protegendo o solo das alterações
térmicas extremas ao longo do dia e favorecendo a manutenção da sua umidade. Além
desses benefícios, os resíduos vegetais podem impedir a germinação e, durante a sua
decomposição, produzir substâncias alelopáticas que atuam sobre as sementes das
plantas daninhas (Cobucci, 2001).
Por outro lado, alguns herbicidas, como trifluralin, pendimethalin, metolachlor
(Banks & Robison, 1986) e dimethenamid (Cobucci, 2001), são retidos na palhada, não
atingindo o solo ou atingindo-o em pequena quantidade, mesmo após a ocorrência de
chuva. Outros herbicidas, entretanto, são facilmente lixiviados da palhada para o solo,
como é o caso do atrazine (Fornarolli, 1997), diclosulan e sulfentrazone (Cobucci, 2001;
Barros et al., 2000). Segundo Lowder & Weber (1979), é necessária a utilização de
doses maiores de atrazine sobre cobertura vegetal em relação ao plantio convencional.
Os mesmos autores verificaram ainda que atrazine é lixiviada mais facilmente da
palhada de aveia do que de milho, influenciando a quantidade do herbicida que chega ao
solo.
Nos sistemas de cultivo convencional ou direto, a dinâmica de microrganismos
também é influenciada pelos processos de aração e gradagem tradicionais ou pela
manutenção dos resíduos vegetais sobre o solo, respectivamente. Isso contribui de
forma distinta nos processos de biodegradação e sorção de herbicidas. Espera-se que
solos cultivados sob o sistema de semeadura direta possuam maior velocidade de
degradação de herbicidas, pela sua elevada atividade microbiológica. Por outro lado,
103
também, é muito importante cultivar espécies nas entressafras que sejam capazes de
promover a descontaminação do solo (fitorremediação). Além disso, a manutenção de
resíduos vegetais também favorece o incremento da fração orgânica do solo, podendo
aumentar a sorção e persistência de herbicidas.
A técnica da fitorremediação – uso de plantas para descontaminar terra e água da
ação de resíduos de diversas substâncias tóxicas -, desenvolvida há mais de 300 anos na
Europa para descontaminação de esgotos (Cunningham et al., 1996), ganhou atualmente
considerada importância, por ser considerada prática de manejo sustentável na
agricultura (Santos et al., 2007). Apesar de a técnica ser antiga, somente na última
década foi oficialmente definida como “uso de espécies vegetais e dos microrganismos
a elas associados, como ferramenta para contenção, isolamento, remoção ou redução das
concentrações de contaminantes em meio sólido, líquido ou gasoso” (US EPA, 2000).
No Brasil, o termo fitorremediação ainda parece desconhecido para grande parte
da comunidade científica. Entretanto, quando são consideradas as condições climáticas
mais favoráveis e a biodiversidade existente, comparativamente às regiões de clima
temperado, o País apresenta grande potencial de uso dessa tecnologia. Por esse motivo,
alguns grupos de pesquisas ligados a essa linha de trabalho têm dedicado especial
atenção para estudos em áreas agricultáveis, com trabalhos que evidenciaram a
possibilidade de empregar plantas para reduzir a intoxicação por herbicidas a culturas
suscetíveis, cultivadas em áreas que receberam tais compostos (Santos et al., 2007).
Essa linha de pesquisa pode ser considerada a mais recente para o emprego da técnica,
pois além de promover a recuperação de ecossistemas contaminados tem-se o efeito
prático de se reduzir o intervalo de tempo necessário ao plantio de culturas sensíveis
(Santos et al., 2007).
Na prática, o que se conquista é a antecipação da produção de culturas agrícolas
de interesse econômico antes impossibilitadas de serem cultivadas por até três anos em
determinadas áreas, além da garantia de sustentabilidade para gerações futuras.
Espécies como mucuna-preta (Stizolobium aterrimum) e feijão-de-porco (Canavalia
ensiformis) já foram testadas, apresentando grande potencial para descontaminação de
áreas com residual dos herbicidas trifloxysulfuron-sodium e tebuthiuron, muito
utilizados nas culturas do algodão e da cana-de-açúcar, respectivamente (Santos et al.,
2004; Pires et al., 2006). O cultivo dessas leguminosas por determinado período
104
favorece o plantio seqüencial de espécies como feijão e soja, muito sensíveis à presença
desses compostos no solo.
A pesquisa na área da fitorremediação de solos contaminados por herbicidas
deve ser priorizada para aqueles compostos com elevado poder residual nos solos. Essa
prática possibilita opções de manejo como rotação de culturas e sistemas de
consorciação, diminuindo o impacto negativo que tais produtos promovem no ambiente.
Portanto, observa-se que o conhecimento disponível em relação às propriedades dos
compostos do solo, aos fatores climáticos envolvidos e aos mecanismos de interação
herbicida-ambiente em condições de campo ainda é restrito, principalmente em relação
à cultura do algodoeiro. Asim, a seqüência de pesquisas na dinâmica de herbicidas em
solos e clima brasileiros é fundamental na manutenção da qualidade ambiental e no
incremento da produtividade agrícola. Pelo fato de o tema ser abrangente, considera-se
que todas as características e fatores envolvidos na dinâmica de herbicidas no solo
atuam de forma conjunta, sendo necessária a continuidade dos estudos e o incentivo
nesse setor
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109
CAPÍTULO 6
Resíduo de agrotóxico e comercialização
José Roberto Macedo Fontes1
O potencial do agronegócio
A globalização e a abertura de mercado têm imposto grandes desafios para os
setores da economia mundial. O mercado internacional, diante das novas exigências do
consumidor, impõe a necessidade de produção de bens de alta qualidade. No cenário
competitivo do agronegócio, originado a partir dessa globalização econômica, não é
diferente. Diante da oportunidade de crescimento no mercado mundial, o setor vem
passando por profundas mudanças. Os desafios para esse crescimento passam pela
questão do desenvolvimento de novas práticas tecnológicas que, na maioria das vezes,
fortalece as empresas para atuar junto a concorrência. Estratégia de competitividade e
de internacionalização são duas práticas que muitas empresas buscam no mundo atual.
No setor agrícola, nos últimos anos, um dos pontos mais importantes no sistema
produtivo é a capacidade de gerar produtos de qualidade e saudáveis, conforme os
requisitos de sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e viabilidade econômica,
mediante a utilização de tecnologias não-agressivas ao meio ambiente e à saúde
humana.
Tudo isso, como conseqüência das novas tendências do consumidor no mercado
internacional, onde a exigência de alimentos seguros e livres de qualquer tipo de
agravante à saúde humana é pré-requisito crucial. Por este fato, o mercado adotou
programas específicos, assegurando o controle e a rastreabilidade de toda a cadeia
produtiva, resultando na obrigatoriedade de adoção de programas de qualidade na
cadeia de produção em diversos ramos produtivos.
O reflexo das novas exigências internacionais é a adoção de selos de certificação
que comprovam a qualidade e sanidade do bem importado, principalmente na União
1 Engº Agrº, D.S. da Germinar – [email protected]
110
Européia. O mercado europeu tem se tornado cada vez mais exigente e se destaca como
o principal comprador dos produtos agrícolas brasileiros.
Assim, programas de qualidade na cadeia produtiva têm sido adotados em
diversos ramos produtivos, principalmente em mercados de produtos perecíveis,
incluindo o de frutas que tem forte aceitação a nível internacional.
Em 2007, o Brasil exportou, através do agronegócio, um total de US$56 bilhões.
No entanto, é importante ressaltar que o potencial do mercado mundial, apenas do setor
frutícola, é de mais de US$ 20 bilhões/ano e, segundo estudos, o acesso depende de um
conjunto de fatores, dentre os quais se destacam as barreiras não alfandegárias e os
requisitos de qualidade e competitividade exigidos pelos países importadores.
O mercado de frutas in natura representa a grande fatia da exportação brasileira.
Do total de frutas in natura exportado pelo Brasil em 2007 (ao redor de US$665
milhões), 94% é representado por 10 frutas (melão, uva, manga, maçã, banana, mamão,
limão, laranja, melancia e abacaxi). A UNIÃO EUROPÉIA absorveu, como média
geral, ao redor de 85% (US$565 milhões) do total exportado em 2007. No entanto, o
total de frutas exportadas pelo Brasil representa apenas 2% do total produzido.
No gráfico a seguir, o volume de exportação do mamão brasileiro in natura
representa bem o que ocorre com o restante das frutas exportadas, onde a União
Européia figura como nosso cliente potencial.
Fonte: MAPA (2009).
111
O resíduo de agrotóxico como barreira à comercialização
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente cerca de 1,8
milhão de pessoas morrem, exclusivamente, por ingestão de bebidas e alimentos
contaminados e pelo menos 200 casos de fraude e contaminação de grandes proporções
são identificados no mundo. A OMS acredita que, anualmente, entre 3 e 5 milhões de
pessoas sejam intoxicadas por agrotóxicos no mundo e resíduos destes produtos nos
alimentos continuam a preocupar consumidores que carecem de informações. A
contaminação por agentes físicos (pedras, parafusos, pêlos), químicos (metais pesados,
pesticidas, sanitizantes), biológicos (bactérias, fungos) e radioisotopos (resíduos de
radiação) em produtos processados são os principais responsáveis pelos problemas de
comercialização e de saúde no Brasil e no mundo.
Por afetarem a segurança alimentar mundial, os produtos processados seguem
regras rígidas de importação e exportação, mas que variam de país para país. O Brasil,
como membro da FAO (Food and Agriculture Organization), está obrigado a cumprir
determinados requisitos definidos e aprovados pelos comitês que compõem a
organização. Em 1962 foi criada em nível internacional a Codex Alimentarius
Commission, um corpo subsidiário da FAO e da WHO (World Health Organization),
encarregado de proteger a saúde dos consumidores. Atualmente, mais de 150 nações
participam do Codex. A contribuição do Codex de particular relevância é o
estabelecimento dos valores de LMRs recomendados, e que podem ser aceitos
livremente pelos países membros. Com isso, o Codex Alimentarius também busca
assegurar práticas eqüitativas nos comércios regional e internacional de alimentos. As
normas Codex abrangem os principais alimentos processados, semiprocessados ou crus;
e também substâncias e produtos usados para a elaboração dos alimentos. Na Europa, o
nível de resíduo de pesticidas em alimentos de origem animal e vegetal é definido de
acordo com o critério proposto pelo Conselho Europeu. Portanto, a análise da presença
dos pesticidas em alimentos representa uma prática bastante comum nos países
desenvolvidos e níveis cada vez menores têm sido tolerados.
As exportações brasileiras de frutas e sucos enfrentam desafios tanto em razão
das barreiras tarifárias - dados o amplo espectro tarifário que se lhes aplica e a
imposição de taxas internas que, embora não discriminatórias, incidem na
competitividade dos preços dos produtos - como não-tarifárias, particularmente em
112
razão da crescente diversificação e do aprofundamento de exigências de ordem
fitossanitária na maior parte dos mercados ora considerados, que constituem para as
exportações brasileiras de frutas frescas um dos mais importantes desafios no tocante ao
seu acesso a mercados externos.
Tais produtos estão sujeitos à proibição generalizada, como aplicada pela China
e Coréia, ou à imposição de regime de quarentena, inspeção na origem e destino,
certificação sanitária e de qualidade, tratamento especial, além de outras exigências
relativas à embalagem e características específicas dos produtos.
Nos produtos agrícolas em geral, para se combater as doenças e pragas, que
podem inviabilizar a comercialização e o consumo dos mesmos, são aplicados
agrotóxicos no tratamento fitossanitário. Assim como os agrotóxicos podem apresentar
eficácia profilática, dependendo da forma de aplicação, a sua utilização não criteriosa
pode acarretar males à saúde do consumidor quando ingeridos em grande quantidade.
De acordo com a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, agrotóxicos são
os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso
nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento dos produtos agrícolas,
nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas
e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a
composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos
considerados nocivos. A lei dispõe sobre as atividades realizadas com agrotóxicos no
território nacional, desde a sua produção ou importação até o destino final de seus
resíduos e embalagens.
A Portaria 3, de 16 de janeiro de 1992, do Ministério da Saúde, define resíduo de
agrotóxico como a “substância ou mistura de substâncias remanescentes ou existentes
em alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da presença de agrotóxicos e
afins, inclusive quaisquer derivados específicos, tais como produtos de conversão e de
degradação, metabólitos, produtos de reação e impurezas, consideradas tóxicas e
ambientalmente importantes”.
A regulamentação quanto ao uso dos agrotóxicos está baseada não só no
controle das classes químicas dos princípios ativos autorizados para uso, mas também
113
no estabelecimento de nível de referência, que corresponde à quantidade máxima de
resíduo de determinado agrotóxico que pode ser aceita em cada alimento, quando
destinado ao consumo humano. Em tese, o cumprimento destes limites máximos de
resíduos permite preservar a saúde do consumidor da ação tóxica destes produtos. Neste
sentido, diversos organismos nacionais e internacionais estão encarregados de
estabelecer tais limites.
No Brasil, a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério
da Saúde é o orgão federal responsável pela legislação aplicável a resíduos em
alimentos. A ANVISA estabelece as monografias dos produtos agrotóxicos de uso
autorizado no Brasil, nas culturas para as quais se destinam. Nessas monografias,
constam as tolerâncias ou limites máximos de resíduos, estabelecidos caso a caso, que
são as quantidades permitidas de resíduos dos agrotóxicos naqueles alimentos,
decorrentes do seu uso, segundo a boa prática agrícola. Também, as monografias
estabelecem o intervalo de confiança (ou período de carência), que é o intervalo de
tempo, em dias, entre a última aplicação e a colheita, que deve ser observado pelo
agricultor; por lei, ele deve fazer parte das instruções do rótulo ou bula das formulações
comerciais dos agrotóxicos.
Além do problema potencial na saúde dos consumidores, outro sério problema
causado pelos resíduos de agrotóxicos é que eles podem se tornar uma barreira não-
tarifária, constituindo-se, assim, em obstáculos às nossas exportações. Países
importadores rejeitam a entrada de produtos agrícolas por seus portos e aeroportos, se
estes possuírem resíduos em níveis acima do que os legalmente aceitos. Assim, tem
acontecido, com certa freqüência, com nossas frutas tropicais de exportação.
A proibição da entrada de alguns produtos brasileiros em certos países,
principalmente as frutas, tem aumentado por apresentarem níveis de agrotóxicos acima
dos LMRs estabelecidos pelos países importadores ou pelo Codex Alimentarius. Com
isso, a implantação do monitoramento quanto aos níveis de contaminação dos produtos
agrícolas brasileiros por agrotóxicos virou febre em todo mundo e, dificilmente, um
cliente estrangeiro deixará de realizar análise multiresidual nas cargas recebidas.
Diversos países têm implantado programas de análise de resíduos nos alimentos.
Nos Estados Unidos, numerosos programas de análises de resíduos têm sido
114
implantados, podendo-se destacar o programa do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), o programa da Associação Nacional dos Alimentos
Processados (NFPA) e o programa da Administração de Drogas e Alimentos (FDA). A
União Européia possui trabalho similar de análise de alimentos.
No Brasil, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos -
PARA, da Anvisa, com o objetivo de avaliar continuamente os níveis de resíduos de
agrotóxicos nos alimentos in natura que chegam à mesa do consumidor, e o Programa
de Monitoramento do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, conduzido
pela Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes (CCRC), contribuem para
o fornecimento de dados aos órgãos de saúde pública para que discutam os programas
de fiscalização, conscientização ambiental e a saúde dos trabalhadores.
O Programa PARA foi idealizado em 2001 com o objetivo de cumprir a
legislação disposta no Decreto 4.074/02 e na Resolução – RDC nº 44/00. Os objetivos
específicos do PARA são (1) analisar resíduos de agrotóxicos in natura; (2) verificar se
os alimentos contaminados ultrapassam o limite máximo de resíduo (LMR); (3)
verificar a presença de resíduos de agrotóxicos não autorizados pela legislação em
vigor; (4) rastrear possíveis problemas e subsidiar ações de fiscalização de vigilância
sanitária; (5) melhorar a estimativa de exposição por meio da dieta, como parte da
reavaliação dos agrotóxicos já registrados; (6) monitorar o uso de produtos agrotóxicos
realizando um mapeamento de risco; (7) subsidiar com base cientifica e informações
laboratoriais concretas as negociações internacionais, principalmente, no âmbito do
Codex Alimentarius e do Mercosul; (8) fornecer subsídios ao Ministério da Agricultura
que permitam orientar e fiscalizar os produtores na utilização dos agrotóxicos; e (9)
disponibilizar informações à sociedade.
No entanto, é muito dispendiosa a análise de resíduos de agrotóxicos em
amostras ambientais ou de alimentos, principalmente quando o número de
contaminantes é elevado. Além de exigir a aplicação de técnicas elaboradas e onerosas,
existe um número grande de agrotóxicos no comércio e há carência de dados dos
produtos utilizados por lavoura, o que acaba por requerer o teste de vários padrões e
diferentes metodologias analíticas.
115
Além disso, cada dia aumenta mais a conscientização dos consumidores em
relação ao consumo de alimentos sadios e sem resíduos de agrotóxicos. Assim, as
grandes redes distribuidoras de frutas e os supermercados do mundo inteiro têm
pressionado os exportadores para que estes adotem um sistema de certificação que
garanta a qualidade dos seus produtos.
Desta maneira, o cenário mercadológico internacional sinaliza para grandes
mudanças nos sistemas de produção de frutas, exigindo dos produtores a adoção de
critérios de qualidade, produção certificada e cumprimento de normas internacionais
relacionadas à segurança alimentar, rastreabilidade e respeito ao meio ambiente e ao
homem.
No entanto, a comunidade internacional demonstra preocupação com a barreira
comercial que poderá ser imposta a aqueles que não direciona suas atividades a
processos de certificação, uma vez que a não certificação poderá implicar na perda de
mercado. Nesse sentido, os produtores brasileiros vêm sentindo-se pressionados a
adequar-se e a orientar-se para garantir mercados internacionais e, mais recentemente,
também o mercado interno, onde o padrão de exigência nacional, cada dia mais, se
iguala ao padrão internacional. Essa exigência nacional muito tem a ver com a aquisição
recente de várias grandes redes de supermercado por empresas estrangeiras que, para
garantir seu padrão internacional de qualidade, adotam no mercado interno os mesmos
pré-requisitos já conhecidos pelos exportadores.
A preferência dos importadores de frutas frescas pela empresa certificada,
devido à habilidade na comprovação dos requisitos pré-definidos, é um aspecto seletivo
aos exportadores brasileiros no mercado internacional. Os diversos sistemas de
certificação possibilitam agregação de valor ao produto, diferenciando-o com
investimentos muitas vezes inferior em relação à criação de marcas e promoção da fruta
brasileira no mercado externo. A certificação adiciona valor sem a necessidade de
transformação do produto, garantindo os requisitos exigidos pelo mercado consumidor,
cada vez mais atento à qualidade e segurança do alimento nos últimos anos.
As exigências dos importadores visando a segurança do alimento aliado à
adoção da Certificação Agrícola das frutas brasileiras, também auxiliam na adaptação
do produtor diante das constantes proibições de princípios ativos utilizados no sistema
116
produtivo. Isso ocorre pois os produtores que adotam os programas sustentáveis de
produção, utilizam os agroquímicos de maneira curativa e não preventiva e, na maioria
das vezes, conseguem diminuir o consumo de agroquímicos em até 50% (cinqüenta por
cento) se comparado aos sistema convencional de produção. Dessa forma, se enquadram
dentro das restrições continuamente impostas pelo mercado internacional,
principalmente pela Comunidade Européia com maior facilidade, uma vez que a maior
dificuldade do setor é o atendimento aos rígidos padrões internacionais com relação aos
LMR‟s de produtos permitidos para uso e a restrição, cada vez maior, sobre os
princípios ativos permitidos.
Assim, o aumento das exigências internacionais interfere na comercialização ao
restringir o número de fornecedores de frutas, dando preferência àqueles que possuem o
produto diferenciado, no caso, pelos selos de certificação, valorizando o produto e a
rentabilidade do exportador brasileiro. A seleção de fornecedores também possibilita a
obtenção de produtos de alta qualidade dentro dos padrões de segurança alimentar
exigido pelo mercado consumidor atingindo um novo nicho de mercado que tem
crescido nos últimos anos.
No entanto, em várias cadeias produtivas no Brasil, o controle da certificação é
dificultado, uma vez que, muitas empresas apenas beneficiam a fruta nos packing
houses, adquirindo a fruta de diversos produtores, entre eles, pequenos e médios
produtores, dificultando não só a rastreabilidade do produto quanto o controle do uso de
agrotóxicos e, consequentemente de seu resíduo no produto final exportado.
Para isso, o Governo brasileiro têm buscado, na elaboração de leis, o controle do
uso de agrotóxicos e acompanhar, através da rastreabilidade do produto, a segurança do
alimento comercializado, não apenas no mercado externo mas também no Brasil.
A Instrução Normativa Nº 42, de 31 de dezembro de 2008, publicada no DOU –
Seção 1 - Nº 2, em 05/01/2009, Institui o Plano Nacional de Controle de Resíduos e
Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal - PNCRC/Vegetal, que tem por
objetivos: Assegurar a qualidade, a inocuidade e a segurança higiênico-sanitária dos
produtos, seus subprodutos e derivados de valor econômico colocados à disposição da
população brasileira e/ou a serem exportados; Verificar o uso adequado e seguro dos
agrotóxicos, de acordo com as boas práticas agrícolas e as legislações específicas;
117
Contribuir para a adoção das boas práticas agrícolas, fabris, de armazenamento e de
transporte na cadeia de produção; Conhecer o potencial de exposição da população aos
resíduos nocivos à saúde do consumidor, parâmetro orientador para a adoção de
políticas nacionais de saúde vegetal, fiscalização agropecuária e fiscalização sanitária e;
Evitar o consumo e comercialização de produtos de origem vegetal, seus subprodutos e
derivados de valor econômico oriundos de produção na qual se tenha constatado
violação dos Limites Máximos de Resíduo - LMR e Níveis Máximos de Contaminantes.
Outra instrução normativa a ser implantada, que se encontra em fase final de
projeto, trata-se da Portaria 54 – Certificado Higiênico-Sanitário, que foi submetida à
consulta pública, que estabelece os critérios e procedimentos para o controle dos fatores
higiênico-sanitários na cadeia produtiva dos produtos de origem vegetal, destinados ao
consumo humano no mercado interno e na exportação, referentes aos resíduos de
agrotóxicos e contaminantes químicos, físicos e biológicos que oferecem riscos à saúde
humana. Segundo a Portaria, o controle higiênico-sanitário deve ser preventivo e de
forma integrada em todas as etapas das cadeias produtivas, com aplicação em parte ou
no total, constituindo-se de autocontroles e de controles oficiais e manter os registros
dos dados e informações que comprovem as suas aplicações, visando prevenir e
controlar a ocorrência dos fatores higiênicosanitários. São considerados procedimentos
de autocontroles: Adoção de BPAs ou BPFs; Adoção de APPCC; Implementação de
sistema de rastreabilidade; Certificação de segurança higiênico-sanitária e; Realização
de amostragem e análise laboratorial, quando for o caso.
No entanto, a lei que poderá trazer maiores contribuições para o setor frutícola
nacional se encontra estagnada em Brasília. Trata-se da Portaria 94 – Minor Crops, que
submeteu à consulta pública o Projeto de Instrução Normativa com seus respectivos
Anexos, que estabelece os critérios e procedimentos a serem adotados para extrapolação
de limites máximos de resíduos (LMR) para as culturas com suporte fitossanitário
insuficiente e para a inclusão destas culturas na monografia dos ingredientes ativos
registrados para uso agrícola; onde os LMRs já estabelecidos em monografia para as
culturas representativas em cada grupo poderão ser extrapolados temporariamente para
as demais culturas do grupo. Os LMRs temporários teriam prazo de vigência de 24
(vinte e quatro) meses, após a publicação na monografia do ingrediente ativo, até que se
determine, por meio de estudos de resíduos o LMR da Cultura Representativa do sub-
118
grupo. Caso não seja apresentado o estudo de resíduos durante esse período, a cultura de
suporte fitossanitário insuficiente será excluída da monografia do ingrediente ativo cujo
LMR foi extrapolado.
O fato da demora de implementação da lei das Minor Crops, é agravado ainda
mais por um dos principais pontos atualmente discutido pelo setor agrícola: A proibição
de diversos princípios ativos, largamente utilizados nas culturas tropicais, pela
Comunidade Européia. Esta parece ser a principal barreira técnica imposta pelo
mercado internacional sobre a produção de frutas frescas brasileiras.
Os países importadores da Comunidade Européia, dos Estados Unidos e do
Japão possuem normas técnicas, bastante rigorosas, que estabelecem concentrações
máximas de resíduos baixíssimas. Estas normas, não sendo atendidas, inviabilizam a
entrada de produtos agropecuários em seus territórios. O efeito destas barreiras técnicas,
não-alfandegárias, nas exportações brasileiras, é enorme, pois afeta integralmente várias
cadeias produtivas.
Porém, na visão de alguns produtores, a restrição no uso de determinados
ingredientes ativos nem sempre é encarado como grande entrave da produção. Para eles,
o principal argumento utilizado é a ampla variedade de agroquímicos existentes no
mercado, que possibilita, assim, a substituição dos princípios ativos proibidos,
mantendo o controle eficaz, e, além disso, os produtos vetados nem sempre são
imprescindíveis em suas propriedades.
No entanto, não é bem isso que ocorre nos setores produtivos da maioria das
frutas brasileiras, onde a dificuldade gerada pelo número reduzido de agrotóxicos
registrados para essas frutas torna-se um problema sério e limitante para o setor
frutícola.
A maior dificuldade na proibição do uso de determinados ingredientes ativos é o
fato de não se ter um acordo entre os países que integram a União Européia. Há grande
heterogeneidade entre os países europeus quanto a aceitação de determinados princípios
ativos, não existindo uma lista em comum. Os exportadores brasileiros encontram
diversos entraves para atender o mercado europeu, tendo em vista que cada país tem a
sua relação de agroquímicos permitidos, sendo essa, baseada nos princípios ativos
119
registrados tanto no país de origem como de destino, onde, também, uma longa lista de
princípios ativos banidos é apresentada ao exportador.
Uma forma de contornar esse problema, cada vez mais usual no mercado
internacional, é o programa de fidelização, seja dos importadores para com seus
fornecedores ou dos exportadores brasileiros para com seus clientes estrangeiros. Desta
maneira, cria-se uma relação mais aberta, onde as exigências de ambos os lados são, em
grande parte atendidas. Pois, ao adquirir o produto agrícola, o importador exige a
relação dos produtos químicos utilizados durante o sistema produtivo e, por sua vez,
fornece a listagem de princípios ativos banidos e os produtos permitidos com seus
respectivos LMR‟s aceitos. Logo, o produtor visando um mercado definido,
automaticamente evita o uso de certos produtos, facilitando as negociações e
diminuindo o risco de rejeição de seu produto agrícola no mercado internacional.
Para analisar o problema, em 2008, a Secretaria de Defesa Agropecuária - SDA-
MAPA iniciou um levantamento sobre os agrotóxicos mais usados em soja, café, milho
e nas 10 frutas mais exportadas para a Comunidade Européia. A idéia é verificar os
novos LMRs estabelecidos pela U.E nestas culturas e seleção dos agrotóxicos mais
críticos para poder estimar o impacto econômico sobre os US$6,6 bilhões (total faturado
pela exportação destes produtos pelo Brasil para a UE, em 2007). No entanto, os
estudos ainda não foram publicados.
Quanto à restrição de uso de princípios ativos, uma ação que merece destaque
foi o estudo realizado no Reino Unido pelo Pesticides Safety Directorate of the UK,
sobre o impacto das propostas da Comissão Européia e das emendas do Parlamento
Europeu sobre a proteção de colheita no Reino Unido. Segundo o estudo, as propostas
poderiam remover até 15% das substâncias avaliadas, algumas de grande importância
para a proteção de colheitas nas Minor Crops e poderiam conduzir a 20-30% de perdas
do rendimento nos cereais. Além disso, poderiam levar à perda de até 85% das
substâncias químicas convencionais.
Outra preocupação considerável pode ser retratada pelo documento denominado
de Declaration of Ljubljana, produzido em 22 de abril de 2008, num workshop
realizado no Agricultural Institute of Slovenia, in Ljubljana. Neste documento, os
especialistas reafirmam que a resistência aos inseticidas, aos fungicidas e aos herbicidas
120
é já um problema grave também para a produção agrícola européia nas Minor Crops e
que muitos inseticidas estabelecidos, apesar da baixa disponibilidade, têm sido perdidos
em consequência do programa em curso para renovação do registro. Os cientistas
concluíram que a solução mais sustentável ao controle de praga é o manejo integrado de
pragas, onde o controle químico também é um componente essencial, e recomendaram
que a diversidade química (diferentes modalidades de ações dos agrotóxicos) deve ser
mantida para o manejo sustentável da resistência e que as decisões para registrar ou
proibir compostos devem ser baseadas na avaliação de risco científica e não em critérios
de perigo do produto.
Sabe-se que somente a alta qualidade dos frutos produzidos, livres de pragas e
doenças e com limites de resíduos de agrotóxicos dentro dos níveis aceitáveis, é capaz
de conquistar novos mercados. Assim, para minimizar e solucionar possíveis problemas
advindos desta necessidade, é preciso colocar em prática algumas iniciativas no campo,
como a aplicação das Boas Práticas Agrícolas (BPAs) nos diferentes sistemas de
produção para melhoria da qualidade do alimento colhido. O manejo integrado de
pragas e doenças (MIP) e o manejo e a conservação do solo também serão aliados na
redução da quantidade de agrotóxicos aplicados nas lavouras e, consequentemente, na
redução dos custos de produção.
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122
Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) - Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA). Brasília (DF) –BRASIL. Agosto, 2008.
123
CAPÍTULO 7
Produção integrada e segurança alimentar
Marçal Zuppi da Conceição1
O nosso objetivo neste texto será o de responder, basicamente, três perguntas: de
onde viemos? – onde estamos ? – para onde vamos ? É importante conhecer o passado.
Quem conhece o passado pode perscrutar o futuro.
Os historiadores especialistas em Idade Média relatam que no primeiro milênio
se atribuía a existência da fome e da miséria à fúria dos céus. Hoje, no terceiro milênio,
essas desgraças ainda existem, mas sabemos todos que são de responsabilidade do
Homem. No limiar do terceiro milênio, ao final da sua primeira década, sabemos da
grande importância da Produção Integrada na Agricultura Moderna. É ela, a Produção
Integrada, nos leva à Boa Prática Agrícola. A Boa Prática Agrícola é o conjunto de
medidas adotadas pelo nosso Homem do Campo com o objetivo de produzir
economicamente alimentos saudáveis, com qualidade e de forma a preservar a saúde das
pessoas e o meio ambiente. É a Boa Prática Agrícola, que nos conduz a uma agricultura
sustentável, preservando os recursos naturais para gerações futuras. Quanto à Segurança
Alimentar ela tem que ser análisada nos seus principais aspectos: acesso ao alimento, a
qualidade do alimento e a segurança do alimento. Sem dúvida, a área de maior
preocupação é a segurança do alimento, e nela, a produção de alimentos sem resíduos
tóxicos. Temos que analisar os principais fatores que podem minimizar o problema de
resíduos tóxicos nos alimentos: a aquisição do produto fitossanitário, através da receita
agronômica, o manejo integrado de pragas, a segurança no manuseio e na aplicação dos
produtos fitossanitários e programas de alimentos seguros do Campo à Mesa. O
profissional de Assistência Técnica e Extensão Rural alem de orientar o homem do
campo na aplicação com qualidade dos defensivos agrícolas, respeitando princípios de
segurança, higiene, saúde e proteção do meio ambiente, soluciona também os problemas
fitossanitários de nossas culturas. Os procedimentos preceituados pela produção
integrada têm como base o rol de exigência dos mercados importadores, principalmente
1 Engº Agrº, D.S. e Consultor da ANDEF – mzuppi.cursos @gmail.com
124
da comunidade Européia. A segurança dos alimentos é uma das prioridades máximas na
Europa. A regulamentação da União Européia neste domínio, já por si exigente, tem
sido reforçada desde o ano 2000, a fim de garantir o máximo grau de segurança possível
na alimentação dos europeus. Ao definir a sua política no domínio da segurança dos
alimentos e ao estabelecer os níveis de riscos aceitáveis, a Comunidade Européia
baseia-se em pareceres científicos sólidos e nos mais recentes desenvolvimentos sólidos
e nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos. Para esse efeito, a Comissão
Européia consulta o Comitê Permanente da Cadeia Alimentar, no qual estão
representados todos os paises do grupo.
A segurança do alimento é também extremamente importante para o nosso
mercado interno. O Brasil é um dos países mais populosos do mundo, cuja população é
a cada dia é mais exigente, de fato um direito de ter alimentação abundante e saudável.
Hoje, a sustentabilidade da produção agrícola e a adequação ambiental são
rotineiras. É importante destacarmos que os produtos fitossanitários modernos têm
maior eficiência agronômica, alem de aplicados em menores doses de ingrediente ativo
por área, com menores toxicidades e impacto ambiental.
A rastreabilidade dos alimentos é assegurada desde a exploração agrícola até a
mesa do consumidor.
Desde o alvorecer da agricultura a produtividade das plantas cultivadas tem sido
reduzida por pragas, doenças e pela competição com as plantas daninhas e, desde então,
os agricultores vêm buscando meios de limitar essas perdas e obter culturas mais sadias,
ou seja, meios de proteger a produção agrícola.
A terra destinada à agricultura não pode mais ser aumentada à vontade. A
destruição das florestas tropicais, ainda existentes neste Planeta, seria o mesmo que
proclamar a sentença de morte de nossa atmosfera. Cada metro quadrado de floresta é
uma parte do chamado “pulmão verde” e importante reserva de água. Eliminar as
florestas por queimadas, também intensifica o efeito estufa, que poderia acabar sendo
um desastre para o clima, acrescendo-se que o dióxido de carbono então liberado
contribui para o aumento da temperatura da atmosfera.
De modo geral, quanto mais intensivo for o sistema de produção maiores serão
os riscos de perdas dessa mesma produção pela ação de diversos organismos.
125
A intensificação e a otimização dos métodos de cultivo têm resultado em
aumentos significativos na produção e na produtividade das lavouras e a defesa vegetal
tem se constituído num dos importantes fatores, contribuindo para esses resultados.
O grande esforço feito no sentido da adoção de novas tecnologias no campo foi,
sem dúvida, iniciado nos países desenvolvidos onde era vital a racionalização da
produção face ao contínuo êxodo rural. Isto explica os grandes avanços alcançados
pelos países Europeus, Estados Unidos, Canadá e Japão.
Nos países em desenvolvimento – e o Brasil é um exemplo – os avanços
tecnológicos como máquinas, cultivares com alta produtividade, o uso adequado de
fertilizantes e o emprego correto de produtos fitossanitários para proteção das lavouras,
foram absorvidos mais lentamente, concentrando-se o esforço nas culturas de
exportação, face às políticas de financiamento agrícola adotadas pelos diferentes países.
Tem-se portanto que reconhecer que, nos países em desenvolvimento, os avanços
tecnológicos visando aumentos de produção e produtividade, sofreram atrasos na sua
adoção pelos agricultores.
Implicações de ordem social, além de problemas ecológicos como os
desmatamentos que são particularmente sérios nos países em desenvolvimento, também
devem ser considerados quando o que está em jogo é a produção agrícola.
No que respeita à defesa fitossanitária, grandes mudanças ocorreram nos últimos 30
anos, com ênfase especial nos países industrializados, pois foi nesses países que tiveram
origem importantes inovações nas técnicas de defesa vegetal.
Ao que tudo indica, por muitos anos haverá demanda por produtos
fitossanitários. Isto porque, por mais que se procure tratar os sistemas agrícolas como
ecológicos, eles são por natureza altamente instáveis. O agrossistema é relativamente
frágil, constituído de muitos indivíduos, porém de poucas espécies. Essa
característica o faz muito tênue, suscetível ao desequilíbrio. Desde que existem, homem
e inseto lutam pelo mesmo alimento. Trezentos milhões de anos antes do homem,
insetos já habitavam a Terra. São mais antigos e experientes que o homem. Quando
deixou de ser nômade e fixou-se em determinados lugares da Terra, o ser humano
passou também a interferir nos Ecossistemas, modificando-os, quebrando seus
equilíbrios. A busca pelo alimento tem sido a primeira prioridade do homem. Na
verdade, temos comido o alimento que nos sobra do ataque das pragas, das doenças e da
126
competição com plantas daninhas. Desde o momento em que o homem começou a
utilizar os produtos fitossanitários como arma para rebater os ataques às suas culturas,
seja aplicando os inorgânicos (como cobre e enxofre) ou os produtos de origem vegetal
(como a nicotina e piretro), tivemos vários estágios de controle em culturas de
importância econômica. Todavia, dois períodos marcaram duramente a história dos
produtos: A Fase da Crise e a Fase do Desastre.
O progresso tecnológico nos conduziu à fase que hoje vivemos, a do Controle
Integrado, a mais importante de todas, pois configura uma garantia de que estamos no
caminho certo para evitar que erros cometidos no passado voltem a se repetir.
Com a Lei nº 7.802/89 e seu decreto regulamentador, nº 98.816/90, tornaram-se
extremamente rígidos no Brasil os controles dos produtos fitossanitários, desde a sua
pesquisa, registro e produção até a aplicação no campo. Queremos ainda nos referir à
Lei nº 9.605/95 que trata de Crimes Ambientais, e à Lei nº 9.974/2000 e ao Decreto nº
3550 de 27/07/2000 que alteraram a Lei nº 7.802/89 e seu decreto regulamentador . Em
31 de maio de 2001 foi editado o Decreto nº3.828, passando para até 31 de maio de
2002, o prazo(um ano) para as empresas estruturarem-se adequadamente para as
operações de recebimento, recolhimento e destinação de embalagens vazias e produtos
de que trata o Decreto nº 98.916 de 11/01/90, este último substituído pelo Decreto 4074
de 04/01/02 . Nesta etapa, particularmente, as especificidades técnicas de manuseio e
utilização exigem a presença de assistência agronômica tanto mais assídua quanto
menor o nível de qualificação da mão de obra rural.
Várias entidades, entre elas a Associação Nacional de Defesa Vegetal, vêm
decididamente trabalhando para que erros da história dos defensivos agrícolas não mais
se repitam. No Brasil, o profissional de ciências Agrárias configura o elo entre esse
anseio e a realidade do campo. Os nossos objetivos têm sido comuns: o uso correto e
seguro dos produtos fitossanitários e o aumento da produção brasileira de alimentos.
É grande a contribuição da Defesa Vegetal. Se não vejamos: o agricultor norte-
americano gastava em 1915, em média, 132 horas de trabalho, para obter uma
produtividade de seis toneladas de alimento por hectare cultivado. Em 1950, o tempo
necessário para atingir as mesmas 6 toneladas caiu para a média de 53 horas e, em 1985,
com apenas 3 horas, ele obtinha o mesmo resultado. Esta progressão deveu-se,
particularmente, à introdução de novas tecnologias agrícolas, utilizadas em forma
integrada.
127
Na história sobre o uso do manejo fitossanitário integrado, o ano de 1950
assumiu uma característica de divisor de águas para a agricultura mundial, pois a partir
daquela época passou-se a explorar a idéia de integração do controle químico com o
biológico, com o objetivo de se resolver o conflito entre o uso de inseticidas e ação dos
inimigos naturais. Estava, portanto, plantada a semente da seleção de métodos de
controle e do desenvolvimento de critérios para o emprego do Manejo Integrado de
Pragas (MIP), garantindo conseqüências favoráveis sob os pontos de vista econômico,
ecológico e sociológico. Uma conceituação que desabrochou, definitivamente, em 1961,
quando os ecologistas australianos Diana e Clark escreveram um artigo em que
defendiam uma tecnologia visando fazer o manejo protetor contra espécies benéficas
(predadores, parasitas, polinizadores).
No Brasil, entomologistas pioneiros, como Prof. Costa Lima (Escola Nacional
de Agronomia – Rio de Janeiro) já eram precursores da idéia de controle integrado pois,
quando fez o estudo dos problemas do algodoeiro no Nordeste do país (1950), propôs
uma série de medidas que se enquadram hoje, perfeitamente no conceito de integração.
A classe Agronômica tem apoiado o Método Integrado de Cultivo, onde se
levam em conta todos os fatores que podem proporcionar à planta a capacidade máxima
de produção, permitindo que ela aproveite eficazmente o seu potencial produtivo. O
controle químico é, então, apenas uma das medidas da Agricultura Integrada.
A prática do Manejo Integrado, em defesa fitossanitária, permite que sejam
aplicados produtos e métodos de acordo com as necessidades sentidas por produtores e
consumidores de alimentos.
Em termos mundiais, mais de 500 espécies de insetos e outros artrópodes já
demonstram resistência a uma classe de inseticidas. No Brasil, pode-se citar como
exemplo o caso do ácaro da leprose do citros, Brevipalpus phoenicis e os sérios
prejuízos causados nas principais regiões produtoras.
O desenvolvimento da resistência é simplesmente uma conseqüência da seleção
natural. Um agente de controle (um inseticida ou acaricida) evita a reprodução de
determinados insetos e ácaros sensíveis. Um pequeno percentual da população pode
portar genes resistentes que permitem que uma determinada praga sobreviva, já
existente na população da praga ou pode surgir através de mutação. Como os produtos
para proteção de culturas continuam a eliminar os indivíduos suscetíveis, o equilíbrio da
128
população se altera. Os resistentes continuam se multiplicar até que por fim se tornam
predominantes.
É importante registrarmos o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo IRAC-
BR (Comitê Brasileiro de Ação a Resistência de Inseticidas), como os outros Comitês
afins nas áreas de Fungicidas e Herbicidas, isto é FRAC e HRAC.
A Defesa Fitossanitária é uma prática que objetiva salvaguardar a produção
agrícola dos danos provocados por pragas, doenças e plantas daninhas.
Tradicionalmente, estes problemas são enfrentados com o emprego de Produtos
Fitossanitários. Esta luta não é fácil, principalmente quando se levam em conta os
efeitos não desejados que podem advir do uso inadequado dos produtos fitossanitários,
em especial, o uso equivocado dos agroquímicos, baseando-se em calendários de
aplicações, independentemente de sua necessidade. Como resultado, tem-se a realização
de tratamentos que resultam levar ao meio ambiente quantidades desnecessárias desses
produtos.
A prática de intervir com o produtos fitossanitários em períodos programados,
mesmo quando as popula-ções de pragas não estão provocando “danos econômicos”, é
uma das causas que podem fazer parte desses efeitos não desejados e de outros
inconvenientes que afetam o agricultor, tais como:
Desenvolvimento de resistência pelos agentes a serem controlados
Aparecimento de novas Pragas, devido à eliminação maciça dos
Inimigos Naturais
O uso dirigido e adequado do Produto Fitossanitário é um método que
compreende sua utilização quando os agentes daninhos chegam a uma população que
realmente irá provocar prejuízo econômico à cultura estabelecida. Para isso, deve-se ter
como base para sua prescrição e utilização alguns quesitos como:
Conhecimento da Praga, Doença ou Planta Daninha
Eficiência dos Produtos Fitossanitários
Conhecimento dos Inimigos Naturais
Condições Climatológicas
Métodos de Amostragens
Conhecimento dos Níveis de Danos Econômicos
129
O Manejo Integrado, sem dúvida, é o melhor caminho para o uso correto e
seguro dos produtos fitossanitários. Esta prática também oferece a possibilidade de
deixar que Predadores / Parasitas / Polinizadores desenvolvam seu papel útil à
agricultura. Paralelamente, existe a vantagem de reduzir a dimensão da resistência das
pragas aos diferentes produtos.
As exigências da moderna agricultura brasileira crescem à medida que se impõe
a necessidade de garantia dos níveis de produção e produtividade, adequados ao pleno
abastecimento do mercado interno e geração de excedentes exportáveis que possam
contribuir, de forma definitiva, para o superavit da balança comercial do País.
Os insumos agrícolas, quando utilizados sob a supervisão de profissionais
legalmente habilitados, geram resultados positivos para todos os envolvidos no
processo. O Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas, que consiste na
implementação de métodos de controle que utilizem, harmonicamente, os processos
químicos, físicos, biológicos e os métodos culturais, de forma planejada, resulta em
benefício da produtividade, proteção ambiental, segurança do consumidor e das pessoas
envolvidas na atividade agrícola.
A produção agrícola é norteada por 3 (três) tipos de fatores de produção (de
acordo com Rabbringe e De Wit, 1989):
fatores determinantes da produtividade
fatores limitantes da produtividade
fatores que reduzem a produtividade
Os fatores determinantes da produtividade tais como a capacidade genética da
planta, o solo e a luz solar, estabelecem o nível potencial da produção. Muitas vezes, o
potencial não pode ser concretizado, devido aos fatores limitantes, como falta de água,
nitrogênio ou fósforo, acidez do solo, entre outros. A produtividade efetiva (de acordo
com Zadoks e Schein, 1979 ) não pode ser colhida devido aos fatores redutores de
rendimento. A Proteção das Plantas trata dos fatores que reduzem a produtividade, com
devida consideração dos fatores limitantes.
As pragas, as doenças dos vegetais e as plantas daninhas estão entre os
principais fatores que reduzem a produção de alimentos e outros bens indispensáveis à
sobrevivência e bem-estar das populações. A tecnologia tem propiciado ao homem,
meios cada vez mais eficazes para superar tais problemas. Entre esses meios destaca-se
130
o emprego dos Defensivos Agrícolas, produtos fitossanitários capazes de eliminar ou
reduzir as infestações e os conseqüêntes prejuízos trazidos pelas pragas, doenças e
plantas daninhas. Esta é uma luta contínua em que se empenham especialistas de todo o
mundo, nas instituições governamentais, nas entidades internacionais, nas universidades
e nas empresas particulares. Evitar as perdas na agricultura tem sido o nosso grande
objetivo. Nós, os Engenheiros Agrônomos, assim como profissionais de outras áreas
afins de ciências agrárias, nos preocupamos muito com as perdas na agricultura,
incluindo a área fitossanitária. De acordo com a FAO, 35% são as perdas nessa área:
14% pelos insetos, 12% devido às doenças e 9% através das plantas daninhas. A
situação é mais preocupante quando se comparam as perdas entre países em
desenvolvimento, como o Brasil, com os países desenvolvidos.
PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
PAÍSES
DESENVOLVIDOS
PRAGAS 38% 9%
DOENÇAS 27% 14%
Fonte: GIFAP – International Group of National Associations of Agrochemical
Manufacturers (atualmente GCPF – Global Crop Protection Association).
O controle das pragas, doenças e plantas daninhas através dos produtos
fitossanitários, apesar de ser rápido, econômico e eficiente, deve ser utilizado de modo
vantajoso associado a outros métodos de controle.
Desde que o homem começou a usufruir dos Produtos Fitossanitários, como arma
para combater os insetos, aplicando os Inorgânicos (como os Arseniatos) ou os de
Origem Vegetal (como Nicotina, Rotenona e Piretro), tivemos várias Fases no controle
fitossanitário.
1ª Fase: “Fase da Subsistência”
O rendimento de controle era baixo, muito dependente do Controle Natural, da
Resistência Natural e de Prática Culturais. Raros eram os tratamentos com Produtos
Fitossanitários. O homem contava acima de tudo, com a sorte.
2ª Fase: “Fase da Exploração”
131
Houve expansão do cultivo e a confiança em esquemas de Controle Químico. Os
Produtos Fitossanitários eram aplicados de acordo com um calendário prévio. Os
índices de produtividade cresceram e, por conseguinte, houve o abandono de métodos
alternativos.
3ª Fase: “Fase da Crise”
A aplicação no esquema de calendário, com épocas pré estabelecidas, levava, muitas
vezes, o agricultor a executar os tratamentos fitossanitários desnecessáriamente, quando
a incidência das pragas era ainda muito baixa, ou até mesmo inexistente. Isto contribuía
para uma redução drástica dos inimigos naturais, cujas populações não conseguiam
mais atingir os níveis adequados para um controle natural das pragas que, por sua vez,
ressurgiam em surtos mais severos. O uso intensivo de um mesmo produto contribuía,
além disso, para o desenvolvimento de resistência, tornando o problema ainda mais
sério.
4ª Fase: “Fase do Desastre”
Havia um maior custo do controle fitossanitário, o abandono das culturas por
produtores marginais e a impossibilidade do cultivo econômico em certas áreas.
5ª Fase: “Fase do Manejo Integrado”
Hoje, temos que conduzir a Agricultura com conhecimento técnico, criatividade e
inteligência, levando em consideração todos os fatores que podem proporcionar à planta
a sua capacidade máxima de produção, permitindo que ela aproveite eficazmente o seu
potencial produtivo. Isso só se consegue através do Sistema Integrado de Manejo na
Produção Agrícola. Na área de Proteção de Plantas, o objetivo é atingir os níveis mais
elevados possíveis no controle, dentro de uma visão sistemática e integrada da produção
agrícola sustentável.
Há muitos séculos, homem e insetos lutam pelo mesmo alimento. Das 10 pragas do
Egito, segundo a Bíblia, 3 ( três ) eram insetos. Desde que existe, o homem vê nascer do
mesmo solo que o alimenta os insetos contra os quais ele luta. Na verdade, comemos os
restos que os insetos deixam.
Os insetos também transmitem doenças como a Peste Bubônica, Malária, Encefalite,
Peste Negra e Cólera. Atualmente, estamos enfrentando o impacto da ação dos
mosquitos “Aedes aegypty” e “Aedes albopictus”, que transmitem uma doença
132
infecciosa: a Dengue. O “Aedes aegypty” pode transmitir ao homem a Febre Amarela e
a Dengue Hemorrágica, ambas com alto índice de mortalidade.
É valido lembrar que a descoberta, em 1939, do efeito inseticida do DDT
(primeiro inseticida orgânico sintético) deu ao seu descobridor, Paul Müller, o Prêmio
Nobel. Mais de 2 milhões de pessoas foram salvas, na época, graças às aplicações do
DDT no controle de epidemias transmitidas por insetos. Robert Metcalf, da
Universidade de Illinois, em 1980, chamou aquela década de Època do Otimismo, tal
era a euforia que reinava pelas aplicações do DDT.
O Prof. Marcos Kogan (brasileiro, professor aposentado pela Oregon State
Universit/USA ), nos relata que, na própria Sociedade de Entomologistas dos Estados
Unidos, comentava-se que o DDT iria resolver todos os problemas ocasionados pelas
pragas. No entanto, o que aconteceu? Aplicações erradas, exageradas e irracionais, onde
verdadeiros territórios foram cobertos por aplicações de inseticidas, vieram trazer
Resistência de Insetos a Determinados Produtos Fitossanitários.
A experiência mostrou ao homem que não se deve combater os insetos, e sim
manejá-los. É necessário preservar Predadores, Parasitas e Polinizadores, deixando que
os mesmos desenvolvam seu papel útil à Agricultura. Em verdade, a ninguém interessa
um excessivo consumo de Defensivos Agrícolas, pois tal excesso acaba provocando o
aparecimento de Pragas Resistentes.
Não interessa ao Agricultor, nem ao Comerciante. Ao Técnico, que hoje deve
prescrever Receituário Agronômico, a indicação de um produto com problemas de
resistência, pode levar à perda da credibilidade junto aos seus consulentes. Para a
Indústria de Produtos Fitossanitários que, pesquisa e lança novos produtos, a
Resistência é assustadora, porque impede que o defensivo tenha um consumo adequado
e prolongado.
O sucesso de uma lavoura depende em grande parte do bom manejo e preparo do
solo, de modo a propiciar as melhores condições para o desenvolvimento da cultura e
garantia de boa produtividade. Um adequado preparo do solo previne a erosão
provocada pela água e pelo vento. Atualmente também os aspectos ecológicos vêm
assumindo papel importante, principalmente nos países industrializados onde os solos
agricultáveis vêm se tornando cada vez mais escassos. Estes conceitos todavia não vêm
merecendo a mesma atenção nos países em desenvolvimento e a cada ano o que se pode
133
notar é a degradação de grandes extensões de solo que são abandonados e que devem
ser substituídos às expensas de florestas desmatadas para incorporação de novas áreas
para produção.
O cultivo mínimo e o plantio direto cresceram muito em importância por serem
eficientes quanto à prevenção de erosão e redução de custos, mas somente são viáveis
quando em associação com o emprego de herbicidas.
Semeadeiras de alta precisão permitem hoje ao agricultor quantidade adequada de
sementes para uma densidade de cultura previamente estabelecida. Entretanto, para o
sucesso da operação, torna-se indispensável o tratamento das sementes com fungicidas
/ inseticidas adequados para prevenir o ataque de doenças e pragas que ocorrem durante
a germinação, além do emprego de herbicidas logo no início, de forma a que as plantas
tenham plena condição de desenvolvimento.
A tendência em racionalizar as atividades agrícolas levou os países desenvolvidos a
concentrar a produção agrícola em cultivos que permitiam menor intervalo de tempo
entre as culturas em rotação, além de priorizar culturas de alta rentabilidade. Na Europa,
por exemplo, isto resultou na ampliação do cultivo de cereais em rotação, mas a
conseqüência foi o aumento de incidência de gramíneas invasoras, além de maior
ocorrência de doenças de folhagem em trigo e cevada principalmente.
O uso de herbicidas e fungicidas foi e tem sido a alternativa viável para possibilitar a
continuidade desse modelo que proporciona altos níveis de produtividade.
Nos últimos 30 anos houve também expressivas alterações na condução das técnicas
de cultivo em países em desenvolvimento. A política de incentivos a culturas de
exportação possibilitou, em muitos casos, o emprego de melhor tecnologia e os lucros
obtidos permitiram investir na melhoria da qualidade das sementes e no maior emprego
de fertilizantes e de produtos fitossanitários. Necessário se torna, todavia, nesses países
que já conseguiram incorporar essas tecnologias às culturas de exportação, passá-las
também para as de consumo doméstico, para benefício de toda a sociedade.
Outro fator limitante da produção e da produtividade agrícola é a disponibilidade de
água aos cultivos, tornando-se muitas vezes como fator limitante de produção. A
irrigação nestes casos é essencial mas traz consigo o possível agravamento da
ocorrência de doenças, ampliando as condições que facilitam a manifestação de
134
infecções por determinados agentes patôgenicos. A irrigação, por manter a folhagem
molhada por longos períodos, pode contribuir para o aumento da ocorrência de doenças.
É um fato conhecido que as pragas, doenças e plantas invasoras competem com as
culturas econômicas, acarretando quedas na produção. A garantia de altas produções e
produtividades só é obtida com plantas sadias.
Os métodos empregados em defesa fitossanitária vêm apresentando uma evolução
apreciável nas últimas décadas:
o conhecimento e a utilização de métodos de diagnose envolvendo
dinâmica populacional e epidemiologia, em várias culturas, possibilitam
prever a ocorrência de pragas e doenças e como resultado, adotar as
medidas de proteção mais adequadas a cada caso, ou seja, o Manejo
Integrado de Pragas – MIP;
algumas práticas culturais podem ser empregadas para reduzir a incidência
de pragas, doenças e plantas invasoras de importância;
os produtos fitossanitários químicos de hoje são muito mais específicos e
seletivos do que os seus antepassados, e por isto mesmo com menores
chances de provocar efeitos secundários indesejáveis;
por outro lado, os novos produtos de modo geral são empregados em doses
muito mais reduzidas, além de apresentarem perfil toxicológico e
ecotoxicológico mais favoráveis, sob o ponto de vista de segurança para os
aplicadores e o ambiente;
tem havido substanciais avanços na tecnologia de formulação dos
produtos, bem como nas técnicas e equipamentos de aplicação;
nos países de clima temperado houve aumentos significativos no cultivo
intensivo de hortaliças e determinadas frutíferas em casas de vegetação e
estufas, tendo sido desenvolvido métodos específicos de controle
fitossanitário nessas condições, indispensáveis na obtenção de plantas
sadias com alta produtividade; e
métodos biológicos de controle fitossanitário vêm sendo gradativamente
introduzidos e a adoção de Manejo Integrado de Pragas é, neste particular,
o procedimento que melhor atende os parâmetros de aplicar quando
necessário, utilizando o método mais adequado visando a garantia de
135
produtividade, mas sem perder de vista fatores tão importantes quanto a
preservação de inimigos naturais e prevenção ao possível desenvolvimento
de resistência das pragas e doenças.
A ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras numa determinada cultura e
região, pode apresentar variações e mesmo aumentar.
A grande maioria desses problemas fitossanitários que afeta uma determinada
cultura, não impacta de modo semelhante em todas as regiões onde a referida cultura é
cultivada. Algumas dessas pragas / doenças / plantas invasoras ocorrem com maior
presença numa região que em outras, ou até mesmo não estão presentes. Em geral, sua
disseminação se dá através do transporte da produção interna dentro dos países e
externamente através das exportações.
São bastante conhecidos os casos de introdução de ferrugem do café no Brasil e
nos países da América Latina; a Sigatoka negra nos bananais da América Latina, bem
como as introduções de Spodoptera exígua, Liriomysa trifolii e Bemisia tabaci atacando
várias culturas na Europa.
As alterações de técnicas de cultivo, principalmente quando se adotam cultivos
intensivos, levam ao aumento da incidência de pragas, doenças e plantas invasoras de
importância. São exemplos o aumento da incidência do míldio e pulgões em cereais na
Europa, Helminthosporium em milho nos Estados Unidos e América Latina, e
cigarrinhas em arroz no sudeste da África.
Assim sendo, é previsível e pode-se mesmo antever e esperar que o aumento da
incidência de pragas e doenças é possível em regiões de monoculturas, como algodão,
cereais, arroz, soja, entre outras cultivadas intensivamente, havendo nestes casos a
necessidade de adoção de métodos de controle fitossanitário adequados.
Produtos inorgânicos como o cobre e o enxofre já estavam em uso há mais de
cem anos, principalmente para controlar doenças. A Calda Bordaleza, por exemplo, já
era usada desde 1885.
O primeiro produto sintético, o dinitro cresol, foi colocado no mercado em 1892
sob a marca Antinonnin. O primeiro fungicida para tratamento de sementes, à base de
mercúrio orgânico, foi descoberto no início do século 20.
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Nos anos 30, foram descobertos os fungicidas ditiocarbamatos e nos anos 40 os
inseticidas organoclorados e organofosforados. Desde então têm havido substanciais
alterações na pesquisa desses compostos. Os investimentos em pesquisa aumentaram
significativamente e novos ingredientes ativos vêm sendo continuamente lançados no
mercado mundial para o controle das principais pragas, doenças e plantas invasoras.
Os novos produtos são submetidos a uma metodologia de avaliação muito mais
crítica sob o ponto de vista toxicológico e nos possíveis impactos que possam provocar
no ambiente. Hoje, cerca de 40% dos investimentos em pesquisa destinam-se às
avaliações toxicológicas e ecotoxicológicas.
Na década de 60, era necessário sintetizar cerca de 4.000 compostos e destes
apenas um conseguia chegar ao mercado, num prazo de avaliação entre 4 e 5 anos. No
início da década de 1990 esta proporção passou de 1 produto comercial para 20.000
sintetizados, para um período de avaliação entre 8-10 anos, significando que as chances
de sucesso diminuíram e o tempo de pesquisa e desenvolvimento ampliou-se de muito.
Para empresas que fazem pesquisa básica, isto significa que o retorno sobre o
capital investido é muito mais demorado do que foi no passado, levando muitas
empresas a rever suas estratégias quanto a permanecer neste setor de atividade. Devido
aos altos custos, tem havido fusões das empresas.
O mercado mundial de produtos fitossanitários varia de região para região e tem
experimentado crescimentos substanciais desde a década de 1960. Não é todavia o
objetivo, a análise desse mercado mas sim a forma como ele se desenvolveu, visando
trazer ao conhecimento dos técnicos o que vem sendo feito pela pesquisa básica, no
sentido de trazer ao mercado produtos que melhor atendam aos anseios da sociedade.
O MIP evoluirá para o Manejo Integrado de Culturas, que como vimos é a
produção econômica de culturas de alta qualidade, com prioridade para métodos de
cultivo ecologicamente seguros, minimizando efeitos secundários indesejáveis e
utilizando produtos fitossanitários que garantam a salvaguarda da saúde humana e a
preservação do ambiente. O Manejo Integrado de Culturas é a base de uma agricultura
sustentável.
Há ainda um longo caminho a percorrer, mas não temos dúvidas de que
iniciativas já praticadas e outras que certamente irão acontecer muito contribuirão
programas de Produção Integrada e da Segurança Alimentar no Brasil.